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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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Ter para ler
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 22 DE JULHO DE 2011 • ANO X • Nº 2416
TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 26 MAX 32 HUMIDADE 50-90% • CÂMBIOS EURO 11.4 BAHT 0.3 YUAN 1.2
Património histórico
Trabalhadores ilegais
IMORTALIZAR O QUE PODE UM DIA DESAPARECER
AS PROVAS DO ESQUEMA DUVIDOSO
• PÁGINAS 14 E 15
• PÁGINA 6
FUTILIDADES AGRAVAM INFLAÇÃO PARA CIMA DOS 5%
Aeroporto
EXPANSÃO PARA SEDUZIR PASSAGEIROS • PÁGINA 9
Pense duas vezes antes de se arranjar Ninguém põe um travão nos preços dos salões de cabeleireiros, nas jantaradas fora de casa ou nas jóias em ouro. Nem o arroz ou o peixe subiram tanto em termos percentuais. Em Junho, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) alcançou os 5,65% e, a este ritmo, no final deste ano pode chegar aos 6,33%. Ainda será preciso uma terceira remessa de cheques do plano de comparticipação pecuniária. > PÁGINA 8
Autocarros
ANTES DO PARAÍSO, O PURGATÓRIO • PÁGINA 8
OPINIÃO Paul Chan Wai Chi
GOVERNO CONDUZIDO POR INTERESSES • PÁGINA 22
José Pereira Coutinho
DINHEIRO A SOBRAR, QUALIDADE DE VIDA A DIMINUIR • PÁGINA 23
SEXTA-FEIRA 22.7.2011 www.hojemacau.com.mo
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ACTUAL
Ilha entre a China e a Rússia abriu ao turismo pela primeira vez em 80 anos
Heixiazi à experiência por um dia
A
ilha de Heixiazi, uma ilha fronteira que liga a China e a Rússia, foi aberta como destino turístico para os chineses na quarta-feira. Esta acção faz parte de uma experiência que visa perceber se a mudança pode ser benéfica para as indústrias de turismo dos dois países. Um grupo de cerca de 150 turistas chineses desembarcaram na ilha e atravessaram uma ponte flutuante para chegar em Heixiazi. Os turistas puderam visitar uma reserva natural da ilha de zonas húmidas, um acampamento russo de ex-militares e os monumentos da ilha. Puderam ainda subir a bordo de navios e fazer excursões nas águas chinesas em torno da ilha. Esta política foi a primeiro em mais de 80 anos que permitiu que
O
continente vai fortalecer o sistema utilizado para minimizar os danos causados por desastres rurais e a capacidade de emitir alertas antecipados sobre o perigo iminente. O Governo Central afirma que estas mudanças são necessárias, uma vez que as populações das zonas rurais da China são muitas vezes atingidas por catástrofes. “O estabelecimento de um sistema global para a prevenção e previsão de desastres naturais em áreas rurais estará no topo
visitantes chineses chegassem à ilha, que havia sido ocupada pela Rússia ao longo de décadas. Heixiazi, na junção de Heilong River (chamado de Amur na Rússia) e do Rio Wusuli, já
foi local de disputas de fronteiras entre a China e a Rússia. O limite actual foi demarcado em 2008, quando ambos os lados concordaram que a metade ocidental de 335 quilómetros quadrados
deveria pertencer à China e a outra metade à Rússia. Os dois países chegaram a um consenso em Novembro de 2010 para trabalharem em conjunto para fazer da ilha um lugar atraente para eco-turistas. A China começou a construir acomodações para os turistas e a traçar rotas de viagem na ilha em 2009. Embora as acomodações não estejam completas, alguns pontos de interesse turístico foram preparadas para os visitantes, de acordo com a autoridade do turismo local. “Pretendemos transformar a ilha num destino turístico internacional em 10 anos”, disse Liu Xianfu, vice-chefe do turismo de Heilongjiang. Liu disse que a posição geográfica especial da ilha, juntamente com a sua história e cultura únicas, tem um charme especial para os turistas. Peng Jielin,
vice-diretor do desenvolvimento e da comissão de reforma da província de Heilongjiang, disse que a abertura de Heixiazi como ilha para o turismo vai ajudar a torná-lo um local perfeito para o comércio transfronteiriço e para o reforço dos laços entre a China e a Rússia. Conforme o planeamento, 75% da ilha será reservada para as zonas verdes e o restante será transformado em zona comercial e turística. Várias linhas ferroviárias e uma ponte que liga a ilha ao continente ainda estão em construção, de acordo com os planos dos dois países para o desenvolvimento. A ilha de Heixiazi fica perto da cidade russa de Khabarovsk, uma das maiores cidades no leste da Rússia, e conceta-se a Vladivostok e Moscovo por comboio.
GOVERNO CENTRAL QUER MELHORAR CAPACIDADE DE RESPOSTA AOS DESASTRES RURAIS
Emitir avisos para todas as regiões da agenda do Governo”, defendeu Zheng Guoguang, chefe da Administração Meteorológica chinesa. Para o responsável, as pessoas que vivem em vastas regiões rurais são mais vulneráveis a este tipo de desastres naturais devido à falta de equipamentos e conhecimentos necessários
para enfrentar com eficácia as dificuldades desse tipo. Nos primeiros seis meses do ano, os acidentes deste género prejudicaram cerca de 290 milhões de pessoas na China, matando 449 delas, de acordo com as últimas estatísticas do Ministério dos Assuntos Civis. Por exemplo, cerca de PUB
Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes
AVISO
Tendo-se verificado uma incorrecção no anúncio publicado no jornal, de 20 de Julho de 2011, respeitante ao Concurso Público para Empreitada de «Reforço das guardas do viaduto perto do Aeroporto Internacional de Macau», procede-se à seguinte rectificação: Onde se lê: « 12. …Dia e hora limite: dia 08 de Agosto de 2011 (Segunda-feira), ………………........... 13. …Dia e hora: dia 09 de Agosto de 2011 (Terça-feira)…………………………..............»
Deve ler-se: «12. …Dia e hora limite: dia 12 de Agosto de 2011 (Sexta-feira), …………………............. 13. …Dia e hora: dia 15 de Agosto de 2011 (Segunda-feira), ……………………...........» Macau, aos 21 de Julho de 2011.
O Director dos Serviços, Jaime Roberto Carion
90% das vítimas de relâmpagos são do campo. Os raios provenientes das trovoadas mataram 15 pessoas em 21 províncias da China e das regiões autónomas de 1 a 25 de Junho. “Quando construímos torres de defesa e pavilhões onde os agricultores puderam procurar abrigo durante as tempestades o número de mortes causadas por raios foi reduzido dras-
ticamente em cerca de 60%”, disse Zheng Guoguang. Em 2007, por volta de 744 pessoas morreram pela queda de raios e 585 ficaram feridas. Esses números significam que o relâmpago foi o terceiro desastre natural mais mortal que poderia ocorrer no país, na sequência de inundações e deslizamentos de terra. Como parte do novo pla-
no de resposta a catástrofes, mais de 22 mil estações de climáticas foram construídas na China e 437 mil mensageiros sobre o clima estão a difundir avisos de desastres aos residentes rurais. Mesmo com essas mudanças destinadas à prevenção de desastres no campo, Zheng assegura que a China não será capaz de garantir a segurança pública de forma adequada e evitar sérios prejuízos económicos, sem ter uma forma mais eficiente de emitir alertas antecipados. O responsável frisou que o Governo Central vai estabelecer um caminho rápido para a aprovação do lançamento de alertas de desastre e que o sistema será usado, por vezes, quando o mau tempo parecer iminente. Zheng observou, no entanto, que se alguém enviar mensagens de texto aos mesmo tempo para os oito milhões de pessoas que utilizam telemóveis em Pequim, as mensagens levariam oito horas para serem entregues.
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3 FMI DESTACA PROGRESSO FINANCEIRO DA CHINA
Só falta subir o yuan O
Fundo Monetário Internacional destacou nesta quinta-feira o “progresso considerável” que a China obteve na supervisão e regulamentação do seu mercado financeiro, que ainda precisa, contudo, de se basear mais na oferta e na procura. O FMI também insistiu com Pequim para que eleve o valor do yuan e prossiga com as reformas económicas destinadas a mudar o seu modelo de crescimento, estimando que a China e outros países obterão “benefícios substanciais” com tais medidas. Os administradores do Fundo “felicitaram as autoridades (chinesas) pelos progressos consideráveis que obtiveram ao basear o sistema financeiro mais sobre a oferta e a procura, e por melhorar a regulamentação e a supervisão”. Também “insistiram no facto de que uma valorização da moeda e de reformas visando reequilibrar o modelo de crescimento se traduziria em benefícios substanciais tanto para a China como para outros países”. O comunicado refere-se à reunião do Conselho de Administração do Fundo realizada em 15 de Julho passado,
e que permitiu a aprovação do relatório de avaliação anual da economia chinesa. Em 2010, Pequim autorizou o Fundo a publicar este relatório pela primeira vez desde 2006. O relatório, como no ano passado, destaca que o yuan segue “fortemente inferior ao nível que deveria estar com base nos dados económicos a médio prazo”. Para o FMI, o reequilíbrio da economia chinesa deve basear-se mais no crescimento do consumo interno do que sobre as exportações.
SEGUNDO RECORDE
A moeda chinesa voltou ontem a bater um recorde
face ao dólar, com a moeda norte-americana a valer apenas 6,4536 yuans, de acordo com a cotação anunciada pelo banco central da China. A variação, de 56 pontos base face ao último recorde estabelecido na quarta-feira, ilustra a “gradual valorização” do yuan prometida pela China em 2010, em resposta às crescentes pressões ocidentais, sobretudo norte-americanas. Sectores políticos e empresariais dos Estados Unidos consideram o yuan “artificialmente subavaliado” para favorecer as exportações chinesas. Durante cerca de dois anos, até ao verão de 2010, o yuan esteve praticamente indexado ao dólar, mas em Junho do mesmo ano, o banco central chinês anunciou “uma maior flexibilização” da sua política cambial, permitindo que a cotação do yuan possa variar diariamente 0,5%. Na altura um dólar valia 6,83 yuans e desde então, a moeda chinesa valorizou-se quase 6 por cento em relação à moeda norte-americana.
LOJAS FALSAS DA MARCA DA MAÇÃ ESPALHAM-SE NA CHINA
Apple como cogumelos Q
UE os produtos da marca Apple chegam a todo o lado constantemente não é novidade. Que existem lojas de representação da mais mediática marca de smartphones e tablets também não. Mas que existem mais lojas de distribuição do que o legalmente permitido, isso é novo. E é a razão pela qual a internet está a enlouquecer depois de uma cidadã ter posto online um relato de, pelo menos, três lojas falsas da Apple, que surgiram na sua vizinhança, em Kunming, na China. Num post colocado no seu blog, o BirdAbroad, na quarta-feira, a mulher, trabalhadora de uma organização internacional de saúde, disse ter sido inicialmente enganada pela boa qualidade da loja falsa: um interior em madeira bastante limpo, cartazes da Apple nas paredes, funcionários com pólos azul com a marca bordada e até produtos reais da Apple.
Mas foi uma aposta com o marido, que acreditava que a loja era falsa, que fez a senhora investigar. Depois de procurarem na internet a localização de todas as representações da marca da maçã na China e descobriram que a Apple não tem lojas em Kunming. Poucos dias depois, o casal descobriu mais duas lojas falsas e conseguiu apontar algumas características defeituosas: as escadas foram mal construídas e as etiquetas nas camisolas dos funcionários não têm nomes reais, apenas a palavra “pessoal”, as paredes não foram pintadas correctamente e o sinal estava errado. “A Apple nunca escreve ‘Apple Store’, apenas põe o sinal da maçã.”, escreveu a cidadã. O pior, segundo o LA Times, é que, pelos vistos, os funcionários pensavam estar a trabalhar para a empresa real da Apple.
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Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
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OIS dias depois do Governo ter anunciado a colocação de mais 200 câmaras de vigilância nas ruas do território, José Pereira Coutinho voltou a frisar várias irregularidades relativamente a este sistema. Desde 2006 que o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) questiona o Governo sobre, por exemplo, quando tenciona o Executivo criar a entidade pública responsável pela recolha, armazenamento e tratamento das imagens processadas. Esta é uma disposição prevista aquando da criação da Lei de Protecção de Dados Pessoais, aprovada em 2006. Mas o que é certo é que, até agora, essa entidade nunca foi criada, ficando a Polícia de Segurança Pública encarregue da situação. As interpelações escritas de Pereira Coutinho repetem-se desde 2006 a 2010 e chegaram ontem mais uma vez às redacções. O deputado acusa algu-
POLÍTICA
Pereira Coutinho relembra irregularidades nos sistemas de vigilância
Sorria, é filmado e não sabe mas “entidades públicas” de processarem diariamente dados sem que os cidadãos tenham consciência disso e mesmo de o fazerem “directamente direccionadas para os trabalhadores, como no Fundo de Segurança Social”, acusa. Estas gravações, adianta ainda Pereira Coutinho, estão fora de qualquer âmbito legal e servem apenas para “suprimir as deficiências e incompetência da gestão interna”. O presidente da ATFPM diz mesmo que existem sistemas de vigilância à entrada e saída das casas de banho e “câmaras expostas em vários departamentos”, cuja finalidade das câmaras “não é constante da lei”. A Lei de Tratamento e Protecção dos Dados Pessoais entrou em vigor em 2006, mas não foi ainda criada qualquer entidade pública que fiscalize a recolha e utili-
zação dos dados recolhidos. Segundo Pereira Coutinho, em 2007, o Governo terá respondido que “na falta desta autoridade pública para o efeito, qualquer pessoa que tenha conhecimento da violação da protecção de dados pessoais pode e deve recorrer aos meios jurisdicionais”. Algo que, acusa Coutinho, não passa de uma forma do Executivo “lavar as mãos” e não resolver concretamente o problema. O facto de existirem câmaras que vigiam directamente os funcionários nas horas de expediente, “sem que a vigilância tenha a ver com segurança de bens e pessoas”, faz aumentar, na opinião do deputado, problemas como o abuso de poder e impunidade para os chefes dos serviços. Devido a isto, Pereira Coutinho questiona: “com podem os trabalhadores com contratos precários tenham
coragem de apresentar queixas de que são objecto de vigilância sem correrem o risco de não verem os seus contratos renovados?”. O deputado pede ao Executivo que averigúe junto dos serviços públicos a instalação destes sistemas, principalmente os que não têm as câmaras à distância. Em Fevereiro de 2010, a luta de Pereira Coutinho continua, desta vez devido à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e da Polícia de Segurança Pública (PSP) terem anunciado a instalação de câmaras de vigilância nas ruas de Macau e em quatro veículos das autoridades. Na altura, a DSAT tinha justificado a colocação das câmaras para amenizar os problemas de trânsito, dando às pessoas a possibilidade de visualizarem em tempo real as gravações na sua pagina electrónica de
forma a optarem por vias de trânsito menos condicionadas. Apesar de considerar isto desnecessário, uma vez que, como justifica “quem tem de ir pela Avenida da Almeida Ribeiro, Horta e Costa ou Rua do Campo, não tem outras vias para se desviar dos engarrafamentos”, Pereira Coutinho quis saber detalhes sobre o sistema. Qual a entidade responsável pelo tratamento das imagens recolhidas, se houve autorização prévia do Gabinete de Protecção para os Dados Pessoais (GPDP) para a instalação de câmaras e qual a resolução das imagens foram as questões mais vincadas por Pereira Coutinho. Uma vez que o sistema recolhe imagens automaticamente e sem interrupção, como fez questão de mencionar a própria DSAT, e as gravações estão acessíveis
a todos, o deputado interpelou o Governo sobre se seria permitido identificar os condutores ou transeuntes, algo não permitido por lei. O Executivo respondeu, na altura, que a entidade responsável pelas câmaras das ruas era a PSP e que o GPDP sabia da instalação, sem mencionar, no entanto, se era possível identificar os cidadãos nas imagens. Pelo que o Hoje Macau apurou ao visualizar os vídeos da DSAT, essa não é uma acção possível, pelo menos nas imagens disponíveis ontem na pagina electrónica da entidade. Pereira Coutinho quis ontem, mais uma vez, afirmar a sua posição contra as irregularidades deste sistema e frisou mesmo ao Hoje Macau “estar envolvido nisto desde 2006”, como se pode verificar pelos pedidos de resposta ao Governo desde há cerca de cinco anos.
SIMULAÇÃO COM AUTOCARROS PARA TESTAR CAPACIDADE DE RESPOSTA
Para testar a capacidade de resposta dos serviços competentes e das empresas operadoras em cenários de incidentes imprevistos, sob o novo modelo de serviços de autocarros, o Governo realizou ontem um exercício de simulação de um incidente rodoviário num autocarro público. A acção simulou uma avaria durante a circulação causando congestionamento. A equipa operacional de contingência da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, depois de recebida a comunicação, iniciou imediatamente o procedimento de gestão dos incidentes de viação, com o objectivo de recuperar a fluidez do trânsito no local. A DSAT entende que o exercício de simulação correspondeu ao resultado desejado, e vai resumir experiências adquiridas durante o processo do exercício de simulação, reforçando a capacidade de resposta aos imprevistos.
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O
deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Pereira Coutinho interpelou o Governo da RAEM acerca dos trabalhadores que foram despedidos pelo Instituto de Habitação (IH), numa altura em que estavam cedidos a esta entidade por uma associação do território. A história tem mais de um ano. O deputado referiu que o IH contratou trabalhadores “por recomendação directa de uma associação de promoção de educação do ensino privado com fins lucrativos, que tem contactos privilegiados com alguns altos responsáveis do IH para trabalharem como processadores de dados pessoais dos requerentes às casas sociais e económicas auferindo 45 patacas por cada hora de trabalho”. De acordo com Pereira Coutinho os trabalhadores terão, alegadamente, recebido PUB
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POLÍTICA DUVIDOSA DO INSTITUTO DE HABITAÇÃO GERA CRÍTICAS
Pedir emprestado, explorar e despedir os seus salários mensais através da associação, não tendo direito a férias e explorados de uma forma sistemática nas horas extraordinárias. “Sem direito aos cuidados de saúde e sem seguro contra acidentes de trabalho (...) Muitas vezes receberam salários com dois meses de atraso”, pode ler-se na interpelação. Depois de tornada pública esta cedência de recursos, o IH “imediatamente despediu todos os queixosos sem dó nem piedade com medo de repercussões sociais”. Agora, o deputado da AL quer saber porque é que o IH deu especial preferência àquela associação privada de educação para recomendar os seus alunos e amigos. “Têm relações privilegiadas com responsáveis do IH?”,
ANTÓNIO FALCÃO | BLOOMLAND.CN
Gonçalo Lobo Pinheiro
SEXTA-FEIRA 22.7.2011
questiona Pereira Coutinho na sua interpelação. Outra coisa que o deputado pretende ver deslindada tem a ver com os valores globais pagos pelo IH à referida associação, uma vez que os queixosos “alegaram que a associação reteve parte do valor pago pelo IH” relativos aos honorários dos trabalhadores. Pereira Coutinho questiona ainda as razões do IH para não ter dado publicidade aquando da contratação dos trabalhadores. “Preferiu contratar por via de recomendação da referida associação educativa.” O deputado sugere ainda “conluio” entre alguns altos responsáveis do IH e a respectiva associação educativa, relembrando que o IH não consultou a bolsa de emprego dos Serviços de Administração e Função Pública de Macau (SAFP) nem, tão pouco, procedeu à publicitação nos meios de comunicação social.
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SOCIEDADE
Fotografias mostram eventuais trabalhadores ilegais no terminal marítimo da Taipa
Para o trabalho sem passar na fronteira Joana Freitas
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C
HAN Meng Kam levantou, na terça-feira, a possibilidade de estarem a ser utilizados trabalhadores ilegais nas obras de construção do Terminal Marítimo da Taipa. O deputado, que fez uso do longo período antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa para interpelar o Governo sobre inúmeras
É
em Outubro que começam a ser distribuídas algumas das 19 mil fracções económicas prometidas pelo Executivo. A proposta de Lei da Habitação Económica, aprovada na generalidade em Fevereiro, vai ser entregue a apreciação dos deputados antes de 15 de Agosto e é já a 1 de Outubro que se prevê que entre em vigor. A medida visa atribuir casas mais baratas às famílias com menos possibilidades financeiras, cujos rendimentos máximos não ultrapassem as 35 mil patacas num agregado de duas pessoas por exemplo, mas há quem não esteja inteiramente satisfeito com a política.
deputado ao Hoje Macau e pelo método de transporte, que despoletou as queixas dos moradores, deduz-se que possam ser trabalhadores da construção civil sem documentação para exercerem no território. Em declarações ao Hoje Macau, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) disse “ter procurado as notícias avançadas pelos órgãos de comunicação social sobre o assunto, mas não ter encontrado nada”, motivo que
impediu qualquer comentário da entidade responsável. A DSAL frisou, no entanto, que iria entrar em contacto com Chan Meng Kam de forma a perceber o sucedido. Apesar de não ter autoridade para investigar, o deputado frisou ao Hoje Macau que quer encorajar a acção. Segundo a interpelação escrita do deputado apresentada na AL, as obras do terminal marítimo estão a cargo da empresa PAL – Ásia Consultores.
HABITAÇÕES ECONÓMICAS DESAGRADAM ENTIDADES DO MERCADO PRIVADO
vendidas a 5200 dólares de Hong Kong por pé quadrado, um recorde no distrito da Ribeira do Patane, compradas quase na sua totalidade por investidores locais. As habitações económicas não são, por isso, bem vistas aos olhos das entidades do mercado imobiliário privado, ainda mais agora que o Governo decidiu aumentar os valores máximos dos rendimentos dos candidatos que podem ter acesso a estas fracções. Este foi, aliás, um dos temas de discussão entre deputados que consideram que a subida dos valores pode levar a um crescimento na procura de habitações económicas. - J.F.
falhas e irregularidades no local das obras, disse ter sido alertado por um grupo de residentes da zona circundante do terminal que haveria trabalhadores ilegais provenientes da China a exercerem no local. A assistente de Chan Meng Kam disse ontem ao Hoje Macau que “os trabalhadores chegavam em barcos de manhã, provenientes de Zhuhai e regressavam à noite também de barco”. Contudo, salientou, “não há provas concretas de que sejam
trabalhadores ilegais” e o gabinete do deputado alega “não ter autoridade para investigar de forma mais aprofundada” o caso. Seja como for, diz ainda a assistente de Chan Meng Kam, “o que os residentes contaram foi que os homens não optavam pela entrada normal nos postos fronteiriços, mas atravessavam o rio em pequenos barcos”. Pelo que é perceptível nas fotografias enviadas pelo gabinete do
E os nossos apartamentos? Uma notícia avançada ontem pelo jornal “Macau Daily Post” referia que o apoio do Governo na venda de casas novas mais baratas poderia ter um “efeito negativo imediato na venda dos velhos apartamentos do mercado privado”. As declarações foram feitas por Jeff Wong, chefe do departamento da empresa Jones Land LaSalle. Para Wong, alguns cidadãos do território ainda eram procuravam comprar
os apartamentos velhos do mercado privado, relativamente mais baratos que os novos. Contudo, frisou Wong, assim que a lei da habitação económica surgir os mercados vão oferecer novas alternativas mais baratas e para casas novas. Jeff Wong, cita o mesmo jornal, deu como exemplo o número de transacções deste ano que “atingiu um crescimento histórico ente Março e Abril”, número que
desceu assim que a medida do Governo foi anunciada no início de Junho. Este factor a juntar ao facto dos bancos dificultarem a hipoteca de apartamentos com entre 20 a 30 anos, obrigando os compradores a desembolsar 50% do pagamento total, faz com que o número de vendas começasse a descer a pique. Marcos Chan Ping, director do centro de pesquisa do Grande Delta do Rio das Pérolas, acredita que o mercado imobiliário contava com a
entrada de propriedades constantemente e que estava “bastante activo” na primeira metade do ano, antes da implementação da medida. Segundo um comunicado entregue na conferencia de imprensa de onde foram retiradas as declarações, todos os novos projectos lançados de Janeiro a Junho de 2011 foram bem recebidos no mercado , com todas as 126 residências do Soho, por exemplo, a esgotarem em menos de um ano, tendo sido algumas
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MAIS DE 20 MIL EM FEIRA DO LIVRO DE HK NAS PRIMEIRAS DUAS HORAS
Mais de 20 mil pessoas visitaram a Feira do Livro de Hong Kong nas primeiras duas horas do evento que abriu portas quarta-feira. Verificou-se uma “corrida” às memórias do activista chinês Szeto Wah, que morreu aos 79 anos, em Janeiro, em Hong Kong, de cancro, já que só na tarde de quarta-feira foram vendidos mais de 100 exemplares de “The Endless River East-ward Flows: A memoir”. Os visitantes formaram ainda filas para comprar os volumes com desconto que assinalam o 100.º aniversário da revolução chinesa, mas também para “apanhar” cosméticos, disponíveis gratuitamente no espaço da feira.
Virginia Leung
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NÃO É JUSTO OLHAR SÓ PARA UMA ESTAÇÃO, MAS PARA A LINHA INTEIRA, DIZ SECRETÁRIO
entreposto do metropolitano ligeiro de superfície é um dos mais importantes projectos do metro e abriram anteontem as candidaturas para os trabalhos de fundações. O terreno reservado para a obra abrange 130 mil metros quadrados e os trabalhos de fundações irão implicar a colocação de 250 grandes pilares. O entreposto irá contar com um edifício de operações, central de controlo, garagem para os comboios e zona de ensaios. O secretário das Obras Públicas aproveitou para contestar algum criticismo que se tem levantado na sociedade em torno do metro. André Ritchie, coordenador-adjunto do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), indicou que os trabalhos de fundações e as restantes obras das instalações terão concursos separados. A ideia é dar mais oportunidades para que as empresas locais de construção possam participar no
Críticas ao metro projecto do metro. Seja como for, quer as empresas internacionais, quer as locais, envolvidas no projecto, terão de assegurar os mais elevados padrões de construção e o Governo não irá autorizar intervenções que não respeitem as normas ambientais, de segurança anti-incêndio e contenção de ruído, garantiu Lao Si Io, secretário para os Transportes e Obras Públicas, que marcou posição em relação a algumas polémicas em torno das opções que têm sido tomadas ao longo do desenrolar do projecto. Trata-se de um projecto grandioso e que implica trabalhos complexos, pelo que a melhor proposta para cada empreitada será escolhida após considerar todos os factores, opiniões, conveniência, custos, etc., explicou o responsável. Por isso, defende, a sociedade deve ter uma abordagem global, em vez de apenas julgar ponto a
KAHON CHAN
Virginia.leung@hojemacau.com.mo
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ponto separadamente. “É injusto que o Governo tenha de julgar 15 factores e a sociedade apenas tenha em conta um único factor para alegar que uma outra proposta era melhor do que a escolhida e exigir
ao Governo que mude a proposta seleccionada”, afirmou Lao. O responsável foi mais longe e desafiou a sociedade a apresentar uma proposta comparativamente melhor e assumiu o compromisso:
se essa proposta for mesmo melhor em todo o seu conteúdo do que a aprovada pelo Governo, este será o primeiro a desejar agarrar aquela que for a melhor opção. Lao garantiu ainda que o Executivo iria manter-se em comunicação contínua e a explicar à sociedade todos os avanços relacionados com o metro ligeiro. O metro ligeiro, observa Lao Si Io, não é nada de novo no mundo e é algo que já existe há muitos anos em cidades de muitos países. Se algo correr mal com o metro de Macau, as empresas e fabricantes responsáveis irão sofrer graves consequências, pelo que elas serão as primeiras a desejar que as operações do metro decorram mediante altos padrões de funcionamento. O Governo irá delegar em entidades independentes a competência para avaliar no futuro as questões ambientais, de segurança anti-fogo e ruído no futuro.
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INSCRIÇÕES ABERTAS Até ao dia 06/08/2011 CURSOS DE LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA Línguas, Literaturas e Culturas em Estudos Portugueses Estudos Franceses Estudos Ingleses Estudos Americanos Línguas Aplicadas História Ciências do Ambiente Matemática e Aplicações Educação Ciências da Informação e Documentação História Estudos Europeus Informática Gestão Ciências Sociais Informações: Tels: 28781698, 85902640 e 85902627 Email: siegy@cityu@edu.mo UCM - Av. Dr Rodrigo Rodrigues, Ed. Royal Centre, 3° andar, Macau
GABINETE DE APOIO AO SECRETARIADO PERMANENTE DO FÓRUM PARA A COOPERAÇÃO ECONÓMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA Anúncio Faz-se saber que, por despacho do Exmº. Senhor Secretário para a Economia e Finanças, de 15 de Junho de 2011, foi determinado que se encontra aberto o concurso para a prestação do «Serviços na produção do Boletim Mensal do “Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau)”». Encontra-se disponível para efeitos de consulta e obtenção de cópias do programa do concurso e do caderno de encargos nos dias úteis, das 9:00 às 13:00 horas e das 14:30 às 17:30 horas na Avenida Governador Jaime Silvério Marques, no. 415 Edifício Comercial Tai Fung, 2º. Andar “N”, em Macau, a partir da data da publicação deste anúncio no Boletim Oficial da Região Administrativa de Macau. As propostas devem ser entregues até às 12:30 horas do dia 15 de Agosto de 2011, na Avenida Governador Jaime Silvério Marques, no. 415 Edifício Comercial Tai Fung, 2º. Andar “N”, em Macau. É obrigatória a prestação de uma caução provisória a favor da RAEM, no valor de $ 30 000,00 (trinta mil patacas), a qual garantirá o exacto e pontual cumprimento das obrigações que assumem com a apresentação da proposta. A caução provisória poderá ser feita por depósito bancário, para o que deverão solicitar a respectiva guia de depósito neste Gabinete, ou mediante garantia bancária. O acto público do concurso realizar-se-á no dia 17 de Agosto de 2011, pelas 15:00 horas no Salão Multi-funcional do Centro de Apoio Empresarial (MBSC), sito na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, No. 263, Edif. China Civil Plaza, 20º andar, em Macau. Em caso de encerramento destes Serviços por causa de tempestade ou de outras causas de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas ou a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão transferidos para o primeiro dia útil seguinte. Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, aos 18 de Junho de 2011.
A Coordenadora,
Rita Botelho dos Santos
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SOCIEDADE
CAMPANHA DOS CENSOS 2011 ARRANCA HOJE NA TELEVISÃO
Está quase tudo a postos para a mega-operação dos Censos 2011. Hoje começam a ser emitidas três publicidades em todos os canais chineses e em português de Macau para ensinar os residentes a responderem aos inquéritos. Ontem, num almoço com a imprensa, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) informou que já tem 7000 candidaturas para as vagas de entrevistadores e que já iniciou a formação. A partir do início de Agosto, todas as residências do território vão receber uma notificação a informar que está no período de responder. As respostas devem ser enviadas – ou pela Internet ou por correio – entre os dias 12 e 26 de Agosto. O lema da campanha é “Conhecer o presente, melhorar o futuro”.
A este ritmo, inflação chegará aos 6,33% no fecho do ano
Idas ao cabeleireiro pesam mais que arroz Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com
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INDA há uns meses discutia-se a possibilidade de a inflação chegar aos 5%. Chegou e passou. No mês passado, o Índice de Preços no Consumidor
(IPC) subiu 5,65% em comparação com o mesmo mês no ano passado e a escalada não deve ficar por aqui. Já a taxa de inflação dos 12 meses terminados em Junho em relação aos 12 meses imediatamente anteriores cresceu 4,34%, de acordo com dados divulgados ontem pelos Ser-
viços de Estatística e Censos. “Feitas as contas é impossível a inflação ser inferior a 5%. A crescer neste ritmo teremos valores de 6,33% no final do ano”, referiu o economista Albano Martins ao Hoje Macau. Mas afinal de quem é a culpa deste avanço galopan-
Comportamento do Índice de Preços no Consumidor
Unidade
Valor do Índice em Junho de 2011 Variação homóloga anual Variação média nos últimos 12 meses Variação mensal Variação homóloga face ao primeiro semestre de 2011
% % % %
IPC geral
IPC-A
IPC-B
110,29 5,65 4,34 0,76 5,13
109,35 5,30 3,96 0,75 4,78
110,68 5,82 4,51 0,76 5,31
te da inflação? Em primeiro lugar é preciso referir que a pataca é uma moeda indexada ao dólar norte-americano. Enquanto que a economia em Macau cresce 20%, a dos EUA cresce muito pouco. “Estamos em contra-ciclo”, explica o economista. Aliado a isso existe um yuan forte, que apesar de ser uma moeda regional galopante, ainda não tem expressão mundial. Contudo, é muito culpada da inflação que se vive em Macau. “É preciso que a pataca não se deprecie. Por este caminho, além do cheque maravilha de Agosto [plano de comparticipação pecuniária] ainda teremos mais um antes do final do ano”, afirmou Martins. Mas afinal, o que está a puxar os preços em Macau? O especialista é categórico: “As refeições fora de casa, já que os restaurantes compram produtos alimentares provenientes da China”. A par dos almoços e jantares fora do lar, com 24% de expressão no bolo final, está o valor das rendas das casas (14%), que juntos representam um peso-pesado no aumento do IPC. “Quando há inflação as taxas de juro
Preços médios antes e depois
Jun 2010
Jun 2011
1 kg de carne de vaca 1 kg de linguados 1 kg de robalos 1 kg de grelos 1 ovo de galinha 1 laranja
71,99 160,44 75,48 17,09 1,15 3,92
82,04 177,91 81,44 15,50 1,17 4,15
deviam subir. Só que em Macau não sobem porque a pataca continua indexada ao dólar. A nossa sorte é que só houve um aumento de 2% nas rendas das casas, porque basta subir mais para a inflação galopar”, explicou o economista. Curioso é fazer uma pequena apreciação aos dados disponibilizados. No cabaz familiar, o cabeleireiro e a joalharia pesa mais que a carne de porco ou o arroz. Em relação aos outros aumentos - preços dos transportes (9,32%), produtos e serviços diversos (9,69%) e produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (7,52%) -, Albano Martins refere que são itens que “não pesam muito”. A grosso modo, o aumento é justificado nomeadamen-
RESIDENTES CONTABILIZAM CADA VEZ MENOS TRANSPORTES EM CIRCULAÇÃO
Autocarros em vias de extinção Virginia Leung
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A
menos de dez dias da entrada em vigor do novo contrato de concessão com a Reolian, há cada vez menos autocarros a andarem nas ruas de Macau. A constatação em tom de crítica partiu dos próprios usuários, que querem saber o porquê das duas companhias actuais – a Transmac e a TCM – estarem constantemente a reduzir a frequência dos transportes. Os residentes queixam-se dos longos tempos de espera, dos atrasos e dos veículos lotados e duvidam que a nova concessionária esteja
já pronta para começar a circular, a 1 de Agosto. Basta olhar para uma paragem qualquer de autocarro para confirmar que as filas andam maiores, especialmente nos horários de ponta. Os passageiros dizem que a frequência diminui e que o tempo de espera – que costumava ser de cinco a dez para as carreiras mais populares – saltou para mais de 20 minutos. Wong Wan, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), considerou completamente inaceitável que as duas companhias no activo tenham reduzido o número de autocarros a circular. O responsável disse que o caso está a ser averiguado,
mas que, de qualquer forma, já foi solicitado à Transmac e à TCM que reponham a regularidade do serviço. Até ontem, contudo, nenhuma melhoria fez-se notar. A residente de apelido Lee, que vive na zona da Praia do Manduco, afirmou ontem que estava há 30 minutos à espera do autocarro na paragem, quando antes nunca havia ultrapassado os dez. A passageira costuma apanhar as carreiras número 1, 6 ou 18 e referiu que a baixa frequência era comum a todas. “Não há um dia que agora não tenha de esperar mais de 20 minutos. Quase mais vale andar a pé”, queixou-se. Lee revelou que, nos primeiros dias
deste mês, não estava a contar com a irregularidade do serviço e que chegou atrasada ao trabalho por diversas vezes. Agora, tem saído mais cedo de casa.
SARDINHAS ENLATADAS
Num teste feito pelo Hoje Macau, a espera foi superior à estabelecida nas informações. Quando o autocarro finalmente chegou e quando o motorista foi questionado pelo atraso, respondeu que nada podia fazer, já que havia apenas três motoristas para fazer a carreira. “Uns estão de férias, outros saíram da empresa”, justificou. Para Li, empregada de escritó-
te com a subida dos preços do peixe fresco, fruta, joalharia em ouro, gasolina, bilhetes de avião e refeições adquiridas fora de casa. Contudo, em contrapartida, os preços do sector das comunicações caíram 8,32% em termos anuais. Relativamente ainda ao mês anterior, os preços em Macau elevaram-se 0,76%, destacando-se o aumento no vestuário e calçado (2,13%). Nos primeiros seis meses do ano, o Índice de Preços no Consumidor aumentou 5,13% em relação ao período homólogo de 2010. Os aumentos mais significativos dos índices de preços ocorreram nas secções transportes (8,55%), produtos e serviços diversos (8,27%) e produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (6,65%).
rio, além da longa espera, andar de autocarro está a tornar-se um martírio. “Com tantos atrasos, vamos lá dentro todos espremidos, como se fossemos umas sardinhas em lata”, constatou, sugerindo que o Governo deveria pôr mão no assunto e não esperar pelo novo concessionário para acabar com os problemas. A deputada Angela Leong também mostra-se preocupada com a questão. A mulher de Stanley Ho reconhece que a injecção de 600 novos veículos nas ruas vai ser bastante positiva para elevar a qualidade do serviço, mas tem dúvidas de como está a ser gerida a publicidade acerca de tantas mudanças. Vai haver mudança de percursos e novas linhas, mas os residentes não estão bem informados sobre a situação. “a divulgação está a ser ineficaz”, critica a deputada.
EXÉRCITO DE LIBERTAÇÃO FAZ VISTORIA ÀS FORÇAS DA RAEM
SEXTA-FEIRA 22.7.2011
Tudo uma questão de entender o que se passa com o funcionamento dos serviços da área da segurança da RAEM. A Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês já efectuou, durante este mês, uma série de visitas às Forças e Serviços de Segurança do território, nomeadamente os Serviços de Polícia Unitários (SPU), a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Polícia Judiciária (PJ). Os responsáveis dos três organismos policiais acreditam que com esta ronda de visitas possam melhorar a comunicação e o intercâmbio de informações entre as partes. Em Agosto, a delegação vai prosseguir com visitas aos restantes serviços da área da segurança do governo da RAEM.
Virginia Leung
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O
aeroporto de Macau tem perdido movimento. Nos primeiros meses do ano, o número de passageiros caiu 10%. O Governo não se deixa impressionar com os números e acha que é altura para expandir as instalações, tendo apresentado ontem o Plano Director do Aeroporto Internacional de Macau, que prevê obras de expansão, sobretudo na pista e nos hangares. As estimativas de quanto as obras irão custar existem, mas não foram reveladas. As expansões não implicam que o aeroporto passe a ter uma capacidade para receber mais passageiros. Pelo contrário, essa capacidade irá diminuir ligeiramente, mas será ainda assim confortavelmente superior ao número de passageiros previstos para este ano. A capacidade actual do terminal é de seis milhões de passageiros por ano. Após a primeira de quatro fases de obras, essa capacidade irá cair para 5,6 milhões,
Aeroporto vai sofrer obras de expansão
Patacas pelos ares mas as obras irão permitir optimizar as áreas, com especial relevo para o tamanho da pista, que irá ganhar área com novos aterros, e nos hangares. As previsões apontam para que este ano passem pelo aeroporto de Macau quatro milhões de passageiros. Uma das principais vantagens que saltam à vista neste plano de expansão será o alargamento da pista, que irá permitir um maior tráfego de aeronaves. Actualmente, a pista tem 90 metros de largura, o que já está dentro dos padrões internacionais mínimos. No entanto, após a primeira fase de obras, a pista passará a ter 240 metros, conforme foi sugerido pela ADP Ingénierie (empresa francesa do grupo Aéroports de Paris envolvida em projectos semelhantes, incluindo os aeroportos internacionais de Pequim
Capital, Chongqing Jiangbei, Ürümqi Diwopu, entre outros). “Uma das principais estratégias é alargar a pista principal e criar outras vias secundárias que irão permitir um maior movimento de aviões nas aterragens e
descolagens”, explicou a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM). Além disso, a AACM pretende optimizar a área de aterragem de jactos particulares. Durante a segunda fase de obras, deverá ser
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expandida a área na zona de embarque, situada no lado direito do terminal. As expansões previstas para a estrutura do terminal irão permitir, por exemplo, uma ligação directa a Pac On no futuro, com um grande e optimizado eixo de transportes. Quanto ao dinheiro necessário para proceder às obras planeadas, Simon Chan, presidente da AACM, apenas declarou que existem estimativas de custos para
Planeamento do Aeroporto Internacional de Macau Previsão de tráfego Fase
Previsão de referência 2015 2020 2030 2039
Previsão em alta
2014 2017 2025 2030
Tráfego anual de passageiros
5,60M 7,0M 11,0M 15,0M
Tráfego anual de mercadorias (em toneladas)
70,000 90,000 130,000 200,00
Movimentos anuais de negócio
1,500 2,200 3,400 5,000
Pico de hora de ponta
Número de movimentos 15 18 22 24-28
Tráfego de partidas 1,100 1,300 1,700 2,000
Tráfego de chegadas 1,000 1,100 1,500 1,800
SOCIEDADE
todo o projecto, mas que podiam não ser as mais acuradas devido às alterações de calendário, pelo que os números, para já, ficam na gaveta. Até porque pode haver ligeiros ajustes depois de recebidas as opiniões solicitadas à indústria e a outros departamentos do Governo. A apresentação oficial ao público, com todos esses dados, está programada para o final de Agosto. Segundo dados revelados este mês pela Administração dos Aeroportos, entre Janeiro e Maio deste ano houve 1,58 milhões de passageiro a passarem pelo aeroporto de Macau, o que representa uma diminuição de 10% comparativamente ao mesmo período de 2010. A ADP Ingénierie estima que até ao fim do ano sejam alcançados o quatro milhões de passageiros, dos quais, prevê, 96% trarão um contributo económico para Macau. Seja como for, Simon Chan defendeu que a prioridade para já era recuperar das dívidas, pelo que as obras previstas no plano não deverão arrancar antes do próximo ano.
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10 Marco Carvalho info@hojemacau.com.mo
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E Milão, mas também do mundo. Poucos clubes farão tanta justiça ao nome que envergam quanto o Inter. A abreviatura pela qual o colosso milanês é conhecido pelo quatro cantos do planeta oculta por vezes o cosmopolitismo da designação oficial com que o clube foi baptizado, mas nem por isso esconde um dos mais fortes traços de carácter dos nerazzurri. A alma é italiana, mas o Internazionale Milano é, porventura, o mais desenraizado clube do futebol transalpino, tantas foram as nacionalidades dos jogadores que por ali passaram. Só portugueses foram sete e o pioneiro juntou-se aos anais da história do clube milanês há precisamente meio século. O início da aventura italiana de Jorge Humberto Nobre de Morais consumou-se a 22 de Julho de Julho de 1961, passam hoje precisamente cinquenta anos. Melhor marcador da Académica na temporada de 1960-61, Jorge Humberto era então um jovem de 23 anos com um problema bicudo em mãos. Nascido na cidade do Mindelo, em Cabo Verde, no seio de uma família numerosa, Jorge conseguiu a custo uma bolsa de estudo para cursar medicina em Coimbra e quando o convite do Inter de Milão chegou, o então jogador da “Briosa”pensava em tudo menos em futebol: com os exames finais do quinto ano pela frente, o jovem dianteiro guardava os seus melhores trunfos para a carreira académica, mas um furacão chamado Helenio Herrera acabou por fazer encarrilar o futuro de Jorge Humberto por paragens inesperadas. O técnico argentino, que deu nova expressão ao sistema de jogo hoje conhecido como “catenaccio”, tinha treinado o Belenenses no final da década de 50 e gostou do que viu em Jorge Humberto quando a Académica e a equipa de Belém se cruzaram em campo. Os dez golos do dianteiro no Campeonato reavivaram um interesse antigo por parte do treinador franco-argentino e estudava o aspirante a médico para um exame decisivo quando o telefone estremece. Do outro lado, um tal Helenio Herrera a falar do interesse de um dos emblemas mais prestigiados da Velha Europa: “Nunca me passou pela cabeça que fosse mesmo o treinador do Inter. Pensei que fosse uma brincadeira. Mandei-o dar uma volta. Sem papas na língua e com todas as letras”,
DESPORTO Futebol | Jorge Humberto transferiu-se para o Inter há 50 anos
Il primo portoghese recorda o primeiro português a vestir a nerazzurra. Irrecusável, tanto em termos desportivos, como em termos financeiros – com o dinheiro que ganhou, Jorge Humberto comprou um prédio de três andares em Lisboa e ofereceu 1500 contos
à Académica – o salto para Itália transformou o jovem estudante de medicina num dos mais badalados futebolistas europeus da época, numa altura em que as transferências internacionais se contavam pelos dedos das mãos. Jorge Humberto rumou a
Itália com o intuito de conquistar o calcio, mas a aventura com a camisola do Inter não correu de feição. O dianteiro permaneceu às ordens de Helenio Herrera por apenas uma época, disputando oito jogos e apontando seis golos: “Cheguei a Itália pouco antes de
ter entrado em vigor uma nova lei de estrangeiros que impedia que as equipas alinhassem ao mesmo tempo com mais de dois jogadores não italianos. O treinador Herrera viu-se obrigado a escolher dois dos três estrangeiros do Inter e entre mim, o Luis Suárez e o Gerry Hitchens alguém tinha de ficar de fora. O Angelo Moratti, pai do actual presidente, ainda tentou dar a volta à questão, mas a emenda foi pior que o soneto. Era assim a lei de estrangeiros na altura”, esclarece o antigo atleta. Mesmo não sendo duradoura, a experiência acabou por compensar. Cinquenta anos depois de ter assinado pelo Inter, Jorge Humberto conserva memórias gratas da vivacidade com que os adeptos nerazzurri incendiavam as bancadas de San Siro. Trabalhar com Helenio Herrera, por outro lado, marcou-o como jogador e como homem: “Herrera foi um Mourinho antes de tempo. Um treinador com uma postura muito autoritária, mas também com uma visão de futebol que extravaza o futebol jogado e que ia para além do que se passava dentro das quatro linhas. O Mourinho tem muito de Helenio Herrera”, defende. Em 1962-63, no ano em que início uma caminhada que o leva ao topo do futebol europeu, o Inter empresta Jorge Humberto ao Vicenza, clube onde permanece até 1964. Regressa a Coimbra a meio da década de 60, veste de novo a camisola da Briosa e completa, com quatro anos de atraso, o curso de Medicina. Especializa-se em pediatria, exerce primeiro em Portugal, depois em Macau e é no território que marca o golo mais importante da carreira: “Quando cheguei a Macau, em 1982, não havia um único pediatra no hospital Conde de São Januário. Três anos depois o território tinha não só um departamento da especialidade, como oferecia também a possibilidade de internato a quem quisesse fazer carreira na pediatria. O sucesso da iniciativa foi tanto que o Hospital chegou a receber o reconhecimento da Ordem dos Médicos e chegaram a ir especialistas do Conde São Januário ensinar a países como a China e o Japão”, recorda Jorge Humberto, il primo portoghese no calcio.
PORTUGAL NO TOPO DAS LIGAS QUE MAIS DINHEIRO MOVIMENTA A praticamente mês e meio do fecho do mercado de transferências, os clubes portugueses já gastaram - ou melhor, investiram 56,2 milhões de euros em aquisições. Valores que fazem do campeonato nacional o sétimo que mais dinheiro movimenta, atrás da Turquia (6.º), França (5.º), Alemanha (4.º), Espanha (3.º), Inglaterra (2.º) e Itália (1.º), numa análise feita às aquisições e vendas de jogadores nas 40 ligas mundiais mais activas.
Natação | TAS dá razão ao campeão olímpico brasileiro
A César o que é de César Cielo, Nicholas dos Santos, Henrique Barbosa e Vinicius Waked registaram controlos positivos em Maio, nos campeonatos brasileiros. Aos quatro atletas foi detectada furosemida, um diurético, proibido no
desporto por manipular o peso ou esconder o uso de outros dopantes. Os quatro nadadores abdicaram das contra-análises e defenderam-se argumentando que se tratara de dopagem acidental, através da conta-
minação de um suplemento nutricional de cafeína que usavam regularmente, por prescrição médica. Segundo o TAS, a FINA pediu que os nadadores cumprissem suspensão efectiva: três meses para Cielo, Santos e Barbosa, um ano para Waked, pois tratava-se do segundo teste positivo na sua carreira. As partes foram ouvidas nesta quarta-feira, no âmbito de um processo acelerado, para poder estar resolvido antes dos Mundiais, que se realizam em Xangai, China. “O painel do TAS decidiu rejeitar os recursos apresentados pela FINA, relativos a César Cielo, Henrique BarPUB
COPA AMÉRICA | PARAGUAI E URUGUAI DISPUTAM TAÇA
A final dos “guais” O
Paraguai apurou-se para a final da Copa América de futebol 2011, ao derrotar a surpreendente Venezuela no desempate por penáltis (5-3), após 0-0 nos 120 minutos de jogo.Aselecção de Gerardo Martino continua, assim, sem vencer qualquer encontro desta edição da Copa América em jogo corrido, após os empates com Equador (0-0), Brasil (2-2) e Venezuela (3-3) na fase de grupos e de ter eliminado os brasileiros nos penáltis, nos quartos-de-final. Desta vez os paraguaios, foram ainda mais eficazes na marca de penálti do que haviam sido frente ao Brasil. Ortigoza, Barrios, Riveros, Martínez e Verón acertaram todos na baliza, enquanto pela Venezuela só três marcaram (Maldonado, Rey, Fedor). Lucena desperdiçou o penálti, permitindo a defesa de Justo Villar, e fica ligado à eli-
minação da Venezuela, que pela primeira vez tinha chegado às meias-finais. César Farías, o seleccionador venezuelano, queixou-se de que o Paraguai teve “uma sorte incrível”. E até teve razões para isso. A sua equipa acertou três vezes nos ferros da baliza de Justo Villar (43’, 93’ e 96’). Os paraguaios, no entanto, resistiram a tudo, incluindo ao facto de terem jogado com menos um, durante os últimos 18 minutos, após a expulsão de Santana. O Paraguai vai agora defrontar o Uruguai na final, agendada para domingo (3h, hora de Macau), e tentará o terceiro título da sua história, após os triunfos em 1953 e 1979. A Venezuela, por sua vez, defronta no sábado o Peru (3h), no jogo de atribuição dos 3.º e 4.º lugares, sabendo que já conseguiu o melhor resultado da sua história.
GONÇALO LOBO PINHEIRO
C
ÉSAR Cielo vai poder participar nos Mundiais de natação. O Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) manteve a sanção inicial imposta ao campeão olímpico e a outros dois nadadores brasileiros - desclassificação e advertência -, devido a um controlo de doping positivo, e rejeitou o recurso da Federação Internacional de Natação (FINA), que exigia que os atletas cumprissem um período de suspensão efectiva.
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11 bosa e Nicholas dos Santos, e confirmar a decisão da CBDA [Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos] neste âmbito. O painel aceitou o apelo da FINA relativo a Vinicius Waked e impôs-lhe uma sanção de um ano, tendo em conta a existência de uma segunda infracção (Vinicius Waked já tinha sido sancionado a 4 de Fevereiro de 2010 com uma suspensão de dois meses após um controlo positivo por uma substância específica)”, explicou o organismo máximo da justiça desportiva, em comunicado, adiantando que publicará dentro de semanas o acórdão relativo a este caso. Além de poder participar nos Mundiais, ao não ser suspenso por mais de seis meses, Cielo campeão olímpico e mundial dos 50 metros livres, garante uma presença nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.
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ENTREVISTA
André Silva, Grupo de Fados de Medicina do Porto
O
Grupo organizou-se vai para uma dúzia e meia de anos. A Macau vieram seis elementos, que é a base habitual. Podem ser uns poucos mais se houver necessidade de entrada de caloiros. São autênticos ‘globetrotters’ do fado coimbrão. Cantam, tocam, dão a conhecer, explicam as subtilezas, rigores, humores ou amores do fado que Hilário cantava; o de Coimbra, sempre. São de Medicina - como Augusto Hilário, essa figura central no aparecimento e divulgação deste inconfundível tipo de música. André Silva, nascido e criado no Porto, vai agora iniciar vida de médico. Funciona como porta-voz e é a 11.ª viagem que faz com o Grupo. Como alcunha, é “Fontes de Carvalho”. Parece apelido de família. Realmente parece, mas não é. A tradição de termos alcunhas já vem das tunas. Todos os elementos do no nosso grupo de fados também têm uma alcunha. E a razão do epíteto? A razão de me alcunharem de “Fontes de Carvalho” explica-se assim: quando entrei para a faculdade, os meus colegas mais velhos diziam que eu era muito parecido com um professor que se chamava Rui Fontes. Como nos primeiros tempos ninguém se conhece, eu era chamado de “Fontes”, fiquei o “Fontes”. Então e o “Carvalho”? O “Carvalho” juntou-se porque ficava bem! Revele os nomes dos seus companheiros de grupo. O Bruno Reis, o que canta, passou para o 6.º ano, o João Pedro Tuna que também canta e também passou para o 6.º ano, o primo dele, Tiago Tuna, também passou para o último ano, o Sérgio Alves que também passou para o 6.º e o José Miguel Cardoso que passou para o 5.º ano. Costumam integrar a Tuna da Faculdade de Medicina do Porto?
RUTE DE MELO
“O fado Coimbra é para ser amado, é a mais b
“Fora de Portugal, como as pessoas sentem mais a falta deste género de coisas portugueses, batem palmas, que é uma demonstração de muito carinho e plenamente justificada no contexto das nossas actuações”
Somos completamente independentes da Tuna. Somos seis membros fixos, mas um deles, Rui Cerqueira, não teve possibilidade de vir. Para manter o hábito estudantil, temos os caloiros. Para a apresentação em Macau, tivemos um caloiro a fazer a substituição do elemento que faltava, o José Miguel Cardoso. Somos a quarta formação, ou geração, do Grupo. Gostamos de ser independentes, a Tuna é uma coisa, nós somos outra. E gravações? Temos dois CDs gravados. Um chama-se “Serenata” e o outro, “Coimbra num Porto de Abrigo”. Estamos a planear a gravação do próximo lá para finais deste ano até aos primeiros meses do ano que vem. O objectivo do Grupo, por certo, vai para além de divertirem-se e divertirem... Com toda a certeza. A nossa quase ininterrupta actividade destina-se fundamentalmente a engrandecer a Canção de Coimbra e a divulgá-la da melhor maneira, indo ao encontro das pessoas, cantando e tocando para elas. Periodicamente em renovação devido à vida profissional de cada um... Sim, por isso temos os caloiros do grupo, colegas um pouco mais novos. Trata-se de um grupo de estudantes e nós próprios vamos dando lugar a colegas mais novos. Foi assim que aconteceu connosco e é assim que nós achamos por bem que continue a ser. Isto não implica que não formemos um grupo nosso já fora da natural condição de estudantes. O Grupo de Fados de Medicina do Porto é exclusivamente de estudantes. Quando acabamos o curso, damos lugar aos mais novos que ainda são estudantes. Por isso, o hábito é sairmos à medida que termina o curso. No seu caso, como formou o gosto por esta forma de expressão musical?
Eu não conhecia o fado de Coimbra, só o de Lisboa que detestava - bom ainda agora não gosto. Já o fado de Coimbra adoro! Isso tem a ver com rivalidades regionais? Nada a ver com isso, é apenas uma questão de gosto. Conheci o fado de Coimbra pouco depois de entrar na faculdade. Como é hábito, o pessoal da Tuna sondou os caloiros para saber quem é que a podia integrar. Sabendo que existia um grupo académico de fados, não me interessei pela Tuna, preferi integrar o grupo. Nunca pertenci a nenhuma tuna, não me vejo no meio duns 30 colegas a tocar e a cantar o fado. O fado de Coimbra entroume cá dentro com força, habituei-me a ele, não me soa bem o fado de Lisboa. Estou no Grupo de Fados de Medicina do Porto desde o primeiro ano até agora que acabei o curso. Antes da faculdade pertenceu a alguma banda? Tinha uma banda poprock que nunca actuou publicamente, uma coisa para nós curtirmos, ainda muito jovens. O nome de uma banda portuguesa que goste de ouvir. A Tara Perdida. Oiço outras que gosto, mas esta aprecio bastante, porque é “punkrock” como eu gosto! Não fujo muito deste género de música, enquanto consumidor normal. Tão diferente do fado Coimbra... Quando estamos juntos, e vestimos capa e batina, com este espírito, é isso que gostamos de tocar. São diferentes situações. Que referências tem entre as vozes do fado de Coimbra? Minhas e destes meus companheiros do Grupo, pois neste caso temos gostos muito semelhantes. A principal referência é o Luís Goes. Há dois grupos que inovaram bastante e
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com Helder Fernando
bela canção do mundo” elevaram muito a qualidade deste fado: o Quinteto de Coimbra e o Praxis Nova. É necessário um sentimento forte para ser um amante
“Exactamente por conhecermos o género e a sua história, compreendemos, de uma forma melhor e mais profunda, toda aquela toada musical muito bela e as letras dos fados, algumas delas espantosas”
do fado de Coimbra, cujo estilo e contexto histórico, inclusive das suas letras, levam a uma forma de estar aparentemente distante das preferências mais imediatas da juventude. Exactamente por conhecermos o género e a sua história, compreendemos, de uma forma melhor e mais profunda, toda aquela toada musical muito bela e as letras dos fados, algumas delas espantosas. E elementos femininos neste grupo de fados, aceitaria? Pessoalmente sim, embora ache que é difícil,
especialmente quando nos deslocamos para fora. Mas vejo com a maior naturalidade a integração do elemento feminino no Grupo. Há quem seja contra, há quem perfilha aquela velha teoria de que o fado Coimbra é somente para os homens. Não acredito nisso, embora saiba que, objectivamente, é isso que se passa. E espero que deixe de ser assim, pois há mulheres que cantam o fado Coimbra, felizmente. Outra tradição que vejo respeitada em Coimbra é não aplaudir após cada interpretação.
Essa tradição mantém-se. Fora de Portugal, como as pessoas sentem mais a falta deste género de coisas portugueses, batem palmas, que é uma demonstração de muito carinho e plenamente justificada no contexto das nossas actuações. Vocês já têm assinalável experiência de viagens artísticas. Isso é verdade. Desde os Açores até à China. Já tocámos duas vezes na Suíça, uma vez na Alemanha, uma vez no Luxemburgo, duas vezes na Bélgica, uma vez na Holanda, em França, em Marrocos, duas vezes nos Estados Unidos,
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duas também na Rússia, na Finlândia, no continente Chinês, em Macau e saímos daqui para voarmos para a Austrália. Terminado agora o curso de medicina, e sendo obrigatório a especialização, qual o seu rumo? Isto agora funciona por concurso, sei o que desejo, mas neste momento e a esta distância, ainda não posso ter certezas sobre o que farei. Profissionalmente, só um país, no estrangeiro, que me cativa, é a Alemanha. Tirando isso... Porquê a Alemanha? Foi o único país em que eu senti que conseguia viver ali. Portugal é a minha casa, tudo o resto me parece demasiado estranho. A Alemanha para mim é um estranho suficientemente acolhedor. Experiência em Macau,
O fado Coimbra pode não ser testemunha das inovações que outros tipos de música andam a propor e a aceitar, mas não vai morrer, nada disso. apesar de ter sido uma estadia muito escassa? Apenas dois dias, não fazia ideia que Macau era assim. Demos umas voltas, gostei. Pensava que ía encontrar pessoas com os olhos em bico a falar português. Actuaram no grande auditório da Universidade de Macau, como foi? Foi uma boa experiência. Audiência maioritariamente asiática, estudantes de língua portuguesa. Pessoalmente não sei se entenderam tudo o que dissemos e cantámos, se perceberam só um pedaço ou se não perceberam nada. Foi muito bom. Esta actuação aqui no restaurante do amigo Santos teve um ambiente especial. Completamente, como se estivéssemos na nossa casa, na nossa terra, em família e com o entusiasmo e emoção que vimos em cada um dos presentes, a começar pelo nosso amigo Santos, o nosso anfitrião. Foi uma noite que não esqueceremos. Estará estagnado o fado Coimbra, corre perigo de desaparecer? O fado Coimbra pode não ser testemunha das inovações que outros tipos de música andam a propor e a aceitar, mas não vai morrer, nada disso. Provavelmente é um estilo de música mais para o meio universitário onde é muito popular. Este meio universitário, por estar em significativa expansão em Portugal, garante a continuidade deste fado, até porque tem gente de enorme qualidade a cantá-lo e a tocá-lo. Cultivamos o fado de Coimbra pela razão de o amarmos profundamente, é uma belíssima canção; para nós, enquanto membros do Grupo, é a mais bela canção do mundo.
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CULTURA
Walter Rossa, arquitecto, apresenta “Património de Origem Portuguesa no Mundo”
A selecção das comunidades Carlos Picassinos info@hojemacau.com.mo
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MA das obras de maior ambição científica de identificação e levantamento de património de influência portuguesa na Ásia é apresentado, no próximo dia 29, em Macau. Walter Rossa, arquitecto, coordenador do volume, apresenta a versão em inglês do projecto dirigido por José Mattoso e Mafalda Soares da Cunha, relativo ao “Património de Origem Portuguesa no Mundo”, e editado, este ano, pela Fundação Calouste Gulbenkian. O capítulo dedicado a Macau/Japão não pretende ser exaustivo, embora a entrada dedicada à Cidade do Santo Nome de Deus seja a única que permite chegar à contemporaneidade, a 1999, pela extensão de objectos e profusão de peças de valor histórico e arquitectónico, assinala Rossa, em entrevista ao Hoje Macau. Nas vésperas da apresentação, e em tempo de avisos da UNESCO e impasse legislativo, o arquitecto alerta para a singularidade local destacando a importância de uma obra do género para o reconhecimento do mérito - físico e imaterial – do que se considera património histórico. Porque, diz, a definição, a protecção é sempre o resultado de uma luta de forças e de um critério, mais ou menos informado, das comunidades. Que obra é esta “Património de Origem Portuguesa no Mundo”, e no seu caso que coordenou o volume da Ásia, o que é que decidiu privilegiar? É uma espécie de estado da arte, em jeito de dicionário, com entradas geográficas e textos de enquadramento geral. Está dividido em cinco grandes regiões, uma das quais a de Macau/Japão. Não se trata tanto de uma história de arquitectura e do urbanismo até porque os critérios de selecção tiveram uma regulação variável e não está lá tudo. Primeiro, não tínhamos espaço, mas depois também era preciso obedecer a algum equilíbrio geral da obra. Por vontade nossa, ainda tínhamos incluído mais objectos, mas, por acaso no que toca a Macau, a entrada até é cronologicamente a mais alargada de todas, com cerca de 50 itens, o que nos permite chegar até à
contemporaneidade, a 1999. Contamos com dois textos, que nos dão uma perspectiva histórica e urbana de Macau, um da autoria de Pedro Dias, e que vai até 1911, um ano importante para Macau, depois, um segundo da autoria de Ana Tostões, cuja análise se prolonga até à passagem do território para a soberania chinesa. No resto da Ásia, há outros casos, muito diferentes, em que os objectos estão muito degradados, em que já só existem alguns vestígios, ou ainda, como no caso de Nagasaki, apenas uma ideia do que existia. O volume apresenta ainda gráficos e fotografias, mas quero sublinhar que não se trata de um trabalho de síntese. Em Macau, é apresentado em inglês. Acabamos agora de concluir a publicação em inglês porque que no caso da Ásia é especialmente importante, uma vez que já pouca gente domina o português, coisa que já não acontece, por exemplo, em África ou no Brasil. Mas, como digo no texto, oxalá este volume se desactualize rapidamente porque prefiro pensá-lo como um ponto de partida. O que é que ficou dentro, que é que decidiram integrar no capítulo de Macau?
Integra vários bairros, fortes, avenidas, igrejas. Aqui surge a questão se é de origem, matriz ou influência portuguesa. Eu prefiro falar em influência na medida em que se nos reportamos à origem específica portuguesa, então ficaríamos reduzido a um livro finíssimo. Acho que falar de origem não é a designação mais adequada já que existem objectos distintos embora com influência portuguesa. Creio que esta designação [influência] representa mais fielmente, e de modo mais correcto, a interacção com o que se passa. Macau é um exemplo pelas suas influências locais, chinesas e orientais. Não se trata de uma bíblia. Não é uma bíblia. O que procuramos foi reunir informação que antes nunca tinha sido reunida, o que para investigadores é, extremamente, importante. Por exemplo, através do índice cronológico podemos observar o que estava a acontecer em Goa, ou na Guiné, enquanto no Brasil se estava a construir isto ou aquilo. Ou, por exemplo, vai permitir identificar mais correctamente os movimentos de determinados protagonistas históricos [através do império]. Ou seja, cruzamos informação que hoje nos permite potenciar a investigação histórica no futuro.
“Portugal poderia fornecer ‘know-how’ e formação, disponibilizarse para encontrar fontes de financiamento e, em cooperação, garantir uma intervenção mais qualificada” Em contextos pós-coloniais, de urbanização acelerada como acontece em vários pontos do continente, e em Macau, em particular, como é que é possível uma estratégia eficaz para a salvaguarda do património? Eu tenho um problema. Sou muito optimista. O património não é passado. É presente, o que ficou da história como material activo. É o resultado da selecção que as comunidades, bem às vezes os cataclismos também, decidiram fazer ao longo da história. É um jogo de forças, também, e a minha luta pela salvaguarda de determinados objectos deve ser entendida nesse jogo de forças porque é, sempre, desse jogo de forças que resulta a nossa herança histórica. Mas duas coisas me parecem importantes nesta
obra: promover a investigação, a circulação e a divulgação de conhecimento. Costumo falar de salvaguarda em desenvolvimento. Não podemos esperar e querer que os edifícios sejam estáticos, que não sejam úteis. Se nós explicarmos a importância das coisas, de como esses objectos se mantém actuais, sem perderem o essencial, se soubermos explicar a importância destas obras em certos contextos, então estaremos a chamar a atenção e a valorizar essas obras. Porque é preciso que haja esta percepção de que se a história de Portugal foi de racismo, colonialismo, se teve esse lado negro, apresenta também um lado positivo que é feito desse contributo que deu à história da humanidade. E Macau dispõe de um conjunto de bens que fazem parte desse património mundial. É preciso ser sensível a esse fenómeno. Como é que avalia as políticas do Estado português de salvaguarda do património? Poderia ter feito muito mais. E fê-lo de uma forma desigual. Acho que nessa matéria antes e depois do 25 de Abril, a Fundação Calouste Gulbenkian recolhe grandes méritos. Houve ali um período áureo quando da Comissão para os Descobrimentos em que se multiplicaram as exposições, as publicações, a investigação, mas depois não houve uma continuidade. Uma das possibilidades, nesta questão do património de influência portuguesa, será a da cooperação com os países ou regiões onde esse património se encontra. Até por uma questão ética ou diplomática, se quisermos. Portugal poderia fornecer ‘knowhow’ e formação, e até mesmo, disponibilizar-se para encontrar fontes de financiamento para em cooperação com esses países e garantir a salvaguarda ou, pelo menos, uma intervenção, mais qualificada. No caso do Brasil a questão não se coloca tanto nestes termos porque já existem bons técnicos e investigadores muito competentes, mas se falarmos da Índia ou do antigo Ceilão, penso que seria uma boa opção. Ou seja, disponibilizar conhecimento.
OS ANOS GULBENKIAN NO IACM
Chama-se “O Património Histórico de Origem Portuguesa no Mundo e a Fundação Calouste Gulbenkian” e inaugura, na próxima sexta-feira, dia 29, no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. A exposição traça uma leitura dos anos em que a Fundação Calouste Gulbenkian, por ausência de uma política de Estado, assumiu os encargos de protecção do património de influência portuguesa espalhado pelo mundo, com especial incidência no período anterior ao 25 de Abril de 1974. A mostra abre em Macau um dia depois do lançamento do volume sobre a Ásia, editado pela Fundação, dedicado ao mesmo tema.
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E no início foi o sobressalto, agora, os indícios de laxismo transformaram-se em avisos da UNESCO. Macau pode cair da lista de património mundial. Mas este, pela visibilidade internacional e pelo embaraço político que uma tal decisão implicaria, ainda é menos ameaçado. Mais grave é todo o património físico que a sensibilidade política local ainda não reconhece. Porque a questão, para além de iminentemente cultural que valorizar, com que critérios – é também económica – pela escassez de território e consequente pressão imobiliária e especulativa – e política. Apesar da boa diplomacia, a invocação simbólica de uma presença estrangeira colide ainda com certo discurso patriótico, quando não revisionista. Daqui a importância da publicação de obras como esta agora editada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). O ponto, no entanto, permanece. Em contextos pós-coloniais, de aceleração urbanística e pressão especulativa, quais as estratégias mais efectivas de salvaguarda do património? Uma resposta mais evidente residiria na UNESCO. Mas a evidência não passa de uma ilusão. “Não sei até que ponto o trabalho da UNESCO, nesses contextos, será eficaz. Não sei se terá muita eficácia”, começa por apontar Jorge Figueira, crítico e docente de arquitectura, estudioso da obra de Manuel Vicente, em Macau. Não é um problema de desconfiança ou sequer de cepticismo. O próprio director do gabinete da UNESCO para a Ásia logo, em 2007, escasso ano e meio após a decisão das Nações Unidas, e a propósito do encobrimento do Farol da Guia pela torre do Gabinete de Ligação, expressava a incapacidade da organização em estabelecer uma fiscalização eficaz dos sítios e monumentos. Por isso “a população [de Macau] constitui um agente imprescindível, dada a incapacidade da UNESCO de ter permanentemente equipas a fiscalizar o estado dos sítios e monumentos classificados”.
E O SÉCULO XX?
Se os classificados enfrentam esta pressão, então que será do património não reconhecido, oficialmente, como tal? Que acontecerá aos objectos do Modernismo, da arquitectura tropical, industrial, do contemporâneo? Que acontecerá, enfim, ao século XX?, preocupa-se a historiadora portuguesa Ana Tostões, autora do capítulo de Macau de 1911 ao fim da soberania portuguesa, e
Do reconhecimento à salvaguarda, uma questão cultural e política
Portugal (e Macau) assinalado actualmente presidente de turno da prestigiada Docomomo – um ‘watchdog’ internacional, que reúne membros dos cinco continentes, de protecção aos edifícios modernistas em risco. Como salvar, pois? Tostões propõe um critério: a presença de património moderno deve implicar sustentabilidade económica, social, construtiva e um programa que possa ser adaptado a uma reutilização. Em casos excepcionais, pontualiza, para reabilitar ou restaurar uma peça única, será válido avançar com uma estratégia de musealização. Para José Manuel Fernandes, docente na Universidade Técnica de Lisboa, historiador, por ausência de instrumentos formais do Estado português, já para não falar “‘da disponibilidade cultural’ para os pensar”, a simples presidência de uma portuguesa à frente da Docomomo pode funcionar como instrumento institucional de particular influência. Até porque “só agora a sociedade civil lusa começa a produzir documentos abrangentes” refererindo-se aos três volumes da FCG, e que vai ser passado a portal on-line em 2012.
“Não tenho grandes ilusões sobre a salvaguarda do património. Penso que do ponto de vista documental, esse património certamente ficará registado, mas já do ponto de vista físico tenderá, no grosso, a desaparecer” JORGE FIGUEIRA, DOCENTE “É um primeiro passo, ter toda a informação essencial em português e inglês”, reconhece, valorizando na obra “os efeitos pedagógicos (nas academias, universidades, serviços, jornais, investigadores, onde será consultado, etc)”. Só que “para ter efeitos na salvaguarda real, será necessário desenvolver um trabalho ‘au pair’, integrado e integrador com as instituições e a administração, para os sensibilizar ‘politicamente’ a desencadearem processos de classificação, de obras, etc”.
FANTASMAS COLONIAIS
Em cima, as questões do património não estão isentas de anátemas neo-coloniais. A resposta ao fantasma opera-se a dois níveis. Cultural: “Os fantasmas neo-coloniais são muitos,
“Os fantasmas neo-coloniais são muitos, e começam em Portugal, continuam no Brasil, eclodem nos PALOPS, duram em Goa, traduzidos […] Mas a informação organizada e a sua divulgação estruturada e contínua, será o essencial para os aniquilar – leva apenas tempo” JOSÉ MANUEL FERNANDES, HISTORIADOR
e começam em Portugal, continuam no Brasil, eclodem nos PALOPS, duram em Goa, traduzidos […] Mas a informação organizada e a sua divulgação estruturada e contínua, será o essencial para os aniquilar – leva apenas tempo”. Depois, político: “propor no próximo encontro dos países lusófonos a criação de um comité para criação de uma lista de património a defender nesses oito países, e noutros – seria fácil, e rápido, havendo decisão política, a partir das listagens da UNESCO, do Docomomo e da FCG”. Todo este cenário autoriza as reservas que Jorge Figueira manifestava antes. A pressão institucional é indispensável mas deve ter uma raiz no terreno. “Creio que seria preciso efectuar um grande trabalho laboratorial, um trabalho de levantamento minucioso, a exemplo do que aconteceu com o trabalho de Pancho Guedes, em Moçambique”, sublinha Figueira, e “isso em Macau está ainda quase tudo por fazer”. Daí que seja difícil “tornar essa protecção efectiva. Não tenho grandes ilusões sobre a salvaguarda do património. Penso que do ponto de vista documental, esse património certamente ficará registado, mas já
do ponto de vista físico tenderá, no grosso, a desaparecer”. Basta olhar para o edifício da TDM, da autoria de Manuel Vicente: “ano após ano, tem vindo a ser esquartejado.” Uma das saídas que Jorge Figueira sugere ouviu-a de um arquitecto da associação local. Passa pela “definição de um conjunto de obras, ou um itinerário de obras que se deveriam preservar. Podia funcionar segundo um critério de grupo, ou critério temático. Creio que é uma boa ideia e que podia ser reconhecido para efeito de protecção e salvaguarda”. Apesar das barreiras locais à preservação histórica do património, o problema de Macau não pode ser isolado de um paradigma mais geral que se traduz nas relações culturais e políticas que mantém com a sua História, com o seu presente, com uma ideia geral de tempo. Pode estar certa Ana Tostões quando realça a singularidade local, que “aqui existe outro conceito filosófico do tempo e uma forte pressão especulativa” e que, por isso, uma “consciencialização cívica e profissional” se torna imperativa. Mas não está menos atenta quando vincula esta problemática às batalhas culturais que, em todo o mundo, cada colectividade entendeu (ou não) travar em nome de uma certa ideia política de convivência. “Todos tivemos de lutar para salvaguardar património, também na Europa”, salienta a historiadora. Nisto, Macau não é um caso singular. É, apenas, um caso em sobressalto e em espera.
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WIKIMÓNIO?
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James Chu diz que a formação deve ser prioritária para o desenvolvimento das Indústrias Culturais no território. Foi uma das várias opiniões escutadas pelo Governo ontem, na primeira reunião do Conselho para Indústrias Culturais
Reforço educativo e subsídios para as indústrias culturais
Academia de Artes na calha ANTÓNIO MIL-HOMENS
CULTURA
Um portal bilingue intercativo, denominado PIHIP, sobre o património de influência portuguesa espalhado pelo mundo deverá estar operacional em 2012. Funcionará segundo a mecânica da wikipédia em que todos os cidadãos e estudiosos do património poderão acrescentar informações que considerem relevantes sobre o estado do património físico e imaterial, clássico, moderno, ou contemporâneo. A informação será depois avalizada por um grupo de especialistas. O portal resulta de um protocolo entre a Fundação Calouste Gulbenkian e quatro universidades portuguesas.
Filipa Queiroz
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AIS subsídios, infra-estruturas, cooperação e uma Academia especializada nas Indústrias Culturais e Criativas – são ideias apresentadas por James Chu, representante do Grupo para o Planeamento de Recursos, que saiu da primeira reunião do Conselho para as Indústrias Criativas satisfeito. “O Governo está aberto a todas as sugestões desde que sejam valiosas, viáveis e sustentáveis”, atirou aos jornalistas o também presidente da associação artística local Art For All. Para que os planos sejam realizados é preciso tempo, ressalvou Chu. Tempo para discutir, analisar, ouvir e debater - mas já há planos a curto prazo. Os membros do Conselho esperam ver criado num futuro próximo um fundo de apoio às indústrias culturais. A longo prazo confessam que gostavam de ver erigida uma Academia de Artes, além de outros projectos apresentadas ontem à tarde ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, e presidente do Conselho para as Indústrias Culturais, Cheong U.
INVESTIMENTO NO SECTOR
James Chu diz que o Governo vai ponderar a criação de um fundo que visa subsidiar as associações sem fins lucrativos. “O objectivo é ajudá-las a desenvolver projectos e actividades culturais, e também estão a ser ponderadas medidas como prémios para encorajar as pessoas a desenvolver actividades no sector”, explicou o porta-voz do Conselho. A expectativa do grupo é que o fundo “seja feito a curto prazo”, sendo que antes é necessário fazer estudos e “acertar pormenores”. A tónica está na urgência. “Queremos
que o processo seja rápido mas ainda não temos um prazo determinado”, admitiu Chu, salientando ainda a necessidade da criação de um sector independente para fiscalizar funcionamento do fundo. Outro dos assuntos lançados pelo grupo especializado para o planeamento de recursos foram os subsídios. “É preciso aumentar os subsídios e a formação relacionada com tudo o que tenha a ver com as indústrias culturais e criativas”, avançou Chu. O responsável vincou que há falta de investimento na área, sugerindo que empresas sejam incentivadas a apostar mais no sector e ter contacto com a indústria criativa. A formação é outra zona sensível no espaço local. “Estamos a pensar se será possível criar uma escola de ensino de indústrias criativas e culturais”, declarou Chu. Depois de analisar a situação actual de Macau, o grupo concluiu que é necessário uniformizar o ensino ligado às indústrias culturais e criativas no território. “Há diferentes escolas a praticar diferentes programas educativos
relacionados com o sector como o Instituto Politécnico de Macau (IPM), o Instituto de Formação Turística (IFT) e mesmo a Universidade de Macau e de São José, mas não nos parece que ao nível do ensino superior tenhamos uma noção clara do tipo de programas que existem e que tipo de profissionais estamos a formar”, explicou James Chu. O porta-voz destacou o caso do IPM, que já tem um curso de formação para designers, e frisou que “ainda há muita coisa a faltar, sobretudo se compararmos com outras universidades na região que têm a vertente cultural, de gestão e de desenvolvimento de negócios na área, por exemplo”. “As áreas podem complementar-se e é importante pensar neste tipo de colaboração entre diferentes áreas”, acrescentou. Chu considerou que este é um projecto que demorará o seu tempo a ver a luz do dia, já que envolve a disponibilização de espaços, políticas, infra-estruturas e recursos vários, como a contratação de professores qualificados “que dominem o chinês e não apenas
o inglês”. “Mas vamos antes de mais levar a cabo medidas a curto prazo que estejam de acordo com os recursos existentes”, rematou.
FORA DO TERRITÓRIO
A Ilha da Montanha e a cooperação regional foram outros dos temas em cima da mesa. Si Ka Lun, representante do Grupo da Promoção das Indústrias, diz que o objectivo é utilizar o espaço concedido a Macau na zona para desenvolver projectos ligados ao sector. Mas primeiro há uma questão a resolver. “As pessoas estão preocupadas com os impostos”, referiu. O responsável avançou que neste momento as leis e regulamentos sobre a cobrança de impostos são a maior preocupação. “Temos de esperar até que isto seja elaborado para avançar com projectos.” Lok Hei, representante do Grupo para a cooperação regional, destacou a importância da colaboração com regiões vizinhas como Zhuhai, a criação de uma base de dados e de uma rede de mediadores. Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, disse que
foram várias as opiniões escutadas pelo Governo sobre o desenvolvimento do sector das indústrias culturais e criativas. Durante quase três horas, representantes de outros departamentos governamentais como o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude e o IFT apresentaram os seus relatório sobre os trabalhos da sua área respectiva relacionados com as indústrias culturais. Documentos que serão disponibilizados publicamente em breve nos idiomas chinês e português, assegurou o porta-voz. “O Governo tem feito muitos esforços no âmbito do desenvolvimento do trabalho criativo e cultural. Estamos numa fase inicial, a fortalecer as bases para o futuro”, salientou Leong Heng Teng. O objectivo do Governo é aproveitar melhor o papel do Conselho como plataforma de coordenação e comunicação, de forma a permitir o desenvolvimento das indústrias culturais de Macau de forma mais uniforme e coordenada.
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IDEIAS 文子 Wen Zi
A COMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS
Ser largo como um vale significa não se atrever a estar completamente cheio.
CAPÍTULO 155, PARTE IV Outrora, aqueles que trabalham com meios hábeis para o mundo não punham artifício em nada e, ainda assim, nada era feito. Existe, então, uma forma de trabalhar para o mundo: se a descobrires, tudo será realizado sem esforço; se não a descobrires, as tuas acções serão inevitavelmente malfadadas. A forma de trabalhar para o mundo consiste em fazê-lo hesitantemente, como se se atravessasse um grande rio em pleno inverno; cautelosamente, como se se sentisse medo de toda a gente; respeitosamente, como se se fosse um convidado; sê abundante gelo que derrete, puro como campónio, opaco como uma suspensão, largo como um vale. Esta é a forma de trabalhar para o mundo. Ser hesitante como quem atravessa um grande rio em pleno inverno significa não
agir com presunção. Ser cauteloso como quem sente medo de toda a gente significa suspeitar de tudo o que é maléfico. Ser respeitoso como um convidado significa ser humilde e reverente. Ser abundante como gelo que derrete significa não se atrever a acumular tesouros. Ser puro como um campónio significa não se atrever a fazer as coisas descuidadamente. Ser opaco como uma suspensão significa não ter ambições de clareza. Ser largo como um vale significa não se atrever a estar completamente cheio. Aqueles que não avançam em presunção não se atrevem a ser os primeiros a bater em retirada. Aqueles que têm o cuidado de não fazer mal a si mesmos permanecem flexíveis, não se atrevendo a ser altivos. Aqueles que são humildes e reverenciais rebaixam-se e honram os outros. Aqueles que não se atrevem a acumular tesouros reduzem-se e não se atrevem a ser avaros.
Aqueles que não se atrevem a fazer as coisas descuidadamente considerem-se em falha e não presumem ser completos. Aqueles que não presumem clareza permanecem na obscuridade e ignominia e não presumem ao que é novo e fresco. Aqueles que não se atrevem a ser completamente cheios, vêem que estão em falha e não se presumem meritórios. A Via é tal que é possível avançar batendo em retirada; possível receber honra e manter a flexibilidade; possível elevar-se ao se rebaixar; possível cumprir-se diminuindo-se a si mesmo; possível ser completo na falha; possível ser novo e fresco sendo obscuro e ignominioso; possível ser bom realizando que se está em falta. A Via em nada põe artifício, mas nada há que não faça. Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho
O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online.
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19 p er sp ect i va s Jorge Rodrigues Simão
Ciclo incompleto do petróleo “The most colossal environmental perturbation in human history is in the air. It is in every breath you take, in every wind, every cloud, each hurricane, and all skies everywhere, day and night. Ever- increasing concentrations of the heat- trapping greenhouse gas carbon dioxide (CO2) are already disrupting the planetary energy balance, as is perhaps most visible in the melting of mountain glaciers and Arctic sea ice.” CO2 rising: the world’s greatest environmental challenge, Tyler Volk
A
interacção da geologia com a sociedade é um ciclo, uma das componentes das ciências dos sistemas da Terra que envolve o homem. Mas esse ciclo é mal compreendido. A sua existência é pouco conhecida. Depois, o que é mais grave, é que uma das características deste ciclo é amplamente ignorada pelos próprios geólogos, que o ciclo é aberto e não fechado. Além da água subterrânea, os recursos que estão a ser retirados da Terra como contributos para a sociedade, não são renováveis por processos naturais, ao mesmo ritmo a que são extraídos. A sua exploração não é sustentável. Do memo modo, muito do que é produzido pela sociedade não pode ser reciclado e regressar ao sistema. Mantêm-se como concentrados tóxicos ou dispersões incompletas, tanto acima como abaixo da superfície do solo. Alguns destes poluentes podem mesmo deteriorar outros recursos renováveis, como a água subterrânea ou a atmosfera. Os geólogos actuam, pois, dentro de um sistema linear para explorar recursos, quase sempre sem terem em consideração a incompatibilidade desse sistema com uma perspectiva mais holística da Terra, que gostam de ensinar. Generalizar sobre atitudes ambientais míopes no âmbito da ciência geológica, é ignorar muitas áreas de preocupação e de acção informada. Mas a profissão de geólogo está ensombrada por um exemplo manifesto de pensamento turvo que desacredita a imagem da geologia como ciência holística. Este exemplo é a exploração de combustíveis fósseis. Mais de metade dos geólogos de países como o Reino Unido, Estados Unidos, Rússia, China e Brasil estão directamente empenhados em descobrir petróleo e gás natural. Outros trabalham para agências energéticas governamentais. Alguns geólogos ligados às universidades desenvolvem programas de investigação subsidiados por empresas petrolíferas. Se lhes acrescentarmos os que estão envolvidos na descoberta e produção de carvão e, talvez possamos concluir que 65 a 75 por cento dos geólogos dependem do negócio dos combustíveis fósseis.
A missão deste negócio consiste em fornecer combustível à sociedade num volume tão grande, e com uma margem de lucro tão compensadora para os seus accionistas, quanto o mercado económico permitir. Os geólogos envolvidos na exploração constituem o primeiro elo humano da cadeia da oferta e da utilização do petróleo. Recorrendo aos seus conhecimentos da história da Terra, conseguem identificar períodos em que se formaram sedimentos com um elevado teor de matéria orgânica, as rochas donde se extrai o petróleo e o gás natural. Conseguem identificar as zonas onde esses sedimentos podem ter estado acumulados e ter sido aquecidos e comprimidos nas quantidades devidas para que se verifique a maturação de hidrocarbonetos. Através de técnicas geofísicas de sondagem, exploram a estrutura do subsolo na zona seleccionada para identificarem áreas específicas, em que as lamas petrolíferas que se deslocam para cima, possam ter ficado retidas num reservatório de rocha porosa. As explorações podem revestir-se de um maior rigor mediante a abertura de poços de ensaio e medição da espessura, da sequência e das características das unidades rochosas. Se as suas previsões saírem certas, e alguns desses poços tiverem petróleo ou gás, os geólogos ligados à exploração entregam o caso aos geólogos envolvidos na produção, que delineiam uma estratégia para extrair o máximo volume de petróleo desse campo petrolífero. A exploração petrolífera actual está muito distante da imagem pública de sondagens ilegais e de golpes de sorte que ainda prevalece. Abrir poços é uma actividade demasiado dispendiosa, particularmente no mar, para ser feita, sem um bom motivo. Mais do que isso, a exploração petrolífera figura entre os testes científicos mais sofisticados e mais caros do mundo. O geólogo de exploração funciona dentro de um modelo estabelecido para a formação de petróleo, baseado em investigação científica da melhor qualidade acerca dos processos relevantes da Terra, e numa grande base de dados construída por êxitos e fracassos passados em áreas exploradas. A exploração petrolífera é a ciência geológica no seu melhor. Infelizmente, a exploração e a produção constituem apenas a extremidade a montante de um ciclo de utilização do petróleo, cuja lógica é contrária às conclusões da mais holística ciência dos sistemas da Terra. De facto, o ciclo do petróleo dificilmente merece esse nome. Trata-se, na melhor das hipóteses,
de um ciclo aberto, no qual os recursos energéticos são introduzidos por um lado e os seus resíduos são libertados para o ambiente por outro lado, muitas vezes poluindo outros sistemas de apoio à vida. É claro que a teoria termodinâmica dita que o binómio matéria-energia não é destruído. Passa de um baixo estado de entropia ordenado e concentrado, para um alto estado de entropia desorganizado, dissipado e menos disponível para ser utilizado na produção. A poluição e os resíduos são altos estados de entropia quase por definição.
As empresas petrolíferas não são responsabilizadas pelos custos ambientais dos gases de estufa, emitidos para a atmosfera quando o petróleo e o gás são queimados, nem pelos resíduos de pesticidas e fertilizantes, que se acumulam nas águas subterrâneas, quando estes subprodutos do petróleo são utilizados em excesso Os efluentes provenientes da exploração do petróleo afectam todas as partes do ambiente. Junto da extremidade a montante do ciclo procura limitar-se a fuga de resíduos tóxicos. A sociedade tem conseguido responsabilizar as empresas petrolíferas para
derramamentos de navios-tanque ou fugas de “pipelines”. Mas esta actividade não se estende à poluição a jusante do uso do petróleo. As empresas petrolíferas não são responsabilizadas pelos custos ambientais dos gases de estufa, emitidos para a atmosfera quando o petróleo e o gás são queimados, nem pelos resíduos de pesticidas e fertilizantes, que se acumulam nas águas subterrâneas, quando estes subprodutos do petróleo são utilizados em excesso. A ética actual permite que as empresas petrolíferas revelem nos seus balanços os rendimentos provenientes da extracção e da venda de um recurso natural, mas também lhes permite, que omitam os custos dos danos provocados nos sistemas naturais pela utilização desse recurso. Esta mesma ética constitui a defesa dos geólogos, que se limitam a descobrir o petróleo e o gás natural destinados a uma sociedade cada vez mais sedenta de recursos, que deve ser responsável pela utilização destes. Mas esta ética é questionável. Ironicamente, algumas das questões podem ser colocadas pelos próprios geólogos. Aspirando a uma ciência holística, eles estão bem posicionados para detectar os perigos do ciclo incompleto do petróleo. Um dos perigos talvez o principal, do uso do petróleo está bem patente quando se completa apenas um dos muitos ciclos naturais alterado para esse uso; o ciclo do carbono. Uma definição simplificada mostra como o carbono é armazenado em grandes reservatórios e transferido de uns para os outros por processos biológicos, químicos e físicos. Os maiores fluxos envolvem a transferência de dióxido de carbono (CO2) de e para a atmosfera. O dióxido de carbono é empurrado para baixo pelos organismos fotossintéticos e convertido na biomassa dos oceanos e continentes. É de novo libertado pela respiração dos animais. A solução inorgânica e a libertação de CO2 da água do mar juntam-se aos fluxos. A quantidade de CO2 existente na atmosfera é crucial para controlar a quantidade de calor retida pelo efeito de estufa, deixando entrar as radiações solares, mas evitando que o calor saia. Sem a intervenção humana os níveis de CO2 atmosférico variam lenta e regularmente em resposta às alterações que se verificam na órbita da Terra e do Sol. Mas desde a Revolução Industrial, que os níveis de CO2 têm subido exponencialmente, alimentados pelo carbono suplementar que se liberta quando o carvão, o gás natural e as florestas ardem.
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PERFIL
LUDIMILA BARAI | ADVOGADA ESTAGIÁRIA
Os sonhos mudam mas a vocação permanece Patrícia Ferreira
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O desejo de seguir o modelo do pai fez
com que Ludimila Barai traçasse o seu rumo profissional desde criança. Tem 30 anos e é actualmente advogada estagiária na Associação dos Advogados de Macau, consultora jurídica num escritório local e ainda doutoranda na Universidade de São José. Nascida na Guiné-Bissau, mudou-se para Portugal aos dez anos e lá completou os estudos primários no ano de 1991. As voltas do destino fez com que regressasse à sua terra de origem em 1992, onde concluiu o secundário. Terminada esta fase de estudos, estava destinada a seguir os passos do pai. Queria ser diplomata e poder compartilhar os sucessos familiares. “Lembro-me que desde criança quando me perguntavam o que queria ser quando crescesse, eu respondia que queria ser como o meu pai.” No entanto, não sabia que o sonho estava destinado a mudar de direcção. Foi em 1999, quando o pai foi nomeado Ministro Conselheiro da Embaixada da República da Guiné-Bissau na República Popular da China, em Pequim, que se candidatou para fazer a licenciatura em Direito na Universidade de Macau. “Nunca pensei que iria fazer o curso em Direito, mas como queria fazer o curso em português e os cursos que a universidade oferecia na minha língua era esse, então destinei-me a esse curso”. Já em Macau integrou-se rapidamente na comunidade. Pode estar em contacto com as comunidades africanas, o que também lhe fez sentir-se mais perto de casa. Recorda que o único obstáculo enfrentado foi quando recebeu a notícia, já no território, de que não teria a bolsa de estudos prevista. “Quando cheguei, disseram-me que iriam cortar a minha bolsa porque ainda não estava disponível. Foi a maior dificuldade que tive, mas mesmo assim dei a volta por cima.” Iniciou os estudos e, embora estivesse confusa se estava a tomar a decisão mais acertada, foi levando e acabou por descobrir um admirável e
agradável mundo novo. Assim que acabou a licenciatura, em 2004, quis continuar a aprofundar os conhecimentos na área, inscrevendo-se num mestrado em Ciências Jurídicas. A vontade de querer lançarse na vida profissional falou mais alto e quis dar, paralelamente à pós-graduação, os primeiros passos como advogada – entrou então, como consultora jurídica, para o escritório de advogados Gonçalves Pereira, Rato, Ling ,Vong e Cunha, função que mantém até hoje. “Já queria ter a experiência de trabalhar, então comecei a enviar currículos para alguns escritórios em Macau e acabei por ser aceite como consultora.” Ludimila confessa que aprendeu muito com o trabalho e que o gosto por advocacia cresceu ainda mais ao descobrir a vertente humanitária do direito. “As pessoas por vezes não vêem o lado humanitário do direito. O poder de ajudar fez-me sentir ainda mais sortuda por ter mudado o meu sonho.” Ainda não completamente satisfeita no ramo profissional, candidatou-se para o doutoramento há dois anos na Universidade de São José. Foi aceite e passou a acumular a função de cocoordenadora do Centro de Investigação e Estudos de Desenvolvimento Africano e assistente do curso de mestrado em Estudos Lusófonos. Ainda tornou-se consultora jurídica em regime part-time no Consulado Honorário da República da Guiné-Bissau na RAEM, em 2005, e lá mantém-se. O que mais fascina Ludimila em Macau é a segurança e a tranquilidade que a cidade oferece. As saudades da terra natal sempre lhe invadem a alma. “Macau, além da tranquilidade, também oferece uma estabilidade económica de que não me abro mão.” Para o futuro tem a certeza de que regressará ao seu país, mas não nos próximos cinco anos. Ainda é preciso aprender muito por cá e brilhar na área do Direito.
PATRÍCIA FERREIRA
SEXTA-FEIRA 22.7.2011
[f]utilidades Cineteatro | PUB
SALA 1
HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS: PART 2 [B] Um filme de: David Yates Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
[ ] Cinema
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SALA 3
KUNG FU PANDA 2 [A] FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Jennifer Yuh Nelson 14.15, 16.00, 17.45, 19.30 SALA 3
SALA 2
MR. POPPER’S PENGUINS [A]
TRANSFORMERS DARK OF THE MOON [B]
Um filme de: Mark Waters Com: Jim Carrey 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Um filme de: Michael Bay Com: Shia LaBeouf, Markiss McFadden 21.15
VERTICAIS: 1-Oferece. Trabalho de operários (Bras.). 2-Ressonâncias. Mulher casada, senhora. 3- Bagaço de que se faz a água-pé. Sinal cabalístico. (Ant.). Prata (s.q.). 4-Ensejo, pretexto. O m. q. lábdano. 5-Partirdo, bando (Pop.). Triturada com os dentes. 6-Lugar de onde se extrai o saibro. 7-Quinto. Cheia de ira. 8-Acolhe, protege. Olor. 9-Espécie de escumilha. Refrigerante de ácido tartárico. Mas, contudo. 10-Honrai. Segurar com a mão, agarrar. 11-Tornar a percorrer. Rio costeiro de França que desagua no mar do Norte.
SOLUÇÕES DO PROBLEMA HORIZONTAIS: 1-DELAS. CALAR. 2-ACINESICO. E. 3-OASIANO. AC. 4-OS. ARICISMO. 5-P. S. ABOTOAR. 6-EDIL. R. ADIR. 7-RALAREI. A. E. 8-AMADOIRO. AR. 9-GA. AIRADOS. 10-E. ANDADORIA. 11-MAGOA. ARARA. VERTICAIS: 1-DA. OPERAGEM. 2-ECOS. DAMA. A. 3-LIA. SILA. AG. 4-ANSA. LADANO. 5-SEITA. ROIDA. 6-SAIBREIRA. 7-CINCO. IRADA. 8-ACOITA. ODOR. 9-LO. SODA. ORA. 10-A. AMAI. ASIR. 11-RECORRER. AA.
REGRAS |
Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO DIA ANTERIOR
Su doku [ ] Cruzadas
HORIZONTAIS: 1-De elas. Não falar. 2-Que se relaciona com a privação ou moderação dos movimentos. 3-Semelhante a oásis. Sigla latina que indica data anterior à era cristã. 4-Osmio (s.q.). Delicadeza, elegância e sobriedade de linguagem ou de escrita. 5-Fechar com botão. 6-Vereador municipal. Somar, unir. 7-Triturarei. 8-Amável. Modo. 9-Gálio (s.q.). Aéreos, desvairados. 10-Oficio de andador. 11-Dor de alma (Fig.). Logro (Fig.)
[Tele]visão www.macaucabletv.com TDM 13:00 13:30 14:30 19:00 19:30 20:25 20:35 21:00 22:00 22:58 23:00 23:30 01:15 01:45
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OPINIÃO u m g r i t o n o d eser t o Paul Chan Wai Chi*
Sabedoria política H
Á um colunista de um jornal de Hong Kong que fez uma análise sobre a liderança das duas Regiões Administrativas Especiais (RAE) e considera que a governação é composta de gente estúpida. O caso de Hong Kong tem sido bem pior do que o de Macau porque as pessoas estúpidas têm estado muito activas a tentar fazer coisas, causando enorme descontentamento público. Já em Macau, a sociedade é relativamente mais harmoniosa, uma vez que as pessoas estúpidas têm sido demasiado preguiçosas para fazer o que quer que seja e são muito fatalistas. Seja como for, esses indivíduos estúpidos de Macau têm ultimamente começado a pensar em fazer as coisas funcionarem de forma mais zelosa. Mas por serem limitados em termos de sabedoria, transformam coisas boas em coisas más assim que lhes põem a mão. A Administração em Macau tem sempre estado nas mãos de grupos de interesse estabelecidos, que se auto-proclamam “patriotas” e juram amar Macau. Uma eleição do tipo “uma pessoa - um voto” não parece ser necessária, uma vez que as pessoas podem chegar ao poder ou ser reconduzidas bastando para isso a aprovação das associações e do Governo Central, sem mais aborrecimentos. Perante esse cenário, as pessoas não precisam ter nenhuma sabedoria, nem desenvolver quaisquer capacidades ao longo do seu crescimento político. Tudo o que têm de fazer é sociabilizar e estabelecer laços. Isso acaba por criar um ambiente político pouco são, uma vez que dificilmente há qualquer concorrência que obrigue esses ditos membros da liderança a porem à prova a sua competência. É por isso que a classificação dessa gente pouco brilhante é tão baixa. Tomemos por exemplo a proposta de lei “Quadro geral do pessoal docente das escolas particulares do ensino não superior”, que tem sido debatida ultimamente. Esse diploma complementar que está prestes a ser estabelecido no Sistema Educativo de Macau data de há 20 anos, ou seja, levou duas décadas para chegar às mãos da Assembleia Legislativa (AL). A designação original de “carreira dos professores” foi agora rebaptizada como “quadro”. Esta proposta de lei tem uma característica distinta, que é o facto de entrar em vigor no ano lectivo imediatamente seguinte à aprovação da lei. Por outras palavras, se a lei for aprovada em Agosto, ficará efectiva logo em Setembro, com o início de um novo ano lectivo. Mas se for aprovada em Setembro, isso significa que apenas passará a valer em Setembro de 2012, um ano depois. Milhares de professores em Macau têm estado à espera desta lei há anos e esperam que entre em vigor tão cedo
quanto possível, sobretudo os professores que estão a chegar à idade de reforma, de forma a poderem gozar de alguns dos benefícios da aposentadoria. Mas a verdade é que o processo legislativo tem levado muito tempo e a paciência nos círculos educativos está a chegar ao limite. Os professores já tentaram várias formas diferentes durantes estes anos para pedir ao Governo que acelerasse o processo legislativo. Com a intenção de animar os círculos da educação, alguém no Governo da RAEM veio com a ideia apresentar a proposta de lei à AL dois meses antes (em Junho) do que estava agendado. Dessa forma, a proposta de lei foi aprovada na generalidade pelo plenário a 29 de Junho e o Governo pensou: “missão cumprida”. Mas os círculos educativos pediram ao Governo que encerrasse o processo legislativo da lei antes de a AL ir de férias a 15 de Agosto, de
forma a que pudesse ser implementada no início do próximo ano lectivo. Se o processo legislativo tivesse seguido o calendário original do Governo e a proposta de lei fosse enviada para a AL para ser aprovada na generalidade pelo plenário em Agosto, não haveria hipótese de que o processo legislativo fosse concluído antes de a AL partir para férias e os círculos educativos não teriam apelado ao Governo para que finalizasse o processo legislativo antes de a Assembleia encerrar a 15 de Agosto. A culpa recai sobre aqueles que estão no nível decisor do Governo e têm falta de sabedoria política. Pensavam que apresentando a proposta de lei à AL antes do tempo iria conquistar os corações dos professores, dando a ideia de estarem a acelerar o processo legislativo, e que isso marcava o fim da sua tarefa. Não esperavam que os professores viessem apelar
A Administração em Macau tem sempre estado nas mãos de grupos de interesse estabelecidos, que se auto-proclamam “patriotas” e juram amar Macau. Uma eleição do tipo “uma pessoa - um voto” não parece ser necessária, uma vez que as pessoas podem chegar ao poder ou ser reconduzidas bastando para isso a aprovação das associações e do Governo Central, sem mais aborrecimentos
ao Governo para que finalizasse o processo legislativo o mais depressa possível. Por esta altura, o Governo sente que as coisas não estão a ir bem e tenta encontrar formas de remediar a situação. Mobilizou todos os deputados que conseguiu para ajudar os responsáveis do Governo competentes a enfrentar os deputados que têm defendido a aprovação da lei o mais depressa possível durante as sessões de debate em grupo, e a suportar a pressão exercida sobre o Governo pelos professores, de forma que a proposta de lei não seja aprovada antes de a Assembleia entrar no defeso. O Governo da RAE apresentou a proposta de lei antes do tempo à AL mas não deseja que o processo legislativo termine muito antes do que estava agendado. Essa operação de cosmética política barata revela a verdadeira natureza do Governo da RAE e coloca-a sobe os holofotes. Durante a reunião da 2.ª Comissão Permanente agendada para 7 de Julho para convocar a primeira sessão de debate sobre a proposta de lei, foram levantadas 50 e tal questões relacionadas com os artigos e cláusulas da proposta a colocar ao Governo. Na sua sessão de debate agendada para 19 de Julho, representantes do Governo apenas deram respostas gerais a umas poucas questões importantes. Quanto às restantes perguntas, não responderam nem foram capazes de dar qualquer explicação por escrito. A segunda sessão de debate foi uma perda de tempo. Para a terceira sessão de debate agendada, que será a 25 de Julho, o Governo prometeu que iria apresentar respostas escritas às questões respectivas. Para os nossos leitores: acreditam que os debates sobre a proposta de lei possam acabar antes de a AL ir de férias, tendo em conta a eficiência e atitude do Governo? Às vezes, mais valia que as pessoas estúpidas não pusessem as mãos no trabalho. Sabedoria política é uma coisa inata ou adquirida. Não há nenhuma maneira para que as pessoas possam herdar sabedoria política. *Deputado e presidente da Associação Novo Macau Democrático
Nunca desprezar as coisas pequenas,
mas dar-lhes toda a atenção. Padre Manuel Teixeira [1912-2003]
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23 ca u sa s p ú b l i ca s Um olhar atento sobre a actualidade da RAEM
José Pereira Coutinho
Mais dinheiro,
menos qualidade de vida A PÓS o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a maioria dos cidadãos tinha a legítima expectativa que a RAEM governada pelas suas gentes e com um alto grau de autonomia viesse a conhecer desenvolvimento sustentado, tanto a nível económico como social. Quando em 2001 se aprovou a concessão de cinco licenças de jogo, começou uma enorme fase de investimentos que levou quase imediatamente à exploração desproporcional dos preciosos e escassos recursos naturais da RAEM, nomeadamente os terrenos. Quando comparamos a RAEM de 2001 com a de 2011, a população aumentou e o número de turistas aumentou exponencialmente, mas a única coisa que temos a mais é cimento e betão armado: prédios, pontes, casinos e hotéis. Na educação, continuamos com o mesmo número de creches, escolas e universidades, muitas delas de baixa qualidade. Na saúde, continuamos com os mesmos dois hospitais e cada vez mal a pior. No ambiente, continuamos com as mesmas estruturas e redes de incineração, de tratamento de águas e de recolha de resíduos sólidos e continuamos sem espaços verdes e com cada vez menos zonas pedestres. Na energia e telecomunicações, continuamos com os mesmos monopólios (de lei e de facto, respectivamente). Nos transportes, temos muito mais tráfego e dificuldades de estacionamento, menos qualidade na rede de autocarros e o aeroporto perde passageiros e qualidade. Os salários dos cidadãos subiram, mas também a inflação, as rendas e as despesas com os bens essenciais, designadamente com a alimentação e habitação. Ou seja: a qualidade de vida da maioria dos cidadãos piorou consideravelmente na última década, mas bem pior do que isso é verificar que esta ausência de planeamento estruturado e integrado para a RAEM continua, sem solução à vista. Enquanto o fosso entre ricos e pobres aumenta, a classe média sente-se abandonada. Um dos exemplos mais flagrantes deste abandono do Governo encontra-se nos trabalhadores da função pública no activo, nos aposentados e nos pensionistas, que vinham recebendo mil patacas por mês como subsídio de residência, muitos deles há dezenas de anos e dum dia para outro ficaram a ver navios. Outro é o facto de ser virtualmente impossível
A qualidade de vida da maioria dos cidadãos piorou consideravelmente na última década, mas bem pior do que isso é verificar que esta ausência de planeamento estruturado e integrado para a RAEM continua, sem solução à vista. Enquanto o fosso entre ricos e pobres aumenta, a classe média sente-se abandonada
para jovens adquirirem casa própria com os preços especulativos do mercado imobiliário, sendo que o preço do arrendamento também se encontra em valores proibitivos. Desde o estabelecimento da RAEM, o Governo tem sistematicamente ignorado a gestão, organização e planificação ordenada da cidade, fechando os olhos à contínua destruição do meio ambiente, ao mesmo tempo que foi permitindo a degradação da qualidade do ar e do saneamento básico, o aumento galopante da poluição sonora, visual e luminosa numa cidade que carece tristemente de espaços verdes e zonas de lazer. Pense-se no desperdício da zona dos lagos Nam Van ou da zona das casas Antigas da Taipa, que são autênticos desertos de betão. Ora, a oferta de cheques aos cidadãos não é mais que uma confissão de incompetência do Governo, que visa silenciar as críticas às evidentes carências da RAEM e surge como suposta contrapartida para a profunda decepção dos cidadãos com o desempenho dos sucessivos Governos da RAEM. Mas o domínio em que a maneira cada vez mais arbitrária como se exerce o poder na RAEM é mais notório é, sem margem para dúvidas, no domínio dos recursos humanos. A situação dos recursos humanos na RAEM é hoje em dia catastrófica. Os sistemas restritivos e inflexíveis presentemente em vigor estão a literalmente a estrangular o investimento na RAEM e a causar prejuízos incalculáveis à economia e até à reputação da RAEM como economia global. A recusa terminante do Governo em adaptar as condições de recru-
tamento de não-residentes às condições de mercado está a afectar grandes e pequenos investidores, incluindo serviços de interesse público. É importante frisar que a culpa deste verdadeiro cancro no desenvolvimento de Macau não é dos funcionários do Gabinete de Recursos Humanos, nem da DSAL: estes estão obrigados por dever de ofício a implementarem as directrizes que lhes são dadas pelos seus superiores e a cumprirem a lei que existe. Aculpa é da falta de coragem política do Governo para atacar este problema de frente, ouvir as empresas, auscultar os diferentes interesses e introduzir mudanças radicais no procedimento e critérios aplicáveis! É necessário rever urgentemente a regulação dos recursos humanos em Macau. O resultado final de tudo isto, é que, de uma maneira geral, a sociedade da RAEM está cada vez mais fracturada, e a capacidade de operar do Governo está cada vez mais minada pela desconfiança, pela falta de credibilidade e transparência, potenciada pela incompetência de vários dos seus altos responsáveis, que se vão mantendo no poder à custa da fuga permanente das suas responsabilidades ou mediante uma atitude de “quanto menos fizer, menos riscos corro”. Mas o mais grave é que junto da comunidade política e da sociedade civil, há um sentimento de acomodação, de complacência, de aceitação de tudo isto… “Isto é Macau…”, “Macau não muda…”. Todos parecem aceitar a incompetência e a má gestão das entidades públicas como uma fatalidade e os cidadãos de Macau parecem
conformados com este desgoverno total em certas áreas. Há um clima em Macau de total impunidade e de total conformismo, e para inverter esta tendência que está a atrofiar Macau, exige-se coragem política ao Chefe do Executivo, com espírito de mudança, começando por renovar o leque de Secretários e eventualmente reformular a estrutura governativa. Só assim se dará um novo ímpeto reformador, renovando os procedimentos, credibilizando as entidades públicas.
CCAC: MUDANÇAS A ESTUDAR PROFUNDAMENTE
Foi apresentada e discutida anteontem a proposta de alteração da lei que rege a actividade do CCAC e, em primeiro lugar, sobre o diploma em si, destaca-se o manifesto o alargamento das atribuições: Na versão actual da lei fala-se de actos de corrupção ou de fraude mas na proposta de lei fala-se de crimes de corrupção e de crimes conexos de fraude. Como a fraude, no nosso ordenamento jurídico, não constitui um tipo legal de crime, a alteração de actos de corrupção ou de fraude para a prevenção e repressão da prática de crimes de corrupção e de crimes conexos de fraude pode levar a que o CCAC passe a deter poderes para investigar um número indeterminado de crimes, nomeadamente de burla, de burla qualificada, de abuso de confiança, de abuso de confiança qualificada e de falsificação, pelo menos. Será isto que o legislador pretende? Será isto que a RAEM precisa? É preciso tempo para analisar e estudar esta proposta, mas numa primeira aproximação, julgo que há órgãos de investigação criminal que verão as suas competência ser “atropeladas” por um órgão que tem diversas particularidades. Por outro lado, não sendo “fraude” um tipo legal de crime autónomo, mas antes um conceito genérico integrador de diferentes tipos legais de crime, a referência a crimes conexos de fraude pode conduzir a um alargamento incontrolado das atribuições do CCAC em matéria de investigação criminal, correndo o risco de passar os crimes de corrupção e de abuso de poder dos órgãos públicos para segundo plano. Na verdade, fraude, em sentido comum (nos dicionários de língua portuguesa) é: «dolo, engano, burla, contrabando, falsificação de marcas e produtos industriais, a falsificação de documentos, de pesos e medidas, o desfalque, o desvio, a concorrência desleal, a sonegação de impostos». Julgo, pois, ser importante evitar o recurso a essa expressão abrangente de «crimes conexos de fraude», o que tem um alcance manifestamente mais largo do que actos de corrupção ou fraude. Este é apenas um aspecto, de muitos outros que certamente merecerão uma atenção especial da Assembleia Legislativa.
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Filipa Queiroz; Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Patrícia Ferreira, Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros, Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Luís Sá Cunha, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
ca rpor t oon Steff
EUA EXECUTADO POR VINGAR 11 DE SETEMBRO Um homem foi executado no Texas por dois homicídios cometidos numa loja de conveniência em Dallas em 2001, alegadamente para vingar os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001. Mark Stroman, de 41 anos, que se auto-intitulava “defensor da supremacia branca”, foi executado por injecção letal na prisão de Huntsville, no estado do Texas, apesar de uma intensa campanha contra a aplicação da pena capital. Os disparos de Mark Stroman, que mataram dois homens e feriram um terceiro em 2001, tinham como alvo pessoas oriundas do Médio Oriente. Foi a morte do indiano Vasudev Patel, de 49 anos, que colocou Mark Stroman no corredor da morte.
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HESS EXUMADO PARA IMPEDIR PEREGRINAÇÕES A campa de Rudolf Hess, braço-direito de Adolf Hitler, em Wunsiedel (Baviera), que foi local de peregrinação de neonazis nos últimos anos, foi levantada e os restos mortais serão incinerados. O cortejo fúnebre anual de neonazis ao túmulo de Hess, por ocasião do aniversário da sua morte, era sempre motivo de preocupação para as forças de segurança, para a autarquia e para os habitantes de Wunsiedel, mas agora deixou de existir. A campa foi levantada ontem, os restos mortais de Hess vão ser incinerados e as cinzas lançadas ao mar, com autorização dos herdeiros.
ONU CLIMA AMEAÇA PAZ MUNDIAL As alterações climáticas são uma ameaça real à paz mundial, reconheceu ontem, pela primeira vez, o Conselho de Segurança da ONU, referindo-se, por exemplo, à perda de território por alguns países devido à subida do nível do mar. Há já quatro anos que o Conselho de Segurança da ONU não falava de Ambiente. “Fenómenos extremos são cada vez mais frequentes e intensos, tanto em países ricos como em países pobres. Devastam vidas mas também infra-estruturas, instituições e orçamentos financeiros”, disse Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU. SOMÁLIA PEDIDOS DE AJUDA URGENTE O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu aos líderes mundiais que ajudem a reunir 1,6 mil milhões de dólares para impedirem milhões de mortes na Somália. Em algumas regiões estão a morrer todos os dias quatro crianças em cada dez mil pessoas. “Quase metade da população, ou 3,7 milhões de pessoas, estão agora em crise”, indicou Ban Ki-Moon, acrescentando que esta catástrofe humanitária terá um efeito devastador não apenas na Somália mas também nos países vizinhos. Mais de 166 mil somalis procuraram nos últimos tempos refúgio nos vizinhos Quénia e Etiópia, afectados também, tal como Djibuti e o Uganda, por uma grave seca.
SEXTA-FEIRA 22.7.2011
FIM DE UMA ERA
Atlantis encerrou ciclo da Nasa na tarde de ontem
Chegou ao fim a odisseia dos vaivéns espaciais
O
vaivém Atlantis aterrou às 17h57 (hora em Macau) no Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Florida, com quatro astronautas a bordo. Foi a última viagem de um vaivém da NASA. O vaivém aterrou pouco antes do nascer do Sol (às 05h57, hora local), cerca de uma hora depois de ter entrado na atmosfera terrestre e de ter sobrevoado a América central. Em piloto automático durante toda a descida, o comandante Chris Ferguson assumiu os comandos da nave manualmente para alinhar o vaivém com a pista de aterragem. “Missão cumprida, Houston. Depois de ter servido durante mais de 30 anos, a nave espacial americana conquistou o seu lugar na História”, disse o comandante do Atlantis, pouco depois da aterragem. Depois, os quatro astronautas - Chris Ferguson (comandante), Doug Hurley (piloto) e os especialistas de missão Sandra Magnus e Rex Walheim - procederam a uma série de avaliações aos sistemas de segurança. Este é o fim da missão do Atlantis, que passou oito dias, 15 horas e 21 minutos acoplado ao laboratório orbital. “Os vaivéns espaciais mudaram a forma como vemos o mundo, a forma como vemos o universo”, acrescentou Ferguson . “A América não vai parar de explo-
rar [o espaço]”, garantiu Ferguson, agradecendo o fim do programa, com sucesso. O Atlantis saiu da Terra no passado dia 8 de Julho, com o objectivo de transportar quatro toneladas de carga em comida, roupas e equipamento para um ano de trabalho da ISS. A carga foi armazenada no módulo italiano Raffaello, de 6,5 metros de comprimento, que ficou acoplado à estação durante estes dias. Os astronautas descarregaram o que havia no módulo e voltaram a enchê-lo com lixo produzido na ISS e material que já não é necessário, voltando à Terra com o Atlantis. Foi o 33º voo deste vaivém, que se estreou no espaço em Outubro de 1985. O fim da frota de vaivéns espaciais da NASA foi decidido pelo Governo norte-americano, em
parte devido aos elevados custos de manutenção das naves. As cinco naves do programa espacial realizaram mais de duas mil experiências nas áreas das ciências da Terra, Astronomia, Biologia e Materiais. Ao longo destes anos, acoplaram em duas estações espaciais: a russa Mir e a ISS. Agora, a curto prazo, a NASA vai depender da Rússia para transportar astronautas de e para a Estação Espacial Internacional (ISS). O Atlantis ficará exposto no centro de visitantes no Centro Espacial Kennedy, e os Discovery e Endeavour - que cumpriram as suas últimas missões no início deste ano - ficarão à guarda do Museu do Ar e do Espaço (Virgínia) e Centro de Ciências da Califórnia, em Los Angeles, respectivamente.
AL-QAEDA FILME “À DISNEY” PARA RECRUTAR CRIANÇAS Membros da Al Qaeda estão a produzir um filme de animação para recrutar crianças e jovens muçulmanos para a luta armada contra o Ocidente. Um dos membros desse grupo terá afirmado que, juntamente com outros colegas, estava a terminar a produção de um filme de animação que ensinaria às crianças a história da organização e os inspiraria a cometer actos de terrorismo. “É um filme à semelhança dos da Disney, mas que pretende contar às crianças histórias do profeta, de guerras santas e propaganda anti-Ocidente”, disse o ex-jihadista Noman Benotman com ligações à al Qaeda. Cenas do filme mostram jovens vestidos com uniformes de guerra a participarem em ataques, mortes e atentados terroristas, segundo Benotman, que indicou ainda que o grupo está a finalizar o filme que pretende distribuir através da Internet e em DVD. CANCRO RISCO MAIOR COM ALTURA Pessoas mais altas têm maior risco de desenvolver cancro ao longo da vida, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford. De acordo com os resultados, a cada dez centímetros a mais de altura, o risco de ter um dos dez tipos mais comuns de cancro aumenta em 16%. O estudo, publicado na revista científica “Lancet Oncology”, acompanhou 1,3 milhões de mulheres de meiaidade na Grã-Bretanha, entre 1996 e 2001. Entre as mulheres mais baixas (com menos de 1,52 m), foram registados 750 casos de cancro por grupo de 100 mil por ano, enquanto entre as de altura mediana (1,62 m) o número subiu para 850 casos de cancro, e no grupo mais alto (1,75 m), houve mil casos. Os tipos de cancro que seriam afectados pela altura são de cólon, rectal, melanoma maligno, mama, útero, ovário, rim, linfoma, linfoma não-hodgkin e leucemia.