Hoje Macau 23 JUN 2015 #3356

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gonçalo lobo pinheiro

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t e r ç a - f e i r a 2 3 d e j u n h o d e 2 0 1 5 • ANO X i v • N º 3 3 5 6

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Ter para ler

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andré ritchie arquitecto, ex-coordenador do git

Vivemos de fachada O metro ligeiro não vai resolver o problema das deslocações. São as palavras do ex-coordenador do GIT que defende uma maior aposta do Governo na circulação pedonal. Para André Ritchie, a força do mercado e do imobiliário empobreceram a construção arquitectónica de uma cidade em que cada um faz o que quer e as fachadas dos edifícios, embora cuidadas, são desrespeitadas. entrevista Páginas

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A urgência da criação r. w. fassbinder

maus tratos

Como ajudar quem ajuda? Página 9

opinião

A gendarmerie de África rui flores

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entrevista

hoje macau terça-feira 23.6.2015

André Ritchie arquitecto e ex-coordenador do GIT

A sua saída do cargo político que ocupava, o metro e o património são alguns dos assuntos em cima da mesa com o ex-coordenador do GIT. Com algumas reticências, André Ritchie fala de várias questões mais polémicas, mas defende que não é altura para tudo ser revelado Esteve à frente do gabinete que coordena o metro ligeiro. É realmente necessária esta construção em Macau? Não existem alternativas mais económicas? Acho que Macau precisa acima de tudo de ser uma cidade mais “user friendly”. Neste território, a distância não pode ser medida pela distância em si, mas pelo tempo que demoramos nas nossas deslocações. Macau está a tornar-se uma cidade muito desconfortável. Há distâncias curtas, que a pé são pouco confortáveis devido aos passeios e ao número de pessoas. É preciso, por isso, um sistema integrado de transportes e isso implica o metro, autocarros, táxis e circulação pedonal. Em Hong Kong, por exemplo, o sistema pedonal funciona bem. Em Macau, devido à sua marca portuguesa de zona alta e baixa da cidade, é preciso compreender o que é possível neste espaço e este sistema pode funcionar muito bem aqui. É inaceitável demorar-se tanto tempo nas deslocações e, por isso, acho que o metro faz sentido. Mas a construção do metro vai resolver este problema? Não. O metro em si não vai resolver este problema das deslocações. Mas claro, tem que ser visto como uma das soluções do puzzle. O Governo tem que apostar mais na circulação pedonal, porque em Macau as pessoas habituaram-se muito ao carro, a um meio de transporte para

deslocações curtas, o que não acontece em Hong Kong. Em Macau as pessoas são preguiçosas, é verdade. Mas a pessoa de Macau quando vai à região vizinha anda muito. Porquê? Porque tem conforto, seja no sistema pedonal ou no metro. Quando há conforto as deslocações tornam-se mais fáceis e rápidas.

gonçalo lobo pinheiro

“Temos fachadas bem cuidadas mas Quando é que acha que esta obra estará concluída? Prefiro não responder a essa pergunta. Há muitas perguntas sem resposta. Porquê esta decisão de nunca comentar, nunca falar em assuntos considerados sensíveis? Nunca falo porque é uma atitude que decidi ter e colocar em prática. Não quero dar a ideia de que bati com a porta e saí aborrecido e agora disparo contra [o Governo]. Olho para trás e acho que tive muita sorte, vim [para Macau] com a economia de rastos, mas depois assistiu-se ao crescimento. Aprendi muito, tivemos imensos projectos, foi estimulante para um novato como eu estar ali na linha da frente. E por isso mesmo não falo por respeito à casa. Naturalmente o Governo também comete erros, eu também cometi erros. Agora não quero aprofundar esses assuntos porque não quero meter o dedo na ferida. Mas a verdade tem que ser dita, é direito da sociedade ter conhecimento dos erros... Sim, acho que sim. Mas não é por mim, mas posso adiantar um aprendizado meu. O meu chefe de Portugal tinha muitas histórias para contar, muitos erros, devido às obras em que estava envolvido e sempre me passou o testemunho que não podia contar e mandar para a sociedade aquelas verdades. Disse-me um dia que iria escrever um livro com o título “As Memórias de um Burro” com essas verdades. O André vai seguir o exemplo? Um dia. As memórias de um burro escrito por mim com essas histórias. Porque é que saiu do Governo? Bem, foram 12 anos no Governo. Nunca foi intenção minha estar eternamente no Governo, há essa tendência geral das pessoas verem os cargos públicos como âncoras para o futuro, mas nunca aconteceu comigo. Há uma postura errada do acomodar-se ao cargo. Há um ditado chinês que diz que fazer ou não fazer é a mesma coisa e isto é errado. Profissionalmente, é super desmotivador e castrante. Ao longo dos anos que trabalhei

fui sempre recebendo algumas propostas mas recusei, até que, chega-se a um ponto da nossa motivação em que temos que mudar. Não escondo que comecei a ficar desmotivado. Porquê? Enfim, porque o Governo tem o seu ambiente e modo de trabalho, do ponto de vista legal, jurídico, a nível de procedimentos que eu já conhecia bem. Estava a precisar de algo novo. Foram 12 anos a trabalhar com os mesmos mecanismos, mesmos procedimentos, mesmo método. Tinha que mudar. Disse que aprendeu muito, boas e más experiências. Podemos ter como exemplo a condenação de Ao Man Long? Sim, essa foi uma das situações que foi uma grande lição para mim.

Fui testemunha e todo o processo foi intenso. Aprendi muito, porque aprendemos sempre com os bons e os maus momentos. Ao Man Long foi o bode expiatório para uma situação que envolvia muita gente? As pessoas têm essa tendência de generalizar. Por exemplo, agora no caso recente da FIFA alguns deles são suspeitos, o que faz com que as pessoas acusem o presidente [Joseph] Battler imediatamente. Neste caso, não sei, não estou dentro do assunto. Mas acredito que há de facto tendência para culpabilizarmos o outro. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, afirmou que ia mexer em alguns serviços e gabinetes organizando-os, fundindo-os ou

“O metro em si não vai resolver este problema das deslocações. Mas claro, tem que ser visto como uma das soluções do puzzle. O Governo tem que apostar mais na circulação pedonal”

até eliminando-os. Concorda com esta espécie de arrumar da casa? Vejo esta decisão mais como algo global do que só desta pasta específica. Acho que isto está acontecer transversalmente, não é só na pasta dirigida pelo Secretário Raimundo. Parece-me bem, porque defendo que a reforma administrativa é sempre necessária e contínua. A cidade vai-se transformando, portanto o Governo tem sempre necessidade de criar serviços para dar resposta a algumas lacunas ou desafios e isso acontece com várias tutelas. Ao longo dos últimos anos foram criados vários serviços na pasta das Obras Públicas, para dar resposta. Mas claro, é sempre oportuno perceber se esses serviços são necessários ou se é possível fundir alguns deles para se conseguir um melhor desempenho. Não sei se a casa está desarrumada, pelo menos não quero assumir isso, vejo a reforma administrativa como algo necessário. Quando se faz este [trabalho] de extinção ou união é preciso perceber porque é que esses serviços foram criados, perceber a sua natureza, cultura e orgânica. É preciso perceber se são úteis ou não.


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completamente desrespeitadas”

O Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-Estruturas (GDI) é útil? Foi renovada por mais dois anos a sua existência. O GDI foi muito útil desde a criação da RAEM devido a três grandes construções: a fronteiras das Portas do Cerco, a ponte Sai Van, que é essencial para o acesso ao Cotai, e depois o próprio Cotai. Quando vim em 2003 e comecei a trabalhar no GDI o Cotai não existia, foi o gabinete que o construiu e isso foi muito importante para que os investidores pudessem investir. O GDI foi muito útil nessa altura e agora no último Governo foi responsável pela habitação pública. Quer se goste ou não, existe e está construída e foi este gabinete que a executou, assim como a nova Universidade de Macau, que é uma grande obra.

Este serviço é um gabinete de intervenção rápida, tem uma agilidade que muitos serviços não têm e acho que qualquer Governo deve ter este tipo de serviço, sem departamentos, de respostas rápidas. Em Portugal trabalhou na obra do metro do Porto, projecto de grande dimensão. Porque decidiu voltar para Macau? Acabei o curso de Arquitectura no Porto em 2001 e mal acabei o curso comecei a trabalhar lá. Foi sorte, tinha acabado de defender a minha tese sobre o plano inicial sobre os NAPE e cruzei-me com um professor meu, no próprio bar da universidade, que logo ali me fez o convite para a obra do metro do Porto. Nunca pensei em regressar a Macau, confesso, pensei sempre

“Nunca foi intenção minha estar eternamente no Governo, há essa tendência geral das pessoas verem os cargos públicos como âncoras para o futuro, mas nunca aconteceu comigo. Há uma postura errada do acomodar-se ao cargo”

que o meu futuro era na Europa, mas a verdade é que o salário, com os impostos, assustaram-me um bocado. Com o primeiro salário pensei: então é só isto? Quando o António Guterres abandona o cargo e entrou o Durão Barroso com o discurso do ‘país de tanga’ pensei que Portugal não estava a entrar num bom caminho. Precisava de alternativas, a experiência de trabalho estava a deixar-me infeliz e mexi-me aqui em Macau. Pronto, voltei.

é muito importante. A bagagem cultural é muito importante, ganhar motivações de desenho, ver como se vive nas outras culturas, perceber o verdadeiro significado da área, não é só desenhar umas coisas bonitas. Neste lado do mundo há muito esta ideia do design, do moderno ou clássico. Não é nada disto, é muito mais profundo que isso. Digo sempre às pessoas que da necessidade, a motivação de desenho, nasce uma moda e não o contrário.

O Regime de Acreditação de Arquitectos e Engenheiros em Macau entra em vigor agora no início de Julho. Concorda com este regime? Não conheço muito bem a lei, mas acho que é um bom princípio. É importante porque tem que existir um controlo de qualidade. Faz sentido ter este regime. Portugal recentemente também passou por isso, até se criou a ordem dos arquitectos, portanto acho que sim. Caso contrário qualquer pessoa que tenha um curso inscreve-se nas Obras Públicas e está apto a assinar projectos, não pode ser assim. Este regime é importantíssimo do ponto de vista técnico e profissional.

Sobre o Património de Macau, como vê o que foi até ao momento classificado pela UNESCO e o que poderá ser? O que já foi classificado devia ter mais alma. Não pode ser só fachada. Olhamos para o Largo do Senado, é um sítio bonito e rico, mas o que se passa com os edifícios? Temos fachadas bem cuidadas mas com-

Mas Macau tem capacidade para formar arquitectos? De facto existe um curso de Arquitectura em Macau, na Universidade de São José, mas tenho algumas dúvidas. Conheço as pessoas que estão à frente do curso e posso dizer que são pessoas competentes, são bons, não há dúvidas. Mas o plano de curso em si deixa-me com muitas dúvidas. É preciso começar em algum lado, é uma universidade nova e ninguém lhe tira o mérito, mas não sei que referências tem. Por outro lado, pode ser chato dizer isto, mas não compreendo porque é que este curso não é dirigido pela “prata da casa”. Temos aqui em Macau excelentes profissionais, tais como o Carlos Couto, Carlos Marreiros, Luís Sá Machado, Isabel Bragança... Macau tem bons arquitectos e aparentemente estes profissionais não estão directamente ligados a este curso. O Rui Leão, um bom profissional, já esteve, mas já não está. Não percebo. Acho que é preciso este apadrinhamento. Mas apenas o curso não é suficiente. Não, de facto. Até pode não fazer sentido para alguns, mas para mim uma pessoa que nasça aqui, viva aqui e estude Arquitectura aqui não sei que cultura arquitectónica assumiu. A vivência no exterior, essa experiência como ser humano e profissional, seja em que área for,

E o Hotel Estoril? É um edifício muito interessante, mas é preciso que a sociedade perceba que é necessário manter-lhe a alma. Entenderem que o património não são só arcos e o antigo, o que é novo é também património. O que se faz hoje é património. Não é só o Clube Militar, o Senado, não é só isso. Existe planeamento urbanístico em Macau? Sempre existiu. O que as pessoas têm que compreender é que o planeamento urbanístico é gestão de interesses, económicos e públicos. É preciso haver este equilíbrio. Sempre existiu, mas fala-se muito em planeamento urbanístico porque as pessoas confundem o planeamento com o zonamento, que é organização por zonas. O planeamento não é isto e a po-

“É vergonhoso, vivemos de fachada. Acho que é preciso disciplina e dar vida. Por exemplo o Largo do Lilau tinha mais vida antigamente do que agora, que é considerado património. Na altura tinha um café, uma tasca chinesa, moravam pessoas nas casas em volta, tinha muita vida e nem sequer era considerado património” pletamente desrespeitadas a nível de rés-do-chão pelo comércio, não há o mínimo de disciplina a nível de desenho de lojas, cada um faz o que quer. É vergonhoso, vivemos de fachada. Acho que é preciso disciplina e dar vida. Por exemplo o Largo do Lilau tinha mais vida antigamente do que agora, que é considerado património. Na altura tinha um café, uma tasca chinesa, moravam pessoas nas casas em volta, tinha muita vida e nem sequer era considerado património. E o novo? Bem, espero que da lista não saiam só edifícios antigos com arcos. Espero sinceramente que haja arquitectura moderna porque em Macau fez-se muita interessante, como é o caso da Escola Portuguesa. Há muitas obras de arquitectura moderna que deviam ser preservados. Estamos a entrar numa fase triste para arquitectura porque maioritariamente o que se constrói na cidade é habitação. Antigamente, os arquitectos desenhavam edifícios para habitação muito interessantes, agora perdeu-se isto, por força do mercado e das imobiliárias. Só se constrói edifícios de catálogo.

pulação tem que perceber isto. O planeamento pretende equilibrar e criar ferramentas legais e jurídicas para o ordenamento do território. Como vê Macau daqui a 20 anos? Quando era miúdo, o meu pai, como não havia pontes de ligação a Coloane, combinava excursões com os amigos ao fim-de-semana. No meu tempo, com a ponte, ir à Taipa era uma aventura, pagávamos a portagem e íamos fazer os trabalhos da escola, voltar para casa era outra aventura. Era tudo diferente. Agora em dez minutos estamos em Coloane. Macau expandiu. Para a minha avó ainda existe a ideia dos piratas de Coloane. A expansão vai continuar, vamos crescer e crescer. As fronteira vão estar muito mais premiáveis, vai abarcar Zhuhai e a zona de Cantão, a circulação de bens e pessoas será cada vez maior. Inevitavelmente o nosso estilo de vida vai mudar. Para mim agora ir a Zhuhai é cansativo, tenho que passar a fronteira e aquilo tudo, para o meu filho possivelmente vai ser como ir à Taipa. Ir a Cantão vai ser já ali. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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política

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CPCS Pereira Coutinho pede resultados da revisão de regulamento

Os detalhes que não me deste

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bril de 2013. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) confirma ao deputado José Pereira Coutinho que está a estudar o decreto-lei de 1997 que regula e cria o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). Dois anos depois, Pereira Coutinho volta a questionar o Governo sobre a matéria, numa interpelação escrita. “Que conclusões foram encontradas após mais de um ano da prometida revisão contínua do decreto-lei para alargar a representatividade dos vários sectores laborais e empresariais no CPCS, face à mudança da estrutura económica de Macau, outrora principalmente industrial e hoje quase totalmente virada para o Jogo e a prestação de serviços?”, questiona o deputado, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM). Pereira Coutinho exige a imposição de um limite temporal de dois anos de mandato a cada membro do

tiago alcântara

O deputado José Pereira Coutinho volta a pedir à DSAL resultados sobre a análise de revisão do diploma que regula o Conselho Permanente de Concertação Social, dois anos depois de ter questionado o Executivo sobre o assunto

Outros pedidos

Recorde-se que também a deputada Melinda Chan já pediu a revisão da composição do CPCS, mas a resposta da DSAL, dada a Janeiro deste ano, não revelou grande abertura para uma mudança. “O CPCS, constituído por representantes do Governo, dos empregadores e trabalhadores, satisfaz as disposições anteriores [da Organização Internacional do Trabalho e decreto-lei], sendo os actuais representantes dos empregadores e dos trabalhadores provenientes de organizações representativas de empregadores e de trabalhadores de Macau”, pode ler-se. Na resposta à interpelação escrita, lê-se ainda que o “Governo da RAEM está empenhado em diminuir as divergências existentes para que haja uma coexistência pacífica e um equilíbrio de interesses entre empregadores e trabalhadores, definindo políticas em conformidade com os interesses de ambas as partes”.

“Que conclusões foram encontradas após mais de um ano da prometida revisão contínua do decreto-lei para alargar a representatividade dos vários sectores laborais e empresariais no CPCS?”

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Visita Chefe lidera comitiva de conferência em Jiangmen

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Chefe do Executivo dirige-se esta quinta-feira à cidade de Jiangmen, na província de Guangdong, por forma a participar na edição deste ano da Conferência de Cooperação Conjunta Guangdong-Macau. O encontro deverá servir para fazer um balanço sobre os resultados alcançados ao longo do ano passado e estudar temas como a intensificação da liberalização de serviços e negócios entre as duas regiões, o impulsionamento da criação da zona experimental de comércio livre de Guangdong e a implementação

CPCS, “à semelhança dos limites temporais impostos aos membros da Comissão de Deliberação das Remunerações dos Trabalhadores da Função Pública”. O deputado directo lembra que “volvidas quase duas décadas após entrada em vigor do decreto-lei, após quase 16 anos do estabelecimento da RAEM e da existência de quase sete mil associações cívicas, verificaram-se profundas alterações no sector laboral, passando-se da dependência da actividade industrial para a prestação de serviços, principalmente devido à expansão da indústria de Jogo que de uma concessionária de Jogo passou para seis”. Pereira Coutinho frisa que, na resposta que forneceu ao deputado, em Abril de 2013, a DSAL disse que iria fazer uma contínua revisão do diploma, a fim de satisfazer os interesses da população, mas não respondeu à questão da uniformização do limite temporal do mandato dos membros do CPCS.

das prioridades para o ano de 2015 no âmbito do Acordo-Quadro de Cooperação entre Guangdong e Macau. Para além disso, deverá ser debatida a promoção da ilha da Montanha, de Nansha, de Cuiheng e da baía de Daguang em Jiangmen “como plataformas principais para a diversificação adequada da economia de Macau, bem como o projecto do novo acesso entre as fronteiras de Guangdong e Macau”. Segundo um comunicado oficial, “vai estar ainda em debate o reforço constante da cooperação bilateral na área do turismo

de barcos de recreio, protecção ambiental, saúde, cultura, bem como o início da cooperação na área laboral, segurança social e outros domínios ligados à vida da população”. A Conferência de Cooperação Conjunta Guangdong-Macau vai ainda servir para a assinatura de “vários protocolos de cooperação”. Chui Sai On faz-se acompanhar por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, “vários governantes” do Executivo e ainda O Lam, chefe do seu gabinete.

Chui Sai On quer mecanismos para harmonia familiar

A fim de não deixar passar em branco o dia do pai, que se comemora a 21 de Junho em alguns países, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, deixou uma mensagem na sua rubrica “Palavras do CE”, onde defende que o Governo deve “acelerar os trabalhos de construção de mecanismos eficientes de longo prazo, nomeadamente o da segurança social, dos serviços médicos, da habitação, do ensino e da formação de quadros” de forma a “promover a amizade na família e a harmonia na sociedade”. Chui Sai On, que fez questão de relembrar o pai, falecido, escreve que só assim é possível salvaguardar a justiça social e construir um “lar feliz”.


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Secretário para a Economia e Finanças garantiu aos jornalistas que o Executivo vai mesmo implementar medidas de controlo do erário público caso as receitas do Jogo fiquem abaixo do limite pensado. Segundo um comunicado, Lionel Leong referiu que “o Governo já definiu um limite e, caso a receita seja inferior, serão tomadas imediatamente medidas de austeridade”, sendo que além de “se usar o dinheiro de forma cautelosa, será também prestada atenção ao ambiente e situação dos outros sectores”. Lionel Leong confirma que “os serviços públicos relacionados com a vida da população, regalias sociais, obras públicas e comparticipação pecuniária não serão afectados” e desdramatiza a quebra das receitas do Jogo, referindo que “conforme as experiências dos anos anteriores, mesmo que haja uma subida das receitas brutas, o mês de Junho apresenta todos os anos uma descida dentro dos 20%”.

Jogo Austeridade pode chegar a Macau, diz Secretário

Benefícios protegidos

Confiança no futuro

Já o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, referiu à imprensa, à margem de um evento público, “que os benefícios sociais dos residentes pub

“O Governo já definiu um limite e, caso a receita seja inferior, serão tomadas imediatamente medidas de austeridade” Lionel Leong Secretário para a Economia e Finanças

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disponibilizados pela sua tutela não serão reduzidos” e que, caso sejam reduzidas as despesas financeiras, “serão primeiro adoptadas as medidas necessárias dentro dos serviços da Administração Pública”. O Secretário garantiu ainda que os residentes não devem estar preocupados com os benefícios sociais, até porque as finanças do Governo são ainda estáveis, “sendo normal uma redução momentânea das despesas”. Alexis Tam confirmou que já deu instruções a todos os serviços sob a sua tutela para reduzir as despesas, como por exemplo diminuindo ou cancelando visitas ao exterior, “bem como outras actividades desnecessárias”. O governante considera que a economia de Macau mostra boas perspectivas, tendo em conta que o mercado do turismo é muito forte, sendo que caso se verifique uma descida económica de curto prazo, “[Alexis Tam] e a sua equipa irão reforçar a promoção turística no interior da China e no exterior, procurando o apoio do Governo Central, fazendo o possível para atrair mais turistas de qualidade”. Tam está confiante que consegue enfrentar os desafios surgidos no desenvolvimento económico, aponta o mesmo comunicado.


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Português morre em acidente no Cotai

Um português natural de Macau faleceu este fim-de-semana, vitima de um violento acidente no Cotai. O homem circulava na Avenida Marginal Flor de Lótus, quando foi abalroado por uma carrinha de dupla matrícula, que não terá dado prioridade ao motociclista. O acidente aconteceu junto à entrada para o parque de estacionamento do Broadway. O condutor passou o teste do álcool e, apesar de haver vídeos da colisão, a PSP está a pedir a quem tenha visto o acidente para servir de testemunha. Um membro do Conselho Consultivo do Trânsito já veio a público apelar ao Governo que altere o esquema da via, já que tanto condutores como Kou Kun Pan dizem que a visão não é clara e que há obstáculos a bloquear a visão para quem vem nas vias. “Quando eles entram na estrada, podem não conseguir aperceberse que os outros veículos vêm a grande velocidade”, disse à TDM, acrescentando que “o Governo deveria eliminar o cruzamento, passando antes a ser usada a rotunda, que tem mais segurança”.

Windsor Arch TNR reúnem com DSAL após manifestação

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Táxis DSAT com mais de 600 propostas para novos alvarás Decorre hoje o acto público para a abertura de propostas para as 200 novas licenças As 200 novas licenças de táxi cer que faltam profissionais para da economia, lembrando que nos próximos tempos poderá ocorrer de táxi. O Governo terão a duração de oito anos e o preço conduzir os táxis”. Tony Kuok frisou a descida de a fuga de condutores de táxis para base de cada alvará é de 200 mil patarecebeu um total cas, incluindo 10% do selo de verba. rendimentos dos taxistas na ordem outros sectores económicos, que Para ser admitido ao concurso, cada dos 20% devido à quebra das re- ofereçam melhores salários. O de 643 propostas, candidato pagou uma caução de 50 ceitas do Jogo e ao abrandamento mesmo responsável garante que o preço proposto para este concurso mil patacas. A DSAT esclarece que número inferior a não deverá ultrapassar um milhão “a concessão dos alvarás será feita de patacas, valor atingido em 2013. anos anteriores. Já conforme a ordem decrescente do valor dos preços unitários propostos “Visto que, durante está a ser pensado pelos concorrentes e os alvarás não Mais táxis a caminho o corrente ano e o serão atribuídos em grupos como no Findo este concurso, a DSAT um novo plano para passado, para que, por esta forma, próximo 230 alvarás garante que vai arrancar com um se possa acelerar o processo da novo concurso para a atribuição de mais alvarás de licença de táxis entrada em funcionamento destes mais licenças. “Visto que, durante o

Na casa da partida

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ecorre hoje o acto público de abertura das candidaturas à concessão de 200 novos alvarás de táxi. Segundo a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), foram recebidas 643 propostas, as quais serão tornadas públicas hoje numa sessão a decorrer no Instituto Politécnico de Macau (IPM). O prazo para a recepção das propostas terminou no passado dia 18.

novos táxis”. Recorde-se que o Jornal Tribuna de Macau já noticiou a fraca adesão ao processo, sendo que em 2013 um total de 120 candidaturas chegaram à DSAT, também para 200 alvarás. Em declarações ao JTM, Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxi, explicou que “os investidores têm receios devido às incertezas económicas e, por outro lado, as rendas do aluguer das viaturas envolvem montantes elevados, sem esque-

terão o seu prazo de validade terminado, o Governo está actualmente empenhado na preparação e execução de um plano de atribuição de novos alvarás” Comunicado da DSAT

corrente ano e o próximo 230 alvarás de licença de táxis terão o seu prazo de validade terminado, o Governo está actualmente empenhado na preparação e execução de um plano de atribuição de novos alvarás de táxis, visando a manutenção do serviço de táxis”, lê-se no comunicado. A DSAT considera ainda que “na sequência do rápido desenvolvimento da sociedade de Macau, tem-se observado um crescente acréscimo da procura pelo serviço de táxis”. Andreia Sofia Silva

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ais de 60 trabalhadores não-residentes (TNR) que trabalhavam no empreendimento Windsor Arch vão reunir com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), a quem pediram ajuda para receber salários em atraso. De acordo com a imprensa chinesa, 20 homens fizeram 12 horas de protesto no sétimo andar do empreendimento, obrigando os Bombeiros a colocar colchões de ar na estrada, devido ao risco de saltos. Os trabalhadores da área da construção civil entregaram primeiramente uma petição na sede do Governo, na qual pedem a ajuda do Executivo para receberem os salários referentes a Junho e mais dez mil patacas de depósito para trabalharem. Na semana passada, estes TNR tinham-se manifestado junto ao Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. A manifestação obrigou ao corte da Rotuda dos Ocean Garden ao Windsor Arch, sendo que no local estiveram presentes além dos Bombeiros, a polícia, com uma equipa de negociadores. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, um dos responsáveis pela contratação dos operários garantiu que o diferendo já está resolvido, dizendo que não entende o motivo deste protesto.


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lbano Martins adverte que há que ter atenção quando se fala no aumento da taxa de rentabilidade da reserva financeira local, pois pode significar apenas um “potencial de lucro” e não efectivo. De acordo com o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, a reserva financeira teve lucros na ordem dos 6,9 mil milhões de patacas, assim representando uma taxa de rentabilidade de 5% só entre Janeiro e Maio deste ano. Se é verdade que há factores positivos, o economista pede atenção. “É uma percentagem relativamente boa, comparando com o passado histórico de Macau, em que a rentabilidade era às vezes de menos de 1%”, começou por dizer Albano Martins ao HM. A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) tem vindo a ser, desde a criação da reserva – em 2012 – criticada pela falta de ousadia nos investimentos feitos, tendo a taxa de lucro ficado sempre abaixo dos 3%. Ao HM, o economista disse ainda que embora se tenha verificado um aumento de 2% relativamente a 2013, deve esperar-se pelo prazo final das aplicações de investimento para saber se o aumento representa um lucro real. “[Este aumento não significa] que Macau não esteja a perder dinheiro em termos reais, porque a taxa de inflação é superior, o que implica que até ao final do ano o valor real da reserva tem menos poder de compra do que no início do ano”, explicou. O que importa, para o economista, são os valores alcançados no final de cada ano ou do prazo das aplicações que a AMCM faz. “O que isto pode querer dizer é que há hoje um resultado positivo, mas é preciso chegar-se ao final da aplicação”, adverte.

Dos números

Criada em 2012, a reserva financeira de Macau é composta por reserva básica e reserva extraordinária. A primeira é equivalente a 150% da totalidade das dotações da despesa dos serviços centrais, constante do último orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa, enquanto a reserva extraordinária equivale aos saldos remanescentes após a satisfação da reserva básica. No final de Maio, a reserva financeira de Macau tinha um total de 349,6 milhões de patacas, dos quais 134,3 milhões de patacas ou 38,4% dos activos estavam alocados na reserva básica e 215,3 milhões de patacas ou 61,6% na reserva extraordinária. Segundo a AMCM, os lucros decor-

Reserva Financeira Rentabilidade a 5% não significa lucro efectivo, diz economista

As contas fazem-se no fim

O economista Albano Martins está confiante no “potencial de lucro” do aumento da taxa de rentabilidade da reserva financeira a 5%, mas adverte que tal poderá não durar até final do ano, hora de tirar teimas

“[Este aumento não significa] que Macau não esteja a perder dinheiro em termos reais, porque a taxa de inflação é superior, o que implica que até ao final do ano o valor real da reserva tem menos poder de compra do que no início do ano” Albano Martins Economista

rentes dos investimentos da reserva financeira têm vindo a crescer desde a sua criação: “No primeiro ano, a rentabilidade manteve-se no nível de cerca de 1,6%, enquanto em 2013 subiu para 3% em resultado da extensão do leque dos produtos de investimentos, e em 2014 a taxa de retorno situou-se em 2%, com lucros de cerca de 4670 milhões”.

A RAEM aplica as disponibilidades da reserva financeira em depósitos, em investimentos em títulos, em divisas, e em investimentos associados a acções. Entre Janeiro e Maio deste ano, os investimentos em títulos registaram 2165 milhões de patacas quando nos 12 meses de 2014 foram 3.652,2 milhões de patacas e os investimentos em acções até ao quinto mês deste ano geraram 3.296 milhões de patacas acima dos 1.412,6 milhões de patacas atingidos no ano passado. Por outro lado, verifica-se ainda que as perdas nas aplicações em divisas são muito menores: de 3.139,2 milhões de patacas em 2014 passaram a 16,1 milhões de patacas entre Janeiro e Maio deste ano. Recorde-se que o Secretário Lionel Leong vai à AL apresentar explicações sobre os investimentos de Macau através da reserva financeira, algo que poderá vir a ser feito por Guangdong, conforme avançado nas Linhas de Acção Governativa. Leonor Sá Machado (com Lusa) leonor.machado@hojemacau.com.mo

Criado Centro de Incubação de Negócios para Jovens

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oi oficialmente criado no passado dia 18 o Centro de Incubação de Negócios para Jovens, o qual passa a funcionar sob tutela dos Serviços de Economia (DSE). Os jovens que queiram começar o seu próprio negócio podem apresentar a candidatura ao arrendamento de um local de atendimento provisório para um período de seis meses, podendo requerer a renovação por mais seis meses, até ao máximo de um ano. Falando à margem da inauguração do Centro, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, referiu que esta entidade “tem como objectivo responder às expectativas da sociedade, nomeadamente ao apoio aos jovens empreendedores e melhoria da situação de emprego”. O Centro não só financia quem

queira começar o seu negócio, como disponibiliza “várias formas de ajuda”. Sou Tim Peng, director da DSE, explicou que o novo local pretende prestar “serviços de apoio one stop, incluindo formação nesta matéria, consultadoria e assessoria, espaço para trabalho, bolsa de contactos comerciais e informações de mercados”. Segundo um comunicado, o Centro “desenvolverá o reforço da cooperação com as associações e entidades na divulgação do projecto-piloto de empreendedorismo e do programa de orientação, para os quais serão convidados empresários juvenis e jovens empreendedores a fim de trocarem directamente impressões sobre esta matéria e a partilharem experiências de criação de negócios com êxito”, remata um comunicado.


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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 402/AI/2015 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora YE JINZHI, portadora do Salvo-Conduto de dupla viagem da RPC n.° W59681xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 79/DI-AI/2013, levantado pela DST a 31.07.2013, e por despacho da signatária de 08.06.2015, exarado no Relatório n.° 450/DI/2015, de 21.05.2015, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade, n.° 1321, Edf. Hung On Center, Bloco 3, 17.° andar U onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 08 de Junho de 2015. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

AVISO EXAME DE APTIDÃO DE AMADOR DE RADIOCOMUNICAÇÕES Avisam-se todos os interessados que pretendam ser admitidos ao exame de aptidão de Amador de Radiocomunicações, previsto para 6 de Setembro de 2015, nos termos do DecretoLei n.o 29/94/M, de 14 de Junho, de que as inscrições se encontram abertas a partir da publicação deste aviso, até 31 de Julho, e podem ser efectivadas na Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações, sita na Avenida do Infante D. Henrique, n.os 43-53A, The Macau Square, 22.º andar, Macau. Região Administrativa Especial de Macau, aos 16 de Junho de 2015. O Director dos Serviços, Hoi Chi Leong


sociedade 9

hoje macau terça-feira 23.6.2015

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Polícia de Segurança Pública (PSP) está a investigar o caso de agressão a uma idosa, que aconteceu no domingo na zona norte. Em causa, está uma mulher de idade que se encontra numa cadeira de rodas e que terá sido agredida alegadamente pela filha, numa acção que foi filmada e cujo vídeo circula na internet. Ontem, em conferência de imprensa, o Instituto de Acção Social (IAS) anunciou que a idosa foi admitida num lar, mas este não será o único caso no território. A Coligação Anti-Violência Doméstica de Macau manifestou-se ontem preocupada com a agressão contra idosos, dizendo que muitos casos não são denunciados. Para Cecilia Ho, que lidera a Coligação, o mais importante é perceber os motivos por detrás destas agressões. “Não há serviços de apoio suficientes para os cuidadores como esta filha, que está sob uma grande pressão. Na maioria dos casos, são as mulheres que arcam com estas situações”.

Idosos Caso de maus tratos investigado. suspeitas de mais

A ponta do icebergue? “Não há serviços de apoio suficientes para os cuidadores como esta filha, que está sob uma grande pressão. Na maioria dos casos, são as mulheres que arcam com estas situações”

facebook

O caso de maus tratos a uma idosa está a ser investigado pela PSP e sabe-se que a agressora tem a seu cargo o pai e um irmão com deficiência mental. Apesar de realçar que as pessoas que lidam com este tipo de casos não têm, muitas vezes, apoio, Cecília Ho, da Coligação Anti-Violência Doméstica fala em mais casos do género que não são reportados

Cecilia Ho Líder da Coligação Anti-Violência Doméstica de Macau

são agressões escondidas”. Os cuidadores, diz a activista, “não sabem como pedir ajuda” e a comunidade em geral desconhece que estas agressões são crime público e podem ser reportadas à polícia. As autoridades policiais, entretanto, conseguiram localizar a idosa, que acabou por ser levada para o hospital para tratamento. A PSP diz que vai entregar o caso ao Ministério Público no final da investigação. A PSP conseguiu identificar a mulher e contactá-la, avisando, ao mesmo tempo, o IAS.

O IAS apela a testemunhas do incidente que liguem para a linha aberta para fornecerem mais informações e explicou que a idosa foi, ontem de manhã, admitida num lar, que será pago pelo organismo. De acordo com a Rádio Macau, a agressora terá também a seu cargo o pai doente e um irmão com deficiência mental, tendo sido obrigada a deixar o emprego para cuidar destes. O IAS considera, por isso, que a mulher estava “sob imensa pressão psicológica para apoiar a família” e que foi “por isso que maltratou a mãe”,

segundo Au Chi Keung, chefe do Departamento de Família e Comunidade. Apesar de o IAS só ter registado sete casos semelhantes a este desde 2012, de agressão contra idosos, Cecilia Ho garante que são situações “muito comuns”, até porque a maioria dos idosos está ao cuidado da família. “Muitos voluntários da coligação têm tido conhecimento de abusos contra idosos, a maioria com doenças crónicas. Temos de apoiar mais os cuidadores, financeira e psicologicamente, e a comunidade tem de saber que pode ir à polícia”, conclui.

Por água abaixo

Alerta na rede

Na situação que ocorreu neste fim-de-semana, foi o circular do vídeo nas redes sociais que deu o alerta às autoridades. Contudo, Cecília Ho alerta que “a maioria dos casos não é reportado, já

• Uma conduta de água rebentou na Rua de Nagasaki, junto à Avenida da Amizade, fazendo com que o chão cedesse. A Macau Water confirmou o rebentamento da conduta, que estaria em uso há mais de dez anos,

São Januário Administrador condenado substituído em Portugal

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ex-administrador do hospital público de Macau condenado no território por burla e que trabalhava em Portugal no combate à fraude na saúde já foi substituído neste grupo de trabalho. Um despacho assinado sexta-feira pelo Ministro da Saúde, e publicado em Diário da República, dá conta da substituição de Rui Sá do grupo de trabalho para o “Combate às irregularidades praticadas nas áreas do Medicamento e dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT)”. Este grupo foi criado em 2012 e, na altura, Paulo Macedo apresentou-o como “um marco importante na percepção do fenómeno «fraude» no sector da saúde e no consequente planeamento estratégico para o combater”. Desde a sua composição inicial que o grupo contava com Rui Sá, condenado em Macau a um ano e seis meses de prisão, com pena suspensa, por burla através de receitas falsas. Rui Sá participava neste grupo em representação da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), tendo sido substituído por Maria Madalena Luís. Enquanto representante da ACSS no Grupo de Apoio Técnico (GAT), Rui Sá foi substituído por Salomé Esteves.

Surdos Alexis Tam quer mais assistentes sociais especializados

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Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam quer mais assistentes sociais locais especializados no apoio aos deficientes auditivos. Esta vontade foi expressa durante um encontro do Secretário com a Macau Association of the Hearing Impaired, liderada por Angela Leong. “O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura referiu (...) que vai apoiar, de forma activa, a organização de cursos de língua gestual pelo sector de acção social, com o objectivo de formar mais quadros profissionais que possam servir os portadores de deficiência auditiva”, escreve o Governo em comunicado. Por sua vez, a Associação pediu que fosse implementado um mecanismo de “qualificação profissional de língua gestual”, no sentido de se formar mais pessoal para lidar com os deficientes auditivos do território. “A Associação espera que seja promovida, pelo Governo, a criação de um mecanismo de qualificação profissional de língua gestual, para incentivar mais pessoas a aprenderem e servirem os deficientes auditivos”, continua o comunicado. Alexis Tam deixou a promessa de pensar nesta possibilidade e disse exigir aos serviços sociais locais que “intensifiquem a cooperação” com os serviços de saúde e educação de forma a reforçar o número de pessoal terapeuta especializado.


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eventos

hoje no prato Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Cereja Nome botânico: Prunus avium L. Família: Rosaceae. Nomes populares: Cerdeira; Cerejeira; Cerejeira-das-cerejas-pretas. Actualmente cultivada nas regiões temperadas e frias de todo o mundo, a Cerejeira ainda se encontra em estado silvestre. Todas as suas variedades derivam da Cerejeira-brava, originária do Cáucaso, na Ásia Menor. Trata-se de uma árvore de belo porte, alcançando os 20 metros de altura; apresenta folhas ovais e lindas flores brancas – tal como noutras plantas da mesma família, as folhas surgem após a floração, tornando-a muito ornamental. O fruto, de cor vermelha, variando entre o claro e o escuro, é a famosa Cereja. De acordo com vestígios encontrados nas cidades lacustres suíças da Idade da Pedra, a Cerejeira está presente na Europa há cerca de 3000 anos. Gregos e Romanos já desfrutavam dos seus frutos, sendo recomendados por Dioscórides e Laguna para activar o funcionamento dos intestinos. Segundo uma lenda japonesa, foi atribuído à Cereja o dom da imortalidade. Composição Com uma combinação equilibrada, a Cereja contém uma vasta gama de nutrientes e fitoquímicos: açúcares (frutose); gorduras e proteínas em pequenas quantidades; vitaminas, minerais, oligoelementos e fibras; ácidos orgânicos, flavonóides (antocianinas que lhe conferem a cor vermelha) e ácido salicílico, um precursor natural da Aspirina; riqueza em melatonina, uma importante hormona na regulação do ritmo circadiano segregada pela glândula pineal; beta-sitosterol, amigdalina, álcool perílico e superóxido dismutase, um potente antioxidante. Tudo isto com um sabor delicioso! Acção terapêutica Com propriedades diuréticas, depurativas e alcalinizantes do sangue, a Cereja favorece a eliminação dos resíduos e toxinas do organismo e reduz os níveis de ácido úrico no sangue. A sua ingestão é excelente em curas depurativas primaveris, compensando os excessos de uma alimentação sobrecarregada, na inflamação das vias urinárias, litíase renal, gota, reumatismo e ainda sempre que seja necessário aumentar a produção de urina. Tem actividade

antioxidante e reduz a inflamação e a dor, pelo que pode ser útil na artrose, artrite reumatóide, fibromialgia, dor de cabeça, lombalgias e na recuperação da dor muscular após o exercício. Estimulante das glândulas digestivas e tonificante do tubo digestivo, a Cereja melhora o trânsito intestinal, auxiliando na obstipação. Nos regimes de emagrecimento, depura, nutre, remineraliza e tonifica o organismo, tendo igualmente efeito saciante – para o efeito, contribuem o seu baixo valor calórico e a lentidão com que se ingerem, uma a uma. Pela presença de melatonina, esta fruta promove o sono e favorece a sua qualidade, combatendo a insónia e o jet lag.

hoje macau terça

A artista portuguesa desenvolve no próximo sábado, na EPM, um workshop de Suminagashi, uma arte de desenhar japonesa que é tida como uma das técnicas mais antigas de marmorear papel

Workshop Ana Jacinto Nunes orien

Marmoreand

A

artista plástica Ana Jacinto Nunes vai dirigir um workshop de Suminagashi – uma técnica milenar japonesa – de pintura na água. O momento acontecerá nas instalações das Escola Portuguesa de Macau já no próximo sábado, dia 27 de Junho pelas 10 horas na sala de desenho. O suminagashi é uma técnica de pintura na água em que é utilizada tinta e adicionada terebintina, um solvente vegetal. “Esta é uma técnica

muito antiga em que se coloca a tinta à superfície da água e quando se coloca o papel na água, para fazer a impressão, este bate primeiro na tinta que é absorvida imediatamente e só depois é que chega a água”, explica ao HM Ana Jacinto Nunes. O resultado é uma espécie de “marmoreado que se vê na contra capa dos livros antigos”. O suminagashi, conta-nos a artista plástica, foi um das primeira técnicas de marmorear papel e é por isso

Outras propriedades A Cereja previne as doenças cardiovasculares, ao promover a descida dos valores de colesterol, fluidificar o sangue, desinflamar e fortalecer os vasos sanguíneos. O seu consumo neutraliza substâncias cancerígenas e protege contra os danos no DNA celular, prevenindo certos tipos de cancro; além disso, reduz o crescimento e o tamanho de alguns tumores já formados, ajudando a combatê-los. Como consumir As Cerejas devem ser adquiridas bem maduras pois não amadurecem depois de colhidas. Devem apresentar-se íntegras, sem quaisquer amolecimentos ou descolorações. São muito perecíveis, devendo ser conservadas no frigorífico, ainda por lavar, longe de odores fortes que absorvem com facilidade; podem ainda ser guardadas no congelador, onde se conservam por uns meses. Sugestões: Ao natural ou em sumo Em saladas de frutas Doces e compotas Tartes, tortas, bolos, biscoitos e gelados Frescas ou cristalizadas, ornamentando cereais, saladas ou sobremesas Em molhos para carne ou peixe Em regime de monodieta (Cura de Cerejas): ingerir 0,5 kg de Cerejas maduras, 4 ou 5 vezes por dia, durante um ou dois dias por semana. Não consumir nenhum outro alimento. Precauções Os diabéticos devem ingerir a Cereja com moderação. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

À venda na Livraria Portuguesa Uma Lágrima Salvou-me • Angèle Lieby, Hervé de Chalendar

Numa véspera de feriado do verão de 2009, Angèle Lieby dá entrada nas urgências do hospital de Estrasburgo com uma enxaqueca muito intensa. Começa a sentir-se cada vez pior e a ter dificuldade em exprimir-se; finalmente, perde os sentidos. Dado o agravamento do seu estado, os médicos decidem induzi-la num coma artificial para a poderem entubar. Os dias sucedem-se e os médicos e enfermeiras que cuidam dela começam rapidamente a tratá-la como se estivesse, de facto, morta; referem-se a Angèle pelo seu número de processo. Os médicos, incapazes de a despertar ou de reconhecer qualquer sinal de esperança, começam a aconselhar a família a «desligar as máquinas»… Depois de mais de uma semana neste sofrimento, dá-se um milagre. No dia 25 de julho, o dia do seu aniversário de casamento, a filha repara que do olho de Angèle surge uma lágrima. Hoje em dia, Angèle está de perfeita saúde e dedica o seu tempo a participar em conferências médicas e a advogar os direitos dos pacientes e um cuidado médico mais atento e centrado nas necessidades de quem sofre.

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Pássaros Amarelos • Kevin Powers

“A guerra tentou matar-nos na primavera.” Assim começa este poderosíssimo relato de amizade e perda. Em Al Tafar, no Iraque, o soldado Bartle, de vinte e um anos, e o soldado Murphy, de dezoito, agarram-se à vida enquanto o seu pelotão inicia uma batalha sangrenta pela cidade. Quando a realidade começa a perder os contornos e se transforma num pesadelo, Murphy torna-se cada vez mais desligado do mundo à sua volta e Bartle faz coisas que nunca imaginara vir a fazer. Com uma profunda carga emocional, Os «Pássaros Amarelos» é um romance inovador, destinado a transformar-se num clássico. A “primeira obra-prima literária americana a ser produzida pela guerra no Iraque”, Segundo o
Los Angeles Times.


eventos 11

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nta técnica milenar

do ao sabor da tinta considerada uma das formas mais antigas. A artista plástica não esconde que “gostaria muito de ver continuidade na técnica”, acreditando que os professores podem depois continuar a leccionar esta vertente. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pela Associação de Pais da Escola Portuguesa. O momento criativo é aberto à população e tem um custo de 50 patacas para os sócios e 100 para não sócios.

As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pela Associação de Pais da Escola Portuguesa. O momento (...) tem um custo de 50 patacas para os sócios e 100 para não sócios

Bichos até ao fim do mês

Ana Jacinto Nunes está no território até ao final do presente mês com a exposição “Desta vez os bichos não dormem” no Albergue da Santa Casa da Misericórdia que termina também no sábado. Em exposição estão à venda desenhos em funcionam como base de um projecto que posteriorpub

mente resulta na criação de uma vida nova. A autora portuguesa, vive actualmente na Alemanha, mas da sua história já fez parte Macau, em 1996, local que permitiu a Ana Jacinto Nunes desenvolver o gosto pelos pincéis, técnicas, papéis

e tintas chinesas. Arte que fundiu com o registo português criando azulejos de tecido, agora expostos no território. Ana Jacinto Nunes deu os primeiro passos no ballet, arte que considera ser uma mais valia para o desenho, devido à linguagem corporal, e formou-se em várias áreas técnicas, desde animação, pintura, serigrafia e ilustração. Com algum prémios angariados, a artistas plástica já expôs em Portugal, Macau, EUA e Alemanha. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Pianista português é bronze em concurso internacional

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oão Guilherme Teixeira, aluno do primeiro ano de licenciatura do curso de Música da Universidade de Aveiro, foi distinguido com o 3º prémio na mais recente edição do prestigiado Concurso Internacional de Santa Cecília, que se realizou entre os dias 5 e 10 de Junho no Porto. O jovem, que frequenta a classe de piano do experiente pianista Álvaro Teixeira Lopes, foi o único português premiado no conjunto das categorias A e B. Foi em duas rondas, a primeira com “Prelúdio e Fuga BWV 848” de Bach, Estudo Opus 25, nº 11” de Chopin e “Scherzino” de Armando José Fernandes, e a segunda com “Variações em Fá Menor” de Haydn e “Balada nº 1, Opus 23”, de Chopin, que o aluno do primeiro ano de Música da classe de Álvaro Teixeira Lopes conseguiu convencer o júri internacional do Concurso Sta. Cecília.

João Teixeira começou a ter aulas de piano aos 14 anos, mas só aos 17 se tornou uma prática mais regular, sendo que um ano depois passou a ser seguido por Álvaro Teixeira Lopes, no Curso de Música da Universidade de Aveiro. Para além das provas de piano, realizaram-se também provas de violoncelo e de guitarra, nas quais os concorrentes foram postos

à prova e avaliados por um júri composto por músicos de diversas nacionalidades. Aos seus 20 anos, João Teixeira já conseguiu ser premiado em diversos concursos. Apesar de ter outras áreas de interesse, o jovem pianista pretende seguir a sua carreira como músico, avança um comunicado de imprensa da Universidade de Aveiro.


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artes, letras e ideias

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Fontane Effi Briest, Rainer Werner Fassbinder, 1974

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ausa alguma perplexidade que nesta página apenas existam quatro crónicas sobre Fassbinder. Este é um daqueles realizadores, como Imamura, Pasolini, Satyajiy Ray ou Bergman, cuja carreira é um paradigma, uma referência constante, pelas suas temáticas, pelo seu lugar na história e pela sua estética. Não é possível passar-se sem o seu cinema pois este é um exercício imprescindível. Fassbinder fez filmes e encenou peças de teatro como quem respira, com uma urgência difícil de encontrar noutros autores, e a sua morte violenta só vem coroar, como se se tratasse de uma encenação, esta imensa e brutal performance artística que foi toda a sua vida.* A propósito de Katerina Izmailova, de Mikhail Shapiro, que mostra uma história de aborrecimento, adultério e morte, lembrei-me de um dos seus filmes mais excêntricos, Fontane Effi Briest. É-o a vários títulos. Por ser a preto e branco, por ser um filme de época, por ter tido um período de rodagem anormalmente longo para o hábito de Fassbinder, por ter sido um enorme sucesso comercial já em 1974, porque tem uma voz inolvidável e uma linguagem própria.

Muito do cinema de Fassbinder é desconjuntado e brutal, resultado da sua enorme vontade de mostrar e de contar, vítima das suas grandes contradições pessoais e da avassaladora paixão que colocava em tudo o que fazia, nos seus filmes ou nas peças de teatro em cuja montagem (cerca de 30) se viu envolvido, e/ou, provavelmente - por muito que me custe incluir pormenores biográficos nestas considerações – como espelho das condições caóticas em que viveu durante os primeiros anos da sua vida. Effi Briest tem, no entanto, um aspecto muito trabalhado, sem improvisos. Cada plano parece pensado com minúcia e não há um objecto (e há muitos objectos, esculturas provincianas) fora de lugar e gosto de pensar que Fassbinder terá dispendido um grande esforço para manter esta limpeza de aspecto e esta falta de naturalismo, uma falta que, mais tarde, de um modo muito diferente, encontraremos nos seus últimos filmes (incluindo Berlin Alexanderplatz). O que teria sido a sua carreira após o estilizadíssimo Querelle? Poucos têm o aspecto ritualístico e estático que Effi Briest, um que a existência de intertítulos que anunciam as suas

várias partes mantém. Este filme sobre o livro de Fontane parece ir contra a ideia de que toda a sua obra é espontânea e física, e essa será uma das suas atracções. É uma atracção que nasce da sua fidelidade ao livro de Theodor Fontane. Este é mais um livro em filme que um filme feito a partir de um livro e traz consigo uma curiosidade. O seu título vem acompanhado de um longo subtítulo. Em tradução minha, (Fontane Effi Briest) ou Muitos, que têm uma noção das suas possibilidades e necessidades e, no entanto, através dos seus comportamentos aceitam a ordem estabelecida e acabam assim por a fortalecer e defender.

Muito do cinema de Fassbinder é desconjuntado e brutal, resultado da sua enorme vontade de mostrar e de contar, vítima das suas grandes contradições pessoais e da avassaladora paixão que colocava em tudo o que fazia

A maneira como o realizador nos mostra a língua contribui muito para criar esta impressão dramática. Por vezes parece que as falas não vêm directamente das personagens mas que o seu corpo é um modelo para uma voz que vem de outro lugar, mais profundo e mais misterioso. Isto é porque as vozes de alguns dos actores foram dobradas e colocadas em cima de figuras diferentes. A voz de Irma Hermann, por exemplo, é a de Margit Carstensen, e a figura de Hark Bohm tem voz de Kurt Raab. Estas são, afinal, as vozes directas de Fontane. Manoel de Oliveira fez coisas parecidas, com graus diferentes de sucesso, mas em 1972-74 ia ainda em Benilde ou a Virgem Mãe. Não escondo que o que mais me atrai em Effi Briest, como em muito cinema alemão, especialmente o de Werner Schroeter, pode ser a sua voz. Este desfasamento (que é muito normal em Fassbinder a um outro nível, ao nível do desfasamento entre a música e a acção**) tem uma sedutora companhia no desfasamento - na desconstrução - que se faz através do uso de um outro costume seu, o da inclusão de jogos de espelhos e planos em que as personagens estão meio escondidas


artes, letras e ideias 13

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luz de inverno

por portas ou outros lugares de passagem que as cortam ou apenas semi-revelam. Até na depurada cena do duelo entre Innstetten e Crampas se interpõe uma rede de pesca que a torna ainda mais inacessível. Em Effi Briest existe uma inacessibilidade às personagens que é contrária à violência expositiva de muitas de muitos dos seus filmes. (Infelizmente, há muitos anos que não consigo ver um favorito filme feito para televisão em 1973, Nora Helmer, baseado em A Doll’s House, de Ibsen, em que, se me não falha a memória, se faz uso intenso destes artifícios especulares). Outra atracção ainda de Effi Briest consistirá na tentação de pensar (mas a sua impossibilidade é dolorosa) que Fassbinder se afastara por um momento (lembremos que Nora Helmer, um filme de época feito para televisão é de 1974) da exposição das profundas feridas da sociedade alemã do pós-guerra que percorrem grande parte da sua obra. Os seus filmes, sendo extremamente humanos e muito intensos emocionalmente, obrigam o espectador a pensar na técnica, na montagem, nas imensas escolhas que é preciso fazer a nível da montagem (ou não), da iluminação ou da direcção de actores, obrigam a pensar na construção e no tempo. No fundo, obrigam a pensar no cinema.

Fontane Effi Briest é um dos seus filmes de mulheres, como Die bitteren Tränen der Petra von Kant, Lola, Die Ehe der Maria Braun, Die Sehnsucht der Veronica Voss, Martha, Nora Helmer, Mutter Küsters fahrt zum Himmel, Lili Marleen, para citar apenas aqueles em que no título figura um nome de mulher. Outros há em que o título não trai esta importância. Só um perfeito bruto poderá continuar a pensar que Fassbinder tratou mal, nos seus filmes, as imensas mulheres com que trabalhou quando é claríssimo que elas são neles muito mais importantes e interessantes que os homens. No livro de Christian Braad Thomsen, Fassbinder, the life and work of a provocative genius, este agrupa, num capítulo chamado “Filmes de Mulheres”, Martha,

Os seus filmes, sendo extremamente humanos e muito intensos emocionalmente, obrigam o espectador a pensar na técnica, na montagem, nas imensas escolhas que é preciso fazer a nível da montagem (ou não), da iluminação ou da direcção de actores, obrigam a pensar na construção e no tempo

o incómodo Angst Essen seele auf/O medo come a alma e Fontane Effi Briest. Neste demonstra-se o poder da imagem do amor e a necessidade de rejeitar as convenções sociais. No entanto, o que permanece, no fim, é um lodo de que é difícil sair-se, a resignação doentia e fraca que o longo título anuncia e cuja ideia a mãe (que é interpretada pela mãe de Fassbinder) ajuda a perpetuar mais do que qualquer outra personagem: a de que vida em sociedade obriga ao cumprimento de reparações que pouco têm que ver como amor. É interessante que as cenas dedicadas ao adultério, ou ao encantamento da bela Effi, são quase inexistentes, ao contrário das considerações do Barão Geert von Innstetten sobre as consequências da sua revelação – o formidável diálogo com Wüllersdorf em que se mostra, paralelamente, uma acção cujo desenlace funesto se torna mais evidente de minuto a minuto. Nele se inscreve outro movimento circular, alucinante e a que não se pode fugir, o da necessidade de denunciar os podres de uma sociedade onde, no entanto, se busca um constante reconhecimento - uma das doenças do seu autor total Fontane/ Fassbinder. Não se deve esquecer que Fassbinder foi um realizador de mulheres mas também um realizador (e encenador)

Boi Luxo

de actrizes de muitos tipos: Schygulla, Sukowa, Zech (que constam de uma crónica anterior, apenas a elas dedicada), Irm Hermann, Ingrid Caven, Margit Carstensen ou a sua mãe, Liselotte Eder. Nelas ele encontra um misto difícil de reproduzir entre a naturalidade (por vezes distanciamento) e um glamour do cinema que reproduz o modo como a sua actividade profissional e a sua vida privada estavam intimamente ligadas. Como ao mesmo tempo as suas actrizes são banais e estrelas de cinema é um acontecimento que se dá a cada momento.

*São 33 longas metragens para cinema e televisão, 4 séries de televisão e 4 vídeos longas metragens num espaço de 13 anos. Junte-se-lhe o teatro, 30 peças para palco e 4 para a rádio. Foi actor em muitos dos seus filmes e em 13 filmes de outros autores. Também produziu filmes próprios e de outros e montou vários dos seus. Foi até operador de câmara de um dos seus filmes (cf. o livro de Braad Thomsen pág. 8). Um dos filmes, Ich will doch mur, dass Ihr mich liebt/I Only Want You to Love Me, fala sobre a sua obsessão com o trabalho. ** cf. especialmente o capítulo 2 (Fassbinder e a música de Peer Raben) mas também 5 e 6 de 2004, Flinn, Caryl, The New German Cinema. Music, History, and the Matter of Style.


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desporto

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Liga de Elite Benfica festeja bi-campeonato. Dia negro para Casa de Portugal Chega ao fim mais uma edição da Liga de Elite de Macau. Benfica sagrado Lai Chi ante a Casa de se novamente Portugal e poderiam neste campeão depois momento estar a chorar a despromoção. de golear o Os encarnados, muito entrosados e apostados Chuac Lun. em ajudar William a subir Casa de Portugal mais na tabela de melhores marcadores, chegaram ao não aproveita intervalo a vencer por 4-0 com um hat-trick do avanajuda alheia, çado brasileiro aos 24, 31 e 37 minutos. Iuri Capelo, perde com Lai abriu a contenda logo aos Chi e despedesete minutos de jogo. A segunda metade, mais se do convívio descansada, trouxe mais aos comandados por entre os grandes golos Bruno Álvares. William volfotos facebook

marcado a vermelho

A

última jornada da Liga de Elite, edição de 2015, acabou por não trazer grandes surpresas: Benfica de Macau renova o título de campeão, com Ka I a tentar chegar à frente até ao último instante. Monte Carlo perde a medalha de bronze para o Chao Pak Kei, apesar da igualdade pontual. Lai Chi “quis ajudar” o Chuac Lun e não permitiu que a Casa de Portugal pudesse fazer a festa da permanência, acompanhando o lanterna vermelha Sub-23 na descida à 2.ª Divisão. O Benfica teve de esperar até domingo para golear o Chuac Lun por 7-0 e se sagrar campeão de futebol do escalão máximo da RAEM. Num jogo fácil para os encarnados, a equipa de matriz chinesa nunca conseguiu impor qualquer perigo. Aliás, não fosse a vitória

tou a fazer o gosto ao pé, aos 61 minutos, completando um poker. O lateral-direito Chan Man marcou aos 76 e Fabrício, entrado aos 58 minutos para o lugar de Juary, fechou o marcador com um golo já nos descontos.

Sensação de dever cumprido

Fabrício, que com o golo marcado este fim-de-semana chegou ao top10 dos melhores marcadores, fala em “grande alegria” por mais uma conquista numa época em que, ao nível pessoal e devido a lesões, as coisas não correram como esperava. “Estou muito satisfeito. Este bi-campeonato traz uma grande felicidade. Todos temos o sentimento de dever cumprido uma vez que trabalhámos muito para conseguir mais este título. A nível pessoal, as coisas podiam ter corrido

melhor. Esperava ter jogado mais vezes, mas ter partido um dedo da mão direita acabou por me afastar um pouco.” Agora segue-se a tão falada e almejada Liga Asiática, assim como, internamente, a Taça de Macau. “São duas competições muito importantes para o Benfica. A Taça de Macau está aí, a decorrer. Em relação à Liga Asiática, vamos

CLASSIFICAÇÃO FINAL liga de elite 2015

J V E D GM-GS P

1. Benfica

18

15

2

1

76-9

47

2. Ka I

18

15

1

2

71-16

46

3. Chao Pak Kei

18

11

2

5

50-28

35

4. Monte Carlo

18

11

2

5

39-14

35

5. Sporting

18

10

4

4

41-24

34

6. Lai Chi

18

5

4

9

26-42

19

7. Polícia

18 4 3 11 17-40 15

8. Chuac Lun

18

4

2

12

18-69

14

9. Casa de Portugal

18

3

3

12

22-66

12

10. Sub-23

18 0 1 17 8-58 1

ter de aguardar. Qualquer jogador do clube quer ter a chance, que a meu ver é única, de participar nessa competição. Vamos ver o que acontece durante esta próxima semana”, disse. O estreante Marco Meireles também conversou com o HM. Para o médio português, as coisas não podiam ter corrido melhor. “Um título de campeão na minha estreia? Quero dizer que me sinto concretizado. Vim mesmo com esse objectivo e as coisas correram bem. Penso que, pessoalmente, gostaram e gostam do meu trabalho. A equipa também se mostrou muito unida nos momentos cruciais.” William, goleador encarnado e melhor marcador da Liga de Elite, também se manifestou muito feliz pelo desfecho final. “Sinto-me muito bem. Estou, acima de tudo, muito feliz. Ser campeão é muito bom e melhor marcador é fantástico, ainda mais depois de uma fase difícil que tive. Valeu a pena todo esforço. Graças a Deus!”

E a Deus, o futuro pertence. Depois da boa época, William despertou a cobiça de alguns clubes portugueses a evoluir na II Liga

e Campeonato Nacional de Seniores. “Tenho sido abordado, informalmente, por alguns empresários no sentido de perceberem a


desporto 15

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minha disponibilidade para jogar em Portugal. Tenho 28 anos e isso seria um sonho enorme, um passo de gigante mesmo, fosse na II Liga ou no Campeonato Nacional de Seniores. Contudo, tudo depende da proposta. Não posso largar tudo e ir, assim, de repente. Preciso de sentir que do outro lado sou aposta segura e que existem condições para poder desenvolver o meu futebol. Ao mesmo tempo, estar no Benfica e poder jogar a Liga Asiática é algo de muito interessante também. Vamos ver o que acontece nas próximas semanas.”

Casa de Portugal sem hipóteses

Com grandes probabilidades de sorrir no final do campeonato, muito por culpa do cenário que o calendário apresentava, a Casa de Portugal, acabou por não aproveitar as oportunidades e acabou derrotada por 3-1 pelo Lai Chi. A equipa lusa cedo se viu correr atrás do prejuízo, uma vez que aos 28 minutos de jogo já perdia por 2-0 com golos marcados por Cheok Ka Fai, aos 17, e por Lai Ka Him, aos 28, ambos do Lai Chi. A Casa de Portugal ainda esboçou um pequeno sorriso de alento quando o mexicano Leonel Velasco reduziu a vantagem do adversário aos 36 minutos. Mas nada mais que isso. O que se viu foi o costume. Muitas ocasiões de golo perdidas e ninguém que quisesse agarrar no jogo. Os lusos acabaram por permitir mais um golo do adversário que, através de Sio Ka Un, aos 75 minutos, sentenciou a partida e mostrou o caminho da 2.ª divisão aos comandados por Pelé, que viu assim ruir um sonho. “Estou muito triste e ainda nem consegui dormir. Assumo toda a responsabilidade porque fui eu quem fez as escolhas apesar que sempre acreditei até ao último jogo que podíamos ficar na Liga de Elite. Agradeço, obviamente, aos meus atletas pois tudo fizeram com muita dedicação.” O treinador lembra que as entradas do “salvador” Rodrigo Quaresma e do “mágico” Velasco, trouxeram futebol de qualidade à equipa, mas salienta também que a lesão de Jean Peres, “referência de ataque e líder no campo”,

RESULTADOS 18.ª Jornada Polícia

1

-

Ka I

3

Chao Pak Kei

3

-

Monte Carlo

1

Sub-23

0 - Sporting 2

Benfica

7

-

Chuac Lun

0

Casa de Portugal

1

-

Lai Chi

3

MELHORES MARCADORES 1. William (Benfica)

23 golos

2. Bruno Brito (Sporting)

16 golos

3. Roni (Ka I)

16 golos

4. Diego Patriota (Chao Pak Kei)

16 golos

5. Carlos Leonel (Benfica)

14 golos

6. Thiago Silva (Monte Carlo)

13 golos

7. Leong Tak Wai (Chao Pak Kei)

9 golos

8. Bruno Figueiredo (Chao Pak Kei)

9 golos

9. Alison Brito (Ka I)

9 golos

10. Fabrício (Benfica)

9 golos

William

foi algo muito difícil de superar. “Perder o Jean foi algo que não estava a contar. Ele era o líder da equipa no rectângulo de jogo. Nesse dia, perdemos 75% da equipa. O Jean Peres era mais que um jogador. Era um grande líder como outros já o foram – lembro o meu irmão Cuco e o José Costa. Sem o Jean, só ganhámos aos Sub-23. Empatámos com a Polícia e com o Chuac Lun, jogos que deveríamos ter vencido tais foram os golos que desperdiçámos. Ontem, sem um líder, seria ainda mais difícil vencer pois, naquelas circunstâncias, o nervosismo era muito grande e não houve um jogador que tivesse a coragem de pegar no jogo.” Pelé relembrou que “os jogadores tudo fizeram para dignificar a instituição Casa de Portugal” e que, para o ano, o projecto passa por

garantir a subida de volta à Liga de Elite.

Chao Pak Kei apanha Monte Carlo

Com o terceiro lugar isolado à sua mercê, o Monte Carlo não conseguiu levar de vencida a única equipa que, ainda assim, poderia roubar a tão desejada medalha de bronze. Algo nervosos, os canarinhos viram-se chegados ao intervalo a perder por 1-0. Numa primeira parte equilibrada, coube ao Chao Pak Kei a única oportunidade de se adiantar no marcador com um golo marcado pelo brasileiro Diego patriota, aos 24 minutos. Na segunda parte, mais do mesmo, mas com o CPK a mostrar maior ascendente. O Monte Carlo tinha os seus melhores jogadores em campo mas nem isso chegou para inverter o decurso dos acontecimentos. Aos 62,

através da marcação de uma grande penalidade, e aos 76 minutos, o CPK voltaria a marcar por intermédio de Patriota que acabou a fazer um ‘hat-trick’. O Monte Carlo apenas conseguiu reduzir a vantagem aos 57 minutos, através do inevitável Thiago Silva, mas o golo mostrou-se insuficiente para, sequer, empatar o jogo, resultado que já permitiria ao Monte Carlo ficar no terceiro lugar destacado. No final sorriu o Chao Pak Kei, que acabou por ver premiado um campeonato interessante e que promete, no futuro, outros voos.

Ka I e Sporting a cumprir

Se houve dois jogos que apenas permitiram cumprir calendário, eles foram o embate entre Polícia e Ka I, bem como o Sub-23 vs. Sporting. No primeiro jogo, venceu o Ka I sem grandes dificuldades. Ainda com a ténue esperança de chegar ao primeiro lugar, os comandados por Josecler Filho mostram-se competentes e, sem grandes hipóteses para a Polícia, marcaram três golos aos 4, 6 e 62 minutos por, respectivamente, Ricardo Torrão, Roni e Milton. A Polícia fez o gosto ao pé, já no final, através de Leong Chan Pong. No outro jogo para cumprir calendário, o Sporting, já em ritmo de férias e sem Bruno Brito, venceu por 2-0 os condenados Sub-23. Os golos surgiram em ambas as partes do encontro, aos 22 minutos através de Alex Sampaio – médio defensivo que se tem demonstrado goleador – e, aos 67 minutos, por intermédio de Ieong Ka Hong. Gonçalo Lobo Pinheiro info@hojemacau.com.mo

André Couto em segundo na Tailândia

O português André Couto, aos comandos de um Nissan GT-R, conquistou o segundo lugar no Buriram United International Circuit, na Tailândia, subindo ao topo do campeonato GT300 japonês. André Couto e Ryuichiro Tomitalargaram do terceiro lugar da grelha e, ainda no turno do português, chegaram ao segundo lugar, posição que o japonês conseguiu manter até ao final. Em declarações à agência Lusa, André Couto explicou ter sido um “fim-de-semana muito positivo”, até porque o segundo lugar tailandês permitiu “chegar ao topo da classificação” do GT300 japonês. O piloto português, que corre com as cores de Macau e disputa o campeonato japonês há vários anos, está agora na Nissan.

Barcos-dragão 2015 Equipas da Indonésia e China vencem regatas

As regatas internacionais dos barcos-dragão realizaram-se no passado fim-de-semana e foi a Equipa Nacional da Indonésia que subiu ao primeiro lugar do pódio na categoria de open e a China Nanhai Jiujiang que venceu nas provas femininas, estando na competição 47 equipas. O evento foi organizado pelo Instituto do Desporto, pela Associação de Barcos de Dragão de Macau, China, tendo recebido o apoio do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública. De acordo com comunicado da organização, colectivo indonésio esteve, durante toda a prova, muito próximo da China Nanhai Jiujiang e da SJM Golden Jubilee, mas atingiu o primeiro lugar com uma ultrapassagem nos últimos 100 metros. O título foi conseguido com um percurso feito em 1,53 minutos. Nos quarto, quinto e sexto lugar ficaram a equipa Nacional da Tailândia, a Federação de Barcos-Dragão das Filipinas e a Selecção de Hong Kong. Já na categoria de Regata Universitária, o título foi conquistado por forças locais, com a Universidade de Macau a arrecadá-lo na prova Open de 500 metros.

Fernando António da Rosa Falecimento A família enlutada de Fernando António da Rosa tem o penoso dever de comunicar que o seu ente querido faleceu no dia 19/06/2015 no Centro Hospitalar Conde de São Januário aos 88 anos de idade. Deixa mulher, um filho, uma filha e dois netos. As cerimónias fúnebres decorrem hoje, dia 23, terça-feira, pelas 20:00 horas, na Capela Funerária do Centro Diocesano de Macau. Na quarta-feira, dia 24, pelas 11:00 horas da manhã será rezada uma missa precedendo as cerimónias de enterramento. Mais se informa de que no próximo dia 25, quinta-feira, pelas 18:00 horas será celebrada na Sé Catedral a missa de 7º dia em sufrágio da sua alma. A família enlutada agradece antecipadamente a todos quantos se queiram associar a estes piedosos actos.


china

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hoje macau terça-feira 23.6.2015

Ronny Tong Ka-wah demite-se em cisão com pró-democratas

Hong Kong Deputados tentam explicar saída antes da votação

Lágrimas e suspiros

O

deputado pró-democracia de Hong Kong, Ronny Tong Ka-wah anunciou ontem que vai abandonar o Conselho Legislativo, na sequência do chumbo do pacote de reforma política, na quinta-feira. “Gostava de aproveitar esta oportunidade para pedir desculpa às pessoas que me apoiaram. Não consegui quase nada, apesar de ter empenhado todos os meus esforços nos últimos 11 anos”, disse o deputado, citado pelo jornal South China Morning Post. “Entreguei a minha carta de demissão ao presidente do LegCo [Conselho Legislativo] Jasper Tsang Yok-sing às 8:30. A minha demissão terá efeito a 1 de Outubro”, declarou. Tong disse considerar inapropriado manter o seu assento no órgão legislativo local já que foi eleito como membro do Partido Cívico, de que foi co-fundador mas com o qual entrou em

A votação que chumbou a reforma política na passada semana ficou marcada pela saída de mais de 30 deputados pró-Pequim que queriam inviabilizar o quórum enquanto aguardavam pela chegada de um dos seus colegas

D conflito e que também vai abandonar. “Espero que haja um partido político em Hong Kong que represente a visão das pessoas do meio-termo. Adoptar uma abordagem de meio-termo não significa que se desistiu da luta pela democracia ou que se está a ser subserviente ao Governo central (chinês)”, disse.

pub

HM-1ª vez 23-6-15 Acção Ordinária

Anúncio CV3-13-0092-CAO

3º Juízo Cível

- AUTORA: COMPANHIA DE SOUTH BAY CENTRO LDA, com sede na Avenida do Nordeste, Lote P, Edifício I em Macau. - RÉUS: BOND AND CONSULTADORIA LDA, com última sede conhecida na Avenida da Praia Grande, 619, Centro de Comercial Si Toi, 12º andar, Sala 1202 em Macau, ora ausente em parte incerta, LAU YIN YIN, com última residência conhecida na Avenida Marginal do Patane, Edifício Grand Seaview Heigths, 17º andar B em Macau, ora ausente em parte incerta, LEUNG SIU YU ULTRA, com última residência conhecida no Edifício Supreme Flower City, Bloco 3, 7º andar K, Taipa, ora ausente em parte incerta, CHEONG CHONG SOK, com última residência conhecida no Edifício Jardins de Lisboa, Bloco Maravilha, 1º andar E na Taipa, ora ausente em parte incerta e Outros. *** - FAZ-SE SABER QUE, por esta Secção, correm éditos de TRINTA DIAS, contados da segunda e última publicação do anúncio, citando os Réus acima identificados, para no prazo de TRINTA DIAS, decorrido que seja os dos éditos, contestarem a Acção Ordinária, cujo pedido resumidamente consiste em: 1) Em serem os RR condenados a pagar à A, os montantes descritos na petição inicial; 2) Em serem os RR condenados a pagar à A, os juros das quantias descitas na petição inicial, a partir da data da dedução da presente acção até ao seu pagamento efectivo e integral; 3) Em serem os RR condenados a pagar à A, segundo a sua proporção todos os encargos que a A, desembolsou nas diligências necessárias para satisfazer os seus créditos, incluindo os custos emergentes da dedução eventual da acção de execução e os juros de mora à taxa legal anual contados até à liquidação em execução de sentença; 4) Em serem os RR condenados a pagar à A, todos os custos, incluindo os honorários de advogado. Pelos fundamentos constantes da petição inicial que se encontram á disposição dos citandos neste Juízo. - A intervenção dos citandos nos autos implica a constituição de advogado – artº 74º do Código Processo Civil de Macau. RAEM, 10 de Junho de 2015

eputados pró-governo que abandonaram o Conselho Legislativo (LegCo) antes da votação da proposta de reforma política em Hong Kong passaram as 24 horas seguintes a tentar explicar a sua atitude, um embaraço que já causou lágrimas. A imprensa de Hong Kong refere que o objectivo da saída de mais de 30 deputados pró-Governo momentos antes da votação era o de inviabilizar o quórum e dar tempo para um colega da mesma ala, que estava atrasado (Lau Wong-fat), chegar ao LegCo e poder votar. Acontece que na sala ficaram deputados suficientes para a realização da votação e a mesma acabou por ser levada a cabo na ausência de muitos parlamentares. A proposta de lei da reforma eleitoral apresentada pelo Governo de Hong Kong ao LegCo e apoiada por Pequim foi rejeitada, ao segundo dia de debate, com 28 votos contra – todos os 27 da ala pró-democracia mais o médico e deputado pró-sistema Leung ka-lau – e oito a favor (dos deputados pró-Governo que permaneceram na sala). A votação traduziu-se numa situação embaraçosa para os parlamentares

que ao longo dos últimos 20 meses se mantiveram alinhados com a posição de Pequim e na quinta-feira acabaram por não votar. Os 27 deputados da ala pró-democrática tinham anunciado semanas antes que iriam votar contra a proposta, por considerarem que não permitia uma real democracia. A reforma eleitoral precisava do apoio de dois terços da câmara composta por 70 membros para ser aprovada, o que significava que pelo menos quatro membros dos grupos liberais tinham de a apoiar, mas a saída em bloco dos deputados pró-Governo foi uma surpresa até para os pró-democratas que ridiculizaram o alegado desconhecimento das regras

de procedimento do LegCo por parte do campo pró-Pequim.

Falhas de comunicação

Sexta-feira a presidente do pró-Pequim Novo Partido do Povo, Regina Ip, chorou durante uma entrevista ao recordar o momento da saída antes da votação. Por sua vez, o deputado Wong Kwok-kin, da Hong Kong Federation of Trade Unions, disse que quem teve a ideia do abandono do LegCo deveria assumir a responsabilidade. Citado pelo South China Morning Post, Wong Kwok-kin descreveu a cena como “um erro estúpido que certamente iria enfurecer Pequim”. Já o presidente do DAB (Aliança Democrática para

a Melhoria e Progresso de Hong Kong, pró-Pequim), Tam Yiu-chung, afirmou que era “uma grande lição” a aprender, mas acrescentou que foi Jeffrey Lam, da Business and Professionals Alliance, que liderou a saída. Jeffrey Lam desfez-se em lágrimas ao pedir desculpas aos colegas de bancada pró-governo e à população de Hong Kong, justificando que a atitude resultou de uma falha de comunicação. Isto depois de na quinta-feira, Ip Kwok-him, deputado do DAB, ter dito que a saída do LegCo antes da votação foi ideia sua e que assumia a responsabilidade pelo facto de mais de 30 deputados não terem votado.

Três mortos e 20.000 deslocados devido a tempestades

A

s tempestades registadas nas províncias chinesas de Guizhou e Hunan causaram pelo menos três mortos e levaram à retirada de 20.000 pessoas, informou ontem a agência de notícias oficial Xinhua. Em Hunan as chuvas torrenciais afectaram cerca de 360 mil pessoas, provocando o colapso de cerca de 270 casas e a retirada de 16.000 pessoas. Já no condado de Leishan, em Guizhou, no fim de semana mais de 70 casas ruíram ou ficaram danificadas e chegaram a soterrar seis pessoas em diferentes situações. Destas seis pes-

soas, uma morreu, outra saiu ilesa pelo próprio pé, e outras quatro tiveram de ser resgatadas. Outras seis pessoas ficaram presas na mesma zona devido a um deslizamento de terras: duas morreram e outras quatro foram hospitalizadas. Também em Leishan, cerca de 3.000 turistas ficaram isolados devido às inundações provocadas pela chuva, tendo sido retirados pelas autoridades locais. Entretanto, no domingo, o Centro Meteorológico Nacional da China emitiu um alerta azul, o nível mais

baixo de um sistema de alarme de quatro cores, perante a iminente chegada ao território do tufão Kujira, o oitavo formado este ano na região asiática do Pacífico e o primeiro a chegar à China. “O tufão vai provavelmente tocar terra na zona entre a península de Leizhou e o leste ou nordeste da (província insular de) Hainan, em algum momento entre a noite de hoje (ontem) e a manhã de terça-feira”, disse à Xinhua o director de previsões da Estação Meteorológica de Hainan, Zheng Yang.


( F ) utilidades

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O que fazer esta semana

yuan

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1.28

Cinema

the last five years Sala 1

jurassic world [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 21.30

jurassic world [3d] [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 19.15 Sala 2

spl 2: a times for consequences [c]

Diariamente

falado em cantonês/mandarim legendado

em chinês e inglês Filme de: Cheang Pou-soi Com: Tony Jaa, Louis Koo, Simon Yam, Wu Jing, Zhang Jin 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 Sala 3

the last five years [b] Filme de: Richard Lagravenese Com: Anna Kendrick, Jeremy Jordan 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

san andreas [b]

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30

Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre “A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre

Aconteceu Hoje

Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre

Tripla Aliança é prorrogada. Nasce o Comité Olímpico

Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre Musical “A Bela e o Monstro” (até 26/6, de quinta a domingo) Venetian Macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas Exposição “Murmúrio da Impermanência”, Pinturas a óleo de André Lui Chak Keong (até 27/06) Fundação Rui Cunha Entrada livre Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

23 de JUNHO

h o j e h á f i l m e “The Pursuit Of Happiness” (Gabriele Muccino, 2006) Chris Gardner (Will Smith) vê-se a braços com dificuldades financeiras quando, também nos braços, carrega o filho. A mulher abandona-o e Chris tem de sobreviver, nem que seja pelo pequeno Christopher (Jayden Smith). No meio de todos os problemas – entre empregos que não dão dinheiro e outros que nem chegam – os dois são despejados do apartamento onde vivem, passando a dormir em estações de metro e casas de banho. Um filme que junta pai e filho na vida real e que mexe, e muito, com as emoções. Joana Freitas

• Neste dia, em 1902, a Tripla Aliança é prorrogada por mais dois anos. Este acordo militar, entre o Império Alemão, o Império Áustro-Húngaro e o Reino de Itália, foi formado em Maio de 1882, com o objectivo de que cada uma das nações garantisse apoio às demais no caso de algum ataque sobre uma das partes. O objectivo principal era construir uma barreira político-militar que isolasse a França na Europa Ocidental. O acordo entre o Império Alemão e o Reino de Itália neste ponto era bem específico afirmando que não se estenderia na defesa contra um ataque vindo do Reino Unido. Também em 1902, neste dia, Albert Einstein ingressa como funcionário da Oficina de Patentes de Berna. Era examinador assistente e, entre outros projectos, avaliou pedidos de patentes de dispositivos electromagnéticos. A 23 de Junho de 1894, o francês Barão de Coubertin criou o Comité Olímpico Internacional (COI) junto com representantes de 15 países. Provável autor de “o importante não é vencer, é competir”, Coubertin resgatou a tradição olímpica dos gregos. Dois anos depois, em Atenas, começavam os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna. A 23 de Junho de 1931, o piloto norte-americano Willy Post dá a primeira volta ao mundo em um avião. Foram necessários oito dias, 15 horas e 51 minutos.

João Corvo

fonte da inveja

Quem tudo quer, já só fede.


18

opinião

hoje macau terça-feira 23.6.2015

Rui Flores

info@hojemacau.com.mo

E

nquanto os Estados Unidos da América (EUA) têm desempenhado, nalguns casos com particular desvelo, o papel de polícia do mundo, a França, por seu lado, tem-se mostrado muito confortável no fato de gendarme do continente africano. Os casos de intervenção das forças armadas francesas sucederam-se durante o século XX. Este novo milénio tem mostrado a mesma tendência. Embora com o Presidente Jacques Chirac, na sequência do papel desastroso desempenhado pela França no Ruanda, tenha parecido que os franceses se estavam a afastar de África, as recentes intervenções autorizadas por Hollande, na República Centro-Africana e no Mali, reforçaram esse papel de polícia do continente africano. Ao contrário de Portugal, que fez a descolonização pela batuta do processo revolucionário em curso, com um resultado final que pode ser resumido pela ideia de uma debandada institucional generalizada – afinal, Portugal combatia os movimentos de libertação nacional em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e estava à beira de uma guerra civil –, as circunstâncias da continuidade da ligação militar de Paris com as suas antigas colónias são diferentes. Acima de tudo - e esta é a principal diferença - a França procurou continuar a ligação orgânica com as colónias e tratou de garantir que os novos regimes africanos a aceitavam como o mais relevante parceiro - senão o único - no sector estratégico da cooperação e assistência técnica militares. Em troca, Paris requeria apoio nas votações nas Nações Unidas. Simples, bonito e eficaz Na verdade, essa proximidade não foi muito difícil de estabelecer. Como no caso das antigas colónias portuguesas, a maioria dos líderes políticos que saíram dos processos de independência tinham grandes proximidades com o antigo poder colonial - ou haviam estudado na “metrópole” ou tinham até tido papéis de destaque no aparelho colonial. Criaram-se pois redes de contactos mais ou menos informais que tiveram em Jacques Foccart, assessor do Presidente Charles de Gaulle e responsável pela célula africana dos serviços secretos, o principal impulsionador desta relação privilegiada. Esta relação de proximidade adquiriu um nome próprio: “Françafrique”, que chegou aos dias de hoje e que expressa uma certa intimidade entre as elites africanas e o poder em França traduzida, na prática, pela manutenção de generosos orçamentos da Europa para o continente africano. Quem o inventou foi o primeiro presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouet-Boigny, logo em 1973. Passados mais de 40 anos, a relação de proximidade com a África sub-sahariana mantém-se. Num recente artigo para a Political Science Quarterly, a revista académica

Jean Girault, Le gendarme de Saint Tropez

A gendarmerie de África

publicada pela Academia de Ciência Política de Nova Iorque, o investigador francês Victor-Manuel Vallin faz o balanço desta relação especial. A França mantém acordos de cooperação militar com oito países africanos, alguns da sua esfera de influência tradicional (como são os casos do Senegal, Costa do Marfim, Benim, Camarões, Gabão, Republica Centro-Africana, Comoros) e outros mais recentes, mas com uma importância geo-estratégica capital (como é o caso do Djibuti, país onde a França instalou uma das suas maiores bases militares em África e onde, além dos EUA, está presente o Japão que, em 2011, estabeleceu ali a sua primeira base militar no estrangeiro desde o final da II Guerra Mundial).

Estes acordos de defesa implicam nalguns casos a manutenção de uma presença militar no país. A França tem bases no Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim, Níger, Chade, Gabão, Republica Centro-Africana e Djibuti. Estas têm como principal objectivo contribuir para a manutenção da ordem pública - leia-se o status quo, que a alteração de regime pode sempre pôr em risco os interesses nacionais. Mas Paris mantém também nestes países um número considerável de assessores (e não apenas nos Ministérios da Defesa), que aconselham as autoridades na definição das diferentes políticas. Durante a minha estada na República Centro-Africana, por exemplo, conheci vários destes assessores que tinham

É no continente africano que a língua francesa tem capacidade de crescimento. Não é em França, na Bélgica ou na Suíça, ou mesmo no Canadá, que o francês pode sonhar de novo a desempenhar um papel de destaque na política internacional

acesso privilegiado ao ouvido dos respectivos ministros. Estes assessores constituem uma fonte considerável de informação sobre a situação do país, o que dá à França a upper hand em termos de conhecimento rigoroso do que se passa de um ponto de vista politico e militar, que faz dela um caso único, por exemplo na África Central. Esta proximidade levou ao estabelecimento de academias militares, em 17(!) países, com as quais a França gasta 10 milhões de euros por ano e nas quais os militares franceses dão formação à futura elite castrense. Este é um papel decisivo para a afirmação internacional da França. É no continente africano, por exemplo, que a língua francesa tem capacidade de crescimento. Não é em França, na Bélgica ou na Suíça, ou mesmo no Canadá, que o francês pode sonhar de novo em desempenhar um papel de destaque na política internacional, como tinha no início do Século XX, em que era, ainda, a língua da diplomacia internacional, um papel que desempenhou em regime de monopólio praticamente desde o Século XVII. São agora longínquos os tempos em que os diplomatas britânicos e americanos usavam o francês para vincular a posição dos seus Estados. Mas França já não está só neste papel de polícia voluntário do continente africano. Há outros actores no continente a ganhar destaque. Desde logo, os EUA. No âmbito da luta contra o terrorismo, Washington aumentou consideravelmente a presença em África, onde criou, em 2007, o Africom, um comando militar dedicado para o continente. Essa vontade de contribuir para a solução dos problemas africanos foi visível, por exemplo, recentemente, quando Obama enviou contingentes militares para a África Ocidental, para ajudar na contenção do vírus do ébola e, anteriormente, havia despachado assessores militares para darem formação, no âmbito da luta contra Joseph Kony e o seu Exército da Libertação do Senhor. Embora os EUA - e a China, que entretanto também reforçou o seu envolvimento com o continente, tendo já assinado acordos de cooperação militar com 15 Estados africanos - sejam os “new comers”, a França mantém-se, hoje em dia, como um parceiro quase único do chamado “mundo ocidental” contra as consequências do extremismo em África. Os números actuais da presença francesa em África não são conhecidos. Mas quando o primeiro-ministro Lionel Jospin, em 2002, deixou o poder após cinco anos de contínua diminuição da presença militar no estrangeiro, continuavam pela África sub-sahariana 5300 operacionais franceses. Este número cresceu, indesmentivelmente, nos últimos anos após as operações na República Centro-Africana e no Mali. E assim se deverá manter nos próximos anos. Como também a tentação de, por vezes, interferir directamente no desenrolar dos acontecimentos nos países onde os interesses e a presença francesa são muito grandes.


opinião 19

hoje macau terça-feira 23.6.2015

Fernando Eloy | 义來

chá (muito) verde

“Pela primeira vez a China acreditou que podia mudar o curso do Yangtzé. Mudar o velho rio que se agarra a uma lua velha. Mudar regras arcaicas que não são melhor nem pior mas exactamente o mesmo. A mesma crueldade, a mesma dureza inquestionável contra as suas gentes e a raça humana.” em “The Night That Hides Things From Us” um conto de Julie O’Yang*

T

odos fazemos asneiras, umas mais graves outras menos. Mas nem todos nós somos capazes de pedir desculpa. Por orgulho ou por medo. Ou ambos. Medo de parecermos fracos, medo de darmos munições ao outro lado, medo de mancharmos a reputação, medo do embaraço, medo de sermos mal interpretados... Medo, medo, medo!... Mas quando passamos do nível pessoal para o dos Estados esses medos ganham ainda mais peso. O que, apesar de normal, ou corriqueiro, deve ser entendido como um supremo ridículo. O dia 4 de Junho de 1989 é uma das piores recordações destes meus quase 50 anos. Muita coisa me impressionou na vida, várias mortes chorei, diversos acontecimentos me chocaram mas o que se passou em Tiananmen naquele fatídico dia de Verão está lá bem em cima no rol dos horrores. Talvez porque fosse novo, talvez porque fosse jornalista e portanto muito mais próximo da notícia, talvez... Certamente porque foi um evento infernal para o qual nenhuma palavra parecia servir para descrever o terror que nos assaltava. Lembro-me de estarmos na redacção transidos com as imagens que nos chegavam no feed internacional. Aquela imagem do Jeff Weidener, agora icónica, do até hoje incógnito indivíduo que resolveu enfrentar os tanques com dois sacos de compras na mão - a irredutibilidade chinesa perante a magnitude avassaladora do inevitável, a coragem quase irracional de um simples indivíduo que na sua alma sonhava deter sozinho um dos piores episódios da história humana, manteve-nos num suspense brutal, com uma vontade enorme de estar lá para o ajudar. A “Cortina de Ferro” tinha praticamente acabado de cair na altura e, como sempre que algo dessa magnitude acontece, viviam-se momentos de optimismo no mundo. Por isso também nós, naquela redacção, partilhávamos da ingenuidade do homem da camisa branca, acreditando piamente que Praga não iria ser revisitada naquele dia. Mas foi... O impossível tornou-se possível à frente dos nossos olhos. O horror instalou-se. Até hoje. Ler histórias que incluam os acontecimentos de Tiananmen ainda agora me causam dor. A dor do “podia ter sido diferente”, a dor de amores despedaçados, de

Don Chaffey, Jason and the Argonauts

Uma paz nada celestial

jovens com as suas vidas terminadas daquela forma abrupta e brutal. A dor das rajadas de metralhadora sobre putos que sonhavam. “Vivia-se um clima de festa”, recordou mais tarde Cui Jian, “Quando subi ao palco senti que tinha chegado a uma grande festa”, disse. Na redacção havia quem chorasse, o ambiente geral era de incredulidade e revolta e esses sentimentos estão tão presentes hoje como há 26 anos atrás. Não consigo evitar um arrepio ao revisitá-los na memória. Foi mau demais e não está resolvido. Ainda a semana passada o Hoje Macau noticiava que o último preso do conflito, Miao Deshu, só talvez seja libertado no próximo ano. Foi preso com 25 anos, alegadamente por ter arremessado um contentor contra um tanque. David contra Golias. Sabemos que a China de hoje não é a China de 1989. Sabemos também que a China de hoje pretende afirmar-se no plano internacional como um país moderno, justo e equilibrado. De um ponto de vista clássico, pedir desculpa pelo sucedido surgirá aos olhos do poder chinês como uma fraqueza insuportável, como o entreabrir de uma porta

“Mais tarde ou mais cedo, os esqueletos saltam do armário e quando assim é, e a China já o viu por demasiadas vezes, eles vêm vingativos. Mais vale desmantelá-los e enterrá-los enquanto é tempo”

que tanto temem, ou seja, a do regresso dos protestos de há 26 anos especialmente agora com o que vai observando em Hong Kong e com o que sabe passar-se em casa. Mas o método da avestruz não resolve nada, a desculpa, essa sim, liberta. A capacidade de pedir desculpa é fundamental se pretendermos manter relações saudáveis. Neste caso com o seu próprio povo e com o resto do mundo. Numa relação entre um estado e a sua população, tal como ao nível pessoal, a noção de que o outro lado não está disposto a assumir as suas próprias culpas gera apenas desconfianças e más-vontades. Podemos sempre dizer que o governo chinês quis manter a ordem pública, mas a desproporcionalidade dos meios empregues e a forma como o foram matando milhares de jovens que apenas ousaram sonhar com um mundo novo, como um dia Mao Zedong ou Sun Yat Sen também o fizeram, foi tão díspar que esse argumento não pega. Nem aqui... nem na China. É impossível construir uma relação sã de amizade com esqueletos no armário – caso contrário, porque insiste tanto a China nas desculpas (justificadas) do Japão pelos crimes da Segunda Guerra Mundial? Apenas para enfraquecer o Estado nipónico ridicularizando-o ou para cimentar um clima de paz e boas relações? Eu prefiro acreditar na segunda possibilidade. Por isso, a ideia que fica desta crispação do Governo chinês em relação a Tiananmen é a de que espera que o milagre do tempo faça desaparecer a memória. Mas isso seria uma ingenuidade e um Estado não se compadece com ingenuidades porque, mais tarde ou mais cedo, os esqueletos saltam do armário e, quando assim é, e a China já o viu por demasiadas vezes, eles vêm vingativos. Mais vale

desmantelá-los e enterrá-los enquanto é tempo. Tínhamos todos a ganhar, na China e no resto do mundo porque uma das melhores formas de liderar é pelo exemplo e se o governo chinês conseguir de uma vez por todas encarar de frente a triste história de Tiananmen, o exemplo que dará ao país e ao mundo terá, certamente, um eco positivo muito superior ao silêncio ensurdecedor do momento que apenas serve para dar vida a esses tenebrosos esqueletos que se vão acotovelando no armário com os da Revolução Cultural. A China de hoje pede aos seus cidadãos que sonhem, mas nenhum sonho será suficientemente grandioso enquanto este pesadelo não estiver resolvido e o mundo precisa de uma China que sonhe e seja capaz de iluminar um futuro melhor para todos. *escritora chinesa

MúSICA(s) DA SEMANA

Esta semana são duas. Naturalmente Cui Jian com um dos dois temas que ele cantou em Tiananmen em 1989 mas que não foi escrito para o momento e por isso também Roger Waters, alguém que sempre tem pugnado pela liberdade e por um mundo mais justo com um tema escrito a propósito do dia 4 de Junho de 1989: “Watching TV”. Tenha uma boa semana, caro leitor. “We were watching TV In Tiananmen Square
 Lost my baby there My yellow rose In her bloodstained clothes She was a short order pastry chef In a Dim Sum dive on the Yangtze tideway
 She had a shiny hair She was a daughter of an engineer
 Won’t you shed a tear For my yellow rose
My yellow rose” “A Piece of Red Cloth” de Cui Jian

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tânia dos Santos Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


hoje macau terça-feira 23.6.2015

João Francisco Pinto mantém-se na direcção da AIPIM

João Francisco Pinto, director de Informação e Programas dos Canais Portugueses da TDM, foi eleito para mais um mandato como presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM). Segundo a Rádio Macau, a nova direcção pretende apostar na formação profissional, em especial no fotojornalismo e no jornalismo económico. Outro objectivo é a realização do segundo Congresso dos Jornalistas de Macau. Além de João Francisco Pinto, continuam na direcção como vice-presidentes Gilberto Lopes e Sérgio Terra. Já Paulo Azevedo mantém o lugar de presidente da Assembleia-Geral e Paulo Barbosa o de presidente do Conselho Fiscal.

cartoon

Maio de 2015 bate recorde de temperaturas globais à superfície

por Stephff

Tóquio2020 Patinagem, surf e karaté ‘novas’ modalidades

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Comité organizador dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 anunciou ontem as oito ‘novas’ modalidades pré-seleccionadas, entre as quais se incluem a patinagem, o surf e o karaté. A estas juntam-se o basebol/softbol, como uma única modalidade, o squash, o bowling, a escalada desportiva e o wushu, uma arte marcial chinesa, desportos que serão escrutinados nos próximos dois meses, com reuniões em Tóquio com as respectivas federações. Esta lista, proposta pelo comité de organização de Tóquio2020, será depois apresentada ao Comité olímpico Internacional (COI) antes de 30 de Setembro e uma decisão final será tomada em congresso, no Rio de Janeiro, em Agosto de 2016. “Não há nenhuma objecção. A decisão [sobre os oito] foi tomada por unanimidade”, comentou Fujio Mitarai, o presidente da comissão responsável pelo acréscimo de modalidades, sem dar mais detalhes. A inclusão destas modalidades beneficiará os Jogos, face à sua popularidade junto dos adeptos japoneses, além de capitalizarem novos adeptos em todo o mundo. “A promoção do movimento olímpico e dos seus valores, especialmente junto da juventude, faz parte dos critérios de selecção”, justificou Mitarai, exemplificando a popularidade que o bowling ou surf têm junto das gerações mais novas. Para a pré-selecção foram apresentadas candidaturas de 26 federações, ficando de fora modalidades como o sumo – muito tradicional no Japão -, o pólo e o bridge. Nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, entrarão modalidades como o golfe e o râguebi de sete.

Fosun elege Portugal como “o melhor país da Europa para investir”

Do pequeno se faz grande U m ano depois de ter comprado a maior seguradora portuguesa, o consórcio chinês Fosun continua “atento a todas as oportunidade de negócio” em Portugal, qualificando o país como “o melhor da Europa” para investir. “Não digo que os outros países não sejam bons, mas Portugal é o melhor. Digo isso a qualquer chinês que queira investir na Europa”, disse o vice-presidente e presidente executivo (CEO) do Fosun, Liang Xinjun, em inglês, num encontro com jornalistas portugueses na sede do grupo, em Xangai. Segundo realçou, em Lisboa “é mais fácil estabelecer relações de amizade” e “os custos são mais baixos” do que noutras capitais europeias. “Já conheço muitas pessoas em Lisboa. Temos mais ou menos a mesma cultura, que é baseada na confiança”, afirmou. A Fidelidade, comprada ao único banco público português (Caixa Geral de Depósitos), detém cerca de 30% do mercado segurador nacional. Foi um dos maiores investimentos da história do Fosun, no valor de 1.100 de euros. Através da Fidelidade, onde controla 84,9% do capital, o grupo chinês já comprou também a antiga Espírito Santo Saúde (actual Luz-Saúde), por 460 milhões de euros.

O consórcio chinês tem sido apontado como um dos principais candidatos à compra do Novo Banco, mas Liang Xinjun não confirmou nem desmentiu o alegado interesse no negócio. Questionado várias vezes sobre o assunto, o CEO do Fosun limitou-se a repetir o que os seus executivos respondem sempre: “Como grupo de investimento, analisamos todas as oportunidades”. No encontro com os jornalistas portugueses, Liang Xinjun indicou que o seu grupo “está muito interessado em tudo o que diga respeito a cuidados de saúde e a um estilo de vida feliz”. O sector agro-alimentar “poderá ser uma oportunidade”, exemplificou. Quanto à possibilidade de começar a importar bebidas ou comidas de Portugal, respondeu: “Preferimos investir em empresas”.

Contas de multiplicar

John Ma, presidente executivo da holding do Fosun para a área dos cuidados de saúde, também se mostrou satisfeito com a entrada do grupo em Portugal. “Depois dos Estados Unidos, é o nosso mais importante mercado. Em termos de

população, Portugal é pequeno, mas se pensarmos nos países de língua portuguesa, dez milhões transformam-se em 300 milhões”, salientou. Gestor formado e contratado nos Estados Unidos, John Ma destacou o “espírito empreendedor” da direcção da Luz-Saude, liderada por Isabel Vaz, que considerou “muito semelhante ao do Fosun”. “Como na Fidelidade, mantivemos a liderança existente na Luz-Saude. A nossa estratégia é a continuidade e não a ruptura”, precisou. Desde que a China Three Gorges passou a ser o maior accionista da EDP, em 2012, Portugal tornou-se um dos principais destinos do investimento chinês na Europa, estimando-se em 10.000 milhões de dólares o montante do capital oriundo da China que entretanto entrou na economia portuguesa. Criado há 23 anos com um investimento de 4.000 dólares, o Fosun é considerado um dos mais lucrativos consórcios privados da China, com um valor de capitalização cerca de cinco milhões de vezes superior ao capital inicial. O grupo emprega cerca de 100.000 pessoas na China continental e desde 2007 está cotado na Bolsa de Hong Kong.


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