Hoje Macau 23 JUN 2016 #3598

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quinta-feira 23 de junho de 2016 • ANO Xv • Nº 3598

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Lusa

Director carlos morais josé

Um pouco de fé Agência Comercial Pico • 28721006

pub

entrevista

Filhos maiores

Fartos do barulho

condomínios

Tiananmen

Macau investimento

A virtude Mantos Explicações do meio de silêncio e injecções

Grande Plano

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2 grande plano

Filhos Maiores Comerciantes e SCM já não suportam o protesto no Leal Senado

Há quatro meses que a Associação dos Pais dos Filhos Maiores não arreda pé do Largo do Senado. Comerciantes queixam-se do barulho ensurdecedor dos altifalantes e já fizeram queixas à PSP. António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, pede intervenção do IACM

“O IACM, que tem a competência para gerir os espaços públicos, deve tomar uma decisão no sentido de impedir que sejam feitas actividades naquela zona relativamente a todos os organismos e associações.” António Freitas Santa Casa da Misericórdia

A

s vozes de protesto da Associação dos Pais dos Filhos Maiores, ouvidas há 114 dias, estão a esgotar a paciência dos comerciantes que todos os dias fazem o seu negócio junto ao Largo do Senado, incluindo a própria Santa Casa da Misericórdia. Há quatro meses que estes idosos se sentam em pequenos bancos de plástico junto a uma tenda, debaixo de um sol escaldante, à espera que o Governo reaja aquilo que pedem há anos: que os seus filhos possam regressar do continente e viver em Macau. Os altifalantes não se calam, ao ponto dos comerciantes não conseguirem ouvir os seus próprios clientes. Shan, uma idosa que vende fruta numa pequena banca, diz já não aguentar mais o protesto. “Perguntem ao Governo porque é que deixam as pessoas estar aqui e a falar alto diariamente. Eles dizem que é legal”, aponta ao HM. “Isto afecta muito o nosso negócio. Já fui pedir para se calarem, mas eles não quiseram saber e mandaram-me embora. E a polícia também foi lá e eles mandaram-nos embora. Todos os comerciantes aqui já ligaram para a polícia por causa desta situação, mas eles continuam ali. Estão aqui há muitos meses e acho que isto não é adequado ficarem aqui tanto tempo, porque há muitos turistas que passam aqui. Também há turistas estrangeiros que foram pedir para se calarem mas não conseguiram”, contou Shan, que não acredita na causa que deu origem ao protesto.

Hoje Macau

Muito barulho para nada


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Shan comerciante

“É impossível! Os filhos deles já são muito velhos, têm a sua família, todos estão casados”, disse a comerciante. Mais à frente, uma vendedora de roupas de verão, que não quer ser identificada, também se mostra descontente com a presença dos protestantes. “Quero que saiam rapidamente dali. Não sei porque é que o Governo dá autorização para as pessoas estarem ali tanto tempo. Durante o dia, nas casas, ninguém consegue descansar.”

IACM deve agir

A Santa Casa da Misericórdia (SCM) é talvez a entidade mais prejudicada com este protesto, já que a tenda está localizada mesmo em frente do edifício. O seu provedor, António José de Freitas, pede uma intervenção mais directa do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “Esta situação não agrada à SCM nem ao comércio circundante. Aliás já tive a oportunidade de falar com os comerciantes e todos manifestaram o seu desagrado. Como nesta zona os prédios são todos antigos, incluído o da SCM, não há sistemas anti-som e o barulho é muito incomodativo, com os altifalantes”, contou o provedor. “Independentemente da decisão do tribunal, sobre a qual não tenho condições para comentar, penso que o IACM, que tem a competência para gerir os espaços públicos, deve tomar uma decisão no sentido de impedir que sejam feitas actividades naquela zona re-

lativamente a todos os organismos e associações. Ninguém deveria fazer lá alguma coisa, a não ser o IACM, sobre as celebrações principais. Se o IACM pudesse fazer isso toda a população iria aplaudir, incluindo as associações que têm lá feito actividades, porque a situação não é igual para todos. O largo do Senado é o único espaço pedonal onde todos os turistas vão”, referiu António José de Freitas. O HM tentou contactar José Tavares, actual presidente do IACM, mas o mesmo referiu que não dá entrevistas por telefone. Até ao fecho da edição, não foi possível agendar um encontro presencial com Tavares.

Pacífica, mas ruidosa

António José de Freitas garante que o Governo pouco pode fazer neste caso, depois do Tribunal de Última Instância (TUI) ter autorizado a utilização do espaço público. “Todos os dias vão lá polícias, desde o primeiro dia. É um desperdício de recursos. Todos os dias ficam lá dois ou três polícias até fecharem a tenda. É verdade que tem sido uma manifestação pacífica em termos de ordem, mas não é pacífica em termos de ruído. Toda a gente fica boquiaberta. É enfadonho ouvir sempre as mesmas gravações e ver sempre o mesmo cenário, isto estraga a imagem de Macau”, frisou o provedor da SCM. Andreia Sofia Silva

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Angela Ka

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Hoje Macau

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“Isto afecta muito o nosso negócio. Já fui pedir para se calarem, mas eles não quiseram saber e mandaramme embora. Todos os comerciantes aqui já ligaram para a polícia por causa desta situação, mas eles continuam ali há muitos meses”

Protesto interminável Presidente diz que associação não arreda pé do Senado

“N

ão vamos reagir às criticas e vamos continuar aqui até que o problema fique resolvido, até que o Governo nos dê uma resposta concreta.” É desta forma que Lei Yok Lan, presidente e fundadora da Associação dos Pais dos Filhos Maiores reage às críticas que são apontadas pelos comerciantes. “O Governo ainda não nos deu nenhuma resposta e não teve nenhuma reacção ao nosso protesto. Ninguém do Governo veio aqui. No ano passado já falamos com alguns dirigentes e disseram-nos que este assunto depende da decisão do Governo Central e que o nosso pedido já foi feito a Pequim. Todos nós que estamos aqui sentados acreditamos que aquilo que o Governo disse é verdade, mas ainda não tivemos resposta. Disseram-nos que podíamos ir aos serviços de emigração, mas fomos informados que o assunto está terminado e resolvido”, contou Lei Yok Lan ao HM. O acórdão do TUI autorizava a permanência da tenda até ao passado dia 20 de Março, no período compreendido entre as 7h00 e as 22h00. Da parte do gabinete da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, chegou uma resposta escrita que pouco adianta ao que já foi dito aos protestantes. “O Governo da RAEM tem sempre prestado atenção aos apelos das organizações de reunião familiar de Macau e tem mantido uma boa comunicação com as mesmas. Considerando que, de acordo com o artigo 22.º da Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, compete ao Governo Popular Central a autorização da fixação dos residentes

do Continente Chinês na RAEM, o Governo já transmitiu o respectivo apelo às entidades competentes do Governo Central.” Em Março a associação ocupava um espaço bem maior do que o círculo que hoje ocupa, até que a PSP lhe confinou apenas 38 metros quadrados. Os idosos recorreram junto do tribunal, mas o TUI deu razão às autoridades. “A polícia pode interromper manifestações quando as mesmas se afastem da sua finalidade pela prática de actos contrários à lei que perturbem grave e efectivamente a segurança pública ou o livre exercício dos direitos das pessoas. Cabe também à PSP (…) zelar pelo bom ordenamento do trânsito de pessoas nas vias públicas (…) Assim sendo, com base neste conjunto de normas, afigura-se-nos poder extrair um princípio segundo o qual a Polícia tem poderes para fixar uma área para reunião ou manifestação, dentro do local mais vasto pretendido pelos respectivos promotores”, decidiu o tribunal. Aassociação conta com o apoio do deputado Chan Meng Kam, cujo rosto está estampado na tenda que serve de abrigo ao protesto. O membro daAssembleia Legislativa já fez um apelo a Pequim para que faça regressar os filhos destes idosos que emigraram para Macau nos anos 80 e conseguiram obter residência permanente. Estes têm lutado até aos dias de hoje para que se possam juntar à família que um dia deixaram para trás. O HM tentou ainda obter esclarecimentos junto da PSP, mas até ao fecho desta edição não foi possível. Andreia Sofia Silva

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4 Política

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Macau Investimento Deputados questionam injecção de fundos

Sem dar cavaco

Foram ontem alterados os estatutos da Macau Investimento e Desenvolvimento SA para oficializar o aumento do capital social para três mil milhões de patacas. Coutinho e Au Kam San exigem explicações e mais transparência

S

o cuidado de dar a conhecer à Assembleia Legislativa (AL) e aos cidadãos na generalidade a tomada destas decisões.” O deputado considera que a decisão deveria ter sido discutida junto da Comissão de Acompanhamento das Finanças Públicas da AL. “Para além desse aumento de capital da empresa, há o facto de ter assinado um protocolo com o interior da China para fazer aplicações financeiras cujo conteúdo do protocolo não foi divulgado. O Governo tem que tomar cuidado com estas decisões com uma natureza pouco transparente. Este deve dar conhecimento a essa comissão porque queremos saber como é que o Governo gere os fundos públicos”, reiterou ao HM.

O mistério

O deputado Au Kam San garantiu que não tem muitas informações sobre

a empresa. “Não sei em que projectos esta empresa investiu, mas se o Governo introduz mais dinheiro dos cofres públicos na empresa é essencial uma maior transparência. Sou deputado e deveria ter acesso a mais informações do que os residentes, mas se eu não sei o que a empresa está a fazer, então os residentes não sabem de nada”, defendeu. “O Governo deve justificar a razão desse aumento de capital, será que esse investimento vai trazer alguma vantagem para os residentes? O Executivo deve explicar este aumento junto da AL ou através de algum tipo de publicação”, frisou. Em Janeiro o HM tentou obter mais esclarecimentos sobre este aumento de capital, mas nunca obteve uma resposta. A Macau Investi-

mento e Desenvolvimento SA foi criada em 2011 tendo como accionistas a RAEM, com 94%, o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (3%) e o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (3%). A sociedade comercial, que é uma sociedade anónima, tem como linhas de orientação “promover o desenvolvimento sustentável e os negócios no exterior de Macau”, realizando “projectos de investimento” e foi criada propositadamente para ficar responsável pela exploração e gestão da área da Ilha da Montanha e dos projectos a desenvolver conjuntamente entre a RAEM e a região vizinha. Andreia Sofia Silva (com T.C.)

Tiago Alcântara

Tiago Alcântara

ão poucas as informações existentes sobre uma empresa pública que tem como papel principal gerir os negócios de Macau na Ilha da Montanha, mas foi ontem publicado um despacho em Boletim Oficial (BO) que incorpora a nova injecção de capital nos estatutos da Macau Investimento e Desenvolvimento SA. Em Janeiro já tinha sido oficializado o aumento de capital das iniciais 400 milhões para quase 3 mil milhões de patacas, um aumento de 86%. Contactado pelo HM, o deputado José Pereira Coutinho alertou para o facto do Governo fazer injecções de capital em empresas das quais pouco se sabe. “Recentemente o Governo tem estado a tomar decisões extremamente importantes para o futuro desenvolvimento a longo prazo da RAEM sem que tenha tido

“O Governo deve justificar a razão desse aumento de capital, será que esse investimento vai trazer alguma vantagem para os residentes?”

“O Governo tem que tomar cuidado com estas decisões com uma natureza pouco transparente”

Au Kam San deputado

Pereira Coutinho deputado

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Dá cá o ouro

Petição exige menos dinheiro para associações e mais para singulares

O

grupo Poder do Povo entregou uma petição, ontem, ao Governo, pedindo que o valor subsidiado às associações locais seja menor. Com a poupança deste capital dos cofres públicos o Governo poderá aumentar o valor dos cheques pecuniários, fixando em 17 mil patacas para residentes permanentes, já no próximo ano. Cheong Weng Fat, vice-presidente do grupo, explicou, ao HM, que “a principal razão que faz com que o grupo entregue a petição é os montantes exorbitantes que o Governo atribui às associações e que não é justificado”. “Gostávamos que o Governo publicasse a razão destes subsídios, ou pelo menos do seu valor. É que a população não sabe onde é que este dinheiro é gasto”, explica, adiantando que o grupo espera que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, perceba que estes montantes poderiam ser usados em comparticipações pecuniárias, ou mesmo, transferidas para os Fundo de Segurança Social (FSS). O que despertou esta acção, explica um comunicado do grupo, foi o sentimento de injustiça sentido pelos membros depois da Fundação Macau (FM), entidade pública, ter atribuído mais de mil milhões por várias associações. Sendo que a fundação recebeu

1,6% dos lucros brutos das receitas anuais do Jogo, ou seja, uma receita que ultrapassava os três mil milhões de patacas no último ano. O grupo considera que as receitas da fundação, apesar de divididas por várias associações, é uma transferência de interesses e um abuso aos cofres públicos, por isso, é preciso que os agentes de Macau mostrem o seu desagrado. “A Fundação Macau estragou a sua imagem pública, a população perdeu a confiança que lhe atribuía. Por isso, estamos de acordo, quando defendemos que o uso destes lucros recolhidos pela fundação devem ser utilizados na comparticipação pecuniária. Isto é, em vez de se distribuir por associações vai directamente para os residentes. Feitas as contas às receitas da fundação é possível aumentar os cheques pecuniários até às 17 mil patacas para cada residente”, pode ler-se na carta apresentada pelo grupo. O grupo defende ainda que o Governo deve tornar pública a justificação das aprovações dos pedidos de apoio financeiro efectuados pelas associações. “O Governo deve explicar porque é que vai atribuir aquele dinheiro e onde é que ele vai ser usado”, explicou o vice-presidente. Tomás Chio (revisto por F.A.)

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5 Política

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Condomínios Pedida entidade independente para resolver conflitos

O terceiro elemento

Imparcialidade é o que se pede ao Governo na resolução de conflitos que envolvam condomínios e condóminos. Os casos são poucos, mas a 2ª Comissão quer um terceiro elemento para evitar idas a tribunais Chan Chak Mo relembra que estes dois regimes de resolução de conflitos já existem, nomeadamente por uma empresa alojada no edifício World Trade Centre (WTC). Esta terceira plataforma terá como principal objectivo “evitar recorrer ao recurso judicial para resolver os problemas”, conforme adiantou o deputado. Não sendo clara a distinção entre mediação e arbitragem, na presente proposta de lei, foi solicitada uma clarificação dos conceitos. Será assim realizado um “ajustamento à redacção” de modo a ser aperfeiçoada e mais explícita. Se por um lado e, por parte do governo, são termos semelhantes, já para Chan Chak Mo a mediação seria para “casos mais leves” enquanto que a arbitragem para “casos

Tiago Alcântara

O

Governo poderá ter que proceder à criação de uma nova entidade que abarque as questões da mediação e arbitragem no que respeita às resoluções de conflitos e litígios dentro dos condomínios. A questão foi analisada ontem, em mais uma reunião da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida pelo deputado Chan Chak Mo. Em análise está a proposta de Lei do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio que prevê a existência de duas instâncias de resolução de conflitos e litígios sem que seja necessário recorrer a acções judiciais. Estas instâncias poderão ser obrigatórias se designadas como tal no respectivo regulamento. No entanto a 2ªComissão Permanente considera haver necessidade de criar uma terceira entidade que abarque estas duas funções e que tenha um carácter independente. Até agora a resolução de conflitos poderia passar pelo privado, ou ser entregue ao Instituto da Habitação (IH). Algo que poderá mudar, pois a 2ª Comissão Permanente pretende que estes casos sejam analisados por uma instância independente do Governo.

Ano novo, casa nova

A

mais graves que possam exigir a apresentação de provas”. No entanto, e após recorrer à arbitragem, caso a situação permaneça sem solução, os interessados poderão “sempre recorrer ás vias judiciais normais”. Para o deputado, mesmo recorrendo a estes dois dispositivos, muitas vezes não “se consegue efeitos satisfatórios”. Contudo, o presidente explicou que os “casos são poucos”.

Com ou Sub

rnaldo Santos, presidente do Instituto da Habitação afirma que, no que respeita ao caso da habitação pública, a análise das 1900 candidaturas vai ser realizada de forma faseada, sendo que por semana serão analisadas cerca de 60. Das primeiras analisadas foram admitidas cerca de 45, confirmou o presidente, à margem da reunião da 2ªComissão Permanente. A análise destas candidaturas abrange os casos denunciados no início deste ano, de falsas declarações no concurso para atribuição de habitação pública. A primeira escolha das fracções pelas famílias já admitidas no processo vai ter início a partir da próxima segunda-feira, sendo que, a ocupação pode ocorrer aquando do término da respectiva construção. Das candidaturas negadas Arnaldo Santos refere que poderão prosseguir com recurso através dos devidos meios legais. O presidente admitiu ainda que a novas habitações poderão estar prontas no final do próximo ano, sem garantias.

Foi ainda debatida a questão das prioridades, nomeadamente dos regulamentos dos subcondomínios, no que respeita à aplicação das sanções pecuniárias em caso de incumprimento. Aquando da existência de regulamento de subcondomínios, este prevalece sobre o do condomínio (geral). O deputado exemplifica com a situação da proibição de cães: poderá estar previsto no regulamento do condomínio a proibição dos animais, no entanto, se o regulamento do subcondomínio o autorizar, este será prioritário e os espaços comuns abrangidos pelo regulamento do sub condomínio poderão permitir a sua existência.

Residente diz-se vítima de injustiça pelo Instituto da Habitação Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu ontem uma petição das mãos de um residente que se diz alvo de injustiça por parte do Instituto da Habitação (IH), por ter sido afastado da sua habitação económica. Lei Meng San trabalhava na Sands China na área das limpezas, sendo que, em 2009, morava com a sua família num apartamento do edifício Nam Wa, localizado no empreendimento de habitação pública da Areia Preta. Contudo, o IH despejou a família alegando que a mesma não se encontrava a viver na fracção. Lei Meng San explicou que trabalhou um período de tempo em Taiwan para obter um salário maior, já que tem um filho com tuberculose e uma filha com uma doença mental, os quais não podem trabalhar. O residente acabaria por perder o seu emprego

na Ilha Formosa e sofrer um acidente de viação em Macau, tendo sido despejado depois desses incidentes. Hoje Macau

O

Lai Meng San garantiu que o IH não aceitou as suas justificações, acusando o organismo de rejeitar de

forma irracional alguns pedidos de habitação pública. Lai Meng San candidatou-se em conjunto com a sua filha, e dividiu o processo com a família do filho, mas os dois pedidos foram rejeitados. “Muitos residentes com altos salários foram escolhidos e eu não consegui, sendo mesmo necessitado. Não sei porquê”, gritou o residente em frente à sede do Governo. O autor da petição refere que o IH nunca enviou uma carta oficial à família a comunicar o despejo, apesar das várias tentativas de contacto feitas. Lai Meng San arrenda neste momento um apartamento e teme que não tenha dinheiro para o pagar quando se reformar, caso não consiga ter outros rendimentos. T.C. (revisto por A.S.S.)

PSP “Acusação contra Scott Chiang é legítima”

Segundo o Jornal Ou Mun, a Polícia de Segurança Pública (PSP) disse já ter entregue ao Ministério Público(MP), o caso em que acusa Scott Chiang, Presidente da Associação Novo Macau, de desobediência qualificada. O caso reporta-se à manifestação do dia 15 de Maio contra a doação da fundação Macau à Universidade de Jinan. Segundo o porta-voz da PSP, “alguns manifestantes não ouviram os pedidos e alertas da polícia, criando problemas no trânsito”. Para além disso, a polícia justifica ainda a queixa apresentada contra o activista político por, após o final da manifestação, “ter promovido um encontro com outros manifestantes, não autorizado, junto à Sede do Governo”. Alega a PSP ter alertado os manifestantes para o facto mas, como não foi atendida, considera o acto como uma violação à lei nos termos de “desobediência qualificada”. Perante a situação, a PSP acredita estar a agir de acordo com a lei.


6 Sociedade

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ETAR DSPA recebeu quatro propostas em concurso público

A Direcção dos Serviços da Protecção Ambiental (DSPA) recebeu quatro proposta para as “operações e manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais de Macau”, conforme indica o canal chinês da Rádio Macau. Em causa estão as obras de melhoramento da ETAR, sem incluir os melhoramentos necessários no tratamento das águas residuais e a questão das águas sujas na zona da Areia Preta. A DSPA assegurou que estes dois assuntos estão a ser estudados para se encontrar a solução mais viável. A abertura do concurso aconteceu ontem, depois de ter sido adiado no início deste mês, devido ao processo em tribunal, a decorrer, que envolver a empresa CSEL-Ásia.

LA SCALA Tribunal rejeitou recurso da Moon Ocean

O canal chinês da Rádio Macau noticiou ontem que o tribunal rejeitou o recurso apresentado pela empresa Moon Ocean sobre os cinco terrenos que seriam destinados à construção do empreendimento La Scala. A empresa pedia o fim da nulidade da decisão do Chefe do Executivo de retirar à empresa a concessão dos terrenos, pelo envolvimento no caso de corrupção do ex-Secretário das Obras Públicas Ao Man Long. A Rádio Macau obteve uma reacção do gabinete do portavoz do Governo, em que se afirma que o Executivo respeita a decisão do tribunal e que já deu ordens à tutela das Obras Públicas e Transportes para avançar com o planeamento dos terrenos. O Governo diz ainda cumprir a promessa já feita de utilizar esses terreno para construir habitação pública.

Cabo Verde MP não vê ilegalidades no projecto de David Chow

Segue para bingo

Críticas do movimento “Korrenti di Ativista” e queixas do ex-bastonário da Ordem dos Arquitectos caem em saco roto

O

M i n i s t é r i o Público (MP) de Cabo Verde não encontrou indícios de ilegalidades no âmbito do projecto turístico do ilhéu de Santa Maria, na Praia, mandando arquivar a denúncia apresentada em Fevereiro pelo ex-bastonário da Ordem dos Arquitectos Cipriano Fernandes. O ex-bastonário da Ordem dos Arquitectos (OAC) cabo-verdianos, Cipriano Fernandes, pediu, através de uma petição, a intervenção da Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o projecto, por considerar que não respeita todos os requisitos legais. Na véspera do lançamento da primeira pedra do Projecto Turístico Integrado do Ilhéu de Santa Maria/ Gamboa, do empresário macaense David Chow, o arquitecto denunciou o Governo de Cabo Verde e a Câmara Municipal da

Praia, imputando-lhes ilegalidades. A Procuradoria-Geral da República (PGR), de Cabo Verde, esclareceu ontem, em comunicado, que na sequência da petição do arquitecto foram solicitados documentos e recolhidas informações e que, depois de “uma análise crítica e ponderada de todos os elementos de prova recolhidos e constantes dos autos [...] o MP ordenou o arquivamento dos autos”. O MP concluiu que não resultaram dos elementos recolhidos indícios da prática de qualquer crime, nomeadamente de corrupção, e que não “há base legal que legitime a intervenção do Ministério Público, no sentido de requerer a suspensão” do projecto em causa.

Rico ilhéu

A estância turística no ilhéu de Santa Maria e na Gamboa, situada defronte da

cidade da Praia, é promovida pelo empresário chinês David Chow, director executivo da Macau Legend Development (MLD), que vai investir no projecto 250 milhões de euros - cerca de 15% do PIB de Cabo Verde. Tr a t a - s e d o m a i o r empreendimento turístico previsto para o país, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados e inaugurará a indústria de jogo no arquipélago. Deverá ficar pronto dentro de três anos e durante a construção vai gerar mais de dois mil postos de trabalho. O complexo prevê a construção de um hotel-casino no ilhéu de Santa Maria, uma marina, uma zona pedonal com comércio e restaurantes, um centro de congressos, infra-estruturas hoteleiras e residenciais na zona da Praia da Gamboa e uma zona de estacionamento. David Chow, que explora espaços de jogo

em Macau, recebeu uma licença de 25 anos do Governo cabo-verdiano, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. A concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da MLD, cerca de 1,2 milhões de euros. A promotora recebeu uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante 10 anos. O projecto, cuja primeira pedra foi lançada em Fevereiro pelo então primeiro-ministro José Maria Neves, é também contestado pelo movimento cabo-verdiano “Korrenti di Ativista” cujos elementos chegaram a acampar no ilhéu em protesto contra a construção do complexo, que consideram irá servir sobretudo para trazer ao país “lavagem de capitais, prostituição e turismo sexual”. LUSA/HM

NUCLEAR Chefe descansa as hostes

“A qualidade de segurança está em conformidade com as lei e regulamentos do país”, esta foi uma das frases de Fernando Chui Sai On, Chefe do Executivo da RAEM, quando, por iniciativa própria, falou ontem sobre a central nuclear de Taishan. A alocução ocorreu durante o encontro com a imprensa de balanço da Conferência entre Macau e Cantão. No discurso, o Chefe do Executivo disse ainda estar “consciente das preocupações da população e dos média em relação ao assunto”. Além disso, voltou a dizer o que já se sabia, ou seja, que o Governo está em contacto com as autoridades de Cantão desde o primeiro instante através do Mecanismo do Contacto entre Macau e Cantão adiantando ainda que o princípio é o de “assegurar a segurança de pessoas e bens, e dissipar as dúvidas, de forma efectiva, aos cidadãos”. Chui Sai On frisou também que “o desenho e segurança do central nuclear estão a cargo de entidades especializadas, supervisionadas pelos organismos competentes do Estado. Recorde-se que, sábado passado, o Governo de Macau convidou representantes da central de Taishan a estarem presentes no território para uma sessão de esclarecimento com a imprensa.

Circulação condicionada na Rotunda do Estádio

As obras de elevação e montagem do viaduto do Metro Ligeiro vão condicionar a circulação do trânsito na Rotunda do estádio a partir de 25 de Junho durante cerca de 100 dias. De modo a atenuar o efeito da medida, o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) e a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) procederam ao ajustamento das direcções de circulação, alteração das carreiras de autocarro, e cancelamento e instalação das paragens provisórias de autocarro.


7 hoje macau quinta-feira 23.6.2016

Tiananmen Escolas evitam falar sobre massacre. Alunos aprendem por si

Aquele que não quer ver O negro dia 4 de Junho de 1989 continua a ser assunto incómodo. As escolas evitam falar e os livros nem sequer mencionam a data. No entanto, há professores que fazem questão de transmitir aos seus alunos tudo sobre o massacre. Tornar matéria obrigatória é questão difícil de responder

N

ão, os meus professores nunca me falaram sobre o 4 de Junho, nem os manuais escolares mencionavam o que aconteceu. Soube pelo youtube e pelas redes sociais”, começa por contar, ao HM, Lin Ka, estudante a residir em Macau. Nasceu em Xangai, mas logo cedo veio para Macau, lamenta que nas escolas de Macau pouco ou nada se fale do massacre estudantil na Praça de Tiananmen. “Um ou outro professor disse qualquer coisa, mas foi muito pouco. Se queria saber tinha de pesquisar na internet”, argumenta. Na escola de Sio Fong, um jovem licenciado, os manuais adoptados eram de Hong Kong e mencionavam o acontecimento. “Mas era muito pouco, era uma coisa de nada”, apressa-se em esclarecer. No entanto foi um padre que trouxe a Sio Fong alguns conhecimentos. “Tínhamos um professor padre, que era muito novo, nascido e criado em Hong Kong, e foi ele que nos explicou tudo o que tinha aconte-

cido. Depois disso cada um de nós podia ir estudar e pesquisar”, conta.

Ser autodidacta

Ser-se autodidacta para saber o que aconteceu é também ideia defendida por Teresa Vong, docente na Universidade de Macau. A professora recorda que dantes mais alunos conheciam a história, mas que agora nota que eles não sabem. “Para saber é preciso ir pesquisar e isso acontece mais a pessoas que não são chinesas”, explica ao HM. Na realidade são as próprias escolas que escolhem dar, ou não, esta parte da história da China. “Segundo os regulamentos de Macau em relação à educação, as escolas privadas e públicas possuem autonomia no seu ensino. O Governo não define os manuais das escolas, e as escolas podem optar por manuais publicados por qualquer regiões conforme as suas características e necessidades”, explica-nos a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). O Executivo indica que de acordo com o plano de “Exigências das competências académicas básicas da educação regular do regime escolar local”, actualmente a ser executado no ensino infantil e primários, e a começar a ser executado no ensino secundário a partir de 2017, “a perturbação politica que ocorreu em 1989 pertence a categoria de história das Exigências”. No ensino primário é exigido aos alunos, explica a DSEJ, saberem “as consequências das figuras importantes e dos assuntos históricos em tempos diferentes da China” e terem “consciência do desenvolvimento, mudanças e desafios enfrentados pela nação”. Durante o ensino secundário, os alunos devem saber “exploração e prática da politica democrática na China”, e todos os momentos pelos quais a China passou depois de 1949. É exigido aos alunos que tenham a “consciência da construção da política democrática do país” e compreendam os “meios para participar nos assuntos administrativos”.

Processo difícil

Das dez escolas de Macau contactadas pelo HM, apenas três

“Os alunos não percebem nada sobre o 4 de Junho. Mas é difícil dizer se este assunto deveria ser obrigatório” Teresa Vong docente da UM quiseram comentar o assunto. A Escola da Associação para Filhos e Irmãos dos Agricultores admite que os manuais adoptados são do interior da China e não é mencionado o massacre. Contudo um professor faz questão de explicar aos alunos o que foi, quando e porquê. “O nosso professor de história ensina aos alunos o que foi o dia 4 de Junho”, explica a direcção da escola. A Escola Nossa Senhora de Fátima, o Colégio Yuet Wah, o Colégio de Santa Rosa de Lima - Secção Chinesa e o Colégio do Sagrado Coração de Jesus assumiram o assunto como inconveniente

e portanto não se mostraram disponíveis para responder.

Caminho árduo

Questionada sobre tornar esta matéria obrigatória no ensino em Macau, Teresa Vong diz “ser muito difícil”, apontando várias razões. “Nem Hong Kong tem esta matéria como obrigatória, muito menos a China”, frisa. Ser um acontecimento “recente na história da China” é também ponto referido pela docente. “Os alunos não percebem nada sobre o 4 de Junho. Mas é difícil dizer se este assunto deveria ser obrigatório. Por acaso falei sobre isso com um professor de história e no seu ponto de vista, é preciso definir o [massacre] como acontecimento histórico. A China nunca o confirmou. Foi a explicação que o professor me deu”, remata, sublinhando a necessidade de investigação. Enquanto aqui se tenta apagar a história, ou pelo menos, não falar dela f, do outro lado do mundo, na Universidade de Harvard decorre um curso totalmente dedicado ao Massacre de Tiananmen. As inscrições estão abertas. Filipa Araújo (com A.K.) filipa.araujo@hojemacau.com.mo

sociedade

Usura Quando cinco se transformam em 60

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MA residente de Hong Kong pediu emprestados cinco mil dólares de Hong Kong (HKD) para apostas num casino, mas foi obrigada a assinar um recibo de 60.000 RMB. Alertado para a situação, o pai da vítima veio a Macau sanar a dívida mas antes pediu ajuda à polícia de Macau que viria a apanhar os vigaristas. O crime ocorreu no passado dia 19 do corrente, tendo sido a vítima, de 24 anos, interpelada por um homem que oferecia empréstimos a troco de juros. Após discutirem os detalhes da transacção, a vítima recebeu cinco mil HKD do homem e pensava ir aplica-los no baccarat. Quinhentos HKD foram imediatamente deduzidos pelo prestamista como juros, tendo ainda confiscado o BIR à vitima. Mas as surpresas não tinham ainda terminado pois, ao assinar o recibo, deparou-se com a quantia de 60.000 yuan. Ao reagir, a vítima foi obrigada a ir para uma loja de massagens onde foi aprisionada. No dia seguinte, os captores pediram-lhe para ligar a alguém para vir pagar a divida, e foi então que surgiu o pai da vítima. Combinado encontro no terminal marítimo, os larápios não só encontraram o pai como os oficiais da alfândega e a Policia Judiciária que os viria a deter.


8 hoje macau quinta-feira 23.6.2016

Portugal 3 – Hungria 3 O jogo que não quisemos vencer

Sinfonia interrom As decisões de Fernando Santos impediram Portugal de vencer, quando estava por cima. Mas o sonho continua

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Hungria-Portugal foi o jogo mais espectacular do Euro 2016 até ao momento e terminou com uma igualdade a três golos e o consequente apuramento português (e dos húngaros, em primeiro, a que se juntaram os islandeses, em segundos) para os oitavos-de-final da competição. Na partida que, por enquanto, rendeu mais golos na prova, Portugal esteve sempre em desvantagem. Primeiro, num remate à entrada da área portuguesa, Gera inaugurou o marcador (19’) para os húngaros, mas Nani, bem junto ao intervalo, repôs a igualdade. No início do segundo tempo, a Hungria recolocou-se em vantagem, aproveitando um livre que sofreu um desvio na barreira nacional, mas Cristiano Ronaldo surgiu no jogo ao marcar um golaço, de calcanhar (50’), que recolocava o marcador numa igualdade – o internacional português passou a ser o primeiro futebolista a marcar em quatro fases finais consecutivas de Europeus.

Só que aquele resultado durou cinco minutos, já que em mais um remate que sofreu um desvio, Dzsudzsák voltaria a colocar a Hungria na frente do marcador. Novamente desqualificado, face à conjugação de resultados, Portugal foi capaz de repor a igualdade (62’), num cabeceamento de Cristiano Ronaldo, que assim “bisou” na partida e recolocou a selecção no lote das qualificadas para a fase seguinte do Euro 2016, apesar de ter terminado a fase de grupos com três empates.

Islândia em primeiro

Entretanto, a Islândia venceu a Aústria por 2-1 na última jornada do Grupo F e assegurou


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mpida assim o 1º lugar com cinco pontos. Esta vitória dos nórdicos permitiu a Portugal ser terceiro e assim evitar o lote dos ‘tubarões’ do Euro 2016. Com vontade de ser primeira no grupo, a Islândia começou a todo o gás. E logo aos dois minutos atirou uma bola ao ferro por Gudmundsson num pontapé do meio da rua. Com tanto domínio inicial, foi sem surpresa que a equipa nórdica chegou ao golo por intermédio de Bodvarsson. Depois de um lançamento longo, a bola sobrou para o 15 que não falhou na hora h. Com vontade de inverter o rumo dos acontecimentos e com esperança ainda na qualificação para a próxima fase do Euro, a Áustria tentou responder ao golo. Arnautovic em excelente posição cabeceou por cima. Aos 36 minutos, a Áustria teve uma soberana ocasião para marcar. Skulason travou Alaba na área, e o árbitro não teve dúvidas para assinalar o castigo máximo. Na transformação Dragovic atirou ao poste. No segundo tempo, à passagem dos 60 minutos, o pendor ofensivo austríaco deu os seus frutos. Schöpf tirou um adversário da frente e rematou para o fundo da baliza. A Áustria foi à procura da vantagem e quase o conseguiu, mas permitiu a intervenção do guardião nórdico. Quando nada o fazia prever, a Islândia marcou ao cair do pano. Arnor Ingvi Traustason fez o tento da vitória e permitiu à sua seleção acabar em primeiro lugar do grupo. Com este triunfo, Portugal qualificou-se em terceiro lugar. Já a Islândia ao ficar em primeiro lugar do grupo vai medir forças com o segundo classificado do Grupo E.

“Não adiantava insistir correr o risco de sofrer um golo” •Fernando Santos “Fundamental foi passar. Queríamos tê-lo feito como primeiros do grupo, mas foi impossível, depois das incidências nos dois primeiros jogos, em que Portugal foi melhor e não conseguiu vencer, e deste, apanhados três vezes a perder, num jogo contranatura, com Portugal a jogar razoavelmente bem. O adversário três vezes criou perigo e fez golo. A equipa teve uma grande atitude, capacidade de resposta e conseguiu igualar três vezes e tentou o quarto golo, também. No período final, o adversário não quis jogar, tentou que Portugal se adiantasse para atacar. Não adiantava insistir quando estávamos apurados, a três minutos do fim, e correr o risco de sofrer um golo. Nos últimos minutos, a equipa soube pensar no que tinha que fazer. Fizemos tudo para ganhar, queria ganhar, mas é normal que nos últimos seis ou sete minutos os jogadores saberem que o importante é estarmos cá. A Croácia é uma excelente equipa. Viemos para o Euro com uma ambição. Quem vem para o Europeu tem que jogar com todos. Vai ser um grande jogo.”

•Danilo Pereira “[O selecionador] pediu-me para entrar e segurar o meio-campo. Estamos todos felizes pelo apuramento, não da forma como queríamos, mas é sempre um apuramento. No final, vimos que Hungria não estava a atacar, e também decidimos não fazer. O resultado convinha e não podíamos sofrer golos. Preparados para tudo e as críticas fazem parte do dia a dia.

•João Mário “A Hungria, por estar já apurada, apareceu a encarar o jogo de forma muito aberta e competitiva, mas estávamos preparados e não foi surpresa nenhuma. [Croácia, próximo adversário] É uma selecção muito forte, com excelentes jogadores e muito bem organizada. Há que encarar esse jogo cara-a-cara, com muita tranquilidade. Agora, no ‘mata-mata’, o objetivo é passar. Há que encará-lo

Ronaldo fica a um golo de Platini

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ristiano Ronaldo isolou-se ontem no segundo lugar dos melhores marcadores da história do Europeu de futebol, a um tento de Michel Platini, ao ‘bisar’ face à Hungria, em encontro da terceira jornada do Grupo F, em Lyon. O ‘capitão’ da seleção lusa, que é agora o melhor marcador luso em Europeus, Mundiais e, naturalmente, no somatório das duas competições, passou a contar oito golos em campeonatos da Europa, com os tentos

aos 50 e 62 minutos. Ronaldo, que havia marcado dois golos no Euro2004, um no Euro2008 e três no Euro2012, superou os sete tentos do inglês Alan Shearer e ficou a um dos nove do francês Michel Platini, todos marcados na edição de 1984. O ‘7’ luso, que também reforçou o estatuto de melhor marcador do Europeu, juntando qualificação e fase final (28 golos), tornou-se também o primeiro jogador da história a marcar em quatro Euro-

peus, sendo que, juntando os Mundiais, também é o único com golos em sete fases finais. Na história dos Europeus, Ronaldo, que ontem se isolou com o jogador com mais encontros disputados (17, contra 16 de Edwin van der Sar e Lilian Thuram), estreou-se a marcar no primeiro jogo do Euro2004, quando fez o tento de honra da seleção portuguesa frente à Grécia (2-1), no Estádio do Dragão.

com otimismo e corrigir os aspectos menos positivos”. •Nani “Cumprimos o objetivo, pelo menos um deles, que era passar. Não conseguimos da maneira como queríamos, que era ganhar os jogos, mas o mais importante foi passar. Agora é a fase a eliminar. Hoje fomos infelizes em dois lances, em que a bola ressaltou nos nossos jogadores. Soubemos responder, mostrámos excelente atitude, bom futebol e que somos uma equipa forte. E marcámos três golos, embora não tenhamos conseguido vencer. Os portugueses podem estar orgulhosos e continuar a acreditar.ACroácia jogou muito bem contra a Espanha. Mas com equipas fortes costumamos responder muito bem. Temos que ser muito competentes, mas temos ainda muito para demonstrar”. •Renato Sanches “O que interessa é que estamos apurados. Foi um bom jogo, apesar do desfecho. Não está a faltar nada à Seleção. Estamos a jogar bem, apenas falhámos alguns golos. Há que continuar a trabalhar, que as coisas vão aparecer. Contra a Croácia, será um jogo difícil, mas estamos preparados”.


10 China

hoje macau quinta-feira 23.6.2016

Patentes Nova arma para combater Apple e Samsung

Ganhar na secretaria Os fabricantes chineses de telefones inteligentes utilizam cada vez mais patentes como munição para atacarem as rivais Apple e Samsung. Gigantes como a Huawei, o ZTE Corp. e a Lenovo Group adquiriram patentes e fazem investimentos vultuosos em pesquisa e desenvolvimento — esperam-se mais desafios jurídicos pela frente para a Apple e a Samsung, e não só na China

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Huawei, que tem a ambição de se tornar a maior fabricante de telefones inteligentes do mundo em cinco anos, processou a Samsung nos Estados Unidos em Maio, afirmando que a empresa sul-coreana violou 11 das suas patentes para telefones móveis. A Samsung informou que irá defender-se no processo, o primeiro confronto jurídico de um

fabricante de telefones inteligentes chinês contra uma líder de mercado, o que vem reverter a ideia de que os fabricantes chineses estão no lado recebedor das disputas de patentes. O ano passado, a Huawei, terceira maior fabricante de telefones inteligentes e líder mundial do mercado de equipamentos de telecomunicações, foi a empresa que mais fez registos de patentes internacionais sob o Tratado

de Cooperação em matéria de Patentes, que facilita o registo para empresas em vários países, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, sediada em Genebra. Depois da Huawei, a fabricante de chips americana Qualcomm e a chinesa ZTE foram as que mais registaram patentes.

Guerra em curso

As patentes desempenham também um papel no sector

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mais rígido dos aparelhos móveis da China, que a Apple e a Samsung tentam desbravar, uma vez que os reguladores locais pressionam cada vez mais as empresas estrangeiras a actuar segundo as regras do Governo. Recorde-se que a Shenzhen Baili, uma pequena “startup” chinesa, conseguiu proibir na Justiça a venda do iPhone 6 e iPhone 6 Plus em Pequim, com base apenas numa patente de design que esta diz possuir no país. AApple contesta a alegação, que, segundo analistas e especialistas em leis, é uma indicação do clima político tenso do país. Mas, ao mesmo tempo, as suas rivais chinesas mais poderosas, como a Huawei, estão a desenvolver grandes esforços para adquirirem direitos de patentes e enfrentar as duas gigantes do sector.

Os Patinhas

“Vamos ver muito mais empresas chinesas a registarem patentes fora da China, e mais acordos e processos envolvendo patentes e tecnologia”, prevê Benjamin Bai, sócio da consultoria Allen & Overy LLP, de Xangai, que assessora empresas chinesas sobre estratégias de propriedade intelectual internacional. A Huawei tem vindo a aumentar o portfólio de patentes principalmente através de investimentos elevados em pesquisa e desenvolvimento. Nos últimos cinco anos, investiu quase US$ 30 mil milhões em P&D. Só no ano passado, elevou em 46% o orçamento da área de pesquisa, para US$ 9,2 mil milhões, superando os US$ 8,1 mil milhões que a Apple investiu no seu ano fiscal mais recen-

te. A Huawei tem agora 16 centros de P&D no mundo, incluindo EUA e Europa.

Ser maior

Quando a Lenovo comprou a Motorola Mobility, em 2014, num acordo de US$ 2,91 mil milhões, a fabricante chinesa de computadores pessoais citou as patentes da Motorola como um motivo para adquirir a empresa. Mas, mesmo com as patentes da Motorola, a empresa enfrenta dificuldades no mercado global de telefones inteligentes. No caso da Huawei, a expectativa é vê-la fortalecer-

-se na guerra contra as suas rivais ocidentais ao investir mais em P&D. Só uma equipa de design de antenas para telefones inteligentes regista quatro ou cinco novas patentes todos os anos, segundo um empregado. Quando a Apple lançou o iPhone 6S e o iPhone 6S Plus, no ano passado, a equipa desmontou os telefones e testou suas antenas dentro de quartos isolados para comparar com as antenas da Huawei. “Ainda estamos atrás da Apple, mas achamos que a diferença está a diminuir”, disse o funcionário da Huawei. The Wall Street Journal


11 china

hoje macau quinta-feira 23.6.2016

Primeiro ministro garante política monetária prudente

Utilizadores de 4G chegam aos 530 milhões

O número de utilizadores de 4G na China chegou aos 530 milhões no final do primeiro trimestre do ano, excedendo o total registado nos Estados Unidos e Europa, informou uma fonte oficial na segunda-feira. A China tem a maior rede de 4G do mundo, com cobertura a todas as principais cidades e distritos, disse o vice-ministro da Indústria e Informatização, Chen Zhaoxiong, na Conferência 2016 da Internet da China. A China tinha por volta de dois milhões de estações-base de 4G no final de Março, acrescentou. O número dos utilizadores de internet móvel do país atingiu 619 milhões no final do ano passado, respondendo por pouco mais de 90% da população de cibernautas. A internet tornou-se nos últimos anos num elemento principal para o desenvolvimento da economia chinesa.

Antigo CEO de estatal condenado a dez anos

Um tribunal chinês condenou o anterior presidente de uma das maiores empresas estatais do país a dez anos de prisão por ter aceite subornos e desvio de fundos, informaram ontem as autoridades. Wang Yujun, que liderou a China Resources Power, empresa listada na bolsa de Hong Kong, foi sentenciado na semana passada por um tribunal da província de Jiangsu, no leste da China. Segundo um comunicado difundido pela procuradoria, Wang aceitou subornos num valor conjunto superior a 427 milhões de yuan, entre 2005 e 2013. Mais de uma centena de quadros dirigentes, alguns dos quais ministros, foram atingidos pela campanha anticorrupção em curso na China, desde que o actual Presidente, Xi Jinping, assumiu a chefia do Partido Comunista Chinês (PCC), em Novembro de 2012.

Acordos electrónicos

A China, União Europeia e os Estados Unidos acordaram ontem, em Pequim, reforçar a cooperação para garantir a segurança dos produtos vendidos através de comércio electrónico. As três maiores economias mundiais realizaram na capital chinesa a sua quinta cimeira trilateral sobre segurança de bens de consumo, um encontro que terminou com a publicação de um comunicado conjunto centrado nos novos desafios do comércio virtual. “O desenvolvimento do comércio electrónico criou novos desafios às autoridades responsáveis pela segurança dos bens de consumo, em particular (…) dos produtos que são vendidos online”, indica o comunicado. A China, União Europeia e os Estados Unidos comprometeram-se a “reforçar o estabelecimento de mecanismos de cooperação para a segurança de produtos, em particular sobre a supervisão de segurança do comércio electrónico transfronteiriço”.

Flexibilizar e racionalizar Li Keqiang está preocupado em manter a liquidez no mercado pelo que advoga uma política monetária prudente e uma política fiscal pro-activa. Para diminuir as diferenças regionais, o PM diz ainda aos bancos comerciais para melhorarem o serviço à economia real, em particular às pequenas e microempresas

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primeiro-ministro chinês, Li Keqiang disse que o país continuará com uma política monetária prudente e uma política fiscal pro-activa, mantendo um crescimento razoável de crédito agregado, para melhor servir a economia real.

Li fez estas observações durante um seminário realizado na segunda-feira a propósito de visitas aos bancos Central, da Construção da China e Popular da China. “A China deve manter a sua política monetária prudente, promover a coordenação da política monetária com a política fiscal pro-activa, tornar as políticas mais flexíveis e específicas, colocar ênfase no ajustamento preventivo de políticas e manter um crescimento razoável de crédito”, disse o governante. Enquanto o sector financeiro da China tem apoiado o desenvolvimento económico, o crescimento económico global ainda é fraco e algumas regiões e indústrias no país enfrentam grandes dificuldades, assinalou. Li disse que múltiplas ferramentas políticas devem ser usadas para manter a liquidez razoavelmente ampla, guiar as expectativas do mercado e criar um bom ambiente financeiro para lidar com os riscos e desafios e ainda promover um crescimento económico contínuo e estável. O primeiro-ministro também pediu a implementação de políticas financeiras diferenciadas para apoiar a reforma estrutural no lado de oferta. Os bancos comerciais devem melhorar o seu serviço à economia real, em particular às pequenas e microempresas, continuou. Para servir melhor à economia real, o sector financeiro deve aumentar os apoios à

“A China deve manter a sua política monetária prudente, promover a coordenação da política monetária com a política fiscal pro-activa, tornar as políticas mais flexíveis e específicas, colocar ênfase no ajustamento preventivo de políticas e manter um crescimento razoável de crédito” Li Keqiang primeiro-ministro chinês agricultura, agricultores e áreas rurais, explicou.

Outras áreas

O primeiro-ministro destacou também o investimento privado e a nova economia, a logística, economia de energia, protecção ambiental e manufactura inteligente, como áreas que merecem mais apoio financeiro. Li enfatizou ainda a importância da reforma sobre a

eficiência do sector financeiro e a prevenção dos riscos. Sobre a regulação financeira, o primeiro-ministro pediu melhor supervisão para o anormal fluxo transfronteiriço de capitais e o risco das operações financeiras via internet, com o objectivo de prevenir riscos sistemáticos ou regionais.

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CONCURSO PÚBLICO N.o 18/P/16

CONCURSO PÚBLICO N.o 21/P/16

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 8 de Junho de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Material de Consumo Clínico Para o Laboratório de Saúde Pública dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 22 de Junho de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 51,00 (cinquenta e uma patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 22 de Agosto de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 23 de Agosto de 2016, pelas 10,00 horas, na sala do «Auditório» situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP 60.000,00 (sessenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 7 de Junho de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação de Um Sistema de Identificação por Radiofrequência (RFID) ao Serviço de Medicina Legal dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 22 de Junho de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP43,00 (quarenta e três patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 8 de Agosto de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 9 de Agosto de 2016, pelas 10,00 horas, na sala do «Auditório» situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP 21.400,00 (vinte e uma mil, quatrocentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/SeguroCaução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 16 de Junho de 2016

O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Serviços de Saúde, aos 16 de Junho de 2016

O Director dos Serviços Lei Chin Ion


h artes, letras e ideias

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fichas de leitura

Manuel Afonso Costa

Romance interminável

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UANDO vi o Grande Hotel Budapeste, mesmo não tendo ficado a morrer de amores pelo filme, houve qualquer coisa de vago que me intrigou no sentido de um fascínio inconclusivo. Acontece - me muito agora, e só pode ser da idade, que confundo por vezes de uma forma que não deixa de ser atraente, memórias pessoais, com pedaços de sonhos, alguns visitam-me com regularidade, o que é obsidiante mas estranho também, e além disso trechos de romances que li e que não li, assim como planos-sequência de filmes que vi e que não vi também. Já disse, que só pode ser da idade, acho que isto, deste modo, não me acontecia quando era mais jovem, pelo menos assim. Quando vi, portanto, o filme de Wes Anderson, senti que o universo de Stefan Zweig estava todo ali. Eu não li tudo deste autor, nem pouco mais ou menos, a sua obra é vastíssima, dispersa por muitos géneros, mas se ficarmos apenas pelo género romanesco, e romanesco é uma palavra-conceito que assenta como uma luva a Zweig, tal como a Sandor Marai, por exemplo, e vocês sabem em que é que eu estou a pensar, ainda assim a obra do escritor judeu austríaco é vasta quanto baste. Mesmo não tendo lido tudo, o que li é o suficiente para ter tido esta espécie de sinestesia. Mas Zweig é muito cinematográfico e esse poderia ser um interessante tema de reflexão, o porquê dessa relação entre Stefan Zweig e a tela. Talvez seja justamente o seu lado romanesco e uma paixão, que é muito de época, pelos cenários interiores. O conto Carta de uma Desconhecida inserido na colectânea Caleidoscópio de

Zweig, Stefan, Caleidoscópio, Livraria Civilização, Porto, s/d Descritores: Ficção, Literatura Austríaca, Tradução de Alice Ogando, 177 p.:19 cm Cota: A LIT/Z960c.2

contos foi levado ao cinema pelo menos quatro vezes e uma delas por Max Ophuls, com Joan Fontaine no papel principal de Lisa, que é um daqueles filmes lendários que João Bénard da Costa terá considerado um dos filmes da sua vida, mas que pelo menos considerou o mais magoado papel de Joan Fontaine. Eu sei que não devia, mas caramba a minha admiração, tão grande, por Bénard da Costa, autoriza-me a não acabar esta ficha de leitura e deixar que

STEFAN ZWEIG (1881-1942) faz parte da nata da intelectualidade judia vienense. Amigo de Richard

Strauss, de Freud e de Artur Schnitzler, foi escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo. Deixa a Áustria em 1934 com a chegada do nazismo e refugia-se primeiro em Londres e depois no Brasil, onde se suicida, a 23 de Fevereiro de 1942, deprimido com a expansão da barbárie nazi pela Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Stefan Zweig foi, a partir da década de 1920 e até à sua morte, um dos escritores mais famosos e mais vendidos do mundo. Stefan Zweig estudou Filosofia na Universidade de Viena onde se viria a doutorar apresentando uma Dissertação sobre Taine. Apesar da sua fidelidade ao judaísmo a verdade é que a religião nunca desempenhou um papel central na sua formação. Manteve-se sempre próximo e apaixonado pela grande cultura europeia e fiel à língua alemã, apesar do nazismo e do consequente exílio americano. A sua admiração pelas literaturas francesa e inglesa levou-o a traduzir para alemão Keats, Morris, Yeats, Verlaine e Baudelaire. Além disso privou de perto com grandes intelectuais franceses e naturalmente austríacos do seu tempo. Fizeram parte do seu círculo, Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939. Durante o período áureo e feliz de Salzburgo, entre 1915 e 1930 escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e Stendhal e escreveu alguns bons romances como Amok de 1922, Angústia de 1925 e Confusão de Sentimentos de 1927, baseados na psicanálise. Zweig foi um consequente pacifista desde a sua maturidade e defensor da unificação europeia. Em 1934 Stefan Zweig já no seu segundo casamento abandona o seu país e parte para Inglaterra onde se torna cidadão britânico e depois em 1940 segue para os Estados Unidos e finalmente para o Brasil onde se viria a suicidar. A partir de uma determinada época a diáspora de Zweig tem os contornos de uma fuga à Barbárie.

o acesso ao livro seja feito a partir do filme e no caso através da pluma do mestre: “Lisa é uma rapariga da classe média que sonha ser artista. Na mesma casa onde ela mora, vive um pianista célebre, Stefan Brand (Louis Jourdan) um bom bocado mais velho do que ela. Quase desde criança, ela apaixona-se por ele: o grande artista, o génio. Nunca lhe fala, poucas vezes o vê, mas alimenta-se dele e da música dele. Tanto e tão loucamente que, quando cresce, recusa qualquer casamento. Só pode casar-se com o seu pianista, pianista que nem sabe da existência dela e quase todas as noites tem uma mulher diferente. Mas um dia encontram-se e conhecem-se. Fazem uma grande viagem num comboio que não sai da estação num parque de ilusões em Viena. Quando virem o filme, perceberão que essa mágica viagem a levou até ao fim do mundo. Nessa noite, Lisa quebra todas as regras do seu jogo virginal e torna-se amante de Stefan. O céu dura pouco: Stefan tem uma tournée, daqui a uns dias estará de volta. Despedem-se na estação de comboios, que sempre foi o lugar das despedidas para nunca mais. Nunca mais Stefan voltou e nove

meses depois quem chega é o ‘filho do pecado’. O destino deu segunda hipótese a Lisa. Um senhor rico, muito rico mesmo, que gostava dela e até aceita ser o pai da criança. Mas, nestas histórias, há sempre, uma vez, outra vez. Na ópera, durante uma ópera de Mozart, Lisa reencontra Stefan, aliás assaz decaído. Tudo parece reatar-se e a tal ponto, que, apesar do marido ser magnânimo, Lisa sai de casa para outra noite de amor com Stefan até descobrir, no princípio dela, que Stefan nem se lembra que ela existiu e lhe repete o mesmo número que jogara anos atrás na noite mágica. Não interessa muito contar que Lisa morre, mas interessa saber que, se sabemos toda esta história, e se a sabemos pela boca e pelo olhar de Lisa, é porque ela escreve do leito de morte a carta de uma desconhecida. Para além da carta, só ficamos a saber que o que Stefan esqueceu nunca foi esquecido pelo criado mudo dele, que acompanhou toda a história e percebeu todo o drama muito antes dele. Só ficamos a saber que Stefan, que se preparava para fugir ao duelo para que o desafiara o marido de Lisa (histórias de honra não eram para gente como ele) depois de ler a carta acaba por aceitar o duelo. O desfecho é imaginável. Ah! Uma dica para o sucesso cinematográfico de Stefan Zweig, quer dizer, dos seus contos e novelas: ora, antes de tudo o mais as intrigas e os enredos, que são simultaneamente exteriores e interiores, ou seja, psicológicas. Essa fusão do mundo com a intimidade mais profunda e tantas vezes insondável do Eu é seguramente uma das chaves do sucesso. Não é seguramente acidental o facto de que Zweig e Freud alimentaram durante uma boa parte das suas vidas, uma sólida amizade baseada numa indesmentível admiração recíproca. Freud chegou a salientar a dimensão psicanalítica das novelas do grande escritor austríaco, hoje em dia um pouco esquecido, ele que chegou a ser, nos anos trinta do século passado, o mais traduzido escritor à escala mundial. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Pública de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


13 hoje macau quinta-feira 23.6.2016

a saga da taipa

José Drummond

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 17. A empregada do bar

A

inda atordoada tento perceber porque não me consigo mexer. Começo a sentir partes do corpo. Começo a sentir os meus seios inchados a serem pressionados por qualquer coisa. É uma corda. Estou toda atada. Não sei porque fiz isto. Porque vim contigo para o quarto. Agora sei porque não me consigo mexer. Mas porque estou atada deste modo estranho? Jamais alguém viu o frio na alma do outro. Jamais alguém viu o desencontro entre a mágoa e a máscara do outro. Jamais alguém viu o espasmo final do outro. Aquele espasmo trémulo, recolhido nos escombros da própria existência. Aquele espasmo turbulento que esconde pranto. Aquele espasmo de quando a esperança se apaga. Porque a esperança também se apaga. Por vezes apaga-se assim sem morte. Por ter sido apenas uma insinuação. Um golpe de asa. Um ‘one night stand’. Os meus olhos vagueiam em redor. Não é o fim da festa. Aqui não há traição. Pelo menos a isso poupas-me. Estás agora com um sorriso maldoso. Não é um sorriso de defesa. Dói-me este poder ser e não ser realmente. És um animal ferido. Mais ferido que eu. Existe tão pouco amor neste mundo.

Apontas para o pénis e forças-me a abrir a boca. Nunca fiz isto assim. Sem me conseguir mexer. Volto a tentar mexer-me. Os braços não respondem. Reparo agora que a corda me aperta outras partes do corpo. Arregalo os olhos quando me apercebo que estou no ar. Suspensa.

Posição horizontal. Pernas abertas. Braços esticados. A cabeça puxada para trás. Sei disto. Sei do fetiche japonês. As cordas estão apertadas com tanta força que a minha circulação sanguínea demora a recuperar. Sinto um leve formigueiro aqui e ali. Sei disto mas nunca estive numa situação assim. Nunca fiz uma coisa destas nesta posição e muito menos sem me poder mexer. Terei certamente sonhado com isto. Estarei porventura a sonhar? Fazes com que perceba que esta é a realidade e que de algum modo irei ser castigada por acabar na cama com uma pessoa que não conheço. Abres-me a boca e forças a entrada. Sinto tudo no céu da boca. Tento acenar com a cabeça. Por uma razão qualquer fico extremamente húmida. Contra o que quero. Quero fugir. Não. Não quero. Não quero fugir. Quero ver o que me vais fazer. Quero sentir o que me vais fazer. Apertas os meus lábios enquanto introduzes o teu membro mais duro que nunca. Está mais quente do que eu estava realmente à espera. O sabor levemente salgado. Agarras-me a cabeça e lentamente começas a mover movê-la para trás e para a frente. E sorris. Continuas a sorrir. Acho que te odeio quando sorris. Toda a minha vida sexual passa diante de meus olhos num ápice. Não sou propriamente uma novata mas sinto-me como se o fosse. Lembro-me da primeira vez que dei prazer a um homem desta forma. Foi na praia. Tinha 15 anos. Em Boracay. Estava apaixonada por ele. Ele também se forçou. Era 10 anos mais velho que eu. Mas eu queria. Queria muito. Na minha inocência da adolescência acreditei que ele se iria casar comigo. Foi pouco tempo antes de o meu pai ter conseguido trabalho em Manila. Com ele a coisa foi bem diferente. Ele não se demorou. Ele não tinha truques como tu. Depois de o ter chupado continuou. Continuou e fez o que tinha que fazer na parte de baixo. Doeu-me. Saiu sangue. Não foi muito. Lembro-me de ter achado que não tive prazer nenhum. Duas semanas depois estava em Manila. Nove meses depois um bebé. Nunca mais o vi

depois de nos termos mudado para capital. Hoje o bebé não é mais bebé. Hoje o meu pai já não tem trabalho. Hoje sou eu que tenho que enviar dinheiro para toda a família.

Deste vazio de dentro de mim algo nasceu que eu não posso tocar. Algo que eu não posso explicar. Uma dor que eu não consigo ilustrar. Que se esconde. Que me puxa para o abismo. E sei que tu também. Tu também tens um vazio que pariu algo que não podes tocar. Algo que devias deixar escondido. Mas não deixas. É o demónio. Decido que devo deixar tudo e fazer tudo. Decido mostrar que sei como fazer isto. E que gosto. E que estou a gostar. E que estou mesmo a gostar. Porque na realidade estou mesmo a gostar. Soltas um “mhhm” enquanto começas a girar os ancas para a frente e para trás com mais força. Com mais rapidez. Empurras-me a boca que deixo aberta. Suspendes o movimento por um momento. E lentamente, em crescendo, recomeças. Até que deixas de segurar na minha cabeça. E empurras o pénis até ao fundo da minha garganta. Sinto-me amordaçada pelo teu sexo. Lágrimas. Lágrimas rolam pelos meus olhos. Não por medo. Por prazer. Parte de mim gosta de ser usada desta forma. Estupidamente quero te dar prazer. Quero que te sintas bem. Estupidamente acredito que sentes algo por mim. Estupidamente acredito que me vais salvar. Que tudo se vai resolver e que

temos um futuro em conjunto. Dás-me um estalo. E outro. E continuas o teu movimento. E rapidamente recuas e ordenas-me que te diga que és um homem horrível. “És um homem horrível” digo a medo. Mas o medo faz-me ficar mais húmida. Libertas-me apenas levemente. Apenas o suficiente para que eu me consiga apoiar de novo na cama. E ordenas-me para que estique os braços e me apoie bem. Virasme o corpo. Reforças a posição das minhas pernas. Levantas-me o rabo. Tento esticá-lo. Faz tudo o que queres fazer. Oh, sim, faz tudo o que queres fazer de mim. Começas a dar palmadas, uma atrás da outra, na minha bunda redonda. Sinto o sangue a ferver. Os teus dedos brincam com a minha vagina. Os sucos escorrem. E penetras-me. Mais violentamente que nunca. Em estocadas precisas maceras-me o sexo. E em intensidade crescente sinto a vagina a dilatar-se. Transpiras. Transpiro. Paras antes do clímax. “Oh” sussurro. A minha voz é luxúria. Enfias dois dedos no meu ânus. “Ohhhh”. Seguras com força a carne nas bochechas do rabo e violentamente fazes aquilo que nunca antes algum homem tinha feito comigo. “Estoume a vir” gritas. A tua voz é cortada por um grande gemido. É o ponto de ruptura. Dói. Dói-me tanto. Dói-me tanto, tanto, tanto. Mas não consigo dizer nada. Não consigo soltar um qualquer som. E, quando estás quase a vir-te, retiras o pénis de dentro de mim. “Ahhhhhhhh”. E o esperma que se vomita sobre o meu corpo. Sinto-me usada. Sinto-me tão usada. Tu ainda gemes. Levemente. Depois do orgasmo o sémen ainda pinga do teu pénis flácido. Reparo como pinga sobre o soalho do quarto. Não consigo pensar. Estou sem forças. Dás-me uns minutos antes de me voltares a suspender os braços e me colocares numa nova posição. Ainda nem te disse o meu nome. Sabes como me chamo? “Nicole” digo-te. Pareces surpreendido. Sorris. Ah como te odeio quando sorris. E desapareces. Quando voltas trazes uma garrafa de litro e meio de água. “isto ainda não acabou”, dizes, “agora vai ser a melhor parte”.


14 (F)utilidades tempo

hoje macau quinta-feira 23.6.2016

?

nebulado

O que fazer esta semana Hoje

Música - Blaine Whittaker D. Pedro V, 20h00 Livro – “O Pomar” de Rodrigo Barros Livraria Portuguesa, 18h30

min

28

max

33

hum

60-90%

euro

9.007

baht

Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac, 18h30

Diariamente

Exposição “Unamed” e concerto de Sylvie Xing Chen Fundação Rui Cunha (até 25/06)

o cartoon steph

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09) Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07) Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07)

Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau

Cineteatro

Solução do problema 112

problema 113

Um LIVRO hoje

C i n e m a

Sudoku

de

Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08)

Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08)

1.21

Unificado mas só para alguns

Música “Noite de piano” Fundação Rui Cunha, 20h00

Exposição “Arts Fly” Broadway Macau (até 28/06)

yuan

aqui há gato

Amanhã

Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau

0.22

Sou gato de redacção mas tenho corrido mundo e escolas e ouço as tagarelices da casa. Muito se fala da formação ou falta dela, da educação e do ensino disto ou daquilo por cá e por fora. Parece que por cá vamos ter exame unificado para alguns, aqueles que queiram ingressar numa das quatro mais prestigiadas instituições de ensino da RAEM. Ora pois bem, um exame que é “sim ou sopas” não me parece dizer muito do conhecimento efectivo de quem o faz. Mais me diria, uma avaliação contínua e acompanhada de cada aluno, capaz de promover os conhecimentos em construção do que uma situação que soa a ultimato embrenhada de pânico e competitividade, aliada à vergonha da possível desilusão. Quando muito poderia pensar numa situação capaz de envolver o empenho dos últimos anos do secundário, traduzido em números de pautas, e um resultado de um exame mais geral. Nem falo da situação, até ao momento, da possibilidade de fazer os exames em cada estabelecimento. Soa-me quase ao mesmo. As instituições querem escolher os seus alunos? Tudo bem. Mas não haveria uma forma mais justa de o fazer? Não poderia existir a mesma exigência para todos, ou por outro lado, que não fosse este um teste único, o ditador do futuro da miudagem de cá. Faz-me lembrar o gaokao, o exame que os alunos da China continental fazem e que que dado o seu aspecto “premonitório” de futuro tem sido fonte de tristeza, depressões e mesmo suicídios. Sorte a minha ser gato e só passar aquém destas coisas no que respeito ao meu futuro. Valha-me as secretarias cá da casa e as camas que me fazem. Pu Yi

“Tuesdays with Morrie” (Mitch Albom, 1997)

Uma história comovente, “Tuesdays with Morrie” é um relato do próprio autor sobre o Morrie Schwartz, o seu mentor. Por uma razão ou por outra, muitos perdemos contacto com os nossos mentores. Um familiar, um professor, alguém. Foi o que aconteceu a Mitch mas, um dia, teve uma segunda oportunidade ao reencontrar Morrie. Restavam poucos meses de vida ao mestre e Mitch decidiu passar a visitá-lo todas as terças-feiras.Assim, os dois resumem a sua velha relação e discutem lições de vida. O resultado é este livro, uma reflexão importante sobre a nossa vida e que foi, inclusivamente, adaptado para um telefilme em 1999 com Jack Lemmon no papel de Morrie e Hank Azaria como Mitch.

Manuel Nunes

INDEPENDENCE DAY:RESURGENCE Sala 1

INDEPENDENCE DAY: RESURGENCE [b] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 Sala 2

Alice through the looking glass [b] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 14.30, 16.30, 21.30

Alice through the looking glass [b][3d] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 19.30 Sala 3

KIDNAP DING DING DONG [c] Filme de: Wilson Chin Com: Ivana Wong, Alex Fong, Kabby Hui, Bill Chan 14.15, 16.00, 17.45, 21.45

NOW YOU SEE ME 2 [B] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Jesse Eisenberg, Lizzy Caplan 19:30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


15 hoje macau quinta-feira 23.6.2016

opinião bairro do oriente

ntem durante uma das pausas para o café (leia-se um dos momentos em que a cada meia hora se vai espreitar o Facebook – e nem falo por mim) deparei com uma animada discussão em torno de mais uma declaração do deputado e empresário Fong Chi Keong na última terça-feira, durante a discussão da proposta de lei do regime de providência central não obrigatório. Penso que nem é preciso acrescentar que foi uma “gaffe”, pois tão habituados que estamos às flatulências intelectuais do deputado que “já nem cheira”. Desta vez sinto que terá ficado qualquer coisa perdida na tradução, mas a “punchline” era bem esclarecedora: os ocidentais contentam-se com duas refeições e praia – faltou acrescentar “antes do chichi, cama”, lógico. O deputado assumidamente “pro-establishment”, empresário da área da construção civil e herdeiro de um dos Patriotas que elevaram Macau até mais próximo do Céu (literalmente) é tão conhecido pelas suas intervenções extemporâneas que granjeou a alcunha de “canhão Fong”. Para quem vem de fora e não está ao corrente do que (não) se faz de política em Macau, pode ficar sem entender bem o que isto significa, devido à sua ambiguidade – é “canhão” porque diz o que pensa quando muito bem entende e não tem papas na língua, ou fala quando a melhor opção seria abster-se de o fazer? As duas coisas, mas com um “twist” bem patenteado nesta sua mais recente declaração: ele fala de tudo mas nem sempre sabe o que diz, e se já toda a gente ouviu a expressão “act locally, think globally”, pode-se dizer que ele inaugurou o conceito pioneiro de “do nothing locally, think even less globally”. Imagino a forma como entregou aquela pérola, “os ocidentais contentam-se com duas refeições e praia”, com um ar sério, mudando de assunto logo a seguir, como se aquilo que acabara de dizer fosse “mesmo assim, e se não é passa a ser”. Recordo-me de duas situações mais ou menos parecidas, e que na altura me deixaram perceber esse seu traço de carácter. A primeira foi durante a fase inicial da discussão sobre a proibição do fumo nos casinos, e como o deputado “fuma desde jovem e ainda não morreu”, não vê onde está o mal das pessoas fumarem, que assim sempre podem “conversar com o cigarro” – uma expressão em chinês para descrever a sensação de relaxamento induzida pela nicotina. A outra ocasião teve a ver com a possibilidade de se discutir a união de facto entre casais do mesmo sexo, e aqui foi mais expedito: “a homossexualidade foi tornada ilegal há mais de mil anos”. Sim, mil anos parece tempo mais que suficiente para que se esqueça essa lamentável tragédia que foi a homossexualidade. Querem lá ver esta gente, sempre a querer lembrar o passado, recusando-se a viver o presente? Valha-nos o canhão Fong.

GODS AND GENERALS, Ronald F. Maxwell

O

Um canhão e uma cabana

leocardo

Mas quando toca a defender a sua dama, Fong demonstra que sabe ser um político “a sério” Mas quando toca a defender a sua dama, Fong demonstra que sabe ser um político “a sério”. Durante um debate sobre a “bolha” imobiliária, que tornou praticamente impossível a um jovem da classe média adquirir a sua primeira habitação, Fong exclamou exaltado: “mas porque é que os jovens devem sair de casa dos pais, separando-se assim a família?!”. Sim senhor, um acto de “realpolitik” que de uma assentada promove o fortalecimento do núcleo familiar, e estimula a economia – a sua e de poucos mais, mas isso são detalhes. Durante uma das (frequentes) polémicas relacionadas com a ligação íntima de alguns deputados com o Executivo, Fong explicou a razão da sua empresa de construção ser sempre escolhida na hora de se procederem a trabalhos de restauração na sede do Governo: “como eles já me conhecem, e eu estou mesmo ali à mão de semear, não me custa nada mandar lá uns homens, pronto, para ser sincero é uma chatice”; coitado do senhor, que se sacrifica tanto em nome da celeridade em detrimento da burocracia, e ter que abrir concursos, e tal, que chatice. Obrigado, tio Fong. Fong é ainda um bom patriota, e um ainda melhor patriarca. Quando em 2010 o Prémio Nobel da Paz foi atribuído ao dissidente chinês Liu Xiaobo, o deputado democrata Ng Kwok Cheong

propôs na Assembleia Legislativa que se fizesse um louvor ao escritor que Pequim considera “persona non grata” – uma das costumeiras provocações da ala democrática, que sabia muito bem que esta proposta ia ser chumbada, mas Fong não se conteve, levantou-se e deixou saber o que pensava de Liu: “um criminoso”, acusando os democratas de “cumplicidade numa conspiração para ocidentalizar a China!”. Ah esses mercadores do ópio em forma de ideias. Mas o melhor guardei para o fim, e toda a gente se lembra certamente da intervenção quase surrealista do canhão Fong a propósito da lei que criminalizou a violência doméstica: “quando o homem quer, e a mulher não quer, há problema”. Esta foi uma frase que me ficou na memória, pois fez-me recordar de uma visita que fiz nos tempos de escola a uma exploração suínicula nos arredores do Montijo, quando o nosso cicerone explicou o processo de cobertura da fêmea do animal: “a gente leva o porco p’a cobrir a porca, mas ela na quer, e gente tem c’ajudar, qué quessade fazer”? De facto, um dilema. Mas e depois? Isto não é Portugal, onde recentemente um ministro se demitiu por ter prometido distribuir “bofetadas” a dois jornalistas, que esquecendo-se que se tratava do ministro da cultura não entenderam que eram “bofetadas platónicas”, e aqui há uns anos um outro ministro foi obrigado a renunciar ao cargo por ter feito com os dedos um par de corninhos a um deputado em pleno parlamento. Mas coisa de somenos importância, e feita à socapa. Quem sabe se precisam lá de um canhão destes para lhes mostrar como se faz? E com duas refeições por dia e praia, ainda faziam dieta e ficavam com boas cores. Que tal?


de espanto / os olhos / nasciam / por dentro / dos novelos/ aflorando / ao corpo/ sedento / de vida / moído / de canseira / dos rápidos / artérias / pulsava quente / a seiva / flor de / amendoeira” Alberto Eduardo Estima de Oliveira

Macau Slot com lucros superiores a 138 milhões

A

Macau Slot, que detém o monopólio das apostas desportivas no território, fechou 2015 com lucros líquidos de 138,4 milhões de patacas, de acordo com o relatório anual da gerência ontem publicado. Segundo o relatório, trata-se de um aumento de 13,6% face a 2014, ano em que os lucros líquidos ascenderam a 121,8 milhões de patacas. No ano passado, a Slot – Sociedade de Lotarias e Apostas Mútuas de Macau Limitada – arrecadou 503 milhões de patacas com as apostas de futebol, contra 598 milhões de patacas em 2014, ano em que se realizou o Mundial do Brasil. Em contrapartida, as receitas encaixadas com

as apostas de basquetebol aumentaram de 138 milhões de patacas para 170 milhões, segundo dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). O contrato de concessão para a organização e exploração de lotarias instantâneas e lotarias desportivas – apostas de futebol e basquetebol – foi prorrogado, no início do mês, nas vésperas do arranque do Euro 2016, até 5 de Junho de 2021. “Desde que, em 1998 e 2000, respectivamente, lançámos as apostas desportivas no futebol e basquetebol (NBA), a SLOT tem promovido o jogo como uma forma de entretenimento” e “a popularidade tem aumentado”, refere a sociedade no relatório. LUSA/HM

Relatos de sem abrigo na Livraria Portuguesa

“O

pub

Pomar” de Rodrigo Barros, o livro que reúne quarenta narrativas na primeira pessoas sem abrigo de Lisboa, tem apresentação marcada para hoje, na Livraria Portuguesa às 18h30. Segundo a apresentação do evento na página do facebook da Livraria Portuguesa, “O Pomar” reúne o testemunho de quatro dezenas de sem-abrigo. O suficiente, segundo o poeta José Tolentino Mendonça, para traçar “um retrato desarmante do Portugal contemporâneo”. Tolentino alerta ainda para a importância em olhar para estes relatos “do ponto de vista da política e da vida civil, da cultura e da qualidade da coesão humana que as nossas sociedades fomentam.” As histórias são de sobreviventes do

dia a dia “numa infelicidade e num (anti) heroísmo que ignoramos.” Ilustrativamente José Tolentino Mendonça refere a criação por um dos sem abrigo de uma história de ficção: Nasci no planeta XKL 23 Omnipotentis. Sou um chimita. Foi por acidente que a minha nave veio parar aqui à Terra. Foi depois de passarmos por Andrómeda que os problemas começaram... Lá em cima parece tão bonita a Terra. Cá em baixo é uma confusão. Não me adapto. Construí um emissor para enviar mensagens de socorro a XKL Omnipotentis. Até agora não houve resposta’.” A apresentação levada a cabo pelo jornalista, escritor e editor Carlos Morais José e será seguida pela projecção do documentário “Nocturnos” e conta com entrada livre.

quinta-feira 23.6.2016

Ilegais e em excesso de permanência caem 14%

Índia lança 20 satélites numa única missã0

Lá vai foguete

U

m foguetão com um número recorde de 20 satélites foi lançado ontem numa missão da agência espacial da Índia, que tem ganho uma grande parte do mercado espacial comercial. O foguetão foi lançado do porto espacial de Sriharikota no sul da Índia - com satélites dos Estados Unidos da América (EUA), da Alemanha, do Canadá e da Indonésia, a maioria numa única missão. Grande parte dos satélites vai entrar em órbita para observar e medir a atmosfera da Terra, enquanto outros têm o objectivo de fornecer serviço para operadores amadores de rádio. “Cada um destes pequenos objectos que foram lançados para o espaço vai ter a sua própria actividade, são independentes uns dos outros, e cada um deles vai viver uma vida maravilhosa por um período finito”, disse o Presidente da Organização de Investigação Espacial Indiana (ISRO), A. S. Kiran Kumar, ao jornal NDTV. O negócio de lançar satélites comerciais para o

espaço com um pagamento está a crescer à medida que telemóveis, internet e outros negócios, bem como países, procuram cada vez mais e melhores comunicações de alta tecnologia.

A baixo preço

A Índia está a competir com outros empresários internacionais para uma partilha cada vez maior desse mercado de lançamento de satélites, e é conhecido pelo seu programa espacial a preços ‘low-cost’. O primeiro-ministro, Narendra Modi, apelidou o re-

“O nosso programa espacial tem tempo e mostra mais uma vez o potencial transformativo da ciência e tecnologia na vida das pessoas” Narendra Modi primeiro-ministro indiano

corde de 20 satélites de “feito monumental”, apesar de ainda estar atrás do recorde de 33 satélites da Rússia em 2014 e de 29 satélites da NASA em 2015. “O nosso programa espacial tem tempo e mostra mais uma vez o potencial transformativo da ciência e tecnologia na vida das pessoas”, escreveu Modi no Twitter. No mês passado, a Índia lançou com sucesso o seu primeiro mini-veículo espacial depois de se ter juntado à corrida global para fazer foguetões reutilizáveis. O veículo foi, segundo se disse, desenvolvido com um orçamento de apenas 14 milhões de dólares, uma fracção dos milhares de milhões de dólares gastos por outros programas espaciais de outros países. Em 2013, a Índia enviou um foguetão sem tripulação para a órbita de Marte com um custo de apenas 73 milhões de dólares. A missão bem-sucedida foi um grande orgulho na Índia, que ultrapassou a rival China ao tornar-se o primeiro país asiático a alcançar o planeta vermelho.

Segundo dados divulgados pelo Gabinete do Segurança Pública (GSP), no primeiro trimestre deste ano, registaram-se um total de 7.431 caso de imigração ilegais e de excesso de permanência, o que representa uma diminuição de 14% por comparação com período homólogo do ano passado. Para prevenir e lidar com a imigração ilegal de modo mais eficaz, a polícia de Macau constituiu o Mecanismo da Defesa Conjunta da Imigração Ilegal, coordenado pelos Serviços de Polícia Unitários (SPU), apoiado pelos Serviços de Alfândega (SA), Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e Polícia Judiciária (PJ) e com o apoio da polícia do interior da China.

Aviação Thai Smile suspende voos entre Macau e Banguecoque A companhia aérea Thai Smile anunciou que vai suspender os voos entre Macau e Banguecoque já a partir de Setembro. Segundo o jornal Ou Mun, isso significa o fim de cerca de nove voos diários com a capital tailandesa. Ao jornal de língua chinesa vários profissionais ligados ao sector do turismo confirmaram que o número de turistas tailandeses é menos de metade do número de turistas de Taiwan, mas o número de voos é semelhante. Foi ainda referido que os preços praticados pela Thai Smile seriam mais caros do a Air Asia, uma low cost, por falta de competitividade. Esta é a segunda companhia aérea que no espaço de uma semana anuncia o fim de operações em Macau. A TransAiarways anunciou que vai suspender os voos entre Macau e Taiwan a partir de Outubro deste ano.


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