Hoje Macau 23 JUL 2020 # 4574

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ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU

UE | RELATÓRIO

CONSELHO MÉDICO

CRAVO E FERRADURA

INTERVENÇÃO PROFUNDA

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HOUSTON

FUNDOS PÚBLICOS

AS CONTAS POR FAZER

TEMOS UM PROBLEMA

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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MOP$10

QUINTA-FEIRA 23 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº4574

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

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hojemacau

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Já não fazemos previsões A directora dos Serviços de Turismo acredita que só após a descoberta de uma vacina, o sector poderá voltar à normalidade. Até lá, e face à constante alteração de dados da covid-19, Helena de Senna Fernandes diz já ter desistido de tentar antever os possíveis números de entradas de turistas em Macau.

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GRANDE PLANO

SOLDADO DESCONHECIDO JOÃO PAULO COTRIM

DUAS CABEÇAS ANTÓNIO CABRITA

COM OS TEUS OLHOS LUÍS CARMELO


2 grande plano

TURISMO

SEM PREVISOES HELENA DE SENNA FERNANDES PRUDENTE NA ESTIMATIVA DE RETOMA DO SECTOR

A

normalização do turismo em Macau, território que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes, só será possível com uma vacina para a covid-19, disse à Lusa Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo. “Muitos países neste momento estão a testar as possíveis vacinas. Espero que as vacinas ajudem a dar confiança a recomeçar o movimento de turistas”, afirmou. As indicações dadas por diferentes fontes, explicou a responsável, apontam que a retoma de viagens é “muito condicionada pelo aparecimento de vacinas”. No início da semana, cientistas da Universidade de Oxford afirmaram que os resultados preliminares de testes a uma vacina contra a covid-19 indicaram uma resposta imunitária em centenas de pessoas. Após testes com cerca de mil voluntários iniciados em Abril, os cientistas disseram que a vacina produziu uma resposta imune dupla em pessoas com idades entre os 18 e 55 anos, que duraram pelo menos dois meses, refere o artigo publicado na revista Lancet. Apesar destes resultados animadores, não só desta vacina, mas

também de outras que estão a ser testadas, Maria Helena de Senna Fernandes admitiu ser “muito difícil dizer quando essas vacinas com efeito vão ser produzidas e em que quantidade”. Macau que foi um dos primeiros territórios a identificar casos de covid-19, tem ainda as suas fronteiras praticamente encerradas. Por essa razão, o número de visitantes na RAEM caiu mais de 90 por cento em Junho e 83,9 por cento no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019. “Em Junho só tivemos 22 mil turistas”, afirmou a responsável, lembrando os últimos dados oficiais, divulgados na segunda-feira. Antes da pandemia, reforçou, o número de turistas diário era muito superior ao registado em todo o mês de Junho. “Já deixamos de fazer previsões” por causa das medidas que vão sendo actualizadas, disse, ao ser questionada sobre qual seria a aposta do número de visitantes até ao final do ano. Nos primeiros seis meses do ano visitaram o território 3.268.900 pessoas, quando no mesmo período de 2019 Macau tinha sido visitado por mais de 16,5 milhões. “Mesmo com o teste nucleico é difícil de ter uma retoma do turismo

em grande quantidade. Porque vai ser condicionado pelo número de testes que podem ser possíveis de fazer”, avançou. Macau está a tentar reforçar o número de testes, mas esse número para já só chega a 7.500 pessoas por dia, disse. “Vai ainda haver bastante dificuldade de muita gente ter acesso a testes”, explicou, reforçando: “não estou a prever grandes números de movimentos de turistas” porque ainda há muita gente que precisa destes testes para visitar as famílias no Interior da China. Só quando houver testes para estas pessoas é que se pode pensar numa normalização do movimento de turistas, detalhou Maria Helena de Senna Fernandes.

DESEMPREGO A SUBIR

Relativamente à taxa de desemprego, que já ultrapassou os três por cento, Maria Helena de Senna Fernandes disse que o impacto se verifica sobretudo no sector do turismo, considerado o pilar da economia do território. “A taxa de desemprego em Macau subiu durante os últimos meses. Sabemos nós que agora já ultrapassou os 3 por cento”, revelou, esperando que os dados não piorem no território que sofre dos efeitos socio-económicos causados pela pandemia desde meados de Janeiro de 2020. Os últimos dados oficiais das autoridades, em finais de Junho, apontavam para uma taxa de desemprego até Maio de 2,4 por cento, sendo que os números agora revelados pela responsável da directora dos Serviços de Turismo (DST) representam uma subida de mais de 0,6 pontos percentuais. “Tivemos durante muito anos taxas de desemprego com menos de 2 por cento e esta subida já é violenta para muita gente”, sublinhou Maria Helena de Senna Fernandes, acrescentando que “todos os sectores foram afectados desta vez”. No sector do turismo, detalhou, houve um grande efeito, porque está praticamente parado há mais de seis meses. “Agências de viagens, guias turísticos, condutores de autocarros de turismo. Toda esta gente quase não teve possibilidade de ter qualquer emprego durante vários meses”, disse.

Recomeçar a desenvolver dinâmicas no sector do turismo, principalmente através do mercado interno, tem sido o objectivo do Governo, que, com os vistos individuais chineses suspensos, vê-se agora obrigado a focar-se no consumo dos próprios residentes para alavancar o sector chave do território. As autoridades de Macau, recordou Maria Helena de Senna Fernandes, ofereceram cartões de consumo aos residentes, uma medida criada para relançar a economia. Um primeiro montante de três mil patacas foi atribuído GONÇALO LOBO PINHEIRO

A directora dos Serviços de Turismo confessou à agência Lusa que a constante alteração dos dados relativos à pandemia da covid-19 fez com que o Governo tenha deixado de fazer previsões. Helena de Senna Fernandes fala de um aumento do desemprego no sector e defende que a normalização do turismo em Macau só vai acontecer depois do surgimento da vacina contra a covid-19

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“Até voltar ao nível antes da pandemia ainda vai demorar mais alguns anos.” “Depois da pandemia temos de dar em primeira mão confiança para viagens para Macau. (…) Já estamos a produzir muitas novas mensagens.” “Agências de viagens, guias turísticos, condutores de autocarros de turismo. Toda esta gente quase não teve possibilidade de ter qualquer emprego durante vários meses.” HELENA DE SENNA FERNANDES DIRECTORA DOS SERVIÇOS DE TURISMO

aos mais de 600 mil residentes, para ser gasto em Maio, Junho e Julho. A partir de Agosto, os residentes voltam a receber mais cinco mil patacas. “Vai ajudar grandemente o sector”, apostou a responsável, salientando que o principal beneficiário foi o sector da restauração. Com as fronteiras ainda praticamente encerradas para visitantes, o Governo lançou também, a 5 de Junho, a aplicação ‘Macau Ready Go’, que integra as promoções oferecidas por várias indústrias, empresas e lojas. Em paralelo, está em vigor a isenção do imposto turístico durante seis meses e foi criado o plano de turismo doméstico “Vamos Macau”, que contempla 25 roteiros, 13 comunitários e 12 de lazer, com os residentes a receberem 560 patacas caso participem em duas excursões. Uma campanha vai “até finais de Setembro”, afirmou a directora da DST, data em que espera que o turismo proveniente do exterior possa recomeçar. “Julgo que a partir daí vamos voltar a ter turistas”, afirmou.

FOCO NA PANDEMIA

A entrevista abordou também as novas campanhas promocionais dos Serviços de Turismo, cuja mensagem vai centrar-se na promoção de Macau enquanto destino seguro, sem casos activos e ou registo de um surto local. Depois da pandemia, as pessoas vão alterar a forma como planeiam as suas viagens e o que procuram, afirmou Maria Helena de Senna Fernandes: “Em vez de só avaliar um destino com as atracções turísticas, também vão pensar em viagens porque esses destinos podem dar confiança em termos de protecção”. Por essa razão, a mensagem para o exterior será agora completamente diferente, frisou. “Antigamente só pensávamos em promover Macau com o património, a gastronomia, com o que as pessoas podiam usufruir e quais as atracções turísticas a que as pessoas podiam ter acesso”, explicou a responsável pelo turismo da capital mundial dos casinos. “Depois da pandemia temos de dar em primeira mão confiança

TIAGO ALCÂNTARA

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para viagens para Macau. (…) Já estamos a produzir muitas novas mensagens, vídeos de promoção de Macau durante os últimos meses, alguns deles, de facto, como é que Macau está a controlar a situação da pandemia e quais são as medidas que estão implementadas (…) e os efeitos dessas medidas”, detalhou a directora dos Serviços de Turismo.

Apesar desta ‘nova imagem’ que está a ser partilhada pelas autoridades do turismo de Macau, a responsável admitiu que “neste momento ainda muitas pessoas têm medo de viajar, sobretudo viagens de longo curso”. “As pessoas vão pensar três vezes antes de viajarem”, afirmou Maria Helena de Senna Fernandes, admitindo ser

“difícil saber até quando este efeito vai continuar”. “Até voltar ao nível antes da pandemia ainda vai demorar mais alguns anos”, apostou. Até porque, acrescentou, o grande mercado de Macau, o da China continental, ainda não retomou o turismo para fora e, mesmo o turismo entre provín-

cias, só recomeçou há cerca de uma semana. Para já, o foco da promoção do Governo estará centrado na China. “O Interior da China vai ser o primeiro mercado que podemos trabalhar”, salientou Maria Helena de Senna Fernandes. “Hoje em dia, o mercado onde podemos trabalhar está muito

condicionado pelas medidas de migração que estão neste momento a ser implementadas em todo o mundo”, explicou a responsável, sublinhando que agora é necessária “flexibilidade para trabalhar em diferentes mercados”.


4 coronavírus

Os Serviços de Saúde continuam sem avançar uma data para que os residentes de Macau com nacionalidade estrangeira possam usufruir da isenção de quarentena à entrada de Guangdong. O cenário só muda de figura quando as autoridades do Interior da China assim o ditarem. O número de vagas para a realização de testes de ácido nucleico foi alargado para 11 mil

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S Serviços de (SS) reiteraram ontem não ter responsabilidade sobre a decisão de não incluir os residentes de Macau com nacionalidade estrangeira, no grupo de pessoas autorizado a usufruir da isenção de quarentena à entrada na província de Guangdong. Isto porque, segundo Leong Iek Hou, Coordenadora do Núcleo de Prevenção da doença, a não inclusão resulta apenas do facto de ainda não ter sido desbloqueada a concessão de vistos para a China, por parte das autoridades do Interior. “Os estrangeiros têm de possuir um visto válido e, segundo as directivas que estão em vigor no Interior da China, não podem ser concedidos quaisquer vistos. Isto significa que quem tem passaporte de nacionalidade estrangeira não consegue atravessar as fronteiras

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FRONTEIRAS RESIDENTES ESTRANGEIROS SEM DATA PARA USUFRUIR DE ISENÇÕES

A culpa não é nossa

onde, por hora, tem havido “mais de 10 mil pessoas”.

VACINAS AO LONGE

Questionado sobre se os SS estão inclinados para adquirir alguma das vacinas que estão a ser desenvolvidas contra a covid-19, Alvis Lo referiu que ainda é cedo para tomar uma decisão dessa natureza. “A maioria dos fabricantes ainda está na segunda fase, ou seja, estão a testar voluntários para ver se são capazes de produzir anticorpos. Por isso, ainda não podemos dizer qual é a vacina que tem o efeito certo para combater a covid-19. Só depois de divulgadas mais informações é que podemos optar por adquirir uma vacina”, apontou. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

ERRO MÉDICO DESCARTADO [para Guangdong]”, referiu Leong Iek Hou, por ocasião da conferência de imprensa sobre a covid-19. Na conferência de imprensa, foi ainda anunciado que o número de marcações disponíveis para a realização da despistagem à covid-19, passou ontem de 7.500 para 11 mil. A novidade foi revelada por Alvis Lo Iek Long, da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, no seguimento do

aumento da procura por testes de ácido nucleico com o objectivo de entrar em Guangdong. “As vagas que inicialmente eram de cinco mil já tinham passado para 7.500 e decidimos agora aumentar para 11 mil, de forma a satisfazer as necessidades da população”, referiu o médico. Sobre a forma como têm decorrido os testes de ácido nucleico nos últimos dias, Alvis Lo assegurou que

“Os estrangeiros têm de possuir um visto válido e, segundo as directivas que estão em vigor no Interior da China, não podem ser concedidos quaisquer vistos.” LEONG IEK HOU MÉDICA

Fórum de Macau Pedidas melhores condições no posto de testes

A coordenadora-adjunta do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central apela a uma melhoria do ambiente de espera para quem vai fazer teste de ácido nucleico, avançou o jornal Ou Mun. Cheong Sok Leng visitou o posto de testes do Fórum de Macau e propõe a instalação de ventiladores, ar-condicionado móvel e toldos para melhorar o ambiente de espera. Além disso, a coordenadora-adjunta sugere o envio de agentes no exterior do posto para manter a ordem, bem como a explicação do uso do certificado do teste. Para os idosos, crianças e deficientes não esperarem tanto tempo ou sob sol forte, Cheong Sok Leng quer que o Governo dê indicações na mensagem de marcação para as pessoas não chegarem demasiado cedo e evitarem concentração.

as autoridades estão atentas e que sempre que “existir risco de aglomeração”, qualquer pessoa pode ser reencaminhada para o recentemente inaugurado posto de exames, localizado no Fórum de Macau, destinado a idosos, bebés, estudantes menores e portadores de deficiência. Os outros dois postos de testes localizam-se no Centro Hospitalar conde de São Januário e no Terminal Marítimo do Pac On. No futuro, o médico apontou ainda que “vão existir mais parceiros de cooperação” para que possam ser realizados mais testes por dia. Quanto ao movimento nas fronteiras, Ma Chio Hong, Chefe de Divisão da CPSP revelou que a maioria escolheu as Portas do Cerco para entrar e sair de Zhuhai,

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médico Alvis Lo Iek Long, da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário afirmou ontem ser muito pouco provável a existência de erro médico, durante a realização de um teste de ácido nucleico a uma criança de sete anos que acabaria por engolir a extremidade da zaragatoa usada no exame. Contudo, foi pedido um relatório à empresa responsável pelos testes. “Depois de realizar mais de 200 mil testes, acho que não é justo dizer que a empresa cometeu um erro médico por ter ocorrido um incidente. Se detectarmos que há pessoas que fizeram erros durante o processo, vamos seguir as regras. Mas, aparentemente, não é essa a situação”, referiu o médico. Recorde-se que a criança foi enviada para o hospital por ingestão de objectos estranhos, no entanto, após fazer exames nada foi encontrado.

TESTES MAK SOI KUN QUER MAIS POSTOS DE DESPISTAGEM

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AK Soi Kun que saber se o Governo está a planear aumentar os locais destinados à realização de testes de ácido nucleico. Através de uma interpelação escrita, o deputado questionou ontem se, além dos postos de despistagem à covid-19 do terminal marítimo do Pac On, do Centro Hospitalar Conde São Januário e do Fórum de Macau, o Executivo tenciona acrescentar mais localizações, visto que a procura pelos exames tem vindo a aumentar.

“É louvável que o Governo continue a promover as ligações fronteiriças entre Guangdong e Macau, aumentando o número de vagas para a realização de testes de ácido nucleico (…), no entanto, será que isso é suficiente se a realidade epidémica se tornar permanente?”, vincou Mak Soi Kun. Tomando como exemplo a estratégia que está a ser aplicada no território vizinho, em Zhuhai, onde existem 11 postos de teste que estão a ser explora-

dos por 10 empresas privadas, Mak Soi Kun pretende ainda saber se o Executivo de Macau pondera avançar também com a contratação de organismos externos. “Para além do novo posto do Fórum de Macau e do terminal marítimo do Pac On, serão adicionados novos locais e permitida a cooperação por parte de instituições médicas privadas, tal como acontece nas regiões vizinhas?”, questionou Mak Soi Kun.

Recorde-se desde que foi anunciada a isenção de quarentena para quem vai de Macau rumo à província de Guangdong e vice-versa, verificou-se o aumento da procura de testes de ácido nucleico. Em resposta, o Governo alargou o número de vagas diárias de 5 mil para 7.500 e criou um novo posto de despistagem no Fórum Macau. P.A.


política 5

quinta-feira 23.7.2020

FUNDOS PÚBLICOS SULU SOU PROPÕE DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES POR ASSOCIAÇÕES

É só fazer as contas

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ULU Sou quer um aumento da transparência danutilização de fundos públicos por parte das associações locais. Para isso, submeteu um projecto de lei na semana passada à Assembleia Legislativa, cujo objectivo é fazer com que as associações que recebam subsídios superiores a um montante a definir pelo Chefe do Executivo publiquem os detalhes das contas de modo a permitir a monitorização do uso dos fundos públicos. A supervisão e penalizações administrativas ficariam a cargo do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos da RAEM (GPSAP). Na proposta, o deputado não apresenta uma referência para o valor que deve ser estabelecido. “Mas sugiro que o Governo deve definir o montante de acordo com o desenvolvimento económico (...). E também sugiro que revejam o montante a cada dois anos”, disse ontem em conferência de imprensa. Sulu Sou frisou que com o impacto do novo tipo de coronavírus, o Governo da RAEM teve este ano o seu primeiro défice fiscal desde a transferência, e vai adoptar medidas de austeridade no próximo ano, pelo que entende que a única escolha é o Executivo “abandonar a era passada de desperdício”. O entendimento da Novo Macau é que se há cortes de despesas dos departamentos públicos, “não deviam ignorar” a parte das associações subsidiadas. O deputado defendeu assim a necessidade de maior abertura e transparência na monitorização de fundos públicos destinados a associações. Sulu Sou sugere que o Chefe do Executivo anuncie o montante específico no espaço de 30 dias após a entrada em vigor da proposta de lei. A ideia é que as associações entreguem ao GPSAP documentos no espaço de 10 dias depois de publicarem as suas contas, com detalhes sobre as receitas e despesas. Esta publicação deve incluir “uma lista dos membros dos órgãos governativos que deve

ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU

Definir a cada dois anos o valor de referência para as associações que recebem subsídios públicos divulgarem as suas contas, e multas entre 20 mil e 50 mil patacas para as entidades que não revelarem a informação. São sugestões que constam de um projecto submetido por Sulu Sou à Assembleia Legislativa com vista a aumentar a transparência sobre o uso de fundos públicos

o valor a partir do qual isso se torna necessário. “As leis e regulamentos actuais sempre tiveram lacunas e falharam em atingir o objectivo de monitorização”, escreveu em comunicado. Existe ainda um despacho que prevê a necessidade de o beneficiário entregar um relatório até 30 dias depois de se fazerem as actividades apoiadas, no entanto, Sulu Sou indica que nunca foi divulgado. As regras agora sugeridas pelo deputado não têm por base legislação de outros países ou regiões. “Não consegui encontrar outros exemplos como Macau no mundo - temos muitas associações e o Governo é muito rico”, disse, apontando a existência de mais de nove mil associações no território. “Sabemos que há muitas associações, mas muitas delas não são activas. E muitos residentes questionam se algumas associações foram criadas pelo financiamento público”, disse. Acrescentou ainda que a Associação Novo Macau recebeu queixas de residentes a indicar que associações estabelecidas com o propósito “amar a pátria, amar Macau”, ou que apoiam políticas do Governo Central como a Grande Baía recebem maior financiamento público. Sulu Sou deixou ainda assim a ressalva de não poder confirmar a validade destas reivindicações. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

CONTA A INTENÇÃO

Q ser providenciada para o público conhecer a identidade da estrutura de liderança da associação a receber o subsídio”. Ao nível das penalizações, é sugerido que o GPSAP imponha

uma multa entre 20 mil e 50 mil patacas caso as contas não sejam publicadas, e penalizações adicionais que podem impedir o acesso a fundos públicos para situações mais graves. Além disso, Sulu

É sugerido que o GPSAP imponha uma multa entre 20 mil e 50 mil patacas caso as contas não sejam publicadas, e penalizações adicionais que podem impedir o acesso a fundos públicos para situações mais graves

Sou quer responsabilidade penal para associações que publiquem contas falsas, nomeadamente a possibilidade de serem multadas ou dissolvidas por ordem do tribunal.

MEDIDAS PERSONALIZADAS

A ideia não é totalmente original. O regime geral do direito de associação já prevê a publicação de contas no caso de se receberem subsídios ou outros contributos de natureza financeira de entidades públicas. Mas o deputado aponta que nenhum Chefe do Executivo até ao momento definiu

uestionado sobre o apoio esperado à proposta, comentou que “o mais importante é o propósito e não o resultado”. Mas acredita que a maioria das associações dos deputados recebeu fundos públicos nos últimos anos, apontando essa como a “razão principal pela qual devem votar a favor”. Nesse âmbito, esclareceu que a Novo Macau nunca recebeu fundos públicos. A proposta foi submetida quarta-feira da semana passada e o deputado estava a aguardar pelos estudos dos assessores jurídicos da Assembleia Legislativa. Ainda assim, espera que a proposta seja incluída no plano de reuniões antes das férias. Por outro lado, lamentou a ausência de reuniões plenárias durante um mês, apontando a necessidade de se discutirem temas como a lei da protecção civil e da habitação económica.

Guia Deputado quer que preocupações cheguem ao Governo Central Face às afirmações do Instituto Cultural em como não tem competência para divulgar o relatório que encomendou sobre o impacto de um edifício na Calçada da Guia no património cultural, Sulu Sou declarou que vai dar seguimento ao tema. O próximo

passo passa por pedir ao Governo da RAEM para transmitir as exigências dos cidadãos locais ao Governo Central. O deputado reconhece que a UNESCO enfrenta mais dificuldades noutros locais de património mundial, que “o caso de Macau não é difícil” e o

organismo tem capacidade para resolver o problema. E defendeu a vontade de aceder ao relatório, indicando que o Farol da Guia é herança cultural que pertence não apenas aos cidadãos de Macau, mas às “pessoas do mundo”.


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23.7.2020 quinta-feira

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 473/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 474/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 511/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 512/AI/2020

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor PHAM VAN PHUONG, portador do passaporte de Vietnam n.° N1853xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 86/DIAI/2018 levantado pela DST a 26.04.2018, e por despacho da signatária de 14.07.2020, exarado no Relatório n.° 484/ DI/2020, de 22.06.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $250.000,00 (duzentas e cinquenta mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua Dois Bairro Iao Hon n.° 67, Edf. Kat Cheong, 2.° andar L (C252), Macau onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora WU QIONGHUA, portadora do Passaporte da RPC n.° EA7008xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 87/DI-AI/2018 levantado pela DST a 30.04.2018, e por despacho da signatária de 15.07.2020, exarado no Relatório n.° 485/DI/2020, de 22.06.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Xangai n.° 21-E, I Keng Fa Un, I Tou Kok, 20.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LUO HUAYING, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C30776xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 215/DIAI/2019, levantado pela DST a 06.08.2019, e por despacho da signatária de 27.04.2020, exarado no Relatório n.° 155/DI/2020, de 07.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 415, Jardim Brilhantismo, 10.° andar AE onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Ala meda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor HE XIAOXIONG, portador do Passaporte da RPC n.° E04365xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 215.1/ DI-AI/2019, levantado pela DST a 06.08.2019, e por despacho da signatária de 27.04.2020, exarado no Relatório n.° 156/DI/2020, de 07.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 415, Jardim Brilhantismo, 10.° andar AE.------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-----------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 14 de Julho de 2020.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Julho de 2020.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 08 de Julho de 2020.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 08 de Julho de 2020.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 516/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 531/AI/2020

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor PENG YUJIAN, portador do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C39300xxx e do passaporte da RPC n.° E74648xxx , que na sequência do Auto de Notícia n.° 56/DIAI/2018 levantado pela DST a 26.03.2018, e por despacho da signatária de 14.05.2020, exarado no Relatório n.° 246/ DI/2020, de 04.05.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida Sir Anders Ljungstedt n.os 297-303, L’Arc Macau, 30.° andar A, Macau.-----------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor KUAN KAM WENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente n.° 14407xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 44/DI-AI/2018 levantado pela DST a 01.03.2018, e por despacho da signatária de 14.07.2020, exarado no Relatório n.° 536/DI/2020, de 06.07.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada no Beco dos Ferreiros n.° 6, Edf. Seong Fat, 2.° andar B, Macau onde se prestava alojamento ilegal -----O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.---------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 08 de Julho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 14 de Julho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

CONCURSO PÚBLICO N.o 22/P/20 Faz-se público que, por deliberação do Conselho Administrativo, de 9 de Julho de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento e Instalação de Três Ventiladores Móveis e Respectivos Materiais Consumíveis aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia de 22 de Julho de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP43,00 (quarenta e três patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 21 de Agosto de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 24 de Agosto de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP16.200,00 (dezasseis mil e duzentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 16 de Junho de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

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quinta-feira 23.7.2020

UE RELATÓRIO DESTACA RESPEITO PELAS LIBERDADES MAS FALA EM MAIS AUTO-CENSURA NOS MEDIA

As vozes de Bruxelas

Num relatório sobre a evolução política e económica de Macau, a União Europeia destaca o facto dos direitos, liberdades e garantias da população estarem a ser respeitados pelas autoridades, mas alerta para maior auto-censura por parte dos media. Quanto às eleições, a UE pede um “maior envolvimento” da população

A

União Europeia (UE) considera, num relatório ontem divulgado, que os direitos e liberdades fundamentais foram “geralmente respeitados” em Macau no ano passado, embora destaque o aumento da auto-censura nos meios de comunicação social. Num relatório hoje divulgado e adoptado sobre a evolução política e económica na RAEM, a UE assinala que, “em 2019, os direitos, liberdades fundamentais e o Estado de direito foram geralmente respeitados na medida garantida na Lei Básica de Macau e em conformidade com o princípio ‘um país, dois sistemas’”. Isto “embora a oposição política tenha permanecido limitada e a sociedade civil não tenha sido muito expressiva”, acrescenta. E apesar de um novo Chefe do Executivo, Ho Iat-Seng, ter tomado posse, em Dezembro, para um mandato de cinco anos, a UE exorta “as autoridades de

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Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, quer que a Universidade de Macau (UM) assuma, enquanto instituição de referência na área do ensino superior, a responsabilidade de canalizar a inovação tecnológica para resultados que contribuam para a diversificação económica do território. De acordo com um comunicado divulgado ontem pela UM, no seguimento da reunião conjunta entre a assembleia e o conselho da instituição, Ho Iat Seng, que é também chanceler e presidente da assembleia da

de casinos do mundo e o turismo do jogo continuou a impulsionar o seu crescimento”, notando também que “a cooperação económica com a China continental foi intensificada em 2019, com novas medidas anunciadas no domínio dos serviços financeiros para apoiar a diversificação de Macau”. Desde a transferência de Macau para a República Popular da China, em 1999, a UE e os seus Estados-membros têm acompanhado os desenvolvimentos desta RAE, razão pela qual é publicado anualmente um relatório sobre tal evolução. No documento mais recente, a UE manifesta ainda interesse em “reforçar e expandir ainda mais as suas relações com a RAE de Macau”, frisando o seu empenho na salvaguarda de áreas como a democracia e o Estado de direito.

“As liberdades de imprensa de Macau foram geralmente respeitadas, embora a auto-censura tenha sido cada vez mais praticada.” RELATÓRIO DA UE

Macau a promover um maior envolvimento público nas próximas eleições para o cargo e para a Assembleia Legislativa”, argumentando que “isto aumentaria a sua legitimidade e apoio público e reforçaria a governação”, apesar

a Lei Básica de Macau e de outros atos legislativos não preverem a introdução do sufrágio universal. No que toca aos media, no ano passado, “as liberdades de imprensa de Macau foram geralmente respeitadas, embora a auto-censura

tenha sido cada vez mais praticada”, de acordo com a UE.

GARANTIR O ESTADO DE DIREITO

Já em termos económicos, o relatório assinala que o território “continuou a ser o maior centro

Tudo se transforma

Ho Iat Seng diz que tecnologia é chave para a diversificação

universidade pública, mostrou esperança na capacidade para “traduzir o progresso tecnológico em produtividade”. Desta forma, segundo o líder do Governo, a UM deve ser capaz de formar talentos de nível mundial, socialmente responsáveis, competitivos, inovadores, detentores de uma perspectiva global e que “amem a sua pátria”. Por outro lado, a instituição deve investir na colaboração académica

junto da indústria, esperando que sejam feitos progressos “na transferência de resultados tecnológicos para a diversificação das indústrias de Macau”. “O país tem expectativas elevadas em relação à diversificação industrial de Macau e o próprio Governo da RAEM tem investido recursos avultados na educação e em pesquisa científica”, pode ler-se na nota.

Além disso, Ho Iat Seng referiu ainda que as instituições de ensino superior de Macau têm o dever de “servir a sociedade” e de se esforçar para “promover estudos teóricos e inovações relativas ao princípio ‘Um país, Dois Sistemas’”.

ATENÇÃO AOS GASTOS

Outra das expectativas que o Chefe do Executivo tem para a universidade pública

E adianta que, já em 2019, “a UE e Macau gozaram de um bom nível de cooperação”, segundo o relatório, que aponta que a Europa é a segunda maior fonte de importações de Macau, depois da China continental, representando 27,6 por cento do total das importações.

diz respeito ao recrutamento de quadros no estrangeiro, ao mesmo tempo que é feito um “investimento em talentos locais”. Por fim, Ho apelou à UM que faça uma utilização “criteriosa” e que integre na sua forma de actuar o “princípio da frugalidade” de forma a ser capaz de “ultrapassar dificuldades” juntamente com os residentes de Macau, sem que para isso seja afectada a “qualidade da educação”. Por sua vez, o reitor da UM, Yonghua Song referiu que a instituição irá cumprir a sua responsabilidade social e “cooperar activamente”

com as políticas do Governo. Sobre o contributo rumo à diversificação económica do território, o responsável avançou que a UM vai promover ainda mais a disseminação do ensino superior pela população, partilhar resultados das investigações, fomentar o desenvolvimento de talentos inovadores e ainda desempenhar um papel relevante como “think tank” de elevada qualidade. Pedro Arede

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23.7.2020 quinta-feira

EXCURSÕES NEGOCIADO AUMENTO DE VAGAS PARA VIAGEM DE HELICÓPTERO

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HONG KONG NOVA ESCOLA DE PORTUGUÊS QUER RESPONDER À PROCURA DE CURSOS

Em busca da Europa

Chama-se “Portuguesinho.hk” e é a mais recente escola de língua portuguesa em Hong Kong. Os cursos, por enquanto apenas online devido à pandemia, pretendem dar resposta à crescente procura pelo ensino da língua por parte de investidores em vistos Gold, que querem escapar da difícil situação política do território vizinho

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M Hong Kong, o ensino do português é a língua de escolha para algumas pessoas que procuram uma alternativa. Prova disso é a abertura da “Portuguesinho.hk”, uma nova escola dedicada ao ensino da língua portuguesa, fundada por Jan Hung eAnaís Barroso, antigas alunas do curso de Tradução e Interpretação Português-Chinês e Chinês-Português do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Ao HM, Jan Hung confessa que a crescente procura pela língua portuguesa se deve, em grande parte, à difícil situação política em Hong Kong. “Agora há muitas pessoas a emigrar para vários sítios no mundo e Portugal tornou-se um destino famoso por causa dos vistos gold. Um dos requisitos dos vistos gold é o domínio do português nível A2. A procura pelo ensino do português está a crescer cada vez mais em Hong Kong, por isso criamos o ‘Portuguesinho.hk’”. Os protestos nas ruas, que começaram em 2019, e a im-

plementação da lei da segurança nacional têm levado muitas pessoas a procurar alternativas fora de Hong Kong. “Temos 120 alunos e a maior parte deles está a fazer investimentos em Portugal através dos vistos gold”, adiantou Jan. No entanto, há também aulas para crianças. Jan Hung dedica-se ao ensino do português no nível mais básico, uma vez que a maior parte dos alunos deseja começar a aprender tendo o cantonês como base. Anaís Barroso e um outro professor de nacionalidade brasileira dão as aulas de nível mais avançado.

AULAS ONLINE

Uma vez que Hong Kong se depara neste momento com

um novo surto pandémico, as aulas da “Portuguesinho.hk” funcionam apenas online, na plataforma Zoom. A escola afirma diferenciar-se das demais por ensinar o português que se fala em Portugal. “Em Hong Kong há várias escolas que ensinam o português do Brasil, mas nós ensinamos português europeu. Não é muito comum existir cursos online de português em Hong Kong e estamos a tentar promover mais cursos.” A expansão da “Portuguesinho.hk” é o objectivo principal, embora não esteja nos planos de Jan Hung e Anaís Barroso a abertura de um segundo espaço. Isto porque “é muito difícil manter uma escola que ensina apenas

“Agora há muitas pessoas a emigrar para vários sítios no mundo e Portugal tornou-se um destino famoso por causa dos vistos gold. Um dos requisitos dos vistos gold é o domínio do português nível A2.” JAN HUNG DOCENTE

uma língua”. “Neste momento, ensinamos apenas português, mas no futuro vamos tentar contratar professores nativos de outras línguas”, adiantou Jan. A escola possui uma cooperação ao nível do fornecimento de materiais com o Instituto Português do Oriente (IPOR). “Talvez no futuro possamos cooperar mais, com o IPOR e também com o IPM porque foi a minha escola”, acrescentou Jan Hung. Até agora, contavam-se pelos dedos das mãos os cursos de língua portuguesa a funcionar em Hong Kong, existindo apenas algumas iniciativas privadas por parte de professores nativos de português. “Até agora, faltava um bom contexto de língua e os alunos não tinham muitas oportunidades de praticar e falar português além das duas horas semanais de aulas”, confessou Jan. O cenário parece estar a mudar. Andreia Sofia Silva

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roteiro de viagens de helicóptero, lançado entre as novas experiências do programa de apoio ao sector do turismo “Vamos! Macau!” atraiu muitos residentes, levando ontem à paragem do sistema. As inscrições recomeçam hoje às 15h, disse Lau Fong Chi. A representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) esclareceu que ninguém ficou inscrito e pediu desculpa pelo sucedido. “Temos 700 vagas para o roteiro e como foi muito bem acolhido, vamos negociar para aumentar as vagas. O sistema vai ser optimizado para melhorar as inscrições”, anunciou. De acordo com o jornal Cidadão, o vice-presidente da Direcção da Associação dos Profissionais da Indústria de Viagens e Turismo de Macau, Ferreira Manuel Iok Pui, acredita que os roteiros novos têm capacidade para introduzir tours noturnos, e que as visitas a instituições de utilidade pública como a Companhia de Electricidade de Macau ajudam à diversificação turística. Além disso, o jornal indicou que a DST prevê o lançamento ainda este mês de um projecto de alojamento hoteleiro para residentes. Ferreira Manuel Iok Pui afirmou que ainda não sabe se será subsidiado, mas que recentemente vários residentes já ficaram nos hotéis durante as férias. No entanto, o vice-presidente também apontou problemas ao programa. Entre eles o lançamento tardio dos novos itinerários, tendo em conta que vários residentes já usaram dois subsídios durante a primeira fase. Para além disso, explicou que inicialmente alguns dos roteiros publicitados eram diferentes das actividades reais, gerando descontentamento dos cidadãos que participaram e a necessidade de a agência de viagens dar compensação.

AMCM Linhas de crédito para bancos com maior peso

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) tem concedido linhas de crédito aos bancos com maior peso nos negócios locais, e aumentado o financiamento da reserva financeira no sistema económico. A informação foi dada por Vong Lap Fong, Vogal do Conselho de Administração da AMCM, no âmbito de uma conferência online sobre a cooperação internacional contra Covid-19, comunicada pelo gabinete de apoio ao secretariado permanente do Fórum Macau. De acordo com a nota, a reserva financeira financiou os bancos locais com um capital de 180 mil milhões de patacas, valor que corresponde a cerca de 30 por cento da reserva financeira total da RAEM. “Neste momento, face ao risco de recessão económica, tem-se evidenciado ainda mais a importância da diversificação adequada da economia de Macau”, indica a nota. Na conferência participaram especialistas para trocar experiências sobre o combate à epidemia.


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quinta-feira 23.7.2020

CONSELHO PARA OS ASSUNTOS MÉDICOS GOVERNO APOSTA NA RENOVAÇÃO TOTAL

CPSP AGENTE EMBRIAGADO TEM ACIDENTE DE MOTA

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A madrugada da passada segunda-feira, pelas 5 da manhã, um subchefe do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) teve um acidente quando circulava de mota na Avenida de Lisboa. Depois de submetido ao teste do álcool, o agente, de 50 anos, acusou uma taxa de 1,91 gramas de álcool por litro do sangue. O CPSP lamentou a ocorrência de mais um caso em que um membro das forças da autoridade da RAEM têm acidentes de viação depois de consumir álcool e, segundo o canal chinês da TDM – Rádio Macau, o caso originou a abertura de processo disciplinar ao agente que ingressou nos órgãos policiais em 1992. Na sequência do acidente, o sub-chefe foi enviado para o Centro Hospitalar Conde de São Januário, onde lhe foi diagnosticada uma fractura na cara, na clavícula esquerda, além de várias escoriações nos membros. Segundo a TDM – Rádio Macau, o suspeito terá alegado ter consumido álcool, num karaoke na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, antes de regressar a casa a pé. Quando chegou, reparou que tinha deixado o telemóvel no estabelecimento de divertimento nocturno, voltou atrás, desta vez de mota e foi nessa altura que se deu o acidente. Depois dias antes, no sábado, também de madrugada, um investigador criminal da PJ colidiu contra guardas metálicas no cruzamento entre a Travessa do Padre Narciso e a Rua de S. Lourenço, embatendo de seguida em motociclos estacionados na rua. Após o exame verificou-se que tinha 1,28 grama de álcool por litro de sangue. No mesmo dia foi presente a juiz e condenado a três meses de prisão, com pena suspensa por um ano, além da inibição de condução pelo período de um ano. N.W.

Uma mudança completa O Governo decidiu renovar a composição do Conselho para os Assuntos Médicos, órgão consultivo criado em 2013. Saem nomes sonantes como Leonel Alves, Mário Évora e Paul Pun, e entram Vong Hin Fai, advogado e deputado, Bernice Nogueira como representante do sector da enfermagem, além de outras personalidades

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RI A DO em 2013 para ser um órgão consultivo do Governo, o Conselho para os Assuntos Médicos sofre agora uma profunda mudança com a substituição de todos os seus membros. Segundo um despacho assinado por Elsie Ao Ieong, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, o Conselho passa a contar com personalidades como Vong Hin Fai, advogado e deputado, e Bernice Nogueira, presidente da assembleia-geral da Associação Luso-Chinesa dos Enfermeiros de Macau e professora do Instituto Politécnico de Macau. O órgão

passa a incluir os conselheiros Chan Cheong Kin, Chan Un Wa e Ng Kuok Leong em representação dos profissionais de saúde. Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau, mantém-se na presidência do conselho, enquanto que Ung Pui Kun, director da administração

do Hospital Kiang Wu, assume as funções de vice-presidente, cargo era anteriormente ocupado pelo médico e deputado Chan Iek Lap. Leong Pui San será secretária-geral do organismo pelo período de dois anos e com uma remuneração mensal de cerca de 31 mil patacas. Em representação das institui-

De saída do Conselho para os Assuntos Médicos, destaque para personalidades que estavam no órgão consultivo desde a sua fundação, como Mário Évora, ex-chefe do serviço de cardiologia do Centro Hospitalar Conde de São Januário

ções do ensino superior de medicina tradicional chinesa entram para o Conselho para os Assuntos Médicos Chen Xin e Zhou Hua, enquanto que Chan Weng Sai e Lin Che Cheng, entre outros, ingressam pelo sector dos profissionais de medicina tradicional chinesa.

OS QUE SAEM

Por outro lado, estão de saída algumas personalidades que pertencem ao Conselho para os Assuntos Médicos desde a sua fundação, como Mário Évora, ex-chefe do serviço de cardiologia do Centro Hospitalar Conde de São Januário, já aposentado e Leonel Alves, ex-deputado e advogado. Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau, é outra personalidade cuja nomeação não foi renovada, a par de Chan Kam Meng, da Federação das Associações dos Operários de Macau, e Paulo Lago Comandante, médico de medicina tradicional chinesa. O HM tentou obter reacções de Leonel Alves, Mário Évora e Paul Pun, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto. Cabe ao Conselho para os Assuntos Médicos “pronunciar-se sobre o desenvolvimento da actividade de saúde da RAEM” e sobre “documentos de consulta respeitantes a projectos de diplomas relativos aos profissionais de saúde”. O despacho do BO determina ainda que o Conselho pode “proceder a estudos, elaborar relatórios e apresentar recomendações no que respeita aos códigos deontológicos dos profissionais de saúde e às regras do exercício da respectiva actividade profissional”, entre outras finalidades. Andreia Sofia Silva

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MONG-HÁ ASSOCIAÇÃO DE ARQUITECTOS ABRE CONCURSO PARA CIRCUITO PEDONAL

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Associação de Arquitectos de Macau (AAM) está a promover a Competição de Arquitectura para Projecto do Circuito Pedonal Sem Barreiras do Parque Municipal da Colina de Mong-Há. O principal objectivo da competição, garante a AAM, “é a reorganização do circuito pedonal da Colina de Mong-Há”. A fim de melhorar a acessibilidade e

fluidez do tráfego entre a área da Colina de Mong-Há e a zona de Fai Chi Kei, “propõe-se a criação de um percurso pedonal sem barreiras arquitectónicas, conveniente e inclusivo a todos os habitantes e visitantes da colina”. O período de inscrição, que começou ontem, vai estar aberto até às 14 de Agosto. As propostas são submetidas na sede da As-

sociação dos Arquitectos de Macau, na Avenida do Coronel Mesquita, N.º 2F e serão aceites nos dias 20, 21 e 24 de Agosto (das 15h às 17h). A AAM aponta, em comunicado, que o Parque Municipal da Colina de Mong-Há “é um dos mais importantes espaços recreativos na zona norte de Macau”. A iniciativa é organizada em conjunto

com o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e os candidatos podem participar de forma individual ou em grupo, sendo que pelo menos um dos membros do grupo deve ser arquitecto registrado na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Os projectos candidatos devem respeitar “o ambiente natural, a história

e cultura da zona e que proponham injectar novos elementos que enriqueçam o ambiente e as instalações públicas”. As propostas vencedoras recebem um prémio de 150 mil patacas, enquanto as menções honrosas um bónus de 50 mil patacas. A.S.S.


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23.7.2020 quinta-feira

Entre mitos e ve HISTÓRIA CENTENÁRIO DA PRESENÇA MILITAR PORTUGUESA EM MACAU EM DEBATE

Ricardo Borges, investigador da Universidade de São José, dá hoje uma palestra intitulada “100 anos de presença militar portuguesa em Macau (1875-1975)”. Ao HM, o académico denuncia alguns “erros” e “mitos” que foi encontrando em artigos sobre a história militar portuguesa do século XX e alerta para um afastamento progressivo da génese das fortificações militares actualmente destinadas ao turismo PUB

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OI em 1975 que se deu a saída da Guarnição Militar Portuguesa de Macau, mas antes disso há uma imensa história com 100 anos de existência para contar. Ricardo Borges, investigador da Universidade de São José (USJ), aborda hoje essa história no Grand Lapa, a partir das 19h, numa palestra promovida pela Câmara de Comércio França-Macau. Ao olhar para o centenário da presença militar portuguesa em Macau, o investigador percebeu “a falta de estudos sistematizados”, uma vez que “todas as publicações que existem acabam por parar no final do século XIX e não há uma continuação para o século XX”, disse ao HM. No início do século XX, sobretudo até ao final da I Guerra Mundial, em 1918, houve “um investimento na

Guarnição com o Governador Correia da Silva, que de facto trouxe a Guarnição para o século XX em termos tecnológicos e estruturais, já com cerca de 20 anos de atraso”. Em 1933 dá-se início ao Estado Novo em Portugal, com a implementação de uma

nova Constituição, que acaba por influenciar o posicionamento e o investimento do Governo de Salazar na Guarnição Militar Portuguesa em Macau e em todo o Ultramar. Ricardo Borges denota que existe “uma marcada diferença de abordar a Guar-

“Em 1949 e até ao final da década estavam em Macau todos os anos mais de 3 mil soldados, uma grande guarnição num território pequeno e com uma população diminuta.” Há “cada vez mais uma postura póscolonialista, com uma clara dissociação daquilo que é a antiga função [das estruturas militares] e da forma como são hoje apresentadas a visitantes ou residentes.” RICARDO BORGES INVESTIGADOR

nição até 1933”, uma vez que, com a nova Constituição, “existem ordens de Lisboa para se cortar nas despesas de todas as colónias e as despesas militares são as primeiras a levarem um corte”. Posteriormente desenvolve-se “um período de grande instabilidade na Ásia”, onde, além dos tumultos políticos na China, com a queda do Império e a Guerra Civil entre nacionalistas e comunistas, acontecem “as ambições imperiais japonesas que se fazem sentir mais cedo do que a II Guerra Mundial”. “Em 1937 já se sentiam essas fricções no sul da China e vou falar um pouco sobre algumas das coisas que ainda não foram abordadas sobre Macau no período da II Guerra Mundial”. Nesse sentido, Ricardo Borges vai “aprofundar aquilo que a Administração portuguesa aqui


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erdades

o Governador Rocha Vieira transformou a Fortaleza do Monte no Museu de Macau. O património está materialmente bem preservado e há cuidados, mas todas as novas sinergias que estão a ser associadas a estes locais afastam sempre o visitante da sua origem militar.”

em Macau acabou por vender aos japoneses. E também vou falar da documentação que foi destruída, era uma situação muito complicada”.

A “GRANDE GUARNIÇÃO”

A implementação da República Popular da China, em 1949, faz Salazar reforçar o número de homens na Guarnição Militar Portuguesa em Macau. Esta passa a constituir “um projecto político muito importante para a imagem internacional do Estado Novo e para a própria imagem interna de sustentação do regime”. Dessa forma, “em 1949 e até ao final da década estavam em Macau todos os anos mais de 3 mil soldados, uma grande guarnição num território pequeno e com uma população diminuta”. Tal acabou por ter um efeito social, uma vez que muitos soldados portugueses acabaram por

constituir família em Macau e ficar pelo território. “É um período com muita influência na comunidade portuguesa.” Até 1975 mantém-se “intocável o status quo entre Portugal, a Administração portuguesa e o regime comunista na China”. Ricardo Borges diz ter recolhido depoimentos de antigos soldados e oficiais que “revelam que a postura era muito diferente na forma de encarar os militares em Macau”.

MILITARES E TURISMO

Olhando para as fortificações e infra-estruturas militares que permanecem no território, Ricardo Borges lamenta que não haja uma maior associação entre a sua génese e significado original e o turismo. “Tudo começou com a Fortaleza da Barra, que foi transformada em pousada em 1981, mas também quando

Ricardo Borges dá o exemplo da Fortaleza da Barra, “onde existe uma grande transformação do espaço e que dissocia muito daquilo que era a sua função original”. Quanto à Fortaleza do Monte está-se perante “um caso paradigmático”, uma vez que “se o visitante entrar na Fortaleza pelo Museu, quando chega lá acima não tem nenhuma noção de que está numa fortificação”. O investigador alerta para o facto de existir “cada vez mais uma postura pós-colonialista, com uma clara dissociação daquilo que é a antiga função [das estruturas militares] e da forma como são hoje apresentadas a visitantes ou residentes”. Em termos académicos, Ricardo Borges também lamenta que, na feitura da história militar na viragem do século XIX para o século XX, existem “inúmeros erros”. “É o que chamo de mitos gravados na pedra, mas que não têm qualquer sustentação. Muita da investigação que tenho feito contradiz muitos destes mitos que se calcificaram ao longo do século XX. É necessário muito cuidado quando se trata da história militar em Macau durante o século XX. Esse é um trabalho que ainda está por fazer”, conclui. Andreia Sofia Silva

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Artes polivalentes O Espectáculos continuam na Barra, Feira do Carmo e Casas da Taipa

Instituto Cultural (IC) continua a promover uma série de espectáculos em locais como o Largo da Barra, Feira do Carmo ou Casas da Taipa, “a fim de promover e fortalecer a participação da população no desenvolvimento das artes”. Os espectáculos decorrem todos os sábados e domingos e unem-se “à sociedade através de múltiplas formas que têm tido uma grande aceitação por parte do público”, explica o IC em comunicado. Os espectáculos agendados serão realizados todos os fins-de-semana de 25 de Julho a 16 de Agosto, das 16h às 18h. Em frente ao Templo de A-Má, Macau Space for Dance Idea, Dream Theater Association, Miss White Dance Group, e a Orquestra Chinesa de Macau, entre outros grupos, protagonizam espectáculos subordinados ao tema “Origem dos Costumes de Macau”.

As Casas da Taipa serão palco de espectáculos de música e dança tradicional, ligeira, popular e contemporânea, apresentados por grupos artísticos locais de origem lusófona e estrangeira, nomeadamente os Concrete/ Lotus, a Escola de Samba de Macau, a Tuna Macaense, o Grupo de Danças e Cantares de Macau, o Grupo Axé Capoeira do Mestre Eddy Murphy, a cantora Jandira Silva e os cantores Fabrizio Croce, Gabriel e Elvis de Macau, entre outros. Já a Feira do Carmo será palco de espectáculos com o tema “Origem dos Tesouros Culturais”, nos quais a Associação Internacional da Cerimónia do Chá de Macau, a Associação de Percussão Tradicional Chinesa de Macau, o professor Cai Chuanxing, calígrafo de Macau, e a Brotherhood Art Association, entre outras, apresentarão cerimónias do chá, caligrafia com pincel,

música de percussão tradicional chinesa, os quatro grandes romances clássicos, entre outros elementos da cultura tradicional chinesa.

NOVAS PINTURAS

Em cooperação com a Associação Cultural da Vila da Taipa, o IC convidou também jovens artistas como Vitorino Vong e Jing Daan Wai para pintar murais novos baseados no cenário antigo das zonas do Porto Interior e Templo de A-Má, e que se situam na Travessa da Assunção e no Largo do Pagode da Barra. As pinturas decorrem até ao dia 29 de Julho. Além disso, a realizadora Pundusina estará presente no Jardim Municipal da Taipa e nas Casas da Taipa no dia 27 de Julho onde haverá instalações de arte como “A Flecha do Cupido Leno”, “Dança Folclórica Portuguesa do Tio Si e da Sra. Si” e “O Tio Shi Está Aqui”.

Cinema Estreia de "Tenet" de Christopher Nolan adiada A estreia do novo filme do realizador Christopher Nolan, "Tenet", voltou a ser adiada, sem nova data marcada, devido ao aumento de contágios da covid-19 nos Estados Unidos, que bloqueou a reabertura das salas de cinema, anunciou a produção. Os estúdios Warner Bros. vão avaliar a hipótese de fazer lançamentos específicos desta aguardada grande produção para cada país, de acordo com a situação particular da pandemia em cada território. A Warner Bros. tinha feito o mais recente anúncio da estreia para 12 de Agosto, depois

de anteriormente ter sido marcada para 17 de Julho, e mais tarde adiada para 31 de Julho. "Tenet" tem sido apontado como uma das grandes apostas das salas de cinema para atrair público, depois de meses encerradas devido às restrições sanitárias para conter a propagação do novo coronavírus. "Não vamos tratar este filme como um lançamento mundial tradicional, com uma data fixa. Os nossos próximos planos de promoção e distribuição vão mostrar isso", disse o presidente da Warner Bros., Toby Emmerich.


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23.7.2020 quinta-feira

HOUSTON CONSULADO CHINÊS FECHADO PARA “PROTEGER PROPRIEDADE INTELECTUAL DOS EUA”

Retaliações a caminho Numa acção raramente vista, as autoridade norte-americanas decidiram encerrar o consulado chinês de Houston, alegando estar a proteger interesses e informações privadas do povo americano. Pequim diz tratar-se de mais uma provocação e ameaça ripostar em breve com medidas similares

Esta decisão surge num cenário de tensões crescentes entre as duas potências em várias frentes: a controversa lei de segurança nacional em Hong Kong, acusações de espionagem e a situação de direitos humanos na região chinesa de Xinjiang (nordeste), particularmente. “Os Estados Unidos não vão tolerar as violações à nossa soberania e intimidação do nosso povo pela China, assim como não toleramos práticas de comércio injustas, roubo de empregos norte-americanos e outros comportamentos flagrantes. O Presidente (Donald) Trump insiste na justiça e reciprocidade nas relações sino-norte-americanas”, continuou a porta-voz, numa declaração difundida à imprensa.

RESPOSTA SÍNICA

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EDITAL Edital n.º : 46/E-BC/2020 Processo n.º : 158/BC/2020/F Assunto : Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local : Rua de Manuel de Arriaga n.º 3-F, Edf. San Iong, parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar D, Macau. Lai Weng Leong, Subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 11, II Série, de 11 de Março de 2020, faz saber que ficam notificados o dono da obra ou seu mandatário, bem como os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizou-se a seguinte obra não autorizada: Obra

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

1.1 Construção de um compartimento Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução com cobertura metálica, paredes em do caminho de evacuação. alvenaria de tijolo e janelas de vidro. 2. De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 23 de Junho de 2020, a audiência escrita dos interessados, mas estes não apresentaram qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição da obra não autorizada acima indicada. 3. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e no uso das competências delegadas pela alínea 8) do n.º 1 do Despacho n.º 06/ SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 11, II Série, de 11 de Março de 2020, e por despacho do signatário de 17 de Julho de 2020 exarado sobre a informação n.º 06160/DURDEP/2020, ordena aos interessados que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à respectiva demolição e à reposição do local afectado, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à sua desocupação, devendo para o efeito e com antecedência apresentar nesta DSSOPT o pedido de demolição das obras ilegais, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. 4. Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Uma vez iniciados os trabalhos, os infractores não poderão solicitar o seu cancelamento. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração e/ou de segurança do edifício. 6. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI e do n.º 7 do Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 11, II série, de 11 de Março de 2020, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 17 de Julho de 2020 Pela Directora de Serviços O Subdirector Lai Weng Leong

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c o n s ulado chinês em Houston, nos Estados Unidos, foi fechado “para proteger a propriedade intelectual e as informações privadas dos norte-americanos”, declarou ontem uma porta-voz do Departamento de Estado, após um forte protesto de Pequim. “A Convenção de Viena diz que os diplomatas de Estado devem ‘respeitar as leis e regras do país anfitrião’ e ‘têm o dever de não interferir nos assuntos internos desse Estado’”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus. “Ordenamos o encerramento do consulado da República Popular da China em Houston, a fim de proteger a propriedade intelectual e as informações privadas dos norte-americanos”, prosseguiu, sem detalhar, a porta-voz do Departamento de Estado que acompanha o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, em visita a Copenhaga.

“Pedimos aos EUA que corrijam esta decisão errada, ou caso contrário a China vai adoptar uma retaliação legítima e necessária.” WANG WENBIN PORTA-VOZ DO MNE CHINÊS

A China anunciou ontem que foi forçada pelos Estados Unidos a encerrar o seu consulado na cidade norte-americana de Houston, numa medida descrita por Pequim como uma “provocação”. “AChina condena veementemente esta acção ultrajante e injustificada”, disse o porta-voz da diplomacia chinesaWangWenbin, em conferência de imprensa. Wang considerou a decisão norte-americana uma “provocação” que “viola o direito internacional e os acordos consulares entre os dois países”, e advertiu que vai haver “retaliação”. “Pedimos aos EUA que corrijam esta decisão errada, ou caso contrário a China vai adoptar uma retaliação legítima e necessária”, disse Wang, acrescentando que o encerramento do consulado “em tão pouco tempo” representa “um aumento sem precedentes das acções norte-americanas contra a China”.

UIGURES PEQUIM CONDENA DECLARAÇÕES DE FRANÇA SOBRE PERSEGUIÇÕES

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República Popular da China considerou ontem “mentirosas” as críticas da França sobre a situação da minoria muçulmana uigure, no noroeste do país. “Nós somos firmemente contra a utilização de questões religiosas com fins políticos e de ingerência nos assuntos internos da China”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, numa conferência de imprensa em Pequim quando questionado sobre os comentários de Paris. Perante a Assembleia Nacional de França, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, disse que a situação de “internamento” da minoria muçulmana é “inaceitável”. O ministro francês fazia referência “aos campos de internamento para os uigures, detenções em massa, desaparecimentos, trabalho forçado, esterilização forçada, destruição do património cultural, em particular dos locais de culto” assim como aos métodos de vigilância da população e, em geral, ao sistema “repressivo” imposto na província de Xinjiang. Le Drian pediu também para que seja concedido o acesso a observadores independentes internacionais à província chinesa. O porta-voz da diplomacia de Pequim considerou “mentirosas” as declarações de França sobre “os centros de formação profissional transformados em campos de concentração” onde mais de um milhão de pessoas se encontram presas. A política de Pequim, em Xinjiang, “não visa nenhum grupo étnico específico nem religião”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China. Os uígures são o principal grupo étnico de Xinjiang, uma imensa região que faz fronteira com o Afeganistão e com o Paquistão. A região é frequentemente atingida por ataques mortais que Pequim atribui à minoria muçulmana da província que se encontra fortemente vigiada pela polícia e pelos militares do Exército Popular.

Região

FUMO COM FOGO

A imprensa de Houston avançou que as autoridades responderam a denúncias de um incêndio no consulado chinês. Testemunhas contaram à polícia local terem visto pessoas a queimar papeis no que pareciam ser latas de lixo, segundo o jornal Houston Chronicle. A cadeia televisiva Fox News denunciou que o pessoal diplomático estava a queimar documentos e outro material no pátio do consulado quando os bombeiros foram chamados. A polícia de Houston indicou, no Twitter, que o fumo foi observado, mas que as forças de ordem “não foram autorizadas a entrar” no terreno do consulado. A China tem cinco consulados nos Estados Unidos.

Reino Unido Via para cidadania britânica de residentes de Hong Kong a partir de Janeiro de 2021

O governo britânico anunciou ontem que vai abrir uma nova via especial para a atribuição de cidadania britânica a cidadãos de Hong Kong elegíveis a partir de Janeiro de 2021. Num comunicado, o Ministério do Interior disse que os titulares do passaporte nacional britânico no território e os seus familiares imediatos podem mudar-se para o Reino Unido para trabalhar e estudar sem qualquer requisito profissional ou de rendimento, mas não terão acesso a apoios sociais como subsídios. Aqueles que vierem para o Reino Unido por esta via poderão candidatar-se a residência permanente depois de viverem no país por cinco anos e solicitar a cidadania britânica ao fim de mais 12 meses. “O Reino Unido tem uma forte relação histórica com a população de Hong Kong e mantemos a nossa promessa para que mantenham as suas liberdades”, afirmou a ministra do Interior, Priti Patel.


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quinta-feira 23 .7.2020

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Japão decidiu ontem permitir a entrada de mais residentes estrangeiros, aliviando as restrições de imigração devido a covid-19, começando com trabalhadores e estudantes, no dia em que círculos empresariais europeus e norte-americanos demonstraram preocupação pela situação. A entrada no território vai ter alguns requisitos, como um teste negativo à covid-19 antes da chegada ao país, e vai ser escalonada, segundo disse o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em reunião com o grupo de trabalho de gestão da pandemia. Abe, que não especificou a partir de quando vão ser aplicadas essas excepções, assinalou também que está a considerar deixar entrar de forma limitada e durante um curto período de tempo empresários da Europa e dos Estados Unidos, e que vão começar negociações com mais 12 países e regiões para retomar as viagens de negócios bilaterais. Entre os territórios com os quais Tóquio vai negociar estão a China, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Macau, Brunei ou Birmânia. O Japão conseguiu chegar a acordo ontem com o Vietname e a Tailândia para aliviar as restrições e permitir a retoma de viagens “até final de Julho”, mas manteve a

Façam o favor de entrar Japão alivia restrições e permite entrada de alguns residentes estrangeiros

de comércio no Japão, durante uma conferência de imprensa em Tóquio. “Isso terá certamente um impacto” na imagem e na atractividade económica do Japão, porque gera “imprevisibilidade” para muitas empresas estrangeiras, afirmou também Michael Mrozczek, presidente do Conselho Empresarial Europeu no Japão.

OUTRAS MEDIDAS

A entrada no território vai ter alguns requisitos, como um teste negativo à covid-19 antes da chegada ao país, e vai ser escalonada

exigência de uma quarentena de 14 dias, conforme anunciado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. As negociações também estão em curso com a Austrália e Nova Zelândia, países que os nipónicos consideram ter o vírus sob controlo. Ainda ontem, antes de Abe anunciar o alivio das medidas, os círculos empresariais europeus e

norte-americanos no país lamentaram a persistência da proibição de entrada de estrangeiros, mesmo os que residem no país, acreditando que essa medida prejudica a sua atividade. Enquanto os japoneses são convidados a observar uma quarentena de 15 dias no regresso ao país, os residentes estrangeiros no Japão não podiam regressar se

tivessem saído, excepto em certos casos “humanitários” (urgência familiar, por exemplo) devidamente justificados. Essa política de padrões duplos, única entre os países do G7, constitui um “sério obstáculo para muitos membros e as suas famílias”, sublinhou Christopher LaFleur, presidente da Câmara norte-americana

Abe indicou ainda que o Governo vai considerar as condições para permitir a entrada de atletas e outras pessoas envolvidas nos adiados Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, que esta quinta-feira começam a contagem de um ano para a cerimónia de abertura, a ser realizada no dia 23 de Julho de 2021. Esse compromisso acontece no mesmo dia em que o governo japonês anunciou a inclusão e 17 outros países na lista de proibição migratória, elevando o número de territórios afectados para 146. O Japão contabilizou até ao momento mais de 27.000 casos de covid-19 e 1.002 mortes, incluindo as relacionadas com o cruzeiro Diamond Princess, que esteve em quarentena em Fevereiro.

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Diário de um editor João Paulo Cotrim

SANTA BÁRBARA, LISBOA, TERÇA, 7 JULHO Bem sei, acumula-se para ali uma lista de leituras por cumprir, de respostas por distribuir, de nós por desatar. As circunstâncias nem por um momento apaziguaram ansiedades, pararam desejos, travaram projectos, antologias, volumes, obras completas. O futuro, portanto, a dizer presente. Bem sei dos afazeres, mas por portas travessas estou noutra. (Surrealismo é, para mim, portas atravessadas pela travessura. Aliás, de qualquer maneira, chaleira.) Regressei a Tardi, o das trincheiras art nouveau, do sangue a vestir corpos e a desenhar cidades. Fui directo ao «120, Rue da la Gare» (ed. Casterman), transescrito, que é como quem diz, transporto do policial homónimo de Leo Malet. De tantos me receitarem policiais mal traduzidos tratei de ir a um original. O homem faz da arquitectura personagem e convinha-me o perfume de Paris, que no caso é sobretudo Lyon. Queria perder-me nas janelas, nas varandas, mas não me apareceram tantos espelhos assim. Uma leitura psicanalítica travessa poderia dizer que foi o nevoeiro que me atraiu, com voz off e cava. De tanto ouvir, e até escrever, que atravessávamos longa noite, no meu caso mais pelo mistério do que pelo maléfico, afinal a boa descrição dos dias mais longos está na descida das nuvens para diluir os contornos, as esquinas, as arestas. Poderia ter saltado noutra direcção, mas desci ao campo arqueológico onde se arquivam os ensaios titubeantes das figuras e domínios e temas que farão de Tardi um autor. Passei por «Adieu Brindavoine» (ed. Casterman), mas, estava escrito, era só etapa nas cores do deserto para chegar ao preto e branco propício de «La Véritable Histoire du Soldat Inconnu» (ed. Futuropolis). Aviso chaleira, de qualquer maneira: para efeitos do ao que venho terei que desfiar a narrativa, mas sem talento, estou descansado, para reduzir o que Tardi faz acontecer às palavras que o descrevem. A sobrecapa oferece figura nua branca, com reforço subtil de verniz, rodeado de estátuas tumulares, uma delas segura a coroa da glória, mas parece em desequilíbrio. Quase nu, melhor dizendo, por estar o escanzelado de bigode de óculos e chapéu de coco a aparecer das águas negras, como negros são os céus, uns e outras divididos por nuvens vermelhas. Negro sobre negro, com subtil reforço de verniz, estão as garrafais «TARDI» (coisa tonitruante de obra a vender-se completa). A figura, há que dizê-lo, é um autor. Na capa esconde-se figura esquelética e desdentada, careca e de minúsculos olhos,

23.7.2020 quinta-feira

Ao lado do homem vou crescendo

Soldado desconhecido minúcias não apenas das narrativas e do acontecido, mas dos perfis, qualidades e destinos. O editor, por exemplo, tinha aparecido como tiranossaurus, de cérebro minúsculo inversamente proporcional à sua ferocidade. A morte, piloto de aeronaves, oriunda do seu primeiro romance é quem o atinge e atira para as trincheira da grande guerra de onde lhe recolhem as ossadas que estão sob o Arco do Triunfo na qualidade de soldado desconhecido. Marquei já com o meu futuro psicanalizador: vamos trocar umas ideias sobre o assunto?

vestida no rigor dos começos do século das grandes guerras, em posição de grito, branca a camisa, os dentes esparsos, a minusculeza dos olhos, cinzas a dizer o resto, vermelha a língua e o grito em AAAR arredondado. É o editor. (Com umas palavras antes da aventura, Tardi conta da Futuropolis e Étienne Robial, nos idos de 1970, laboratório onde a as palavras autor e editor não eram ditas por sugerirem desconsiderações contratuais. Curioso, no momento em que o nome procurava romper com a indústria, afirmar a criação por detrás da máquina.) Estamos agora no cemitério onde tudo começa. Assim pensa a personagem perdida: «Encontrava-me de novo nas trevas mais profundas, onde o meu temperamento ansioso tantas ve-

zes me levava.» Os mausoléus fazem-se ilhas e estas palácios nos quais a deriva da personagem principal, entretanto despida como convém nas viagens primordiais, vai reencontrar e matar velhos conhecidos e recém reconhecidos. Até que uma inevitável aeronave o resgata para o transportar à enorme e labiríntica casa do editor, enlouquecido como acabam todos. «Reconheci a decoração característica, de extremo mau gosto». Só ali a personagem perdia se descobre enquanto autor. Não um qualquer, mas de «romances de aventuras a dez tostões, simplistas e aflitivos, mas que logo conheceram vivo sucesso popular». O que foi enfrentando, em modos sonhados e eróticos, foram as suas criações, que com ele discutem neste instante as

SANTA BÁRBARA, LISBOA, SÁBADO, 17 JULHO O Expresso de hoje entrevista Isa Gomes, a professora de português tornada figura mediática por ter aparecido na televisão (os tempos estão tão confusos que soa regresso aos anos 1980 e as pastilhas Pirata). Por ter alguma coisa a dizer? Só para a conhecermos melhor. Que andará ela a ler? Responde, logo com surpresa e interrogação: «Leituras? Nunca fui muito de ler livros, mas sempre adorei tê-los.» Esta afirmação quase subtil acerca da leitura de livros e do que cada um é muito de ser está longe de morrer sozinha, e tenho algures guardada resposta semelhante de escritora e, se pior pudesse ser, com responsabilidades. Tenho-o dito em debate por várias vezes e logo com reacções aflitas e assertivas: com honrosas excepções, os nossos professores não lêem, sendo que a doença é mais grave nos que supostamente ensinam a língua. Há-de haver estudos, mas basta fazer contas às tiragens, andar pelas escolas e ouvir as apresentações dos convidados, enfim, ler as «poesias». Basta estar atento. O país não lê, por que raio (de trovoada) se poderia exigir isso à profe? Será preciso a um engenheiro saber da evolução dos materiais? As pontes romanas foram feitas a olho e pedra e ainda se atravessam, que nem portas ou chaleiras. E que vos dizia eu? Omnipresente está a radioactividade do simbólico: «sempre adorei tê-los!». Convém ter por perto um livro, assim uma vela na dispensa, para quando falta a luz. O Plano Nacional de Leitura tem um pilar no professorado, mas dará para fazer pontes em cima dele? Também vos tinha dito, ancião que vou sendo, que o meu melhor professor foi de português, com língua e muito mais? Ponho-me depois a pensar em que páginas de livros tocaram por estes dias as mãos que apedrejam a professora que se está a esforçar para ler até ao fim do Verão um livro de contos. Aaaarh, dizia o editor enlouquecido.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

quinta-feira 23.7.2020

Diário de Próspero António Cabrita

As duas cabeças

21/07/20

No Jardim Zoológico de San Diego, na Califórnia, vê-se algo bastante raro embora não excepcional: cobras do deserto californiano que, devido a algum tipo de acidente genético, têm duas cabeças. O que complica a vida a este corpo com duas cabeças é que são duas vontades, dois sujeitos, do ponto de vista cerebral. E podem morrer por causa disso: cada cabeça busca comida de seu lado; quando uma encontra comida, a outra desvia-a na direcção que prefere e assim essas pobres cobras de duas cabeças dificilmente se conseguem alimentar, apenas em zoológicos. Vemos, então, que o princípio da exclusão funciona mesmo entre duas cabeças-de-cobra que têm o mesmo corpo. Associo isto às culturas nas sociedades pós-coloniais. As supostas remanescências da cultura colonial e a suposta e “restituída” cultura de origem são duas cabeças que se recusam a perceber que hoje vivem num mesmo corpo híbrido e as duas cabeças em vez de conjugar esforços para se conseguirem alimentar combatem-se e morrem à fome. O resultado dá a soma resto zero do princípio da exclusão! Já, Heinz von Foerster, um dos pais da cibernética, apontava há cinquenta anos, o grande paradoxo da auto-organização dos sistemas. E explicava que se obviamente a auto-organização significa autonomia, por outro lado um sistema auto-organizado é um sistema que tem de aplicar-se para construir e reconstruir a sua autonomia e, portanto, nesse esforço desperdiça energia. Ou seja, fica sujeito à entropia, à dissipação da força que o mantinha regulado, coeso. Para recuperar o equilíbrio que lhe permite a sobrevivência a única hipótese é esse sistema captar energia de fora, ou seja, observava Von Foerster qualquer sistema para ser autónomo, acaba por estar dependente do mundo que lhe é exterior. E essa dependência não será apenas energética, mas também informativa, porque todo o organismo vivo extrai informações do mundo exterior, a fim de organizar o seu comportamento. Este modelo não é nada dissemelhante ao que se passa com as culturas e as identidades. Nós somos alguma coisa por referência a outras que nos estão enganchadas, embora fora de nós, a identidade é um valor no processo de diferenciação que distingue o significado de “ser africano” do significado de “ser europeu”, tal como a palavra se engancha no silêncio. Sou pela defesa do incremento das línguas-mãe em Moçambique, pelo resguardo da sua dignidade edificando uma literatura nessas línguas, porque as línguas transportam consigo sensibilida-

des únicas; contudo, creio igualmente que o português é um ganho irrenunciável e que as culturas não são bolhas estanques, ilhas. Ou seremos ilhas mas em arquipélago, organizado num sistema de mútua influência e em perpétua re-combinação. Não existe o branco, o preto, o azul, existe a crioulagem, tal como se aprende na física das cores, tal como ensina o filósofo Edouard Glissant. Nesta discussão, infinita, sobre a questão das identidades tenho a maior dificuldade em perceber as posturas extremadas. Que alguém se reivindique exclusivamente bantu, a partir dos instrumentos e das categorias que lhe foram dados por uma educação de influência ocidental e vice-versa, que um europeu não seja sensível a aspectos da cultura africana que o podem enriquecer. E fico sempre um pouco incomodado no momento obnóxio em que alguém desata a falar em nome da ancestralidade. Não é invulgar que desse fundo mágico que o romântico Herder emprestou aos imaginários colectivos

emerja uma vontade de nos alhearmos daquilo a que Stendhal chamava a “força moral”, a coragem de pensar por si próprio - posto que na verdade cada homem está sozinho na História. Na próxima vez que participar de um debate destes já sei que argumentos usar contra o “abuso dos ancestrais”.

22/07/20

Uma observação de José Navarro de Andrade no Facebook leva-me a rever alguns filmes do Preston Sturges, e sobretudo essa comédia extraordinária The Palm Beach Story (1942)/ Uma Mulher de Verdade, com a Claudette Colbert. Uma das coisas mais difíceis de trabalhar com alunos de guionismo é os diálogos, um dos territórios mais áridos nas artes narrativas. Conheço óptimos escritores que não atinam com os diálogos e são realmente raros os filmes (dois, três, ao ano) em que os diálogos sejam primorosos. A maior parte das vezes os diálogos apenas ilustram a acção, não estabelecem uma dialéctica com ela (quando muito cumprem a função de revelarem a parte

As supostas remanescências da cultura colonial e a suposta e “restituída” cultura de origem são duas cabeças que se recusam a perceber que hoje vivem num mesmo corpo híbrido e as duas cabeças em vez de conjugar esforços para se conseguirem alimentar combatem-se e morrem à fome

emocional das personagens) nem montam uma rede comunicacional que é por si só um outro espectáculo porque dispara os níveis de significação e de subentendidos. Um bom diálogo vira o contexto de pantanas, serve a trama para a desviar. Billy Wilder era um mestre nisso. Constato agora que o Preston Sturges - de que só tinha visto dois ou três filmes há 30, 40 anos, na pouca assiduidade com que frequentava a Cinemateca - é absolutamente outra referência a seguir. De ontem para hoje vi três filmes dele e agora terei de farejar nos filmes em que ele só fez os diálogos. The Palm Beach Story é uma festa, sobretudo pela personagem feminina, uma «mulher prática» de todo desassombrada e que, sabendo ser leal, à hipocrisia dos costumes diz nada e faz o que tem a fazer. Sturges, revolucionou a screwball comedy (a comédia de situações inconvencionais) porque a doseou com as técnicas de “marivaudage” (que tira todos o proveito do jogo das máscaras e da mentira) e é o exemplo de como uma enorme massa de diálogos num guião – se maduros e acutilantes (a dificuldade de explicar isto aos realizadores) não impede que a narrativa tenha um bom ritmo – só depende do pico dos actores e do “factor de improbabilidade à pele” das situaões. E digo-vos, o final do filme é tão trepidante e surpreendente como o de Quanto mais Quente Melhor, do Billy Wilder, pois socorre-se da técnica do “deus ex-machina” com uma eficácia (louca) que se impõe como necessária. Um filme imperdível. Há uma cópia menos má, legendada em português, no Youtube.


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23.7.2020 quinta-feira

Voltarei a fotografar com os teus olhos

retrovisor

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Maria Beatriz Matias era uma mulher do mundo. Grande pintora e pessoa de colheitas raras. Adorava perseguir o voo das gaivotas no Vondelpark de Amesterdão. Conhecia-lhes os traçados, decifrava-lhes os abecedários, presumia-lhes os grandes círculos no ar. Sempre que eu subia àquele terceiro andar da Wilhelminastraat, havia uma tela com mulheres e asas, muitas asas vermelhas em processo de construção e colagem. E chá, muito chá. E pessoas adoráveis que tive a sorte de conhecer. Raramente era inverno, porque ela guardava as folhas prateadas dos plátanos e afirmava que lhe congelavam o tempo em segredo. Junto à varanda, a corda e o cesto resistiam em estado de prontidão à Chagall, pois, caso houvesse incêndio, a Beatriz entregar-se-ia acrobaticamente às nuvens. Na vida nada é comedido. Mais cedo ou mais tarde todos os rios acabam por transbordar. Com a Maria Beatriz Matias, aprendi duas coisas fundamentais e só hoje me dou conta disso. Primeiro: a verdadeira família não é a que herdamos geneticamente, mas sim a outra - ou as outras - que vamos construindo ao longo do tempo. Segundo: não é por se ter nascido e crescido na mesma terra e falar a mesma língua que somos obrigados a viver para sempre dentro de um mesmo aquário, a maior parte das vezes turvo e opaco. O mundo a sério é sempre do outro lado. Seja do outro lado da família, seja do outro lado dos cheiros da infância. Sempre pratiquei intuitivamente estes dois princípios, mas foi ela quem me deu a ver como eles brilhavam, de facto, no meio do universo. Jaromil, protagonista de ‘La vie est ailleurs’, romance de Kundera com título tomado a Rimbaud que saiu a público em 1969 (e que a Beatriz tantas vezes citava), sabia bem que assim era. Vimos lado a lado o Astor Piazzolla em Utreque. E o que ela riu das palavras iniciais do concerto: “Quando comecei a compor, ninguém no meu país entendeu o que eu fazia. E hoje ninguém no meu país ainda entende o que eu faço. É essa a minha alegria”. A Beatriz sabia de cor ‘Le bateau Espagnol’ do Léo Ferré, cantava-o com xailes negros e depois voltava a rir como quem depena a angústia até poder agarrá-la pelas vísceras e atirá-la para dentro do canal. E rir-se-ia ainda mais ao ver o animal a ir ao fundo naquela água verde, suja, cheia de objectos e histórias que tanto a fascinavam.

JOSÉ M. RODRIGUES

Luís Carmelo

A Beatriz sabia de cor ‘Le bateau Espagnol’ do Léo Ferré, cantava-o com xailes negros e depois voltava a rir como quem depena a angústia até poder agarrá-la pelas vísceras e atirá-la para dentro do canal

Visitei com a Beatriz a casa onde John Ruskin viveu em Veneza. Ficava mesmo em frente à ilha de San Giorgio Maggiore. Num repente, vi-a a saltar para o parapeito de uma das janelas e confessou-me que lhe apetecia morrer ali. Seria muito sincero esse seu desejo, mas ela na verdade auscultava patamares mais vastos do que a simples vertigem momentânea. Uma vez, em casa do José Barrias, em Milão, disse para quem a quis ouvir que não se importava nada de desaparecer, desde que ficasse para sempre a voar. E ria sempre do que dizia. A Beatriz morreu a rir. Temos um livro pronto a sair a público há mais de três décadas, intitulado ‘As Muitas Manhãs’ (era, também, uma homenagem a Almada Negreiros e às suas “quatro manhãs”). Os desenhos da Beatriz acamparam nessa altura ao lado de um punhado de poemas meus, traduzidos pela Catherine Barel, que mantenho ainda comigo. Não sairá jamais a público, pois há verdades que não se editam. Tinhas toda a razão, Beatriz, quando dizias que é um crime escrever e ler diante da rebentação das ondas. Fiquei tão triste com a notícia da tua morte, Beatriz. Sim: morte. Detestas como eu que se diga que alguém partiu. Ninguém parte para sempre, afinal. Continuaremos em Bruges de volta das enguias com natas ou no ‘Trou Noire’, em Paris, no meio daquelas performances e instalações que o nosso querido José M. Rodrigues quis que fossem da cor do vinho tinto e não da água. A invisibilidade é uma anestesia perigosa, sabemo-lo bem. No dia em que eu quebrei umas quantas costelas - tu sabias que a bicicleta andava azarada - fizeste de propósito aquele desenho em que um touro se transformava em pedra. Mas era uma pedra-menina com folhos de saia de onde caíam duas ou três penas da cor do sangue. A alegoria esgotou-se na altura, mas flutuou ao jeito dos zepelins até ao dia em que te estou aqui desastradamente a escrever. Na realidade, todo o choque, todo o embate, toda a batida - mesmo a do mar de Zandvoort em Janeiro - é um recomeço. Hoje voltarei a fotografar com os teus olhos. E regressarei certamente a esse afinco de liberdade que era a visão mais íntima e verdadeira de Jaromil. Juro que tentarei regressar todos os dias à abertura do mundo, enclausurando no escuro a pequenez de que tu também fugiste.


desporto 17

quinta-feira 23.7.2020

GIC CHALLENGE RUI VALENTE OBTÉM VITÓRIA EM GUANGDONG

Com sabor especial

Depois de vários contratempos e atrasos, fruto das restrições causadas pela pandemia global da COVID-19, Rui Valente foi o primeiro piloto de matriz portuguesa de Macau a dar início à sua temporada desportiva, e logo com um triunfo na prova de abertura do “GIC Challenge” no passado fim-de-semana no Circuito Internacional de Guangdong

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SANDO a sua experiência de mais de três décadas de automobilismo, o piloto português da RAEM há mais tempo no activo, levou o seu “velhinho” Honda Integra DC5 a uma vitória incontestável numa corrida, que teve uma hora de duração, na sinuosa pista dos arredores da cidade chinesa de Zhaoqing. “Estou muito satisfeito com esta vitória, mas não foi uma corrida fácil, pois teve início às 14h40 e foi disputada sob intenso calor”, explicou Rui Valente ao HM, lembrando que não só o piloto, mas também as mecânicas das viaturas sofrem com a elevada humidade e calor que se fazem sentir nesta altura do ano na região do Delta do Rio das Pérolas. A regulamentação da prova não obriga a reabastecimentos, pois o depósito de gasolina destes carros consegue armazenar gasolina para uma hora seguida de competição. Contudo, as regras ditam que qualquer equipa que inscreva dois pilotos no mesmo carro, terá que efectuar uma paragem após meia hora de corrida. Como Rui Valente correu “a solo”, viu-se obrigado a entrar nas boxes por duas ocasiões, passando no “pitlane” a 60km/h, mas sem a necessidade de imobilizar a viatura. Este contra-tempo de visitar as boxes por duas ocasiões não desmoralizou o “nosso” piloto, que soube como superar as suas limitações e suplantar uma concorrência melhor apetrechada.

ESTRATÉGIA PERFEITA

Numa corrida de “endurance”, em que há a necessidade de uma ida às boxes, a rapidez em pista só por si não é garantia de um bom resultado no final. A estratégia do piloto do Honda, um carro que ainda está nas especificações Grupo N (N2000), resultou em pleno, visto que os dois principais candidatos ao triunfo acabaram por ser surpreendidos pela táctica do veterano piloto do território. “Arranquei de terceiro lugar na grelha de partida e envolvi-me na luta pelo primeiro lugar nas primeiras três voltas, mas depois fiz a minha primeira passagem pelas boxes, deixando-os a disputar a liderança”, contou Rui Valente. “Quando saí, dei mais quatro voltas, passei alguns concorrentes mais lentos e fiz uma nova passagem. Depois, daí em diante, foi sempre a abrir até à bandeira de xadrez”.

O favorito à vitória nesta corrida era um BMW 320si (ex-WTCC), que tinha sido o carro claramente mais rápido na qualificação, no entanto, o piloto perdeu muito tempo em batalhas por posições, caindo na classificação da corrida. “Tenho a segunda corrida do GIC Challenge a 15 de Agosto,

“Estou muito satisfeito com esta vitória, mas não foi uma corrida fácil, pois teve início às 14h40 e foi disputada sob intenso calor.” RUI VALENTE PILOTO

e com certeza que os meus adversários vão fazer tudo para me superar, portanto vou ter que me defender. Vou tentar evoluir o velho Honda e torná-lo mais rápido nas rectas, com maior velocidade de ponta”, afirma o piloto que chegou a ser o único representante português na Corrida Guia nos anos 1990s e que nas corridas dos campeonatos de Macau corre actualmente com um MINI Cooper S. Com este triunfo, Rui Valente foi o primeiro piloto não-chinês a vencer uma corrida de automobilismo na República Popular da China em 2020. Sérgio Fonseca

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LIGA NOS BENFICA VENCE AVES COM ‘BIS’ DE GONÇALO RAMOS EM DIA DE PROTESTO

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Benfica venceu ontem por 0-4 na visita ao Desportivo das Aves, no encerramento da 33.ª jornada da I Liga portuguesa de futebol, numa partida marcada pelas dúvidas em relação à presença em campo do último classificado. O Benfica adiantou-se no marcador aos quatro minutos, com um golo de Rafa, com Pizzi, aos 52 de grande penalidade, e o estreante Gonçalo Ramos, aos 87 e 90+3, a apontarem os outros tentos dos ‘encarnados’. Com esta vitória, o Benfica está em segundo lugar, com 74 pontos, enquanto o já despromovido Desportivo das Aves, que depois de muitas dúvidas acabou por marcar presença na partida, é 18.º e último com 17 pontos. Os futebolistas do Desportivo das Aves recusaram jogar os primeiros 60 segundos da recepção ao Benfica, que arrancou às 21:15, em encontro de encerramento da 33.ª e penúltima jornada da I Liga de futebol. Logo após o apito inicial do árbitro António Nobre, o ‘onze’ da formação orientada por Nuno Manta Santos manteve-se inamovível

no terreno de jogo e os suplentes abraçados à equipa técnica na zona do banco de suplentes, enquanto os jogadores dos ‘encarnados’ se recriavam com o esférico e aplaudiram o gesto de protesto dos nortenhos. O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) enalteceu “o esforço e dedicação” dos profissionais do Desportivo das Aves. Em comunicado, a LPFP “na pessoa do seu presidente, Pedro Proença” deixou uma palavra de apreço a “funcionários, jogadores, ‘staff’ e equipa técnica do Desportivo das Aves, liderada por Nuno Manta Santos, ao apresentarem-se para o jogo da jornada 33, frente ao Benfica”. “São públicas as dificuldades que os profissionais do Desportivo das Aves estão a passar e, depois de uma semana difícil para todos, foi notória a vontade dos jogadores em realizarem os dois jogos que faltavam para terminar a temporada. A LPFP não podia deixar de elogiar este sinal de respeito por adeptos, dirigentes e, acima de tudo, pelo futebol”, refere a nota.

Futebol Setúbal empata com Sporting e foge da zona de despromoção O Vitória de Setúbal empatou ontem na visita ao Sporting (0-0), na 33.ª jornada da I Liga portuguesa de futebol, e deixou a zona de despromoção, entrando na última jornada a depender de si próprio para a manutenção. No estádio José Alvalade, os ‘leões’ não conseguiram regressar às vitórias e somar os três pontos que garantiam já o terceiro lugar no

campeonato, entrando na última jornada, uma visita ao Benfica, com 60 pontos, mais três pontos que o Sporting de Braga. Já o Vitória de Setúbal, que não vence há 15 jogos no campeonato, interrompeu uma série de seis derrotas consecutivas e, com o ponto conquistado, saiu da zona de despromoção e está em 16.º, com 31, enquanto o Portimonense, 17.º, tem 30.


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SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.45

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BEYOND THE DREAM [C]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00

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LIGHT F MY LIFE [C]

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ser vista na plataforma Netflix, aborda o lado menos luminoso do mundo do desporto, nomeadamente quando chega a derrota. Da recambolesca história do Torquay United, clube de futebol britânico que foge à descida de divisão graças a um cão-polícia, à francesa Surya Bonaly que nunca conseguiu coroar a sua irreprensível carreira na patinagem artística com o ouro Olímpico devido ao seu estilo exótico, Losers mostra como é possível transformar derrotas em algo positivo. Ainda para mais, numa sociedade que tende, cada vez mais, a premiar apenas o sucesso. Pedro Arede

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LIGHT OF MY LIFE

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2 esta 6 série documental, que pode

Um filme de: Casey Affleek Com: Anna Pniowsky, Casey Afflek, Tom Bower, Elisabeth Moss 21.30

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LOSERS | MICKEY DUZYJ | 2019

Através de oito histórias reais,

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DREAMBUILDERS [A]

THE LAST FULL MEASURE [C]

UMA SÉRIE HOJE

Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

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Um filme de: Todd Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 21.30

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Os venezuelanos realizaram 4.414 protestos entre Janeiro e Junho de 2020, a maioria para reclamar acesso a serviços básicos, segundo dados do Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS). “O OVCS documentou 4.414 protestos durante o primeiro semestre de 2020, o equivalente a uma média de 25 por dia”, pode ler-se num relatório divulgado em Caracas. Mais da metade das manifestações sociais foram para exigir o direito a serviços básicos, de acordo com o OVCS, precisando que 2.505 dos protestos realizados nos primeiros seis meses do ano ficaram a dever-se a falhas eléctricas, falta de água e gás.

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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opinião 19

quinta-feira 23.7.2020

MANUEL DE ALMEIDA

(texto e ilustração)

O desconforto da vida “Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar”. Fernando Pessoa (1888 – 1935)

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vida das pessoas baralha narrativas fáceis, não são novelas, contos – viajar através da vida -, é um longo, sinuoso e árduo caminho. Não somos apenas fruto das nossas escolhas. Outros nela interferem de maneira abusiva, pelo prazer de mandar, desiquilibrar, inquietar. Existem também sociedades que esvaziam o “cidadão” da sua capacidade de escolher, transformando-o num simples fantoche, marionete – subjugam-no. São governos malévolos. Ao instinto que sonha, à razão que ordena, à inteligência que observa e compara, à justiça com alma, à ética com rosto, à curiosidade pela inocência do futuro, tudo se perde na ditadura da ilusão. Uma vida com propósito, significado e prazer, é dar voz a mais e melhor política, lutar pela protecção ambiental – não por moda ou em abstracto -, defender o património cultural – material e imaterial -, “enfrentar uma política educativa vocacionada para fomentar o facilitismo e a ignorância”. Devemos exigir um ensino que contribua para formar indivíduos cultos, interessados e activos – seres pensantes - Homens Livres. Já nem falo de Saúde (falta poder de decisão), nem de Habitação (é preciso articular ferramentas). Há “massa”... Há uma máxima de Tolstói, que se aplica a Macau, que nem uma luva e, passo a citar: “há quem passe pelo bosque e apenas veja a lenha para a fogueira”.

A grande crise que se vive hoje em dia é uma crise de valores e comportamentos individuais e de vida em sociedade. Não “é a economia, estúpido!”. Existe défice de cultura, educação, ciência, civismo – há uma grande histeria de ignorância e estupidez.

São intrigantes, complexas, vadias, esdrúxulas certas crónicas de vida - engolir em silêncio, sofrer vinganças sobre ideias, assédio moral, crimes sexuais, enclausurar a ambição, a tortura que atordoa a velhice – os direitos do cidadão não podem depender de uma capacidade tecnológica – , a dor dos catequistas do regime – queixam-se –, mostram um ar deprimido, violência doméstica, viver a utilidade do inútil, o vejetar no mundo subversivo social. Os caminhos a seguir são sempre um dilema. O desconforto, o imprevisível da vida. A grande crise que se vive hoje em dia é uma crise de valores e comportamentos individuais e de vida em sociedade. Não “é a economia, estúpido!”. Existe défice de cultura, educação, ciência, civismo – há uma grande histeria de ignorância e estupidez. Não se houvem ruídos, mas silêncios, precisamos de uma vida que decline os silêncios. Temos de reavaliar a base espiritual da sobrevivência... Pode-se comprar o coração do povo, mas, espero, nunca se comprará a inteligência da sociedade. Apesar desta permanecer incapaz de perguntar, descobrir, exigir. (Isto são apontamentos dos meus cadernos de tendências, tento reconstruir o pensar, delinear, perscrutar o horizonte – a luz crepuscular da vida –, cheio de omissões e contradições da minha longa caminhada existencial. Permanecer ou atravessar?) Valerá ainda a pena construir espaços (lugar) e tempos ? Não, denotamos já uma expressão de cansaço existencial (um desenraizamento da identidade), é preferível guardar o “silêncio da memória do que o ruído da celebração”. A vida flui – Macau será a morgue onde jazem as ilusões! Lembram-se da história da Fada Oriana, da Sophia? Castigada. Perdeu as asas e a varinha de condão. Só ao tentar salvar uma velha que estava a cair do abismo, mesmo sem asas e varinha, saltou do abismo e agarrou a velha pelos pés. Aí, apareceu a fada rainha que lhe devolveu as asas e a varinha de condão. Perceberam ? É esta a história....


O tempo é a substância de que sou feito. Jorge Luis Borges

UE/CIMEIRA PRESIDENTE DO PE SATISFEITO COM ACORDO MAS QUER “MELHORIAS” NO ORÇAMENTO

ANGOLA FITCH AGRAVA PREVISÃO DE RECESSÃO PARA 4% EM 2020

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consultora Fitch Solutions reviu ontem a estimativa de crescimento económico para Angola, agravando a previsão de recessão este ano de 2,3 por cento para 4 por cento, e alertou que a propagação da covid-19 pode forçar novo confinamento. “No seguimento de um desempenho abaixo do esperado dos indicadores do primeiro trimestre, revimos em baixa a nossa perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola, de uma contracção de 2,3 por cento para uma queda de 4 por cento “, lê-se no comentário à economia do país. Na análise, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que “o declínio da produção petrolífera vai influenciar fortemente a actividade económica, ao passo que a economia não petrolífera vai enfrentar fortes ventos contrários devido à pandemia de covid-19”. Os analistas, aliás, alertam que apesar do “relativamente baixo número de infecções por covid-19, 705 até 21 de julho, a taxa de infecção tem estado a aumentar mais depressa desde Junho e se esta tendência se mantiver, o Governo pode ser forçado a apertar as medidas de confinamento outra vez, o que levará a uma queda do PIB ainda mais acentuada este ano”. Ainda assim, a expectativa actual aponta para uma recuperação da economia já no próximo ano, com uma expansão de 0,8 por cento, assente “numa modesta recuperação do consumo privado, mas a queda das exportações e o escasso crescimento do investimento vai manter o PIB real abaixo dos níveis de 2020 até 2023”.

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O contrato com a Biontech e a Pfizer eleva para cinco o número de possíveis vacinas na luta contra a pandemia de covid-19 que estão na mira do Governo norte-americano

Venha a nós a vossa cura EUA vão comprar 100 milhões de doses de uma vacina germano-americana

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S EUA vão pagar cerca de 1,7 mil milhões de euros por 100 milhões de doses de uma vacina do novo coronavírus, desenvolvida por uma parceria germano-americana, anunciaram ontem as autoridades e laboratórios. “O Governo dos EUA fez um pedido inicial de 100 milhões de doses, pagando 1,95 mil milhões de dólares e pode adquirir até 500 milhões de doses adicionais”, disseram as empresas Biontech e Pfizer, que devem iniciar os ensaios clínicos da vacina muito em breve. O secretário de Saúde dos EUA, Alex Azar, já confirmou a informação, lembrando que a vacina deverá ainda ser aprovada pelas autoridades sanitárias, antes de ser distribuída.

O acordo faz parte do programa governamental Warp Speed, lançado pelo Presidente Donald Trump, que abrange a compra de várias vacinas, que estão a ser desenvolvidas em simultâneo, contra o novo coronavírus. Sob esta iniciativa, o Governo dos EUA está a promover o desenvolvimento de vacinas, de forma a poder comprar o número suficiente de doses, logo que estejam disponíveis e aprovadas. Azar diz que o contrato com a Biontech e a Pfizer eleva para cinco o número de possíveis vacinas na luta contra a pandemia de covid-19 que estão na mira do Governo norte-americano.

A CAMINHO

tão a chegar e a chegar muito mais cedo do que se julgava possível”, depois de admitir que a situação da pandemia nos Estados Unidos ainda está a agravar-se, tendo sido registados cerca de quatro milhões de casos de contágio, incluindo cerca de 140 mil mortes. A pandemia de covid-19 já provocou mais de 616 mil mortos e infectou quase 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

Na terça-feira, Donald Trump tinha dito que “as vacinas es-

Futebol Liga chinesa arranca após bateria de testes negativos A Liga chinesa arranca no sábado, com cinco meses de atraso devido à pandemia da covid-19, depois de um protocolo em que todos os futebolistas foram testados, sem resultados positivos. Dos 1.870 testes efectuados ao futebol, entre jogadores e equipas técnicas, com

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quinta-feira 23.7.2020

PALAVRA DO DIA

o treinador português Vítor Pereira no Shanghai SIPG e o médio Daniel Carriço no Wuhan Zall, a Liga chinesa (CSL) informou que não existem casos positivos. Por razões sanitárias, o modelo da Liga será diferente, com as 16 equipas divididas em dois grupos, e com jogos

apenas em Dalian e em Suzhou, perto de Xangai. O Guangzhou Evergrande, equipa com mais títulos na Liga (oito), é o campeão em título, troféu que conquistou em 2019, sucedendo ao campeonato do Shanghai SIPG em 2018, com Vítor Pereira no comando técnico.

presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, manifestou-se ontem “satisfeito” com o acordo do Conselho Europeu para relançamento da economia europeia pós-crise da covid-19, mas insistiu em “melhorias” no orçamento da União Europeia (UE) a longo prazo. “Estamos muito satisfeitos pela visão que foi confirmada pelo Conselho Europeu para uma resposta partilhada à crise”, declarou David Sassoli, falando em conferência de imprensa em Bruxelas sobre o acordo alcançado na madrugada de terça-feira pelos chefes de Governo e de Estado da UE. Para o presidente da assembleia europeia, foi “bom” que os líderes europeus tenham abdicado de “ideias preconcebidas”, ao terem feito “cedências” durante as discussões, que duraram cinco dias e quatro noites, num total de mais de 90 horas. “Eles discutiram e chegaram a compromissos e a democracia é isto”, realçou David Sassoli, comparando esta cimeira com uma anterior, em Fevereiro passado, na qual “tudo parecia um tabu” no que toca às respostas económicas à crise. O Conselho Europeu aprovou na madrugada de terça-feira um acordo para retoma da economia comunitária pós-crise covid-19, num pacote total de 1,82 biliões de euros. Numa cimeira histórica, a segunda mais longa da União Europeia, foi aprovado um Quadro Financeiro Plurianual para 20212027 de 1,074 biliões de euros e um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões. Deste Fundo de Recuperação, 390 mil milhões de euros serão atribuídos em subvenções (transferências a fundo perdido) e os restantes 360 mil milhões em forma de empréstimo. Ao todo, Portugal vai arrecadar 45 mil milhões de euros em transferências nos próximos sete anos, montante no qual se incluem 15,3 mil milhões de euros em subvenções no âmbito do Fundo de Recuperação e 29,8 mil milhões de euros em subsídios do orçamento da UE a longo prazo 2021-2027.


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