Hoje Macau 24 NOV 2020 #4677

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 24 DE NOVEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4657 MING PAO

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

hojemacau

Santos da casa

Rita Santos é a nova vice-presidente da “Favoriser Les Échanges Culturels Entre La France Et La Chine”. Com sede em Paris, a ONG ligada à ONU dedica-se à promoção de trocas culturais e económicas entre a França e a China. Para Rita

CRIME

FACADAS EM HONG KONG GRANDE PLANO

COVID-19

Licença para entrar? PÁGINA 5

ISTOCK

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ANOS

Santos, a surpreendente nomeação teve a ver com o trabalho desenvolvido no Fórum Macau. “Disseram que apreciam muito o trabalho que fiz nos últimos 30 anos e que precisavam de mim para utilizar Macau como plataforma”.

OPINIÃO

TELE-TRABALHO DAVID CHAN

IPM | PORTUGUÊS

Festejar a língua

KONSTANTIN BESSMERTNY

PÁGINA 4

PÁGINA 7

NUNCA VEMOS PAULO JOSÉ MIRANDA

CINZAS

AMÉLIA VIEIRA

h

CONCERTO PARA VIOLINO PUB

MICHEL REIS

CLUBE MILITAR | INJECÇÃO ARTÍSTICA EVENTOS


2 grande plano

24.11.2020 terça-feira

Tido como homem próximo de Jack Ma, Chin Fong Loi foi atacado à facada a 14 de Novembro, em Hong Kong. Agora oferece uma recompensa de 10 milhões de dólares para levar os agressores à justiça e conta com o apoio Wan Kuok Koi e Charles Heung, amigos e ex-parceiros de negócios em Macau

WAN KUOK KOI E CHARLES HEUNG APOIAM RECOMPENSA DE 10 MILHÕES POR CRIMINOSOS QUE

W

AN Kuok Koi e Charles Heung estão a apoiar uma recompensa de 10 milhões de dólares de Hong Kong para encontrar os agressores do empresário Chin Fong Loi. A informação sobre o ataque e a recompensa foi avançada pelos media de Hong Kong e pelas redes sociais, sobretudo nas versões em chinês, e o objectivo é levar os criminosos à justiça. O caso terá começado com um ataque à faca ao empresário Chin Fong Loi, natural de Ningbo, com ligações a Macau e ao empresário Jack Ma, de quem é tido como homem de confiança, principalmente no que diz respeito a participações no Grupo Alibaba e da empresa Ant. O ataque aconteceu na madrugada do dia 14 deste mês, quando o empresário estava a sair de um clube nocturno, o Dinasty Club, na zona de Wan Chai. Apesar do lugar ser considerado de alta segurança, uma vez que é frequentado por altos membros do governo, nada impediu que Chin Fong Loi fosse agredido por três indivíduos com facas. A investida aconteceu quando Chin, também conhecido como “Com Muito Dinheiro”, em cantonense Chin Tô Tô, se preparava para entrar numa carrinha de sete lugares. Nesse momento, é possível ver pelas imagens de CCTV que circularam nas redes sociais do continente, três homens a aproximarem-se a desferirem golpes com facas.

TRÊS SEGUNDOS, MUITO SANGUE

As agressões duraram pouco mais de três segundos, mas foram suficientes para levarem Chin para o hospital, com ferimentos numa anca. Um dos assistentes do empresário também terá ficado ferido, neste caso com maior gravidade. Os motivos por trás das agressões a Chin Tô Tô não são conhecidas publicamente, mas podem estar relacionados com a entrada

A BOLSA MING PAO

CRIME

Chin To To e o assistente no Hospital

na bolsa do Grupo Ant, que foi bloqueada pelo Governo Central e resultou em avultadas perdas para vários investidores. O empresário

É por volta de 2006 que Chin Fong Loi surge em Macau como milionário e começa a dedicar-se à promoção do jogo, principalmente com a reserva de salas altamente exclusivas

Jack Ma e Chin To To

é amigo do fundador do grupo Alibaba, com quem foi visto várias vezes em público e que se crê ser um dos anteriores accionistas, ainda que de forma indirecta, através de outras empresas. Também estas ligações fazem de Chin uma figura mediática entre o mundo dos negócios no continente, o que explica que nas horas seguintes ao ataque tenham sido colocadas a circular imagens de CCTV nas redes sociais.

CAÇA AO HOMEM

Como reacção às agressões, Chin Tô Tô publicou um comentário

nas redes sociais a prometendo pagar 10 milhões de dólares de Hong Kong por informações que levassem à identificação dos agressores, para serem levadas à polícia e à justiça. Entre as informações consideradas valiosas constavam a matrícula do carro, dados sobre a faca utilizada e os envolvidos. O Apple Daily entrou em contacto com o representante legal de Chin para perceber se já tinham sido recebidas informações, mas o assunto foi remetido para o atacado. Por sua vez, Chin não respondeu aos contactos da publicação de Hong Kong.


grande plano 3

terça-feira 24.11.2020

ATACARAM AMIGO DE JACK MA

A OU A VIDA Fong, que vendeu, em 2017, a Chan Meng Kam, através da empresa China Star Entertainment. Charles Heung é filho de Heung Chin, um dos homens tido como um dos fundadores da tríade Sun Yee On, em 1918. Além disso, o irmão mais velho de Charles, com o nome Heung Wah Yim, foi considerado pelos tribunais de Hong Kong, em 1988, como o principal cabecilha desta mesma tríade. A decisão seria posteriormente revogada devido a uma tecnicidade, que não colocou em causa o conteúdo da decisão.

AMIZADE DE MACAU No entanto, a recompensa contou com o apoio de duas personalidades de Macau, com ligações ao mundo da promoção do jogo e alegadamente da criminalidade organizada. Segundo a imprensa, Wan Kuok Koi, também conhecido como Pang Nga Koi, que significa Dente Partido, em cantonês, ofereceu-se para pagar parte da recompensa. Wan foi durante anos o homem forte da tríade 14 quilates em Macau. A outra personalidade envolvida e que terá apoiado a recompensa é Charles Heung Wah Keung, ex-proprietário do Hotel Lan Kwai

Segundo a imprensa, as posições de Wan Kuok Koi e Charles Heung a Chin Tô Tô são compreensíveis por duas razões: primeiro, porque procuram distanciar-se de uma eventual ligação aos ataques; em segundo lugar, os dois homens que actualmente são empresários estão ligados por laços de amizade a Chin, devido ao velhos tempos de Macau. Natural de Ningbo, na província de Zhejiang, Chin Tô Tô terá nascido pobre e antes de ainda ser conhecido nos meios da promoção de jogo de Macau, terá tido como actividades profissionais a venda de gelados, melancias, e posteriormente, a

entrada no sector da decoração e do imobiliário. É por volta de 2006 que Chin Fong Loi surge em Macau como milionário e começa a dedicar-se

Com a posição de apoio à recompensa Wan Kuok Koi e Charles Heung procuram distanciar-se de qualquer ligação aos ataques da madrugada de 14 de Novembro

à promoção do jogo, principalmente com a reserva de salas altamente exclusivas para servir clientes influentes e muito ricos do continente. Terá sido devido a estas ligações, e apesar de Wan estar preso, que os dois terão desenvolvido uma relação de parceiros de negócios e de amizade. Quanto a Charles Heung, o cruzamento com Chin terá acontecido devido ao facto de ambos frequentarem meios próximos do multimilionário Jack Ma, de quem Chin foi companheiro de escola. Diz-se também que o seu súbito enriquecimento se deve a essa amizade, baseada em grande confiança.

que fosse a entrada na bolsa mais valiosa de sempre e que ia gerar 34 mil milhões de dólares norte-americanos ao grupo. Contudo, a principal hipótese prende-se com motivações financeiras. Homemd e confiança de Jack Ma, Chin Tô Tô terá prometido ganhos a vários investidores, que se endividaram para comprar os títulos do Grupo Ant, numa operação comum e denominada “margin”, em inglês. Estas pessoas esperavam comprar acções e vendê-las depois com ganhos avultados. Antes da entrada em bolsa, previa-se que as acções da Ant poderiam disparar rapidamente, fazendo com que o grupo chegam a um valor total de 310 mil milhões de dólares americanos.

Apesar da promessa de Jack Ma de compensar os investidores mais afectados, o ataque a Chin Tô Tô poderá ter sido uma forma para pressionar o milionário

UMA FORMIGA SEM BOLSA

Charles Heung

Apesar dos motivos do ataque não serem públicos, os meios de comunicação social que relataram o caso avançaram com várias hipóteses. Uma das explicações seria o facto de alguém pretender enviar um aviso a Jack Ma, após o empresário ter saído das boas graças de Pequim, devido às críticas que fez sobre regulação do sector financeiro no Interior. Terá sido esta a razão que levou o Governo Central a bloquear a entrada na Bolsa de Hong Kong e Xangai da empresa de créditos Ant. O bloqueio aconteceu um dia antes da operação que se esperava

No entanto, a acção do Governo Central fez com que estes investidores perdessem uma parte muito significativa do investimento. E, apesar da promessa de Jack Ma de compensar os investidores mais afectados, o ataque a Chin Tô Tô poderá ter sido uma forma para pressionar aquele que é um dos homens mais ricos da China. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


4 política

24.11.2020 terça-feira

EMPREGO PEDIDOS MAIS RESIDENTES EM QUADROS SUPERIORES

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S deputados Sulu Sou e Ng Kuok Cheong querem que o Governo implemente mecanismos de controlo sobre o acesso de trabalhadores não residentes (TNR) a cargos médios e superiores em sectores afectados pela pandemia, como o jogo, turismo, hotelaria e retalho. Os pedidos foram enviados sob a forma de interpelações escritas. Recordando que, desde o final do ano passado e até Maio de 2020, a percentagem de residentes que ocupam cargos médios e superiores nas empresas ligadas ao sector do jogo caíram de 88 por cento para 87,7 por cento, Ng Kuok Cheong defende que o Governo aumente a quota destinada aos residentes para os 90 por cento.

Em sentido contrário, o deputado sugere que a proporção de TNR que ocupam cargos superiores no sector do jogo seja reduzida para um novo máximo de 25 por cento. Isto porque, segundo Ng Kuok Cheong, se em 2011 esta proporção era de 20 por cento, em Agosto de 2020 já tinha sido aumentada para 28,8 por cento. Por seu turno, Sulu Sou perguntou ao Governo se já tem plano para lidar com o expectável aumento de despedimentos e encerramentos no início do próximo ano, tendo em conta que chegará ao fim o prazo de seis meses em que os beneficiários dos planos de apoio do Governo estiveram obrigados a não despedir ou fechar portas. N.W. PUB

Edital ( 36/FGCL/2020 ) Nos dos pedidos: 125/2020, 126/2020, 127/2020, 129/2020, 130/2020, 131/2020, 132/2020, 133/2020, 134/2020, 135/2020, 136/2020, 137/2020, 146/2020, 147/2020, 148/2020

Nos termos da alínea 1) do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos pedidos acima referidos, “COMPANHIA ICON LIMITADA”, com sede na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, nº181-187, Centro Comercial Do Grupo Brilhantismo, 21 Andar, Macau, o seguinte: Relativamente aos 15 ex-trabalhadores (Li,Changying, Zhang,Jinhua, Rong,Jiannan, Li,Jiancong, Li,Guoyou, Li,Jianqing, Li,Jianxiong, He,Jinghui, Zhang,Guosong, Li,Surong, Zhen,Qixiang, Wang,Yuexia, Lin,Guangyong, Rong,Jihe e Chen,Zuoniu), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 18 Novembro de 2020, deliberou, nos termos do artigo 6.º da Lei n.º 10/2015(Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa aos ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $1 007 335,40(Um milhão e sete mil e trezentas e trinta e cinco patacas e quarenta avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos àquelas ex-trabalhadoras, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 20 Novembro de 2020 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

Rita Santos “Vamos ver como podemos incentivar os jovens de Macau no intercâmbio económico e cultural com o Interior da China e com os países da ONU.”

ONU RITA SANTOS VICE-PRESIDENTE DE ONG SEDIADA EM FRANÇA

À boleia do Fórum Rita Santos é a nova vice-presidente da ONG “Favoriser Les Échanges Culturels entre La France et La Chine”, sediada em França e presidida por Bernard Sok. Esta entidade está ligada ao Conselho Económico e Social do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da Organização das Nações Unidas. Ao lado de Rita Santos vão trabalhar outras personalidades de Macau, como Ting Sio Hong, Ng Man Ho e Wong Yuk Sze

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UANDO recebeu o telefonema de Bernard Sok, presidente da ONG francesa “Favoriser Les Échanges Culturels entre la France et la Chine” [Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China], ligada ao Conselho Económico e Social do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), Rita Santos não queria acreditar, pois acabara de ser nomeada para a vice-presidência dessa ONG. Ao HM, a responsável, que é membro da direcção da Associação dos Trabalhadores

da Função Pública de Macau (ATFPM), e ex-secretária-geral adjunta do Fórum Macau, disse que nunca conheceu pessoalmente Bernard Sok, mas que, quando foi contactada, este tinha muitas informações sobre o seu percurso profissional. “Estranhei quando me contactaram. Tentaram saber mais sobre mim, mas não sei que canais utilizaram. Disseram-me que conheciam o meu currículo, que eu estava sempre disposta a ajudar as pessoas e que queriam contar com o meu apoio”, disse. Foram também nomeados Ting Sio Hong para o cargo de secretário-geral da ONG,

alguém “com uma vasta experiência, pois trabalhou no banco Tai Fung e é auditor, pelo que pode dar apoio na nossa área de controlo financeiro”. Ng Man Ho foi escolhido para secretário-geral adjunto, enquanto que Wong Yuk Sze será directora-executiva. Rita Santos não tem dúvidas de que o trabalho que desenvolveu no Fórum Macau foi importante para esta escolha. “Esta nomeação está mais ligada ao Fórum Macau e às acções sociais de apoio. Disseram-me que apreciam muito o trabalho que fiz nos últimos 30 anos. Sabem até que estou aposentada e que continuo a ser activa. Dis-

seram que precisavam de mim para utilizar Macau como plataforma.”

INCENTIVAR OS JOVENS

O primeiro acto de Rita Santos com estas novas funções aconteceu no passado dia 18 com a assinatura de um protocolo entre a ONG e uma câmara de comércio de Guangdong [Guangdong Chamber of Commerce of Importers and Exporters]. A agenda de trabalhos passa por incentivar o intercâmbio de jovens e empresários, bem como ajudar outras ONG ou associações, sobretudo no que diz respeito à pandemia da covid-19. “Vamos ver como podemos incentivar os

jovens de Macau no intercâmbio económico e cultural com o Interior da China e com os países da ONU. No próximo ano vamos organizar um grupo de jovens para visitar a ONU, alguns países da Europa e o Japão, para vermos quais as oportunidades que eles podem ter em termos de parcerias para a integração no Delta do Rio das Pérolas e na Grande Baía.” Relativamente a Macau, Rita Santos promete analisar “quais as organizações mais necessitadas que estão a apoiar os pobres”. Para 2021, Rita Santos espera ter “muitos encontros com o Interior da China”, uma vez que “há muitas câmaras de comércio e importantes organizações de empresários que querem assinar protocolo connosco e com o departamento [da ONU]”, frisou. O Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China foi instituído pelo falecido Presidente francês Jacques Chirac em 1979, e desde esse ano que é presidido por Bernard Sok. O HM contactou o Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da ONU, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ADMINISTRAÇÃO REORGANIZAÇÃO PASSA POR LEIS MAIS ESPECÍFICAS

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Governo considera necessário definir “leis e diplomas mais específicos”, capazes de clarificar as responsabilidades e os procedimentos de trabalho, por parte dos serviços da Administração Pública. A informação foi avançada pelo director dos Serviços de Ad-

ministração e Função Pública (SAFP), Kou Peng Kuan, em resposta a uma interpelação escrita enviada por Agnes Lam. De acordo com Kou Peng Kuan, estando já definidos os princípios que irão pautar a reforma administrativa, a reorganização “dos primeiros serviços” pas-

sa pela clarificação de funções, demarcação das competências e responsabilidades, simplificação e maior eficiência. Por escrito, o director dos SAFP diz ainda que a segunda fase da reorganização irá focar-se na reorganização das funções e diplomas legais das

entidades gestoras de fundos públicos. Sobre o mecanismo de “cooperação interdepartamental”, o Governo irá debruçar-se em serviços que “há muito têm importunado a população”, como obras nas vias públicas e infiltrações de água em edifícios. P.A.


sociedade 5

terça-feira 24.11.2020

ALIMENTAÇÃO SS AFASTAM LEGISLAÇÃO SOBRE COMIDA VEGETARIANA

O

director dos Serviços de Saúde (SS) considera que a alimentação vegetariana não satisfaz as necessidades nutricionais do corpo e afasta a possibilidade de se criar legislação sobre este tipo de comida. “Nesta fase, os Serviços de Saúde continuarão a promover conhecimentos básicos em nutrição com vista a alcançar uma vida saudável e uma alimentação equilibrada,

portanto, neste momento, não será considerada a promoção de uma cultura vegetariana, de legislação ou elaboração das orientações pertinentes”, respondeu Lei Chin Ion a uma interpelação escrita de Agnes Lam. A deputada tinha submetido uma interpelação em que indicava ter recebido muitos pedidos de residentes que solicitavam que o Governo

tomasse como referência a lei sobre vegetarianismo aprovada em Portugal em 2017. Além disso, observou que uma associação de vegetarianos recolheu duas mil assinaturas e apresentou uma petição ao Governo a pedir que se dê mais importância à produção legislativa sobre o tema. Agnes Lam apelou assim a que se crie em Macau legislação a prever o forne-

cimento de pelo menos um prato vegetariano em cantinas e restaurantes de serviços e instituições públicas. Em resposta, Lei Chin Ion descreve que existem poucos tipos de alimentos vegetarianos e que “na ingestão de apenas comida vegetariana os nutrientes não serão suficientemente abrangentes nem poderão satisfazer as necessidades nutricionais do corpo”. S.F.

COVID-19 MAIS DE 70 ESTRANGEIROS PEDEM PARA ENTRAR EM MACAU

O levantar da cancela

Os Serviços de Saúde receberam 76 pedidos de entrada em Macau de estrangeiros do Interior da China, alegando motivos de reunião familiar e de estudos. Quanto à compra de vacinas, Alvis Lo Iek Long disse que há dever de sigilo

O

S Serviços de Saúde receberam pedidos para a entrada de 76 pessoas estrangeiras em Macau, ao abrigo da nova medida de isenção de restrições fronteiriças em casos excepcionais. Os pedidos estão ainda a ser analisados. De acordo com Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, “são 60 casos no total e envolvem 76 pessoas”. Os pedidos abrangem 21 indivíduos que são cônjuges de residentes ou seus filhos, 44 familiares de portadores de ‘bluecard’ e 11 com título para estudar em Macau. “São pessoas estrangeiras mas já permaneceram muito tempo no Interior da China”, descreveu. Há cerca de duas semanas foi anunciado que a partir de Dezembro os estrangeiros que tenham estado no Interior da China nos 14 dias antes de entrarem em Macau podem entrar no território. A medida implica uma aprovação prévia do Governo que é cedida em situações excepcionais, como reunião familiar, actividades profissionais ou educacionais. Recentemente, o cônsul-geral de Portugal em Macau disse que esta medida é uma oportunidade para o regresso de portugueses não residentes da RAEM que ficaram retidos no estrangeiro, informando os cidadãos para contactarem

Iek Long reiterou que a medida é para quem já estava na China “mas tem necessidade de vir para Macau”. “Não devemos incentivar as pessoas a irem à China fazer quarentena, e se [estiverem] sãs e salvas, virem para Macau”, descreveu.

CLASSE SANDUÍCHE MAIS DE 90% APOIA GOVERNO

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E acordo com os resultados preliminares da consulta pública sobre o plano de habitação da classe sanduíche, mais de 90 por cento dos residentes mostraram ser a favor ou não se opuseram à sua implementação. A informação foi avançada ontem pelo director substituto dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, Ung Hoi Ian no programa Fórum Macau, do canal chinês da TDM – Rádio Macau. Segundo o mesmo responsável, apenas 4,5 por cento

dos residentes mostraram estar contra a medida. Sobre a definição dos destinatários do programa, Ung Hoi Ian avançou que 50 por cento dos residentes são da opinião de que o termo “classe sanduíche” deve ser aplicado à população que não tem, nem capacidade para adquirir habitação no mercado privado, nem se pode candidatar ao plano de habitação económica. O programa de habitação da classe sanduíche está em consulta pública até dia 11 de Dezembro.

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REGRAS COMERCIAIS

as embaixadas da República Popular da China no país em que se encontram. Note-se que continuam em vigor restrições para a entrada de estrangeiros na China, à excepção de, por exemplo, quem tem autoriza-

ção de residência no país por motivos de trabalho. Questionado se já foram contactados por pessoas que não estão na China, mas querem regressar a Macau fazendo quarentena lá, o médico Alvis Lo

TESTES OBRIGATÓRIOS

O

s participantes na Maratona Internacional de Macau vão ter de fazer teste de ácido nucleico, anunciou ontem a coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença. Leong Iek Hou explicou que todos os participantes em actividades ou espectáculos desportivos têm de fazer o despiste do

novo tipo de coronavírus antes dos eventos. A Maratona Internacional realiza-se no dia 6 de Dezembro, e todas as vagas foram preenchidas: estão previstos 12 mil participantes. Uma vez que existe uma capacidade diária de 30 mil testes, Leong Iek Hou defendeu que há “tempo suficiente para a realização dos testes”.

Alvis Lo Iek Long reiterou que o Governo está atento à questão das vacinas. “Através de diferentes meios tentamos adquirir vacinas do Interior da China e também do mercado externo”, disse, frisando que “por enquanto ainda não sabemos qual é a melhor vacina”. O médico indicou que só depois do último relatório dos testes dos fabricantes é que será decidido qual a vacina a adquirir. “De acordo com as regras comerciais temos de cumprir este dever de sigilo”, acrescentou, apontando que a compra será feita quando os produtos estiverem preparados. Foi ontem anunciado o arranque de uma nova ronda de fornecimento de máscaras no sábado, que se mantém até dia 27 de Dezembro. O preço permanece nas 24 patacas por 30 máscaras. Alvis Lo Iek Long indicou que desde a primeira ronda foram vendidas 160 milhões de máscaras. O médico comentou que a procura diminui, apontando como possibilidade os cidadãos terem outros meios para a sua compra. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

Edital ( 37/FGCL/2020 ) Nos dos pedidos: 123/2020, 128/2020

Nos termos da alínea 1) do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos pedidos acima referidos, “NÚMERO 89 SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA”, com sede na Calçada do Amparo, nº6, Fu Hong Un, LOJA A, R/C, Macau, o seguinte: Relativamente aos 2 ex-trabalhadores (Un Lok Kuan e Chao Chi Hong), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 18 Novembro de 2020, deliberou, nos termos do artigo 6.º da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa aos ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $79 732,80(Setenta e nove mil e setecentas e trinta e duas patacas e oitenta avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos àquelas ex-trabalhadoras, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 20 de Novembro de 2020 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong


6 sociedade

24.11.2020 terça-feira

BULLYING MENORES INTERROGADOS PELA PJ

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Polícia Judiciária revelou ontem que investigou quatro jovens com idade entre os 14 e 15 anos, devido à prática de bullying. Segundo um comunicado, o caso começou em 14 de Outubro, quando um dos estudantes terá fotografado, sem autorização, uma jovem. A imagem terá sido partilhada em grupos de conversações e usada para fazer “piadas “sobre o aspecto da estudante. Como o gozo com a fotografia nunca mais chegava ao fim, a aluna apresentou queixa a um professor, que utilizou o mecanismo de comunicação das escolas com a polícia para instaurar um processo. Perante a queixa, a PJ interrogou os quatro alunos envolvidos e todos confessaram

ter partilhado as fotografias e utilizado os materiais digitais, por se sentirem “aborrecidos”. Contudo, e ao contrário do que acusou a estudante alvo de bullying, os quatro rapazes recusaram que a fotografia tivesse sido tirada sem consentimento da aluna. Mesmo assim, a PJ entendeu que os alunos tinham cometido o crime de “devassa da vida privada”, punível com pena de prisão que pode chegar aos dois anos, e, apesar destes não terem idade para serem acusados, reencaminhou a queixa para o Ministério Público. O objectivo será agora apurar a origem das fotografias. No comunicado de ontem, a PJ apelou aos alunos para não fazerem bullying.

GPDP MULTAS POR TELEMARKETING SUPERAM 12 MILHÕES

Pôr pimenta na língua O Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais aplicou multas superiores a 12 milhões de patacas nos onze primeiros meses do ano. O organismo censurou publicamente duas empresas envolvidas em telemarketing e alertou contra promoções comerciais ilegais de fracções

VENDA DE FRACÇÕES

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Edital (38/FGCL/2020) Nos dos pedidos: 8/2016, 27/2016, 34/2016, 35/2016, 36/2016, 40/2016

Nos termos da alínea 1) do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos pedidos acima referidos, “KUAN HONG KUAI – Proprietário de U POU”, com sede na Rua de Nossa Senhora do Amparo, nº12, R/C, em Macau, o seguinte: Relativamente aos 6 ex-trabalhadores (Leong Sio Hou, Ho Chan Loi, Chong Iat Io, Chan Se Iao, Cheong Kuok Ieong e Fong Cheong Sio), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 18 Novembro de 2020, deliberou, nos termos do artigo 6.º da Lei n.º 10/2015(Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos em causa aos ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $627 250,00(Seiscentos e vinte e sete mil e duzentas e cinquenta patacas). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos àquelas ex-trabalhadoras, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 20 de Novembro de 2020 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

de dados pessoais. Infracções administrativas da mesma natureza motivaram sanções na ordem de 681 mil patacas à Best Allied International, que abrangeram oito processos. O gabinete liderado por Yang Chongwei alertou ainda que dados pessoais que as empresas obtenham de forma ilegal devem ser apagados e destruídos no prazo de 15 dias, sob pena de incorrerem no crime de desobediência qualificada.

A HSL esteve envolvida em 28 processos de infracção administrativa, cujas multas ascenderam a 3,24 milhões de patacas.

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STATÍSTICAS preliminares mostram que até Novembro o valor total das multas aplicadas devido a actividades ilegais de telemarketing foi superior a 12 milhões de patacas. A informação foi divulgada pelo Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), que acrescentou que “alguns casos encontram-se

ainda em investigação, não se excluindo a possibilidade de serem posteriormente aplicadas sanções”. Em anúncios publicados, o GPDP emitiu censuras públicas a duas empresas em Hong Kong: a HSL Mangement Consultants Limited e a Best Allied International Limited. O GPDP aplicou às duas empresas uma pena assessória de proibição de

Agressão Grávida insultada e ameaçada ao entrar em autocarro Uma grávida foi insultada e ameaçada fisicamente enquanto esperava na fila para entrar no autocarro 25B, após ter protestado com o facto de dois indivíduos não terem respeitado a ordem de entrada no veículo. De acordo com uma denúncia da própria vítima, partilhada em vários grupos do Facebook, após pedir aos dois homens para respeitarem a ordem

da fila, estes terão respondido que “se estivéssemos no Interior da China já tinha levado um pontapé na barriga”. Segundo a mesma publicação, o motorista do autocarro que se encontrava na paragem do posto fronteiriço de Hengqin, chamou a polícia, que acabou apenas por apelar à calma entre as duas partes. Após o incidente, a vítima terá apresentado queixa à polícia.

tratamento de dados, bem como o seu bloqueio ou destruição. A HSL Mangement Consultants esteve envolvida em 28 processos de infracção administrativa, cujas multas ascenderam a 3,24 milhões de patacas. As sanções resultaram de telemarketing a promover artigos e serviços de beleza que violaram as condições de legitimidade para tratamento

Em comunicado, o GPDP indica que há diferentes sectores a recorrer a práticas ilegais para promoções comerciais por via telefónica. Note-se que um anúncio assinado pelo coordenador do GPDP, Yang Chongwei, aponta que o organismo fez uma investigação preliminar sobre chamadas relativas à venda de fracções autónomas de edifícios, explicando que o número de telemóvel é considerado um dado pessoal cuja utilização para marketing implica o consentimento explícito do titular dos dados. O GPDP apela aos “agentes e instituições da promoção de venda de imóveis para que façam negócios de acordo com a lei”, cumpram a Lei da Protecção de Dados Pessoais e “suspendam imediatamente as actividades de telemarketing sem condições de legitimidade”. Yang Chongwei deixou ainda outro alerta: quem não notificar o GPDP sobre o uso de dados pessoais para fins promocionais pode ser punido com pena de prisão até um ano ou multa até 120 dias. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

TUI Wong Sio Chak soma vitória nos tribunais O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, está mais perto de aplicar a pena de suspensão a um agente dos Serviços Correccionais que deixou o posto de vigia, em Junho de 2010. Após processo disciplinar instaurado em 2011, Wong, que assumiu funções de secretário em 2014, decidiu suspender o agente por 90 dias, já em 2016. No entanto, o agente recorreu para o tribunal e a punição foi declarada ilegal, devido à alegada prescrição de um prazo. No entanto, o secretário, segundo o comunicado

dos tribunais, decidiu levar o caso da suspensão do agente para o Tribunal de Última Instância (TUI), onde acabou por ver parte dos seus intentos realizados. De acordo com o TUI, o ETAPM regula completamente os prazos de prescrições para os processos disciplinares, pelo que o TSI errou ao chegar a uma decisão com base não só no ETAPM, mas também no Código Penal. Por este motivo, o TUI enviou de novo o caso para o TSI que agora vai analisar todos os outros argumentos da defesa do agente, antes de decidir.


sociedade 7

terça-feira 24.11.2020

Estacionamentos Poupanças de 140 milhões de patacas

O Governo conseguiu poupar 140 milhões de patacas com a concessão a entidades privadas dos parques de estacionamento, de acordo com a informação divulgada ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). Segundo os dados apresentados, os parques geraram receitas de 200 milhões de patacas, com os contratos de concessão, e ainda uma poupança de 140 milhões com despesas correntes com a gestão dos lugares de estacionamento. Desde 2017 que a DSAT entregou a privados a gestão de 38 parques de estacionamento públicos. Até Novembro tinham sido realizadas 800 inspecções aos locais por parte da DSAT, que resultaram em 46 processos e 810 mil patacas em multas.

Zhang Yunfeng, professor “Há cada vez mais alunos, mais professores, mais manuais, e o português da China também está a atrair cada vez mais a atenção do mundo”

IPM MACAU COMEMORA 60 ANOS DE ENSINO DE PORTUGUÊS NA CHINA

Horizontes alargados

O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM organiza até 3 de Dezembro o congresso “Português na China: seis décadas no Ensino Superior”. Segundo Zhang Yunfeng, responsável pelo evento, a língua portuguesa está “de boa saúde” e a procura de cursos está a crescer

O

ensino universitário de português na China começou em 1960, em Pequim, e seis décadas depois está “de boa saúde”, sendo ensinado em 50 instituições, disse à agência Lusa o responsável pelo congresso “Português na China: seis décadas no Ensino Superior”, organizado para assinalar a efeméride. O congresso é organizado pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e decorre até ao próximo dia 3 de Dezembro, incluindo uma série de quatro mesas-redondas sobre temas “de reconhecida relevância para o universo da difusão da lusofonia em território chinês”, segundo um comunicado do IPM. Para o professor Zhang Yunfeng, coordenador do CPCLP, o interesse pelo português, não só não diminuiu desde a devolução de Macau à China, em 1999, como registou mesmo um crescimento “enorme” nos últimos anos.

Segundo o professor, no ano 2000 havia apenas “três instituições de ensino superior” a ensinar português na China continental, apontando que “muitos cursos foram criados em anos recentes”, desde 2010. “Há cada vez mais alunos, mais professores, mais manuais, e o português da China também está a atrair cada vez mais a atenção do mundo”, garantiu Zhang, recordando o lançamento, no ano passado, da “primeira revista académica na área do português na Ásia, ‘Orientes de Português’”, criada pelo CPCLP, em colaboração com a Universidade do Porto. “O português está de boa saúde e está mesmo a crescer em vez de descer, não apenas nas actividades pedagógicas, mas também nas actividades científicas”, sublinhou. Natural do Interior da China, o professor, que trabalha há seis anos em Macau, depois de dar aulas em Pequim, fala fluentemente português, e é ele próprio um produto do sistema

de ensino universitário da língua portuguesa no país. Hoje em dia, a procura de cursos de português na China “é grande”, e a razão, garantiu, é “simples”: “Há mercado”. “Neste momento, há muitas colaborações entre a China e os países de língua portuguesa, a vários níveis: economia, comercial, educação e cultura. Por isso, muitas universidades e instituições de ensino superior na China abriram cursos de português, e os alunos também querem conhecer melhor o mundo lusófono, a língua e a cultura”, afirmou. Para estes alunos, há muitas saídas profissionais, nomeadamente “em empresas chinesas que tenham uma grande colaboração com os países de língua portuguesa”.

OPORTUNIDADES E DESAFIOS

O IPM tem várias licenciaturas dedicadas ao português, tanto na área da formação de professores, como na tradução e interpretação de português-chinês.

Para Zhang, que adoptou o nome português Gaspar, um dos desafios actuais do ensino da língua portuguesa é a diversificação dos manuais e materiais pedagógicos. A formação de professores na China é outro dos desafios. “Já produzimos manuais de fonética, fonologia, léxico, vocabulário, gramática, história e literatura, mas há sempre áreas em que há lacunas. Muitos chineses que ensinam português na China são muito jovens, ainda estão a fazer mestrado e doutoramento, mas daqui a cinco ou dez anos o número de professores doutorados vai aumentar muito”, antecipou. O congresso, que se realiza de forma virtual, conta com 12 oradores de instituições de ensino superior da China, Portugal, Estados Unidos e Brasil e arrancou ontem com uma mesa-redonda sobre intercâmbios universitários, havendo mais três conferências agendadas.

BANCA REGISTADA QUEBRA NA PROCURA DE TRABALHADORES

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ADOS da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que houve uma quebra na procura de trabalhadores no sector bancário relativamente ao terceiro trimestre. Isto porque a taxa de recrutamento de trabalhadores foi de 4,4 por cento, uma quebra de 2,4 por cento face a igual período de 2019. A taxa de rotatividade dos trabalhadores foi de três por cento, uma quebra de dois por cento face ao ano passado, enquanto que a taxa de vagas foi de 3,4 por cento, menos 1,1 por cento. A DSEC conclui, perante estes números, que se regista “uma descida da procura de mão-de-obra no sector bancário durante o trimestre em análise”. Relativamente a despedimentos, foram demitidos 210 funcionários bancários no terceiro trimestre deste ano, tendo sido recrutados 306. A DSEC dá ainda conta da existência de 249

vagas, menos 65 relativamente ao ano passado. “Destaca-se que 133 dessas vagas se destinavam a empregados administrativos, 29 das quais pertenciam a empregados de balcão”, lê-se num comunicado. Em termos gerais, o sector bancário contava, no terceiro trimestre, com mais 285 trabalhadores em relação ao terceiro trimestre do ano passado. No total, trabalham nesta área 7.003 trabalhadores. No final do terceiro trimestre deste ano havia 30 bancos em Macau, mais um face a igual período de 2019. Em relação aos salários, a remuneração média registada em Setembro, excluindo as participações nos lucros e prémios obtidos, foi de 29.740 patacas, um aumento de 0,7 por cento em termos anuais. Já a remuneração média dos empregados de balcão foi de 18.170 patacas, um aumento de 0,4 por cento.


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24.11.2020 terça-feira

O triunfo d EXPOSIÇÃO KONSTANTIN BESSMERTNY APRESENTA “INTERMISSÃO” NO CLUBE MILITAR

A mais recente mostra de Konstantin Bessmertny, “Intermissão”, está patente no Clube Militar de Macau até 29 de Novembro. Os 25 trabalhos, entre pinturas e instalações, são o resultado do exílio a que a pandemia obrigou. Entre trópicos coloridos de Henri Rousseau e festins mórbidos de Bruegel, a linguagem de Bessmertny é a vacina artística de que o mundo precisa

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NTERMISSÃO” é a mais recente exposição de Konstantin Bessmertny que se encontra patente no Clube Militar até domingo, 29 de Novembro. Poder-se-ia dizer que é o melhor sintoma da pandemia, num ano marcado pelo terror, a crise e o isolamento. “Intermissão” foi o resultado de um exílio provocado microbiologicamente, que afastou o artista russo do seu estúdio “principal” em Hong Kong. “Fiquei aqui preso. Tudo o que está exposto, foi feito aqui este ano, ou acabado este ano. Com excepção de dois trabalhos, que achei que encaixariam bem”, contou Konstantin Bessmertny ao HM. Uma dessas excepções é um conjunto de quadros que transferem

o exílio de Napoleão Bonaparte para a ilha tailandesa de Koh Samui. Partindo da familiaridade histórica rumo ao absurdo, o artista coloca o imperador francês num contexto tropical e balnear. “Como umas férias, com peste, que duram muito tempo. Foi também como me senti,

“Fiquei aqui preso. Tudo o que está exposto, foi feito aqui este ano, ou acabado este ano. Com excepção de dois trabalhos, que achei que encaixariam bem.” KONSTANTIN BESSMERTNY

como se a quarentena acontecesse no ambiente perfeito, com tempo para pensar bem sobre o que fizemos ao planeta e a nós próprios”, conta o artista. Esta série, composta por sete trabalhos, mostra Napoleão a observar o pôr-do-sol (com um violino a servir de tela), entre outras representações balneares do líder militar a espiar um retiro de ioga, uma mulher em topless ou mergulhado em luxuriante vegetação, numa aproximação estilística à linguagem do francês Henri Rousseau. Bessmertny serve-se do tropicalismo para conferir colorido numa mostra concebida num ano cinzento. “Tentei acrescentar algumas cores, alguma energia positiva aos quadros, como a evocação de uma terra sonhada”, refere ao HM.

Na série sobre o exílio de Napoleão, coroada com uma medalha por cumprir quarentena em Koh Samui, o artista explora a Era do culto das celebridades, algo que já vem de trabalhos anteriores.

MÚLTIPLAS LEITURAS

Apesar da primeira abordagem de leitura facilmente apreensível, de rasgo cómico e absurdo, também as obras de “Intermissão” revelam significados em série numa observação mais cuidada. Um deles é “The Other Mountain”, uma obra que enche a tela de luz e flores coloridas. No centro da narrativa está uma representação dos Alpes, com os Himalaias no fundo. “Através da meditação, tentei que este trabalho abrisse uma realidade totalmente diferente”.


terça-feira 24.11.2020

da vida

eventos 9

Fundação Rui Cunha EPM e Edifício Rainha D. Leonor discutidos hoje

Decorre hoje, a partir das 17h45, o 5º Seminário da Docomomo Macau na Fundação Rui Cunha, onde serão apresentados relatórios sobre a Escola Portuguesa de Macau e o edifício Rainha D. Leonor, situado na avenida Infante D. Henrique. Além disso, o seminário, com o tema “How to Extend Life of Buildings?” conta com a presença dos oradores Sheridan Burke, membro honorário do ICOMOS [International Council of Monuments and Sites, da UNESCO] Austrália e Imon Sharif, presidente do ICOMOS no Bangladesh. O debate será moderado por Ricky Leong, urbanista.

Cinema IC aceita candidaturas para formação de realizadores

A expressão criativa de Bessmertny usa frequentemente referências, ou citações, de outros artistas, slogans revolucionários e imagens familiares. “Intermissão” tem uma abordagem ao clássico “O Triunfo da Morte”, de Pieter Bruegel. “Comecei esse trabalho bem antes do vírus, mas no início deste ano tudo surgiu de repente e continuei o quadro”, explica. O ponto de partida foi “um dos quadros mais horríveis produzidos pela arte ocidental nos últimos 2000 anos. É algo difícil de aceitar, sente-se a presença da morte, é deprimente, como uma parada mórbida”, conta o artista, acrescentado que tentou dar outra perspectiva ao clássico de Bruegel. “O quadro chama-se ‘O Triunfo da Vida’, é uma narrativa completamente diferente. Não citei nada do

original, talvez uma ou duas figuras possam ter relação, mas mantive a composição”. Nas palavras de Konstantin Bessmertny, “O Triunfo da Vida” coloca duas partes em antagonismo, em choque frontal, algo que, para si, advém do dever de criar. “Acho que é a responsabilidade dos artistas responder às

“Procuro não me repetir, apesar de seguir a minha linha. Mas, este ano, acho que acrescentei uma outra coisa.” KONSTANTIN BESSMERTNY

mudanças dos tempos e pensar filosoficamente a arte, a cultura e a influência na sociedade. No mundo da arte, com a excepção da moda, as correntes não são lineares, mas circulares, num movimento entre arte e anti-arte. Neste momento, estamos num ciclo anti, não-arte. Todos são artistas, tudo é arte. Nestes trabalhos tentei não fazer uma abordagem vulgar, para destruir, mas com a intenção de ligar o velho e o novo, de encontrar conexões e trazer desenvolvimento”. Como noutras séries de trabalhos, “Intermissão” oferece a possibilidade de várias leituras. Por vezes, por trás de cores vivas e situações absurdas, existem verdades que cortam fundo, realidades negras ou pesadelos quiméricos. “Se nos aproximarmos, os deta-

lhes fazem-nos parar e pensar, às vezes vão contra aquilo que vimos primeiro e são mais conceptuais do que a superfície aparenta. Quanto mais profundo a pessoa analisar as imagens, formas e cores, espero poder conduzi-la a um labirinto, a descobrir coisas escondidas. Sempre fui assim. Procuro não me repetir, apesar de seguir a minha linha. Mas, este ano, acho que acrescentei uma outra coisa.” Essa outra coisa, sobressai das obras de Konstantin Bessmertny, que podem ser visitadas no Clube Militar de Macau, até ao próximo domingo. João Luz

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O Instituto Cultural (IC) está a aceitar candidaturas de residentes de Macau para 25 vagas do “curso de formação de realizadores de cinema de Guangdong, Hong Kong e Macau”, que decorre em Guangzhou entre os dias 14 e 16 de Dezembro. Esta iniciativa é organizada pela Administração do Cinema da Província de Guangdong e tem o apoio da Associação de Cineastas de Guangdong e da Associação da Indústria Cinematográfica de Guangdong. A formação vai estar a cargo de especialistas em cinema, professores argumentistas e realizadores de Pequim, Hong Kong e Guangzhou que vão ministrar palestras em mandarim, sem tradução para outro idioma. O curso, alojamento e refeições são gratuitas. Os candidatos aprovados serão responsáveis pelo transporte de e para Guangzhou. As candidaturas podem ser feitas até este sábado, dia 28 de Novembro.


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24.11.2020 terça-feira

ESPAÇO PREPARAÇÃO FINAL PARA RECOLHA DE MATERIAL LUNAR

Missão possível A China continua a dar passos em frente na conquista do espaço. Pela primeira vez, desde os anos 70, uma nave vai pousar na superfície lunar para recolher rochas e destroços que poderão vir a ser determinantes na compreensão do sistema solar

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ÉCNICOS chineses estiveram ontem a fazer os preparativos finais para uma missão que visa trazer de volta material da superfície lunar, no que seria um grande avanço para o programa espacial da China. A nave Chang'e 5 vai realizar a missão lunar mais ambiciosa do país asiático até à data e marca a primeira vez em quatro décadas que

um país tenta trazer rochas e destroços da Lua para a Terra. Isto poderia aumentar a compreensão humana sobre a Lua e o sistema solar em geral. Os quatro módulos da Chang'e 5 devem ser enviados para o espaço esta terça-feira, a bordo do foguete Longa Marcha-5, a partir do centro de lançamento de Wenchang, na província de Hainan, extremo sul da China, de acordo com PUB

HM • 2ª VEZ • 24-11-20

ANÚNCIO Processo de Execução Ordinária n.º

CV1-20-0057-CEO

1º Juízo Cível

EXEQUENTE: Banco Industrial e Comercial da China (Macau), S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. EXECUTADO: Chiang Kuan Meng, do sexo masculino, casado, de nacionalidade chinesa, titular do Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Macau, residente em Macau “美珊枝街4-6號美豐大廈2樓A”. *** FAZ-SE SABER que pelo Tribunal Judicial de Base da RAEM, correm éditos de TRINTA DIAS, contados a partir da segunda e última publicação do anúncio, citando o EXECUTADO acima identificado, para, no prazo de VINTE DIAS, findo o dos éditos, pagar a dívida exequenda ao exequente no montante de MOP$521.752,11 (Quinhentas e Vinte e Uma Mil, Setecentas e Cinquenta e Duas Patacas e Onze Avos,) juros e custas, ou nomear bens à penhora, ou, querendo, deduzir oposição à execução no mesmo prazo, sob pena de se considerar devolvido ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, tudo como melhor consta da petição inicial, cujo duplicado se encontra nesta secretaria à disposição do citando. Aos 18 de Novembro de 2020. O JUIZ

uma descrição da missão feita pela agência norte-americana NASA. A Administração Espacial da China disse apenas que o lançamento está programado para o final de Novembro. A principal tarefa da missão é perfurar dois metros abaixo da superfície da Lua e recolher cerca de dois quilogramas de rochas e outros detritos para serem trazidos de volta à Terra, de acordo com a NASA. Esta seria a primeira oportunidade que os cientistas teriam para estudar o material lunar, desde as missões norte-americana e russa das décadas de 1960 e 1970. A missão é "realmente desafiadora", mas a China já conseguiu pousar por duas vezes na Lua com as missões Chang'e 3 e Chang'e 4 e mostrou com um teste da Chang'e 5, realizado em 2014, que pode fazer com que a cápsula volte à Terra, entrando novamente na atmosfera e aterrando na superfície terrestre, disse Jonathan McDowell, astrónomo do Centro de Astrofísica da Harvard-Smithsonian. Agora só falta mostrar que pode recolher amostras e descolar novamente da lua, disse McDowell. "Estou bas-

“A China está a revelar-se capaz de desenvolver e executar com sucesso programas sustentados em alta tecnologia, importantes para aumentar a sua influência regional e realizar parcerias potencialmente globais.” JOAN JOHNSON-FREESE ESPECIALISTA EM ASSUNTOS DO ESPAÇO DO COLÉGIO DE GUERRA NAVAL DOS ESTADOS UNIDOS

tante optimista de que a China conseguirá fazê-lo", disse.

BOM EXEMPLO

O módulo da Chang'e 5 só pode permanecer na lua por um dia lunar, ou cerca de 14 dias terrestres, porque não tem as unidades de aquecimento de radioisótopos que a actual sonda lunar na China, a Chang'e 4, possui, para resistir às noites gélidas da lua. O módulo de pouso cavará em busca de materiais com uma broca e braço robótico.

Os materiais serão transferidos para um elevador. Os materiais serão então movidos para a cápsula de retorno, que regressará à Terra. A complexidade técnica do Chang'e 5, com os seus quatro componentes, torna-o "notável em muitos aspectos", disse Joan Johnson-Freese, especialista em assuntos do Espaço do Colégio de Guerra Naval dos Estados Unidos. Se for bem-sucedido, pode ser um projecto replicado para recolher amostras em Marte ou mesmo para

uma missão lunar tripulada, disse Johnson-Freese. "A China está a revelar-se capaz de desenvolver e executar com sucesso programas sustentados em alta tecnologia, importantes para aumentar a sua influência regional e realizar parcerias potencialmente globais", disse.Amissão, baptizada em homenagem à deusa chinesa da lua Chang'e, está entre as mais ousadas da China desde que colocou um homem no espaço, pela primeira vez, em 2003, tornando-se a terceira nação a fazê-lo, depois dos EUA e da Rússia. Embora muitas das conquistas anteriores do programa espacial da China, incluindo a construção de uma estação espacial experimental e a realização de uma caminhada espacial, reproduzam feitos alcançados por outros países anteriormente, o país está agora a progredir para a realização de feitos únicos.

SEMPRE A ABRIR

A Chang'e 4 foi a primeira sonda a pousar no lado relativamente inexplorado da Lua, que não é visível a partir da Terra, e está a fornecer medições completas da exposição à radiação da superfície lunar, que são vitais para qualquer país que planeie enviar astronautas à Lua. Em Julho passado, a China tornou-se um dos três países a lançar uma missão a Marte, que vai procurar sinais de água no planeta vermelho. As autoridades chinesas dizem que a nave Tianwen 1 está em curso para chegar a Marte por volta de Fevereiro.Embora os EUA tenham seguido de perto os sucessos da China, é improvável que colaborem com o país, numa altura de crescentes tensões e desconfiança política, rivalidade militar e acusações de usurpação de tecnologia por parte da China.


terça-feira 24.11.2020

No teu amor por mim há uma rua que comeca ´

uma asa no além Paulo José Miranda

Nunca Vemos

A

LFONSO Guillermo Ibarra, nascido em San Sebastian em 1978, publicou um romance em 2013 que rapidamente se tornou um clássico: «Nunca Vemos». O livro começa com este diálogo: «Estraguei tudo, pá, disse ele. Mal me tinha sentado à sua frente e perguntava-me como é que ele poderia ter estragado tudo e o que era esse tudo? Por insegurança, continuou ele, enquanto entornava mais vinho no copo, por me fazer passar por quem não sou, ou exagerar partes minhas até ao caricato. E eu continuava a não entender aonde ele queria chegar com a conversa. Mas não demorou que me respondesse: porque a verdade é que queria aquela mulher como a mim mesmo, aliás, mais do que a mim mesmo. E eu continuava a não entender nada; como é que se podia estragar algo? Como é que alguém pode estragar algo se dois não querem estragar?» Assim, logo no início percebemos que se trata de um livro acerca da solidão. Da solidão dos encontros, isto é, da solidão que espoleta por existirem pessoas e elas nunca se entenderem, e da solidão maior, segundo um dos heróis do romance, Xavier, que é a de encontrar alguém que julgamos certo e não fazer nada por isso ou até fazer tudo para que isso não aconteça. Como brinde, o romance mostra-nos ainda a solidão de não nos fazermos compreender, mesmo àqueles que nos são mais próximos, amigos de longa data. Xavier leva todo o romance a falar – a um grande amigo – de um encontro que teve com uma mulher com quem viveu durante um mês, até que acabaram. É este amigo que nos conta a história. Xavier e Maitê acabaram, tendo ele a certeza de que ambos não deram o seu melhor «como se cada um de nós estivesse boicotando a felicidade». Durante o romance nunca ouvimos a mulher falar, nunca a conhecemos a não ser por palavras de Xavier. Percebemos que Xavier e o amigo, o narrador – Alfonso, o mesmo nome do escritor –, estão bebendo, e à medida que o romance avança Xavier vai ficando mais bêbedo e torna-se surpreendente como o final se liga ao que ele dizia no início, sem que no final o diga, mas mostre. No final, Alfonso entende perfeitamente o que pode ter acontecido a Xavier, que tentou explicar durante um romance inteiro sem se fazer compreender. Como em determinado momento se lê: «Não conseguimos dizer o que sentimos, nem o que pensamos. E quando estamos próximos de o fazer, muitas vezes dizemos precisamente o contrário, julgando que isso poderia parecer mal, de tão estranho nos parece. Porque tudo nos parece estranho quando é bom. Alfonso, sinto que estamos perdidos entre o que não conseguimos dizer e o que queremos dizer.»

O livro pode ser lido como a génese de uma bebedeira, como a descrição alargada de uma dor de corno ou ainda como um elogio ao amor. Elogio no sentido em que o amor aparece no romance como aquilo que se almeja, embora não se alcance. Apesar de tudo é um elogio. Lê-se: «As palavras de Xavier levaram-me a pensar que o facto de ser tão difícil amar e ser amado mostra bem que se trata de um

O livro pode ser lido como a génese de uma bebedeira, como a descrição alargada de uma dor de corno ou ainda como um elogio ao amor

exercício que os humanos têm de praticar até ao fim; suspeito que os humanos nunca serão suficientemente bons no amor.» Um dos interesses do romance é o facto de Alfonso, o narrador, amigo de Xavier, que passa o romance a falar de terem dado cabo do amor – por vezes diz que foi ele, por vezes diz que foram os dois, por vezes diz que é do humano estragar as coisas –, é padre. E este padre vai reflectindo acerca do amor erótico através do relato do amigo. É como se de algum modo fosse um olhar estrangeiro, pois Alfonso nunca sentiu esse amor, embora tenha lido acerca dele em romances e ouvido os seus amigos de escola, antes do seminário, falarem. Assim, se de um lado temos alguém que, por experiência, julga que o amor está condenado a fracassar, de cada vez que se tenta, e mais fracassa quanto mais próximo parecemos estar dele, do outro lado temos alguém que, a despeito de não ter experiência e talvez por isso, vai fazendo tudo para salvar o amor dos fracassos humanos. Há momentos hilariantes nesse

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confronto. Como o caso em que Xavier conta «E depois eu não tenho nenhum talento em pedir desculpa ou em agradecer; dou as coisas por certas, como se fosse normal alguém me dar um abraço vindo do nada ou trazer-me uma garrafa de vinho da rua ou levar-me a jantar fora [...]; e se me chamam a atenção, ou eu mesmo me dou conta de ter feito um gesto mal ou que deveria ter dito algo que não disse, não consigo dizer desculpa. Xavier, disse-lhe eu, o que tu tens é de treinar; começa por dizer várias vezes ao dia “obrigado” e “desculpa”, “obrigado”, “desculpa”, sempre que alguém falar contigo. Isto muito fez rir Xavier, o que por si só já foi um bem sem medida.» No fundo, embora em tom de brincadeira, o padre tem razão: tudo no humano é prática. Como ele diz um pouco mais à frente: «Embora a prática possa não ser suficiente para tudo, talvez não nos faça mal nenhum em insistir nela.» Infelizmente não vou ter tempo – e talvez não seja a pessoa indicada – para falar acerca da questão de estilo do romance. Mas, e como já devem ter visto, a escrita ocorre sem separação de voz, quer seja por aspas ou por travessões. Damo-nos conta de quem está a falar pela própria voz do narrador ou, melhor seria dizer, pelo contraste entre a voz de Xavier e a do narrador. A verdade, é que não nos damos conta desse artifício, ou pelo menos rapidamente esquecemos, tal é o ritmo de escrita que Alfonso Guillermo Ibarra nos impõe. Nas últimas páginas do livro, Xavier, já muito embriagado, começa por dizer ao amigo que não devia tê-lo convidado para isto, para desabafar, para tentar que ele o entendesse, que na verdade foi uma estupidez, visto que ele nunca sentiu o corpo de uma mulher, que não sabe o que isso pode fazer a um homem. Nas últimas páginas, vemos um homem diferente do que vimos no início e do que fomos vendo ao longo do romance e percebemos como as coisas podem dar errado. Quero deixar claro, contudo, que as coisas não darem certo não tem apenas a ver com o excesso de bebida de Xavier, embora possa ter sido por isso ou algumas vezes isso possa ter ajudado. As coisas não darem certo entre a maioria das pessoas tem apenas a ver com a frase que o narrador pensa, quando Xavier vai pela última vez a caminho da casa de banho: «Faz-se tudo... tudo não. Mas há pessoas que fazem o que se pode para que nada dê certo.» É como se fôssemos cegos, como se nunca víssemos o bem que nos acontece. Porque, como pensa Alfonso, «[...] só por cegueira posso entender que alguém deite tudo a perder.» Mas deita. Não é só da nossa natureza perder, deitar a perder também. Mas no fundo é como diz o padre: nunca vemos. Porque deitar a perder é uma forma de cegueira.


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Amélia Vieira

24.11.2020 terça-feira

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Cinzas

Quem é este? Ele chama-se Devorador de Milhões, quando está na colina de Unet. se alguém o percorre, que se acautele para não cair sobre as facas! Ele chama-se o Violento, é o guarda da porta do Ocidente. in Livro dos Mortos do Antigo Egipto

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a morte terá por fim o seu domínio sobrepondo-se ao abandono a que tentámos reduzi-la. Um tempo que a disfarçou em emaranhados silêncios, encruzilhadas que a subestimaram com os depósitos excrementícios da novela de má qualidade das vidas, que ela, mesmo empilhada, incinerada, esquecida e escondida, é a mais precisa das fontes, que a seu lado, toda a expansão se reduz a uma gigantesca avaria mecânica. Mas sim, a morte é sempre triste, a condição é trágica, a vida demasiado curta para contemplar tanto definitivo, mas impressionantemente há coisas piores, como o não saber lidar com ela por não haver vida que se consinta a ser vivida, só existida, assistida... estamos em viagem de cruzeiro esquecendo por completo a Barca. São os tempos em que as crianças nunca foram a um enterro e queremos delas sempre outras coisas e mais, por isso as doutrinamos ao ponto da sujeição, da utilização, em aglomerados de insanidade sempre com temor injectado nas veias para o caso de perguntarem algum dia por aquelas coisas essenciais. Uma sociedade de argumentistas saberá a um tempo ponderar a propósito daquilo que a diminui face ao corpo vital das provas, por isso se reveste de uma higiene que a imortalize e de uma segurança que lhe permita um certo elo de perenidade. E eis-nos no caminho mais temível que é o do sorvedor das cinzas: quando nos tiram os corpos para as incenerações num lustral nazismo sem mácula que nos faz acreditar até em goelas necromânticas que se escondem mesmo por detrás das câmaras de extinção. Esperamos acabrunhados para que tudo esteja reduzido a pó, e que a natureza emocional de cada um impluda para níveis de relativismo programado. Tudo isto é tido como uma prática normal e desejável para a não expansão de corpos na Terra por decomposição em profundida, ela, que continua cada vez mais pequena para um enxame de gentes cuja felicidade as espera logo ali ao virar da esquina. E as pobres pessoas bem-intencionadas lá andam a acompanhar o vazio ardente de um momento que se evapora mas também lhes inspira alguns súbitos galanteios à vida. Toda a litania fúnebre se desfaz, e as carpideiras, esses abençoados seres que evocavam o tamanho da nossa dor, tão esquecidas foram que se inverteram os cânticos. A morte não gosta disto, e como tal, foi precipitando a nossa demanda, temos só números e poucas vozes por parte daqueles por ela visitados, o que faz ultrapassar em muito o que é expectável. - Sem querer

Por culpa ou não, nós sempre morremos, pois que somos mortais. Deve haver um culpado para tal condição?! Talvez... talvez não... e neste interregno construamos, isso sim, o direito a ter uma alma, intacta, firme, em altos voos, enquanto o corpo carregado de desamor se encaminhe para um espaço protector

entrámos no domínio da Besta com a plumagem de lindos Cordeiros, amigos de Lobos, em marcha para a liquidação total. Das cinzas, alguns já fizeram anéis para continuarem com os seus defuntos entre os dedos, e algumas ainda foram espalhadas pelas reservas dos vivos, debaixo das árvores, ou em torrões de açúcar embalsamados com lúgubres indicações por cima, isto dá-se naquele reino da desflorestação em série e no domínio anatómico da sexualidade intrusiva, e nesse fim de mundo de grande superficialidade, abrir uma cova tornou-se um esforço de tal ordem gigantesco que exige argumentos capazes de revirar as tripas do centro planetário. A diferença face ao nazismo primeiro é que não há aproveitamento comercial de outro material orgânico, muito embora o negócio da queima seja bastante lucrativo: a pira funerária está lá para não permitir que se ocupe espaço na terra- a terra- esse elemento abrasivo e lento que ao invés de nos ceder sempre nos resiste... terra, excrementícia anatomia cinzelada pelas nossas cinzas que até fará brilhar os caminhos vulcânicos. O plano da organização da morte dita sempre a composição das leis sociais, ela acompanha o fluxo das circunstâncias, como o tempo da implantação dos cemitérios públicos a grande medida social das Luzes, democratizando-a e banindo pragas, hoje, é-nos filtrada pela desmesura negacionista e pela falta de um período chamado luto que nada mais é que a salutar época de saber integrar um processo doloroso. Ela surge-nos em muitos contextos pela culpa, relembrando-nos a todo o instante que o mundo está repleto de assassinos involuntários, ou não, mas nunca afirmando que se morreu. Falece, fenece ... É! Para o que não se pode dizer todo o eufemismo serve até aos seus sinónimos. Por culpa ou não, nós sempre morremos, pois que somos mortais. Deve haver um culpado para tal condição?! Talvez... talvez não... e neste interregno construamos, isso sim, o direito a ter uma alma, intacta, firme, em altos voos, enquanto o corpo carregado de desamor se encaminhe para um espaço protector. Nesse invólucro habitou uma centelha imortal que não esquecerá a sua antiga casa, só que nesta habitação de poeiras corremos o risco de retrocesso até à primeira ovulação da Terra. Bom lembrar aquilo que nos define como espécie, a noção do mistério da morte, e que os primeiros altares do mundo foram todos em seu nome. Naquelas pedras erguia-se uma certa evolução de que hoje tanto nos orgulhamos. Por isso, a não podemos esconder. Só que Tu Subiste ao Céu Atravessaste as águas celestes, Estás associado às estrelas, e na Barca te aclamamos.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 24.11.2020

Max Bruch (1838-1920)

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

CONCERTO PARA VIOLINO E ORQUESTRA NO1 EM SOL MENOR, OP. 26

O

compositor alemão Max Christian Friedrich Bruch, cujo centenário da morte se assinalou no passado dia 2 de Outubro, nasceu em 1838 em Colónia, filho de Wilhelmine Almenräder, uma cantora, e de August Carl Friedrich Bruch, um advogado e mais tarde oficial da polícia de Colónia. Bruch recebeu uma formação musical precoce com o compositor e pianista Ferdinand Hiller, a quem Robert Schumann dedicou o seu famoso Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor. O compositor boémio e virtuoso do piano Ignaz Moscheles também reconheceu a aptidão do jovem Bruch, que aos nove anos escreveu a sua primeira composição, uma canção para o aniversário da sua mãe. A partir de então, a música passou a ser a sua paixão e os seus estudos foram entusiasticamente apoiados pelos seus pais. Escreveu muitas obras iniciais menores, incluindo motetes, configurações de salmos, peças para piano, sonatas para violino, um quarteto de cordas e até obras orquestrais, e o prelúdio de uma ópera, Scherz, List und Rache. Poucas dessas primeiras obras sobreviveram, e o paradeiro da maioria das suas composições sobreviventes é desconhecido. Bruch teve uma longa carreira como professor, regente e compositor, movendo-se entre vários postos musicais na Alemanha: Mannheim (1862-1864), Koblenz (1865-1867), Sondershausen (1867-1870), Berlim (1870-1872) e Bona, onde residiu de 1873 a 1878, trabalhando como professor particular. No auge da sua carreira, passou três temporadas como regente da Liverpool Philharmonic Society (1880-83), em Londres. Ensinou composição na Berlin Hochschule für Musik de 1890 até à sua reforma em 1910. Bruch casou-se com Clara Tuczek, uma cantora que tinha conhecido numa digressão a Berlim em 1881. A sua filha, Margaretha, nasceu em Liverpool em 1882. Alunos de destaque incluíram a pianista, compositora e escritora alemã Clara Mathilda Faisst (1872-1948). As obras complexas e bem estruturadas de Bruch na tradição musical romântica alemã colocaram-no no campo do classicismo romântico exemplificado por Johannes Brahms, ao invés da "Nova Música" de Franz Liszt e Richard Wagner. Na sua época, era conhecido principalmente como um compositor coral e, para seu desgosto, muitas vezes era ofuscado pelo seu amigo Brahms, que era mais popular e amplamente considerado.

O mais popular concerto para violino

Max Bruch

Max Bruch encarnou absolutamente o período Romântico da música clássica na sua obra. Cada uma de suas ideias musicais é como uma definição de dicionário daquilo que significava ser um compositor romântico - extraordinário, na verdade, dado que viveu até a idade notavelmente madura de oitenta e dois anos e ainda compunha música ao lado de compositores como Schoenberg e Bartók. Hoje em dia, como durante a vida de Max Bruch, o seu Concerto para Violino e Orquestra nº 1 em Sol menor, op. 26 é um

dos concertos para violino românticos mais populares e o mais popular do repertório alemão. Nesta obra, Bruch usa várias técnicas do Concerto para Violino em Mi menor de Felix Mendelssohn, incluindo a ligação dos andamentos, bem como a omissão da exposição orquestral de abertura clássica e outros dispositivos estruturais formais conservadores de concertos anteriores. Apesar dessas alterações ao estilo romântico convencional, Bruch foi frequentemente considerado um compositor conservador.

Max Bruch encarnou absolutamente o período Romântico da música clássica na sua obra. Cada uma de suas ideias musicais é como uma definição de dicionário daquilo que significava ser um compositor romântico - extraordinário, na verdade, dado que viveu até a idade notavelmente madura de oitenta e dois anos e ainda compunha música ao lado de compositores como Schoenberg e Bartók

O Concerto foi composto entre 1864 e 1866. A primeira versão foi interpretada pelo violinista Otto von Königslöw em Coblenz, no dia 24 de Abril de 1866, sob a direcção do próprio Bruch. A versão final, para a qual Bruch obteve a ajuda do famoso violinista Joseph Joachim, a quem acabou por dedicar a obra, foi estreada por este último no dia 5 de Janeiro de 1868, em Bremen, sob a batuta de Karl Reinthaler. O Concerto é a peça mais conhecida de Bruch e a sua popularidade eclipsou outras obras do compositor, os seus outros concertos para violino e a sua Fantasia Escocesa. O primeiro andamento é incomum por ser um Vorspiel, um prelúdio do segundo andamento e está directamente ligado a ele. A peça começa lentamente, com a melodia primeiro tomada pelas flautas, tornando-se então o violino solo audível com uma curta cadência. Isso repete-se, servindo como uma introdução à parte principal do andamento, que contém um primeiro tema forte e um segundo tema muito melódico e geralmente mais lento. O andamento termina como começou, com as duas cadências curtas mais virtuosísticas do que antes, e o tutti final da orquestra flui para o segundo andamento, ligado por uma única nota grave dos primeiros violinos. O segundo andamento, Adagio, é frequentemente admirado pela sua melodia e geralmente é considerado o coração do concerto. Os temas, apresentados pelo violino, são sublinhados por uma parte da orquestra em constante movimento, mantendo o andamento vivo e ajudando-o a fluir de uma parte para a seguinte. O terceiro andamento, Finale: Allegro energico, abre com uma introdução orquestral intensa, porém tranquila, que cede à declaração do solista do tema energético brilhantes em cordas duplas. É muito parecido com uma dança que se move a um ritmo confortavelmente rápido e enérgico. O segundo tema é um belo exemplo de lirismo romântico, uma melodia mais lenta que interrompe o andamento várias vezes, antes do tema da dança retornar com os seus fogos de artifício. A peça termina com um grande accelerando, levando a um final ardente que fica mais agudo à medida que fica mais rápido e mais ruidoso e, eventualmente, termina com dois acordes curtos, mas grandiosos.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: •Max Bruch: Violin Concerto no. 1 in G minor, Op. 26 Kyung-Wha Chung, violin, London Philharmonic Orchestra, Klaus Tennstedt – EMI Classics, 1990


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Os EUA abandonaram o Tratado sobre o Regime de Céu Aberto, um acordo multilateral para a transparência no controlo de armas, com acusações à Rússia de “perverter” o pacto, confirmou domingo o Departamento de Estado norte-americano. “Os EUA já não são parte do Tratado sobre o Regime de Céu Aberto», refere o comunicado do Departamento liderado

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por Mike Pompeo. A reacção da Rússia não se fez esperar e chegou pelo embaixador russo Mikhail Ulyanov. “Não esqueçamos que a participação dos EUA foi uma condição prévia para a entrada em vigor do Tratado. Agora, a questão é saber o que a Rússia vai fazer. Todas as opções estão em aberto nesta fase”, escreveu o diplomata.

AFP

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THE MOVIE DEMON SLAYER: KIMETSU NO YAIBA MUGEN TRAIN [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Sotozaki Haruo 14.30, 16.45, 17.15, 21.30 SALA 2

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UM FILME HOJE Inspirado no livro com o mesmo título, o filme visita uma parte da história da Coreia do Sul, de forma ficcional, e o período que resultou no assassinato do presidente Park Chung-hee, em 1979. Num duelo entre diferentes agências governamentais e políticos, Kim Gyu-pyeong, interpretado por Lee Byung-hun, vai ter pela frente a missão mais difícil e conflituosa da carreira. Este filme foi escolhido para ser o representante da Coreia do Sul nos Óscares do próximo ano, na categoria Melhor Filme Estrangeiro. João Santos Filipe

THE MAN STANDING NEXT | WOO MIN-HO (2020)

9 3 4 2 5 5 6 3 7 9 4 2 1 6 8 3 1 832 MALASANA 4 7STREET 6 5 2 3 1 8Propriedade 7 9 6 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Fábrica5 de Notícias, Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 2 8LoboPinheiro; 5 1Gonçalo4M.Tavares;JoãoPauloCotrim;JoséDrummond;JoséNavarrodeAndrade;JoséSimõesMorais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Gonçalo Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 7 9 Romão; 6 Jorge 8Rodrigues 3 Simão;OlavoRasquinho;PaulChanWaiChi;PaulaBicho;TâniadosSantos GrafismoPauloBorges,RómuloSantosAgênciasLusa;XinhuaFotografiaHoje Chan; João Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 1 4Calçada 7deSanto 9 Agostinho, 2 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone28752401Fax28752405e-mailinfo@hojemacau.com.moSítiowww.hojemacau.com.mo Morada


opinião 15

terça-feira 24.11.2020

macau visto de hong kong

A

Tele-trabalho I

semana passada, o Hongkong and Shanghai Banking Corporation (HSBC) e o Standard Chartered Bank anunciaram que iam colocar os empregados em tele-trabalho. Será este o modelo de trabalho do futuro? E terá Macau condições para o aplicar? O HSBC permite que os empregados trabalhem a partir de casa até quatro dias por semana e atribui subsídios até $2,500 para que possam adquirir o equipamento necessário, tal como mobiliário de escritório, computadores, etc.; o Banco também encoraja os trabalhadores a discutirem com os seus supervisores a melhor forma de optimizar as condições do trabalho a partir de casa. O Standard Chartered Bank já anunciou que, a partir de 2021, irá colocar os funcionários progressivamente em tele-trabalho. Os trabalhadores poderão escolher os horários e o local onde desempenham as suas funções. Poderão trabalhar no escritório ou em casa, ou em ambos os locais. Este modelo vai aplicar-se a todos os países onde o Banco tem delegações, a saber, Reino Unido, Estados Unidos, Hong Kong, Singapura, Emiratos Árabes, Polónia, Malásia, China e Índia. O Standard Chartered Bank espera vir a aplicar este modelo a 90 por cento dos seus funcionários em 2023. O DBS Bank of Hong Kong também propôs que o modelo do tele-trabalho passe a representar 40 por cento da sua actividade laboral. Além das entidades bancárias, o Twitter e a Microsoft também informaram que os seus empregados vão trabalhar a partir de casa de forma permanente. O Facebook e o Google estão igualmente a aderir a este modelo e vão colocar a maior parte dos seus colaboradores em tele-trabalho até 2021. Devido à actual pandemia, é necessário manter a distância social. Os locais de trabalho são zonas de risco que podem facilitar os contágios. Podemos pois afirmar que esta pandemia veio alterar a forma de trabalhar. Mas será que este modelo se vai manter depois da epidemia passar? O trabalho à distância tira as pessoas dos escritórios e coloca-as em casa. O trabalho colectivo transforma-se em trabalho individual. O computador passa a ser o único companheiro de trabalho. Os horários podem flexibilizar-se; as directrizes “humanas” transformam-se em directrizes fornecidas por bases de dados.

ISTOCK

DAVID CHAN

Do ponto de vista empresarial, este modelo implica redução de despesas. Não havendo necessidade de instalações, não há lugar ao pagamento de aluguer, nem de electricidade, ou água, nem existe quaisquer outro tipo de custo relacionado com a manutenção de um espaço. A 9GAG é um bom exemplo do que foi dito. A 9GAG é um website de comunicação social quer permite a colocação de imagens e de vídeos dos seus utilizadores. A empresa foi fundada a 23 de Abril de 2008. No início, sete dos oito empregados trabalhavam num pequeno escritório,

O trabalho à distância tira as pessoas dos escritórios e coloca-as em casa. O trabalho colectivo transforma-se em trabalho individual. O computador passa a ser o único companheiro de trabalho. Os horários podem flexibilizar-se; as directrizes “humanas” transformam-se em directrizes fornecidas por bases de dados

tendo-se mudado posteriormente para Tsuen Wan, em Hong Kong. Este novo espaço tinha 7.000 metros quadrados. Para criar um bom ambiente de trabalho, a empresa deu aos funcionários uma série de benefícios. Foram gastos 2 milhões de dólares de Hong Kong em renovações, compraram mesas de ténis, havia salas de jogos, comida grátis, etc. Após o surto de covid, a empresa desistiu deste espaço, permitindo que os funcionários trabalhassem a partir de casa e passou a recorrer às videoconferências e ao software de mensagens instantâneas para organizar e distribuir as tarefas. O funcionamento da empresa não foi afectado. O tele-trabalho faz com que as empresas reduzam custos, mas será este modelo perfeito? No início da pandemia, os funcionários de um Banco de Hong Kong encararam o tele-trabalho como uma espécie de férias, e juntavam-se em grupos para passear nos suburbíos. Depois de a comunicação social ter exposto esta situação, questionou-se se o trabalho a partir de casa não tornaria as pessoas indolentes e se não iria afectar a relação de confiança entre superiores e subordinados. Por aqui se pode ver que o tele-trabalho não é só um mar de rosas. Na próxima semana, analisaremos se este modelo é aplicável a Macau.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


A vida já é curta, mas nós tornamo-la ainda mais curta, desperdiçando tempo. Victor Hugo

terça-feira 24.11.2020

RAEHK Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam detidos a aguardar sentença

Covid-19 China testa milhões e impõe bloqueios após novos surtos

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A

S activistas de Hong Kong Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam vão ficar detidos enquanto aguardam pela sentença de um tribunal por terem organizado uma manifestação não autorizada em Junho de 2019. A informação foi avançada à agência de notícias espanhola EFE por fontes do extinto partido Demosisto, ao qual pertenciam os três jovens activistas. Os três arguidos, que testemunharam perante o tribunal, estão agora detidos no centro Lai Chi Kok, à espera que os juízes pronunciem a sentença, que poderá ir até cinco anos de prisão. A leitura da sentença deverá ser feita em 2 de Dezembro, indicou Agnes Chow na rede social Facebook. Horas antes, Joshua Wong anunciou que os três activistas iam declarar-se culpados no julgamento, pela organização e participação numa manifestação não autorizada. “Não ficaria surpreendido se fosse detido ainda hoje (ontem)”, disse Wong aos jornalistas ao chegar ao tribunal, ontem de manhã. “Continuaremos a lutar pela liberdade, e este não é o momento de nos achatarmos perante Pequim ou de nos rendermos”, disse o rosto do movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’ em 2014. Joshua Wong denunciou a detenção de 23 activistas, jornalistas e conselheiros, nas últimas três semanas. “Todos os dias temos activistas em julgamento, manifestantes enviados para a prisão”, de acordo com uma nota enviada aos jornalistas e a que Lusa teve acesso. “Sob as contínuas investidas contra os dissidentes da cidade, gerações de jovens vão de protestos a prisões. Para salvaguardar a liberdade do lugar onde nascemos, todos eles fizeram um sacrifício silencioso, mas sem arrependimento. Alguns deles foram torturados, forçados ao exílio”, frisou.

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PALAVRA DO DIA

HONG KONG EURODEPUTADA ISABEL SANTOS QUER VISITAR TSZ LUN KOK

Piquete europeu

A

eurodeputada Isabel Santos enviou um pedido às autoridades da República Popular da China para visitar Tsz Lun Kok, o estudante de nacionalidade chinesa e passaporte português que se encontra detido em Shenzhen desde Agosto e que continua incontactável deste então. Segundo avançou a TDM – Canal Macau, a eurodeputada comunicou a intenção de se encontrar com o jovem de 18 anos, através de uma publicação na rede social Facebook, onde informa ter enviado cartas aos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça da China. Recorde-se que Tsz Lun Kok enfrenta acusações relacionadas com os protestos pró-democracia em Hong Kong no ano passado, após ter sido detido pela guarda costeira chinesa a 23 de Agosto, juntamente com mais 11 activistas, quando tentavam chegar por mar a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo. Sobre aquilo que considera ser a “nova e sinistra Lei de Segurança Nacional imposta em Hong Kong”, Isabel Santos lembra que o estudante é acusado de participar em motins, sendo essa “uma acusação cada vez

mais utilizada pelas autoridades para conter a revolta popular e o combate pela Democracia nas ruas de Hong Kong”. A eurodeputada revela ainda que, além das autoridades da China, comunicou o envio do pedido ao embaixador da China em Lisboa, ao chefe de missão da China junto da União Europeia e ainda a Josep Borrel, Alto Representante e vice-presidente da Comissão Europeia, a quem pediu “intervenção na defesa dos direitos deste cidadão português”. “A todos manifestei a minha profunda preocupação com as condições de detenção deste estudante, que possui nacionalidade portuguesa, e de todos os seus colegas detidos nas mesmas condições”, pode ler-se na publicação.

ATÉ AO FIM

Afirmando que irá continuar a acompanhar a situação “sem descanso” e no exercício das suas funções como eurodeputada, Isabel Santos compromete-se a tomar “as iniciativas que entender necessárias” na defesa “dos Direitos Humanos e dos valores da Democracia e Liberdade”. Quanto a Tsz Lun Kok, a eurodeputada defende a sua libertação e mais esclarecimentos.

“Esta é uma causa que merece uma grande mobilização de todos na defesa destes valores, batendo-nos pelo total esclarecimento desta situação e pela libertação de Tsz Lun Kok. E peço que se juntem a mim neste combate”, apontou. Recorde-se que, sobre o caso, o embaixador de Portugal na China, José Augusto Duarte, considerou, durante a sua passagem por Macau no mês passado, que uma abordagem discreta é preferencial e que tem visto “elementos alentadores” num “jogo diplomático que é delicado e que exige muita paciência e determinação”. Em Setembro, tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) como o Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong afirmaram que estão a acompanhar o caso, apontando, no entanto, que “a China não reconhece a dupla nacionalidade a cidadãos chineses”, o que limitaria a intervenção das autoridades portuguesas “ao domínio humanitário, procurando assegurar que o detido se encontra bem, que lhe seja dispensado um tratamento digno e que possa ser defendido por um advogado”. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

S autoridades chinesas estão a testar milhões de pessoas, a impor bloqueios e a fechar escolas depois de vários casos do novo coronavírus transmitidos localmente terem sido diagnosticados nos últimos dias, em três cidades. À medida que as temperaturas caem, medidas em grande escala estão a ser implementadas nas cidades de Tianjin, Xangai e Manzhouli, apesar do baixo número de novos casos, em comparação com os Estados Unidos e vários países europeus. A Comissão Nacional de Saúde relatou dois novos casos transmitidos localmente em Xangai, entre domingo e segunda-feira, elevando o total para sete, desde sexta-feira. Os dois últimos casos confirmados em Xangai foram contactos próximos de um outro caso: um funcionário no aeroporto internacional de Pudong que foi diagnosticado com covid-19, no início de Novembro. No domingo, o aeroporto internacional de Pudong decidiu testar os seus funcionários, reunindo mais 17.719 amostras. Em Tianjin, as autoridades realizaram mais de 2,2 milhões de testes no novo distrito de Binhai, depois de terem sido descobertos cinco casos de transmissão local, na semana passada. Em Manzhouli, uma cidade com mais de 200.000 habitantes, as autoridades de saúde locais estão a testar todos os residentes, depois de terem sido diagnosticados dois casos, no sábado passado. Todas as escolas e locais públicos foram encerrados e proibiram ajuntamentos, como banquetes.


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