DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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SEXTA-FEIRA 24 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3780
hojemacau
EPOCH TIMES
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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
CTM
Lucros e projectos PÁGINA 5
As sombras
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OPINIÃO ISABEL CASTRO
FUNÇÃO PÚBLICA
Contratos duvidosos PÁGINA 7
HONG KONG | ELEIÇÕES
A antiga colónia britânica elege este domingo o novo Chefe do Executivo. Carrie Lam deverá ser a vencedora.
Saramago e as raízes MANUEL AFONSO COSTA
Modo de perguntar PAULO JOSÉ MIRANDA
HOJE MACAU
Poder sem povo
h VISITA
PATRIMÓNIO E QUEIXAS PÁGINA 5 E ÚLTIMA
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GRANDE PLANO
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Vinte anos depois da transferência de soberania, Hong Kong deverá passar a ser liderado por uma mulher. Dos três candidatos às eleições para o Chefe do Executivo, Carrie Lam é a mais forte, apesar de ser a menos popular. Para este sufrágio, pouco interessa se o povo gosta ou não. Já depois, a história pode ser outra “Não tenho a ilusão de que existam diferenças substanciais entre eles. Tudo o que fizerem, um ou outro, será altamente constrangido pelas pessoas que votaram neles.” ÉRIC SAUTEDÉ POLITÓLOGO
HONG KONG CARRIE LAM É A FAVORITA DAS ELEIÇÕES DE DOMINGO
A SENHORA DE PEQUIM
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Á saberá o que diz. Esta semana, o magnata Li Ka-shing resumia, em declarações aos jornalistas, o que vai acontecer no próximo domingo: quando chega a hora de escolher o Chefe do Executivo, “o candidato que detém a confiança do Governo Central derrota o candidato mais popular”. Sem revelar expressamente o sentido de voto, o milionário deu a entender que vai votar na antiga secretária-chefe Carrie Lam. Tudo aponta que seja a escolha de Pequim, apesar de, nos exercícios de auscultação dos desejos populares, o ex-secretário para as Finanças John Tsang ser bastante mais popular. Acontece que, à semelhança de Macau – ou, para sermos mais rigorosos, em sentido inverso, porque o método foi inventado para Hong Kong e depois copiado para Macau –, o Chefe do Executivo da região vizinha é escolhido por um reduzido número de eleitores. O colégio que, a 26 de Março, vai escolher o sucessor de C.Y. Leung reúne apenas 1194 pessoas. São representantes de grupos de interesses e, na maioria, são pró-regime. O sufrágio deste ano é acompanhado com particular interesse pelos analistas políticos. É o primeiro desde os grandes protestos de 2014 a favor da reforma do sistema, um movimento que deu em coisa nenhuma. E acontece numa altura em que Hong Kong passou a ter, assumidamente, defensores da independência em relação à China. Além de Carrie Lam e de John Tsang, na corrida está também Woo Kwok-hing, um magistrado de 71 anos, independente, um homem que apareceu sem que ninguém
estivesse à espera e que deverá inscrever o seu nome na história política da região apenas por ter sido candidato. Não tem hipóteses de sair vencedor mas, ainda assim, salienta o politólogo Éric Sautedé, foi o único a apresentar um programa político verdadeiramente diferente.
A VANTAGEM DOS 49 POR CENTO
Os últimos dias não têm sido fáceis para a Carrie Lam. “Têm corrido rumores de que a Comissão Independente contra a Corrupção está a levar a cabo uma investigação. Terá havido uma denúncia de que tem residência no Reino Unido, uma vez que o marido é britânico, o que poderia invalidar a candidatura”, contextualiza Éric Sautedé. O politólogo francês a viver em Hong Kong não acredita que tal venha a acontecer, até porque “Lam não tem passaporte do Reino Unido”, pelo que acredita que a ex-secretária-chefe sairá vencedora da corrida. Porém, o facto não deixa de marcar a recta final da campanha. Vista como uma mulher fria e determinada, Carrie Lam foi alvo de duras críticas por parte dos
“John Tsang não terá o apoio do Gabinete de Ligação do Governo Central, o que, para muitas pessoas de Hong Kong, é uma vantagem.” EDMUND CHENG ACADÉMICO
DAVID WONG, SOUTH CHINA MORNING POST
GRANDE PLANO
seus adversários recentes. John Tsang e Woo Kwok-hing disseram esta semana que “age como um ditador”. Tsang, antigo colega de Lam na equipa de C.Y. Leung, entende que é preciso mantê-la “bem-disposta” caso seja eleita. “É preciso ter a certeza de que actua de forma benigna.” Na apresentação da candidatura, do universo de quase 1200 eleitores, 580 estiveram ao lado da antiga secretária-chefe. É ela a que conta, em teoria, com mais apoiantes entre aqueles que efectivamente decidem. São 49 por cento contra os 15 por cento de Woo Kwok-hing e os modestos 14 por cento de John Tsang. “Existem rumores de que Carrie Lam teria ainda mais membros da comissão eleitoral a apoiá-la, mas que os terá deixado de lado para tentar mostrar que se trata de uma verdadeira eleição, de que pode ser desafiada”, conta Sautedé. “Se apresentasse mais de 600 apoios pareceria muito mal, porque o assunto estaria arrumado.”
PRINGLES E ‘SELFIES’
Conhecido como “Uncle Pringles”, por se assemelhar ao ícone das batatas fritas desta marca, John Tsang não deverá ser eleito no próximo domingo, mas há uma batalha de que já saiu vencedor: é o mais popular dos candidatos nas sondagens e estudos que foram sendo feitos. Apesar de ser do mesmo quadrante político de Carrie Lam, tem uma imagem mais suave, em linha com a geração mais nova. A questão é mesmo quem vota. Éric Sautedé salienta que a maioria dos apoios dados à candidatura do ex-secretário para as Finanças é proveniente do campo pró-democrata. No início desta semana,
os membros pró-democracia do colégio eleitoral prometeram dar 290 votos a John Tsang. “Todas as declarações dos independentes e pró-democratas a favor de Tsang tiveram impacto junto da população. Fez uma campanha mais virada para as pessoas comuns. Tirou ‘selfies’ com toda a gente. Não há um equivalente para
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bem posicionados, a começar pelo facto de serem ambos funcionários públicos há mais de 30 anos. “Mas, ainda assim, existem diferenças”, ressalva. “Porque é que Tsang é tão popular? Parece ter capacidade e vontade de estabelecer uma relação de proximidade com a população. Acredita que o maior problema de Hong Kong é político e que é preciso reduzir as diferenças sociais numa sociedade muito polarizada.” Já Carrie Lam demonstra acreditar que, ao resolver os problemas do quotidiano, conseguirá minimizar as reivindicações de natureza política.
Carrie Lam, a ser eleita, será alvo de um escrutínio muito maior. É aí que a popularidade – ou a falta dela – passa a ser um factor relevante
Carrie Lam.” Para a popularidade do ex-secretário para as Finanças conta ainda o facto de ter feito promessas em que parece atender às exigências dos residentes. Há quem entenda que a forma como John Tsang tem sido acolhido poderá ser contraproducente para Carrie Lam. Tal não influenciará a votação, mas poderá “causar
alguma tensão”, concorda Sautedé. “Mas, feitas as contas, é como diz Li Ka-shing: ganha quem tem mais importância, não o mais popular. E, afinal, os dois candidatos são muito próximos. Não tenho a ilusão de que existam diferenças substanciais entre eles. Tudo o que fizerem, um ou outro, será altamente constrangido pelas pessoas que votaram neles.”
Para o analista, uma coisa é, no entanto, certa: Carrie Lam, a ser eleita, será alvo de um escrutínio muito maior. É aí que a popularidade – ou a falta dela – passa a ser um factor relevante. Edmund Cheng, analista político e professor da Universidade Baptista de Hong Kong, partilha do mesmo entendimento, até porque há já uma
certa tradição entre popularidade e escolha do vencedor. “Passa a ser um maior desafio para um governante ter de lidar com a falta de apoio popular.”
O QUE VEM DO NORTE
À semelhança de Éric Sautedé, também Edmund Cheng encontra mais semelhanças do que diferenças entre os dois candidatos mais
O ex-secretário para as Finanças, continua o professor universitário, não terá o apoio do Gabinete de Ligação do Governo Central, o que, “para muitas pessoas de Hong Kong, é uma vantagem, porque significa que pode proteger a autonomia da região”. Edmund Cheng salienta que um dos principais problemas da antiga colónia britânica é “o aparente controlo excessivo” da representação de Pequim, “em todas as questões políticas e sociais”. Carrie Lam, por seu turno, “deverá beneficiar em muito do apoio do Gabinete de Ligação”, no que diz respeito ao número de eleitores que vão depositar nela a tarefa de governar Hong Kong. “Mas quando for eleita, terá de ouvir o que o Gabinete e isso preocupa a população.” As preocupações da população não deverão influenciar o sentido de voto de homens como Li Ka-shing. Mas se, por hipótese académica, houver uma segunda volta, John Tsang deverá poder contar com os votos dos eleitores de Woo Kwok-hing, uma vez que o magistrado já prometeu apoio incondicional ao antigo secretário para as Finanças. Os analistas não acreditam que Tsang tenha uma segunda oportunidade. Carrie Lam já deverá ter alinhavado o discurso da vitória. Não tem popularidade, mas tem poder. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
4 POLÍTICA
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
EFEMÉRIDE MAIS DE MEIO MILHÃO PARA FESTEJAR LEI BÁSICA
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orçamento para a comemoração do 24.º aniversário da Lei Básica de Macau é de cerca de 600 mil patacas, aplicadas na realização de um conjunto de actividades. A ideia é dar a conhecer o diploma aos residentes de forma lúdica. O valor, aponta a chefe de divisão de formação e informação cívicas do Instituto para os Assuntos
Cívicos e Municipais, Lam Lei Sio, é “bem investido e mostra resultados junto da população”. A efeméride é festejada no próximo sábado com a realização de um “bazar comemorativo” na Praça do Tap Seac. Cheong Kuai San, director do Centro de Educação Permanente dos Serviços de Educação e Juventude,
destaca alguns dos eventos que integram a iniciativa, sublinhando a adesão da população. “Para o concurso de desenhos sobre a Lei Básica recebemos três mil trabalhos e, para os jogos sobre o mesmo tema, 32 pedidos de formação de equipa”, afirmou ontem em conferência de imprensa. O sábado vai ainda ser preenchido com concertos,
espectáculos de dança e de teatro para “promover o entendimento da Lei Básica junto dos residentes através da aproximação dos seus conteúdos a iniciativas práticas”, disse Lam Mei Sio. Acresce ainda às actividades previstas um workshop dirigido a todos sobre o diploma fundamental de Macau.
Entre Maio de Dezembro, os Serviços de Assuntos de Justiça vão promover um concurso alusivo ao plano de divulgação nas escolas. De acordo com os responsáveis pela iniciativa, é uma forma de juntar alunos e professores na discussão e esclarecimentos sobre a Lei Básica. A equipa que organiza as comemorações prevê que as
Quando a lei passa ao lado
AL BANCA CAPAZ DE CONGELAR CONTAS NO PRAZO DE 24 HORAS
Está tudo preparado
Pereira Coutinho pede igualdade para trabalhadoras
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TIAGO ALCÂNTARA
Deputados e Governo obtiveram a confirmação da Autoridade Monetária e Cambial de que os bancos têm capacidade para congelar contas suspeitas em casos de branqueamento de capitais no prazo de 24 horas. A Assembleia recebeu emails de residentes com dúvidas sobre esta matéria STÁ praticamente concluída a análise na especialidade da revisão dos diplomas relativos à prevenção e repressão do crime de branqueamento de capitais, bem como do diploma referente à prevenção e repressão dos crimes de terrorismo. Na reunião de ontem, os deputados e o Executivo obtiveram a garantia da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) de que a banca será capaz de congelar contas bancárias em processos de investigação de branqueamento de capitais. A medida deve ser levada a cabo no prazo de 24 horas, após decisão do juiz. “Colocou-se a dúvida se [a medida] poderia ou não ser tomada nesse prazo mas, segundo as respostas da banca e da AMCM, será possível”, explicou o deputado Cheang Chi Keong, que preside à 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Segundo o deputado, vários residentes chegaram a enviar questões à Assembleia, por email, sobre esta matéria. “Havia algumas preocupações relativamente à comunicação de movimentações suspeitas dentro de 24 horas. Foi feito um diálogo com a banca e, em resposta, recebemos a informação de que esse formato é viável.
A AL tem recebido emails de residentes que falam de receios de que essa medida possa não ser exequível. Mas na resposta dada pela AMCM foi assegurado que a banca poderá levar a cabo esse formato”, disse Cheang Chi Keong.
VOTAÇÃO ATÉ ABRIL
O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve ontem presente na reunião que serviu essencialmente para limar algumas arestas, após ter sido elaborado um novo documento de trabalho para a revisão dos diplomas. Cheang Chi
Keong garantiu que os pontos mais importantes já foram discutidos, prevendo que, até finais de Abril, o novo diploma seja sujeito a votação na especialidade. “Alguns receios e questões técnicas foram resolvidos. Foi acrescentada a responsabilidade das pessoas colectivas”, acrescentou o presidente da comissão. Cheang Chi Keong frisou ainda que há uma unanimidade junto dos deputados em relação à autonomização entre o crime de branqueamento de capitais e o crime que precede esse delito. “As assessorias tinham posições
Cheang Chi Keong garantiu que os pontos mais importantes já foram discutidos, prevendo que, até finais de Abril, o novo diploma seja sujeito a votação na especialidade
actividades cheguem a cerca de 15 mil residentes e espera duas mil pessoas no evento do fim-de-semana. A Lei Básica de Macau foi criada em Março de 1993 pela Assembleia Popular Nacional da República Popular da China e entrou em vigor a 20 de Dezembro de 1999 com a transferência de Administração. S.M.M.
diferentes, mas o Governo tomou a decisão. A comissão apoia com unanimidade essa decisão legislativa do Governo e somos também unânimes em aceitar as novas alterações”, concluiu. As alterações aos diplomas de controlo e prevenção dos crimes de branqueamento de capitais e terrorismo, implementados em 2006, têm carácter de urgência para responder às “deficiências identificadas” em 2007 pelo Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais. Sem essas mudanças, o território corria o risco de ser integrado na lista negra, o que “iria afectar o crescimento de Macau, sobretudo para o sector económico e financeiro”, explicou Cheang Chi Keong. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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princípio da igualdade determinado pela Lei Básica não está a ser cumprido no que diz respeito à licença de maternidade. A ideia é defendida pelo deputado José Pereira Coutinho que, em interpelação escrita, afirma que “há um tratamento injusto para os residentes do sexo feminino”. Pereira Coutinho vinca que a licença de maternidade para as mulheres que trabalham no sector privado são de apenas 56 dias, enquanto as funcionárias dos serviços públicos têm direito a 90 dias. O deputado lamenta a discrepância entre direitos das mães que trabalham no público e no privado. O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau recorda que o colega de bancada, Leong Veng Chai, em Maio do ano passado, colocou esta questão ao Governo.ADirecção dos Serviços para os Assuntos Laborais foi vaga na resposta e referiu que “na regulamentação dos 56 dias de licença de maternidade foram consideradas a protecção às trabalhadoras e a capacidade de aceitação das entidades patronais”. Para o deputado, não houve qualquer explicação quanto à violação do princípio da igualdade. O tribuno dá ainda o exemplo de outras jurisdições: nos países europeus a licença é de, pelo menos 90 dias, na Mongólia é de 101 e na China Continen-
tal pode chegar aos 120 dias “consoante o grupo etário da mulher”. Aqui ao lado, em Hong Kong, as mães têm 70 dias de licença sendo que, argumenta Pereira Coutinho, “quando se verifica algum tratamento injusto, é possível apresentar queixa à Equal Opportunities Comission”.
QUEIXAS NO FEMININO
O deputado justifica a missiva agora entregue ao Executivo com o aumento de queixas que tem vindo a receber por parte de mulheres. Em causa está o tratamento diferenciado no emprego, pelo que as queixosas solicitam a introdução de alterações na Lei das Relações de Trabalho. O argumento para a revisão do diploma, escreve Pereira Coutinho, assenta no dever do Governo de cumprir com rigor o Artigo 25.º da Lei Básica: “Os residentes de Macau são iguais perante a lei, sem discriminação em razão de nacionalidade, ascendência, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução e situação económica ou condição social”. Pereira Coutinho quer saber se o Executivo pondera corrigir a situação e se, à semelhança de Hong Kong, equaciona a possibilidade de criar um departamento público para o tratamento de desigualdades. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
5 POLÍTICA
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
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Visita PORTUGAL E MACAU VÃO COOPERAR NA ÁREA DO TURISMO
Meu rico património
A vinda do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas ao território deixa uma certeza: Lisboa vai cooperar com Macau na criação de um “projecto cultural associado à valorização do património”. Quanto à atribuição de BIR, José Luís Carneiro fala de uma diminuição dos processos recusados
esforço de afirmação e defesa da língua portuguesa, e há exemplos concretos, como o financiamento de um conjunto de actividades, bem como a vontade de extensão do ensino da língua portuguesa ao ensino secundário, e também do primeiro ciclo. É um reconhecimento importante”, referiu. Quanto ao protocolo assinado entre o Instituto Camões e o Instituto Politécnico de Macau, José Luís Carneiro considerou-o “da maior importância”, pois “não se trata apenas de mais um protocolo, mas de um instrumento de trabalho e eficácia politica na defesa da língua portuguesa”.
BIR PARA TODOS
HOJE MACAU
A sua primeira visita a Macau, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, fez o percurso da praxe de todos os dirigentes: visitou o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e a Escola Portuguesa de Macau, encontrou-se com elementos da comunidade e com governantes do território. A agenda de ontem ficou marcada por uma reunião com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Em declarações aos jornalistas após o encontro, José Luís Carneiro disse que Portugal vai cooperar com Macau na área do turismo, participando num novo projecto que o Executivo pretende desenvolver. “Foi possível falar sobre a intenção que existe em Macau de se criar uma nova unidade cultural, de valorização do património macaense. Há abertura para que o movimento da diáspora portuguesa em Macau possa ter uma nova dimensão de expressão pública muito voltada para a dinamização do turismo e da economia, nessa nova estrutura que será criada por parte das autoridades.” Portugal deverá ainda colaborar na candidatura apresentada por Macau à UNESCO, no sentido de classificar a gastronomia macaense. “O que ficou estabelecido é que Portugal vai procurar estabelecer relações de carácter cultural, tendo em vista valorizar os elementos comuns da gastronomia macaense, que integram elementos portugueses.” Para José Luís Carneiro, “é possível aprofundar a cooperação no âmbito da promoção e valorização do património na sua relação com o património material e imaterial português, e criar um alicerce de promoção do turismo e de dinamização da economia macaense e portuguesa”. Mais apoios para estudos O secretário de Estado das Comunidades falou ainda da possibilidade de facilitar as candidaturas dos alunos de Macau ao ensino superior português. “Foi estabelecida uma vontade de podermos sistematizar um conjunto de informações úteis para aqueles que querem estudar em Portugal. Tem sido desenvolvido um esforço da parte das instituições portuguesas, mas sentimos que é preciso dar uma outra eficácia às condições de informação e de esclarecimento sobre o modo como os alunos se podem candidatar às instituições de ensino superior em Portugal e aos apoios do Estado português”, apontou. Ao nível da língua portuguesa, José Luís Carneiro tomou conhecimento da vontade do Governo da RAEM em promover a extensão do ensino da língua portuguesa. “Foi possível verificar da parte das autoridades macaenses que há uma vontade muito grande de um
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas reuniu-se também com Wong Sio Chak, secretário para a Segurança. Além de destacar o apoio ao Consulado-geral de Portugal, que o ano passado fez cerca de 60 mil atendimentos, José Luís Carneiro teve a informação de que a recusa de concessão de Bilhete de Identidade de Residente (BIR) a portugueses diminuiu.
“É possível aprofundar a cooperação no âmbito da promoção e valorização do património na sua relação com o património material e imaterial português.” JOSÉ LUÍS CARNEIRO SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
ALEXIS TAM DESTACA IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
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a sequência do encontro com José Luís Carneiro, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, destacou a importância da língua portuguesa, tendo referido que esta “assume particular importância na formação de quadros bilingues”, algo que tem “justificado um grande investimento de recursos facilitando a concretização do papel de Macau,
confiado pelo Governo Central, como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”. Num comunicado oficial, frisa-se que “ambos os governantes manifestaram interesse em reforçar as boas relações de cooperação, em especial nas áreas da língua portuguesa e da cultura através das instituições de ensino superior, da rede de escolas associadas e da tradução”.
“O secretário deu-nos conta de que houve uma redução muito significativa dos indeferimentos das autorizações de residência e essa é uma dimensão que foi reconhecida. Não há qualquer assunto que mereça um reparo por parte das autoridades macaenses, o que há é um reconhecimento da boa vontade de cooperação”, apontou. Quanto ao pedido de celeridade dos processos de residência por investimento, no âmbito dos Vistos Gold, o governante garantiu que “tem havido um esforço” nesse sentido por parte do Estado português. Ontem, ao cair do dia, José Luís Carneiro reuniu-se ainda com mais de vinte associações de matriz portuguesa, estando hoje de partida para Portugal (ver texto na última página). Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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hoje macau sexta-feira 24.3.2017
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POLÍTICA
Promessas de Alexis
Conselho do Património analisa preservação de Lai Chi Vun
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GONÇALO LOBO PINHEIRO
secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, garantiu ontem que a preservação dos estaleiros de Lai Chi Vun será debatida no seio do Conselho do Património Cultural. Citado por um comunicado oficial, o secretário começou por referir que “o Governo da RAEM vai proceder à salvaguarda da zona de estaleiros no pressuposto da garantia da segurança pública”, acrescentando porém que “as autoridades vão analisar a viabilidade da submissão da questão de salvaguarda da zona de Lai Chi Vun à discussão do Conselho de Património Cultural, em conformidade com as previsões da Lei de Salvaguarda do Património Cultural”. Em declarações aos jornalistas, Alexis Tam frisou ainda que o “Instituto Cultural está a avaliar e analisar com rigor as informações recebidas e vai tratar do caso de acordo com as disposições da Lei de Salvaguarda do Património Cultural e as dos diplomas legais do Conselho do Património Cultural”. Quanto às salas de fumo nos casinos, o secretário respondeu que “a distância [entre salas de fumo e mesas de jogo] deve ser definida no pressuposto da garantia da saúde dos trabalhadores”. Quanto à criação das salas de fumo, os departamentos dos serviços públicos “estão a acompanhar os trabalhos de definição dos diversos critérios para a instalação de salas para fumadores com padrões exigentes, sendo que as respectivas informações serão divulgadas oportunamente”.
Recrutamento DEPUTADO E ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES PEDEM EXPLICAÇÕES
Um fogo difícil de apagar Chan Meng Kam quer o Governo a analisar os contratos de trabalho de todos os funcionários públicos. Há uma associação de estudantes que tem receio de que os estagiários do Instituto Cultural estejam em situação ilegal. O relatório do CCAC está a dar muito que falar
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EM a promessa de Alexis Tam serviu para acalmar os ânimos. Esta semana, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que pediu, aos sete institutos e direcções de serviço sob a sua tutela, relatórios sobre a situação contratual dos funcionários públicos. O governante deixou ainda a garantia de que vão ser apuradas responsabilidades, mas há quem não esteja satisfeito com o desfecho do caso. Numa interpelação escrita ao Executivo, a propósito dos problemas detectados no Instituto Cultural (IC) pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), Chan Meng Kam pede à Administração que verifique todos os contratos dos funcionários públicos, para se apurar se existem mais situações de trabalhadores contratados em regime de aquisição de serviços. O deputado entende que o assunto não deve morrer no relatório do CCAC, salientando uma ideia deixada na Assembleia Legislativa, esta semana, por outros membros do hemiciclo: o Comissariado contra a Corrupção e o Comis-
sariado da Auditoria apontam os problemas, os serviços públicos visados fazem ‘mea culpa’ e prometem corrigir os erros, mas não são assacadas responsabilidades aos autores das irregularidades.
ESTAGIÁRIOS PREOCUPADOS
Também o subdirector da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, Kwan Ka U, pede esclarecimentos ao Governo, mas sobre os estágios de alunos universitários na função pública. Em declarações ao Jornal do Cidadão, o responsável disse recear que, com a divulgação de irregularidades nas contratações do IC, os estágios dos universitários possam vir a ser afectados. “São muitos os alunos que se dirigiram à associação para esclarecer se os seus estágios no Instituto estão abrangidos pelas
irregularidades detectadas”, relatou. Os estudantes, explicou, têm medo de vir a perder oportunidades futuras caso estejam incluídos em casos detectados como ilegais. O responsável sublinhou que as oportunidades de estágio são uma forma de aumentar a experiência profissional dos alunos, ao mesmo tempo que podem atenuar a pressão nos serviços públicos, colmatando algumas das necessidades sentidas ao nível dos recursos humanos. Kwan Ka U alertou ainda para a necessidade de os departamentos públicos seguirem os procedimentos de contratação de trabalhadores de acordo com os princípios da função pública. Num relatório que resultou de uma investigação iniciada em Abril de 2016, o CCAC revelou que “descobriu que o
Chan Meng Kam pede que se verifiquem todos os contratos dos funcionários públicos, para se apurar se existem mais situações de trabalhadores contratados em regime de aquisição de serviços
IC recorreu ao modelo da aquisição de serviços para contornar sistematicamente o regime legal do recrutamento centralizado e do concurso público”. Entre 2010 e 2015, o número de trabalhadores contratados em regime de aquisição de serviços quase duplicou, passando de 58 para 110, o que o IC justificou com o aumento do volume de trabalho nos últimos anos e com a escassez dos recursos humanos. “Sem a autorização do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura para a dispensa de concurso, o IC recrutou, por iniciativa própria, um grande número de trabalhadores em regime de aquisição de serviços sem a realização de concurso”, refere o relatório. O CCAC detectou problemas como “a falta de publicidade de informações sobre o recrutamento, métodos de selecção menos rigorosos e a suspeita de incumprimento do regime de impedimento». Verificou também que “as informações sobre a intenção de recrutamento de pessoal do IC em regime de aquisição de serviços têm sido transmitidas somente dentro de um determinado círculo de indivíduos ou de familiares e amigos”.
HABITAÇÃO PÚBLICA ESTUDO FICA CONCLUÍDO ESTE ANO
A
RNALDO Santos, presidente do Instituto da Habitação (IH), afirma que o relatório final sobre a procura de habitação pública em Macau deverá ficar pronto este ano. Em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei,Arnaldo Santos
explica que a entidade responsável pelo estudo ainda está a analisar a situação da residência em Macau. O estudo que está a ser desenvolvido irá servir de base para o planeamento do desenvolvimento da habitação pública a longo prazo.
O presidente do IH diz ainda que, como consequência da falta de terrenos, e por forma a implementar uma política de habitação pública a longo prazo, é necessário realizar uma análise de forma rigorosa e científica sobre este assunto.
O responsável aponta ainda que a necessidade de habitação não é o único factor que influencia o fornecimento de fracções públicas, sendo necessário prestar atenção aos recursos humanos e terrenos disponíveis. O IH assegura, contudo,
que os procedimentos de obras para as habitações públicas, ao nível do planeamento, construção e inspecção, podem ser feitos com garantia de qualidade e pontualidade.
8 SOCIEDADE
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
Os lucros do ano passado da CTM decresceram 6,4 por cento em relação a 2015, um número que, ainda assim, ultrapassa os mil milhões de patacas de lucros. Este ano é para apostar na fibra óptica e na expansão do 4G
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OM a liberalização do mercado das telecomunicações e a (relativa) indefinição quanto à renovação do contrato de concessão com o Governo, 2017 afigura-se como um ano importante para a CTM. A empresa fechou o ano passado com receitas superiores a 4,5 mil milhões de patacas. Descontados os custos, investimentos e impostos pagos, a companhia de comunicações terminou 2016 com lucros superiores a mil milhões de patacas, o que representou uma quebra de 6,4 por cento, em relação a 2015, quando a empresa arrecadou 1,15 mil milhões. A justificação para esta quebra foi dada pela forte competição que se fez sentir no mercado das telecomunicações móveis. No final do ano passado, a CTM reduziu as suas tarifas, o que está previsto trazer um impacto de 200 milhões de patacas no fecho das contas deste ano. Quanto à muito falada e criticada rede WiFi Go, Vandy Poon,
Comunicações CTM APRESENTA DADOS DE 2016 E LANÇA PRIORIDADES
De olho na fibra óptica CEO da empresa, defendeu que os termos do contrato com o Executivo foram cumpridos no que toca à operação. O homem forte da CTM assegura que a empresa cumpriu a sua parte, de acordo com o que foi definido e acordado configurar e construir. Neste aspecto, Ebel Cham, vice-presidente de operações comerciais, esclareceu que não foi exigida à CTM que fizesse “actualização do software e hardware do WiFi Go”. Foi ainda salientado que até Outubro de 2014 o operador responsável pelo contrato era outro. No que toca a uma eventual compensação ao Executivo, essa
AMBIENTE “HORA DO PLANETA” ASSINALADA EM MACAU
O Governo de Macau decidiu aderir de novo à “Hora do Planeta”, uma iniciativa do Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza. Amanhã à noite, entre as 20h30 e as 21h20, vão ser apagadas todas as luzes consideradas desnecessárias. A Administração apela à participação das fábricas, lojas, casinos e locais de entretenimento. Pede ainda aos residentes que desliguem todas as luzes dispensáveis, uma forma de contribuir para a campanha mundial de conservação de energia e redução de emissões. É o nono ano consecutivo em que o Governo do território participa nesta iniciativa de âmbito mundial. Para já, sabe-se que vão ser desligadas as luzes nas três pontes que ligam Macau e a Taipa. As seis operadoras de casinos e algumas grandes empresas dos sectores industrial e comercial também já prometeram juntar-se à campanha. Depois, vai ser suspensa a iluminação nos edifícios dos serviços públicos. A “Hora do Planeta” foi lançada pela primeira vez em Sydney, em 2007. No ano passado, já se tinha estendido a 178 países e regiões participantes.
possibilidade foi afastada por Vandy Poon, apesar ter sido veiculado que estava em discussão uma forma de se ressarcir não monetariamente o erário público na sequência do relatório do Comissariado da Auditoria. Neste documento, a CTM é acusada de ter recebido mais de 400 mil patacas para instalar dispositivos com um custo que não corresponderia a esse montante.
BEM INVENTARIADO
Depois da insistência de alguns deputados para que o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, divulgue os activos da empresa, Vandy Poon
reforçou a ideia de que essa decisão está nas mãos do Executivo. Será algo que não cabe à CTM fazer, até porque é uma “lista com cerca
Vandy Poon, CEO da CTM, reforçou a ideia de que a decisão de publicar o inventário de activos da empresa está nas mãos do Executivo
de quatro mil itens, que não passa de um instrumento de gestão, sem qualquer interesse público”, apontou Aguinaldo Wahnon, vice-presidente dos assuntos legais e regulatórios. O responsável pela área legal acrescentou ainda que o acordo de concessão é apenas uma parte do volume de negócios em desenvolvimento pela CTM. No que concerne à publicação, ou não, da lista de activos da operadora, Wahnon confessou que tem algumas reservas tanto por motivos de estratégia comercial, como também por a CTM ser detida por empresas cotadas no mercado bolsista. No capítulo do número de clientes, a companhia de telecomunicações revelou que, no ano passado, mais de 600 mil pessoas era subscritoras do serviço 4G+, um volume seis vezes superior ao ano anterior. No que toca a consumidores da banda larga de fibra os clientes chegaram aos 112 mil, o que representou um crescimento de mais do dobro. “Até ao fim do ano, gostaríamos que todos os nossos clientes passassem a ter Internet por fibra e ter total cobertura de 4G”, projecta Vandy Poon. Um dos projectos em cima da mesa para este ano é a possibilidade de se comprar bilhetes para o Turbo Jet através de uma aplicação da CTM. João Luz
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PONTE CHOQUE ENTRE DOIS AUTOCARROS FAZ 33 FERIDOS
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MA colisão entre dois autocarros públicos na Ponte Nobre de Carvalho, na passada quarta-feira à noite, causou 33 feridos, um deles grave, de acordo com um comunicado enviado pelos Serviços de Saúde. O “grave acidente de viação” aconteceu pelas 23h45 de quarta-feira e levou 33 pessoas, com idades entre 24 e 67 anos, a dois hospitais de Macau. Des-
tas, seis estão internadas, uma com ferimentos graves mas em estado estável. A maioria dos feridos, 28, foi transportada para o Centro Hospitalar Conde de São Januário. Segundo os Serviços de Saúde, “o caso mais preocupante foi diagnosticado a uma senhora com 52 anos que apresentou feridas na cabeça, acompanhadas de choque hemorrágico”.
Outras três pessoas necessitaram de internamento, uma com ferimentos ligeiros na cabeça, e duas com fracturas nos membros, ainda que não necessitem de cirurgias. Dos cinco feridos encaminhados para o Hospital Kiang Wu, dois tiveram de ficar internados para tratamento. O acidente que, segundo os bombeiros, ocorreu
entre dois autocarros públicos da empresa Transmac, obrigou o CHCSJ a activar o nível 1 das medidas de contingência para calamidades, que prevê o destacamento imediato de dezenas de médicos e enfermeiros para participar nos trabalhos de emergência. Os Serviços de Saúde explicaram ainda que o processo de salvamento foi concluído em duas horas.
9 CHINA
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
LI KEQIANG ADVERTE AUSTRÁLIA CONTRA O PROTECCIONISMO
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primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu ontem contra o proteccionismo, afirmando que o seu país planeia reduzir o défice comercial com a Austrália através do aumento das trocas comerciais, ao invés da sua redução. Li afirmou num discurso no parlamento australiano que a globalização gerou “alguns problemas”, mas que não se pode culpar o livre-comércio. A China “não pode fechar as portas” para resolver os seus desequilíbrios comerciais com a Austrália, afirmou Li Keqiang, após em 2016 o país ter registado um défice no comércio com a Austrália no valor de 50.000 milhões de dólares, sobretudo devido à alta procura chinesa por carvão e ferro. “Acreditamos que para resolver o desequilíbrio, temos de continuar a expandir as trocas comerciais”, afirmou o primeiro-ministro chinês. Li e o seu homólogo australiano, Malcolm Turnbull, vão discutir os detalhes do alargamento do seu acordo de livre-comércio, vigente por dois anos, nas áreas investimento e serviços. Numa das suas primeiras decisões após tomar posse, o Presidente norte-americano, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do Acordo Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um ambicioso bloco comercial na Ásia Pacífico e um pilar central da estratégia de Obama na região. A Austrália era um dos principais defensores do bloco, que Pequim considera ter como objectivo travar a sua crescente influência na região. A visita de Li à Austrália e Nova Zelândia, que começou na quarta-feira, é a primeira de um primeiro-ministro chinês em onze anos. Li é também o mais alto responsável chinês a visitar a Austrália desde 2014, quando o Presidente Xi Jinping, fechou o acordo de livre-comércio.
QUESTÕES MARÍTIMAS
Turnbull sugeriu que dois lideres vão ainda abordar a questão do Mar do Sul da China, reclamado quase na
PEOPLE'S DAILY
Toca a abrir as portas
CONFIRMADA INTERDIÇÃO DE CARNE DE VACA DO BRASIL
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M porta-voz do ministério chinês do Comércio disse ontem que o país decidiu suspender as importações de carne de vaca oriundas do Brasil, na primeira confirmação oficial de Pequim sobre a interdição de carne brasileira. O ministro da Agricultura do Brasil tinha já anunciado a decisão da China de suspender as importações, mas até agora os funcionários chineses limitaram-se a dizer que o país adoptara precauções. O porta-voz do ministério do Comércio da China, Sun Jiwen, confirmou ontem que “os departamentos competentes do Governo chinês adoptaram medidas atempadas e temporárias para suspender as importações de carne de vaca oriunda do Brasil”. Uma operação policial no Brasil detectou um esquema de facilitação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
De acordo com a polícia federal brasileira, funcionários públicos eram subornados por directores de empresas para darem aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados e adulteradas. Entre as práticas, foi comprovado o uso de químicos para melhorar o aspecto das carnes, a falsificação de etiquetas com a data de validade ou a inclusão de alimentos não adequados para consumo na elaboração de enchidos. União Europeia, Japão e México anunciaram, entretanto, limites ou a interdição total da importação de carne brasileira.
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EDITAL Edital n.º : 11/E-OI/2017 Processo n.º : 689/OI/2015/F Assunto :Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento Geral de Construção Urbana (RGCU) Local :Estrada Marginal do Hipódromo n.º 85, Edf. Lai Va San Chun (Bloco 2), área sobrejacente à fracção 16.º andar E (CRP: E16), Macau.
• A China “não pode fechar as portas” para resolver os seus desequilíbrios comerciais com a Austrália, afirmou Li Keqiang
Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados os donos das obras e os utentes do local acima indicado, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as obras não autorizadas abaixo indicadas, as quais infringiram o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (RGCU) de 21 de Agosto, alterado pela Lei n.º 6/99/M de 17 de Dezembro e pelo Regulamento Administrativo n.º 24/2009 de 3 de Agosto, pelo que as mesmas são consideradas ilegais: Obra
totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos. “O primeiro-ministro Li e eu vamos discutir, como fizemos antes, a importância de proteger a manter a estabilidade na nossa região”, disse Turnbull. “Acreditamos que a China tem uma grande contribuição a fazer
para a paz global e prosperidade, numa era de rápidas mudanças”, afirmou. Li disse que a China vai cooperar com a Austrália para garantir a liberdade de navegação nas regiões divididas. A China “nunca vai procurar a hegemonia e domínio”, disse.
LONDRES XI JINPING CONDENA TERRORISMO
O Presidente da China, Xi Jinping, condenou ontem “todas as formas de terrorismo”, depois do atentado perpetrado na quarta-feira em frente ao parlamento britânico, em Londres, que fez cinco mortos, incluindo o atacante, e 40 feridos. “A China opõe-se a qualquer forma de terrorismo”, disse Xi, numa mensagem endereçada à rainha Isabel II para expressar as suas condolências, publicou ontem o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista chinês. Segundo o mais recente balanço oficial, cinco pessoas morreram e 40 outras ficaram feridas na sequência do ataque junto ao parlamento britânico, quando um homem ao volante de uma viatura atropelou vários transeuntes na ponte de Westminster e apunhalou depois um polícia. As vítimas mortais são três civis, um polícia e o atacante, que foi abatido pelas forças de segurança, indicou na noite de quarta-feira o chefe da unidade antiterrorista da polícia de Londres, Mark Rowley.
1.1 1.2 1.3
Abertura de vão na parede exterior junto à fracção. Instalação de gradeamento metálico na parede exterior do edifício junto à fracção. Instalação de cobertura metálica na parede exterior do edifício junto à fracção.
2. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 23 de Novembro de 2016, a audiência escrita dos interessados, mas estes não apresentaram qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas. 3. Assim, nos termos do artigo 52.º do RGCU e no uso das competências delegadas pela alínea 6) do n.º 1 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, por despacho de 17 de Março de 2017 exarado sobre a informação n.º02006/DURDEP/2017, ordena aos donos das obras ou seus mandatários que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das obras acima indicadas e à reposição dos locais afectados, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos neles existentes e à respectiva desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido da respectiva demolição, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. 4. Findo o prazo estipulado, não será aceite qualquer pedido de demolição das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos do artigo 56.º do RGCU, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos trabalhos de demolição e de desocupação, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado serão depositados num local a indicar à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 1 do artigo 65.º do RGCU, os infractores são sancionáveis com multa de $1 000,00 a $20 000,00 patacas. 6. Nos termos dos artigos 145.º e 149.º do Código do Procedimento Administrativo, os interessados podem apresentar reclamação no prazo de 15 (quinze) dias contados a partir da data da notificação. 7. Nos termos do n.º 1 do artigo 59.º do RGCU e do n.º 4 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 15 dias contados a partir da data da notificação. RAEM, 17 de Março de 2017 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man
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Electrónica DJ MARFOX ESTREIA-SE EM MACAU NO SÁBA
EVENTOS
Filme de Ivo Ferreira em destaque nos Sophia
O
filme “Cartas da Guerra”, de Ivo Ferreira, realizador radicado em Macau, dominou a edição deste ano dos Prémios Sophia, daAcademia Portuguesa de Cinema, ao arrecadar nove das 21 estatuetas entregues, entre as quais as de Melhor Filme e Melhor Realização. “Cartas da Guerra” foi distinguido igualmente com os prémios de Melhor Argumento Adaptado, escrito pelo realizador com Edgar Medina, Melhor Montagem (Sandro Aguilar) e Melhor Fotografia (João Ribeiro), entre outras categorias técnicas. Os prémios foram entregues no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, numa cerimónia na noite de quarta-feira. O realizador não estava presente – tinha acabado na véspera de filmar o novo projecto em que está a trabalhar, uma película rodada em Macau. “Além de todos os lugares-comuns – de que me deixa feliz, e de que é bom ver reconhecido o meu trabalho e dos meus colegas –, tendo acabado de filmar no dia antes, tem um sabor especial”, comentou Ivo Ferreira ao HM. “Espero que possa ser uma ajuda para este filme de Macau.” O realizador afirma ainda que “a Academia é um órgão muito específico, constituído por pessoas do cinema”, para salientar a satisfação que sente ao ser reconhecido entre os seus pares, com o “Cartas da Guerra” o escolhido em tantas categorias. Construído a partir da correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e a primeira mulher, Maria José, quando esteve destacado em Angola, durante
a Guerra Colonial, “Cartas da Guerra” deixa um retrato sobre “a maior tragédia portuguesa do século XX”.
DESEJOS PARA O FUTURO
Ao receber o Prémio de Melhor Filme, o produtor, Luís Urbano, de O Som e a Fúria, dedicou-o ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), “apesar de não gostar muito da direcção que está lá”, por considerar que é um instrumento “essencial para fomentar esta actividade”, para prosseguir “uma política pública, que tem de existir” e “que tem de apoiar a diversidade no cinema”, com base em “concursos públicos” e “júris independentes, nomeados pelo próprio instituto do cinema, e não por qualquer arena de interesses”. Pouco antes, o realizador Luís Filipe Rocha, distinguido com o prémio Sophia de Melhor Argumento Original, por “Cinzento e Negro”, criticara os sistemas de júri para a atribuição de financiamentos ao cinema português, e apelara a uma reforma total dos mecanismos de apoio do ICA. Sem esquecer a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na plateia, o realizador de “Cinzento e Negro” desejou “um futuro melhor e mais solidário para o cinema português”. “Cinzento e Negro” reunia 14 nomeações, e conquistou três prémios Sophia (Melhor Actor, Melhor Banda Sonora e Melhor Argumento Original). “Cartas da Guerra” somava 11 nomeações. Miguel Borges recebeu o prémio de Melhor Actor Principal, pelo desempenho em “Cinzento e Negro”, e Ana Padrão, o de Melhor Actriz
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA ERA UMA VEZ EM GOA • Paulo Varela Gomes
Estamos em 1963, dois anos volvidos sobre a expulsão dos portugueses da Índia. Os territórios de Goa, Damão e Diu encontram-se sob o domínio ainda ambíguo do governo indiano, mas, nas ruas, o concacim e o inglês convivem a toda a hora com um sub-reptício português, os letreiros das lojas ainda mal apagados, a religião ecléctica com as marcas de Cristo, os edifícios e a cultura no limbo de um colonialismo defunto. Graham é um cidadão britânico que chega a Goa com escassos recursos e por meios pouco ortodoxos, antecipando-se às ondas hippies que encontrarão na Índia o reduto místico por excelência. Sistematicamente confundido com um perigoso infiltrado português, Graham terá de sofrer rocambolescos encontros, desencontros e aventuras até vislumbrar os sentidos possíveis da complexa cultura goesa.
Nas pistas
Marlon Silva é a personificação das origens humildes que che primo mais velho animar festas de bairro, baptizados e casame batidas já ecoaram por todo o mundo, e chegam ao Kampek n
MARTA PINA
Cartas vencedoras
Principal, pelo trabalho em “Jogo de Damas”, de Patrícia Sequeira. O prémio de Melhor Banda Sonora Original foi para Mário Laginha, pela composição para “Cinzento e Negro”. O prémio de Melhor Curta-Metragem de Ficção foi para Simão Cayatte, por “Menina”. “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles, que abriu a lista de galardões com o Urso de Ouro de Berlim, em 2016, recebeu o Sophia de Melhor Documentário em Curta-Metragem. A memória da Guerra Colonial passa igualmente por “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro, que juntou o Prémio de Melhor Curta-Metragem de Animação, ao seu rol de distinções. “Mudar de Vida”, de Nuno Guerreiro e Pedro Fidalgo, sobre o músico José Mário Branco, recebeu o prémio de Melhor Documentário em Longa-metragem. “Mudar de Vida” chegou às salas de cinema em Maio do ano passado. Ficou em cartaz mais de dois meses e acabou por se situar entre os dez filmes portugueses mais vistos em sala, em 2016. A obra resulta de 12 anos de trabalho e não teve outros apoios financeiros se não os angariados junto de particulares: “Mais de 200”, sobretudo através de ‘crowdfunding’, porque, “quando todas as políticas falham”, viramo-nos para as pessoas, disse o realizador Nuno Guerreiro. A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu ainda o actor Ruy de Carvalho com o Prémio Mérito e Excelência, assinalando os seus 90 anos de vida e 75 de carreira. Os prémios Sophia Carreira, destinados à actriz Adelaide João e ao director de fotografia Elso Roque, serão entregues pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na próxima segunda-feira.
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A Portela de Sacavém para o mundo. Podia ser um título alternativo para este artigo. DJ Marfox, ou Marlon Silva no cartão do cidadão, é hoje um fenómeno internacional. Tocou no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em festas em Los Angeles, Tóquio, Xangai, Seul e por toda a Europa. Apareceu na Rolling Stone e um pouco por todas as publicações de música de dança com renome mundial.
Há um bom punhado de anos, num vídeo de uma actuação dos Buraka Som Sistema no conhecido Festival de Coachella, na Califórnia, podiam ver-se caras de espanto. As expressões pareciam trazer a interrogação “o que é isto?”. Internacionalizava-se a mistura de kuduro que nascia nas periferias de Lisboa. DJ Marfox já andava por aí antes dessa explosão, a fazer corpos abanarem-se em festas que não chegavam ao centro de Lisboa, apesar de já marcar presença em várias cidades
europeias. “A música já era internacional, os putos já a faziam, chegava a Londres, Nice, Paris, mas sempre para as comunidades emigrantes de Cabo-Verde e Angola”, conta o DJ. Até que a Príncipe Discos e a produtora Filho Único chegam à história de Marfox, e levaram as sonoridades de inspiração africana da periferia para o Cais do Sodré, mais propriamente para o Musicbox. Começavam as “Noites Príncipe”, que foram ganhando notoriedade no underground lisboeta.
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AS MULHERES E A GUERRA COLONIAL • Sofia Branco
Rezaram e fizeram promessas por eles. Escreveram-lhes centenas de aerogramas, adiando o amor, às vezes sem volta. Tornaram-se madrinhas de guerra de homens que nem sequer conheciam. Foram com eles para o território desconhecido de África, que amaram ou odiaram, ou resignaram-se a esperar por eles, com filhos nos braços. Voaram para os resgatar do mato, onde chegaram mesmo a morrer por eles, e organizaram-se, com maior ou menor cunho ideológico, para lhes aliviar a saudade, enquanto apoiavam as suas famílias. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes.
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ADO
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do mundo
egam ao estrelato. Desde criança que quis ser DJ. Viu o entos, e cedo começou a cozinhar remixes. Hoje, as suas no sábado
“Deram-nos uma casa no centro da cidade e, com isso, deram-nos consistência”, revela. O artista tem uma relação umbilical com a sua editora, que considera uma família. O suporte da ‘label’ chegou ao ponto de levar artistas ao SEF para tratarem de documentação, assim como tratar de problemas familiares. Também mantinham uma relação estreita com os pais de Marlon, ligando-lhes para reiterar o talento do jovem e que tudo fariam para lhe dar uma carreira como DJ.
RUMO AO ORIENTE
Com cinco discos editados na bagagem e participação em quatro compilações, Marfox não perde o pé. O miúdo que cresceu na Quinta da Vitória, na Portela de Sacavém, tem um sentido de responsabilidade que nem sempre se encontra no mundo da música. Chegar aos palcos internacionais “é uma responsabilidade muito grande porque muita gente depositou confiança em mim”, releva o DJ. Quando pensa no sucesso
e reconhecimento internacional que conseguiu, Marfox pensa no pai e na mãe, “nos sacrifícios que fizeram” para lhe darem a melhor vida possível. Ao sentido de responsabilidade junta-se a satisfação que tem em tocar e em fazer correr suor nas pistas por onde passa. Um sentimento de compromisso que cresceu há três semanas com o nascimento do seu primeiro rebento. “Os meus pais cumpriram o seu papel, agora falto eu cumprir o meu e melhorar a vida do meu filho”, conta. Este ciclo que lhe dá força, firmeza, que faz com que encare todos os
“É uma música da nova Lisboa, não Huambo, mas das periferias de Lisboa que abraça a velha Lisboa do centro.” DJ MARFOX
públicos sem medos e com que dê tudo o que tem, mesmo que esteja cansado. Além disso, toca com prazer. Quando à definição do seu som, Marfox caracteriza-o como “uma ponte entre tudo o que é feito de melhor em África e tudo o que é feito de melhor em Lisboa”, em termos de música electrónica. Mistura as batidas africanas do kizomba, kuduro, funaná, tarraxinha aos sons urbanos do techno, house e electrónica. Ainda assim, classifica a sua música como sendo “80 por cento lisboeta”.Acrescenta que “é uma música da nova Lisboa, não Huambo, mas das periferias de Lisboa que abraça a velha Lisboa do centro”. Quanto a Macau, Marfox sente que tem “bom vibe”. Além disso, achou muita piada à forma como se nota nalgumas pessoas, e na própria cidade, a mistura que houve entre portugueses e chineses. Definitivamente, um bom remix. João Luz
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EVENTOS
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fichas de leitura
Manuel Afonso Costa
Das raízes Saramago, José, As Pequenas Memórias, Caminho, Lisboa, 2006. Descritores: Memórias, Infância, Família, 144 Páginas
nidade não deixei de ver o filme e lembro que correspondia exemplarmente à sua análise, e ficou para sempre registado como um dos filmes da minha vida para parafrasear João Bénard da Costa. Os textos-memória de Saramago sobre animais são também muito expressivos, em particular a sua reflexão sobre os cavalos, esses mesmo que lhe andam a coxear na alma há setenta anos, afinal por nunca os ter montado. Eu pessoalmente gosto sobretudo das memórias em que o autor narra os grandes momentos de descoberta interior, ainda que algumas vezes, ou mesmo a maior parte, as descobertas interiores apareçam ligadas a fenomenologias externas. E deixo-vos com esta pequena pérola:
Q
UANDO escrevia O Memorial do Convento, livro que lhe deu notoriedade mundial, José Saramago começou a pensar num relato autobiográfico. Levou mais de vinte anos para elaborar o projecto, cujo resultado é este livro designado As Pequenas Memórias. É verdade que chegou a sonhá-lo com o título O Livro das Tentações, mas depois concluiu que um título assim, glosando as tentações de Santo Antão de Hyeronimus Bosch, seria demais. O livro cobre os primeiros quinze anos da sua vida, do nascimento, em 1922, na aldeia da Azinhaga, Ribatejo, aos estudos na escola industrial de Lisboa, de onde sairá com a formação profissional de serralheiro mecânico. Relembra o convívio com as suas raízes camponesas, em particular através da figura altaneira de seu avô, homem sábio e contudo analfabeto, com quem “aprendeu a cuidar dos porcos e observar a via Láctea”. Fala também muito dos tempos de Lisboa, de quando era novo, da sua tendência para a solidão contemplativa e já nessa época da paixão pelo cinema. Penso que foi na Bagagem do Viajante, primeiro livro que eu li de José Saramago, que uma crónica sobre cinema me surpreendeu. Nunca mais esquecei o que Saramago disse sobre o Il general della Rovere de Roberto Rossellini, com o grande Vittorio De Sica. Na primeira oportu-
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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“A noite tinha caído, no silêncio do campo só se ouviam os meus passos. (…) Uma lua cheia, (…) iluminava tudo em redor. Antes do ponto em que teria de abandonar a estrada para meter a corta-mato, o caminho estreito por onde ia pareceu terminar de repente, esconder-se atrás de um valado alto, e mostrou-me, como a impedir o passo, uma árvore isolada, alta, escuríssima no primeiro momento contra a transparência nocturna do céu. De súbito, porém, soprou uma brisa rápida. Arrepiou os caules tenros das ervas, fez estremecer as navalhas verdes dos cana-
viais e ondular as águas pardas de um charco. Como uma onda, soergueu as ramagens estendidas da árvore, subiu-lhe pelo tronco murmuran do, e então, de
“JOSÉ SARAMAGO, poeta (Os Poemas Possíveis, 1966, Provavelmente Alegria, 1970, O Ano de 1993, 1975; dramaturgo (A Noite, 1979, Que Farei com Este Livro?, 1980, A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987, In Nomine Dei, 1993, Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005 e romancista (Terra do Pecado, 1947, Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, Todos os Nomes, 1997, A Caverna, 2000, O Homem Duplicado, 2002, Ensaio Sobre a Lucidez, 2004, As Intermitências da Morte, 2005, A Viagem do Elefante, 2008, Caim, 2009, Claraboia, 2011), sobretudo, conduziu uma vida intelectual e cultural, marcada pelo auto didactismo e pelo comprometimento social e político. Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa”.
golpe, as folhas viraram para a lua a face escondida e toda a faia (era uma faia) se cobriu de branco até à cima mais alta. Foi um instante, nada mais que um instante, mas a lembrança dele durará o que a minha vida tiver de durar. Não havia tiranossauros, marcianos ou dragões mecânicos, é certo que um aerólito cruzou o céu (não custa a acreditar que sim), mas a humanidade, como veio a verificar-se depois, não esteve em perigo. Depois de muito caminhar, ainda o amanhecer vinha longe, achei-me no meio do campo com uma barraca feita de ramos e palha, e lá dentro um pedaço de pão de milho bolorento com que pude enganar a fome. Ali dormi. Quando despertei, na primeira claridade da manhã, e saí, esfregando os olhos, para a neblina luminosa que mal deixava ver os campos ao redor, senti dentro de mim, se bem recordo, se não o estou a inventar agora, que tinha, finalmente, acabado de nascer. Já era hora”. O estranhamento do mundo, o achamento da subjectividade. É disso que se trata. É nisso que consiste o nascimento, e, em boa verdade, este é que é o nascimento de facto. Não tem data marcada, acontece quando acontece, consta que para muitas pessoas nunca chega a acontecer e em muitos casos acontece muito tarde e para quase todos, raras vezes muito cedo. Enfatizo aqui a presença do verbo acontecer, uma vez que é dessa ordem a fatalidade feliz de um nascimento, ou seja da ordem do inesperado, fortuito, e sobretudo mágico. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Pública de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.
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José Simões Morais
O final da boémia vida de Albino Paiva
Campos Elíseos, século XIX
E
M artigo anterior, deixamos a história de Albino Francisco de Paiva de Araújo após o regresso da viagem a Portugal que fizera com a sua esposa, a Thérèse Blanche Lachmann, aliás Madame Paiva. Camilo Castelo Branco referia, “A polaca regressou a Paris, e como o seu marido constituía um empacho aos seus embelecos e astúcias, requereu a separação e regressou ao exercício profissional do galanteio”. Tal visita desmente as versões a circular sobre o dia seguinte ao casamento ocorrido a 5 de Junho de 1851 e que teve como uma das testemunhas o escritor Theophile Gautier. Segundo diz Viel-Castel, nas Memórias de Conde Horace, no dia seguinte a casar a nova Madame Paiva entregou ao marido uma carta em que punha termo ao casamento. Já sobre o que ocorreu em Paris, Peter Flectwood-Hesketh refere, “Na ópera com Florentino [o jornalista napolitano Angélico Florentino], uma noite, em 1852 (ano seguinte a se ter casado com o Paiva), o cônsul alemão, Félix Bamberg, apresentou-a a Guido, conde Henckel von Donnersmark, austero mas belo jovem de 22 anos. Apesar de ser 11 anos mais novo do que ela, Guido ficou imediatamente cativo pela deslumbrante marquesa. A princípio ela apenas se divertia com a sua enfatuação; depois jogou com ele um jogo caprichoso de gato e rato. Só quando ele, desesperado, fugiu para Berlim, ela reconheceu em si uma afeição real por ele. Ela seguiu-o e lá começou uma relação que, acrescentada ao ambiente de segurança financeira que oferecia, aproximou-se mais do amor e do romance do que qualquer outra na sua vida calculada e egoísta, durante e até ao fim. Guido era herdeiro duma antiga família, cuja principal propriedade era
Neudeck, perto de Tarnovitz, na Silésia [subúrbios de Munique], com valiosas minas de zinco, ferro e carvão. De Berlim foram para Neudeck, regressando a Paris, onde, em 2 de Dezembro, o príncipe Luís Napoleão recebeu o título de Imperador Napoleão III”. (...) “Ela partilhou com Henckel o entusiasmo pela música, sobretudo de Richard Wagner, assíduo visitante. A princípio evitava familiaridades com Guildo; mas quando o teve seguro, submeteu-se a este silencioso e apaixonado alemão. A adicionar a esta resposta amorosa, a sua experiência e habilidade nos negócios ajudou-o imensamente e ganhou a sua devoção e a gratidão durante toda a vida”. E continuando com Flectwood-Hesketh, “A casa de Teresa no Lugar de S. Jorge tornou-se mais uma vez o popular ponto de reunião do círculo literário, musical e artístico com grande desgosto da princesa Matilde, prima do imperador, que via naquilo uma invasão na sua área reservada, bem como da respeitável sociedade parisiense, que olhava para Teresa como pária intocável. Entre os habituais frequentadores de Teresa, quase todos do sexo masculino, contavam-se Paul de Saint-Víctor, León Gozlan, Émile de Girardin, Jacob Ponsard, Émile Augier, os irmãos Goncourt, Arsène Houssaye, Théophile Gautier, Sainte-Beuve e o austeno Taine. Entre os seus amigos havia também financeiros, que a ajudavam com conselhos salutares”.
REGRESSO A PORTUGAL
Albino Francisco de Paiva de Araújo, após se separar da judia polaca, continuou por mais algum tempo na vida de boémia em Paris, onde gastou o que lhe sobrava da herança, que Camilo Castelo Branco referia, “uma fortuna de 400 contos de réis, que nessa época estariam reduzidos à dé-
cima parte” e veio para o Porto já endividado. E continuando com este escritor, que diz ter Albino Araújo abandonado a sua esposa dois anos decorridos, “mais ou menos espontaneamente, a um dos cinco mil príncipes russos que dão mobília nova aos bordéis parisienses, e regressou a Portugal com bastantes malas inglesas, uma dúzia de floretes, outras tantas caraças e manchetes, afora algumas dívidas. A mãe pagou-lhe as letras, e perdoou-lhe o casamento e a dissipação do património”. E continuando com Camilo Castelo Branco, “Durante quatro ou cinco anos, Paiva viveu muito recolhido no Porto, mas frequentando pouco a convivência da mãe.
Albino Francisco de Paiva de Araújo, após se separar da judia polaca, continuou por mais algum tempo na vida de boémia em Paris, onde gastou o que lhe sobrava da herança Habitava uma casinha de duas janelas, situada na extremidade do jardim. Saia de noite, recolhia de madrugada, e passava o dia a comer e a dormir. Um escudeiro levava-lhe em tabuleiro coberto o almoço e o jantar da cozinha da mãe, que ele raras vezes procurava. Era-lhe odiosa, porque lhe não dava dinheiro para sair de Portugal, e apenas lhe enviava mensalmente o necessário para dignamente se tratar na sociedade pacata, frugal e económica do Porto.
Em 1855 e 56 encontrei-o muitas tardes nos pinhais e carvalheiras da Prelada e de Lordelo, passeando com uma francesa de muita vista, escultural, com a trança dos cabelos louros desatados sob as amplas abas d’um chapéu de palha azul ondulante de fitas escarlates. Se eu procurasse o nome dela na sepultura para lh’o dizer, não o acharia, porque a francesa, d’um espírito raro, morreu na obscuridade da pobreza, e d’uma velhice que redime e pede perdão para os delitos da juventude. Dessa época lembram-me dois episódios de Paiva Araújo. A Macaense dera azo a que se soubesse cá fora que o filho a quisera matar com veneno, para empolgar a herança. O Jornal do Porto dera a notícia com discreta prudência; mas Paiva foi insultar com ameaças de azorrague o honrado proprietário daquele jornal, que desviou de si a responsabilidade da notícia, aliás verdadeira. O outro caso, mais cómico pelas consequências, foi um duelo à espada, por motivos melindrosamente caseiros, com um fidalgo portuense chamado D. António Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva Padilha de Sousa e Haucourt, simplesmente. Se bem me recordo, Paiva Araújo desarmou, com pouca efusão de sangue, o contendor, D. António, alucinado com o êxito do duelo, atirou-se da ponte Pensil sobre... um barco rabelo de batatas que vinha mansamente descendo o Douro. E saiu sem contusão de entre as batatas que, de certo, não eram tão macias e flácidas como as almadraques de um kalifa de Córdova. (...) Em 1860 encontrei Paiva Araújo em Braga, leccionando francês no colégio da Madre de Deus, no palácio dos Falcões, onde uma família estrangeira tentava inutilmente a fortuna. O marido de Branca Lachmann, nesse ano, trajava menos que modestamente. O seu casaco e chapéu, em tais condições, não lhe os aceitaria um dos seus antigos criados”. Jorge Forjaz refere, “Depois da separação, Paiva Araújo voltou a Portugal, conservando-se algum tempo no Porto. Mais tarde ainda tornou a Paris, de onde / de quando em quando vinha ao Porto visitar a mãe. Lutava já com os últimos recursos, completamente esbanjada, não a legítima como a própria herança paterna. Entretanto, Blanche Lachmann já fisgara um novo amante – desta vez tratava-se do Conde Henckel von Donnermarck, magnata de cobre na Silésia e primo de Bismarck”.
15 hoje macau sexta-feira 24.3.2017
em modo de perguntar
Paulo José Miranda
Maria João Falcão
À descoberta do método Há vinte anos que vens trabalhando em teatro, cinema e televisão. Imagino que exijam esforços e técnicas diferentes. Podes explicar-nos quais as maiores diferenças que encontras nesses diferentes modos de se ser actriz? E tens alguma preferência por um deles? E a tua preferência foi mudando ao longo dos anos, ou sempre se manteve a mesma? A minha preferência sempre foi o teatro…também foi o que eu estudei. Cinema fiz muito pouco, por isso estou mais à vontade para falar de televisão e teatro. São processos muito diferentes, a começar pela construção das personagens: um texto de teatro tem um princípio, meio e fim, tu sabes à partida o que acontece e como se desenvolve a tua personagem e é sobre isso que trabalhas. Num guião de televisão só sabes o início e alguns antecedentes da tua personagem, vais construindo conforme os guiões que vais recebendo. Depois em teatro ensaias durante um mês e meio e, se tiveres sorte, ficas três semanas em cena (hoje em dia é muito raro), em televisão podes ir desenvolvendo a tua personagem durante muito mais tempo, entre nove meses a um ano – este é um dos lados mais interessantes de trabalhar em televisão. Depois há outra diferença fundamental que é o que o público vê: em teatro a estreia só acontece depois de um trabalho de ensaios, de preparação dos actores e de tudo estar afinado. Em televisão tu ensaias duas ou três vezes a cena com o director de actores e realizador e depois gravas, e é o que o público vai ver! Tem de haver um trabalho de casa enorme porque chegas ao estúdio preparada para gravar várias cenas. É um treino enorme para o actor. Outra diferença fundamental é que no teatro tudo está à vista do espectador e é ele que escolhe o que vê. Em televisão há uma edição feita pelo realizador. O público só vê o que o realizador quer. Mas a grande diferença será sempre que o teatro é em directo…. se te enganares no teatro ou te esqueceres do texto, ninguém diz “corta!” Há sempre alguns personagens que marcam mais as actrizes, quais foram os personagens que mais te marcaram até hoje? E por quê? Das personagens que mais me marcaram destaco a Mona do Dias de Vinho
soal de perceber o que são estes métodos que, por muito que se leiam os livros, não há nada como conhecer e estudar com as pessoas que os criaram e desenvolveram. São cursos intensivos e prolongados, não são workshops de uma semana, o que permite um aprofundamento do trabalho que só se consegue com algum tempo de treino. Finalmente há a vantagem de se viajar e viver noutros países e estar em contacto com actores do mundo inteiro. Isso eu nunca consegui como actriz, só como estudante de teatro.
e Rosas com encenação do Jorge Silva Melo, pelo desafio enorme que foi. Mas acho que, mais que os personagens, são os processos e os projectos que me marcam. Consigo destacar ultimamente O Feio com encenação de Toni Cafiero e A Casa de Bernarda Alba com encenação de Maria João Luís. O Feio porque é raro encontrar encenadores com um universo tão próprio como o Toni e que gostem tanto de actores e estejam constantemente a desafiá-los. A Casa de Bernarda Alba foi um projecto da Maria João Luís, o início da companhia Teatro da Terra. Este projecto foi muito importante porque entravam na peça um coro de mulheres de Ponte de Sor. Eram actrizes amadoras, tinham outras profissões, mas cada vez que iam para cena estavam tão felizes… e eu sempre que ia para cena estava tensa, não me divertia. Foi importante o projecto por descobrir que me faltava este lado lúdico e de prazer que esta profissão tem que ter…. e nesta busca acabei por ir para Paris estudar com o Philippe Gaulier. Era para ir três meses e acabei por ficar dois anos a estudar com ele. Mudou-me a vida. Além de Paris, estudaste artes de representação em Nova Iorque, e agora estás a acabar um mestrado em artes
cénicas, na FSCH. Estudar é algo fundamental na tua vida? Para além da prática da representação, o estudo é-te fundamental? É fundamental. Primeiro trata-se da descoberta de um método. Ou seja, o que importa é o que se estuda. Mais do que ter ido estudar para Nova Iorque, eu fui estudar Suzuki e ViewPoints com a SITI Company. Mais do que ter ido estudar para Paris, fui estudar com o Philippe Gaulier, perceber a diferença entre a escola dele e a do Lecoq, perceber o que é o clown para Gaulier e o que é o bouffon. Mesmo recentemente fui para o Odin Teatret na Dinamarca perceber o que é o método de Eugenio Barba. Faz parte de uma pesquisa pes-
O que importa é o que se estuda. Mais do que ter ido estudar para Nova Iorque, eu fui estudar Suzuki e ViewPoints com a SITI Company. Mais do que ter ido estudar para Paris, fui estudar com o Philippe Gaulier
Não tens televisão em casa, e és muitas vezes reconhecida na rua por causa dos teus papéis na televisão. Como entendes ou como vives esse fenómeno de te confundirem com aquilo que representas, nas telenovelas? Tens algum episódio mais caricato que nos possas contar? Normalmente as pessoas são muito simpáticas, nunca foram desagradáveis ou demasiado intrusivas. Também, confesso que quase ninguém me reconhece. Houve uma vez um senhor que me reconheceu e que me disse A menina ao ar livre é mais bonita. Adorei a expressão ao ar livre! Qual achas que está mais pujante hoje, em Portugal, o teatro ou o cinema? Sinceramente não sei nem acho que se possa comparar. Se pujante significa ser internacional, o cinema português já há uns anos que se tem destacado bastante. Mas há imensas companhias que fazem residências e são programadas no estrangeiro mas que cá não é notícia. Tem-se produzido bastante teatro em Portugal e há bastante público mas ficam, salvo raras excepções, três a cinco dias em cena, o que para um espectáculo não é nada. Os cortes nos subsídios são enormes o que obriga as companhias a esforços hercúleos para cumprir a programação e até mesmo a terminar. Por isso não sei se pujante é um adjectivo que se possa utilizar. Que projectos para este ano? Estou agora a ensaiar a peça Migrantes de Matéi Visniec com encenação do Rodrigo Francisco para o Teatro de Almada, onde tenho estado ultimamente a trabalhar. Acabar o mestrado e continuar a desenvolver um projecto pessoal sobre o treino do actor. Também gostava de viajar….mas logo se vê.
16 (F)UTILIDADES TEMPO
MUITO
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
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NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO | “ANSCHLAG BERLIM DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM” Galeria Tap Seac
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EXPOSIÇÃO “CONFUSION OF CONFUSIONS WORKS BY YOYO WONG” Armazém do Boi | Até 26/3
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)
PROBLEMA 4
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 3
UM FILME HOJE
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
C I N E M A
1.16
ANTECIPAÇÃO
EXPOSIÇÃO “WORKS BY LEI CHEOK MEI” Armazém do Boi | Até 26/3
Cineteatro
YUAN
AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden
EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
0.23
Palpitações, ritmo acelerado, pupilas que dilatam num previsão oracular do que está para vir. Expansão e expiração, doce e tranquila. Todas as reacções biológicas que pressentem a chegada do fim-de-semana, da ordem dos dias ordenados pelos humanos que culminam num zénite qualquer. Medidas de tempo que se renovam em ciclos que contam os dias como respirações, arquejos diários, taquicardias e desejos íntimos. Os dias caem em catadupa como chuva torrencial, cada vez mais rápidos em fast forward, envelhecendo tudo e todos numa velocidade que se cola nas nossas peles. Gatos, humanos, percevejos e até cães. Comprimimos como a matéria que fermentou o elemento originário, a singularidade. Chega a quarta-feira e já se projecta o “Big Bang”, a expansão que nos leva longe, que nos prepara para o ciclo contractivo que se avizinha no fim da tarde de sábado. Quem inventou isto das semanas sabia o que fazia, podia era ter equilibrado melhor os pólos. Por agora deseja-se futuro, que venha célere e traga novidade. Depois que parem os relógios, como projectava Charles Manson no seu pesadelo familiar no inferno do Death Valley. Um mergulho na curva do buraco negro onde tempo e matéria deixam de o ser para se fundirem numa dimensão que desconhecemos. Inspiremos profundamente e expiremos até ao último fôlego. Pu Yi
“ANIMAIS NOCTURNOS” | TOM FORD | 2016
O estilista da Gucci já marcava a diferença no mundo da moda com anúncios publicitários provocadores mas, com este filme, Tom Ford mostra-se ousado de outra forma. “Animais Nocturnos” é um triller com toques de neo-noir e com uma forte densidade psicológica, quer ao nível da morte, como do amor. Andreia Sofia Silva
POWER RANGERS SALA 1
POWER RANGERS [B] Filme de: Dean Israelite Com: Bryan Cranston, Elizabeth banks, Naomi Scott 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
SALA 3
KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 14.15, 16.30, 21.30
LIFE [C]
SILENCE [B]
Filme de: Daniel Espinosa Com: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Filme de: Martin Scorsese Com: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson 16.45
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17 hoje macau sexta-feira 24.3.2017
contramão
ISABEL CASTRO
As sombras QUENTIN TARANTINO, DJANGO UNCHAINED
isabelcorreiadecastro@gmail.com
C
HEGAM de mansinho e fecham-se, bem fechados, como se as ruas lhes fizessem mal. A clausura que procuram não deve, nem pode, ser confundida com vontade de transmitir humildade. É o contrário. O isolamento que os rodeia tem características de redoma, uma redoma que julgam pintada a ouro, pintada com ouro, condicente com a sonância dos apelidos que acompanham o nome próprio, pelo que já foram e agora são. Chegam com pompa e circunstância, dentro das circunstâncias possíveis da pompa de quem já não sabe – talvez nunca tenham sabido – onde está. Comportam-se como príncipes de um reino que nunca lhes pertenceu, seres que não se confundem com a plebe, eles é que tiveram importância, sem os seus actos e omissões nada seria como é. O passado assalta-nos porque eles são o passado. Chegam com silêncios. Fecham-se em copas e espadas, ases na fuga aos microfones, para os quais não são capazes de olhar sem uma certa altivez a roçar o desprezo, ou com um certo desprezo que gostaria de ser altivo, mas que não consegue sê-lo por falta manifesta de pedigree.
Mas eles estão aí. Vêm em excursão, não obstante detestarem excursionistas e autocarros, e paragens nas estações de serviço para abastecer e desabastecer. Andam aí não se sabe bem onde, nem a fazer o quê. Reúnem-se e discutem o futuro dos outros, como se pudessem decidir o futuro dos outros, trocam elogios comedidos e beijinhos contidos, gostam imenso de se verem uns aos outros enquanto se vêem uns aos outros, depois é melhor nem falarmos nisso. O resto? O resto nem paisagem consegue ser. Não quero ficar no passado, neste passado de palácios e adjuntos e transferências e tricas e o que não se disse e o que não se fez. O passado interessa-me numa perspectiva histórica, sociológica e política, mas nada me diz como forma de vida, de pensar e de estar. Há uma certa Macau que, do nada, aparece para dizer que ela é que era, porque a Macau de hoje não existe. Eles desconhecem-na, propositadamente, abafam-na com o cheiro a naftalina que imagino que sempre tiveram, pelo que me dizem os livros de história que fui lendo.
Há uma certa Macau que, do nada, aparece para dizer que ela é que era, porque a Macau de hoje não existe
Essa Macau do passado que, de vez em quando, nos assalta, ignora a realidade, é incapaz de ver a mudança, não tem capacidade de perceber que os anos têm 365 dias e que passam uns atrás dos outros, os dias e os anos, e que com eles tudo muda. Houve gente que morreu desde que foram embora. Houve gente a nascer desde que foram embora. Há gente a chegar todos os dias, a comunidade já não é a mesma, é outra, tem outras preocupações que não os desentendimentos de há duas décadas, tem os problemas de hoje para gerir e não tem culpa – nem quer ter – do passado ao qual pertence apenas por herança nacional. Esta mudança não se põe em bicos de pés. Não tem por que o fazer. Por não se pôr em pontas, passa despercebida neste bailado lento, com um ligeiro cheiro a mofo, que se dança quando a população provisoriamente se altera, por via das visitas que se sentam, lado a lado, em confortáveis poltronas, debaixo do ar condicionado que lhes seca o suor e desfaz a maquilhagem. Ainda assim, apesar de terem os pés completamente colados ao chão, os que cá estão, os que ficaram e os que entretanto chegaram, vivem e têm direito a viver sem sombras. Sem terem de levar, de modo excessivo, com as balas que se atiram lá de longe, de há 20 ou 30 anos. Chegou a altura de o retrato ser diferente, porque a fotografia de família não representa ninguém.
OPINIÃO
18 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
a canhota
P
Os antigos inacessíveis
JOHN STURGES, THE OLD MAN AND THE SEA (1958)
ARECE-ME que existe uma tendência para as coisas antigas desaparecerem devagar, sem deixar qualquer vestígio, ou apenas poucos indícios. Se olharmos para Macau, temos um caso exemplar dessa realidade. A sua evolução e desenvolvimento nas últimas décadas fizeram com que este território se tenha virado para outra fase. Aquilo que os idosos e os que vivem em Macau há mais tempo viveram e observaram já será totalmente diferente do que as novas gerações pensam e vivenciam. Essa grande mudança não permite aos que nasceram nos anos 80 e 90 observar a terra ligada ao sector da pesca que Macau
Quem defende a preservação de Lai Chi Vun tem o mesmo pensamento: se os antepassados não conseguiram manter a história e revitalizar um sector, cabe-nos a nós, novas gerações, que temos mais capacidade financeira, fazê-lo. Temos de fazer o máximo para deixar este legado às futuras gerações, manter a história viva e não deixarmos apenas registos espalhados em pedaços de papéis e documentos foi, pois não sabem onde trabalharam os pescadores e os construtores de barcos. Não compreendem o início da indústria, nem o seu fim. Num ambiente onde já existem casinos, hotéis e restaurantes, só podemos ter acesso a estas informações através dos museus, livros e fotografias. Será que os jovens sabem que Coloane não se chamava, na verdade, Coloane? E que no espaço da Ponte Cais de Coloane se fabricava
sal, o que levou ao verdadeiro nome de Coloane, “Baía do Sal”? Eu própria não sabia até participar numa visita a Coloane. Penso que os jovens, na sua maioria, também não sabem, e nem querem saber, porque prestam mais atenção ao último modelo de smartphone à venda no mercado, ou quais os filmes disponíveis no cinema. É pena quando vemos que muitas escolas em Macau têm poucos materiais sobre a história de Macau. Como a maioria usa livros publicados em Hong Kong ou no interior da China, os alunos de Macau apenas sabem que os portugueses chegaram a este território e que o começaram a administrar há muitos séculos, que se proibiu o comércio do ópio pelo comissário imperial Lin Zexu no final da dinastia Qing, ou conhecem as relações entre Sun Yat-Sen e Macau (momentos históricos mais importantes). Há algumas semanas li uma história de um velho carpinteiro de Macau, uma profissão também já em extinção por causa da mudança do ambiente económico. Ele disse: “antigamente sobreviver já era uma forma de vida para muitas pessoas”. A partir do momento em que um trabalho deixou de dar dinheiro, deixou-se algumas indústrias morrerem lentamente. Com o progresso da sociedade, há cada vez mais pessoas que se preocupam com o património, os bens históricos e as memórias. Muitos esperam não se arrepender de, um dia, as coisas antigas não poderem passar para as novas gerações. É este ponto de vista que temos de olhar quando falamos da questão dos estaleiros de Lai Chi Vun. O Governo decidiu demoli-los por questões de segurança, sem ter pensado em recorrer à tecnologia para a sua reparação ou levar a cabo algum tipo de planeamento. Alguns estaleiros estão nas mãos do Governo sem que se tenham feitos avanços nos últimos anos. Quem defende a preservação de Lai Chi Vun tem o mesmo pensamento: se os antepassados não conseguiram manter a história e revitalizar um sector, cabe-nos a nós, novas gerações, que temos mais capacidade financeira, fazê-lo. Temos de fazer o máximo para deixar este legado às futuras gerações, manter a história viva e não deixarmos apenas registos espalhados em pedaços de papéis e documentos.
FA SEONG 花想
19 PERFIL
HOJE MACAU
hoje macau sexta-feira 24.3.2017
PANG IOK CHAN, MÉDICA DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
“Quis ajudar a minha família a sobreviver”
O
amor pela medicina apareceu em pequena e quase como uma necessidade. “Os meus pais estavam sempre doentes e eu queria poder ter conhecimentos para curar os males da minha família”, conta Pang Iok Chan. A médica de medicina tradicional chinesa não esconde que a escolha da profissão ficou marcada pela morte prematura do pai, quanto tinha apenas sete anos. Ainda a frequentar o curso de medicina no Continente, Pang Iok Chan optou por abandonar os estudos e veio para Macau. “Não tinha um objectivo específico quando deixei tudo para vir para aqui.” A maior razão foi fugir à pobreza e, “já na altura, Macau aparecia como um local em que se poderiam encontrar mais oportunidades de emprego”. “Só pensava em poder ganhar dinheiro rapidamente para ajudar a minha família a sobreviver”, confessa. Já passarem muitos casos pelo consultório de Pang Iok Chan. No entanto, há um, também na família, que não lhe sai da memória e que fez com que retomasse os estudos: um primo que sofria de um tumor
congénito e que, após sete anos de tratamentos, não apresentava melhoras, “estava quase a morrer”, recorda. Recorrendo aos conhecimentos adquiridos ainda na China Continental, Pang Iok Chan conseguiu mudar a situação e, um ano depois, o primo melhorou, tendo acabado por recuperar totalmente a sua saúde. “Foi quando decidi voltar à universidade, ter o meu diploma e realizar um sonho.” “Comprei um apartamento na Taipa, perto da actual Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que na altura estava em construção.” A proximidade, diz, foi mais um alento para continuar a estudar. Depois de licenciada, Pang Iok Chan abriu a sua clínica e desde logo se assumiu como diferente dos seus colegas de profissão. “Em vez de passar receitas com os chás que os meus doentes devem tomar, prefiro apostar no incentivo a uma boa alimentação”, explica. Para a médica, os nutrientes presentes nos alimentos do dia-a-dia têm grandes propriedades de cura e “são o melhor tratamento para doenças”. Outra inovação foi a criação de um método de massagem que, ao invés de usar a
massagem tradicional, utiliza os dez dedos. Para a médica “é um método mais rápido e eficaz”.
COMPRIMIDOS EM EXCESSO
Relativamente à saúde no território, Pang Iok Chan tem algumas reservas, não deixando de responsabilizar o Governo pela atitude dos residentes em relação à saúde. “As pessoas não dão importância à sua alimentação o que, penso, tem tudo que ver com os produtos que estão disponíveis em Macau.” O facto de muitos alimentos serem importados faz com que os produtos frescos sejam raros e o “Governo não fiscaliza de forma eficaz a higiene dos bens que chegam ao território”. A médica não deixa de lamentar que, para as autoridades, os medicamentos ainda sejam prioritários em relação à alimentação. “Infelizmente, o Governo ainda dá mais importância à cura tradicional feita à base de remédios. Deveria promover mais a importância de uma boa alimentação.” Pang Iok Chan considera ainda que, por usar métodos de tratamento alternativos,
acaba por afastar alguns utentes do serviço de saúde público, até porque considera que tem procedimentos ineficazes. “Devido à falta de conhecimento e de coragem, o serviço de saúde não ajuda os utentes”, afirma. Apesar da já longa estadia em Macau, Pang Iok Chan tem agora outro sonho: o regresso à China Continental. É lá que pensa encontrar mais pessoas com quem partilhar ideias e conhecimentos. “No Continente posso estar em contacto com colegas que pensam como eu e posso ser mais útil, enquanto aqui as pessoas dão cada vez menos importância à medicina tradicional chinesa.” Para deixar um legado, a médica está agora a trabalhar num livro. O objectivo, diz, é poder dar a conhecer e divulgar os métodos que desenvolveu ao longo da carreira, “para que possam continuar a ser aplicados e aperfeiçoados”, remata. Victor Ng e Sofia Margarida Mota info@hojemacau.com.mo
A Democracia é no quintal do vizinho. Atlântido
FÓRUM MACAU PORTUGAL INDICA NOVOS REPRESENTANTES
A
delegada da AICEP em Macau, Maria João Bonifácio, é a nova delegada de Portugal no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), anunciou ontem o cônsul-geral. Por outro lado, Rodrigo Brum – ex-chefe de gabinete do antigo governador Rocha Vieira –, passa a ser secretário-geral adjunto do Fórum, disse ainda Vítor Sereno, em declarações à margem de um encontro do secretário de Estados das Comunidades, José Luís Carneiro, com associações representantes da comunidade portuguesa que vive em Macau. ALusa assinala que delegada da Agência para o Investimento PUB
e Comércio Externo de Portugal (AICEP) substitui Vítor Sereno como representante de Portugal no Fórum Macau, tal como tinha noticiado a imprensa local. O Fórum Macau tem um secretariado permanente e reúne-se ao nível ministerial de três em três anos. O secretariado permanente tem um secretário-geral (Xu Yingzhen, indicada por Pequim) e dois secretários-gerais-adjuntos, um deles nomeado pelos países de língua portuguesa e outro indicado pelo Governo de Macau (Echo Chan). Integram ainda o secretariado sete delegados de outros tantos países de língua portuguesa.
O
S salários dos funcionários do consulado-geral de Portugal em Macau, considerados baixos para a média do território, motivaram ontem queixas ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que disse não ter solução para o problema. “O consulado tem uma grande falta de pessoal. Espero que olhe para Macau por um prisma diferente, porque Macau é uma cidade que ama muito Portugal”, disse Rita Santos, conselheira das comunidades portuguesas pelos círculos da China, Macau e Hong Kong, durante um encontro com José Luís Carneiro. A conselheira explicou que os salários dos funcionários consulares rondam as 11 mil patacas, o que, “reduzindo os impostos” resulta em cerca de sete mil patacas. “É muito baixo”, frisou. A queixa foi repetida por António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia: “Um funcionário público do cargo mais baixo, um servente, ganha cerca de 12 mil patacas, que é para ver como o pessoal do consulado ganha mal”.
sexta-feira 24.3.2017
Secretário sem solução Baixos salários no consulado de Macau motivam queixas
-me ‘A felicidade não enche a dispensa, não aguento mais’”, recordou.
DILEMA PARTILHADO
As queixas foram feitas durante um encontro de Carneiro com 23 representantes de todas as associações de matriz Portuguesa, em que também esteve presente o cônsul-geral. Vítor Sereno lembrou que muitos dos funcionários falam quatro línguas – português, inglês,
cantonês e mandarim –, o que os torna ainda “mais apetecíveis” em Macau. “O custo de vida é dos mais altos do mundo”, alertou Sereno, lembrando que, entre 2013 e 2014, o consulado fez 16 rescisões. “As pessoas batiam-me à porta e diziam-
“É uma questão complexa, muito difícil de resolver. Mexer nas condições remuneratórias de Macau significa mexer nas condições remuneratórias de todo o mundo.” JOSÉ LUÍS CARNEIRO SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
O problema dos salários é antigo e os conselheiros já o levaram à reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas, no ano passado, em Lisboa. Desta vez, a resposta não foi diferente. “Não temos solução, temos uma vontade de encetar diálogo com os sindicatos. É uma questão complexa, muito difícil de resolver. Mexer nas condições remuneratórias de Macau significa mexer nas condições remuneratórias de todo o mundo. Passa por uma revisão global das carreiras”, disse Carneiro. O problema não é exclusivo de Macau, sublinhou o responsável português. Em São Francisco (Estados Unidos) e Londres, por exemplo, foram abertos concursos e as vagas ficaram por preencher devido aos montantes oferecidos, acrescentou.