Director carlos morais josé
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sexta-feira 24 de junho de 2016 • ANO Xv • Nº 3599
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hojemacau
Macaenses Notas contemporâneas George Smirnoff View of Praia Grande and Penha Hill in a Storm
especial 24 de Junho
Metro
Rosário define novas linhas páginas 18
Subsídios
Corrupção
opinião
As dúvidas Inspecções Lei demorada metódicas de chegam Au Kam San a Macau Traços de eternidade Paul Chan Wai chi
página 16
última
h
Anabela Canas
2 especial
24 de Junho
1622
A mãe de todas
Decidiu-se nesse dia a sorte deste território. Para o bem e para o mal. Os holandeses perderam. E lá se foram as socas, o calvinismo e as tulipas. Ficou o vinho, o bacalhau, os jesuítas e o macaense. Foi um milagre
Os padres jesuítas atiraram três bombardas, tendo uma bala acertado no barril de pólvora de um dos barcos, que se encontrava no meio do esquadrão
P
ara falar do dia 24 de Junho de 1622, ninguém melhor que C. Boxer com esta excelente síntese: “A ideia dum ataque holandês contra Macau datava já de muito antes de 1622. Pondo de parte as visitas hostis feitas por naus ou galeões holandeses em 1601, 1603 e 1607, que não eram, afinal, destinadas para ocupar a colónia à mão armada, a malograda tentativa de 1622 tinha a sua origem no estabelecimento dos holandeses no Japão, doze anos antes.” A Companhia Holandesa das Índias Orientais, a VOC (Verenigde Oost-Indische Compagnie) foi criada em 1602, dois anos depois de formada a Companhia Inglesa das Índias Orientais e tinha sede em Amesterdão, onde em 1609 foi criado o Banco de Amesterdão para apoiar o comércio colonial. A Companhia cria o conceito actual de acções quando em 1610 divide o seu capital em quotas iguais e transferíveis em Bolsa. O objectivo era excluir os competidores europeus daquela rota comercial e o alvo eram então os portugueses, que se encontravam sob domínio espanhol e eram detentores dos melhores portos estrategicamente colocados na Rota Marítima da Seda. Entre 1609 e 1621, houve um período de tréguas entre holandeses e a Espanha, embora mal guardadas no Oriente, pois nunca os holandeses abandonaram a ideia de conquistar Macau. Quando os doze anos de tréguas expiraram em 1621, o então Governador-Geral holandês em Batávia, o celebrado Jan Pieterszoon Coen, resolveu fazer uma grande expedição, destinada a pôr termo à questão, pela tomada da Cidade de Santo Nome de Deus na China. A Macau chegava a seda crua comprada na feira de Cantão e tão necessária aos holandeses para conseguir no Japão substituir os mercadores portugueses. Por isso era local apetecível e preferencial para dominar o Mar
da China, pois Malaca, praça que controlava a passagem dos barcos do Índico para o Pacífico, estava bem fortificada com a Famosa. As praças portuguesas estavam todas em sobressalto com a possível chegada das armadas, ou inglesas ou holandesas.
Invasão Holandesa, petisco na mesa
Sabiam os holandeses que se conseguissem conquistar Macau, acabavam com a presença portuguesa no Extremo Oriente, ficando ainda numa posição privilegiada para interceptar os juncos chineses que navegavam para Manila, nas
Filipinas. Através de uma carta conseguida durante a tomada de um barco português, sabia-se a cidade mal guarnecida tanto de homens, como deficitária em fortificações. A maioria dos homens de Macau encontrava-se na feira de Cantão e restavam na cidade apenas cinquenta mosqueteiros e uns cem moradores capazes de pegar em armas. A esquadra holandesa foi organizada em Batávia para atacar Macau, sendo constituída por oito navios e mil tripulantes e capitaneada pelo Almirante Reijersen. Após partir desse porto a 10 de Abril de 1622, a ela se reuniram
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as batalhas ao pôr-do-sol, houve nessa noite grandes festas nos barcos holandeses, o que levou o Capitão-mor Lopo Sarmento de Carvalho, a quem estava entregue o governo militar da cidade, mandar aos dos nossos baluartes responder com idênticos festejos de vitória.
A batalha decisiva
os barcos a viajar pelas águas do Mar da China e quando chegou à vista de Macau em 21 de Junho de 1622 a armada holandesa, composta por treze navios, encontrou as quatro naus vindas de Manila, onde participavam no bloqueio. Os dois barcos ingleses não chegaram a intervir na conquista de Macau, devido à carta de Coen a avisar que os ingleses apenas poderiam dar apoio no mar, mas nunca desembarcar em Macau e em tempo algum lhes fosse permitida a participação na construção da fortaleza que, após a conquista, os holandeses deveriam aí erguer. Como traziam já à partida a vitória
assegurada, recusaram aos ingleses a participação no assalto à cidade, tendo estes se retirado antes do início dos combates. O reconhecimento da península de Macau foi feito por três espiões e no dia seguinte, a 23 de Junho por Reijersen, que desde o barco analisou a cidade e vizinhança. Resolveu desembarcar no dia 24 na praia de Cacilhas, o ponto mais favorável. Ainda nessa tarde, três dos navios holandeses travaram um renhido duelo de artilharia com o baluarte de São Francisco. Dos barcos gritavam dizendo aos do baluarte que no outro dia seriam senhores de Macao. Retirando-se
Ao romper do dia de São João Baptista, de 24 de Junho de 1622, duas horas depois do nascer do sol, saíram das naus da armada holandesa trinta e duas lanchas, transportando a força de desembarque até à praia de Cacilhas. Entretanto, duas naus holandesas começaram um intenso bombardeamento ao baluarte de São Francisco, ao que a guarnição do forte respondeu. Espreitando por detrás de um pequeno banco de areia, preparado para a defesa da praiazinha de Cacilhas, estava António Rodriguez com 60 portugueses e 90 filhos da terra. Desembarcaram sem dificuldade os oitocentos homens das forças holandesas, sendo duzentos japoneses, índios e malaios holandeses e, formando os seus esquadrões em terra, marcharam para o entrincheiramento dos portugueses, havendo grandes cargas de mosqueteria de parte a parte. O Almirante Reijersen, ainda mal tinha pisado terra, foi ferido por uma bala de mosquete na barriga, tendo de ser levado logo para o barco. Sem outras baixas de ambos os lados, foi conquistada a enseada, após os homens de António Rodriguez recuarem e logo em formação os holandeses continuaram o seu avanço, sob o comando do veterano capitão Hans Ruffijn. Na praia deixaram duas companhias para cobrir a retirada, e seguiram pela campina que torneava a Colina de Nossa Senhora da Guia. Foi então que da fortaleza de S. Paulo, ainda por acabar, os padres jesuítas atiraram três bombardas, tendo uma bala acertado no barril de pólvora de um dos barcos, que se encontrava no meio do esquadrão.
Tiro fatal, para o sucesso do dia, foi calculado pelo grande matemático padre italiano Jerónimo Rho S.J., chegado a Macau nesse mesmo ano. Com o inesperado estrondo nas bandas da sua esquadra, os holandeses pararam e perdida a confiança ao olhar para um bambual pensaram estar perante uma cilada. Então decidiram pelo lado do Oriente ocupar a Colina da Guia, que dominava sobre a cidade e praia de Cacilhas. Mas aí, na ermida encontrava-se Rodrigo Ferreira com oito portugueses e até vinte topazes e cativos, que lhes foram dando cargas e os fizeram parar. Apercebendo-se das intenções, João Soares Vivas com 50 mosqueteiros e Lopo Sarmento de Carvalho, que vinha carregando desde a parte da cidade, aí chegaram para ajudar. Com o cume do monte ocupado pelos portugueses, o esquadrão inimigo de oitocentos mosqueteiros então capitaneados por Ruffijn, ficou em posição desprotegida e quando este capitão caiu em combate, os holandeses desordenados puseram-se em fuga, tratando só
O Almirante Reijersen, ainda mal tinha pisado terra, foi ferido por uma bala de mosquete na barriga
de salvar as vidas. Com o ânimo empolgado, o povo aproveitando a debandada perseguiu-os com tanto ímpeto que os fazerem embarcar a nado, mesmo às companhias que na praia ficaram. Deixaram mortos no campo, na praia e afogados no mar até 700 homens e por despojo oito bandeiras, um canhão, cinco tambores, muitas armas, e alguns prisioneiros, de que até ao seguinte dia só viverão sete. Logo após a vitória, no próprio local da batalha, os vencedores deram a liberdade aos seus cafres, em prémio da sua lealdade e coragem. Os moradores acorreram à Sé, onde se celebraram solenes ofícios em acção de graças pela vitória que acabavam de obter. Aí, nessa altura, o Senado e o povo prometeram idêntica comemoração todos os anos na véspera de São João, voto que foi escrupulosamente cumprido até agora e assim, o dia de S. João Baptista é festejado em Macau na Calçada da Igreja de S. Lázaro. José Simões Morais info@hojemacau.com.mo
4 especial
24 de Junho
Carlos Marreiros arquitecto
O Dia da Cidade poderá um dia ser feriado, mas agora não é uma questão fundamental. Carlos Marreiros faz a radiografia à sua própria comunidade e defende que os jovens macaenses têm melhor formação, mas devem ser mais activos. Para o arquitecto, a saída dos macaenses da Função Pública está longe de ser uma tragédia
“O macaense naturalmente vai a pouco e pouco sair da Função Pública e isso é um fenómeno natural”
A questão da casa-museu macaense é um projecto que está parado. É um projecto ao qual se pretende regressar? Temos uma proposta muito detalhada. Há um conjunto do espólio e o museu que serão instalados em duas casas no bairro de São Lázaro, projectadas em 1903 e que estão parcialmente em ruínas. Existe um estudo de viabilidade e uma estimativa de custos, de construção, decoração, criação do museu e aquisição de espólio.
SOFIA MOTA
“Nunca existiu união na comunidade macaense”
Porque é que ainda não se avançou? Esse projecto foi apresentado às entidades competentes há uns anos e em condições muito favoráveis para o Governo. A Santa Casa da Misericórdia (SCM) deseja utilizar uma proposta deste espaço para a cedência do museu para 25 anos. Houve expressa vontade de alguns governantes que consideraram muito positiva esta iniciativa que até teria uma parte educativa muito importante. Mas vai o diabo entender, passaram estes anos todos, e nada. A SCM nem sequer teve uma resposta formal sobre isto. Parece que a prática corrente é que as pessoas pura e simplesmente ficam sem resposta. Vão continuar a insistir? Eu não vou porque não tenho argumentos para insistir. A SCM, que eu saiba, está um bocado desmoralizada, porque os anos passam, o edifício vai-se deteriorando, as pessoas morrem e depois o projecto já não é válido e precisa de ser remodelado, e isso custa dinheiro. Considera que este é um exemplo da falta de preservação da cultura macaense que existe por parte das autoridades? Considero, porque tirando o museu de Macau, na Fortaleza do Monte, é algo que existe sempre no discurso político, mas depois na prática não se verifica. Macau precisa de diversificar. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura acabou de inaugurar aquele espaço junto aos lagos Nam Van. Vai fa-
zer também um projecto junto às Casas-Museu da Taipa, mas mais virado para a cultura portuguesa. Eu aplaudo essas iniciativas, mas são iniciativas do foro cultural recreativo e do consumismo. Há falta de museus em Macau e temos de criar bons museus na zona. Pode dar exemplos? Temos de pensar naquilo em que somos bons. Compreendemos que temos uma história rica, e não é por acaso que figuras como Camilo Pessanha ou Sun Yat-Sen escolheram Macau. Sun Yat-Sen, que tanto agrada aos chineses por ser o pai da modernidade chinesa, e aos europeus, que o aceitam como um grande reformador e estadista. É uma figura de primeiro plano e
internacional com ligação a Macau, e teve ligações provadas com macaenses como Hermenegildo Fernandes. Teve fortes relações com o Camilo Pessanha também. O Governo ou quem de direito não faz estas investigações , não sabe explorar o potencial que é fazer um grande museu sobre o Sun Yat-Sen e a sua ligação com Pessanha,
“No estrangeiro quem tem ideias avançadas é reconhecido e apoiado, em Macau é maltratado”
com Vicente Jorge e Francisco Hermenegildo Fernandes. Se este museu, centrado em Sun Yat-sen e nestas personalidades, for bem feito, tem potencial de atractivo internacional, muito mais do que as coisas que aqui têm sido feitas. Se em várias coisas somos os melhores do mundo, porquê contentarmo-nos em sermos o melhor do mundo na jogatana e nos casinos? Eu não me contento. Devíamos pensar num branding em termos de figuras como Sun-Yat Sen e Camilo Pessanha, porque a indústria do souvenir é paupérrima. Agora fala-se muito na questão dos estaleiros de Lai Chi Vun. Fico muito feliz porque a população e o Governo estão a tomar atenção sobre aquele sítio.
5 Mas não será porque os estaleiros estão prestes a cair e é uma situação urgente? Caso contrário talvez nada fosse feito. Em Macau é perigoso ser-se avançado. Nunca somos compreendidos, e isto não é um pretensiosismo meu. No estrangeiro quem tem ideias avançadas é reconhecido e apoiado, em Macau é maltratado. É melhor ser mais vulgar. As pessoas estão preocupadas, e é certo que aquilo está prestes a cair. Sabemos que a associação dos moradores está insatisfeita e querem manifestar-se. O Governo deveria criar um grupo privado, com locais, para fazer um levantamento aprofundado e pensar num museu para lá. Mas o Governo afirma que já foram feitos estudos. Não está feito nenhum estudo. Sou membro do Compasso Volante, um concurso internacional de estudantes de arquitectura de todo o mundo, organizado pelo Instituto Politécnico de Milão. Em Macau eu e o José Sales Marques somos membros do júri. Em Macau foi escolhida, por duas vezes, a povoação de Lai Chi Vun, houve prémios, fizemos duas exposições. Fizemos estudos, propusemos ao Governo, não há resposta. Há uma parte para viabilizar a construção, para construir e ganhar dinheiro. Com habitação? Construção de residências de luxo, com apenas três andares, integradas na colina. Fazer uma pequena marina e um museu, incluindo uma super cobertura integrada com a actual estrutura dos estaleiros. A iniciativa privada fazia as suas contas, o Governo adquiria isto e geria-o. O Governo não faz, mas também não deixa fazer? O actual Chefe do Executivo pode agradecer a sua fortuna porque tem cinco super secretários que dão o corpo ao manifesto e abrem o peito para receber as balas. Edmund Ho não teve o luxo de ter Secretários dessa qualidade. Não percebo porque é que o Governo continua a andar ao passo de uma tartaruga cega, surda e com as quatro patas coxas. Aliás, ultimamente com algumas iniciativas até deram tiros no próprio pé. Voltando à preservação da cultura macaense. As autoridades estão a falhar, ou a própria comunidade também está? Ambas. Cabe ao Governo a liderança, mas cabe à sociedade privada a iniciativa. Que eu saiba nenhuma das instituições macaenses propôs um museu. Mais uma vez a SCM foi pioneira em fazer
“O Governo ou quem de direito (...) não sabe explorar o potencial que é fazer um grande museu sobre o Sun Yat-Sen e a sua ligação com Pessanha, com Vicente Jorge e Francisco Hermenegildo Fernandes”
SOFIA MOTA
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
dia, se se justificar, também possa ser um feriado. Para já acho que não tem importância.
Os macaenses têm de se unir para voltar a ter poder na cultura, na política, o poder de decidir em Macau? Sei que sou irritante porque ponho o dedo na ferida. Os macaenses têm de ser mais activos e os portugueses também, porque é o segundo sistema. Em 450 anos nunca existiu união na comunidade macaense, porque é que ia existir agora? A comunidade já provou em momentos importantes do passado, quando a sua soberania estava em causa, que a sua união é importante. Quem é que veio a favor da casa-museu macaense? Os jornais e houve três pessoas que falaram: o provedor da SCM, eu e o Pedro Barreiros. Quem mais veio da comunidade macaense e portuguesa? Ninguém. Falar tem consequências, a verdade dói. Pessoas como nós, estas três pessoas que disse, sofremos represálias. Na prática depois há auto-censura por parte de serviços.
um núcleo museológico na actual sede, pois é a maior representante da comunidade macaense, com 450 anos de existência. As outras associações contribuem, mas quem tem autoridade para falar em nome de todos os macaenses é a SCM.
Porque é que não o faz? Não tenho meios. Mas não é contribuir com sardinhas, mas com um estudo aprofundado e edição de livros sobre este dia. Não tenho qualquer complexo em dizer que este não tem de ser um dia oficial, porque há o dia oficial da existência da RAEM. Macau, Cidade nome de Deus, é passado. Agora a comunidade pode continuar com isso e um
especial
O Governo iria acolher bem essa ideia, de ser feriado um dia? No futuro, porque não? É uma parte da comunidade, mas o Governo teria de pensar nas outras comunidades que também têm relevância em Macau, como os filipinos, que festejam o seu dia nacional, ou os birmaneses. Não têm feriado, mas eles festejam. A ADM e a CPM são os vértices desta actividade e devem continuar por muito tempo, até porque o Governo apoia.
“O actual Chefe do Executivo pode agradecer a sua fortuna porque tem cinco super secretários que dão o corpo ao manifesto e abrem o peito para receber as balas”
Hoje celebra-se o Dia da Cidade. É uma data esquecida? Deveria ser feriado novamente, ou deveríamos recordar o dia de outra forma? Feriado acho que não, porque é um dia que diz apenas respeito à comunidade macaense. Caso contrário teríamos de ter um dia da comunidade de Fujian ou de Cantão. Hoje temos um arraial que em boa hora começou a ser organizado pela Associação dos Macaenses (ADM) e Casa de Portugal em Macau (CPM). Quem me dera poder contribuir mais com o Albergue SCM para o festival popular.
24 de Junho
Pode dar exemplos? Não vou dar exemplos, mas quem está calado está melhor. Macau é uma feira de vaidades e as carpideiras e os talibãs funcionam.
Coloane “Planos do passado estão ultrapassados”
C
arlos Marreiros diz não compreender como é que, 16 anos depois da criação da RAEM, Coloane continua sem um plano urbanístico. Marreiros defende a manutenção do pulmão verde mas com uma construção organizada, focada para os idosos, crianças e turismo de saúde. “O plano feito por Manuel Vicente está ultrapassado. Os planos do passado estão ultrapassados. Têm, no máximo, cinco anos de validade no mundo, em Macau têm no máximo dois. É preciso fazer um Plano Director porque é inacreditável que 17 anos depois não haja um plano para Macau e as Ilhas. Fazer o plano de urbanização das ilhas, que significa construir, mas não alto, denso, mau e feio. As Ilhas devem continuar a ser os pulmões verdes da RAEM. Deve-se construir com rigor, uma construção de baixa densidade e focada nos equipamentos sociais”, disse o arquitecto, que pede uma aposta ecológica no fornecimento de água para esta zona e construção de jardins nos terraços. Quanto aos prédios altos, devem ir para os novos aterros, aponta.
Falando na presença na Função Pública e na AL, é mais importante essa união? Não temos a força motriz da sociedade para eleger por sufrágio directo. Mas essa é uma realidade que vem desde o 25 deAbril. Quanto à Função Pública, os jovens macaenses estão hoje mais bem preparados. Mas têm de sair, intervir. O macaense naturalmente vai a pouco e pouco sair da Função Pública e isso é um fenómeno natural, e quem não encara isso de frente está a errar. Não deve ser visto como uma tragédia. Antes pelo contrário. Para o macaense poder criticar e ser independente tem que ter poder de compra e para isso tem de ser patrão dele próprio e não pode ter o Governo como patrão. O problema da comunidade macaense no passado era esse. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
6 especial
24 de Junho
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Função pública Um destino em crise
A função pública foi, desde há muito, um destino quase invariável para a população macaense. Mas com as mudanças registadas nos últimos tempos quisemos saber se a “tradição” se mantém. Uns dizem que sim, outros que não. As dificuldades causadas pela falta de “chinês” são o principal motivo, mas também a cultura de gestão e a atracção dos hotéis
Hoje Macau
A malga de ferro enferrujou
A atracção hoteleira
“Muitos não querem estar lá porque é tudo à base do chinês e eu sei que se sentem discriminados. O português é só para inglês ver”
“Muita gente tem optado pela hotelaria. Estudam na Austrália, na Suíça, voltam e trabalham para os hotéis”
Guiomar Pedruco empresária
Filipe Senna Fernandes empresário
“Eu e muitos outros não conseguimos trabalhar com chefes chineses. Eles não gostam de nós macaenses e são vingativos”
“Reparo que hoje em dia os macaenses não falam tanto português como antigamente. Os pais quiseram que estudassem inglês ou chinês”
Filomena ex-funcionária pública
Antonieta Lam funcionária pública
Tiago Alcântara
T
rabalhar na função pública foi sempre um destino seguro, e comum, para as gentes da terra. A “malga de ferro”, assim chamarão alguns, ao invocarem o seu legado chinês para descreverem uma situação profissional estável e duradoura. Todavia, com as mudanças registadas nos últimos tempos, o HM quis saber se a tradição ainda se mantém.As opiniões dividem-se mas sente-se uma certa tendência para que a tradição deixe de ser o que era. “Antes era diferente”, começa por dizer Guiomar Pedruco, empresária. “O português ainda era muito usado na função pública, mas hoje não”, explica, aclarando que o seu ‘antes’designa cerca de 20 anos atrás. A língua é mesmo um dilema para a população macaense que não domina o idioma chinês escrito, levando mesmo Guiomar a falar em discriminação. “Muitos não querem estar lá porque é tudo à base do chinês e eu sei que se sentem discriminados. O português é só para inglês ver”. Antonieta Lam, funcionária pública, compreende a situação mas diz que “depende do serviço”, aventando que “onde usem menos português é natural que sintam mais dificuldades em trabalhar”. Para além disso, Antonieta não acredita que tenha existido alteração na tradição pensando que os macaenses continuam a querer aderir à função pública.
“Não mudou nada”, garante, adiantando, todavia, que “reparo que hoje em dia os macaenses não falam tanto português como antigamente. Os pais quiseram que estudassem inglês ou chinês. Os que estão na função pública falam pouco português.” Para além da língua, Guiomar descobre outra questão: feitio. “Os macaenses barafustam muito e os chineses não gostam de nós por causa disso”. Antonieta sabe do assunto mas acha que a cultura mudou. “Eram refilões, sim, mas hoje em dia já não. A transição já foi há muito tempo e os macaenses adaptaram-se à forma chinesa de trabalhar”, garante. Quem parece estar a desviar os macaenses da função pública são os hotéis. “Hoje, os macaenses preferem hotéis e empresas privadas. Vão estudar para fora, só falam inglês e é para aí que vão”, diz Filomena, ex-funcionária pública e hoje a trabalhar para uma pequena empresa local. A opinião é corroborada por Filipe Senna Fernandes, empresário. “Muita gente tem optado pela hotelaria. Estudam na Austrália, na Suíça, voltam e trabalham para os hotéis.” Também ele trabalhou para função pública mas apenas “quatro anos e meio”, diz-nos. “Optei pelo turismo por achar ser o único departamento ligado aos mercados internacionais. O pensamento é diferente e a comunicação é essencialmente feita em inglês.Agora, talvez falem menos mas não tanto como outros departamentos”, explica Filipe que adianta ainda considerar que “os macaenses já não são assim tão tradicionais. São mais internacionais”, remata.
Cultura nova, vida nova
A mudança de cultura de gestão na função pública, todavia, parece exercer um peso determinante nos macaenses na altura da escolha. “Conheço muitos que ainda lá estão só para garantirem a reforma”, diz Filomena adiantando mesmo que “com os portugueses as coisas eram mais simples. Faz o teu trabalho, acaba e vai-te embora”, explica exemplificando: “Agora tem de se recuperar horas mesmo que se vá ao médico. Nem se pode ir tomar um café em paz. Antes as pessoas exageravam, iam e ficavam meia hora na conversa, mas agora também é demais. Controlam tudo”, desabafa Filomena mas não concluindo sem nos revelar que “eu e muitos outros não conseguimos trabalhar com chefes chineses. Eles não gostam de nós macaenses e são vingativos”. Manuel Nunes
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Nota: Tentámos falar com vários macaenses que trabalham na função pública mas foi muito difícil recolher testemunhos. As respostas foram, normalmente, “de trabalho não falo”, ou “nesse tipo de assunto não toco” condimentadas com uma momentânea “falta de tempo para comentar”.
7 Comunidade chinesa Um mundo à parte
Uma história que não começou
24 de Junho
especial
Tiago Alcântara
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Em modo vox populi, o HM foi à rua falar com elementos da comunidade chinesa residente no território. A intenção de saber o que pensam de ser macaense e do que resta do 24 de Junho enquanto dia da cidade foi acompanhada de um desconhecimento quase geral. A história, que terminou há cerca de 16 anos, parece ser, para a maioria dos chineses, inexistente.
O
desconhecimento do que é ser Macaense poderá ter raízes na palavra dita em chinês que significa literalmente “filho português da terra”, ou seja, partindo da palavra conhecida pela comunidade chinesa o ser macaense é nascer cá e ser filho de português. É esta também a resposta da maioria dos cerca de 20 inquiridos. Sangue luso ou língua de Camões são os parâmetros que podem definir o Macaense. Ieong, de 22 anos, fala dos “portugueses que nasceram e cresceram em Macau” ou Wan, de 60 anos, que “são os portugueses que tiveram filhos em cá”. Poucos são os que referem a miscigenação, à excepção da Sra. Chan de 55 anos que define macaense como “o mestiço de pai ou mãe de nacionalidade portuguesa”. No entanto, o elemento comum é a presença portuguesa, que poderá também ser referente à língua como afirma Kit, de 23 anos. Filha de família da China continental nasceu em Macau e para ela macaenses “são as pessoas que falam português.” Já o Sr. Han, de 63 anos, que veio há cerca de 30 do interior de Cantão, nada sabe do conceito.
Vizinhos que não se falam
A ausência de contacto real entre as comunidades residentes na terra é mote comum em praticamente todas as pessoas que se disponibilizaram a falar de sua justiça. “Nós somos chineses
e nunca tivemos contacto com macaenses”, são as palavras de Wang. Sublinha que não tem nenhuma forma de fazer este contacto. Para ele, a comunidade macaense é muito reduzida ao contrário da chinesa, sendo esta última a “principal da terra”, sendo que é “muito difícil a comunidade mais pequena integrar-se na comunidade maior”. Por outro lado, refere que os macaenses, antigamente, estudavam em escolas exclusivas enquanto que os chineses também, mas só para chineses, não tendo qualquer contacto desde pequenos. Pensa na língua que os separa e lembra tempos em que não podia nem queria aprender o português. Afirma ainda que em trabalho poderá existir algum contacto com a comunidade macaense, mas a proporção é reduzida. “Agora há mais estrangeiros, mesmo de outras nacionalidades, que também têm as suas próprias comunidades, ficando todas separadas”, remata, não antevendo qualquer futuro diferente neste sentido. Com 65 anos, o sr. Yu veio do interior da China e vive na RAEM há mais de 30. O contacto com a comunidade macaense é igualmente raro, enquanto alerta para a barreira da língua. “Nós nunca vamos convidar os portugueses a pertencer à nossa comunidade”, argumentando que não há qualquer identificação cultural. Há ainda quem refira que os eventuais contactos
são essencialmente devido a questões de trabalho: “é em trabalho que nos cruzamos”. A excepção cabe a John, de Hong Kong mas que vive e trabalha em Macau desde os anos 90: depois de partilhar experiências profissionais com os “filhos da terra” tem agora alguns como amigos. Há ainda quem considere que a falta de convívio com os macaenses é devida à arrogância com que tratam os chineses. A opinião é de um jovem de 22 anos. Na geração mais nova, que terá já estudado com macaenses, a opinião também é unânime. Estão “na mesma escola mas não nos damos”. Não têm amigos macaenses, não desenvolvem relações e “pertencemos todos a comunidades diferentes” diz Song, de 23 anos.
Não aquece nem arrefece
Igual ao 23 ou ao 25, o 24 de Junho é um dia como outro qualquer para as pessoas que falaram ao HM. Não recordam sequer o feriado nem sabem do que se trata. Sem nunca ter vivido a data, ninguém a tem em mente. No eco comum do desconhecido, os inquiridos foram informados do significado do dia. A história parece passar aquém do interesse, mas a possibilidade de feriado nem tanto, sendo que “é bom ter mais um feriado, mas não sinto nada especial”, diz Ip de 23 anos.” A opinião é partilhada pelos cerca de 20 interpelados. Uma excepção foi a sra. Fong, de 49 anos, que casada
com um português, associa o 24 de Junho ao dia de Portugal, numa celebração de Camões, salientando que “por isso mesmo, deveria ser dia de comemorações
para não deixar morrer a História”. Mesmo que mal contada não deixa de ser um dia especial. Já Wong, de 22 anos, considera que voltando a ser
feriado seria um dia diferente e com isso poderia haver a possibilidade de se voltar a saber a que se refere. Sofia Mota
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8 especial
24 de Junho
Jorge Fão presidente da mesa da assembleia-geral da APOMAC
Diz-se 99% chinês, sem ligações a um feriado que já foi o da cidade. Jorge Fão recorda uma comunidade de garra, mas actualmente apagada. O português perdeu importância e o chinês é essencial a qualquer macaense que queira vingar Assinalava-se hoje o Dia de Macau, 24 de Junho, perdido com a transição da soberania para a China. Acha que deveria ter sido um ferido a manter-se? Como macaense naturalmente que gostaria que fosse, ou seja, devia ter sido continuado. Não devia ter acabado. Mas aquilo que eu gostaria, nem sempre acontece. Mas, sou sincero, compreendo porque é que [retiraram o feriado], é que o Dia de Macau, o 24 de Junho, não é só por que é o dia da cidade, tem uma ligação com a igreja. Tem uma conotação religiosa. Feriados religiosos foram retirados alguns, e temos outros, por exemplo o Dia do Buda. Este dia não existia no passado, mas os chineses acharam que seria mais justo termos este dia e retirar outros, por exemplo o Dia de Macau. Talvez tenha sido este motivo, esta conotação religiosa, que fez com que este feriado fosse retirado. Focando-nos na comunidade. Como é que um macaense olha de fora para a sua comunidade? Como vê os seus problemas, como é visto pelas outras comunidades? Problemas, sou sincero, acho que não temos. Não vejo problemas na comunidade macaense. O que posso dizer é que a comunidade macaense do passado pode ter sentido algumas dificuldades e a do futuro talvez também sinta. Ou seja, dou um exemplo, a comunidade macaense do passado para se singrar na vida não tinha que estudar muito, mas uma coisa tinha que saber obrigatoriamente: a língua. Veja o meu caso, a minha cara
é totalmente chinês, o meu sangue é 99% chinês, sangue português só tenho 1 ou 2 %. Apesar de só ter um passaporte, o português. No meu tempo, a nossa comunidade educava-nos pelo português. Quando os meus pais casaram – e eles eram filhos de chineses – educaram os filhos com costumes ocidentais. Também os meus tios faziam isso com os meus primos. Naquele tempo quem não falasse português, praticamente não tinha hipótese de estar empregado, ou conseguir o que se chamava de bom emprego, que fosse bem pago. Muitas vezes nem o era, até porque estou a falar dos anos 50, 60. Portanto, no passado tínhamos que estudar o português, obrigatoriamente, isto se queríamos ter uma posição social. Agora, o presente e o futuro mudou, é o contrario. Agora, para se ser um bom macaense não basta saber a língua portuguesa, como é obrigatório conhecer a língua escrita, lida, chinesa. Coisa que eu não sei. Percebe-se a desvantagem da comunidade do meu tempo. Tempos antes da transição perceberam que os tempos iam mudar, nomeadamente na questão da língua? Na função pública tudo era em português mas, de facto, quando se falou do handover [transição da soberania] começou a iniciar-se, digamos, a “macaização dos quadros”, ou seja, a meter os locais para os quadros. Porque até aí ninguém falava nisto. E a comunidade macaense futura. Tem em mãos uma mudança na língua prioritária?
sofia mota
“As pessoas perderam o espírito de luta”
9 hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Há algum facto diferencial nesta comunidade? Algo que vos torne uma comunidade especial, diferente de todas as outras? Não, nada. Não acho que tenhamos algo de diferente. Por exemplo, a questão do patuá: no meu tempo era proibido falar patuá. Era visto como inferior, uma língua que não era o português. Lembro-me perfeitamente de em minha casa não se poder falar chinês. O meu pai chamava-me logo à atenção. Os meus pais não falavam patuá, tinha umas tias que falavam, mas só entre elas, para a rua nem sequer falavam. É que patuá era uma mestiçagem, nem sequer é fácil de entender. O patuá que se fala hoje é um patuá trabalhado. Houve uma evolução. Naqueles nossos tempos era só falado com pessoas de idade. Eu não falo, por exemplo, não me lembro. A verdade é que se nos dedicamos à aprender e a falar patuá, vamos começar a falar mal português, por causa dos verbos, pois não existem tempos verbais. A língua importante era o português e era preciso saber falar bem, o patuá não era bom português. Aualmente é algo que vos diferencia. Sim, mas agora as coisas mudaram. O mundo mudou, a mentalidade das pessoas mudou. Agora é aceitável falar patuá com qualquer pessoa, ninguém te vai chatear com isso. Antigamente nem pensar. A mentalidade colonialista era assim. Destacou-se na comunidade macaense da altura... Sim, sou muito rebelde, sempre foi assim. (risos) A partir dos 30 comecei a lutar por tudo e por nada. Ao 20 e poucos anos fiz o meu primeiro recurso a uma decisão dos meus chefes, até ao Conselho Ultramarino, na altura não existia Tribunal de Última Instância. O último recurso era em Portugal e era este, o Conselho Ultramarino. O bicho da rebeldia já veio de muito cedo. Quando acho que é injusto, tenho de lutar para ser justo. A comunidade na altura não era assim...
especial
Pois não. (risos) Eram todos muito politicamente correctos, até o meu pai, os meus tios, todos. Fui várias vezes chamado a atenção, por causa das manifestações de rua, e outras coisas. Por quê? Medo. A comunidade tinha medo, as pessoas tinham medo de tudo. Agora há menos. Hoje é tudo só politicamente correcto para tirar partido de alguma situação. Basta ver, no passado conseguíamos guerrilhar contra o regime, hoje em dia, a minha comunidade não dá para lutar. Para quê? Temos um continente aqui em cima, um bilhão e tal, com aquela mentalidade...
HOJE MACAU
Agora os nossos filhos, e na geração seguinte, é obrigatório que saibam a língua chinesa. Mas isto é também uma tendência do mundo, não é só a nossa comunidade, os portugueses também. Vejo que em Portugal se estuda cada vez mais chinês, assim como em outros países, Estados Unidos da América, por exemplo. Lá está, a China, neste momento, já é uma das potencias económicas mundiais. Países que são ricos e que podem a distribuir dinheiro o mundo percebe que tem que aprender a sua língua.
24 de Junho
Que vos trata bem? Sim, nós [macaenses] somos bem tratados [pela China]. Nós não fomos mal tratados. Não vejo fortes razões para criticar, lutar contra o que quer que seja. Mas nem tudo está bem... Certo, mas o pensamento mudou e tornou-se mais individual. No passado quando falávamos em comunidade estávamos a falar da função pública, 90% da comunidade estava lá. Agora? Não. Os meus filhos não estão, por exemplo, os meus sobrinhos, quer dizer, ninguém quer estar na função pública. Portanto já não se fala da comunidade. Quando se fala em problemas na administração e na função pública já não se refere à comunidade, porque a comunidade macaense já lá não está. As pessoas perderam o espírito de luta. Mas lutou-se, no seu tempo... Imagina que não tinha lutado? Macau é a única província ultramarina que tem direito a uma pensão paga pelo Governo português. Mais nenhuma tem. Porque nós lutámos. Angola, Moçambique, Timor onde estive, nenhum deles tem. Falei com locais e eles disseram ‘quando os portugueses saíram daqui levaram tudo’. Nós não. Nós lutámos. Como estava a par da situação política do país, percebi que se a nossa comunidade macaense não fizesse nada, hoje se calhar nem sequer estávamos aqui a conversa. Talvez estivéssemos em Portugal, a mendigar. Vai festejar o feriado, mesmo que não o seja. Ou lembra-se de o festejar? Não, nem sequer me lembro de o festejar. Já confessei, não sou nada ligado à religião, e como é o dia do padroeiro, S. João Baptista, eu nunca estive ligado a isso. Embora, tenha sido baptizado e a primeira comunhão, também estudava no Colégio Dom Bosco. Mas, não, não vou festejar. Honestamente, este dia não me traz grande significado. Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
Macaenses recordam celebrações do Dia da Cidade
Ficam as memórias das flores amarelas
Anabela Ritchie, Francisco Manhão e Sónia Palmer recordam um dia importante para a Macau pré-1999. O regresso do feriado não é visto como algo fundamental
N
A memória de Anabela Ritchie o dia 24 de Junho continua a cheirar a flores de São João, que se colocavam à volta da imagem do São João Baptista na procissão que assinalava o feriado do Dia da Cidade. A ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL) não falhava o tradicional percurso entre o Leal Senado e a Igreja da Sé. “Era um dia comemorado com muita pompa e circunstância”, recordou ao HM. “O secretário do Leal Senado levava a bandeira com várias insígnias. O andor tinha uma flor muito especial, que para nós se chama a flor de São João, mas os chineses dão outro nome. Ainda se vê essa flor, tem um cheiro muito especial, é branca e amarela. Era sempre esta flor que acompanhava o andor.” Também Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), considerava um dia importante. “Naquela altura participava sempre na procissão e respeitava sempre essas datas, não só o dia
da cidade mas outras procissões. Queríamos que o São João protegesse mesmo a nossa cidade.” Pelo contrário, Sónia Palmer, ligada ao grupo Doci Papiaçam di Macau, não celebrava o dia, por se encontrar sempre de férias em Portugal. Hoje não deseja assim tanto que o dia 24 de Junho volte a ser feriado. “As coisas mudaram, não posso dizer que deveria ser feriado ou não, agora já não estamos sob administração portuguesa, as coisas têm de ser um pouco diferentes”, defendeu ao HM. Anabela Ritchie fala de um dia que “continua a estar no coração das pessoas”, mas coloca reservas no regresso do feriado. “Não creio que seja fácil que volte a ser feriado, porque os feriados foram todos ponderados no período de transição. Seria bom, ficaria contente, mas não tenho fé que isso venha a acontecer. Mas já é bom que haja a memória desse dia.” “Não é feriado, mas nada nos impede de celebrar o dia 24 de Junho como sendo o Dia da Cidade e o dia de Macau. Para mim
e para a minha família continua a ter um significado muito especial. Se não fosse o 24 de Junho não sei o que é que teria acontecido a Macau. Consigo compreender que não seja feriado, porque os tempos são outros. Mas isso não significa que as pessoas de Macau não se recordem que um dia do que aconteceu”, disse ainda a ex-presidente da AL. Para Francisco Manhão, o regresso do feriado depende sempre da interpretação do actual Executivo. “Tudo depende do Governo, como encara esta data. Pode ter outra interpretação.” Sobre o Arraial de São João, que arranca hoje na zona de São Lázaro, Manhão defende ser “uma boa iniciativa para manter a tradição”. “Tanto o Miguel (de Senna Fernandes, da Associação dos Macaenses) como a Amélia (António, da Casa de Portugal) tiveram as boas ideias de manter e celebrar esta data como o podemos fazer, sempre dependentes do espaço”, concluiu. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
10 especial
24 de Junho
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Tem na únde, Macau-filo? Tenho trinta, quase quarenta anos de Macau, porque não sou macaense? Mas ... juntas-te à malta? Huh?...
Q Miguel de Senna Fernandes
uem subscreve este artigo não é especialista algum, quando muito um mero curioso nestas coisas de Identidade, matéria complexa, nem sempre condensável em escassas páginas. Mas, vamos a isto. Quando me interrogam, “o que é um Macaense”, adopto aquela postura de não a responder directamente, porque assaltar-me-ia invariavelmente a frustração antecipada de quão vã é tentativa de o definir. Ao meu interlocutor limito-me apenas a fazer um paralelismo: “o que é um português?”. Não é uma questão fácil e é por isso que tenho alimentado, através da Associação dos Macaenses, a constante organização de Colóquios sobre esta temática. Como já era de esperar, nunca se vislumbrou conclusão alguma, pois quanto mais se indaga mais dúvidas somam, e talvez por esta razão, alguns dos meus amigos muito simpaticamente até me perguntaram: “Ó Miguel, já encontraste a tua identidade?!” Ela de facto permanece no segredo de Deus que deve estar a rir-se dizendo “Procura, filho, que vais longe, vais!”
O paradigma
Corresponde à ideia corrente que o Macaense é o euroasiático de ascendência portuguesa e chinesa, nascido em Macau (passe-se o pleonasmo), culturalmente católico, de língua materna portuguesa. A miscigenação continua a ter um peso preponderante nesta matéria. Isto não deixa de ser verdade, na grande maioria dos casos, mas o Macaense vai mais além disto. Não me parece que uma definição o possa conter. Além do mais, a Macau moderna com as novas regras sócio-culturais que o tempo se encarregou de impor. Macau de hoje situa-se numa zona geográfica de grande expansão e de rápido crescimento económico. O Delta do Rio das Pérolas é hoje zona de explosão económica, de uma China que acordou poderosa e imperial, onde se concentram interesses financeiros transnacionais de valores nunca imaginados. Henggin - ou Montanha, se quisermos - afirma-se como plataforma tecnológica do futuro, a que Macau terá de aceder para a sua sobrevivência económica. A nossa cidade, por sua vez, constitui uma importante peça deste “puzzle” destinada a ser o eixo de indústria de jogo da China, embelezada com a sigla “centro de turismo e de lazer”. É também o “rendez-vous” dos Países de Língua Portuguesa, no âmbito de uma ousada e inteligente estratégia económica global da China. E ela é tão impressionantemente pequena que basta usarmos o aplicativo “Google Earth” para assim o reconhecermos.
E aí se situa o Macaense actual. Tal como os seus antepassados, com a sina de ter de se adaptar a todos os contextos sócio-culturais a que se sujeita, ele molda-se para fazer parte integrante e tirar o melhor proveito desta nova realidade. Se a estratégia do casamento (com elementos de etnia chinesa), foi importante para a sua afirmação social, a língua torna-se um instrumento que lhe abre as portas para outros horizontes. O Macaense moderno é fluente no Mandarim e no Inglês. Contudo, sem querer menosprezar a língua que deu origem ao seu nome, ele adopta, em relação a ela, uma atitude pragmática: “lamento, mas há outras prioridades.” Por mais cruel e estigmatizante que possa parecer para a susceptibilidade de alguns, ela traduz o instinto de sobrevivência para o Macaense e para a sua prole que resiste em ficar numa cidade, que há muito deixou de ser aquela dos brandos costumes e bairrista dos tempos de outrora. O Macaense actual deixou de ser o mero funcionário público. Ele procura sair de Macau e é licenciado pelas universidades de toda a parte do mundo. Os que regressam à terra natal, trazem outros valores, outras visões da vida. Ele é hoje um profissional livre, um realizador de cinema, gestor de títulos, estilista, mestre e doutor. Ele está “por dentro” desta Macau nova até esta o pode levar. Novos veículos de comunicação foram adoptados. Porém. reagem os da “velha” guarda e de forma nem sempre simpática. “Acabaram-se os macaenses! “, clamam uns. “Se eles não falam Português como podem ser macaenses?”, bradam outros. “E os seus filhos que estudam nas escolas chinesas e internacionais?” e outras interrogações semelhantes, todas elas legítmas não cessam de se fazerem ouvir nos Colóquios sobre a Identidade. E porque “teriam” de o falar para serem Macaenses?Aaceitar isso como verdade, teriamos que rejeitar essa condição a tantos outros que estão na Diáspora, para os quais a língua de Pessanha não faz parte do seu dia-a-dia. Todavia, nenhum dos “degenerados” deixa de se sentir Macaense. “I am Macau-Filo”, “Ngó hai Tou sang (sou macaense)”, “Me? Macau-Chai”. E o tom é de ostensivo orgulho. O que pode estar por trás disso?
A diferença como pontode partida. Macau e a Portugalidade
Sem pretender um tom de autoridade, julgo que tentar explicar o Macaense através da enumeração das suas características palpáveis, provou que não levaria a sítio algum por ser manifestamente insuficiente. E porque não inverter o processo através da diferença. A diferença aqui, não no sentido discriminatório, nem de qualquer complexo, mas apenas como: O que temos de diferente em relação a outras comunidades e povos?
Quando um Macaense diz “nossa Malta”, “nos-sa genti” ou “we Macaista” ele fá-lo com orgulho, porque sem ele querer, ele exprime este duplo legado que o torna diferente da imensidão de gente que o circunda, nesta absorvente China Nova. E que interesse tem isto tudo? Tem. Ele dá-nos alento para continuar Ao tentar responder a isso, vejo o forte laço de pertença a Macau. Não apenas aquela minúscula terra no Sul da China, mas também e sobretudo o espaço cultural específico que representa, feito de memória, tradições, História e histórias, noção de família, vivências, relatos, registos, transmitidos de geração em geração. Um Macau de contrastes e de povos que se mesclam, que se entendem numa linguagem comum. E vejo algo mais. Este laço de pertença é especial, pois vai-nos remeter por sua vez para um espaço ainda mais global (civilizacional), que explica a nossa ascendência, como povo “sui generis” neste sudeste asiático. A Portugalidade é um palavrão inventado para designar muitos fenómenos identitários que têm por base a noção de pertença a Portugal. Mas ela nada tem, necessariamente, a ver com a nacionalidade ou a língua portuguesas, enquanto tais, ainda que ambos sejam importantes para a sua afirmação. Mas é ela que justifica por que certas pessoas - e não são poucos neste mundo - são portuguesas... sem o serem juridicamente. Linguisticamente. APortugalidade explica a génese de Macau do Macaense, pelo périplo português que deixou aqui sementes que germinaram uma cultura diferente - de Portugal e da China - cultura de uma comunidade singular. Ser Macaense é ter esta noção de diferença pela sua ligação a este mundo global, através do seu nome e da sua ancestralidade, ainda que não fale mais português, ainda que para si Portugal seja apenas CR7 e Benfica. Quando um Macaense diz “nossa Malta”, “nos-sa genti” ou “we Macaista” ele fá-lo com orgulho, porque sem ele querer, ele exprime este duplo legado que o torna diferente da imensidão de gente que o circunda, nesta absorvente China Nova. E que interesse tem isto tudo? Tem. Ele dá-nos alento para continuar.
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macau visto de hong kong david chan
T António Conceição Júnior
24 de Junho
O nome do santo nome
odas as coisas querem nome, de todas uma inominável, apenas duas se não explicam. Deus e o da Cidade do seu nome santo. Cidade nomeada, explicada em étimos de ilusão erudita, venha a deusa A-Ma e com Deus converse, os dois sorrindo da verdade dos homens, quantificadas em métricas de razão equívoca, história prolongada dos tempos da Babel, fabulosa origem dos desencontros. Esteve a verdade sempre tão à tona, mas não a direi, porque o pouco que sei aprendi, e cada um que aprenda, aprende-se não se ensina, encontre-se na perdição das fábulas da vida e distinga-se delas o joio do trigo. Coma o homem pão de joio antes de provar o trigo, saiba encontrar a ordem natural das coisas, todo o caos é ordem e o inverso também, equívocos não. Pela memória das ruas antigas povoadas de deuses mascarados de homens anónimos, quanto mais humildes mais deuses, salpicam o caminho altares tão humildes que mais valera serem baixares, tão próxima é a natureza dos manes ocultos pelo fumegar do incenso, deuses olhando deuses, fantasmas cheirando a poéticas de nostalgias diferentes, sons inaudíveis musicando o compasso do tempo dos pregões. De que terra és tu que não falas à minha, o meu pregão é outro, não compro nem tãopouco vendo, apenas olho entre o belo e o horrendo, e assisto da janela dos nomes à procissão do tempo deslizando pela cidade, dois préstitos e um caminho, todos passando, obra de deuses para quem todos os becos são saídas de onde remanesce a fragrância indescritível de odores que dão à alma o que o corpo precisa, não há nariz ou palavra que descreva, apenas se suspeita ou adivinha. Também António de Lisboa, Pádua e Macau é nome de santo, em tempos de desespero lembrado e lá vai mais um ai meu Deus e, quando passa, lá ficaram Deus e o santo para os outros que a vida continua e o resto pode esperar. Transforma-se a cidade na cadência do minuto, mas não o dia hoje como ontem igual, apenas nós diferentes, uns para igual outros crescendo, cada um em si mandando, alguns obedecendo, futuro não é do que se constrói, antes daquele que dispõe o que o homem põe, seja ovo seja calhau, diga-se assim e já não é mau. Tem a escrita a cidade que suscita, lugar ritmado de cidadania, utopia que não é mania,
apenas matéria concreta do amanhã. Mas quem saberá senão nós, que esta história antiga de que não falo, é fio retalhado, nodulado, amarrado, sugado e consentido, abandonado e pressentido, dorido e ressentido, a factura está pronta, alguém terá de ficar, ficam os homens, e os últimos que paguem a conta. Não vai ninguém abaixo, homens são como árvores, morrem de pé à maneira de Goya, perdoe- -se aos crucificadores que cravos não ferem alma que não tem corpo, apenas corpo tem alma, e firam mais que por cada cravo cravado dez se irão cravar, assim diz Alá e não sei se existe, heterónimo dos deuses todos, um só da eternidade vindo, cada um crê no que quer. Incrédulo é o que vê sem se chamar Tomé a história que corre. Quisesse o homem ser fraterno e encontraria o irmão, que mando e poder são inverdades patenteadas, ontem disse, hoje não disse ontem. Mais fácil é julgar que amar, que julguem e odeiem, dói o ódio a quem odeia, perdido entre ser anás ou caifás, venha o diabo e escolha. Não te distraio que estás distraído, como se fosses o centro de um quadrado. Quadrado é raíz de cidade, módulo de passados antepassados, cidade velha, cidade nova, mas que é isto de arqueologia, a tua voz é de cá? Apenas existo vivendo, fingindo que escrevo escrevendo, escrevo assim e depois? Não me sabes ler assim ou queres que seja outro? Sou eu apenas, mero grão de arrozal, não enche o papo a galinha assim, cada grão outro e não felizmente igual, como cidadãos em dias de festa. Festas de faço minha cidade, pena que sejam festas contadas, contas breves de dias, fossem festa os anos e não dias, e talvez um querubim viesse e mudasse o tempo, e desse aos homens a suprema esperança do desafectado afecto, e estes à natureza se dessem, e transformasse por ordem do Supremo, que de onde está em lugar que não é, em tudo e todos mandando segundo a lei de Moisés, Buda e Pessoa, sabendo construír os dias em noites de vigília, porque já tudo está escrito muito antes de ser dito e nada se apaga , analfabetos somos da eternidade, desencontrados na festa, perdidos da fraternidade, mando de Deus e da sua natureza. Fraternidade, afectos apressadamente suprimidos em lugar interior, trocados pelo fácies social, pacto, tacto, olfacto, contacto,
Olhe-se para dentro, onde reside o divino espezinhado, enclausurado e amordaçado, e invoquemos o santo nome do nome, e, se tempo tiver que tem, mesmo de longe e de toda a parte, perdoar e abençoar os nossos atalhos de barro, e com a vontade de um pensamento, transformar de novo o barro em homem não me toques nem aqui nem ali, nem hoje nem ontem, amanhã não estou. Sou contrato de trato maltrato e… como está, contente-se e é muito. Não sabe o homem que hoje é já seu passado e outro dia se passará, rosário finito de diversas finitudes. Olhe-se o compósito propósito de restar o que resta. Só eu sei o que presta, hã? que dizes ó ponto, fala alto! um momento. Não ouço, estão-me a ouvir, repete depressa, onde foste ponto? ah que te pesponto! Máscaras e biombos, teatros de vidas consabidas na monotonia de uma pobre nota que não é sol, quando muito ré fingindo de lá para aqui. De novo se foram o santo, o dia e a festa, e uma solidão tremenda paira sobre os homens, esvaziados de cheios de nada, clepsidra quase vazia, fumegando memórias e aromas de ópio e de fantasmas de homens e mulheres daqui contemplando tudo na sua translucência sem tempo, equador às voltas no eixo, as horas a dar e a cobrar. Dobra-se também o fazedor de dobragens que sempre há montanha maior, e todas as verdades já eram mentiras antes de serem novas verdades. Olhe-se para dentro, onde reside o divino espezinhado, enclausurado e amordaçado, e invoquemos o santo nome do nome, e, se tempo tiver que tem, mesmo de longe e de toda a parte, perdoar e abençoar os nossos atalhos de barro, e com a vontade de um pensamento, transformar de novo o barro em homem.
especial
12 especial
24 de Junho
SÉRGIO PEREZ
1. “Ser Macaense”. Cada um tem a sua ideia do que isso quer dizer. Para mim, respondo à tua pergunta com, isto: como pode deixar de fazer sentido? 2. O problema apenas se coloca quando a palavra “Macaense” exclui, e não inclui as pessoas que a sentem. Ser Maquista é diferente- é ser-se Macaense, mas também parte de uma comunidade com caracteristicas muito próprias. De nada tem a haver com elitismo, mas simplesmente com cultura, tradições, maneira de estar e de ser diferentes. Uma comunidade como outras que fazem parte desta palavra maior, o Macaense. Isto é obviamente uma opinião muito pessoal. 3. Por humildade e não conhecer o suficiente da história “Macaense”, não me sinto com capacidade de responder de forma justa a essa pergunta. Mas posso dizer que o Adé dos Santos Ferreira e o Henrique de Senna Fernandes foram personalidades que me influenciaram e que admiro verdadeiramente. Mas o padre Róh, com o seu tiro certeiro certamente terá sido mais importante, ou não estaríamos aqui a ter esta conversa! 4. Serve. Mas o Fernando Pessoa explica melhor num poema seu. 5. Se a Escola Portuguesa não apostar na lingua do dia-a-dia de Macau (cantonense), o Maquista provavelmente irá falar cantonense, e como segunda lingua, o mandarim, passando o português a pequenas palavras ou gramaticamente incorrecto, de forma cada vez mais reduzida, por enveredarem pelo ensino chinês. 6. Sim. Mas acima de tudo é importante assegurar o futuro na sua terra e igualdade de possibilidades no mercado de trabalho. O
inquérito a uma geração Há uma nova geração de macaenses, em plena afirmação. Será que têm uma nova visão dos problemas? Será que percebem alguma coisa disto tudo e nos podem explicar? pragmatismo poderá pesar perante a identidade e parte da raiz cultural. 7. Se sentimos isto a nossa terra- digo isto sobre Macaenses e Maquistas, essa será sempre uma vantagem. É a nossa casa. Se estivermos a falar do Maquista, acima de tudo, é que nele vive a “alma” do intercâmbio de culturas, do passado e do presente. Vê a terra e a ama como tal, nas suas especificidades unicas, e sempre viveu entre os “dois mundos”. A principal desvantagem é quando a falta de sensibilidade de quem não sente, compreende ou ama Macau a destrói, e o Maquista sente e sofre com isso na alma. 8 O 24 de Junho era o dia da cidade porque simbolizava o dia em que os “Macaenses”todas as comunidades locais, Maquistas, Portugueses, Chineses de Macau, etc, se uniram para afastar os invasores Holandeses. O seu desaparecimento como feriado foi uma ferida grande na alma da terra.
nio linguístico tem que ser cultivado, desta maneira o patuá serviu, serve e servirá, pois com a transmissão de dialectos ou se preferirmos, os crioulos, transportam-se muitas características culturais, identidades muito particulares e costumes únicos. 5. Se partirmos do princípio que uma geração são 30 anos, acredito que se falará a língua portuguesa. 6. Falar “A língua de Camões” é parte irrefutável da identidade macaense. 7. As vantagens; a estabilidade social, política e económica. As desvantagens; os assustadores níveis de poluição e a falta de território para os seus habitantes. Actualmente a cidade do mundo com maior densidade populacional. 8. Sim. Não celebrar este dia é deixar que se desvaneçam mais de 400 anos de história, de identidade, de cultura e de boas heranças. Não só de Macau e Portugal, mas também da China.
ALEXANDRE MARREIROS
ANDRÉ RITCHIE
1. Sem dúvida que sim. 2. Identidade cultural. 3. Tenho grande admiração por Luiz Gonzaga Gomes. 4. Sim, mas não só o patuá. Acredito que todo o patrimó-
1. E porque não? 2. De tudo um pouco, mas talvez “tendência” e “elitismo” tenham perdido sentido face à nova realidade pós-99. Cultura sempre - não temos outro peixe para vender. Mas
1. Ser Macaense. Ainda faz algum sentido? 2. Estar macaense. Tendência, cultura ou elitismo? 3. Quem terá sido a personagem mais significativa da cultura macaense? 4. O patuá serve para alguma coisa? 5. Daqui a 30 anos que língua falarão os macaenses? 6. Falar português é importante para a identidade macaense? 7. Que vantagens e desvantagens tem um macaense que vive na RAEM? 8. Gostava que o 24 de Junho fosse novamente feriado em Macau? não é pelo peixe, a cultura existe mesmo. 3. Aquele indivíduo humilde que ninguém sabe bem como se chama e de quem é filho, sem grandes posses nem formação académica, que todos os dias encontrou motivação para ir trabalhar pontualmente e competentemente. Não subiu na carreira, mas também nunca falhou, criou os seus filhos e cumpriu o seu dever na sociedade. Macau não é nada sem este indivíduo bem como todos os outros semelhantes que não têm nome e que são por isso esquecidos. Figuras históricas macaenses já todos as conhecemos, vou deixá-las para os outros inquiridos. 4. O patuá não serve para muita coisa. Para mim, essencialmente, serve para me lembrar das raízes familiares. 5. Em 2046 estaremos a poucos anos do término dos tais 50 anos. O macaense vai falar a(s) língua(s) que vai precisar de falar para sobreviver. Tudo bem, nada do outro mundo - o macaense sempre se safou bem. Todavia, quando chegarmos lá perto, novas vozes apocalípticas irão anunciar a morte da comunidade macaense. 6. É importante sim. Não é uma condição necessária - mas a experiência do ser Macaense torna-se muito mais rica quando se fala português. A mesma questão pode ser colocada relativamente ao chinês: falar chinês é importante para
a identidade macaense? A resposta é a mesma. 7. Quero apenas referir uma grande vantagem: a capacidade natural de compreensão das diversas culturas, mentalidades e atitudes comportamentais que fazem parte do dia-a-dia das gentes de Macau e que não se limita ao simples domínio das línguas aqui faladas. Quanto às desvantagens, não sei o que dizer. Poderei ser mal interpretado se me atrever a afirmar que, verdadeiramente, elas não existem. Não serei a pessoa indicada: a questão das desvantagens deverá ser dirigida àqueles que têm a mania da perseguição e que gostam de ser vítimas. 8. Em tempos expliquei à minha assistente - uma jovem chinesa local esperta e competente - a história do ataque dos holandeses no dia de São João e o tiro de canhão do padre Ró. Soltou uma gargalhada e continuou a fazer o que estava a fazer, não demonstrando um mínimo de interesse. Pudera. Se não fosse português e me apercebesse da forma romanceada, ingénua e até folclórica como por vezes a nossa história é contada, a minha reacção não seria diferente. Se gostava que o 24 de Junho fosse novamente feriado? Encolho os ombros. O Dia da Cidade passou a ser, para mim, o 20 de Dezembro - e isto vindo de quem sempre celebrou o São João.
LIZETTE DE SENNA FERNANDES
1. A nível internacional, nos últimos anos, Macau tem vindo a tornar-se num importante destino turístico e, provavelmente, faz hoje mais sentido do que antes. Apesar da base para a filiação étnica dos macaenses ter sido a utilização do português como linguagem de casa, ou por alianças com o padrão cultural português, sejam eles chineses cristãos convertidos ou não, a designação “Macaense” é hoje aplicada a todos aqueles que vivem e foram criados em Macau e, naturalmente, todos aqueles que de alguma forma foram aculturados com influencias chinesas e portuguesas. 2. Cultura: a ideia de “Macaense” é a de uma etnia baseada numa cultura. Tenha um indivíduo ascendência portuguesa, ou apenas algumas ligações ao padrão cultural português, ou foi criado em Macau. Todos partilhamos uma carac-
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terística comum: sermos influenciados pelos portugueses e pelos chineses, de uma forma ou de outra. Os múltiplos grupos étnicos e a presença dinâmica do património edificado Chinês e Português lado a lado numa cidade tão pequena são tudo factores contributivos da nossa identidade como macaenses. Tendência: à medida que Macau cresce como destino turístico, mais e mais pessoas chamaram aos de Macau, “macaenses”. Elitismo: já não é reservado aos portugueses e macaenses. O sistema está aberto e praticamente qualquer pessoa pode juntar-se ou organizar um grupo de interesse. À medida que Macau atrais investimento estrangeiro e surgem novas oportunidades, qualquer um com esse interesse pode fazer parte de um grupo de elite. 3. Tem de ser o meu tio Henrique de Senna Fernandes. Por via da literatura e por via da paixão. Ele chamava a atenção para a identidade macaense e salientou de forma vívida a singularidade do nosso passado. Gosto particularmente do seu livro “Nam Van” pelos esboços que contém dos diferentes aspectos da identidade macaense. 4. Não acho que a questão é se serve ou não. Está bem documentado que o Patuá está a extinguir-se e, racionalmente, é uma língua que deve ser preservada. Historicamente, teve um papel muito importante em Macau, seja em meios sociais ou comerciais. Apesar de não existirem muitas pessoas a falá-lo, vale sempre a pena preservar os seus valores histórico e artístico. Não posso deixar de referir que o Miguel de Senna Fernandes e todos os que contribuem para os Doci Papiaçam Di Macau estão a fazer um excelente trabalho neste capítulo. 5. Devido à proximidade com Cantão e Hong Kong, acho que o cantonês vai continuar a ser o idioma predominante em Macau. Também penso que vamos ter cada vez mais pessoas a falarem inglês e mandarim. Todavia, também me parece que mais e mais pessoas apreenderão português, até porque há muitas escolas que têm vindo a incluir o ensino do português como disciplina curricular. 6. Tanto do ponto de vista tradicional como do con-
temporâneo, acerca do que é ser “Macaense”, acho que a partir do momento em que a pessoa incorpora a cultura portuguesa e a chinesa deve ser considerado macaense. Portanto, a resposta para esta pergunta é não. 7. Pessoalmente não noto nem vantagem, nem desvantagem por ser macaense. Mas é bom saber quem somos. 8. Acho que devíamos comemorar todas as vitórias de Macau, incluindo o 24 de Junho quando repelimos com sucesso os holandeses.
ANTÓNIO VALE DA CONCEIÇÃO
1. Não entendo a pergunta. Fazer sentido ser-se Macaense? Ser-se Macaense não é uma escolha, julgo eu. Talvez assumirmo-nos como sendo de Macau seja a única escolha consciente que possamos fazer. Agora, rever sentido em se ser Macaense é tão abstracto como perguntar se se faz sentido sermos Goeses, ou sermos Insulares, ou sermos Transmontanos, ou até Portugueses. 2. De novo, não entendo o que isto quer dizer. Estar Macaense? Um tendência? Uma Cultura? Ou Elitismo? 3. Não creio que possamos nomear uma figura única que represente todos os Macaenses, ou aquilo a que chama de cultura Macaense. Tal a variedade de Macaenses e circunstâncias em que todos nos encontramos em Macau, que seria sempre uma ligeira homenagem elegermos apenas 1 figura para retratar um todo tão específico e ao mesmo tempo variado. Creio que podemos encontrar uma vasta eleição de pessoas que desafiaram os tempos e os modos que viveram em Macau e onde a memória deles permanece pelo bem que fizeram
à cidade, pelo contributo intelectual, sociopolítico e cultural. 4. Não sei responder a esta pergunta. O Patuá como língua extinta, pela nomeação da sua qualidade como língua não parece ter qualquer qualidade prática. Mas se serve para alguma coisa? Porque não? O quão tem vindo a entreter os espectadores e o público de Macau através do Dóci Papiaçam parece trazer algum sentido. Parece ter alguma motivação cultural. Mas um espectáculo que aparentemente reúne tanta gente anualmente parece guardar alguma função dentro desta sociedade que conhece, ou se interessa, pelo Pátua. 5. Não sei. Tal como não sei que língua falarão os Portugueses daqui a 30 anos em Macau ou Portugal. Se Português, se Portunhol, se Português do Brasil, tal é a mutação da língua nos dias que correm. Não sei se interessa se quer perguntarmo-nos que língua falarão os Macaenses. Interessa mais saber que Macaenses serão? Que preocupações terão no seio da Sociedade. Que causas levantaram na cidade? Que finalidade terá todo o sistema da RAEM. Agora, se falarão menos Português do que agora, assim o seja. Não acredito que seja por motivação pessoal, por agenda, que o desinteresse pelo Português por parte dos Macaenses venha a ser a razão para se deixar de falar Português em Macau. Acredito é que as circunstâncias em que viveremos levarão a uma mutação de necessidades. E talvez o Português não venha a responder a necessidades desta sociedade. Ou talvez venha a ser chave. Certo é que vai de facto mudar. 6. Para a forma como me expresso Macaense, sim. Mas recuso-me a nomear qualquer critério que venha tentar definir o que é a identidade Macaense. E recuso, de igual forma, alguém que me impinja critérios que avaliem a minha raiz cultural. Como já disse, a variedade de Macaenses e as circunstâncias em que estas famílias desenvolveram a sua identidade em Macau fazem com que seja quase impossível nomearmos um Modelo de Macaense. E parece-me uma vontade muito efémera querer fazê-lo. Há valores acima da língua e do legado genético e cultural que são
determinantes à identidade de um cidadão, de Macau e de um outro lugar do mundo. 7. Culturalmente, creio que a vantagem será vivermos circunstâncias desiguais a muitos lugares no mundo, onde o contacto com o Outro parece ser constante e histórico. É uma qualidade que assiste grandes metrópoles e que curiosamente em Macau, um lugar tão pequeno, proporciona-se a mesma experiência. As desvantagens? Não sei dizer. Creio que poderão existir alguns vícios muito enraizados na sociedade de Macau mas que não são exclusivos aos Macaenses (como minoria ou comunidade em Macau). É notório o favorecimento de condições do cidadão perante o governo por parte dos residentes locais face aos que cá estão com vistos de trabalho/Blue Card. Contudo, o esforço de integração e de aprendizagem terá de ser feito por ambas as partes. Ninguém está em vantagem quando não existe abertura ao Outro. 8. Não tenho opinião formulada sobre este assunto.
MIGUEL KHAN
1. Para as pessoas que cresceram, viveram e vivem em Macau acho que faz todo o sentido. Não vejo sequer outra designação, a não ser que tenham outra nacionalidade e que não queiram ser tratados como tal. 2. Depende das raízes de cada pessoa q se considera macaense... Elitismo??? 3. Os meus Pais! 4. Serve para recordar o passado. 5. Cantonense. 6. Para alguns sim, mas para muitos outros não. 7. Vantagens - ter BIR; Desvantagens - demasiado dependentes do ar condicionado 8. É sempre difícil recusar feriados...
24 de Junho
especial
A singularidade macaense
O
fluir dos séculos pouco esclarecimento tem proporcionado a este fenómeno. Com efeito, a singularidade macaense inscreve-se melhor no catálogo dos mistérios do que no das categorias racionais. Por esse motivo, ela foge aos limites estritos da previsão humana, escapa à inventiva do córtex cerebral e à sistemática das suas representações. Desígnio da Criação? Mero capricho do destino? Acaso da História? Ou simples combinatória de mundos? Ninguém o sabe, verdadeiramente. Todas as nações têm a sua narrativa. Umas mais densas, outras mais extensas. A nação macaense mistura caminhos, baralha histórias, desconcerta trajectórias. Em boa verdade, ela estabelece um enigma: ela é uma excepcionalidade no espaço e no tempo, é um daqueles exemplares raros que decorrem de um desvio da história, resultam de um acidente, matematicamente improvável, ocorrido na química dos povos. Esta singularidade é nómada. A condição macaense está ferida de errância no mundo… e no próprio território-berço que a gerou. Ela nasceu migrante há quase cinco séculos, afectada por uma atávica pulverização, saudosa de raízes que transporta
mas raramente implanta. Uma espécie de colectivo individual que dilacera o sentido de comunidade sem a destroçar. Neste destino de entreposto, a vivência macaense está sempre por cumprir, como se de fadário inatingível e trágico se tratasse. No seu sortilégio, a condição macaense no mundo joga-se contra um horizonte de contingência: tudo se cria, tudo se perde. Como um perpétuo jogo de azar. O desprezo pela quantidade e a ausência de medição são constitutivos: quantos são? que produzem? quanto valem? Pouco importa. A métrica pauta-se por parâmetros imateriais e pouco discerníveis para mentes ocidentais. A “tecnologia” macaense reside, então, na sua enorme criatividade. Partindo de uma interpretação própria do mundo, que combina fetiches e teoremas, taoísmo e cristianismo, mistério e razão, a presença macaense é feita de artefactos que simbolizam uma forma peculiar de interpretar o universo do Yin e do Yang. Os macaenses são a expressão corpórea dessa singularidade. Nesse corpus de nação – as pessoas concretas – realiza-se o activo mais palpável de um legado consuetudinário, formula-se um credo de continuidade. (...) Roberto Carneiro
Neste destino de entreposto, a vivência macaense está sempre por cumprir, como se de fadário inatingível e trágico se tratasse
14 eventos
“Do Rio das Pérolas ao Ave” por r
Maria Rita cancela concertos em Portugal por doença
C
antora brasileira Maria Rita cancelou os concertos previstos para realizar em Portugal entre sexta e domingo, em Cascais e em Coimbra, devido a doença, anunciou ontem fonte da organização. De acordo com a organização, a cantora escreveu na sua página da rede social Facebook que contraiu caxumba [papeira] – uma doença potencialmente contagiosa – e que, “por recomendação médica, está de repouso absoluto”. Por esse motivo, cancelou os concertos “Voz:
Piano” na sexta-feira e no sábado, dias 24 e 25 de Junho em Portugal, nas cidades de Cascais, durante o Festival Cascais Groove’ 16, e Coimbra, no Convento de São Francisco, e o músico Rui Veloso irá assumir a actuação do primeiro dia. Ainda segundo a organização, os fãs que tenham já comprado bilhete para sexta-feira e não queiram mantê-lo têm a possibilidade de trocar por uma entrada para o dia seguinte, 25 de Junho, mediante disponibilidade.
Para domingo, dia 26 de Junho, já não será possível porque está esgotado, mas, se preferirem, podem pedir a devolução do dinheiro, através do canal que usaram para a compra do bilhete. Trata-se da primeira edição do festival Cascais Groove, que vai decorrer no Parque Palmela, de sexta-feira a domingo, reunindo nomes conhecidos da música portuguesa, brasileira e cabo-verdiana, como Miguel Araújo, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Mayra Andrade e The Black Mamba.
Sarilhos da ciência e da música
J
untar música e ciência é o objectivo da iniciativa em que a Orquestra de Macau do Instituto Cultural colabora pela primeira vez com o Centro de Ciência de Macau para apresentar o concerto “Ciência e Música Causam Sarilhos”. O evento tem lugar a 3 de Julho, em duas sessões, às 14h00 e às 15h00 num concerto que une a música à ciência, revelando as maravilhas da música
através de teorias científicas permitindo às crianças experienciar, ouvir e até mesmo ver a música de perto, refere a organização. O concerto está relacionado com a exposição especial do Centro de Ciência “Dinossauros em Carne e Osso”, consistindo na interpretação de diversas melodias nas diferentes galerias temáticas do Centro de Exibições do Centro de Ciência
de Macau. O espectáculos parte de uma perspectiva científica na apresentação de instrumentos de cordas e de sopro de uma orquestra sinfónica, incluindo ainda segmentos informativos de interacção com o público com o intuito de que este experimente e explore, em primeira mão, os prazeres da ciência e da música. O evento conta com entrada livre.
MAM Viajante do Séc. XIX em exposição
I
ntegrada no Festival “Le French May 2016” o Museu de Arte de Macau (MAM) inaugura a 29 de Junho a exposição O Pintor Viajante na Costa Sul da China” de Auguste Borget. A abertura do evento tem lugar às 18h30 e apresenta os desenhos realistas das viagens de Auguste Borget, pintor francês do século XIX ao Oriente. Com o objectivo de permitir aos visitantes conhecer os costumes de Macau e de locais na sua periferia naqueles tempos,
através da sua perspectiva objectiva, observação meticulosa assim como do seu estilo conciso e condensado, afirma a organização. A iniciativa exibe mais de 120 obras, bem como esboços, aguarelas, pinturas a óleo, gravuras e livros antigos recolhidas por coleccionadores e museus públicos de Macau, Hong Kong, França e Reino Unido. O pintor e viajante francês Auguste Borget embarcou em Outubro de 1836 numa viagem de alguns anos
à volta do mundo. Em Julho de 1838, Borget chegou à China, visitando Macau, Hong Kong, Guangdong e Fujian. Ao viajar pela China, Borget observou os costumes locais e documentou o que viu e ouviu com ilustrações e textos. Numa época anterior à fotografia, as suas obras constituem um registo histórico precioso da costa sul da China. “O Pintor Viajante na Costa Sul da China” estará patente até 9 de Outubro e conta com entrada livre.
C
om abertura a 2 de Julho e encerramento a 25 de Setembro, a exposição “Do Rio das Pérolas ao Ave” terá uma programação paralela de cinema no 24º Curtas Vila do Conde, de 9 a 17 de Julho, onde a dupla de realizadores vai apresentar uma misteriosa e histórica carta branca. “Do Rio das Pérolas ao Ave” é a primeira exposição em Portugal de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, realizadores que assim, se aventuram num projecto transversal, mais relacionado com as artes-plásticas. A exposição será composta por instalações concebidas exclusivamente para o espaço da Solar, em articulação com a sua configuração sinuosa e recôndita, adianta a organização. A proposta dos cineastas é apresentar um percurso lúdico pelo universo de ambos, procurando estabelecer novos diálogos com os filmes e respectivos processos de produção, numa abordagem muito diferente da que acontece habitualmente na sala de cinema, adianta a organização. Esta representa ainda uma oportunidade para a dupla do cinema português apresentar e complementar o seu trabalho cinematográfico. Nesta exposição, serão apresentadas instalações-vídeo e objectos intimamente ligados à produção de filmes como “Alvorada Vermelha”, “Mahjong”, “Manhã de Santo António”, “O Corpo deAfonso” e “Parabéns” – que já passaram pelo Curtas Vila do Conde – e “Morrer como um Homem”, “O Fantasma” e “O Que Arde Cura”. Acolaboração entre João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata é ainda marcada por uma série de “filmes asiáticos” que assinalam o reencontro de Guerra da Mata com Macau, cidade onde o realizador passou a infância.
A caminho de Paris
“Do Rio das Pérolas ao Ave” antecipa a retrospectiva integral que João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata vão
À venda na Livraria Portuguesa Nascido para Mandar: Guia prático para chegar ao poder em Portugal • José de Pina, João Fazenda (ilustração)
Expos carta
Agora também a política já tem o seu guia. Escrito por um dos criadores e autores de Herman Enciclopédia e Contra-Informação, tem uma linguagem simples mas técnica, e está recheado de exemplos práticos e muitos bonecos. Um livro recomendado não só aos jovens e boys em idade escolar, mas também a todos os políticos e dirigentes de futebol que queiram melhorar as suas deprimentes carreiras. Recomendado pelas principais marcas de máquinas partidárias!
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Keynes - Uma Teoria Útil à Economia Mundial • Peter Temin, David Vines
À medida que a crise económica global continua a causar estragos, vários políticos têm vindo a chamar a atenção para a necessidade de recuperar os conceitos de Keynes para resolver os problemas da economia actual. “Keynes – Uma Teoria Útil à Economia” oferece uma síntese notável sobre os conceitos-chave do economista John Maynard Keynes. Esses conceitos económicos permitem entender os debates políticos do nosso tempo.
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realizadores portugueses
sicAo e a branca ˜
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Os cineastas portugueses João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata integram o 24º Curtas de Vila do Conde, levando consigo ares da Ásia e de Macau
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com toques de patinagem artística pub
apresentar no Centro Pompidou, em Paris, no final deste ano. A inauguração terá lugar no dia 2 de Julho, pelas 18 horas, com a presença dos realizadores e um convidado especial, que oferecerá os seus préstimos musicais em ambiente de “sunset”. Em complemento à exposição e a convite do Curtas Vila do Conde, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata vão apresentar no festival uma mis-
teriosa e histórica carta branca. As três sessões integram uma selecção de curtas-metragens escolhidas pela dupla de cineastas de autores como Buster Keaton, Charles Chaplin, Jacques Tati, Alan Schneider, Jean Genet, Andy Warhol, Kenneth Anger, Jacques Demy e Jean-Luc Godard, entre outros enquanto filmes históricos e que desafiam as convenções do cinema narrativo.
Destacam-se ainda nesta edição do festival de curtas uma visita guiada à exposição na Solar pelos próprios artistas/realizadores, na quinta feira, dia 14 de Julho e o de uma conversa aberta e debate, sessão especial na sala dois do Teatro Municipal, no sábado, dia 16 de Julho.
eventos
FRC Febre do jazz
Sábado é noite de Jazz na Fundação Rui Cunha. A partir das 21h00 a galeria da fundação acolhe as participações especiais do famoso guitarrista Moon Wong de Hong Kong para um serão intitulado “Saturday Night Jazz” numa iniciativa da Associação de Promoção de Jazz de Macau. Segundo a organização esta é uma oportunidade de imergir no característico “cenário de sombra e luz, toque e gosto, numa “quente” noite de Jazz.” O evento conta com entrada livre.
HBO cancela segunda temporada de «Vinyl»
A HBO cancelou a segunda temporada de «Vinyl», série sobre a indústria musical dos anos 70 produzida por Mick Jagger e Martin Scorsese. A HBO contrariou a decisão inicial e decidiu não avançar com uma sequela. «Depois de ponderada reflexão, decidimos não avançar com a segunda temporada de «Vinyl»», revela uma declaração. «Obviamente, não foi uma decisão fácil. Temos um respeito enorme pela equipa criativa e elenco pelo esforço e paixão [empregues] neste projecto», pode ler-se. A primeira temporada foi recebida com um misto de entusiasmo e críticas.
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A
u Kam San, deputado à Assembleia Legislativa (AL), continua à procura de respostas sobre o financiamento público a associações desde o caso da doação de 100 milhões de renminbi à Universidade de Jinan. Desta vez o deputado entregou uma interpelação escrita ao Executivo onde exige a publicação das informações dos subsídios atribuídos às associações privadas, incluindo aqueles que são concedidos pelos departamentos públicos. De acordo com o regime geral do direito de associação, as contas das associações precisam de ser publicadas. O deputado questiona, assim, se o Governo está ou não a agir de acordo com a lei, ao não tornar públicos os dados sobre os subsídios atribuídos. Au Kam San fala de pagamentos feitos debaixo da mesa e da ausência de fiscalização, algo que está contra a ideia de “Governo transparente” já tantas vezes referida.
Subsídios Au Kam San duvida do cumprimento da lei
Fechado em copas TIAGO ALCÂNTARA
POLÍTICA
Ainda a FM
O deputado lembrou que o caso Jinan gerou muitas dúvidas junto da população, que desejam mais esclarecimentos sobre os apoios financeiros concedidos pela Fundação Macau (FM). Au frisou ainda que a FM não é alvo de qualquer fiscalização independente, falando de facilidades em termos de corrupção ou transferência de interesses no seio da entidade. Esta semana, em mais um plenário da Assembleia Legislativa (AL), o deputado pró-democrata voltou a questionar o Executivo
Au Kam San fala de pagamentos feitos debaixo da mesa e da ausência de fiscalização
concurso público da empreitada de construção das fundações por estacas do Edifício do Laboratório Central, do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, recebeu um total de 19 propostas. Em comunicado à imprensa, o Governo indica que o edifício em causa é o último projecto de construção das fundações por estacas e faz parte do conjunto de seis edifícios a ser construído na primeira fase do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Com a área de implantação aproximada de 3000
A “Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica” que entrará em vigor a 5 de Outubro está já a ser alvo de preparação para que seja executada com sucesso. Neste sentido, entre 20 e 29 de Junho o Instituto de Acção Social (IAS) irá realizar 20 sessões de formação aos guardas da linha da frente do Corpo de Polícia de Segurança Publica de modo ao aprofundamento de conhecimento acerca do cerne da referida lei. É prevista a participação de cerca de 100 agentes no curso que inclui duas partes: por um lado, o esclarecimento acerca do conceito de violência doméstica e os problemas que acarreta para uma maior consciencialização, e por outro, dar a conhecer o conteúdo específico da lei recentemente aprovada.
Consulado Criado mecanismo de correcção cambial
sobre o caso Jinan, acusando a FM de ser um “clube VIP”. “O mais absurdo é que, como as associações beneficiárias de financiamento em montante elevado são todas amiguinhas, não se faz nem se consegue fazer a fiscalização do uso
do erário público. Não se sabe se existe corrupção ou fraude no uso deste dinheiro por parte destas associações, universidades privadas e hospitais beneficiários. Mas é quase certo que não são casos de fazer bom uso dos recursos”, ironizou.
O deputado queixou-se ainda de não ter recebido quaisquer respostas quanto à cedência de financiamento por parte desta entidade à Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST). Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
Complexo das Ilhas recebe 19 propostas
O
Formação para melhor aplicação da lei
metros quadrados, as fundações deste edifício serão executadas por estacas moldadas, num total de 78 estacas, cujos diâmetros são de 1,5 metros, 2 metros e 2,5 metros, sendo que as estruturas de retenção provisória da cave serão executadas em estacas-pranchas e estacas em betão de jacto rotativo. O prazo máximo de execução é de 300 dias. Do total, 16 empresas foram admitidas, sendo que três delas foram admitidas condicionalmente, sendo necessário a apresentação de documentos complementares
Jack Ma será consultor a custo zero
no prazo fixado. Os preços propostos variaram entre cento e cinco milhões de patacas e cento e noventa milhões de patacas e o prazo entre 260 a 300 dias. Prevê-se que a empreitada se inicie no 4.º trimestre do corrente ano e possa criar cerca de 60 postos de trabalho.
Jack Ma, fundador da empresa chinesa Alibaba, não irá receber quaisquer pagamentos na qualidade de membro de dois conselhos consultivos. A garantia foi dada ao HM pelo próprio gabinete do Chefe do Executivo. Jack Ma, que é um dos homens mais ricos da China, vai ser membro do Conselho de Ciência e Tecnologia e no Conselho para o Desenvolvimento Económico. O convite chegou depois de uma palestra dada por Jack Ma na Universidade de Macau.
O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, assinou ontem um acordo com oito sindicatos de trabalhadores portugueses dos consulados espalhados pelo mundo, no sentido de implementar um mecanismo de correcção cambial. Segundo um comunicado, esse mecanismo irá permitir “compensar os trabalhadores do Estado português no estrangeiro quando ocorra uma desvalorização do euro, corrigindo uma injustiça relativa às condições de remuneração e abonos dos trabalhadores do Estado português no estrangeiro, nomeadamente dos funcionários consulares, dos professores de português, dos funcionários dos centros culturais do Instituto Camões, da AICEP e do Turismo de Portugal, abrangendo um universo de cerca de 800 pessoas”. O HM tentou obter esclarecimentos junto da representante dos trabalhadores do consulado-geral de Portugal em Macau, Alice Meira, mas até ao fecho da edição não foi possível.
17 POLÍTICA
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Construção Civil Pedido calendário de revisão para regulamento
Depois de duas mortes de trabalhadores da construção civil, no início deste mês, Kwan Tsui Hang quer que o Governo apresente um calendário de trabalho para a revisão do regulamento. É preciso também exigir regras de segurança aos candidatos para as obras públicas
A
deputada Kwan Tsui Hang quer que o Governo defina um calendário para a revisão do Regulamento de Higiene no Trabalho da Construção Civil, a fim de diminuir os acidentes nas obras. É também preciso, diz, introduzir o requisito de avaliação de segurança nos concursos para as obras públicas. Numa interpelação escrita, a deputada referiu o caso de duas mortes, durante o trabalho, no início do mês. Segundo dados da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), no último ano, 1396 trabalhadores da construção civil sofreram ferimentos durante o trabalho. O número de feridos aumentou 10% - quando comprado com o ano de 2014. Num total, 11 pessoas morreram e 17 perderam a capacidade
1396 trabalhadores sofreram ferimentos durante o trabalho em 2015
11 mortes
para trabalho. “Isto significa que a proporção de feridos nas obras tem vindo a aumentar”, apontou.
Violações fatais
Dos total de mortos, oito aconteceram devido à violação do Regu-
lamento de Higiene no Trabalho da Construção Civil e 30 pessoas foram multadas por violar a lei, com valores que atingiram as 190 mil patacas. Estes dados, defende a deputada, são sinónimos da falta de formação que os empregadores têm em relação à lei. A também membro da Federação das Associações dos Operatórios de Macau (FAOM) acha que urgente rever o Regulamento, lançado há 25 anos, especialmente na parte que diz respeito à punição. “Gostaria de saber quando é que o Governo vai concluir a proposta de revisão, depois de se terem perdido vidas. Como está o calendário para a revisão?”, indagou. Por último, Kwan Tsui Hang quer ainda saber qual o papel da DSAL tendo em conta a criação, pelo departamento, do sistema de avaliação para a segurança na construção civil. Argumenta a deputada “que muitos empreiteiros não se importam com este sistema” e nem os concursos públicos abrangem esta área, assim como não existe uma proposta por parte dos empreiteiros neste assunto. “Será introduzida esta obrigatoriedade, pela DSAL, nos próximos concursos públicos para obras?”, rematou a deputada.
Fim do caminho
A
Lei do Erro Médico está a um mês de ser aprovada. Chan Chak Mo, presidente da 3ªComissão Permanente da Assembleia Legislativa, afirmou, ontem, à Rádio Macau, que acredita que o diploma será aprovado até ao fim desta sessão legislativa, ou seja, em Agosto. “É desejo da Comissão que em finais de Julho, início de Agosto, seja assinado o parecer, ou seja, antes do fim desta sessão a proposta de lei ser apreciada e aprovada na especialidade em plenário. Eu creio que isto é possível”, explicou, à rádio, Cheang Chi Keong. Com as alterações à proposta, o presidente explica
GCS
Lei de Erro Médico votada na especialidade nesta sessão da AL
que agora o documento está mais “claro e articulado”. No entanto, a proposta mantêm pontos que causaram algum discórdia na sociedade, incluindo a criação da comissão
de perícia médica que será constituída por sete profissionais: cinco médicos e dois juristas. Prevê-se que os especialistas possam ser contratados no exterior,
HOJE MACAU
Segurança em primeiro lugar
Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
sendo nomeados pelo Chefe do Executivo e o funcionamento desta comissão será regulado por um regulamento próprio. É ainda mantido o seguro obrigatório para profissionais de saúde, e fica definido que os prémios de seguro poderão variar muito de acordo com a especialidade do médico. “Só os médicos do sector privado é que terão que comprar seguro e que terão alguns encargos. Sete ou oito mil patacas por ano de prémio para cobrir eventuais riscos vale a pena no caso de ser necessário pagar uma indemnização”, cita a rádio. O prazo para a entrada em vigor da lei também foi alargado para 120 dias. Actualmente há 2838 profissionais médicos registados nos serviços de saúde, dos quais 38 por cento já adquiriram seguro.
Estância quer reabrir processo contra Governo
A
família Iong, que durante anos geriu a estância de madeira Lei Seng e que se diz a legítima proprietária do espaço, pretende fazer uma acusação formal contra o Governo, recorrendo de novo à justiça. Segundo o Jornal do Cidadão, a família pretende provar que o Governo nunca entregou quaisquer documentos em tribunal enquanto o processo sobre a propriedade do espaço decorreu. O Tribunal de Última Instância (TUI) considerou que a verdadeira proprietária do espaço, localizado na zona do Fai Chi Kei, é a Associação de Beneficência Tung Sin Tong. Depois de ter pedido uma
investigação ao Conselho Superior de Advocacia, em Novembro do ano passado, a família acusa agora o Governo de nada ter feito e a associação de ter falsificado assinaturas no contrato de venda do terreno, bem como de ter alterado a sua finalidade.
18 Sociedade
hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Metro Sistema vai ser estendido até Coloane
Em pratos limpos
É
da boca de Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, que sai a confirmação: o sistema do metro ligeiro vai ser estendido até Coloane. “A nossa primeira prioridade é acabar a linha da Taipa e a seguir ligá-la à Barra e depois haverá uma linha que sairá do ISTMO Taipa – Coloane, para Coloane, para Seac Pai Van. Essa linha terá uma extensão aproximada de dois quilómetros com duas estações. Terá uma primeira estação no novo hospital [Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas] e uma segunda estação na habitação pública de Seac Pai Van”, esclareceu o Secretário, à Rádio Macau. Também este ano será decidido sobre a linha de Macau, conforme explicou Raimundo do Rosário. “Como sabem a linha de Macau tem sido objecto de alguma ‘contestação’, mas nós tomaremos uma decisão sobre a linha de Macau este ano”, garantiu.
Dinheiros nossos
O segmento da Taipa, do metro ligeiro, terá um custo 11 mil milhões de patacas, conforme indicou Raimundo do Rosário, acrescentando
Gcs
Já há decisão: o metro ligeiro vai até Coloane. Raimundo do Rosário apresentou decisões, valores e novas soluções. Ho Ion San aplaude a coragem do Governo
Tudo muito bem
“Sei que não estamos habituados a fazer isto, mas passaremos a fazê-lo, que é dizer quando as coisas acabam e quanto é que as coisas custam” Raimundo do Rosário Secretário para os Transportes e Obras Públicas
Ashe isto muito estranho Morre John Ashe, suspeito no caso de Ng Lap Seng
J
ohn Ashe, presidente da Assembleia Geral da ONU entre 2013 e 2014, morreu, na passada quarta-feira, aos 61 anos, em Nova Iorque, sem que tivesse sido concluído o processo judicial em que era acusado de aceitar subornos de empresários chineses. A notícia foi avançada pelos meios de comunicação do Caribe, como o diário Antígua Observer que, sem identificar as suas fontes, indica que o também ex-embaixador de Antígua e Barbuda nas Nações Unidas morreu com um ataque de coração.
que estará concluído em 2019. “O que eu queria deixar claro é o seguinte: todos os custos estão aqui metidos. Assumo isso. Os custos futuros, esta é uma estimativa. Sei que não estamos habituados a fazer isto, mas passaremos a fazê-lo, que é dizer quando as coisas acabam e quanto é que as coisas custam. Agora, tem de ser bem explicado, pelo seguinte, dou um exemplo, o parque material de oficinas não serve só a linha da Taipa, servirá Coloane e depois, em parte, Macau. Entretanto, todo o custo deste parque material de oficinas foi imputado nestes 11 mil milhões da Taipa, embora não sirva só à Taipa. Portanto não são só os nove quilómetros e as 11 estações”, explicou. Há ainda números para a construção do Parque de Materiais e Oficina do metro ligeiro. Vai ter um custo de mil milhões de patacas, e o seu concurso público abre já a 1 de Julho.
Outros meios de comunicação, que citam como fonte um irmão de Ashe e o seu advogado, acrescentam que está prevista uma autópsia para confirmar a causa da morte. O corpo terá sido encontrado no chão da casa onde vivia, em Nova Iorque. Ashe foi detido e acusado no ano passado pelas autoridades norte-americanas por ter recebido mais de um milhão de dólares em subornos de empresários chineses, em troca do exercício da sua influência na Assembleia Geral da ONU. Enfrentava agora duas acusações por fraude fiscal.
Em reacções às declarações de Raimundo do Rosário, Ho Ion San, deputado, afirmou que este foi um “acto de coragem”. “Tanto os deputados como a população solicitaram várias vezes ao Governo uma calendarização sobre o projecto do metro ligeiro. O Governo agora tem essa coragem, é corajoso em aceitar esse desafio e assumir esta responsabilidade. Para além de tentar cumprir o prazo e a sua responsabilidade, também tentou pensar em novas soluções”, disse, referindo-se à criação de um prémio de 8% do valor da obra à empresa, se esta cumprir os prazos estipulados. Raimundo do Rosário avançou ainda que a exploração do metro ligeiro vai ser entregue a uma empresa de capitais públicos, levando à extinção do Gabinete de Infra-Estruturas e Transportes, em 2017.
o seu projecto para construção de um centro de conferências da ONU na cidade.
Popularmente
Entre os acusados neste processo está também o multimilionário de Macau Ng Lap Seng que, segundo as autoridades norte-americanas, pagou a Ashe para, entre outras coisas, impulsionar
Em reacções, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Mogens Lykketoft, lamentou, ontem, a morte de John Ashe. Em comunicado, Mogens Lykketoft apresentou as suas “sinceras condolências” à família de Ashe. “Apesar das muitas acusações contra ele, que até ao momento não foram provadas, Ashe foi durante muitos anos um popular e trabalhador membro da comunidade diplomática em Nova Iorque e na ONU”, sublinhou o actual presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas. HM/LUSA
Habitação pública Estudo da UM custou 700 mil patacas
O Instituto da Habitação (IH) gastou cerca de 700 mil patacas no estudo da Universidade de Macau sobre habitação pública, o qual acabou por cair em saco roto. A informação foi confirmada ao HM pelo organismo, que não adiantou mais dados sobre o início de mais um processo de consulta pública. “O IH recebeu o estudo sobre as novas tipologias de habitação pública, o qual tem sugestões positivas e negativas. Mas consideramos que temos de ouvir mais opiniões da sociedade e vamos lançar este ano o processo da consulta pública”, apontou.
Maioria dos agentes imobiliários não pediu licença
Dados do Instituto da Habitação (IH) citados pelo Jornal do Cidadão mostram que a maioria dos agentes imobiliários de Macau, cerca de 70% (2329 pessoas) ainda não entregaram os pedidos para a atribuição da licença profissional. Cerca de três mil agentes imobiliários terão uma licença temporária. Caso estes não obtenham a sua licença até ao próximo mês de Julho não poderão exercer a actividade. Arnaldo Santos, presidente do IH, referiu que a “lei é justa, e caso não obtenham a sua licença, o Governo vai executar a lei para quem não tem a respectiva licença profissional”, disse, citado pelo mesmo jornal.
Nove mil aves abatidas
Na madrugada de quarta-feira para quinta foram abatidas aproximadamente oito mil galinhas e mil pombos. Num conferência à imprensa, José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, indicou que a decisão aconteceu depois de ter sido detectado um subtipo do vírus da gripe aviária H7 numa banca do Mercado Iao Hon. A venda de aves de capoeira ficou suspensa por três dias. O IACM já entrou em contacto com as entidades chinesas de onde importavam os animais. O jornal Ponto Final explica ainda que o vírus foi detectado numa amostra ambiental do mercado e não num animal. Em comunicado à imprensa, os Serviços de Saúde (SS) indicaram que foram realizados testes às três pessoas, o proprietário e dois trabalhadores de uma banca de venda, e os resultados são negativos.
Quarenta ilegais detidos no Venetian
Segundo o canal chinês da TDM, a Polícia de Segurança Pública (PSP) descobriu 40 homens de Hong Kong e do Interior da China em situação ilegal no Venetian. A operação foi resultado de uma denúncia e, perante a PSP, os trabalhadores admitiram terem trabalhado no Venetian nos últimos dois dias, na montagem de um concerto e na limpeza do recinto. Os provenientes de Hong Kong indicaram terem sido contratados por duas empresas daquele território para trabalharem no Venetian. Para todos os efeitos, e segundo a PSP, nenhum tinha autorização de trabalho, mas todos tinham autorização de permanência de território. Segundo a informação divulgada, a PSP investiga agora as empresas de Hong Kong.
19 hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Governo incentiva investimento privado
Não compliquem Um estudo agora divulgado revela que a desaceleração económica, a redução de capacidade, a implementação insuficiente de políticas e dificuldades de financiamento têm emperrado o investimento privado mas Li Keqiang não quer nada disso e pediu a todos os níveis de governação para agilizarem o processo, pois só assim “será possível um crescimento económico estável”. Afinal de contas, o sector é responsável por 60% do PIB e 80% dos empregos
O
governo chinês vai tomar uma série de medidas para incentivar o investimento privado no país, libertando ainda mais o potencial das empresas do sector privado. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, pediu na quarta-feira aos departamentos dos governos central e locais que tomem acções concretas para impulsionar o investimento privado, depois de ouvir relatórios de uma investigação relacionada com uma reunião executiva do Conselho de Estado, presidida por Li. Durante a reunião, o primeiro-ministro pediu ao governo de todos os níveis que prestem atenção
aos problemas revelados na investigação, especialmente as dificuldades das empresas privadas de financiamento, assim como as taxas administrativas excessivas. Keqiang enfatizou que o investimento privado é de importância crítica para a China manter um crescimento económico estável,
garantir emprego e reformar a estrutura económica.
A pente fino
Uma missão nacional de inquérito sobre a desaceleração no investimento privado foi iniciada pelo Conselho de Estado há um mês, cobrindo 30 províncias e regiões. Mais de 500 empresas foram envolvidas e mais de
10 mil questionários sobre a implementação das políticas de investimento privado foram distribuídos na pesquisa. Os principais factores que causaram o declínio no investimento privado são: pressão de desaceleração económica, redução excessiva de capacidade, implementação insuficiente de políticas, e as dificuldades de financiamento das pequenas empresas privadas locais. Durante a reunião, Li assinalou que tratar adequadamente das relações entre o governo e o mercado, além de aprofundar reformas, é vital para impulsionar o investimento privado. “O governo deve cumprir com seus deveres, mas não deve abusar do seu poder”, disse. Mais medidas devem ser divulgadas pelo Conselho de Estado para solucionar os problemas acima mencionados das empresas privadas, como melhorar o acesso ao crédito, aumentar o apoio institucional aos programas de parceria público-privada local (PPP), reduzir custos administrativos e ampliar ainda mais o acesso ao mercado. O investimento privado tem desempenhado um papel vital no desenvolvimento económico da China nos últimos anos. Agora responde por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, 80% dos empregos, mais de metade da receita de impostos, assim como 67% do investimento directo chinês no exterior.
Cabelo em pé
O
“Cabelo Comprido” é acusado de ter recebido 250 mil dólares de Hong Kong do fundador do jornal Apple Daily, Jimmy Lai, “relacionados com o seu cargo público”. Recorde-se que o jornal tem uma postura muito crítica de Pequim. Leung disse à AFP que a sua detenção tem “um significado político”, acontecendo meses antes das eleições legislativas. Conhecido pelo seu rabo-de-cavalo e por usar ‘t-shirts’ de Che Guevara, Leung tem sido uma presença desafiadora no Conselho
Legislativo de Hong Kong desde que conquistou um assento em 2004. “Sou uma conhecida figura da oposição em Hong Kong, pode haver algum tipo de significado político”, disse à AFP. A detenção, acredita, “vai ter um grande efeito político”, tendo acontecido “mesmo antes das eleições” deste ano. O democrata ainda não revelou se tenciona candidatar-se em Setembro. Um comunicado do Governo indica que Leung, de 60 anos, foi acusado de
Presidente indonésio no Mar do Sul em navio de guerra
O Presidente indonésio, Joko Widodo, visitou ontem uma ilha no Mar do Sul da China a bordo de um navio de guerra, após confrontos com navios chineses e receios de que Pequim reivindique a zona. Widodo liderou uma delegação de alto nível, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros e o chefe das Forças Armadas, até à ilha indonésia de Natuna, no Mar do Sul da China, num navio de guerra, ao mesmo tempo que caças sobrevoavam o local. O ministro da Segurança, Luhut Panjaitan, disse que a visita tinha como objectivo enviar uma “mensagem clara” de que a Indonésia leva “muito a sério os seus esforços de protecção da soberania”. Pequim reivindica quase toda a área do Mar do Sul da China, gerando tensões regionais. A China reconhece, no entanto, a soberania da Indonésia sobre a ilha Natuna. Ainda assim, afirma que há uma sobreposição na zona económica exclusiva da Indonésia – águas onde um Estado tem direito a explorar recursos – em torno da Natuna.
Muro mata estudantes em Shijiazhuang
A queda de um muro de 60 metros numa escola de Shijiazhuang, capital da província chinesa de Hebei, deixou três estudantes mortos e um ferido, informou ontem a agência oficial Xinhua, que cita as autoridades locais. O acidente, que ocorreu na quarta-feira, apesar das mortes só terem sido confirmadas ontem, deveu-se aos fortes ventos que afectaram a cidade, segundo as autoridades. O muro caiu sobre um grupo de alunos que saíam da escola depois de terem realizado um exame. Os alunos, de 14 anos, ficaram presos debaixo dos escombros e foram resgatados pouco depois por pessoal da escola e levados para o hospital, onde o estudante ferido continua internado. Segundo a Xinhua, as autoridades locais anunciaram já a abertura de uma investigação.
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Creche da Santa Casa da Misericórdia de Macau
Deputado pró-democracia de Hong Kong acusado de corrupção
deputado pró-democracia de Hong Kong, Leung Kwok-hung, também conhecido como “Cabelo Comprido”, foi ontem acusado de corrupção por, alegadamente, ter recebido pagamentos de um dos mais conhecidos magnatas da comunicação social da cidade. Leung Kwok-hung, um activista da Liga de Social Democratas, foi detido e acusado de má conduta em cargo público pela Comissão Independente contra a Corrupção (ICAC, na sigla inglesa).
china
“deliberada e intencionalmente” incorrer em má conduta ao não ter declarado que recebeu 250 mil dólares de Hong Kong de Lai entre Maio de 2012 e Junho de 2016. “O caso surgiu de uma denúncia de corrupção”, diz o comunicado. Leung foi libertado sob fiança e vai comparecer em tribunal na sexta-feira.
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h artes, letras e ideias
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A
s coisas chegam de assalto. Névoas de encantamento ou de perturbação, sempre e sempre, a recobrir as coisas que já de si são completas e inapropriáveis. Que já em si abrem universos de inquietação mesmo sem passar além da mais simples intuição. Aqueles pequenos, quase imperceptíveis sinais, que somados na mais remota cave do subconsciente, esculpem uma progressiva impressão de entendimento. Às vezes eu tenho pressa. As coisas que não são boas deviam chegar de uma vez. Não ir-se anunciando como maus presságios. Preparando terreno dúbio. Para o desconhecido das coisas boas tenho tempo de esperar. Paciência. Toda a do mundo. E todo o mundo num fragmento da cidade. Pensar em sair e percorrer aquele curto, tão curto caminho até ao Jardim Botânico. Na verdade não é um caminho, quando me domina essa ideia fixa. Tão adiada como subitamente emerge de uma urgência, que já não é de ser mais do que ir. E este ir, sem caminho apreendido exepto pelo olhar, mas naquele plano em que, de imediato, se esquece. Uma consciência e uma memória provisórias e inúteis face ao importante que é chegar ali. Ou mais precisamente, estar aí. Um percurso inconsciente entre o início e o termo. E chegar é esquecer que houve a necessidade de ir, saltar sobre a ansiosa urgência de estar. E estar. E assim eu não fui ao Jardim Botânico porque o que queria era estar lá. Quando caminho, só quero que haja caminho e não destino. Mas não era assim hoje. Levei-me para lá. E fui estar no Jardim Botânico. Viver no Jardim Botânico. Como uma planta. Como amar. Ou como uma daquelas árvores que admiro. Há o tempo para um amar animal e há o tempo para um amar vegetal. No esplêndido e específico modo de cada natureza. No discreto e instintivo fado de cada uma. E, se de ambas as acepções existem empregos menos nobres e mais pejorativos, diria que lhes aponto a luz mais confortável e nenhuma subtractiva metáfora. Das plantas, com as raízes na terra, e os rebentos mais leves no céu. Pés na terra, no negro da terra, e cabeça no céu, no branco da luz do céu, como os humanos e é aí que reside a razão e o
Traços de eternidade lugar do sonho – a meio caminho, o coração, o corpo, territórios de todas as cores e de outras dores. Pelo caminho outras folhas. Muitas folhas de uma escrita agitada, em nervos que conduzem a seiva. E já ali, a surpreender-me e a ilustrar o que me tomava os pensamentos, no topo de um caminho, aqueles corpos. Aqueles corpos vegetais. Ambíguos, veementes, dramáticos de pose e insinuação. Depostos, sobrepostos. Aqueles corpos com referências visíveis a marcas de corpo, de pele e vísceras. Ocultas. Expostos. Incríveis corpos. Sensuais, mistos, matéria vegetal a insinuar uma vida sensível. Parciais, imiscuídos entre as raízes retorcidas do drama de se verem arrancadas à terra, e topos cortados rente às primeiras folhas. Como uma ilha. Como estigmas, que marcaram nas árvores mortas, sinais de uma transmutação possível. Uma antropomorfia póstuma. Como corpos caídos da cruz. De uma existência. Levei os meus pensamentos tóxicos como crianças agitadas, fechadas, presas num apartamento ínfimo, ou animais, de trela, e soltei-os ali para que gastassem energias longe de mim. Deitada num banco e de olhos fechados já só para ouvir das árvores aquele rumor intenso e progressivo, à passagem de uma aragem mais forte. Quase um rumor marítimo. Intrigante a disposição dos bancos. Muitos virados para encruzilhadas. Mas eu sentei-me em vários, na minha procura. Elas, majestosas. Perfumadas. Imensas. Ouvi-as acalmarem-me, escutei as variações nos rumores, escolhi cuidadosamente um caminho de bambu, coisa de feiticismo. Grandes maciços a debruar um caminho, e pela primeira vez ouvi aqueles sons muito particulares que lembram cascos de navios antigos. O ranger e estalar das madeiras, guinchos de tensão, e o estralejar seco de uns contra os outros, aleatório e sem musicalidade, e sempre aquele rumor de todas as copas de todas as árvores em redor a lembrar ondas de mar. E navios pirata. Assim. E de novo Emilio Salgari, da infância. E foi grande a viagem. A Floresta Negra, Sintra ou o Camboja. E eu sei lá como são as florestas no Camboja. Mas este lugar com traços de irreconhecimento podia ser em todo o lado. Em todos os
lugares menos ali. Incrustado no coração da cidade. Recoberto de muros como camadas de ser, as fibras de um coração. Escondido, a pulsar. Noutros lugares. Tudo e em tudo diferentes e dali. Mas ali era, foi, absolutamente um lugar distante. Qualquer. Qualquer coisa como a dizer entre um aqui e um aí, e o caminho será sempre curto. Entre uma sensação leve e límpida, e tudo o resto, um passo. A pensar se será desta vez que mudo os meus pensamentos desta roda viciada e presa por um eixo fixo. Soldada a ele. Para lá. Eu não me farto das coisas de que gosto. Farto-me de mim nelas. E por isso mudo de cadeira e de candeeiro. De luz. E o mundo agradecido da casa, grato pela solução dessa quase injustiça, muda como para um bom dia. Mas ainda sobre o lugar das coisas, dos percursos perto ou longe do lugar material. A casa. Cada lugar onde me encontro, encontro-me não como se fosse outra, mas uma mesma num lugar diferente de si. É esse o efeito de uma casa cheia de lugares. Penso que até mesmo uma casa pequenina. Basta o ângulo de uma cadeira, virada sobre a mesma parede, de uma mesma casa, qualquer casa que façamos habitar de tudo o que somos. Uma parede de frente ou oblíqua não se sente do mesmo ponto de vista. Uma, de uma equidistância elementar, estanca o olhar, a menos que tenha uma imagem de fuga, uma janela, ou uma imagem-janela. Outra é como um caminho mesmo que curto por onde o mesmo olhar, da mesma pessoa, no mesmo momento-tipo, flui até mais adiante e como rampa para prosseguir até longe, em caso de obstáculo. Tem o perto e o longe em si. Sento-me em lugares diferentes, diferentes mais ainda daquele que é o de sempre. Onde se concentra todo o peso de uma vida. Os nós. Os acontecimentos subliminares. Mudar de lugar dentro deste enorme potencial de universo é o efeito mágico que procuro. E resulta tantas vezes. Mesmo no interior. Da casa, também. Há um arrepanhar súbito de sobras e ponderações inúteis e uma limpeza momentânea que reenvia a um lugar, esse, interior. De essências. As que não podem deixar-se ferir do circunstancial. Ou que são o início. Como aquele grão de areia que fere a ostra e em torno
do qual se constrói a pérola. Defensiva. E quando chega o anoitecer, perceber que nunca se saiu do mesmo lugar. Como a pérola nunca sairia da concha. Mas será o mesmo lugar? E nunca é. As correntes, as marés encarregam-se de que não o seja. E de novo aqui, a ensaiar coragem de começar um destes diários, num dos grossos volumes que alguém me ofereceu. E a pensar, e se depois de tudo dito se esgotar o que sou. Sempre assaltada por palavras. As justas inteiras e perfeitas no que me dizem, as que me esqueço de imediato, as que me reviram a mente e sei que vou esquecer, as que não me deixam dormir. As que me levantam de um lugar em busca de um lápis. As que me desdobram e desembaraçam fibras enleadas em si próprias. Sempre digo, mas é tão verdade. Isso, o medo de enlouquecer nelas. Delas. Nesse absurdo. Penso se irei enlouquecer de palavras a inundar e a não dizer. Se isto é sintoma de silêncio. Ou de um excesso de absorção, que tem que ser conduzido por palavras até ao exterior. Como uma válvula de pressão. Como uma tentativa de conversa. Como uma limpeza que produz alívio. Como escolher tralha que tolhe e deitar no lixo. Como lastro. De dia viajo. Com Salgari. Na verdade, já não com Salgari como dantes, mas como Salgari. Sem sair do mesmo lugar. Que é dizer uma coisa de uma enorme imprecisão. Nunca se parte de um momento e chega a outro sem ter saído de um lugar, um lugar de nós, que pode até ser vizinho do outro mas não o mesmo exactamente. À noite afogo-me na insónia em palavras. E penso de novo se vou enlouquecer, de tantas…e dos rostos. Sim, depois os rostos. Vejo-os por todo o lado sem entender se acompanham ou vigiam. Nos copos, por exemplo. Andam sempre copos em cima da mesa. Enormes, com água e sempre aqueles rostos a surpreender-me num olhar mais distraído, por detrás da superfície lapidada e por efeito dos objectos atrás. Rostos com olhares estranhos e definidos. Estão ali e depois não voltam mais, os mesmos. É uma potencialidade preferencial. Como aparecem, podiam ser outras coisas milímetros mais ao lado. Mas não. São sempre os rostos com que a minha alma prefere deixar-se surpreender. Assaltar. E tenho medo. De ver sempre umas coisas nas outras. Ou querer ver.
21 hoje macau sexta-feira 24.6.2016
Anabela Canas
anabela canas
de tudo e de nada
E a pensar que estarei de volta ao mesmo lugar e à mesma pele mas sempre num outro momento. O que será sempre um ser diferente. Em tudo o que fôr igual. E um ser igual em tudo o que fôr diferente, como sempre as coisas são. E que ambas são verdades entrecruzadas e nem sequer paradoxais. Porque subentendida nelas está a concreta existência de núcleos essenciais e, se bem que vivos nas suas metamorfoses necessárias, de algum modo imutáveis e estruturantes de todos os detalhes circunstanciais que numa roda-viva podem parecer mudar como com um vento, uma aragem mais forte, um esvoa-
çar fútil, uma onda de través, um apagamento súbito, ou um golpe mais cru. E a pensar porque será que nestes anos todos nunca lá voltei. Nem acho que tenha lá ido alguma vez, e se fui, nem o facto na sua elementaridade ficou em memória. Portanto não fui. Não sei porquê. Mesmo se fui. Décadas de distância e mais de uma de vizinhança cúmplice. Penso nele. Muitas vezes. Talvez não tenha voltado por temor à desilusão. Mas desta vez fui. Para nada. Se esquecer o quanto gosto das árvores. E das plantas todas e de estar simplesmente. Na realidade fui para estar lá. Fui lá para estar.
Mudei-me para lá. Por um tempo curto demais para ser apelidado de mudança. Mas não foi tanto ir como foi ficar, ali. Sentada. Gosto de estar sentada porque o corpo deixa de existir, de ser sentido. De ser acção. Utilidade. Pode-se deixar de o pensar. Como uma planta. É uma espécie de anseio, este. E sem ouvidos. Atemoriza-me pensar que haja gente. Muita gente, ruidosa, perto, sentada perto, ruidosa e nítida. Mas não havia. Não é tanto a possibilidade de haver gente, é mais a certeza de que a gente fala. Demais, demasiado alto. E eu não quero saber o que dizem. Não quero ser obri-
gada a ouvir o que dizem. Mesmo sós, as pessoas falam muito, hoje. Uma loucura vê-las a falar tanto. E os automóveis. Mas estes produzem ruído sem palavras. E palavras já me sobram as minhas. E a todos os que as gravaram nos troncos estoicos de bambu. Querendo ficar. Como foi hoje. Quando estar é maior do que ir. Mas há estar e há caminhar e são coisas diferentes. Como diferentes, os modos de percorrer ou deixar escorrer o tempo. De um modo ou de outro foi uma bela viagem. Depois voltei porque não podia ficar para sempre. Naqueles traços de eternidade.
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hoje macau sexta-feira 24.6.2016
AVISO EXAME DE APTIDÃO DE AMADOR DE RADIOCOMUNICAÇÕES Avisam-se todos os interessados que pretendam ser admitidos ao exame de aptidão de Amador de Radiocomunicações, previsto para 4 de Setembro de 2016, nos termos do DecretoLei n.o 29/94/M, de 14 de Junho, de que as inscrições se encontram abertas a partir da publicação deste aviso, até 29 de Julho, e podem ser efectivadas na Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações, sita na Avenida do Infante D. Henrique, n.os 43-53A, The Macau Square, 22.º andar, Macau. Região Administrativa Especial de Macau, aos 20 de Junho de 2016.
A Directora dos Serviços, Subst., Tam Van Iu
DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS EDITAL IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS Faço saber, face ao disposto no n.º 1 do artigo 43.º do Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos, aprovado pela Lei n.º 21/78/M, de 9 de Setembro, que ao exame dos contribuintes referidos no n.º 3 do artigo 4.º, do mesmo Regulamento, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 6/83/M, de 2 de Julho, estarão patentes os respectivos rendimentos colectáveis atribuídos pela Comissão de Fixação. Poderão os contribuintes, de 16 a 30 de Junho do corrente ano, reclamar para a Comissão de Revisão, caso não se conformem com o rendimento fixado, não terminado, porém, o prazo, sem que hajam decorridos vinte dias sobre a data do registo dos avisos postais enviados aos contribuintes. Ao 1 de Junho de 2016.
O Director dos Serviços Iong Kong Leong
Anúncio 【N.º 45/2016】 Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados os seguintes mediadores imobiliários:
N.º do processo
Designação do mediador imobiliário
Infracção N.º da licença / da licença provisória
158/MI/2015 Fomento Imobiliário Century Era (Macau) Limitada
MI-10001816-0
104/MI/2015
56/MI/2015
Companhia Imobiliária Ka Wo (Macau) Limitada
MI-10001707-2
Companhia Imobiliária Primordial Limitada
MI-10001629-7
Comunicou, após dez dias, a contratação de agentes imobiliários e a cessação do seu vinculo laboral, violando este acto o disposto na subalínea (3) da alínea 1) do artigo 22.º da Lei da actividade de mediação imobiliária.
Nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 38.º da Lei n.º 16/2012 (Lei da actividade de mediação imobiliária), alterada pela Lei n.º 7/2014, os mediadores imobiliários supracitados devem apresentar a sua defesa por escrito, bem como provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas, no prazo de 15 dias, a partir da data de publicação do presente anúncio. Caso não apresentem defesa, por escrito, dentro do prazo estipulado ou a mesma não seja admitida por este Instituto, de acordo com o n.º 3 do artigo 31.º da mesma lei, são punidos com multa de cinco mil a vinte e cinco mil patacas (MOP 5 000 a 25 000). Caso haja necessidade de consultar os respectivos processos, poderão dirigir-se ao Instituto de Habitação, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, durante as horas de expediente, ou ligar para Sr.ª Lei através do n.º 2859 4875 (extensão n.º 747). Instituto de Habitação, aos 20 de Junho de 2016. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng
Assine-o Telefone 28752401 | Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo
www.hojemacau.com.mo
23 hoje macau sexta-feira 24.6.2016
opinião
um grito no deserto
SUNSET BOULEVARD, Billy Wilder
Lei demorada
paul chan wai chi
N
a antiga China existiam estes dois ditados, “é raro um homem viver até aos 70 anos” e “ter um idoso em casa é um tesouro raro”. Mas, com os avanços do sistema de saúde, a esperança de vida aumentou a ponto de já ser possível viver até aos 100 anos. No entanto, viver muito não é sinónimo de viver bem, sobretudo, quando o sistema de segurança social não providencia as necessidades dos idosos sem um fundo de poupança. Nesse caso, ficam desprotegidos no final da vida e podem facilmente tornar-se num encargo para a família. Em Macau, o Regime de Segurança Social garante uma pensão de sobrevivência, a quem tenha contribuído para o Fundo de Segurança Social. No entanto esta pensão não cobre de forma alguma todas as despesas. Nesse sentido, surgiu uma proposta para a criação de um Fundo de Previdência Central, para o qual descontarão empregados e empregadores. É certamente a resposta às necessidades da população. Esta recomendação encontra-se descrita em detalhe na “Proposta de
“Se os macaenses não tomarem outras medidas, a sua protecção básica na vida pós-aposentação não ficará salvaguardada” Consulta da Reforma do Sistema de Segurança Social e Protecção na Terceira Idade”, publicada em 2008. Mas, queremos salientar o facto do Governo da RAEM não ter implementado, ao longo de todos estes anos, o enunciado da proposta, preferindo esperar que o Conselho Permanente de Concertação Social concluísse a sua discussão, o que só veio a acontecer recentemente. Mas finalmente, a tão esperada proposta de lei do “Regime de Previdência Central não Obrigatório”, acabou por surgir. Sendo por natureza não obrigatório, implica, como é bom de ver, que as contribuições para o Fundo de Previdência Central não são obrigatórias. Caberá aos empregadores e empregados chegar a um acordo quanto às contribuições para este Fundo. Os conteúdos da proposta de lei definem regras específicas das quais ficará a depender a implementação de certas medidas. Estas regras estão particularmente explícitas na elaboração da reversão de direitos, e destinam-se a impedir desvios de fundos deste organismo. Após aturada discussão no seio do Conselho Permanente de Concertação
Social, a proposta, composta por 54 artigos, subiu à Assembleia Legislativa onde foi debatida durante dois dias. Foi finalmente aprovada por meio de uma votação na generalidade, com 25 votos a favor e 3 votos contra. Contudo, o resultado não reflectiu o ambiente de intenso debate que se prolongou por duas sessões, o que leva a concluir que todo este aparato faz parte do jogo político e tem como objectivo chamar a atenção do público em geral e dos eleitores em particular. Durante os dois dias de discussão, que antecederam a votação na generalidade, vários oradores reclamaram para si o estatuto de representante da região socialmente mais desprotegida. Estes oradores não estavam satisfeitos com os conteúdos dos diferentes artigos da proposta de lei e apresentaram mais exigências. Os discursos foram repetitivos o que dificultou a tarefa do Presidente da Assembleia Legislativa. A proposta de lei acabou por ser aprovada na generalidade, o que significa que muito provavelmente só passará ao exame na especialidade no próximo ano. E mesmo que a proposta de lei seja aprovada nesta legislatura, terá ainda
de esperar pela conclusão do processo eleitoral e pelo novo elenco legislativo. Este calendário de discussão permitiu que os actuais deputados tivessem desperdiçado muito tempo. O modelo que permite que uma proposta de lei possa esperar três anos até ser aprovada, originou que o Regime de Previdência Central não Obrigatório possa entrar em vigor apenas em 2020. Se os macaenses não tomarem outras medidas, a sua protecção básica na vida pós-aposentação não ficará salvaguardada. A implementação do Fundo de Previdência Central é uma medida urgente para a população idosa de Macau, como prova a criação deste Fundo por muitas instituições locais. Desde a apresentação da “Proposta de Consulta da Reforma do Sistema de Segurança Social e Protecção na Terceira Idade”, em 2008, só agora o Governo da RAEM avançou com a lei de regulamentação do Regime de Previdência Central não Obrigatório, uma medida que peca por tardia. Se o Governo da RAEM quisesse verdadeiramente assegurar uma protecção adequada a todos os seus residentes, não teria levado três anos a apresentar a proposta a debate e, teria sim, usado esse período de tempo para analisar e aprender com a experiência das regiões vizinhas de modo a estabelecer para o Regime de Previdência Central Obrigatório o melhor modelo possível. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
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hoje macau sexta-feira 24.6.2016
“Maintaining rapid yet environmentally sustainable growth remains an important and achievable goal for India. The country’s main problems lie in the disregarding of the essential needs of the people. There have been major failures both to foster participatory growth and to make good use of the public resources generated by economic growth to enhance people’s living conditions; social and physical services remain inadequate, from schooling and medical care to safe water, electricity, and sanitation.” An Uncertain Glory: India and its Contradictions Jean Drèze and Amartya Sen
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Índia não pensa no tão ansiado e cobiçado papel de ser uma superpotência económica, que parece ter ficado enterrado no passado e de que se recorda com receio. O aumento do preço do petróleo devido à guerra no Iraque, em 1991, deixou a Índia com apenas duas semanas de reservas em dólares para as importações de petróleo bruto. O Fundo Monetário Internacional concedeu empréstimos, tendo como contrapartida a liberalização da sua economia autárquica. O então ministro das finanças e depois primeiro-ministro, afirmou, parafraseando o escritor francês Victor Hugo, de que nenhuma força podia parar uma ideia quando o seu tempo tivesse chegado, mudando assim, o curso da história moderna do país asiático, com a abertura da economia, e nascia a “Índia brilhante”. As duas décadas seguintes podem ser consideradas, como o período mais próspero que a índia viveu, durante toda a sua longa e rica história. Os centros comerciais tornaram-se nos novos templos e o oásis da nova classe média, os hambúrgueres da multinacional McDonald’s, uniram-se ao apimentado menu local e as estradas atulhavam-se de Toyotas, Audis e Fords, e não se discutia se a Índia seria uma superpotência, mas quando atingiria tal estatuto. Os sonhos de prosperidade e poder internacional da Índia foram dissolvidos com a pior situação económica, que o país enfrentou em duas décadas. Acredita-se que tenha sido o prognóstico exagerado de uma crise eminente, em 2013, que parecia querer reavivar o insucesso de 1991, quando o então primeiro-ministro afirmou que tinham reservas monetárias para apenas seis meses, mas que não tinha comparação com a situação desse fatídico ano, com a promessa de não voltarem a viver a crise na balança comercial. A taxa de câmbio era fixa e passou a estar ligada ao mercado. As reservas apenas cobriam três semanas de importações em 1991, e a Índia foi forçada a comprometer o seu ouro para pagar os seus compromissos,
tendo realizado profundas reformas para abrir a sua economia. A falsa crise de 2013 deveu-se ao grande volume de importação de ouro e pedras preciosas, traduzindo-se num investimento em activos improdutivos. As importações dessas mercadorias no país que é considerado o maior comprador de pedras preciosas do mundo, atingiu um valor máximo de cento e sessenta e duas toneladas, em Maio de 2013, após a queda dos preços internacionais, obrigando a um aumento de 8 por cento nos impostos. O deficit na conta corrente atingiu o valor único de 4,8 por cento do PIB, enquanto o crescimento económico, caiu para 5 por cento. A Índia tenta conter a sede insaciável de ouro pelos seus cidadãos, por meio de medidas como o aumento de impostos de importação, proibição da importação de moedas e medalhões, e a obrigação dos compradores nacionais pagarem em dinheiro. O último dos problemas da terceira economia asiática e décima mundial era o colapso da sua moeda, em que a rupia acumulou níveis máximos e contínuos de desvalorização em relação ao dólar, tendo atingido 20 por cento, entre Janeiro e Junho de 2013. A decisão da Reserva Federal dos Estados Unidos de retirar o plano de estímulo monetário conhecido como “Operação Twist”, no final de 2012, traduzido na compra de quarenta e cinco mil milhões de dólares mensais em “Treasuries”, instrumentos da dívida soberana americana, de longo prazo, fez que o dinheiro resultante das vendas de uma quantidade semelhante de dívida a curto prazo, permitisse aos investidores acesso a dinheiro barato, fazendo-os livrar da moeda indiana. A fraqueza monetária forçou o banco central da Índia a elevar as taxas de juros, quando a economia sofria uma desaceleração, tendo crescido apenas 4,4 por cento no primeiro trimestre do ano fiscal de 2013, sendo o terceiro trimestre consecutivo de desaceleração do crescimento. A situação actual da Índia, é de lenta recuperação, sendo que na década de 2000, o país cresceu a uma média anual de cerca de 8 por cento. O objectivo era superar a taxa de crescimento anual de 10 por cento, mas apenas a China teve um crescimento superior, tendo o PIB desacelerado no exercício fiscal de 2012-2013, fixando-se em 5 por cento, e a taxa de inflação situou-se acima dos 7 por cento, sendo o ritmo mais lento de crescimento dos últimos dez anos, tendo as exportações e a produção industrial estagnado. Os planos de gastar milhares de milhões de dólares em auto-estradas, aeroportos e linhas de caminhos-de-ferro desvaneceram-se. A esperada liberalização nos sectores da segurança social, nomeadamente das pensões, bancos, defesa e educação não foram possíveis de se concretizar. As hesitações na tomada de decisões criaram incerteza e desconfiança. A Walmart não actua directamente na Índia por condicionalismos legais, operando através da Best Price Modern Who-
Richard Attenborough, Gandhi (1982)
O sonho indiano
“O homem Mahatma sentir-seia traído pela actual Índia, se acaso estivesse vivo, e é um desrespeito para a sua memória, que a vila portuária na costa noroeste da Índia, onde nasceu, seja um refúgio de traficantes de álcool, jóias, medicamentos e outros produtos”
lesale, a Ikea irá abrir a sua primeira loja na Índia, em Hyderabad, no segundo semestre de 2017, pelo que em 2012, nenhuma destas multinacionais ou semelhantes, operavam directamente na Índia. O governo indiano esperava que essas multinacionais melhorariam o antiquado sector agrícola e ajudassem a aperfeiçoar as pobríssimas infra-estruturas do país, pois cerca de 40 por cento das frutas e legumes danificavam-se a caminho dos mercados, devido ao mau estado das estradas e à falta de cadeias de frio. A história do desenvolvimento do mundo, oferece poucos exemplos de uma economia que
25 hoje macau sexta-feira 24.6.2016
opinião perspectivas
jorge rodrigues simão
cresce tão rapidamente, e por um período tão longo de tempo, com resultados demasiado limitados, quanto à diminuição das carências dos cidadãos, como afirmaram o Prémio Nobel da Economia Amartya Sen e seu colega economista Jean Drèze no seu livro “An Uncertain Glory: India and its Contradictions”. No país do elefante um terço das pessoas, ou seja, mais de quatrocentos milhões de pessoas, não têm electricidade, enquanto no país do dragão apenas 1 por cento das pessoas, carece de electricidade. A população alfabetizada na Índia é de 74 por cento, enquanto na China é
de 95 por cento. Os economistas recorrem à comparação com o Bangladesh, país considerado um caso perdido pelos especialistas em desenvolvimento, até recentemente. A população do Bangladesh tem maior expectativa de vida que a da Índia, as mulheres morrem menos de parto, maior número de crianças do sexo feminino frequenta a escola, os níveis de alfabetização são mais altos e existe menos desnutrição infantil. A sociedade é considerada boa quando o mais idoso e o mais jovem, têm acesso a uma vida digna. A alfabetização, desenvolvimento da condição da mulher, saúde, política am-
biental, luta contra a pobreza, programas de liderança para a juventude e projectos para a infância são acções que devem ser implementadas em todos os países, e em particular na Índia. O Banco da Criança foi uma iniciativa criada em Maio de 2013, na Índia, por crianças e para crianças, com o objectivo de as ensinar a importância da poupança e planeamento financeiro, quer para a sua educação, como para doarem uma parte das suas poupanças, com o fim de ajudarem as crianças mais pobres. Mais de mil e quinhentas crianças, em 2015, pequenos aforradores, participaram no projecto, que é de bem-estar e desenvolvimento para todos, expressando a visão de Mahatma Gandhi, quanto ao futuro da sociedade humana. A Índia celebrou a 15 de Agosto de 2007, com toda a pompa, circunstância e triunfalismo o sexagésimo aniversário da sua independência da Grã-Bretanha. O segundo país mais populoso do mundo, parecia ter deixado para trás a memória do processo doloroso, que levou à divisão por critérios religiosos da antiga colónia britânica e à criação simultânea da Índia e do Paquistão, que até então incluía o Bangladesh. Estimulado pela expansão económica e pela sua capacidade de inovação tecnológica, o governo indiano convenceu-se de ter encontrado um modelo de desenvolvimento sustentável duradouro. O então primeiro-ministro nas comemorações da memorável data, afirmou, que podia assegurar que para cada um dos cidadãos e para a Índia, o melhor estava para acontecer, destacando as mudanças necessárias de forma a evitar que um terço dos indianos continuasse a sobreviver com menos de um dólar diário. A Índia efectivamente não pode converter-se num país com ilhas de alto crescimento, paredes meias com vastas áreas que não recebem qualquer benefício do desenvolvimento, tendo o governo indiano anunciado um multimilionário plano de investimentos para incentivar as infra-estruturas, agricultura que é a principal actividade económica e melhorar o nível de educação, que não consegue resolver o analfabetismo, e que afecta uma terça parte da população. O grande sonho da Índia, é o mesmo que tinha o pai da independência, Gandhi, que sempre sonhou e lutou por um país livre, que só conseguiria a sua prosperidade e felicidade com a erradicação total da pobreza. O principal objectivo do Estado é garantir um crescimento equitativo e geral, evitando uma distribuição de rendimentos de forma desigual e opaca. O sonho de Gandhi era conseguir um país independente, isento de abusos e da exploração indevida. O seu método foi a paz, ou seja, por meio de manifestações não violentas, como as célebres marchas pacíficas, e nunca de uma Índia divida em três países, e menos com conflitos no seu interior, como acontece com o Paquistão sobre Caxemira, ou tendências
separatistas em vários grupos étnicos que compõem o país. O sonho de Gandhi era libertar a Índia, e só é possível de realizar pela eliminação da pobreza. Mahatma Gandhi ainda vive na Índia, e não existe cidade alguma do país, onde a sua imagem não seja parte integrante da arquitectura, e o seu retrato decore as paredes dos escritórios de qualquer repartição pública, assim como não há escola alguma, onde a história do pai da nação indiana não seja disciplina obrigatória. Todavia, as ideias pelas quais morreu há sessenta e oito anos quase desapareceram. Gandhi entrou para a história como um símbolo do pacifismo mundial. Através da sua estratégia da não-violência ou desobediência civil, conseguiu a independência da Índia, mas o objectivo de Gandhi não era só acabar com a colonização britânica, mas incutir o respeito e tolerância entre as diferentes religiões, eliminar a pobreza extrema em que viviam centenas de milhões de cidadãos, e promover o desenvolvimento com base em uma economia rural. Era um retornar à terra, ao elementar. A Índia actualmente é um país muito diferente daquele que o Mahatma (Grande Alma) sonhou. A intolerância entre os hindus e os muçulmanos provocou na curta história independente da Índia e Paquistão, três guerras sangrentas e numerosos conflitos civis, que fizeram centenas de milhares de mortos e mais de 30 por cento da população ainda continua a viver na pobreza extrema, apesar das novas medidas económicas neoliberais adoptadas em 1991, permitirem que apenas 20 por cento dos indianos possam viver de acordo com os parâmetros de uma sociedade de consumo. O restante da população apenas sobrevive, e o país sangra, vítima da corrupção. O homem Mahatma sentir-se-ia traído pela actual Índia, se acaso estivesse vivo, e é um desrespeito para a sua memória, que a vila portuária na costa noroeste da Índia, onde nasceu, seja um refúgio de traficantes de álcool, jóias, medicamentos e outros produtos, com o beneplácito das autoridades, e apesar do seu nome se encontrar enraizado na memória nacional, para as novas gerações de indianos Mohandas Karamchand Gandhi, com a sua túnica e roca, parece apenas uma figura distante de um livro de história. Os críticos de Gandhi vêm de todas as direcções. Se os nacionalistas hindus o acusam de ter sido a favor dos muçulmanos, as castas mais baixas, que o governo nega existirem, censuram-no de ter pregado a paciência em vez da revolução. Gandhi foi assassinado por um grupo de fundamentalistas hindus que não o perdoou de defender os muçulmanos, e morreu vítima da mesma intolerância que actualmente o crítica e que ameaça o futuro da região.
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nebulado
O que fazer esta semana Hoje
Música “Noite de piano” Fundação Rui Cunha, 20h00
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Arraial de S. João Bairro de S. Lázaro, das 12h00 às 23h00 Música “Saturday Night Jazz” Fundação Rui Cunha, 21h30
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Arraial de S. João Bairro de S. Lázaro, das 12h00 às 23h00
o cartoon steph
Exposição “Arts Fly” Broadway Macau (até 28/06) Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08) Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09) Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07) Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07)
Solução do problema 113
Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08)
Um FILME hoje
Cineteatro
C i n e m a
INDEPENDENCE DAY:RESURGENCE Sala 1
INDEPENDENCE DAY: RESURGENCE [b] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 Sala 2
Alice through the looking glass [b] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 14.30, 16.30, 21.30
problema 114
Sudoku
de
Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau
Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau
1.21
O que será?
Amanhã
Exposição “Unamed” e concerto de Sylvie Xing Chen Fundação Rui Cunha (até 25/06)
yuan
aqui há gato
Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac, 18h30
Diariamente
0.22
Parece que bebi leite azedo. Nunca gostei muito de leite, acabem lá com essa ideia de que todos os gatos gostam de lei. Sinto um peso no estômago, uma náusea constante e faltam-me as forças nas patinhas. Pensei à séria pedir aqui a um dos jornalista que me levasse ao veterinário. Perdi o apetite, passei muitas horas na minha alcofa e nem as festinha faziam os meus bigodes levantar. Fui suspirando nas idas ao caixote de areia. Recusei um pitéu de frango que me trouxeram e nem as lambidelas diárias me distraíram. Ontem o dia foi cheio por aqui. Só se ouviam as teclas a estalar, cada uma mais forte do que outra. De um lado alguém perguntava “onde está o texto da dois?”, do outro “para onde é o texto das galinhas?”. E eu ali permanecia. Percebo que o leite não está estragado, é o mundo que está. Vivem-se intensamente os dias de trabalho, sem nunca olhar para o lado. Esqueceram-se quem foram, quem são os outros e de onde vieram. Esqueceram a história e o agora. Só pensam no futuro. No que querem ser e como lá chegar. Esqueceram que um dia foram vitorioso, firmes e decididos. Bem, esqueceram a sua essência. Feliz Dia de Macau. Pu Yi
Now You See Me 2 (Jon M. Chu,2016)
Magia a dobrar. Um ano depois de conseguir enganar tudo e todos – principalmente o FBI – os mágicos do Now You See Me voltam a prender a atenção do público. Os quatros Cavaleiros voltam a proporcionar momentos de magia quando são desafiados para algo ilegal. Tudo tem para correr mal, e corre. De novo cercados por polícias, os mágicos utilizam a magia para resolver o problema. Casinos e hóteis de luxo. Onde é que eles estão? Sim, em Macau! Está pronto para truques? Tomás Chio
Alice through the looking glass [b][3d] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 19.30 Sala 3
KIDNAP DING DING DONG [c] Filme de: Wilson Chin Com: Ivana Wong, Alex Fong, Kabby Hui, Bill Chan 14.15, 16.00, 17.45, 21.45
NOW YOU SEE ME 2 [B] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Jesse Eisenberg, Lizzy Caplan 19:30
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perfil HOJE MACAU
Gordon Yu, Organizador de festas e DJ
“As gentes de Macau precisam de abrir a cabeça”
N
as ce u em Macau, tem 35 anos e organiza festas ou trabalha como DJ desde há mais há mais de 16 anos. “Era uma loucura”, diz, “tinha uns 16 anos, era o tempo das ‘raves’ e havia muitas festas. Fiquei admirado com a música e a paixão por isto começou aí”, confessa Gordon, explicando ainda que “foi nessa altura que a música electrónica primeiro se fez sentir em Macau”. Foi há quase 20 anos e, na altura, “não havia dinheiro para os pratos e a misturadora”, diz Gordon. Com uns amigos juntaram algum e assim conseguiram comprar o primeiro conjunto de mistura. Aí surgiu o Kit Leong para os orientar. “Posso considerar o Kit o meu mestre. Ensinou-nos a misturar e a organizar festas”. Não é fácil organizar festas. A falta de espaços é o principal problema que Gordon encontra. Mas tenta. “Ando sempre à procura de um local que ninguém se tenha lembrado para organizar uma festa. Mas geralmente acabamos sempre no LMA ou no Kam Pek” Antes trabalhou na extinta Lótus (no Venetian) mas desde que o espaço encerrou tem agido por conta própria. A atracção pela música fez com que desistisse da escola cedo no final do secundário mas admite voltar a estudar um dia. “Talvez venha a estudar para engenheiro de som ou algo assim”, confessa.
Álbum para breve
“A minha música preferida? Techno”, diz Gordon sem denotar a mínima dúvida.
“Começou com o Derrick May, o lendário DJ do techno de Detroit”, explica. Mas para além de passar o que os outros produzem, Gordon dedicou-se recentemente a produzir um álbum de originais mas recorrendo a instrumentos antigos. “Queria instrumentos electrónicos a sério”. Encomendaram-nos e aguardam com alguma ansiedade. Mandámos vir a Roland TR e o velhinho Mother 32 da Moog” diz, híper animado. “Estamos a preparar um ‘live set’ e esperamos editar um vinil também com 10 faixas.” O trabalho deve estar concluído ainda este ano mas lastima a falta de apoios. Todavia, desconhecia o programa do governo de apoio à produção de álbuns. Concorri uma vez ao Fundo as Indústrias Culturais”, disse, “mas fiquei desmoralizado com o resultado.” “Disseram-nos que não era negócio”, explica. A ideia era montar um estúdio num prédio industrial para formação musical, gravação e com um espaço para apresentações ao vivo. “Tipo o “Boiler Room” da Mix Mag”, percebe? Mas isso para eles não era negócio.” Para Gordon não existe um verdadeiro interesse em apoiar os artistas locais. “A ideia que corre no meio artístico é que se não tiveres grandes contactos no governo nunca vais conseguir apoio nenhum”, lamenta. Por isso, não pensa concorrer a fundos. A solução é ir tentando por ele mesmo.
Terra aborrecida, sem cultura
“Qualquer dia, vou para Berlim”, desabafa Gordon quando começámos a falar da vida
em Macau, “pois talvez lá consiga desenvolver-me”, diz. “Macau está para lá de aborrecido”, diz, atribuindo culpas à falta de cultura e à incapacidade dos locais em se aprimorarem. Em relação à falta de cultura, Gordon atribui grande parte da culpa ao Governo.“Apoiam pouco artistas como eu. Acham que música techno e electrónica é igual a drogas.” Propusemos imaginar-se no lugar de Chefe do Executivo. “Mais cultura e mais apoios para quem a pretende desenvolver”, diz sem hesitar. “Percebo que os casinos façam falta. Mas não deixava abrir tantos. Prejudica a cultura”. “Não temos entretenimento, não temos cultura. As pessoas vêm para aqui apenas para jogar”, lamenta. Mas a dificuldade é quando artistas internacionais lhe pedem para lhes mostrar sítios pitorescos que revelem a cultura local. “Já não sei que dizer”, desabafa, “digo-lhes que Macau é só casinos e pronto”, explica Gordon que resume dizendo que ,“não temos orgulho em mostrar a terra. A vida nocturna é atroz. Os bares, horríveis... até os karaokes, a maioria tem maus sistemas de som. As pessoas de Macau não pensam muito no que fazem.” Estávamos a entrar no cerne da questão. Mas a culpa seria apenas do Governo ou as pessoas também terão algo a ver com isso? “Não se preocupam em fazerem bem”, diz Gordon em relação aos locais. “Abrem negócios por ouvirem dizer que fazem dinheiro sem saberem o que estão a
fazer. Passados uns meses já estão a passar o espaço”, indica. Para o DJ, “as pessoas deviam preocupar-se mais em estudar os assuntos.” “Temos internet, mas nem isso usam. Não há desculpa”, lamenta-se. “Precisam de abrir a cabeça e deixar de ser preguiçosas”, conclui.
Nas chinesas não dá
Voltávamos à ‘movida’ de Macau, ou à falta dela. Com tanta gente nova em Macau porque não existe um seguimento mais forte da cena underground? “Porque quando eu era novo não havia EDM. Era só música a sério”, diz. “Às vezes vêm uns miúdos às nossas festas mas acham aborrecido.” Será falta de promoção? Porque não levar as festas às escolas? “Só se for na Escola Portuguesa”, diz Gordon sem hesitar.
saber porquê
“Conheço bem as escolas chinesas. Tentei muitas vezes. Só querem os estudantes a estudarem mais. Não fazem festas. Com eles é mais jantares em restaurantes chiques ou alunos a cantarem modinhas locais. Só a Escola Portuguesa teria atitude para uma coisa dessas”, e prometeu ir mesmo reflectir sobre o assunto. Manuel Nunes
info@hojemacau.com.mo
“
Cecília Jorge
Coreia do Norte exclui conversações sobre nucleaR
Inspecções anticorrupção chegam a Hong Kong e Macau
A
Esta é a 10.ª ronda de inspecções desde que Xi Jinping assumiu o poder mas a primeira no Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau
Coreia do Norte “não tem ideias” de retomar as conversações a seis sobre o seu programa nuclear, afirmou ontem uma dirigente de Pyongyang, em Pequim, apesar dos repetidos apelos da China, o seu mais próximo aliado. A Coreia do Norte deixou as negociações, que tinham o objectivo de suspender o seu programa de armas nucleares, em 2009 e, pouco depois, realizou o seu segundo ensaio atómico. As conversações, organizadas pela China, incluem a Coreia do Sul, Estados Unidos, Rússia e Japão. Pequim quer retomar as negociações, apesar de Washington, Seul e Tóquio insistirem que Pyongyang – que lançou dois mísseis esta semana – tem primeiro de dar passos no sentido da desnuclearização. Choe Son-Hui, do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, disse em Pequim: “Por agora, não temos ideias de participar em negociações para discutir a desnuclearização da Coreia do Norte”. A dirigente está na capital chinesa para participar num fórum de segurança anual, que inclui representantes das seis partes. “Nestas circunstâncias, em que está presente a política hostil norte-americana, a DPRK [Coreia do Norte] não está em posição de discutir da desnuclearização da península coreana”, disse aos jornalista.
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“Sou / apenas / mas sou / quanto baste / Não busco o pleno / não serei o quase”
sexta-feira 24.6.2016
Todos a pente-fino
Polícia francesa detém 85 pessoas antes de manifestação DE RISCO
A polícia parisiense anunciou ontem que prendeu 85 pessoas antes de uma manifestação considerada de alto risco, a maioria porque tinham objectos que podiam ser depois atirados. Pela décima vez desde Março, as pessoas que estão contra a reforma laboral conduzida pelo Governo socialista começaram a desfilar na capital francesa. A manifestação - inicialmente interdita e depois autorizada mas com condições - aconteceu num caminho estreito e rodeada por mais de 2.000 polícias, para evitar uma repetição da violência que marcou as manifestações anteriores.
A
agência anticorrupção chinesa vai, pela primeira vez, enviar inspectores para o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, segundo a imprensa local. O anúncio foi feito na noite de quarta-feira pelo secretário da Comissão Central de Disciplina do Partido Comunista Chinês (PCC) – a agência anticorrupção chinesa –, Wang Qishan, que disse que as inspecções são um dos métodos mais eficazes no combate à corrupção, escreve o jornal South China Morning Post. Esta é a primeira vez que as inspecções anticorrupção abrangem o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, refere o jornal, indicando que as mesmas abrangem organismos ligados à Assembleia Nacional Popular, incluindo as comissões da Lei Básica das duas regiões chinesas com administração especial, e outras 29 de nível ministerial do partido e órgãos governamentais. “As inspecções são uma forma importante para realizar a supervisão interna do partido”, disse Wang Qishan.
Os inspectores devem estar em sintonia com o Presidente, Xi Jinping, e “examinar se as directrizes do partido e políticas têm sido verdadeiramente aplicadas numa tentativa de salvaguardar resolutamente a liderança central do partido”, acrescentou. Esta é a 10.ª ronda de inspecções desde que Xi Jinping assumiu o poder no final de 2012. O objectivo é cobrir todos os órgãos do partido e do Governo central, bem como todas as províncias e empresas estatais, informou a agência anticorrupção.
Aconchegando o “cobertor”
Nesta ronda, além do gabinete de assuntos para Hong Kong e Macau, os inspectores serão igualmente enviados para os ministérios dos Negócios Estrangeiros, Finanças e Segurança Pública. Também serão destacados para as províncias de Tianjin, Jiangxi, Henan e Hubei, já alvo de inspecções anteriores. O anúncio da nova ronda de inspecções surge semanas depois de um responsável chinês encarregado do controlo interno do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado ter alegadamente
violado a disciplina por incluir, nas despesas de representação, o pagamento de uma refeição a amigos num hotel. Este ano foi criado um novo cargo no seio do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado da China para supervisionar os trabalhos de inspecção de disciplina. Li Qiufang, a primeira responsável a ocupar o cargo, disse em Março à imprensa em Hong Kong que o seu papel é assegurar que os esforços anticorrupção se estendem como um “cobertor”. Após ascender ao poder, Xi Jinping lançou uma ampla e persistente campanha anticorrupção que atingiu já mais de 130 responsáveis chineses com o estatuto de vice-ministro ou superior em todos os setores do regime, incluindo no exército. Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua. Xi Jinping qualificou o combate à corrupção como “uma questão de vida ou de morte para o Partido Comunista e a nação”. LUSA/HM
ALEMANHA Homem abriu fogo em cinema e feriu 25 pessoas
Um homem abriu fogo, por volta das 15 horas desta quinta-feira, no interior de um cinema e estima-se que tenha ferido 25 pessoas. O atirador, que entrou disfarçado e com o rosto tapado, terá entrado no cinema com um cinto de balas ao ombro e o ministro do Interior da região de Hessen, Peter Beuth, confirmou que foi morto pela polícia. Segundo o site do «Correio da Manhã», o homem terá entrado no complexo de cinemas Kinopolis, no centro comercial de Rhein-Neckar, em Viernheim, sul da Alemanha, barricando-se de seguida. A agência Reuters, citando o ministro do Interior alemão, Thomas de Maiziére, garante que o autor dos disparos foi abatido pela polícia. Os meios de comunicação alemães indicam que a causa dos ferimentos das vítimas será o gás lacrimogénio lançado pela polícia.