Hoje Macau 25 FEV 2016 #3519

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MELISSA OLIVEIRA

Jazz de volta à Casa

JULIANA GONÇALVES

MOP$10

QUINTA-FEIRA 25 DE FEVEREIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3519

hojemacau

EVENTOS

COLOANE PUBLICACÃO DE RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL DEPENDE DA CONSTRUTORA ´

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VONTADE DE LUXO A publicação do conteúdo do relatório sobre o impacto ambiental que a construção de um empreendimento de luxo poderá ter na montanha de Coloane “depende da vontade de quem está a cargo do pro-

jecto”. As palavras são da sub-directora dos Serviços de Protecção Ambiental. Vong Man Hung afirma ainda que a DSPA avaliou as possíveis influências da construção no meio ambiente mais de dez vezes.

Contos & histórias

ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR

Inquisição e ditadura MANUEL AFONSO COSTA

Vamos Odosmonte ideais lá reunir GRANDE PLANO

PÁGINA 8

MOTONÁUTICA

Fórmula1 quer vir a Macau PÁGINA 17

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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CASO DORE

PUB

PÁGINA 7


2 GRANDE PLANO

NOVOS ATERROS SUGERIDA CONSTRUÇÃO DOS TRIBUNAIS NA PRAIA GRANDE

IDEIAS ` A VOLTA DA COLINA TEMAS MAIS OPINADOS

Habitação 15,8% das respostas (a altura dos edifícios na Zona B, o Plano Director e Plano Pormenor e a Habitação Pública foram os três tópicos com mais opiniões) Infra-estruturas rodoviárias 15,2% das respostas

Paisagem urbana 15,1% No total, foram registadas 6510 opiniões, sendo que quase duas mil opiniões foram apresentadas por iniciativa própria.

O relatório referente à terceira fase de auscultação do Plano Director dos Novos Aterros mostra que há quem prefira que o novo campus da justiça seja construído nas zonas C e D para que a paisagem da Colina da Penha não seja afectada. Para a Zona B, há quem defenda edifícios mais altos para resolver a falta de habitação

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Á são conhecidos mais detalhes sobre aquilo que a população pensa sobre o planeamento das Zonas A, B, C e D. O relatório referente à terceira fase de consulta pública sobre o processo foi tornado público ontem e mostra que nem todos concordam com a construção de habitação nas zonas C e D. “Outras opiniões sugeriram a troca dos órgãos administrativos e judiciais para as zonas C e D onde se situa o empreendimento designado por ‘Fecho da Baía da Praia Grande’, de modo a aproveitar melhor os recursos espaciais e a resolver a questão da altura (paisagem) da Zona B, (algo) que não afectará a paisagem da Colina da Penha”, revela o relatório. Contudo, a proposta para o Plano Director dos Novos Aterros prevê que o novo campus da justiça seja construído na Zona B e também há cidadãos que concordam a um “nível médio-alto” com esta posição por permitir que os tribunais estejam ao redor “das zonas financeiras e comerciais e, deste modo, os ganhos poderiam ser mútuos”. Depois do polémico debate sobre a futura altura dos edifícios habitacionais a construir na Zona B, alguns participantes na consulta pública defendem que devem existir prédios mais altos neste local, por forma a resolver o problema da densidade populacional. As opiniões contraditórias continuam. Se por um lado, “os cidadãos esperam que no planeamento global haja um equilíbrio entre a paisagem urbana e a procura de habitação” e são favoráveis a que seja fornecida mais habitação através da libertação da altura dos edifícios da Zona B, no sentido de aliviar a pressão ao nível da densidade populacional nas diversas zonas da península de Macau, outras opiniões referiram que “a quantidade de habitações da Zona B e a respectiva densidade devem ser baixas, mesmo que não se construam edifícios privados, em particular edifícios de luxo”.

MAIS GASTRONOMIA E TURISMO

A ideia de criar uma praça de gastronomia, cujo projecto o Governo acabou por pôr na gaveta depois da polémica, voltou a ser defendida na consulta pública. “Sugeriu-se ainda a criação na Zona B de um


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“Sugeriu-se a criação na Zona B de um itinerário turístico com elementos de cultura contemporânea, o melhoramento do trânsito assim como o acréscimo de mais elementos turísticos, nomeadamente uma praça de gastronomia, instalação de diversões e um sistema pedonal” “Os cidadãos esperam que no planeamento global haja um equilíbrio entre a paisagem urbana e a procura de habitação” “A quantidade de habitações da Zona B e a respectiva densidade devem ser baixas, mesmo que não se construam edifícios privados, em particular edifícios de luxo” RELATÓRIO DA TERCEIRA FASE DE AUSCULTAÇÃO DO PLANO DIRECTOR DOS NOVOS ATERROS itinerário turístico com elementos de cultura contemporânea, o melhoramento do trânsito assim como o acréscimo de mais elementos turísticos, nomeadamente uma praça de gastronomia, instalação de diversões e um sistema pedonal, por forma a incentivar a circulação pedonal e atenuar a pressão do número de turistas noutras zonas.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo FOTO TIAGO ALCÂNTARA

CONCLUSÕES

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e um modo geral, a habitação, o trânsito e as instalações públicas foram os tópicos que mereceram mais atenção por parte da sociedade. Houve uma atitude positiva relativamente ao número de habitações públicas da Zona A, à quarta passagem entre Macau e Taipa e ao planeamento de instalações públicas. Apresentaram-se também muitas sugestões desfavoráveis em relação ao plano de disposição do trânsito, ao plano de instalações públicas da Zona A, à densidade populacional e às actuais zonas urbanas. Segundo inquéritos via telefone e in loco, o plano do trânsito e o planeamento das instalações públicas da Zona A estão numa situação muito desfavorável, numa situação em que “precisam de aperfeiçoamento”, pelo que esses tópicos necessitam de uma atenção especial. Houve também uma preocupação significativa em relação à altura dos edifícios da Zona B (paisagem), tendo as sugestões apresentadas sido diversificadas.

A cidade do futuro

Zona A População preocupada com consequências da elevada densidade

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PESAR dos participantes concordarem com a construção de 28 mil fracções de habitação pública na Zona A dos novos aterros, a verdade é que temem consequências catastróficas devido à elevada densidade populacional. “Mais de 50% das opiniões apresentadas por iniciativa própria são favoráveis à habitação pública, o que revela que os cidadãos concordaram até certo ponto com o aumento do número de fogos de habitação pública a construir na Zona A.

No entanto, é necessário prestar atenção também às consequentes questões, nomeadamente o grande aumento da densidade populacional e as necessidades de equipamento de apoio social”, aponta o relatório. “No seio da sociedade há uma preocupação com que a densidade populacional da futura Zona A seja demasiado alta, tal como se afectará a qualidade de vida. No entanto, também há outras opiniões que concordam que o aumento da densidade populacional da Zona A poderá aliviar a pressão ao nível da densidade populacional nas diversas zonas da península de Macau”, pode ler-se. Revelando preocupação sobre uma possível insuficiência de instalações públicas na Zona A, as opiniões defendem ainda a “construção de bairros de escolas”, sendo que deve existir “uma articulação com as instalações de apoio ao trânsito para se proceder a um planeamento pormenorizado, fazendo-se o esforço possível

para que haja um equilíbrio dos recursos educacionais entre as novas zonas”. O trânsito na Zona A também é outra questão que preocupa. “Propõe-se que seja reforçada a capacidade de prever desvios na concepção das redes viárias da Zona A, prevalecendo os meios de transporte públicos, bem como haja um esforço para que se desenvolva o trânsito subterrâneo para aliviar a pressão do trânsito nas ruas. Os cidadãos estão preocupados que o trânsito na Zona A no futuro não seja suportável”, remata o relatório. A.S.S.

Cultura de bicicletas Zonas C, D e E: A bem do ambiente

QUARTA TRAVESSIA APROVADA Os cidadãos que participaram na terceira fase de consulta pública mostram-se favoráveis à construção de uma quarta travessia entre Macau e a Taipa. Contudo, “espera-se que a circulação seja aberta durante 24 horas, assim como a circulação de motociclos, e que se acelere a construção da quarta passagem”.

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ARTE das opiniões constantes no relatório mostram o desejo de construir zonas habitacionais amigas do ambiente nas Zonas C, D e E dos Novos Aterros. “A maior parte das opiniões concorda com a adopção do conceito “baixo teor de carbono no planeamento das Zonas C, D e E, e solicitou-se uma maior utilização de materiais amigos do ambiente. Houve também

uma concordância de que a criação de zonas habitacionais de baixo teor de carbono é uma tendência contemporânea do desenvolvimento das cidades, uma vez que as técnicas neste âmbito são bastante avançadas. Espera-se que as habitações de baixo teor de carbono possam ser implementadas noutras zonas.” Para além disso, foi sugerida “a construção de ciclovias nas zonas C, D e E, de modo a haver

uma articulação com a política de deslocações ecológicas”. “Espera-se que as três ciclovias das três zonas se possam interligar, incluindo mesmo a ciclovia da Taipa, com vista a criar uma ciclovia que circule a ilha”. O relatório garante que “poder-se-á criar em Macau uma cultura específica de bicicletas, e construir-se no futuro uma rede viária ecológica para interligar as cinco zonas dos novos aterros”.


4 POLÍTICA

hoje macau quinta-feira 25.2.2016

JOSÉ TAVARES NO IACM POR DOIS ANOS

A nomeação de José Tavares como presidente do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais tem a duração de dois anos, até 22 de Fevereiro de 2018. O anúncio é feito num despacho publicado ontem em Boletim Oficial.

PORTA-VOZ ATÉ 2018

Vitor Chan vai continuar a exercer funções como porta-voz do Governo por mais dois anos. A extensão foi tornada oficial ontem, num despacho publicado em Boletim Oficial e assinado por Chui Sai On, Chefe do Executivo. A nomeação está válida até 2018.

Condomínios PEDIDO LIMITE DE CONTRIBUIÇÕES PARA FUNDO

Não pago mais

A futura lei sobre administração de condomínios prevê que os moradores tenham de dar “um décimo” das suas quotas para o Fundo Comum de Reserva, mas diz que na assembleia-geral podem ser decididos montantes mais elevados. Deputados querem um limite máximo um limite e se os condomínios não concordarem, não sabemos o que poderá acontecer no futuro com a aplicação da proposta”, disse ainda o deputado.

TIAGO ALCÂNTARA

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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S deputados da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) consideram que o Executivo deve criar um limite máximo para as contribuições dos moradores de edifícios para o chamado Fundo Comum de Reserva. A conclusão foi feita ontem depois de mais uma reunião de análise ao futuro Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. A proposta de lei diz que os moradores de um edifício devem contribuir para o Fundo Comum de Reserva com um décimo das quotas que pagam para o condomínio, “salvo deliberação expressa da assembleia de fixar um montante superior ao valor legalmente estabelecido”. Para o deputado Chan Chak Mo, que preside à 2.ª Comissão, “isso significa que pode ser além de um décimo do montante das prestações periódicas”. “Parece que não há um limite e temos de esclarecer esse ponto com o Governo. Se não houver

TUDO NO PAPEL

Chan Chak Mo garantiu ainda que todas as regras relativas ao Fundo Comum de Reserva vão estar neste diploma, não estando prevista a elaboração de um regulamento específico. “O enquadramento já está definido e há uma norma que não fixa o limite para o Fundo Comum de Reserva ou uma percentagem e, não havendo um máximo, isso pode ser utilizado para suportar despesas de manutenção do condomínio. A intenção do Governo é que o maior número de prédios possa realizar a sua primeira reunião de condomínios e vão depois ser elaborados os formulários sobre a realização das reuniões”, explicou o deputado. Alei determina ainda que uma pessoa ou entidade que mexer na conta do Fundo Comum de Reserva “em violação da lei ou da deliberação da assembleia” pode ter de responder por crimes no âmbito civil ou penal.

“Parece que não há um limite e temos de esclarecer esse ponto com o Governo. Se não houver um limite e se os condomínios não concordarem, não sabemos o que poderá acontecer no futuro” CHAN CHAK MO DEPUTADO

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

EX-CHEFE DA DSSOPT OBRIGADO A APOSENTAR-SE

TRÂNSITO PEDIDAS MENOS MULTAS NOS TRIBUNAIS

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ENG Si Un, agora ex-chefe de Departamento de Planeamento Urbanístico da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transporte (DSSOPT), foi forçado a aposentar-se em Janeiro. Num despacho da DSSOPT, publicado em Boletim Oficial, o Governo indica que a aposentação de Teng aconteceu já desde 22 de Janeiro. “Teng Si Un, técnico superior assessor, 3º escalão, foi desligado dos serviços para efeitos de aposentação obrigatória por incapacidade permanente e absoluta para o exercício de funções públicas”, pode ler-se. O ex-chefe é suspeito de ter influenciado projectos de acordo com a sua escolha pessoal e, segundo a rádio, de ter adicionado informação a

documentos para que não fosse obrigado a contribuir para a pensão de aposentação. Teng Si Un apresentou um recurso no Tribunal de Última Instância no ano passado, mas o Tribunal julgou-o improcedente. Teng Si Un foi promovido a Chefe de Departamento de Planeamento Urbanístico em 2004 e no dia seguinte à sua promoção, o Governo permitiu o aumento da altura do edifício localizado ao lado do Pearl on the Lough, na Taipa. Este terreno está ligado ao caso de corrupção deAo Man Long, o ex-Secretário para os Transporte e Obras Públicas que está actualmente preso. Nas agendas do ex-Secretário, terá aparecido o nome de Teng Si Un, que é também filho de Teng Man Lai, réu no processo da Rua do Padre João Clímaco.

deputado Zheng Anting entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede medidas para que haja uma diminuição do número de multas de trânsito que vai parar aos tribunais. Para isso, exige que seja criado um sistema de marcação executado pelas autoridades policiais, por forma a diminuir a pressão já sentida nos tribunais. Dados do Tribunal Judicial de Base (TJB) citados pelo deputado mostram que a autoridades passaram mais de cinco mil multas de trânsito o ano passado, sendo que 4422 dos processos ficaram concluídos pela via do pagamento da multa. Contudo, 1324 casos foram parar aos tribunais, pelo facto dos infractores

não terem procedido ao pagamento ao fim de 15 dias. Para Zheng Anting, os tribunais de Macau já estão com muitos processos pendentes, sendo que, para o deputado, as multas de trânsito são infracções de menor gravidade. “Para diminuir a pressão e o número de casos em tribunal, será que o Governo vai criar uma punição administrativa, implementada pela Polícia de Segurança Pública, para que as pessoas que violam a lei do trânsito e não pagam a multa no período devido?”, questionou. O deputado pediu ainda que seja feito um reforço nas acções de promoção, para que haja uma maior actualização dos dados dos condutores e infractores. T.C.


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Deficiência ELLA LEI CRITICA FALTA DE ACÇÃO DE GOVERNO

DEFINIDOS MEMBROS DE NOVA COMISSÃO PARA CHINA E PLP

O que fez por eles?

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NEGADA PROMESSA DE INDEMNIZAÇÃO A LIU CHAK WAN

O subdirector dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Cheong Ion Man, garantiu, à margem de uma reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico, que não há qualquer promessa de indemnização a Liu Chak Wan. Segundo a rádio, o Governo rejeita a declaração do empresário, que alegou esta semana ter recebido essa garantia, depois de ver chumbada a construção de um edifício com 135 metros, ao lado do Gabinete de Ligação do Governo Central, em 2006. “Depois de consultarmos o processo e de acordo com as informações que temos agora, ainda não foram assinados quaisquer documentos para a indemnização”, disse o subdirector. O empresário alega que o chumbo ao plano inicial – que diminui de 135 para 90 metros a altura do edifício - deu prejuízos no valor de 1,6 mil milhões de patacas. Liu Chak Wan é membro do Conselho Executivo, delegado de Macau à Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e proprietário da Transmac.

Liu Chak Wan

Há leis e Macau faz parte da Convenção pelos direitos das pessoas com deficiência, mas Ella Lei diz que ainda há “muitas barreiras” em Macau HOJE MACAU

Comissão para o Desenvolvimento da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa já tem caras e nomes, com dirigentes dos serviços a serem as principais figuras. Em publicação em Boletim Oficial, Chui Sai On nomeou 11 representantes de vários sectores, para cumprir funções por um ano. A chefe do Gabinete da Secretária para a Administração e Justiça, Iao Man Leng representará esta área, Ip Peng Ken, chefe do Gabinete de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, será representante da sua tutela. A lista estende-se a Maria Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultural, Iong Kong Leong, director dos Serviços de Finanças, Anselmo Teng, presidente da Autoridade Monetária de Macau, Cheong Chou Weng e Glória Batalha Ung, membros administrativos do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, Sou Chio Fai, coordenador do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior, Sou Tim Peng, director dos Serviços de Economia e o mais recente director dos Serviços de Alfândega, Alex Vong são os escolhidos. Todos representam a sua área de actuação. A publicação é datada a início de Fevereiro, entrando em vigor hoje. F.A.

POLÍTICA

tes com deficiência. Deve, aponta a Convenção, existir um ambiente sem barreiras para todos, mas a realidade é diferente, diz a deputada. Ella Lei indica que actualmente muitos portadores de deficiência enfrentam obstáculos quando entram em instalações ou quando querem utilizar certos serviços. “Mesmo em departamentos do Governo, há falta de elevadores e rampas para quem tem dificuldades físicas, sobretudo para os deficientes visuais e auditivos. É muito raro existirem guias ou alertas para os cegos. O mais lamentável é que o Governo não melhorou o planeamento geral e as medidas em relação às barreiras arquitectónicas”, criticou.

CONTRA A EXCLUSÃO

A

deputada Ella Lei considera que o Governo não melhorou o planeamento de instalações sem barreiras em Macau, mesmo depois de aplicada, há oito anos, a Convenção sobre

os Direitos das Pessoas com Deficiência. A deputada apela a um aperfeiçoamento das leis para quem mais precisa. Numa interpelação escrita, Ella Lei recordou que, além da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,

aplicada em Macau desde 2008, existem leis que estabelecem as normas de supressão de barreiras arquitectónicas. Em termos práticos, é exigido ao Governo que os seus edifícios sejam facilitadores para a passagem de uten-

“As normas de supressão de barreiras arquitectónicas já foram implementadas há mais de 30 anos, é preciso fazer uma actualização e aperfeiçoamento para [servir] os direitos de portadores de deficiência. O Governo vai fazê-lo?”

Ella Lei considera também necessário elaborar medidas para assegurar que os portadores de deficiência não sejam excluídos do público alvo dos sites dos serviços do Governo. A deputada explicou que, actualmente, apenas uma parte de sites, como o do Instituto de Acção Social (IAS), dá atenção às necessidades dos portadores de deficiência, exemplificando com o software de leitura, ajustado com cores e tamanhos das palavras. No entanto, certos idosos e pessoas que sofrem de daltonismo ou dislexia encontram entraves nos acesso às informações. “As normas de supressão de barreiras arquitectónicas já foram implementadas há mais de 30 anos, é preciso fazer uma actualização e aperfeiçoamento para [servir] os direitos de portadores de deficiência. O Governo vai fazê-lo?”, questionou. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Baixa a taxa

Bairros Antigos Defendida diminuição do imposto de selo

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EONG Keng Seng, presidente da Associação de Avaliação da Propriedade de Macau, defendeu no programa Macau Talk do canal chinês da TDM uma diminuição do imposto de selo para os edifícios nos bairros antigos, por forma a estimular a reconstrução dessas zonas. Lui Chak Keong, arquitecto, também defendeu no mesmo programa que um simples aumento da altura dos edifícios não vai fomentar a renovação das zonas antigas. “Se o Governo reduzir o imposto de selo especial sobre

a transmissão de bens imóveis, isso pode encorajar os proprietários a renovar os edifícios e aí a percentagem de reconstrução vai aumentar”, defendeu Leong Keng Seng. O responsável lembrou que a reconstrução de um prédio precisa sempre do consenso de todos os proprietários para que possa avançar. “No caso do edifício Fok Neng (na zona norte), existem 29 moradores, mas seis deles têm um problema de propriedade, então para se chegar a um consenso demorou-se quatro anos”, disse,

defendendo que a percentagem de consenso deve ser de 80%, para que o reordenamento possa ser mais rápido. “A primeira coisa a prestar atenção é como podemos melhorar as condições dos bairros antigos. A segunda é como podemos relacionar essa renovação com a ideia de Macau como centro mundial de turismo e lazer, ao nível da melhoria das ruas e das paisagens”, disse o arquitecto Lui Chak Keong, acrescentando que o Governo tem de ponderar os problemas como a densidade demográfica

e as instalações de transporte, que não são fáceis de resolver. Apesar disso, um ouvinte defendeu que o Governo deve permitir aumentar a altura dos edifícios na fase de reconstrução, para que se possa resolver o problema da falta de habitação. Isto “desde que não influencie a paisagem e o património, muitos podem comprar edifícios e reconstrui-los”, rematou. Tomás Chio

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6 PUBLICIDADE

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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 1/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 12 de Fevereiro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Material de Consumo Clínico para a Secção de Esterilização dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 24 de Fevereiro de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 48,00 (quarenta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 25 de Abril de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 26 de Abril de 2016, pelas 10,00 horas, na sala do «Auditório» situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (Cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 18 de Fevereiro de 2016.

Jardim de Infância D. José da Costa Nunes Dia Aberto

27 Fevereiro, Sábado 10:00 – 12:30

Inscrições 2016/17 26 Janeiro em diante

E-mail secretariadjcn@gmail.com Tel: 28533544 Av. Sidónio Pais

O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Notificação Nos termos da alínea 10) do artigo 10º do Regulamento Administrativo n.º 32/2001, de 18 de Dezembro, e no uso dos poderes conferidos pela Proposta de Deliberação n.º 01/PDCA/2016, publicada no n.º 2, série II do “Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau”, de 13 de Janeiro de 2016, notifico, por meu despacho de 2 de Fevereiro de 2016, o autor da construção ilegal, situada no Beco do Porco, Macau, que, por ela causar pejamento ilegal da via pública, deve, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do dia da publicação desta notificação, de acordo com o artigo 6º do Regulamento Geral dos Espaços Públicos, aprovado pelo Regulamento Administrativo n.º 28/2004, proceder à demolição voluntária dessa construção ilegal e remoção dos objectos que no local se encontrem. Caso o interessado não cumpra a obrigação referida, no prazo acima mencionado, o IACM procederá, nos termos do n.º 2 do artigo 144º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, à execução de tal tarefa, ficando, neste caso, todas as despesas, resultantes, quer de indemnização devida por lesões, quer de sanções pecuniárias, por conta do interessado. Segundo as disposições do artigo 149º do Código do Procedimento Administrativo, o interessado poderá apresentar, dentro do prazo de 15 (quinze) dias, a partir do dia seguinte ao da publicação desta notificação, reclamação para o IACM ou, dentro do prazo definido pelo artigo 25º do Código do Processo Administrativo Contencioso, apresentar recurso contencioso junto do Tribunal Administrativo, sem prejuízo do interessado poder ainda, de acordo com as disposições do artigo 15º do Regulamento Administrativo n.º 32/2001, apresentar recurso hierárquico para o Conselho de Administração do IACM, no prazo de 30 (trinta) dias, a partir do dia seguinte ao da publicação da presente notificação. Aos 2 de Fevereiro de 2016. O Presidente do Conselho de Administração Vong Iao Lek WWW. IACM.GOV.MO


7 SOCIEDADE

TIAGO ALCÂNTARA

hoje macau quinta-feira 25.2.2016

O CPU diz que não recebeu para discussão o projecto previsto para um empreendimento de luxo em Coloane e a DSPA diz que, se o público quer saber do impacto que a construção pode trazer para a natureza, tem de pedir à própria construtora

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publicação do relatório ambiental que indica que “não vai haver impacto” no ambiente com a construção do empreendimento de luxo em Coloane só poderá ser feita se a construtora assim o quiser. Quem o diz é a subdirectora dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Vong Man Hung. Depois de a União Green Student de Macau ter pedido no início da semana ao organismo que torne público o relatório que já fez com que o anteprojecto da obra fosse

Coloane PUBLICAÇÃO DE RELATÓRIO “DEPENDE DA VONTADE” DA CONSTRUTORA

Um dominó na montanha? aprovado, a responsável vem dizer que a publicação do conteúdo do relatório “depende da vontade de quem está a cargo do projecto”. Vong Man Hung disse ainda que a DSPA avaliou o impacto da construção na natureza “mais de dez vezes” desde 2009 e que a obra vai ter como referência os métodos das regiões vizinhas para diminuir a influência das obras no meio natural. Evitar danos, reduzi-los ou compensar os que foram feitos são as medidas que Vong Man Hung assegura estarem a ser pedidas à construtora. O empreendimento de luxo que poderá ser construído na montanha de Coloane voltou a ser polémica recentemente, depois de já ter levado manifestantes à rua em 2013. O prédio, que terá duas torres de habitação, fica mesmo ao lado da bomba de gasolina entre Seac Pai Van e Coloane, numa área verde. Para Lam U Tou, vice-presidente da Associação Choi In Tou Sam, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, não há dúvidas: o Governo não está a demonstrar querer proteger

Coloane, mas sim “assegurar o desenvolvimento do projecto”. Lam diz-se preocupado com que o começo desta obra tenha um efeito “dominó”, levando a que mais projectos ocupem as montanhas de Coloane. O vice-presidente da Associação relembrou ainda que, apesar da Lei de Planeamento Urbanístico ter entrado em vigor em 2014, este projecto “não precisou de passar os procedimentos mais rigorosos que a lei regulamenta”. Lam U Tou exemplificou com a inexistência de recolha de opiniões públicas e a discussão no Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU), obrigatórias por lei. O vice-presidente do CPU, Leong Keng Seng, afirmou ontem que não recebeu o projecto para avaliação e frisou mesmo que, se este tivesse seguido o procedimento normal, deveria ter sido discutido pelo Conselho.

PONTO DE VIRAGEM

Ao Jornal Cheng Pou, Lam U Tou frisou que os organismos públicos

“Não estou a ver que a atitude do Governo seja proteger Coloane de demasiado desenvolvimento, estou a ver é que o Governo está mais preocupado em assegurar a execução do projecto de construção, mas sem razões nem justificações” LAM U TOU VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO CHOI IN TOU SAM

ARQUITECTO DIZ QUE HÁ IMPACTO

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ário Duque, arquitecto local, defende que há impacto no ambiente natural de Coloane com esta construção – e com qualquer uma. Num email enviado ao HM, o arquitecto explica que “não se pode dizer que uma qualquer mudança da cobertura superficial do solo não tem impacto ambiental”, porque, defende, sempre que se mudam os materiais da camada superficial do solo existe impacto ambiental. “Mais que não

seja porque se alteram as condições de conversão e de degradação da energia solar”, atira, acrescentando que neste caso é ainda mais óbvio esse impacto “por se tratar de uma substituição de materiais de coberto vegetal com materiais de coberto construído, mesmo sequer considerando tudo o que acompanha ou segue essa substituição”. “O que se poderia dizer é que o impacto se vai dar a um nível que não põe em causa,

ou em crise, condições e sistemas desejáveis, necessários ou essenciais”, defende, explicando contudo que, por isso mesmo, é que os “impactos ambientais necessariamente se quantificam” para se concluir se são ou não nocivos. “Quais são os standards de toxicidade no ambiente natural e cultural aceitáveis na ilha de Coloane, por que se devem aí pautar as intervenções?”, questiona Mário Duque.

asseguram ter “exigido sempre” ao construtor a entrega de documentos suplementares sobre o projecto, mas ainda assim o responsável duvida da intenção da empresa construtora, que tem o empresário e político Sio Tak Hong como um dos investidores. “Se o construtor tivesse razão, então podia começar a obra logo, não? Os organismos não rejeitaram o pedido [de construção] mas foram exigindo sempre a entrega de documentos até que o projecto correspondesse aos requisitos”, apontou. “Não estou a ver que a atitude do Governo seja proteger Coloane de demasiado desenvolvimento, estou a ver é que o Governo está mais preocupado em assegurar a execução do projecto de construção, mas sem razões nem justificações”. Lam U Tou considera que o empreendimento de luxo pode ser um ponto de viragem nas montanhas de Coloane e preocupa-se que, caso este projecto possa vir a “escavar uma montanha, outros construtores também vão pedir o desenvolvimento noutras montanhas”. O vice-presidente defende também que o Governo deve publicar todas as plantas para a zona das montanhas em Coloane e dar explicações ao público sobre a construção. Coloane, recorde-se, tem uma reserva total protegida de mais de 198 mil metros quadrados. Flora Fong (com Joana Freitas) flora.fong@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

hoje macau quinta-feira 25.2.2016

Dore DINHEIRO NÃO FOI DEVOLVIDO. INVESTIDORES PEDEM REUNIÃO COM DICJ

Promessas adiadas

A empresa comprometeu-se a contactar os investidores mas até agora não o fez. Paulo Chan está a ser requisitado para um encontro com as vítimas do chamado Caso Dore

BIBLIOTECA DO IFT DEPOSITÁRIA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO A partir de Janeiro deste ano, a biblioteca multimédia do Instituto de Formação Turística (IFT) torna-se a primeira de Macau, Hong Kong e Taiwan a ser distinguida como Depositário da Organização Mundial de Turismo (OMT). Lançado em 2003, o Programa de Biblioteca Depositária tem por objectivo promover o acesso a pesquisas e relatórios publicados pela OMT e disponibilizar informação para audiências mais vastas. Até ao momento, existem cerca 60 bibliotecas certificadas em 30 países e regiões. Assim, a partir deste ano, a Biblioteca Multimédia do IFT vai passar a receber todas as publicações oficiais da OMT na versão inglesa. A informação está, portanto, disponível ao público interessado em saber mais sobre dados turísticos de Macau e das regiões vizinhas. O IFT, recorde-se, foi a primeira instituição de ensino mundial a ser acreditada pelo Sistema de Certificação UNWTO.TedQual, é depositário da Medalha de Ouro do Governo e venceu por duas vezes a Medalha de Ouro para ‘Educação e Treino’ da Asia Pacific Travel Association (PATA).

A

INDA nenhum investidor do caso Dore foi contactado pela empresa de junkets, nem recuperou o dinheiro investido, segundo confirmou ao HM o porta-voz dos investidores, Ip Kim Fong. As vítimas, contou, ponderam pedir outro encontro com o director da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogo (DICJ), Paulo Chan, já no próximo mês, depois do encontro agendado para o início deste mês ter sido cancelado. A empresa Dore emitiu uma declaração no Jornal Ou Mun, em Janeiro, onde referiu que uma parte das contas envolvidas no caso de desvio de mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong já estavam “apuradas” e que os investidores que “depositaram” o dinheiro na sala VIP da empresa no Wynn seriam contactados. No entanto, o porta-voz dos investidores afirmou, ontem, que até ao momento nenhum investidor foi contactado pela empresa, levando até a que um dos investidores pedisse uma justificação à própria Dore. “A resposta por parte da Dore indicou que foi criado um departamento especializado em Hong

Kong para investigar as contas e pedia para o investidor esperar”, indicou.

ENCONTRO IMEDIATO

“Não me importo que a Dore devolva o dinheiro em prestações, queremos apenas o caso resolvido” IP KIM FONG PORTA-VOZ DOS INVESTIDORES

Ip Kim Fong considera ser necessário um encontro com o director da DICJ já no início do próximo mês, para que o Governo exija uma resolução do problema à empresa. “É a empresa que tem a responsabilidade de recuperar o dinheiro, seja quem for o culpado do desvio. Não me importo que a Dore devolva o dinheiro em prestações, queremos apenas o caso resolvido”, apontou. Questionado sobre a possibilidade de falência da empresa de junkets – depois de pagar todo o dinheiro desviado – Ip Kim Fong afasta essa possibilidade. Tendo em conta a declaração da própria empresa ao jornal, assim como a renovação da licença de promotor de Jogo autorizada pelo Governo por mais três meses, o representante considera que a “situação financeira da Dore deve estar boa”, não colocando em risco a estabilidade da mesma. Flora Fong

Flora.fong@hojemacau.com.mo

Idiomas que mexem

Segredo dos deuses

H

D

Media Meios não chineses agitam Governo, diz académico

AO Zhidong, director do Centro de Pesquisa sobre a China Contemporânea da Universidade de Macau (UM), acredita que os meios de comunicação em Língua Portuguesa ou Inglesa podem não ser lidos pela maioria da população, mas exercem influência junto do Executivo local. “Os media não chineses têm alguma influência junto do público chinês, ainda que a maioria não compreenda o Português ou Inglês. Há sempre notícias a serem lidas pela tradução. Além disso, o Governo tem acesso à informação publicada e transmitida nos meios não chineses e aí existe influência e isso é importante”, disse ao HM Hao Zhidong. O académico organizou um seminário intitulado “O estatuto

dos Mass Media em Macau”, realizado na UM que contou com a participação de nomes como o de Agnes Lam, docente da instituição, e José Carlos Matias, membro da direcção da Associação de Imprensa em Português e Inglês.

MENTES ABERTAS

Outra das conclusões do debate apontadas por Hao Zhidong é a existência de uma maior crítica pelos média não chineses. “Há mais meios de comunicação não chineses agora do que antes da transferência de soberania. Há mais jornais em Português e Inglês e essa é uma conclusão interessante. E estes meios tendem a ser mais críticos em relação a questões sociais face aos média chineses. Penso que isso

USJ GAES não confirma licenciatura de Português

acontece porque esses jornais são liderados por não chineses, então haverá mais espaço para fazer coisas diferentes, poderão ter uma mente mais aberta ou menos a noção de auto-censura. Essas podem ser as razões para serem mais críticos das questões sociais”, frisou. Quanto à questão da censura, Hao Zhidong garante que não é claro se é algo imposto ou se vem de dentro das próprias direcções dos média chineses. “O jornal Ou Mun é o mais importante e que directamente influencia as políticas do continente e o Governo Central e isso é interessante”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

EPOIS da Universidade de São José ter confirmado com 99,9% de certeza o início da licenciatura de Português em Setembro próximo, o Governo insiste em manter o mistério. Sem querer revelar por “ser inconveniente” ao trabalho do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), a entidade explica que “sempre apoiou e incentivou as instituições do ensino superior de Macau a ministrarem cursos atinentes à Língua Portuguesa, que sirvam para formar mais quadros qualificados com capacidades bilingues nas línguas chinesa e portuguesa ou que conheçam bem as respectivas culturas”. Em resposta ao HM, o GAES explica ainda que “sobre o andamento do pedido do curso da Universidade de São José, considera-se que o respectivo pedido, apresentado pela

Universidade ao Governo, possibilita o envolvimento no próprio planeamento de desenvolvimento ou a disposição dos trabalhos internos da instituição, daí que seja inconveniente, para este Gabinete, revelar dados sobre o conteúdo em causa”. No entanto, diz, irá “de forma activa”, fazer a “adequação e acelerar, assim, o processo de apreciação e aprovação destes pedidos”, mantendo sempre uma “comunicação intensa com a instituição para reconhecer o ponto de situação”. A licenciatura em causa era para ter início o ano lectivo passado, mas devido a alguns atrasos foi adiada, começando apenas este ano. Apesar da confiança do instituto de ensino, ainda não é certo que se possa avançar com a licenciatura, faltando apenas a autorização do Governo. F.A.


9 hoje macau quinta-feira 25.2.2016

Saúde DOENÇAS CRÓNICAS CONTINUAM A SER PROBLEMA

Ordem para tratar

Governo vai implementar medidas para continuar a fazer com que a população detecte doenças crónicas precocemente GCS

A

S doenças crónicas continuam na liderança dos problemas de saúde dos cidadãos, o que vai fazer com que o Governo implemente mais projectos para despistagem destas enfermidades. Numa reunião da Comissão de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas, que contou com a presença de Alexis Tam, o Secretário defendeu a existência de melhorias no estado da saúde em Macau. “As doenças crónicas constituem ainda os principais problemas de saúde pública no território, sendo os factores de risco que afectam o desenvolvimento sustentável da sociedade. Daí que seja necessário que todos os sectores colaborem em conjunto, [é preciso que] toda a sociedade aja contra essa problemática”, pode ler-se num comunicado. “Dado que não existem quaisquer sintomas no início da maioria das doenças crónicas, que só são detectadas em períodos posteriores, o Governo desenvolveu em 2015 os projectos ‘A minha saúde depende de mim’ e o ‘Projecto Piloto de Despistagem do Cancro Colo-rectal’, esperando que com estas iniciativas possa ser detectada a doença no período inicial e iniciado o tratamento de forma atempada, diminuindo os impactos, agravamento e sequelas resultantes da doença.”

CONFIRMADO SEGUNDO CASO DE DENGUE IMPORTADO

Foi confirmado o segundo caso de dengue importado em Macau, como avançam os Serviços de Saúde (SS) em comunicado à imprensa. A doente é uma mulher de 38 anos, residente de Macau, que na primeira quinzena de Fevereiro viajou até Johor Bahru, na Malásia. “Após o regresso a Macau, em 21 de Fevereiro, a doente manifestou sintomas de febre, dores da órbita ocular e dores nas articulações, tendo recorrido ao Centro Hospitalar Conde de São Januário. Durante o exame médico foi ainda detectada erupção cutânea nos membros superiores. Na terça-feira, o Laboratório de Saúde Pública confirmou os resultados do teste dengue tipo III”, relatam no documento. A doente está ainda internada a receber tratamento e tem febre. Os SS indicam ainda que já procederam à eliminação de mosquitos na área de residência da paciente, sendo que é necessário que os residentes daquela zona [Estrada Coronel Nicolau de Mesquita da Taipa] adoptem medidas anti-mosquitos.

SS NOTIFICADOS PARA CASO DE GRIPE B Os Serviços de Saúde (SS) foram notificados pelo Hospital Kiang Wu de um caso grave de infecção de gripe B. O homem, de 89 anos, é residente de Macau e apresentava sintomas de febre e tosse. Um raio-x revelou a existência de pneumonia ligeira no pulmão direito e o idoso foi internado. A febre baixou e o estado clínico é considerado normal, mas o paciente não tinha efectuado a vacinação antigripal do Inverno. Em relação aos dois casos de “gripe grave” anunciados nos últimos dias, numa mulher com 60 anos e num homem com 53 anos de idade que necessitaram de ventilação assistida, as informações mais recentes “revelam uma acentuada melhoria, já não sendo necessário o uso de ventilação”. Os dois foram já transferidos para a enfermaria geral e estão estáveis.

AO ATAQUE

Este ano, o Executivo promete a implementação de mais medidas – como o “Projecto Piloto de Despistagem do Cancro Colo-rectal” e “Curso de Auto-Gestão das Doenças Crónicas” – para “estabelecer uma estratégia preventiva de três níveis: descobrir precocemente, diagnosticar precocemente e tratar precocemente, de modo a reduzir a morbilidade e mortalidade”, avança. Alexis Tam continua a defender que os serviços de assistência médica e de cuidados de saúde têm melhorado “constantemente” e que Macau pode mesmo comparar-se às regiões mais desenvolvidas. “Os serviços de cuidados de saúde de Macau figuram em lugares avançados da lista mundial, ou seja, muitos indicadores de saúde já conseguiram

SOCIEDADE

RESIDENTE DE HONG KONG PRESO POR “ASSÉDIO”

ser comparáveis aos de regiões desenvolvidas”, pode ler-se no comunicado, onde o Secretário apela ainda à população para que “possa compreender e apreciar os contributos e esforços exercidos pelos profissionais de saúde,

colaborando com as medidas e recomendações do Governo e aproveitando os recursos sociais para cuidar bem da sua própria saúde”. Na reunião foi ainda discutida a necessidade de elaborar

“As doenças crónicas constituem ainda os principais problemas de saúde pública no território, sendo os factores de risco que afectam o desenvolvimento sustentável da sociedade” COMUNICADO DE ALEXIS TAM

mais recomendações mundiais sobre a alimentação saudável, para que a Comissão alerte a população de Macau. “Neste contexto, o Chefe do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, Lam Chong, e [a médica] Chan Tan Mui apresentaram orientações actualizadas sobre a alimentação saudável que foram implementadas nos Estados Unidos da América e nas regiões chinesas.” Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Um homem de Hong Kong foi preso depois de ter assediado pelo menos cinco estudantes no Fai Chi Kei. O suspeito, um projectista a trabalhar em Macau e com 37 anos, foi preso pela PSP, tendo sido mandado ao Ministério Público. De apelido Fong, o homem é suspeito de “ofensa à integridade física”, depois de, no início desta semana, ter perseguido uma estudante no caminho para a escola, na Freguesia de Nossa Senhora de Fátima. Fong terá agarrado a perna da estudante, tendo a vítima gritado e pedido ajuda na rua. Um bombeiro que estava fora de serviço conseguiu agarrar o homem e chamar a polícia, tendo as autoridades enviado a jovem ao hospital para receber tratamento. Esta não terá sido, contudo, a primeira vez que a jovem “foi assediada pelo mesmo homem” e a vítima terá visto Fong mais do que uma vez perto da sua escola, onde “ele perseguiu” também outras estudantes. O homem acabou por admitir ter um “fetiche por uniformes escolares” e diz que já “assediou” outras quatro estudantes.


10 EVENTOS

Fórum de Investimento na América Latina abre hoje ao público

R

EFORÇAR a ligação comercial entre Macau e a América Latina, ligando os potenciais investidores em Macau com os projectos de investimento no continente sul-americano é o objectivo do fórum de investimento intitulado “A riqueza nos Andes - oportunidades de investimento em metais preciosos na América Latina” organizado pela Associação de Macau para a Promoção de Intercâmbio entre Ásia-Pacífico e América Latina (MAPEAL) e com o apoio do IPIM. O evento decorre hoje, a partir da 10h00, na Sala de Conferências do Centro de Apoio Empresarial de Macau do IPIM. Informar os investidores em Macau sobre as oportunidades e possibilidades de investir na América Latina, especialmente no sector mineiro, é a aposta da organização que considera que, diante as flutuações da economia global, os investidores devem adoptar um portfolio de investimentos

mais diversificado, salientando a capacidade do ouro como um activo líquido de “alta qualidade capaz de proteger o poder de compra global e componente essencial e valioso para um portfolio de investimento com crescimento equilibrado, especialmente durante o período de volatilidade”.

OUTROS BENS

Além do ouro é também referido o lítio, o produto a montante da bateria móvel, considerado como “a nova gasolina” no mercado global e que tem vindo a registar um aumento da procura para o armazenamento de energia de alta densidade para veículos ecológicos. No evento, Martin Alexander Wurm, fundador e CEO da Euroamerica Capital Group Inc. do Canadá vai apresentar uma visão geral do sector mineiro da América Latina e como investir em metais preciosos como o ouro e o lítio. Também estará presente Xiaohuan Tang, director geral e de ope-

rações da Wealth Minerals Ltd., Canadá, que fará uma apresentação detalhada de certos projectos de investimento com grande potencial para o público considerar a possibilidade de incluir essas oportunidades nos seus portfolios. Os projectos propostos em foco são um “projecto de mineração de ouro” no Peru e um “projecto de mineração de sal de lítio” no Chile. Sérgio Manuel Ávila Traveso, Cônsul Geral do Peru em Hong Kong e Macau, também irá falar sobre o apoio do Governo para os investidores estrangeiros e o clima de investimento do Peru, onde as minas dos metais preciosos estão localizadas. A MAPEAL é uma associação local com o seu foco no reforço do papel de Macau como ponte entre a China e a América Latina, estando em actividade há mais de dez anos nas áreas de negócios, cultura, investigações académica, turismo e formação profissional. O Fórum tem entrada livre. M.N.

TRIENAL DE GRAVURA DE MACAU ESTENDIDA

A

segunda Trienal de Gravura de Macau, um evento de intercâmbio internacional na área da gravura que revela a diversidade criativa neste ramo artístico, vai ser estendida até dia 10 de Abril. A mostra, indica a organização, tem sido muito procurada desde a sua inauguração em Novembro do ano passado, pelo que a trienal em exibição no Museu de Arte de Macau e a exposição “Novo Panorama da Gravura na China”, na Galeria Tap Seac, serão estendidas. Planeada pelo gravador veterano de Macau Wong Cheng Pou, a edição deste ano da Trienal apresenta as obras mais significativas, após a selecção pelo júri de nove especialistas, de um total de 560 obras de 22 países e regiões. As obras seleccionadas são oriundas da Croácia, Canadá, Índia, Indonésia, Brasil, Eslovénia, Japão, Bélgica, Polónia, Tailândia, Austrália,

Portugal, Espanha, Coreia, Malásia, Interior da China, Hong Kong, Macau e Taiwan, entre outros países e regiões. O primeiro prémio deste ano foi atribuído ao gravador de Macau Cheong Cheng Wa, com a obra “Pessoas de Macau”. As exposições decorrem diariamente, excepto às segundas-feiras, das 10h00 horas às 19h00 horas na Galeria Tap Seac, que encerra duas horas mais tarde. O preço dos bilhetes é de cinco patacas e a entrada é livre aos domingos e feriados.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA MANUSCRITO ENCONTRADO EM ACCRA • PAULO COELHO

14 de Julho de 1099. Enquanto Jerusalém se prepara para a invasão dos cruzados, um grego conhecido como «O Copta» convoca uma reunião com os jovens e velhos, homens e mulheres da cidade. A multidão, formada por cristãos, judeus e muçulmanos, chega à praça do palácio de Herodes pronta para ouvir um discurso inflamatório sobre como se preparar para o combate, mas não é isso que o Copta tem a dizer.
Tudo indica que a derrota é iminente, e que o mundo, tal como o conhecem, está prestes a chegar a um fim. Mas o grego apenas quer instigar as pessoas a buscarem a sabedoria existente na sua vida quotidiana, forjada a partir dos desafios e dificuldades que têm de enfrentar.
O verdadeiro conhecimento, acredita, está nos amores vividos, nas perdas sofridas, nos momentos de crise e de glória e na convivência diária com a inevitabilidade da morte. 
Na tradição de clássicos intemporais como O Profeta, de Khalil Gibran, Manuscrito encontrado em Accra, de Paulo Coelho, é um convite à reflexão sobre os nossos princípios e a nossa humanidade.

A proposta é de um concerto diferente onde se combinam imagens, mesas de mistura e guitarra portuguesa tudo embrulhado numa indumentária jazz. São os Mn’JAM, um projecto liderado pela portuguesa Melissa Oliveira, nascida na Austrália e radicada na Holanda

O

S Mn’JAM actuam amanhã na Casa Garden, num concerto organizado pelo Jazz Clube de Macau, que traz ao palco o projecto da portuguesa Melissa Oliveira e que apresenta mais do que música. Melissa gravou o seu primeiro álbum - “In My Garden” - em Boston com a participação especial de Greg Osby, um inovador saxofonista norte-americano, especialista do free jazz e do funk e com o trompetista e compositor Jason Palmer, também norte-americano e considerado uma dos músicos mais procu-

Jazz MN’JAM ACTUAM AMANHÃ NA CA

Mais do rados da sua geração. Agora chegou a vez de apresentar um trabalho ao vivo e a artista resolveu fazê-lo de forma inovadora: juntou-se com o “turntablist” J.A.M. (mesa de mistura) numa formação que considera idiossincrática e que inclui ainda Virgílio da Silva (guitarra), José Carlos Barbosa (contrabaixo) e Tuur Moens (bateria). Neste elenco, destaque para a presença de uma guitarra portuguesa que, para Melissa, “em vez de ser utilizada de maneira estritamente tradicional, tem também direito a melodias e harmonias jazzísticas como parte obrigatória dos arranjos feitos para este projecto”.

GRACIELA COELHO

Corrida ao ouro

FUSÃO INSTRUMENTAL

Guitarra portuguesa, turntables e efeitos visuais é uma forma diferente de encarar o jazz. Conforme diz Melissa Oliveira, “trata-se de um espectáculo que apesar de multifacetado não deixa de ser fiel aos princípios criadores deste estilo”. No entanto, a fusão de instrumentos e estilos não fica por aí, pois, adianta a artista, “a presença de J.A.M., que utiliza as ‘turntables’ de maneira auditiva mas também visual, interage de maneira a que, também neste instrumento, sejam possíveis solos audiovisuais, fazendo com que não existam dois concertos iguais e que o espírito do jazz se mantenha mesmo em formas inusitadas.”

“Trata-se de um espectáculo que apesar de multifacetado não deixa de ser fiel aos princípios criadores deste estilo” MELISSA OLIVEIRA

Melissa Oliveira nasceu na Austrália mas obteve a sua formação em jazz (voz) na ESMAE, o Conservatório do Porto. Em 2009, foi premiada com uma bolsa para estudar na Berklee College of Music, em Boston, EUA, e depois seguiu para a Holanda onde tirou o mestrado em performance de

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AMULETO • Roberto Bolaño

A voz arrebatadora de Auxílio Lacouture narra um crime atroz e longínquo, que só será desvelado nas últimas páginas deste romance - no qual, de resto, não escasseiam crimes do quotidiano e crimes da formação do gosto artístico. Uruguaia de meia-idade, alta e magra como Dom Quixote, Auxílio ficara escondida na casa de banho das mulheres durante a ocupação da Faculdade de Letras pela polícia, no México, em 1968. Nesses dias, os lavabos que lhe serviram de esconderijo converteram-se num túnel do tempo, a partir do qual se poderá avistar os anos vividos no México e os anos por viver. No seu discurso rememora a poeta Lilian Serpas, que foi para a cama com Che, e o seu desafortunado filho; os poetas espanhóis León Filipe e Pedro Garfias, a quem auxílio serviu como empregada doméstica voluntária; a pintora catalã Remedios Varo e a sua legião de gatos; o rei dos homossexuais da colónia Guerrero e o seu reino de terror gestual; Arturo Belano, uma das personagens centrais de Detectives Selvagens; e a última imagem de um assassínio esquecido.


11 hoje macau quinta-feira 25.2.2016

ASA GARDEN

que música

HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Hibisco Nome botânico: Hibiscus sabdariffa L. Família: Malvaceae. Oriundo do Sudão e Ásia e disseminado pelas regiões tropicais e subtropicais do mundo, onde pode surgir espontâneo, o Hibisco é um arbusto muito conhecido como planta ornamental. Apresenta caules avermelhados, erectos e ramosos, que podem crescer até aos 2 metros de altura, e folhas de cor verde-escura com 3 a 5 lóbulos; as flores, brancas ou amarelas, têm um cálice vermelho, robusto e carnudo na sua base, e os frutos são cápsulas ovaladas e vermelhas, contendo três ou quatro sementes. Além de ornamental, o Hibisco é ainda conhecido pelos seus usos culinários e medicinais. Da sua ramagem podem ser extraídas fibras têxteis. A infusão é uma bebida muito popular nos países de origem. Em fitoterapia são usadas as flores com o seu cálice. Composição Ácidos orgânicos (ascórbico, cítrico, hibíscico, málico, tartárico), compostos antociânicos responsáveis pela sua cor vermelha (delfinidina, hibiscina), flavonóides (hibiscetina, hibiscitrina, miricetina, quercetina), ácidos fenólicos (ácidos o-cumárico, p-cumárico, ferúlico, protocatéquico), mucilagens, pectinas, fitosteróis e vestígios de óleo essencial (eugenol).

jazz no Conservatório Real de Haia. Segundo a banda, a promessa é de “um espectáculo único porque nunca fazem dois iguais”.

CAMPANHA NO “INDIEGOGO”

A caminho está o primeiro álbum para o qual a banda lançou uma campanha no sí-

tio “indiegogo” e para o qual procuram quatro mil euros, tendo já juntado 1364 num mês e faltando ainda outro para que a acção de recolha de fundos termine. Durante a sua permanência em Macau, os Mn’JAM vão ainda realizar um workshop para os músicos locais. O

concerto realiza-se na Casa Garden, amanhã, pelas 21h15. A entrada é livre.

MÚSICA RADOVAN VLATHOVIC ESTREIA-SE NA RAEM

Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo

O Instituto Cultural vai juntar a Orquestra de Macau (OM) com Radovan Vlathovic, o mestre mundial de trompa num concerto integrado no ciclo “Virtuosos Extraordinários”. A direcção ficará a cargo do Maestro e Director Musical da OM, Lü Jia. Radovan Vlathovic foi trombino principal da Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim e conquistou o Primeiro Prémio no Concurso Internacional da ARD, em Munique. A sua gravação dos concertos de Mozart foi galardoada com o Prémio da Crítica Discográfica Alemã e em 2012 recebeu o Prémio Porin, de Carreira, na Croácia. Neste “Concerto para Trompa por Radovan”, assim se designa, Vlathovic tocará o Concerto para Trompa e Orquestra N.º 2 em Mi Bemol Maior, de Strauss, uma obra considerada extremamente desafiante para este instrumento e, para além disso, a OM irá executar a famosa Sinfonia N.º 5 “Destino” de Beethoven. O evento acontece no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau, dia 5 de Março, pelas 20h00 horas. Os bilhetes encontram-se à venda e custam entre as cem e as 250 patacas.

EVENTOS

Acção terapêutica Protector do sistema cardiovascular, o Hibisco produz vasodilatação periférica reduzindo a pressão arterial, tem actividade antioxidante e anti-inflamatória e reduz os triglicéridos e o colesterol, impedindo a formação de placas de ateroma; diminui os níveis de açúcar no sangue; protege os vasos sanguíneos, tonifica as veias e fortalece os capilares, diminuindo a sua fragilidade e permeabilidade. Estas propriedades justificam o seu uso na hipertensão, hiperlipidemias e aterosclerose, bem como na fragilidade capilar, varizes e edemas de origem circulatória. Refrescante, esta erva estimula o apetite e as funções digestivas, tonifica o estômago e o organismo em geral, suaviza as mucosas digestivas, é laxante e antiespasmódica; favorece a expulsão de vermes intestinais; protege o fígado, aumenta a produção de bílis e facilita a sua excreção da vesícula para o duodeno, contribuindo para a boa digestão das gorduras e a desintoxicação do organismo. É indicado na perda de apetite, azia, digestões difíceis, gastrite, enterite, espasmos gastrintestinais, mau funcionamento

da vesícula biliar, ressaca por excesso de álcool, obstipação e parasitas intestinais. É igualmente usado como diurético, suave mas eficaz, na retenção de líquidos, perturbações da micção, regimes de emagrecimento, cardíacos e cálculos renais que ajuda e eliminar. Tem actividade anti-séptica e antibacteriana, auxiliando na eliminação da bactéria Escherichia coli. Outras propriedades Usado na ansiedade, stress, nervosismo e insónia como sedativo, o Hibisco pode ainda ser empregue na tosse e catarro, constipação e gripe, pela acção suavizante sobre as mucosas respiratórias, expectorante e febrífuga. Em células leucémicas humanas, induz a apoptose inibindo a promoção do tumor. Externamente, hidrata, suaviza e desinflama a pele, sendo ligeiramente esfoliante; emprega-se nas peles secas e envelhecidas, peles inflamadas e na limpeza de todos os tipos de pele. Como tomar Uso interno: • Infusão das flores: 1 colher de chá por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 ou mais chávenas por dia. Pode ser adoçada com mel. • Em misturas de ervas, em xarope ou para infusão, para as infecções urinárias. • Devido ao seu sabor ligeiramente ácido, as flores de Hibisco são empregues na preparação de bebidas refrescantes isentas de cafeína; são também muito usadas como corrector de sabor ou excipiente em preparações de outras plantas medicinais, conferindo-lhes uma cor vermelha. • Os cálices das flores frescas podem ser ingeridos crus, em saladas, ou usados como aromatizante em bolos, para fazer geleias, compotas, pudins, molhos, sopas ou pickles. • As folhas e os caules tenros podem ser ingeridos crus em saladas ou cozinhados como verdura. É famoso o arroz de cuxá, prato típico do Maranhão. • As sementes tostadas têm sido utilizadas como um substituto do Café, com alegadas propriedades afrodisíacas. Uso externo: • Em cremes, loções e máscaras faciais. Precauções Não são conhecidas contra-indicações, nem efeitos secundários, nas posologias habitualmente prescritas. Trata-se de uma planta de muito baixa toxicidade, no entanto não deve ser utilizada durante a gravidez e lactação. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


12 CHINA

hoje macau quinta-feira 25.2.2016

NÃO NOS LEVEM O SUN

I

NFORMA o jornal oficial China Daily que um porta-voz do continente criticou fortemente a proposta legislativa de um deputado de Taiwan que propõe a retirada de Sun Yat-sen de todas as escolas e edifícios públicos na ilha. An Fengshan, do conselho de Estado para os Assuntos de Taiwan, intitulou de “truque aberto” a proposta do Partido Democrática Progressivo (DPP). “Os patriotas do lado de lá do estreito de Taiwan devem estar alerta contra este tipo de movimentações”, disse An numa conferência de imprensa em Pequim, considerando ainda que mesmo em Taiwan esta proposta está a ser vista como uma “des-sinização” e “uma sabotagem nas relações entre as duas partes do estreito”. A proposta foi apresentada na passada semana pelo deputado Gao Jyh-peng do DPP que, para além da retirada das imagens do antigo estadista,

PEQUIM COLOCA AVIÕES DE COMBATE EM ILHA DISPUTADA

pretende que a designação de Sun Yat Sen como “pai fundador” da nação seja abolida. Para Gao “este título é uma reminiscência do regime de partido único sob a alçada do Partido Nacionalista Chinês (KMT), um regime autoritário que vai contra os princípios democráticos”, disse. M.N.

HM • 2ª VEZ • 25-2-16

ANÚNCIO n.º

CV3-16-0005-CPE

A

VANÇA a televisão norte-americana Fox News que a China colocou aviões de combate numa das ilhas disputadas do Mar do Sul da China, sublinhando que esta decisão aumentará a tensão regional. Com base em informações prestadas por altos funcionários dos Estados Unidos, a Fox revela que a China dispõe de aviões J-11 e JH-7 na ilha Woody, no arquipélago das Paracel, disputado também por Taiwan e pelo Vietname. Trata-se do mesmo território junto ao qual uma embarcação militar norte-americana navegou no final de Janeiro, numa acção classificada por Pequim como “provocação deliberada” e onde a China confirmou já manter armamento. Segundo informações avançadas também pela Fox News na semana passada, com base em imagens registadas pelos satélites ImageSat International, a China terá mesmo instalado um sistema de lançamento de mísseis terra-ar na ilha.

“É uma grande preocupação para quem depende do mar para fazer trocas comerciais no Pacífico”, notou. Por outro lado, Wang assegurou que “tanto a China como os EUA

“MILITARIZAÇÃO NÃO” PUB

Interdição

Esticar as asas

3º Juízo Cível

REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO.------------------REQUERIDO: PANG WAI CHAN, residente em Macau, na Rua de Má Káu Séak, n.º 23, Edifício Tong Wa San Chun, Bloco 2, 2.º andar F.-------------------------------------------------* -----Faz Saber que, no Juízo Cível e Tribunal acima referido, foi distribuída uma acção contra PANG WAI CHAN, maior, solteira, residente em Macau, na Rua de Má Káu Séak, n.º 23, Edifício Tong Wa San Chun, Bloco 2, 2.º andar F, supra identificada, para o efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica.--------------------------------------------------------R.A.E.M., 15 de Fevereiro de 2016.--------------------------*

Os chefes da diplomacia dos Estados Unidos e China, John Kerry e Wang Yi, respectivamente, reuniram-se, entretanto, para tentar encontrar uma solução para as disputas territoriais naquela parte da Ásia-Pacífico. “Queremos pôr fim à expansão e militarização dos lugares ocupados. Acreditamos que todo o mundo será beneficiado por uma efectiva desmilitarização”, disse ontem Kerry. Sem culpar abertamente a China, o secretário de Estado norte-americano lamentou que “existam mísseis, aviões de combate, armas e artilharias, entre outras coisas, no Mar do Sul da China”.

“Queremos pôr fim à expansão e militarização dos lugares ocupados. Acreditamos que todo o mundo será beneficiado por uma efectiva desmilitarização” JOHN KERRY SECRETÁRIO DE ESTADO NORTE-AMERICANO

e os países da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] se comprometeram a não militarizar” o território. “O secretário (Kerry) e eu concordamos em manter o nosso diálogo sobre o Mar do Sul da China para aprofundar o nosso entendimento comum. É importante evitar qualquer erro de cálculo”, destacou Wang. O “gigante” asiático insiste que tem direitos de soberania sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China, uma via marítima estratégica pela qual passam um terço do petróleo negociado internacionalmente. Nos últimos meses, a China tem construído ilhas artificiais capazes de receberem instalações militares em recifes do arquipélago Spratly, a sul do Paracel, disputado total ou parcialmente pela China, Vietname, Taiwan, Filipinas, Malásia e Brunei.

Já faltou mais

Resolução sobre Coreia do Norte para breve

A

China considerou ontem como provável que o Conselho de Segurança da ONU aprove “num futuro próximo” uma resolução em resposta aos ensaios nucleares e de mísseis da Coreia do Norte. Já os Estados Unidos garantiram que o texto será o mais duro de todos os aprovados até hoje. “Fizemos avanços importantes nas consultas e consideramos a possibilidade de chegar a um acordo sobre o esboço da

resolução e aprová-lo num futuro próximo”, afirmou o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, numa conferência de imprensa em Washington, depois de um encontro com o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Depois o último ensaio de mísseis norte-coreano, no passado dia 7, o Conselho de Segurança da ONU anunciou que esperava aprovar o “mais rápido possível” uma resolução que inclua mais sanções

e, desde então, os Estados Unidos e a China assumiram a liderança das reuniões para redigir o texto. John Kerry afirmou ontem que, nos últimos dias, foram feitos “avanços muito significativos” e prometeu que, se a resolução for aprovada, “irá mais além do que todas as aprovadas antes” em relação à Coreia do Norte.

O secretário de Estado norte-americano não deu mais detalhes sobre o rascunho de resolução porque “ainda está a ser avaliado” pelos Governos chinês e norte-americano. “O objectivo não é entrar num ciclo de castigos repetitivos, mas sim que (o líder norte-coreano) Kim Jong-un reconheça que os países do mundo estão unidos quando é para reconhecer que o mundo não está seguro com mais armas nucleares”, acrescentou.


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O

secretário para as Finanças de Hong Kong, John Tsang, advertiu ontem que a agitação política vai “inevitavelmente” prejudicar a economia e previu um aumento de tensões nos próximos meses, devido às eleições de Setembro. Num discurso sobre o orçamento, John Tsang disse que os confrontos nas ruas no Ano Novo chinês o deixaram “angustiado e enfurecido”. “Fiquei chocado como a nossa cidade se tornou do dia para a noite num sítio estranho que eu mal reconheço”, disse John Tsang, antecipando que “as disputas políticas se intensifiquem nos próximos meses”. “A volatilidade política vai inevitavelmente ter impacto na nossa economia”, adiantou. Tsang disse que as eleições legislativas previstas para Setembro vão aumentar as tensões, depois de os protestos pró-democracia de 2014 terem levado à paralisação de várias zonas da cidade. Descrevendo as perspectivas económicas como “longe de promissoras”, citou o crescimento estimado para este ano entre um e 2 por cento - abaixo dos 2,4% registados no ano passado – agravado pelo aumento das taxas de juro norte-americanas, estagnação nas exportações e abrandamento no turismo para Hong Kong. PUB

CHINA

As leis do caos

Hong Kong Governo alerta para efeitos da agitação política

O mercado imobiliário na cidade também foi atingido, com os preços a caírem 09% desde Outubro e expectativa de que permaneçam sob pressão, acrescentou. As previsões surgem numa altura em que a economia da China dá sinais de abrandamento, reflectindo-se nos mercados regional e global.

MAU AMBIENTE

O secretário para as Finanças também disse que se os conflitos não forem controlados podem trazer “mais caos” para Hong Kong e deixar a próxima geração “crescer no meio de ódio e malícia”. “Muitos de nós sentimo-nos sufocados e, na verdade, impotentes com os confrontos dia sim, dia não”, afirmou, indicando que “o ambiente pesado” continuou a deteriorar-se desde o movimento Occupy de 2014 e que a sociedade está cada vez mais polarizada. Também observou que as disputas políticas estão a aumentar dentro e fora do Conselho Legislativo, numa espiral de luta entre facções rivais.

“A calma e discussões racionais não têm mais lugar neste Conselho. Não há sequer lugar para o diálogo na nossa sociedade”, lamentou. Na primeira noite das festividades do Ano Novo Lunar, a 8 de Fevereiro, grupos de pessoas juntaram-se a vendedores de comida ambulantes ilegais na zona movimentada de Mong Kok alegadamente para os proteger de uma acção de fiscalização das autoridades sanitárias de Hong Kong. Manifestantes com máscaras atiraram tijolos à polícia, que disparou dois tiros para o ar. Mais de 40 pessoas foram acusadas de “participação em motim”. Entre os acusados estão líderes dos grupos ‘localists’, que defendem maior autonomia para a cidade ou mesmo a independência em relação a Pequim. Os protestos surgiram numa altura em que crescem os receios sobre o aumento da influência do Governo central sobre Hong Kong, agravados desde o desaparecimento de cinco livreiros conhecidos por publicarem livros críticos de Pequim.

“A volatilidade política vai inevitavelmente ter impacto na nossa economia” JOHN TSANG SECRETÁRIO PARA AS FINANÇAS DE HONG KONG


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Nos idos anos quarenta

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AIU para a rua Central respirando o ar húmido. Era já noite. O dia tinha sido cansativo no Comando, mas decidiu não ir directo para casa. Mudara-se no Gabinete e vestia agora um fato de linho cinzento que o mainato entregara ao ordenança. Dispensou o carro. Desceu o troço que o conduziu à Almeida Ribeiro, olhando de passagem para a rua que levava ao Tribunal. Baixou a cabeça, num cumprimento seco, quando o polícia mouro lhe fez a continência. Àquela hora, ainda não tardia, já o silêncio pairava naquela zona, iluminada por candeeiros de mercúrio, de uma luz crua, algo azulada. As escadinhas, anexas ao edifício dos Correios, estavam vazias. Apenas se distinguiam, mais distantes, uns vultos junto ao casarão na esquina com a Travessa de S. Domingos. “Mais refugiados a morrer de fome” pensou, enquanto acendia um Lucky Strike, suprimento que uma sombra lhe fornecera e que no mercado negro custava quarenta patacas. Pôs os pensamentos e os escrúpulos de lado. Voltou à esquerda e entrou na Almeida Ribeiro. Ao chegar ao Senado, olhou para o Largo e para os escassos automóveis estacionados. De uma janela próxima, um erhu(1) gemia histórias antigas, enquanto um carro preto virava à direita, vindo de S. Domingos. Ferreira mordeu os lábios, irritado por ter dispensado o motorista.

O carro seguia agora pela Praia Grande, em direcção à Av. da República. A-Leong, o motorista, conduzia sem uma palavra. Aniceto olhava o breu onde alguns tancares e sampanas aguardavam a maré vaza. Sentiu um vazio e questionou-se sobre o sentido do seu papel ali

Estugou o passo por instinto, passou pelo “Soi Cheong” que ainda se encontrava aberto. À porta, um jovem de olhos protuberantes cumprimentou-o: “Mom noiti sinhó”. Ferreira saudou-o com um gesto. Ali, a dois passos, do outro lado da avenida, erguia-se imponente o mais alto edifício de Macau, o Hotel Central do Comendador Kou Ho Neng e Fu Tak Iam, concessionários do jogo através da sua Tai Heng & Co. O Hotel tinha sido construído a pouca distância da ponte-cais onde o “Tai Loi”, o “Takshing” e o “Fatshan” atracavam. Os passageiros, nas três horas de agradável viagem desde Hong Kong, jogavam nos salões principais o “pai kao”, espécie de dominó chinês, indiferentes ao histórico mar, às ilhas e alforrecas que se patenteavam a quem ficasse no convés. O coronel parou defronte à entrada do Central. Respirou fundo e cruzou solene a Almeida Ribeiro para o feérico átrio Art Deco versão local, pintado a

creme. Entrou no elevador e premiu o botão do primeiro andar. Subiu e o abrir da porta coincidiu com o intempestivo barulho de gente excitada, vozearia, risos e demais sonoridades de emoções diversas. Os homens das mesas de fan tan ou do tai siu e ku sêk usavam largas calças chinesas e confortáveis sapatos pretos de solas de feltro. Alguns deles atarefavam-se a retirar das cestinhas, que se suspendiam dos varandins do andar de cima, o dinheiro das apostas gritadas lá do alto. Deu uma volta, viu poucos conhecidos, tudo estava em ordem. Observou os seguranças nas suas túnicas, as pistolas cuidadosamente ocultas, abanando-se em largos leques de papel castanho e fumando cigarros enrolados à mão. Aniceto Ferreira estava em pleno coração da vida nocturna de Macau que, apesar da guerra circundante, não parava. Entre os diversos refugiados aqui aninhados, de Hong Kong, Xangai, Chung Shan e Foshan, entrados pelas Portas do Cerco antes do seu fecho

pelos japoneses, havia também russos e russas brancas, fugidos desde há muito do distante Norte, em inenarráveis trajectórias de sobrevivência. O modo como toda esta gente vivia, era, na maioria dos casos, desconhecido. O Governo acolhia os que podia. As mulheres de guerra, para sobreviver, convergiam para os locais de diversão nocturna, fossem belezas de Xangai ou de Vladivostok. Outros dedicavam-se a tarefas de respeitáveis profissões. Os anónimos dos anónimos iam morrendo à fome pelos cantos, desistindo da luta, exaustos de tanto fugir. A cidade era um enxame silencioso de gente em sofrimento. A população local, compassiva mas impotente, procurava ajudar como podia, partilhando o dispensável. Ferreira tornou ao elevador, esperou e, desta vez, premiu o botão do quinto andar. Saiu para outra atmosfera. Uma orquestra de metais tocava as canções em voga. Foi abordado por uma jovem que lhe ofereceu tickets, cartões que


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contos & histórias António Conceição Júnior

permitiam ao comprador fazer par com as dançarinas que se vislumbravam sentadas ou na pista. O resto era ajustado durante a dança. Olhou do pequeno vestíbulo para o salão. Não era muito tarde, mas já lá se encontravam oficiais japoneses bebendo mao tai, acompanhados por damas que lhes enchiam os copos. Mais além, para a direita, vislumbrou duas mesas com chineses, alguns envergando fatos tradicionais, outros, com negros cabelos luzidios de brilhantina, vestiam à ocidental. Ferreira lamentou estar sozinho, sem nenhum dos seus agentes mais conhecedores do meio. Parecia que tinham convergido para ali todas as facções em conflito, no oásis de tréguas, mesmo assim frágil, que era Macau. Não sabia distinguir os do Kuomintang e os Comunistas. Os das seitas já sabia que andavam de cabaia curta e calça larga. Tudo isto lhe passou pela cabeça em escassos segundos. Agora não podia recuar, tinha de entrar. Parou perto da mesa dos oficiais japoneses. Acendeu um cigarro, mas queimou-se com o fósforo e fez um esgar. Um dos oficiais japoneses sorriu, abriu a sua gunto(2) com a mão esquerda e, mostrando um pedaço da lâmina, passou o dedo, sorrindo sempre. Sem desviar o olhar de Ferreira, fez cair o sangue no mao tai e bebeu. Levantou o copo e, entre as gar-

galhadas dos outros, gritou kampai(3). O coronel sentiu o rubor subir-lhe ao rosto, desviou os olhos e afastou-se em direcção às mesas da direita, onde os ocupantes, se tinham tornado tensos a olhar os nipónicos. Ferreira engoliu a provocação, sabendo que qualquer resposta seria um rastilho curto para uma confrontação. Havia os colaboracionistas dos japoneses, havia as seitas, estava lá todo o mundo. Aquilo era um barril de pólvora embalado ao som de uma orquestra. Em 1941 os americanos entraram na guerra, em 1943 os japoneses tinham rompido a neutralidade de Macau, atravessando as Portas do Cerco, na tentativa de apreender um navio mercante britânico. A polícia enfrentara-os, mas estes causaram 20 baixas e Macau foi forçado a tornar-se protectorado nipónico, com oficiais destacados como conselheiros. Ferreira odiava-os entranhadamente. Sentou-se numa mesa vazia. Bebeu de um trago o CRF que pedira e pensou ter sido sábio não extremar posições. A contenção custara caro ao seu ego, mas pelo menos não se viria a arrepender. Estava certo que os aliados venceriam. Pearl Harbour tinha sido em 1941 e já se estava em 1944. A súbita aparição de Silva no salão interrompeu os pensamentos de Aniceto Ferreira. Parecia procurar alguém, mas tendo encontrado o chefe, encaminhou-se na sua direcção, sempre com a mesma expressão. O Silva nascera e crescera em Macau e, na polícia, era um dos homens da sua confiança. Conhecia todos os meandros, sabia distinguir as facções, reconhecia as hierarquias das seitas, entendia a noite onde tudo acontecia. Silva, pedindo licença, sentou-se. Ali não eram obrigatórias demasiadas formalidades. Ferreira perguntou se havia novidades. “Se dá licença, sugiro sairmos daqui já. Houve um pequeno incidente...” disse Silva, oferecendo um cigarro, cigarreira de prata aberta. “O que houve?” perguntou Ferreira, incomodado por não ter trazido o revólver. Por cima do ombro viu entrarem mais dois dos seus homens, que se sentaram numa mesa perto da entrada, um deles chamando o empregado. Este inclinou-se, ouviu, aquiesceu e foi-se com a bandeja vazia. Silva respondeu que explicaria depois. Levantaram-se e saíram da sala sem incidentes. Aguardaram o elevador e a vendedora de tickets saudou Silva com um tradicional “Vai embora tão cedo, Si Sing Sáng?” Os seus outros dois homens seguiram-no silenciosamente. Fechadas as portas, saudado o comandante, o Silva confidenciou: “Meu comandante, um

homem caiu lá de cima e matou um condutor de triciclo. Não é bom estar aqui”. Ferreira ouviu, imaginando mais um desgraçado a atirar-se à rua depois de perder tudo ao jogo. Morte era coisa que não faltava. Todos os dias se encontravam cadáveres pelas ruas ou vielas, mortos de fome ou assassinados. As facções guerreavam-se surdamente nas sombras da frágil trégua. À saída, um dos acompanhantes à frente e o Silva e colega a ladearem Aniceto, viraram à direita, dirigindo-se para a Rua dos Mercadores. Na outra rua que ladeava o Hotel, a rua Oeste do Mercado de S. Domingos, uma ambulância recolhia os restos da tragédia tornada quase banal. Caminharam em silêncio até ao mercado. Àquela hora e com o racionamento, poucos vultos se viam. Chegados à esquina da Travessa do Soriano, o Silva disse aos outros: “Podem ir, eu acompanho o comandante”. Silva sabia que protegendo o comandante ganharia ascendente sobre este. A comunidade militar era pequena e o incidente poderia criar embaraços desnecessários. “Meu comandante, não se preocupe, nós tratamos disto. Vá descansar”. Tinha tudo preparado e, assim que desembocaram junto à entrada do mercado, um carro insuspeito acolheu Aniceto Ferreira. “Boa noite meu comandante” despediu-se Silva. Dentro reconheceu o seu motorista. Aquele Silva era competente como o diacho, porém tinha artes de o apanhar sempre em contrapé e ser-lhe útil. Como teria ele sabido do seu paradeiro, perguntou-se. Sentiu-se vigiado. O carro seguia agora pela Praia Grande, em direcção à Av. da República. A-Leong, o motorista,

conduzia sem uma palavra. Aniceto olhava o breu onde alguns tancares(4) e sampanas(5) aguardavam a maré vaza. Sentiu um vazio e questionou-se sobre o sentido do seu papel ali. Não dominava o chinês, as sombras não lhe eram familiares como eram aos seus subordinados, que conheciam as faces e as máscaras das diferentes facções. Sentiu-se enredado numa teia de guerra onde precisava, verdadeiramente, dos seus homens para agir. Suspirou, cruzou os braços e deixou-se conduzir, disposto a não lutar contra o que o ultrapassava. Como militar, tinha informações do mundo e do modo como a Guerra do Pacífico se desenrolava. Soubera que as tropas nipónicas estavam a sofrer pesadas baixas e tinham começado os voos dos kamikaze(6) contra os navios americanos na região. Era o último recurso. Porém, isso não invalidava o seu sentimento de impotência e o modo como tinha de se forçar por ignorar o que via pela cidade. A noite engoliu-o no conforto da casa e, com a ajuda de uma garrafa, mergulhou no sono do esquecimento. No centro da cidade, e porque não era só o comandante que tinha informações, a noite ficou marcada pela morte de colaboracionistas japoneses. Começava lentamente a raiar o dia do fim do conflito.

(1) Violino chinês (2) Sabre militar japonês (3) Brinde em japonês, significando “copo seco”. (4) Tancar, bote muito ágil com remo na popa. (5) Sampana vem do chinês sám pán, três tábuas, largura de três tábuas. (6) Vento divino.


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fichas de leitura

Manuel Afonso Costa

Politicamente correcto: inquisição e ditadura P

HILIP ROTH é um autor fácil de ler, pelo menos para mim, mas muito menos fácil de analisar, aliás muito difícil mesmo. Vou contudo tentar fazer o inventário das linhas de orientação do programa de Philip Roth, qual a intencionalidade pragmática e problemática da sua narrativa e as coordenadas ideológicas diluídas na poética da comunicação, desde logo neste livro mas também no conjunto da sua obra, a partir dos textos que estão ao meu alcance na Biblioteca Central de Macau. Ainda que a sua obra se tenha vindo a estruturar por ciclos distintos tanto no plano temático como até no plano estilístico, não deixa de ser também verdade que persistem, em toda a sua obra literária, elementos comuns e estruturais. A última fase da sua produção, por exemplo, através dos títulos emblemáticos, Humilhação, Indignação, Animal Moribundo e Nèmesis, constitui, em si mesmo, uma unidade, de preocupações, de significação e de horizonte de sentido claramente mais pessimista que o resto da sua obra, que nunca é contudo senão pessimista. Se numa primeira fase o escritor explorou a temática da sexualidade sobretudo explícita em livros como O Complexo de Portnoy e o Teatro de Sabbath, mais tarde acrescentou-lhe uma linha de orientação que visava a desconstrução sistemática da ideologia americana e toda essa evolução culmina justamente em A Mancha Humana, romance de articulação entre todas as fases e provavelmente a obra que define o autor por antonomásia. Na fase final, quer dizer actual, os seus temas vão mais no sentido alargado de desconstrução do mal num plano mais universal, o da humanidade, entrevisto numa lógica de fim de ciclo vital. Philip Roth foi assim do particular para o geral, como convém. Nesta inteligente organização dos seus temas e preocupações o autor faz coincidir as suas reflexões finais com a universalidade da condição humana e objectivamente com o seu próprio ciclo de vida. De uma forma que não me parece acidental o autor justapõe o existencial ao biológico, desenvolvendo de uma forma orgânica a evolução

Roth, Philip, A Mancha Humana, Dom Quixote, Lisboa, 2005 Descritores: Literatura Americana, Ficção Psicológica, Afro-americanos, Judeus, Identidade, Racismo, Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, 377 p., ISBN: 972-20-2577-5. Cota: 821.111(73) -31 Ro

da obra homologicamente com a evolução da sua vida numa perspectiva que não anda longe da evolução das próprias civilizações à maneira de Spencer. Quando li A Mancha Humana, senti interiormente uma imediata satisfação: finalmente alguém escreve de uma forma inteligente sobre a deriva, aliás mais errância que deriva, da orientação da cultura do nosso tempo. Sob a capa da vigilância democrática que mais não é do que um desvio puritano ao sentido da liberdade começa a ganhar terreno uma nova forma de inquisição, muito mais sofisticada que a anterior, mais diluída e portanto não hard mas antes soft, cool mesmo, mais discreta mas no fundo muito mais eficaz e que pode pôr em perigo a demo-

PHILIP MILTON ROTH é um escritor norte-americano de origem judaica (mais um) que nasceu em Newark, Nova Jersey (Onde nasceram outros grandes escritores americanos), a 19 de Março de 1933. Actualmente diz que deixou de escrever e que Nèmesis é o seu último romance. Trabalha, ao que parece, na elaboração da sua biografia com Blake Bailey. Philip Roth publicou uma extensa quantidade de livros, dos quais destacaria Good Bye Columbus de 1959, por ser a primeira obra reconhecida pelo público e pela crítica; O Complexo de Portnoy de 1969, por ser a obra que lhe deu celebridade e a sua primeira obra-prima; O Teatro de Sabath que de algum modo é o clímax deste ciclo marcado pelo desejo sexual, embora em boa verdade todos os romances de Philip Roth apresentem esta marca a par dos temas que reflectem os problemas de assimilação e identidade dos judeus americanos. Destacaria ainda A Mancha Humana de 2000 pois culmina a trilogia americana, em que Roth desconstrói a ideologia americana (politicamente correcta e do politicamente correcto) e embora os outros dois, ou seja A Pastoral Americana e Casei com uma Comunista, de 1997 e 1998 respectivamente não sejam negligenciáveis, são a meu ver demasiado à maneira de Saul Below. Destacaria finalmente o ciclo mais recente onde se evidenciam, sob o signo do envelhecimento e da perda, os romances, O Animal Moribundo, Indignação, Humilhação e Nèmesis. Os temas deste ciclo final não apareceram de súbito na cabeça do autor pois, em boa verdade, ele já os tinha abordado em obras mais antigas como nos textos Homem Comum ou O Fantasma Sai de Cena onde já se enunciavam e exploravam os temas do fim da vida com todas as suas misérias físicas e espirituais.

cracia e a liberdade. É uma inquisição fria, exteriormente pouco repressiva mas condicionadora no plano íntimo da consciência. Para se tornar mais explícita a mensagem da sua obra Philip Roth convoca imediatamente o exemplo libidinoso de Clinton, num pano de fundo em que se percebem os movimentos fantasmáticos da sórdida intriga, moralista e ridícula. A verdade é que foram muito poucas as vozes que se levantaram contra a sordidez inquisitorial. Num conto das Histórias dos Mares do Sul de Somerset Maugham, já ficou provada a sordidez desses inquisidores, desses objectores de consciência agora entretanto transformados em inquisidores e paladinos da moral. Nesse mesmo ano, um intelectual sério e honrado, um judeu, que afinal não era, é condenado à expulsão de uma universidade por causa de uma expressão que numa acepção poderia ter uma conotação racista, mas que na sua versão mais denotativa e original era incólume. Os inquisidores são atraídos sempre para onde cheira a sangue ou a esterco. Eles sentem a necessidade disso como uma espécie de alimento para as suas consciências esvaziadas, reduzidas a uma forma. Eles representam o mal radical no sentido kantiano e justamente porque radical, inapreensível pelo comum das pessoas. Eles pervertem a norma na raiz da norma conquanto a respeitem na sua formalidade exterior e visível. Assim fizeram a cama a Coleman Silk e só não a fizeram a Clinton por uma unha negra. Incomoda-me denominar este tipo de inquisição pela ditadura obscena do politicamente correcto, mas a verdade é que não se trata de outra coisa.

O politicamente correcto tem os contornos do preconceito, não é de resto outra coisa senão preconceito, mas pela primeira vez na história a classe esclarecida, a classe culta domina o universo dos preconceitos e faz com ele o que sempre se fez, só que desta vez o preconceito possui um inusitado poder condicionador pois é esgrimido pela mesma classe que historicamente encabeçou todos os combates e se bateu contra os preconceitos. Pela primeira vez na história o universo preconceituoso não aparece solto, fragmentado, esgrimido pela parte da sociedade ultrapassada pelo progresso e pela história, mas aparece sistematizado, como uma ideologia da classe culturalmente dominante e democrática, aquela que rasga os caminhos da modernidade. Essa classe guardiã da justiça, da liberalidade, da saúde colectiva, essa classe securista e protectora, vigilante de todos os dogmas do progresso, começa a exercer no nosso tempo a mais nefasta ditadura de que há memória. É ténue a fronteira entre a liberdade e a repressão. Quando as forças de rotura real, as forças do progresso, do espírito de emancipação real se ausentam ou entram em crise, a estrutura ossificada da classe dominante traspõe essa fronteira, de modo silencioso e, o horizonte repressivo, aparece então de modo inapelável. Torna-se cada vez mais difícil definir um espaço de liberdade onde a procura da identidade não encontre o obstáculo da ossatura politicamente correcta. E volto a dizer, tudo isto em nome da liberdade, do progresso, das minorias, dos humilhados, dos desprotegidos, os marginalizados, seja de que natureza for. As personagens de A Mancha Humana esbracejam neste casulo, neste espartilho claustrofóbico. É o caso de Silk entalado entre discursos identitários adversos, pois por puro acidente não é negro, sendo contudo filho de negros, acaba por fugir do ghetto em que sentia que se estava a aprisionar, assume uma identidade judaica, talvez para compensar o sentimento de traição e má consciência e por via desse travestimento acaba por ser julgado como racista anti negro, quando afinal ele mesmo o era geneticamente falando. Faunia que vive o mesmo problema mas no plano social e por isso se envolve com Silk, muito mais velho num plano estritamente sexual, Delphine Roux que abandona o país e os pais para ser autónoma e independente e assim por diante. Todos pagam claro por abandonar o rebanho. Sobretudo todos pagam por não pretenderem ser o que não querem ser no quadro desta irmandade puritana e hipócrita.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


17 hoje macau quinta-feira 25.2.2016

FÓRMULA 1 DOS BARCOS QUER VIR A MACAU

Negociações confirmadas

O

Campeonato do Mundo F1H20, mais conhecido como Campeonato do Mundo de Motonáutica, ou ainda, como “a F1 dos barcos”, confirmou ao HM estar em negociações para realizar um evento em Macau ainda em 2016. Em entrevista à Rádio Macau, no início de Fevereiro, José Tavares, ainda na qualidade de presidente do Instituto do Desporto, tinha admitido a possibilidade da realização de um evento de motonáutica na RAEM, não revelando no entanto qual a especialidade em questão. “Estamos em negociações, é mesmo o F1H2O”, confirmou fonte oficial do campeonato ao HM, remetendo mais informação para mais tarde. Macau tem hoje sob jurisdição do território 85 quilómetros quadrados de áreas marítimas, porém, o então dirigente máximo do desporto no território admitiu na entrevista à rádio de língua portuguesa as dificuldades em colocar de pé o evento com corridas de barcos que atingem impressionantes 240 km/ hora, pois as provas de “barcos de alta de velocidade, obrigam a cercar uma boa área marítima só para isto” e o canal marítimo de Macau “é bastante utilizado, pelo que não é fácil fechar por umas horas”. “Tem que ser muito bem estudado, antes de lançar qualquer coisa”.

DESPORTO

pública Popular da China, a 4 de Setembro, em Hairbin, e a 3 de Outubro, em Liuzhou. Duas outras provas encontram-se por confirmar, sendo que estas serão realizados no continente asiático. As datas de 16 de Outubro ou 6 de Novembro são as disponíveis para estes dois eventos e para a realização da prova em Macau, caso esta se concretize.

DO QUE SE TRATA

Sobre os requisitos para o circuito, a organização do F1H20 explicou ao HM: “Não há mais regras do que uma área capaz de

acomodar um circuito de perímetro de cerca de dois mil metros, em águas abertas, rios ou lagos, com vias navegáveis. Localizações

relativamente abrigadas são preferenciais”. A competição mundial tem já duas provas marcadas na Re-

Um sonho a prazo

Eriksson China poderá vencer Mundial de futebol daqui a dez anos

O

sonho do Presidente chinês, Xi Jinping, de ver a selecção de futebol da China a vencer um mundial poderá tornar-se realidade dentro de uma década, previu o técnico Sven-Goran Eriksson, citado pela imprensa estatal. “Neste momento, parece que todos os jogadores querem vir para a China pelos mesmos motivos”, disse o treinador que orientou o Benfica durante cinco épocas (1982/1984 e 1989/1992), citado pela agência oficial Xinhua. Actualmente ao serviço do clube chinês Shanghai SIPG, o técnico está confiante no desenvolvimento da modalidade no país asiático: “Talvez dentro de 10 ou 15 anos, estou certo que a China competirá a um nível que permita vencer o Mundial”. Pequim assumiu já o desejo de converter o país numa potência

futebolística à altura do seu poder económico e militar. Em 2014, anunciou um “plano de reforma global do futebol”, que determina, entre outras medidas, a inclusão da modalidade como componente obrigatória da disciplina de Educação Física em 50.000 escolas primárias e secundárias. Apesar do país figurar em 93.º no ‘ranking’ da FIFA, o Presidente chinês apontou como metas nacionais a qualificação para a fase final de um Mundial, organizar um Mundial e um dia vencê-lo. No total, as 16 equipas que disputam a Super Liga Chinesa de futebol investiram esta época, até à data, cerca de 317 milhões de euros na contratação de jogadores estrangeiros, mais 92% do que gastaram na temporada interior.

Durante o mercado de inverno de transferências, a contratação mais cara de sempre no país foi batida por quatro vezes, culminando na transferência do brasileiro Alex Teixeira, por 50 milhões de euros, para o Jiangsu Suning.

A TODO O GÁS

“Não é só o topo do futebol na China que se está a tornar mais rico e poderoso”, sublinhou Eriksson na Austrália, na véspera da sua equipa enfrentar o Melbourne Victory para a Liga dos Campeões da Ásia. “Os clubes chineses estão a abrir academias de futebol a um ritmo quase diário e jovens rapazes e raparigas vão começar a jogar futebol”, disse, realçando estar certo de que “o futuro do futebol na China será fantástico”.

Competindo com motores V6 de 2,5 litros e com uma potência capaz de atingir os 400 cavalos, estes impressionantes “barcos voadores” demoram pouco mais de quatro segundos a chegar dos zero aos 160 km/h e possuem a capacidade de virar 180 graus a 150 km/h, gerando uma força até 4,5 G. As corridas com mais de três décadas de tradição têm duração de 45 minutos e são habitualmente muito animadas. O campeonato deste ano, que arranca em Março no Dubai, terá 18 concorrentes, incluindo uma equipa portuguesa, a F1 Atlantic Team, e uma chinesa, a campeã CTIC F1 China. Portugal acolhe há dois anos um evento desta modalidade, em pleno Rio Douro, entre as margens da Ribeira do Porto e de Vila Nova Gaia. Segundo noticiou a imprensa portuguesa, o orçamento total da organização da prova rondou em 2015 cerca de quatro milhões de patacas. Através da televisão, a prova terá sido transmitida por 30 canais, para mais de cem milhões de casas em todo o mundo, segundo números avançados pela Câmara Municipal do Porto. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

Eriksson chegou ao país asiático em 2013 para orientar o Guangzhou R&F. O seu actual clube pagou no mês passado 18,5 milhões de euros pela contratação do avançado brasileiro Elkeson ao Guangzhou Evergrande, o actual campeão chinês e cujo treinador é Luiz Felipe Scolari, antigo seleccionador de Portugal. A “revolução” do futebol na China tem atraído também figuras e entidades portuguesas. Lançada em Pequim na primavera de 2014, a Academia Luís Figo está já implantada em 14 cidades chinesas e emprega 60 treinadores portugueses. Entretanto, o Benfica abriu no ano passado a sua primeira academia de futebol no país e o Sporting anunciou a construção de outras 20 até 2018.


18 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau quinta-feira 25.2.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje APRESENTAÇÃO SOBRE MEDITAÇÃO COM KIM HUGHES Universidade de Macau, 13h30 Entrada livre

MIN

11

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16

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65-90%

EURO

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BAHT

OBAMA REVELA PLANO PARA FECHAR GUANTANAMO

Sábado EVENTO DE CARIDADE (MASDAW) Centro de Design de Macau, 18h00 Bilhetes a 250 patacas

O CARTOON STEPH DE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO [X] DE RHYS LAY Fundação Rui Cunha (até 13/03) Entrada livre EXPOSIÇÃO “MA-BOA, LIS-CAU”, DE CHARLES CHAUDERLOT (ATÉ 19/03) Museu de Arte de Macau Entrada livre ESPECTÁCULO DE LUZES (ATÉ 29/02) Casas-Museu da Taipa, 18h00 às 22h00 EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO” (ATÉ 3/03) Casa Garden Entrada livre HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas

Cineteatro

C I N E M A

THE FINEST HOURS SALA 1

MERMAID [B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Deng Chao, Show Lo, Zhang Yu Qi, Jelly Lin 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

ALVIN AND THE CHIPMUNKS: ROAD CHIP [B] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Walt Becker 19.30 SALA 2

THE FINEST HOURS [B] Filme de: Craig Gillespie Com: Chris Pine, Casey Affleck,

Ben Foster, Eric Bana 14.30, 16.45, 21.30

THE FINEST HOURS [3D] [B]

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 35

PROBLEMA 36

UM LIVRO HOJE

1.22

É MESMO ADEQUADO?

ESPECTÁCULO DE COMÉDIA COM RUSSELL PETERS Studio City, 20h00 Bilhetes entre as 680 e as 1580 patacas

Diariamente

YUAN

AQUI HÁ GATO

Sexta-feira

DIA ABERTO DO SPORTING DE MACAU Estádio da Taipa, 12h00 Entrada livre

0.22

Todos têm uma forma de viver neste mundo. Podemos ser de uma determinada forma desde pequeninos, mas sermos influenciados ao longo do crescimento e experiências por que passamos. Quanto mais tempo nos habituamos a este padrão, mais difícil é fazer coisas fora dele. Uns comentários positivos que li indicavam que “a vida de alguém pode ser maravilhosa quando se fazem coisas que nunca se fez, quando se tenta andar fora da zona de conforto. Quando se descobre e ganha mais do que o que se imaginava”. Concordo, porque é uma seca fazer sempre as mesmas coisas. Sempre há quem goste de manter a vida ou o trabalho estável, mas também há quem escolha trabalhar não de acordo com o que estudou ou com as experiências que acumulou, dando um passo além disso. Foi o caso de Alex Vong, novo director da Alfândega. Ainda que concorde que devemos mudar, tenho sempre algumas dúvidas sobre se a capacidade deste novo dirigente é apropriada para o serviço que vai prestar. Se uma pessoa da área de Administração ou Desporto pode ser líder do pessoal alfandegário, então os que estudem Gestão Empresarial trabalhariam na área de Engenharia? Os polícias podiam ser advogados, os croupiers podiam ser professores? Não sei, não sei bem isso. Se calhar alguém acha que a mudança traz melhor coisas. Seja como for, é uma incerteza para mim e talvez para vocês. Pu Yi

“THE WRECK” (RABINDRANATH TAGORE)

A literatura indiana é lugar de muitas vozes, miríade de tons tal como a paisagem com que nos deslumbra a cada metro. Mas desse lugar de pluralidades, há uma voz que emerge sempre: a de Tagore. Rabindranath Tagore, de seu nome, homem de multi-géneros, mas acima de tudo considerado poeta, foi Nobel da literatura em 1913, com a tradução do seu “Gitanjali”. Mas eu conheci-o num “Naufrágio”. Descobri o “The Wreck” em Pondicherry. Uma história de identidades trocadas que origina uma mudança de noivas com tudo o que isso pode implicar na vida das pessoas. Uma viagem impressionante, onde a Índia fica tão real que a cheiramos, a vemos e a percebemos como se nela estivéssemos, como se dela fossemos. Manuel Nunes

Filme de: Craig Gillespie Com: Chris Pine, Casey Affleck, Ben Foster, Eric Bana 19.15 SALA 3

THE SECRET [B]

FALADO EM MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Barbara Wong Chunchun Com: Leon Lai, Wang Loudan, JJ Lin 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


19 hoje macau quinta-feira 25.2.2016

OPINIÃO

bairro do oriente LEOCARDO

JIM JARMUSCH, DOWN BY LAW

S

E por acaso passou do título e chegou aqui, gostaria de pedir alguns minutos do seu tempo. Não porque lhe queira vender nada, e não ando carente de atenção, mas porque isto lhe pode interessar, e só pretendo contribuir com algumas observações que podem ser úteis, e mesmo que as rejeite, pode muito bem guardar lá no fundo da caixa de ponderação. Caixa de quê? Leu bem, pois se esperava a de Pandora, ei-la na forma mais insuspeita de se revelar: o “politicamente correcto”. Isto explica mais ou menos o trocadilho no título da peça, mas garanto que é mesmo um assunto sério. Ao contrário do que muita gente pensa, o “politicamente correcto” não é um termo originalmente português, nem um exclusivo da Política e dos políticos, e nem sequer lhes pertence a parte de leão (e se vermos o que para ali vai, ui...). Este “politicamente” é uma tradução do original em inglês “politically”, que tem um sentido muito mais abrangente, e tem a ver com toda a gente, políticos, sociedade civil, todos que partilhem da mesma vontade, indiferentes a critérios segregacionistas, com a cor da pele, origem, religião, língua ou cultura, e do pobre mendigo ao exmo. Vichyssoise da República, todos somos “políticos” da nossa vontade, e dotados de julgamento pessoal e individualizado. Sendo assim, existem outras variantes desta noção, como são casos o esteticamente correcto, o verbalmente correcto, e por aí fora, e sempre com o mesmo denominador: o “correcto”. A este ponto gostaria de perguntar se é normal em alguma circunstância deixar de considerar o “correcto”...correcto? E se vos disser que o “correcto” pode ser apontado como razão para o nosso insucesso? Se optar pelo “correcto”, faço mal? Qual é a alternativa? Vou passar a elaborar. Pode ser que identifiquem o caso que vou falar a seguir e que ocorreu há algumas semanas em Portugal, por isso não vale a pena ocultar a figura em questão, a Ministra da Justiça, ficando a identidade fora da equação, pelo menos por agora. Portanto a Ministra da Justiça de Portugal anunciou que o executivo ia tomar uma medida para reduzir a sobrelotação nas cadeias portuguesas, um problema que mesmo que não se esteja por dentro da actualidade, nunca terá um lado que nos possa ser interpretado como “positivo”, mesmo que não nos diga respeito directamente – ser preso não é uma coisa “impossível” de acontecer seja a quem for. Mas pronto, se tanto se pensa na morte, que nada tem de “correcto”, porque não mudar de cenário? Assim, a medida de coação a aplicar nos casos em que se aplicam os requisitos que determinam a prisão

Com o recto correcto

preventiva, e mais à frente vamos ver quais são, será o uso de uma pulseira electrónica, medida já aplicada em alguns casos de justiça criminal em Portugal, nomeadamente com os crimes económicos, e praticamente qualquer crime que não o de sangue. Isto entende-se, no geral. Agora imaginem que esta notícia vos era apresentada desta forma: “Ministra da Justiça quer deixar criminosos à solta, permitindo que fiquem em casa com pulseira electrónica. Criminosos, como sabemos, são pessoas que praticam violação, roubos e homicídio”. Parece resumido, e não é mentira, certo? E de facto, para quê tantos rodeios, se um crime é um crime, e quando são praticados os seus autores não fazem distinção das vítimas, ou lhes deixam escolher seja o que for, não é assim? Não, não é, e todo este raciocínio é minado de preconceito e ódio, e para que seja também um crime, basta “colorir” os autores de violação, roubo, e homicídio. A propósito , a tal ministra que referi é angolana de origem, o que implica também que é preta, e não foi preciso muito mais para que se lesse na medida que propôs aplicar intenções que nem ao Diabo lembrava. Agora preparem-se para o pior: o meu discurso é para estas pessoas que seguem o raciocínio que apresentei, “politicamente correcto”. E isso “tem sido um entrave à liberdade de expressão”, pois à custa de manter o “politicamente correcto”, não é permitido “dizer as verdades”. Muito bem, e qual é a única verdade em toda essa dissertação? Que a Ministra da Justiça de

Portugal é angolana e preta, talvez. Todo o resto assenta num pressuposto que não é mais que uma “desonestidade intelectual”. Nem tudo o que é ilegal é um crime, e estes últimos APENAS constam no Código Penal em vigor, e aí inclui-se violação, roubo, e homicídio, definidos como “crime público”, ou seja, “crime contra a sociedade”. Os requisitos da prisão preventiva incluem a possibilidade de continuidade da actividade criminosa, a fuga, ou a destruição de provas. Não me parece que a medida foi feita a pensar num violador ou um homicida, e nesse caso as vítimas dos mesmos teriam toda a legitimidade para protestar o que seria um insulto – não tanto se após o caso ficar transitado em julgado não se provar a autoria do crime, e pouco importa o que pensa seja quem for, aquela pessoa não é um “criminoso”. Não fui afectado pelo escândalo que envolveu o BPN, mas consigo entender a angústia dos lesados e o ressentimento com o principal responsável pela gestão ruinosa das suas poupanças, mas serão reembolsados caso o banqueiro suspeito de fraude dormir a dois metros de um sanitário que partilha com mais três pessoas? Se for provada a sua culpa e condenado a prisão efectiva, não vai cumprir a pena com a pulseira no braço ou no calcanhar, método que mesmo assim de menos humilhante só tem mesmo o facto de ficar em casa – muito menos humilhante, e agora pergunto eu: é mesmo necessário que toda a gente passe pela prisão, mesmo que não seja um homicida, violador ou reconhe-

“No meu conceito de politicamente correcto não há criminosos por suspeita, fulano é tratado pelo nome, sem acrescentar seja o que for que a apenas a ele diga respeito, e não interessa a cor das ministras. E de você, o que posso esperar?”

cido autor de roubo, que aqui insinua o uso de arma /ou o recurso à violência? Outro caso teve a ver com um nosso conhecido, um jornalista que já passou aqui por Macau, e cujo nome pouco importa perante a falta de que foi acusado. Este caso reporta-se ao ano passado, após as eleições legislativas, e durante uma reportagem sobre dois deputados estreantes, o jornalista referiu-se a um deles na versão feminina do seu nome, dando de seguida uma risada com gosto. O referido deputado é homossexual, e aparentemente não tem com o profissional da imprensa qualquer tipo de relação que justificasse ser o alvo daquela piada, transmitida para o mundo inteiro através do Telejornal da RTPi. O visado apresentou uma queixa, mas o conselho da estação pública de televisão julgou-a improcedente, não isentando mesmo assim o profissional de apresentar um pedido de desculpas formal, e certamente que não se vai querer meter noutra igual. Não merecia um castigo pesado, na minha humilde opinião, mas não sou o deputado em questão nem homossexual para saber o que sentem estas pessoas quando acontecem situações como esta. Há quem prefira analisar isto de um outro prisma, o da “liberdade de expressão”, para branquear a provocação do jornalista, e acusar o “politicamente correcto” de silenciar aquilo que diz ser “a verdade”. Têm todo o direito à sua opinião, esses fascistas ressabiados, meninos de coiro, nazis e outros chicos-espertos que tomam toda a gente por parva (vejam que “agradável”), querendo culpar o correcto pela sua ideia completamente desviada dos valores que a democracia e a liberdade nos deviam ter incutido. No meu conceito de politicamente correcto não há criminosos por suspeita, fulano é tratado pelo nome, sem acrescentar seja o que for que a apenas a ele diga respeito, e não interessa a cor das ministras. E de você, o que posso esperar?


Era lichia / toda ela. / Branca translúcida / trémula / estranha / cheirava a rosas passadas. / Solvi-a num trago / e arrependi-me. / Faltou-me o sentido da eternidade / e perdi-a, /num só gesto, / naquele instante”

quinta-feira 25.2.2016

Carlos Marreiros

UE GRUPO WANDA NÃO ACREDITA NA SAÍDA DO REINO UNIDO

Aposta nos bretões HONG KONG CONDUTORES DA UBER DETIDOS DIZEM-SE INOCENTES

O

PUB

S cinco condutores da Uber de Hong Kong detidos em Agosto declararam-se ontem inocentes em relação às acusações de que conduziam sem as licenças necessárias. Os homens foram detidos numa operação policial em Agosto contra a Uber após vários taxistas da cidade danificarem os próprios veículos com martelos e guiarem lentamente na direcção à sede do Governo, em protesto, apelando às autoridades locais para agirem em relação a condutores sem licença. Os cinco condutores declararam-se inocentes das acusações de “conduzirem um veículo motorizado para transportar passageiros” em troca de recompensa sem a licença adequada, e de conduzirem sem seguro de terceiros. O advogado de defesa disse ao tribunal que pretende pedir uma suspensão do processo no caso dos condutores. O caso foi adiado e agendada uma avaliação pré-julgamento para 23 de Março. Outros dois condutores detidos na operação de Agosto declararam-se culpados das mesmas acusações no mês passado, tendo sido multados em sete mil dólares de Hong Kong. As suas cartas de condução foram revogadas por 12 meses. A empresa norte-americana Uber expandiu-se para centenas de cidades em pelo menos 68 países e está avaliada em mais de 50 mil milhões de dólares. No entanto, enfrenta forte oposição dos taxistas tradicionais, gerando protestos por todo o mundo, alguns violentos, como no Brasil, onde um condutor chegou a ser raptado.

Wang Jianlin, presidente do grupo Wanda e considerado o homem mais rico da China não acredita na saída do Reino Unido da União Europeia. A prova é ter escolhido aquele país para sede europeia do grupo. Em relação à crise chinesa, Wang justifica-a com a transição do modelo económico e diz que o turismo, desporto e entretenimento ainda oferecem oportunidades. O pior são as indústrias tradicionais

E

NFATIZANDO a sua confiança na continuidade do país na União Europeia, o presidente do conglomerado chinês Wanda, anunciou que vai instalar a sede europeia do grupo no Reino Unido. “Não penso que a Grã-Bretanha vá sair. Essa é a minha opinião. O Reino Unido tem sido sempre parte da Europa e não poderá sair por si mesmo”, afirmou Wang, durante um discurso na Universidade de Oxford. “Não ouçam os políticos - é fácil sair, mas muito mais difícil reentrar”, sublinhou, citado pelo jornal oficial China Daily. Wang assinalou ainda que uma saída do espaço comunitário “dificultará a vinda de turistas chineses e afectará negativamente a economia do Reino Unido”. Fundado no final da década de 1980, o Wanda Group começou por se impor no sector imobiliá-

No conjunto, o grupo emprega 1.200 pessoas no Reino Unido, mas Wang promete que em breve aquela cifra aumentará para 3.000, anunciando que está a negociar “um grande empreendimento comercial” no país.

ABRANDAR PARA MUDAR

rio, mas nos últimos anos passou a investir também no cinema e no desporto. Nos últimos anos, realizou vários investimentos sonantes na Europa, entre os quais a construção de um hotel e um complexo residencial em Londres, avaliados em 1,2 mil milhões de libras (mais de 1,5 mil milhões de euros).

“Não penso que a Grã-Bretanha vá sair. Essa é a minha opinião. O Reino Unido tem sido sempre parte da Europa e não poderá sair por si mesmo” WANG JIANLIN PRESIDENTE DO GRUPO WANDA

Questionado sobre o abrandamento da economia chinesa, que cresceu em 2015 ao ritmo mais lento dos últimos 25 anos (6,9%), o empresário apontou que o “gigante” asiático atravessa um período de transição para um novo modelo económico. “As indústrias tradicionais vivem um momento difícil, mas sectores como o turismo, desporto e entretenimento oferecem oportunidades”, explicou. Até ao final desta década, Wang ambiciona tornar o grupo Wanda “num líder de classe mundial”. Por essa altura, afirmou, a empresa espera somar activos no valor de 200.000 milhões de dólares, uma capitalização bolsista no mesmo valor, receitas de 100.000 milhões e resultados líquidos de 10.000 milhões. No ano passado, o grupo com sede em Dalian, no nordeste da China, anunciou um aumento de quase 20% das receitas para 290,16 mil milhões de yuan. Lusa/MN

FANTASPORTO MÁRIO DORMINSKY HOSPITALIZADO Um dos fundadores e directores do Festival Internacional de Cinema do Porto Fantasporto Mário Dorminsky encontra-se hospitalizado na sequência de um acidente vascular cerebral (AVC), estando em situação «estável e bem disposto», informou ontem a organização. “Pela primeira vez o Fantasporto, que se iniciou segunda-feira na sua fase précompetitiva, arrancou sem Mário Dorminsky um dos seus fundadores e co-director, que se encontra hospitalizado na sequência de um ligeiro acidente vascular cerebral”, pode

ler-se no comunicado divulgado ontem. De acordo com a mesma informação, Dorminsky “mantém-se internado numa unidade hospitalar do Porto, em observação, enquanto efectua uma série de exames indispensáveis nestes casos, antes de qualquer decisão sobre uma eventual alta hospitalar”. “A direcção do Fantasporto espera que Mário Dorminsky se possa reincorporar na equipa do festival ainda durante a sua realização, caso os médicos o venham a autorizar”, acrescentou o comunicado.

MACAU COMÉRCIO CAIU 10,4%

O

valor do comércio a retalho em Macau em 2015 caiu 10,4%, a primeira diminuição em vários anos, segundo dados oficiais divulgados ontem. No ano passado, “o valor dos negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho” foi de 60,89 mil milhões de patacas, sendo que as maiores quedas se registaram no segmento dos relógios e joalharia (menos 25%) e artigos de couro (-21,9%). Nos automóveis, a queda foi de 9,1%, depois de em 2014 já ter havido uma diminuição de 9,8% nas receitas do comércio de carros que, quando o número foi conhecido, as autoridades atribuíram à queda das receitas dos casinos. As receitas do jogo estão a cair desde Junho de 2014 com impactos a nível do PIB e confirmados por diversos indicadores. A queda do valor do comércio a retalho em 2015 é a primeira em vários anos, embora em 2014 o crescimento tivesse já sido de 1,8%, bastante inferior aos mais de 20% dos anos anteriores. Em 2014, também o volume do comércio a retalho diminuiu, neste caso 7,9%, segundo os Serviços de Estatística e Censos de Macau. Apesar do impacto da quebra das receitas do jogo no PIB e nas contas públicas, a Administração de Macau fechou 2015 com um saldo positivo de 29.298 milhões de patacas, valor que excedeu largamente o orçamentado para todo o ano (18.805 milhões de patacas), mas que traduz uma queda de mais de dois terços (67,6%) comparativamente ao superavit de 2014.


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