Hoje Macau 25 FEV 2020 # 4473

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TERÇA-FEIRA 25 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4473

MOP$10 PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ENTRADAS

DE WUHAN PARA MACAU PÁGINA 4

PME

PARQUÍMETROS

SUBSÍDIOS EM EQUAÇÃO

ÉPOCA DE MULTAS

PÁGINA 5

PÁGINA 7

hojemacau

Quebra-cabecas ´ A cidade começa aos poucos a voltar ao habitual quotidiano, mas a realidade no sector da educação permanece longe da normalidade. Com as escolas fechadas, pais e professores debatem-se agora com um problema de difícil resolução para sincronizar o trabalho com a obrigatoriedade de manter as crianças em casa. PÁGINAS 2-3


2 coronavírus

25.2.2020 terça-feira

SOZINHO ENSINO

ESCOLAS FECHADAS LEVANTAM PROBLEMAS FAMILIARES E EDUCACIONAIS

Professores que não sabem lidar com o ensino online, pais que regressam ao trabalho e que não têm com quem deixar os filhos. A decisão do Governo de manter as escolas fechadas, devido ao Covid-19, quando todas as actividades económicas estão a voltar ao normal está a causar verdadeiras dores de cabeça às famílias. Teresa Vong e Ana Correia, professoras universitárias, alertam para a necessidade de assegurar horários de trabalho mais flexíveis e uma mudança nos modelos de ensino e de aprendizagem

informadas do problema, para que se possam encontrar alternativas para cuidar das crianças. Numa altura em que muitas escolas decidem manter aulas online ou enviar trabalhos de casa, Teresa Vong pede que sejam repensados métodos de ensino e de aprendizagem. “Pelo que sei, algumas escolas, desde o início [da crise], prepararam uma espécie de plano de auto-aprendizagem para os alunos continuarem em casa. Mas, no caso dos alunos mais novos, sobretudo do infantário ou do ensino primário, os pais que recebem este formulário dizem que não conseguem pô-lo em prática. Não é o problema dos pais e das crianças, mas das escolas que não estão a conseguir transmitir a mensagem do método de aprendizagem de forma efectiva.” A DSEJ recomendou a manutenção e revisão da matéria dada, mas Teresa Vong acredita que a brincadeira também deve servir para ensinar. “A maior parte dos professores ou dos pais, ou até directores de escolas, imaginam que a aprendizagem é escrever e produzir algo. Mas deixemos as crianças brincar, também podem aprender dessa forma. É preciso redesenhar o conceito de ensino e de aprendizagem.”

surto do novo coronavírus, Covid-19, parece estar controlado no território, o que levou diversos serviços públicos a regressarem à normalidade e fez com que muitos pais tenham voltado ao trabalho. No entanto, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) decidiu adiar, por tempo indeterminado, o regresso às aulas, o que pode constituir um problema para as famílias que dependem, na sua maioria, de empregadas domésticas para cuidar dos seus filhos. Ao HM, a docente da Universidade de Macau (UM), Teresa Vong,

FALTA DE PREPARAÇÃO

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disse não considerar estar em causa um verdadeiro problema social, uma vez que muitos pais continuam a trabalhar a partir de casa, de férias ou com licença sem vencimento. Ainda assim, a docente defende que o Governo deveria promover a implementação de horários mais flexíveis. “Se há muitos pais que não conseguem tomar conta das crianças penso que o Governo deve negociar com as instituições privadas, como os casinos. É preciso negociar um horário mais flexível para que fiquem com as crianças.” Além disso, Teresa Vong acredita que as escolas devem ser

Ana Correia, directora da Faculdade de Educação da Universidade de São José (USJ), também defende mais flexibilidade de horários e uma maior responsabilidade social das empresas. “Os sectores público e privado têm de encontrar formas de apoiar as famílias durante este período, permitindo que em cada agregado familiar com menores haja sempre a presença de um adulto em papel de cuidador”, defendeu ao HM. Nesse sentido, “para tal ser possível haverá que tornar os horários de trabalho temporariamente mais

flexíveis e atribuir uma redução no horário de trabalho diário, nos casos em que existe real necessidade das famílias. É um problema que afecta toda a sociedade, e que está a deixar muitas famílias desesperadas. É necessário haver soluções concertadas”.

“Se há muitos pais que não conseguem tomar conta das crianças penso que o Governo deve negociar com as instituições privadas, como os casinos.” TERESA VONG PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DE MACAU

Ana Correia considera positiva a decisão do Governo de fechar as escolas a fim de controlar o surto do Covid-19, mas alerta para a necessidade de “olhar para as consequências desta decisão e encontrar soluções para evitar que as crianças fiquem sozinhos em casa”. A flexibilidade de horários de trabalho pode, assim, dar resposta à falta de preparação de muitas famílias para ficarem com os mais novos. “O coronavírus pode criar problemas sociais graves, pois muitas famílias não estão preparadas para ter os filhos em casa. Algumas poderão recorrer aos avós e outros familiares para cuidarem dos filhos, mas nem todos têm esta possibilidade.” Sendo Macau um território com muitos expatriados e trabalhadores migrantes, Ana Correia lembra o


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EM CASA “As unidades do Serviço Nacional de Saúde têm preparados os respectivos Planos de Contingência para infecções emergentes.”

vamente apanhados de surpresa e sem um plano de acção.” A directora da faculdade de Educação da USJ aponta o facto de muitas escolas do território terem vindo a lidar com a crise do coronavírus sem um plano prévio. “A maior parte dos professores sentem-se inaptos para fazer esta transição sem prejuízo da qualidade da aprendizagem. Se os políticos da educação agirem como têm obrigação de agir, de modo a nunca mais sermos apanhados de surpresa por uma epidemia, muita coisa tem de mudar na educação e no currículo escolar, e acho que um dia falar-se-á da educação antes e depois do coronavírus.”

FAMÍLIAS “ATINGIRAM LIMITE”

facto de muitos pais não terem uma rede familiar de apoio. “É necessário haver responsabilidade social, e espera-se que o Governo possa actuar nessa matéria rapidamente. Há problemas que não poderão ser resolvidos, como o facto de as casas em Macau serem em geral muito pequenas e as crianças nem sempre terem um espaço de trabalho próprio, que lhes permita estudar sem serem distraídas pela televisão ou por outros membros da família. Há também o problema da falta de espaço para as crianças se movimentarem, aumentando os níveis de sedentarismo que já são muito preocupantes em Macau”, disse.

REPENSAR MODELOS

Tal como Teresa Vong, também Ana Correia acredita que o surto

“Quando o Governo e o comércio voltarem gradualmente ao normal, os pais e os avós vão ter desafios extra. Muitas famílias atingiram o seu limite e penso que, independentemente das medidas que o Governo apresentar, as escolas devem sincronizar o seu trabalho.” SCOTT CHIANG ACTIVISTA DA ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU

do novo coronavírus trouxe a necessidade de repensar modelos educativos, sobretudo no que diz respeito ao uso das tecnologias de informação, uma vez que a maior parte das aulas e conteúdos continuam a ser dados online. “Há uma falha enorme que não tem só a ver com os professores ou as escolas, mas com as próprias políticas de educação. Na prática, a literacia tecnológica é vista como uma área de conhecimento necessária, mas não indispensável. Até ao aparecimento do coronavírus, claro. Neste momento, há escolas e universidades fechadas na Europa e na Ásia, e ainda não sabemos quantas mais regiões serão afectadas. É preciso repensar o currículo escolar e o papel das universidades na formação de professores, para que futuramente não sejamos no-

Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEPM), confessou ao HM “ter sorte” pelo facto de a mulher ainda não ter regressado ao trabalho a 100 por cento. “Se assim não fosse, era complicado, porque os miúdos não estão habituados nem são ensinados a ser autónomos e a trabalhar por eles, principalmente os da primária e do primeiro ciclo.” A EPM tem apostado no ensino online e, até ao momento, a APEPM não recebeu qualquer queixa sobre o sistema adoptado. “Mas acho que as coisas se vão complicar quando os pais estiverem todos a trabalhar e a escola não abrir. É capaz de haver famílias que contam com a ajuda das empregadas, no caso de haver uma criança. Quando há mais, e no meu caso com três, ou está um dos pais ou nada feito”, adiantou. Joana Lança, que também tem filhos na EPM, já voltou ao trabalho com um horário alternado, mas conta com a ajuda do marido, que por trabalhar numa instituição de ensino superior não voltou ainda ao trabalho. “Temos empregada, mas ela também tem tido horários reduzidos e não vem todos os dias, para

evitar riscos”, contou. “Sem dúvida que precisamos das empregadas, pois sem elas torna-se tudo mais complicado, porque os miúdos na EPM terminam as aulas às 16h00.” Tanto Filipe como Joana descartam a possibilidade de recorrer a centros de explicações ou salas de tempos livres, por acarretar uma despesa extra para o orçamento familiar. Como alternativa, Joana Lança defende a contratação de mais pessoal auxiliar para as escolas.

“A maior parte dos professores sentem-se inaptos para fazer esta transição sem prejuízo da qualidade da aprendizagem.” ANA CORREIA DOCENTE DA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ

“Sabemos que os auxiliares também têm as suas famílias para cuidar, e talvez não fosse mal pensado arranjar mais pessoal que complementasse esse horário pós-aulas”, rematou. Scott Chiang, activista da Associação Novo Macau, tem duas filhas que ainda não têm idade para frequentar o ensino infantil, mas relata os tempos difíceis que as famílias estão a viver. “Quando o Governo e o comércio voltarem gradualmente ao normal, os pais e os avós vão ter desafios extra. Muitas famílias atingiram o seu limite e penso que, independentemente das medidas que o Governo apresentar, as escolas devem sincronizar o seu trabalho”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 coronavírus

25.2.2020 terça-feira

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UATRO residentes que estiveram na província de Hubei conseguiram entrar em Macau, no domingo, e foram atendidos no Hospital Conde São Januário. A informação sobre o estado destes residentes foi divulgada ontem, na conferência de imprensa do Governo sobre a epidemia. Os resultados dos exames foram negativos, o que permitiu que os residentes regressassem a Zhuhai, onde habitam. “Estes quatro residentes têm Bilhete de Identidade de Residente (BIR) e, em Janeiro, deslocaram-se a Hubei, na altura do Ano Novo Chinês, para visitarem a família”, explicou Leong Iek Hou, coordenador do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença. “Eles entraram pelos seus próprios meios em Macau, através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, onde declararam ter estado em Hubei”, acrescentou. A declaração de saúde fez com que os quatro residentes fossem levados para o hospital, de ambulância, onde fizeram os testes, que registaram resultados negativos. Assim, os quatro locais regressaram a Zhuhai, onde vivem, e também onde já tinham estado a cumprir um período de quarentena, desde o início de Fevereiro.

PARA FICAR

Quem vai continuar na província de Hubei são os 145 residentes. Ontem, as autoridades chinesas anunciaram que os não-residentes poderiam sair desta província. Mas a informação acabou por ser contrariada pouco tempo depois, devido a um recuo das autoridades justificado com “questões burocráticas”. Face a este cenário, o Governo de Macau consi-

Leong Iek Hou “Eles entraram pelos seus próprios meios em Macau, através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, onde declararam ter estado em Hubei.”

EPIDEMIA RESIDENTES ENTRARAM EM MACAU APÓS TEREM ESTADO EM WUHAN

Os quatro sortudos

Autoridades recusam, para já, hipótese de trazer residentes que estão na província de Hubei, uma vez que consideram que não estão garantidas as medidas de segurança para as equipas de salvamento dera que não estão reunidas as condições de segurança para trazer estes residentes de volta à RAEM: “Percebemos como essas pessoas se sentem e que querem voltar a Macau. Mas, temos de fazer uma avaliação geral

Cantão Alterações sem efeito para a RAEM Ontem, as autoridades da província de Cantão decidiram baixar o nível de Alerta de nível I, o mais elevado, para o nível II. No entanto, estas mudanças não vão resultar em alterações às políticas seguidas pela RAEM, pelo menos de momento. “Apesar da redução do nível de alerta, Macau vai manter as medidas que já foram adoptadas. Houve alterações em Guangdong e vamos continuar a acompanhar a situação e a ver as informações”, afirmou Leong Iek Hou, coordenador do Núcleo de Prevenção e Doenças

e calcular o risco que podem constituir para a RAEM”, começou por explicar Leong Iek Hou. “Os residentes estão em sítios muito dispersos e remotos, por isso temos de ponderar bem se temos condições para fazer um

Infecciosas e Vigilância da Doença. Porém, as decisões serão diferentes: “Vamos actuar conforme o desenvolvimento da situação e ajustar as medidas de acordo com a necessidades de prevenção, ao mesmo tempo que procuramos um equilíbrio a pensar na população”, acrescentou. Leong Iek Hou informou ainda que neste momento há 114 trabalhadores não-residentes a cumprirem a quarentena de 14 dias para entrarem em Macau, sendo que o primeiro grupo deverá entrar no território a 9 de Março.

plano para o seu regresso. É preciso ponderar muito bem. Só quando houver condições de segurança é que o Governo vai iniciar esses trabalhos”, vincou a responsável. Apesar de no passado, outras jurisdições terem fre-

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tado aviões para o regresso dos cidadãos, esta hipótese parece afastada no que diz respeito aos residentes de Macau: “Mesmo que seja fretado um avião, ainda estamos num ambiente confinado, por isso a segurança das equipas de salvamento pode ser colocada em causa”, apontou. O discurso apresentado ontem contrasta com as declarações de domingo, quando foi sustentado que a falta de meios impedia que as pessoas de Macau em Hubei fossem trazidas para a RAEM.

JAPÃO E ITÁLIA DE FORA

No domingo, a Coreia do Sul foi classificada como “zona de alta incidência epidémica”, o que faz com que todos as pessoas vindas

dessa região tenham de ficar sujeitas a um rastreio. Ontem, entraram igualmente em Macau 11 turistas da Coreia, sendo que, entre estes, oito cumpriram a inspecção mdica exigida a quiem vem de a inspecçm ao Interior, de onde vinha.,prir exames mto, a grande maioria dos turistas coreanos recusédica exigida. No entanto, a grande maioria dos turistas coreanos, ou seja 42, recusou-se a entrar assim que soube que tinha de cumprir exames médicos com a duração de oito horas e voltou para o Interior. Também todos os voos entre a RAEM e a Coreia do Sul, e vice-versa que estavam agendados para ontem foram cancelados. Finalmente, apesar de terem sido anunciados novos casos no Japão e em Itália, estas zonas ainda não vão ser classificadas como de “alta incidência epidémica”, segundo a informação da representação da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Inês Chan. “Não há alterações à classificação das zonas neste momento, mas apelamos aos residentes que evitem deslocações a zonas onde saibam que há casos”, apelou. João Santos Filipe

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política 5

terça-feira 25.2.2020

EPIDEMIA GOVERNO ADMITE ATRIBUIR SUBSÍDIOS DIRECTOS ÀS PME

Do fundo do coração Após cerca de três horas de reunião à porta fechada, por não ter havido consenso entre deputados, o Governo diz estar a ponderar a atribuição única de subsídios e confirmou também que haverá uma quinta ronda de distribuição de máscaras

HOJE MACAU

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Governo agiu com coração para combater a epidemia”, fez questão de sublinhar ontem Si Ka Lon, após uma reunião à porta fechada que durou cerca de três horas e que teve como ponto único de análise os trabalhos do Governo face à epidemia do novo tipo de coronavírus, o Covid- 19. “Os deputados que participaram na reunião de hoje [ontem] elogiaram as medidas tomadas pelo Governo”, garantiu o Presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração pública. A reunião, que marcou o regresso dos trabalhos da Assembleia Legislativa (AL) um mês depois do início de uma paragem prolongada devido à epidemia, ficou também marcada pelo facto de, no início da sessão, os deputados terem decidido, após votação, que as portas iriam estar fechadas à comunicação social. Sulu Sou, deputado que antes da reunião enviou um pedido à AL para que esta fosse aberta, confirmou ao HM que apenas dois deputados, ele próprio e José Pereira Coutinho, votaram favoravelmente. Sobre os trabalhos da comissão, Si Ka Lon admitiu que o Governo está “atento às situações das pequenas e médias empresas [PME] e ao facto de poder vir a existir um apoio único de apoio às empresas”, no seguimento da preocupação revelada pelos deputados relativamente à saúde das PME, sobretudo aquelas que, ao contrário dos casinos, permanecem fechadas. “Sobre os ramos de actividade que foram encerrados temporariamente, houve deputados a questionar porque é que o Governo deixou apenas abrir os casinos e outras actividades não, e a sugerir que o Governo emi-

ta instruções de prevenção e controlo da epidemia, por exemplo orientações para trabalhos de desinfeção ou

limpeza, para que alguns ramos possam iniciar os seus negócios”, partilhou Si Ka Lon.

Já quanto ao subsídio único sugerido pelos deputados e que prevê a atribuição de apoios directos para

que, tanto as PME como os trabalhadores possam beneficiar de forma igual das medidas actuais, Si Ka

Lon garante que o Governo está a estudar as opiniões de várias associações de comerciantes recolhidas pelos deputados e que vai ter “em plena consideração essa situação”. “Quando o Governo tiver novidades vai divulgar ao público”, assegurou Si Ka Lon.

MÁSCARAS GARANTIDAS

No final da reunião da comissão de acompanhamento Si Ka Lon revelou ainda que o Governo, perante a preocupação demonstrada pelos deputados em relação ao fornecimento de máscaras, e numa altura em que “as empresas estão a reiniciar as suas actividades”, garantiu que iria existir uma quinta ronda de fornecimento, apesar das dificuldades. “A secretária [Ao Leong U] garantiu que vai existir uma quinta ronda de máscaras mas o Governo está a deparar-se com muitas dificuldades porque, neste momento, a epidemia está a propagar-se em todo o mundo”, apontou Si Ka Lon. No entanto, já quanto à existência de máscaras destinadas às empresas, Si Ka Lon referiu que “o Governo não consegue garantir fornecimento”. Quanto ao recomeço das aulas, outro dos temas abordados na reunião, Si Ka Lon afirmou que o Governo “vai comunicar o regresso das aulas com uma antecedência de duas semanas”, frisando que alguns deputados referiram que “só depois da situação aliviar um pouco ou ficar mais estável é que é possível deixar os estudantes ir à escola”. Si Ka Lon adiantou ainda que existem actualmente 980 estudantes de Macau e 64 professores no Interior da China e que, no total, durante o período escolar, “são por volta de três mil estudantes e 300 os docentes que passam diariamente a fronteira” para ir para as escolas de Macau. Pedro Arede

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CHEQUES COMPARTICIPAÇÃO PECUNIÁRIA COMEÇA A 1 DE ABRIL E ESTENDE-SE ATÉ JUNHO

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distribuição dos cheques de comparticipação pecuniária vai começar a partir do dia 1 de Abril. A informação foi confirmada ontem em Boletim Oficial, através de um despacho do Chefe do Executivo. Depois do secretário para a Economia e Finanças ter já anunciado que as contribui-

ções pecuniárias para 2020 iam chegar mais cedo, devido ao impacto económico provocado pelo Covid- 19, é agora conhecido o regulamento administrativo que define as regras de atribuição dos montantes que chegam em Abril. Isto, quando o início da distribuição costumava ser em Julho.

Assim, à semelhança do que aconteceu em 2019, aos residentes permanentes será atribuído um cheque de 10 mil patacas, ao passo que aos não permanentes será atribuído um de seis mil. Quanto à calendarização da atribuição dos montantes, o Governo anunciou que os idosos serão os primei-

ros a receber (1 de Abril), seguindo-se os funcionários públicos que recebam pensão de aposentação e indivíduos que recebam pensão de sobrevivência (2 de Abril), beneficiários do subsídio de invalidez ou que recebam apoio económico do Instituto de Acção Social (3 de Abril) e pessoal docente

que recebe subsídio directo ou para o desenvolvimento profissional e alunos com bolsa de estudo atribuída pelo Governo (7 de Abril). Apartir daí, e até Junho, os montantes serão distribuídos semanalmente pela restante população, tendo em conta a sua data de nascimento, começando pelos cidadãos

nascidos até 1957 e terminando nos residentes nascidos entre 2014 e o ano passado. O plano de comparticipação pecuniária envolve, no total, 680 mil residentes permanentes e 48 mil não permanentes, e tem despesa orçamental estimada de 7.100 mil milhões de patacas.


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25.2.2020 terça-feira

JOGO NG KUOK CHEONG PREOCUPADO COM NÃO-RESIDENTES NO SECTOR

Caça ao homem A proporção de trabalhadores não-residentes na indústria do jogo passou de 20 por cento, em 2011, para 30 por cento, em 2018. Ng Kuok Cheong quer que Ho Iat Seng controle este crescimento

O

deputado Ng Kuok Cheong exige medidas ao Governo para garantir a presença maioritária de residentes nos principais cargos, intermédios e chefias, durante a emissão das novas licenças de jogo. É este o conteúdo da última interpelação escrita do democrata, divulgada no domingo à noite. Para Ng, apesar de a RAEM ter uma economia próspera, a forma desigual como são geridos os recursos humanos na indústria do jogo faz com que os residentes “não tenham acesso aos benefícios económicos em termos de rendimentos do trabalho”. Por isso, o deputado mostra-se preocupado com a ocupação dos cargos mais altos e intermédios por não-residentes e exige soluções para a situação. “Será que o novo Governo pode fornecer os dados da proporção de trabalhadores não-residentes nas concessionárias na altura em que tomou posse? E pode o Executivo comprometer-se com a política de garantir que a proporção de todos os trabalhadores nas concessionárias é inferior a 30 por

cento?”, questiona. “Como é que o Governo pode garantir que as posições de chefia e intermédias são ocupadas em 85 por cento por residentes? Será que o Executivo está a pensar na forma de melhorar os mecanismos em vigor para cumprir essa proporção? Por outro lado, o democrata quer medidas preferenciais para residentes nas posições de chefia e intermédias. Por isso, pegunta se com os novos contratos vai haver mecanismos legais para forçar esse controlo da proporção de não-residentes.

ALTERAÇÕES INDESEJADAS

No documento, o deputado recorda que em 2011, quando também abordou o assunto, a proporção de não-residentes nas seis concessionárias era de 20 por cento.

Nesse ano, a média de residentes para as mesmas posições era de 80 por cento. Contudo, depois de 2013 gerou-se uma alteração que preocupa o legislador: “Em 2018, quando se debateram as Linhas de Acção Governativa para a área

Ng Kuok Cheong exige a Ho Iat Seng que obrigue as concessionárias a apresentarem uma proporção de 85 por cento de trabalhadores residentes nas posições intermédias e de topo

da Economia e Finanças, pedi os dados sobre a proporção dos trabalhadores não-residentes e em cinco concessionárias a proporção era superior a 30 por cento, nomeadamente 33,3 por cento, 32,9 por cento, 32,8 por cento, 31,8 por cento e 30,8 por cento”, apontou. “Apenas uma operadora tinha uma proporção inferior a 30 por cento com 23,3 por cento”, atirou o membro da Assembleia Legislativa. Agora, com o novo Governo em funções, desde 20 de Dezembro, e a futura emissão de licenças de jogo, que deverá acontecer em 2022, quando expiram as actuais concessões, Ng Kuok Cheong exige a Ho Iat Seng que obrigue as concessionárias a apresentarem uma proporção de 85 por cento de trabalhadores residentes nas posições intermédias e de topo, de forma a haver uma maior partilha dos benefícios do desenvolvimento económico. João Santos Filipe

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A noite de 13 de Fevereiro, os Serviços de Alfândega entregaram à Polícia Judiciária (PJ) um imigrante ilegal procurado desde 2017 por suspeita de comandar uma rede de prostituição. O homem foi encontrado a bordo de uma embarcação interceptada pelas autoridades alfande-

gárias junto ao Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa, de acordo com informação prestada pela PJ. O sujeito foi entregue ao Ministério Público sob suspeita dos crimes de lenocínio (por, alegadamente ter fomentado, favorecido ou facilitado o exercício de prostituição por outra

As apostas voltaram ontem às mesas dos casinos Grand Dragon, Altira, President e Waldo, totalizando 33 salas de jogo que voltaram à actividade desde o encerramento forçado pela epidemia, segundo o canal chinês da TDM – Rádio Macau. Feitas as contas, faltam reabrir oito dos casinos do território. Um deles, o Sands Cotai Central, vai abrir portas na próxima quinta-feira. A informação foi prestada pela Sands China Ltd na passada sextafeira no relatório financeiro entregue à bolsa de valores de Hong Kong. A reabertura dos casinos começou na passada quinta-feira.

Creches Inscrições online abertas entre Março e Abril

As inscrições em creches subsidiadas pelo Governo vão estar abertas entre Março e Abril, com uma diferença em relação aos anos lectivos anteriores: o Governo quer evitar aglomeração de pessoas durante o processo de inscrição de forma a prevenir a propagação do Covid-19. Como tal, sob coordenação do Instituto de Acção Social (IAS), das 40 creches subsidiadas, 35 vão aceitar inscrições online, enquanto os restantes cinco estabelecimentos “com apreciação da qualificação oferecem formulário do pedido no respectivo website para fazer o download”, lê-se num comunicado do IAS. Depois de preenchidos os formulários, os encarregados de educação podem entregá-los, com a restante documentação, numa caixa de recepção na creche. O objectivo é evitar deslocações às creches até Maio. Cumpridas as formalidades de inscrição segue-se o sorteio e divulgação da lista de crianças admitidas, etapas a realizar entre Maio e Junho.

BO Vendedores de rua isentos de taxas

CRIME SUSPEITO DE EXPLORAR PROSTITUIÇÃO ENTREGUE AO MP

N

Casinos Grand Dragon, Altira, President e Waldo voltam ao activo

pessoa), crime punido com pena de um a cinco anos de prisão, e pelo crime de associação criminosa. Quanto a este último delito, a pena pode oscilar entre três e 10 anos. No entanto, se for considerado cabecilha do grupo, a pena vai dos cinco aos 12 anos de prisão.

O caso remonta a Março de 2017, quando as autoridades desmantelaram uma rede de prostituição que funcionava a partir de um apartamento na Taipa. O suspeito agora detido era, segundo a PJ, o arrendatário do apartamento e a sua esposa recebia uma renda diária de 200 HKD de cada

uma das cinco prostitutas que usavam o imóvel. O outro elemento da rede era um homem que, a troco de 6 mil HKD mensais, geria o apartamento e providenciava as refeições às prostitutas. Tanto a mulher como o “empregado” foram detidos em Março de 2017. J.L.

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng decretou que os “vendilhões, adelos, artesãos e outros operadores de rua” vão ficar isentos do pagamento de taxas e tarifas durante o ano de 2020. A decisão foi anunciada ontem oficialmente em Boletim Oficial, através de um despacho do Chefe do Executivo, que prevê assim que os operadores de rua fiquem isentos do pagamento dos valores previstos na “Tabela de Taxas, Tarifas e Preços do Instituto para os Assuntos Municipais [IAM]”. No mesmo despacho é ainda definido que o prazo de renovação da licença anual dos operadores foi prorrogado até 31 de Março de 2020, quando habitualmente deve ser entregue nos meses de Janeiro e Fevereiro. O despacho entrou em vigor ontem e os seus efeitos “retroagem ao dia 1 de Janeiro de 2020”.


sociedade 7

terça-feira 25.2.2020

Os dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública mostram que durante as últimas semanas houve mais gente multada por estacionamento ilegal em locais com parquímetros do que nas vias públicas

PARQUÍMETROS MULTAS OBRIGAM RESIDENTES A SAIR DE CASA COM FREQUÊNCIA

Moedas sempre à mão pessoas que vive nestes prédios residenciais, como no La Baie du Noble, Villa de Mer, Residência ou La Cité, vemos que não é pequeno”, apontou.

MENOS COIMAS

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PESAR do Governo apelar às pessoas que fiquem em casa, para evitar o contágio do coronavírus Covid-19, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) voltou às ruas e está a multar os veículos estacionados em zonas de parquímetros, para além do tempo pago. Esta situação resultou em várias multas durante o fim-de-semana, como aconteceu na Areia Preta. O cenário foi relatado, ao HM, por Pedro Lobo, que habita na Areia Preta, e se mostra preocupado com a ambiguidade das políticas do Executivo. Isto porque, por um lado, é pedido aos cidadãos que fiquem em casa, mas, por outro, obriga-se a que saiam para colocarem moedas nos parquímetros onde têm as viaturas estacionadas. “O Governo apela-nos a que fiquemos em casa. Por isso, qual não foi o meu espanto quando, no sábado de manhã, quando começaram a aparecer multas atrás de multas na zona da Areia Preta, onde vivo”, relatou. “Estava em casa e fui avisado por mensagem que o carro tinha sido autuado, numa

Air Macau Corte na taxa de combustível

A Air Macau anunciou ontem que vai cortar a taxa de combustível, para voos com partida de Macau, em quatro dólares americanos para um total de 20 dólares. A medida, que entra em vigor a partir de Março, enquadra-se numa estratégia de gestão de ajuste mensal da taxa de combustível de acordo com as flutuações de preços e a origem do voo.

postura da PSP que contrasta com o comportamento das semanas anteriores”, sublinhou. De acordo com o mesmo relato, nas últimas semanas, as autoridades tinham sido permissivas com o estacionamento na Areia Preta, até em locais de paragem para carga e descarga de mercadorias. No entanto, tudo mudou subitamente no sábado: “À hora do jantar, eram pelo menos 15 ou 20 os carros que tinham sido multados. Aliás, a essa hora na Rua Central da Areia Preta todos os carros que passaram o tempo de estacionamento foram multados”, contou. O cenário voltou a repetir-se no domingo. “O Governo tem

muito mérito porque conseguiu manter as pessoas em casa, evitando que saíssem ou só saindo por coisas essenciais ou urgentes. Mas agora temos a PSP a multar a torto e a direito. É um contra-senso que não dá para entender”, desabafou.

Pedro Lobo mostrou-se ainda preocupado com o movimento de pessoas que terão de sair de casa para fazer o pagamento dos parquímetros. “Assim, de duas em duas horas, todos os residentes com carros nesta zona têm de ir à rua. Se imaginarmos o número de

“De duas em duas horas, todos os residentes com carros nesta zona têm de ir à rua. Se imaginarmos o número de pessoas que vive nestes prédios residenciais, como no La Baie du Noble, Villa de Mer, Residência ou La Cité, vemos que não é pequeno.” PEDRO LOBO RESIDENTE

Segundo os dados fornecidos pelo CPSP, entre 22 de Janeiro e 15 de Fevereiro, altura em que o Governo começou a pedir às pessoas para ficarem em casa, devido ao surto do coronavírus, houve uma redução de 62 por cento nas multas por estacionamento ilegal, face ao mesmo período do ano passado. Em 2019, de 22 de Janeiro a 15 de Fevereiro, houve um total de 44.198 autuações por estacionamento indevido, o que representa uma quebra de 62,4 por cento face ao presente ano em que o número de multas por estacionamento ilegal se cifrou em 16.607. As multas nos parquímetros tiveram a redução mais pequena, uma vez que em 2019 tinham sido 14.646 e caíram para 8.545, ou sejam uma redução de 41,7 por cento. Já as multas por estacionamento nas vias sofreram uma redução de 72,7 por cento, de 29.552 autuações para 8.062. Os dados revelam que na altura em que se apelou às pessoas para ficarem em casa, houve mais gente multada por estacionar nos parquímetros do que nas vias públicas. João Santos Filipe

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ESTACIONAMENTO INFRACÇÕES CRESCERAM MAIS DE 30 POR CENTO EM 2019

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M 2019 registaram-se 142 casos de estacionamento abusivo em 52 parques de estacionamento público, mais 35 casos em relação a 2018, o que representou um aumento de 32 por cento. De acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), entre os casos do ano passado, 107 foram auto-

móveis ligeiros e 35 motociclos ou ciclomotores. O maior foco de estacionamentos abusivos, e subsequentemente de veículos removidos, verificou-se no Auto-Silo do Complexo Desportivo das Portas do Cerco, local que reuniu 42 por cento das infracções. Importa recordar que em Julho do ano passado o Governo da RAEM

recuperou a administração deste auto-silo. Entre todos os casos, apenas 26 proprietários pagaram a multa e recuperaram os veículos, enquanto os restantes 116 veículos foram transferidos para o parque de depósito da DSAT. Destes, 26 foram recuperados pelos proprietários, 62 revertidos ao Governo após cancelamento da

matrícula e os restantes 28 aguardam recuperação ou conclusão de processos. O estacionamento abusivo verifica-se quando um veículo fica num local por mais de oito dias seguidos ou mal-estacionado, o que leva à aplicação de multas, bloqueamento, remoção e recolha em depósito e, em último caso, venda em hasta pública. J.L.


8 coronavírus

25.2.2020 terça-feira

79524 Infectados

Covi novel cor

3434

9915 Em estado crítico

Casos suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 77150 833 215 154 89 79 35 35 61 30 22 22 16 16 13 12 10 9 13 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Interior da China Coreia do Sul Itália Japão Singapura Hong Kong Tailândia EUA Irão Taiwan Austrália Malásia Alemanha Vietname Emiratos Árabes Unidos França Macau Canadá Reino Unido Índia Filipinas Rússia Espanha Nepal Israel Libano Cambodja Bélgica Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia

OUTROS

691

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

4 MACAU

Infectados

6 Curados

Macau

79 HONG KONG

Infectados

2

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1

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Hong Kong

Mortos


coronavírus 9

terça-feira 25.2.2020

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HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

78,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 64287 1345 1271 1205 1016 989 934 755 631 575 527 480 399 335 311 293 294

MORTOS 2346 6 19 1 4 6 1 4 5 6 3 12 4 1 6 1 1

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 251 174 168 146 132 135 121 91 91 76 75 71 79 28 18 4 1

MORTOS 2 0 4 1 0 3 1 2 1 2 0 0 2 1 0 0 0


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25.2.2020 terça-feira

Pan Hongsheng, habitante de Wuhan “Quando os mantimentos que temos em casa terminarem, não faço ideia de onde vamos comprar mais.”

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A cidade chinesa de Wuhan, onde foi detectado inicialmente o coronavírus Covid-19 e que foi isolada do mundo, tudo começa a escassear, nomeadamente os alimentos, contaram alguns dos habitantes à AFP. “Temos a impressão de sermos refugiados”, admitiram alguns moradores de Wuhan em conversa telefónica ou por mensagem. Wuhan, considerado o berço do coronavírus, está isolada do mundo há um mês. Os moradores estão confinados e lutam para se alimentar, já que as provisões são cada vez mais escassas e há restrições de compra, além de aumentos de preços sobretudo dos vegetais. Guo Jing, uma jovem de 29 anos, vive actualmente enclausurada em casa. A sua liberdade de movimentos foi sendo gradualmente reduzida: primeiro, em 23 de Janeiro, foi proibida de deixar Wuhan, que passou a estar isolada do mundo na esperança de conter a epidemia, que apareceu nesta cidade de 11 milhões de habitantes. Passado algum tempo, as restrições foram apertadas: os residentes só podiam deixar os seus complexos residenciais ou bloco de apartamentos uma vez a cada três dias. Agora, até essa permissão desapareceu: Guo Jing já não pode pisar

WUHAN CIDADE ISOLADA COMEÇA A FICAR SEM COMIDA

O estado do sítio fora da sua porta de casa e depende totalmente de entregas ao domicílio. “Eu posso viver assim mais um mês”, afirma, referindo que as suas provisões de legumes em conserva e ovos só duram mais cerca de 30 dias. Mas nem todos na cidade estão em tão “boa situação”. Para milhões de chineses presos em Wuhan, a proibição de deixar as casas levanta questões práticas alarmantes. “Quando os mantimentos que temos em casa terminarem, não faço ideia de onde vamos comprar mais”, disse Pan Hongsheng, que vive com a sua mulher e dois filhos. Algumas comunidades ou grupos fazem pedidos de grandes quantidades nos supermercados, organizando-se através de fóruns de discussão improvisados em mensagens móveis do WeChat. Algumas empresas vendem cestas de produtos frescos por peso, desde que os pedidos sejam agrupados no mesmo endereço. No bairro de Guo Jing, é possível comprar 6,5 quilos de vegetais de cinco variedades, incluindo

Hong Kong Proibidas entradas a não residentes oriundos da Coreia do Sul

batatas e couve, mas a preços muito mais altos do que seria o normal. “Ninguém pode escolher o que gostaria de comer. Não estamos em época de olhar para as preferências pessoais”, suspira a jovem. O sistema de compras em grupo deixa, no entanto, de fora algumas comunidades, já que os supermercados exigem um número mínimo de pedidos para fazer entregas ao domicílio. É o caso de Pan Hongsheng, que se queixa de estar a ser abandonado e sublinha que o seu “menino de três anos já não tem mais leite em pó”. “Honestamente, não podemos fazer isto de outra maneira”, justifica Yang Nan, chefe do supermercado Laocunzhang, que impõe um mínimo de 30 pedidos agrupados. “Temos apenas quatro veículos” e uma força de trabalho reduzida, explica Outro supermercado disse à AFP que atende apenas um máximo de 1.000 pedidos por dia. “Tornou-se muito complicado recrutar” estafetas, refere

Hong Kong vai proibir, a partir desta terça-feira, a entrada a não residentes vindos da Coreia do Sul, onde o novo coronavírus Covid-19 fez já oito mortos e infectou 800 pessoas, anunciaram ontem as autoridades da região. “Tendo em conta o desenvolvimento do surto na Coreia do Sul, o gabinete de Segurança vai emitir um alerta vermelho para viajantes”, afirmou o secretário da Segurança de Hong Kong, John Lee, em conferência de imprensa. “Pedimos aos moradores de Hong Kong que evitem viagens desnecessárias”, aconselhou.

Wang Xiuwen, funcionário do departamento de logística da loja, indicando que se sente relutante em aceitar novos funcionários por medo de contaminação.

ATÉ QUANDO?

A intensidade das restrições varia, no entanto, de acordo com o bairro. Uma jovem de 24 anos, que falou sob condição de anonimato, explicou à AFP que os moradores do seu prédio podem sair, uma pessoa por família de cada vez, e pagar directamente aos entregadores que lhes levam as compras. Noutros bairros, os supermercados estão proibidos de vender directamente a particulares, o que significa obriga a formar e confiar em comités de bairro ou organizações de residentes capazes de comprar a granel. É assim que funciona o condomínio onde vive David Dai, nos subúrbios de Wuhan, organizando-se para fazer pedidos de grupo, mas pagando sempre preços muito altos.

“A realidade é horrível (...) Recebemos muitos tomates e cebolas já podres”, enfurece-se este pai, de 49 anos, referindo que um terço da comida entregue está pronta para ser deitada fora. Por isso, adianta, a sua família decidiu secar cascas de nabo para adicionar nutrientes a futuras refeições. “O pior é a incerteza”, conclui Ma Chen, uma jovem de 30 anos que vive sozinha. Sem saber quando será possível fazer um novo pedido em grupo nem quanto tempo durarão as restrições, Ma Chen admite que nunca sabe quanta comida comprar e se a quantidade chegará até à próxima entrega. E não é só a comida que se transformou num item restrito ou, muitas vezes, impossível de adquirir. Pan Hongsheng também não consegue entregar medicamentos aos sogros, de oitenta anos, que moram noutro bairro. “Tenho a impressão de ser refugiado”, queixa-se com amargura. Embora Wuhan já viva desta forma há mais de um mês, as autoridades apenas respondem com a necessidade de ter paciência. “O controlo rígido das comunidades incomoda um pouco a vida das pessoas, mas é inevitável”, alega o vice-secretário do Partido Comunista daquela província, Qian Yuankun. Lusa

Assembleia Nacional Popular Governo adia sessão plenária O órgão máximo legislativo da China confirmou ontem o adiamento da sua sessão plenária, o mais importante evento anual da agenda política chinesa, numa altura em que o país enfrenta o surto do novo coronavírus Covid-19. O Comité Permanente da 13.ª Assembleia Nacional Popular (ANP) aprovou uma proposta para adiar a sua sessão plenária, cujo início estava previsto para 5 de Março. Durante a sessão anual, que dura 10 dias, os quase três mil deputados,

oriundos de todo o país, e eleitos por cinco anos, a partir das assembleias das diferentes províncias, regiões autónomas, municípios, regiões administrativas especiais e das forças armadas do país, estão encarregues de aprovar projectos de lei, o relatório do Governo ou o orçamento de Estado. Constitucionalmente, a ANP é o "supremo órgão do poder de Estado na China", mas cerca de 70% dos deputados são membros do Partido Comunista Chinês (PCC).


desporto 11

terça-feira 25.2.2020

AUTOMOBILISMO SOPHIA FLOERSCH PREMIADA NOS LAUREUS WORLD SPORTS AWARDS

Ténis João Sousa cai um lugar no ranking

O tenista português João Sousa caiu uma posição no ranking mundial, do 67.º para o 68.º posto, numa lista divulgada ontem, sem alterações no ‘top 10’, que continua a ser liderado pelo sérvio Novak Djokovic. Para além de João Sousa, número um português, que vai participar no ATP 500 do Dubai, defrontando na primeira ronda o sérvio Filip Krajinovic (33.º da hierarquia da ATP), também Pedro Sousa desceu uma posição, de 107.º para 108.º. Contrapondo às descidas mínimas de João Sousa e Pedro Sousa, João Domingues ‘escalou’ 19 posições e atingiu a 150º.ª posição, o seu melhor lugar no ranking, depois do número três nacional ter chegado à segunda ronda do Open do Rio de Janeiro. O ‘top 10’ da tabela manteve-se inalterado, com Djokovic a liderar, seguido do espanhol Rafael Nadal e do suíço Roger Federer, que foi operado há quatro dias ao joelho direito e só regressará aos ‘courts’ em junho.

Ciclismo Portugal luta por qualificação olímpica

A selecção portuguesa de ciclismo de pista leva quatro atletas ao campeonato do mundo, que arranca na quarta-feira em Berlim, com uma vaga para os Jogos Olímpicos Tóquio2020 já matematicamente assegurada no feminino e na luta nos masculinos. Na última prova pontuável para o ‘ranking’ que decide o apuramento olímpico, de quarta-feira a domingo na capital da Alemanha, Portugal faz-se representar por Maria Martins, no feminino, e Ivo Oliveira, Iuri Leitão e João Matias, no masculino.

Um regresso celebrado

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OPHIA Floersch recebeu o prémio “World Comeback of the Year” na cerimónia dos Laureus World Sports Awards, que decorreu em Berlim na semana passada, pelo seu regresso ao Grande Prémio de Macau depois do seu brutal acidente em 2018. A piloto germânica já tem um programa desportivo para 2020, mas ao HM disse ter dúvidas que regresse a Macau este ano. Floerch superou o tenista Andy Murray e o clube de futebol Liverpool "na corrida” a este prémio. “Este é um sonho tornado realidade”, disse quando recebeu a estatueta. “Em primeiro lugar, estou muito feliz em estar aqui e segurar isto (o troféu) com as minhas mãos é uma grande honra. Estar à vossa frente, que de facto são os meus ídolos, e olhar-vos é algo incrível.” A sucessora de Tiger Woods, Roger Federer e Michael Phelps recordou à plateia que “este acidente em Macau foi mau e em vídeo foi muito mau. Contudo, para mim, dentro do carro não pareceu tão mau. Eu lembro-me de tudo. Aconteceu tão depressa que mal me apercebi.” Depois do acidente no Circuito da Guia, Floersch voltou ao volante no Campeonato Europeu Formula Regional, onde foi sétima classificada, para terminar o ano com uma participação no Grande Prémio de Macau, onde abandonou devido a problemas no seu F3. “Foram tempos duros, mas, para mim, o objectivo principal era regressar a um carro de corrida, o que aconteceu 106 dias depois”, relembrou.

RUMO A LE MANS

Sophia Floersh vai abraçar um novo desafio na temporada de 2020 e que lhe poderá abrir as portas para a uma participação futura nas míticas 24 Horas de Le Mans, mas que a pode afastar de Macau. A piloto que em 2018 escapou sem mazelas a um assombroso acidente na Curva do Lisboa está a lutar para continuar na disciplina que a tornou célebre, mas a falta de apoios poderá ditar o fim da sua passagem pelos monologares e muito provavelmente do objectivo de regressar à RAEM este ano. Entretanto, a jovem de Munique foi escolhida para fazer parte da Richard Mille Racing Team, uma equipa recém-formada e totalmente financiada pelo relojoeiro suíço Richard Mille e que nos próximos dois anos colocará em pista

um protótipo ORECA 07-Gibson LMP2 no campeonato de provas de “endurance” European Le Mans Series. Com a bênção da iniciativa “FIA Woman in Motorsport” e o apoio técnico da equipa francesa Signatech, que venceu o Grande Prémio de Macau de F3 em 2003 (Nicolas Lapierre), 2009 e 2010 (Edoardo Mortara), o protótipo da classe LMP2 da Richard Mille Racing Team será dividido por um trio de senhoras composto por Floersch, Katherine Legge – ex-colega de equipa do português Álvaro Parente – e Tatiana Calderón (21ª classificada no GP Macau F3 de 2014). Para a além das seis provas do European Le Mans Series, uma delas em Portugal, a Richard Mille Racing Team pediu ao Automobile Club de l’Ouest um convite

para participar nas 24 Horas de Le Mans.

F3 ESTÁ MAIS DIFÍCIL

Apesar de ter já um contrato que até a pode ajudar a uma futura profissionalização, Floersh gostaria de cumprir, em concomitância com os seus afazeres nas provas de resistência, uma temporada no Campeonato FIA de Fórmula 3 e regressar no final do ano à RAEM. Porém, este cenário parece, por agora, improvável, pois as verbas pedidas para participar neste escalão de acesso à Fórmula 1 são quase proibitivas. “Ainda estou a trabalhar na F3”, disse ao HM. “Contudo, estamos como em Macau 2019, não parece positivo.” A equipa HWA RACELAB, por quem Floersh alinhou no ano transacto no Grande Prémio, já tem os seus pilotos para

A sucessora de Tiger Woods, Roger Federer e Michael Phelps recordou à plateia que “este acidente em Macau foi mau e em vídeo foi muito mau. Contudo, para mim, dentro do carro não pareceu tão mau. Eu lembro-me de tudo. Aconteceu tão depressa que mal me apercebi.”

a nova temporada. A estrutura que tem ligações privilegiadas com a Mercedes-AMG renovou com o inglês Jack Hughes, um “veterano” da F3 em Macau, e contratou o australiano Jack Doohan, filho do ex-campeão do mundo de motociclismo Mike Doohan, e o brasileiro Enzo Fittipaldi, neto do ex-campeão do mundo de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi. “Saí de Macau com muitas promessas. Parecia muito positivo para 2020. Mas depois a minha equipa assinou contratos com valores altamente dotados. Mais de um milhão de euros para F3 é demasiado”, explicou. “Se algum patrocinador estiver interessado… liguem-me! O campeonato FIA F3 sem uma rapariga é uma pena para o automobilismo”. Em tempos de indefinição, com a competitividade que lhe é característica, a piloto de 19 anos não tem muita vontade de regressar ao Circuito da Guia e à Taça do Mundo de F3 sem ter uma preparação à altura. Sérgio Fonseca

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25.2.2020 terça-feira

Quero respirar o ar sozinho ´

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Henri Vieuxtemps (1820-1881)

Concerto para Violino e Orquestra N.o 4 em Ré menor, Op. 31

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ENRI François Vieuxtemps, talvez o maior representante da escola violinística franco-belga, e cujo bicentenário se assinalou no passado dia 17, compôs sete concertos para violino, entre várias outras obras para o instrumento. O favorito de Vieuxtemps de entre os seus sete concertos era o quarto, que compôs e estreou durante a sua estadia na corte imperial russa em São Petersburgo, na qualidade de violinista do czar Nicolau I e dos Teatros Imperiais, entre 1846 e 1852. O Concerto para Violino N.° 4 em Ré menor, Op. 31, um trabalho heróico e de escala substancial, foi descrito por Berlioz - que talvez o comparasse com o seu próprio Harold em Itália para viola e orquestra como uma sinfonia com solo de violino. De facto, a escrita de Vieuxtemps para a orquestra é tão segura e engenhosa e, às vezes, tão imaginativa quanto o tratamento do violino, embora não haja dúvida de que o instrumento solo continua a ser o actor principal do drama. A escrita orquestral da obra é sensível e faz um uso particularmente bom das madeiras. Mas, além da introdução substancial e de várias passagens tutti, o violinista é claramente o centro das atenções. O primeiro andamento, Andante, começa com uma introdução tranquila e quase mística na forma de um coral que aumenta gradualmente de velocidade, volume e intensidade, com os metais e os timbales a proporcionar peso adicional. À medida que tudo isto se esbate, uma figura em turbilhão descendente nas cordas sugere água a fluir na obscuridade. O solista entra finalmente com uma frase declamatória, tocando notas em cordas duplas, mas que quase imediatamente se funde em material mais lírico, mas ainda ardente. Este material recitativo parece uma segunda introdução, mas é de facto a substância temática principal do andamento. Uma cadência longa e tempestuosa acaba por se render a uma passagem orquestral severa que, por sua vez, se funde numa nota de trompa sustida e que serve como uma ponte para o segundo andamento. Este, Adagio religioso, inicia-se com um coral tocado pelas madeiras; o violino entra sem demora, trilando serenamente acima da orquestra e cantando uma oração longa e ardente que gradualmente se eleva a um estado de êxtase. Quando a música se acalma, arpejos de harpa adornam outra passagem de trilos de violino. Alguns ouvintes contemporâneos podem achar inibidora a​​ bonita religiosidade

VIEUXTEMPS BY WEGER

O favorito de Vieuxtemps deste andamento, mas o sentimentalismo religioso foi um elemento importante de muita música franco-belga de meados do século XIX, e este andamento lento de Vieuxtemps é um exemplo importante do estilo. O breve Scherzo, marcado Vivace, e que pode ser omitido segundo indicação do compositor, traz um bem-vindo ímpeto ao concerto e tem muito em comum com as vibrantes e assertivas obras de violino de Saint-Saëns. A secção central trio do andamento abranda e alonga-se com um grandioso e abrangente apoio orquestral ao fraseado palpitante e feliz do violino. Após a reprise do scherzo, uma coda cintilante conduz este brilhante andamento à sua conclusão.

O Concerto para Violino N.° 4 em Ré menor, Op. 31, um trabalho heróico e de escala substancial, foi descrito por Berlioz que talvez o comparasse com o seu próprio Harold em Itália para viola e orquestra como uma sinfonia com solo de violino No início do Finale marziale, cordas e madeiras revisitam o material do início do concerto, proporcionando ao solista um muito merecido descanso. Desta feita, a introdução Andante é sucinta e a orquestra completa apresenta sem demora uma marcha festiva, lembrando novamente o estilo de Saint-Saëns. O solista entra finalmente, primeiro com um recitativo e depois com a melodia principal da marcha. Passagens rápidas e pungentes de cordas duplas impedem o andamento de cair na pomposidade; a certo ponto, o violino toca uma melodia ardente e decididamente não militar. Mais à frente, o solista confere até à melodia da marcha um tratamento notavelmente lírico. Mais para o final do andamento, a música entra no modo maior e o concerto termina em impetuosa bravura. SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: Vieuxtemps: Violin Concerto No. 4 Arthur Grumiaux, violin, Orchestre Lamoureux, Manuel Rosenthal – Philips, 2002


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 25.2.2020

Uma asa no Além

A paródia religiosa

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Paulo José Miranda

A

INDA que tenha deixado o seu último romance inacabado, Angel Jesus Tornado pintou uma das maiores reflexões acerca de São Paulo no seu “Ninguém em Damasco”. Foi sempre visível ao longo da sua obra a obsessão pelas figuras marcantes da história e por um tom reflexivo na sua escrita. Apenas como exemplo, lembremos estes três livros: “Um Homem É Uma Ilha”, centrada na figura de Napoleão; “Existência”, cuja narrativa percorre o ano em que Kierkegaard rompe o seu noivado com Regine Olsen; e “Queimar o Mundo”, onde Jesus Tornado explora as tentações de ódio que assaltam o humano na sua relação com o mundo através da figura de Nero. Mas em “Ninguém em Damasco”, Jesus Tornado transfigura-se e transfigura a sua própria ideia de prosa. Talvez a proximidade da morte seja a responsável pelo tom mais metafísico do livro ou, então, seja o próprio tema, a conversão, que assim o exija. Pois toda a conversão é metafísica. “Ninguém se torna outro sem um pé no além”, escreve Juan Mantero, historiador que é o narrador do livro. O salto para o desconhecido implica necessariamente fé, seja ela religiosa ou de outra dimensão. Em “Existência”, Jesus Tornado já havia tocado na questão

do salto, imagem tão querida a Kierkegaard, mas o tom do livro mantinha-se junto às sebes, rente ao muro, sem pé no além. No decorrer do romance, Mantero descobre uma pequena passagem de São Paulo, apócrifa, que talvez nos coloque na pista certa: “A morte não é ninguém; quem um dia foi não pode deixar de ser. Morrer é apenas deixar o corpo, pois a morte não passa de tudo o que nunca foi.” Esta descrição de poder morrer e nunca atingir a morte, deixa profundas marcas no narrador do livro, ao ponto de se converter ao cristianismo. Até aí, o seu interesse por São Paulo e pela re-

Angel Jesus Tornado entrou na morte a rir-se dela e de nós, fazendo-nos acreditar numa pseudo-conversão. Não procurou imortalizar a alma, mas imortalizou a sua gargalhada

ligião era estritamente “científico”. Mas no romance ficamos a saber que, mais do que o teor da passagem, a responsabilidade da conversão de Mantero se deve à sorte de ter encontrado esses pergaminhos, a que ele chama “Confissões de São Paulo”. Essa descoberta pareceu-lhe um sinal divino, como se São Paulo lhe falasse directamente, como se o tivesse escolhido. Através deste episódio de Mantero, Jesus Tornado tece longas reflexões acerca da necessidade de transformarmos coincidências em sinais, de conferir sentido ao que não tem. “O contrário da morte é Deus e morrer é encontrá-Lo.” Muitos têm visto em Juan Mantero um alter-ego de Angel Jesus Tornado, intuindo assim uma conversão tardia por parte do autor. Talvez fosse isso mesmo que ele pretendeu que nós disséssemos. Talvez tenha entrado na morte nos enganando, ou tentando nos enganar a todos, fazendo-nos confundi-lo com Juan Mantero. Mas não acredito que contrariamente a Saulo e Mantero que se convertem ao cristianismo, Tornado tenha convertido o seu coração ao além. Mais do que ler “Ninguém em Damasco” como se um romance autobiográfico se tratasse, devemos lê-lo como uma acusação, como uma paródia religiosa.

Juan Mantero é já ele mesmo uma paródia de São Paulo, e os pergaminhos encontrados, “Confissões de São Paulo”, uma paródia das Epístolas. No fundo, talvez todo o livro seja, não apenas uma paródia à religião, mas uma paródia à humanidade, na sua contínua busca de pergaminhos, de textos antigos, de palavras que nos iluminem a vida. Mas ainda assim, seria sempre uma paródia à religião. Pois a procura de sentido para a vida nas palavras é um acto religioso por excelência. Angel Jesus Tornado deixa o seu livro inacabado com a seguinte frase, escrita por Mantero: “No aeroporto de Roma, percebi que a minha vida ganhava finalmente sentido. Só quem alcança este estádio percebe que nunca esteve realmente vivo.” Tornado depois morre, não Mantero. O tom metafísico da prosa deste seu último livro revela-se então, ele mesmo, uma paródia. O tom metafísico é a formalidade perfeita desta paródia. Sem esse tom, poderíamos ser levados a ver o livro como uma crítica, como uma reflexão séria e condenatória à religião. Assim, não. Angel Jesus Tornado entrou na morte a rir-se dela e de nós, fazendo-nos acreditar numa pseudo-conversão. Não procurou imortalizar a alma, mas imortalizou a sua gargalhada.


14 (f)utilidades TEMPO

C H U VA

25.2.2020 terça-feira

FRACA

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OS MUROS DE TRUMP

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A viagem até ao estádio conta agora com um muro de cerca de meio quilómetro, construído de propósito para a visita de Trump e que é visto como uma forma de bloquear a visão de um bairro de lata onde vivem 2 mil pessoas.

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MAX

Uma investigadora da Universidade de Macau afirmou que o facto de as pessoas serem mais obedientes na RAEM faz com que a resposta ao Covid-19 seja melhor do que em Hong Kong. Primeiro, o elogio: há um académico na UM que não culpa os “brancos” pelas desgraças das RAEs. Pode parecer que não, mas sempre é um ar fresco. Mas não compro o argumento. É desligado da realidade. Quantas pessoas correram para as farmácias, supermercados e andaram nas ruas, apesar dos apelos do Governo? Também esta agenda política do “nós obedientes, eles maus” desvaloriza o trabalho do Governo da RAEM. Foram tomadas medidas de antecipação que inspiraram confiança. Em Hong Kong, as medidas foram sempre tardias. Carrie Lam gere HK como Nero geriu Roma, está a deixar arder. No início da epidemia ficou em Davos. Não conseguiu comprar as máscaras, que ela criminalizou. No meio da paródia, quis impedir os funcionários públicos de utilizarem essas máscaras... Ao mesmo tempo que chegavam infectados de Wuhan por comboio à RAEHK, ela recusava fechar a fronteira. Meteu a política acima da saúde pública. Só tomou as medidas nas fronteiras quando foi forçada por uma greve do pessoal de saúde. Greve essa que foi que um sinal de desespero de quem tinha de tirar a água do porão do Titanic com uma colher de açúcar... Neste contexto de um Governo totalmente falhado, criticado por “azuis” e “amarelos”, vir falar que a diferença está na “obediência” é só cegueira ideológica. João Santos Filipe

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O Presidente dos Estados Unidos chegou ontem à Índia para uma visita de dois dias que visa aprofundar parcerias, mas que criou divisões, quer pelas contas sobre multidão esperada, quer pela construção de um muro para esconder bairros pobres.

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PEÇO A PALAVRA | FRANK CAPRA (1939)

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Neste misto de comédia e drama, o realizador Frank Capra aborda os meandros da política americana nos anos 30. Apesar de hoje ser considerado um clássico, o filme não deixou de causar mal-estar quando estreou, principalmente em Washington, junto da classe política, com acusações de ser prejudicial para a imagem dos EUA. O retrato dos meandros políticos fez com que fosse proibido na Alemanha Nazi, na Itália Fascista, na Espanha Franquista e, claro, na União Soviética de Estaline. Em Portugal estreou em 1941. João Santos Filipe

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opinião 15

terça-feira 25.2.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

N

Diversificação moderada

O momento em que escrevo este artigo, não há notícia de qualquer novo caso de coronavírus em Macau desde há dezoito dias. Este facto prova que na cidade não existe um surto desta doença. Felizmente as pessoas estão saudáveis. O Governo da RAEM anunciou recentemente que iria injectar 20 mil milhões de patacas na cidade para ajudar nos esforços de prevenção da epidemia e para revitalizar a economia depois de o perigo passar, o que é sem dúvida uma boa notícia. Durante este período de prevenção, muitas lojas fecharam e por agora é impossível calcular os prejuízos sofridos. Os fundos do Governo vão ajudar os comerciantes a resolver os problemas imediatos. Todos sabemos que as pequenas e médias empresas auferem lucros limitados e que o encerramento dos negócios as deixou sem receitas durante vários dias. Sem a ajuda do Governo, teriam ficado na miséria. Os 20 mil milhões de patacas que o Governo vai investir derivam dos impostos pagos pela indústria do jogo. Presentemente vale a pena reflectir sobre esta questão. A indústria do jogo tem sido desde há muito a principal fonte de rendimento de Macau, em comparação com a restante actividade económica que ocupa um papel muitíssimo secundário. As receitas do Governo da RAEM provêm também, em grande parte, desta mesma fonte. Imaginando que, por qualquer motivo, o sector do jogo venha a ser afectado, o Governo seria o primeiro a perder a maioria dos seus proventos, e Macau deixaria de poder contar com a sua protecção. Mas a sociedade de Macau sempre teve capacidade para desenvolver outros sectores de actividade. Isto não quer dizer que se deva substituir a indústria do jogo. Pelo contrário, o que seria desejável era que surgissem outros ramos de actividade que pudessem partilhar com o Governo a responsabilidade social, que actualmente depende quase exclusivamente da indústria do jogo - a bem da sociedade de Macau. Presentemente, com as medidas tomadas para prevenir a propagação da epidemia, os casinos não vão estar a funcionar em pleno tão depressa. As receitas do Governo de Macau também serão afectadas. Quantos 20 mil milhões de patacas vão ser necessários para revitalizar a economia e garantir o bem-estar das pessoas, num futuro próximo? É uma questão a considerar.

Se o Governo de Macau quiser apostar no desenvolvimento do sector secundário, para criar uma diversificação moderada da economia da cidade, o primeiro passo a dar será “pesquisar”, o que pode levar de um a dois anos. Depois da pesquisa feita, é preciso levar a cabo uma consulta exaustiva junto dos vários sectores da sociedade, e mais tempo será necessário. É certo que não se vai poder chegar a nenhuma conclusão a curto prazo. Com a carência de máscaras de protecção a nível global, Macau não consegue sobreviver sozinho. Embora o Governo tenha desenvolvido esforços para importar máscaras de Portugal, daqui a algum tempo voltarão a faltar. Alguma comunicação social já avançou que o Governo de Macau criou uma linha de produção de máscaras na China continental, esperando vir a conseguir produzi-las em número suficiente para suprir as necessidades da cidade, durante a quarta ronda do “Plano

de Garantia de Abastecimento de Máscaras”. Para além disso, esta produção pode também vir a abastecer a área da Grande Baía. Um projecto deste género, se for bem-sucedido, além de resolver a carência

Sabe-se também que Macau produz álcool e desinfectante para as mãos. Se não surgir uma indústria maior nos próximos tempos na cidade, poderemos dar um passo atrás e reconsiderar várias possibilidades de diversificação moderada das pequenas indústrias?

de máscaras provocada pela epidemia, a longo prazo, permitirá que Macau se torne auto-suficiente neste aspecto. Claro que só existem cerca de 650.000 pessoas em Macau. Em circunstâncias normais, o número de máscaras necessárias, na totalidade do sistema de saúde, é muito inferior. Quem se dedicar a este negócio não fará grande lucro. No entanto, esta abordagem representa uma diversificação moderada da pequena indústria; além disso pode ir ao encontro das necessidades do Serviço de Saúde e contribuir para o progresso do nosso país – a China. Sabe-se também que Macau produz álcool e desinfectante para as mãos. Se não surgir uma indústria maior nos próximos tempos na cidade, poderemos dar um passo atrás e reconsiderar várias possibilidades de diversificação moderada das pequenas indústrias?

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


A solidão é a prova máxima da humildade ou de um espírito sublime. PALAVRA DO DIA

Gabriele D'Annunzio

Negócios da Índia Trump vai vender 2,7 mil milhões de euros em helicópteros militares

Alemanha Automóvel atropela desfile de Carnaval e faz vários feridos

Um automóvel avançou ontem sobre um desfile de Carnaval em Volkmarsen, no centro da Alemanha, fazendo vários feridos, segundo a polícia. A polícia do estado de Hesse (centro) informou que o condutor do automóvel foi detido. O incidente ocorreu ao princípio da tarde na cidade de Volkmarsen, cerca de 280 quilómetros a sudoeste de Berlim. A polícia disse não estar neste momento em condições de dar pormenores do incidente ou um número de feridos, acrescentando contudo não ter recebido qualquer informação sobre a existência de vítimas mortais. O jornal Frankfurter Rundschau citou testemunhas segundo as quais o condutor do veículo contornou uma barreira que bloqueava o tráfego do percurso do desfile, mas que não foi claro se pretendia atingir a multidão.

Qom Irão “nega categoricamente” notícias sobre 50 mortes

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O Ministério da Saúde do Irão negou ontem “categoricamente” informações segundo as quais 50 pessoas teriam morrido em Qom devido ao novo coronavírus, frisando que até ao momento só estão registadas 12 mortes em todo o país. “Nego categoricamente essa informação” disse à imprensa o vice-ministro da Saúde, Iraj Harirtchi, sobre a informação avançada pelo deputado Ahmad Amirabadi Farahani, que acusou o governo de Teerão de “mentir ao povo”. O vice-ministro frisou que os casos registados pelas autoridades são de 61 pessoas infectadas com o Covid-19, das quais 12 morreram.

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Presidente dos Estados Unidos anunciou ontem que vai vender helicópteros militares à Índia no valor de 2,7 mil milhões de euros, à chegada à cidade de Ahmedabad, para uma visita oficial de dois dias àquele país. “Tenho o prazer de anunciar que amanhã [terça-feira], os nossos representantes vão assinar acordos para vender os helicópteros mais avançados e outros equipamentos às Forças Armadas indianas no valor de mais de 3 mil milhões de dólares [2,7 mil milhões de euros]”, afirmou Donald Trump, antes de um comício no novo estádio de Motera, onde se concentraram mais de 100.000 pessoas, de acordo com a organização. O Presidente norte-americano foi acompanhado no seu discurso pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, durante o evento chamado “Namaste Trump” (“Saudações, Trump”), uma das maiores recepções oferecidas na Índia a um Presidente estrangeiro. Modi deu a Trump uma receção jubilosa com milhares de pessoas nas ruas, incluindo um desfile de centenas de dançarinos e músicos em trajes tradicionais coloridos. A visita do líder norte-americano acontece depois de um ano de atritos comerciais entre os dois países, com a imposição de taxas mútuas e a decisão dos Estados Unidos de retirar a Índia, desde Junho passado, do Sistema de Preferências Generalizadas, que proporciona reduções tarifárias em vários produtos. “Ele é um negociador muito duro”, disse Trump referindo-se a Modi. “Estamos a fazer um grande acordo comercial, muito, muito importante, dos maiores jamais feitos”, afirmou Donald Trump, embora tenha admitido que os EUA e a Índia ainda estão “na primeira fase das discussões”. Durante o seu discurso no estádio de críquete, Trump enfatizou repetidamente a ligação entre a Índia e os Estados Unidos. “Em apenas 70 anos de independência, a Índia tornou-se um

ITÁLIA ISOLADAS 11 CIDADES PARA IMPEDIR DISSEMINAÇÃO DE COVID-19

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gigante económico e a maior democracia que já existiu”, garantiu. O primeiro-ministro indiano sublinhou, por seu lado, que os dois países têm “um relacionamento próximo” e que a visita de Donald Trump marca “um novo começo nos laços entre a Índia e os Estados Unidos”. O Presidente norte-americano e a primeira-dama, Melania Trump, chegaram ontem a Ahmedabad, no estado ocidental de Gujarat, onde Modi nasceu, e visitaram o lugar emblemático onde o pacifista mahatma (grande alma) Gandhi viveu durante vários anos.

A visita do líder norte-americano acontece depois de um ano de atritos comerciais entre os dois países, com a imposição de taxas mútuas e a decisão dos Estados Unidos de retirar a Índia, desde Junho passado, do Sistema de Preferências Generalizadas

Depois seguiram para o estádio de críquete de Motera, passando por milhares de pessoas concentradas ao longo do percurso, tendo Trump viajado, entretanto, para a cidade de Agra, para visitar o icónico mausoléu Taj Mahal, antes de partir para Nova Delhi, onde cumprirá, na terça-feira, a maior parte da sua agenda.

OUTRO CENÁRIO

Nova Delhi foi precisamente o palco de confrontos ontem entre manifestantes pró e contra uma nova lei de cidadania, que obrigou a polícia indiana a usar granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão. A nova lei de cidadania permite a naturalização acelerada a algumas minorias religiosas nascidas fora do país, mas não a muçulmanos. Manifestações de rua anti-Trump foram registadas em Delhi, mas também em Kolkata, em Hyderabad e em Gauhati. O Presidente norte-americano afirmou, no entanto, que nunca se esquecerá da “incrível hospitalidade” das pessoas de Ahmedabad, enquanto sublinhava que Modi é “um líder tremendamente bem-sucedido” que transformou o país.

terça-feira 25.2.2020

M cordão sanitário foi instalado ontem à volta de 11 cidades do norte de Itália, o coração económico do país, para conter a disseminação do novo coronavírus, que já matou cinco pessoas no país. O surto repentino de novos casos de coronavírus, passando de 6 para 219 o número de infectados em quatro dias, faz da Itália o país mais afectado da Europa e o terceiro do mundo depois da Coreia do Sul e da China. O anúncio ontem feito da morte de um homem de 88 anos perto de Milão, na Lombardia (noroeste), aumentou o número de vítimas mortais para cinco, todas no norte do país: quatro na Lombardia e uma no Veneto (nordeste), todas idosas e que muitas vezes já sofriam de outras patologias. A origem de contaminação continua a ser um mistério, segundo o Ministério da Saúde italiano. As autoridades italianas têm aplicado numerosas medidas cautelares, incluindo o semi-confinamento de cerca de 52.000 habitantes de uma dúzia de cidades no norte, encerrando lugares públicos, com excepção de algumas lojas de bens de primeira necessidade e farmácias de serviço. Esta crise já afectou a bolsa de valores de Milão, que estava em queda ao início da tarde de ontem. Na Lombardia - a região mais afectada, com 167 casos - o metro de Milão circulava com carruagens meio vazias, numa cidade com museus, universidades, cinemas e teatros (incluindo o prestigiado La Scala) fechados Como consequência desta alteração de rotinas citadinas, alguns supermercados milaneses já foram assaltados e o presidente da Câmara, Beppe Sala, pediu aos habitantes para ajudar a população mais vulnerável, incluindo os idosos. “Temos certeza de que as medidas que tomámos impedirão a propagação do contágio”, garantiu o presidente do governo regional da Lombardia, Attilio Fontana.


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