˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MACAU AJUDA PÁGINA 7
OPINIÃO
Sexo e vírus TÂNIA DOS SANTOS
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hojemacau
A sete chaves Ho Iat Seng anunciou novas restrições às entradas em Macau. A partir de hoje, os residentes ficam obrigados a cumprir um período de quarentena de 14 dias, caso tenham estado no estrangeiro, em Hong Kong ou Taiwan nas duas semanas anteriores à chegada à RAEM. O Chefe do Executivo deixou ainda um recado às concessionárias de jogo, em forma de apelo à responsabilidade social na disponibilização de quartos de hotel.
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PÁGINAS 2-3
PERDIDOS E ACHADOS JOÃO PAULO COTRIM
RIR EM TEMPO DE CÓLERA NUNO MIGUEL GUEDES
RENOIR
PÁGINA 4
PORTUGAL
HOJE MACAU
Casos e fugas
HOJE MACAU
COVID-19
MOP$10
QUARTA-FEIRA 25 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4494
2 coronavírus
25.3.2020 quarta-feira
SERMAO AS OPERADORAS Ho Iat Seng anunciou novas restrições de entrada e reconheceu dificuldades para encontrar hotéis para implementar a quarentena. Por isso, apelou à responsabilidade social das concessionárias de jogo e deixou um aviso: “As pessoas de Macau vêem com olhos, mas lembram-se com o coração”
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partir de hoje todos aqueles, com excepção dos residentes de Macau, que tenham estado no estrangeiro nos últimos 14 dias, estão proibidos de entrar no território. Os residentes de Macau, caso tenham estado em Hong Kong, Taiwan ou no estrangeiro nos 14 dias anteriores à chegada à RAEM, ficam obrigados a cumprir o período de quarentena. A medida foi anunciada ontem por Ho Iat Seng, numa conferência de imprensa em que o Chefe do Executivo aproveitou também para apontar o dedo às concessionárias por não estarem a assumir as responsabilidades sociais. Segundo Ho Iat Seng, as políticas foram decididas para o Executivo se articular com o Governo de Hong Kong, que vai continuar a permitir que os estudantes de Macau utilizem o aeroporto da
RAEHK para regressarem ao território. Na segunda-feira, Hong Kong anunciou a proibição da entrada de qualquer pessoa vinda de jurisdições fora da Grande China.
MÁSCARAS OITAVA FASE GARANTIDA
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Governo garantiu ontem que vai haver uma próxima fase da distribuição de máscaras, a oitava. A confirmação foi feita por Ho Iat Seng: “A sétima ronda começou há poucos dias e temos garantida uma 8.ª roda. Não estamos preocupados”, afirmou. “Até agora já foram adquiridas mais de 40 milhões de máscaras, mas temos de escolher as que cumprem os padrões de qualidade”, frisou.
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ENTRADAS IMPOSTA QUARENTENA PARA QUEM VEM DE HONG KONG. PROBLEMAS EM ENCONTRAR HOTÉIS
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“Recebemos uma notificação de Hong Kong antes do anúncio das medidas por parte deles. Depois começamos a analisar a situação e decidimos implementar o mesmo tipo de medidas, a partir da meia-noite de 25 de Março”, declarou Ho Iat Seng. “A Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, tinha prometido flexibilidade para que o Governo da RAEM pudesse enviar equipas ao aeroporto de Hong Kong para ir buscar os estudantes de Macau no estrangeiro que estão a regressar. Isso vai ser feito”, garantiu. Neste momento existem cerca de 600 alunos que se registaram junto do Governo que poderão ser trazidos para Macau, através do corredor especial. Além disso, cerca de 1.000 já regressaram com êxito, estão de quarentena, e Ho admitiu que o Governo prevê que entre 10 a 30, ou seja 1 por cento a 3 por cento, possam estar infectados.
SEM RANCOR
O Chefe do Executivo foi confrontado com o facto de a resposta da RAEM poder ser encarada como uma retaliação face a Hong Kong. Porém, Ho afastou o cenário: “Não é uma vingança, não quero que se use esse termo até porque não precisamos de nos vingar. Temos uma relação de amizade com Hong Kong”, indicou. “Só que quando eles tomam medidas, nós também temos de analisar a situação e tentar cooperar com eles. Só assim é possível o desenvolvimento sustentável”, acrescentou. Por outro lado, Ho Iat Seng admitiu que anteriormente, quando Hong Kong decidiu unilateralmente encerrar as ligações marítimas, que a situação “atrapalhou” as autoridades em Macau. No entanto, recusou olhar para o passado e desculpou a congénere de Hong Kong: “Espero que não se olhe para o passado. Não vale a pena. Na posição de Chefe do Executivo, como acontece com Carrie Lam e comigo, estamos muito focados no combate à epidemia. Por isso, muitas vezes não conseguimos considerar todos os aspectos de uma decisão e os lapsos podem acontecer”, sublinhou.
AVISO À “NAVEGAÇÃO”
Ontem, Ho Iat Seng reconheceu que o Governo está a encontrar dificuldades em arranjar hotéis para as quarentenas e apelou às concessionárias do jogo que cumpram com a “responsabilidade social” e disponibilizem espaços. “Estamos um pouco desiludidos com a missão de encontrar hotéis para a quarentena. A nossa prioridade é evitar hotéis nos grandes empreendimentos para não afectarmos os negócios de restaurantes e outros espaços. Mas se não conseguirmos encontrar
RESTRIÇÕES À ENTRADA
GCS
quarta-feira 25.3.2020
RESIDENTES: A entrada está sempre GARANTIDA. Ficam OBRIGADOS a quarentena se estiverem estado no estrangeiro, Hong Kong ou Taiwan nos 14 DIAS anteriores à entrada. ESTRANGEIROS: A entrada está totalmente PROIBIDA, e inclui trabalhadores-não-residentes com nacionalidade PORTUGUESA. TURISTAS E TRABALHADORES NÃO-RESIDENTES DO INTERIOR, HONG KONG E TAIWAN: • ENTRADA PROIBIDA: Em caso de visita ao estrangeiro nos 14 dias anteriores à entrada. • ENTRADA COM QUARENTENA: Se tiverem visitado Hong Kong ou Taiwan nos 14 dias antes da entrada. • ENTRADA COM EXAME MÉDICO DE OITO HORAS: No caso de terem estado numa região no Interior que se considere de alta incidência. • CERTIFICADO MÉDICO: Obrigação para os turistas que tenham estado na província de Hubei e para todos os trabalhadores não-residentes que tenham estado no Interior.
mais hotéis onde é que as pessoas vão ficar?”, questionou. “Este também é um grande desafio para as concessionárias. Que responsabilidades sociais devem assumir? Não é só fazer publicidade nos jornais e oferecer presentes”, atirou. Embora tivesse recusado uma ligação directa entre a prestação das concessionárias do jogo durante a epidemia e a atribuição das novas licenças do jogo, Ho admitiu que os futuros contratos podem estipular melhor as responsabilidades sociais e vincou que as pessoas não se vão esquecer desta fase: “As pessoas de Macau vêem com olhos, mas lembram-se com o coração”, afirmou.
“Que responsabilidades sociais devem assumir [as concessionárias]? Não é só fazer publicidade nos jornais e oferecer presentes.” “O que o Governo pode fazer está a ser feito. Mas não posso estar a distribuir rebuçados de forma incessante.” “Não é uma vingança, não quero que se use esse termo até porque não precisamos de nos vingar. Temos uma relação de amizade com Hong Kong.” HO IAT SENG CHEFE DO EXECUTIVO
Por outro lado, Ho reconheceu que a lei de prevenção e controlo de doenças transmissíveis permite que o Governo se aproprie de hotéis, mas que o Executivo não deseja enveredar por este caminho, a não ser como último recurso.
MAIS REBUÇADOS?
Como parte das políticas de apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME), o Executivo criou um cartão de consumo para distribuir pelos residentes, com o valor de 3 mil patacas, para estimular o consumo. Além disso, vão ser disponibilizadas linhas de crédito bonificadas, empréstimos sem juros e as contas da electricidade e água vão ser subsidiadas. No entanto, as medidas foram vistas como insuficientes por algumas PME que preferiam que houvesse redução das rendas. Só que o cenário foi afastado por Ho, que apontou que qualquer negócio envolve sempre riscos e potenciais perdas, para as quais as empresas também precisam de estar preparadas. “Não posso obrigar os proprietários dos imóveis a reduzir as rendas, não podemos impor esta medida. Eles também compraram os imóveis para terem rendimentos [...] O que o Governo pode fazer está a ser feito. Mas não posso estar a distribuir rebuçados de forma incessante”, atirou. “Também sou empresário e quando investimos sabemos que há riscos e que pode haver prejuízos. Se não for assim não é um negócio. Espero que a população compreenda esse aspecto”, pediu. Por outro lado, Ho negou, por enquanto, a existência de uma segunda fase do cartão de consumo. O Chefe do Executivo explicou que a política serve para estimular o consumo em diferentes espaços, mas que se, por exemplo, o dinheiro for todo utilizado nos
TNR CHEFE DO EXECUTIVO AFASTA HIPÓTESE DE DISCRIMINAÇÃO
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líder do Governo recusou a ideia de que a proibição de entrada de trabalhadores não-residentes (TNR) que não sejam chineses possa ser vista como discriminação. “Não digam que é discriminação. São tempos especiais e temos de usar todas as medidas para proteger os residentes”, justificou. Ho foi mais longe e apontou que outros países tomam medidas semelhantes: “Eu não me sinto discriminado pelos outros. Os órgãos de comunicação devem trabalhar de forma positiva”, vincou. Ho Iat Seng apelou também à compreensão entre as diferentes comunidades de Macau, após vários comentários inflamados nas últimas semanas, causados pela decisão do Governo ir buscar os residentes a Wuhan, e, mais recentemente, face à política de proibir a entrada de estrangeiros. “Cada comunidade pode ter um ponto de vista diferente, um interesse diferente e há medidas para o bem-estar de todos, que podem ser vistas como controversas”,
reconheceu Ho. “Mas, esperamos que não surja discriminação, apesar de não irmos proibir comentários, discussões e os diferentes entendimentos”, indicou. Por outro lado, o Chefe do Governo deixou ainda a esperança que a situação se altere brevemente e que os trabalhadores não-residentes possam começar a entrar e sair de Macau para o Interior da China, apesar de admitir que o Executivo está sob muita pressão devido aos casos importados. “Na província de Cantão e em Zhuhai não se registam casos na comunidade de novas infecções. O que tem acontecido são casos importados, que têm sido detectados nas fronteiras”, começou por apontar. “Nos próximos 14 dias estamos num período de alto risco e vamos ver se há risco de infecção. Se não houver mais casos locais vamos equacionar se os TNR podem regressar a Macau, talvez no final deste mês ou no princípio do próximo”, apontou.
Desemprego Subida pode chegar aos 2 por cento
Segundo os últimos dados conhecidos, referentes ao período entre Novembro do ano passado e Janeiro deste ano, a taxa de desemprego estava em 1,7 por cento. No entanto, o Chefe do Executivo acredita que o número poderá subir “até 2 por cento”, com a nova situação. Por outro lado, Ho apontou que vários departamentos do Governo têm investido em mais obras para criarem empregos, principalmente no sector da construção civil.
supermercados os efeitos não serão os mais desejados. O líder do Governo justificou também que as 3 mil patacas não foram distribuídas com o cheque pecuniário, porque havia sempre a
hipótese de os residentes preferirem guardar o dinheiro no banco, o que também não estimularia a economia local. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
4 coronavírus
25.3.2020 quarta-feira
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COVID-19 TRÊS PESSOAS VIOLARAM QUARENTENA OBRIGATÓRIA
Trio de fugitivos
Dois residentes e um trabalhador não residente violaram o regime de quarentena obrigatória, segundo informação do Corpo de Polícia de Segurança Pública. Um deles saiu do quarto de hotel onde cumpria quarentena, enquanto que os restantes saíram das suas casas. Será entregue um relatório ao Ministério Público para acompanhamento HOJE MACAU
regime de quarentena obrigatória durante 14 dias foi violado por três pessoas, dois residentes permanentes e um trabalhador não residente oriundo da Indonésia. O caso foi ontem anunciado por Ma Chio Hong, representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) na conferência de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Um dos casos diz respeito a uma pessoa que está a cumprir quarentena num hotel designado para esse fim e que saiu do seu quarto. “Dois casos foram verificados durante a nossa inspecção geral, pois todos os dias realizamos uma inspecção nos locais onde as pessoas estão em isolamento para verificar se estão ou não a cumprir as regras. O outro caso foi encaminhado pelo centro de coordenação, e quando nos deslocámos ao hotel verificámos que essa pessoa tinha saído do seu quarto, se calhar para ir buscar comida ou bens essenciais”, adiantou Ma Chio Hong. Para já o CPSP está a elaborar um relatório sobre as ocorrências para entregar ao Ministério Público. Estes actos violam as regras do isolamento obrigatório previstas na lei de prevenção, controlo e trata-
REUNIÃO COM HOTÉIS
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Governo admitiu a dificuldade para encontrar novos hotéis para o cumprimento de quarentena, embora tenha anunciado ontem a 9ª unidade hoteleira disposta a receber pessoas. Inês Chan, directora dos Serviços de Turismo, afastou a possibilidade de serem escolhidas áreas maiores dentro dos casinos, por terem alguns bares e restaurantes a funcionar, e defendeu a necessidade de se marcar uma reunião com responsáveis do sector hoteleiro. “Temos actualmente 1751 pessoas em quarentena e 1900 pessoas que se registaram [para regressar a Macau]. Os hotéis devem manifestar a sua vontade de cooperação. Passo a passo poderemos resolver as dificuldades. Este é o primeiro passo, se os responsáveis dos hotéis quiserem sentar-se connosco para discutir.”
mento de doenças transmissíveis, em vigor desde 2004. “Estas pessoas foram informadas de que tinham de ficar sujeitas a 14 dias de observação médica e que não podiam sair das suas casas, mas violaram as regras. O CPSP apela a todas as pessoas em observação domiciliária para colaborarem com os nossos trabalhos e cumprirem a lei.”
VÁRIOS IMPASSES
e Taiwan que tenham estado em países estrangeiros nos 14 dias anteriores à viagem. Questionado sobre a possibilidade de prolongar o prazo dos vistos a turistas que não consigam apanhar o voo no aeroporto de Hong Kong e que, por isso, tenham de ficar mais tempo em Macau, Ma Chio Hong referiu que a medida será avaliada caso a caso.
Depois de Hong Kong ter proibido a entrada a não residentes como medida de combate à pandemia da covid-19, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, declarou que passou a ser proibida, desde as 00h de hoje, a entrada em Macau de residentes do interior da China, Hong Kong
Quanto à ideia de criar um canal especial para residentes de Macau que necessitem de apanhar um voo em Hong Kong, o Executivo esclareceu que é algo que ainda não está previsto. “Depois do dia 25 [hoje] vai ser proibida a entrada [em Hong Kong] de residentes de Macau. Estes não podem entrar em Hong Kong e apanhar voos. Não temos um veículo especial para transportar os residen-
“Temos a responsabilidade de apoiar os residentes e vamos ajudar todos os que pretendem regressar a Macau. As medidas não são aplicadas apenas por Macau e temos ainda de negociar com Hong Kong.” INÊS CHAN DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO
AIR VÍRUS
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oram ontem detectados mais dois casos de infecção com o vírus que causa a covid-19. O 25º caso diz respeito a um piloto da Air Macau, de 41 anos de idade, que viajou com a mulher e o filho a partir de Jacarta, Indonésia, onde visitou a família. A mulher do piloto foi o 14º caso de infecção, enquanto que o filho é o 17º caso. “Quando regressaram a Macau não foram a qualquer local e dirigiram-se para casa. Não houve contacto com a nossa comunidade. O indivíduo apanhou um táxi na fronteira da Ponte HKZM a caminho de casa. Contactámos o taxista, mas na altura todas as pessoas usavam máscara, portanto, foi classificado como uma pessoa de contacto normal e será sujeito a auto-gestão da saúde”, apontou Leong Iek Hou. A família residia na Taipa, no terceiro bloco do complexo residencial Prince Flower City. Neste momento, o homem, cuja infecção só foi confirmada com o terceiro teste, encontra-se a recuperar no Centro Clínico do Alto de Coloane. Já ao fim da noite, as autoridades anunciaram mais um caso de contágio da covid-19, elevando o número de infectados para 26 desde o início do surto do novo coronavírus. Trata-se de uma jovem de 17 anos, residente de Macau, estudante no Reino Unido, que a 20 de Março viajou a partir de Londres para a Hong Kong.
tes para o aeroporto, porque estão envolvidas muitas formalidades e também envolve a parte de Hong Kong. Neste momento, não temos esse tipo de consenso”, adiantou Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Quanto ao apoio aos residentes que estão a regressar a Macau são para manter, ao mesmo tempo que se prolonga o diálogo entre as duas regiões administrativas especiais. “Temos a responsabilidade de apoiar os residentes e vamos ajudar todos os que pretendem regressar a Macau. As medidas não são aplicadas apenas por Macau e temos ainda de negociar com Hong Kong. Eles também utilizaram muitos recursos e ultrapassaram muitos obstáculos para nos ajudar”, frisou Inês Chan. A representante da DST destacou ainda o facto de as companhias aéreas “terem um papel fundamental” neste processo. Andreia Sofia Silva
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COVID-19 MP QUER RAPIDEZ NOS CASOS RELACIONADOS COM PREVENÇÃO
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Ministério Público (MP) adoptou medidas para acelerar a investigação de infracções a regras de prevenção da propagação do surto do novo tipo de coronavírus. A informação foi avançada ontem através de uma nota oficial, onde o MP divulga também a conclusão da investigação de
dois inquéritos relacionados com a prevenção da covid-19. O primeiro caso diz respeito a falsas declarações prestadas pelo arguido sobre os locais visitados anteriormente. Ao entrar em Macau, o suspeito não declarou fielmente a história da sua viagem, nomeadamente a estadia na
Coreia do Sul, com o propósito de escapar à observação médica. O arguido foi acusado de prática de crime de infracção de medida sanitária preventiva e pode ser condenado a pena de prisão até seis meses. O segundo caso diz respeito ao uso abusivo de bilhete de
identidade alheio para a compra de máscaras fornecidas pelo Governo. Após investigação, o arguido foi acusado da prática de dois crimes, podendo ser condenado a uma pena de prisão até um ano para o primeiro crime e até três anos para segundo.
política 5
quarta-feira 25.3.2020
Trinta por uma linha
GOVERNO HO IAT SENG VENDEU HABITAÇÃO QUE TINHA NOS ESTADOS UNIDOS
Querida, vendi a casa
Plataforma de comando da protecção civil vai unir 30 entidades públicas
Entre Setembro do ano passado e Março deste ano, o Chefe do Executivo deixou a presidência de uma empresa avaliada em 10 milhões de patacas, onde tinha como um dos sócios o empresário Liu Chak Wan. Além disso, alienou uma casa nos Estados Unidos
CONTRA-RELÓGIO
Com o aproximar da época dos tufões, Ho Ion Sang avançou ainda que os deputados esperam que o Governo acelere agora os trabalhos, de forma a apresentar a nova versão do texto o mais rapidamente possível. “Após acolher as nossas opiniões esperamos que o Governo melhore a proposta de lei e apresente uma nova versão o quanto antes, porque já estamos quase em Abril e estamos perto da época dos tufões”, partilhou o presidente da comissão. Pedro Arede
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Investimento, que tem um capital social de 180 mil patacas, a participação aumentou de 49 por cento para 75 por cento. Também neste caso Ho deixou de ser presidente para ser accionista.
HOJE MACAU
A
plataforma de comando do centro de operações da protecção civil irá contar com a participação de 30 entidades, incluindo serviços públicos da administração pública e da tutela da segurança, de forma a estabelecer interconexão de dados, quando accionado o estado de alerta. O anúncio foi feito por Ho Ion Sang, após a reunião da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), acrescentado ainda que durante o dia de ontem, os deputados tiveram a oportunidade de visitar, a convite do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak o referido centro de operações da protecção civil. “Vimos que quando se atinge o estado de prevenção imediata ou superior e se o Chefe do Executivo declarar esse estado, activa-se a estrutura da Protecção Civil. Actualmente, o Governo referiu que inclui serviços públicos da tutela da segurança, da administração pública e também outros organismos, no total 30 entidades”, esclareceu o presidente da comissão. De acordo com Ho Ion Sang, o funcionamento do centro de operações passa, na prática, pela recolha e tratamento de dados inseridos por 30 membros na plataforma da protecção civil que, posteriormente, serão a base da tomada de decisões eficazes. “Conseguimos perceber qual o funcionamento do centro de operações, nomeadamente os centros de abrigo, quantas pessoas estão lá dentro, outras informações relacionadas com os tufões ou até se poderá haver mortos ou feridos. Essas informações são introduzidas pelos respectivos membros da estrutura de protecção civil. Através destas informações, o centro de operações pode avaliar caso a caso, quais as acções a tomar na altura e isso consegue elevar a eficácia dos trabalhos”, acrescentou Ho Ion Sang.
WONG COM MAIS UMA CASA
E
NTRE Setembro do ano passado e Março deste ano, o Chefe do Executivo desfez-se de uma unidade residencial que tinha nos Estados Unidos da América. O destino da casa não é conhecido. A informação consta na declaração de rendimentos de Ho Iat Seng, que foi entregue junto do Tribunal de Última Instância (TUI), como é exigido aos titulares dos principais cargos da RAEM. Segundo a informação declarada, o Chefe do Executivo, actualmente é proprietário de três unidades residenciais: dois apartamentos com estacionamento para uso próprio na RAEM e
em Hong Kong, assim como uma “fracção autónoma” em Pequim. No entanto, na última declaração de Ho como presidente da Assembleia Legislativa, em Setembro de 2019, tinha declarado ainda uma casa com estacionamento nos EUA. A outra grande alteração entre as declarações de Setembro de 2019 e Março deste ano passa pelo facto de Ho Iat Ser ter deixado de ser accionista na “Macau Centro de Investimento Sociedade Anónima” (tradução literal do nome chinês). Ho detinha 17,5 por cento desta sociedade, avaliada em 10 milhões de patacas, onde era presidente. Em Setembro de 2019, também Liu Chak Wan,
empresário e ex-membro do Conselho do Executivo, declarou ter 17,5 por cento das acções da empresa, onde era o director. Em vez da participação na Macau Centro, Ho aparece agora como accionista a 99 por cento da empresa Hip Va Companhia Industrial, que tem 10 mil patacas de capital social. Quanto às restantes participações em empresas, Ho aumentou as acções na Sociedade Industrial Ho Tin de 20 por cento para 25 por cento, apesar de ter deixado de ser o director executivo e ter passado a simples accionistas. Esta empresa tem capital social declarado de 400 mil patacas. Já na empresa Ho Tin Sociedade de Desenvolvimento
O secretário para a Segurança aumentou o património no espaço de cinco anos. Em 2015, na primeira declaração após ter assumido o cargo político, Wong era proprietário de dois apartamentos, para uso próprio, e dois lugares de estacionamento. A posse dos imóveis é declarada como conjunta com outras pessoas que não aparecem especificadas. No entanto, cinco anos depois, o secretário juntou aos seus bens mais uma casa, também uma propriedade detida com outras pessoas. Porém, a localização das habitações não é revelada. Ao contrário de Ho e Wong, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário não apresenta qualquer alteração na declaração de bens. O macaense é proprietário de cinco casas, uma das quais partilhada com a cônjuge e que resulta de uma herança. A mesma situação verifica-se com a posse de seis terrenos urbanos e outros 12 terrenos rústicos. Também André Cheong não apresenta alterações no património declarado. O secretário para a Administração e Justiça, que anteriormente era Comissário Contra a Corrupção, mantém a propriedade de duas casas com estacionamento em Macau e de duas residências no Interior. João Santos Filipe (com N.W) joaof@hojemacau.com.mo
Biodiversidade Governo divulga estudo até fim do mês de Junho Em resposta a uma interpelação de Lei Chan U, o Governo garantiu estar atento ao impacto da urbanização na ecologia de Macau e que, até ao final do primeiro semestre de 2020, será publicado o primeiro estudo sobre a biodiversidade no território. O estudo, realizado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), foi realizado entre 2017 e 2019 e intitula-se “Inquérito e Normas de Gestão sobre o Sistema Ecológico de Macau”, assumindo-se como um dos projectos de investigação que visam “recolher os dados
fundamentais no âmbito da investigação ecológica e do estudo da biodiversidade em Macau”, pode ler-se na resposta a Lei Chan U. Quanto à questão levantada pelo deputado acerca da fraca consciencialização da população para o tema da protecção da biodiversidade, o Governo assegurou que através do IAM e da DSPA têm vindo a ser organizadas actividades como a “Semana Verde” e ainda exposições, workshops ou palestras “a fim de sensibilizar o público para a protecção de animais e plantas”.
6 política
25.3.2020 quarta-feira
SALÁRIO MÍNIMO GOVERNO ASSEGURA VALOR PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
Mesmo a tempo
A
promessa do Governo em salvaguardar os interesses dos trabalhadores com deficiência vai concretizar-se através de um regulamento administrativo que deverá entrar em vigor no mesmo dia da efectivação da lei do salário mínimo para os trabalhadores em geral. Os membros da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa não terão acesso ao conteúdo do regulamento administrativo antes da eventual aprovação da proposta de lei. O Governo já tinha garantido que iria assegurar aos portadores de deficiência um rendimento equivalente ao
salário mínimo. Neste sentido, vai atribuir um subsídio a estes trabalhadores que colmate a diferença entre o que auferem e o valor do salário mínimo. A justificação, reiterada pelo Governo, de que os portadores de deficiência não devem ser incluídos na proposta porque isso poderia “afectar a oportunidade de trabalho dessas pessoas”, foi ontem acolhida por muitos deputados. É incerto quantas pessoas vão beneficiar do regulamento administrativo prometido pelo Executivo. “Não sei. (...) Nem todas as pessoas deficientes querem trabalhar, e nem todos os trabalhadores deficientes precisam de
TIAGO ALCÂNTARA
O mecanismo prometido pelo Governo para garantir que portadores de deficiência recebem o equivalente ao salário mínimo vai assumir a forma de regulamento administrativo e entrar em vigor no mesmo dia da implementação da lei do salário mínimo, se a proposta for aprovada. Já sobre o período de revisão do valor não há consenso
SEM CONSENSO
ajuda do Governo na procura de emprego”, disse o presidente da Comissão, Chan Chak Mo. O legislador apontou que existem mais de seis mil portadores de deficiência em Macau, mas que apenas cerca de
TERMINAL DA TAIPA COUTINHO PEDE ISENÇÃO DE RENDA PARA LOJISTAS
S
E o negócio das lojas do Terminal Marítimo do Pac On nunca foi famoso, a pandemia da covid-19 ainda agravou mais a situação. Este foi o foco da interpelação escrita por Pereira Coutinho, e divulgada ontem, que pede ao Governo que dispense “as lojas do pagamento de rendas e tarifas de electricidade e água, de Abril a Dezembro”. Para o efeito, o deputado sugere que o Executivo tenha como referência a isenção da renda das bancas dos mercados, medida anunciada no Relatório das Linhas de Acção Governativa para 2019. Por outro lado, Pereira Coutinho realça o baixo fluxo de passageiros que usam o Terminal do Pac On, uma infra-estrutura que muitas vezes
mero certo trabalhadores com deficiência a trabalhar actualmente. Relativamente à possibilidade de se adoptar um sistema de avaliação da capacidade laboral ou produtividade de portadores de deficiência, à semelhança do que existe em Hong Kong ou Taiwan, Chan Chak Mo afirmou que “o Governo não vai fazer isso a curto prazo” e que o Executivo explicou haver dificuldades à sua implementação por exigir o envolvimento de profissionais dos Serviços de Saúde e do Instituto de Acção Social. O presidente da Comissão observou ainda que Hong Kong não dispõe do regime de subsídio complementar, questionando se isso é bom para portadores de deficiência.
categorizou como “um dos elefantes brancos” de Macau, e interroga o Executivo quanto a medidas que incentivem o movimento no terminal. Segundo o deputado, o Terminal Marítimo do Pac On tem outro calcanhar de Aquiles: negligência e confusão na gestão do espaço. Neste aspecto, Coutinho aponta o dedo às diversas empresas que ganharam a adjudicação para prestar serviços de gestão, limpeza e segurança no espaço, o que, além do descontentamento quanto ao serviço prestado, representa mais encargos para os lojistas. Assim sendo, Pereira Coutinho sugere que seja o próprio Governo a responsabilizar-se pela gestão do terminal. J.L.
80 conseguiram emprego através dos Serviços para os Assuntos Laborais. Destes, a maioria aufere um salário superior ao valor do salário mínimo. No entanto, Chan Chak Mo disse desconhecer o nú-
A proposta prevê que o salário mínimo seja revisto a cada dois anos. No entanto, o salário mínimo para os trabalhadores de limpeza e de segurança na actividade de administração predial, de acordo com a lei que vigora desde 2016, é revisto anualmente. O Governo justificou que agora a recolha de dados é apenas desse ramo, mas que “no futuro os dados vão abranger todos os sectores de trabalho de Macau e um
“Nem todas as pessoas deficientes querem trabalhar, e nem todos os trabalhadores deficientes precisam de ajuda do Governo na procura de emprego.” CHAN CHAK MO
ano se calhar não consegue reflectir a realidade no âmbito económico e social de Macau”. No entanto, Chan Chak Mo indicou que um deputado do sector laboral entendeu que o prazo de dois anos “não é aceitável, é demasiado longo”, apoiando uma revisão anual. No seguimento da discussão, apontou que “não tivemos qualquer consenso”, admitindo que o deputado em causa pode votar contra no plenário. Ainda assim, o presidente da Comissão acredita que a proposta poderá ser submetida a plenário no próximo mês. Salomé Fernandes
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IAM LAM U TOU PEDE PRESERVAÇÃO DE ÁRVORES ANTIGAS
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S árvores antigas situadas em terrenos privados, em especial as que têm mais de um século ou que pertençam a espécies raras, merecem ser preservadas, no entender de Lam U Tou, citado pelo Jornal do Cidadão. O presidente da Associação Sinergia de Macau e membro do Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais, entende que estas árvores devem entrar na Lista de Salvaguarda de Árvores Antigas e de Reconhecido Valor, de acordo com a regulamento da Lei de Salvaguarda do Património Cultural. Lam U Tou referiu que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) não lista
árvores antigas em terrenos privados, algo que pode ter resultado na deterioração e morte de árvores, que já à partida não são muitas. Assim sendo, o também candidato a deputado nas últimas eleições legislativas apela ao IAM que proceda à inspecção e registo das árvores antigas sitas em terrenos privados, mesmo que tenha de recorrer a sub-contratação caso esse trabalho não seja efectuado por falta de mão-de-obra. No passado, as autoridades indicaram a existência de 170 árvores antigas em áreas privada que não estavam listadas, incluídas 36 espécimes com mais de cem anos na Colina da Ilha Verde. N.W.
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COVID-19 ENTIDADES UNEM-SE PARA APOIAR PORTUGAL
Linha da ajuda Para permitir a aquisição de material necessário em Portugal no combate ao novo tipo de coronavírus, 17 entidades e associações uniram-se numa Comissão Solidária de Macau e estão a organizar uma angariação de fundos
Obras Mudanças na Ferreira Amaral
As obras de construção civil de reordenamento do pavimento das faixas de rodagem e plataformas de espera do terminal da Praça Ferreira Amaral vão obrigar ao fecho de faixas de rodagem no local. A alteração dá-se amanhã, a partir da primeira partida de autocarro, e não há data prevista para o seu término. De acordo com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, a alteração da berma junto ao Hotel Lisboa e o alargamento do pavimento, entre outros trabalhos que se realizam na 3ª etapa, vão estar concluídos de forma a entrar em funcionamento ao mesmo tempo que a 4ª etapa.
Ontem à tarde, a queda de um andaime na construção do Galaxy Hotel no Cotai provocou a morte a três trabalhadores e deixou quatro feridos, de acordo com informação do canal chinês da TDM – Rádio Macau. Uma equipa da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) deslocou-se ao local do acidente ordenou a paragem dos trabalhos de construção. Segundo a DSAL, as investigações preliminares apontam para um cenário em que sete trabalhadores não residentes estariam a limpar entulho junto a um elevador, quando se deu o acidente. De repente, o andaime situado ao lado do elevador cedeu e caiu em cima dos trabalhadores. Este era o balanço do desastre à hora do fecho desta edição.
CONTA BNU
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mações recebidas pela Comissão é de que existe falta de batas, viseiras, óculos, máscaras e outro material destinado a estes profissionais. Numa segunda linha, mas “não menos importante”, procura-se enviar kits e o conjunto de coisas necessárias para que sejam realizados testes, uma vez que a Organização Mundial de Saúde “parece concluir que onde se fazem mais
A energia deve estar concentrada na luta contra o inimigo: “e o inimigo neste momento é o vírus.” AMÉLIA ANTÓNIO CASA DE PORTUGAL
SOLIDARIEDADE “PRÁTICA”
Como Portugal tem adquirido material na China, e está também a receber ofertas de instituições e particulares deste país, “tudo isso estará a ser congregado de maneira a poder voar para Portugal da forma mais eficiente e mais rápida”, disse Amélia António. Além do BNU, prestam apoio a Agência para o Investimento e Co-
Nome: COVID19 – Portugal Conta Solidariedade
•
mércio Externo de Portugal (AICEP) e as representações diplomáticas de Portugal em Macau e na China. Note-se que a distribuição do material em Portugal será feita pelo Ministério da Saúde. Apesar de se pretender que a ajuda seja principalmente financeira, não se exclui a possibilidade de as pessoas contribuírem com material físico, ainda que isso obrigue a uma “logística maior”. AméliaAntónio frisou que se está a trabalhar para que a solidariedade “tenha uma expressão real, prática, que seja possível as pessoas sentirem que ela existe e se manifesta”. E lançou um alerta, indicando que a comunidade de língua portuguesa “tem tempo de criticar o que tiver de criticar”, mas que “nenhum país estava preparado para isto”. No seu entender, a energia deve estar concentrada na luta contra o inimigo: “e o inimigo neste momento é o vírus”. A responsável avançou ainda que representantes da iniciativa foram ontem recebidos pelo Chefe do Executivo, tendo sido acolhidos com grande “simpatia” e “expressão de apoio”. Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
Número: MOP 9016556516
HOJE MACAU
Galaxy Hotel Três mortos em queda de andaime
E
STÁ aberta uma angariação de fundos para permitir a aquisição de equipamento a enviar para Portugal, com o objectivo de apoiar o combate à covid-19. O movimento de solidariedade arranca com uma Comissão Solidária de Macau que reúne 17 entidades. O que se pretendeu foi agregar um “querer colectivo de tentar fazer alguma coisa para ajudar a situação que se vive em Portugal”, descreveu Amélia António, presidente da Casa de Portugal. Espera-se assim conseguir adquirir material constante de uma lista do Ministério da Saúde que aponta o que faz falta. Em primeira instância, o apoio será dirigido à obtenção de material de protecção para todos os que estão na primeira linha de combate à doença. De acordo com Amélia António, as infor-
testes tem-se conseguido dominar melhor a questão”, explicou Amélia António ontem em conferência de imprensa. Para este efeito foi aberta uma conta no BNU, gerida exclusivamente pelo banco, cujo nome é “COVID19 – Portugal Conta Solidariedade” com o número “MOP 9016556516”.Aconta deverá permanecer aberta até ao dia 5 de Abril, uma vez que “isto é importante e é urgente”, frisou a representante da Casa de Portugal. Por sua vez, Miguel de Senna Fernandes notou que as previsões apontam que o pico em Portugal será em meados de Abril para explicar que há tempo para agir, acrescentando posteriormente que “é importantíssimo que o façamos já”.
POLÍCIA JUDICIÁRIA FRAUDE DE MILHÕES COM TERMÓMETROS E MÁSCARAS
A
Polícia Judiciária (PJ) detectou dois casos de fraude com termómetros e máscaras, produtos usados no combate à covid-19. O primeiro caso diz respeito a uma mulher, residente, com 30 anos de idade, que fez uma
falsa denúncia, ao alegar ter sido enganada na compra de uma remessa de termómetros a um fornecedor de Zhuhai. À PJ, a residente disse ter comprado a um fornecedor de Zhuhai quase dois mil termómetros no valor de 3.99 mi-
lhões de renmimbis, mas não teve acesso ao equipamento. Nesse período, as autoridades policiais contactaram o fornecedor, que disse ter pago à mulher 1,5 milhões de renmimbis por uma remessa de cinco mil termómetros,
mas que nunca os recebeu, apresentando recibos falsos. A mulher acabou por admitir tratar-se de uma fraude e que usou o montante para pagar uma dívida. A PJ não exclui a possibilidade de existirem mais vítimas.
As autoridades policiais detectaram também 41 casos de fraude envolvendo máscaras cirúrgicas de protecção depois de queixas apresentadas por 55 pessoas. Esta fraude envolve um montante de 2.526 milhões de patacas.
8 coronavírus
(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)
TOP 20 DOS PAÍSES
12547 Em estado crítico
407633
104714
Infectados (total cumulativo)
COM MAIS CASOS 81171
Itália
69176
E.U.A.
49594
Espanha
39676
Alemanha
31991
Irão
24811
França
19856
Suiça
9117
Coreia do Sul
9037
Reino Unido
8077
Áustria
4839
Holanda
4749
Bélgica
4269
Noruega
2715
Portugal
2362
Suécia
2272
Austrália
2144
Canadá
2091
Brasil
1965
Israel
1656
Malásia
1624
Curados
Co novel
284669 Infectados
(total cumulativo)
China
25.3.2020 quarta-feira
(casos activos)
22 Curados
33 PORTUGAL
Mortos
PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)
Portugal
2362
Brasil
1965
Macau
26
Moçambique
1
países com casos de nCov
Angola
3
Guiné-Bissau
4
países sem casos de nCov
Timor-Leste
1
Cabo Verde
3
São Tomé e Principe
0
PORTUGAL
Infectados (casos activos)
16 MACAU
PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)
China
81171
China | Macau
26
China | Hong Kong
386
China | Taiwan
216
Coreia do Sul
9037
Japão
1140
Vietname
123
Laos
2
Cambodja
87
Tailândia
827
Filipinas
552
Myanmar
2
Malásia
1624
Indonésia
686
Singapura
558
Borneo
104
2311
Infectados (casos activos)
10 Curados
HONG KONG
280 Infectados
Macau
(casos activos)
4
HONG KONG
102 Curados
Hong Kong
Mortos
quarta-feira 25.3.2020
ovid-19 l coronavírus
18250
coronavírus 9
13766 Casos suspeitos
Mortos
0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:
+1000
• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia
Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
400000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0
20
40
60
dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 67800 1370 1275 1232 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294
MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1
MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0
10 china
25.3.2020 quarta-feira
O
analista político Bernardo Pires de Lima considera que o apoio da China, sobretudo a países asiáticos, para combater a pandemia de covid-19 pode ajudar o país preencher o vazio relativamente a um centro geopolítico aceite por todos. “A vulnerabilidade que atravessamos, de saúde pública, de declínio económico e de falta de um centro geopolítico assumido e aceite, tornam a proactividade estratégica chinesa numa acção de ocupação clara desses vazios”, afirmou à Lusa o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa. “A ajuda a países asiáticos, europeus e africanos é uma grande campanha de ‘soft power’”, admitiu Pires de Lima, lembrando, no entanto, que esta linha política “tem um histórico”. A China tem fornecido assistência humanitária, quer através da doação de bens médicos – como máscaras faciais –, quer de conhecimento científico,
ANÁLISE APOIO DA CHINA PODE AJUDAR A PREENCHER VAZIO GEOPOLÍTICO
O papel principal
tanto à Ásia como à Europa, à América do Sul e à África. Na semana passada, a China enviou um milhão de
máscaras e luvas cirúrgicas para França, para ajudar a combater o coronavírus, e o líder chinês, Xi Jinping, PUB
Aviso sobre pedido de junção de restos mortais em sepultura perpétua Anúncio Obra de embelezamento dos edifícios da Vila de Coloane (renovação da pintura das paredes exteriores) 1.
Com vista a articular os trabalhos de embelezamento dos edifícios da Vila de Coloane definidos pelo Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) e dar cumprimento à «Lei de Salvaguarda do Património Cultural», estes Serviços irão proceder aos trabalhos de renovação da pintura das paredes exteriores dos edifícios que reúnem condições para tal (para mais informações consultar a página electrónica destes Serviços: www.dssopt.gov.mo).
2.
Todas as despesas relacionadas com a presente renovação serão suportadas por estes Serviços. A obra terá inicio no dia 1 de Abril de 2020 e com um prazo de execução de 45 dias úteis de trabalho.
3.
Para proceder à pintura, será necessário montar andaimes nas paredes exteriores. Durante o período de execução, serão providenciados serviços de segurança do local durante 24 horas, apelando-se aos moradores para prestarem a devida atenção às portas e janelas por forma a evitar furtos e roubos. Pedimos desculpas pelo incómodo que esta obra poderá causar. Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, aos 20 de 03 de 2020. A Directora de Serviços, Chan Pou Ha
Eu, Kan Chou Hei (簡祖熙), nos termos da alínea 5) do n.º 1 e dos n.ºs 2 e 3 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo n.º 37/2003, alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 22/2019, apresento o pedido relativo à junção das cinzas de Leong Mui (梁妹), que era cônjuge de Kan Iat Kou (簡日高), inumada na sepultura n.º CN-1-E-0103 do Cemitério Municipal de Coloane, nessa sepultura. Venho por este meio informar as pessoas indicadas no n.º 1 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo acima referido de que podem apresentar objecção por escrito no prazo de 30 dias, contados a partir da data da publicação do aviso, ao IAM. A objecção escrita deve ser entregue no escritório dos assuntos de cemitérios da Divisão de Higiene Ambiental do IAM, sito no 3.º andar do Edifício Comercial Nam Tung, na Avenida da Praia Grande n.º 517. Se o IAM não tiver recebido objecção por escrito dentro do prazo determinado, o pedido de junção pode ser autorizado. Aos 25 de Março de 2020 Kan Chou Hei
prometeu ao primeiro-ministro espanhol “responder às necessidades urgentes da Espanha” e “partilhar experiências sobre prevenção, controlo e tratamento”. A 11 de Março, Pequim enviou uma equipa de médicos especialistas para ajudar a Itália a combater um dos mais graves surtos mundiais de coronavírus fora da China, tendo, uma semana depois, publicado no jornal oficial Diário do Povo que “a luta da China contra o coronavírus demonstra o papel da China como uma potência responsável”. O artigo sublinha a rapidez com que a China mobilizou ajuda e como os países estão gratos. “Existe um tipo de alívio chamado ‘Medidas da China’, um estilo chamado ‘Responsabilidade da China’, uma atitude chamada ‘Espírito chinês’ e um tipo de afectuosidade chamado ‘Ajuda chinesa’”, referia o jornal. O analista Bernardo Pires de Lima lembra, no entanto, à Lusa que “a crescente importância estratégica de algumas relações de países europeus com a China é anterior à crise” atual. Essa estratégia tem sido “paulatinamente trabalhada nos domínios financeiro, logístico, turístico e comercial”, avançou o analista de relações internacionais. A intenção da China tem sido, explicou, cumprir “a
vontade política de Pequim de deixar de ser apenas uma potência regional, para ser uma grande potência global”.
OUTROS CENÁRIOS
Apesar de a actual situação e ajuda dada pela China
“Depois de 70 anos profundamente conectada politicamente com Washington, garantia aliás de coesão dentro da UE e dos sucessivos alargamentos, alguns Estados-membros tentam hoje equilibrar essa predominância com o papel da China.” BERNARDO PIRES DE LIMA ANALISTA POLÍTICO
constituir, na opinião deste analista, uma oportunidade, Pires de Lima admitiu não ter a certeza se o país terá “uma evidente vantagem a toda a linha”. Isto porque, em primeiro lugar, não se sabe qual será o impacto da crise nas eleições norte-americanas. “Caso [o Presidente norte-americano, Donald Trump, perca, tudo indica que Joe Biden (vamos assumir que é ele) tente rapidamente reverter o desastroso legado transatlântico de Trump”, defendeu o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais. Por outro lado, “a economia chinesa também terá impactos muito negativos com esta crise e serão eles a ditar o alcance da sua acção externa, mais ou menos ambiciosa, mais ou menos influente”. O cenário levanta, segundo Bernardo Pires de Lima, “uma pressão brutal à gestão política europeia”. “Depois de 70 anos profundamente conectada politicamente com Washington, garantia aliás de coesão dentro da UE e dos sucessivos alargamentos, alguns Estados-membros tentam hoje equilibrar essa predominância com o papel da China”, descreveu. Tudo isto, “não sendo um jogo de soma nula, é suficientemente disruptivo na história da integração europeia para percebermos com clareza para onde caminhará”, reconheceu. No sábado, a estação inglesa BBC considerava que o novo coronavírus se tinha tornado no último campo de batalha entre os Estados Unidos e a China. Acusações mais ou menos subtis, como o facto de o Presidente Donald Trump classificar o coronavírus como “o vírus chinês” ou a insinuação do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês de que teria sido "o Exército dos EUA que levou a epidemia para Wuhan", cidade chinesa onde foi inicialmente detectada a pandemia, azedaram mais as relações entre os dois países. Para os observadores de políticas chinesas ouvidos pela BBC, “este jogo geopolítico de atribuição de culpas é uma corrida para um abismo”.
desporto 11
quarta-feira 25.3.2020
Com a vida a voltar lentamente à normalidade, as várias modalidades desportivas na República Popular da China vão reagendando os seus campeonatos e eventos. Se a Super Liga de Futebol pretende arrancar já em meados de Abril, os vários campeonatos e competições nacionais chinesas de desportos motorizados, que contam sempre com a presença de vários participantes de Macau, deverão dar início às suas temporadas no mês de Junho
U
M mês após a implementação das medidas de contenção do novo coronavírus que dá origem à covid-19, a economia da China já está a operar a 75% da sua capacidade, evidenciando um ponto de viragem que deverá traduzir-se num retorno gradual aos valores normais de produção até ao final de Abril, estima a Euler Hermes. Por isso mesmo, os agentes desportivos não querem ficar para trás. A 23 de Janeiro, a federação chinesa que rege os desportos motorizados no país, a CAMF na sigla inglesa, sus-
CAMF DESPORTOS MOTORIZADOS RECOMEÇAM NA CHINA EM JUNHO
Motores já aquecem Na província de Guangdong, os circuitos permanentes de Zhuhai e Zhaoqing (Circuito Internacional de Guangdong) já abriram as portas para sessões de testes e para as escolas de condução desportiva, mas não terão corridas para já. Na cidade chinesa continental adjacente à RAEM, o primeiro “Pan Delta Super Racing Festival” está agendado para o fim-de-semana de 13 e 14 de Junho.
MACAU AINDA SEM NOTÍCIAS
pendeu todas as actividades em pista até Abril, enquanto monitorizava o evoluir do surto. Agora, a CAMF acredita que há condições para se disputarem novamente corridas de automóveis e de motos a partir do final de Maio, início de Junho. Os novos calendários têm sido anunciados às pinguinhas nos últimos dias. A primeira das oito provas do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), onde o piloto português de Macau Rodolfo Ávila tem competido nas últimas temporadas, está marcada para 30 e 31 de Maio, ao passo que a prova de abertura do campeonato TCR China, onde deverá correr Filipe Souza, arrancará a 6 e 7 de Junho, ambos tendo como palco o Circuito Internacional de Guangdong. Por seu lado, o Campeonato da China de GT, que será reduzido a quatro eventos este ano, começa a 20 e 21 de Junho, em Xangai, enquanto os
semáforos verdes acendem-se no Campeonato Chinês de Endurance (CEC), em Ningbo, a 6 e 7 de Junho. Se as actuais restrições nas viagens e a quarentena obrigatória para todos aqueles que se deslocarem de fora de territórios da “Grande China” pode não ter impacto nos números das grelhas de partida, maioritariamente compostas por pilotos chineses, já o mesmo não se poderá dizer para as equipas, que recorrem a muita mão de obra estrangeira, principalmente nas áreas da engenharia e manutenção técnica das viaturas, e que terão que encontrar soluções para contornar este obstáculo se este se mantiver. Curiosamente, o CEC mantém no seu calendário de corridas uma prova no Circuito Citadino de Wuhan, no mês de Dezembro, em data a confirmar, o que indica que a fustigada capital da província de Hubei ainda não “deixou cair” a ideia de organizar este ano o seu evento anual de desportos
A primeira das oito provas do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), onde o piloto português de Macau Rodolfo Ávila tem competido nas últimas temporadas, está marcada para 30 e 31 de Maio, ao passo que a prova de abertura do campeonato TCR China, onde deverá correr Filipe Souza, arrancará a 6 e 7 de Junho
motorizados que um dia até chegou a receber uma prova da Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR).
Atenta ao desenrolar dos acontecimentos na China Continental está a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC), cujos dois “Festivais de Corridas de Macau”, que têm a particularidade de acolherem as corridas de qualificação dos pilotos locais para as corridas de
suporte do Grande Prémio de Macau, foram inicialmente agendadas para finais de Maio e início de Junho no Circuito Internacional de Zhuzhou, na província de Hunan. O HM sabe que a AAMC consultou vários pilotos locais sobre a realização destas corridas, nesta ou noutra localização, ou até mesmo a eventualidade de cancelar estas jornadas. A AAMC tem sido muito cautelosa neste tópica, mas uma decisão poderá estar para breve, pois o transporte dos carros e do material dos concorrentes é sempre feito com bastante antecedência para reduzir os custos. Visto que a situação da covid-19 no território não estar totalmente resolvida, a AAMC cancelou a primeira prova do Campeonato de Macau de Karting e Motociclos, que estava marcada para o fim-de-semana passado no Kartódromo de Coloane. Sérgio Fonseca
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Anúncio «Obra de embelezamento do Conjunto “Bairro de São Lázaro” (renovação da pintura das paredes exteriores)» 1.
Com vista a articular os trabalhos de embelezamento do Conjunto “Bairro de São Lázaro” definidos pelo Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) e dar cumprimento à «Lei de Salvaguarda do Património Cultural», este Gabinete irá proceder aos trabalhos de renovação da pintura das paredes exteriores dos edifícios que reúnem condições para tal. (para mais informações consultar a página eletrónica deste Gabinete: www.gdi.gov. mo)
2.
Todas as despesas relacionadas com a presente renovação serão suportadas por este Gabinete. A obra terá inicio no dia 1 de Abril de 2020 e com um prazo de execução de 100 dias úteis de trabalho.
3.
Para proceder à pintura, será necessário montar andaimes nas paredes exteriores. Durante o período de execução, serão providenciados serviços de segurança do local durante 24 horas, apelando-se aos moradores para prestarem a devida atenção às portas e janelas por forma a evitar furtos e roubos. Pedimos desculpas pelo incómodo que esta obra poderá causar.
Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, 23 de Março de 2020. Coordenador, Lam Wai Hou
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DDiário de um editor João Paulo Cotrim
SANTA BÁRBARA, LISBOA, DOMINGO 15 MARÇO Não voltarei a usar a palavra coincidência. Assim que afastei a frase percebi que não lhe escaparia. No trambolhão das circunstâncias, «Lourenço é nome de jogral», de Fernanda Botelho (luxuriante capa de Maria João Carvalho, algures na página), volta a tombar-me nas mãos, a ecoar-me nos dias. E por inúmeras razões, ei-lo incandescente, a queimar-me. (Nas frase seguintes arrisco estragar alguma surpresa em hipotéticos leitores, mas estamos perante um daqueles casos em que a narrativa e seus acontecimentos interessam pouco.) Ampliemos um detalhe: parêntesis – que uso na versão diferente, parêntese, da autora por me sugerir o plural, pelo grafismo dos «esses» a definirem desfiladeiros na paisagem. No exacto momento em que temos a vida entre parêntesis, eis romance onde a autora os usa como lâmina, goiva, formão. A sua estrutura polifónica, coral também no sentido animal, na qual cada capítulo corresponde a uma voz, quase sempre na primeira pessoa, como que é interrompida por afinações, evocações, falas de pessoas outras, explicações breves, mas também longos pensamentos, cinzelamentos, acertos e pequenas histórias, e, por se tratar de vida, comentários aos modos de narrar, ao definir das personagens. «(Ao regressar deste parêntese, dei-me conta de que o veneno estava intacto dentro de mim, mas o conhecimento da sua inevitabilidade, acrescentado ao cansaço e à doença, serviram-me de pretexto para uma aquietação razoável.)» Lourenço é o núcleo deste ecossistema, que rodará à velocidade da nossa leitura, abrindo com a fala do filho e que em diálogo com ele se fechará, com um «Eu» a ensaiar respostas trémulas ainda que finais: «se pudesse e soubesse, responder-te-ia. Sou isto que sou.» Lourenço está morto, suicidado?, e as vozes que o velam talvez sejam orquestradas pelo próprio para que se revele a si mesmo no círculo fechado de espelhos que são os outros. Dirá, em outro momento, na sequência de alinhamento das dúvidas, das espectativas, das crenças: «sou um homem só, mas um homem só é um absurdo.» Lourenço perdeu-se nas múltiplas bifurcações, as da sua condição, as da sua esperança, as do seu potencial. «Eu, céptico? Sou muito pior que isso: sou burguês.» O burguês, inquieto e culto, aberto ao mundo e ao humano, como labirinto. Sem saída. «Dou-me conta do meu cansaço, da minha incapacidade, duma qualquer inutilidade que também me engloba. As ejaculações de Catulo e de Rimbaud serão resposta a uma nossa exigência essencial, serão uma metáfora da nossa congénita vocação de absoluto, ou serão, simples
25.3.2020 quarta-feira
Mortais ou imortais,todos mentiram
Perdidos e achados fundo, próxima e estruturante. (Rabelais por exemplo, atravessa a paisagem enquanto fantasma.) E em relação estreita com outro dos grandes temas: o corpo, como lugar onde nos cumprimos, e o desejo como ferramenta para o moldar. São incontáveis as passagens fulgurantes, que resultam do entendimento dos modos, da observação aguda, da explosão telúrica. «Só o corpo é meu em exclusivo.», canta Luzinha. «Ele é a parte que se deve a si própria, e apenas. É através dele que me exprimo natural; não quero chegar à metrópole torturada da alma com a nostalgia de não ter passado pela selva esconjurante do corpo, nunca estaria completa na metrópole, consagrada por inteiro às funções da metrópole, nunca, sempre dividida entre dois pólos opostos, à procura duma amostra de selva, e insatisfeita sempre, com a minha pretensa unidade comprometida, desconcentrada.» O corpo faz-se folha em branco, sujeito a uma escrita que abre a noite, mas que nos pode enclausurar. Por que porta se entra na perdição, em que momento falhamos o encontro? Falhar torna «a dor como forma única de sobrevivência»? Páro, e ao parêntesis inicial respondo com dois pontos, deixando-me pendurado, tal me encontro. Estou agora no meio da conversa de Lourenço consigo mesmo. «Lorenzaccio, meu irmão, meu gémeo, meu arquétipo, somos os fundadores duma classe onomástica com os pés no inferno, o espírito no impossível paraíso e o cérebro rasgado na confusão das trevas terrestres. Somos realmente os gigantes da angústia perplexa, megalómanos do sonho irrealizado.» HORTA SECA, LISBOA, SEGUNDA 16 MARÇO Decidimos o inevitável. Encerrámos as janelas luminosas, da rua deserta sobra apenas a contingência da gestão da economia estar em horta seca. Esperamos que a porta fechada não ganhe o peso do concreto. Enchemos o peito de ar e agora de cronometro medimos o tempo que aguentamos debaixo de água (sem lançamentos, livrarias, feiras e o sobrante e poroso e descarnado exoesqueleto). e exclusivamente, parte do instrumental de sopros e percussão que vai ritmando, entre agudos e graves, a marcha colectiva para um futuro qualificado?» Forço conclusões, debruçado sobre a mesa de autópsias, desrespeitando a mestria de Fernanda Botelho nas subtilezas, no sugerido, na transparência que esconde. O grupo de amigos que rodeia Lourenço para o definir dizendo-o, são figuras de corpo inteiro, de carne viva, sobretudo as mulheres, Matilde e Luzinha. E também os seus dias surgirão, nunca
de forma linear, como «contas dum colar, todos eles enfiados na linearidade do tempo, à espera dos que hão-de vir, mais contas para o colar que nos estrangula.» Quando a máquina da memória se liga «verificamos nessa altura (e com que surpresa!) como, vista assim em panorâmica, a nossa vida não foi uma simples sucessão de dias, antes uma confusa hierarquização de quebras, fagulhas, lapsos, deslizes, golpes, turbilhões, ciclones, mortes». A cultura, musical, literária, surge líquida, em baixo contínuo, pano de
HORTA SECA, LISBOA, SEXTA 19 MARÇO Em instigante entrevista ao Le Point, Peter Sloterdijk aconselha como leitura para os dias Bocaccio e «Decameron», por responder ao mal contando histórias que libertam o desejo de viver. Contemo-nos histórias. E lança o repto: estudar uma ciência inexistente, a labirintologia. No labirinto, as saídas não se descobrem à primeira e a vetusta bifurcação não responde aos desafios, não descobre se não portas. Fechadas.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
quarta-feira 25.3.2020
Divina Comédia Nuno Miguel Guedes
Até os deuses adoram piadas. Platão
E
SCUSO então de dar-vos as boas vindas a esta escuridão partilhada. Sabemos pelo que estamos a passar, sabemos que o tecto é o mesmo, que o que nos atinge e ao mesmo tempo nos une não respeita nada: nem fronteiras, nem juízos e por enquanto, nem a nós. A nossa função enquanto espécie tem sido fazer com que a última parte da oração anterior seja invertida. E sabemos, oh como sabemos: já aqui estivemos antes e de muitas formas. Sempre resistimos, de uma maneira ou de outra, mesmo que os custos disso tenham sido trágicos. No instante em que escrevo chega-me a notícia de mais uma vítima famosa do vírus, minha paixão adolescente e primeira musa de Antonioni: Lucia Bosé. Logo a seguir a televisão reporta que só em Madrid morreram já 1200 pessoas.
Rir em tempo de cólera
Não há outra maneira de dizê-lo: dias terríveis e incertos. E como podemos responder? Já se sabe das várias solidariedades que do maior ao mais pequeno gesto atravessam o mundo. É bonito e deveria ser praticado mesmo quando o quotidiano regressar a uma suposta normalidade. Mas de todas as formas de reacções que vêm de todo o globo a minha preferida e atrevo-me, a mais humana, é a do riso. Já o devem saber, amigos. Terão recebido memes, vídeos, relatos de gente
que de uma forma ou de outra ri da tragédia, de nós todos e de si próprio. Agora mesmo vejo um cidadão espanhol dizer que a sua agenda ficou sobrecarregada com as diversas manifestações e grupos que nasceram desta pandemia. E queixa-se, com graça, que isolamento é isolamento e suplica que o deixem estar sossegado. A misantropia é fácil mas responder humanamente às crises é o mais difícil. O riso é um mecanismo de defesa exclusivo da humanidade que quando utiliza-
Porque rir é isto: é desafiar a morte, trocar-lhe as voltas, driblá-la. É a vingança possível sobre a nossa pobre condição finita. Não se trata de romantizar esta situação concreta nem sequer um acto de alienação. Pelo contrário: é pegar o bicho pela cara, estar rosto a rosto com ele e seja qual for o desfecho, ganhar
do faz exactamente isso: humaniza. Aqui e agora estamos distantes da função purgativa do riso que Bergson defendeu no seu triplo ensaio de 1899. Não: estamos no território do famoso risus purus de Beckett, a defesa última do condenado, boca aberta em vírgula perante a desgraça e a infelicidade. Sempre existiu e por vezes em circunstâncias muito mais extremas do que vivemos: basta lembrar as anedotas que os prisioneiros dos campos de extermínio nazi ou dos gulags inventaram e trocaram entre eles. Porque rir é isto: é desafiar a morte, trocar-lhe as voltas, driblá-la. É a vingança possível sobre a nossa pobre condição finita. Não se trata de romantizar esta situação concreta nem sequer um acto de alienação. Pelo contrário: é pegar o bicho pela cara, estar rosto a rosto com ele e seja qual for o desfecho, ganhar. E à medida em que me chegam provas sortidas deste riso de combate fico confortado e com a certeza que mesmo perdendo no fim dos fins, esta batalha assim já está ganha.
14 (f)utilidades TEMPO
MUITO
25.3.2020 quarta-feira
NUBLADO
DIA SEM FESTA
20 6 7 1 4 3 8 2 5 9 22 7 25 5 1 9 7 6 8 3 2 2 4
9 3 2 6 7 5 4 1 8
5 8 4 1 9 2 6 7 3
7 2 9 8 4 6 5 3 1
1 6 3 5 2 9 7 8 4
8 4 5 3 1 7 9 6 2
3 1 7 9 6 4 8 2 5
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2 7 8 3 9 5 6 6 4 9 3 1 7 2
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8
1 3 6 4 8 7 5 9 3
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2 8 5 8 6 4 1 9 3 7
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8 9 1 2 7 3 6 4 3 5
6 7
26
HUM
7 5 - 9 8´%
•
EURO
8.66
7 8 3 9 6 4 2 5 3 1 4
4 6 5 3 8 1 9 2 7 8 9 2 6 3
1 3 2 4 8 8 7 5 6 9
THE INVISIBLE 26 MAN [C]
Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 15.00, 18.30
5 9 [C] BIRDS OF PREY
8
Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 15.00, 18.00, 20.15
7 5 2 7 9 THE CAVE [B] 2 4 THE TURNING [C] 6 3 5 1 9 7 3 4 9 8 2 3 7 4 Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 21.00
28
8 5 9
SALA 3
A BEAUTIFUL DAY IN THE NEIGHBORHOOD [B]
Um filme de: Marielle Heller Com: Tom Hanks, Matthew Rhys, Chris Cooper 14.30, 19.30
Um filme de: Tom Waller Com: Jim Warny, Ekawat Niratworapanya, Tan Xiaolong, Erik Brown 17.00
4 5
BAHT
Um quarto de século volvido sobre a entrada em vigor da primeira versão da Convenção de Schengen, 26 de março de 1995, o espaço de livre circulação dentro da Europa, uma das maiores histórias de sucesso do projecto europeu, está hoje basicamente suspenso.
C I N E M A
SALA 1
Um filme de: Floria Sigismondi
1 5 2 5 3 4 8 9 6 4 1 9 7
Cineteatro
SALA 2
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 24
9 5 9 4 1 3 8 4 2 7 6
4 7 3 9 4 2 8 2 6 1
MAX
4 5 6 2 8 3 1 9 7
PROBLEMA 25
24 3 27 1 6 6 7 4 2 9 2 5 8 9
6 2 1 9 5 4 7 4 8 9 5
22
O espaço Schengen de livre circulação de pessoas cumpre esta quinta-feira 25 anos, efeméride que se assinala da forma mais contraditória possível, com a generalidade das fronteiras entre os Estados-membros da UE reerguidas, devido ao surto de covid-19.
S 4U3 D 5 8O 2 1K6 U 9 9 8 7 2 5 3 1 5 6
MIN
UM FILME HOJE Clint Eastwood desempenha o papel de Frank Morris, um criminoso famoso pelas suas fugas que foi parar à prisão de Alcatraz, localizada num penhasco no meio do mar, em São Francisco, Estados Unidos. Alcatraz significava a perda de liberdade para sempre, pois dizia-se ser impossível uma fuga. Contudo, Morris e os seus colegas foram os únicos a conseguir escapar, em 1962, utilizando os canais de ventilação do edifício. Até hoje persiste o mistério da sua sobrevivência após a fuga. Andreia Sofia Silva
0.24
YUAN
1.13
VIDA DE CÃO
O MUNDO PAROU O universo resolveu conspirar para que todos nós parássemos quase por completo as nossas vidas. No entanto, a chegada da pandemia da covid-19 deu-se na era do digital e da internet, o que, de certa forma, facilita o nosso quotidiano. Estamos permanentemente ligados e conseguimos manter trabalhos, aulas e afectos à distância. A covid-19 parece estar a ensinar-nos muitas coisas, a dar lições a muitos países e governantes, a obrigar-nos a olhar para o que antes não percebíamos. De repente vimo-nos confinados a estar sozinhos ou em família, a partilhar tempos e espaços como há muito não o fazíamos. Num mundo caótico, ficámos, subitamente, com muito tempo livre. Depois de o mundo parar, não se sabe muito bem por quanto tempo, seremos seres humanos melhores ou mais loucos? Iremos a correr que nem doidos para os bares, para as ruas, ou ficaremos meio atordoados sem saber como viver? Quais as lições da covid-19 que ainda estão por vir? Andreia Sofia Silva
OS FUGITIVOS DE ALCATRAZ | DON SIEGEL (1979)
6A BEAUTIFUL DAY 4 IN THE NEIGHBORHOOD 1 5 7 1 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 6 9Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo Colaboradores Anabela M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e 2 5 Duarte; 6 Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Carmo; Rita Taborda Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; www. 1 Secretária de redacção 8e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Xinhua hojemacau. com.mo Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 4 8 7 1 3 2
opinião 15
quarta-feira 25.3.2020
sexanálise
Ficção do sexo e do vírus
PIERRE-AUGUST RENOIR
TÂNIA DOS SANTOS
E
STA é altura de fazer ficção. A alienação fictícia é bem-vinda quando a realidade é dolorosa. Inventam-se estórias da história, tal como o Tarantino fez algumas vezes. Se se vivem dias difíceis temos a imaginação para torná-los diferentes. Se há alguém a gostar destes cenários onde vivemos e não anda com dificuldade em dar-lhes sentido, das duas uma: ou é um optimista ou é um sociopata. Há quem julgue que este tempo possa ser usado na criação de grandes obras literárias, grandes projectos que nunca foram concretizados. Sobem-se expectativas de quem não percebe nada de criatividade. A criatividade artística, aquela que cria coisas bonitas e rentáveis, não é a única resposta para lidar com os dissabores da vida. Mas um pouco de parvoíce é bem-vinda. Parvoíce que faz com que uma escrita semanal sobre sexo possa contribuir para estórias virulentas fantásticas. Estórias de heróis e heroínas onde o mal é aniquilado por completo com o acto do sexo. Era uma vez a corona que conhece a outra corona para fazer filhos e passarem o testemunho de destruição. O sexo é a arma da
multiplicação, até com o vírus – que não fazem mesmo sexo, mas no mundo fictício tudo é possível. Depois há o sexo entre humanos, os fluidos que se trocam proporcionam as condições ideais para esta partilha virulenta também. O sexo não é uma arma de destruição, mas podia ser. E se o esperma fosse o melhor dos desinfetantes? E se a masturbação fosse a forma mais eficaz de fortalecer o sistema imunitário e combater o mal invisível? A masturbação que nos dizem fazer crescer pêlos nas mãos ou cegar, podia ser a solução para os problemas do mundo. Uma forma de produção de bem-estar, como já estou bem farta de pregar semanalmente e agora prego neste cenário de ficção. Nesta fantasia mirabolante, o sexo, dentro de certas condições, seria a solução para a situação que vivemos. O corpo seria passível de invasão, mas estaria apetrechado de formas de luta, de criar barreiras e de tornar a vida do vírus difícil. A capacidade de nos transformarmos seria real. Teríamos
O sexo desafiaria a tendência isolacionista que este vírus nos obrigou. Só é preciso criatividade para tornar o que nos desconforta em algo menos desconfortável
uma fonte inesgotável de desinfetante – não adoram a ideia do esperma ter mais do que uma função do que fecundar óvulos? Homens andarem a ejacular por motivos de higiene não seria um cenário bonito. Seria o pesadelo para a luta do patriarcado. Nesta fantasia igualitária os corpos com vulvas podiam contribuir de forma igualmente eficaz, com os seus fluidos protectores e desinfectantes. O orgasmo também seria uma forma de protecção. O orgasmo emitiria radiações capazes de destruir as gotículas transmissoras do vírus, como um morcego com a sua capacidade ultra-sónica. Já que foi um morcego que trouxe o vírus de coroa para o mundo humano, nós também contribuímos com a nossa capacidade quasi-morcega para nos desfazermos da praga que nos assola. A forma como sentimos o corpo e o mexemos também seria passível de todo o tipo de inovação. Pálpebras e membranas estariam disponíveis para tapar aquilo que não devia estar exposto. O sexo desafiaria a tendência isolacionista que este vírus nos obrigou. Só é preciso criatividade para tornar o que nos desconforta em algo menos desconfortável. Criatividade que não precisa de se transformar numa grande peça de dramaturgia como insinuam que o Shakespeare fez. Usemo-la para a re-invenção nestes tempos que nos atiram ora para a preocupação, ora para o aborrecimento.
Um conservador é um homem cobarde demais para se bater e gordo demais para correr. PALAVRA DO DIA
Elbert Hubbard
JUSTIÇA TSI DÁ RAZÃO A EMPRESA JUNKET EM CASO DE IMÓVEIS
DIÁRIO SEM BORDO
Jogo Agências estimam perdas maiores do que o previsto
Mimos anónimos
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Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a uma empresa junket que opera na área da concessão de créditos para jogos num clube VIP do Sands Cotai Central, num caso onde esta exige a anulação da compra e venda de imóveis por parte de um jogador que contraiu uma dívida pelo empréstimo de 3.500 milhões de dólares de Hong Kong. Este montante foi emprestado ao jogador em fichas de jogo, tendo este prometido a devolução do dinheiro no prazo de 15 dias. No entanto, apenas devolveu 200 mil dólares de Hong Kong e não mais atendeu telefonemas da empresa. Esta resolveu exigir, em Dezembro de 2015, junto do Tribunal Judicial de Base (TJB), o pagamento da dívida, tendo descoberto que, antes, o jogador e a esposa tinham vendido dois lugares de estacionamento e um apartamento. O jogador alegou “que já não tinha bens suficientes para pagar as respectivas dívidas”, pelo que a empresa junket exigiu a declaração de nulidade ou ineficácia das transacções. Em 2018 o TJB decidiu a favor da empresa, pois ficou provado que “nas duas transacções de compra e venda de imóveis, tanto os compradores como os vendedores não tinham a vontade de comprar e vender os imóveis, nem o preço foi pago pelos compradores, sendo manifesta a sua intenção de impossibilitar que a Autora [empresa junket] executasse coactivamente os referidos imóveis do 1.º réu.”. O jogador recorreu então para o TSI, alegando que “os registos das transacções bancárias e os comprovativos de depósitos bancários podiam demonstrar que pagaram os preços das transacções e, por conseguinte, as transacções haviam sido reais”. Contudo, o TSI determinou que “não se provou que os aludidos registos das transacções bancárias visavam o pagamento dos preços para a compra e venda de imóveis, sendo correctas a apreciação da matéria de facto e a aplicação do Direito, efectuadas pelo Tribunal a quo [TJB], devendo, em consequência, ser consideradas nulas essas transacções”. A.S.S.
O
almoço veio com uma maçã. Um fait-divers para muitos, mas não aqui. Na China come-se fruta, mas não para rematar refeições. Esta maçã teve um gosto especial. O gosto do mimo que vem do invisível. Um tantinho emocionada, passou-me pela cabeça que o primeiro som da palavra maçã em chinês é píng, o mesmo som de Paz. Sorri para mim própria como gostaria de o estar a fazer a quem me colocou aquela maçã em cima da caixa do caldo. Como de costume o saco do almoço foi deixado ao meio dia. Três batimentos e ouve-se o plástico a ser pousado no chão. Abro a porta. O funcionário já se dirige ao próximo quarto, vestido de verde. Olha para trás. Agradeço. O saquinho vem identificado com o número do quarto e um alerta simpático: “Veg”. Nem isso falha. Recebi um telefonema no segundo dia de estadia. “Quais são as suas preferências alimentares? Porco, vaca ou galinha?”. “Sou vegetariana” respondi. A refeição que se seguiu já veio em conformidade. Gosto especialmente quando me trazem folha de bambu, cogumelos chineses e Pak Choi, tudo salteado a acompanhar o inevitável arroz. Às vezes vem uma tacinha com pickles. Fazem bem à digestão. Mas também gosto do Chau Min com vegetais. Não o consigo comer ao pequeno almoço, por defeito cultural. Mas mesmo frio, sabe a pitéu ao lanche.
Palavras do Chefe
Esta manhã o Chefe do Executivo falou. Recordo, em relance, o ainda curto período Governativo de Ho Iat Seng. O dia em que assumiu o cargo e as expectativas de mudança que se anteviam, na altura, longe das sombras. Ainda com a cadeira fresca, depara-se com a tempestade. O Corona deflagra na China, e Macau tem que se proteger. Sem histerismo, o novo Chefe soube ser Chefe. Agora, em tempo de regresso de muitos, acolhe-nos. Dei comigo a confiar.
quarta-feira 25.3.2020
Sou uma feliz privilegiada. Se estivesse nas mesmas circunstâncias em qualquer outra parte do mundo, o mais provável era terem-me colocado numa tenda improvisada num parque de estacionamento – com sorte. Não! Estou num hotel, com mais estrelas que o normal, e com todas as condições.
Sou uma feliz privilegiada. Se estivesse nas mesmas circunstâncias em qualquer outra parte do mundo, o mais provável era teremme colocado numa tenda improvisada num parque de estacionamento – com sorte. Não! Estou num hotel, com mais estrelas que o normal, e com todas as condições O sol põe-se atrás da montanha. Gosto de o ver. “Estou sempre do outro lado do vidro” dizia-me hoje a Fátima em mensagem. Também a vejo. Quando sair vou agarrar nela, que é pequenina como eu, e dar-lhe uma volta no ar. A voz doce da Dália deu o bom dia do outro lado do mundo. Para a próxima voltamos a ver o mar. Parece que já só faltam nove. Até amanhã. Macau, 24 de Março de 2020 M.M.
Com vista a “reflectir a desaceleração económica global com maior consciência sobre distanciamento social e restrições de vistos/viagens”, o ramo de corretagem do Jefferies Group LLC aumentou em 29 pontos percentuais a sua previsão para a contração na receita bruta do jogo em Macau, noticiou ontem o GGRAsia. A empresa estima agora que o declínio anual seja de 45 por cento. Anteriormente, a instituição tinha previsto uma queda de 16 por cento este ano, e de 9,2 por cento em 2021. Em nota emitida na segunda-feira, o analista Andrew Lee indicou que a Jefferies mantém uma posição conservadora em relação às perdas do sector pela crença de um aliviar nas restrições de viagens. Por sua vez, a agência corretora Sanford C. Bernstein Ltd disse num memorando que estimava que a receita bruta do jogo entre 1 e 22 de Março era de aproximadamente quatro mil milhões de patacas, com uma taxa média diária mensal de cerca de 182 milhões, escreveu o GGRAsia. Isto reflecte um decréscimo de 78 por cento comparativamente a Março do ano passado. Sanford Bernstein notou ainda que a média “piorou” para 164 milhões durante a semana de 16 a 22 do mês em análise.
Rússia Incerteza sobre número de infectados no país
A Rússia admitiu ontem não ter uma “imagem clara” da extensão da contaminação pelo novo coronavírus no país, pelo que o número de casos identificados permanece baixo em comparação com países da Europa Ocidental. “O problema é que o volume de testes é muito baixo e ninguém tem uma imagem clara” da realidade na Rússia como se tem no resto do mundo, disse o presidente da câmara municipal de Moscovo, Sergei Sobyanin, que lidera o grupo de trabalho de combate à pandemia, na sequência de uma reunião com o Presidente Vladimir Putin, no Kremlin. O chefe de Estado russo garantiu, várias vezes na semana passada, que a situação está sob controlo no país, criticando a crise vivida em França e na Itália. A Rússia divulgou ontem a existência oficial de 495 casos positivos de covid-19 em todo o país.