Hoje Macau 25 AGO 2020 #4597

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TIAGO ALCÂNTARA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 25 DE AGOSTO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4597

ESTES DIAS PAULO JOSÉ MIRANDA

SIMPÓSIO AMÉLIA VIEIRA

QUARTETO MICHEL REIS

hojemacau

ALIMENTAÇÃO | REDES SOCIAIS

A GRANDE FARRA

SAÚDE | OBRAS

COMISSÃO EXTINTA HOJE MACAU

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Toca a aprender As campainhas vão começar a tocar nas escolas de Macau a partir do próximo dia 1 de Setembro, segundo os dados ontem divulgados pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). A Escola Portuguesa abre portas no dia 7 e o mesmo acontece com o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes. A DSEJ apela ainda ao cumprimento de todas as medidas de prevenção contra a covid-19 neste regresso às aulas. PÁGINA 7

COVID-19

REPETIÇÕES PAGAS PÁGINA 6

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TIAGO ALCÂNTARA

GRANDE PLANO


2 grande plano

25.8.2020 terça-feira

CHINA

Vídeos de pessoas a ingerir enormes quantidades de comida são o alvo mais recente da campanha chinesa de luta contra o desperdício alimentar. A política lançada por Xi Jinping deu azo a especulação quanto à capacidade para alimentar os 1,4 biliões de cidadãos, numa altura em que o país enfrenta desafios em múltiplas frentes como inundações, pandemia, pragas e tensões comerciais

MAIS OLHOS QUE BARRIGA O

CAMPANHA CONTRA DESPERDÍCIO ALIMENTAR CHEGA ÀS REDES SOCIAIS

que tem de apelativo ver alguém comer grandes quantidades de comida? A resposta pode cobrir um amplo leque de motivações psicológicas, mas não chega para explicar a popularidade imensa de alguns vloggers que ganham a vida a enfardar descomunais pratadas de comida. Nascida há 35 anos em Fukuoka, Yuka Kinoshita é uma das youtubers mais populares do género, com quase 5,5 milhões de subscritores e mais de 2 biliões de visualizações. Apesar da figura elegante, os vídeos da japonesa documentam refeições que dão para

alimentar uma família numerosa com muita fome, por vezes chegando às 23 mil calorias ingeridas. Por exemplo, no início do ano, mais de 1,5 milhões de pessoas viram Yuka mandar abaixo 200 peças de sushi, e quase 2 milhões assistiram à hercúlea tarefa de comer quatro quilos de salmão e um quilo de sopa miso. Este fenómeno, que ganhou imensa popularidade nos últimos 10 anos, em particular na Ásia, dá pelo nome de mukbang, expressão nascida do coreano da conjugação das duas palavras “comer” e “transmitir”. Além das críticas que apontam estes programas como a der-

radeira glorificação da bulimia, o mukbang ganhou recentemente um poderoso inimigo: o Governo chinês.

No início do ano, mais de 1,5 milhões de pessoas viram Yuka Kinoshita mandar abaixo 200 peças de sushi, e quase 2 milhões assistiram à hercúlea tarefa de comer 4 quilos de salmão e 1 quilo de sopa miso

Tudo começou quando o Presidente chinês, Xi Jinping, declarou guerra ao desperdício alimentar. Estava dado o mote para o lançamento da campanha “prato limpo”, com o Presidente a detalhar que a pandemia de covid-19 “fez soar o alarme” para o desperdício de alimentos, acrescentando que a China deve manter atenta em relação a uma potencial crise de segurança alimentar.

DIETA NA NET

Das palavras à acção, vários meios de comunicação oficiais materializaram a condenação social dos autores deste tipo de conteúdo audiovisual. A CCTV


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terça-feira 25.8.2020

transmitiu várias reportagens críticas sobre o mukbang e os seus protagonistas, e as próprias redes sociais chinesas entraram no jogo adicionando avisos para os internautas que procuram termos como “programa de comida” ou “comer em directo”. A adaptação não se fez esperar, com vloggers e produtores de conteúdos a emitir avisos no Douyin, a versão chinesa do TikTok, para “aproveitar a comida”, “comer de forma apropriada” ou “estima a comida, recusa o desperdício, come com responsabilidade e leva uma vida saudável”. As mensagens parecem anunciar o fim do festim deste tipo de canais na China, ou pelo menos nas redes sociais chinesas, uma vez que não surgem em aplicações fora do Continente, como a TikTok. Em declarações à BBC, a analista de media chineses Kerry Allen explica que “há algum tempo que as redes sociais chinesas mostram nervosismo face à possibilidade de terem conteúdos que possam ser considerados como maus ou imorais pelo Estado”. Porém, a analista refere que os receios não são unilaterais, e que também o Governo encara com algum cuidado as novas liberdades que advêm da hipótese de transmitir vídeo em directo, algo que as novas aplicações tornaram extremamente popular. Assim sendo, foi com naturalidade que surgiram regras rígidas de transmissão e publicação de vídeos, em particular vídeos na via pública, ou que aparentem ter conteúdo “sedutor”. Aliás, foi a partir da fixação de parâmetros rígidos quanto ao conteúdo que começaram a surgir vídeos de pessoas a cantar ou a comer.

“Big Stomach Mini”

alimentar, como uma escola que fez depender a inscrição dos alunos com base no nível de comida desperdiçada na cantina, ou um restaurante colocou uma balança à entrada para tentar impedir algo contraproducente ao negócio: que o cliente não peça demasiada comida. A disciplina gastronómica faz parte da imagem que o Partido Comunista da China tem cultivado do seu líder, Xi Jinping, um homem que luta oficialmente contra o excesso e a gula. “Cultivem hábitos de consumo frugais e promovam um ambiente social em que o desperdício é uma prá-

RESPOSTA POPULAR

Seguindo a máxima de quanto mais alto maior a queda, após a condenação pública os próprios espectadores começaram a reagir negativamente aos conteúdos, em particular às estrelas chinesas conhecidas como “reis do estômago grande”, que levam o conceito de refeição para o campo da proeza circense. Estes vídeos começaram a ser censurados com edições que impossibilitam o espectador de ver o que se passa. A BBC relata que muitos destes vídeos foram a retirados pelos próprios autores, depois do ataque de internautas que aproveitaram a oportunidade para divulgar a identidade dos vloggers e envergonhá-los como desperdiçadores. Porém, a condenação dos excessos não se fica pela internet. O The New York Times (NYT) relata outros exemplos de medidas que procuram combater o desperdício

“Cultivem hábitos de consumo frugais e promovam um ambiente social em que o desperdício é uma prática vergonhosa e a frugalidade é aplaudida.” XI JINPING

tica vergonhosa e a frugalidade é aplaudida”, referiu o Presidente chinês num artigo publicado no Diário do Povo.

POLÍTICA E ECOS

O artigo salienta que, “além da ser uma necessidade básica da população, a cultura gastronómica sempre foi muito importante para os chineses”. “Porém, à luz do forte desenvolvimento da indústria alimentar de hoje, o desperdício alimentar tornou-se proeminente”. O jornal oficial descreve ainda que durante 2018, em média por cada refeição 93 gramas de alimento foram parar ao caixote do lixo, o que representou uma taxa de desperdício de 11,7 por cento. De acordo com um estudo da Academia Chinesa de Ciências e do Fundo Mundial da Vida Selvagem, citado pelo Diário do Povo, entre 2013 e 2015, os consumidores chineses desperdiçaram cerca de 18 milhões de toneladas de comida, o suficiente para alimentar, durante um ano, entre 30 a 50 milhões de pessoas. É aqui que a política de Xi Jinping enfrenta um obstáculo cultural que ocupa o centro da mesa de qualquer jantar na China. A própria tradição dita que se peça comida em excesso e que o desperdício seja interpretado como demonstração de generosidade em relação a familiares, clientes, parceiros de negócios e convidados especiais. A mensagem de combate ao desperdício tem sido transmitida de forma mais alargada, apontando no sentido da procura da autossuficiência alimentar principalmente face às disrupções comerciais resultantes do caos geopolítico e

das tensões diplomáticas com os Estados Unidos, além das dificuldades trazidas pelas cheias e a pandemia, que podem mexer nas reservas de alimentos.

TEMPOS COMPLICADOS

No mês de Julho, o preço dos alimentos na China subiu 13 por cento, em comparação com o período homólogo do ano passado, de acordo com as estatísticas oficiais. O preço da carne de porco, produto essencial, aumentou cerca de 85 por cento no mesmo período em análise, em parte devido ao efeito devastador que as cheias estão a ter nas rotas de abastecimento.

Entre 2013 e 2015, os consumidores chineses desperdiçaram cerca de 18 milhões de toneladas de comida, o suficiente para alimentar, durante 1 ano, entre 30 a 50 milhões de pessoas

Segundo um relatório divulgado no Diário da Juventude Chinesa (China Youth Daily em inglês), agricultores da província central de Henan, região estratégica no que diz respeito à produção de cereais, admitiram armazenarem grande parte das colheitas deste ano na esperança que os preços aumentem. É neste contexto que o curioso fenómeno de internet mukbang tem recuado, quase em vergonha, na China. A imagem de uma jovem a sorver quatro quilos de noodles é completamente oposta a esta citação sobre a campanha “prato limpo”, publicada no Diário do Povo: “No prato do jantar, todos os grãos são o resultado do trabalho árduo de alguém”. Daí que se tenha tornado normal nos últimos dias expressões de arrependimentos dos “reis do estômago grande” chineses. O NYT cita uma autora chinesa que mudou o seu nome de “Big Stomach Mini”, ou mini estômago grande, para o mais austero cognome “Dimple Mini”, ou covinhas mini, numa retração. A popular vlogger, que chegou a publicar um vídeo em que comeu um carneiro assado inteiro, postou um vídeo a apelar aos fãs que saboreassem todas as dentadas e que levassem para casa as sobras. O vídeo atraiu mensagens positivas de mais de 11 milhões de fãs. A vlogger acrescentou que “não há problema nenhum em apreciar delícias culinárias” e apelou aos fãs para não desperdiçarem ou incorrerem em comportamentos extravagantes. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


4 política

25.8.2020 terça-feira

SAÚDE EXTINTA COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DE NOVAS INFRA-ESTRUTURAS

Governo arruma a casa

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OI ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho, assinado pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que dá conta da extinção da Comissão de Acompanhamento da Rede de Infra-estruturas do Sistema de Saúde, criada em 2011 pelo anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On. Até ao fecho desta edição o HM não conseguiu obter esclarecimentos adicionais sobre o trabalho desenvolvido por esta entidade junto dos gabinetes de Ho Iat Seng ou de Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, nem sobre as razões para a extinção deste órgão.

Aquando da sua criação, em 2011, o despacho de Chui Sai On dava conta da importância do estabelecimento da Comissão tendo em conta o necessário desenvolvimento das infra-estruturas na área da saúde. À época já se notava “uma crescente procura dos serviços de cuidados de saúde”, dado “o desenvolvimento rápido da sociedade e da economia”, associado ao rápido crescimento da população e ao seu envelhecimento. O despacho de Chui Sai On fazia referência à “baixa taxa de camas hospitalares em relação à população, a ameaça de doenças graves e o surgimento de novas PUB

HM • 1ª VEZ • 25-8-20

TIAGO ALCÂNTARA

Criada em 2011 pelo ex-Chefe do Executivo Chui Sai On, a Comissão de Acompanhamento da Rede de Infra-estruturas do Sistema de Saúde chega agora ao fim por decisão de Ho Iat Seng sem que várias das obras do sector tenham sido concluídas, como é o caso do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas

POR FAZER

Uma questão de tosse

Sugerida advertência para restaurantes que violam regras de higiene

ANÚNCIO 通 常 執 行 案 第 CV3-13-0008-CEO 號 PROCESSO: EXECUÇÃO ORDINÁRIA

第三民事法庭 3º Juízo Cível

EXEQUENTE: MELCO RESORTS (MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida da Praia Grande, nº. 594, 15 andar A.------------------------------------------------------EXECUTADO: 1) KINGDOM ENTRETENIMENTO SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA, com sede em Macau, na Rua de Ferreira do Amaral, n.º 25, Edf. Federation Garden, 4º andar C.--------------------------------------------2) WONG PO WING, residente em Hong Kong, no 58, Russell Street, G/F, Causeway Bay.---------------------------------------------------------------------3) IEONG U KIN, residente em Macau, na Rua de Ferreira do Amaral, n.º 25, Edf. Federation Garden, 4º andar C.----------------------------------------FAZ-SE SABER que, nos autos acima indicados, são citados os credores desconhecidos do 2º executado Wong Po Wing, para, no prazo de QUINZE DIAS, que começa a correr depois de finda a dilação de VINTE DIAS, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenham garantia real, e que é o seguinte:-----------------------------------------------------------------------------BENS PENHORADOS 1. Fichas de jogo no montante total de onze milhões de dólares de Hong Kong (HK$11,000,000.00).----------------------------------------------------------------------2. Numerário no valor de cento e trinta mil dólares de Hong Kong (HK$130,000.00).--Macau, 29 de Julho de 2020 ***

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Governo está a ponderar seguir a sugestão dos deputados da 2ª Comissão Permanente daAssembleia Legislativa (AL) e implementar um mecanismo de advertência para os restaurantes e estabelecimentos de pequena dimensão que prevariquem pela primeira vez, ao invés de aplicar, de imediato, multas pelo incumprimento de regras de higiene e segurança. Em causa está o regime sancionatório previsto na proposta de lei que regula a actividade dos estabelecimentos hoteleiros e que esteve ontem a ser analisada numa reunião que contou com membros do Governo. Chan Chak Mo, deputado que preside à comissão, revelou ontem que as multas previstas para os restaurantes localizados dentro de hotéis situam-se entre 50 e 70 mil patacas, ao passo que nos estabelecimentos de refeições simples, quiosques, bares e salas de dança a multa é de 10 a 30 mil patacas.

doenças transmissíveis, bem como o prosseguimento do reforço da capacidade de resposta das Ilhas em situação de emergência”. Situações que tornavam “necessária a melhoria e o reordenamento da rede de infra-estruturas de saúde”. À Comissão cabia a missão de “assegurar a coordenação, acompanhamento e avaliação, a nível global, dos investimentos públicos a efectuar no contexto do ‘Projecto de Melhoramento das Infra-estruturas do Sistema de Saúde’”, bem como implementar calendários e “garantir a articulação interdepartamental no desenvolvimento e implementação do Projecto”.

Segundo o deputado, a comissão questionou se o Governo considera a situação justa, sobretudo para os pequenos restaurantes. “Questionámos o Governo sobre o conteúdo que sanciona o acto de comer, cuspir ou tossir na zona de manipulação, preparação e armazenamento de alimentos. Ou seja, se a pessoa tem de tossir, terá que pagar uma multa de 10 mil patacas? Isto é razoável? Se calhar é preciso mexer na redacção ou então vão ter de usar toalha para tapar boca”, apontou Chan Chak Mo. De acordo com Chan Chak Mo, os “deputados entendem que isto é um pouco rigoroso para os pequenos restaurantes” e, por isso, sugerem que o Governo introduza mecanismos de advertência para os casos em que as infracções acontecem pela primeira vez. “Sugerimos outras leis que adoptam um mecanismo de advertência, tal como a lei da cibersegurança no seu artigo e a lei

do ensino não superior (...), onde, no caso de violar a lei pela primeira vez, existe uma advertência. O Governo diz que vai ponderar (…), temos de ver se a próxima versão da lei já contém o termo ‘advertência’”, sublinhou.

RIGOR LINGUÍSTICO

Chan Chak Mo revelou ainda que uma das alterações introduzidas à nova versão da proposta de lei em análise, garante mais rigor quanto ao idioma em que têm de estar redigidos os nomes dos estabelecimentos autorizados pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Segundo o novo texto, os estabelecimentos apenas poderão ter uma designação em inglês, depois de definida a sua redacção em chinês e português. Isto quando, a versão inicial do diploma, chegou a prever que a redacção fosse obrigatória apenas numa das línguas oficiais, antes de poder ter uma versão em inglês. P.A.

A 1 de Março de 2011 a Comissão foi oficialmente apresentada. Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) disse, citado por um comunicado oficial, que este órgão iria coordenar o “Projecto de Melhoramento das Infra-estruturas do Sistema de Saúde”, pensado para 10 anos. Este tinha como objectivo “melhorar as instalações médicas de Macau em três direcções” através das “obras de ampliação e reconstrução, o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas e a rede dos cuidados de saúde primários”. O orçamento previsto era de 10 mil milhões de patacas “para o aperfeiçoamento das infra-estruturas do sistema de saúde de Macau”. No entanto, nove anos depois, vários dos planos previstos para este Projecto ainda não foram concluídos, como é o caso do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Segundo as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, as estruturas principais do hospital geral, edifício de apoio logístico, edifício da Administração e edifício multi-serviços, bem como arruamentos e infra-estruturas em áreas periféricas, deverão estar concluídas em 2022. Em relação ao edifício para os trabalhadores, também incluído no Projecto a 10 anos, só estará concluído em 2022, enquanto que o edifício do laboratório central deverá estar finalizado em 2023. Por concluir, está também o edifício de especialidades médicas do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), que inclui uma zona de isolamento e laboratório. Apesar do incumprimento de vários prazos, o Executivo inaugurou nos últimos anos alguns centros de saúde, bem como o novo serviço de urgência do CHCSJ, em 2013, que foi alvo de uma ampliação. Em 2016, seria inaugurado o Centro Clínico de Saúde Pública no Alto de Coloane. Também o projecto do edifício do Alojamento dos Trabalhadores de Emergência de Saúde Pública, junto ao CHCSJ, foi inaugurado. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


política 5

terça-feira 25.8.2020

TIAGO ALCÂNTARA

JANELAS SINERGIA ACUSA DSSOPT DE IRRESPONSABILIDADE

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Iong Kong Leong, director da DSF “O Governo da RAEM vai (...) decidir, novamente, sobre a melhor oportunidade para submeter a citada proposta de lei à apreciação da Assembleia Legislativa.”

ECONOMIA CÓDIGO TRIBUTÁRIO CONCLUÍDO, MAS SEM DATA PARA REGRESSO À AL

Uma proposta eterna

Depois de avanços e recuos, a Direcção dos Serviços de Finanças acabou a proposta de lei do Código Tributário. No entanto, as eleições legislativas do próximo ano estão entre as justificações para explicar a falta de uma data para submeter a proposta à Assembleia Legislativa

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Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) terminou a proposta de lei do Código Tributário. Mas apesar de poder ser remetida à Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça para análise formal das leis, não há compromissos em levar o diploma a debate nesta sessão legislativa. A questão não é nova. Já foi submetida no passado à Assembleia Legislativa (AL) uma proposta de Código Tributário, mas foi retirada em 2012, com o Governo explicar que pretendia primeiro rever todo o regime fiscal. Além disso, importa referir que ao despedir-se da AL, Ho Iat Seng disse em conferência de imprensa que era “preocupante” Macau não ter um código tributário, tendo em conta o desenvolvimento económico e social do território.

“Considerando a realização de novas eleições legislativas no próximo ano, o vasto âmbito de aplicação da proposta de lei, a alta profissionalização e tecnicidade, bem como o tempo eventualmente muito prolongado no processo de apreciação, o Governo da RAEM vai, observando o progresso do trabalho de produção legislativa, decidir, novamente, sobre a melhor oportunidade para submeter a citada proposta de lei à apreciação da Assembleia Legislativa”, explicou agora o director da DSF, Iong Kong Leong, em resposta a uma interpelação escrita. O texto da proposta tem 347 artigos, divididos em oito títulos, e aborda áreas como os procedimentos fiscais ou o processo judicial tributário. O objectivo é juntar os vários temas relacionados com a administração fiscal, que estão “dispersos por diversas leis

fiscais avulsas”, e acrescentar o conteúdo correspondente às normas internacionais. “O Governo da RAEM resolveu propor a elaboração do Código Tributário, sendo expectável que o mesmo possa constituir, daí por diante, uma lei-quadro para o sistema tributário”, apresentou Iong Kong Leong.

MEDIDAS PROVISÓRIAS

A interpelação de Wong Kit Cheng apontava para a desactualização do sistema tributário e complexidade dos procedimentos. A deputada defendeu que as medidas de apoio durante a epidemia suscitaram problemas sobre a declaração de impostos, e que “merece a atenção da sociedade a questão dos ajustamentos que vão ser introduzidos nas políticas de benefícios fiscais e na revisão do referido código”. No documento, a deputada pediu também mais benefícios fiscais para a população. Quis

saber se o ajustamento feito este ano na devolução do imposto profissional se vai tornar regular. “O Governo deve ajustar o limite de isenção do imposto profissional tendo em conta a inflação e a mediana salarial registadas nos últimos anos, e lançar mais medidas fiscais para apoiar a classe sanduíche e as famílias. Vai fazê-lo?”, questionou Wong Kit Cheng. O responsável da DSF respondeu que os benefícios da devolução do imposto profissional e o aumento do valor limite de parte das contribuições “são medidas provisórias”. Frisou que o Governo toma uma decisão depois de analisar as finanças públicas, desenvolvimento económico e condições da vida da população, mas ressalvou que são tidas “como referência, sem, no entanto, indexar a decisão a determinados índices”. Salomé Fernandes

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presidente da Associação da Sinergia de Macau, Ron Lam, acusou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de ser irresponsável e de não agir por não avisar ou alertar os proprietários para verificarem as janelas, noticiou o jornal Cidadão. Ron Lam recordou que os residentes dos Edifícios Nova Taipa Gardens entregaram uma petição ao Chefe do Executivo, alegando que anteriormente a DSSOPT nada tinha feito e o Secretário para os Transportes e Obras Públicas negou o problema. Por outro lado, o presidente da Sinergia de Macau

indicou que, durante ao período de propaganda eleitoral, Ho Iat Seng afirmou que iria valorizar o tema. Como as janelas de fracção pertencem ao espaço privado e o conselho de administração de cada edifício não tem autorização para tratar do assunto, Ron Lam defende que há razões suficientes em Macau para tornar a verificação de janelas obrigatória. Até à criação de uma lei relevante, o responsável acha que as autoridades devem intervir nos edifícios com acidentes frequentes de queda de janelas, exigindo o pagamento das despesas decorrentes aos proprietários das fracções.

Taipa Coutinho quer detalhes sobre futuro parque de pneus

José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre o grau de toxicidade do futuro parque de pneus, que será instalado numa zona de lazer na Taipa, segundo um projecto já anunciado pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). “Na eventualidade de serem utilizados pneus no ‘Paraíso dos Pneus’, vai o Governo assumir as devidas responsabilidades por doenças cancerígenas eventualmente contraídas por crianças, jovens e idosos por terem frequentado com o referido parque?”, questiona o deputado. Coutinho quer também saber “quais vão ser os critérios na escolha da terceira entidade, supostamente independente, para fazer os testes de despistagem de produtos tóxicos”, exigindo também a divulgação dos relatórios de testes realizados aos pneus. O deputado está preocupado com o projecto, porque “a composição dos pneus é prejudicial à saúde, pois é constituída por substâncias altamente tóxicas”.

Créditos Candidaturas abertas para plano de bonificação de juros Os profissionais liberais podem, a partir de hoje, apresentar candidaturas para o plano de bonificação de juros de créditos bancários, destinado a combater as dificuldades económicas geradas pelo impacto da pandemia. De acordo com a Autoridade Monetária de Macau (AMCM), o limite máximo do montante do crédito é de 100 mil patacas, sendo que o prazo máximo para a concessão da bonificação de juros autorizada é de dois anos, a contar da data da mobilização do crédito ou da data de

início da linha de crédito. Para obter o apoio, os candidatos devem ser residentes de Macau, não podem ter dívidas para com o Governo e devem obter a autorização de concessão de crédito emitida por bancos de Macau entre 1 de Fevereiro e 31 de Dezembro de 2020. Além disso, o crédito que será alvo de bonificação “não poderá ser destinado à aquisição de imóveis ou de produtos de investimento financeiro”. A AMCM prevê que o número de candidatos “atinja cerca de 15 mil”.


6 sociedade

Os Serviços de Alfândega (SA) desmantelaram no sábado um grupo que praticava contrabando de produtos de maquilhagem numa loja na zona das Portas do Cerco. Segundo um comunicado ontem emitido, os SA descobriram mais de 19 mil embalagens no valor de 4,55 milhões de patacas, estando envolvidas seis pessoas - três alegados autores do contrabando, dois empregados da loja e o titular da licença da loja. Os SA suspeitavam das actividades da loja e, após a análise das informações partilhadas

com as autoridades de Guangdong, as detenções foram feitas. As autoridades descobriram também que o responsável da loja recrutou trabalhadores não residentes de forma ilegal para o transporte da mercadoria entre Macau e China de forma oculta, a fim de evitar a inspecção dos SA. Os indivíduos podem ter de pagar multas até 50 mil patacas por violações à lei do comércio externo, além de terem de responder por violações à lei de contratação de trabalhadores não residentes.

Ambiente Não entrou papel usado

TIAGO ALCÂNTARA

Na semana passada, Macau proibiu a importação e passagem de papel usado vindo de fora. Sabe-se agora que isso não acontece há vários anos. “De acordo com as estatísticas dos departamentos relevantes, não houve papel usado de outros locais a serem importados ou em trânsito através de Macau nos anos recentes”, respondeu a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) ao HM. Os objectivos da medida, apresentados pela DSPA na semana passada, eram “aperfeiçoar o regime de gestão da importação de resíduos sólidos” e “prevenção de riscos ambientais”.

Surf Hong TSI anula multa superior a 4 milhões de pacatas

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) anulou a multa superior a quatro milhões de patacas decretada pelo Governo à empresa Surf Hong por incumprimento do contrato de gestão de piscinas públicas. Segundo a TDM - Rádio Macau, o tribunal entendeu que a Surf Hong tem

razão quando invocou uma cláusula contratual que determina que não podem ser aplicadas sanções em casos de força maior. Para o TSI, a greve convocada por 20 nadadores salvadores, sem aviso prévio, é um caso de força maior. No acórdão também refere que o Ministério Público frisou a inexistência de legislação que regule greves. A greve visou chamar a atenção para questões laborais e alegados atrasos no pagamento de salários, tendo os nadadores salvadores chegado a acordo e regressado ao trabalho a 24 de Agosto de 2018. A multa seria decretada pelo Governo em Dezembro desse ano.

HOJE MACAU

Portas do Cerco Desmantelado grupo de contrabando

25.8.2020 terça-feira

COVID-19 RESIDENTES VÃO TER DE SUPORTAR CUSTOS DE UMA SEGUNDA QUARENTENA

Acabou-se a papa doce Os residentes não precisam de pagar a primeira observação médica que fizerem. Mas, a partir de Setembro, têm de assegurar os custos da segunda quarentena. O médico Alvis Lo defendeu ontem a continuidade do uso de máscaras em sítios públicos ao ar livre

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partir de 1 de Setembro, os residentes que fizerem uma segunda quarentena nos hotéis designados vão ter de a pagar a estadia. A informação foi avançada na habitual conferência da saúde sobre o novo tipo de coronavírus por Betty Fok, da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A observação médica nos hotéis custa 5.600 patacas. Em causa está a normalização da situação de pandemia e o uso racional do erário público. “Os residentes têm de ser cautelosos quando quiserem deslocar-se a outras regiões ou outros países, e como a quarentena precisa de mobilizar os cofres públicos será necessário que na segunda vez comecem a pagar os respectivos

custos”, disse Betty Fok. As estadias de quarentenas anteriores a Setembro também são contabilizadas para a nova medida. Fica isento de pagamento quem se deslocar ao exterior em missão oficial. O Governo não afasta a hipótese de levantar excepções para casos especiais, avaliados caso a caso. “Devido à situação epidémica, não encorajamos as

pessoas a saírem de Macau, recomendamos que permaneçam em Macau nos locais mais seguros, ou até podem ir para as províncias mais seguras do Interior da China. Só quando há uma situação muito especial, com um motivo muito bem justificado é que vamos observar a situação. Não temos qualquer padrão fixado para pedido de isenção de pagamento”, explicou o médico Alvis Lo. De acordo com os dados apresentados ontem, havia 1348 pessoas em observação médica nos hotéis. Destas, 525 são residentes, 781 turistas e 42 trabalhadores não residentes.

ALERTA CONTÍNUO

Questionado sobre a necessidade de continuar a usar máscara em locais públicos ao ar livre, Alvis Lo respondeu que não há “grande margem para deixar de usar máscara”. O médico

“Os residentes têm de ser cautelosos quando quiserem deslocar-se a outras regiões ou outros países, e como a quarentena precisa de mobilizar os cofres públicos será necessário que na segunda vez comecem a pagar os respectivos custos.” BETTY FOK DST

reconheceu a estabilidade da situação em Macau e a vontade de regressar à normalidade, mas alertou que já foram tomadas medidas para flexibilizar a passagem de fronteiras e “há alguns riscos”. Relativamente à inoculação, o responsável deu a entender que se vai esperar por uma vacina com eficácia comprovada antes de ser administrada.

OUTRAS MARGENS

A partir das 6h de amanhã é retomada a passagem fronteiriça de veículos com matrícula dupla nos postos de Hengqin e da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, enquanto nas Portas do Cerco haverá triagem consoante o último número da matrícula. Os veículos com números ímpares vão passar em dias diferentes dos pares. Deixa assim de haver marcação online. Ian Chan Um, representante dos Serviços de Alfândega, disse que não será autorizada a passagem aos veículos pesados e que as regras se mantêm para os veículos oficiais. Salomé Fernandes

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sociedade 7

terça-feira 25.8.2020

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PÓS um período atípico marcado pelo cancelamento do normal desenrolar das actividades escolares devido à pandemia, os alunos de Macau regressam às aulas a partir do dia 1 de Setembro, de forma faseada e com horários diferentes. De acordo com um comunicado divulgado ontem pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), a maioria das escolas abre portas no primeiro dia do mês. “A maioria das escolas começa no início de Setembro, o ano lec-

ENSINO MAIORIA DAS ESCOLAS REABRE A 1 DE SETEMBRO

Primeiro toque

MAIS VALE PREVENIR

Com o aproximar do novo ano lectivo, a DSEJ fez ainda um apelo dirigido aos encarregados de educação, no sentido de “prestarem atenção às medidas preventivas da epidemia do Governo (…), ao trânsito, ao tempo e às condições físicas dos seus educandos”, para lhes transmitir conhecimentos sobre a importância de manter bons hábitos de higiene.

A EPM abre portas no dia 7 de Setembro, tanto para o ensino primário (9h00) como secundário (11h00). No mesmo dia, o Jardim de Infância “D. José da Costa Nunes” dará início às suas actividades do ensino infantil, a partir das 8h30

tivo 2020/2021, sendo que mais de 60 por cento delas terão início a 1 de Setembro, 15 por cento a 2 de Setembro, e as restantes, a 3 de Setembro ou após esta data”, pode ler-se no comunicado. Também ontem, a DSEJ publicou um documento onde constam as datas e os horários estipulados para a reabertura de todos os 78 estabelecimentos de ensino de Macau. Detalhando, a Escola Portuguesa de Macau (EPM) abre portas no dia 7 de setembro, tanto para o ensino primário (9h00) como secundário (11h00). No mesmo dia, o Jardim de Infância

“D. José da Costa Nunes” dará início às suas actividades do ensino infantil, a partir das 8h30. Já o Colégio de Santa Rosa de Lima (secção inglesa e chinesa) e o Colégio do Sagrado Coração de Jesus iniciam o novo ano lectivo no dia 1 de Setembro em todos os graus escolares. Excepção feita ao ensino secundário da secção chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima, que retoma actividades a 4 de Setembro. Também no primeiro dia de Setembro, estão de volta as actividades de todos os níveis escolares e secções do Colégio Diocesano

de São José, à excepção do ensino infantil da secção chinesa do Colégio Diocesano de São José, que abre portas no dia 2 de Setembro. Este dia é também o agendado para acolher os alunos da Escola Hou Kong, nas sucursais de Macau e Taipa em todos os níveis escolares. Quanto os alunos da Escola para Pais e Filhos dos Operários, o regresso está previsto para o dia 3 de Setembro. O regresso às aulas na escola Pui Tou está previsto para os dias 4 e 5 de Setembro. Nas sucursais de Macau, o ensino primário e secundário co-

PATRIMÓNIO IC SEM REQUISITOS PARA FACHADA DE EDIFÍCIO HISTÓRICO TIAGO ALCÂNTARA

meça no dia 4 de Setembro, ao passo que o ensino infantil começa a 5 de Setembro. Já nas sucursais da Taipa, o ensino primário acontece no dia 4 de Setembro e os restantes níveis no dia seguinte.

TIAGO ALCÂNTARA

O regresso às aulas está marcado para Setembro, com 60 por cento das escolas a abrir portas no primeiro dia do mês. A Escola Portuguesa de Macau e o Jardim de Infância Costa Nunes dão início ao novo ano lectivo no dia 7 de Setembro. As escolas de Macau retomam actividades com horários diferenciados. A DSEJ apela aos encarregados de educação para prestarem atenção ao trânsito e às medidas de combate à epidemia

A

página de facebook “la série Originale”, focada em edifícios antigos, acredita que um edifício do século XX pode desaparecer porque o Instituto Cultural (IC) não pediu a preservação da sua fachada. A recolha de opiniões sobre o projecto da planta de condições urbanísticas do n.º39E da Rua dos Mercadores decorre até 2 de Setembro. A opinião vinculativa do IC não menciona a pre-

servação da fachada, apenas que a altura do edifício não pode ultrapassar 20,5 metros e deve ter um ângulo de 76 graus. A opinião expressa na página critica o IC por não ter pedido a manutenção da fachada ou reconstrução segundo a aparência original com vista a manter a integridade da paisagem urbana da Rua dos Mercadores e zonas vizinhas. A edificação terá três andares e estima-se que foi construída no

início do século passado. A sua aparência exterior é de estilo Ocidental, mas a disposição e estrutura é ao estilo de uma casa chinesa. Os requisitos do IC são diferentes de orientações emitidas no passado. Em 2018, no texto para consulta do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, o organismo regulamentou a paisagem da rua onde se situa este edifício.

O organismo aponta ainda que “tem mantido uma estreita comunicação com as escolas”, de forma a preparar o novo ano lectivo e ajudar na aplicação de medidas preventivas e manutenção da “limpeza e higiene das suas instalações”. Sobre o previsível aumento do trânsito durante o reinício das actividades escolares, a DSEJ afirma ter contactado a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e outras entidades, com o objectivo de “reduzir, o mais possível, os atrasos dos alunos devido à situação do trânsito”. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

Porto Interior Pedida análise profunda sobre obras

O engenheiro e presidente da Associação de Desenvolvimento Marinho de Macau, Chan Kuai Son, quer que o Governo proceda a uma avaliação profunda sobre as obras da barragem de marés e dos muretes de protecção, previstas para o Porto Interior. Além disso, segundo o jornal do Cidadão, o responsável quer que o Executivo divulgue informações de forma transparente sobre a calendarização da obra. Chan Kuai Son alerta ainda para o estado de degradação dos solos do Porto Interior que, em conjunto com obras mal calculadas, pode levar ao aumento das infiltrações subterrâneas e à consequente ruptura das vias públicas. De acordo com a mesma fonte, o engenheiro refere ainda que, só por existir uma barragem de marés, os residentes não estão totalmente a salvo, sendo necessário manter a realização de simulacros e planos de evacuação.


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A cidade prom

EXPOSIÇÃO COMUNA DE HAN-IAN APRESENTA VIDEOINSTAL

“New Promise Land” é o nome da exposição promovida pela associação Comuna de Han-Ian que será inaugurada esta sexta-feira, dia 28. Seis artistas, divididos em três grupos, olham para a Macau dos dias de hoje e para as promessas que fizeram a RAEM nascer. As detenções feitas no Leal Senado o ano passado são um dos temas abordados através de uma perspectiva interactiva com o público

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ACAU, terra anteriormente administrada por portugueses com o aval da China. A RAEM, território peculiar nascido de promessas feitas no âmbito da Declaração Conjunta, e de promessas e objectivos apresentados pela China. É este retrato socio-político apresentado na nova exposição promovida pela associação Comuna de Han-Ian, que inaugura esta sexta-feira, dia 28, na Avenida do Coronel Mesquita, Mong-Há. “New Promise Land - Video and Art Installation” é um olhar sobre a Macau contemporânea que deixou Portugal para abraçar a China em definitivo. Mas é também uma metáfora daquilo em que a sociedade de Macau se tornou. Numa nota divulgada pela Comuna de Han-Ian nas redes sociais, o nome “New Promise Land” [A Nova Terra Prometida] é um conceito oriundo do Velho Testamento da Bíblia, quando Deus prometeu aos judeus que, desde que estes fossem obedientes, haveria uma terra fértil para eles no final de todas as tormentas. Mas “New Promised Land” é também o nome de um restaurante birmanês em Macau, pelo que o nome da exposição é também o reflexo do território que

há muito acolhe trabalhadores migrantes para as mais diversas actividades económicas, enfrentando as mais diversas dificuldades. “Macau tornou-se na ‘Terra Prometida’ para muitos grupos

“Parece que há apenas um caminho, que a Grande Baía é um grande projecto e que tudo vai correr bem na economia. Do lado de Macau só estamos aptos a dizer sim.” AO NGAN WA ARTISTA

étnicos nos últimos anos”, acrescenta a mesma nota. As detenções feitas pela Polícia Judiciária o ano passado na zona do Leal Senado, quando alguns jovens tentaram demonstrar apoio aos protestos de Hong Kong, acabaram por se tornar no mote para esta exposição. “Em Agosto sabíamos o que estava a acontecer em Hong Kong e sabíamos que alguns jovens queriam dar o apoio, e que a polícia não tinha autorizado a manifestação. Nesse momento queríamos fazer algo sobre isso e levar as pessoas a perguntar porque é que tudo isso estava a acontecer, e se podíamos fazer algo. Foi essa a motivação para nos juntarmos”, contou ao HM Peeko Wong, coordenadora da exposição. O tema das detenções será abordado numa zona comum, com maior interactividade com os visitantes, segundo explicou Ao Ngan Wa, uma das artistas participantes. “Vamos tentar recriar a situação que aconteceu no ano passado e questionar o que podemos fazer. Ainda estamos a trabalhar nesta zona comum, [mas a ideia é pensar no facto de] o receptor da promessa ter o direito a dizer sim ou não. Nessa zona comum [da exposição] vamos tentar usar essa ocorrência do

A exposição é composta por trabalhos de seis artistas, três de Macau e três de Portugal, Hong Kong e Taiwan, organizados em trê


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metida

LAÇÃO DE REFLEXÃO SOBRE MACAU ESTA SEXTA-FEIRA

ês grupos diferentes. Cada grupo aborda um tema relacionado com o território

ano passado e levar o público a pensar nessas questões”, disse ao HM. Para Peeko Wong, o objectivo desta mostra é levar o público a pensar não apenas sobre as promessas feitas, mas também sobre as soluções para o futuro.

PENSAR O AMANHÃ

A exposição é composta por trabalhos de seis artistas, três de Macau e três de Portugal, Hong Kong e Taiwan, organizados em três grupos diferentes. Cada grupo aborda um tema relacionado com o território. No caso de Ao Ngan Wa, actualmente a estudar artes na Polónia, o trabalho é feito em conjunto com o português João Garcia Neto. “O João aborda as promessas que os portugueses nos deixaram, enquanto que eu abordo as promessas feitas pela China para o futuro”, contou a artista. Ao Ngan Wa lamenta que a sociedade de Macau se limite simplesmente a ouvir e a obedecer. “Parece que há apenas um caminho, que a Grande Baía é um grande projecto e que tudo vai correr bem na economia. Do lado de Macau só estamos aptos a dizer sim, não havendo lugar a discussão ou negociação. As promessas tornaram-se ordens”, defendeu. Além da duplaAo Ngan Wa e João Garcia Neto, participam também a dupla Iao Fong Lam e Chang Ciao Yu, este de Taiwan, cujo projecto de video aborda as crenças da população local e as diferentes religiões existentes no território. Chang Ciao Yu reside actualmente em Hong Kong e partilha também a sua visão sobre as promessas feitas, estabelecendo um diálogo com os artistas de Macau. Por sua vez, Veronica Bassetto, de Hong Kong, junta-se a Lao Keng U. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Perpétua-das-areias Nome botânico: Helichrysum italicum (Roth) G.Don e Helichrysum stoechas (L.) Moench. Também é usado o Helichrysum arenarium (L.) Moench Família: Asteraceae (Compositae). Originária do litoral da região mediterrânica, a Perpétua-das-areias é uma herbácea aromática que pode alcançar mais de meio metro de altura, formando belos tufos prateados ou dourados, consoante a estação do ano. Apresenta folhas estreitas, lineares, verde-acinzentadas, tomentosas na página inferior e com o bordo enrolado; as flores são tubulares, hermafroditas, de cor amarela brilhante, e estão reunidas em capítulos florais globosos agrupados na extremidade dos caules. Em Portugal, a H. italicum habita os solos arenosos próximos do litoral e a H. stoechas, mais dispersa pelo interior do país, encontra-se em locais secos e soalheiros, e muitas vezes rochosos. O nome do género botânico, Helichrysum, provém do grego, hélios, Sol, e chrysos, ouro, numa alusão ao amarelo-dourado das suas flores. Por estas conservarem durante muito tempo a sua cor, a planta tornou-se conhecida por Perpétua e, em algumas línguas, por Imortal. Já o nome Erva-do-caril sugere-nos o aroma característico desta mistura de especiarias orientais. Os seus usos medicinais remontam à Antiguidade, tendo sido mencionada por Dioscórides e, mais tarde, por Laguna. Em fitoterapia são usadas as partes aéreas floridas e o óleo essencial. Composição Óleo essencial, flavonóides, derivados da alfa-pirona e do floroglucinol, derivados da acetofenona, fitosteróis e triterpenos; contém ainda ácidos orgânicos, lactonas sesquiterpénicas e taninos. Aroma intenso e muito agradável a caril, sabor amargo. Acção terapêutica Com actividade antiespasmódica, a Perpétua-das-areias favorece a eliminação da expectoração e acalma a tosse, beneficiando as afecções do peito; combate as bactérias e auxilia a baixar a febre; tem ainda um efeito antialérgico e anti-inflamatório. É muito usada na constipação, gripe, rinite, sinusite, amigdalite, faringite, bronquite, asma e enfisema, sendo de eleição nos processos alérgicos em geral, não só respiratórios, como digestivos (alergias alimentares) e da pele. Além de estimular a secreção dos sucos gástricos e pancreáticos, esta erva aumenta a produção de bílis pelo fígado e

favorece a sua excreção da vesícula para o duodeno, melhorando a digestão dos alimentos; tem também acção protectora sobre o fígado, combatendo os efeitos danosos dos radicais livres neste importante órgão. Perturbações digestivas, gastrite, hepatite e mau funcionamento, inflamação ou doenças da vesícula biliar são outras das suas indicações. É igualmente benéfica nas cistites e uretrites, pelas propriedades diuréticas, e em caso de gota e reumatismo como tratamento depurativo. É antioxidante e reduz ligeiramente os níveis de colesterol no sangue. Tradicionalmente tem sido utilizada com sucesso nas enxaquecas e dores de cabeça. Outras propriedades Em uso externo, a Perpétua-das-areias tem actividade antialérgica, anti-inflamatória e cicatrizante, protege e regenera a pele, e é anti-séptica, combatendo bactérias e fungos. Emprega-se nas queimaduras, flebites e úlceras de pressão; eczema, acne, acne-rosácea, psoríase e outras dermatoses; urticária e outras afecções da pele de etiologia alérgica; blefaroconjuntivites; periodontopatias; vulvovaginites e candidíase; contusões, dores musculares e entorses. Como tomar • Uso interno: Infusão das partes aéreas floridas: 1 colher de chá por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 2 ou 3 chávenas por dia, depois das refeições. Nas afecções respiratórias adoçar com mel. Em xarope, saquetas, cápsulas e comprimidos, em fórmulas para as afecções respiratórias, alergias e conjuntivites. As folhas podem ser usadas para aromatizar saladas, pratos de arroz e estufados, ou o recheio de carnes e legumes. As flores são úteis para ornamentar saladas de frutas e também podem ser adicionadas a sangrias e refrescos aromáticos. • Uso externo: Decocção das partes aéreas floridas: 100 gramas para um litro de água, uns minutos de fervura. Aplicar topicamente 2 ou 3 vezes por dia, em forma de lavagens, compressas, banhos oculares, bochechos e gargarejos, e irrigações. Em creme. Precauções Contra-indicada na gravidez e lactação, oclusão das vias biliares e hipersensibilidade ao óleo essencial. Não estão descritos efeitos secundários, nem interacções com medicamentos. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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China autorizou o uso de potenciais vacinas para a covid-19 em funcionários hospitalares, para "casos de emergência", desde 22 de Julho passado, revelou ontem um alto responsável da Comissão de Saúde do país. Em entrevista à televisão estatal CCTV, o director do Departamento de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão de Saúde, Zheng Zhongwei, revelou que pessoal médico e funcionários das alfândegas foram vacinados. "Estes grupos foram escolhidos porque têm maior exposição ao novo coronavírus. A maioria dos casos que a China agora regista são importados, então as autoridades fronteiriças são um grupo de alto risco também", justiçou. Zheng não detalhou quantas pessoas receberam injecções ou qual a vacina que foi administrada, entre aquelas que o país está a desenvolver. O mesmo responsável acrescentou que o programa de vacinação vai expandir-se

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COVID-19 USO DE POTENCIAL VACINA AUTORIZADO DESDE JULHO

Licença para injectar

para pessoas que trabalham nas indústrias dos transporte e serviços ou nos mercados de rua, para "criar uma barreira de imunidade". Zheng indicou que "as vacinas chinesas serão aces-

síveis ao público", assim que estiverem prontas e que o preço poderá ser "ainda mais baixo" do que o anunciado, na semana passada, por Liu Jingzhen, o presidente da estatal China National PUB

Biotec Group, que faz parte do grupo Sinopharm- Pharmaceutical. Liu disse que a vacina do grupo vai estar pronta "provavelmente em Dezembro", a um preço inferior a 1.000 yuan, e que devia começar a ser comercializada assim

que for concluída a terceira fase de testes, nos Emirados Árabes Unidos.

EM MODO ACELERADO

Outra das vacinas em desenvolvimento pelo país, a do Instituto Científico Militar e da biofarmacêutica chinesa Can-

ALIBABA TAIWAN ORDENA QUE GRUPO VENDA PARTICIPAÇÃO EM PLATAFORMA DE COMÉRCIO ELECTRÓNICO

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AIWAN ordenou ontem que o grupo chinês de comércio electrónico Alibaba venda a sua participação numa plataforma local, a Taobao Taiwan, citando riscos relativos à transferência de informações pessoais dos clientes para o continente chinês. O pedido aumenta a pressão sobre as empresas chinesas nos Estados Unidos e em outros países por questões de segurança. O Taobao Taiwan é operado por uma empresa britânica, mas a participação do grupo Alibaba Group naquela empresa permite-lhe controlar a plataforma, violando as regras taiwanesas, disse o ministério da Economia de Taiwan. O Alibaba Group, com sede em Hangzhou, no leste da China, é a maior empresa de comércio

electrónico do mundo em volume total de vendas. O contrato assinado pelos utilizadores no Taobao Taiwan dá permissão para que "os dados das transações sejam enviados para os servidores do Alibaba Group na China", segundo o ministério. As autoridades taiwanesas consideram assim que "pode haver um risco de segurança das informações pessoais". A participação de 29 por cento do Alibaba na British Claddagh Venture Investment Ltd. está abaixo do limite legal de 30 por cento, disse o ministério, mas a estrutura accionista permite ao Alibaba controlar o empreendimento britânico ao vetar decisões. O Alibaba tem seis meses para vender a sua parte na empresa, apontou o ministério.

Sino Biologics, também está na terceira fase de testes, no Paquistão. Segundo o jornal oficial China Daily, a China tem cinco vacinas candidatas que já passaram, pelo menos, na segunda fase de testes.

O programa de vacinação vai expandir-se para pessoas que trabalham nas indústrias dos transporte e serviços ou nos mercados de rua, para “criar uma barreira de imunidade” O período para uma vacina estar disponível para uso em massa é, por norma, de entre 12 a 18 meses, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pequim acelerou o processo devido à emergência de saúde pública e tem permitido que algumas das fases de teste sejam realizadas em simultâneo.

Pandemia Registados 16 casos entre domingo e segunda-feira

A China diagnosticou, domingo e segunda-feira, 16 casos da covid-19, todos oriundos do exterior, informaram ontem as autoridades. A Comissão de Saúde da China detalhou que os casos "importados" foram diagnosticados na cidade de Xangai e nas províncias de Fujian, Sichuan, Yunnan, Shanxi e Shandong. As autoridades de saúde informaram ainda que, nas últimas 24 horas, 30 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infectadas activas no país asiático se fixou em 215, incluindo dois em estado considerado grave. Desde o início da pandemia, a China registou 84.967 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. As autoridades chinesas referiram que 811.824 pessoas que tiveram contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre as quais 13.220 permanecem sob observação.


terça-feira 25.8.2020

Nada ficará no lugar que eu ocupei.

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Os dias não podem continuar uma asa no além Paulo José Miranda

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ATHALIE Delacroix já sabia muito bem que a tristeza é o céu que se avista da terra quando escreveu o seu romance «Estes Dias Não Podem Continuar». Com apenas vinte e sete anos viu os nazis invadirem a França, a sua mãe morrer de apoplexia e nunca tivera pai. Para piorar as coisas, desde a adolescência que sempre gostara de mulheres que nunca gostaram dela. No seu livro, escreve de modo mais universal: «Não é novidade nenhuma gostarmos de quem não gosta de nós. Foi assim que viemos ao mundo. A história do mundo é a história de alguém que não de outro. Foi assim com Eva e Adão, embora poeticamente tenham falado de uma cobra, e foi assim com deus e os homens, embora estupidamente tenham falado de livre arbítrio.» Embora se trate de um livro político, no sentido em que fala da ocupação alemã em França, de uma mudança impensável no mundo – «Só faltava agora começarmos a não podermos sorrir uns para os outros, a não nos podermos abraçar. O medo não pode ser a coleira com que alguém nos leva à rua [...]» –, é acima de tudo um livro que fala da impossibilidade do humano ser feliz. Escreve à página 56: «Há apenas três modos de se ser escritor e o resto são subdivisões: aqueles que escrevem porque gostam muito de si mesmos; aqueles que escrevem porque se detestam; e aqueles que escrevem em busca de uma redenção de não gostarem de si. Os primeiros são alucinados, os segundos realistas e os terceiros ingénuos. Infelizmente suspeito fazer parte deste último grupo.» Nathalie, como é sabido, morreria numa rua de Par<is atravessada por uma bala alemã e nunca chegou a ver o seu livro publicado. Simone de Beauvoir escreveu acerca dela: «A sua figura esguia, de tez pálida, que contrastava com os corvos do cabelo, não fazia jus à força que lhe vinha das mãos com que incendiou as nossas vidas. A sua vida apareceu e desapareceu como um penteado da moda, as suas palavras, porém, transplantaram corações, inauguraram toda uma medicina e um modo de se ser humano.» Há uma passagem muito conhecida deste livro de Nathalie – como ela é nomeada em França –, que Beauvoir costumava citar: «Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar o sexo de um beijo bom que nos fosse dado? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar a cor da pele cujo toque nos

extasiasse? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar a religião de alguém que dissesse “amo-te”? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos realmente capazes de viver?» Não se entende bem porque um autor passa a não ser lido, esquecido. E menos ainda quando ele tem tudo o que precisamos, não apenas o nosso tempo, isso é evidente, mas também os nossos corações. Nathalie Delacroix tem tudo o que precisamos de ouvir, mas também tem muito do que não gostamos e esse é o problema, principalmente nos dias de hoje onde tudo precisa «ser sexy» para ser escutado ou visto. Nathalie não fala apenas dos escritores de modo rude e desencantado, fala também de nós, ao falar dela. No seu livro acerca de Nathalie, Beauvoir escreve uma passagem das Investigações Filosóficas, de Wittgenstein, «A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento da linguagem.», à qual Beauvoir acrescenta: «e assim também a vida de Nathalie.»

«Os Dias Não Podem Continuar» é uma espécie de auto-ficção em que a autora proclama não apenas o fim do mundo – evidente ao tempo da escrita com o nazismo e o comunismo –, mas a completa ilusão que temos acerca do humano. Escreve: «Como não quer saber quem é, por medo, por suspeitar que há um mal terrível que o habita, inventa tudo o que pode para esquecer não apenas a sua vida, mas o próprio mundo. Os humanos os futuros dinossauros.» Há páginas do livro em que vemos a rapariga que Nathalie amava: «Jacqueline trazia sempre os seus olhos azuis a combinar com os cabelos loiros caídos sobres os ombros e sobre a testa. Abria um sorriso quando me via e dizia com aquela sua voz doce, que não existe: “Olá, bela!” E por momentos o mundo deixava de ser o que era. Eu mesma deixava de ser o que era para ser o que via nos seus olhos, no seu rosto, no seu corpo. O mundo transformava-se através da beleza diante de mim. Só se vê o mundo se o transformarmos. E, nesse tempo já o sabia, o amor é o grande

«Estes Dias Não Podem Continuar» não é apenas um livro sobre a ocupação nazi, é fundamentalmente um livro sobre a ocupação do humano, pela indiferença, pela incultura, pelo desconhecimento e, desconfiase, pelo contínuo crescimento desta ocupação que, contrariamente à nazi, parece não ter fim

transformador.» Mas não nos enganemos. O amor, embora transformador, é raro e não dura. Escreve: «Jacqueline durou o tempo de um fósforo.» Nathalie esforçava-se por não se enganar a si mesma, isso perpassa por todo o livro e é difícil para nós leitores estarmos constantemente a lembrarmo-nos de quem tentamos não tentamos procurar, isto é, de nós. Leia-se esta passagem à página 134: «E seria possível que tentássemos de verdade ver quem somos, se não investigamos com seriedade as palavras que usamos, se não sabemos o que elas querem ou podem querer dizer? Que queremos dizer quando dizermos “amor”? Que queremos dizer quando dizemos “detesto”? Que queremos dizer quando dizemos “conheço bem”? E não me refiro a falar com os outros, que outro dê uma conotação diferente da minha, refiro-me a mim mesma, a quando penso para comigo acerca do que penso.» Como também outro filósofo escreveu acerca dela, E. M. Cioran: «Nathalie aproximava-se de Kierkegaard, mas sem Deus. Aproximava-se de si mesma sem Deus e consciente de não saber quem era. Não procurava sequer, como Kierkegaard, ser honesto, procurava a solidão perfeita. Que conseguiu nas páginas do seu livro.» «Estes Dias Não Podem Continuar» não é apenas um livro sobre a ocupação nazi, é fundamentalmente um livro sobre a ocupação do humano, pela indiferença, pela incultura, pelo desconhecimento e, desconfia-se, pelo contínuo crescimento desta ocupação que, contrariamente à nazi, parece não ter fim.


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Amélia Vieira

25.8.2020 terça-feira

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Simpósio

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UDO o que é bom com sustento na memória será certamente a ideia da reunião fraterna nas mesas em que se partilha a substância da vida e nos associamos ao fluxo comum. Os mais felizes parceiros serão sempre os comensais que bebendo das suas taças o vinho partilhado, asseguram a paz, o diálogo, esquecendo o tempo da servidão dos dias. Simpósio, no entanto, será mais um helenismo, que repomos para Ceia e Banquete, mas muito mais prolongado na satisfação dado que se seguia à partilha dos alimentos para firmar o grupo dos que continuavam bebendo os mais preciosos líquidos onde a troca de ideias por entre grandes e pequenos temas se firmava. Não há separação entre a construção dialéctica e a harmonia de grupo num tal significado. As Bodas bíblicas aproximam-se destes festins que sentavam à mesa gentes diversas em laudatórios discursos e passagens de Cânticos até ao milagre da transformação da água - que festa sem vinho é um estado mórbido de associação - e que aquelas foram até à mais emblemática mesa: a da Última Ceia. Em «Simpósio» registam-se as falas e a magnitude da obra parece uma peça de teatro em muitos actos que conflui para uma entidade única a um tempo em que todas as vozes se soltam - os seres ouviam vozes - e falavam da natureza do Amor o que não será exactamente o mesmo que falar de Amor, estamos num domínio ético que é amplamente expressivo nesse coroar de interesse pelo belo e tal estado exige uma longa abordagem que saliente os efeitos e as vertentes que não separem as boas acções das naturais matérias da sua sustentação. Registamos os diálogos que se escutam não como uma narração mas enquanto discurso e sabemos que se está diante de taças cheias e fontes várias que incitam uma magistral inspiração. De súbito, olhamos ao redor uma volta no tempo - e este efeito para além de lendário tornou-se ainda mais improvável, e é então que nos recordamos que esta marcha, dizem, não será reposta, rasurando assim o melhor da natureza humana, ou, que aberto este hiato, nos preparamos agora para manjares frios e assépticas beberagens. O Eros entediante das nossas refeições não é menor que aquele que nos distancia por motivos vários: reclusão, desconfiança, temor, e a linguagem não se precipita para lado algum que valha a pena ir buscar só para trazer de volta o deus que disperso se encontra agora entre a desolação de um estranho vazio, já não ceamos e as noites quentes estão alheadas de encantamentos. Toda a ter-

nura se ofende e uma perturbação geral acompanha os destros dias como uma punição que não saberíamos dimensionar se nos tivessem indagado acerca deles, que a direito, também parece encaminhar-se para esse lado sombrio ou à deriva a multidão mundial resguardada de si mesma. Há os diálogos escorregadios do plasma virtual sempre mais presentes que um palmo de mesa em frente dos narizes, e aos sóbrios, as alternativas escoam-se até ao falar directamente com as paredes. Cenários gravosos para a continuidade do pensamento, sem dúvida, e muito mais grave se tornam quando os problemas mentais e morais parecem fazer enfermas populações inteiras. Neste diálogo fala-se no amor inato que os seres têm uns pelos outros « o amor tende a reencontrar a antiga natureza, esforça-se por se fundir numa só, e por sarar a natureza humana» remete-nos a

uma saudade qualquer que só poderá ser solucionada pelos encontros, e tudo isto é feito com a simpatia que é o apelo irresistível dos seres. Já não estamos neste Simpósio num registo tribal, mas algures numa fina matéria que superou o instinto de sobrevivência, da exclusividade do clã, e passou a contemplar cada ser na sua natureza, desse outro igual a nós, e, se diferente, complementar em nós. Tudo isto sabemos, mas dizê-lo pode corresponder a sabe-lo mais e melhor, sobretudo quando pensando que sabemos não estamos à altura de o vivermos, somos presas fáceis dos nossos interesses e sem nos dar-mos conta esse intrínseco amor desaparece no meio de tantas circunstâncias que o desfazem, ficando a caricatura de proximidade onde nada de transformador acontece nem se insinua. E desse estado solitário, nasceu agora e ainda, a distância. - Para a peste, exemplifica então o

Simpósio, no entanto, será mais um helenismo, que repomos para Ceia e Banquete, mas muito mais prolongado na satisfação dado que se seguia à partilha dos alimentos para firmar o grupo dos que continuavam bebendo os mais preciosos líquidos onde a troca de ideias por entre grandes e pequenos temas se firmava

Eros da desordem cujos desregramentos atacam animais e plantas quando tal estado incide na união dos elementos- ( o que faz sentir o nosso instante como uma provação por interferirmos de modo grosseiro no desígnio das coisas ). «Descendo esta cidade com ternura...» de um antigo mirante podemos ver os pátios andaluzes com suas cítaras dolentes, os seus encantos secretos como úteros, uma cidade que esqueceu e lembra agora o mais melodioso do legado mouro, que a água se escuta nas fontes por onde a cidade verte os escondidos encontros, sem vinhos, talvez, e ébria de um encantado amor nos seus dias de Estio :- mas, teria seria possível tal abstinência !? Mesmo na Pérsia muçulmana ninguém parou de absorver a mágica poesia de Omar Khayyam e de apreciar esse vinho. Todos levamos a lembrança cheia com tinas, garrafas, cálices, alambiques... a noite que vasa plena com um eclipse lunar nos convida a olhar como foi bom para a Humanidade as longas horas de vida passada nos Simpósios, que o brilho da nossa estrela só brilhou quando assim fomos unidos. «.....Vens na hora exacta! Ceia connosco, Aristodemo! Se outro motivo de trouxe guarda-o para mais tarde. Ontem mesmo te procurei para te convidar sem conseguir encontrar-te.» Agatão- Simpósio


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 25.8.2020

Compositores e Intérpretes através dos Tempos

Quarteto de Cordas em Mi menor, Op. 121

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ABRIEL Fauré é legitimamente considerado o compositor francês mais avançado da sua geração. O seu estilo musical altamente personalizado, reflectido em melodias modais cheias de alma e numa linguagem harmónica colorida, influenciou bastante as gerações de compositores subsequentes. Acima de tudo, Fauré era um professor venerado e um administrador proactivo em nome da música. Tornou-se professor de composição no Conservatório de Paris em 1896, tendo como alunos, entre outros, Maurice Ravel, Georges Enescu e Nadia Boulanger. E quando foi nomeado director do Conservatório em 1905, reformou ardentemente o currículo dessa instituição musical de maior prestígio na França. Durante grande parte da carreira composicional de Fauré, a música para e com o piano ocupou o centro do palco. Para a sua composição final - o Quarteto de Cordas em Mi menor, Op. 121, o único quarteto de cordas que compôs, concluído em 1924, pouco tempo antes de falecer com 79 anos, o compositor afastou-se do seu instrumento favorito, o piano, e, em vez disso, escreveu música para o género prototípico de agrupamento da Música Clássica, quarteto de cordas. Ravel tinha-lhe dedicado o seu Quarteto de Cordas em 1903 e ele e outros incitaram-no a compor o seu próprio quarteto; Fauré declinou alegando que era muito difícil. Quando finalmente se decidiu a compô-lo, fê-lo com receio. A obra foi composta em Annecy-le-Vieux, em Paris e em Divonne-les-Bains entre Setembro de 1923 e Setembro de 1924. “Iniciei a composição de um quarteto de cordas, sem piano”, Fauré escreveu à sua mulher, que se encontrava em Paris, a partir de Annecy. “Este é um género tornado particularmente famoso por Beethoven, e por isso quem não seja Beethoven tem pavor de o fazer”. O Allegro de abertura proporciona um início tranquilo e contemplativo banhado na linguagem melódica e harmónica tipicamente etérea de Fauré. Um diálogo musical tranquilo entre o primeiro violino e o violoncelo domina grande parte deste andamento, senão toda a composição. Breves intensificações da linguagem musical à parte, com o violoncelo incitando a conversa musical, este andamento nunca se desvia de um estado de emotividade contida. A estética musi-

Gabriel Fauré (1845-1924)

Michel Reis

Derradeiro e único cal contemplativa introduzida no primeiro andamento é ainda mais ampliada no lento Andante, já que Fauré fornece um coro instrumental de lamento. Na Allegro conclusivo, que combina as funções de scherzo e finale, o violoncelo canta uma melodia insistente, acompanhada por cordas superiores em pizzicato. Na verdade, o acompanhamento de pizzicato fornece o pulso musical a grande parte do andamento, permitindo apenas uma explosão emocional singular nos compassos finais da peça.

A obra tem sido descrita como uma meditação íntima sobre as últimas coisas, e uma obra extraordinária, independentemente do ponto de vista, etérea e de outro mundo com temas que parecem ser constantemente ser puxados “em direcção ao céu”. A obra tem sido descrita como uma meditação íntima sobre as últimas coisas, e uma obra extraordinária, independentemente do ponto de vista, etérea e de outro mundo com temas que parecem ser constantemente ser puxados “em direcção ao céu”. O quarteto foi estreado após a morte de Fauré, pois o compositor declinou uma oferta deste ser executado em privado para si nos últimos dias, pois a sua audição tinha-se deteriorado ao ponto dos sons musicais soarem horrivelmente distorcidos aos seus ouvidos. SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Gabriel Fauré: String Quartet in E minor, Op. 121 Leipziger Streichquartet – Musikproduktion Dabringhaus und Grimm, 2007


14 (f)utilidades TEMPO

25.8.2020 terça-feira

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A tempestade Marco, que atingiu o Golfo do México, passou à categoria de furacão, informou ontem o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos. O furação Marco dirige-se agora para a costa do Louisiana. A tempestade tropical

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Laura, que também poderá passar à categoria de furacão, já atingiu a República Dominicana e o Haiti e dirige-se agora para a mesma zona da costa dos Estado Unidos da América. O furacão Marco já atingiu ventos de 120 quilómetros por hora.

UM LIVRO HOJE

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Um dos maiores marcos na obra literária do escritor maldito francês, “Morte a Crédito” representa a visão existencialista do alter-ego do autor, um médico que dá consultas na periferia pobre de Paris. O afastamento do personagem da comunidade médica, reflecte a ostracização a que Celiné se votou depois ser largamente elogiado por vultos como Jean-Paul Sartre. “Morte a Crédito” tem uma narrativa confusa, com saltos temporais e estilísticos, mas sempre com a prosa ímpar de um dos mais mal amados génios literários do século XX. João Luz

6 9 8 5 0 2 3 6 7 4 1 9 9 1 3 7 8 5 1 2 5 0 DREAMBUILDERS 4 6 7 4 6 1 3 8 8 3 0 2 6 7 Propriedade 0 Colaboradores 8 9 Fábrica 3Anabela 2de Notícias, 4 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Lobo Pinheiro; 2 Gonçalo 7 4 9 5Gonçalo 0 M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; 4 João5Romão; 1 Jorge 8 Rodrigues 7 3Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 5 Morada 0 Calçada 2 6deSanto 9 Agostinho, 1 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone 28752401 Fax28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítiowww.hojemacau.com.mo


opinião 15

terça-feira 25.8.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

MA intensa tempestade tropical, o Higos, começou a atingir Macau na tarde de 17 de Agosto. Foi levantado o sinal N.º 8 na tarde de dia 18 e o sinal Nº10 às 5.00 da madrugada de dia 19. Em apenas dois dias, Macau voltou a sentir os efeitos de um super tufão. A comunicação social divulgou que 15 pessoas ficaram feridas durante a passagem do Higos por Macau. Foi ainda necessário evacuar 2.722 moradores das zonas baixas da cidade, tendo-se registado também 274 acidentes, na sua maioria queda de árvores e de objectos suspensos em edifícios. Os registos metereológicos indicam que a força do Higos foi apenas suplantada pela do Hato, que passou na cidade em 2017, tendo sido superior à do Mangkhut, que assolou Macau em 2018. Na passagem do Hato houve cortes de água e de electricidade em várias zonas da cidade. As telecomunicações foram afectadas e os telemóveis ficaram sem rede. Tragicamente o Hato provocou 10 mortes, das quais sete resultaram de afogamento em lojas e parques de estacionamento subterrâneos. A forma como as autoridades lidaram com a eminência da passagem do Hato provocou muito descontentamento popular. A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos levantou respectivamente os sinais N.º 8 e N.º 9 no espaço de menos de 3 horas, acabando por levantar o sinal mais elevado o N.º 10. Devido ao aviso muito em cima da hora, a população não teve tempo de se preparar. No rescaldo da tempestade, os dirigentes da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos sofreram acções disciplinares e este organismo anunciou que as medidas de protecção face a este tipo de tempestades iriam ser reformuladas. O Hato devastou Macau provocando inúmeros estragos. De acordo com a Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau e com a Lei Garrison da RAEM, o então Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, solicitou o auxílio das forças do Exército de Libertação do Povo estacionadas em Macau. Foi a primeira vez que o Exército de Libertação do Povo participou em operações de salvamento numa região administrativa especial. Com a experiência do Hato, quando o tufão Mangkhut se começou a aproximar de Macau, muitas pessoas correram aos

TYPHOON, GINGER CONCEPCION

U

Enfrentar a fúria dos ventos

supermercados para se abastecerem de água e comida. Alguns clientes tiveram de esperar mais de meia hora na fila da caixa, e outros já nem se conseguiram abastecer. A realidade é que o Hato tinha assustado as pessoas e, com a eminência da passagem de outro tufão, todos ficaram muito perturbados. Com os ensinamentos retirados pela passagem do Hato, o Governo de Macau desenhou um plano de evacuação das zo-

Os tufões vão continuar a assolar Macau e temos de preparar hoje a vinda daquele que chegará amanhã. Macau é a nossa casa; que cada um de nós se empenhe em trabalhar nas medidas de protecção contra desastres futuros

nas baixas que foi implementado quando o Mangkhut chegou a Macau. Os moradores destas áreas foram retirados e colocados em abrigos e residências temporárias, as Portas do Cerco, o Posto Fronteiriço do Parque Industrial Transfronteiriço, e o Posto Fronteiriço de Cotai foram encerrados. Além disso e, pela primeira vez, os Casinos também fecharam as portas. Com a vinda do Mangkhut, Macau sofreu inevitavelmente inundações, cortes de energia, queda de árvores e vários danos materiais, sobretudo nas zonas ribeirinhas. Para facilitar a limpeza da cidade e a reparação dos danos, a 17 de Setembro de 2018, os funcionários públicos não essenciais foram dispensados do trabalho, as escolas secundárias e as primárias, os jardins de infãncia e os centros de educação especial também encerraram. Comparando os três tufões, o Hato, o Mangkhut e o Higos, podemos observar os seus impactos que têm vindo a diminuir. E isto verifica-se porque os níveis de alerta têm

vindo a subir. A consciência do perigo dos tufões aumentou e o Governo tem reforçado as medidas de protecção. Em consequência disso, desta vez Macau sofreu a mais baixa taxa de danos na passagem do super tufão Higos. Os ligeiros danos causados por esta tempestade são resultado de esforços continuados. Devemos continuar a a estar atentos às várias vertentes da protecção civil, controlo do abastecimento de água, planeamento urbanístico, divulgação para melhorar a capacidade de resitência de Macau à passagem de tufões, especialmente no que diz respeito às emergências causadas pelas inundações nas zonas baixas, para que os seus moradores deixem de temer a passagem dos tufões. Os tufões vão continuar a assolar Macau e temos de preparar hoje a vinda daquele que chegará amanhã. Macau é a nossa casa; que cada um de nós se empenhe em trabalhar nas medidas de protecção contra desastres futuros.

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Não manda bem quem tem a ânsia de mandar.

Economia Comércio a retalho caiu 61,3 por cento

O volume de negócios do comércio a retalho no segundo trimestre deste ano em Macau diminuiu 61,3 por cento em relação ao período homólogo de 2019, devido ao impacto económico causado pela pandemia da covid-19. O valor total foi de 6,92 mil milhões de patacas, uma diminuição de 61,3 por cento em relação ao período homólogo de 2019, segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). De acordo com a DSEC, o índice do volume de vendas desceu 61,5 por cento, no segundo trimestre. “De entre os principais tipos de comércio a retalho, os volumes de negócios de relógios e joalharia (-87,3 por cento), de artigos de couro (-72,8 por cento), de mercadorias de armazéns e quinquilharias (-71,7 por cento) e de vestuário para adultos (-71,2 por cento) tiveram os maiores decréscimos, face ao segundo trimestre de 2019”, lê-se no comunicado das autoridades. Por outro lado, o volume de negócios de supermercados aumentou 13,7 por cento e o índice do volume de vendas destes estabelecimentos subiu 12,7 por cento.

Futebol Sub-21 Rui Jorge promove quatro estreias

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Os jovens futebolistas Eduardo Quaresma, Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, do Sporting, e Úmaro Embalo, do Benfica, foram ontem chamados pela primeira vez à selecção sub-21, para o duplo embate com Chipre e Bielorrússia. “É uma situação nova para nós também enquanto seleccionadores, ter de convocar sem o que é palpável. E procurando equilíbrio na nossa equipa com coisas que conhecemos, mas não sabemos se neste momento são uma realidade. É tentar procurar esse equilibro, também com jogadores que já nos conhecem melhorzinho, a nossa ideia e forma de pensar”, sintetizou o seleccionador Rui Jorge. A estreia deste quarteto surge em fase decisiva no apuramento para o Euro2021 Eslovénia/Hungria da categoria, cujas regras mudaram devido à pandemia da covid-19, caindo o ‘play-off’ e qualificando-se os primeiros de cada um dos nove grupos mais os cinco melhores segundos.

terça-feira 25.8.2020

PALAVRA DO DIA

John Ruskin

FITCH ANGOLA É O PAÍS MAIS BENEFICIADO COM MORATÓRIA DA DÍVIDA ATÉ 2021

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Enquanto a polícia tentava evacuar a zona, uma mulher fez-se explodir na mesma rua da primeira explosão

Explosões em dose dupla Sobe para 15 o número de mortos e 75 feridos em atentados nas Filipinas

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ELO menos 15 pessoas morreram e outras 75 ficaram feridas ontem num atentado duplo na Ilha Jolo, reduto da organização ‘jihadista’ Abu Sayyaf, no sul das Filipinas. Sete soldados, um polícia e seis civis, além da presumível bombista suicida – ainda por identificar – perderam a vida em duas explosões na mesma rua da cidade de Jolo, declarou o tenente-general Corleto Vinluan, à agência francesa France-Presse. Quarenta e oito civis, 21 soldados e seis polícias também ficaram feridos. A primeira explosão ocorreu perto de um supermercado quando uma bomba caseira presa a uma moto foi detonada, segundo a mesma fonte. Um soldado viu uma pessoa a estacionar o veículo junto a essa mercearia “onde havia muita gente”, particularmente militares, sublinhou por sua vez o tenente-coronel Ronaldo Mateo. O dispositivo explodiu quase imediatamente. Enquanto a polícia tentava evacuar a zona, uma mulher

fez-se explodir na mesma rua da primeira explosão. Uma terceira bomba, que não chegou a explodir, foi encontrada num mercado da cidade de Jolo, que foi imediatamente isolada pelos militares e pela polícia. Os atentados ainda não foram reivindicados, mas o exército responsabilizou um comandante do Abu Sayyaf, Mundi Sawadjaan.

EM RETALIAÇÃO

Estes ataques ocorreram poucas semanas depois da prisão de um dos líderes da organização, Abduljihad Susukan, na ilha de Mindanao. Desde então, as forças de segurança temiam ataques do Abu Sayyaf em retaliação. Susakan é acusado de 23 homicídios, cinco sequestros e seis tentativas de assassínio. O porta-voz do Presidente filipino Rodrigo Duterte, Harry Roque, condenou os actos que classificou de “ataques vis”. “Pedimos aos moradores de Jolo que fiquem atentos e avisem as forças de segurança caso avistem pessoas com

comportamento suspeito ou objectos abandonados na área”, disse. Os muçulmanos pegaram em armas na década de 1970 para exigir a autonomia ou independência do sul do arquipélago predominantemente muçulmano e a insurreição já provocou a morte de 150.000 pessoas. O principal grupo rebelde, a Frente de Libertação Moro Islâmica, assinou um acordo de paz em 2014 com o Governo para conceder autonomia à minoria muçulmana em partes do Mindanao e nas ilhas do extremo sudoeste. O processo de paz, que começou na década de 1990, não inclui todas as organizações islâmicas – incluindo as que juraram fidelidade ao grupo extremista Estado Islâmico. A ilha de Jolo, de maioria muçulmana, é o bastião do grupo islamita Abu Sayyaf, considerado uma organização terrorista por Washington. O grupo dividiu-se em diversas facções, algumas das quais juraram lealdade ao Estado Islâmico.

Fitch Ratings considera que Angola será o país mais beneficiado com uma possível extensão da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) do G20, podendo ‘poupar’ 4,3 por cento do PIB só este ano. “De acordo com os dados dos pagamentos devidos, publicados pelo Banco Mundial, só cinco dos 22 países que a Fitch avalia e que são elegíveis para participar na DSSI, veriam os requisitos de financiamento para este ano reduzidos em mais de 1 por cento, sendo o benefício para Angola, com 4,3 por cento, o mais elevado, de longe”, lê-se num relatório sobre o impacto da adesão dos países mais vulneráveis à iniciativa do G20. No documento, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, a Fitch Ratings diz que destes países (Angola, Moçambique, República do Congo e Laos), apenas o Laos não se candidatou à iniciativa organizada em Abril e que pretende suspender os pagamentos de dívida oficial bilateral até final deste ano, e que em Novembro poderá ser prolongado para final de 2021 devido aos efeitos da pandemia nas economias mais fragilizadas. Segundo os dados, Angola poderá deixar de pagar 2,6 mil milhões de dólares em pagamentos de dívida só este ano, o que corresponde a 3,1 por cento do PIB do ano passado. “Uma extensão da DSSI do G20 para os países dos mercados emergentes é provável, possivelmente na reunião de Novembro, o que amplificaria os benefícios desta iniciativa”, escrevem os analistas da Fitch Ratings, detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions.


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