Hoje Macau 26 AGO 2016 #3644

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SEXTA-FEIRA 26 DE AGOSTO DE 2016 • ANO XV • Nº 3644

MOP$10

ADM

De volta ao convívio PÁGINA 10

OPINIÃO Ide a pé ISABEL CASTRO

hojemacau PATRIMÓNIO DONO DE IMÓVEL NEO-CLÁSSICO ACUSA GOVERNO DE MANIPULAÇÃO

VALLINAS

Barca bela?

DANÇA

CARMEN PURA

PÁGINAS 8-9

EVENTOS

Muita estrada pouca Uber

ASSEMBLEIA

Terras que pesam

GRANDE PLANO

PÁGINA 4

h

De Saturno a Marte ANABELA CANAS

Todo o Atlântico AMÉLIA VIEIRA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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edifício resultam em mais de 60% de opiniões a favor. O proprietário contesta os resultados, acusa o Governo de manipular a opinião e de faltar ao prometido.

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É o nº28 da Manuel de Arriaga e o nº1 da Rua da Barca. Depois de alguma indefinição, os últimos resultados da consulta pública para a classificação do


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UBER SAÍDA DA EMPRESA GERA MANIFESTAÇÃO E PETIÇÃO

GRANDE PLANO

É oficial: a Uber vai deixar de operar no território a 9 de Setembro e a Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau organiza um protesto dia 4. Além disso, o grupo “Support Uber in Macau” lançou uma petição online. Muitos defendem a legalização do serviço e garantem que Macau precisa de uma aplicação móvel semelhante

P

AU que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. O tradicional ditado português serve para contar a história da Uber em Macau, que desde o início das operações viu-lhe ser negado o apoio do Executivo. A Uber tentou trabalhar, apesar das acusações de operar ilegalmente e das muitas multas que as autoridades policiais lhe atribuíram. Milhões de patacas depois, a empresa anunciou ontem oficialmente a saída do mercado para o dia 9 de Setembro, depois do HM ter revelado que a empresa estaria preparada para deixar o território. Um dia após o anúncio oficial já são muitas as vozes de apoio à Uber. A Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau promove uma manifestação em prol da continuação do serviço já no dia 4 de Setembro, na praça do Tap Seac, com arranque às 15h00. O deputado Au Kam San, que é também vice-presidente da assembleia-geral da Associação, disse, em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, que o protesto vai servir para mostrar ao Governo a necessidade que as pessoas têm de uma resolução para as dificuldades de transporte, sobretudo na hora de encontrar um táxi. Mas também fala de perseguições aos condutores da empresa. “Recebemos a denúncia de uma passageira grávida, que esteve detida pela polícia durante várias horas, só para que o motorista da Uber fosse acusado”, disse Au Kam San. O deputado pede, assim, a legalização deste tipo de aplicações. “No interior da China foram criados regulamentos que visam os veículos e motoristas ligados a estas plata-

formas móveis para o serviço de táxi, a fim de se legalizar o serviço. Acredito que em Macau também iríamos conseguir implementar estes regulamentos”, defendeu. Com existência na rede social Facebook, o grupo “Support Uber in Macau” (Apoio à Uber em Macau) também lançou uma petição online, intitulada “Macau people need Uber!” (A população de Macau necessita da Uber). A mensagem deixada é clara. “Em Macau os autocarros estão sempre cheios e os táxis nunca servem as nossas necessidades, para além de que há poucos lugares nos parques de estacionamento (não nos podemos esquecer do interminável metro ligeiro).Agora o nosso Governo quer retirar a Uber de Macau! Os problemas com o terrível sistema de

“No interior da China foram criados regulamentos que visam os veículos e motoristas ligados a estas plataformas móveis (...), a fim de se legalizar o serviço. Acredito que em Macau também iríamos conseguir implementar estes regulamentos” AU KAM SAN DEPUTADO

A APP MALDITA

transporte nunca foram resolvidos e agora o Governo está a expulsar a Uber com uma inesperada eficiência. Os nossos direitos estão a ser esquecidos e não podemos continuar sentados como ficamos no passado na hora de enfrentar injustiças!”, pode ler-se. O grupo pede que seja mantida uma alternativa aos táxis. “Independentemente de ser um habitual cliente da Uber ou não, por favor apoie esta plataforma enquanto cidadão que, como nós, quer outra forma de opção de transporte sem que haja apenas os vis táxis”, lê-se ainda.

“Os problemas com o terrível sistema de transporte nunca foram resolvidos e agora o Governo está a expulsar a Uber com uma inesperada eficiência. Os nossos direitos estão a ser esquecidos”

PERDER TERRENO

PETIÇÃO ONLINE DO GRUPO “SUPPORT UBER IN MACAU”

Uma das pessoas que assinou esta petição foi Sara Barrias. Em declarações ao HM, a residente de Macau lamenta que a Uber esteja a deixar o território. “Usava sempre que precisava e sabia que estava sempre lá. Era uma mais valia para os transportes, pessoalmente sentia-me mais segura a pedir um transporte na Uber do que andar de táxi em Macau. O serviço é mais fácil, eles estão sempre disponíveis, uma pessoa não tem de levar com motoristas mal dispostos que tentam roubar dinheiro”, referiu. O facto das associações locais estarem a ponderar a criação de uma aplicação móvel para os táxis não vai ajudar a fomentar mais meios de transporte. “Penso que essa aplicação não vai ajudar em nada, vamos voltar ao mesmo. Deveriam ter legalizado a Uber porque era mais um serviço para Macau e não ia interferir com os táxis porque eles iam continuar a ter o mesmo negócio”, acrescentou Sara Barrias. Também Marisa Costa, utilizadora habitual da Uber, lamenta que

a empresa esteja a sair do território. “Se o problema era estarem ilegais, porque não se procedeu à legalização? Era muito mais cómodo usar sempre que não havia táxis. Em qualquer hora e lugar podíamos contar com o transporte, se não tivesse dinheiro podíamos pagar com o cartão de crédito. O serviço era muito melhor, tinha mais qualidade do que o táxi, era só vantagens.” Para Marisa Costa, Macau fica a perder em relação a Hong Kong, onde o serviço continua a operar, e até em relação à China, onde a Uber se legalizou, graças à compra da empresa pela chinesa Didi. “Temos o problema dos transportes e esta era mais uma oportunidade. O problema é mesmo o péssimo serviço prestado pelos táxis, com má educação e falta de profissionalismo.”

EMPRESA CERTA?

O presidente da Associação dos Passageiros de Táxi de Macau,

Andrew Scott, disse ao HM que é “triste” o território estar a perder esta aplicação móvel, algo que faz falta. “Não sei se a Uber é a companhia ideal para isso, mas deveria existir uma app que funcionasse


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ASSOCIAÇÃO DE CONDUTORES DEMARCA-SE DO PROTESTO

O

S condutores da Uber afirmam nada ter a ver com a manifestação agendada para o próximo dia 4 de Setembro. Em carta enviada à publicação Macau Concelears, a Associação de Transporte por Conveniência dos Povos, composta exclusivamente por condutores da Uber, afirma nada ter a ver com a iniciativa. “A manifestação organizada pela Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário para mostrar o apoio à Uber não representa a perspectiva de todos os condutores nem da nossa associação. Informamos os cidadãos que somos um grupo de pessoas que oferecem serviços a Macau de forma sincera. Esperemos que todos sejam pacíficos e racionais quando exprimirem os seus apelos”, lê-se na declaração. “Somos experientes e ambiciosos e todos os dias oferecemos serviços aos cidadãos com todo o desempenho. Esperamos poder ajudar as pessoas com necessidades e que, ao mesmo tempo, possamos suportar as nossas famílias”, acrescenta a declaração. A associação explica ainda que os condutores apenas “reuniram assinaturas de forma conjunta, de uma forma pacífica e racional, para expressar os pedidos ao Governo”. Apesar de se demarcarem do protesto, não afastam a possibilidade de realizar outra acção do género. “A nossa associação ainda não organizou um comício ou uma manifestação, mas não excluímos a possibilidade de, a curto prazo, tomarmos acções. Mas garantimos que todas as acções vão ser feitas de forma pacífica e racional”, conclui. A.K. (revisto por A.S.S.)

em Macau e que tivesse a bênção do Governo. A Uber talvez tenha chegado a Macau da forma errada, pois nunca teve o aval do Governo. Macau tomou a decisão de decretar a Uber como uma plataforma ilegal e isso gerou imensas multas,

“Era uma mais valia para os transportes, pessoalmente sentia-me mais segura a pedir um transporte na Uber do que andar de táxi em Macau”

“Se o problema era estarem ilegais, porque não se procedeu à legalização? Era muito mais cómodo usar sempre que não havia táxis. Em qualquer hora e lugar podíamos contar com o transporte”

SARA BARRIAS RESIDENTE

MARISA COSTA UTILIZADORA DA UBER

o que não é comportável para a empresa, que é uma plataforma lucrativa. Talvez a única forma de conseguir operar em Macau era de forma não lucrativa, com o apoio do Governo. Talvez aí estivesse a solução”, frisou. Andrew Scott defendeu ainda que “deveria existir um campo legal

para que todas as empresas pudessem operar. O mercado terá de ditar quem terá esta aplicação”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Angela Ka

info@hojemacau.com.mo


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TIAGO ALCÂNTARA

POLÍTICA

Ho Iat Seng faz hoje o balanço de mais um ano legislativo. Dois especialistas em Ciência Política falam de um ano em que a proposta do deputado Gabriel Tong sobre a Lei de Terras trouxe um pouco mais de pressão ao presidente do que o habitual. Ainda assim, a sua objectividade manteve-se

O

ano legislativo corria bem, sem sobressaltos de maior, com a análise de diplomas e a sua aprovação, até que o deputado Gabriel Tong decidiu apresentar um projecto de lei para uma nova interpretação da Lei de Terras. O projecto acabaria por não seguir em frente, mas, aos olhos de dois analistas políticos, trouxe alguma pressão a Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL). Hoje é o dia em que Ho Iat Seng realiza a habitual conferência com

AL LEI DE TERRAS TROUXE “ALGUMA PRESSÃO” A HO IAT SENG

Nem difícil, nem comum a comunicação social de balanço do ano legislativo. “Não foi um ano difícil mas também não foi um ano comum. [A apresentação da proposta de Tong] foi um momento difícil, mas aprecio a sua postura, porque também aí foi objectivo. Quanto à questão dos terrenos não é uma figura que pertença ao sector imobiliário ou da construção civil, tem poucos interesses em envolver-se nessa questão. Tentou o seu melhor e não colocar-se numa posição de embaraço para ele próprio e para o Governo, o que prova que é um bom político”, disse ao HM Larry So, ex-docente de Administração do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Também Eilo Yu, docente da Universidade de Macau (UM), defende que Ho Iat Seng terá sentido alguma pressão com a proposta de Gabriel Tong. “A questão dos terrenos tem sido bastante levantada por várias pessoas, tanto a internet como os jornais têm falado muito sobre isso. Não estou certo de que isso terá trazido muita pressão para o trabalho de Ho Iat Seng enquanto presidente, mas pode ter sentido alguma pressão por parte de pessoas ligadas ao sector imobiliário.” A questão da Lei de Terras foi algo controversa este ano, relembra o académico. “Temos pessoas e membros na AL com diferentes

opiniões e com propostas diferentes e isso é desafiante, do ponto de vista do equilíbrio das diferentes opiniões. Mas é também um reflexo daquilo que a sociedade é, que tem diferentes opiniões e preocupações. Penso que [Ho Iat Seng] está a fazer o seu melhor para lidar com estas diferenças”, acrescentou Eilo Yu. Em meados do mês passado Ho Iat Seng anunciou que a mesa da AL entendeu não dar seguimento à proposta do deputado nomeado Gabriel Tong, por considerar que esta visava uma alteração à Lei de Terras e não apenas a introdução de uma nova norma interpretativa, o que iria necessitar de aprovação do Chefe do Executivo. “Foi consenso da Mesa da Assembleia que esta proposta não é

“Tentou o seu melhor e não colocar-se numa posição de embaraço para ele próprio e para o Governo, o que prova que é um bom político” LARRY SO EX-DOCENTE DE ADMINISTRAÇÃO DO IPM

meramente para interpretar a lei. Pretende aditar uma nova norma na Lei de Terras. E se assim for necessitamos de obter primeiro a autorização e o consentimento do Chefe do Executivo porque esse é um poder exclusivo do Governo”, afirmou Ho Iat Seng na altura. O Governo nunca mostrou disponibilidade para aprovar qualquer mudança ao diploma, que entrou em vigor em 2013.

PRESIDENTE NEUTRO

Larry So destacou ainda o facto de Ho Iat Seng ter mantido uma postura discreta face aos rumores de que poderá ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo. “Muitas pessoas especulam que Ho Iat Seng poderá ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo, mas ele tem mantido uma postura calma, sem fazer grandes comentários a essa questão. Tem mantido uma postura objectiva e neutra na AL, tem sido um bom presidente”, disse o analista político. Larry So destaca ainda o problema levantado pelos vários presidentes do hemiciclo quanto à falta de comunicação entre o Executivo e a AL na elaboração das leis. “Nos últimos anos a AL tem tido uma agenda preenchida, com vários diplomas que ainda não foram aprovados. O presidente tem

“Não estou certo de que isso [Lei de Terras] terá trazido muita pressão para o trabalho de Ho Iat Seng enquanto presidente, mas pode ter sentido alguma pressão por parte de pessoas ligadas ao sector imobiliário” EILO YU DOCENTE DA UM vindo a fazer o alerta ao Governo quanto à necessidade de uma maior coordenação. Penso que o presidente Ho Iat Seng não está muito satisfeito com a Administração, especialmente quando esta não está a fazer o seu trabalho em conjunto com os membros do hemiciclo, em relação ao trabalho legislativo”, rematou Larry So. Andreia Sofia Silva

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POLÍTICA

CCAC DEPUTADO PEDE INVESTIGAÇÃO SOBRE PEDREIRA DE COLOANE

Tudo em pratos limpos CANTÃO CHEFE DO EXECUTIVO ACOMPANHA ASSINATURA DE ACORDOS EM GUANGDONG

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, encontra-se na cidade de Cantão, província de Guangdong, para acompanhar de perto a assinatura de dois acordos de cooperação com Macau. Um dos acordos foi assinado entre a empresa União Comercial e Industrial Nam Kwong e o Governo de Cang Sang da província de Fujian. O objectivo será a construção de um parque industrial “sobre o desenvolvimento da internet, cultura e criatividade”. Outro acordo foi assinado entre as organizações de convenções e exposições de Macau e a União de Convenções e Exposições do Grande-Delta do Rio das Pérolas, a fim de se criar “uma cidade apta para organizar convenções e exposições, mas consciente das necessidades ligadas à protecção ambiental”, aponta um comunicado oficial.

PEREIRA COUTINHO QUER MAIOR APLICAÇÃO DE VALES DE SAÚDE

O deputado José Pereira Coutinho enviou uma interpelação escrita ao Governo onde pede que seja revisto o Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde, por forma a permitir que os residentes “possam beneficiar numa maior escolha da utilização destes benefícios, nomeadamente no consumo de bens de primeira necessidade”. A ideia era alargar o âmbito de aplicação dos vales de saúde para que possam ser usados no consumo de alimentos.

SEAC PAI VAN TELHAS A CAIR ORIGINAM INTERPELAÇÃO ESCRITA

O telhado de um dos edifícios do complexo de habitação pública de Seac Pai Van está em risco de queda ao fim de um ano de construção, facto que levou o deputado Chan Meng Kam a interpelar o Governo sobre a má qualidade das construções da habitação pública. “Alguns residentes de Seac Pai Van disseram-me que houve trabalhadores da construção civil a assinalar as telhas que vão necessitar de substituição.” Chan Meng Kam terá visitado o local e constatado que todo o telhado necessitava de uma reparação. O telhado já terá sido reconstruído, mas para o deputado Chan Meng Kam este é um exemplo de como as construções no território são “vulneráveis”, questionando a garantia de qualidade para o futuro.

Au Kam San quer ver esclarecida a história da concessão da Pedreira de Coloane. Para o efeito, entregou ontem uma petição ao CCAC em que aponta actos pouco claros por parte do Governo com os negócios das terras

S

USPEITA de ilegalidades estão na base de um pedido de investigação sobre o caso da concessão do terreno da antiga pedreira na Coloane. O apelo foi feito ontem através da entrega de uma petição pelo deputado Au Kam San ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC). O terreno servia a antiga pedreira de Coloane e tem 34 mil metros quadrados. O espaço, que tinha sido utilizado enquanto fábrica de materiais de construção até 2009, viu três dos seus lotes destinados à construção da habitação pública de Seac Pai Van. Liu Chak Wan, membro do Conselho Executivo e proprietário da fábrica que ocupava o espaço, acabou por abdicar de 18 mil metros quadrados, ava-

liados em 18 milhões de patacas, e em compensação conseguiu a restante área. O concessionário solicitou a concessão de mais duas parcelas de terreno que lhe foram concedidas e que tinham o valor de 88 milhões de patacas.

MUDA DE RAMO

Em 2011, Liu Chak Wan solicitou ainda uma licença para transformar a finalidade de exploração daquela zona. O objectivo era poder fazer da concessão um uso comercial para vir a construir edifícios de habitação. Não tendo sido autorizado a trocar o objecto de negócio, na medida em que não era permitido o exercício de actividades ligadas ao sector imobiliário sob a alçada da empresa que explorava a antiga pedreira, o dono da fábrica solicitou a transmissão da concessão

do terreno para a nova empresa de investimento, a New Hong Yee. A nova empresa terá sido constituída meses antes do então Secretário para o Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io, assinar o despacho da troca de terrenos. A empresa ainda tem a receber um lote na mesma zona, sendo que após o pagamento da dívida por parte do Governo, a New Hong Yee terá a seu cargo os 24 mil metros necessários para a construção de um edifício com cerca de 12 torres. As condições da troca motivaram já uma queixa no CCAC em 2012 por suspeitas de tráfico de influências e agora é Au Kan San quem duvida que a decisão possa ter qualquer fundamento jurídico, acusando mesmo o Governo de ter cometido uma ilegalidade.

Na petição, que foi divulgada em nota de imprensa, é ainda reforçado o caso da Fábrica de Panchões. À semelhança do de Coloane, para Au Kam San é mais uma prova da falta de clareza nos processos que envolvem concessões por parte do Executivo e de actos “ridículos” por parte do Governo no que respeita à gestão de terrenos.

DEBATE ASSIM-ASSIM

De acordo com a Rádio Macau, o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, Ho Ion Sang, confirmou que dois dos dez deputados que analisaram o caso da pedreira entendem que as condições da troca favorecem a empresa de Liu Chak Wan. O deputado reconhece, no entanto, que a questão foi discutida de forma superficial com o Governo.

As condições da troca motivaram já uma queixa no CCAC em 2012 por suspeitas de tráfico de influências e agora é Au Kan San quem duvida que a decisão possa ter qualquer fundamento jurídico, acusando mesmo o Governo de ter cometido uma ilegalidade “Em relação a este processo, entre os deputados, apenas discutimos esta questão de acordo com as informações disponíveis, mas muito superficialmente. Como não somos uma entidade investigadora, não vamos investigar isto profundamente”, cita a rádio. Angela Ka (revisto por S.M.) info@hojemacau.com.mo


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hoje macau sexta-feira 26.8.2016

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.º 005/2016

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.º 006/2016

Considerando a impossibilidade de notificar pessoalmente os interessados, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as seguintes empresas comerciais que apresentaram pedidos de apoio financeiro ao Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética, são notificadas por edital, ao abrigo do artigo 68.º e do n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código:

Considerando a impossibilidade de notificar pessoalmente os interessados, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as seguintes empresas comerciais, que apresentaram pedidos de apoio financeiro ao Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética, são notificadas por edital, ao abrigo do artigo 68.º e do n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código:

Nome do requerente 黃斯進

N.º de registo de entrada FP1001756

Montante do apoio financeiro concedido (patacas) 20.464,80

HO SOK I

FP1003621

12.768,00

TAM VAI KUN GRUPO DE TEATRO EXPERIMENTAL DE “PEQUENA CIDADE” HONG KONG SUN YICK (MACAU) LIMITADA CENTRO EDUCACIONAL DE MUSICA E ARTES SMARTKIDS LIMITADA PUN SAI HONG

FP1003677

22.025,20

FP1004696

62.054,40

FP1005098

66.816,00

FP1005224

20,498.40

FP1005634

13.128,00

WONG WAI CHENG

FP1005791

14,800.00

WONG CHI KEONG

FP1006137

64.768,00

WAN HIO IAN

FP1006157

1.376,00

FONG KA IAN GAME BASE SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA CHEONG LAI CHAO

FP1006242

9.613,20

FP1006541

10,360.00

FP1006711

1.800,00

VANILLA DEW HONG KONG LIMITADA COMPANHIA DE RESTAURACAO CHEONG SIN GRUPO LIMITADA

FP1006913

110.216,00

TAM CHI SENG

FP1002286

FP1007248

27,236.48

LAO PUI TONG

FP1002642

SAM KAI FONG

FP1002835

景美好環保有限公司 SALÃO DE BELEZA SA WONG PROFISSIONAL LIMITADA

Deferidos pelo Conselho Administrativo do Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética os pedidos de concessão de apoio financeiro formulados pelas empresas comerciais acima referidas, estas devem, para efeitos de concessão do mesmo e no prazo de 30 dias contados a partir da data da publicação da presente notificação, proceder à entrega da Declaração (modelo 14) e da factura relativas aos produtos e equipamentos adquiridos ou substituídos, das fotografias com as características definidas no “Regulamento para a entrega de fotografias dos produtos e equipamentos adquiridos e instalados” e dos outros documentos considerados necessários, sob pena de o respectivo apoio financeiro concedido ser cancelado nos termos da alínea 4) do n.º 1 do artigo 17.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2011 (Plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética). Quer durante a instalação quer durante a utilização dos produtos e equipamentos aprovados para a concessão do apoio financeiro, as empresas comerciais devem observar e cumprir a legislação local e as instruções emitidas para o efeito, disponíveis no sítio da Internet da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental. As empresas comerciais devem instalar e utilizar os produtos e equipamentos aprovados para a concessão do apoio financeiro nos locais indicados no despacho de concessão. Em caso da não instalação e não utilização dos produtos e equipamentos nos respectivos locais ou da ocorrência de grandes alterações, nomeadamente a transferência de estabelecimento, a cessação da actividade do estabelecimento, entre outras circunstâncias, devem apresentar um pedido fundamentado, por escrito, ao FPACE no prazo de 30 dias após a ocorrência da mudança, para fazer a verificação do respectivo pedido. Caso esse pedido seja apresentado fora do prazo, ou os produtos e equipamentos aprovados para a concessão do apoio financeiro não sejam instalados e utilizados de acordo com o despacho de concessão, pode ser cancelada a concessão do apoio financeiro, nos termos do artigo 17.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2011 (Plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética), sendo exigido aos beneficiários a restituição do montante do apoio financeiro concedido. Sobre a decisão de indeferimento tomada pelo Conselho Administrativo da FPACE, pode ser apresentada reclamação para o mesmo Conselho Administrativo, no prazo de 15 dias, contados a partir da data da publicação da presente notificação, nos termos dos artigos 145.º, 148.º e 149.º do Código do Procedimento Administrativo e/ou pode ser interposto recurso contencioso para o Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, no prazo de 30 dias contados a partir da data da publicação da presente notificação, de acordo com o disposto no artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso.

Nome do requerente

N.º de registo de entrada

SI IP MAN

FP1000701

TAM UT TONG

FP1000900

GUSTO LDA.

FP1001190

姚寶寶美的世界有限公司

FP1001255

MACAU RESTAURANTE GESTAO DE RESTAURACAO LDA.

FP1001259

M. MAYCO LIMITADA

FP1001370

LEONG I MAN

FP1001393

LAM IM TONG

FP1001697

CHONG LAI IENG

FP1002063

LAO KIN MENG

FP1002140 FP1002202 FP1002279

COMPANHIA DE MOBILIAS E DECORACAO NGAI LAM, LIMITADA AGENCIA COMERCIAL KIM SENG LIMITADA SOCIEDADE DE TIPOGRAFIA GREENSAFE, LIMITADA

FP1003273

時代音樂工作室有限公司

FP1003462

SIO KIN FAN

FP1003590

WONG NGA FAN

FP1003740

NG MUI KAM

FP1003741

FP1003248

FP1003339

LIO KUOK CHONG

FP1004013

COMPANHIA DE SAUNAS NO.1, LIMITADA

FP1004386

LAU SAI KONG

FP1005007

LAI POU MEI

FP1006028

Devido à cessação de actividade ou cancelamento de registo das empresas comerciais dos requerentes acima mencionados, que pretendem instalar os equipamentos incluídos no âmbito de apoio financeiro, o Conselho Administrativo do FPACE verifica, nos termos dos artigos 3.º e 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2011, que os requerentes deixam de satisfazer as condições de elegibilidade definidas no plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética e, por essa razão, os seus pedidos de apoio financeiro serão arquivados pelo mesmo Conselho Administrativo. Informa-se ainda as empresas comerciais acima referidas que, sobre a decisão tomada pelo Conselho Administrativo da FPACE, podem apresentar reclamação para o mesmo Conselho Administrativo, no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação da presente notificação, nos termos dos artigos 145.º, 148.º e 149.º do Código do Procedimento Administrativo e/ou interpor recurso contencioso para o Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, no prazo de 30 dias contados a partir da data da publicação da presente notificação, de acordo com o disposto no artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso. 26 de Agosto de 2016.

26 de Agosto de 2016 O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE Tam Vai Man

O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE Tam Vai Man


7 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

Eleições LegCo MACAU ATENTO À INFLUÊNCIA DE HONG KONG

Ventos de leste

As eleições em Hong Kong estão agendadas para o próximo dia 4 de Setembro. Paredes meias com a RAEM, será que o processo que acontece em Hong Kong tem alguma influência por cá? Os ânimos na cidade vizinha já se fazem sentir com os vários movimentos políticos e espontâneos e quem participa na política local está atento ao que se passa aqui ao lado

M

ACAU e Hong Kong são as duas regiões especiais da China. Com sistemas políticos diferentes da terra-mãe e mesmo diferentes entre si, os acontecimentos de uns e outros não passam despercebidos. A RAEHK prepara-se para mais um dia de eleições - que acontece a 4 de Setembro - e, apesar das diferenças, parece que o que se passa na região vizinha já se faz sentir na Cidade do Nome de Deus. Agnes Lam, por exemplo, não tem dúvidas: as influências em Macau do que se passa politicamente em Hong Kong já se sentem e não é necessário aguardar pelas eleições para constatar isso mesmo. A ideia é dada pela presidente da Associação Energia Cívica de Macau ao HM e Lam refere-se aos ecos de independência que têm dominado a actualidade da região vizinha. Apesar de ainda não ser de forma declarada, a dirigente associativa considera que a camada mais jovem de Macau está mais atenta ao que se passa e à situação do território.

Por outro lado já existe o impacto e a consciência da possibilidade “de uma liberdade política”, afirma a académica. Em Macau já se sente alguma cautela por parte do Governo no que respeita a esta situação. Independentemente das eleições, o alerta já está, de alguma forma, içado.

A PROTEGER-SE

As questões relativas ao desejo de independência levantadas pela vizinhança já estão “subtilmente a ser contornadas na RAEM” e de uma forma “muito mais inteligente”, afirma Agnes Lam, referindo-se à estratégia preventiva do território. As acções já se podem ver e reflectem-se com o investimento por parte do Executivo em várias acções: o incremento e promoção de visitas e intercâmbios entre jovens locais e oriundos da China continental, é sem dúvida, uma forma de aproximar ambos e de precaver um desejo de afastamento entre uns e outros, defende. “O que poderá vir ainda a acontecer é que estas actividades venham a ser mais intensificadas fazendo com que o convívio entre os mais novos de Macau e os da

China continental seja mais harmonioso”, ilustra a ex-candidata às eleições legislativas de Macau, acentuando que, desta forma, “não será assim tão fácil que os nossos queiram tanto a separação”. Isto são questões que “ainda não se podem dizer” e as atitudes não são declaradas, mas são “com certeza já fruto do impacto do que se passa na RAEHK”. Por outro lado, este tipo de situações, na opinião de Agnes Lam, “vai exigir que o Governo tenha um melhor desempenho e que vá além do seu ‘mero’ trabalho”.

LIÇÕES DE LÁ

Também a Associação Novo Macau (ANM) está de olhos postos na região vizinha. Mais do que a situação em si, parece que são as lições que do que se está a passar ali ao lado que chamam a atenção de Scott Chiang. Para o dirigente associativo e activista pró-democrata, o que “há a tirar do que se está a passar na cidade vizinha é mesmo uma grande lição” e que se baseia na união necessária da Associação e dos movimentos pró-democracia, visto que “a segmentação do espectro

democrático em Hong Kong é muito séria e este é um facto para ter em mente”, acrescenta. Outra lição a tomar, e a ter especial atenção, é o que se está a passar no negar de candidaturas a determinados candidatos, o que na opinião de Scott Chiang é uma situação “que não gostaria de ver em Macau”.

TAL FILHO, TAL PAI

No entanto “filho de peixe sabe nadar” já se pode assistir a um fenómeno de fragmentação nos mais novos idêntico ao que se passa nos partidos dos mais velhos. “Há mais tempo perdido em discussões entre uns e outros do que o empenho em realmente actuar contra o mal maior”, diz Scott Chiang, que relembra outros tempos da Associação que integra e que “está agora a recuperar disso mesmo”. “Não queremos aqui voltar a ver a situação que se está a repetir em Hong Kong”, frisa. No que respeita a uma possível maior participação política dos mais jovens há que ter “mais paciência e mais integridade” dadas as limitações da própria legislação vigente que não dá espaço a esta camada, “nem em Hong Kong, nem por cá”. Já Jason Chao, vice-presidente da ANM, afirma com tristeza que a sociedade civil de Hong Kong tem “mais força do que a de Macau” e neste sentido seria positivo retirar do que se passa no vizinho, como os exemplos de um maior serviço político e um maior empenho da sociedade em geral. A camada mais jovem não é esquecida também e como exemplo a seguir. “Em Hong Kong há cada vez mais pessoas jovens a candidatar-se a cargos políticos e o Executivo de Macau deveria empenhar-se mais em dar prioridade às mentes e necessidades dos mais novos.” Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo

POLÍTICA

As questões relativas ao desejo de independência levantadas pela vizinhança já estão “subtilmente a ser contornadas na RAEM” e de uma forma “muito mais inteligente” AGNES LAM PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ENERGIA CÍVICA DE MACAU

“Em Hong Kong há cada vez mais pessoas jovens a candidatar-se a cargos políticos e o Executivo de Macau deveria empenhar-se mais em dar prioridade às mentes e necessidades dos mais novos” JASIN CHAO VICE-PRESIDENTE DA ANM


SOCIEDADE Lao Chau Lam diz que a consulta pública sobre a proposta de classificação do imóvel da Rua de Manuel de Arriaga foi “tendenciosa”, apenas porque o Governo quer que o prédio seja classificado como património. Apesar do IC admitir que não há consenso sobre a proposta, o dono do número 28 diz que o Executivo está a manipular a opinião à sua maneira e que quebrou uma promessa

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proprietário do número 28 da Rua de Manuel de Arriaga não quer que o imóvel seja classificado e acusa o Governo de ter feito uma consulta pública “tendenciosa”. O dono do prédio de estilo Neo-Clássico e Art Dèco, que também ocupa o número 1 da Rua da Barca, admite ao HM não perceber muito da lei e mesmo confrontado com o facto do Governo admitir controvérsia na classificação do edifício, acusa o Executivo de estar a tentar fazer com que o prédio seja classificado. Os recentes resultados da consulta pública sobre a proposta de classificação de imóveis do Instituto Cultural (IC) – onde este foi o único dos dez imóveis propostos que pertence a privados mostram que mais de metade

MANUEL DE ARRIAGA PROPRIETÁRIO NÃO QUER CLASSIFICAÇÃO E FALA DE MANIPULAÇÃO

“O GOVERNO FEZ UMA dos inquiridos concorda com a classificação do prédio. O Governo considere que “não houve consenso” quanto à sugestão de se classificar o edifício, nomeadamente – como esclarece numa resposta enviada ontem ao HM – por causa dos proprietários. De acordo com as informações da consulta, 61,8% das 667 pessoas que apresentaram opiniões face a este prédio “concorda com a classificação”, sendo que apenas 38,2% não estão a favor de que se torne património. O Governo insiste que não há consenso, mas os números mostram que ganha a maioria a favor. O dono do prédio não tem dúvidas: houve uma alteração significativa na forma de ver o edifício e é o Executivo quem está por trás disso. “Há dois meses, o Governo teve uma reunião connosco, pequenos proprietários. Na altura, perguntei como estavam os resultados da consulta pública e o Governo disse-me que estava quase a ‘meio-meio’. Pelo que entendi na altura, a proporção de pessoas que concorda com a classificação ainda não tinha chegado a metade. Mas agora os resultados dizem que é mais de 60% para 30 e tal% e estou com enormes dúvidas sobre isso. Certamente este resultado é questionável. Porque a reunião só foi há um ou dois meses e, na altura, já deveria ter acabado a consulta”, começa por referir ao HM Lao Chau Lam, para quem estes resultados “são muito injustos”. “Já disse na sessão consultiva que a inclusão do edifício da Rua de Manuel de Arriaga número 28 é injusta porque, do meu conhecimento, durante a consulta pública o pessoal do Governo mostrou uma foto do edifício às pessoas e perguntou-lhes se a foto ‘de uma idosa quando ela tinha 18 anos era bonita ou não’”, acusa Lao Chau Lam, referindo-se à fotografia do prédio quando este estava ainda em bom estado. Ao que o HM apurou, o livro da consulta pública tem, de facto, uma fotografia do número 28 quando foi construído e outras antes da

GOOGLE STREET VIEW

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demolição parcial a que foi sujeito, portanto fotografias de antes de 2013.

SE NINGUÉM CONHECE, NÃO VALE?

Se é verdade que os proprietários já se tinham manifes-

tado contra a classificação do prédio – dos únicos, segundo o IC, a manter o estilo Neo-Clássico -, também é verdade que Lao Chau Lam assegura que ainda não sabe o que fazer ao espaço, se o prédio for realmente abaixo.

IC SEM DECISÃO TOMADA

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HM tentou saber junto do IC se continua a haver interesse em classificar o prédio, ou se o Instituto vai desistir devido aos resultados da consulta pública, que considera “divergentes e sem consenso”. O organismo responde que nesta fase, se mantém a juntar e analisar dados. “O procedimento de classificação [desse prédio] ainda está em curso, não havendo ainda um resultado final”, frisa na resposta ao HM. “O IC irá esforçar-se para concluir o procedimento com a maior brevidade, dentro do prazo legal, e fazer a respectiva publicação mediante Regulamento Administrativo.” Face ao prédio, e tendo em conta a lei, o IC diz que o procedimento de classificação deve ser concluído no prazo de 12 meses após a sua abertura e a fundamentação para a classificação de bens imóveis deve ter em conta “vários factores, incluindo a apreciação dos critérios de classificação, a opinião dos proprietários, o parecer do Conselho do Património Cultural e os resultados da consulta pública”.

Ainda assim, a insistência é na demolição, até porque, diz, ninguém conhece aquilo. “Os moradores da zona conhecem o edifício e já lhes perguntei e quase 90% disseram que não vale a pena ser preservado. O edifício já foi demolido, deixando só meia parte dele e, por causa das chuvas e vento, está muito danificado. Mas para outras pessoas – e vocês podem fazer inquérito sobre isso - não vai haver muita gente que conheça onde fica o edifício. Certamente que a consulta que o IC ou o Governo fez é tendenciosa. Foi uma consulta feita de forma escondida.”

CPU SEM PESO

Lao Chau Lam admite que não entende muito bem a Lei de Salvaguarda do Património e pede ao Governo,

“através do HM”, que lhe diga o que pode fazer. O diploma dedica vários pontos face a direitos e deveres dos proprietários de imóveis já classificados. Se nuns, os direitos dos proprietários são defendidos, noutros a lei permite a expropriação de bens imóveis em vias de classificação pelo IC, e depois de ouvido o Conselho do Património Cultural. Estes casos podem acontecer quando há uma violação grave dos deveres do proprietário e este corra risco sério de deterioração ou destruição, quando se revele a forma mais adequada de assegurar a tutela do bem imóvel ou quando os bens imóveis estão situados nas zonas de protecção ou ofendam ou desvirtuem as suas características ou enquadramento. Seja qual for o caso, contudo, o proprietário terá direito a ser compensado.


9 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

PROMESSA”

voto saiu nas notícias, os moradores da zona consideram que foi a decisão correcta. Agora, em dois ou três meses, o Governo não quer seguir a opinião dos comissários.”

PROMESSA QUEBRADA

Depois do HM dar a conhecer a Lao Chau Lam estes pontos, o proprietário não baixa a guarda. “Não entendo muito bem a Lei do Património. Mas se calhar, eles também a podem explicar da forma que gostarem mais e eu também não sei o que podemos fazer. Depois de ler os jornais sobre os resultados das consultas públicas, sobre as opiniões públicas que o Governo criou, sinto-me muito oprimido e quase não consigo respirar”, atira.

O proprietário diz que o Governo ainda não o contactou, mas faz questão de dar um exemplo que considera ser semelhante ao do prédio de que é dono. “Os comissários do património votaram 13 contra três, ganhando a demolição. Eles são profissionais, ou não eram intitulados comissários. A maioria deles acha que não vale a pena ser avaliado como património, mas agora o Governo quer criar uma opinião pública para mudar esta avaliação. Quando este

Nos resultados da consulta pública consultados pelo HM, é possível perceber que quem concorda com a classificação considera que “o prédio possui valor cultural” e outros acreditam que a classificação só é possível depois de ser apresentado “um plano de restauro” que tenha em causa a ponderação dos custos e o consentimento do proprietário. Quem discorda, diz que o edifício está “num avançado estado de degradação” e que repará-lo pode ser “um desperdício de recursos”. A integridade do prédio e os custos das obras são os motivos que levam alguns a estar de pé atrás. Para Lao Chau Lam, e apesar do Governo considerar – apesar dos resultados – que há um “elevado número de pessoas” contra a classificação do prédio, o Executivo quer seguir com a classificação. “Quando antes perguntei ao Governo sobre se o edifício, se não for avaliado como património, pode ser demolido, o Governo respondeu-me imediatamente que podia. As duas casas perto do São Januário foram demolidas porque a avaliação dos membros permitia isso. Então quero perguntar ao Governo o que podemos fazer? O Governo fez a promessa mas agora não quer realizá-la”, diz.

“Agora os resultados dizem que é mais de 60% para 30 e tal% e estou com enormes dúvidas sobre isso. Certamente este resultado é questionável” “Certamente que a consulta que o IC ou o Governo fez é tendenciosa. Foi uma consulta feita de forma escondida” LAO CHAU LAM PROPRIETÁRIO

“Os detalhes arquitectónicos do edifício com os seus acabamentos requintados reflectem desta forma um estilo muito característico das habitações do século XX” INSTITUTO CULTURAL

O QUE É?

Na história que acompanha o edifício, fornecida pelo IC, pode ver-se que ao longo dos anos se mantiveram as fachadas, “como as elegantes e bonitas decorações e molduras e a entrada em arco decorada com colunas”, como descreve

o Instituto. Pormenores como mosaicos e acabamento em estuque de Xangai, “populares na época”, levam a que o IC considere o prédio como uma das poucas obras do estilo Neo-Clássico e Art Déco “po-

SOCIEDADE

Consultas específicas

Arquitecto português pede classificação de dezenas de imóveis

N

A compilação das opiniões recolhidas sobre os dez imóveis propostos a classificação pelo IC pode encontrar-se uma opinião de um arquitecto português. João Palla Martins, que o HM tentou contactar sem sucesso, congratula o Instituto pela iniciativa de classificação, caracterizando-a como “a abertura de portas a novas oportunidades”. Na mesma opinião, o profissional pede que o mesmo seja feito “a uma miríade de lojas, bairros e casas isoladas que, fazendo parte da história de Macau, estão, as que sobram, em risco sério de desaparecimento”. João Palla Martins defende, por exemplo, a abertura de um processo de classificação “urgente” para imóveis como o Pagode Sin Fong, a Casa de Chá Long Wa, a moradia “provavelmente dos anos 30” da Calçada da Vitória, o conjunto de casas do Pátio da Claridade, o Pátio dos Cules

pulares na primeira metade do século XX”. Apesar do edifício incluir apenas parte da construção original, o IC descreve-o como sendo ainda capaz de mostrar a sua função como ponto nodal pela sua “localização estratégica” entre as duas ruas que ocupa e que eram “as principais vias do Bairro de San Kio”. Mas não só. “Os detalhes arquitectónicos do edifício com os seus acabamentos requintados reflectem desta forma um estilo muito característico das habitações do século XX sendo este um dos poucos edifícios de referência na zona [que] mantém o estilo há mais de cem anos”. Isto devido principalmente à

e das Seis Casas, o Pátio da Ilusão e o Cinema Alegria. Mas a lista continua, com mais templos e moradias, bem como com o Grande Hotel, o edifício dos CTT e da Escola Portuguesa, o conjunto de edifícios na Rua de São Domingos em frente à Livraria Portuguesa e os edifícios do Largo do Lilau, entre tantos outros. Numa outra opinião, sem identificação e na secção referente às opiniões relacionadas com os bens imóveis propostos, pode ler-se que “é triste ver que a arquitectura comum de Macau tem sido destruída e não haja maior consciencialização da sua importância”. Aopinião refere precisamente o exemplo do número 28 da Rua de Manuel de Arriaga. “O desenvolvimento urbano da cidade pode, sem dúvida, estar em harmonia com a preservação dos seus edifícios históricos, pois é isto que distingue a cidade de todos os outros sítios da China.” J.F. demolição de diversas casas nos anos 60 e 70. O IC propôs a classificação do espaço como sendo um edifício de interesse arquitectónico. Construído em 1917/1918, a propriedade serviu como residência, escritórios e clínica de medicina chinesa, sendo hoje novamente utilizado como habitação. Mas, o IC também deixa o alerta: o prédio de 192 metros quadrados “está em mau estado de conservação” e viu uma parte do seu telhado ser demolida em 2013, uma questão que levantou polémica e que levou o Governo a impedir mais trabalhos de demolição. Joana Freitas (com Angela Ka) joana.freitas@hojemacau.com.mo


10 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

PLATAFORMA FACILITA COMÉRCIO DE PLP MA plataforma virtual para promoção de produtos portugueses dos Países de Língua Portuguesa (PLP) a baixo custo pode ser realidade. A informação apresentada em comunicado de imprensa é referente à criação da Macaumarket, que pretende disponibilizar serviços entre empresas e entre estas e clientes. Uma criação da empresa do comércio electrónico transfronteiriço “Email Retalho, Lda., a plataforma pretende possibilitar um meio privilegiado para dar a conhecer os produtos dos PLP, que neste momento representam no mercado global apenas 15% das transações realizadas online. A Macaumarket tem ainda como ambição entrar no “maior mercado do mundo”, a China. O recém-criado mecanismo reconhece as dificuldades que muitas vezes são criadas para entrar neste mercado, nomeadamente no que respeita a encargos alfandegários pelo que já tomou as devidas medidas. “A Emall Retalho, Lda. requereu o Registo Alfandegário à Alfândega da China para resolver os problemas logísticos do comércio transfronteiriço na expectativa de ajudar as empresas, fornecedores e agentes dos produtos dos Países de Língua Portuguesa de Macau a entrarem no gigantesco mercado com custos baixos”, pode ler-se em comunicado. A plataforma está a ser apresentada no Centro de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa até sábado.

A

protecção da natureza que rodeia as Casas-Museu da Taipa deu o mote para um parecer por parte da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). A entidade deu a conhecer, em comunicado de imprensa, a emissão do parecer técnico relativo ao controlo da poluição ambiental, bem como as instruções que concernem a protecção. A medida tem como fim o adoptar de medidas adequadas para o devido “controlo da poluição ambiental”, após a inclusão de restaurantes na zona. O objectivo é “reduzir a influência” nas áreas envolventes, afirmou ontem a entidade. A DSPA acrescenta ainda que procederá ao mesmo

De cara lavada

A

Associação dos Macaenses (ADM) espera abrir portas até ao final do mês de Setembro. Depois de ter estado fechada para obras profundas, Miguel Senna Fernandes admite que os preços das quotas e da cantina vão aumentar, mas espera que aquele continue a ser um espaço de convívio para sócios e amigos. Foi um longo percurso desde que fecharam portas até ao presente momento. Mas as obras de remodelação na ADM estão concluídas, “faltando apenas uma vistoria oficial e a colocação do material da cantina e de escritório”, refere o presidente da Associação, Miguel Senna Fernandes. Conhecida como espaço de convívio e sobretudo referenciada pela cantina, a Associação estava há já algum tempo a precisar de ter “cara lavada” e fechar foi uma decisão que teve de acontecer, frisa o responsável. O período foi-se arrastando devido a questões burocráticas como licenças e vistorias. “À medida que os problemas apareciam fomos resolvendo mas a verdade é que atrasou tudo.” Durante o tempo em que as obras decorriam, a Associação manteve-se a funcionar mas, num espaço muito reduzido, onde não era possível desenvolver as actividades do costume. “Ter a sede fechada causou grandes constrangimentos e tivemos de suspender muitas actividades”, acrescenta. “Como em Outubro se festejam 20 anos de existência, a

ADM gostaria que a festa já acontecesse no novo espaço”.

PREÇOS ACTUALIZADOS

O espaço é o mesmo mas sofreu algumas alterações, “tudo para respeitar as normas previstas”. Com capacidade para acolher o mesmo número de pessoas, vai ser ajustada cantina, que terá algumas novidades. “Reajusta-

mos os preços que já estavam desactualizados”, no entanto, o valor dos aumentos ainda não foi discutido. As quotas também vão ser aumentadas. “Estamos a tentar alterar os cartões dos associados para que, através de acordos com empresas de prestação de serviços, possam ter alguns descontos.”

“Como em Outubro se festejam 20 anos de existência, a ADM gostaria que a festa já acontecesse no novo espaço” MIGUEL SENNA FERNANDES PRESIDENTE DA ADM

Falem com os pássaros

TIAGO ALCÂNTARA

U

ADM ESPAÇO REABRE EM SETEMBRO COM PREÇOS ACTUALIZADOS

TIAGO ALCÂNTARA

SOCIEDADE

DSPA garante protecção ambiental nas Casas-Museu da Taipa

processo sempre que lhe seja solicitada opinião de “modo a melhor proteger a qualidade ambiental circundante”.As Casas-Museu da Taipa encontram-se em obras de reabilitação, sob a alçada do Instituto Cultural (IC) que pretende fazer daquele espaço uma nova zona de lazer e atracção turística do território.

VOLTAR À CARGA

Joe Chan voltou ontem a contestar as medidas de protecção ambiental que possam estar a ser tidas em conta no que respeita

à requalificação dos espaços. O líder da União Macau Green Student diz ao HM, e mais uma vez, que o facto de ter existido uma avaliação ambiental não diminui o impacto das obras e consequências da reabilitação das Casas-Museu. Para o líder associativo, o facto do local vir a receber mais visitantes e vir a ter mais luz dadas as actividades previstas vai “aumentar a influência negativa na natureza daquela zona”. O activista ecológico deixa mesmo um conselho aos pássaros que

habitam aquela zona: saiam de lá, visto a vossa vida estar em causa. Já a 13 de Julho o HM dava a conhecer a posição de Joe Chan relativamente ao impacto ambiental e ao risco para a espécies que habitam naquela zona provocados pelo projecto das Casas Museu. Na altura o ecologista mostrava-se indignado com o facto da situação não ter sido sujeita a consulta pública e alertava para as aves que têm aquele espaço para viver. Sofia Mota (com Angela Ka) info@hojemacau.com.mo

Ao todo são cerca de mil os sócios, mas “há mais umas 400 pessoas que também aqui vêm e que continuam a ser bem-vindas”, indica o presidente da ADM. “Estivemos encerrados tanto tempo que espero que as pessoas não tenham perdido o hábito de aqui vir.” Quanto às obras no Costa Nunes, Miguel Senna Fernandes diz que “as pinturas já foram concluídas e falta fazer limpezas”. Acredita que a 7 de Setembro o jardim-de-infância possa estar preparado para abrir portas. O início do ano escolar é exactamente nesse dia. “Mas informaremos a imprensa quando tivermos a certeza da data da abertura até para sossegar os pais das crianças”, conclui.


11 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

Coloane ANIMAIS VÍTIMAS DE MAUS TRATOS E A DESAPARECER

Crueldade na ilha

O

nome dele é Kebab e é um dos muitos cães que ocupa as colónias de animais de Coloane. Foi a mais recente vítima de crueldade contra animais, ainda que não se saiba quem foi o perpetrador do caso: Kebab foi resgatado com um elástico enrolado nos testículos, tão apertado que não permitia a circulação sanguínea. Os casos de maus tratos a animais têm assombrado Coloane, como confirmou ao HM a Associação para os Cães de Rua e Bem Estar Animal em Macau (MASDAW). Entre espancamentos “brutais”, a desaparecimentos de cães, há ainda relatos de homens que estarão a matar cães para os comer. Algo proibido em Macau, mesmo sem a Lei de Protecção aos Animais estar em vigor. “A fotografia [dos homens] foi posta numa página, entretanto apagada, mas temos a original. Estavam a falar num restaurante, onde uma amiga da MASDAW estava e ouviu eles a dizerem que tinham apanhado três cães aleatoriamente em Coloane, que os tinham morto e comido. Mas quando eles perceberam que alguém estava a ouvir foram embora”, explica ao HM Fátima Galvão, da MASDAW. No caso do Kebab, o cão está melhor. Um dos testículos acabou por cair, antes da visita que fez à clínica veterinária Green Cross, que ajuda a MASDAW com animais abandonados. AAssociação vai, agora, devolvê-lo ao local onde ele pertence - um sítio arrendado por um homem que tem um cão licenciado e castrado. Mas onde outros cães como o Kebab podem vir a sofrer com a nova lei.

A ABRIR PRECEDENTES

O local onde pertence o Kebab tem, pelo menos, mais uma dezena de animais, desde cachorros

A razão desta decisão é óbvia para a associação de animais: a nova lei que vai entrar em vigor não permite cães sem licença ou soltos e os cães de estaleiros – que são frequentes em Macau – também têm de ser legalizados. Responsabilidade que os donos dos sítios de construção não querem assumir. “Vai ser um holocausto animal. Isto é licença para matar”, refere Fátima Galvão. Uma voluntária da MASDAW conseguiu pôr travão à ida dos cães para o Canil, comprometendo-se a ajudar no que puder. Mas, se para estes, para já, houve um final feliz, este é apenas um dos recentes casos reportados por quem vive de perto com os animais e em Coloane.

Entre espancamentos “brutais”, a desaparecimentos de cães, há ainda relatos de homens que estarão a matar cães para os comer

a cães adultos, como confirma a MASDAW ao HM. Se, no dia anterior a este artigo ser redigido, o proprietário do espaço – onde os cães têm vivido e onde são alimentados por voluntários e acarinhados por trabalhadores – assegurou que eles lá podiam estar, ontem um membro da

MASDAW viu-se obrigado a travar o que seria uma chacina animal. “Os cães estavam todos dentro de um carro para serem levados para o IACM”, confirmou ao HM a MASDAW. “Adultos e cachorros. Ia ser uma data de vidas desperdiçadas.”

“Dois cães de um homem que têm uma garagem em Coloane desapareceram. Um apareceu morto espancado [mais tarde] e outro também morto por espancamento noutro sítio. Mas há várias pessoas que têm alertado para o desaparecimento de cães em Coloane”, frisa Fátima Galvão, algo que também o HM conseguiu testemunhar. A ilha tem “imensas colónias de cães”, sendo que alguns estão já castrados e tratados, graças aos esforços de associações como a MASDAW e a ANIMA. O problema, contudo, é que a falta da lei, que entra em vigor em Setembro, não permite que sejam abertas investigações a eventuais perpetrados de maus tratos.

TRABALHADORES NÃO RESIDENTES AUMENTAM EM 1,3%

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número de trabalhadores não residentes em Macau subiu 1,3% em Julho, em termos anuais, para 181.039, mas desceu 0,3% em comparação com o mês de Junho. Os trabalhadores não residentes – que

representam mais de um quarto da população total (652.500 pessoas) – trabalhavam, em Julho, maioritariamente nos sectores da construção (42.101), hotéis, restaurantes e similares (48.375) e como empregados domésticos

(24.041). Todos estes ramos de actividade registaram um aumento anual de trabalhadores importados, bem como o número de empresas que os contrata, mais 610 que em Julho de 2015, para um total de 12.774. De acordo

com dados disponíveis no portal da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, a maior fatia dos trabalhadores não residentes (117.100) vem do interior da China, seguida das Filipinas (25.304) e do Vietname (14.706).

Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

SOCIEDADE

À espera do tribunal Polytec acredita na retoma da construção do Pearl Horizon

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Polytec está à espera que o tribunal marque uma data para começar o processo sobre a retirada, pelo Governo, do terreno onde estava a ser construído o Pearl Horizon mas acredita que vai conseguir retomar a construção. Num comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, ontem, a empresa mostra-se esperançosa numa decisão favorável pelos tribunais. “De acordo com uma opinião legal recebida pela empresa, a Polytec tem bases suficientes para [acreditar] na continuação do projecto e na sua conclusão”, começa por referir. “Segundo as opiniões legais, os tribunais vão considerar e julgar os pontos essenciais relativos aos atrasos causados pelo Governo de Macau e o direito da empresa em pedir compensação pelo tempo, de forma a que possamos completar a construção do lote e entregar as propriedades aos compradores.”

PENSAMENTO POSITIVO

A empresa ainda espera uma data para o início do julgamento, depois de ter visto ser-lhe retirado o terreno por falta de aproveitamento dentro do prazo. A empresa sempre acusou o Governo de demorar na atribuição de licenças para a construção. Mas mostra-se positiva. “A construção vai recomeçar assim que houver uma decisão favorável e as licenças sejam aprovadas pelo Governo”, frisa, acrescentando que acredita que vai conseguir concluir o outro projecto imobiliário em curso na Areia Preta, em meados do próximo ano. A concessão destes dois lotes termina em Julho de 2017. No comunicado de ontem, o grupo deu ainda a conhecer uma subida de 3,6% nos lucros líquidos do primeiro semestre deste ano. As receitas ascenderam a 42,7 milhões de dólares de Hong Kong. Algumas das receitas, recorde-se, vêm dos arrendamentos no Macau Square, detido em parte pela empresa. Lá encontra-se o Tribunal Judicial de Base, cuja renda é paga à Polytec. O grupo conseguiu mais de 36 milhões de dólares só com rendas. J.F.


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CCM COMPANHIA ESPANHOLA TRAZ “C

público que revele as suas preferências, abordando tópicos que vão de Harry Potter e Beyoncé a dinossauros e zombies, sem abordá-los verdadeiramente. Em vez disso, ‘Conversas a Giz’ permite um momento descontraído e uma oportunidade para uma reflexão mais complexa sobre identidade pessoal”, começa por descrever a organização. “Através de diálogos sinceros, por vezes emocionais, em combinação com uma série de momentos coreografados, os

SEMINÁRIO SOBRE MODA SÁBADO

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CONTECE este sábado o seminário “A Moda e as Indústrias Culturais”, organizado conjuntamente pelo Fundo das Indústrias Culturais e Centro de Incubação de Marcas de Moda de Macau. O evento tem lugar às 15h30 no auditório do Museu de Arte de Macau e conta com convidados do sector de moda, como Xander Zhou, designer de renome no interior da China, Trunk Xu, fotógrafo de moda “no topo de ranking no interior da China”, e Nic Lei, mestre de maquilhagem de Macau. Os três vão contar as suas histórias da carreira no design de vestuário, nas indústrias de moda e na arte de fotografia, partilhando a experiência que tiveram no funcionamento das marcas de produtos. Xander Zhou é o primeiro designer de moda da etnia chinesa que entrou no progra-

ma oficial da semana de moda masculina de Londres e uma das personalidades chinesas mais influentes do mundo, no ranking da revista Forbes 2010. Trunk Xu é fotógrafo no topo de ranking no continente, com 41 coberturas nas revistas mais reconhecidas no continente e nos outros países e fotógrafo especial indicado pelos artistas da China. Já Nic Lei é mestre de maquilhagem colaborador com a Semana Internacional de Moda realizadas em Pequim e Xangai, mestre de maquilhagem colaborador do Sindicato de Moda da Grã-Bretanha. O seminário será conduzido em Chinês mas com tradução para Português e dura cerca de duas horas. Os lugares são limitados para cem pessoas e a entrada livre. As inscrições devem ser feitas pelo telefone 89850890, ou através do email lilycheong@fic.gov.mo.

GARRA

A Companhia Nacional de D para apresentar “Carmen”, p O espectáculo vai estar em p à venda a partir de domingo

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IVERTIDA, emocional e imprevisível.” É assim descrita a peça de dança e teatro “Conversas a Giz”, que sobe este fim-de-semana ao palco do Centro Cultural de Macau (CCM). Especialmente dedicada aos mais pequenos, a peça trazida pela companhia escocesa Curious Seed quer fazer os mais pequenos perceber da vida. “Numa mescla de dança e conversas traçadas a giz, os performers pedem ao

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“Conversas a Giz” sobe ao palco do CCM este fim-de-semana

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Mentes em movimento

dois artistas descrevem-se a si próprios de forma pouco habitual, frequentemente ao som de música atmosférica e intensa, cativando as mentes de grandes e pequenos.” A ideia é simples: permitir que a dupla de bailarinos que sobe ao palco consiga interagir com os mais pequenos de uma forma que os leve a descontrair e a perceber a vida, “tocando em temas universais, do amor à felicidade” e sem esquecer coisas boas, “como a pizza”. “Equilibrando humor e descontracção com intensos movimentos corporais, a dupla vai interagir com uma plateia de miúdos a partir dos oito anos”, frisa o CCM. Levando pais e crianças numa viagem de retorno às coisas simples da vida, Chook e Gek, os personagens de “Conversas a Giz”, misturam técnicas de teatro para recontar a história original do russo Arkadi Gaidar, escrita em 1939. A Curious Seed foi fundada em 2005 pela coreógrafa e performer escocesa Chsritiane Devaney. A visão da companhia “é criar espectáculos envolventes, estimulantes e descomprometidos tendo como base a expressão física”. A peça está em exibição amanhã, pelas 15h00 e 19h30 e domingo às 19h00.

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EVENTOS

PIANISTA RUSSA PARTILHA EXPERIÊNCIA COM O PÚBLICO

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Centro Cultural de Macau (CCM) vai receber a pianista russa Yulianna Avdeeva para uma partilha com o público, a realizar-se no dia 2 de Setembro pelas 18h30. A entrada é gratuita mas tem de reservar lugar e pode fazê-lo a partir de dia 29. De acordo com informação do CCM, esta é uma das pianistas do momento e tida como uma referência. Elogiada pelo The New York Times por “conjugar uma abordagem muscular com uma capacidade de extrair com expressividade as linhas de canto de Chopin”, a pianista venceu o

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

primeiro prémio no Concurso Internacional de Piano Chopin 2010 “graças à sua brilhante prestação e tem, desde então, brilhado em palcos internacionais”, refere o CCM. A sua dedicação à música valeu-lhe o “reconhecimento como um dos grandes nomes do panorama musical e como uma mais famosas e melhores intérpretes de Chopin”. Esta é a primeira vez que sobe a um palco em Macau e fá-lo para para duas sessões, uma de partilha com o público e outra de partilha com a orquestra, além de ter ainda marcados dois concertos.

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O MISTÉRIO DO CADERNO CHINÊS • Pierdomenico Baccalario e Alessandro Gatti

PANDA - 1001 ATIVIDADES • vários autores

Annette e Fabò têm um quebra-cabeças para resolver: tudo começa com a descoberta do misterioso diário de uma dama parisiense do século XIX. O antiquário que o possuía foi assassinado e o diário contém pistas para revelar a identidade do criminoso! Mas qual será a ligação entre as desventuras de uma dama que viveu há mais de um século e um crime cometido na Paris de hoje?

O Panda e os seus amigos prepararam muitas atividades para as crianças se divertirem a valer. Nas páginas deste livro, podem encontrar jogos originais, diferenças entre imagens, experiências curiosas, labirintos, origamis engraçados e autocolantes coloridos, entre muitas outras surpresas.


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CARMEN” EM NOVEMBRO

Dança de Espanha regressa ao CCM pela mão do coréografo sueco Johan Inger. palco a 4 de Novembro e os bilhetes o

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bailado clássico “Carmen” vai estar em Macau no palco do Centro Cultural de Macau (CCM) a 4 de Setembro. Um espectáculo coreografado pelo sueco Johan Inger, que deu um cunho pessoal e “uma visão pura e descontaminada”, segundo o CCM, à adaptação do clássico de Bizet e que chega pela mão da Companhia Nacional de Dança de Espanha. Se hoje “Carmen” é um êxito incontestável e considerado uma referência, aquando da sua estreia, em Março de 1875, as críticas foram duras. Aliás, a peça só se tornou um êxito quando estreada em Viena, sete meses depois da primeira exibição, já o autor tinha morrido. Numa mistura entre a partitura original e a música contemporânea, esta história é contada a partir

dos olhos de um rapazinho inocente. O enredo, com duração de 90 minutos, debruça-se sobre um triângulo amoroso, que é a génese do conto, composto por Don José, o principal guarda prisional, a sensual Carmen e o matador, que nesta adaptação surge com um visual mais contemporâneo assumindo o papel de uma estrela pop. Embora carregada de emoção, a história pelos olhos do coreógrafo John Inger “assume uma versão sóbria e contemporânea, com uma referência subtil aos anos 60”. Foi exactamente com este registo que John Inger recebeu o prémio Benois de la Danse, em 2016. Criado pela Associação Internacional de Dança de Moscovo em 1991, este é um dos prémios mais prestigiados no ballet.

COM HISTÓRIA

A Companhia Nacional de Dança de Espanha foi fundada em 1979 e é considerada de “classe mundial desenvolvida através de um vasto repertório levado à cena por uma série de conceituados directores artísticos e coreógrafos, como Nacho Duato que dirigiu a Companhia ao longo de 20 anos”. Actualmente à frente desta companhia está o antigo bailarino principal do Ballet da Ópera de Paris José Carlos Martinez. “A companhia exibe um versátil elenco e uma equipa criativa.” Este espectáculo de “inveja e ciúme” pode ser visto a 4 de Setembro e os bilhetes comprados nas bilheteiras do CCM e na Rede Bilheteira de Macau.

N

OITE de Luar de Haojiang – Rota da Seda vai subir ao palco do Centro Cultural de Macau (CCM), nos dias 16 e 17 de Setembro, pelas 20h00. Os bilhetes estão já à venda na Bilheteira Online de Macau. “Noite de Luar” é uma criação do dramaturgo Yang Wei e vai ser interpretado pelo Grupo de Artes de Shaanxi e pela Companhia de Canto e Dança de Shaanxi. O espectáculo inclui personagens que representam exploradores, guias, enviados, comerciantes, pacificadores e vagabundos, entre outros, “numa metáfora abstracta aos feitos históricos de Xuan Zhuang, Kumarajiva, Zhang Qian, Ban Chao, Gan Ying, Marco Polo, Meng Tian, Wei Qing, Huo Qubing, General Voador, a Princesa Jie You, Wang Zhaojun e ciganos”, refere informação do CCM. Este bailado dá ênfase a vários estilos de danças: a solo, a dois, danças em PUB

EVENTOS

Feitos históricos

Rota da Seda inspira dança clássica no CCM

IC

A LATINA

hoje macau sexta-feira 26.8.2016

grupo, populares e tradicionais. Uma história que fala sobre a rota da seda, tentando revelar o sentido deste histórico percurso e “transmitindo, através da estrutura das personagens, uma busca espiritual, espontânea e romântica”, refere a organização. As emoções são transmitidas ao público através da utilização de artefactos e de um ambiente cénico especialmente criado para

enriquecer as emoções e torná-las mais vivenciais. “No palco, concebido como um deserto, as personagens caminham solitária e penosamente, permitindo ao público sentir profundamente as emoções de felicidade, ira, tristeza e alegria bem como o amor e ódio.” Os bilhetes para o bailado Noite de Luar de Haojiang – Rota da Seda encontram-se à venda e os preços variam entre as cem e as 200 patacas.


14 PUBLICIDADE

hoje macau sexta-feira 26.8.2016

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.º 003/2016 Considerando-se a impossibilidade de notificar pessoalmente, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo DecretoLei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, os interessados das seguintes empresas comerciais que apresentaram pedido de apoio financeiro ao Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética, as mesmas são notificadas por edital ao abrigo do artigo 68.º e do n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código: Nome do requerente

N.º de registo de entrada

WHITE HORSE STREET LDA.

FP1001185

TONG KA IOK

FP1001425

LEONG LOK

FP1002333

CHEONG IAN CHO

FP1002545

Devido à não entrega, decorrido o prazo de 30 dias após a recepção da notificação sobre o resultado do pedido, pelas empresas comerciais acima referidas, da declaração e da factura relativas aos produtos e equipamentos adquiridos ou substituídos, do documento descritivo ou informações sobre os produtos e equipamentos e de outros documentos considerados necessários, é cancelada a concessão de apoio financeiro às mesmas, nos termos da alínea 4) do n.º 1 do artigo 17.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2011 – Plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética. Relativamente à decisão do Conselho Administrativo do FPACE, as empresas comerciais acima referidas podem, ao abrigo do disposto nos artigos 145.º, 148.º e 149.° do Código do Procedimento Administrativo e no prazo de 15 dias contados a partir da data da presente notificação, apresentar reclamação ao Conselho Administrativo do FPACE e / ou, ao abrigo do artigo 25.º do Código do Procedimento Administrativo Contencioso e no prazo de 30 dias contados a partir da data da mesma notificação, interpor recurso contencioso ao Tribunal Administrativo da RAEM. 26 de Agosto de 2016.

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.° 004/2016 Considerando que não é possível notificar pessoalmente o interessado, nos termos do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, fica, pela presente, notificada, ao abrigo do artigo 68.° e do n.º 2 do artigo 72.º do referido Código, a empresa comercial abaixo mencionada que obteve o financiamento do Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética: Nome do beneficiário

N.º de registo de entrada

Data de vistoria

CHAO WAI MAN

FP1000497

2015-7-16

RESTAURANTE BOM APETITE SOCIEDADE UNIOESSOAL LDA.

FP1000995

2015-1-19

MAK KIN MAN

FP1001300

2015-7-16

SAM ION KEONG

FP1001587

2015-7-10

CHENG CHENG

FP1002385

2015-7-17

LEI PENG YUEN

FP1003177

2015-7-10

LI LI HONG

FP1003389

2015-7-17

MEGA-CAP PROPRIEDADES E COMERCIO LIMITADA

FP1003592

2015-7-8

SHI SHAN SHAN

FP1003687

2015-7-17

GENIAIS BEBÊ LIMITADA

FP1004068

2015-12-28

LO MAN CHONG

FP1004224

2015-8-24

LEI LAI IAN

FP1004415

2015-7-17

狄儷斯環保貿易一人有限公司

FP1004741

2015-6-11

Por motivo de ter sido verificada, durante a fiscalização feita pelo pessoal da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental à empresa comercial acima referida, a não instalação dos equipamentos financiados, neste contexto, nos termos da alínea 2) do n.° 1 do artigo 17.° do Regulamento Administrativo n.° 22/2011“Plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética”, notifica-se que está a ser planeado o cancelamento da concessão de apoio financeiro aos equipamentos ainda não instalados. Nos termos dos artigos 93.° e 94.° do Código do Procedimento Administrativo, a empresa comercial acima referida pode apresentar uma justificação escrita no prazo de 15 dias a contar da data de publicação da presente notificação, podendo também dirigir-se, durante as horas de expediente, à Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental sita na Estrada de D. Maria II, n.os 11 a 11-D, Edf. dos Correios, r/c, em Macau, para efeitos de aceder ao respectivo processo. 26 de Agosto de 2016.

O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE Tam Vai Man

O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE, Tam Vai Man


15 CHINA

hoje macau sexta-feira 26.8.2016

A

China continua a investir no grandioso programa espacial e, recentemente, revelou imagens de uma sonda que tenciona enviar para Marte, até ao final da década, numa missão que enfrenta desafios “sem precedentes”, avançou esta quarta-feira a imprensa estatal. Numa corrida contra o tempo, para recuperar o atraso face aos Estados Unidos, Pequim está a investir num ambicioso programa espacial e quer enviar uma sonda, “por volta de 2020”, para fazer a trajectória em torno da órbita de Marte e aterrar no planeta. Zhang Rongqiao, o responsável pelo projecto afirmou na terça-feira que o lançamento da nave deverá realizar-se em Julho ou Agosto desse ano, reforçando que “os desafios que enfrentamos não têm precedentes”, de acordo com a agência Xinhua.

REVELADAS IMAGENS DE SONDA QUE SERÁ ENVIADA PARA MARTE

Aposta no espaço

À PROCURA DE ÁGUA

O foguete propulsor Longa Marcha-5 será lançado desde o centro de lançamento de satélites de Wenchang, na ilha de Hainan, extremo sul do país, afirmou a Xinhua, que cita um consultor da missão. A sonda separar-se-á do foguete no final de uma viagem de cerca de sete meses, próximo da linha do Equador de Marte, onde esta irá explorar a superfície, acrescentou. Com 200 quilos, a sonda tem seis rodas e quatro painéis solares e vai funcionar ao longo de 92 dias. Tem como missão transportar equipamento como uma câmara e um radar para penetrar e estudar o solo o ambiente e a estrutura interna de Marte, visando procurar vestígios de água e gelo. A China tem investido milhares de milhões de dólares no desenvolvimento de um programa

espacial, que Pequim vê como símbolo do progresso do país e um marco na sua ascensão global. A primeira sonda lunar chinesa foi enviada em 2013, e apesar de ter sofrido problemas mecânicos, ultrapassou em muito a durabilidade prevista, tendo sido encerrada no início deste mês.

Com 200 quilos, a sonda tem seis rodas e quatro painéis solares. Funcionará 92 dias

Grande parte do programa da China é, contudo, um replicar das actividades desenvolvidas pelos EUA e a antiga União Soviética, há várias décadas. Os EUA enviaram já duas sondas para Marte, e a Agência Espacial Europeia e a União Soviética também efectuaram missões semelhantes.

G20 PREPARAR VISITA DE OBAMA

B

RIAN Deese é o principal assessor dos EUA para as alterações climáticas, e está em Pequim. Encontra-se a fazer os preparativos para a visita de Obama por ocasião da Cimeira dos G20, durante os dias 4 e 5 de Setembro, em Hangzhou. Os dois países, que são os maiores emissores de gases poluentes do mundo chegaram, no passado, a importantes acordos para o combate às alterações climáticas, que se tornou um ponto-chave na relação bilateral. Exemplo disso a visita de Obama a Pequim, em Novembro de 2014, em que ambos os países assinaram um acordo histórico ao comprometerem-se a diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, nas próximas décadas. Nestas reuniões preliminares, antes do G20, serão abordados vários temas, nomeadamente a luta contra as alterações climáticas, incluindo o plano para implementar o acordo alcançado na cimeira do clima de Paris (COP21), onde a China e os EUA chegaram a um consenso. Os representantes vão apurar os “esforços mútuos”, que são necessários para assegurar a conservação da camada do ozono, e que devem ser acrescentados ao protocolo aprovado em Montreal, em 1987, visando mais medidas contra os hidrofluorocarbonetos, um gás com efeito de estufa, que se utiliza em frigoríficos e ares condicionados. Será também abordada a criação de uma medida global, com base no mercado, que lide com as emissões com efeito de estufa da aviação internacional, como concordaram Obama e o Presidente chinês, Xi Jinping, refere o comunicado da embaixada dos EUA.

Região

U

M japonês de 16 anos foi detido ontem pelo seu alegado envolvimento na morte de outro jovem da mesma idade, cujo corpo foi encontrado parcialmente enterrado no leito de um rio a norte de Tóquio, informou a polícia. A vítima, Tsubasa Inoue, foi encontrada sem roupa no rio Toki, na cidade de Higashimatsuyama, prefeitura de Saitama, na manhã de 23 de Agosto. O corpo de Tsubasa Inoue, residente da localidade vizinha de Yoshimi,

Chamada para a morte Detido japonês de 16 anos por suspeita homicídio de menor não apresentava feridas externas e autópsia determinou que morreu afogado, segundo informações da polícia reproduzidas pela agência de notícias Kyodo. O caudal do rio ficou alterado na segunda-feira, na sequência das fortes chuvas deixadas pelo tufão Mindulle à sua passagem pelo arquipélago japonês, o que permitiu que um homem, de

72 anos, que vive perto do local, encontrasse o corpo.

OUTROS ENVOLVIDOS

A polícia deteve um jovem como suspeito depois de o mesmo se ter apresentado numa esquadra e revelado que o crime teria sido cometido porque Inoue “mentia e ignorava chamadas e mensagens”, segundo indicou a polícia, em declarações reproduzidas pela televisão pública NHK. As

autoridades japonesas contam com um vídeo, no qual supostamente se pode ver um grupo de rapazes a obrigar a vítima a nadar nua no rio, informou a Kyodo. O detido não foi identificado por ser menor – a idade de maioridade no Japão é 20 anos. Outro rapaz que alegadamente se encontrava na cena do crime e que era conhecido da vítima enviou uma mensagem afirmando que tinha “matado uma pessoa”, segundo indicaram fontes da investigação à agência noticiosa.

A polícia interrogou vários menores, dos quais alguns admitiram o seu envolvimento no incidente, e continua a investigar a ligação entre os testemunhos e o crime. O Japão é um dos países com menor taxa de homicídios do mundo, de acordo com o mais recente relatório sobre segurança da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), publicado em 2015, e a criminalidade juvenil também diminuiu significativamente.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

16

U

M instante-luz, ínfimo. O logo ali, na curva imensa do espaço. Do tempo até nós é a guerra. Todas as guerras em que o tempo é voragem e nós nele, consumidos. Interrogação de um diário. E ver. Onde e se ali aparece a ferida aberta. A entrada da desarrumação que tomou parte-lugar e não se decide a ficar nem partir. Um indício que remonte ao dantes e faça luz incidir no depois estranho destes dias. A luz medida. A palpar a escrita cuidadosa e cuidada em segredo. Como se não fosse. É assim a preocupação de um escrito, com a surpresa eventual, inoportuna, do olhar. Não é para haver, mas todo o cuidado e espuma perfumada como se fosse. Em vida. Ou depois. Onde vai o tempo. Na ordem certa das páginas e dos dias. Dos gestos e das palavras indeléveis. Fixadas pela matéria prosaica do papel e da tinta, dita permanente. Em caneta grossa e macia, de aparo. A revolver delicadamente ou penosamente os restos de memória nas palavras, e de limar todas as asperezas, irregularidades, imprecisões, ou acarinhar em movimentos redondos os pensamentos mais nítidos como um seixo rolado nas marés infindas dos confins do tempo. Como uma peça de Raku, onde se reúne a essência dos quatro elementos, terra, ar, fogo e água - como as palavras, como as palavras em bruto, a ecoar, a incendiar mais nas emoções e lavadas, depois, dos excessos - a rolar de uma ladeira, a arrefecer como lava, a ver se resiste e como, à abrasão suave da erva. E quebra ou resiste. Ou como uma escultura de H. Moore, que, dizia, devia resumir-se às formas redondas e suavemente niveladas, que resistiriam a todos os percalços da física, do mar, dos elementos todos. Rolar pensamentos até ao estado puro e então escrever. A caneta. Na ordem natural das folhas. Mas antes essa guerra surda e etérea fechada nos pensamentos antes da escrita visível. E depois o tempo a mudar. E depois, deixa de haver o tempo, a ordem, o fio condutor de um percurso linear. Todas as emendas possíveis na folha digital, todas as emendas ao tempo. Tudo ramifica em árvore e planta labiríntica. Tenho esta obsessão da ordem, da cronologia da linha. Marcar o tempo, pontuar em nós nevrálgicos, as irregularidades. Datar. Entender a consequência e encadear. Como se fosse desenhável. O tempo. Ou a vida, uma sucessão líquida e fluida. Regular como um rio, da nascente à foz. Precisei de tempo para ver crescer como

fungos ou plantas parasitas, irreprimivelmente, a desordem dos papéis. E o tempo desenhou aí um padrão visível. Só o tempo. A decorrer. E um dia entendi a perversidade desses registos tirânicos em que se avolumava a impossibilidade. Eram para ser provisórios, a suportar a memória e nela. Mas ao longo de dias, sempre a desarrumar-se na orientação da folha, no intercalar de diferentes ideias ou simples palavras soltas nos espaços vazios. Quaisquer espaços mesmo entre frases. Como invasão de casa alheia. A misturar tempos, memórias de ideias a percorrer depois, a acusar o declínio do cuidado. Um copo que se entorna, uma queimadura, um rasgão impetuoso numa pressa, um número de telefone sem nome. E as folhas a sair da ordem provisória. E tudo o mais a ficar distante, confuso. Distinguir frases pelo tamanho da letra, nas suas pequenas variações de humor. Uma perturbação que se tornou ânsia de ordem permanente. Ordem naqueles pequenos e variáveis fragmentos de pensar fragmentado em partir de um certo momento passaram a ser múltiplos. Uns para uns humores e outros para outros amores. A dispersão e o abandono. Por anos. Fruto do tempo. Tudo me dispersa, saudosa do tempo em que tinha uma caixa de correio, um diário e um tempo de trás para a frente e daí para trás. Arrumado e penteado. Como a simplicidade dos sapatos. Um par velho e um par novo. Nos anos bons. E um dia ofereceram-me estes grossos catálogos cartonados. De revestimentos. Também isso fez sentido. As capas e matérias de que se revestem os nossos eus. E deles fazer os meus livros. Destruindo e refazendo no suporte grosso e confortável daquelas capas e folhas de cartão. Fui andando com eles no pensamento e elaborando um caminho. E depois comecei. A destruir, primeiro. Comecei este diário. Na realidade ando há muito a começá-lo de vários ângulos. A tentar resolvê-lo. Como se um diário não fosse simplesmente para começar num dia qualquer e ir por ali. Na ordem das páginas. Mas há muito, também que não consigo ter qualquer obediência à ordem, ao espaço, à forma à cronologia do tempo ou das folhas. Esta obsessão da cronologia, do encadeamento, da lógica da ordem e do sentido produzido pela ordem, pela análise da ordem. Digo de novo. Mas algo em mim se desarrumou e rebelou. Se fragmentou e desmultipli-

cou em suportes. Se abespinhou em desarrumar cada vez mais a desarrumação. E aí estou de novo a pegar numa folha de papel, só uma, digo, e depois arrumo, penso, por exemplo. Mas, rapidamente lhe vou acumulando desvios. E de novo escrevo de lado e nos intervalos de parágrafos e de pernas para o ar e rasgo bocadinhos para apontar um número. Mais um número que vou esquecer de quê. Todos os dias esta compulsão em desarrumar o que era à partida para ser registo precário, e me invade os olhos angustiados ao longo dos dias. E a crescer. Uma pilha imunda de palavras provisórias. E nunca mais deixam de ser e é o inferno em forma discurso. Papéis perversamente desiguais e confusos, como a criar voluntariamente dificuldades ao sentido. Que, desmultiplicado nas associações quase livres, cresce. E cresce em angústia o meu olhar ali para a direita. Sempre daquele lado. E limpo neles os pincéis e entorno coisas. E cresce a dificuldade em os olhar e tornar úteis e a impossibilidade de os deitar para um lixo onde já está cada palavra que não digo. Nem é que nada faça falta. É só uma curiosa disposição que se impôs. Como se tivesse deixado de ter ordem na cronologia das coisas e das frases. Ou como algo a querer dizer-me que tivesse deixado de lhe encontrar sentido. Continuando obcecada por ela. No entanto. E quando entendi que a construção daqueles objectos, com as mãos e com as matérias e com o tempo, podia reproduzir essa desordem, absorvê-la sem critérios word e ilustrar essa aleatória incidência de fatos, pensamentos e questões, resolvi em parte uma ansiedade. E comecei. Com pedaços fragmentados de vida a cair sobre as folhas desdobráveis e tão labirínticas quanto podem ser as folhas em leque de um livro. A abrir em quatro sentidos. Como dias soltos e momentos perdidos da ordem, colados às páginas, em qualquer lugar da história do gesto de abrir. Vida solta. Pedaços torturados de dias, colados, recombinados, livres para outras leituras. Rasgados, fragmentados e sujos. Misturados. Perdidos. Da ordem. Se ela existiu. Mas existiu. E é intangível. E não unicamente a urgência de um pensamento mais rápido do que o momento da vida em que se rebelou e quis ser algo. Livro, labirinto. Como labirínticos são outros percursos. E assim está bem. O livro. Como retrato sintético de uma fuga à cronologia. E em busca da cronologia perdida. Ou do tempo. Um outro tempo.

ANABELA CANAS

De Saturno a Marte


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de tudo e de nada

Anabela Canas


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Amélia Vieira

Todo o Atlântico O

Atlântico é como uma estrada de Atlas: ele corta continentes e nele sempre o mesmo verde-mar, o mesmo drama, a mesma costa agreste. Ele paira-nos como aqueles ventos que se cruzam em grito, nos sussurra e nos fala e toda a paisagem contínua como selva atlântica até às densas brumas. É em muitas costas de um profundo silêncio e grandeza agrestes. Sem a tranquila noção de um útero como o Mar Mediterrânico, o Atlântico abre para o mundo como uma boca indivisa e um lúgubre tormento de marear, voltado a norte. Temos medo, ele arranca-nos o sono com o ruído da sua proximidade de uma grandeza que cilindra a paz dos seres. Penso que ninguém é feliz junto a ele. As mulheres sofrem muitas vezes da função hirsuta que lhes chega do denso iodo e as transformam em Medusas desfiguradas e de dura cerviz. Os homens secam as carnes num sal que destempera toda a pele, que têm como um lenho, e estas povoações, peninsulares, albergam fantasmas e não são susceptíveis de maciez. Para sul ele torna-se mais macio, mais doce, menos vulcânico, talvez, e sem dúvida por isso lhe estão associados os mais alegres efeitos e quase a rumar para África fiquem para trás as densas manifestações do seu corpo de gesso, da sua imensa transfiguração como Ventre da Baleia. Por isso gostamos de rumar para o sul de todos os sóis, para lhe fugirmos onde ele está mais sombrio. Bafejado pelas correntes do Golfo, ele torna-se um Mar, mas um mar onde já os Cânticos se podem ouvir sem a urdidura da gemida força da sua massa poderosa. O calor produz um reconfortante silêncio das funduras e talvez os vulcões sejam mesmo inaudíveis e por isso nos fascinem com tanta coisa que se vê em cintilação sem nos dizer dele mais nada. Entre a lava e o levante das ondas atlânticas este efeito talvez não nos atemorize tanto. Por vezes levam-nos os sonhos até ao mar cobalto, fundo azul-redondos fundos até aos encantos onde os deuses moram, vagueamos pela secura da costa com aquelas árvores que quase lhes mergulham dentro, toda a beleza da fronteira entre terra e céu e água nos parece uma dança, esse líquido que tem dentro as sereias que enlouquecem Ulisses, expulsam Orpheu, e à sua entrada tange a lira, pois é ainda o sonho líquido que dele ficou. — Mas o Atlântico é um soberbo corredor de monstros marinhos, tão imenso como a Via Láctea e jazendo de pujança fria a nossos pés. Talvez que a natureza de cada um de nós já não tenha um mapa anexo nos des-

tinos a percorrer na viagem terrena mas, em todo o caso, não era este o implante que gostava de ter tido. Ainda agora, toda esta costa me ofende e perturba como um choro de harpias por detrás do verde azul — há todos os mortos e toda a força de um volume que há-de, em tempo impreciso, galgar a descarnada costa e suas audazes valentias de chamar a tais margens, terra; são chãos colossais e arenosos, mas não são ainda terra. — Hoje, 24 de Agosto, há uma prática lusíada que equivale a um Jordão, mas as crianças não gostam das águas do oceano daqui e mergulhadas em ondas em números ímpares, depois de rondarem a vila de Bartolomeu do Mar, são atiradas ao denso e fundo escuro deste instante. Diz-se que lhes faz bem: lhes tira gaguez, cegueira, epilepsias, talvez sim, porque antes sacrificam uma galinha negra que também será atirada ao mar. Todo o terror quando superado vence o mal que lhe estava subjacente. Penso que não haja memória de um Jordão assim, nem das águas de Lesbos estarem tão revoltas que as belas não

fizessem delas os seus espelhos. Narciso precisou de uma suavidade translúcida e parada para contemplar tão forte emoção: ser aquele por quem os elementos se apaixonavam. Os elementos por vezes reúnem-se para uma grande declaração de amor, assim como os sentidos todos concordarem na corrida para um encaixe perfeito entre partes. Chama-se a isso talvez Amor, mas é certamente um sistema de simpatias que de tão harmónicas formam o Encontro. Nestas paragens oceânicas tudo se perde... Entre o pinhal de Leiria e a costa oeste há uma desassossegada vibração que nos domina, aquele mar deveria ter entrado sem impedimento, nós devíamos não ter sustentado a costa e com ela ter deitado ao mar os últimos habitantes de uma orla tão primitiva quanto os dinossauros. Mas há reis, que sendo poetas, são mais que reis: são missões no altar dos tempos e talvez soubesse dos bens merecidos destas vertentes e daquele de que viria a restar como matéria prima e que lhe falou mais alto que todos os apelos de erosão. Passar

Penso que ninguém é feliz junto a ele. As mulheres sofrem muitas vezes da função hirsuta que lhes chega do denso iodo e as transformam em Medusas desfiguradas e de dura cerviz. Os homens secam as carnes num sal que destempera toda a pele

rente a tudo isto não é fácil, olhar o Atlântico altivo e fero faz-nos uma angústia de morte e nem sempre estamos destituídos de memórias antigas, que nos levam ao colo pela infância onde tanto horror nos parecia paradoxalmente... belo. É a saudade que ficou de frutos silvestres como camarinhas, de tudo o que é ácido e amargo, para sarar as feridas onde o sal penetrou tão fundo que deixamos de chorar e percorremos estes locais como a mulher de Ló- Alfeizerão, o pão é dele — Estranhos topónimos, nomes, tipografias… Sodoma ainda é longe de Nazaré e nada mais seca e disseca que o peixe aberto e assado ao sol das ondas. Quando por artes de navegação aqueles povos semitas se deram conta destas costas agrestes, eles, que vinham segundo Homero do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico, tendo depois florescido no belo Mediterrâneo, não andaram mais e na Finisterra de todos os ocasos marítimos assim se foram tornando sombras. Os rios ficam entre sonhos e entre rotas-Jordão, Litani, Tigre, Eufrates… os nossos ficam entre sombras, Tejo, Douro, Mondego… Litani! Foi nas suas margens que a escrita das antigas litanias floresceram e em Biblos se fundou a fina pasta para comer o Livro: Ezequiel 1- come este Livro…! 2- Então abri a boca, e ele me deu o rolo para comer. «Engole o Atlântico» e vi um Ser surgido das estrelas que engoliu de um trago o mar tamanho e dele também levou as nuvens que são nesta costa fria e dura, as eternas neblinas matinais. Este Oceano não gosta de suicidas, mesmo sendo assim, devolve-os às margens, e deixa-os sem a dignidade de uma sepultura no seu ventre, as mulheres de cabeça para baixo e os homens invariavelmente de cabeça para cima. Só naqueles barcos que não eram feito de madeiras do Líbano mas de juncos e carvalhos, se deleitava com os náufragos que ele mesmo fazia descer às suas funduras. Tem miragens dignas dos maiores poetas em visões cegas de antanho quando, ao largo nas noites perto do Solstício do Verão, levantavam blocos de Ilhas, e ao longe pareciam douradas… Pessoa nem delas se esquecera num ramo insular e lhes deixou de prestar o belo culto: “não sei se é sonho se realidade se uma mistura de sonho e vida aquela terra de suavidade que da orla esquerda do sul se olvida… É a que ansiamos. Não é com Ilhas de fim do mundo nem com palmares de sonho ou não que a alma cura seu mal profundo e o bem nos entra no coração... É em nós que é tudo! Aí, aí, meu ser é jovem e o amor sorri”. Ao largo atlântico de uma Ilha que esperamos ver um dia.


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DESPORTO

DÚVIDAS CONTINUAM SOBRE A ACEITAÇÃO DE PILOTOS CONSAGRADOS NA PROVA DE F3

Aceitar ou não, eis a questão

D

ESDE da recusa da Federação Internacional do Automóvel (FIA) em deixar participar o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet Jr no Grande Prémio de Pau de F3, em Maio, que é desconhecida qual será a posição do organismo máximo que regula o automobilismo a nível mundial no que respeita à Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 do Grande Prémio de Macau. O HM sabe de fonte próximas ao processo que a federação internacional ainda não tomou uma decisão e entende que este assunto só será discutido no Conselho Mundial da FIA do próximo mês de Setembro. Stefano Domenicali, o presidente da Comissão de Monolugares da FIA, sempre se mostrou cauteloso sobre este assunto, ele que vetou a participação de Piquet Jr, o que gerou uma onda de indignação nos bastidores do automobilismo e na imprensa especializada. Há duas correntes válidas de opinião: uma que defende que a F3 deve ser uma categoria exclusivamente apenas para jovens pilotos em ascensão na carreira e outra que considera que é o mais valia a presença de pi-

lotos consagrados, que além de serem um desafio ao mais novos, trazem novos focos de atenção à competição.

FÉLIX DA COSTA DISCORDA

António Félix da Costa venceu a Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 em 2012 e regressou ao Circuito da Guia em 2013 para tentar revalidar o título, terminando no segundo lugar. O jovem lisboeta é no entanto a favor que haja restrições quanto à participação de determinados pilotos nesta categoria de formação. “A Fórmula 3 é uma categoria de formação e lançamento de pilotos. Todos os que vencem em Macau são respeitados no automobilismo mundial e muitos dos que vencem chegam à F1 ou a categorias de grande im-

portância, tornando-se 99% deles pilotos profissionais”, explicou Félix da Costa ao HM. Curiosamente o actual piloto da BMW no DTM e da equipa Andretti no campeonato de carros eléctricos Fórmula E reconhece que “apesar de ser espectacular de correr no Circuito da Guia e ter saudades de o fazer de Fórmula 3, colocar pilotos mais velhos, com tanta experiência e palmarés não faz sentido. Há que entender que esta é uma categoria para os mais novos se lançarem”. Félix da Costa afirma também que há tempo para tudo, “se vence na altura certa ou o nosso tempo passou”. O ex-piloto da Red Bull Racing no entanto confessa que o triunfo em Macau é “um dos títulos mais saborosos que tenho no meu CV, aquele

que mais me tocou provavelmente mas mesmo que não o tivesse feito, teria de aceitar que o meu tempo passou. Há alturas para tudo”.

NUNO PINTO A FAVOR

Nuno Pinto, o Director Desportivo da Prema Powerteam, a equipa que venceu as últimas edições da Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3, é a favor da proposta da FIA “em limitar a três anos a participação de um piloto na F3 de forma a evitar os especialistas e dar vantagem a pilotos muito mais experientes”, mas o também treinador português de jovens pilotos reconhece que “por exemplo deixar que um piloto estrela, ou consagrado, faça uma prova esporadicamente, sem que marque pontos

para o campeonato, pode ser um factor adicional de interesse. Ou seja, para mim um piloto jovem devia querer medir-se contra os melhores e não ter receio de defrontar um consagrado, especialmente na Fórmula 3 porque isso tem de ser sempre um factor extra de motivação”. Pinto dá como exemplo o que se passou em Pau: “Falando do caso em concreto do Piquet Jr. todos os nossos pilotos na Prema eram a favor de que ele tivesse participado em Pau, porque consideravam um desafio interessante e tinham um misto de motivação e confiança que o podiam bater e assim ver as suas performances ainda mais valorizadas”. Numa altura em que os pilotos, principalmente dos escalões

“A Fórmula 3 é uma categoria de formação e lançamento de pilotos. Todos os que vencem em Macau são respeitados no automobilismo mundial e muitos dos que vencem chegam à F1 ou a categorias de grande importância, tornando-se 99% deles pilotos profissionais”

“Não seria interessante termos os jovens pilotos a competir e vencer contra alguns dos campeões da últimas edições, como o Mortara, Juncadella, Félix da Costa, Rosenqvist?”

ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA PILOTO

NUNO PINTO DIRECTOR DESPORTIVO DA PREMA POWERTEAM

superiores, onde se destaca a Fórmula 1, são criticados por serem demasiado “politicamente correctos” e previsíveis, Pinto destaca que “se ainda existem pilotos com paixão e desejo de fazer provas pelo simples facto que tem prazer em correr nessas categorias ou circuitos, temos de incentivar para que isso aconteça e não o contrário”. O nosso interlocutor realça também que “Macau é especial e continua a ser a corrida preferida de muitos pilotos que já subiram de categoria mas não seria interessante termos os jovens pilotos a competir e vencer contra alguns dos campeões da últimas edições, como o Mortara, Juncadella, Félix da Costa, Rosenqvist? E se juntássemos um par de pilotos de Fórmula 1 como Ricciardo e Verstappen? Não seria espectacular? Não iria dar um grande destaque a um jovem que conseguisse semelhante proeza? Eu penso que sim e são desafios como esses que tornam os jovens pilotos ainda melhores...” Sérgio Fonseca

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20 PUBLICIDADE

hoje macau sexta-feira 26.8.2016

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.º 001/2016 Considerando a impossibilidade de notificar pessoalmente os interessados, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as seguintes empresas comerciais, que apresentaram pedidos de apoio financeiro ao Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética, são notificadas por edital, ao abrigo do artigo 68.º e do n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código: Nome do requerente

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LEONG LIN TAI

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O Conselho Administrativo do FPACE concorda com os pedidos de desistência de apoio financeiro apresentados pelas empresas comerciais acima referidas, cancelando, assim, a concessão do respectivo apoio financeiro. Nome do requerente

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O Conselho Administrativo do FPACE concorda com os pedidos de desistência de apoio financeiro apresentados pelas empresas comerciais acima mencionadas, arquivando os seus pedidos de apoio financeiro. 26 de Agosto de 2016. O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE Tam Vai Man

Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética Notificação n.º 002/2016 Considerando a impossibilidade de notificar pessoalmente os interessados, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as seguintes empresas comerciais, que apresentaram pedidos de apoio financeiro ao Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética, são notificadas por edital, ao abrigo do artigo 68.º e do n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código: Nome do requerente

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E-GO – ADMINSTRAÇÃO DE INFORMAÇÕES, SOCIEDADE UNIPESSOAL LDA.

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IRMÃO CHURRASCO, SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA 美兆澳門健檢中心有限公司

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Devido à não entrega, decorrido o prazo de 30 dias após a recepção da notificação sobre o resultado do pedido, pelas empresas comerciais acima referidas, da Declaração (modelo 14) e da factura relativas aos produtos e equipamentos adquiridos ou substituídos, das fotografias com as características definidas no “Regulamento para a entrega de fotografias dos produtos e equipamentos adquiridos e instalados” e de outros documentos considerados necessários, proceder-se-á ao respectivo cancelamento da concessão de apoio financeiro, nos termos da alínea 4) do n.º 1 do artigo 17.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2011 (Plano de Apoio Financeiro à Aquisição de Produtos e Equipamentos para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética). De acordo com o disposto nos artigos 93.º e 94.° do Código do Procedimento Administrativo, as empresas comerciais acima referidas podem, no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação da presente notificação, apresentar justificação escrita, podendo as mesmas dirigir-se para o efeito, durante o horário de expediente, à Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, situada na Estrada de D. Maria II, n.os 11 a 11-D, Edf. dos Correios, Macau, para consultarem os respectivos processos. 26 de Agosto de 2016. O Presidente do Conselho Administrativo do FPACE Tam Vai Man


21 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

TEMPO

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje CONCERTOS BLUE MAN GROUP (ATÉ 28/08) Venetian, 15h00 e 20h00

Amanhã

MIN

26

MAX

32

HUM

65-95%

EURO

9.02

BAHT

Domingo INSPIRARTE À SOLTA – ACTIVIDADES PARA CRIANÇAS CCM

Diariamente

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

PROBLEMA 67

UM FILME HOJE

EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

Cineteatro

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 66

C I N E M A

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

YUAN

1.2

ATENÇÃO SURFISTAS

MOSTRA “HERE AND NOW” Creative Macau, 17h00

EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10)

0.23 AQUI HÁ GATO

TEATRO CONVERSAS A GIZ CCM, 20h00

EXPOSIÇÃO “THE RENAISSANCE OF PEN AND INK - CALLIGRAPHY AND LETTERING ART DE AQUINO DA SILVA Armazém do Boi (até 18/09)

(F)UTILIDADES

Surfistas, é bom que se ponham a pau. Não vão para França. Acho que quem anda de fato completo na água lá é multado. Até eu, que sou gato todo preto, estou lixado, porque se quiser deitar-me de barriga para o ar vou apanhar uma multa. E os estrangeiros todos - aqueles branquinhos, branquinhos, que têm de ir para a água com roupa – também devem tomar cuidado. Ouvi dizer que a polícia francesa anda aí à caça de pessoas – perdão -, mulheres, que não andem a mostrar as barriguitas, as pernas, as mamocas e o cabelo. Parece mentira não é? Que um país que se intitula democrata e que valoriza a liberdade e a igualdade ande a multar quem opta por ir de “burkini” para a praia? Pois, mas não. Os policias lá vão – vestidos da cabeça aos pés – mandar as senhoras tirarem aquela pouca vergonha de roupa que usam (!) e que se assemelha a um fato de surf. E ainda são elogiados pelos idiotas que dizem “isto aqui não é o teu país”. Pois não. Não é, porque a Europa, como essas mesmas pessoas dizem, é mais “à frente”. Na Europa, meus amigos, as pessoas andam como querem. A Europa não se assemelha a um país onde as mulheres não têm os mesmos direitos que os homens. Por isso é que a Europa é considerada mais desenvolvida. Por isso é que não se pode comparar um sítio democrático e livre com um que não o é e que, como consequência, não deixa as europeias andar de biquíni. Mas por isso é que a Europa seria diferente. Mas estamos a andar para trás: porque as mulheres são humilhadas e já não podem optar por andar tapadas, porque afinal não somos assim tão “libertadores e igualitários” não é França? Gostava de saber se eu, com meu fato de surf que até tem um carapuço, ia ficar pelado ou se isto é só para “os outros”. Pu Yi

“SHIN GODZILLA” (HIDEAKI ANNO E SHINJI HIGUCHI, 2016)

Depois da Baía de Tóquio ter sido misteriosamente inundada e ficado em ruínas, muitas construções são também derrubadas. Um vídeo viral divulgado pela Internet mostra algo massivo a deslocar-se nas ruas japonesas e as autoridades convencem-se de que este ser é o responsável. Este sai do mar e a destruição é ainda pior... Angela Ka

BEN HUR SALA 1

BEN-HUR [C]

Filme de: Timur Bekmambetov Com: Morgan Freeman, rodrigo Santoro, Jack Huston 14.30, 19.15

SHIN GODZILLA [B]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Hideaki Anno Com: Yutaka Takenouchi, Hiroki Hasegawa, Satomi Ishihara 16.45, 21.30 SALA 2

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok,

Choi Woo-sik 14.30, 19.15, 21.30

CHIBI MARUKO CHAN - A BOY FROM ITALY [B] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Jun Takagi 16.45 SALA 3

THE LETTERS [A]

Filme de: William Riead Com: Juliet Stevenson, Max Von Sydow, Rutger Hauer 14.30, 19.15

THE BFG [B]

Filme de: Steven Spielberg Com: Mark Rylance, Ruby Barnhill, Penelope Wilton, Jemaine Clemente 16.30, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 26.8.2016

a canhota

STAMOS numa altura em que todos defendem os seus interesses pessoais, em que todos nós gastamos dinheiro e tempo com as coisas que gostamos, aprendemos e conseguimos um trabalho, com o qual ganhamos o nosso próprio dinheiro. Depois juntamos dinheiro para o nosso futuro. Isso é normal, mas quais são aquelas pessoas que podem ajudar quem não consegue fazer nada por si próprio, os que precisam mesmo de ajuda? Há sempre aquelas pessoas que acham que é estúpido fazer de tudo para ajudar os outros e não ganhar nada, ou aquelas que pensam que não têm de fazer absolutamente nada. Há outros que pensam que são ricos e que não têm pressões na sua vida, como a compra de uma casa ou de um carro, ou ainda cuidar dos filhos, tendo em conta os elevados preços de Macau. A meu ver, aqueles que ajudam os outros, sejam pessoas ou animais, são brilhantes e alvo de orgulho, porque fazem aquilo que a maioria das pessoas não consegue fazer. Uma edição recente do programa “Pessoas de Macau, Assuntos de Macau” (澳門人·澳門事), do canal chinês da TDM, tocou-me profundamente, pois foram entrevistadas duas voluntárias independentes que ajudam cães e gatos abandonados. Acredito que, quem gosta de animais, tenha chorado por causa de experiências pelas quais elas passaram. A mais jovem, com a alcunha “Seafood”, ajuda os cães dos estaleiros de

construção em Coloane em todos os tempos livres de que dispõe. Ninguém pode imaginar o trabalho de uma mulher, com cerca de 30 anos, que frequenta locais onde trabalham homens, na sua maioria, muitas vezes rudes e sujos. Ela apenas

quer dar água e comida a esses animais e limpar os seus excrementos, bem como os lugares onde eles dormem. Esta mulher gosta de cães e simplesmente não se importa de cuidar deles nos momentos livres a troco de nada.

GORILAS IN THE MIST, MICHAEL APTED

E

Quem está disposto a contribuir para os outros?

“Receber faz-nos felizes, mas contribuir dá-nos outro tipo de felicidade”

PUB

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS EDITAL FIXAÇÃO DO RENDIMENTO COLECTÁVEL DO IMPOSTO PROFISSIONAL RESPEITANTE AO EXERCÍCIO DE 2015 Faz-se saber que, o apuramento do rendimento colectável dos contribuintes do 1.º grupo (assalariados e empregados por conta de outrem) e do 2.º grupo (profissões liberais e técnicas) do imposto profissional, respeitante ao exercício de 2015, já se encontra concluído. De harmonia com o disposto no artigo 23.º, n.º 1, do Regulamento do Imposto Profissional, que de 16 a 30 de Agosto e durante as horas do expediente, o rendimento colectável apurado estará patente ao exame dos respectivos contribuintes, nos seguintes sítios: 1 Edifício “Finanças” – 2.º Centro de Serviços 2 Centro de Serviços da RAEM – Atendimento Fiscal 3 Centro de Atendimento Taipa

podendo os contribuintes inscritos como utilizadores do

“Serviço Electrónico” destes Serviços examiná-lo através da página electrónica da DSF (www.dsf.gov.mo), ou através do Quiosque de auto-atendimento da DSF com o Bilhete de Identidade de Residente da RAEM. Caso não se conformem com o rendimento fixado, os contribuintes podem reclamar, por forma escrita, para a Comissão de Revisão até 30 de Agosto, não terminado, porém, o prazo, sem que hajam decorridos vinte dias sobre a data do registo dos avisos postais enviados aos contribuintes, nos termos do artigo 79.º, n.º 2 do mesmo Regulamento. Aos 21 de Julho de 2016. O Director dos Serviços Iong Kong Leong

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FA SEONG 花想

Tentou abstrair-se do seu sofrimento, não pensar neles, mas não conseguiu. Não se sentiu confortável no dia em que foi cuidar daqueles animais. Ficou triste perante o seu abandono ou a morte de um animal num acidente. Bo, outra voluntária, desde vez de meia idade, contribui há muitos anos e gasta quase todo o seu dinheiro para ajudar gatos. Alimenta todos os felinos que vivem no jardim da montanha russa, mas também salvou outras vidas. Actualmente vivem cerca de 30 gatos numa loja que Bo alugou só para que tenham direito a uma casa e para que possam, um dia, ser adoptados por outras famílias. Estas mulheres choram em frente e atrás das câmaras, porque viram os animais que costumavam cuidar morrerem devido a maus tratos ou mesmo por atropelamentos de carros. Elas não nasceram pelos animais, têm uma vida melhor mas escolhem viver assim, a dar mais espaços para a sua sobrevivência, sem se importarem com a perda de tempo ou de dinheiro. A vida não é permanente. Acredito que as duas salvadoras de animais sentem isso mais ainda. Não é difícil encontrar no Facebook outros grupos de apoio a animais, com pessoas e associações. Já prometi eu própria dedicar-me a esta causa quando tiver tempo. Posso contribuir e nada receber em troca, mas se contribuir farei os outros contentes. É algo que “não tem a ver connosco”, algo que não conhecemos, e que não é das nossas áreas de trabalho, mas podemos dar os primeiros passos e tentar contactar e ajudar quem realmente vale a pena e precisa, para além das doações monetárias. Receber faz-nos felizes, mas contribuir dá-nos outro tipo de felicidade.


23 hoje macau sexta-feira 26.8.2016

contramão

ISABEL CASTRO

Ide a pé

A

ideia foi e continua a ser polémica em várias jurisdições, entre elas Portugal, e era mais ou menos óbvio, para quem conhece Macau, que o processo não ia ser simples num território com uma extraordinária resistência ao que é novo, sobretudo se a novidade vier de fora. O Governo defende-se alegando a ilegalidade da prática desenvolvida pela empresa: como os serviços prestados pela Uber são ilegais, não houve margem para discussão, fecharam-se as portas e, a acreditar no que diz a empresa, inviabilizou-se a possibilidade de implementar, de forma pacífica, um serviço que, como também é óbvio para quem conhece Macau, faz muita falta a quem cá vive. Uma das primeiras coisas que ouvi dizer na minha breve aprendizagem de Direito é que se legisla a pensar no futuro, para que as leis tenham uma longevidade razoável. Mas aprendi também que a legislação deve ser capaz de acompanhar a evolução das sociedades que organiza – se assim não for, as leis não nos servirão e serão apenas formas de nos trancarem no passado. O argumento da ilegalidade não convence também porque todos nós conhecemos o modo como os negócios se fazem em Macau, o proteccionismo exacerbado em certas áreas e as formas – nem sempre claras, justas e, diria mesmo, legais – que se utilizam para salvaguardar o que deveria estar garantido apenas pela necessidade e pela qualidade. Não se quis discutir a hipótese de tornar a Uber uma realidade em Macau apenas porque não se quis. Não vale a pena tentar encontrar pretextos. Tanto não se quis tornar a Uber viável que a polícia se transformou numa espécie de fiscais do tabaco, ao apresentar uns extraordinários resultados no combate à prevaricação. Todos sabemos que há taxistas a desrespeitar a lei todos os dias. Há histórias para os mais variados gostos cinematográficos – de passageiros trancados pelos motoristas dos veículos, a utentes a quem são cobrados valores exorbitantes. Os números estão aí para quem quiser fazer exercícios comparativos – andasse a polícia atrás dos taxistas em falta, como anda atrás dos motoristas da Uber, e o serviço de táxis em Macau seria uma maravilha, uma coisa digna de cidades evoluídas. Mas, mais uma vez, nem sequer é preciso chamar à colação a questão da legalidade – ou da falta dela – no modo como actuam os taxistas e a ausência de punição. O serviço prestado pelos táxis de Macau não é mau, é péssimo: carros velhos, carros sujos, malas

ROBERT ZEMECKIS, FORREST GUMP

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

onde não cabem malas, motoristas que não tiram as mãos do volante para ajudarem os clientes a meter as malas na bagageira. Motoristas que não falam outra língua que não a local e não demonstram a mais pequena vontade em perceber as necessidades de transporte do passageiro estrangeiro que visita Macau, esse destino tão internacional. É o que temos – e o que não temos também. Qualidade à parte, os táxis são coisa rara, difícil de apanhar, não são capazes de atender muitos dos que procuram uma forma de se mexerem

Aqui, num sítio onde apanhar um autocarro pode ser um filme, apanhar um táxi pode ser um filme de terror, o metro vai lento e não existem alternativas para que as pessoas possam organizar a vida, a Uber daria muito jeito

numa cidade em que os autocarros são o que são e, para quem opta por ter um automóvel, o estacionamento é o que é. Macau não é o primeiro local onde a Uber encontra resistência. Portugal, como escrevia no início deste texto, foi um osso duro de roer – e eu até compreendo a resistência da concorrência directa, os taxistas que, em muitas praças portuguesas, esperam pacientemente por clientes que teimam em não chegar. Ainda assim, o Executivo português decidiu estudar uma forma de evitar que empresas como a Uber deixem de operar num vazio legal. Contra factos não há argumentos e o facto é que o mundo muda – quem legisla deve ser capaz de lidar com a mudança, doa a quem doer. Aqui, num sítio onde apanhar um autocarro pode ser um filme, apanhar um táxi pode ser um filme de terror, o metro vai lento e não existem alternativas para que as pessoas possam organizar a vida e as suas mais variadas necessidades – a ausência de transporte escolar e de empresas dedicadas a esta área é um exemplo – a Uber daria muito jeito. Daria muito jeito que quem decide pensasse no que faz mesmo falta a quem aqui vive e todos os dias, um dia depois do outro, tem de se mexer no caos em que esta cidade se transformou.

OPINIÃO


Cotovelos refugiados do tempo / escondidos da respiração dos séculos / dobrados / devagar / a custo / pela voraz catadupa dos dias / tenaz desta memória a emudecer”

Jorge Rui Azeredo

QUEIXAS DE COMPRA DE IMÓVEIS AUMENTAM

LUCROS DA SANDS CHINA CAÍRAM 25% ATÉ JUNHO

Os lucros da Sands China caíram 25% em termos anuais no primeiro semestre, totalizando 4,27 milhões de dólares de Hong Kong. Segundo informa a operadora num comunicado enviado à bolsa de Hong Kong, citado pela rádio, entre Janeiro e Junho, as receitas foram de 24 mil milhões de dólares, uma descida 12% em comparação com o mesmo período de 2015. A Sands China dá conta de uma descida das receitas em “todos os segmentos” de negócios da operadora, o que é explicado pelo “abrandamento na indústria do jogo de Macau”. No dia 13 de Setembro, a Sands China planeia inaugurar o Parisian Macao, um investimento equivalente a 2,9 mil milhões de dólares americanos.

350% O

GALAXY COM AUMENTO DE 26% NOS LUCROS

A Galaxy Entertainment anunciou ontem um aumento de 26% nos lucros líquidos no primeiro semestre, para 2,6 mil milhões de dólares de Hong Kong. O presidente do grupo, Lui Che Woo, observou que a operadora registou “resultados financeiros sólidos” no primeiro semestre, altura em que “o mercado de Macau continuou a mostrar sinais graduais de estabilização”. “O [empreendimento] Galaxy Macau, com o seu grande segmento de massas e instalações extra jogo, é o principal contribuidor para os nossos resultados. Isso, combinado com a transição contínua do [empreendimento] StarWorld Macau para uma operação focada no segmento de massas ilustra (…) a expansão da oferta não-jogo do grupo”, acrescentou. Segundo os resultados divulgados, as receitas da operadora entre Janeiro e Junho mantiveramse estáveis em 25,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, representando um ligeiro aumento em comparação com igual período do ano passado, quando foram contabilizadas em 25,4 mil milhões de dólares de Hong Kong.

UMA PÉROLA DEBAIXO DA CAMA

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Um pescador filipino escondeu debaixo da cama, durante dez anos, uma pérola com 34 quilogramas, 30 cm de espessura e 60 de comprimento, que pode ser a maior do mundo. Descobriu-a no interior de uma ostra-gigante que ficou presa à âncora do barco. Desconhecendo o seu valor, guardou-a debaixo da cama como talismã. Em Junho, a pérola foi dada a uma familiar e foi então que a responsável do Turismo de Palawan, a maior ilha a oeste das Filipinas, a descobriu. Encontra-se agora em exposição em Puerto Princesa, capital da ilha, e continua a pertencer ao pescador afortunado.

sexta-feira 26.8.2016

Coreia do Sul SEGUNDO CASO DE CÓLERA EM TRÊS DIAS

Maus regressos

A

Coreia do Sul confirmou ontem o segundo caso de cólera em três dias, desencadeando receios relativamente ao regresso da perigosa doença ao país ao fim de 15 anos. Trata-se de uma mulher, de 73 anos, que vive na ilha de Geoje, que entretanto se curou, informaram os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul (KCDC) em comunicado. O primeiro caso de cólera, detectado na terça-feira, ao fim de uma década e meia, diz respeito a um homem, de 56 anos, residente em Gwangju.

As autoridades sul-coreanas estabeleceram ligações entre os dois pacientes, já que o primeiro viajou para a ilha de Geoje antes de contrair a doença. O homem comeu caranguejos num restaurante local de Geoje, enquanto a mulher consumiu cavala, o que levou os KCDC a considerar a possibilidade de a cólera poder proceder de produtos do mar. A cólera desapareceu do país na última década e meia, já que não foram registados casos desde o surto de 2001 na região de Gyeongsang, no sudeste, que afectou 162 pessoas.

A cólera desapareceu do país na última década e meia, já que não foram registados casos desde o surto de 2001 na região de Gyeongsang, no sudeste, que afectou 162 pessoas

A cólera, que se manifesta como uma infecção intestinal, é uma doença contagiosa que se transmite sobretudo pelo consumo de água ou alimentos em mau estado de conservação. Os principais sintomas são diarreia, vómitos, febre e desidratação grave e pode ser fatal no caso de não ser tratada rapidamente. A cólera é endémica em 50 países e anualmente há entre 1,4 e 4,3 milhões de casos em todo o mundo, dos quais aproximadamente 142 mil fatais. Estima-se que mais de mil milhões de pessoas no mundo estejam em risco de contrair a doença, cuja melhor forma de prevenção passa pelo acesso a água potável e o saneamento adequado, o que não existe em muitos países em desenvolvimento.

Conselho de Consumidores (CC) recebeu 832 queixas no primeiro semestre deste ano e no topo da tabela estão questões relacionadas com a compra de imóveis. Em comparação com o mesmo período do ano passado, foi registado um aumento de 350% nestes casos, sendo que 70% das 105 queixas dizem respeito à compra de casas na China por cidadãos de Macau. No primeiro semestre foram registados um total de 3322 casos. Comparando com o mesmo período no ano passado, o número desceu 6,2%. As cinco áreas onde se registaram o maior número de queixas são os imóveis, equipamento e telecomunicações, serviços de telecomunicações, transportes públicos e comida e bebidas. Em relação às queixas com imóveis registadas na primeira metade de 2016, estas envolveram um montante de cerca de 36 milhões de patacas. Atendendo ao número elevado de queixas nesta área, o CC faz algumas considerações e dá conselhos: “escolher um edifício já construído e que tinha obtido a licença de uso e incumbir um advogado do local para examinar as cláusulas contratuais e vigiar o processo de transacção”. Quanto às queixas referentes aos serviços de dados de telemóvel, o CC avança que “apesar de terem diminuído 25% comparativamente ao período homólogo do ano anterior, ainda se registaram 48 queixas das quais cerca de 20% se prenderam com tarifas dos serviços de dados”. Quanto ao serviço de táxis foram 16 as queixas que deram entrada, sendo 12 referentes à cobrança abusiva de tarifa e à má qualidade dos serviços prestados.As participações nesta área aumentaram “muito” se comparadas com o registado em 2015, que foi apenas dez casos. Quem se queixou menos foram os turistas. Ao todo, houve 172 casos, registando uma diminuição de 3,5% em comparação com o período homólogo do ano transacto.


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