Hoje Macau 27 OUTUBRO 2022 #5119

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A história repete-se

IAM www.hojemacau.com.mo • facebook/hojemacau • twitter/hojemacau LUSOFONIA FIM-DE-SEMANA EM FESTA CHINA VACINAS PARA INALAR PÁGINAS 12-13 PÁGINA 11
hojemacau PESSANHA, TAO YUANMING E OS PARAÍSOS CarolineTing DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10QUINTA-FEIRA 27 DE OUTUBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5121 Macau volta a entrar em estado de alerta após a detecção, ontem, de um caso positivo de co vid-19. A descoberta diz respeito a uma mulher moradora no Fai Chi Kei. As autoridades de saúde afirmam, no entanto, que o risco de um surto co munitário é baixo. PÁGINAS 6-7

MICE

Pensar o futuro

A Fundação Rui Cunha acolheu ontem o debate: “Re-imaginar o sector MICE: Novos desafios e oportunidades”. Bruno Simões, empresário da área, defende que a evolução do sector das exposições e convenções vai depender das políticas do Governo em relação à pandemia, não esperando “mudanças radicais” a curto prazo. Glenn Mccartney, académico, acredita que os sectores públicos e privados têm de colaborar mais

NO dia em que Macau descobriu mais um caso de covid-19 na zona do Fai Chi Kei, debateu-se na Fundação Rui Cunha (FRC) a recuperação de um sector altamente dependente das medidas para lidar com a pandemia e das decisões gover namentais face à política zero covid. Ainda dependente de uma quarentena de sete dias à chegada, o sector das convenções e exposições continua em modo espera para uma plena recuperação que não se sabe se irá acontecer em 2023.

Bruno Simões, empresário do sector e presidente da associação Macau Meetings, Incentives and Special Events (MISE), foi um dos oradores do debate “Re-imaginar o sector MICE: Novos desafios e oportunidades”, promovido pela

revista Macau Business. Ao HM, Bruno Simões disse acreditar que o futuro desta área “depende da evo lução das políticas do Governo e da China [em relação à covid-19]”, não sendo esperadas, a curto prazo, “mudanças radicais”.

“Vamos demorar bastante tempo até serem normalizadas as entradas em Macau, até ser

eliminada a quarentena e até se restaurar a confiança dos orga nizadores de eventos devido aos riscos de ocorrerem cancelamen tos à última da hora ou de pessoas ficarem presas num determinado local”, em virtude da política de zero casos covid.

O empresário não tem dúvidas de que “o futuro mais próximo [do

“Há uma espécie de incompatibilidade na forma como promovemos Macau lá fora e a marca de Macau. Teremos de competir com Singapura, Hong Kong, Xangai, que são cidades internacionais que há muito realizam grandes eventos.”

sector] será feito com clientes da China e também locais”. Desde o início da pandemia que a maior fa lha do Governo, confidencia Bruno Simões, tem sido “a discriminação dos não residentes”.

“Houve um grande êxodo de muitas competências e quadros qualificados [para o sector]. Essas pessoas não são mais infecciosas do que as outras e a cidade perdeu milhares de talentos que se farta ram de esperar.”

Questionado sobre os apoios financeiros atribuídos, Bruno Si mões lamenta que tenha sido adop tada “uma política cega”. “Não nos podemos queixar muito dos apoios que foram dados às empresas e à população. Foram generalizados, mas não se justifica dar o mesmo apoio a um escritório de advoga dos, por exemplo, e depois a uma empresa de eventos.”

Olhar Singapura

Depois de três anos de estagnação, e tendo em conta que muitos dos eventos que habitualmente se reali zavam em Macau já passaram para outras regiões, como é o caso do G2E Asia, que este ano se realizou em Singapura, resta perguntar se o território alguma vez vai recuperar desta fase. Bruno Simões acredita que sim, ainda que o próprio pa radigma do sector MICE esteja a mudar, uma vez que a grande aposta já não é no jogo.

“Penso que será possível voltar atrás. O futuro do sector MICE em Macau será muito mais virado para o lazer do que nos últimos dez anos, onde o jogo e sobretudo o jogo VIP teve uma maior importância. Os próprios operadores dos resorts estavam muito focados neste seg mento dada a enorme rentabilida de. Os segmentos foram reduzidos substancialmente e essa foi uma decisão das autoridades de Macau em não beneficiar tanto a área do jogo. Acho que isso vai acabar por beneficiar o sector MICE e do lazer também.”

Opinião semelhante tem Glenn Mccartney, académico da Universi dade de Macau e especialista na área do turismo. Tendo sido outro dos oradores convidados para o painel de ontem, o responsável acredita que o novo concurso público para a atribuição das seis licenças de jogo vai acentuar essa diferença no

“Houve um grande êxodo de muitas competências e quadros qualificados [para o sector]. Essas pessoas não são mais infecciosas do que as outras e a cidade perdeu milhares de talentos que se fartaram de esperar.”

sector MICE, mais marcado pelas áreas do lazer e do turismo.

“Temos agora a atribuição de novas licenças de jogo e o Governo foi claro em algumas considera ções que as operadoras terão agora de cumprir [no novo concurso pú blico]. [A aposta] no sector MICE é um desses critérios exigidos”, disse o académico, que defende que Singapura é um exemplo de recuperação nesta área.

“Tenho dito, nos últimos dois anos, que é altura para reflectirmos sobre o novo posicionamento do sector MICE e do turismo, por es tarmos numa espécie de período de pausa e marcado por alguma resi liência. A perspectiva de Singapura é, aliás, boa para nós, sobretudo em relação às políticas que têm em relação ao sector MICE, no que diz respeito ao posicionamento das

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UM SECTOR RESILIENTE QUE AGUARDA MUDANÇAS NAS POLÍTICAS COVID-19
BRUNO SIMÕES EMPRESÁRIO RÓMULO SANTOS

marcas, à construção de uma rede de contactos e na ligação com as companhias aéreas. Quando olha mos para 2023 temos de pensar onde colocamos o sector MICE e como o vamos desenvolver”, contou ao HM.

Nesta fase, frisa Glenn Mccar tney, “Macau não está ainda em recuperação se compararmos com outras cidades vizinhas, uma vez que as autoridades ainda não eli minaram a quarentena de sete dias. Falamos agora do que ainda não aconteceu e de quando vai haver essa mudança, quando é que po deremos implementar a mudança em prol de uma reabertura. Temos vindo a esperar.”

Público vs. Privado

Mais do que nunca Macau tem de se promover como marca lá fora,

tentando entrar num mercado bas tante competitivo, disse o docente da UM. “Não temos o problema da falta de infra-estruturas, pois temos locais óptimos para a realização de grandes eventos. Temos bons pro dutos turísticos, como restaurantes e alojamentos, então as limitações prendem-se com a colaboração entre o sector público e privado.”

Neste sentido, “há uma espécie de incompatibilidade na forma como promovemos Macau lá fora e a marca de Macau. Teremos de competir com Singapura, Hong Kong, Xangai, que são cidades in ternacionais que há muito realizam grandes eventos. Promover a marca de Macau no mercado internacio nal nunca foi tão importante, isto

na fase pós-covid-19”, acrescentou Glenn Mccartney.

Para Bruno Simões, falta ainda “uma visão estratégica mais clara e posições estratégi cas do Governo mais definidas”.

“Faltam também políticas mais direccionadas às vantagens com petitivas da cidade. Temos alguns pontos fracos que têm de ser me

“Tenho dito, nos últimos dois anos, que é altura para reflectirmos sobre o novo posicionamento do sector MICE e do turismo, por estarmos numa espécie de período de pausa e marcado por alguma resiliência.”

lhorados. É preciso aperfeiçoar a capacidade de atrair talentos, melhorar as experiências dos vi sitantes, arranjar locais históricos para fazer eventos e trabalhar os diferentes departamentos do Go verno de uma forma mais eficaz, como o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau ou os serviços de turis mo”, frisou.

O debate de ontem na FRC con tou ainda com a presença de Flo rence Chua, directora-executiva da Associação Profissional para a Gestão de Convenções para a re gião da Ásia-Pacífico (Professional Convention Management Associa tion), e com Alan Ho, presidente da Associação para os sectores de Exposições, Convenções e Turis mo. Andreia Sofia Silva

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“Temos alguns pontos fracos que têm de ser melhorados. É preciso aperfeiçoar a capacidade de atrair talentos, melhorar as experiências dos visitantes, arranjar locais históricos para eventos e trabalhar os departamentos do Governo de forma mais eficaz.”
GLENN MCCARTNEY ACADÉMICO
SOFIA MARGARIDA MOTA

Guangdong Província emite dívida em Macau

O Governo da Província de Guangdong vai emitir em Macau dois mil milhões de renminbi em títulos de dí vida offshore. Segundo um comunicado do Governo de Macau, a emissão vai acon tecer amanhã e destina-se

a investidores profissio nais. Os títulos têm uma maturidade de três anos. Esta é a segunda vez que o Governo da Província de Guangdong emite títulos de dívida em Macau, depois de uma emissão ocorrida em

Outubro do ano passado. No comunicado, o Governo de Ho Iat Seng destacou a importância da emissão de dívida em Macau, para o desenvolvimento do sector financeiro, e agradeceu ao Governo Central.

Pesca Comissão do Apoio com nova presidente

Tong Iok Peng foi escolhida para presidente da Comissão de Apreciação relativa ao Plano de Desenvolvimento e Apoio à Pesca até 2 de Maio de 2024, de acordo com um despacho, publicado ontem em Boletim Oficial. Ao mesmo tempo, Wong Man Tou vai assumir as funções de vogal na mesma

comissão. De acordo com o despacho assinado pelo Chefe do Executivo, “os membros da Comissão de Apreciação têm direito a uma remuneração mensal correspondente a 50 por do índice 100 da tabela indiciária de vencimentos da função pública”, o que equivale a cerca de 4.450 patacas.

GRANDE BAÍA EDMUND HO SALIENTA APOSTA EM INDÚSTRIAS MODERNAS

O amanhã no horizonte

O Comité de Ligação com Hong Kong, Macau, Taiwan e Chineses Ultramarinos da CCPPC organizou um fórum subordinado ao tema do desenvolvimento do projecto da Grande Baía. Entre a lista de convidados ilustres, destaque para a intervenção de Edmund Ho que realçou a necessidade de complementaridade entre regiões e a aposta na inovação

REALIZOU-SE na terça -feira um fórum online sobre o desenvolvimento das indústrias modernas e construção do pro jecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, organizado pelo Comité de Li gação com Hong Kong, Macau, Taiwan e Chineses Ultramarinos da Conferência Consultiva Polí tica do Povo Chinês (CCPPC).

Entre os palestrantes, contaram -se figuras políticas de vulto como o ex-Chefe do Executivo da RAEM Edmund Ho, também vice-presidente da entidade organizadora, o ex-Chefe do Executivo da RAEHK CY Leung, e o deputado de Macau, ligado aos Kaifong, Ho Ion Sang.

Edmund Ho destacou a impor tância para todas as regiões envolvi das da missão de construir o projecto de integração da Grande Baía e a necessidade de focar esforços no desenvolvimento das indústrias es tratégicas definidas para o projecto, assente em alicerces de modernidade de inovação, que permitam à zona tornar-se mais competitiva.

Citado pelo jornal Ou Mun, Edmund Ho recordou que uma das mensagens patentes no relatório do 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China foi a insistência e melhoramento da aplicação do princípio “Um País, Dois Sistemas”, a fórmula política que garante a integração das re giões administrativas especiais no

desenvolvimento nacional. Além disso, o ex-Chefe do Executivo realçou o papel importante de Ma cau e Hong Kong na concretização do rejuvenescimento nacional.

Todos juntos

Para fazer face às dificuldades senti das no desenvolvimento do projecto

de integração, Edmund Ho destacou a importância de aprofundar a coo peração para que as características de cada região actuem em modo de complementaridade. O homólogo de Hong Kong, CY Leung, defen deu a mesma ideia, acrescentando a necessidade de estreitar relações ao nível da cooperação científica.

Edmund Ho destacou a importância de aprofundar a cooperação para que as características de cada região actuem em modo de complementaridade. O homólogo de Hong Kong, CY Leung, defendeu a mesma ideia

Em termos regionais, Leung afirmou que compete a Hong Kong continuar a desempenhar o papel conducente com as suas vantagens específicas nas áreas dos serviços financeiros, jurídicos e transportes internacionais. Por sua vez, Ho Ion Sang argumentou que deve haver uma aposta forte na formação de quadros qualificados nas áreas financeiras, através da reconfigu ração das prioridades ao nível do ensino superior e da importação de talentos estrangeiros. Nunu Wu

POLÍCIA JUDICIÁRIA LAI MAN VAI SUB-DIRECTOR

Osecretário para a Segurança nomeou Lai Man Vai sub -director da Polícia Judiciária, durante o período de um ano. A nomeação foi feita em comissão de serviço e, de acordo com um despacho publicado ontem em Boletim Oficial, entra em vigor a partir da próxima terça-feira.

No Boletim Oficial, Wong Sio Chak justificou a escolha de Lai com a “vacatura do cargo e ne cessidade do seu preenchimento face às atribuições cometidas à Polícia Judiciária” e também de vido à “reconhecida competência, aptidão, experiência profissional e habilitação académica adequadas ao exercício da função do cargo de subdirector”.

Segundo o currículo apresenta do, o novo sub-director da PJ tem uma licenciatura e um mestrado em Direito. Entrou para a Polícia Judiciária em Dezembro de 2003, ao frequentar um curso de forma ção para investigador estagiário.

Ao longo dos anos foi subindo como investigador da PJ, até que em 2013 chegou à chefia funcional da Divisão de Investigação Especial do Departamento de Informações.

Em 2016, voltou a ser promo vido, como Chefe da Divisão de Investigação Especial do Depar tamento de Informações e Apoio da Polícia Judiciária. Primeiro, ocupou o cargo como chefe subs tituto, mas a escolha tornou-se permanente em Outubro desse ano.

Depois de em 2019 ter sido promovido a sub-inspector, foi promovido para Chefe do Depar tamento de Segurança da Polícia Judiciária em Outubro de 2020. Desde Agosto deste ano que ocupava o cargo de sub-director, como substituto, mas a nomeação vai agora passar a definitiva.

Além disso, ao longo dos anos, acumulou vários louvores, como quatro menções de mérito excep cional, três louvores individuais e um elogio colectivo.

4 política www.hojemacau.com.mo 27.10.2022 quinta-feira

Vida além do lucro

O deputado dos Operários considera que os concursos públicos para o ar rendamento das lojas na RAEM contribuem para afastar os interessados e acabam por deixar a população sem vários serviços

ETAPM AL lança consulta pública

A 3.ª Comissão Permanente da Assem bleia Legislativa decidiu lançar uma consulta pública para ouvir a população sobre a proposta do Governo de Alte ração ao Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau e diplomas conexos. A consulta decorre desde ontem e prolonga-se até 25 de Novembro. A proposta foi aprovada na generalidade, e está agora a ser

debatida na especialidade. Os interes sados em partilhar as suas opiniões com os deputados podem contactar o presidente da comissão, Vong Hin Fai, através de via postal ou por correio electrónico (info@al.gov.mo) ou fax (28973753). As alterações propostas pelo Governo visam reforçar os pode res dos supervisores na transferência e alocação dos recursos humanos.

Macau Investimento Mou Heng Kei e Leong Pou Nei por mais um ano

Mou Heng Kei e Leong Pou Nei firam escolhidos por mais um ano como re presentantes da Direcção dos Serviços de Finanças na empresa de capitais públicos Macau Investimento e Desen volvimento. A decisão foi anunciada ontem no Boletim Oficial, e produz efeitos a partir de 1 de Novembro deste ano. Apesar do avultado investimento nesta empresa de capitais públicos, a mesma não disponibiliza no portal do Gabinete para o Planeamento da

Supervisão dos Activos Públicos as demonstrações financeiras em português, língua oficial da RAEM. Ainda assim, os dois trabalhadores vão ser definidos pela própria empresa, a “quem caberá suportar a respectiva remuneração e os encargos com os descontos, reportados ao vencimento de origem, para efeitos de assistência na doença, aposentação e sobrevivên cia ou previdência, na parte respeitante à entidade patronal”.

Desenvolvimento Industrial Nomeada direcção Administrativa do Fundo

Chan Weng Tat, Che Weng Keong, António Leung e Lo Cheok Peng, no papel de representação da Direcção dos Serviços de Finanças, foram os escolhidos para integrarem o Conselho Administrativo do Fundo de Desenvol vimento Industrial e de Comercializa ção. A decisão foi anunciada ontem através de um despacho publicado no Boletim Oficial. Os quatro têm como

substitutos Lam Hoi Kin, Chan Chou Weng, Chan Hoi Si e Wan Tai Wai, respectivamente. O Fundo de Desenvol vimento Industrial e de Comercialização foi criado no início do mês e tem como objectivo “mobilizar os seus recursos para apoiar financeiramente a realização de projectos e acções que promovam o desenvolvimento económico da Região Administrativa Especial de Macau”.

Odeputado Leong Sun Iok está preo cupado com os concursos públi cos para o arren damento das lojas nas habitações públicas e considera que o modelo está longe de ser o que melhor serve a população. A opinião foi defendida numa interpelação escrita, divulgada ontem, sobre os planos para a Zona A nos Novos Aterros.

Para o legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), os espaços comer ciais nos prédios públicos não devem apenas ter como objectivo a obtenção de ren das elevadas, mas também garantir que as pessoas da quelas zonas têm acesso aos serviços de primeira neces sidade. “As lojas nos prédios públicos são uma fonte de receitas para o Governo, mas também um espaço para disponibilizar serviços para a comunidade”, indica

Leong. “Por isso, o valor desses espaços não pode ser apenas avaliado em termos dos benefícios económicos, mas também das vantagens sociais”, acrescenta.

No entanto, para o depu tado, o actual sistema de con curso público está a falhar, principalmente nos casos em que o espaço a arrendar não tem uma finalidade pré-defi nida. Segundo Leong, muitas vezes o facto de apenas se escolher como vencedora a proposta “mais alta” tem contribuído para que alguns serviços sejam afastados dos prédios públicos.

Neste sentido, e numa altura em que o Governo está a trabalhar nos planos de ur banização da Zona A, Leong questiona que medidas estão a ser tomadas para que o pre ço não seja o único critério nos concursos públicos para o arrendamento das lojas que são propriedade da RAEM.

Em relação à questão, o deputado pergunta também pelo estudo prometido pelo

Executivo, sobre as medidas a implementar para “optimi zar” o ambiente de negócios nos futuros espaços comer ciais na Zona A.

Mais raros

Outro dos problemas que contribui para a falta de ser viços nos prédios públicos, na perspectiva de Leong Sun Iok, passa “pela pouca frequência dos concursos para o arrendamento dos espaços”. O deputado con sidera que deviam acontecer

“O valor das lojas públicas não pode ser apenas avaliado em termos dos benefícios económicos, mas também das vantagens sociais.”

com mais frequência do que aquela se verifica ac tualmente.

Ao mesmo tempo, o legislador defende que os concursos tendem a afastar os interessados, porque as propostas têm de atingir um valor mínimo. E nos casos em que esse valor é consi derado demasiado elevado, os interessados desistem, o que faz com que existam lojas que ficam muito tempo desocupadas. “Os proce dimentos actuais levaram a que um certo número de lojas tenha ficado por ocupar durante muito tempo, o que é um desperdício dos recursos públicos”, apontou o deputa do. “Espero que o Governo faça as alterações necessárias no devido tempo”, desejou.

Face a este cenário, Leong Sun Iok questiona o Governo sobre os planos para alterar os procedimen tos do concurso público e fazer com que os espaços atraiam mais interessados. João Santos Filipe

em parte incerta; e sua mulher, 2. Sou Kit I (蘇結儀), residente em Macau, na Rua Pedro Coutinho, Edf. Kou Wang, 3º andar J.

Nos autos supra identificados, foi designado o dia 10 de Janeiro de 2023, pelas 10:30 horas, neste Tribunal, para a venda por meio de propostas em carta fechada, o bem abaixo identificado.

IMÓVEL A VENDER

Denominação da fracção autónoma: “B2”, 2º andar “B”.

Situação: nºs 1 a 6 da Travessa do Garfo.

Fim: Para habitação.

Número de matriz: nº. 71950.

Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 5409, a fls. 278vº do Livro B22.

O valor da base da venda: MOP$3.000.000,00 (Três Milhões Patacas).

Os preços das propostas devem ser superiores ao valor da base da venda acima indicado.

Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “proposta em carta fecha da”, “2º Juízo Cível” e o “Processo Número: CV2-19-0050-CEO”, na Secção Central deste Tribunal, até o dia 9 de Janeiro de 2023, até 17:45 horas, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas.

Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercerem o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do artº 787º do C.P.C.M.

Macau, aos 17 de Outubro de 2022.

política 5www.hojemacau.com.moquinta-feira 27.10.2022
ZONA A LEONG SUN IOK PREOCUPADO COM LOJAS DESOCUPADAS
LEONG SUN IOK DEPUTADO
Execução Ordinária n.º CV2-19-0050-CEO 2º Juízo Cível Exequente: BANCO DE CONSTRUÇÃO DA CHINA S.A. SUCURSAL DE MACAU (中國建設銀行股份有限公司澳門分行), com sede em Macau, na Avenida de Almeida Ribeiro, n.º 61, Circle Square, 5.º andar. Executados: 1. Lao Meng Tong (劉明東), de sexo masculino, com última residência conhecida em Macau, na Rua das Árvores do Pagode, Lote 6, Edf. One Oasis – Pena Tower, BL-2, 8º andar B, Coloane, ora ausente
***
***** A Juiz HM • 1ª vez • 27-10-22 ANÚNCIO PUB.

DEPOIS de mais de dois anos de suspensão, está para bre ve o regresso das excursões turísticas a Macau oriundas das províncias de Guangdong, Jiangsu, Fujian, Zhejiang e da cidade de Xangai, numa altura em que eclodem um pouco por todo o Interior da China surtos de covid-19.

Apesar de a retoma desta forma tradicional de turismo massificado se ter tornado numa reivindicação de quase todos os sectores sociais e políticos de Macau, todo o cuidado é pouco. Como tal, o Centro de Preven ção e Controlo de Doenças dos Serviços de Saúde (SSM) emitiu ontem uma série de orientações técnicas para tentar prevenir o ressurgimento de um surto no território.

Com a descoberta de ontem de um caso positivo de covid-19, relativo a uma residente moradora no Fai Chi Kei, o plano de retoma das excursões turísticas pode ter ficado em perigo se houver um novo surto em Macau. Mas, para já, não será afectado, com a repre sentante da Direcção dos Serviços dos Turismo a afirmar ontem em conferência de imprensa não saber

Passeios bizarros

Serviços de Saúde emitem regras apertadas para excursões, incluindo distância social

quando Macau recebe a primeira excursão, ou se a descoberta de covid-19 na RAEM irá alterar os planos das autoridades do Interior da China.

As orientações técnicas dirigi das aos organizadores das excur sões e guias turísticos incluem o limite do número de participantes nos tours, o registo detalhado do itinerário seguido, turistas e orga nizadores que venham a Macau devem declarar o histórico de

viagens dos últimos 10 dias antes da entrada no território.

Uma das orientações mais di fíceis de cumprir é a necessidade de afastamento social de, pelo menos, um metro em relação a todas as pessoas que não estejam na excursão, sejam moradores de Macau ou turistas de outros grupos.

Chernobil no coração

Como é natural, quem esteve em contacto com pessoas infecta

das ou quem passou por locais considerados de elevado risco deve suspender a participação na excursão.

O representante da agência que organiza a excursão e o guia turístico devem fazer testes de ácido nucleico a cada sete dias consecutivos de trabalho e devem guardar durante, pelo menos, 14 dias o histórico de WeChat dos contactos com participantes nas tours.

O controlo vai ao ponto de serem registados os lugares onde os excursionistas se sentam durante refeições. Em todos os períodos em que os turistas podem escolher onde ir, fora do itinerário estabelecido, ser -lhes-á pedido para registarem detalhadamente o itinerário, assim como tempos de entrada e saída em locais.

A medição de temperatura corporal e máscaras serão uma constante durante as excursões, excepto às refeições.

Caso alguém no grupo, pro fissional ou turista, apresentar sintomas de covid-19, as autori dades de saúde devem ser alerta das imediatamente e a excursão cancelada. J.L.

AS autoridades de saúde de Macau anunciaram ontem ao início da tarde a descoberta de um caso positivo de covid-19 relativo a uma residente de 66 anos de idade, moradora no edifício de Weng Heng, n.º 7 e 8 da Rua Um do Bairro da Concór dia, perto do Canídromo, que foi declarado como zona vermelha. Os moradores do prédio em questão devem permanecer em isolamento até 1 de Novembro. As autoridades estimam que só no dia 3 de No vembro seja levantado o código de saúde amarelo dos moradores, se, entretanto, não forem identificados outros casos positivos de covid-19.

Foi também revelado que a residente infectada fez um teste no domingo que deu negativo, mas testou positivo no teste que fez na terça-feira.

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus foi informado ontem de manhã pelas autoridades de saúde de Zhuhai da detecção de covid-19 numa amostra de 10, que inclua oito residentes de Macau. Na sequência da notificação, os residentes em causa foram subme tidos a novo teste de ácido nucleico, que levou à descoberta do caso

IAM IAM 6 especial covid-19 27.10.2022 quinta-feirawww.hojemacau.com.mo
PANDEMIA CASO POSITIVO NO FAI CHI KEI COLOCA MACAU EM ESTADO DE ALERTA
RÓMULO SANTOS

Sensação de déjà vu

soas que moram ou trabalham nas zonas delimitadas pela Avenida do Conselheiro Borja, Rua Norte do Patane, Rua Sul do Patane, Avenida do Almirante Lacerda e Avenida do General Castelo Branco.

Alvis Lo estima que cerca de 26 mil pessoas terão de fazer testes e aconselhou quem tenha passado pelas zonas de risco, por um período superior a meia hora, a submeter-se a teste de ácido nucleico.

Recordações veraneantes

Fazendo lembrar o Verão passado, os moradores e trabalhadores das zonas de risco que vão ter de rea lizar testes de ácido nucleico, terão de fazer primeiro um teste rápido antigénio. As pessoas das zonas alvo vão receber hoje cinco embalagens de testes rápidos quando realizarem o teste de ácido nucleico.

por ter recebido a visita da residente às 13h da segunda-feira passada.

Pouco tempo depois do anúncio do caso positivo em Macau, as auto ridades de Zhuhai encerraram alguns restaurantes no centro comercial subterrâneo nas instalações do posto fronteiriço de Gongbei, de acordo com vídeos partilhados nas redes sociais. João Luz

IAS Anunciado fecho temporário de lares

positivo, sendo que os restantes deram negativo.

“Activámos de imediato o meca nismo de emergência, duas pessoas que coabitam com a paciente deram negativo e o edifício foi selado. Achamos que o caso foi detectado cedo porque no primeiro teste que deu positivo o nível de CT foi de 32 e hoje [ontem] foi de 16 CT de carga viral. Por isso, podemos concluir

tratar-se de um caso importado e com risco de transmissão baixo”, afirmou ontem o director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo.

O responsável reforçou a im portância de não baixar a guarda e apostar no rastreio a contactos próximos e contactos próximos secundários.

Até à hora de fecho desta edi ção, as autoridades acompanhavam

72 pessoas, cinco contactos pró ximos (duas pessoas que moram com a mulher e três visitantes à casa edifício de Weng Heng), 14 pessoas que tiveram o mesmo iti nerário, num total de 28 contactos próximos e 25 acompanhantes.

Tendo em conta as deslocações da mulher, foi ontem realizado o primeiro de três testes diários sucessivos, até sexta-feira, às pes

Alvis Lo estima que cerca de 26 mil pessoas terão de fazer testes e aconselhou quem tenha passado pelas zonas de risco, por um período superior a meia hora, a submeter-se ao teste de ácido nucleico

A coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência, Leong Iek Hou confirmou ontem que a mulher que testou positivo não apresenta sintomas e não foi vacinada, assim como nenhuma das duas pessoas que com ela coabitam.

Trazendo memórias recentes ao de cima, voltaram às ruas de Macau os bloqueios, as desinfec ções de prédios e as autoridades de saúde revelaram o itinerário de uma pessoa infectada. Segundo Leong Iek Hou, a investigação epidemiológica indica que entre sexta feira e domingo e na terça -feira, a residente passava a maior parte do dia em casa e à noite ia a pé para o Posto Fronteiriço de Qingmao, fazer compras no su permercado Kang Zhi Yuan, no Centro Comercial Subterrâneo de Gongbei, e voltava a casa através de Qingmao.

As autoridades classificaram outros lugares de risco como o Banco Alimentar da Cáritas, na Ilha Verde, onde a paciente esteve no domingo às 15h. No mesmo dia, entre 17h e as 18h, apanhou o autocarro no.1, da Avenida do General Castelo Branco até às Portas do Cerco. O supermercado Royal, fica no edifício Luen San Plaza, no Fai Chi Kei, também foi classificado como zona de risco,

O Instituto de Acção Social (IAS) anunciou que as visitas aos lares de idosos Asilo de Betânia dependente da Cáritas de Macau e a ao lar de reabilitação Centro Long Cheng dependente da Associação de Reabilitação Fu Hong estão suspensas até amanhã. Em causa, está o facto de as duas instalações sociais ficarem perto da zona onde foi detectado um caso de covid-19. Segundo a informação revelada ontem, os utentes ficam também impedidos de sair das instalações. Além disso, os trabalhadores e utentes ficam submetidos à realização de testes de ácido nucleico, bem como ao reforço “de diversas medida anti-epidémicas”, que não foram, no entanto, discriminadas. “O IAS pede a compreensão e colaboração dos utentes e seus familiares em relação às medidas atrás mencionadas”, foi apelado.

IAM Desinfecção de ruas e habitações

Depois de ter sido confirmado o caso positivo de uma moradora do edifício Weng Heng, no Bairro da Concórdia, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), em coordenação com a Com panhia de Sistemas de Resíduos e as companhias de limpeza adjudicada, aumentou o número de trabalhadores para “trabalhos de limpeza e desinfec ção em grande dimensão” na tarde de ontem. A operação incluiu habitações residenciais, ruas circundantes e partes comuns do edifício onde mora a resi dente infectada, “com vista a reduzir a probabilidade de eventual propagação de doenças transmissíveis”.

especial covid-19 7quinta-feira 27.10.2022 www.hojemacau.com.mo
As autoridades de saúde detectaram ontem um caso positivo de covid-19 relativo a uma mulher de 66 anos, moradora no Fai Chi Kei. Na sequência da infecção, o edifício onde mora foi selado e declarado zona vermelha. A paciente teve itinerário simples e as autoridades pensam que caso foi detectado cedo, diminuindo a hipótese de surto comunitário
IAM

O Paraíso como

Paraísos Artificiais em Camilo Pessanha

Camilo Pessanha nasceu em Coimbra em 1867, no mesmo ano em que Baude laire morreu. Desde jovem, visitou várias regiões com o seu pai que, devido à sua carreira de magistrado, levava o seu fi lho a diferentes territórios, despertando a curiosidade de Camilo por outras na ções. De volta a Coimbra em 1884, aos 16 anos de idade, Camilo frequentou a faculdade de Direito, seguindo os pas sos de seu pai, graduando-se em 1891. Aos 18 anos de idade, publicou o poema “Lúbrica”, com referências ao seu pensa mento sobre o povo chinês:

Como os ébrios chineses delirantes Aspiram, já dormindo, o fumo quieto Que o seu longo cachimbo predilecto No ambiente espalhava pouco antes...

De facto, a sua cidade natal também lhe proporcionou a oportunidade de co nhecer colecções de arte asiáticas atra vés das decorativas porcelanas chinesas existentes na Biblioteca Joanina da Uni versidade e no Museu de História Natu ral. Compreender os princípios das civili zações exóticas era, então, na cidade da mais antiga e prestigiada Universidade lusitana, um sinal de distintiva elegância. Os Vedas, o Mahabarata, o Zend-Avesta, os Eddas e os Nibelungos são exemplos de livros lidos pelo meio literário, numa tendência chamada “Renascença Orien tal”. Seguindo essa tendência intelectual, manuscritos de Pessanha como “Legen da Budista” e “Vozes do Outono - Tradu ção do chinês, reflexões filosóficas de um autor desconhecido da dinastia Tang”, actualmente na Biblioteca Nacional, re ferem o povo e a cultura Sínica.

Em 1894, Pessanha foi nomeado professor no Liceu de Macau, o mesmo ano em que este estabelecimento fora inaugurado. Recentemente chegado à colónia portuguesa na China, começa a escrever sobre a cultura chinesa de um ponto de vista intuitivo. À medida que os seus conhecimentos da língua chine sa aumentavam, mergulha no estudo da civilização sínica. Dá palestras e escreve ensaios sobre literatura e estética chine sa. Durante esses anos, a China sofria convulsões políticas e sociais. O colap so da dinastia Qing criara as condições para a revolução de 1911, que gerou um êxodo de refugiados para Macau e para Hong Kong, incluindo importantes dig nitários do antigo regime imperial que tentaram encontrar refúgio da rebelião nestas cidades portuárias. Consequente mente, Macau e Hong Kong eram portas de entrada para aqueles que procuravam ganhar dinheiro com os seus artefactos

mais valiosos. Como resultado, nos anos que se seguiram às revoltas, um próspero comércio de arte e mesmo uma loucura por colecções de arte chinesa floresceram nas referidas cidades. Pessanha, que po deria lucrar com este próspero mercado de arte, começou a coleccionar antigui dades e extravagantes artefactos.

Camilo Pessanha é um dos mais im portantes poetas portugueses modernos, uma referência na poesia simbolista con temporânea. Ao longo da sua vida, inte ressou-se progressivamente pela cultura chinesa. Foi chamado por Luís Sá Cunha “o mais chinês dos poetas ocidentais, an tes de Ezra Pound”2. O seu livro de poe mas, “Clepsydra”, ressoa a poesia clás sica chinesa que descobriu na alturacomo outros poetas ocidentais também o fizeram -, contribuindo para a criação de um novo tipo de rima. É importante men cionar ainda um aspecto do Confucionis mo que fascina os intelectuais portugue ses em Macau: o entendimento de que esta “religião” existia como uma “escola de intelectuais” (儒家) (rujia). De facto, os textos atribuídos a Confúcio reflectem sobre justiça, valores humanos, ética, e a importância dos rituais para uma so ciedade harmoniosa. Não é surpresa que o admirador destas obras - sendo poeta, advogado e filósofo, e vivendo numa épo ca de caos político (o derrube da dinastia Manchu e a proclamação da República em 1912) - tenha tido em alta estima os valores confucionistas e taoístas de paz e harmonia. Os textos de Confúcio tam bém atribuíam um significado imenso à poesia e à música. Os músicos, tocando em grupo, constituiriam uma das várias metáforas utilizadas para uma sociedade harmoniosa.

Seguindo esta mesma linha de racio cínio, a poesia e a arte assumiram impor tância filosófica para os coleccionadores portugueses que tentavam compreender e absorver os valores chineses. A poesia teve uma relação particularmente dura doura com a música na China, já que as duas primeiras antologias de poesia na literatura chinesa, o “Livro das Odes” ( 詩經 Shijing) e as “Canções de Chu” ( 楚辭 Chu Ci), eram ambas colecções de canções, a primeira de origem secular e a segunda litúrgica (derivando o seu imagi nário do ritual xamânico). Mesmo depois da dinastia Han (202 a.C. - 220 d.C.), quando a poesia adquiriu uma certa au tonomia, a tradição dos cânticos popula res (樂府 yue-fu) nunca foi interrompida.

Todas as formas de poesia compostas por escritores, independentemente do estilo, eram entoadas. Quando pelos finais da dinastia Tang, por volta do século IX, o florescimento da poesia rimada (辭 ci) trouxe de novo a simbiose entre a poesia e a música.

Contudo, se por um lado, Pessa nha é famoso pela sua escrita poética e criativa, a sua contribuição como co leccionador de arte e sinólogo tem sido frequentemente ignorada. Um estudo de alguns dos objectos da sua colecção de arte privada visa esclarecer a história dos artefactos que integram o património cultural da Ásia Oriental, alojado pelo Museu Nacional de Machado de Castro em Coimbra e pelo Museu do Oriente em Lisboa. A carreira de Pessanha como ad vogado e professor de filosofia em Macau colidiu com a sua propensão para a soli dão e a auto-absorção, tornando-se um recluso excêntrico à maneira chinesa e um alvo de crítica para muitos dos seus pares na administração portuguesa de Macau. Como poeta português, nota-se a sua voz única, comparável à dos literatos chineses, pela sua projecção de tristeza, nostalgia, humanidade e vulnerabilidade

Como poeta português, nota-se a sua voz única, comparável à dos literatos chineses, pela sua projecção de tristeza, nostalgia, humanidade e vulnerabilidade pessoal nos seus textos, de forma semelhante às quadras chinesas “Jueju”

pessoal nos seus textos, de forma seme lhante às quadras chinesas “Jueju” (絕 句). Como é que o seu interesse poético se relaciona com as obras de arte que reuniu em Macau? Neste artigo, analisa remos a forma como Pessanha, em acto de identificação biográfica, selecciona o seguinte quadro intitulado “ Flores de Pêssego na Primavera”, que exibe um poema de uma das personalidades mais proeminentes da literatura chinesa, Tao Yuanming (陶渊明) (365- 427), também conhecido por Tao Qian).

Esta obra de arte retrata a aventura de um simples pescador que acidentalmente entra num vale de pessegueiros separado do mundo terreno. Os seus habitantes vi vem numa espécie de paraíso. De acordo com a narrativa, os aldeões explicam que os seus ascendentes se refugiaram neste lugar idílico durante as convulsões civis da dinastia Qin (221-206 a.C.)2 e, desde então, não haviam tido qualquer contac to com ninguém de fora do seu refúgio ou tomado conhecimento dos governos posteriores3. O autor é o famoso poeta chinês Tao Yuanming, que permaneceu para sempre como arquétipo do estudio so cujos talentos nunca foram bem em pregues na administração governamen tal. Os seus versos reflectem o mal-estar e a ansiedade que assolava a sociedade chinesa na altura, já que viveu durante as Seis Dinastias (304-439), quando o norte da China estava ocupado por líde res estrangeiros e o sul da China, onde Tao viveu, assistia a uma sucessão de di nastias, fracas e breves, com a sua capi tal em Jiankang (hoje Nanjing); e ilustra

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RESSONÂNCIAS ENTRE TAO YUANMING

como fuga utópica

YUANMING E CAMILO PESSANHA

o lamento pela rápida extinção de restos materiais da história e da cultura. A vida de Tao inspirou muitas obras literárias e ilustrações, e o período das Seis Dinas tias foi um período vital na história da poesia chinesa, pois o poema original é sobre o ideal de encontrar um mundo perfeito onde as pessoas vivam em har monia com a natureza.

Segundo Jacques Pimpaneau (2004, 274-297), Tao vem de uma família de li teratos, tendo prosseguido uma carreira como funcionário público. O seu bisavô, Tao Kan, ocupou o cargo de ministro. O avô materno, o avô paterno, e o seu pai foram todos governadores locais. A sua família, porém, não era uma das mais in fluentes na aristocracia da época, o que talvez explique porque não teve uma car reira realmente próspera. Tao Yuanming era apenas um empregado subalterno, e a sua ocupação começou tarde, em 393, com um cargo menor na prefeitura de Jiangzhou (agora Jiujiang). Em 400, ocu pou um cargo auxiliar com Huan Xuan ( 桓玄) (369 -404), um general que derru bou o Imperador Jin Andì (晉安帝) (382419) em 403. Tao regressou à sua carreira após o luto pela morte da sua mãe em 404-405, servindo de elogio a Liu Yu (劉 裕) (363-422). O seu último cargo foi o

de responsável pela cidade de Pengze, por um período de oitenta dias, em 406. Depois retirou-se definitivamente. A sua residência foi queimada, o que o obrigou a regressar à sua aldeia natal. A sua vida no país não foi a de um ascético; mante ve várias relações amistosas com indiví duos com quem costumava beber vinho, tornando-se assim famoso pela sua série de vinte poemas que celebravam os pra zeres da bebida alcoólica.

Tao simpatizou com a pobreza e a fome dos camponeses e era bem formado nos clássicos do confucionismo e do taoísmo. Mais tarde na vida, poderá ter feito ami zade com uma figura budista local, muito antes do budismo ser significativo na Chi na. Há uma lenda sobre um encontro en tre o monge Huiyuan (慧遠) (334 - 416,), Tao Yuanming, e Lu Xiujing (陸修靜; 406477), que se tornou um conto popular. Tal vez esta lenda tenha sido criada porque o sacerdote Huiyuan é considerado como o primeiro patriarca do “Budismo da Terra Pura” chinês, segundo o qual ao espíri to de cada um poderia ser oferecida uma morada feliz no Paraíso Ocidental após a morte. Do mesmo modo, o céu ocupa uma ideia central na obra literária de Tao, mes mo que a intenção velada seja dar voz a um período de transição e de reclusão.

Estes poemas idílicos falam metafori camente da retirada das funções burocrá ticas. Cédric Laurent explica que o tema criado por Tao interessa uma grande par te dos literati de Jiangnan (região sul em torno de três centros Suzhou, Nanjing

Chen Zhenji; China, dinastia Qing, reinado de Daoguang (1821-1850); pintura com tinta policromada chinesa em rolo de seda; 65,5 x 98 cm, com o selo de Camilo Pessanha; moldura fabricada em Macau. Museu Na cional de Machado de Castro, Coimbra, Por tugal, colecção do Camilo Pessanha (1º do nativo, nº 16). Representação de uma cena após o famoso poema “Flores de Pêssego na Primavera”, de Tao Yuanming.

e Hangzhou), incluindo comerciantes e empregados instruídos. Tao tornou -se num exemplo de quem que resiste em vez de cumprir as exigências de uma administração corrupta ou de quem ar riscava envolver-se em disputas entre eunucos e literati na corte. Portanto, o re nascimento das pinturas que ilustram da história de Tao está relacionado com os movimentos de protesto entre as classes de elite, expressos tanto a nível literário como filosófico.

Escrevendo no século V, o gosto de Tao pela natureza aumentou, após a sua desilusão com a vida pública, du rante o período de invasão da China por clãs alienígenas do norte e a divi são, pela dissensão civil e corrupção política, do governo do sul. Coinci dentemente, na viragem do século XIX para o século XX, Pessanha utilizou a filosofia chinesa e refugiou-se na soli dão, transcrevendo nos seus poemas a sua euforia pela natureza durante os anos de turbulência política que prece deram a proclamação da República na China. O ideal de um homem transpor tado de um mundo mundano para um reino raro de beleza e tranquilidade re flecte uma utopia comum na mente de ambos os poetas.

Tal como no poema de Tao, a presen ça do motivo “Paraísos Artificiais” é evi dente na poesia de Camilo Pessanha. Em vez de um lugar, este “paraíso” está mais próximo de um estado de espírito, com parável às tradições budista e hinduísta. O tema do paraíso na sua voz poética liga-se aos temas da retirada e do nirva na, ligando o seu sentimento individual de insatisfação com o mundo existente, considerado uma causa de sofrimento. Por exemplo, a melancolia contida nos versos de “Clepsydra” - aparentemente reminiscente do pessimismo de Arthur Schopenhauer6 - parece reflectir uma cria ção artística que permite ao leitor aceder a imagens internas vistas por alguém du rante uma profunda auto-reflexão. Aqui está um poema que sugere saudades de casa, um tema constante na tradição poética chinesa. Nos versos transcritos, Pessanha concentra-se na descrição de uma paisagem da Primavera, transmi tindo assim os seus sentimentos de sau dade da estação que infelizmente se foi. Trata-se de uma técnica frequentemente utilizada pelos poetas chineses. Em vez de falar directamente sobre sentimentos pessoais, o poeta chinês prefere personi ficar a natureza, ou, alternativamente, in teriorizar o cosmos natural, transforman do cada palavra num código carregado de significado metafórico ou simbólico. Devido à influência dos poemas chineses que Pessanha lia enquanto habitava em Macau, tinha uma visão intelectual pou

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co ortodoxa da métrica e da composi ção, se comparada com outros poetas portugueses, quando escrevia sobre o sofrimento e a ilusão inerentes ao pro cesso de vida:

Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!...

Quando voltei encontrei os meus passos Ainda frescos sobre a húmida areia, A fugitiva hora reevoquei-a, Tão rediviva!, nos meus olhos baços...

De facto, os olhos são uma imagem recorrente em “Clepsydra”. Em vez de contemplarem qualquer imagem fixa, estão centrados na ideia budista de impermanência (“Anitya”) (“A hora fugaz”, escreve Pessanha). De acordo com a tradição Mahayana, a fé budista seria adaptada na China da forma mais apropriada para expandir a religião. Por exemplo, o monge Hui Yuan usa a filosofia taoista para explicar as con cepções budistas esotéricas. Digno de nota que um dos termos chineses para “budismo” (像教 “xiang jiao”) traduz -se literalmente como “Doutrina das Imagens”. Como sinólogo e escritor de estética e literatura, Pessanha estava ciente de que o caracter para “imagem” em Chinês像 (xiang) é composto pelo radical ‘人’ para “pessoa” e o composto fonético ‘象’ para “elefante” ou “apa rência”, implicando que a imagem se torna uma figura ou pintura perceptível através do raciocínio subjectivo indivi dual. Além disso, o livro considerado o mais importante sobre a estética literá ria chinesa, “Literatura e Escultura do Coração do Dragão” (文心雕龍, Wen Xin Diao Long), escrito por Liu Xie cer ca de 500, define “imagem” (像) como uma ideia abstracta internalizada pelo poeta através da forma artística.

Não obstante, a história do pen samento chinês não foi a única fonte de inspiração para Pessanha. Os críti cos literários assumiram que o termo “Clepsydra”, título do seu único livro de poemas, teve provavelmente ori gem no versículo de Charles Baudelai re (1821-1867) “O abismo tem sempre sede; a clepsidra esvazia-se”. No entan to, vale a pena mencionar que o leitmo tiv do relógio de água é também comum à poesia clássica chinesa - e o próprio Baudelaire poderia ter reutilizado este termo devido ao seu interesse oriental.

Na verdade, o movimento Simbolis ta, iniciado em França e influenciado por estes novos valores originários do Oriente, reagiu contra o Naturalismo e o Realismo em favor da espiritualidade, imaginação e devaneios. A relação de Pessanha com o movimento Simbolista poderia doravante explicar a presença de um motivo oriental na sua poesia, mesmo antes de ter deixado Portugal para a China em 1893. De facto, os

poemas publicados na primeira edi ção de “Clepsydra” são todos anterio res à sua estadia em Macau, embora os seus restantes manuscritos sugiram que ele possa ter reescrito grande parte da sua poesia depois de se ter mudado para esta colónia portuguesa na Ásia, onde o tema do relógio de água pode ter adquirido mais corpo sob a influên cia chinesa. À semelhança dos poetas

Nas rimas de Pessanha, a natureza assume o mesmo uso que no tropo pictórico da ilustração do poema de Tao. A renúncia ascética poderia ser transmitida em imagens de dissolução através da articulação da dor pelo estado distópico do mundo humano

chineses, os escritores europeus men cionados consideram a Natureza não apenas como um fenómeno físico, com qualidades sensualmente agradáveis, mas também como uma alma anima da, que está em íntima correspondên cia com a própria vida.

Consequentemente, se Pessanha já estava a receber a inspiração de ou tros poetas do seu continente europeu, estes mesmos poetas tinham de facto aprendido com a filosofia asiática as qualidades estéticas que traduziram nos seus textos. É importante recordar a influência que Emanuel Sweden borg (1688-1772) exerceu na poesia simbolista. Não só Baudelaire, mas

também Thomas Carlyle, Ralph Wal do Emerson, Balzac, Helen Keller e, mais recentemente, Jorge Luís Borges, fazem eco das suas obras. A doutrina de Swedenborg, baseada no conceito bíblico de que “Deus criou o homem à sua própria imagem” (Génesis 1:27), é explicada em pormenor no seu livro “Arcana Cœlestia”, escrito entre 1746 e 1747. Ele chama “correspondência” à relação entre aspectos do domínio material e do domínio espiritual. Tudo no mundo material teria a sua contra parte na esfera espiritual. As ideias da Swedenborg são semelhantes a alguns preceitos cristãos esotéricos, budistas e védicos. O escritor pioneiro a usar esta ideia de “correspondência” na poesia foi, de facto, Baudelaire, que, num dos poemas mais influentes da literatura moderna, afirma que “som, cor e vi sões respondem uns aos outros”, o que significa que estas três modalidades sensoriais provêm da mesma intuição. Ele menciona ainda uma fuga para um mundo distante, de natureza exótica e de paraísos artificiais. Evoca a realiza ção que se faz durante certos estados de espírito em que se misturam as per cepções sensoriais.

Na pintura chinesa, a paisagem ad quire um estatuto especial, considerado a forma suprema da pintura. Por esta razão, a ilustração “ Flor de Pêssego na Primavera” retrata várias montanhas, uma vez que as terras altas são vistas como um lugar sagrado pela sua proxi midade do céu, lar dos imortais, sendo assim um tema de excelência nas pintu ras chinesas. Em conclusão, o interesse filosófico na doutrina taoista sobre a natureza contribuiu para transformar a paisagem numa fonte de valores espiri tuais, algo que tanto Tao como Pessa nha absorvem e reutilizam na sua poe sia simbolista. Nas rimas de Pessanha, a natureza assume o mesmo uso que no tropo pictórico da ilustração do poema de Tao. A renúncia ascética poderia ser transmitida em imagens de dissolução através da articulação da dor pelo esta do distópico do mundo humano.

Notas

1. Num discurso proferido na cerimónia de ho menagem a Camilo Pessanha, a 1 de Março de 1999, no cemitério onde se encontra o poeta.

2. Revolta de Dazexiang (Julho - Dezembro 209 AC) e Insurreição de Liu Bang (206 AC).

3. Esta cena também aparece no Palácio de Verão de Pequim e na pintura em forma de leque do pintor chinês Ding Yunpeng em 1582, a dinas tia Ming.

4. PIMPANEAU, Jacques. “L’œuvre de Tao Yuan ming (Tao Qian, 365-427)”, in “Anthologie de la littérature chinoise classique”, Arles, Éditions Philippe Picquier, 2004, pp. 274-297.

5. ZHANG, Yinde. “Histoire de la littérature chi noise”, Paris, Ellipses, coll. “Littérature des cinq continents”, 2004, p. 23.

6. Pode-se também descobrir tangências entre a concepção de arte de Shoppenhauer e as ideias que Pessanha expressou sobre a natureza e a função da arte. Ambas conceberam a arte como uma renúncia ao desejo e ao gozo dos sentidos.

VIA do MEIO 10 27.10.2022quinta-feira
ou

TAIWAN PEQUIM DIZ QUE REUNIFICAÇÃO ESTÁ MAIS PERTO DO QUE NUNCA

AChina “está mais perto do que nun ca” de alcançar a “reuni ficação total” com Tai wan, afirmaram ontem as autoridades chinesas, dias após o líder Xi Jinping ter obtido um terceiro mandato de cinco anos.

“Estamos mais per to do que nunca na nossa História e mais confiantes e capazes de que vamos alcançar o rejuvenescimento na cional e a reunificação completa da pátria”, enfatizou o porta-voz

do Escritório para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, Ma Xiaoguang, em Pequim, em respos ta a perguntas sobre as palavras de Xi sobre Taiwan, na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista Chi nês (PCC). “As rodas da História estão a mover-se em direcção à reunificação da China”, disse Xi, que garantiu que a reunificação “vai ser concretizada”.

O PCC elegeu, este fim de semana, a nova

composição do Comi té Central e do Comité Permanente do Poli tburo, mantendo Xi como secretário-geral da organização.

O actual líder da China emergiu du rante a sua primeira década no poder como um dos líderes mais fortes na História moderna da China, quase comparável a Mao Zedong, o fun dador da República Popular, que liderou o país entre 1949 e 1976.

TECNOLOGIA INSTITUTO BRASILEIRO E UNIVERSIDADE DE TAIWAN ESTUDAM 6G

AUniversidade Nacional Yang

Ming Chiao Tuang (NYCU), de Taiwan, anunciou a assinatura de um acordo com o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) do Brasil para desenvolver tecnologia móvel de sexta geração (6G).

Num comunicado divulgado na terça-feira, a NYCU revelou que o acordo pretende apostar no desenvolvimento de tecnologia em ‘open source’, ou código aberto, que qualquer pessoa poderia usar e modificar.

A cooperação com o Inatel vai envolver um grupo de cerca de 20 investigadores da NYCU, que irá também analisar o possível im pacto do 6G em questões éticas e no desenvolvimento da sociedade.

As redes 6G vão ser “importan tes” para suportar novos tipos de comunicação, nomeadamente pelo tacto ou por holograma, Internet para a indústria 5.0, a Internet dos objectos e comunicações entre

veículos autónomos, disse em 2021 Manuel Ricardo, coordenador do cluster de redes de sistemas inte ligentes do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tec nologia e Ciência.

A 12 de Outubro, a fabricante de telecomunicações finlandesa Nokia anunciou que irá liderar a segunda fase do projecto europeu Hexa-X, lançado em 2020 para impulsionar a liderança europeia no desenvolvimento do 6G.

Esta nova fase, denominada Heza-X-II e financiada novamente pela Comissão Europeia, tem como objectivo a criação de uma plata forma pré-padronizada que sirva de base para o futuro ‘standard’ da tecnologia 6G.

O NYCU sublinha que o acordo com o Inatel, sediado em Santa Rita do Sapucaí, no sul do estado de Minas Gerais, é fruto de uma iniciativa do Ministério dos Ne gócios Estrangeiros de Taiwan.

É fácil e dá para milhões

Anova inoculação está a ser administrada gratuitamente e pretende convencer os mais reticentes em serem vacinados, além de actuar também como dose de reforço

das gotículas, disse um especialista citado pela imprensa local. Gotículas maiores treinariam defe sas em partes da boca e da garganta, enquanto as menores penetrariam mais no corpo, descreveu.

Os reguladores chi neses aprovaram a vaci na para uso como dose de reforço em Setembro.

A inoculação foi de senvolvida pela farma cêutica chinesa Cansino Biologics Inc., como uma versão em aerossol da vacina de dose única da mesma empresa, que usa um vírus relativa mente inofensivo.

Cigarros eletcrónicos Imposto de consumo entra em vigor a partir do mês de Novembro

A China cobrará um imposto de consumo sobre cigarros electrónicos a partir de dia 1 de Novembro, anunciou esta terça-feira o Ministério das Finanças do país. A taxa de imposto para a produção e importação de cigarros electrónicos é fixada em 36 por cento, enquanto para o comércio por atacado é de

11 por cento, informou o ministério em comunicado divulgado em conjunto com a Administração Geral das Alfândegas e a Administração Geral de Impostos. A medida visa melhorar o sistema de impostos sobre o consumo e aumentar o incentivo ao con sumo saudável, de acordo com o comunicado. Para for

talecer a supervisão sobre os cigarros electrónicos, a China emitiu um regulamento para o sector no início deste ano, que impôs uma gestão de licenças para entidades de produção, por atacado e de retalho, e proibiu a instala ção de pontos de venda de cigarros electrónicos perto das escolas.

Acidade chinesa de Xangai co meçou ontem a administrar uma vacina inalável contra a covid-19, no que parece ser a primeira inoculação deste género no mundo.

A vacina, que é ina lada pela boca, está a ser oferecida gratuitamente como dose de reforço para pessoas previamen te vacinadas, de acordo com um anúncio publi cado ontem por uma con ta oficial do município nas redes sociais.

Esta inoculação visa persuadir quem está re

ticente em ser vacinado e a expandir a vacinação em países pobres, já que é mais fácil de administrar.

A vacinação contra a covid-19 não é obri gatória na China, mas o país pretende aumentar o rácio da população que recebeu doses de reforço, antes de relaxar as medidas de prevenção epidémica. O país man tém uma estratégia de tolerância zero à doença.

Depressa e bem

Um vídeo difundido pela imprensa estatal chinesa mostra pessoas num cen tro de saúde comunitário

a colocar a ponta de um recipiente translúcido na boca. O texto que acom panha as imagens indica que, após inalar lentamen te, a pessoa deve prender a respiração por cinco segundos. No total, o procedimento demora 20 segundos a ser concluído.

“Foi como beber um copo de chá com leite”, disse um morador de Xangai no vídeo.

Uma vacina tomada pela via respiratória tam bém pode afastar o vírus antes que ele atinja o resto do sistema respiratório, embora isso dependa em parte do tamanho

A Cansino disse que a vacina inalada com pletou testes clínicos na China, Hungria, Paquis tão, Malásia, Argentina e México.

Reguladores na Ín dia aprovaram uma vacina nasal, outra abor dagem sem agulha, mas que ainda não está a ser usada. A vacina, desen volvida nos Estados Unidos e licenciada para a fabricante indiana de vacinas Bharat Biotech, é esguichada no nariz.

Cerca de uma dúzia de vacinas nasais estão a ser testadas globalmente, de acordo com a Organiza ção Mundial da Saúde.

china 11quinta-feira 27.10.2022 www.hojemacau.com.mo COVID-19 LANÇADA VACINA POR VIA RESPIRATÓRIA
A vacina, que é inalada pela boca, está a ser oferecida
gratuitamente como dose de reforço para pessoas previamente vacinadas

Viva a festa

São poucos, mas bons. A Lusofonia arranca com um programa limitado, mas que promete durante os três dias de espectáculo animar a Taipa com ritmos brasileiros, cabo-verdianos, portugueses, macaenses, moçambicanos e chineses

COM a 25.ª edição do Festival da Lusofo nia este fim-de-se mana arranca tam bém a 4.ª edição do Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portugue sa, com um programa muito limitado, devido às restri ções da covid-19. Como tradicionalmente acontece, a abertura do evento que celebra a Lusofonia está agendada para sexta-feira, pelas 19h00, no Anfiteatro das Casas da Taipa.

Além da cerimónia de abertura oficial, na sexta -feira, até às 22h, há também lugar no Largo do Carmo para a música ligeira, com a actuação de artistas como Fabrizio Croce, Núcleo de Cantares do GDCM, Rita e os Sons da Lusofonia, Gabriel, Jandira Silva, Betchy Barros, Banda Inova, Grupo de Fado e Música Popular Portuguesa.

Ao mesmo tempo, no Anfiteatro das Casas da Tai pa, os interessados podem assistir às actuações de Elvis de Macau, Coro do Grupo Dóci Papiaçam di Macau, Concrete Lotus e ainda a Banda 80&Tal, com um tri buto aos Resistência. Neste “palco” as actuações também têm fim marcado para as 22h.

No segundo dia da Lu sofonia, a animação começa à hora do almoço, com a abertura das barracas para os comes e bebes agendada para o meio-dia.

A música só arranca mais tarde, por volta das 16h30,

no Anfiteatro das Casas da Taipa. A primeira actuação é das Crianças do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, seguida pelo Grupo Folclórico Infantil da Escola Portuguesa de Macau. A ses são para os mais novos não se fica por aqui, e os alunos da Escola Portuguesa de Ma cau vão levar ainda ao palco o espectáculo “Nos Castelos de D. Afonso Henriques”.

Samba e Capoeira

Terminado o tempo para os mais novos, entra em acção no Anfiteatro das Casas da Taipa o Grupo

No último dia da Lusofonia, o Largo do Carmo recebe as actuações de Jandira Silva, Grupo de Fado e Música Popular Portuguesa, Fabrizio Croce, Betchy Barros, Banda Jammed, Concrete/Lotus, Banda Inova e a Banda 80&Tal

Axé Capoeira do Mestre Eddy Murphy. À sessão de capoeira, segue-se a música e dança cabo-verdiana com o Grupo Striblin, para de pois se passarem aos ritmos moçambicanos do grupo Pérolas do Índico.

Com os sons africanos a animarem a tarde, o An fiteatro das Casas da Taipa vai ainda receber até às 22h as actuações da Associação de Danças e Cantares Portu gueses ‘Macau no Coração’, do Grupo de Percussão An Zhishun de Shenzhen, da Banda Jammed, Gabriel & Friends, Banda 100 por cento, Banda Cabo Verde, Betchy Barros e Jandira Silva.

Já no Largo do Carmo, a partir das 19h30, volta a estar em destaque a música ligeira com actuações de Rita e os Sons da Lusofonia, Fabri zio Croce, Concrete Lotus, Banda 80&Tal, Núcleo de

Cantares do GDCM, Gabriel e Banda Inova.

Ainda no sábado, nas Casas da Taipa, entre as 19h30 e as 20h30, decorre o Desfile da Escola de Samba 1.ª de Macau.

Tuna Macaense

No domingo, último dia da Lusofonia, o programa não varia muito. No palco do Anfiteatro das Casas da Taipa, o dia começa às 16h30, com o espaço para os mais novos, com a actuação da Banda da Escola Oficial Zheng Guanying. Ainda nesse dia vão actuar Santo Prince Dance Group, Grupo Dança Brasil, Grupo de Danças e Cantares de Macau, Grupo de Percus são An Zhishun de Shenzhen, Banda Pop Riff, na primeira actuação no festival, Banda Js & I, Banda The Bridge, Rita e os Sons da Lusofonia e a Tuna Macaense e Germano.

Quem tiver perdido no dia anterior o Desfile da Es cola de Samba 1.ª de Macau tem um momento de reden ção no domingo, com mais uma actuação agendada para as 19h30.

Ainda ao longo do último dia da Lusofonia, o Largo do Carmo recebe as actuações de Jandira Silva, Grupo de Fado e Música Popular Portuguesa, Fabrizio Croce, Betchy Bar ros, Banda Jammed, Concrete/ Lotus, Banda Inova e a Banda 80&Tal. João Santos Filipe

ICM ICM ICM ICM ICM 12 eventos 27.10.2022 quinta-feirawww.hojemacau.com.mo LUSOFONIA E FESTIVAL DE ARTES E CULTURA ENTRE A CHINA E OS PLP ARRANCAM SEXTA-FEIRA

Vinho Sessões de prova ensinam a beber com estilo

Para os amantes de um bom vinho, a Lusofonia oferece também a oportunidade de par ticipar em sessões de prova de vinhos portugueses. As provas estão agendadas para sábado e domingo às 15h, 15h30, 16h, 16h30 e ainda às 17h. O evento decorre na Casa de Nostalgia das Casas da Taipa e está a cargo de Oscar Ho, professor do curso de vinho do Instituto de Formação Turística. Segundo a organização, os participantes vão poder provar “seis vinhos portugueses de estilos distintos” e aprender “técnicas básicas de prova” e as principais regiões produtoras e castas existentes em Portugal.

Casas da Taipa Cinema brasileiro ao ar livre

Antes dos concertos arranca rem no sábado, vai ser exibido no Anfiteatro das Casas da Taipa o filme de animação brasileiro O Menino e o Mundo. Realizado em 2013, por Alê Abreu, o filme conta-nos a história de um menino órfão que imigra para uma grande cidade, na esperança de encontrar um emprego. Contudo, o cenário com que se depara está longe do imaginado, ao encontrar um cenário de pobreza, exploração laboral e de desespero. A pelí cula foi uma das candidatas aos Óscares, na categoria de melhor animação, em 2016. Acabou por não ser o filme distinguido com o prémio que foi atribuído `películaInside Out.

Literatura Exposição de livros

ilustrados

A partir de sábado, no Auditório do Carmo, na Taipa, os interes sados podem também assistir à Exposição de Livros Ilustrados em Chinês e Português que vai decorrer entre 28 de Outubro e 2 de Novembro. Já na Galeria de Exposições das Casas da Taipa, vão decorrer no sábado e domingo, entre as 14h30 e as 18h30, workshops sobre ilustração com os temas “Minha Escola”, “Jardim Zoológico” e “Património Cultural Imaterial de Pinturas Infantis”. No do mingo, pelas 11h30, haverá ainda uma sessão para ensinar as crianças a desenhar, que terá como orientadora Tong Mui Siu.

HOJE TERAPIA

Rouquidão

Diversas plantas medicinais podem ser úteis para o tratamento da rou quidão, sendo de destacar as plantas anti-inflamatórias, adstringentes e emolientes. As plantas anti-inflama tórias reduzem a reacção inflamató ria; as plantas adstringentes contraem os tecidos e, quando estes se encon tram inflamados, secam-nos e endu recem-nos formando uma camada protetora, até que sejam regenerados e substituídos por tecidos sãos – esta camada protectora também impede a actuação dos microrganismos; por fim, as plantas emolientes exercem um efeito suavizante e calmante so bre os tecidos irritados ou in flamados, ao formar uma camada protectora que promove a retenção de humidade, hidratando e amolecendo os tecidos. É igualmente de referir a importância de se estabelecer a cau sa desta afecção para que possa ser devidamente tratada. Vamos conhecer Hoje algumas destas plantas: Agrimónia (Erva-dos-gregos, Erva -hepática, Eupatória, Eupatório -dos-gregos), Agrimonia eupatoria, flores e folhas : Remédio conhecido desde a Antiguidade, foi recomenda do por Dioscórides, e outros médi cos e botânicos gregos, e mais tarde por Avicena, famoso médico árabe medieval. A planta foi baptizada por Mitrídates Eupator (132-63 a.C.), médico e rei do Ponto, que a utilizou amplamente e lhe deu o seu apelido: eupatória . Trata-se de uma herbácea, com caules erectos e flores amarelas dispostas em ramalhetes terminais; os frutos possuem uns “ganchinhos” que aderem à roupa de quem passa e ao pêlo dos animais, favorecendo a dispersão das suas sementes. Nati va da Europa, encontra-se nas sebes, margens de bosques e ribanceiras, onde cresce até 60 cm de altura. Com actividade adstringente e anti-infla matória sobre as mucosas, combate a inflamação e a irritação, suaviza a garganta e aclara a voz. A infusão ou decocção, aplicada em bochechos e gargarejos, é indicada para o trata mento de úlceras da boca, faringites agudas e crónicas, amigdalites, larin gites e afonia, sendo igualmente be néfica para os profissionais da voz.

(PARTE I)

Petasite (Petasite-híbrida), Peta sites hybridus, folhas e rizomas : Originária das regiões frias e tem peradas da Europa, a Petasite cresce nos locais húmidos e margens de cor rentes de água. Planta curiosa, possui um rizoma a partir do qual nascem, no início da Primavera, umas hastes floríferas com capítulos de flores ro sadas ou violáceas; só posteriormente surgem as folhas, grandes, as maiores do reino vegetal europeu, providas de um longo pecíolo. O seu uso me dicinal remonta à Antiguidade, tendo sido mencionada por Dioscórides e, mais tarde, por Laguna. Exerce uma acção emoliente, anti-inflamatória, expectorante, antiespasmódica e su dorífica, sendo benéfica para o trata mento de laringite, afonia e traqueíte; é também usada em caso de catarro brônquico, gripe, asma, bronquite e broncopneumonia. Pode ser tomada em infusão.

Pulmonária (Erva-dos-bofes, Erva -leiteira-de-Nossa-Senhora, Salsa -de-Jerusalém), Pulmonaria offici nalis, partes aéreas floridas: Pequena herbácea com folhas salpicadas de pin tas brancas e bonitas flores cor-de-rosa e violeta agrupadas em cachos na ex tremidade de um caule peludo, a Pul monária pode alcançar 30 cm de altura. Nativa da Europa, habita bosques cla ros e húmidos. Segundo a Teoria das Assinaturas de Paracelso, famoso al quimista suíço do século XVI, segundo a qual o aspecto de uma planta indicava a afecção que a mesma tratava, a Pul monária era eficaz para tratar as afec ções pulmonares, pois as suas folhas assemelhavam-se ao tecido pulmonar doente com nódulos tuberculosos. Tem propriedades emolientes, adstringen tes, expectorantes, anti-inflamatórias e sudoríficas que a tornam útil para o tra tamento da irritação da garganta, tosse seca ou irritativa, rouquidão, afonia e catarro brônquico; em caso de tuber culose pulmonar, pode ser usada como adjuvante do tratamento medicamento so, sempre sob vigilância de um pro fissional. Esta é uma planta muito útil para combater os efeitos negativos do tabaco sobre as vias respiratórias. Pode ser tomada em decocção e/ou aplicada em gargarejos.

ADVERTÊNCIAS: Este artigo tem como objectivo apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto -prescrição. Além disso, algumas plantas têm contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos.

eventos 13quinta-feira 27.10.2022 www.hojemacau.com.mo

Com “The Closer”, o comediante Dave Chappelle concluiu os es pectáculos de comédia que tinha acordado gravar para a Netflix. Alvo de vários ataques da comu nidade LGBTQ nos últimos anos, devido ao conteúdo das piadas, em “The Closer”, Chappelle traz para o palco momentos sérios de reflexão e arrasa a hipocrisia da cultura de cancelamento. O espectáculo é diferente dos anteriores, com me nos momentos engraçados, mas é justificativo e muito mais provo cante. Não é por acaso, Chappelle logo no início antevê que vai ser cancelado... E dias depois da estreia na Nextflix, vários empregados transgénero da empresa vieram para a rua pedir o cancelamento.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo

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OUTROS ALBERGUES

QUEM AINDA persiste nessa Cidade do Nome de Deus foi talvez em busca de um Oriente metafísico ou, mais prosaicamente, dessa outra luz que é o ouro das patacas. A cada qual seu oriente, e talvez não haja melhor oriente do que esse “Oriente ao oriente do Oriente” de que falava Álvaro de Campos, e que não é mais do que o próprio Ocidente. Afinal, o único oriente que fica depois do Oriente, feita a volta, só pode ser o Ocidente, enfim reencontrado.

Vem isto a propósito de um recente livro de poesia (Tomás Sottomayor, Auberge Ravoux. Lisboa: Língua Morta, 2021) publicado em Portugal, que merece ser saudado por apontar para um mundo e para matrizes radicalmente diferentes dos que hoje se acham na jovem poesia portuguesa. Não se aproxima dos temas luso-orientais que nos têm ocupado, mas o seu autor lembra-nos aqueles que como Pessoa, começaram por um orientalismo esoterizante (ou um esoterismo orientalista) e que se foram transferindo para as tradições do esoterismo e do hermetismo europeu (Hermetismo, Cabala, Alquimia, Rosacrucianismo), o que de alguma forma este livro também dá conta (não dessa passagem, mas apenas da segunda parte). Haverá sempre aqueles que preferem o Oriente ele mesmo, mas talvez os mais interessantes de todos sejam aqueles que desde logo encontram no Ocidente o seu Oriente.

Nos seus melhores momentos, como nos poemas em prosa dispersos pelo livro, Sottomayor consegue um tom próprio, com uma forte coesão de imagens: “Lentamente aflora um girassol no ventre./ Bebe a chama

das raízes e consuma/ a alquimia com o rosto de criança./ Respira, e assim o laço está feito./ O nó foi consagrado sem olhos./ Já não pode evolar” (p. 10). O veio aqui ferido é a lírica “espiritual” europeia, partindo de exemplos de Camões e mesmo da tradição trovadoresca em seus enlaces com a poesia tradicional, com vista às exemplaridades simbólicas e religiosas do amor heterossexual.

No livro, isto depende diretamente de um vocabulário em caixa alta, como em Ângelo de Lima e nos modernistas portugueses, que serve não só para explorar o simbolismo metafísico -religioso de linhagem rilkeana (Criança, Anjo, Fonte, Sopro, Céu), mas também visando uma linguagem conceptual ou para-filosófica que

redunda num excesso de substantivos abstra tos (Perenidade, Corporalidade, Virtualidade, Infinito). É contudo este último um registo demasiado pesado para o seu próprio discurso lírico, e que o livro suporta mal. Por outro lado, o espiritual decai uma ou outra vez em moral, ou moralista, quando fala da suposta decadência espiritual do mundo contemporâneo: a escra vidão do homem de hoje às coisas (p. 50-51), quando não há, nem nunca houve, homens sem coisas nem coisas sem homens. Onde está a decadência num mundo que sempre assim se nos apresentou? Entre um escaninho dum mestre flamengo e um iPhone que diferença real existirá?

É assim uma voz em construção, ainda não inteiramente solta das suas referências. São algumas vezes visíveis as costuras dos seus nós, como por exemplo no poema da p. 20, verdadeira reescrita de temas e material verbal de Hoelderlin. Mas o livro vai se adensando ao passar a leitura, movido por uma visão (e é da tradição da Poesia como Visão superior que se trata, p. 41) cósmica e amorosa, até mesmo órfica (p. 40), com momentos já plenamente conseguidos: “Do seio da noite arqueada/Ta citurno sorvo o leite negro/ De tudo o que se perdeu./Ajoelho-me sob o peso da tua mão/E aguardo o sinal para que a minha/Se mova sem hesitação/Para arquear um novo céu./Tenho um desejo insular/Por mundos invisíveis” (p. 39).

Um poema como este cifra uma situação que vem das cantigas de amor provençais: a sub missão encenada do homem-vate a uma mulher que é, sem deixar de ser carnal, uma instância essencialmente espiritual, que dá o signo ou o sinal ao seu amante para que perfaça a operação mental da poesia. É certamente fora do vulgar nos dias de hoje e coloca Tomás Sottomayor na esteira de uma tradição de que saberá colher frutos imprevistos, e de que é já fruto.

vozes 15quinta-feira 27.10.2022 www.hojemacau.com.mo
crónico oriente Duarte Drumond Braga
Haverá sempre aqueles que preferem o Oriente ele mesmo, mas talvez os mais interessantes de todos sejam aqueles que desde logo encontram no Ocidente o seu Oriente

PJ Preso por fotografar pés de esposa de agente

No dia 21 de Outubro, um homem foi detido por tirar fotografias aos pés de uma mulher, num supermercado, na Taipa. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o suspeito de 56 anos foi descoberto pelo marido da vítima, que é agente da Polícia Judiciária (PJ), e identificou imediatamente o alegado criminoso. Segundo o agente da PJ e marido da mulher de 26 anos, apercebeu-se da situação ao ver que o suspeito não parava de seguir a mulher e de tirar fotografias aos seus pés, pelo que decidiu agir. Por sua vez, após ser detido, o suspeito indicou ser engenheiro informático, e admitiu que tem o hábito de filmar ilegal mente as mulheres, principalmente os pés. Além disso, a investigação da PJ detectou 1.000 fotografias tiradas ilegalmente a pés de mu lheres, pelo que as autoridades acreditam que podem haver mais vítimas. O caso foi encaminhado ao Ministério Público.

Droga Homem detido por tráfico de ice

A Polícia Judiciária (PJ) deteve um vietnamita por vender droga na Areia Preta. Segundo o jornal Ou Mun, a PJ recebeu uma denúncia de que o suspeito vendia estupefacientes principalmente a toxicodependen tes. Por isso, foi enviada uma equipa à Areia Preta, que rapidamente encontrou o suspeito. Na operação, foram encontrados 18 pacotes de ice com um peso de 17,78 gramas e dois comprimidos e meio de mida zolam, bem como as ferramentas de embalagem e corte da droga. Além disso, as entidades detectaram que o suspeito, de 28 anos, estava em excesso de permanência, pelo que foi encaminhado para o Ministério Público e está indiciado pelos crimes de tráfico e consumo de droga.

Pé de meia encolhe

Areserva financeira de Macau perdeu valor pelo oitavo mês consecutivo, regis tando uma queda de quase 13 mil milhões de patacas em Agosto, indicam dados divulgados ontem pelas autorida des. Esta redução é explicada com as medidas de apoio à economia e o financiamento do Orçamento da RAEM, que, sem o recurso à reserva, seria deficitário.

A reversa financeira da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) cifrou-se em cerca de 580 mil milhões de patacas no final de Agosto, de acordo com a informação publicada no Boletim Oficial pela Autoridade Monetária de Macau.

É o valor mais baixo registado desde Maio de 2020, altura em que a China continental tinha imposto uma quarentena obrigatória a pes soas vindas de Macau, afectando a principal indústria da cidade, o jogo.

O valor da reserva extraordi nária no final de Agosto era de

414,8 mil milhões de patacas e a reserva básica, equivalente a 150 por cento do orçamento público de Macau para 2022, era de 185,1 mil milhões de patacas.

A Assembleia Legislativa apro vou em 21 de Julho um aumento do orçamento no valor de 35,1 mil milhões de patacas, utilizando verbas da reserva extraordinária para aplicar medidas de apoio financeiro.

A região, cuja economia depende do turismo, enfrentou em Junho e em Julho o pior surto de covid-19, com restrições a viajantes que só foram levantadas em 3 de Agosto.

Desde o início da pandemia, Macau registou seis mortos e 2.529 infectados (793 casos confirmados e 1.736 assintomáticos).

Domínio dos depósitos

A reserva financeira de Macau é maio ritariamente composta por depósitos e contas correntes no valor de 263,6 mil milhões de patacas, títulos de crédito no montante de 139,4 mil milhões de

patacas e até 168,4 mil milhões de pata cas em investimentos subcontratados.

Mesmo no cenário de crise econó mica criada pela pandemia, a reserva financeira de Macau tinha crescido em 2020 e 2021, apesar do Governo ter injectado mais de 90 mil milhões de patacas no orçamento para su portar despesas extraordinárias que resultaram de um plano de ajuda e benefícios fiscais para a população e para pequenas e médias empresas.

As autoridades da região conce deram já este ano mais de 1,9 mil milhões de euros à população, ao abrigo do plano de comparticipa ção pecuniária e do programa de “apoio pecuniário a trabalhadores, profissionais liberais e operadores de estabelecimentos comerciais”, aprovado em Julho.

O executivo irá ainda gastar 5,92 mil milhões de patacas para dar a cada residente oito mil patacas, montante que poderá ser usado para efectuar pagamentos, sobretudo no comércio local, a partir de 28 de Outubro.

Metro Concurso para construção da Linha do Leste

O Governo lançou ontem os concur sos para a concepção e construção dos dois segmentos, norte e sul, da Linha Leste do metro ligeiro, um projecto que deverá prolongar -se durante cerca de quatro anos. Os vencedores terão um prazo máximo de 1.500 dias, a partir da data da assinatura dos contratos, para completar a obra, segundo a DSOP. Os interessados têm até 15 de Fevereiro de 2023 para expor as propostas, tendo ainda de apresen tar uma caução entre 120 milhões e 130 milhões de patacas. Caso os prazos sejam cumpridos, a Linha Leste, com um comprimento total de 7,65 quilómetros e seis estações, todas subterrâneas, poderá estar concluída em 2027. A Linha Leste fará a ligação entre o norte da pe nínsula de Macau e a ilha da Taipa, ligando a principal fronteira com a China continental à zona que serve o aeroporto e o terminal marítimo em cerca de 15 minutos, através da zona

A dos novos aterros.

DSPA Comércio de químicos em sessão de esclarecimento

A Direcção dos Serviços de Protec ção Ambiental (DSPA) realizou on tem uma sessão de esclarecimento para profissionais de importação e exportação de produtos químicos industriais e mercadorias abrangi dos pela Convenção de Roterdão, de forma a transmitir conhecimentos sobre licenças para o comércio deste tipo de materiais. A DSPA criou uma página electrónica exclusiva, para consulta e descarregamento de documentação. A regulação dos produtos químicos abrangidos na convenção internacional mencio nada tem como objectivo reforçar a protecção da saúde humana e do meio ambiente. O Governo salienta que a DSPA é o órgão competente para emitir licenças de importação ou de exportação de mercadorias supracitadas. As medidas em causa entraram em vigor no passado dia 18 de Outubro.

quinta-feira 27.10.2022 “O pensamento é o ensaio da acção.’’ Sigmund FreudPALAVRA DO DIA PUB. ECONOMIA RESERVA FINANCEIRA PERDE 13 MIL MILHÕES EM AGOSTO
A reversa financeira da Região Administrativa Especial de Macau cifrou-se em cerca de 580 mil milhões de patacas no final de Agosto

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