Hoje Macau 27 FEV 2016 #3761

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

FUNDAÇÃO MACAU

FRONTEIRA

Milhões Pintor sempre fica à a crescer porta ÚLTIMA

PÁGINA 7

JASON

TCHAU...

Fortaleza Europa OPINIÃO RUI FLORES

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Ai o cinema, ai o cinema

PÁG. 5

RUI FILIPE TORRES

HOJE MACAU

hojemacau

Papel de imbróglio A lei não deixa dúvidas. Quem paga um serviço tem o direito de exigir o respectivo recibo. No entanto, os novos parquímetros, que estão a ser instalados nas ruas de Macau, continuam a sofrer do mes-

mo mal dos antigos: recibos nem vê-los. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego defende-se argumentando que assim se poupa no papel e melhor se defende o ambiente.

GRANDE PLANO

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PARQUÍMETROS NOVAS MÁQUINAS CONTINUAM A VIOLAR A LEI

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SEGUNDA-FEIRA 27 DE FEVEREIRO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3761

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


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Os parquímetros que estão a ser colocados nas ruas de Macau não dão recibo aos utentes. A situação não é nova – o Governo está a consentir que se prolongue um cenário ilegal. Os Serviços para os Assuntos de Tráfego alegam que se poupa papel. A lei é violada em nome do ambiente

TRÁFEGO PARQUÍMETROS DE MACAU INFRINGEM NORMAS DO CÓDIGO CIVIL

AS LEI E PARA O ´

ÃO parquímetros para mais de 11 mil lugares e têm de estar instalados até ao final de Abril do próximo ano. A empresa a quem foi concessionado o serviço de parquímetros está a substituir, de forma gradual, os equipamentos nas vias públicas mas, à semelhança do que acontecia já com as velhas máquinas, os novos dispositivos não dão recibo ao utente, em troco do dinheiro depositado. Para quem sabe de leis, está-se perante uma ilegalidade, que o Governo não nega. A Administração defende-se, porém, com preocupações ambientalistas: a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) diz que, com a inexistência de recibos, poupa-se papel. A lei é clara no que diz respeito aos direitos dos consumidores na aquisição de bens e serviços. O Artigo 776.º do Código Civil, que dispõe sobre o direito à quitação, diz que “quem cumpre a obrigação tem o direito de exigir quitação daquele a quem a prestação é feita, devendo a quitação constar de documento autêntico ou autenticado”. O mesmo artigo diz ainda que “o autor do cumprimento pode recusar prestação enquanto a quitação não for dada, assim como pode exigir a quitação depois do cumprimento”. Por outras palavras, um condutor poderá recusar-se a pagar se não tiver a certeza de que vai receber um comprovativo de que fez o pagamento.

AMIGOS DO AMBIENTE

Para quem sabe de leis, está-se perante uma ilegalidade, que o Governo não nega. A Administração defende-se, porém, com preocupações ambientalistas

Confrontado com o que diz o Código Civil e com mais algumas questões sobre a matéria, o gabinete do secretário para os Transportes e Obras Públicas delegou as respostas na DSAT, que fez os seus esclarecimentos por escrito. “Os novos parquímetros que foram introduzidos em Macau são iguais aos que foram adoptados em outras regiões, tal como em Hong Kong”, começam por esclarecer os serviços. “Durante a utilização dos parquímetros, o utente, após ter efectuado o devido pagamento, poderá visualizar no ecrã o sistema de cobrança, ou seja, o utilizador

HOJE MACAU

GRANDE PLANO

toma conhecimento de quanto tempo poderá estar estacionado, no respectivo lugar do parquímetro, consoante o valor que colocou.” Cada novo parquímetro serve vários veículos em simultâneo, estando os números dos lugares pintados no chão. O utente dirige-se à máquina, pressiona F1 para português, selecciona o número onde tem o carro estacionado e faz o pagamento, que pode ser em moedas ou com o MacauPass. “Este sistema, adoptado pelo Governo de Macau, alimenta a política de protecção ambiental, com a diminuição clara do uso do papel”, defende a DSAT, sem fazer referência directa ao Artigo 776.º do Código Civil. Os Assuntos de Tráfego aditam que, “ao recorrer ao pagamento por cartão-porta

moedas electrónico, o utente pode, caso considere necessário, requerer à entidade exploradora da emissão do respectivo cartão, uma consulta dos seus movimentos e obter informações relativamente ao pagamento do parquímetro”. Ou seja, quem precisar de fazer prova do dinheiro que gastou ao estacionar nas ruas de Macau terá de dirigir-se à MacauPass. E quem tiver feito o pagamento com moedas? A DSAT nada diz sobre o assunto, presumindo-se assim que, para quem usou patacas em vez do cartão, não há forma de obtenção do comprovativo de pagamento.

ILEGALIDADE PROBLEMÁTICA

O advogado Sérgio de Almeida Correia não tem dúvidas: “O facto de existirem parquímetros

em Macau que obrigam as pessoas a colocarem moedas para o estacionamento, não lhes sendo dado o comprovativo, é uma ilegalidade”. Trata-se de uma ilegalidade porque “viola aquilo que está previsto no Código Civil, designadamente o Artigo 776.º” – que confere a qualquer cidadão o direito a ter um documento de quitação dos pagamentos que efectua”, sendo que “traz outros problemas e inconvenientes”, observa. “Não me é possível ficar com um documento que me diga a que horas é que estacionei e até que horas é que tenho direito a lá ter o carro. Se for autuado por um polícia cinco minutos antes do termo do prazo, não tenho maneira de fazer prova de que, à hora a que o meu


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OS OUTROS Quem precisar de fazer prova do dinheiro que gastou ao estacionar nas ruas de Macau terá de dirigir-se à MacauPass

coisa.” Ora, um trabalhador que gaste por dia quatro patacas em estacionamento, por usar o carro ao serviço do local onde trabalha, chega ao final do ano com menos 1000 patacas no bolso.

“PÉSSIMO PRINCÍPIO”

carro foi autuado, ainda estava a cumprir com as regras”, aponta o advogado. Mas há outros problemas além da contestação de multas. “Por outro lado, em relação a algumas entidades, é necessário fazer prova da apresentação do recibo para efeito de reembolso de despesas, para apresentação, por exemplo, junto dos Serviços de Finanças.” Sérgio de Almeida Correia chama ainda a atenção para as pessoas que utilizam os seus carros ao serviço de empresas. “Têm direito a serem reembolsadas das despesas que efectuaram, mas qualquer entidade patronal precisa do recibo para poder fazer o pagamento. Se há uma saída de dinheiro de uma empresa, tem de estar suportada nalguma

O advogado considera que se trata de um “péssimo princípio da Administração de Macau proceder à instalação de parquímetros sem que seja possível fazer prova do pagamento, sem que seja emitido o respectivo recibo”. Sérgio de Almeida Correia não hesita em dizer que se trata “de uma coisa inconcebível num sistema de direito, num território onde existem leis, onde as pessoas têm direitos e têm obrigações”. As obrigações não são só para os cidadãos, nota o jurista. “Também se aplicam no sentido da região relativamente aos cidadãos. O cidadão cumpre as suas obrigações, pelo que também espera que a região cumpra os seus deveres.” Quanto ao argumento da DSAT em relação à inexistência de recibos – as preocupações em relação ao consumo de papel –, Sérgio de Almeida Correia entende que se está perante um objectivo a ser perseguido mas, no caso em análise, “o cumprimento da lei impõe-se relativamente à preocupação ambiental”. “Além de mais”, vinca o jurista, “essa preocupação ambiental só faria sentido se fosse estendida também a outras áreas”. No que toca directamente à acção da DSAT, “não existe essa preocupação ambiental relativamente à emissão de gases de escape por parte dos táxis ou por parte dos autocarros que estão ao serviço dos casinos, porque basta circular atrás

deles nas subidas para se verificar a quantidade de fumo que é libertada”. Ainda a propósito do consumo de papel, mas noutra tutela, Sérgio de Almeida Correia lamenta que “essa preocupação ambiental não exista relativamente aos tribunais e que se continue a impor aos advogados a apresentação de duplicados em papel de todos os articulados que apresentam”. O advogado dá uma ideia do volume em questão: “Se estivermos a falar de acções com 20 ou 30 partes, em processos em que cada articulado pode ter 40 ou 50 páginas, é ver a quantidade de papel que é necessária e o impacto ambiental que isso representa”. O jurista não compreende por que não se informatizam os serviços, “como se faz nos países civilizados”. Portugal é, “há mais de uma dezena de anos”, um bom exemplo. Voltando ao argumento da DSAT, Sérgio de Almeida Correia diz que lhe parece “forçado”. Poupança por poupança, e uma vez que não se corrigiu a situação ilegal que já se verificava, deixavam-se estar os velhos parquímetros. “Estavam a funcionar, cumpriam a sua função. Até por aí, parece-me que há um desperdício.”

SEM OUTRAS SOLUÇÕES

Pelos números fornecidos pela DSAT ao HM, até Janeiro deste ano, “a disponibilidade de lugares

“É um péssimo princípio da Administração de Macau (...) É uma coisa inconcebível num sistema de direito, num território onde existem leis.” SÉRGIO DE ALMEIDA CORREIA ADVOGADO

de estacionamento de parquímetros em Macau era de 11.332”. Nos últimos anos, estes equipamentos proliferaram no território, sendo difícil encontrar um local de estacionamento na via pública que não seja pago, “até em Coloane, junto aos trilhos”, aponta Sérgio de Almeida Correia. Ainda segundo as explicações dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, compete à Sociedade de Administração de Parques Foieng a instalação e a gestão de lugares de estacionamento no território. “De acordo com o contrato celebrado, depois do concurso público, de prestação de serviços de exploração, a mesma deve proceder à substituição do respectivo sistema de cobrança, até a 30 de Abril de 2018, assumindo os encargos resultantes de toda a instalação.” Em muitas cidades com problemas de estacionamento, dilema com que Macau se depara, são instalados parquímetros que permitem aos utentes, sobretudo nas zonas residenciais, pagarem de véspera as primeiras horas do dia seguinte, para evitarem ser multados se saírem de casa mais tarde. O HM quis saber se esta hipótese tinha sido estudada para o território. “Para já não existe a possibilidade do tipo de pagamento mencionado”, responde a DSAT. “Mais se informa que, durante o período das 22h às 9h do dia seguinte o estacionamento é grátis”, acrescenta. “Elevar a rotatividade de estacionamento permite impedir a ocupação permanente e abusiva dos lugares de parquíme-

tros, respeitando o Artigo 21.º do Regulamento do Serviço Público de Parques de Estacionamento, que afirma não ser permitida ‘a sobrealimentação do parquímetro ou de outro sistema de cobrança, nem de estacionamento para além do período máximo permitido’”, citam os Serviços para os Assuntos de Tráfego, sem esclarecerem se a ideia da criação de zonas residenciais chegou a ser pensada. De resto, este sistema de antecipação do pagamento jamais poderá ser implementado com os parquímetros novos que estão a ser instalados em Macau. Chama-se “pay and display” e é amplamente utilizado em Portugal, assim como no Reino Unido, entre outras jurisdições. Os utentes fazem o pagamento com moedas ou cartões electrónicos e, em troca, é dado um recibo que colocam num local visível do veículo. À semelhança dos equipamentos novos do território, também estas máquinas servem para vários lugares de estacionamento em simultâneo, sendo que, para os concessionários do serviço, têm uma mais-valia em relação às de Macau, ao evitarem que os condutores tirem partido do dinheiro que sobrou do carro que esteve estacionado antes. Para os utentes, há também vantagens: além do pagamento por antecipação, não é preciso andar à procura do lugar de estacionamento pintado no chão. E dão recibo. Isabel Castro

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4 POLÍTICA

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Os autores da petição “Também somos portugueses” foram ouvidos em sede de comissão parlamentar na Assembleia da República, em Portugal. Durante a apresentação aos deputados, o recenseamento automático acolheu consenso, enquanto que o voto electrónico ainda levantou dúvidas, seguindo para discussão no hemiciclo

Petição RECENSEAMENTO AUTOMÁTICO ACOLHE CONSENSO

sitivo, não há dúvida, mas é muito pouco”, comenta Tiago Pereira, representante da secção do Partido Socialista em Macau. Acrescenta ainda que é um processo que carece de algum investimento, que não está acima de qualquer possibilidade de fraude, mas que é uma inevitabilidade. “Temos de ter consciência de que este é o caminho a seguir, o futuro aponta claramente nesta direcção e temos de começar a planear as coisas nesse sentido”, explica o socialista.

O voto inevitável

PARA O FUTURO

O

exercício da democracia no estrangeiro, além de ser um acto de cidadania, é uma forma de aproximação a Portugal. Porém, a distância parece atrapalhar o processo, como ficou comprovado nas últimas eleições legislativas com alegações de fraude eleitoral no voto por correspondência. Até Maio deve estar concluído o processo de levantamento do tamanho e localização das comunidades portuguesas emigradas. Deste inventário, que revela o universo eleitoral dos portugueses emigrados emergem duas situações: o aumento do número das mesas de voto abertas fora de Portugal nas eleições legislativas e presidenciais, assim como o recenseamento obrigatório. Ou seja, os emigrantes portugueses passam a poder recensear-se electronicamente através da rede de consulados, que também passam a desempenhar funções eleitorais. “Antes de mais, o recenseamento automático é um passo po-

“Temos de ter consciência de que o voto electrónico é o caminho a seguir, o futuro aponta claramente nesta direcção e temos de começar a planear as coisas nesse sentido.” TIAGO PEREIRA REPRESENTANTE DA SECÇÃO DO PARTIDO SOCIALISTA EM MACAU

A questão da segurança foi algo que alertou os deputados do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda aquando da audição na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. A preocupação prende-se com a certeza na identificação do eleitor. Neste capítulo, Paulo Costa, um dos peticionários, referiu que, por exemplo, os bancos usam sistemas online sem revelarem vontade de voltarem atrás na decisão. Além disso, Paulo Costa lembrou que os portugueses têm mostrado inovação nestas áreas, citando como exemplo a Via Verde e o uso alargado do Multibanco. Para Tiago Pereira, o voto electrónico é uma realidade para a qual será necessário “uma consciencialização dos partidos, de que este é o caminho a seguir”. Até porque muitos dos portugueses que se viram forçados a emigrar são jovens, muito habituados a tratarem da sua vida online. Para o socialista é tudo uma questão de existirem condições técnicas “para que se ofereça às pessoas a possibilidade de tratarem dos seus assuntos pessoais e de exercerem o voto”. Nesse sentido, “devia-se trabalhar, ou assumir uma plataforma, para que num horizonte temporal próximo isso pudesse ser implementado”. A comissão parlamentar tem agora um prazo de dois meses para elaborar um relatório, para que as exigências da petição “Também somos portugueses” sejam discutidas no hemiciclo da Assembleia da República. O avanço do voto electrónico fica, assim, ao critério dos deputados. João Luz

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INTERNET DEPUTADO QUER MAIS SEGURANÇA ONLINE

M

AK Soi Kun pediu esclarecimentos ao Governo relativos à eficácia da segurança online. Na interpelação dirigida ao Executivo, o representante da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau argumenta que o “sistema de fiscalização no que respeita à segurança na internet é frágil”. Para o deputado, os casos de cibercrime acontecem sob várias formas e colocam

em perigo “a segurança dos cidadãos e a estabilidade da ordem social”. Mak Soi Kun lamenta que as leis para a gestão da segurança na internet não sejam actualizadas, na medida em que o crime digital está em permanente mutação. De acordo com o responsável, a lei de combate à criminalidade informática em vigor já é antiga e não corresponde às exigências actuais. “A Lei já existe

há muitos anos e não assegura a segurança na rede nem combate a criminalidade, de hoje em dia, na internet”, lê-se no documento. Mak Soi Kun relembra ainda que, no passado debate das Linhas de Acção Governativa (LAG), a 5 de Novembro de 2016, o Governo afirmou que ia entrar no processo da alteração de lei no primeiro semestre deste ano. No entanto, o tribuno duvida que, perante as várias

formas de criminalidade cibernética, a alteração legislativa e o alargamento de multas sejam capazes de prevenir e combater as infracções. Mak Soi Kun quer ainda saber se as autoridades possuem condições de operacionalidade sobre a execução transfronteiriça e quais as medidas que vão ser adoptadas de forma a reforçar a identificação e o combate ao crime online.


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É

visto como sendo o homem que revolucionou a Associação Novo Macau (ANM), movimento político pelo qual foram eleitos Au Kam San e Ng Kuok Cheong. É tido como um jovem incómodo, um activista sem papas na língua que, por não estar de acordo com os mais velhos, contribuiu para a fragmentação da principal associação pró-sufragista do território. Na semana passada, Jason Chao anunciou que está de saída da ANM. Na despedida, garantiu que não houve desentendimentos com a actual direcção e deu a entender que tem novos planos ligados ao trabalho junto da sociedade civil. Chao deixa o organismo a pouco mais de meio ano das eleições legislativas. “Estou um pouco surpreendido com a saída de Jason Chao”, admite Eilo Yu, professor da Universidade de Macau. No comunicado que publicou no Facebook, o ainda vice-presidente da Novo Macau mostra-se desiludido com o facto de serem cada vez menos aqueles que estão dispostos a dar a cara pelos ideais democráticos. Eilo Yu tem uma leitura diferente sobre a matéria. “Em termos de tamanho, não me parece que o campo pró-democrata esteja a ficar menor. Nestes últimos anos, passámos a ter mais jovens e grupos independentes a assumirem uma posição sobre questões públicas”, sublinha ao HM.

TEORIA DA FRAGMENTAÇÃO

“Talvez o desencanto de Jason Chao tenha quer ver com o facto de o campo pró-democrata não estar a crescer em paralelo ou em proporção à economia de Macau”, acrescenta. Para o politólogo, “a oposição encontra-se mais fragmentada do que unida”. Eilo Yu recorda que, quando o deputado Au Kam San e outros elementos da Novo Macau saíram da ANM e passaram a integrar a Iniciativa de Desenvolvimento da Comunidade de Macau, “as forças pró-democracia separaram-se”. “Têm o seu posicionamento e estratégia, têm também, por vezes, opiniões diferentes, o que poderá contribuir para a frustração de Chao”, afirma. Surpreendido com a saída ficou também o académico Éric Sautedé, uma vez que esperava que o vice-presidente da ANM se candidatasse às eleições legislativas deste ano. “Não conheço ninguém em Macau que não tenha ficado surpreendido. É um jovem político muito sofisticado e desafiador e, apesar de os resultados que obteve em 2013 não terem, certamente, ido ao encontro das suas expectativas, deu a entender que se iria de novo candidatar”, refere o analista, que vê em Jason Chao “um lutador”.

Novo Macau ANALISTAS COMENTAM SAÍDA DE JASON CHAO

O último a rir

“Aqueles que se regozijaram demasiado depressa com o facto de Jason Chao ter passado aos bastidores poderão, muito bem, ter uma surpresa.” ÉRIC SAUTEDÉ POLITÓLOGO

reconhecido como um firme defensor dos valores democráticos e da reforma em Macau, e infelizmente isto não se traduziu no resultado que legitimamente aspirava” nas últimas eleições.

DE FORA, MAS PERTO

Ainda sobre Jason Chao, o politólogo francês traça um retrato do vice-presidente da ANM para tentar perceber qual o passo que se segue. “Baseia-se em princípios, é um idealista, e desafia o campo conservador e iliberal ao utilizar, em simultâneo, abstracções e actos surpreendentes, algo que homens como Fong Chi Keong ou Chan Chak Mo devem ter verdadeira dificuldade em alcançar”, atira. Sautedé recorda ainda que Jason Chao é uma pessoa que suscita opiniões muito diferentes, atendendo ao forte envolvimento

trabalho junto da sociedade civil, que poderá ser complementar ao papel mais institucional da Novo Macau”. Eilo Yu concorda com esta perspectiva, ao destacar que “Jason Chao deu a entender que irá criar uma nova organização para a continuação da sua actividade, pelo que poderá cooperar com a Novo Macau nalgumas situações”. Não obstante, o professor da Universidade de Macau adivinha tempos difíceis para a ANM. “Em termos psicológicos, a saída de Chao por certo trará pressão, a curto prazo, à Novo Macau. Nestes últimos anos, Scott Chiang e Sulu Sou têm estado muito activos na vida política de Macau. Acredito que continuarão o que têm estado a fazer”, diz. Mas perderam oficialmente um companheiro de luta. Em termos gerais, continua Eilo Yu, “a saída de Chao vai fragmentar ainda mais o campo pró-democrata e reflecte que este continua a ser virado para a elite”. Para o analista, a pró-democracia em Macau “não tem capacidade de união e de acomodação da elite e das massas, que têm diferentes opiniões dentro de uma organização”. O fenómeno não é exclusivo de Macau: “Essa é a natureza das forças pró-democratas em várias regiões, como acontece em Hong Kong”.

ESPERAR PELA SURPRESA

Apanhou desprevenidos os observadores da política local, que não acreditam, no entanto, num mero regresso à vida civil do demissionário vice-presidente da Associação Novo Macau. Éric Sautedé não afasta a possibilidade de, um dia destes, Jason Chao voltar em força. E surpreender quem agora bate palmas Éric Sautedé não tem a certeza de que o jovem político esteja desiludido com o rumo dos acontecimentos dentro e fora da Novo Macau, mas não tem dúvidas de que existe frustração, “especialmente porque ele é amplamente

POLÍTICA

no movimento de direitos LGBT em Macau, que “continua a ser uma comunidade muito tradicional”. “Ele assumiu ser homossexual, ansioso por acabar com todas as formas de discriminação na sociedade.” O académico acredita que a saída anunciada para o final do próximo mês “é estratégica, deverá ter algo em mente, mais no lado do

“Em termos psicológicos, a saída de Jason Chao por certo trará pressão, a curto prazo, à Novo Macau.” EILO YU ANALISTA

Já Éric Sautedé entende que a Novo Macau é “como uma família”. “Aqueles que se regozijaram demasiado depressa com o facto de Jason Chao ter passado aos bastidores poderão, muito bem, ter uma surpresa quando chegar a hora”, diz. O politólogo lembra que, “desde que se juntou à ANM, em meados dos anos 2000, Jason Chao esteve sempre à frente de todas as batalhas democráticas em Macau, e mais ainda depois de, em 2010, se ter tornado presidente da única força política da oposição, quando tinha apenas 24 anos”. Ou seja, não será agora que vai atirar a toalha ao chão. “Infelizmente, em Macau, o sistema eleitoral é totalmente selado e as eleições são ganhas com um apoio comunitário muito grande – Fujian, Jiangmen ou Chaozhou, é escolher – e com muito dinheiro gasto em jantares, entretenimento e sorteios, durante todo o ano e ao longo de todo o mandato”, lamenta Sautedé. “Quando se defendem ideias não é preciso sujar as mãos, luta-se contra o sistema naquilo em que é discutível”, acrescenta. Jason Chao deixa a ANM, mas não deixará as lides políticas do território. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


6 hoje macau segunda-feira 27.2.2017

O Centro Hospitalar Conde de São Januário descartou a possibilidade de erro no diagnóstico e tratamento de um paciente com um grave trauma. O esclarecimento chegou depois de queixas de familiares na sequência de uma segunda opinião clínica

O

caso teve início em Fevereiro de 2016, altura em que um homem, de 65 anos, deu entrada na urgência com um trauma grave na cabeça provocado por um acidente de trabalho, estando em causa o tratamento a que foi submetido pelo hospital público que realizou uma conferência para prestar esclarecimentos sobre o caso. Segundo declarações reproduzidas nas redes sociais chinesas, com base em relatos de familiares, o paciente foi diagnosticado erradamente, mas o director do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), Kuok Cheong U, garantiu que não foi detectado qualquer erro após investigação interna na sequência das queixas apresentadas em cartas ao hospital, Serviços de Saúde e secretário da tutela. Dado que o relatório clínico foi avaliado e reportado a Alexis Tam e se considera estar tudo em

E

NCARREGADOS de educação expuseram este fim-de-semana as suas dúvidas sobre as turmas bilingues que vão ser criadas, pela primeira vez, a partir do próximo ano lectivo, em duas escolas públicas de Macau, a dias da abertura das inscrições. A forma de funcionamento das turmas bilingues, em português e mandarim, os requisitos exigidos aos alunos ou a língua veicular das disciplinas figuraram entre as perguntas colocadas por pais – chineses e portugueses – que encheram a sala onde teve lugar uma sessão de esclarecimento sobre o projecto-piloto promovida pela Direcção dos

Saúde SÃO JANUÁRIO REFUTA ERRO MÉDICO EM PACIENTE COM GRAVE TRAUMA

O peso da segunda opinião conformidade, o hospital deu o caso como fechado, cabendo à família decidir se pretende avançar com uma queixa para os tribunais. De acordo com dados facultados pelo CHCSJ, após entrar na urgência, o diagnóstico do paciente, em coma profundo, foi de traumatismo crânio-encefálico grave e hérnia cerebral, pelo que foi submetido a uma intervenção cirúrgica urgente – drenagem de hematoma subdural e craniotomia descompressiva. Essa operação foi “bem-sucedida” e o paciente ficou fora de perigo, segundo o CHCSJ. Após tratamento na Unidade de

Dado que o relatório clínico foi avaliado e reportado a Alexis Tam e se considera estar tudo em conformidade, o hospital deu o caso como fechado Cuidados Intensivos, e depois da traqueostomia, foi encaminhado para a enfermaria geral. Mas, entretanto, sempre segundo o hospital, verificou-se “acumulação do fluido subdural e infecção do sistema nervoso central” e, após tratamento, incluindo drenagem externa, ambas as situações foram “controladas”. Novas complicações surgiram gradualmente, como hidrocefalia, pelo que, em

Maio, o paciente foi submetido à derivação ventrículo-peritoneal. Segundo explicaram, em comunicado, os Serviços de Saúde, o estado do paciente estabilizou e melhorou face ao período anterior às operações, apesar de ainda estar em coma, pelo que “era necessário um tratamento de reabilitação”. Após discussão e consentimento da família, o doente foi transferido para o Centro de Reabilitação da

TIAGO ALCÂNTARA

SOCIEDADE

Uma carga de trabalhos Pais com dúvidas sobre turmas bilingues

Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Com o intuito de formar talentos bilingues, o Governo anunciou, na semana passada, que pretende criar uma ou duas turmas em português e chinês no primeiro ano do ensino primário e ensino secundário geral na Escola Oficial Zheng Guanying, e no primeiro ano do ensino primário na Escola Primária Luso-Chinesa da Flora. Diana Massada, que tem um filho a frequentar o primeiro ano do ensino infantil

na Zheng Guanying, do qual é o único ocidental, foi uma das participantes: “A razão de ter vindo cá é tentar perceber até que ponto esta formação de bilingues se vai efectivar, porque o projecto é, sem dúvida, interessante e necessário em Macau”, afirmou, falando das dificuldades na prática. “Para um aluno que em casa fala português ter o ensino de português como língua estrangeira é desmotivante – não é bom pedagogicamente. E, portanto, é preciso pensar este projecto para que se pos-

sam formar bilingues – quer de língua-mãe, em casa chinesa, quer de língua-mãe, em casa portuguesa”, observou, considerando o projecto “essencial para Macau”, apesar de ter “muito para andar e ser trabalhado”.

PROMESSAS DE EQUILÍBRIO

Segundo Iun Pui Un, chefe de departamento de Gestão e Administração Escolar da DSEJ, e as directoras das duas escolas, as disciplinas vão ser ministradas parte em português e parte em

Federação das Associações dos Operários de Macau, de acordo com a mesma fonte.

A OPINIÃO DE HONG KONG

A família decidiu, no entanto, pedir uma opinião a um especialista de Hong Kong e, segundo as declarações divulgadas nas redes sociais, um médico da região vizinha afirmou que uma das operações não tinha sido bem-sucedida, pois “a pressão do tubo de drenagem estava muito baixa, levando a que as duas partes do cérebro ficassem inclinadas para um dos lados do mesmo” e “o tubo de drenagem tinha bloqueado, perdendo a respectiva função”. O CHCSJ garante que adiou a derivação ventriculoperitoneal até a infecção intracraniana ficar completamente controlada, porque, caso contrário, poder-se-ia expandir e causar uma grave peritonite –, afirmando que não a fez apenas depois de os familiares terem relatado as recomendações do hospital de Hong Kong, como referido, e que uma nova TAC demonstra que essa cirurgia foi “bem-sucedida”. “O tratamento e o diagnóstico do hospital atendem às regras convencionais do tratamento da neurocirurgia”, reiterou o CHCSJ, manifestando-se disponível para voltar a receber o paciente que, na sexta-feira, foi novamente operado, desta feita, no Kiang Wu. Na conferência de imprensa, foi explicado que a intervenção naquele hospital privado de Macau serviu para voltar a colocar o dreno, que terá sido removido em Hong Kong após aconselhamento.

mandarim, pretendendo-se um “equilíbrio”, para permitir aos alunos “aplicar mais essas duas línguas” e “fortalecer as suas bases”. Com efeito, o português vai ser a língua veicular das aulas de educação física, artes visuais ou música; enquanto disciplinas mais fundamentais, como matemática, por exemplo, vão ser leccionadas em mandarim, segundo explicado durante a sessão. Outra dúvida teve que ver com o conhecimento que os alunos precisam de ter à partida. “O melhor é ter já uma base, mas não é um princípio fundamental. É só o ideal”, sublinhou Iun Pui Un, garantindo que aos alunos

com dificuldades será dado “apoio” complementar. Vários pais manifestaram interesse no novo programa, mas também “preocupação”, receando que os seus filhos não se consigam adaptar ao novo modelo de ensino ou que seja exercida uma maior pressão sobre eles ao nível da aprendizagem. O período de inscrição para as turmas bilingues decorre de 1 a 31 de Março. A criação das novas turmas bilingues será estendida, anual e progressivamente, aos anos de escolaridade mais avançados.


7 SOCIEDADE

hoje macau segunda-feira 27.2.2017

Migração ARTISTA DE ORIGEM TIBETANA BARRADO À ENTRADA DE MACAU

Mais um nariz na porta CULTURA NOVA CASA PARA SERVIÇOS

O Departamento de Promoção das Indústrias Culturais e Criativas e a Divisão de Planeamento e Desenvolvimento das Indústrias Culturais e Criativas, passam, a partir de agora, a funcionar no Edifício do Instituto Cultural, localizado na Praça do Tap Seac, Macau. Devido à mudança, os locais de recolha dos materiais de inscrição do Programa de Subsídios à Produção de Curtas-Metragens de Animação Originais 2016 e da Base de Dados das Indústrias Culturais e Criativas de Macau passarão a funcionar no mesmo edifício.

IIM PRÉMIO ÀS CIÊNCIAS

As ciências sociais e as aplicadas foram as áreas galardoadas, este ano, com o Prémio Jovem Investigador 2016. A iniciativa, promovida pelo Instituto Internacional de Macau (IIM), premiou Loi Wai Cheng com um trabalho sobre “The Impact of Social Support on the Mental Health of the Visually Impaired in Macao” e Lei Ka Meng com “Miniaturized Nuclear Magnetic Resonance Platforms for Chemical/ Biological Assays with Customized CMOS Integrated Circuits”. O prémio tem por objectivo incentivar jovens estudantes, professores, recém-licenciados e criativos à investigação e ao aprofundamento dos estudos visando o desenvolvimento do território, essencialmente nos sectores estratégicos da economia e da diversificação, do património e da identidade, das ciências aplicadas, e História de Macau.

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S normas profissionais do pessoal docente das escolas públicas e privadas, com implementação prevista para o próximo ano lectivo, continuam a ser criticadas. Paul Chan Wai Chi, ex-deputado, em declarações ao HM considera que há lacunas ainda por preencher. “Na verdade, os aspectos da ética e do desenvolvimento profissional dos professores não estão mencionados”, afirmou.

O pintor de origem tibetana Tashi Norbu foi impedido de entrar no território no passado sábado. Era um regresso a Macau para participar numa iniciativa de uma galeria local. O cidadão belga diz que não lhe foi dada qualquer justificação, mas admite não ser visto com bons olhos em Pequim

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notícia é avançada pela entidade que convidou o artista, em nota à imprensa: o pintor Tashi Norbu foi impedido de entrar em Macau no passado sábado, quando se preparava para participar num evento promovido pela Galeria iAOHiN Amber. O artista vinha ao território para uma performance ao vivo, mas teve de dar meia volta e regressar a Hong Kong. “Planeava mostrar a minha arte, a linguagem e as técnicas que estudei durante toda a minha vida”, disse Tashi Norbu ao telefone, citado pelo comunicado. “É triste que tenha sido impedido de apresentar o meu trabalho em Macau”, lamenta. Tashi Norbu é cidadão belga e vive na Holanda. Em Abril de 2016, o pintor esteve na RAEM para uma mostra também promovida pela Galeria iAOHiN. “A minha exposição do ano passado em Macau foi muito bem-sucedida e foi por isso que a iAOHiN me voltou a convidar, desta vez para a inauguração da nova galeria. Ia pintar um ‘galo de fogo’, o símbolo deste ano novo lunar, que está também presente no calendário tibetano”, explicou o artista plástico. “Quero apenas fazer a minha arte, e as únicas mensagens que quero passar com os meus quadros são o amor e a bondade”, garante o pintor de origem tibetana. Tashi Norbu destaca ainda que viajou um pouco por todo o mundo, foi já convidado por uma “diversidade

Tashi Norbu

de países com culturas diferentes”, sendo que “esperava que esse fosse o caso de Macau”. O pintor já tinha passado, no entanto, por uma situação semelhante na Polónia.

ORGANIZAÇÃO DESILUDIDA

De acordo com a galeria, apesar de, no ano passado, o artista plástico ter conseguido entrar no território, tanto à chegada, como na partida esteve retido durante uma hora pelos Serviços de Migração – uma

“Isto não é o que Macau deveria estar a fazer, a censura é simplesmente algo que está errado, e não há justificação possível.” SIMON LAM RESPONSÁVEL PELA GALERIA iAOHiN

As falhas do código

Paul Chan Wai Chi aponta lacunas a normas educativas

Por outro lado, “o código de conduta não tem um planeamento em relação à credenciação dos docentes para melhorar a qualidade dos professores”, disse o trabalhador do sector educativo. Paul Chan Wai Chi considera que o documento não tem capacidade para resolver os problemas actuais nem ofe-

rece instruções de forma clara sobre o desenvolvimento profissional do pessoal docente. “As normas não conseguem garantir o desenvolvimento profissional dos professores, um aspecto de extrema importância, e não conseguem fomentar o seu trabalho.” De acordo com Chan Wai Chi, só com o incremento

da qualidade dos docentes é que Macau pode assumir uma melhor educação. O ex-deputado adiantou ainda que os professores têm muitas funções administrativas em consequência da mais recente legislação e, como tal, vêem, o seu trabalho cada vez mais complicado. Paul

situação que não se verificou em Hong Kong, onde atravessou a fronteira sem qualquer problema. Desta feita, as autoridades não apresentaram qualquer justificação para negarem a entrada, mas Tashi Norbu admite que pode ser considerado “um pintor controverso” por Pequim. A entidade organizadora do evento especula que a obra do artista “poderá ser banida na China por retratar monges tibetanos e cenas espirituais com o Dalai Lama e tibetanos no exílio”. Acresce o facto de Tashi Norbu ter vendido a um coleccionador de Hong Kong um quadro chamado “O Guarda-chuva Precioso”. Trata-se de uma referência aos protestos de 2014 na antiga colónia britânica, “com um guarda-chuva amarelo no meio de monges a voar e, entre eles, uma freira católica”. Na mesma nota à imprensa, o responsável pela galeria, Simon Lam, diz-se “desiludido com a atitude das autoridades”, por considerarem “a arte uma ameaça e impedirem algo que não era mais do que uma performance artística”. O responsável considera que “isto não é o que Macau deveria estar a fazer, a censura é simplesmente algo que está errado, e não há justificação possível, uma vez que Tashi Norbu teve autorização para estar em Hong Kong na semana passada, sem qualquer problema”.

Chan Wai Chi lamenta ainda que o Executivo não tenha feito uma reflexão profunda acerca do assunto e sugere que se realize uma consulta dirigida a grupos de docentes e a associações educativas após a entrada em vigor das novas normas educativas de modo a definir um caminho para o futuro desenvolvimento da qualidade dos professores. Aquando da sua publicação em Boletim oficial, no início do mês, Teresa Vong

Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

defendeu que as normas profissionais do pessoal docente pecam por não incluírem os direitos dos professores. “Estas regras dão ênfase às responsabilidades dos professores. Não houve uma elaboração dos direitos dos professores. Não são normas de conduta muito completas.” Sofia Margarida Mota com Victor Ng info@hojemacau.com.mo


8 Armazém do Boi WORKSHOP E EXPOSIÇÃO PARA REFLECTIR MACAU

EVENTOS

ESCOLHIDOS FINALISTAS DO PRÉMIO SONAE MEDIA ART

O

S artistas André Martins, André Sier, Nuno Lacerda, Rodrigo Gomes e Sofia Caetano são os cinco finalistas apurados para o Prémio Sonae Media Art, um galardão que distingue autores da expressão artística que usam novas tecnologias como veículo criador. O evento organizado em parceria pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em Lisboa, e a Sonae contou com a participação de 147 candidatos. O concurso arrancou em 2015 com o intuito de distinguir e divulgar a criação artísticas na área de media art, envolvendo uma bolsa de criação individual de cinco mil euros destinada a apresentar obras inéditas. Os trabalhos vão ser expostos no Museu do Chiado em finais de Novembro. Entre os finalistas deste ano, destaque para Nuno Lacerda, de Lisboa, que tem desenvolvido trabalhos na área da videoarte. O artista tem no currículo uma série de vídeos intitulada “Mapas”, que correu vários festivais internacional, entre os quais o VAFA Vídeo Art For All – Macau. O Prémio Sonae Media Art, ainda a dar os primeiros passos, promete dar cartas nos eventos que promovem a criação artística em meios digitais e electrónicos. A área do vídeo não é a única abordada neste evento, sendo também dada atenção a projectos sonoros, à exploração do virtual e da interactividade. Mas a entrada não está barrada a formas mais tradicionais de expressão criativa, como a dança, cinema, teatro e literatura. O vencedor do Prémio Sonae Media Art irá ficar com mais 40 mil euros na conta.

A CIDADE DE C

Gil Mac regressa no Armazém do são convidados a representem a cid reflexão para que em caixas de car intervenções no espaço público e o resultado foi muito interessante”, aponta Gil Mac. O evento, que vai ter lugar entre 12 e 19 de Março, tem como mote “a riqueza histórica e multicultural do território e a sua contemporaneidade identitária tendo em conta as particularidades”. Para Gil Mac, o território é detentor de características que se concretizam nos fluxos de turismo e de consumo, na globalização e na mudança dos espaços públicos e privados, e estes serão alguns dos temas em análise. O Macau™ aparece ainda na sequência do trabalho que, o também designer gráfico, tem vindo a desenvolver dentro do projecto pessoal “whatever ™”.

COMUNICAR A URBE

U

MA semana para a criação de logótipos em caixas de cartão capazes de reflectir a cidade, é a proposta do workshop Macau™ que vai ter lugar no Armazém do Boi. Gil Mac é o responsável pelo evento. A participação do artista marca a presença portuguesa na programação de 2017 do Armazém e resultou do

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA E SE EU GOSTASSE MUITO DE MORRER • Rui Cardoso Martins Na confusão do mundo, um rapaz sobe a rua. O Interior é igual em toda a parte. Mas hoje vai mudar. Ele traz um segredo terrível no bolso do kispo. Faz calor na província dos suicidas. Dá vontade de rir: uma cidade em que até o coveiro se mata... São estatísticas, tudo em números. Na Internet, há sexo e doidos japoneses e americanos para conversar em directo. No campo, granadas e ervas venenosas. No prédio, um jovem assassino toca órgão.

open call “Seed in Spring” promovido pela entidade local. A cidade não é nova para Gil Mac e a ideia, neste regresso, é pensar Macau e o branding do lugar. “A primeira vez que estive em Macau foi em 2007 com a Teatro do Frio para apresentar um espectáculo a solo no festival Fringe e apaixonei-me pela cidade. Voltei em 2014 com o colectivo (DEMO)

para o mesmo festival com o projecto ‘UWAGA!’. Estivemos no Armazém do Boi várias semanas com uma oficina de arte urbana e tipografia”, recorda. Foi aí que conheceu e se surpreendeu com a criação artística “made in Macau”. “Conheci uma nova geração de artistas muito criativa, com espírito crítico e “politicamente” envolvidos. Fizemos várias

As premissas que fundamentam o evento são as necessidades da cidade e as suas representações. No entanto, não se trata de um resultado de intervenção em espaço público mas sim expositivo e com uma linguagem associada à publicidade através do uso do branding, com os olhos postos na síntese que é o logótipo. A ideia passa ainda por “fazer a desconstrução da comunicação das marcas que se encontram na cidade e a forma como se comunicam.” O objectivo inicial seria a realização de um workshop durante

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

A CHAVE DE CASA • Tatiana Salem Levy Audaciosa, Tatiana Salem Levy, sobrepõe uma narrativa de viagem a uma história de paralisia. Um corpo que percorre a Turquia na esperança de encontrar uma casa de família e um corpo que jaz e sofre numa cama. Um paralelo tão contraditório como as confissões que lemos, confissões sobre um amor que vai sobrevivendo graças a instantes de delírio sexual, em que tudo é permitido, aliados a momentos de medo. E, ao mesmo tempo, por entre narrativas ficcionais e memorialísticas, a figura maternal, a mãe que se ama, a mãe que já morreu mas que se quer ressuscitar, a mãe de que se precisa.


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CARTAO ˜

a a Macau para um woprkshop Boi em que os participantes a trabalhar em logótipos que dade. O espaço é de criação e e, no final, resulte uma exposição rtão que comuniquem o território uma semana, mas na ausência de espaço disponível o programa foi reorientado. O evento será feito em vários momentos. Numa primeira fase, é realizado um briefing, a 12 de Março, com os participantes e onde são dadas as premissas. Segue-se uma semana de trabalho. “Este tempo é um momento em que as pessoas vão olhar para a cidade, reflectir no que ela diz e trabalhar em esboços, fotografias e ideias, para que no fim-de-semana seguinte, num terceiro momento, se faça uma síntese dos logos que foram criados no período anterior e seja criado um objecto gráfico a preto e branco”.

“No cerne do evento está a reflexão do que é que é Macau neste momento” GIL MAC ARTISTA A materialização é feita em caixas de cartão porque, afirma, “são objectos que normalmente têm em si informação acerca dos produtos que transportam e, muitas vezes, esta informação é também um logótipo”. Para Gil Mac, “o mais importante é a experiência” sendo que a discussão dos diferentes pontos de vista e

IAO HIN ARTE NO LILAU

opiniões sobre a cidade culminarão em trabalhos “mais ricos”. “No cerne do evento está a reflexão do que é que é Macau neste momento”, afirma. Os participantes vão procurar, de uma forma criativa, comunicar com a cidade, e, ao olhá-la com outros olhos, encontrar nela características que possam ser representadas graficamente. “[Os participantes] serão encorajados a ver a cidade de outra forma nas suas múltiplas facetas: na arquitectura, nos símbolos e dinâmicas”. O curto período de tempo do workshop também representa um desafio, considera, na medida em que permite desenvolver capacidades de trabalho sob pressão. Gil Mac é um artista multifacetado. Conimbricense, nasceu em 1975. Estudou artes gráficas, fotografia e multimédia e teve formação adicional em tipografia. Paralelamente, desenvolve projectos associados ao teatro e à música experimental. Admirador de Camilo Pessanha tem vindo a desenvolver o projecto “Inscrição” que deu o mote, no ano passado, à performance “ORACULO”, no Festival Rota das Letras. Camilo Pessanha regressa à edição deste ano, desta feita com a performance Hydra & Orpheu e o projecto DEMO. A ideia é mostrar a influência do poeta local na geração de escritores modernistas portugueses em que se inclui Fernando Pessoa. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

Foi ontem inaugurado o novo espaço da galeria iAO HiN, agora “Art Lilau Square”, com um evento único na Casa do Lilau, edifício cedido especialmente para o efeito. O objectivo é “dar vida a esta área da cidade, recentemente reconhecida pela UNESCO”, disse o responsável Simon Lam ao HM. A ideia é expandir o trabalho já efectuado pela iAO HiN e integrar um espaço “muito especial e bonito da cidade”. Para o responsável, é também uma forma de “dispersar o turismo que está demasiado concentrado nas ruínas de S. Paulo e trazer as pessoas a conhecerem um pouco mais da cidade de Macau”.

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EVENTOS


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hoje macau segunda-feira 27.2.2017

Nos dos pedidos: 000003/2017, 000382/2016, 000381/2016

Notificação edital (13/FGCL/2017)

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos pedidos acima referidos, Lei Seng Kai, titular da “Hop Shing Engineering Co”, com sede na Rua Norte do Canal das Hortas nº 225, Edifício “Hou Kong”, Bloco 5, Loja L, Macau, o seguinte: Relativamente aos 3 ex-trabalhadores do devedor (Kuok Kam Tim, Lei Kam Chun, Lam Iam Chi), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 15 de Fevereiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo o 6. da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para os ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $39 678,70 (Trinta e nove mil, seiscentas e setenta e oito patacas e setenta avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aqueles ex-trabalhadores, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar os referidos processos. 23 de Fevereiro de 2017

O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

Notificação edital (14/FGCL/2017) No do pedido: 000002/2017

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor do pedido acima referido, Wong Hei, empresário da “Haymman Engineering”, com sede no Beco do Marinheiro nos 23 - 25, Edf. “Ka On Kok”, 2º andar B, Macau, o seguinte: Relativamente ao ex-trabalhador do devedor (Leong Chio Wai), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 15 de Fevereiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo 6. o da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para o ex-trabalhador acima referido, no valor total de $4 046,70 (quatro mil e quarenta e seis patacas e setenta avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aquele ex-trabalhador, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 23 de Fevereiro de 2017

O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS Aviso Faz-se público, em conformidade com deliberação da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, de 26 de Janeiro de 2017, e nos termos do disposto no nº 1 do artigo 18º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei nº 71/99/M, de 1 de Novembro, no nº 1 do artigo 13º do Estatuto dos Contabilistas Registados, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, bem como do disposto no ponto 3) do artigo 1º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que nos dias 3, 4, 10, 11 e 17 de Junho do corrente ano, irá realizar-se a prestação de provas para inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas. 1.

Prazo, local e horário de inscrição Ø Prazo de inscrição: De 27 de Fevereiro a 10 de Março de 2017 Ø Local de inscrição: Instalações da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, no 1º andar do “Centro de Recursos da Direcção dos Serviços de Finanças”, sito na Rua da Sé, n.º 30, em Macau. Ø Horário de inscrição: De 2ª a 5ª feira: das 09h00 às 13h00; das 14h30 às 17h45 6ª feira: das 09h00 às 13h00; das 14h30 às 17h30

2.

Condições de candidatura Auditores de contas: Podem candidatar-se todas as pessoas maiores, residentes ou portadoras de qualquer título válido de permanência na Região Administrativa Especial de Macau, que reúnam os requisitos gerais para registo como Auditores de Contas nos termos do artigo 4º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, e que, no caso de revalidação de registo, tenham cumprido o disposto no artigo 10º do mesmo Estatuto. Contabilista registado e técnico de contas: Podem candidatar-se todas as pessoas maiores, residentes ou portadoras de qualquer título válido de permanência na Região Administrativa Especial de Macau, que reúnam os requisitos gerais para registo como contabilistas registados ou técnicos de contas nos termos do artigo 4º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e que, no caso de revalidação de registo, tenham cumprido com o disposto no artigo 10º do mesmo Estatuto.

3.

Local de levantamento do boletim de inscrição O boletim de inscrição, os esclarecimentos relativos à prestação de provas, o regulamento das provas e as regras da prestação de provas relativas aos candidatos e conteúdo das provas podem ser obtidos no sítio da internet da Direcção dos Serviços de Finanças, no local relativo à CRAC (www.dsf.gov.mo) ou levantados nos seguintes locais: 1) Instalações da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, no 1º andar do “Centro de Recursos da Direcção dos Serviços de Finanças”, sito na Rua da Sé, n.º 30, em Macau. 2) Rés-do-chão do Edifício da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande n.ºs 575, 579 e 585; 3) Centro de Serviços da RAEM, Rua Nova de Areia Preta N.º 52; 4) Centro de Atendimento Taipa, Rua de Bragança, Nº 500, R/C, Taipa.

Em caso de dúvidas, agradecemos o contacto com a CRAC, durante as horas de expediente, através do telefone número 85995343 ou 85995344, ou através do e-mail crac@dsf.gov.mo. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 20 de Fevereiro de 2017. O Presidente da CRAC Iong Kong Leong


11 CHINA

hoje macau segunda-feira 27.2.2017

ECONOMIA NOMEADOS NOVOS RESPONSÁVEIS PARA CARGOS-CHAVE

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China substituiu o ministro do Comércio e o director do organismo máximo encarregado da planificação económica do país, parte de uma remodelação do executivo realizada nas vésperas da sessão anual da Assembleia Nacional Popular. A agência noticiosa oficial Xinhua avançou sexta-feira que Zhong Shan, especialista em assuntos comerciais, vai assumir o Ministério do Comércio. AComissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento fica a cargo de He Lifeng. Ambos os responsáveis, que trabalharam no passado com o Presidente chinês, Xi Jinping, desempenharão papéis cruciais na liderança da segunda maior economia do mundo, num período em que Pequim lida com um abrandamento no ritmo de crescimento económico. Em 2016, as exportações recuaram 7,7%. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu adoptar uma postura dura no comércio com a China, que acusa de práticas comerciais desleais.

Na quinta-feira, Trump voltou a acusar a China de ser a “grande campeã” de manipulação da moeda, sugerindo que as autoridades chinesas desvalorizam a sua divisa, o yuan, como forma de estimular as exportações. Em resposta, Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou sexta-feira que “a China não tem a intenção de conseguir vantagens comerciais ao desvalorizar a sua moeda”. Geng apelou a Washington para que se pronuncie sobre o valor do yuan de forma “objectiva”, reiterando a intenção do país asiático em continuar a reforma do seu regime cambial. A sessão anual da Assembleia Nacional Popular, o órgão legislativo chinês, começa a 5 de Março. O encontro deste ano irá focar-se em assuntos económicos, particularmente na criação de emprego, numa altura em que a indústria pesada é forçada a reduzir postos de trabalho, devido ao excesso de capacidade de produção.

RECON HOLDING COMPRA POSIÇÃO MAIORITÁRIA EM ESTÚDIO DE HOLLYWOOD

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firma chinesa Recon Holding anunciou na quinta-feira a compra de uma posição maioritária no estúdio de Hollywood Millennium Films, reforçando a presença da China na indústria cinematográfica dos Estados Unidos daAmérica. A Recon Holding concordou pagar 100 milhões de dólares por 51% do Millennium, que produziu “Rambo” e os “The Expendables” (Os Mercenários, em português). A empresa, com sede em Yixing, próximo de Xangai, é controlada por Tony Xia, que no ano passado comprou o clube inglês Aston Villa, por 87 milhões de dólares.

O negócio permite à firma chinesa tornar-se o accionista maioritário e obter os direitos sobre os 300 filmes do estúdio Millenium, conhecido por produzir filmes de acção. Várias companhias chinesas têm investido em Hollywood, com o objetivo assumido de introduzir elementos chineses nas produções norte-americanas, procurando desafiar a hegemonia cultural dos EUA. Por outro lado, as produtoras de Hollywood procuram maior acesso às salas de cinema da China, numa altura de estagnação no mercado doméstico.

Seguros DONO DE QUARTA MAIOR FORTUNA DO PAÍS EXPULSO DO SECTOR

Um gigante ao fundo

Yao Zhenhua

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Comissão Reguladora de Seguradoras da China expulsou da indústria por dez anos Yao Zhenhua, quarta maior fortuna do país, por cometer irregularidades na compra de acções do gigante imobiliário Vanke, informou sábado a imprensa oficial. Yao, fundador do conglomerado financeiro Baoneng, facultou informação falsa para ser autorizado a aumentar o capital da sua filial seguradora Foresea Life, uma operação com a qual financiou a aquisição de títulos da Vanke, segundo a imprensa oficial chinesa. Após uma investigação, o regulador chinês concluiu que a Foresea Life não utilizou fundos dos seus accionistas, como afirmado na altura, para o aumento de capital em Novembro de 2015 o que permitiu que se tornasse no sócio maioritário na Vanke e desencadeou uma luta pelo controlo da imobiliária. A comissão responsabilizou directamente Yao por essa informação errónea, decidindo retirá-lo da presidência da Foresea Life e proibiu-o de participar no sector dos seguros durante a próxima década. O regulador dos seguros da China anunciou também que, a partir de agora, irá oferecer aconselhamento para “melhorar” a gestão da Foresea Life, uma empresa que já puniu, em Dezembro,

pela sua implicação na disputa pelo controlo da Vanke.

FIM DE CICLO

A suspensão da indústria seguradora trava a ascensão no mundo empresarial chinês de Yao Zhenhua, um empresário praticamente desconhecido até há pouco mais de um ano e que, no espaço de meses, ascendeu à quarta posição da

lista dos mais ricos, publicada pela Hurun, equivalente chinês da Forbes. Além disso, encerra-se mais um capítulo no caso Vanke, uma longa disputa que implica várias das maiores imobiliárias chinesas e que aparentemente ter-se-á resolvido no passado mês de Janeiro com a entrada no capital da empresa do grupo estatal Shenzhen Metro Group

A suspensão (...) trava a ascensão no mundo empresarial chinês de Yao Zhenhua, um empresário praticamente desconhecido até há pouco mais de um ano e que, no espaço de meses, ascendeu à quarta posição da lista dos mais ricos

que ficou como segundo maior accionista.Abatalha pelo controlo desta empresa, a maior no ramo imobiliário residencial na China, teve início no final de 2015, quando a Baoneng se tornou no principal accionista, apesar da oposição do fundador da imobiliária, o magnata Wang Shi. Para comprar as ações da Vanke, a Baoneng fez com que a Foresea Life pedisse um crédito equivalente ao dobro do seu capital, decisão que motivou a investigação da Comissão Reguladora de Seguradoras e resultou agora na sanção imposta a Yao. A equipa de gestão da imobiliária tentou travar a manobra da Baoneng por diversas ocasiões e, em Janeiro, conseguiu finalmente a esperada entrada no universo de accionistas da Shenzhen Metro Group, a firma que opera a rede de metro da cidade chinesa de Shenzhen, em substituição do conglomerado estatal China Resources. Assim, a Vanke espera obter acesso à edificação de terrenos disponíveis junto às novas linhas de suburbano de Shenzhen, a cidade onde tem a sua sede, de modo a garantir a sua futura viabilidade. Os reguladores também estão a analisar a compra de títulos da Vanke efectuadas pela imobiliária Evergrande, no final do ano passado, que lhe permitiu converter-se na terceira maior accionista, seguindo métodos similares aos da Baoneng e também através de uma filial seguradora.

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Notificação edital (15/FGCL/2017) No do pedido: 000005/2015

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor do pedido acima referido, “Empresa Hoteleira de Macau Limitada (titular do Hotel Palácio Imperial Beijing)”, com sede na Avenida Padre Tomás Pereira n.º 889, Taipa, Macau, o seguinte: Relativamente à ex-trabalhadora do devedor (Che Sut Keng), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo para pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 15 de Fevereiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo 6. o da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para a ex-trabalhadora acima referida, no valor total de $60 543,10 (sessenta mil, quinhentas e quarenta e três patacas e dez avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aquele ex-trabalhadora, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 23 de Fevereiro de 2017

O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong


h ZHANG ARTES, LETRAS E IDEIAS

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YANYUAN «Lidai Ming Hua Ji»

Relação das Pinturas Notáveis Através da História Quanto a planear e desenhar, lugar e posição, ou seja a composição, estas são a síntese de tudo na pintura. As pinturas de Gu Kaizhi e Lu Tanwei e dos seus seguidores são, contudo muito raras e é difícil discuti-las em detalhe, mas se repararmos nas pinturas de Wu Daoxuan1, pode-se dizer que elas contêm todos os Seis Princípios: ele exprimiu-os de uma só vez em inumeráveis formas. Um deus dirigia a sua mão; e ele abarcava totalmente o poder criativo da Natureza. Por isso, a ressonância espiritual tornou-se tão forte e heroica que quase não podia ficar confinada à seda. O seu trabalho do pincel era assaz ousado nas provocadoras pinturas murais mas quando terminadas as suas pinturas revelavam um cuidado extremo na execução. Elas eram verdadeiramente divinas e extraordinárias.

1 - Referência ao pintor mais conhecido como Wu Daozi, (680-c.760) também designado Wu Daoyuan. Era natural de Yangzhe, actual Yuxian, Província de Henan. Será uma referência constante ao longo do tratado de Zhang Yanyuan. Ao comparar com outros pintores do início da dinastia Tang, escreverá: «Apenas Wu Daoxuan, cujo superior trabalho de pincel era inspirado pelo céu, foi desde a juventude consciente de um misterioso poder espiritual. Muitas vezes pintou nas paredes dos templos estranhos rochedos e margens dos rios desmoronadas de tal modo que as podemos até sentir com a mão. Quando ele foi a Shu, ali pintou algumas paisagens que estão na origem de uma transformação na pintura de

paisagens. Tal começou com Wu e foi completada pelos dois Li.» (1ª Parte, capítulo V, traduzida por Osvald Sirén, The Chinese on the Art of Painting, op. cit., p.31). Outros analistas como Jing Hao, no seu tratado Bifa Ji, que traduzimos por «Notas Sobre o Método do Pincel», dirá «O trabalho com o pincel de Wu Daozi distingue-se em forma, estrutura e espírito tal como árvores muito altas que são demasiado imponentes em comparação com as das pinturas comuns, mas é pena que ele não tenha tinta.» De entre os poucos exemplos que existem do pincel de Wu Daozi, avultam os esfregaços feitos a partir de gravações em pedra, nomeadamente um célebre retrato de Confúcio.

Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração


13 hoje macau segunda-feira 27.2.2017

cidade ecrã

Rui Filipe Torres1

Tempos difíceis. Ai o cinema, ai o cinema H

ARD Times, For These Times, é o título da obra literária do Charles Dickens e do terceiro filme do João Botelho (1988), 90 minutos, com um preto e branco nativo (na rodagem) notável, filmado em 35 mm por Elso Roque, direcção de arte de Jasmim de Matos, um talento que infelizmente já não partilha connosco nem as esperanças nem o sofrimento do quotidiano vivido. Mas este título e esta crónica, não é sobre esta obra cinematográfica, é sobre os continuados TEMPOS DIFÍCIEIS do cinema Português. O anunciado novo enquadramento legislativo, em lugar de ser um tempo de reflexão crítica por parte dos seus principais actores, os que o fazem, e os que o distribuem em sala, sobre qual cinema serve Portugal, e qual a legitimidade e a eficácia na decisão dos apoios públicos ao cinema, tem sido um tempo de vigor nas explosões intestinas, na defesa dos interesses já conhecidos e em vigor nestas últimas três a quatro décadas, ou seja, desde os anos 80 do século vinte. Nas redes sociais, em artigos de imprensa, em cartas abertas postas a circular em festivais internacionais de cinema, a pressão das facções dos “donos” do direito a fazer cinema com fundos públicos em Portugal, manifesta-se de forma mais corporativa e fratricida, do que na verdade empenhada em posicionamentos estéticos ou teóricos sobre um pensamento sistematizado sobre o cinema neste tempo concreto da hipermodernidade que vivemos. Em resumo, temos assistido ao território da criação cinematográfica radicado em duas igrejas. Ambas falam em nome da relação do cinema com o público, ou melhor com os públicos. O deus verdadeiro está em cada uma, segundo os próprios funcionários, ou crentes, da instituição respectiva. Uma igreja segue mais de perto a teologia do marketing, essa grande ciência que sabe mais das nossas vontades e necessidades do que nós mesmos, e a outra, sente-se dona, legitima e única continuadora da chamada política de autor - movimento do cinema europeu iniciado com a geração dos “Cahiers du cinema”, Bazin, Godard, etc, afirmando recusar-se a tratar os públicos como imbecis. Mas, a razão de fundo da querela é outra, é que, para filmar em Portugal

com o mínimo de condições necessárias para cumprir as obrigações com as equipas técnicas e artísticas; os custos de desenvolvimento, preparação, produção, pós-produção e de comunicação de um filme com possibilidade de existir nos circuitos de exibição nacional e internacional, salvo casos esporádicos e nessa condição únicos, é necessário ter os apoios financeiros que resultam das políticas culturais públicas e, como os montantes são sempre escassos, o eixo do mal instala-se, e em cada igreja, instala-se a verdade com exclusão do que lhe esteja fora. Conviria, parece-me, traçar de forma breve o “estado da arte”, com o enfoque no cinema e na sua contaminação no banal quotidiano.

A discussão arte cinematográfica versus indústria é bacoca, ignorante e enganosa O cinema é matéria de múltiplos territórios, é transdisciplinar, é arte e indústria, contamina comportamentos, atitudes, artes, num duplo movimento de apropriação e recriação do apropriado. É o mais poderoso construtor do “phatos” (palavra grega que significa paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento, sentimento, ligação afectiva), utilizando a terminologia do cineasta Eisenstein (1898-1948), neste tempo da irrupção de milhões de subjectividades, de comunidades afectivas terri-

torialmente difusas. O cinema afirma-se enquanto olhar singular do homem sobre si e sobre o mundo. Capaz de transportar o espectador para a tela, o cinema é produtor de modelos e da reflexão crítica aos modelos que cria, é construtor de sombras e de luz, inventor de presentes, passados e futuros possíveis, afirma a radical dimensão da construção simbólica como alicerce e pilar para toda a tentativa hermenêutica do humano olhar sobre o mundo. Presente na forma e no desejo do habitar dos quotidianos pelas populações urbanas indiferentemente das geografias e modos de vida, sejam mais ou menos conservadoras, liberais, alternativas, dissidentes, feministas, pós-feministas ou pós-revolucionárias, o cinema está presente e, essa presença, sustenta e enforma olhares e subjectividades, visões do eu e do outro. O cinema é uma poderosa força construtora de mundos e do mundo. É neste contexto que se tem de pensar a política de fundos públicos de apoio ao sector. O momento de um novo enquadramento legislativo é talvez o melhor dos tempos para, por exemplo, pensar a articulação entre fundos públicos para o cinema e política externa de Portugal. O cinema e os objectivos e necessidades estratégicas de Portugal no curto, médio e longo prazo. A questão é, ou pelo menos a mim parece-me que deveria ser: Que cinema serve Portugal? Qual a legitimidade e a eficácia na decisão dos apoios públicos ao cinema? Pode um sistema de júris exteriores à ad-

ministração pública cumprir com eficácia o entendimento das políticas públicas para o cinema? Se sim, de que forma? Apesar da chamada participação dos actores em campo, não se encontra facilmente qual seja a não legitimidade a que seja o ICA que assuma e garanta as decisões de financiamento com base no cumprimento das linhas programáticas de curto e médio prazo definidas em sede própria – o governo eleito. A constantemente transparência enquanto valor, o chamado não dirigismo do gosto pelo poder político, com a solução dos júris vindos e representantes dos diversos sectores da actividade cinematográfica, é, ou pode ser, um pensamento bondoso, mas nada garante que seja mais do que isso A obrigatoriedade de pensar o cinema numa visão integrada e alargada tanto às questões da comunicação de Portugal no mundo contemporâneo, como à oferta cultural em território nacional, como à diversidade estética própria da cinematografia contemporânea, não me parece que fique necessariamente melhor entregue fora do que dentro do organismo que depende da tutela do Ministério da Cultura. Em registo de conclusão. A velha discussão Bragança – Paris, apoia-se na irrelevante, estafada e sem fundamentação teórica credível, oposição entre cinema arte e cinema indústria, paradoxalmente, continua a legitimar o discurso e pensamento sobre o cinema que se faz e que importa fazer. O cinema, “ o diálogo do mundo contemporâneo”, como afirmou Elia Kazan, é arte e indústria, tem a razão da sua paixão nos públicos numa ancestralidade muito anterior a si, a necessidade de narrativas que acompanha a história do homem no mundo. A discussão arte cinematográfica versus indústria é bacoca, ignorante e enganosa. O que existe são diferentes modelos de produção, e todas as possibilidade de filme conhecidas ou a conhecer. A questão dos fundos públicos, das políticas públicas para o cinema português é central e vai continuar a ser, mas nenhuma igreja tem legitimidade acrescida. 1 - Cineasta. Licenciado em Ciências da Comunicação pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Mestrando em Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. O texto não segue o novo acordo ortográfico.


14 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau segunda-feira 27.2.2017

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente TEATRO MUSICAL – “THREE PHANTOMS” Parisian Theater - Até 26/3

MIN

12

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19

HUM

60-90%

EURO

8.44

BAHT

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

O CARTOON STEPH

PROBLEMA 185

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 184

UM DISCO HOJE

SUDOKU

DE

C I N E M A

1.16

O AZAR

EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau

Cineteatro

YUAN

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1

EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃOO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)

0.22

Azarito! Sou um gato preto, o expoente da melanina, o prenúncio da desgraça dos supersticiosos, o espelho partido, a escada no caminho de quem avança receoso pelo destino que não controla. Por onde passo tinjo o mundo de infortúnio, mesmo quando só me quero espreguiçar em frente a alguém que me deve mimos e festas. Já agora, toda a gente me deve mimos e festas, o meu pêlo foi feito para ser depositário de carícias. Mas há quem pense que sou a reencarnação do mal, a segunda vida de bruxas. Os inquisidores da velha Europa consideravam os meus parceiros de pigmentação como bichos hereges. O Papa Inocêncio XVIII juntou-me à lista de combustível das velhas piras da Inquisição. Fomos queimados na fogueira da purificação cristã, juntamente com feiticeiras e todos os supostos praticantes de necromancias várias. Para esta corja de amedrontados represento a treva, os maus espíritos a desventura dos inocentes. O Edgar Poe escreveu-me assim, como o catalisador de desgraças sobrenaturais. De todas estas representações loucas, a minha preferida chegou com o anarco-sindicalismo, quando fui símbolo do movimento. Os anarquistas usaram a minha imagem como totem da sabotagem, alavanca simbólica dos desfortúnios dos patrões que ousariam ir contra a imbatível força do labor. Esta alegoria assenta-me melhor, o ícone da justiça vingadora que nada teme, que não se sustenta no vazio de realidade da superstição. Teimam-me pelo que represento de real, a força solidária dos acossados. Pu Yi

HOUSE OF THE BLUES | JOHN LEE HOOKER

É blues e podia estar tudo dito. Mas House Of The Blues é mais, é um disco de John Lee Hooker. São doze temas entre acordes e solos de guitarra contrapostos à voz do intérprete. Canções de dor que põe qualquer pé a bater e são mais do mesmo, que no caso, é sempre muito bom. Disco obrigatório e para todas as ocasiões. Sofia Mota

MANCHESTER BY THE SEA SALA 1

THE SPACE BETWEEN US [B] Filme de: Peter Chelsom Com: Gary Oldman, Asa Butterfield, Brit Robertson, Carla Gugino 14.30, 16.45, 21.30

A LA LAND [B] Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15

Com: Keanu Reeves, Ian Mcshane, Ruby Rose, Common 19.15 SALA 3

A CURE FOR WELLNESS [C] Filme de: Gore Verbinski Com: Dane DeHann, Mia Goth, Jason Isaacs 14.30, 21.15

KANCOLLE THE MOVIE [B]

SALA 2

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Filme de: Keizo Kusakawa 17.15

Filme de: Kenneth Lonergan Com: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler 14.15, 16.45, 21.30

RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER [C]

MANCHESTER BY THE SEA [C]

JOHN WICK: CHAPTER TWO [C] Filme de: Chad Stahelski

Filme de: Paul W.S. Anderson Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Shawn Roberts, Ruby Rose 19.15

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


15 hoje macau segunda-feira 27.2.2017

OPINIÃO

dissonâncias

RUI FLORES

Fortaleza Europa

H

Á um risco muito sério de a Europa deitar por terra quase 60 anos de integração política e os valores liberais que a têm marcado. Seis décadas após a constituição da Comunidade Económica Europeia, solidariedade, igualdade e fraternidade são chavões pouco populares. Esta deriva iliberal tem acontecido um pouco por toda a Europa, quer a ocidente quer a oriente, mas tornou-se evidente quando o Reino Unido votou pela saída da União Europeia em Junho do ano passado. Isto tem acontecido quer por acção quer por inacção. Por acção, por exemplo, as vedações construídos pela Hungria, nas suas fronteiras, para evitar que os refugiados por lá passassem a caminho da Alemanha e dos países nórdicos; por inacção, por exemplo, dos governos que se comprometeram a acolher no prazo de dois anos 160 mil refugiados que se encontram na Grécia e em Itália. No início deste mês, tinham apenas recebido pouco mais do que 14 mil pessoas, ou cerca de 9 por cento do total com que se haviam comprometido. O programa de recolocação de refugiados, que começou em Setembro de 2015, foi adoptado pelo Conselho Europeu com o objectivo de aliviar os governos de Atenas e de Roma da pressão migratória de milhares de candidatos a asilo que estavam então a inundar a Europa. A probabilidade de os Estados-membros da União Europeia cumprirem a promessa de acolher os restantes 146 mil nos próximos sete meses parece muito pouco provável. A Europa está pois, paulatinamente, de eleição em eleição, de medida em medida, de lei em lei, a transformar-se numa espécie de fortaleza, incapaz de receber quem lhe bate à porta e incapaz de integrar os outros europeus. A Áustria que esteve recentemente à beira de eleger o primeiro presidente de extrema-direita na repetição uma segunda volta eleitoral controversa, acaba de adoptar legislação laboral em que se privilegia os trabalhadores nacionais em relação aos estrangeiros. Privilegia? Melhor seria escrever “discrimina os trabalhadores estrangeiros”, pois é disso que se trata, de uma discriminação. Na Holanda, que vai a votos no dia 15 de Março, o Partido da Liberdade, de Geert Wilders, com um discurso anti-imigração, anti-islâmico, está à frente nas sondagens. Não é por isso de estranhar que a força política que segue em segundo lugar nas sondagens, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia, do primeiro-ministro

STEVEN SPIELBERG, BRIDGES OF SPIES

ruiflores.hojemacau@gmail.com

Os muros estão construídos. E não vão desaparecer durante uma noite, deitados abaixo por hordas de europeus empenhados na internacionalização. A Europa está a fechar-se sobre si própria Mark Rutte tenha definido a contenda eleitoral como uma luta pela “identidade”. Da Holanda, dos holandeses, dos valores que o país abraça. E em França, Marine Le Pen continua a subir nas sondagens. Enquanto, nos Estados Unidos, Donald Trump promete erguer mais barreiras, quer à circulação de pessoas – a vedação com o México já existe em quase 1200 quilómetros, vem aí agora o muro – e de mercadorias – a promessa de cobrar tarifas de 45 por cento sobre certos produtos oriundos da China ainda não foi alvo de uma ordem executiva, mas também não parece ter sido abandonada –, na Europa essas barreiras parece que já têm alguns metros de altura. Neste fim-de-semana, um antigo colega meu em Portugal, que vive há anos na Estónia, tornou pública, no Facebook, uma certa aversão que os estónios sentem pelos estrangeiros. A coisa piorou tanto que já é visível nos bares, em que, ao final do dia, os imigrantes são perseguidos e ameaçados, sem que ninguém intervenha para acalmar os ânimos.

Esta falta de entusiasmo no acolhimento tem levado, por exemplo, milhares de iraquianos que chegaram à Europa no pico da crise migratória a regressar à sua terra. O New York Times deu à estampa há dias uma reportagem, com nomes, com rostos, com imagens, de iraquianos que não aguentaram o ambiente hostil em que foram recebidos e voltaram a casa. Alguns estavam na Finlândia. A Organização Internacional para as Migrações reconhece que só no ano passado ajudou 3.500 iraquianos a deixarem a Europa de regresso ao Médio Oriente. Os muros estão construídos. E não vão desaparecer durante uma noite, deitados abaixo por hordas de europeus empenhados na solidariedade, fraternidade, na igualdade, na internacionalização. A Europa está a fechar-se sobre si própria. Temos vivido em quase permanente crescimento económico durante décadas. Estamos hoje melhor do que quando os nossos pais tinham a nossa idade. Trabalhamos menos horas do que eles trabalhavam e ganhamos mais por isso. A entrada em

circulação do euro ocorreu há quinze anos. Para muitos jovens, a realidade do euro é a única que conhecem. Os universitários do programa de mobilidade Erasmus, que têm agora 20 e poucos anos, não têm memória do escudo, peseta ou franco. Assimilámos ao longo das seis décadas de integração europeia que somos europeus. Temos um passaporte que nos lembra isso. Os cursos superiores obedecem todos às mesmas regras de validação. A divisa que usamos é a mesma numa maioria de Estados. As marcas da roupa da moda estão disponíveis em todas as grandes cidades europeias. E ao mesmo preço. Os salários e os impostos é que ainda são muito diferentes… Os tempos da viagem fácil, da deslocalização – o termo imigrante foi dando lugar ao termo mais vago e menos negativo de expatriado – e do dinheiro barato parecem um longínquo passado. A realidade é que temos dado por adquirido algo que pode estar à beira do colapso. Este estado de coisas parece não ser permanente. A crise financeira, económica e social de 2008 não passou. As suas ondas de choque continuam a ser sentidas, com esta reacção social contra o que não é daqui, aquele que é de fora. Os anos da internacionalização que marcaram a segunda metade do Século XX e os primeiros anos do Século XXI parecem fazer agora parte de uma memória feliz de um tempo em que a vida era mais fácil.


“ FILIPINAS MILHARES ASSINALAM 31 ANOS DA DEPOSIÇÃO DE MARCOS

M

ILHARES de activistas pró-democracia nas Filipinas assinalaram o aniversário da revolta de 1986 que depôs o ditador filipino Ferdinand Marcos, com um aviso contra o que consideram ser as tendências ditatoriais do Presidente. Os activistas concentraram-se no sábado junto a um templo ao longo da maior auto-estrada na área metropolitana de Manila, onde milhões de filipinos convergiram há 31 anos, numa revolta pacífica para retirar Marcos do poder. Uma concentração de maior dimensão em apoio ao Presidente Rodrigo Duterte e à sua campanha contra as drogas foi realizada no Parque Rizal, em Manila, onde a polícia estimou terem participado mais de 200.000 pessoas.

Muitos dos manifestantes chegaram em autocarros e jipes com oficiais locais. “Esta é a prova do verdadeiro ‘poder do povo’”, disse à multidão o secretário da comunicação de Duterte, Martin Andanar. O exército apoiou a revolta de 1986 que acabou com a presidência de Ferdinand Marcos, marcada por corrupção massiva, abuso de poder e violações dos direitos humanos. A administração Duterte comemorou o aniversário de forma austera no maior campo militar na sexta-feira perto do templo. O evento não foi participado pelo Presidente filipino, que permitiu que Marcos fosse enterrado no cemitério dos heróis em Novembro, desencadeando críticas dos grupos pró-democracia.

José Augusto Seabra

Fundação Macau ORÇAMENTO CRESCE 16 VEZES EM 15 ANOS

Patacas há muitas Com uma gestão de fundos questionada amplamente, a Fundação Macau revelou ter uma reserva equivalente a 29,2 mil milhões de patacas. Em entrevista o presidente do conselho de administração da instituição afastou qualquer suspeita em relação ao funcionamento da mesma

CHINA PODE FAZER DE BENÍTEZ O TREINADOR MAIS BEM PAGO DO MUNDO

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Dois clubes da Super Liga chinesa estão dispostos a fazer de Rafael Benítez o treinador mais bem pago do mundo. A proposta para o actual responsável técnico do Newcastle contempla um salário anual de 35 milhões de euros, conforme noticia o Daily Mirror. Um ordenado que dobra os rendimentos de José Mourinho no Manchester United (14,5 milhões de euros/ano) e ‘arrasa’ o recorde de Pep Guardiola, que é actualmente o treinador de futebol com melhores rendimentos, recolhendo 18 milhões de euros por época no Manchester City. A aceitar esta oferta, o treinador espanhol ficaria ainda com um salário equivalente ao de Carlos Tévez, que se tornou no jogador mais bem pago do planeta quando em Dezembro passado se mudou para o Shanghai Shenhua.

civil e alguns deputados da Assembleia Legislativa. Porém, Wu Zhiliang afasta qualquer sombra de suspeita. “Todos os anos acontecem alguns casos de denúncia sobre o mau uso de apoios concedidos pela fundação”, comentou o presidente do conselho de administração da FM em entrevista à agência Lusa. Wu Zhiliang indicou que, anualmente, a instituição recebe “meia dúzia de queixas” e que, apesar dos casos suspeitos, nunca nenhuma foi dada como provada.

“A fundação tem um sistema bastante rigoroso em fiscalizar o uso do apoio concedido.” WU ZHILIANG PRESIDENTE DO CONSELHO DA ADMINISTRAÇÃO DA FUNDAÇÃO MACAU

DETIDO HOMEM QUE ATROPELOU MULTIDÃO EM NOVA ORLEÃES

O homem, que conduzia o carro que ontem de manhã avançou contra a multidão em Nova Orleães, foi detido. As autoridades actualizaram o número de pessoas feridas de 12 para 38, sendo que cinco destas estão em estado grave, mas não correm risco de vida. Uma pick up atingiu a multidão que assistia à conhecida parada «Krewe of Endymion», no estado da Louisiana, que antecede o desfile de Carnaval. O chefe da polícia, Michael Harrison, disse que o suspeito estava a ser investigado por condução sob o efeito de substâncias tóxicas.

segunda-feira 27.2.2017

Gemido de água/sombra dorida/de tempo ou mágoa/esmaecida:/flauta esquecida/no som que cala/quando se exila/a gotejar/na clepsidra”

A

Fundação Macau (FM) tem nos seus cofres uma quantia que representa quase um terço do valor da receita do orçamento da RAEM para 2017, de quase 103 mil milhões de patacas. Hoje em dia, os fundos da fundação, no valor de 29,2 mil milhões de patacas, são mais de 16 vezes superiores à data da

sua criação. Os dados foram relevados por Wu Zhiliang, em entrevista à Agência Lusa, baseado no valor reportado pela instituição aos Serviços de Finanças. Esta reserva funciona como uma conta poupança à qual acrescenta, todos os anos, 1,6 por cento das receitas da indústria do jogo. Parte da reserva encontra-se aplicada em depósitos,

acções, fundos e em títulos de dívida estrangeira, um investimento que gera um retorno anual na ordem dos 2,5 por cento. “O dinheiro foi entregue a alguns bancos, são eles que o geram e não pode haver prejuízo”, garantiu Wu Zhiliang à Lusa.

MEIA DÚZIA DE QUEIXAS

As dúvidas sobre a gestão da FM dividem-se entre a sociedade

PAPA CRITICA BUSCA OBSESSIVA DE BENS MATERIAIS E DE RIQUEZAS

O Papa Francisco criticou ontem “a busca obsessiva dos bens materiais e das riquezas”, sublinhando que nesta procura as pessoas esquecem-se do bem maior que é o amor paternal de Deus. “Não podeis servir a Deus e às riquezas. Ou ao Senhor ou aos ídolos fascinantes, mas ilusórios”, disse Francisco, a partir da janela do Palácio Apostólico do Vaticano, pouco antes da ‘Oração do Angelus’. O Papa disse que esta é uma escolha que deve ser continuamente renovada, “porque as tentações de reduzir tudo a dinheiro, prazer e poder são convincentes”, pois alguns ídolos “têm resultados tangíveis e ao mesmo tempo fugazes”.

“A fundação tem um sistema bastante rigoroso em fiscalizar o uso do apoio concedido”, explicou. No entanto, tem sido questionada a escolha das instituições que a FM financia. Neste capítulo é de salientar que em Junho de 2016, o Comissariado Contra a Corrupção arquivou o caso da Universidade de Jinan, na China. Em questão estava um subsídio no valor de 100 milhões de reminbis concedido à instituição de ensino, cujo vice-presidente do conselho geral é Fernando Chui Sai On. Agência Lusa


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