DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 27 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº 4514
RÓMULO SANTOS
hojemacau
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À beira de um ataque de nervos Tentam a todo o custo voltar para casa, mas sem sucesso. Uma família de residentes de Macau está retida na Coreia do Sul por não conseguir que as filhas, menores de idade, efectuem os testes de despistagem à covid-19 exigidos pelo Governo. Com os
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
OS PLANOS E A REFORMA
vistos a terminarem em Maio, a ansiedade sobe de tom, mas o Executivo da RAEM recusa abrir excepções. Advogados e juristas falam de violação dos direitos de residência e sugerem que o Governo apresente alternativas.
PÁGINAS 2-4
HOJE MACAU
ANABELA CANAS
PÁGINAS 6-7
MÁSCARAS
INDÚSTRIA EM MACAU PÁGINA 5
CHINA
DIPLOMATAS DE COMBATE PÁGINA 10
TRILOGIA ANABELA CANAS
h
PARÁBOLA DOS PESCADORES PAULO MAIA E CARMO
ÓRFÃS E VIÚVAS JOSÉ SIMÕES MORAIS
OPINIÃO
LIBERDADE JOÃO LUZ
2 LAG
2020
Ir além das Uma das prioridades do Governo é a reforma da Administração Pública, cujo plano de combate vai a consulta ainda em 2020. Deputados alertaram para problemas que se arrastam e para insuficiências nos trabalhos interdepartamentais. Ao nível da responsabilização de dirigentes, o secretário para a Administração e Justiça frisou que já existe um regime para isso, mas reconheceu margem para melhorias
V
AI ser feita esta ano uma consulta pública sobre o plano da reforma da Administração Pública. De momento, está a ser recolhida informação sobre a estrutura, pessoal e circuitos de trabalho dos serviços públicos, sendo que o plano mencionado vai incluir os temas da reforma, as fases, os prazos de implementação e
NOVIDADES ELECTRÓNICAS
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ndré Cheong reconheceu dificuldades de alguns serviços na implementação do governo electrónico devido ao volume de dados. Mas frisou que isso “não pode servir de pretexto para não se avançar com a governação electrónica”. No documento das LAG é explicado que se vai criar uma “plataforma uniformizada de serviços electrónicos e um conjunto de módulos comuns”, com lançamento progressivo no quarto trimestre deste ano. Além disso, vai ser lançada uma plataforma e aplicação para telemóvel para ser usada internamente na administração pública, com mais serviços individualizados junto dos trabalhadores entre Abril e Junho.
os resultados pretendidos. A informação foi dada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, ao apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) da sua tutela na Assembleia Legislativa. A revisão e o aperfeiçoamento do plano estão previstos para o quarto trimestre deste ano. Entre os problemas que persistem “há um longo período de tempo”, o secretário destacou a sobreposição de estruturas e cruzamento de funções entre serviços públicos, o “recrutamento complexo e distribuição inadequada de trabalhadores no âmbito da gestão de pessoal”, a falta de coordenação ao nível do governo electrónico, a “coordenação difícil e andamento moroso no âmbito dos trabalhos interdepartamentais”, a “falta de clareza dos objectivos e de resultados notórios no âmbito da formação dos trabalhadores dos serviços públicos”. Ao longo do debate, o secretário classificou a existência de 75 serviços e entidades públicas como “megalómano”. André Cheong apontou a restruturação como “trabalho integrante” da reforma administrativa, mas alertou que “não é tão simples como se pensa” e que é necessário analisar as funções e atribuições de cada um dos serviços públicos.
RÓMULO SANTOS
REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM CONSULTA ESTE ANO
Quanto aos procedimentos para recrutamento, também abrangidos pela futura reforma, Cheong disse que “alguns departamentos até têm medo de abrir concurso público”. “Neste caso, o problema essencial é evitar nepotismo. Temos de garantir transparência simplificando o procedimento. (...) Vamos reavaliar o regime das carreiras públicas para encurtar este período”. As mudanças à estrutura da Função Pública há muito que são esperadas por alguns. “Todos nós
estamos à espera há muitos anos e temos muita esperança. E de cada vez que ouvimos falar de reforma administrativa ficamos com esperança, mas depois nada acontece. Será que não há tempo suficiente? Preocupamo-nos que o Governo arraste problemas eternamente”, lamentou Song Pek Kei.
COMUNICAÇÃO E LIDERANÇA
Ao nível da cooperação interdepartamental, o deputado Zheng
Anting elogiou o trabalho feito entre serviços ao nível do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. No entanto, recordou que no passado “a colaboração entre serviços não surtiu os devidos efeitos”, esperando que a nova experiência seja tida em conta no futuro. Por sua vez, Chan Iek Lap apontou insuficiências à interligação e serviços públicos e a necessidade de melhorias aos cursos de formação para funcionários públicos.
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palavras
O secretário respondeu com o exemplo do repatriamento das pessoas que estavam em Hubei, explicando que envolveu quatro secretários e nove serviços públicos, mas que “trabalharam em prol dos residentes” e o trabalho foi realizado “quase de forma perfeita”. André Cheong defendeu que os problemas nem sempre exigem a criação de um grupo interdepartamental, remetendo antes para a importância de haver liderança. Por outro lado, reconheceu a morosidade do processo de algumas consultas públicas, afirmando que vai “pensar na matéria”. No entanto, o governante entendeu que “provavelmente a questão em causa não tem a ver com o regime, mas sim a comunicação e diálogo à priori”. Ao nível das formações, prevê-se a abertura para o quarto trimestre deste ano de cursos de liderança em cooperação com instituições de ensino superior. No discurso inicial foi feita referência à Universidade de Macau.
RESPONSABILIZAÇÃO DE DIRIGENTES
Lembrando que existe uma lei que regula os direitos, deveres e responsabilidades dos dirigentes e chefias, até mesmo para os funcionários públicos, André Cheong comentou que ainda assim “as pessoas sentem que na responsabilização dos dirigentes parece que há sempre problemas”. E considerou que o processo de responsabilização “leva muitas vezes os dirigentes a terem medo de decidir”. O secretário explicou que no ano passado foi feito um estudo
PENSÕES ILEGAIS PONDERADA RESPONSABILIDADE DE AGENTES IMOBILIÁRIOS
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alteração à lei da proibição de prestação ilegal de alojamento está entre a produção prioritária da legislação relacionada com assuntos da sociedade e da vida da população. Aqui, as LAG indicam que será
estudado o reforço das responsabilidades legais das partes e do regime sancionatório. Mas ainda não há uma solução definida para lidar com o problema. De acordo com o secretário para a Administração e Justiça,
a mesma pessoa já chegou a ser sancionada várias vezes e vai ser ponderada a responsabilidade dos agentes imobiliários. “Chegámos à conclusão que, provavelmente, aplicar meios judiciais não é a melhor solução. Até
à data não temos uma orientação concreta ou amadurecida. Em conjunto com os Serviços de Turismo, dialogámos para estudar os problemas relacionados com a aplicação da lei. O problema não reside na lei”, disse André
Cheong. Apesar da legislação ter permitido avanços, o secretário apontou dificuldades a identificar infractores. São antes encontrados os hóspedes, que tendem a ser turistas que arrendaram as fracções a terceiros.
Os restantes projectos para 2020 são a elaboração dos regimes jurídicos de segurança contra incêndios, da construção urbana, da renovação urbana e um outro relativo ao registo de produtos de medicina tradicional chinesa.
sobre o regime de aposentação e responsabilização dos dirigentes, motivado pelo processo depois da passagem do tufão Hato que envolveu o ex-director do Serviços Meteorológicos e Geofísicos, Fong Soi Kun. “Houve esse caso e, por isso, estamos a fazer o estudo dessa matéria”, explicou. Mas reconheceu não ser a única melhoria essencial, apontando a necessidade de coordenação entre diferentes regimes. O secretário explicou que se um dirigente não conseguir atingir os objectivos, nomeadamente das LAG ou políticas definidas pelo Chefe do Executivo, pode ter a comissão de serviço suspensa ou até mesmo não renovada. No entanto, a situação muda se há violações às leis, porque o regime da Função Pública não se coordena com o regime de responsabilização dos dirigentes.
COMBATE À CORRUPÇÃO
Sulu Sou perguntou se as competências do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) vão ser alargadas e como se pode proteger quem faz denúncias de casos de corrupção. Em resposta, André Cheong afirmou que violações à lei têm de resultar em investigações penais. “Vai haver total imparcialidade nos trabalhos do CCAC”, declarou, explicando que o trabalho do organismo “não é fácil”.
André Cheong disse que o caso do IPIM vai brevemente a julgamento em tribunal e que haverá acções judiciais a envolver responsáveis da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental e da delegação da RAEM em Pequim Face a uma intervenção de Ng Kuok Cheong, que recordou relatórios do CCAC onde se registaram abusos de poder por parte de vários serviços e questionou quantas acções de responsabilização foram concretizadas, André Cheong disse que o caso do Instituto de Promoção e Investimento de Macau vai brevemente a julgamento em tribunal. E explicou que haverá acções judiciais a envolver responsáveis da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental e da delegação da RAEM em Pequim. Salomé Fernandes (com A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
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Estatuto dos magistrados Prometida revisão para breve
André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, garantiu na sexta-feira que a proposta de lei de revisão do regime de formação dos magistrados deverá ser entregue à Assembleia Legislativa em breve. “Introduzimos as alterações e muito rapidamente [esse projecto de lei] vai ser apresentado à AL para discussão”, disse o governante, que assegurou que as alterações se prendem com a aposta na formação de “forma sistematizada”. Além disso, a revisão visa garantir que os magistrados “não sejam de imediato admitidos sem experiência”.
Funcionários públicos Formações na UM e no IFT
O secretário para a Administração e Justiça adiantou no hemiciclo que as formações dos funcionários públicos vão passar a ser feitas em parceria com a Universidade de Macau (UM) e o Instituto de Formação Turística. “Temos o Edifício Jubileu na UM e terminámos o ensino contínuo. Vamos aproveitar essas instalações da UM e os seus recursos para realizar as nossas acções de formação”, disse André Cheong. O secretário admitiu, contudo, que “temos verificado problemas na formação de funcionários públicos”, depois de alguns deputados terem argumentado os poucos efeitos práticos dos cursos.
COVID-19 DENUNCIADOS ATRASOS NO PAGAMENTO DE CUSTAS JUDICIAIS
Pagar à antiga
O deputado Iau Teng Pio alertou para o facto de a paralisação causada pela pandemia ter levado ao atraso no pagamento das custas judiciais de processos por não existir um sistema de pagamento electrónico. O secretário para a Administração e Justiça prometeu acelerar o processo
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Tribunal de Segunda Instância (TSI) e o Tribunal de Última Instância (TUI) registam atrasos no pagamento de custas judiciais devido à paralisação provocada pela pandemia da covid-19. A informação foi avançada pelo deputado nomeado Iau Teng Pio no debate de sexta-feira sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área da Administração e Justiça. “Durante a pandemia têm ocorrido problemas no pagamento das custas judiciais. O TSI e o TUI não têm, como
outros tribunais, balcões de pagamento electrónico e muitas vezes é necessário ter um guia de pagamento primeiro, obrigando à deslocação à Caixa Económica Postal. Isso pode provocar o atraso no pagamento e a emissão de uma multa. Será que o secretário vai dialogar com os tribunais para que os
procedimentos sejam informatizados?”, questionou. André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, prometeu accionar os mecanismos necessários. “Talvez esse meio de pagamento electrónico não seja vulgar nos serviços públicos. Os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP)
“Durante a pandemia têm ocorrido problemas no pagamento das custas judiciais. O TSI e o TUI não têm, como outros tribunais, balcões de pagamento electrónico...” IAU TENG PIO DEPUTADO
vão avançar com soluções para essas questões e vamos comunicar com os órgãos judiciais.”
TRIBUNAIS DIGITAIS
Outra promessa deixada por André Cheong foi com a progressiva digitalização dos procedimentos judiciais, questão também levantada por Iau Teng Pio. “Há que introduzir alterações ao Código do Procedimento Administrativo e Código do Processo Penal para se avançar com a digitalização de todos os procedimentos. Os SAFP tentam apoiar os serviços competentes para se avançar com essa tarefa.” O secretário explicou que tanto o TUI como o Ministério Público (MP) já podem ter mais serviços digitais. “A lei do Governo Electrónico aplica-se apenas aos procedimentos administrativos e não a processos civis e penais. Graças a um despacho, o TUI e o MP podem realizar procedimentos administrativos de forma electrónica.” André Cheong declarou ainda que quando ainda era director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), formou uma comissão para “estudar a criação de uma plataforma de gestão de processos” nos tribunais. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Hác-Sá Complexo de lazer “não será como a Disneyland”
Questionado sobre o futuro complexo de lazer e de aventura a erguer junto à praia de Hác-Sá, em Coloane, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, garantiu que o projecto “não se trata de um complexo de lazer de grande dimensão como a Disneyland, mas sim de um complexo de 70 mil metros quadrados. Queremos aproveitar os recursos recreativos e desportivos da praia de Hác-Sá que já são antigos”. O projecto visa realizar “actividades de lazer para a população e de aventura para os jovens”. Os deputados questionaram também o projecto do corredor costeiro a ser erguido a sul da península de Macau, entre o Centro de Ciência e a estátua da deusa Kun Iam, com cerca de 15 mil metros quadrados. André Cheong prometeu também ouvir as opiniões relativamente ao aproveitamento de quatro terrenos abandonados junto à Avenida Marginal do Lam Mau e que deverão ser usados para construir mais campos de futebol e uma área de manutenção física.
Leis Secretário e Kou Hoi In coordenam agendas
Apesar de o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano contemplar a apresentação de sete propostas de lei na Assembleia Legislativa (AL), o secretário para a Administração e Justiça prometeu reunir com o presidente da AL, Kou Hoi In. “Temos de dialogar com o presidente da AL para ver se há tempo suficiente [para a entrega das propostas de lei] porque não queremos que não sejam concluídos.” André Cheong disse que tem de ser “pragmático” nesta tarefa, tendo sido elaborada uma lista de diplomas legais com os quais a população “se preocupa mais”.
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MÁSCARAS JORGE VALENTE PONDEROU FAZER A FÁBRICA NA ILHA DA MONTANHA
A associação “Everyone Stray Dogs Macau Volunteer Group” voltou a realizar um evento de adopção de animais abandonados. Após este tipo de iniciativas terem sido interrompidas devido à crise provocada pelo novo tipo de coronavírus, foram muitos os que visitaram ontem as instalações da associação. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Chan In Cheng, presidente da “Everyone Stray Dogs Macau Volunteer Group”, justificou a decisão de voltar a promover um fim de semana dedicado à adopção, com o facto da situação epidémica se encontrar estável. De acordo com Chan In Cheng, a pandemia tem sido responsável pela quebra do número de adopções de animais abandonados. Apesar disso, a responsável garante ter continuado a oferecer abrigo aos animais durante a crise. Para facilitar o processo, a presidente da associação revelou ainda que existe um período experimental após a adopção dos cães. No entanto, foram raras as ocasiões em que os animais foram devolvidos.
Imigração Ilegal Serviços Comunitários pedem videovigilância
A coordenadora-adjunta do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central sugeriu que se estabeleça um sistema de videovigilância inteligente na zona costeira, entre Zhuhai e Macau, para combater a imigração ilegal. Cheong Sok Leng pede também que se intensifique a troca de informação com as autoridades do Interior da China, e que a monitorização da área marítima entre Zhuhai e Macau seja feita ao vivo. No entender da representante, a tecnologia deveria ser usada com o objectivo de diminuir o número de crimes como jogo ilegal, roubo, prostituição, tráfico de droga e trabalho ilegal. Situações que para Cheong afectam a segurança e a imagem da RAEM como centro mundial de turismo e lazer. Além da videovigilância “aquática”, Cheong gostaria que a legislação referente ao controlo da migração fosse revista, assim como os requisitos para a permanência e autorização de residência.
UM Candidaturas para pós- graduação mais que duplicam
O número de candidaturas a programas de pós-graduação da Universidade de Macau (UM) para o ano lectivo 2020/2021 aumentou em mais de 50 por cento em relação ao ano passado. De acordo com a UM foram recebidas mais de oito mil candidaturas para o próximo ano lectivo, distribuídas por mestrados (6.500) e doutoramentos (1.700). “Trata-se de um novo recorde”, pode ler-se no comunicado da UM. No entanto, das 8.200 pedidos recebidos, apenas uma parte dos novos alunos será acolhida nos programas de pós-graduação.”Seguindo o princípio do ingresso baseado no mérito, a universidade prevê admitir, este ano, aproximadamente 1.500 alunos no regime de pós-graduação, de forma a assegurar a sua qualidade”. De forma a cativar talentos de algumas das universidades mais reconhecidas a nível mundial, a UM tem vindo a lançar bolsas de estudo, existindo no presente ano, 30 alunos do programa de doutoramento a receber apoio financeiro.
Evolução natural A fábrica de máscaras prevista para Macau só não foi já para Hengqin porque era necessária “para ontem”, mas a hipótese continua em cima da mesa em caso de expansão. Ao HM, Jorge Valente, sócio do projecto, conta ainda como foi difícil convencer os parceiros que o plano de abrir uma fábrica em Macau não era uma anedota
A
fábrica de máscaras prevista para abrir em Macau na zona da Areia Preta pode expandir-se para a Ilha de Hengqin. Quem o diz é o empresário e sócio do projecto, Jorge Neto Valente, adiantando ainda que a fábrica só não vai abrir já na Ilha da Montanha porque a nova fronteira entre Macau e o território ainda não está operacional. "Ponderámos muito abrir a nossa fábrica na Ilha da Montanha, mas acabámos por decidir fazer em Macau neste mo-
mento, por uma razão muito simples: a nova fronteira ainda não está aberta. Creio que depois de a nova fronteira estar aberta vai haver facilidades em passar pessoas e materiais. Como precisávamos da fábrica para ontem (…) a fronteira de Hengqin continua a ser uma fronteira que é morosa e que não oferece vantagens", disse. Prevendo que a fábrica entre em funcionamento já em Maio, Jorge Valente aponta para que esse passo seja dado “daqui a seis meses ou um ano”, quando a fronteira já estiver a funcionar bem. “Se expandirmos a nossa fábrica daqui a um ano, muito provavelmente, já iremos para Hengqin. Mas só depois da nova fronteira abrir”, sublinhou. Segundo o empresário, a unidade fabril resulta de um investimento total “não superior a sete milhões de patacas” da AS King – Produtos Médicos Limitada e terá a capacidade de produzir entre 50 mil a 140 mil máscaras diariamente. Questionado sobre se foi fácil mobilizar o financiamento e as peças necessárias para pôr o projecto em marcha, Jorge Neto Valente revelou que numa fase inicial o trabalho passou sobretudo por convencer os parceiros de que se tratava de um plano sério. "Muitos pensavam que era uma anedota. Tanto os fornecedores da China, como governantes e associações a quem pedimos ajuda pensaram que não era possível em Macau”, explicou o empresário. "Quando se fala de diversificação da indústria, a verdade é que não se pensa mesmo em indústria.
HOJE MACAU
Animais Associação retoma adopção de cães abandonados
Macau não é um sítio onde exista agricultura ou indústria e quando falámos numa fábrica de máscaras, acharam que não era verdade", acrescentou.
MENOS MAL
Sobre a possibilidade de o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau poder vir a sofrer consequências a
“Muitos pensavam que era uma anedota. Macau não é um sítio onde exista agricultura ou indústria.” JORGE NETO VALENTE EMPRESÁRIO
longo prazo, Jorge Valente não se mostra preocupado e afirma mesmo que “se as crises forem bem aproveitadas é possível planear melhor o futuro em situações semelhantes”. Quanto à recuperação económica de Macau, o empresário considera que “as coisas vão melhorar”, mas que “vamos passar do péssimo ao muito mau”, prevendo uma recuperação lenta. “Ainda vamos passar por muita dor, mas (…) vamos sobreviver”, apontou. Pedro Arede
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VALES DE SAÚDE MÉDICOS PODEM PERDER LICENÇA EM CASO DE FRAUDE
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S médicos envolvidos em casos de uso ilegal de vales de saúde, terão de assumir responsabilidades penais e podem ver a sua licença profissional suspensa ou cancelada pelos Serviços de Saúde (SS).
A informação foi transmitida oficialmente no sábado e surge na sequência do recente caso de fraude com vales de saúde, anunciado pela Polícia Judiciária (PJ), que envolve 9 milhões de patacas desde Maio do ano passado e
11 mil residentes. Foram detidas 12 pessoas. “Os SS continuarão a supervisionar dados dos vales de saúde através de um mecanismo de inspecção, como constante fiscalização, reforço de inspecções surpresa a todos os
profissionais de saúde e observação in loco, de modo a detectar o mais cedo possível a violação”, pode ler-se no comunicado. As autoridades de saúde apelaram ainda aos residentes e ao sector para “o cum-
primento das leis”, sublinhando que “não há lugar a tolerância por qualquer violação e irregularidade”. Segundo os SS foram recebidas até ao momento, 12 queixas relacionadas com o uso ilegal de vales de saúde
O caso anunciado recentemente pela PJ, teve como epicentro uma clínica médica na Areia Preta e duas lojas situadas no bairro do Iao Hon, uma de produtos de medicina tradicional chinesa e outra de mariscos secos.
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27.4.2020 segunda-feira
Cada um por si SEUL FAMÍLIA DE RESIDENTES IMPEDIDA DE REGRESSAR A MACAU
Uma família de residentes de Macau está retida na Coreia do Sul porque não consegue testar as filhas para a covid-19, conforme exige o Governo a quem pretende regressar ao território. O Executivo recusa abrir excepções e a representante dos Serviços de Turismo coloca a hipótese de a família não querer pagar os testes
A
exigência de apresentar testes de despistagem à covid-19 para embarcar num voo para Macau está a reter uma família de quatro residentes permanentes na Coreia do Sul. O caso foi relatado pela afectada Cinzia Lau, mãe, que não consegue testar as filhas para regressar à RAEM. Segundo as medidas anunciadas a 15 de Abril do Governo, os residentes vindos de uma zona de alta incidência de avião precisam de apresentar um resultado negativo no teste do ácido nucleico. Cinzia e o marido conseguem ser testados na Coreia do Sul, mas
o mesmo não acontece com as filhas, por serem menores. Com os vistos a terminarem em Maio, a família encontra-se numa situação de ansiedade. “Os hospitais dizem-nos que quando fazem o teste do ácido
“Não há limite de idade para fazer os testes. O preço [dos testes] é que pode ter sido uma questão.” INÊS CHANG DST
nucleico às crianças existe o risco de causar danos às vias respiratórias e recusam-se a fazer os testes. Só quando há sintomas nas crianças, o que não é o caso, é que fazem os testes”, relatou a residente, ao HM. A família encontra-se num limbo na Coreia do Sul, sem que o Executivo mostrasse disponibilidade para “abrir excepções” e permitisse o regresso, como ficou patente numa resposta dos Serviços de Saúde enviada a 24 de Abril. Sem ajuda do lado de Macau, a residente tentou ainda contactar a Embaixada da China, mas nos
últimos dois dias ninguém atendeu os telefones.
NÃO QUEREM PAGAR?
O assunto foi abordado, pela primeira vez, na conferência de imprensa diária de sábado. A médica Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância de Doença, apontou que outras jurisdições fariam testes aos residentes no caso de apresentarem as orientações do Governo da RAEM. “Na nossa página electrónica temos as orientações muito claras que inclui a necessidade de todas
as pessoas que voam para Macau mostrarem um resultado de um teste de ácido nucleico com um resultado negativo”, apontou. “Acho que já é suficiente para que os residentes consigam fazer um teste lá fora, caso mostrem esse documento”, acrescentou. Por sua vez, Alvis Lo Iek Long, médico adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário, explicou, ontem, as restrições ao regresso da residente com a necessidade de proteger a saúde pública, acima dos indivíduos. Sobre o fim dos vistos em Maio da família, o médico reconheceu não ter uma solução.
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No entanto, a representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Inês Chang, levantou a hipótese de ter havido falhas de comunicação entre a residente e as entidades na Coreia ou da família de Cinzia Lau não querer assumir os custos dos testes. “As autoridades de diferentes locais têm formas diferentes de actuar. [...] Em princípio podem fazer os testes às crianças. [...] Mas não há limite de idade para fazer os testes. O preço [dos testes] é que pode ter sido uma questão”, atirou. Apesar de ter sido questionada, Inês Chang não revelou se as autoridades de Macau entraram em contacto com as entidades coreanas para garantir os testes. Inês Chang sugeriu ainda que a família encontrasse outros meios para regressar a Macau.
DÚVIDAS E NEGAS
Ao HM, Cinzia afirmou ter contactado cinco instituições médicas, entre hospitais, clínicas e o centro de prevenção. Segundo a residente, na clínica New Sense a comunicação ficou impossibilidade por não se falar inglês; no Centro Médico Samsung foi-lhe dito que a família não cumpria os requisitos para ser testada, porque não era um grupo de risco nem apresentavam sintomas. Por sua vez, o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da Coreia do Sul sugeriu à residente que tentasse a sorte num centro de testes drive-through, mas admitiu não saber se lhe seriam feitos os exames. Já no hospital Shinchon Yonsei, foi-lhe exigido um documento oficial do Governo de Macau a explicar as razões para a necessidade de realizar o teste. Porém, foi avisada que não era certo que pudesse ser testada. Finalmente, no Hospital Seoul Public Seobuk aceitaram testar os adultos, mas recusaram fazer os testes às duas crianças por terem menos de sete anos. O custo de cada teste seria de 80.000 won, o equivalente a 520 patacas e os resultados estariam prontos num período máximo de 48 horas.
DIREITOS EM CAUSA
Para o advogado Sérgio de Almeida Correia o facto de a entrada dos residentes de Macau no território estar dependente da emissão de documentos por entidades estrangeiras, como acontece neste caso, coloca em causa o direito de residência, protegido pela Lei Básica.
MAIS QUATRO ALTAS
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urante o fim-de-semana houve quatro pessoas internadas devido a infecção pela covid-19 a terem alta. No sábado foi dada alta a um residente com 52 anos, que tinha vindo para o território do Reino Unido. Já ontem, tiveram alta três pessoas, a mãe e o filho da indonésia, que foram identificados como portadores do vírus depois de virem do país do sudeste asiático e ainda um turista australiano. As quatro pessoas vão continuar em observação durante mais 14 dias. O número de infectados ainda internados é agora de 14.
“Enquanto forem residentes de Macau não lhes podem negar o direito de entrada [na RAEM]. É uma restrição que contraria a liberdade de movimentos, mas também muitas outras coisas. Acaba por ser uma violação do próprio direito de residência, do próprio estatuto de residente”, indicou. “Segundo a Lei Básica, os residentes têm direito a permanecer, e trabalhar em Macau. A partir do momento em que se nega o direito de entrada a um residente está a violar-se a Lei Básica. Tão simples quanto isso”, vincou. Por este motivo, o advogado defendeu o bom senso, indicando que não encontra nenhum caso em que nacionais sejam proibidos de entrar no próprio território.
BASE LEGAL
Já o jurista António Katchi considera que a medida do Governo, apesar de ter uma base jurídica, é ilegal, porque as condições de restrição são difíceis de concretizar. “À primeira vista, parece que as autoridades da RAEM possuem base legal para imporem o condi-
“A proibição de entrada de um residente com fundamento na falta de uma declaração médica cuja obtenção lhe fosse impossível ou excessivamente difícil é ilegal.” ANTÓNIO KATCHI JURISTA
cionamento que é relatado, uma vez que esta lei [de Prevenção, Controlo e Tratamento de Doenças Transmissíveis e Controlo] lhes permite exigir a apresentação de declarações médicas para entrada em Macau, sem distinguir, para o efeito, residentes e não-residentes”, começa por reconhecer. “Porém, tal exigência não pode ser imposta em termos tais que inviabilizem ou dificultem excessivamente a entrada de um residente em Macau. Tratando-se de um residente, as autoridades da RAEM devem, portanto, certificar-se de que o documento exigido é susceptível de obtenção em condições razoáveis de tempo, custo e procedimento”, defendeu. É este aspecto que faz a diferença para Katchi, que considera que quando as condições para obter um teste são excessivamente difíceis, o Governo deve apresentar alternativas. “À luz do exposto, penso que a proibição de entrada de um residente com fundamento na falta de uma declaração médica cuja obtenção lhe fosse impossível ou excessivamente difícil é ilegal”, concluiu. João Santos Filipe
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Ensino Professores e funcionários com testes obrigatórios
Com as aulas do ensino secundário a recomeçar a 4 de Maio, o Governo apresentou um plano que obriga todos os professores e funcionários a fazer um teste de despistagem à covid-19, até 30 de Abril, no Hospital Conde de S. Januário. O mesmo vai ser pedido aos alunos, mas só aos que vivem em Zhuhai e estudam em Macau. No caso dos professores e funcionários, os que vivem em Macau apenas precisam de fazer um único teste. No entanto, se os professores ou funcionários viverem em Zhuhai e passarem a fronteira diariamente precisam de fazer um teste a cada sete dias. O mesmo se aplica aos alunos que vivem do outro lado da fronteira. Nestes casos, os testes são feitos num hospital de Zhuhai. Os alunos que estão sempre em Macau não vão ser testados, porque as autoridades consideram que representam um perigo menor: “Os professores têm muitos alunos e muitas turmas e uma carga lectiva diferente dos alunos”, justificou Kong Chi Meng, subdirector do Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).
É de pequenino Quase dois terços dos pedidos de apoios a Pequenas e Médias Empresas foram aprovados
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NTRE 1 de Fevereiro e 24 de Abril, foram entregues 9.716 pedidos aos apoios destinados a pequenas e médias empresas (PME), dos quais 6.160 foram aprovados, de acordo com dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE). As aprovações representam quase dois terços dos pedidos efectuados, ou quase 63 por cento. O mesmo comunicado realça o relaxamento provisório dos requisitos de candidatura, que passaram a incluir PME “que exerçam actividade há pelo menos um ano” na lista de empresas que podem tentar os apoios. Anteriormente, era pedido pelo menos dois anos de actividade. O prazo para tratar das formalidades e receber as ajudas financeiras estende-se até 10 de Setembro. O montante máximo da verba de apoio está fixado em 600 mil patacas, sem juros, que poderá ser restituído num prazo máximo de oito anos. Recorde-se que esta forma de apoiar o tecido empresarial foi implementada pela primeira vez para aliviar o impacto da SARS, em Maio de 2003. Quanto ao plano de bonificação de juros de créditos bancários, segundo a DSE, até 24
de Abril foram recebidos 2.506 pedidos, dos quais 1.790 foram aprovados. Importa recordar que “uma vez autorizado pelo banco o crédito no montante máximo de 2 milhões de patacas”, as PME podem obter “bonificação de juros até 4 por cento, com o prazo máximo de bonificação de 3 anos. O prazo de implementação deste apoio termina a 17 de Setembro.
AUXÍLIOS VÁRIOS
Outra das estratégias para minorar o impacto da crise no tecido empresarial local é medida de ajustamento de reembolso, destinado às PME que tenham pedido anteriormente empréstimo no âmbito dos diversos planos de apoio, como por exemplo, o plano de apoio a jovens empreendedores e o plano de apoio especial às PME afectadas pelo tufão Hato. Segundo a DSE, entre 1 de Fevereiro e 24 de Abril, foram recebidos um total de 1.956 pedidos de “ajustamento de reembolso”, dos quais 1.898 foram aprovados. Há cerca de três semanas, o Governo anunciou que iria apoiar financeiramente empresas a fundo perdido entre 15 mil e 200 mil patacas. João Luz
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(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)
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Reino Unido
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Turquia
107773
Irão
90481
China
82827
Rússia
80949
Brasil
59324
Bélgica
46134
Canadá
45354
Holanda
37845
Suiça
28894
Índia
26917
Perú
25331
Portugal
23864
Ecuador
22719
Suécia
18640
Irlanda
18561
Curados
Co novel
1849505 Infectados
(total cumulativo)
E.U.A.
27.4.2020 segunda-feira
(casos activos)
1326 Curados
903 PORTUGAL
Mortos
PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)
Portugal
23864
Brasil
59324
Moçambique
76
Angola
25
Guiné-Bissau
52
Timor-Leste
24
Cabo Verde
82
São Tomé e Principe
4
PORTUGAL
países sem casos de nCov
Infectados (casos activos)
14 MACAU
PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)
China
82827
China | Macau
45
China | Hong Kong
1038
China | Taiwan
429
Coreia do Sul
10728
Japão
13231
Vietname
270
Laos
19
Cambodja
122
Tailândia
2922
Filipinas
7579
Myanmar
146
Malásia
5780
Indonésia
8882
Singapura
13624
Borneo
138
23864
países com casos de nCov
Infectados (casos activos)
31 Curados
HONG KONG
281 Infectados
Macau
(casos activos)
4
HONG KONG
753 Curados
Hong Kong
Mortos
coronavírus 9
segunda-feira 27.4.2020
64155
ovid-19 l coronavírus
Casos suspeitos
203803 Mortos
0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:
+1000
• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia
Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
2.000.000 150.000 100.000 75.000 50.000 25.000 12.500 0
20
40
60
dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 68128 1582 1276 1268 1019 991 937 787 653 579 561 913 593 638 328 355 254
MORTOS 4512 8 22 1 4 6 1 7 0 6 3 13 8 7 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 277 184 168 147 197 189 146 139 106 76 194 75 1038 426 18 45 1
MORTOS 3 2 6 2 0 3 2 2 1 3 1 0 4 6 0 0 0
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27.4.2020 segunda-feira
NALISTAS de política internacional consideram que os diplomatas chineses têm adoptado uma postura combativa para defender a resposta de Pequim ao surto do novo coronavírus, ilustrando a nova postura do país, que se quer assumir como grande potência. O novo perfil diplomático é atribuído à governação do Presidente chinês, Xi Jinping, que assumiu o desejo de aproximar o país do centro da governação dos assuntos globais, abdicando do “perfil discreto” na política externa chinesa que vigorou durante décadas. “Se alguém tentar atacar a China, a China reagirá resolutamente”, explica Shi Yinhong, professor de Estudos Internacionais na Universidade Renmin, norte de Pequim. “Os líderes chineses pensam que se a China não reagir, isso prejudicará ainda mais o país”, disse. O editorial desta semana do Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês transmite isso mesmo, ao referir que “os dias em que
DIPLOMACIA ADOPTADO NOVO TOM PARA DEFENDER RESPOSTA DE PEQUIM AO SURTO
Os “lobos guerreiros”
Estrangeiros convocou, na semana passada, o embaixador chinês, depois de a embaixada em Paris ter publicado uma crónica que acusa os trabalhadores franceses em lares de desertarem e “deixarem os seus residentes morrerem de fome e doenças”. As autoridades chinesas irritam-se com o que consideram hipocrisia ocidental, acusando o Presidente norte-americano, Donald Trump, e outros líderes, de ignorarem a pandemia do novo coronavírus e usarem depois a China como bode expiatório. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o Presidente francês, Emmanuel Macron, questionou a resposta da China ao vírus, afirmando que “há claramente coisas que aconteceram que não sabemos”. A diplomacia britânica disse já que a relação com a China vai ter de ser repensada.
A VOZ DOS DUROS
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Bolsas de Estudo “Uma Faixa, Uma Rota”, 2020 Bolsas de Estudo no Exterior Prazo de candidatura De 27 de Abril a 29 de Maio de 2020 Requisitos de candidatura I. Residente permanente da RAEM 1. Estar a frequentar o último ano do ensino secundário de uma escola de Macau, e 2. Pretender frequentar um curso de licenciatura, em regime de frequência obrigatória e a tempo inteiro, em instituição de ensino superior do Brasil, Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Camboja, Vietname ou Bangladesh. II. Cidadão do Interior da China 1. Ter residência familiar registada em Guangdong ou Fujian; 2. Ser finalista de curso de licenciatura ministrado por uma instituição de ensino superior de Macau, e 3. Pretender frequentar curso de mestrado, em regime de frequência obrigatória e a tempo inteiro, em instituição de ensino superior de Portugal, Brasil, Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Camboja, Vietname ou Bangladesh. Informações adicionais: www.fmac.org.mo Local de apresentação da candidatura Av. de Almeida Ribeiro, n.ºs 61-75, Circle Square, 7.° andar, Macau Contacto: 87950920 ou 87950913 / db_info@fm.org.mo
a China podia ser colocada numa posição submissa são parte do passado”. “O povo chinês já não está satisfeito com um tom diplomático fraco”, apontou. Na Suécia, o embaixador chinês, Gui Congyou, menosprezou os jornalistas locais ao compará-los com pugilistas peso-leve a tentar fazer frente a um peso-pesado quando escrevem notícias negativas sobre a China. Especialistas dizem que o Partido Comunista vê as críticas como um ataque à sua liderança e direito de governar. A diplomacia chinesa tem recorrido cada vez mais a redes sociais bloqueadas no país, como Twitter e o Facebook, seguindo os passos de Zhao Lijian, um dos primeiros diplomatas chineses a ter conta no Twitter, e cujos comentários, quando era embaixador no Paquistão, levaram a ex-embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, a considerá-lo um “racista” que devia ser demitido. Em vez disso, a China promoveu-o a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. Carl Minzner, especialista em política chinesa na Fordham Law School, em
Nova Iorque, aponta uma preferência “clara” de Xi Jinping por diplomatas “lobos guerreiros”, referindo-se a “Wolf Warrior II”, o filme mais visto de sempre na China. O filme conta a história de um soldado chinês numa zona de guerra em África, onde salva centenas de pessoas de
“Se alguém tentar atacar a China, a China reagirá resolutamente.” SHI YINHONG DOCENTE NA UNIVERSIDADE RENMIN
uma chacina conduzida por mercenários ocidentais, que tentam apoderar-se do país. Estes diplomatas “usam uma linguagem agressiva no exterior como forma de atrair a atenção do público nacionalista em casa - tanto entre a elite do Partido como entre a sociedade em geral - independentemente do impacto que possa ter na imagem da China no exterior”, disse Minzner.
DESGOSTO OCIDENTAL
Além-fronteiras, o tom é menos apreciado: o ministro francês dos Negócios
Sob a governação de Xi, Pequim lançou ainda esforços coordenados para moldar a narrativa sobre a China no exterior, nomeadamente ao mobilizar internautas para comentar nas redes sociais e investir nos órgãos estatais que transmitem em línguas estrangeiras. “No passado, a diplomacia chinesa estava longe do povo”, disse Chu Yin, professor da Universidade de Relações Internacionais da China. Agora, os diplomatas chineses sentem que “ser duro não é errado”. Os diplomatas de Pequim vêem o vírus como uma oportunidade de afirmarem a liderança do regime entre países críticos do Ocidente. Muitos líderes elogiaram a China por enviar equipamento e médicos, com o Presidente da Sérvia inclusive a beijar a bandeira chinesa. Na década de 1990, alguns chineses referiam-se à diplomacia chinesa como “Ministério dos Traidores”, irritados com a deferência mostrada para com as potências ocidentais. “Chegamos ao centro da governação mundial como nunca estivemos antes, mas ainda não temos o alcance total do microfone nas nossas mãos”, explicou a porta-voz da diplomacia chinesa Hua Chunying. “Temos de exigir o nosso direito de falar”, apontou.
segunda-feira 27.4.2020
a sabedoria da crianca , é não saber que morre
Trilogia
Cartografias
4. Tempore Pensa, quem leu as narrativas anteriores, que sentido terá, uma quarta parte numa trilogia. E com razão não fosse a quarta dimensão de todas as coisas, subjectividade humana, inerente e secreta, tão difícil de ignorar. O tempo, “a substância de que sou feito”, como disse Borges. Aquilo que é implícito, sempre presente e sempre ausente de cada formulação a ansiar solidez, à espreita como malha invisível em que tudo se pode sonhar ou lembrar. A começar a quarta parte desta trilogia e a pensar que não há contas certas para a vida. Que fazer… Uma pessoa recorda. In illo tempore. Diz-se tanto: naquele tempo. Mas é o tempo que não existe como outro. Se o presente foi sempre esquivo como hoje, posto no passado que é algo imediatamente antes ou remotamente longínquo, mas não acessível a uma medição palpável, então um como outro, feitos de memória e da imaginação. Que não nos transportam a um outro tempo porque não existe, esse. Mas existe, aquele que é um só e muitos no presente. Um presente em fuga e mesclado de todos os tempos verbais a pelejar por uma elaboração linear que os ordene numa ordem impossível. Não somos do tempo mas no tempo e através dele. Como um mapa imaginário que navegamos ao sabor do caos e da vontade, invadidos de abalos e ventanias. Vem. devagar ou em turbilhão. Com calma ou em solavancos. Nesta insubmissão do pensar que nos transporta para trás e para a frente, sem regras. Entrando e saindo. Com o tempo de través nas velas. A sacudir intempéries. Sento-me de noite na varanda das traseiras e nesse lado um pouco secreto daquele espaço invisível na cidade e cego para ela, é como se tudo fosse mais nítido. Uma oscilação para uma pequena estranheza, como se transportasse para fora de mim. Para longe de tudo e num esvaziamento que é o mais parecido com o tempo presente. Se não pensar em nada. Os segundos passam sem parar. Mas reduzem a velocidade em muito. Tudo se resume ao silencioso labor das células. A casa nas minhas costas e o que sonho para lá dela. A imagem que tenho em frente e a memória que me assalta de tudo. O que é antes e o que é depois. Existindo um fio cronológico e ordenado para as coisas não palpáveis, será o sonho em frente e a memória para trás, ou o pensamento súbito que nos assalta com aquele rosto que já
ANABELA CANAS
Anabela Canas
não está se situa em frente como se dos olhos, e o que ansiamos como sonho e expectativa é um desenho eternamente e repetidamente formulado, reconhecido e num protfólio que existe também na memória arquivado e ultrapassado, ali por detrás das costas a cobrir-nos de possibilidades para amanhã. E é assim que estou sempre a voltar ao tempo de que nunca saí. Volto a olhar os astros. De facto parece-me uma forma maravilhosa de ter a precária ilusão de parar o tempo num pedaço de eternidade. Na verdade o tempo dos astros ultrapassa-nos em tanto de passado e em tanto de futuro que a ínfima partícula que somos, a essa escala, torna-se como um ponto sem dimensão e como tal o ínfimo fragmento de segundo na pantalha universal, que pode parecer, mesmo por horas um simulacro de presente. Se mesmo das estrelas que já pereceram, sabe-se lá quando teremos notícia. Fico assim tantas vezes, quieta, a olhar o tempo. Como se nesse olhar se revelasse tudo o que é ou há-de trazer.
Mas, indiferente ao metabolismo e para além da sua imanência matéria, inquieta, muitas vezes. De como nele se desespera e espera. E nos alcança. Assim o tempo. Persegue, ultrapassa, esquece. O tempo. De chegar ou trazer. Mas fabricado onde, aquilo que o tempo traz, em que alma, em que negação, em que distracção, essa a verdadeira pergunta. Em aberto, mas que também se fecha todos os dias sobre o que foi e partiu. Engolido pela sua voracidade, sem intenção mas sem remédio. O tempo é o que temos sempre. O medo que temos sempre. E é sempre para ele que volto o meu olhar, mesmo quando em sonhos me visitam os que já não estão. Na esperança de focar o dia e o dia próximo sem pavor nem desespero. E como é seu hábito, o tempo devolveu-me subitamente à viagem interrompida por momentos. E naquele momento é para ele que volto o meu olhar. O desconhecido que se sentou. Na mesa do vagão-restaurante e no meu tempo partido em dois. Ficámos ali. E eu olhava de relance o livro.
Tento reconhecer o tempo como o sinto. O que é tudo. Esse cimento fluido que constrói, destrói e em que nos movemos. O tempo é o rosto que emociona. Não por ser belo, quando o é, mas por ser
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Um pequeno camaleão poisado entre nós. E sabia que num momento de distracção tudo podia acontecer. E depois, foi uma visão estranha de fragmentos de segundo. O livro apagou-se. E acendeu-se. O livro das ideias esquecidas o livro de ainda. O livro sem título, de B. Um livro feito de ainda e sem as páginas numeradas. É assim o tempo. O que é transversal e desenha em perspectiva. Esse efeito de profundidade que faz variar ilusoriamente o tamanho das coisas, as grandes, em primeiro plano e as pequenas, longínquas. Ou que, invertida nos coloca por detrás dos olhos a memória viva e exorbitante do que está distante ou ínfimo o que está próximo. Ou ainda, como desconhecido sentado em frente. Na sua estranha mistura de estranheza e familiaridade, indefinidamente próximo e distante. Como o desconhecido que sonhei e me pareceu reencontrar de tão nítido, distante e imaterial ou consubstanciado e presente. Como um vinho sem nome. Um, em particular, mas que não deixa de ser simplesmente vinho. Abstracto como o sangue que corre nas veias secretas do corpo. Excepto aquele, agora nos copos sobre a mesa à janela. A tornar mais presente o presente e a prolongá-lo um pouco mais. Olho-o e apetece-me dizer como Borges parafraseando Goethe: «Detém-te! És tão belo...!». Mas o tempo não se detém no presente. Há sempre uma partícula de todos os tempos. E eu, tento reconhecer o tempo como o sinto. O que é tudo. Esse cimento fluido que constrói, destrói e em que nos movemos. O tempo é o rosto que emociona. Não por ser belo, quando o é, mas por ser. O que num momento nos atira para todos os tempos e nos congela num único e eterno presente recorrente e repetido. Que nos consome e que queremos ingerir até à última gota. Fluido, como aquele vinho que se deixa beber e nos entra no sangue. O tempo é o medo. A esperança irracional, uma apetência à possibilidade e um desafio à probabilidade. O sangue a circular. Quartos que nos habitam. O tempo é o que tratamos por tu. Como a casa que habitamos. Uma carruagem de comboio em movimento que nos leva. Mas dentro, olhamos pelas janelas ou caminhamos em busca da carruagem-restaurante e do desconhecido que vai aparecer. De novo. E aí está. O tempo. Olho aquele rosto e penso pareces o tempo.
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27.4.2020 segunda-feira
Zhou Wenjing e a Parábola dos Pescadores
Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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IU Zongyuan (773-819) um dos mais acarinhados escritores da dinastia Tang, é autor de um pequeno poema conhecido pelos seus dois últimos caracteres jiang xue, que se traduzem como «rio» e «neve» duas palavras que, como ideias, funcionam como uma cruz: o rio correndo na horizontal, a neve caindo na vertical. Nele se fala de um homem sozinho numa embarcação. Até os elementos lhe são adversos mas ele vai pescando no rio frio com neve. O poema, para além do seu inestimável valor literário, é exemplar de uma ideia poderosa que mais tarde seria reconhecida como identitária da persistente cultura que se foi desenvolvendo e recolhida pelo menos desde a dinastia Zhou (1112-256 a. C.) no Livro das Odes. Depois da interrupção política da dinastia Yuan, os restaurados imperadores Ming, promoveram activamente esses sinais de identidade. É o que se pode ver numa pintura de um pouco lembrado pintor que foi chamado à corte devido aos seus dotes de profeta, nascido em Hexian (actual Putian) na Província de Fujian, chamado Zhou Wenjing, activo cerca de 1430 até depois de 1463 e onde o poema de Liu Zongyuan está reproduzido. A pintura «Paisagem», um rolo vertical a tinta e cores sobre seda (149,9 x 76 cm) que se encontra no Museu do Palácio Nacional, em Taipé, ilustra bem essa vontade de regressar a um estilo nacional. E no entanto, Zhou Wenjing talvez tivesse razões para evocar um pescador. Afinal
a sua cidade natal, na costa sul do império, prosperava agora com os Ming e era há muito marcada pelos homens do mar e pela sua protectora a «Ancestral Materna» Mazu, conhecida em Macau como Tin Hau ou A-Má. Nesse culto revigorado misturavam-se ideais religiosos que curiosamente já eram condenados no tempo de Liu Zongyuan, como no caso de um seu eminente companheiro na mudança do estilo literário vigente. Han Yu (768-824) ver-se-ia forçado ao exílio quando apresentou ao imperador um memorial onde criticava a sua devoção ao Budismo. No poema «Escrito para o meu sobrinho-neto no Desfiladeiro de Languan» lamenta-se «Ao amanhecer entrego na corte uma opinião /Ao anoitecer estava a caminho de Chaozhou, a oito mil li de distância.» Mas esse era também o tempo em que se estava a forjar um ideal do literato incompreendido. Zhou Wenjing retomou-o misturando-o com as suas circunstâncias. A sua pintura «Retiro rústico entre pescadores», um rolo vertical a tinta e cores sobre seda (91,3 x 41,9 cm) que está no Metmuseum em Nova Iorque, não é só a celebração de uma ideia. Ele percorre estilos de pintura, desde a relação espacial proposta na dinastia Song até ao desenho ingénuo das figuras, que se praticava na dinastia Yuan. Contradições, conhecimentos e experiências que no futuro um pintor sintetizaria ao dar corpo a uma vontade utópica: a de num fôlego, inscrever no espaço uma cruz com um único traço do pincel.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
segunda-feira 27.4.2020
José Simões Morais
Órfãs e viúvas
A
Santa Casa da Misericórdia de Macau, estabelecida no ano de 1569 por D. Belchior Carneiro, desde cedo tomou conta da situação de orfandade, sobretudo no sexo feminino, para a qual na altura própria estabelecia dotes de casamento em função dos rendimentos de legados, ou outras deixas, que de modo expresso mencionavam tal destino. Foi prática muito antiga e já o Escrivão António Garcez fez o seguinte lançamento nos livros: <Em 15 de Agosto de 1592 sendo Provedor António Rebelo Bravo, que Deus tem, se repartiram pelas órfãs 500 taéis, com declaração que andam os ditos taéis ganhando para as ditas órfãs e que falecendo alguma o próprio e o procedido ficavam para a Casa...>. O único regime dotal conhecido em Macau foi o da Misericórdia e não há notícia de ter havido <órfãs d’ El-Rei>, designação concedida às protegidas, cujos dotes de casamento levavam mercês especiais da Coroa, na forma de percentagens nos lucros de viagens, sendo as mais vulgares as da China e do Japão, ou pelo menos a garantia de seus futuros maridos irem ocupar determinados lugares. Nos termos do Compromisso de 1627, as elegíveis para esses dotes deviam responder a certos requisitos: de identidade, filiação, comportamento abonado pelo pároco, haveres herdados, etc., e ainda a cláusula <de se sujeitarem às informações que de suas pessoas e procedimento esta mesa (da S.C.M.) há-de mandar tirar>. Nesta melindrosa averiguação recomendava também o compromisso: <Ter-se-á muita cautela na ordem e modo por que se fizer o inquérito, não aconteça ficar alguma órfã sem dote, mas com afronta, à conta das informações se fazerem com menos tento ... para se fazerem melhor...> Em escrutínio secreto votavam nas que deveriam receber o dote, geralmente, guardado <no cofre desta Santa Casa, que se acha na Procuratura do Japão dos Padres da Companhia de Jesus, por motivo de depósito>. Era-lhes mantido o direito durante quatro anos, <tempo que têm para tratarem do ajuste dos seus casamentos e casarem-se dentro do dito tempo, sob pena de perderem os ditos dotes>, acrescentava o Escrivão nos editais. Contratado o casamento, a cerimónia, as mais das vezes, realizava-se na própria Igreja da Misericórdia, com a assistência do Provedor e mais Irmãos da Mesa que paternalmente assinavam o registo e entregava, então, a importância consignada para dote, a que juntariam – não será demais imaginar, a sua lembrança pessoal <a quem afectuosamente era tida como filha da Casa>.
CASAR PARA TER DOTE
Por volta de 1718, Manuel Favacho deixou dotes para o casamento de vinte órfãs.
com pessoa que sem nota possa ser Irmão desta Santa Casa. Em fé do que eu Escrivão, etc...>, Arquivo da Misericórdia. Outras vezes, a Mesa punha editais, convidando as pretendentes a apresentarem os seus requerimentos nos termos do Compromisso (1627), mas outras órfãs havia tão destituídas de recursos que mais cedo necessitassem auxílio. Por isso, em 1726 o Provedor António Carneiro de Alcáçova, também Governador e Capitão Geral, reconhecido o insuficiente resultado da distribuição só dos dotes ou mesmo esmolas eventuais, decidiu, com a aprovação do Definitório, fundar um recolhimento para órfãs e viúvas pobres.
RECOLHIMENTO PARA ÓRFÃS E VIÚVAS POBRES
O Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses, Vice-Rei da Índia (1717-1720) escreveu ao bispo de Macau para que esses casamentos fossem com soldados, e outros homens graves cujo procedimento prometa servir algum dia útil a Macau no comércio como no governo da cidade, fugindo quanto possível de marinheiros, pois esta gente não costuma ter educação que possa prometer vida com sossego, nem ao menos se achar neles o saber ler e escrever. O Recolhimento da Santa Casa da Misericórdia é referido num termo do Senado de 26 de Dezembro de 1718, quando este lhe destinava meio por cento para a sustentação das meninas órfãs filhas de Portugueses. Todos os Compromissos dedicaram às órfãs articulado especial, que poucas modificações vieram a sofrer através dos tempos. Umas vezes, era a própria órfã que, por sua iniciativa, requeria a concessão
do dote, como no caso de que se transcreve o deferimento: <Aos 22 de Junho de 1722 estando em Mesa o II.mo e Rev.mo Sr. Provedor, o Dr. João de Casal, Bispo da Diocese, com os mais Irmãos que com o dito Sr. servem, fez uma petição Madalena Coutinho, pedindo lhe quisessem dar uma esmola para dote de seu casamento e sendo a petição vista e constando ser a dita órfã filha de um homem fidalgo de qualidade e julgando ser muito acertado aplicar-lhe 200 taéis, que vários defuntos deixaram delicadamente para o casamento de órfãos pobres... e como nesta concorrem as partes e requisitos que os defuntos mandam, sendo uniformemente por todos assentado, se ordenou que eu Escrivão fizesse o termo e os ditos taéis ficassem numa bolsa nesta Santa Casa e não se dará esse dinheiro à suplicante, senão depois de ela estar recebida, constando por certidão do pároco, sendo casada
Por volta de 1718, Manuel Favacho deixou dotes para o casamento de vinte órfãs. O Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses, Vice-Rei da Índia (1717-1720) escreveu ao bispo de Macau para que esses casamentos fossem com soldados, e outros homens graves cujo procedimento prometa servir algum dia útil a Macau no comércio como no governo da cidade
Em 1726 o Recolhimento contava com uma Mestre para ensinar às órfãs as artes de que necessitavam para governar a casa. O Vice-Rei João Saldanha da Gama em Provisão de 9 de Maio de 1727 aprovou o estatuto desse Recolhimento: <A Casa da Santa Misericórdia da Cidade de Macau me representou... se achava fundado e erecto o Recolhimento e nele recolhidas as mais desamparadas órfãs e viúvas que se quiseram valer desse refúgio. Como receava a inclemência dos tempos vindouros... me requeria mandasse Provisão, com a declaração de que o confirmava e que, quando não se pudesse sustentar por falta de cabedais, neste caso não se extinguisse, sem que primeiro dessem conta ao governador deste Estado, pedindo mais lhe fizesse mercê confirmar a fundação, mandando passar Provisão com a dita cláusula... O que tudo referido: Hei por bem que o dito recolhimento seja conservado, enquanto El-Rei não ordenar o contrário, com a cláusula de que haverá mestra que possa ensinar às órfãs as artes de que necessita uma mulher para governar casa...> (Arq. da Mis.) O Recolhimento da Santa Casa foi fechado em 1737 por falta de dinheiro. Em 1792, o Bispo de Macau Marcelino José da Silva (1789-1808) reabriu o Recolhimento, também conhecido por ‘Casa de educação para meninas órfãs’, onde se albergam muitas que pelas frequentes perdições e naufrágios dos barcos, na mesma cidade ficam em sumo desamparo e expostas a infinitas misérias, ou a todo o género de perigos. Os 8 mil taéis, que se encontravam na Procuradoria dos Jesuítas da Província do Japão, no Colégio de S. Paulo e que foram para os cofres das órfãs, por ordens do Governador da Índia, executadas a 11 de Maio de 1797, foram entregues para o sustento dos seminaristas do Seminário de S. José e às órfãs do Recolhimento. Artigo escrito com base nas informações das pesquisas do médico José Caetano Soares.
14 (f)utilidades
27.4.2020 segunda-feira
TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 19 MAX 27 HUM 55-85% • EURO 8.63 BAHT 0.24 YUAN 1.12 ´
ECONOMIA OU MORTE
43
7
2 6 3
4 7 2 9
8 4
5
Mais de uma dezena de estados norte-americanos estão a preparar-se para reactivar as respectivas economias ao longo desta semana, apesar de o número de contágios do novo coronavírus continuar a aumentar em todo o país. Só ontem registaram-se 2.494 mortos, quase o dobro
44
6 1
4
5 9
6 1 8
1 3
6 2 9
4
7
46
FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Stephen Gaghan Com: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen 15.30, 21.00
8
SALA 3
3 4 1 4
7
FANTASY ISLAND [C]
9 48
5
7
6 7 3
Um filme de: Regis Roinsard Com: Lambert Wilson, Olga Kurylenko, Riccardo Scamarcio 15.00, 20.15
THE TURNING [C] Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 18.15
6 2 4 8 8 1 6
4 7 3 9 2
8 3
8 1 5
7
6
4www. 7 hojemacau. com.mo
2 8
THE TRANSLATORS [B]
Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.30 SALA 2
7 4
Um filme de: Jeff Wadlow Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 14.30, 17.00, 20.45
1 3 8 4 1
THE TURNING
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VIDA DE CÃO
QUE É ESTRANHO, É Sou fumador e não creio que isso constitua motivo de orgulho. Mas, enquanto tal, deparo-me com uma situação muito esquisita nesta bendita cidade de Macau. É que certas marcas de cigarros, que existem à venda no aeroporto, no jet-foil, em Zhuhai e em Hong Kong deixaram de aparecer nos pontos de venda de tabaco em Macau. É o caso do Davidoff e do Cartier, por exemplo. E a coisa não é nova, não tem a ver com a pandemia. É algo que acontece há anos. Nunca escrevi sobre o caso porque, como se compreende, é um assunto que diz respeito aos fumadores e pouco mais. Ora este pouco mais devia ser investigado pelos Serviços de Economia porque isto não é normal e levanta suspeitas e, eventualmente, teorias da conspiração. Por exemplo: Será que as marcas referidas não são passíveis de falsificação e tudo o que fumamos em Macau é falsificado? Será que alguém não estava a ganhar dinheiro suficiente com as ditas marcas e resolveu retirá-las do mercado? Será que só nos dão para fumar tabaco falsificado? É estranha esta situação e gostaria de encontrar uma explicação. Agradecia que as autoridades competentes fiscalizassem mais e descansassem quem tão altos impostos paga por um vício socialmente adquirido e, noutros tempos, até promovido. Que é estranho, é. Carlos Morais José
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I N E M A
DOLITTLE [A]
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BIRDS OF PREY [C]
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 44
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PROBLEMA 45
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S U D O K U 45
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em relação ao dia anterior, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins, mas vários são os estados que pretendem reabrir a economia, como, por exemplo, os de Iowa, Mississípi, Florida, Minnesota, Carolina do Sul, Geórgia, Califórnia ou Tennessee, entre outros.
UM LIVRO HOJE
“ADMIRÁVEL MUNDO NOVO” | ALDOUS HUXLEY, 1932
Há livros tão importantes que o seu título, ou alguma frase do seu bojo, ficam para sempre gravados no léxico diário. É o caso deste. Quantas vezes não foi já usado para exprimir os espantos do progresso? Porque é um trabalho fundamental, visionário e que, apesar de escrito há 84 anos, continua assustadoramente actual. O relato de uma sociedade organizada segundo princípios científicos, um mundo de pessoas programadas em laboratório e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas no nascimento. Um mundo onde a literatura, a música e o cinema têm apenas a função de consolidar o conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série e a uniformidade. Hoje Macau
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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opinião 15
segunda-feira 27.4.2020
reencarnações JOÃO LUZ
Liberdade
L
IBERDADE, a derradeira fronteira das almas irrequietas, dos poetas, dos líricos que perdem as estribeiras nas extremidades da vida. Liberdade, quimera que nunca se consegue conquistar totalmente, amante exigente, jamais saciada, triunfo que precisa de defesa permanente, impossível de vencer, romance para sempre inacabado. Ânsia, fome, desejo de um dia poder voar. Liberdade, eterno campo de batalha entre a autonomia e a servidão, punhal pronto para ser enterrado no flanco da injustiça e da iniquidade, pureza que atrai conluios nos espaços onde a subjugação cresce e a ganância conspira. Tão natural como o fluir de um rio sem barragens até à foz da felicidade, Tejo imenso que “corre, bem ou mal, sem edição original”. Parte integrante e essencial de tudo o que tem pulso. Fatal, inescapável, que vem sempre à tona, com a candura e a inocência de uma criança que agarra o diabo pelos colarinhos, sempre se aperceber da besta que domina. Liberdade, irmã gémea da Responsabilidade, chave e fechadura, sal e pimenta que condimenta a existência. Agir livremente implica ser responsável pelos acções tomadas em Liberdade, legitima a escolha feita. Não é um preço que se paga, nem uma obrigação que castra os seres livres, mas uma qualidade do raciocínio, um privilégio daqueles que vivem a sério. Este determinismo primordial separa os homens dos bichos, confere humanidade por mais violenta que seja a nossa natureza. Não sou nenhum santo, longe disso. Assumo os meus namoriscos ardentes com a libertinagem, sem vergonha nem culpa de pecador arrependido. Tento guardá-la para mim, acomodá-la num cofre debochado, longe dos olhares alheios, não por receio de julgamentos moralistas, porque não reconheço autoridade a puritanos com segredos
Essa doença não pode voltar, terá de prevalecer a inoculação contra o fascismo, mesmo que disfarçado com um social por trás e um fingindo punho erguido. Um pássaro que ganhou a Liberdade, em momento algum desejará uma gaiola diferente, pois o céu é a sua morada natural
ocultos em infectos armários, mas por puro recato e privacidade. Gosto do sangue rápido, dos largos prazeres que só a Liberdade é capaz de albergar. Seria uma flor descolorida e murcha se plantada num canteiro absolutista, com os meus espinhos a cobiçarem a carne tenra dos tiranos, a morte desses faustosos césares inchados de usurpação. Botânica homicida a florir em chaga nos tecidos adiposos dos tiranetes. Putas que os pariram até à última geração. Nas minhas veias corre revolução, dinamite e estricnina. Nunca durmo, nunca descanso enquanto na penumbra crescer esse bolor do fascismo. As paredes da casa da Liberdade já estiveram mais brancas, mas também já foram tão negras que se confundiam com a morte. Se das minhas forças depender, não há justificação possível que me impeça de lutar pela Liberdade dos meus irmãos e irmãs. Jamais passará. É inconcebível o regresso da opressão, do cárcere, da barbárie da tortura e do homicídio de Estado para punir o delito de pensamento. Jamais um livro numa estante determinará a morte de alguém, jamais se perseguirá com a força do Estado quem pensa diferente, quem discorda, quem ama diferente, quem nasceu com outra tonalidade de pé. Jamais o povo será votado à indigência, escravo da esmola, “desbravando os caminhos do pão”. Enquanto tiver forças, não posso deixar um irmão perecer às mãos do prepotente carrasco, não posso permitir a relativização bacoca do palhaço que escarnece do que é mais sagrado em nós. Essa doença não pode voltar, terá de prevalecer a inoculação contra o fascismo, mesmo que disfarçado com um social por trás e um fingindo punho erguido. Um pássaro que ganhou a Liberdade, em momento algum desejará uma gaiola diferente, pois o céu é a sua morada natural. E quando os meus olhos se fecharem, sei que terei o diabo na mão e um sorriso nos lábios gretados, como qualquer bom filho de Grândola, terra que me honra todos os dias. 25 de Abril Sempre. Fascismo nunca mais!
Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo.
PATRIMÓNIO IC GARANTE RESTAURO E DIGITALIZAÇÃO
COREIA DO NORTE SUPOSTO COMBOIO DE KIM JONG-UN AVISTADO EM WONSAN
O
Instituto Cultural (IC) assegurou que já estão em marcha os projectos de restauro de, pelo menos, nove planos de recuperação de imóveis de interesse cultural. A garantia foi dada ontem através da resposta a uma interpelação escrita enviada pela deputada Ella Lei no passado dia 20 de Março. Segundo o IC, os trabalhos de restauro estão a decorrer na Antiga Residência do General Ye Ting, Portas do Cerco, Ruínas do Colégio de S. Paulo, Museu de Arte Sacra e Cripta, Tesouro deArte Sacra da Igreja de São Domingos, Igreja do Seminário de São José, Igreja de Santo Agostinho e Igreja de Santo António. Quanto a espaços culturais, o IC revelou que a obra de renovação do Teatro Dom Pedro V “será concluída antes de Junho” e que está previsto ainda o início de “dezenas de obras de reparação” de outros imóveis e projectos de melhoria de instalações. Sobre a digitalização de recursos e património cultural, tema levantado por Ella Lei pela impossibilidade de assistir a exposições durante a epidemia, o IC garante, em resposta, que irá “aproveitar amplamente a tecnologia mais avançada” para enriquecer os recursos culturais online “através da imagem tridimensional, das técnicas de realidade virtual e realidade aumentada”, na apresentação de objectos raros, paisagens e arquivos históricos. A título de exemplo é referido o lançamento da aplicação de telemóvel do Museu de Macau, que permite fazer uma visita guiada à exposição, recorrendo a estas tecnologias. P.A.
U PEQUIM PROIBIDOS COMPORTAMENTOS ‘NÃO CIVILIZADOS’ A PARTIR DE JUNHO
Manual de boas maneiras
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EQUIM vai proibir a partir de 1 de Junho um conjunto de comportamentos considerados “incivilizados” para melhorar a higiene em locais públicos como medida de combate à pandemia de covid-19, indicaram ontem autoridades municipais. Espirrar ou tossir sem cobrir o nariz ou a boca e andar sem máscara em locais públicos, em
caso de doença, são comportamentos que passam a fazer parte de uma nova lista de infracções na capital chinesa, segundo avançou ontem a AFP. Os cidadãos passam também a necessitar de se “vestir adequadamente” quando estão em público, sendo proibido estar em tronco nu – sendo esta uma medida aparentemente relacionada com a prática conhecida por ‘biquíni de Pequim’ quando, no
Turismo Festival da Luz antecipado para Setembro O Festival da Luz, que habitualmente se realiza em Dezembro, será antecipado para o fim de Setembro, estendendo-se até Outubro. A novidade foi dada pela Direcção dos Serviços de Turismo, em resposta a uma interpelação de Ho Ion Sang. O Governo justifica a antecipação do evento com o propósito de “impulsionar a economia”. Como tal, “além de continuar a alargar a localização do Festival, pretende-se cooperar com as diferentes associações locais PUB
segunda-feira 27.4.2020
PALAVRA DO DIA
Herberto Helder
Verão, muitos homens passeiam com a camisola levantada. Os novos regulamentos delineados pelas autoridades de Pequim também exigem a instalação de marcações para o distanciamento social em locais públicos.
MAUS CRÉDITOS
Com mais de 20 milhões de habitantes, Pequim tem vindo a desencorajar uma série de comportamentos considerados ‘não civilizados’ nomeadamente cuspir em público, deixar o lixo em qualquer lugar, passear os cães sem coleira ou fumar em locais onde é proibido. A realidade mostra, contudo, que os regulamentos nem sempre são respeitados e que certos hábitos ainda não desapareceram. O novo conjunto de regras, adoptado na sexta-feira, também incentivam a Polícia a tomar nota de infracções graves que possam afectar o ‘crédito social’ de uma pessoa. Nos últimos anos a China começou a aplicar vários sistemas de ‘crédito social’ que apontam os cidadãos ‘bons’ e que podem fazer com que outros fiquem impedidos de viajar de avião ou de comboio ou fazer uma reserva num hotel.
para organizar actividades de extensão comunitária”, para consolidar pequenas, médias e microempresas. O apoio à economia local também vai passar pelo convite prioritário “a equipas locais envolvidas nas indústrias culturais e criativas a participarem na produção de projecção de luz”. Também durante o mês de Setembro realiza-se a 8ª edição da Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau, inicialmente prevista para Abril.
M suposto comboio do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, foi avistado em imagens de satélite, entre 21 e 23 de Abril, parado numa estação reservada à sua família, na cidade de Wonsan, revelou a imprensa internacional. As fotografias foram publicadas pelo portal especializado em assuntos norte-coreanos, 38 North, e, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, a locomotiva está estacionada, naquele local, pelo menos desde terça-feira. As imagens surgem numa altura em que se especula sobre o estado de saúde Kim Jong-un, que não aparece em nenhuma das fotografias oficiais do dia 15 de Abril, quando se comemora o nascimento do fundador do regime e seu avô, Kim Il-sung. De acordo com o portal norte-americano 38 North, a presença do comboio “não prova nada sobre o paradeiro do líder norte-coreano nem indica sobre o seu estado de saúde”, adiantando, por outro lado, que “dá credibilidade de que Kim está numa zona balnear na costa leste”. Na terça-feira, a cadeia de televisão norte-americana CNN informou, segundo fontes não identificadas, que Kim Jong-un estava em “grande perigo” depois de uma cirurgia cardíaca. Por seu turno, os serviços de inteligência da Coreia do Sul afirmaram que “nenhuma situação incomum” foi observada no seu vizinho do norte. Já o Daily NK, um meio de comunicação administrado por norte-coreanos desertados, disse o líder norte-coreano havia sido operado em Abril, devido a problemas cardiovasculares, e estava a recuperar numa vila da província de Pyongan Norte. Kim Jong-un não aparece em nenhum acto público desde uma reunião do departamento do Partido dos Trabalhadores da Coreia e uma visita de inspecção a uma base aérea, em 11 de Abril. Com 36 anos, o líder norte-coreano tem problemas de obesidade e é um fumador compulsivo. O estado de saúde de Kim Jong-un permanece em grande mistério, de acordo com a agência EFE.