Hoje Macau 27 ABRIL 2023 #5238

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À vontade do freguês

O Governo recomenda, mas não obriga. A utilização de máscara nos transportes públicos, ou em determinados espaços, passa a depender do critério das empresas gestoras e não do Executivo. A obrigatoriedade do uso de máscara em casos de gripe faz agora também parte das novas orientações do Governo.

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUINTA-FEIRA 27 DE ABRIL DE 2023 • ANO XXI • Nº5238
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GRANDE PLANO PÁGINA 7
CHINA VISÕES IBÉRICAS O PRETO E O NEGRO CHINESES Ana Cristina Alves GOYA ZHOU JIN

CHINA NOVO LIVRO APRESENTA VISÕES DE AUTORES IBÉRICOS SOBRE O PAÍS

Um olhar peninsular

Em

NUM país com uma dimensão gigantesca, torna-se difícil definir o que é a China. No entanto, os académicos Jorge Tavares da Silva, professor auxiliar na Universidade da Beira Interior e investigador associado da Universidade de Aveiro, e Xulio Rios, especialista em assuntos da China e assessor emérito do Observatório da Política Chinesa em Espanha, propõem-se apresentar visões do país por quem o estuda e conhece de perto. “Chibérica - Visões Ibéricas da China Contemporânea”, editado em Madrid pela Editorial Popular, apresenta textos de vários autores, portugueses e espanhóis, nas duas línguas, nomeadamente Carmen Amado Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), que escreve sobre os “70 anos da política externa chinesa na perspectiva portuguesa” ou Luís Tomé, autor do capítulo “As diferentes formas de construir ‘o

socialismo com características chinesas’, de Deng a Xi”. Destaque ainda para as contribuições de Inés Arco Escriche, professora associada na Universidade Oberta de Catalunya, com o capítulo “O partido dirige tudo: transformação política, ideológica e a participação social na China pós-Mao” ou a economista Maria Fernanda Ilhéu que escreve sobre o enorme desenvolvimento económico que a China viveu nos últimos anos em “Da pobreza extrema a segunda economia do mundo”.

Ao HM, Jorge Tavares da Silva disse que a ideia para publicar esta obra nasceu de uma conversa com Xulio Ríos, aproveitando-se a celebração dos 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Espanha e China (1973-2023) e o quadro de diálogos informais e formais luso-chineses (1974-2023).

Pretendia-se “publicar um livro que contemplasse a visão de analistas de Portugal e Espanha sobre os últimos 50 anos de

“Há muito desconhecimento da história e da cultura e [essas duas áreas] são imprescindíveis para entender a China de hoje, que não se pode abordar exclusivamente do ponto de vista da ideologia ou da economia.”

XULIO RÍOS ASSESSOR EMÉRITO DO OBSERVATÓRIO DA POLÍTICA CHINESA EM ESPANHA

desenvolvimento da China”. “O resultado é excelente, para além de ser profundamente original. Os autores, de forma equilibrada, analisaram a política, a economia, a sociedade, a cultura, a política externa e as relações bilaterais”, frisou o co-coordenador.

Questionado sobre eventuais diferenças de perspectiva entre os autores portugueses e espanhóis, Jorge Tavares da Silva aponta que “o que se diferencia é a relevância que cada um dá a determinados momentos da história recente da China”.

“Por exemplo, no capítulo referente à cultura, no caso português, num texto elaborado pelo [antigo] embaixador José Duarte de Jesus, foi salientado o justificar o elemento ‘cultura’ na formação e identidade chinesa, incluindo algumas das raízes que explicam a sua relevância nos caminhos políticos da China contemporânea, ao passo que o professor espanhol Manel Ollé oferece-nos uma visão sobre a transformação cultural da China, explorando o conflito entre as grandes tradições culturais no país.”

Xulio Ríos entende que esta obra é, acima de tudo, um exemplo da “idoneidade de pensarmos por nós próprios a propósito da China, sobre as suas mudanças e expectativas, a partir da nossa experiência e imaginário, o que sugere uma certa originalidade”. Pretende-se ainda, com “Chibérica”, “explorar as intersecções para procurar um foco comum na relação com a China” e a Europa. O livro “aspira a converter-se

“O que falta em Espanha é um maior interesse em potenciar a relação com Macau para um maior acesso à China.”

XULIO RÍOS ASSESSOR EMÉRITO DO OBSERVATÓRIO DA POLÍTICA CHINESA EM ESPANHA

num [elemento] dinamizador que permita uma certa continuidade neste processo”, disse.

Xulio Ríos considera que, apesar das décadas de relações diplomáticas, existe ainda um enorme desconhecimento sobre a China. “Pese embora o muito que se avançou, há muito desconhecimento da história e da cultura e [essas duas áreas] são imprescindíveis para entender a China de hoje, que não se pode abordar exclusivamente do ponto de vista da ideologia ou da economia.”

“Função pedagógica”

“Chibérica - Visões Ibéricas da China Contemporânea” tem também uma “função pedagógica”, frisou Jorge Tavares da Silva. “O livro faz o diagnóstico aos últimos 50 anos de transformação do país.

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“Chibérica – Visões Ibéricas da China Contemporânea”, novo livro coordenado pelos académicos Jorge Tavares da Silva e Xúlio Rios, pretende-se dar a conhecer ao leitor diferentes visões sobre a China de autores de Portugal e Espanha. A ideia é “desmitificar” conceitos e noções sobre o país e retratar o desenvolvimento chinês das últimas décadas

O leitor ficará enquadrado com as grandes transformações estruturais, mas a obra tem também essa função de ajudar a ‘desmitificar’ algumas construções de senso comum sobre a China, sobretudo na vontade clara de Pequim em manter relações de amizade com ambos os países ibéricos, evitando tensões que conduzam a conflitos.”

O académico português explicou que procurou, juntamente com Xulio Ríos, “avaliar áreas que consideramos relevantes no caminho que a China empreendeu nos últimos cinquenta anos, a política, a economia, a sociedade, a cultura a política externa, as relações bilaterais e o panorama dos estudos chineses em Portugal e Espanha”. Trata-se de “anos de transformação e crescimento exponencial que atiraram a China para o primeiro plano da arena internacional”.

Que diplomacias?

Portugal é tido como o parceiro privilegiado da China na Europa, mas com Espanha a China pode conseguir estabelecer laços mais próximos com a América Latina. Xulio Ríos fala em “níveis diferenciados” nas relações do gigante chinês no contexto da Península Ibérica.

“Com Portugal as relações bilaterais foram muito enriquecidas. Espanha sempre teve, com a China, uma boa sintonia política.

“O livro faz o diagnóstico aos últimos 50 anos de transformação do país. O leitor ficará enquadrado com as grandes transformações estruturais, mas a obra tem também essa função de ajudar a ‘desmitificar’

Há uma triangulação interessante a propósito das transições políticas (em Portugal, a Revolução dos Cravos; em Espanha, a porta aberta à democracia com a morte do ditador Franco; na China, a reforma e a abertura depois da morte de Mao). Mas este seria um tema para outro livro. O que falta em Espanha é um maior interesse em potenciar a relação com Macau para um maior acesso à China”, lamenta o autor espanhol.

Isto porque Espanha “é um país plurilíngue e o idioma galego oferece a possibilidade de desenvolver uma aproximação específica, algo que vale igualmente para todas as comunidades de expressão portuguesa no mundo”.

Apesar de Espanha e Portugal serem países periféricos na Europa, as relações dos dois países com a China são boas. No entanto, a China “não tem uma visão aglutinadora e partilhada dos dois países”, pelo que este livro “pode ajudar a uma reflexão sobre essa visão que vai além da relação bilateral, com um terceiro espaço no marco europeu”.

Potencial espanhol

Jorge Tavares da Silva entende que “ainda que Portugal tenha

“Procurou-se avaliar áreas que consideramos relevantes no caminho que a China empreendeu nos últimos cinquenta anos, a política, a economia, a sociedade, a cultura a política externa, as relações bilaterais e o panorama dos estudos chineses em Portugal e Espanha.”

uma relação histórica marcante com a China, que se destaca na presença em Macau, no quadro político e económico contemporâneo o potencial de relações entre a Espanha e a China é superior ao potencial português”. Tal deve-se aos factores económico e comercial, que são “o principal motor para as relações bilaterais”.

“Portugal e a Espanha foram muito relevantes para a China no

contexto de crise após 2008, que levou a uma entrada em grande escala de investimento português. O caso mais flagrante foi a entrada de capital da China Three Gorges na EDP, que motivou apreensões numa Espanha mais reservada em ceder sectores estratégicos ao gigante asiático. Com a economia portuguesa em recuperação e os novos desafios que a China tem enfrentado, particularmente as tensões com os Estados Unidos, têm arrefecido as relações sino-portuguesas”, disse.

Exemplo disso é o facto de projectos como “uma faixa, uma rota”, bem como “o interesse chinês no Porto de Sines terem saído da discussão pública”. “Há um certo arrefecimento nas dinâmicas de cooperação. Vamos ver quando recuperam o dinamismo bilateral. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fez uma visita à China no final de Março, procurando revitalizar as relações bilaterais com Pequim, numa altura que a Espanha assume a presidência da União Europeia (UE). Talvez seja uma boa altura de o governo português reavivar o quadro de cooperação bilateral”, rematou Jorge Tavares da Silva. Andreia Sofia Silva

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algumas construções de senso comum sobre a China.”
JORGE TAVARES DA SILVA
PROFESSOR NA UBI E INVESTIGADOR DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

BÉLGICA HO IAT SENG REÚNE COM CHINESES ULTRAMARINOS

OChefe do Executivo reuniu na terça-feira em Bruxelas com representantes dos chineses ultramarinos na Bélgica, a quem pediu “o reforço da ligação com o sector empresarial de Macau, a fim de aproveitarem conjuntamente as novas oportunidades de desenvolvimento”.

Ho Iat Seng fez ainda uma apresentação sobre o desenvolvimento de Macau e a zona de cooperação aprofundada em Hengqin, deixando “um convite aos chineses ultramarinos para visitarem Macau, a Zona em Hengqin e a Grande Baía na procura de novas oportunidades de desenvolvimento e cooperação”.

O embaixador da China na Bélgica, Cao Zhongming, afirmou que “a RAEM, apoiada pelo País

DSEDJ ASSEGURADO EQUILÍBRIO DE ALUNOS POR TURMA

Em actualização

Apesar da baixa taxa de natalidade registada no território, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude garante que é assegurado o equilíbrio no número de alunos por turma, para que cada uma tenha entre 25 a 35 estudantes

OGoverno assegura que, mesmo com menos crianças a nascerem todos os anos, se mantém o equilíbrio em relação ao número de estudantes nas turmas de todas as escolas do ensino não superior, a fim de garantir um rácio mais equilibrado entre professor e aluno. A garantia foi deixada ontem por Luís Gomes, chefe do departamento do ensino não superior da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), no programa matinal “Fórum Macau” do canal chinês da Rádio Macau.

O responsável assegurou o cumprimento do mecanismo já existente que garante que cada turma não terá menos de 25 nem mais de 35 alunos, para que não haja

casos de turmas com alunos a mais ou a menos, garantindo-se um equilíbrio no volume de trabalho dos professores.

Esta necessidade de ajustamento impõe-se, tendo em conta que a taxa de natalidade em Macau atingiu os valores mais baixos desde 1985.

“Quando introduzimos a escolaridade gratuita no ano lectivo de 2007/2008, havia cerca de três mil alunos a

ingressar no primeiro ano do ensino primário. No ano lectivo de 2016/2017 esse número chegou aos sete mil. Neste ano lectivo tivemos cerca de cinco mil alunos no primeiro ano do ensino primário.”

Vozes de preocupação

Um ouvinte, de apelido Chau, disse estar preocupado que possa existir menos vagas para docentes dada a

“Quando introduzimos a escolaridade gratuita no ano lectivo de 2007/2008, havia cerca de 3 mil alunos a ingressar no primeiro ano do ensino primário. No ano lectivo de 2016/2017 esse número chegou aos 7 mil.

Neste ano lectivo tivemos cerca de 5 mil alunos no primeiro ano do ensino primário.”

quebra gradual no número de alunos. No entanto, Luís Gomes respondeu que o número de professores tem aumentado nos últimos anos.

“O número total de alunos no ensino não superior mantém-se quase igual, tendo registado uma ligeira subida, sendo actualmente de mais de 86 mil. No ano passado surgiram 300 novos professores.”

Chan, outro ouvinte, defendeu a realização de sorteios para a admissão de alunos no ensino primário ao invés de entrevistas, a fim de garantir um processo imparcial na selecção dos estudantes. Luís Gomes disse que este método pode fazer com que os pais não consigam escolher as escolas que consideram ser as ideais para os filhos.

Vong Kuok Ieng, vice-presidente da Associação de Educação de Macau, telefonou para o programa e defendeu que a DSEDJ deveria aproveitar a existência de uma baixa taxa de natalidade para melhorar o funcionamento das escolas e do ensino em geral.

O responsável, que é também director da escola Choi Nong Chi Tai, afirmou que a maioria das escolas são gratuitas, funcionando com recursos e subsídios do Governo, pelo que deveriam ser promovidas medidas para reduzir as disparidades existentes entre as escolas em matéria de infra-estruturas.

Andreia Sofia Silva e Nunu Wu

e ligada ao mundo, tem vantagens e características únicas”, acrescentando que irá trabalhar para “aprofundar, com o Governo da RAEM, um intercâmbio e cooperação mais abertos e estreitos com os países europeus, com o objectivo de impulsionar o desenvolvimento da economia, sociedade e turismo cultural de Macau”.

O representante dos chineses ultramarinos na Bélgica e presidente do Conselho para a Promoção da Reunificação Pacífica da China na Bélgica, Zhu Haian, disse que os chineses ultramarinos no país têm apoiado e participado de forma activa na construção e desenvolvimento nacionais, a fim de impulsionar a reunificação pacífica da China.

MNE PROMETIDO COMBATE A

INTERFERÊNCIAS EXTERNAS

Oadjunto do Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Le Rong, garantiu que irá “impedir e coibir resolutamente a interferência de forças externas nos assuntos da RAEM”. O compromisso foi assumido na terça-feira, num encontro com o Chefe do Executivo interino, André Cheong, de acordo com um comunicado emitido ontem pelo Gabinete de Comunicação Social.

O responsável afirmou dar apoio “à participação da RAEM em várias actividades para melhorar continuamente a sua influência internacional, e apoiar o desenvolvimento da diversificação adequada da economia local”.

Le Rong acrescentou que o Governo Central vai continuar a demostrar ao mundo o sucesso da implementação em Macau do princípio “Um País, Dois Sistemas”.

Por sua vez, André Cheong referiu que actualmente, “144 países e territórios concedem, aos titulares do Passaporte da RAEM, a isenção de visto ou visto à chegada”. O governante local referiu que gostaria que o MNE “continuasse a apoiar a promoção do Passaporte da RAEM no exterior, principalmente para facilitar a entrada nos países incluídos nos destinos de viagem mais frequentes para os residentes de Macau.”

Ex-chefes do Executivo Lau Cheok Va como presidente da comissão

O mandato de Lau Cheok Va, como presidente da comissão de apreciação de pedidos relativos ao exercício de actividade privada por parte dos ex-titulares do cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos, foi renovado durante dois anos. A notícia foi publicada ontem no Boletim Oficial e inclui também a renovação do mandato de Paula Hsião Yun Ling, como membro da comissão. Além disso foi ainda nomeada para esta comissão Ng Wai Han, pelo período de dois anos. Esta comissão tem como objectivo “emitir parecer sobre os pedidos de autorização para o exercício de actividades privadas após a cessação de funções por parte dos ex-titulares do cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos”.

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LUÍS GOMES DA DSEDJ
GONÇALO LOBO PINHEIRO TIAGO ALCÂNTARA

Acção Social Hon Wai com mandato renovado

A comissão de serviço de Hon Wai como presidente do Instituto de Acção Social (IAS) foi renovada pelo período de dois anos, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial. A renovação entra em vigor a partir de 20 de Junho e foi justificado com o facto de a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, ter

considerado que Hon tem a “capacidade de gestão e experiência profissional adequadas para o exercício” das funções. Hon Wai ocupa a presidência do IAS desde 22 de Junho de 2020. No discurso de tomada de posse, o responsável prometeu “o melhoramento contínuo da qualidade dos serviços sociais, em prol do bem-estar da população”.

Nacionalismo Elsie Ao Ieong U elogia associação

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, elogiou a União Geral das Associações de Guangxi de Macau por ajudar a promover o ensino do nacionalismo no território. As declarações foram prestadas durante um encontro com a associação que tem como vice-presidente Wong Kit Cheng, deputada e vice-presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau. De acordo com

o jornal Ou Mun, Elsie Ao Ieong U destacou que Guangxi é muito importante para Macau, por permitir vários tipos de intercâmbio, a nível da medicina tradicional chinesa, ensino superior e desenvolvimento do turismo. Por sua vez, Teresa Chu Ka Weng reconheceu que a associação tem como principal objectivo “a promoção do sentimento de comunidade para a toda a nação chinesa”.

TRÂNSITO DEPUTADA ELLA LEI PEDE MEDIDAS PARA COMBATER CORRIDAS ILEGAIS NO TERRITÓRIO

Travar a fundo

A deputada da Federação das Associações dos Operários de Macau está preocupada com o perigo que as corridas ilegais representam para quem circula nas estradas de Macau. O barulho a altas horas da noite é outro factor destacado por Ella Lei

Adeputada Ella Lei está preocupada com as corridas ilegais e quer saber que medidas serão adoptadas pelas autoridades. Numa interpelação escrita divulgada ontem, a legisladora pergunta se existem planos para adoptar “meios tecnológicos”, mais inovadores, para combater o fenómeno.

De acordo com o conteúdo da interpelação, no ano passado, as autoridades interceptaram 710 carros devido a alterações ilegais a veículos. Entre este número, as autoridades admitiram suspeitar que 163 viaturas teriam sido

alteradas com o objectivo de participação em corridas ilegais.

Face aos números apresentados, Ella Lei considera o trabalho das polícias positivo, porque mostra que houve “uma intensificação do trabalho de intercepção e investigação”. Contudo, a membro da Assembleia Legislativa revela que tem recebido queixas de “residentes”, porque continuam a acontecer várias corridas

em zonas como o Cotai, Taipa, Areia Preta, e outras estradas “que não estão equipadas com radares de velocidade”.

“As corridas ilegais têm sido proibidas repetidamente, e muitas delas são acompanhadas de ruído excessivo, o que afecta seriamente o trabalho e o descanso dos residentes e a segurança dos utentes da estrada”, afirmou a deputada ligada à Federação das

“Será que o Governo vai ouvir as queixas dos residentes, e instalar equipamentos de monitorização inteligente nos pontos negros, onde há mais corridas?” Ella Lei, deputada

Associações dos Operários de Macau (FAOM). “Será que o Governo vai ouvir as queixas dos residentes, e instalar equipamentos de monitorização inteligente nos pontos negros, onde há mais corridas? E será que estão a pensar em medidas para reforçar a repressão contra estas práticas?”, acrescentou.

Atenção às luzes

Outro aspecto que também foi abordado são os carros alterados, que modificam as viaturas instalando material que não cumpre as exigências legislativas. “Entre os carros apreendidos pelas autoridades, é comum que alguns veículos não tenham faróis com iluminação suficiente nem que seja visível à distância”, apontou Lei.

A este problema junta-se o ruído: “No entanto, muitos residentes referiram que, especialmente a meio da noite, há ruído excessivo provocado por veículos ilegalmente modificados, que perturba o horário nocturno de trabalho, mas também o horário de descanso”, atirou. “De que modo irão as autoridades reforçar o trabalho de intercepção e aplicação da lei?”, perguntou. João Santos Filipe

COMUNIDADE AMÉLIA ANTÓNIO ALERTA PARA DIFICULDADES QUE PODEM LEVAR À MORTE DE ASSOCIAÇÕES

AMÉLIA António, presidente da Casa de Portugal, alertou para as dificuldades criadas pelas novas regras de financiamento da Fundação Macau, que ameaçam a sobrevivência de várias associações locais. A mensagem foi deixada em declarações à Rádio Macau.

Segundo a responsável, em causa está a nova regra que só “permite libertar os últimos 10 por cento dos apoios do ano anterior, e a primeira tranche do ano em curso, depois da Fundação Macau ter dado como aprovadas” as contas das associações. Este processo não tem um limite

temporal, o que faz com que as associações tenham de sobreviver durante vários meses à base do seu próprio financiamento, ou através do recurso ao crédito.

“Não se sabe quando acontece [a aprovação das contas e libertação dos apoios]. Estamos a acabar Abril e a entrar em Maio,

não recebemos ainda os 10 por cento de 2022. Não recebemos nada deste ano. Portanto, como se viveu, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março e Abril?”, questionou. “Já são cinco meses que se está a funcionar sem essas verbas recorrendo ao crédito bancário”, explicou. “As asso -

ciações não podem viver nesta base, é impossível. Este modo de funcionamento é a morte das associações”, acrescentou.

As declarações de Amélia António foram prestadas à margem de um jantar de celebração do 25 de Abril organizado pela Casa de Portugal no restaurante Lusitanus.

política 5 www.hojemacau.com.mo quinta-feira 27.4.2023
RÓMULO SANTOS

Reserva financeira 7,7 mil milhões em Janeiro e Fevereiro

Nos primeiros dois meses do ano, a Reserva Financeira apresentou um saldo positivo de 7,7 mil milhões de patacas, de acordo com os dados divulgado ontem no Boletim Oficial. Neste período, a reserva

básica fixou-se em 152 mil milhões de patacas. Esta reserva tem como finalidade ser a última garantia da capacidade de pagamento das finanças públicas da RAEM. Quanto à reserva financeira extraordinária,

que promove a implementação da política de finanças de públicas e fazer investimentos, foi de 400,9 mil milhões de patacas. No último ano a reserva financeira teve prejuízos de 20,7 mil milhões de patacas.

TDM Empresa gasta mais com menos trabalhadores

Apesar de ter reduzido em oito o número de trabalhadores, a TDM aumentou no ano passado os gastos com o pessoal em 1,08 milhões de patacas, de acordo com os dados publicados no Boletim Oficial. Em 2021 a empresa tinha 653 trabalhadores e

319,28 milhões de patacas em custos com recursos humanos. No ano passado, com quadros constituídos por 645 pessoas, os gastos com o pessoal atingiram 320,36 milhões de patacas, no que foi um aumento de 0,34 por cento, em ano de contracção

CASINOS NETO VALENTE E ANTÓNIO FERREIRA SEM ACÇÕES

BNU SEDE REABRIU COM POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

Asede agência do Banco Nacional Ultramarino (BNU) foi ontem reaberta oficialmente, oferecendo ao público “um novo espaço, com uma disposição moderna e funcional”, indicou a instituição em comunicado.

A fachada histórica do edifício integra agora com um interior moderno, “resultando numa verdadeira simbiose entre o passado e o futuro, e que procura acompanhar as tendências de design da era digital”, indica o banco, acrescentando que “o conceito de design interior é inspirado na icónica caravela do BNU, que representa o espírito aventureiro português e uma abordagem multicultural”.

A cerimónia de abertura contou com um painel de convidados de honra presidido pela vice-diretora-geral do departamento de assuntos económicos do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM, Yang Hao.

Em declarações à TDM, o presidente da comissão executiva do BNU, Carlos Cid Álvares afirmou acreditar que passou a haver possibilidade de empresas portuguesas investirem na zona de cooperação aprofundada, em Hengqin, na sequência da recente visita de Ho Iat Seng e de empresários locais a Portugal.

À margem da cerimónia de reabertura, Carlos Cid Álvares mostrou-se agradado com a visita da delegação da RAEM a Portugal, que integrou, assinalando o apoio à continuidade da actividade bancária em Macau pelo principal accionista do BNU, a Caixa Geral de Depósitos.

Sinais dos tempos

Com as novas concessões e exigências legais que recaem sobre a indústria do jogo, Neto Valente e António Ferreira deixaram de ser administradores-delegados das concessionárias Galaxy

Casino e Venetian Macau

DESDE o ano passado que Jorge Neto Valente e António Ferreira se desfizeram das participações sociais que detinham nas concessionárias Galaxy Casino e Venetian Macau, respectivamente. As alterações surgem com as novas alterações promovidas pela lei que regula o estatuto do administrador-delegado.

De acordo com o relatório das contas do exercício do ano passado da Galaxy Casino, desde 5 de Dezembro que Jorge Neto Valente deixou de ter uma participação de 10 por cento na concessionária, abandonando também o cargo de administrador-delegado. Até essa data, o advogado e a empresa Canton Treasure Group, com uma participação de 89,9 por cento, eram os

principais membros da estrutura accionista da então subconcessionária.

A Canton Treasure Group tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas e é controlada a 100 por cento pelo Grupo Galaxy Entertainment, a sociedade gestora de participações sociais da Galaxy, que está cotada na Bolsa de Hong Kong.

No entanto, desde 5 de Dezembro do ano passado, Liu, filho do funda-

económica. Em relação aos resultados finais, a empresa que recebeu subsídios de 314,51 milhões de patacas do Governo fechou o ano com um prejuízo de 2,43 mil milhões de patacas. Em 2021, o prejuízo tinha sido de 5,67 mil milhões de patacas.

dor e proprietário do grupo Galaxy, se tornou o administrador-delegado, com uma participação social de 15 por cento. O empresário de 67 anos tem ainda uma participação social de cerca de 41 por cento do grupo. Por sua vez, a Canton Treasure Group viu a sua participação reduzida para 84 por cento.

Venda na Venetian Macau Quanto a António Ferreira, o macaense foi accionista da empresa Venetian Macau até 30 de Novembro, com uma participação social de 10 por cento, quando também era o administrador-delegado da subconcessionária.

A maior parte das outras acções pertencia à Venetian Venture Development Intermediate que tinha uma participação social de 89,995 por cento. A Venetian Venture Development Intermediate tem sede nas Ilhas Caimão e é controlada a 100 por cento pela empresa Sands China, que está cotada na Bolsa de Hong Kong.

António Ferreira vendeu as acções a David Sun MinQi, que se tornou desta forma o administrador-delegado da Venetian Macau

No entanto, no dia 30 de Novembro do ano passado, António Ferreira vendeu as acções a David Sun MinQi, que se tornou desta forma o administrador-delegado da actual concessionária. O preço da transacção não foi anunciado no relatório das contas do exercício do ano passado da empresa.

Devido ao aumento de capital e à subscrição de novas acções, David Sun tem uma participação de 15 por cento, enquanto a participação da Venetian Venture Development Intermediate foi diluída para 84,9 por cento.

Desde a entrada em vigor das alterações mais recentes à lei do jogo, os delegados-accionistas são obrigados a ter participações de 15 por cento nas concessionárias, e ser residentes locais. A nomeação do delegado pelas concessionárias está sujeita à autorização do Chefe do Executivo. João Santos Filipe

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ANTÓNIO FALCÃO
FOTOS BNU

Crime Estudante burlada em 210 mil renminbis

Uma residente a estudar no Interior foi burlada em 210 mil renminbis, de acordo com a informação publicada ontem pelo jornal Ou Mun. A jovem de 19 anos recebeu uma chamada telefónica de alguém que se fez passar pela polícia do Interior e que a ameaçou que se não fizesse um pagamento à polícia, para encerrar um caso, que seria alvo de uma investigação e possivelmente presa, durante vários anos. Com medo de represálias, a estudante transferiu o montante para a conta indicada. Contudo, mais tarde foi informada que essa conta tinha sido bloqueada, devido a suspeitas de lavagem de dinheiro, pelo que decidiu apresentar queixa junto das autoridades.

Covid-19 Dois bebés internados na terça-feira

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus anunciou ontem ter detectado na terça-feira dois casos positivos de covid-19 que tiveram de ser encaminhados para as instalações de isolamento e tratamento dos Serviços de Saúde. Apesar de o director dos Serviços de Saúde ter admitido na semana passada a descoberta de vários casos de infectados com as novas estirpes XBB da variante Ómicron, altamente contagiosa, só ontem foram anunciados novos casos diagnosticados. Porém, Alvis Lo indicou que os casos dizem respeito a um bebé de um mês e outro de 11 meses de idade, internados com sintomas do trato respiratório e febre, mas que estão em condições estáveis. O responsável acrescentou que a covid-19 não vai desaparecer tão cedo, que existem infecções na comunidade.

Contrabando Residente reincidente por três vezes

Um residente corre o risco de ser preso por contrabando por ser reincidente na prática do crime pela terceira vez. Segundo os serviços de alfândega de Gongbei, este caso insere-se nos 57 processos de contrabando instruídos no primeiro trimestre contra pessoas que tentaram contrabandear produtos na fronteira por três vezes no espaço de um ano. O canal chinês da Rádio Macau noticiou que o homem foi apanhado duas vezes pelas autoridades em Março, tendo sido detido uma terceira vez quando transportava consigo roupas e discos de vinil. Assim, o residente poderá ser condenado a uma pena de prisão no máximo de três anos e pagamento de multa.

Alojamento ilegal

Doze fracções seladas

Desde 1 de Janeiro, até segunda-feira, tinham sido selados doze apartamentos devido a suspeitas de prestação ilegal de alojamento. A informação foi revelada ontem pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), no âmbito das operações conjuntas com o Corpo de Polícia de Segurança Pública contra a prestação ilegal de alojamento. No mesmo período, foram realizadas 455 acções de fiscalização, durante as quais foram detectados sete casos suspeitos de guias turísticos ilegais. A DST iniciou processo sancionatório contra os casos detectados. Além disso, as autoridades prometeram intensificar os esforços contra eventuais ilegalidades durante o Dia do Trabalhador, uma época alta devido aos feriados no Interior.

MÁSCARAS USO EM AUTOCARROS DECIDIDO POR EMPRESAS DE TRANSPORTES

Passar a batata quente

O Governo anunciou ontem novas orientações sobre o uso de máscara. A partir de amanhã, pode deixar de ser obrigatório usar máscara em autocarros públicos, mas as autoridades deixam a decisão para as empresas de transportes. As novas directivas alargam os deveres à gripe

Apartir de amanhã, pode deixa de ser obrigatório usar máscaras em transportes públicos, apesar de ainda ser recomendado, de acordo com as novas orientações emitidas ontem pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Numa divulgação algo confusa, o Executivo passa a decisão para as empresas de transportes públicos, sem que haja mais informação sobre a matéria.

As autoridades de saúde dividiram em três categorias as recomendações sobre o uso de máscara. Quando tem de usada, quando o uso é recomendado e fica ao critério de empresas e gestores de espaços e quando pode não ser usada, sendo a classificação pouco clara nas duas últimas categorias.

Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, o director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo, salientou que as novas orientações alargam o âmbito de incidência

também à gripe, não se focando exclusivamente na covid-19.

Assim sendo, a partir de amanhã, é obrigatório cobrir o rosto quando se verificarem sintomas de gripe como febre, dores musculares, tosse, pingo no nariz e dores de garganta. A máscara é também obrigatória para quem testar positivo à covid-19, assim como para quem entrar em locais de trabalho, escolas e infantários onde foram descobertos casos colectivos de gripe. A imposição

O director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo, salientou que as novas orientações alargam o âmbito de incidência também à gripe, não se focando exclusivamente na covid-19

aplica-se também a visitantes, funcionários e utentes de lares de idosos, instituições de reabilitação e instalações médicas, como centros de saúde e hospitais.

Ao seu critério

Na categoria de casos em que o Governo recomenda o uso de máscara, sem obrigar, a decisão final passa para as entidades que gerem os espaços, ou as empresas responsáveis pelos serviços. Assim sendo, estão incluídos nesta categoria, além dos transportes públicos, cidadãos que não tenham recebido a vacina contra a covid-19 e gripe, idosos, grávidas, pessoas com doenças crónicas enquanto estiverem em locais com grande aglomeração de pessoas, especialmente durante os picos de transmissão de covid-19 e gripe.

A máscara é ainda recomendável para quem participar em actividades ou reuniões com muitas pessoas, especialmente em circunstâncias de elevada mobi-

lidade de pessoas em envolvam transportes ou actividades em lugares fechados. O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus sublinha que a decisão de obrigar ou não o uso de máscara recai sobre as entidades que gerem os locais e os transportes, tendo em conta o espaço, a densidade populacional, duração da actividade, a capacidade de circulação de ar e a situação do grau de transmissão de doenças.

Já as circunstâncias em que não é necessário usar máscara, e que não merecem recomendação do Governo, incluem zonas ao ar livre, actividades em que a máscara dificulta a respiração, durante refeições ou ingestão de bebidas, ou durante procedimentos médicos em que a intervenção seja no rosto. O Governo não explica como seria possível fazer estas intervenções com a máscara posta. Crianças com menos de três anos também não estão obrigadas a usar máscara. João Luz

sociedade 7 quinta-feira 27.4.2023 www.hojemacau.com.mo
OLGA SANTOS

O negro, do ponto de vista elemental, projecta para uma zona misteriosa das profundezas oceânicas, ou ainda das alturas celestiais, quando se visualiza uma luminosa noite negra ou, em máxima complementaridade, um imenso e misterioso buraco negro.

O Preto e o Negro

NO ANO do Coelho de Água, que dominará em 2023 e afectará particularmente nativos deste signo entre 22 de Janeiro de 2023 e 10 de Fevereiro de 2024, estamos sob o domínio do Coelho Yin ( 陰/阴兔Yīntù) do elemento Água, cuja cor é o preto.

Começando pelo sítio certo. Há uma ligação ao princípio feminino Yin (陰/阴 Yīn), que se sabe ser complementar do princípio masculino Yang (陽/阳 Yáng), representando o masculino, do ponto de vista caligráfico, o lado solar da encosta, e o feminino, a sua parte nebulosa ou sombria. O Yin, enquanto propiciador de uma tabela de categorias, é receptivo, pesado, escuro, opaco e lunar, sendo complementar do Yang Criativo, leve, claro, transparente e solar. No Clássico das Mutações, se pensarmos em termos de cor, surge ligado ao hexagrama 2 do feminino e receptivo, à mãe Terra (坤 kūn), que tem como representante cromático o preto, mas uma vez que este animal se associa também à Água (水 shuǐ), carrega consigo as características do abissal e perigoso, que nos são transmitidas no hexagrama 29 (坎卦Kǎn Guà), numa conjugação dos dois trigramas da Água, na qual duas linhas Yin receptivas têm ao centro uma linha Yang criativa ou, numa outra leitura possível, são atravessadas por uma linha Yang, o que implica um mergulho nas profundezas escuras do oceano para nele conseguir captar a luz. Ou ainda, numa leitura antropológica, a linha Yang será a alma no interior do corpo, indicando o Juízo deste hexagrama: “O Abissal repetido. Se fores sincero, alcançarás o sucesso com o teu coração. E tudo o que fizeres, será bem-sucedido”/ 習坎,有孚,維心亨。行有尚。 (Wilhelm, 1989:115; 張 84: 127).

Neste hexagrama confronta-se o perigo com o bom exemplo da água, que flui encontrando o melhor caminho sem desafiar os obstáculos, por envolvimento, penetração e diluição. Quanto ao Coelho, regente deste ano, de acordo com a astrologia chinesa, é um animal sensível, pacífico, familiar, diplomático e, neste ciclo, sábio, advindo-lhe esta última virtude da ligação ao elemento Água. Ao indagar-se pelas características da Água, de acordo com a divisão dos cinco elementos, realizada na Medicina Tradicional Chinesa, obtemos que pertence à Noite; ao Inverno, enquanto estação do ano; ao Frio, como categoria climatérica; à Saliva, a título de fluído; aos Ossos, para os te-

cidos; aos Genitais, como orifício; aos Rins, na categoria de órgão; e ao Salgado na qualidade de sabor. É da água, portanto, o domínio da noite, das profundezas, da escuridão, intimamente ligadas, por um lado, ao preto, por outro, ao negro. Preto e negro não significam o mesmo, embora apontem para a mesma referência cromática. Preto, diz-se em chinês hei (黑hēi), opõe-se à cor branca, bai ( 白bái). Do ponto de vista caligráfico, o preto é uma chama (炎 yán) sob uma janela ou chaminé, à qual vai escurecendo com o seu fumo ou fuligem. O preto é então o traço complementar do fogo, os vestígios e as marcas da chama nas paredes, a sua sombra. Está intimamente associado à existência concreta. Na língua chinesa, é empregue a título de oposto do branco em heibai (黑白 hēibái), “preto e branco” no sentido de contraste, do certo e errado, onde o positivo surge do lado do branco e o negativo do lado do preto, mas também para caracterizar as cores concretas, incluindo de pessoas e etnias, sendo os africanos apelidados heiren (黑人hēirén), tal como aos americanos e ingleses lhes chamam Black people

O preto é, ainda, empregue para definir o lado sombrio e marginal da existência, por exemplo, em black market, aquele ao qual os portugueses catalogam de “mercado negro”, em chinês, heishi (黑市hēishì), sendo também pretas as sociedades criminosas, as heishehui (黑社会hēishèhuì), bem como pessoas extremamente ambiciosas, engenhosas e até maliciosas, dessas afirma-se no calão chinês que possuem “coração preto”黑 (心) (李、顏 1998:90). Pelo que também as palavras enganosas se dizem “palavras pretas” ou heihua (黑話/话), seguindo a mesma lógica, há um “humor preto”, ao qual os portugueses chamariam “humor negro”, quer dizer, heise youmo (黑色幽默 hēisè yōumò ).

No que se refere ao dia-a-dia da língua chinesa, vê-se então que o preto está frequentemente associado ao mundo marginal, o das seitas, da economia paralela, das pessoas extremamente ávidas, que não olham a meios para atingir os fins, desregradas e até das que manifestam as forças do mal heishili (黑势力 hēishìlì); mas não se pode esquecer o lado positivo, no qual surge a terra preta, denominada heitu ( 黑土hēitǔ) e a noite negra, em chinês, heiye (黑夜 hēiyè).

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Ana Cristina Este espaço conta com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, sendo que Zhou Jin, Catarata

Negro Chineses

Chegou a altura de analisar a distinção entre o preto e o negro. Este último assume uma dimensão filosófica que não é atribuída à cor preta, telúrica e basilar. O negro, do ponto de vista elemental, projecta para uma zona misteriosa das profundezas oceânicas, ou ainda das alturas celestiais, quando se visualiza uma luminosa noite negra ou, em máxima complementaridade, um imenso e misterioso buraco negro.

A pérola negra é uma das metáforas preferidas dos taoistas, nomeadamente Zhuangzi (莊子/庄子), o segundo maior filósofo desta linha, que viveu durante o Período dos Reinos Combatentes entre c. 396-286 a.C. Na obra homónima, 《庄子》 procurou transmitir o núcleo dos seus princípios filosóficos recorrendo a metáforas e parábolas de grande valor artístico, da melhor literatura de todos os tempos. O filósofo emprega no Livro 12 a imagem da Pérola Perdida para se referir ao Tao (道 Dào) ,

sendo este descrito como uma pérola misteriosa, caso se prefira, mágica, que tudo pode transformar sem se perceba nem o seu saber, nem como o realiza e muito menos porque razão o faz tão espontaneamente, deixando todos surpreendidos, a começar pelo Imperador

Amarelo (黄帝 Huángdì), o símbolo da sabedoria discursiva, clara, luminosa e disciplinada, a complementar, portanto, a mais enaltecida pelos taoistas, a lunar, difusa, aquática e intuitiva, enfim a verdadeira sabedoria que se encontra a um nível numenal e, por isso, escapa por completo ao entendimento humano. Conta Zhuangzi:

O Imperador Amarelo quando se dirigia para o Norte das Águas Vermelhas, subiu à Montanha Kunlun e olhou na direção Sul. Ao regressar a casa, percebeu que tinha perdido a sua pérola negra (玄珠 xuánzhū). Enviou então o conhecimento à

procura dela, mas ele não a conseguiu descobrir; mandou de seguida a visão em seu encalço, que não a encontrou; ao que se seguiu o discurso que também não a achou. Por fim, encarregou o Nada desta missão, que a encontrou. Ao que o Imperador Amarelo exclamou: “Que estranho! Só o Nada descobriu a pérola cor-da-noite”.

( 黄帝游乎赤水之北,登乎昆仑之丘 而南望。还归,遺其玄珠。使知索之 而不得,使离朱索之而不得,使喫诟 索之而不得也;乃使象罔,象罔得 之。黄帝曰:“异哉!象罔乃可以得 之乎!“ ) (Zhuangzi, 1999, XII: 4)

Concluindo, o preto assume, tanto em chinês como em português, um sentido filosófico importante quando é elevado a negro, desapegando-se assim da realidade imediata, concreta e material. Adquire então uma forma profun-

da, misteriosa e mágica que o colocam em ligação espontânea e directa com o mundo numenal. Liberta-se de toda a carga fenomenal de que é investido no mundo que nos rodeia, também conhecido em algumas filosofias como mundo das ilusões e da aparência. Há portanto para o preto duas dimensões distintas, uma em que é uma cor vulgar ao mesmo nível das outras, partilhando das acepções positivas e negativas que lhe são atribuídas no mundo chinês, e não só; outra misteriosa, abissal em que tudo pode, como representante duma dimensão transcendente, na qual é portador das energias primordiais, sendo uma espécie de “cinturão negro” marcial, uma prodigiosa manifestação energética na vida, que se eleva aos céus ou mergulha nas profundezas misteriosas, para resolver dificuldades e transpor os obstáculos de um modo aparentemente fácil, munido da simplicidade modelar que lhe advém da sua ligação ao princípio Yin e à sabedoria da Água.

Bibliografia

• Alves, Ana Cristina. 2005. Sabedoria Chinesa. Cruz Quebrada: Casa das Letras/ Editorial Notícias.

• Jorge, Cecília, Beltrão Coelho. 1988. Medicina Chinesa. Em Busca do Equilíbrio Perdido. Macau: Instituto Cultural de Macau/ Ciclo dos Leitores.

• Li Shujuan, Yan Ligang . Ed. (李淑 娟, 颜力鋼). 1998. Chinese-English Dictionary of Modern Slang of China 《漢英中國新俚語》 香港:海 峰出版社.

• Merton, Thomas. 1999. A Via de Chuang Tzu. Petrópolis: Editora Vozes.

• Shi Zhengyu. 1997. Picture Within a Picture An Illustrated Guide to the Origens of Chinese Characters. Beijing: New World Press

• Wilhelm, Richard. 1989. I Ching or Book of Changes, versão inglesa de Cary F. Baynes, Prefácio de C.G Jung, 4ª ed. London: Arkana Penguin Books.

• 張中鐸(編)《易经提要白話解》台南 市:大孚,民84.

• Zhuangzi (《庄子》). 1999. Vol. I e II Tradução para Inglês de Wang Rongpei (汪榕培) e para Chinês moderno de Qin Xuqing e Sun Yongchang. (秦旭卿、孙 雍长) .Hunan, Beijing: Hunan People’s Publishing House, Foreign Language Press .

VIA do MEIO 27.4.2023 quinta-feira 9
as opiniões expressas no artigo são da inteira responsabilidade dos autores. https://www.cccm.gov.pt/
Cristina Alves Zhou Jin, Ouvindo a chuva

YUAN DÓLAR ULTRAPASSADO EM OPERAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS

A moeda de trocas

Pela primeira vez na história, a utilização da moeda chinesa ultrapassou a da divisa norte-americana nas transacções internacionais

AChina realizou em Março, pela primeira vez, mais transacções transfronteiriças com a sua moeda do que com o dólar norte-americano, num novo marco nos planos de Pequim para reduzir a sua dependência da divisa norte-americana.

Segundo uma análise difundida ontem pela Bloomberg Intelligence, baseada em dados do Governo chinês, o uso do yuan neste tipo de operações atingiu o recorde histórico de 48 por

cento, em Março, quando o uso do dólar nas transacções internacionais chinesas caiu para 47 por cento.

Em 2010, a China praticamente não utilizava o yuan para liquidar este tipo de transacções, utilizando quase exclusivamente o dólar.

Estes dados são calculados com base no volume de todo o tipo de transacções transfronteiriças realizadas no país, incluindo a compra e venda de acções, através das ligações entre as praças financeiras da China Continental e de Hong Kong.

PUB.

HM • 2ª vez • 27-4-23

ANÚNCIO

Inventário n.º FM1-20-0007-CIV Juízo de Família e de Menores

Requerente: TSE CHAK KUAN, de sexo feminino, titular do BIRM, residente em Macau, na Avenida de Kwong Tung, nº.7, Edifício TRIUMPH TORRE IV, 8.º Andar E.

Requerido: CHENG KUONG WAI, de sexo masculino, titular do BIRM, residente em Macau, na Rua do Padre Eugénio Taverna, nº. 277, Edifício PAT TAT SUN CHUEN, 6º Andar BS.

Nos autos supra identificados, foi designado o dia 16 de Junho de 2023, pelas 12:00 horas, neste Tribunal, para a venda por meio de propostas em carta fechada, o bem a partilhar abaixo identificado.

Imóvel

Denominação : Fracção autónoma “BS6” do 6.º andar “BS”

Situação : Sito em Macau com os nºs 161 a 327 da Rua do Padre Eugénio Taverna e nºs 190 a 216 da Avenida de Venceslau de Morais.

Fim : Para habitação.

Número de matriz : 071752

Número de descrição na : nº. 21559, a fls.133V, do Livro B51 Conservatória do Registo Predial Inscrição : n.º 14753.

O valor da base da venda: MOP$3.200.000,00 (Três Milhões, Duzentas Mil Patacas). Os preços das propostas devem ser superior ao valor da base da venda acima indicado. Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “proposta em carta fechada”, “Juízo de Família e de Menores” e o “Processo Número: FM1-20-0007-CIV”, na Secção Central deste Tribunal, até o dia 15 de Junho de 2023, até 17:45 horas, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas.

É fiel depositário o Sr. CHENG KUONG WAI, residente em Macau, na Rua do Padre Eugénio Taverna, nº.277, Edifício PAT TAT SUN CHUEN, 6º Andar BS, que está obrigado, durante o prazo dos edital e anúncio, a mostrar os bens imóveis a quem pretenda examiná-los, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção.

Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercerem o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do artº 787º do C.P.C.M.

RAEM, 20 de Março de 2023

“O aumento do uso do yuan pode ser uma consequência natural da abertura pela China da sua conta de capital”, disse Stephen Chiu, analista de câmbio da Bloomberg.

No entanto, a moeda chinesa ainda tem uma participação de apenas 2,3 por cento nos pagamentos globais, segundo dados do sistema internacional de pagamentos SWIFT.

A China tem tentado internacionalizar o yuan desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo. Esta questão tornou-se mais urgente à medida que fricções políticas e a prolongada guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington resultaram na imposição de sanções contra várias entidades chinesas.

O debate sobre a fragmentação do mercado monetário e a diluição do domínio do dólar norte-americano foi renovado também pelas sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia. A China reforçou a cooperação com Moscovo, a nível de sistemas de pagamento, promovendo o uso do yuan nas trocas comerciais bilaterais.

O uso do yuan neste tipo de operações atingiu o recorde histórico de 48 por cento, em Março, quando o uso do dólar nas transacções internacionais chinesas caiu para 47 por cento

O dólar é utilizado em 84,3 por cento das trocas comerciais a nível global, segundo dados recentes divulgados pelo jornal britânico Financial Times. Mas a

participação do yuan mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2 por cento para 4,5 por cento, reflectindo o maior uso da moeda chinesa no comércio com a Rússia.

Na terça-feira, o Conselho de Estado (Executivo) chinês reiterou a sua intenção de aumentar o uso do yuan para liquidar operações internacionalmente.

“A internacionalização do yuan está a acelerar à medida que outros países buscam uma moeda de pagamento alternativa para diversificar os riscos, já que a Reserva Federal [dos EUA] perdeu alguma credibilidade”, disse Chris Leung, economista do DBS Bank.

O especialista notou, no entanto, que o dólar norte-americano vai manter-se por muito tempo como a moeda de escolha mundial: “A participação do yuan nos pagamentos globais pode ser para sempre pequena”.

Ajuda brasileira

Este mês, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou, em Xangai, o domínio do dólar norte-americano como moeda de reserva mundial e apelou para o uso de outras divisas na relação comercial entre Brasil e China.

“Eu todos os dias me pergunto por que motivo os países estão obrigados a fazer o seu comércio em dólar”, afirmou o chefe de Estado brasileiro, na sede do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelo BRICS, o bloco

de economias emergentes que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Nós precisamos de ter uma moeda que dê aos países um pouco mais de tranquilidade”, acrescentou.

Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, escreveu então na sua conta oficial no Twitter que as afirmações de Lula são “palavras de político” e “não de quem conhece o balanço de pagamentos global”.

“Ele não percebe que o que importa não é a moeda em que o comércio brasileiro é denominado. Podem ser dólares, yuan, reais, euros ou até o ringgit da Malásia”, apontou.

“O que importa são os activos em que os exportadores desejam acumular o produto das suas exportações”, afirmou.

Para os exportadores brasileiros acumularem o

yuan nas suas trocas com a China, Pequim teria que executar reformas no sistema financeiro e monetário que são incompatíveis com o seu modelo de governação, apontou.

Pettis considerou que a “rigidez” do sistema financeiro da China, em contraste com o mercado de capitais “aberto” dos Estados Unidos, “impede o yuan de assumir maior predominância como moeda de reserva”.

“A China teria de abdicar do controlo sobre as contas correntes e de capital” e “aceitar um sistema de governação no qual as decisões de uma ampla gama de autoridades estariam sujeitas a um processo legal transparente e previsível”, para que o yuan pudesse, “pelo menos parcialmente”, ameaçar a posição do dólar, afirmou o académico, que vive no país asiático há duas décadas.

10 china www.hojemacau.com.mo 27.4.2023 quinta-feira
“A internacionalização do yuan está a acelerar à medida que outros países buscam uma moeda de pagamento alternativa para diversificar os riscos.”
CHRIS LEUNG ECONOMISTA DO DBS BANK

Numa altura em que o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 vive um grande momento em termos de popularidade e audiências, preparando-se para expandir o número de corridas e abrir as portas a novas equipas em 2026, um grande empresário de Hong Kong quer juntar-se ao “Grande Circo”

AFederação Internacional do Automóvel abriu o processo de candidaturas em Fevereiro, sabendo-se que a Andretti Global, com o apoio da Cadillac, e a Pantera Team Asia já revelaram o seu interesse em aderir ao processo. Nos últimos dias também vieram a lume o interesse de Craig Pollock com o possível apoio da Arábia Saudita, da equipa inglesa Hitech Grand Prix e do empresário Calvin Lo de Hong Kong.

Calvin Lo é um investidor de Hong Kong e Director Executivo da R.E. Lee Capital, uma empresa que gere mais de 8 mil milhões de dólares norte-americanos em activos. Está classificado como a 43.ª pessoa mais rica de Hong Kong pela Forbes. Ávido fã de Michael Schumacher, nos tempos em que o alemão corria pela Ferrari, Lo tem continuado a mostrar interesse pelo desporto, marcando presença no paddock em alguns Grande Prémios, principalmente na Ásia.

Acredita-se amplamente que Lo investiu na aquisição da Williams F1 Team através da Dorilton Capital que 2019 por 180 milhões de dólares comprou uma parcela importante da equipa inglesa. Lo nunca confirmou nem negou qualquer envolvimento na aquisição, no entanto, o empresário comentou em Dezembro passado pela primeira vez sobre o potencial inexplorado do desporto como um ponto de interesse em qualquer envolvimento futuro.

“Adoro o facto da Fórmula 1 não ser apenas um espectáculo de um homem só”, afirmou Calvin Lo, que parece disposto em investir os 200 milhões de dólares norte-americanos para se juntar a este restrito clube. “É um grupo de pessoas extremamente talentosas que se juntam para um objectivo. Há sempre boas equipas na F1, mas não são capazes de criar o carro certo”.

O prazo para as novas equipas declararem o seu interesse termina a 30 de Abril, embora Calvin Lo tenha sugerido à Reuters que esse prazo foi adiado para Maio. Lo disse que uma potencial equipa com quem estava a falar “já se tinha candidatado” e que outra “ainda estava a trabalhar nos bastidores. Estou aqui à espera, a ver os relatórios, a ver os números, a certificar-me de que tudo está bem a longo prazo”.

O empresário Teddy Yip, cunhado de Stanley Ho, foi último grande empresário de Hong Kong a investir na disciplina rainha do desporto motorizado. A Theodore Racing participou em 51 grandes prémios de 1977 a

Por mais Ásia

1983. O seu filho, Teddy Yip Jr, ressuscitou a Theodore Racing em 2013, mas apesar de ter seguido as pisadas do pai em apoiar concorrentes no Grande Prémio de Macau, sempre refutou uma possível entrada no mundial de Fórmula 1 devido às elevadas somas necessárias para essa aventura.

Mais corridas por cá

Em entrevista recente à agência Reuters, Calvin Lo também expressou a sua insatisfação com a actual concentração de eventos nos EUA, sendo as oportunidades na Ásia praticamente ignoradas. Actualmente, a Fórmula 1 só visita o continente duas vezes por ano para os Grandes Prémios do Japão e de Singapura. Devido à Covid-19, o Grande

Prémio da China só reentrará no calendário no próximo ano.

“Penso que há muito mais intervenientes asiáticos, investidores, que querem entrar neste desporto - mais do que alguma vez poderíamos imaginar”, acrescentou Lo, mencionando à Reuters a relevância dos construtores automóveis do Japão, Coreia do Sul e China. “Tenho a sorte de poder conhecer muitos deles e eles já me sondaram e manifestaram o seu interesse em participar. Portanto, um consórcio, juntando recursos fazia todo o sentido.”

Não só a China poderá entrar no calendário da Fórmula 1 em 2024, como outros países da região poderão seguir as suas pisadas. O presidente da Indonésia, Joko “Jokowi” Widodo, disse em Fevereiro que tinha criado uma equipa para preparar a logística para a realização de uma corrida no país e, se possível, o evento poderia ter lugar no próximo ano. Depois de ter construído o seu autódromo e ter visto a sua corrida programada para 2020 cancelada devido ao surto de Covid-19, as hipóteses de o Grande Prémio do Vietname ser organizado subitamente aumentaram, com várias notícias na imprensa internacional a surgirem nas últimas semanas sobre essa possibilidade.

ANÚNCIO

CONCURSO PÚBLICO N.o 7/P/23

Faz-se público que, por despacho de Sua Excelência, o Chefe do Executivo, de 4 de Novembro de 2022, se encontra aberto o Concurso Público para o « Fornecimento de Medicamentos Especiais para o Uso Hospitalar aos Serviços de Saúde », cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 26 de Abril de 2023, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n º 258, Edificio Broadway Center, 3 º Andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 79,00 (setenta e nove patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 29 de Maio de 2023.

O acto público deste concurso terá lugar no dia 30 de Maio de 2023, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau

A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 19 de Abril de 2023

O Director dos Serviços de Saúde Lo Iek Long

desporto 11 www.hojemacau.com.mo quinta-feira 27.4.2023
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CALVIN LO INVESTIDOR DE HK E DIRECTOR EXECUTIVO DA R.E. LEE CAPITAL
“Penso que há muito mais intervenientes asiáticos, investidores, que querem entrar neste desportomais do que alguma vez poderíamos imaginar.”
Não só a China poderá entrar no calendário da Fórmula 1 em 2024, como outros países da região poderão seguir as suas pisadas

Restaurantes de renome no território como o “Zi Yat Heen”, no Four Seasons, o “Robuchon au Dôme”, “The 8” e “The Kitchen”, no Grand Lisboa, bem como o “Lai Heen”, no “RitzCarlton”, entre outros, mantiveram, na edição deste ano do Guia Michelin para Macau e Hong Kong, as estrelas atribuídas há vários anos. Restaurante no MGM Cotai obtém primeira estrela

Aedição deste ano do “Guia Michelin para Hong Kong e Macau 2023” manteve as estrelas atribuídas há vários anos aos restaurantes “Zi Yat Heen”, do Four Seasons, “Robuchon au Dôme”, “The 8” e “The Kitchen”, três espaços situados no hotel Grand Lisboa. Inclui-se ainda a distinção ao “Lai Heen”, no “Ritz-Carlton”. A cerimónia de atribuição das distinções decorreu ontem.

Destaque para a distinção atribuída ao “Five Foot Road”,

SOB o tema “Museus, Sustentabilidade e Bem-estar” decorre este ano mais uma edição do “Carnaval do Dia Internacional dos Museus” a partir do dia 14 de Maio. A ideia é celebrar a efeméride, instituída a 18 de Maio de 1977, com uma série de actividades que vão desde os jogos aos workshops. A cerimónia de abertura do evento, que integra grande parte dos espaços museológicos geridos pelo Instituto Cultural (IC), arranca dia 14 de Maio no Centro de Ciência de Macau, onde, a partir das 14h, serão organizados “jogos de cabine, workshops e jogos

GUIA MICHELIN RESTAURANTES LOCAIS MANTÊM CLASSIFICAÇÕES

Estrelas de Macau

tendo passado para a lista de três estrelas a partir de 2014.

Daisy Ho, directora-executiva da SJM, disse ontem estar “muito agradecida pelos esforços diligentes das nossas equipas de restauração que construíram uma tradição de excelência na SJM, que permitiu à indústria obter distinções à escala global”.

Por sua vez, o “Lai Heen”, restaurante de comida cantonense, manteve a estrela Michelin ganha pela primeira vez há sete anos, juntamente com outros espaços de restauração localizados nos empreendimentos da Galaxy, como o “Feng Wei Ju”, “8 1/2 Otto” e “Mezzo Bombana”.

A edição deste ano do “Guia Michelin para Hong Kong e Macau 2023” manteve as estrelas atribuídas há vários anos a vários restaurantes de topo no território

de comida de Sichuan, no MGM Cotai, que ganhou, pela primeira vez, uma estrela Michelin. Hubert Wang, presidente da MGM China, disse que esta distinção demonstra a “ambição” da concessionária em “promover grandes histórias da cultura chinesa e dos seus tesouros gastronómicos”.

A estrela Michelin atribuída ao “Zi Yat Heen”, mantida há 14 anos, foi recebida pelo chefe executivo do hotel Four Seasons, Charles Cheung, que disse estar “orgulhoso de trabalhar com uma

equipa talentosa e apaixonada que partilha comigo os mesmos valores e aspirações em criar uma cozinha e serviços de nível mundial”.

Chique francês

Nesta edição do Guia Michelin foram ainda distinguidos três espaços de restauração do universo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). O “Robuchon au Dôme” manteve as três estrelas, bem como o “The 8”, enquanto o “The Kitchen” manteve uma estrela, distinções mantidas há dez anos. Em Hong Kong o restau-

Festa dentro de portas

rante “L’Atelier de Joel Robuchon”, gerido pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, manteve as três estrelas obtidas pela primeira vez há 12 anos.

Foi em 2001 que a empresa convidou o reputado chefe francês para trazer para os dois territórios pratos de assinatura da alta cozinha francesa, tendo os dois restaurantes obtido três estrelas logo na primeira edição do Guia Michelin para Macau e Hong Kong, em 2009. O “The 8” obteve uma estrela dois anos após o início das operações,

Já o “Ritz-Carlton Café”, que serve pastelaria francesa, foi nomeado como “Michelin Selected Restaurant” [Restaurante Seleccionado Michelin] pelo sexto ano consecutivo.

Do lado da Melco Crown quatro restaurantes situados no City of Dreams, Studio City e Altira Macau mantiveram as suas estrelas. O “Jade Dragon” mantém, há cinco anos consecutivos, três estrelas, enquanto “Alain Ducasse” manteve as duas estrelas. O “Pearl Dragon” e “Ying” mantém ambos uma única estrela. No caso da Wynn, o guia manteve as estrelas do “Wing Lei”, o japonês “Mizumi”, o “Sichuan Moon”, com duas estrelas, e o “Wing Lei Palace”. A.S.S.

Para assinalar o dia i, os museus estarão abertos ao público gratuitamente ao longo do mês de Maio, sendo que cada espaço

terá o seu calendário de exposições, workshops ou visitas guiadas a propósito desta celebração.

Cultura e GP

O Museu do Grande Prémio de Macau é um dos que estará aberto gratuita-

Dia Internacional dos Museus celebrado com jogos e workshops online”. No entanto, nesse dia, todos os museus do território promovem, entre as 14h e as 18h, diversas iniciativas como é o caso do jogo “Múltiplas Perspectivas sobre Museus” ou “Vamos começar por conhecer as exposições do Museu de Macau”, sem esquecer as oficinas nas áreas da xilogravura, impressão e cerâmica.

mente no dia 18. Nesse dia será realizado o workshop “Impressão de carros de corrida em sacos ecológicos”, tendo com pano de fundo a 70.ª edição do Grande Prémio. Nos domingos de 21 e 28 de Maio, às 10h30 e 15h30, decor-

rem ainda os workshops «Produção de badges de carro de corrida em cera” e “Pintura do carro dos seus sonhos”, podendo inscrever-se crianças dos quatro aos 14 anos com os seus pais.

Entre os dias 14 de Maio e 3 de Junho os interessados podem ainda participar no “Jogo Online do Carnaval do Dia Internacional dos Museus de Macau 2023”.

Com o rol de actividades organizadas em Macau pretende-se “realçar a essência cultural de Macau, criando um ambiente intensamente cultural e festivo para as comunidades”.

Tap Seac Feira de Artesanato arranca hoje

Começa hoje e decorre até domingo mais uma edição da feira de artesanato do Tap Seac, evento organizado pelo Instituto Cultural (IC) e que revela o que de melhor se faz em termos de trabalhos manuais em Macau e nas cidades vizinhas. O público poderá visitar os 220 stands presentes que mostram não apenas artesanato, mas também diversas iguarias gastronómicas. O IC aponta que, “em comparação com a semana passada, mais de 90 por cento das marcas culturais e criativas desta semana serão diferentes, promovendo-se uma vasta gama de produtos culturais e criativos, como artigos de uso diário, vestuário e acessórios, artesanato, produtos artesanais naturais, entre outros”. Decorrem ainda workshops de artesanato criativo e concertos com músicos de Macau e do interior da China. A feira decorre entre as 17h e as 22h, às quintas e sextas-feiras, e das 15h às 22h aos sábados e domingos.

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Chefe executivo do Four Seasons, Charles Cheung Interior do Zi Yat Heen no Four Seasons

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SUDOKU

UMA SÉRIE HOJE OS BORGIAS | NEIL JORDAN | 2011

A série criada em 2011 acompanha a vida de Rodrigo Borgia, que se tornou o Papa Alexandre VI. Com algumas partes ficcionadas e outras com base em rumores, a série acompanha a forma como o Papa espanhol tentou assumir, em conjunto com os filhos, a Itália do século XV. Homicídios, intrigas, guerras e alianças entre famílias são uma constante nesta série que tem como protagonista Jeremy Irons. João Santos Filipe

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo

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EURÁSIA, O UNIVERSO DO PACÍFICO E OS

(continuação)

IV. China, Eurásia e a geo-política americana

A China, é claro, não gosta dos recentes desenvolvimentos. Antigamente, o Governo de Pequim estabelecia as suas metas em termos de política externa com base no princípio de uma só China. Naturalmente, este propósito incluía o desejo de reintegrar Taiwan. Originalmente, os governantes do Kuomintang em Taipé tinham expressado ideias semelhantes. Sonhavam conquistar o continente, e também usavam como arma de propaganda o princípio “uma só China”, mas, claro, de uma perspectiva diferente. Hoje em dia, quase todos os dirigentes a nível mundial reconhecem Pequim como o único legítimo governante da China. Além disso, Pequim declarou repetidas vezes, desde o início, que as ilhas no Mar da China Meridional são parte da China. Inúmeros estudos confirmam que os pescadores e marinheiros chineses iam para lá desde tempos imemoriais. Os registos pré-coloniais que mencionam estas regiões são todos chineses. Não existem fontes escritas em malaio, tailandês ou noutras línguas, o que pode apontar para uma presença contínua de habitantes do Sudeste Asiático nestes arquipélagos. Igualmente digno de nota, é o facto de as obras publicadas durante o Governo do Kuomintang afirmarem que as ilhas de Nanhai 南海 devem pertencer à China. Não só isso: mapas do período republicano mostram que nessa altura a China também reclamava muitas zonas que ficavam muito para lá das suas fronteiras, especialmente a Norte. O Governo de Pequim, podemos acrescentar, é modesto; já não faz exigências tão excessivas. Os académicos do universo anglófono raramente mencionam isto. Nem “culpam” Taiwan por controlar as Ilhas Dongsha 東沙群島, que constituem um dos arquipélagos do Mar da China Meridional. No entanto, criticam severamente as actividades de Pequim no Mar da China Meridional sempre que acham que isso faz sentido. Esta unilateralidade expõe claramente as atitudes imperialistas americanas e a duplicidade de critérios.

O chamado “Ocidente” também criticou as acções da China em Hong Kong, no Estreito de Taiwan e noutras partes da Ásia. A matriz destes comentários críticos é feita na América do Norte e os aliados de Washington seguem o protótipo. Quando Pequim iniciou o programa “Uma Faixa, Uma Rota” (Nova Rota da Seda)一帶一 路, os investidores e os homens de negócio de muitos países, incluindo alguns Estados europeus, ficaram bastante satisfeitos. Contudo, com o passar do tempo, as impressões positivas desapareceram. Opiniões extremamente negativas começaram a substituir o entusiasmo inicial. Poucos destes críticos entenderam que Pequim, ao iniciar o programa, teve uma visão a longo prazo: a ideia não era apenas trazer riqueza para ou-

tros países, mas também ajudar a estabilizar o ambiente político em grande parte da Ásia Central e Ocidental.

Certamente, a estabilização dessas macro-regiões não era necessariamente do interesse Washington a longo prazo. Um sistema eurasiático forte e pacífico era incompatível com a ideia de supremacia anglófona. Os laços económicos que cresciam gradualmente entre certas partes da UE (especialmente a Alemanha) por um lado, e a Rússia, por outro, bem como entre a Europa e a China e a China e a Rússia causaram muita preocupação em Washington. Este pressuposto permite-nos chegar a uma conclusão muito desagradável.

A guerra na Ucrânia é um acontecimento trágico que nunca deveria ter sido iniciado mas, paradoxalmente, Washington parece lucrar com as perdas de vidas e com a destruição diária. As razões são óbvias: em termos territoriais, a iniciativa chinesa “Uma Faixa, uma Rota” está agora um pouco limitada. Partes das ligações continentais estão interrompidas.

A Europa ficou mais próxima da órbita de Washington. Parece provável que Washington ganhe dinheiro com a venda de armas e de matérias-primas à UE. A União Europeia tem de receber refugiados ucranianos. Além disso, do ponto de vista político, Washington poderá reforçar a sua posição na Polónia e

na fronteira oriental da NATO. Deste modo, pode desvalorizar o papel da Europa Central e da França e pode encorajar Varsóvia a tornar-se um protagonista na política regional contra/com a Bielorrússia e a Ucrânia.

Além disso, Washington não precisa de intervir directamente na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Envia armas, dinheiro, e isso faz com que Kiev fique dependente da “benevolência” americana durante as próximas décadas. Finalmente, fica à vontade para iniciar “exercícios militares” noutras regiões, especialmente no Extremo Oriente. Provocações contínuas e uma retórica agreste promovem a tensão no Estreito de Taiwan e no Mar da China Meridional, como podemos ler diariamente. Mas não só: as declarações oficiais de Washington dão a entender que os Estados Unidos podem ir para lá das acusações verbais e das sanções económicas.

Como foi mencionado, a guerra na Ucrânia parece ser um elemento importante na constelação actual. O raciocínio implícito é simples: Algumas pessoas consideram Zelensky uma marioneta da Casa Branca. A Rússia precisará de mobilizar mais homens e mais armas contra as suas tropas. Uma longa duração do conflito pode enfraquecer gravemente o Kremlin e é isso que Washington espera. No entanto, recentemente

vários políticos do “Ocidente” argumentaram que é improvável que a Ucrânia vença a guerra, mesmo com o apoio continuado dos Estados Unidos e dos seus aliados. Afinal, a Rússia tem amigos e enormes recursos, e também tem armas nucleares.

Embora isto seja um facto indiscutível, alguns políticos “ocidentais”, entre eles, vários do leste europeu e muitos líderes ucranianos defendem que se deve continuar a guerra a qualquer preço para manter a Rússia “ocupada” e para impedir a sua recuperação. Temem que, a longo prazo, a Rússia possa vir a ameaçar os Estados Bálticos e outras regiões da Europa de Leste. Por isso, várias pessoas desejam que a Rússia se desmorone. Propõem aumentar a pressão económica, acreditando que isso provocará um esgotamento gradual dos recursos militares russos. Em termos mais simples, estes políticos pensam que uma “revolução” interna em Moscovo poderá pôr fim ao Governo de Putin. Algumas pessoas até sonham com uma desintegração abrupta, esperando que líderes militares influentes e/ou grupos locais possam voltar s costas a Moscovo. No entanto, se uma situação tão extrema realmente ocorresse, novas questões se levantariam: Quem iria controlar o arsenal nuclear do Kremlin? Quem iria comandar

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GOYA, O QUE HÁ MAIS PARA FAZER

ANGLÓFONOS: DO PASSADO AO PRESENTE

os submarinos russos e outros navios que transportam ogivas nucleares?

Agora regressamos ao reino do “e se”. No caso de se estabelecer o caos em Moscovo, alguns dos estados da Ásia Central poderiam deixar de aceitar a autoridade da Rússia como uma espécie de garante de segurança. Isto poderia encorajar alguns líderes do antigo Xiyu a desencadear rebeliões e guerras regionais, o que se tornaria uma situação desconfortável para a China. A China quer manter a paz, como ficou recentemente demonstrado pelo seu recente papel no processo diplomático entre o Irão e a Arábia Saudita. Existem muitos instrumentos institucionais que também servem para manter o equilíbrio regional na Ásia Central e nas áreas adjacentes, e um desses instrumentos é o grupo de Xangai. Mas nada disto é do interesse de Washington. Em contrapartida, o caos na Rússia e o caos na Ásia Central seriam bons para Washington. Os refugiados deslocavam-se para o Irão, para a Turquia, para a UE e talvez para o Extremo Oriente; os países que os recebessem iam precisaram de despender mais verbas e de construir mais infra-estruturas para todos estes migrantes. Washington fica muito longe; em termos de discurso, iria continuar a insistir na defesa dos direitos humanos e a “aconselhar” todos a implementarem estruturas democráticas, mas manteria as suas portas fechadas (as políticas WASP* em relação ao universo latino-americano mostram-nos bem como é que isto funciona). Basicamente, acolheria apenas indivíduos ricos, qualificados e instruídos. E secretamente alegrava-se, ao ver os outros em apuros.

V. De volta à fronteira americana do Pacífico

Uma desintegração da Rússia ou uma perda da autoridade de Moscovo sobre algumas das suas regiões asiáticas poderiam provocar muitas mais mudanças: o Japão poderia sentir-se tentado a ocupar as Ilhas Curilas e talvez alguns americanos propusessem a ocupação da Península de Kamchatka e dos postos avançados da Rússia perto do estreito de Bering. Além disso, há muita concorrência na região do Ártico. Poucas pessoas falam sobre isso, mas sabemos que a Rússia é um actor importante no gélido Norte. Se a Rússia deixar de poder desempenhar esse papel, Washington será o grande vencedor na região do Ártico. O Canadá, a Noruega e outros países poderiam ficar descontentes com a situação, mas não teriam forma de travar o processo. Aqui podemos recordar a proposta ridícula do antigo Governo dos EUA para comprar a Gronelândia. Revela a atitude arrogante de alguns líderes políticos em Washington.

Sem dúvida que uma situação caótica ou imprevisível dentro da Rússia levaria a China a aumentar os seus esforços diplomáticos em certas partes da Ásia Central, com ou sem a ajuda do Irão e/ou da Turquia. No entanto, num cenário confuso, podemos ter

a certeza de que estes últimos iriam dar as mãos? O panorama da Ásia Central poderia tornar-se extremamente complicado. Como foi dito, a História tende a repetir-se. Pior ainda, se a atenção de Pequim fosse absorvida pelos acontecimentos na Ásia Central, então Washington poderia sentir-se à vontade para desafiar as posições marítimas da China. Actualmente, Washington tenta regressar às Filipinas. Uma das suas ideias neste sentido é trazer mais equipamento militar para este arquipélago. Também pode deslocar mais militares para as Ilhas Ryukyu e para a Coreia do Sul. É claro que não existe uma base legal para o envio de tropas para Taiwan, mas poderemos ter a certeza de que Washington vai respeitar essa regra?

Um confronto militar no Estreito de Taiwan, intencional ou involuntário, provocado pelas acções de Washington, poderia levar a uma forte reacção chinesa. Isto, por sua vez, poderia levar os Estados Unidos a atrair os seus principais aliados locais, nomeadamente o Japão e a Coreia do Sul, para o conflito. Instalações navais e outras em Okinawa e noutras zonas tornar-se-iam áreas-chave. É claro que não sabemos como é que Tóquio e Seul iriam responder, mas se seguissem as directrizes de Washington, poderia criar-se um estranho cenário. A questão que se coloca é: Isto pode ser evitado? Será que os grupos dentro da Coreia do Sul e do Japão, que desejam manter a paz, teriam influência suficiente para impedir que seus Governos se subordinassem ao sabre agitador dos Estados Unidos? Actualmente, ainda há espaço para manobras diplomáticas e económicas, mas é claro que não se pode aumentar e acelerar a tensão ad infinitum. Então, até que ponto é que Washington pode ir?

Alguns dirigentes da UE convenceram-se que deveriam aceitar a retórica missionária difundida pelos anglófonos. Mas, no mundo existem pessoas mais prudentes; sugerem que se deve procurar caminhos alternativos e adoptar visões mais equilibradas. Não gostam de ameaças e insistem numa diplomacia da paz

No contexto da guerra na Ucrânia, os americanos retratam a Rússia como uma entidade maligna que poderia levar o mundo a uma “batalha final”. (Armagedão). Certamente, não podemos excluir totalmente um cenário nuclear, o uso de ogivas tácticas com componentes nucleares ou “simplesmente” o uso de munições com urânio empobrecido. No entanto, quando pensamos no Extremo Oriente, o mesmo não se aplica aos Estados Unidos? Não nos devemos esquecer, que os “anjos inocentes” da Califórnia usaram bastantes armas terríveis em várias guerras.

Infelizmente, as superpotências seguem as suas próprias regras. Procuram maximizar os ganhos e querem controlar tudo. Quando guiados por algum tipo de ideologia estranha, como o “destino manifesto” (e seus derivados), os altos dirigentes facilmente ficam cegos e prontos a correr grandes riscos. A política divide et impera é um fenómeno de longue durée nos Negócios Estrangeiros americanos. Muita dessa estratégica é puramente calculista. A ideologia “América em primeiro lugar” ajuda-nos a explicar dezenas de intervenções militares americanas do passado, e a retórica que acompanhava essas intervenções. No entanto, ao mesmo tempo, a percepção de Washington sobre o mundo não americano é limitada. Existem obstáculos mentais. Estas deficiências têm algo a ver com a “filosofia” subjacente ao sistema. a estrutura da liderança dos EUA, e a incapacidade de aceitar diferentes pontos de vista e tradições. Isto levou e erros de cálculo e a más decisões. A intervenção de Washington no Vietname foi um fracasso. A segunda guerra do Iraque não conduziu a uma democracia florescente em Bagdade, mas sim ao caos. O Afeganistão foi o mais recente desastre dos Estados Unidos. Então, qual seria o resultado de um confronto no Estreito de Taiwan? Claro que ninguém consegue prever. Tudo o que podemos dizer neste momento é que Washington age como um adolescente teimoso. Ofuscado pelos seus próprios “valores”, não aprendeu a procurar soluções razoáveis. Isso deixa em muitos de nós uma sensação extremamente desconfortável.

VI. Observação final: a Europa e a China

O mundo atingiu uma fase de maturidade que proporciona uma grande mudança. Porque é que o orgulho nacionalista e a ganância devem continuar a ser as forças dominantes? Será que estamos mesmo a observar a competição entre sistemas? Até que ponto esta “teoria” é verdadeira? Não existem muitas notícias falsas dentro desta retórica? As pessoas em todo o mundo têm muito em comum. Podemos afirmar, que partilham “valores” essenciais. Mas, em contrapartida, provavelmente existem poucas características (se é que existe alguma) que realmente justifiquem uma competição aguerrida ou debates acalorados entre “identidades” diferentes. Já em tempos remotos, encontrávamos frequentemente ho-

mens e mulheres inteligentes que encaravam o mundo de uma forma descontraída e que se manifestavam a favor da manutenção da paz. A ideia de adaptação promovida pelos Jesuítas na Índia e na China é um exemplo que se aproxima do “modelo” de tolerância. Houve um tempo em que filósofos europeus expressaram opiniões muito positivas sobre a cultura e a governação chinesa e sobre a ética confucionista. Vários textos europeus do final do séc. XVI chegavam a sugerir que os monarcas europeus deveriam seguir o exemplo da China. A América do Norte, governada pelos descendentes dos beligerantes Vikings, não experienciou um nível comparável de consciencialização. Será que isso tem importância? Pode ajudar a explicar, pelo menos em parte, a imagem do “adolescente imaturo” que anteriormente citámos?

Quando o expansionismo americano começou no séc. XIX, a economia e a estrutura política chinesa eram frágeis. Sem dúvida, este facto desencadeou sentimentos de superioridade entre as elites comerciais dos Estados Unidos. A arrogância desse “sistema” sobreviveu e encontra-se muito vivida nos nossos dias. No entanto, muitas pessoas e muitos estados alimentam os seus comportamentos contraditórios desse sentimento, com um enorme aparato de mentiras e de avaliações unilaterais. Daí, num parágrafo anterior, ter defendido que podemos ver o sistema como a causa de muitos problemas globais.

Infelizmente, durante os últimos anos, alguns dirigentes da UE convenceram-se que deveriam aceitar a retórica missionária difundida pelos anglófonos. Mas, no mundo existem pessoas mais prudentes; sugerem que se deve procurar caminhos alternativos e adoptar visões mais equilibradas. Não gostam de ameaças e insistem numa diplomacia da paz. O Governo de Pequim está a par do problema e é muito paciente. Respeita a iniciativa da UE para ultrapassar os egoísmos nacionalistas dentro da Europa e deseja sinceramente que esse processo continue. Os esforços americanos para enfraquecer o velho continente não são do interesse da China. Como foi afirmado, os livros de História estão cheios de exemplos de métodos divide et impera. A cooperação no mundo lusófono e entre alguns países de língua espanhola, tal como a cooperação dentro da UE, têm dado exemplos de como, pelo menos em teoria, podemos ultrapassar dificuldades. São as acções de protagonistas com maturidade e tolerância que Pequim respeita; não importante que venham da Europa, do Médio Oriente, ou de outro lado qualquer. As trocas comerciais ao longo do eixo da Nova Rota da Seda são dificultadas pelos desenvolvimentos actuais, mas a troca de ideias de quem sonha com a paz está a aumentar. A China, esperamos, há-de encontrar forma de serenar as mentes em ebulição dos líderes radicais. Claro que, os propagandistas da “América em primeiro lugar”, ofuscados pelo seu próprio sistema, hão-de ter dificuldade em aceitá-lo.

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A brincar com o fogo

EUA e Filipinas usam munições reais contra navio no maior exercício conjunto de sempre

MILHARES de tropas norte-americanas e filipinas atacaram ontem um navio, com foguetes de alta precisão, ataques aéreos e fogo de artilharia, como parte dos maiores exercícios de guerra de sempre realizados entre os dois países.

Os exercícios decorreram em águas filipinas no disputado mar do Sul da China, que é reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos.

O Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., assistiu à demonstração de poder de fogo norte-americano a partir de uma torre de observação, na cidade costeira de San Antonio, na província de Zambales, no noroeste do país - a mais recente indicação de seu forte apoio à aliança de Manila com Washington.

Marcos ordenou que os seus militares mudem o foco, de batalhas anti-rebelião para a defesa externa, à medida que as acções cada vez mais agressivas da China no mar do Sul da China se tornam uma preocupação para Manila.

A mudança nos objetcivos da defesa filipina está em sintonia com o objectivo do governo norte-americano de reforçar um arco de alianças na região do Indo-Pacífico para melhor combater a ascensão da China.

Sentado ao lado da embaixadora dos EUA, MaryKay Carlson, e os seus principais assessores de Defesa e segurança, Marcos usou um par de binóculos para observar a trajectória dos foguetes do Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade dos EUA, ou HIMARS, um lançador múltiplo de foguetes e mísseis, que é montado num camião, e que se tornou uma arma crucial para as tropas

ucranianas que lutam contra as forças invasoras russas. Os exercícios assemelharam-se a um cenário de guerra real, com as explosões e fumo causados pelo fogo de artilharia e os helicópteros de ataque AH-64 Apache a sobrevoar os céus.

“Este treino aumentou o realismo e a complexidade dos exercícios, uma prioridade fundamental partilhada entre as Forças Armadas das Filipinas e os militares dos EUA”, disse o tenente-general William Jurney, comandante das Forças do Corpo

Os exercícios assemelharam-se a um cenário de guerra real, com as explosões e fumo causados pelo fogo de artilharia e os helicópteros de ataque AH-64 Apache a sobrevoar os céus

Índia Dez polícias mortos em ataque de rebeldes

Pelo menos dez membros das forças de segurança indianas e o seu motorista morreram ontem na sequência da explosão de uma bomba, afirmou ontem a polícia local, apontando a autoria do ataque a rebeldes maoístas. “Eles estavam a voltar de uma operação quando ocorreu a explosão, visando o seu veículo”, disse à AFP

o director-geral da polícia estadual de Chhattisgargh. O ministro da Saúde do Estado de Chhattisgargh, T.S. Singh Deo, afirmou que os atacantes tinham como alvo os polícias que estavam a montar acampamentos no distrito de Bastar com o objectivo de expulsar os rebeldes do local. Segundo a AP, os rebeldes mataram

20 polícias e paramilitares em tiroteios nas florestas de Chhattisgargh em 2021. Os rebeldes maoístas, que se inspiram no líder revolucionário chinês Mao Tse-Tung, lutam contra o governo indiano há mais de quatro décadas, exigindo terras e empregos para arrendatários e pessoas pobres.

de Fuzileiros Navais dos EUA no Pacífico.

Cerca de 12.200 militares dos EUA, 5.400 forças filipinas e 111 contrapartes australianas participaram nos exercícios chamados Balikatan, os maiores desde que começou a ser realizado há três décadas.

A embarcação alvo das forças aliadas era um navio de guerra desactivado da marinha filipina, que foi rebocado cerca de 18 a 22 quilómetros mar adentro.

Oficiais militares filipinos disseram que as manobras reforçam a defesa costeira do país e as capacidades de resposta a desastres e que não visavam nenhum país.

Oposição sínica

A China opôs-se a exercícios militares envolvendo forças dos EUA na região no passado, bem como ao aumento dos efetivos militares dos EUA, alertando que estas operações aumentam as tensões e prejudicam a estabilidade e a paz regionais.

Em Fevereiro, Marcos aprovou uma presença militar mais ampla dos EUA nas Filipinas, permitindo que lotes rotativos de forças norte-americanas utilizem mais quatro bases militares filipinas. Tratou-se de uma reviravolta acentuada, face à política do seu antecessor Rodrigo Duterte, que temia que uma presença militar norte-americana maior pudesse antagonizar Pequim.

A China opôs-se fortemente à decisão, que permite às forças dos EUA estabelecer postos de vigilância no norte das Filipinas, do outro lado do mar de Taiwan, e nas províncias filipinas ocidentais voltadas para o mar do Sul da China.

A China alertou que o aprofundamento da aliança de segurança entre Washington e Manila e os seus exercícios militares conjuntos não devem prejudicar a segurança e interesses territoriais chineses ou interferir nas disputas territoriais entre Pequim e os países vizinhos.

CHINA JORNALISTA ACUSADO DE ESPIONAGEM

Afamília de um jornalista chinês, que trabalhou num jornal afiliado do Partido Comunista, disse que o repórter enfrenta acusações de espionagem, depois de ter sido detido num encontro com um diplomata japonês num restaurante.

Dong Yuyu, director-adjunto do departamento editorial do Diário de Guangming até ser detido, em Fevereiro de 2022, encontrava-se regularmente com jornalistas e diplomatas estrangeiros para compreender as tendências mundiais.

Mas as autoridades chinesas consideraram aqueles contactos com diplomatas estrangeiros como prova de espionagem, de acordo com uma declaração da família, divulgada na segunda-feira. Dong é o mais recente caso do que Pequim considera serem interferências estrangeiras.

Não sendo membro do Partido Comunista, Dong era uma das vozes mais favoráveis à reforma no Diário de Guangming e escrevia artigos a favor de um sistema jurídico independente, indicou a família.

Em 2006-2007 Dong frequentou a Universidade de Harvard com uma bolsa da instituição de ensino norte-americana. No Japão, foi bolseiro na Universidade de Keio, em 2010, e quatro anos mais tarde, foi professor visitante na Universidade de Hokkaido. Em 2017, uma investigação das autoridades do partido concluiu que alguns artigos de Dong eram “antissocialistas”, tendo sido ameaçado de despromoção, acrescentou a família.

Em Fevereiro de 2022, Dong foi detido quando almoçava com um diplomata japonês num restaurante de um hotel, em Pequim, onde se encontrava frequentemente com amigos estrangeiros, de acordo com a mesma nota.

O diplomata também foi detido, o que provocou um forte protesto do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, tendo sido libertado horas depois.

No mês passado, a família do jornalista foi informada que Dong seria julgado, mas a data ainda não é clara, indicou. Na China, a espionagem pode ser punida com uma pena de prisão superior a dez anos.

quinta-feira 27.4.2023
“Antes ser um homem da sociedade, sou-o da natureza.”
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Marquês de Sade PALAVRA DO DIA

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