Hoje Macau 27 AGO 2020 #4599

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MANOBRAS E POLÉMICAS

TRABALHO

O PROJECTO DE SULU SOU PÁGINA 4

HOUSE OF DANCING WATER

ATÉ AO LAVAR DOS CESTOS

FEAR TY AGHA

NOVO MACAU

EXERCÍCIOS MILITARES

MOP$10

QUINTA-FEIRA 27 DE AGOSTO DE 2020 • ANO XIX • Nº4599

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

OPINIÃO

PÁGINA 7

GRANDE PLANO

COVID-19 E O MEDO

hojemacau

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JORGE RODRIGUES SIMÃO

Em ponto morto Há muito prometida, a nova Biblioteca Central teima em não sair do papel. O projecto de Carlos Marreiros para a construção no Antigo Tribunal não vai avançar, desconhecendo-se, por enquanto, uma nova localização para o edifício. O arquitecto espera, no entanto, continuar responsável pela obra. Por terra, caiu também o projecto de construção do Campus de Justiça na zona B dos novos aterros. PÁGINA 5

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A PALAVRA E A TEIA ANTÓNIO CABRITA

HOLANDESES VOADORES IV LUÍS CARMELO


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JOGOS DE COSTA DO PACÍFICO

Um exercício de larga escala ao longo da costa do Pacífico, em quatro regiões diferentes, relançou receios da tomada de territórios disputados pela força. Além disso, revelou o músculo militar chinês e a capacidade para actuar em múltiplos teatros de operações. Pequim queixa-se de que o exercício foi “espiado” por um avião norte-americano

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Golfo de Bohai, uma parte do Mar Amarelo e os mares sul e este da China têm sido palco de um exercício militar de larga escala das Forças Armadas Chinesas. Entre os muitos “brinquedos”, a China estreou o navio anfíbio de assalto Type 075, que saiu de Xangai no dia 5 de Agosto e terminou no passado fim-de-semana a sua primeira viagem. Vídeos e fotografias partilhados em portais de internet dedicados a questões militares mostram o

gigantesco navio a aportar na tarde de domingo na doca naval de Hudong-Zhonghua, a “casa” da maior construtora naval de defesa do estado chinês, a China State Shipbuilding Corp. De regresso à base, depois do primeiro teste de mar, o Type 075 trazia a chaminé chamuscada por fumo, um detalhe na boa nova para o Exército de Libertação Popular

EXERCÍCIOS MILITARES CHINESES REACENDEM POLÉMICAS ANTIGAS

que terá assim um novo trunfo pronto para ser usado. Citado pelo China Daily, o analista militar Wu Peixin referiu que o facto de o baptismo do navio de guerra ter demorado 18 dias, antes de regressar ao porto de partida, deve significar que teve um bom desempenho nos muitos testes que terá realizado ao longo da jornada inaugural. Caso contrário, o exercício teria acabado muito mais cedo. O Type 075 foi apenas uma das estrelas do exercício que continua, por exemplo, ao largo de Hainan até sábado. Importa referir que a ilha de Hainan, que fica cerca de 400 quilómetros de Macau, é local de “estacionamento” de um dos porta-aviões chineses. Ao mesmo tempo que se desenrolavam os treinos militares ao largo da ilha, as autoridades da província de Guangdong montavam um cordão de segurança para controlar o tráfico marítimo. Também no Mar Amarelo, ao largo de Lianyungang, uma área de mar ficou com acesso restrito

“O facto de terem sido enviados bombardeiros não só viola a soberania do Vietname como coloca em perigo a situação na região.” MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DO VIETNAME

durante os exercícios navais com fogo real. De acordo com o South China Morning Post, até 30 de Setembro estão previstos exercícios militares com fogo real no Golfo de Bohai.

SINAIS DE ALERTA

O conjunto de exercícios militares têm sido vistos por analistas internacionais e governos como um sinal forte de prontidão operacional para um confronto de larga escala com o Estados Unidos e Taiwan. Mesmo sem intenção de iniciar uma guerra, a altura escolhida, durante as convenções partidárias na corrida presidencial norte-americana, pode ser encarada como uma forma de demonstrar capacidade de mobilização de vários tipos de forças para múltiplos locais em simultâneo. Importa referir também que estes exercícios acontecem ape-

nas um mês depois de uma outra demonstração bélica de larga escala, incluindo manobras perto de Taiwan, na altura em que a região foi visitada pelo representante da saúde da Administração Trump, Alex Azar. Além disso, em Julho, as forças armadas chinesas já haviam realizado exercícios, em particular de defesa aérea, nas mesmas regiões, mas separadamente, depois de manobras de dois porta-aviões norte-americanos no Mar do Sul da China. Outra leitura, que vai para lá da reacção política com demonstrações de força, é a localização dos exercícios. Se a proximidade do Golfo de Bohai a Pequim indica uma postura militar meramente defensiva, os restantes teatros de operações podem ter diferentes leituras. Nesse sentido, o ministro dos Negócios Estrangeiros das Filipinas, Delfin Lorenzana, declarou no domingo que os direitos históricos que a China alega na disputa do Recife de Scarborough não existem e que a China ocupa ilegalmente o disputado território, ao largo da maior ilha filipina Luzon. Lorenzana condenou particularmente a actuação da guarda costeira chinesa e de frotas piscatórias como actos de “confiscação ilegal”.

RESPOSTA DE HANÓI

Também o Governo do Vietname condenou a presença de forças militares, em particular de bombar-


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E GUERRA deiros, a sobrevoar as ilhas Paracel, um arquipélago praticamente equidistante entre os territórios chinês e vietnamita, com cerca de 130 pequenas ilhas de coral. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Vietname comentou os exercícios chineses como actos que “comprometem a paz”. “O facto de terem sido enviados bombardeiros não só viola a soberania do Vietname como coloca em perigo a situação na região”, referiu o porta-voz do ministério, citado pela agência Reuters.

ESPIÃO ESPIA ESPIÃO

Ontem, de acordo com a agência Xinhua, Pequim acusou os Estados Unidos de enviarem um avião espião U-2 que terá “trespassado” uma zona proibida, para observar os exercícios conduzidos pelo Exército de Libertação Popular.

“Para a liderança política chinesa, o poder militar é central para atingir os objectivos que pretendem. Entre estes objectivos mais proeminentes, destaca-se a remodelação da ordem internacional de formas que colocam em perigo regras globalmente aceites e que normalizam o autoritarismo.” MARK ESPER SECRETÁRIO DA DEFESA DOS ESTADOS UNIDOS

“A violação do espaço aéreo não só afectou severamente os normais exercícios e as actividades de treino, como também violou as regras de comportamento para a segurança aérea e marítima entre a China e os Estados Unidos e as práticas internacionais.” MINISTÉRIO DA DEFESA DA CHINA

O aparelho de reconhecimento a elevada altitude terá entrado no espaço aéreo chinês no teatro de operações do norte, de acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa chinesa, Wu Qian. “A violação do espaço aéreo não só afectou severamente os normais exercícios e as actividades de treino, como também violou as regras de comportamento para a segurança aérea e marítima entre a China e os Estados Unidos e as práticas internacionais”, declarou Wu.

O porta-voz prossegui referindo que “a actuação norte-americana poderia facilmente ter resultado em maus julgamentos e mesmo acidentes”. Em comunicado enviado à CNN, a Força Aérea norte-americana do Pacífico confirmou o voo do U-2, mas negou ter violado qualquer regra. “Um aparelho U-2 conduziu operações na área do Indo-Pacífico dentro leis internacionais aceites e de acordo com os regulamentos de voo. O pessoal das Forças Aéreas de Pacífico vai continuar a voar e a operar onde as leis internacionais permitirem, quando melhor achar”, lê-se no comunicado. O U-2 é dos aviões mais antigos do inventário das Forças Armadas

norte-americanas. O primeiro modelo foi desenvolvido nos anos 1950, durante a Guerra Fria, para espiar a expansão militar soviética, algo que os críticos da política internacional de Washington, inclusive Pequim, acusam estar de volta. Os modelos antigos conseguiam voar a altitudes fora do alcance das baterias antiaéreas.

CORRIDA ÀS ARMAS

Para gáudio das multinacionais de defesa, também do outro lado do espectro geopolítico se investem biliões em armamento. Além da injecção financeira, categorizada na campanha eleitoral de Donald Trump como a reconstrução do exército, esta semana o Wall Street Journal publicou um editorial escrito por Mark Esper, secretário da Defesa. O governante referiu que em resposta à aposta militar de Pequim, os Estados Unidos estão a acelerar a Estratégia de Defesa Nacional. Com o objectivo de modernizar e adaptar as forças armadas norte-americanas, a competição bélica da China é o pano de fundo para o vigoroso investimento militar.

“Para a liderança política chinesa, o poder militar é central para atingir os objectivos que pretendem. Entre estes objectivos mais proeminentes, destaca-se a remodelação da ordem internacional de formas que colocam em perigo regras globalmente aceites e que normalizam o autoritarismo. Este reordenamento oferece condições ao Partido Comunista Chinês para poder exercer coerção sobre outros países e infringir as suas soberanias”, escreveu o secretário da Defesa. Na sequência deste jogo de pingue-pongue diplomático, o governante revelou que se prepara para visitar o Pacífico com reuniões marcadas com os líderes da região, parando no Havai, Palau e Guam. A visita deverá ter na agenda a preparação da RIMPAC, o mega exercício militar naval, que acontece de dois em dois anos sob a batuta do Pentágono. O exercício deveria estar a realizar-se neste momento, mas foi sofrendo sucessivos atrasos devido à pandemia da covid-19. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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NOVO MACAU

PROPRIEDADE INTELECTUAL DSE CELEBRA ACORDO COM A CHINA

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Sulu Sou, deputado “Não há dúvidas que a voz e o interesse dos trabalhadores estão a ser postos de lado e sacrificados.”

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UL U Sou submeteu no passado dia 14 de Agosto um projecto de lei à Assembleia Legislativa (AL) com o objectivo de proteger a participação dos trabalhadores em associações laborais e regular a responsabilidade criminal dos empregadores. O anúncio foi feito ontem na sede da Associação Novo Macau. Começando por enfatizar que “esta lei não é a lei sindical”, o também deputado referiu que o projecto visa “preencher a lacuna legal existente quanto a permitir que os trabalhadores participem na vida sindical, garantindo a sua protecção”. Isto, considerando que a actual legislação não contempla punições específicas sobre estes comportamentos, nomeadamente, que os trabalhadores não são prejudicados ao associar-se a organizações laborais. “Sabemos que (...) temos várias leis para proteger estes direitos, mas não há nada que garanta especificamente que os trabalhadores não são prejudicados por exercer o seu direito de associação a sindicatos. Particularmente as leis falham em

TRABALHO SULU SOU SUBMETEU PROJECTO PARA GARANTIR PARTICIPAÇÃO SINDICAL

que a voz e o interesse dos trabalhadores estão a ser postos de lado e sacrificados”, levando mais pessoas a tirar licenças sem vencimento, verem o seu salário reduzido, congelado ou pago fora de horas ou, no limite, a serem despedidas.

O vice-presidente da Novo Macau apresentou um projecto de lei para proteger a participação dos trabalhadores em associações laborais e regular a responsabilidade criminal dos empregadores. Temas polémicos como a negociação colectiva ou o direito à greve foram excluídos, para garantir que o Governo e a Sociedade “aceitam melhor a lei”

OLHOS NO CAMINHO

Luta cirúrgica

regular a responsabilidade criminal dos empregadores, como por exemplo, a obstrução à participação sindical”, começou por dizer Sulu Sou. O deputado frisou ainda que o projecto de lei submetido à AL não aborda temas controversos, como a negociação colectiva ou o direito à greve. Sulu Sou argumentou que a decisão é estratégica e que os conteúdos polémicos devem ser debatidos aquando da realização da consulta pública sobre a Lei sindical, prevista

para o terceiro trimestre deste ano. “É uma estratégia. Sabemos que a negociação colectiva e o direito à greve são temas polémicos, sobre os quais não tem havido nenhuma discussão pública nos últimos anos, mas espero que a consulta pública sirva para fazer esses debates. Neste momento acho que devemos chamar a atenção para conteúdos que reúnam consenso social, de forma a que tanto o Governo, como a sociedade, aceitem melhor a lei”, explicou.

Questionado sobre o timing para a apresentação do projecto, Sulu Sou argumenta que se deve ao facto de não se saber quando é que o Executivo vai avançar com a lei sindical. “Apesar de lançarem a consulta pública sobre a lei sindical (…), não há qualquer tipo de calendarização para completar a legislação. Não sabemos quantos mais anos vamos ter de esperar”. Além disso, aponta Sulu Sou, devido à crise económica provocada pela pandemia, “não há dúvidas

Sobre as expectativas de ver o projecto de lei admitido pela AL, Sulu Sou referiu que não só o resultado é importante, mas também o processo e os efeitos colaterais do acto, sobretudo porque permite “manter a atenção social sobre este assunto”. “Quando submeto um novo projecto de lei perguntam-me sempre o mesmo e eu respondo sempre da mesma maneira: o resultado é muito importante, mas o processo é igualmente importante”, afirmou o deputado. Como exemplo, Sulu Sou relembrou o projecto de lei que submeteu sobre o salário mínimo em 2018. Apesar de ter sido rejeitado, o Governo acabaria por avançar com uma proposta de lei sobre o tema. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

Direcção dos Serviços de Economia (DSE) celebrou um acordo com a Direcção Nacional da Propriedade Intelectual (DNPI), no Interior da China, intitulado “Acordo deAprofundamento do Intercâmbio e Cooperação na Área dos Direitos de Propriedade”. Segundo um comunicado, a assinatura deste documento visa “aprofundar ainda mais o intercâmbio e cooperação na área dos direitos de propriedade intelectual entre o Interior da China e a RAEM, criando um ambiente mais propício à inovação e ao desenvolvimento sustentável”. Com este acordo, as duas entidades “vão aprofundar o intercâmbio e cooperação nas áreas como exame substancial da patente, extensão de patente de invenção, automatização da informação sobre patentes e marcas, troca de informação em matéria da propriedade intelectual, formação de pessoal, organização conjunta de seminários e encontros de intercâmbio de tecnologia”, explica o mesmo comunicado. A cooperação entre a DSE e a DNPI começou em 2003 e, desde então foram concluídos 1.089 pedidos relacionados com o exame substancial da patente, enquanto a DSE tratou 4.337 pedidos da extensão de patente de invenção do Interior da China para a RAEM. Um total de 3.904 dos pedidos foram autorizados, representando 90 por cento do número total dos pedidos.

Aprendizagem contínua Novo programa com gestão de riscos

A nova edição do programa de aprendizagem contínua vai contar com um sistema electrónico e um mecanismo de gestão de riscos. A informação foi dada pelo director dos Serviços de Educação e Juventude, Lou Pak Sang, em resposta a uma interpelação escrita de Lam Lon Wai. “Encontra-se em curso a preparação de uma nova edição do programa, em que se procurará, prioritariamente, integrar a tecnologia informática, para que os trabalhos de fiscalização sejam mais eficazes e em tempo real”, explica. Lou Pak Sang defendeu que o uso de tecnologia para maior eficiência do trabalho contribui para o desenvolvimento da RAEM como cidade inteligente. As mudanças têm em vista assegurar “o uso racional do erário público”.


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quinta-feira 27.8.2020

CONSTRUÇÃO GOVERNO RECUA NOS LOCAIS DA BIBLIOTECA CENTRAL E CAMPUS DE JUSTIÇA

Dois passos atrás

O Governo recuou na construção da nova Biblioteca Central no edifício do Antigo Tribunal. O arquitecto Carlos Marreiros, autor do projecto, espera continuar à frente do trabalho, assim que for revelado o novo local. Entretanto, também o plano de construção do Campus de Justiça na Zona B dos novos aterros caiu por terra

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nova Biblioteca Central afinal não vai ser construída no edifício do Antigo Tribunal, na Praia Grande, avançou ontem a TDM Rádio Macau. O arquitecto Carlos Marreiros – líder do atelier que ganhou o concurso público para a nova biblioteca – disse ao HM que oficialmente não soube desta decisão. Apesar disso, frisou a importância de se fazer a Biblioteca Central, descrevendo-a como “um equipamento fundamental na chamada sociedade líquida da pós-modernidade”. “Há um novo Chefe do Executivo, um novo elenco governamental, novas estratégias (...). A Biblioteca Central não sendo aí, será noutro local, porquanto é uma ideia fundamental que Macau necessita de uma Biblioteca Central”, sublinhou o arquitecto. Se o projecto que tinha em mãos, enquanto coordenador-chefe de uma equipa de projectistas, mudar de local, Carlos Marreiros julga que continuará a ter as mesmas responsabilidades que lhe foram atribuídas depois de ter vencido o concurso público para o Antigo Tribunal “a grande custo”. Quanto à suspensão dos trabalhos, o arquitecto, à

altura do contacto do HM, ainda desconhecia a novidade. “Formalmente, nem por palavras nem por escrito, não recebi ainda qualquer informação”. De acordo com a TDM Rádio Macau, o Governo decidiu dar outra utilização às instalações do Antigo Tribunal. O HM tentou apurar junto do Instituto Cultural (IC) qual será o fim do edifício, assim como a nova localização prevista para a nova Biblioteca Central, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Foi em Novembro de 2018 que o IC anunciou que a proposta do ateliê do arquitecto Carlos Marreiros, com um valor de 18,68 milhões de patacas, era a vencedora do concurso público em que tinham sido admitidas nove propostas. Chegaram a surgir alegações de plágio, mas Carlos Marreiros negou ter

“Formalmente, nem por palavras nem por escrito, recebi ainda qualquer informação.” CARLOS MARREIROS ARQUITECTO

copiado o Auditório da Cidade de León na elaboração do projecto, e as suas explicações foram acolhidas pelo IC. A adjudicação do projecto em 2018 teve lugar uma década depois da anulação do primeiro concurso público, em 2008. Na altura, o Comissariado contra a Corrupção sugeriu o fim do concurso. No ano passado, a presidente do IC dizia que o projecto estava a seguir os trâmites normais, apesar de não se comprometer com datas para o arranque das obras. No entanto, em Junho deste ano, o Governo disse que a localização e o plano de construção da nova Biblioteca Central iam voltar a ser estudadas depois de ser feito o Plano Director.

JUSTIÇA MÓVEL

Noutra frente, o Governo confirmou que o Campus de Justiça já não vai ser construído na Zona B dos novos aterros, avançou ontem a TDM Rádio Macau. Segundo a mesma fonte, o plano, que previa a construção de sete edifícios, foi abandonado pelo Governo, depois de ter ficado decidido que as obras vão ser transferidas para a zona dos Lagos Nam Van (zonas C e D) perto da Assembleia Legislativa.

Para além dos novos edifícios dos tribunais Judicial de Base, Segunda Instância e Última Instância, a planta de condições urbanísticas, entretanto concluída, inclui ainda um novo edifício do Ministério Público e as sedes dos Comissariado contra a Corrupção e de Auditoria e dos Serviços de Polícia Unitários. Sulu Sou, que no dia anterior recebeu uma resposta da directora da DSSOPT, Chan Pou Ha, a uma interpelação onde questionou o desenvolvimento futuro das zonas B, C e D dos novos aterros, sublinhou a importância de o Governo ter o mais rapidamente possível, na sua posse, o Plano Director e de preservar a paisagem da península. “Insistimos no nosso princípio de querermos que o Governo tenha o Plano Director para todas as zonas, porque é uma localização importante da península de Macau, onde não devem existir edifícios altos”, disse ontem deputado durante uma conferência de imprensa na sede da Associação Novo Macau. Sulu Sou sugeriu ainda esperar que a integridade da zona da Colina e da Igreja da Penha seja protegida, sobretudo quando a consulta pública sobre o Plano Director está prevista para Setembro. “Podem sugerir a construção do Campus de Justiça nas zonas C e D, mas vamos insistir em defender a zona sul da península e da Penha. Além disso, devem restringir a construção de edifícios altos nestas zonas. Será essa a nossa maior luta para a consulta pública do próximo mês”. Salomé Fernandes e Pedro Arede info@hojemacau.com.mo

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EDITAL Notificação relativa à audiência sobre demolição de prédio em estado de ruína Edital n.º : 4/E-AR/2020 Processo n.º : 117/AR/2018/F Local : Prédio situado na Rua da Colina n.º 10, Rua de Horta e Costa n.º 6, Macau. Lai Weng Leong, Subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 11, II série, de 11 de Março de 2020, faz saber que ficam notificados os proprietários Ieong Josephine ou Josephine Ieong, Chang Heng Chong, Chang In Heng e os inquilinos ou demais ocupantes do prédio acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão constante do processo a decorrer nesta Direcção de Serviços, o prédio acima indicado encontra-se em estado de ruína, constituindo perigo para a segurança pública. Deste modo, nos termos do n.º 1 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto e da alínea a) do artigo 96.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), ficam os interessados notificados da audiência relativa à sua demolição. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016, o Chefe do Departamento de Urbanização da DSSOPT homologou o Auto de Vistoria acima indicado através de despacho de 23 de Outubro de 2018. Notificam-se os interessados que no prazo de 10 (dez) dias a contar a partir da data da publicação do presente edital, devem dar cumprimento à ordem emanada no Auto de Vistoria, ou apresentar no mesmo prazo, conforme o disposto no artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M de 11 de Outubro, as alegações escritas relativas à decisão do procedimento da demolição do prédio acima indicado, podendo requerer diligências complementares acompanhadas de documentos. Se findo o prazo acima referido os interessados não derem cumprimento à respectiva ordem nem apresentarem quaisquer alegações escritas, tal não afecta a decisão tomada por esta Direcção de Serviços. Além disso, caso necessário, esta Direcção de Serviços pode aplicar aos infractores a multa estabelecida nos artigos 66.º e 67.º do citado diploma legal. Os interessados podem consultar o processo durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau. RAEM, 20 de Agosto de 2020

Pela Directora dos Serviços O Subdirector Lai Weng Leong


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27.8.2020 quinta-feira

ENSINO SUPERIOR OITO CABO-VERDIANOS DEIXAM MACAU

Há ir e voltar Habitação Pedidas mais casas pré-fabricadas

O deputado nomeado Eddie Wu, também engenheiro civil, sugere, segundo o Jornal do Cidadão, a construção de casas pré-fabricadas para fins de habitação pública, tal como o Governo já tinha anunciado o ano passado para a zona A dos novos aterros. Uma vez que o projecto do “Novo Bairro de Macau”, na ilha de Hengqin, terá casas pré-fabricadas, Eddie Wu apontou que em alguns bairros na China e Hong Kong essa técnica de construção é também muito utilizada. Eddie Wu pede que o Governo melhore o quadro legal em matéria de segurança, produção e infra-estruturas, uma vez que Macau ainda não tem regulação específica sobre as casas pré-fabricadas.

Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, adiantou ao HM que oito estudantes finalistas do ensino superior deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4 de Setembro, regressando a Cabo Verde. Quanto aos novos alunos, abrangidos por programas de intercâmbio, terão aulas online até poderem viajar para Macau e para a China

TDM Conselho de Administração com três novos membros

António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, o deputado Vong Hin Fai e a directora do Gabinete de Comunicação Social, Inês Chan, foram nomeados como membros do Conselho de Administração da TDM. Assumem o cargo em regime de acumulação de funções, a partir de 1 de Setembro. Por conveniência de serviço, sai do Conselho de Administração da emissora Victor Chan. PUB

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 28/P/20 Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 11 de Agosto de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento e Instalação de Oito Sistemas de Imagens Térmicas Infravermelhas para Medição de Temperatura Corporal aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 26 de Agosto de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP38,00 (trinta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www. ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 25 de Setembro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 28 de Setembro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP32.000,00 (trinta e duas mil patacas), a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 20 de Agosto de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

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M total de oito alunos cabo-verdianos finalistas de ensino superior em Macau deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4, apoiados pelo Governo do seu país. A informação foi adiantada ao HM por Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, e que tem coordenado o processo de saída destes estudantes. A maior parte dos alunos frequentaram cursos no Instituto Politécnico de Macau (IPM), embora a Universidade de Macau (UM) também tenha acolhido alguns estudantes. No total, 27 alunos terminam as suas licenciaturas, mas muitos deles tiveram aulas online já em Cabo Verde.

“Apesar de os estudantes terem concluído o curso em finais de Junho, conseguimos, através dos contactos que fizemos junto do IPM, a autorização para a sua permanência na residência de estudantes até termos uma oportunidade de regresso a Cabo Verde”, adiantou Nuno Furtado. Os voos de regresso serão feitos por Seul, na Coreia do Sul,

seguindo-se um segundo voo entre Lisboa e Cabo Verde. “Há muitas limitações para sair de Macau e através de Taipé também não é fácil. O Governo de Cabo Verde financiou a compra dos bilhetes e deu um subsídio para a subsistência destes alunos”, frisou o delegado do Fórum Macau. Quanto aos restantes alunos, que frequentam os segundo e

“Há muita pressão psicológica, há estudantes que já não contam com a atribuição de uma bolsa, e por isso é que foi necessário conseguirmos junto do Governo de Cabo Verde algum apoio.” NUNO FURTADO DELEGADO DE CABO VERDE JUNTO DO SECRETARIADO PERMANENTE DO FÓRUM MACAU

terceiro ano dos cursos, vão continuar em Macau, adiantou o responsável.

INTERCÂMBIO NO LIMBO

Com um novo ano lectivo prestes a arrancar, os novos alunos abrangidos pelos programas de intercâmbio não poderão voar para Macau nos próximos tempos. “Temos alunos inscritos no curso de tradução e de Administração Pública, mas as orientações que temos da direcção do IPM é para que a sua entrada fique suspensa por um determinado período. Não é aconselhada a sua vinda para Macau”, disse Nuno Furtado. Ainda assim, a frequência dos cursos não fica afectada, uma vez que o IPM irá disponibilizar aulas online. Nuno Furtado encara este processo como “sendo complexo”. “Há muita pressão psicológica, há estudantes que já não contam com a atribuição de uma bolsa, e por isso é que foi necessário conseguirmos junto do Governo de Cabo Verde algum apoio. Até os estudantes macaenses na Europa também enfrentam algumas dificuldades para sair de Macau. Temos de trabalhar num quadro muito bem organizado”, concluiu. Ao HM, o IPM confirmou que os alunos finalistas concluíram os cursos de Ensino da Língua Chinesa como Língua Estrangeira e de Gestão de Jogo e Diversões. Quanto ao intercâmbio, “não ficará suspenso devido à pandemia”, estando previsto o acolhimento de novos estudantes no novo ano lectivo. A UM não respondeu, até ao fecho desta edição, às questões colocadas. A embaixada de Cabo Verde em Pequim está a acompanhar o regresso de 22 estudantes que se encontram na China, também marcado para o início de Setembro. Esta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, adiantou que há também alunos retidos no Brasil que aguardam o regresso do período lectivo nas universidades, mas estão a ser acompanhados pela rede consular. “Vamos continuar a acompanhar a situação epidemiológica no Brasil, onde em termos da pandemia de covid-19 é muito grave”, admitiu o ministro. O Governo de Cabo Verde garantiu na segunda-feira o repatriamento de um grupo de 140 estudantes cabo-verdianos retidos no Brasil devido à pandemia. Andreia Sofia Silva com Lusa andreia.silva@hojemacau.com.mo


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quinta-feira 27.8.2020

Um antigo trabalhador do espectáculo The House of Dancing Water apresentou queixa na DSAL contra a TDAB Sociedade Unipessoal Limitada. Os Recursos Humanos informaram Alastair Pullan de que lhe tinham marcado um voo de regresso a casa, depois de este já ter avisado que pretendia marcar o seu próprio voo e informado que já tinha feito uma reserva

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LASTAIR Pullan trabalhou seis anos no espectáculo The House of Dancing Water. Saiu em Junho, quando teve lugar um despedimento colectivo, e apresentou queixa à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) contra a TDAB Sociedade Unipessoal Limitada, empresa controlada pela Melco que assegura a estrutura operacional

Justiça Mais 20 vagas em curso de magistratura

HOUSE OF DANCING WATER EX-FUNCIONÁRIO APRESENTA QUEIXA À DSAL

A casa das contendas do espectáculo. Em causa está o pagamento da viagem para o local da sua residência habitual. Recorde-se que em Junho, a Melco Resorts & Entertainment anunciou suspensão do espectáculo The House of Dancing Water até Janeiro de 2021. Ao mesmo tempo, foram despedidas dezenas de pessoas. A Melco confirmou a eliminação de vários postos de trabalho de trabalhadores não-residentes, mas não divulgou o número total. Quando a sua relação laboral terminou, Alastair Pullan informou que pretendia marcar o seu próprio voo, ficando o pagamento sob responsabilidade da empresa. A lei da contratação dos trabalhadores não residentes (TNR) prevê direitos especiais do trabalhador, um dos quais o repatriamento. É especificado que: “o direito ao repatriamento consiste no direito ao pagamento pelo empregador, no termo da relação laboral, do custo do transporte do trabalhador para o local da sua residência habitual”. No entanto, trocas de e-mails entre as duas partes mostram que a empresa insistiu em marcar o bilhete do voo em vez de reembolsar o ex-funcionário, indicando ser responsabilidade da empresa providenciar a viagem. Na semana passada, Alastair Pullan informou a empresa de que tinha reservado um voo e frisou as regras impostas pelo Reino Unido para viagens, tendo em conta o novo tipo de coronavírus. Descreve também que iria enviar o recibo do voo para ser reembolsado. No dia

Foram ontem anunciadas 20 vagas para o sexto curso e estágio de formação para ingresso nos quadros das magistraturas judicial e do Ministério Público. A decisão publicada em Boletim Oficial está assinada pelo Chefe do Executivo, e explica que teve em conta a informação sobre as necessidades de serviço dada pelo Conselho dos Magistrados Judiciais e pelo Procurador. No final de Maio, o secretário para a Administração e Justiça indicou que o curso para formação de magistrados podia abrir já este ano, depois de aprovada a proposta de alteração ao regime do curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judicial e do Ministério Público.

seguinte, a resposta cingiu-se aos detalhes de um voo distinto que a empresa alegadamente marcou sem o consultar. “Estou a pedir à empresa para me dar dinheiro de forma a poder pagar o meu próprio voo. O voo que pagaram custou 13.000 patacas, e o meu era de 11.200 patacas”, disse Alastair Pullan ao HM.

FALTA DE FLEXIBILIDADE

Na queixa apresentada ontem – uma declaração suplementar a

outra que já tinha efectuado há cerca de um mês – explica que a parte patronal lhe deu um bilhete de voo para dia 9 de Setembro, mas que por ter animais domésticos não era uma opção viável. O roteiro mais apropriado era um outro voo que marcou por si próprio. Motivo pelo qual requer à parte patronal que lhe dê antes o dinheiro do custo do regresso. O ex-funcionário do espectáculo acredita que a falta de

“Mesmo depois de lhes ter dito que ia fazer os meus próprios preparativos de viagem, continuaram a dizer que iam marcar um voo. Nem sequer verificaram comigo, simplesmente fizeram-no.”

flexibilidade da empresa se deve a “rancor” contra si, uma vez que sabe de colegas a quem a empresa está a prestar apoio, nomeadamente para assegurar a saída de Macau com animais. “Não fizeram isto comigo, não houve discussão, mesmo depois de lhes ter dito que ia fazer os meus próprios preparativos de viagem, continuaram a dizer que iam marcar um voo. Nem sequer verificaram comigo, simplesmente fizeram-no”, descreveu. Pullan acrescentou ainda que quando confrontou o chefe adjunto dos Recursos Humanos do espectáculo sobre o seu voo ser mais barato, este lhe disse não ser o dinheiro a estar em causa. “Parece estranho dizerem que não é sobre o dinheiro quando acabaram de despedir 100 pessoas e puseram a maioria das pessoas que teve a sorte de ficar a receber a 50 por cento do salário”, disse. Se o caminho agora é tentar chegar a uma solução através da DSAL, não estão excluídas outras opções. “Se não for resolvido através da DSAL estou preparado para agir judicialmente contra a empresa. Tenho um conselheiro jurídico preparado com toda a informação”, disse Alastair Pullan. O HM tentou contactar a Melco, que acusou a recepção das perguntas, mas até ao fecho desta edição não obtivemos comentários. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

ALASTAIR PULLAN EX-FUNCIONÁRIO DO HOUSE OF DANCING WATER

DSEC MENOS 89,4% DE CONVENÇÕES E EXPOSIÇÕES NO 2.º TRIMESTRE

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número de exposições e convenções realizadas em Macau no segundo trimestre caiu 89,4 por cento em relação ao período homólogo do ano passado, devido à pandemia, anunciou ontem a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em comunicado, a DSEC informou que se realizaram apenas "38 reuniões, conferências e exposições" no segundo

trimestre do ano, "devido ao contínuo impacto gerado pela pandemia", com o número de participantes e visitantes a cair para 22.000, menos 93,9 por cento em termos anuais. Contas feitas ao primeiro semestre de 2020, "efectuaram-se 152 reuniões, conferências, exposições e eventos de incentivo", menos 582 eventos que no semestre homólogo de 2019, com o número de visitantes a fi-

car pelos 102.000, uma queda de 85,2 por cento, segundo a nota. Os resultados estão em linha com a redução do número de visitantes em Macau, que no ano passado registou cerca de 40 milhões de entradas. Segundo os dados mais recentes do Governo, o número de visitantes diminuiu mais de 90 por cento em Junho e 83,9 por cento no primeiro semestre, devido à pandemia de co-

vid-19, que levou igualmente à anulação de conferências e exposições. As restrições às viagens levaram mesmo ao cancelamento do maior evento da indústria do jogo em Macau, o Global Gaming Expo Asia (G2E Asia), anunciou a organização em 13 de Agosto, após sucessivos adiamentos, primeiro para Julho e depois para Dezembro.


8 eventos

27.8.2020 quinta-feira

Diário de um

COVID-19 AI WEIWEI ESTREIA NOVO D

Último capítulo

O artista e activista Ai Weiwei acaba de apresentar um novo docum covid-19, mas que é também uma crítica à alegada ocultação de núm pagas de streaming, “Coronation” foi filmado por cidadãos de Wuh

Filme “El Crimen del Padre Amaro” exibido na FRC

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já na próxima terça-feira, 1 de Setembro, que a Fundação Rui Cunha (FRC) exibe, no espaço da galeria, o filme “El Crimen Del Padre Amaro”, do realizador Carlos Carrera, baseado na obra com o mesmo nome do escritor português Eça de Queiróz. A iniciativa acontece com o apoio da Associação dosAmigos do Livro em Macau e do IPOR – Instituto Português do Oriente. Antes da exibição do filme, a professora Alexandra Domingues fará uma apresentação sobre o romance. O evento integra o Programa Comemorativo dos 120 anos da morte de Eça de Queiroz, repartido em três sessões, que trouxe ao público de Macau a oportunidade de reviver o expoente da literatura do realismo português, sob diferentes prismas: Eça o Diplomata, Eça na Ópera e Eça no Cinema. O filme El Crimen del Padre Amaro conta com interpretações Gael García Bernal (no papel de padre Amaro), Ana Claudia Talacón e Sancho Garcia, que veio a ser nomeado como Melhor Filme Estrangeiro para as cerimónias dos Óscares e dos Golden

Globes norte-americanos de 2003.

TRILOGIA ENCERRADA Este evento encerra a trilogia dedicada a Eça de Queiroz. A sessão inicial aconteceu no dia 13 de Agosto, noAuditório do Consulado Geral de Portugal, com o convidado Carlos Frota, primeiro Cônsul-Geral de Portugal na RAEM, que procurou dar a conhecer a faceta de diplomata do escritor. A sessão focou-se na carreira diplomática de José Maria Eça de Queiroz e na discussão sobre as influências do jornalista e do romancista cáustico na defesa dos interesses de Portugal. Na sessão do dia 20 de Agosto, a professoraAna Paula Dias apresentou “Eça na Ópera”, trazendo alguns trechos musicais reveladores da intenção do autor, na intersecção entre a música e as palavras, e excertos literários declamados por Liliana Miguel Pires. A ópera e as árias líricas, referenciadas nos romances do escritor, foram também analisadas pelo médico e musicólogo Shee Va, no contexto das «Conversas Ilustradas com Música: A Ópera na Literatura», cujo ciclo se realiza mensalmente na Fundação Rui Cunha.

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dimensão de uma cidade sobressai mais quando está vazia. Em Wuhan, no início do ano, debaixo de uma neve intensa e com baixas temperaturas, essa dimensão era ainda maior com uma população fechada em casa a proteger-se de uma pandemia. Nos hospitais, médicos vestiam as batas e punham as máscaras, iniciando jornadas de trabalho sem fim. Lá fora, as estradas estavam vazias, ou então enchiam-se de ambulâncias. Depois, havia os prédios cheios de luzes, o vazio, o silêncio no meio do caos. Ao mesmo tempo, a velocidade na construção de novos hospitais. O novo documentário de Ai Weiwei, intitulado “Coronation”, foi filmado com a ajuda da esposa, Wang Fen, que tem irmãos a viver em Wuhan. O filme, com cerca de uma hora de duração, é o resultado de mais de 500 horas de gravações. O projecto não pretende apenas mostrar a realidade vivida no epicentro da pandemia,

mas constitui também uma crítica à alegada ocultação do número de mortes por covid-19 e dos primeiros casos. Disponível para compra ou aluguer nas plataformas de streaming Alamo on Demand [para os EUA] e Vimeo [para o resto do mundo], “Coronation” tem como protagonistas os cidadãos que ficaram presos em Wuhan devido ao fecho das fronteiras da cidade, os que só regressaram muitas semanas depois por estarem fora antes do confinamento ou os médicos exaustos que adormecem em cadeiras dos hospitais com os fatos de protecção. Mas não só. Há também relatos de pessoas que passaram a viver no limbo, tal como um filho que se vê sujeito a um extenso processo burocrático para conseguir ficar com as cinzas do pai vítima de covid-19 ou um trabalhador da construção civil, voluntário, que não consegue regressar a Henan, a sua cidade natal, depois de terminar o seu trabalho. Apesar dos telefonemas, explicando a situação, este não consegue sair de

Wuhan e acaba a dormir no carro. O jornal The Guardian noticiou o suicídio deste voluntário.

A NOTA FINAL

O papel do Partido Comunista Chinês (PCC) no processo de combate à pandemia é também retratado neste documentário, quer pela cerimónia de boas-vindas a médicos e enfermeiros que receberam o prémio de adesão ao PCC, quer através de uma conversa com uma idosa. No sofá da sua casa, esta militante defende que a China continua a ser um bom país para se viver, criticando aqueles que querem emigrar e que, no estrangeiro, se vêem obrigados a pagar elevadas quantias para ter acesso a cuidados de saúde. Pelo meio, Ai Weiwei apostou em cenários quase futuristas de uma cidade vazia, com música a condizer, para depois terminar com uma mensagem. “O primeiro caso de covid-19 surgiu em Wuhan a 1 de Dezembro de 2019. Durante várias semanas as autoridades ocultaram informações sobre a transmissão do vírus


eventos 9

quinta-feira 27.8.2020

ma pandemia

DOCUMENTÁRIO FILMADO EM WUHAN

mentário onde revela como a cidade de Wuhan viveu a pandemia da meros e de informações sobre a doença. Disponível em plataformas han que ajudaram o artista neste projecto

CINEMA ANIMAÇÃO DE ALEXANDRA RAMIRES EM TORONTO NO MÊS DE SETEMBRO

O

entre humanos, bem como os dados relativos às infecções e mortalidade. A 23 de Janeiro de 2020, Wuhan foi sujeita ao fecho de fronteiras.”

SOBRE A CHINA

Ao jornal New York Times, Ai Weiwei revelou que este documentário é, acima de tudo, uma

“Apesar da escala e da rapidez da quarentena de Wuhan, estamos perante uma questão mais existencial: a civilização consegue sobreviver sem humanidade? As nações conseguem confiar umas nas outras sem transparência?” AI WEIWEI

tentativa de mostrar como é o seu país. “Os espectadores têm de perceber que isto é sobre a China. Sim, é sobre a quarentena, mas, acima de tudo, tenta reflectir o que os cidadãos chineses comuns tiveram de enfrentar.” “O filme leva-nos ao coração dos hospitais temporários e unidades de cuidados intensivos, mostrando todo o processo de diagnóstico e tratamento. Os pacientes e as suas famílias são entrevistados, revelando o que pensam sobre a pandemia, ao mesmo tempo que expressam raiva e confusão sobre as restrições da liberdade impostas pelo Estado”, escreve o artista no seu website. “Coronation” mostra também o conflito entre a necessidade de liberdade pessoal e a luta pela saúde pública, um debate surgido em vários países do mundo graças à pandemia. “Apesar da escala e da rapidez da quarentena de Wuhan, estamos perante uma questão mais existencial: a civilização consegue sobreviver sem humanidade? As

nações conseguem confiar umas nas outras sem transparência?”, escreve o artista no seu website oficial. O documentário “examina o espectro político do controlo estatal chinês desde o primeiro até ao último dia do confinamento em Wuhan”, apontou Ai Weiwei. “Coronation” retrata também “a brutal eficiência do Estado e a resposta militarizada para controlar o vírus”. Sobre o apoio de Wang Fen nas filmagens, Ai Weiwei contou ao jornal norte-americano que ela “teve um envolvimento emocional muito profundo” com o projecto. O artista chinês, actualmente radicado na Europa, onde dirigiu e produziu o documentário, apontou que gostava de o ter estreado num festival de cinema. No entanto, os festivais de Veneza e Toronto terão rejeitado a obra, bem como as plataformas de streaming Amazon e Netflix. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

filme de animação “Elo”, de Alexandra Ramires, foi seleccionado para o Festival de Cinema de Toronto, em setembro, no Canadá, revelou ontem a Agência da Curta-Metragem. Com animação a grafite em papel e sem diálogos, “Elo” é a única produção portuguesa integrada no programa de curtas-metragens do festival, que começa no dia 10 de Setembro. “Elo”, com argumento de Alexandra Ramires e da escritora Regina Guimarães, é ainda o primeiro filme da realizadora em nome próprio, depois de ter co-assinado «Água mole», com Laura Gonçalves, que soma 19 distinções internacionais. O Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), co-dirigido pela programadora portuguesa Joana Vicente, decorrerá em Setembro com

uma programação reduzida, por causa da covid-19, e virada sobretudo para o ‘online’, embora tenha alguns eventos presenciais limitados. Além de “Elo”, o festival contará com o filme palestiniano “Gaza, mon amour”, dos irmãos Tarzan Nasser e Arab Nasser, com co-produção portuguesa, pela Ukbar Filmes, como anunciado no final de Julho. A longa-metragem de ficção, que se estreará no festival de Veneza antes de chegar a Toronto, foi parcialmente rodada no Algarve e inspira-se numa história verídica ocorrida em Gaza, em 2014, quando um pescador encontrou uma estátua deApolo no mar. O TIFF abrirá com “David Byrne’s American Utopia”, de Spike Lee, a lançar pela HBO, que regista em filme o espetáculo homónimo do músico dos Talking Heads.

USJ Exposição sobre mangal do Cotai na próxima semana

É inaugurada na próxima terça-feira, 1 de Setembro, uma exposição sobre o mangal no Cotai, intitulada «Macao’s Mangroves: A COASTAL TREASURE EXHIBITION”, e que poderá ser visitada no espaço de exposições Kent Wong, na Universidade de São José (USJ), até ao final do próximo mês. Esta iniciativa é organizada pelo Instituto de Ciência e Ambiente da USJ com o apoio do Instituto para os Assuntos Municipais e Fundo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, entre outras entidades. A exposição pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h.


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27.8.2020 quinta-feira

SEGURANÇA PEQUIM INSISTE NA LEGITIMIDADE DA DETENÇÃO DE DOIS CIDADÃOS DO CANADÁ

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China insistiu ontem na legitimidade da detenção de dois canadianos, numa aparente retaliação pela detenção de uma executiva da Huawei, após uma reunião entre as autoridades dos dois países. O ex-diplomata Michael Kovrig e o empresário Michael Spavor estão detidos na China há 620 dias por “constituírem um risco para a segurança nacional”, numa acusação vaga que serviu aparentemente de retaliação pela detenção no Canadá de Meng Wanzhou, executiva do grupo chinês de tecnologia Huawei e filha

do fundador da empresa. Meng foi detida no aeroporto de Vancouver a pedido dos Estados Unidos, que pedem a sua extradição para enfrentar acusações de fraude em negócios da empresa com o Irão que terão alegadamente infringido sanções impostas por Washington. A detenção enfureceu Pequim, que a considerou uma decisão política, com o objectivo de restringir a ascensão da China como potência tecnológica global. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá, François-Philippe Champagne, pediu a Pequim que

liberte os dois canadianos, durante uma reunião com o homólogo chinês, Wang Yi, em Roma, na terça-feira. Os dois canadianos são suspeitos de se envolverem em “actividades que colocam em risco a segurança nacional da China e estão a ser tratados “em estrita conformidade com a lei”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa Zhao Lijian, em conferência de imprensa. A China “explicou claramente ao lado canadiano que deve respeitar o espírito do Estado de Direito e a soberania judicial da China”, disse Zhao, acrescentando que Pequim não é responsável pelas actuais dificuldades nas relações bilaterais. “O Canadá está bem ciente do cerne do problema e deve tomar medidas eficazes imediatamente para corrigir os erros e criar condições para que o relacionamento bilateral volte ao caminho certo”, disse Zhao. PUB

Aviso Como agradecimento aos enfermeiros pela sua contribuição de longo prazo ao sector de enfermagem de Macau, terá lugar, no dia 18 de Setembro de 2020 (sexta-feira), a Cerimónia de atribuição de prémios de prestação de serviço a longo prazo. Temos a honra de convidar os actuais enfermeiros que prestam funções de enfermagem há 20 ou 30 anos em Macau a se registarem nesta actividade. Aguardamos a sua participação activa. Local: Sala de Reuniões do Centro de Ciência de Macau Data: 18 de Setembro (6.ª feira) Hora: 18:30 A fim de incentivar a dedicação e pela contribuição dos colegas de enfermagem de Macau ao sector de enfermagem, será atribuída uma lembrança, como forma de gratidão, aos enfermeiros que prestam actualmente funções em Macau. Faça a leitura do código QR e proceda ao registo entre o período de 26 de Agosto e 1 de Setembro de 2020 para prémio de prestação de serviço a longo prazo ou lembrança. Para mais informações, envie e-mail para codie@ssm.gov.mo ou ligue para 83908754 (Sr.ª Lei) Serviços de Saúde

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 29/P/20 Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 17 de Agosto de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para a «Prestação de Serviços de Aluguer de Equipamentos para Oxigenoterapia Domiciliária aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 26 de Agosto de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP35.00 (trinta e cinco patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 22 de Setembro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no 23 de Setembro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP124.000,00 (cento e vinte e quatro mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 20 de Agosto de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

DIPLOMACIA AUSTRÁLIA ACUSADA DE TRAIR A CHINA EM BENEFÍCIO DOS EUA

Também tu, Brutus?

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M diplomata chinês comparou ontem o apelo da Austrália por um inquérito independente sobre a pandemia do novo coronavírus à traição do ditador romano Júlio César, numa tragédia de Shakespeare, em benefício dos Estados Unidos. Wang Xining, vice-chefe da missão da embaixada chinesa na Austrália, falou no Clube de Imprensa australiano sobre o apelo feito por Camberra, que resultou na deterioração das relações bilaterais. O Governo chinês passou a recusar falar por telefone com ministros australianos e boicotou as exportações australianas de carne bovina para o país asiático. O apelo surgiu “numa altura em que o Governo dos Estados Unidos estava

a tentar culpar a China pelo seu fracasso em controlar a propagação da doença e (...) fugir das suas responsabilidades”, disse Wang. Wang citou uma cena na peça “Júlio César”, quando o ditador percebe que o seu amigo Marcus Junius Brutus está entre os assassinos que estão prestes a esfaqueá-lo. “É idêntico a Júlio César quando no seu último dia viu Brutus a aproximar-se dele: Et tu, Bruto?’’, afirmou Wang, usando uma frase em latim que significa “Também tu, Brutus?”

INQUÉRITO GLOBAL

A Organização Mundial da Saúde lançou, entretanto, uma investigação global sobre as origens do surto da covid-19. Wang disse que a investigação teve uma “origem completamente diferente”

da proposta australiana. A China tem mantido contactos ministeriais com os Estados Unidos e com governos de outros países que apoiaram a postura da Austrália, incluindo o Japão, Alemanha e França. Wang negou que a China tenha escolhido a Austrália para enviar uma mensagem a outras potências para que não se manifestem. “Acho que é uma interpretação muito desequilibrada do que aconteceu entre nós”, disse. O diplomata recusou-se a dizer se achava que as relações sino-australianas vão melhorar após a eleição presidencial nos EUA. Wang disse que um comentário seu sobre a eleição equivaleria a uma interferência nos assuntos internos dos EUA. A China respeita a estratégia de aliança da Austrália com os Estados Unidos, disse Wang. “Ter um aliado não é um problema”, disse. “O problema é se tens como alvo um terceiro país como objectivo dessa aliança”. “Se encontrarmos qualquer tendência de usar a força de uma aliança para derrubar a China ou pressionar a China - o que actualmente alguns políticos nos EUA estão a fazer - então expressaremos claramente a nossa oposição”, acrescentou.

HK Dois deputados detidos por participarem nos protestos de 2019 Dois deputados pró-democracia de Hong Kong foram ontem detidos, acusados de participarem em protestos anti-governamentais no Verão passado, numa operação em que foram detidas mais 14 pessoas, segundo a imprensa local. Fonte policial ouvida pela agência de notícias France-Presse (AFP) confirmou a detenção dos deputados Lam Cheukting e Ted Hui, bem como a de mais 14 pessoas, numa operação relacionada com as manifestações pró-democracia de julho de 2019. Os dois deputados

da oposição no Conselho Legislativo são conhecidos pelas críticas às autoridades chinesas e de Hong Kong, tendo Hui sido expulso do parlamento durante a discussão da polémica lei que criminalizou insultos ao hino chinês, no final de Maio. Numa publicação na página de Lam na rede social Facebook indica-se que foi detido por suspeitas de “ter participado num motim em 21 de Julho” de 2019, sendo ainda acusado de obstrução à Justiça, de “causar distúrbios” e de participar na “destruição de propriedade pública”.


quinta-feira 27.8.2020

Sonho-me sem Pátria e sem Amigos

diário de Próspero

António Cabrita

A palavra e a teia

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ERÇA-FEIRA, dia 25, no Teatro da Rainha, terá lugar mais uma sessão do Diga 33, as conversas em torno da poesia moderadas pelo Henrique Fialho, e desta vez o convidado sou eu. Imprudência minha em ter aceitado e do Henrique em dirigir-me o convite pois sou um medíocre orador. Chego depois de uma semana no Algarve, assombrada pelo “esplendor” ártico das águas; mas onde, com um entusiasmo juvenil me apanhei numa actividade que há décadas não praticava: a apanha de conquilhas na maré baixa, única forma exaltante de não pensar no frio. Não as sondava com o pé, drago as areias com as mãos, penetro com os dedos os seus mantos suaves para lhes perscrutar os nós, os bivalves. Ainda tenciono ler um ensaio sobre a metáfora da filósofo e poeta de Barcelona Chantal Maillard, que me ajudará a aclarar algumas ideias para a conversa, pois tenho muitas afinidades com o que ela pensa. Mas poderei desde já apontar alguns princípios, os meus “nós”: - a poesia e a ciência são as duas formas de conhecimento que admitem por atracção e desencadeamento o desconhecido; - o poema não é uma transcrição de um mundo conhecido de antemão mas sim um processo em que a intercepção e a descoberta andam a par; - o poeta não escreve só para expressar-se mas igualmente para orientar-se dentro da sua própria vida ; - a realidade não pode ser postulada sem o esforço simultâneo para a compreendermos, sendo a arte e a poesia, como processos contínuos, um testemunho desse desejo; - a palavra é na verdade uma fibra e o poema um feixe de fibras que se organiza como uma intrincada rede de densidade semântica. O mais próximo do poema é a teia de aranha, visto que no poema como naquela “o todo está inteiro em cada uma das suas partes” (logrando uma dimensão fractal) e que, igualmente, quando algo toca um fio da teia do poema esta vibra inteira; daí que uma só palavra errónea possa destruir o poema; - o poema arma a teia para capturar insectos mas a qualidade da atenção que desperta, a intensidade da sua atracção, só eclode quando lá caem pássaros e essa eclosão do inesperado é que abre espaço para o mistério (uma forma de inteligência não circunscrita cujas leis clamam por tornar-se conhecidas) que todo o verdadeiro poema sonda; - a este “inesperado” que rompe o fluxo chama-se comumente irracionalidade, imaginação, compulsão isomórfica ou revelação – quatro maneiras de designar o mesmo: há níveis diferentes de realidade e modos distintos de percepção duma mesma realidade;

- o realismo, como se diz na Índia, é apenas um dos quarenta modos de decoração da realidade, i. é, a sê-lo não se equivale ao modo restringido e em auto-decapitação como é de uso concebê-lo nas poéticas hoje mais em voga na nossa tradição mas antes como um modo de abrir “poros” na realidade; - o poema abre “poros” para além da esquadria da retórica e de uma visibilidade à cabotagem; - um bom poeta aprende a utilizar em seu proveito as forças do acaso para as reenquadrar na sua pauta de referências, não para as sufocar, mas antes como um plinto ou um “acelerador de partículas” e a um ponto que, paradoxalmente, não pareça haver nada de casual na sua obra, nem nenhum elemento gratuito que obscureça a percepção do poema; - há uma irracionalidade descendente e uma irracionalidade ascendente: Eugenio D’Ors, chama a esta o “nível angé-

lico” (uma espécie de supraconsciência, que material e fenomenicamente é o polo contrário do subconsciente freudiano), embora este possa ter pouco de pio, sendo apenas o acesso a um nível cognitivo onde voltam a re-ligar-se os padrões e pulsa uma nova inteligibilidade da totalidade, que no plano anterior era apenas intuída; admitida a hipótese de que haja devir e seja fito do homem superar-se; - a um ateu como eu é mais fácil admitir com o Fausto de Pessoa, que os deuses têm os seus próprios deuses, e que no fundo o sentimento do religioso é um saudável princípio de proporcionalidade que o poeta não se deve abster de possuir; no que ajuda ter a honestidade de integrar-se numa tradição e num sistema de “admirações” que lhe dão lastro e perspectiva, sabotando de antemão o seu ego q.b.; - toda a simplicidade é um resultado e não um postulado criativo; ou seja, é mais

A palavra é na verdade uma fibra e o poema um feixe de fibras que se organiza como uma intrincada rede de densidade semântica. O mais próximo do poema é a teia de aranha, visto que no poema como naquela “o todo está inteiro em cada uma das suas partes”

fácil a um barroco ser simples quando o texto assim o exige do que a um “militante da austeridade” ser criativo; - a quantas palavras deve recorrer o poeta, na sua paleta, ou qual deve ser a extensão do seu léxico? As suficientes para lembrar a pertinência com que Wittgenstein observava que os limites do nosso mundo são os limites da nossa linguagem. Se numa cesta de frutos só houver nozes, o nosso conhecimento dos insectos será mais limitado do que se houver um pomar na nossa cesta. É neste sentido que Harold Bloom defendeu, num livro de setecentas páginas, que Shakespeare (que usou quase trinta mil palavras) foi quem “inventou o humano”. Este pôde entender novos e mais subtis modos de relacionamento humano e político e até de afecções sentimentais porque as iluminou pela primeira vez num plano distinto de acções com a amplitude das modulações da sua imersão numa linguagem total; - “Quando encontro/ neste meu silêncio/ uma palavra/ está fundida na minha vida/ como um abismo”, escreveu Ungaretti, descrevendo com exactidão a minha relação com a palavra: por estar imerso no silêncio e no deserto é-me mais difícil falar do que escrever. Não sei se vou conseguir explicar estes meus princípios, ou se me evadirei contando histórias. Fica o esboço.


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27.8.2020 quinta-feira

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Holandeses voadores IV

REtrovisor Luís Carmelo

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Agora que o céu começou a abrir, reconheço no ar uma voz que desfalece nas clareiras dos pinheiros mansos e no lago do parque. Uma rememoração de abelhas, paixões e pequenas fugas. A paisagem faz eco das chuvas silenciosas do passado, das melodias de circo, e dos casais inflados da belle époque a desvairar por um remanso de pele nua onde tocar com os dedos. Um fogacho tão breve como o dos gansos que esvoaçam em frente às vidraças onde aguardo o meu aluno. Dava aulas no Instituto Real dos Trópicos, razão por que todos os dias viajava do bairro do Jordaan até perto de um equador imaginário, liso como uma iluminura. Os alunos aprendiam Português antes de seguirem para Moçambique, Brasil, S. Tomé ou Angola onde iriam trabalhar. Geralmente eram pequenos grupos, mas, durante esses meses em que o céu me permitiu reconhecer memórias alheias que afinal me pertenciam sem eu saber, apenas tive um único aluno, um médico chileno. Curiosamente, o médico falava Português. Articulava a língua com a mestria dos flamingos que tingem a plumagem com os caranguejos que devoram. A sua presença no curso era meramente burocrática, embora fosse um requisito obrigatório da bolsa que o levaria depois até à Guiné, seu destino final. Confessou-me logo de início que as semanas de curso que iríamos partilhar seriam um enfado, um despropósito, uma aura em ponto morto. Mas eu continuava a olhar para as vidraças, por trás da fisionomia sonolenta do meu aluno, e reconhecia naquela visão uma paleografia familiar. Era como se este trecho de vida já tivesse sido escrito. No segundo dia de aulas, levei comigo um livro de John Ruskin que me tinha sido oferecido por um amigo de passagem pela Holanda. Ao ver o livro, o médico ficou esfuziante, mesmo perturbado, pois a sua primeira viagem na Europa concluíra-se em Veneza e ficara alojado precisamente no hotel onde o romântico inglês tinha vivido. Na hora de conversa que se seguiu, percebi que o meu aluno era um esteta que estaria a fugir para África, devido a uma tragédia amorosa e não à habitual generosidade do seu ofício sem fronteiras. Talvez tudo isto não passasse de um sinal. Foi no último dia do curso que a bicicleta surgiu do outro lado das vidraças. Em vez do carrinho de bebé, era num cesto de verga que ela agora transportava as folhas dos plátanos. Dançava ainda dentro do vestido vermelho do dia anterior. Fiquei paralisado, diluído no éter. O médico usurpou-me o mutismo e sorriu com ventania de gávea, parecendo conhecer uma longa história que

JOSÉ M. RODRIGUES

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não era a sua e que há poucas horas se iniciara. É verdade que só voltei a vê-la quando, dias mais tarde, a vi reaparecer de dentro da loja marroquina. Nesse fim de tarde, dadas as coincidências, o meu aluno contou-me tudo. E eu então desapareci a bordo daquela pequena morte

que mal sacia os ossos, quanto mais um remanso de pele nua a arder. Talvez tudo isto fosse de facto um sinal.

8.

Há asas que só batem no infinito. São aquelas que eu suporto nos meus bra-

Foi no último dia do curso que a bicicleta surgiu do outro lado das vidraças. Em vez do carrinho de bebé, era num cesto de verga que ela agora transportava as folhas dos plátanos. Dançava ainda dentro do vestido vermelho do dia anterior. Fiquei paralisado, diluído no éter

ços. Sempre temi os animais com penas, mesmo os cisnes que vivem cem anos em paciente monogamia e que em terra vagueiam com pouco jeito, desequilibrando prumadas. No entanto, acabadas as aulas, o que mais desejava era espraiar o tempo e, nessa operação de perda voluntária, vê-los a deslizar na água e perceber na sua navegação uma vasta epopeia em silêncio. As linguagens dos humanos não conseguem captar uma tal gesta, como também não conseguem detectar a matéria escura do universo. Os cisnes não proferem matemática, nem gastam palavras, preferem concentrar o esforço nos movimentos do seu longo pescoço, uma verdadeira galáxia branca ligada gravitacionalmente a formas secretas de compaixão. Até que a chuva miúda reaparecesse, sentava-me no banco do parque a observar aqueles relatos que vibravam como se fossem um irrepetível amor à primeira vista. Até que nos encontrámos os dois na cidade de Utreque para ver e ouvir tocar Astor Piazzola e, no intervalo, eu rumorejei-lhe estas teorias idiotas ao ouvido. Ela adorou a ideia de uma compaixão que não se reduzisse ao esquisso “dói-me a dor do outro”. Não é o luto do desperdício que cura a existência, segredou, e, de seguida, agarrou-me no braço e conduziu-me para o palco em contradança sem que as palhetas livres do bandoneón sequer nos vislumbrassem. A chuva miúda regressaria ao fim da tarde sem um foco definido. Um tango sem o propósito de ser tango para que amar pudesse ser a transcendência dos mundanos. Estava cansado de horas e horas de aulas, mas persistia. Observava cuidadosamente a locomoção dos cisnes e percebia nela cada vez mais uma fala que se desvanece. Como se o dizer do apaixonado fosse a alegria do desperdício, o verbo que desaverba. Nesse tempo eu fumava cigarros de enrolar, ou seja, fazia de mim uma nuvem ou uma tenaz e manuseava a febre dos objectos metálicos que se transformam em fogo ou nos acessos em labareda da música de Piazolla. O privilégio do fumador é atar os pulmões às suas paixões, respirando os andamentos dos cisnes com a dupla profundidade de um tango. Por isso, cobria a cabeça com o capuz e preferia não subir para o eléctrico. Seguia a pé durante alguns quilómetros pela margem do Canal dos Príncipes, entrava e saía sempre que me apetecia no palco por entre as palhetas livres do bandoneón e lembrava-me demasiadas vezes da história do médico chileno de que, entretanto, me despedira. (continua)


(f)utilidades 13

quinta-feira 27.8.2020

TEMPO TROVOADAS OCASIONAIS MIN 25 MAX 30 HUM 70-98% • EURO 9.43 BAHT 0.25 YUAN 1.15 ´

DOIS MORTOS NO WISCONSIN

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9 6 3 4 2 9 7 2 5 1 8 0 87 31

6 7 2 2 1 3 0 97 8 4 3 2 8 6 1 7 6 3 0 9 7 4 2 5 5

8 9 5 8 0 2 1 3 65 7 4 8 7 4 2 6 1 50 6 3 8 9 0 2

2 0 6 3 75 43 98 86 0 59

6 5 32 4 94 23 0 16 70 8

3 4 1 6 81 5 2 96 05

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95 8 70 52 19 41 6 23 36

0 2 89 7 6 30 5 9 4 1

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 9

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1 2 5 8 1 9 9 0 8 6 7 7 4 2 0

PROBLEMA 10

4 0 6 2 7 3 1 5 9 3

está hospitalizada com ferimentos graves, mas que não colocam a sua vida em perigo”, anunciou a polícia de Kenosha. Os vídeos nas redes sociais mostram pessoas a correr pelas ruas de Kenosha, no Wisconsin, enquanto se ouvem tiros, em algumas das imagens podem ver-se homens feridos no chão.

5

7

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Duas pessoas morreram vítimas de disparos na madrugada de ontem na cidade norte-americana de Kenosha, no terceiro dia consecutivo de protestos contra a violência policial após a polícia ter alvejado nas costas um afro-americano. “Os tiros provocaram a morte a duas pessoas e uma terceira pessoa

Cineteatro 8

3 1 4 0 5 8 6 2 0 9 8 7 BEYOND THE DREAM [C] FALADO EM JAPONÊS 5 9 2 1 4 5 7 6 1 8 3 6 2 0 9 4 7 3 SALA 1

SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.30, 21.00 SALA 2

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C I N E M A 7 2 4 3 0 9 5 1 6 8

6 2 8 7 4 3 9 5 5 1 3 6 0 9 1 8 7 8 0 4 2 7 6 9 9 5 2 1 1 4 7 0 3 0 4 2 www. hojemacau. 8 com.mo 6 5 3

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6 3 9 1 7 8 0 2 4 5

LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

9 8 5 0 2 6 7 4 1 9 DREAMBUILDERS 1 3 7 [A]8 5 FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS 2 5 0 4 6 Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00, 21.15 4 6 1 3 8 3 0 2 6 7 8 9 3 2 4 7 4 9 5 0 5 1 8 7 3 0 2 6 9 1 SALA 3

UM DOCUMENTÁRIO HOJE David Helfgott impressiona tanto enquanto artista, como pessoa. Em “Hello I Am David!”, é possível acompanhar de perto o dia a dia peculiar do pianista em tournée, entre ensaios, abraços constantes, tentativas de açambarcamento de saquetas de chá em aeroportos e a preparação para os concertos. Considerado um prodígio desde criança, David Helfgott sofreu um colapso nevoso em 1970 e passou 11 anos em instituições de saúde mental. A sua história inspirou também o filme “Shine”, vencedor de um óscar. Pedro Arede

HELLO I AM DAVID! | COSIMA LANGE

4 9 0 3 5 1 0 1 7 2 8 6 2 8 4 9 0 7 3 6 5 7 DREAMBUILDERS 2 4 6 2 3 1 9 5 5 4 8 0 1 3 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 7 Colaboradores 3 6 8Anabela 4 Canas; 0 António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Lobo Pinheiro; 8 Gonçalo 5 2 6 3Gonçalo 9 M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; 1 João7Romão; 9 Jorge 5 Rodrigues 6 8Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 9 Morada 0 Calçada 1 4deSanto 7 Agostinho, 2 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone 28752401 Fax28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítiowww.hojemacau.com.mo


14 opinião

27.8.2020 quinta-feira

“Pandemic is not a word to use lightly or carelessly. It is a word that, if misused, can cause unreasonable fear, or unjustified acceptance that the fight is over, leading to unnecessary suffering and death.” Dr. Tedros Adhanom, WHO director general

O

medo é um alerta que nos ajuda a reagir face a potenciais perigos, activando o corpo e a mente para desenvolver os recursos necessários para enfrentar ou evitar uma ameaça, bem como para a prevenir. Assim, mesmo perante uma emergência como a propagação da infecção COVID-19, ter medo é absolutamente normal e saudável. O primeiro passo para ultrapassar o medo é aceitá-lo, o segundo é geri-lo e o terceiro é enfrentá-lo. Porque os medos não devem tornar-se excessivos e descontrolados, especialmente face a uma pandemia, onde a invisibilidade do inimigo pode desencadear reacções fortes e levar ao pânico. Nem devem transformar-se em fobias, um poderoso condicionamento da nossa liberdade de agir e do seu impulso infeccioso. Neste momento, o medo e a ansiedade habitam na alma e no corpo de todos, forçados a abdicar de muitas liberdades e oportunidades para nos proteger deste inimigo impiedoso e invisível. Nestes meses, muitos falaram, tentando dar conselhos, alguns estão a minimizar mostrando-se na rua sem protecção recomendada, outros vêem nesta emergência uma situação apocalíptica. Em todos, porém, o medo e a sensação de perigo encontraram um lar e guiaram o nosso comportamento. Gerir o medo significa, antes de mais, ter informação correcta, não só sobre o perigo actual (neste caso a ameaça de infecção, o modo de transmissão, a duração, o risco de graves consequências sanitárias e económicas), mas também sobre as emoções que nos afectam. Emoções que infelizmente são desagradáveis e causam grande desconforto, mas que podem ter um valor fundamental para nos orientar para comportamentos que nos podem salvar. Sem ter a presunção de oferecer receitas improváveis para se tornar corajoso e fazer desaparecer o medo, é necessário que se compreenda o mesmo nas suas expressões, nas suas funções e nos seus mecanismos e como distinguir o medo “pequeno”, o normal, do “grande”, patológico, a que mais correctamente podemos chamar de fobia. Partindo da premissa de que não é a intensidade da emoção experimentada que distingue o medo da fobia, mas a experiência e o contexto em que ocorre, é preciso agarrar e compreender as implicações emocionais do

medo em situações não urgentes. As pessoas têm de aprender técnicas comportamentais e práticas sobre como gerir o medo e lidar com a fobia, mesmo que, no caso de perturbações fóbicas, a ajuda de um profissional seja essencial para reconquistar a liberdade perdida. É importante conhecer as implicações emocionais que a propagação do vírus tem induzido em todos, especialmente nos seus componentes de medo e ansiedade, tornando-nos temporariamente fóbicos por necessidade. Além disso, é urgente que as pessoas sejam ajudadas a gerir o stress e a dirigir os seus recursos psicológicos da forma correcta para enfrentar com confiança este momento difícil, em que a COVID-19 está a perturbar radicalmente as nossas vidas individuais e colectivas. Além da normal prevenção que tem sido feita, o suporte psicológico é de primordial importância e tem falhado substituído pelo crescente alarmismo dos números de mortos, infectados e recuperados que a cada minuto a média fornece. A pandemia COVID-19 é um acontecimento que nos apanhou de surpresa nos últimos meses, mas não é a única emergência epidémica que a humanidade conheceu. Também noutros períodos históricos (durante a propagação de doenças infecciosas como a peste, varíola, gripe espanhola, asiática, Ébola, SARs, só para citar algumas...) o homem teve de enfrentar riscos e perigos que são substancialmente invisíveis aos seus olhos, mas extremamente agressivos. E é precisamente a invisibilidade do inimigo que pode desencadear em nós fortes reacções de ansiedade e medo e levar ao pânico, popularmente entendido como uma emoção de extremo medo e angústia. Nestes momentos, a nossa mente joga à defesa a fim de minimizar os riscos e obriga-nos a comportamentos que limitam a nossa capacidade de explorar, pondo-nos em espera até ficarmos imobilizados. Face a um perigo como a pandemia, será correcto ter medo? Uma das principais funções da nossa inteligência emocional é ajudar-nos como indivíduos e ao ser humano, como comunidade e espécie, a sobreviver. A bagagem das nossas emoções primárias é composta por uma emoção positiva, alegria; uma neutra, surpresa; e quatro negativas que são a raiva, medo, repugnância e tristeza. Assim, cerca de 67 por cento das nossas emoções primárias são negativas, porque o processo evolucionário seleccionou as emoções negativas como o melhor sistema de defesa para a nossa sobrevivência. Portanto, viver o medo, a raiva e a tristeza num momento perigoso como indivíduos e para a humanidade, é absolutamente natural. Nesta perspectiva, a sensação generalizada de medo e ansiedade, se por um lado cria desconforto, por outro, reforça a nossa capacidade de nos defendermos, estimulando a atenção, a cautela, tornando-nos mais reactivos. O medo e a ansiedade tornam-se assim amigos preciosos para pôr em prática todas as defesas e comportamentos necessários para superar o momento difícil. É de

FEAR TY AGHA

A Covid-19

lembrar que ter medo e ansiedade perante o perigo é normal e útil. Uma das melhores estratégias que a nossa mente põe em prática, face a uma ameaça como o vírus, é identificar o mais possível o inimigo. Por esta razão, agarramo-nos às notícias, emissões de televisão e rádio, catapultamo-nos ansiosamente para o mar magnífico da Web, procurando notícias, sugestões, garantias, com o risco de sermos atraídos pelo que queremos ver e de cairmos num estado de confusão, esmagados pela incerteza devido aos montões de informação contraditórios. É pouco mais do que uma gripe trivial, é perigosa apenas para os idosos, tem uma taxa de mortalidade muito superior à da gripe, destruirá a economia, os cuidados de saúde entrarão em colapso, temos um dos sistemas de saúde mais válidos do mundo, ficamos em casa, trabalhamos, usamos máscaras, as máscaras não são tão úteis, e assim por diante. A confusão, a incerteza,

a sensação de impotência assaltam-nos e invadem-nos cada vez mais, libertando ansiedades e medos que são acompanhados por comportamentos nem sempre realmente úteis, se não mesmo prejudiciais. Como podemos ter a quantidade certa de medo? A reacção emocional deve obviamente ser proporcional ao perigo que enfrentamos e a resposta é tanto mais apropriada quanto mais o perigo é conhecido. Ter informação clara, precisa e fácil de compreender é a chave para encontrar o nível certo de ansiedade, alerta, e medo. A responsabilidade pela comunicação adequada por parte dos órgãos institucionais e da imprensa é crucial, tal como a nossa capacidade de discriminar entre informação fidedigna e informação não verdadeira. Quando o perigo não está bem definido e a informação é inconsistente, então colocamo-nos no mais alto grau de ansiedade, alerta, e medo. É de lembrar que para se ter uma reacção de ansiedade e


opinião 15

quinta-feira 27.8.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

e o medo

medo adequada, é essencial ter informação clara e correcta. Em situações de emergência, a informação desempenha um papel fundamental, porque nos permite activar correctamente as nossas defesas de forma mais apropriada. Face a qualquer perigo, só podemos escolher o comportamento ideal se tivermos uma ideia clara do “inimigo” que enfrentamos, e quando este é invisível, como no caso de infecções bacterianas e virais, torna-se ainda mais crucial poder escolher onde obter informações válidas. Muitas vezes estas fontes são os peritos na matéria, que têm as ferramentas para melhor ler a situação, como com uma espécie de lupa, e que nos fornecem dados e opiniões que nos ajudam a ter a melhor imagem possível da situação. Contudo, frequentemente nestas circunstâncias, os líderes de opinião e peritos parecem estar divididos em duas categorias distintas, o “tranquilizador” e o “catastrófico”. Pes-

soas de alto perfil e experientes discutem dados, medidas, experiência profissional e trazem diferentes pontos de vista. Então, porquê toda esta confusão? Porque é que os peritos e pessoas de reconhecida sabedoria dão tanta informação incoerente e opiniões muito diferentes ou mesmo opostas? A resposta reside no chamado “viés confirmatório” que, em resumo, não representa mais do que a tendência muito tenaz de se cingir aos seus pontos de vista de uma forma prejudicial. Mesmo os peritos, todos, estão à mercê deste limite. A expressão viés confirmatório (literalmente “tendência para confirmar”) define em psicologia um dos fenómenos mais humanos e frequentes em cada tempo e latitude. É um termo técnico, mas poderia simplesmente ser definido como preconceito, no seu significado mais comum de julgamento que é dado antes de conhecermos factos ou pessoas, e que condiciona o que vemos e o que ouvimos. Em suma, a nossa mente, através deste mecanismo, forma uma opinião sobre um assunto ou uma pessoa, baseada em crenças pessoais ou comummente aceites, após o que procura todas as notícias e informações que confirmam o seu pré-julgamento, tornando-se cega a tudo o que contrarie a sua ideia inicial. O preconceito confirmatório não tem consequências particularmente graves quando nos perguntamos se o mar ou as montanhas são melhores para a nossa saúde mental, mas pode levar-nos a comportamentos perigosos para nós e para os outros face a ameaças difíceis de identificar e não directamente observáveis. E como podemos abrir os olhos e desvendar as opiniões dos peritos? A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo. Para combater os nossos pré-julgamentos devemos deixar as opiniões em paz e confiar em factos, números e ser guiados na interpretação destes dados por fontes autorizadas e reconhecidas. Uma vez escolhidas as fontes que são respeitáveis, é essencial ouvi-las mesmo quando fazem declarações que nos parecem erradas, porque colidem com os nossos preconceitos. E se quiséssemos ser ainda mais eficazes contra o nosso preconceito de confirmação, deveríamos prestar mais atenção e procurar precisamente todos esses dados e informações e, porque não, as opiniões de fontes autorizadas e pessoas que contradizem as

Esta novidade perturbadora e incerta, este sentimento de ser confrontado com um perigo real mas também não bem definido, a quebra dos nossos hábitos, a impossibilidade de planear o futuro próximo, desencadeia em todos nós, uma das reacções mais típicas do medo, a imobilização

nossas crenças e pontos de vista, seguindo um princípio chave do método de pensamento científico desenvolvido por um dos grandes filósofos do século passado, Karl Popper, que é o princípio da falsificação das nossas hipóteses. No final deste caminho, depois de concordarmos em ouvir “realmente” aqueles dados e opiniões que não sentimos que sejam nossos, só então poderíamos tirar conclusões capazes de encapsular a complexidade das situações e que se aproximem da verdade. Quais são as fontes de informação mais fiáveis? Nunca como agora são demasiadas pessoas a expressar opiniões pessoais e que podem alimentar medos excessivos, bem como comportamentos exagerados (como encher o frigorífico com comida fresca). Na procura de informação, que actualmente depende demasiado facilmente da inclusão de palavras-chave em algum motor de busca, é essencial ter em mente uma escala de fiabilidade de fontes como Organização Mundial de Saúde, Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças e os departamentos nacionais responsáveis de cada país; peritos reconhecidos a nível internacional e nacional que exprimem frequentemente as suas opiniões pessoais com base na sua experiência e não em dados e para as restantes fontes de informação, a fiabilidade parece insuficiente para as considerar algo mais do que uma opinião pessoal. É de não esquecer que se deve ouvir apenas informação de fontes fiáveis. Que especialistas ouvir em caso da pandemia? Devem ser os peritos mais adequados para interpretar factos e dados são os epidemiologistas, infectologistas, imunologistas e virologistas. A experiência adequada em investigação científica fomenta o desenvolvimento de uma mente crítica apropriada que, embora não isente tais peritos de pré-julgamentos, pode ajudá-los a ter uma visão mais realista e completa do contexto. Neste sentido, o cientista especialista não decide mas tenta informar correctamente, traduzindo os dados em informação compreensível para não especialistas, ou seja, cidadãos e instituições, que em vez disso devem tomar as decisões mais adequadas, com base em informação mais próxima da verdade. É de lembrar que a fim de obter informações correctas, devemos recorrer a cientistas especializados que nos informem e nos ajudem a tomar as decisões mais adequadas. Melhores dados ou opiniões? As opiniões pessoais, mesmo de figuras de autoridade no campo médico-científico ou de pessoas respeitadas no mundo político, tendem a ser superficiais, se não forem apoiadas por uma interpretação correcta dos dados. Números, modelos matemáticos, previsões estatísticas são ferramentas úteis para melhorar as opiniões, torná-las mais fiáveis e úteis para esclarecer a verdadeira extensão de um perigo. É importante não dar demasiada importância às opiniões e ler os dados e factos tentando tomar a sua decisão. Qual deve ser o nosso comportamento face ao perigo de contágio? Quando somos confrontados

com um perigo, não só activamos as nossas emoções negativas, como também activamos automaticamente três comportamentos defensivos que são a imobilização, luta e fuga. Face a um perigo grave e iminente, paralisamo-nos, na esperança de que o inimigo não nos veja. Quando pensamos que o perigo é demasiado grande para ser combatido, então fugimos; quando pensamos que temos a força para o enfrentar e ultrapassar, então lutamos. Estes comportamentos, como a história do desenvolvimento evolutivo do homem e dos seres vivos diz-nos, provaram ser os mais eficazes para a sobrevivência. É de recordar que estar zangado e triste com a pandemia é normal e deve ser aceite. Outro sentimento que nos acompanha durante a emergência pandémica é a perplexidade, a sensação de que o tempo parou. Esta novidade perturbadora e incerta, este sentimento de ser confrontado com um perigo real mas também não bem definido, a quebra dos nossos hábitos, a impossibilidade de planear o futuro próximo, desencadeia em todos nós, uma das reacções mais típicas do medo, a imobilização. Quando somos confrontados com um perigo, o nosso cérebro está predisposto a activar três mecanismos de defesa a luta, fuga ou imobilização. A luta é activada quando somos confrontados com um perigo que podemos vencer, que de alguma forma sabemos enquadrar e sentir que podemos vencer; a fuga é activada quando somos confrontados com um perigo conhecido e claramente superior às nossas forças. A imobilização, que é frequentemente a primeira reacção face a um perigo inesperado, está ligada precisamente à incerteza sobre o inimigo que temos de enfrentar e à impossibilidade de avaliar qual é a melhor estratégia, seja para lutar ou para fugir. A imobilização traduz-se em perplexidade, abrandando a sensação de tempo, incerteza e espera. Este estado de suspensão cria uma espécie de silêncio interior que nos permite aguçar os sentidos e a mente em busca da informação e das pistas que podem lançar luz sobre o perigo que temos de enfrentar, planeando a acção mais apropriada para activar, a luta ou a fuga. Tentamos compreender o que está a acontecer, quais são os riscos, qual é a força do inimigo que temos de enfrentar, quais são os nossos recursos, com quem podemos contar e, no caso específico da COVID-19, tentamos compreender como é transmitida, quem a pode transmitir, como nos podemos defender e prevenir da infecção, como as instituições nos podem ajudar, como fazer as compras correctamente, como trabalhar eficazmente no trabalho inteligente, e assim por diante. Há muitas perguntas que precisamos de fazer a nós próprios para termos uma imagem suficientemente clara que nos permita agir. Sentimo-nos “entre cores que estão suspensas”, nas palavras de Dante em O Inferno, e esperamos que a natureza, a ciência, os médicos e, porque não, também Deus, nos dêem a sensação de certeza e previsibilidade necessárias para voltar a planear o futuro e a agir.


A liberdade que há no capitalismo é a do cão preso de dia e solto à noite.

TIAGO ALCÂNTARA

Futebol Messi recusa treinar no FC Barcelona

Índia Prédio desabado na segunda-feira fez 16 mortos

O

futebolista argentino Lionel Messi recusa-se a treinar com o restante plantel do FC Barcelona, numa altura em que pretende rescindir unilateralmente o contrato que tem com o emblema catalão até Junho de 2021. “Messi comunicou-nos que não irá comparecer aos treinos. Estamos a falar com o jogador e estamos a tentar arranjar a melhor solução para o clube e também para o próprio Messi”, disse o director desportivo do FC Barcelona, Ramons Plantes. O dirigente catalão falava aos jornalistas durante a apresentação de Trincão, contratado esta época ao Sporting de Braga, numa conferência de imprensa virtual em que a chegada do extremo português foi ‘ofuscada’pelo tema Messi. “É preciso ter um respeito enorme pelo Messi e pela sua história no clube. Esse casamento trouxe muita alegria a todos. Estamos a conversar e queremos arranjar a melhor solução possível. Queremos um ‘Barça’ vencedor com Messi, que é um vencedor”, disse Plantes. Até domingo, os jogadores do FC Barcelona vão ser testados à covid-19 e, na segunda-feira, a formação catalã inicia a pré-temporada. Na terça-feira, o internacional argentino comunicou ao FC Barcelona a intenção de rescindir unilateralmente, com os seus advogados a informarem o clube que o jogador pretende deixar a Catalunha já neste Verão, ao abrigo de uma cláusula que consta do seu contrato e que expirou em 10 de Junho.

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A imprensa espanhola revela que o contrato de Messi inclui uma cláusula que lhe permite rescindir unilateralmente o contrato no final de cada temporada, embora com um prazo definido para o fazer. Neste caso, o FC Barcelona alega que o prazo expirou em 10 de Junho, pelo que considera que o contrato do avançado, de 33 anos e que tem uma cláusula de rescisão de 700 milhões de euros, é válido até 30 de Junho de 2021. Os ingleses do Manchester City e os italianos do Inter de Milão têm sido apontados como possíveis destinos do ‘astro’ argentino, que chegou ao FC Barcelona em 2000, com apenas 13 anos.

quinta-feira 27.8.2020

PALAVRA DO DIA

Agostinho da Silva

A

Lam, comerciante “A meu ver, o valor de negócio não vai rapidamente aumentar porque os vistos são só para a província de Guangdong e a maioria dos turistas vem para Macau só para jogar.”

Gatos escaldados Lojistas de Macau duvidam que reinício de vistos turísticos tragam retoma

C

OMERCIANTES do centro histórico de Macau ouvidos pela Lusa duvidam que a vaga inicial de vistos da província vizinha de Guangdong, responsável pela maioria do mercado turístico chinês, garanta a retoma do turismo, devastado pela pandemia. Na Rua Pedro Nolasco da Silva, a poucos metros do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e da sede da Casa de Portugal em Macau, o senhor Lam, dono de uma loja dos famosos chás, tem o seu estabelecimento praticamente sem clientes e não augura grandes mudanças. “A meu ver, o valor de negócio não vai rapidamente aumentar porque os vistos são só para a província de Guangdong e a maioria dos turistas vem para Macau só para jogar”, conta à Lusa. “A abertura de vistos é uma boa notícia, mas não sei se é fácil serem aprovados”, disse. Neste momento, admite, as suas receitas dão apenas para pagar o aluguer do pequeno espaço, o salário aos funcionários, electricidade e água. Nem o facto de ser período de férias, nem os cartões de consumo que o Governo deu aos residentes para ser gasto no comércio local,

ajudou: “Pensava que o negócio ia melhorar, mas …”, desabafa, sem acabar a frase. Lam sabe que se a situação se mantiver estável em termos de contágios, a China planeia autorizar em todo o país a emissão de vistos turísticos para Macau a partir de 23 de Setembro e isso deixa-o moderadamente confiante: “Se a situação da pandemia melhorar no futuro há mais abertura de vistos para mais províncias, mas mesmo assim o negócio não vai aumentar nos próximos dois, três meses”. A tónica do discurso dos vários comerciantes ouvidos pela Lusa foi praticamente sempre a mesma: expectantes, pouco esperançados, a pedirem mais apoios ao Governo e a desejar que 23 de Setembro traga a luz verde para a emissão dos vistos em toda a China.

VISTAS LARGAS

Um pouco mais à frente, já no coração do centro histórico, a Rua de São Paulo, que alberga as famosas ruínas, está praticamente vazia, com apenas alguns residentes de férias ou a aproveitarem o fim da hora de almoço. Nesta zona, provavelmente a mais movimentada do território e que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes, um funcionário da loja Feng Cheng

Recordação Macau diz que até agora só vendeu 10 por cento em relação ao ano anterior. O número avançado pelo funcionário está em sintonia com os últimos valores avançados pelo Governo: o número de visitantes em Macau caiu mais de 90 por cento em Junho e 83,9 por cento no primeiro semestre, nos primeiros sete meses do ano as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8 por cento e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre foi de 58,2 por cento. “O valor agora pode aumentar agora um pouco com os vistos, mas acho que é impossível voltar para o nível do mesmo período do ano passado”, aposta. Até porque, explica, mesmo com a emissão de vistos, “há uma série de limitações para passar a fronteira, como a obrigação de fazer o teste de ácido nucleico e usar máscara”. Em frente a este estabelecimento de recordações, a loja Kin Seng Mobílias encontra-se também sem clientes e a viver a mesma incerteza. “Por causa da epidemia quase não há nenhum negócio”, evidencia a proprietária, a senhora Sio, atirando logo de seguida: “espero que a situação melhore e com isso mais províncias tenham vistos para cá”.

S equipas de resgate concluíram ontem os trabalhos de procura de sobreviventes entre os escombros do edifício que desabou na segunda-feira no oeste da Índia, causando 16 mortes e nove feridos. “A operação de busca e resgate, que começou imediatamente depois do acidente” na tarde de segunda-feira na localidade de Mahad, no Estado de Maharashtra, foi ontem concluída, segundo o porta-voz da administração do distrito de Raigad, Manoj Shivaji Sanap, em declarações à agência espanhola Efe. Ontem foi recuperado o último corpo dos escombros, de uma mulher de 63 anos, elevando o total de vítimas para 16 mortos e nove feridos, dos quais cinco já tiveram alta hospitalar, explicou o porta-voz. Para trás ficaram os momentos de euforia como o que aconteceu na terça-feira, quando as equipas de resgate encontraram um menino de quatro anos vivo depois de passar 19 horas sob os escombros. As causas do incidente estão ainda por apurar, embora o desmoronamento de edifícios seja comum na Índia durante a época das monções. O imóvel demorou dez anos a ser construído em fundações “instáveis”, declarou à cadeia de televisão TV9 Marathi, um antigo deputado de Mahad, Manik Motiram Jagtap. “[O edifício] desmoronou-se como um baralho de cartas. Foi assustador”, sublinhou.


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