Hoje Macau 28 JAN 2021 #4699

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Xi elogia Macau e promete mais apoios

Fringimento por toda a cidade

hoje macau Nº 4699

QUINTA-FEIRA 28-1-2021 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

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MOP$10

MERKEL “FELIZ” COM ACORDO UNIÃO EUROPEIA-CHINA. MAS HÁ“VALORES” POR RESOLVER SOFIA MARGARIDA MOTA

Harmonia à portuguesa

O embaixador de Portugal em Pequim afirmou que os portugueses podem ajudar a limar arestas entre a União Europeia e a China. Porque, afinal, são 500 anos de relações e o sucesso da transferência de Macau. A experiência é um posto PÁGINA 10

Basílica de VelhaLIÇÕES Goa em risco. Arquitecto pede socorro CONTRA EXTERMINADORES EM LISBOA PANDEMIA LUSÓFONA ÚLTIMA SAUTEDÉ DERROTADO NOVO MACAU

ADVOCACIA

TRIBUNAL

FOTOGRAFIA

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EVENTOS


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28.1.2021 quinta-feira

SCMP

2 grande plano

CONSELHO DE ESTADO LÍDER ANTI-CORRUPÇÃO EM GUANGDONG SERÁ Nº2 DO GABINETE DE HK E MACAU

Disciplina regional

Enquanto trabalhou na província de Guangdong, Shi Kehui manteve encontros com o Comissário contra a Corrupção de Macau, Chan Tsz King

O Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado será reforçado com Shi Kehui, que vai ocupar o cargo de vice-director. Depois de liderar a entidade de combate à corrupção na província de Guangdong, Shi Kehui volta a ser o braço direito de Xia Baolong. O novo número dois do gabinete, descrito como eficiente e obcecado pelo trabalho, chega para reforçar a “nova era”


quinta-feira 28.1.2021

A

instabilidade política e os protestos que abalaram Hong Kong continuam a provocar réplicas ao nível institucional, nos organismos que ligam a política de Pequim às regiões administrativas especiais. A mais recente mudança vai trazer para o delta do Rio das Pérolas Shi Kehui, de 59 anos, que vai ocupar o cargo de vice-director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, de acordo com notícia publicada no South China Morning Post. Seguindo a linha dura que Pequim quer traçar para as regiões administrativas especiais, Shi Kehui foi transferido do organismo responsável pela luta contra a corrupção na província de Guangdong para desempenhar um papel semelhante no gabinete do Conselho de Estado. No novo posto irá encontrar um velho conhecido, Xia Baolong, que foi nomeado em Fevereiro de 2020 como director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado. A nomeação surge na sequência da reforma de Pan Shengzhou, que desde Junho de 2017 esteve à frente da inspecção de disciplina no gabinete. Importa referir também que o antigo número dois já ultrapassou a idade da reforma, 60 anos, há três anos. A notícia foi dada pela imprensa oficial de Guangdong, que reportou ter o Comité Permanente da Assembleia Popular de Guangdong aceite o pedido de demissão de Shi Kehui do cargo que exercia na província vizinha. O diário de Hong Kong descreve que Shi passou grande parte da sua carreira política na província de Zhejiang, incluindo uma breve passagem como secretário do antigo líder do Partido Comunista da China na província, Zhao Hongzhu, homem que substituiu Xi Jinping depois do, à altura ainda futuro Presidente, ter sido transferido para Xangai. Mais tarde, Zhao acabaria por chegar a número dois da Comissão Central para a Inspecção Disciplinar, a entidade partidária responsável para luta contra a corrupção e que um ponto de solidez na inconstada liderança de Xi Jinping à frente dos destinos da China.

Um percurso com Xia

Depois de mais de dois anos enquanto número 2 do

grande plano 3

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“O trabalho disciplinar relativo a Hong Kong e Macau não pode ser desenvolvido da mesma forma que é no interior da China. Apesar de ser baseado no mesmo princípio, é necessária maior flexibilidade e equilíbrio.” LI XIAOBING ACADÉMICO DA UNIVERSIDADE DE NANKAI

gabinete dirigido por Xia Baolong na província de Zhejiang, Shi passou para a Comissão Central para a Inspecção da Disciplinar, onde o seu desempenho lhe valeu promoções até se tornar vice-secretário geral e director do gabinete-geral, às ordens do actual vice-Presidente chinês Wang Qishan, um percurso sempre foi muito próximo de Xi Jinping. Citado pelo South China Morning Post, um funcionário do Governo de Guangdong descreve Shi como um homem obcecado com o trabalho, eficiente e motivado pela conquista de objectivos. “Ele define padrões elevados e torna natural o trabalho extraordinário, fora do horário, uma vez que examinava de pormenor os relatórios submetidos pelos subordinados, verificando se perdíamos chamadas, pistas ou detalhes”, referiu o funcionário, que não se quis identificar por não estar autorizado a falar à comunicação social.

Contacto com a região

De acordo com a imprensa regional de Guangdong, enquanto trabalhou na província, Shi Kehui manteve encontros com o Comissário contra a Corrupção de Macau, Chan Tsz King e o líder da Comissão

“Shi Kehui definiu padrões elevados e torna natural o trabalho extraordinário, fora do horário. Examinava ao pormenor relatórios dos subordinados, verificando se perdíamos chamadas, pistas ou detalhes.” FUNCIONÁRIO DO GOVERNO DE GUANGDONG

Independente contra a Corrupção, Simon Peh Yun-lu. Um académico da Universidade de Nankai, em Tianjin, traçou alguns dos desafios que o vice-director de gabinete do Conselho de Estado terá nas novas funções. Citado pelo diário de Hong Kong, Li Xiaobing, professor de Direito, especialista nos assuntos de Hong Kong, destaca a sensibilidade que Pequim tem de usar neste tipo de nomeações. “O trabalho disciplinar relativo a Hong Kong e Macau não pode ser desenvolvido da mesma forma que é no interior da China. Apesar de ser baseado no mesmo princípio, é necessária maior flexibilidade e equilíbrio em Hong Kong”, comentou. Porém, o académico considera que Shi tem todas as condições para desempenhar o seu cargo com eficiência, uma vez que os quase cinco anos em Guangdong deram-lhe um conhecimento mais próximo das regiões administrativas especiais e, acima de tudo, por ter o selo de aprovação tanto da Comissão Central para a Inspecção da Disciplinar, como do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado.

Razia do ano

A Xinhua avançou ontem que a Comissão Central de Inspecção Disciplinar do Partido Comunista da China (PCC) e a Comissão Nacional de Supervisão que 197.761 funcionários do aparelho partidário foram punidos no ano passado por violarem as regras de frugalidade. De acordo com um comunicado conjunto, os suspeitos que recaíram sobre os quase 200 mil funcionários resultaram da investigação a 136.203 casos. Durante o passado mês de Dezembro, foram punidos 26.922 funcionários, envolvidos em 18.505, incluindo 125 no nível subregional ou equivalente, e 1.316 no nível distrital ou equivalente, de acordo com o comunicado. Entre os funcionários punidos no mês, 14.134 foram acusados de práticas de burocratismo ou formalidades desnecessárias, com 9.356 casos resolvidos. Também em Dezembro de 2020, as autoridades investigaram 9.149 casos de hedonismo e conduta extravagante, como dar ou aceitar presentes, concessão de subsídios ou bónus não autorizados e uso indevido de fundos públicos para banquetes, com 12.788 funcionários penalizados, segundo informação veiculada pela agência Xinhua.

PUB.

EDITAL N.º 01/DSO/2021 Processo n.º 507.05 Assunto: Notificação do dia final de despejo Local: Terreno situado, junto à Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, na ZAPE, designado por quarteirão 1- lote “D”, com a área de 2 782 m2, demarcado e assinalado pelas letras “A” e “B” na planta cadastral n.º 5 18/1989, de 11 de Janeiro de 2021. Chan Pou Ha, directora da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, nos termos do n.o 2 artigo 72o do «Código do Procedimento Administrativo» faz saber, por este meio, à «Good Harvest – Comércio e Fomento Predial, Lda», bem como aos demais ocupantes desconhecidos, o seguinte: 1. Através do ofício desta Direcção de Serviços n.º 0477/507.05/DSO/2020 de 14 de Julho, foi notificada a «Good Harvest – Comércio e Fomento Predial, Lda» do despacho do Secretário para os Transportes e Obras Públicas de 08 de Julho de 2020, que ordenou à mesma que no prazo de 60 dias, a contar da data de recepção do ofício citado, procedesse ao despejo do terreno em epígrafe, informando ainda de que as benfeitorias por qualquer forma incorporadas no terreno revertem para a Região Administrativa Especial de Macau, livre de quaisquer ónus ou encargos, sem direito a qualquer indemnização. 2.

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4. 5.

Dado que não desocupou o terreno no prazo fixado, nos termos do n.º 2 do artigo 179.º da Lei n.º 10/2013 «Lei de terras» e do artigo 56.º do Directo-Lei n.º 79/85/M «Regulamento Geral da Construção Urbana», esta Direcção de Serviços irá proceder coactivamente à execução substituta do despejo a partir de 1 de Março de 2021 com os outros Serviços Públicos e com a colaboração das Forças de Segurança de Macau. As respectivas despesas constituirão encargos dos interessados. De acordo com os artigos 8.º e 9.º do «Código do Procedimento Administrativo» comunica-se aos interessados que as despesas de execução do despejo do terreno mencionado poderão atingir as $400.000 (quatrocentas mil patacas), mas as despesas exactas serão definidas de acordo com o montante de liquidação da obra que tem a ver com o nível de complexidade da obra, a quantidade de objectos existentes nas parcelas, a inflação, etc. Para efeitos do cálculo das referidas despesas de execução substituta, a acção de despejo não pode ser cancelada quando tenha sido iniciada. Para mais informações, os interessados podem, munidos do seu documento de identificação, dirigir-se pessoalmente ao Departamento de Gestão de Solos da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, situado na Estrada de D. Maria II n.º 33, 18.º andar, durante o horário de expediente. A Directora de Serviços Chan Pou Ha 20 de Janeiro de 2021


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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA SULU SOU RECORRE PARA PLENÁRIO APÓS NEGA DA MESA SOBRE VOTO DE CENSURA

Sulu Sou apresentou novamente recurso para tentar levar a discussão a emissão de um voto de censura a Edmund Ho e Francis Tam, no âmbito do caso Viva Macau. O deputado frisa que é uma acção “plenamente legítima”, depois da Mesa ter defendido que a proposta excede as competências constitucionais da Assembleia Legislativa

Terceiro A assalto

RÓMULO SANTOS

Mesa da Assembleia Legislativa (AL) considerou que a AL não tem poderes para censurar governantes. “A Lei Básica não confere expressamente à Assembleia Legislativa o poder de censurar o Chefe do Executivo da RAEM e os governantes sob a sua liderança”, argumenta numa deliberação contra um recurso apresentado por Sulu Sou. O deputado pretendia apresentar na AL um voto de censura à actuação do antigo Chefe do Executivo, Edmund Ho e antigo secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, no caso da Viva Macau. Sulu Sou está agora a recorrer da deliberação da Mesa para Plenário. O documento já foi admitido na AL. “A emissão de um voto de censura da Assembleia Legislativa aos actos irregulares do Chefe do Executivo e dos governantes é plenamente legítima”, descreve o deputado. A deliberação da Mesa apoiou uma decisão anterior do presidente da AL, Kou Hoi In, em rejeitar a proposta. O órgão defende que o projecto excede as competências constitucionais da Assembleia Legislativa e que o plenário é “incompetente” para iniciar o procedimento proposto por Sulu Sou. Mencionando artigos da Lei Básica, argumenta que o Governo responde à AL nas situações de fazer cumprir as leis em vigor, apresentação periódica de relatórios sobre a execução das linhas de acção governativa e responder às interpelações dos deputados. No novo recurso, Sulu Sou critica a Mesa por repetir “os fracos argumentos” invocados inicialmente. Além disso, descreve uma emissão de voto ou censura como uma “expressão unilateral de sentimentos”, rejeitando que

Moradores vão promover integração na Grande Baía A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) promete continuar empenhada na integração de Macau na Grande Baía, com a abertura de centro de serviços em diferentes localidades. O compromisso foi assumido

pela nova presidente Ng Sio Lai, numa reunião com o Chefe do Executivo que decorreu na terça-feira. No mesmo encontro, a associação destacou como principais preocupações da população o combate à pandemia, economia e habita-

ção. Por sua vez, o Chefe do Executivo realçou que tanto o Executivo como os Moradores têm “têm por objectivo servir a população de Macau” e elogiou os esforços de oferta de diferentes serviços sociais no Interior.

Li Keqiang ouviu apresentação de Ho Iat Seng O Primeiro Ministro do Conselho de Estado, Li Keqiang, ouviu a apresentação do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, sobre os trabalhos desenvolvidos em Macau, através de videochamada. Segundo o canal chinês da rádio da TDM, a reunião realizou-se ontem de manhã, no Ziguang Hall, em Zhong-

nanhai. O vice-primeiro-ministro, Han Zheng, o secretário-geral do Conselho de Estado, Xiao Jie e o Chefe do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho do Estado, Xia Baolong também participaram. Li Keqiang também ouviu a apresentação de Carrie Lam.

implique uma resposta do Governo ou faça parte do sistema de controlo de poderes. O deputado questiona ainda os critérios em que se aceitam emissões de voto, recordando que numa sessão plenária de 2009 foi aprovado um projecto conjunto de vários deputados para emitir um voto de agradecimento a Edmund Ho. “Em relação a essa pessoa, a Assembleia Legislativa só pode manifestar agradecimento e não censura?”, indaga.

Corrigir o passado

Para “defender a dignidade do hemiciclo”, o deputado entende que as decisões anteriores têm de ser “corrigidas”. Sulu Sou descreve as acções de Kou Hoi In e da Mesa como “absurdos”, acusando-os de “pretextos infundados” para não permitirem o voto de censura contra as figuras governativas em causa e o Governo da RAEM de então.

“Em relação a essa pessoa (Edmund Ho), a Assembleia Legislativa só pode manifestar agradecimento e não censura?” SULU SOU “Assim, dificilmente se consegue afastar a convicção de que o objectivo seja salvaguardar a face dos visados, evitando que o caso escandaloso dos empréstimos à Viva Macau volte a ser alvo de atenção da sociedade e fazendo com que sejam significativamente enfraquecidas as funções da Assembleia Legislativa de efectivar a responsabilização política junto do Governo da RAEM e do pessoal envolvido”, descreve. Salomé Fernandes

GCS

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Uma mãozinha, por favor

Pereira Coutinho quer Governo a investigar queda de azulejos no Ip Heng

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OSÉ Pereira Coutinho entregou ontem uma petição a pedir para o Chefe do Executivo mandar averiguar os motivos para a queda de ladrilhos nas casas económicas do Edifício Ip Heng, e ajudar a resolver o problema. O deputado frisou que a questão está relacionada com a segurança dos moradores, apontando que a queda de ladrilhos acontece anualmente e se tem “vindo a arrastar desde 2013”. “Não há maneira de encontrar uma solução para esse problema, ninguém nos diz afinal porque é que todos os anos só nesses edifícios é que caem os ladrilhos”, disse aos jornalistas. Além de uma averiguação sobre o que leva à queda dos ladrilhos, Pereira Coutinho pede ao Chefe do Executivo para “estender a mão”, apesar de o prazo de validade para a manutenção dos edifícios já ter terminado e passado a ser da responsabilidade dos moradores. No seu entender, está em causa uma questão de segurança. O deputado indicou que a empresa de manutenção da segurança do edifício identificou os azulejos que nos próximos dias poderão cair, lamentando a falta de atenção do Governo. “Será necessário que alguma coisa de grave aconteça aos

Elogios presidenciais Xi Jinping felicita Macau e fala de “execução da lei de segurança nacional” já existente. Não de a alterar

para a acção governativa no controlo e prevenção da epidemia e desenvolvimento socioeconómico.

Lei para “executar”

Xi referiu também que o Governo Central apoiará o aperfeiçoamento do regime jurídico e do “mecanismo de execução da lei relativa à defesa da segurança do Estado”, lê-se num comunicado do Gabinete de Comunicação Social, o que pode indicar que não existirão alterações substanciais à lei vigente. O presidente, contudo, não se esqueceu de pedir a aceleração da diversificação económica e promoção do princípio “um país, dois sistemas” com características próprias de Macau, continuando com a sua implementação bem-sucedida. Por seu lado, o Chefe do Executivo manifestou os seus sinceros agradecimentos ao Governo Central pela atenção e apoio concedidos a Macau e comprometeu-se a “continuar a unir e liderar todos os sectores sociais, cumprindo escrupulosamente a responsabilidade constitucional de defesa da soberania e segurança e interesses de desenvolvimento do país”. Quanto ao 14º Plano Quinquenal Nacional, Ho Iat Seng referiu que irá empenhar-se em abrir um novo capítulo na aplicação do princípio “um país, dois sistemas” com características próprias de Macau.

Dificuldades financeiras

A acompanhar Pereira Coutinho estavam moradores da habitação económica do Edifício Ip Heng. Alguns dos presentes relataram problemas económicos por parte dos moradores, dado que muitas pessoas perderam o emprego e os seus rendimentos. Chan Ut Pou alertou que os moradores não têm capacidade financeira para pagar as reparações. Ao descrever a situação dos edifícios, mencionou que os azulejos caem das paredes “todos os anos, durante o In-

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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Presidente da China, Xi Jinping, elogiou ontem as medidas tomadas pelas autoridades de Macau para controlar a pandemia de covid-19 no território, felicitando igualmente o executivo pelas ações para relançar a economia. "Ao mesmo tempo que se preveniu e controlou a epidemia de covid-19, foram tomadas medidas eficazes para restaurar a economia e superar as dificuldades da população", disse Xi Jinping ao chefe do executivo de Macau, Ho Iat Seng, citado pela Xinhua. "Essas medidas têm alcançado resultados positivos e promovido a harmonia social em Macau", elogiou o chefe de Estado, acrescentando que "as autoridades centrais reconhecem plenamente o trabalho" desenvolvido pelo executivo do território. As declarações foram feitas após uma reunião por vídeo entre Xi Jinping e Ho Iat Seng, durante a qual o chefe do executivo da RAEM apresentou um relatório sobre o trabalho desenvolvido pelo governo da RAEM em 2020 e sobre a actual situação no território. Xi Jinping frisou ainda que “o poder central sempre zelou pelo bem-estar dos compatriotas de Macau e o desenvolvimento do território”, acrescentando que irá continuar a prestar todo o apoio à RAEM para que implemente as orientações gerais

moradores, nomeadamente idosos e menores, que lhes caia um ladrilho na cabeça ou apanhem por ricochete, para darem atenção?”, questionou. Assim, acrescentou que se pretende “que o Governo assuma responsabilidades”. Pereira Coutinho considera que há um problema na qualidade da construção de habitação pública no território. “Sem margem de dúvida que as construções das obras públicas em Macau foram sempre deficientes, (...) e depois as empresas que são contratadas para fiscalizar essas obras públicas são também empresas das próprias construtoras ou então cujos sócios pertencem umas às outras. Ou seja, é tudo em família”, descreveu.

verno” e que quando está frio é possível ouvir a sua queda mesmo estando a dormir ou a cozinhar. “Isto é muito perigoso para nós”, disse a moradora, revelando-se preocupada com a segurança dos idosos, bebés e crianças. “Esperemos que o Governo nos ajude a resolver este problema”, lançou Chan. Em meados deste mês, o Instituto de Habitação (IH) comunicou que, como o prazo de garantia do Edifício do Lago e do Edifício Ip Heng já terminou, têm de ser os proprietários a responsabilizar-se pela reparação das partes comuns do edifício. Recorde-se ainda que o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) abriu uma investigação sobre a queda de azulejos de alguns andares do Edifício do Lago, na Taipa, estando a investigar o Instituto da Habitação e o Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas.

Substituição no Edifício do Lago aprovada

Entretanto, na terça-feira, o Instituto de Habitação (IH) publicou um anúncio no Edifício do Lago a indicar que foi aprovada a substituição de azulejos de alguns andares, por caírem frequentemente. A decisão foi tomada na reunião de condomínios do Edifício do Lago. Segundo o jornal Ou Mun, isto significa que a abstenção do IH nas reuniões de condomínio não influencia o resultado das votações. Ao mesmo tempo, o IH garante que está a contactar com a empresa de gestão do edifício e o conselho dos condomínios para realizar em breve uma reunião, com vista a discutir o plano para substituir os azulejos. Em declarações ao jornal Ou Mun em meados de Janeiro, o IH apontou que para respeitar as decisões dos condomínios por norma só se abstém. S.F.

PROPOSTO VOTO DE PESAR PELA MORTE DE VÍTOR NG

O

deputado Pereira Coutinho apresentou àAssembleia Legislativa (AL) uma proposta de voto de pesar pelo falecimento de Vítor Ng, ex-deputado e ex-presidente da Fundação Macau (FM), que faleceu no domingo aos 90

anos de idade. Na sua proposta, Pereira Coutinho destaca o facto de Vítor Ng Wing Lok ter sido “um respeitado político e empresário, tendo granjeado uma enorme reputação na sociedade com a sua frontalidade e forte personalidade”.

“Tendo em consideração a sua figura marcante na sociedade macaense ao longo de mais de quatro décadas crê-se que é totalmente justificável e adequado que este hemiciclo manifeste o seu voto de pesar”, justifica ainda o deputado.

Em comunicado, a FM exprimiu “o profundo pesar” pela morte de Vítor Ng, tendo agradecido “o seu contributo “para o desenvolvimento desta Fundação durante os seus mandatos, tendo constituído uma base sólida para a Funda-

ção poder entrar na sociedade e apoiar vários trabalhos destinados a promover e assegurar o desenvolvimento a longo prazo de Macau”. Vítor Ng “desempenhou um papel muito relevante tanto na reestruturação da

FM como na consolidação da base fundamental para o desenvolvimento da mesma”, adianta ainda a entidade. Foi também destaca a sua acção no projecto de reconstrução de Sichuan pós-terramoto, entre outros projectos.


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TIAGO ALCÂNTARA

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Migração IPIM invalidou dois pedidos de residência

TRABALHO CORTES SALARIAIS AFECTARAM 2450 TRABALHADORES

Crise? Qual crise?

Segundo os dados da DSAL, o número de conflito entre trabalhadores e patrões sofreram uma quebra. Já um acidente com três vítimas mortais por desrespeito da legislação de segurança foi punido com multa de 38 mil patacas.

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M total de 2.450 trabalhadores sofreu cortes salariais no ano passado, segundo os números revelados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Os dados foram avançados ontem, durante uma conferência de imprensa sobre segurança no trabalho, e mostra uma redução nos conflitos laborais entre patrões e empregados. “A lei exige que para haver redução do ordenado é necessário informar a DSAL. Houve 214 notificações, que incluem 156 empresas e 2.450 trabalhadores”, disse Lei Sio Peng, chefe substituta do Departamento de Inspecção do Trabalho da DSAL. “No número

de trabalhadores afectados, 1.102 sofreram uma redução directa do salário, que afectou profissionais de áreas como o comércio por grosso e retalho, transportes e armazenamento e ainda engenheiros, arquitectos e marinheiros”, complementou. Ao mesmo tempo, 1.348 trabalhadores tiveram cortes no salário de forma indirecta, ou seja que não afectaram o salário base, através de reduções em outros componentes, como subsídios. Apesar de 2020 ter ficado marcado pela pandemia e os consequentes impactos para a economia, o número de queixas por conflitos laborais registou uma redução. Em 2020 houve 1.519

processos a entrar na DSAL, uma redução de 12,1 por cento face a 2019, quanto tinham sido registadas 1.729 queixas. Segundo Lei Sio Peng, a DSAL não tem dados que permitam justificar a redução com medo de perder o emprego. “Se eles têm medo e se é por isso que não fazem queixa, a DSAL não consegue saber [...] Mas, fazemos sempre todos os esforços para manter as relações laborais harmoniosas”, acrescentou.

38.500 patacas por três mortes

Nos números apresentados ontem foi igualmente indicado que em 2020 se registaram quatro mortes em dois acidentes de trabalho causados pelo

desrespeito das leis de segurança e saúde ocupacional. Todas as mortes ocorrem na área da construção civil. Num caso ocorrido em Março, três trabalhadores foram esmagados pela queda de vários andaimes e a empreiteira foi multada em 38.500 patacas. “Nos últimos anos a situação tem melhorado”, começou por considerar Lam Iok Chong, chefe do Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional. “Mas, não podemos relaxar as inspecções nem a aplicação das medidas de segurança, se relaxarmos vai haver mais mortes”, destacou. O segundo acidente ocorreu em Dezembro, durante a escavação de uma vala, na Taipa, em que um homem acabou soterrado, após o desabamento de terra. Neste caso, os procedimentos de investigação ainda não foram concluídos.

A DSAL não tem dados que permitam justificar a redução com medo de perder o emprego No que diz respeito à área da construção civil foram totalizadas 559 mil patacas em multas por desrespeito da legislação de segurança. No mesmo período foram impostas 15 ordens de suspensão dos trabalhos, entre as quais sete a obras encomendadas pelo Governo. João Santos Filipe

Em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) indicou que se for descoberto que alguém obteve o bilhete de identidade de residente (BIR) por meios ilícitos, o caso é encaminhado para a Polícia Judiciária. O presidente do IPIM, Lau Wai Meng apontou também que quando o tribunal determina que houve infracções, o IPIM pode não aprovar os pedidos de renovação de residência ou até invalidar o BIR do interessado. Estas medidas foram usadas pelo IPIM em dois casos, entre Novembro de 2015 e Novembro de 2020, depois do tribunal ter confirmado a existência de ilegalidades. Por outro lado, Lau Wai Meng avançou que o IPIM está a estudar alterações à legislação relevante, tendo por referência as medidas de política de imigração de diferentes países e regiões.

Fundação Macau Excursões locais obtiveram quase 40 milhões

A Fundação Macau atribuiu, no quarto trimestre de 2020, quase 40 milhões de patacas para três associações do sector do turismo desenvolverem o programa “Vamos! Macau! Excursões Locais”, implementado como resposta à crise devido à pandemia da covid-19. Segundo dados publicados ontem em Boletim Oficial, a Associação das Agências de Viagens de Macau recebeu 14,1 milhões de patacas, enquanto que a Associação das Agências de Turismo de Macau e a associação da Indústria Turística de Macau receberam, cada uma, 12,7 milhões de patacas. No total, a Fundação Macau atribuiu, no quarto trimestre do ano passado, cerca de 290 milhões de patacas a dezenas de entidades do sector educativo, económico e cultural.


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CRISE PANDÉMICA E RESTRIÇÕES EXPLICAM QUEBRA NO NÚMERO DE JUNKETS

Menos a jogo Existem actualmente 85 promotores de jogo em actividade, o número mais baixo em 15 anos. Dois analistas defendem que, tendo em conta a crise pandémica e as restrições impostas ao jogo VIP, e também pelas autoridades chinesas face à circulação de capital, a tendência será sempre de quebra no número de junkets com licença para operar

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ADOS divulgados esta quarta-feira em Boletim Oficial (BO) pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) revelam que o número de junkets é hoje o mais baixo dos últimos 15 anos. Actualmente apenas 85 promotores de jogo têm licença para operar, menos 12 em relação a 2019. Em 2006 o número de junkets a operar no território era de 78. Albano Martins, economista, viu os números e lembra que, dos 85 promotores, 51 são sociedades unipessoais, enquanto que nove são pessoas singulares e há apenas uma sociedade anónima, ou seja, com um capital social acima de um milhão de patacas. As restantes são sociedades por quotas. “A estrutura está muito concentrada em determinado tipo de pessoas que poderão não ter passado no teste ao nível do branqueamento de capitais. Podem não ter capacidade

suficiente ou não ser fácil operar com mais controlo por parte das autoridades”, apontou. Mas há ainda a crise pandémica, que afastou do território os jogadores responsáveis pelas grandes apostas, e as restrições impostas pelas autoridades chinesas relativamente à saída de capitais do país. “A quebra é normal tendo em conta o que aconteceu com o sector do jogo durante a pandemia e também as restrições que a China está a levantar ao jogo VIP. Tudo indica que o jogo VIP irá tornar-se cada vez mais difícil”, disse o economista.

Serviços próprios

O advogado Óscar Madureira considera que, tendo em conta o actual panorama de crise, o facto de existirem 85 promotores de jogo em actividade é um “número bem razoável”. “Tudo isto acaba por ser uma consequência natural da redu-

ção das receitas do jogo, nomeadamente no sector VIP. Tem havido também uma tendência para que o número de junkets baixe depois de o regulador ter imposto regras.” Óscar Madureira adiantou que “alguns junkets podem não ter a robusteza financeira para conseguir aguentar um ano inteiro de ausência de actividade e naturalmente encerraram”, mas há ainda o facto de as próprias operadoras de jogo apostarem em serviços internos para captar clientes. “As operadoras já desenvolveram departamentos internos, de marketing internacional, que prestam o mesmo serviço que os junkets. Encarregam-se de identificar e fidelizar jogadores oferecendo o mesmo tipo de vantagens que os junkets oferecem, com a vantagem de não pagar comissões. O facto de haver menos junkets não significa algo mau para as concessionárias”, concluiu o advogado. Andreia Sofia Silva

Albano Martins, economista “A estrutura está muito concentrada em determinado tipo de pessoas que poderão não ter passado no teste ao nível do branqueamento de capitais. Podem não ter capacidade suficiente ou não ser fácil operar com mais controlo por parte das autoridades”

ECONOMIA SUSPENSO INVESTIMENTO NO PARQUE DE MEDICINA TRADICIONAL

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Governo suspendeu o investimento no Parque Industrial de Medicina Tradicional no início de 2020 para uma revisão geral. A informação foi dada pela Macau Investimento e Desenvolvimento S.A em resposta a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou, que pedia informações sobre o défice registado ao longo do ano. A presidente da empresa de capital público, Lu Hong, afirmou que o objectivo é melhorar a gestão do parque e abrir gradualmente uma parte da sua gestão ao mercado, seguindo para as orientações legais e do Gabinete para

o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos. A responsável prevê que na segunda metade deste ano, o parque possa gerar receitas através dos projectos operacionais, indicando que o valor total dos activos já ultrapassou o montante injectado pelo Governo. Por outro lado, Lu Hong garante que o parque valoriza o apoio ao empreendedorismo dos jovens locais, tendo criado uma feira de emprego para atrair estes profissionais. Além de os jovens locais terem prioridade no acesso ao emprego, também podem receber subsídios de transporte e alimentação.

Las Vegas Sands Goldstein substitui Adelson Robert Goldstein é o nome apontado pela Las Vegas Sands para suceder a Sheldon Adelson na presidência

da empresa, na sequência da morte do magnata. Goldstein assume também o cargo de director-executivo. Desde

o dia 7 deste mês que o empresário desempenhava estas funções depois de Sheldon Adelson ter retomado os tratamentos de cancro, doença que lhe causaria a morte no passado dia 11. Desde 1995 que Robert Goldstein trabalha na operadora de jogo, tendo chegado à direcção da empresa em 2015. Patrick Dumont assume o cargo de presidente da Las Vegas Sands e director de operações, enquanto que Randy Hyzak será o director financeiro da empresa.


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28.1.2021 quinta-feira

INSTITUTO CULTURAL TEATRO E DANÇA NA AGENDA DO FESTIVAL FRINGE PARA ESTE FIM-DE-SEMANA

Para todos os gosto O cartaz da 20ª edição do Festival Fringe prossegue este fim-de-semana com vários espectáculos e actividades que decorrem em vários espaços culturais do território, incluindo a Fundação Rui Cunha ou o Jardim Cidade das Flores, na Taipa. Os bilhetes já se encontram esgotados

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STE fim-de-semana será repleto de actividades e espectáculos inseridos no cartaz da 20ª edição do festival Fringe, uma iniciativa do Instituto Cultural (IC). Uma dessas iniciativas acontece este domingo, dia 31, pelas 17h30, na Fundação Rui Cunha, e intitula-se “Fringe Chat”. Nesse dia, críticos do interior da China e de Macau vão discutir com o público e os artistas “as características e os ritmos” do festival. Até domingo está também patente, no Jardim Cidade das Flores, na Taipa, a “Exposição de Arte para Todos”, que permite ao público expor as suas criações. As portas deste evento fecham às 20h. Outra apresentação do Fringe que acontece esta semana é a série “Crème de la Fringe: Todos Fest!”, onde se insere o espectáculo “Dança Simbiótica em Plena Expansão”, coreografado por yuenjie MARU, de Hong Kong, e onde participam pessoas com deficiência mental e física, numa demonstração de que “todos podem dançar apesar das suas diferentes capacidades e condições físicas”. Este espectáculo acontece no sábado e domingo às 16h no Centro Cultural de Macau. Também no sábado e domingo, às 13h, 15h e 17h acontece o espectáculo de marionetas “A Distância entre o Oceano e Nós”, da companhia Puppet Theatre, no primeiro andar do espaço Cooperativa Sem Distância.

No Centro Cultural de Macau irá decorrer o espectáculo “Dança Simbiótica em Plena Expansão”, coreografado por yuenjie MARU, de Hong Kong. Neste espectáculo participam p


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Todas as marionetas usadas neste espectáculo foram feitas com resíduos marinhos recolhidos na praia, onde a ideia é improvisar histórias sobre o mar. Depois do espectáculo decorre um workshop de produção de marionetas, além de decorrer no local a “Exposição de Marionetas de Resíduos Marinhos”.

MICHELIN THE GOLDEN PEACOCK E ZI YAT HEEN RECEBEM UMA ESTRELA

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S restaurantes The Golden Peacock e Zi Yat Heen foram premiados com uma estrela no Guia Michelin Hong Kong Macau 2021. O Golden Peacock foi o primeiro restaurante indiano na Ásia a ser premiado com uma estrela Michelin, e já recebeu a classificação de uma estrela por oito anos consecutivos. O chef sénior Justin Paul desenvolveu um menu tradicional,

mas contemporâneo, que oferece pratos exclusivos, como Kandari Murgh Tikka, com frango orgânico, romã, beterraba baby, pimenta da Caxemira, coalhada e castanha de caju e Junglee Khumb Kebab, com diversos cogumelos selvagens, queijo amul, Crocante de damasco e cogumelo enoki. Entretanto, o restaurante chinês Zi Yat Heen, do Four

Seasons Hotel Macao, foi galardoado com uma estrela Michelin pelo 12º ano consecutivo. O chef executivo chinês Charles Cheung, que possui mais de 40 anos de experiência culinária, aplica uma filosofia culinária de preservar a cozinha cantonesa tradicional enquanto a refina subtilmente, criando novas maneiras inovadoras e saudáveis de experimentá-la.

Humor em palco

Esta sexta-feira e sábado acontece também o espectáculo de comédia “Uma Luta de Cavalheiros com Trocadilhos e Chá”, de Chan Si Kei. Trata-se de uma “batalha de humor entre o dim sum e os pauzinhos” na Casa de Chá Tai Long Fong que “combina várias formas de arte performativa oral, como conversas cruzadas em chinês, diálogos espirituosos e comédia stand-up, para responder à procura de entretenimento por parte de diversos tipos de público”. O espectáculo é em chinês e acontece às 20h. Sábado e domingo são também dias para as últimas subidas ao palco do espectáculo “O Enigma da Actriz”, da Associação Brotherhood Art. Este decorre no Cinebrew Bar às 12h, 14h30 e 17h de sábado e às 12h de domingo, contando com dramaturgia e encenação de Ng Ka Wai e Fok Ka Hang. Esta peça teatral foca-se na história de uma actriz que é encontrada morta num bar. A partir daí são identificados cinco suspeitos, que são levados para o local para a investigação. Todos os suspeitos têm uma relação estreita com a falecida e cada um tem um motivo oculto, mas só um deles é o assassino. No domingo tem também lugar a peça “A Caixinha de Tesouros da Avó”, de Lei Ka Mei, um espectáculo muito virado para as memórias. A história é “adaptada da história de vida da criadora e revela o segredo da caixa do tesouro, contando a história de como uma avó e o seu neto passaram por diferentes fases da vida juntos, buscando transmitir ao público a felicidade de cuidar e ser cuidado”. Esta peça acontece às 11h30 e 15h no edifício dos serviços sociais de Pou Tai. Na Praça Jorge Álvares está também patente a instalação “Foco para - Libertar”, um projecto de Kathine Cheong e Sueie Che onde o público poderá apreciar as obras criadas a partir das ondas cerebrais de estranhos. Andreia Sofia Silva

Chef Charles Cheung, Zi Yat Heen

Chef Justin Paul, The Golden Peacock

Instituto Cultural Oito candidatos selecionados para receberem apoios a longas metragens Das 16 candidaturas que concorreram ao Programa de Apoio à Produção Cinematográfica de Longas Metragens do Instituto Cultural (IC), foram seleccionados na primeira fase oito produções. Os cineastas que vão passar para a próxima fase são Maxim Bessmertnyi, Tracy Choi, Io Lou Ian, Loi Man Keong, Lo Ka Hou, Chong Cho Kio, Lam Kin Kuan, e Hoi Kuok Meng. Os candidatos vão ter de entregar o argumento completo (em versões chinesa

e inglesa, ou portuguesa e inglesa) e os respectivos anexos, bem como um disco óptico contendo o ficheiro electrónico da apresentação do projecto em PowerPoint. O IC ajuda à tradução dos argumentos, com um valor até 15 mil patacas. Os cineastas que receberem o apoio passam a contar com dois milhões de patacas para a sua produção, além do aconselhamento profissional de cineastas veteranos para fins de produção e marketing do filme


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Supresa HK style Governo faz confinamentos sem aviso prévio

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ONG Kong confinou inesperadamente e sem aviso na noite de terça-feira uma parte da cidade, para testar todos os residentes, tendo os acessos sido fechados pela polícia, numa nova estratégia para combater a pandemia. De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), a polícia isolou um perímetro em torno de cerca de 20 edifícios densamente povoados no bairro de Yau Ma Tei, localizado no sul da península de Hong Kong. A chefe do executivo, Carrie Lam, explicou que estes “confinamentos sem aviso prévio” são necessários para impedir a fuga de pessoas antes do destacamento dos profissionais de saúde encarregados de realizar o rastreio. “Agradeço às pessoas desta área restringida pela sua cooperação”, escreveu Lam na rede social Facebook, já depois de o bloqueio ter sido levantado. No último fim de semana, um confinamento durante dois dias noutra zona da cidade foi divulgado algumas horas antes na imprensa local, após uma fuga de informação. Durante a operação de terça-feira, mais pequena que a do fim de semana, cerca de 330 residentes foram testados, tendo sido detetado apenas um caso de covid-19. As autoridades do território sob administração chinesa avisaram que mais confinamentos deste tipo poderão ser necessários nos próximos dias. Desde o início da pandemia, Hong Kong registou cerca de 10.000 casos de covid-19 e mais

de 170 mortes provocadas pela doença. Nas últimas semanas, surgiram novos surtos em bairros muito pobres, revelando enormes desigualdades naquele centro financeiro internacional. Apesar de ser uma das cidades mais ricas do mundo, Hong Kong sofre de escassez crónica de habitação, com rendas exorbitantes, obrigando muitos residentes a viver em espaços exíguos. O tamanho médio das habitações é de 46 metros quadrados, que podem custar cerca de 7 milhões de dólares de Hong Kong. Muitas pessoas são forçadas a viver em alojamentos mais pequenos, divididos em unidades minúsculas, com menos de cinco metros quadrados e espaço para pouco mais que uma cama, partilhando frequentemente as cozinhas e casas de banho com vários inquilinos. É neste tipo de edifícios que tem ocorrido a maioria dos novos surtos nas últimas semanas. A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.149.818 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço da Universidade Johns Hopkins, dos EUA. Em Portugal, morreram 11.012 pessoas dos 653.878 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

ANGELA MERKEL “MUITO FELIZ” COM O ACORDO UE-CHINA

A importância dos valores Valores económicos e valores morais. Em que limites se contradizem? Merkel especificou os seus. E Portugal terá algo a ensinar à Europa nas suas relações com o País do Meio

Covid-19 Mais de 22 milhões já receberam vacina Mais de 22 milhões de pessoas na China já receberam uma dose da vacina para a covid-19, revelou ontem um alto funcionário da Comissão Nacional de Saúde do país asiático. Citado pelo jornal estatal Global Times, Zeng Yixin, vice-director da Comissão, indicou que 22,77 milhões de doses foram administradas até à data e que o país está a “fazer progressos adequados” na sua campanha de vacinação para

grupos considerados de risco. Segundo a imprensa local, as autoridades planeiam vacinar 50 milhões de pessoas antes das férias do Ano Novo Lunar, que em 2021 calham entre 11 e 17 de Fevereiro. “Antes de injectar as doses, o pessoal médico deve informar aos que vão ser inoculados sobre as contraindicações, bem como acompanhar quaisquer reações adversas”, acrescentou Zeng.

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chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu ontem o acordo de investimentos entre a União Europeia e a China, mas advertiu sobre os limites da cooperação económica com Pequim, pelas diferenças em torno de “valores fundamentais”. Na sua intervenção durante a edição virtual do Fórum de Davos, a chanceler sublinhou a importância do acordo de princípio sobre investimentos alcançado em finais de Dezembro entre a União Europeia (UE) e a China, em grande parte devido à sua própria intervenção no exercício da presidência rotativa do Conselho Europeu.

Merkel disse estar “muito feliz” com o acordo, porque supõe um salto qualitativo para os investimentos europeus na China ao alcançar uma “melhor reciprocidade” e “mais transparência nos subsídios”, além de garantir um “acesso justo” no domínio da alta tecnologia. O pacto consegue também estabelecer uma série de requisitos na “protecção do meio ambiente” e condições laborais “justas”, algo “muito importante”, segundo a chanceler. No entanto, Merkel destacou que o seu entendimento de multilateralismo é diferente do do Presidente chinês, Xi Jin-

ping, que defendeu a cooperação internacional e o comércio livre na segunda-feira durante a sua intervenção no fórum. A chanceler sublinhou que ambas as concepções chocam em “valores elementares”, como a “dignidade de cada pessoa”, pelo que a cooperação está limitada. Além disso, acrescentou que a “transparência é fundamental” no que se refere à China, para que se possa saber desde fora “o que se passa num país” e se leva a cabo “um comércio baseado em regras ou não”, um ponto sobre o qual reconheceu que tem havido recentemente “tensões e controvérsias”.


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AEROPORTO DE CANTÃO FOI O MAIS MOVIMENTADO DO MUNDO

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principal aeroporto da província chinesa de Guangdong, que faz fronteira com Macau e Hong Kong, foi o mais movimentado do mundo, em 2020, ultrapassado o de Atlanta, nos Estados Unidos. No total, 43,77 milhões de passageiros passaram pelo Aeroporto Internacional Baiyun, em Cantão, capital da província de Guangdong e a maior cidade do sul da China. Os dados, publicados no portal oficial do aeroporto, indicaram que este foi o mais movimentando do mundo, apesar de ter reduzido o número de passageiros em mais de 40%, durante o ano passado, reflectindo o impacto da pandemia da covid-19 no tráfego aéreo. No Aeroporto Internacional Hartsfield-Jackson de Atlanta, o número de passageiros caiu 61,17% em 2020, em comparação com o ano anterior, para 42,9

Merkel considerou ainda que faltou transparência a Pequim no início da pandemia de covid-19, quando começaram a ser detectados casos da doença e no que se refere ao fornecimento de informações à Organização Mundial da Saúde. Para a chanceler alemã, o multilateralismo significa também trabalhar para fortalecer as cadeias de produção transnacionais, evitar problemas de abastecimento no início da pandemia e prevenir o surgimento do “protecionismo regional” Nesse sentido, defendeu também a revitalização da Organização Mundial do Comércio após a “paralisia dos últimos anos”, porque actualmente “não está totalmente operacional” e é “parte essencial de um comércio baseado em valores”.

Experiência portuguesa é mais-valia

Por seu lado, o embaixador português em Pequim defendeu ontem que o conselho da União Europeia (UE) poderá beneficiar da “experiência singular de relacionamento político e diplomático” que Portugal tem com a China, durante a presidência portuguesa. “O nosso país nunca abdicou dos seus valores e dos seus modelos no seu território para ter de conseguir construir uma relação inevitavelmente pragmática que sempre trouxe grandes benefícios a ambos os lados, mas especialmente a Portugal”, defendeu José Augusto Duarte, em Pequim. Referindo-se aos mais de 500 anos de contactos entre os dois países, o embaixador reconheceu, porém, que “alguns dos desafios”

ACORDO O QUE QUER A EUROPA No final de 2020, Bruxelas e Pequim chegaram a consenso preliminar para um acordo global de investimento UE-China, após 7 anos de negociações (começaram em Novembro de 2013). Para a Europa, o objectivo é, através deste acordo de investimento, atingir as seguintes metas: proteger mutuamente os investimentos europeus na China e os investimentos chineses na UE, tornando nomeadamente mais fácil que investidores da Europa comprem participações em empresas chinesas, para esta passar a ser uma relação recíproca. maior respeito pela propriedade intelectual fim das transferências forçadas de tecnologia impostas a empresas estrangeiras na China fim dos subsídios excessivos atribuídos às empresas públicas chinesas. Os baixos padrões laborais chineses, e em particular a questão do trabalho forçado, constituíam, para vários Estados-membros da UE, o principal obstáculo à conclusão de um acordo com Pequim. O texto do acordo deverá agora ser finalizado pelas partes e aprovado pelo Conselho (Estados-membros) e pelo Parlamento Europeu.

atuais na relação com a China são “novos e exigem reflexão de alcance estratégico”. “Não temos alternativa realista a abordar estes novos desafios sem ser seguindo o modelo de

diálogo que Portugal sempre usou na relação com a China: diálogo, paciência, determinação, visão estratégica de longo alcance e realismo de até que ponto podemos influenciar e unir e a partir de onde temos de aceitar conviver com a diferença”, apontou o embaixador. Numa altura de crescente rivalidade entre China e Estados Unidos, José Augusto Duarte reconheceu que “será certamente desafiante” para a UE conciliar a relação transatlântica e a relação com a China. “A Europa, sendo uma firme e orgulhosa aliada dos EUA, com o qual partilha valores e modelos, não deixa, no entanto, de ter interesses próprios da União Europeia no seu conjunto e de cada Estado Membro”, descreveu. “Uma relação sólida com os nossos aliados americanos não é antagónica com o conceito de autonomia estratégica nem sequer com uma relação construtiva com a China”, acrescentou. Sobre as negociações para o Acordo de Investimentos entre China e UE, concluídas no final do ano passado, apesar dos apelos da nova administração norte-americana por uma abordagem conjunta para a China, o diplomata português disse que a “desejável revitalização dos nossos lados transatlânticos em nada diverge da conclusão do acordo”. “O acordo, que traz benefícios para a Europa e para a China, com a vantagem acrescida de levar pela primeira vez a China a aderir a algumas convenções internacionais, como no domínio laboral, só pode ser aplaudido pelo mundo inteiro”, defendeu.

milhões. Atlanta detém o recorde do aeroporto mais movimentado do planeta há 22 anos, em parte devido por servir de base à maior companhia aérea norte-americana, a Delta Air Lines. Em 2019, o aeroporto de Cantão movimentou 73,38 milhões de passageiros, o que o colocou no 11.º lugar da classificação mundial. No entanto, durante 2020, as medidas rígidas aplicadas pelas autoridades chinesas contra a covid-19 levaram a uma recuperação da normalidade mais cedo do que em outras partes do mundo, de modo que o tráfego voltou a fluir mais cedo. Por exemplo, o aeroporto de Cantão registou mais de cinco milhões de passageiros em Novembro passado, o único no mundo a ultrapassar esta barreira mensal desde o início da epidemia, de acordo com mesmo o comunicado.

GABINETE DE ESTATÍSTICAS LUCROS DA INDÚSTRIA CRESCEM 4,1% EM 2020

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S lucros das principais empresas industriais da China aumentaram 4,1%, em termos homólogos, em 2020, indicaram dados publicados ontem pelo Gabinete de Estatísticas (GNE) chinês. O GNE informou que o lucro das firmas industriais, no ano passado, atingiu os 6,4 biliões de yuans. Também foram divulgados os dados mensais de Dezembro, que revelaram um aumento de 20,1% dos lucros, em relação ao mesmo período do ano anterior, indicou a mesma fonte.

Para a elaboração deste indicador, o GNE levou em consideração apenas as empresas industriais com um faturamento anual superior a 20 milhões de yuans. Os lucros das empresas privadas cresceram 3,1%, em 2020, enquanto os das empresas públicas caíram 2,9%. No ano passado, 26 dos 41 setores analisados pela GNE registaram um aumento dos lucros, em relação ao ano anterior, enquanto os 15 setores restantes registaram uma diminuição dos lucros. As empresas dedicadas ao fabrico de equipamentos especiais, produtos químicos, ciência da computação ou as indústrias

têxtil e automobilística aumentaram os ganhos notavelmente. Destacaram-se ainda as quedas dos lucros nas indústrias de extração de petróleo e gás, bem como no processamento de petróleo, carvão e outros combustíveis, ou na fundição e laminação de metais ferruginosos. O GNE também indicou que, em 2020, os activos das empresas industriais aumentaram 6,7%, em relação ao ano anterior, para 126,76 biliões de yuan, enquanto os passivos subiram 6,1%, para 71,06 biliões de yuans. O rácio da dívida das empresas industriais diminuiu, segundo a agência, em 0,3%, no final do ano, para 56,1%. O estatístico do GNE, Zhu Hong, indicou que, apesar da “grave e complexa situação internacional, o país obteve sucessos no controlo da pandemia, o que garantiu o seu desenvolvimento económico e social”. “O ciclo industrial amadureceu, a procura do mercado continua a melhorar e os lucros industriais continuam a aumentar. A China passou de registar perdas, no início do ano [passado], para terminar o ano a crescer”, disse. Num ano marcado por uma recessão global provocada pela covid-19, a economia chinesa foi uma das poucas a resistir, crescendo 2,3%, após ter contido com sucesso a doença durante o primeiro trimestre de 2020.


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retrovisor

LUÍS CARMELO

Para além da tragédia global que a todos nos consome, um dos aspectos mais nocivos do factor covid19 é a sua espectacularização. Ela é responsável em grande parte pela banalização das mensagens que dão a conhecer os dados diários da pandemia, pelo chamado “cansaço” das pessoas (como se fosse algo a normalizar e a legitimar) e, em primeiríssimo lugar, pela indiferença crescente face ao número de mortos e de infectados que se registam neste nosso país que passou a ser o pior de todo o planeta no combate à catástrofe sanitária. É como se a notícia de uma fatalidade terrível apenas pudesse ser veiculada, tendo por cima imagens dos canais do cabo que somam ao culto da velocidade a banalização da violência, do sexo e da morte. Diante deste estranhíssimo cenário, até mesmo as reportagens da campanha eleitoral tiveram, por vezes, um sabor provocatório e de mau gosto, como se fosse dúbio aquilo que realmente estava - ou deveria estar - em causa nestes tempos tão negros. Mesmo que se parafraseie William Burroughs – “The theater is closed” –, sabemos bem, reatando a citação, que “não há lugar fora do teatro, que tudo ocorre no mundo, que não há lugar para onde escapar” neste ‘face a face’ com as encenações tecnológicas e telemáticas que nos envolvem (como se não existisse um lado de fora e um lado de dentro nesse envolvimento). Na verdade, o espectáculo sempre correspondeu ao mais profundo dos humanos porque condensa todas as histórias possíveis e todas as montagens imagináveis, para além de proporcionar, sem paralelo, a fruição de intensidades imediatas. O espectáculo pode imitar, truncar ou parodiar de formas muito diversas, condensando, divergindo e abrindo-se sempre a um leque muito grande de escolhas. Há 25 séculos, na

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A outra doença ‘Poética’, Aristóteles disse-o de modo pleno, quando tornou clara a superioridade da tragédia face à epopeia: “A tragédia é superior porque contém todos os elementos da epopeia” (...) “e demais, o que não é pouco, a melopeia e o espectáculo cénico, que acrescem a intensidade dos prazeres que lhe são próprios.” Sair deste aquário de imagens que quase o transbordam em intensidade, como dizia o filósofo (sem imaginar que o mundo se transformaria todo ele num vasto teatro), vai ser tão penoso quanto sair do próprio mal da pandemia. Se a vacina nos promete esta segunda saída, já a primeira arrastará consigo uma patologia de vivências e de memórias difícil de curar. Só daqui a uns meses - ou talvez anos - entenderemos que a saturação de imagens com que temos vindo a viver, durante este último ano, somou à tragédia real uma disrupção de óptica (e de objectividade) com origem em fantasias, negacionismos e ‘fake news’ da

HÁ-DE CHEGAR ESSE DIA. O DIA PARA AMAR E DESARMAR AS NÉVOAS PERIGOSAS. O DIA QUE VISTO DAQUI DE LONGE - SEJA LÁ QUANDO FOR - NOS GARANTE, AFINAL E DESDE JÁ, ALGUMA DA NOSSA SANIDADE rede, na inflexibilidade dos calendários políticos (por que não se adiaram as presidenciais, por exemplo?), nas abjectas estratégias sacrificiais (o caso mais óbvio foi o de “salvar o natal”) e, também, claro, na obsessiva distopia televisiva. A banalização resulta de uma repetição interiorizada que não dá sequer tempo para separar o fundamental do acessório ou mesmo, tantas vezes, do desprezível. É esta

uma das consequências da instantaneidade tecnológica. Neste tipo de processos que conduzem à vulgarização, as imagens não apenas fazem por encadear como têm vida própria. Razão tinha Adolfo Bioy Casares, no seu pioneiríssimo romance ‘A Invenção de Morel’ (prefaciado por Borges há oito décadas exactas), quando lá escreveu “A hipótese de as imagens terem alma parece confirmada pelos efeitos da minha máquina sobre as pessoas, os animais e os vegetais”. O ENCADEAMENTO espectacularizado de imagens, gerado no espaço público em toda a sua extensão, tem permitido à santa aliança entre o virtual e a idiotice mais chã pressionar os efeitos do real (bem como a imagem que dele temos e que no-lo permitem ajuizar). Este encadeamento, com forte recepção nos ‘mainstreams’ sociais, é uma segunda doença de que pouco ainda se fala. Geralmente tem-se dado mais importância aos sintomas exteriores do que a ela mesma. Venturas e Trumps são efígies criadas por esta terrível névoa que faz do delírio, das temáticas franco-atiradoras e da violência gratuita o seu jogo sem finalidade alguma. Por vezes, ridicularizando e minorando a pandemia. Lama que cai em cima da lama e que paralisa a própria lama. Seja como for, apesar de ser possível prever que existem males crónicos que irão persistir por muito e longo tempo, creio que, dentro de um ano, ou talvez antes, nos iremos admirar por poder livremente voltar a olhar o mar e subir as dunas lado a lado com todas as outras pessoas sem necessidade de máscara. Há-de chegar esse dia. O dia para amar e desarmar as névoas perigosas. O dia que visto daqui de longe seja lá quando for - nos garante, afinal e desde já, alguma da nossa sanidade. É nesse ponto do futuro que nos devemos colocar a observar com lucidez o tumulto, o desacerto e a cegueira que estão neste momento a dominar o presente.

QIU JIE, TATOO


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OS COMUNISTAS SÃO LIBERAIS? A DISSEMINAÇÃO contínua da epidemia do coronavírus acabou por desencadear, também, certas epidemias de vírus ideológicos que estavam adormecidos em nossas sociedades: fake news, teorias da conspiração paranoicas e explosões de racismo. A quarentena, devidamente fundamentada em evidências médicas, encontrou um eco na pressão ideológica por estabelecer fronteiras estritas e isolar os inimigos que representam uma ameaça à nossa identidade. Mas, talvez, outro vírus muito mais benéfico também se espalhe e, se tivermos sorte, irá nos infectar: o vírus do pensar em uma sociedade alternativa, uma sociedade para além dos Estados-nação, uma sociedade que se actualiza nas formas de solidariedade e cooperação global. Especula-se que o coronavírus pode levar à queda do regime comunista chinês, do mesmo jeito que a catástrofe de Chernobyl foi a gota d’água que levou ao fim o comunismo soviético (como o próprio Gorbachev admitiu). Mas existe um paradoxo nesta situação: o coronavírus também nos levará a reinventar o comunismo, com base na confiança nas pessoas e na ciência. Na cena final de Kill Bill 2, do diretor Quentin Tarantino, Beatrix derruba o vilão Bill, destruindo-o com a “Técnica dos Cinco Pontos para Explodir o Coração” — o golpe mais fatal das artes marciais. O movimento consiste numa combinação de cinco golpes com as pontas dos dedos em cinco pontos de pressão diferentes no corpo do alvo. Assim que a vítima se afasta e dá cinco passos, seu coração explode dentro do seu corpo, e ele desmorona no chão. Este ataque faz parte da mitologia das artes marciais e não é factível nos combates da vida real. Porém, voltando ao filme, depois que Beatrix ataca Bill, ele faz as pazes com ela, calmamente, anda cinco passos e morre… O que torna esse ataque tão fascinante é o tempo existente entre o golpe e o momento da morte: posso manter uma agradável conversa enquanto eu permanecer sentado

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e sossegado, mas durante todo esse tempo estarei ciente de que no momento em que eu começar a andar, meu coração irá explodir e eu cairei morto. Não se parece com a ideia daqueles que especulam sobre como o coronavírus levaria o sistema comunista da China à sua queda? Numa espécie de “Técnica dos Cinco Pontos para Explodir o Coração” social, no regime comunista do país, as autoridades podem sentar-se, observar e atravessar os movimentos da quarentena, mas qualquer mudança real na ordem social (como confiar nas pessoas) resultará em sua queda. A minha modesta opinião é muito mais radical: a epidemia do coronavírus é uma espécie de “Técnica dos Cinco Pontos para Explodir o Coração” de ataque ao sistema capitalista internacional — um sinal de que não podemos seguir pelo mesmo caminho que viemos até agora, de que precisamos uma mudança radical. Há alguns anos, Fredric Jameson chamou a atenção para o potencial utópico dos filmes sobre catástrofes cósmicas (um asteroide que ameaça a vida na Terra ou um vírus que mata a humanidade, por exemplo). Tal ameaça global dá origem à solidariedade global, as nossas pequenas diferenças tornam-se insignificantes, todos trabalhamos juntos para encontrar uma solução — e aqui estamos hoje, na vida real. O ponto não é sobre curtir sadicamente o sofrimento generalizado, porque ele ajudaria nossa causa: pelo contrário, o ponto é reflectir sobre o triste facto de que precisamos de uma catástrofe para nos permitirmos repensar as características básicas da sociedade na qual vivemos. O primeiro esboço de modelo de uma coordenação global do tipo é da Organização Mundial da Saúde, da qual não estamos recebendo a tagarelice burocrática usual, mas avisos precisos, anunciados sem pânico. Tais organizações devem receber mais poder executivo. Os cépticos zombam de Bernie Sanders pela sua defesa de uma saúde

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universal nos EUA — e não é que a lição da epidemia de coronavírus não apenas demonstra como ela é muito necessária, mas também que devemos começar a criar algum tipo de rede global de saúde? (...) Além do mais, não estamos lidando apenas com ameaças virais — outras catástrofes já estão surgindo no horizonte ou mesmo acontecendo: secas, ondas de calor, tempestades fora de controle, etc. Para todos esses casos, a resposta não é o pânico, mas o trabalho árduo e urgente para estabelecer algum tipo de coordenação global eficiente. (...) Outro fenómeno bizarro que podemos observar é o retorno triunfante do animismo capitalista, de tratar fenómenos sociais como mercados ou o capital financeiro como uma entidade viva. Lendo os medias empresarial, ficamos com a impressão de que, na verdade, não deveríamos nos preocupar com os milhares que morreram (nem com os outros milhares que ainda vão morrer), mas com os “mercados que estão ficando apreensivos”. (...) Tudo isso não indica claramente a necessidade urgente de uma reorganização da economia global, que não esteja mais à mercê dos mecanismos de mercado? É óbvio que não estamos a falar de comunismo à antiga, mas de alguma forma de organização mundial que consiga controlar e regular a economia — bem como limitar a soberania dos estados-nação quando necessário. (...) Num discurso recente, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, declarou: “Não existe isso de liberal. Um liberal nada mais é do que um comunista com um diploma”. E se o contrário estiver certo? Se designarmos como “liberais” todos aqueles que se preocupam com a nossa liberdade; e, como “comunistas”, aqueles que sabem que só poderemos salvá-la por meio de mudanças radicais — já que o capitalismo global está cada vez mais próximo de uma crise? Então, deveríamos dizer que, actualmente, aqueles que ainda se reconhecem comunistas são liberais com diplomas — liberais que estudaram seriamente o porquê de nossos valores liberais estarem sob ameaça, e que tomaram consciência de que só uma mudança radical poderá salvá-los.

UM FILME HOJE Um homem acorda de um coma num hospital em Londres para encontrar a cidade destruída e em pleno apocalipse zombie. Coisa típica neste tipo de filmes, aparentemente uma associação anima dos animais decide libertar chimpazés infectados com um misterioso vírus. Num abrir de olhos, todas as fundações sociais entrar em ruína. Com a mestria de Danny Boyle na realização, este filme cru e com movimentos de câmara rápidos é uma obra-prima do género. As imagens do centro de Londres vazio e mergulhado no caos, ao som de Godspeed You! Black Emperor, a forma como filme e música progridem para o alarme que lança o protagonista numa corrida pela sua vida são momentos que, só por si, fazem com que o filme valha a pena. João Luz

28 DAYS LATER | DANNY BOYLE

3 9 4 2 8 6 6 0 5 9 7 3 8 2 7 5 4 1 1DO YOU 3 LOVE 2 ME 4 AS5I LOVE 0 YOU 4 5 6 1 0 2 2 6 1 8 9 7 Propriedade 7 8 9Fábrica 3 de6Notícias, 5 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Inês Oliveira; João Paulo Cotrim; José Simões Morais; Luis Carmelo; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia 9 1 Cameira; 0 6Gonçalo 2 M.Tavares; 8 e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Teresa Sobral; Valério Romão Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues 0 4Olavo8Rasquinho; 7 3 Paul9Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Simão; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão 5 7 3 0 1 4 Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, r/c, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo


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perspectivas

28.1.2021 quinta-feira

Jorge Rodrigues Simão

CRIATIVIDADE E INVESTIGAÇÃO COMO CHAVES DO SUCESSO CHINÊS “Westerners tend to divide the political world into “good” democracies and “bad” authoritarian regimes. But the Chinese political model does not fit neatly in either category. Over the past three decades, China has evolved a political system that can best be described as “political meritocracy.” Daniel A. Bell, The China Model: Political Meritocracy and the Limits of Democracy

A REALIDADE que importa não é a verdade que se diga, mas no que se acredita. Há uma única história, que exemplifica pelo menos dois dos componentes que determinam o poder disruptivo da nova potência tecnológica do mundo, que é a criatividade e o financiamento da investigação. Angelo Yu fundou a sua empresa, a Pix Moving, que produz carros cujos componentes são criados com impressoras 3D. A sua empresa pode facilmente viver e prosperar mesmo no período de impostos americanos (que afectam a maioria das exportações chinesas para a América), porque a Pix Moving fornece aos seus clientes americanos "modelos" directamente na nuvem como carros industriais e agrícolas, encomendados por clientes particularmente ricos, e que são produzidos nos Estados Unidos e não na China. Além disso, poupa muito dinheiro pois tudo está na nuvem, não há necessidade de transporte, rotas de navegação, navios, contentores, tarifas alfandegárias. Para reduzir o número de peças necessárias para fazer um carro, Yu e a sua equipa voltaram-se para o "design generativo". Funciona de forma simples pois os programadores da Pix Moving estabelecem determinados parâmetros, tais como o tamanho do veículo e o peso máximo que este deve transportar. Depois deixam os computadores funcionar livremente para determinar o que pode ser criado dentro dessas restrições. Os algoritmos permitem que a Inteligência Artificial (IA) aprenda as técnicas e refine os resultados. Os engenheiros nessa altura analisam as opções e escolhem as melhores para embalar o "modelo" requerido pelo cliente. É de ficar tão surpreendido a ponto de imaginar que se Henry Ford ainda estivesse vivo teria construído carros usando IA. É verdade, mas desde que Henry Ford tivesse vivido na China. O sucesso da empresa de Yu, na realidade, não é acidental e não depende apenas da sua criatividade, pois o arranque de Yu é um pequeno exemplo dentro de um universo que é desejado, criado e impulsionado pela liderança chinesa, que vai para além da criatividade de empresas individuais. E é aqui que encontramos a segunda chave para compreender o desenvolvimento tecnológico da China, que é o financiamento da investigação desejado pelo Estado e o consequente contexto favorável

para o florescimento de startups e empresas nesse campo. O governo chinês acredita que a robótica e outras tecnologias de ponta, tais como as utilizadas pela Pix são capazes de oferecer a possibilidade não só de empregar menos mão-de-obra e assim poupar custos, mas também de melhorar a produção e a competitividade internacional. É por isso que destina enormes recursos e energia à "produção inteligente", o coração do programa Made in China 2025 do governo, que visa promover o desenvolvimento de indústrias estratégicas e recuperar o atraso em relação aos concorrentes ocidentais. Não é coincidência que a China tenha recentemente fornecido às suas empresas robôs industriais a um ritmo mais rápido do que qualquer outro país. Em 2018, de acordo com dados da Federação Internacional de Robótica com sede em Frankfurt, cerca de cento e cinquenta e quatro mil robôs foram vendidos a fábricas chinesas, mais do que à Europa e Américas juntas. Ao partir da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos (que esconde a verdadeira questão em jogo, a corrida por 5G), alguns analistas americanos lembraram que o ex-presidente Donald Trump (e, de uma forma mais geral, a quem quer que se sente na Sala Oval da Casa Branca no futuro) de que a verdadeira desvantagem dos americanos em relação à China é que os Estados Unidos desistiram, nos anos de 1980, de fazer o que tinham feito desde os anos de 1950, ou seja, investir na inovação, educação e investigação. Para compreender até que ponto os Estados Unidos perderam terreno a este respeito, basta uma ida ao passado por um momento. Em 1938, em vésperas da II Guerra Mundial, os Estados Unidos (governos federal e estaduais juntos) gastaram cerca de 0,075 por cento do PIB em investigação científica (uma quantia mínima). Em 1944, os governos federal e estaduais utilizaram quase 0,5 por cento do PIB que traduz um aumento de sete vezes que foi utilizado para desenvolver sistemas de radar, penicilina, e a bomba atómica. Era uma tendência que estava destinada a durar e a expandir-se juntamente com a influência americana no mundo. Mais tarde, em tempo de paz e durante a Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos canalizou recursos públicos para a investigação científica numa escala totalmente nova. De 1940 a 1964, o financiamento federal para a investigação e desenvolvimento aumentou vinte vezes. Este é o período em que nasceram os modernos produtos farmacêuticos, micro electrónicos, computadores digitais, satélites, GPS, Internet, e muito mais. Mais uma vez, uma série de televisão de sucesso vem em socorro para narrar esta fase que é o Mad Men, a história de uma empresa de publicidade nos anos de 1960,

que permite-nos compreender alguns aspectos do sonho americano, tais como a capacidade de transmitir aos potenciais consumidores a necessidade de possuir um produto antes de explicar a sua utilização. A América, então, foi o país que inventou e arrastou o mundo por detrás dos seus gostos, da melhoria das condições económicas das suas famílias, de um processo envolvente que hoje nos parece retrógrado mas que na altura parecia futurista. Uma América que se propagou no resto do mundo também através da sua cultura de massa específica, produzida pela majestosa máquina de tal poder fabricada nos “Made in USA”, frequentemente veiculada por Hollywood. Este processo foi acompanhado por outros pois as primeiras empresas que se tornariam sinónimo de inovação, e a emergiram como a IBM, AT&T e Xerox. A base do sonho americano foi, em suma, o enorme esforço económico estatal para financiar a investigação, as universidades, e a consequente e constante produção de inovação. Foi isto que os Estados Unidos deixaram de fazer, e é nesta falta que deve ser procurado o fosso que parece existir entre o Ocidente e o Oriente. No início da década de 1980, começou um lento declínio pois a despesa pública em investigação e desenvolvimento desceu para 1,2 por cento do PIB; em 2017 caiu para 0,6 por cento.

Só depois da morte de Mao, quando a liderança de Deng Xiaoping tomou conta do país, é que o sistema escolar chinês começou a ser restaurado; essa mesma liderança abriu a fase que ficou na história como o período de “reforma e abertura” entre os anos de 1980 e o final dos anos 1990 e o governo fez crescer a sua economia, elevando o nível de vida da sua população

Actualmente, se utilizarmos a percentagem do PIB dedicada à investigação como valor de base, nada menos que nove países superam os Estados Unidos. Até 2025, por exemplo, segundo uma análise da investigação médica publicada no "The Journal of the American Medical Association", a China irá substituir os Estados Unidos como líder mundial em investigação e desenvolvimento farmacêutico. Esta é, portanto, a parábola histórica do financiamento da investigação nos Estados Unidos. Mas o que é que a China fez entretanto? Na década de 1960, tal como os muitos nos Estados Unidos estavam a enlouquecer com os seus novos estilos publicitários, a Revolução Cultural na China tinha feito parar o ensino superior.As escolas e universidades tinham sido substituídas pela obrigação de os rapazes irem para o campo para aprenderem competências revolucionárias com os camponeses. Há uma geração atrás, em suma, a actual posição da China na cena mundial teria sido inimaginável. Só depois da morte de Mao, quando a liderança de Deng Xiaoping tomou conta do país, é que o sistema escolar chinês começou a ser restaurado; essa mesma liderança abriu a fase que ficou na história como o período de "reforma e abertura" entre os anos de 1980 e o final dos anos 1990 e o governo fez crescer a sua economia, elevando o nível de vida da sua população, produzindo e exportando bens globalmente competitivos, também graças aos investimentos de empresas estrangeiras. Esses foram os anos que assistiram ao crescimento retumbante dos investimentos e progressos na ciência. O ano de 1990 a liderança chinesa decidiu consolidar a lealdade dos quadros intelectuais através da atenção que anteriormente tinha sido dada sobretudo às classes produtoras, aos trabalhadores e especialmente aos camponeses. Dar importância à classe intelectual, garantindo o crescimento e a possibilidade de realizar investigação com fundos e em locais ad hoc, permitiu estabelecer duas apostas fundamentais para a sua actual liderança e força económica pois por um lado, ao reservar um papel central para a ciência, acabou por levar os chamados tecnocratas ao poder na primeira década dos anos 2000; por outro, colocou toda uma geração de intelectuais, cientistas e professores universitários sob controlo ideológico. Os resultados têm sido espantosos pois de 1990 a 2010, as matrículas no ensino superior aumentou oito vezes e o número de diplomados aumentou de trezentos mil para quase três milhões por ano. Durante o mesmo período, a quota da China no total de matrículas no ensino superior aumentou de 6 por cento para 17 por cento do total global. Em 2017, oito milhões de estudantes formaram-se em universidades chinesas. Em comparação, cerca de três milhões


quinta-feira 28.1.2021

de estudantes formaram-se em universidades americanas no mesmo ano. A qualidade da educação científica na China pode ser debatida, mas os números não podem. Porque em 1990, o número de doutoramentos nos Estados Unidos era vinte vezes maior do que na China. Apenas duas décadas mais tarde, a China ultrapassou os Estados Unidos nessa métrica, com vinte e nove mil novos doutoramentos em 2010 em comparação com vinte e cinco mil nos Estados Unidos. Actualmente, seis universidades chinesas estão entre as 100 melhores universidades do mundo, de acordo com a classificação do Times Higher Education. Através da experiência de Angelo Yu, vimos que a criatividade renovada da China se desenvolve graças a um ambiente favorável proporcionado pelo Estado, que financia em grande parte a investigação e a indústria tecnológica e podemos considerar como uma passagem do testemunho do financiamento da investigação do Ocidente para a China. A vantagem actual da China reside também num terceiro factor que é o seu sistema meritocrático. Fazendo a comparação entre os sistemas filosóficos oriental e ocidental existe uma suposição bastante intrigante pois no Ocidente, sempre se esteve habituado a raciocinar com uma situação "ideal" em mente e na China não existe e nunca existiu metafísica. Os chineses não se perguntam, filosoficamente, "o que é isto". Eles perguntam "como posso fazer isto"? há quem chame praticabilidade. Há quem acredite, por exemplo, que mesmo o conceito de "tempo" é fundamental para compreender a actual atitude chinesa. Para os Ocidentais, o tempo é "eterno", mas não para os chineses. É por isso que planeiam estabelecendo objectivos e fases, sabendo que o tempo não é eterno. E está a mudar.

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A palavra-chave "revolução" em chinês é "remoção de um mandato" e destaca a concepção de uma sociedade em contínua transformação. E como é tratada esta característica, que resume milénios de história chinesa? Alguns estudiosos acreditam que essa transformação contínua é governada por outro princípio prático firmemente enraizado

Aqueles que querem “servir o povo” têm de passar nos exames de estado com milhões de candidatos a um cargo na cultura chinesa que é a meritocracia, a própria pedra angular da diferença entre a China e o Ocidente. Os estudantes precisam de pontuações extraordinárias para passarem nos exames nacionais e serem admitidos numa universidade de elite que forma futuros líderes, competindo ferozmente pela admissão. Os estudantes só são admitidos com elevado desempenho e só depois de passarem por uma verificação minuciosa dos antecedentes. Aqueles que querem "servir o povo" têm de passar nos exames de estado com milhões de candidatos a um cargo, e uma vez "dentro" têm de passar em numerosas avaliações por parte dos superiores para se deslocarem para “cima”. Têm de provar as suas capacidades durante as suas posições no governo local

e também passar nos testes de carácter. No entanto, o sistema de escolha de funcionários na China funciona bem. O país está a realizar, progredir e a estudar estratégias para se renovar. As vantagens da meritocracia chinesa são claras, dizem os apoiantes desta tese, porque os quadros passam por um processo de selecção cansativo e só os com um registo de excelente desempenho conseguem atingir os mais altos níveis. Em vez de perder tempo e dinheiro em campanhas eleitorais sem sentido, os líderes podem tentar melhorar os seus conhecimentos e resultados. A China envia frequentemente os seus líderes para aprenderem com as melhores práticas políticas no estrangeiro. Tal é inegavelmente algo que não se encontra no horizonte do Ocidente e que vale a pena investigar. A China é uma potência económica com as suas próprias peculiaridades mas nunca produzirá líderes incapazes à maneira de um Bush ou Trump nos Estados Unidos ou Noda no Japão. Tal como os créditos sociais são possível traçar as raízes do princípio da meritocracia na história chinesa pois a sua origem reside na história e na dinâmica dos exames imperiais. Foram instituídos pelo Imperador Wu da dinastia Han (141-87 a.C.), que tinha desempenhado um papel de liderança na abertura da China à "Rota da Seda". Com a dinastia Tang, os exames tornaram-se uma condição necessária para aceder à posição de funcionário público, e depois amadureceram definitivamente no período Ming (passando também por uma fase em que eram uma espécie de solução para o poder excessivo aristocrático pois nesse caso, a "meritocracia" visava derrotar privilégios de natureza hereditária). O principal ideal político, partilhado por funcionários governamentais, reformadores, intelectuais é a chamada meritocracia democrática

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vertical, ou seja, "uma democracia nos níveis inferiores de governo" contra um sistema político que recompensa a meritocracia nos níveis superiores da estrutura política e institucional do país. Uma meritocracia que sanciona a liturgia da política interna e se torna o guia da política externa, pois a China que o Ocidente tem de lidar com muito mais frequência do que no passado está a seguir esta rota. Pode, portanto, parecer que a China é o modelo meritocrático por excelência. Mas não é exactamente o caso, pois os julgamentos e condenações sucedem-se devido a uma realidade multifacetada porque, juntamente com a lógica da meritocracia, continuam a existir práticas de corrupção, privilégios ligados ao conhecimento e laços familiares. Os homens de negócios conhecem bem a palavra “guanxi” que significa o contacto, as relações, a rede de conhecidos. Durante o tempo que passam na China, para fazer negócios, estudar, ou trabalhar, tentam identificar, encontrar, chegar ao “guanxi” certo, que é o contacto que lhe permite atingir o objectivo. Quando se trata da China, a complexidade é a característica chave, pelo que a ênfase na meritocracia não exclui necessariamente a ênfase no sistema do clã; o que nos parecem contradições não o são para os chineses pois na China muitos sistemas coexistem, abordagens diferentes, mesmo aparentemente o oposto do outro; esta é outra característica a ter em mente quando se analisa a China e quando se tenta lidar com ela; financiamento da investigação, grande activismo estatal no desenvolvimento de novas tecnologias e inovações dão origem a um sistema social e cultural em que a meritocracia e o “guanxi” se enfrentam acabando por criar um modelo híbrido com falhas, mas suficiente para estar pronto para se tornar o modelo que conquistará os outros no mundo do futuro.


“Mais caladinhos e a trabalhar, muita gentinha iam curar ” PALAVRA DO DIA

Le fantôme das ilhas

quinta-feira

28.1.2021

Valha-nos Portugal Arquitecto apela à intervenção de peritos portugueses para salvar Basílica em Goa

O

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arquitecto Fernando Velho, membro do grupo independente Coletivo de Goa, que defende a conservação de monumentos históricos naquele estado indiano, apelou ontem à intervenção de peritos portugueses para salvar a Basílica do Bom Jesus, ameaçada pelas chuvas. “Era preciso que especialistas portugueses se reunissem com peritos locais e fizessem um relatório” sobre o restauro da Basílica, apelou Fernando Velho, considerando “urgente” a intervenção naquele monumento, considerado património mundial. O arquitecto indiano, que falava à Lusa após o reitor da Basílica em Goa Velha ter alertado que a igreja está em “grave perigo” de “colapso”, confirmou que a infiltração

de água nas paredes ameaça o monumento, depois de o estuque que recobria originalmente a fachada ter sido removido nos anos 1950. A polémica intervenção deixou a igreja, construída em rocha porosa pouco resistente ao clima húmido indiano, exposta à chuva e às monções. “Nos anos 1950, além de o estuque ter sido removido, houve uma série de outras intervenções, como a adição de lajes de betão e a modificação do telhado”, explicou Fernando Velho, um dos arquitectos consultados pelo reitor da Basílica, o padre Patrício Fernandes. “A integridade da estrutura da Basílica foi afectada”, explicou, e os reforços introduzidos há 70 anos “estão agora a ceder, por causa da deterioração do betão”. Exposta aos elementos, “a pedra deteriorou-se

muito em algumas áreas da fachada, por causa das monções”, explicou o arquitecto.A situação agravou-se devido às alterações climáticas, afirmou. “Por causa do aquecimento global, deixou de haver estação seca e monção na Índia, chove durante o ano todo. Todos os meses chove mais, o que não acontecia antes, e as paredes não têm oportunidade de secar”, disse o arquitecto. A expansão urbana da vizinha Pangim, capital do estado de Goa, também ameaça o monumento, classificado pela UNESCO em 1986. “O governo de Goa não definiu zonas tampão, obrigatórias pela lei nacional”, disse o arquitecto, denunciando “interesses imobiliários”. “É um problema que não existia no passado, mas com a construção de uma autoestrada muito perto da Basílica e o

Futebol Equipas de Macau desistem de Taça AFC O Benfica de Macau e o Chao Pak Kei abdicaram de participar na Taça AFC, a competição continental secundária da Confederação Asiática de Futebol. A decisão do C.P.K. já era conhecida, mas a opção do Benfica foi anunciada ontem e explicada com a impossibilidade de cumprir os períodos de quarentena. “Sendo o Benfica de Macau um clube semi-professional de futebol e tendo a maioria dos seus jogadores e colaboradores um estatuto de amador, a

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aumento do betão naquela zona, toda a água é absorvida pela igreja”, lamentou. Para Fernando Velho, “é urgente rebocar a igreja” e salvaguardar o monumento, considerando que a proteção da Basílica “é um problema transnacional”. “Era importante ter peritos de Portugal envolvidos, porque o reboco em igrejas também foi feito lá”, disse, recordando que há vários especialistas portugueses que estudaram a Basílica do Bom Jesus. O reitor da Basílica do Bom Jesus disse hoje à Lusa que a igreja construída pelos portugueses no séc. XVI está “em grave risco” de “colapso”, apelando a obras urgentes. O padre Patrício Fernandes alertou os serviços de conservação de monumentos de Goa (ASI), instando-os a rebocar as paredes da igreja e a fazer obras no telhado, mas segundo o prelado, tem havido resistência em proceder à intervenção. “A maioria das pessoas sempre conheceram esta igreja sem reboco, por isso pensam que era assim originalmente”, explicou. Construída entre 1594 e 1605, a Basílica do Bom Jesus faz parte de um grupo de igrejas e conventos erigidos pelos portugueses, classificados pela Unesco como Património Mundial, em 1986. A Basílica, um dos monumentos mais visitados em Goa, alberga o túmulo de S. Francisco Xavier, missionário jesuíta canonizado no séc. XVII, conhecido como o “apóstolo do Oriente”.

participação na Taça AFC 2021 não será possível face a corrente obrigação de cumprir um período de quarentena no regresso a Macau”, foi apontado. “Considerando que a segurança de todos é de extrema importância e não há políticas de isenção de quarentena em vigor, o Benfica de Macau foi forçado a tomar a difícil decisão de desistir da Taça AFC 2021”, é acrescentado. O clube promete regressar à competição em 2022.

LIMPINHO, LIMPINHO Marcelo teve quase mil votos em Macau FORAM ontem conhecidos os resultados finais das eleições Presidenciais de 2021 que reelegeram, por mais quatro anos, o candidato Marcelo Rebelo de Sousa. Dados afixados pelo consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, e que incluem os votos da Coreia do Sul, Marcelo Rebelo de Sousa teve um total de 926 votos. Ana Gomes, candidata independente apoiada por partidos como o Livre e o PAN, mas militante do Partido Socialista, ficou em segundo lugar com 207 votos. André Ventura, candidato e líder do Chega!, ficou em terceiro lugar com 115 votos. Segue-se Tiago Mayan, da Iniciativa Liberal, com 66 votos, Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, com 50 votos, João Ferreira, do Partido Comunista Português, com 42, e Vitorino Silva com apenas 27. Foram contabilizados 26 votos nulos e 15 brancos. De um total de 70.134 eleitores inscritos votaram apenas 1.474, num acto eleitoral marcado por dificuldades de deslocação devido à pandemia, nomeadamente de Hong Kong para Macau. Em Xangai, Marcelo Rebelo de Sousa ficou à frente com apenas 12 votos, que representam 63,16 por cento. Segue-se André Ventura com três votos, 15,79 por cento, e Ana Gomes com também três votos. Marisa Matias teve apenas um voto, com 5,26 por cento. À hora do fecho desta edição não estavam ainda disponíveis os votos em Pequim.

Votos duplicaram no estrangeiro

Em termos gerais o número de votos dos portugueses no

estrangeiro duplicou face às Presidenciais de 2016. “Os dados provisórios apontam para 27.615 votos em relação aos 14.150 de 2016”, refere um comunicado conjunto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Administração Interna. “Este aumento, a confirmar-se uma vez concluído o escrutínio provisório, verifica-se também em relação ao número de votantes na eleição para o Parlamento Europeu em 2019, que registou 13.816”, acrescenta o documento. Os dois ministérios assinalam que o número de locais de voto foi “o mais elevado desde que há registo” e estes receberam “15 toneladas de material eleitoral”. Os cidadãos portugueses no estrangeiro puderam votar nos dias 23 e 24 de Janeiro em “164 secções de voto em cerca de 145 serviços consulares da rede externa portuguesa”. O Governo aponta que os postos consulares onde se registaram maior número de votantes foram, por ordem decrescente, Londres, Luxemburgo, Paris e Macau, e que, “em termos globais”, a Suíça foi o país onde se registou o maior nome de votantes, seguida de Brasil, França e Reino Unido. Os dois ministérios destacaram também que os 5.429 cidadãos portugueses que participaram na votação antecipada no estrangeiro, realizada entre os dias 12 e 14 deste mês em 117 postos consulares, correspondem ao “maior número de que há registo”. A.S.S. / Lusa


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