Hoje Macau 28 OUT 2011 #2482

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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MOP$10

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 28 DE OUTUBRO DE 2011 • ANO XI • Nº 2482

Ter para ler

TEMPO POUCO NUBLADO MIN 22 MAX 28 HUMIDADE 50-80% • CÂMBIOS EURO 11.1 BAHT 0.2 YUAN 1.2

CÔNSUL DOS EUA

WIKILEAKS UMA VEZ TODOS CAEM • Página 8

NÍVEL DE INSATISFAÇÃO

NINGUÉM BATE A HABITAÇÃO OU A FALTA DELA • Página 9

JOÃO PEREIRA BASTOS

ANTES O FIMM TINHA UM ORÇAMENTO MISERÁVEL • Centrais

Agnes Lam | Comparticipação pecuniária “suga” vontade de mudança política

Cheques calam o povo

Os cheques de comparticipação pecuniária estão a destruir o poder de luta da sociedade de Macau. A opinião é de Agnes Lam, presidente da Associação da Força Civil de Macau e professora de Jornalismo na Universidade de Macau. Em 2013, Lam vai lutar por um dos 12 assentos dos deputados eleitos directamente para a Assembleia Legislativa e quer fazer com que o Governo pense como elevar a qualidade de vida da população a longo prazo. > PÁGINAS 4 E 5

OPINIÃO

Carlos Morais José

AS ASNEIRAS E O KADHAFI • PÁGINA 21

Jorge Rodrigues Simão

OBJECTIVIDADE E UNIVERSALIDADE • PÁGINA 22

Paul Chan Wai Chi

OVOS E BANANAS PARA PANQUECAS • PÁGINA 23

h

• BRUMAS DE KAMOGAWA ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR


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A

S águas dos poços estão contaminadas. Alguns campos podem estar verdes, mas sem bagos de arroz, que não chegaram a nascer. Só raramente se encontra carne ou peixe. Há hospitais sem ambulâncias, há camas com mais de um paciente. Ainda assim, no orfanato de Haeju, na zona sul da Coreia do Norte, 28 crianças sentam-se no chão para cantar: “Não temos nada a invejar.” A música faz parte de um hino à juche, a ideologia de independência e auto-subsistência da Coreia do Norte que contribuiu para o seu enclausuramento. Mas aquilo que testemunharam os jornalistas da AlertNet (a agência de notícias humanitária da Thomson Reuters Foundation) foi tudo menos a capacidade de o país responder às necessidades da sua população. E é o próprio Governo norte-coreano quem pede ajuda. A verdade é que “a Coreia do Norte não conseguirá alimentar a sua população num futuro próximo”, constatou a chefe das operações humanitárias da ONU, em declarações reproduzidas pelo jornal “Público”. Valerie Amos avisou a comunidade internacional que está na hora de pôr a política de lado e estender a mão a uma população que corre o risco de não resistir à fome. “Não julgamos as pessoas [que precisam de ajuda] com base no

ACTUAL

Coreia do Norte | Um terço das crianças sofre de malnutrição

Ainda pior que a Somália ambiente político em que vivem”, declarou em Seul, uma semana depois de ter visitado o país especificamente para avaliar a sua situação alimentar.

PIOR QUE NA SOMÁLIA

Amos foi autorizada a ver tudo o que pediu para ver. Voltou da viagem de cinco dias com vários números: o país tem um “fosso alimentar” de um milhão de toneladas entre os 5,3 milhões de toneladas pedidas nos últimos anos. As estimativas da ONU referem que mais de seis milhões de norte-coreanos necessitam urgentemente de alimentos (na Somália são quatro milhões). Mas os apelos feitos pelo Programa Alimentar Mundial foram satisfeitos em apenas 30%, com a Rússia e a União Europeia a encabeçar a lista dos principais dadores. “Vi que aonde chegava [a ajuda] fazia uma grande diferença”, adiantou. Praticamente todos os anos, desde a grande fome da década de 1990, que terá morto cerca de um milhão de pessoas (numa população de 24 milhões), surgem notícias de carências alimentares agudas. A

situação parece estar a agravar-se porque em 2008 os Estados Unidos e a Coreia do Sul suspenderam a ajuda alimentar: por um lado, devido à insistência de Pyongyang no programa nuclear, por outro, por falta de controlo na distribuição dos alimentos enviados. Em Junho, um relatório do Congresso americano acrescentava que também a China tinha parado a ajuda. Acontece que estes três países (para além do Japão) contribuíam com mais de 80% da ajuda alimentar destinada à Coreia do Norte entre 1985 e 2009. Foi a redução do seu auxílio que gerou grande parte do défice de um milhão de toneladas. Apesar dos tufões e das inundações, este não foi um ano particularmente mau para as colheitas - correu até ligeiramente melhor do que 2010 (razão pela qual o Programa Alimentar Mundial da ONU afirmou há um mês que a situação não era assim tão grave). Mas este ano simplesmente não aumentou o “fosso alimentar” referido por Amos. O regime é incapaz de alimentar sozinho a sua população, “mesmo nas

melhores condições meteorológicas”, cita a AFP. O problema tornou-se crónico porque faltam terras aráveis, abundam sementes de má qualidade e a agricultura não está suficientemente mecanizada, explicou a responsável da ONU. Entretanto, os efeitos de duas décadas de malnutrição não param de aumentar. “No Norte [do país], uma em cada duas crianças sofre de malnutrição crónica”, adiantou Amos. “Uma enfermeira disse-me que o número de crianças malnutridas no hospital dela aumentou 50% desde o ano passado”.

ARROZ, COUVES E MILHO

No cenário geral, um terço das crianças com menos de cinco anos sofre de malnutrição crónica. A alimentação faz-se à base de arroz, couves, milho e pouco mais; a falta de proteínas e produtos ricos em nutrientes é gritante, com consequências físicas e intelectuais. Os norte-coreanos vivem em média menos 11 anos do que os seus vizinhos do Sul. “Cada vez mais crianças vão para o hospital com doenças de

pele ou outras relacionadas com malnutrição, e agora que o Inverno se aproxima as doenças respiratórias vão tornar-se mais frequentes”, continua Amos. Muitas vezes não é no hospital que o problema é resolvido. Faltam medicamentos, meios “e os equipamentos estão completamente obsoletos”.Alguns especialistas sustentam que o país sobreviveria melhor às intempéries se adoptasse mais políticas de mercado. Algumas trocas comerciais começaram a ser autorizadas, ou pelo menos toleradas, e várias famílias dependem agora das hortas cultivadas nos seus quintais e mesmo nas varandas, como testemunhou a AlertNet. O regime tem seguido a orientação de “o Exército primeiro” e alguns críticos da ajuda alimentar acusam as autoridades de desviar o auxílio para os quartéis, ou armazená-lo para enfrentar o endurecimento das sanções, diz a Reuters. Mas, mesmo assim, a fome também chegou aos soldados. As fardas começam a ser mais pequenas, ou ficam largas; a altura mínima para ingressar na carreira militar teve de ser reduzida em dois centímetros.


Os escudos foram retirados e isso é um atentado contra a História. Imagine-se que nos documentos nazis alemães colocados na internet seria retirada a suástica. É algo de impensável, mesmo considerando os horrores praticados pelo regime de Hitler. Ou seja, a História tem uma importância que ultrapassa ideologias, sentimentos, etc., e muito estranhamos que um governo como o da RAEM, que pugna por uma “administração científica”, tome uma atitude tão anti-científica como esta. Carlos Mortais José P.21

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Política do filho único atrasou chegada aos 7000 milhões de habitantes na Terra

Há cinco anos podíamos ter sido mais

É

já no dia 31 – se as previsões estiverem certas – que o mundo recebe o bebé número sete mil milhões. Mas, se os pontos de maior densidade populacional se centram nos países asiáticos, a China terá ajudado a que este grande número de pessoas no planeta não chegasse mais rápido. Sem a política do filho único, o bebé “sete mil milhões” teria nascido há cinco anos. Um investigador demográfico chinês explica: “a população da China estaria, actualmente, perto dos 1,7 mil milhões, caso não fossem implementadas medidas de planeamento familiar

como as que existem”, frisou Zhai Zhenwu, reitor da Faculdade de Sociologia e População da Universidade de Pequim. “E a população mundial teria atingido os sete mil milhões em 2006”, acrescentou o especialista. Zhai Zhenwu calcula que a política do filho único – naquela que é a nação mais populosa do mundo -, “preveniu que 400 milhões de pessoas fizessem parte da população da China”, que é de 1.34 mil milhões de pessoas, actualmente. O académico calculou que o nascimento do bebé “sete mil milhões” poderia ter sido há cinco

anos, baseando-se na média populacional por ano no mundo – cerca de 80 milhões. A China introduziu a política do filho único em finais de 1970, numa tentativa de impedir a pressão populacional nos recursos e no ambiente, bem como forma de subir a qualidade de vida da população. De acordo com estatísticas da Comissão Nacional da China para o Planeamento Familiar e Populacional, a proporção da população chinesa em todo o mundo caiu agora para 19%, contra os 22% sentidos há trinta anos. Por isso, dizem os especialistas,

a esperança média de vida subiu para os 73 anos. O decréscimo na taxa populacional promoveu uma economia e sociedade mais sustentáveis. “A China demorou trinta anos a transformar o desenvolvimento na sua população, um desenvolvimento em que países mais desenvolvidos precisaram de um século para acabar”, disse Zhai Zhenwu. Ainda assim, a China continua a enfrentar bastantes desafios populacionais, como o envelhecimento dos cidadãos. A política do filho único é também contestada por muitos pais.

CHINA PROMETE CONTROLO MAIS RÍGIDO SOBRE REDES SOCIAIS NA INTERNET

GOVERNO E BANCO CENTRAL LANÇAM CAMPANHA PARA FOMENTAR CONSUMO INTERNO

Prevenir palavras venenosas

Pensar no que os chineses comem e compram

A

China vai intensificar o controlo de redes sociais e de ferramentas de mensagens instantâneas na Internet, afirmou o Partido Comunista num documento de definição de agenda que marca a maior reacção do Governo até agora ao crescimento explosivo dos microblogs. O voto de Pequim para fortalecer a administração da Internet e a promoção de conteúdo aceitável para o partido apareceu num comunicado publicado no jornal oficial do Governo chinês, o Diário do Povo, ontem. Comunicados do Comité Central do Partido Comunista, que realizou uma reunião anual cujo encerramento ocorreu na

semana passada, definem a orientação geral da política do país. O comunicado deixou claro que os líderes estão à procura de maneiras para controlar melhor, mas não extinguir serviços de microblogs que se tornaram canais populares para divulgar notícias e opiniões que podem desestabilizar o Governo. “[O objectivo é] fortalecer as directrizes e a administração dos serviços de redes sociais e ferramentas de comunicação instantânea na Internet e regular a divulgação ordenada de informação”, disse o comunicado. “Aplicaremos a lei para punir severamente a divulgação de informações prejudiciais”, acrescentou o documento. Não há contudo

detalhes sobre de que forma a regulamentação mais severa pode ocorrer. O anúncio da reunião do partido baseia-se num fluxo de alertas nos média estatais que mostrou que Pequim está irritada com os microblogs e o seu potencial para escapar da censura e de controles. “Colocar palavras como essas em um documento como esse mostra que eles estão a levar este assunto muito a sério”, disse Li Yonggang, especialista em política da Internet na Universidade de Nanjing, no leste da China. “Este é um sinal político, mas provavelmente passará algum tempo antes que resulte no surgimento de quaisquer novas medidas ou regulamentações”.

ANGOLA ONDA DE CRIMES JÁ MATOU CINCO CHINESES ESTE ANO Pelo menos cinco cidadãos chineses foram mortos este ano em Angola em assaltos à mão armada e em roubos. A última vítima foi o proprietário de uma pequena empresa de construção, Lou Yongzhen, morto a tiro no domingo passado de manhã numa rua de Luanda, revelou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. Lou Yonzhen ia a conduzir quando “um homem negro o obrigou a parar, partiu a janela do automóvel e deu-lhe dois tiros na cabeça”, contou a irmã mais nova da vítima, Lou Aili, citada ontem na imprensa de Pequim.

O

S ministros chineses do Comércio e Finanças e o Banco Popular chinês lançaram ontem um plano para aumentar o consumo interno que inclui a promoção de todos os tipos de produtos a partir de 2012 pelo menos durante um mês em cada ano. O objectivo das autoridades chinesas é impulsionar o consumo, o desenvolvimento e os benefícios à população, o que envolverá também os responsáveis provinciais e locais a aplicar recursos em actividades publicitárias. Enquanto são aumentados os subsídios governamentais, os bancos irão ampliar os empréstimos e

os créditos e em colaboração com o comércio será potenciada a utilização dos cartões de débito para facilitar os pagamentos, a venda directa e através da Internet. O crescimento chinês nas últimas décadas foi impulsionado por grandes investimentos dirigidos pelo Governo para infra-estruturas e sector imobiliário, acrescido do superávit comercial, agora em perigo pela crise na União Europeia e Estados Unidos e que ameaça o tradicional aumento das exportações chinesas. De forma a tentar encontrar outros pilares do crescimento económico, o

Governo pretende aumentar o consumo interno dado que, segundo alguns peritos, apenas 35% do Produto Interno Bruto da China, é consumido pelas famílias chinesas. Pequim propõe-se aumentar o consumo até 50 por cento do Produto Interno Bruto o que, mesmo assim, não retiraria a China do grupo de países da Ásia oriental com baixo consumo. O ideal, segundo os peritos, seria conseguir que o consumo das famílias, aumentasse quatro pontos percentuais acima do PIB, mas se na última década o consumo subiu sete a oito por cento, o PIB cresceu entre 10 e 11%.

DÉCIMO MONGE TIBETANO ATEIA FOGO AO CORPO EM PROTESTO Um monge budista tibetano imolou-se pelo fogo depois de se cobrir de combustível, no extremo oeste da China, na terça-feira, sendo o 10.º tibetano a usar essa forma extrema de protesto este ano, indicou um grupo internacional de defesa de direitos humanos. O grupo Free Tibet disse que o mais recente caso de autoimolação ocorreu em frente a um mosteiro em Ganzi, na província de Sichuan, a cerca de 150 quilómetros da cidade de Aba, onde oito das últimas nove imolações ocorreram desde Março, em protesto contra os controlos religiosos impostos pelo Governo chinês.


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POLÍTICA

Entrevista | Agnes Lam, académica, jornalista e presidente da Força Civil

“A comparticipação pecuniária está a sugar a vontade e o espírito de luta” As pessoas de Macau limitam-se a pensar nas medidas políticas e nos benefícios a curto prazo. Quem o diz, e critica, é Agnes Lam, presidente da Associação da Força Civil de Macau e professora da Universidade de Macau, que acredita ainda que o território se limitará a seguir os passos da reforma política de Hong Kong, caso o vizinho avance para o sufrágio universal. Como jornalista, Agnes Lam defende que a liberdade de imprensa está garantida, mas assegura que falta, na RAEM, mais investigação. Kitty Lee/ Hoje Macau info@hojemacau.com.mo

Recentes notícias davam conta de restrições à liberdade da imprensa. Considera que, em Macau, esta liberdade está a diminuir? Não. Foram poucos os casos em que isso aconteceu, mas considero existirem problemas com os média. Comparando com o tempo em que eu era jornalista, em que havia mais competição para conseguir notícias relevantes. Desde que Macau retornou à pátria, essa competitividade desceu. Isto não afecta a liberdade de imprensa, mas afecta a performance e competência dos média. Em termos legais, não há restrições à liberdade de imprensa, porque não houve reforma na Lei de Imprensa ainda. O artigo 23.º da Lei Básica eu penso que é mais indicado aos funcionários públicos reformados ou seniores do que propriamente para jornalistas. Os casos que acontecerem aqui em Macau, como o do polícia que impediu uma jornalista de fotografar o trânsito, demonstraram apenas abuso de poder, mas não indica uma ameaça à liberdade de imprensa, só produziu conflitos. E como se pode ver, os média ganham sempre e a polícia retrai-se. Isto confirma a liberdade da imprensa. Quais são as diferenças entre Hong Kong e Macau no que diz respeito aos órgãos de comunicação social? Há bastantes diferenças. A impressão que a maioria das pessoas tem dos média de Macau é que são mais “governamentais”. Eu concordo com isso. Os órgãos de comunicação de Macau têm uma relação mais próxima do Governo e servem como “cães

de guarda” na monitorização do Executivo. Em Hong Kong, os média investem mais em reportagens de investigação, tendo, por isso, mais histórias únicas. Macau tem recursos insuficientes e poucas empresas que fazem jornalismo de coração. Mesmo que publiquem reportagens de investigação, alguns não são profissionais o suficiente e não têm o apoio necessário. Trabalhou como jornalista e agora é professora universitária. O que a influenciou para se virar para a política? A sociedade tem muitas coisas que precisam de ser mudadas. O meu posto como jornalista ou professora conseguia melhorar algumas coisas, mas apenas de forma limitada. É, por isso, necessário uma reforma política. E os meus cargos como jornalista, professora ou comentadora não conseguem fazer essa reforma. Depois da transição, considera que existiu uma mudança na mentalidade das pessoas no que diz respeito à democracia? Sim, desde há dez anos que há mais vozes que se levantam, mais pedidos da sociedade. Podemos ver o mérito do princípio “um país, dois sistemas”. Ainda assim, no seio da população, as pessoas não confiam no sistema, mostramse confusas e demonstram uma atitude de “não querer saber”. Como o fenómeno da compra de votos: as pessoas não compreendem que se votarem em alguém que os subordinou pagando-lhes 500 patacas por voto, não podem esperar que o vencedor corresponda às expectativas da população. Ele já lhes pagou o voto. Com dinheiro. Não lhes deve nada. Há diferenças entre Macau e

“O Governo não está a alocar de forma positiva os recursos. Daí os problemas de transporte, habitação e o fosso entre ricos e pobres. É preciso dividir melhor as riquezas” Hong Kong no que diz respeito a lutar por uma sociedade mais democrata? As pessoas de Hong Kong fazem isso melhor? Sim. As pessoas de Hong Kong levam mais em consideração os planeamentos urbanos, dão mais interesse às medidas a longo-prazo e percebem qual o verdadeiro papel das políticas na sociedade. Mas a RAEHK também enfrenta os seus próprios problemas,

gastam demasiado tempo, desnecessário, a discutir matérias que afectam o desenvolvimento da sociedade. Macau, pelo contrário, não passa muito tempo a debater esses assuntos e as políticas entram rapidamente em vigor. Mas com falta de debate na sociedade a coisa pode não correr tão bem. Hong Kong e Macau têm ambos aspectos bons e maus. Recentemente, o Governo

assumiu que a sociedade de Macau não está preparada para uma reforma política devido a não existir consenso social. Esta é uma boa desculpa para retardar a implementação de uma reforma? Claro que não é uma boa desculpa, a nossa sociedade nunca conseguirá atingir um consenso porque há sempre quem concorde e quem discorde. Se o Governo esperar pelo consenso, a reforma política nunca vai ser implementada. Quando poderá o sufrágio universal ser utilizado em Macau? Eu penso que depois de Hong Kong implementar o sufrágio universal, poderá haver uma pressão em Macau. Haverá aí uma hipótese maior em levar isso para a frente. Muitos deputados eleitos directamente defendem que deveriam haver mais lugares na Assembleia Legislativa. Haveria um equilíbrio melhor no sistema político desta forma? Sim, haveria melhor equilíbrio. Com os deputados actuais há muito desequilíbrio e não há suficiente representação. Neste momento, são 17 dos 29 os eleitos indirectamente. Seria preferível que, no mínimo, houvessem 14 lugares para os directamente eleitos. O Executivo defende que as consultas públicas são uma forma de implementar um Governo transparente. Esta é uma boa forma? E será essa a opinião da sociedade? Eu considero que existirem consultas públicas é um aspecto positivo, um pequeno passo para uma pequena melhoria. Mesmo assim, não estão bem organizadas. O Governo junta todas as opiniões e passa-as ao


GOVERNO APOIA IMPORTAÇÃO DE DOMÉSTICAS DA CHINA CONTINENTAL

O secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, disse ontem que o Governo já apresentou oficialmente às autoridades chinesas o pedido sobre a importação de mão-de-obra da China interior para trabalho doméstico em Macau. Espera-se agora a “luz verde” do Governo Central. O responsável sublinhou que o Governo está atento ao assunto e tem vindo a debater com as entidades competentes para definir as normas. As autoridades locais têm estado a auscultar as opiniões da sociedade relativamente à idade, formação, salário, entre outros tópicos, no âmbito do pessoal a ser importado, e o pedido oficial foi feito com base no ambiente social de Macau.

público ao mesmo tempo. É difícil para a sociedade ler tudo. Eu considero que o Executivo apenas ouve algumas opiniões públicas e são as associações civis quem mais recolhe opiniões. Se as associações continuarem a fazer estas consultas de forma sistemática, o Governo começa a aperceberse que os documentos não são mais ficheiros internos, mas são públicos. Aí, farão os documentos com mais cuidado. Fundou a Associação do Poder Cívico de Macau em 2008. O que a levou a fazer isso? Na altura, eu não tinha qualquer interesse especial em montar uma associação. Mas os meus amigos e conhecidos da classe média consideraram ser necessário juntarmo-nos para que a nossa voz fosse mais forte aquando da discussão sobre políticas sociais. Esta é uma plataforma para trocarmos opiniões.

“Com os deputados actuais há muito desequilíbrio e não há suficiente representação. Neste momento, são 17 dos 29 os eleitos indirectamente. Seria preferível que, no mínimo, houvessem 14 lugares para os directamente eleitos” Depois de dois anos a dirigir a Associação, qual é o seu melhor ganho? O meu melhor ganho é ter a hipótese de ouvir as opiniões das pessoas e perceber as realidades da sociedade. É possível perceber diferentes pontos de vista de pessoas com diferentes cargos na sociedade. E é um lugar onde podemos ter a nossa própria posição e opinião relativamente à sociedade. Planeia ser candidata às próximas eleições em 2013. Se ganhar um lugar na AL, o que fará pelos cidadãos de Macau? Na minha opinião, o Governo não está a alocar de forma positiva os recursos. Daí os problemas de transporte, habitação e o fosso entre ricos e pobres. É preciso dividir melhor as riquezas. Considero que as pessoas de Macau só pensam em medidas e benefícios a curto prazo. A comparticipação pecuniária todos os anos está a sugar da sociedade a vontade e o espírito de luta.

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PATRÃO DO WYNN TROCA NOME DO CHEFE DO EXECUTIVO EM CERIMÓNIA OFICIAL

Afinal é Ho ou Chui? Lia Coelho

lia.coelho@hojemacau.com.mo

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TEVE Wynn, presidente da Wynn Resorts, apresentou ontem em Macau um conjunto de vasos chineses da dinastia Qing e uma tapeçaria, que terão como destino o novo resort que pretende construir na zona do Cotai. A apresentação contou com a presença de Edmund Ho, antigo Chefe do Executivo da RAEM e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, mas para o patrão da Wynn os cargos de Ho não estão muito claros. Isso porque o magnata da operadora magnata confundiu-se todo durante o seu discurso. Wynn agradeceu a presença do responsável, que liderou o processo de liberalização do jogo no território, a referir-se a Ho como “Chefe do Executivo”. Depois, o norte-americano deu-se conta da ‘gaffe’ e corrigiu para “vice-

-presidente” da CCPPC, o principal órgão de consulta do Partido Comunista e do Governo da China. A colecção de vasos de porcelana chinesa do século XVIII vão ficar em exposição, para já, no hotel Wynn Macau. As peças foram adquiridas num leilão e o magnata terá pago cerca de 102 milhões de patacas. Num breve discurso, Steve Wynn afirmou que as peças irão fazer parte do adorno do novo complexo turístico do Cotai.

Virginia Leung

virginia.leung@hojemacau.com.mo

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A sequência da visita desta semana de Chui Sai On a uma organização que se dedica a afastar os jovens das drogas, o deputado da Assembleia Legislativa (AL) Au Kam San criticou o Chefe do Executivo por aquilo que considera ter sido apenas uma manobra de “show político”, em vez de uma verdadeira e efectiva medida para ajudar a recuperação de toxicodependentes. Um académico entrevistado pelo Hoje Macau não vai tão longe, mas concorda que ainda há muito por fazer nesta área. Ao visitar o Centro de Combate às Drogas na Juventude, o Governo não deveria apenas focar-se em ajudar os toxicodependentes a deixar o consumo, mas sim no mais importante: como incentivá-los a deixar de vez dando-lhes oportunidades de verdadeiramente se reinserirem na sociedade, afirmou Larry So, professor-assistente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), em declarações ao Hoje Macau. A aceitação de “viciados em drogas

Relativamente ao anúncio da concessão dos terrenos e do projecto do seu futuro empreendimento, que no Governo ainda está sob apreciação, o patrão não teceu qualquer comentário aos jornalistas, tendo abandonado o hotel assim que a cerimónia terminou. O magnata acrescentou apenas que a aquisição das peças reflecte a “continuação da política [da Wynn] de contribuição para o enriquecimento cultural de Macau” e do seu compromisso de fazer regressar à China alguns

dos seus tesouros artísticos. Steve Wynn seguiu para um encontro com o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io. Para o presidente da operadora de casinos, é fulcral apostar na parte cultural de Macau, além dos números. “Desde 2005/2006 que a nossa empresa tem procurado promover a vertente cultural em Macau a par da vertente económica”, afirmou. Por todo lado a presença histórica e artística da China está presente. Nas palavras do norte-americano, “é bom que estas peças regressem à China e estes quatro vasos vão ficar na China para sempre”, concluiu. A Wynn Resorts adquiriu a 7 de Julho a porcelana chinesa, que datam de 1796-1820, num leilão da Christie’s em Londres por 7,9 milhões de libras, frisando que existem apenas outros quatro exemplares no mundo que pertencem

GOVERNO AINDA TEM MUITO A FAZER PELOS TOXICODEPENDENTES RECUPERADOS

Show Sai On recuperados” por parte da sociedade não é brilhante. “Sempre dissemos que era pior recuperar toxicodependentes que depois não são aceites pela sociedade. Isso contribui para que eles voltem facilmente a ter contacto com as drogas, mesmo depois de terem deixado o vício, porque se sentem frustrados com a sociedade”, explicou, lembrando também a facilidade com que os jovens se podiam deslocar a Zhuhai para consumir drogas, pelo que o Governo deveria considerar reforçar um mecanismo efectivo de combate a essa prática. Em termos práticos, é necessário arranjar novas ocupações para essas pessoas e o incentivo à reinserção pode passar por atribuir benefícios a empresas que contratem ex-toxicodependentes, defende Larry So: “Chui Sai On fez

a sua visita sabendo da situação da recuperação de viciados em drogas, mas será que vai considerar qualquer política de incentivo, como subsídios aos salários para empresas que os empreguem, de forma a ajudar a que seja mais fácil envolvê-los na sociedade com um bom nível de aceitação?” Sobre a visita em si, Larry So considera um acto normal e até que deveria acontecer mais vezes. “Os responsáveis do Governo devem proceder a este tipo de visitas, mesmo parecendo que estão a dar espectáculo, porque pelo menos alguns cidadãos têm assim uma oportunidade de reflectir as suas opiniões directamente ao Chefe do Executivo e o Governo pode ter um contacto com os cidadãos”. Nesta última visita, “o desempenho foi razoável, ele [Chui] preparou-

à rainha de Inglaterra e estão no palácio Buckingham. O magnata revelou, ainda, que os vasos, pertenciam a vários aristocratas escoceses. Em Setembro, a Wynn Resorts anunciou, numa comunicação ao mercado de capitais, ter aceite os termos e as condições do Governo de Macau para a concessão de um terreno de 20,6 hectares nas imediações do Aeroporto Internacional e de vários empreendimentos de turismo e jogo e infra-estruturas desportivas. Entre elas está o pagamento de 1,55 mil milhões de patacas pela concessão do terreno por 25 anos e o prazo de cinco anos para desenvolver o projecto, que poderá incluir hotéis, casinos, comércio, entretenimento, convenções e exposições, após a publicação do contrato no Boletim Oficial. O Governo fez depois saber que o pedido da Wynn ainda está a ser analisado, não existindo uma “decisão final”.

-se para o que queria dizer, aos que não conseguiu responder deu a entender que o iria fazer no próximo Relatório das LAG [Linhas de Acção Governativa]. Essa prática é correcta porque é preciso considerar e discutir com responsáveis para confirmar antes de responder a certos apelos.” Au Kam San também falou ao Hoje Macau e transmitiu uma postura menos positivas em relação a essas visitas de charme, que considera não passarem de “espectáculo político”. O deputado pró-democrata acha que “as expectativas dos cidadãos são mais no sentido de saber se Chui Sai On pode realmente tomar medidas que os ajudem de forma efectiva”. A visita, considera, “não passa de um acto de rotina. Mais importante é o que pode ele fazer para melhorar a situação após a visita? Os residentes têm expectativas, mas quantas medidas práticas podem estar verdadeiramente a ajudar?”, questionou o parlamentar, sublinhado que, actualmente, não era capaz de ver ou avaliar qualquer efectividade: falar às pessoas e responder às suas perguntas em visitas é fácil.


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SOCIEDADE

Cônsul dos EUA: “Estamos a tomar medidas para que não volte a acontecer”

Virginia Leung

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Virginia.leung@hojemacau.com.mo

NFORMAÇÕES secretas envolvendo Macau terão sido ilegalmente divulgadas para o Wikileaks (www. wikileaks.org), nomeadamente alegações acerca de uma alegada preferência de Washington por outro Chefe do Executivo para a RAEM em vez de Chui Sai On. O cônsul-geral dos Estados Unidos para Hong Kong e Macau disse ontem que as revelações “não afectaram as relações” dos dois governos. “Posso garantir que estamos a tomar medidas para assegurar que não volta a acontecer”, afirmou Stephen Young, ontem durante um evento comemorativo. “Não considero que [o episódio] tenha afectado as nossas relações com o Governo de Macau e espero que isso não se venha a passar”, disse Stephen Young aos jornalistas, em declarações à margem de uma cerimónia de homenagem aos diplomatas americanos enterrados no cemitério protestante de Macau. O diplomata americano fez questão de desmentir categoricamente a informação sugerida no Wikileaks, garantindo que os EUA estavam em sintonia com o Governo Chui Sai On: “Temos uma boa relação com o Chefe do Executivo de Macau, Fernando Chui Sai On, e com o seu Governo e, como puderam ver, estiveram aqui vários membros do Executivo”. A alegada “sintonia” entre Washington e o actual chefe do Governo de Macau não surpreende, de acordo com Stephen Young, e é em parte também fruto do percurso de Chui Sai On, em cuja formação se inclui uma passagem importante por solo americano: “Ele tirou o seu doutoramento em Oklahoma, o que é para nós um grande motivo de orgulho” e a semente do que são hoje relações de amizade diplomática. Sobre essas relações, o cônsul americano revelou que, por exemplo, a economia e a indústria do jogo eram temas recorrentes nas conversas bilaterais. “Temos conversado sobre o crescimento da indústria do jogo e os esforços para diversificar a economia

HOJE MACAU

Wikileaks salpicam em Macau

daqui; e também dos projectos de desenvolvimento para a Ilha da Montanha”, afirmou. “Macau parece estar imune à crise económica mundial. Está a gerar mais dinheiro este ano do que nunca antes e a taxa de desemprego é baixa, penso que apenas cerca de 3%. Enquanto estes apostadores ricos da China continuarem a vir, o resto do mundo não interessa”, afirmou, mostrando estar a par

das singularidades da economia de Macau.

INVEJAS

A indústria dos casinos em Macau há muito que deixou para trás a da anterior capital mundial do jogo. Stephen Young admitiu: hoje em dia “Las Vegas tem uma certa inveja [de Macau]. Mas por outro lado, Sands, MGM Grand e Wynn são empresas sediadas em Las

Vegas, que estão satisfeitas por o seu sucesso aqui estar a compensar a desagregação do mercado de lá. Mas Las Vegas é como o resto da economia dos EUA e irá certamente recuperar, mas não me parece que vá alcançar Macau assim tão cedo.” O diplomata norte-americano salientou a importância de Macau apostar na preservação das suas características e do seu património único, não deixando que a cidade

seja sufocada pela voracidade expansionista dos casinos, mesmo sendo estes o motor do milagre económico. “Para mim, uma das muitas coisas que fazem Macau tão especial é o facto de a cidade, mesmo estando no meio de uma transformação impulsionada pela sua explosão económica contemporânea, a cidade manteve o seu carácter e charme tradicionais. Por exemplo, um passeio pelas ruas da cidade antiga até ao Largo do Senado é um ponto alto memorável para os milhões de turistas que visitam Macau a cada ano.” “Os Estados Unidos estão envolvidos no desenvolvimento económico da Ásia” em virtude dos “muitos interesses” na região, afirmou Stephen Young, enaltecendo a relação de proximidade com os investidores americanos no território da RAEM. “Estamos contentes que as coisas estejam a correr bem e mantemos uma relação muito próxima com os investidores americanos e com a Câmara de Comércio Americana em Macau. Em Agosto deste ano, o Wikileaks – organização transnacional dedicada a divulgar livremente na Internet informações provenientes de fontes anónimas, documentos, fotos e informações confidenciais vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis – revelou um relatório confidencial de 18 de Março de 2009, enviado para a Casa Branca pelo então cônsul-geral dos EUA para Hong Kong e Macau, Joe Donovan, com considerações sobre a eleição do Chefe do Executivo da RAEM e o papel de Pequim no processo. No documento, Donovan afirmava considerar que o caso de corrupção que tinha acabado por levar à detenção de Ao Man Long, antigo secretário dos Transportes e Obras Públicas do anterior líder do Governo da RAEM, Edmund Ho, enfraquecia a candidatura de Chui Sai On e defendia ainda que o procurador-geral Ho Chio Meng era visto por algumas figuras do Governo Central chinês como “o homem ideal” para fazer face à corrupção na região. Os telegramas diplomáticos norte-americanos interceptados pelo Wikileaks revelavam ainda informações sobre os investidores americanos na indústria do jogo em Macau.


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HABITAÇÃO É A ÁREA QUE MAIS INSATISFAÇÃO GERA EM TERMOS DE POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS

O povo quer é tecto A

política do Governo para a habitação continua a figurar no topo das áreas que mais insatisfação gera entre os residentes de Macau, de acordo com os resultados de um inquérito ontem revelados. O inquérito, com uma amostra de 1505 pessoas, teve como principal objectivo identificar o “Índice de Felicidade” da população fixado em 71,6 pontos com base nas respostas que foram facultadas por telefone, numa escala de 0 a 100 pontos - em que 100 representa o nível de satisfação máxima. Face ao ano passado, o índice manteve-se praticamente inalterado. No capítulo das políticas do Governo o nível de satisfação geral situou-se nos 63,3 pontos, com os inquiridos a mostrarem, sem surpresas, e pelo segundo ano consecutivo, maior desagrado em relação às iniciativas governamentais direccionadas para a habitação (51,1 pontos). A falta ou insuficiência de medidas no plano dos problemas juvenis - como envolvimento com drogas -

conquistou o segundo lugar em termos de insatisfação (57,5 pontos), enquanto as políticas para o emprego figuraram no último lugar do mesmo pódio (63,3 pontos). Em sentido inverso, a política educacional foi a que granjeou o maior número de pontos (69,6 pontos) e, por conseguinte, o primeiro lugar do ‘ranking’ da satisfação. A sondagem, cujos resultados foram apresentados ontem, foi conduzida pela Associação de Caridade Sin Meng, presidida pela deputada eleita por sufrágio directo Melinda Chan, com os dados a serem analisados e tratados pela Associação de Pesquisas e Sondagens de Macau, sob a liderança do académico Angus Cheong, professor da Universidade de Macau. Em termos da habitação - área que o Chefe do Executivo prometeu dar especial relevo nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2012, que serão apresentadas no próximo mês -, os resultados da sondagem evidenciam que, ao contrário do que se verifica em Hong Kong, os residentes que

têm casa própria registaram um nível de satisfação relativamente mais elevado em comparação com os que moram em fraCções sociais. “O Executivo deve abster-se de delinear a política para a habitação como uma estratégia independente, mas antes levar em conta as políticas sociais e outros no seu planeamento, dado que há várias políticas que devem trabalhar lado a lado e ser revistas de forma oportuna”, afirmou Melinda Chan, ao apontar para a “falta de um plano a médio e longo prazo”. A habitação é o item que mais desagrada ao nível das políticas do Governo, mas a saúde é a área em que se tem vindo a registar uma “preocupação crescente” junto dos inquiridos que deram a este item uma cotação de 93 pontos. “Os residentes têm elevadas expectativas no sistema de saúde”, disse Angus Cheong. Melinda Chan espera que os resultados do inquérito, realizado pela segunda vez, sirvam de referência ao Governo numa altura em que o Executivo prepara as políticas para o próximo ano.

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SOCIEDADE

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TAXA DE DESEMPREGO MANTEVE-SE NOS 2,6% NO TERCEIRO TRIMESTRE

A taxa de desemprego em Macau manteve-se nos 2,6% no terceiro trimestre, o mesmo nível registado nos três meses terminados em Agosto. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos, a taxa de desemprego registada entre Julho e Setembro reflecte uma queda de 0,3 pontos percentuais face a igual período de 2010. Já a taxa de subemprego atingiu 1%, mais 0,1 pontos percentuais face ao período entre Junho e Agosto e menos 0,6 pontos percentuais em relação ao terceiro trimestre de 2010. Entre Julho e Setembro, a população activa de Macau estava estimada em 344 mil pessoas, das quais 335 mil estavam empregadas - mais 300 pessoas do que entre Junho e Agosto -, o que fez com que a taxa de actividade atingisse os 72,5 por cento, valor que reflecte uma subida de 0,7 pontos percentuais em relação a igual período de 2010.

Académicos recomendam aumentos na segurança social para idosos

Mais pataquinhas para os velhinhos Virginia Leung

V

virginia.leung@hojemacau.com.mo

ÁRIOS académicos pronunciaram-se a favor do aumento do apoio social a idosos com vista a uma aproximação dos padrões internacionais de subsistência. Isto para diminuir os efeitos da inflação, que tem devorado o poder de compra dos reformados, explicaram ontem numa conferência sobre o tema. “Actualmente, Macau tem uma larga cobertura em termos de segurança para a terceira idade, mas os montantes apenas alcançam 30% do nível de rendimentos médio dos residentes locais. O montante total deveria subir para pelo menos 40%, de forma a atingir o nível mínimo sugerido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, declarou Dicky Lai Wai Leung, professor-assistente da Escola de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau (IPM), durante o Terceiro Fórum sobre Sistema de Pensões da China e Taiwan, num conjunto de conferências distribuídas entre Macau e Hong Kong. “Actualmente, o montante do fundo de pensões já está desfasado dos preços das mercadorias e não

consegue fazer frente à inflação”, observou Guderian Leung Kai Yin, professor da Escola de Administração Pública do IPM, sugerindo que o Fundo de Pensões fosse anexado ao índice de preços ao consumidor, de forma a ser reajustado a cada semestre ou trimestre.

“Macau tem necessidade de desenvolver mais níveis do mecanismo e a participação, ou seja, voltar a consciência do que é importante para o processo de reforma do mecanismo de segurança social”, diz Anna Chan No passado, os residentes de Macau em geral não contavam com grande apoio do Governo para o seu bem-estar, recordaram Liu Bolong, director Centro de Investigação em Ciências Sociais, da Universidade da China Contemporânea em Macau, e Guderian Leung, que se debruçaram sobre o funcionamento dos sistemas de segurança social. Quando atra-

vessavam alguma dificuldade, provavelmente limitavam-se a valer-se dos seus próprios meios ou do apoio de familiares, raramente buscando ajuda exterior, lembraram os académicos. “Quer nos tempos portugueses, quer nos tempos da RAEM, os residentes não se habituaram a considerar os serviços sociais como estando entre os direitos do cidadão e a população nem sequer transmite grandes exigências para a reforma do Sistema de Segurança Social.” A atitude da maior parte dos cidadãos de Macau mantém-se num nível muito conservador em relação à segurança social. “Aos seus olhos, a segurança social apenas está garantida para os necessitados. Os residentes de Macau não estão a pedir uma segurança social do tipo ocidental, mas apenas pedem ao Governo que os ajude a resolver problemas com os quais não têm capacidade de lidar”. Trata-se de uma postura culturalmente enraizada nos valores do confucionismo secular, explicaram os estudiosos.

PROBLEMAS E DESAFIOS

Para o primeiro nível do Sistema de Segurança Social, existem vários problemas à espera de

“Quer nos tempos portugueses, quer nos tempos da RAEM, os residentes não se habituaram a considerar os serviços sociais como estando entre os direitos do cidadão e a população nem sequer transmite grandes exigências para a reforma do Sistema de Segurança Social”, apontam Liu Bolong e Guderian Leung solução, observou Anna Chan, assessora técnica superior do Fundo de Segurança Social de Macau, acrescentando haver uma tendência para o aumento na população da terceira idade e que o envelhecimento podia aumentar a pressão sobre o poder de compra. “Em Macau acontece o mesmo que noutras regiões que também enfrentam imutáveis problemas de envelhecimento”, indicou Anna Chan, explicando que as contribuições demasiado

baixas eram contrárias ao princípio da segurança social e que não eram um bom factor para o desenvolvimento sustentável do mecanismo de segurança social. Além disso, observou também, as extensas coberturas e despesas estão demasiado dependentes dos fundos do Governo, criando grandes despesas e um enorme fardo financeiro a longo prazo. Os idosos em Macau geralmente optam por levantar logo o dinheiro do seu fundo de pensão, preferindo tê-lo “no bolso” e os residentes não estão devidamente educados para o planeamento da vida a longo prazo ou a construção de activos, observou Anna Chan. “Macau tem necessidade de desenvolver mais níveis do mecanismo e a participação, ou seja, voltar a consciência do que é importante para o processo de reforma do mecanismo de segurança social”, alertou. O papel do Governo e a sua orientação em termos de participação a longo prazo devem ser alvo de reflexão, afirmou Anna Chan, explicando que aquilo que deve ser considerado é se o Governo deve ou não transferir a sua posição na reserva de fundos para a mera fiscalização.


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SOCIEDADE

NOVOS ATERROS | ALIVIAR TRÂNSITO E MAIS ESPAÇOS VERDES SÃO OS PRINCIPAIS OBJECTIVOS

Cruzar bairros antigos e novos locais Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

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ANTÓNIO FALCÃO

ÃO há ainda um plano definido para os novos aterros, mas uma coisa é certa: vão conseguir aliviar a pressão do trânsito e fornecer mais instalações públicas à população. Os dois anteprojectos para os locais que vão nascer em 2012 foram já apresentados à população e estão na segunda fase de consulta pública. Ainda que sem formas concretas, há já ideias que estão vincadas em pleno, que passam por aliviar os engarrafamentos nas partes mais velhas da cidade e “fornecer espaços maiores e mais verdes para o lazer da população”, disse Lau Iong. O chefe do Departamento do Planeamento Urbanístico da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), que falava à margem da 2.ª reunião ordinária do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, explicou aos jornalistas que a ideia é que os novos locais complementem a zona dos bairros antigos. “Articular as duas zonas é a ideia principal. Queremos atrair a população a novas zonas, com melhor

paisagem e com uma dimensão demográfica inferior aos bairros antigos”, salientou. O trânsito é a principal preocupação dos moradores e, por isso mesmo, ambos os anteprojectos prevêem um novo planeamento a esse nível, que inclui uma melhoria nos serviços de autocarros e nas futuras instalações do sistema de metro ligeiro. “Queremos dotar os novos aterros com infra-estruturas de alta qualidade e tecnologias avançadas”, ressalvou o chefe do DPU da DSSOPT. A mudança dos residentes dos bairros antigos para os novos aterros é um dos objectivos principais, mas Lau Iong garante que ninguém é obrigado a fazê-lo. “Queremos aliviar a pressão dos bairros antigos, para os podermos reordenar e criar condições para a preservação do património mundial”, frisou o responsável. A proposta do reordenamento dos bairros antigos está a ser discutida na Assembleia Legislativa há já algum tempo. Remodelar as infra-estruturas do local, revitalizar a zona e aliviar o tráfego são os pontos-chave, mas os novos aterros não serão suficientes para solucionar esses problemas.

“As novas zonas urbanas apenas desempenham o papel de apoio mútuo e complementaridade dos bairros antigos, não podem resolver todos os problemas desses bairros”, disse o secretário da Direcção dos Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Algumas das novas zonas ficam em ilhas, pelo que a preocupação com o isolamento em dias de tufão é um factor que divide a população. A segunda ronda de auscultação começou no passado sábado e apresenta dois anteprojectos diferentes. “Não estamos a impor à sociedade uma opção entre os dois anteprojectos, mas sim a exigir uma análise das múltiplas vertentes”, explicou Lau Si Io no seu discurso, acrescentando que têm de ser dadas a conhecer as condicionantes ao desenvolvimento. Ambos os projectos apresentam construção de habitações públicas, zonas de lazer, instalações públicas e até locais para os edifícios administrativos, como os tribunais. “Temos de respeitar o projecto que foi aprovado pelo Governo Central, conforme as Linhas de Acção Governativa”, disse Lau Si Io.


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ENTREVISTA

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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M Portugal dirigiu o Teatro São Carlos, em Lisboa, foi director da Antena 2 da RDP durante 10 anos e dirigiu vários musicais. Por cá, foi o director artístico da sexta à 13.ª edição do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM). Trouxe até ao território óperas como “Turandot”, “O Barbeiro de Sevilha”, “Falstaff”, “Baile de Máscaras”, “Aida”, “Carmen”, “O Trovador” ou “Tosca”. E musicais como “Navio Fantasma” ou “Viúva Alegre”. Uma vida cheia de música. E também uma grande paixão pela rádio. Desta vez veio a Macau convidado para as comemorações dos 25 anos do FIMM. Em Abril, veio até cá para participar num documentário sobre a história do Festival. Gostou do filme? Gostei muitíssimo, está excelente, muito bem feito. Quando me falaram sobre o filme que narra a história do Festival, imaginei logo, e assim sugeri que a minha participação como tendo dirigido durante alguns anos o FIMM, bem como as outras participações, deviam ser filmadas em Macau. Era o local certo. Foi feito assim,

João Pereira Bastos, musicólogo e produtor teatral

“Macau tem razão para continuar or do seu Festival Internacional de Mús sinto-me extremamente feliz com o trabalho de realização deste filme. Para mim é muito gratificante, estando eu afastado de Macau há 12 anos. Depois de regressar a Portugal, de alguma forma mantinha-se informado sobre o FIMM? Sim, sempre acompanhei. Mas com este documentário apercebi-me de muitas coisas que, pela distância, praticamente desconhecia, sobretudo a nível da ópera. Todos os anos lia os programas do FIMM. Agora apercebo-me de variadíssimos pormenores que muito admiro. Por exemplo, no meu caso, como tendo sido director artístico do Festival, se eu quiser

mostrar a alguém o que fiz durante os anos em que o dirigi, este filme é extraordinariamente esclarecedor. Nas edições que dirigiu, o FIMM era comparável com outros festivais do género que conhece? Devo dizer que dotámos Macau de um “know-how” que vinha duma estrutura e de experiência

em óperas, como tínhamos no Teatro S. Carlos, em Lisboa. Como diapasão, tinha o Festival da Gulbenkian que acontecia antes de a Gulbenkian ter a temporada o ano inteiro. Havendo em Macau, naturalmente, várias diferenças, quais eram, na sua opinião?

“O Festival Internacional de Música era diferente. Por vários, mas não muitos motivos. Era um meio a desbravar, um meio em que existia possibilidade para apresentar certa erudição, talvez não fosse muito conveniente apresentá-la tão erudita como seria se fosse apresentada em Lisboa”

Realmente, o Festival Internacional de Música, era diferente. Por vários, mas não muitos motivos. Era um meio a desbravar, um meio em que existia possibilidade para apresentar certa erudição, talvez não fosse muito conveniente apresentá-la tão erudita como seria se fosse apresentada em Lisboa. Agora temperou-se o Festival local com algumas situações mais ligeiras, como o musical americano ou como bailado. Digamos que estas são as únicas vertentes quanto a diferenças, por comparação com outros festivais. No tempo em que dirigiu o FIMM sentiu dificuldades em manter o nível?


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com Helder Fernando

orgulhosa úsica” A mais importante dificuldade, a existir, foi de âmbito financeiro. Havia travões, mas nunca fiquei mal visto quanto a isso, embora tivesse havido momentos em que o orçamento encurtado dificultava vários aspectos de realização dos festivais. O maior orçamento foi de 16 milhões, precisamente para a última edição do FIMM sob administração portuguesa. Os outros andaram pela metade. Essa derradeira edição do FIMM nas vésperas da saída da administração portuguesa encerrou com a ópera “Aida”... Exactamente, um grandioso espectáculo, necessariamente mais oneroso, uma brutalidade, do

que o habitual, uma brutalidade, com muitos figurantes, actores, bailarinos, mas que a sua realização honra e dignifica enormemente qualquer local onde essa magnífica ópera seja apresentada. E atenção que, ao mesmo tempo, tínhamos outro musical em cena. Significa que terminou em nível alto o seu trabalho no FIMM? A alto nível, sem dúvida. Actualmente, qual a sua opinião sobre o FIMM, vê algum paralelo? Ninguém, em Festivais com a dimensão deste, concebe-os exactamente da mesma maneira, com idêntica programação. Por isso, essa comparação não pode existir. O que afirmo é que o Festival Internacional de Música de Macau, dirigido por Warren Mok, possui elevado nível, é um grande encontro com a grande música. Macau tem inteira razão em continuar orgulhosa do seu FIMM. Neste momento, que projecto principal tem entre mãos? Olhe, se calhar um projecto megalómano! Só que, por enquanto, não posso adiantar pormenores. Os leitores ficam curiosos... Pronto, digo que é um belo musical americano dos anos 50, porventura pouco conhecido em algumas partes do mundo sem ser os Estados Unidos ou Inglaterra. E a coreografia foi feita por Bob Fosse. Nunca foi apresentado em Portugal e na Europa, com excepção da Inglaterra. E vai ser feito pela primeira vez da forma como eu o irei apresentar, inclusivamente já fiz toda a tradução. Admiro-me muito como é que ninguém se lembrou de fazer o que eu vou propor que se faça. Se realmente este meu projecto for adiante, como espero, será um marco histórico, inclusivamente vai transformar a maneira de esse musical ser divulgado pelo mundo fora. Mostrei ao autor, que ainda é vivo, tem 92 anos, a minha ideia de encenação da peça e ele aprovou totalmente. O que falta para ter a confirmação de que esse seu projecto vai ser realizado? Em verdade, só estou à espera de dinheiro, o resto está tudo pronto para começarmos a trabalhar. A ideia é fazer a peça com actores portugueses, direcção musical de um americano e de um português. Já existem hipóteses de traduções para quatro línguas diferentes. É conhecido o seu profundo gosto pela rádio. Por muito estranho que pareça, e embora me mantenha activo na

rádio, cada vez menos encaro a “minha rádio” como a profissão que ainda virei a desenvolver. Hoje é apenas um hobby. E que rico hobby! Todas as ofertas de trabalho que neste momento me inquietam a existência ligam-se ao teatro na múltipla vertente, produção, direcção artística e encenação. Mas há um pequeno pormenor: é que tais ligações situam-se sempre paredes gémeas com a música, seja erudita, seja na vertente mais popular do musical americano ou da opereta centro europeia. Como observa o ensino da música em Portugal? Tem dado passos de gigante. As Escolas de Formação Profissional têm tido um papel preponderante para o efeito. Paredes meias com os Conservatórios Nacionais e Regionais acabam por desenhar um habitat propício ao desenvolvimento de conhecimentos, muito para além da formação técnica de profissões não artísticas. Destaca alguma instituição? Destaco o trabalho de formação da Academia Metropolitana de Lisboa, para apenas citar um exemplo e nunca com carácter de exclusividade e sem deixar de sublinhar diversos centros que ministram música com o objectivo de abrir portas para uma nova profissão. Por todo o país, do norte ao sul, a acção é significativa. Se me permite, ainda lhe dou outro exemplo, o da Covilhã, como

um centro de grande fervilhar das artes performativas. E, além destes simples actos de citação que aqui fiz, destaco o sentido prático de preenchimento de vagas das múltiplas orquestras clássicas e sinfónicas que um pouco por todo o lado vão aparecendo, contrastando com o deserto que caracterizava este universo há 25 anos.

“A mais importante dificuldade, a existir, foi de âmbito financeiro. Havia travões, mas nunca fiquei mal visto quanto a isso, embora tivesse havido momentos em que o orçamento encurtado dificultava vários aspectos de realização dos festivais” Portanto, nota positiva nesta área em Portugal. No entanto, quero sublinhar o enorme vazio numa matéria que já foi objecto das entidades responsáveis no passado, o cantor de ópera! A falha é incompreensível e prejudica muito uma profissão que praticamente não existe hoje em Portugal. É do conhecimento geral que em todas as cidades onde se abre um palco ao espectáculo

13 lírico de qualidade a adesão é imediata. E quem quer colocarse em pé de igualdade com os congéneres mundiais nos dias de hoje só tem um caminho: ir viver para o estrangeiro, como o fizeram Elisabete Matos, José Fardilha e Bruno Ribeiro, para apenas focar estes três grandes artistas em carreira, mas também o ultra-jovem Carlos Cardoso, que logo após a vitória no Concurso Nacional de Canto Luis Todi deste ano, foi logo seleccionado para integrar, entre 200 candidatos, a Escola de Aperfeiçoamento do Teatro Scalla em Milão. As vagas eram 12 e só foram preenchidas oito, uma delas com o Carlos Cardoso. Quem tem alguma dúvida sobre a qualidade deste jovem cantor pode escutá-lo no YouTube: “Carlos Cardoso Luisa Todi”. O que mais o inquieta nestes dias? O que mais me inquieta em Portugal é o facto de tudo o que conquistámos, obtivemos com o 25 de Abril estar agora a ser-nos completamente retirado. E um dos seus grandes sonhos? Ainda faz arte do meu sonho tentar ajudar a ultrapassar esta triste realidade portuguesa. Se nada se fizer, pratica-se de muito perto a máxima de Salazar: “Tomara eu ter dinheiro para os que choram quanto mais para os que cantam”. É um figurino destes que se adivinha com a extinção do Ministério da Cultura e que não se pode tolerar.


CULTURA

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primeira vez em Macau embora a família tenha crescido por cá. Por isso diz que acompanhou a cidade ao longe, em histórias e em fotos do baú. Olavo Bilac, vocalista dos Santos&Pecadores, está finalmente na RAEM. Vem como convidado do projecto Ar de Rock que amanhã actua na praia de Hac Sá integrado na programação do Festival Internacional de Música. Que expectativas é que guarda para este concerto de amanhã? Eu tenho a noção de que estamos muito longe da nossa terra mas há sempre um português espalhado pelo mundo. Macau não me era completamente estranho. O meu pai cresceu aqui, os meus primos são todos daqui, por isso vi fotografias, ouvi histórias e vi também Macau a crescer. Por isso, conhecia só que nunca tinha vindo cá. Mas sei que tem muito portugueses e muitos lusófonos. Eu no concerto espero ter, pelo menos, uma casa participativa. O Ar de Rock é um grupo formado pelo Fernando Cunha (ex-Delfins) em que se canta os maiores êxitos dos anos 80, poprock, e que inclui também Santos&Pecadores de que faço parte. Trouxemos, desta vez, o Rui Pregal da Cunha, ex-Heróis do Mar, e temos outros elementos que pertenceram ao panorama musical português. São velhas glórias ou ainda são glórias? Este Ar de Rock tem a particularidade de ser constituído por um núcleo duro e depois convidar outro músicos. Viemos abrilhantar e cantar sendo os próprios autores a cantar as suas próprias musicas. Mas sente-se à vontade neste papel, de recuperar velhos êxitos que se calhar não cantava há muito tempo ou com os quais já nem se identificava sequer? Exactamente. Mas também há um outro lado. O Ar de Rock é construído por estes músicos, não vou chamar velhas glórias até porque muitos deles continuam

Olavo Bilac, convidado dos Ar de Rock, em concerto amanhã em Hac Sá

“O português tem de defender as suas coisas” HOJE MACAU

Carlos Picassinos

“Vivemos uma época de revivalismo. Os anos 80 trouxeram muita coisa, e naquela época foram muitos mal falados. E agora toda a gente encontra ali uma década de grandes canções, de experimentalismo, e na música portuguesa também”

no activo. Por exemplo, no Verão, tocámos no Algarve com os Essa Entente e eu já nem me lembrava daquele vocalista. Reviver isto tem a sua graça, relembrar esta gente toda. E também o fazemos por prazer. Também se justifica pelo público a que se dirige... Sim, agora há um certo revivalismo. Cada vez mais se está a voltar a gostar dos anos 80. Mundialmente, é um fenómeno global e Portugal também passa por isso. E dirige-se para um público particular? Não só, para os jovens também. É engraçado porque os anos 80 trouxeram muita coisa, e naquela época foram muitos mal falados. E agora toda a gente encontra ali uma década de grandes canções, de experimentalismo, e na música portuguesa também. Os jovens andam a descobrir temas que nunca tinham ouvido e acho que estão a gostar. Tem boas memórias desses anos? Eu era miúdo. (risos) Mas houve a experiência dos Resistência que funcionou um pouco com esta estrutura do Ar de Rock. Sim, mas isso foi já no princípio dos anos noventa. Eu acho que, naquela altura, o Resistência foi muito importante para a divulgação da música portuguesa, para o panorama musical que não passava nas rádios. Infelizmente, em Portugal, temos destas coisas. Mas foi uma alavanca para a música portuguesa. Depois do Resistência passou-se a ouvir mais música portuguesa na rádio. Tantos como os Delfins e os Xutos&Pontapés. Começaram a passar mais bandas e a ouvir-se mais bandas com as suas músicas originais. A música portuguesa tinha uma recepção desconfiada... Mas nós avaliamos mal as coisas. Eu vou a Inglaterra, ou a França ou a Espanha e na rádio só oiço música daqueles países. Nós que fomos colonizadores no mundo inteiro somos agora

os colonizados! Acho que o português tem de gostar e defender as suas coisas. Até por causa destas crises, temos que gostar do que é nosso, vender o que é nosso, promover o que é nosso. Mas há agora uma maior abertura à música da lusofonia. Pelo menos, a música de Cabo Verde depois da Cesária, ou o Brasil, mas o Brasil sempre teve uma boa recepção. O que parece é que agora há um público mais disponível para ouvir este tipo de produto, pop/rock, hip-hop... Mais ou menos, porque no hip-hop, ou no pop rock, há imitações de géneros originais, imitação do que se faz lá fora enquanto o caso da música caboverdiana é diferente, já é mais genuína porque são ele próprios que a fazem. Para cantar hip-hop ou pop/rock, os ingleses já o fazem muito bem, por exemplo. Mas os Buraka Som Sistema são um caso de sucesso. Os Buraka vão buscar um cariz folclórico vindo da música angolana adaptando-a a sons mais actuais de dança. Acabam por dar uma novidade à dança! Lá está... eu acho que quando a música ou o género é mais genuíno os projectos funcionam. Que projectos é que tem, neste momento? Estou com um projecto lá em Portugal de música de Zeca Afonso. Sou eu, o Nuno Guerreiro, o Tó Zé Santos, dos Perfume. Então, cantamos músicas do Zeca Afonso com uma abordagem nova. Este ano que vem temos uma tournée e durante todo o Verão tivemos em espectáculos. Nunca planearam uma actuação nestes lados? É muito longe, provavelmente? Os Santos&Pecadores já cá tiveram para vir uma série de vez e depois não sei porque isso acabou por nunca aconteceu. Então também vou estar aqui em conversações para falar, olho no olho (risos). Se calhar é possível talvez actuar cá para o ano.


QUEEN PREPARAM NOVO DISCO COM GRAVAÇÕES DE FREDDIE MERCURY Os Queen estão a preparar um novo álbum que partirá de maquetas gravadas com a voz de Freddie Mercury. O guitarrista Brian May adiantou ao Daily Star que a banda está a “remexer nas gavetas”. Além deste projecto, os Queen querem também produzir um novo musical com base na sua obra, que suceda a “We Will Rock You”. Sobre a possibilidade de Lady Gaga se juntar ao grupo, essa hipótese vai mesmo concretizarse num programa televisivo. Recorde-se que Brian May participa em “You & I”, do novo álbum da artista, e que o apelido Gaga foi retirado de “Radio GaGa”, dos Queen.

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Governo tem de ser mais selectivo com indústrias criativas, diz Carlos Marreiros

Arte não é para qualquer um

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Governo de Macau precisa de “ser mais selectivo” e apostar “na internacionalização” de alguns valores das indústrias criativas num mercado mais vasto, a começar pelo Delta do Rio das Pérolas, disse o arquitecto Carlos Marreiros. “Uma boa notícia para a cultura seria a definição (…) de uma política clara no sentido da valorização dos valores culturais e artísticos de Macau e regionalização - e falo do Delta do Rio das Pérolas - e depois da internacionalização”,

defendeu Carlos Marreiros à Agência Lusa, a propósito das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2012, em preparação pelo Executivo. O arquitecto vê como positiva a eleição das indústrias criativas como estratégia a seguir na diversificação económica de Macau, mas observa que esta medida consagrada nas LAG anteriores ainda não teve resultados na região. “O Governo tem efectivamente dado apoio (…), mas não chega dar dinheiro, tem de apoiar, por tanto ou menos

Lia Coelho

lia.coelho@hojemacau.com.mo

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LES são sete e dos instrumentos de sopro e metal fazem música há mais de 30 anos. Vêm de Nova Orleães, onde no final dos anos 70 fizeram renascer um tipo de banda desaparecida. Os Dirty Dozen Brass Band vão estar hoje no Centro Cultural de Macau, incluídos no programa do 25.º Festival Internacional de Música de Macau (FIMM). Três dos elementos que compõem este grupo falaram do concerto e do que trazem nas linhas do seu repertório. Garantido deixaram que vão fazer o público de Macau dançar e passar um bom momento.

dinheiro, mas seleccionadamente. E não dar dinheiro indiscriminadamente, sem uma estratégia, sem uma política de fundo”, explicou. A ideia de Carlos Marreiros passa por colocar os jovens em “universidades e circuitos mais exigentes, mais qualificados, e mais experimentalistas fora de Macau” e os valores consagrados “nas melhores vitrinas a nível mundial, porque isso também dá aprendizagem”. Para alargar horizontes e empreender uma carreira

internacional, o artista e também director do Albergue da Santa Casa da Misericórdia sugere a Ásia, que considera “bastante evoluída”, e a própria China, onde “existem coleccionadores e jovens já com um estilo de vida diferente e com mais exigência”, além da Europa, incluindo Portugal, e dos Estados Unidos. “Não é nada de novo. Outros governos o fizeram”, vincou. Na sua opinião, “nas indústrias criativas o que conta é o mercado”, algo de que Macau não dispõe, dada a exigui-

dade do território e população, inferior a 600 mil habitantes.As indústrias criativas incluem o design, a arquitectura ou as artes plásticas. Já o artista russo Konstantin Bessmertny, com estúdio em Macau, lamentou à Lusa a falta de um mercado de arte local. “Não há galerias comerciais em Macau porque elas não conseguem sobreviver no mercado local. (…) A única forma de sobreviverem seria focarem-se nos turistas, mas o que estes precisam é de coisas baratas com imagens

DIRTY DOZEN BRASS BAND TOCAM HOJE NO CENTRO CULTURAL

Uma noite ao som do jazz A garantia foi deixada, mas qual é o segredo de tanta convicção? Gregory Davis, o senhor do trompete e que dá a voz ao grupo, respondeu: “Já fazemos isto há mais de três décadas e já sabemos que agrada as pessoas”. Porque um público é igual em todo o lado, defende Roger Lewis, do saxofone barítono. “Toda a gente procura a mesma coisa e gosta de se divertir e aqui não é diferente”, reforçou o músico. Jake Eckert, guitarrista, fala da música como

algo universal – “quem não gostar de música é porque não tem alma”. A música de Nova Orleães vai invadir a noite de Macau e promete levar quem lá estiver a uma experiência, onde se junta corpo, mente e alma. Em cima do palco o grupo quer incluir e sentir a energia do auditório. “Queremos que eles entrem no ritmo e que vivam o que tocamos”, desejou Roger Lewis. As músicas vão passar por todos os álbuns editados pela banda.

Uma banda com sete elementos, dos quais cinco são da formação original e juntos há uma vida, funcionam como uma grande família. Discutem, conversam, entendem-se e depois de algumas das suas piores discussões, resultaram dos melhores concertos. A família vem da Austrália e depois de Macau segue para o Japão. No ano de 1977, o Dirty Dozen Social and Pleasure Club apresentou uma banda tradicional, na

de Macau, e isso não é arte, é folclore”, criticou. Contrário à “política de subsídios” do Estado, o artista russo defendeu o “apoio da iniciativa privada”, tal como aconteceu ao longo dos séculos, com Diego Velázquez, suportado pela família real espanhola, ou Miguel Ângelo, financiado pelo Papa Júlio II, exemplificou. “O Governo não apoia, o Governo mima e estraga. Todos ficam dependentes”, argumentou o também co-fundador da associação Art for All em Macau.

qual os instrumentos eram metais. Uma junção de duas tradições da época: os clubes sociais e acompanhamento de serviços funerários adequados. As bandas de metais, antecessoras do jazz, como tal hoje se conhece, acompanhavam os funerais Nos finais do anos 70 estas bandas tinham praticamente desaparecido – aqui surgem os Dirty Dozen Brass Band, cujo nome tem origem no nome do local. Trinta anos mais tarde, o grupo é mundialmente conhecida e está associadas a concertos, onde reina a animação. Em digressões quase constantes, já percorreram os Estados Unidos e mais de 30 países nos cinco continentes.


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16 SEIS “PORTUGUESES” NA SELECÇÃO BRASILEIRA Os defesas Luisão e Alex Sandro, os médios Bruno César e Elias e os avançados Hulk e Kléber foram convocados pelo seleccionador brasileiro de futebol, Mano Menezes, para os jogos particulares com o Gabão e Egipto. Luisão e Bruno César, do Benfica, Alex Sandro, Hulk e Kléber, do FC Porto, e Elias, do Sporting, integram a lista de 23 convocados para a visita ao Gabão, a disputar em 10 de Novembro, e o jogo com o Egipto, quatro dias depois, em Doha, no Qatar. Segundo o sítio oficial na Internet da Confederação Brasileira de Futebol, os 23 jogadores chamados por Menezes que jogam na Europa vão apresentarse no dia 7 de Novembro, no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, seguindo depois para o Gabão. Além dos “portugueses”, o seleccionador brasileiro chamou ainda os defesas centrais David Luíz, ex-Benfica, e Thiago Silva, ex-FC Porto, que alinham actualmente no Chelsea e no AC Milan, respectivamente. JORGE JESUS CASTIGADO PELA UEFA O treinador do Benfica vai falhar o encontro com o Basileia, na Luz, no próximo dia 2 de Novembro, da fase de grupos da Liga dos Campeões, depois de ter sido castigado pela UEFA com um jogo de suspensão, na sequência da expulsão na partida realizada na Suíça frente a este mesmo adversário. Esta foi a primeira expulsão da carreira de Jorge Jesus, e ocorreu após o técnico ter protestado com o árbitro por uma falta grosseira sobre Bruno César. Além do treinador “encarnado”, também Emerson foi punido com uma partida, devido a expulsão na mesma partida. O defesa esquerdo viu o cartão vermelho aos 86’, falhando igualmente o encontro caseiro com o Basileia. Por outro lado, a UEFA confirmou igualmente que Wesley (do Vaslui, da Roménia), expulso após agressão a João Pereira no Sporting-Vaslui, foi penalizado com quatro jogos de castigo.

DESPORTO

Futebol | Pupilos de Pelé goleiam Obra Social por 4-0

Casa vence e convence no D. Bosco Marco Carvalho

U

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MA semana após ter derrotado o Sporting Clube de Macau em partida a contar para o Campeonato da Futebol de 7 da II Divisão, a Casa de Portugal voltou a somar nova vitória na prova, ao levar a melhor sobre a formação da Obra Social da Polícia de Segurança Pública por quatro golos sem resposta, num encontro em que o avançado Hélder Ricardo voltou a chamar a si o estatuto de principal figura da equipa orientada por Pelé. O atleta, tricampeão asiático de hóquei em patins, marcou três dos quatro tentos com que o Organismo Autónomo Desportivo selou a passagem aos oitavos de final da II Divisão da “Bolinha”, fazendo o gosto ao pé por três ocasiões num espaço de 20 minutos. Os responsáveis pela Casa de Portugal não esperavam facilidades no frente-a-frente contra o sete da Obra Social da PSP e a formação das

forças de segurança correspondeu às expectativas do grupo de trabalho às ordens de Pelé, inviabilizando todos os esforços ofensivos conduzidos durante a primeira metade por parte do conjunto de matriz portuguesa. A primeira metade terminou mesmo com a Obra Social a reivindicar um maior ascendente sobre o encontro e a forçar o guarda-redes Pio a uma grande defesa, na sequência de um contra-ataque rápido do sete policial. A segunda parte abriu praticamente com a última oportunidade da equipa B do Grupo Desportivo da Polícia de Segurança Pública, num lance a que o jovem guarda-redes da Casa de Portugal voltou a responder com nova intervenção magistral. Sem grande margem de manobra no último reduto da formação de matriz lusitana, a linha avançada da Obra Social tentou a sorte do meio campo, mas Pio afastou com um voo com tanto de espectacular, como de eficiente. O lance teve o condão de despertar os homens às ordens de Pelé. A

partir do segundo minuto da segunda parte, a Casa de Portugal tomou para si as rédeas do encontro para não mais as largar. Á passagem da meia hora, e depois de ter sondado por várias ocasiões o último reduto adversário, o conjunto do Organismo Autónomo de Futebol saltou para a frente do marcador, com Hélder Ricardo a dar o melhor seguimento a um passe do extremo francês Nicholas Friedman e a inaugurar com classe o placard no relvado sintético do Campo do Colégio D. Bosco. Desgastado, o sete das forças de segurança não conseguiu mobilizar a força anímica necessária para responder ao golo do conjunto orientado por Pelé e aos 41 minutos voltou a consentir novo tento, desta feita numa jogada gizada e concluída a cem por cento pelo imparável Hélder Ricardo. O dianteiro recebeu a bola ao meio campo, tirou do caminho três adversários e rematou colocado para o segundo golo da noite, num lance de fazer inveja aos craques mais conceituados do planeta.

O marcador voltou a mexer cinco minutos depois, num golo com assinatura de Hélder Ricardo, mas com a chancela inequívoca do francês Nicholas Friedman. O extremo gaulês rompeu de armas e bagagens pelo coração da área adversária, humilhou três defesas e cruzou com rigor milimétrico para a entrada do companheiro de equipa, que se limitou a empurrar para o fundo das redes da Obra Social. Convincente, a Casa de Portugal coroou uma das melhores exibições da temporada com um golo fácil de Rui Lemos nos derradeiros segundos do encontro, num lance em que Hélder Ricardo voltou a brilhar, mas desta feita por ter optado não jogar. Em situação de fora-de-jogo, o dianteiro abdicou do lance em prol do colega de equipa, enganando a defensiva adversária. No um a um com o guarda-redes da Obra Social, Rui Lemos manteve o sangue frio, apontando o quarto e derradeiro tento do encontro.


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Notificação n° 009/DLA/SAL/2011

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 467/AI/2011 --------Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora HO, Sau Shan, que, na sequência do Auto de Notícia nº 50/DI-AI/2010, de 05.09.2010, levantado pela DST e por despacho do signatário de 24.10.2011, exarado no Relatório n.º 511/DI/2011, de 18.10.2011, foi desencadeado procedimento sancionatório, com vista ao seu alojamento na fracção autónoma situada na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues nº 1142-V, Centro Internacional de Macau Bloco XIII, 14º andar D e utilizada para a prestação ilegal de alojamento.-----------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação deste Mandado, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre as matérias constantes daquele Auto de Notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito. Nos termos do nº 2 da artigo 14º da Lei nº 3/2010 não é admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo.-----------------------------------------------------------A matéria constante daquele Auto de Notícia constitui infracção ao artigo 2º da Lei nº 3/2010, que dispõe: “a actividade de prestação de alojamento ao público, sem possuir a licença para exploração de estabelecimentos hoteleiros, em prédio ou fracção autónoma não destinado a fins de actividade hoteleira e similar, cujo ocupante é não residente da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), ao qual noi foi concedida autorização especial de permanência de trabalhador não residente”. Tal facto é punível nos termos no nº 1 do artigo 10º da Lei nº 3/2010 - : “Quem prestar ilegalmente alojamento ou controlar por qualquer forma prémio ou fracção autónoma utilizado para a prestação ilegal de alojamento é punido com multa de 200.000,00 a 800.000,00 patacas”.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d´Assumpção nºs 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18º andar, Macau.----------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, em Macau, aos 24 de Outubro de 2011.------------------------------------------------------------------------------O Director dos Serviços, João Manuel Costa Antunes

(Aviso aos proprietários de estabelecimentos de comidas e bebidas para comparência na instrução do processo) Considerando que não é possível notificar pessoalmente os interessados, por ofício ou telefone, para efeitos de levantamento da respectiva instrução, nos termos do artigo 93° do Decreto-Lei n° 16/96/M, de 1 de Abril, conjugado com os artigos 10° e 58° do “Código do Procedimento Administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n° 57/99/M, de 11 de Outubro, ficam, pela presente, notificados, nos termos do n° 2 do artigo 72° do “Código do Procedimento Administrativo”, os proprietários e interessados de estabelecimentos de comidas e bebidas abaixos mencionados para, no prazo de 10 (dez) dias, a contar do primeiro dia útil da publicação desta notificação, comparecerem na Divisão de Licenciamento Administrativo dos Serviços de Ambiente e Licenciamento do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, sita na Avenida da Praia Grande, n° 804, Edifício China Plaza, 3° andar, a fim de se proceder aos respectivos processos de instrução, resultantes dos autos de notícia pela mesma levantados: Proprietários

Nome do estabelecimento

Autos de notícia

Ng Son Kao Bilhete de Identidade de Residente de Macau n°: 7360xxx(x)

Estabelecimento de Comidas Variadas Man Nam Fong Mei (Exploração sem licença)

N° 1072/DFAA/ SAL/2010, de 17 de Novembro de 2010

Suspeito de infracção ao artigo 30° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haver verificado exploração, sem licença, de estabelecimento de comidas e bebidas.

Lam Wai Man Bilhete de Identidade de Residente de Macau n°: 7395xxx(x)

Estabelecimento de Comidas Si Fu Zai Licença no 46/2006

N° 980/DFAA/ SAL/2010, de 9 de Dezembro de 2010

Suspeito de infracção à alínea o) do nº 1 do artigo 80° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haver verificado um deficiente funcionamento do sistema de recolha e exaustão de fumos e cheiros.

N° 17/DFAA/ SAL/2011, de 5 de Janeiro de 2011

Suspeito de infracção ao artigo 19° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haverem verificado alterações ilegais.

Ip Weng On Identidade de Residente de Macau n°: 7403xxx(x)

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

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Estabelecimento de Comidas Dois em Um On Kei Licença no 19/2004

Infracção

Suspeito de infracção à alínea b) do nº 1 do artigo 81° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haverem verificado infracções em matéria de segurança contra incêndios. N° 265/DFAA/ SAL/2011, de 19 de Março de 2011

Suspeito de infracção à alínea o) do nº 1 do artigo 80° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haver verificado um deficiente funcionamento do sistema de recolha e exaustão de fumos e cheiros.

N° 981/DFAA/ SAL/2011, de 15 de Julho de 2011

Suspeito de infracção ao artigo 19° do Decreto-Lei n° 16/96/M, por se haverem verificado alterações ilegais.

A falta de comparência do notificado não constitui motivo bastante para adiamento da instrução, mas, caso apresente justificação fundamentada até ao momento fixado para a instrução, esta poderá ser adiada. Aos 18 de Outubro de 2011. O Vice-Presidente do Conselho de Administração Lei Wai Nong www. iacm.gov.mo


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PERFIL

HOJE MACAU

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JESÚS DÍAZ | GERENTE DO RESTAURANTE TAILANDÊS LEMONGRASS

Serviço prestado, público conquistado Lia Coelho

lia.coelho@hojemacau.com.mo

O ambiente ainda não está completo.

Jesús Díaz, gerente, pegou no restaurante Lemongrass, na Taipa, há cerca de cinco meses. A cultura aqui não é de “ir a restaurante e conviver”. “Já noto algumas diferenças nos hábitos dos clientes que por cá passam, para provar o verdadeiro sabor tailandês”, descreve o argentino. Restaurantes há muitos, mas há diferenças culturais na forma de estar e de prestar serviço. Para o gerente falta o sentido de servir bem e de “comer e ir ficando”. São estas diversidades que motivam Díaz. Adquirido por Andy Bruce, um chileno a viver em Macau há uns quantos anos, Díaz afirma que há várias mudanças a fazer e alguns projectos pensados a concretizar. O Hoje Macau sentou-se à mesa com o gerente do Lemongrass, ouviu a história que o trouxe ao território e os planos que este argentino tem para o restaurante. O espaço tem um toque da América Latina, mas Díaz confessa que ainda não está decorado como gostaria. O pouco tempo à frente do Lemongrass ainda não foi ainda suficiente para tal.

A intenção é também atingir o público de fora, que tem outros hábitos. “Nós gostamos de ir a um restaurante e ficar a beber um vinho ou a conversar, aqui não”, caracteriza Jesús Díaz. Virar-se, então, para os costumes dos estrangeiros que aqui vivem é um dos objectivos, assim como dar outra perspectiva aos chineses - entre o ambiente e a aposta na arte de servir o cliente está a dinamização do espaço. O cruzamento de gastronomias, ou neste caso características gastronómicas, é um dos passos mais a curto prazo. “Implementar à parte da boa comida, ter um bom atendimento, que aqui não existe”, refere. Para criar um ambiente que completa o sentido de estar a ser servido, o argentino quer animar as noites, numa atmosfera que se pretende amena, com música ao vivo. “Queremos criar um espaço onde as pessoas se sintam acolhidas. Que venham e queiram passar um momento agradável”, conta. As presenças ao vivo vão passar pelos blues, bossa-nova e jazz. Jesús Díaz quer ainda aproximar-se ainda mais do público dando uns “miminhos”.

“Quando as pessoas aqui vêm, deixam um contacto. Assim uma vez ao mês queremos seleccionar um cliente e oferecer um jantar.” Os vinhos portugueses estão no topo da preferência do argentino. “Não sabia que aqui podia encontrar tanta variedade”, confessa. Este gosto faz com que sejam as marcas lusas a acompanhar os pratos tailandeses - um país cuja gastronomia não rima com vinho. “Ainda estou em fase de experimentação para ver o que combina melhor, mas a aposta é nos vinhos verde e rosé, porque são mais frescos para comer com o picante”, explica. É no Oriente que Díaz afirma sentir-se confortável. Depois de vários anos a viver deste lado do globo, para o argentino voltar a viver no mundo ocidental não lhe faz sentido. “Estava na Nova Zelândia, mas não me sentia bem”, diz. Na Ásia passou pela Indonésia, onde esteve dois anos, com um bar aberto em Bali. Das ilhas, veio do Japão, que o acolheu durante 12 anos. “Foi no Japão que cresci e que ganhei toda a experiência”. Culturas diferentes e

vivências distintas que agora o trouxeram à RAEM. Do território ainda não consegue ter uma visão muito abrangente. Contudo, já se confessa apaixonado pela combinação entre a cultura chinesa moderna e a mais antiga, onde se mistura mais um ingrediente – uma pitada leve de colonialismo. Em fase de aprendizagem e adaptação, para já pretende ficar por cá. Gerir um restaurante foi o desafio que se foi proposto pelo agora proprietário do espaço. “Aceitei, porque é sempre bom ter uma experiência nova.” A confiança no que se cozinha é total – “aqui é tudo 100% tailandês, os produtos são importados de lá e os próprios cozinheiros são oriundos da Tailândia”, frisa. No final da conversa quisemos experimentar os sabores descritos com tanta ênfase. Pedimos uma sugestão para o jantar. Jesús Díaz apresentou-nos à mesa uma verdadeira refeição à moda da Tailândia. Na cozinha não há reparos a fazer, o resto será feito com o tempo, sempre com vontade de agradar os clientes.


[f]utilidades Cineteatro | PUB

[ ] Cinema

SALA 1

Com: Mayday, Richie Jen, Rene Liu 16.15

(Falado em putonghua, legendado em chinês/inglês) Um filme de: Giddens Ko Com: Zhendong Ke, Yanxi Chen, Siu-Man Fok 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3

YOU ARE THE APPLE OF MY EYE [C]

SALA 2

IN TIME [B] Um filme de: Andrew Niccol Com: Justin Timberlake, Amanda Seyfried 14.15, 18.15, 20.00, 22.00

MAYDAY 3DNA 3D [B] (Falado em putonghua, legendado em chinês/inglês) Um filme de: Yann Kung

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SPY KIDS: ALL THE TIME IN THE WORLD 4D 3D [A] (Falado em cantonês) Um filme de: Robert Rodriguez Com: Jessica Alba, Joel McHale, Jeremy Piven 14.15, 16.00, 19.45

MAYDAY 3DNA 3D [B] (Falado em putonghua, legendado em chinês/inglês) Um filme de: Yann Kung Com: Mayday, Richie Jen, Rene Liu 17.45, 21.45

VERTICAIS: 1-Instrumento de cordas desiguais que se toca com as duas mãos. Não nascida. 2-Terreno em que há muita erva. 3-Rádio (s. q.). Medida para cereais, nos campos marginais do Tejo. 4-Germe de uma ave ou doutro animal. Fizeram eivas ou manchas em. 5-Misturam com iodo. Casa ou lugar de perdição. 6-Categoria (abrev.). Ministrar. 7-Tiram a pele, o pêlo ou a casca. Carboneto de sódio (pl.). 8-Acertava pelo tino. Espádua, ombro (Pref.). 9-Relativa ao estômago. No corrente ano (abrev. lat.). 10-Porção de objectos velhos e inúteis. 11-Dera mios. Narração dos factos segundo a ordem por que se deram de ano em ano.

SOLUÇÕES DO PROBLEMA

Su doku [ ] Cruzadas

HORIZONTAIS: 1-Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras. Satisfazem o preço. 2-O m. q. sovela (ave). 3-Culpada. Mulher do harém do sultão. 4-Vencimento de um soldado. Observar com tento, intentar. 5-Despachem. Borda marcas em roupa. 6-Nome de homem. Itinerário. 7-Alçava. Sagrada. 8-Flutuando. Rio de França. (Ant.). 11-Aromatizo. Pancadas com a mão fechada, murros.

Aqui há gato [Tele]visão

TDM 13:00 TDM News - Repetição 13:30 Jornal das 24H RTPi 14:30 RTPi Directo 18:30 Que Loucura de Família 19:00 TDM Talk-Show (Repetição) 19:30 Amanhecer 20:30 Telejornal 21:00 Ásia Global 21:30 Donas de Casa Desesperadas 22:15 Passione 23:00 TDM News 23:30 Pulp Fiction 02:00 Telejornal - Repetição 02:30 RTPi Directo

STAR SPORTS 31 12:00 (LIVE) Lake Malaren Shanghai Masters 2011 Day 2 16:00 Inside Grand Prix 2011 16:25 (LIVE) FIA F1 World Championship - Practice Session 2011 Grand Prix of India 18:00 MotoGP World Championship 2011 Highlights 19:00 V8 Supercars Championship 2011 Highlights 21:00 Football Asia 2011/12 21:30 (LIVE) Score Tonight 22:00 WTA - Luxembourg Open Final 23:30 Engine Block Indian GP Special INFORMAÇÃO TDM

RTPi 82 14:00 Telejornal Madeira 14:36 Com Ciência 15:07 Documentário: Campeões Olímpicos - João Rodrigues 16:00 Bom Dia Portugal 16:59 Velhos Amigos 17:49 O Fado Na Cidade 19:07 Estado De Graça 20:00 Jornal Da Tarde 21:16 O Preço Certo 21:14 O Humor E A Cidade 22:43 Portugal No Coração ESPN 30 12:30 15:30 18:30 19:30 20:00 20:30 21:00 22:00 22:30 23:00 23:30

Euro Asia Allstars Cup 2010 World Series 2011 Game #7 (If Nec) Texas Rangers vs. St. Louis Cardinals (Delay) Baseball Tonight International 2011 (LIVE) Sportscenter Asia Football Asia 2011/12 Global Football 2011 KIA X Games Asia 2011 Sportscenter Asia Football Asia 2011/12 Global Football 2011 FINA Aquatics World 2011

STAR MOVIES 40 12:15 Let Me In 14:20 Signs 16:10 Walk Hard 17:50 Black Hawk Down 20:15 Inside The Walking Dead 20:45 The Walking Dead 22:55 Boogeyman 3 00:35 Signs HBO 41 12:00 13:25 14:00 15:50 18:15 20:00 22:00 00:20

Dinocroc Vs Supergator HBO Central Panic Room Jerry Maguire The Golden Child Anger Management The Karate Kid The Losers

CINEMAX 42 13:00 Tales From The Crypt 16:00 The Werewolf 17:30 Frankenstein 1970 19:00 Hollywood Buzz 19:45 Poltergeist 21:45 Epad On Max 134 22:00 Freddy’S Dead: The Final Nightmare 23:30 Wes Craven’S New Nightmare

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

HORIZONTAIS: 1-HEROI. PAGAM. 2-A. AVOCETA. I. 3-RE. ODALISCA. 4-PRE. ATENTAR. 5-AVIEM. MARCA. 6-ARI. VIA. 7-IÇAVA. SACRA. 8-NADANDO. AIN. 9-ALERTADO. AA. 10-T. GARRAMA. I. 11-AROMO. SOCOS. VERTICAIS: 1-HARPA. INATA 2-E. ERVAÇAL. R. 3-RA. EIRADEGO. 4-OVO. EIVARAM. 5-IODAM. ANTRO. 6-CAT. DAR. 7-PELEM. SODAS. 8-ATINAVA. OMO. 9-GASTRICA. AC. 10-A. CACARIA. O. 11-MIARA. ANAIS.

1961 - O ANO QUE MUDOU PORTUGAL • JOÃO CÉU E SILVA

1961 foi um ano surpreendente por várias razões: o desvio, com fins políticos, do paquete Santa Maria e de um avião da TAP; a oposição das Nações Unidas à política colonial de Salazar e a descoberta de que o governo de John Kennedy financiava os movimentos independentistas do Ultramar; o massacre de brancos em Angola, que deu início a treze anos de guerra que afetaram diretamente mais de um milhão de portugueses. Um ano que terminaria ainda com a invasão de Goa pela União Indiana, que deixou no terreno 3500 prisioneiros. Para esclarecer as dúvidas que ainda permanecem sobre o período mais crítico da governação de Salazar, este relato do dia a dia de 1961 conta com uma série de depoimentos de protagonistas políticos importantes, como Adriano Moreira, Domingos Abrantes ou Jorge Sampaio; dos generais Carlos Azeredo e Chito Rodrigues; ou daqueles que sobre esse continente escreveram, como Lídia Jorge.

NA RUA ÁRABE • NUNO ROGEIRO

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO DIA ANTERIOR

O terrorismo e a pobreza eram os problemas do Magrebe, mas a partir do meio de Dezembro 2010, toda a região foi varrida pela revolta civil com consequências diversas: triunfou na Tunísia, dividiu a Líbia, obrigou Marrocos a acelerar a reforma, fez o regime argelino discutir as melhores formas de resposta - que começaram por ser através de subsídios de emergência - e causou perturbações relativamente menores na Mauritânia (onde as manifestações foram também menos importantes, apesar de alguns episódios dramáticos de imolação como a de Yacoub Ould Dahoud, em 17 de Janeiro). RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

A BELA DA FARINHA AMPARO Sempre me causou algum fastio o facto de os veículos motorizados não pararem na passadeira proporcionando, a normal, passagem dos peões. É assim na China, é assim em Macau, é assim – em alguns casos – em Hong Kong e do que conheço é assim um pouco por toda a Ásia. Também ocorre noutras partes do mundo, deixo claro. A pergunta urge: onde raio é que esta gente se encartou? Restringimo-nos a Macau. Na semana passada, ocorreu mais um atropelamento grave na zona da Barra que entravou uma mulher idosa numa cama de hospital. Como nada mais interessa nem se sabe se é morta ou viva. A notícia aconteceu, o Governo lá atirou umas patacoadas e mais nada se soube. Acontece isso, amiúde, nesta terra. E o que sucedeu com o criminoso que não respeitou as regras de trânsito colocando em perigo a transeunte? Possivelmente foi para casa tranquilo da vida com apenas um guia de emagrecimento de conta bancária passado pela polícia. Faz-me espécie este desconhecimento total das regras de trânsito. O condutor de Macau é um egoísta. Só se preocupa com o seu tempo e a sua pressa – o mesmo acontece nas filas dos transportes públicos e na apanha dos táxis. Desabafo. Vou vestir a pele de instrutor e, a quem me quiser ouvir, dar algumas aulas de condução. Lição número 1: o condutor de Macau tem de ter respeito pelo próximo. Sem isso nada feito. Pensar que a estrada é uma passadeira de habilidades ao volante não é o mais indicado. Para isso, aconselho a uma inscrição numa dessas corridas do Grande Prémio de Macau ou o envio de uma candidatura espontânea para um circo qualquer. Lição número 2: a sinalização é para ser cumprida à risca, meus senhores. Aqui parece que apenas o semáforo é rei – ao menos isso -, mas os sinais e as pinturas no asfalto são para cumprir. Sempre me disseram que acima disso só mesmo o polícia sinaleiro. Em Macau mal se vêem. Lição número 3: um veículo motorizado tem acelerador e travão – por vezes também tem embraiagem, que auxilia na mudança de marcha. Não é adequado, em plena via, andar a acelerar e a travar bruscamente. A condução quer-se suave. Lição número 4: não apite só porque sim. A buzina do seu veículo é feita apenas para casos muito especiais e não para servir de corneta de parada. Já basta a poluição que o seu veículo produz. Lição número 5: tenha presente que o telemóvel não é para ser usado ao volante. Existe uma panóplia de aparelhos que permitem fazer uma chamada enquanto conduz. Kit de mãos livres e auriculares são alguns deles. Na Ásia os preços são bastante atractivos. Lição número 6: a polícia já disse que vai andar de olho bem aberto – o que duvido. Para evitar o emagrecimento das suas poupanças tenha em atenção todas estas lições que lhe tive o prazer de dar. Se achar por bem, volte a estudar o código da estrada e a mecânica de um veículo. Só não aceito que me venha com essa treta da carta de condução tirada na farinha Amparo.

Pu Yi


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OPINIÃO

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21 ed i t or i a l Carlos Morais José

As asneiras e o Kadhaffi Esta semana o Ministério dos Negócios

Estrangeiros de Portugal, confrontado pelo Hoje Macau sobre a obliteração dos escudos portugueses nas leis de Macau anteriores a 1999, respondeu que está muito satisfeito com o modo como a RAEM tem defendido o património português e que nada tem a comentar sobre o caso. Ora esta posição pode ter várias leituras: Paulo Portas entende que não está em posição de confrontar a China. O governo de Passos Coelho não está para se chatear com estes assuntos. Sem querer tomar uma posição pública, colocamos a eventualidade de, por outros canais, algo ter sido referido sobre o assunto ao governo da RAEM ou mesmo da RPC. Seja como for, os escudos foram retirados e isso é um atentado contra a História. Imagine-se que nos documentos nazis alemães colocados na internet seria retirada a suástica. É algo de impensável, mesmo considerando os horrores praticados pelo regime de Hitler. Ou seja, a História tem uma importância que ultrapassa ideologias, sentimentos, etc., e muito estranhamos que um governo como o da RAEM, que pugna por uma “administração científica”, tome uma atitude tão anti-científica como esta. Quanto ao governo português, o que dizer? O que esperar? O que fazer? Nada, parece-me. Pronto: o que lá vai, lá vai. Vamos ver o que se segue. * Chui Sai On fez esta semana uma das suas arruadas, isto é, tentou misturar-se com o povo e ouvir directamente a população. Passe o lado demagógico deste tipo de iniciativa, é sempre giro ver o Chefe do Executivo deslizar com pudor entre os populares, sempre um pouco incomodado de tanta proximidade. Chui continua a mostrar alguma dificuldade neste contactos, bem ao contrário do que sucedia com Edmund Ho. À partida, isto não lhe ficaria mal, se a governação mostrasse a outra face da moeda. Mas não. Este governo permanece longe do povo, dos seus interesses e aspirações. A sua política não parece dirigida ainda ao bem geral da população, mas à satisfação dos interesses de alguns. Veja-se o caso do ambiente, sublinhe-se com o trânsito, remate-se com a Saúde. Pouco é feito e o que se faz é aos soluços. São soluções momentâneas, paliativos, e raramente um ataque estratégico dos problemas. E, no fundo, no fundo, todos sabemos exactamente a razão: enquanto esta for uma cidade para meia-dúzia de privilegiados e amigos será

bem pode limpar as mãozinhas à parede que ficará muito mal na fotografia da tal História. Duvido que mais tarde consigam também apagar as asneiras que cometerem, como fizeram com os escudos portugueses. *

difícil proporcionar à generalidade das pessoas a qualidade de vida que os lucros imensos dos casinos possibilitaria. O povo pode não protestar radicalmente, mas a

desarmonia continuará a prevalecer por aqui. E o governo, se não conseguir com tanto dinheiro de que dispõe proporcionar uma alta qualidade de vida a esta gente,

O governo, se não conseguir com tanto dinheiro de que dispõe proporcionar uma alta qualidade de vida a esta gente, bem pode limpar as mãozinhas à parede que ficará muito mal na fotografia da tal História. Duvido que mais tarde consigam também apagar as asneiras que cometerem, como fizeram com os escudos portugueses

c a rtoon por Steff

A morte de Kadhaffi foi espectacular. Afinal, nenhum de nós se pode queixar. Quem o matou foram aquelas “ratazanas”, aqueles “cães traidores”, aquela gentalha constituída por bandidos armados, as pessoas da mais baixa condição social e cultural, para grande consternação dos governos ocidentais. Ainda bem. Nós não somos culpados. Agora só temos nas mãos o sangue das vítimas do coronel que, durante décadas, matou, torturou e roubou o seu povo com a bênção de quem lhe comprava o petróleo e por lá fazia negócios. A cereja no topo do bolo foi a notícia de que o ditador foi sodomizado com um pau e lhe bateram com chinelos enquanto lhe chamavam nomes feios. Olha... há quem pague para isso. Realmente, o mundo é muito diverso.

ATERRAGEM SEGURA


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OPINIÃO

22 p er sp ect i va s Jorge Rodrigues Simão

Objectividade e universalidade “Probably the greatest challenge facing mankind in the twenty-first century is the danger of conflict between peoples and cultures. Genuine understanding and harmony among individuals and peoples involve the dialectic coexistence, the synthesis, of particularity, objectivity and universality.” A common human ground: universality and particularity in a multicultural world Claes G. Ryn.

S

E considerarmos alguns pressupostos comuns acerca da ciência, como apesar de ser falível em princípio, aproxima-se progressivamente da verdade; graças ao seu método, a ciência é objectiva, dado que as verdades que produz são universalmente válidas e neutrais e que oferece-nos representações da realidade mais fiáveis do que quaisquer outras produzidas por meios não científicos. A verdade das teorias científicas é notoriamente difícil de defender, quer em termos históricos, quer em termos filosóficos. Todas as teorias científicas do passado foram corrigidas ou totalmente ultrapassadas por se ter provado que eram inadequadas, ou não verdadeiras. E não existem critérios rigorosos de verdade para as teorias científicas; como reconheceríamos a verdade, no sentido de correspondência com aquilo que é verdadeiramente o mundo, se alguma vez o atingíssemos? Os estudantes de “Filosofia da Ciência” sabem, se tal disciplina não foi integrada numa nova que anteriormente era um seu sub-ramo, ou simplesmente eliminada na revoada olímpica de facilitismo e demagogia que o “Processo de Bolonha” veio inaugurar, a confirmação das previsões deduzidas de um qualquer formalismo teórico quando lhes é dada uma interpretação física, não garante a verdade dessa teoria, porque as falsas premissas podem gerar conclusões verdadeiras através de uma dedução lógica. Se recorrermos a noções mais débeis de verdade, em termos de consenso ou de coerência entre uma rede de teorias, não podemos fugir ao relativismo histórico. Nem o consenso entre os cientistas nem a coerência teórica, mantiveram a estabilidade ao longo do tempo. Contudo, esta observação deixa em aberto a possibilidade de as mudanças no consenso ou na coerência terem conservado o conteúdo de verdade das antigas teorias, e acrescentado novas verdades às mesmas, eliminando os seus defeitos, concluindo-se que houve progresso. Será possível medir o progresso? Os critérios neutrais do progresso, no sentido de um conteúdo de verdade acrescido, são igualmente problemáticos. É certo que uma determinada linhagem de teorias

sucessivamente modificadas, revela um sucesso explanatório e profético crescente e/ou a maior coerência no seio de uma estrutura teórica mais ampla. Tais medidas podem indicar que uma sucessão de teorias registou um progresso interno, mas para além disso, o progresso não é garantido uma vez que essa linhagem pode ser destruída, extinguir-se, durante a longa caminhada. Os avanços intermédios podem em retrospectiva parecer remendos escolásticos aplicados a um objectivo falhado. A astronomia geocêntrica de Ptolomeu é um exemplo clássico. Embora a verdade absoluta seja uma ilusão, não precisamos de ser totalmente cépticos. Todos aceitamos, na nossa vida quotidiana, certas verdades produzidas pela ciência, por exemplo quando tomamos

Para sermos mais optimistas, as relações de poder nunca se mantiveram estáveis na história da humanidade e compete-nos, colectivamente, desafiá-las se for necessário criar um mundo melhor, porque para pior já basta assim, conforme parte de uma estrofe de uma chula alentejana

antibióticos para debelar uma infecção, engolimos comprimidos de vitaminas, utilizamos fertilizantes no jardim, nos recusamos a comprar aerossóis com clorofluorcarbonetos. Todavia, essas verdades aceites, resultam, invariavelmente, de controvérsias e contestações em torno da autoridade na produção do conhecimento. Como os historiadores e os sociólogos têm demonstrado, o resultado de uma grande parte das controvérsias científicas é imprevisível nesse momento, dado que todas as partes envolvidas numa controvérsia, tendem a reunir argumentos convincentes e a apontar as falhas nos argumentos dos adversários. Tal como afirmou o filósofo e antropólogo francês Bruno Latour, a natureza só assume o papel de árbitro depois de uma controvérsia estar encerrada, ou seja, quando a verdade de uma das partes foi aceite. Numa história de vencedores, pode parecer que estes sempre tiveram a razão do seu lado, mas há múltiplos elementos envolvidos no encerramento das controvérsias, em que muitas vezes, um estudo mais atento revela que, de uma forma ou de outra, foi o poder que os vencedores tiveram do seu lado. Essa pode ser uma conclusão incómoda para os defensores da verosimilhança e da objectividade da ciência, mas abre também caminho a novas liberdades; em termos colectivos, fazemos opções na atribuição da verdade. Isto não significa que se tenha voto na matéria, quando se trata de saber, por exemplo, se a segunda lei da termodinâmica se mantém ou não? Ao comprometermo-nos com algumas verdades, somos obrigados a aceitar outras. Nesse sentido, a ciência tem revelado uma forte dinâmica interna; se a natureza do empreendimento foi aceite, não somos livres de inventar o que nos apetecer. No entanto, a natureza oferece muitos níveis de liberdade no modo como representamos e compreendemos os estados naturais. Os tipos de representações e compreensões que aceitamos como verdadeiros na prática, dependem crucialmente das atribuições colectivas do saber. Quanto à nossa compreensão da natureza, foi a ciência que, através do consenso social, nos forneceu o maior número de conhecimentos. A criação desse consenso não era inevitável nem estava predeterminada. Foi um processo social, conduzido por opções sociais. Pelo menos em teoria, ainda podemos fazer uma escolha colectiva para que um determinado processo siga um rumo diferente. Na prática, a forte aliança entre a ciência e o poder político e económico, criou estruturas de poder estabelecido que possuem meios tecnológicos para sustentá-lo. São essas relações de poder, e não apenas a própria

natureza, que constrangem as nossas opções na prática, nomeadamente as que respeitam às atribuições de verdade e de saber. Para sermos mais optimistas, as relações de poder nunca se mantiveram estáveis na história da humanidade e compete-nos, colectivamente, desafiá-las se for necessário criar um mundo melhor, porque para pior já basta assim, conforme parte de uma estrofe de uma chula alentejana, adaptada por Fausto e Sérgio Godinho. Os pressupostos de objectividade e universalidade da ciência assentam em bases mais firmes do que a noção de verdade científica? Na realidade, os critérios de objectividade e universalidade são tão difíceis de manter como os critérios de verdade. Não podemos colocar-nos acima e fora da realidade científica para julgarmos se os seus princípios são objectivos ou universais. Na melhor das hipóteses, podemos chegar a um acordo intersubjectivo quanto à validade do conhecimento científico. Tais juízos, de um modo geral, são feitos por quem se iniciou na actividade e na cultura científicas, directa ou indirectamente. A aquisição de conhecimento, aquilo que os filósofos chamam de epistemologia e os êxitos pragmáticos da ciência são de facto impressionantes e convincentes, mas essa constatação não é suficiente para justificar a pretensão, de que a ciência produz formas de conhecimento que são sempre objectivas e válidas. Não é despiciendo analisar de onde vêm as noções de objectividade e universalidade e qual a razão porque tanta gente acredita nelas. Uma parte da resposta parece residir na transformação da filosofia natural em ciência. A filosofia natural tratava essencialmente de Deus, da natureza por si criada, e ordenada segundo as suas leis escritas, plasmadas na Bíblia. As obras da natureza podiam ser dadas a ver ao homem, mas estavam acima e para além da actividade e do controlo humano. Neste sentido, as obras da natureza eram transcendentes, e os princípios subjacentes aos fenómenos naturais, sendo inventados por Deus e não pelos homens, eram universais e independentes dos sistemas de valores humanos. O afastamento de Deus da natureza, que muitos consideram, depois da criação da ciência não foi, contudo, acompanhado por uma exclusão desta noção de universalidade da mesma. As obras fundamentais da natureza continuaram a ser transcendentes, no sentido de serem susceptíveis de ultrapassar o controlo humano, e o que a ciência descobriu acerca da natureza continuou a ser considerado um conhecimento universalmente válido.


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OPINIÃO

u m g r i t o n o d eser t o Paul Chan Wai Chi*

Panqueca de banana P

ELA televisão podemos ver os deputados do Conselho Legislativo de Hong Kong a atirar bananas e ovos em pleno plenário para expressar a sua insatisfação. Muitos cidadãos de Macau já me perguntaram se tal cenário poderia repetir-se cá. Acho que se trata de uma “cultura parlamentar” diferente e, por causa disso, não vemos situações deste género no nosso hemiciclo. Em Taiwan, por exemplo, os parlamentares até se agridem nas reuniões – uma situação que não chegou a tal extremo na região especial vizinha. Pessoalmente, acho que não vamos ver tão cedo deputados a atirarem o que quer que seja na Assembleia Legislativa de Macau. Se alguma vez algum residente me oferecer bananas e ovos para atirar nos plenários, vou-lhes pedir autorização para usar tais ingredientes para fazer uma panquecas em casa. Não quero dizer que a Assembleia Legislativa de Macau é melhor ou pior que o Conselho Legislativo de Hong Kong. Se todos os nossos problemas fossem resolvidos com simples actos de atirar bananas e ovos, eu não hesitaria. A questão é que essa possibilidade jamais estará disponível em Macau. O debate na nossa Assembleia Legislativa é muito mais aborrecido do que as reuniões do nosso vizinho. Tome como exemplo a última sessão para o Executivo responder às interpelações orais dos deputados esta semana. Como é possível que as autoridades decidam pró elas próprias se vão ou não aparecer e prestar contas aos deputados? Não há nenhuma garantia em

Macau que um secretário vá comparecer a uma sessão para responder aquilo que tem de responder. Se os tecnocratas dos departamentos públicos são os que respondem às interpelações destinados aos altos cargos e se esses altos cargos não se apresentam nos plenários, estamos perante um caso de desrespeito total pelo papel da Assembleia Legislativa – sem contar a arrogância. Por causa deste motivo, a sessão de respostas às interpelações orais agendada para Julho não aconteceu. Teve de ser adiada para três meses mais tarde, o que afecta seriamente a temporalidade dos assuntos em discussão. Quando finalmente chega a hora da verdade, continuamos na mesma. As autoridades usam estatísticas conhecidas e repetem o mesmo que já tinham antes. Nunca há respostas directas e claras às interpelações. Entramos e saímos na mesma. Quando os legisladores tentam tirar, quase que a ferro e fogo, respostas concisas das autoridades, o que temos em troca é o silêncio. Com sorte, arrancamos um “não há mais comentários a fazer”. E assim faz-se política em Macau. Sou deputado há dois anos e tenho, assim como os outros, 30 minutos para falar antes da ordem do dia. Geralmente, cada legislador só consegue usar a metade desse tempo, para poupar tempo para a segunda volta. Quando esse tão esperado momento chega, o plenário acaba porque o relógio já marcou 20h00 e acabamos por não usar o nosso tempo todo. Do lado oposto, quando é a vez do Go-

A cultura parlamentar de Macau deve ser melhorada e a única forma de seguir esse caminho é através do sufrágio universal, através da ampla participação da sociedade na vida política. É necessário criarmos uma verdadeira sociedade civil. Como isso requer muito tempo e esforço, não devemos desperdiçar bananas e ovos. Precisamos desses ingredientes para fazer as nossas panquecas e dali tirarmos energias para a grande batalha que temos pela frente verno falar, nunca há limitações de tempo. Geralmente, os representantes do Executivo lêem longos discursos e esticam ao máximo o seu tempo de antena. Quando olhamos para o relógio, só eles falaram e é hora de ir para casa. E lá se vão eles com o sentido de missão cumprida e em paz com a sua consciência. Em Macau criou-se este modelo auto-disciplinado de “debate”. Eu e os meus colegas Ng Kuok Cheong e Au Kam San já pedimos à Assembleia Legislativa a revisão das regulações do nosso tempo de discurso. O que queremos é efectivamente usar os

nossos 30 minutos. Não faço ideia se a nossa solicitação será levada em consideração. No passado, os deputados podiam usar o tempo que quisessem para expressar as suas opiniões. Se olharmos para trás, contudo, vamos notar que muito pouco mudou. Os deputados atacam-se uns aos outros, mas nunca se preocuparam em levar a cabo um debate saudável de diferentes pontos-de-vista. Os legisladores eleitos directamente pela população – e que, portanto, representam os anseios reais da sociedade – ocupam menos de 50% dos assentos da Assembleia e não tem o mínimo poder caso votem contra determinada proposta de lei. Sinto-me frustrado primeiro por não poder mudar nada e, segundo, por ver que os responsáveis do Governo estão perdidos. A única coisa que posso fazer é beber mais água para arrefecer os meus ânimos. Mantenho a opinião de que bananas e ovos não devem ser usados para resolver problemas, mas podem servir de pretexto para outras pessoas atacarem-me. A cultura parlamentar de Macau deve ser melhorada definitivamente e a única forma de seguir esse caminho é através do sufrágio universal, através da ampla participação da sociedade na vida política. É necessário criarmos uma verdadeira sociedade civil. Como isso requer muito tempo e esforço, não devemos desperdiçar bananas e ovos. Precisamos desses ingredientes para fazer as nossas panquecas e dali tirarmos energias para a grande batalha que temos pela frente. *Deputado e presidente da Associação Novo Macau Democrático

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Lia Coelho; Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos M. Cordeiro; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@ hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


Ciclone

O uso de caixeiros viajantes para representar empresas SEXTA-FEIRA 28.10.2011 www.hojemacau.com.mo portuguesas não as ajuda em nada. Por Fernando

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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SANDS COTAI CENTRAL ABRE EM 2012

A cidade integrada Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

O

novo empreendimento Sands Cotai Central vai abrir portas durante a primavera do próximo ano – a primeira fase será inaugurada no final de Março. Ontem, a máquina liderada por Sheldon Adelson apresentou o logótipo do empreendimento e revelou pormenores daquilo que irá ocupar as parcelas 5 e 6 do Cotai. “Hoje celebramos o mais recente marco da visão de Sheldon Adelson para o Cotai Strip”, afirmou o presidente da Sands China, Edward Tracy. “Desenvolver Macau com um negócio de liderança, viagens, lazer e entretenimento na região e no mundo, com experiências diversas e múltiplas”, acrescentou. O novo empreendimento será uma autêntica cidade integrada. Terá cerca de 365 mil metros quadrados de lojas, locais de entretenimento e espaços para restaurantes. Também haverá infra-estruturas salas de reuniões e convenções. A grande novidade é que, além de ter o maior casino do mundo – o Venetian Macau -, a Sands terá agora os três maiores hotéis do planeta. O Conrad

Hilton, o Sheraton e o Holiday Inn Intercontinental vão, juntos, proporcionar 6000 quartos. Naturalmente, o jogo também não foi esquecido. Serão dedicados à fortuna e ao azar cerca de 91 mil metros quadrados. O Sands Cotai Central terá ainda quatro salões de baile, dois spas, três ginásios e muitas outras novidades. “Estamos a cumprir aquilo que foi acordado com a RAEM, a diversificação da oferta turística”, referiu Edward Tracy.

VIVA O LUXO, E NÃO SÓ

As grandes marcas estarão presentes no empreendimento. Mas, tal como aconteceu com o Venetian, o Sands Cotai Central terá também a presença de marcas mais em conta para as carteiras dos comuns mortais. “Trata-se de ambiente único e refrescante com grande abundância de luz natural e cascatas para criar uma experiência única para quem quer fazer compras. As lojas do Cotai Central estão direccionadas para um amplo espectro de consumidores, o luxo, os compradores experientes, ou aqueles que procuram apenas um bom dia para passearem com amigos e familiares”, explicou Edward Tracy.

A cidade integrada • 365 mil metros quadrados de espaço dedicado às compras, entretenimento e restauração •

91 mil metros quadrados reservados à prática do jogo

4 salões de baile

2 spas

3 ginásios

92 lojas de marcas variadas

• Mais de 20 opções de restauração • 3 hotéis de luxo com oferta de quase 6000 acomodações: Conrad Hilton (600 quartos), Sheraton (4000 quartos) e Holiday Inn International (1200 quartos)


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