MOP$10
ROGÉRIO PUGA
LUSOFONIA
GONÇALO LOBO PINHEIRO
SEXTA-FEIRA 28 DE OUTUBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3685
Construção Israel da História e os de Macau Tubarões ENTREVISTA
ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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SAÚDE
OPINIÃO
Música é A balbúrdia o melhor remédio Os cobardes PAUL CHAN WAI CHI
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ISABEL CASTRO
hojemacau EPM ELEIÇÕES PARA A APEP ADIADAS
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O voto pode esperar
KONSTANTIN BESSMERTNY
CAMINHO DA DÚVIDA
Inicialmente marcadas para dia 20 deste mês e, devido à falta de membros para integrar a assembleia ou o conselho fiscal, foram dados mais dois dias à única lista concorrente para que completasse o elenco. Uma irregularidade admitida pelo actual presidente da Associação de Pais da EPM que levou ao adiamento das eleições por um mês. Estão assim abertas as portas a novas candidaturas.
CENTRAIS
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ROGÉRIO PUGA ACADÉMICO
São histórias de mulheres com olhares muito diferentes, que completam o vazio sobre o quotidiano da Macau do século XVIII. O investigador Rogério Puga voltou ao território para participar na conferência internacional “Discursos memorialistas e a construção da história”, que termina hoje na Universidade de Macau. E explica-nos o que se descobre sobre o passado desta cidade quando se vai de Boston a Filadélfia
“É necessário estudar não apenas a presença portuguesa, mas a de todas estas comunidades que contribuíram em larga escala, no século XIX, para a vida cultural de Macau.”
“Há muita investigação ainda por fazer” Trouxe a Macau o caso do diário de Caroline H. Butler Laing, uma norte-americana, escritora, uma mulher de família também, que passou por cá no século XIX em viagem com o marido. Que diário é este? Que escritas femininas são estas? São escritas protestantes, um olhar protestante sobre Macau, que estranha quer o chinês, quer o português católico. É uma mulher que vem de Nova Iorque, muitas vinham de Boston, e nunca tinham visto católicos. O português católico é tão exótico para estas mulheres quanto o chinês. Elas têm de descodificar esses dois outros que encontram em Macau. São exercícios religiosos: os católicos confessam-se, os protestantes não, pelo que escreviam diários como exames de consciência para ver o que tinham feito bem e o que tinham feito mal. Estas mulheres passam o ano todo em Macau, os maridos estão em Cantão seis meses, elas ficam sozinhas aqui com os empregados e os filhos, aborrecidas até à morte, rodeadas de católicos e de chineses, e descrevem desde o cão que está a latir aos cortinados e às cadeiras. Para se reconstituir a história do quotidiano da Macau do século XIX estas fontes são riquíssimas, são muito melhores do que as fontes portuguesas. Elas eram tradutoras culturais, porque tinham de explicar tudo ao mínimo pormenor sobre a China. Estes diários eram epistolares, em forma de carta, eram enviados para os Estados Unidos, e a rua e o bairro inteiro liam aqueles diários. Foram também responsáveis pelas primeiras imagens americanas sobre a China. São quase ferramentas da sinologia norte-americana. Porquê esta mulher? O que tem de especial Caroline H. Butler Laing? Tem o que todas as outras têm, mas há neste diário uma coisa muito interessante: o dia-a-dia da mulher protestante em Macau. Ela no fim faz uma espécie de um esquema do
quotidiano de uma mulher norte-americana: as orações, a hora a que se levanta... Há outro diário, da Rebecca Kinsman, que enviuvou cá em Macau – o marido, Nathaniel Kinsman, está enterrado no cemitério protestante. Eles, por exemplo, trouxeram uma vaca dos Estados Unidos da América. Como os chineses não bebiam leite, as vacas não eram leiteiras. Se traziam crianças, traziam uma vaca. Quem ia embora deixava a vaca leiteira aos amigos que cá ficavam, assim como mobília – ofereciam ou faziam leilões. Este diário tem isso de especial: ela descreve o quotidiano da mulher de língua inglesa, protestante, em Macau: se ia visitar as amigas, se ia passear a pé até às Portas do Cerco, se ia visitar uma aldeia chinesa. Há todo este ponto de vista dos estrangeiros que chegam a Macau. Por exemplo, estranham o repicar dos sinos de hora a hora, que é uma coisa que não acontece nos países protestantes. É um olhar muito diferente do de uma mulher portuguesa que visitasse a Macau católica do século XIX: não estranharia o repicar dos sinos porque em Portugal também soam para dar as horas. É muito interessante esta focalização protestante sobre um território simultaneamente português e chinês. Porque observa pormenores que seriam dados adquiridos para portugueses e chineses. É, portanto, uma fotografia mais completa. É. Muitas vezes permite encontrar os vazios das fontes portuguesas, certas práticas que não estão descritas nas nossas fontes e que eles descrevem. Acontece muito, nas fontes oficiais, aquilo que interessava aos portugueses esconder do Rei de Portugal, os americanos ou os ingleses falarem abertamente, e vice-versa – o que interessava aos ingleses esconder, as fontes portuguesas muitas vezes revelam. Esse cruzamento das fontes de línguas diferentes permite encontrar vazios quer numas fontes, quer noutras.
Destacou o facto de serem fontes de religiões diferentes também, num contraste com os escritos de residentes e viajantes católicos. Existe uma diferença muito grande na abordagem do mundo, certo? Existe, a cosmovisão é diferente. Estas mulheres americanas, quando vão para festas portuguesas até às quatro da manhã, sentem-se culpadas, há o peso da seriedade protestante. Os hábitos são diferentes, quase que se sentem forçadas a justificar porque é que ficaram até às três da manhã numa festa na casa do Governador. Há esse peso religioso. Há as práticas dos quakers e dos unitarianos em Macau, que casavam entre primos. Os próprios americanos espantam-se com os hábitos uns dos outros, o que não deixa de ser curioso. Existiam várias Macau – não eram só a portuguesa e a chinesa, havia também uma norte-americana, uma britânica. Esta visão caleidoscópica de um território tão cosmopolita como Macau era e continua a ser muito importante no cruzamento destas fontes. Era uma Macau interessante, esta que a Caroline H. Butler Laing descreve? Era. Sobretudo até à fundação de Hong Kong, era a única porta de entrada para a China e foi esse o segredo de Macau. Por isso é que ficamos tantos anos aqui: também era útil para as autoridades chinesas manterem os estrangeiros todos em Macau, delegando nos portugueses a responsabilidade de os administrar. Nenhum estrangeiro estava mesmo na China – ia de Macau para o complexo das feitorias de Cantão, que também era fechado como Macau, que funcionou um pouco como tubo de ensaio, desde o século XVI, para o comércio da China, nos séculos XVIII e XIX. Replicou-se o formato encerrado de Macau com as Portas do Cerco nas feitorias de Cantão. E daí a
HOJE MACAU
ENTREVISTA
utilidade: manter os estrangeiros com um pé fora e outro dentro da China, encerrando-se as Portas do Cerco quando os portugueses e os outros estrangeiros não respeitavam o desejo das autoridades chinesas. Na outra intervenção nesta conferência, que faz hoje, traz uma descoberta que revelou em 2012, que tem que ver com o primeiro museu da China e que foi criado precisamente aqui em Macau. Foram exactamente estes diários que me permitiram fazer esta descoberta. Parece impossível como é que só em 2012 é que se faz esta descoberta, mas deve-se ao facto de ter sido uma iniciativa completamente anglófona, de língua inglesa. Este museu foi fundado por funcionários da Companhia das Índias inglesa e por missionários protestantes, e era sobretudo frequentado pelos visitantes estrangeiros e pela comu-
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a Companhia das Índias – as firmas norte-americanas já cá estavam – e isso acabou por influenciar o tipo de presença britânica aqui. Esse desregulamento da presença britânica vai dar lugar mais tarde à Guerra do Ópio. Mas estas duas actividades relacionam-se com as diaristas femininas de Macau. É necessário também estudar esta presença, não apenas a presença portuguesa, mas de todas estas comunidades que contribuíram em larga escala, no século XIX, para a vida cultural de Macau. Havia peças de teatro organizadas pela comunidade de língua inglesa, os cenários eram pintados pelo George Chinnery, que ainda chegou a fazer algumas personagens.
nidade anglófona. Por isso, não aparece muito nas fontes portuguesas – quase ninguém lhe fez referência. Quando começo a ler estes diários de mulheres norte-americanas, aqui e ali encontrei frases como ‘Fui ao museu britânico de Macau’, ‘Fui ao museu de Macau’. Comecei a juntar uma linha ou duas, em vários diários, o que depois me permitiu, com o tempo, ir chegando à conclusão de que aquilo, para a época, era um museu representativo. Juntei várias referências, investiguei em revistas da época, e cheguei à conclusão de que entre 1829 e 1834 tinha sido inaugurado o ‘British Museum of Macau’ e que, ao contrário do que toda a gente dizia e do que a história da museologia da China defendia, foi o primeiro museu que abriu portas, e não um museu fundado por um jesuíta francês, Pierre Heude, em 1868. Portanto, o primeiro museu da China de cariz
ocidental não abriu as portas em 1868, em Xangai, mas em 1829, em Macau, e fecha depois com o final do monopólio da Companhia das Índias em 1834. Sabe-se qual era a localização? Não. Foi uma das coisas que me perguntaram, quando a revista da Cambridge University Press avaliou o meu trabalho. Também queria saber. Penso que seria na zona onde
“O português católico é tão exótico para estas mulheres norte-americanas e protestantes quanto o chinês.”
hoje é o Palácio do Governo, porque era na Praia Grande que estava a sede da Companhia das Índias. Penso que seria algures entre a Penha e o actual Palácio do Governo mas, até à data, não encontrei ainda nada. Era uma casa arrendada e os comerciantes ingleses e chineses traziam peças para esse museu, havia um guarda, e as peças estavam legendadas. Dois anos depois desta descoberta, escreveu sobre a primeira biblioteca de língua inglesa na China. Que biblioteca é esta? É uma biblioteca itinerante. Todos os estrangeiros que vinham para Macau traziam livros – da América, de Inglaterra, da Irlanda –, deixam-nos ficar, trocam-nos. Esses livros vão sendo depositados na sede da Companhia das Índias em Macau e na feitoria inglesa e norte-americana em Cantão. Os livros
viajavam Rio das Pérolas acima, Rio das Pérolas abaixo, com os comerciantes ingleses, que passavam o Verão e a Primavera em Macau, e o Outono e o Inverno a comprar chá, porcelana e outras mercadorias nas feitorias de Cantão. Alguns livros ficavam lá, outros voltavam, e a maioria, com o final do monopólio da Companhia das Índias, foi para a biblioteca que é hoje a Biblioteca Robert Morrison na Universidade de Hong Kong. A Companhia das Índias tinha também de defender o seu bom nome – o museu e a biblioteca [aparecem nesse contexto], até porque em Inglaterra eram cada vez mais acesas as críticas ao monopólio. A Companhia das Índias tinha de se preocupar com a sua imagem pública e provar que também se preocupava com o local onde fazia negócios. Essa era uma forma de o fazer e depois não houve nenhuma estrutura que substituísse
Como é que decidiu dedicar-se ao estudo das fontes em língua inglesa e não ao estudo das tradicionais fontes portuguesas? Percebi que havia um vazio enorme que era não só o estudo dessas fontes americanas e inglesas, como também o cruzamento com as fontes portuguesas. Tendo estudado Estudos Portugueses e Ingleses, poderia fazê-lo, casar as duas línguas e culturas que estudei. Fiz o doutoramento em Estudos Anglo-Portugueses exactamente sobre um romance inglês cuja acção se passa em Macau: ‘City of Broken Promises’, de Austin Coates. Apercebi-me de que havia muita coisa a fazer e que estas fontes eram importantíssimas para o estudo do quotidiano da Macau portuguesa. Uma das razões pelas quais pude fazer essa descoberta e ajudar a reescrever a história da museologia na China foi porque os estudiosos estrangeiros não dominam, a maioria deles, o português, e fogem de Macau – estudam Hong Kong, Xangai, são fontes francesas e inglesas. Os historiadores portugueses, até há bem pouco tempo, também não se debruçavam sobre as fontes em língua estrangeira, porque estavam manuscritas, era preciso ir para Inglaterra e para os Estados Unidos. Tive de correr a costa toda, desde Boston até Filadélfia, em busca de diários de mulheres, não publicados. Contactei com familiares. A relação dos norte-americanos com este tipo de fontes é completamente diferente: emprestam tudo, fotocopiam, enviam-nos livros, criei em certa medida uma relação com os descendentes destas diaristas. Adoram ver estes estudos publicados. Há depois o medo em relação à referência ao tráfico de ópio – digo sempre que me interessa a história cultural, não a do comércio nem do tráfico, e aí ficam mais descansados e o tipo de relação é outro. Mas há muita investigação ainda por fazer. Isabel Castro
isabel.castro@hojemacau.com.mo
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POLÍTICA
TIAGO ALCÂNTARA
Água mole em pedra dura
Operários entregam hoje petição sobre compensações nos feriados
A CTM SECRETÁRIO “MUITO SATISFEITO” COM DESEMPENHO DA CONCESSIONÁRIA
Mistérios da rede
A dois meses do fim do contrato com a CTM, Raimundo do Rosário diz estar “muito satisfeito” com o “progresso” alcançado. O Governo está a realizar um inventário dos activos da empresa, que não pode, para já, ser revelado. Quanto ao uso das condutas pelas concessionárias, fica a promessa de mais fiscalização
A
Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública esteve ontem reunida para discutir o desempenho da Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) e questões relativas ao contrato de concessão da operadora. À margem do encontro, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse estar “muito satisfeito” com o desempenho da concessionária, numa altura em que o contrato está a dois meses do fim. “Estou muito satisfeito porque acho que houve um enorme progresso nestes meses em relação aos activos, à qualidade do serviço, às tarifas e contas da empresa. Graças aos deputados, colegas e à própria CTM, conseguimos um progresso significativo”, afirmou. Raimundo do Rosário deu a entender que a renovação automática do contrato com a CTM poderá ser uma realidade. “Se lerem a cláusula do contrato de concessão, esta diz que se não houver violações graves e imperiosos motivos de interesse público a renovação é automática. Acho que está tudo dito.” Contudo, o governante afirmou “ter consciência de que este é o primeiro passo e que há um longo caminho a percorrer”. Neste momento, o Executivo está analisar a lista dos activos da empresa, por forma a ter conhecimento dos que pertencem à CTM e ao Governo. Só em Abril do próximo ano é que Raimundo do Rosário irá à Assembleia
Legislativa falar do assunto. Para já, por questões legais, não é possível divulgar a lista e os valores desses activos. “Vamos ver se a legislação em vigor nos permite ou não divulgar a lista. Chegamos a um acordo com a CTM e esse foi um grande progresso, a concessão prevê tipos distintos de activos e neste momento já está claro quais são os activos que pertencem à RAEM e os que pertencem à CTM. No dia em que publicarmos os activos de uma concessionária poderemos publicar das outras. Na minha área tenho muitas concessionárias. Tenho dúvidas, disse isso aos deputados e vamos esclarecer essa questão”, adiantou Raimundo do Rosário.
DEPUTADOS PEDEM MAIS
Da reunião de ontem no hemiciclo saiu ainda a conclusão de que o Governo deverá reforçar a fiscalização do uso das condutas, isto após a Mtel, outra concessionária, ter referido que ainda não há igualdade no acesso à rede. “Foi dito que o Governo vai reforçar a fiscalização na área das telecomunicações.
Raimundo do Rosário deu a entender que a renovação automática do contrato com a CTM poderá ser uma realidade
Parece que o uso das condutas é livre, mas a verdade é que ainda há restrições no seu uso, pelo que não existe uma plena liberalização. A situação do uso das condutas vai ser melhorada e isso merece elogios da nossa parte”, explicou o deputado Chan Meng Kam, que preside à comissão. O deputado revelou que os seus colegas não estão satisfeitos com as recentes afirmações da CTM, que afirmou já tudo ter feito para melhorar os serviços. “A CTM disse que já lutou na medida do possível, mas aí a comissão apresenta algumas reservas. A redução das tarifas pode ter sido a maior da nossa história, mas antes a Internet estava a passo de caracol, e agora houve pouca evolução. A comissão considera que a CTM pode fazer mais e melhorar a taxa de cobertura.” Num comunicado ontem divulgado aos jornalistas, é referido que a CTM “vai continuar a aperfeiçoar os trabalhos de separação da contabilidade, por forma a melhorar os documentos financeiros e os contratos”. Na passada quarta-feira, a concessionária confirmou uma redução nos preços do aluguer das condutas e circuitos a outras empresas. Este corte entra em vigor no dia 1 de Dezembro e pode chegar aos 50 por cento. “Estes ajustamentos às tarifas e o aumento da velocidade da rede reduziram as receitas da CTM”, conclui o documento. Andreia Sofia Silva (com A.K.) andreia.silva@hojemacau.com.mo
Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) entrega hoje na Assembleia Legislativa (AL) uma petição a exigir o cumprimento das compensações aos trabalhadores nos casos em que os feriados coincidem com os dias das folgas semanais. Esta tem sido uma das lutas da FAOM este ano que, em Fevereiro, lançou um relatório a alertar para a necessidade de rever a lei laboral, por forma a resolver esta lacuna. A necessidade de compensar os trabalhadores nesta matéria foi um dos temas discutido esta semana na AL, tendo os deputados da FAOM defendido uma acção do Governo. “Não é o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) que é o monstro, mas sim o Governo, que não consegue tomar este passo. Mesmo que não consiga chegar a um equilíbrio de opiniões, o Governo tem de tomar uma decisão. [Recompensar os trabalhadores] não é aumentar os dias de descanso, porque a lei já estipula que há dez dias de feriados obrigatórios”, referiu a deputada Kwan Tsui Hang. A deputada acrescentou que “quando se redigiu a lei não se pensou nesta questão e cada empresa tem a sua interpretação”. “Há empresas que já compensam o trabalhador, mas outras não o fazem, o que leva a que os trabalhadores fiquem sem descanso”, frisou. Angela Leong, deputada e administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), também levantou esta questão numa carta enviada à comunicação social, tendo referido esta semana no hemiciclo que a concessionária de jogo vai começar a compensar os trabalhadores no próximo ano. “A SJM já divulgou que vai ser a primeira a adoptar compensações de feriados quando houver sobreposição e a licença de paternidade já no próximo ano. São soluções tomadas por iniciativa da SJM porque não houve intervenção de nenhuma associação. Não sei se o Governo pode avançar com a compensação do feriado, sobretudo junto de grandes empresas”, afirmou. A.S.S./A.K.
6 SOCIEDADE
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EPM IRREGULARIDADES LEVAM A ADIAMENTO DE ELEIÇÕES NA ASSOCIAÇÃO DE PAIS
As eleições para a associação de pais da Escola Portuguesa foram adiadas um mês devido a irregularidades no processo. A actual direcção não vai ter continuidade e há uma nova lista
TIAGO ALCÂNTARA
Votos só para o mês que vem
A
S eleições para os órgãos sociais da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP) foram ontem impugnadas. A informação foi avançada ao HM pelo actual presidente da direcção, Fernando Silva, que explica que “houve um impugnação do acto eleitoral e a mesa da assembleia decidiu adiar as eleições por mais um mês”. As eleições estavam inicialmente marcadas para o passado dia 20. No entanto, e de acordo com Fernando Silva, a lista então apresentada “apenas indicava elementos para a constituição da direcção e não tinha membros para integrar a assembleia ou o conselho fiscal, o que não é permitido pelos estatutos”. “Como só havia essa lista e os membros [dos actuais órgãos sociais] não estavam na disposição de continuar, a direcção decidiu dar mais dois dias úteis para que a lista fosse completada”, continua. Com efeito, a lista que ontem iria ser apreciada apresentou a totalidade dos membros, mas “a direcção actual não tinha o direito de prorrogação e quem teria essa competência seria a mesa da assembleia”. Fernando Silva admite a irregularidade da actual direcção com
esta “falha”. “Na nossa boa vontade cometemos um acto ilegal”, concede. Com o adiamento de um mês, estão abertas as candidaturas aos interessados em avançar com o processo, sendo que a lista que iria ontem a votos já se encontra formalizada. A falta de pais a contribuir activamente para a APEP deve-se ao facto de ser “um trabalho voluntário que nem sempre interessa, porque ninguém se candidata a ser voluntário”, afirma, enquanto lamenta que “criticar toda a gente critica, mas produzir qualquer coisa em prol da comunidade já é mais difícil”.
MALES QUE VÊM POR BEM
O HM falou com Ana, mãe de dois filhos que estudam na EPM. Confrontada com a alteração eleitoral, considera que “pode ser um factor positivo”. “Desta forma há tempo para que se possa dar a conhecer as listas candidatas, sejam elas quantas forem, bem como os seus programas de acção”, explica.
Para esta mãe, o adiamento das eleições pode permitir que haja mais interessados, o que vai promover o debate de ideias e criar algum dinamismo nos pais e na associação. Por outro lado, “vai dar a possibilidade às pessoas para conhecerem, a tempo e horas, as ideias que possam constar dos programas das listas”, afirma. A encarregada de educação explica que, até agora, não houve tempo para os associados conhecerem a lista candidata e o que esta se propõe fazer: “Assim as coisas podem ser feitas como devem ser, até porque a lista candidata foi afixada na quarta-feira, para eleições que se realizariam ontem”.
LUFADA DE ESPERANÇA
Enquanto mãe, Ana considera que as prioridades a ter em conta para os candidatos à Associação de Pais da EPM “começam pela questão dos uniformes, que foi muito contestada”.
FINANÇAS LEIS VIGENTES NÃO ACOMPANHAM MERCADO, DIZ ASSOCIAÇÃO Chang Domingos Savio, presidente da Associação dos Empregados Financeiros de Macau, defendeu que as leis vigentes no sector financeiro não são capazes de responder aos objectivos do Governo de criar uma plataforma de serviços financeiros. “Os serviços bancários, os investimentos e os depósitos contam com muitos regulamentos”, disse na conferência de imprensa sobre o Dia da Educação Financeira. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Chang Domingos Savio acrescentou que a legislação vigente não está a acompanhar os progressos a nível mundial. Pun Chi Fai, presidente do conselho administrativo do Instituto de Formação Financeira, defendeu que algumas leis devem ser revistas para acompanhar o desenvolvimento do sector.
“A direcção actual não tinha o direito de prorrogação e quem teria essa competência seria a mesa da assembleia.” FERNANDO SILVA PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA APEP O ensino do mandarim e do cantonês também são aspectos que devem ser ponderados pelas listas que se venham a candidatar. “O cantonês é a língua que se fala cá e por isso poderia ser uma opção de ensino”, ilustra Ana. “O mandarim que já é leccionado deveria incluir mecanismos capazes de motivar os miúdos para a aprendizagem da língua e assegurar que os professores
estejam numa base contínua, por um lado, e por outro que pudessem conseguir comunicar e explicar às crianças a matéria numa língua comum e que elas entendessem”, diz. “Há professores de mandarim na EPM que não falam mais nenhuma língua e, como tal, não conseguem comunicar com as crianças”, ilustra. A questão dos manuais escolares também deve merecer atenção. “Só esta semana é que o meu filho teve acesso a todos os livros, que foram pedidos em Julho”, comenta, sendo que, até agora, “tem andado com fotocópias de um lado para o outro.” Ainda em relação ao processo eleitoral, Ana está surpreendida com a existência de uma lista “nova”. “Normalmente há uma lista única que é a da associação vigente e, agora, há uma formação completamente nova, o que acontece pela primeira vez”, afirma, curiosa e agradavelmente surpreendida. Sofia Mota
sofiamota@hojemacau.com.mo
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1,9%
SOCIEDADE
DESEMPREGO NÃO SOBE NEM DESCE
Entre Julho e Setembro deste ano, a taxa de desemprego foi de 1,9 por cento, ou seja, manteve-se no mesmo nível na comparação anual. A taxa de subemprego situou-se em 0,5 por cento, tendo subido 0,1 pontos percentuais, informam os Serviços de Estatística e Censos. No período em análise, a população activa era de 401.800 indivíduos e a taxa de actividade foi de 72,9 por cento. O comunicado salienta ainda que a população empregada se fixou em 394.200 pessoas – mais 1.600 pessoas em comparação com o período anterior. A média do rendimento mensal fixou-se em 15 mil patacas. Já a média salarial da população empregada nas lotarias, outros jogos de apostas e actividade de promoção de jogos era 19 mil patacas, sendo que na construção chegou às 15 mil. Por seu turno, a mediana do rendimento mensal dos residentes empregados cifrou-se em 18 mil patacas.
JOGO LEGISLAÇÃO É FUNDAMENTAL PARA EQUILÍBRIO, DIZ PEQUIM
Y
AO Jian, vice-director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, disse estar satisfeito por ver um desenvolvimento da legislação na área do jogo, incluindo as regulações referentes aos trabalhadores e concessionárias. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Yao Jian falava à margem do Fórum sobre Responsabilidade Social das Empresas de Turismo e Lazer de Macau, organizado pelo Instituto Politécnico de Macau. Para Yao Jian, a implementação de legislação é fundamental para manter a sustentabilidade e
estabilidade do sector do jogo, tendo referido ainda o aperfeiçoamento dos regulamentos internos das seis operadoras. “A legalização e a diversificação do jogo marcaram a transformação económica de Macau”, defendeu. “O turismo e o sector do jogo sofreram ajustamentos muito profundos nos últimos dois anos”, disse Yao Jian, tendo acrescentado que “muitos factores positivos estão a aparecer”, para além de defender que “o sector está a passar de um modelo tradicional e único para um modelo integrado de turismo”.
Saúde MUSICOTERAPIA REGISTA PROCURA CRESCENTE. FALTAM TERAPEUTAS
Sons para a mente
Wong Sin Tong, presidente da Associação de Musicoterapeutas de Macau, garante que há cada vez mais procura por esta técnica que ajuda crianças com necessidades educativas especiais e idosos. Mas só há três terapeutas acreditados no território
É
certo que a prática da musicoterapia ainda não está generalizada em Macau, mas são conhecidos os benefícios para crianças e idosos que tenham necessidades especiais ou problemas do foro mental e cognitivo. A música é usada, por exemplo, como forma de promover a comunicação ou a mobilidade. Wong Sin Tong, presidente da Associação de Musicoterapeutas de Macau, fundada o ano passado, garante que a sua profissão vai aos poucos ganhar mais importância, tendo em conta a ampla aplicabilidade e a grande ajuda que pode proporcionar a camadas específicas da população. Tong, que é uma dos três musicoterapeutas acreditados em Macau, lamentou ao HM o facto de ainda existirem muitas incertezas da parte de quem recorre a esta terapia, apesar ser cada vez mais procurada. “De facto existe uma grande necessidade deste serviço”, contou a presidente. “É importante para muitas doenças mentais que surgem no hospital ou como terapia interventiva na fase inicial das crianças que têm, por exemplo, atrasos no desenvolvimento, autismo ou transtornos de
aprendizagem. Os idosos que sofreram derrames cerebrais ou outros problemas cognitivos também podem receber este tratamento. De facto, ajuda muito e é uma terapia que se aplica a todas as faixas etárias”, apontou Wong Sin Tong. Para que possam prestar serviço nas instituições médicas de Macau os musicoterapeutas precisam de uma licença profissional. Como não existem exames de acreditação no território e regiões vizinhas, os três terapeutas estudaram no estrangeiro e obtiveram lá as suas licenças, que devem ser renovadas daqui a cinco anos.
ACREDITAÇÃO É OBJECTIVO
A procura já levou a que existam falsos musicoterapeutas no mercado, alertou a
“Muitas pessoas não conhecem este serviço, mas não quer dizer que não haja espaço para o seu desenvolvimento.” WONG SIN TONG
presidente da associação. Por isso, um dos maiores objectivos da entidade é promover um sistema de acreditação para estes profissionais. “Muitas pessoas não conhecem este serviço, mas não quer dizer que não haja espaço para o seu desenvolvimento. As perspectivas de emprego são, de facto, enormes”, disse Wong Sin Tong, adiantando que há muita falta de promoção desta terapia. Neste momento, tem sido feita uma apresentação junto de associações e escolas que tratam pessoas com necessidades especiais, sendo que já existem cada vez mais instituições que optam por fazer os seus próprios contactos. Actualmente, os serviços de musicoterapia podem ser encontrados no hospital Kiang Wu, no Centro I Chon da União Geral das Associações de Moradores (Kaifong) e associações que cuidam de crianças com deficiência mental, como é o caso da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
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T
UM CONFERÊNCIA JURÍDICA ABORDA SEXUALIDADE E FAMÍLIA
Ventos de mudança Assuntos como a transexualidade, a união entre pessoas do mesmo sexo ou planeamento familiar estão a ser abordados, desde ontem, na Universidade de Macau. A ideia é perceber a necessidade de novos enquadramentos jurídicos GONÇALO LOBO PINHEIRO
RANSEXUALIDADE ou casamento entre pessoas do mesmo sexo são temas que poderão em breve fazer parte de propostas de revisão jurídica de modo a ajustar os regimes à sociedade contemporânea. São questões que se encontram em debate na nona edição da Conferência Internacional sobre as Reformas Jurídicas de Macau no Contexto Global, que decorre entre ontem e hoje na biblioteca da Universidade de Macau. Em foco, está o papel do direito na regulação de assuntos ligados à família e à sexualidade, num espaço que pretende ser palco de discussão de matérias como o casamento e união de facto entre casais do mesmo sexo, a transexualidade, a adopção por pessoas do mesmo sexo ou a reprodução assistida, tendo em conta a família e os seus direitos fundamentais. Para a organização, esta é uma temática que já começou a ser discutida no ano passado. “Optámos por propor a continuidade do tema este ano, até porque recentemente a questão da mudança de sexo tem vindo a ser cada vez mais premente e sensível”, afirma ao HM. Outro assunto a considerar é se se deve ou não reconhecer a união de facto. “Houve já uma proposta colocada à Assembleia Legislativa (AL) no sentido de considerar as uniões civis que pretendiam reconhecer a união do mesmo sexo”, recorda o porta-voz da organização ao HM. A ideia foi discutida na generalidade, mas não teve pernas para andar. Por outro lado, a própria questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo tem vindo a ser recorrentemente chamada a discussão, sendo que em regiões próximas de Macau têm existido avanços nesse sentido. Sendo a temática geral as reformas, é intenção da organização abordar alguns destes temas na perspectiva jurídica de forma a perceber se é, ou não, necessária alguma revisão nesse sentido.
DISCURSOS DIVERGENTES
“As narrativas médicas e as narrativas jurídicas são muitas vezes discursos impenetráveis, e esse é o grande problema”, declara o professor de Coimbra, depois de uma sessão em que Chen Cham Hang, médico chefe de psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário, baseado na sua experiência clínica, nomeadamente em Taiwan, fez saber que a mudança de sexo que inclua alteração de órgãos, dada a irreversibilidade, é uma opção que “não deve ser tomada”.
“Sem esta reflexão há sempre o risco de se distorcerem valores.” RUI CUNHA João Paulo Remédio Marques, por seu lado, considera que a perspectiva apresentada foi “estritamente médica”. “O diagnóstico da transexualidade tem de demorar pelo menos dois anos e tem de englobar uma equipa multidisciplinar, para que a opção seja tomada em consciência”, considera.
ALTERAÇÕES EQUILIBRADAS
João Paulo Remédio Marques, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi convidado para apresentar aspectos ligados à transexualidade. Considera que “a alteração do Código Civil no que respeita à mudança de sexo terá que ponderar as especificidades da cultura local”. “As particularidades de Macau são muito diferentes da restante China”, afirma ao HM. Nesse sentido, espera que o regime jurídico possa ser alvo de “uma alteração bastante equilibrada que vá satisfazer as situações de confiança da aparência física externa do cidadão e, por outro lado, satisfaça o seu íntimo, independentemente de aconselhamento médico no que respeita à alteração dos órgãos
sexuais, e de vir a ter uma aparência externa diferente”. “Mesmo sem intervenção legislativa, e à semelhança do que se regista noutros países, ou mesmo em Portugal desde finais dos anos 80, o direito é suficientemente maleável para permitir que princípios gerais levem os juízes a permitir e conceder a mudança de sexo”, explica o catedrático. Quanto à situação de Macau, João Paulo Remédio Marques considera que “o Governo já está a pensar, há pelo menos um ano, no enquadramento jurídico no que respeita à mudança de sexo” até porque, no ano passado, presidiu a um estudo sobre o tema tentando pensar as soluções estrangeiras e a sua adaptação ao território.
SEM PRECIPITAÇÕES
É PRECISO MUDAR
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niciativas que discutam o enquadramento jurídico de temáticas como a sexualidade e a família são bem vindas a Macau. A ideia é expressa ao HM pelo presidente da Associação Arco-Íris de Macau, Anthony Lam, que considera que é “uma iniciativa que marca o inicio da discussão académica acerca dos diversos aspectos de temáticas que integram a sociedade actual”. Por outro lado, é um evento que dá relevo a questões importantes como é a homossexualidade ou a transexualidade, de um ponto
de vista contemporâneo. Para o activista, a prioridade é a liberdade de amar. “Podemos ainda ver pais chineses a proibirem os seus filhos de ter uma relação amorosa com um companheiro do mesmo sexo e o que está em causa, na verdade, é uma questão de amor.” Relativamente à importância de enquadrar juridicamente a transexualidade, Anthony Lam reforça a urgência, afirmando que no ano passado a associação a que preside recebeu dois pedidos de pessoas interessadas em proceder à mudança de sexo.
Rui Cunha, fundador da fundação que apoia a iniciativa, aponta ao HM que “estas discussões são fundamentais de modo a encontrar as soluções na área do direito que depois governam a sociedade”. Para o advogado, “sem esta reflexão há sempre o risco de se distorcerem valores e não se darem soluções condutoras para uma sociedade harmoniosa”. Para o presidente da Fundação Rui Cunha, “não é benéfico existirem mudanças das leis conforme os ventos sopram”. O advogado considera que estes e outros temas devem ser “devidamente pensados para que se possa realmente ver se vale a pena prosseguir com uma revisão jurídica”. Sofia Mota
sofia.mota@hojemacau.com.mo
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EUA ALERTARAM ALEMANHA SOBRE COMPRA DE EMPRESA POR CHINESES
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Governo alemão impediu a aquisição da Aixtron, empresa do sector tecnológico, por um grupo chinês após ter sido alertado pelos serviços secretos norte-americanos sobre potenciais riscos para a segurança, noticiou ontem a imprensa alemã. Berlim anunciou na segunda-feira que o negócio voltará a ser analisado, alterando assim a sua posição inicial sobre a proposta da chinesa Grand Chip Investment, no valor de 670 milhões de euros. O Ministério da Economia alemão disse que a decisão se deve a novas “informações relacionadas com a segurança”, sem avançar mais detalhes. O jornal Handelsblatt, que cita fontes dos serviços secretos alemães, escreveu na quarta-feira que a alteração se deveu à interferência dos serviços secretos dos Estados Unidos da América. “As autoridades dos EUA alertaram a chanceler alemã de que os produtos da Aixtron
poderão potencialmente servir para fins militares”, disse. “Washington teme que os ‘chips’ produzidos pela Aixtron possam ser usados no programa nuclear chinês”, acrescentou. Um porta-voz do ministério alemão da Economia recusou comentar o artigo. O caso surge num período de crescente apreensão na Alemanha face a uma série de aquisições por empresas chinesas, que levou, nos últimos anos, à transferência de conhecimento, alta tecnologia e propriedade intelectual para o país asiático. O ministro da economia alemão, Sigmar Gabriel, que urgiu Bruxelas a blindar sectores estratégicos ao investimento estrangeiro, visitará a China na próxima semana. A Alemanha é o segundo maior destino do investimento chinês na Europa, ultrapassada apenas pelo Reino Unido. Portugal é o quarto, logo a seguir à França.
GASTOS COM ALIMENTOS CRESCERÃO 4,6% AO ANO NAS CIDADES
O consumo de alimentos nas cidades chinesas crescerá a um ritmo médio anual de 4,6%, até 2026, quando atingirá 1,1 bilião de dólares, segundo um estudo citado ontem na imprensa oficial. A pesquisa, feita em conjunto pelo grupo chinês Bright Food Group e o banco holandês do sector agroalimentar Rabobank, aponta o aumento de gastos em alimentos embalados e a crescente procura por produtos de gama alta. Alimentos saudáveis e nutritivos, leite em pó e produtos de alta qualidade deverão também beneficiar com as mudanças demográficas no país. Em 2011, pela primeira vez, a percentagem da população urbana da China excedeu os 50%, somando 690 milhões, e pelas previsões oficiais, mais 250 milhões deverão instalar-se nas cidades até ao final da próxima década. Pelas contas do Governo chinês, o rendimento anual ‘per capita’ dos residentes rurais na China foi 10.772 yuan (1.458 euros) em 2015, menos do que muitos países africanos. Já em Pequim, uma das mais prósperas cidades chinesas, aquele indicador ultrapassou os 100 mil yuan.
ENCONTRO ENTRE LÍDERES DO PCC E KMT NO FIM DO MÊS
Relações estreitas As reuniões entre representantes dos dois lados do Estreito sucedem-se. O lado chinês apela a uma comunicação honesta para salvaguardar a paz na região
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MA reunião entre os líderes do Partido Comunista da China e do partido Kuomintang (KMT) será significativa para salvaguardar o desenvolvimento pacífico das relações através do Estreito, disse um porta-voz da parte continental da China na quarta-feira. An Fengshan, porta-voz do Departamento dos Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado, o gabinete chinês, fez o comentário referindo-se à visita de Hung Hsiu-chu, líder do KMT em Taiwan.
Hung deve chefiar uma delegação em visita à parte continental entre 30 de Outubro e 3 de Novembro, disse o departamento na segunda-feira.
SINAL MAIS
Sob a situação actual, a interacção entre os dois partidos e os esforços para consolidar o fundamento político comum terão um impacto positivo para salvaguardar a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan, disse An. Em 2005, quando os laços através do Estreito atravessaram
um momento crítico, os líderes dos dois partidos realizaram um “encontro histórico” confirmando adesão ao Consenso de 1992, que afirma o princípio da Uma Só China e se opõe à “independência de Taiwan”. An disse que o acordo alcançado naquela reunião apontou um “caminho brilhante” para os laços através do Estreito e para o seu desenvolvimento. Desde então, os dois partidos têm comunicado, o que tem contribuído para as relações pacíficas, disse o porta-voz. An disse que os dois partidos e também os dois
lados através do Estreito abriram um novo capítulo no desenvolvimento pacífico das relações e alcançaram uma série de êxitos desde 2008. Os êxitos foram viáveis porque os dois lados estabeleceram o fundamento político comum de defender o Consenso de 1992 e opor-se à “independência de Taiwan”. An indicou que é importante para os dois partidos manterem uma comunicação honesta para garantir o desenvolvimento das relações pacíficas através do Estreito.
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Rio acima
Lucros da indústria aumentaram 7,7% em Setembro
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COMÉRCIO ENTRE A CHINA E PLP CAI 11,22%
Terreno inclinado As trocas comerciais entre o Império do Meio e os países de língua portuguesa continuam em queda. O Brasil mantém-se como o principal parceiro comercial
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comércio entre a China e os países de língua portuguesa caiu 11,22% nos primeiros oito meses do ano, face ao período homólogo de 2015, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo estatísticas dos Serviços da Alfândega da China, publicadas no portal do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), o comércio entre a China e os países lusófonos foi 60,23 mil milhões de dólares entre Janeiro e Agosto. Pequim comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 41,68 mil milhões de dólares – menos 0,74% – e ven-
deu produtos no valor de 18,54 mil milhões de dólares– menos 28,24% face aos primeiros oito meses de 2015. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com trocas comerciais bilaterais de 45,16 mil milhões de dólares, uma queda de 7,69% em termos anuais homólogos. As exportações da China para o Brasil atingiram 13,85 mil milhões de dólares, menos 30,14%, enquanto as importações chinesas totalizaram 31,30 mil milhões de dólares, uma subida de 7,62%. Com Angola, o segundo parceiro comercial da China no universo da lusofonia, as trocas comerciais caíram 28,34%, para 10,19 mil milhões de dólares.
Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 10,60 mil milhões de dólares – menos 60,27% face aos primeiros oito meses de 2015 – e comprou 9,13 mil milhões de dólares, menos 20,96%.
VANTAGEM DE CÁ
Com Portugal, terceiro parceiro lusófono da China, o comércio bilateral ascendeu a 3,57 mil milhões de dólares – mais 19,19% –, numa balança comercial favorável a Pequim, que vendeu a Lisboa 2,61 mil milhões de dólares – mais 32,91% – e comprou produtos avaliados em 966 milhões de dólares, menos 6,78%. Em 2015, o comércio entre a China e os países de língua por-
tuguesa caiu 25,73%, a primeira queda desde 2009. Os dados divulgados incluem São Tomé e Príncipe, apesar de o país manter relações diplomáticas com Taiwan e não participar no Fórum Macau. China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau, que reúne a nível ministerial de três em três anos.
60,23 mil milhões de dólares. Valor das trocas comerciais entre China e PLP até Agosto A quinta conferência decorreu em Macau entre 11 e 12 de Outubro com a presença de cinco primeiros-ministros (da China, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique), naquela que foi a representação de mais alto nível de sempre. Angola, Brasil e Timor-Leste fizeram-se representar por ministros.
S lucros das principais empresas industriais da China subiram 7,7 por cento em Setembro face ao mesmo mês de 2015, para 577.130 milhões de yuan, segundo dados oficiais divulgados ontem. Trata-se de um aumento menor ao registado em Agosto, quando as firmas do sector secundário chinês com receitas anuais superiores a 2,7 milhões de euros lucraram mais 19,5%, em termos homólogos. O Gabinete Nacional de Estatísticas chinês (GNE) atribuiu a desaceleração à queda dos lucros nos sectores electrónica, aço e energia. He Ping, funcionário do GNE, advertiu ainda para o “panorama desanimador” para as firmas industriais, parcialmente causado pela queda da procura interna e os riscos associados à dívida das empresas. Ainda assim, ressalvou que “os resultados de Setembro demonstram que os lucros industriais voltaram a registar um crescimento estável”. No conjunto dos primeiros nove meses do ano, os lucros do sector secundário chinês subiram 8,4%, face ao mesmo período do ano anterior. He Ping explicou que os preços nas fábricas aumentaram 0,1%, em Setembro, em termos homólogos, pondo fim a um período de 54 meses consecutivos em queda. As companhias do sector de mineração aumentaram os seus lucros em 30,3%, revertendo a tendência de queda registada desde Outubro de 2013 e face a Agosto, quando caiu 25,3%. Já as empresas estatais, que dominam os sectores chave da economia chinesa, registaram um aumento dos lucros de 47,6%, o maior crescimento homólogo desde Janeiro passado.
NO BOM CAMINHO
He apontou que estes dados revelam que a reestruturação industrial em curso na China, e que visa reduzir o excesso de capacidade de produção no sector secundário, “está a obter resultados”. Nos últimos oito meses, 31 dos 41 sectores da indústria chinesa alcançaram lucros, com destaque para o processamento e refinação de petróleo, cujos lucros dobraram, face ao mesmo período de 2015. Já os sectores da electricidade e produção termoeléctrica caíram 5,7%, durante o mesmo período. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, cresceu 6,7% no último trimestre. O Governo chinês defende uma transição do modelo económico, visando maior preponderância do sector dos serviços, em detrimento da indústria pesada.
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A
S forças especiais de combate da Coreia do Sul e dos Estados Unidos realizaram um exercício conjunto em que testaram “ataques cirúrgicos” contra instalações nucleares e de mísseis da Coreia do Norte, segundo informaram as Forças Armadas sul-coreanas. Durante a operação “Teak Knife” os aliados ensaiaram a entrada das suas forças especiais na Coreia do Norte por via aérea, em caso de um conflito na península coreana, informou à agência Yonhap o comandante das Forças Armadas sul-coreanas. A divisão 353 da força aérea norte-americana e o grupo de operações especiais do exército sul-coreano realizaram esta manobra a partir da base militar de Gunsan, a cerca de 270 quilómetros de Seul, numa data não revelada. Os dois aliados realizam este exercício regularmente desde os anos 1990, apesar de não ser habitual tornarem-no público. Nesta ocasião, optaram por anunciar o exercício devido à intensificação de testes nucleares e de mísseis de Pyongyang. PUB
Facas afiadas Seul e Washington simulam ataque a instalações nucleares norte-coreanas
Os aliados ensaiaram a entrada das suas forças especiais na Coreia do Norte por via aérea, em caso de um conflito na península coreana A Coreia do Norte realizou cinco testes de mísseis de médio alcance nos últimos dois meses, a que se juntou o quinto teste nuclear em Setembro, o que indica que o regime de Kim Jong-un está a acelerar os seus esforços para obter um míssil nuclear. O Ministério da Defesa sul-coreano anunciou ontem também que iniciará no próximo dia 31 um exercício de duas semanas para melhorar a sua preparação contra provocações norte-coreanas. Nestas manobras participam corpos navais, aéreos e terrestres, contando também com alguns exercícios conjuntos com as tropas norte-americanas.
REGIÃO
LUCROS DA SAMSUNG CAEM 30%
A Samsung Electronics revelou ontem uma queda de 30% nos lucros, após a suspensão da produção e das vendas do ‘smartphone’ Galaxy Note 7, após casos de explosão e combustão do telefone. A Samsung informou que os seus lucros operacionais para o período entre Julho e Setembro (terceiro trimestre) foram de 5,2 biliões de won (4,2 mil milhões de euros), em comparação com os 7,3 biliões conseguidos há um ano. A queda dos lucros está de acordo com a estimativa feita pela empresa há duas semanas, depois de ter decidido suspender a produção e venda do Galaxy Note 7. O modelo havia sido criado para competir com o iPhone da Apple. Os resultados do terceiro trimestre foram anunciados horas antes do início de uma reunião anual dos accionistas, com o objectivo de aprovar novos passos para a complexa mudança geracional na liderança do conglomerado familiar sul-coreano.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Konstantin B
“O único caminho é o d Romano, quando entretenimento e design se tornaram nas coisas mais importantes. Van Gogh é fantástico para decorar quartos de hotel, Rothko é excelente para um átrio de escritório e Warhol para uma sala de estar. Qualquer artista de Zhuhai ou de outra “cidade artística” nos pode executar uma fantástica cópia. Na verdade, comecei a pensar que a história da arte, desde meados do século XIX, quando a Europa foi inundada por objectos decorativos exóticos vindos das colónias, não passa de um encadeamento de revoltas por parte de diletantes desprivilegiados contra o status quo temporário e que a liberdade, nessa progressão, era apenas um baixar da fasquia. Penso que a liberdade na arte deveria significar uma busca por algo anterior a toda esta ramificação de “ismos”, desafiando as doutrinas e instituições artísticas dominantes. A minha história favorita a este respeito é a seguinte: Sviatoslav Richter estava a tocar a Fuga N.14 em fá sustenido de Bach ao piano. Gene Simmons, da banda Kiss, com o seu rosto pintado, apareceu, lançou as mãos à sua guitarra baixo e exclamou na direcção de Sviatoslav – “Agora és livre, por favor dá asas à tua expressão!”
C
ONHEÇO Konstantin Bessmertny “desde sempre”. Nesse tempo, o ponto fulcral onde se consagravam os artistas que viviam em Macau era a Galeria do Leal Senado, espaço central, muito apetecível, mas muito exigente. E era assim para que houvesse um critério perceptível e legível a todos, assente num só parâmetro: qualidade. Konstantin vinha da Escola Russa de pintura, o que o qualificava à partida e as portas abriram-se-lhe. Macau ganhou um pintor, todos ganhamos. Mais tarde, com os casinos a multiplicarem-se, emergiu o tema que lhe proporcionou o arranque definitivo para um outro patamar, tendo Macau como leit motiv. A sua próxima exposição no Museu de Arte de Macau justificou esta conversa, que partilhamos com os leitores.
A.C.J. • Em latim, ad libitum significa a bel-prazer, o que remete para a noção de liberdade. Pensas que isto se trata de um lugar-comum? Acreditas na liberdade? Gostarias de definir a tua noção de liberdade? K.B. • A liberdade é certamente um ingrediente essencial da criatividade. No entanto, deve acarretar responsabilidade e respeito mútuo. Mas, na verdade, a palavra liberdade é hoje usada na realpolitik para encobrir a barbárie, a impunidade e a decadência. Em termos artísticos, a liberdade de expressão traduziu-se numa democratização da criatividade e, gradualmente, efectuou a passagem linear da “arte” à “anti-arte” e, finalmente, à “não-arte”. Vivemos num tempo semelhante ao período imediatamente antes da queda do Império
A.C.J. • De alguma forma, fazes lembra-me Hieronymus Bosch ou Peter Brueghel, o Velho. Vês alguma semelhança entre o que se faz no século XXI e o trabalho daqueles artistas? Como reagirias à palavra “sátira” nas tuas obras? Pensaste, porventura, num público específico para esta exposição? K.B. • Acabei de visitar a exposição do 5.º centenário de Bosch no Museo del Prado. Uso com frequência composições maximalistas com narrativas que cobrem toda a superfície da tela, recorrendo normalmente à linguagem visual da alegoria ou da fábula. Gosto de recorrer à sátira e ao sarcasmo que tenho na minha caixa de ferramentas. Adoro recorrer a todos os símbolos e formas semióticas de comunicar disponíveis e construir ideias complexas. Prefiro não me dirigir a um público específico. O que quero é desafiar-me a
mim mesmo, sem me preocupar com o número de “likes”. Preferiria ter apenas um “like” de alguém cuja opinião me seja importante. Imagina, por exemplo, que colocavas uma imagem de uma obra tua no Instagram. Preferias ter um “like” de Da Vinci, ou 1000 “likes” dos fãs de Kardashian? A.C.J. • Será que Ad Lib satisfaz a tua libido artística? De que forma se tornou Macau numa espécie de desafio, ou, em termos mais simples, numa inspiração para ti? K.B. • A minha percepção do mundo mudou desde que comecei a trabalhar em Macau. O que aqui descobri foi uma versão miniatura da Babilónia, na qual os seres humanos misturavam deliberadamente tudo o que estava à sua disposição. É como se um ser superior e invisível conduzisse as suas experiências primeiro em Macau e, só depois, no resto do mundo. Devido à dimensão de Macau, e à sua relativa transparência e liberdade, é possível, sem grande esforço, observar o homem no seu melhor e no seu pior.
“A palavra liberdade é hoje usada na realpolitik para encobrir a barbárie, a impunidade e a decadência” “Vivemos num tempo semelhante ao período imediatamente antes da queda do Império Romano, quando entretenimento e design se tornaram nas coisas mais importantes”
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conversas AD LIB António Conceição Júnior
Bessmertny
da dúvida e do desafio’’ Para mim, este é indubitavelmente um dos locais mais inspiradores do mundo. Nisso, estou inteiramente de acordo com Ian Fleming (“Thrilling Cities”). A.C.J. • Vejo no teu trabalho a inclusão de muitos capítulos da história da arte do século XX, desde o uso da iconografia (vindo da arte Pop) até todo um leque delirante. Esperas ser compreendido pelo espectador médio? Qual é o teu objectivo? Será o de provocar? Porquê? E depois qual será o próximo efeito? K.B. • Podia apenas indicar-te as obras de Mario Vargas Llosa, “Notas sobre a morte da cultura”, e de Octavio Paz, “Corrente Alterna”. A.C.J. • Espectáculo, Panem et Circenses... K.B. • A alta cultura (clássica) foi rebaixada e a baixa cultura (folclórica, tribal, decorativa) foi elevada a cultura pop de modo a satisfazer a procura popular e o lucro. A sociedade que estamos hoje a criar venera apenas “lucro” e “sucesso financeiro”. A base da pirâmide sente-se feliz quando é bem entretida e tem a barriga cheia.
“Devido à dimensão de Macau, e à sua relativa transparência e liberdade, é possível, sem grande esforço, observar o homem no seu melhor e no seu pior’’ “Prefiro não me dirigir a um público específico. O que quero é desafiar-me a mim mesmo, sem me preocupar com o número de “likes”
Existem fórmulas fáceis para um sucesso temporário quando se tem por alvo um público dilatado. Mas eu ainda prefiro seguir os meus valores. Sinto o dever de influenciar e educar, mesmo a um público que seja presa da ilusão. No que se refere a doutrinas e instituições artísticas, creio que o único caminho é o da dúvida e do desafio. A.C.J. • De uma perspectiva mais pedagógica, e considerando também que as tuas origens estão na escola russa, na qual a cultura tinha uma importância crucial (como em todas as grandes escolas artísticas), como vês Macau enquanto local que possa acalentar quem aspire a ser artista? K.B. • De início, estive em Macau apenas para uma exposição colectiva em 1992. Dadas certas circunstâncias, tive de prolongar a minha estadia. Tive inúmeras oportunidades de deixar Macau, o que, de facto, fiz em diversas ocasiões. Mas, gradualmente, apercebi-me de que Macau era o lugar ideal para sobreviver enquanto profissional, sem ter de entrar no ambiente híper-competitivo de uma grande cidade, como Paris, Londres ou Nova Iorque. Aqui, podia prosseguir as minhas experiências e projectos, podendo depois expor em qualquer outro lado. Felizmente, desde há algum tempo, Macau é uma pequena cidade artística muito activa, com a primeira bienal de arte asiática e uma comunidade substancial de verdadeiros apreciadores de arte. Agora é uma cidade muito diferente, apesar de ainda haver algo no ar que me faz sentir inspirado e cheio de energia. Obviamente, dada a sua dimensão e outros factores, Macau não consegue suportar uma comunidade artística muito alargada, embora exista algum espaço para iniciativas artísticas não comerciais. A.C.J. • Como vês a compatibilidade entre o formalismo de Macau, os resíduos de confucionismo tradicional chinês na Educação e a necessidade de transformação que deveria ocorrer quando mergulhamos no mundo de Kant, Nietzsche, Oscar Wilde e Bachelard?
K.B. • Eu estenderia essas questões a um mundo mais amplo, para além de Macau. Em algumas áreas, como no jogo e entretenimento, Macau poderá ser uma das cidades mais importantes do mundo. Mas noutras, é apenas como uma pequena cidade de província. Uma das suas características é, precisamente, o seu potencial ilimitado de desenvolvimento, mas necessita de um melhor sistema educativo e de uma competição mais aberta. É ainda uma extraordinária encruzilhada cultural e melting pot, podendo deveras produzir algo de inesperado a partir de todos os ingrediente à sua disposição. A.C.J. • O catálogo desta exposição não é aquilo que se esperaria. Tem um formato de revista. Recorres a ele para
completar o delírio de toda a exposição, trata-se de uma mais uma provocação ou, ainda, de uma nova forma de liberdade? K.B. • Vivemos num tempo de transição, em que não podemos aplicar antigas fórmulas. A fórmula do catálogo é uma experiência. É uma paródia do brilho superficial, do glamour e do pop. Mas também contém aquilo que se espera de um catálogo convencional. Entramos agora na idade digital. Livrarias, revistas e quiosques de jornal começam a fechar, mas talvez esta seja também uma forma de introduzir valores diferentes numa forma de comunicação moribunda e de manter todos os profissionais à tona. O catálogo da minha recente exposição na galeria Rossi & Rossi teve a forma de cartas de tarot.
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O Pirata Zheng Yi e a Senhora Zheng Yisao E
STE artigo surgiu quando ao estudar o pirata Cam-Pau-Sai (nome dado pelos portugueses a Zhang Baozai), à procura dos antecedentes, encontrámos uma outra personagem, Ching Ye. Zheng Yi, em mandarim, era um pretendente a Imperador da China oriundo de uma família de Fujian, ligada logo de início à oposição Ming aos manchus e depois à dinastia Qing. Lutava no mar e em incursões às costas para restaurar a dinastia Ming dos Han e por isso, passou a ser o nosso biografado. Os acontecimentos referentes ao período de actuação de Ching Ye e depois de Cam-Pau-Sai, onde em permeio ocorreu no ano de 1808 a tentativa de invasão de Macau pelos ingleses e sobre a qual já tratámos, trazem como antecedente a rebelião de Tay-son, aqui aprofundada por Ângela Guimarães: “Em 1773, uma família de comerciantes da província de Binh Dinh, no sul do Vietname, lançou o que ficou conhecido como a rebelião de Tay-son, pretendendo conquistar o poder à dinastia do Imperador Lee, o qual o deixava nas mãos de duas grandes famílias rivais que, desde o século XVI, dominavam o Vietname: os Nguyen no Sul, com capital em Hue e os Trinh no norte, com capital em Hanoi. Numa primeira fase, até à derrota dos Nguyen, em 1785, o Tay-son concentrou a sua atenção no sul. Logo a seguir, em fins desse mesmo ano, conseguiu expulsar os Trinh de Hanoi e instalar-se aí em 1786. O Imperador Lee pediu ajuda ao Império do Meio, de quem era tributário. Três exércitos chineses invadiram o Vietname para restaurar a dinastia Lee, mas, perante a vitória do Tay-son, o Imperador Chienlong (Qianlong) reconheceu e legitimou o Imperador Tay-son Quang Trung, como rei do Annam”. A luta do Tay-son continuou contra os Nguyen do Sul e apesar da vitória em 1789, o que levou os Nguyen, instalados agora em Saigon, a prosseguirem a luta e recuperando aos poucos o território, por fim expulsado do poder em 1802 o Tay-son. Já em 1796, o Imperador Jiaqing (1796-1820) tinha determinado “pesadas penas para os que se dedicassem à pirataria, ao mesmo tempo que instou os Tay-Son a eliminarem os principais quartéis generais dos piratas”, segundo Vítor Luís Gaspar Rodrigues e com ele continuando, “Após 1799 as autorida-
des chinesas adoptaram uma política de perdão e pacificação com o intuito de proceder à anulação daquelas forças através da sua inserção na sociedade chinesa, mas, com o acentuar do declínio político-militar dos Tay-Son no Vietname nos primeiros anos do século XIX, tudo se tornou mais difícil. Com efeito, a derrota dos seus exércitos em Julho de 1802, a que se seguiu a captura de Zheng Qi, um dos principais chefes dos piratas e a destruição da sua base em Jiang Ping, provocou um recrudescimento das actividades dos piratas nas costas da província de Guangdong, em virtude de para aí se haverem retirado muitos dos piratas que perdido o apoio vietnamita, buscavam agora um local mais propício às suas actividades predadoras”.
foram eles divididos em seis esquadrões, distinguidos pelas bandeiras, vermelhas, amarelas, verdes, azuis, pretas e brancas e se cada uma operava isoladamente, em ocasiões de perigo ou em importantes acções juntavam-se”. Chefe de uma imensa armada de piratas, que no último quartel do século XVIII infestava o Mar do Sul da China, Ching Ye nos inícios do século
XIX vencera com facilidade todos os mandarins que o Vice-Rei de Cantão contra ele enviou. A costa do Sul da China e sobretudo, para maior provocação, a Boca do Tigre, entrada para Cantão no Delta do Rio das Pérolas, encontrava-se infestada de piratas devido à fraca marinha imperial, que estava “mal apetrechada, sem comandantes capazes e composta por militares onde imperava um baixo moral,
O PIRATA ZHENG YI
Assim, no último decénio do século XVIII, as costas da província de Guangdong começaram de novo a ser palco das acções dos piratas, que reuniam os Toy-Son, aí actuando para a sustentação dos seus exércitos a combater no Vietname, com bandidos locais e de Taiwan. “Uma confederação entre os salteadores consolidou a sua força e tornou-os realmente poderosos”, segundo Montalto de Jesus. “Porque os piratas se tivessem organizado numa confederação, em Julho de 1805, as suas actividades adquiriram, a partir dessa data, uma nova feição, mais organizada e sobretudo planificada em função dos interesses dos membros dessa nova entidade político-militar. Com a regularização das diversas bandeiras que haviam subsistido – das 12 iniciais persistiam agora apenas 6 e com a proibição de combates entre si, a que adicionaram o estabelecimento de regras relativas à repartição das presas, os piratas assumiam-se agora como a verdadeira força militar-naval a operar nas costas da província de Guangdong”, segundo Vítor Luís Gaspar Rodrigues, que refere o relato do inglês Glasspole, no The Chinese Repository, quando este esteve cativo junto dos piratas. Glasspole disse que nessa altura “toda a grande armada tinha no comando cinco chefes, independentes entre eles e as suas divisões distinguiam-se pelas suas várias bandeiras. A da bandeira vermelha era a maior e mais forte. Três anos depois
Captura do marinheiro inglês Jonh Turner por Zheng Yi e seus piratas em 1806
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José Simões Morais
rever-se-ia, ao longo dos anos, impossibilitada de se opor aos ferozes, disciplinados e adestrados piratas, acumulando com isso derrotas sucessivas”, segundo Vítor Luís Gaspar Rodrigues, que refere o crescimento contínuo das forças dos piratas, “sob o comando de Zheng Yi, possuíam já duas importantes bases, uma situada na península de Lei Zhou, ao Norte de Ainão, e a segunda, na ilha de Lantau, de onde partiam muitos dos seus ataques às costas vizinhas do burgo macaense”. A. da Silva Rego adita: “A revolta tinha dois fins conjuntos: o roubo e a extinção da própria dinastia manchu. Não ocultava Ching Yi os seus verdadeiros intuitos e, por isso, congregou
à sua volta bastantes milhares de indivíduos que espalharam o terror por toda a província.” “Uma confederação entre os salteadores consolidou a sua força e tornou-os realmente poderosos. O seu chefe, Ching Ye, aspirava a nada menos do que o poder imperial”, Montalto de Jesus. Com Zheng Yi andava no barco a sua mulher, a senhora Zheng Yisao, que, segundo Beatriz Basto da Silva refere para o ano de 1801, “A Senhora Cheng com 26 anos casou-se com um pirata e por isso deixou de viver num Barco de Flores em Cantão. Deixou a prostituição e tornou-se a pirata Cam-Pao-Sai”, usando o que diz Dian Murray, no livro Woman and Piracy an Alternative Route to Power: “Ao deixar de ser pei-pei chai torna-se a pirata Cam-Pao-Sai”. Consultando outros historiadores, Cam-Pao-Sai não era a Senhora Cheng, mas antes um dos braços direito do chefe dos piratas Ching Ye. Mas em 1807, Zheng Yi morreu afogado após o naufrágio do seu barco durante um tufão.
A SENHORA ZHENG YISAO
Após a morte do chefe carismático Zheng Yi, a liderança foi assumida pela viúva Zheng Yisao. E continuando com Montalto de Jesus: “A sua viúva, uma mulher extraordinária, assumiu então a chefia, organizou a frota, estabeleceu leis para a manutenção da disciplina, e escolheu para segundo comandante o notório Cam Pao Sai, também conhecido por Chang Pao”. José Ignácio de Andrade refere, “Tendo morrido o Chefe dos piratas ficou sua mulher, não só herdeira do posto, mas também da sua audácia no exercício da piratagem. Assim que tomou posse do comando de tão grande poderio, dividiu-o em duas esquadras, e deu o comando delas a dois parentes do marido, que mais se tinham acreditado debaixo das suas ordens. A primeira (arvorando uma bandeira vermelha) e mais possante coube ao célebre Apócha, que depois se chamou Cam-pai-sai e onde sempre residiu a viúva. Apau-tai (cujo nome Montalto diz ser Kwo Po Tai) foi comandar a segunda, composta de 130 embarcações e com bandeira preta.” E seguindo com Montalto, “Os juncos, especialmente adaptados para fins predatórios e bélicos, eram geralmente estanques, e mais velozes do que os juncos vulgares. Eram de um tipo fino e elegante, a maior parte deles entre setenta e cento e cinquenta toneladas. O maior transportava vinte ou vinte e cinco canhões, com cerca de duzentos homens armados de mosquetões,
“Tendo morrido o Chefe dos piratas ficou sua mulher, não só herdeira do posto, mas também da sua audácia no exercício da piratagem. Assim que tomou posse do comando de tão grande poderio, dividiu-o em duas esquadras, e deu o comando delas a dois parentes do marido, que mais se tinham acreditado debaixo das suas ordens” JOSÉ IGNÁCIO DE ANDRADE
espadas curtas, vasos de barro cheios de combustível fedorento, e lanças que arremessavam como dardos. A cada junco estava acoplado um barco a remos com seis ou oito canhões giratórios, que habitualmente infestava as aldeias costeiras à noite para cobrar as contribuições. A confederação recebia tributos periódicos e em troca dava salvos-condutos que eram escrupulosamente respeitados, dizendo-se que uma vez a rainha-pirata indemnizou generosamente um barco que fora pirateado apesar de ter salvo-conduto, um caso notável de honra entre ladrões. Os chefes visitavam com as suas esquadras importantes portos, que, se não aceitassem as suas imposições arbitrárias, eram imediatamente pilhados e destruídos.”
PIRATARIA NA BOCA DO TIGRE
Cam-Pau-Sai era o nome dado pelos portugueses a Zhang Baozai. “Cam-pau-sai, homem forte, ardiloso e empreendedor, depois de ter ganhado o afecto dos seus, teve arte de dispô-los a executar qualquer empresa que imaginasse. Com efeito concebeu um projecto tão elevado, que bem se pode comparar com o de Afonso de Albuquerque, quando pretendeu tirar da Meca o corpo do Profeta, e mudar a direcção do rio Nilo, fazendo-o desaguar no mar Roxo para aniquilar deste modo os Turcos no Egipto! Cam-pau-sai tentou coroar-se Imperador dos Chineses e lançar a dinastia Tártara para o Norte da grande muralha, que a divide da China. Começou a fazer guerra tão atroz, que não só paralisou o comércio marítimo nas costas meridionais do Império, mas também fazia desembarques
no continente, e arrasava todos os lugares por onde passava”, como refere José Ignácio de Andrade. Segundo Montalto de Jesus, na “primeira batalha contra Cam Pao Sai resultou na capitulação de uma divisão imperial de vinte e oito juncos, quinhentos canhões e oito mil homens. Os dois encontros seguintes também trouxeram desastres às forças imperiais. Uma vez, contudo, as cem embarcações do almirante Tseng puseram em fuga os piratas. Mas a sua fama cedo se perdeu. Cercado à frente e à retaguarda, foi derrotado. Depois de outro combate de duvidoso resultado, um novo almirante assumiu o comando, apenas para ser totalmente derrotado, pelo que, desesperado, se suicidou. O governo chinês procurou, então, derrotar os piratas cortando-lhes as provisões. Com este fim, a navegação nacional foi interrompida ao longo da costa infestada. Como represália os piratas perpetraram uma série de atrocidades. As forças imperiais, quando capturadas, eram estripadas vivas, uma prática que inspirava tal terror que, à simples vista dos piratas, a frota imperial fugia presa de pânico”, Montalto de Jesus. “Sendo a cidade de Cantão a mais rica e a mais comerciante, quis embaraçar ali o negócio com os europeus. Para esse fim veio postar suas forças na embocadura do rio Tigre e em todos os canais que formam as ilhas vizinhas de Macao”, José Ignácio de Andrade e Montalto de Jesus explicita, “Só no canal de Heangshan, diz-se, caíram vítimas mais de quinze mil pessoas. Não contentes com pilhar as embarcações chinesas, os piratas atacavam também os barcos estrangeiros, atrevendo-se às vezes a ficar ao alcance das fortalezas de Macau enquanto tentavam interceptar barcos com provisões para a colónia”. “Assombrando assim Cam-pau-sai os mares das ilhas da Cantão com seu poder, não se limitou a perseguir seus irmãos Chineses, também se atreveu a insultar os navios da Europa. Vendo o Governo de Macao o risco em que ficava, rodeado de imensa força inimiga, na estação em que todos os navios da praça se achavam ausentes; mandou a Bengala fazer um brigue para ficar de guarda costa, em quanto estes não se recolhiam: porque em os piratas sabendo, não haverem navios dentro do porto, que os fossem acometer, chegavam quasi ao alcance da artilharia das nossas fortalezas, para embaraçarem os mantimentos, que todos os dias entram na Cidade”, segundo José Ignácio de Andrade, na Memória dos feitos macaenses contra os piratas da China.
16 EVENTOS
hoje macau sexta-feira 28.10.2016
ALBERGUE CELEBRA HALLOWEEN ESTE FIM-DE-SEMANA
EXPOSIÇÃO “URBAN HIKES” AMANHÃ NO ARMAZÉM DO BOI
Este sábado e domingo o Albergue SCM, na zona de São Lázaro, realiza as festas Halloween Albergue e Macau Zombie Wak 2016. A primeira festa terá lugar nos dois dias entre as 14h00 e 22h30, sendo que a entrada será livre para todos aqueles que aparecerem mascarados ou maquilhados de acordo com o tema. Já o Macau Zombie Walk decorre este sábado entre as 12h00 e 18h00.
É já este sábado que o Armazém do Boi se prepara para receber a exposição “Urban Hikes”, resultado de uma partilha de trabalhos entre artistas de Macau, Hong Kong e Taiwan. A exposição está inserida no programa do Armazém do Boi intitulado “Teoria da Evolução: Programa de Intercâmbio de Espaços de Arte” e estará patente até ao dia 4 de Dezembro, com entrada livre.
Fórum do Livro APRESENTADO «MACAU HISTÓRICO E CULTURAL»
Caminhos inéditos
A
PRESENTADO em Lisboa no Fórum do Livro de Macau, pela editora Livros do Oriente, a obra “Macau Histórico e Cultural”, de António Aresta, reúne vários textos, escritos em diferentes momentos, sobre algumas das figuras mais importantes na história e na cultura de Macau. Trata-se de uma colectânea de artigos que, desde há vários anos, o investigador e docente de filosofia, tem vindo a publicar em diferentes locais. Nas palavras do editor, Rogério Beltrão Coelho, esta edição faz
É
todo o sentido tendo em conta que António Aresta reuniu nos últimos anos uma grande riqueza de temas e de assuntos, agora juntos num livro.
ERRÂNCIAS DA HISTÓRIA
De Álvaro Semedo, o “clássico fundador da sinologia portuguesa”, até Eça de Queiroz e a emigração chinesa de Macau, o livro percorre vários séculos e episódios históricos. António Aresta descreve-o como um “pequeno e honesto esforço para pensar Macau”. Diferente da organização mais comum por ordem cronológica, a obra, está
já hoje que arranca mais uma edição do festival da Lusofonia, estando agendado para as 19h15 os espectáculos musicais no anfiteatro das casas museu da Taipa. A primeira banda a actuar hoje será Don Kikas, de Angola, seguindo-se o grupo português HMB. O grupo Latin Connection, que representa Goa, Damão e Diu. Amanhã o anfiteatro é ocupado pelos Tubarões, grupo vindo de Cabo Verde e que, com
fora da “habitual narrativa historiográfica”, privilegiando o estudo das personalidades enquadradas na sua época. Para o autor, há uma dívida a saldar com nomes como Manuel da Silva Mendes, Carlos Montalto de Jesus, Charles Boxer, Luís Gonzaga Gomes e Austin Coates. Todos autores independentes mas com um amor comum – Macau.
NOVOS TRILHOS
No prefácio da obra, Daniel Pires escreveu que há caminhos que se abrem com este livro. De facto, percorrendo o Índice aguça-se-nos a curiosidade
Para o autor, há uma dívida a saldar com nomes como Manuel da Silva Mendes, Carlos Montalto de Jesus, Charles Boxer, Luís Gonzaga Gomes e Austin Coates
Há festa no Carmo
Banda portuguesa HMB actua hoje no festival da Lusofonia
este concerto, mostra que está de regresso aos palcos, após um interregno de mais de 20 anos. Toneca Prazeres, de São Tomé e Príncipe, e Margareth Menezes, do Brasil, também actuam nesse noite. Sábado é também o dia em que as actividades musicais e de dança
começam mais cedo. Por volta das 17h00 começam a actuar o grupo do jardim de infância D. José da Costa Nunes, o grupo folclórico da Escola Portuguesa de Macau ou ainda o grupo Axé Capoeira de Eddy Murphy, os quais vão actuar pelas ruas adjacentes às casas-museu da Taipa.
sobre alguns dos eventos descritos e fora da habitual análise histórica. Mais do que focar-se unicamente nas figuras e no seu tempo, o autor investigou também a imprensa antiga, reconstruindo alguns dos eventos aí contados, ainda que na parte “não oficial”. É o exemplo da visita do rei do Cambodja a Macau em Julho de 1872, cuja descrição António Aresta recuperou, interpretando à luz do seu tempo os motivos estratégicos da visita. Além do território, também a história dos edifícios de Macau surge no livro. A compilação, resultado de uma escolha, obedece a um sentido de curiosidade e compreensão da cultura no território. E entrelinhas deixa questões dando espaço ao leitor para pensar nas suas próprias perguntas. Maria João Belchior info@hojemacau.com.mo
Domingo, último dia da lusofonia, o palco fica reservado para vários grupos, incluindo o músico local Fabrizio Croce. O espaço das casas-museu da Taipa vai ainda ter um lugar de exposição da escola profissional de música Ofício das Artes com o seu projecto de construção de instrumentos musicais. Há ainda os habituais jogos de matraquilhos e o restaurante de comida portuguesa aberto junto ao largo da igreja.
“DESFILE POR MACAU, CIDADE LATINA” COM MENOS ARTISTAS
A
parada anual que em Macau celebra a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China vai realizar-se a 4 de Dezembro com menos artistas do que no ano passado, anunciou o Instituto Cultural (IC). O “Desfile por Macau, Cidade Latina” – designação do evento anual iniciado em 2011 – vai contar com a participação de 50 grupos, a maioria locais, num total de cerca de 1.200 artistas, menos 300 comparativamente à edição do ano passado. As histórias do “Clássico das Montanhas e dos Mares” – “um popular clássico da antiguidade chinesa que regista a geografia do mundo antigo, descreve divindades e animais grotescos e narra mitos bizarros, considerado a ‘enciclopédia’ mais antiga da China” – surgem como o pano de fundo da parada. O cortejo parte, como habitualmente, das Ruínas de São Paulo, o ex-libris de Macau, com destino à praça do Tap Seac, um local amplo com calçada à portuguesa e edifícios históricos. Este ano há, contudo, uma nova rota, com alguns grupos a partirem do Largo do Senado, “levando ainda mais participantes a juntarem-se à festa”, segundo destacou o IC na conferência de imprensa de apresentação do evento. Dez dos 50 grupos participantes da “parada latina” vêm de fora, incluindo Espanha (The Robots, Comparsa de Badajoz), França (Plasticiens Volants, Les Peinters Nomades), Itália (Rome Majorettes) ou Uruguai (Revista de Montevideo), mas também da vizinha Hong Kong e da China. Portugal vai estar representado pelo Ballet Afro Tuga. O desfile vai custar 15 milhões de patacas, menos um milhão de patacas, do que no ano passado. O IC afirmou acreditar que a redução não vai ter influência na qualidade do desfile, esperando um aumento de 20 a 30 por cento na audiência que, em 2015, foi estimada em 100 mil pessoas. O “Desfile por Macau, Cidade Latina” vai coincidir com a realização da Maratona Internacional de Macau e do Festival de Luz.
ISRAEL SILVA
17 hoje macau sexta-feira 28.10.2016
EVENTOS
GUITARRISTA DOS TUBARÕES
“Procuramos fazer música que mobilize o cabo-verdiano”
Acompanha a banda quase desde o início. Conheço o historial da banda. Na altura, quando foi fundada, dei conta disso, a nossa cidade era muito pequena e dificilmente um acontecimento desses passava despercebido. Depois entrei para a banda em 1977. Como já lá estou há muito tempo fui acompanhando os mais velhos, que fizeram parte da primeira geração dos Tubarões. Encerraram actividade em 1994, e agora estão de regresso com alguns concertos (actuaram o ano passado em Portugal). É um regresso definitivo? Quem realmente deu esse pontapé de saída foi a Câmara Municipal de Lisboa, com o convite que nos fez para participarmos na semana cultural em Lisboa, onde se comemorava os 40 anos de independência das ex-colónias. Na sequência disso começaram a surgir os convites. Aquilo que foi uma reunião para responder a um convite acabou por dar azo ao que está a acontecer agora, que é a banda estar novamente na estrada. E pretendem continuar assim. Pretendemos continuar enquanto o podermos fazer. Tinham saudades dos concertos, do regresso à estrada? Claro que sim. Quem faz arte, os actores, os músicos, os artistas de circo (sentem um pouco isso). Quando se sai sem aquela sensação de que a carreira está mesmo encerrada, mesmo no nosso caso, em que os Tubarões era um grupo que fazia música por prazer. Mas um elemento mais velho, o Jaime, saxofonista, dizia que isto era um desporto que faziam a sério. Então
à volta do processo de independência, o que resultou bem. Hoje somos um país estável, que mantém alguns problemas, mas procuramos fazer uma música que divulgue a nossa tradição e mobilize o cabo-verdiano à volta desse desafio que é manter um país livre, independente e com uma resposta adequada aos problemas sociais que se vivem.
HOJE MACAU
A história da independência de Cabo Verde contou-se ao som da música dos Tubarões. O grupo, nascido em 1969, deixou os palcos em 1994, mas está de regresso com um concerto no Festival da Lusofonia. Israel Silva, guitarrista, fala da ideia de um novo álbum, da pobreza de Cabo Verde e da falta de qualidade da nova música que se faz no país
Que problemas são mais prementes? Como é que a música pode ajudar? O nosso principal problema é a pobreza. Temos um problema estrutural: um país pobre, sem recursos identificados, temos de apostar na educação. Embora pobres, se conseguirmos elevar o nível cultural da população, estaremos a dar às pessoas um instrumento para sair dessa pobreza, porque não podemos estar de mãos estendidas à espera do Estado. fica sempre a vontade de estar num palco e conviver com os artistas num momento como este que estamos a viver em Macau. Isso é extraordinário.
acontece neste momento é que a banda tem a formação base que tinha em 1994. Temos apenas dois elementos novos, o vocalista e o baterista.
Que espectáculo poderemos esperar na Lusofonia? Voltamos a apresentar os temas que já tínhamos feito antes. Não há propriamente nenhum tema novo, mas algumas músicas foram trabalhadas, fizemos uma revisão em termos de sonoridade e orquestração. Mas continuamos a manter a linha de trabalho do grupo. É isso que trazemos. Trouxemos um cheirinho da cultura cabo-verdiana.
Há a hipótese de renovação da banda, com novos elementos e sonoridades? Em termos de sonoridade vamos manter as nossas características, aquilo que se chama o ADN do grupo. Mantemos isso e não vemos necessidade de alterar. Quando actuamos as pessoas têm de nos identificar como os Tubarões. Claro que vamos ter de introduzir novos temas no nosso repertório, mas vamos fazer isso com calma. Um dos aspectos que sempre caracterizou o grupo é a qualidade daquilo que interpretamos. Sempre tivemos o cuidado da qualidade da sonoridade e da mensagem também.
Em Macau residem muitos cabo-verdianos. Sentem que as pessoas têm saudades de vos ouvir? De certeza (risos). Já estivemos com cabo-verdianos que aqui vivem, há uma certa euforia mesmo. O pessoal está muito satisfeito com a nossa presença. Tivemos malta mais jovem e muitos deles nunca tinham ouvido os Tubarões ao vivo, porque deixamos de actuar há 25 anos. E também não esperavam. Já tivemos essa reacção, porque alguns e nós já temos 60 anos, então as pessoas dizem que é um grupo da terceira idade, mas depois vêm-nos em palco e chegam à conclusão de que ainda há muita energia. A morte de Ildo Lobo gerou um pouco o fim da banda. Quem são os tubarões hoje em dia? Efectivamente deixamos de tocar um tempo antes da morte de Ildo Lobo, que morreu em 2004. Pessoalmente quando ele morreu admiti que já não voltava a actuar. Mas agora surgiu este convite, reagrupamo-nos, e o que
“Continuamos a manter a linha de trabalho do grupo. É isso que trazemos. Trouxemos um cheirinho da cultura cabo-verdiana” A propósito da mensagem, estão ligados ao processo de independência de Cabo Verde. Que mensagem passam hoje em dia? Naquela altura, em 1974, o papel do grupo foi de mobilização. Os compositores da chamada música de intervenção, como Zeca Afonso, escolheram os Tubarões para divulgar a sua mensagem de mobilização
Como classifica a música que se faz hoje em dia em Cabo Verde? Nos últimos anos houve uma explosão de artistas de música. Sou bastante crítico, porque muita música que se faz hoje em dia não tem qualidade. São plágios, vão buscar melodias feitos por artistas internacionais, alteram a letra, metem-na em crioulo e com mensagens vazias. Podiam ir buscar algo à literatura do país. Exacto. Eles ignoram o que existiu no passado. É por isso que o regresso dos Tubarões é importante, porque temos sentido muitos jovens a se aproximaram daquilo que era feito antes. Estão a sair desse circulo vicioso, desse género musical que não sabemos se é de Cabo Verde ou de Angola. A história de Cabo Verde tem sido ignorada pelas novas gerações, ou mesmo esquecida? Esquecida sim. Mas a culpa não é só dos jovens, mas também do poder político, porque desde a independência que não demos atenção suficiente. Mesmo nas escolas e nos programas de ensino não há uma abordagem adequada que permita aos jovens entenderem qual a importância de conhecerem a sua própria história. Há um novo álbum pensado? Começa-se a falar nisso, mas é como eu disse: temos de ter cuidado na selecção das composições. Pensamos até em retomar alguns temas que já tínhamos gravado. Tem de haver novidade. Estamos mesmo na fase inicial, estamos a começar a pensar e na fase dos contactos. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
18 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 28.10.2016
“In the course of dynamic economic taking-off, both China and India are taking active measures to establish and modernize their competition regimes as an important institution to support the national development. Although the two developing giants share in some aspects common concerns and face similar challenges, the different political, legal and market conditions seem to reflect more disparities in their breaking paths, which will be valuable experiences to the world.” China, India and the International Economic Order Muthucumaraswamy Sornarajah and Jiangyu Wang
BEN WHEATLEY, HIGH-RISE
A nova ordem económica internacional (II)
A
criação de uma nova ordem económica global apresentada como inevitável, obriga à consideração de diversos elementos fundamentais, como a tecnologia que sempre foi uma força de ruptura. Após 1945, os países investiram fortemente na investigação militar e espacial, surgindo a “Internet” e a navegação por satélite, ambas produto dessas investigações. Estão a aparecer um grande número de novas tecnologias, algumas com capacidade para mudar drasticamente muitas situações, especialmente na área da robótica, nanotecnologia e medicina, afectando a sociedade e os negócios. A partir da perspectiva da influência económica é de destacar três desenvolvimentos. Não são tecnologias propriamente ditas, mas reacções comerciais e políticas à ruptura tecnológica. O primeiro, envolve a segurança cibernética, que é necessária, pois os “hackers” continuam a ter acesso à propriedade intelectual, intimidam adversários e alteram conteúdos públicos e privados. O número de ataques a sistemas industriais de controlo em todo o mundo quadruplicou, entre 2013 e 2014. É provável que não se consiga uma defesa global contra os ataques cibernéticos, porque requerem um indispensável nível de cooperação internacional. Se os países intervierem, para controlar o problema, podem afectar o uso da “Internet” por parte da população e das empresas. Essas acções também podem limitar o crescimento económico. Os países devem aferir as suas acções, tal como no passado o fizeram, com os mercados de câmbio, para equilibrar os seus objectivos de intervenção, não afectando o crescimento económico. O segundo elemento relaciona-se com o desenvolvimento da tecnologia e a mudança geopolítica da energia. O poder dos países produtores de petróleo foi notável, pelo menos, desde a crise do petróleo de 1973. As tecnologias destinadas à recuperação
de fontes não convencionais de petróleo têm perturbado o equilíbrio da oferta e da procura. A Agência de Informação sobre Energia americana prevê que os Estados Unidos poderiam tornar-se em um exportador líquido de energia, em 2019, graças à revolução de fracturamento hidráulico, também conhecido com “Fracking”. Mesmo que os preços do petróleo recuperem, o crescente uso de energias renováveis, vai reduzir a importância geopolítica dos produtores de petróleo. Não deve constituir surpresa, que os grandes países consumidores de petróleo, como os Estados Unidos e a China, sejam também os que mais investem em energias renováveis. A “Breakthrough Energy Coalition”, que tem como membros fundadores Mark Zuckerberg, Richard Branson, George Soros, Jack Ma e a Universidade da Califórnia, entre muitas outras individualidades de prestígio, liderada por Bill Gates, é outro sinal de mudança de fortuna. Trata-se de uma
sociedade multimilionária de investigação, baseada na cooperação entre os sectores público e privado, que tem por objectivo não apenas combater as alterações climáticas, mas também, ocupar uma posição de influência na oferta energética destinada à indústria tecnológica. O terceiro elemento, relaciona-se com a tecnologia e a distribuição geográfica dos desenvolvimentos tecnológicos, que não está limitada às economias desenvolvidas. Os inovadores de tecnologia estão espalhados pelo mundo e o capital procura-os, onde quer que se encontrem. As tecnologias importantes aparecem onde são mais necessárias. Os pagamentos móveis têm um campo fértil de desenvolvimento em África, onde milhões de pessoas não têm acesso a bancos ou ao sistema básico de telecomunicações por rede telefónica fixa. As instituições financeiras, no mundo industrializado anseiam por estudar o “blockchain”, que é uma tecnologia para
verificação automática, que admite moedas digitais como a “bitcoin’. Se surgir à escala global, a combinação adequada de novas tecnologias financeiras, poderia alterar significativamente a estrutura do negócio dos serviços financeiros. As tecnologias revolucionárias podem aparecer em qualquer ponto geográfico do globo, criando incerteza e sendo mais difícil confiar nas fontes sólidas de poder e estabilidade. As tendências não existem no vazio, pois interactuam entre si para criar padrões de mudança. Sendo certo que é impossível saber a forma como se irão combinar, é possível preparar-nos para os tipos de incerteza que nos esperam. O novo ambiente não é conhecido, até mesmo para os mais experientes. Quem deve tomar decisões importantes para as empresas, terá de abordar seis áreas fundamentais, tais como, desenvolver um centro de excelência para evitar ataques cibernéticos. Tal como todos os riscos, esses ataques exigem que
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OPINIÃO perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
sejam estudados os processos de negócios para minimizar o seu impacto, e adaptar as infra-estruturas e equipamentos aos desafios que estão em jogo. No mínimo exige-se capacidade para responder com eficiência aos ataques. A debilidade económica nos Estados Unidos e na Europa, combinada com o crescimento económico da China têm legitimado o uso do RMB, quer como moeda comercial, quer como reserva. Uma fonte de vantagem competitiva nos próximos amos será o acesso ao RMB, e outra serão os eficientes correspondentes bancários, e os acordos de compensação financeira que permitem aos bancos realizar transacções internacionais. O poder será transferido para escalas locais, nacionais e regionais, os acordos comerciais regionalizam-se e a capacidade de influenciar legitimamente os intervenientes do governo, fará a diferença entre o sucesso e fracasso, pelo que reconhecer as relações do governo como uma
“As diferenças entre os mercados vão necessitar de maior desenvolvimento de pessoas com aptidões especiais a nível local e regional. Os modelos de governança deverão adaptar-se para equilibrar cuidadosamente as tomadas de decisões locais, com considerações e exigências globais e regionais”
competência fundamental, será importante, não sendo apenas uma mais-valia para os sectores regulados como os bancos e os serviços públicos, mas também para todas as organizações. A gestão do risco geopolítico, as relações com os intervenientes do governo e a capacidade para dominar as parcerias público-privadas será um requisito para as empresas prosperarem globalmente. A organização da avaliação da forma como os seus objectivos e negócios serão afectados com a mudança para um mundo multipolar, particularmente, na Ásia, onde a China competirá cada vez pelo domínio e a Índia cresce rapidamente, será de crucial importância. As empresas, terão também, de preparar as suas capacidades logísticas para poder mover provisões, bens, serviços, capital e pessoas pelas esferas de influência. O conhecimento local e a aptidão linguística da força laboral, especialmente dos gestores, serão fundamentais para as
oportunidades de negócios a nível global. As diferenças entre os mercados vão necessitar de maior desenvolvimento de pessoas com aptidões especiais a nível local e regional. Os modelos de governança deverão adaptar-se para equilibrar cuidadosamente as tomadas de decisões locais, com considerações e exigências globais e regionais. Assim, devem ser aproveitadas as pessoas com aptidões especiais, nos locais onde se fazem os negócios. A dinâmica competitiva em um mundo em rápida mudança poderia ser perturbada por empresas novas cujos líderes antecipam tendências e as dirigem. A fim de fazer face a tal situação, todas as organizações deverão estabelecer uma cultura de inovação a nível global. As de maior capacidade devem instalar centros de inovação. Tais esforços irão mais além que a questão tecnológica, pois as empresas deverão trabalhar em conjunto para o desenvolvimento de novos ecossistemas complexos.
20 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 28.10.2016
um grito no deserto PAUL W.S. ANDERSON, POMPEII (2014)
PAUL CHAN WAI CHI
Balbúrdia no parlamento
D
IAS antes do tufão Haima ter varrido Hong Kong e Macau, as duas cidades emitiram, em diferentes alturas do dia, um alerta de sinal 8 porque ambas sofreram as mesmas condições climatéricas. Por outro lado, as reacções de dois dos políticos pró-independência no Conselho Legislativo de Hong Kong, e os insultos que proferiram, pouco têm a ver com o que se passa em Macau. Este caso deverá ficar resolvido quando o resultado das perícias judiciais for revelado a 3 de Novembro. Mas o descontentamento político da geração mais jovem e o seu desafio às autoridades não irá necessariamente diminuir. Neste aspecto, tanto Hong Kong como Macau irão enfrentar a mesma situação e vale a pena analisá-la. Os residentes de Macau que seguem o desempenho dos deputados da Assembleia Legislativa, só precisam de assistir às transmissões televisivas em directo das sessões do plenário. A estrutura da Assembleia Legislativa de Macau é diferente da do Conselho Legislativo de Hong Kong. O número de deputados indigitados e eleitos indirectamente, no seu conjunto, representa mais de metade dos assentos. Esta característica fez com que a política parlamentar de Macau se tenha tornado durante muito tempo “híper estável”. À primeira vista, a situação da le-
“Um parlamento que não conhece a controvérsia, torna-se no Senado da antiga Pompeia... depois do vulcão!” gislatura de Macau parece ser completamente diferente da de Hong Kong, mas, de facto, a balbúrdia é a mesma. Uma híper estabilidade, sem disputas nem conflitos, não é sinónimo de verdadeira harmonia. Em Macau existem todos os tipos de conflitos sociais e os casos de corrupção sucedem-se dia após dia. Apesar da nova “Lei do Enquadramento Orçamental”, recentemente aprovada na generalidade, a Assembleia Legislativa não recebeu inicialmente um maior poder regulamentar efectivo sobre os seus conteúdos. No que respeita à revisão da “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da RAEM”, também acredito que não promove o progresso gradual e ordeiro do sistema político de Macau. Quanto às eleições para a Assembleia em 2017, receio que os eleitores venham a ser comprados pelos diversos candidatos com pequenos favores. Este cenário preconiza a longo prazo mais malefícios em termos sociais. O episódio da confusão e dos insultos no Conselho Legislativo de Hong Kong resume-se, numa primeira análise, à condenação de dois legisladores “fora do comum” que estavam prestes a tomar posse. Mas, de facto, representou um desafio ao estado de direito de Hong Kong. A partir do momento em que este valor fundamental é subestimado, o “politicamente correcto”
passará a ser a estrela que tudo guia. Nesse caso, Hong Kong não ficará muito longe de uma ditadura autoritária. Além disso, a dilatação da importância deste episódio é uma jogada intencional por parte de quem lucra pessoalmente com o caos político. Na China, foi uma prática comum durante a Revolução Cultural. Durante 2016, último ano da 5ª Assembleia Legislativa, os deputados eleitos directamente trabalharam de forma consistente para consolidar os seus próprios interesses. O jornal Observatório de Macau promoveu um seminário sobre as eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong em meados de Outubro. Um dos oradores, o Dr. Ricardo Reis da Camões Tam, fez uma análise preliminar das eleições de 2017 para a Assembleia Legislativa, afirmando que a proporção de deputados representativos dos diferentes sectores vai permanecer inalterada. Por aqui se vê a diferença para Hong Kong, que viu emergir grupos a favor da independência. O resultado previsível das eleições pode ficar-se a dever à imaturidade política e à apatia de longa data da sociedade macaense. Se os jovens que vão votar pela primeira vez não o fizerem de forma sensata, é muito provável que as previsões do Dr. Ricardo Reis de Camões Tam se tornem realidade. Os distúrbios no Conselho Legislativo de Hong Kong nunca se repetirão em Macau. Um parlamento que não conhece a controvérsia, torna-se no Senado da antiga Pompeia... depois do vulcão! Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
21 hoje macau sexta-feira 28.10.2016
OPINIÃO
contramão
ISABEL CASTRO
isabelcorrreiadecastro@gmail.com
Ng Kuok Cheong não é um homem valente. Ou então há certos tipos de crimes que não o incomodam, porque não vendem Não, Ng Kuok Cheong não é um homem valente. Ou então há certos tipos de crimes que não o incomodam, porque não vendem. Afinal, os crimes relacionados com prostituição ou com dívidas de jogo raramente têm como vítimas residentes de Macau, com a sorte grande do BIR na mão. São crimes que não contam para efeitos eleitorais. Ng Kuok Cheong dispara, assim, sobre quem não tem modo de se defender: aqueles que não conseguem sequer obter autorização de trabalho. São tão miseráveis que nem sequer sabem que Ng Kuok Cheong fala deles na Assembleia, porque nem sequer sabem quem é Ng Kuok Cheong. Não vieram para Macau para roubar, explorar, matar. Andam por aí nas obras, às vezes caem de andaimes e partem pernas e o coração, a hipótese de uma vida menos miserável sai cara às viúvas e aos filhos e ao resto da família que deixaram para trás. Os trabalhadores ilegais são só trabalhadores – e ilegais porque o destino não teve mais para lhes dar. Acho muito bem que se combata o trabalho ilegal, porque resulta, a maioria das vezes, em situações de exploração. Mas o trabalho ilegal combate-se de outra forma, pelo castigo de quem, para pagar menos, emprega sem garantir as condições exigidas pela lei. O combate deve ser contra os mais fortes e não através do cerco aos mais fracos. Escrevi há uns anos que falta a pró-democratas e Operários – os dois grupos que perdem horas de sono com a mão-de-obra importada, ilegal e legal também – a capacidade de perceber que os trabalhadores que vêm de fora só deixarão de ser uma ameaça no dia em que se garantir que têm as mesmas condições que são dadas aos locais. Só quando estes dois grupos estiverem em pé de igualdade é que um empregador deixará de despedir um residente para dar trabalho a um não-residente que, neste momento, lhe sai mais barato. Inocência a minha. Pró-democratas e Operários sabem bem que é melhor continuar a disparar no alvo errado, naquele que não se mexe porque nem sequer sabe que está na mira. É um alvo fácil. O exercício não requer perícia e vai dando votos. Muitos votos.
FRANCIS FORD COPPOLA, THE GODFATHER (1972)
P
ERDI a conta aos textos que já escrevi sobre o assunto, mas aqui vai mais um, apesar de saber que a expressão da minha indignação é um exercício completamente inútil. Ainda assim. Há coisas que são difíceis de aceitar. O desprezo pelos mais fracos, por aqueles que não têm sequer a possibilidade de se defenderem, é uma delas. NgKuokCheong sugeriu esta semana, na Assembleia Legislativa, a criação de mecanismos de caça aos ilegais. O deputado teve uma ideia: vamos lá fazer, todos juntos, cercos aos locais onde trabalha gente sem os papéis que a lei manda. De acordo com o esquema do auto-intitulado democrata, quando houvesse a suspeita de um trabalhador ilegal em determinado sítio, convocavam-se os residentes para cercar o espaço em questão. Só depois de se garantir que dali ninguém saía ou entrava é que se comunicava o facto às autoridades. Tudo isto em nome da defesa do operariado de Macau, o grupo de pessoas que tem a sorte – a sorte grande – de ter um BIR na mão. Não vale a pena sequer discutir a legalidade da proposta. A um ano das eleições legislativas, não espanta que comecem a surgir ideias peregrinas e, sobretudo, perigosas. Quem acompanha a retórica de alguns deputados à Assembleia Legislativa já se habituou aos disparates que por ali se dizem; daqui para a frente, há que aguentar, em dose dupla ou tripla, o registo da parvoíce. Sabemos bem que há um certo eleitorado que alinha neste tipo de pensamento porque, infelizmente, há uma certa Macau que continua com palas nos olhos que toldam a visão e outros sentidos. Ng Kuok Cheong está a fazer pela vida. Da pior maneira. O ilustre tribuno, com anos de Assembleia Legislativa suficientes para ter decorado, várias vezes, de cima para baixo e de baixo para cima, a Lei Básica de Macau, não é um homem valente. Não propôs cercos para outros tipos de crime. Não vai encabeçar um grupo de bons e legais homens que suspeitam que, num certo quarto de hotel, vivem duas ou três miúdas obrigadas a prostituírem-se. Não vai andar atrás do alegado agiota para descobrir se, no quarto de hotel ao lado do das miúdas, está um apostador caído em desgraça que dava tudo para voltar para casa, mas perdeu tudo numa mesa de um casino.
Os cobardes
22 (F)UTILIDADES TEMPO
POUCO
hoje macau sexta-feira 28.10.2016
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NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
FESTIVAL DA LUSOFONIA Casas Museu da Taipa, 19h00
Amanhã
FESTIVAL DA LUSOFONIA Casas Museu da Taipa,12h00
MIN
25
MAX
31
HUM
65-90%
•
EURO
8.72
BAHT
FESTIVAL DA LUSOFONIA Casas Museu da Taipa,12h00 FIMM | CHAPLIN OUTRA VEZ! Timothy Brock e a Orquestra de Macau Parque Dr. Carlos de Assunção, 20h00
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11) EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)
PROBLEMA 110
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 109
UM DISCO HOJE
DOCTOR STRANGE
Cineteatro
C I N E M A
SALA 1
NEVER GO BACK [C]
Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 14.30, 16.45, 21.30
Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
DOCTOR STRANGE [B]
DOCTOR STRANGE [B][3D] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 19.15 SALA 2
JACK REACHER:
Vem aí a festa. Mais um fim de semana frenético em que me escapo às escondidas para as casas museu da Taipa. Por cá, “não há festa como aquela”. Durante três dias, é gente de muitas nacionalidades que se junta para comes e bebes de outros cantos do mundo. Por entre música e artesanato é uma comunidade que se entretém a falar da terra. Há ainda as más línguas que nem línguas de gato são. Os comentários de um Governo que não funciona e um corridinho que se dança. A ingratidão pela terra que os acolhe e o fascínio por quem cá vem de visita. Mas ali, está tudo bem, porque estamos em festa. Ver se encontro os vadios do ano passado porque também gosto de companhia na apreciação do movimento lusófono. Uma caipirinha aqui, um Porto acolá e uma alheira se faz favor. Que nos deixem uns restos para nos lambuzarmos e lembrar-mos que para o ano há mais. Aliás, sou gato, e gosto de festas, de todo o tipo delas. Pu Yi THE PEARL (JANIS JOPLIN)
“The Pearl” é o título do segundo álbum a solo de Janis Joplin. Um álbum de afirmação, em que a pérola oferece, em tons preciosos, um conjunto de canções que marcam a história da música. Frenética, triste, melancólica ou desorientada, com ou sem álcool, Janis Joplin, neste e em todos os discos, é uma voz a ouvir, sempre que possível. Sofia Mota
SALA 3
HEARTFALL ARISES [C] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Ken Wu Com: Nicholas Tse, Sean Lau 14.30, 16.30, 19.30 21.30
SUDOKU
DE
OKTOBER FEST MGM (até 30/10)
1.17
OLHA A FESTA!
Domingo
EXPOSIÇÃO WORLD PRESS PHOTO Casa Garden
YUAN
AQUI HÁ GATO
FIMM | CHAPLIN OUTRA VEZ! Timothy Brock e a Orquestra de Macau Parque Dr. Carlos de Assunção, 20h00
Diariamente
0.22
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
23 PERFIL
CASSIA SCHUTT
hoje macau sexta-feira 28.10.2016
CASSIA SCHUTT, DESIGNER DE EVENTOS
“V
AMOS? Então está, vamos.” Foi assim que aconteceu Macau na vida de Cassia Schutt, brasileira, carioca, menina do Rio. Já lá vão dez anos, “agora mesmo, no final deste mês”, e foi por acaso. Podia ter sido outro sítio qualquer, mas foi Macau, “uma vinda muito tranquila e uma mudança desejada” para dar início a mais um episódio na vida de uma mulher que procura ver o lado positivo dos locais por onde vai passando. “A empresa do meu marido faliu”, recorda. “Era uma empresa grande de aviação no Brasil e Macau foi a primeira opção que apareceu. Não tínhamos a mínima ideia onde era”, confessa. Cassia Schutt era, na altura, produtora de casting no Brasil e sair do país foi uma opção que nem todas as pessoas que a rodeavam conseguiram perceber quando receberam a notícia. “Tinha uma vida muito confortável. Tinha acabado a universidade, estava realizando um trabalho que adorava e que me dava frutos e rendimentos, tinha
Querer que dê certo uma empresa no Brasil. As minhas amigas, quando falei que vinha, disseram ‘O quê, você está louca? Vai viver para a China? Está tudo certo aqui’”, relata. O facto de estar “bem resolvida profissionalmente” no Rio de Janeiro não foi um obstáculo à adaptação a Macau, antes pelo contrário – permitiram-lhe encarar a pausa que iria fazer com mais conforto. E se, por um lado, esta licenciada em Comunicação Social, da área da Publicidade, gostava do que fazia, o tempo para a vida pessoal era pouco. Sem filhos à chegada ao território, decidiu então que era altura para parar, “curtir o casamento” e pensar em ter filhos. “Com o trabalho que tinha no Brasil, não me conseguia imaginar a ser mãe. Era uma coisa que me angustiava”, diz. “Os filhos vieram, os dois nasceram em Macau, foi planeado dessa forma.” Depois do nascimento do primeiro filho, surgiu a vontade de voltar a trabalhar – Cassia Schutt é a responsável em Macau pela Meemo, uma empresa em que se juntam
vários serviços prestados a quem quer fazer uma festa, da concepção do conceito à decoração temática do espaço, passando pela execução, venda e aluguer de acessórios. O projecto apareceu “naturalmente”: “As pessoas diziam ‘que legal que você faz isso, foi uma coisa que surgiu e que me preenche. Estou abraçada a um trabalho de que gosto”. Cassia Schutt explica que há procura em Macau deste tipo de serviços, até porque há pouca oferta, mas identifica dificuldades. “Sinto muita falta de fornecedores, de materiais, apesar de a gente morar na China”. No Brasil, exemplifica, há empresas que se dedicam a fornecer produtos específicos para festas, “produz-se uma muito depressa, com alguns telefonemas de casa, ao computador, já se alugou e se entregou o material, aqui não existe isso”. É aqui que tem de haver criatividade em dose dupla: “Quando o cliente está disposto a fazer uma coisa mais bacana, tem de se comprar o material e fazer a produção”.
Nas vésperas de completar uma década longe do Rio de Janeiro, Cassia Schutt diz continuar a viver com a mesma tranquilidade com quem encarou a mudança. E analisa Macau com esse mesmo estado de espírito: “Várias pessoas reclamam do trânsito. Olho para Macau e penso ‘que bom que tenho cinema com pipoca, que bom que tenho restaurantes novos’. Acho que, em qualquer lugar, o crescimento vai trazer coisas boas e coisas ruins também. Consigo ver muita coisa boa”. Apesar de todas as transformações destes últimos dez anos, a designer de eventos encontra em Macau “um lugar tranquilo, que dá a facilidade de fazer as viagens que gostamos, onde se vive uma vida sem violência”. “Acho que quando a gente faz essa mudança, tem de querer que dê certo, tentar ver o lado positivo das coisas”, remata. Isabel Castro
isabel.castro@hojemacau.com.mo
Tanto brincaram com a natureza que ela perdeu o juízo.
sexta-feira 28.10.2016
Atlântido
MORREU O CIRURGIÃO JOÃO LOBO ANTUNES
O neurocirurgião João Lobo Antunes faleceu ontem aos 72 anos, revelou à agência Lusa fonte do Ministério da Saúde. João Lobo Antunes era actualmente presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa com uma média final de 19,47 valores, foi professor catedrático de neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa e foi director de serviço de neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa
PRÉMIO SAKHAROV PARA DUAS MULHERES YAZIDIS
ÁLVARO MOURATO BASTANTE REALISTA PARA O GP MACAU
Missão quase-impossível
Á
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LVARO Mourato é um dos pilotos do território mais conceituados nas corridas locais de carros de turismo. Contudo, este ano o piloto macaense não acredita que será fácil levar o seu Peugeot RCZ à posições de primazia no Grande Prémio de Macau. Antes de enviar o carro de construção francesa para Macau, Mourato esteve a testar, como a maioria dos pilotos do território que participarão na Taça de Carros de Turismo de Macau – CTM, no circuito vizinho de Zhuhai. Estes foram os últimos preparativos antes da grande corrida do mês de Novembro. “Tive alguns problemas electrónicos e problemas sobreaquecimento no carro durante o campeonato de Macau de Carros de Turismo, o MTCS, e tive que fazer umas alterações antes do Grande Prémio”, clarificou ao HM o piloto do território. A Taça de Carros de Turismo de Macau – CTM, mais conhecida apenas por “Taça CTM”, não é uma das corridas “cabeça de cartaz” do programa de provas do Grande Prémio, mas mais de duas décadas de história tornam-na numa das corridas mais simbólicas de carros de turismo do sudeste asiático. Este ano, a “Taça CTM” volta a reunir um bom leque de condutores asiáticos da especialidade e vários
participantes da RAEM. Para a edição de 2016, Mourato espera “ser classificado entre os melhores 70% dos concorrentes de Macau”. Este objectivo é aparentemente modesto para quem é um ex-vencedor da saudosa Taça Hotel Fortuna, mas permite-lhe assim manter o indispensável subsidio para as provas fora do território da Fundação Macau no próximo ano. O espírito combativo de Mourato é reconhecido no paddock e certamente todos gostariam de o ver a lutar pelos lugares cimeiros numa corrida em que os pilotos de Hong Kong, mais abonados, gozam actualmente de uma certa hegemonia. “Não posso dizer que é 100% impossível (lutar pelos lugares cimeiros), pois tudo pode acontecer durante uma corrida, mas posso dizer que será quase impossível ir ao pódio”, afirma o piloto do Peugeot nº20 inscrito pelo Team Endless. A regulamentação técnica em vigor nesta corrida é apenas utilizada nos campeonatos de Hong Kong e Macau. Isto quer dizer
que os pilotos têm que adquirir um automóvel equipado com um motor 1.6 litros turbo na sua versão de estrada e depois adaptá-lo à regulamentação e evolui-lo, o que acarreta custos altíssimos. “Esta categoria de 1.6T é cada vez mais para as equipas profissionais e não para nós; equipas de amigos e não profissionais”, explica Mourato. “Para conseguires chegar ao nível da Teamwork Motorsport, que coloca quatro carros para pilotos como o Paul Poon ou Samson Fung, é quase impossível! Eles têm uma equipa profissional por traz a trabalhar a tempo-inteiro e a preparar os carros deles! Eles pagam para o campeão do mundo dos carros de turismo, o Rob Huff, testar-lhes os carros!” Mourato recorda com alguma saudade a categoria N2000, que servia de espinha dorsal à Taça Hotel Fortuna e cujos custos de participação eram bem mais simpáticos para aqueles que participam nas corridas com orçamentos limitados. Tal como muitos outros pilotos do território, Álvaro não
“Não posso dizer que é 100% impossível (lutar pelos lugares cimeiros), pois tudo pode acontecer durante uma corrida, mas posso dizer que será quase impossível ir ao pódio”
nega que gostaria de ver um dia novamente no evento do Circuito da Guia “uma corrida de carros de turismo em que RPMs máxima dos motores fosse controlada, o tamanho do turbo também e uma só marca dos pneus...”
SEM MALÁSIA
Nos últimos anos Mourato vinha sendo uma presença assídua no campeonato “Malaysian Super Series “, na categoria de carros de turismo, no entanto, este ano o piloto da RAEM foi forçado a ficar de fora. Devido às obras realizadas no Circuito de Sepang, para a recepção à Fórmula 1, o calendário de provas do campeonato organizado pelo circuito malaio foi anunciado mais tarde no ano, o que inviabilizou o projecto do piloto da terra. “A data limite de entrega do pedido de subsidio de 2016 forçou-me a desistir. Tínhamos que entregar o pedido antes de 29 de Fevereiro e era impossível confirmar tudo tão cedo! Para não ter problemas, decidi não fazer este campeonato”, reconhece Mourato, que no entanto, admite que competir no “Malasyan Super Series” lhe permitia “ganhar mais ritmo de corrida e o ajudava, como piloto, a preparar melhor a participação no Grande Prémio“. Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
O Parlamento Europeu atribuiu ontem o «Prémio Sakharov» 2016 de Liberdade de Expressão a duas activistas da comunidade yazidi do Iraque, Nadia Murad Basee e Lamiya Ali Bashar, escravizadas sexualmente pelo autoproclamado Estado Islâmico durante meses. A escolha foi feita ontem em conferência de presidentes da assembleia europeia, reunida em sessão plenária em Estrasburgo, anunciou o grupo político dos Liberais (ALDE), que propôs os nomes de Nadia e Lamiya para a edição deste ano do Prémio Sakharov. Nadia Murad Basee e Lamiya Aji Bashar, foram escolhidas pelos esforços na defesa da comunidade yazidi e das mulheres que sobrevivem à escravidão sexual às mãos dos ‘jihadistas’ do Estado Islâmico, tendo-se tornado porta-vozes da sua comunidade na denúncia dos crimes de guerra e genocídio perpetrados pelo Daesh.
GUTERRES REÚNE-SE COM PRESIDENTE DO BRASIL
O secretário-geral da ONU designado, António Guterres, vai reunir-se com o Presidente brasileiro, Michel Temer, na segunda-feira em Brasília, à margem da cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, disse ontem à Lusa fonte da presidência. Em declarações à Lusa na quarta-feira, o Presidente do Brasil referiu que o antigo primeiro-ministro português foi convidado para a cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), acrescentando que “saberá contribuir para a nossa reflexão modernizadora”. O Brasil que assume a presidência bianual da comunidade na cimeira de chefes de Estado e de Governo, que decorre entre segunda e terça-feira na capital brasileira - escolheu como tema do encontro a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável.