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SEXTA-FEIRA 28 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4476
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
OPINIÃO
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hojemacau
EPIDEMIA
Sopro de vida
A partir de segunda-feira, a cidade acorda para uma realidade mais consentânea com a normalidade. Depois dos casinos, chegou agora a vez de cinemas, bares, discotecas, ginásios, saunas, salões de jogos, entre outros
PAUL CHAN WAI CHI
FILIPINAS
Tão perto e tão longe PÁGINA 8
BUDA DOURADO
DUARTE DRUMOND BRAGA
h
HISTÓRIAS DE FAMÍLIA GONÇALO M. TAVARES
ABÓBODA TUBULAR ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO
UMA FOTOGRAFIA
estabelecimentos e serviços, abrirem portas. Apenas as escolas continuam sem data marcada para voltar ao activo, admitindo-se, no entanto, que tal possa acontecer lá para o fim de Abril.
VALÉRIO ROMÃO
CRIME INFORMÁTICO
Deputados sem temores PÁGINA 5
PÁGINA 4
JP MORGAN
IPM
Previsões aziagas PUB
PÁGINA 9
IPM | TABELAS DE PRESSÃO PUB
PÁGINAS 2-3
2 coronavírus
28.2.2020 sexta-feira
IPM
EXCESSOS DA ALUNOS DE CABO VERDE ACUSAM INSTITUTO DE RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE MOVIMENTOS
Alunos do Instituto Politécnico de Macau, naturais de Cabo Verde, relatam ao HM estar a viver uma “enorme pressão psicológica” devido às medidas de combate ao novo coronavírus. Os estudantes falam de restrição da liberdade de movimentos, com controlo excessivo de entradas e saídas da residência onde vivem, além do excesso de trabalhos marcados pelos professores. A situação é confirmada pelo jurista António Katchi, que fala de atropelos à lei, mas o IPM nega tudo
O
relato é feito no anonimato, por e-mail, por não quererem sofrer ainda mais represálias. Alunos naturais de Cabo Verde a estudar no Instituto Politécnico de Macau (IPM) confessam ao HM estar a passar por momentos complicados devido às medidas de quarentena impostas para combater o novo coronavírus, de nome Covid-19. Em causa estão grandes restrições à liberdade de movimentos e um excesso de trabalho académico. “Temos passado por um período bastante difícil, quer no plano académico (com o estudo quase inteiramente auto-didacta e uma sobrecarga de trabalhos para casa, tudo isto agravado,
no caso de alguns alunos, pela falta de computador), quer no plano pessoal, com a privação quase completa do exercício da liberdade de circulação”, começam por dizer. No que diz respeito ao excesso de trabalho, os alunos falam do facto de os professores terem colocado, na plataforma online, “um volume de matérias e trabalhos que não se registaria numa situação ‘normal’”. “A pressão psicológica é enorme, pois o prazo estipulado para a entrega dos trabalhos é muito curto. Houve casos em que os alunos, por não terem computadores, dirigiram-se à cantina da escola para fazer os trabalhos, mas, ao regressarem às respectivas residências, foi-lhes barrada a
entrada, pois tinham ultrapassado o limite do prazo estipulado [para a saída], que é de 30 minutos”, explicam ainda. Assegurando que não estão a receber qualquer acompanhamento psicológico por parte do IPM, os alunos falam de restrições à liberdade de circulação, acusando a instituição de ensino superior de estar a levar a cabo “uma ilegalidade completa”.
COMPRAS ONLINE
No email enviado ao HM, foram enviadas cópias das mensagens de Wechat aos alunos com as regras a cumprir no que diz respeito à sua circulação. Foi dito aos alunos que estes não poderiam deixar as suas residências e que teriam de fazer compras online. “Foi-nos recomendado um website para fazer as compras, mas os preços dos produtos não estão de acordo com a nossa realidade financeira. Quando questionámos, foi-nos feito outro aviso que dizia que esse website era apenas uma sugestão”, relatam os alunos. Para poderem sair, estes alunos referem que têm de pedir autorização junto das governantas das residências. “Temos de especificar onde pretendemos ir e o que iremos fazer. De imediato as governantes têm de pedir a aprovação do IPM, e se considerarem que o motivo da saída não é importante, o pedido é indeferido. Caso contrário autorizam a nossa saída”, relatam. Mas a burocracia não se fica por aqui. Quando vêm a saída autorizada, os alunos dizem ter de preencher um formulário com o nome, número do quarto, número de telefone, motivo da saída, horas de partida e de chegada. Caso haja atrasos, os alunos são alvo de discriminação, apontam. “Ultrapassado o limite estipulado somos praticamente humilhados, pois obrigam-nos a escrever um relatório onde declaramos os motivos do atraso. Temos de prometer que a situação não voltará a acontecer pois, caso contrário,
“O IPM não colocou nenhuma limitação à entrada e saída dos alunos residentes.” DIRECÇÃO DO IPM
seremos punidos (com a ameaçada da redução do subsídio ou até mesmo expulsão do território).” Neste sentido, os alunos questionam se o IPM “se preocupa verdadeiramente com o bem-estar dos alunos”. “Estamos emocionalmente abalados, o sentimento de falta de humanidade é notório. A instituição que nos acolheu num momento tão delicado como este mostrou-se indiferente”, confessam os alunos, que dizem não estar a receber apoio dos professores.
“Temos pedido apoio a alguns professores, para que possam intervir junto da direcção do IPM para amenizar a situação, mas o Feedback não tem sido positivo”, descrevem.
ILEGALIDADES EM CAUSA?
Ao descreverem os dias de quarentena no IPM, os alunos defendem que a instituição de ensino superior não está a cumprir a lei. “No domínio do direito administrativo, há actos administrativos nulos por ofensa ao conteúdo essencial da liberdade de circulação, já que não assentam em qualquer base legal que legitime a privação do exercício desse direito. Isto porque nós não estamos legalmente sujeitos a quarentena e, por isso, a maioria dos estudantes regressaram ao país de origem.”
coronavírus 3
sexta-feira 28.2.2020
QUARENTENA “As unidades do Serviço Nacional de Saúde têm preparados os respectivos Planos de Contingência para infecções emergentes.”
“Dada a situação aflitiva em que se encontram os estudantes em questão, os Governos dos respectivos países deveriam ter promovido o repatriamento temporário daqueles que o desejassem.” ANTÓNIO KATCHI JURISTA E PROFESSOR DO IPM
O HM questionou o IPM sobre o número de estudantes que regressaram a Cabo Verde. Mais de 50 por cento já o fizeram, responde a instituição de ensino. “Os alunos que permanecem nas residências de estudantes manifestaram vontade de esperar pelo regresso oficial às aulas e estão a ter aulas online. Relativamente aos que regressaram para Cabo Verde manifestaram que preferem ter aulas online em Cabo Verde”, é ainda dito. São também rejeitadas as acusações de falta de apoio psicológico. “O IPM disponibiliza apoio aos alunos cabo-verdianos que permanecem nas residências, incluindo o tutor de turma, apoio psicológico, encarregado de residência e ensino electrónico.” Os alunos falam ainda de ilegalidades cometidas com as regras impostas. “Pode considerar-se haver um crime de coacção. O facto de termos a ‘opção’ para sair de Macau pode excluir o crime de sequestro, mas não necessariamente o crime de coacção. A ‘opção’ de sair de Macau só o é para aqueles que conseguem arranjar dinheiro em tão curto prazo, o que revela logo o carácter discriminatório da dita ‘opção’”, apontam. Além disso, “para quem não tenha condições de fazer essa opção, a ameaça de ser irradiado do curso, no caso de não acatar as proibições de saída do dormitório
pode ser considerada como uma ‘ameaça com mal importante’”. António Katchi, jurista e professor do IPM, tem conhecimento da situação acima descrita através de relatos de alunos, mas diz comentar o caso apenas a título pessoal. “Considero a situação verosímil porque vários alunos a relataram em termos semelhantes. Depois, vários alunos têm feito a difícil opção de regressar temporariamente a Cabo Verde.” Katchi disse ainda saber que professores do IPM, “seguindo as vias internas normais, diligenciaram junto dos sucessivos escalões hierárquicos com vista à correcção desta situação logo que dela foram informados pelos alunos”. Em termos jurídicos, o professor universitário diz concordar com os argumentos apresentados pelos alunos. “Não conheço qualquer base legal para os actos administrativos relatados, nomeadamente porque os destinatários desses actos não estão legalmente sujeitos a quarenta, ao abrigo da Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis”. À luz desse diploma, o jurista aponta para o facto de os estudantes em causa não estarem infectados nem existir qualquer suspeita de infecção. “Aqueles estudantes
“É este registo de entradas e saídas que está a ser objecto de contestação por parte dos alunos. Nesta resposta, e dada a gravidade da situação, o IPM não nega a existência desse controlo nem se dispõe a averiguar o que é relatado, a resposta nada diz.” JOSÉ PEREIRA COUTINHO DEPUTADO
não são, nem foram considerados por nenhuma autoridade sanitária, como um grupo específico de risco de contágio. Estão sujeitos a um risco normal, como a população em geral, pelo que o seu isolamento, ainda que parcial, não se justificaria mais que o do resto da população. Por conseguinte, isolá-los apenas a eles constitui uma clamorosa discriminação.” Katchi destaca ainda outro ponto que comprova a ilegalidade desta decisão. “Tanto quanto se saiba, o Chefe do Executivo não emitiu esta ordem, e se o tivesse feito ela tinha de ser do conhecimento público. [Nesse sentido], os órgãos dirigentes do IPM não teriam competência para tomar essa decisão do lugar do Chefe do Executivo”, explicou. Para o professor universitário, “dada a situação aflitiva em que se encontram os estudantes em questão, os Governos dos respectivos países deveriam ter promovido o
repatriamento temporário daqueles que o desejassem, por forma a poupar às suas famílias um enorme sacrifício financeiro e evitar que os estudantes mais pobres ficassem para trás”.
DO OUTRO LADO
Confrontada com estas acusações, a direcção do IPM negou ter colocado entraves à circulação dos alunos. “O IPM não colocou nenhuma limitação à entrada e saída dos alunos residentes. O registo destes alunos pelo encarregado de residência, feito antes das saídas, tem apenas o objectivo de aperfeiçoar os trabalhos de prevenção à epidemia e garantir a segurança e saúde dos alunos”, lê-se na resposta enviada por e-mail. O IPM assegura que não houve quaisquer punições aplicadas aos alunos por terem ultrapassado os prazos de saída das residências, mas alerta para o facto de aqueles
que vivem nas residências “deverem permanecer [nelas] durante a suspensão de aulas e evitar sair às ruas, evitando locais com concentração de pessoas quando não for necessário”. Na resposta, o IPM assume “continuar a observar e ajustar, em devido tempo, as medidas relativas à gestão das residências, devido à evolução da epidemia, para que os alunos residentes possam voltar, gradualmente, à vida académica normal”. O HM voltou a confrontar os alunos com esta posição do IPM, mas estes dizem não estar surpreendidos com a posição demonstrada. “A situação que relatámos foi vivida e sentida por todos”, rematam. De frisar que este caso foi denunciado pelo deputado José Pereira Coutinho numa entrevista à TDM. Ao HM, o deputado lamenta a resposta vaga do estabelecimento de ensino. “É este registo de entradas e saídas que está a ser objecto de contestação por parte dos alunos. Nesta resposta, e dada a gravidade da situação, o IPM não nega a existência desse controlo nem se dispõe a averiguar o que é relatado, a resposta nada diz. Lamento que tente encobrir os procedimentos e espero que não se repitam no futuro”, concluiu o deputado. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
4 coronavírus
28.2.2020 sexta-feira
É
mais um passo rumo à normalidade em Macau. A partir das 00h00 de segunda-feira, os estabelecimentos encerrados desde o passado dia 5 de Fevereiro, através de um despacho do Chefe do Executivo, vão poder voltar a abrir portas. O levantamento da medida especial foi anunciado ontem por ocasião da conferência de imprensa diária do coronavírus, Covid- 19, e já se
VENHAM MAIS TRÊS
O
jogo regressou ontem ao Rio Casino, ao Sands Coitai Central e ao Casino Oceanus (no Jai Alai) que voltaram a abrir as portas, de acordo com uma notícia do canal chinês da TDM – Rádio Macau, que cita a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos. Neste momento, Macau tem em actividade um total de 37 casinos, com a abertura hoje do Casino Oriental.
COVID-19 ESTABELECIMENTOS VOLTAM AO ACTIVO SEGUNDA-FEIRA
Sobe o pano
encontra publicado em Boletim oficial. Assim, já a partir de segunda-feira, vão poder regressar à actividade estabelecimentos como cinemas, teatros, salões de jogos, cibercafés, ginásios estabelecimentos de sauna e massagens, Karaokes, bares, discotecas e salões de dança. "Tendo em conta que nos últimos 23 dias não houve novos casos confirmados e a limitação imposta aos TNR à entrada a Macau (...) decidimos que no dia 2 de Março vamos retomar actividades comerciais e os serviços”, justificou Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde (SS). No entanto, a reabertura dos estabelecimentos será limitada e terá de ser acompanhada pelo cumprimento de algumas instruções específicas. "Os estabelecimentos, na sua reabertura, têm de seguir as medidas de prevenção, ou seja, os trabalhadores têm de usar sempre máscara e os clientes também (...), por exemplo nos ginásios e salões de dança. A não ser que seja para se alimentar ou beber água (...)
esse tempo deve ser reduzido", esclareceu Lei Chin Ion. Os estabelecimentos devem ainda recusar a entrada de pessoas com sintomas de febre e tosse, garantir uma distância de um metro ou mais entre clientes e ainda, reduzir a concentração de pessoas nas suas instalações, sendo sugerido que "recebam só metade da capacidade que costumam ter". Em alguns estabelecimentos como centros de explicações, vai também ser obrigatório preencher a declaração de saúde e estar sujeito à medição de temperatura à entrada. Em caso de incumprimento, os estabelecimentos podem mesmo vir a ser encerrados. "O serviço competente vai fazer a inspecção das instalações para ver se as instruções estão a ser cumpridas. Em caso de
“Os estabelecimentos, na sua reabertura, têm de seguir as medidas de prevenção.” LEI CHIN ION SS
“É possível que tenhamos a oportunidade de recomeçar as actividades lectivas na segunda quinzena de Abril, no entanto, se as condições o permitirem, não se exclui o reinício das aulas antes dessa data.” DSEJ incumprimento, os estabelecimentos terão de proceder a correcções e, caso não consigam fazê-lo (...), vamos fechar essas instalações", afirmou o responsável dos serviços de Saúde. Já sobre a entrada em Macau de indivíduos provenientes da Coreia do Sul, os SS avançaram que chegaram sete pessoas ao território, encontrando-se 6 a fazer quarentena domiciliária e uma em
SÃO JANUÁRIO PACIENTE COM ALTA SERÁ ISOLADO NOVAMENTE
L
O Iek Long, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, disse ontem que o paciente respeitante ao décimo caso por infecção de coronavírus em Macau teve alta ontem, mas terá de ser sujeito a mais dias de quarentena no Centro Clínico de Saú-
de Pública em Coloane. Trata-se de um motorista de 56 anos cujos sintomas de infecção tiveram início no passado dia 26 de Janeiro, tendo recorrido aos hospitais a 3 de Fevereiro. Lo Iek Long explicou que é necessário um segundo período de quarentena dadas as notícias de que, na
província de Guangdong, houve pacientes cujos testes ao Covid-19 deram positivo uma segunda vez. “Desde o dia 16 de Fevereiro que os seus testes são negativos, o que corresponde aos critérios para a alta hospitalar. Mas tendo em conta as notícias do Interior da China sobre
isolamento na Pousada Marina Infante, em Coloane.
AULAS MAIS PERTO
ANTÓNIO FALCÃO
Ginásios, bares e cinemas estão entre os estabelecimentos que podem reabrir portas a partir de segunda-feira com algumas limitações. Com agenda incerta continuam as escolas, apesar de terem sido definidos critérios para o regresso às aulas que, no melhor cenário, pode acontecer no fim de Abril
a possibilidade de ocorrência de testes positivos, e o risco de transmissão na comunidade, vamos submeter [o paciente a nova quarentena].” Com esta alta, restam apenas dois casos não graves de infecção em Macau com o novo coronavírus oriundo de Wuhan.
Quanto às escolas, apesar de não ter sido anunciada uma data para a sua reabertura, foi admitido pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) que os alunos de Macau possam regressar às aulas no final de Abril. No entanto, a decisão está dependente do cumprimento de dois critérios, relacionados com a evolução epidémica das regiões vizinhas. Ou seja, segundo o director da DSEJ, Lou Pak Sang, a reabertura das escolas em Macau só pode acontecer se as cidades de Zhuhai e Zhongshan já tiverem anunciado a reabertura das suas escolas e se durante 14 dias consecutivos não tiverem sido registados novos casos do Covid- 19 em Macau e na província de Guangdong. “É possível que tenhamos a oportunidade de recomeçar as actividades lectivas na segunda quinzena de Abril, no entanto, se as condições o permitirem, não se exclui o reinício das aulas antes dessa data”, pode ler-se num comunicado enviado ontem pela DSEJ, após a conferência de imprensa. De acordo c om Leong Iek Hou, coordenadora do núcleo de prevenção e doenças infecciosas, Guangdong não tem novos casos há dois dias e Zhuhai há oito dias. O Director da DSEJ garantiu ontem também que não vai haver prolongamento do ano lectivo, já que o mês de Agosto não vai ser usado para a compensação das aulas. Lou Pak Sang admite, no entanto, que os fim-de-semana poderão vir a ser usados para esse efeito. “O consenso de todos é que o mês de Agosto não vai ser utilizado para a compensação das aulas. As aulas acabam acabam a 10 de Julho, mas se a escola tiver condições, pode optar por prolongar as aulas até 30 de Julho ou, por exemplo, decidir que aos sábados e domingos os estudantes também precisam de ir à escola para compensar as aulas", explicou Leong Iek Hou. Pedro Arede com A.S.S. e J.L. info@hojemacau.com.mo
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sexta-feira 28.2.2020
Os deputados, que analisam as alterações à lei, defendem que o Código de Processo Penal já obriga a que o acesso a equipamentos electrónicos pela Polícia Judiciária tenha sempre o consentimento do visado ou a autorização de um juiz
CRIMINALIDADE INFORMÁTICA DEPUTADOS DESVALORIZAM PREOCUPAÇÕES DOS ADVOGADOS
Olhar para a floresta
tem apenas alterações pontuais e que a lei que se encontra em vigor nunca foi alvo de queixas: “Desde 2009, há cerca de 10 anos, que a Lei de Combate à Criminalidade Informática está em vigor e ninguém levantou dúvidas quanto à aplicação. Agora o que se pretende é alterar a expressão ‘dentro da RAEM’, para poder haver buscas em sistemas de nuvem”, acrescentou.
“O essencial é conseguir obter as provas com maior rapidez. As provas electrónicas podem ser alteradas ou eliminadas num instante.”
O
S deputados desvalorizam a necessidade de constar nas alterações à Lei de Combate à Criminalidade Informática a obrigatoriedade da Polícia Judiciária (PJ) obter o consentimento do visado, antes de uma busca num equipamento electrónico privado, ou a menção à autorização prévia de um juiz. A omissão no documento a estas exigências tinha sido destacada num parecer da Associação dos Advogados de Macau (AAM). No entanto, o Governo e os deputados entendem que estes pressupostos já estão asseguradas pelo Código de Processo Penal (CPP). A posição foi apresentada pelo deputado Ho Ion Sang, presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, que ontem esteve reunida para analisar as propostas de alteração. “Esta é uma lei especial, que regula aspectos mais particulares. Aquilo que não consta numa lei especial é regulado por uma lei geral. Por isso, o CPP também tem uma relação directa com esta proposta”, afirmou Ho Ion Sang, para defender que as buscas da Polícia Judiciária ficam obrigadas a um consentimento do visado ou
HO ION SANG DEPUTADO
à autorização prévia, ou posterior, de um juiz. No mesmo sentido, Ho apontou que as buscas da Polícia Judiciária são executadas muitas vezes na presença de um magistrado, que poderá objectar face a possível ilegalidades, ou com uma autori-
zação de um tribunal que define o limite das buscas. O presidente da comissão permanente sublinhou igualmente que o documento está em sintomia com a legislação de Portugal e segue as normas estabelecidas pela Convenção de Budapeste. Este é um
acordo nascido na União Europeia para harmonizar as leis nacionais sobre o cibercrime.
Em relação às alterações propostas pela lei, Ho destacou como vantagens o acesso aos dados guardados pelas pessoas em nuvens electrónicas, ou seja, bases de dados que não têm uma localização física. Segundo o legislador, actualmente a legislação em vigor não permite esse acesso. Outro aspecto destacado, foi o aumento da rapidez nas buscas que envolvem dados informáticos: “O essencial é conseguir obter as provas com maior rapidez. As provas electrónicas podem ser alteradas ou eliminadas num instante”, alertou. A comissão volta a reunir-se novamente durante o dia de hoje para continuar a analisar as alterações à proposta de lei. João Santos Filipe
SEM CRÍTICAS
Joaof@hojemacau.com.mo
Em defesa das alterações propostas pelo secretário Wong Sio Chak, Ho argumentou que a proposta
AMOR PATRIÓTICO GOVERNO ASSEGURA APOIO À PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS MULTIMÉDIA
E
M resposta a uma intepelação escrita enviada pela deputada Song Pek Kei, o Governo assegurou que continua a desenvolver “trabalhos a vários níveis” para aumentar o conhecimento dos jovens sobre a pátria, nomeadamente, através da criação de “produtos de televisão e filmes”. A resposta
à interpelação de Song Pek Kei teve em consideração o parecer do Instituto Cultural (IC) e da TDM. Na interpelação escrita enviada a 8 de Novembro de 2019, a deputada considerou a iniciativa de projectar filmes patrióticos “uma boa e nova tentativa de apostar na educação sobre o amor
à pátria e a Macau” e pediu que o Governo concretizasse quais os seus planos de trabalho futuros nessa matéria. Com o objectivo de reforçar o sentido de reforçar a educação do amor pela pátria e por Macau, o Governo assume assim que, no futuro, “os serviços culturais
prestarão apoio financeiro às actividades de projecção de filmes e festivais de cinema”, de forma a apoiar a criação “filmes de qualidade que promovam o patriotismo”, pode ler-se em resposta à interpelação escrita. Sobre o reforço da educação patriótica nas escolas, foram desenvolvidos es-
forços para a sua inclusão no programa curricular de várias disciplinas e a publicação de material didático e pedagógico suplementar. Em resposta a Song Pek Kei, é também apontado que a Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude (DSEJ) tem vindo a encorajar a realização de
avaliações sobre o tema, financiou “a aquisição e instalação de bases e hastes de bandeiras (…) para exibição da Bandeira Nacional” e incentivou ainda financeiramente professores e alunos a deslocarem-se ao Interior da China, para “conhecerem, pessoalmente, a sua pátria”. P.A.
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RÓMULO SANTOS
sexta-feira 28.2.2020
Emprego Pedidas mudanças nos apoios à formação
O deputado Lei Chan U interpelou ontem o Governo sobre a necessidade de o Governo conceder mais apoios para emprego e formação profissional tendo em conta a crise gerada pelo novo coronavírus. O deputado, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), considera que o Executivo deve rever o regime de incentivos à formação profissional em vigor, associado ao Fundo de Segurança Social, para que haja um maior acompanhamento da situação sócio-económica. Lei Chan U defende que os fundos públicos não têm sido devidamente utilizados para esta matéria.
Epidemia Agnes Lam reitera que “a crise ainda não acabou”
Numa interpelação escrita enviada ao Governo, a deputada Agnes Lam pede ao Executivo que continue empenhado no combate ao novo tipo de coronavírus, o Covid- 19, através da redução das concentrações de pessoas nas ruas de Macau e na tomada de medidas contextualizadas no tempo. “A sociedade começa aos poucos a voltar ao trabalho e é compreensível que sejam levadas a cabo reuniões oficiais, mas se sairmos à rua para comer e beber como se nada fosse, corremos o risco de começar do zero”. Lembrando também que “enquanto a situação epidémica não estiver controlada a nível global, Macau continua em risco”, Agnes Lam faz uma comparação com a situação provocada pelo tufão Hato, afirmando que, desta vez, a sociedade não pode começar a recuperar dos estragos de forma imediata. Por isso, a deputada defende que as medidas restritivas nas fronteiras e a imposição de quarentena devem ser adoptadas ao longo do tempo “de forma oportuna e em resposta às mudanças do contexto envolvente”.
TAIWAN SULU SOU PEDE FIM DAS RESTRIÇÕES A ESTUDANTES DE MACAU
porque precisam de terminar um estágio antes de se licenciarem. Mas alguns dos estágios têm de ser feitos em Taiwan, por isso esses alunos estão preocupados com o facto de poderem falhar o estágio e não se poderem licenciar até ao final do ano”, explicou.
O deputado compreende as medidas aplicadas pelo Governo da antiga Formosa, mas diz que as restrições devem ser levantadas tão depressa quanto possível, para que os alunos de Macau em Taiwan não sejam prejudicados
ULTRAPASSAR OBSTÁCULOS
Formosos desejos
C
OMO medida de prevenção do coronavírus, o Governo de Taiwan proibiu a entrada de pessoas de Macau, Hong Kong e do Interior na Ilha Formosa.Amedida afectou cerca de 1.322 alunos de Macau, que apesar de estudarem em Taiwan se encontravam de férias na RAEM. Ontem, o deputado Sulu Sou apontou a necessidade de as restrições serem levantadas tão depressa quanto possível, para que os interesses dos residentes de Macau sejam protegidos. “Compreendemos as razões que levaram o Governo de Taiwan a adoptar esta nova política de emigração. Querem proteger a
comunidade e a sua população, o que é totalmente compreensível”, começou por ressalvar. “Mas esperamos que o Governo de Taiwan também perceba as preocupações e os sentimentos dos estudantes de Macau, assim como dos pais. Por isso esperamos que levantem as restrições tão depressa quanto possível”, apelou. No entanto, e apesar da RAEM não registar novos casos de coronavírus há 22 dias, o deputado não acredita que a restrição em Taiwan vá ser levantada em breve. Em causa está o facto de a avaliação da Ilha Formosa sobre a situação não focar apenas Macau,
mas também as regiões vizinhas, como Cantão e Hong Kong. “Eles olham para Macau integrado num contexto com as regiões vizinhas e não apenas para Macau de forma isolada”, indicou. Desde que a medida entrou em vigor em Taiwan, Sulu Sou admitiu ter recebido vários estudantes e pais preocupados, principalmente finalistas. “Recebi muitos estudantes e pais que me pediram ajuda. Também sou formado numa Universidade de Taiwan e tenho alguns conhecimentos que me permitem saber um pouco mais sobre esta situação”, apontou. “Os alunos mais preocupados são os finalistas
Por outro lado, Sulu Sou espera que as universidades de Taiwan tomem medidas para garantir que os estudantes retidos em Macau possam acompanhar as aulas e ser avaliados de uma forma que tenha em conta os obstáculos encontrados. “A entidade de Taiwan que tutela a educação emitiu instruções para que as universidades disponibilizem aulas pela internet, assim como o conteúdo das matérias leccionadas. A avaliação dos estudantes também tem de ter em conta o tempo em que ficaram afastados das aulas”, explicou Sulu Sou. O deputado disse, no entanto, ter garantias do Governo de Taiwan de que os estudantes de Macau vão poder entrar em Taiwan para terminar a licenciatura, mesmo que o visto tenha expirado. Nestes casos a entrada é autorizada e o documento é renovado posteriormente. João Santos Filipe
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RÓMULO SANTOS
Sulu Sou, deputado “Os alunos mais preocupados são os finalistas porque precisam de terminar um estágio antes de se licenciarem. Mas alguns dos estágios têm de ser feitos em Taiwan, por isso esses alunos estão preocupados com o facto de poderem falhar o estágio e não se poderem licenciar até ao final do ano.”
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N
A passada quarta-feira, o Governo de Rodrigo Duterte apontava para a possibilidade de repatriar os nacionais filipinos que se encontram em Macau presos sem voo directo de regresso e em situação de carência financeira. “Amanhã vamos discutir esse assunto”, foram as palavras de Karlo Nograles, membro do Executivo liderado por Duterte, em conferência de imprensa sobre a epidemia de Covid- 19, citado pela ABS-CBN News. Até ao fecho da edição, ainda não havia notícia de uma decisão tomada. “Palavras apenas não bastam, precisamos de acção. Há muitos turistas que querem regressar a casa, que têm o visto expirado e não têm dinheiro para ficar cá. Há também trabalhadores na mesma situação por terem perdido o emprego devido ao coronavírus”, revela ao HM Jassy Santos, que lidera a associação Progressive Labor Union of Domestic Workers. A activista reforçou a ideia de que é “a obrigação do Governo filipino proteger aos seus próprios cidadãos”. Depois do repatriamento de 30 filipinas de Wuhan estima-se que, pelo menos, 210 filipinos queiram regressar à terra natal. “Não sabemos ao certo o número total de pessoas que querem ser repatriadas de Macau. Talvez amanhã consigamos ter uma ideia mais clara”, referiu na quarta-feira Nograles. Importa lembrar que o Governo de Duterte suspendeu a decisão de interditar viagens para trabalhadores migrantes, estudantes e residentes permanentes que tinham como destino Hong Kong ou Macau.
EFEITOS SECUNDÁRIOS
Quanto ao número de trabalhadores filipinos que perderam os seus empregos em Macau desde o início do surto de Covid- 19, Jassy Santos revela um número impressionante. “Existem cerca de
Arte Quadros de Chinnery vendidos por 1.84 milhões
FILIPINAS PONDERADO REPATRIAMENTO DE NACIONAIS EM MACAU
Entre falar e agir
O Governo das Filipinas está a equacionar a possibilidade de repatriamento dos nacionais filipinos que se encontram em Macau e que apesar de querem voltar não conseguem. Por cá, activistas que representam trabalhadoras filipinas dizem preferir acção a apenas palavras
Jassy Santos, activista “Palavras apenas não bastam, precisamos de acção. Há muitos turistas que querem regressar a casa, que têm o visto expirado e não têm dinheiro para ficar cá. Há também trabalhadores na mesma situação por terem perdido o emprego devido ao coronavírus.”
300 trabalhadores nas Filipinas que perderam o emprego porque não conseguiram regressar a Macau”, realidade que reforça o problema. Uma das situações que chegou à associação liderada por Jassy Santos foi de uma trabalhadora que quando regressou a Macau descobriu que o seu
Dois quadros do pintor britânico George Chinnery, que viveu parte da sua vida em Macau, foram leiloados pela Bonhams por 1.84 milhões de patacas, noticiou ontem o jornal Macau Daily Times. Os quadros retratam Macau no período do século XIX e, segundo analistas, o estilo de George Chinnery ajudou a definir a forma como o território ficou no imaginário de muitos. “Mais do que outro pintor, ele criou as imagens que ajudaram a definir a imaginação popular em relação ao território durante os 27 anos em que viveu lá”, disse o advogado e investigador Ian Grenville Cross, num artigo publicado no Macau Daily Times em 2015.
empregador já tinha anulado a sua autorização de trabalho. Essa situação levou a activista a reunir com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). “Disseram-nos que se o empregador cortar o visto de trabalhador por este ter ficado retido nas Filipinas, e se o traba-
lhador regressar a Macau se um emprego, este precisa negociar com o patrão. Foi-nos dito que iriam contactar o empregador para lhe comunicar que o trabalhador tinha ido à DSAL e que não poderiam fazer mais nada”. João Luz
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ILHA VERDE INSTITUTO CULTURAL FALA DE AMBIENTE “SEVERO” NO CONVENTO
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Instituto Cultural (IC) realizou ontem uma inspecção ao convento jesuíta na Ilha Verde, tendo descoberto um cenário que pode originar problemas de saúde pública. “Durante as inspecções o IC descobriu que o ambiente do convento é severo, com uma grande quantidade de detritos e lixos, havendo risco ocultos à saúde e à segurança contra incêndios.” Nesse sentido, “o IC exigiu que os interessados melhorem o ambiente de saneamento o mais rápido possível, fornecendo ainda as informações relevantes à polícia e contactando com as autoridades relevantes para acompanhamento”.
O IC assegura ainda que o proprietário do terreno onde está situado o convento tem responsabilidades a cumprir no que diz respeito à manutenção do espaço. “Será exigido ao proprietário que realize obras de restauração e manutenção do convento. Após a conclusão do caso [relativo à propriedade do terreno] pelos órgãos judiciais, este deve manter o contacto e cooperar com a polícia, atendendo à protecção do património, para que o possa manter de forma adequada e sem danos”, esclarece o comunicado.
COVID- 19 RECEBIDAS 74 CANDIDATURAS DE PROJECTOS DE INVESTIGAÇÃO
O
Governo de Macau recebeu 74 candidaturas que procuram financiamento para desenvolver projectos de investigação científica relacionados com o novo tipo de coronavírus, o Covid- 19. O anúncio foi feito ontem pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) e vem no seguimento do programa de colecta levado a cabo pelo organismo, que teve lugar entre 10 e 20 de Fevereiro. De acordo com o FDCT, em apenas 10 dias, foram recebidos 74 projectos, dos quais 54 são de instituições de ensino superior, 16 de empresas de ciência e tecnologia, um projecto de uma associação de ciência e tecnologia e três projectos individuais. Destes, 42 concentram-se na “tecnologia de detecção, prevenção e tratamento, investigação e desenvolvimento de medicamentos “e 32 centram-se nos “mecanismos de prevenção e controlo contra doenças infecciosas súbitas e na recuperação social após a epidemia”. “O FDCT continuará a coordenar todas as partes e concederá apoio aos projectos o mais rápido possível após ter obtido os pareceres de avaliação profissionais”, pode ler-se no comunicado. Os projectos terão prioridade na aprovação e a verba proposta de cada projecto não pode exceder as 500 mil patacas, com o período de apoio financeiro a não poder ultrapassar um ano.
MÁSCARAS SUSPEITO DE BURLA IMPEDIDO DE SAIR DE MACAU
O
residente que foi detido por suspeita de prática de burla na venda de máscaras foi presente a juiz de instrução criminal que decretou como medidas de coacção termo de identidade e residência, prestação de caução, apresentação periódica, proibição de ausência da RAEM, de acordo com um comunicado emitido ontem pelo Ministério Público. A decisão foi tomada após o interrogatório ao arguido e teve “em conta a gravidade dos actos praticados e a circunstância perversa de ter aproveitado, para a prática de burla, a situação grave da epidemia em que há uma grande procura de materiais de prevenção por parte dos cidadãos”. Segundo o que foi apurado pelas autoridades, o arguido terá alegadamente utilizado redes sociais para vender máscaras, exigindo pagamento antecipado e um grande volume de compras do produto. As vítimas nunca receberam as máscaras e as autoridades reforçaram que foram burladas, pelo menos, 12 pessoas O arguido foi indiciado pela prática de vários crimes de burla que são puníveis, cada um deles, com pena de prisão até três anos ou pena de multa. J.L
sociedade 9
Entre quebras e oscilações
RÓMULO SANTOS
sexta-feira 28.2.2020
Galaxy registou descida de 6 por cento das receitas em 2019
A
operadora de jogo Galaxy Entertainment Group (GEG) publicou ontem os resultados relativos ao quarto trimestre e todo o ano de 2019, tendo sido registada uma quebra anual de 6 por cento nas receitas do grupo, cifradas em 51,9 mil milhões de dólares de Hong Kong. No que diz respeito ao EBITDA (lucros antes de impostos, amortizações e depreciações) situou-se nos 16,5 mil milhões de dólares de HK, uma quebra anual de dois por cento. Relativamente ao quarto trimestre de 2019, altura em que se registaram os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus em Wuhan, a Galaxy registou quebras nas receitas de oito por cento, as quais se situaram nos 13 mil milhões de dólares de HK. O EBITDA, no quarto trimestre, foi de 4,1 mil milhões de dólares de HK, uma quebra anual de 6 por cento. No segmento das apostas de massas as receitas relativas a 2019 foram de 283.9 mil milhões de dólares de HK, representando uma quebra anual de 3 por cento. No quarto trimestre de 2019 as receitas neste segmento foram 70.1 mil milhões de dólares de HK, uma quebra de oito por cento. A Galaxy descreve o mercado de Macau, em 2019, como tendo sofrido “oscilações”, causadas pela guerra comercial, um abrandamento da economia mundial, as restrições ao fumo nas salas VIP, a flutuação do renmimbi, os protestos em Hong Kong e a competição dos mercados de jogo a nível regional.
LUI CHE WOO CONFIANTE
No comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, Lui Che Woo, presidente do grupo, falou das dificuldades sentidas com a crise causada pelo novo coronavírus. “Sabemos que o encerramento [dos casinos] pode trazer desafios ao sector e à economia de Macau, mas o GEG apoia na totalidade a decisão do Governo”, disse o empresário, descrevendo os donativos que a operadora concedeu a várias entidades. “É altura de toda a comunidade trabalhar em conjunto para ultrapassar estes desafios. Enfrentámos desafios semelhantes no passado, e ultrapassamo-los. Estou confiante de que iremos ultrapassar o desafio actual”, frisou Lui Che Woo. A.S.S.
JP MORGAN JOGO DEVERÁ MANTER-SE EM BAIXA ATÉ FIM DO ANO
Annus horribilis
Analistas da consultora JP Morgan prevêem que, afinal, não será no terceiro trimestre que o sector do jogo começará a dar sinais de recuperação no contexto da crise gerada pelo novo coronovírus. O desempenho do mercado vai depender do momento em que as autoridades chinesas sentirem segurança para eliminar proibições de entrada no país e retomarem a emissão de vistos para Macau, dizem
A
consultora JP Morgan estima que a recuperação do mercado de entretenimento e de jogo não deverá acontecer antes do quarto trimestre deste ano, por oposição às ideias já apresentadas por alguns analistas de que a recuperação
se daria no terceiro trimestre. A análise da JP Morgan é revelada num comunicado ontem emitido e citado pelo portal informativo GGRAsia. “Estamos perante um cenário de perdas de 24 por cento nas receitas do mercado de massas em 2020, uma acentuada quebra
que varia entre 25 a 30 por cento esperados na fase do consenso pré-vírus”, escreveram os analistas DS Kim, Derek Choi e Jeremy An. Em 2019, o mercado de massas registou uma quebra de 3,4 por cento, que se traduziu num valor superior a 292 mil milhões
Restauração Koi Kei Bakery fecha duas lojas em Hong Kong O grupo Koi Kei Bakery anunciou na sua página de Facebook que vai encerrar temporariamente três lojas em Hong Kong, a partir de amanhã, devido ao surto de Covid- 19, que, segundo a empresa, não mostra sinais de abrandamento. As lojas em questão situam-se em Tsim Sha Tsui, Causeway Bay e Mong Kok, mantendo-se, contudo, aberta a loja no Aeroporto de Hong Kong. Este último estabelecimento terá apenas um ajuste no horário de funcionamento, que assim abrirá portas entre as 7h e as 20h15. “A
decisão foi baseada na abordagem à epidemia tomada pela administração de empresa em Macau, tendo em conta três factores: movimento de visitantes, logística e matéria-prima. Assim sendo, será necessário algum tempo até voltarmos à normalidade e até Macau conseguir fornecer, a curto-prazo, produtos suficientes para as lojas de Hong Kong.”, lê-se no comunicado da empresa. Importa realçar que o centro de produção da Koi Kei situa-se em Macau e emprega mais de 400 pessoas.
de patacas de quebras, mesmo antes de surgir a crise causada pelo surto do Covid-19. Na mesma nota, a JP Morgan disse que as previsões para o mercado deste ano são “conservadoras”, devido à falta de respostas relativamente ao rumo que o novo coronavírus pode tomar, o que traz grandes incertezas ao mercado. Os analistas consideram que há que olhar para factores como o levantamento das proibições de viagem para a China e a emissão de vistos para que cidadãos chineses possam voltar a viajar para Macau, factores esses que podem “normalizar” o mercado. A JP Morgan diz ainda esperar quebras de 55 por cento nas receitas do mercado de massas relativas ao primeiro trimestre, e 35 por cento no segundo trimestre. Seguir-se-á “alguma estabilidade no terceiro trimestre”, descrevem. A consultora defende que o panorama económico para as seis operadoras de jogo, este ano, é “terrível”, devido aos elevados custos para manter os trabalhadores, além de que vêm aí novos concursos públicos para as licenças. “Os lucros vão, inevitavelmente, registar uma rápida quebra tendo em conta os custos de uma estrutura tão rígida - entre 15 a 20 por cento das despesas operativas estão sujeitas a contenção de custos”, escreveram os pesquisadores.
QUEBRAS NO EBITDA
Os analistas utilizam a metáfora de “viagem turbulenta” para descrever este ano e apontam para enormes perdas também ao nível do EBITDA (lucros antes de impostos, amortizações e depreciações) pode sofrer “uma quebra entre 45 e 80 por cento” no primeiro e segundo trimestre do ano “até atingir os valores mais baixos de sempre”. O EBITDA pode voltar a níveis “okay” no terceiro trimestre, até chegar a um patamar “sólido” no quarto trimestre do ano. “As próximas duas temporadas serão muito importantes dada a virtual falta de receitas”, aponta a JP Morgan. A.S.S.
10 coronavírus
28.2.2020 sexta-feira
82446
Covi novel cor
2358
8346 Em estado crítico
Casos suspeitos
Infectados
FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia
INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 78487 1766 453 189 93 92 40 60 245 32 23 22 27 16 13 18 10 26 33 4 11 13 3 3 2 2 2 13 6 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 2 1 2
Interior da China Coreia do Sul Itália Japão Singapura Hong Kong Tailândia EUA Irão Taiwan Austrália Malásia Alemanha Vietname Emiratos Árabes Unidos França Macau Kuwait Bahrain Oman Canadá Reino Unido Índia Filipinas Rússia Croácia Áustria Espanha Iraque Afeganistão Suiça Algéria Nepal Israel Brasil Grécia Libano Cambodja Geórgia Dinamarca Noruega Macedónia do Norte Paquistão Estónia Roménia Bélgica Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia
OUTROS
705
Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov
Infectados
3 MACAU
Infectados
7
Curados
Macau
92 HONG KONG
Infectados
2
HONG KONG
1
Curado
Hong Kong
Mortos
coronavírus 11
sexta-feira 28.2.2020
id-19 ronavírus
2808
33179 Curados
Mortos
1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
82,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0
20
dias
40
dias
60
dias
Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 65596 1347 1272 1205 1017 989 934 756 631 576 529 480 400 335 311 293 294
MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 251 174 168 146 132 135 121 91 91 76 75 71 79 28 18 4 1
MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 2 1 0 0 0
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28.2.2020 sexta-feira
china 13
sexta-feira 28.2.2020
O
s u r t o do coronavírus Covid-19 está a ter um “impacto severo” nas operações das empresas europeias na China, com quedas nas receitas e falta de funcionários, segundo um estudo das Câmaras do Comércio da União Europeia e da Alemanha. “Os resultados mostram que o impacto foi severo no geral”, lê-se num comunicado. “Todos os entrevistados sofreram consequências em graus variados e foram sujeitos a restrições e regulamentações frequentemente conflituantes”, apontam os responsáveis pelo estudo. A mesma nota indica que “muitas empresas” que foram autorizadas a reabrir carecem de fornecimento, funcionários, clientes ou meios logísticos que permitam retomar as suas operações. Segundo os resultados a que a agência Lusa teve acesso, quase metade das empresas inquiridas prevê uma queda de dois dígitos nas receitas e um quarto estima uma queda superior a 20 por cento, no primeiro semestre de 2020. O relatório definiu que os principais desafios incluem “regras imprevisíveis”, medidas de quarentena “altamente restritivas” e pré-condições “extensas” para reiniciar as operações. “Metade dos entrevistados enfrenta regras inconsistentes, aplicadas em diferentes jurisdições e em diferentes níveis de governo, que podem mudar com frequência, geralmente com curto prazo de aviso”, lê-se.
EQUILÍBRIO INSTÁVEL
A China impôs restrições sob a movimentação de centenas de milhões de pessoas devido ao surto do coronavírus Covid-19. Em resultado, milhares de negócios estão há mais de um mês parados ou a funcionar a “meio-gás”,
ECONOMIA SURTO AFECTA OPERAÇÕES DE EMPRESAS EUROPEIAS
“Impacto severo”
XANGAI RASTREADOS CONTACTOS PRÓXIMOS COM PACIENTE ORIUNDO DO IRÃO
A
Stephan Woellenstein presidente da Câmara de Comércio Alemã “A China encontra-se num ponto de equilíbrio precário com duas tarefas importantes, mas divergentes: manter medidas firmes de prevenção do vírus, ao mesmo tempo que tenta recuperar a actividade económica.”
incluindo fábricas, retalhistas ou serviços. “A China encontra-se num ponto de equilíbrio precário com duas tarefas importantes, mas divergentes: manter medidas firmes de prevenção do vírus, ao mesmo tempo que tenta recuperar a actividade económica”, descreveu Stephan Woellenstein, presidente
da Câmara de Comércio Alemã no norte da China, citado no comunicado. Joerg Wuttke, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, apontou que a “rede de regras contraditórias” aplicadas no combate contra o vírus produziu “centenas de feudos”, à medida que funcionários
e comités locais adoptam medidas por si, “tornando quase impossível a movimentação de mercadorias ou pessoas no país”. “Embora a contenção do vírus seja a tarefa mais importante, medidas de padronização em jurisdições maiores devem ser priorizadas para recuperar a economia real”, apontou.
Uma longa jornada de Huang Ex-presidiária infectada rompe bloqueios em Wuhan e viaja até Pequim
U
MA mulher que saiu recentemente da prisão e que está infectada pelo coronavírus Covid-19 conseguiu viajar mais de 1.100 quilómetros desde Wuhan até Pequim, infringindo as medidas de quarentena, informou ontem a imprensa local. Segundo o jornal estatal Global Times, a mulher, de sobrenome Huang e natural de Pequim, regressou à capital chinesa num carro conduzido por familiares no mesmo dia em que saiu da prisão, em Wuhan, cidade onde se propagou o novo coronavírus. A mulher, que desde 18 de Fevereiro tinha febre e dores de
garganta, e acabou ser diagnosticada em Pequim, ficou desde sábado até segunda-feira num bairro no sul da capital, o Xinyijiayuan. “Fomos hoje notificados pelo condomínio sobre este caso de infecção, mas já tinha lido nos jornais”, revelou à agência Lusa um dos moradores. O comunicado enviado aos moradores detalha o prédio e unidade onde a mulher ficou. “Limparam tudo com desinfectante, ninguém sai de casa”, contou à Lusa o mesmo morador, um estrangeiro radicado em Pequim há dez anos. A empresa onde a sua mulher se encontra empregada ordenou,
entretanto, que trabalhasse a partir de casa, como forma de prevenção. O caso, que está a ser investigado pelas autoridades locais, suscitou críticas nas redes sociais chinesas e até na imprensa local sobre a gestão da crise em Hubei, província da qual Wuhan é capital.
CONTROLO RESTRITO
Várias cidades de Hubei, que acumula 84 por cento dos casos e 96 por cento das mortes a nível nacional, foram colocadas sob quarentena em 23 de Janeiro passado, com entradas e saída bloqueadas. “O Governo central reiterou repetidamente que os controlos
S autoridades de saúde de Xangai, leste da China, estão a rastrear todas as pessoas que tiveram contacto com um caso de infecção pelo coronavírus Covid-19 no Irão, revelou ontem o semanário económico Caixin. Segundo a publicação, o Centro para o Controlo e Prevenção de Epidemias de Xangai descobriu que o paciente em causa contraiu o vírus no Irão, antes de viajar para a cidade e, posteriormente, embarcou numa viagem de comboio com destino à região autónoma de Ningxia, no noroeste da China, a cerca de 2.000 quilómetros de distância, e onde testou positivo para a doença. O Centro está agora a acompanhar todas as pessoas que tiveram contacto próximo com o paciente para impedir que o vírus se alastre na cidade “capital” financeira da China, e onde vivem cerca de 24 milhões de pessoas e foram já reportados 337 casos e três mortos. Segundo os dados actualizados pela Comissão Nacional de Saúde da China, até à meia-noite de ontem, a China somava um total de 2.747 mortos e 78.631 casos confirmados. No Irão, há 245 pessoas infectadas, entre as quais 26 morreram, segundo o último balanço feito ministério da Saúde daquele país.
em Wuhan devem permanecer muito rígidos para vencer esta batalha”, observou o Global Times. O jornal considerou que, caso esses esforços não sejam mantidos, “todo o trabalho feito até agora pode ser em vão e causar um ressurgimento do vírus”. A prisão em Wuhan onde Huang cumpriu pena identificou já 230 casos. Na segunda-feira, as autoridades de Wuhan disseram que iam permitir a saída de não residentes da cidade, desde que não acusassem sintomas, mas acabaram por revogar a decisão no mesmo dia. O novo secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) em Hubei, Ying Yong, enfatizou na terça-feira que “as saídas de Wuhan permanecem sob controlo restrito”.
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Crónico Oriente Duarte Drumond Braga
D
IZEM que foi o primeiro funcionário público português a pedir transferência para um território onde ninguém queria viver. Mas Alberto Osório de Castro vivia há já largos anos em Timor, para onde se havia trasladado de Moçâmedes. Era primo direito e amigo de Camilo Pessanha e, tal como este, juiz e poeta, além de arqueólogo e botânico amador. No verão de 1912, Osório de Castro passou por Macau e assistiu ao ritual matinal do despertar do poeta, como deixou escrito na página de memórias «Camilo Pessanha em Macau», publicada em 1942 na revista Atlântico. Aí descreve uma visita ao confrade na sua tebaida, isto é, a casa de Camilo à Praia Grande, onde hoje se acha um insípido hotel chinês, mais ou menos frente à chuchumeca da Solmar. Fechado no seu quarto, Camilo demorava a despertar, numa descrição do opiómano que se tornou famosa: “Diante da janela toda aberta, um Buda doirado de bronze, cujo rosto extático vagamente sorria, numa expressão de transcendente serenidade. Dois pivetes ardiam devagar ante a luz, em homenagem da terra e das almas, como depois me disse Camilo, ao Desconhecido. […] O Camilo fumava a longos haustos caladamente, e reanimava-se pouco a pouco como se o tocara vara de condão”. Por conta da legenda, é fácil prestar atenção ao ópio, e ficar por aí. Mas mais do que o causador de tantos dissabores para China, parecem-me bem mais interessantes as referências religiosas: a São Paulo e sobretudo ao curioso Buda doirado, a modos que a evidência de uma suposta adesão ao budismo. Na verdade, é uma «citação» indireta e até jocosa de Arthur Schopenhauer, que também era proprietário de uma estátua doirada de Buda, e que, de modo a alimentar o seu pensamento pessimista, fez amplo uso da
28.2.2020 sexta-feira
O medo vai ter tudo
O Buda Dourado de Camilo Pessanha Por um lado, Camilo Pessanha sabia que o buda schopenhauriano ou o budismo quietista-niilista eram distorções europeias de realidades asiáticas; por outro, sabia também que o seu olhar seria sempre o de um europeu descrente, de algum modo e por isso mesmo, sempre condenado às distorções
versão distorcida e europeizada do Budismo que circulava à época. Junto com os pivetes ardendo em homenagem «ao [Deus] Desconhecido», são apropriações distanciadas, irónicas (tristes até, na sua descrença desolada), de elementos chineses e budistas, junto com o Deus Desconhecido, de que Paulo se fizera emissário em Atenas (Atos dos Apóstolos, 17.23). Houve quem, iludido por estes sinais inequívocos de descrença, quisesse ver em Pessanha um budista. Não entendendo a ironia, ignorando a China e ainda mais o Budismo, enredaram-se no folclore. E há mais deste budismo irónico em Camilo. Veja-se uma carta enviada a um amigo, de 1896, escrita de Mirandela após breve regresso a Portugal: “Continuo fatigadíssimo desta série de deslocações em que ando há dois meses — e que só virá a terminar daqui por cinco ou seis, outra vez no mesmo cabo do mundo. Um horror para quem está acostumado a dois anos e meio de quietação búdica.” Ironia, mais uma vez, e por vezes dolorosa, como nestoutra, de março de 1912: “Não sei se eu disse alguma vez ao Carlos Amaro que há no inferno chinês um terraço, — a torre da Amargura, — onde o condenado é levado ao cabo de cada ciclo de tormentos e de onde vê tudo o que se está passando no mundo distante e pode interessar-lhe o coração”. Para quem muito entendia da China e dos seus mundos, quer a quietação búdica quer a Torre da Amargura, às quais junto o Buda doirado, são pequenos e amargos jogos, não tanto com a China em sim, mas com uma certa visão dela. Por um lado, Camilo Pessanha sabia que o buda schopenhauriano ou o budismo quietista-niilista eram distorções europeias de realidades asiáticas; por outro, sabia também que o seu olhar seria sempre o de um europeu descrente, de algum modo e por isso mesmo, sempre condenado às distorções.
sexta-feira 28.2.2020
entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO
Duas histórias de família e uma frase 1. O ABUTRE Um abutre é colocado num frasco, com buracos para respirar, frasco grande, da altura do animal, que é colocado na despensa, ao lado de outros frascos mais pequenos que contêm arroz, massa, sal, açúcar, etc. A criança alimenta o animal como se alimenta um pássaro pequeno. Aquele frasco tem todos os dispositivos de uma gaiola. O abutre foi encontrado ainda pequeno, cresceu dentro daquela gaiola em forma de frasco, gaiola transparente de vidro. Os pais da criança sabem que o abutre, mesmo crescendo numa casa humana, não esquece os seus instintos nem aprende boas maneiras, mas a criança ainda não estudou biologia e está na idade em que não escuta os pais. Um domingo, aproveitando a saída dos pais, a criança vai à despensa e traz com esforço o frasco para o quarto deles. A criança nem sabe que os abutres voam. Ou talvez saiba muitos outros pormenores de que nem fazemos a mínima ideia. O certo é que a criança fez o seguinte: abriu o frasco e fechou a porta deixando o abutre no quarto dos pais. Por ela, não mais abriria a porta. Quando os pais voltassem na semana seguinte, ou talvez no mês seguinte – quem sabe ao certo quanto tempo os pais demoram a regressar – quando eles voltassem e abrissem a porta do quarto iriam ter uma surpresa – e a criança não sabia ao certo se a surpresa seria boa ou má para os pais; mas de qualquer maneira quando pensava nisso, quase de forma inconsciente, sorria.
2. A TARÂNTULA As fêmeas das tarântulas mediterrâneas (Lycosa Tarantula) que devoram os machos depois de terem sexo com eles, geram maior número de descendentes e, cada um deles, com mais aptidão para sobreviver. As fêmeas das Lycosa Tarantula que não devorarem o macho terão filhos mais fracos.
3. AGUSTINA “O casal é um organismo de uma simplicidade impressionante.” fim
ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES
16
h
tonalidades António de Castro Caeiro
E
28.2.2020 sexta-feira
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Abóbada tubular
XISTIR num corpo não é estar dentro de uma anatomia. Somos estendidos num túnel, num tubo temporal. Há uma enorme dificuldade em comunicar a experiência do estender temporal que põe o corpo a ser tubular. Olho pela janela e encontro o mesmo céu de há 30 anos. Há uma ligação imediata entre o céu de agora e o céu de há trinta anos. Os trinta anos são um abcesso que não aparece. O mesmo se passou com o dicionário que vejo sobre a minha secretária. vi-o numa Livraria em Freiburg e depois em casa. O transporte do livro trouxe-o e ao mesmo tempo deslocou-o. Como penso a desmaterialização? Penso sempre que nunca há desmaterialização, que o que há é a matéria e contudo a maior parte do tempo as pessoas não existem, antes de terem nascido e depois de terem morrido, as coisas não têm realidade antes de terem realidade e depois de se terem desintegrado. O meu corpo desrrealiza-se, desmaterializa-se. Entre continuamente num túnel, num tubo que mantem a sua realidade metafísica e lhe permite telecinética e telepatia e o transporte de um sítio para o outro mas
está continuamente a deixar de estar no sítio em que está e se está no mesmo sítio está continuamente a deixar de ser no tempo em que era para ser no tempo em
O nosso percurso no túnel existencial, no globo universal na sua deslocação temporal tubular é uma nave, uma nau como os antigos bem viram como quando olhamos o céu e vemos as nuvens passar e pensamos que estão paradas e somos nós que nos deslocamos
que é agora e no sítio em que existe agora ou onde for. O corpo que chega de uma viagem é um corpo diferente do corpo que inicia a viagem, desmaterializou-se, desrealizou-se, passou para um domínio do onírico e não apenas por está mais cansado ou diferente, mas porque não é recuperado, não está no mesmo sítio, nas mesmas coordenadas do GPS, na mesma situação existencial, o carro em que se encontra é irrecuperável e se compararmos com a memória nítida que temos dos momentos iniciais da partida, sabemos que são momentos irrepetíveis, não podemos entrar nesse carro, esse carro é o mesmo carro, mas já não podemos entrar nele, já não existe, já se desmaterializou, agora é o carro que acabamos de arrumar, de onde saímos, fechamos e trancamos a porta, está continuamente a ser trancado e podemos acelerar o processo de blindagem ao percebermos que a cada instante a secção circular ou global de cada tubo temporal fica irreversivelmente inacessível ao portal da realidade, do tempo da realidade, ao tempo e ao espaço da realidade. Fica acessível ao portal virtual do tempo e do espaço da realidade virtual, onde podemos navegar e ir com o nosso corpo ou os nossos corpos de que nos armamos e com que forramos as nossas existências reais com que nos transmutamos e metamorfoseamos, sem dúvida, mas só para perceber que há uma diferença entre transpor esse portal e não o transpor. Mas percebemos que há continuamente barreiras que estão a ser erigidas ou portas temporais, cascatas temporais, que não permitem aceder às galerias abobadais que estavam presentes justamente há pouco, mesmo agora, no lugar exacto onde estávamos, quase no mesmo preciso instante do mesmo agora. O ser é o ir, o ir é o deixar de ser que desmaterializa e continuamente concretiza ou materializa mas existe no arco tenso de que não nos apercebemos. Somos o portal onde se abre e fecha, onde se dá a materialização e a desmaterialização do ser ainda a devir. O nosso percurso no túnel existencial, no globo universal na sua deslocação temporal tubular é uma nave, uma nau como os antigos bem viram como quando olhamos o céu e vemos as nuvens passar e pensamos que estão paradas e somos nós que nos deslocamos ou então que estamos parados algures na Terra, e que é ela no seu todo que se desloca errando vagabunda pelo vasto cosmos. Somos portadores da totalidade complexa da cápsula em que estamos submersos, o espaço estrutural que está continuamente a fazer-se e a desfazer-se, a refazer-se o projecto é o lance que de antemão está a antecipar no seu todo o sentido do momento seguinte.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 17
sexta-feira 28.2.2020
OFício dos ossos
Valério Romão
A
fotografia enquanto objecto mudou irremediavelmente desde a aparição dos telemóveis com câmara. Deixou de ter custos. Deixou de ser uma actividade que exige equipamento ou disposição específicos. Transformou-se num acto trivial radicado num dispositivo cada vez mais presente. Toda a gente tem um telemóvel com câmara, toda a gente tira selfies, toda a gente regista – com mais ou menos frequência – os seus dias. Existem até pessoas cuja profissão é documentar fotograficamente as suas vidas, numa espécie de matrioska auto-referencial em que se perde o norte magnético do que é real e do que é encenado, ficando o sujeito do registo inadvertidamente reduzido a actor de si mesmo na maior parte do tempo. Daqui a uns anos, quando o foco da atenção recair noutro epifenómeno mediático qualquer e as criaturas influenciadoras deixarem de ter palco suficiente para acomodar os seus egos, teremos pelo menos como consequência catita a ampliação do manual de diagnóstico de doenças psiquiátricas. A consequência deste fenómeno de sublimação do objecto fotográfico é a de
Uma fotografia já ninguém ou praticamente ninguém tirar fotografias analógicas (exceptuando porventura alguns fotógrafos apostados em provar que o filme não esgotou as suas potencialidades e hipsters de toda a sorte dispostos a fazer tudo pela medalha do vintage). Além disso, e embora não faltem impressoras fotográficas, muito pouca gente imprime as fotos que tirou com o telemóvel, pelo que a arte de aborrecer pessoas ao jantar com as fotos ou os diapositivos de férias se perdeu definitivamente algures a meio da segunda década deste século. Há uns dias descobri em arrumações umas fotos antigas do meu filho,
de quando ele devia ter uns três ou quatro anos de idade. Para mim, que tenho uma memória de peixinho de aquário, encontrar fortuitamente uma fotografia em papel equivale a abrir uma fresta arqueológica sobre a vida. Aquela criança é o meu filho, não tenho dúvidas; mas é também outra coisa: é a evocação de um nexo de possibilidades que a vida se encarregou – bem ou mal – de afunilar. O meu filho é autista. Naquela fotografia o autismo era ainda um diagnóstico a prazo. Com intervenção precoce, suplementos de toda a espécie e dedicação monástica, tudo se resolveria a tempo de ele entrar para a escola e de
Entre o meu filho aqui e agora e aquela criança pluripotencial há um mundo de batalhas e de derrotas. Um mundo que só eu conheço na sua imensidão de percalços e de caminho às escuras, um mundo que se impõe repentinamente e que, cabendo dentro daquela fotografia, o transcende como a paisagem transcende a janela
ser apenas mais uma criança estupidamente irritante ao lado das outras. Era nisso que eu, a mãe e a maior parte dos médicos e terapeutas acreditávamos. O autismo era um percalço desafortunado que poderíamos converter numa monótona normalidade. O meu filho continua a ser autista. Tem dezasseis anos e está praticamente da minha altura. O autismo nele nota-se mais, luz mais. Quando ele tinha três anos o autismo era apenas uma nota de rodapé de uma criança que ainda podia ser tudo. Agora as pessoas vêem primeiro o autismo e só depois, a virar a esquina, o adolescente. Pelo que quando olho para aquela foto do Gui, a sorrir um sorriso que o futuro ainda não desbotara, a custo contenho as lágrimas. Entre o meu filho aqui e agora e aquela criança pluripotencial há um mundo de batalhas e de derrotas. Um mundo que só eu conheço na sua imensidão de percalços e de caminho às escuras, um mundo que se impõe repentinamente e que, cabendo dentro daquela fotografia, o transcende como a paisagem transcende a janela. Um mundo que já não existe e do qual sou portador para todo o sempre.
18 (f)utilidades TEMPO
MUITO
28.2.2020 sexta-feira
NUBLADO
UMA HISTÓRIA INTERMINÁVEL
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O governo britânico admite abandonar as negociações com a União Europeia (UE) para um acordo pós-Brexit se não houver progressos até Junho, refere um documento publicado ontem com a posição do Reino Unido. O documento estabelece a posição inicial do
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Passados 19 segundos de “Holidays in the Sun”, a primeira faixa do único disco dos Sex Pistols, toda a música feita até então se tornou irrelevante, pó, minudências históricas com demasiados floreados sem importância. Virava-se uma página cultural e os brutos tomavam conta das artes obliterando elitismo, conformismo ao mesmo tempo que cuspiam na cara da autoridade e da própria indústria que acabavam de tomar de assalto. Em menos de 39 minutos, anunciaram o futuro, ou a falta dele. No future! Passados mais de 40 anos, o disco ainda soa10 fresco, como se tivesse sido lançado hoje. “Get pissed, destroy!” João Luz
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Reino Unido para as negociações de um acordo de comércio com a UE, que começam na próxima semana, e afirma o empenho em “trabalhar de maneira rápida e determinada” até Junho, quando tem lugar uma cimeira de alto nível para avaliar os progressos.
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VIDA DE CÃO
ELOGIO MERECIDO Muitas vezes esta canina coluna serviu para apontar o dedo à incompetência e à displicência perante a forma como se gere a coisa pública em Macau. Hoje não é um desses dias. Apesar de ter acompanhado de longe, não posso deixar de felicitar a determinação da resposta do Executivo de Macau para conter, dentro do possível, o surto de uma doença desconhecida até agora. Como é natural, não vivemos num mundo perfeito e o Governo, que tomou posse há pouquíssimo tempo, tem tomado decisões difíceis sob imensa pressão. Por exemplo, os critérios usados para determinar que tipo de negócios ou serviços precisam fechar as portas, a questão da entrada e saída de pessoas do território numa das fronteiras mais complexas do mundo em termos jurídicos e políticos, ou a forma como o Governo tem lidado com os residentes que se encontram ainda na província de Hubei. Estes são alguns dos problemas de resolução mais complicada que o Executivo de Ho Iat Seng enfrenta. Mas a seriedade com que lidou com esta ameaça contrasta com a relativização perigosa que, por exemplo, os governos europeus têm demonstrado. Em oito semanas, o Covid- 19 fez quase o triplo das vítimas mortais que o SARS fez em oito meses. O número de infectados é quase 10 vezes superior. Vamos todos respirar fundo e reflectir um pouco sobre estes números. Obviamente que não é razão para pânico, circunstância que nunca ajuda. Ainda assim, a desvalorização e a comparação perigosa à simples gripe espalham-se na Europa quase ao ritmo da propagação do surto. João Luz
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opinião 19
sexta-feira 28.2.2020
um grito no deserto PAUL CHAN WAI CHI
D
ESDE o aparecimento do surto do novo coronavírus em Wuhan, continua a ser difícil conter a propagação da epidemia. Em muitos países já se registaram casos de infecção, que confirmam a possibilidade de uma epidemia a nível mundial. Para já, é difícil prever quando é que a situação pode vir a ficar sob controle, nem mesmo Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director Geral da Organização Mundial de Saúde, que se tem mostrado optimista, consegue adiantar uma data. No momento em que escrevo este artigo, estão confirmados cerca de 80.000 casos na China continental e já se registaram perto de 3.000 mortes. Os média têm transmitido vídeo-clips com cenas comoventes e inúmeras histórias trágicas. Em Macau, o Governo tem sabido tirar partido do modelo “Um País, Dois Sistemas”. Numa cidade privada de recursos naturais e de tecnologia avançada, tem sido possível encontrar um caminho para garantir
Epidemia
a saúde da população. No entanto, o surto do novo coronavírus em Wuhan, fez vir à luz do dia os pontos fracos de Macau. Com os casinos temporariamente fechados e a política de “Vistos Individuais” suspensa, o número de turistas desceu drásticamente. Os locais turísticos estão agora praticamente vazios, fazendo lembrar o panorama que se vivia há trinta anos. Quem é que disse que o desenvolvimento de Macau já não poderia voltar atrás? Uma epidemia pode reverter todo o progresso obtido nas últimas décadas. Face à adversidade, o novo Governo da RAEM tem feito tudo o que está ao seu alcance para conter a epidemia, e as medidas de controle e prevenção que foram tomadas revelaram-se mais eficazes do que as acções desenvolvidas em Hong Kong. Sem os milhares de turistas que normalmente a visitam, a cidade tem um ar fantasmagórico. Até que se declare o fim da epidemia, mesmo que os casinos retomem a sua actividade, os efeitos nefastos provocados na economia de Macau não poderão ser revertidos. Embora as verbas que o Governo está a investir possam garantir o funcionamento da cidade por mais algum tempo, como é que as pessoas vão conseguir manter o seu estilo de vida num clima de recessão económica, com a indústria do jogo seriamente afectada? Se a população de Macau passar a depender das verbas do Governo para garantir a sua subsistência, a
cidade vai perder autonomia. Mesmo que Macau consiga ultrapassar os efeitos do surto deste novo coronavírus, ficará numa posição muito mais difícil se voltar a ser atingido por outra epidemia.
Perante a aproximação de uma epidemia, para além de confiar na protecção do Governo, a população deve sobretudo reconquistar um papel primordial no desenvolvimento económico e no domínio da situação política! Muitas pessoas acreditam que a brutalidade com se espalhou este novo coronavírus em Wuhan se ficou a dever a falhas de informação e à ineficácia na implementação de medidas de contenção da infecção, o que fez com que as autoridades tivessem deixado escapar a altura certa para conter o surto e impedi-lo de se tornar epidémico. Mas os surtos no Japão e na Coreia não se deveram a falta de informação. A negligência humana e os erros institucionais podem ter efeitos mais
Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
devastadores do que os desastres naturais, e podem criar as condições para o surgimento de uma nova epidemia. Na sua obra, “A Terceira Vaga: A Democratização nos Finais do Séc. XX”, Samuel P. Huntington assinala que não se pode afirmar que venha a haver uma quarta vaga de democratização no séc. XXI. A julgar pelos acontecimentos do passado, os dois factores chave que influenciarão a expansão da democracia no futuro serão o desenvolvimento económico e a liderança política. O surto do novo coronavirus é um sério revés para a economia da China continental, quebrando as suas cadeias de produção global e fazendo disparar os alertas vermelhos da recessão. Quanto à cena política, da qual constam em termos imediatos; a próxima convenção da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o desenvolvimento político de Hong Kong e de Taiwan, a eleição do sucessor de Najib Razak, para Primeiro-Ministro da Malásia, as eleições presidenciais nos EUA e o Brexit, as falhas e os maus procedimentos cometidos por cada um destes líderes resultarão numa nova epidemia de grande magnitude. Perante a aproximação de uma epidemia, para além de confiar na protecção do Governo, a população deve sobretudo reconquistar um papel primordial no desenvolvimento económico e no domínio da situação política!
As paixões tendem sempre a diminuir, enquanto o tédio tende sempre a crescer. PALAVRA DO DIA
Jules Barbey D'Aurevilly
sexta-feira 28.2.2020
PUBLI-REPORTAGEM
Sands China Doa 500.000 Máscaras para Ajudar a RAEM a Proteger a População do Coronavírus
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ENDO em conta a actual escassez de máscaras em resposta à epidemia do novo coronavírus (COVID-19), a Sands China Ltd. tomou a iniciativa de doar 500.000 máscaras de protecção ao Governo da RAEM, como parte do compromisso da empresa de apoiar os esforços de Macau no combate à rápida propagação do vírus. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Ao Ieong U, em representação do Governo da RAEM, recebeu o primeiro lote de 300.000 máscaras no passado dia 11 de Fevereiro, no Parisian Macao.
“Enquanto empresa com profundas raízes em Macau, a Sands China considera que faz parte da sua responsabilidade social corporativa zelar permanentemente pelo bem-estar da comunidade de Macau e prestar auxílio nos momentos de necessidade,” declarou o Dr. Wilfred Wong, Presidente da Sands China Ltd. “Nestes tempos difíceis, temos sempre presente no nosso pensamento toda a comunidade de Macau. A nossa empresa tem o prazer de poder dar resposta à necessidade urgente de máscaras de protecção em Macau e de cooperar
com o Governo de Macau nos esforços de prevenção da epidemia. Acreditamos que, com vigilância e colaboração, Macau irá ultrapassar esta crise com sucesso.” Para além da lavagem frequente das mãos, os médicos e os serviços de saúde de todo o mundo sublinham a importância do uso de máscaras como medida vital e de fácil implementação na diminuição da propagação do COVID-19 e como forma de nos protegermos a nós próprios e aos outros desta infecção.
Na qualidade de maior operadora de resorts integrados de Macau e enquanto subsidiária da Las Vegas Sands Corp., a Sands China tem a possibilidade de tirar partido da sua rede de abastecimento global para ajudar Macau a adquirir máscaras durante este período de grande procura, em que os stocks são limitados. Os esforços da Sands China para ajudar a combater a propagação do novo coronavírus fazem parte do “Sands Cares”, o programa global de cidadania corporativa da empresa-mãe Las Vegas Sands Corp.