DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ PUB
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
hojemacau
LEI DE TERRAS
Como fugir à tragédia? ZENG FANZHI, MASK SERIES, 1996, N.º1 (PORMENOR)
PÁGINA 5
POLY AUCTION
“FUSÃO” NO REGENCY EVENTOS
MOP$10
TERÇA-FEIRA 28 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3782
CORPO DE KIM JONG-NAM A CAMINHO DE MACAU
Ultima morada ´
lecida a identidade de Kim Jong-nam, através de um teste de ADN, Kuala Lumpur não hesitou e, no meio de um imbróglio diplomático com Pyongyang, decidiu entregá-lo ao filho.
PÁGINA 9
NUNO ROGEIRO
Meter a colher Manucure h
OS CAMINHOS DA ACTUALIDADE
www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau
As autoridades malaias terão dado ordens para que o corpo do irmão do líder supremo norte-coreano, fosse enviado para Macau e entregue aos cuidados da família, que reside na RAEM. Estabe-
ENTREVISTA
OPINIÃO TÂNIA DOS SANTOS
PAULO JOSÉ MIRANDA
URBANISMO
FUTURO INSEGURO PÁGINA 4
LAI CHI VUN
PUB
PÁGINA 9
NEUSA AYRES
Ontem, hoje e amanhã
2 ENTREVISTA
NUNO ROGEIRO ANALISTA DE POLÍTICA INTERNACIONAL
“Macau tem evoluído num caminho delicado” Com a confusão permanente em Washington, acha que o “impeachment” de Donald Trump é uma realidade incontornável? A impugnação do Presidente só se pode fazer por vontade do Congresso e com base em delitos praticados no exercício das funções presidenciais. Ainda não vimos a conjunção desses factores, mas é verdade que havia boatos de “impeachment” ainda antes de Trump tomar posse e, portanto, ainda antes de ser “impugnável”.
“Em França, a tragédia é a de poder ter na segunda volta candidatos com problemas judiciais. Ou seja, depois da política, a criminalização.”
Escreveu um livro, “O Pacto Donald”, sobre a ascensão do fenómeno Trump. O que nos pode dizer sobre esta obra? O livro foi um pesado fardo, mas tinha de ser feito. Trata-se de averiguar se o famoso “Novo Contrato com a América”, um programa de dezenas de pontos, anunciado por Donald Trump enquanto candidato, em Gettysburg, é mesmo um pacto de mudança, ou uma simples fraude. O livro começou a ser pensado em Janeiro de 2016, quando se desenhou a importância política de Trump no sistema americano, ganhasse ou perdesse as primárias e as nacionais. Foi, portanto, um trabalho intenso que se tornou ainda maior a partir de Setembro-Outubro de 2016 e, sobretudo, durante os meses de Dezembro e Janeiro. Em quase 500 páginas, o livro trata de muitos temas: o processo eleitoral de 2016, seus incidentes e consequências, o papel das sondagens, dos media e das minorias (com uma história pouco conhecida sobre a escravatura nos EUA, que surpreenderá muitos). Explica o federalismo eleitoral e as razões da sua não substituição por um sistema de sufrágio unitário nacional, a história do populismo,
da demagogia e dos insultos nas campanhas, desde o século XVIII, a possibilidade de resistência ao trumpismo, possíveis líderes dessa revolta e formas da mesma, uma reflexão histórica sobre o papel da violência política na história dos Estados Unidos. Também faço uma análise das razões das perdas e ganhos de Clinton e Trump, contada através de dezenas de testemunhos dos seus planeadores e estrategos, uma análise sobre as promessas de Trump e uma parte, de cerca de 120 páginas, só sobre a nova equipa governativa e os
“O populismo é sinónimo de disfunção na representação política. Daí que todos os avanços populistas obriguem os representantes políticos tradicionais a mudar de vida e de discurso.”
SÁBADO
Com um novo livro nas bancas, “O Pacto Donald”, sobre a ascensão do fenómeno Trump, Nuno Rogeiro regressa às publicações. Uma presença assídua na emissão da SIC há anos, assim como em colunas de muitos jornais, tem sido uma voz incontornável em matérias de política internacional. Deu uma volta ao mundo com o HM, sobre algumas das crises que têm marcado a actualidade
Passando agora para a Europa. As sondagens dizem que Le Pen não ganha na segunda volta, apesar de ter boas hipóteses de vencer a primeira. Como perspectiva este embate eleitoral? Em França, a tragédia é a de poder ter na segunda volta candidatos com problemas judiciais. Ou seja, depois da política, a criminalização. Acho quase impossível Le Pen não passar à segunda volta, e quase impossível que ganhe a segunda volta. Macron ou Fillon serão, em circunstâncias normais, os vencedores finais. Mas França ainda não vive circunstâncias normais.
seus planos de política externa, de segurança e defesa. Quais as suas principais preocupações quanto ao efeito Trump no plano geopolítico mundial? A preocupação de uma guerra comercial sem limites, com países como a China ou o México, o que parece algo afastado com as nomeações no Departamento de Estado, e a preocupação do afastamento ou desinteresse dos assuntos europeus e da NATO, o que parece também afastado, depois das declarações solenes do vice-Presidente Pence e do Secretário da Defesa James Mattis, na Conferência de Segurança de Munique. Mas há outras preocupações desligadas do “efeito Trump” e que se prendem com a gestão de crises herdadas: a Síria, as relações entre a Rússia e a Ucrânia e, sobretudo, o papel da Coreia do Norte na (in)segurança asiática. Como vê o futuro da Aliança Atlântica com os Estados Unidos a assumirem uma postura isolacionista? Como disse antes, o isolacionismo americano face à NATO, apesar de temido, tem sido desmentido em palavras e actos. Palavras, pelo que já disse, actos pelo envio, desde Janeiro, de muitos contingentes americanos para as repúblicas bálticas e Polónia, em exercícios militares mesmo em frente do território da federação russa. Por outro lado, Washington quer que os europeus contribuam mais para a NATO, e isto está a provocar dois fenómenos: o aumento dos orçamentos defesa, da Alemanha à Polónia, mas também o aumento de planos europeus para a construção de uma defesa autónoma, com meios estratégicos que até agora faltavam.
“A China quer ter um poder militar que corresponda, ao menos em parte, às suas capacidades e responsabilidades globais. Mas não vejo que esse poder militar possa, num futuro próximo, ter verdadeiramente uma capacidade global.” Qual o perigo do crescimento da Frente Nacional para a coesão da UE? A FN é um dos rostos do populismo e o populismo é sinónimo de disfunção na representação política. Daí que todos os avanços populistas obriguem os representantes políticos “tradicionais” a mudar de vida e de discurso. Na Holanda, por exemplo, o primeiro-ministro Mark Rutte compreendeu o problema, e tomou, face ao desejo turco de campanha ministerial pelo referendo, uma posição “populista”. Aliás, Rutte disse, na noite eleitoral, que com o senhor Wilders tinha sido derrotado o “mau populismo”. O que quer dizer que há um “bom”.
3
Com vários movimentos populistas anti-integração europeia a ganhar protagonismo, e face à inacção institucional de Bruxelas, como perspectiva o futuro da União Europeia? Teme mais algum “exit”? A União Europeia é uma construção permanente, uma promessa permanente e uma crise permanente. Por enquanto, consegue dar aos seus cidadãos paz, prosperidade e desenvolvimento. A questão é a de saber o que acontecerá, quando deixar de dar tudo isto. Nesse sentido, o problema da imigração é apenas mais um teste. Que não poder ser minimizado, mas que não é o único problema. No plano chinês, todos os sinais indicam consolidação de poder e afastamento de possíveis vozes contrárias a Xi Jinping. Acha que o secretário-geral do Partido Comunista Chinês se manterá no poder? Não se vê alternativa em Pequim a não ser a via institucional. Mas poderão crescer, dentro dessa via central, interpretações diferentes. Como perspectiva a continuidade de uma veia militarista, que se tem fortalecido, em Pequim? A China quer ter um poder militar que corresponda, ao menos em parte, às suas capacidades e responsabilidades globais. Mas não vejo que esse poder militar possa, num futuro próximo, ter verdadeiramente uma capacidade global. E, na sua esfera imediata, cresce ao mesmo tempo que se desenvolve um rearmamento defensivo do Japão. O que acha que pode sair do futuro encontro entre Xi Jinping e Donald Trump que, provavelmente, acontecerá à margem da próxima cimeira do G20? Prevejo a promessa de um novo diálogo, em bases mais realistas, em que o problema de Taiwan, que parecia enorme, fica minimizado. Como vê o progressivo afastamento da Turquia em relação à União Europeia e ao Ocidente em geral? Com extrema preocupação. A Turquia é o cartão-de-visita da Europa no Médio Oriente, e a porta que filtra todos os movimentos de estabilização e desestabilização dessa área. Há uma Turquia que vive fora da UE e outra que vive dentro, com largas massas de migrantes, geralmente bem integrados (na Alemanha, no Benelux, na França e Polónia, etc.). Portanto, a UE tem de desejar que a Turquia deixe de ser o “doente da Europa”, como se dizia na expressão novecentista, e passe a ser outra vez um parceiro
saudável. Mas a Turquia tem de fazer por isso. Entretanto, a Coreia do Norte aprofunda o isolacionismo internacional. A morte do meio-irmão do líder norte-coreano preocupa-me, porque mostra a facilidade de trânsito internacional de matérias perigosas, preparadas em laboratórios militares, e destinadas a ataques cirúrgicos. Se o rasto do crime for até Pyongyang, e se ficar confirmado que se trata de uma tentativa norte-coreana de punir um alegado circuito de ajuda a dissidentes (o Grupo de Defesa Civil de Cheollima), entramos numa nova era de instabilidade regional, onde a China terá o grande ónus de intervenção correctiva. Exercê-lo-á? E no plano da leitura, o que tem lido? Estou a reler o “Silêncio”, do clássico Endo, e outras obras do mesmo sobre cristãos clandestinos. A história da adaptação de “Silêncio” ao ecrã, pelo Martin Scorsese, começa, claro, em Macau. O que conhece da realidade política de Macau? Como vou com alguma frequência a Macau, conheço o panorama político e a sua evolução desde o fim da administração portuguesa. Acho que a RAEM tem conseguido evoluir num caminho delicado entre autonomia política, económica e de organização social, manutenção de alguns laços com o mundo lusófono (a sede do Fórum CPLP-China em Macau não é um acaso, é um projecto estratégico relevantíssimo) e reconhecimento das evidências históricas e geográficas de relação com a China. Podia desejar-se mais dinamismo dos media, da sociedade civil e da classe política, por comparação com Hong Kong, mas é uma situação peculiar, diferente, que tem a sua própria lógica. Por outro lado, sempre que vou a Macau não cesso de me fascinar com o produto de contactos seculares entre dois mundos tão diferentes como o português e o chinês que, mesmo assim, conseguiram conviver sem se destruírem, apesar dos momentos de incompreensão, tensão e conflito aberto. Teve aqui grande importância a vontade, o talento e o bom senso de um punhado de portugueses e chineses que souberam conduzir de forma saudável um processo que, noutros cantos do mundo, teria redundado em desastre. João Luz
info@hojemacau.com.mo
NEUSA AYRES
hoje macau terça-feira 28.3.2017 www.hojemacau.com.mo
4 POLÍTICA
hoje macau terça-feira 28.3.2017
Urbanismo SEGURO PROFISSIONAL COMEÇA A SER DEFINIDO EM 2019
Dois anos de vazio
Ng Kuok Cheong pede reforço no combate à violência doméstica
O Governo aponta 2019 como a data em que começa a ser preparada a legislação que vai definir o seguro para profissionais ligados ao sector do urbanismo. Muitos arquitectos, engenheiros ou urbanistas terão de renovar as suas licenças sem ter um seguro profissional, apesar de ser obrigatório por lei
E
STÁ resolvido o mistério. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) afirma que só em 2019 é que começam a ser definidas as directrizes para o estabelecimento de um seguro profissional para o sector da construção civil. Em resposta a uma interpelação escrita da deputada Kwan Tsui Hang, Liu Dexue, responsável máximo da DSAJ, avança que, “como o regulamento administrativo nesta área envolve a área dos seguros, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) precisa de discutir o assunto com o sector e com vários departamentos”. “O regulamento administrativo só vai entrar em processo legislativo em 2019”, lê-se. A obrigatoriedade de engenheiros, arquitectos ou urbanistas de serem portadores de um seguro profissional consta no regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo, que entrou em vigor em 2015. Desde essa data que a legislação sobre seguros está por concretizar, sendo que o seguro é uma das componentes necessárias para a renovação das licenças profissionais. Numa interpelação escrita entregue ao Executivo em Fevereiro, Kwan Tsui Hang questionava a ausência desta legislação. “O regime das qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo entrou em vigor em 2015 mas, até agora, ainda não foi publicado o seu respectivo regulamento administrativo complementar que regula a matéria do seguro, e já passou mais de um ano.”
O arquitecto Rui Leão chegou mesmo a chamar a atenção para as consequências negativas desta lacuna. “Cria vários problemas ao nível da responsabilidade e acautelamento dos profissionais”, alem de colocar “o Governo numa situação de grande fragilidade, através
“Como o regulamento administrativo nesta área envolve a área dos seguros, a DSSOPT precisa de discutir o assunto com o sector e com vários departamentos.” LIU DEXUE DIRECTOR DOS DSAJ
das obras públicas, mas também os donos das obras privadas”.
AO MESMO TEMPO
Na resposta à deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Liu Dexue garante que a DSAJ vai levar a cabo uma melhor coordenação dos regulamentos administrativos, para que entrem em vigor na mesma altura das leis correspondentes. “Será implementado um calendário para os diplomas complementares, para executar os trabalhos legislativos conforme o plano. A DSAJ vai seguir o ponto de situação das propostas de acordo com os calendários já definidos, por forma a preparar a entrada em vigor dos regulamentos de forma atempada”, apontou. O responsável pela DSAJ acrescentou ainda que está a ser elaborado um plano de curto e médio
Dinheiro para onde é preciso
prazo “com vista a definir as directrizes dos trabalhos legislativos entre 2017 e 2019”. Neste plano entram não apenas as propostas de lei, mas também os regulamentos administrativos complementares. Na visão de Liu Dexue, no caso do regime do ensino superior e do regime de previdência central não obrigatório a “entrada em vigor atempada” da legislação complementar será uma realidade. O dirigente máximo da DSAJ adianta ainda que os departamentos públicos já reuniram para debater as razões por detrás destes atrasos. “Os funcionários [dos departamentos] confirmaram que, durante o planeamento da proposta de lei, devem ser definidos o mais cedo possível os diplomas complementares, para que possam entrar em vigor ao mesmo tempo”, rematou. Andreia Sofia Silva e Vítor Ng info@hojemacau.com.mo
Q
UER saber quando é que a lei vai ser revista, para colmatar as lacunas entretanto detectadas. A lei de combate à violência doméstica entrou em vigor no ano passado, mas para Ng Kuok Cheong o assunto deve voltar à ordem do dia. O deputado entende ainda que é preciso um maior investimento em equipamentos que permitam o apoio às vítimas, ideia defendida numa interpelação escrita ao Executivo. Em primeiro lugar, o deputado relata na missiva que, no contacto com cidadãos, ficou com a ideia de que mulheres e crianças buscam ajuda em casos de violência doméstica mais activamente do que no passado. Além de uma maior abertura social para o problema, foram também apoiados centros de abrigo que acolhem mulheres, e os respectivos filhos, em situação de risco de violência. O internamento dura três meses. A duração é algo que preocupa Ng Kuok Cheong, dando eco aos receios de mulheres que temem regressar a casa depois de terminado o período de acolhimento nos centros. A falta de espaço é outro aspecto que o deputado
foca na interpelação, sublinhando a incapacidade dos serviços em dar resposta às necessidades da sociedade. Portanto, o tribuno pede maior robustez de recursos dos serviços públicos para acolher mais vítimas de violência doméstica. Nesse sentido, Ng Kuok Cheong pede urgência ao Executivo para aumentar a eficácia no tratamento deste assunto, nomeadamente, com o alargamento do poder de resposta dos dormitórios temporários. O pró-democrata alerta ainda que o Governo não deve ignorar as situações de risco de outros grupos sociais, tais como idosos, deficientes e outros grupos vulneráveis. Na interpelação escrita, o deputado não deixou de fora os homens que são vítimas de violência doméstica, interrogando o Executivo no sentido de saber o que será feito em relação a estes casos. Outra das preocupações de Ng Kuok Cheong prende-se com medidas que o Executivo deveria tomar na prevenção, protecção e recuperação de vítimas, assim como na sanção a aplicar a quem pratica estes crimes. Vítor Ng e João Luz
info@hojemacau.com.mo
ELEIÇÕES SONG NÃO ABRE O JOGO
A
deputada Song Pek Kei diz que não sabe ainda se se vai recandidatar à Assembleia Legislativa. Em declarações ao HM, a deputada afirma que, mais importante do que pensar em concorrer às eleições, é terminar os trabalhos a que se propôs. “Ainda há muito a fazer antes de pensar na possibilidade de uma candidatura”, refere. A n.º 3 da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (ACUM), liderada por Chan Meng Kam, sublinhou que a prioridade do momento é conseguir que o projecto de Lei da Alteração do Regime Jurídico do Arrendamento previsto no Código Civil seja aprovado ainda nesta sessão legislativa. Sem adiantar pormenores, a deputada diz acreditar que
a associação que integra já tenha “alguma ideia quanto ao que vai fazer no próximo processo eleitoral, mas ainda não é a altura certa para divulgar intenções, porque há muito que tem de ser feito”. Para já, explica, a primeira experiência enquanto deputada tem ocupado grande parte do seu tempo. “Foi tudo novidade pelo que demorei muito tempo a conseguir adaptar-me ao cargo”, confessa. Song Pek Kei é advogada e foi eleita em 2013 a seguir a Chen Meng Kam e Si Kan Lon, numa vitória da ACUM considerada histórica. A ACUM teve mais oito mil votos do que União Guangdong-Macau liderada por Mak Soi Kun, a segunda classificada do sufrágio directo. V.N./ S.M.M
5 hoje macau terça-feira 28.3.2017
O
Governo vai à Assembleia Legislativa na próxima quinta-feira para responder a interpelações orais de 16 deputados, incluindo duas sobre a controvérsia relativa à Lei de Terras, cuja aplicação entendem gerar “conflitos sociais”. A próxima reunião destinada à resposta a interpelações é desencadeada por 16 deputados, incluindo 13 de um universo de 14 eleitos por sufrágio universal, isto quando faltam menos de seis meses para as eleições para a Assembleia Legislativa (AL), marcadas para 17 de Setembro. Apenas o empresário Chan Meng Kam – campeão dos votos nas eleições de 2013, quando conquistou três assentos – não assina uma interpelação oral da próxima ronda cujos temas visam principalmente a tutela dos Transportes e Obras Públicas. A controvérsia em torno da Lei de Terras figura como denominador comum de duas interpelações, da autoria de Mak Soi Kun e Zheng Anting. Mak Soi Kun vai chamar a atenção para os “conflitos sociais” decorrentes da aplicação da lei, que entrou em vigor há três anos, mas que começou a ser contestada desde que o Governo decidiu avançar em força com a reversão de terrenos por não terem sido aproveitados dentro do prazo. A maioria destes casos está a ser contestado judicialmente, com muitos concessionários a alegarem que o Executivo teve culpa no processo.
Lei de Terras MAK SOI KUN E ZHENG ANTING QUEREM EXPLICAÇÕES
Há algum remédio? GCS
Dois deputados querem saber se o Executivo pretende emendar a mão para evitar “mais tragédias” causadas pela legislação que permitiu declarar a caducidade de vários terrenos. A Administração volta a dar explicações sobre o assunto na quinta-feira
O deputado refere que, por diversas vezes, alertou para “a necessidade” de se adoptarem medidas para “prevenir o caos social”, mas que “o Governo não só não avançou com nenhuma medida, como nem sequer ligou à situação de caos”. Cita o caso do terreno destinado ao empreendimento Pearl Horizon que o Executivo decidiu recuperar em 2015 por o projecto residencial não ter sido edificado dentro do prazo. Esse processo – que aguarda um desfecho em tribunal – figura como um dos mais polémicos, tendo desencadeado uma série de queixas, petições e protestos
por parte dos proprietários que adquiriram fracções em planta. Os lesados pedem ao Governo para intervir de forma a recuperarem o investimento feito em apelos que têm tido frequentemente eco no hemiciclo, como volta a suceder agora. “Será que o Governo só vai tratar da situação quando surgirem mais famílias em desgraça?”, questionou Mak Soi Kun, elencando, com base na imprensa, casos de doença, e até de morte, de proprietários do Pearl Horizon. “Agora, os cidadãos centram a sua atenção em como resolver, pela raiz, o caos decorrente da aplicação
Mak Soi Kun elenca casos de doença, e até de morte, de proprietários do Pearl Horizon da nova Lei de Terras, que perturba fortemente a tranquilidade social, afectando a vida da população”, referiu o deputado, antecipando “mais tragédias” caso não seja possível encontrar soluções para os problemas sociais.
PLENÁRIO PARA TODOS OS GOSTOS
A
sessão plenária de quinta-feira na Assembleia Legislativa vai ter também na agenda o ensino não superior. Angela Leong solicita mais fiscalização junto das instituições privadas de modo a existir clareza na aplicação dos fundos do Governo. Ng Kuok Cheong continua a batalha contra os motoristas im-
portados. Em causa estão, para o deputado, os profissionais dos shuttle buses que, afirma “roubam os lugares a locais”. Si Ka Lon quer saber o que o Governo está a fazer, em concreto, no que respeita ao apoio a idosos, nomeadamente se tem em conta a necessidade de habitação pública que acolha agregados familiares capazes de cuidar dos elementos mais velhos. Wong Kit Cheng escolheu a amamentação como tema e questiona o Executivo acerca da formação de profissionais que acompanhem as mães no processo. Já Leong Veng Chai confronta os governantes com os casos das chefias que estão, diz, “a obrigar os funcionários a trabalharem fora do horário de serviço”. O salário mínimo e a sua generalização é o tema de Ella Lei. Melinda Chan recorda os casos de gripe das aves para saber em
que ponto estão os trabalhos de proibição de venda de aves vivas. Veículos e taxas administrativas são as questões que José Pereira Coutinho suscita. Também Lam Heong Sang está preocupado com os carros no território, mas sob uma perspectiva ambiental. Chan Hong quer saber qual é o planeamento da circulação com a abertura da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, dado que as previsões apontam para um acréscimo substancial de veículos em Macau. Song Pek Kei não esquece Lai Chi Vun e pretende obter detalhes sobre as medidas que o Governo tem para a protecção daquela zona de Coloane; Kwan Tsui Hang, também preocupada com o património, pretende ver respondidas questões relacionadas com os incentivos à conservação dos edifícios.
Neste sentido, defendeu que “o Governo deve definir melhores, mais substanciais e eficazes formas e medidas para resolver o fenómeno caótico decorrente da aplicação da nova Lei de Terras, em vez da actual forma de tratamento adoptada”, que tem sido aguardar pela respectiva decisão judicial para actuar.
BOMBAS ESCONDIDAS
Zheng Anting, igualmente eleito por sufrágio universal, também começa por consPUB
POLÍTICA tatar que, “até ao momento, ainda não há soluções para os vários problemas” decorrentes da Lei de Terras, advertindo até que nela se “escondem ainda mais bombas”. “O Governo frisou, em várias ocasiões, que só era possível ‘governar de acordo com a lei’ e ‘retomar os terrenos de acordo com a lei’, mas fazendo uma retrospectiva (…) verifica-se que não deu tempo suficiente aos concessionários para desenvolverem muitos terrenos ainda dentro do prazo [e] alguns não foram aproveitados a tempo por causa do Governo”, argumentou o deputado, invocando casos concretos. Neste âmbito, Zheng Anting pretende saber de que medidas dispõe o Executivo para “remediar” os casos em que foi por sua culpa que o aproveitamento dos terrenos não foi concluído dentro do prazo. “A aplicação da Lei de Terras por parte do Governo causou já muitos conflitos sociais, e não são poucos os deputados que duvidam disto”, afirmou. O deputado lembrou que o presidente da AL, Ho Iat Seng, decidiu ouvir as gravações das reuniões em sede de comissão de análise na especialidade daquele diploma “para perceber a intenção legislativa”.
6 PUBLICIDADE
hoje macau terça-feira 28.3.2017
Anúncio 【65/2017】 Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados os mediadores/ agentes imobiliários constantes na tabela em anexo: Uma vez que os mediadores/ agentes imobiliários constantes na tabela em anexo violaram os deveres previstos na Lei n.º 16/2012 (Lei da actividade de mediação imobiliária), alterada pela Lei n.º 7/2014, ou no Regulamento Administrativo n.º 4/2013 (Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária), alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 17/2014, pelo que foi tomada a decisão de impor sanções aos referidos mediadores/agentes imobiliários, nos termos
do n.º 2 do artigo 29.º da Lei da actividade de mediação imobiliária, da alínea 3) do n.º 2 do artigo 2.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária e do despacho do Presidente do IH exarado na respectiva proposta. Caso não concorde com a decisão supramencionada, de acordo com as disposições dos artigos 148.º e 149º e do n.º 2 do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, cabe reclamação ao Presidente do IH, sem efeito suspensivo, no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente anúncio; ou de acordo com o artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, cabe recurso contencioso ao Tribunal Administrativo, sem efeito suspensivo, no prazo de 30 dias contados a partir da data da publicação do presente anúncio. Instituto de Habitação, aos 23 de Março de 2017. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng
Tabela em anexo N.º do processo
1
59/MI/2015
2
82/MI/2015
3
105/MI/2015
4
107/MI/2015
5
109/MI/2015
6
127/MI/2015
7
130/MI/2015
8
32/MI/2016
Designação do mediador/agente imobiliário
N.º da licença/licença provisória
Infracção administrativa
Não ter comunicado a contratação de agentes imobiliários e a cessação do seu vínculo laboral, no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência KUOK SENG HAO MI-10000867-0 do facto Violação da subalínea 3) da alínea 1) do artigo 22.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, a pretensão de UNIDO PICO mudança de localização do estabelecimento comercial DESENVOLVIMENTO MI-10001148-9 Violação do n.º 1 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade LIMITADA de mediação imobiliária Não ter comunicado a criação de uma página electrónica na Internet, no prazo legal de 30 dias CHAN PENG KEONG MI-10000054-3 Violação do n.º 2 do artigo 12.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária O mediador imobiliário prestou ao cliente serviços associados à actividade de mediação imobiliária antes da celebração do contrato de PRINCE PROPERTY MI-10001617-1(caducada) mediação imobiliária. Violação do n.º 2 do artigo 19.º da Lei da actividade de mediação imobiliária. Exerceu a actividade de mediação imobiliária sem ter obtido a licença de ----mediador imobiliário válida. KOK MENG CHO (No. do BIR: 50947XX(X)) Violação do n.º 1 do artigo 3.º da Lei da actividade de mediação imobiliária. Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, a pretensão de COMPANHIA DE abertura de um novo estabelecimento comercial INVESTIMENTO PREDIAL MI-10000658-3 Violação do n.º 1 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade HOP YING LDA. de mediação imobiliária Não ter comunicado, previamente, no prazo de trinta dias, a modificação HO KAM VA MI-10001480-5 do estabelecimento comercial. (VA IP PROPERTY AGENCY) (caducada) Violação do n.º 1 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária. Não ter comunicado a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (estabelecimento comercial), no prazo de 10 dias a contar da data da alteração ou do conhecimento da WONG HON WAI MI-10001053-2 mesma; Violação da subalínea 1) da alínea 1) do artigo 22.º da Lei da actividade de mediação imobiliária
9
33/MI/2016
COMPANHIA DE FOMENTO PREDIAL OU LONG, LIMITADA
MI-10001231-7
Não ter comunicado o encerramento do estabelecimento comercial, no prazo de 10 dias a contar da data do respectivo encerramento; não ter comunicado a alteração dos titulares dos órgãos sociais, no prazo de 10 dias a contar da data da respectiva alteração; Violação da subalínea 1) da alínea 1) e da alínea 2) do artigo 22.º da Lei da actividade de mediação imobiliária
10
60/MI/2016
COMPANHIA DE PROPRIEDADES LAI KENG, LIMITADA
MI-10001260-1 (caducada)
Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, a pretensão de mudança de localização do estabelecimento comercial Violação do n.º 1 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária
11
68/MI/2016
AGÊNCIA IMOBILIÁRIA HKP (MACAU), LIMITADA
MI-10000970-4
12
104/MI/2016
COMPANHIA DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO KA PO LIMITADA
MI-10001978-4
13
115/MI/2016
WU KUAI HENG
MI-10000456-7
Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, a pretensão de encerramento do estabelecimento comercial Violação do n.º 4 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária Exercer a actividade de mediação imobiliária, na qualidade de mediador imobiliário, sem ser titular de licença válida; Não constar, do contrato de mediação imobiliária celebrado com o cliente, o número da licença de mediador imobiliário, o endereço do estabelecimento comercial e a comissão ; Ter procedido a acções de promoção dos bens imóveis do cliente, através da publicitação na internet, antes de ter celebrado o contrato de mediação imobiliária com o cliente; Ter deixado de reunir os requisitos para o exercício da actividade, não tendo comunicado tal facto ao Instituto de Habitação, dentro do prazo de dez dias a contar da data de ocorrência do facto; Não ter apresentado qualquer declaração sobre o recrutamento de agente imobiliário. Violação do n.º 1 do artigo 3.º, do n.º 2 e das alíneas 1) e 4) do n.º 3 do artigo 19.º e das subalíneas 1) e 3) do n.º 1 do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária”. Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, a pretensão de encerramento do único estabelecimento comercial Violação do n.º 4 do artigo 13.º da Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária
Data de apresentação da defesa
Entidade que determinou a sanção Data da decisão sancionatória N.º da proposta
Fundamentos de direito e valor da multa
1 de Julho de 2016
Presidente do IH 2016/8/18 Prop.0630/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
9 de Maio de 2016
Presidente do IH 2016/10/5 Prop.0805/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
13 de Maio de 2016
Presidente do IH 2016/10/18 Prop.0836/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
Não apresentou defesa após a notificação edital, no dia 24 de Novembro de 2016, para apresentação da justificação escrita
Presidente do IH 2016/1/16 Prop.0035/DAJ/2016
N.º 1 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 20 000 patacas
Não apresentou defesa após a notificação edital, no dia 24 de Novembro de 2016, para apresentação da justificação escrita
Presidente do IH 2016/2/3 Prop.106/DAJ/2017
N.º 1 do artigo 30.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 50 000 patacas
Não apresentou esclarecimento escrito, após ter recebido e assinado, em 25 de Agosto de 2016, a notificação para o esclarecimento escrito
Presidente do IH 2016/10/20 Prop.0861/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
Não apresentou defesa após a notificação edital, no dia 24 de Novembro de 2016, para apresentação da justificação escrita
Presidente do IH 2016/1/19 Prop.34/DAJ/2017
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
12 de Outubro de 2016
Presidente substituta do IH 2016/11/7 Prop.0963/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
Presidente do IH 2016/10/28 Prop.0920/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 10 000 patacas
Presidente do IH 2017/1/11 Prop.0030/DAJ/2017
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
Presidente substituta do IH 2016/11/8 Prop.0969/DAJ/2016
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
Foi enviada ao mediador imobiliário, em 6 de Abril de 2016, uma notificação para o esclarecimento escrito, tendo esta sido devolvida por não ter sido recebida; em 18 de Agosto de 2016, foi notificado via edital, não tendo apresentado qualquer esclarecimento escrito Foi enviada ao mediador imobiliário, em 7 de Setembro de 2016, uma notificação para o esclarecimento escrito, tendo esta sido devolvida por não ter sido recebida; em 24 de Novembro de 2016, foi notificado via edital, não tendo apresentado qualquer esclarecimento escrito Não apresentou esclarecimento escrito, após ter recebido e assinado, em 14 de Julho de 2016, a notificação para o esclarecimento escrito
15 de Setembro de 2016
Não apresentou esclarecimento escrito, após ter recebido e assinado, em 27 de Outubro de 2016, a notificação para o esclarecimento escrito
Presidente do IH 2016/10/24 Prop.0891/DAJ/2016
Presidente do IH 5 de Dezembro de 2016 Prop.1110/DAJ/2016
N.º 1 do artigo 30.º e n.ºs 1 e 3 do artigo 31.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Multa de 85 000 patacas
N.º 3 do artigo 31.º da Lei da actividade de mediação imobiliária Multa de 5 000 patacas
7 hoje macau terça-feira 28.3.2017
SOCIEDADE
HOJE MACAU
ESTATÍSTICAS DESEMPREGO QUASE SEM TIRAR, NEM PÔR
E
Incêndios REVISÃO DO REGULAMENTO CONCLUÍDA “EM BREVE”
Mangueiras a postos O comandante do Corpo de Bombeiros, Ma Io Weng, anunciou que a proposta de revisão do regulamento de segurança contra incêndios deverá ficar concluída “em breve”. A corporação quer contratar mais cem profissionais este ano
F
OI em Julho do ano passado que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) prometeu entregar uma proposta de revisão do regulamento de segurança contra incêndios. Quase um ano depois, o comandante do Corpo de Bombeiros (CB), Ma Io Weng, garante que esse trabalho deverá estar concluído em breve, sendo que a corporação ainda vai enviar as suas opiniões ao Governo. “O CB apoia a revisão do regulamento de segurança contra incêndios. Neste momento, procede-se à análise e estudo sobre a proposta de lei, que deverá estar concluída em breve. Os pareceres dos bombeiros irão ser entregues aos serviços competentes para fins de acompanhamento dos trabalhos subsequentes”, disse Ma Io Weng no encontro anual com a comunicação social. Questionado sobre a posição do CB sobre a matéria, Ma Io Weng disse apenas que está a ser estudada
a possibilidade de serem aplicadas sanções por parte dos bombeiros, mas apenas depois de um pré-aviso a quem viola o regulamento. Olhando para o número de queixas do CB, conclui-se que muitas das regras actuais continuam a não ser cumpridas pela população e proprietários dos edifícios. De um total de 467 queixas, 435 dizem respeito ao “não cumprimento das disposições do regulamento”. O ano passado a corporação de bombeiros realizou um total de 3481 vistorias a edifícios, mais 665 em relação a 2015. Foram ainda avaliadas mais de 2600 plantas de projectos de construção aprovadas pela DSSOPT. Em relação a casos de incêndio, o CB registou 1074 ocorrências, mais 41 face ao ano anterior. Apenas 238 casos disseram respeito a incidentes domésticos, ocorridos devido ao esquecimento de fogões ligados.
AMBULÂNCIAS CONTROLADAS
No que diz respeito à utilização de ambulâncias, os dados não
são animadores. Em 2016, foram tratados mais de 38 mil pedidos de transporte de emergência, mais 79 casos do que em 2015. “O número aumentou, apesar do CB se ter esforçado na divulgação de informações sobre o abuso do serviço”, explicou Ma Io Weng. Ainda assim, o CB alerta para o facto de a taxa de crescimento anual do número de deslocações de ambulância nos últimos dez anos ter permanecido no nível de 6,52 por cento. “Nos serviços
Está a ser estudada a possibilidade de serem aplicadas sanções por parte dos bombeiros, mas apenas depois de um pré-aviso a quem viola o regulamento
de ambulância, o CB reforçou as tarefas de divulgação sobre a prevenção do uso abusivo de ambulâncias desde o ano passado, para que o número de saída abrandasse. Houve uma redução significativa em relação aos últimos dez anos”, disse ainda Ma Io Weng.
BOMBEIROS PRECISAM-SE
Em relação aos recursos humanos, a corporação de bombeiros continua com o número de pessoal aquém das necessidades. Neste momento trabalham nos diversos postos operacionais um total de 1589 pessoas, sendo que o CB precisa de mais 300 pessoas. Num ano em que 16 bombeiros se vão aposentar, Ma Io Weng adiantou que durante 2017 vão tentar contratar mais cem trabalhadores. O posto operacional de Coloane ainda está em fase de reconstrução, estando também a ser preparada a edificação do novo posto de comando do CB no Cotai, que será também um lugar destinado à formação de bombeiros, adiantou Ma Io Weng. Além do posto da corporação junto à nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, o CB irá também contar com um posto de operações na zona da Ilha Verde. Será de reduzida dimensão, com apenas três ou quatro veículos destacados. Ma Io Weng não soube adiantar datas para a abertura destes espaços, por se tratarem de projectos coordenados pela DSSOPT. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
NTRE Dezembro de 2016 e Fevereiro de 2017, as taxas de desemprego (2,0 por cento), de desemprego dos residentes (2,8 por cento) e de subemprego (0,5 por cento) mantiveram-se nos mesmos níveis do período imediatamente anterior, entre Novembro de 2016 a Janeiro deste ano. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a população activa totalizou 387 mil indivíduos e a taxa de actividade foi de 70,9 por cento. A população empregada fixou-se em 379.100 pessoas, menos 2800 pessoas em comparação com o trimestre anterior. No entanto, esta quebra foi significativa sobretudo entre a mão-de-obra estrangeira, uma vez que, do total, registou-se uma diminuição de 800 residentes na lista da população com emprego. Há 277.100 indivíduos com BIR a trabalhar no território. Em termos de ramos de actividade económica, a DSEC destaca que se verificou que o número de empregados tanto das actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços, como do comércio a retalho decresceu. Porém, o número de empregados dos hotéis e similares aumentou. A população desempregada era composta por 7900 indivíduos, sendo semelhante à observada no período anterior. O número de desempregados à procura do primeiro emprego representava 8,4 por cento do total da população desempregada, tendo subido 0,8 pontos percentuais. Em comparação com o período de Dezembro de 2015 a Fevereiro de 2016, a taxa de actividade decresceu 1,6 pontos percentuais, enquanto a taxa de desemprego subiu 0,1 pontos percentuais e a taxa de subemprego se manteve no mesmo nível.
8 PUBLICIDADE
hoje macau terça-feira 28.3.2017
Aviso (N.º 102/2017)
ANÚNCIO 【N.º 64/2017】 Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar os representantes dos agregados familiares da lista de candidatos a habitação social abaixo indicados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome HOI LIN TONG LAO KOI HAN
N.º do boletim de candidatura 31201303995 31201303243
Após as verificações deste Instituto, notamos que o total do rendimento mensal dos agregados familiares de candidatos a habitação social acima mencionados ultrapassa o valor constante da tabela I do n.º 1 do Despacho do Chefe do Executivo n.º 179/2012, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 473/2015, pelo que, estes não reúnem os requisitos exigidos para a candidatura, nos termos da tabela I do n.º 1 do Despacho do Chefe do Executivo n.º 179/2012, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 473/2015, alínea 3 do artigo 2.º e n.º 1 do artigo 3.º do Regulamento Administrativo n.º 25/2009 (Atribuição, Arrendamento e Administração de Habitação Social). De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, devem apresentar, por escrito, as suas interpretações e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou as demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Se não apresentarem as interpretações no prazo fixado ou as mesmas não forem aceites por este Instituto, as respectivas candidaturas serão excluídas da lista geral de espera por IH, nos termos dos artigo 5.º, alínea 2) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009 e n.º 2 do artigo 9.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 141/2012. Simultaneamente, se os agregados familiares beneficiários forem excluídos da lista geral da candidatura, serão canceladas a concessão do abono de residência, implicando ainda a restituição do abono recebido a partir do mês seguinte ao da verificação da respectiva ocorrência, de acordo com os termos das alíneas 1) e 2) do n.º 1, e n.º 3 do artigo 8.º do Regulamento Administrativo n.º 23/2008, alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 22/2016,(Plano Provisório de Atribuição de Abono de Residência a Agregados Familiares da Lista de Candidatos a Habitação Social). No caso de dúvidas, poderão dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar Sr. Wong através o tel. n.º 2859 4875 (Ext. 372), para consulta do processo. Instituto de Habitação, aos 24 de Março de 2017. Presidente, Arnaldo Santos
Assunto: Desocupação e demolição de barraca Local: Estrada de Lai Chi Vun n.o 22-12-09-023-001, em Coloane (assinalado no quadro anexo) Na sequência de deslocação ao local efectuada por este Instituto, verificou-se que a actividade de fábrica de parafusos e pregos de navios na barraca acima mencionada, se encontra encerrada por um período superior a 45 dias consecutivos, pelo que, no dia 8 de Março de 2017, foi publicado o aviso n.º 86/2017, em jornais, tendo sido comunicado aos utilizadores da barraca acima mencionada, Lo Chan Ieng e outros, que poderiam apresentar justificação, por escrito, no prazo de 10 dias, a contar da data da publicação do aviso. Não tendo os indivíduos acima referidos apresentado justificação, por escrito, no prazo fixado, informa-se que, nos termos da alínea a) do artigo 13.º, da alínea d) do artigo 17.º, dos artigos 21.º, 24.º e 28.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, por despacho do signatário, exarado na Proposta n.º 0476/DHP/ DFHP/2017, de de Março de 2017, foram tomadas as seguintes decisões: a) Cancelar o registo relativo ao recenseamento do estabelecimento comer cial e industrial, na edificação ilegal acima mencionada; b) Proceder ao encerramento do local; c) Os indivíduos acima referidos devem desocupar a respectiva barraca no prazo de 30 dias a contar da data da publicação do presente aviso. No caso de não desocupação da barraca, no prazo acima referido, a desocupação e demolição da mesma serão coercivamente efectuadas pela entidade competente e os encargos decorrentes da operação de demolição coerciva serão suportados pelos referidos indivíduos que violaram o citado diploma. Os utilizadores podem apresentar reclamação, sem efeito suspensivo, ao Presidente do Instituto de Habitação, no prazo de 15 dias, contados a partir da data da publicação do presente aviso, de acordo com o disposto nos artigos 148.º, 149.º e no n.º 2 do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro. Os utilizadores podem interpor recurso contencioso no Tribunal Administrativo, no prazo de 30 dias, contados a partir da data da publicação do presente aviso, nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro. Instituto de Habitação, aos 24 de Março de 2017 O Presidente, Arnaldo Santos
9 hoje macau terça-feira 28.3.2017
SOCIEDADE
Kim Jong-nam IMPRENSA MALAIA FALA EM ENVIO DE RESTOS MORTAIS PARA MACAU
Regresso à casa da família Os restos mortais de Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder da Coreia do Norte, vão ser enviados para a família em Macau. A notícia foi avançada ontem pela imprensa da Malásia. Era suposto o corpo ter sido enviado ontem para o território
seria feita mais tarde com recurso a ADN de um dos dois filhos que vivem em Macau. No domingo, 41 dias depois da morte de Kim Jong-nam, jornalistas e repórteres de imagem – alguns deles acampados, desde o homicídio, à porta da casa mortuária do hospital, à espera de desenvolvimentos do caso – avistaram um carro funerário escoltado pela polícia. A viatura deixou a morgue do hospital duas horas mais tarde.
RITUAIS E INQUÉRITOS
Acredita-se que o corpo foi levado para uma localização não identificada para um ritual religioso. Não se sabe se os restos mortais terão sido cremados ou colocados dentro de um caixão.
A imprensa da Malásia diz ainda que o envio do corpo de Kim Jong-nam foi tratado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do país,
A imprensa da Malásia diz que o envio do corpo foi tratado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tem estado em contacto com a família de Kim Jong-nam
que tem estado em contacto com a família do primogénito de Kim Jong-il. Supostamente, os restos mortais seriam enviados ontem para Macau mas, até à hora de fecho desta edição, não havia desenvolvimentos sobre o assunto. A transferência do corpo da casa mortuária aconteceu depois de vários polícias malaios terem entrado na embaixada da Coreia do Norte em Kuala Lumpur. Algumas notícias avançam que os agentes, todos eles ligados à divisão de combate à criminalidade, foram recolher os depoimentos de três norte-coreanos que estarão escondidos dentro da representação diplomática, para evitarem ser questionados sobre a morte de Kim Jong-nam.
A
notícia foi veiculada pelo Sun Daily, um jornal malaio: o corpo de Kim Jong-nam, o filho mais velho de Kim Jong-il, ia ser libertado do hospital da capital da Malásia, para ser enviado à família a viver em Macau. Kim Jong-nam foi assassinado a 13 de Fevereiro, no aeroporto de Kuala Lumpur, quando se preparava para embarcar rumo à RAEM. Logo na primeira reacção à morte do irmão mais velho do líder da Coreia do Norte, Pyongyang reivindicou o corpo por ser um cidadão norte-coreano, apesar de não reconhecer tratar-se de Kim Jong-nam. As autoridades da Malásia negaram o pedido e seguiu-se um conflito diplomático entre os dois países. A confirmação da identidade
Futuro dos estaleiros abordado hoje em conferência
E
matéria. A réplica envolve vários departamentos do Executivo e abordagens diferentes quanto ao futuro dos antigos estaleiros navais. A Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), em resposta à deputada, adiantou que foram erigidas vedações em torno dos 11 lotes de estaleiros que, por falta de manutenção, estão em situação de avançada degradação. Neste domínio, foi reiterado que – pelo perigo que as
O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) vai lançar, na sexta-feira, o site “Green Exchange”, que se destina à promoção de negócios na área ambiental e impulsionar a “economia verde”. O projecto surge na sequência da 10ª edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau, que arranca na quinta-feira, e tem carácter permanente. O objectivo do programa é potenciar oportunidades de negócio na região do Delta do Rio das Pérolas. O projecto, que conta com a parceria da Câmara de Comércio Europeia e a Associação da Indústria de Protecção Ambiental da Província de Guangdong, estará aberto a participantes de todo o mundo, tanto privados como governamentais. A plataforma de contactos online para projectos ambientais não se destina apenas à compra de serviços, mas também para investimentos na economia verde.
REGISTO CENTRAL ESCOLAS DIVULGAM RESULTADOS ATÉ AMANHÃ
Lai Chi Vun, versão Instituto Cultural STÁ longe de terminar a polémica em torno dos estaleiros de Lai Chi Vun. O Instituto Cultural (IC) marcou para hoje uma conferência de imprensa relativa à aplicação do procedimento de classificação dos estaleiros como património. Por enquanto, resta saber a quantos estaleiros se aplicará esta classificação a que se refere o IC. Entretanto, chegou ontem a resposta a uma interpelação da deputada Ella Lei sobre a
INTERNET LANÇADA PLATAFORMA PARA PROMOÇÃO DE NEGÓCIOS VERDES
infra-estruturas representam tanto para residentes, como para visitantes – as Obras Públicas devem proceder, a curto prazo, à sua demolição. A DSAMA indica ainda que as Obras Públicas já iniciaram o concurso público e o planeamento para proceder à demolição. Foi ainda referido que serão ouvidos outros departamentos e as conclusões divulgadas ao público. Por outro lado, na mesma resposta, a DSAMA explica que o Instituto
Cultural (IC) começou os trabalhos de mapeamento e recolha de objectos de interesse histórico no local. O mesmo organismo será responsável pela dinamização cultural dos estaleiros que sobreviverem à demolição, assim como a duas cabines de madeira. Neste capítulo, é de salientar que tanto o IC, como a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), vieram a terreiro dizer que não tinham sido tidos, nem achados, na matéria.
Ainda no sentido de preservação, na resposta a Ella Lei sublinhou-se que a Direcção dos Serviços de Turismo deixa vincado que o documento de consulta do plano geral do desenvolvimento da indústria do turismo de Macau contém um plano de renovação da zona de Lai Chi Vun. Entre a demolição e a preservação, com departamentos a terem, aparentemente, visões diferentes para os antigos estaleiros navais, continua o pingue-pongue com o destino de Lai Chi Vun. Vítor Ng e João Luz
info@hojemacau.com.mo
Os jardins-de-infância têm até amanhã para divulgarem as listas de alunos para o próximo ano lectivo. Desde ontem que as escolas têm estado a divulgar estas informações, no âmbito da medida de registo central implementada pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Os encarregados de educação terão entre os dias 30 deste mês e 5 de Abril de entregarem o talão de matrícula na escola escolhida, “após ponderarem cuidadosamente” sobre a inscrição, lembra a DSEJ, sendo que esse talão dá apenas acesso a uma escola. No próximo dia 6, as escolas publicam os resultados dos alunos admitidos, mas em lista de espera. A DSEJ aponta que cerca de 6500 crianças concluíram o processo do registo central, existindo 7500 vagas escolares para o primeiro ano do ensino infantil disponíveis para o próximo ano lectivo, que arranca em Setembro deste ano. A DSEJ sublinha que as vagas “são suficientes para todos”.
´ 10 EVENTOS
DIA MUNDIAL DO LIVRO VEM AÍ A SEMANA DA BIBLIOTECA DE MACAU
P
ARA comemorar o Dia Mundial do Livro, no próximo dia 23 de Abril, o Instituto Cultural (IC) associou-se à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ),
entre outras entidades, para a realização de várias actividades. Com o tema “Leitura e Imagem”, a Semana da Biblioteca de Macau visa “expandir as perspectivas relativamente à lei-
tura, explorando a inter-relação entre a imagem e a leitura”, explica um comunicado do IC. A partir do próximo mês, vão realizar-se palestras sobre leitura familiar realizadas pela
Biblioteca Pública de Macau, nas quais oradores locais e estrangeiros foram convidados a partilhar como escolher livros para crianças. Serão também promovidos workshops de ar-
tesanato e criação sobre leitura, bem como exposições de banda desenhada alemã e palestras sobre as profissões bibliotecárias. Entre os dias 22 e 25 de Abril decorre, no edifício do
antigo tribunal, actividades como a venda de revistas arquivadas, “para fins de caridade”, e ainda sessões de troca de livros. Haverá também espectáculos de
OS MELHORES D
O Poly Auction Hong Kong colabora pela primeira vez com a organização homónima local. O objectivo é trazer a arte chinesa a ambos os territórios e traduz-se numa exposição de uma das obras emblemáticas de Zeng Fanzhi. Depois do Louvre, o n.º 6 da “Mask Series” está no Regency Hotel
ZENG FANZHI, MASK SERIES, 1996, N.º1 (PORMENOR)
Poly Auction LEILÃO TRAZ OBRA DE ZENG FANZHI A MACAU
• POLY AUCTION “As máscaras, os sorrisos, os corpos e os contrastes compõem uma imagem íntima e cheia de hipocrisia.”
“F
USÃO” é o nome do certame do Polly Auction que, pela primeira vez, conta com a colaboração entre as delegações de Hong Kong e de Macau. Com a iniciativa, a cargo de Sabrina Ho, pretende-se mostrar o que de melhor se faz na arte moderna e contemporânea chinesa. A ideia é partilhar entre os dois territórios a arte, em exposição
e de olhos postos no mercado, que se faz no Continente. Em Macau a “Fusão” acontece no Regency Hotel com a mostra de um dos nomes mais importantes da expressão plástica chinesa da actualidade, Zeng Fanzhi. Depois de passar pelo Louvre, o n.º 6 da colecção “Mask Series” está até 5 de Abril no átrio do Regency para quem o quiser apreciar. A pintura a óleo sobre tela, de larga escala, data de 1996.
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O IRMÃO ALEMÃO • Chico Buarque
Aos 22 anos Chico Buarque descobriu que tinha um irmão alemão. Sergio Buarque de Holanda, reputado historiador e crítico literário, pai de Chico, vivera na Alemanha entre 1929 e 1930, enquanto correspondente de um jornal. A efervescente Berlim dos anos 30 serviu de cenário a um romance com uma mulher alemã, de quem teve um filho que nunca chegou a conhecer. Chamava-se Sérgio Ernst. Quase cinco décadas depois da descoberta, Chico Buarque decidiu fazer da existência desse irmão – e do silêncio em torno dele –a matéria deste romance.
Três anos antes, Zeng mudou-se para Pequim e “sobreviveu num tempo de grandes mudanças”, lê-se no catálogo do evento. Terá sido a dinâmica histórica que o incentivou à realização da série. Marcado pelo expressionismo que já caracterizava o seu trabalho, “exagera na proporção das mãos e da cabeça, enquanto esconde expressões por detrás das máscaras, brancas e frias, que sorriem”. Ao contrário dos primeiros quadros da série, em que
as personagens apareciam bem vestidas e com ar contemporâneo, o n.º 6 é o primeiro trabalho que “envolve a narrativa de uma terceira pessoa na elaboração de uma perspectiva individual”. Situa-se já longe de uma experiência pessoal, mas “permanece nas memórias de quem a viveu de perto e remonta à juventude da Revolução Cultural”. “As máscaras, os sorrisos, os corpos e os contrastes compõem uma imagem íntima e
cheia de hipocrisia”, ilustra a organização. A obra de Zeng Fanzhi vai a leilão, mas não é revelado o valor de licitação.
PRECIOSIDADES
Já os restantes cinco trabalhos que integram o evento deste ano, e que vão estar em exposição no Grand Hyatt Hong Kong. de 1 a 4 do próximo mês, perfazem uma base de licitação de quase cinco milhões de dólares americanos. O conjunto é constituído por obras de Zao Wou-Ki, Wu
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
COISAS QUE UM PASSARINHO ME CONTOU , CONFISSÕES DE UMA MENTE CRIATIVA • Biz Stone
Nesta obra, Biz Stone, co-fundador do Twitter, revela-nos o segredo do seu sucesso. É uma história de vida surpreendente e inspiradora, baseada na colaboração, na partilha e no poder das redes sociais, e que oferece uma perspectiva única para quem sonha despertar o seu potencial criativo, mudar de vida e mudar o mundo. Mais do que a narrativa de alguém que subiu na vida a pulso, este livro é um manancial de sabedoria e conselhos sólidos de um dos homens de negócios mais bem-sucedidos deste século.
11 hoje macau terça-feira 28.3.2017
HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho
“marionetas em línguas estrangeiras” e stands com jogos para a promoção da leitura. As inscrições para algumas actividades já se encontram abertas.
Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com
Cacto-grandiflorus
DA CHINA Guanzhong, Chu Teh-chun, Li Keran e Xu Beihong. De Zao Wou-ki é a tela “06.02.74”, que marca uma ruptura dentro do trabalho do artista. Produzido após a morte da segunda mulher, é uma obra que deixa para trás o recurso às cores ricas que marcavam os trabalhos do mesmo período. “06.02.74” é considerado um quadro de transição técnica que revela “uma composição complexa, traços dinâmicos e uma gradiente delicada de cores, num trabalho clássico que integra a pintura a óleo do Ocidente e o a tinta do Oriente”, lê-se na apresentação. “Reclining” de Wu Ganzhong data de 1990 e é dedicado à expressão do nu, tema pelo que o artista é também conhecido e que marca “a primeira metade do seu período criativo”. Wu Ganzhong diz ter percebido, enquanto jovem estudante em França, que “toda a beleza
EVENTOS
plástica está relacionada com o corpo humano”. A partir desse momento, as suas obras passaram a retratar a nudez de forma a conceber paisagens. Foi esta abordagem que fez com que todos os seus trabalhos viessem a ser queimados durante a Revolução Cultural. “Reclining” é um regresso às origens produzido já com 72 anos de idade, motivo que tem levado à sua exibição por todo o mundo. Autilização de tons de azul é o mote para “Summer”, de Chu Teh-Chun, na representação de profundidade espacial.Aideia é a “perseguição da evolução da natureza, mais do que a combinação de elementos abstractos”. Das cinco obras presentes em Hong Kong, “Summer Mountains” de Li Keran tem a base de licitação mais valiosa. Com um valor inicial acima dos dois milhões de dólares americanos, é um “exemplo
excepcional de estética da paisagem” do artista. Datado de 1986, já na final de carreira, o clássico da pintura chinesa combina técnicas orientais com ocidentais para a expressão “de uma atmosfera poética na representação de bosques e montanhas”. De 1939 é “Standing Horse” de Xu Beihong. O quadro foi criado durante a guerra sino-japonesa em que o artista foi também activista, empenhado na recolha de donativos. De acordo com a organização, “Standing Horse” é uma obra particularmente importante porque representa uma das maiores especificidades de Xu Beihong na pintura de cavalos, ao mesmo tempo que é uma representação simbólica da força chinesa”. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
Nome botânico: Selenicereus grandiflorus (L.) Britton & Rose Sinonímia científica: Cactus grandiflorus L.; Cereus grandiflorus (L.) Mill. Família: Cactaceae. Nomes populares: CÍRIO-DOMÉXICO; FLOR-CHEIROSA; FLOR-DA-NOITE; FLORDE-BAILE; FLOR-DE-SEDA; TOCHA-ESPINHOSA. Nativo da América Central, comum nas Antilhas e México, o Cacto-grandiflorus é também cultivado como planta ornamental. Trata-se de uma planta trepadora, de aspecto robusto, que pode alcançar 10 metros de altura ou comprimento; apresenta caules erectos, cilíndricos, carnosos e cobertos de espinhos, e raízes aéreas com as quais se agarra às rochas e às árvores; as flores são muito grandes, com quase 30 cm de diâmetro, de cor esbranquiçada ou rosada e, os frutos, umas bagas ovóides com cerca de 8 cm de comprimento. As flores, tão belas quanto fugazes, abrem-se à noite, exalam o seu suave aroma semelhante ao da Baunilha e fecham-se, pela madrugada, uma única vez por ano. O Cacto-grandifloro, de difícil identificação, não deve ser confundido com outras espécies do mesmo género botânico, ou família, pois não possuem as mesmas propriedades medicinais. Tem sido usado pela população indígena e cabocla da América Central e do Sul e integra a Farmacopeia Homeopática. Em fitoterapia são usadas as flores e, por vezes, os caules. Composição Cactina (ou hordenina), um alcalóide muito activo sobre o coração, aminas (cacticina, grandiflorina, narcisina, tiramina) e flavonóides (betacianina, caempferitrina, hiperósido, rutina). Acção terapêutica Com acção electiva sobre o coração, o Cacto-grandiflorus apresenta um efeito semelhante ao da Dedaleira, embora sem risco de acumulação no organismo, estando por isso desprovido dos seus efeitos adversos. A Dedaleira (Digitalis spp.) é uma planta tóxica a partir da qual são isolados os digitálicos, medicamentos usados no tratamento das patologias do coração, nomeadamente nas arritmias e insuficiência cardíaca. Assim, este cacto estimula e equilibra a actividade cardíaca, tonifica o coração aumentando a sua força de contracção, combate as arritmias regularizando o
pulso e protege o coração; tem ainda actividade diurética, vasodilatadora sobre as artérias coronárias e periféricas e melhora a função dos capilares, aumentando a sua resistência e diminuindo a saída excessiva de líquidos para os tecidos. Está indicado para o tratamento das afecções cardíacas em geral, especialmente a angina de peito, arritmias, insuficiência cardíaca, valvulopatias (lesões nas válvulas do coração), pericardite, miocardite, endocardite e inflamação das artérias coronárias; pode ainda ser útil na hipotensão arterial, palpitações de origem nervosa ou orgânica, asma cardíaca e debilidade cardíaca em consequência de doenças infecciosas. Outras propriedades Além de diurético, o Cacto-grandiflorus tem acção anti-inflamatória e anti-reumática, beneficiando casos de retenção de líquidos, bexiga irritável, inflamação da bexiga (cistite), perturbações urinárias decorrentes de patologias da próstata, assim como nevralgias e reumatismo. Pela actividade sedativa, pode ser útil para acalmar a ansiedade, nervosismo e dores de cabeça de origem nervosa. É também usado nas dores menstruais, menstruações abundantes ou prolongadas e perdas sanguíneas fora do período menstrual. Como tomar • Uso interno: Em simples, na forma de tintura; em xarope ou cápsulas, com fórmulas de plantas, para as afecções do coração. Tomar de acordo com as instruções da bula. Precauções Em suplemento alimentar, o Cacto-grandiflorus é uma planta segura e sem efeitos adversos, quando tomado nas doses terapêuticas. No entanto, quando administrado a pacientes com doença cardíaca, os seus efeitos devem ser monitorizados por um profissional competente. Está contra-indicado no primeiro trimestre de gravidez embora, por precaução, deva ser evitado durante toda a gravidez e lactação. Pode potencializar a acção dos digitálicos e outros agentes cardíacos, estando contra-indicado o seu uso concomitante (exceptuando se for prescrito por um profissional competente). Devido à presença de tiramina, pode ainda interagir com antidepressivos IMAO, causando uma perigosa elevação da pressão arterial. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.
12 PUBLICIDADE
hoje macau terça-feira 28.3.2017
Aviso Aceita-se o registo para o “Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior” Aceita-se, a partir de hoje até 19 de Maio, o registo para o “Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior no ano lectivo de 2016/2017”, sendo três mil patacas o montante do subsídio. Podem registar-se os estudantes, titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, que frequentem cursos de doutoramento, mestrado, licenciatura, bacharelato, ou cursos de diploma ou de associado com a duração igual ou superior a dois anos, em instituições do ensino superior da RAEM ou do exterior. Os estudantes que reúnam as condições exigidas podem aceder à página electrónica do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (www.gaes.gov.mo), dentro do prazo definido, para tratarem das formalidades do registo. Estes estudantes, ainda podem, pessoalmente ou através de representante, como familiares e amigos, dirigir-se ao Centro dos Estudantes do Ensino Superior, que depende do GAES (Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, n.º 68-B, Edifício Va Cheong, r/c B, em frente à paragem de autocarro do Jardim Lou Lim Ioc), ao balcão de recepção do GAES (Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, n.os 614A-640, Edifício Long Cheng, 7.o andar), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central (Rotunda de Carlos da Maia, n.os 5 e 7 , Complexo da Rotunda de Carlos da Maia, 3º andar), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ihas (Rua da Ponte Negra, Bairro Social da Taipa, No. 75K, Taipa), ou, ao Centro de Serviços da RAEM (Rua Nova da Areia Preta, n.o 52), para obterem o boletim de registo e apresentarem os documentos solicitados. Mais informações, podem ser obtidas através do website do GAES ou do telefone 28571111, com sistema interactivo de resposta de voz. Macau, 28 de Março de 2017. O Coordenador Sou Chio Fai
13 hoje macau terça-feira 28.3.2017
Hong Kong VOTAÇÃO EM CARRIE LAM SUPERA EXPECTATIVAS
Primavera vermelha
U
M deputado do principal partido pró-Pequim em Hong Kong e membro da campanha de Carrie Lam disse ontem que a votação na próxima chefe do Executivo superou as expectativas. Horace Cheung, do partido DAB, disse que quando a plataforma eleitoral estava a tentar obter nomeações, perceberam que a batalha ia ser dura e que não seria fácil conseguir os votos dos membros do colégio eleitoral, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. “Por isso adoptámos uma abordagem conservadora e considerámos que não seriam mais do que 700 [votos]. Mas ontem [domingo] (…) o resultado foi melhor do que o esperado”, disse Cheung. Carrie Lam, “número dois” do actual governo e apontada como favorita de Pequim, foi eleita com a maior votação de sempre: 777 votos, quase mais uma centena do que os 689 votos alcançados em 2012 pelo actual chefe do Executivo, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung.
Donald Tsang, que em Fevereiro foi condenado a 20 meses de prisão depois de ter sido declarado culpado de conduta indevida enquanto liderou a cidade, foi eleito em 2007 com 649 votos. Já Tung Chee-wha foi nomeado chefe do Executivo de Hong Kong, no âmbito da transição para a soberania chinesa, e foi declarado vencedor das eleições de 2002, depois de ter obtido 714 nomeações escritas por um colégio eleitoral nessa altura composto por 800 pessoas, o que impossibilitava que qualquer outro candidato conseguisse as 100 nomeações à data necessárias para a formalização oficial de uma candidatura. Horace Cheung disse que os 777 votos vão ajudar Carrie Lam a estabelecer a plataforma para comunicar com diferentes sectores, incluindo os pró-democratas.
OUTRAS VISÕES
Mas o deputado do Partido Democrático James To disse que os pró-democratas não partilham os mesmos valores que Lam no que diz respeito às grandes questões políticas.
Carrie Lam é associada pelos pró-democratas como a figura do governo de CY Leung que promoveu a reforma política defendida pelo governo central chinês, a qual aceitava o voto por sufrágio universal para o cargo de chefe do Executivo mas com a condição de os candidatos serem pré-seleccionados pelo colégio eleitoral. Essa proposta de reforma política conduziu aos protestos que paralisaram as ruas de Hong Kong durante 79 dias no final de 2014 e foi chumbada em Junho de 2015 no Conselho Legislativo (parlamento) de Hong Kong, com o voto contra do bloco pró-democrata. Apesar de reunir o maior apoio entre a população e de grande parte dos pró-democratas, John Tsang, o segundo classificado na votação de domingo com 365 votos, enfrentava a oposição de alguns membros desse mesmo campo e dos chamados grupos ‘localists’que emergiram após os protestos pró-democracia em 2014. Numa declaração divulgada no domingo, o Partido Cívico apelou aos apoiantes pró-democratas para “porem de lado as suas diferenças” e manterem-se unidos. A maioria dos 3,8 milhões de eleitores de Hong Kong não vota nas eleições para o chefe do Executivo, estando o voto restrito a um colégio eleitoral composto por cerca de 1.200 membros de vários sectores, a maioria associada a posições pró-Pequim. O campo pró-democracia detém cerca de 300 lugares neste colégio. O jovem activista Joshua Wong – o rosto dos protestos pró-democracia de 2014 – que entretanto co-fundou o Partido Demosisto, foi um dos cerca de 200 ou 300 manifestantes que no domingo protestaram no exterior do centro de convenções, onde decorreu a votação, a pedir o sufrágio universal. Joshua Wong antecipou mais protestos para o dia da posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, uma cerimónia habitualmente realizada a 1 de Julho, data que este ano marca também o vigésimo aniversário da transição da antiga colónia britânica para a soberania chinesa.
CHINA
FIM DA INTERDIÇÃO DE CARNE DE VACA DO BRASIL
A
China confirmou ontem o fim da suspensão da importação de carne de vaca brasileira e a reabertura total do seu mercado, após confirmar que os produtores daquele país tomaram as medidas necessárias para garantir a segurança alimentar. “Acabámos com a suspensão, visto que as empresas brasileiras implicadas tomaram as medidas necessárias para assegurar a qualidade dos produtos”, afirmou ontem a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying, em conferência de imprensa. “A China decidiu suspender as importações a partir das empresas envolvidas, até que fosse garantido que os produtos importados estavam em boas condições”, acrescentou. Hua disse que o Brasil prometeu adoptar medidas mais rigorosas para garantir a qualidade da carne exportada para a China. PUB
Na semana passada, Pequim decidiu suspender as importações de carne de vaca oriundas do Brasil, depois de uma operação policial no país sul-americano revelar um esquema de facilitação de licenças e fiscalização irregular. De acordo com a polícia federal brasileira, funcionários públicos eram subornados por directores de empresas para darem
aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados e adulteradas. Entretanto, o ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi, anunciou este fim de semana a normalização das vendas de carne brasileira para a China. União Europeia, Japão e México anunciaram também limites ou a interdição total da importação de carne brasileira.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
14
Q
UE o título do primeiro livro de Rosalina Marshall – Manucure, Companhia das Ilhas, 2013 – seja o mesmo de um poema de Mário de Sá-Carneiro, não é um mero acaso. Para além dos títulos, livro (de Rosalina) e poema (de Sá-Carneiro), os títulos dos poemas do livro da Marshall são todos versos ou partes de verso desse poema maior de Sá-Carneiro. Por exemplo, “Os meus godets de verniz” é um meio verso do poema, e “Na sensação de estar polindo as minhas unhas” é precisamente o primeiro verso do poema de Sá-Carneiro. E o mesmo iremos encontrar nos poemas: “Os polidores da minha sensação”, “Inflexões de precipício”, “Triângulos sólidos”, “Rebordo frisado a ouro”, “Desgraciosidade boçal”, “Veloz faúlha atmosférica”, “Deponho as minhas limas”, etc., etc., etc. Pois aqui não se trata de
Uma vida inteira den
uma interpretação minha, como irá acontecer com o resto do texto, é algo concreto, preciso, algo que deve ser assinalado como aquilo que a poeta quis que fosse visto, a ligação quase umbilical entre o seu livro e o poema de Mário de Sá-Carneiro, embora seja também – e aqui começa a minha interpretação – como se a Rosalina Marshall nos dissesse que a sua vida cabe toda dentro de um poema, do poema “Manucure”, desse poeta maior da Orpheu. Mais: é como se nos dissesse que uma vida, qualquer que ela seja, cabe toda num só poema. E se em relação ao poema “Manucure” talvez não haja tantos que ponham ali toda a sua vida, já no poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, não teremos dificuldade em encontrar por lá vidas e vidas inteiras. Há, por conseguinte, ao longo dos poemas deste seu primeiro livro de poesia, enunciações de mo-
dos de participar na vida com semelhante inaptidão à que é cantada no poema de Sá-Carneiro. Estamos diante de um livro de poesia assente numa hermenêutica, apesar do verso que diz “a hermenêutica fechou a porta” (p. 18). Nesta sua hermenêutica, Rosalina identifica no poema de Sá-Carneiro, não só a sua vida, mas o seu próprio modo de olhar a realidade. E, assim, Manucure é um pequeno livro de enunciação de falhas, de enunciação de falhas da realidade. A realidade está sempre errada. Havia em Portugal uma expressão antiga, de quando ainda a moeda era o escudo e não o euro, que dizia: estás-me a falhar como as notas de mil, querendo com isso dizer que alguém nos decepcionava. Ora, neste livro de Rosalina Marshall, a realidade falha-nos como as notas de mil. A realidade é uma máquina de criar decepções. Os poemas enunciam contínuas decepções, vin-
15 hoje macau terça-feira 28.3.2017
máquina lírica
Paulo José Miranda
tro de um só poema das da impossibilidade da realidade encaixar nas nossas vidas. E entenda-se realidade por aquilo que acontece. Para citarmos Wittgenstein, no início do seu Tractatus Lógico-Philosophicus: “O mundo é tudo o que acontece.” Entenda-se, aqui, mundo como realidade. Assim, os meus desejos chocam com a realidade. Aquilo que quero, que eventualmente me faz falta, choca com a realidade, como no poema “Os meus godets de verniz”, à página 16: Eu queria chocolates e davam-me peixe cozido travessas e travessas pratos atrás de pratos de peixe cozido em vez disso agora como o vidro do o vidro do o vidro do piano Esta falha da realidade não se fica pelo conflito de interesses entre o que eu quero e o que acontece. Não. É apenas daqui que se parte. Aonde se chega, e é onde faz sentido falar acerca da decepção da realidade, é à memória. A memória é onde a realidade se esfuma. Tudo o que acontece não passa de nevoeiro, quando deixa de ser acontece para passar a ser aconteceu ou acontecido. E é nesta transmutação do tempo, na transmutação da realidade, que o livro ganha uma enorme dimensão metafísica, que já José Mário Silva havia assinalado, na sua resenha no Expresso, a 27 de Abril de 2013: “A escrita de Rosalina tanto se aproxima de Adília Lopes (“sinto um desconforto qualquer/ por usar soutien/ mas se não usasse/ era muito ordinária/ e os homens não gostariam de mim/ por ser demasiado fácil verem-me as mamas”) como da vertigem metafísica de Fiama Hasse Pais Brandão (“por trás dos manípulos das coisas/ escorrem fontes/ escorrem cisnes/ tudo em arco/ tudo em bandeira/ para o fluxo incontornável/ do rossio do universo/ onde permaneço desde a infância/ à espera de um táxi”).” É, aliás, a dimensão metafísica que sustenta os poemas deste livro, como sobressai no início do poema “Inflexões do precipício” (p. 34): “por trás dos manípulos das coisas / saem imperiais, cervejas, pints / por trás dos manípulos das coisas / escorrem fontes (...)”. Por trás das coisas há coisas. Por trás do que acontece há outro acontece. E a memória reivindica a sua própria realidade. O acontecido, que nos acompanha aqui e agora no a acontecer, que inclusivamente sustenta este a acontecer, pois o que me faz identificar-me numa foto quando era criança é a memória, o que nos confere identidade é a memória, e esta faz da realidade sua refém. O que aconteceu chega-nos em parte como quando era no seu acontecer, mas também nos chega em parte como um nunca ter acontecido. E é esta distorção da realidade, operada pela memória, que abre um precedente hermenêutico de indagação da realidade enquanto acontece. Escreve a poeta em “Os polidores da minha sensação” (p. 12):
quando abro a mala o forro frio que já foi outro surpreende-me sempre inesperado odor de cama de São José onde me apalparam a perna e disseram que não merecia levar gesso. A distorção temporal levada a cabo pela memória opera também uma mudança axiológica. É através da memória que passamos a valorizar o que antes não tinha valor. Não é a passagem do tempo que opera essa transformação valorativa, é a memória. E por isso mesmo, nós voltamos sempre atrás, como ironicamente escreve a poeta, em “Obsessão débil” (p. 18): “a hermenêutica fechou a porta / depois de velha / gostava de lá voltar / e verificar as fechaduras”. E é o que na realidade estamos sempre a fazer, a voltar lá atrás e a verificar as fechaduras. Muitas das vezes não verificamos apenas, também trocamos as fechaduras do lá atrás. O próprio poema é um ser híbrido, que acontece através do acontecido. Que nasce do real e da memória, que é, nunca é de mais repeti-lo, uma ficção, aquilo que faz aparecer continuidades em completos descontínuos. Por conseguinte, este Manucure, faz do poema de Mário de SáCarneiro, como se fosse possível habituar um poema, a morada de uma vida, isto é, faz da memória colectiva, que
é a história, seja ela da literatura ou mundial, o lugar onde tudo acontece. A memória justifica-se pela história e um poema de outro é mais descritivo da nossa vida do que uma fotografia nossa antiga. Sem os outros somos nada ou, pelo menos, sem os outros não me reconhecia. Assim, o livro de Rosalina Marshall parte do poema “Manucure” de Mário de Sá-Carneiro, para enunciar a dificuldade de entender a realidade, a dificuldade de mastigar e engolir essa coisa chamada realidade. A realidade está para cada um de nós como o sabor a que sabe a cada um de nós a sua própria boca está para os outros. Escreve a poeta em “Loiras oscilações” (p. 31) Oh! linda lisboa no azul pela manhã oh linda lisboa tudo negro pela noite ninguém sabe a que me sabe a minha boca A realidade adjudica-se a si mesma pela história. Na impossibilidade de acedermos ao que seja a realidade, e devido ao facto de a memória reivindicar para si uma realidade própria, a realidade passa a ter um uso comum, passa a ser um território colectivo, que encontra na história a sua fundação. Em Manucure, a historia é o chão não só das palavras, dos poemas, mas da própria possibilidade de entendimento da própria vida. Num poema escrito há 100 anos (neste caso) pode estar a chave da minha vida. Antes de mais, este livro é uma enorme homenagem à poesia de Mário de Sá-Carneiro, no corpo do poema “Manucure”. Mas é também uma homenagem a todo e qualquer poema onde possa caber uma vida inteira. Antes de terminar com a voz da poeta, acrescento que este livro teve uma tiragem de 100 exemplares. Desconheço se houve ou não reedição. A não ter havido, deveria haver.
Na sensação de estar polindo as minhas unhas sei que morrerei no dia do aniversário da minha morte ainda há coisas certas na vida o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição que nem dou por ele portanto não mudarei de roupa talvez passe o dia deitada no displicente descanso de não atender telefones nem me levantarei para ir ver o correio e se alguém se lembrar de me acender as inconsequentes velinhas deixarei que derretam e estraguem o bolo no dia do aniversário da minha morte nem me penteio
16 (F)UTILIDADES TEMPO
POUCO
hoje macau terça-feira 28.3.2017
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Amanhã
MIN
17
MAX
21
HUM
75-90%
•
EURO
8.70
BAHT
CONCERTO “THE BRIDGE – THE MACAU JAZZ CLUB LEGENDARY BAND” Live Music Association | 20h00 INAUGURAÇÃO DA INSTALAÇÃO “SEARCHING FOR SPIRITUAL HOME II”, DE YEN-HUA LEE Armazém do Boi (até 7 de Maio)
Diariamente
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
PROBLEMA 6
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 5
UM DISCO HOJE C I N E M A
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1 (Até 23/4)
Cineteatro
1.16
ABRIR A JANELA
Domingo
EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden
YUAN
AQUI HÁ GATO
“CONVERSAS SOBRE O LIVRO – A LITERATURA MODERNA CHINESA DE MACAU” Fundação Rui Cunha | 18h30 às 20h30
EXPOSIÇÃO | “ANSCHLAG BERLIM – DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM”, Galeria Tap Seac
0.23
Arejar, permitir e desejar entrada luz, abertura sem receios do conforto da estagnação. Há quem queira viver no mofo da falta de circulação de ar, com o cu tremido de medo do exterior, das invasões de bárbaros estrangeiros e ideias novas. O planeta pretérito, que se encerra e se protege de nada, a construir muros, prisões, fronteiras que separam, enquanto manda abaixo pontes e fecha janelas. Teme-se a mudança, o progresso e a evolução que virão, quer se queira, quer não. A mutabilidade é a única constância, negá-la é negar o humanismo, a revolução que se faz de peito aberto. Recear o outro implica a recusa de nós próprios, a negação serôdia da constatação lógica de que também somos outros para outros. Existem pessoas que são ferrolhos, cárceres com pernas, velhos amedrontados com a velocidade com que a Terra gira. Consideram a natureza uma imposição hostil de barbarismo. Estas pessoas, tais como os muros que querem construir, exclamam demolição poética, primaveras destrutivas que abram brechas nas velhas ordens estagnadas de inércia. Tristes vidas perfumadas a bafio, a ranço que tudo contamina. Anseio arrasamento, terra revolta, tijolo partido, conexão entre assoalhadas e o mundo. Quero iodo na cara, vento nos pelos, novidade trazida pelos pontos cardinais. Quero cheirar as flores e a frescura matinal de uma janela aberta de par em par. Pu Yi
“SECRETS OF THE BEEHIVE” – DAVID SYLVIAN
Há discos que são para sempre. David Sylvian compôs o seu quarto álbum de originais em 1987 e fez uma obra-prima. “Secrets of the Beehive” abre com “September” e uma voz doce que canta as vésperas do Outono. Com a participação de Ryuichi Sakamoto no piano, mas também nos arranjos de alguns temas, é um disco para ter sempre por perto. Mesmo quando chega a Primavera. Isabel Castro
LIFE SALA 1
POWER RANGERS [C] Filme de: Dean Israelite Com: Bryan Cranston, Elizabeth banks, Naomi Scott 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
LIFE [C] Filme de: Daniel Espinosa Com: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3
A SILENT VOICE: THE MOVIE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO
EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Naoko Yamada 14.15, 19.15
SILENCE [C] Filme de: Martin Scorsese Com: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson 16.30
KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 21.30
www. hojemacau. com.mo
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
17 hoje macau terça-feira 28.3.2017
OPINIÃO
sexanálise
TÂNIA DOS SANTOS
STANLEY KUBRICK, THE SHINING (1980)
E
NTRE marido e mulher não se mete a colher, como se dizia antigamente. Agora mete-se – e somos incentivados a meter. Não é porque as pessoas envolvidas não sejam capazes de identificar a violência doméstica que as aflige. Formalmente toda a gente consegue definir violência doméstica. O que acontece é que há muitos factores que podem influenciar o processo de denúncia. Por exemplo, na Rússia, a violência doméstica nem é um conceito per se, é simplesmente encarado com normalidade e inevitabilidade. Ao ponto do estado não criminalizar (se isolada) uma acção abusiva. Há, por isso, muitas definições diferentes (ou ausência de definições) para relacionamentos abusivos/violência doméstica, seja na prescrição legal, como nas nossas concepções mundanas de como um relacionamento funciona. Na definição mais pura e singela do amor não fará sentido enquadra-lo nestes moldes da violência. Contudo, esta ligação existe, como se a polimorfia do amor fosse capaz de justificar um chapa na cara ou um comentário ofensivo do nosso mais que tudo. Há pouco tempo surgiu um hashtag (lá estou eu a referir-me a modernices) onde se tentou criar alguma sensibilização ao tema. É um relacionamento abusivo quando (#erelacionamentoabusivoquando) há desconsideração pessoal de qualquer forma e feitio. Isto porque normalmente considera-se a violência física como a única forma de manifestação de violência na relação. O senso comum percebe um relacionamento abusivo somente quando vê nódoas negras no corpo – mas essa é só a ponta do iceberg. Quando tentamos perceber o limiar de abuso nas palavras, percebemos que temos uma tendência natural para desculparmos os outros pelos comentários menos simpáticos. ‘Ele estava mal disposto – tinha tido um mau dia’. Justifica-se circunstancialmente as palavras que nos magoam porque é muito mais fácil assim fazê-lo. De que outra forma justificamos que a pessoa que nós amamos trata-nos mal? Estes são recursos/ defesas que criamos para dar sentido a uma história que não deveria fazer sentido. Se um estranho chegar ao pé de mim e me der um estalo – eu percebo que foi abuso. Se foi o meu namorado, é legítimo eu sentir-me confusa sobre a absurdidade da situação. A denúncia é sempre difícil – já para não falar do medo de represálias que as vítimas e as testemunhas possam sentir se o fizerem. Viram o que aconteceu numa terrinha em Portugal esta semana? Quatro pessoas foram mortas porque não quiseram testemunhar a favor de um homem que era violento com a sua ex-mulher. Aliás, em situações mais dramáticas, os abusos podem acabar em crimes, ditos, pas-
Meter a colher
sionais, e essa denominação incomoda-me. Fazer mal a alguém não deverá ser posto no mesmo saco etimológico da paixão. Não se mata a mulher e os filhos porque um homem viu-se cheio de paixão. Parem de o chamar assim – porque a paixão não tem nada a ver com nada. É claro que podemos focarmo-nos na psicopatologia que leva estes actos a vias de facto, mas não consigo deixar de pensar que vivemos num mundo que não quer constatar um facto – a violência contra as mulheres está, de forma muito perversa, enraizada nas nossas expectativas societais. Estes cenários de violência são urgentes de serem tratados e percebidos, mas ao invés, são banalizados. Querem uns exemplos? Uma história que me incomodou especialmente foi de uma rapariga de 17 anos que foi assassinada pelo ex-namorado, depois de já ter tido feito queixa dele à polícia – ao que a polícia passou-lhe uma multa por julgarem que ela estava a desperdiçar o tempo deles com uma queixa que não lhes fazia sentido. Portanto, não só a polícia descredibilizou a preocupação da rapariga, como ela ainda teve que pagar
uma multa, e mais tarde pagou com a vida. Querem mais? Uma mulher, mãe de três filhos decide pedir o divórcio porque já não aguenta o relacionamento com marido e ele mata-a e aos miúdos – e este marido nunca antes tinha
Precisamos das mensagens de ânimo, dos hashtags, do apoio formal às sobreviventes de violência doméstica, de conversas, de abertura ao tema e de consciencialização. Precisamos de condições para que, mais do que denunciar a violência, possamos não correr riscos, só por sermos mulheres
mostrado um comportamento fisicamente violento e por isso esta mulher nunca teve o apoio formal (nem a protecção) para poder pedir o divórcio sem este desfecho. Podemos pensar que o problema está na cabeça destes homens, por fazerem estes disparates, mas essa é uma explicação demasiado simplista. Não, o problema não está na cabeça só de alguns homens. Há uma cultura de desculpabilização que tende a ignorar – sistematicamente - tentativas de denúncia daquilo que será a violência de género. As estatísticas confirmam que só por seres mulher, sofrerás algum tipo de violência de género durante a tua vida. Não sou o tipo de pessoa que aceita que o género possa determinar o que quer que seja (leram o artigo da semana passada?). Por isso precisamos das mensagens de ânimo, dos hashtags, do apoio formal às sobreviventes de violência doméstica, de conversas, de abertura ao tema e de consciencialização. Precisamos de condições para que, mais do que denunciar a violência, possamos não correr riscos, só por sermos mulheres.
18 OPINIÃO
hoje macau terça-feira 28.3.2017
S
“Donald Trump’s US election win is America’s Brexit voted for by people angry with the status quo.” Daily Mirror, 09 NOV 2016 Jack Blanchard
E tivermos de expressar em uma frase a grande característica da psicopolítica da actual situação mundial, deve soar como a da entrada em uma era com uma visão do mundo, sem sinais de gestão da ira. A raiva é a chave para compreender e descrever a psicologia política do mundo, após o fim do comunismo e da era bipolar. A partir da ira de Aquiles, o mundo nunca soube gerir a energia da raiva na história. O termo grego “thymos” significa a vontade, o desejo, luxúria e ira. O “thymos” é o motor das acções do herói homérico. Mais tarde, torna-se a sede da aspiração de reconhecimento, e a falta de reconhecimento desperta a raiva e com as religiões monoteístas o património é impelido na outra vida, onde vai realizar a justiça divina. O ressentimento terreno será satisfeito no final dos tempos. A situação muda completamente com a Revolução Francesa. A possibilidade de igualdade mudou-se para um mundo futuro, que é a base da “thymotica” dos oprimidos. O líder do partido e da militância revolucionária marcou a acumulação da ira até ao colapso da União Soviética. O mundo actual é um sistema pós-histórico em que desapareceram os pontos tradicionais de gestão da ira e das energias “thymoticas”. Foi a raiva mal gerida que permitiu a vitória de Donald Trump e o sucesso dos movimentos populistas e de extrema-direita e dos seus líderes. Os novos tempos exigem paciência aos cidadãos globais e humildade aos economistas. Ambas as qualidades são necessárias porque a incerteza que reina desde Setembro de 2008 acentuou-se, embora não tenha atingido os níveis críticos desse tempo. O presidente americano surpreendeu ao concentrar a sua enorme energia sobre a questão dos imigrantes, e em menor medida, na agenda de protecção às indústrias do país e a última das muitas das suas ameaças, foi a da aplicação de uma taxa alfandegária de 20 por cento às importações, especialmente as provenientes do México, bem como a suspensão por sessenta dias das importações de limões tucumanos, que o ex-presidente Obama, depois de mais de quinze anos de
JAMES WHALE, THE BRIDE OF FRANKENSTEIN
A incontida g
proibição, tinha aprovado e, finalmente, a acusação à Alemanha de manter o euro subvalorizado. O presidente americano, surpreendentemente, acusou a Alemanha, que durante a presidência de Trichet no Banco Central Europeu, apoiou as políticas monetárias que levaram o euro ao recorde de 1,60 dólares americanos e, por outro lado, não mostrou qualquer contentamento com as políticas do actual presidente Mario Draghi, de emissão monetária e taxas de juro de zero por cento e inclusive negativas. Tudo evidencia que o presidente americano ignora as questões básicas da economia, mas mais preocupante é que da mesma doença padecem os seus principais colaboradores, sendo as suas intervenções marcadas pela ausência de políticas detalhadas, por outro lado, fazem referências
às insistentes promessas eleitorais, entre elas, as de baixar impostos aos mais ricos e ambiciosos planos de infra-estruturas. É muito cedo para prever qual dos cenários acabará por prevalecer na malfada política do presidente americano cuja ignorância pelos assuntos de Estado raia o absurdo e das suas tresloucadas decisões. Os três cenários perceptíveis continham uma tendência ao proteccionismo, o aumento do deficit fiscal e a consequente queda dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O primeiro cenário seria acompanhado por um rápido aumento nas taxas da Reserva Federal, valorização do dólar, maior crescimento, fuga de capitais dos países emergentes, um pouco mais de inflação e, por fim, uma queda nos preços das matérias-primas à excepção do ouro. Seria, mas não necessariamente, a pers-
pectiva negativa e dramática para os países emergentes. O segundo cenário é semelhante ao primeiro mas mais acentuado. O mundo viveu entre 1979 e 1981 um tempo delicado, quando a inflação nos Estados Unidos foi superior a 13 por cento, os rendimentos dos títulos chegaram a cair 16 por cento e a taxa da Reserva Federal foi de 20 por cento, tendo levado ao super dólar do presidente Donald Reagan, e que se traduziu numa década perdida para os países emergentes, sobretudo, na América do Sul com incumprimento financeiro de muitos países. Este cenário é de considerar como o menos provável. O terceiro cenário é quase o oposto do primeiro e assemelha-se ao acontecido entre 2004 e a crise de 2008, com o dólar no seu mínimo histórico e as matérias-primas
19 hoje macau terça-feira 28.3.2017
OPINIÃO perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
estão da raiva
a preços recordes, apesar de uma subida sustentada das taxas da Reserva Federal até ao máximo de 5 por cento, com a consequente subida dos rendimentos dos títulos do Tesouro e uma inflação do índice de preços ao consumidor, que atingiu um máximo de 3,8 por cento em 2008. Este seria o melhor cenário para os países emergentes e parece ser o mais provável. Existem alguns sinais desde as eleições americanas. Os mercados financeiros, em especial os bolsistas, são tanto ou mais optimistas que antes do triunfo do de Donald Trump, pois prevalece uma expectativa de crescimento da economia global, que se reflecte também na subida dos preços dos seus activos e das matérias-primas, e que não sofreu interferência até ao momento por uma moderada valorização do dólar, com excepção do peso mexicano que foi a moeda
que mais se depreciou. Os indícios favoráveis ao primeiro cenário, prevaleceram nas semanas seguintes às eleições americanas, sobretudo pela subida dos rendimentos dos títulos do Tesouro, a valorização do dólar, um aumento do risco dos países emergentes e matérias-primas mais baratas, à excepção do cobre, devido ao suposto plano de infra-estruturas de Donald Trump e do petróleo pela OPEP. As valorizações do dólar e os rendimentos dos títulos do Tesouro, em contraste, no último mês de Dezembro de 2016, retrocederam, tendo ganho as matérias-primas e as bolsas e diminuído o risco emergente, apresentando uma maior semelhança com o terceiro cenário, considerado como sendo sem margem para dúvidas, o melhor para os países emergentes. Isto deve-se também ao facto de se poder ob-
servar como mais factível uma economia americana com maior inflação, não esquecendo que o desemprego é de apenas 4.8 por cento, e os aumentos do deficit e da dívida pública. O valor internacional do dólar dependerá em parte de um provável braço de ferro entre a Reserva Federal que quererá subir mais rapidamente as taxas e o presidente Trump que quer um dólar fraco. Pelo que se continuará a assistir a uma situação complexa, mas que não é de alto risco para os países emergentes. Assim se observa, por exemplo, a colocação bem sucedida de títulos da dívida pública, na solidez dos preços da soja e da tendência de recuperação do Brasil, incluindo a valorização do real. O discurso do presidente Donald Trump no Congresso a 28 de Fevereiro de 2017, impressionou favoravelmente a quem o questionava pelo seu tom moderado e conciliador, mas desencantou os que esperavam detalhes sobre a anunciada reforma impositiva ou o grande plano de obras públicas que iria pôr em prática. Foi num tom muito contido e distinto do primeiro discurso no Congresso, pronunciado a 20 de Janeiro de 2017. Inclusivamente apelou à unidade política e assinalou a urgência de substituir com uma lei, o “Obamacare”, que tem grandes fissuras, e para os seus opositores foi gratificante ver a mudança de atitude, ainda que se mantenham preventivamente atentos, de que rapidamente aparecerá o Donald Trump de sempre. Os seus seguidores aplaudiram-no como um estadista. O poder financeiro e económico do país que tinha grandes expectativas quanto à prometida orientação económica sentiram-se defraudados pela falta de anúncio de medidas reais. Foi um discurso civilizado, tranquilo, sem os usuais ataques brutais. Poderá mesmo existir a possibilidade de uma pequena mudança em algumas das matérias mais sensíveis, tendo sugerido que poderia existir um novo regime legal para os indocumentados, ao invés de os deportar a todos do país, sem vacilar. Mas há que esperar para saber se é apenas uma simples artimanha ou uma verdadeira mudança. A nova atitude não é ainda o bastante para que seus opositores acreditem, em especial os milhões de pessoas que se sentem ameaçadas pelas políticas que se cansou de anunciar, durante a campanha eleitoral e nas primeiras semanas como inquilino da Casa Branca. Se analisarmos bem, o conteúdo do discurso foi o mesmo de sempre, revestido de cuidadas expressões para não soar como mais uma intimidação. Todavia é certo que houve uma aberta condenação do anti-semitismo e um chamado à unidade política. Este inesperado ramo de oliveira alcançou tam-
bém os aliados e organizações que antes tinham sido colocados no pelourinho. Acerca da NATO assegurou que esse pacto militar, que foi forjado com a guerra mundial e através da Guerra Fria, derrotou o comunismo, aclarando que os parceiros deste selecto grupo deveriam cumprir com as suas obrigações financeiras, quase abrindo um conflito diplomático com a Alemanha, ao exigir os pagamentos que esta deve aos Estados Unidos, pelas obrigações no quadro da Organização. Todavia, declarou que os Estados Unidos estavam dispostos a liderar novamente a Organização. Mas existiu uma ideia digna de realçar, que é facto de não querer liderar o mundo livre, como afirmavam os anteriores presidentes, pois afirmou que o seu trabalho, era apenas o de representar os Estados Unidos, o que ajudou a acalmar os ânimos nas fileiras republicanas, alarmadas pelo caótico movimento da Casa Branca, durante os primeiros quarenta dias de mandato.
O mundo actual é um sistema pós-histórico em que desapareceram os pontos tradicionais de gestão da ira e das energias “thymoticas”. Foi a raiva mal gerida que permitiu a vitória de Donald Trump e o sucesso dos movimentos populistas e de extrema-direita e dos seus líderes A impressão que deixou nesse discurso é que Donald Trump amadureceu, e que a sua intervenção no Congresso, foi mais presidencial e menos recheada de manhas de um político difícil de classificar, como se a intenção fosse atrair para a sua órbita os sectores mais moderados. O discurso foi mais sóbrio, até surpreender, mas não houve revelações relevantes nem sequer insinuou intenções sobre o que realmente pensa fazer no futuro. Tal como disse um senador democrata, chegou-se a um ponto, onde o discurso presidencial é um êxito, porque quem o pronuncia nada disse de embaraçoso ou abertamente ofensivo. O presidente Trump, em matéria de política externa não mencionou a China ou a Rússia, ainda que tenha ratificado as metas proteccionistas prometidas na sua campanha eleitoral.
“
O
secretário de Estado do Ambiente português vai participar no fórum ambiental sobre desenvolvimento sustentável que vai decorrer em Macau entre quinta-feira e sábado, ontem anunciado. Além de Carlos Martins, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) também vai participar, “mas os detalhes ainda estão em desenvolvimento”, afirmou Vong Man Hung, vice-directora da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental de Macau (DSPA), em conferência de imprensa. Este ano, o tema do 10.º Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa) é o “Desenvolvimento Verde Inovador para um Futuro Sustentável” e terá como orador principal Achim Steiner, antigo director executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e actual vice-presidente internacional do Conselho Chinês para a Cooperação Internacional em Meio Ambiente e Desenvolvimento. O presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Jackson Chang, afirmou que nas nove edições anteriores da MIECF foram organizadas mais de quatro mil bolsas de contacto, que resultaram PUB
O teu nome mais belo se fizera/No relevo das letras bem gravadas/A paisagem lembrava Primavera/Sobre o verde das folhas espalmadas”
Bolsas verdes Secretário de Estado do Ambiente português vai participar no Fórum Ambiental de Macau
Este ano, a MIECF (...) terá como orador principal Achim Steiner, antigo director executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e actual vice-presidente internacional do Conselho Chinês para a Cooperação Internacional em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Maria Anna Acciaioli Tamagnini
terça-feira 28.3.2017
na assinatura de 241 projectos de cooperação. Destes, 187 (77,6%) já foram “postos em andamento”. Chang não quis divulgar o valor dos investimentos feitos.
ATRÁS DO TEMPO
O evento vai contar com uma sessão sobre a visita, organizada pelo IPIM, dos representantes das nove províncias do Grande Delta do Rio das Pérolas e das duas Regiões Administrativas Especiais de Macau e de Hong Kong (conhecido como grupo “9+2”) a Portugal e ao Brasil, este mês. O presidente do IPIM não adiantou pormenores sobre essa visita, dizendo apenas que foi curta, “oito dias apenas, quatro no avião, três dias no Brasil, um em Portugal”. “Foi um calendário bastante apertado, não tiveram tempo suficiente para visitar, o tempo foi investido em contactos. Mas visitaram a Amazónia. Porquê? Porque percebemos que precisam de diferentes tecnologias de informação, de protecção do ambiente”, explicou. O Fórum Ambiental deste ano vai contar com mais de 50 oradores e tem uma área de exposição de cerca de 16.900 metros quadrados, com mais de 450 expositores de 17 países e regiões, incluindo países de língua portuguesa. Tal como nos cinco anos anteriores, o orçamento é de 25 milhões de patacas.
RÚSSIA LÍDER DA OPOSIÇÃO CONDENADO A 15 DIAS DE PRISÃO
O líder da oposição a Vladimir Putin e ao governo russo, Alexei Navalny, foi esta segunda-feira presente a tribunal depois de domingo ter sido detido numa manifestação, a par de cerca de 700 pessoas. Navalny, advogado de profissão, foi ouvido e multado em 20.000 rublos, cerca de 320 euros, por organização de manifestações não autorizadas. Tal como a motivação para os protestos, repetiu as acusações de corrupção contra o primeiro-ministro Dmitry Medvedev e manteve que pretende candidatar-se à presidência em 2018. As primeiras informações davam conta de que seria libertado apenas com a multa, mas o tribunal resolveu condená-lo a 15 dias de prisão, por resistir às ordens da polícia. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que os protestos de ontem foram uma «provocação e uma mentira».