Hoje Macau 28 JUL 2020 # 4577

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CHINESES BURLADOS GRANDE PLANO

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TIAGO ALCÂNTARA

NSW POLICE

AUSTRÁLIA

COVID-19

CAPITAIS PÚBLICOS

ZONAS DE MÉDIO RISCO

REGRAS COM EXCEPÇÕES PÁGINA 4

ÚLTIMA

hojemacau

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TERÇA-FEIRA 28 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº4577

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Pecar por excesso Os dados do trânsito no primeiro semestre deste ano dão conta da subida vertiginosa de corridas ilegais, em Macau, durante a pandemia. Se em 2019, por esta altura, apenas tinham sido detectados dois casos do género, este ano a contagem disparou para 13, o que perfaz um

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aumento de 550 por cento. Em sentido contrário, estão as infracções cometidas por taxistas, com apenas 85 casos registados, contra as 2.785 infracções assinaladas no mesmo período de 2019, e que indicam uma descida de cerca de 96 por cento.

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CONTRA MIM PAULO JOSÉ MIRANDA

DE FANFANG A COLÓNIA JOSÉ SIMÕES MORAIS

SONATA PARA VIOLINO MICHEL REIS


2 grande plano

28.7.2020 terça-feira

A CANTIGA DO ESTUDANTES CHINESES BURLADOS POR “FALSOS” CONTACTOS CONSULARES

Desde o início do ano, as autoridades australianas deram conta de, pelo menos, 25 falsos raptos. Uma estranha realidade que esconde uma burla dirigida a estudantes chineses, depois de receberem chamadas intimidatórias de criminosos que se fazem passar por autoridades chinesas

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ECEBER uma chamada, ou fotografia, a retratar o rapto de um filho é, possivelmente, um dos maiores receios para qualquer pai ou mãe. A situação torna-se muito mais bizarra se for uma encenação protagonizada pelo próprio filho. Pelo menos 25 famílias tiveram de enfrentar esse terror nos primeiros cinco meses deste ano, depois de os filhos que estudam na Austrália terem preenchido as estatísticas dos 25 raptos falsos reportados às autoridades locais. Só no estado de New South Wales foram registados oito casos. Segundo as autoridades, os números de burlas podem ser muito superiores aos registados, uma vez que é muito comum as vítimas sentirem intensa vergonha e embaraço por terem sido enganadas. Entre Janeiro e Maio, os esquemas e pedidos de resgate renderam perto de 2,27 milhões de dólares norte-americanos, com a maior perda de uma só família a chegar a 1,4 milhões de dólares, segundo avançou a Agence France-Presse (AFP). O caso desta família é paradigmático do alcance do esquema, com o pagamento a ser efectuado depois de o pai da estudante ter recebido um vídeo em que se via a filha amarrada e amordaçada em local desconhecido. Após contac-

tada a polícia de Sidney, a jovem foi encontrada uma hora depois, em segurança, num quarto de hotel da cidade. Segundo a Polícia Federal Australiana, os alvos principais deste tipo de esquemas “estão distribuídos pelas maiores cidades, particularmente onde há maior concentração de estudantes chineses”. O esquema ilegal começa, por norma, com os burlões a contactar telefonicamente os jovens chineses, em mandarim, fazendo-se passar por oficiais do Governo chinês. Durante a chamada, os estudantes são ameaçados com a possibilidade de serem alvo de investigação, ou mesmo detenção em território chinês. O passo seguinte é a persuasão das vítimas para transferirem largas somas de

As vítimas de falsos raptos ficam traumatizadas com a ocorrência, assumem a culpa pelo que lhes aconteceu e sentem-se responsáveis por se terem colocado a si e aos seus entes queridos em perigo

dinheiro, ou montarem um cenário fictício de rapto para extorquirem a família. Parte do esquema passa por convencer as vítimas a cortarem comunicação telefónica, ou através de redes sociais, com família e amigos, a deixarem o local onde vivem e a enviar vídeos e fotografias a simular que estão amarrados. As imagens são acompanhadas de pedidos desesperados a implorar às famílias, que estão na China, o envio de dinheiro do resgate para serem libertadas em segurança. O fenómeno não é novo, em particular na Austrália, com as autoridades a darem conta de um aumento significativo de falsos raptos na última década. O detective chefe da polícia de New South Wales, Darren Bennett, revelou à emissora australiana SBS que “os telefonemas parecem ter natureza aleatória, mas os burlões aparentam escolher os alvos entre membros vulneráveis da comunidade sino-australiana”. O representante da polícia afirmou ainda que as autoridades de New South Wales tiveram a confirmação do Consulado-Geral da China de que nenhuma autoridade chinesa contactou estudantes pelo telemóvel a pedir pagamentos em dinheiro.

NSW POLICE

AUSTRÁLIA

INTERVENÇÃO ATEMPADA

Em declarações citadas pela BBC News, a polícia de New South Wales declarou que “as vítimas de falsos raptos com quem tiveram contacto ficam traumatizadas com a ocorrência”, assumem a culpa pelo que lhes aconteceu e sentem-se responsáveis por se terem colocado a si e aos seus entes queridos em perigo. A Austrália não é o único país onde acontece este tipo de fraudes, principalmente com o crescimento de associações de crime organizado que exploram vítimas vulneráveis, com registos semelhantes na Nova Zelândia, nos Estados Unidos, Canadá e Singapura. “Os estudantes podem fazer duas coisas para se protegerem contra este tipo de crimes. Em primeiro lugar, estarem sensibilizados para a ocorrência destas fraudes. Em segundo lugar, pedirem aju-

da logo ao primeiro contacto se suspeitarem que o mesmo lhes vai acontecer a si, ou a alguém que conheçam”, alerta a polícia australiana. No início do ano, uma estudante chinesa contou à ABC News o esquema em que quase caiu. Segundo o relato da jovem, tudo começou quando recebeu uma chamada de alguém que se identificou como trabalhador da embaixada chinesa, que lhe disse que ela estaria envolvida num caso que estava a ser investigado na China. Apreensiva,

a estudante forneceu os seus dados pessoais ao alegado burlão. Porém, os pais, que estavam na China, foram alertados pelas autoridades do esquema em causa antes de ter sido feito qualquer pagamento. Segundo uma organização não governamental, no ano passado os esquemas das “autoridades chinesas” fizeram mais de mil vítimas. Este tipo de burla acontece ao mesmo tempo em que são noticiadas perseguições a grupos étnicos e dissidentes exilados, com apresentação de queixas de assédio


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O BANDIDO de autoridades chinesas, nomeadamente através de telefonemas ameaçadores. Os avisos que apelam à sensibilização de estudantes para esquemas fraudulentos acontecem ao mesmo tempo que instituições de ensino superior tentam seduzir na internet os muito lucrativos alunos, em antecipação do possível relaxamento das restrições de viagens. Os estudantes internacionais têm um importante peso económico na Austrália, país que tem a educação como o quarto maior

A educação é o quarto maior sector económico australiano, atrás da mineração do ferro, carvão e gás natural, com mais de meio milhão de estudantes internacionais inscritos no ano lectivo anterior.

sector, atrás da mineração do ferro, carvão e gás natural, com mais de meio milhão de estudantes internacionais inscritos no ano lectivo anterior. O sector tem sofrido com as restrições fronteiriças e de viagens, além das tensões diplomáticas com Pequim que afectaram ainda mais o fluxo de jovens chineses para as universidades australianas.

QUEM TE AVISA

No mês passado, o ministro da Educação da China alertou os estudantes da ocorrência de “múltiplos inciden-

tes de discriminação contra asiáticos na Austrália” durante a pandemia e desencorajou o regresso ao país quando as fronteiras reabrirem. Na semana passada, foi revelado um caso em que seis estudantes chineses da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, foram burlados de forma semelhante, porém, com contornos menos violentos. Cada jovem foi burlado em, pelo menos, 10 mil dólares depois de uma pessoa que se fez passar por um oficial do Governo chinês lhes terem telefonado a avisar que

teriam de pagar fiança devido a casos pendentes na China. A polícia de Riverside, que tem jurisdição sobre a universidade, referiu à imprensa local que as chamadas neste tipo de casos são sempre em mandarim, com os burlões por vezes a fazerem-se passar por funcionários de bancos para pedir transferências de dinheiro aos estudantes. A polícia aponta para burlas entre 10 mil e 150 mil dólares, através de transferência bancária ou Bitcoin e para ameaças de prisão imediata se a vítima não pagar. As quantias são enviadas sempre para instituições financeiras chinesas e a partir daí torna-se impossível às autoridades de outros países seguir o rasto do dinheiro.

O ministro da Educação da China alertou os estudantes para “múltiplos incidentes de discriminação contra asiáticos na Austrália” durante a pandemia e desencorajou o regresso ao país quando as fronteiras reabrirem No ano passado, foi noticiado pelos média de Singapura o caso de uma jovem chinesa que se isolou num quarto de hotel, longe da família e amigos, a mando de burlões que também se identificaram como oficiais chineses. Com um modus operandi semelhante, a jovem acreditou estar a ser investigada por suspeitas de pertencer a uma associação criminosa de lavagem de dinheiro. Em menos de uma semana, a estudante de 22 anos enviou aos burlões quase meio milhão de dólares. Só depois de o namorado ter alertado as autoridades para o desaparecimento, a polícia de Singapura conseguiu encontra a estudante, passado um dia da apresentação de queixa. Duas semanas depois, a jovem deu a cara e contou o episódio por que havia passado de forma a alertar outros estudantes para as fraudes. O infortúnio da jovem começou com uma chamada do burlão, que se identificou como funcionário da DHL, que a notificou de que uma encomenda em seu nome tinha sido interceptada pelas autoridades por conter um passaporte e cartão de crédito falso. A chamada foi depois encaminhada para alguém que se fez passar por um agente das autoridades de Xangai, prosseguindo a mesma lengalenga até à extorsão da vítima. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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CAPITAIS PÚBLICOS CTM E CEM REJEITARAM PARTILHA DE INFORMAÇÕES

Vidas alternativas

As duas companhias foram as únicas a rejeitarem partilhar informações com o Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos da RAEM. Na lista agora publicada pelo Gabinete, entre os parceiros do Governo surgem vários nomes de membros do Conselho Executivo, deputados, elementos das famílias locais mais poderosas e até pessoas que já faleceram tárias optou-se por seguir apenas algumas das instruções. Estas companhias são Macauport, Laboratório de Engenharia Civil de Macau, Air Macau, Waterleau Macau e Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa de Sociedade Limitada. Até ontem, apenas as informações do LECM estavam disponíveis.

TIAGO ALCÂNTARA

Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) e a Companhia de Electricidade de Macau (CEM) recusaram seguir as instruções do Chefe do Executivo para partilharem informações de interesse público. No mês passado, Ho Iat Seng assinou um despacho com “instruções para a divulgação pública de informações por empresas de capitais públicos”, que estipula os conteúdos e deveres das companhias com participação da RAEM. Uma vez que o Governo de Macau tem participações minoritárias na CTM e CEM, estas empresas também tiverem de escolher se partilhavam informações como participações sociais, estrutura orgânica e demonstrações financeiras, entre outras, no portal do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos da RAEM. Porém, as duas empresas recusaram essa possibilidade. Quanto às restantes cinco empresas em que o Governo tem participações minori-

OUTROS RITMOS O Centro de Comércio Mundial (WTC, na sigla inglesa) é uma das empresas com mais accionistas “notáveis”, como Peter Lam, Liu Chak Wan, Chui Sai Cheong ou Tsui Wai Kwan

Quanto às empresas em que a RAEM é o principal accionista estão quase todas

disponíveis à excepção da Macau Investimento e Desenvolvimento, responsável pelo Parque de Medicina Tradicional Chinesa no outro lado da fronteira, e da UMTEC limitada, ramo comercial da Universidade de Macau. Entre os parceiros do Governo nas diferentes empresas surgem vários nomes de notáveis de Macau, desde deputados a membros de algumas das famílias mais representativas do território. O Centro de Comércio Mundial (WTC, na sigla

inglesa) é uma das empresas com mais accionistas “notáveis”, como Peter Lam, Liu Chak Wan, Chui Sai Cheong ou Tsui Wai Kwan. Outra entidade com vários accionistas bem conhecidos é o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, onde Peter Lam volta a surgir, tal como Chui Sai Cheong. Em termos das entidades portuguesas, a Teixeira Duarte (Macau) está presente no Matadouro e o Laboratório Nacional de Engenharia faz parte dos accionistas Laboratório de Engenharia Civil de Macau. Finalmente, quanto aos accionistas já falecidos, por exemplo na CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau, surgem Winnie Ho, irmã de Stanley Ho, Cheng Yu Tung. Também Ma Man Kei, o patriarca da família Ma, surge como accionista do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

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CONSULTAS PÚBLICAS MEMBROS NÃO PODEM ACUMULAR MAIS DO QUE TRÊS CARGOS

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 366/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 571/AI/2020

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora WENG CUIYING, portadora do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C35196xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 194/DI-AI/2018, levantado pela DST a 11.10.2018, e por despacho da signatária de 20.07.2020, exarado no Relatório n.° 367/DI/2020, de 28.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, Edf. I Chan Kok, 16.° andar B, Macau onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 20 de Julho de 2020.

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor LAO PAK CHUN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 73463xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 154/DI-AI/2018, levantado pela DST a 09.08.2018, e por despacho da signatária de 29.05.2020, exarado no Relatório n.° 203/DI/2020, de 23.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Estrada de S. Francisco n.° 3, Millionaire Garden, 5.° andar C, Macau onde se prestava alojamento ilegal.--------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 21 de Julho de 2020.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

O

S membros dos organismos consultivos podem acumular, no máximo, cargos em três organizações diferentes, que tenham como fim a realização de consultas públicas. O esclarecimento foi prestado em resposta a uma interpelação escrita enviada por Sulu Sou, onde o deputado pedia maior transparência e eficácia dos mecanismos de consulta como parte importante da reforma da Administração Pública prevista nas LAG para 2020. Numa resposta assinada pelo director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Kou Peng Kuan, refere ainda que, a recondução de mandatos por parte de membros dos organismos consultivos, está obrigada a ter uma “duração não superior a seis anos”. O objectivo passa por promover mais oportunidades e a rotatividade dos membros nomeados. Sobre as normas que visam melhorar a eficácia das consultas públicas, o Governo

diz estar “atento”, reiterando que irá rever e aperfeiçoar “constantemente” o regime que regula os trabalhos dos organismos consultivos. Já perante o pedido de Sulu Sou para que mais organismos sigam o “bom exemplo” do Conselho do Planeamento Urbanístico e promovam reuniões abertas ao público, os SAFP apontam apenas que “os organismos consultivos adoptam diferentes abordagens”. P.A.

O HM ERROU Na sequência da notícia publicada esta segunda-feira, relativamente à investigação levada a cabo pelo Ministério Público, o HM escreveu erradamente que a investigação versa sobre os alegados pagamentos que os taxistas terão recebido para transportar stickers com mensagens de apoio à lei

de segurança nacional de Hong Kong. Na verdade, o MP está a investigar a concentração de táxis, ocorrida no passado dia 6 de Junho junto ao posto fronteiriço da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, de apoio à Lei de Segurança Nacional de Hong Kong. Aos leitores e aos visados, as nossas desculpas.


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terça-feira 28.7.2020

Nos primeiros seis meses de 2020 as infracções relacionadas com corridas ilegais aumentaram 550 por cento em comparação com 2019. Com o trânsito drasticamente reduzido devido à pandemia, aumentaram, no entanto, os casos de excesso de velocidade e de condução sobre o efeito do álcool. Infracções praticadas por taxistas caíram 96,9 por cento

A

PESAR das melhorias em quase todos os quadrantes, as ondas de choque geradas pela covid-19 podem estar também espelhadas no trânsito. As infracções relacionadas com corridas ilegais aumentaram 550 por cento na primeira metade do ano, relativamente ao mesmo período

TRÂNSITO CORRIDAS ILEGAIS DISPARAM DURANTE O PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO

Correr para esquecer de 2019. Ou seja, entre Janeiro e Junho de 2020 foram interceptadas 13 corridas ilegais, número tanto mais representativo, se for tido em conta que, no primeiro semestre de 2019, foram registados apenas dois casos, ou que, ao longo de todo o ano passado, ocorreram nove situações do mesmo género. Mas os excessos não se ficam por aqui. De acordo como dados estatísticos do trânsito, divulgados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), o número de infracções por excesso de velocidade subiu para 8.163 nas vias públicas (mais 8,77 por cento), relativamente aos primeiros seis meses do ano passado, quando foram notificados 7.505 infractores. Dentro do mesmo campo de análise, destaque ainda para a ocorrência de 118 casos de excesso de velocidade na Ponte Governador Nobre de Carvalho (mais 391,67 por cento), relativamente aos primeiros seis meses do ano passado, quando foram registados 24 infractores. Segundo a CPSP, durante o mesmo período, aumentaram também o número de condutores sancionados por conduzir sob efeito do álcool durante as operações stop. Ao todo, foram multados 82 infractores (mais 17,14 por cento), ou seja, mais 12 casos, comparativamente com 2019. Também o número de casos de ultrapassagem do sinal vermelho aumentou mais

O número de infracções por excesso de velocidade subiu para 8.163 nas vias públicas (mais 8,77 por cento)

de 50 por cento nos primeiros meses do ano, de 842 (2019) para 1.284 (2020).

INFRACÇÕES EM QUEDA

Em termos gerais, as estatísticas da CPSP reflectem melhorias significativas em praticamente todos os campos, sendo que as infracções à Lei do Trânsito Rodoviário e ao Regulamento do Código da Estrada diminuíram 44,1 por cento (250.804) comparativamente com os primeiros seis meses de 2019, quando foram registadas 448.977 multas. Representativo da diminuição do número de infracções é o nú-

mero de irregularidades praticadas pelos taxistas durante o primeiro semestre. Se em 2019 foram assinaladas 2.785 infracções, em 2020 foram registados apenas 85 casos, ou seja, menos 96,95 por cento. Destes, três (menos 99,84 por cento) dizem respeito a casos de cobrança abusiva, 26 (menos 95.43 por cento) por recusa de transporte e 56 (menos 84.49 por cento), por outras irregularidades. Quanto a acidentes de viação, houve uma diminuição de 31,26 por cento (4.241), comparativamente com o mesmo período do ano passado, quando foram

registados 6.170 ocorrências. Diminuiu ainda, por exemplo, o número de veículos bloqueados, estacionamentos ilegais, casos de desobediência aos sinais de trânsito e de utilização de telemóvel durante a condução. Não foi registado qualquer caso de condução sob efeito de drogas. No total, o montante cobrado por infracções diminuiu de 94,2 milhões de patacas, em 2019, para 56,6 milhões de patacas nos primeiros seis meses de 2020 (menos 39,84 por cento). Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

DESEMPREGO TAXA SITUA-SE NOS 2,5 POR CENTO E REGISTA LIGEIRA SUBIDA

TRABALHO COMPENSAÇÕES POR ACIDENTE AUMENTAM EM SETEMBRO

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ADOS da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) ontem divulgados revelam que a taxa de desemprego se situou nos 2,5 por cento entre os meses de Abril e Junho, enquanto que a taxa de desemprego dos residentes se situou nos 3,5 por cento. Ambas registaram uma subida de 0,1 pontos percentuais face aos meses de Março a Maio. Em termos trimestrais a taxa de desemprego aumentou 0,4 por cento enquanto que a taxa de desemprego dos residentes aumentou 0,6 por cento. Neste período a popula-

ção activa situou-se nas 412.000 pessoas, enquanto que a taxa de actividade alcançou 70,8 por cento. A DSEC acrescenta ainda que a população empregada se fixou nas 401.900 pessoas, mais 7.300 em comparação com o período precedente. No entanto, o número de residentes empregados atingiu 279.300 pessoas, menos 800, explica o comunicado da DSEC. No período em análise, a população desempregada era composta por 10.100 pessoas, tendo subido ligeiramente em 400 elementos, em comparação com o período anterior.

A DSEC adianta ainda que “de entre a população desempregada à procura de novo emprego, os números de desempregados que trabalharam anteriormente no ramo de actividade económica das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos e no ramo dos restaurantes e similares registaram os crescimentos mais elevados”. Além disso, o número de desempregados à procura do primeiro emprego representou uma fatia de 5,5 por cento do total de todos os desempregados, um aumento de 0,4 pontos percentuais.

valor das indeminizações por acidentes de trabalho, doenças profissionais e prémios de seguro vai aumentar já a partir do dia 11 de Setembro. O anúncio foi feito ontem em Boletim Oficial através de despacho do Chefe do Executivo e comunicado pela DSAL e a AMCM. Assim, os limites mínimo e máximo da indemnização por incapacidade permanente absoluta passam, respectivamente, a ser de 405 mil e 1,35 mil milhões de patacas, depois de um aumento de oito por cento. Aumentados na mesma percentagem foram também os limites por morte,

passando o mínimo a ser de 324 mil patacas e o máximo para 1,08 mil milhões de patacas. Quanto ao valor destinado às compensações relacionadas com despesas de funeral, passam a estar fixadas entre 4.600 patacas (limite mínimo) e 17.800 patacas (limite máximo). O despacho prevê ainda que o limite máximo das chamadas “prestações em espécies” aumente cinco por cento, para 3,15 milhões de patacas por cada trabalhador. Estas prestações dizem respeito a tratamentos médicos ou à compra de medicamentos em caso de acidente ou doença.

Os valores relacionados com o uso de aparelhos de prótese e ortopedia foram ainda actualizados em 5,1 por cento. “O Governo acredita que, através da actualização dos diversos limites das indemnizações, irá proporcionar maior garantia aos trabalhadores que perdem total ou parcialmente a capacidade de trabalho devido a acidentes de trabalho ou doenças profissionais, e aos seus familiares”, pode ler-se no comunicado da DSAL. P.A.


6 sociedade

28.7.2020 terça-feira

Casinos Dirigente associativo diz que não há salas VIP fechadas

Kwok Chi Chung, presidente da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau, disse que não existem salas VIP fechadas nos casinos. Segundo o jornal Ou Mun, o responsável adiantou que as medidas de controlo de pessoas nas fronteiras não ajudam à recuperação das receitas de jogo para níveis anteriores à pandemia. O dirigente defendeu que o sector só vai recuperar se as autoridades chinesas voltarem a atribuir vistos individuais de viagem. Kwok Chi Chung disse também que, nesta altura, a proporção de clientes das salas VIP e do jogo de massas é semelhante e que o sector tem correspondido às políticas do Governo para evitar despedimentos. Quanto aos funcionários das salas VIP, Kwok admite a existência de licenças sem vencimento.

Helena de Senna Fernandes, directora da DST “O helicóptero em Macau não é tour de turismo, é um meio de transporte, o que faz com que seja difícil aumentar mais o número de lugares disponíveis.”

DST SORTEIO DITOU 792 CONTEMPLADOS COM VIAGENS DE HELICÓPTERO

E os vencedores são...

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Maria Helena de Senna Fernandes diz que os Serviços de Turismo não estão em negociações para abrir eventuais “bolhas” para residentes gozarem férias no exterior. Ontem foram escolhidos os participantes para o roteiro mais apetecível das excursões locais

O

nome dos 792 escolhidos para participar no roteiro turístico que integra uma viagem de helicóptero foi ontem anunciado, após um sorteio, organizado pela Direcção de Serviços de Turismo (DST), em que participaram mais de 32 mil pessoas. A lista com os resultados está disponível no portal da DST e os contemplados têm até amanhã para se deslocarem às agências de viagens e confirmar a participação. Apesar dos 32.008 inscritos, apenas 31.333 nomes foram admitidos ao sorteio. Houve ainda 208 inscrições adicionais sorteadas, para o caso de haver desistências. Após o sorteio electrónico a directora da DST, Maria Helena de Senna Fernandes, mostrou-se satisfeita com os resultados: “Este roteiro foi um grande sucesso. Houve 31.333 participantes no sorteio, um número que superou em muito as nossas expectativas. É a primeira vez que tivemos tanta adesão a um roteiro num período de tempo tão curto”, disse a directora.

Cada um dos escolhidos tem direito a levar um acompanhante, o significa que o número total de participantes no roteiro seja 1.584. Face à grande procura, Helena de Senna Fernandes admitiu que vai ser complicado aumentar mais a oferta. “O helicóptero em Macau não é tour de turismo, é um meio de transporte, o que faz com que seja difícil aumentar o número de lugares disponíveis. Aliás, já houve um grande esforço da companhia de helicóptero para aumentar de um dia para o outro os 600 lugares para cerca de 1.500”, reconheceu. “Agradecemos muito o apoio da companhia de helicóptero”, acrescentou.

REVISÃO DO PLANO DO TURISMO

Como consequência da pandemia da covid-19, o Executivo lançou um programa de apoio às agências de viagens através do subsídio de roteiros aos residentes. As viagens de helicóptero fazem parte deste pacote de ajuda ao sector do turismo. As autoridades admitem que os efeitos da pandemia são pro-

fundos e vão obrigar o Executivo a reavaliar o Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau. Este aspecto foi apontado ontem pela directora da DST: “Pensamos que depois desta pandemia vai haver grandes diferenças em todo o mundo ao nível do turismo. E os segmentos que antes considerávamos importantes podem mudar”, afirmou Helena de Senna Fernandes. “Vamos começar com uma revisão do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau”, indicou. Num primeiro momento, a aposta será tentar atrair turistas com um elevado poder de consumo, o que se explica pelas restrições de circulação de pessoas a nível mundial motivadas pela covid-19.

“BOLHA” AFASTADA

Quanto à suspensão da emissão de vistos individuais de turismo para Macau do Interior, ou a vinda de excursões, os tempos de incerteza vão continuar. Contudo, Maria Helena de Senna Fernandes espera que a situação se altere ainda este ano. “É muito

FRONTEIRAS DETECTADA REDE CRIMINOSA QUE TRAZIA JOGADORES PARA MACAU

difícil fazer uma previsão porque as condições estão a mudar de um dia para o outro. [...] Temos de estar muito atentos para qualquer eventualidade, continuar o nosso desempenho [sem casos] e esperar”, vincou. Já sobre a possibilidade de serem criadas “bolhas” de turismo, que permitam aos residentes passar férias em determinados destinos no exterior, a directora da DST diz que não estão envolvidos em negociações. “Da nossa parte, não há negociações [para criar bolhas]. Mas não serão os Serviços de Turismo a escolher os destinos [de eventuais bolhas]. É uma decisão que está sempre condicionada pela avaliação dos Serviços de Saúde que têm de escolher, para depois se dar o próximo passo”, explicou. Actualmente, Macau tem as fronteiras fechadas para estrangeiros. Os restantes podem entrar se cumprirem determinadas condições, como a quarentena ou a apresentação de testes de ácido nucleico com resultado negativo. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

O sábado, as autoridades policiais de Macau e Zhuhai desmantelaram uma rede criminosa que trazia jogadores da China para Macau contornando o controlo nas fronteiras. Segundo o jornal Ou Mun, a operação culminou com a detenção de 13 pessoas, oito deles membros da rede. PJ confirmou que a rede trazia pessoas para Macau numa lancha e operava há cerca de um mês, cobrando por cada pessoa 22 a 30 mil renmimbis pelo transporte. Durante as investigações, as autoridades descobriram que um funcionário de casino, de apelido Un, era responsável pelo transporte de imigrantes ilegais no seu carro. Um dos imigrantes ilegais presos, de apelido Duan, morava num apartamento identificado como pensão ilegal. À PJ, os alegados imigrantes ilegais confessaram terem entrado em Macau para jogar e evitar as medidas de controlo da nas fronteiras, mais apertadas devido à pandemia. A PJ já notificou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) para o acompanhamento do processo da pensão ilegal, enquanto que o caso da rede criminosa foi encaminhado para o Ministério Público para mais investigações. Os detidos ligados à rede podem ser acusados dos crimes de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal e acolhimento.


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terça-feira 28.7.2020

DSEJ Candidaturas para bolsas especiais e de mérito decorrem no mês de Agosto

Trabalho Menos sete mil TNR desde o início da pandemia Macau perdeu cerca de sete mil trabalhadores não-residentes desde o início da pandemia, de acordo com dados oficiais ontem divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Em Junho, segundo os dados da DSAL, trabalhavam em Macau 186.427 trabalhadores não residentes, em comparação com 193.498 no final de Janeiro de 2020.

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) aceita candidaturas para o programa de bolsas de mérito e bolsas especiais para o ano lectivo de 2020/2021 entre os dias 3 e 21 de Agosto. Segundo um comunicado, serão atribuídas 510 Bolsas de Mérito e 510 Bolsas Especiais, com o montante do subsídio determinado conforme o local de frequência escolar dos alunos. Para os estudantes que já beneficiavam deste apoio e que querem renovar o pedido, basta entregarem até ao dia 31 de Outubro o comprovativo de frequência do novo ano lectivo e a classificação do ano lectivo anterior nos balcões da DSEJ.

CASO IPIM FUNÇÕES DE MULHER E FILHA DE JACKSON CHANG CONFIRMADAS POR TESTEMUNHA

Mais nada que a verdade

A mulher e filha de Jackon Chang foram reconhecidas por um antigo funcionário da empresa de construção de Ng Kuok Sao, que disse trabalharem lá. Na sessão de ontem, uma testemunha foi alertada para a pena de mentir em tribunal e pressionada durante a apresentação de provas

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M homem que trabalhou na One Kin, empresa de construção do arguido Ng Kuok Sao, entre 2014 e 2018, reconheceu a mulher e filha do ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), e mostrou conhecimento dos cargos que ocupavam. A testemunha explicou que Angela Ip, mulher de Jackson Chang, trabalhava na aquisição de materiais. “No início, quando a nossa companhia participou em concursos e foi preciso obter

PEDIDOS PÓS-LABORAIS

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e acordo com uma testemunha, o arguido Miguel Ian pediu informações sobre um caso de fixação de residência já depois de sair do IPIM. “Perguntou-me sobre as minhas últimas notícias, novidades e se este caso já estava tratado”, disse Chao Sut Ieng, que trabalhou no IPIM entre 2010 e 2014 na divisão para a fixação de residência. A antiga funcionária disse que respondeu “nos termos da deontologia” definida na altura, e que o andamento dos casos “era confidencial”. Chao Sut Ieng reiterou que para além de colegas e superiores o andamento dos casos não se deve revelar a terceiros, e que nunca teve membros da Comissão Executiva a pedir-lhe esse tipo de informação.

preços, tínhamos de contactar essa colega”, disse. O antigo funcionário não se recordava de reuniões em conjunto, mas garantiu que viu Angela Ip na empresa e que esta lhe entregou documentos. Confrontado com uma fotografia de Júlia Chang, disse ser “parecida com a recepcionista”, e comentou que era mais frequente encontrá-la na empresa nos dois primeiros anos. “Na recepção parece-me que havia uma outra pessoa, mas recordo-me de tê-la visto”. O Ministério Público (MP) argumenta que o emprego da mulher e da filha de Jackson Chang na empresa de construção de Ng Kuok Sao era uma forma de pagar benefícios ao ex-presidente do IPIM. Ambas recebiam 15 mil patacas por mês, e trabalharam em períodos temporais diferentes na empresa. Foram ontem ouvidos em tribunal vários funcionários de empresas envolvidas no caso dos pedidos de fixação de residência do IPIM. Várias testemunhas não reconheceram Júlia Chang e a mãe, mas a altura em que trabalharam na empresa nem sempre coincidiu. Além disso, de acordo com alguns depoimentos, era preciso picar o ponto na empresa. A medida não se aplicava quando os funcionários tinham de sair do local habitual de trabalho, como por exemplo para deslocações a estaleiros, casos em que bastava informarem os superiores.

Wu Shu Hua, mulher do empresário Ng Kuok Sao, foi identificada como “patroa”.

ALERTAS REPETIDOS

“Alguém está a ameaçar a senhora? Porque está a chorar”, perguntou a

juíza a uma testemunha, antiga funcionária da empresa One Kin chamada a tribunal novamente depois de o tribunal ter questionado a veracidade do seu depoimento durante a manhã. Na parte da manhã, a testemunha disse que recebia instruções

Já em relação ao período homólogo de 2019, Macau tem em Junho quase menos quatro mil trabalhadores não-residentes. Em Fevereiro, Macau avançou com uma série de medidas de contenção da pandemia: enviou trabalhadores para casa, mandou encerrar os casinos durante pelo menos 15 dias, algo que levou à quase total paralisação da economia.

da empresa para fazer levantamentos, entregando o dinheiro à companhia, a mando da secretária de Ng Kuok Sao. Relativamente a uma outra funcionária que foi constituída arguida, disse que não tiveram muito contacto, recusando inicialmente que esta lhe tivesse pedido para acompanhar casos específicos de fixação de residência. Neste ponto, o tribunal advertiu a testemunha para dizer a verdade, alerta que se repetiu. “Prestou juramento e se a testemunha mentir em tribunal a pena máxima é cinco anos de prisão”, disse a juíza. A chamada de atenção prendeu-se com uma aparente incongruência entre o depoimento e provas, nomeadamente mensagens a indicar que a testemunha foi várias vezes contactada pela outra funcionária sobre o acompanhamento dos pedidos de fixação de residência. Neste seguimento, surgiu um novo alerta: dizer a verdade ou ser constituída arguida.

“Prestou juramento e se a testemunha mentir em tribunal a pena máxima é de cinco anos de prisão.” JUÍZA Instalada a dúvida, a testemunha teve de repetir várias vezes a identificação de assinaturas em documentos anteriores à sua entrada na empresa, algo que fez sem certezas. As tentativas de reconhecimento das assinaturas não escaparam a mais perguntas, entre as quais a percentagem de semelhança entre rubricas. No fim, acabou por receber ordem para ir à sua vida. Salomé Fernandes

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28.7.2020 terça-feira

Sob o signo da div TEDX SENADO SQUARE EDIÇÃO DESTE ANO É ONLINE E ACONTECE A 9 DE AGOSTO

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A edição deste ano do TEDX Senado Square acontece no dia 9 de Agosto entre as 14h e 16h numa versão online. Venus Loi, promotora do evento, diz que a lista de inscrições já excedeu as expectativas. Painel de convidados conta com a presença do arquitecto português Nuno Soares e de Kitty Choi, que, a partir de Hong Kong, falará sobre sexualidade, entre outras personalidades Albergue Abertas inscrições para workshop de lanternas

O Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau está a receber inscrições, até ao dia 15 de Agosto, para uma nova edição do “Workshop de Lanternas Criativas de Macau – Parte 22 [Nível Avançado]”. Esta iniciativa irá decorrer entre os dias 17 e 28 de Agosto todas as segundas, quartas e sextas-feiras, entre as 19h e as 21, e terá como mestre Alfredo Ceynas. A língua veicular do workshop será o inglês com o apoio do cantonês.

pandemia da covid-19 ditou que a edição deste ano do painel de debates do TEDX Senado Square seja online, mas nem por isso menos diverso. O evento acontece no dia 9 de Agosto, domingo, entre as 14h e 16h e já é conhecido o programa deste ano que se pauta, acima de tudo, pela diversidade, conforme explicou Venus Loi, promotora do evento, ao HM. “Tentámos obter alguma diversidade. Alguns oradores falam de questões pessoais e outros falam também do desenvolvimento da cidade de uma maneira geral. Temos diferentes ângulos e espero que possamos partilhar boas ideias nesta altura de pandemia.” Nuno Soares, arquitecto português, é um dos convidados e irá abordar o tema do desenvolvimento urbanístico do território. Derek Wong, professor da Universidade de Macau, irá apresentar o seu projecto da máquina de tradução automática de chinês para português e de português para chinês. “Ele tem vindo a trabalhar neste projecto nos últimos 14 anos e ganhou vários prémios internacionais. Penso que esta é uma boa oportunidade para deixar as pessoas saberem que também temos boas invenções em Macau”, disse Venus Loi. Segue-se Kitty Choi, mestranda em psicologia pela Universidade de Hong Kong e directora da Sticky Rice Love, uma plataforma onde jovens podem discutir sexualidade e relações amorosas. Com esta entidade, Kitty Choi promove também a educação sexual em Hong Kong. “Não nos queremos focar num tema em específico. Queremos ter uma variedade de tópicos para discussão”, adiantou a promotora do TEDX Senado Square. “Temos

“Tentámos obter alguma diversidade. Alguns oradores falam de questões pessoais e outros falam também do desenvolvimento da cidade de uma maneira geral. Temos diferentes ângulos e espero que possamos partilhar boas ideias nesta altura de pandemia.” VENUS LOI PROMOTORA DO TEDX SENADO SQUARE

o arquitecto que irá falar sobre o planeamento urbanístico e o desenvolvimento da cidade, e temos uma educadora de Hong Kong que vai abordar muitas questões que os jovens de hoje em dia têm em relação à sexualidade. Teremos também uma convidada [Daisy Ma] que o ano passado viajou até ao Nepal e irá partilhar connosco algumas das experiências que viveu, nomeadamente as questões ambientais com as quais se deparou durante essa viagem.”

DÁ-ME MÚSICA

O cartaz da edição deste ano do TEDX Senado Square fica completo com mais duas convidadas de Hong Kong, Cintia Nunes e Dorothy Lam. Juntas criaram a Dream Impact 2.0, focada no conceito de lugar de trabalho partilhado e na criação de uma comunidade de empreendedores e de startups com recursos e impacto social. As duas oradoras “vão revelar a experiência de empreendedorismo

social e de inovação porque trabalham nesta área há muito tempo”, explicou Venus Loi. “Pode encontrar-se um equilíbrio entre uma organização não-governamental e um modelo de negócio, mas Macau não está tão desenvolvido como Hong Kong neste âmbito. É um conceito novo para o

CINEMA REALIZADORAS PORTUGUESAS PREMIADAS EM ESPANHA

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UAS realizadoras portuguesas, Margarida Lucas e Regina Pessoa, foram premiadas no Festival Ibérico de Cinema (FIC) de Badajoz (Espanha), que terminou no fim de semana, informou ontem a Delegação da Estremadura espanhola em Lisboa. As realizadoras foram distinguidas pelas curtas-metragens "Sagrada Família", de Margarida Lucas, e "Tio

Tomás, a contabilidade dos dias", de Regina Pessoa, na 26.ª edição do FIC, que decorreu, além de Badajoz, em Olivença e San Vicente de Alcántara, na região da Estremadura espanhola. Os espectadores do festival distinguiram com o Prémio do Público de Badajoz a ‘curta’ de Margarida Lucas "Sagrada Família", uma “comédia de humor negro que conta a história de uma peculiar família

que vive num pequeno andar em Benfica”, explica uma nota dos promotores enviada à agência Lusa. Já a película de Regina Pessoa, "Tio Tomás, a contabilidade dos dias", foi distinguida pelo júri com o Prémio de Melhor Música Original pelo trabalho do canadiano Normand Roger, no filme que é uma homenagem da realizadora ao seu tio Tomás, “um homem humilde


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terça-feira 28.7.2020

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Miró mais protegido Obras do artista espanhol classificadas em Portugal como bens de interesse público

despacho de classificação das 85 obras do artista catalão Joan Miró, propriedade do Estado português, como conjunto de bens de interesse público, foi publicado ontem em Diário da República, em Portugal. “Na sua totalidade, estas 85 obras possuem indubitavelmente grande qualidade e valor artístico, constituindo um testemunho inestimável da larga e multifacetada produção”, do artista catalão, lê-se na portaria publicada, assinada pela secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira. A classificação visa os 85 trabalhos provenientes da colecção do antigo Banco Português de Negócios (ex-BPN), depositados na Fundação de Serralves, no Porto. O diploma reconhece igualmente a lógica de colecção a este conjunto, em termos de manifestação da produção artística de Joan Miró, destacando-o como “conjunto heterogéneo de criações realizadas ao longo de seis décadas, com recurso a diversos materiais, técnicas e suportes, incluindo, entre outros, óleos, aquarelas, desenhos, colagens e peças escultóricas, representando uma extensa e variada amostragem da obra do artista catalão”. “Desta forma - prossegue o diploma - este grupo de peças pode ser visto como uma autêntica colecção, com o elevado número de trabalhos a contribuir tanto para o seu impacto artístico, como para a sua importância enquanto documento para a compreensão dos métodos e investigações plásticas de Miró”.

território e queremos mostrar isso”, adiantou a responsável pelo evento. Para já, a adesão do público ao TEDX Senado Square parece ser muita. "A nossa lista de registos está acima das expectativas neste momento. A lista não está limitada a pessoas de Macau, embora Ma-

com uma vida simples e anónima, mas que foi determinante para ela”. O concurso recebeu 480 curtas-metragens de Espanha e Portugal, das quais foram seleccionadas 24 para a secção oficial, entre elas as duas portuguesas que acabaram premiadas.

cau seja sempre a nossa prioridade em termos de público.” Além dos discursos e debates, o evento conta também com a presença musical do DJ Akitsugu Fukushima e com um espectáculo de dança. Mesmo com os desafios da pandemia, Venus Loi assume querer continuar a organizar

este evento anual, procurando captar novos membros para a edição de 2021. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

CRITÉRIOS E INTEGRIDADE

O despacho de classificação sublinha que “assim se devem entender não apenas as peças mais notáveis, tais como ‘A Bailarina’ (1924), ‘La Fornarina’ (1929), ‘Signos e Figurações’ (1935), ‘Canto dos Pássaros de Outono’ (1937), ‘Mulher e Pássaro’ (1959), ‘Personagens e Pássaros na Noite’ (1963), ou, por exemplo, a série de tecelagens (Sobreteixins) de 197273, mas igualmente as restantes obras, incluindo aquelas de menor relevo, que contribuem para uma melhor compreensão das ligações entre períodos artísticos na obra de Joan Miró”. “A classificação das 85 obras de arte da autoria de Joan Miró”, que fazem parte da colecção do Estado português, “reflecte os critérios constantes” do regime de classificação e inventariação dos bens móveis de interesse cul-

tural, em particular os “relativos ao carácter matricial dos bens, ao génio do respectivo criador, ao seu valor estético e técnico intrínseco, e à sua importância na perspectiva da sua investigação histórica, às circunstâncias susceptíveis de provocarem diminuição ou perda da sua integridade”, prossegue o diploma publicado. Ainda de acordo com esta portaria, “foi obtido parecer favorável da Secção dos Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial do Conselho Nacional de Cultura, bem como foram cumpridos os procedimentos de audiência prévia previstos de acordo com o disposto no Código do Procedimento Administrativo”. De seguida, o diploma enumera e identifica as 85 obras da Coleção João Miró, que já estiveram expostas em Serralves, no Porto, e no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, entre outros locais, dentro e fora de Portugal. A proposta de classificação da colecção ao Governo foi feita pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), no passado mês de Fevereiro, sustentando que as obras que a compõem “possuem indubitavelmente grande qualidade e valor artístico”.


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28.7.2020 terça-feira

CHENGDU AUTORIDADES CONTROLAM EDIFÍCIO QUE HOSPEDOU MISSÃO NORTE-AMERICANA

A guerra dos consulados

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S autoridades chinesas assumiram ontem controlo do edifício que hospedou o consulado norte-americano na cidade chinesa de Chengdu, sudoeste da China, numa altura de crescentes tensões entre as duas maiores economias do mundo. O regime chinês ordenou que a missão fosse encerrada, em retaliação pela decisão dos EUA de fechar o consulado chinês em Houston, no estado do Texas. O encerramento dos consulados marca uma escalada significativa nas múltiplas disputas entre os dois países, que vão do comércio e tecnologia aos direitos humanos ou soberania do Mar do Sul da China. O Departamento de Estado norte-americano expressou "decepção" e lembrou que o

solenes. A China adoptará retaliações legítimas e necessárias", de acordo com o comunicado. A China mantém consulados em São Francisco, Los Angeles, Chicago e Nova Iorque, além da embaixada em Washington. Os EUA têm outros quatro consulados na China e uma embaixada em Pequim, assegurando paridade em termos de missões diplomáticas.

COM HISTÓRIA

consulado "está no centro das (...) relações com o povo do oeste da China, incluindo o Tibete, há 35 anos". "Estamos decepcionados com a decisão do Partido Comunista Chinês e esforçar-

-nos-emos para continuar a alcançar as pessoas nesta importante região, através dos nossos outros postos na China", lê-se no comunicado. O ministério dos Negócios Estrangeiros da China PUB

emitiu um breve aviso a afirmar que as "autoridades competentes" entraram pela porta da frente e assumiram as instalações, depois de os diplomatas norte-americanos terem saído.

DO OUTRO LADO

No dia anterior, o ministério dos Negócios Estrangeiros da China emitiu uma declaração de protesto sobre o que disse ser uma invasão ao seu consulado de Houston, considerando qu e esta violou a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e a Convenção Consular China-EUA.

O encerramento dos consulados marca uma escalada significativa nas múltiplas disputas entre os dois países, que vão do comércio e tecnologia aos direitos humanos ou soberania do Mar do Sul da China "O lado chinês lamenta e opõe-se firmemente à decisão dos EUA de entrar à força no Consulado Geral da China em Houston, e apresentou representações

O consulado de Chengdu ganhou destaque em 2012, quando o chefe da polícia na cidade vizinha de Chongqing se refugiu na missão diplomática, precipitando a queda do líder em ascensão de Chongqing, Bo Xilai, no maior escândalo político na China em décadas. Também foi anfitrião do ex-vice-Presidente norte-

-americano Joe Biden durante uma visita à China, quando o actual candidato à presidência pelo Partido Democrata acompanhou o então vice-presidente da China e agora chefe de Estado, Xi Jinping, numa deslocação à cidade. A bandeira norte-americana foi retirada da missão de Chengdu às 06:18 na China, segundo a emissora estatal chinesa CCTV. A polícia fechou uma área de dois a três quarteirões ao redor do consulado, cortando praticamente qualquer vista da propriedade, incluindo a bandeira. O encerramento iminente do consulado atraiu um fluxo constante de espectadores durante o fim de semana, levando a polícia a fechar a rua e a calçada em frente ao consulado e a instalar barreiras de metal ao longo da calçada, do outro lado da estrada arborizada. Polícias uniformizados e à paisana vigiavam os dois lados das barreiras após incidentes dispersos, incluindo um homem que atirou fogo de artifício.

INDÚSTRIA LUCROS CAEM 12,8% NO PRIMEIRO SEMESTRE

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S lucros das principais empresas industriais da China caíram 12,8 por cento, no primeiro semestre de 2020, reflectindo o impacto da pandemia do novo coronavírus, informou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês. Segundo o GNE, os lucros no período entre Janeiro e Junho fixaram-se em 2,51 biliões de yuan. A queda nos lucros da indústria na China agravou-se, depois de ter recuado 6,3 por cento,

em Dezembro, antes do início do surto do novo coronavírus. Em 2019, comparativamente ao ano anterior, os lucros da indústria chinesa desceram 3,3 por cento, na sequência de uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos. Para este indicador, as estatísticas chinesas consideraram apenas empresas industriais com receitas anuais superiores a 20 milhões de yuan. Entre os 41 sectores analisados pelas estatísticas, 31 sofreram uma redução nos lucros, entre os meses de Janeiro e Junho, enquanto nove aumentaram os ganhos e um permaneceu inalterado. O especialista do GNE Zhu Hong observou que "a situação continuou a melhorar" na China, ao longo dos últimos meses, com a "implementação gradual de medidas preventivas", enquanto a actividade industrial foi gradualmente retomada.


terça-feira 28.7.2020

Há quem diga que o sol foi longe demais

uma asa no além Paulo José Miranda

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Contra mim ou nada

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NQUANTO os outros viviam para ser alguém, para aprenderem uma profissão, um modo de ser no futuro, eu vivia para não deixar de viver, esforçava-me dia a dia para não me matar.” É assim que a escritora do País de Gales, Kelly Chester começa o seu romance “Lutar Contra Mim”. Neste livro, singularíssimo, que não é um livro de ficção, mas um testemunho de vida, Chester traça uma narrativa onde nos mostra a sua vida desde a infância (pouco) a sua adolescência (um pouco mais) e a sua idade adulta (quase todo o livro). Viver o dia a dia como quem está no centro de uma guerra civil, “como nos Balcãs”, escreve. O livro é publicado em 1999 e além de trazer um testemunho pessoal, faz várias referências ao conflito nos Balcãs, comparando a vida a ser-se violentado na sua própria casa. Aliás, o próprio termo “conflito” é ironizado pela escritora: «Quando leio nos jornais “o conflito nos Balcãs”, lembro-me sempre de como é difícil de vermos a vida como ela é. O pai viola a filha e a mãe esconde os acontecimentos debaixo dos afazeres quotidianos, como se isso fosse o que se espera dela; a miséria dos salários, com quem mal consegue viver, não importa a quem fala deles, porque ninguém vê vidas num discurso parlamentar; há pessoas a quem dói mais tomar comprimidos do que simplesmente deixar-se morrer. “Conflito dos Balcãs”, como se fosse tudo um desacordo universitário, onde ninguém tem mais o que fazer do que imaginar teorias para a origem do universo. Ali, no “conflito dos Balcãs”, morrem pessoas, são violadas, torturadas, assistem à morte dos que amam. Não é um conflito, é uma barbárie. É o inferno.” É claro que Kelly Chester não pretende igualar a sua tragédia pessoal com aquela que é vivida pelo povo dos Balcãs, apenas estabelece uma relação entre a falta de clareza com que olhamos o que se passa lá com aquilo que se passa com ela. Não se trata de comparar dimensões, mas comparar falta de clareza, dificuldade de ver o que se passa. A morte e a tortura de milhares de pessoas não é semelhante ao seu sofrimento, “mas não se ver o que se passa nos Balcãs, não se usarem as palavras adequadas ao que se passa, assemelha-se ao não se ver o que se passa comigo”. Kelly Chester teve uma admirável carreira como professora universitária no departamento de psiquiatria da Universidade de Cardiff e durante toda a sua vida tem feito estudos sobre vários distúrbios da “falta de vontade de viver”. E aquele que ela identifica como sendo o seu distúrbio diagnostica-o como “incapacidade de ilusão”. Escreve: “Para conseguirmos

viver e suportar as inúmeras contrariedades da vida, é necessário que o nosso cérebro produza várias substâncias que permitam relevar ou redimensionar essas contrariedades. Substâncias que, numa linguagem pouco técnica, podemos designar por “produtoras de horizontes de sentido”, que a despeito de todas as contrariedades projectam um horizonte melhor. Estamos presos numa cela e projectamos o dia em que vamos sair; estamos numa situação de guerra civil e projectamos o dia em que conseguimos fugir dali. Aqueles que, como eu, não têm esses “produtores de horizonte de sentido” não conseguem ver além do que está a acontecer. E, de modo geral, o que acontece não é bom. Para mim, ou alguém como eu, viver comporta esforços inimagináveis para as pessoas comuns. Pois

não é contra as contrariedades que lutamos, mas contra a vontade que temos de desaparecer da vida. Ao não vermos nada adiante, ao não conseguirmos projectar nada de bom adiante, em cada instante, a vontade de desaparecer assume o controlo da existência. Esta, a existência, torna-se uma desistência contínua.” Imaginemos que viver, para Kelly Rachel, é estar continuamente no meio de uma pandemia e não conseguir projectar uma solução ou uma melhoria da situação. Pelo contrário, sentir cada vez mais, à medida que o tempo passa, que “o mal é existir”, como escreve a autora. Este salto de uma situação extremamente adversa para “o mal é existir” é devido a uma insuficiência de ilusão. “Toda a projecção é uma ilusão. acreditamos que o que projectamos irá acontecer,

“Para mim, ou alguém como eu, viver comporta esforços inimagináveis para as pessoas comuns. Pois não é contra as contrariedades que lutamos, mas contra a vontade que temos de desaparecer da vida.”

que virão dias melhores. Mas isso não é um ponto de vista realista. É um ponto de vista idealista. Quando num determinado acontecimento nada indica haver uma melhoria e ainda assim as pessoas acreditam que vai haver uma alteração para melhor é aquilo a que chamo de “capacidade de ilusão”, que é fundamental para se continuar a existir e talvez a maior invenção do ser humano.” É evidente que estamos perante um distúrbio radical, mas isso não impede que, em contraposição, como Kelly Chester faz neste seu “Lutar Contra Mim», não vejamos o ponto de vista ilusório em que assentamos os pés de cada vez que nos levantamos da cama e fazemos projectos. Como pudemos ler anteriormente, a autora vai ao ponto de afirmar a capacidade de ilusão como a maior invenção do ser humano. Termina o seu livro assim: “A ilusão, que em verdade não existe e se trata de uma invenção, tem um horizonte maior do que a realidade. Sem realidade podemos existir, mas sem ilusão não há vida. Sem gota de ilusão, vejo-me a mim mesma como o inimigo de que me tenho de livrar. Vivo dia a dia contra mim, para que não me acabe.”


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28.7.2020 terça-feira

Macau de fanfang a colónia que, por maiores que tivessem sido as suas fraquezas, só a sua política conciliatória podia ter vencido os dois séculos e meio de predominante intolerância da China [Qing]; que para os macaenses o Senado foi sempre um governo paternal; e que à sua histórica lealdade em muitas provações graves Portugal devia a conservação de uma colónia que, abandonada como estava, heróica e frontalmente se opôs às pretensões de sucessivos dominadores do mar”, segundo Montalto de Jesus, que adita, “Assim terminou o velho regime senatorial que um eloquente apelo às cortes, em 1837, tentou em vão fazer reviver.” Com uma administração liberal e recta, o Governador Andrea foi um funcionário modelo, recebendo louvores da comunidade portuguesa e estrangeira e com “uma atitude firme e severa assegurava também o respeito dos chineses”, refere M. de Jesus, “Entre outras medidas salutares devidas ao regime constitucional contam-se a libertação dos escravos domésticos e a supressão das ordens monásticas, por causa da sua campanha anticonstitucional.”

José Simões Morais

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OM Taiwan reconquistada ao neto de Koxinga em 1683, terminando com o regime dos Zheng e o seu domínio no Mar da China do Leste, o Imperador Kangxi em 1685 abriu o Celestial Império da dinastia Qing às actividades marítimas e criou quatro alfândegas para o comércio internacional. A Alfândega de Guangdong, a mais importante delas, tinha a sua mais significativa “delegação em Macau, que, por sua vez, coordenava quatro postos alfandegários montados respectivamente na Praia Grande (Nam Van), na Barra (Má-kok), na Grande Doca (perto do actual Porto Interior), e na Porta do Cerco, sendo, entretanto, extinto o antigo serviço alfandegário (Shi-Bo-Si), montado na Porta do Cerco”, escreve Victor F. S. Sit. Para ter intermediário com os negociantes estrangeiros, um pouco mais tarde o Governo Chinês criou um sistema de fretamento representado por 13 Hongs (Casas de Negócios), que se constituíram numa instituição, o Co-Hong. Composta por comerciantes chineses de grande influência, em 1720 publicaram as suas disposições, “e nesse âmbito os comerciantes chineses conseguiram estabelecer normas para as diversas qualidades de mercadorias e fixar os preços de venda. Isso significava que os comerciantes europeus em Cantão se viam praticamente confrontados com um monopólio e que o seu espaço de manobra se reduzia”, segundo Roderich Ptak. Huangpu (Whampoa) no início do reinado do Imperador Yongzheng (1723-1735) tornou-se o único porto onde os barcos europeus podiam ancorar, mas sem permissão dos comerciantes desembarcar. Na tentativa de estabelecer relações comerciais com a China, o Rei Jorge III da Grã-Bretanha enviou em 1793 uma embaixada ao Imperador Qianlong (17361796) a pedir permissão para representantes comerciais residirem na China. Por édito foi-lhes recusada residência e os britânicos bombardearam Nanjing. Mas, “já desde o início da década de 1780 que os ingleses mostravam um evidente descontentamento com a submissão à jurisdição chinesa em Cantão, por um lado, e à jurisdição portuguesa mista em Macau, pelo outro. Daí que não tivessem levado muito tempo a empreender o projecto de conseguir um acordo entre Calcutá e Goa, de forma a tornear o problema e passarem a gozar do mesmo estatuto privilegiado de que já gozavam em Portugal”, segundo Jorge

ALIANÇA COM OS INGLESES

de Abreu Arrimar, que refere, “Fechada a China aos seus planos, os ingleses passaram então a exercer pressão sobre Lisboa e Goa, de forma a poderem vir a estabelecer-se em Macau.” Citando Ângela Guimarães, “O período das duas primeiras décadas de Oitocentos é para Macau de permanente e intensa resistência ao avanço do expansionismo britânico na região, o qual se processa no contexto mais alargado da rivalidade imperialista franco-britânica.” Com o argumento de ajudar Macau a não ser invadida pelo exército francês de Napoleão, tentavam os ingleses ocupá-la.

GOVERNADOR CIVIL

Desde 1821, em Macau e nos restantes territórios portugueses ultramarinos, os Capitães Gerais passavam a ser designados por Governadores.

“As reformas políticas em Portugal levaram a um novo regime colonial que, pelo decreto real de 1834, foi adoptado para Macau tanto quanto as circunstâncias locais o permitiam. Entre outras medidas foi abolida a Ouvidoria; e a 22 de Fevereiro de 1835 o Senado foi dissolvido pelo novo governador, Bernardo José de Sousa Soares Andrea, investido de plenos poderes como governador civil. Daí em diante apenas competiriam ao Senado os assuntos municipais, embora ainda fosse chamado de Leal Senado”, Montalto de Jesus. O Governador de Macau Bernardo Soares Andrea (1833-1837) foi o primeiro a gozar de verdadeira autoridade civil, pois desde 1623 os antecessores tinham apenas autoridade militar. Ficava o Leal Senado na alçada do Governador de Macau, “com a recordação do

“O período das duas primeiras décadas de Oitocentos é para Macau de permanente e intensa resistência ao avanço do expansionismo britânico na região, o qual se processa no contexto mais alargado da rivalidade imperialista franco-britânica.” ÂNGELA GUIMARÃES

A arrogância agressiva dos ingleses, que faziam tudo o que bem lhes apetecia, em constantes transgressões a provocar o poder chinês e perante o assustador aumento exponencial do tráfico de ópio, o Vice-rei de Cantão enviou a Circular de 24 de Julho de 1834 aos mandarins do litoral da província mandando-lhes publicar “editais proibindo rigorosamente aos povos dos seus distritos qualquer trato, ou comunicação, com os ingleses, visto serem <todos perversos e contrabandistas>”, segundo Marques Pereira. Conscientes do perigo em ter os ingleses em Macau, (então um fanfang, território chinês governado por estrangeiros), os mandarins exigiram que as nossas fortalezas estivessem prontas e fortificadas para resistirem a qualquer desembarque das fragatas do lorde Napier, superintendente do comércio britânico na China. O Governador de Macau respondeu às autoridades chinesas a 17 de Setembro de 1834, referindo não recear qualquer perturbação com os ingleses, visto as relações entre a Inglaterra e Portugal se encontrarem em harmonia, mas que repeliria qualquer tentativa de desembarque e que não aceitava o envio de quaisquer tropas chinesas, segundo Luís Gonzaga Gomes. O que aconteceu a seguir está a descoberto nos nove artigos publicados em 2016 no Hoje Macau entre 8 de Abril e 3 de Junho, sobre a I Guerra do Ópio. Sob jurisdição do Governo do Estado da Índia, o Governador de Macau tinha na sua dependência o Governo de Timor e Solor desde 7 de Dezembro de 1836.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 28.7.2020

Gabriel Fauré (1845-1924)

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Primeira sonata para violino Sonata para Violino e Piano No 1 em Lá Maior, Op. 13

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M 1872, Camille Saint-Saëns, ex-professor de piano de Gabriel Fauré, apresentou o jovem compositor à grande meio-soprano Pauline Viardot-Garcia e à sua família e salão musical alargados. Fauré dedicou várias das suas canções a essa influente doyenne, apaixonou-se pela sua filha Marianne (que romperia o seu noivado após três meses) e dedicou a sua primeira sonata para violino ao filho, o violinista e compositor Paul Viardot. Foi Marie Tayau, no entanto, uma jovem estrela em ascensão e líder de um quarteto de cordas pioneiro constituído apenas por mulheres, que estreou a obra em Janeiro de 1877, com Fauré ao piano. “A sonata teve mais sucesso esta noite do que eu jamais poderia ter desejado”, escreveu Fauré a um amigo, e Saint-Saëns referiu, a propósito da obra, que sentia a tristeza que as mães sentem ao verem que os seus filhos já cresceram e que não precisam mais delas!... No entanto Saint-Saëns tinha mais a dizer: “Nesta sonata, encontramos tudo para tentar um gourmet: novas formas, excelentes modulações, cores incomuns e o uso de ritmos inesperados”, escreveu. “E uma magia flutua acima de tudo, abrangendo todo o trabalho, fazendo com que a multidão de ouvintes comuns aceite a audácia inimaginável como algo bastante normal. Com este trabalho, Monsieur Fauré ocupa o seu lugar entre os mestres.”

“Nesta sonata, encontramos tudo para tentar um gourmet: novas formas, excelentes modulações, cores incomuns e o uso de ritmos inesperados.” Essa magia é bastante aparente em momentos como a transição da secção de desenvolvimento para a recapitulação arrebatadora no andamento de abertura, Allegro molto. Essa é uma célere mas melodiosa forma-sonata, abrindo com crescente entusiasmo apenas para o piano solo nos primeiros 22 compassos. A sua frescura lírica é subtilmente sustentada por um dar e receber contrapontístico, e a sua doçura expressiva por uma técnica musculada. O segundo andamento, Andante, é uma comovente e insistentemente oscilante barcarolle, que faz um uso arrebatador de contraponto na maneira como os dois temas inter-relacionados se entrelaçam. O animado Scherzo, marcado Allegro vivo, uma espécie de brilhante hoedown francês, diverte-se tanto em sonoridade quanto em enredo rítmico e inspiração estrutural. Pontuado ligeira e nitidamente, muda de compasso e tonalidade com a audácia maníaca que Saint-Saëns assinalou. O finale, Allegro quasi presto, vai além da consumação e da adição com verve e vigor. Também bastante rápido, agita-se encantadoramente num mundo sobretudo muito suave, atingido por alguns fulgores estrondosos; “Dolce”, “sempre dolce” e “dolcissimo” parecem ser as marcações padrão de Fauré. SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: Gabriel Fauré em 1875

• Gabriel Fauré: Violin Sonata No. 1 in E minor, Op. 13 • Itazkh Perlman (violin), Emanuel Ax (piano) – Deutsche Grammophon, 2015


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

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PAZ NA CRIMEIA 44

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46 Cineteatro SALA 1

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SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.45

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SALA 2

BEYOND THE DREAM [C]

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8.97

de cessar-fogo entre as forças ucranianas e os rebeldes separatistas no leste da Ucrânia foi alcançado na quarta-feira, depois de encontros entre membros do Grupo de Contacto Tripartido, que inclui representantes da Rússia,

BAHT

0.25

YUAN

1.14

Ucrânia e da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), responsável pelo acordo de Minsk. Zelensky e Putin “saudaram o acordo para o cessar-fogo completo e abrangente”, segundo a presidência ucraniana.

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C I N E M A 7 1 6 3 5 4 2

THE LAST FULL MEASURE [C] Um filme de: Todd Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 21.30

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 47

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HUM

Os Presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da Rússia, Vladimir Putin, conversaram ontem telefonicamente, saudando o cessar-fogo na Crimeia que se iniciou à meia-noite de ontem, disseram as autoridades ucranianas. O acordo

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PROBLEMA 48

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Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3

DREAMBUILDERS [A]

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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00

LIGHT F MY LIFE [C]

Um filme de: Casey Affleek Com: Anna Pniowsky, Casey Afflek, Tom Bower, Elisabeth Moss 21.30

UM PASSEIO HOJE Apesar da distância curta, uma ida ao trilho doAltinho de Ká Hó é sempre uma viagem ao longo do tempo. Comece por deixar o automóvel em casa e desloque-se no autocarro 21A, uma máquina do tempo que assegura um regresso a 1974, ano da última vez que a suspensão da viatura deve ter sido revista. Os modelos utilizados também têm um design dessa época. Após uma hora a levar pancada dentro do autocarro, já no destino, aproveite para conviver com a natureza. O ideal nesta altura do ano é chegar ao local mais ao fim da tarde. Após a caminhada bem relaxante, aconselha-se o regresso no 21A, para mais uma sessão de pancada que depois assegura uma noite bem dormida. João Santos Filipe

TRILHO DO ALTINHO DE KÁ HÓ

3 7 5 6 1 4 6 7 LIGHT OF 3 MY LIFE 2 1 4 5 3 2 1 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 7 6 1 5 Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 4 Paulo 5 Maia3e Carmo;2Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 6 2 7 4 Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 15

terça-feira 28.7.2020

macau visto de hong kong DAVID CHAN

E

Segunda fase do cartão de consumo

M Macau, a notícia da semana é o anúncio do recarregamento o cartão de consumo com mais 5.000 patacas. Este valor destina-se a subsidiar o consumo no período compreendido entre 1 de Agosto e 31 de Dezembro. O plano de subsídio ao consumo divide-se em duas fases. A primeira decorreu entre Maio e Julho, durante a qual todos os cidadãos receberem um cartão carregado com 3.000 patacas. Nesta segunda fase, até porque abrange um período maior, o valor sobe para 5.000 patacas. O propósito deste cartão é colmatar o impacto da COVID 19 na economia e, sobretudo, apoiar o pequeno e médio comércio. Na primeira fase foram emitidos 624.000 cartões e o Governo investiu um total de 1.87 mil milhões no mercado. Nesta segunda fase, o cartão mantém um limite diário de 300 patacas, que podem ser gastas no pagamento de bens e serviços, mas que não podem ser convertidas em dinheiro vivo. O cartão nunca pode ser substituído por outro, mesmo em caso de perda. Os detentores de cartões podem recarregá-los num dos 190 postos disponíveis para o efeito. Este apoio ao consumo é uma medida muito benéfica para todos, especialmente para as pessoas que ficaram desempregadas e para àquelas perderam os seus negócios. Esta iniciativa, em conjunto com outras medidas, tem sido vital para apoiar a população mais carenciada. O comércio é também obviamente revitalizado, o ciclo económico mantêm-se e a vida vai seguindo, dentro do possível, o seu curso normal. Desde que Macau continue sem novos casos de infecção, a economia e a vida das pessoas irão melhorando aos poucos. A avaliar pela situaçao actual, é de crer que ainda há-de passar muito tempo até conseguirmos vislumbrar o fim da pandemia. Não será tão depressa que as receitas do Governo, alimentadas pela indústria do jogo, voltarão a aumentar. A revitalização da economia vai depender sobretudo do consumo das pessoas. Só aumentando a confiança dos residentes, pode a nossa economia ir recuperando pouco a pouco. A segunda fase do plano de apoio ao consumo, desempenha este papel. Desde que mantenhamos a distância social, podemos continuar com a nossa vida habitual, idas ao café, ao restaurante, às lojas, etc. Mesmo que gastemos pouco dinheiro, estamos a dar um sinal de confiança no regresso à normalidade, e a dar mostras de que acreditamos que a epidemia irá acabar e a vida vai voltar a ser o que era.

Na medida em que este cartão é uma medida chave para incentivar o consumo, manifestamos o nosso apreço por os comerciantes terem ficado isentos das taxas normalmente associadas aos pagamentos electrónicos. Desta forma, os comerciantes são aliviados da carga fiscal. No entanto, temos de manifestar o nosso descontentamento com os comerciantes que aumentam o preço dos produtos, devido à implementação do cartão de

consumo. Este comportamento anula o efeito pretendido. Uma estratégia que foi delineada para promover a economia, e ser benefécia para todos, ficará comprometida desta forma. Devemos considerar colocar numa “lista negra” os comerciantes que agem desta forma. Como a epidemia ainda irá durar por algum tempo, há quem se interrogue se irá haver uma terceira fase do plano de apoio ao consumo. Apenas cinco meses nos separam

“Temos de manifestar o nosso descontentamento para com os comerciantes que aumentam o preço dos produtos, devido à implementação do cartão de consumo. (...) Devemos considerar colocar numa “lista negra” os comerciantes que agem desta forma.”

do final de 2021. Se a situação sanitária em Macau se mantiver favorável, e não surgirem novas infecções, a economia irá recuperar pouco a pouco e a pertinência do cartão de consumo irá desaparecendo; mas se surgirem novas infecções, especilmente vindas do exterior, a economia vai ser afectada e o cartão de consumo vai continuar a ser necessário. Na impossibilidade de prever o desenrolar da epidemia, a abordagem cautelosa e optimista para lidar com a situação, será criar uma reserva de dinheiro e fazer os gastos estritamente necessários. O cartão de consumo é temporário e este tipo de estímulo à economia é igualmente temporário. No período que se seguir, a recuperação e o crescimento económico vão continuar a depender do consumo de todos nós.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados. Edmund Burke

PALAVRA DO DIA

Cartões de consumo Mais de 100 mil carregamentos no primeiro dia

Um total de 108.308 cartões de consumo foram carregados ontem, naquele que foi o primeiro dia da segunda fase desta medida de apoio aos residentes no âmbito da pandemia da covid-19. Segundo um comunicado conjunto da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) e Direcção dos Serviços de Economia, os cartões de consumo relativos à 1ª fase desta medida, e que estão sem saldo, podem ser carregados em 190 locais disponibilizados pelo Governo. Os residentes qualificados que não tenham levantado o cartão de consumo da 1ª fase ou que tenham perdido o mesmo também podem, desde ontem, levantar o cartão de consumo da 2ª fase no valor de 5.000 patacas, munidos do seu bilhete de identidade e dos documentos necessários, nos seis postos de serviços públicos indicados. Até 18 horas de ontem foram levantados 3.083 cartões de consumo.

Turismo Japão quer população a conjugar teletrabalho e férias

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O Governo nipónico propôs ontem aos japoneses uma solução original para responder à crise no turismo internacional e nacional: conjugar teletrabalho e férias. A proposta foi avançada pelo ministro porta-voz do Governo, Yoshihide Suga, quando se aproxima Agosto, um mês tradicionalmente marcado pelas altas temperaturas no Japão durante o qual muitos japoneses aproveitam para tirar alguns dias de folga. A ideia foi apresentada por Suga numa reunião oficial durante a qual se discutiram soluções para promover o turismo no Japão, quando a chegada de visitantes estrangeiros caiu 99,9 por cento desde Abril e as deslocações internas registam um declínio acentuado. De acordo com a emissora pública, a NHK, no referido encontro Suga propôs a ideia de popularizar um novo estilo de trabalho e viagens, no qual as pessoas podem continuar a assegurar o trabalho enquanto desfrutam das estadias em ‘resorts’ ou ‘spas’.

terça-feira 28.7.2020

Guangdong 15 pessoas desqualificadas para a isenção de quarentena

Dados oficiais disponibilizados pelas autoridades de Guangdong revelam que há 15 pessoas desqualificadas da isenção de quarentena pelo facto de terem estado noutras províncias chinesas, escreve o jornal Ou Mun. As autoridades de Guangdong alertaram ainda para o facto de haver pessoas que não cumprem os regulamentos sobre esta matéria, aumentando os riscos de contágio da covid-19. Desde o dia 15 de Julho que as pessoas podem entrar na província de Guangdong sem terem de cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias. Para isso, basta apresentarem um teste à covid-19 negativo, com validade de sete dias, e um código verde de saúde.

Debaixo de olho COVID-19 XINJIANG E LIAONING FORA DO GRUPO DE RISCO EM MACAU

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S Serviços de Saúde (SS) deixaram, para já, de fora, as províncias de Xinjiang e Liaoning da lista de regiões de alta incidência epidémica. Isto, apesar do surto de 61 novos casos de covid-19 assinalados ontem nos dois locais. No entanto, as autoridades dizem estar atentas e vão acompanhar o estado de saúde dos turistas provenientes das duas províncias, mesmo quando regressarem aos territórios, depois de visitar Macau. “Estamos a acompanhar e mantemos contacto próximo com a Comissão Nacional de Saúde. Por enquanto, ainda consideramos estas províncias como zonas de médio risco. Por isso as pessoas provenientes desses locais têm de apresentar um teste negativo de ácido nucleico e a cor do seu código de saúde será amarelo. [À chegada] Vamos ainda

(…) perguntar de onde vêm, se tiveram contacto com casos confirmados, etc”, explicou ontem a médica Leong Iek Hou, por ocasião da conferência de imprensa de actualização do novo tipo de coronavírus A responsável acrescentou ainda que, à entrada em Macau, os turistas provenientes de Xinjiang e Liaoning vão receber instruções específicas para “respeitar as regras de higiene pessoal” e “evitar ajuntamentos” e serão obrigados a realizar um novo teste ácido nucleico após 72 horas Ao regressar a Xinjiang e Liaoning depois de visitar Macau, os tu-

ristas irão continuar a ser acompanhados pelos SS. “Quando voltarem para a sua terra de origem depois de estar em Macau, vamos manter o acompanhamento sobre a situação desses visitantes”, assegurou Leong Iek Hou. Questionada sobre o número de turistas das duas províncias que estão actualmente em Macau, Leong Iek Hou apontou não ter dados para fornecer aos jornalistas.

HONG KONG EM AVALIAÇÃO

Na conferência de imprensa, Leong Iek Hou, reiterou que, por agora, continua tudo igual para quem vem de Hong

“As pessoas provenientes desses locais têm de apresentar um teste negativo de ácido nucleico e a cor do seu código de saúde será amarelo. [À chegada] Vamos ainda (…) perguntar de onde vêm, se tiveram contacto com casos confirmados, etc” LEONG IEK HOU MÉDICA

Kong. Ou seja, para além da apresentação de um resultado negativo ao teste de ácido nucleico, quem entra em Macau proveniente do território vizinho, tem de fazer quarentena obrigatória de 14 dias. No entanto, admitiu que a situação pode ser ajustada caso a situação piore. “Se a situação ficar mais grave podemos ajustar as medidas mas, por enquanto, a medida em vigor é esta. No entanto, vamos continuar a avaliar a situação de acordo com a evolução da epidemia”, admitiu. Sobre os tripulantes das embarcações de mercadorias que viajam diariamente de Macau para Hong Kong, Hou recordou que estão isentos de quarentena e considera que existem condições de segurança, já que estes trabalhadores não podem sair dos barcos quando chegam a Hong Kong e têm de fazer um fazer um teste de ácido nucleico a cada sete dias. P.A.

LIGA CHINESA VÍTOR PEREIRA ESTREIA-SE COM TRIUNFO

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Shanghai SIPG, do técnico português Vítor Pereira, estreou-se ontem na liga chinesa de futebol com um triunfo por 3-1 sobre o Tianjin Teda, com o avançado brasileiro Ricardo Lopes em destaque. Contratado esta temporada ao campeão sul-coreano Jeonbuk Motors, de José Morais, Lopes bisou no seu primeiro jogo pelo Shanghai SIPG e foi determinante na reviravolta da equipa de Vítor Pereira. Em Suzhou, perto de Xangai, o Tianjin Teda colocou-se em vantagem logo aos seis minutos, por Rong Hao, mas o Shanghai SIPG deu volta ao marcador ainda durante a primeira parte. Ricardo Lopes empatou o jogo aos 40 minutos e, pouco depois, aos 44, Wang Shenchao, consumou a reviravolta, após assistência de Óscar. Na segunda parte, Lopes confirmou o triunfo, aos 64 minutos, e deu a primeira vitória a Vítor Pereira, que está a efectuar a sua terceira temporada no futebol chinês. Por causa do novo coronavírus, este ano, o modelo da liga chinesa é diferente, com as 16 equipas divididas em dois grupos, de acordo com as suas áreas geográficas, e com jogos apenas em Dalian e em Suzhou.


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