Hoje Macau 29 DEZ 2016 #3723

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 29 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3723 PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

PRECISA-SE

Para hotelaria, jogo, retalho e restauração. Estas são as áreas com maior necessidade de recursos humanos em Macau, segundo a Comissão de Desenvolvimento de Ta-

TIC, TAC, TIC, TAC... GRANDE PLANO

ANTÓNIO PAULA SARAIVA

Em nome da flora

SOFIA MOTA

EVENTOS

lentos. Os dados, publicados ontem por este organismo, mostram que sectores fundamentais da economia do território continuam carenciados de pessoal.

PÁGINA 9 PUB

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TALENTOS FALTA DE RECURSOS HUMANOS EM SECTORES CHAVE

COREIA DO NORTE


2 GRANDE PLANO

COREIA DO NORTE DIPLOMATA DESERTOR FALA DOS PLANOS NUCLEARES DO REGIME

UMA BOMBA-RELOGI ´

Alguns dizem que sim, os mais optimistas relativizam a ameaça. Um antigo embaixador norte-coreano, que desertou em Agosto passado, veio esta semana dar conta de que Kim Jong-un quer aproveitar 2017 para afirmar o país como potência nuclear. O poder vai mudar nos Estados Unidos, o que complica o quadro. O próximo ano é para ser seguido com atenção

F

OI a primeira vez que falou desde que desertou e as notícias deixadas na conferência de imprensa não dão ao mundo motivos de descanso. Thae Yong-ho, antigo diplomata da Coreia do Norte em Londres, anunciou que Pyongyang entende que 2017 é a melhor altura para avançar, de forma significativa, com o programa nuclear. A ideia será aproveitar as mudanças de poder nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Thae Yong-ho é o funcionário norte-coreano mais importante a desertar em quase duas décadas. Fê-lo em Agosto, motivando alguma especulação acerca da consistência do regime de Kim Jong-un, mas manteve-se em silêncio até agora. Esta semana, decidiu falar à imprensa da Coreia do Sul. Apesar de ressalvar que, enquanto diplomata, não estava por dentro dos detalhes do programa de armamento nuclear do seu país, Thae Yong-ho deixou algumas ideias sobre o modo como o regime pensa. Pyongyang acredita que a China não vai punir, de forma muito severa, os ensaios nucleares que venham a ser feitos, porque Pequim receia que, com um eventual colapso do Norte, nasça uma Coreia unificada próxima dos Estados Unidos, o que seria um vizinho pouco desejável. “O regime conhece esta fraqueza da China”, afirmou, citado pelas agências internacionais de notícias. “Enquanto Kim Jong-un estiver no poder, a Coreia do Norte jamais desistirá do armamento nuclear, mesmo que lhe seja oferecido um bilião ou dez biliões de dólares como recompensa.” A imprensa estrangeira não pôde entrar na conferência de imprensa de duas horas e meia em Seul, destinada apenas a repórteres locais. Mas foi disponibilizada uma transcrição das declarações do antigo diplomata. Thae Yong-ho garantiu que Kim Jong-un não encara o programa nuclear como uma moeda de troca, mas sim como uma forma de lidar com os Estados Unidos, uma vez que pretende que o país seja reconhecido como uma potência

bados. As eleições presidenciais estão marcadas para o próximo ano.

SEM DINHEIRO E SOB CONTROLO

“Enquanto Kim Jong-un estiver no poder, a Coreia do Norte jamais desistirá do armamento nuclear, mesmo que lhe seja oferecido um bilião ou dez biliões de dólares como recompensa.” THAE YONG-HO DESERTOR NORTE-COREANO nuclear – estatuto que Washington não quer, de modo algum, atribuir. Este ano, a Coreia do Norte levou a cabo dois testes nucleares e lançou mais de 20 mísseis balísticos, tendo anunciado que está a desenvolver uma ogiva nuclear com capacidade para atingir os Estados Unidos. O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou já que está aberto à ideia de que o Japão e a Coreia do Sul construam armamento nuclear para deter a Coreia do Norte, uma afirmação fortemente contestada pela Administração Obama, que entende que se corre o risco de acabar com décadas de uma política de não-proliferação. Quanto à Coreia do Sul, tem vivido momentos políticos contur-

Thae Yong-ho, diplomata de carreira, esteve na Dinamarca e na Suécia antes de ser enviado para a embaixada da Coreia do Norte em Londres, onde esteve quase uma década. Na capital do Reino Unido, foi visto a discursar em eventos da extrema-esquerda, incluindo o Partido Comunista Britânico. Eram discursos apaixonados de defesa do regime de Pyongyang. Esta semana, falou da frustração que sente um diplomata do regime quando vive no estrangeiro. Contou que os embaixadores da Coreia do Norte ganham entre 900 a 1100 dólares por mês (o melhor salário não chega às nove mil patacas), o que faz com que o pessoal do corpo diplomático esteja em constante desespero e à procura de formas de aumentar o vencimento fora das embaixadas. Acabam por ter de morar dentro das representações diplomáticas, ao “estilo comunitário”, para poderem poupar nas despesas. No entanto, acrescentou Thae Yong-ho, enquanto viveu fora do país pôde usufruir de um luxo vedado às elites que vivem no Norte: teve acesso à Internet, sem censura, e lia as notícias da Coreia do Sul, incluindo relatos sobre a vida de desertores norte-coreanos. De acordo com antigo número dois da embaixada em Londres, o regime de Pyongyang é tão paranóico com a possibilidade de a informação que chega de fora poder influenciar a população que mantém os diplomatas que regressam a casa sob vigilância apertada, com receio de que possam contar como se vive no estrangeiro. Ironicamente, isto acontece ao mesmo tempo que aumenta o contrabando de DVD produzidos na China de novelas e filmes sul-coreanos, cada vez mais populares no Norte. Thae Yong-ho confessa ser fã deste tipo de conteúdos. Aquando da deserção do diplomata, a Coreia do Sul considerou que se tratou de um sinal de que Kim Jong-un estava a perder força

junto da elite norte-coreana. Já Pyongyang classificou Thae Yong-ho como “escumalha humana”, acusou-o de ter fugido depois de se ter apropriado de fundos públicos e de ter abusado sexualmente de uma menor. Thae Yong-ho negou estas acusações e disse que a sua desilusão com Kim Jong-un aumentou depois de vários altos funcionários terem sido executados, entre eles o tio do líder, Jang Song-thaek, numa tentativa de assegurar o poder através da criação de um clima de terror. A Coreia do Norte obriga os diplomatas a deixarem alguns membros da família no país, precisamente para evitar deserções. Thae Yong-ho assume que teve sorte: conseguiu fugir para o Sul com a mulher e os dois filhos. Os membros do corpo diplomático são ainda incentivados a vigiarem-se uns aos outros para que não haja traição. Mas existem falhas neste sistema de vigilância, apontou o desertor, que recusou fornecer detalhes sobre a forma como conseguiu escapar ao regime de Pyongyang. “É um mundo feito de pessoas e é impossível controlar alguém constantemente”, disse apenas.

TEORIA DA PROVOCAÇÃO

A situação na Coreia do Norte e a liderança de Kim Jong-un – que dura há já cinco anos, desde a morte do pai – são motivo de preocupação, até pela dificuldade em se traçar um retrato concreto do jovem líder e pela relação pouco clara com a China, parceiro económico de longa data que, de certo modo, tem vindo a funcionar como um travão às eventuais aspirações belicistas do regime. Alguns analistas consideram que a ameaça nuclear é, para já, exagerada. No entanto, admitem que o líder do regime mais isolado do mundo vai aproveitar a mudança de poder nos Estados Unidos para testar Washington. É bem provável que, nos próximos tempos, sejam feitos novos ensaios nucleares, a título de trabalho de casa: mostrar aos norte-coreanos que o regime é poderoso, capaz de enfrentar os inimigos da América.


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IO NO QUINTAL? Em declarações ao HM, Ken Kato destaca que, de acordo com o relatório dos serviços secretos sul-coreanos ao Parlamento do país, entre Janeiro e Setembro deste ano, o líder de Pyongyang ordenou 64 execuções públicas. “É o tipo de pessoa que mata o próprio tio”, vinca. Para o também membro da International Coalition to Stop Crimes Against Humanity in North Korea, o armamento nuclear produzido pela Coreia do Norte “pode ainda ser vendido pelo regime a grupos terroristas do Médio Oriente com os quais Kim mantém relações”.

Alguns analistas consideram que a ameaça nuclear é, para já, exagerada. No entanto, admitem que o líder do regime mais isolado do mundo vai aproveitar a mudança de poder nos Estados Unidos para testar Washington O impacto de uma provocação deste género não deverá surtir grandes alterações. Até à data, não existem provas concretas de um plano para uma guerra entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos ou os seus aliados ocidentais. Há uma única razão para a ausência de planos bélicos: a Coreia do Norte sabe que iria ser arrasada pelos adversários. Já Ken Kato, responsável pelo Human Rights in Asia, acredita que a ameaça que a Coreia do Norte representa é “muito real”. O activista – que ainda na semana passada denunciou o financiamento norte-coreano de uma universidade de Tóquio – não hesita em classificar Kim Jong-un como um “perigoso assassino com armas nucleares na mão”.

UMA INCÓGNITA CHAMADA TRUMP

Nesta equação de relações internacionais, há ainda que ter em consideração o que vai fazer a Administração Trump em relação a Pyongyang. De acordo com o Wall Street Journal, Obama avisou a equipa do seu sucessor que a Coreia do Norte deve estar no topo das preocupações da segurança nacional norte-americana. Ken Kato alinha no pensamento da Casa Branca ao dizer que não tem dúvidas de que “é uma das maiores ameaças que a comunidade internacional está a enfrentar”. Há peritos que acreditam que, dentro de quatro anos, Kim Jong-un vai ter ao seu dispor a tal ogiva nuclear com capacidade para chegar aos Estados Unidos, bem como submarinos que podem atacar os aliados de Washington. Por isso, para os observadores mais pessimistas, é essencial que Donald Trump consiga controlar o líder norte-coreano. Enquanto candidato, Trump disse que Kim é um “maníaco” e disse também que é “preciso dar crédito” ao que diz. Na altura, acrescentou estar desejoso de encontrar o líder para comerem “um hambúrguer”. Atendendo a que ninguém acredita que Kim Jong-un está disposto a abandonar as suas pretensões nucleares – e tendo ainda em consideração que décadas de sanções, ameaças, conversações e negociações resultaram em coisa nenhuma – o próximo Presidente dos Estados Unidos tem um dossiê difícil nas mãos.

A Coreia do Norte é ainda uma questão que serve para medir forças na região Ásia-Pacífico. Um falhanço norte-americano será um sinal de fraqueza enviado à China, numa altura em que Pequim está a desafiar o papel de proeminência dos Estados Unidos na região. O director da Human Rights in Asia considera que chegou a hora de pesar os interesses que estão envolvidos nesta questão e tomar decisões a bem da paz. “A comunidade internacional deve

aperceber-se da ameaça que a Coreia do Norte representa, e pressionar a China e a Rússia para a implementação total das sanções das Nações Unidas”, defende. Ken Kato considera também que “Pequim deve pensar que é do seu interesse travar o programa nuclear, porque é também uma séria ameaça à China”. É a bomba-relógio no quintal. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

“A comunidade internacional deve aperceber-se da ameaça que a Coreia do Norte representa, e pressionar a China e a Rússia para a implementação total das sanções das Nações Unidas.” KEN KATO DIRECTOR DA HUMAN RIGHTS IN ASIA


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hoje macau quinta-feira 29.12.2016

N.º 115/2016 NOTIFICAÇÃO EDITAL (Pagamento da multa aplicada e da quantia em dívida ao trabalhador não-residente) Lai Kin Lon, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho, substituto, manda que se proceda, nos termos dos artigos 14.º e 15.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – “Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho”, conjugados com os termos do artigo 72.º, n.º 2 e do artigo 136.º, n.º 2, do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, à notificação do infractor das Notificações n.º 182/R/2016 e n.º 183/R/2016, sociedade “Fábrica de Artigos de Vestuário Elegante, Limitada”(n.º de Registo do Empresário Comercial: SO545), sita na Avenida do Almirante Lacerda, n.º 123, Edif. Ind. Hip Wa, 8.º andar-B, em Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, proceder ao pagamento da multa indicada nas aludidas notificações, no valor de $110.000,00 (cento e dez mil patacas), por violação ao disposto previsto e punida no n.º 3 do artigo 32.º da Lei n.º 21/2009 – “Lei da contratação de trabalhadores não residentes”. Por outro lado, o infractor também deve, no mesmo prazo, proceder ao pagamento da quantia em dívida aos 22 trabalhadores não residentes, YE QING, HE SAIYING, LING YUNWU, LIU MEIJIN, XIANG CUILIAN, LIAO XUEQING, ZHANG RENPING, LI WEI, LI XIAOXIA, YANG MEIMEI, WANG YUJIN, CAI WENYAN, XIE CONGXIN, QIU MEIHONG, QUAN YUE, CHEN QING, WEI SHENGLIAN, HUANG BINGMEI, HUANG ZIXIAN, LI MEIZHU, LU YUANXUN e DONG XIUMEI, no valor de $54.000,00 (cinquenta e quatro mil patacas), devendo ainda, nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do prazo acima referido, fazer prova dos pagamentos efectuados. As cópias do despacho, a notificação e a guia de depósito deverão ser levantadas, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta dos processos em causa. (Processos n.ºs 8071/15, 8484/15, 8585/15, 8760/15, 9159/15, 9212/15, 9382/15, 9448/15 e 1569/16). Decorridos os prazos, o infractor não fez a entrega nestes Serviços do documento comprovativo desse pagamento, incorre na pena de as cópias de todos os documentos acompanhados do comprovativo de cobrança coerciva serem remetidos à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para a cobrança coerciva nos termos legais. Quanto à dívida dos trabalhadores não residentes vai ser remetida ao Ministério Público para procedimento. Nos termos dos artigos n.ºs 145.º, 149.º e 155.º do Código do Procedimento Administrativo, o infractor pode impugnar a decisão da Chefe do DIT no seguinte: a) Mediante reclamação para a autora do acto (Chefe do DIT), no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital; b) Mediante recurso hierárquico necessário para o superior hierárquico da autora do acto (Director da DSAL), no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital. O infractor não pode apresentar recurso contencioso pela decisão da aplicação de multa. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 9 de Dezembro de 2016. O Chefe do Departamento, substituto Lai Kin Lon

NOTIFICAÇÃO EDITAL (Pagamento da multa)

N.º 116/2016

Lei Sio Peng, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho, subst.ª, manda que se proceda, nos termos dos artigos 14.º e 15.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – “Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho”, conjugados com os termos do artigo 72.º, n.º 2 e do artigo 136.º, n.º 2, do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, à notificação da transgressora da Notificação n.º 176/R/2016, senhora FAN KA I, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, proceder ao pagamento da multa na aludida notificação, no valor de Mop$5.000,00(cinco mil patacas), por prática de infracção prevista no artigo 27.º da Lei n.º 21/2009 – “Lei da contratação de trabalhadores não residentes” e punida no artigo 32.º, n.º 2, alínea 4) da mesma Lei, devendo ainda, nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do atrás citado prazo, fazer prova do pagamento efectuado. As cópias do despacho, a notificação e a guia de depósito deverão ser levantadas, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta do processo em causa. (Processo n.º 2875/2016). Decorridos os prazos, a infractora não fez a entrega nestes Serviços do documento comprovativo desse pagamento, incorre na pena de as cópias de todos os documentos acompanhados do comprovativo de cobrança coerciva serem remetidos à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para a cobrança coerciva nos termos legais. Nos termos dos artigos n.ºs 145.º, 149.º e 155.º do Código do Procedimento Administrativo, a infractora pode impugnar a decisão da Chefe do DIT no seguinte: a) Mediante reclamação para a autora do acto (Chefe do DIT), no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital; b) Mediante recurso hierárquico necessário para o superior hierárquico da autora do acto (Director da DSAL), no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital. A infractora não pode apresentar recurso contencioso pela decisão da aplicação de multa. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 16 de Dezembro de 2016. O Chefe do Departamento, substª, Lei Sio Peng


5 hoje macau quinta-feira 29.12.2016

POLÍTICA

NG KUOK CHEONG ONDE ANDA A LEI SINDICAL?

O

deputado Ng Kuok Cheong interpelou ontem o Executivo quanto ao progresso da legislação sindical, frisando que já existem leis do género no Interior da China, em Taiwan e em Hong Kong. Em interpelação escrita, o membro da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau sublinha que o Artigo 27.º da Lei Básica estabelece que

A

construção da nova biblioteca central vai voltar a ser debatida na próxima quarta-feira, mas desta vez numa sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL). Apesar de o Governo já ter garantido que a biblioteca central será mesmo erguida no edifício do antigo tribunal, a verdade é que a deputada Song Pek Kei, autora do pedido de debate, entende que há outras localizações mais viáveis.

TRÊS PROPOSTAS

A

sessão plenária da próxima quarta-feira vai ainda servir para votar, na generalidade, três propostas de lei apresentadas pelo Governo. Uma delas prende-se com as alterações ao Código Penal que visam introduzir os crimes de assédio sexual, prostituição e pornografia com menores. Será ainda votada a alteração ao regime das carreiras dos trabalhadores dos serviços públicos, bem como a proposta de lei sobre o “controlo do transporte transfronteiriço de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador”, criada para responder a regras do Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais. Os deputados vão também votar as alterações nos Serviços de Polícia Unitários, que passam a ter mais responsabilidades na área da protecção civil, extinguindo-se o Gabinete Coordenador de Segurança.

que apenas o Conselho Permanente de Concertação Social pediu um estudo para a elaboração da lei. O deputado levantou algumas dúvidas em relação ao dito estudo: quais as áreas que abrange, qual a data de conclusão, se haverá consulta pública acerca da lei sindical, e se a mesma será aprovada durante o mandato do actual Executivo.

Debate SONG PEK KEI EXIGE BIBLIOTECA CENTRAL NO NAPE OU NOVOS ATERROS

Longe da Praia Grande “Segundo algumas propostas, o Governo poderia escolher um local perto da nova zona de aterros, do Centro Cultural e do Centro de Ciência para construir a biblioteca, pois poderá ser melhor do que a actual localização”, apontou a número três de Chan Meng Kam no seu pedido de debate, entregue ao hemiciclo em Novembro. Song Pek Kei não se mostra contra o projecto, mas entende que ainda há espaço para analisar a sua localização. “A adequabilidade da realização de um debate sobre a escolha do local tem que ver com a recolha de opiniões mais valiosas para o plano de construção da biblioteca central, pois deseja-se que a construção deste espaço cultural e de grande dimensão seja mais científica, exequível e adequada às exigências dos residentes.” A deputada estabelece mesmo um paralelismo com a estrutura similar de Hong Kong, edificada há seis anos. “O Governo referiu que a Biblioteca Central de Hong Kong, que entrou em funcionamento em 2010, tem uma área semelhante à da concebida para a Biblioteca Central de Macau e, na altura, o custo de construção atingiu os 700 milhões de dólares de Hong Kong. O custo previsto para a Biblioteca Central de Macau é de 900 milhões de patacas, tratando-se de um orçamento razoável”, entende. “O que difere em Macau é que os edifícios do antigo tribunal e da Polícia Judiciária implicam a protecção do património cultural; a fachada do antigo tribunal vai ser preservada, vão ser aditadas mais construções em cima e efectuadas escavações em baixo para a construção das caves, tratando-se de uma situação mais complexa do que construir um edifício em terreno plano, com provável desperdício de tempo e um custo elevado”, referiu Song Pek Kei.

SERÁ NECESSÁRIO?

A deputada não tem dúvidas sobre os valores orçamentais apontados,

TIAGO ALCÂNTARA

É já na próxima quarta-feira que o hemiciclo vai discutir a localização da biblioteca central. Para a deputada Song Pek Kei, que fez o pedido de debate, deveria localizar-se na zona dos novos aterros ou perto do Centro Cultural de Macau

os residentes de Macau gozam do direito e liberdade de organizar e participar em associações sindicais e greves. Apesar do estatuído no preceito fundamental, o deputado lamenta a inércia no que diz respeito à elaboração de uma lei sindical. Ng Kuok Cheong acrescentou ainda que, durante o debate das Linhas de Acção Governativa, o Executivo disse

Antigo tribunal, Praia Grande

mas questiona até que ponto a biblioteca central é necessária num território já composto, na sua óptica, por uma extensiva rede de bibliotecas. “Segundo a dimensão prevista na concepção da nova biblioteca central, o número de pessoas que esta anualmente conseguirá receber pode atingir até três milhões, distanciando-se significativamente da soma das bibliotecas públicas de todas as zonas, no que à sua utilização diz respeito. Atendendo ao desenvolvimento das bibliotecas comunitárias nos últimos anos, o Governo deve, antes do planeamento da nova biblioteca central, avaliar a distribuição das

bibliotecas comunitárias. Chegou a fazê-lo?”, questionou. Para fundamentar essa questão, a deputada apresenta números. “Segundo estatísticas

“O Governo deve, antes do planeamento da nova biblioteca central, avaliar a distribuição das bibliotecas comunitárias. Chegou a fazê-lo?” SONG PEK KEI DEPUTADA

efectuadas pelos media, em 2015 existiam 86 salas de leitura e bibliotecas públicas em Macau, uma densidade mais elevada do que nas regiões vizinhas. Há ainda 103 bibliotecas escolares, 80 bibliotecas especializadas e 34 bibliotecas de instituições do ensino superior e de escolas técnicas. Portanto, o número total perfaz 305”, concluiu. A mesma sessão plenária será ainda dedicada ao pedido de debate feito por Ng Kuok Cheong, que quer discutir a implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo já em 2019. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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hoje macau quinta-feira 29.12.2016

NOTIFICAÇÃO EDITAL

N.º 117/2016

(Reparação coerciva)

Lai Kin Lon, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho Substituto, manda que se proceda, nos termos do n.º 3 do artigo 9.º e do artigo 11.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho, conjugados com n.º 2, do artigo 72.º e n.º 2 do artigo 136.º, do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º

NOTIFICAÇÃO EDITAL (Reparação coerciva)

N.º 118/2016

Lai Kin Lon, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho substituto, manda que se proceda, nos termos do n.º 3 do artigo 9.º e do artigo 11.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho, conjugados com n.º 2 do artigo 72.º e n.º 2 do artigo 136.º, do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, à notificação do transgressor do auto n.º 218/0708/2016,

57/99/M, à notificação do transgressor do Auto n.º 247/0708/2016,

notifica-se o representante legal da sociedade Companhia Criativo

notifica-se o senhor CHEONG FU UN, para no prazo de 15 (quin-

E Cultural Flugent, Limitada, sita na Rua De S.Paulo Edif. Mei Tai

ze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente

Grand Garden RC A Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a

edital, proceder ao pagamento da multa aplicada no aludido auto,

contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, proce-

no valor total de Mop$10.000,00 (Dez mil patacas), por prática da transgressão laboral prevista do artigo 77.º, e punida na alínea 5) do n.º 3 do artigo 85.º, todos da Lei 7/2008 – Lei das Relações de Trabalho. Por outro lado, o notificado deve, no mesmo prazo, proceder ao pagamento da quantia em dívida aos trabalhadores LO KA HOU e LO KA HOU no valor total de Mop$16.200,00 (De-

der ao pagamento da multa aplicada no aludido auto, no valor de Mop$90.000,00 (noventa mil patacas), por prática das transgressões laboral prevista do n.º 3 do artigo 62.º, do artigo 75.º e do artigo 77.º, todos da Lei n.º 7/2008 – Lei das relações de trabalho, e punida nos termos da alínea 6) do n.º 1, das alíneas 4) e 5) do n.º 3, todos do artigo 85.º da Lei n.º 7/2008. Por outro lado, o notificado deve, no mesmo prazo, proceder ao pagamento da quantia em

zasseis mil e duzentas patacas), devendo ainda, nos 5 (cinco) dias

dívida aos trabalhadores ZHANG MAN YING, WONG UT WA,

subsequentes ao do termo do atrás citado prazo, fazer prova do

LAM KA KEI e NG I WENG, no valor de Mop$74.850,00 (setenta

pagamento efectuado.

e quatro mil, oitocentas e cinquenta patacas), devendo ainda, nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do atrás citado prazo, fazer

A cópia do auto, a notificação, o mapa de apuramento da quantia em dívida aos referidos trabalhadores e as guias de depósitos deverão ser levantados, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta dos processos n.ºs 862/2016 e 2685/2016.

prova do pagamento efectuado. A cópia do auto, a notificação, o mapa de apuramento da quantia em dívida aos referidos trabalhadores e as guias de depósitos deverão ser levantados, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta dos processos n.ºs 3143/2016, 3161/2016 e 3175/2016.

Decorridos os prazos, sem que tenha sido dado cumprimento à presente notificação, seguir-se-á a tramitação judicial, com a remessa dos autos ao Juízo.

Decorridos os prazos, sem que tenha sido dado cumprimentos à presente notificação, seguir-se-á a tramitação judicial, com a remessa do auto ao Juízo.

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 15 de Dezembro de 2016.

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 15 de Dezembro de 2016.

O Chefe de Departamento Substº,

O Chefe do Departamento substituto,

Lai Kin Lon

Lai Kin Lon


7 hoje macau quinta-feira 29.12.2016

SOCIEDADE

JOGO PRENDA NO SAPATINHO

O

EUA RESIDENTES DE MACAU ACUSADOS DE PIRATARIA INFORMÁTICA

Segredos para milhões Na sequência de uma investigação do FBI, dois residentes de Macau e um chinês de Changsha foram acusados de investir com base em informação confidencial obtida através de pirataria informática. Um deles foi detido em Hong Kong

D

E acordo com a Procuradoria de Nova Iorque, o trio agiu concertado para entrar nas redes de email de firmas de advogados que estariam a tratar de fusões e aquisições de empresas. O passo seguinte foi investir na bolsa, em consonância com a informação roubada. Investiram em cinco empresas cotadas em Wall Street, incluindo na Intel Corp e na Pitney Bowes Inc, num esquema que terá alegadamente rendido mais de quatro milhões de dólares. Os três suspeitos faziam-se passar por funcionários de corretoras que estariam a trabalhar para empresas de tecnologia, de acordo com a entidade americana que regula a segurança dos mercados de valores.

Iat Hong, cidadão de Macau de 26 anos, foi preso no dia de Natal, quando estava em Hong Kong, e aguarda extradição para os Estados Unidos. Já Chin Hung, também de Macau, e Bo Zheng de Changsha (China) continuam a monte. Este foi mais um caso abuso de informação privilegiada acedida através de pirataria informática, o que levou as autoridades norte-americanas a lançar avisos a firmas de advogados que estejam a trabalhar em fusões e aquisições.

Em conferência de imprensa, em Nova Iorque, o procurador Preet Bharara comentou que “este caso devia ser um toque de despertar para companhias de advocacia do mundo inteiro”. Acrescentou ainda que as sociedades de advogados “serão cada vez mais alvo de ataques de hackers, devido à informação valiosa que detém”. De acordo com a Reuters, os procuradores não quiseram identificar as firmas, mas uma delas parece a descrição fiel da Cravath, Swaine & Moore LLP,

Os três suspeitos faziam-se passar por funcionários de corretoras que estariam a trabalhar para empresas de tecnologia

baseada em Nova Iorque, e que representou a Pitney Bowes durante a aquisição da Borderfree Inc no ano passado. Na acusação pode-se ler que os suspeitos usariam as credenciais de empregados da firma para instalar malware, e dessa forma aceder aos emails de advogados que estariam a trabalhar no negócio da Pitney. O trio estaria também ligado a uma start-up da área da robótica que se encontrava a desenvolver controladores de chips e soluções para sistemas de controlo. Foram também acusados de tentar aceder a informação confidencial de outras duas empresas de robótica.

S casinos de Macau devem registar, este mês, uma subida nas receitas brutas entre quatro a seis por cento, quando comparando com Dezembro do ano passado. As estimativas são feitas por duas correctoras citadas pelo site GGRAsia. Em comunicado, a consultora Telsey Advisory Group LLC referiu que, de acordo com fontes na indústria, espera que nos primeiros 26 dias de Dezembro a subida das receitas brutas de jogo esteja entre os quatro e os seis por cento. Esta previsão compreende uma desaceleração dos estimados dez por cento que a consultora projectou na semana passada. A confirmarem-se as expectativas, são boas notícias para o sector que irá arrecadar este mês cerca de 18,6 mil milhões de dólares de Hong Kong, de acordo com os analistas David Katz e Brian Davis, ouvidos pelo GGRAsia. Também em declarações ao site, Christopher Jones, do Buckingham Research Group Inc, revela que nos oito dias que terminaram a 26 de Dezembro, a média diária de receitas chegou aos 570 milhões de dólares de Hong

Kong. Noutras contas, perfaz um acumulado de 14,8 mil milhões de dólares de Hong Kong durante o mês, representando um ligeiro abrandamento em relação aos níveis de receita da semana passada de 600 milhões de dólares de Hong Kong. “Atribuímos esta moderação semanal à sazonalidade, assim como ao facto de termos mais um dia de trabalho esta semana. Olhando para o futuro, esperamos manter níveis de receitas de jogo brutas na casa dos quatro a seis por cento”, prevê Jones. O analista acrescenta ainda que estima uma recta final forte com o fim do ano ocidental. De acordo com o especialista, a Buckingham Research manterá as perspectivas de aumento de lucros na ordem dos nove por cento para o último trimestre de 2016. “As expectativas de crescimento no mercado de massas estão entre os 11 e 12 por cento, enquanto o sector VIP estará entre o zero e o menos um.” Jones salientou que estas estimativas tanto para o mercado de massas, com para o segmento VIP são alicerçadas nos números apresentados pelas próprias operadoras.

JAPÃO DIRECTOR DA SANDS CHINA DESVALORIZA IMPACTO

W

ILFRED Wong, presidente e director de operações da Sands China, disse, em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau, que a liberalização do jogo no Japão não terá um impacto imediato no mercado de Macau, uma vez que o sector ainda precisa de se desenvolver, o que deverá demorar vários anos. “A origem dos clientes e turistas de Macau é principalmente do sul e da zona centro da China. Prevemos que os principais clientes dos casinos do Japão possam surgir do norte da China. Trabalhamos com zonas diferentes”, garantiu Wilfred

Wong, que referiu ainda que os resorts já construídos em Macau se diferenciam do que será construído no Japão. Questionado sobre a possibilidade de a Sands China vir a operar licenças de jogo no Japão, o presidente e director de operações da concessionária referiu que ainda está a ser pensada essa possibilidade. Wilfred Wong admitiu, contudo, que já se deslocou ao Japão para uma avaliação do mercado. Falando do desempenho do Parisian, inaugurado em Setembro, Wilfred Wong referiu que está de acordo com as previsões, com um crescimento estável das receitas do mercado de massas, graças ao aumento do número de turistas. As receitas no período de férias natalícias deverão registar valores positivos, confirmou ainda o responsável.


8 SOCIEDADE

hoje macau quinta-feira 29.12.2016

Emprego DSAL GARANTE TER FUNCIONÁRIOS SUFICIENTES PARA RESOLVER CONFLITOS A taxa de inflação de Macau fixou-se em 2,56 por cento nos 12 meses terminados em Novembro em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, segundo dados oficiais ontem divulgados. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu impulsionado sobretudo pelos aumentos nas secções de bebidas alcoólicas e tabaco (mais 24,25 por cento), educação (mais 8,53 por cento) e transportes (mais 6,81 por cento). Só em Novembro, o IPC geral médio aumentou 1,53 por cento, comparando com o mesmo mês de 2015, tendo aumentado face ao mês anterior (mais 1,33 por cento). Entre Janeiro e Novembro, o IPC subiu 2,46 por cento face ao período homólogo de 2015. A taxa de inflação de Macau em 2015 foi de 4,56 por cento, a mais baixa desde 2010, ano em que se fixou em 2,81 por cento. O IPC geral permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau.

NATAL MAIS GENTE A ENTRAR E A SAIR

A Polícia de Segurança Pública divulgou ontem os dados relativos ao tráfego nas fronteiras do território por altura do Natal. Entre os dias 24 e 27, registou-se um total de 2,7 milhões de entradas e saídas nos postos fronteiriços da RAEM. Comparando com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 4,7 por cento. Quanto aos turistas, a PSP contabilizou 880 mil, o que representa uma subida anual de 6,9 por cento. Os dias 24 e 25 foram os mais movimentados nas fronteiras, com mais de um milhão de pessoas a partir e a chegar a Macau nestes dois dias.

Isto aqui dá para tudo A deputada Ella Lei quis saber se os funcionários dos Serviços para os Assuntos Laborais são em número suficiente para resolver o número crescente de conflitos na área. O organismo garante que os 500 trabalhadores dão conta do recado

O

número de funcionários da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) registou um aumento de cerca de três centenas em comparação com o ano de 2012, registando-se um total de 504 funcionários até Setembro deste ano. Os dados foram fornecidos por Wong Chi Hong, director dos serviços, à deputada Ella Lei. Numa interpelação escrita, a deputada quis saber se o actual número de funcionários na DSAL seria suficiente para tratar do crescente volume de trabalho, uma vez que, no ano passado, se registaram 2851 conflitos laborais, um aumento de 810 em relação a 2014. Ella Lei falou ainda de uma alegada fuga de trabalhadores da DSAL. “De acordo com algumas reflexões, nos últimos anos registou-se uma grande fuga de pessoal da DSAL, o que resultou numa grande pressão para os funcionários efectivos, sobretudo ao nível dos inspectores e

trabalhadores da linha da frente”, escreveu a deputada em Setembro. Dados apresentados por Wong Chi Hong mostram que houve, de facto, uma quebra em termos do número de pessoal, seguida de uma recuperação. O número de funcionários passou de um total de 473 em 2012 para 429 pessoas em 2015, tendo-se registado um aumento para 504 pessoas em Setembro deste ano. De referir que, em Maio

Em 2012 verificou-se a maior taxa de saída de pessoal, fixada em 6,8 por cento, tendo em conta que 32 funcionários deixaram a DSAL. Este ano, a taxa foi de apenas dois por cento

deste ano, foi feita a fusão com o Gabinete para os Recursos Humanos, tendo existido uma integração de funcionários. Em 2012 verificou-se também a maior taxa de saída de pessoal, fixada em 6,8 por cento, tendo em conta que 32 funcionários deixaram a DSAL. Nos anos seguintes, porém, essas taxas fixaram-se em dois e em quatro por cento. Este ano, a saída de pessoal foi de apenas dois por cento.

INSPECTORES AUMENTARAM

O responsável máximo pela DSAL confirmou também que, em Maio, houve um reajustamento em termos do número de inspectores, que passaram de 60 para 101. Wong Chi Hong disse esperar uma redução da pressão sentida pelos funcionários, por forma a melhorar os efeitos das inspecções feitas aos estaleiros. O mesmo responsável disse esperar um aumento dos inspectores no futuro. Na sua interpelação, Ella Lei falou da necessidade de definição de medidas concretas ao nível da

HOJE MACAU

NOVEMBRO INFLAÇÃO CHEGA AOS 2,56 POR CENTO

Ella Lei

importação de trabalhadores e sua restrição, tendo em conta o profundo ajustamento da economia, que levou a mudanças no mercado laboral. O responsável pela DSAL garantiu que o organismo vai continuar a manter uma posição imparcial na aprovação dos pedidos de trabalhadores não residentes, com base nas políticas do Governo, o emprego e a ascensão dos empregados locais, as necessidades e fornecimento do mercado laboral, assim como o contexto das empresas em relação à gestão, contratação ou registo de conflitos laborais. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

NÃO RESIDENTES OBRAS PRONTAS, MALAS FEITAS

A

mão-de-obra importada de Macau voltou a diminuir em Novembro, em termos anuais homólogos, fixando-se em 177.897 trabalhadores, menos 2,38 por cento, no final do mês passado. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal da Direcção para os Assuntos Laborais, os Trabalhadores Não residentes (TNR) de Macau eram

menos 4349 do que em Novembro de 2015. No mês passado, a China continuava a ser a principal fonte de mão-de-obra importada de Macau, com 113.529 trabalhadores, seguida das Filipinas (26.565) e do Vietname (14.859). O sector dos hotéis, restaurantes e similares absorveu a maior fatia de mão-de-obra importada (49.666), seguido do da construção

(35.465). É precisamente nesta área que está a haver a maior diminuição de trabalhadores não residentes: eram 44.576 no final de Novembro de 2015, ou seja, diminuíram 20,4 por cento.

No espaço de um ano foram inaugurados em Macau três resorts com casinos (Studio City, Wynn Palace e Parisian) que tinham estado em construção. A mão-de-obra importada equivalia a 45,6 por cento da população empregada de Macau estimada no final de Outubro. Em Setembro, o número de TNR havia já caído em comparação com o mesmo mês de 2015, a primeira di-

minuição, em termos anuais homólogos, desde Novembro de 2010. Em Outubro, a mão-de-obra importada de Macau diminuiu pela segunda vez consecutiva desde 2010, para 178.215 trabalhadores não residentes. O universo de trabalhadores não residentes galgou os 100 mil pela primeira vez na história da RAEM em 2008. O pico foi atingido em Junho último, com 182.459 trabalhadores contratados ao exterior.


9 hoje macau quinta-feira 29.12.2016

A

Comissão de Desenvolvimento de Talentos publicou ontem a lista dos sectores que mais necessitam de recursos humanos até ao próximo ano. O sector da hotelaria surge em primeiro lugar, seguindo-se o jogo, o retalho e a restauração, sem esquecer a área das convenções e exposições. Estes dados vêm mostrar que faltam recursos humanos em sectores-chave da economia de Macau. A lista publicada diz respeito aos trabalhadores necessários entre o período de 2015 a 2017, sendo que o sector da hotelaria surge em primeiro lugar, com uma média de 57 posições em falta. Nas áreas com maiores falhas em termos de funcionários, foi verificada uma alta carência de uma média de 169 posições em 490 cargos. As 57 posições avaliadas com elevada carência pela comissão na área da hotelaria são, a título de exemplo, gerente assistente de banquetes e restaurantes, bem como chefe de cozinha administrativo. No que diz respeito ao pessoal de base, faltam funcionários técnicos superiores e nadadores salvadores para os resorts. Ao nível do sector do jogo, a posição de croupier é classificada como tendo uma carência de segun-

Tudo em pratos limpos Hotelaria é o sector que mais precisa de recursos humanos

carência de recursos humanos em determinadas áreas, de primeiro, segundo ou terceiro grau.

ESTUDO A CAMINHO

do nível, sendo que cargos como o de gerente, gerente assistente e gerente superior têm uma carência de terceiro grau. A lista publicada pela comissão mostra o tipo de talentos que mais faltam nestes sectores, classifica-

dos em pessoal de gestão, médio e de base. São ainda referidas as posições que mais necessitam de recursos humanos, quais os requisitos básicos, as referências salariais. São ainda atribuídas três classificações diferentes para a

No comunicado ontem divulgado, a Comissão para o Desenvolvimento de Talentos, criada em 2014, garante que vai realizar um estudo que diz respeito a uma segunda fase, para que a sociedade possa ter pleno conhecimento das necessidades de recursos humanos nos principais sectores da economia. Esse estudo terá como base os dados acima referidos, por forma a elaborar uma lista das necessidades de talentos dos cinco principais sectores. Será ainda feito um trabalho aprofundado numa terceira fase, por forma a concretizar o “programa de acção quinquenal para a formação de talentos”, previsto no Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM. A comissão incumbiu, em 2015, quatro instituições de ensino superior para realizar este trabalho de análise.

SOCIEDADE

ESTATÍSTICAS MAIS DE 10 MIL TRABALHAM NA CULTURA

No ano passado, a área cultural de Macau tinha 1708 organismos em actividade, com 10.192 trabalhadores, uma despesa com pessoal na ordem dos 1,56 mil milhões de patacas e receitas de 6,24 mil milhões de patacas. Os números foram avançados pelos Serviços de Estatística e Censos, que lançaram as estatísticas relativas às Indústrias Culturais do ano de 2015. Na área do design criativo existiam 919 organismos em actividade, com 3336 trabalhadores ao serviço e receitas que chegaram aos 1,82 mil milhões de patacas. No que diz respeito a exposições e espectáculos, existiam 168 organismos com 1829 trabalhadores, com receitas de 1,35 mil milhões de patacas. Nas contas de colecção de obras artísticas em 2015 existiam 109 organismos com 435 trabalhadores ao serviço. As receitas anuais chegaram aos 87,78 milhões de patacas. Na área de média digital, no ano em análise, contavamse 512 organismos, com 4592 trabalhadores, tendo o sector receitas de 2,99 mil milhões de patacas.

Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 50/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 7 de Dezembro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação de um sistema de Elastografia Hepática Ultrassónica aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 28 de Dezembro de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1.º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP38,00 (trinta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S.(www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 13,00 horas do dia 27 de Janeiro de 2017. O acto público deste concurso terá lugar no dia 2 de Fevereiro de 2017, pelas 15,00 horas, na “Sala Multifuncional”, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP30.000,00 (trinta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 16 de Dezembro de 2016. O Director dos Serviços Lei Chin Ion

ANÚNCIO Faz-se saber que, em relação ao concurso público para «Obras de melhoramento das instalações eléctricas da 2.ª fase do Edifício Hou Kong Fa Un», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 47, II Série, de 23 de Novembro de 2016, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.2 do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 51/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 7 de Dezembro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação de Uma Ecografia Ultrasónica aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 28 de Dezembro de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1.º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP41,00 (quarenta e uma patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

para consulta, durante o horário de expediente, no Instituto de Habitação, sito na

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 2 de Fevereiro de 2017. O acto público deste concurso terá lugar no dia 3 de Fevereiro de 2017, pelas 10,00 horas, na “Sala Multifuncional”, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP50.000,00 (cinquenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 16 de Dezembro de 2016 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau. Instituto de Habitação, aos 9 de Dezembro de 2016. O Presidente, Arnaldo Santos


10 EVENTOS

ANTÓNIO PAULA SARAIVA

“Sem árvores o Hom

“Árvores e Arbustos de Macau” é um livro que resulta de quatro anos de trabalho e descreve as mais de 200 espécies da flora local. Da autoria de António Paula Saraiva, a obra é a ilustração da natureza do território e serve de alerta para a necessidade de a conhecer. Está disponível em Janeiro

NATUREZA LOCAL ILUSTRADA

S

ão 44 ilustrações de plantas que pertencem à flora local e ilustram o livro “Árvores e arbustos de Macau” de António Paula Saraiva que estão, a partir de hoje, em exposição no Instituto Internacional de Macau. Os trabalhos são de Catarina França e Mafalda Paiva e fazem parte de um projecto maior, “o de levar a botânica ao conhecimento de todos”, disse Margarida Saraiva ao HM. A ideia é que a exposição possa ser também divulgada em escolas e fazer chegar a natureza local às pessoas de uma forma pedagógica e lúdica. As ilustrações representam algumas das 217 espécies existentes e visam descrever em pormenor as plantas, vegetação espontânea, e árvores do território.

Porque é que sentiu necessidade de explorar as espécies de Macau? Considero que uma das falhas da nossa educação é o pouco caso que se faz da educação biológica. Tenho feito perguntas a várias pessoas acerca de aspectos que, para mim, são muito simples, e as respostas que tenho tido mostram um profundo desconhecimento dos factos mais simples da biologia ou mesmo do ambiente em geral. Tenho um amigo, por exemplo, uma pessoa informada, que ficou muito espantado quando lhe falei do nome das nuvens. Nem lhe passava pela cabeça que as nuvens pudessem ter nome. A maior parte das pessoas desconhece o nome das rochas e anda à procura de Pokémon, que são coisas que nem existem.

Considera que há um desconhecimento da realidade natural à nossa volta? Sim. Hoje em dia as pessoas passam largos anos na escola e, no entanto, não sabem o nome das árvores que as rodeiam. Mas, por exemplo, sabem as marcas de automóveis. Se não existissem carros, o homem poderia viver, mas sem árvores, não. Há 200 ou 300 anos, havia um interesse e um conhecimento da botânica que não existe hoje. Penso que houve uma regressão. Não só estávamos numa fase de exploração activa do mundo, como havia o espanto da descoberta. A curiosidade acaba por se estender às plantas. Outro aspecto importante é que, antigamente, os remédios eram encontrados nas plantas e por isso muitos botânicos eram médicos. Dizia-se por brincadeira que as senhoras de um certo estrato social tinham de tocar piano e falar francês, mas houve épocas também em que o conhecimento da botânica era um apanágio do homem culto. É algo que hoje em dia desapareceu. O facto de actualmente existir uma maior consciência ecológica em nada contribui para um maior conhecimento da botânica? Isto é discutível, mas há muitas coisas que são fingidas e

SOFIA MOTA

ENGENHEIRO AGRÓNOMO E ARQUITECTO PAISAGISTA

não correspondem à realidade. Toda a gente gosta de falar em ecologia, mas depois isso não se traduz em verdadeiras preocupações. Por exemplo, fala-se que é preciso gastar menos energia, mas as pessoas cada vez têm mais aparelhos de ar condicionado. É uma preocupação um pouco postiça. Neste estudo da flora local, que particularidades encontrou? Há um aspecto muito característico de Macau e ainda pouco estudado: a existência das raízes aéreas. Vemos as plantas crescerem contra a lógica porque há situações em que não há terra, nem água e as plantas continuam lá. Isso significa que se estão a alimentar através dessas raízes e sem suporte, mas ainda não se sabe como.

Em Macau há uma maior quantidade desse tipo de plantas? Talvez, porque este tipo de plantas aparece mais em lugares com muita humidade. Como é que decorreu toda esta investigação? Não se pode dizer que seja uma exploração exaustiva, mas tentei que fosse completa. Há dois aspectos que contri-

“Houve épocas em que o conhecimento da botânica era um apanágio do homem culto e é uma coisa que hoje em dia desapareceu.”

buem para que não seja uma investigação exaustiva. Um deles é que estamos na era da globalização e, como tal, aparecem cada vez com mais frequência espécies de outras regiões. Por outro lado, e em relação às plantas espontâneas, há umas que apresentam características mais especiais e por isso saltam à vista, e outras que se confundem. Logo, é possível que aquelas que não apresentam aspectos muito característicos ou distintivos acabem por passar despercebidas e não constem no meu trabalho. Mencionou a globalização e o acréscimo de espécies com esse fenómeno. Macau é um lugar de misturas. Podemos aplicar a miscigenação à flora local? Posso responder de duas formas a esta questão. As pessoas


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mem não vive”

quando vão para outros locais adaptam-se sempre, mas tentam também ter algo do seu mundo de origem. Um aspecto muito característico deste fenómeno verificou-se na Nova Zelândia em que os ingleses que foram para lá tentaram recriar a fauna do seu país. Em Macau verifica-se, por exemplo, que houve pessoas que trouxeram videiras. As videiras são características de climas mediterrânicos, mas infelizmente aqui já desapareceram quase todas com o avanço da urbanização. Mas ainda se encontram figueiras que, também sendo do mesmo tipo de clima, permanecem. As misturas culturais não se aplicam à botânica. Existe mesmo a noção de espécie invasora, ou seja, uma espécie que provém de uma outra localização geográfica, mas que se instala de tal forma

que começa a acabar com a flora espontânea. Para dar um exemplo conhecido, em Portugal tem havido várias campanhas para acabar com as acácias que são da Austrália ou mesmo com o chorão das praias. Podemos dizer que este trabalho é o primeiro do género a ser publicado, visto ser uma compilação e estar em três línguas, português, inglês e chinês? Existe em Macau uma publicação acerca da flora local, mas só está publicada em chinês. É muito completa mas tem a limitação da língua. Nesse sentido, este livro tenta ser mais abrangente a chegar a pessoas que possam falar português ou inglês também. É um livro que tenta entrar por outros caminhos que ainda não foram explorados,

nomeadamente o aspecto da reprodução das plantas que, para mim, tem uma importância fundamental: estamos numa época em que tudo é comprado, há viveiros onde se podem comprar as plantas, mas pode ser interessante as pessoas cultivarem as suas próprias espécies e, para isso, é necessário terem alguns conhecimentos. Os livros de botânica que existiam falavam apenas das plantas e não na sua cultura. Outro aspecto que também tentei abordar foi a história da introdução das plantas em Macau. Não havia praticamente fontes sobre a introdução de espécies no território. Encontrei apenas duas listas, uma de 1886 e outra de 1933 mas, entretanto, devido ao fenómeno da globalização e até do enriquecimento de Macau, foi possível trazer mais plantas para cá. Um número razoavelmente grande de espécies já entrou no território perante os meus olhos. É um dos capítulos mais insuficientes do livro e que gostaria de explorar mais, mas acabei por achar que era melhor pôr alguma coisa, e dar início a essa abordagem, do que não pôr nada. Quando introduzia espécies não tinha, por vezes, o cuidado de fazer uma descrição dessa introdução. Isso depois teve de ser feito a partir da memória. Com factores como o desenvolvimento do território e a poluição, a flora está em risco? Os chineses gostam mais de fazer as cidades em locais planos ao contrário dos europeus que preferem cidades em colinas. Aqui deitam por vezes montanhas abaixo para planar o terreno e é aí que fazem as suas cidades. No caso de Macau, toda aquela zona do Cotai é uma zona plana e isso leva a que as plantas localizadas nas montanhas estejam mais protegidas, enquanto aquelas que se situam nos locais mais baixos estão mais em risco ou já foram mais ou menos eliminadas. Não totalmente porque, sendo plantas de sítios húmidos, têm mais resistências do que as de sítios secos. Com certeza que a poluição causa danos; no

“Toda a gente gosta de falar em ecologia, mas depois isso não se traduz em verdadeiras preocupações.”

entanto, como é que isso se traduz na evolução da população ou no desaparecimento de certas espécies, já é mais difícil de afirmar. Quais as maiores dificuldades que teve na concepção deste livro? Há espécies que não são de fácil identificação e, por isso,

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EVENTOS

pedi ajuda a colegas para o fazer de uma forma mais precisa. Este é um livro acompanhado de ilustrações. Porque é que decidiu recorrer a este tipo de representação? O livro tem ilustrações técnicas na parte geral e depois tem a descrição das espécies acompanhadas por fotografias. A opção pelas 44 ilustrações que foram feitas pela Catarina França e pela Mafalda Paiva foi um retomar da tradição dos antigos botânicos que faziam, numa altura em que não havia fotografias, ilustrações e muitas delas muito bonitas. Quando se tira uma fotografia, a planta, que é constituída por uma série de planos, vai aparecer com aspectos focados e outros mais desfocados. Por outro

lado, os desenhos têm ruído, ou seja, têm muitos aspectos secundários que dispersam a atenção. Nestas ilustrações todos os órgãos da planta aparecem ‘focados’ para que a sua leitura seja fácil. Há um ajeitar da natureza de forma a torná-la mais compreensiva. Mas foi sobretudo uma homenagem aos antigos botânicos. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


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hoje macau quinta-feira 29.12.2016

N.º 114/2016 NOTIFICAÇÃO EDITAL (Solicitação de Comparência do Empregador)

N.º 119/2016 NOTIFICAÇÃO EDITAL (Solicitação de Comparência do Empregador)

Nos termos do artigo 6.º, n.º 1, alíneas b) e c) do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e do artigo 72.º, n.º 2 do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, notifica-se o empregador CHAO MENG SENG, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado n.ºs 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 3995/2016, proveniente das queixas apresentadas nestes Serviços, pelos ex-trabalhadores residentes: Chen YuanBo, Guan ChunSheng, Cheang Kam Cheong, Huang JinPei, Wu ZeNan e Wu YuanYuan, relativamente à matéria de salário. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 12 de Dezembro de 2016.

Nos termos do artigo 6.º, n.º 1, alíneas b) e c) do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e do artigo 72.º, n.º 2 do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, notifica-se o representante legal da sociedade “Companhia de Engenharia Hap Ying (Macau), Limitada” sita na Avenida de Kwong Tung Nova City, Bloco 5, 12.º andar C, Taipa, Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 3264/2016, proveniente da queixa apresentada nestes Serviços, pelo ex-trabalhador residente Xie Huo Mu, e relativamentes às matérias de descanso semanal, feriados obrigatórios, aviso prévio e despedimento. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 16 de Dezembro de 2016.

O Chefe do Departamento Subst.º

A Chefe de Departamento Substª,

Lai Kin Lon

Lei Sio Peng


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A

China está disposta a manter um diálogo construtivo com o Vaticano, mas os católicos chineses devem “erguer alto a bandeira do patriotismo” e adaptar-se aos “valores chineses”, disse o responsável do Governo de Pequim pelos assuntos religiosos. Wang Zuoan, director da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, falava durante a nona conferência dos católicos da China, que reúne em Pequim o clero da Associação Patriótica Chinesa, igreja católica aprovada pelo Estado e independente do Vaticano. Pequim insiste que a igreja oficial tem autoridade para ordenar os bispos chineses, um direito que a Santa Sé diz pertencer apenas ao Papa. O diferendo dura desde 1951, quando China e Vaticano romperam os laços diplomáticos, depois de Pio XII excomungar os bispos designados por Pequim. As manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica, mas muitos dos cerca de 12 mi-

Religião ABERTURA PARA DIÁLOGO COM VATICANO

Católicos e patriotas lhões de católicos chineses continuam a celebrar a sua fé em igrejas “clandestinas”, que juram lealdade a Roma. O Governo chinês espera que o Vaticano adopte uma postura “flexível” e “pragmática” e medidas concretas que favoreçam a melhoria das re-

lações, afirmou Wang, citado pela agência oficial Xinhua. O responsável não detalhou quais as medidas que Pequim espera do Vaticano. O Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, é adverso a grupos religiosos ou cívi-

cos, vistos como potenciais ameaças à sua autoridade.

OPTIMISMO MODERADO

Em Maio de 2015, o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou aos religiosos do país para se adaptarem à sociedade chinesa.

Na terça-feira, Wang reafirmou a importância da religião integrar o “patriotismo” e que se persista com a “assimilação de valores chineses pelo catolicismo”. O Papa Francisco disse no início deste ano que Pequim e o Vaticano for-

CHINA maram grupos de trabalho, para abordar a questão da nomeação dos bispos, e que está “optimista” de que será encontrada uma solução. Na semana passada, contudo, o Vaticano lamentou que a ordenação de dois bispos chineses tenha sido feita na presença de um bispo designado por Pequim e não reconhecido pelo Papa. A Santa Sé disse ainda que aguarda os resultados do encontro desta semana e que os católicos do país podem estar confiantes no diálogo entre ambos os lados.

PUB HM • 2ª VEZ • 29-12-16

EDITOR DE PORTAL SOBRE DIREITOS HUMANOS ACUSADO DE SUBVERSÃO

ANÚNCIO Execução Ordinária n.º

CV2-16-0117-CEO

2º Juízo Cível

Exequente: INTERNACIONAL PROMOTOR DE JOGO SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA (國際博彩中介人一人有限公司), com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 201, Edifício San Kin Yip Comercial Centre, 8º andar J Executado: LI JUN (李軍), masculino, maior, com última residência conhecida na China, 中國北京市朝陽區京順路109號院2號樓, ora ausente em parte incerta. *** Correm éditos de trinta (30) dias, a contar da segunda e última publicação do anúncio, citando o LI JUN, para no prazo de vinte (20) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagar ao exequente a quantia de MOP$25.787.500,00 (Vinte e Cinco Milhões, Setecentas e Oitenta e Sete Mil, Quinhentas Patacas), o montante acima aludido deve ser acrescido de juros, à taxa anual de 29,25% e 2% de juros comerciais, a contar de 1 de Março de 2014 até ao pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP18.391.256, 42. Pedido alternativo: Caso o Mm. o Juiz não entender que os juros moratórios dos dois recibos de MARKER devem ser acrescidos a 2% juros comerciais, assim calcula-se os juros de mora fixados pelo exequente e executado (ou seja o triplo de juro legal estabelecido em Macau, ou seja 29,25%) até à data do pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP$17.214.216,01. Condenar ao executado o pagamento das custas judiciais, designadamente os honorários da mandatária do exequente, ou no mesmo prazo, deduzirem oposição por embargos ou nomearem bens à penhora, sob pena de, não o fazendo, ser devolvido ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, seguindo o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 2º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. E ainda que é obrigatória a constituição de advogado caso sejam opostos embargos ou tenha lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do processo declarativo. Macau, aos 24 de Novembro de 2016. ***

A

China acusou formalmente o activista chinês Liu Feiyue, editor de um portal dedicado aos Direitos Humanos no país, de “subversão contra o Estado”, uma acusação usada frequentemente pelas autoridades chinesas contra activistas. Segundo o portal da organização Direitos Humanos na China, Liu foi detido pela polícia quando se encontrava em sua casa, na cidade de Suizhou, no sul do país, tendo sido acusado de “receber ajuda do estrangeiro” para “incitar à subversão”. Os familiares de Liu não foram informados do seu paradeiro, nem notificados por escrito sobre a sua detenção, contrariando os procedimentos exigidos pelo sistema de segurança pública chinês.

A organização Direitos Humanos na China informou que o advogado de Liu, Zhang Keke, foi pressionado pelas autoridades para que deixasse de defender o seu cliente, depois de o ter tentado contactar no início do mês. A polícia chinesa disse que Liu estava detido por “ter publicado artigos contra o sistema socialista do país”. Liu foi detido várias vezes, por curtos períodos de tempo, quase sempre quando decorrem encontros importantes entre a elite do Partido Comunista Chinês ou cimeiras internacionais. A acusação de subversão, na China, pode resultar em prisão perpétua, a pena máxima para quem é considerado culpado de “tentar derrubar o sistema socialista”.

MEKONG COOPERAÇÃO EM MATÉRIA DE SEGURANÇA REFORÇADA

O

S países por onde passa o rio Mekong (China, Vietname, Laos, Birmânia, Camboja e Tailândia) acordaram reforçar a cooperação em matéria de segurança, num encontro ministerial celebrado em Pequim, informou ontem a imprensa oficial chinesa. A reunião, que ocorreu na terça-feira, marcou o quinto aniversário desde o início da cooperação, motivada por um ataque organizado por narcotraficantes contra uma embarcação no Mekong, que resultou na morte de 13 marinheiros chineses, em 2011. O ministro da Segurança Pública chinês, Gao Shengkun, sublinhou a cooperação entre aqueles países como um

exemplo de coordenação na luta contra o terrorismo e o narcotráfico e pelo controlo fronteiriço. Gao sugeriu um aumento da ajuda mútua com a criação de um centro policial e de segurança que coordene acções conjuntas e partilhe informações. A cooperação inclui sobretudo os países do chamado “Triângulo Dourado” (Laos, Tailândia e Myanmar), uma das regiões do mundo com maior concentração de produção de estupefacientes e narcotráfico. Vietname e Camboja são apenas membros observadores. O principal resultado desta cooperação internacional reside na própria resolução do ataque de 2011. O narcotraficante birmanês Naw Kham e três dos seus subordinados foram então condenados pela justiça chinesa e executados no país, apesar do crime ter ocorrido em águas da Tailândia e os homens terem sido detidos no Laos. Naw Kham controlava o tráfico de heroína e metanfetamina no “Triângulo Dourado”.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

Q

UANDO a Terra era maior e os homens mais pequenos por uma proporcionalidade de escalas o amor também perfilhava do mistério insondável da demanda do saber, vivendo-se na ilusão expansionista de uma Boa-Nova e tecendo-se histórias que levadas de um local para outro começavam a denotar um carácter de lenda, na distante Idade Média fundara-se o estatuto do romeiro e do eremita que tanto oravam a santos como a poetas na linhagem da herança do Império do Al-Andaluz. Do amor nos chega ainda aqui os mais belos ecos e formas de louvor- amor cortês, amor amigo, amor paixão, amor sacral- que traziam para o terreiro dos dias a mais fina interpretação das coisas do Verbo. Sem dúvida que falamos de outra Humanidade, de outras agentes, de outras demandas e estruturas, onde o casamento ainda era instituição insipiente e a família um laço alargado de Unanimidade. Morria-se muito mais.... morria-se ao nascer, morria-se ao amar, morria-se pela terra.... e esta constante presença parecia limar o tecido do amor de forma redentora, e por isso também os reis eram amantes, compiladores de Cantigas, bastardos e legítimos, um laço de uma mesma árvore que brotava sem severas separações... o tempo posterior foi cerrando este respirar até ao estertor do amor tabu que é onde estamos mais ou menos agora, mas o amor existe tal como as visitações e tem leis que tendemos a esquecer e merecimentos que não vemos, muito ao estilo de Yourcenar quando afirma “ não ser amado é tornarmo-nos invisíveis” . Sabemos das leis da opacidade, mas desconhecemos as outras, numa vaga de sucessivos impulsos procuramos na nossa já quase invisibilidade um ponto de retorno à oração, ao desvendar de nós pelo outro, mas que outro que não há, e nos torna mais em nada? Sabemos lá no fundo que os amantes são a grande proposta de redenção, uma espécie de elemento predestinado sem noção de mudança ou separação, que são férteis, indivisos, poderosos, não expostos aos abrigos das traições sendo quase sempre uma natureza outra fora do ciclo das coisas transformáveis. A sua legenda era, seria, aquilo em que não deveríamos falhar, e foi por ela, afinal, que o erro se instalou. Ramom Lull foi um prodigioso homem do seu tempo (século XIII) aquele

Amélia Vieira

Do amigo e do amado que fora apelidado como o criador da língua catalã, foi simultaneamente um teólogo, um poeta, um cientista, um místico e um homem da retórica, pois que tempo era que nada estava separado e da sua vasta obra talvez o «Livro do amigo e do amado» nos devolva quase intacto o tempo em que viveu; fala-nos ele de um eremita que depois do Sol posto ficava em oração até ao primeiro sono, que se levantava pela meia-noite abrindo a cela a fim de contemplar as estrelas e com oblatas se alimentava da sua ideia de Deus, é um tipo de vida da qual nada sabemos nem os verdadeiros estados de espírito de quem toma por cada verso do « Livro das Contemplações» a chave do enleio dos dias, pois que esta obra de Lull é uma osmose entre a receptividade e a fé, esse elemento de amor que reflecte o princípio criador. O interlocutor melhorado é esse amado ser, ressonância talvez do seu alter ego

que lhe fala da totalidade, da maravilha, é o outro, aquele “ a quem serve o vencedor” e mais tarde é Juan de La Cruz que o vem reabilitar na sua incomparável poesia de inviolável amor na «Noite escura» e« Cântico espiritual» uma exegese, um ritmo, um anunciado.... São assuntos extensos e porventura intensos para uma abordagem só, mas neles se reflecte toda uma noção poetizante do «pactum» da alma com a sua natureza, natureza essa que se perdeu na imensa selva do poeta das árvores sem raízes e dos sentidos sem disciplina, não sendo de prever mais que a morte desta arte que mais que exercício de escrita continha a noção de Humanidade, de ciclo criador, e nós, que distantes ficámos, estamos talvez como nunca no mais misterioso de todos os Invernos poéticos, porém, sem a sua existência teríamos perecido e nem aqui teríamos chegado.

Não devem no entanto abeirarem-se as gentes destes oficiantes com suas “botas cardadas” e ilusões vãs, pois não sabendo de quem se trata, pode a vida acordá-los de formas várias e nem sempre as melhores, vezes sem conta numa incontável falta de tacto de que dão provas: mau e bom, perdem aqui aquela moral tão cara ao código primitivo das suas fontes, e só o amor, que não sabem, parece por fim misteriosamente intrigar neste mensageiro. Sem esta rara estranheza- pensam elas- que o mundo se equilibrava em si mesmo- mas não- pois que há leis que podem fazer compensar as falhas e as tormentas, e como taumaturgos cada um é uma fonte de equilíbrio que impede que os elementos destruam ainda mais a “casa” dos Homens. -Adoeceu o amigo e pensava o amado: de méritos o alimentava e com amor lhe saciava a sede, em paciência o abrigava de humildade e vestia com a verdade que curava.....e esta dialéctica do outro em permanência só uma delicada presença pode saciar. - Libertou amado o amor e permitiu que as gentes tomassem dele a sua vontade; e só encontrou amor aquele que o pôs no seu coração. E por isso chorou o amigo e teve tristeza da desonra que o amor recebia aqui em baixo por causa de falsos amantes.Toda a construção enaltece aqui a linguagem dos amantes numa quase unanimidade e concordância. Foi desenvolvido o hábito quase litúrgico da inspiração nestes tempos idos, e por isso, também o Cavaleiro honrava a sua Dama, a Dama defendia o Cavaleiro, e de todas as fontes a que abençoa mais é sem dúvida aquela que nos inspira. Por isso a ordem era Amar. Aqui me lembro das velhas obras esquecidas como «Os Cavaleiros do Amor» de Sampaio Bruno que perto estão deste mito amoroso, e, quando descidos dos nossos cavalos, vemos a blasfémia do amor reduzido a insidiosa interpretação apetece morrer de amor por algo de irrevelado e do tamanho deste livro. - Desejava o amigo solidão e foi viver completamente só para que tivesse a companhia do seu amado com o qual está só entre as gentesOs amantes estão sós no mundo.


15 hoje macau quinta-feira 29.12.2016

diários de próspero

António Cabrita

Da hospitalidade e dos usos que damos ao tempo S

EMPRE tive a mola da ambição (ou da competição) avariada. Nunca quis subir num emprego, nunca quis ser chefe, nunca ambicionei liderar nenhum departamento, não me importo nada de perder às cartas (desde que não seja a dinheiro), só ganhei ao xadrez uma vez na vida, etc., etc. Um dos maiores alívios da minha vida foi quando fui exonerado de Coordenador do Curso de Ciência de Comunicação, na Universidade Politécnica, em Maputo, cinco horas depois de numa reunião de professores (e sem que eu o soubesse previamente) ter sido anunciado nesse cargo. Motivo da exoneração: uma chuva de telefonemas para o reitor a indagar sobre o sentido de nomear um branco para o cargo. Adorei ser branco nesse fim de tarde. Desisti do judo, depois de seis anos de competição, quando num campeonato nacional por equipas pus a minha equipa fora do pódio ao perder de propósito com um adversário que tinha um cinto três graus abaixo do meu, só para não faltar a um encontro que marcara com uma miúda. Estava “out” da competição. Numa noite de copos com amigos jornalistas quis pôr a render essa minha inapetência para a competição e escrevi uma longa carta para o departamento de futebol do Real Madrid, em que me oferecia, por metade do ordenado do Emílio Brutragueño, para ser «o melhor suplente do mundo», assegurava, «aquele que nunca, mas nunca joga mas de quem a equipa nunca, mas nunca, prescinde de ter no banco». E prometia «elevar o nível de finta dos jogadores, lendo-lhes no banco trechos de As Mil e uma Noites ou de Henri Michaux». Como passámos a noite em branco, enviámos a carta aos Correios dos Restauradores, às oito da manhã, para um endereço que nos foi facultado por um jornalista desportivo espanhol. Não me admitiram, por falta de humor - técnica eu tinha. Este relambório para explicar uma coisa simples: a única coisa que sempre quis ganhar na vida – muito mais do que dinheiro – foi tempo.

Ser dono do seu próprio tempo é importantíssimo, podemos comprová-lo pela regra antiga das cortes - conta o poeta francês Guillevic num livro de entrevistas -, que ordenava que só os fidalgos é que podiam atalhar a direito ou na oblíqua nos aposentos do palácio, os criados eram obrigados a percorrer todos os ângulos das salas e corredores, um por um, até esgotarem as solas e o seu tempo. Só um fidalgo podia poupar o seu tempo nos trajectos. Para que se quer tempo? Aí as motivações diferem. Um dos meus heróis, o jesuíta Richard Wilhelm que viveu na China trinta anos e foi o primeiro tradutor ocidental do I Ching, diria que o tempo lhe faltava para conhecer melhor o outro enquanto outro, pois, sendo-lhe perguntado de que mais se orgulhava em trinta anos como missionário na China, respondeu: ‘Orgulho-me de em trinta anos não ter feito uma única conversão religiosa’. Esta recusa de proselitismo atesta uma liberdade inclusive a si mesmo que é a única forma saudável de estarmos no mundo: estarmos diante do outro não para lhe vender algo ou para convencê-lo de alguma coisa, mostrando que o usamos ou que ele é melhor ou pior do que nós, mas num poroso espírito de hospitalidade. Tentando, inclusive, a empatia. É esta virtualidade cada vez mais rara de encontrar entre os homens - sendo este motivo para darmos tempo ao tempo um dos que mais me interessa. Li uma entrevista no Hoje Macau em que vi que também nessas longes terras isso é, infelizmente, raro.

Em vez de usarmos o tempo para sermos competitivos e ambiciosos poderíamos usá-lo a aprender a hospitalidade, a acolher. Começa a ser uma urgência, antes que isto acabe mal

Lamentava-se o médico e escritor Shee Va, numa entrevista, a propósito do seu romance, “Espíritos”: «Acho que tem muito interesse quando se lida com uma cultura diferente poder compreendê-la. Talvez seja isso que quero transmitir. Portugal, neste momento, tem muitos chineses, o mundo inteiro tem muitos chineses. As populações não podem viver fechadas. Uma coisa que sinto em Macau é que foi durante muito tempo – e hoje em dia também – um sítio multicultural, mas em que as comunidades não interagem. Para mim, isso é mau – podia ganhar-se muito mais com a comunicação.» As comunidades não interagem. Em África é igual. A célebre «reconciliação», tão buscada na África do Sul não aconteceu. Em Moçambique as comunidades étnicas e religiosas – brancos, indianos, negros, cristãos, muçulmanos, outros – não interagem. Co-habitam o mesmo território, sempre procurando algum tipo de poder hegemónico. Já dei aulas a mil alunos, já escrevi prefácios para uma dúzia de livros, já apresentei vinte livros, já escrevi duas séries de ficção para a televisão oficial, já escrevi cinco ou seis catálogos de exposições, e os meus amigos negros são

três, quatro; estou ao fim de doze anos de Moçambique confinado à comunidade de moçambicanos brancos. Nunca o quis. É assim mesmo: as pessoas usam-se, consoante as vantagens pontuais que se podem tirar delas, mas não interagem verdadeiramente, num afecto desinteressado. Há quem ache isto normal, eu acho um escândalo e um sintoma de um profundo mal-estar societário. É transversal a todas as classes e idades. A famigerada multiculturalidade que se encontra nas aulas – onde o painel humano é um mosaico – não tem expressão na curiosidade sobre o outro e a sua cultura. A multiculturalidade tornou-se, patologicamente, apenas um alíbi que reforça a nossa identidade. O outro é um estrangeiro que está na “nossa terra” a prazo. Em vez de usarmos o tempo para sermos competitivos e ambiciosos poderíamos usá-lo a aprender a hospitalidade, a acolher. Começa a ser uma urgência, antes que isto acabe mal. Ah, e o tempo nunca se cansará de ocupar-nos com os seus mistérios: por exemplo, metade das coisas que realmente importam só acabamos por levá-las a cabo quando já não temos tempo. Como foi o caso desta crónica.


16 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau quinta-feira 29.12.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje EXPOSIÇÃO “ÁRVORES E ARBUSTOS DE MACAU” DE CATARINA FRANÇA E MAFALDA PAIVA Instituto Internacional de Macau (Até 13/01)

MIN

10

MAX

17

HUM

45-75%

EURO

8.10

BAHT

Diariamente EXPOSIÇÃO DE KRISTINA MAR E GERALDE ESTADIEU Creative Macau, (Até 30/12) EXPOSIÇÃO “CHANGE OF TIMES” DE ERIC FOK Galeria do IFT

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “33 ANOS NA RÁDIO DO LOCUTOR LEONG SONG FONG” Academia Jao Tsung-I (Até 05/02) EXPOSIÇÃO “52ª EXPOSIÇÃO DO FOTÓGRAFO DA VIDA SELVAGEM DO ANO” Centro de Ciência (Até 21/02) EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau

Cineteatro

C I N E M A

ASSASSIN’S CREED SALA 1

YO-KAI WATCH THE MOVIE 2 [A] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Takahashi Shigeharu 14.15, 18.00

ASSASSIN’S CREED [C] Filme de: Justin Kurzel Com: Michael Fassbender, Marion Cotillard 16.00, 19.45, 21.45 SALA 2

FALLEN [B] Filme de: Scott Hicks

Com: Addison Timlin, Jeremy Irvine, Harrison Gilbertson 14.30, 16.15, 18.00, 19.45, 21.30

UM DISCO HOJE

SING [A] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Garth Jennings 14.30, 16.30, 19.30

Filme de: Justin Kurzel Com: Michael Fassbender, Marion Cotillard 21.30

Ok, espinha atravessada na garganta, ou bola de pêlo, o que quiserem. Então, um bichano do meu gabarito não merecia já ser imortalizado na grande tela? Falamos no Óscar noutro dia. Para já, ao menos um papel de peluche com pulso a ser acariciado durante o discurso de um vilão. Não é pedir muito. Estou a pensar no sortudo do gato que está ao colo do Marlon Brando no filme “O Padrinho”, ou naquele persa branco ao colo de Blofeld que mia conspirações contra James Bond. Até invejo o Mr. Bigglesworth, o gato pelado de Dr. Evil. Holofotes deviam incidir sobre mim, para eu lhes fugir orgulhoso, ou me espreguiçar indiferente. Quero remessas eternas de comida gourmet, brinquedos para afiar as unhas, antebraços para mordiscar. Exijo reconhecimento e monumentos para a glorificação do meu nome. Estou também pronto para papéis mais exigentes, como fazer saltar pessoas das cadeiras, ao estilo de Jones, o felino da Sigourney Weaver no “Alien”. Ou, o mais que óbvio e clássico, Black Cat, onde até se pouparia na caracterização. Pronto, este filme é dos anos 30, gastaria todas as minhas vidas, mas teria contracenado com Béla Lugosi e Boris Karloff, só os mais brilhantes Drácula e Frankenstein da sétima arte. Acho que poderia interpretar todos, o gato preto do Kusturica, até aquele bichano da Alice. Compreendo todos estes felinos do cinema, com uma excepção: aquela gata do Batman. Há algo de sedutor mas muito perturbante naquele animal. Ao mesmo tempo que me causa repulsa, imagino o rebuliço se tivesse evitado a castração e fugido para Gotham. Pu Yi

MORRISSEY | YOU ARE THE QUARRY

Este disco renovou a esperança dos fãs na carreira de Morrissey, ex-vocalista dos seminais The Smiths. Muito se especulou ao longo dos sete anos de silêncio, ainda para mais depois de um disco menos inspirado. Estaria Morrissey acabado? “You are the Quarry” foi publicado em 2004 e explodiu com o single “Irish Blood, English Heart”, com riffs musculados de guitarra, escapando um pouco à sonoridade que o britânico vinha seguindo. Entre as melhores faixas destacam-se “First of the gang to die”, “I have forgiven Jesus” e “Let me kiss you”. Com letras duras politicamente, sempre carregadas de ironia, “You are the Quarry” marcou o renascimento de Morrissey. H.M.

SALA 3

ASSASSIN’S CREED [C]

PROBLEMA 146

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 145

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

1.16

PU YI EM HOLLYWOOD

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1, 18h30

EXPOSIÇÃO “ART FOR ALL , 9º ANIVERSÁRIO” Macau Art Garden (Até 22/01)

YUAN

AQUI HÁ GATO

Amanhã

EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE” DE LAI SIO KIT Casa Garden (Até 08/01)

0.21

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


17 OPINIÃO

hoje macau quinta-feira 29.12.2016

bairro do oriente

TIM BURTON, NIGHTMARE BEFORE CHRISTMAS

Turismo de Natal

D

ESDE que dou o meu humilde contributo a esta grande empresa que é o Hoje Macau (afinal é época de “dar”), este ano deve ser a minha vez de desejar as Boas Festas aos leitores, uma vez que nenhum dos feriados da quadra natalícia caiu a uma quinta-feira. Mas é com muito gosto que o faço, naturalmente, e aqui: Bom Natal e até ao meu regresso. Sim, tal como qualquer outra pessoa que não tem uma boa razão para ficar em Macau pelo Natal e tem quatro dias de férias, vou aproveitar e dar uma volta aqui por perto, onde pelo menos dê para sentir algum do ambiente natalício. O ano passado foi Xangai, este ano é Taipé. Mas em primeiro lugar gostaria de saudar a comunidade macaense e os restantes cristãos naturais de Macau, pois parece invasivo estar a inclui-los neste rol de lamentações. Estes são os hóspedes do Natal de Macau, na terra deles, e os restantes são convidados. Quem não gosta não é obrigado a comer, e se não quiser ficar à míngua, se calhar o melhor é fazer-se à vida. Dito isto, desejo uma santa consoada aos cristãos de

“Para evitar esta onda de turismo daqui para fora NO Natal, era preciso que Macau investisse no turismo DE Natal. Como? Talvez com outra coisa que não fosse casinos, e casinos, e mais casinos Macau que vão tomar com as suas famílias a ceia de Natal. E agora os outros. Quem é natural de Portugal e tem aí uma boa parte da família, é natural que faça um esforço suplementar em termos financeiros e de gestão das férias para passar o Natal junto de quem tem saudades, e vice-versa, claro. A estes, que aproveito igualmente para saudar, a época consagrada ao dia 10 de Dezembro e seguintes é chamada de “fuga de Macau” – longe que te quero, lá vou eu, beijinhos a quem fica. Quem acha que as “saudades” são uma coisa que precisa de maturação, ou simplesmente não se pode dar ao luxo de ir “marcar o ponto” a Portugal todos os natais, vai ano sim/ano não, e quando é “não” vai para a Tailândia com o agregado familiar, ou no ausência deste, com amigos e amigas na mesma condição. Acho óptimo, não façam daqui segundas

leituras. É uma das muitas vantagens de estar aqui a viver, e não em Portugal. Que bom para nós. Na eventualidade de nem sim nem sopas, não há disponibilidade, férias ou vontade de sair de Macau, não deve o expatriado comum entrar em depressão. O que é isso, se em Macau os locais aderem ao Natal, ou mais ou menos isso. Primeiro, o dia 25 é feriado para toda a gente, o que por si já é mais que suficiente para não ignorar a noite da consoada. Talvez para quem comemora o Natal na sua vertente cristã e junto da família isto pareça demasiado “insonso”, mas no fundo isto não difere muito do que sentimos em relação ao Ano Novo Chinês, onde por vezes damos connosco a pensar: “What’s the point?”. Ficar em Macau no Natal não é “a mesma coisa” que sair, mas também não representa o fundo do barril da solidão, p’lamordedeus. O que faz falta em Macau (olha, parece o nome daquela ex-rubrica de um título da concorrência) era...sei lá, mais luzes de Natal, como aqui ao lado em Hong Kong? E que tal uma árvore de Natal no centro da maior praça que não fosse um sólido geométrico feito de papelão, por exemplo; as árvores tinham folhas, da última vez que vi uma. Para evitar esta onda de turismo daqui para fora NO Natal, era preciso que Macau investisse no turismo DE Natal. Como? Talvez com outra coisa que não fosse casinos, e casinos, e mais casinos. Feliz Natal.

LEOCARDO


18 OPINIÃO

hoje macau quinta-feira 29.12.2016

“Since China’s reform and opening began in 1978, the country has come a long way on the path of Socialism with Chinese Characteristics, under the leadership of the Communist Party of China. Over 30 years of reform efforts and sustained spectacular economic growth have turned China into the world’s second largest economy, and wrought many profound changes in the Chinese society.” The Road to the Rule of Law in Modern China Quanxi Gao, Wei Zhang, Feilong Tian

Q

UANTO mais importante se torna a China, mais difícil se converte o entendimento da sua realidade. O mundo ocidental na diversidade dos países que o compõem tem a sua visão peculiar, própria e especial da China, devido ao crescente aumento de empresários, estudantes e turistas que viajam para o país, que acrescido do conhecimento de especialistas na matéria cria maior confusão na aprendizagem da realidade chinesa. A Noruega pode parecer uma inesperada fonte de conhecimento sobre a China pelos estudos que tem produzido, mas tal visão expressaria um mito sobre a Noruega, de ser um lugar remoto e voltado para dentro, quando na realidade se trata de um país geograficamente grande, mas demograficamente pequeno e altamente próspero, fortemente dependente das exportações de petróleo para o resto do mundo, e que tem uma grande participação na estabilidade global. É um aliado americano forte na OTAN e mantém um sofisticado mecanismo de defesa. Tem uma cultura cosmopolita e integra refugiados de todo o mundo como seus cidadãos. A Noruega tem um forte interesse em tendências em todo o mundo, inclusive na China, e o seu Comité do Prémio Nobel da Paz, que não faz parte do governo, concedeu dois prémios Nobel da Paz a pessoas nascidas na China. Assim, não é de estranhar que a política externa da Noruega e o estabelecimento da segurança mantenha um olhar atento sobre os assuntos globais. Para um país pequeno, a política de segurança é menor sobre o equipamento, e maior sobre a compreensão das línguas, culturas e história de outros países, a fim de aprender o que estimula as suas políticas e como podem ser acomodadas ou resistir. A China, conjuntamente com o mundo árabe, foi frequentemente como o clássico “outro” para um Ocidente sempre em mudança, que esforça por definir e redefinir-se a si mesmo. Vindo do ambicioso mas inseguro poder comercial e militar de Veneza do século XIII, Marco Polo retratou a China como infinitamente rica e poderosa. O pensador do

VICTOR FLEMING, MERVYN LEROY, GEORGE CUKOR, KING VIDOR, NORMAN TAUROG, THE WIZARD OF OZ

Rumo ao Estado de direito socialista

Iluminismo François-Marie Arouet Voltaire, enquanto argumentava contra o obscurantismo religioso, defendia que a China era o lar da racionalidade secular. A China para Adam Smith, durante a primeira revolução industrial, foi um exemplo de advertência de estagnação económica e Friedrich Hegel, escreveu na era napoleónica, a inverdade de que a China exemplificava um país sem heróis, revolução ou progresso, relegado para um estatuto fora da história. Ao longo dos anos, o Ocidente foi vendo a China como pobre ou rica, supersticiosa ou racional, bárbara ou civilizada, passiva ou guerreira. O Ocidente, com efeito, definiu a sua própria identidade, criando uma imagem da China como o seu oposto imaginário. Actualmente, encontramo-nos em um período, que não é o primeiro, do suposto declínio ocidental. O Ocidente sente-se desunido, indeciso, ineficiente e fraco. As representações de uma China em ascensão como unida, decisiva, eficiente e forte dão significado concreto a essas características, sendo quase negativo que a China esteja realmente a estender-se e em ascensão. O seu produto interno bruto (PIB) aumentou dois dígitos durante três décadas,

e o seu orçamento militar cresceu consequentemente, afirmando os seus interesses nacionais principais com vigor crescente. A questão fundamental é de saber, se a ascensão da China é realmente equivalente ao declínio do Ocidente, ou se trata do seu acompanhamento natural ou é mesmo a sua causa. Quando vemos a China como uma ameaça, estamos a vê-la como realmente é? A chamada ameaça da China é uma mudança de forma, para usar uma frase de Karl Marx, um espectro que assombra o mundo pós-Guerra Fria da dominação americana, sendo difícil identificar o que os teóricos da ameaça chinesa realmente temem. Pode-se resumir o discurso, indicando três tipos de preocupações, que actuam por vezes em conjunto. O primeiro tipo é económico, pois a China tornar-se-á a maior economia do mundo, indo absorver toda a tecnologia ocidental e inundar o Ocidente com os seus produtos; a sua moeda será a reserva do mundo; estabelecerá padrões para produtos de tecnologia e de consumo e forçará o mundo a adoptar a maneira chinesa de fazer negócios. O segundo tipo é militar, pois o crescimento económico da China fará que tenha cada vez mais poder militar para continuar as suas existentes reivindicações territoriais

e expandir a sua influência regional, além de estender os seus interesses estratégicos no exterior, como trabalhadores, campos petrolíferos, investimentos, entre outros, e irá sentir-se contrafeita de projectar o poder militar para proteger esses interesses. É de prever que irá dominar primeiro a sua região e depois quiçá o mundo. O terceiro tipo é normativo, pois o sucesso do modelo chinês porá fim ao domínio do “soft power” da democracia e dos direitos humanos. A China reescreverá as normas internacionais existentes sobre o livre comércio, direitos humanos, intervenção humanitária, assistência ao desenvolvimento e usará a sua influência financeira para influir não só a mídia nacional, mas também estrangeira, o pensamento académico e a cultura pública. Existem duas formas de avaliar tais receios, sendo o primeiro, através da possibilidade de projectar as tendências existentes no futuro, o que poderíamos chamar de previsão na trajectória. Este tipo de previsão é correcto na maior parte das vezes, porque a maioria das tendências geralmente continuam a desenvolver-se na mesma direcção. Mas tal previsão tem eventualmente a garantia de errar, porque cedo ou tarde a história nos surpreende.


19 hoje macau quinta-feira 29.12.2016

OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

A segunda abordagem é a de pensar sobre todas as formas improváveis em que as situações poderiam sair da trajectória, e tentar identificar os cenários mais inverosímeis. Este tipo de previsão é errado na maioria das vezes, mas cedo ou tarde tem uma boa percentagem de ser correcto, porque, a longo prazo, a única situação certa é a ocorrência de algo inesperado. Se pensarmos sobre a improvável ameaça da China, devemos, em primeiro lugar, incorporar os factos e tendências de que o regime chinês está sob controlo estável, apesar de muitos e diversos desafios às suas regras. Excluindo a possibilidade de desordem política, a economia continuará a crescer, ainda que tenha começado a desacelerar, como aconteceu com todas as economias de rápido crescimento, e é de esperar que a taxa de crescimento continue a abrandar. O governo chinês enfrentará uma agenda complexa de segurança interna e externa, em um futuro distante, e deve gerir os desafios internos decorrentes de mudanças sociais rápidas, cepticismo ideológico e insatisfação entre grupos étnicos e religiosos, lutando com as queixas da população rural, cujas terras estão a ser confiscadas ou poluídas, e

O sistema político chinês não é tão vulnerável como se possa pensar, não sofrendo do complexo da falsa estabilidade a longo prazo, como acontece, nas mal realizadas democracias, como por exemplo, as do Japão, França e Estados Unidos, entre muitos outros países

com os residentes dos centros urbanos que se opõem à actividade de fábricas poluentes e produtos de consumo inseguros. É de esperar que Taiwan continue a resistir à integração na República Popular da China. Os principais vizinhos da China, como o Japão, Índia e Rússia, e os seus fortes vizinhos, como a Coreia do Sul, Vietname e Indonésia, continuarão a resistir à influência chinesa. Os Estados Unidos não sairão da Ásia. A prosperidade da China continuará a depender da sua interdependência com a economia global, como fonte de matérias-primas e energia, e como um mercado para as suas indústrias. A China continuará a apostar fortemente na paz e nas estabilidades regionais e globais, para que a sua economia não seja perturbada, sendo improvável que, no futuro previsível, procure ou seja capaz de expulsar os Estados Unidos da Ásia ou de destruir o sistema global. Isso não significa que a ascensão da China não apresente nenhum desafio ao “status quo”. É possível a existência de um atrito contínuo entre a China e muitos dos seus vizinhos, dado tentar melhorar a sua posição em litígios territoriais. A China continuará a desafiar o argumento dos Estados Unidos, de que pode conduzir legalmente exercícios navais e operações de inteligência até doze milhas náuticas ao largo da costa chinesa, e continuará a pressionar Taiwan para a reunificação, ao abrigo do princípio da existência de uma só China, que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, parece querer contrariar. Assim, é de esperar atrito entre a China de um lado e os Estados Unidos, e os seus aliados regionais do outro. Tais fricções carregam o risco da escalada, sendo improvável de conduzir a conflitos armados. É um exagero confundir esse risco de conflito local, com o risco de a China tomar conta do mundo. E quanto à mudança fora da trajectória? Quanto maior for o período de tempo, mais provável é a ocorrência de algo dramaticamente diferente, basta pensar na queda da União Soviética ou da Primavera Árabe. Naturalmente, esse tipo inesperado de mudança é intrinsecamente imprevisível, mas devemos ser capazes de identificar alguns tipos de mudanças históricas radicais, com menor improbabilidade, que outras de acontecer. Por exemplo, observando a situação interna da China, podemos identificar vulnerabilidades essenciais no modelo económico, sendo a primeira a que inclui o pesado tributo que a degradação ambiental produz no solo, água, ar e saúde pública, tornando o actual modelo de crescimento insustentável, se não for invertida a actual tendência rapidamente. A segunda vulnerabilidade económica é a estrutura demográfica de uma população em envelhecimento, e a terceira é o estímulo do crescimento rápido pelo pesado, e muitas vezes improdutivo, investimento estatal em infra-estrutura e imobiliário, através de empréstimos de bancos estatais. Tendo

em consideração esses factores, é possível descartar um ressurgimento do crescimento de dois dígitos e a regra na possibilidade, embora não inevitável, de um declínio dramático do crescimento ou da possibilidade da ocorrência de uma crise económica. O sistema político chinês não é tão vulnerável como se possa pensar, não sofrendo do complexo da falsa estabilidade a longo prazo, como acontece, nas mal realizadas democracias, como por exemplo, as do Japão, França e Estados Unidos, entre muitos outros países. Os líderes chineses afirmam oficialmente que se deve reformar e melhorar o seu sistema político, criando democracia de estilo socialista e construindo o Estado de direito socialista, ou seja, o sistema político chinês permanece em construção, e mesmo que a população dê ao regime altas notas de desempenho, vê o sistema actual como uma estação no caminho da evolução política, em direcção a uma futura forma de governo desconhecido, e a ser criado. A mudança política deve ser pacífica e gradual. O ambiente internacional da China é potencialmente turbulento. A China faz fronteira com um dos países mais instáveis do mundo, a Coreia do Norte, governada por uma ditadura pessoal anacrónica, dividida em conflitos entre facções, e armada com armas nucleares, que governa uma população carecida. Se esse regime cair ou desencadear uma guerra, a China pagará um grande preço. Outros regimes instáveis que fazem fronteira com a China, incluem a Birmânia, Paquistão, Afeganistão, Tajiquistão, Quirguistão e Cazaquistão. Os conflitos étnicos ou a ascensão de movimentos extremistas poderiam produzir fluxos de refugiados ou paraísos terroristas nesses lugares que ameaçariam a segurança da China. A desordem na África ou no Médio Oriente, podem no futuro ameaçar os suprimentos de petróleo, cobre e outras matérias-primas necessárias à China. A polarização das relações com a Europa e Estados Unidos, poderá ameaçar os seus mercados de exportação e a sua estabilidade financeira. Em contrapartida, é difícil pensar em mudanças plausíveis, fora da trajectória existente, no ambiente de política externa da China que melhorariam a sua segurança. É improvável, por exemplo, que qualquer um dos maiores países vizinhos decida aliar-se à China porque a desconfiança é alta em toda a região. A alteração da trajectória existente, que é susceptível de ocorrer cedo ou tarde, tende a diminuir ao invés de aumentar a ameaça da China. Todavia, alguns mitos sobre a China são verdadeiros. A China está localizada em uma parte diferente do mundo, em relação ao Ocidente e tem as suas prioridades, necessidades de segurança e visão do futuro, e nem sempre vê o mundo, da mesma maneira que vêem os ocidentais. Está cada vez mais estreitamente ligada ao Ocidente e não se está a afastar, pelo que é urgente que entendamos essa verdade.


Daquela janela/três pétalas caíram/uma era branca./A janela/aquela/sempre a mesma/maldita janela./Moldura de tantos gestos/onde/na incongruência das noites/desesperadamente amei.” Carlos Marreiros

China INDIGNAÇÃO EM CASO DE ALEGADA BRUTALIDADE POLICIAL

A revolta da classe média

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ILHARES de chineses pertencentes à emergente classe média do país participaram num abaixo assinado contra a decisão de uma procuradoria de Pequim de não acusar cinco polícias suspeitos da morte de um activista ambiental. Lei Yang tinha 29 anos quando foi detido a 7 de Maio e algemado ao oferecer resistência para entrar no veículo da polícia. Pouco depois morreu afogado no próprio vómito num hospital na capital chinesa. Segundo a decisão da procuradoria do distrito de Fengtai, emitida na sexta-feira, os cinco suspeitos, incluindo um subcomissário, “cometeram actos impróprios durante o seu trabalho que conduziram à morte de Lei e não pediram ajuda quando este se revelou doente”. Tal comportamento requer sanções disciplinares “graves” mas não precisa de ser levado a tribunal, diz a decisão. Num caso raro de demonstração pública de revolta da classe média chinesa contra as autoridades, dois baixos assinados foram iniciados ‘online’ por antigos estudantes universitários. “Quando algo tão nefasto, tão difícil de aceitar, ocorre na sociedade, é como se deflagrasse um fogo interior, que sentimos nos ossos”, contou à Associated Press Yu Li, uma funcionária do

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amiga da Presidente sul-coreana no centro do escândalo de corrupção que levou à destituição de Park Geun-hye pagou tratamentos estéticos de milhares de euros à chefe de Estado, revelou ontem a comissão parlamentar que investiga o caso. Choi Soon-sil terá pagado 1,13 milhões de won (894.300 euros) a uma clínica de tratamentos contra o envelhecimento de Seul entre 2011 e 2014 por 27 serviços prestados à Presidente sul-coreana, indicou o deputado Hwang Young-cheul, que é membro da comissão parlamentar.

ramo informático, que assinou o baixo assinado. Os organizadores disseram não querer protestar nas ruas, por temer retaliações do Governo, mas o caso ilustra a crescente dificuldade do Partido Comunista Chinês em lidar com uma opinião pública cada vez mais exigente. Questões como a injustiça no sistema judicial, poluição, corrupção ou escândalos de saúde pública ameaçam minar a legitimidade do partido junto de um segmento influente da sociedade.

O abaixo assinado reuniu mais de 2.400 assinaturas de antigos estudantes da Universidade Renmin, onde Liu se licenciou, e outras universidades chinesas de topo, como a Universidade Tsinghua e a Universidade de Pequim. Entre os signatários constam académicos prestigiados e o presidente executivo de uma empresa de produtos alimentares. Num país onde a brutalidade policial é “frequente”, o caso de Lei atraiu especial atenção devido ao seu perfil de jovem educado e ac-

Bonito serviço

Amiga da Presidente sul-coreana pagou-lhe tratamentos de beleza de milhares de euros Estas transacções traduzem-se em novas provas sobre a relação entre ambas, assinalou o mesmo responsável à agência noticiosa sul-coreana Yonhap. As facturas às quais a comissão parlamentar teve acesso incluem 29 tratamentos pagos por Choi e pela sua irmã, Choi Soon-deuk, que as assinaram com pseudónimos como “VIP”, “Presidente Park” e “Azul”,

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alegadamente em referência à Casa Azul, sede da Presidência sul-coreana. Entre aqueles tratamentos incluem-se 27 serviços prescritos para a própria Park, segundo a comissão parlamentar. Os investigadores tentam determinar a natureza dos pagamentos, que se somam a outras alegadas ofertas, como roupa, com as quais Choi presentou Park e

Num caso raro de demonstração pública de revolta da classe média chinesa contra as autoridades, dois baixos assinados foram iniciados ‘online’ por antigos estudantes universitários

que poderiam envolver subornos, apesar de o gabinete da Presidente ter assegurado que Park devolveu a soma de todos esses bens. “A prescrição de tratamentos para Park através de intermediários e pagos por Choi lança novas suspeitas sobre o caso”, assinalou Hwang Young-cheul, um dos ex-deputados do partido governante crítico da Presidente. Choi Soon-sil, conhecida como “Rasputina sul-coreana”, actualmente presa, é acusada de ter interferido em assuntos de Estado, apesar de não desempenhar nenhum cargo público, e

tivista ambiental que fazia parte de um centro de pesquisa do Estado.

SER TANSVERSAL

Zhang Wen, um conhecido comentador chinês, disse à Associated Press que casos de injustiças contra camponeses ou trabalhadores migrantes são frequentes na China, “mas devido à sua classe social, os seus casos não geram oposição em massa ou consciencialização”. “O caso de Lei Yang, porém, quebrou com as barreiras geográficas ou até de classe”, afirmou. “Se pode acontecer com ele, pode acontecer com qualquer um de nós. Qualquer um de nós podia ser o Lei Yang”, disse. A Universidade Renmin, onde Lei se formou e cujo significado em português é Universidade do Povo, foi fundada pelo Partido Comunista, ainda antes da fundação da República Popular. A maioria dos economistas, académicos e historiadores da instituição costumam apoiar as decisões do Partido. Yu, que também assinou em protesto, disse que nunca se considerou activamente político, até que o caso de Lei o chocou. “Nós esperávamos que este caso fosse resolvido com transparência e de acordo com a lei”, afirmou Yu, que estudou na Universidade Renmin, em 1996. “Em vez disso, o que observamos é que o julgamento foi feito tendo em consta a estabilidade. Eles valorizaram mais a lealdade da polícia, do que as lamentações da população”, afirmou.

de ter extorquido empresas para obter avultadas somas de dinheiro, das quais se terá apropriado parcialmente, entre outras acusações.

EM SUSPENSO

O parlamento, controlado pela oposição, aprovou a destituição da Presidente a 9 de Dezembro por causa deste

caso, decisão que terá de ser ratificada pelo Tribunal Constitucional para ser definitiva. O tribunal tem até seis meses para decidir se Park tem de abdicar permanentemente ou pode voltar a assumir o cargo. Os seus poderes presidenciais estão suspensos, com o primeiro-ministro a liderar o Governo. O Ministério Público acusou Park de conluio com Choi Soon-sil para extorquir dinheiro e favores de algumas das maiores empresas do país, e de permitir que a amiga manipulasse assuntos de Estado.


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