DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ PUB TIAGO ALCÂNTARA
ENTREVISTA
COLOANE
As dúvidas de Au Kam San PÁGINA 6
OPINIÃO A sete chaves DAVID CHAN
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A grande mensagem GUO XI
CHINA
Benefícios religiosos PÁGINA 14
LIGA DE ELITE
A CASA VEIO ABAIXO PUB
CENTRAIS
Ho Chio Meng é suspeito de atribuir obras e serviços a empresas de familiares. Em causa estão cerca de duas mil adjudicações. Para além do ex-procurador, também o seu chefe de gabinete e um assessor estarão envolvidos no caso. GRANDE PLANO PÁGINA 4
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A chave criativa
Tudo em família
EX-PROCURADOR DETIDO POR SUSPEITAS DE CORRUPÇÃO
MOP$10
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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
ÁLVARO BARBOSA
SEGUNDA-FEIRA 29 DE FEVEREIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3521
2 ENTREVISTA
ÁLVARO BARBOSA DIRECTOR DA FACULDADE DE INDÚSTRIAS CRIATIVAS DA USJ
As indústrias criativas seguem em bom percurso, mas são áreas que por si só implicam tempo. Álvaro Barbosa, director da Faculdade das Indústrias Criativas da USJ e docente, defende a utilização da criatividade como chave para encontrar soluções para gestão de políticas e problemáticas públicas e anuncia ainda a intenção de criar um curso de Cinema – uma proposta a ser entregue ao GAES em breve
“Se a aposta da economia de Macau vai [no sentido das indústrias culturais] então as universidades e o ensino secundário devem de alguma forma abraçar e reflectir essas dinâmicas”
“Falta utilizar a criatividade como um recurso” Há anos que se fala nas indústrias criativas como alternativa ao sector do Jogo. Já defendeu várias vezes que não é possível, ainda assim mantemo-nos no mesmo caminho. Continua com a mesma opinião? Essa é uma questão que já nos colocámos muitas vezes. O meu entender é que não existe nenhuma alternativa viável no sentido de substituir a indústria do Jogo, por uma razão simples: é que há muito poucas indústrias que proporcionam o tipo de rendimentos que esta indústria de entretenimento e Jogo proporciona em Macau. Muito dificilmente haverá enquadramento em Macau para haver uma indústria que seja alternativa ao Jogo.
a questão da criatividade torna-se essencial para a inovação. As indústrias criativas são essenciais para a inovação e para o empreendedorismo nos dias de hoje. A criatividade tem um papel muito importante e, consequentemente, as indústrias criativas. Em Macau, as pessoas sabem o que se passa no mundo e perceberam que isto é uma das indústrias que é vital em regiões desenvolvidas. Aqui, esta indústria do Jogo e entretenimento parece ser um casamento que faz sentido. A ideia de que podemos ter um conjunto de actividades complementares relacionadas com as indústrias criativas fez com que o Governo percebesse que seria uma aposta que faz sentido.
Falamos então de algo complementar... Quando se coloca esta questão não pode ser de alternativa, sim de complementaridade. Penso que é preciso encontrar indústrias que de alguma forma tenham alguma relação, alguma articulação, com esta indústria que é central em Macau e que proporcionem uma diversificação da economia. Mas não numa lógica de substituir o Jogo, no sentido de que - se um dia esta indústria deixar de funcionar - Macau vai manter o seu nível de rendimentos. Acho que isso seria muito difícil num território desta dimensão.
Actividades complementares como por exemplo... Turismo, património, gastronomia, design, arquitectura.
O apoio que o Governo diz atribuir às indústrias criativas está a acontecer da forma correcta? O que o Governo está a fazer é mais do que proporcionar apoio. Há alguns anos houve um entendimento de que as indústrias criativas são uma área que se estão a desenvolver pelo mundo fora, como uma área que é relevante e que tem impacto. E faz sentido no mundo actual, em que os serviços e produtos começam a entrar numa certa velocidade de cruzeiro e numa certa redundância e, por isso,
Diz que não é só apoio... O que foi feito não foi propriamente um apoio, em primeiro lugar houve um estudo e uma comissão criada no sentido de tentar perceber qual o enquadramento que existia em Macau. Porque estas coisas, mais do que em outras áreas, fazem-se de baixo para cima, e não de cima para baixo. É preciso primeiro perceber o que é que existe e depois configurar algo que faça sentido. Houve primeiro uma etapa em que foi criada essa comissão e foram desenvolvidos um conjunto de subsectores, que fazia sentido em Macau, pelo seu enquadramento e massa crítica. Com base nesse primeiro passo foi criado, num segundo momento, um mecanismo de apoio, nomeadamente financeiro para alavancar o desenvolvimento de projectos nestas áreas. O apoio está portanto a acontecer. Daí a criação do Fundo para as Indústrias Criativas... Sim, está a financiar projectos, dando os primeiros passo. Estas
coisas demoram tempo, não se fazem instantaneamente. Penso que o caminho que está a ser percorrido é o caminho correcto, com os seus solavancos normais do desenvolvimento de uma área. É uma área que está a ser desenvolvida pelo mundo fora. Claro, que em alguns países está um pouco mais consolidada, mas penso que não há ninguém no mundo que possa dizer que já fez tudo o que há para fazer nesta área. Dinheiro é a única coisa precisa para apoiar este projectos? O que poderia ser feito e está a ser feito é perceber que, tal como nos outros sítios, o essencial neste tipo de desenvolvimento é a educação. As infra-estruturas de ensino estarem direccionadas e recentradas nestas dinâmicas. Se a aposta da economia de Macau vai neste sentido, então as universidades e o ensino secundário devem de alguma forma abraçar e reflectir essas dinâmicas. Portanto faria pouco sentido Macau investir em áreas de tecnologia aeroespacial, por exemplo. O que faz sentido é que as universidade e as escolas sejam canalizadas para reforçar e criar uma cultura social nesta área. É preciso perceber que estas ideia das indústrias criativas tem de ser levada a par com uma dinâmica integrada com as universidades. E isso está a acontecer? Penso que estamos a trabalhar nesse sentido. Por parte da Universidade de São José posso dizer que foi uma aposta deste mandato investir nesta área. A tradição da Universidade Católica tem sido investir na cultura e da criatividade. Tem sido esta a tradição, investir em áreas que não estão a ser desenvolvidas em outras universidades de ensino público e que têm a ver com a cultura e arte. Faz sentido apostar. Indústrias culturais e criativas são coisas diferentes?
Não, são áreas que se relacionam. Costumo explicar desta forma: as indústrias culturais podem ser vistas como um subconjunto das criativas. As culturais dizem respeito às dimensões que nós, enquanto seres humanos, necessitamos como cidadãos, as nossas necessidades culturais - museus, património, artes performativas, músicas. É uma tipologia de indústria que normalmente, e é assim que devem ser visto embora as pessoas não queiram aceitar, são subvencionadas por fundos públicos. Em todo o mundo. O caso dos Estados Unidos – em que se dá a entender que os museus são apoiados pelo privado – é preciso ver que há uma nuance. O sector privado que financia as instituições culturais tem uma lei do mecenato que os favorece imenso. Portanto os descontos que obtêm com o seu apoio nos seus impostos, acabam no fundo por ser suportados pelo Estado. As criativas? As criativas vão para além disso. Estão mais relacionadas com as nossas necessidades enquanto consumidores. Os consumidores consomem produtos de design, online, digital, jogos de entretenimento. Há uma diferença no que é o domínio das artes performativas no plano cultural e no plano do entretenimento. Em geral o conceito abrange, de certa forma, as indústrias culturais. Onde é incluída a música, as artes performativas, etc. Que tipo de criatividade está a precisar Macau? É preciso esclarecer uma coisa. Normalmente as pessoas pensam que a criatividade é uma espécie de talento, que há umas pessoas que a têm e os outros não, que está relacionada com as artes. Não entendo a criatividade nesse sentido. Para mim criatividade é um processo, que se pode aplicar
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e praticar. Tem aplicações em muitos domínios, em muitas disciplinas, inclusivamente em indústrias que até parece não fazerem uso da criatividade. Hoje em dia, penso que o contexto em que a criatividade é mais essencial é na inovação. Em qualquer indústria. É preciso as indústrias posicionarem-se de forma competitiva. Só há três formas: relação com os clientes, preço e inovação. Para conseguir a inovação é preciso transformar cidades e problemas em oportunidades, para isso é preciso criatividade. Aplicável em todos os sentidos... Aplicável em todos os domínios, por exemplo, se quisermos resolver o problema do trânsito em Macau é preciso criatividade. Como é que se resolve? (risos) Acho que muitas vezes a solução de problemas, se seguir precisamente a ideia da criatividade sistemática, começa por nos focarmos no problema. Proponho
“Aqui, a competitividade tem de ser pensada pelos seus segmentos” é que antes de passarmos para a solução de aumentarmos as taxas para ver se as pessoas deixam de comprar mais carros, algo que parece não acontecer porque em Macau existe bastante capacidade financeira, o caminho é sempre tentar encontrar, antes de avançar para uma solução, várias potenciais soluções. E depois a solução que vamos encontrar não é uma, normalmente é uma solução multidimensional. A criatividade é isto. O que falta em Macau? O que falta é utilizar a criatividade como um recurso. Como um recurso que pode ser utilizado num processo e de forma sistemática. Isso aplica-se em todos os domínios, até na banca. Desde que seja enfocada nesta forma. Os jovens têm essa noção? Normalmente nas minhas aulas dou o exemplo de Macau. Não me foco tanto no negócio mas sim na solução de problemas. Na criatividade sistemática como a metodologia de solução de problemas. E o exemplo do trânsito é muito usado, porque é uma das
Faria sentido esse departamento em Macau? Absolutamente. Faria todo o sentido, a gestão dos serviços públicos em Macau é eficaz mas poderia ser muito mais eficaz, muito mais sustentável. Temos tido, não no sector público, algumas solicitações de departamentos de formação das corporações, nomeadamente casinos, para darmos formação.
China imita, mas todos imitamos. A verdade é que a única possibilidade para sermos criativos é copiando, adaptando ou misturando. São as três receitas para a criatividade. O que a China faz, se calhar fez durante algum tempo de forma menos encapsulada, não é mais do que foi feito por todo mundo. A ideia da originalidade absoluta é uma ideia romântica. Essa ideia de que a China copia é um estigma um pouco exagerado. O que acontece é que muitas vezes há uma réplica literal e há uma tentativa de falsificação. Mas não existe só aqui. Talvez se note mais porque tem a maior infra-estrutura de produção da região e talvez do mundo, de produtos. O que está acontecer é que a China está a emergir para as áreas de serviços, principalmente na área do design, da comunicação digital.
Portanto há abertura? Naturalmente. Estamos a falar da criatividade sistemática que tem uma aplicação fora das indústrias
Casos como o Alibaba... Sim, grandes exemplos como desta dinâmica. O Wechat, o Alibaba, há também uma aposta na impressão
dificuldades que a sociedade tem. Temos chegado a soluções óbvias e a outras muito criativas. Problemas complexos nunca têm só uma solução. Na Holanda têm um departamento nesta área e que utilizam precisamente para encontrar soluções de gestão de políticas públicas que são mais eficazes e eficientes do que aquelas que seguem os processos tradicionais de solução de problemas.
“Faz sentido haver uma escola de cinema, licenciatura de Realização e Produção de Cinema e estamos a avançar com a proposta de um curso” culturais. A ideia de instituir a criatividade sistemática na gestão das instituições está mais do que identificado, mesmo na China. Conheço várias empresas em Shenzen que são de consultadoria nesta área. Em Macau faz sentido e naturalmente irá acontecer. Se Macau quer ser competitivo tem de ser diferente. Como é que se consegue? Já é (risos). A forma como Macau se distancia dos seus concorrentes já está estabelecida e é diferente dos olhos para que ela olham. Temos a consciência que na China continental o apelo de Macau, aos turistas e investidores, não é exactamente o mesmo que na Europa, por exemplo, que olha para Macau pela sua integração na China. Já na China, Macau tem o seu encanto através da sua relação com a Europa. Aqui, a competitividade tem de ser pensada pelos seus segmentos. Pensar que a China imita e não cria é um erro? É uma ideia que já nos remete para o passado. É preciso ver que a
“Essa ideia de que a China copia é um estigma um pouco exagerado” em 3D, na área da microelectrónica. A ideia de que a China é apenas um país que se copia está a esvanecer. Falando da USJ: quais os projectos que abraçaram agora? O primeiro mandato foi no sentido de definir uma estratégia, dentro da Faculdade de Indústrias Criativas consolidámos as três grandes áreas que tínhamos: comunicação e media, arquitectura e design e iniciámos um processo de ter uma constelação de áreas que fizesse com que esta faculdade contemplasse os grandes vectores de indústrias criativas que fazem sentido em Macau. Iniciámos um processo de novos programas e isso é uma coisa que leva o seu tempo. Por exemplo, faz sentido haver uma escola de cinema, Licenciatura de Realização e Produção de Cinema e estamos a avançar com a proposta de um curso que será submetido ao GAES [Gabinete de Apoio ao Ensino Superior] e a nossa expectativa é introduzi-lo no próximo ano, em 2017. Filipa Araújo
Filipa.araujo@hojemacau.com.mo
4 GRANDE PLANO
EX-PROCURADOR ATRIBUÍA OBRAS E SERVIÇOS A EMPRESAS DE FAMILIARES
CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU GCS
Mais de duas mil adjudicações de obras e serviços, empresas ocas - próprias ou de familiares –, conluio com empresários e dez anos de ilegalidades “em equipa” entre o ex-procurador, o Chefe do seu Gabinete e um assessor. São as acusações que Ho Chio Meng enfrenta, agora que está em prisão preventiva depois de ter tentado sair de Macau IMPARCIALIDADE DO MP André Cheong foi questionado sobre se haveria a possibilidade de Ho Chio Meng ter abusado do seu poder para questões relacionadas com a própria justiça, mas o Comissário nega. “Por ser dentro do MP é uma tristeza para todos, mas é de natureza idêntica a outros casos de corrupção encontrados antes. Mas isto não implica a imparcialidade ou a integridade do MP, até porque a denúncia partiu do próprio organismo, que prestou uma colaboração intensa ao CCAC. Não houve outros magistrados envolvidos e não há suspeitas de benefícios através do poder judicial.”
GOVERNO “NÃO COMENTA” De acordo com André Cheong, Chui Sai On “nada disse sobre o caso, a não ser para o CCAC agir de acordo com a lei”. Em comunicado, e depois de questionado sobre a situação que envolve o ex-procurador, o Executivo disse apenas que “devido ao início do processo judicial, não faz nenhum comentário”. No CCAC, o Comissário falou dos recentes casos que decorrem sobre chefias e dirigentes acusados de corrupção na Função Pública e garantiu que “sejam moscas, sejam tigres” todos são iguais perante a lei, numa referência aos nomes dados pela China continental aos funcionários e aos dirigentes, respectivamente. André Cheong disse ainda não poder responder sobre se a investigação teve apoio das autoridades do continente.
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O Chio Meng, o Chefe do Gabinete do Procurador e um assessor do Ministério Público são três dos envolvidos no caso que levou o ex-procurador da RAEM a ficar em prisão preventiva, depois de ter sido apanhado pelas autoridades a tentar sair de Macau. Ho Chio Meng está acusado de corrupção, burla, participação económica em negócio, abuso de poder e falsificação de documento, em conjunto com “um assessor do MP, o chefe do Gabinete do MP e outros empresários locais”, como referiu ontem André Cheong, dirigente do Comissariado contra a Corrupção (CCAC). O Chefe do Gabinete de Ho Chio Meng era, à data e como pode ser confirmado no Boletim Oficial, Lai Kin Ian. Numa conferência de imprensa marcada especificamente para revelar informações sobre o caso,
o Comissário indicou que “o ex-procurador da RAEM” – só existe um, que é, então, Ho Chio Meng – “adjudicou obras e serviços a mais de dez empresas e empresários locais, sendo dois deles familiares” do próprio Ho Chio Meng. Mais de duas mil adjudicações foram feitas directamente pelo MP, directamente ou através de concursos públicos forjados – muitos deles “a empresas ocas, sem trabalhadores efectivos”. O montante envolvido é, para já, de mais de 167 milhões
de patacas, sendo que “os suspeitos terão beneficiado de pelo menos 44 milhões”. As contas, contudo, dizem respeito a dez anos – de 2004 a 2014 – e André Cheong admite que pode haver mais valores. “Ainda estamos a ver essas quantias, isso é no mínimo.” As obras e serviços foram adjudicadas directamente pelo MP, porque dizem respeito a serviços de “melhorias” das instalações, “limpeza e segurança” e este é um órgão independente.
Ho Chio Meng está acusado de corrupção, burla, participação económica em negócio, abuso de poder e falsificação de documento, em conjunto com “um assessor do MP, o chefe do Gabinete do MP e outros empresários locais”
“As obras e serviços eram atribuídas directamente em conluio com empresário ou até a empresas de eles próprios, algumas ocas, que não prestavam esses serviços e que os adjudicavam, por sua vez, a outras. O caso envolve empresários de cerca de dez empresas, algumas [adjudicações] até foram a concurso público, mas ganhavam sempre as mesmas, havia dois ou três que ganhavam sempre os concursos, ou por casa da urgência ou da experiência”, explicou André Cheong, que acrescentou que, por vezes, havia repetições da adjudicação do mesmo serviço ou obra.
DENTRO DE CASA
Há cerca de dois meses, o HM interrogou o MP sobre se Ho Chio Meng estaria em Macau, devido a uma fonte ter revelado a este jornal a possibilidade de o ex-procurador estar a tentar sair “devido a um processo”. O MP negou que este não estivesse no território e o CCAC, questionado sobre a situação, indicou que não havia qualquer investigação a decorrer. Ontem, contudo, André Cheong revelou que, mesmo antes de tentar sair do território na sexta-feira, Ho Chio Meng já tinha sido alvo de aplicação de medidas de coacção. “Já tinha sido declarado arguido e aplicado medidas de coacção, pelo que fizemos a detenção dado a gravidade do caso”, explicou o Comissário, que disse ainda que Ho Chio Meng já tinha conseguido passar a fronteira quando foi apanhado por um polícia e um agente do CCAC, no Terminal Marítimo do Porto Exterior. A denúncia que levou à investigação do CCAC partiu do próprio MP. Apesar de há dez anos a situação estar a decorrer, só depois de Ho Chio Meng deixar o cargo – que ocupou desde 1999 até Dezembro de 2014 – é que esta aconteceu, “no primeiro semestre de 2015”. “Eles funcionavam em equipa, era uma parceria, e utilizavam meios para que os outros [trabalhadores] não se apercebessem das adjudicações.” O tribunal acabou por aplicar a medida de prisão preventiva a Ho Chio Meng e de proibição de saída da RAEM a “outros quatro arguidos”, bem como a suspensão do desempenho das funções públicas dos trabalhadores do MP. O ex-procurador, o Chefe do Gabinete e o assessor são já arguidos, mas não há ainda data para o julgamento. Cheong fez questão de frisar que o “volume de trabalho do CCAC bateu um recorde e foi utilizado quase todo o pessoal” do organismo na investigação, que ainda decorre. Pode haver “mais suspeitos e casos conexos” e “agravamento” das acusações, ainda que Ho Chio Meng esteja a “colaborar”. Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
5 POLÍTICA
hoje macau segunda-feira 29.2.2016
Jogo GOVERNO ABRE REGIME DE AUTO-EXCLUSÃO A NÃO RESIDENTES
Todos no mesmo saco VIOLÊNCIA DOMÉSTICA UM TERÇO DOS POLÍCIAS COM FORMAÇÃO
A
formação de pessoal da PSP que lida com casos de violência doméstica vai chegar a um terço dos efectivos. No total, cerca de 1600 funcionários podem ser abrangidos por esta medida. De acordo com a rádio Macau, a decisão foi anunciada numa reunião entre representantes do Governo e deputados da Assembleia Legislativa, que analisa a Proposta de Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica. “Se tudo correr bem e se for aprovada num curto espaço de tempo, um terço dos polícias vai ser formado”, explicou a deputada Kwan Tsui Hang, presidente da Comissão, que indica que as acções de formação já estão a ser preparadas. A conclusão dos cursos deve ser feita antes da entrada em vigor do diploma. A rádio avança ainda que o Governo está a planear a criação de uma linha única de apoio com profissionais do Instituto de Acção Social, para juntar numa só estrutura o tratamento de todos os casos reportados. A reunião serviu também para debater a forma como a assistência às vítimas deve ser comparticipada, com os deputados a defenderem que os custos não devem ser suportados apenas pelo erário público. “A Comissão propôs ao Governo para que pondere a definição de uma responsabilidade económica a assumir por parte do agente agressor, para além da responsabilidade criminal”, adiantou a deputada.
CHEFE DO EXECUTIVO EM PEQUIM PARA APN O Chefe do Executivo, Chui Sai On, vai estar em Pequim de 3 a 6 de Março, para assistir à abertura da Quarta Sessão da 12ª. Assembleia Popular Nacional (APN), que se realiza no dia 5 do mesmo mês. Durante a estada em Pequim, o Chefe do Executivo terá encontros com responsáveis do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Administração Geral das Alfândegas e dirigentes da Província de Guangdong, durante os quais será abordado o reforço da cooperação com a RAEM. Chui Sai On parte com a chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, O Lam, o director do Gabinete de Comunicação Social, Victor Chan, o coordenador do Gabinete de Protocolo, Relações Públicas e Assuntos Exteriores, Daniel Fung, e outros.
O Executivo vai permitir que qualquer pessoa, seja residente, não residente e até turista, possa aceder ao regime de auto-exclusão nos casinos. Mais quiosques contra o jogo problemático e apoio social a não residentes são os projectos do Instituto de Acção Social para este ano
“Temos uma população de mais de 600 mil pessoas e mais de cem mil são não residentes. Os TNR também podem causar alguns problemas sociais e estamos a ver como podemos alargar o apoio a estas comunidades, que têm maiores dificuldades de integração devido às diferenças da cultura e da língua. Muitos dos que vivem cá mais de sete anos ainda não conseguem integrar-se na sociedade devido ao fosso cultural e os assistentes sociais também têm dificuldade em chegar aos TNR. Muitas vezes moram em espaços pouco dignos e talvez não queiram regressar a casa após o trabalho”, defendeu Peter Au Chi Keung. Para o vice-presidente do IAS, essas questões fazem com que os TNR fiquem mais vulneráveis socialmente. “Têm falta de apoio psicológico e talvez possam cair mais facilmente nas malhas do Jogo e da toxicodependência. No futuro o IAS vai apostar mais na formação para darmos mais apoio a esses emigrantes”, adiantou.
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TÉ agora um viciado em Jogo só poderia inscrever-se no regime de auto-exclusão dos casinos se fosse residente de Macau. Mas o Governo pretende este ano alargar esse regime a todas as pessoas, quer sejam portadoras de blue card, quer sejam turistas. A garantia foi dada pelo Instituto de Acção Social (IAS) num encontro com a imprensa. “Todos os anos os não residentes, desde que tenham documentos para entrar ou permanecer em Macau, podem recorrer ao regime de auto-exclusão. Esta medida vai ser acompanha pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), com o apoio do IAS”, revelou o vice-presidente da entidade, Peter Au Chi Keung. “Todos os anos recebemos cerca de 30 milhões de visitantes que contribuem muito para o sector do Jogo em Macau e não queremos ver nenhuma consequência negativa”, acrescentou. Actualmente existem 147 pessoas com o vício do Jogo em Macau, sendo que 355 pessoas pediram a auto-exclusão do acesso aos casinos.
MAIS APOIO A TNR
Mas, mais do que alargar a proibição de entrada em es-
MAIS QUIOSQUES
paços de jogo a todos os que jogam de forma compulsiva, o IAS frisou ainda que vai ser reforçado o apoio dado aos trabalhadores não residentes
(TNR). No primeiro semestre deste ano deverá ser criada uma equipa de profissionais para apoiar a comunidade emigrante.
MEDIAÇÃO FAMILIAR EM BANHO-MARIA
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ong Hin Mui, presidente do IAS, garantiu que o Governo vai arrancar com os trabalhos de mediação familiar para casos de divórcio. Contudo, a lei ainda está a ser elaborada. “Sabemos que actualmente está a ser preparado um projecto de lei sobre mediação familiar. Para introduzirmos este mecanismo é necessário que haja uma lei para regular esta matéria. Tem de haver formação de pessoal nesta matéria, mas como em Macau não temos um sistema de formação para mediadores familiares o nosso pessoal tem de ir a Hong Kong. Vamos no futuro criar um centro para a formação de mediadores familiares. Numa fase preliminar será apenas para casos de divórcio, mas no futuro podemos ampliar mais os serviços”, explicou.
Ainda na área do Jogo, o IAS pretende este ano reforçar o número de quiosques de sensibilização nos casinos, bem como criar maiores espaços de divulgação nestas áreas. “Sentimos que há falta de quiosques porque neste momento só temos 18 e temos muitos casinos em Macau, mas claro que isso vai depender do apoio dos casinos. Estamos a tentar convencê-los a cederem-nos espaços para a instalação”, referiu Vong Hin Mui, presidente do IAS. “Todos os casinos já têm estes quiosques mas vamos tentar aumentar o número. Nos casinos com maior envergadura vamos criar um posto de serviço para reforçar este apoio e aí qualquer pessoa pode pedir a auto-exclusão”, concluiu a presidente do IAS. Apesar das novas medidas, o organismo não dispõe de dados sobre o número de não residentes viciados em Jogo. Este ano o IAS pretende ainda realizar o “Inquérito referente à prática do jogo por residentes da RAEM”. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
6 POLÍTICA
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Coloane PEDIDA INVESTIGAÇÃO DO CCAC
Eficiência ao rubro TIAGO ALCÂNTARA
Au Kam San pede uma investigação do CCAC face à construção do empreendimento de luxo em Coloane, devido a este ser um projecto que levanta muitas dúvidas e que se veio a revelar muito “apressado”. Au Kam San quer uma investigação séria e junta-se a outras figuras políticas, que pedem mais esclarecimentos do Governo
M
ANUEL Wu Iok Pui, membro do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU), o deputado Au Kam San e a académica Agnes Lam juntaram-se ao apelo feito ao Governo para que seja publicado o último relatório sobre a avaliação ao impacto ambiental que o projecto de luxo em Coloane poderá trazer ao local. O Executivo já disse que a decisão de publicar o relatório cabe apenas à construtora, mas o membro do CPU, o deputado e a presidente da Energia Cívica pedem que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) investigue os procedimentos que terminaram na adjudicação do lote. Na semana passada, a União Macau Green Student pediu à Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) para publicar o último relatório de impacto de avaliação ambiental, que originou a pré-aprovação do projecto. O assunto voltou a criar polémico na sociedade, mas o organismo disse que a publicação depende da vontade da empresa responsável de Sio Tak Hong,
empresário de Macau e Hong Kong e figura política. Manuel Wu Iok Pui revelou ao Jornal do Cidadão que o Governo emitiu, em 2013, a primeira aprovação do projecto de construção – demorando apenas dois meses na sua decisão devido ao carácter “urgente”. Na altura, a aprovação aconteceu sem que existisse um relatório de avaliação ao impacto ambiental. “Normalmente, o proprietário do terreno entrega uma proposta preliminar ao Governo, só depois é entregue o plano de construção e, depois de receber um aviso de aprovação, vem a revisão. Mas isto tudo aconteceu em dois meses, todos estes processos”, indicou. Para Manuel Wu Iok
Pui o projecto terá de ser discutido pelo CPU, algo obrigatório por lei.
ASSIM ASSIM
Agnes Lam, presidente da Associação Energia Cívica e ex-candidata a deputada, tem muitas dúvidas sobre se o projecto está a ser regulamentado por antigos regulamentos ou pela nova Lei de Planeamento Urbanístico, por isso espera que o Governo abra uma audiência pública sobre a construção, que vai acontecer em parte na montanha de Coloane. Para Agnes Lam existem vários pontos que levantam dúvidas no projecto. O limite da altura no Alto de Coloane é de 80 metros, mas o Governo
“Parece-me que a Direcção dos Serviços para Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) trabalha sempre muito devagar, mas neste caso emitiu a planta com pressa [em dois meses]” AU KAM SAN DEPUTADO
“não mostrou justificações suficientes para que este projecto possa ter cem metros de altura”, exemplifica. A planta de alinhamento oficial do projecto foi emitida pelo Governo em 2013 com um período válido de um ano. Agnes Lam avançou que, assim sendo, a planta já deve ter expirado e, como o projecto ainda não começou, a presidente considera que deve estar subordinada à Lei de Planeamento Urbanístico. Ainda assim, refere, é algo que não deve estar a acontecer porque o projecto em causa não teve de passar pelo CPU.
VISITA INFELIZ
A Associação Energia Cívica organizou uma visita ao Parque Seac Pai Van, no sábado passado, junto com mais de 20 cidadãos de Macau, com o objectivo de explicar a importância de manter os espaços verdes. A líder da Associação apelou a que o Governo publique quais as técnicas que o construtor pode usar para diminuir a destruição do ambiente. Sem possibilidade de publicação do relatório, então, diz, ao menos que o Governo organize uma audiência pública sobre o projecto que “envolve a saúde de toda a população e o ambiente geral de Coloane”. O deputado Au Kam San concorda com a opinião de Agnes Lam e espera que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, dê ordem para que o projecto seja avaliado novamente e que o CCAC investigue a emissão da planta de alinhamento oficial pelo Governo em 2013. “Parece-me que a Direcção dos Serviços para Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) trabalha sempre muito devagar, mas neste caso emitiu a planta com pressa e escapou da lei. Porque é que o construtor tem direito de prioridade? Ou porque é que o Governo fez isto por ele?”, apontou.
NÃO, NÃO E NÃO
Por outro lado, no programa da TDM Fórum Macau, ontem, o presidente da Associação de Construção Verde de Macau, William Kuan, também empresário, discorda com a publicação do relatório. O representante considera que o projecto já tem planta de alinhamento oficial válida e não deve voltar a ser discutido pelo CPU, senão “não há qualquer protecção para o construtor”. William Kuan, ex-candidato a deputado, garante que já está acordado, com o Governo, que o construtor vai manter a histórica casamata e diminuir a área do desenvolvimento. Uma publicação, diz, iria envolver o direito de propriedade intelectual do construtor. Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
ARTES MAIOR COOPERAÇÃO ENTRE MACAU E CHINA
O
Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, reuniu, na passada sexta-feira, com o presidente do Fundo Nacional das Artes, Cai Wu, para “trocar impressões sobre o reforço do intercâmbio cultural entre Macau e o interior da China e a promoção da formação de quadros qualificados na área das artes”. Num comunicado à imprensa, o Gabinete do Secretário indicou que a “visita pretende aumentar o conhecimento sobre o desenvolvimento cultural e artístico de Macau e ouvir opiniões do sector das artes de Macau, de forma a melhor promover a cooperação entre o Fundo Nacional das Artes e Macau, no futuro”. Depois de uma apresentação dos trabalhos realizados pelo Governo, Alexis Tam disse esperar que “seja consolidada a comunicação com o Fundo Nacional das Artes, a fim de reforçar a cooperação entre as duas partes, melhor aproveitar os recursos e talentos artísticos do interior da China para fomentar mais projectos, de modo a que os jovens locais possam ter mais oportunidades para a aprendizagem e melhoramento”. Foram ainda debatidos temas como o reforço de intercâmbio e a cooperação entre as regiões nos espectáculos culturais e artísticos, exposições e museus, “bem como reforçar junto da população de Macau o amor pela Pátria e o seu reconhecimento de identidade”.
SECRETÁRIO DE ESTADO DA INDÚSTRIA PORTUGUÊS DE VISITA
O Secretário de Estado da Indústria português, João Vasconcelos, está de visita a Macau, hoje e amanhã. Da agenda fazem parte um conjunto de contactos com diversas autoridades e entidades da RAEM assim como com empresas e empresários. O dia começa com uma reunião de trabalho com o Cônsul-Geral e Conselheiro Comercial, Vítor Sereno, e uma visita à unidade industrial da Hovione e termina com um jantar de trabalho com várias personalidades e entidades, entre eles o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. Na terça-feira, e último dia da visita, decorrerá um almoço de trabalho com empresas organizado pela MECC – Macau European Chamber of Commerce, Câmara de Comércio e Indústria LusoChinesa e BNU, no Sofitel às13h00. A tarde começará com uma reunião com Secretário da Economia e Finanças, Lionel Leong. Pelas 16h00 decorrerá um encontro com os órgãos de comunicação social de Macau, no Consulado-Geral de Portugal, seguindo-se uma visita à Companhia de Electricidade de Macau.
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Saúde SUGERIDA FACULDADE DO EXTERIOR PARA GERIR HOSPITAL DAS ILHAS
O que é de fora é melhor Não só pelo dinheiro, mas pela “maior qualidade”. Tong Ka Io defende que o novo hospital das ilhas deveria ser gerido por alguém de fora
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ONG Ka Io, secretário daAssociação de Política de Saúde de Macau, sugere que o Governo convide uma Faculdade de Medicina de uma universidade estrangeira “reconhecida” para administrar o complexo hospitalar das Ilhas. A ideia, diz, não é só para contratar alguém com experiência, mas para que haja “uma diminuição” das despesas na área da saúde. Tong Ka Io indicou que os Serviços de Saúde (SS), responsáveis pela gestão de todos os centros de saúde de Macau e do hospital Conde de São Januário, estimam um orçamento de cerca de sete mil milhões de patacas para a construção do novo hospital público, mas de acordo com o calendário do Governo, o hospital das Ilhas será concluído em 2019 e o orçamento irá, diz, duplicar. “Se o Governo quer uma despesa mais baixa e uma melhoria nos serviços prestados, então deve convidar uma Faculdade de Medicina conhecida de alguma Universidade estrangeira para coordenar e administrar o complexo”, apontou. “É como a Universidade de Sun Yat-sen que, para responder aos pedidos do Governo de Cantão, já administra dois hospitais, um em Zhuhai e outro em Humen. Trabalha em conjunto com os governos locais. E a Universidade de Hong Kong também gere um hospital em Shenzhen”, exemplificou.
TONG KA IO SECRETÁRIO DA ASSOCIAÇÃO DE POLÍTICA DE SAÚDE DE MACAU Tong Ka Io rematou dizendo que a ideia defendida por si traz ainda mais valias no que respeita à formação de profissionais, pois, aponta, o nível de serviços que a faculdade escolhida deve trazer deverá ser reconhecida internacionalmente. “Os locais podem aprender mais durante a sua gestão”, rematou. Tong Ka Io não indica, contudo, se esta ideia fará com que o complexo das ilhas se torne privado, fazendo com que Macau continue apenas com um hospital público.
O responsável da Associação, que já foi membro dos Serviços de Saúde,
Hotel Louis XIII muda de nome e não vai ter casino
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novo hotel que vai abrir no Cotai em frente à habitação pública de Seac Pai Van vai passar a chamar-se apenas “The 13” e não vai ter casino. Num comunicado, a empresa dá o desenvolvimento do negócio como justificação para a mudança de nome. “Com o desenvolvimento da marca e do negócio, achamos que o nome ‘The 13’seria mais correcto para reflectir a combinação entre o Macau contemporâneo e a inspiração Barroca do nosso hotel”, frisou Stephen Hung, um dos presidentes da empresa, que acrescentou ainda que a própria companhia por trás do resort, a Louis XIII Holdings, também deverá mudar
para o mesmo nome. “O 13 também é o meu número preferido e o novo nome, em conjunto com o novo logo, encaixa perfeitamente na visão que tenho [para o hotel].” A empresa tinha referido a criação de um casino no interior do
avançou ainda que, caso uma faculdade faça a gestão do complexo, novas teorias e métodos de medicina serão trazidos para Macau. Por outro lado, diz, “algumas famílias mais ricas, que queiram um serviço de saúde com uma qualidade de nível mais alto, podem ir ao complexo, local onde se pode oferecer um bom serviço com tarifas mais altas”. Isto poderá diminuir o apoio financeiro necessário por parte do Governo, defende.
“Se o Governo quer uma despesa mais baixa e uma melhoria nos serviços prestados, então deve convidar uma Faculdade de Medicina conhecida de alguma Universidade estrangeira para coordenar e administrar o complexo”
PARA RICOS
O número da sorte
SOCIEDADE
Tomás Chio
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hotel, mas o HM sabe – através de fonte ligada à empresa – que acabou por desistir de enveredar por esse caminho. Também a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos assegurou não ter recebido qualquer pedido de abertura de casino. “Até agora, não recebemos qualquer pedido de qualquer concessionária a pedir para abrir casino no Louis XIII [The 13]”, frisou o organismo ao HM. Da mesma forma, também na apresentação do espaço no mais recente comunicado da empresa não é mencionado qualquer espaço de jogo. O hotel vai ter 200 quartos, termas, mordomos e Rolls-Royce para transporte dos clientes. O espaço deverá abrir no final do Verão. Joana Freitas
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LIU CHAK WAN “NUNCA ENTREGOU PROJECTO” À DSSOPT
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Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) assegura que Liu Chak Wan, responsável pelo projecto do lote ao lado do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, na ZAPE, ainda não entregou nenhum plano ou proposta de construção para o terreno. O membro do Conselho Executivo e empresário da área de construção tinha um plano para construir um edifício de 135 metros de altura, que teve de acabar por diminuir a altura devido às exigências legais para o local, em frente ao Farol da Guia, que indicam que as construções só podem ir até 90 metros. O empresário diz que lhe foi prometida
uma indemnização de 1,6 mil milhões de patacas, mas o Executivo nega. Liu Chak Wan diz ainda que o projecto não avançou “porque a DSSOPT não emitiu licença para a obra”. No entanto, numa resposta da DSSOPT ao HM, o Executivo diz que não assinou nenhum acordo para a indemnização e que Liu Chak Wan nunca entregou um plano ou proposta para a construção do projecto, pelo que nunca foi emitida qualquer licença.
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hoje macau segunda-feira 29.2.2016
NEGADA RESIDÊNCIA A HOMEM QUE CONDUZIU EMBRIAGADO
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M homem, residente de Hong Kong, perdeu a sua autorização de residência em Macau por conduzir embriagado. Marido de uma residente de Macau, o homem pediu autorização para ter o BIR em Maio de 2013, para que pudesse “reagrupar-se com a família”. O homem, contudo, foi condenado em 2009 pela prática de um crime de condução em estado de embriaguez - foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base em 2009 na pena de três meses
de prisão, mas com pena suspensa por um ano, até 2010. Contudo, em 2013, o Secretário para a Segurança indeferiu o pedido, por entender que a sua conduta “constitui perigo potencial para a segurança pública” de Macau. O homem ainda interpôs recurso da decisão para a Segunda Instância, defendendo que “nunca voltou a cometer qualquer crime em Macau ou em Hong Kong, seu local de origem” e prometendo “nunca mais conduzir embriagado”.
O Tribunal, contudo, não aceitou o recurso. Apesar de no resumo do acórdão não estar esclarecida qual a taxa de álcool no sangue detectada no homem, a verdade é que também o colectivo de juízes deste tribunal considerou que a decisão da Administração – que “tem poder discricionário” para tomar decisões com base no interesse público, foi precisamente feita “com base na salvaguarda” desse interesse. J.F.
SETE MESES DE PRISÃO OU SEIS MIL PATACAS DE MULTA PARA FUMADOR
Um residente foi condenado, pelo Tribunal de Base, a sete meses de prisão por estar a fumar numa empresa e por, quando acusado pelo fiscal de controlo de tabagismo dos Serviços de Saúde (SS), utilizar linguagem “ameaçadora”. “O fiscal exortou e alertou várias vezes o fumador, mas foi ignorado pelo homem, o que motivou a chamada da Policia de Segurança Pública. Após o esclarecimento e exigência da polícia o indivíduo apresentou o bilhete de identidade, mas durante os procedimentos legais, voltou a usar linguagem ofensiva e ameaçou o fiscal”, explica um comunicado dos SS. O fumador ilegal sujeita-se agora a sete meses de prisão ou ao pagamento de seis mil patacas ao ofendido com suspensão da sua execução pelo período de um ano e seis meses. Em comunicado, as autoridades relembram ainda que “caso os fumadores que estejam a praticar alguma ilegalidade sejam pouco colaboradores ou usem linguagem obscena e até ameacem os fiscais, poderão ser acusados por violação de lei”.
NÚMERO DE TNR DESCE MAS MANTÉM-SE ACIMA DOS 180 MIL
Doação de Sangue SUSPENSÃO PARA GAYS É “DISCRIMINATÓRIA”
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Ao contrário dos Estados Unidos, que só em Dezembro deixaram de proibir os gays de dar sangue de forma permanente, Macau permite, desde 2000, que os gays sejam doadores, desde que não tenham tido sexo no último ano. Associação Arco-Íris fala em discriminação
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M Macau os homossexuais só podem dar sangue desde que no último ano não tenham tido sexo com um parceiro do sexo masculino. Ao contrário dos Estados Unidos, que só em Dezembro último implementaram essa medida, Macau já aplica esta regra desde o ano de 2000. Ao HM, Cristal Hui, directora do Centro de Transfusões de Sangue, garantiu que a suspensão de 12 meses exclusivamente para homossexuais irá continuar. “Não é possível [evitar a medida], porque estamos a seguir uma decisão com base em padrões internacionais, segundo o que foi implementado nos Estados Unidos. Acredito que não temos de alterar nada”, referiu. “Antes não tínhamos questionários escritos para os doadores e o médico apenas fazia perguntas pessoalmente. Depois criámos o questionário desde o ano 2000. Mas nunca proibimos os gays de dar sangue de forma permanente”, acrescentou Cristal Hui, que explicou que são poucos os homossexuais que se dirigem ao centro para dar sangue. “Cerca de 2% afirmam no questionário que têm este comportamento sexual. Todos os anos são muito poucos os homossexuais que dão sangue”, referiu.
AINDA É DISCRIMINAÇÃO
Segundo as regras para a doação de sangue, esta suspensão de 12 meses é aplicada apenas
HOJE MACAU
ACAU contava, no final de Janeiro, com 181.415 trabalhadores contratados ao exterior, número que traduz uma redução ligeira face a Dezembro, mas um aumento em termos anuais homólogos, indicam dados oficiais. De acordo com informações da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal do Gabinete para os Recursos Humanos, o universo de mão-de-obra importada sofreu em Janeiro uma contracção ligeira (menos 231 trabalhadores) em termos mensais, pelo segundo mês consecutivo. Contudo, num intervalo de um ano, o mercado laboral ganhou 9353 trabalhadores não residentes, ou seja, uma média de 25 por dia, crescendo 5,4% face a Janeiro de 2015. O universo de mão-de-obra importada equivalia a 45,5% da população activa e a 46,4% da população empregada, estimadas entre Novembro de 2015 e Janeiro do corrente ano. O interior da China continua a ser a principal fonte de trabalhadores recrutados ao exterior, com 115.688 (63,7% do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (24.935) num pódio que se completa com o Vietname (14.989). O sector dos hotéis, restaurantes e similares continua a figurar como o que mais absorve mão-de-obra importada (48.283), seguido do da construção (42.755). O universo de trabalhadores não residentes superou os cem mil pela primeira vez na história da RAEM em Setembro de 2008, número que voltou a ser ultrapassado em Maio de 2012. LUSA/HM
Critérios postos em causa
“Qualquer pessoa que tenha sexo desprotegido está aberto a um contágio com HIV ou a doenças sexualmente transmissíveis, mas implementar uma suspensão apenas para os homens gay é discriminação” ANTHONY LAM PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ARCO-ÍRIS DE MACAU
a homossexuais, não existindo qualquer referência a lésbicas, bissexuais ou pessoas transgénero. Para Anthony Lam, presidente da Associação Arco-Íris de Macau, esta medida é melhor do que a suspensão permanente que existia nos Estados Unidos, mas ainda assim é discriminatória. “Na realidade estão a desviar o foco do sexo desprotegido para os homossexuais. Qualquer pessoa que tenha sexo desprotegido está aberto a um contágio com HIV ou a doenças sexualmente transmissíveis, mas implementar uma suspensão apenas para os homens gay é discriminação”, declarou. A suspensão de 12 meses existe também para os doadores que possuam um historial de doenças venéreas ou que tenham tido “múltiplos parceiros sexuais” no último ano. Quem “tiver sido pago por sexo” também está excluído da lista de permissão para doar sangue. Sobre este ponto Anthony Lam pede mais esclarecimentos. “Deveríamos ter em conta que ‘sexo pago’ não é igual a ‘sexo desprotegido’, são conceitos totalmente diferentes. Os preservativos podem ser usados no ‘sexo pago’ para que seja ‘sexo seguro’. Estas condições levam o público a pensar que os Serviços de Saúde suspeitam dos efeitos dos preservativos ao nível da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis”, rematou. Andreia Sofia Silva
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SOCIEDADE
Templos GOVERNO PROÍBE QUEIMA DE PAPÉIS. VENDEDORES DISCORDAM
Tradições em risco
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Instituto Cultural (IC) decidiu proibir a queima de papéis durante o festival de Abertura da Tesouraria da Deusa Kun Iam, este ano. A decisão causa descontentamento aos vendedores, que consideram estar a destruir a tradição da crença. Segundo um comunicado do IC, o organismo decidiu tomar a medida especial e aplicá-la durante o festival anual, que decorre nos dias 3 e 4 de Março, em todos os templos de homenagem à deusa. Os fornos de queima de papéis serão temporariamente desactivados e será proibida a queima. No entanto, uma vendedora dos produtos de culto, ao lado do Templo Kun Iam Tong, disse ao Jornal Ou
Mun que o IC publicou a decisão sem aviso prévio, quando a mesma já tinha adquirido um grande volume de papéis para se preparar para o festival. A vendedora considera que a cultura e os costumes tradicionais da China ficam prejudicados devido à promoção de um culto mais ecológico, justificação dada pelo Executivo.
Oi, assistente do Templo de Na Tcha, contactada pelo HM, criticou também a medida do IC. “Muitas pessoas sobrevivem através da venda dos papéis. O rendimento dos templos vem da venda destes produtos, não existindo rendimentos vão aparecer dificuldades. Além disso, a quei-
ma dos papéis é uma tradição de há muitos anos, não faz sentido proibir”, defende. Apesar de tudo, o organismo defende que a queima intensiva dos papéis põe em risco a segurança arquitectónica do património.
AUTOCARROS PÚBLICOS ENVOLVIDOS EM MAIS ACIDENTES
Os autocarros públicos estiveram envolvidos em mais acidentes em 2015. Dados avançados pela Rádio Macau, que cita a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), mostram que, no passado, foram registados 773 acidentes, mais 25 que em 2014. O aumento, contudo, não é igual no que às vítimas mortais diz respeito: o ano passado registou-se uma morte, menos uma do que em 2014. Segundo a rádio, a DSAT não especifica quantos motoristas acabaram suspensos ou despedidos na sequência dos acidentes, porque essa informação, explica o organismo, só pode ser dada pelas três companhias de autocarro.
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
A-MÁ ASSOCIAÇÃO PAGA RECONSTRUÇÃO
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stá a cargo da associação que gere o Templo da A-Má a reconstrução do espaço depois do fogo que deflagrou durante as festividades do ano novo chinês. Segundo a Rádio
Macau, Guilherme Ung Vai Meng explicou que será esta Associação a responsável pela obra. “O trabalho de limpeza está concluído. Vamos dar apoio técnico durante
a reconstrução”, referiu o responsável, quando questionado sobre quem vai pagar as obras. O presidente do IC explicou ainda que o relatório do acidente já está na Ad-
ministração Nacional do Património Cultural da China e disse ainda que o pagamento vai ser feito pela Associação devido ao facto do incidente ser da sua responsabilidade.
INVESTIDORES DO PEARL HORIZON INTERROMPEM JANTAR DE PRIMAVERA ALL ABOUT MACAU
• Um grupo de mais de 70 proprietários do empreendimento Pearl Horizon manifestou-se no jantar de Primavera do Grupo Polytec, que teve lugar na Torre de Macau na sexta-feira passada. Segundo o Jornal Cheng Pou, este jantar anual acabou suspenso depois dos proprietários conseguirem passar a barreira da segurança e começarem a fazer distúrbios no local. Os compradores de fracções do edifício pediram para conversar com o dono da empresa, mas apenas o gerente do departamento de recursos humanos da empresa, Chan Sai Sai, deu a cara. Acabou rodeado pelos proprietários, para apenas responder que “não é útil insistir em falar” com ele. O gerente acabou por ter de sair de ambulância por se sentir “maldisposto” e sob escolta policial.
IPM DIZ QUERER QUE MAIORIA DOS ESTUDANTES SEJAM LOCAIS
O reitor do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Lei Heong Iok, frisou que a orientação da instituição é “que, entre os estudantes, a maioria seja local”. Segundo o Jornal do Cidadão, o reitor foi questionado no Dia Aberto do IPM, no sábado passado, face à ideia do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, em aumentar a admissão de estudantes do interior da China. Lei Heong Iok referiu que o IPM todos os anos recebe 700 estudantes locais, mas admitiu que, com a diminuição futura do número de alunos que vai sair das escolas secundárias, vai ser um grande desafio para as instituições de ensino superior manter os números. Contudo, o responsável diz que, ainda assim, vai ser garantida a política inicial do IPM: “servir pessoas de Macau” e, portanto, ter os estudantes locais como uma maioria. “Actualmente os estudantes locais ocupam 85%, os restantes 15% são estrangeiros. O IPM vai manter esta orientação”, afirmou.
10 DESPORTO
LIGA DE ELITE BENFICA, 14 - CASA DE PORTUGAL, 0
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HENRIQUE NUNES, TREINADOR DO BENFICA
“O CAMPEONATO COMEÇA AGORA”
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ara o responsável encarnado era um jogo teoricamente fácil mas que “ficou ainda mais facilitado depois da expulsão e da lesão”, disse. O estado relvado também não fugiu à análise de Henrique Nunes que classificou de “muito mau”. O treinador do Benfica destacou ainda o profissionalismo da equipa que “do princípio ao fim do jogo mostrou querer jogar e marcar sempre mais golos”. Em relação às contas do título, Henrique Nunes considera que vão entrar na fase crucial da prova com os jogos contra o Ka I, o CPK e o Sporting, dizendo que “são estes jogos que vão decidir o campeão”. Acredita que tem plantel para lutar pelo título mas “existem outras equipas boas”, disse, e nem o Monte Carlos retira das contas porque, adianta, “apesar de estarem a oito pontos de nós, têm uma sequência de jogos mais fáceis pela frente.
SEAN KILKER, TREINADOR ADJUNTO DA CASA DE PORTUGAL
“LUTAR ATÉ AO FIM”
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ean Kilke em declarações ao Hoje Macau pois o treinador Pelé tinha um jogo de sub 16 a começar no Canídromo considerou que foi um jogo muito difícil para a equipa. Para este responsável da Casa de Portugal o facto de terem muitos jogadores não disponíveis para o encontro dificultou-lhes ainda mais o trabalho porque jogar “com apenas dois suplentes contra o Benfica ia ser complicado”. Em relação aos objectivos da equipa Kilker é claro no desejo de se manterem na primeira divisão mas só se equipa lutar. “Se os rapazes lutarem até ao fim, vamos conseguir”, disse.
A
OS 47 segundos de jogo já o Benfica mostrava ao que vinha. Uma arrancada rápida pelo lado direito de Chan Man que entrou sozinho pela área dentro desferindo um remate cruzado sem qualquer oposição mas que viria a embater no poste. A Casa de Portugal defendia como podia, com destaque para o defesa central Turay, sempre muito activo a controlar as operações da equipa na defesa e, logo aos quatro minutos, Vini cruzava da direita para Alison Brito encostar e fazer o primeiro golo. A Casa de Portugal continuava a tentar deter os ataques encarnados deixando apenas o avançado Miguel Ângelo na frente, uma ou outra vez com a companhia de Duarte Pinheiro Torres e, aos 24 minutos, Alison Brito fazia o segundo da sua conta pessoal e da equipa. Apenas à meia hora de jogo a Casa de Portugal conseguia o primeiro ataque mas sem consequências dignas de nota. Aos 37 minutos, o Benfica chegaria ao terceiro golo por Aguiar que aproveitaria da melhor forma uma defesa incompleta do guarda-redes da Casa de Portugal a um remate cruzado de Lei Kam Hong da direita. Já perto do intervalo, a Casa Portugal tentou mais uma aproximação à baliza do Benfica mas, na resposta, a equipa encarnada desenvolveu um contra ataque rápido com a bola a ser enviada paras a costas da defesa resultando num golo fácil para Lei Kam Hong.
VINHA AÍ UM TSUNAMI
Com o resultado em 4-0 ao intervalo e as facilidades com que o Benfica chegava à baliza da Casa de Portugal, seria legítimo esperar mais golos encarnados na segunda parte mas, provavelmente, poucos esperariam mais 10. A expulsão de Wong U Cheng logo as 54 minutos e a lesão mais tarde de Turay fazendo com que a Casa de Portugal terminasse o jogo com nove jogadores também terão tido alguma coisa a ver com o assunto. Além disso, nem o guarda-redes escapou pois viria a lesionar-se cerca
dos 70 minutos de jogo terminando em clara inferioridade física. Aos 50 minutos chegava o quinto do Benfica numa jogada rápida de contra-ataque de Lei Kam Hong que sentou um defesa e depois rematou forte e sem hipóteses para o guarda-redes. Dois minutos depois e surgia um belo remate de cabeça de Bernardo Marques na sequência de um canto para o sexto da contagem. Mais dois minutos e mais um golo, desta feita de penálti, por mão de um defesa, e que viria a ser convertido por Edgar Teixeira com o guarda redes a ficar estático a ver a bola passar para o canto inferior esquerdo da sua baliza. O jogo continuava com o Benfica a lançar constantes assaltos à baliza da Casa de Portugal e, aos 65 minutos, surge o que foi, provavelmente, o melhor golo da partida num remate em arco de Lei Kam Hong que resultou numa valente chapelada ao guarda redes que bem voou mas em vão. Dois minutos passados e mais um golo do Benfica com Filipe Aguiar a aproveitar um bom cruzamento da esquerda. Mais dois minutos e o mesmo jogador viria a facturar o seu quarto golo ao apanhar a defesa da Casa de Portugal desprevenida e rematar colocado. Aos 71, mais um penálti assinalado contra a Casa por derrube de um jogador do Benfica, cabendo desta vez a Chan Man as honras do momento. Bola para um lado, guarda-redes para um lado bola para o outro, clássico.Aos 73 chegava a dúzia com Carlos Góis e aos 76 minutos, um canto da esquerda do ataque do Benfica para a zona da pequena área permite a Bernardo Marques entrar outra vez bem de cabeça e fazer um golo parecido com o seu anterior, momento em que o guarda-redes da Casa de Portugal fica a coxear. Aos 85 minutos uma bola picada da esquerda para a direita permite a entrada de Carlos Góis que fecharia a contagem beneficiando também da apatia do guarda-redes que mal se fez ao lance por estar em manifestas dificuldades físicas. Manuel Nunes
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TIAGO ALCÂNTARA
Não se esperavam grandes dificuldades para o Benfica mas, provavelmente, também n de sentido único, em cima de um relvado num estado lastimável, onde a Casa de Portu O Benfica apresentou um onze diferente do normal com alguns titulares habituais a fic com sete golos sem resposta. As águias continuam na frente do campeonato
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AGUENTE
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RUI VITÓRIA «BENFICA ESTÁ A JOGAR UM FUTEBOL MAIS FÁCIL»
não se esperariam tantas facilidade. Uma hiper-goleada num jogo ugal surgiu com apenas dois suplentes e praticamente não atacou. carem no banco. Também ontem, o Sporting despachou o Kei Lun RESULTADOS C.P.K – Kai I (Adiado para 2/3) Monte Carlo - Chuac Lun
4-0
Policia – Lei Chi
2-4
Benfica - Casa de Portugal
14-0
Sporting - Kei Lun
7-0
CLASSIFICAÇÃO
Pontos Benfica 18 Sporting 14 C.P.K. 13 Ka I 11 Monte Carlo
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Lei Chi 7 Policia 4 Chuan Lun 3 Casa de Portugal
1
Kei Lun 0
uto defende título no GT300 do Japão
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NDRÉ Couto vai continuar no campeonato japonês de Super GT300. O piloto de Macau, que venceu a prova na última temporada, volta a defender a equipa Gainer Tanax. “Estou bastante contente. No ano passado, conseguimos um feito histórico. Conseguimos ganhar o campeonato. Em todas as corridas, a equipa pontuou sempre [...] Isso prova que as coisas estão bem. E quando estão bem, normalmente, é melhor não mudar. Tive a oportunidade de continuar, a equipa
tinha esse projecto. Acho que fazia sentido ficar”, afirma André Couto, em declarações à Rádio Macau. O piloto local vai ter como companheiro de equipa Ryuichiro Tomita. O Nissan do ano passado volta a ser o carro utilizado pela Gainer Tanax. “Pode ser um pouco ‘handicap’, mas em todo o caso vamos à luta. A equipa é boa, está sempre nas competições para tentar ganhar. O tratamento vai ser o melhor possível. O material vai ser o melhor possível, dentro da marca em que
DESPORTO
nós corremos. Se vai ser suficiente para ganhar, não sabemos. Mas partimos com confiança”, sublinha Couto. Este ano, a prova assiste a maior investimento por parte dos principais construtores. “Vai ser bastante duro. Há várias marcas que apresentam carros novos, como a Audi, Porsche, Ferrari, BMW e Lamborghini”, enumera. A temporada de 2016 do campeonato japonês de Super GT300 arranca no próximo dia 9 de Abril. A ronda inaugural tem lugar no circuito de Okayama.
Instado a identificar o que mudou no Benfica depois do empate (0-0) com o União, na Madeira, Rui Vitória fez notar que os resultados e exibições que se seguiram ao encontro da 7.ª jornada da Liga foram o corolário da evolução da equipa. «Os resultados ajudam e o trabalho dos jogadores também. Esse jogo não pode ser um marco no sentido de dizer que a partir dali as coisas aconteceram melhor. O trabalho foi dando os seus frutos, o tempo vai ajudando a que as coisas fiquem muito mais estáveis e que o rendimento comece a aparecer», constatou, prosseguindo: «A alegria dos jogadores, a confiança que foram ganhando, o envolvimento entre nós juntamente com os nossos adeptos, ajuda a que tudo seja mais fácil.» Aos olhos de Rui Vitória, o Benfica joga hoje «um futebol mais fácil, cria oportunidades de golo com mais facilidades e os jogadores estão alegres em campo». «Gosto de ver este envolvimento e empatia entre a equipa e os adeptos», realçou.
FIFA INFANTINO REJEITA COMPARAÇÕES COM BLATTER
O que têm Jospeh Blatter e Gianni Infantino em comum além da nacionalidade? Pouco ou nada, segundo o novo presidente da FIFA que pretende apenas, tal como o antecessor, marcar uma nova era no organismo que tutela o futebol mundial. «Infantino é Infantino, Blatter é Blatter», começou por dizer o suíço, eleito novo presidente da FIFA na última sexta-feira, em Zurique, rejeitando comparações com o homem que deixou o cargo envolto em polémica devido a escândalos de corrupção. «Blatter marcou uma era na FIFA e eu espero marcar uma nova era. Penso pela minha cabeça, de outra forma não tinha sido eleito», disse em declarações ao Sonntags Blick. Infantino confessou ainda que «não estava confiante na vitória», pelo que não interiorizou a dimensão do que acabou de alcançar: Praticamente não dormi, talvez alguns minutos. Tudo se posiciona algures entre um sonho e a realidade. Ainda não percebi bem o que aconteceu. Sou muito emocional mas estou cheio de energia e vontade.
RONALDO CLARIFICA DECLARAÇÕES POLÉMICAS: «NÃO SOU MELHOR QUE NINGUÉM…» «Se todos estivessem ao meu nível, iríamos em primeiro». As palavras, polémicas, de Cristiano Ronaldo no final do `derby´ com o Atlético Madrid caíram como uma bomba em Espanha, com ondas de choque um pouco por todo o mundo. Ouvido pelo diário Marca, o internacional português garantiu não ter tido a intenção de diminuir os colegas de equipa. «Referia-me ao nível físico, não de jogo. Não sou melhor que nenhum dos meus companheiros», frisou.
12 EVENTOS
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Pessanha UM TRISAVÔ DE QUEM SÓ SE SABEM “UMAS COISINHAS”
LUSA
O senhor das barbas
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OVENTA anos passados da morte de Camilo Pessanha em Macau, dois trinetos recordam, ainda que vagamente, “o avô da avó”, um homem que “escrevia umas coisas” e de quem não sobrou nem uma fotografia. “A minha mãe contava que ele fumava ópio e que era maçom. Eu tinha 15 ou 16 anos quando me disse que ele era poeta. Não se ligava muito a isso”, conta Ana Jorge, recordando o bisavô Camilo Pessanha, que nunca chegou a conhecer, mas que viveu em Macau metade da sua vida e onde acabaria por morrer. As memórias já frágeis de Ana Jorge são complementadas com as dos filhos Filomeno e Victor, que ainda ouviram a avó, já falecida, falar de Pessanha. Maria Rosa dos Remédios do Espírito Santo tinha 12 anos quando Camilo Pessanha morreu, a 1 de Março de 1926, faz na terça-feira 90 anos. “Camilo Pessanha sustentou a minha avó dos sete aos 12 anos. (...) Ele não gostava muito do filho, dizia que ele não tinha juízo, estava sempre fora, e por isso a sustentou. Ela ia a casa dele
e ele dava-lhe dinheiro. A avó gostava dele”, lembra Victor Jorge, 66 anos, segurando uma fotografia do João Manuel Pessanha, com farda de oficial da marinha mercante, e fazendo referência a uma relação difícil entre pai e filho que ainda hoje é comentada em Macau. Tudo indica que João Manuel foi fruto de uma relação de Pessanha com uma concubina chinesa. Apesar de ser o seu único filho consensualmente reconhecido, a relação entre os dois terá sido distante. João Manuel nasceu em 1896 e foi baptizado como filho de pais incógnitos. Só em 1900 foi perfilhado por Pessanha. No seu testamento, o poeta deixou a maior parte dos bens à nova companheira, Kuoc Ngan Yeng, conhecida
como “Águia de Prata”, em detrimento do filho.
NOME GRANDE
Foi também pela avó que os trinetos de Pessanha souberam que descendiam de alguém que fez nome na literatura, ainda que não fosse essa a faceta a que era mais associado em Macau, onde foi professor, juiz e conservador do registo predial. “A conversa surgiu quando arrumávamos coisas e vimos umas fotografias antigas. ‘Avó, quem é esse homem com bengala, cheio de barbas?’, ‘É seu trisavô’, disse ela, e começou a contar a história dele. Contou que foi advogado, tinha mulheres chinesas, até aprendeu a escrever chinês. Depois foi juiz”, recorda Victor,
“A avó falava dele, mas não muito. Dizia que era boa pessoa, escrevia umas coisas, tinha boas relações com muita gente, tanto portugueses, como chineses e macaenses. Mas a avó só nos disse umas coisinhas, não temos muito conhecimento” FILOMENO DESCENDENTE DE CAMILO PESSANHA
estimando que teria uns 20 anos na altura. E escritor? “Sim, ela sabia que tinha sido poeta. Foi também encarregado do Governo e tinha muitas antiguidades”, conta. Filomeno lembra-se de ter sabido do parentesco mais tarde, teria já mais de 30 anos, quando Maria Rosa terá sido abordada para dar uma entrevista: “A avó falava dele, mas não muito. Dizia que era boa pessoa, escrevia umas coisas, tinha boas relações com muita gente, tanto portugueses, como chineses e macaenses. Mas a avó só nos disse umas coisinhas, não temos muito conhecimento”. Apesar da surpresa da ligação familiar, ambos sabiam bem quem era Camilo Pessanha, já que “a cabeça inteira dele, com os bigodes”, como recorda Filomeno, passava de mão em mão, impressa na nota de 100 patacas. Ana Jorge, “quase a fazer 83 anos”, e os filhos são macaenses em todos os aspectos: nos traços faciais que reflectem a mistura portuguesa e chinesa, no sotaque, no bilinguismo, nas expressões, na afabilidade. Talvez pela distância, temporal e geográfica, pelo português fluente mas temperado pelo chinês e pelo patuá macaense, estes familiares de quarta geração, sem uma “Clepsidra” na estante, estão afastados da obra do poeta. “Só passei uma vista de olhos pelos poemas, não posso ser muito afirmativo”, comenta Victor. Filomeno, hoje com 59 anos e membro da Tuna Macaense, diz ter lido alguns versos depois de a avó lhe contar da ligação familiar. Musicar poemas de Pessanha chegou a passar-lhe pela cabeça, mas eram muito longos e cortá-los estava fora de questão. “Faço muitas músicas em português e patuá. Não estudei música, mas sou músico”, comenta, referindo-se à veia artística: “Acho que herdei isso dele”. Inês Santinhos Gonçalves Lusa
A última morada
Lápide em chinês no São Miguel de Arcanjo
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UITOS foram os que visitaram, curiosos, ao longo dos anos, o túmulo de Camilo Pessanha em Macau, uma sepultura discreta, com uma lápide em chinês, entalada entre jazigos vistosos no Cemitério São Miguel de Arcanjo. “Não havia poeta, escritor, que não perguntasse por Camilo Pessanha. Quando vinham cá pessoas ligadas às letras, lá íamos mostrar [a campa]”, recorda o investigador Luís Sá Cunha, que fez parte de um grupo de intelectuais e amantes de Pessanha que, por diversas vezes, lhe prestaram homenagem no cemitério. Sá Cunha, que ainda sabe de cor o caminho para a última morada do poeta, logo lançou o alerta, repetido por inúmeras pessoas, de que se trata de um túmulo difícil de encontrar. A campa de Camilo Pessanha, discreta, encontra-se numa ponta do cemitério, com uma lápide escrita em chinês, identificável apenas pela pequena fotografia do poeta, com as suas barbas negras. Situada entre três filas de túmulos, sem corredores a separar, obriga um visitante mais curioso a galgar as pedras vizinhas para se aproximar. Na pedra tumular já só se consegue ler a primeira frase da inscrição “À saudosa memória do poeta”, que termina com “do seu filho J.M.P.”, uma referência a João Manuel Pessanha, que também está ali enterrado.
PROJECTO SAGRADO
Nos anos 1990, Luís Cunha apresentou um projecto para um novo jazigo: “Tomei essa iniciativa porque
há coisas sagradas. Várias pessoas juntaram-se para tratar disso”, recorda. Era “um projecto simples”, com “quatro colunas e uma cobertura”, mas que carecia de autorização do Governo. No entanto, o tempo passou e o aval não veio. “Insisti duas, três vezes e percebi que ia cair”, conta, não sabendo identificar um motivo concreto. “Depois foi a transferência [da administração de Macau de Portugal para a China, em 1999], e foi uma espécie de muro que se ergueu”, comenta, lembrando como os portugueses andavam particularmente ocupados nessa altura, preocupados com o futuro, o que terá contribuído para o esquecimento da ideia. Nessa época havia espaço em torno do túmulo para se erguer tal estrutura, mas “agora já não vale a pena, as campas [em volta] já estão muito em cima”. Luís Cunha recorda como, antes de 1999, “havia uma certa peregrinação” à campa, que funcionava como uma “lavagem moral interior”. Em particular, lembra a visita de Natália Correia, que além do cemitério, “queria ver tudo”, até “os ‘karaokes’ e as saunas” de Macau. Quando estavam os dois no edifício na Avenida da Praia Grande onde em tempos esteve a casa de Pessanha, Sá Cunha perguntou: “Natália, sabes onde tens os pés? Na casa de Camilo Pessanha!”. “Ela até deu um salto”, descreve. “Por todas estas razões, acho que era obrigação dignificar o Camilo. E isso não se fez”, lamenta.
13 hoje macau segunda-feira 29.2.2016
Conversas sobre pecados
INOVAÇÃO ARQUITECTÓNICA EM SIMPÓSIO
Sob o tema “Efemeridade: Espaço, Tempo e Arquitectura” vão acontecer diversas conferências na Universidade de São José com especialistas locais e internacionais que vão debater ideias inovadoras na arquitectura temporária e crossovers com os campos da arte e design. O simpósio, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau, o Departamento de Arquitectura e Design na Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José, o Politécnico de Milão e o Albergue SCM, terá como oradores Thomas Daniell (Universidade de São José, Macau), Marco Imperadori (Politécnico de Milão, Itália), José Luis de Sales Marques (Instituto de Estudos Europeus de Macau) Carlos Marreiros (Marreiros Architectural Atelier, Macau). Sábado, dia 5 de Março, entre as 9:00H e as 17: 00H. Entrada livre.
Debate à volta da Ópera na Fundação Rui Cunha
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Fundação Rui Cunha vai retomar as conversas de fim de tarde sobre ópera e música reabrindo este novo ciclo com “Os Sete Pecados Mortais”. A influência dos pecados na arte, mais precisamente nos compositores de música, do Barroco à actualidade será o que vai estar em debate. Para além disso, os promotores desafiam os participantes a reflectirem porque serão os sete pecados mortais do género feminino. Para Shee Va, um dos coordenadores do evento juntamente com José Carlos Pereira, “o conceito de pecado mortal é uma invenção do Ocidente, mais precisamente da doutrina cristã”. Um assunto que, para o mesmo, “deve ser absurdo abordar numa sociedade como a macaense composta maioritariamente por “gentios” e que não professa a religião de Cristo”.
VIAGEM AO MUNDO DOS PECADOS
A ópera-dança “Os sete pecados mortais”, que serve de pano e fundo a esta conversa, com música de Weill e libretto de Brecht, chega num tom mordaz, sarcástico e irónico da sociedade capitalista e das suas vítimas, respectivamente representadas pela Família e por Ana, uma jovem PUB
EVENTOS
PORTUGUÊS NO ELENCO DE PEÇA DA SAGA HARRY POTTER com dupla personalidade: uma é cantora virtuosa, outra, dançarina pecadora. Durante a recessão económica de 1929, Ana, incentivada pela Família, vai migrar durante sete anos por sete grandes cidades dos EUA, para ganhar o suficiente para comprar uma casa. A jornada iniciática deAna Dois através das vicissitudes, aventuras e desventuras da vida corresponderá a um pecado por cada cidade percorrida. A redenção através da virtude correspondente, será trazida pelos avisados conselhos de Ana Um. Toda a acção é comentada pela família em coro que, em tom religioso, a compele
a atingir os objectivos traçados, ironicamente através de recursos não éticos e até imorais, seguindo os caminhos do bem e dos mandamentos divinos. Desiludida e resignada com a vida , suas justiças e injustiças, seus sucessos e insucessos, invejando aqueles que tudo obtêm com facilidade e sem pudores, Ana regressa à aldeia natal onde se reúne à família na sua casa recém construída. Na Fundação Rui Cunha, dia 3 de Março, terça-feira, pelas 18:30H. A entrada é livre. Manuel Nunes
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O actor e dançarino português Nuno Silva faz parte do elenco principal da peça «Harry Potter e a Criança Amaldiçoada»”, a primeira produção em teatro da saga, que vai estrear a 31 de Julho em Londres. Nuno Silva está entre os 42 actores do elenco cujos nomes foram divulgados em primeira mão na sexta-feira no ‘site’ “Pottermore”, página de internet onde está concentrada a informação oficial ligada ao mundo de Harry Potter. “É um orgulho fazer parte deste espectáculo e da história! Lembro-me de ler e devorar os livros e agora vou participar no espectáculo que é uma coisa tão especial e mágica”, comentou à agência Lusa. Nesta sequela, o feiticeiro é adulto, casado e com três filhos e trabalha no Ministério da Magia e conta a história de Harry Potter 19 anos depois do último livro da série, “Harry Potter e os Talismãs da Morte”. O texto será baseado num original da autora dos livros, JK Rowling, mas a peça foi escrita por Jack Thorne e está destinada a ser um sucesso: 175 mil bilhetes foram vendidos em Outubro passado no espaço de 24 horas.
14 CHINA
hoje macau segunda-feira 29.2.2016
C
OMBATIDOS outrora como elementos “contra-revolucionários” e “superstições feudais”, as crenças religiosas e o pensamento tradicional chinês reconquistam hoje o seu espaço na China, num fenómeno que Pequim incentiva e tenta usar a seu favor. Entre a liderança do Partido Comunista Chinês (PCC), cuja base teórica marxista promove o ateísmo e “métodos científicos”, existe mesmo um “interesse especial pelas antigas práticas chinesas”, disse à Lusa o astrólogo Wang Haohua. Wang, 43 anos, começou “desde criança” a estudar o ‘feng shui’, o milenar sistema originário da China que procura a harmonia com os elementos da natureza. Além de pesquisador, é um dos astrólogos mais requisitados pela imprensa estatal e professor convidado nas prestigiadas Universidades de Pequim e Qinghua. Sobre as emblemáticas obras erguidas nos últimos anos na capital chinesa, Wang
PARTIDO COMUNISTA CHINÊS CONVERTIDO
Os‘benefícios’ da religião garante que “respeitam as regras do ‘feng shui’”, em contraste com os edifícios em estilo soviético construídos após a revolução de 1949.
Segundo o mestre, o Presidente chinês, Xi Jinping, demonstrou já ser um crente naquele sistema, ao citar o filósofo taoista PUB
Lao Tse, em 2014, durante o discurso de abertura da cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico). “O bem supremo é como a água; beneficia todos sem tentar competir com ninguém’”, disse Xi, justificado assim a opção pelo Centro Aquático “Cubo de Água”, em Pequim, para receber aquela cerimónia. “Foi a primeira vez que ouvi um líder chinês mencionar abertamente um princípio do ‘feng shui’”, notou Wang Haohua. Durante a Revolução Cultural (1966-76), lançada pelo fundador da República Popular da China, Mao Zedong, aquela prática foi proibida e os seus adeptos perseguidos. Wang era então criticado na escola pela sua ‘superstição’, enquanto um dos maiores sábios da China Antiga, Confúcio (551-478 A.C.), foi rotulado de “pensador decadente e reaccionário”. Hoje, no estúdio do mestre, situado nos subúrbios de Pequim, duas pequenas estátuas de Mao e Confúcio estão pousadas lado a lado.
DA HARMONIA
A “sociedade sem classes”, preconizada por Mao até à sua morte em 1976, deu entretanto lugar à “sociedade harmoniosa”, cuja construção terá mesmo nas crenças religiosas um pilar “importante”.
“Existem documentos oficiais [do PCC] a reconhecer o papel positivo que as pessoas religiosas podem desempenhar na promoção de uma ‘sociedade harmoniosa’”, disse à Lusa o académico italiano Francesco Sisci. Aquele especialista nas relações entre a República Popular da China e a Santa Sé conduziu no mês passado uma entrevista histórica ao papa Francisco, dedicada unicamente ao país asiático.
“Existem documentos oficiais [do PCC] a reconhecer o papel positivo que as pessoas religiosas podem desempenhar na promoção de uma ‘sociedade harmoniosa’” FRANCESCO SISCI ACADÉMICO ITALIANO
“O mundo espera pela vossa sabedoria”, assinalou o papa, dirigindo-se ao povo e ao Presidente chinês. A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas e a única igreja católica autorizada pelo Governo chinês é independente do Vaticano. Um jornal oficial do PCC, o Global Times, reagiu às palavras do papa, lembrando que “a maior divergência entre a China e o Vaticano reside na nomeação dos bispos”. “A China escolhe os seus bispos, mas o Vaticano acha que esse é um direito seu”, apontou o Global Times em editorial. Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 24 milhões, o que não chega a 2% da população. A Academia Chinesa de Ciências Sociais estima que haja cerca de 130 milhões de cristãos ligados às chamadas “igrejas clandestinas”. Para Francesco Sisci, que vive em Pequim há mais de 20 anos, “a fé cristã precisa de adoptar [na China] uma linguagem que se adapte ao paradigma cultural chinês”. “De certa forma, os primeiros jesuítas fizeram isso, recorreram a termos, frases e terminologia que facilitaram a compreensão do conteúdo cristão por parte dos chineses”, conclui. Lusa
15 hoje macau segunda-feira 29.2.2016
Rumores sem espaço Censuradas 580 contas em redes sociais
A
S autoridades chinesas bloquearam mais de 580 contas em redes sociais, alegando que divulgavam rumores, confundiam a população e atentavam contra a Constituição. Entre as contas bloqueadas estão as de cinco “celebridades” da Weibo, o Twitter chinês, que tinham milhares de seguidores, segundo um comunicado da Administração do Ciberespaço da China. O organismo acusa os titulares destas contas de “ignorarem as suas responsabilidades sociais, de abusarem da sua influência, de mancharem a honra do Estado e de alteraram a ordem social”, sem especificar que comentários estão em causa ou os nomes dos seus autores. Por outro lado, revela que pediu a algumas páginas na internet para apagarem
mais de dois mil textos, que considera rumores que afectam a vida quotidiana da população, o transporte, a segurança alimentar e as políticas públicas. A China vai reforçar a censura na internet através de uma normativa que entrará em vigor em Março que visa controlar o conteúdo publicado no espaço cibernético chinês por empresas estrangeiras e suas associadas. O documento, designado “regulação para a gestão dos serviços publicitários ‘online’” abrangerá as “indústrias criativas”, como jogos, animação, banda desenhada e gravações de áudio ou vídeo, avança o jornal de Hong Kong South China Morning Post a 16 de Fevereiro. As empresas ficam assim proibidas de difundir os seus conteúdos “criativos” directamente no espaço cibernético chinês, estando
A Administração do Ciberespaço da China acusa os titulares destas contas de “ignorarem as suas responsabilidades sociais, de abusarem da sua influência, de mancharem a honra do Estado e de alteraram a ordem social”
dependentes de aprovação pela Administração Estatal de Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão, um organismo do Governo.
PODER LOCAL
A mesma normativa dá também poder aos governos locais para que controlem e vigiem as publicações das empresas na rede. A regulamentação anterior, que data de 2002, permitia às empresas estrangeiras difundir conteúdo “criativo” directamente no espaço cibernético chinês. A população ‘online’ da China atingiu os 688 milhões de pessoas em 2015, mas Pequim esforça-se para sufocar a liberdade criada pela internet através do “Grande Firewall da China”. Aquele mecanismo censura ‘sites’ como o Facebook, Youtube e Google. Nos últimos anos, foi aperfeiçoado, bloqueando seletivamente páginas com termos “sensíveis” em vez de uma censura integral do ‘site’. Depois de o Presidente Xi Jinping subir ao poder, em 2012, foi aprovada uma lei de segurança nacional que visa “a protecção da soberania do espaço cibernético”, enquanto as autoridades têm vindo a reforçar o monitoramento da rede.
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CHINA
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hoje macau segunda-feira 29.2.2016
ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
GUO XI
Quem quiser aprender a pintar uma flor deve colocá-la dentro de um buraco fundo e olhar para ela de cima para baixo; então todas as suas qualidades serão completamente apreciadas. Quem quiser aprender a pintar bambus, deve colocar uma cana ao luar e lançar a sua sombra contra uma parede branca; então conseguir-se-á obter a sua verdadeira forma. Para pintar paisagens, o método é o mesmo. Deve o pintor deslocar-se, ele mesmo, até às montanhas e ribeiros e olhar para eles até que o seu sentido lhe seja revelado. Olhados a distância, os rios e vales de uma paisagem real revelam os seus contornos; vistos de perto, só mostram as partes que a compõem. Nuvens e atmosfera de uma paisagem real não são os mesmos ao longo das quatro estações do ano1. Na Primavera são leves e difusas; no Verão, ricas e densas; no Outono finas e espalhadas; no Inverno, escuras e tristes. Quando o pintor consegue reproduzir este tom geral e não um conjunto de formas desconjuntadas, então nuvens e atmosfera parecem ganhar vida. Neblina e nevoeiro à volta das montanhas também não são os mesmos ao longo das quatro estações. As montanhas da Primavera são tranquilas e cativantes, como se sorrissem; as montanhas do Verão são frescas e verdes, como se pingassem de orvalho; as montanhas de Outono são límpidas e claras, como se caprichosamente ornamentadas e arranjadas; as montanhas de Inverno são melancólicas e tranquilas, como se dormissem. Se, ao pintar estas montanhas, o pintor observar a natureza essencial da sua cena e não se detiver demasiado nos detalhes, então a atmosfera ou o tom do nevoeiro e da neblina serão fielmente reproduzidos.
1 - Já Wang Wei (699-759) falava deste princípio: «Na pintura de paisagem, é necessária a conformidade com as quatro estações» e ainda: (Diante de uma paisagem) «é preciso considerar em primeiro lugar as condições atmosféricas» (no tratado Shanshui Lun). Jing Hao (primeira metade do século X) vai mais longe ao atribuir um dos seus «Seis Pontos Essenciais» (que substituem as «Seis Regras» de Xie He), o princípio de «Jing» que ele define como: «Observância das leis próprias a cada estação». Han
Zhuo que foi um funcionário militar no reinado de Huizong (1101-1126) escreveu sobre as nuvens: «quem melhor as souber pintar entenderá o verdadeiro sopro das quatro estações, ou seja os misteriosos princípios mesmos do Criador». (in Hualun Congkan, p. 41). A atenção às metamorfoses das estações seria sempre reafirmada e já no século XVIII Shitao, no seu tratado «Notas Sobre a Pintura do Monge Abóbora Amarga», lhe dedicaria o capítulo XIV, «As Quatro Estações».
«Linquan Gaozhi»
A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes
17 hoje macau segunda-feira 29.2.2016
TEMPO
POUCO
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO [X] DE RHYS LAY Fundação Rui Cunha (até 13/03) Entrada livre
MIN
12
MAX
20
HUM
40-80%
•
EURO
8.75
BAHT
EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre
O CARTOON STEPH
SUDOKU
DE
HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 37
PROBLEMA 38
UM DISCO HOJE
C I N E M A
THE FINEST HOURS SALA 1
MERMAID [B]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Deng Chao, Show Lo, Zhang Yu Qi, Jelly Lin 14.15, 16.00, 17.45, 21.30
ALVIN AND THE CHIPMUNKS: ROAD CHIP [B] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Walt Becker 19.30 SALA 2
THE FINEST HOURS [B] Filme de: Craig Gillespie Com: Chris Pine, Casey Affleck,
YUAN
1.22
QUERO TER UM CHIP
ESPECTÁCULO DE LUZES (ATÉ 29/02) Casas-Museu da Taipa, 18h00 às 22h00
Cineteatro
0.22
AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO “MA-BOA, LIS-CAU” DE CHARLES CHAUDERLOT (ATÉ 19/03) Museu de Arte de Macau Entrada livre
EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO” (ATÉ 3/03) Casa Garden Entrada livre
(F)UTILIDADES
Estou mesmo confuso. Primeiro o Governo, agora as associações de protecção de animais – estão ambos contra o registo de gatos. Eu acho é que há pessoas que ainda não perceberam que o registo de gatos não implica eu andar de coleirinha com uma chapa como os cães andam. O registo de gatos é um chip que me põem na pele. Vejam se percebem: se eu descer no elevador até ao rés-do-chão (é bem possível porque eu já fiz isso sem querer e sei que há gatinhos amigos meus que saem pelas janelas dos apartamentos mais baixos) e o CANIL me apanhar, eu vou preso. Como NÃO TENHO CHIP, ninguém sabe que o meu dono é o Hoje Macau. Ou seja, nunca posso voltar a casa porque ninguém me reconhece, não há nada que me identifique e não há como regressar ao meu quentinho. ACABO MORTO PELO IACM, mesmo que os meus donos me queiram de volta. Percebem criaturas? O registo (chip) de gatos não é algo mau. Não percebo como é que vocês não percebem isso. Dizem que os gatos não costumam andar na rua, que não costumam morder e que por isso não precisam disto. Dahhhhh. Percam lá o vosso gato e esperem que alguém o encontrem. Nunca o mais o vêem... veriam se ele tivesse chip. Mas, não, vocês estão aí a lançar-se contra os deputados que defendem esta ideia como se eles quisessem assassinar todos os gatos desta terra. E o problema é que mesmo que os meus donos queiram colocar-me um chip, não me permitem (a menos que vá ao privado). Ora e se eu quiser sair daqui para fora, ninguém me aceita porque devo ser um dos únicos gatos do mundo que não tem chip. Pu Yi
“SOME PEOPLE HAVE REAL PROBLEMS” (SIA, 2008)
Antes do abandono do abuso de drogas e álcool, Sia mantinha-se num registo musical calmo, melancólico a puxar para os dias de chuva e a manta. Agora assume este novo lado, mais saudável, mas também mais electrónico. Sia é compositora de grandes sucessos musicais. “Some People Have Real Problems” é o quarto álbum gravado em estúdio e mostrou toda a essência da cantora australiana. “The Girl You Lost to Cocaine” e “Soon We’ll Be Found” são músicas que mostram essa melancolia. Ainda assim “Buttons” foi a faixa que mais chamou à atenção.
Filipa Araújo
Ben Foster, Eric Bana 14.30, 16.45, 21.30
THE FINEST HOURS [3D] [B] Filme de: Craig Gillespie Com: Chris Pine, Casey Affleck, Ben Foster, Eric Bana 19.15 SALA 3
THE SECRET [B]
FALADO EM MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Barbara Wong Chunchun Com: Leon Lai, Wang Loudan, JJ Lin 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
18 OPINIÃO
hoje macau segunda-feira 29.2.2016
ISABEL PIRES
in Esquerda.net
Os 28 Estados Membros que acordaram na cedência ao Reino Unido admitiram que a União Europeia é feita de chantagem, discriminação face a cidadãos e tratamento desigual entre países
N
O início desta semana o Reino Unido chegou a acordo com a União Europeia para que David Cameron pudesse voltar ao seu país com uma boa razão para se manter na UE. Este acordo deve-nos fazer reflectir profundamente sobre o estado desta União e as consequências que pode ter. Por partes: o acordo incide sobre quatro áreas essenciais (competitividade, aprofundamento da União, soberania e prestações sociais a trabalhadores) e apesar de o RU não ter conseguido o que queria ipsis verbis, conseguiu mais do que deveria ser tolerável. Reiterando que nunca farão parte da zona euro, também não querem ser prejudicados quando o Euro-grupo tome qualquer decisão. Pretendiam ter mais poder de decisão (através da forma de pareceres fundamentados que poderiam excluir uma determinada iniciativa legislativa europeia), mas manteve-se o método de cartão amarelo já hoje existente. Pretendiam, de forma muito óbvia, não proporcionar prestações sociais a trabalhadores de outros Estados membros: conseguiram. Importa focar a nossa atenção neste último ponto do acordo que nos leva a duas conclusões imediatas: deixa por escrito uma forma de discriminação entre trabalhadores britânicos e trabalhadores de outros países e abre a porta a que outros países possam fazer o mesmo pedido ao Conselho Europeu e, consequentemente, criar factores discriminatórios por vários países da União Europeia. Qual é o significado político desta cedência ao Reino Unido? Em primeiro lugar, significa que os 28 estados-membros da UE não conseguiram encontrar força política de bloqueio a uma norma discriminatória. Isto dá o retrato claro dos governos dos países europeus actualmente: com medo, cada vez mais acirrados nos seus nacionalismos, olhando para um futuro em que possam alegar o mesmo que o Reino Unido e obter uma medida igual, demonstrando a falta de visão comum e solidária no que toca aos trabalhadores europeus. Em segundo lugar, o Reino Unido utilizou o referendo (instrumento demo-
crático da maior importância) como arma de arremesso político e chantagem sobre os restantes países. É errado fazê-lo, mas para este caso foi permitido; o que aconteceu a outros países que quiserem referendar questões europeias relevantes e que nem se aproximavam da pergunta “deve o (inserir país) manter-se na UE”? Foram pressionados para que não o fizessem porque a Comissão Europeia não quer que nada seja escrutinado pelos povos; e quando o fizeram como a pressão foi tão dura! Em terceiro lugar, foi aberta uma caixa de pandora na Europa: qualquer Estado Membro pode alegar uma situação excepcional (o que é isso ao certo não se sabe) e pedir ao Conselho Europeu que lhe seja permitido adoptar a mesma medida: discriminar trabalhadores de outros Estados Membros nos seus direitos laborais. Utiliza-se muito o argumento de que nada disto estará inscrito nos Tratados, mas também ainda está para ser provado que não é necessária a alteração aos mesmos para que algo deste género se possa efectivar. O que esta cedência significa, no fundo, é que o debate político daqui para a frente sobre questões europeias não será o mesmo: hoje qualquer Estado que queira, pela via legal, discriminar vai olhar para este antecedente e dizer: o Reino Unido pode, eu também quero poder fazer o mesmo! Daqui para a frente, mais tentativas de alterações aos estatutos de cada estado membro vão, com certeza, surgir. E não vale a pena fazer de conta que esta situação é excepcional, porque aí é pior a emenda que o soneto: isso quer dizer que o Reino Unido tem mais privilégios que Portugal ou a Grécia? Isso quer dizer que uns podem discriminar trabalhadores e outros não podem? O que isto significa é que se admitiu, mesmo que não propositadamente, que existem, de facto, países de primeira e países de segunda; admitiu-se de forma clara que alguns podem referendar certas questões outros não podem; admitiu-se que, por qualquer razão que foge à lógica, certos países podem discriminar trabalhadores quanto à sua origem geográfica. Em suma, os 28 Estados Membros que acordaram nesta cedência ao Reino Unido admitiram que a União Europeia é feita de chantagem, discriminação face a cidadãos e tratamento desigual entre países. O acordo com o Reino Unido é muito mais do que uma questão puramente nacional; tornou-se, assim, uma questão europeia e deixa a nu algo que já se sabe à muito tempo: não há qualquer tipo de União nesta Europa que não seja para salvar bancos e manter o status quo do grande capital.
JAMES MCTEIGUE, V FOR VENDETTA
O Reino Unido e a grande hipocrisia europeia
“O Reino Unido utilizou o referendo como arma de arremesso político e chantagem sobre os restantes países. É errado fazê-lo, mas para este caso foi permitido”
19 hoje macau segunda-feira 29.2.2016
OPINIÃO
macau visto de hong kong DAVID CHAN
ROBERT LUKETIC, PARANOIA
Q
UINTA-FEIRA passada, o website Yahoo de Hong Kong publicou uma notícia retirada de um artigo do jornal “Sing Tao newspaper”, onde se fazia saber que a Apple Inc. (Apple) se tinha recusado a criar um código de segurança universal para os Iphones5c., rejeitando a decisão do Tribunal que deliberara nesse sentido. O terrorista Syed Rizwan Facook, utilizou um Iphone5c no ataque de San Bernardino em 2015. O ataque aconteceu a 2 de Dezembro último e provocou 14 mortos e 22 feridos graves. No ataque participou também Tashfeen Malik, companheira de Syed Facook. Eram ambos islamitas sunitas. O casal fugiu após o tiroteio. Quatro horas mais tarde foram cercados pela polícia, acabando por ser mortos nos confrontos que se seguiram. O FBI desencadeou um processo de investigação. A 6 de Dezembro, quatro dias depois do ataque, Barack Obama anunciava que o ataque tinha sido um acto de terrorismo. No website Wikipedia podia ler-se, “... o FBI obteve uma ordem do Tribunal a exigir que a Apple criasse uma forma de os serviços secretos poderem contornar o controlo de segurança do Iphone usado por um dos terroristas envolvido no ataque e. poder aceder aos seus conteúdos. A Apple alegou que esta ordem representa um ataque às liberdades fundamentais que o governo deve defender.” AApple ficou perante um dilema. Se, para ajudar na investigação, a Apple obedecer à ordem judicial, terá de criar uma nova versão do iOS, contornando várias especificações de segurança de extrema importância, para que venha a ser instalada neste iPhone. Mas, desta forma, esta nova versão pode ficar disponível. Ao contrário do “Yahoo”, do “Google” e do “Facebook”, cujas receitas advêm principalmente da publicidade, a Apple factura a partir da venda dos seus produtos. Se o público passar a desconfiar da segurança do Iphone5c, a imagem da empresa será afectada. O volume de vendas dos produtos da Apple pode vir a baixar. Embora o FBI garanta que só iria usar este programa nesta situação, a Apple mantem-se inflexível. Compreende-se facilmente que se este programa puder desbloquear o Iphone do terrorista, também pode ser usado para desbloquear qualquer outro. É colocar em risco a segurança da informação. Esta é mais uma razão pela qual a Apple se recusa a cumprir a ordem. Não há dúvida que a Apple está a proteger as liberdades e a privacidade do público, mas também está a ir contra uma ordem do Tribunal. Se a Apple mantiver esta posição, um dos seus
A sete chaves
responsáveis, por exemplo, o Presidente ou o Director Executivo, pode vir a ser preso. Também pode ser acusada de ignorar a segurança nacional. É como se fizesse vista grossa ao perigo que ameaça o país. Em última análise os consumidores poderão deixar de comprar produtos da Apple. Neste perspectiva os lucros da Apple também podem vir a baixar. O Iphone pode desempenhar várias funções. pode ser usado para enviar emails e mensagens, pode tirar fotografias e fazer vídeos. Fazendo o download de certas aplicações, como o Whatsapp e o Wechat, o Iphone pode ainda desempenhar outras tarefas. Sabemos que este litigio entre a Apple e o FBI se vai arrastar. Os recursos irão suceder-se até ao limite do possível. Podemos antever um processo com uma duração de três a cinco anos. A bem da investigação deste caso, seria preferível o FBI passar por cima da Apple e procurar a informação de que precisa noutras fontes. Por exemplo, vários repórteres chamaram a atenção para o facto de os terroristas terem publicado informações relacionadas com o ataque no Facebook. Também é possível que tenham usado uma conta do Yahoo para enviar e receber emails relacionados com este acto
“A questão entre o FBI e a Apple é muito simples – como conciliar a segurança nacional com a liberdade e a privacidade da informação?” criminoso. A Apple pode não estar disposta a colaborar com o FBI, mas não quer dizer que as outras empresas não estejam. Como já referi, o Facebook e o Yahoo vão buscar a maior parte das suas receitas à publicidade, estas empresas não podem deixar de colaborar com o FBI. Se esta colaboração se vier a verificar, deixa de ser tão importante encontrar a “chave para abrir” o Iphone5c de Syed Rizwan Facook. Mas voltemos à litigação. A questão entre o FBI e a Apple é muito simples – como conciliar a segurança nacional com a liberdade e a privacidade da informação? Os cidadãos americanos não querem que o governo invada a sua privacidade, o que é compreensível. É
também óbvio que a maioria das pessoas é pacífica. Não vão ver-se a braços com a justiça e, portanto, não querem que o governo tenha acesso aos seus dados. No entanto o Iphone5c de Syed Rizwan Facook, guarda os dados pessoais de... Syed Rizwan Facook. Poderá o FBI aceder à informação armazenada no Iphone5c de Syed Rizwan Facook, só porque ele é terrorista? Este caso é excepção? Ao analisar os factos, o Tribunal vai ter de responder a estas questões. Se o FBI ganhar, a Apple será obrigada a colaborar. Deixa de ser apenas uma ordem para desbloquear um Iphone. Para equilibrar as exigências da segurança nacional com as da defesa das liberdades e da privacidade da informação, o Tribunal pode pedir ao FBI que prove que Syed Rizwan Facook usou o Iphone5c no ataque. Se o Iphone5c tiver sido um instrumento usado para cometer um crime, então o Tribunal pode pedir a “chave para abrir” o Iphone5c. A ordem não é incondicional. Consultor Jurídico da Associação de Promoção do Jazz de Macau legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
“
Deste jardim o que levo comigo / é um ramo de bambu para servir / de espelho ao resto dos meus dias.” Eugénio de Andrade
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Tese PADRÕES DE COMPORTAMENTO
Identidade temporária
U
M estudo com 60 portugueses que emigraram para Macau antes e depois da transferência para a China identificou padrões de comportamento e discurso, como a ideia de que estadia tem carácter “temporário”. Vanessa Amaro, que defendeu, na sexta-feira, na Universidade de Macau, a tese de doutoramento “Identidade e questões do estatuto sociocultural na comunidade portuguesa na Macau pós-colonial”, dividiu a amostra entre os que chegaram antes de 1999 e os que vieram na onda de um novo fluxo migratório, principalmente desde 2005. “Uma coisa comum é que todos pensam Macau como uma coisa muito temporária”, disse à Lusa Vanessa Amaro, ex-editora do HM, recordando que muitos dos que chegaram antes da transição nunca compraram casa, não aprenderam Chinês nem criaram relações profundas com a comunidade chinesa porque sempre tiveram a intenção de “um dia ir embora”. Os mais recentes têm o mesmo discurso e olham o território como “um trampolim profissional, como uma forma de ganhar experiência profissional e de fazer poupanças, para depois se mudarem para um destino que não necessariamente Portugal”. Outro denominador comum é a recusa do termo “emigrante” para definir um português que vive em Macau, por ser “pejorativo”. Agarram-se, por um lado, ao “peso da história”, considerando ter um “papel importante” a desempenhar e “uma posição privilegiada”, soando como “uma ofensa” colocá-los em pé de igualdade como outras comunidades, como os filipinos. Por outro lado, “querem distanciar-se da figura do
típico português dos anos 60/70, pouco qualificado”, vendo-se “diferentes” de outros portugueses espalhados pelo mundo, explicou VanessaAmaro, com a ressalva de que não se pode generalizar. “Encontrei muita gente a tentar encontrar outro termo”, contou a investigadora, considerando que “tem muito a ver com a necessidade de a comunidade se tentar posicionar como elite”. Neste âmbito, destaca a “bolha” em que vivem alguns portugueses, que adoptaram a ideia de que podem fazer a sua vida sem precisar de aprender Chinês porque “têm as suas rotinas, os seus amigos, fecham-se nos seus grupos e fazem toda a sua vida no circuito português”. Só seis dos entrevistados falavam fluentemente Cantonense. A barreira cultural da língua pesa e “essa cortina de vidro sempre existiu e sempre houve intermediários (...), mas a questão é que não há interesse da comunidade portuguesa em aprender de forma generalizada”, considerou.
DA IMPORTÂNCIA
“Todos concordam que são muito importantes para o futuro, não só pela história, mas também pelo próprio desenvolvimento, para manter a identidade única de Macau, para evitar que a cultura portuguesa seja modificada, vendida, embrulhada para os chineses como uma coisa de Macau.Acham que é importante também manter o que é português como português e não como uma coisa de Macau”, como é o caso do simples pastel de nata, ilustrou. O estudo também identificou padrões nas razões que trouxeram os portugueses a Macau antes e depois de 1999 e nos motivos que os levam a permanecer, como as questões financeiras.
segunda-feira 29.2.2016