Hoje Macau 29 JUN 2020 # 4556

Page 1

PORTUGUÊS

MENOS OFICIAL PÁGINA 5

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 29 DE JUNHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4556

CINEMATECA

RESPOSTA VAZIA PÁGINA 8

ANIMA

ALBANO DE SAÍDA PÁGINA 9

Em nome do filho Angela Leong revelou, em comunicado, a existência de mais um filho com Stanley Ho. Algo que era um rumor para o público não era segredo em família, com a deputada a confessar que Ho Yau Pong nunca foi apresentado publicamente por sofrer ‘‘problemas de saúde’’. A decisão de não revelar a existência do filho terá partido do casal para respeitar a privacidade familiar. ÚLTIMA

CHINA | ÍNDIA

VALE SEM SAÚDE

hojemacau

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

ANTÓNIO FALCÃO

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

PÁGINA 12


2 grande plano

TRÁFICO HUMANO

MERCADORIA COM PULSO WASHINGTON DIZ QUE MACAU “NÃO CUMPRE PADRÕES MÍNIMOS”

TIAGO ALCÂNTARA

29.6.2020 segunda-feira

O mais recente relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre tráfico de pessoas volta a traçar um cenário negativo para Macau, ao considerar que o território peca pela quase ausência de processos judiciais e condenações e por não conseguir identificar vítimas de tráfico sexual ou laboral. A RAEM rejeitou as críticas

À

semelhança dos anos anteriores, o Departamento de Estado norte-americano voltou a tecer duras críticas à actuação das autoridades da RAEM no combate ao tráfico humano. O relatório deste ano, que analisou os esforços no combate ao tráfico humano, de índole sexual ou laboral, em vários países do mundo, coloca Macau num nível ainda mais baixo que no passado, uma vez que o território não tem praticamente processos judiciais em curso nesta área, além de que as condenações são também quase inexistentes. “O Executivo da RAEM não cumpre os padrões mínimos para a eliminação do tráfico”, começa por apontar o relatório. “O Governo não demonstrou um aumento dos esforços quando comparado com anos anteriores. As preocupações mantêm-se quanto à exploração de vítimas pelos traficantes em Macau, especialmente no que diz respeito ao negócio do sexo. No entanto, o Governo investigou apenas um potencial caso e não providenciou assistência a nenhuma vítima, além de

não ter iniciado qualquer procedimento penal ou deduzido acusação contra traficantes.” Por essa razão, o departamento da Casa Branca baixou a classificação do território para a Lista de Observação de nível 2. O documento refere que apesar de estar em vigor desde 2008, a lei de combate ao crime de tráfico de pessoas tem sido pouco usada e “os esforços para a sua aplicação permanecem estáticos”. A legislação prevê penas de prisão para os crimes de tráfico sexual e laboral entre 3 e 15 anos.As sanções previstas na legislação local são consideradas “suficientemente exigentes e proporcionais às sanções previstas para outros crimes sérios, tal como a violação”. No entanto, os números de casos permanecem muito baixos. “As autoridades iniciaram uma investigação em 2019, o que representa um decréscimo quando comparado com uma investigação por tráfico sexual e duas por tráfico laboral iniciadas em 2018”. O ano passado “o Governo não iniciou qualquer processo judicial por tráfico laboral, um

decréscimo comparado com dois processos iniciados em 2018. Nos dois casos de 2015 e 2016, o Governo condenou três pessoas por tráfico sexual a pena suspensa, comparando com as duas condenações por tráfico sexual em 2018”, acrescenta o relatório. Desta forma, as autoridades norte-americanas consideram que, apesar de haver lei e moldura penal suficiente, a maioria dos crimes acabam por ser investigados e chegam a tribunal como crimes de outra natureza, e não tráfico sexual. Tal facto, faz com que a lei de combate ao tráfico de pessoas não seja plenamente posta em prática. O documento salienta também que “o Governo não fez esforços

O Executivo de Macau afirma que “tem persistido com grande determinação e sempre firme no combate aos crimes de tráfico de pessoas”

para reduzir a procura pelo negócio do sexo”.

PROTECÇÃO “MÍNIMA”

Além das críticas termos de actuação processual e judicial, o relatório também dá conta dos “esforços mínimos realizados pelas autoridades para proteger as vítimas de tráfico humano”. Isto porque “apesar de o Governo ter levado a cabo apenas uma investigação sobre um alegado caso de tráfico, não reportou a identificação de vítimas nem providenciou quaisquer serviços de apoio em 2019, comparado com um caso de uma vítima de tráfico identificada em 2018.” O Departamento de Estado norte-americano refere também o facto de o Governo nunca ter identificado vítimas de tráfico laboral, apesar da existência de procedimentos formais adoptados para estes casos. Contudo, mesmo depois da distribuição de questionários a potenciais vítimas de tráfico laboral, nunca houve uma única identificação. Em 2019 o Governo disponibilizou 1.72 milhões de patacas para custear serviços

de protecção à vítima por parte de associações locais, menos do que as 1.77 milhões de patacas disponibilizadas em 2018. Além disso, foi reservado um orçamento de 39,600 mil patacas com base num acordo feito com uma organização internacional para a assistência em repatriamento de pessoas, mas a medida nunca chegou a ser posta em prática. O relatório aponta ainda o facto de ser dado apoio para o abrigo de crianças vítimas de tráfico por parte de uma associação local, embora não existam registos de crianças apoiadas. Relativamente aos abrigos destinados a adultos, também não há dados. Apesar das críticas, o relatório aponta para “esforços significativos” do Governo no combate ao tráfico humano, e que passam pela formação a agentes policiais e alfandegários, bem como a assistentes sociais. É também destacada a campanha de consciencialização em forma de anúncios publicitários que é feita nos autocarros, sem esquecer os vídeos promocionais nas fronteiras. Além disso, “continuam a

ser disponibilizados serviços de apoio às vítimas”. Relativamente à Comissão de Acompanhamento das Medidas de Dissuasão do Tráfico de Pessoas, o relatório dá conta da alocação de um orçamento de 3.24 milhões de patacas o ano passado, valor inferior em relação às 3,7 milhões de patacas disponibilizadas em 2018.

AS RECOMENDAÇÕES

O Departamento de Estado norte-americano faz ainda


grande plano 3

segunda-feira 29.6.2020

O relatório defende o salário mínimo para as trabalhadoras domésticas migrantes, considerando que a sua falta “pode aumentar a vulnerabilidade [das vítimas] em prol do tráfico laboral”

algumas recomendações no relatório, apontando que Macau deveria registar “um aumento significativo e pró-activo da identificação das vítimas, especialmente junto de populações vulneráveis tal como os trabalhadores migrantes e as pessoas que trabalham no negócio do sexo”. O relatório defende o salário mínimo para as trabalhadoras domésticas migrantes, considerando que a sua falta “pode aumentar a vulnerabilidade [das ví-

timas] em prol do tráfico laboral”. Ainda neste âmbito, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) terá dado apoio em casos de disputas laborais envolvendo 1,729 trabalhadores migrantes, além de ter realizado inspecções em 33 estaleiros de construção civil e 213 agências de emprego por suspeitas de violação da lei laboral. O relatório defende também o aumento “dos esforços para uma triagem e identifi-

Em Macau, apesar de haver lei e moldura penal suficiente, a maioria dos crimes acabam por ser investigados e chegam a tribunal como crimes de outra natureza

cação das vítimas de tráfico laboral e vítimas do sexo masculino”. É referida a necessidade de maior formação para magistrados e juízes relativamente à aplicação da lei de combate ao tráfico de pessoas. É também essencial que Macau condene traficantes e que assegure que “as vítimas são referenciadas e recebem serviços de protecção”. O Governo deve ainda aumentar significativamente os esforços para investigar e abrir processos que “condenem autores dos crimes

de tráfico sexual e laboral, incluindo os que operam nos casinos e em outros estabelecimentos do ramo do entretenimento”.

RAEM RESPONDE

O Governo de Macau expressou a sua indignação face ao documento. “O relatório dos EUA deste ano, mais uma vez, não reflectiu fielmente a situação real em Macau, mostrando-se repleto de interpretações tendenciosas, uma conclusão sem rigor e suposições infundadas,

bem como revelando total ausência de conhecimento sobre o regime jurídico” de Macau, pode ler-se num comunicado oficial emitido pelo gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. Na resposta, o Executivo lembrou os esforços conduzidos pela Comissão de Acompanhamento das Medidas de Dissuasão do Tráfico de Pessoas e as estratégias comuns seguidas a nível internacional. As autoridades garantiram que têm “coordenado activamente os serviços governamentais e os diferentes sectores da sociedade na realização conjunta dos trabalhos como prevenção das actividades ilegais relativas ao tráfico de pessoas e actuado no âmbito da protecção às vítimas”. A nota do gabinete do secretário diz ainda que “os trabalhos de execução da lei têm sido desencadeados de forma eficaz sob a supervisão dos órgãos judiciais” e “a evolução do volume de casos em Macau revela uma diminuição constante, representando uma baixa percentagem ou uma percentagem quase nula, o que demonstra o efeito positivo dos referidos trabalhos realizados”. Desta forma, o Executivo afirma que “tem persistido com grande determinação e sempre firme no combate aos crimes de tráfico de pessoas”, e que as “autoridades de segurança continuam a colaborar no trabalho de execução da lei desenvolvido pelos órgãos judiciais, mantendo o contacto e o intercâmbio internacionais e regionais para prevenir e combater em conjunto as respectivas actividades ilícitas, num esforço contínuo para eliminar o tráfico de pessoas e quaisquer outras formas de exploração”. Andreia Sofia Silva com Lusa andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 coronavírus

29.6.2020 segunda-feira

SERVIÇOS DE SAÚDE GOVERNO PREPARADO PARA AUMENTO DO NÚMERO DE CASOS IMPORTADOS

De mangas arregaçadas

O Governo anunciou a subida da quota diária de deslocações a Zhuhai para 3000. Quanto a entradas, quem chegar da Índia, Paquistão, Bangladesh, Filipinas, Indonésia e Brasil tem de apresentar teste negativo para embarcar no corredor especial

N

O dia em que se registou o 46.º caso de covid-19 em Macau, o Executivo pediu calma à população e deixou a possibilidade do número continuar a subir, uma vez que há vários residentes a regressar pelo corredor especial do exterior. Na sexta-feira de madrugada foi anunciado mais um caso de infecção por covid-19. O paciente é um residente da RAEM de nacionalidade Filipina. Trata-se de um homem com 57 anos que voltou a Macau na quinta-feira, através de Hong Kong e do corredor especial, e foi logo testado, antes de ser enviado de quarentena para o Hotel Sheraton. Como o resultado do primeiro teste foi positivo acabou por isolado no hospital Conde São Januário, onde está a ser tratado. Face a esta incidência, Alvis Lo pediu tranquilidade à população e deixou antever a descoberta de mais casos. “Desde 17 de Junho até hoje [sexta-feira] passaram 10 dias. E entre o primeiro e o nono dia foram realizados 620 testes sem casos confirmados. Só depois houve um”, começou por explicar. “Há uma taxa de 0,16 por cento de resultados positivos, mas não

negociações entre Macau e outras jurisdições para a reabertura das fronteiras. “Este caso não vai influenciar as negociações para atravessar as fronteiras com as outras regiões”, sublinhou Alvis Lo. No que diz respeito às passagens fronteiriças, o Executivo anunciou também que a quota diária de pessoas autorizadas a irem a Zhuhai sem cumprirem a quarentena de 14 dias aumentou de 1.000 para 3.000 por dia. Já os residentes vindos da Índia, Paquistão, Bangladesh, Filipinas, Indonésia e Brasil têm de mostrar o resultado de despistagem da covid-19 para usarem o corredor especial.

“Há uma taxa de 0,16 por cento de resultados positivos, mas não excluímos a possibilidade de haver mais pessoas com testes positivos nos próximos 14 dias.” ALVIS LO MÉDICO

excluímos a possibilidade de haver mais pessoas com testes positivos nos próximos 14 dias. Mas, a situação está melhor do que prevíamos inicialmente. Por isso, espero que as pessoas fiquem menos preocupadas, porque temos planos para lidar com a situação”, acrescentou.

Por sua vez, a médica Leong Iek Hou destacou o facto de o residente não ter tido contacto com a comunidade, depois de ter voado vindo de Manila na passada quinta-feira. Também não há casos de contacto próximos em Macau. As pessoas que viajaram no mesmo barco

que o paciente, e que cumprem período de quarentena, vão ser sujeitas a mais um teste de despistagem da covid-19. Até sexta-feira, entre os 1.300 inscritos para regressarem a Macau pelo corredor especial aberto com Hong Kong, já tinham viajado 600,

vindos principalmente de países como Reino Unido, Portugal, Estados Unidos e Canadá.

SEM IMPACTO

Na conferência de imprensa de sexta-feira foi ainda deixada a garantia de que o novo caso não vai ter impacto nas

Os Estados Unidos, país com mais casos do mundo, ficou de fora, assim como outras jurisdições da Europa. A medida foi explicada por Leong Iek Hou com o facto de os norte-americanos serem um dos países do mundo que mais testa a população e também pelos casos detectados em Hong Kong serem principalmente de pessoas que viajam do sudeste asiático. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

PUB

Discriminação Autoridades fazem apelo à populacão ANÚNCIO (92/2020) Faz-se saber que, em relação ao concurso público para “OBRA DE RENOVAÇÃO DAS FRACÇÕES DE HABITAÇÃO SOCIAL DO ANO DE 2020 (05)”, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 24, II Série, de 10 de Junho de 2020, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.2 do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, no Instituto de Habitação, Estrada do Canal dos Patos, n.º 220, Macau. Instituto de Habitação, aos 18 de Junho de 2020. O Presidente, Arnaldo Santos

Os Serviços de Saúde (SS) vincaram que os pacientes diagnosticados com covid-19 não devem ser discriminados devido à sua identidade ou nacionalidade. O apelo foi deixado pelo médico do Hospital Conde São Januário, Alvis Lo Iek Long, no seguimento de ter sido confirmado, na passada sexta-feira, um novo caso da doença no território, num residente de Macau de nacionalidade filipina. Após o anúncio do novo caso, surgiram inúmeros comentários discriminatórios nas redes sociais. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o responsável afirmou que todos os residentes

de Macau têm o direito de voltar ao território e que o Governo tem a responsabilidade de prestar esse apoio. Além disso, Alvis Lo apontou que o caso não teve

impacto directo na comunidade, pois foi detectado à entrada do território, após o indivíduo ter sido reencaminhado para um hotel para fazer observação médica.


política 5

DESEMPREGO SULU SOU PREOCUPADO COM JOVENS E RECÉM-LICENCIADOS

S

ULU Sou quer saber de que forma a pandemia está a ter impacto na taxa de desemprego e no salário inicial dos jovens e recém-licenciados. O deputado assinou uma interpelação escrita a pedir que o Governo trace planos futuros que garantam oportunidades justas e diversificadas de acesso ao trabalho. Citando dados divulgados no sábado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) Sulu Sou lembra ser urgente a aplicação de medidas que promovam o emprego dos jovens, já que, fruto da pandemia, a taxa de desemprego entre os residentes no final de Maio fixou-se nos 3,4 por cento e que o número de desempregados à procura do primeiro emprego representou 5,1 por cento da população desempregada. Sulu Sou considera que, perante a crise

gerada pela covid-19, o acesso a cargos na administração pública por parte dos recém-licenciados está dificultada e que cerca de metade destes, segundo um estudo da DSEJ, pretende trabalhar nos sectores do turismo, convenções e exposições, hotelaria e comércio. Perante este cenário, o deputado questiona se Governo está a avaliar os impactos da pandemia na taxa de desemprego dos jovens, quais os planos para promover a diversificação do emprego e se a esperança de receber um salário inicial entre as 10 e as 20 mil patacas irá manter-se no futuro. Sulu Sou quer ainda saber como é que o Governo vai garantir que as empresas dão prioridade ao recrutamento dos jovens recém-licenciados que pretendem participar no plano de estágios de três meses da DSAL, que inclui 1.800 vagas, pedindo que as vagas sejam aumentadas. N.W. e P.A.

RÓMULO SANTOS

segunda-feira 29.6.2020

Ho Ion Sang, deputado “O chinês e o português são as duas línguas oficiais da RAEM. Mas, Macau é uma cidade internacional e o inglês é mais popular.”

CONSUMO NOVA LEI RELEGA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O NÍVEL DO INGLÊS

Nas entrelinhas

Há duas línguas oficiais, mas uma é mais oficial que outra. O novo normal consta na lei do consumidor, em que apenas o chinês é obrigatório nos manuais de instruções. Além da questão linguística, o novo diploma de protecção dos direitos do consumidor dá mais poderes de fiscalização ao Conselho dos Consumidores

Desemprego Joey Lao diz que o pior ainda está para vir Joey Lao, deputado e presidente da Associação Económica de Macau afirmou que taxa de desemprego “ainda não atingiu o seu pico”, prevendo que continue a subir até que as medidas nas fronteiras sejam aliviadas. De acordo com o jornal Ou Mun, Joey Lao sublinhou que, devido à pandemia, a taxa de desemprego, que se previa continuar a ser baixa a longo prazo, está a sofrer o impacto da crise provocada no sector do turismo de Macau, existindo casos em que os salários foram reduzidos para metade ou em que os trabalhadores tiraram licen-

ças sem vencimento. Sobre as medidas de revitalização da economia lançadas pelo Governo como o cartão de consumo ou as excursões locais, o deputado entende que apenas servem “para manter o funcionamento da procura interna”, sendo que o fluxo da economia continua a ser insuficiente para a actividade das empresas. Frisando ainda que os dados do desemprego “têm um efeito retardado”, Joey Lao reforça que quanto mais adiada for a abertura das fronteiras, mais empresas irão falir, lançando mais trabalhadores para o desemprego.

A

n o v a Lei de Protecção dos Direitos e Interesses do Consumidor obriga à utilização do chinês no manual de instruções de todos os produtos importados, mas torna o português facultativo, e passível de ser trocado pelo inglês. Segundo o modelo apresentado, e apesar de Macau ter duas línguas oficiais, os importadores vão ter de escolher entre folhetos em chinês e português ou chinês e inglês. A informação foi avançada no final da reunião na sexta-feira na Assembleia Legislativa (AL) pelo deputado Ho Ion Sang, que preside à 1.ª comissão que está a discutir o diploma na especialidade.

“Os importadores têm de fornecer o manual de instruções na língua chinesa e portuguesa ou na língua chinesa e inglesa. Se os produtos forem feitos em Macau, o manual tem de ser escrito em chinês, com uma tradução em português ou inglês”, informou o presidente da comissão sobre a nova versão de trabalho do diploma. A escolha do Executivo tem como objectivo garantir que as pessoas procedem à utilização e montagem dos bens comprados, como produtos eléctricos, brinquedos ou mobílias, num ambiente mais seguro. O deputado foi depois questionado sobre a razão pela qual uma língua oficial ser colocada num patamar

inferior a outra língua, também ela oficial. Ho respondeu tratar-se da adopção de uma postura pragmática. “O chinês e o português são as duas línguas oficiais da RAEM. Mas, Macau é uma cidade internacional e o inglês é mais popular. O objectivo é incluir duas línguas que o consumidor perceba. O essencial é que as pessoas perceberam o que está escrito”, justificou.

MAIS PODER DE INVESTIGAÇÃO

Línguas à parte, a nova lei vai reforçar os poderes de fiscalização do Conselho de Consumidores no que diz respeito aos preços praticados no mercado. A medida foi elaborada a pensar nos abusos que se seguiram à implementação do cartão de consumo

e às práticas no sector dos combustíveis. “Com as alterações, o Conselho de Consumidores vai poder recolher informações directamente sobre os diferentes componentes que resultam num determinado preço. Assim, quando houver problemas no mercado é possível pensar em soluções”, explico Ho. No que diz respeito a supermercados e outros espaços onde os preços têm de ser afixados, as exigências aos vendedores aumentaram. “O preço tem de estar muito bem indicado, mas também as unidades de medida a que um produto é vendido”, informou o presidente da comissão da AL. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


6 publicidade

29.6.2020 segunda-feira


sociedade 7

segunda-feira 29.6.2020

O investigador do CCAC chamado a testemunhar na sexta-feira defendeu haver evidências de subornos a Jackson Chang, ex-presidente do IPIM. No entanto, parece que escasseam provas concretas quanto às alegações de dinheiro ilícito

CASO IPIM INVESTIGADOR DO CCAC RECONHECE FALTA DE PROVAS

Actos falhados

N

A última sessão do caso que envolve o ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), o foco foram os factos relacionados com corrupção passiva, abuso de poder e falsas declarações de património. Porém, a testemunha do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) disse que não se consegue averiguar a origem do dinheiro de Jackson Chang que alegadamente resultou de subornos. A acusação argumenta que antes do Ano Novo Chinês Jackson Chang terá estado com Ng Kuok Sao na China Continental e recebido um “lai si” de, pelo menos, duas mil patacas – valor que a mulher terá distribuído pelos dois filhos, de acordo com registos telefónicos. Foram também encontradas 51 mil patacas numa gaveta durante buscas ao escritório de Jackson Chang, mas o investigador do CCAC notou que “não se conseguiu investigar a proveniência desse numerário”, explicando que não foi encontrado registo de levantamento desse valor das contas do ex-presidente do IPIM ou da mulher. Para além desse montante, o casal alegadamente depositou dinheiro junto de pessoas amigas, para receberem juros mais altos. Um destes amigos, relacionado com uma sala VIP, terá recebido para depósito, pelo menos, meio milhão de patacas. Foram ainda encontrados bens de valor, como dois relógios de

PELAS MÃOS DE TERCEIROS

A “relação muito próxima” de Jackson Chang com outra arguida foi também abordada pela acusação, que mostrou mensagens com expressões como “querido” e “não me chames marido”. As mensagens motivaram uma intervenção da advogada Icília Berenguel, que questionou o motivo de se falar de conteúdo privado. Foram ainda exibidas fotografias de uma viagem que ambos fizeram ao Interior da China – ele enquanto presidente do IPIM e ela como membro de uma associação.

“Não conseguimos provar”, reconheceu a testemunha, explicando que não se conhece a proveniência do dinheiro

Jackson Chang, ex-presidente do IPIM

marca em casa do ex-presidente do IPIM, que custaram 230 mil patacas no total e cujos recibos mostram que foram pagos em numerário. Questionado se o dinheiro seria ilícito, a resposta do investigador do CCAC foi negativa. “Não conseguimos provar”, reconheceu a testemunha, explicando que não se conhece a proveniência do dinheiro. Para além disso, a testemunha afirmou que Jackson Chang revelou dados sobre a evolução de quatro pedidos de fixação de residência. Alegadamente, parte dessas informações eram transmitidas por intermédio da filha.

LAÇOS FAMILIARES

O emprego da mulher e filha de Jackson Chang na empresa de Ng Kuok Sao, em momentos diferentes, foi alegadamente uma das formas que o empresário usou para subornar o ex-presidente do

CPSP Identificados 55 trabalhadores ilegais em Maio No mês de Maio as autoridades de Macau detectaram 55 trabalhadores que acreditam estarem a trabalhar de forma ilegal. Os números foram revelados na sexta-feira depois de várias operações conjuntas entre o Corpo de Polícia

essa informação não aparece no registo comercial. A testemunha mencionou também que a mulher de um ex-funcionário do IPIM chegou também a participar numa das empresas de Ng Kuok Sao.

de Segurança Pública (CPSP) e a Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Durante o mesmo período estas duas entidades fizeram fiscalizações em 260 locais do território para supervisionar o recurso a mão-de-obra ilegal.

IPIM. Relativamente a Angela Ip On Kei (a mulher), a acusação defende que a relação laboral não era real. A testemunha disse que não precisava de se apresentar ao serviço, nem tinha conta de usuário para acesso ao sistema. A única referência encontrada foram informações de materiais para construção num portátil. De acordo com as despesas da empresa, Angela, que trabalhou inicialmente na contabilidade e passou depois a ser chefe de aquisição, recebia periodicamente 15 mil patacas. No total, terá recebido cerca de 570 mil patacas. Mas o investigador do CCAC admitiu não ser possível excluir a possibilidade de Angela ter um horário flexível e trabalhar a partir de casa. Já a filha, Júlia Chang auferiu também um salário mensal de 15 mil patacas, e chegou a receber um bónus, que variou entre 1.850 e 2.100 patacas. A testemunha

referiu que parece que o bónus foi criado para Júlia Chang e frisou haver outra pessoa a desempenhar as mesmas funções, com habilitações académicas mais altas e salário inferior. Nesse âmbito, foi dado a conhecer um documento de auto-avaliação de Júlia, onde esta reconheceu que se atrasava frequentemente e precisava de melhorar o seu inglês. Gravações reproduzidas na sessão mostram a filha a tentar esclarecer dúvidas profissionais junto da mãe. A acusação entende que Júlia Chang deteve 10 por cento de uma outra empresa de Ng Kuok Sao. Nesse âmbito foi apresentada a imagem de um cartão de visita em que a arguida é identificada como vice-directora geral, e uma das gravações reproduzidas pretende mostrar a intenção de Ng Kuok Sao em dar essa participação à arguida. No entanto,

Alegadamente, Ng Kuok Sao também deu benefícios ao ex-presidente do IPIM através de transferências para uma conta desta mulher, que recebeu cerca de 104 mil renminbis. Os depósitos foram feitos numa conta no Interior da China e guardados em diferentes contas. O dinheiro teria depois sido passado em tranches para o ex-presidente do IPIM. Para além disso, um cartão de outra conta da qual Zeng Chun Mei é titular foi encontrado em casa de Jackson Chang. De acordo com a testemunha, Ng Kuok Sao fez também chegar 200 mil patacas, através de um intermediário, para um “director de Macau” – que a acusação entende tratar-se de Jackson Chang. Álvaro Rodrigues pediu para o IPIM revelar quantos diretores existiam no organismo à data dos factos, mas por enquanto a juíza afasta essa possibilidade, por entender que essa informação pode ser prestada por testemunhas que ainda vão ser ouvidas. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

Trabalho Macau perdeu 4.224 trabalhadores não residentes desde Janeiro

Entre Janeiro e Maio, saíram do território 4.224 trabalhadores não-residentes, de acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) na sexta-feira. No final do mês passado, a DSAL contava um total de 189.274

trabalhadores não-residentes. As principais perdas registaram-se no sector da hotelaria, que registava 50.028 trabalhadores com blue card, que ficou com menos 2825 pessoas. O sector do comércio por grosso e retalho também registou quebras

acentuadas com a saída de 1.020 portadores de blue card, totalizando 22.240 trabalhadores. No pólo oposto, o sector da construção teve um aumento de 840 trabalhadores não-residentes entre Janeiro e Maio desde ano, de 26.116 para 26.956.


8 sociedade

HOJE MACAU

PME GOVERNO PREPARA GARANTIAS DE 1,2 MIL MILHÕES

29.6.2020 segunda-feira

O

Conselho do Executivo já deu o aval à proposta do Executivo que vai permitir emprestar mais 1,2 mil milhões de patacas às Pequenas e Médias Empresas (PME) do território. A informação foi divulgada na sexta-feira, após debate neste conselho, e a proposta já seguiu para a Assembleia Legislativa para ser votada. Segundo a proposta, o limite máximo de garantia do “Plano de Garantia de Créditos a Pequenas e Médias Empresas” foi aumentado em 1,1 mil milhões de patacas, para um total de 2 mil milhões de patacas. Já o limite do “Plano de Garantia de Créditos a Pequenas e Médias Empresas Destinados a Projecto Específico” foi duplicado, de 100 milhões para 200 milhões. “Devido ao número considerável das pequenas e médias empresas que pretende obter fundos para dar resposta às necessidades urgentes através do financiamento bancário, os números de pedidos dos planos de garantia de créditos aumentam acentuadamente, prevendo-se que será esgotado dentro de meses o montante limite para a prestação das garantias de créditos por parte do Governo”, foi explicado sobre a medida. Segundo os dados oficiais, até 22 de Junho foram recebidas 4.037 candidaturas para o Plano de Bonificação de Juros de Créditos Bancários para as Pequenas e Médias Empresas, que envolvem 5,35 mil milhões de patacas. Entre estas candidaturas, 539 foram simultaneamente candidaturas ao Plano de Garantia de Créditos a Pequenas e Médias Empresa ou ao Plano de Garantia de Créditos a Pequenas e Médias Empresas Destinados a Projecto Específico, envolvendo um montante de garantia de créditos no valor de 508 milhões de patacas.

Crime Detida por penhorar relógios Rolex falsos

Uma mulher de 42 anos foi detida por se suspeitar que tenha utilizado produtos falsos em lojas de penhores na Taipa para levantar 43 mil patacas. O caso foi relatado na sexta-feira pelas autoridades, depois da denúncia de uma das lojas de penhores burlada. Quando investigaram a situação, as autoridades descobriram que o alegado relógio Rolex era falso e que o mesmo esquema tinha sido utilizado anteriormente em outro estabelecimento do género. Confrontada com a acusação da polícia, a mulher confessou ter comprado o relógio há dois anos através da internet e que tinha cometido o crime por se encontrar a atravessar uma situação económica difícil. As autoridades não foram capazes de recuperar o dinheiro, uma vez que este já tinha sido utilizado.

IC “Vamos continuar a supervisionar e a coordenar, como temos feito até aqui, escutando activamente o sector de forma a melhorar a qualidade dos nossos serviços.”

CINEMATECA IC SEM DETALHES NA RESPOSTA A PETIÇÃO

Outra vez arroz Em resposta a uma petição que pedia informações sobre a futura gestora da Cinemateca Paixão, o IC voltou a expor os critérios anunciados no caderno de encargos e refere que tentou encontrar equilíbrio entre qualidade e eficiência. São deixados agradecimentos à CUT e a garantia de que a programação para o próximo ano será revelada em Agosto tendo em conta as opiniões do sector

O

Instituto Cultural (IC) respondeu com poucos detalhes e dados anteriormente anunciados, à petição entregue pelo grupo de cineastas locais “Macau Cinematheque Matters”, onde foram pedidas explicações sobre a futura gestão da Cinemateca Paixão. Recorde-se que a petição foi entregue ao IC, no seguimento do concurso público para a gestão da Cinemateca Paixão até Agosto de 2023 ter sido adjudicado à Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada, empresa cujo trabalho é desconhecido e que tem levantado muitas dúvidas junto do sector. Numa resposta onde começa por repetir os objectivos expressos no caderno de encargos do

concurso público para a gestão do espaço, o IC deixa um “profundo agradecimento” à Cut Limitada, empresa que geriu até ao final do ano passado a Cinemateca Paixão, pelos serviços prestados e a dedicação demonstrada. Sobre o pedido de explicações acerca do processo de avaliação das propostas exposto na petição e do fundamento para ter sido escolhida a proposta com o valor mais baixo para o espaço, o IC esclarece que os critérios foram “ligeiramente ajustados” relativamente ao concurso público que aconteceu há quatro anos. Explica o organismo que o peso do preço da proposta aumentou dos 35 para os 40 por cento e que o peso do grau de perfeição da proposta diminuiu dos 45 para os 40 por cento de

forma a “encorajar os candidatos a ter em conta simultaneamente a qualidade operacional e a eficiência da gestão”. De acordo com o IC, foi “mantido o foco na qualidade da operação” e todas as regras foram claras para os candidatos que submeteram propostas, de acordo com as instruções anunciadas e tendo por base critérios iguais para todos. A decisão final foi tomada após o comité de avaliação ter atribuído uma pontuação com base nos critérios, sendo que a proposta vencedora foi a que obteve a pontuação mais elevada na ponderação de todos os critérios. Recorde-se que a ponderação dos restantes 20 por cento que estavam em jogo no concurso público diziam respeito à experiência do concorrente e do

director de operações (14 por cento) e a experiência do consultor (seis por cento).

ESTAMOS JUNTOS

Perante o pedido para que fossem valorizadas as opiniões dos cineastas locais acerca do futuro da Cinemateca Paixão e da projecção de filmes independentes, artísticos e locais, o IC afirmou que essas vontades “são altamente consideradas” e que nos próximos três anos irá garantir que a futura gestora cumpre todos os objectivos propostos. “Vamos continuar a supervisionar e a coordenar, como temos feito até aqui, escutando activamente o sector de forma a melhorar a qualidade dos nossos serviços. A futura gestora é responsável por criar o plano operacional e executá-lo com a aprovação do IC”, pode ler-se na resposta à petição. O IC afirma ainda que “todas as sugestões serão tidas em conta”, aquando da discussão do plano operacional da Cinemateca Paixão para os próximos 12 meses. “A programação será publicada em Agosto. Iremos pedir à empresa vencedora para cumprir à risca as regras do concurso na execução do plano para a Cinemateca Paixão”. Já sobre o pedido de explicações acerca da experiência da companhia In, aplicação do orçamento apresentado e detalhes sobre o plano de operações, o IC não deu qualquer resposta. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo


sociedade 9

segunda-feira 29.6.2020

ANIMA ALBANO MARTINS VAI MUDAR-SE PARA PORTUGAL

A hora do regresso

Quase 30 anos depois de ter chegado a Macau, Albano Martins vai regressar a Portugal. A decisão surge na sequência de uma cirurgia mal executada que resultou na perda da visão num olho, “reduzindo drasticamente” a capacidade de trabalho. O economista abandona assim a presidência da Anima e o cargo que ocupa na Sociedade de Empreendimentos Nam Van ideia de que as associações tinham de recolher todos os animais da rua, mas isso é impossível. O nosso Código de Ética diz que apenas podemos recolher os animais de risco”, disse ao HM. Ao HM, o responsável adiantou já ter um nome em mente para o substituir, que será lançado na reunião que a ANIMA terá na próxima semana.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

A

LBANO Martins vai regressar a Portugal, deixando assim a presidência da Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA) e o cargo de director financeiro da Sociedade de Empreendimentos Nam Van. A decisão foi anunciada na passada sexta-feira pelo próprio no Facebook e surge na sequência de uma cirurgia mal sucedida ao nariz que realizou em Janeiro e que resultou na perda de visão no olho direito. Além disso, segundo a publicação, o contrato de trabalho que tem com a Sociedade de Empreendimentos Nam Van vai expirar em Fevereiro de 2021, tendo a decisão sido comunicada “há alguns dias”. Por estes dois motivos, Albano Martins revela que não tem outra escolha senão rumar a Portugal, aproveitando para estar mais tempo com a família. “A minha capacidade de trabalho em Macau foi drasticamente reduzida. Chegou o momento de estar mais tempo em Portugal, com a minha família, a minha mulher que me apoiou durante tanto tempo, permitindo-me ficar em Macau junto da ANIMA, mesmo depois do seu regresso em 2007, os meus filhos, netos e amigos, incluindo todos os meus animais”, referiu Albano. Apontando que “chegou a altura de se envolver mais nas principais frentes de combate que existem em Portugal”, através do apoio a organizações locais que lutam por causas ambientais, Albano Martins não vai deixar, contudo, de suportar a ANIMA. “Estarei sempre a apoiar a ANIMA, organização da qual tenho orgulho de ser fundador, juntamente com outras duas pessoas”, pode ler-se na publicação. Apesar da ausência, Albano Martins assegurou ainda ao HM que vai continuar a “vir três vezes por ano [a Macau] enquanto não tiver a certeza que a Anima sobrevive”. O próximo presidente da instituição será eleito no próximo mês de Julho. Em jeito de remate, Albano Martins deixa ainda um conselho à futura direcção. “Sigam à risca o nosso Código de Ética se querem sobreviver neste ambiente complicado e, por vezes, intimidador! Sejam fortes, persistentes e organizados”. A existência do Código de Ética é um dos pontos destacados pelo actvista. “Nós não matamos [animais] e essa é uma das nossas grandes vitórias. Existia a

PARA A HISTÓRIA

Albano Martins esteve no comando da ANIMA nos últimos 17 anos, tendo fundado o organismo a 11 de Dezembro de 2003. “Em 2003, não me passava pela cabeça que não houvesse em Macau associações de defesa dos direitos dos animais”, confessou. Nesse ano, o economista fez o primeiro de muitos donativos para a ANIMA: 20 mil patacas para pagar ao escritório de advogados que oficializou a criação da ANIMA. Desde então, entre as várias batalhas que travou enquanto presidente, o destaque vai para o encerramento em 2018 do canídromo de Macau, cujas instalações eram dedicadas às corridas de galgos.

Albano Martins, presidente da ANIMA “A minha capacidade de trabalho em Macau foi drasticamente reduzida. Chegou o momento de estar mais tempo em Portugal, com a minha família.”

Para além da libertação de mais de 500 animais, a acção que resultou de uma campanha de vários anos, valeu também a Albano Martins o

prémio 2019 Greyhound Leadership Award, da GREY2K USA. Relativamente ao terreno onde a associação opera, Albano Martins

recorda “pessoas prepotentes que nos deram alguns problemas”, referindo os constrangimentos criados pelo ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io. Mas com Raimundo do Rosário no cargo, o presidente da ANIMA tornou-se optimista quanto à resolução do processo do terreno. “Sempre achei que a licença [definitiva de ocupação do terreno] surgisse antes de me ir embora”, lamentou. Recorde-se ainda que desde a sua fundação e até Março de 2020 a ANIMA salvou mais de 4.800 animais, a grande maioria cães (2.242) e gatos (2.303). Os restantes salvamentos foram de pássaros (142), coelhos (56), hamsters (54), tartarugas/cágados (31), cobras (22), esquilos (7), chinchilas (5), uma ave de aviário e ainda uma marmota. No combate pelos direitos dos animais, Albano Martins confessou que sempre manteve uma grande amizade com o primeiro Chefe do Executivo da RAEM, Edmund Ho, que deu todo o apoio para o funcionamento da associação. Albano Martins, que trabalhou no Instituto Emissor de Macau no início da década de 80, assume o “orgulho” de alguns projectos e lutas, dando o exemplo da permissão para criar sociedades anónimas com apenas três pessoas. Quanto ao convite para a Sociedade de Empreendimentos Nam Van, surgiu quando começou a ser pensado o projecto de revitalização da zona do Fecho da Baía da Praia Grande. Depois da polémica Lei de Terras que retirou os terrenos concessionados à empresa, Albano Martins espera um desfecho diferente relativamente às indemnizações que a empresa pede. “Se a Nam Van ganhar, o Governo vai perder biliões de patacas”, rematou. Pedro Arede com Andreia Sofia Silva info@hojemacau.com.mo

DSEC Taxa de desemprego sobe para 2,4 por cento Há mais 800 pessoas desempregadas em Macau. A taxa de desemprego no território subiu para 2,4 por cento entre Março e Maio de 2020, mais 0,2 por cento relativamente ao período anterior, ou seja, de Fevereiro a Abril de 2020. Em termos anuais, regista-se um aumento de 0,7 por cento, dado que entre Março e Maio de 2019 a taxa de desemprego fixou-se em 1,7 por cento. A informação divulgada no sábado pela Direcção de Serviços de Estatística e Censo (DSEC), revela ainda que a taxa de desemprego dos residentes

se fixou em 3,4 por cento, mais 0,3 por cento em relação ao período transacto. No final de Maio a população desempregada era composta por 9.700 pessoas, ou seja, mais 800 em relativamente ao final de Abril, sendo que destes, 5,1 por cento está à procura do primeiro trabalho. A taxa de subembrego também registou uma subida significativa, abrangendo 10.600 pessoas (2,6 por cento) no final de Maio. Contas feitas, são mais 2.300 pessoas relativamente ao período entre Fevereiro e Abril.


10 eventos

29.6.2020 segunda-feira

O filme de Maxim Bessmertny, que ainda se encontra em fase de produção, passa-se em Ma

IC ESPECTÁCULOS TODOS OS FINS-DE-SEMANA NA ZONA DA BARRA E TAIPA

D

ECORREU no passado sábado, 27, o primeiro de uma série de espectáculos organizados pelo Instituto Cultural (IC) e que vão decorrer todos os fins-de-semana em locais como o Largo do Pagode da Barra, Feira do Carmo e Casas da Taipa. A ideia destes espectáculos é “aumentar os elementos culturais das excursões nas zonas antigas da cidade” e “promover e fortalecer a participação da população no desenvolvimento das artes”, aponta um comunicado. A primeira fase dos “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda nas zonas do Porto Interior e da Taipa” realiza-se até ao dia 19 de Julho. Aos sábados e domingos, sempre no Largo do Pagode da Barra, entre as 17h e 18h, realiza-se um espectáculo com a Orquestra Chinesa de Macau, o Grupo de Dança Miss White, a Orquestra Juvenil Chinesa de Macau, a Sociedade de Música Chinesa Ya Feng, as dançarinas locais U Ka

Ieng, Ho Pui Ieng, Kuong Ian Kei e Pak Cheng Lam, entre outros. Este espectáculo terá danças folclóricas e música chinesa. Na Feira do Carmo e nas Casas da Taipa os eventos acontecem, também aos sábados e domingos, mas entre as 16h e 18h. O público poderá assistir a espectáculos que juntam “a destreza e arte chinesas, bem como ritmos e música de países estrangeiros, tendo como temas a ópera cantonense, o dragão embriagado, danças e canções portuguesas e música macaense”, entre outros estilos musicais. O IC convidou, para os espectáculos na Taipa, a Orquestra de Macau, The Funny Old Tree Theatre Ensemble, a Associação dos Comerciantes de Peixe Fresco de Macau, a Associação de Danças e Cantares Portugueses «Macau no Coração» e os cantores Fabrizio Croce, Gabriel, entre outros. A entrada em todos os eventos é gratuita.

POLÍTICA STONES AMEAÇAM PROCESSAR TRUMP SE USAR MÚSICAS EM COMÍCIOS

O

S Rolling Stones ameaçaram o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com uma acção judicial se continuar a usar as suas músicas em acções de campanha. Num comunicado divulgado pela imprensa norte-americana, os Rolling Stones adiantam que entregaram o assunto aos seus advogados e que estão em contacto com a associação internacional que protege os direitos de autor (BMI) com o objectivo de impedir o uso não autorizado das músicas por Donald Trump. A campanha de Trump usou a canção “You can´t always get what you want” no seu último comício em Tulsa, Oklahoma, e já o tinha feito pela primeira vez em 2016, também num comício. “Esta pode ser a última vez que o Presidente

Donald Trump utiliza canções dos Stones”, refere o comunicado da banda, citado pelo diário ‘Deadline’, especializado em notícias sobre Hollywood e o mundo do entretenimento. “Apesar das indicações de cessação e desistência de Donald Trump no passado, os Rolling Stones decidiram tomar medidas adicionais para impedir a utilização das suas canções no futuro e em todas as suas acções de campanha”, adianta o mesmo comunicado. Esta não é a primeira vez que Trump tem problemas por usar canções nos comícios de forma não autorizada pelos autores. A família de Tom Petty, falecido em 2017, também avisou o Presidente Trump para não usar a música “I won’t back down” no comício de Tulsa.

Os sete fan

IFFAM NOVO FILME DE MAXIM BESSMERTNY NO MERCADO DE FILMES DE CANNES

O novo filme de Maxim Bessmertny, “Foreign Cop Festival Internacional de Cinema de Macau para pa âmbito do Mercado de Filmes de Cannes, que term

E

NTRE os dias 22 e 26 de Junho um filme de Macau foi o escolhido para integrar uma plataforma online que serve de comunicação entre realizadores, produtores e potenciais investidores. A plataforma “Fantastic 7” surgiu no âmbito do Mercado de Filmes de Cannes, para a qual foram seleccionados sete projectos do género fantástico, escolhidos por sete festivais internacionais de cinema.

A direcção do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) escolheu a nova produção de Maxim Bessmertny e Jorge Santos, intitulada “Foreign Cop”. Segundo um comunicado do IFFAM, a obra de Bessmertny e outros seis filmes foram apresentados numa sessão para a procura de investidores a 24 de Junho. Na sexta-feira, realizaram-se reuniões entre membros do júri, profissionais interessados nos projectos e os realizadores das películas.

O filme de Maxim Bessmertny, que ainda se encontra em fase de produção, passa-se em Macau na década de 80. A história passa-se, portanto, num ambiente em que “gangsters, dançarinas de cabaret e slot machines co-existiam numa empolgante atmosfera de luzes néon, arquitectura kitsch e produtos de electrónicos antigos”. Tudo começa quando um investigador privado, Mendonza, chega à cidade vindo de Portugal para “apa-


eventos 11

segunda-feira 29.6.2020

acau na década de 80

Nunca mais é sábado Festival “Hush!!” começa dia 4 nas Oficinas Navais

A

antásticos

S

p”, foi a produção escolhida pela direcção do articipar na iniciativa online “Fantastic 7”, no minou na sexta-feira nhar os ladrões que se atreveram a fazer o maior roubo a um casino de que há memória na cidade, matando brutalmente um leal funcionário do recinto de jogo”.

UM THRILLER “FASCINANTE”

A organização do Mercado de Filmes de Cannes destacou o facto de a curta-metragem de Maxim Bessmertny, intitulada “O Ladrão de Bicicletas”, ter sido seleccionada para o programa de curtas-metragens

do Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2014. “Acreditamos que ‘Foregin Cop’ tem potencial para ser um thriller criminal fascinante”, acrescentam os organizadores. Para a edição deste ano do Mercado de Filmes de Cannes os organizadores prepararam exibições, eventos de mercado e bolsas de contactos. Desta forma, distribuidores de cinema de todo mundo participaram nas reuniões e muitos trabalhos cinematográficos tiveram

uma oportunidade de promoção junto de potenciais investidores. Além do IFFAM, participaram no “Fantastic 7” deste ano o Sitges - Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bucheon, o Festival Internacional de Cinema do Cairo, o Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, o Festival de Cinema “SXSW South by Southwest” e o Festival Internacional de Cinema de Toronto.

edição deste ano do festival de música “Hush!! Concertos de Verão 2020” arranca a 4 de Julho no Centro de Arte Contemporânea de Macau - Oficinas Navais Nº2, espectáculos que se prolongam até ao dia seguinte e regressam nos dias 11 e 12 de Julho. O espectáculo “MV & Eu” inclui cantores que lançaram os seus próprios videoclipes, enquanto que o “Nova Onda Musical” gira em torno dos trabalhos produzidos no âmbito do Programa de Subsídios para a Produção de Álbuns de Música Originais, enquanto o “Duendes Cantores no Teatro - Concerto de Canções de Musicais” parte das composições mais conhecidas do popular género teatral. Alguns dos musicais apresentados são “22.° Latitude Norte”, pela Associação de Representação Teatral Hiu Koc, “Adeus e Vida Moderna dos Peixes”, pela Associação de Teatro Long Fung, “Motorista de Autocarro” pelo Teatro de Lavradores, “Dreamers Go! Go!” pela Associação de Teatro Sonhoso, “Viagem através de Musicais” de Jordan Cheng e “Eu Sou Um Cantor” pelo The Dancer Studio Macau. Os interessados podem registar-se para estes espectáculos a partir das 10h do dia 30 de Junho, sendo que os lugares disponíveis para cada concerto são limitadas, sendo distribuídos por ordem de inscrição. Um total de 50 cantores, bandas e outros artistas farão as suas apresentações em outros locais como a praça do Centro de Ciência de Macau, o Terraço da Ponte 9 e o Largo do Senado.

MÚSICA E CINEMA

O festival tem este ano uma extensão junto ao Centro de Ciência.

A “Hush!! X Feira das Indústrias Criativas”, está marcada para os dias 18 e 19 de Julho entre as 15h e 21h. Neste local apresenta-se “uma variedade de géneros musicais, como jazz, folclore, música electrónica e pop, permitindo ao público desfrutar de música enquanto assiste ao pôr-do-sol”. Além disso, “serão também montadas cerca de 100 tendas durante o evento, vendendo uma variedade de produtos criativos e artesanais locais, petiscos e produtos da marca ‘Hush!’”. No Terraço da Ponte 9 acontece, a 25 de Julho, entre as 18h e as 22h, o “Concerto no Terraço ao Pôr-do-Sol”, onde várias bandas farão apresentações musicais tendo como cenário os pitorescos bairros antigos do Porto Interior e da costa de Wanzai, em Zhuhai. No dia 2 de Agosto, várias bandas locais apresentarão o concerto de música pop “Hot Wave na Cidade”, no Largo do Senado. Neste concerto participam bandas, músicos e djs como Single Path, Rebel Rabbit, Amulets, FIDA, Kenny Chit, Gracy Lam, Germano Ku, Sean Pang, B_Gei3, Forget the G, Blademark, Flashlight, GAG TOO MORE, Soulomix, Covenant, Peach Punk, João Jazzin’ Samba, SKETCH, Dr. Jen, Hoi Hou Hong, Loiz.P, Hon Chong Chan Jazz Trio, HERBS, Iron Son, 80 e tal, # FFFF99 Champagne Yellow, Achun, Dat Trio, A Little Salt, Why Oceans, akitsugu fukushima, Burnie, Avidya, Chapter 2, Free Yoga Mats, Scamper, Ariclan e LAVY. A edição deste ano do “Hush!!” Inclui ainda o concurso de curtas-metragens “Hush!! 300 Segundos”, com inscrições abertas até ao dia 27 de Julho.


12 china

29.6.2020 segunda-feira

Digno do grande ecrã

Pequim envia lutadores de artes marciais e alpinistas para fronteira com a Índia

A

O vale da discórdia

HIMALAIAS IMAGENS DE SATÉLITE MOSTRAM ACTIVIDADE NA FRONTEIRA COM A ÍNDIA

Imagens de satélite divulgadas esta semana mostram actividades de construção em curso numa fronteira disputada pela Índia e China, uma semana após um oficial e 19 soldados indianos terem morrido num confronto naquela zona, segundo perito

D

E acordo com a agência Associated Press (AP), imagens divulgadas esta semana pela Maxar, empresa norte-americana de imagens de satélite, mostram novas actividades de construção no alto das montanhas Karakoram, ao longo do vale do rio Galwan, depois de diplomatas chineses e indianos terem garantido que os dois lados concordaram em desmobilizar. Segundo peritos ouvidos pela AP, as imagens indicam que a Índia terá construído um muro no seu lado da fronteira, enquanto a China terá expandido um acampamento no final de uma longa estrada ligada a bases militares chinesas. As movimentações surgem na sequência do pior confronto entre os gigantes asiáticos desde 1962, por causa das suas reivindicações naquela região fronteiriça. O incidente, que ocorreu em 15 de Junho no vale de Galwan, no oeste dos Himalaias, deixou 20 militares indianos mortos e 76 feridos num embate com pedras e paus, sem armas de fogo. A China não confirmou se houve baixas entre as suas fileiras. Os dois lados concordaram em construir postos de observação em ambos os lados da

foz do rio Galwan, disse o embaixador da China na Índia, Sun Weidong, à agência de notícias Press Trust of India, na terça-feira. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Anurag Srivastava, disse que “ambas as partes concordaram em respeitar a Linha de Controlo Real (LAC) e não empreender qualquer actividade para alterar o ‘status quo’”, não se pronunciando sobre se tinham concordado com a construção de postos de observação.

DEDOS APONTADOS

A Índia e a China culparam-se mutuamente pelo confronto e fizeram novas reivindicações sobre a área. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, disse na quarta-feira que o confronto ocorreu do lado da China da chamada Linha de Controlo Real, acusando as forças indianas de entrarem ilegalmente em território chinês. Mas Srivastava disse na quinta-feira que tinha sido a China a provocar o confronto, quando os seus soldados “procuraram erguer estruturas em toda a LAC” do lado indiano, tendo os soldados indianos abortado essas tentativas.

Uma sequência de imagens da Maxar da curva do rio onde o confronto ocorreu, nas semanas antes e depois do confronto, indica que a construção a partir de bases chinesas se tinha expandido em direção à Linha de Controlo Actual, disse à AP o vice-presidente da empresa, Steve Wood. Segundo a mesma fonte, desde 22 de Maio que as imagens de satélite mostram “coluna após coluna de camiões pesados, escavadoras, bulldozers e algum equipamento militar blindado” a descer o Vale de Galwan em direcção à fronteira disputada. Antes e depois do confronto fatal, a China estava

As imagens indicam que a Índia terá construído um muro no seu lado da fronteira, enquanto a China terá expandido um acampamento no final de uma longa estrada ligada a bases militares chinesas

a transportar equipamento de construção, soldados e equipamento militar para a LAC, disse Chris Biggers, analista sénior da empresa de inteligência geoespacial HawkEye 360. “Os chineses estavam obviamente a avançar (...) para o que consideram a sua linha de reivindicação. Construíram agora um posto e um caminho reforçando a sua reivindicação, mudando assim o ‘status quo’ na área”, disse.

ZONA DE IMPACTO

Nesse ponto, o rio Galwan curva no sentido oeste em direcção a uma rota de abastecimento estratégica para um campo de aviação importante da Índia. Biggers disse que as imagens de satélite indicam que a Índia construiu um muro em pedra em frente ao novo posto chinês, com um conjunto de barreiras cobertas por redes de camuflagem e lonas que “poderiam também funcionar como posições de combate”. “Vemos também bastante actividade na estrada, com camiões a deslocar-se em ambas as direcções, bem como tropas a marchar em formação ao longo do novo caminho”, acrescentou.

China reforçou as suas tropas junto à fronteira com a Índia com alpinistas e lutadores de artes marciais mistas, pouco tempo após um confronto mortal em meados de Junho, segundo os meios de comunicação estatais. Em meados de Junho, as tropas dos dois gigantes asiáticos envolveram-se em violentos confrontos, no vale de Galwan, no oeste dos Himalaias, que resultaram na morte de 20 militares indianos. A China não confirmou se houve baixas entre as suas fileiras, em resultado daquele que foi o pior confronto entre os gigantes asiáticos desde 1962. Segundo o jornal chinês Diário da Defesa, um jornal militar oficial, cinco novas divisões da milícia, incluindo lutadores de artes marciais mistas e alpinistas que participaram na equipa que transportou a Tocha Olímpica ao topo do Everest, foram apresentados em 15 de Junho durante uma inspecção oficial em Lhasa. O canal de televisão nacional CCTV divulgou imagens de centenas de soldados em formatura na capital do Tibete, na região próxima da fronteira com a Índia. O envio das milícias, incluindo os elementos de artes marciais mistas, “vai melhorar muito a organização e a força de mobilização” das tropas bem como a sua “velocidade de resposta”, referiu Wang Haijiang, comandante da zona regional militar, citado pelo jornal. Os milicianos foram recrutados para “fortalecer a fronteira”, sublinha o Jornal Diário da Defesa num artigo publicado na semana passada na rede social WeChat, segundo avança a agência France-Presse. O jornal não estabelece nenhuma relação directa entre este reforço de presença junto à fronteira e as tensões com a Índia.

SALGANHADA NOS HIMALAIAS

Na quinta-feira, a Índia anunciou que intensificou o envio de tropas para a região. A China reivindica cerca de 90.000 quilómetros quadrados de território no nordeste da Índia. A Índia diz que a China ocupa 38.000 quilómetros quadrados de território no planalto de Aksai Chin, na região dos Himalaias, uma parte contígua da região de Ladakh. A Índia declarou unilateralmente Ladakh um território federal em Agosto de 2019. A China foi dos poucos países a condenar fortemente a medida, referindo-a em fóruns internacionais, incluindo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A ONU instou os dois lados a “exercerem máxima contenção”.


china 13

segunda-feira 29.6.2020

Uma sede infinita

MAR DO SUL DA CHINA SUDESTE ASIÁTICO MARCA POSIÇÃO CONTRA PEQUIM

Os líderes do sudeste asiático alertaram no sábado que o tratado dos oceanos da ONU deve ser a base dos direitos soberanos no Mar do Sul da China, numa das mais fortes reacções de oposição às reivindicações marítimas chinesas

S

EGUNDO noticia a agência AP, os líderes das dez nações que compõem a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) tornaram pública a sua posição numa declaração emitida no sábado pelo Vietname. A ASEAN realizou a sua reunião anual por videoconferência na sexta-feira, com a pandemia de covid-19 e as disputas territoriais de longa duração a serem os principais temas discutidos pelos líderes. “Reafirmamos que o tratado da ONU de 1982 é a base para determinar os direitos marítimos, soberanos, de jurisdição e de interesses legítimos sobre zonas marítimas”, realça o comunicado.Os líderes do sudeste asiático referiam-se à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, um acordo internacional de 1982 que define os direitos das nações nos oceanos do mundo e demarca espaços, nas chamadas zonas económicas exclusivas, onde os estados costeiros têm o direito de explorar exclusivamente a pesca ou recursos de combustível.

O comunicado destaca que esse tratado “estabelece o quadro jurídico dentro do qual todas as atividades nos oceanos e mares devem ser realizadas”. Três diplomatas do sudeste asiático revelaram à agência AP que a posição tomada marcou um fortalecimento significativo da afirmação do bloco de direito regional e do estado de direito,

“Reafirmamos que o tratado da ONU de 1982 é a base para determinar os direitos marítimos, soberanos, de jurisdição e de interesses legítimos sobre zonas marítimas.” ASEAN

numa região que há muito tempo é considerada um ponto de inflamação asiático. As fontes falaram sob condição de anonimato devido à falta de autorização para falar publicamente.

CRÍTICAS DE HANÓI

Como líder da ASEAN este ano, o Vietname supervisionou a redacção da “declaração do presidente”. Aquele país tem sido um dos críticos mais expressivos das acções da China naquele importante corredor do Pacífico. Nos últimos anos, os chineses têm tomado medidas mais agressivas para reivindicar aquelas águas estratégicas. Em Julho de 2016 um tribunal de arbitragem internacional invalidou as reivindicações históricas da China com base no tratado da ONU, decisão que foi rejeitada por Pequim após ter recusado participar no caso.

COVID-19 CONFINADAS 1,5 MILHÕES DE PESSOAS PERTO DE PEQUIM

A

China confinou ontem cerca de um milhão e meio de pessoas numa zona próxima da capital, Pequim, atingida por um novo surto de infecções de covid-19, que as autoridades ainda descrevem com “sério e complexo”. O país tinha conseguido conter a evolução dos contágios pelo novo coronavírus, mas a deteção de mais de 300 novos casos na cidade em pouco mais de duas semanas alimentou receios de uma segunda vaga de contaminações. As autoridades locais lançaram, entretanto, uma vasta campanha de testes, encerraram escolas, pediram aos habitantes de Pequim que fiquem na cidade, evitando deslocações para fora da capital, e confinaram vários milhares de pessoas em áreas residenciais consideradas de maior risco de contágio. Ontem, segundo a agência France-Presse, as autoridades lo-

cais anunciaram o confinamento do cantão de Anxin, localizado a cerca de 60 quilómetros a sul da capital, na província de Hebei, onde foram detectados onze casos relacionado com o surto registado em Pequim. As indicações são de que apenas uma pessoa por família poderá sair uma vez por dia para comprar alimentos ou medicamentos. O ministério da Saúde adiantou que a China diagnosticou 17 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, incluindo 14 em Pequim. Todos os casos em Pequim são de contágio local. Os restantes três são oriundos do exterior e foram diagnosticados em diferentes partes do país. A Comissão de Saúde da China não relatou novas mortes em todo o país. O número de casos activos fixou-se em 415, entre os quais oito em estado grave.

OMS GUTERRES NEGA AJUDAS PARA ESCONDER REALIDADE DA COVID-19

O

secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acredita que, ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) possa ter cometido alguns erros no início da pandemia, não tentou ajudar a China a “esconder a realidade”. Numa entrevista publicada no jornal ‘El País’, António Guterres refere estar convencido de que, em algum momento, terá de se investigar a origem da pandemia de covid-19, a forma como se espalhou tão rapidamente e como a OMS, os países e outras entidades responderam. “Mas o que posso dizer é que conheço as pessoas da OMS e elas não estão a ser controladas por nenhum país. Actuaram sempre de boa-fé para obter a melhor cooperação possível dos Estados membros”, refere o secretário-geral da ONU.António Guterres admite que podem ter

acontecido alguns erros, mas afirma não acreditar que a OMS tenha tentado ajudar a China a esconder a realidade. “Acho que a Organização queria ter um bom relacionamento com a China no início da pandemia. Queria garantir que a China cooperava”, realça. Nesta entrevista, António Guterres destaca que “a relação entre Estados Unidos, China e Rússia está mais disfuncional do que nunca” e confere à UE um papel vital para evitar uma ordem mundial dominada por Washington e Pequim. “Precisamos de uma liderança global, porque se assim não for, não podemos responder de forma efectiva a desafios como os de uma pandemia. Mas infelizmente, onde há poder, não há liderança, e onde há liderança, falta poder”, assinala ainda nesta entrevista o secretário-geral da ONU.

HONG KONG POLÍCIA PROÍBE MANIFESTAÇÃO DE 1 DE JULHO DEVIDO A AGITAÇÃO SOCIAL E COVID-19

A

S autoridades de Hong Kong invocaram no sábado "a persistente agitação social" no território para proibir a realização da manifestação pró-democracia do 1 de Julho, que assinala a devolução pelos ingleses à China da região administrativa especial. "A Polícia de Hong Kong estudou os

riscos e acredita que alguns participantes na assembleia e na marcha pública podiam abandonar o percurso autorizado e vandalizar edifícios", informou, na sua página do Facebook, a Frente Civil dos Direitos Humanos (FCDH), grupo pró-democracia que organiza a manifestação. É a primeira vez nos últimos

17 anos que a manifestação é proibida pelas autoridades, que invocaram episódios recentes de violência neste tipo de protestos. Por outro lado, a Polícia de Hong Kong, em carta dirigida à FCDH, avisa que a manifestação violaria as regras impostas por Pequim de contenção da pandemia

covid-19, que impedem a reunião em espaços públicos de mais de 50 pessoas. As autoridades policiais acrescentam ainda que a FCDH "não tem capacidade" para controlar eventuais actos de violência praticados por manifestantes. "É de admitir que esses actos de violência iriam ameaçar a segurança

de outros participantes, cidadãos, jornalistas e agentes de polícia", referem. A Polícia de Hong Kong já tinha usado argumentos semelhantes para proibir, pela primeira vez nos últimos 30 anos, a vigília anual que assinala o massacre de Tiananmen. Muita gente, no entanto, acabou por não aca-

tar estas ordens, não se tendo verificado actos de violência ou outros incidentes. Carrie Lam tem negado sistematicamente que existam motivações políticas por detrás destas proibições, invocando a necessidade de manter as regras de distanciamento social por causa da covid-19.


14

h

29.6.2020 segunda-feira

Ali castiguei numa flor a insolência da Natureza

O que o estranho Muqi mostrou a estrangeiros Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

Q

IU Zhu, cuja obra floresceu entre os anos de 1565-1585, recebeu o nome Zhu (pérola) que se pronuncia como ju, «crisântemo», a flor da longa duração venerada no Japão, é autora de uma impressionante figura do bodhisattva Guanyin mas essa irrupção de um ser de luz foi, na história da pintura, objecto de uma persistente demanda. Uma dessas figurações (rolo vertical, tinta e cor sobre seda, 174,2 x 98,8 cm, Daitokuji, Quioto) foi feita por um monge pintor que no início os literatos, que dominaram a narrativa histórica, preferiram ignorar mas que teve um culto imediato, assim que as suas obras foram conhecidas no Japão. Parece que ninguém se lembrava do nome desse homem estranho, pelo que deduzindo de informações escritas nas próprias pinturas, ficou conhecido pelo nome artístico Muqi (1210?-1269?) ou pela sua designação como monge, Fachang. E também é incerto o lugar do seu nascimento: era de Kaifeng no Hunan, ou da Província de Sichuan, como está escrito numa sua pintura? Sabe-se porém que viveu no templo Liutong, nas colinas a Ocidente de Lin An (actual Hangzhou) a capital dos Song do Sul situada diante do Lago do Oeste. As suas pinturas distinguem-se algumas pelo seu aspecto, reconhecível pela afinidade imediata com a doutrina do «súbito despertar», professada pelo Budismo Chan mas outras também por figurar personalidades que actuam na História como heróis cul-

turais ou ainda lugares significativos da mitologia identitária. Acolhida no Japão, a sua arte fascinante fará parte da subtil influência externa da cultura dos wenrenhua para lá das fronteiras do Império. Ashikaga Yoshimitsu (1356-1408), o shogun que seria sacerdote budista com o nome de Doyu gravou o seu selo de colecionador no «Retrato de Laozi» (rolo vertical a tinta sobre papel, 88,9 x 33.5 cm) atribuído a Muqi, que retrata o sábio com exageradas feições, desproporcionadas como as de um estrangeiro. Mas também se vê o seu carimbo na pintura de paisagem «Velas que regressam de praias distantes», uma das «Oito vistas de Xiaoxiang», pintura que depois dele, como comprova o carimbo nela aposto, pertenceria ao grande unificador do Japão, Oda Nobunaga (1534-82). Eram orgulhosos sinais de domínio de uma tradição que nessa pintura evoca uma área em volta do lago Dongting em Hunan, que ultrapassara o espaço de um lugar físico para se tornar uma ideia poética, nome para a expressão de vários descontentamentos. Uma curiosa lenda em torno do nome de Muqi é reveladora de uma desmedida admiração: diz-se que o pintor Japonês Mokuan Reie (séc. 13, Japão?- 1343,China?) tendo viajado até ao mosteiro onde ele viveu em Hangzhou aí terá obtido dois carimbos originais de Muqi. Circulariam assim, atribuídas a ele, obras que não saíram do seu pincel. Modo singular de mostrar como finalmente era relevante o conhecimento do seu nome.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

segunda-feira 29.6.2020

M

ACAU era administrada e governada por o Senado, eleito entre os homens bons da cidade, até aparecer em 1623 um Governador permanente, nomeado pelo Vice-Rei da Índia em nome do Rei de Portugal. Com funções de Capitão de Guerra apenas tinha o comando militar na defesa da cidade e ao Senado cabia a administração civil, comercial e financeira, sendo o Procurador o seu tesoureiro. A este competia gerir também o cofre pertencente à Coroa, que por ano recebia um quinto do rendimento do território, destinado desde 1714 ao pagamento dos gastos civis, militares e eclesiásticos. Quando o Vice-rei da Índia em 1738 quis reformar as finanças libertou o Procurador desse encargo, substituindo-o por um outro da vereação do Senado, com o dever de prestar contas anuais a Goa. A razão do Procurador deixar de ser tesoureiro do Senado deveu-se ao excessivo abarcamento de funções, o que não beneficiava a causa pública, antes contribuía grandemente para as más consequências que de tão imperfeito regime por longo tempo resultaram. Com o tso-tang a viver em Macau desde 1736, “O concurso das autoridades chinesas a governarem connosco a mesma cidade tornava sobremodo melindrosas e difíceis as nossas relações com o império vizinho, da boa direcção das quais dependia unicamente, se pode dizer, a manutenção dos nossos direitos, em razão da enorme distância da metrópole. Viu-se ainda que ao Procurador competia ser ministro da cidade nas multiplicadas negociações desse dificultoso trato, mas a acumulação de deveres, ou inconciliável exigência das circunstâncias que se davam, ou fácil carência de política definida e igual em cidadãos que, devendo o cargo a uma eleição de curto prazo, mais se prendiam a interesses alheios;” um esforço de sobre-humana ubiquidade, segundo o B.O..

GOA SEM AS CONTAS DE MACAU

As providências reais enviadas para Macau em 1783 pela Rainha D. Maria I retiravam ao Senado o governo e ampliavam a autoridade ao Governador, o verdadeiro representante do poder central nos assuntos político-administrativos da Cidade. Acusava o Senado de ignorância em matéria de governo e obrigava-o a não tomar nenhuma resolução administrativa, nem determinar coisa alguma sobre negócios relativos aos chineses, nem

Os poderes do Senado para o Governador THE OPIUM SHIPS AT LINTIN IN CHINA, JOHN GOVER

José Simões Morais

portuguesa de onde seguia

seria dado um golpe mortal no comércio e navegação da colónia, nos quais o dinheiro estava investido. Dadas as circunstâncias, o príncipe regente informou o Senado, numa carta datada de 1799, que a dívida à rainha, no valor de 291.193 taéis, tinha sido perdoada”, segundo Montalto de Jesus. Andrew Ljungstedt refere, “Em 1784 para fazer face às despesas da cidade (o dinheiro público era empregado para pagamento de salários e despesas extraordinárias) precisava-se de 35 mil taéis de prata e o excedente do rendimento era dado em empréstimos com risco de mar, de modo que o capital nacional em circulação crescia de ano para ano. Em 1802 cresceu a 173.690 taéis. Em 1809, foram emprestados a juro de risco de mar, de 20 a 25%, 159.400 taéis. [Com aprovação real de 1810 foi criada em 1817 a Casa de Seguros de Macau, onde o Senado tinha acções.] Em 1817 já não foram dados em empréstimos mais do que 40.400 taéis e as despesas ordinárias e extraordinárias subiram a quase 80 mil taéis. Em 1826 a cidade tinha uma dívida de mais de 122 mil taéis. Em 1830, as alfândegas renderam 69.183 taéis, mas as despesas foram de 109.451 taéis. A dívida pública de Macau em 1832 era de 150 mil taéis e em 31 de Dezembro de 1834 subia a 165.134.688 taéis. Nesse ano os rendimentos procedentes das alfândegas eram 75.283.613 taéis, sendo as despesas totais de 89.900.686 de taéis.” (1 tael de prata correspondia a 37,72 gramas).

em barcos portugueses para

MERCADORIA PROIBIDA

pertencentes à Fazenda Real, sem antes apresentarem o assunto ao Governador, o Capitão Geral de Macau. Tal se devia à recusa desde 1738 do Senado apresentar contas anuais a Goa e por isso, nas providências vinha determinado que as contas seriam examinadas pelo Governador e pelo Ouvidor. Era Governador de Macau desde 18 de Agosto de 1783 Bernardo de Lemos e Faria quando o Ouvidor Lázaro da Silva Ferreira examinou os livros do cofre real e encontrou “um défice de 320 mil taéis, devido, conjecturou ele, à aceitação de fiadores fraudulentos e insolventes para os fundos da hipoteca de carga – parentes, amigos e protectores que, no poder, não fizeram caso do pagamento e acumularam dívidas, sendo que muitos devedores estavam mortos ou insolventes. Tivesse-se exigido o reembolso aos cidadãos honestos, que eram os fiadores,

“Um quarto desse ópio [produzido em Malwa] continuou a seguir a rota tradicional, isto é, transportado em primeiro lugar para uma colónia

a China, e essa parte de ópio não deixava de passar por Macau.” Guo Weidong

A China proibia pela primeira vez em 1796 a importação de ópio, ilegalizado desde 1729, endurecendo mais ainda as medidas. Para conseguir a prata afim de adquirir mercadorias (chá, seda, porcelana),

sem as poder transaccionar na China por ópio, a Companhia Inglesa das Índias Orientais decidiu então, segundo Guo Weidong, “limitar-se à produção da droga na Índia. Enquanto isso, comerciantes ingleses independentes continuavam suas operações comerciais de ópio sob o controlo de Macau”, onde montaram o centro para o seu comércio, com a participação de portugueses. Mesmo governadores de Macau, das duas últimas décadas do século XVIII, investiram por conta própria nesse tráfico. Em 1820, os traficantes ingleses estavam na ilha de Lin Tin, local seguro e de fácil acesso, e tal era o volume recebido que, “grandes barcos encontravam-se ancorados no Mar Lingdingyang para receber ópio por atacado e numerosos juncos chegavam ao mesmo Mar, de onde partiam carregados de ópio para o vender nas diversas províncias litorais da China”, segundo Guo Weidong, que refere, em 1837 “Três quartos do ópio produzido em Malwa foram exportados directamente de Bombaim por barcos ingleses, tendo o governo colonial da Índia Inglesa cobrado 125 rupias por caixa como imposto de exportação. E um quarto desse ópio continuou a seguir a rota tradicional, isto é, transportado em primeiro lugar para uma colónia portuguesa de onde seguia em barcos portugueses para a China, e essa parte de ópio não deixava de passar por Macau.”

NOVO FOLGO

A 5 de Janeiro de 1822 Macau aderia à Monarquia Constitucional e um mês depois apareceu uma Representação a advogar uma Câmara eleita pelo povo. O sufrágio popular ocorreu a 19 de Agosto numa assembleia-geral reunida no Senado e presidida pelo Governador José Osório de Albuquerque, sendo eleitos os membros do novo governo constitucional: dois juízes com exercício de Ouvidor, três vereadores e um procurador. No dia seguinte, o vereador Presidente da eleita Comissão liberal pediu ao governador que resignasse, ficando o Brigadeiro Francisco de Melo como governador de armas. Estavam assim restaurados os poderes legislativos, executivos e judiciais do Senado, retirados nas Provisões de 1783, quando foram centrados no Governador e Ouvidor. A 23 de Setembro de 1823, os conservadores, com a ajuda dos militares vindos de Goa, retomavam o governo, mas só com a reforma de 1834 o Governador ganhou verdadeira autoridade civil em Macau.


16 publicidade

29.6.2020 segunda-feira


h

segunda-feira 29.6.2020

Cartografias Anabela Canas

N

AS equações matemáticas a incógnita é X. Nele, ele próprio. Z. Um diminutivo de infância que lhe ficou. A recobrir o conteúdo secreto, de anonimato e ausência. Quem quer falar da morte? A tristeza tem que sair, suada pelos poros, ou afoga-me. Faço-lhe companhia nestas palavras como noutras alturas, noutras distâncias menores. Uniram-nos laços de sangue e de estranheza. Dão-nos os pêsames e os sentimentos, mas há um mundo de questões que se abriu desta caixa de Pandora e fica a atormentar. Porque também vamos morrer sós e sem ninguém saber por uns dias, uns anos. Faleceu hoje. De manhã. É verdade. Foi hoje, há três dias. Mas a data pode ser uma mentira. As pessoas morrem quando sabem que morreram ou morrem-nos quando o sabemos. E que sabemos nós? Que nos morrem em vida, ou se nos deixam morrer como às vezes vivem para lá do momento em que nos deixaram sem nos deixar saber. Como se fosse hoje, mas passaram dois anos. Extraviado. Morre-se quando se sabe que morreu. Não sei o que ele soube. Nós, só agora. Com esta mágoa acrescida da tristeza de não o ter sabido antes. Mesmo se assim, parece que viveu um pouco mais até ao veredicto do olhar. Foi uma estrela pop. Uma fantasia com que em jovem sonhou gostar de ser lembrado. Uma estrela desconhecida, dos anos sessenta e setenta. Mas que importa se, pensando bem, nunca alguém conhece ninguém. E tornou-se irreconhecível. Como somos até para nós próprios, em dados momentos. Ensaios à capela à porta fechada. Vagos espectáculos. Vinis vindos de França. Sonhos. Era uma fotografia a preto e branco nas revistas cor-de-rosa que me mostrava. Lembro-me. Fotografia de estúdio, de corpo inteiro, casaco ao ombro e pose de charme contemplativo. Ou de rosto, em formato de postal. Autografadas na diagonal com uma assinatura grande e expressiva. Que se foi apagando com o tempo. E como cromos das cadernetas de estrelas de cinema, em cores artificiais e contrastante e que eu espiava em segredo. Eram bonitas. As estrelas a pousar oblíquas para a câmara, de penteados

Z. rigorosos em ondas. Que coisa, sonhar com a fama. Morreu só. E só dois anos depois, soubemos. Deixamos as pessoas morrer sós porque as deixámos viver sós. Sem querer. Ou porque o quiseram ou porque fomos nós. Tinha vocações várias, cursos. Que dariam para tudo e não deram para nada. Era considerado estranho. Porque

interior. Engolido pelo interior da cabeça e por uma espécie de visibilidade que realmente se esfumava. Os lugares de Z. – todas as casas – deram-me sempre que pensar. Conjuntos de quartos tornados interiores. Janelas fechadas, paredes a perderem-se atrás de camadas de mobiliário, sobrepostas em altura e longitude, no sentido de um centro. A ocupação compulsiva do espaço até ao preenchimento total. Sempre a compará-lo com o conceptualismo da Land art, penso em Walter de Maria, nas “Earth room”, salas cobertas de uma terra limpa e uniforme, inóspita e perfeitamente estéril. E depois penso no interior das casas

cada um acha a estranheza do outro sempre mais estranha do que a sua. Tinha uma vida estranha. Passou mal mas deixou bens. Suprema ironia. Talvez sentisse essa vontade de deixar algo de si. Mas deixou também o que foi e muito que não foi e se lhe adivinhava sonho. Para além disso um rasto de invisibilidade para além dos afectos que o lembrem. Essa insignificância, imputada ao que fez ou não fez, porque sem reconhecimento. Ele a perder-se nuns casacos, cada vez mais, grandes demais. Porque era também o corpo a sumir-se-lhes no

de Z. progressivamente tornadas inóspitas pela acumulação. Penso nas instalações de De Maria, com elementos minimais de geometria perfeita, volumes ou planos, organização rigorosa de formas rectilíneas dispostas no chão. Sempre no limite do essencial. O conceito de caminho e o de lugar O paralelismo perfeito sem pontes. Talvez a apontar ao infinito transposto para o interior de espaços. E em Z. o excesso. Ou Richard Long. Outra apropriação do espaço com instalação de coisas da terra meticulosamente ordenadas. Sinais

Quem quer falar da morte? A tristeza tem que sair, suada pelos poros, ou afoga-me. Faço-lhe companhia nestas palavras como noutras alturas, noutras distâncias menores

17

repetitivos e orientados como caminhos ou como pontos focais do universo vindo do exterior ou, se no exterior, o ordenamento no rigor do que de origem natural, não o possui à partida. Ordem e sentido. E Z. vive também a apropriação do espaço interior, ocupado com objectos anódinos, materiais que acusam um critério de irrelevância essencial. Sacos, folhetos publicitários empilhados numa organização impecável, a ocupar todos os lugares do corpo, de sentar de comer de andar. Uma invasão obsessiva de todo o espaço útil da casa, como uma envolvência uterina. Ou uma fronteira onde estranhos passam a ser todos, por falta de lugar. Era recolector-colecionador, com um critério exclusivo de inutilidade, cumprido em cada objecto danificado e incompleto. Quase reduzido a matéria ferida de vida anterior. Eram esses os que levava para casa. Como animais doentes. Se Long introduz o conceito do próprio processo como obra de arte, também aí caminha Z. E um dia, sacos de plástico de supermercado, dezenas. Lívidos, impecáveis, alinhados no chão e esticados na vertical, com pequenos conteúdos indecifráveis. Talvez víveres como na preparação de um cerco. Ou de um mergulho na ausência. A ocupar todo o chão. Seriam pacotes de leite, conservas, bolachas. Nunca espreitei mas é o que imagino. O cúmulo de uma necessidade íntima, de um anseio, psíquico, mágico. Talvez por isso nunca se saberá um objecto de arte. Tudo vai desaparecer como lixo de volta ao lixo. Uma instalação honesta, esta. A obra que não se destinou ao olhar. Veemente, necessária e imperativa. O meu padrinho. De invisível estrela pop ao desconhecido conceptual. Uma anónima pegada na vida, que nem na morte se anunciou. Porque morreu sem me dizer? Falámos, pouco antes, mas depois fechou as portas como sempre. Nunca sabíamos dele senão quando queria. Agora, sabemos para onde foi. Mas não de onde. No lapso enorme entre uma morte e a outra. Se casa é o interior da cabeça virado do avesso, vamos agora entrar-lhe pelo secreto conteúdo de uma e outra adentro. Como de uma “showroom”. Uma viagem penosa. Face à morte de uma personagem do teatro de vida, a vida, ela própria passa a fazer-nos girar numa órbita diferente. Subtilmente diferente. Desviada. A verdade é que morreu exactamente como uma estrela. Uma presença no firmamento de quem o lembrava, muito depois de, sem se saber, já lá não estar afinal.


18 (f)utilidades TEMPO

MUITO

29.6.2020 segunda-feira

NUBLADO

MIN

27

25

26

7 6 4 1

2

3 2 1 7 6 3 1 7 4

7 4

2

4

5 1 3 6 4 7 2

28 6

6 7 2 2 3 1 4 5 3

3 2

1 2

7

3 4 6 5 7 2 1 4

7 2 4 1 5 6 3 7

ONWARD [B] FALADO EM CANTONÊS Um filme de: Dan Scanlon 14.30, 16.30, 19.30

28

31

SALA 3

5

2 7 5

8.95

conhecimentos de agricultura e artes marciais. A intensidade dos estudos levou o agora mestre a mudar-se para Iga, o berço deste tipo de guerreiros mitificados na

BAHT

0.25

YUAN

1.12

cultura pop, e a cultivar arroz e vegetais. Reza a lenda que os ninjas se dedicavam à agricultura de manhã e ao estudo das artes marciais à tarde.

7

UMA SÉRIE HOJE

7 1 6 5

Um filme de: Nisha Ganatra Com: Dakota Johnson, Tracee Ellis Ross, Kevin Harrison Jr. 14.30, 17.00, 19.15, 21.30

1

1

EURO

1 3

THE HIGH NOTE [B]

6

3

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Tomohisa Taguchi 21.30

5

4

Com: Lily Collins, Simon Pegg, Connie Nielsen 14.30, 21.30

FUKUSHIMA [B]

DIGIMON ADVENTURE LAST EVOLUTION KIZUNA [A]

Um filme de: Vaughn Stein

2 3 5 6 7 7 6 1 2 4

70-95%

C I N E M A

SALA 1

INHERITANCE [C]

6

1 5 7 4 3 2 5 3 6

Cineteatro

SALA 2

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 26

4 6 29 1 2 3 1 5 7 5

PROBLEMA 27

5

7

HUM

5 6

1 2

S U D O K U 27 1 2 5 4

33

Genichi Mitsuhashi é o primeiro estudante graduado numa universidade japonesa no mestrad de Estudos Ninja. Os estudos de Geniche combinaram pesquisa histórica,

DE PUPILO A MESTRE

26

MAX

2

3 3 7

Esta série documental disponível no Netflix põe a nu as duas camadas do sistema judicial norte-americano: a justiça para o povo e para os ultra-ricos e conectados politicamente. “Jeffrey Epstein: Filthy Rich” é um exemplo da imundice moral de Wall Street e da classe imune à justiça, focado em Epstein, um charlatão da alta finança que abusou sexualmente de um número incontável de menores. O documentário mostra contactos próximos com membros da realeza 32britânica, Bill Clinton e Donald Trump. Epstein acabaria por se suicidar na prisão, antes de testemunhar e revelar nomes de quem partilhou a rede de tráfico de menores que controlou. João Luz

JEFFREY EPSTEIN: FILTHY RICH | LISA BRYANT

3

7

7 2 3 4 1 6 5 3 4 5 1 2 7 6 3 1 6 7 2 5 4 2 1 7 4 3 6 5 1 5 30 4 2 7 3INHERITANCE 6 1 5 6 3 4 2 7 6 6 2 1 7 5 4 3 6 7 5 33 4 22 1 Propriedade de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 2 3 1 Colaboradores 64 5Fábrica 43 7 4 3 2 6 7 5 1 Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 5 4 25 Miranda; 1 Paulo 6 Maia7e Carmo;3Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho 5 Cabral; 7 Rui3Cascais;2Rui Filipe6Torres; Sérgio 1 Fonseca; 4 Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. Macau; Lusa;4 hojemacau. 4 6 76 Morada 5 Calçada 3GCS;deXinhua 1 Secretária 2 deredacçãoePublicidade 7 Madalena 6 daSilva 4 (publicidade@hojemacau.com.mo) 5 1 3 2AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfare com.mo Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 1 5 3 33 34


opinião 19

segunda-feira 29.6.2020

JOÃO SERRAS PEREIRA

´

carta ao director

O SUCESSOR R

ECENTEMENTE tomei conhecimento de várias entrevistas do padre Peter Stilwell a órgãos de comunicação de Macau, assinalando o fim dos seus dois mandatos enquanto reitor da Universidade de São José (USJ). O essencial das suas declarações deixou-me perplexo, por razões que já adiantarei, e daí decidir rabiscar estas notas. Para que seja clara a minha antiga ligação à USJ, devo dizer que lá fui professor de 2010 a 2013, tendo sido testemunha da mudança de liderança da universidade. A minha ligação terminou, por ter sido despedido pelo padre Stilwell. Como é assunto que não vem ao caso, não refiro as circunstâncias. Apenas digo que nenhum mau sentimento guardo e porque gosto da USJ torcerei sempre pelo seu sucesso. Porque estas palavras, então? A primeira coisa que me chocou nas referidas entrevistas, foi a deselegância com que tratou o seu antecessor. Nem do seu nome se lembra, repetindo a palavra antecessor. Mas, há mais. A falta de solidariedade institucional foi ainda mais longe ao dizer que quando chegou à USJ não tinha dinheiro para pagar salários (é verdade, porém que numa entrevista não tinha dinheiro para os salários de Maio e numa outra eram os salários de Junho que estavam em risco). Ora, o que me espantou nestas declarações é que me lembro de ter visto o último relatório de contas da gestão do antecessor e, devidamente, auditado. Sim, auditado. Esse relatório espelhava a sã situação financeira da USJ e com substanciais lucros no período abrangido. Que se passa aqui? Não sei se são motivos de vã glória dando lustro a um reitor que teria, assim, sido o salvador de uma moribunda universidade; não sei se esquecimento (numa entrevista diz que não se lembra muito bem); não sei se qualquer outo motivo que me escapa. Pela minha lógica racional, prefiro valorizar um documento objectivo, não elaborado pelo antecessor e devidamente auditado. O padre Stilwell aponta com rigor, reconheço, os pontos fortes da universidade. Desde logo, o seu cosmopolitismo. De facto, é verdade que é um privilégio para alunos e professores pertencerem a uma universidade plena de tantas nacionalidades. Uma riqueza inestimável para uma instituição académica. Mas eu, ao contrário do padre Stilwell, lembro-me que essa mais-valia tem um nome. Chama-se Ruben de Freitas Cabral. De um pequeníssimo instituto fez uma universidade onde gente de todo o mundo se entrecuzava fazendo gabar o sucessor.

Em segundo lugar, a modernidade tecnológica da USJ. Verdade, de novo. Um facto que, logo em 2010, muito me surpreendeu. A USJ era já uma universidade muito avançada tecnologicamente e onde bytes tinham substituído papel. O sucessor não se lembra do nome do responsável. Eu lembro-me. Chama-se Ruben de Freitas Cabral. Por último, um novo e moderno campus. Caramba, não é que esse campus tem,

também ele, o mesmo nome? Sim... Ruben de Freitas Cabral. Não sou indefectível de ninguém e tantas vezes discordei do prof. Ruben Cabral enquanto reitor. Isso é uma coisa. Outra, diferente, é ver árvores quando a floresta se impõe. Nestas entrevistas em jeito de balanço, muito me surpreendeu a ausência de um tópico tão fundamental para uma universidade privada: o número de alunos. Talvez falta de

“Mas eu, ao contrário do padre Stilwell, lembro-me que essa maisvalia tem um nome. Chama-se Ruben de Freitas Cabral. De um pequeníssimo instituto fez uma universidade onde gente de todo o mundo se entrecuzava fazendo gabar o sucessor.”

lembrança. Quais são os números desde 2012 até hoje? Ganhou a USJ alunos? Perdeu-os? Não é esta variável imprescindível para um balanço global da última reitoria? Suspeito que a cadeira, com nome, onde o sucessor se sentou oito anos muito tenha encolhido e enrugado. Depois de deixar a USJ em 2013, voltei várias vezes a Macau e mantive sempre contactos com muitos amigos da RAEM, dentro e fora da USJ. A ideia que todos me transmitiram sobre o rumo da USJ, incluía uma nau e incluía, também, muita água a conquistar espaço vital. Certo é que os professores de maior envergadura intelectual e que eu muito respeitava ou foram atirados borda fora ou trocaram de embarcação. Fechou cerca de trinta cursos, afirmou o sucessor. Talvez. Tenho dúvidas mas não quero maçar os leitores com números. Muito bem. Sejam trinta. Necessidade de reestruração, afirma o sucessor. Não nego as permanentes necessidades de reajustamento numa qualquer instituição. O que me parece é que reestruturação efectuada foi traçada a lápis de merceeiro. Como se pode compreender, por exemplo, que numa universidade tão cheia de diferentes nacionalidades, numa cidade tão vibrantemente multicultural como Macau, se encerre um curso como o de Relações Internacionais? Ao contrário, quase que deveria ser um curso bandeira da USJ. A pobreza da visão estratégica grita-nos aos ouvidos. Por fim, não posso deixar de referir um facto que me deixou atónito e ficará sempre associado à administração do sucessor. O despedimento de um académico por exercer a sua liberdade de expressão. Em 2009, a preparar-me para Macau, perguntei ao Prof. Ruben Cabral se teria alguma limitação na USJ enquanto professor de Ciência Política. A resposta que obtive foi um rotundo não. Que gozaria de todas as liberdades académicas. Como é possível que o sucessor, professor na minha alma mater, a Universidade Católica, onde fiz todos os meus estudos pós-graduação até ao doutoramento, tenha sacrificado princípios basilares por... por o quê? Aconselhava o sucessor a procurar o prof. João Carlos Espada, seu colega em Lisboa e director do Instituto de Estudos Políticos da Católica, e tentar aprender alguma coisa sobre o valor e a tradição da liberdade. Há uma frase muito bela atribuída a Newton que reza: “Construí sobre ombros de gigantes”. E que gigante ele era. Na sua visão geral não veio falar das limitações de Tales, Arquimedes ou Galileu. Limitações e imperfeições que naturalmente tinham. Que todos temos. Gigantes, chamou-lhes. É verdade que pelos séculos fora muitos anões houve. De anões ninguém recorda nomes. Eu próprio só me lembro de um. Chama-se o sucessor.


Não tenho culpa de ter nascido em Portugal, e exijo uma pátria que me mereça. Almada Negreiros

segunda-feira 29.6.2020

HABITAÇÃO ECONÓMICA 37 MIL CANDIDATOS PARA APENAS TRÊS MIL CASAS

PORTUGAL FÓRUM MACAU QUER MAIS INVESTIMENTO CHINÊS

O

O

Instituto de Habitação (IH) divulgou os dados relativos às candidaturas à habitação económica. No total foram entregues, desde o dia 27 de Novembro de 2019, 37.487 boletins de candidatura, sendo que apenas 31.891 processos contém todos os documentos necessários. Estes números estão bastante acima do número de casas disponíveis na zona A dos novos aterros, apenas 3.011, ainda sem data prevista para a conclusão das obras. Relativamente às candidaturas, a maior parte foi de agregados familiares compostos por apenas uma pessoa, representando 45,8 por cento, enquanto que os agregados familiares compostos por duas pessoas foram 23,7 por cento. Os dados do IH revelam também que os candidatos que pertencem à faixa etária entre os 23 e 44 anos de idade são a maioria, representando 74,5 por cento. Mais de 50 por cento das candidaturas pertence ao grupo prioritário dos agregados familiares nucleares. No último concurso para a atribuição de casas económicas a residentes permanentes, realizado em 2013, 39 mil famílias candidataram-se a 1.900 casas. O IH afirma que falta apenas vender 42 fracções deste grupo de habitações. A.S.S.

IPIM Criado seminário para negócios com países de língua portuguesa

O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) anunciou o lançamento de um seminário online com o objectivo de divulgar oportunidades de negócio nos países de língua portuguesa. A partir do mês de Julho, até Fevereiro de 2021, o IPIM divulga a Série de Oportunidades de Negócios dos Países de Língua Portuguesa-Seminário online, indicou a entidade em comunicado. O objectivo é a divulgação de “informações económicas e comerciais dos oito países de língua portuguesa, nomeadamente Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, na Página de Internet do IPIM e no Portal para a Cooperação nas Áreas Económica, comercial e de Recursos Humanos entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, lê-se na mesma nota. Em Julho o seminário online estará focado sobre as oportunidades de negócios em Cabo Verde. PUB

PALAVRA DO DIA

Escrito na pedra Angela Leong apresenta filho doente que teve com Stanley Ho

A

NGELA Leong, mulher do magnata Stanley Ho que morreu no passado dia 26 de Maio com 98 anos, revelou que o casal teve um filho “com problemas de saúde” chamado Ho Yau Pong, que nunca tinha sido apresentado publicamente e que deve ter 28 anos de idade. Através de comunicado,Angela Leong refere que a família nunca tinha apresentado nem revelado publicamente qualquer informação sobre Ho Yau Pong devido à sua condição de saúde. A decisão de revelar nesta altura a existência do filho do casal, prende-se com o facto de o seu nome vir a ser inscrito na lápide do magnata do jogo. No comunicado tornado público por Angela Leong, a também deputada sublinha que a opção de ocultar a entidade do filho foi tomada pelo casal, esperando agora que a privacidade de Ho Yau Pong seja respeitada. “Como mãe, estou nervosa com os efeitos negativos que eventuais boatos vindos de fora possam ter. Neste tipo de família é difícil ser-se normal, mas como

mãe, espero que ele possa sentir segurança e bondade do mundo exterior sob a nossa protecção”, referiu. Angela Leong esclarece ainda que Ho Yau Pong não é um segredo entre os membros da família Ho, acrescentando que desde a infância foi acarinhado por toda a família e festejou sempre o seu aniversário como qualquer criança. Além disso, Angela revela ainda que Stanley Ho “amava profundamente” o filho, fazendo sempre o melhor por ele. Apontando ainda que o comunicado enviado “foi a

“Neste tipo de família é difícil ser-se normal, mas como mãe, espero que ele possa sentir segurança e bondade do mundo exterior sob a nossa protecção.” ANGELA LEONG

primeira e última explicação pública sobre o assunto”,Angela Leong sublinha que a vida de Ho Yau Pong “deve ser protegida e não perturbada”, apelando ao entendimento, boa-fé e capacidade de respeitar a privacidade por parte de todos.

FUNERAL A 10 DE JULHO

O Funeral de Stanley Ho está agendado para 10 de Julho em Hong Kong, um dia depois da cerimónia pública que vai recordar o Rei do Jogo, e dois dias depois da cerimónia familiar. Stanley Ho morreu a 26 de Maio, com 98 anos, depois de ter construído um Império do Jogo. Nascido a 25 de Novembro de 1921, em Hong Kong, Stanley Ho fugiu à ocupação japonesa e radicou em Macau, onde fez fortuna ao lado da mulher macaense, Clementina Leitão, oriunda de uma das mais influentes famílias locais da altura. Quanto à vida familiar, Stanley Ho teve quatro mulheres, três ainda vivas: Lucina Laam, Ina Chan e Angela Leong. Clementina Leitão morreu em 2004. N.W. e P.A.

Vales de saúde Sugerido hospital piloto em Zhuhai para idosos de Macau O departamento de saúde de Guangdong sugeriu ao Governo de Zhuhai a criação de um hospital piloto na cidade em colaboração com Macau para a utilização de vales de saúde por idosos de Macau na província de Guangdong. A ideia, segundo o jornal Ou Mun, é que se siga o modelo já adoptado de cooperação entre Hong

Kong e Shenzhen. Neste momento, todos os residentes de Macau podem ter consultas médicas e aceder a tratamentos e medicamentos em instituições de saúde na província de Guangdong, com acesso semelhante aos nacionais da China. O assunto foi abordado depois de Lee Koi Ian, membro da Conferência Consultiva Política

do Povo Chinês (CCPPC) da província de Guangdong ter questionado as medidas para aprofundar a ligação entre os serviços de saúde da província e os idosos. O Departamento de Saúde de Guangdong disse que já criou um código de saúde destinado aos residentes de Hong Kong, Macau e Taiwan no acesso aos cuidados médicos.

secretário-geral adjunto do Fórum de Macau defendeu que os países de língua portuguesa, nomeadamente Portugal, devem aproveitar mais esta organização para captar investimento externo chinês, num debate virtual em que defendeu as oportunidades para as empresas. “É evidente que Portugal tem todo o interesse, como qualquer dos países de língua portuguesa, em ter mais investimento chinês de raiz”, disse Rodrigo Brum durante um seminário virtual (‘webinar’) sobre “Macau e o futuro das relações económicas e comerciais entre Portugal e China”. “O Fórum Macau é uma ponte evidente que pode ser explorada para os contactos com a China, e não é segredo que Portugal gostaria de atrair investimento no sector automóvel ou das baterias, e esses contactos podem ser feitos através do Fórum, que recentemente visitou instalações nesse ramo, maiores do que a Autoeuropa”, acrescentou o secretário-geral adjunto do Fórum Macau. “Na região em que Macau está inserido, da nossa janela vemos o território do lado, é uma região imensa com um potencial enorme; tem dificuldades, sim, às vezes até de entendimento, mas é nesses casos que se pode usar Macau, não como uma plataforma logística, mas como um intermediário favorável”, salientou o responsável, concluindo que “há inúmeras hipóteses de negócios, não é fácil, mas os resultados compensam”. No ‘webinar’, Rodrigo Brum mostrou-se ainda favorável, respondendo a uma questão do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), João Marques da Cruz, à criação de mais fundos para fomentar a relação entre a China e os países de língua portuguesa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.