Hoje Macau 3 FEV 2016 #3745

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 3 DE FEVEREIRO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3745

ASSOCIAÇÕES

A guerra dos fundos

hojemacau

GETTY IMAGES/MANMAN DEJETO/AFP

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

PÁGINA 4

OPINIÃO Ano do Galo O desigual PAUL CHAN WAI CHI ISABEL CASTRO

ENSINO

AS BOAS CONDUTAS

Um lugar ao soldo

PÁGINA 7

h

Branco e rosa ANABELA CANAS

Modo de perguntar PAULO JOSÉ MIRANDA

Duterte mantém-se inabalável na luta antidroga. Os criminosos não são considerados seres humanos e as execuções pagas a agentes da autoridade rondam as duas mil patacas. Por cá, a comunidade filipina aplaude.

ARTE

AS MINAS DE TRUMP EVENTOS

GRANDE PLANO

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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FILIPINAS


2 GRANDE PLANO

A

comunidade filipina em Macau continua a acreditar piamente no candidato às presidenciais que ajudou a eleger em Abril do ano passado. Apesar de a Amnistia Internacional (AI) ter divulgado esta semana um relatório que dá conta da prática de “crimes contra a Humanidade” na implementação da política antidrogas, a crença de que Duterte vai acabar com a corrupção e o crime no país mantém-se inabalável. O documento, intitulado “Se és pobre matam-te: execuções extrajudiciais nas Filipinas”, espelha uma política de combate à droga que se caracteriza por execuções à margem da justiça, com o conluio das autoridades e pagamentos feitos a agentes da autoridade por cada execução, que podem variar entre mil e pouco mais de duas mil patacas. Os factos não chegam para mudar a postura de uma comunidade que acredita que Duterte vai limpar a sociedade de todos os seus males. Os filipinos que aqui vivem apoiam as mortes, compreendem-nas, mesmo que, em muitos casos, afectem as suas famílias. A garantia é deixada por dois representantes da Associação Santo Niño Cebu em Macau, “uma organização religiosa e cívica”, cujo “maior foco é unir a comunidade”, diz ao HM Jamilito Scotti. É Scotti também que nos conta que “a maioria dos filipinos que vivem em Macau está do lado de Duterte”. Ele próprio “concorda com o que o Presidente está a fazer”. A palavra de ordem é limpar para depois reconstruir. Há que compreender, mesmo que a morte doa. “Não conheço casos de filipinos em Macau que tenham perdido os seus familiares nas Filipinas neste contexto, mas acredito que haja pessoas que possam ter passado por essa situação”, admite Jamilito Scotti. “A comunidade filipina em Macau está contente com o Presidente. Falamos sobre o assunto entre nós e estamos contentes com esta Administração. Adoramos as nossas famílias e, mesmo que os nossos familiares sejam bons, há sempre alguém que não é. Temos de aceitar a realidade. Esse é o grande ponto, a grande ideia: temos de compreender e aceitar. Temos de estar unidos”, defende Jerry Cuijiano, também ligado à Associação Santo Niño Cebu. Ele próprio teve um familiar assassinado em Dezembro do ano passado. “Tenho uma família grande e um dos meus familiares estava ligado a esse mundo [do

FILIPINAS COMUNIDADE EM MACAU APOIA ACÇÕES DE RODRIGO DUTERTE

LHO POR OLH Não são considerados humanos por serem autores de crimes e por terem a mente alterada devido ao consumo de estupefacientes. Este parece ser o pensamento de grande parte dos membros da comunidade filipina em Macau face à política antidrogas do seu Presidente, Rodrigo Duterte. Mesmo com assassinatos na família, os filipinos aceitam e compreendem que este é o caminho a seguir

tráfico de drogas]. Disseram-nos que foi morto numa situação de luta na rua. Quando ele morreu sentimos... não digo alegria, mas foi um agradecimento a Deus. Foi o primeiro da família que nunca nos ouviu, como é que poderíamos esperar que ele nos iria ouvir?”, relata Jerry Cuijiano. A dor e o medo existem, mas são ultrapassados. “As pessoas compreendem. As vítimas destas famílias tinham uma mente fechada e pertenciam ao mundo das drogas. Não há espaço na nossa sociedade para criminosos, não podemos esperar garantir [o respeito pelos] direitos humanos para estas pessoas. Mas, na generalidade, a questão dos direitos humanos está a ser usada como desculpa para escapar”, inidca Cuijiano. Nem o facto de estarmos perante uma das sociedades mais católicas do mundo afasta a ideia de que a morte é a única solução, sem lugar para o perdão. “Somos pessoas religiosas. Se me pergunta, eu escolho a vida. Matar as pessoas, os viciados em droga, não é a escolha mais acertada para resolver a situação, mas não podemos evitar os assassinatos. No entanto, a sua mente está diferente, têm uma mente distorcida por causa das drogas, estão afectados, e por isso criam situações de conflito”, frisa Jamiliano Scotti.

MENOS QUE GENTE

Um dia depois de a Amnistia Internacional ter divulgado um relatório que fala na prática de crimes contra a Humanidade apoiados por Duterte, o secretário para a Justiça do país, Vitaliano II, deixou bem clara a ideia que o actual Governo filipino tem em relação a quem comete crimes no país. Citado pelo Philippines Star, Vitaliano II disse que “os criminosos, os barões da droga, os traficantes, não pertencem à Humanidade. Não são humanos”. Uma ideia que é partilhada pela maioria que votou em Duterte, em busca da erradicação da corrupção e da pobreza. Ana Fivilia, representante de outra associação ligada à comunidade filipina local, lembra que as mortes não foram a primeira opção do actual Presidente. “Duterte quis, numa primeira fase, limpar a confusão do consumo e tráfico de drogas, então decretou uma medida em que as autoridades batem à porta dos suspeitos de tráfico e consumidores, e tentam convencê-los a não continuar a fazer o mesmo. Têm uma lista nas mãos com todos os nomes”, explica. “Penso que a maioria dos filipinos concorda com isso, porque os traficantes e consumidores foram avisados, mas não ouviram

as opções que lhes foram dadas. É uma forma de resolver o problema e eliminar todos esses casos”, observa Ana Fivilia. “Nesta situação precisamos de um Presidente assim, e é bom que se faça tudo para limpar, mudar, clarificar. Estou muito satisfeito com o que se está a passar nas Filipinas e quero dizer a todos que aqueles que morreram que escolheram morrer, porque optaram por ter aquele estilo de vida. Tenho noção do que são os direitos humanos, mas também

“A comunidade filipina em Macau está contente com o Presidente. Falamos sobre o assunto entre nós e estamos contentes com esta Administração.” JAMILITO SCOTTI REPRESENTANTE DA ASSOCIAÇÃO SANTO NIÑO CEBU


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temos de analisar os direitos das vítimas, dos criminosos. Temos de fazer um equilíbrio. A ideia de direitos humanos é boa e precisamos deles, se o país estiver numa boa fase. O país precisa de um homem como ele [Rodrigo Duterte], alguém para fazer o trabalho”, adiantou Jerry Cuijiano. O responsável pela Associação Santo Niño Cebu admite que as Filipinas estão a ganhar má reputação a nível internacional, mas defende que estas acções têm de ser feitas. “Quando se assume uma acção como esta, de limpar os traficantes de droga, claro que dá uma má imagem. Mas temos de compreender que as pessoas que morreram eram criminosas, dependentes de drogas. Temos de fazer uma limpeza primeiro e depois impor os direitos humanos. Há criminosos que apenas cometem crimes porque precisam de ajudar a família, tudo bem. Mas e os criminosos que o fazem porque são loucos e só pensam em actos maus, como matar? Isso tem de ser removido.”

REABILITAR SIM, MAS POUCO

O documento divulgado pela AI fala do envolvimento da polícia

“Não há espaço na nossa sociedade para criminosos, não podemos esperar garantir [o respeito pelos] direitos humanos para estas pessoas.” JERRY CUIJIANO TRABALHADOR FILIPINO NO TERRITÓRIO nas execuções, com muitos dos agentes a receberem dinheiro pelo que fazem. Mas há também uma ligação no próprio mundo da droga. “Quem mata essas pessoas são polícias que também estão ligados aos traficantes de droga”, admite Jerry Cuijiano. “Há famílias assustadas com tudo o que está a acontecer. O Presidente Duterte tem a acção contra o tráfico e o que o Governo está a fazer é uma intenção de limpar todas as pessoas que estão envolvidas, incluindo os polícias.

Há incidentes, assassinatos em que a polícia também está envolvida”, acrescenta Jamilito Scotti. Questionados sobre a importância de apostar em centros de reabilitação para curar o vício da droga, tanto Scotti e Cuijiano optaram por não se alongar muito sobre o assunto. “Há centros de reabilitação mas, quando as pessoas se tornam dependentes de drogas, só vêem o que querem. Perdem a noção de tudo. Tornam-se completamente limitadas”, diz Cuijiano. Já Jamilito Scotti considera que as condições actuais para receber toxicodependentes são más. “Nas Filipinas há muitos toxicodependentes, mas não existem infra-estruturas suficientes para os receber. Por isso o Governo está a tentar ter centros em vários pontos do país, não apenas em Manila. Pelo que sei, há alguns países como o Japão ou a China que têm comunicado com as Filipinas para ajudar nesse sentido, para que haja mais centros de tratamento.”

UMA GRANDE INDIFERENÇA

Ângelo R. Lacuesta é um escritor filipino que já esteve em Macau

para participar no festival literário Rota das Letras. Em declarações ao HM, por e-mail, o escritor fala do medo diário que se instalou no país, mas também na indiferença. “Há uma série de coisas chocantes que estão a acontecer à nossa volta, mas duas delas sobressaem. Em primeiro lugar há uma série de assassinatos extrajudiciais a acontecer numa base diária. Em segundo lugar, há uma incrível apatia, indiferença e apoio que as pessoas têm vindo a demonstrar em relação a estes homicídios.” Para Ângelo R. Lacuesta, é necessário olhar para a vida. “Antes de nos questionarmos quem está por detrás dessas mortes, ou que

“Há uma série de coisas chocantes que estão a acontecer à nossa volta (…) Há uma incrível apatia.” ÂNGELO R. LACUESTA ESCRITOR FILIPINO

impacto terão na economia, um assassinato é um assassinato. Não tem nada que ver com política, ou personalidades – é uma questão de justiça”, remata. O relatório da AI aborda 33 casos em que foram assassinadas 59 pessoas em diversas partes do país. A organização entrevistou 110 pessoas, incluindo testemunhas, familiares de vítimas e agentes das forças de segurança. Os pagamentos aos agentes serão uma prática comum. Um dos agentes confessou à AI que a polícia lhes paga entre oito mil e 15 mil pesos [qualquer coisa como 1300 a 2500 patacas] por execução, sendo que ainda recebem uma comissão das funerárias mais próximas. A AI escreve que, “se não forem tomadas imediatamente medidas decisivas, a comunidade internacional deve recorrer ao Tribunal Penal Internacional para uma investigação preliminar a estes homicídios, incluindo a participação de altos funcionários do Governo”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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TÁXIS LEONG VENG CHAI PEDE FISCALIZAÇÃO A “OVELHAS NEGRAS”

O

deputado da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau pediu acção ao Executivo no combate a actividades ilícitas por parte dos taxistas da cidade. Para Leong Veng Chai, está em causa a “imagem do território como cidade turística”. Não é para mais, uma vez que aumentam os relatos de

recusa de transporte de passageiros, cobranças abusivas de tarifas, as gratificações extra para aceitarem corridas, além de fenómenos de violência contra clientes. Aliás, o tribuno alerta que, para alguns cibernautas da China Continental, os taxistas de Macau comportam-se como “membros de organizações secretas”.

Um dos passos para trazer a transparência para a actividade será a afixação do tarifário, assim como de um número de telefone para reclamação na porta traseira, ou em local visível do táxi. O deputado na interpelação pede ao Governo para que aperte a fiscalização neste sentido, uma vez que nem todos

cumprem as normas em vigor. Outro dos problemas a resolver é o esquema ilegal da largura dos pneus. É um fenómeno que se tem vindo a registar, de acordo com o tribuno: os taxistas prevaricadores mudam a “largura dos pneus trocando o aro de alumínio”, de forma a influenciar “o número

Financiamento PEDIDA FISCALIZAÇÃO A ASSOCIAÇÕES

O custo associado Au Kam San, em interpelação escrita, questiona o Governo sobre a forma como se autorizam e fiscalizam os financiamentos às associações. Para o deputado, algumas destas organizações são um “grande buraco negro”

“P

ORQUE é que o Governo autoriza este tipo de financiamento?”, interroga Au Kam San. O exemplo que serve de motor à interpelação escrita é um caso do ano passado, quando se descobriu que a Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Mong Há desviou fundos para financiar o seu centro de convívio. Para o deputado, em teoria, quando uma associação requer fundos do erário público deve especificar “o destino do financiamento”, os fins específicos para os quais são destinados. Ou seja, não podem ser utilizados para outras entidades. Em questão está a ligação entre a associação e o seu centro de convívio. O último está subordinado à Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Mong Há, “mas ambas têm autonomia financeira”. Para Au Kam San, a situação agrava-se uma vez que o dito cento de convívio já recebe fundos do Instituto de Acção Social (IAS). “Ao longo dos últimos 20 anos, o centro foi financiado em milhares de patacas para o pagamento da respectiva dívida”, escreve na interpelação. O tribuno acrescenta ainda que esta devia ser a única forma de financiamento do espaço, sendo que os valores transferidos para pagamentos de renda não ficaram inscritos

nas receitas da associação. Ou seja, as centenas de milhares de patacas que serviriam para pagar as rendas “desapareceram completamente”.

PEDIDA RESPONSABILIDADE

Au Kam San lembra que este tipo de problemas tem sido

sempre alvo das críticas do Comissariado da Auditoria mas, apesar de tudo, são situações que continuam por resolver. O deputado alertou na interpelação que “quando o centro obteve o financiamento, o seu coordenador transferiu as verbas respectivas para a

de quilómetros percorridos”. Um truque que leva o passageiro a pagar uma tarifa maior. Como tal, Leong Veng Chai interpela o Executivo para saber se há algum plano de medida para “prevenir a alteração do tamanho dos pneus pelos taxistas”, ou se tem “realizado o trabalho de inspecção nesse domínio”.

associação de que também é director-geral”. Esta manobra torna “a fiscalização impossível”, o que configura para Au Kam San “um autêntico abuso e uma ilegalidade”. O deputado questiona-se como poderá o IAS ter permitido esta situação, sugerindo ser a própria associação a resolver os conflitos que tinha internamente. “Foram arbitrariamente utilizados recursos públicos, desapareceu mesmo ou foi desviado erário público, portanto, não restam dúvidas da natureza criminal da situação”, completa. Neste âmbito Au Kam San pergunta porque não foram feitas participações “aos serviços competentes da área da investigação criminal”. J.L.

SAFP LO KIN I É A NOVA SUBDIRECTORA

Tomou ontem posse a nova subdirectora dos Serviços de Administração e Função Pública. Lo Kin I é licenciada em Comércio pela Universidade de Toronto. Possui um mestrado em Gestão de Empresas pela Universidade Chinesa de Hong Kong e outro em Assuntos Públicos e Internacionais pela Universidade de Hong Kong. A nova subdirectora ingressou na Função Pública em 2005, tendo desempenhado funções de técnica superior e chefe da Divisão Administrativa e Financeira da Direcção dos Serviços de Identificação. Foi ainda chefe da Divisão Administrativa e Financeira da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, e assessora do gabinete do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura.

TRÂNSITO COUTINHO PEDE MAIS LUGARES PARA MOTOCICLOS

E

M interpelação escrita, Pereira Coutinho solicita responsabilidades ao Executivo para o escasso parqueamento para veículos de duas rodas, apesar da promessa, por exemplo, de construção do auto-silo público do Fai Chi Kei. A exigência do deputado nasce do aumento do número de motas mas, principalmente, dos incêndios de motas ocorridos, recentemente, junto às Portas do Cerco, assim como na Ilha Verde, na Praia do Manduco em 2014, e no Iao Hon em 2009. O tribuno aponta os “potenciais perigos para a população”, tanto ao nível da segurança pública, como para o meio ambiente. Além disso, os danos colaterais que resultam destes incêndios, com edifícios com paredes queimadas, estragos nos aparelhos de ar condicionado e poluição. É de salientar que estes acontecimentos se dão em zonas com elevado densidade populacional, e em caso de incêndio, o excesso de motas pode levar à dificuldade de acesso dos veículos dos bombeiros, assim como à evacuação dos prédios em redor. Pereira Coutinho recorda que em 2015 o Governo propôs “o aumento de 259 lugares para automóveis ligeiros e 228 lugares para motociclos”, no Fai Chi Kei. De acordo com os “Dados sobre Macau”, relativos a 2016, registaram-se em 2015 um total de 9437 automóveis novos, sendo que os novos motociclos totalizaram 10.216. Estes números juntaram-se ao somatório das mais de 200 mil viaturas já existentes. Como tal, o presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau interroga o Executivo se há um plano para aumentar o número de parques de estacionamento. No mesmo sentido, interpela o Governo sobre se existe um plano para “atenuar o crescimento de veículos automóveis” e aliviar a pressão sobre a rede viária.


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Leis HO ION SANG CRITICA NÃO CUMPRIMENTO DOS PLANOS

E tudo para amanha ´

˜

O deputado, que representa a União Geral das Associações de Moradores (Kaifong) no hemiciclo, defendeu que “neste momento ainda não é possível alcançar o objectivo de ser a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça a entidade responsável pela coordenação de todas as propostas de lei, pois a elaboração de algumas ainda é liderada pelo respectivo serviço funcional.” “Como é que as autoridades vão coordenar o respectivo trabalho, acelerar o ritmo legislativo e aumentar a respectiva eficiência?”, questionou.

HOJE MACAU

O deputado Ho Ion Sang interpelou o Executivo sobre os atrasos na implementação dos dois planos legislativos de 2015 e 2016, afirmando que a coordenação da elaboração das leis não está a acontecer

O

Governo tem vindo a prometer, mas não cumpre. Há muito que os relatórios das Linhas de Acção Governativa (LAG) falam na implementação da coordenação das leis, mas para o deputado Ho Ion Sang essa é uma realidade que está longe de se verificar. “Segundo afirmações da Administração, o quarto Governo da RAEM já definiu um regime de coordenação legislativa e emitiu instruções internas implementadas em todos os serviços sobre o fluxograma das operações”, escreveu o deputado numa interpelação escrita. Contudo, “os planos legislativos relativos aos últimos dois anos (2015 e 2016) não conseguiram ficar concluídos em conformidade com o prazo definido, e actualmente estão acumuladas, no âmbito das comissões permanentes da Assembleia Legislativa (AL), muitas propostas de lei que aguardam a respectiva apreciação na especialidade”.

E

M resposta à interpelação escrita da deputada Kwan Tsui Hang que pedia fiscalização às agências de viagens e aos guias turísticos, o Executivo respondeu com medidas. De acordo com a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), existe intenção de criar “normas destinadas à questão de excursões a preço nulo ou a preço baixo”. Como tal, foi proposta uma lei para proibir as agências de viagens de aceitar o acompanhamento de excursões turísticas à RAEM “sempre que o preço cobrado pelos serviços seja inferior ao respectivo custo e às sanções no caso do incumprimento”. A DST tem realizado inspecções regulares a postos fronteiriços e pontos de interesse turístico, em es-

Pela defesa dos turistas Turismo promete guerra contra excursões a preços baixos

pecial durante os feriados e períodos festivos, quando se regista uma maioria afluência de turistas. Durante o ano passado foram “realizadas 1401 acções de inspecção”, assim como foram inspeccionados, aleatoriamente, 323 grupos turísticos oriundos do Interior da China. No que toca a tratar disputas turísticas, a DST instaura procedimentos sancionatórios sempre que se verifiquem irregularidades por partes das agências, ou guias turísticos locais. Sempre que os incidentes tenham na sua origem operadores turísticos do Interior da China, a DST

passo a passo, um mecanismo de coordenação legislativa que assuma, em si, a tomada de decisão, coordenação, elaboração e consulta. Isto vai ser feito?”, questionou.

DEFEITOS E PROBLEMAS

Ho Ion Sang aponta ainda a existência de vários problemas no conteúdo das propostas de lei e “defeitos ao nível da sua aplicação”. Os articulados “necessitam de sujeitar-se a várias alterações, facto esse que facilmente origina a redução da eficiência legislativa, sendo desfavorável à estabilidade da lei. Dessa forma também é difícil alcançar os efeitos sociais pretendidos.”

Ho Ion Sang aponta ainda a existência de vários problemas no conteúdo das propostas de lei e “defeitos ao nível da sua aplicação.”

TÁXIS, IDOSOS, HABITAÇÕES

Ho Ion Sang falou dos diplomas que estão atrasados e que estão relacionados com a vida dos residentes. “Quanto ao regime jurídico de garantias dos direitos e interesses dos idosos e o regime jurídico de habitação social, são propostas de lei que envolvem o bem-estar da população e que continuam a permanecer na ‘fase do exame final’ ou na ‘fase de aperfeiçoamento final’, portanto não se sabe quando ocorrerá a sua apresentação à AL. Mas não é só no caso do plano legislativo para 2016 que existe a situação do plano legislativo não estar concluído dentro do prazo, pois o mesmo aconteceu com o plano legislativo para 2015.” Para o deputado, “há que proceder ao necessário ajustamento, para que o plano legislativo seja mais concreto e viável, realizando,

dá conhecimento dos casos à entidade homóloga da China, para que esta possa proceder como julgue conveniente. Neste sentido, no ano passado a DST recebeu 67 queixas,

ou pedidos de assistência, por parte de turistas. Destas participações resultou um caso de infracção à legislação vigente, com devido procedimento sancionatório instaurado,

Para o deputado dos Kaifong, é necessário “criar um mecanismo de avaliação que vise, principalmente, fazer reflectir sobre os diplomas legais no tocante a vários aspectos, tais como a razoabilidade da concepção, os efeitos resultantes da execução, com vista a opiniões ou sugestões para os futuros trabalhos legislativos e a respectiva execução da lei. Isto chegou a ser feito?”, concluiu.

sendo que em cinco outros casos envolvendo agências de turismo do Interior da China foi dado conhecimento às autoridades chinesas.

GUIAS PROTEGIDOS

POLÍTICA

A resposta do Executivo, no que toca às excursões de baixo custo, alerta que “é difícil garantir a qualidade se o preço é demasiado baixo”. É compreensível que estes métodos sejam usados para angariar clientela mas, desta forma, os operadores turísticos procuram obter verbas de outras formas. Por exemplo, induzindo os turistas a fazerem compras, valores que se acrescentam ao preço das viagens. O Governo procura minorar o efeito destas técnicas comerciais através de campanhas de sensibiliza-

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ção dos turistas, distribuindo “panfletos informativos e curtas-metragens publicitárias para promover a racionalidade no processo de consumo”. Foi também disponibilizado no site da DST um link para recolha de queixas de turistas que se sintam lesados por estas práticas. Outro dos pontos da resposta do Executivo prende-se com a protecção do guia turístico quando este trata da sua certificação. Antes de 1998, o cartão de guia era requerido pela agência turística, ficando esta com a faca e o queijo na mão porque o documento caducava com o fim do contracto. A alteração eliminou o regime de exclusividade à entidade patronal, aumentando a autonomia e flexibilidade dos guias turísticos.


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SOCIEDADE

TURISMO MAIS VISITANTES DE DIA PARA DIA

Mais de 770 mil pessoas entraram em Macau nos primeiros cinco dias das festividades do novo Ano Lunar, de acordo com dados divulgados no site da Direcção dos Serviços de Turismo. Pelos postos fronteiriços do território passaram 770.024 pessoas, o que representa um aumento de 6,7 por cento em comparação com igual período do ano chinês do Macaco. É da China Continental que continua a vir a maioria dos visitantes, com um total de 532.775 pessoas. Também aqui se encontra uma tendência de crescimento na comparação anual, com uma subida de 8,5 por cento. Só na passada quarta-feira, entraram em Macau 155.667 pessoas – na equivalência anual, o número significa um acréscimo de 11 por cento. As autoridades implementaram medidas de controlo de tráfego e de multidões junto a alguns pontos turísticos no centro histórico, como a praça do Leal Senado e Ruínas de São Paulo, também patrulhadas pela recém-criada polícia turística.

Ensino GOVERNO ESTABELECE CÓDIGO DE CONDUTA PARA DOCENTES

Regras vindas de cima

ANO NOVO LUNAR CONSUMO DE PANCHÕES AUMENTOU

Já estão publicadas em Boletim Oficial as normas profissionais do pessoal docente das escolas públicas e privadas. A académica Teresa Vong lamenta que tenha sido o Governo a criar este código de conduta, em vez dos próprios docentes

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ÃO discriminar, ensinar conteúdos de forma diversificada, “dar o exemplo de boa conduta”, não aceitar subornos. Eis algumas indicações que constam nas novas normas profissionais do pessoal docente, publicadas ontem em Boletim Oficial e assinadas pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. O novo código de conduta entra em vigor em Setembro, no arranque de um novo ano lectivo. As normas estabelecem ainda regras a cumprir “no âmbito da relação entre docentes e alunos”, sem esquecer as “relações de parceria” com outros professores. É ainda decretada a forma para se ter a “atitude profissional mais correcta”. É também pedido aos docentes que apostem na sua formação profissional ao longo da carreira. “Além de possuir as qualificações e capacidades profissionais previstas nos respectivos diplomas legais, procure elevar as suas capacidades profissionais e de formação,

no sentido de contribuir para promover o reconhecimento e aceitação da profissão”, pode ler-se. Ao HM, a académica Teresa Vong, da Universidade de Macau (UM), lamenta que o código de conduta tenha sido elaborado pelo Governo, apesar de este contar com o apoio de uma comissão composta por membros do sector. “Normalmente estes códigos de conduta são estabelecidos por órgãos profissionais, em vez do Governo. Mas em Macau o sistema é diferente e não temos esses órgãos profissionais. Claro que quando o Governo estabelece este código profissional para os professores,

significa que são mais medidas administrativas do que profissionais. Noutros lugares, em Portugal e no Reino Unido, os órgãos profissionais têm mais poder do que o Governo. Aqui não existem sequer e é tudo da responsabilidade do Executivo. Mostra que em Macau, especialmente os professores, não existe suficiente profissionalismo.”

FALTAM DIREITOS

Teresa Vong defende ainda que as normas profissionais do pessoal docente pecam por não conterem os direitos dos professores. “Estas regras dão ênfase às responsabilidades dos professores. Não houve uma elaboração dos direitos dos

“Quando o Governo estabelece este código profissional para os professores, significa que são mais medidas administrativas do que profissionais.” TERESA VONG ACADÉMICA DA UNIVERSIDADE DE MACAU

professores. Não são normas de conduta muito completas.” A docente da UM considera que houve alguns casos pontuais de abusos ocorridos antes da publicação destas normas. “No final do ano passado, houve o caso de um professor que assediou ou teve um caso com uma aluna. Mas não é uma questão muito séria em Macau. Estas normas de conduta funcionam como uma forma de prevenção de más práticas. Penso que se trata de uma medida suave, que encoraja os professores a praticar ou a exercer determinadas práticas.” Paul Pun, docente e director da escola São João de Brito, defende que o documento visa apenas servir de orientação para quem ensina. “Alexis Tam publicou este código de conduta, mas já vínhamos seguindo algumas orientações. Os professores devem ser um exemplo para os estudantes e para a comunidade. São apenas regras orientadoras, não representam um ataque aos professores.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

O consumo de panchões aumentou durante este ano novo lunar. De acordo com a Rádio Macau, que cita dados do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, foram importadas importou 4100 caixas de panchões, mais seis por cento do que no ano passado. A maior parte foi vendida mas, ainda assim, ontem foram destruídas 151 caixas, menos de metade do que em 2016. A emissora em língua portuguesa cita o especialista em ambiente Chan Shek Kou, que reconhece que a queima de panchões é uma importante fonte de poluição. O professor da Universidade de São José compreende, no entanto, a importância da tradição. “Sem dúvida que o impacto no ambiente não é bom. Mas, tendo em conta que é para ocasiões pontuais de diversão e de celebração, é desculpável”. “O maior efeito é a poluição atmosférica, o segundo é a poluição sonora e podemos ainda falar em poluição luminosa. Mas, no geral, as pessoas gostam muito e, por isso, talvez seja preciso fazer este sacrifício”, acrescenta. A rádio conta ainda que, desde o início das festividades, há registo de 106 feridos ligeiros, sendo que cinco tiveram de receber tratamento hospitalar, mas já receberam alta.

VALES DE SAÚDE CENTRO DE APOIO MUDA DE CASA

A partir da próxima segunda-feira, o Centro de Apoio ao Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde passa a funcionar no 6.o andar do Centro Hotline, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção. A estrutura tem instado a funcionar no centro da cidade, no edifício FIT, mas muda agora de instalações. Criado em 2009 pelos Serviços de Saúde, o centro destina-se a ajudar os cidadãos e as unidades privadas de saúde em questões relacionadas com o programa de comparticipação nos cuidados de saúde implementado pelo Governo.


8 SOCIEDADE

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Desde 1952 que não se via, em Macau, um primeiro mês do ano assim tão quente. Os agasalhos pouco saíram dos armários. Em Hong Kong registou-se o mesmo fenómeno. A culpa é das alterações climáticas

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média da temperatura em Macau no primeiro mês deste ano foi a mais alta em Janeiro desde que existem registos: 17,5 oC. O valor foi fornecido ao HM pelos Serviços de Meteorologia e Geofísica e confirmam um fenómeno que também se registou em Hong Kong, região com contas feitas à temperatura há bastante mais tempo. “Esta média é relativamente alta. É a média de temperatura do ar mais elevada em Janeiro desde o estabelecimento desta direcção de

Quente mês de Janeiro

“Esta média é relativamente alta. É a média de temperatura do ar mais elevada em Janeiro desde 1952.” SERVIÇOS DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA

Macau e Hong Kong com as temperaturas mais elevadas desde que há registos

Em 1901, Janeiro foi também um mês invulgarmente ameno, mas mais fresco do que este início de ano. De acordo com a imprensa da antiga colónia britânica, a média da temperatura foi superior à de Macau, ao chegar aos 18,5 oC. Por norma, em Janeiro a média das temperaturas é de 16,3 oC, assinala o Observatório da região vizinha. As autoridades de Hong Kong divulgaram ainda outros dados: 6 de Janeiro foi o dia mais quente do mês, com os termómetros a chegarem aos 25,5 oC, e foram registadas, em média, mais 2,1 horas de sol do que é habitual.

serviços, em 1952”, explica a Meteorologia, numa resposta enviada por escrito. O valor representa uma subida de dois graus Celsius em relação à média normal de Janeiro. Há várias razões para que os termómetros não tenham descido às temperaturas que, por norma, se sentem no Inverno – e nem o ano novo chinês que, por norma, vem acompanhado de frio, foi excepção. “A deslocação do ar frio e intenso foi pouco frequente para Macau e, ao contrário, o tempo foi afectado pela massa de ar quente e húmido que provocou as temperaturas altas em Janeiro.” O fenómeno também “está relacionado com as alterações climáticas”. Em Hong Kong, os registos das temperaturas datam de 1885 – e nunca se tinha visto um mês assim.

Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

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Notificação edital (08/FGCL/2017) Nos de pedido: 2016000372, 2016000373, 2016000335

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos números de pedido acima referidos, “Grupo Bullion (Macau) Sociedade Unipessoal Limitada”, com sede na Avenida da Praia Grande no 409, Edifício “China Law”, 21º andar, Macau, o seguinte: Relativamente aos 3 ex-trabalhadores do devedor (Cheong Kuan Hou, Ng Pun Meng e Leong Wai Hong), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo de pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 13 de Janeiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo 6.o da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para os ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $151 600,60 (cento e cinquenta e uma mil e seiscentas patacas e sessenta avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aqueles ex-trabalhadores, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar os referidos processos. 27 de Janeiro de 2017 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

Notificação edital (10/FGCL/2017) Nos de pedido: 2016000042, 2016000043, 2016000037, 2016000006, 2016000055, 2016000014, 2016000015

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor dos números de pedido acima referidos, “Grupo de Entretenimento Mitologia Grega (Macau) S.A.”, com sede na Avenida Padre Tomás Pereira nº 889 na Taipa, Macau, o seguinte: Relativamente aos 7 ex-trabalhadores do devedor (Lam Chu Fun, Chan Fong Kam, Wong Iok Wa, Wong Lai Kun, Tam Sio Lek, Wong Pui Un e Chin Chi Son), no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo de pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 13 de Janeiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo 6.o da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para os ex-trabalhadores acima referidos, no valor total de $930 018,20 (Novecentas e trinta mil e dezoito patacas e vinte avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aqueles ex-trabalhadores, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar os referidos processos. 27 de Janeiro de 2017 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

Notificação edital (09/FGCL/2017) No de pedido: 2016000375

Nos termos da alínea 1) do n.o 1 do artigo 9.o da Lei n.o 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), conjugado com o n.o 2 do artigo 72.o do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 57/99/M, de 11 de Outubro, vem o Conselho Administrativo deste Fundo notificar o devedor do número de pedido acima referido, “Empresa Hoteleira de Macau Limitada (Titular do Hotel Palacio Imperial Beijing)”, com sede na Avenida Padre Tomás Pereira no 889 na Taipa, Macau, o seguinte: Relativamente à ex-trabalhadora Wong Ion Mui do devedor, no que diz respeito ao requerimento junto deste Fundo de pagamento dos créditos emergentes das relações de trabalho, o Conselho Administrativo deste Fundo, em 13 de Janeiro de 2017, deliberou, nos termos do artigo 6. o da Lei n.º 10/2015 (Regime de garantia de créditos laborais), efectuar o pagamento dos créditos e dos juros de mora em causa para a ex-trabalhadora acima referida, no valor total de $54 987,10 (cinquenta e quatro mil, novecentas e oitenta e sete patacas e dez avos). Mais se informa o devedor que este Fundo irá efectuar o pagamento dos créditos para aquela ex-trabalhadora, oito dias após a data da publicação da presente notificação. De acordo com o artigo 8.o da referida Lei, após efectuado o pagamento dos créditos, este Fundo fica sub-rogado naqueles créditos. O devedor pode, durante as horas de expediente, deslocar-se à sede da DSAL, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221 a 279, Edifício Advance Plaza, Macau, para consultar o referido processo. 27 de Janeiro de 2017 O Presidente do Conselho Administrativo do Fundo de Garantia de Créditos Laborais, Wong Chi Hong

Anúncio Faz-se saber que no concurso público n.o 1/P/17 para o «Fornecimento e instalação de dois reprocessadores de endoscópios aos Serviços de Saúde», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 2, II Série, de 11 de Janeiro de 2017, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 4.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita no 1. º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau, e também estão disponíveis no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Serviços de Saúde, aos 24 de Janeiro de 2017. O Director dos Serviços Lei Chin Ion


9 CHINA

hoje macau sexta-feira 3.2.2017

A

empresa norte-americana Uber anunciou ontem a suspensão temporária dos seus serviços em Taiwan a partir de 10 de Fevereiro, por pressão do Governo que exige um registo como empresa de transporte. A Uber também expressou a intenção de reiniciar negociações com o executivo de Taiwan para “inovar a tecnologia de transportes”. “Esta é uma decisão difícil”, indica um comunicado da empresa em que é mencionada a sua contribuição para 15 milhões de viagens em quatro anos de operação na ilha. O anúncio aconteceu depois de o Governo taiwanês passar 48 multas

A

organização norte-americana Freedom House considera que Hong Kong é menos livre do que há um ano, devido à interferência nos assuntos da cidade pela China, um país que mantém como “não livre”, segundo parte do relatório anual publicada ontem. Hong Kong foi novamente classificada como “parcialmente livre”, mas a sua pontuação global em termos de direitos políticos e liberdades civis passou de 63 para 61 em 100. O relatório da Freedom House indica que “a violação das liberdades no território por Pequim” está reflectida, entre outros aspectos, na recente interpretação da Lei Básica (miniconstituição da cidade) para impedir dois deputados pró-independência eleitos de tomarem posse no Conselho Legislativo (parlamento). A interpretação da Lei Básica de Hong Kong por Pequim aconteceu em Novembro, cerca de dois meses depois das eleições para o Conselho Legislativo de 4 de Setembro. Em Outubro, Baggio Leung e Yau Wai-ching prestaram juramento, mas pronunciaram a palavra China de forma considerada ofensiva e acrescentaram palavras próprias ao texto da tomada de posse, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”. Os juramentos foram considerados inválidos e em Novembro, quando o caso estava a correr na justiça em Hong Kong, o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China, numa rara interpretação da Lei Básica da região, considerou que os dois eleitos não

UBER SUSPENSÃO TEMPORÁRIA EM TAIWAN num valor total de 1.100 milhões de dólares taiwaneses (31.798 milhões de euros) desde 6 de Janeiro deste ano, data em que entrou em vigor uma revisão da Lei de Transportes e Estradas, que elevou o montante máximo de penalizações para serviços de transportes ilegal de passageiros. O Ministério dos Transportes de Taiwan ordenou à Uber que cesse as suas operações e disse que a proibição dos seus serviços vai continuar enquanto a empresa não respeitar as leis locais.

A Uber está registada como empresa de serviços informáticos, apesar de prestar serviços de transportes, segundo o Governo de Taiwan. Anteriormente o Ministério dos Transportes tinha indicado que a Uber tinha recebido multas num total de 68,45 milhões de dólares taiwaneses (2,03 milhões de euros) por 481 violações, e os seus condutores tinham sido multados em 20,83 milhões de dólares taiwaneses (612.545 euros) até ao final de Dezembro do ano passado.

Relatório LIBERDADES DE HONG KONG DIMINUÍRAM

Notas americanas Globalmente, a organização [Freedom House] apontou o declínio da liberdade a nível mundial pelo 11.º ano consecutivo, numa altura em que “as forças populistas e nacionalistas conseguem ganhos significativos em Estados democráticos.” do ‘think tank’, que coloca o país na categoria “não-livre”, e abaixo de países como o Irão, a Rússia e a República Democrática do Congo. A Freedom House referiu que o Partido Comunista chinês apertou o controlo sobre vários aspectos da governação no país, enquanto o Presidente, Xi Jinping, consolida o seu poder. Também advertiu que a China está numa “tendência descendente”, reflectindo “o

efeito arrepiante” gerado por uma lei relacionada com a cibersegurança e com o aumento da vigilância na Internet, além de denunciar “as longas penas de prisão aplicadas a advogados de direitos humanos, activistas e crentes religiosos”. Aprovada em 2016, a lei sobre a cibersegurança visa, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, “controlar, defender e gerir os riscos da cibersegurança e

as ameaças internas ou vindas do estrangeiro, protegendo informação chave de ataques, intrusão, alterações e danos”, e tem sido muito criticada por organizações empresariais estrangeiras e grupos de defesa dos Direitos Humanos. A Freedom House não faz referência a nenhum relatório sobre Macau na sua página de Internet. A organização Freedom House foi criada em 1941 pelo advogado do Partido Republicano norte-americano Wendel Wilkie e por Eleanor Roosvelt, mulher do Presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosvelt. O relatório anual sobre “Liberdade no Mundo” é publicado desde 1972. Globalmente, a organização apontou o declínio da liberdade a nível mundial pelo 11.º ano consecutivo, numa altura em que “as forças populistas e nacionalistas conseguem ganhos significativos em Estados democráticos”. Em 195 países ou territórios avaliados, 87 foram classificados como “livres”, 59 “parcialmente livres” e os restantes “não livres”.

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podiam repetir o juramento do cargo e tomar posse como deputados. A Freedom House também referiu as detenções pelas autoridades do interior da China de cinco livreiros ligados a uma editora de Hong Kong – um caso tornado público há cerca de um ano, após os respectivos desaparecimentos no final de 2015 – e apontou retrocessos na independência académica e liberdade de imprensa.

“Os defensores da liberdade de imprensa em Hong Kong continuaram a criticar o crescimento repentino da pressão pró-Pequim sobre a expressão jornalística, acusando os proprietários dos ‘media’ de incentivarem a autocensura para favorecer os interesses do Governo central”, indica o relatório.

TENDÊNCIAS NEGATIVAS

Já a China obteve 15 pontos em 100 no índice de liberdade

COMPANHIA ENGENHARIA DAYTONA SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA 明你工程一人有限公司 DAYTONA ENGINEERING SOLE SHAREHOLDER COMPANY LIMITED Sede: Avenida Olímpica, Lei Pou Kok, Flower City, 28º andar “D”, Taipa, em Macau Registo n.º 22786 / Capital Social: MOP$100.000,00 Para os devidos efeitos se anuncia que, por decisão tomada pela sócia única em 9 de Janeiro de 2017, foi decidido dissolver a sociedade unipessoal de responsabilidade limitada em epígrafe, considerando-se as contas finais aprovadas e encerradas e, assim, encerrada a liquidação, a partir da mesma data, tendo o respectivo registo sido efectuado em 11 de Janeiro de 2017, mediante a Ap.64/11012017, considerando-se assim extinta a mesma sociedade com esse registo. Macau, 3 de Fevereiro de 2017. O Administrador - Liquidatário


10 EVENTOS

O

Arte DECRETO DE DON

hoje macau sexta-feira 3.2.2017

alerta é deixado por artistas e curadores que trabalham com arte do Irão: a impossibilidade de acesso aos Estados Unidos para aqueles que constam da lista de países malditos definida por Donald Trump está a ameaçar o intercâmbio, a organização de exposições e a realização de residências artísticas. O Art Newspaper conta que dois artistas iranianos cancelaram uma viagem dos Estados Unidos para o Canadá, com receio de terem problemas no regresso a casa, apesar de serem detentores do cartão de residência permanente. Iam à cerimónia de inauguração de uma exposição de arte contemporânea no Museu Aga Khan.

A publicação explica que até mesmo os cidadãos iranianos que têm passaporte americano ou os que residem nos Estados Unidos há muitos anos se sentem ameaçados e inseguros. Para reforçar a sensação de incerteza, as notícias que dão conta dos planos da Administração Trump em relação ao fundo nacional para as artes: diz-se que o Presidente quer acabar com este mecanismo. O responsável pela revista online Reorient, Joobin Bekhrad, cancelou, por enquanto, as viagens para os Estados Unidos. Bekhrad faz um trabalho significativo na divulgação da arte do Médio Oriente e tem dupla nacionalidade – é iraniano e canadiano. “Dizem que, por ser também

“Não sou só eu a ter esta sensação. Há tantos americanos que se sentem também de pernas para o ar, em vários aspectos.” BAHAR BEHBAHANI ARTISTA IRANIANA A VIVER EM BROOKLYN canadiano, não devo ter razões para me preocupar, mas não acredito”, explica. “Vou sentir falta de ir a exposições,

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mas penso que não valem a humilhação.”

SANÇÕES PARA A ARTE

Têm sido realizadas várias exposições importantes de artistas iranianos nos Estados Unidos. O Warhol Museum confirmou esta semana que vai para a frente com uma mostra do artista iraniano (também com nacionalidade americana) Farhad Moshir, programada para Outubro. “O artista aborda tradições e o isolacionismo histórico do Irão, demonstrando, em simultâneo, o poderoso apelo e influência da cultura ocidental no seu país natal”, declarou um porta-voz do museu. Já a curadora Roya Khadjavi-Heidari que, no ano passado, organizou uma exposição

OM DE P PAR

de arte iraniana e cubana no nova-iorquino Rogue Space, admite estar preocupada com um projecto que tem em mãos: uma iniciativa agendada para Abirl, composta por 30 trabalhos de três irmãos do norte do Irão, Morteza, Mojtaba e Sina Ghasemi. Khadjavi-Heidari está fortemente envolvida em programas de intercâmbio cultural e o decreto presidencial tem um forte impacto no seu trabalho. “Julgo que não se pensou nas consequências, é uma medida que vai trazer muitas complicações. A arte nunca fez parte das sanções, sempre conseguimos trazer obras com alguma facilidade”, aponta. “Estou preocupada. Será impossível a estes três artistas conseguirem os vistos de entrada.”

Em Paris, a curadora Leila Varasteh recorda que, mesmo sem a iniciativa de Donald Trump, já era difícil fazer chegar ao Ocidente obras de artistas iranianos, por causa das sanções a Teerão propostas pelos Estados Unidos e que os países europeus subscreveram. “É difícil ir buscar arte e não posso pagar aos artistas porque, se o fizer, congelam as minhas contas bancárias”, explica. “Durante a Administração Obama, houve ainda uma pequena esperança que agora desapareceu. É uma pena porque as trocas culturais entre os Estados Unidos e o Irão eram fantásticas. Tudo aquilo que vem do Irão está a ser cancelado, de dentro do país e também dos iranianos que vivem no estrangeiro.”

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Esta é uma autobiografia que evoca a família e a vida da escritora sensivelmente até ao 25 de Abril, simultaneamente um retrato de um Portugal desaparecido e um livro indispensável para compreender as raízes da escrita da mais importante escritora portuguesa viva, um dos vultos marcantes da cultura portuguesa contemporânea. Começa por recordar os avós, segue para o pai «brasileiro», jogador inveterado, personagem romântica por excelência. A mãe aparece como uma figura mais apagada. Mas há também uma tia em que inspirou a «Sibila» e uma galeria de outros secundários. Em criança, Agustina isola-se nos livros, num cinema que o pai explorava, no exemplo de uma professora. Sente-se com vocação para a escrita, e o pai apoia a sua carreira literária. Aos quinze anos produz os seus primeiros romances. Lê muito. Entretanto peregrina por terras do Norte: Amarante, Gaia, Maia, Póvoa, Vila do Conde, e também por Coimbra, onde decide casar, e finalmente o Porto. No seu estilo incomparável, Agustina deambula pelo passado e auto-retrata-se pelo caminho. Abundantemente documentada por fotografias familiares de época do espólio pessoal da autora, numa edição em elegante formato, cartonada, mas de preço acessível ao leitor médio, esta nova edição permite agora divulgar junto do grande público um texto que fora anteriormente publicado numa edição limitada e numerada e em formato de luxo.

NOS SONHOS COMEÇAM AS RESPONSABILIDADES • Delmore Schwartz

Nos Sonhos Começam as Responsabilidades é uma obra-prima da literatura americana. Uma avaliação confirmada pelos leitores em todo o mundo, mas também por grandes escritores como Vladimir Nabokov, T.S. Eliot ou Saul Bellow. Um adolescente, cujo nome nunca saberemos, assiste à projecção de um filme...


11

NALD TRUMP MINA EXPOSIÇÕES E INTERCÂMBIOS

MUNDO PERNAS RA O AR Ainda assim, os protestos nos Estados Unidos e na Europa contra as novas interdições de entrada em solo norte-americano fazem com que Leila Varasteh diga que “a esperança está a voltar aos poucos”.

MEDO DE ESTAR, MEDO DE SAIR

Nascida no Irão, a artista Bahar Behbahani vive em Brooklyn e tem dupla nacionalidade. Com uma exposição neste momento em New Hampshire, confessa não se sentir segura, não obstante o facto de ter passaporte norte-americano.

“Não posso deixar o país e, como artista, tudo isto significa que não posso fazer exposições e mostrar os meus trabalhos lá fora.” SHAHPOUR POUYAN ARTISTA IRANIANO

EVENTOS

A decisão de barrar a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de vários países muçulmanos está a ter consequências práticas aos mais diversos níveis. Há curadores e artistas com projectos que passaram a ser impossíveis. Existe ainda o receio de que Donald Trump acabe com o financiamento para a arte

Behbahani tem sido aplaudida por uma série de trabalhos que têm por base os jardins persas. Em 2007 fez um filme sobre uma mulher no Irão que observa um jardim perfeito, mas fá-lo de pernas para o ar. Na semana passada, diz a artista, teve a mesma sensação de deslocamento e estranheza nos Estados Unidos. “Quase dez anos depois, senti-me de novo ao contrário. Na última semana senti-me confrontada com a minha nacionalidade, mas também com o facto de ser artista. Não é relevante de onde se vem, quando nos sentimos ameaçados com as notícias de que o fundo para

as artes poderá ser eliminado. Isso também é uma ameaça”, afirma. “Não sou só eu a ter esta sensação. Há tantos americanos que se sentem também de pernas para o ar, em vários aspectos. São tempos difíceis para todos.” O artista iraniano Shahpour Pouyan, a viver em Nova Iorque com um cartão de residência permanente, diz sentir-se “preso”. “Não posso deixar o país e, como artista, tudo isto significa que não posso fazer exposições e mostrar os meus trabalhos lá fora”, explicou ao New York Times. Shahpour Pouyan é um dos artistas que cancelou a viagem ao Canadá.

Depois de Macau, a Tailândia Vhils apresenta trabalho na embaixada portuguesa em Banguecoque

O

português Alexandre Farto, que assina como Vhils, vai criar este mês uma obra na embaixada de Portugal em Banguecoque, que será a primeira do artista na Tailândia. De acordo com o Instituto Camões, a peça, criada “no muro exterior da embaixada de Portugal, situada no terreno oferecido em 1820 pelo Rei Rama II”, será inaugurada no próximo dia 10. Contactado pela Lusa, Alexandre Farto adiantou tratar-se de uma obra isolada em Banguecoque, que será a primeira que fará na Tailândia, mas escusou-se a revelar qual o seu conteúdo. A obra é uma iniciativa da embaixada de Portugal e do Centro Cultural Português em Banguecoque, com o apoio do Instituto Camões e do Minor Group. Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com graffiti, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins, depois de não ter conseguido média para uma faculdade portuguesa. A técnica que notabilizou Vhils consiste em criar imagens, em paredes ou murais, através da remoção de camadas de materiais de construção, criando uma imagem em negativo. Além das paredes, já aplicou a mesma técnica em madeira, metal e papel, nomeadamente em cartazes que se vão acumulando nos muros das cidades. Em 2014, Alexandre Farto inaugurou a sua primeira grande exposição numa instituição portugue-

sa, o Museu da Electricidade, em Lisboa: “Dissecação/ Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses. Esse ano ficaria também marcado pela colaboração com a banda irlandesa U2, para quem criou um vídeo incluído no projecto visual “Films of Innocence”, que foi editado em Dezembro de 2014, e é um complemento do álbum “Songs of Innocence”. Em 2015, o trabalho de Vhils também chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O Sentido da Vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes. Em Março do ano passado, inaugurou a primeira exposição individual em Hong Kong, “Debris”, no topo do Pier 4, uma mostra que reflecte a cidade e a identidade de quem nela habita para ver e, sobretudo, “sentir”. Em Dezembro, chegou a vez de Macau, com um mural nos jardins do Consulado de Portugal. Foi a primeira obra de Vhils numa representação diplomática portuguesa. Ainda no ano passado, Vhils recebeu o prémio personalidade do ano 2015 da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal. Paralelamente ao desenvolvimento da sua carreira criou, com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, projecto cultural que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, e exposições dentro de portas, em Lisboa.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

12

Do seu desconhecido, do seu desconhecimento absoluto no que traz e no que retira. Fico entre portas na indefinição de querer e não querer ouvir. Ver. Perguntar, esperar. Acabar. Desesperar. De não ver. Sempre. E como se as palavras da escrita pudessem ter as cores de uma aguarela sóbria etérea e deslavada de qualquer colorido rico e definitivo, e dela sobrasse apenas uma memória fresca mas fantasmagórica da cor. Das cores. Das cores suaves de ainda não serem no esplendor do meio-dia. Da fantasmática misteriosa plenitude da meia-noite iluminada de lua, do desconhecido absoluto de uma noite sem luar, ou da misteriosa vida anunciada em declínio pelas cinco da tarde a reverberar como iluminadas por dentro as formas. É já uma madrugada nublosa daquelas em que a maior violência que se pode imaginar, para além de todos os pensamentos pendentes de outros dias, para aquém deles e dos dilemas, mais dúvidas do que dilemas, para além de tudo o que acorre de assalto no primeiro minuto vigilante, é ter que sair do esquecimento morno dos cobertores de lã. Em que há sempre ainda a esperança de retorno ao sono. Mas que já não volta até outro dia. E o apelo frio incolor da madrugada, ali, como um chamamento indeciso mas persistente. Avanço no campo de vimes e hastes a amarelar sem estação convicta. Rígidos e estaladiços. Discretamente crepitantes, frágeis na forma e espessura, mas que picam. Que arranham, que ferem discretamente a pele sem impedir de avançar, sem se lhe dedicar um pensamento mais do que ténue como as cores. Momentâneo como cada passo. E passo em frente com as árvores ao fundo sem saber porquê. Porque vou. E uma haste perdida no meio de tudo, uma pernada de roseira brava por engano. A diferença entre tudo o que se assemelha. No meio, bem no meio do que se assemelha. E, como por ilusão da vontade, vira uma corola coroada de pétalas frescas de cor suave mas cor. Vira para mim imperceptíveis milímetros das pétalas abraçadas entre si e penso que não são girassóis ali. Pergunto-me porquê. Que nada em mim tem o alo ensolarado e radiante matinal de um sol da terra. Mas avanço deslumbrada. Chego-lhe perto demais. E estendo a mão no encantamento de uma rosa no meio de silvas e outras agruras. E pergunto, recolhendo a mão posso...posso tocar...pergunto sempre e nunca sei a resposta porque é assim que eu sou. Para além dos olhos nada mais sei. Diria que me olhou ao chegar. Mas talvez não. Era talvez o meu desejo deslumbrado de a ver diferente e bonita. Ali. Talvez até nem estivesse ali ao fundo, mas por detrás dos olhos com que a desejei. Ver. Pressentir ao fundo. Alugar os meus passos até.

ANABELA CANAS

H

Á uma cidade submersa por detrás de cada frase. De cada pessoa. De cada paisagem estranha de sonho. Aquela quase brancura do céu nas noites de chuva mansa e monótona e às vezes acabada. Como a pele clara mergulhada na quase escuridão, de quase não pensar. É o quê, o corpo, senão uma imensidão branca e momentânea no resto da noite como o céu no resto da chuva. Um corpo a apagar. A acender, a apagar. A mágoa a apagar o que o corpo acende. Às vezes. Desvendar como aos olhos. Como se uma impossibilidade fosse visível na possibilidade de um corpo. Uma visão completa do que é para além. Dos espasmos. De uma respiração rouca. Gritos. Mesmo. Se mesmo, algo cruzasse nos sentidos todos, a fronteira fina da pele. Mas mesmo assim não há menos do que dois ou três, num. Sentir, olhar, pensar. O outro. E são quatro, já. Ali. Na mesma cama. Na mesma noite branca acinzentada, e de restos de chuva, ainda a escorrer de tudo. Intervalados ruídos frescos. Irritantes e cavos, dependendo do que tocam. Alguns. Outros, devagarinho, a envolver. Em insólitas geometrias secretas. Daqui e dali. A ecoar na noite. Branca, cinzenta, citadina, como só as noites. Sobre paredes, canos e vidros, e tudo ao negro, ou quase. Excepto a noite do céu. Clara e impiedosa a correr sem se dar por ela. A correr lenta. Clara. Clara e lenta e surda como só a noite. Na cidade real e adormecida. Ao lado do corpo. Cerra-se-me o silêncio como uma banda adesiva em torno de pensamentos e palavras de conclusão. Cerram-se as palavras em torno de pensamentos e penas. E como penas e penugens de asas friorentas sobre o corpo de uma lógica e uma não-lógica. E o frio. E provisório tudo. As pessoas viram o cérebro do avesso e mobilam a casa. Ou perder-me em auto-estradas de circulação restrita. Marear sem cuidado nem destino e voltar a casa ao Cabo da frustração. Mas é uma coisa perecível sempre. Cada tom e cada lugar e cada passo. Passou. Sei lá, às vezes o que fazer de ti, de mim. Na memória. Beijos. Como a terminar uma carta mas com a polpa de um lábio inferior nítida. Nítida e doce. Depois a flor. Já na almofada. Não sei se minha se no sonho, minha. E falar. Não é que tantas vezes não pense que me desenganei no ficheiro e cliquei no poema errado. Poema, loquema, fonema, criatema, problema. Coisas que nem existem. Abraço a almofada com força. Todos os dias até à noite, ou sobretudo aí aquela vontade teimosa de que ainda chegue algo consolador. E ao mesmo tempo que rejeitar a ideia de fechar o dia na noite da cama do sono e do fim, e nele, nela, a vontade do outro dia.

Branco-cinza.


13 hoje macau sexta-feira 3.2.2017

de tudo e de nada

Anabela Canas

Cor de rosa E chegar. E perguntar posso. E vê-la ainda talvez amuada ou irritada da minha pergunta. Que faço demais. E olhar...Também. E perguntar. E olhar. E perguntar. E nunca saber ver. Sem perguntar sem saber. Quase jurava ver-lhe, se estava ali, um risinho sarcástico ou uma ironia imperscrutável do que diz claro que sim. Ou de quem diz claro que não. Estavas aí...a mesma resposta, claro que sim, a mesma resposta, claro que não. É assim que eu vejo o que vejo. Afasto com a violência desesperada de ter que ser, os lençóis brancos, os cobertores de lã branca quentes e afáveis que me não podem prender mais e por que tem que ser este arrancar brutal, este renascer diário para o mesmo que me espera. E que, brancos, me dão a calma que não tenho, como aquela rosa. E a as nuvens correm como em certos dias, as ventanias assobiam e passam, o mar revolve-se na sua eterna e igual violenta imaterialidade, as coisas nascem crescem e secam ou morrem. E eu estou aqui, sem voar de pés na terra e sempre com a mesmas dúvidas que me levam às rosas e trazem à matérica textura áspera mas calorosa destes cobertores em que às vezes sonho. E de novo aquela aprisionante sensação desesperada de nadar na espessura viscosa e densa das roupas de cama. Sem conseguir deixar o corpo afundar nelas e avançar na água. Que não podia ser mas se ansiava que fosse. Fecho os olhos ao ver que sonha. Que sonha uma que não sei se sou. Revolve-se nos mesmos rolos viscosos e cinzentos escuros da roupa e no mesmo sonho em que me vejo. Vista ou sonhada. Ou nada. Os olhos fechados não me permitem ver. Ver-me nesse sonho que não conheço. Ver quem sonha o sonho. Quem sonho e a quem sonho o sonho. Entendo sempre os meus sonhos de outros em mim. Nunca em mim me entendo nos sonhos de outros em mim. É isso. Os olhos fechados que não me veem e sonham. Será a mim. Ou não. Acordo e não está ali quem me sonhou no meu sonho. Ou porque não sonho. Levanto-me de dentro do sonho do sonho. Do sonho. Um acordar penoso e longo como um túnel. De reposteiros pesados e escuros a transpor com os pés fora da cama sobre o abismo. Os chinelos são a aterragem possível. Atamancada e tosca como a de uma ave pouco habituada. E o dia rende a noite em cinzentos também. Mas do céu e por ali abaixo. Que respiro mas percebo suaves. Hoje. E, por momentos não saber nada. E ser bom. E ali, longe, todos os meus anjos voam no céu. Inalcançáveis vigilantes. Tão longe, tão irredutíveis, tão abstractos. Tão dentro de mim. Só me resta olhar para cima. Seguir-lhes os olhos ausentes como um último fio que nos liga. Um grito surdo.


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José Simões Morais

立春 Li Chun Princípio da Primavera

H

OJE, 3 de Fevereiro celebra-se na China a Festa do Princípio da Primavera e inicia-se o ano do Galo Solitário. Li Chun, ou Princípio da Primavera, comemora-se normalmente a 4 de Fevereiro, podendo por vezes ocorrer também no dia 3, ou 5, se houver ajustamentos e é o primeiro dos vinte e quatro termos em que está dividido o Calendário Solar do Agricultor. Com datas fixas, os termos estão directamente ligados à eclíptica do Sol e são indicadores das estações do ano, por isso conectados com a agricultura. Foi durante a dinastia Han (206 a.n.E.-200) que se resolveu celebrar no dia 4 de Fevereiro, o Princípio da Primavera, mas após muitas reformas acordou-se comemorar no primeiro dia do primeiro mês lunar também essa festividade, cujas datas são muito próximas uma da outra. O Ano Novo e o início da Primavera traduzem uma renovação e a combinação entre o calendário solar e o lunar, conhecido como calendário lunisolar, passou a ser usado na China. Combina os doze ramos terrestres com os dez caules celestes e cria um ciclo de 60 anos, que se vai repetindo. Em tempos antigos, quando a China tinha uma economia baseada na agricultura, esta festividade durava um mês e celebrava o final do Inverno, a estação de interregno para os agricultores e o início da Primavera, quando de novo a terra começava a ser trabalhada. Agora assiste-se a grandes festejos no primeiro dia da primeira Lua e não no Princípio da Primavera, apesar dos mestres da geomancia colocarem no Li Chun o dia da mudança para a regência do signo do ano. Este ano lunar chinês, que começou a 28 de Janeiro de 2017 e terminará a 15 de Fevereiro de 2018, vai ter treze meses, havendo um duplo mês, o da sexta Lua, sendo o primeiro denominado intercalar, ou adicional e o segundo sexto mês, chamado natural. Nele se celebrará por duas vezes a Festa do Princípio da Primavera, por isso auspicioso para o nascimento de crianças. Quando num ano lunar não se celebra nenhuma Festa da Primavera, isto é, quando o Ano Novo Lunar começa após o dia 4 de Fevereiro e no ano seguinte termina antes dessa data, diz-se ser um ano cego.

O CALENDÁRIO SOLAR DO AGRICULTOR

Lichun, Princípio da Primavera, é a primeira grande festa solar e marca o início do ano agrícola, após um período de hibernação, quando a Terra desperta para um novo ciclo de vida. É o primeiro dos 24 termos solares de um sistema elaborado através dos tempos, a partir das observações feitas por astrónomos. Entre estes termos estão os dois solstícios, os primeiros a ser estabelecidos e depois, os dois equinócios. Pesquisas em torno do movimento aparente do Sol foram por isso necessárias para elaborar os calendários, sendo feitas de duas formas diferentes. Uma, pela medição da sombra

do gnómon (instrumento que marca a altura do Sol pela direcção e comprimento da sombra de uma vara) ao meio-dia, assentando em tal medição o anunciar das estações e o determinar do ano trópico. A outra maneira era o estudo da variação aparente da velocidade anual do Sol e a averiguação do valor anual da alteração do ponto do solstício do Inverno observando a posição do Sol contra o céu, com a ajuda de instrumentos astronómicos. Anunciar a data precisa das estações era impossível sem uma identificação exacta da altura em que acontecia o solstício de Inverno. Mas já em 2317 a.n.E., durante o reinado do Imperador Yao, o ano tinha 365,25 dias e em 1100 a.n.E., mediante observações do Sol estabeleceu-se com uma aproximada exactidão a posição do solstício de Inverno. Estava encontrado o ano trópico, o período de tempo que transcorre desde o começo de uma Primavera, à outra, mostrando as mudanças sazonais anuais. Mais tarde calculou-se o equinócio da Primavera, que chega após 81 dias do solstício de Inverno. Os 24 termos solares gradualmente reconhecidos por volta do século III a.n.E., foram compilados por Lu Shi Chun Qiu, mas foi na enciclopédia Huai Nan Zi, escrita em 120 a.n.E., que todos os termos ficaram mencionados. Eis a lista dos 24 termos: Nome chinês: Tradução: Lichun Princípio da Primavera Yushui Água da chuva Jingzhe O acordar dos insectos Chunfen Equinócio da Primavera Qingming Puro brilho Guyu Chuva para as sementes Lixia Princípio do Verão Xiaoman Despontar da semente Mangzhong A semente na espiga Xiazhi Solstício de Verão Xiaoshu Suave calor Dashu Maior calor Liqiu Princípio do Outono Chushu Limite de calor Bailu Branco orvalho Qiufen Equinócio do Outono Hanlu Frio orvalho Shuangjiang Queda de geada Lidong Princípio do Inverno Xiaoxue Leve nevão Daxue Grande nevão Dongzhi Solstício de Inverno Xiaohan Pequeno frio Dahan Grande frio

Início: 4 de Fevereiro 19 de Fevereiro 6 de Março 21 de Março 5 de Abril 20 de Abril 6 de Maio 21 de Maio 6 de Junho 22 de Junho 7 de Julho 23 de Julho 8 de Agosto 23 de Agosto 8 de Setembro 23 de Setembro 9 de Outubro 24 de Outubro 8 de Novembro 23 de Novembro 7 de Dezembro 22 de Dezembro 6 de Janeiro 21 de Janeiro

Dos 24 termos solares, doze são chamados “jieqi”, enquanto os restantes se denominam “zhongqi”. Xiaohan, o 1º do grupo “jieqi” chega trinta dias antes do 2º, Lichun, o Princípio da Primavera. O intervalo entre cada

Este ano lunar chinês, que começou a 28 de Janeiro de 2017 e terminará a 15 de Fevereiro de 2018, vai ter treze meses, havendo um duplo mês, o da sexta Lua. (...) Nele se celebrará por duas vezes a Festa do Princípio da Primavera um dos outros dez desta série é idêntico. O solstício de Inverno, Dongzhi, inicia a série “zhongqi” dispondo-se da mesma forma. Quando um mês que está para ocorrer não contém nenhum termo das séries do segundo grupo “zhonqi” esse mês será considerado um mês intercalar. Estes meses seguem-se ao mês a que estão associados. Os oito termos - os equinócios, os solstícios e o início de cada uma das quatro estações, são mais importantes que os outros, havendo um intervalo de mais ou menos 46 dias entre cada um deles. Este sistema, único no mundo, sugere o nível a que chegou a ciência da China antiga. Deixamos aqui agora votos de um bom Ano Novo - Kung Hei Fat Choi (Próspero Ano Novo), que só deve ser dito após se iniciar o novo ano lunar e Sun Tan Kin Hong (Boa Saúde), em mandarim: Gong Xi Fa Cai e Shen ti Jian Kang.


15 hoje macau sexta-feira 3.2.2017

em modo de perguntar

Paulo José Miranda

Luís Brito

“Escrevo tanto o que vivo como o que penso” Apesar de ainda só teres 30 anos, tens três livros publicados: Alcatrão (Abysmo, 2013), que é um livro de viagens, Arigato, eu (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016), que relata a tua experiência no Japão, e Jejum (Tea For One), que é um livro de poesia. Julgo que os teus livros deveriam ir para Macau, pois além de serem bons (escrevi uma pequena resenha sobre Alcatrão, para uma revista brasileira), inscrevem-se num universo muito caro às pessoas que ali vivem. Viajaste desde o Chile à Índia, passando por África e, mais tarde, passas uma longa temporada no Japão. Acerca de Alcatrão escrevi: “O viajante tem, em suma, de transformar-se em um sem-abrigo. Só nesta condição todo e qualquer metro quadrado do planeta se transforma em sua morada e esta em sua possibilidade de ver o mundo. A dúvida acerca da proximidade e distância entre viajante e sem-abrigo, é, aliás, exposta em algumas passagens do livro.” O que te leva a viajar é o mesmo que te leva a escrever? São da mesma ordem, esses movimentos, para fora e para dentro? A verdade é que gosto de viajar como um zarolho. Um olho aberto e outro fechado, sabendo que o primeiro vê o que vai lá fora, e o segundo espreita para dentro. A meu ver, as viagens devem ser simbioticamente exteriores e interiores, pois é nos espelhos do mundo, e na autoconsciência do que eles reflectem em nós, que está o verdadeiro crescimento. E isso aparece-me na escrita. Escrevo tanto o que vivo como o que penso, sabendo que pensar é viver. E viver sem pensar é-me impossível. O que me leva a viajar talvez seja o mesmo que me leva aos livros: a curiosidade, virada para o mundo e virada para mim, e ainda o encontro com o homem nas situações mais exíguas, sem quaisquer luxos ou distracções, onde a sua natureza mais crua se revela. Recentemente numa entrevista disseste, e passo a citar-te: “O lançamento

do livro é um desporto com cada vez mais popularidade. Em Lisboa, em Portugal, no Mundo, e eu também aderi à modalidade.” Achas que deixámos de ler, para ir aos lançamentos dos livros? A literatura e a poesia passaram a ser fait divers? É difícil que os livros tenham a importância que merecem, quando há cada vez mais informação, eventos, actividades e ideias. Eu próprio sou um mau leitor, por isso essa frase, em tom de brincadeira, é antes de mais uma auto-crítica, mas sempre é melhor as pessoas irem aos lançamentos do que não irem de todo, assim lá se aumenta a probabilidade de lerem, e pelo menos o au-

tor tem o prazer de ver caras queridas. Se os lançamentos e as obras modernos são fait divers? Talvez seja verdade, mas pelo menos não são dos piores. Sempre se aprende qualquer coisa e, salvo as árvores que se decapitam para dar lugar às folhas de papel, na arte normalmente ninguém sai prejudicado. Além de viajares por países em modo pouco turista, vives também de um modo pouco turista, apesar de dependeres deles. Trabalhavas numa agência de publicidade e despediste-te para passares a tocar hang drum (ou cataplana, como eu lhe chamo) para os turistas. Esse teu modo de viver continuamente

“No vazio, no anonimato e na errância encontramos mais e mais camadas de força e inteligência, além da tão necessária capacidade de fazer contacto humano. Quanto mais diferente de nós for o outro, mais intensa pode ser a catarse.”

sem rede é fascinante. Não consegues mesmo viver como os outros? Tanto no que toca às viagens, como a esta nova carreira de músico de rua, as pessoas costumam dizer-me que sou um tipo de coragem. Eu respondo-lhes que corajoso seria se me mantivesse muito tempo no mesmo sítio, por exemplo, fechado num escritório. Há, sem dúvida um contra senso: sou anti-turista e agora vivo do turismo. Pode-se dizer que faço haiki-dô, usando a meu favor a força do inimigo. No entanto, este trabalho permite-me viajar sem sair do sítio, pois contacto com gente de muitos lugares, acabando até por conhecer também alguns viajantes pouco turistas. E da fissura entre essa ideologia e a prática concreta, pode nascer um caso de estudo, aliás, ando a escrever sobre essa experiência. Se não consigo viver como os outros? Cada um é a vida como ele a vê. E a verdade é que estas opções que tomo não são assim tão radicais, se as compararmos a um nível global e aos verdadeiros loucos, os que fazem coisas verdadeiramente audazes, arriscando a vida e até a vida dos que lhes são próximos, ou viver uma vida longe deles. Concordas com esta frase: “viajar é um exercício de tentar perder-se de si, um dos caminho mais rápidos em direcção a nós mesmos”? Não só concordo como subscrevo, e atrevo-me a corrigir. É o mais rápido e o melhor, pelo menos tal como eu concebo a vida. Para nos tornarmos em quem somos, precisamos de nos soltar do mais possível do que nos ensinaram, do que aprendemos, do que vivemos dia a dia sem perguntar, a famosa zona de conforto, a acumulação de ideias que temos sobre nós mesmos. No vazio, no anonimato e na errância encontramos mais e mais camadas de força e inteligência, além da tão necessária capacidade de fazer contacto humano. Quanto mais diferente de nós for o outro, mais intensa pode ser a catarse. É um lugar comum, mas a verdade é que só nos perdendo nos podemos encontrar.


16 hoje macau sexta-feira 3.2.2017

um grito no deserto

Perspectivas para o Ano do Galo

E

M primeiro lugar, quero desejar a todos saúde e prosperidade para este Ano do Galo. Os antigos chineses acreditavam desde tempos ancestrais que o galo possuía cinco virtudes, o dom da literatura, faculdades militares, bravura, benevolência e fiabilidade. Mas, hoje em dia, raras são as pessoas possuidoras destas virtudes. Na minha opinião, a atribuição destas virtudes ao galo era uma forma de satirizar a desumanidade do Homem. Desde o regresso à soberania chinesa, Macau e Hong Kong passaram por muitas mudanças, no entanto do ponto de vista político não se registaram quaisquer progressos. Espero que as alterações a este nível se comecem a manifestar a partir da segunda metade do Ano do Galo! Em 2012 Henry Tang Ying-yen e Leung Chun Ying foram candidatos às eleições para Chefe do Executivo de Hong Kong. Mas só devido à actuação dos grupos de pressão pró-China, o candidato eleito conseguiu evitar a embaraçosa situação de ser escolhido para o cargo com menos de 50% dos votos. Depois de Leung Chun Ying ter assumido o poder a expensas alheias, não tentou unificar as várias facções do campo pró-regime, originadas pelas eleições. Em vez disso, manteve uma governação nepotista, autocrática e de estilo ditatorial que ainda criou mais cisões na sociedade de Hong Kong. Se olharmos para as reformas constitucionais teremos de salientar que, embora a Decisão de 31 de Agosto de 2014 (o método para seleccionar do Chefe do Executivo no 4º mandato em 2012, que se mantém em vigor para o 5º mandato de 2017) tenha sido tomada pelo Governo Central da China, Leung Chun Ying não se esforçou por apresentar ao poder central uma proposta que reflectisse a vontade da opinião pública de Hong Kong quanto a esta matéria. Limitou-se a curvar-se perante os pontos de vista dos membros do Governo Central e ignorou o sentimento das pessoas de Hong Kong. Daqui resultou o insucesso da reforma constitucional na mobilização das consciências políticas locais. E na sequência destes acontecimentos, Leung Chun Ying não tentou sequer pacificar a população depois das forças policiais terem lançado gás lacrimogéneo sobre manifestantes. Optou, em vez disso, por levantar a questão “da independência de Hong Kong” e por enfatizar os problemas internos da cidade agitando o fantasma da cisão nacional (da China). Quis eliminar todas as forças de oposição, servindo o Governo Central e criando condições para a sua reeleição. Podemos afirmar que a recente decisão que tomou de retirar a candidatura à reeleição foi resultado de procedimentos errados da sua parte. Se o resultado do próximo escrutínio para a eleição do Chefe do Executivo não for determinado pela livre

SIDNEY LUMET, 12 ANGRY MEN

OPINIÃO

vontade dos membros da Comissão Eleitoral de Hong Kong, mas sim pela manipulação de bastidores, que deu lugar à eleição do antigo Secretário da Administração, não irá haver paz na cidade. Resta-nos saber se o Governo Central terá aprendido a lição das eleições de 2012 e, se será ou não capaz de se abster de interferir no processo eleitoral de 2017. Disso irão depender a estabilidade e a prosperidade futuras de Hong Kong. Em Macau a Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa já está oficialmente constituída e terá um papel determinante para garantir que as eleições venham a ser justas e transparentes, mas

Se os macaenses quiserem alterar o status quo, devem deixar de se queixar e tomar medidas que lhes permitam conduzir a mudança. Terão de participar activamente na discussão dos temas de interesse social, aprender a distinguir o verdadeiro do falso e votar pelo futuro de Macau

para isso terá de se empenhar num combate eficaz à corrupção eleitoral. Comparado com Hong Kong, Macau é politicamente mais imaturo, já que a classe dirigente e os políticos em geral não se empenharam na educação cívica das populações, o que resultou na apatia política das gerações mais jovens. A implementação dos 15 anos de educação gratuita apenas conseguiu garantir 15 anos de escolaridade, mas falhou o objectivo de levar os jovens a absorver os princípios nos quais a educação se sustenta. O desenvolvimento anormal do conceito de ecologia política em Macau levou a uma deformação social. As próximas eleições de Setembro para a Assembleia Legislativa irão determinar o destino da cidade, através do uso do direito de voto. Se esta campanha continuar a ser dominada pelas más práticas de suborno, (oferta de refeições e mantimentos), ou benefícios (viagens, presentes, compensações monetárias), Macau irá a caminho da perdição. A economia determina as condições de sobrevivência dos povos, mas a política deve dominar a economia. Se os macaenses quiserem alterar o status quo, devem deixar de se queixar e tomar medidas que lhes permitam conduzir a mudança. Terão de participar activamente na discussão dos temas de interesse social, aprender a distinguir o verdadeiro do falso e votar pelo futuro de Macau. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático

PAUL CHAN WAI CHI


17 hoje macau sexta-feira 3.2.2017

OPINIÃO

contramão

ISABEL CASTRO

O desigual

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

muitas vezes de forma legítima, por vontade da maioria popular. Quando se sentam na cadeira do poder, pouco ou nada interessa por que razão ali se instalaram, uma vez que já se esqueceram. E como são loucos, fazem o que lhe dá na gana, contornam obstáculos e derrubam opositores, calam as vozes de protesto e iludem os apoiantes com algum pão e uma dose substancial de espectáculo. Nos povos em que a maioria pouco mais tem, ao nascimento, do que um farrapo a embrulhar o corpo, os loucos costumam permanecer no poder; nos sítios onde a maioria tem, pelo menos, um lençol limpo, o caso costuma ser outro. Mas não existe uma regra, diz-nos a história desde que é escrita. Há um homem no poder do mundo, neste momento, que desconhece que todos nós, quando nascemos, somos irremediavelmente iguais. Não é o único a pensar assim – o que não falta é gente por aí com o mesmo pensamento quadrado, ideias que chocam com os ângulos da forma geométrica e dali não saem. Todos nós ALFRED HITCHCOCK, PSYCHO

N

ASCEMOS todos irremediavelmente iguais. É uma verdade que não agrada a todos, bem sei, mas é um facto incontestável. Nascemos iguais no desamparo da separação do ventre, na solidão do corte do cordão umbilical, na necessidade extrema de aconchego, na insaciável necessidade de pele. Só na morte voltamos a experimentar semelhante condição de igualdade. Também ela é solidão, mesmo que haja outras mortes à nossa volta. Nascemos inevitavelmente iguais, mas o problema acontece logo depois, na tesoura que nos corta a protecção e no pano que nos embrulha. Apesar de sermos muito iguais no acto de nascer – mesmo com todas as diferenças físicas que partilhamos uns com os outros –, há quem seja envolvido no único farrapo disponível. E depois há quem tenha um lençol lavado e uma manta quente. Deixamos de ser todos tão iguais. A desigualdade vai acontecendo ao longo da vida. Pais, sem pais, com educação, sem ela. Religião, sem religião, pão, sem pão, saúde, sem ela. A desigualdade é uma cena tramada essencialmente para aqueles que são mais desiguais do que os outros, porque reduz a hipótese do sonho. Olhamos para os nossos filhos, pequenos, e imaginamos que terão o mundo ao alcance do que quiserem dele. Aos filhos de quem vive na guerra resta, com sorte, a sobrevivência. No meio de um mundo profundamente desigual, há boas almas que lutam pela igualdade. Deixam os lençóis e as mantas quentes em que nasceram para estarem ao lado daqueles que, nascidos iguais, tiveram o azar dos acontecimentos. Ou o azar da cor da pele. Ou o azar da religião que passou a maldita. Boas almas também não faltam entre os que levaram com toda a desigualdade possível: têm um farrapo a mais do que o vizinho e, por terem essa fortuna, partilham-na com quem precisa dela. É assim que sucede desde que se escreve a história. E desde que a história se escreve que há loucos e que há gente com os princípios ao contrário. Quando um louco tem os princípios ao contrário, assume contornos assustadores. Quando um louco tem os princípios ao contrário e, qual cereja podre em cima do bolo, é também ignorante, aqueles que estão em seu redor devem ter cuidado, muito cuidado. Desde que se escreve a história que loucos deste género chegaram ao poder,

conhecemos pessoas assim, por esse mundo fora e neste mundo aqui dentro também. Os imigrantes do Sudeste Asiático são menos gente. Os migrantes da China Continental são menos gente também. Os muçulmanos são isto. Os judeus são aquilo. Os judeus foram sempre muita coisa, consoante os anos em que a história se escreveu, e os muçulmanos também. E os católicos e os budistas e todos os outros, os brancos, os menos brancos, os pretos, os mulatos, os de olhos rasgados e os de olhos menos

Quando um louco tem os princípios ao contrário e, qual cereja podre em cima do bolo, é também ignorante, aqueles que estão em seu redor devem ter cuidado

rasgados. É o que nos diz a história desde que é escrita e eu acredito nela. O problema acontece porque temos um homem com poder no mundo que junta loucura, princípios ao contrário, ignorância e uma extraordinária influência em termos globais. É um homem que não sabe que a diferença entre os homens é uma questão de cor, pelo que somos todos iguais nessa desigualdade. E que a verdadeira diferença, a mais importante de todas – a impossibilidade de sonhar com a igualdade – só existe por causa de homens mais ou menos como ele. Desde que a história se escreve que os homens revelam uma enorme incapacidade de aprender com a história que se escreveu. Quero acreditar que, desta vez, será diferente. E que tudo aquilo que leio não passará de uma experiência muito breve de um louco que nasceu igual a mim, morrerá com igual solidão, mas a vida dele fez-nos desiguais, não pela cor laranja que exibe e que eu não tenho, mas por lhe terem acontecido princípios ao contrário e uma ignorância que toca no azar a poucos.


18 (F)UTILIDADES TEMPO

C H U VA

hoje macau sexta-feira 3.2.2017

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1

?

FRACA

MIN

15

MAX

19

HUM

70-95%

EURO

8.64

BAHT

EXPOSIÇÃO “52ª EXPOSIÇÃO DO FOTÓGRAFO DA VIDA SELVAGEM DO ANO” Centro de Ciência (Até 21/02)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “OBSERVAÇÕES”, DE MANUELA MARTINS Casa Garden (Até 04/02)

C I N E M A PROBLEMA 168

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 167

UM LIVRO HOJE

RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER SALA 1

RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER [C] Filme de: Paul W.S. Anderson Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Shawn Roberts, Ruby Rose 14.30, 21.30, 23.30

RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER [C][3D] Filme de: Paul W.S. Anderson Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Shawn Roberts, Ruby Rose 19.30

THE LEGO®BATMAN MOVIE [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Chris Mckay 16.30 SALA 2

POKÉMON THE MOVIE 19: VOLCANION AND THE

MECHANICAL MARVEL [A] FALADO EM CANTONÊS COM LEGENDAS EM INGLÊS Filme de: Kunihiko Yuyama 14.15, 16.00, 17.45

LA LA LAND [B]

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “I’M TOO SAD TO TELL YOU”, DE JOSÉ DRUMMOND Casa Garden, (Até 24/02)

Cineteatro

1.16

OS ENVELOPES

EXPOSIÇÃO “33 ANOS NA RÁDIO DO LOCUTOR LEONG SONG FONG” Academia Jao Tsung-I (Até 05/02)

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

YUAN

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “CHANGE OF TIMES” DE ERIC FOK Galeria do IFT

EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau

0.22

Hoje acordei, espreguicei-me e pensei em capitalismo, em como é inevitável, invencível e profundamente humano. Ubíquo desde que os humanos foram infectados pelos vírus da matemática e do ego, omnipresente desde tenra idade, universal desde do nascimento da noção de self e possessão. Até mesmo numa sociedade como a chinesa, berço do maoismo, do taoismo, um esteio do budismo, assim como outras filosofias adversas ao mais vil “ismo” – o capitalismo – o dinheiro acha sempre forma de se infiltrar. É como a água, corre inevitável. Vê-se isso nos costumes, chega o ano novo chinês e os envelopes vermelhos circulam de mão em mão. O pretexto é a sorte, mas não se distribuem trevos de quatro folhas, patas de coelho, dentes de leão ou lágrimas de palhaço, sei lá... Não, distribui-se dinheiro. Nos templos erguem-se preces aos deuses, queima-se incenso, a pedir saúde, sorte e... dinheiro. Os espíritos malignos que os envelopes de lai-si parecem querer afastar são os fantasmas do crédito malparado, os demónios da dívida, os diabos da bolsa vazia. Claro que há envelopes com dinheiro em todas as sociedades. Quem nunca foi a um casamento ou viu “O Padrinho”? Assim que a China se abriu ao mundo, depois de décadas de hibernação no casulo do comunismo, fê-lo para conquistar a economia global usando as armas do seu rival filosófico: o capitalismo. A nova China, que alimenta Macau, veste-se com trajes de novo-riquismo, como um garboso dragão de avareza, hábil, profundamente materialista, lançando promessas de tudo engolir. Pu Yi

ERNEST HEMINGWAY | “PARIS É UMA FESTA”

Esta obra é uma compilação de escritos de Hemingway acabado de chegar a Paris com a sua primeira esposa, que acabou por editar o livro depois da morte do autor. Reúne as impressões do escritor da sociedade das artes parisiense, dos encontros fortuitos com alguns dos seus heróis, como Ezra Pound, Scott Fitzgerald, James Joyce, Gertrude Stein e até mesmo Pablo Picasso. Sente-se a insegurança de um jovem escritor, que busca aceitação dos seus pares, numa cidade que não pára, de festa em festa, de garrafa de vinho em garrafa de vinho. Um vigoroso retrato da Paris da década de 20, uma permanente festa móvel. João Luz

Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.30, 22.00 SALA 3

MOANA [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Ron Clements, John Musker 14.00,16.05, 18.10, 20.15

THE LEGO®BATMAN MOVIE [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Chris Mckay 22.15

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19 hoje macau sexta-feira 3.2.2017

PERFIL

ANA LARA CLEMENTE, PROFESSORA

A

“Sou uma fã de Macau”

NA Lara Clemente chegou há quatro anos e meio e cedo se apaixonou pela cidade. Os cheiros, as pessoas, as vivências e as ruas fizeram da professora, criada em Santarém, uma apreciadora de Macau. Até passou a ver algum encanto na confusão. “Sou uma fã de Macau, adoro cá viver, adoro o clima, adoro as pessoas, adoro tudo.” Ana Lara Clemente, professora do ensino básico, trabalha hoje com crianças de Jardim de Infância. Mas as facetas apaixonantes da região não se ficam por aqui. “Adoro os cheiros, adoro andar pelas ruas, até da confusão, por incrível que pareça, porque venho de uma cidade em que não há confusão”, acrescenta a professora. Hoje em dia gosta do burburinho do território, assim como das pessoas que partilham as artérias de Macau. “Têm uma cultura muito diferente da nossa, são mais fechados, mas identifiquei-me com isso, porque era, também, uma pessoa reservada”, confessa. Era! Actualmente, comunica muito mais, está mais aberta aos outros, uma evolução pessoal que atribui a Macau. A sua adoração pela região começou com umas férias de uma semana, preliminares a

uma viagem à Tailândia. A sua impressão da cidade já tinha sido boa, apesar da confusão reinante que a baralhou um pouco. Ana Lara tinha cá família, os cunhados, e a sua vida mudou quando o marido veio para Macau trabalhar. Então, no Verão de 2012, veio de malas aviadas para a Ásia, com uma filhota pequena, Carolina, que foi a sua primeira alavanca social. “Foi óptimo para mim a minha filha entrar na escola, porque acabei por fazer muitas amizades com os pais das colegas dela, criei o meu grupo de amigos, que mantenho até hoje”, conta. Macau continua a seduzir Ana Lara, em todos os mercados, nos passeios que dá com as filhas na zona dos Três Candeeiros, na vila da Taipa, nos monumentos que gosta de visitar. Mas quando se questiona sobre o sítio que a mais marcou, a resposta é fácil: o Alto de Coloane. Outro dos prazeres que tem é levar as filhas aos parques, dar longos passeios, fazer uma visita aos pandas. A família também disfruta a oferta que Macau proporciona: sempre que há um bailado aproveita para levar as filhas e não dispensam uma ida ao cinema. A cidade acolheu-as, mas Ana Lara nota uma diferença entre Carolina e a filha mais nova, que nasceu

cá. “A Inês é muito filha de Macau”, conta. Enquanto a filha mais velha quer muito ir a Portugal, sempre impaciente com a chegada das férias, a mais nova, quando regressou de férias e chegou a casa, suspirou. Foi como se dissesse “esta é a minha terra, é aqui que tenho as minhas raízes”, recorda.

PROFESSORA MÃE

Desde criança que Ana Lara quis ser professora, a sua vida profissional é impulsionada por um sonho de infância. Lembra-se de brincar às professoras desde tenra idade. Porém, a sua experiência na escola primária não foi a melhor, à excepção da professora Isabel que, ainda hoje, recorda com carinho. “O que me inspirou a seguir este caminho foi o azar de ter tido maus professores no primeiro ciclo.” A experiência compeliu-a a ser uma melhor educadora, a procurar ser diferente. Uma espécie de vingança pedagógica. Criou uma empresa de centro de estudos e ocupação de tempos livres em Santarém, à qual se dedicou durante quatro anos, antes de vir dar aulas para Macau. Por cá encontrou alunos que são expostos a uma vida diferente, com mais facilidades, com um

maior acesso a tudo, que tomam o mundo como um dado adquirido. Isso reflecte-se no comportamento na sala de aula. A diferença é maior, principalmente porque Ana Lara trabalhou em Portugal quando a crise económica rebentou. No entanto, esta é a profissão que a realiza, até porque trabalha com “um público muito honesto e aberto”. Um dos factores que atribui ao seu crescimento profissional é o facto de ter sido mãe. Passou a compreender muito melhor as preocupações dos pais que, anteriormente, podia achar um pouco intrusivas. “Desde que fui mãe apercebi-me das razões pelas quais os pais querem participar. Querem estar atentos à educação dos filhos, saber o que se passa tanto na sala de aulas, como no recreio. A insistência não é porque se querem intrometer na vida dos professores.” O factor maternidade fez com que passasse a dar ainda mais atenção à comunicação com os pais, a criar uma boa relação que una a escola à família. João Luz

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Farelo vem de milho. E milho não existe.

sexta-feira 3.2.2017

Atlântido

PARLAMENTO BRITÂNICO DÁ PASSO PARA O BREXIT

Os deputados britânicos aprovaram o projecto-lei que autoriza o Governo de Theresa May a activar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que inicia o processo da saída do Reino Unido da União Europeia. O projecto-lei foi aprovado esta quarta-feira com 498 votos a favor e 114 contra. A lei passa agora para a Câmara dos Comuns e depois para a Câmara dos Lordes. No referendo de 23 de Junho de 2016 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit. Foi o Supremo Tribunal britânico a obrigar a que o Parlamento votasse o Brexit, mesmo após o referendo.

MAIS DE 100 FERIDOS EM INCÊNDIO NAS FILIPINAS

Mais de uma centena de pessoas ficaram feridas ontem, nas Filipinas, num incêndio numa fábrica de materiais para casas prefabricadas na província de Cavite, a sul de Manila. O governador de Cavite, Jesus Crispin Remulla, disse em declarações à CNN Filipinas que o número de feridos chegou aos 104, a maioria por intoxicação, e que, destes, 40 estão internados no hospital. As autoridades da província não afastam a possibilidade de haver vítimas mortais presas no edifício, já que ainda não foi concluída a contagem dos trabalhadores que se encontravam nas instalações. Acredita-se que o fogo começou na noite de quartafeira, na primeira das três fábricas do edifício da Housing Technology Industries (HTI), localizada num complexo industrial para empresas exportadoras na localidade de General Trias, a sul da ilha de Luzón. Alguns trabalhadores que se encontravam na fábrica disseram à impressa local que se ouviu uma explosão antes de o fogo se propagar por todas as instalações. As autoridades investigam agora as causas exactas do incêndio.

HUGO MIGUEL APITA PORTO-SPORTING

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Hugo Miguel vai ser o árbitro do FC Porto-Sporting. O árbitro de Lisboa volta a dirigir um Clássico, depois de na última época ter apitado o Sporting-FC Porto, duelo que os leões venceram por 2-0 com golos de Slimani. Esta época já arbitrou os dragões por uma vez, em Tondela no empate sem golos, e os leões por três vezes, duas para a Liga, triunfo sobre o Paços por 1-0 e derrota com o Sp. Braga por igual resultado, e ainda frente ao Arouca para a Taça da Liga, vitória por 1-0.

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E acordo com uma transcrição a que a Associated Press e CNN tiveram acesso, o Presidente norte-americano sugeriu enviar tropas para o México, durante um telefonema com o seu homólogo mexicano, Enrique Peña Nieto, noticia o Público. Os dois meios, citam, no entanto, transcrições ligeiramente diferentes do telefonema que aconteceu na última sexta-feira, depois de o Presidente mexicano se ter recusado a encontrar pessoalmente com Donald Trump. “Vocês têm um monte de bad hombres [homens maus]. Não estão a fazer o necessário para os travar. Penso que os vossos militares estão assustados. Os nossos militares não, por isso talvez os envie para que tratem disso”, cita a Associated Press, questionando uma possível ameaça norte-americana ao México. Já a CNN relata uma versão ligeiramente diferente, aparentemente menos dúbia sobre o tom da conversa entre os dois líderes. “Vocês têm um monte de hombres durões para os quais podem precisar de ajuda. Estamos dispostos a ajudá-los, mas eles têm de ser eliminados e vocês [México] não têm feito um bom trabalho nisso”, transcreve a CNN. O canal afirma que a fonte da AP não se trata de uma

TRUMP OFERECE AJUDA MILITAR AO MÉXICO CONTRA OS BAD HOMBRES

Palavra de “gringo”

“Vocês têm um monte de bad hombres [homens maus]. Não estão a fazer o necessário para os travar. Penso que os vossos militares estão assustados. Os nossos militares não, por isso talvez os envie para que tratem disso” DONALD TRUMP CITADO PELA A ASSOCIATED PRESS

transcrição, mas de notas do telefonema, feitas por assessores. Em entrevista à Radio Formula, Eduardo Sanchez, porta-voz do Presidente mexicano, garantiu que a oferta de Trump não constituía uma ameaça. Foi sim, “uma conversa produtiva”, esclareceu também Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca.

Não são, para já, conhecidos mais detalhes sobre se o apoio militar norte-americano no combate a gangues irá avançar ou quando irá acontecer. A Associated Press afirma ainda que os dois líderes concordaram em não falar publicamente sobre quem pagará a factura do muro.

MALÁSIA CRIA PROGRAMA PARA CONTRATAR REFUGIADOS ‘ROHINGYA’

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Malásia criou um plano para contratar refugiados ‘rohingya’, uma minoria muçulmana que sofre crescente discriminação na Birmânia (Myanmar), onde grupos de defesa dos direitos humanos denunciam homicídios, torturas e violações, disseram ontem fontes oficiais. O vice-primeiro-ministro malaio, Ahmad Zahid Hamidi, disse que o programa vai começar a 1 de Março, com a colocação nos sectores agrícola e de manufactura de 300 ‘rohingya’, cuja situação

precária foi reconhecida pelo Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), de acordo com um comunicado. Actualmente, a Malásia presta assistência a 149.474 refugiados registados com o ACNUR, dos quais 55.565 são ‘rohingyas’, indicam dados oficiais. Ahmad, que se reuniu ontem com representantes do ACNUR em Putrajaya, assinalou que a iniciativa vai permitir aos contratados ganhar dinheiro e formação profis-

sional, que será útil na recolocação num país terceiro. A Malásia tem particular interesse nos ‘rohingyas’ porque muitos elementos desta etnia procuram oportunidades em território malaio ou na Indonésia, outra nação de maioria islâmica que também manifestou preocupação pela situação destes muçulmanos. Pelo menos um milhão de ‘rohingyas’ vive em Rahkine, um estado do oeste da Birmânia, onde sofrem uma crescente discriminação, desde

2012, quando conflitos causaram pelo menos 160 mortos. Cerca de 120 mil ‘rohingyas’ ficaram confinados em 67 campos de deslocados. As autoridades birmanesas não reconhecem a cidadania desta etnia. São considerados imigrantes a quem são impostas diversas limitações, incluindo a restrição de movimentos. No vizinho Bangladesh, o país de origem desta comunidade, os ‘rohingyas’ também são tratados como estrangeiros.


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