MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 3 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4457
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ RÓMULO SANTOS
TATIANA LAGES
PETIÇÃO
CONTRA AS ENTRADAS
EUROPA
NÚMEROS SEM BRILHO
SINAIS DE ALERTA
PÁGINA 6
PÁGINAS 8-9
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JASON CHAO
‘‘O SILÊNCIO DOS OPOSITORES’’ ÚLTIMA
hojemacau
TIAGO ALCÂNTARA
PÁGINA 4
TURISMO
À quarta é de vez Foram necessárias quatro idas ao hospital para que uma mulher, com sintomas de febre e tosse, fosse finalmente internada e confirmada como o oitavo caso da Pneumonia de Wuhan em Macau. Os Serviços de Saúde rejeitam as críticas e acusam a paciente de ocultar o facto de ter estado internada no Interior da China. PÁGINAS 2-3
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As autoridades admitem a possibilidade do teste ser alargado a qualquer pessoa com sintomas que tenha estado em hospitais e clínicas no Interior da China
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M A mulher de Macau foi confirmada como o oitavo caso de Pneumonia de Wuhan no território. A mulher de 64 anos terá sido infectada durante deslocações a Zhuhai e Zhongshan, no Interior, e apenas foi internada no sábado, após quatro visitas aos hospitais locais, uma, primeira, ao Centro Hospitalar Conde São Januário e as seguintes ao Hospital Kiang Wu. Ontem, quando o caso foi apresentado, os Serviços de Saúde (SSM), através do director Lei Chin Ion, responsabilizaram a mulher que acusaram de ter omitido que tinha estado num hospital no Interior e desvalorizaram o facto de ter ido quatro vezes aos hospitais com febre e tosse. “A paciente não revelou todas as informações [sobre o seu itinerário no Interior da China]. As crí-
EPIDEMIA
ALTA PRESSAO MULHER DE MACAU IDENTIFICADA COMO OITAVO CASO DE PNEUMONIA DE WUHAN
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A residente só ficou em isolamento à quarta ida em seis dias aos hospitais locais. Os Serviços de Saúde acusam a mulher de ter escondido que tinha estado internada num hospital do Interior da China e o director da instituição avisou que críticas ao pessoal de saúde são “um ataque muito sério”. Lei Chin Ion mencionou também que a pressão afecta os trabalhadores e que em Hong Kong até vai haver greve
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“As críticas ao pessoal médico são um ataque muito sério aos nossos trabalhadores. Estes trabalhadores também são seres humanos e sacrificam-se pelo bem público.” LEI CHIN ION DIRECTOR DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
ticas ao pessoal médico são um ataque muito sério aos nossos trabalhadores. Estes trabalhadores também são seres humanos, podem ficar infectados e sacrificam-se pelo bem público. Merecem esse reconhecimento”, começou por dizer Lei Chin Ion sobre o caso. O director dos SSM apontou ainda que o pessoal do sector médico em Hong Kong vai entrar em greve e pediu para que em Macau as críticas sejam ignoradas: “Em Hong Kong já há greve dos trabalhadores de Saúde. Felizmente em Macau estamos em contacto directo com os trabalhadores. Tentei acalmar o pessoal [...] e elevar o moral destes funcionários que trabalharam para os cidadãos de Macau”, revelou. “Espero que o pessoal médico ignore as críticas”, acrescentou. Lei Chin Ion apelou igualmente aos cidadãos para serem honestos e recordou que as mentiras podem colocar
“em perigo” toda a sociedade, além de fazer com que “sejam criticados por todos”.
21 e até 23 de Janeiro, a mulher deslocou-se novamente ao Interior e foi a Sanxiang, em Zhongshan, onde terá permanecido e aproveitado para ir a um mercado comprar aves vivas. Regressa a Macau no dia 23 e até ir ao hospital pela primeira vez fica principalmente por casa, à excepção de deslocações ao Centro de Saúde da Areia Preta e idas às compras, num supermercado próximo do Edifício Pak Lei, onde reside. A 27 de Janeiro recorreu pela primeira vez ao Hospital Conde São Januário com sinto-
mas de tosse e febre. Após ser observada é enviada para casa. No dia 30 não regista melhorias e vai ao Hospital Kiang Wu, com sintomas de febre contínua. É enviada para casa. O mesmo volta a acontecer no dia seguinte. Finalmente, no sábado, além de tosse e febre a mulher queixou-se, no Hospital Kiang Wu, de uma dor abdominal no lado direito do corpo e pediu para ser internada. Um exame raio-X indicou a existência de inflamação dos pulmões, e a mulher foi transportada para o Hospital Conde São Januário, onde foi confirmada como o oitavo caso.
MULHER ARRISCA PENA DE PRISÃO
CONTACTO COM 288 PESSOAS
PERCURSO DA PACIENTE
O caso foi categorizado como “importado”, uma vez que a residente esteve internada entre 10 e 17 de Janeiro no Zhuhai Hospital of Integrated Traditional Chinese and Western Medicine devido a herpes zóster, uma reactivação do vírus da varicela. No dia 17 à tarde voltou a Macau e passou a maior parte do tempo em casa, assim como nos dias 18 e 20, porque sentia dores nas costas. Entre
A
questão de a mulher ter escondido a estadia num hospital de Zhuhai vai ser agora reencaminhada para as autoridades policiais para investigação, segundo a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. A pensionista arrisca-se a cumprir uma pena de prisão até seis meses ou ao pagamento de penal de multa de 60 dias. Em causa está o facto de o assunto poder ser considerado como “constar dados falsos” na declaração de saúde sobre o percurso no Interior.
Segundo as estimativas apresentadas pelo Governo, durante a deslocação aos hospitais da RAEM, a mulher terá estado em contacto com pelo menos 288 pessoas, entre as quais 27 médicos e enfermeiros, 230 pessoas que se encontravam
nos serviços de urgências e 31 na área de consultas externas. Além destas, a mulher circulou de táxi e apanhou o autocarro número 7, entre a Pérola Oriental e a Praceta 24 de Junho, em duas ocasiões. Por este motivo, as autoridades pedem às pessoas que tenham circulado neste autocarro que em caso de sintomas de febre, tosse ou dores de garganta que se apresentem no hospital, para observação. Como consequência do caso, o marido da mulher de 64 anos foi levado para observação, assim como um médico e enfermeiro que estiveram em contacto com a senhora, nas deslocações ao hospital. Sobre o facto de a mulher se ter deslocado quatro vezes até lhe ser feito o primeiro teste de despistagem, Lei Wai Seng, médico adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário, explicou que o exame de despistagem apenas se aplica a pessoas que tenham estado em contacto com infectados ou que apresentem sintomas de febre ou tosse e tenham estado em Wuhan e na Província de Hubei.
“A paciente não revelou todas as informações [sobre o seu itinerário no Interior da China].” Com todo este caso, as autoridades vão agora alargar o teste de despistagem a qualquer pessoa com sintomas que tenha estado em hospitais e clínicas no Interior da China. Porém, recusam fazer a todas as pessoas que entrem em Macau, devido ao tempo que levaria, assim como aos “custos avultados”. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
SSM Médico e enfermeiro em isolamento
Com a revelação do caso da primeira residente ficou igualmente a saber-se que um médico e um enfermeiro tiveram de ser isolados, pelo facto de terem estado em contacto com a mulher. Também o marido teve de ser isolado. Contas feitas, Macau tem actualmente oito casos confirmados e registou 146 casos suspeitos, dois quais 132 foram considerados negativos. Em caso de isolamento, as pessoas têm sido levadas para as instalações dos SSM no Alto de Coloane e precisam de passar 14 dias em isolamento, tempo de incubação da doença.
Máscaras Governo vendeu cerca de 5 milhões de unidades
Na primeira fase do programa de fornecimento de máscaras foram vendidas cerca de 5 milhões de máscaras, revelou, ontem, o Executivo, durante a conferência de imprensa. Inicialmente o Governo anunciou planos para a importação de 20 milhões de máscaras para residentes e não-residentes, numa medida com cariz especial. As pessoas, através da apresentação do documento de identificação, são autorizadas a comprar 10 máscaras a cada 10 dias pelo preço de 8 patacas, tendo a segunda fase da compra arrancado ontem.
TNR Apelo para que oriundos de Zhuhai fiquem em casa
O Executivo apela aos trabalhadores não-residentes [TNR] que vivem em Zhuhai que evitem vir a Macau. O objectivo passa por evitar contaminação entre as duas regiões chinesas e o apelo foi deixado ontem, na conferência de imprensa do Governo. Segundos os dados apresentados, há cerca de 35 mil TNR que diariamente se deslocam entre Macau e Zhuhai, mas o Executivo apela à compreensão das empresas, para que os TNR considerados fundamentais fiquem sempre na RAEM e os outros sempre em Zhuhai. O Governo pediu ainda aos patrões para que paguem os custos do alojamento em Macau dos TNR que vivem em Zhuhai, de forma a evitar a contaminação entre fronteiras.
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O “cheque” vem mais cedo Comparticipação pecuniária vai começar a ser distribuída em Abril
O Agnes Lam, deputada “O Governo respondeu à situação de forma bastante rápida e fez um bom trabalho no controlo [dos casos]. Mas se tivesse adoptado um controlo mais severo mais cedo, poderíamos ter uma grande oportunidade de evitar casos de infecção a nível local.”
PETIÇÕES DEPUTADOS QUEREM TRAVAR ENTRADA DE CIDADÃOS DO INTERIOR
A raiz do problema
Os deputados Sulu Sou e Agnes Lam lançaram petições a pedir para travar a entrada de cidadãos oriundos da China durante um breve período de tempo. José Pereira Coutinho lamenta a falta de comunicação entre os Serviços de Saúde de Macau e o pessoal médico da linha da frente
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ERMINADO o período de férias do Ano Novo Chinês e com oito casos de infecção por coronavírus confirmados no território, o Governo recebeu duas petições lançadas pelos deputados Agnes Lam e Sulu Sou, este último ligado à Associação Novo Macau (ANM), onde se pede a proibição temporária de entrada aos cidadãos da China, sobretudo os oriundos da província de Hubei. No caso da petição lançada por Agnes Lam, a entrega aconteceu no passado dia 26 de Fevereiro e pedia “às pessoas para votarem se achavam que se deveria minimizar o movimento das pessoas nas fronteiras e permitir que apenas residentes de Macau e trabalhadores não residentes passassem as fronteiras durante 14 dias”, explicou a deputada ao HM. A petição foi assinada por 20 mil pessoas em apenas uma hora, com 99 por cento dos
inquiridos a defender a proibição de entrada de cidadãos chineses. Para a deputada, a situação de contágio por coronavírus poderia ter sido travada desde o início. “O Governo respondeu à situação de forma bastante rápida e fez um bom trabalho no controlo [dos casos]. Mas se tivesse adoptado um controlo mais severo mais cedo, poderíamos ter uma grande oportunidade de evitar casos de infecção a nível local”, frisou Agnes Lam. Objectivos semelhantes tem a petição lançada pelo deputado Sulu Sou e também entregue na sede do Governo no passado dia 26. “Tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Exigimos ao Chefe do Executivo para parar com as hesitações e tomar medidas de emergência de acordo com a lei, ordenando uma proibição temporária de entrada dos turistas do Continente, sobretudo aqueles que visitaram a província de Hubei
nos últimos dois meses”, lê-se na petição.
FALHAS DE COMUNICAÇÃO
Apesar de não ter subscrito nenhuma das petições, o deputado José Pereira Coutinho também concorda com a proibição temporária de entrada de cidadãos da China no território. Mas o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau vai mais longe e fala de problemas na resposta médica aos casos de coronavírus. “Até agora as medidas adoptadas pelo Governo têm sido, de certa forma, positivas. Mas deveria ser prestada mais atenção ao pessoal da linha da frente, sobretudo na área da saúde, pois continua a haver uma gestão deficiente no rastreio de suspeito de portadores do coronavírus”, disse ao HM. “Tenho recebido diariamente mensagens do pessoal que trabalha no serviço de urgência do Centro Hospitalar Conde de
São Januário a queixar-se de um défice de comunicação entre a direcção dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) e o pessoal da linha da frente. Há falta de equipamento de protecção pessoal para médicos e enfermeiros. Faltam óculos especiais para a protecção dos olhos e não há vestes suficientes”, acusou o deputado. Fora da área da saúde, José Pereira Coutinho alerta para o facto de “inspectores de vários serviços públicos que trabalham diariamente nas vias públicas não terem protecção alguma”, dando como exemplo a Direcção dos Serviços de Economia, Serviços para os Assuntos Laborais e Serviços para os Assuntos de Tráfego. “Não existe uniformização na protecção dos trabalhadores da linha da frente, onde uns são filhos (Forças de Segurança de Macau) e outros são enteados”, frisou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
risco de epidemia levou o Governo a antecipar a distribuição da comparticipação pecuniária aos residentes, que em vez de Julho, vai começar a ser entregue em Abril. A medida foi anunciada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, na sexta-feira passada. “Acreditamos que há residentes de Macau que estão a sentir dificuldades económicas”, justificou o membro do Governo. De acordo com os valores previstos para este ano, os residentes permanentes vão receber um cheque no valor de 10 mil patacas e os não-permanentes recebem seis mil patacas. O valor é igual ao apresentado no ano passado. Quando anunciou a antecipação do pagamento, o secretário foi confrontado com a possibilidade de haver um pagamento extra, além das 10 mil e 6 mil patacas, mas acabou por não responder à pergunta. O cenário também não foi negado. A medida vai ter um custo de 7,1 mil milhões de patacas aos cofres na RAEM. Ainda no âmbito das medidas a pensar no impacto económico do surto, o Executivo anunciou que as pes-
soas que arrendam espaços aos Governo ficam isentas do pagamento de renda por um período de três meses. A medida afecta apenas os arrendamentos ao Governo, mas Lei Wai Nong apelou aos privados que tenham em conta o impacto da epidemia para as Pequenas e Médias Empresas.
SERVIÇOS MÍNIMOS
Também na sexta-feira o Executivo anunciou que o Governo vai funcionar com serviços mínimos, como forma de prevenir e controlar a epidemia, o que vai permitir que “a maioria dos funcionários públicos” fique em casa esta semana. “A partir do dia 3 e até dia 7 de Fevereiro vamos manter os serviços públicos de base e de nível urgente”, afirmou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. A responsável apelou ainda para que os funcionários fiquem mesmo em casa durante este período. “Para evitar e prevenir a situação, aqueles que não precisam de se deslocar ao local de trabalho devem evitar sair de casa”, frisou.
Assembleia Legislativa Serviços de atendimento estão limitados
A Assembleia Legislativa (AL) emitiu ontem uma nota relativamente ao funcionamento dos serviços de atendimento do órgão legislativo, que estarão limitados devido ao coronavírus. O comunicado aponta para o facto de hoje, quarta e sexta-feira “os serviços de apoio à AL estarão abertos, de forma limitada e por turnos, das 09h00 às 13h00, para prestação de serviço de atendimento aos cidadãos com solicitações urgentes”. Além disso, e consoante “a evolução dos trabalhos de prevenção epidemiológica, as eventuais alterações a introduzir na medida acima referida serão divulgadas atempadamente ao público”.
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medida que os dias passam, os crimes relacionados com o novo tipo de coronavírus começam a surgir em Macau. Desta feita, um agente de seguros terá utilizado os dados do Bilhete de Identidade de Residente (BIR) de um cliente para adquirir máscaras de forma ilícita numa farmácia localizada na Taipa. Segundo informações avançadas pelo jornal Exmoo, o alerta foi dado no passado dia 29 de Janeiro quando um residente de Macau foi surpreendido no momento em que tentava adquirir máscaras numa farmácia na Avenida da Longevidade, depois de ter sido informado que as informações do seu (BIR) já teriam sido utilizadas para o mesmo fim, dias antes, a 26 de Janeiro, numa farmácia situada na Estrada Governador Albano de Oliveira, na Taipa. Chamada ao local para esclarecer o caso, a Polícia de Segurança Pública (PSP) deu início a uma investigação que levou à identificação de um homem, residente de Macau, com 30 anos de idade. Segundo a mesma fonte, o suspeito, de apelido Chan, confessou ter usado os dados constantes no BIR da vítima, cliente a quem terá vendido um seguro, para comprar máscaras na referida farmácia localizada na Taipa. De acordo com a PSP, o alegado agente de seguros é suspeito do crime de “uso de documento de identificação alheio” e, após investigação, será encaminhado para o Ministério Público. Por ter utilizado um documento de identificação alheio para benefício próprio, segundo a lei, o suspeito pode ser punido com uma pena de prisão até três anos ou com pena de multa. Num comunicado divulgado ontem pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, os Serviços de Saúde (SS) esclareceram que, de forma a evitar “o uso abusivo ou falsificação dos números do BIR dos residentes” a venda de máscara apenas pode ser feita mediante apresentação de documentação original, não sendo válidas nem cópias do BIR, nem a apresentação do número do documento. “Os Serviços de Saúde solicitaram às instituições que prestam os serviços, apenas a aceitação, para a venda das máscaras fornecidas pelos Serviço de Saúde, do original do BIR apresentado pelos residentes”, pode ler-se no comunicado.
ILEGAL DETIDO
Na passada sexta-feira o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) anunciou ter detido um homem do Interior da China que estava desaparecido desde a tarde do dia anterior, após ter fugido durante a realização de exames de despistagem ao vírus da pneumonia de Wuhan. Depois de ter preenchido a declaração de saúde, o indivíduo afirmou ter estado em Wuhan entre
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À boleia do vírus
Um residente de Macau foi surpreendido quando tentava adquirir máscaras, após ter sido informado que os seus dados pessoais já tinham sido utilizados noutra farmácia, para o mesmo fim. Recentemente, também a pretexto da pneumonia de Wuhan, um homem foi detido por ter entrado ilegalmente em Macau UM Teste para fazer rastreio em 30 minutos
A Universidade de Macau (UM) “intensificou o desenvolvimento de um sistema (...) para ajudar a combater o surto” do coronavírus de Wuhan, um ‘kit’ de teste rápido que acelera o processo de detecção do vírus, anunciou ontem a instituição. “A fim de acelerar a detecção de novos coronavírus” a UM “intensificou o desenvolvimento de um sistema (...) para ajudar a combater o surto epidémico”, pode ler-se no comunicado. “Com a ajuda do ‘Virus Hunter’, um ‘kit’ de teste rápido desenvolvido com a tecnologia patenteada da UM, todo o processo de detecção de vírus pode ser concluído em 30 minutos”. O ‘kit’ em causa é “desenvolvido pela Digifluidic Biotech Ltd e é suportado pela tecnologia patenteada da UM. Uma das vantagens é que “permite que o pessoal da linha de frente realize testes rápidos no local em pacientes com suspeita de coronavírus e, assim, ajuda a optimizar o processo de detecção”.
IAS Adiada avaliação de deficiência
20 e 24 de Janeiro, fazendo dele um caso suspeito da doença. Após a detenção, o imigrante ilegal suspeito de estar infectado com o novo coronavírus foi levado para o Ministério Público e vai agora responder pela prática de dois crimes:
reentrada ilegal, que acarreta uma pena máxima de um ano, e crime de evasão, cuja pena máxima pode chegar aos dois anos de prisão. O facto de o residente do Interior, com cerca de 45 anos, ser acusado de “reentrada ilegal” significa que anteriormente já
“Um agente de seguros terá utilizado os dados do Bilhete de Identidade de Residente (BIR) de um cliente para adquirir máscaras de forma ilícita numa farmácia localizada na Taipa”
havia sido expulso do território pelo CPSP por se encontrar numa situação de imigração ilegal. Reagindo ao caso por ocasião de uma conferência de imprensa, o Executivo colocou a hipótese de o homem nunca ter estado em Wuhan e de apenas ter declarado esse facto de forma a ter uma oportunidade para fugir. Segundo os Serviços de Saúde, após o exame efectuado antes da fuga ter dado negativo para o novo tipo de coronavírus, o homem vai ser agora sujeito a um segundo teste.
O Instituto de Acção Social (IAS) decidiu adiar o trabalho de avaliação da deficiência respeitante à emissão do Cartão de Registo de Avaliação da Deficiência, o qual estava agendado para hoje. De acordo com uma nota oficial ontem emitida, “os indivíduos com avaliações marcadas não necessitarão de deslocar-se às instituições de saúde e de avaliação, de modo a reduzir os respectivos riscos de infecção que possam ocorrer”. Nesse sentido, “o IAS e as instituições responsáveis pela avaliação irão notificar individualmente as pessoas envolvidas”. “Após a atenuação da tensão epidémica, o IAS irá organizar, de forma ordenada, os respectivos trabalhos de avaliação”, aponta a mesma nota.
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TURISMO NÚMERO DE VISITANTES CAI PERTO DE 80%
Semana negra
RÓMULO SANTOS
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Naquela que costuma ser uma das semanas mais movimentadas do ano, Macau registou quebras acentuadas, deixando a cidade irreconhecível durante as celebrações do ano novo chinês. Sem razões para festejar ficou também o sector do jogo, cujas receitas caíram 11,3 por cento
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ACAU recebeu 260 mil visitantes durante os feriados da semana dourada do Ano Novo Lunar (24 a 30 de Janeiro), registando uma queda de 78,3 por cento em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com as estatísticas divulgadas pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em 2019, Macau acolheu 1,2 milhões de visitantes durante a semana dourada. Na base desta descida avultada está o surto do novo coronavírus de Wuhan que afectou drasticamente a vinda de turistas para a região, principalmente oriundos do mercado da Grande China. “O número de visitantes do Interior da China, principal mercado de visitantes de Macau, desceu mais de 80 por cento. Por outro lado, o número de visitantes de Hong Kong, da região de Taiwan e internacionais diminuiu mais de metade”, pode ler-se no comunicado da DST.
Assim, dos 260 mil visitantes que optaram por vir a Macau durante a semana dourada, 149 mil eram provenientes do Interior da China (57,2 por cento) numa diminuição de 83,3 por cento, 76 mil de Hong Kong, descendo 66,7 por cento, 10 mil de Taiwan, numa descida de 53,5 por cento e 26 mil provenientes dos mercados internacionais, uma descida de 56,2 por cento.
“De acordo com a nossa avaliação de risco e as medidas postas em prática dentro dos casinos, ainda é seguro que as operações sejam mantidas, tanto para colaboradores como para as chefias.” LEI WAI NONG SECRETÁRIO PARA A ECONOMIA E FINANÇAS
Recorde-se que, para além da extensão dos dias feriados da semana dourada até ao dia de ontem, foram tomadas medidas adicionais de prevenção não só em Macau, como o encerramento de museus e o cancelamento das celebrações do ano novo chinês, mas também além-fronteiras, na China continental, onde inúmeras cidades ficaram de “quarentena”, impedindo milhões de pessoas de viajar.
CASINOS MARCAM PASSO
Enquanto vão vivendo na sombra de um eventual encerramento, caso venha a verificar-se o agravamento do surto do novo coronavírus de Wuhan, os casinos de Macau registaram, em Janeiro, uma queda de 11,3 por cento das receitas brutas de jogo. Segundo a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos trata-se de uma descida anual de 22,12 mil milhões de patacas. Os valores de Janeiro são semelhantes aos registados em Novembro (22,87 mil
milhões) e Dezembro (22,83 mil milhões). Na passada sexta-feira Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, já antecipara por ocasião da conferência de imprensa sobre o ponto de situação do coronavírus, uma queda das receitas de jogo em Janeiro a rondar os 10 por cento.
Sobre o eventual encerramento dos casinos, panorama já admitido também pelo Chefe do Executivo Ho Iat Seng, o secretário afirmou, de acordo com informações citadas pelo GGR Asia, que, apesar desse cenário não estar posto de parte, “as actuais medidas preventivas (…) têm sido eficazes para evitar
SANTA CASA IDOSOS IMPEDIDOS DE SAIR DO LAR PARA EVITAR CONTÁGIO
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Lar da Nossa Senhora da Misericórdia em Macau está a impedir os utentes de sair das suas instalações, como medida de prevenção contra o surto do novo coronavírus. A informação foi transmitida ao HM através de uma denúncia feita por uma mulher de 82 anos que afirmou estar impedida de sair do lar desde sábado. “Ontem [sábado] apareceu uma ordem a dizer que não podia sair, nem eu, nem nin-
guém. Perguntei porquê e responderam-me que eram ordens superiores, para impedir de trazer o vírus para dentro do lar”, partilhou a utente com o HM. Afirmando que a alimentação fornecida pela instituição da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM) a obriga a sair para comer fora devido à ”fraca qualidade”, a utente argumenta que a medida não garante a salvaguarda do contágio. “Os funcionários que trabalham
cá, também não deviam poder entrar, por essa ordem de ideias. Há uma escala de serviço que varia todos os dias e há funcionários que vêm todos os dias de Zhuhai. Estou aqui presa. Quem é que me garante que elas não vêm com vírus?”, contou ao HM. Contactado pelo HM, o provedor da SCMM, António José de Freitas confirmou que os idosos estão impedidos de sair do lar, defendendo ser uma medida necessária e até
bem recebida, dadas as circunstâncias. “Que eu saiba, esta medida mereceu o aplauso de quase todos os utentes incluindo os respectivos familiares. A partir de ontem [sábado] nem sequer há visitas. O próprio Governo está a implementar medidas cada vez mais drásticas, porque este assunto não é para brincar. Estão em causa muitas vidas, não a ‘liberdade’ de uma senhora que não pode sair para almoçar ou jantar”, explicou.
Sobre o facto de os utentes do lar estarem expostos a funcionários que vêm de Zhuhai, o provedor afirmou ser a única maneira do serviço continuar a ser prestado. “Há muitos lares em Macau e posso garantir uma coisa: qualquer um deles, neste momento, emprega trabalhadores importados da China, porque o trabalho do lar é um trabalho que as pessoas de Macau não querem fazer”, defendeu António José de Freitas. P.A.
a propagação do vírus”. “De acordo com a nossa avaliação de risco e as medidas postas em prática dentro dos casinos, ainda é seguro que as operações sejam mantidas, tanto para colaboradores como para as chefias”, explicou Lei Wai Nong. Pedro Arede
info@hojemacau.com.mo
Transmac Horário flexível prolongado até sexta-feira
A Transmac vai prolongar o horário flexível dos seus trabalhadores até ao próximo dia 7 de Fevereiro, cabendo às chefias de cada departamento estabelecer o horário flexível de comparência ao serviço. A medida tem como objectivo dar seguimento ao apelo do Executivo no que diz respeito à situação do novo coronavírus e à manutenção do normal funcionamento da companhia. Numa nota enviada às redacções, a Transmac esclarece ainda que os trabalhadores dispensados de comparecer ao serviço, poderão trabalhar a partir de casa. Por fim, a Transmac anunciou que desde sábado passado, as carreiras 54X e 25AX encontram-se temporariamente fora de serviço, sendo que as restantes carreiras, reduziram a sua actividade em “aproximadamente 20 por cento”.
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ANG Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, com sede em Lisboa, disse ao HM que vários membros da comunidade chinesa em Portugal têm vindo a doar milhares de euros nos últimos dias para ajudar ao combate do coronavírus na China. “Várias associações promoveram essa iniciativa e as pessoas doaram o que conseguiram, desde 50 euros até milhares de euros”, começou por dizer a professora de língua chinesa. “São muitas listas e o senhor Choi Man Hin [empresário ligado ao grupo Estoril Sol] é obviamente um dos promotores principais. Pelo que sei, até agora, a lista liderada por ele conseguiu cerca de 27 mil euros. Existem mais listas, mas não tenho mais informações. Sei que no norte de Portugal as listas de Wang Xiaowei, Huang Jiansheng e de Zhang Zhenghua conseguiram também obter valores consideráveis”, disse, referindo-se a empresários da comunidade. Todos esses donativos serão entregues à Embaixada Chinesa em Portugal e servirá, sobretudo, para a compra de máscaras e outros materiais. A embaixada emitiu, entretanto, um alerta a todos os membros da comunidade chinesa relativo ao coronavírus, que acompanham a situação como podem. “Toda a comunidade chinesa em Portugal está atenta ao desenrolar da situação na China. Através do WeChat recebemos muitas notícias de lá, com indicações sobre as cautelas que devemos tomar. Estamos mais preocupados com os nossos familiares, amigos e compatriotas na China e sentimo-nos obrigados a dar o nosso apoio”, adiantou a professora universitária. Portugal não tem, até à data, registo de casos de infectados pelo vírus oriundo da cidade de Wuhan. Wang Suoying tem conhecimento de que são as próprias asso-
PORTUGAL COMUNIDADE CHINESA DOA DINHEIRO PARA COMBATER A DOENÇA
Dar uma mãozinha
Alguns membros da comunidade chinesa a residir em Portugal têm doado milhares de euros para ajudar ao combate ao coronavírus na China, enquanto acompanham a situação através das redes sociais. Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, teme o impacto no comércio
ciações que tomam medidas preventivas. “Sei que um estudante universitário chegou a Portugal vindo da cidade de Wuhan e foi a Castelo
Branco onde está a estudar. Através do WeChat, a Associação dos Estudiosos e Estudantes Chineses em Portugal conseguiu contactar esta pessoa, aconselhando-a
a ficar em casa. Mais tarde foi dito que este estudante não estava infectado.” Houve ainda outro caso de uma família oriunda de Wuhan, em que “os avós
voltaram da China e queriam ir buscar a neta que estava a ter aulas na escola chinesa”. No entanto, estes decidiram “ficar em casa, enviando uma pessoa para ir
buscar a neta, numa atitude responsável para com eles e os outros”.
PROBLEMAS NO COMÉRCIO
Apesar de não haver ainda infectados em Portugal, a comunidade chinesa tem enfrentado um estigma com a doença. O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, disse à Lusa que estes cidadãos não são “automaticamente portadores de doenças”. “Francamente, não temos medo de contagiar alguém, isso será algo muito difícil por parte da comunidade que cá [Portugal] vive, porque as entradas e as saídas dos países estão extremamente controladas.” Para Y Ping Chow, a possibilidade de algum chinês residente em Portugal ser portador do vírus é tão remota como “poder sair-lhe o euromilhões”, exemplificou. Contudo, apesar disso, o líder da comunidade chinesa receia que o “medo de contágio” afaste os portugueses dos negócios geridos pelos chineses e que estão espalhados por todo o país, nomeadamente lojas e restaurantes, o que seria um “grande problema”. Y Ping Chow contou não conhecer nenhum chinês residente em Portugal proveniente de Wuhan, “mas não significa que não haja, eu não conheço é nenhum”, frisou. Apesar dos receios, o presidente da Liga dos Chineses em Portugal considerou que o país é “compreensivo” e “nada discriminatório”, mostrando-se “tranquilo” quanto às repercussões que as “notícias sobre o vírus” possam ter na comunidade. Acredita, contudo, que as relações comerciais, ainda que apenas no imediato, vão “passar por dificuldades”, até por causa das normas de segurança agora impostas. “A entrada e a saída de mercadoria no país vai ser mais difícil, mas não será uma situação dramática”, entendeu. Andreia Sofia Silva com Lusa andreia.silva@hojemacau.com.mo
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Europa alerta WUHAN
TAILÂNDIA |MÉDICOS ASSEGURAM TER CURADO UMA PACIENTE INFECTADA
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OIS médicos tailandeses garantiram ontem que conseguiram curar uma paciente infectada com o novo coronavírus com uma mistura de medicamentos contra o VIH e um remédio antigripal. A paciente em causa é uma mulher de 71 anos que deu entrada num hospital de Hua Hing, no sudoeste de Banguecoque, e foi transferida mais tarde com sintomas fortes para o hospital Rajavithi na capital tailandesa, segundo o diário Bangkok Post. Em conferência de imprensa, os médicos tailandeses Kriangsak Atipornvanich e Suebsai Kongsangdao de Rajavithi indicaram que a mulher recuperou ao fim de 48 horas de ter sido iniciado o tratamento. Este consiste na toma do oseltamivir, um antigripal utilizado em pacientes afetados pelo síndrome respiratório do Médio Oriente (MERS), e dois medicamentos antirretrovirais usados conjuntamente contra o VIH: lopinavir y ritonavir. Em 24 de Janeiro, um grupo de cientistas chineses indicaram em entrevista à revista The Lancet que estão a desenvolver ensaios clínicos para curar o coronavírus com lopinavir e ritonavir, que foram também usados durante a crise do Síndrome Respiratório Agudo Grave (SARS) em 2003 e 2004. O coronavírus de Wuhan (2019-nCoV), o SARS e o MERS provocam sintomas como febre, tosse e dor de garganta, assim como insuficiência renal e pneumonia, podendo ser fatais. Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infecção confirmados em 24 outros países, com as novas notificações na Rússia, Suécia e Espanha. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quinta-feira uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional (PHEIC, na sigla inglesa) por causa do surto do novo coronavírus na China.
DOIS ALEMÃES REPATRIADOS TESTAM POSITIVO E PORTUGUESES EVACUADOS DA CIDADE
As autoridades apontaram ontem que dois cidadãos alemães que estavam em Wuhan estão infectados com o novo coronavírus, aumentando para 10 o número de casos na Alemanha. Cidadãos portugueses já saíram de Wuhan
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OIS dos cidadãos alemães repatriados de Wuhan, centro da epidemia do novo coronavírus, isolados num quartel em Germersheim (oeste), foram confirmados positivos, elevando para 10 os casos de contágio na Alemanha, anunciaram ontem as autoridades. Os doentes foram transferidos de imediato para um hospital de Frankfurt, referiu o chefe do distrito de Germersheim, Fritz Brechtel, citado pela televisão pública regional SWR, que não precisou se os contagiados tinham apresentado sintomas. Entretanto, os outros 111 retirados de Wuhan vão permanecer em quarentena no quartel das forças armadas, habilitado para o efeito. Os repatriados encontram-se divididos em grupos em três unidades fechadas, com o objectivo de minimizar o risco de contágio. O avião aterrou no sábado à tarde no aeroporto de Frankfurt
O avião que transportou cidadãos europeus que estavam a viver em Wuhan contava também com 17 portugueses a bordo, tendo chegado ontem a França por volta das 14h00 locais
com 124 passageiros a bordo a bordo vindos de Wuhan, fez escala em Helsínquia para reabastecer e trocar de tripulação, na sequência de as autoridades russas terem revogado a autorização de pousar num aeroporto moscovita por “falta de recursos em terra”. Onze pessoas foram transferidas para um hospital de Frankfurt, uma delas por suspeita de contágio e outras 10 por outras razões médicas não relativas ao coronavírus. Os restantes 113 foram transportados em autocarros até ao quartel de Germersheim onde deverão passar 14 dias em quarentena, sempre e quando não se produza um novo positivo, o que alarga para outras duas semanas o isolamento. No avião viajavam 124 passageiros, entre eles 100 alemães, 22 chineses, um cidadão norte-americano e outro romeno. A bordo contabilizavam-se também 21 crianças menores de sete anos.
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segunda-feira 3.2.2020
Rússia Limitada entrada de cidadãos chineses A Rússia acabou no sábado com a isenção de vistos para turistas chineses que queiram entrar no país e deixou de emitir vistos de trabalho, medidas tomadas pior causa da epidemia de pneumonia viral. As decisões de Moscovo visam “assegurar a segurança do país, proteger a saúde pública e impedir a propagação do novo coronavírus”, afirma o governo russo na sua página na Internet.
Filipinas Registada primeira vítima mortal fora da China
Um homem de nacionalidade chinesa morreu nas Filipinas vítima de uma pneumonia causada pelo coronavírus de Wuhan, a primeira morte registada fora da China, anunciaram ontem as autoridades. O paciente, que faleceu no sábado, é um homem de 44 anos que foi internado no Hospital San Lazaro, em Manila, a 25 de Janeiro, indicou o Departamento de Saúde das Filipinas em comunicado.
EUA AUTORIDADES DE SAÚDE CONFIRMAM PRIMEIRO CASO DE INFECÇÃO NA COSTA LESTE
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As autoridades sanitárias alemãs confirmaram no sábado um oitavo contágio de coronavírus, um homem de 33 anos, trabalhador de uma empresa na Baviera (sul) na qual foram detectados casos anteriores a este.
PORTUGUESES DE REGRESSO
O avião que transportou cidadãos europeus que estavam a viver em Wuhan contava também com 17 portugueses a bordo, tendo chegado ontem a França por volta das 14h00 locais, confirmou fonte da embaixada portuguesa em Pequim. Segundo a mesma fonte, o avião partiu de Wuhan às 7:00 locais e a viagem teve uma duração de 14 horas. Todos os 17 portugueses foram autorizados a embarcar, após as análises realizadas pelas autoridades de saúde chinesas não terem revelado sintomas do novo coronavírus, que já matou mais de 300 pessoas na China. A aeronave, fretada pelo Governo francês, e que partiu na
quinta-feira de Portugal, rumo a Paris, tendo chegado no sábado a Wuhan, no centro da China, após uma segunda paragem em Hanói, partiu um dia depois do previsto inicialmente. O Airbus A-380 transportava, no total, 350 cidadãos europeus, a maioria franceses.
Os doentes foram transferidos de imediato para um hospital de Frankfurt, referiu o chefe do distrito de Germersheim, Fritz Brechtel, citado pela televisão pública regional SWR, que não precisou se os contagiados tinham apresentado sintomas
Vários países já efectuaram o repatriamento dos seus cidadãos de Wuhan, uma cidade com onze milhões de habitantes, que foi colocada sob quarentena, na semana passada, com saídas e entradas interditadas pelas autoridades durante período indefinido. A quarentena foi, entretanto, alargada a mais quinze cidades, próximas de Wuhan, afectando, no conjunto, mais de 50 milhões de pessoas. Nos últimos dias, diversas companhias suspenderam as ligações aéreas com a China. Rússia, Coreia do Norte e Vietname encerraram as fronteiras com o país, enquanto alguns países pararam de emitir vistos para cidadãos chineses. O Ministério da Saúde em Portugal vai disponibilizar instalações onde os portugueses provenientes de Wuhan possam ficar em “isolamento profilático” voluntário. O Hospital Pulido Valente, em Lisboa, e o Hospital Militar, no Porto, serão as unidades a receber os portugueses que regressarem.
S autoridades de saúde norte-americanas confirmaram no sábado o primeiro caso de contágio do novo coronavírus na costa leste do país, um homem que vive em Boston e regressou recentemente de Wuhan, na China. De acordo com um comunicado do Departamento de Saúde Pública de Massachusetts, trata-se de um homem que tem entre 20 e 30 anos e está “estável”. O homem “procurou ajuda médica pouco depois de regressar a Massachusetts” e tem estado “em isolamento”, é referido na nota. O Departamento de Saúde indica ainda que o homem continuará em isolamento até receber ordens em contrário por parte das autoridades, que já entraram em contacto com “os seus poucos contactos próximos” e os estão a monitorizar, para o caso de terem algum “sintoma”. “O risco [de contrair o coronavírus] para o público em
geral permanece baixo”, refere a directora executiva da Comissão de Saúde Pública de Boston, Rita Nieves, citada na nota. Este é o oitavo caso confirmado do novo coronavírus nos Estados Unidos da América. Já foram detectados dois casos no Illinois, três na Califórnia, um no estado de Washington e outro no Arizona. Na sexta-feira foi anunciado que o Governo norte-americano vai proibir a entrada de estrangeiros que tenham estado na China nos últimos 14 dias e impor uma quarentena aos viajantes de qualquer nacionalidade provenientes da província onde deflagrou a epidemia do novo coronavírus. As medidas, que estão em vigor desde as 22h00 de ontem, foram anunciadas na sexta-feira pelo secretário da Saúde, Alex Azar, que declarou uma emergência de saúde pública devido à propagação do vírus.
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3.2.2020 segunda-feira
19544
14,628
Casos suspeitos
Infectados
INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 14451 20 19 18 15 14 12 10 8 8 8 8 6 6
Interior da China Japão Tailândia Singapura Coreia do Sul Hong Kong Austrália Taiwan EUA Malásia Alemanha Macau França Vietname
5
Emiratos Árabes Unidos
4 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
Canadá Itália Rússia Reino Unido Filipinas India Espanha Nepal Finlândia Suécia Cambodja Sri Lanka
2019novel co
países com casos de nCov países sem casos de nCov
8 MACAU
Infectados
14 HONG KONG
Macau
Infectados
Hong Kong
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-nCoV oronavirus
348
305
HOJE NA CHÁVENA
Curados
Mortos
1-9 10-99 100-499 500-1000 +1000 Ocorrências nas áreas afectadas
nCoV vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
14,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0
20
dias
40
dias
60
dias
Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Zhejiang Guangdong Henan Hunan Anhui Jiangxi Chongqing Jiangsu Sichuan Shandong Pequim Xangai Fujian Shaanxi Guangxi Hebei
INFECTADOS 9074 661 632 493 463 340 333 275 236 231 230 191 182 159 116 111 104
MORTOS 294 0 0 2 0 0 0 1 0 1 0 1 1 0 0 0 1
REGIÃO Yunnan Heilongjiang Liaoning Hainan Shanxi Tianjin Gansu Guizhou Ningxia Mongólia Interior Jilin Xinjiang Hong Kong Qinghai Taiwan Macau Tibete
INFECTADOS 99 95 69 64 56 48 40 38 28 27 23 21 14 11 10 8 1
MORTOS 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
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Economia Injecção de cerca de 1.200 milhões de yuans pelo banco central chinês O banco central chinês anunciou ontem que irá injectar 1.200 milhões de yuans para ajudar a economia afectada pelo surto de pneumonia viral. A operação será concretizada esta segunda-feira, quando os mercados financeiros chineses reabrirem após o longo feriado de ano novo lunar, estendido devido ao surto do novo coronavírus. Em comunicado, o instituto de emissão explica que a intervenção servirá para
manter “uma liquidez razoável e abundante” para o sistema bancário e a estabilidade do mercado cambial. A banca tinha já anunciado no sábado uma série de medidas destinadas ao crédito das empresas que estão a contribuir para lutar contra o surto do novo vírus. O surto está a afectar vários sectores da economia chinesa. As praças financeiras de Xangai e Shenzhen reabrem hoje depois de 10 dias encerradas.
Epidemia Protocolo para tratamento dos cadáveres das vítimas O Governo chinês emitiu ontem um protocolo para o tratamento dos cadáveres das vítimas mortais provocadas pelo coronavírus, como parte do esforço para controlar o surto de pneumonia. A medida impossibilita os familiares de decidir o local onde as vítimas são enterradas e a realização de cerimónias fúnebres. Os restos mortais dos infectados deverão ser cremados numa funerária designada e perto do local onde estão, pelo que não poderão ser transportados entre diferentes
regiões, lê-se no protocolo emitido conjuntamente entre a Comissão Nacional de Saúde, o Ministério dos Assuntos Civis e o Ministro da Segurança Pública. As cerimónias fúnebres ou de despedida estão proibidas e os corpos deverão ser desinfectados e colocados numa bolsa selada por pessoal médico. As funerárias, por sua vez, devem enviar pessoal e veículos especiais para entregar os corpos de acordo com os procedimentos designados.
Wenzhou Recolher obrigatório para nove milhões de pessoas A cidade chinesa de Wenzhou, uma das mais afectadas pela epidemia fora do epicentro do novo coronavírus, impôs domingo um recolher obrigatório aos seus mais de nove milhões de habitantes e restringiu drasticamente a circulação automóvel, anunciaram as autoridades. Os moradores estão obrigados a permanecer em casa. Apenas uma pessoa por família pode sair a cada dois dias para fazer compras, disseram as autoridades locais. O transporte público está suspenso, assim como os autocarros de longa distância.
As principais rodovias estão quase totalmente fechadas à circulação automóvel. Locais públicos como cinemas ou piscinas estão fechados. As empresas não voltarão a laborar antes de 17 de Fevereiro e as escolas estão encerradas até pelo menos 1 de Março. Wenzhou, que regista 265 casos de pessoas infectadas, situa-se no leste do país, a mais de 800 quilómetros de Wuhan, cidade no centro do país onde o coronavírus apareceu em Dezembro e que está em quarentena desde 23 de Janeiro.
HUNAN REPORTADO NOVO SURTO DE GRIPE AVIÁRIA PERTO DE WUHAN
Mal nunca vem só
Como se não bastasse a crise desencadeada pelo novo coronavírus, foi ontem denunciado um surto de gripe aviária numa quinta no distrito de Shuangqing, a cerca de 500 quilómetros de Wuhan
A
China reportou ontem um surto de gripe aviária H5N1 na província central de Hunan, próximo do epicentro de um novo coronavírus que causou até ao fecho desta edição 305 mortos e está a paralisar o país. O surto ocorreu numa quinta no distrito de ShuanPUB
COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS Aviso Torna-se público que já se encontra finalizada a correcção da segunda prestação das provas para a inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilistas registado e técnico de contas, realizadas no ano de 2019 nos termos do disposto na alínea 3) do artigo 1º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, pela referida Comissão. Os respectivos resultados serão notificados aos interessados até ao dia 7 de Fevereiro, solicitandose aos mesmos que contactem com a Sra. Chio, através do nº 85995344, caso não recebam a mencionada notificação. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 15 de Janeiro de 2020 O Presidente do Júri, Iong Kong Leong
gqing, cidade de Shaoyang. O surto matou 4.500 das 7.850 galinhas que a quinta possuía. As autoridades locais abateram 17.828 aves nas proximidades, após o surto, segundo um comunicado do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China. Não foram relatados casos de infecção humana pelo vírus H5N1 em Hunan. O surto surge numa altura em que as autoridades chinesas tentam travar a propagação de um novo coronavírus, que causou 305 mortos e mais de 14 mil infectados no país, e que foi inicialmente detetado em Dezembro passado, em Wuhan, capital da província de Hubei, que faz fronteira com Hunan. A gripe aviária causa doenças respiratórias graves em aves e é contagiosa entre seres humanos. O vírus foi detectado pela primeira vez em 1996 em gansos na China e é sobretudo mortal para as aves. A possibilidade de transmissão da gripe aviária entre
seres humanos é baixa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A maioria das infecções humanas por H1N5 surge após contacto prolongado e próximo com aves infetadas. No entanto, a gripe aviária tem uma taxa de mortalidade superior a 50 por cento, muito acima da
O surto matou 4.500 das 7.850 galinhas que a quinta possuía. As autoridades locais abateram 17.828 aves nas proximidades, após o surto, segundo um comunicado do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China
síndrome respiratória aguda grave (SARS), também conhecida como pneumonia atípica, e que tem uma taxa de mortalidade de 10 por cento, ou o novo coronavírus, que tem uma taxa de 2 por cento, até agora.
NÚMEROS INDESEJÁVEIS
Entre 2003 e 2019, a OMS relatou um total de 861 casos humanos confirmados de H5N1, em todo o mundo, entre os quais 455 morreram. Na China, houve 53 casos humanos de infecção por gripe aviária, nos últimos 16 anos, e um total de 31 mortos. O novo coronavírus causou ontem o primeiro morto fora da China, um chinês de Wuhan que se encontrava a viajar nas Filipinas. Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infecção confirmados em 24 outros países, com as novas notificações na Rússia, Suécia e Espanha (ver página 8-9).
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A
Federação de Desporto Automóvel e Motociclos da República Popular da China (CAMF, na sigla inglesa) emitiu nas vésperas do Ano Novo Lunar um comunicado em que dava conta que todos os eventos desportivos estavam suspensos até ao mês de Abril. Contudo, este comunicado, publicado no site oficial da CAMG e nas suas redes sociais, foi removido, sem que a autoridade desportiva nacional chinesa justificasse porquê. No entanto, o Rali da Montanha de Gelo de Changbai Mountain Ice Rally, do Campeonato da China de Ralis (CRC), que se disputava de 12 a 14 de Fevereiro, foi cancelado. Quem também “caiu” foi a prova do Campeonato FIA de Fórmula E marcada para o dia 21 de Março em Sanya. A competição de carros eléctricos, que tem interesses muito fortes na China, viu-se forçada a cancelar o seu único evento no país, depois de anular a sua etapa em Hong Kong devido aos distúrbios causados pelos protestos pelos movimentos pró-democracia e contra controverso projeto de lei de extradição. Todo a situação está a ser seguida com especial atenção pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) e pelos organizadores do Campeonato do Mundo FIA de Fórmula 1, cuja importante prova em território chinês, mais precisamente na cidade de Xangai, acontece de 17 a 19 de Abril. A logística da Fórmula 1 é gigantesca e planeada com muitos meses de avanço. O cancelamento do evento irá provocar seriamente várias dores de cabeça às equipas, num ano complicado em que estão vinte e dois Grande Prémios agendados. Sob a direção do presidente da Comissão Médica da FIA, o professor Gérard Saillant, a federação internacional disse em comunicado que está a monitorizar a “evolução da situação com as autoridades relevantes e os seus clubes membros”, estando a avaliar “o calendário das suas próximas corridas e, se necessário, tomará as medidas necessárias para ajudar a proteger a comunidade global do desporto motorizado e o público em geral.” Atenta ao desenrolar dos acontecimentos estará também a Associação Geral
DESPORTO PROVAS CANCELADAS POR TODO O PAÍS
Ponto morto
Para evitar a propagação do coronavírus as autoridades chinesas estão a cancelar todos os grandes eventos desportivos no país. Uma das poucas competições desportivas da RAEM que se desenrola obrigatoriamente fora do território é o Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa) e cujas suas duas provas de 2020 podem estar em risco Automóvel de Macau-China (AAMC), cujas duas provas do MTCS, que têm a particularidade de serem as corridas de qualificação dos pilotos
locais para o Grande Prémio de Macau, e estarem agendadas para finais de Maio e início de Junho no Circuito Internacional de Zhuzhou,
na província de Hunan. Apenas quatrocentos quilómetros separam a cidade de Wuhan, onde começou o surto, da cidade de Zhuzhou.
As autoridades competentes irão certamente tomar uma decisão nas próximas semanas, até porque o transporte dos carros e material dos concorrentes é feito com bastante antecedência.
ONDAS DE CHOQUE
Tal como Macau, Wuhan organizava desde 2017 uma prova de automobilismo nas ruas em redor do enorme completo desportivo local. A cidade da província de Hubei preparava-se para organizar pela primeira vez em 2020 no primeiro de Maio a sua edição anual do "Circuito Citadino de Wuhan", prova que já foi pontuável para a Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR), e que habitualmente decorre nos dois últimos meses do ano. Este ano o evento que tem o alto patrocínio da CAMG, iria reunir todas as
EVENTOS DESPORTIVOS CANCELADOS EM FEVEREIRO 1
Liga Chinesa de Basquetebol - Início da temporada adiado
3a9
Grupo de Qualificação para os Jogos Olímpicos Futebol Feminino (Wuhan/Nanjing) - Transferido para Sydney
4a8
Torneiro de Ténis “Fed Cup Asia/Oceania” Grupo 1 (Dongguan) - Transferido para o Cazaquistão
8a9
Maratona de Hong Kong - Cancelado
12 a 13 Campeonatos Asiáticos de Atletismo Indoor (Huangzhou) - Cancelado 12 a 14 Rali Montanha de Gelo de Changbai (Liaoning) - Cancelado 15
Supertaça de Futebol Guangzhou Evergrade vs Shanghai Shenhua (Suzhou) - Adiado
15 a 16 Taça do Mundo de Esqui (Yanqing) - Cancelado 16 a 26 Jogos Nacionais Chineses de Inverno (Hulunbuir) - Cancelado 22 23 a 1
Superliga Chinesa de Futebol - Início da temporada adiado Março - UCI Tour de Hainan - Cancelado
Todo a situação está a ser seguida com especial atenção pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) e pelos organizadores do Campeonato do Mundo FIA de Fórmula 1, cuja importante prova em território chinês, mais precisamente na cidade de Xangai, acontece de 17 a 19 de Abril principais competições de automóveis em circuito da China (CTCC, TCR China, China GT, F4 China, etc). A data exacta do evento estava por confirmar, mas dificilmente esta será uma preocupação nos próximos meses para as autoridades locais. Entretanto, o Circuito Internacional de Zhuhai, que é base operacional de grande parte das equipas do Sul da China, adiou a sua reabertura, de 30 de Janeiro para o dia 10 de Fevereiro. Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
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3.2.2020 segunda-feira
O mais triste é recordar os gestos de amanhã
A Ameixieira de Tinta de Wang Mian
Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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U Jingzi (1701-54) que nasceu em Quanjiao (actual Chuzhou, Anhui) numa família bem estabelecida foi com Cao Xueqin um dos mais considerados escritores da dinastia Qing, autor de uma obra de ficção que foi também de reflexão sobre o declínio moral em que então se encontravam os chamados «mandarins». A sua própria biografia exemplifica a desilusão de muitos que estudaram com sinceridade os princípios confucianos e se apresentavam como candidatos a lugares na administração do império. Tendo alcançado apenas um irrelevante lugar de província, retirou-se para Nanquim onde, entre 1740 e 1750, se dedicou a escrever a obra que só foi editada pela primeira vez em 1803. No primeiro de cinquenta e seis capítulos, de pendor irónico, intitulados Rulin Waishi, que se pode traduzir como «Crónica não oficial da floresta dos letrados», apresenta a figura histórica de um pintor que viveu cerca de quatrocentos anos antes, durante a dinastia Yuan, cuja história se inicia de maneira diferente da sua mas apresenta semelhanças no desfecho. Wang Mian (1287-1359) nascera em Zhuji, Shaoxing (Zhejiang) no seio de uma família de camponeses e apresentara-se aos exames trianuais para funcionário imperial na capital do império mas também falharia o grau de jinshi. Ainda se dedicou debalde ao estudo das antigas artes militares, pelo que acabaria por viver como um erudito errante, que atravessou os grandes centros como Nanquim e
Suzhou, vendendo as suas pinturas e acabando por se fixar perto da sua terra natal no monte Jiuli, parte da vasta cadeia das montanhas Kuaiji, de longa tradição na cultura. Zhao Mengfu (1254-1322), contemporâneo de Wang Mian e um dos mais influentes pintores desse tempo, exaltava o espírito da antiguidade de que gostava de se sentir próximo, como escreveu num cólofon: «As minhas pinturas parecem bastante simples e feitas de maneira descuidada, mas os verdadeiros conhecedores perceberão que elas estão muito próximas dos antigos modelos (…).» Era uma proximidade ao processo e não ao aspecto final. O essencial estava na ideia, que no caso de uma famosa pintura de Wang implicaria uma reflexão que o colocava em situação. Em «Neve perfumada na ponte destruída», um rolo vertical de tinta sobre seda (113 x 50,2 cm) que se encontra no Metmuseum em Nova Iorque, pode entender-se a utilização do antigo e estimado simbolismo das flores de ameixieira, conotadas com as virtudes da perseverança, pureza e transitoriedade da vida, para falar da sua própria condição de poeta e pintor. As flores pintadas estão aqui figuradas em ramos que crescem para baixo, confundindo-se com a neve que cai. A sensação de instabilidade provocada pela figuração de algo que está a chegar é equilibrada pela esperança e firme resistência às contrariedades da ameixieira, características associadas aos honestos estudantes de Confúcio.
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segunda-feira 3.2.2020
Previsões para 2020 ano do Rato José Simões Morais
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ano Geng Zi (庚子, Rato de Metal) para o Feng Shui começa amanhã, dia 4 de Fevereiro quando se celebra o Princípio da Primavera (Lichun). Pelo calendário lunar, o ano iniciou-se a 25 de Janeiro de 2020 e terminará a 11 de Fevereiro de 2021, com um suplementar quarto mês lunar, festejando-se por duas vezes o Lichun e por isso, é auspicioso para casar. Será um ano criativo, com perspectivas de uma vida intensa tanto no plano emocional, ao nível de um encantamento amoroso, como haverá possibilidade de se usufruir dinheiro fora do espectável. No entanto, assistir-se-á a uma confrontação directa, em que todos irão estar envolvidos e ninguém conseguirá ficar de fora. Mais importante que a prosperidade será viver com saúde. Aqui usamos as ideias de Lei Koi Meng conjugadas com a nossa interpretação. Geng é Metal yang (forte metal), Zi é Água yang (grande água) e como Metal faz nascer Água, este ano é de grande água a provocar inundações. Mas estando ainda no Ciclo do Fogo (20042024), grande água parece ser bom para temperar o fogo. No entanto, no ano do Rato, Zi (rato) a representar o elemento Água yang está contra Wu (cavalo) Fogo yang, significa grande água contra grande fogo, o que trará ondas de confrontação e sendo Geng Metal, conecta o ano a lutas e guerras. Como Zi Água tem a direcção Norte e Wu Fogo a do Sul dará o fogo proveniente de baixo a confrontar a água proveniente de cima, podendo-se tirar como ilação, o povo em baixo e os governos na posição superior estarem em permanente atrito. Os geomantes referem que nos anos de Rato algo triste ocorre, como morrer jovem, ou a morte de jovens em batalha. Haverá tentativas de independência de regiões e muitas manifestações de estudantes. Acidentes com barcos terão mais probabilidades de acontecer e quanto a guerras, as navais parecem ser as escolhidas. Propício a ocorrer frequentes ataques terroristas, pequenos ou grandes, e a possibilidade de aparecer um novo grupo. Geng Zi, grande água, sendo esta fria devido ao metal a representar a quebra de icebergues, leva à subida do nível da água, a grandes chuvas e deslizamentos de terras. Tufões e ciclones são outras possibilidades de criar grandes desastres e continuarão ao longo do ano a acontecer tremores de terra. O ano Geng Zi está conectado no nosso corpo com os pulmões (ligado com o
elemento Metal) e os rins (com a Água), significando estes dois órgãos facilmente terem problemas e interferirem com o estômago e baço. Novos rostos aparecerão a querer liderar o mundo com novas políticas, mas sem poder bastante para se imporem. Abre-se um vazio, pois o velho sistema político, económico e cultural deixa de ter peso e a massa crítica com ideias antigas irá ser confrontada com as das novas gerações, ainda sem modelos bem estruturados e definidos. Más notícias provenientes dos bancos estarão na ordem do dia e a economia do mundo entra definitivamente em recessão. Ano para se construírem relações de amizade entre pessoas, países e companhias.
LOCALIZAÇÃO DAS ESTRELAS VOADORAS
No Centro, representado nos países do Médio Oriente, este ano encontra-se a maligna 7 Vermelho (Qi Chi) (metal), Estrela Violenta que traz disputas e aprisionada, em clima de guerra levará a desordens e problemas internos com confrontações. A maligna 3 Jade (San Bi), Estrela de Conflito Beligerante estará a Norte, na Rússia e na China Continental. As relações entre a China e os EUA tendem a melhorar devido à água amansar o fogo americano, e já no início do ano foi as-
sinado um primeiro tratado comercial. Conseguiu a China um pequeno período de acalmia, mas terá durante o resto do ano árduas negociações com os EUA e nos meses de Junho ou Julho e Dezembro ocorrerá algo que provocará grandes mudanças nas relações entre ambos os países. Já no interior da China continuarão os problemas, que só em finais de 2021 terão resolução. A Rússia, quase sem ajuda de outros países, está na mesma situação do seu Presidente, e só Putin sabe o quão difícil é a sua posição, sendo este um ano de grandes desafios para a sua vida. A benéfica 1 Branco (Yi Bai), Estrela da Prosperidade traz sucesso e boas relações de amizade, este ano encontra-se a Nordeste, nas Coreias. Na Coreia do Sul a economia melhorará e a Coreia do Norte fortalece o seu exército e entre ambas haverá uma grande e fraterna cooperação. As relações da Coreia do Norte com os EUA vão desenvolver-se numa boa direcção. A benéfica 8 Branco (Ba Bai), Estrela da Prosperidade e da Saúde favorece promoções e sucesso na carreira, estará a Noroeste, na Europa do Norte e do Leste, que terão um ano promissor. A benéfica 9 Roxo (Jiu Zi), Estrela da Harmonia que rapidamente amplifica os efeitos das outras estrelas, quando benéficas magnifica pelo bem, mas conjugada
Será um ano criativo, com perspectivas de uma vida intensa tanto no plano emocional, ao nível de um encantamento amoroso, como haverá possibilidade de se usufruir dinheiro fora do espectável
com malignas, como a Wu Huang levará a grandes desastres. Estrela a representar a paz, cooperação e o visionar o que está para vir, este ano a Oeste, na Europa Ocidental. Com a saída da Grã-Bretanha, a Europa perdeu um dos três poderosos países que a formavam e estando a França fragilizada pela forte oposição interna ao Presidente Macron, resta a Alemanha como pilar para se aguentar, a não ser que os outros países da CE se harmonizem e trabalhem em conjunto para criar um poderoso bloco. A mais negativa estrela voadora, a 5 Amarelo (Wu Huang), da Fatalidade e Ruína, causadora de problemas de maligna influência, cuja sua força do mal traz calamidades, este ano está a Leste, nos EUA, Japão e Taiwan. Estes países devem contar com desastres naturais avassaladores, relacionados com a água e um sismo de grande intensidade. No Japão, os Jogos Olímpicos trarão harmonia. Nos EUA, Trump terá um ano com sorte pois do signo de Cão precisa de água e nas eleições ninguém o vence e só ele se conseguirá destruir. Mas a sorte de Trump coloca os outros a sofrer, pois continuará a criar distúrbios. Em Taiwan, após a vitória da presidente, pouco irá mudar e a economia poderá piorar. A benéfica 6 Branco (Liu Bai), Estrela da Bênção Celeste com potencial de inesperadas vantagens e ligada à diplomacia, estará a Sudeste, nas Filipinas, Vietname, Tailândia, que contarão com um bom ano e apenas Camboja, Malásia e Indonésia terão ligeiros problemas naturais. No Sudoeste, na Índia, encontra-se este ano a benéfica estrela 4 Verde (Si Lü), com um lado positivo, a levar ao estudo e investigação e outro negativo, com a continuação dos problemas religiosos e a discriminação feminina. A maligna 2 Preto (Er Hei), Estrela da Doença que traz longas e incuráveis enfermidades, estará a Sul. A Austrália continuará com os problemas dos incêndios e o confronto entre fogo e água. Já em Hong Kong as desordens continuarão e no meio e final do ano ocorrerão grandes mudanças. Quanto à RAEM, nasceida no Inverno, como este ano é de grande água continuarão a ocorrer inundações, devendo ter cuidado com explosões e acidentes na construção de infra-estruturas. O bazi (ano, mês, dia, hora de nascimento) do novo Chefe do Executivo é exactamente o que a RAEM necessitava, por isso com a sua liderança Macau poderá manter-se em paz e em prosperidade. Desejos de um ano com boa saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong)
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Elementos de ética, visões do Caminho
Xunzi
O Cultivo de Si Próprio
PARTE II As Odes dizem: Ritual e cerimónia em tudo têm a medida justa. Ri e fala somente de acordo com a propriedade. Isto exprime o que quero dizer. Convencer os outros a seguir o que é bom é chamado “ensino”. Harmonizar-se com outros para aquilo que é bom é chamado “concordância apropriada”. Convencer os outros a seguir aquilo que é mau é chamado “bajulação”. Harmonizar-se com outros para aquilo que é mau é chamado “conluio”. Endossar aquilo que é bom e condenar aquilo que é mau é chamado “sabedoria”. Endossar aquilo que é mau e condenar aquilo que é bom é chamado “estupidez”. Atacar uma pessoa boa é chamado “calúnia”. Causar dano a uma pessoa boa é chamado “vileza”. Chamar bom ao bom e mau ao mau é chamado “rectidão”. Roubar bens é chamado “latrocínio”. Esconder as suas acções é chamado “dissimulação”. Falar das coisas com demasiada facilidade é chamado “gabarolice”. A ausência de fixidez naquilo que se gosta e não gosta é chamado “inconstância”. Abandonar a justiça (yì) em favor do lucro é chamado “vileza suprema”. Ter escutado muitas coisas é chamado “largueza”. Ter escutado poucas coisas é chamado “superficialidade”. Ter visto muitas coisas é chamado “erudição”. Ter visto poucas coisas é chamado “impolidez.”1 Ter dificuldade
em progredir é chamado “indolência”. Esquecer as coisas com facilidade é chamado “incontinência”. Quando as nossas acções são poucas e bem ordenadas, a isso se chama “ser controlado”. Quando as nossas acções são muitas e desordenadas, a isso se chama “esbanjamento”. Os métodos para controlar o qì e alimentar o coração são: sangue e qi inflexíveis devem ser suavizados através da harmonização; pensamento excessivamente profundo deve ser simplificado através da bondade directa; a coragem excessivamente feroz deve ser reformada através da concordância apropriada; a expediência apressada deve ser domada através de movimentos regulados; a estreiteza mental deve ser alargada através da expansividade; a humildade, inércia e ganância de lucro excessivas devem ser combatidas com intenções elevadas; a vulgaridade ou a dissolução devem ser erradicadas com professores e amigos; a indolência e esbanjamento devem ser iluminadas pela consideração de calamidades; a rectidão simplória ou honestidade escrupulosa 2devem ser temperadas pelo ritual e pela música e adumbradas pela reflexão. Em cada método de controlar o qì e alimentar o coração nada é mais directo do que seguir os rituais, nada é mais importante do que ter um bom professor, e nada funciona com maior eficácia (de natureza) espiritual do que acalentar o qì com total devoção. Estes são chamados os métodos para controlar o qì e alimentar o coração.
Se cultivarmos as nossas intenções, desprezaremos riqueza e nobreza. Se a nossa atenção ao Caminho e à justiça for grande, reis e duques serão para nós triviais. O facto é que, ao nos examinarmos interiormente, os bens exteriores pouco significam. Diz-se que “A pessoa exemplar faz das coisas seus servos, mas o homem mesquinho é escravo das coisas.” 3Isto exprime o quero dizer. Se uma acção te cansar o corpo, mas te deixar o coração em paz, executa-a. Se envolver escasso lucro, mas abundante justiça, executa-a. Ser bem-sucedido ao serviço de um senhor que cria o caos não é tão bom como simplesmente servir um senhor empobrecido. Assim, um bom lavrador não deixa de plantar por causa da seca, um bom mercador não fecha a loja por causa dos prejuízos e o homem bem-criado e a pessoa exemplar não se desviam do Caminho por causa da pobreza. 1 - “Impolidez” (lòu 陋 ) é um termo importante para Xunzi, designando o estado inculto (rústico, simplório) no qual alguém ainda não divisou os bens maiores da vida (ou seja, o caminhos dos sages) e, como tal, é incapaz de lhes dar o devido valor. 2 - “Honestidade escrupulosa” ou, literalmente, “extrema honestidade” (duan què 端 愨 ), é , neste caso, vista por Xunzi como moralismo excessivo ou mesmo patológico, a ser temperado pelo ritual, música e reflexão. 3 - O Zhuangzi contém uma admoestação similar no que se refere a ser subserviente às coisas, encorajando a “tratar as coisas como [meras]coisas (wù wù 物 物).
Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.
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Cineteatro
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BLINDADA
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2 2 1 46 3 57 24 3 5 1 3 6 1 6 5 24 67 2 76 52 1 7 3 7 2 6 34 5 7 4 5 7 32 6 4 5 3 4 71 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 47
C I N E M A
DOLITTLE SALA 1
ENTER THE FAT DRAGON [C] FALADO EM CANTONESE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Kenji Tanigaki Com: Donnie Yen, Teresa Mo, Niki Chow, Wong Jing, Jessica Jann 14.00, 18.55
THE GRAND GRANDMASTER [B] FALADO EM CANTONESE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Dayo Wong Com: Dayo Wong, Annie Liu, Catherine Chau 15.50, 20.00, 22.15 SALA 2
Com: Robert Downey Jr, Antonio Banderas, Michael Sheen 14.00
ALL’S WELL END’S WELL 2020 [B] FALADO EM CANTONESE LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Raymond Wong Com: Julian Cheung Chi Lam, Louis Cheung, Raymond Wong 15.55, 19.45
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3.2.2020 segunda-feira 3 6 1 B 5A H T 0 . 2 5 Y U A N 1 . 1 5 4 7 VIDA DE CÃO 2 A PORTA
3 4 7 5 5 4 5 27 1 3 2 6 5 2 6 2 3 1 4 5 16 7 1 4 2 5 7 76 62 1 4 3 3 1 7 7 42 3 6 4 5 1 2 6 3 1 3 4 5 77 36 1 2 7 3 4 6 1 4 3 2 7 5 sueca contra o aquecimento global Greta Thunberg iniciou os trâmites 6Aparaconhecida 5 activista 6“Sextas-feiras 2 5pelo Futuro”, 7 como 3 marcas 4 proteger o1 seu nome e o movimento 1 que lidera,
comerciais no mercado dos 27 países da União Europeia. Para blindar ambas as denominações de um possível uso por parte de terceiros, através da fundação “Stiftelsen Greta Thunberg e Beata Ernman”, a activista formalizou o pedido perante o Instituto de Propriedade Intelectual da EU.
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UM FILME HOJE
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PROBLEMA 48
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6 7 3 1 5 2 4
Nada como uma crise para que os mais profundos sentimentos de uma sociedade venham à superfície. Não os mais importantes mas os mais profundos, os que em geral repousam numa noite negra de culpabilidade e não ousam emergir. Marshal Sahlins, no seu livro Stone Age Economics, explica como em caso de crise, por catástrofe natural por exemplo, nas sociedades tribais existe um recolhimento familiar e falta de solidariedade entre linhagens e clãs, estando no primeiro plano o sangue e não a sociedade. Ou seja, primeiro os nossos, depois os outros. No caso vertente, o coronavírus em Macau mostra como esse tipo de sentimento não se ajusta ao nosso modus vivendi, o corrompe e o perverte. Isso e os profetas da miséria, os difusores de alarmes, os activistas da desgraça. Por seu lado, o Governo tem sido exemplar no manejo do interesse público, tomando as medidas que entendeu tomar (boa gestão da questão das máscaras, distribuição deficiente; anúncio do pagamento adiantado do cheque anual), levando algumas mais longe do que seria de esperar (o prolongamento do encerramento dos serviços públicos e das escolas; controlo de pessoas de Wuhan) mas, ao mesmo tempo, não alçando a bandeira do pânico (que o encerramento dos casinos teria significado) enquanto a situação não o justificar. Semfalsosoptimismos,convém também encarar a situação sem falsos alarmismos. Avaliar os dados, reforçar a segurança médica, voltar à normalidade e não entrar em modo de catástrofe até uma catástrofe real realmente nos bater à porta. Carlos Morais José
LES PETITS MOUCHOIRS | GUILLAUME CANET
Este filme, do realizador francês Guillaume Canet, consegue levar o espectador aos dos extremos emocionais, do riso à emotividade dramática. O argumento de “Les Petits Mouchoirs”, de 2010, centra-se em torno de um grupo de amigos que se reúne todos os anos em casa de férias de um deles. O filme começa com um acidente de mota de um dos pilares do grupo social, que assombrará as férias de todos, assim como a deterioração de relações amorosas longas. “Les Petits Mouchoirs” tem um elenco de luxo, de onde se destaca François Cluzet, Marion Cotillard, Jean Dujardin e Gilles Lellouche. Com momentos que oscilam entre o hilariante e o profundamente dramática, o filme de Canet é daqueles que não cai no esquecimento com facilidade. João Luz
SPIES IN DISGUISE [B] Um filme de: Troy Quane, Nick Bruno 14.00, 15.55, 19.30
SHINKALION THE MOVIE [B]
FALADO EM INGLÊS LEGENDADOEM CHINÊS Um filme de: Stephen Gagham Com: Robert Downey Jr, Antonio Banderas, Michael Sheen 17.50, 21.45
Um filme de: Takahiro Ikezoe 17.50
FALADO EM CANTONESE Um filme de: Stephen Gagham
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SALA 3
DOLITTLE [A]
DOLITTLE [A]
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ALL’S WELL END’S WELL 2020 [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Raymond Wong Com: Julian Cheung Chi Lam, Louis Cheung, Raymond Wong 21.30
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
opinião 19
segunda-feira 3.2.2020
sexanálise
TÂNIA DOS SANTOS
Amor em tempos de epidemia
F
ACE uma epidemia ninguém deve ter muita vontade de trocar fluidos. Numa altura em que até o ar não deve ser demasiado partilhado, partilhar a intimidade dos fluidos corporais torna-se num risco. Estive estes dias em Nova Iorque onde vi uma peça que explorava extensivamente o fellatio, e esperei que me oferecesse material suficiente para escrever sobre o sexo oral. Mas o coronavírus começou a assombrar-nos e não consigo parar de pensar no assunto. Obsessivamente. Nova Iorque é fabulosa, mas o coronavírus é assustador. Encontrar o amor ou simplesmente mantê-lo vai ser difícil durante estes tempos, que nem sabemos quão longos serão. Tempos de muita vulnerabilidade que esperariam que o toque e o conforto dos outros nos salvassem de alguma coisa, mas é, na verdade, só mais um facilitador. Um perigo que continua desconhecido nas suas formas e feitios. Este mal tem como único propósito sobreviver de corpo em corpo. Corpos que estarão mais preparados para lidar com o choque que este vírus provoca do que outros. Corpos que poderão estar mais em contacto com o exterior do que outros. Uma forma de lidar com esta crise é o isolamento, isolar pessoas para isolar o vírus. E assim a epidemia obriga a contrariar aquilo que nos é mais humano: estar com os outros. Milhares de pessoas estão presas nas suas casas sem saber o que esperar, ora por obrigação ora por preocupação. Só que o isolamento não nos é natural. Não contribui para o conforto, como o toque de alguém que nos é próximo. Será preciso amar à distância, manter os metros e até os quilómetros para fugir das tosses e dos ares que contaminam. Andar por ruas vazias, ou andar com medo das ruas cheias de gente. As pessoas tornaram-se num inimigo sem nome. Os inerentes problemas sociais e políticos dos nossos sistemas vêm à tona, com estas crises. Nota-se que ainda estamos longe de perceber a forma como entendemos as pessoas, a medicina, as liberdades individuais e colectivas, o pânico e o medo – e de como se entende o poder. Em contextos de relações interpessoais (amorosas) por várias vezes explorei a comunicação na resolução de desencontros de intimidades. Sem surpresas, a solução de problemas a nível macro-social precisa de comunicação. As estruturas de poder só serão capacitadoras e eficazes se houver comunicação humilde, transparente e clara - que não seja alarmante nem fantasiosa. Parece fácil, mas é tão difícil. Neste processo de aprendizagem, que tem ocorrido ao longo dos séculos, por muitos continentes de várias epidemias, tenho sempre a sensação que esta aprendizagem dura o seu tempo, à
custa de muitas vidas. Não consigo desligar dos micro-cosmos de emoções de quem se sente obrigado a afastar-se da vida normal por um vírus que ataca ainda no seu estado silencioso - e da desconfiança pelas estruturas
Uma forma de lidar com esta crise é o isolamento, isolar pessoas para isolar o vírus. E assim a epidemia obriga a contrariar aquilo que nos é mais humano: estar com os outros
que deveriam salvar as pessoas de situações de medo e incerteza. Pelo menos já vi que se faz uso do humor negro pelas redes sociais chinesas. As pessoas que se protegem de formas criativas para não se perder o que nos é mais humano, os jogos, a diversão, a interação com os outros. As tecnologias que nos aproximam e que oferecem algum conforto. O medo que talvez nos faça ainda mais sedentos por toque e atenção, como se o amanhã pudesse ser a nossa sentença de doença (ou de morte). O assunto é tão sério que aparvalhar é só mais um mecanismo de defesa. ‘Talvez daqui a 9 meses haja um baby boom!’, gozava uma amiga. Entretanto, tenta-se esperar, e agir, para que tudo corra bem.
Deixemos as mulheres bonitas aos homens sem imaginação. PALAVRA DO DIA
Marcel Proust
Made in Macau
E
LAIVOS DA HISTÓRIA
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Ao contrário do que muitos analistas defendem, o activista considerou que o “sistema político de Macau não é formado a partir da Declaração [Conjunta] Sino-Portuguesa”, mas sim pelo acordo entre a China e o Reino Unido sobre Hong Kong.
Jason Chao diz que contestação é mais dirigida contra governantes locais
TATIANA LAGES
M entrevista à agência Lusa, Jason Chao, ligado à Associação Novo Macau, disse que a contestação que se vive em Macau é mais contra as autoridades locais do que contra o Governo Central. Jason Chao defendeu que será sempre difícil à população manifestar-se contra Pequim, por “estar presa”. O activista, em entrevista à Lusa em Lisboa, salientou que existem muitas diferenças entre as realidades sociais de Macau e de Hong Kong, o território que tem sido palco de violentas manifestações contra a China. Para Jason Chao, de 33 anos, a frequentar um doutoramento na Alemanha, as diferenças entre Hong Kong e Macau resultam da história dos dois territórios e do papel das potências ocupantes na promoção do idioma e valores ocidentais. O espaço do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong é um “local de protesto contra a China”, mas na RAEM essa zona “é um centro de protestos contra a gestão e más práticas do governo de Macau”, exemplificou, admitindo que os residentes “tendem a pedir a intervenção do Governo chinês”, porque pensam que os seus governantes “não são competentes para gerir os assuntos locais”. “Em Macau querem-se os problemas resolvidos, independentemente do sistema em que se viva”, disse Jason Chao. Por outro lado, o território antes administrado por Lisboa está demasiado dependente de Pequim para tentar qualquer tipo de rebelião. “Se um dia a população de Macau se quiser revoltar contra a China será economicamente impossível porque está presa”, já que, no território, “só há dois grandes empregadores: os casinos que são dependentes dos turistas da China” e a “administração pública que depende das receitas da indústria do jogo”. Por isso, admitiu Jason Chao, “pelo menos no curto-prazo, não é previsível que Macau vá contra a China, porque isso afecta a única fonte de rendimentos” do território.
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que foi dirigente do campo pró-democrata. E “pudemos assistir a uma rápida securitização e uma desvalorização dos direitos humanos durante a visita do Presidente da China”, por ocasião da mudança do governo da RegiãoAdministrativa Especial, em Dezembro de 1999, acrescentou. Jason Chao admitiu ter previsto “esta tendência”, mas que não previu “o nível da erosão e da deterioração dos direitos”, alertando para alguns sinais daquilo que considera ser um endurecimento do regime. “Os Governos chinês e de Macau têm visto atentamente os relatos jornalísticos em Macau sobre a situação Hong Kong”, principalmente “os artigos publicados nos media portugueses em Macau, que foram abertos ou, pelo menos, não foram negativos em relação aos protestantes em Hong Kong”, frisou.
O “direito à liberdade em Macau continua a deteriorar-se, mas infelizmente a opinião pública não está preocupada.”
“A declaração em Macau foi assinada após as negociações da China com o Governo britânico” e o acordo com Portugal já introduziu mudanças impostas pela China, explicou Jason Chao. Entre as duas leis básicas há uma “diferença crucial”, porque a “China não fez qualquer promessa de sufrágio universal para o Chefe do Executivo de Macau”, exemplificou Chao, mostrando que, já nos anos 1980, Hong Kong tinha mais exigência democrática que o território sob administração portuguesa. Essas diferenças também “têm a ver com diferentes progressos de desenvolvimento social entre Hong Kong e Macau”, com o território administrado por Londres a ser já um grande centro económico e financeiro da Ásia. Hoje, a “China quer apresentar Macau como o melhor exemplo do princípio ‘Um País, Dois Sis-
temas’”, mas “quanto mais apresenta Macau como um estudante obediente, mais isso é prejudicial para o auto-denominado ‘Um País, Dois Sistemas’”, avisou Chao. Em Macau, acusou o activista, assiste-se ao “silêncio dos opositores, uma total submissão à lei chinesa e isso é algo que Taiwan e Hong Kong não querem”. Hoje “podemos olhar para este princípio e vemos que essa promessa está a perder credibilidade, especialmente olhando para Hong Kong”, afirmou Jason Chao. Hong Kong vive uma situação semelhante, embora menos evidente, já que muitos dos capitais que fluem para o território devem-se às suas ligações com a China. No entanto, desse lado do delta do Rio das Pérolas, o desenvolvimento económico é antigo e consolidado, pelo que os “jovens em Hong Kong estão a tornar-se, progressivamente, mais pós-
-materialistas”, dando mais valor à “liberdade e autonomia”. Isto é, notou o activista, “fundamentalmente, uma questão de progresso”. “Não rejeito que a próxima geração de Macau tenha mais desejo de autonomia”, salientou Jason Chao, que se diz “optimista de longo curso”, porque “nenhuma ditadura pode viver para sempre”.
“EROSÃO DE DIREITOS”
Na mesma entrevista, Jason Chao referiu ainda o aumento da “erosão dos direitos cívicos e securitização” no território, procurando condicionar a liberdade de expressão, com medo de manifestações semelhantes às de Hong Kong. “Quando estava a trabalhar em Macau, pude assistir a um retrocesso e a uma erosão dos direitos e liberdades. Depois de eu ter saído (2017), essa erosão acelerou”, afirmou o activista,
O “direito à liberdade em Macau continua a deteriorar-se, mas infelizmente a opinião pública não está preocupada”, lamentou Jason Chao, que se mostra optimista, “a longo prazo”, no que respeita ao apoio das novas gerações à causa da democracia. “Quando Macau viver num ambiente mais próspero e mais exposto ao mundo, os jovens terão o mesmo desejo de autonomia e liberdade” que teve ou a sua geração, afirmou o activista. Após a transferência da administração, em 1999, o território tem assistido à chegada de milhares de imigrantes da China e a “doutrinação do regime tem tido grande sucesso nas últimas décadas” nas escolas e nas associações juvenis, mas todas as “ditaduras têm as suas falhas” e, “perante as injustiças, as pessoas começam a estar atentas”, considerou Chao. “Tenho fé num sistema de governo que traga liberdade e justiça”, disse o ex-dirigente daAssociação Novo Macau, considerando que esse modelo de governação tem de ser democrático: “Não acredito que uma ditadura possa dar justiça às pessoas”.