Hoje Macau 3 MAR 2020 # 4478

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TERÇA-FEIRA 3 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº4478

SERVIÇOS DE SAÚDE

RESGATES E PRESSÕES PÁGINA 4

PME

PONTOS DE INTERROGAÇÃO PÁGINA 5

COVID-19

CONTENTORES DE ISOLAMENTO PÁGINA 6

hojemacau

Chegou E aí está. Portugal já não é um dos poucos países europeus sem casos do novo coronavírus. Dois homens, um de 60 anos, outro de 33, vindos de Itália e de Espanha, respectivamente, registaram testes positivos ao Covid-19 e encontram-se internados em estado “estável”. O Governo anunciou o reforço de acções de controlo aos voos vindos de Itália, cujos passageiros, até agora, não eram submetidos a nenhuma medida preventiva.

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


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EPOIS dos dois casos de infecção com o novo surto do Covid-19 fora do país, Portugal confirmou ontem os primeiros dois casos em território nacional. Um deles diz respeito a um médico de 60 anos que regressou há pouco tempo do norte de Itália onde esteve de férias. O clínico está internado no Hospital Tâmega e Sousa. O outro doente, de 33 anos, começou a sentir sintomas no passado dia 26 de Fevereiro, mas a ligação com a epidemia terá tido origem em Valência, Espanha. Marta Temido, ministra da Saúde em Portugal, disse ontem em conferência de imprensa que ambos os doentes estão num estado de saúde considerado “estável”. No que diz respeito ao segundo caso de infecção, à hora do fecho desta edição aguardava-se ainda o cruzamento de resultados pelo Instituto Nacional Ricardo Jorge. “Neste momento aquilo que é a recomendação geral para as pessoas que venham de uma área afectada, e onde possam ter tido contacto com os doentes, é o de fazerem vigilância activa e de contactarem a linha SNS 24 [associada ao Serviço Nacional de Saúde no país] no sentido de obterem aconselhamento. Será caso a caso e em função desse contacto

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COVID-19

ENTRE O MEDO PORTUGAL COM DOIS CASOS. PORTUGUESES CRITICAM AUSÊNCIA DE PREVENÇÃO NO AEROPORTO

Portugal já tem dois casos de infecção com o Covid-19, tendo decretado o maior controlo de voos vindos de Itália. A medida chega com dois dias de atraso, uma vez que dois portugueses, regressados do norte do país de férias, disseram ao HM que no aeroporto de Lisboa não foram sujeitos a nenhuma medida preventiva. De regresso à rotina diária, assumem não tomar nenhuma medida adicional por não terem sintomas de infecção, mas dizem estar preocupados

que poderão ser definidas outras medidas”, apontou a ministra. À semelhança do que aconteceu com voos vindos da China, o Governo português decidiu ontem aplicar o rastreio a todos os voos PUB

de Itália para Portugal. «Foi tomada a decisão de aplicar aos voos que são provenientes de áreas afectadas um rastreio dos contactos e um reforço da informação dada aos provenientes de regiões afectadas, e é algo que já tínhamos feito com os voos provenientes da China”, explicou a ministra. Marta Temido disse também que as autoridades vão insistir para que “as pessoas estejam atentas ao seu estado de saúde e em caso de qualquer sintoma que contactem primeiro a linha SNS 24 no lugar de se dirigirem directamente ao SNS. A mensagem é de tranquilidade e de contacto com a linha de saúde 24”. Graça Freitas, da Direcção-geral de Saúde (DGS), assegurou que Portugal está, neste momento, “em fase de contenção”. “Teremos em Portugal quase de certeza dois casos confirmados e isso não aumenta o nosso nível de prevenção e preparação, mas gera uma segunda linha muito importante que é a detecção de contactos directos nestes casos”, disse na conferência de imprensa de ontem.

SEM ACOMPANHAMENTO

O HM conversou com dois portugueses, residentes no

distrito de Évora, que estiveram precisamente na zona norte de Itália a passar férias com os respectivos cônjuges. Regressados na última sexta-feira, dois dias antes das medidas ontem anunciadas por Marta Temido, estes portugueses queixam-se da falta de acompanhamento das autoridades no aeroporto de Lisboa. A estadia fez-se na zona de Riva Del Guarda, a alguns quilómetros de Milão. Quando chegaram a Itália, foi-lhes medida a temperatura, mas o mesmo não aconteceu no regresso. “Ficámos surpreendidos como é possível, perante estas notícias bombásticas [não se fazer nada]. O que vivemos depois no terreno não corresponde à realidade, e por isso ficamos um bocado baralhados”, disse Fátima Nunes, residente na cidade de Montemor-o-Novo. Em Itália, apesar da normalidade da situação, Fátima Nunes diz ter comprado máscaras “caríssimas”, a dez euros por unidade [cerca de 89 patacas]. De regresso à rotina, Fátima Nunes, que trabalha numa instituição que cuida de portadores de deficiência, diz estar com dúvidas sobre o regresso ao trabalho, por temer a reacção negativa dos colegas.

“Depois destas férias estou aqui completamente indecisa sem saber o que fazer. Segundo as indicações do SNS 24 [linha de atendimento telefónico do Serviço Nacional de Saúde, em Portugal] não há problema nenhum. Estou mais expectante em relação aos pais dos jovens [que estão na instituição] e às pessoas, porque sinto um ambiente de medo. Hoje [domingo] já fui às compras, tentei não estar muito perto de pessoas. Estou muito relutante em relação às minhas colegas, fartaram-se de me ligar.” Vítor Vinagre, natural de Mora e também regressado da mesma viagem de férias, também acusa as autoridades portuguesas de não fazerem o devido acompanhamento aos portugueses que chegam de Itália. “À chegada a Itália foi-nos medida a temperatura, à saída do aeroporto. Quando cheguei ao aeroporto [de Lisboa] ainda mais indignado fiquei porque vinha com uma máscara, no avião cerca de 10 por cento das pessoas vinham de máscara, chegámos e cada um foi à sua vida. Não nos mediram a temperatura. Cá foi tudo à vontade.” Esta foi a segunda vez que Vítor viajou para Itália

e, na primeira vez, viajou na altura em que a epidemia do Ébola assustava o mundo. O cidadão português, a residir em Mora, pertencente ao distrito de Évora, recorda que a postura das autoridades foi completamente diferente. “Ninguém saiu do avião sem o avião ser pulverizado com um desinfectante. Agora, quando chegámos a Itália, todos os que passavam tinham de verificar a temperatura. Aqui [em Lisboa] deixaram-nos sair e ninguém apareceu. Pode ser um alarme, uma coisa grave, e ninguém nos informa.” Por precaução, antes de regressar a Portugal, Vítor Vinagre falou com o seu


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E A REALIDADE patrão. “Antes de embarcar para Portugal falei com o meu chefe, expus a situação, mas eu estou bem, nada de anormal aconteceu e se ele quiser que eu não vá trabalhar, eu não vou.” A entrevista com o HM aconteceu antes de serem confirmados os dois novos casos em Portugal. Confrontado posteriormente com as notícias, Vítor Vinagre assegurou não tomar nenhuma medida adicional, apesar de ter regressado da mesma zona que o médico infectado. “Estou preocupado, mas sinto-me bem, não vou tomar nenhuma medida adicional. Se calhar esse médico até vinha num avião para o Por-

to, não sei. Vou continuar a fazer a minha vida normal. Se entro em histerismo fico louco”, assegurou. Não foi possível chegar à fala com Fátima Nunes.

“UMA VIDA NORMAL”

A ideia dos quatro portugueses era visitarem também Veneza por causa do carnaval, que, entretanto, foi cancelado devido ao surto do Covid-19. Mas, na zona que visitaram, o dia-a-dia aconteceu de forma normal e não houve quaisquer sinais de pânico. “Foi tudo tranquilo, não sentimos nada daquilo que vimos nas notícias quando chegámos a Portugal. Tive-

mos umas férias espectaculares, nunca vi ninguém de máscaras nem de luvas. As pessoas com quem estávamos, que viviam no norte

“Aqui [em Lisboa] deixaram-nos sair e ninguém apareceu. Pode ser um alarme, uma coisa grave, e ninguém nos informa.’’ VÍTOR VINAGRE PORTUGUÊS REGRESSADO DE ITÁLIA

de Itália, estavam todas tranquilos. Apercebíamo-nos da situação quando chegávamos a casa e víamos as notícias”, relatou Fátima Nunes. Em Portugal, os familiares mostravam-se muito preocupados. “Os telefonemas eram mais que muitos”, adiantou Fátima, o que os obrigou a comprar máscaras na farmácia. Além das medidas preventivas adoptadas pela alentejana, também o marido, Manuel Nunes, disse ligar para a médica de família para se informar das medidas a tomar, apesar de não sentir quaisquer sintomas e de não terem estado em contacto com potenciais infectados.

Fátima Nunes relata, no entanto, que até ao fecho desta edição ainda não conseguiu chegar à fala com o seu médico. “Nesse dia a minha médica de família não estava de serviço e liguei para o serviço de urgência. O médico disse-me para voltar a ligar para um médico de substituição do médico de família, tentei três ou quatro vezes, mas as chamadas caíam e não fui capaz. Vou tentar ligar novamente à médica de família e a pensar se me apresento esta segunda-feira [ontem] no trabalho. Não sei o que fazer, mas a minha ideia é apresentar-me ao serviço.” A conversa com Fátima e Vítor aconteceu no domingo,

mas ontem, segunda-feira, ambos resolveram apresentar-se ao serviço por se sentirem bem e não apresentar quaisquer sintomas.

ITÁLIA COM MEDIDAS DE APOIO

A situação em Itália está tão complicada que o Governo anunciou, no último sábado, a preparação de um pacote de medidas para reduzir o impacto económico do surto de Covid-19 nas empresas, da ordem dos 3,6 mil milhões de euros, revelou o ministro da Economia italiano. Em entrevista ao jornal “La Repubblica”, o ministro Roberto Gualtieri, citado pela agência espanhola Efe, adiantou que o pacote de medidas está a ser desenhado pelo Executivo e será aprovado nos próximos dias “contendo intervenções a todos os níveis”, que estão a ser negociados com organizações de ação social e autoridades locais. Segundo o jornal, numa primeira fase, terá sido assinado na sexta-feira um decreto-lei em Itália que, entre outras coisas, suspende o pagamento de contas de energia e gás nos onze municípios do norte, isolados por causa da epidemia de Covid-19 provocada por um novo coronavírus, considerados “zona vermelha”. “Temos várias hipóteses em mente [para esta segunda fase]. Desde o crédito tributário para empresas que sofreram uma queda no volume de negócios de mais de 25 por cento, até uma baixa de impostos”, precisou Roberto Gualtieri. Segundo o governo italiano, este pacote de ajudas vai implicar um desvio do défice planeado para este ano, estimado em setembro em 2,2 por cento do PIB, para o qual Roma vai solicitar flexibilidade junto de Bruxelas. “Trata-se de um aumento de gastos adicionais (...) compatível com a flexibilidade previstas pelas normas do Pacto de Estabilidade, uma vez que estamos na presença de circunstâncias excepcionais objectivas”, sustentou o governante italiano. “É um número consistente e sustentável, calculado com critérios objectivos e de acordo com as necessidades reais. Não há razão para temer que Bruxelas o rejeite”, acrescentou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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3.3.2020 terça-feira

Máscaras Quinta fase de distribuição arranca com menos funcionários nos postos ao trabalho, há menos pessoas disponíveis para estarem nos postos de venda. Por outro lado, o director dos SSM, recordou que apesar de haver uma grande corrida nos primeiros dias à venda de máscaras, que nos últimos dias das diferentes fases há sempre menos filas, o que pode ser

melhor para os cidadãos, que assim evitam concentrações. Lei Chin Ion recusou ainda a hipótese de haver problemas com as máscaras que em vez de plástico utilizam fitas para se presas: “Não temos tido queixas, todas as máscaras foram bem aceites pela população”, atirou.

Ajuntamentos Confirmadas operações de dispersão

As autoridades de Macau estão a realizar operações para dispersar os cidadãos quando se registam grandes ajuntamentos. Uma dessas operações terá acontecido ontem, na Praça do Tap Seac, e foi confirmada por Lei Tak Fai, chefe da Divisão de Relações Públicas do Corpo de Polícia de Segurança Pública. “Enviamos agentes para os sítios com grande concentração. Seguimos as orientações do Governo e vamos continuar a articular-nos com elas. Por isso, já apelámos várias vezes às pessoas para que não saiam de casa”, apelou Lei Tak Fai.

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A quinta fase do programa do Governo de venda de máscaras tem hoje início. Ontem, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, apelou ao cidadãos para que evitem uma corrida aos centros públicos de venda. Segundo a explicação de Lei, uma vez que a Função Pública regressou

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O domingo, Lei Chin Ion afirmou que o Governo estava sob forte pressão para resgatar os residentes de Macau em Wuhan. A declaração foi alvo de diversas interpretações, mas nas redes sociais foram vários os ataques aos meios de comunicação social em língua portuguesa, devido à insistência no tema. No entanto, ontem, o director dos Serviços de Saúde veio a público esclarecer as declarações e apontar que a “pressão” se deve às funções do Executivo para com a sua população. “Eu disse que havia uma grande pressão. Na internet houve quem fizesse diferentes interpretações destas declarações. Mas a pressão deve-se à responsabilidade que o Governo tem de tomar conta dos cidadãos”, afirmou Lei Chin Ion. “É uma tarefa muito difícil e é dessa responsabilidade que vem a pressão”, acrescentou. Nas mesmas declarações, Lei apontou dois mo-

SSM GOVERNO TEM OBRIGAÇÃO DE PROTEGER CIDADÃOS

Marcha atrás

O director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, apontou a existência de “pressão” para resgatar os cidadãos de Macau em Hubei e a declaração foi interpretada como uma responsabilização da imprensa. Ontem, Lei esclareceu que o resgate faz parte das obrigações do Executivo tivos para que o “resgate” possa agora ser realizado. “Primeiro, em Macau a epidemia está controlada e não há casos novos há 27 dias. Em segundo lugar, a situação de Wuhan é mais estável e há cada vez menos casos [...] os riscos envolvidos são mais reduzidos”, afirmou. De seguida, Lei Chin Ion saiu em defesa da classe dos jornalistas. “Acho que todos vão concordar que a

responsabilidade dos jornalistas passa por fiscalizar o Governo e fazer eco das diferentes vozes da sociedade. Os jornalistas só estão a fazer o seu trabalho e não estão a fazer qualquer tipo de pressão”, concluiu. Segundo os números apresentados ontem, neste momento há 46 residentes em Hubei, que se dividem em 27 famílias, com condições para serem trazidos para Macau. No entanto,

antes de poderem embarcar, vão ter de ser alvo de exames no aeroporto. O Governo garante que tem as condições para liderar este processo e assegurar a segurança de todos. Entre estes residentes constam dois menores, um com 17 anos, que pode ser transportado sozinho e uma menina com 10 anos, que precisa de viajar com um encarregado de educação. Esta pessoa terá de ficar de

quarentena assim que o voo chegar a Macau.

EXPLICAÇÕES DE REGRESSO

A principal novidade anunciada na conferência de imprensa de ontem é o regresso à actividade dos centros de explicações e dos centros de formação ligados ao programa de aperfeiçoamento contínuo. “Há muitos encarregados de educação que precisam de trabalhar e não têm com quem deixar as crianças. Também há muita gente que quer frequentar os espaços de formação continua. Por isso, a partir de hoje os centros vão reabrir”, anunciou Wong Chi Iong, Chefe da Divisão de Extensão Educativa da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). No entanto, Wong realçou que a segurança continua a ser a prioridade e que esta reabertura já estava a ser preparada desde sexta-feira. “A segurança é o mais importante e nesse sentido houve uma reunião com as diferentes associações no dia 28 de Fevereiro, em que foram transmitidas as obri-

“Eu disse que havia uma grande pressão. [...] Mas a pressão deve-se à responsabilidade que o Governo tem de tomar conta dos cidadãos.” LEI CHIN ION DIRECTOR DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

gações e as diversas medidas de segurança”, revelou. Segundo as normas transmitidas, estes centros têm de exigir a utilização de máscaras, disponibilizar gel desinfectante para as mãos e que a declaração de saúde seja preenchida. Com vista ao funcionamento pleno, o Executivo disponibilizou 37.500 máscaras aos centros e 7.000 embalagens de gel. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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terça-feira 3.3.2020

PME DEPUTADOS QUESTIONAM GOVERNO SOBRE NOVO PACOTE DE APOIO

Discos pe(r)didos

Os deputados querem inquirir os secretários das pastas da Economia e dos Assuntos Sociais, para detalhar as medidas a adoptar de apoio às PME e aos alunos que pretendem candidatar-se ao ensino superior no próximo ano. No entanto, em plena crise derivada do Covid-19, outro tema que vai merecer atenção do Governo é a lei de salvaguarda do património cultural exemplo os bares, que têm de pagar imposto de turismo e que pedem isenção do pagamento desta taxa. Outra das prioridades de trabalhos que saiu da reunião presidida por Si Ka Lon, prende-se com o regresso às aulas. “O Governo disse que as aulas devem ser retomadas

mais ou menos no final de Abril, mas durante este tempo os alunos vão ficar em casa e os pais já retomaram os seus trabalhos. Por isso as famílias cujos pais trabalham estão a encarar dificuldades. Queremos saber que tipo de medidas o Governo vai adoptar para ajudar

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esde o dia 1 de Fevereiro até 2 de Março, a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) recebeu aproximadamente 2.500 candidaturas referentes às medidas de apoio às pequenas e médias empresas (PME), lançadas pelo Governo para fazer face à crise provocada pelo novo tipo de coronavírus, o Covid19. De acordo com um comunicado oficial divulgado ontem pela DSE, o “Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas”, onde é concedido à empresa qualificada um empréstimo sem juros no valor de 600 mil patacas, recolheu a maior fatia das candidaturas (1.328), tendo sido aprovadas 344. Já o “Plano de Garantia de Créditos a PME”, que concede uma garantia de 70 por cento de crédito bancário, recolheu 14 candidaturas, tendo sido aprovada apenas uma. Por fim, a “medida de ajustamento de reembolso”, recolheu 1.151 pedidos, tendo sido aprovados 1.081.

FORA DO BARALHO?

Na mesma ocasião, o presidente da comissão deu ainda prioridade à Lei da Salvagurada do Património Cultural, que define a necessidade dos proprietários de imóveis nas zonas históricas, as chamadas zonas tampão, terem de pedir um parecer ao Instituto Cultural (IC) em caso de venda destes imóveis. A discussão do assunto foi entretanto interrompida pela crise do Covid- 19. “Na sessão legislativa anterior já decidimos dar acompa-

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S deputados querem ouvir o secretário da pasta da Economia e Finanças, Lei Wai Nong, acerca das medidas a adoptar pelo Governo para apoiar as pequenas e médias empresas (PME), nomeadamente os detalhes de implementação dos planos de empréstimo sem juros, vales de consumo e isenção de impostos. Além disso, em cima da mesa esteve ainda o apoio único às empresas e a possibilidade de vir a existir uma segunda vaga de medidas para apoiar as PME. “As PME estão a passar dificuldades, estão numa situação difícil. Por isso os deputados (…) querem saber como é que o Governo vai dar mais apoio, pois temos de garantir o emprego dos trabalhadores (…) saber detalhadamente que medidas vão ser desenvolvidas para, por exemplo, conceder empréstimos sem juros ou como vai ser executado o plano dos vales de consumo de três mil patacas e se existem mais medidas de apoio às PME. Queremos perguntar se há uma segunda vaga de medidas para apoiar as PME”, revelou ontem Si Ka lon, no final da reunião da Comissão de acompanhamento para os assuntos da administração pública. Na reunião, que teve como objectivo decidir os temas sobre os quais irão incidir os trabalhos da comissão, Si Ka Lon apontou ainda que foram realçadas as especificidades de alguns negócios que têm enviado pedidos ao Governo. Isto porque, dentro do espectro empresarial, “existem indústrias com diferentes solicitações”, como por

DSE 2.500 CANDIDATURAS RECEBIDAS

as famílias e os alunos”, transmitiu Si Ka Lon. Os deputados estão ainda preocupados com os estudantes do ensino secundário que estão a finalizar o seu curso e que têm de fazer exame final para aceder ao ensino superior. “Queremos chamar os dirigentes do Governo para trocar opiniões com a comissão”, afirmou Si Ka Lon, referindo-se à secretária para os Assuntos sociais e Cultura, Ao Leong U.

nhamento à lei de salvaguarda do património cultural. Segundo essa lei são definidas zonas de tampão e existem propriedades que precisam de obter o parecer do IC. Esta regra perturba os cidadãos”, afirmou Si Ka Lon.

“Queremos perguntar se há uma segunda vaga de medidas para apoiar as PME.” SI KA LON Sobre este ter sido um dos temas escolhidos para a comissão analisar nos próximos meses, o deputado Pereira Coutinho referiu em declarações à TDM Rádio Macau estar surpreendido “com o desplante” do presidente da comissão por ter sugerido uma questão desta natureza quando se vive “uma situação de crise”, derivada do impacto do Covid- 19 em Macau. Pedro Arede

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RECURSOS EXECUTIVO APOSTA NO DIGITAL PARA REDUZIR IMPRESSÕES EM PAPEL

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M resposta a uma interpelação escrita enviada pela deputada Ella Lei, o Governo garantiu que vai fazer bom uso dos recursos materiais e financeiros à disposição, para proceder

à impressão de material promocional dos serviços públicos e que fará uso de ferramentas digitais para reduzir os gastos. “O Governo da RAEM regeu-se sempre pelo prin-

cípio da boa utilização dos recursos públicos e financeiros, a fim de maximizar os benefícios, com o menor custo possível. Por isso, iremos proceder também a uma abordagem digital, tais

como a partilha de materiais nas redes sociais e o envio de cartões electrónicos, tanto para atingir o objectivo promocional, como a redução do impacto ambiental”, pode ler-se na resposta.

Recorde-se que na interpelação escrita enviada por Ella Lei a 29 de Novembro de 2019, a deputada considerou que os materiais promocionais impressos regularmente devem também

acompanhar a evolução digital e perguntou ao Governo se existem mecanismos para avaliar a quantidade de material promocional impresso pelos serviços públicos.


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3.3.2020 terça-feira

CINEMATECA FILMES ESTÃO DE REGRESSO NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA

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Cinemateca Paixão volta a abrir portas ao público na próxima sexta-feira, a partir das 10h, e os bilhetes para as sessões deste mês já se encontram à venda. A reabertura do espaço da Travessa da Paixão surge na sequência da reabertura de espaços culturais, anunciado pelo Instituto Cultural. A programação de Março arranca na sexta-feira com a projecção dos filmes “Sobre o Infindável”, de autoria do sueco Roy Andersson, que tem um Leão de Ouro no currículo, e a comédia negra “A Despedida”, da cineasta chinesa Lulu Wang. No sábado o cartaz tem em destaque as primeiras projecções de um par de filmes locais e outras duas produções nipónicas. A representar a produção local, serão exibidos “Cabras”, de Mak Kit Wai, e a comédia “G.D.P.: Grandmas’Dangerous Project”, de Peeko Wong. Na secção japonesa, serão exibidos “Levem-me a Saitama”, realizado por Hideki Takeuchi, e “Que Alguém Me Acerte Outra Vez”, de autoria de Koki Mitani. O cartaz de Março da Cinemateca Paixão apresenta ainda dois filmes que arrebataram o mundo do cinema, o aclamadíssimo e vencedor dos óscares “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon-ho, em versão preto e branco, e “O Farol”, do norte-americano Robert Eggers. Finalmente, há espaço para mais um filme local, “A Meio Caminho”, de Ng Ka Lon. A Cinemateca Paixão alerta ainda para a necessidade de cumprir as regras de prevenção estabelecidas pelos Serviços de Saúde, detalhes que serão compartilhados on-line em breve. J.L.

COVID-19 ZHUHAI ENVIA 376 CONTENTORES PARA ISOLAR NÃO-RESIDENTES

A carga pronta As autoridades de Zhuhai estão a proceder ao envio de 376 unidades móveis de habitação, instaladas em contentores, para albergar trabalhadores não-residentes de Macau sujeitos a quarentena. A primeira remessa, de 10 contentores, deverá custar aos cofres públicos 2,34 milhões de dólares de Hong Kong

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S trabalhadores não-residentes que queiram entrar em Macau oriundos de países com alta incidência de infecção de coronavírus vão passar a ter uma alternativa para fazer a quarentena obrigatória. As autoridades de Zhuhai anunciaram ontem que está em curso o envio de 376 contentores, ou unidades

pré-fabricadas de alojamento, que vão chegar a Macau oriundos da zona de Foshan, na cidade vizinha. A medida tem como objectivo responder à propagação do Covid- 19. As unidades pré-fabricadas têm uma área de 18 metros quadrados e estão equipadas com detectores de temperatura, ar-condicionado, máquinas de lavar e camas de ferro.

A notícia publicada no portal do Governo de Zhuhai é ilustrada por uma fotografia que mostra camiões carregados com as unidades pré-fabricadas. De acordo com o canal chinês da TDM – Rádio Macau, a primeira remessa destinada a Macau chega em cinco camiões, com dois contentores cada, com um custo total de 2,34 milhões de dólares de Hong Kong.

SEMPRE A ABRIR

O carregamento está pronto desde 26 de Fevereiro e o seu envio aguardou o complicado processo de autorização, que de acordo com o Governo Municipal de Zhuhai, foi favorecido por medidas extraordinárias de despacho aduaneiro implementadas pelos serviços fronteiriços de Hengqin. Face à quantidade das unidades pré-fabricadas e aos calendários apertados decorrentes da emergên-

Habitação económica Longas filas para entrega de candidaturas Antes das 9h da manhã já existiam residentes junto ao Instituto de Habitação (IH), à espera para a entrega de candidaturas para habitação económica. A informação foi avançada pelo canal chinês da TDM Rádio Macau, no dia em que foi retomada a entrega de candidaturas, após a interrupção de mais de um mês, derivada das medidas de prevenção do novo tipo de coronavírus, o Covid- 19. Segundo a mesma fonte, alguns residentes que estavam na fila disseram mesmo já estarem a aguardar

no local desde as 6h e esperam agora que o Governo possa estender o período para recepção de candidaturas, que termina a 27 de Março. Para entrar no local, foi obrigatória a utilização de máscara e medição de temperatura, tendo sido também instalado um separador transparente ao balcão e divididas algumas áreas para evitar a concentração de pessoas. Até 28 de Fevereiro tinham sido apresentadas 7.862 candidaturas, das quais cerca de 80 por cento reuniam toda a documentação exigida.

As unidades pré-fabricadas têm uma área de 18 metros quadrados e estão equipadas com detectores de temperatura, ar-condicionado, máquinas de lavar e camas de ferro cia provocada pelo coronavírus, as autoridades fronteiriças de Hengqin tiveram luz verde para autorizar a passagem dos camiões ainda durante a fase de preparação dos documentos. Foram dadas instruções para preenchimento das declarações online, outro factor que ajudou a resolver as questões logísticas e a acelerar o processo de inspecção. Além disso, o Governo de Zhuhai destaca que vários departamentos daAdministração estiveram em alerta, dia e noite, para assegurar que os carregamentos saem da cidade vizinha o mais rapidamente possível. João Luz

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Moda Oito candidatos com apoio do IC

Ao todo, oito candidatos foram seleccionados pelo Instituto Cultural (IC), no seguimento do lançamento da sétima edição do “Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda”. A informação foi divulgada através de uma nota oficial do IC, que aponta que os seleccionados irão receber até 170 mil patacas para “despesas de execução e promoção das respectivas amostras”. Segundo o IC, o programa tem como objectivo “continuar a promover o desenvolvimento da indústria do design de moda em Macau” e, no total, recebeu 19 candidaturas. Os oito seleccionados pelo júri são, Leng Carmen, Wai Chin Seong, Lo Ka Heng, Lai Ka Pou, Wong Man I, Cordova Celestino Maria, Choi Wai Leng e Cheong Kuan Peng.


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terça-feira 3.3.2020

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JOGO QUEBRA DE RECEITAS AMEAÇA PME E TRABALHADORES NÃO-RESIDENTES

PÓS ter sido revelado que as receitas brutas do jogo caíram para o nível mais baixo desde Fevereiro de 2005, o economista Albano Martins acredita que uma eventual onda de desemprego vai afectar principalmente os trabalhadores não-residentes das concessionárias e as Pequenas e Médias Empresas. De acordo com as declarações prestadas ao HM, o economista antevê que as concessionárias vão proceder a cortes na aquisição de serviços o que se vai fazer sentir nas PME. “Os casinos são grandes consumidores das Pequenas e Médias Empresas. Mas como vão estar em modo de contenção, isso pode significar que vão deixar de fazer tanta despesa no mercado local. Como consequência, muitas empresas vão ficar com a corda na garganta”, apontou. Ainda segundo os cálculos avançados por Albano Martins, com base nos dados mais recentes disponibilizados pelo Executivo, em 2017 os casinos tinham “injectado” na economia local cerca de 4 mil milhões de patacas em consumos intermédios, ou seja, a comprar produtos e serviços locais. Se os empregos locais nas concessionárias devem ficar resguardados por motivos políticos – em 2022 deverá haver um novo concurso para a atribuição das licenças do jogo – o mesmo não deverá acontecer com os vínculos dos trabalhadores não-residentes. “Os casinos não vão correr o risco de desempregar qualquer tipo de trabalhador local nesta fase. Os trabalhadores não-residentes poderão ser despedidos, mas o despedimento de locais vai ser tido em conta pelo Governo quando for a altura de atribuir as novas concessões”, indicou.

Desemprego indirecto Martins considerou ainda que a empresa junket que na semana passada despediu 200 trabalhadores, residentes e não-residentes, fica numa situação complicada. “Correm o risco de ficar isolados politicamente”, alertou. No domingo ficou-se a saber que nos primeiros dois meses do ano as receitas brutas dos casinos foram de 25,2 mil milhões de patacas, o que representa uma quebra de 49,9 por cento face ao período homólogo. Só em Fevereiro, a quebra foi de 87,8 por cento de 25,4 mil milhões para 3,1 mil milhões de patacas. Já em relação ao próximo mês, o economista adianta que as receitas deverão rondar o valor de 15,5 mil milhões de patacas: “Isto significa que relativamente ao primeiro trimestre, as receitas do jogo vão ser de cerca de 40,7 mil milhões de patacas. Representa um decréscimo de quase 47

“Não é que o Governo fique mais pobre, como poderão dizer alguns deputados, mas viu entrar menos dinheiro. É o preço de um metro ligeiro.”

MENOS UM METRO LIGEIRO

Em relação às considerações políticas no despedimento, Albano

ALBANO MARTINS ECONOMISTA

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por cento”, explicou. “A perda de receitas comparada com o ano passado para o Governo é de 13,8 mil milhões de patacas”, calculou. “Não é que o Governo fique mais pobre, como poderão dizer alguns deputados, mas viu entrar menos dinheiro. É o preço de um metro ligeiro”, clarificou. A primeira fase do metro ligeiro em Macau teve o valor de 11 mil milhões de patacas.

RECUPERAÇÃO VIP

Após o surto da SARS de 2003, a recuperação da economia de Macau foi impulsionada pela criação dos vistos individuais de

De derrota em derrota Subsidiárias da Nam Van voltam a perder em tribunal

feito o devido aproveitamento dos terrenos, alega o Governo. Este longo processo foi desencadeado em 2016, após a revisão da Lei de Terras, opondo o Governo e TIAGO ALCÂNTARA

Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso apresentado por seis empresas que viram declarada a caducidade de concessão de terrenos por parte do Governo. Três destas empresas são subsidiárias da Sociedade de Empreendimentos Nam Van e os terrenos que detinham fazem parte da zona C do plano do Fecho da Baía da Praia Grande. As empresas de nome Sociedade de Investimento Imobiliário Tim Keng Van, S.A, Sociedade de Investimento Imobiliário Man Keng Van, S.A. e Sociedade de Investimento Imobiliário Chui Keng Van, S.A. viram a concessão dos terrenos ser considerada nula pelo então Chefe do Executivo, Chui Sai On, em 2018, uma vez que os contratos terminaram em Julho de 2016 sem que tenha sido

TIAGO ALCÂNTARA

Albano Martins antevê que a diminuição das receitas gerada pelos impostos do jogo só no primeiro trimestre é suficiente para pagar as obras do Metro Ligeiro

a Sociedade de Empreendimentos Nam Van e respectivas subsidiárias. No total, a empresa viu ser-lhes retirados 16 terrenos situados nas zonas C e D na zona da Praia Grande.

viagens para residentes do Interior da China. A medida criou uma onda de turismo na RAEM que resultou numa rápida recuperação económica. Este ano o caminho deverá ser diferente. Caso não haja grandes alterações económicas no Interior relacionadas com o coronavírus, a recuperação pode ter por base os grandes apostadores, conhecidos como jogadores VIP. “A China em relação aos VIP é mais selectiva, porque é um segmento onde há mais tentativas descaradas de lavagem de dinheiro. Para relançar a economia de Macau, a China pode optar por não criar tantos entraves”, opinou.

Em Dezembro último, o Tribunal de Última Instância (TUI) deu razão ao Governo num terreno também localizado na zona C do plano do Fecho da Baía da Praia Grande, e que havia sido concessionado, por arrendamento, à Sociedade de Empreendimentos Nam Van. Mais tarde foi autorizada a transmissão onerosa do direito, resultante da concessão do terreno, a favor da Sociedade de Investimento Imobiliário Nga Keng Van, cujo arrendamento era válido até 30 de Julho de 2016. A 3 de Maio de 2018, o Chefe do Executivo proferiu despacho de anulação da concessão.

OUTRAS TERRAS

A decisão do TSI versou ainda sobre dois terrenos localizados na zona A do plano do Fecho da Baía da Praia Grande. Um dos terrenos

Esta abordagem é igualmente tida como uma hipótese que permite evitar a grande concentração de pessoas. “Falamos de um grupo mais restrito de jogadores com capacidade para apostar grandes quantias. E tem a vantagem de não criar o problema da grande concentração de pessoas, como acontece com o jogo de massas”, sustentou. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

havia sido concessionado, em 1991, à Sociedade de Investimento Imobiliário Hio Keng Van, S.A., tendo a concessão sido declarada nula em 2018. Ainda na zona A, está em causa um processo relacionado com o terreno concessionado à Sociedade de Investimento Imobiliário Pun Keng Van, S.A. Outro terreno sujeito a uma decisão do TSI está localizado na Estrada Marginal da Ilha Verde, tendo sido concessionado a Kuan Vai Lam, casado com Lo Lai Meng, no regime da comunhão de adquiridos. De acordo com o acórdão ontem difundido, a concessão do terreno chegou ao fim a 7 de Maio de 2016, tendo sido anulada a sua concessão a 27 de Março de 2017, também por Chui Sai On, pelo mesmo motivo, o do não aproveitamento do lote de terreno . A.S.S.


8 coronavírus

3.3.2020 terça-feira

89197 Infectados

Covi novel cor

715

7110

Em estado crítico

Casos suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 80026 4335 1694 256 106 96 43 86 978 41 29 29 130 16 21 130 10 45 47 6 24 36 3 3 2 7 14 84 19 1 27 3 1 10 2 7 10 1 5 3 10 3 4 19 1 4 2 3 2 3 1 3 8 2 3 1 1 1 1 1 1 1 6 1 1 6 1 14

Interior da China Coreia do Sul Itália Japão Singapura Hong Kong Tailândia EUA Irão Taiwan Austrália Malásia Alemanha Vietname Emiratos Árabes Unidos França Macau Kuwait Bahrain Oman Canadá Reino Unido Índia Filipinas Rússia Croácia Áustria Espanha Iraque Afeganistão Suiça Algéria Nepal Israel Brasil Grécia Libano Cambodja México Azerbeijão Holanda Geórgia Dinamarca Noruega Macedónia do Norte Paquistão Portugal Républica Checa Indonésia Qatar Estónia Roménia São Marino Bélgica Islândia Bielorússia Nova Zelândia Irlanda Républica Dominicana Luxemburgo Arménia Lituânia Ecuador Nigéria Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia

OUTROS

705

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

3 MACAU

Infectados

7

Curados

Macau

98 HONG KONG

Infectados

2

HONG KONG

1

Curado

Hong Kong

Mortos


coronavírus 9

terça-feira 3.3.2020

id-19 ronavírus

3048

45155 Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

88,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67103 1350 1272 1206 1018 990 935 758 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 79 28 18 4 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 2 1 0 0 0


10 china

3.3.2020 terça-feira

AFEGANISTÃO PEQUIM PROMETE APOIAR ACORDO ENTRE WASHINGTON E OS TALIBÃS

Amigos improváveis

JUSTIÇA CONDENADO À MORTE POR MATAR FUNCIONÁRIOS DE POSTO DE CONTROLO

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China prometeu ontem apoiar o acordo de paz entre Washington e os Talibãs, no Afeganistão, e pediu a retirada "ordenada e responsável" das tropas estrangeiras para evitar um vazio de poder e possível ressurgimento do terrorismo. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, considerou que o processo de reconciliação deve ser "liderado e detido pelo Afeganistão", apesar da recusa dos rebeldes Talibãs, até à data, em negociar directamente com o governo eleito do Afeganistão. A China partilha uma estreita fronteira com o Afeganistão e tem receio de que o crime e a violência se alastrem para a volátil região de Xinjiang, transformada um estado policial, depois de anos de conflitos étnicos entre minorias étnicas de origem muçulmana e a maioria Han. Pequim ofereceu apoio ao governo afegão e está a tentar explorar os depósitos de cobre e outros minerais do país. O desejo de Pequim por estabilidade e as suas preocupações de disseminação do extremismo na região estão parcialmente em contradição com o desejo de ver o seu principal rival geopolítico, os Estados Unidos, a abandonarem a região. Pequim tem tentado influenciar o governo de Cabul e os

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Talibãs. "Felicitamos o acordo entre os EUA e os Talibãs e acreditamos que é de um significado positivo para a resolução política final da questão afegã", afirmou Zhao. "AChina acredita que as tropas estrangeiras estacionadas no Afeganistão devem ser retiradas de forma ordenada e responsável, o que garantirá uma transição constante na situação afegã, evitará um vácuo de segurança e não permitirá que as organizações terroristas se

fortaleçam", defendeu. Zhao disse que a China está disposta a "continuar a apoiar, mediar e facilitar o processo de paz e reconciliação no Afeganistão", numa referência aos seus laços de amizade com os sucessivos governos do Afeganistão, desde o derrube do regime dos Talibãs pelos EUA há mais de 18 anos.

PRINCÍPIOS DO FIM

Os EUA assinaram no sábado um acordo de paz com os rebeldes

“Felicitamos o acordo entre os EUA e os Talibãs e acreditamos que é de um significado positivo para a resolução política final da questão afegã.” ZHAO LIJIAN PORTA-VOZ DO MNE CHINÊS

para acabar com a custosa guerra e retirar as tropas norte-americanas, abrindo caminho para as primeiras negociações entre os militares e o conturbado governo afegão, que depende dos EUA e de outros apoios estrangeiros. O início da próxima fase de negociações inclui um acordo entre os rebeldes e o Governo de Cabul, para a definição de um tratado de paz de longa duração. O acordo prevê representantes do governo afegão na mesa de negociações com os Talibãs, mas apenas no papel de afegãos comuns. A validade do acordo depende também do corte dos laços com organizações terroristas como a Al-Qaida, algo que não é claro que os militantes estejam dispostos ou capazes de fazer.

M tribunal no sudoeste da China condenou ontem um homem à morte por ter matado à facada dois funcionários de um posto de controlo de possíveis portadores do coronavírus Covid-19. Ma Jianguo, de 23 anos, foi condenado à morte pelo homicídio dos dois homens, ocorrido em 6 de Fevereiro, quando tentou forçar a passagem de um bloqueio. Por toda a China, aldeias e bairros estão barricados desde o início da epidemia do Covid-19, em Janeiro, visando prevenir a propagação de uma doença que já fez quase 3.000 mortos no país. Aldeias ergueram muros para impedir a entrada de forasteiros, enquanto, nas cidades, comités de bairro proíbem a entrada de não residentes e forçam moradores que tenham chegado de outros pontos do país a uma quarentena de 14 dias. Ma, que se deslocava de automóvel, recusou parar num posto de controlo em Honghe, uma aldeia na província de Yunnan, junto à fronteira com o Vietname. Segundo o tribunal local, um funcionário que tentou filmar a cena com o telemóvel foi esfaqueado no peito e abdómen por Ma, que atacou de seguida um colega que tentou salvar a vítima. Os dois funcionários acabaram por morrer devido aos ferimentos. O tribunal disse que Ma "não obedeceu" às autoridades locais, "ignorou a lei nacional" relativa à epidemia e cometeu um crime "extremamente hediondo".

Região Covid-19 Líder de seita cristã sul-coreana pede desculpas

O fundador da seita cristã Shincheonji, considerada como o principal foco da propagação do novo coronavírus na Coreia do Sul, pediu ontem desculpas e salientou o seu compromisso de cooperar com as autoridades. "Como representante dos fiéis de Shincheonji peço sinceras desculpas ao público", indicou o fundador da seita, Lee Man-hee, depois de se ajoelhar diante dos jornalistas em conferência de imprensa convocada pelo grupo religioso em Gapyeong, cerca de 50 quilómetros a nordeste de Seul, capital sul-coreana. "Não era nossa intenção e ainda assim muitas pessoas foram infectadas", disse Man-hee durante o acto, enquanto grupos gritavam palavras de ordem em protesto contra o culto, que acusam de ter capturado os seus familiares e forçado a cortar todos os tipos de laços pessoais fora da seita. A seita religiosa foi acusada de não cooperar para fornecer rapidamente às autoridades uma lista de todos os seus fiéis para serem colocados em quarentena e submetidos a testes.

FILIPINAS SEQUESTRO DE REFÉNS TERMINA AO FIM DE NOVE HORAS

O homem alegou que queria justiça por ter sido “injustamente” despedido

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M grupo de cerca de 30 pessoas que permaneceu sequestrado durante nove horas no interior de um centro comercial nos subúrbios de Manila, Filipinas, foi libertado

e o sequestrador detido pelas forças policiais, anunciaram ontem as autoridades locais. O sequestrador, identificado como um ex-segurança do centro comercial Greenhills, saiu voluntariamente do edifício, juntamente com os reféns, e entregou-se à polícia após uma longa negociação com as autoridades. O agressor foi detido pela polícia no local sem registo de incidentes. O homem de 32 anos, que alegou que procurava justiça depois de ter sido “injustamente” despedido, aceitou deixar dentro do recinto comercial

a arma e a granada que tinha consigo. Antes de irromper pelo centro comercial localizado nos subúrbios da capital filipina, o homem feriu uma pessoa num tiroteio. O ferido, um ex-colega do sequestrador, foi transportado para um hospital em Manila, onde está “a recuperar favoravelmente”, confirmou Francis Zamora, presidente da câmara de San Juan, cidade localizada nos subúrbios de Manila, citado pelas agências internacionais. Durante o sequestro, o homem pediu várias vezes para falar, através de um sistema

de videoconferência, com a comunicação social, com o objectivo de denunciar actos de “corrupção” dentro da empresa de segurança que dispensou os seus serviços. O homem confessou que o assalto ao centro comercial e o sequestro das pessoas, a maioria trabalhadores em lojas no recinto comercial, foi um “acto premeditado”. O antigo vigilante entrou no recinto comercial eram 11:00 locais e barricou-se no segundo andar do edifício, enquanto a polícia evacuou as restantes aéreas do edifício e cercou a zona.


terça-feira 3.3.2020

Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Uma asa no Além Paulo José Miranda

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Como encontrei o amor em 10 dias

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O seu mais recente romance, Andrew Neill leva a sua técnica preferida, a ironia, à perfeição, a começar logo pelo título: «Como Encontrei o Amor em 10 Dias». O leitor mais distraído será levado a pensar tratar-se de um livro de auto-ajuda, que pretende ajudar-nos a encontrar eficazmente o amor, e num curto espaço de tempo. Mas o Amor é um Golden Retriever que fugiu do narrador do livro, John Walmsley, durante uma viagem que fizeram juntos numa carrinha a Pasadena, Califórnia, desde Denver, no Colorado. Numa das paragens que John faz numa Estação de Serviço, perde o Amor. O narrador conta-nos essa história de um modo simultaneamente divertido e reflexivo. «Tivemos sempre problemas em público, Amor e eu. Sempre que o chamava, com um tom mais severo – Amor, vem cá; ou Amor, senta –, caiam sobre mim olhares reprovativos, e nesse dia em que o perdi não foi diferente. Estava a pagar, dentro da Estação de Serviço, quando vejo o Amor sair a correr atrás de algum animal que viu. Deixei de imediato a carteira sobre o balcão, e virei-me a gritar “Amor, volta; Amor, volta”, para espanto das pessoas que estavam na fila, não se coibindo de fazerem comentários.» As reacções dos outros, não à relação entre John e Amor, mas entre John e quem eles julgam que possa ser, é uma constante no livro e sublinha o nosso ponto de vista usual na condenação pronta que fazemos aos outros ou, como Neill escreve: «Antes de tentar compreender, estamos já a condenar. Falar é sempre mais rápido do que reflectir, e muito mais distrativo também. Falar não custa nada e distrai-nos de nós mesmos. Há algum remédio mais eficaz para não pensarmos na merda de vida que temos do que falar mal de alguém ou de alguma coisa?» Evidentemente, Amor é um cão e não é um cão. É, porque se trata do Golden Retriever de John, e não é, porque ao longo do livro é sempre descrito como metáfora do próprio amor que todos nós perdemos na vida. Não só pessoalmente, cada um de nós a perder outro, mas a humanidade, ao entregar-se à fala, a um contínuo e imparável falatório, que tem como motor o mal. Em «Como Encontrei o Amor em 10 Dias», o mal é a fala e esta representa a distração, a falta de reflexão, no fundo, a falta de amor, pois este quer atenção, como a leitura ou a aprendizagem. Assim, o livro pode também ser lido como forma de aprendermos ou reaprendermos o amor, de como voltarmos à atenção perdida, como abandonarmos o mundo do falatório e começarmos a trilhar o caminho

do amor. E, neste sentido é também um livro de auto-ajuda, ainda que num sentido mais alargado e talvez menos eficaz do ponto de vista comercial. De qualquer modo, o escritor consegue manter uma tensão contínua ao longo do livro entre realidade e simulacro, no tocante ao género Andrew Neill é conhecido pelas posições polémicas e assuntos delicados que trata nos livros que escreve e este romance não é diferente. Se estais lembrados, já em o «Não Conheço Esse Senhor», que provocou uma enorme celeuma nos EUA, Neill contava de modo irónico a história de um político desde a sua terra Natal, Gillette, pequena cidade em Wyoming, até Washington DC. Ian Bolden, o político, vai subindo na

carreira através de situações e pessoas obscuras, e sempre que era confrontado pelos jornalistas acerca dessas ligações respondia «Não conheço esse senhor», apesar de haver fotos que o desmentiam. Ian Bolden mentia sem pudor, compulsivamente, adiantando as mais bizarras desculpas. A sua táctica mais arrojada, que era usada apenas quando já nada mais restava fazer para acreditarem nele, era a de que estavam a tentar destruí-lo. Diz num programa de televisão a uma jornalista que o entrevista, com um semblante entristecido: «Ellen, eu sei que parece que estou a mentir, que tenho culpa de tudo o que me acusam. Sei muito bem disso. Mas sabe porquê, Ellen, sabe porque todos pensam isso? Porque a teia de intriga que

Essa viagem de 10 dias no Oeste dos EUA em busca do Amor – e a do dia em que o perdeu – é uma viagem ao nosso quotidiano, ao nosso modo de vida mais próximo. Talvez mais do que «como encontrei o amor em 10 dias», o livro mostre «como acabei de me dar conta de que perdi o amor, em 10 dias»

montaram foi muito bem feita. Aqueles que me querem destruir são muito poderosos. E eles sabem bem que eu sou uma pedra nos seus sapatos. Sabem que sou um obstáculo aos seus planos de subjugar o nosso país aos interesses das multi-nacionais.» Neste livro, o aproveitamento dos bens públicos para benefício próprio está tão ligado à prática comum da política, que não deixa de ser incómodo para toda a sociedade, para todo o eleitor, como quando Neill escreve, através de um cartaz que aparece nas mãos de Sherry Smith: «Votar é escolher aquele que te rouba». Em «Como Encontrei o Amor em 10 Dias» o tom é igualmente reflexivo, se bem que mais divertido. A ironia é levada ao extremo do seu rigor, da sua duplicidade. Para não estragar o fim àqueles que ainda não leram o livro, não poderei adiantar muito mais. Termino apenas por dizer que essa viagem de 10 dias no Oeste dos EUA em busca do Amor – e a do dia em que o perdeu – é uma viagem ao nosso quotidiano, ao nosso modo de vida mais próximo. Talvez mais do que «como encontrei o amor em 10 dias», o livro mostre «como acabei de me dar conta de que perdi o amor, em 10 dias». Seja como for, é um livro a ser lido, do melhor de Andrew Neill.


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Amélia Vieira

3.3.2020 terça-feira

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Cinco da tarde

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Hora grave! E no entanto ainda pode acontecer uma súbita felicidade vinda de recôndito sentir quando estamos em pausa para um chá ou a escutar uma ovação ao nosso ser tão carente. Pode ser que se fale na vida imediata, dos encontros, das promessas, e até pode ser que nada aconteça e estejamos normalmente trabalhando. Faenas pela tarde podem ser associadas a mortes violentas, mas a nível mais institucional foram as da alba as mais letais: todos os condenados estavam marcados para as madrugadas altas, talvez por que a noite alta é uma cortina de ferro que não deixa ver o fatídico instante, e, a noite é como a morte, negra, já a levantar a sua alvíssima cortina de luz na fronteira com o dia. Nesta interpretação rigorosa a «viagem» era um prenúncio de aurora. Mas estranhos desígnios marcam o jovem Ano, e tudo vai dar ao mesmo discurso e situação: vírus, eutanásia, infectados, infectos, uma macabra manobra que suscita a nossa indagação mais profunda acerca do significado da vida. Andamos tão acorrentados nos dias que não se nos ocorre morrer, e se em outras versões estivermos agindo, é certo que o seu espectro também deverá andar longe, e nisto, sem que o saibamos, há manobras várias que nos indicam o provável destino breve. Por ora, Eros deve vencer Thánatos que não tarda aí a Primavera. São sequenciais estas ilações vistas pela perspectiva dos vivos que assim se crêem por manobras várias, dos mortos adiados, e até dos mortos vivos, que não superam a dúvida de um querer que se deseja distante, e quando próximo, que não fale da sobra, resquício de vida consentida. É grave a matéria de facto, e mais gravosa parece soletrada ao som desta recente epidemia, ou pandemia, ou peste... seja lá o que for no domínio da expansão, nós os vivos, pensamos sempre que se vira para cada um. Os mais alienados acham que é obra postiça para derrubar impérios e verter cálices sujos de teorias conspiratórias, mas, sendo lá o que for, a consequência é o que nos deve importar. Aos quase mortos que desesperam por se fazer passar daqui para fora a solução pode estar por um fio, tão frágil quanto o sopro de entregar a alma (caso a alma esteja ainda anexada ao seu servidor e a não tenha vendido no altar dos benefícios). É sempre prudente averiguar o grau de resistência e o que ela indica ao seu portador, não vá um milagre acontecer e nos vejamos privados de uma tão apoteótica visão, não é revertível o grau de derrocada que a falência orgânica contém, é certo, mas, nas sobras da vida há coisas que nem ela sabe contar. E soando o nosso último desejo, saibamos para tal que é ilusão, tal como a vida, não raro, também é sonho. Nesta desconfortável matéria de que a morte tão inefavelmente se reveste não há condições para abor-

dagens fáceis nem os critérios que aqui são trazidos aumentam ou diminuem a sua força de ser. De certa maneira a nossa vida é uma escolha de morte - e quantos não pactuando, ainda endureceram posições sabendo do resultado delas?

Estranhos desígnios marcam o jovem Ano, e tudo vai dar ao mesmo discurso e situação: vírus, eutanásia, infectados, infectos, uma macabra manobra que suscita a nossa indagação mais profunda acerca do significado da vida

- Aqueles combatentes de causas...! E se mais não fosse, a volúpia dos desportos radicais que têm dentro o risco a todo o momento contornando esferas que pensamos quase impossíveis de lidar: são os riscos sadios dos condenados, uma estreita intimidade com a sua permanência, olhando o fim como um último grande desafio. Há ainda os que vão sem rede, preferindo jogarem-se com olímpica demonstração de lealdade. Vivemos muito? Não. Vivemos mais. Muito é uma medida artificial para designar a vida, quando ela se solta não sabemos mesurá-la nem estamos interessados nisso, e contudo, os revezes dos viventes fazem muitas vezes com que se procure morrer pondo um fim a isto tudo nessa tão dura aprendizagem na carne. Os suicidas são quase sempre insuspeitos e nunca formalizam tal questão, dentro de si travam a batalha, e são gigantes. Talvez que a morte seja mesmo uma questão de pudor, como o sexo e os mistérios, e só em harmonia com o vínculo galáctico nos possamos aproximar dela com respeito. Ao longo

da civilização os poetas falaram destas coisas com os utensílios que faltavam, acrescentaram na nossa humanidade uma maravilha alada que só eles podem e sabem fazê-lo, aprendemos a escutá-los como se despertassem em nós os vínculos universais oprimidos ainda pelo grau da sobrevivência, deram-nos algo que não podemos esquecer nesta marcha suicida para um naufrágio consomado. Nem sempre foram os mais audazes defensores de si mesmos, nem tão pouco os mais bem ajustados à vida, a morte aparecia-lhes quase sempre cedo demais... as suas competências, porém, não vacilariam no dom imenso de uma vocação de quase perfeitos intérpretes. Nunca a vida lhes terá provavelmente parecido um gozo, e à sua maneira estranha conseguiram uma dignidade que não vem nos mapas. Gostaríamos de passar para o outro lado desta realidade tão severa e ameaçadora, mas, quando tudo se conjuga, o dever é estar atento. Até porque, já escolhemos a via, e deixamos para o imprevisto as suas faculdades, e também as nossas, ao lidar com ele. A finitude tem também um caminho longo, e esse caminhar é a nossa vida quotidiana, o tempo que passa, as cargas que vamos deixando, os prazeres que já não são prioritários, e essa melodia talvez nos toque melancolicamente ou com urgências entendíveis. Pensamos que soçobramos mais rápido, e é verdade, pensamos que a voragem das coisas é mais forte que o nosso entendimento, e se houver destino, que é muito diferente de biografia, reconheço que não se soçobra sem uma consciente dignidade. A liberdade está mais ampliada nas vidas que não tiveram intenções de julgar, pois que julgar é matéria estreita e conduz a erros ilusórios: o caso humano é muito vasto e devemos entendê-lo até na sua máxima baixeza para não ficarmos presos a soluções personalizadas. Nada se sabe desta matéria que se julgue ser entendível por transferes de ideias onde estão projectados os filtros dos nossos valores. Não é um tema, é uma escalada obsidional que transporta um coro. É tudo fantástico neste tempo, com aspectos de terror fantástico, pois que nem preparados estamos para o futuro, aquela marcha, que se entende melhor na voz de José Gomes Ferreira «viver sempre também cansa» que é diferente de viver para sempre, mas talvez por criogenia ou uma picada no dedo possamos ficar parados esperando um outro renascer. E também a frase de Pessoa «se te queres matar, por que não te queres matar?» que é diferente de: por que não te matas. Há esta subtil transferência de efeito que nos elucida mais que todos os discursos e promete alternativas tão vastas que ficamos esmagados no meio destas crenças várias.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 3.3.2020

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Henri Vieuxtemps (1820-1881)

200 anos de Vieuxtemps Concerto para Violino e Orquestra N.o 6 em Sol Maior, Op. 47 e Concerto para Violino N.o 7 em Lá menor, Op. 47

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ENRI Vieuxtemps passou os dois últimos anos da sua vida em Mustapha, na Argélia, para onde se tinha mudado em 1879, e onde estavam instalados a sua irmã e cunhado, dando continuidade ao seu trabalho criativo, e compondo, pese embora frustrado pela sua incapacidade de tocar o que escrevia, os seus dois últimos concertos para violino,: o Concerto para Violino n.º 6 em Sol Maior, Op. 47 e, logo a seguir, o Concerto para Violino n.º 7 em Lá menor, Op. 49. A decisão de se instalar na Argélia prendeu-se com o facto da primeira apoplexia que sofreu em Setembro de 1873, em Bruxelas, que paralisou o seu braço direito, ter comprometido o seu cargo de professor no Conservatório dessa cidade, que seria assumido por Henryk Wieniawski em 1875, tendo o compositor perdido qualquer esperança de retomar a sua carreira em Bruxelas. Vieuxtemps mudou-se então para Paris, continuando a compor e conseguindo voltar a tocar música de câmara em privado, mas as suas tentativas de voltar a dar aulas no Conservatório dessa cidade não deram resultado. O Concerto para Violino Nº 6 em Sol maior, Op. 47, e o Concerto para Violino em Sol menor, Op. 49, foram ambos compostos no último ano da vida de Vieuxtemps, que atribuiu grande importância às obras, apesar de não ter conseguido fazer as revisões finais que poderiam ter sido possíveis caso tivesse conseguido ouvir a prometida interpretação do seu compatriota e aluno Eugène Ysaÿe. Dedicou o sexto concerto à violinista checa Wilhelmine Normand-Neruda e o sétimo a Jeno Hubay, ambos contando-se entre os seus visitantes na Argélia. O primeiro dos dois faz uso de uma forma incomum de quatro andamentos. Começa com um andamento

Vieuxtemps permaneceu um compositor activo quase até à sua morte, que ocorreu no dia 6 de Junho de 1881. O seu corpo foi transladado para a Bélgica onde foi recebido como um herói nacional e enterrado em Verviers, a sua cidade natal. Foi sem dúvida um dos maiores violinistas do seu tempo

em forma-sonata integral, com uma exposição para a orquestra e para o solista, este último encarregado do material lírico esperado. O segundo andamento é um suave Pastorale, seguido de um intermezzo, no qual o ritmo siciliano característico é dado ao solista num compasso composto de 12/8, enquanto a orquestra toca num simples compasso quaternário, uma experiência invulgar em ritmos contrastantes. O concerto termina com um Rondo final, sendo a sua encantadora melodia principal quase como algo do repertório operático leve. O sétimo concerto para violino, composto entre 1879 e 1881, o ano da morte do compositor, faz exigências ligeiramente maiores de virtuosismo que o sexto. O primeiro andamento, apresentado brevemente pela orquestra, oferece os dois temas na tradicional forma-sonata, que retornam em recapitulação em Mi menor e Lá maior, respectivamente, levando a uma coda brilhante. O andamento lento, intitulado Melancolie, é em Lá menor. Conduz a um andamento final com um tema de Tarantella de abertura, seguido de um tema de implicação espanhola, ecoado no seu acompanhamento orquestral. Vieuxtemps permaneceu um compositor activo quase até à sua morte, que ocorreu no dia 6 de Junho de 1881. O seu corpo foi transladado para a Bélgica onde foi recebido como um herói nacional e enterrado em Verviers, a sua cidade natal. Foi sem dúvida um dos maiores violinistas do seu tempo, combinando um comando técnico soberbo com uma compreensão musical muito profunda. Pode ser visto como o representante da escola franco-belga de violinistas, o sucessor de De Beriot, enquanto aqueles que foram ensinados por ele ou estiveram sob a sua influência directa incluem Eugène Ysaÿe, Jeno Hubay e Leopold Auer.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Henri Vieuxtemps: Violin Concerto No. 6/ Violin Concerto No. 7 • Misha Keylin, violin, Slovak Radio Symphony Orchestra, Andrew Mogrelia – Naxos, 2004


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

3.3.2020 terça-feira

NUBLADO

TODA A VERDADE?

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 8

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Os arquivos do Vaticano, que conservam a documentação do Papa Pio XII (1939-1958), foram ontem tornados públicos, permitindo que se esclareça o silêncio do líder da igreja católica contra o nazismo. O Vaticano confirmou há duas semanas a abertura

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dos arquivos reforçando a ideia de que a consulta da documentação venha a esclarecer o silêncio do Papa Pio XII acusado durante as últimas décadas de não ter levantado a voz contra o nazismo durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

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VIDA DE CÃO

RESPEITO Há quem nesta praça goste muito de pregar a cantiga do princípio da igualdade e da pureza moral. Só que na altura de assinar os trabalhos “jornalísticos” se acha muito acima do outro, que mais não é visto do que, no alto da arrogância, como um “tradutor”. Por esse motivo, apesar do trabalho não poder ser feito sem o rapaz que fala chinês, ou de este ter sido obrigado a trabalhar a altas horas da noite a ir de lugar em lugar, a peça é assinada como se fosse o trabalho de um único ser. É melhor assim, dá-se mais destaque aos “jornalistas de reportagem” e, caso o objectivo seja ganhar prémios, como é quase sempre, não é preciso andar a partilhar dinheiro com “o desconhecido” lá da redacção. É pena que o mesmo critério não seja utilizado quando trabalhamos num jornal e o nosso trabalho sai numa revista do mesmo grupo... Nessas situações achamos que estamos a ser injustiçados e que o nosso trabalho está a ser desprezado.... Quando andava no secundário tive uma disciplina denominada Técnicas de Tradução de Inglês. Confesso que foi muito útil, não só pela parte técnica, mas porque ensinava a respeitar a profissão de tradutor e principalmente a de intérprete. Mais gente devia ter frequentado essas aulas, mais não fosse para perceber que “one aperture” não significa “uma abertura de página”. No entanto, o mais importante talvez fosse para aprender a respeitar os outros, ou pelo menos o trabalho deles. João Santos Filipe

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UMA SÉRIE HOJE

FÓRMULA 1 DRIVE TO SURVIVE | JAMES GAY-REES, PAUL MARTIN E SOPHIE TODD

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Desde 28 3 de Feverei6 ro que a segunda tem7 31 porada de Fórmula Drive to Survive está 8 disponível 2 da Netflix. Esta é uma6 excelente 1 forma de rever de forma “light” a temporada 5 passada da F1, enquanto 2 se aguarda pelo começo de mais uma época, que está agendado para 15 de 7 Março 1 em5 Melbourne. As narrativas são feitas a pensar no grande público, logo numa perspectiva mais de “telenovela”, mas 12 não deixam de mostrar apontamentos interes8 3 santes, mesmo para os fãs mais informados. 8 João Santos Filipe

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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terça-feira 3.3.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

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Hábitos alimentares

semana passada, o Governo chinês tomou uma decisão de vital importância no combate ao novo coronavírus. Esta decisão poderá efectivamente travar a propagação do vírus, mas irá mudar os hábitos alimentares ancestrais dos chineses. Desde a antiguidade, que a China acredita que “a comida tem um carácter divino”, e que a sua gastronomia é intocável. O segredo desta cozinha, mais do que na técnica, está nos ingredientes; devem ser usados os animais mais raros para preparar os pratos mais requintados. Os chineses têm um ditado que diz: “Podem comer-se todos os animais que voltem a coluna para o céu”, como esquilos, doninhas, javalis, elefantes, civetas, pangolins, etc. É por este motivo que os chineses têm o hábito de comer animais selvagens. Existem muitas lojas na China onde se vende caça. Segundo uma notícia publicada a 28 de Fevereiro, a fim de combater a propagação do vírus, mais de 350.000 destas lojas vão ser encerradas. Foram detectados 690 casos de violação da legislação, encontraram-se 2.919 utensílios ilegais e apreenderam-se 39.000 animais selvagens. O surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS sigla em inglês) em 2003, ficou a dever-se a uma bactéria transmitida sobretudo por civetas e morcegos. O costume de comer estes animais pode ter estado na raiz do problema. Depois do surto desta infecção ter sido ultrapassado, os hábitos alimentares ancestrais foram retomados por muitas pessoas. Com o aparecimento deste novo vírus, o Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo (CPCNP) decidiu por ponto final a esta situação. Mas será que uma folha de papel pode acabar com os hábitos de milhares de chineses? No dia 24 de Fevereiro, o CPCNP implementou a “Decisão de Banir Definitivamente o Comércio de Animais Selvagens e Eliminar o Hábito de Comer sua Carne, para Salvaguardar Eficazmente a Vida e a Saúde do Povo Chinês”. Esta Decisão deverá ter efeitos imediatos. Segundo este documento os animais são divididos em duas categorias. Na primeira encontram-se os que podem ser consumidos como peixe, porco, vaca, cabrito, ovelha, etc. Em relação ao consumo da carne de animais como o pombo e o Coelho, vai haver um conjunto de regulamentos. Os conteúdos mais significativos desta Decisão são os seguintes:

Em primeiro lugar, animais marinhos selvagens, como o peixe, marisco e moluscos não são proíbidos. Segundo, a criação de porcos, vacas, ovelhas, cabritos, galinhas, patos, gansos e outros animais de capoeira, passará a obedecer à legislação consagrada nos Regulamentos da “Lei da Pecuária” e da “Lei da Prevenção de Epidemias de Origem Animal”. Terceiro, pombos, coelhos e outros animais que passaram a ser criados para consumo doméstico, estarão incluídos no “Catálogo dos Recursos Genéticos Pecuários e Aviários” ao abrigo da Lei de Criação de Animais, que regulará de forma estrita a sua criação e o consumo da sua carne. E porque é que o porco, a vaca, o cabrito, a ovelha, a galinha e o peixe não são proíbidos? As bactérias podem afectar tanto os seres humanos como os animais. Algumas doenças desenvolvem-se sobretudo nos animais, mas, em alguns casos, podem ser transmitidas aos humanos. Os animais criados pelo homem para fins alimentares, se forem sujeitos a controle sanitário, não são, à partida, um perigo para a saúde pública. Mas os morcegos, as civetas, os pangolins, etc. não são criados pelo homem, nem são sujeitos a nenhum tipo de controle sanitário. De facto, não existe qualquer prova

científica de que esta carne seja adequada para consumo. A “Lei de Protecção da Vida Selvagem” na China proíbe o consumo de: a. espécies protegidas; b. animais caçados ilegalmente c. outros animais que não tenham sido sujeitos a inspecção. Os morcegos, pangolins e civetas não são regulados pela Lei de Protecção da Vida Selvagem. Para além disso, até aqui, não estava proíbido o consumo da carne dos “animais selvagens terrestres de importante valor ecológico, científico e social” nem de outras espécies não protegidas.Assim, esta Decisião veio colmatar as lacunas da lei, proibindo o consumo da carne de animais selvagens. As medidas tomadas nesse sentido são as seguintes: Primeiro, o consumo da carne de animais selvagens terrestres, regulamentado ao abrigo da Lei de Protecção da Vida Selvagem, está proíbido. Segundo, é proibido consumir a carne de animais selvagens terrestres, mesmo quando mantidos em cativeiro. Terceiro, é proibido caçar, comercializar e transportar animais selvagens terrestres, para fins alimentares. Quarto, a utilização de animais selvagens em laboratório, para pesquisa médica e cien-

Precisávamos desta lei. Esperemos que esta epidemia torne as pessoas mais conscientes do perigo que este hábito alimentar representa para a saúde pública. Os costumes há muito enraizados não vão mudar de um dia para o outro com um conjunto de leis. Esperemos que com o tempo essa transformação seja possível

tífica, fica sujeita a aprovação, após terem sido submetidos a inspecção e quarentena. A julgar pelos conteúdos da Decisão, basicamente, os animais selvagens terrestres, quer tenham sido criados na natureza ou em cativeiro, estão protegidos pela Lei, desde que sejam valiosos, que estejam em perigo, ou sejam necessários para pesquisa económica ou científica. Assim, de futuro, comer animais selvagens na China passará a ser ilegal. A Decisão despertou as consciências para os riscos para a saúde pública e para as questões de segurança, abolindo o mau hábito de consumir carne de animais selvagens e garantindo a segurança dos animais selvagens. Precisávamos desta lei. Esperemos que esta epidemia torne as pessoas mais conscientes do perigo que este hábito alimentar representa para a saúde pública. Os costumes há muito enraizados não vão mudar de um dia para o outro com um conjunto de leis. Esperemos que com o tempo essa transformação seja possível. O Departamento de Pescas e Conservas de Hong Kong anunciou no passado dia 28 de Fevereiro, que um cão cujo dono adoeceu devido ao coronavírus também está infectado. Embora não existam provas científicas de que os animais de estimação possam contrair o vírus, esta notícia é preocupante. Em face do que foi dito, deve o Governo de Macau implementar uma lei para proíbir a caça, comercialização e o transporte de animais selvagens para fins alimentares? Devemos também considerar a forma de tratar os animais domésticos se vierem a ser infectados pelo coronavírus?

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Os loucos são espantosos nos seus momentos lúcidos. PALAVRA DO DIA

Casimir Delavigne

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Veneza pode esperar Adiada presença de Macau na Bienal de Arquitectura

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Governo de Macau decidiu adiar a sua presença na Bienal de Arquitectura de Veneza devido ao surto do novo coronavírus, de nome Covid-19. A garantia foi dada pelo Instituto Cultural à TDM Rádio Macau e deve-se a dificuldades de ordem logística, uma vez que o serviço prestado pelas empresas de transporte e produção também está suspenso devido à epidemia. Macau estará representado na 17ª edição da Bienal com uma exposição centrada no futuro do território e na sua integração no projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O arquitecto macaense Carlos Marreiros é o curador do projecto,

Carlos Marreiros é o curador do projecto, cuja equipa é formada por Ho Ting Fong, Che Chi Hong, Ina Lau e Chan Man Na

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cuja equipa é formada por Ho Ting Fong, Che Chi Hong, Ina Lau e Chan Man Na. Até ao fecho desta edição, não foi possível chegar à fala com Carlos Marreiros.

LIGAÇÕES EXPRESSAS

Numa altura em que o surto do Covid-19 se está a propagar por vários países da Europa, Portugal incluído, Itália é um dos países que está em alerta máximo, uma vez que foram confirmados dezenas de casos. Eventos como o carnaval de Veneza, entre outros, foram cancelados devido ao surto. Em Janeiro, em declarações ao JTM, Carlos Marreiros disse que a exposição na Bienal de Arquitectura de Veneza centra-se sobretudo nas ligações que a Grande Baía irá proporcionar. Essas conectividades “serão físicas, rodoviárias, fluviais, mas também e principalmente de pessoas”. “Foi este o tema que propus porque fizeram projectos, instalações, que variam de expressão, portanto tentei unificar ao máximo, mantendo a individualidade de cada participante”, frisou. O arquitecto disse estar em causa um “exercício com alguma dificuldade, mas há propostas interessantes e os desafios são engraçados”, disse. Até porque “uma coisa é ser curador e imaginar uma participação, outra é já terem as suas ideias e ter de enquadrá-los e organizá-los”, rematou. A Bienal de Arquitectura de Veneza tem inauguração marcada para o dia 23 de Maio e estará patente ao público até 29 de Novembro.

SMG Temperaturas a baixar

A temperatura mínima pode baixar até aos 15 graus amanhã e na quinta-feira, de acordo com a previsão dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos. O arrefecimento da temperatura será acompanhado por aguaceiros, devido à influência de uma monção fria de Nordeste. A humidade relativa entre os 75 e os 95 por cento.

terça-feira 3.3.2020


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