Hoje Macau 3 ABR 2020 # 4501

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

O DESPERTAR DE WUHAN

TIAGO ALCÂNTARA

RUI SEVERINO

SEXTA-FEIRA 3 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº 4501

MOP$10

hojemacau

ENTREVISTA

COVID-19

Quartos que cheguem TIAGO ALCÂNTARA

PÁGINA 4

CANÍDROMO

UM ANO DEPOIS

CHINA

Condado isolado PÁGINA 10

COMO TERIAM SIDO... ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

PRECÁRIO QUOTIDIANO VALÉRIO ROMÃO

OUTRA LÍNGUA PUB

GONÇALO M. TAVARES

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Cabo dos trabalhos Em relação ao ano passado, existem mais 1.500 pessoas sem trabalho e mais 1.100 pedidos de subsídio de desemprego, dados que dão pistas da realidade laboral que se vive actualmente. Os números referem-se ao período entre 22 de Janeiro, dia em que se registou o primeiro caso de infecção do novo coronavírus em Macau, e 1 de Abril. Segundo o Governo, 417 trabalhadores queixaram-se à DSAL devido a reduções salariais, contabilidade que não inclui os que nada fizeram por recear perder o emprego. PÁGINA 5

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2 ENTREVISTA

RUI SEVERINO PORTUGUÊS A RESIDIR EM WUHAN

Na próxima quarta-feira, dia 8, é levantada a quarentena obrigatória na cidade de Wuhan, o epicentro inicial da pandemia da covid-19. Rui Severino, um dos dois portugueses que decidiu ficar na cidade e que recusou ser evacuado pelas autoridades lusas, relata a forma como a população de Wuhan está a retomar o quotidiano Como está a situação em Wuhan neste momento? Nunca estive em casa. Fiquei em lockdown no centro de treinos, porque sou treinador de cavalos de corrida. Não podemos ir para lado nenhum e, neste momento, Wuhan ainda está fechada, ainda não foi levantada a quarentena. Só com autorização especial se pode sair à rua para certos fins. Mas 90 por cento das pessoas ainda estão em casa, em isolamento. A cidade começou a retomar alguma normalidade no dia 25 de Março, mas muito pouca. Algumas lojas estão abertas, mas

“Isto uniu ainda


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mais o povo chinês” “Se cumprirem as regras de higiene e distanciamento social… se a China conseguiu [controlar o surto] Portugal e o resto do mundo também vai conseguir de certeza. Mas será um processo longo.”

há mais supermercados abertos ou estabelecimentos de fornecimento de outros produtos. A maioria dos espaços estão fechados porque as pessoas ainda estão em casa.

Como tem sido o dia-a-dia no centro de treinos? Estando com a equipa, têm existido momentos delicados, de tensão psicológica? Nunca é uma situação fácil, mas não me posso queixar, porque estamos distraídos com o trabalho. No fundo, o nosso dia-a-dia não mudou em termos de trabalho pois continuamos a treinar os cavalos, comemos e dormimos aqui. Somos 67 pessoas aqui no centro e todos cumprimos medidas rigorosas, pois fazemos check-ups diários, duas vezes por dia, com verificação de temperatura. Só algumas pessoas podem sair para comprar comida e apenas uma vez por semana, com autorização especial. Quando voltamos a entrar estamos completamente desinfectados. Em termos psicológicos foi complicado, porque nunca tinha estado numa situação destas. Durante o dia estamos ocupados, mas à noite é um pouco mais complicado. Temos famílias lá fora e a ansiedade é muito grande. Numa cidade que foi forçada a encerrar, como se viviam as poucas saídas? Houve sempre um grande cuidado. Ao início, quando saímos para comprar coisas, levávamos um fato de protecção especial, luvas, óculos e máscara. Há três dias saí para ir ao meu apartamento buscar roupa e tive novamente uma atenção especial. A máscara continua a ser obrigatória, aliás, quem não usar máscara é preso. Acredita que a cidade poderá voltar ao normal dentro de pouco tempo? A quarentena vai ser levantada a 8 de Abril, na próxima semana. Claro que vão continuar muitos estabelecimentos fechados, como cinemas, bares ou discotecas, mas todas as lojas, centros comerciais [vão abrir]. Não há ainda uma data para o início das aulas, que costuma ser em Fevereiro e que tem sido adiado. Sente que este vírus mudou os residentes de Wuhan para sempre? A China, infelizmente, tem experiência com estes vírus, e talvez

por isso a resposta foi rápida por parte da população, em relação às medidas que o Governo impôs, o que não se tem visto no resto do mundo. Mas isso também tem a ver com o facto de, na cultura chinesa, ser hábito usar máscara sempre que se está doente, mesmo que seja uma constipação. Penso que mudou a população. Este surto que é completamente diferente dos outros, as pessoas estão mais cautelosas e têm mais cuidados do que tinham antes. O povo chinês é muito patriótico e solidário e isso ainda os uniu mais. Gostaria de ver isso em todo o mundo, gostava de ver todo o mundo a unir-se.

confiança em mim e eu não os podia abandonar. Mas também vi a óptima resposta da população às medidas impostas pelo Governo, deu-me garantias de que iria estar seguro em Wuhan. Teria tomado a mesma decisão outra vez.

Decidiu nunca sair de Wuhan, quebrando a tendência de fuga de muitos portugueses. Não se arrepende de ter ficado aí? Nunca julgo as atitudes dos outros, mas talvez se tenham precipitado um pouco. Não os culpo, porque alguns estavam cá sozinhos e a opção era ficar em casa e se calhar não tiveram a percepção de que isto se iria espalhar pelo mundo fora. Eu decidi ficar por causa das minhas responsabilidades profissionais, por causa da minha equipa e dos meus cavalos. Eles depositam

Como avalia a resposta das autoridades portuguesas na retirada dos portugueses de Wuhan? Só tenho de louvar as autoridades portuguesas, sobretudo a embaixada, que esteve em constante contacto connosco. Criou-se um grupo de conversação na plataforma WeChat, onde eram feitas centenas de perguntas todos os dias, e eles estiveram presentes 24 horas por dia, respondendo e dando informações. Nunca nos esconderam nenhuma informação. Quanto a mim, que decidi ficar, e outro por-

“Enviaram-nos [autoridades portuguesas] máscaras, óculos especiais de protecção, luvas. Para mim, foi emocionante, porque sou luso-australiano e a Austrália não me deu apoio nenhum.”

Como fica agora a sua situação profissional? Depois de levantada a quarentena vamos tentar obter as autorizações devidas para podermos mudar de província, de Hubei para Shanxi, onde fica o nosso Jockey Club. Tudo indica que lá para Maio ou finais de Junho podemos reiniciar as corridas de cavalos em Shanxi.

tuguês, foi-nos dado muito apoio. Enviaram-nos máscaras, óculos especiais de protecção, luvas. Para mim, foi emocionante, porque sou luso-australiano e a Austrália não me deu apoio nenhum.

O número de mortes em Wuhan tem levantado algumas dúvidas, tendo em conta, por exemplo, as filas que se formam junto a agências funerárias. Não sei se tem acompanhado esta questão, qual o seu comentário? Não tenho conhecimento disso. Juntamente com os meus colegas chineses, não temos ouvido falar disso. Em relação aos números, se não acreditarmos nas entidades oficiais, vamos acreditar em quem? É possível que essas notícias sejam verdadeiras, não nos podemos esquecer que morreram quase quatro mil pessoas. Tenho amigos jornalistas aqui na China e não tenho essa informação. Há uma confiança generalizada da população em relação às autoridades chinesas? Com certeza. A grande maioria não conhece a realidade chinesa, nunca esteve na China, não conhece a cultura e é muito fácil fazer juízos de valor. As autoridades de Wuhan esconderam o vírus durante algum tempo, mas quando o Governo Central soube, tomaram as devidas acções. Essa acção foi de louvar para todo o povo chinês e para os estrangeiros que cá decidiram ficar, como eu. Não sinto que a China esteja a mentir neste momento, até porque a China de hoje não é a China de 2003 [ano em que surgiu a SARS]. As pessoas estão mais abertas, têm mais acesso à informação, há mais pessoas a estudar no ensino superior. E penso que o Governo também tem isso em atenção. Sinto que há um grande nervosismo, e com todo o direito, mas é preciso salientar que é preciso manter a calma. Se cumprirem as regras de higiene e distanciamento social… se a China conseguiu [controlar o surto] Portugal e o resto do mundo também vai conseguir de certeza. Mas vai ser um processo longo. Isto vai mudar a forma como socializamos uns com os outros. Como olha para a actuação das autoridades portuguesas no combate à pandemia?

“Algumas lojas estão abertas, mas há mais supermercados abertos ou estabelecimentos de fornecimento de outros produtos. A maioria dos espaços estão fechados porque as pessoas ainda estão em casa.” Pelo que li nas notícias lamento a resposta um pouco tardia. Penso que houve uma atitude branda e senti-me triste com isso. A própria população não quis saber, no início. Mas estou convencido que as pessoas estão agora mais cientes do problema, até porque a vizinha Espanha está a sofrer imenso. Um lockdown é um lockdown, é para cumprir a sério. O exemplo tem de vir de cima. Há ainda um grande debate na Europa relativamente ao uso da máscara. Só na Europa é que há esse debate. É uma pena. Os chineses, os médicos e especialistas, todos dizem na televisão metem as mãos à cabeça, questionando-se como é possível. Se não há máscara, não se sai de casa. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 coronavírus

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COVID-19 SERVIÇOS DE TURISMO ACHAM QUE NÃO SÃO PRECISOS MAIS HOTÉIS

Quartos que bastem

Apesar de ressalvar que os Serviços de Saúde têm de avaliar a situação, a representante dos Serviços de Turismo disse ontem que se deve melhorar a gestão de quartos, mas que não são precisos mais hotéis HOJE MACAU

S contas foram feitas e os resultados indicam não ser necessário encontrar novos hotéis para observação médica, disse ontem Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em conferência de imprensa. A chegada de centenas de pessoas a Macau desde meados de Março motivou essa procura, mas, de acordo com a representante, a necessidade agora passa pela “melhor gestão e distribuição dos quartos para um plano futuro”. “Face a alguma eventualidade ainda termos quartos em stand-by”, acrescentou. Ainda assim, ressalvou que as decisões dependem de avaliação dos Serviços de Saúde. Ontem estavam 2.292 pessoas em observação médica nos 12 hotéis disponibilizados. Confrontada com queixas quanto à alimentação nos hotéis, Inês Chan explicou que alguns não tinham capacidade de proporcionar refeições no número exigido, pelo que recorreram a encomendas externas. Quanto às horas das refeições, a responsável indicou que as entregas em horários variados “muitas vezes são por causa dos exames que o pessoal dos Serviços de

“A taxa de infecção referente a quem voltou a Macau é de 0,84 por cento. Um número que engloba estudantes e residentes no geral.”

908 VEÍCULOS PASSARAM A FRONTEIRA

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om o anúncio da suspensão de veículos de matrícula dupla ontem filas voltaram aos postos fronteiriços para entrar em Zhuhai, divulgou Lei Tak Fai, do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Ainda assim, o responsável considerou que “a ordem em geral foi boa”. Nas dez primeiras horas de ontem, passou um total de 908 veículos. Nas Portas do Cerco passaram 564, na Ponte do Delta 83, e na Ponte Flor de Lótus 261 veículos

de combate à epidemia recebeu 1224 inscrições. Dos inscritos, participaram em trabalhos nas fronteiras 57 pessoas, enquanto 27 estudantes deram apoio no atendimento de chamadas telefónicas. Lo Iek Long explicou que para se evitar o contacto dos estudantes com o exterior, estes ficam sobretudo a cargo do “empacotamento de máscaras e trabalhos internos”. O médico afirmou que os trabalhos de combate à epidemia contam com “todos os quadrantes da sociedade”, desde a doação de materiais ao voluntariado.

Saúde tem de fazer”. E ressalvou que as queixas ajudam a melhorar os serviços. De acordo com Lo Iek Long, médico adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ), a taxa de infecção de quem voltou a Macau é de

0,84 por cento. Um número que engloba estudantes e residentes no geral. “Quando chegarmos ao fim podemos ver variação, mas não deverá ser uma subida súbita”, disse. Por outro lado, foi ontem explicado que a prioridade é prevenir e controlar a

TJB Nove suspeitos vão a julgamento por violar medidas de prevenção

Vão ser remetidos ao Tribunal Judicial de Base acusações no âmbito de oito inquéritos, que envolvem nove arguidos, suspeitos de violação de medidas de prevenção da epidemia. Contra oito dos arguidos, o Ministério Público (MP) deduziu acusações pelo crime da infracção de medida sanitária preventiva. O restante indivíduo foi acusado do crime de falsificação de documento, indica um comunicado do MP. De acordo com a nota, sete dos arguidos não respeitaram a observação médica durante o período de 14 dias,

e saíram sem autorização do quarto ou residência, ou acolheram outra pessoa no quarto de hotel. Para além disso, um residente saiu de Macau no mesmo dia em que entrou sem autorização, enquanto um trabalhador não residente declarou residência falsa para fugir à quarentena, e continuou a trabalhar apesar de dever estar sob observação médica. De entre os inquéritos encontra-se também um caso de danificação de máscaras fornecidas pelo Governo, em que a acusação é de dano qualificado.

epidemia, pelo que muitas das despesas, como por exemplo com a aquisição de máscaras, só serão reveladas depois da situação passar. No âmbito das máscaras, o médico procurou tranquilizar preocupações com a qualidade das máscaras,

reiterando que há especificações técnicas a ser seguidas e que quando as encomendas são feitas as amostras são examinadas.

VOLUNTARISMO

O representante da Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude, Leong I On, disse ontem relativamente aos alunos com necessidades educativas especiais, que desde finais de Fevereiro foram contactadas instituições de reabilitação para tratamentos a estudantes, mediante autorização dos encarregados de educação. Porém, a representante deixou uma ressalva. “Não podemos depender só dos terapeutas”, frisando a importância do apoio dos pais. Leong I On disse que tanto professores como pais ligaram para as instituições de apoio e alguns “manifestaram pressão”, pelo que foram feitos vídeos para ajudar a aliviar o ambiente em casa. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

A equipa de voluntariado, constituída por estudantes,

Macau Solidário Campanha prolongada até 7 de Abril

A campanha Macau Solidário vai continuar a recolher donativos para ajudar Portugal no combate à pandemia do novo coronavírus até 7 de Abril. Inicialmente prevista para terminar a 5 de Abril, o prolongamento da campanha deve-se à interrupção de vários serviços nos próximos dias, incluindo bancos, durante as celebrações do feriado do Cheng Ming. Segundo a Comissão Solidária de Macau, composta por 17 associações de matriz portuguesa, a campanha tinha angariado até ontem 1,5 milhões de patacas. Recorde-se que o valor angariado tem como objectivo a aquisição de equipamento para profissionais de saúde em Portugal e testes de despistagem. O envio do material para Portugal é coordenado pela Embaixada de Portugal na China e centralizado no Ministério da Saúde.


política 5

sexta-feira 3.4.2020

LEI ELEITORAL MINISTÉRIO PÚBLICO “SALVA” WANG SAI MAN

CRISE DSAL INFORMADA DA REDUÇÃO DE SALÁRIOS DE 417 TRABALHADORES

Tempo de vacas magras

Segundo o secretário Lei Wai Nong, houve um aumento de 1.100 pedidos de subsídio de desemprego desde o dia em que foi detectado o primeiro infectado em Macau, até 1 de Abril. Os desempregados aumentaram 1.500, desde a mesma data, face ao período homólogo do ano passado Acredito que o impacto da pandemia está a afectar a economia do Interior e também de Macau. Mas, precisamos de fazer bem o nosso trabalho. Temos uma atitude optimista sobre o futuro. Na segunda metade do ano a economia vai melhorar”, acrescentou.

HOJE MACAU

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Ministério Público (MP) arquivou o inquérito contra o deputado Wang Sai Man por suspeitas de violação da lei eleitoral. O inquérito foi levantado porque no dia em que foi eleito, o candidato único falou à comunicação social sobre conteúdos do programa de candidatura à frente da assembleia de voto. Segundo informação avançada à TDM - Rádio Macau, o MP optou por não produzir acusação porque considera não ter havido “dolo”. “Após a investigação, o Ministério Público não verificou a intenção de propaganda eleitoral por parte de Wang Sai Man, através da entrevista dada à imprensa, pelo que o inquérito foi arquivado por falta de dolo subjectivo da prática do crime em causa”, afirmou o MP, sobre a opção tomada. Wang Sai Man foi o único candidato do sector industrial, comercial e financeiro a participar no acto de 24 de Novembro do ano passado, depois do lugar ter sido deixado vago na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng, actual Chefe do Executivo. Com esta decisão, o MP evita também que a Assembleia Legislativa tenha de voltar a votar suspensão de um deputado. Sulu Sou foi o último deputado suspenso, em Dezembro de 2017, pouco depois de ter tomado posse. J.S.F.

“Além de fornecerem serviços, os casinos têm de assegurar o emprego dos cidadãos.” LEI WAI NONG SECRETÁRIO PARA A ECONOMIA E FINANÇAS

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ESDE 22 de Janeiro, em que se registou o primeiro caso de infecção de covid-19 em Macau, até 1 de Abril houve um total de 417 trabalhadores, de 19 empresas, que viram os ordenados reduzidos. Os dados foram fornecidos ontem pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, com base nas 27 notificações de redução de empregos enviadas à Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Apesar dos cortes salariais, o Executivo considera não ser visível a onda de desemprego, mesmo que reconheça que há mais pessoas nessa situação. “Em comparação com o ano passado, o número de desempregados aumentou em 1.500. Também houve mais pessoas

a pedir subsídio de desemprego com 1.100 pedidos. Mas, a situação de desemprego ainda não é evidente, não houve uma onda de desemprego”, disse Lei Wai Nong, à saída da reunião de ontem do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). O Governo está a estudar a hipótese de dar formações pagas em instituições como o Instituto Politécnico de Macau ou o Instituto de Formação Turística, como forma de ajudar os mais afectados em termos laborais. Ao mesmo tempo, Lei Wai Nong recordou que a aposta do mercado local tem de passar pela contratação de residentes e que os pedidos para contratação de não-residentes só serão aprovados em último recurso.

Em relação ao número de licenças sem vencimento aprovadas pelas empresas durante este período, o Governo diz não ter dados, uma vez que apenas os casos de diferendo são transmitidos à DSAL. Porém, Lei Wai Nong recordou que as licenças sem vencimento só podem ser implementadas com concordância do trabalhador.

CASINOS ABERTOS

Na quarta-feira foi anunciado que os casinos registaram quebras nas receitas brutas de 79,7 por cento, para 5,26 mil milhões de patacas, no mês de Março, face ao período homólogo. Os números foram desdramatizados pelo secretário para a Economia e Finanças. “A queda está dentro das nossas previsões.

Por outro lado, o Executivo afasta a hipótese de permitir que os casinos encerrem as portas, desde que se comprometam a manter a mão-de-obra local. “Além de fornecerem serviços, os casinos têm de assegurar o emprego dos cidadãos”, explicou Lei Wai Nong. “O funcionamento dos casinos tem de ser durante 24 horas. A decisão é do Governo e, neste momento, não temos um plano para alterar esta regra de funcionamento. A DICJ também está a fiscalizar o funcionamento”, clarificou. O secretário abordou também a criação do fundo de 10 mil milhões, que precisa de aprovação pela Assembleia Legislativa. Neste momento, o Executivo ainda está a escutar opiniões sobre os moldes em que será operado, mas sublinha que o objectivo é garantir o bem-estar e emprego dos residentes. João Santos Filipe

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AL DESPESAS DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PASSAM PARA AS ESCOLAS

A

S despesas decorrentes das funções do conselho de administração dos estabelecimentos particulares do ensino não superior, vão passar a integrar as despesas escolares, deixando o encargo de pertencer às entidades titulares. Foi esta a conclusão a que chegou ontem a 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, após uma reunião de

análise do diploma sobre o ensino particular não superior. “Alguns directores depois de se aposentarem passam a fazer parte do conselho de administração e continuam a receber remuneração. Mas quem paga esta remuneração é a entidade titular e não a escola. Esta lógica está correcta mas a proposta de lei refere-se também às despesas, como o transporte, refei-

ções e, para estes, o dinheiro da escola deve ser usado. Portanto, o Governo vai eliminar parte das despesas”, explicou Chan Chak Mo. Outro dos temas em análise foi encontrar forma de assegurar os interesses dos alunos caso a escola que frequentam seja suspensa. Segundo Chan Chak Mo, o Governo admitiu que pode ser encontrada uma nova entidade para colmatar a lacuna

deixada em aberto pela suspensão. “O Governo fez cálculos e existem em Macau 2500 turmas e (…) cada turma pode incluir 35 alunos e agora em média cada turma tem 28 alunos. Ou seja, se uma escola for suspensa, vai ser possível distribuir os alunos por diversas turmas existentes nas escolas de Macau”, transmitiu o presidente da 2ª Comissão da AL. P.A.


6 sociedade

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VIDEOVIGILÂNCIA COMISSÃO RECOMENDA DIVULGAÇÃO DE CASOS QUANDO CCTV FOR USADA

Por trás da câmara

Tribunal Administrativo decide contra a Polytex

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A Comissão de Fiscalização da Disciplina defende que as infracções cometidas pelos agentes na utilização da videovigilância devem ser revelados de forma periódica

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Comissão de Fiscalização da Disciplina (CFD) das Forças e Serviços de Segurança considera que deviam ser produzidas estatísticas sobre o número de casos resolvidos com recurso à videovigilância, assim como as infracções cometidas por agentes. A recomendação, que não é vinculativa, consta no relatório relativo ao ano passado e foi suscitada pela queixa de um cidadão. Segundo o organismo liderado por Leonel Alves, a questão foi levantada após um cidadão ter apresentado queixa contra um agente, argumentando que não foram recolhidas provas porque o agente em causa não ter utilizado a câmara do seu equipamento individual. Apesar de admitir que os agentes não podem ligar as câmaras por “pedido de particular”, o CFD sugere que sejam emitidas estatísticas sobre os casos resolvidos através da videovigilância. Com o objectivo de promover transparência neste meio de recolha de prova, o CFD considera importante “a divulgação pública de quaisquer infracções criminal/disciplinar, se as houver, por quebra das regras de segurança e de preservação do

direito à imagem e privacidade, por parte dos agentes que operam os dados recolhidos”. Outro assunto que gerou críticas às autoridades no passado prende-se com as notificações de cidadãos à saída do território. Face a este aspecto, alvo de “recorrência de queixas”, o CFD defende que as autoridades devem “ponderar bem os incómodos e prejuízos” das notificações à saída do território. A comissão defende que estes avisos devem ser utilizados apenas nos casos em que “foram esgotados os demais meios de notificação postal ou pessoal”, como avisos para casa, local de trabalho, etc.. No que diz respeito às pessoas que ficam retidas nas fronteiras quando procuram sair para serem notificadas por eventuais multas, o CFD vai mais longe e diz que o procedimento não justifica o sacrifício da vida pessoal se envolver “matéria de processos cíveis ou de infracções administrativas”.

MAIOR RAPIDEZ

Em relação aos apontamentos sobre a actuação das autoridades, a comissão sublinha que as 48 horas que os agentes têm para apresentar os detidos ao Ministério Público e Juiz

Crime TNR suspeito de roubar prostituta A Polícia Judiciária (PJ) deteve esta quarta-feira um homem, trabalhador não residente da China em Macau, por suspeitas da prática do crime de roubo de uma prostituta. A alegada vítima, de 32 anos, terá entrado em Macau ilegalmente em Janeiro e ofereceu serviços sexuais ao suspeito a 30 de Março, informando-o de que era imigrante ilegal. No dia seguinte, o homem terá dito

O CFD diz que as notificações à saída do território não justificam o sacrifício da vida pessoal em “matéria de processos cíveis ou de infracções administrativas”

de Instrução Criminal são um prazo máximo. Por este motivo, é sublinhada a importância de apressar os procedimentos. “A CFD recomenda que as autoridades policias se esforcem por apresentar os detidos no mais curto espaço de tempo possível, por forma a rapidamente se esclarecer a situação jurídico do detido”, é anotado. O relatório menciona também o facto de em “alguns casos” os agentes policias serem chamados

que lhe poderia apresentar mais clientes e levou a prostituta para junto do templo da deusa A-Má, em Coloane. No local, o homem terá apertado o pescoço da vítima e feito ameaças de morte. Esta diz ter sido roubada em 20 mil dólares de Hong Kong. Segundo o canal chinês da TDM – Rádio Macau, o suspeito, de 37 anos, negou a prática do crime aos agentes PJ.

Indemnização cai por terra

a intervir na resolução de conflitos particulares que envolvem familiares seus. A comissão alerta que os agentes devem “pedir escusa mal se apercebam” que os incidentes “envolvem pessoas com quem têm laços familiares ou amizades próximas”. Em relação aos números, em 2019 foram recebidas 114 queixas pelo CFD, uma redução face às 139 apresentadas em 2018. A força que gerou mais queixas foi a PSP com 101 queixa, seguida por PJ com 8. Algumas queixas envolvem mais que uma força de segurança, mas a maioria deve-se a questões relacionadas com a Lei de Trânsito. Finalmente, em 2018 foram instaurados pelo CFD oito processos disciplinares, que resultaram em quatro punições, um arquivamento e ainda três casos pendentes. João Santos Filipe

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Tribunal Administrativo decidiu absolver o Governo da RAEM relativamente à acção interposta pela Sociedade de Importação e Exportação Polytex, Limitada. A justiça entendeu que a renúncia ao direito a indemnização feita pela Polytex em 2014 era válida, considerando improcedente a acção da empresa. A Polytex pedia uma indemnização de cerca de 25 mil milhões de patacas devido à execução do contrato de concessão por arrendamento do terreno onde ficaria o edifício Pearl Horizon, com base em danos emergentes, lucros cessantes, perda de oportunidades, bem como danos morais, que se cingiram a uma pataca. A empresa colocava como alternativa a atribuição de uma nova concessão para o mesmo terreno de forma a concluir a obra. O argumento da concessionária sustentava-se na actuação do Governo por ter colocado “um entrave injustificado ao seu aproveitamento dentro do prazo fixado e por ter vindo a conduzir à declaração da caducidade da respectiva concessão”, comunica o gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância. O Executivo defendeu que a empresa tinha renunciado ao direito indemnizatório em 2014, o que invalidaria a sua

responsabilização. No acórdão pode ler-se que a Polytex tinha acordado que “se no futuro o terreno não for concedido nos termos legais, a empresa concessionária não pode reclamar qualquer indemnização ou compensação à RAEM”. O juiz entendeu que a declaração não se deu por coação moral, mas antes com o objectivo de obter eventuais benefícios com a autorização do alargamento do prazo de aproveitamento do terreno, rejeitando os argumentos da Polytex de que a renúncia não podia ser válida. E frisou que, apesar de ter sido o Governo a convidar a tomada de declarações, a empresa tinha tido iniciativa. Para além disso, foi rejeitado que a Polytex estivesse inconsciente dos prejuízos que ia sofrer com tal declaração, e que “a extensão dos danos neste caso não é de todo inconcebível”. O tribunal entendeu ainda que havia consciência da falta de cumprimento ou das demoras da Administração quando a empresa fez a renúncia. Quanto ao pedido de indemnização por danos morais, o juiz entendeu que os factos alegados não demonstrariam que a reputação chegou a ser “concretamente comprometida” pela actuação administrativa. S.F.


sociedade 7

CASINOS OPERADORAS COM LIQUIDEZ PARA MAIS SEIS MESES, ESTIMAM ANALISTAS

TIAGO ALCÂNTARA

sexta-feira 3.4.2020

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NALISTAS da Sanford C. Bernstein Ltd revelaram ontem, em comunicado, que no pior dos cenários, as seis operadoras de jogo de Macau têm liquidez de caixa para mais seis meses.A previsão vem no seguimento da quebra de 79,7 por cento das receitas brutas dos casinos no mês de Março, revelada na quarta-feira pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Segundo os analistas da Sanford C. Bernstein, citados pelo portal GGR Asia, a Galaxy é, das seis operadoras, aquela “corre menos riscos”. “AGalaxy tem liquidez de caixa em abundância, não está endividada e tem pela frente, no pior cenário, um ´balão de oxigénio´ de cerca de 40 meses, antes de ter de recorrer a outros fundos”. Quanto às restantes operadoras, assumindo sempre o pior cenário, ou seja, em que não há qualquer receita, os analistas da Sanford C. Bernstein estimam que possam continuar em actividade, sem recorrer a outras fontes de financiamento, entre seis e 17 meses. A situação pode ainda vir a piorar já no próximo mês. De acordo com a correctora JP Morgan, citada pelo portal GGR Asia, as receitas brutas de jogo em Abril podem vir a ser praticamente inexistentes, muito por culpa das novas medidas fronteiriças aplicadas pela província de Guangdong na semana passada. “Não seria uma surpresa que as receitas brutas de jogo em Macau se mantivessem praticamente nulas até as restrições nas fronteiras de Guandgong serem levantadas.Abril pode mesmo vir a ser o pior mês de sempre desde que o primeiro complexo de jogo ao estilo de Las Vegas abriu em Macau, em 2004”, apontaram os analistas da JP Morgan, DS Kim, Derek Choi e Jeremy. P.A.

Radio Taxis Chamadas caem 50%, mas empresa não despede

A concessionária do serviço de rádio táxis registou uma quebra de cerca de 50 por cento no número de chamadas recebidas, ainda assim, decidiu manter o número de funcionários. No entanto, estes deverão ser sujeitos a alterações no seu horário de trabalho. Antes do início do surto de covid-19, a empresa chegava a receber entre seis a sete mil chamadas por dia, estando agora na fasquia das duas a três mil chamadas diárias.

Albano Martins, presidente da ANIMA “Governo nunca iria reordenar aquilo em menos de dois ou três anos. Passou um ano e aquilo [o terreno] está na mesma. Não há capacidade do Governo para desenvolver aquilo. Não vai ser um novo hospital das ilhas, mas quase.”

ANIMA HÁ UM ANO, CANÍDROMO FECHAVA PORTAS GRAÇAS À “CORAGEM” DO GOVERNO

O primeiro aniversário Foi a 26 de Março de 2019 que os últimos galgos saíram do Canídromo. Um ano depois, o enorme terreno no Fai Chi Kei continua por desenvolver apesar de ser certa a transferência de quatro escolas para o local. Albano Martins, presidente da ANIMA, lamenta o processo demasiado rápido para a saída dos animais, mas destaca o reconhecimento internacional da associação

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EGRADAÇÃO era a palavra que melhor assentava para descrever o ambiente e as infra-estruturas do Canídromo. Foi há um ano que a ANIMA - Sociedade Protectora dos Animais de Macau, conseguiu vencer o braço-de-ferro com o Governo para o encerramento definitivo do espaço onde se apostava em corridas de galgos. Os últimos animais deixaram o Canídromo, no Fai Chi Kei, a 26 de Março. Albano Martins, presidente da ANIMA, olha hoje para esse período e lamenta a rapidez com que a entidade foi obrigada a tratar do processo de transferência dos animais. “Não havia urgência nenhuma em fazer os animais sair. As pessoas já estavam habituadas ao barulho e os animais no espaço. Por outro lado, o Governo nunca iria reordenar aquilo em menos de dois ou três anos. Passou um ano e aquilo [o terreno] está na mesma. Não há capacidade

do Governo para desenvolver aquilo. Não vai ser um novo hospital das ilhas, mas quase.”, aponta. O economista recorda as várias soluções apontadas para albergar os animais e que caíram por terra. “Não havia espaço para absorver um número tão grande de animais e todas as tentativas foram goradas.” A luta da ANIMA pelo encerramento do Canídromo começou em 2011. Depois de várias acções públicas, o primeiro passo foi dado quando o Executivo de Chui Sai On não renovou a concessão do terreno à Yat Yuen. “O Governo acabou por ganhar coragem, um bocado empurrado pela ANIMA, porque fomos a única organização de Macau a pedir o fecho das instalações.”

A PESADA FACTURA

Albano Martins lamenta ainda que todos os galgos que foram para o estrangeiro tenham ido sem a esterilização feita. Cerca de 129

animais acabaram por ficar em Macau, mas “muitos morreram ou foram abandonados e vieram parar à ANIMA, ou então não se sabe o seu paradeiro”. O responsável defende que os 20 milhões de patacas gastos pela Yat Yuen num espaço de acolhimento de animais, no Parque Industrial da Concordia, poderia ter sido usado para esterilizações. “Esse dinheiro teria dado uma ajuda para tratar da saúde destes animais se tivéssemos tido mais tempo, para que pudessem ir para o estrangeiro já esterilizados e em melhor estado.” Apesar de a Yat Yuen ter pago as viagens dos galgos para o estrangeiro, a verdade é que sobrou uma pesada factura para a ANIMA pagar: 250 mil patacas, custeadas com apoios de organizações internacionais. “A 26 de Março ficámos com muitos animais. Também salvámos mais de 20 animais do abandono. Tratamos dos galgos sem qualquer

subsídio do Governo, sem contabilizar o volume de trabalho que tivemos. Mas teve uma vantagem. Ganhámos a medalha de mérito [atribuída pelo ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On] e ficámos reconhecidos a nível internacional.”

A LUTA EM PORTUGAL

Albano Martins assume que nunca pensou que a ANIMA fosse convidada por entidades asiáticas ligadas aos direitos dos animais como é hoje. O fecho do Canídromo deu-lhe reconhecimento e credibilidade internacionais, o que faz com que hoje esteja ligada a mais uma causa: o fim das corridas de galgos em Portugal. A última acção, apoiada por 70 entidades internacionais, foi uma carta enviada à Assembleia da República. Mesmo com a crise gerada pela pandemia da covid-19, os activistas querem agendar uma reunião em Maio. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


8 coronavírus

(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

TOP 20 DOS PAÍSES

36205 Em estado crítico

1000177

210191

Infectados (total cumulativo)

COM MAIS CASOS 215357

Itália

115242

Espanha

110238

China

815589

Alemanha

79465

França

56989

Irão

50468

Reino Unido

29474

Suiça

18267

Turquia

15679

Bélgica

15348

Holanda

14697

Áustria

10927

Coreia do Sul

9976

Canadá

9731

Portugal

9034

Brasil

6932

Israel

6360

Suécia

5466

Austrália

5137

Noruega

5071

Curados

Co novel

738622 Infectados

(total cumulativo)

E.U.A.

3.4.2020 sexta-feira

(casos activos)

68 Curados

PORTUGAL

209 Mortos

PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)

Portugal

9034

Brasil

6932

Moçambique

10

Angola

8

Guiné-Bissau

9

Timor-Leste

1

Cabo Verde

6

São Tomé e Principe

0

PORTUGAL

países sem casos de nCov

Infectados (casos activos)

31 MACAU

PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)

China

81589

China | Macau

41

China | Hong Kong

802

China | Taiwan

339

Coreia do Sul

9976

Japão

2384

Vietname

227

Laos

10

Cambodja

110

Tailândia

1875

Filipinas

2633

Myanmar

16

Malásia

3116

Indonésia

1790

Singapura

1000

Borneo

133

8757

países com casos de nCov

Infectados (casos activos)

10 Curados

HONG KONG

644 Infectados

Macau

(casos activos)

4

HONG KONG

159 Curados

Hong Kong

Mortos


sexta-feira 3.4.2020

coronavírus 9

23411

ovid-19 l coronavírus

Casos suspeitos

51356 Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

1000000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0

20

40

60

dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0


10 china

3.4.2020 sexta-feira

COVID-19 SHENZHEN PROÍBE CRIAÇÃO E CONSUMO DE ANIMAIS SELVAGENS nentemente o comércio e o consumo de animais selvagens, o que vai além da proibição temporária emitida pelo Governo Central, em Fevereiro passado, após o início do surto do novo coronavírus. Para além de cobras, lagartos e outros animais selvagens, a directriz, que cita razões humanitárias, proíbe ainda o consumo de carne de cão e gato, que são há muito tempo especialidades locais. A proibição prevê multas a partir dos 150 mil yuans, valor que aumentou consideravelmente, dependendo da quantidade de animais apreendidos. A medida não restringe a criação de animais selvagens para fins medicinais, que tem sido criticada como cruel e perigosa para a saúde pública, embora o consumo desses animais para alimentação passe a ser proibido.

PUB HM • 2ª VEZ • 3-4-20

O novo cerco

Um condado chinês colocou ontem cerca de 600.000 residentes em quarentena após a descoberta de um novo caso de contágio local pelo novo coronavírus, numa altura em que o país tenta travar novo surto HECTOR RETAMAL/AFP VIA GETTY IMAGES

S

HENZHEN emitiu ontem a proibição mais abrangente até à data de criação e consumo de animais selvagens, num esforço para evitar um surto futuro do coronavírus. A covid-19 foi detetada pela primeira vez na cidade de Wuhan, centro da China, em Dezembro passado, entre pacientes relacionados com um mercado da cidade que vendia animais selvagens, incluindo pangolim e civeta, além de carnes mais convencionais, como frango e peixe. Importa referir que o consumo de animais selvagens é sobretudo popular no sul da China. Em 2002, o surto da pneumonia atípica, ou SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), foi inicialmente disseminado por pessoas que consumiam ou criavam e vendiam animais selvagens em áreas próximas de Shenzhen. Os regulamentos estipulados pelas autoridades da cidade proíbem perma-

HENAN CONDADO ISOLADO APÓS CASO DE CONTÁGIO LOCAL

S

ITUADO no centro da China, na província de Henan, o condado de Jia anunciou que os seus moradores não poderão sair de casa sem autorização. A China parece ter contido a epidemia, mas as autoridades tentam agora prevenir uma segunda vaga de infecções, à medida que esporadicamente surgem novos casos de contágio local. Segundo a directiva publicada 'online' pelas auto-

ridades locais, apenas pessoas com uma permissão especial podem continuar a trabalhar e a deslocar-se nos seus veículos, consoante

matrículas identificadas. O comunicado não identifica as razões para a decisão. No entanto, segundo as autoridades da província de Henan, uma mulher que visitou o condado testou positivo para a covid-19, após ter tido contacto com uma pessoa assintomática. A China revelou ontem ter detectado 55 novos casos assintomáticos. Importa referir que a Comissão Nacional de Saúde só começou

Segundo a directiva publicada ‘online’ pelas autoridades locais, apenas pessoas com uma permissão especial podem continuar a trabalhar e a deslocar-se nos seus veículos, consoante matrículas identificadas. O comunicado não identifica as razões para a decisão

na quarta-feira a divulgar o número de pessoas infectadas, mas que não têm sintomas. Mais de mil destes casos estão sob observação médica. Foram ainda detectadas 35 pessoas infectadas com a Covid-19 vindas do exterior, nas últimas 24 horas, segundo as autoridades de saúde chinesas.

A GRANDE MURALHA

O número total de infectados diagnosticados na China, desde o início da pandemia, é de 81.589, entre os quais 3.318 morreram e 76.408 tiveram alta após superarem a doença. A Comissão Nacional de Saúde informou ainda que morreram seis pessoas devido à infecção pelo novo coronavírus, na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia. Muitos chineses radicados no exterior estão a voltar ao país, à medida que a doença se alastra pelo resto do mundo, o que terá levado a China a contar com centenas de casos importados. Neste contexto, importa recordar que a partir de sábado, o país suspendeu temporariamente a entrada de cidadãos estrangeiros, incluindo quem possui visto ou autorização de residência, como medida de prevenção contra a propagação do novo coronavírus.

ANÚNCIO Execução Ordinária n.

o

CV1-19-0134-CEO

Região

1o Juízo Cível

EXEQUENTE: Banco Industrial e Comercial da China (Macau) S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, n.o 555 – Macau Landmark, Torre ICBC, 18.o anda EXECUTADOS: Sun Kin Chong, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M. n.o 5xx5xx5(0), residente em Macau, na Rua da Vitória, n.os 6 – 12, Edifício “Ma Pou”, 1.o andar “B”, e sua mulher Yimnoi Wiraiporn, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M. n.o 1xx6xx1(7), residente em Macau, na Rua da Vitória, n.os 6 – 12, Edifício “Ma Pou”, 1.o andar “B”. *** FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos dos executados para, no prazo de QUINZE DIAS, que começam a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contados da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenha garantia real e que é o seguinte: Imóvel penhorado Denominação: fracção autónoma “B1”. Situação: sito em Macau, n.o 7 a 13 da Rua de Henrique de Macedo e n.o 6 a 12-A da Rua da Vitória. Finalidade: habitação. Número de matriz: 070813. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.o 10075, a fls. 72V do Livro B27. Número de inscrição da propriedade: n.o 108886, do Livro G. *** Na R.A.E.M., 24/03/2020

O

Presidente filipino, Rodrigo Duterte, pediu às autoridades de segurança que abatam qualquer pessoa que cause "distúrbios" em áreas mantidas em isolamento devido à pandemia do covid-19. Quase metade dos 110 milhões de habitantes do arquipélago está confinada em casa e milhões de filipinos vivem em grande precariedade e encontram-se desempregados. O chefe de polícia filipina, Archie Gamboa, disse ontem que a polícia não começaria a atirar nas pessoas que causassem distúrbios. "O Presidente provavelmente enfatizou demais a aplicação da lei durante este período de crise", afirmou. Horas antes das declarações de Duterte, na noite de quarta-feira, quase 20

A lei da bala

Duterte autoriza abate de pessoas que provoquem distúrbios

pessoas que moram nas favelas de Manila foram detidas por organizarem uma manifestação contra o Governo, acusado de não fornecer ajuda alimentar aos pobres. "Dei ordens à polícia, exército e responsáveis das vilas para disparar se houver problemas ou brigas que coloquem as suas vidas em risco", disse o Presidente. "Em vez de causar problemas, enviarei você para o túmulo", declarou Duterte antes de explicar que, após duas semanas de confinamento, a epidemia continua a progredir. As Filipinas registaram 2.311 casos do novo coronavírus, que matou

96 pessoas, mas como o país começou a fazer mais testes, espera-se que o número de pessoas infectadas aumente ainda mais.

DIREITOS DESUMANOS

Desde a sua eleição em 2016, que Duterte trava uma guerra sanguinária contra as drogas, apoiada por uma esmagadora maioria dos filipinos. Os críticos afirmam, no entanto, que os mais pobres são as vítimas, enquanto os mais ricos e poderosos são poupados. Estas últimas declarações foram imediatamente criticadas por organizações de direitos humanos, que

pediram ao Governo que suprisse as necessidades básicas da população em vez de lançar ameaças. "É muito perturbador que o Presidente Duterte tenha ampliado sua política de atirar para matar (…), o uso de força descontrolada de matar nunca deve ser visto como uma solução para responder a uma emergência como a pandemia da covid-19 ", disse a Amnistia Internacional das Filipinas num comunicado. As medidas de quarentena, que afectam principalmente os 12 milhões de habitantes de Manila, levaram ao encerramento da maioria das empresas e o encerramento de quase todas as actividades sociais, religiosas e comerciais.


h

sexta-feira 3.4.2020

11

“Não toques nos objectos imediatos. A harmonia queima.”

tonalidades António de Castro Caeiro

Como teriam sido as nossas vidas, se…

“Não nos esquecemos de nada. Habituamo-nos. É isto.” Jacques Brel

P

ENSAMOS muitas vezes no que teriam sidos as nossas vidas se os factos determinantes que vieram a definir-nos não tivessem acontecido. Pensamos também no que poderia haver de transformador se a história tivesse seguido cursos alternativos ou até um percurso exactamente contrário àquele que veio a seguir, se Hitler tivesse ganhado a guerra o que seria da Europa1. O que se nos oferece para pensar tem a sua origem na nossa vida que corre paralela à da realidade, a vida na possibilidade. Alguns de nós conhecíamos bem esta dimensão mágica da vida: fantástica, cheia de imaginação, com personagens reais e criados nas nossas cabeças, se tivermos tido um sonho de infância. Houve tempos na nossa juventude, essa época fascinante das nossas vidas em que nem sequer podemos dizer que nos entregámos à ficção, porque, pura e simplesmente, o que havia de realidade era um engano. A época da vida que corresponde à juventude tem ainda a dimensão fantástica da infância, mas tem agora o vigor não anulável da tempestade e da paixão, é romântica ou apresenta uma qualquer variação do romantismo com os seus múltiplos objectos: uma outra criatura humana, um comprometimento político, um estilo de vida, uma definição, uma tendência, a fixação de uma inclinação num estilo. Na infância e na juventude o que nós pensamos, o que se nos oferece a pensar, não existe num plano diferente do plano da realidade. O que se passa na casa dos nossos amigos, na nossa rua, na escola, no clube e o que se passa no isolamento aparente do sonho a dormir à noite ou no sonho a dormir acordado é indistinto. A vida é fantasia, fascínio, encantamento. Pode ser, na verdade, maravilhoso como pode ser tremendo. É um mistério. E, contudo, não se percebe bem como ou quando se impõe a versão da verdade que chamos realidade, a realidade objectiva, a verdade pura e dura posta a descoberto nua e crua. Há uma diferença clara

ANDREA CASCIU, PARALLE

L UNIVERSE

entre o mundo do fascínio da infância, apenas sonho, o mundo da juventude, só esperança, e o mundo adulto: pragmático, sem sonho, sem esperança. E, contudo, o mundo adulto não é um mundo à parte. É um mundo projectado por uma forma de pensamento, que reduz a fantasia à percepção, o sonho à

realidade, a esperança no futuro à actualidade, sem conexão com o futuro. Como seriam as nossas vidas se tivesse acontecido o que, pelo menos assim nos parece às vezes, queríamos tanto que nos tivesse acontecido: desfazer um não e fazer que sim, aproximar-nos em vez de nos afastarmos, quando tínhamos podido, ou

O que se nos oferece para pensar tem a sua origem na nossa vida que corre paralela à da realidade, a vida na possibilidade. Alguns de nós conhecíamos bem esta dimensão mágica da vida: fantástica, cheia de imaginação, com personagens reais e criados nas nossas cabeças, se tivermos tido um sonho de infância

no que não está nas nossas mãos: assistir ao rumo positivo das coisas, quando elas acabaram, não houve as negas que tivemos, não houve interdições, nem proibições, nem nada de negativo, não fomos nós que não conseguimos, que não chegamos a tempo, não foi o espaço que se fechou o tempo que não houve, alguém continuou nosso amigo e não houve mal entendidos, o amigo da infância não morreu num desastre de automóvel, os nossos pais são imortais. Como seriam as nossas vidas se não acontecesse o que está a acontecer, e o que está a acontecer é inexorável? Como seriam as vidas das crianças e dos jovens no Verão de 1914 antes de arrostarem com a carantonha feia e sinistra da guerra e que desfez infâncias e juventudes, pior: desfez futuros individuais e colectivos? Seria ainda possível deixar chegar o Verão de São Martinho a 1939 ao norte da Europa e assim ao Ocidente? Pode a Europa deixar-se enredar na semântica das palavras e afundar-se no ocidente (a terra do sol poente)? A nossa vida é o que é. Existe como realidade indelével. A resolução para o impasse está na infância e na juventude, se não foi extirpada a raiz onírica do pensamento. O pensamento cria esperança. A origem do pensamento é o futuro. A infância e a juventude estão próximas do princípio, mas o princípio vem do futuro. Como os antigos tão bem perceberam, no princípio o que havia era já o fim e o tempo das nossas vidas passa em contagem decrescente. O princípio e tudo o que tem sido vivido está à nossa espera na hora da nossa morte, chegue essa hora quando chegar. 1 - Para uma ilustração desta hipótese hermenêutica, veja-se a adaptação “The Plot Against America” de Philip Roth para a Netflix, onde se equaciona a possibilidade da ascenção do fascismo numa América alternativa se Charles Lindbergh tivesse ganhado as eleições a Roosevelt. George Steiner invoca o verão de 1914 como um horizonte temporal de perda irrecuperável prévio à destruição do mundo ocidental como era conhecido até então e de que somos herdeiros. Leiderfarb, Luciana. “George Steiner: ‘O Verdadeiro Crime é Viver Demasiado.’” Jornal Expresso, Expresso, 10 June 2017, expresso.pt/sociedade/2017-06-10-GeorgeSteiner-O-verdadeiro-crime-e-viver-demasiado-1.


EGON SCHIELE

12

h

OFício dos ossos

Valério Romão

E

STA quarentena está a ser, em termos gerais, uma espécie de micro-resolução de ano novo: toda a gente se desfez em promessas de ler os russos, de organizar o roupeiro de Inverno, de fazer exercício físico em casa. Na verdade e pelo que vejo um pouco por todo o lado, parecemos ter aprendido apenas duas coisas: olhar para um gráfico e fazer pão. Não serão competências despiciendas, mas não chegam para organizar uma feira de talentos. A normalidade é um bem precário e um conceito que se recusa a sê-lo, na medida que não permite, ao contrário dos conceitos civilizados, uma cristalização inequívoca da sua identidade. A normalidade define-se normalmente pela sua ausência, por contraste. Temos um instinto bastante apurado para perceber quando algo ou alguém não é normal, mesmo sem conseguirmos explicar cabalmente a razão subjacente a esse instinto. É uma competência da ordem do corpo, ou melhor, da ordem do animal, do imediato. É também uma competência contextual: aquilo que é normal num determinado milieu não o é noutro. Há muita gente que faz a sua vida num equilíbrio precário entre normali-

3.4.2020 sexta-feira

´

Os precários do quotidiano dade e diferença, numa espécie de zona cinzenta socialmente aceite por via de um pacto silencioso: desde que o sujeito seja minimamente funcional, pode ser excêntrico. E ser funcional parece resumir-se a ter dinheiro ou a ganhar dinheiro. Funcionalidade é autonomia. E autonomia é dinheiro. De resto o sujeito pode acreditar que a terra é plana, que os vírus são na verdade perturbações do equilíbrio electromagnético do corpo ou que a rainha de Inglaterra é na verdade um lagarto. Desde que pa-

gue as contas e não seja ostensivamente incapaz de cumprir a lei, tudo bem. No caso de um sujeito multimilionário, a excentricidade não só é esperada como é, de certo modo, exigida. Os custos de uma crise, seja ela esta, de saúde pública e intimamente radicada num medo primordial e profundo – a peste – ou seja uma guerra ou uma vaga de fome, são particularmente pesados para quem já trava diariamente uma batalha para se manter dentro dos limites da normalidade. As rotinas mu-

Funcionalidade é autonomia. E autonomia é dinheiro. De resto o sujeito pode acreditar que a terra é plana, que os vírus são na verdade perturbações do equilíbrio electromagnético do corpo ou que a rainha de Inglaterra é na verdade um lagarto. Desde que pague as contas e não seja ostensivamente incapaz de cumprir a lei, tudo bem.

dam. E as rotinas são em grande parte o esqueleto da normalidade. É alicerçado nas rotinas que o sujeito consegue domar, pelo menos em parte, uma realidade que à partida lhe é naturalmente inóspita. Rotina é controlo. Controlo é poder. Aquém ou além das rotinas, a incerteza. Ora esta incerteza, tolerada com maior ou menor esforço nos sujeitos de raízes amplas e fundas, pode ser um obstáculo insuperável para quem domesticou o quotidiano com dificuldade. A fragilidade tende a assomar ao postigo mal os ventos mudam de direcção. A extravagância, sem dinheiro, é dificilmente suportável. As zonas cinzentas estreitam-se e a tolerância diminui. O sujeito para quem o mundo já era um problema dá por si ainda mais perdido. Mais a mais, numa crise deste tipo, com direito a possível perda de emprego e consequente rendimento, até os sujeitos equilibrados podem ver-se de repente sem chão. Imaginem os outros. Neste momento complexo e incerto devíamos olhar para os que nos rodeiam e que amamos e aproveitar para os conhecer melhor. As fragilidades (e as forças) acabarão por vir à tona. Talvez as coisas corram bem ou razoavelmente bem e consigamos sair daqui inteiros. Mas em última análise levamo-nos a nós próprios e aos outros ao colo, pois é assim a estrutura da identidade do humano. É bom que nesta viagem tenhamos cuidado com as peças mais frágeis.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

sexta-feira 3.4.2020

entre oriente e ocidente

FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

Gonçalo M. Tavares

Outra língua, outro tempo 1.

Uma bela ideia, que não se confirmou até agora. Volto a Paul Virilio, o estudioso da tecnologia, numa entrevista já clássica, feita há uns anos por Luisa Futoransky. Virilio disse: “A ONU prepara o UNL, o Universal Network Language, quer dizer, um super-esperanto. Uma só língua. Será formidável. Todos poderemos perceber-nos e ao mesmo tempo será a confusão das diversidades. Estamos perante terríveis paradoxos.” Sim, terríveis paradoxos: o igual e o diferente.

2.

Mas pensar numa língua do século XXI, sem ligação nenhuma ao passado. Uma língua fundada a partir do som zero, da utopia do som zero. Inventar novas sons para uma nova língua; uma língua que nasça já no século da Técnica. Uma língua que tenha sons que só venham do artificial, das máquinas. Substituir cordas vocais, a garganta e as possibilidades orgânicas de som pelas possibilidades artificiais de som. Um som que venha das máquinas e não dos órgãos humanos. Uma nova língua humana, portanto, mas criada com base em sons de computador - bip bip e de máquinas. Pensar também, diz um amigo, Jonathan, pensar num hino do século XXI feito apenas desses sons recolhidos do funcionamento das máquinas. Não de máquinas musicais, mas de outro tipo de máquinas, de máquinas úteis. Criar um hino a partir dos sons da utilidade, dos sons da utilidade do século XXI. Um hino metálico, disse Jonathan. Um hino informático. Um hino composto de zeros e uns; zeros e uns que produzem sons, zeros e uns sonoros. Porque o som provocado pelo 001 será completamente diferente do som que resulta da sucessão 0001. Um som racional, sim. Uma música informática. E, por outro lado, pensar na criação de um novo tempo, sem ligação com a rotação da terra ou com o sol. Sem ligação com os ventos. Uma nova unidade de tempo ligada à tecnologia. Eis outra hipótese.

3.

Porém, hoje, desde o Oriente ao Ocidente, depois deste vírus, talvez esteja a aparecer uma nova unidade de tempo do século XXI. Uma unidade definida não pela tecnologia, muito menos pelos planetas. Estar dentro ou fora de casa não por causa do bom ou do mau tempo lá fora, mas sim por causa do mau do vírus. Tempo sem vírus, podemos sair; tempo com vírus, não podemos sair.

ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES


14 (f)utilidades

3.4.2020 sexta-feira

TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 18 MAX 22 HUM 75-95% • EURO 8.72 BAHT 0.24 YUAN 1.12 ´

PLATAFORMA DE DOR

Uma médica despede-se de um doente infectado com a covid-19 prestes a ser transferido para um hospital na região de Brittany. A imagem captada na plataforma da

Gare d’Austerlitz, em Paris, evoca um cenário de ficção, ou uma visão futurista de um romance de Hemingway, apesar de pertencer ao imaginário normal do quotidiano actual.

VIDA DE CÃO

ÓBVIO DESFECHO

THOMAS SAMSON/AP

Permitam-me molhar o dedo grande do pé noutra água de comentário que não seja a pandemia. Ontem foi noticiado que o inquérito instaurado a Wang Sai Man foi arquivado. O desfecho expectável para o deputado “eleito” indirectamente e que já ocupa funções no hemiciclo anuindo docilmente a todas as posições do Executivo, depois de ter infringido a lei eleitoral em directo na televisão. A lei é clara neste aspecto. Quem falar do seu programa político nas imediações do local de voto, no dia do “sufrágio”, está a fazer a campanha eleitoral. A situação é toda ela caricata. Enquanto candidato único na “eleição”, não havia necessidade de fazer campanha. O arquivamento do inquérito é justificado pela ausência de dolo do, à altura, candidato único, critério que não está na lei. Mas a malta dá um jeitinho com imaginação e lá safa a coisa. O MP podia ter ido mais longe e dizer que Wang Sai Man não poderia ter intenção de fazer campanha eleitoral à boca das urnas por não ter nada a ganhar com isso. Mais pareceu desconhecimento da lei, o que para quem se candidata a deputado não é um bom cartão de visita. A chatice é que desconhecimento da lei não significa isenção de responsabilidade. A politização da justiça nestes casos é gritante, tão óbvia que dói. Não dava jeito repetir uma eleição fantoche. Da mesma forma que o juramento à porta fechada feito pelo presidente da Assembleia Legislativa infringiu a lei que exigia que este fosse feito publicamente. Arranjou-se um funcionário, que por acaso era fotógrafo, e está feito. Tudo isto é desnecessário. Mas o poder político em Macau não consegue parar de mostrar o mais completo desrespeito pela lei. Pena que a justiça o permita. João Luz

S U D O K U 5 6

6 7 9

4 1 6

7 4 5 8 9 7 3 2 6 1 2 6

3 1 7 9

1 6 7 8 6 5 2 8 4 9 9 7 3

9 3 4 1 8 7 4 6 2 5

2 9 6 7 3 8 1 8 4 9 5 6

SALA 1

BLOODSHOT [C] Um filme de: David S. F. Wilson Com: Vin Diesel, Eiza Gonzalez, Sam Heughan, Toby Kebbel, Guy Pearee 15.30, 21.00

BIRDS OF PREY [C] Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.00

FANTASY ISLAND [C] Um filme de: Jeff Wadlow

9

2 5 7 2 6 1 3 9 1 4 3 8

C I N E M A

SALA 2

2 4

6 2 5

8 5 3 2 5 1 4 4 6 5 7 8 9

7

3

4 1 3 7 3 5 6 8 9 2 6 1

8 5 6 9 4 2 2 3 7 1 7

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 31

31 6 34 8 9 2 7 6 1 5 3 4 8 4 33

2

PROBLEMA 32

32

Cineteatro

32 9 5 3 2 6 7 8 1 4 5 8 2 4 3 6 1 7 9 3 9 1 6 www. 2 8 hojemacau. 7com.mo 4 5 34

6 4 3 9 8 2 7 5 1

Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 14.30, 19.30

THE INVISIBLE MAN [C] Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 17.00 SALA 3

THE TURNING [C] Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 15.00, 17.45, 20.15

UMA SÉRIE HOJE Imagine um thriller político de época (à entrada do século XVII) passado na Coreia do Sul... com zombies à mistura. Eu sei, muitos elementos aparentemente contraditórios. Mas “Kingdom” cumpre na perfeição a difícil tarefa. A série da Netflix tem como palco a luta pelo trono, depois da invasão japonesa da Coreia, seguindo a história do príncipe que deveria ser o legítimo herdeiro do trono. Porém, uma conspiração protagonizada por um clã sedento de poder atravessa-se no caminho do jovem príncipe. Isso e zombies que correm como atletas de alta competição. Excelente fotografia e argumento. Das melhores séries que vi ultimamente. João Luz

KINGDOM | KIM EUN-HEE

7 8 4 2 1 9 1 8 3 5 2 5 7 9 6 4 3 6 BIRDS 1 OF7PREY 1 7 9 5 2 5 6 Fábrica 3 de8Notícias, 4 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Propriedade Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo 6 2João5Paulo 4Cotrim;8José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e M.Tavares; Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo 3 4 Paul1Chan7Wai Chi;9Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Rasquinho; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada 8 9 2 6 3 Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 15

sexta-feira 3.4.2020

confeitaria

JOÃO ROMÃO

CHRYS ROBORAS

A

passagem do tempo sobre a presença do vírus que ataca a Humanidade não tem ajudado a antever um horizonte de futuro: antes pelo contrário, acrescentam-se dúvidas às incertezas já conhecidas: sabe-se pouco ou nada sobre como lidar com o problema, vai-se aprendendo o possível com a experiência vivida, ou não, e navega-se com pouca vista sobre um horizonte turvo e indefinido. Já houve outros vírus, é certo, mas aparentemente nunca tão resistentes à intervenção humana, tão persistentes nos seus impactos sobre as pessoas, tão dissimulados na forma lenta como ocupam os organismos e preparam um ataque massivo e inesperado. Não sabemos como eliminar este inimigo nem por quanto teremos que viver escondidos, em inevitável protecção individual e colectiva. Este exercício colectivo de auto-protecção pode trazer à superfície o melhor de nós, a preocupação com as outras pessoas, a prioridade à comunidade sobre o individualismo, a percepção de que não há estrangeiros e de que estamos todos a viver no mesmo mundo, a importância da fraternidade e da solidariedade sobre a competição desenfreada que foi ocupando o quotidiano das sociedades contemporâneas, um olhar sobre a economia preocupado com necessidades efectivas e não com a ganância da acumulação, ou o valor da amizade e das relações pessoais: uma certa reavaliação do que andamos aqui a fazer e do que realmente importa para vivermos bem, sermos felizes, seja lá isso o que for, e encontrarmos uma certa harmonia com os limites do planeta e dos seus recursos. Foi com esta generosidade que se cantou ou se aplaudiu às varandas e à janela, para dizer que estamos juntos, que é grande a esperança num futuro melhor, que não queremos voltar ao normal: queremos melhor. Hoje canta-se e aplaude-se menos, no entanto. A rotina cansa. Estar em casa tanto tempo cansa. Não se ter ideia de quanto tempo falta cansa ainda mais. Há uma incerteza profunda sobre o presente, sobre a solução possível para este extraordinário problema, e uma incerteza ainda maior sobre o futuro. Quando tempo falta? Enquanto durar, vai haver médicos e hospitais? Vai haver comida? Vai haver salários para comprar a comida e para pagar as casas onde se tem que ficar? Vai haver ainda empresas quando passar tempestade? Vai o Estado poder suportar todos os custos que já se conhecem e os outros, porventura muitíssimo maiores, que estão para vir? Essa incerteza cada vez mais prolongada corrói a esperança, já se sabe: alimenta a

Pós-covid?

desconfiança, recupera o individualismo, apela ao egoísmo, corrói o espírito de comunidade, desperta o pequeno ou o grande fascista mais ou menos adormecido em tantos corações. Em vez de vozes fraternas e sentimentos de esperança, vemos dedos acusatórios apontados, “polícias de varanda”, novos bufos e delatores ávidos de notícias, de preferência falsas, que legitimem o discurso da violência sobre os outros, do ódio sobre a diferença, do autoritarismo sobre a democracia. Eles andam aí e esta reclusão colectiva e prolongada também serve para se mostrarem, com poucos pudores, auto-legitimados que se sentem

pela magnífica missão que escolheram desempenhar, a de vigilantes e delatores de inimigos inventados à medida. Outras razões conduzem à falsa de esperança, certamente, que os impactos desta crise social e económica são extremamente assimétricos. Talvez esteja mais protegido quem trabalhe para o Estado, mesmo que não se vislumbre grande luz ao fundo deste túnel e não se perceba muito bem qual é o limite desse suporte pelas finanças públicas. Menos protegidos estarão os trabalhadores de empresas privadas com contratos permanentes, sobre os quais as ditas empresas têm alguma

Essa incerteza cada vez mais prolongada corrói a esperança, já se sabe: alimenta a desconfiança, recupera o individualismo, apela ao egoísmo, corrói o espírito de comunidade, desperta o pequeno ou o grande fascista mais ou menos adormecido em tantos corações

responsabilidade, certamente mais limitada que a do estado pelas contingências dos ciclos económicos. Haverá grandes empresas que acumularam o suficiente para aguentar este e outros rombos sem problemas de maior e que, ainda assim, estendem a mão ao Estado, salvador afinal, importante afinal, essencial afinal. Mas também há as pequenas e médias empresas que genuinamente não têm como assegurar o pagamento de salários depois de um, dois, três meses, sem produzir. Quantos meses vão ser, afinal? Depois vai-se descendo na escala da vulnerabilidade: os trabalhadores temporários, os independentes, todos os que vivem de actividades artísticas ou das funções técnicas inerentes, todos os que desempenham tarefas essenciais e regulares em processos produtivos, mas sobrevivem na chantagem da informalidade. Todos os desempregados sem horizonte para procurar emprego. Todos os sem-abrigo que não têm casa onde se recolher. Todos os habitantes de casas precárias sobrelotadas na periferia de grandes cidades. Todos os refugiados que fugiram da guerra e foram depositados em campos de concentração às portas da Europa. Toda a gente que em África, na América Latina ou no Sudoeste Asiático, para quem a normalidade do quotidiano já se fazia de carências habitacionais, alimentares, económicas ou de cuidados de saúde. Sabe-se muito pouco sobre se, quando e como sairemos todos desta inusitada experiência. Talvez possamos contar uns com os outros para sair como uma comunidade reforçada e solidária e não como pessoas gananciosas à procura de recuperar à força qualquer coisa tida como perdida, seja lá o que for. Talvez. Vivo por estes dias uma experiência que esperava ser de “pós-covid”. Estava enganado e afinal não é o caso. Desde que apareceram os primeiros casos no Japão, em finais de Janeiro, vivi durante dois meses na região de Hokkaido, a que teve durante muito tempo o maior número de casos no país (foi, entretanto, ultrapassada por Tóquio). Nunca houve confinamentos obrigatórios, mas houve uma severa retração recomendada e generalizadamente aceite, em que só se saía para o essencial. Estive quase sem sair de casa durante um mês e meio. Entretanto mudei para outra região, no sul, onde até agora se registaram apenas 3 casos, todos eles já recuperados. Viajei num avião quase vazio, passando por aeroportos quase vazios. Encontrei uma cidade quase sem casos (só teve 1, para mais de um milhão de habitantes) mas ainda assim muito previdente, com poucas pessoas nas ruas, muitas máscaras, visível contenção na aproximação, ainda mais do que é habitual na cultura japonesa, já de si muito parcimoniosa no contacto físico. Não sei se se justifica, mas vive-se essa incerteza, de só se saber que o assunto não está afinal resolvido. Não é bom viver com medo.


“O poder funciona melhor quando não está ligado à memória.”

COVID-19 PORTUGAL COM 209 MORTES E MAIS DE 9.000 INFECTADOS

DIÁRIO SEM BORDO

Até sempre DIPLOMACIA CÔNSUL DA AUSTRÁLIA PARA HK E MACAU SEM VISTO

P

ORTUGAL registou ontem 209 mortes associadas à covid-19, mais 22 do que na quarta-feira, e 9.034 infectados (mais 783), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). No dia em que assinala um mês desde que o primeiro caso da doença foi detectado em Portugal, o relatório da situação epidemiológica indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (107), seguida da região Centro (55), da região de Lisboa e Vale do Tejo (44) e do Algarve, que ontem registava três mortos. Relativamente a quarta-feira, em que se registavam 187 mortes, ontem observou-se um aumento de 11,8 por cento (mais 22). De acordo com dados da DGS, há 9.034 casos confirmados, mais 783, um aumento de 9,5 por cento face a quarta-feira. Das 209 mortes registadas, 136 tinham mais de 80 anos, 45 tinham idades entre os 70 e os 79 anos, 18 entre os 60 e os 69 anos, oito entre os 50 e os 59 anos e dois óbitos entre os 40 aos 49 anos. Das 9.034 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, a grande maioria (7.992) está a recuperar em casa, 1.042 (mais 316, +43,5 por cento) estão internadas, 240 (mais 10, +4,3 por cento) dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos. Os dados da DGS, que se referem a 79 por cento dos casos confirmados, precisam que Lisboa é o concelho que regista o maior número de casos de infecção pelo coronavírus, seguida do Porto (556 casos), Vila Nova de Gaia (418), Gondomar (373), Maia (361), Matosinhos (347), Braga (280), Valongo (275), Sintra (224) e Ovar (209).

A

D

A janela à porta são doze passos. Amanhã vou poder dar treze. De porta aberta e malas em punho, vou de uma ponta, não para a outra, mas corredor fora, rumo ao ar. “Olá, está a começar o Muholland Drive no canal 12”. Avisa-me, de manhã, o Mário. David Lynch para acordar poderia ser estranho não fossem os tempos que correm. ”Já vi, mas vejo de novo” respondi. Enquanto o filme corria na Lotus, ligam-me dos Serviços de Saúde. “Amanhã é o seu dia de saída. Como se sente?” “Quando sair vai passar pelos nossos funcionários, etc, etc, etc.” Ao mesmo tempo, os telefones do Lynch tocam, uns a seguir aos outros com recados entre mundos e sincronizados com o deste quarto. Vou sair amanhã para um lugar que desconheço. Lá fora vou encontrar um mundo dolorosamente suspenso. Mas dentro de mim, o Mekong continua vigoroso num dia de calor e trovoada, e o sol nasce em Ankor. As

montanhas de chá de Munar estão temperadas com pimenta e caril. O Cristo Rei da cidade maravilhosa dança o samba e a chapada de Minas rouba a vista. Perco o ar lá nas alturas de Bogotá com o meu irmão, e perco-me a mim nas tentações de Cartagena. Corro a cavalo na estepe mongol onde o silêncio tem peso e a aguardente é de leite de égua. Subo à Grande Muralha e salto pelo dorso do dragão que contorna as montanhas até ao infinito. Dou a curva por Chengdu entre pandas, budas gigantes e o bairro tibetano. Descanso com o Yuqi em Yang Shuo, terra dos sonhos. Salto para o capim de Malange e paro em Luanda para dar um beijo à Tânia. Corro além da Taprobana antes de beber um copo de vinho à luz do sol poente no Índico. Como na rua em Hanói e trespasso os buracos que o tempo faz nas montanhas de Ninh Binh com a Andreia. Mergulho na transparência do mar verde de El Nido e ando de bicicleta em Ko Yao Noi. Em Vinales, danço salsa no baile da associação e faço um

mojito matinal para brindar com a Cristina. Perco-me nos labirintos de Yazd e subo aos telhados de Kashar para depois comer romãs e melancia num piquenique, no deserto, a caminho de Isfahan, sempre rodeada da melhor gente. Mais tarde, vejo o Evereste de uma aldeia perdida nos arredores de Katmandu. Está tudo em pausa. Mas tudo lá. A aguardar que o mundo volte a ser qualquer coisa. Entretanto, quero fazer o trilho da montanha, respirar verde, nem que seja dentro de uma nuvem. Quero a minha varanda com a lomba no meio para me desviar dela a caminho do vaso de orégãos cubanos que a Sara me ofereceu. Quero ver as caras todas, ao vivo. A todos, obrigada pela companhia, pelo conforto e pelo afecto. Bem hajam. Até sempre. Macau, 2 de Abril de 2020 M.M.

Habitação económica Sugerido prolongamento do concurso de acesso Chan Ka Leong e Chan Chio I, membros do Conselho para os Assuntos de Habitação Pública, defenderam o prolongamento do prazo de candidaturas para o concurso à habitação pública, devido ao elevado número de candidatos e problemas na

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sexta-feira 3.4.2020

PALAVRA DO DIA

Don DeLillo

entrega de toda a documentação. Chan Chio I defendeu que o Governo deveria alargar o prazo de candidatura até Junho, não só para que haja mais tempo para a candidatura mas também para se evitarem concentrações de pessoas junto ao Instituto

da Habitação (IH). O IH já tinha prolongado o prazo do concurso até ao dia 27 de Abril. Até ao momento foram recebidos 22.778 boletins de candidatura, com as famílias compostas por três ou mais pessoas a constituírem 32 por cento das candidaturas.

cônsul-geral da Austrália para Hong Kong e Macau, Elizabeth Ward, está a encontrar dificuldades para assumir o novo cargo, porque as autoridades de Hong Kong estão a adiar a emissão do visto diplomático. A informação foi avançada ontem pela publicação The Australian Financial Review. Elizabeth Ward foi escolhida para substituir Michaela Browning, que regressou à Austrália a 25 de Fevereiro. No entanto, mais de um mês depois ainda aguarda que lhe seja concedido um visto. Segundo a publicação australiana, apesar de não haver confirmação sobre o motivo do atraso, visto como anormal, as autoridades de Camberra acreditam que se prende com as medidas australianas de prevenção do covid-19, nomeadamente a política de impedir e entrada de cidadãos chineses, incluindo estudantes em instituições do ensino australiano. As medidas não terão impedido Elizabeth Ward de se encontrar com vários sectores australianos residentes em Hong Kong, mas, por enquanto, é Ryan Neelam, vice-cônsul que está a assumir o cargo principal. Ainda de acordo com a The Australian Financial Review, a Austrália não é o único país afectado pelo mesmo problema. O nova cônsul-geral da Nova Zelândia para Hong Kong e Macau também está há várias semanas à espera, depois de o país ter adoptado medidas semelhantes às australianas para evitar a propagação do covid-19. Em ambos os casos, a proibição de entrada de chineses mereceu fortes críticas do Governo Central.


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