DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TERÇA-FEIRA 3 DE MAIO DE 2016 • ANO XV • Nº 3563
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TIAGO ALCÂNTARA
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
hojemacau
MOP$10
JOSÉ DRUMMOND
O melhor é não levantar muito a bolinha ENTREVISTA
COLOANE VAI SER COMIDO
MANIFESTAÇÃO CONTRA EXPORTAÇÃO DE GALGOS PARA MACAU
Abaixo de cão Amanhã uma manifestação em Dublin questionará a venda de galgos a Macau. Entendem os irlandeses que algo de estranho se passa em Macau, no modo como são tratados os animais. A ANIMA suspeita que são usadas drogas e que a fiscalização é uma farsa.
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1.º DE MAIO
IRLANDA
GRANDE PLANO
OPINIÃO O pato não é mau Casamento CARLOS MORAIS JOSÉ
TÂNIA DOS SANTOS
HABITAÇÃO PÚBLICA
Um plano que nada muda PUB
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1º DE MAIO MENOS DE MIL PESSOAS NAS RUAS. DEFESA DE COLOANE DEU SENTIDO À
Chan Kam Meng
PELA LABUTA, COM O CAPITAL
E
RA de manhã na Praça do Tap Seac quando surgiu um “mar vermelho e branco”. Membros da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) mantiveram no local um encontro subordinado ao tema dos direitos dos trabalhadores, abstendo-se de desfilar até à sede do Governo. Chiang Chong Sek, director da FAOM, disse no seu discurso que o desenvolvimento da economia e sociedade de Macau fez “milagres”, mas que o território está a enfrentar problemas e conflitos profundos, tal como a diminuição contínua da proporção da remuneração laboral face ao PIB. “É extremamente necessário melhorar o ambiente de trabalho e a segurança ocupacional de alguns sectores. Há sectores que ainda sofrem restrições de aumento de salário e de promoção por causa da introdução de trabalhadores não residentes (TNR)”, avançou. A FAOM diz que foram cerca de 1200 os membros de sete associações que participaram no encontro, mas a PSP faz as contas de forma diferente e diz que foram apenas 550. Outro responsável da organização, Chan Kam Meng, voltou a frisar a criação de uma Lei Sindical que, diz, “deve avançar o mais rápido possível, mesmo após ter sido reprovada várias vezes na AL”. Chan Kam Meng defende que a melhoria das leis laborais é a única forma de aumentar a protecção dos direitos dos trabalhadores. Da FAOM, também a Associação de Empregados do Ramo de Transporte apelou ao Governo que mantenha o princípio de não introdução de TNR como motoristas profissionais, garantindo esse lugar para os locais. Uma petição nesse sentido foi entregue ao Governo.
DINOSSAUROS E FANTASIAS N
EM mil pessoas se juntaram à habitual manifestação do Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. O número de manifestantes desceu de 1800, no ano passado, para 508 este ano, segundo a PSP. Além de ter sido oferecida tolerância de ponto, pelo Chefe do Executivo, no dia de ontem, o que permitiu um fim-de-semana prolongado a muita gente, no Dia do Trabalhador aconteciam o Sarau Desportivo e Artístico no Estádio do Tap Seac e, na praia de Hac Sá, o festival “Hush!”. O entretenimento ganhou ao activismo: no primeiro evento – que começou às 14h00 – estiveram cerca de três mil pessoas e no segundo mais de duas mil. Para as manifestações, foram destacados 150 agentes policiais.
DINOSSAURO COME-TUDO
Foi do jardim junto à Alameda da Tranquilidade que saiu, na tarde de domingo, o “dinossauro” destruidor da montanha de Coloane. Um “tiranossauro-rex representava o
sector imobiliário e da construção” e avançava sem piedade sobre uma figura humana, uma “Coloane” ferida, quase a morrer. A representação, como explicou Lei Kuok Cheong, subdirector da Associação Juventude Dinâmica, é fácil de interpretar para os mais distraídos: o dinossauro representa a hegemonia e monopólio do sector imobiliário face aos terrenos, que se perdem para os empresários mais poderosos. A Juventude Dinâmica foi a associação que juntou mais pessoas – 200, sobretudo jovens – e caminhou ao lado da Associação Novo Macau e do grupo “Our Land, Our Plan”, apelando ao uso razoável dos terrenos. Como não podia deixar de ser, foram diversas as referências ao projecto de luxo a construir noAlto de Coloane. “O construtor [do projecto na montanha de Coloane] rejeitou publicar o relatório de avaliação ambiental que o Governo aprovou e a obra poderá avançar a qualquer hora. A montanha é preciosa e Co-
MARCHA NEGRA CONTRA A LEI
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dia começou com uma marcha lenta de taxistas – cerca de 140 táxis, segundo a organização, e dois motociclos. A polícia fala em cem motoristas. Organizada pela Federação de Motoristas de Táxi Profissional de Macau, a marcha começou às 10h30 no Centro de Ciência, passou a Ponte Sai Van para dar a volta à Taipa e regressou ao destino: o edifício da Assembleia Legislativa (AL), onde foi entregue uma petição. O motivo continua a ser o novo Regime de Táxis. Au Iat San, porta-voz do grupo, disse aos média que os manifestantes discordam com as novas medidas apresentadas na alteração do Regulamento do Transporte de Passageiros em Automóveis Ligeiros de Aluguer (ou Táxis), que inclui polícias à paisana e a punição de proprietários de táxis quando os taxistas cometerem ilegalidades, entre outros. Os manifestantes dizem que o Governo não consultou opiniões do sector e que as regras “não são justas”, porque estão a pagar todos os motoristas por erros que apenas alguns cometeram. Au Iat San diz que a marcha teve como objectivo fazer o Governo perceber a necessidade de ser gerado consenso e só depois implementadas as novas regras.
HOJE MACAU
HOJE MACAU
GRANDE PLANO
loane é o pulmão da cidade. Se não sairmos para a rua agora, não temos nada para preservar para as próximas gerações. Fazemo-lo, mesmo que não possamos mudar nada”, disse Lei Kuok Cheong. Coloane, representado por uma estátua feita por um artista local, foi carregado por quatro “médicos” com máscaras em forma de pulmão. Tudo porque, como diz Amy Sio, fundadora do “Our Land, Our Plan”, a ilha precisa de salvação urgente. Lei Kuok Cheong recordou que há três anos uma manifestação já solicitava a manutenção dos espaços verdes de Coloane, mas até ao momento “as pessoas não vêem que Coloane esteja a ser protegido”. Há, assegura, “intenção de escavar e desenvolver. E há a autorização do Governo.” O deputado Ng Kuok Cheong, que participou na manifestação em nome individual, juntou-se à Juventude Dinâmica no início do protesto, apelando ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, que dê ordem para que o projecto em Co-
loane - com a altura de cem metros - seja apreciado pelo Conselho do Planeamento Urbanístico. No meio da marcha, encontrámos ainda Ben e Ellen, dois namorados que decidiram, pela primeira vez, passar o feriado a participar no protesto. Ambos consideram que a protecção de Coloane tem a ver com todos os residentes de Macau e que é urgente manter os espaços verdes de Macau porque “são muito poucos”. Chegados à Praia Grande, em direcção à Sede do Governo, o grupo entrou num pequeno conflito com a polícia, porque não puderam continuar a caminhar na estrada como até ali e foram encaminhados para o passeio. Vários manifestantes ficaram irritados e gritaram “desbloqueiam a estrada”, já que era dia de manifestação, mas de nada adiantou. A carta chegou à Sede do Governo, mas via passeio.
E OS OUTROS...
Nas ruas de Macau no 1º de Maio não faltaram também os pais dos
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MANIFESTAÇÃO
HOJE MACAU
Chui Sai On e as “mutações complexas”
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filhos maiores. A Associação da União Familiar manifestou-se a partir do Jardim Triangular, numa marcha que passou pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM onde foi entregue uma carta. O objectivo, que mereceu a entrega e outra carta na Sede do Governo, é sempre o mesmo: a autorização de residência de Macau para os filhos que estão no interior da China.
A Associação de Activismo para a Democracia, liderada por Lee Kin Yun, protestou desde o Jardim do Iao Hon até à Sede do Governo apelando ao combate à corrupção, mais construção de habitação pública, a protecção de trabalhadores locais e o controlo do aumento da inflação. Além das manifestações que foram marcadas com antecedência, mais de cem proprietários
do Pearl Horizon voltaram a manifestar-se. Desta vez, na Praça das Portas do Cerco, onde se sentaram no chão em silêncio solicitando uma reunião com o Governo e a construtora, o Grupo Polytec, para resolver a questão da perda de imóveis pré-comprados por causa da recuperação do lote pelo Executivo. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o presidente da União dos Pro-
prietários do Pearl Horizon, Kou Meng Pok, afirmou que cerca de 200 proprietários que aceitaram a ajuda da empresa para pagar três meses de prestações do imóvel considera que a medida não teve grande efeito, porque a maioria dos proprietários prefere a conclusão da construção do edifício.
Macau Gaming, disse ao HM no mês passado que a manifestação do dia 1 de Maio serviria para testar a capacidade de mobilização de membros do grupo. O teste não terá sido muito positivo. Ieong Man Teng, que afirmou ao HM que “voltou a ser” líder do grupo, sem querer explicar mais, assumiu que “muito menos trabalhadores de Jogo querem sair à rua, porque a economia já não está boa”. Alguns, diz mesmo, “até pediram ao grupo para não se manifestar,
por recearem a possibilidade de que o proteste afectasse o seu trabalho”. “As receitas a descer” foi também a justificação encontrada pela Love Macau para a pouca adesão. A Associação de Empregados das Empresas de Jogo, da FAOM, apelou ao Governo a implementação “de forma efectiva” do Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo, criando um ambiente de trabalho sem fumo, e ainda que resolva o problema de sobreposição de férias anuais com feriados obrigatórios.
Flora Fong (com Joana Freitas) flora.fong@hojemacau.com.mo
ELA ocasião do 1º de Maio, Chui Sai On, Chefe do Executivo, assumiu que actualmente Macau vive uma fase de “mutações complexas da conjuntura interna e externa”. “O desenvolvimento da economia mundial regista uma recuperação lenta, sem perspectivas de dinâmica e claridade. A pátria encontra-se na fase crucial da política de abertura e reforma. Perante o novo normal do seu desenvolvimento económico, e considerando a coexistência dos velhos problemas e novos desafios, a pressão do declínio económico tem vindo a ser elevada”, argumentou o Chefe do Executivo, durante um discurso num encontro com a Federação das Associações dos Operários (FAOM). Chui Sai On explica que é preciso “enfrentar o futuro com o sentido de alerta e espírito prudentemente optimista”, visto que Macau sofre um aumento de “factores de risco e de incerteza”, devido à fase instável da economia do território. “Estamos empenhados na promoção do ajustamento da estrutura económica e da diversificação da estrutura do mercado de emprego para proporcionar aos cidadãos mais oportunidades de emprego. Empenhamo-nos no aperfeiçoamento de legislações complementares relativas às relações de trabalho, na optimização do mecanismo de gestão de importação de trabalhadores não residentes, no combate ao trabalho ilegal, na protecção dos direitos e interesses legais dos trabalhadores, na aceleração da construção de mecanismo eficiente de longo prazo para a educação e na formação de talentos”, garantiu o Chefe do Executivo. F.A.
QUEM TEM MEDO DO JOGO MAU?
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OI a partir do Jardim do Iao Hon que começou a marcha da Associação Love Macau, do grupo Forefront of The Macau Gaming e da Nova Associação dos Direitos de Trabalhadores da Indústria de Jogo. Com destino à Sede do Governo, os manifestantes apelavam à diminuição do número de trabalhadores não residentes (TNR), à construção de mais habitação pública e à melhoria da situação de conluio entre o Governo e empresários, que foi apontada pelo
Comissariado contra a Corrupção. A proibição total de fumo nos casinos, as horas extra sem pagamentos e os salários foram outras reivindicações, que não tiveram, contudo, muitos apoiantes. A manifestação do sector do Jogo, habitualmente uma das maiores, foi notoriamente mais fraca: quase uma centena de pessoas se juntaram ao protesto, mas da parte da Forefront eram menos de 50. Recorde-se que Lei Kuok Keong, um dos líderes da Forefront of The
DSAL GARANTE REVISÃO À LEGISLAÇÃO LABORAL
Com o mote da comemorações do 1º de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), garantiu, em comunicado, que irá continuar “a acompanhar os trabalhos de produção e revisão legislativa no âmbito laboral”, passando pela recolha das opiniões dos diversos sectores. Mais inspecções preventivas e sessões de esclarecimento estão prometidas pela direcção.
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TIAGO ALCÂNTARA
POLÍTICA
CCP BAIXOS SALÁRIOS NO CONSULADO “DIFICULTAM” A VIDA A FUNCIONÁRIOS E RESIDENTES
Árvore quase sem patacas O orçamento do Consulado continua a dificultar a vida aos funcionários, que sofrem com baixos salários e alto custo de vida, dizem os conselheiros do CCP
O
S conselheiros das Comunidades Portuguesas de Macau voltaram a alertar para os baixos salários dos funcionários do Consulado de Portugal na RAEM em relação ao custo de vida local, considerando que dificultam a contratação de pessoal e prejudicam o atendimento aos emigrantes. Em declarações à agência Lusa à margem da reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que decorreu esta semana em Lisboa, o conselheiro José Pereira Coutinho referiu que, “dos últimos cinco” funcionários que o Consulado recentemente contratou “quatro já foram embora e o que resta também tem os dias contados”, na medida em que os salários praticados são extremamente baixos.
“Com os salários praticados não se vai de maneira nenhuma criar estabilidade ao nível dos recursos humanos no Consulado de Portugal em Macau, pelo contrário, desestabiliza e obriga à repetição dos procedimentos burocráticos para a admissão de funcionários”, disse. A situação não é nova e já foi alvo de justificação da parte do
Cônsul Vítor Sereno, mas Pereira Coutinho frisa que a manter-se assim, cria instabilidade nos recursos humanos e afecta os serviços consulares. “As pessoas não têm mãos a medir com o volume de trabalho que têm, principalmente no Registo Civil e na resolução das marcações para renovação do cartão de cidadão e de passaportes”, disse.
“Macau tem neste momento uma falta gritante de tradutores bilingues em Chinês e Português e seria interessante se Portugal pudesse formar jovens nesta área” PEREIRA COUTINHO CONSELHEIRO DO CCP
ANIMAIS PROTESTO NO TAP SEAC JUNTOU CERCA DE MIL PESSOAS
Cerca de mil pessoas levaram os seus animais para a manifestação organizada no passado sábado, 30 de Abril, pela Associação de Protecção dos Animais Abandonados de Macau (APAAM). À TDM, a presidente da associação, Yoko Choi, disse que o protesto teve como objectivo “pressionar e relembrar o Governo para aprovar a proposta de lei de protecção dos animais o mais depressa possível”. “Todos os dias recebemos chamadas de pessoas a denunciar crimes de maus-tratos de animais. Se não houver nenhuma lei não conseguimos ajudar”, disse Yoko Choi. À mesma hora, em Hong Kong e Taiwan, o mesmo mote levou milhares às ruas.
Também a conselheira Rita Santos referiu que a falta de pessoal no Consulado dificulta a vida aos emigrantes e deu como exemplo os pedidos de registo de nascimento, que podem demorar “um ou dois anos”. “Já fomos sensibilizar o Secretário de Estado [das Comunidades] para olhar Macau de outra forma porque temos uma comunidade de 140 mil pessoas em Macau e mais 40 mil em Hong Kong, muitos deles não dominam a Língua Portuguesa e este é um trabalho a dobrar para o Consulado se não houver um número de pessoal adequado”, referiu.
BILINGUES PRECISAM-SE
Pereira Coutinho referiu que “há dificuldades estruturantes porque cada vez mais é necessário o conhecimento das línguas oficiais, o que dificulta a [vinda] de portugueses” para território. Mas o também deputado deixou no ar uma sugestão: “Macau tem neste momento uma falta gritante de tradutores bilingues em Chinês e Português e seria interessante se Portugal pudesse formar jovens nesta área”, acrescentou. Rita Santos também destacou a necessidade de formar bilingues e de fomentar a utilização da Língua Portuguesa em Macau. “É preciso incentivar nas escolas privadas e nas escolas públicas o ensino da Língua Portuguesa a partir da escola primária, porque para falar bem o português é preciso começar desde criança”, disse, referindo que os conselheiros estão a sensibilizar o Governo local nesse sentido. Pereira Coutinho defendeu ainda que o turismo de chineses para Portugal deve ser potenciado, nomeadamente com a criação de “rotas aéreas directas entre as cidades chinesas e Lisboa, Porto e Faro”. LUSA/HM
Questionado sobre se há muitos portugueses a emigrar para Macau,
CENTRO PRODUTOS ALIMENTARES IPIM PROCURA FORNECEDORES NO BRASIL
Uma delegação do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) encontra-se no Brasil numa visita oficial que irá durar até sábado. Segundo um comunicado, um dos objectivos desta viagem é a captação de mais fornecedores para o Centro de Exposição dos Produtos Alimentares de Língua Portuguesa, para “introduzir um maior número de produtos alimentares e bebidas” produzidos no Brasil.
5 POLÍTICA
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Plano Quinquenal PLANEAMENTO DE HABITAÇÃO PÚBLICA MANTÉM-SE
Raimundo do Rosário garantiu que a implementação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM não vai afectar as medidas já criadas no âmbito da habitação pública
É
certo que ainda está em processo de consulta pública, mas o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM não deverá alterar as políticas já existentes ao nível da habitação pública. Quem o diz é Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes. Citado por um comunicado oficial, Raimundo do Rosário referiu que o Plano Quinquenal, pensado para os próximos cinco anos, “não afectará o planeamento da habitação pública que está a decorrer”, sendo que “o Governo continuará a desempenhar bem as funções no âmbito da construção e planeamento” deste tipo de habitação. Raimundo do Rosário considera que “o Governo necessita de um planeamento sobre o desenvolvimento urbanístico, para que, deste modo, conheça melhor a situação da procura de ha-
GCS
Tudo perfeitamente normal
o nível da segurança, o Plano de Desenvolvimento Quinquenal visa o estabelecimento de meios electrónicos para o trabalho das Forças de Segurança. O Governo prevê que este ano avance “a fase inicial da plataforma de monitorização digital”, estando a ser planeada a criação de um “mecanismo de comunicação rápida e eficaz, através de equipamentos de informação electrónica”.
Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, referiu, citado pelo jornal Ou Mun, que vai rever o processo de autorização das licenças atribuídas às casas de penhores, prometendo ouvir as sugestões da sociedade sobre o processo. Lionel Leong diz que vai acompanhar o mais recente caso que está a ser investigado pela Polícia Judiciária (PJ) e que surgiu depois de mais de 40 residentes terem feito queixa por, alegadamente, terem sido alvo de um desvio de mais de 35 milhões de dólares de Hong Kong. “Neste momento não existe uma exigência especial para o
MAGISTRATURA 297 FORMANDOS ATÉ 2017
N
o âmbito do Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM o Governo pretende “fomentar o desenvolvimento do sistema jurídico e do sistema judicial”, por forma a “aumentar a qualidade dos profissionais da área jurídica”. Segundo um comunicado, o Governo quer ter até ao próximo ano um total de 297 magistrados e profissionais de justiça em formação, prometendo em cinco anos “aperfeiçoar o mecanismo de formação judiciária”.
Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Governo quer atribuir licenças especiais a casas de penhores
O
A
bitação, nos próximos cinco ou dez anos”. No documento de consulta relativo ao Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM são poucas as novidades avançadas nesta área. O Governo promete “empenhar-se em planear o aumento dos recursos de habitação pública de forma a reforçar as garantias básicas de habitação dos residentes”. Chui Sai On, Chefe do Executivo, prometeu concluir no próximo ano o relatório final do estudo sobre a procura de habitação pública. Também em 2017 o Governo quer estabelecer “o processo de pedido de habitação social por via electrónica”. O Chefe do Executivo quer ainda atribuir 3800 apartamentos de habitação social até 2018. Quanto à revisão da Lei de Habitação Económica, actualmente em curso, deverá ficar concluída no 2º trimestre de 2017.
Sistema anti-burlas
sector e as casas de penhores podem abrir portas apenas com uma licença comercial. Por isso o Governo vai procurar reforçar essas exigências, criando uma licença para o sector. Se a sociedade considerar que este tem uma grande ligação com a economia e quiser uma maior fiscalização o Governo terá isso em consideração”, defendeu o Secretário. “Todas as acções de recolha de depósitos têm de obter uma autorização da Autoridade Monetária e Cambial (AMCM) e deve ficar esclarecido se se tratou de empréstimos pessoais ou não”, acrescentou Lionel Leong.
POLÍCIA ELECTRÓNICA JÁ ESTE ANO
A PJ já veio dizer em comunicado que recebeu mais de 40 denúncias que dizem respeito a uma burla alegadamente levada a cabo por quatro casas de penhores, situadas na zona da ZAPE e de dois proprietários. Com juros de 12% ao ano, o montante envolvido ultrapassará os 57 milhões de dólares de Hong Kong. Numa declaração publicada no jornal Ou Mun, a Associação Geral dos Penhoristas de Macau já pediu desculpas pelo “mau comportamento” de um dos novos membros, que entretanto foi excluído. Os proprietários fecharam portas e estão incontactáveis. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
GOVERNO ESTUDA AUTORIZAÇÃO PELO IC DE ESPECTÁCULOS DE RUA
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Governo vai analisar a possibilidade de ser o Instituto Cultural (IC) a autorizar os espectáculos de rua, em vez de manter o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) com essas funções. Segundo a TDM, a medida foi discutida no último Conselho Consultivo da Cultura. Um comunicado oficial indica que o IC “está a estudar a possibilidade de concretização de actuações de rua”, sendo que essa implementação “tem um significado importante, pois pode fornecer mais oportunidades de actuação para o sector das artes”. Para
além disso, “pode em certa medida atender às crescentes necessidades da vida cultural da sociedade”. Na reunião do Conselho foi discutida a proposta sobre actuações de rua, incluindo os critérios de avaliação, o mecanismo de avaliação, os elementos de avaliação, o processo de candidatura e os locais de actuações recomendados preliminarmente e o período de actuações recomendado. “A maioria dos membros apoia o plano e concorda que as actuações de rua podem ajudar a apresentação das características da cidade”, lê-se ainda.
6 SOCIEDADE
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Galgos ANIMA QUESTIONA GOVERNO SOBRE DOPPING E SUSPEITA DE ANÁLISES DO CANÍDROMO
Amanhã há uma manifestação na Irlanda para impedir a venda de galgos a Macau. Porque há muitas dúvidas sobre o modo como os cães são tratados. Pelo caminho, fica a imagem internacional da RAEM
TIAGO ALCÂNTARA
Amanhã é um dia de cão
É
amanhã o dia da manifestação pacífica pelo fim da exportação de galgos da Irlanda para Macau. Um dia antes do protesto que acontece em Dublin, frente ao Ministério da Agricultura, o HM sabe que a ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais pediu informações ao Governo sobre o eventual uso de drogas nestes cães. Como o HM já tinha avançado, organizações de defesa dos animais pediram ao governo irlandês para proibir a exportação de galgos para Macau, depois da Austrália ter bloqueado a sua vinda. As razões são as mesmas: associações locais de protecção animal, tal como a ANIMA, acusam o Canídromo de maus tratos e de abater galgos que perdem três corridas seguidas, sem que tenham qualquer programa de adopção. Uma cadeia de televisão australiana chegou mesmo a entrar com uma câmara oculta onde demonstra espaços com poucas condições. Depois de uma petição – onde os activistas irlandeses apontaram o dedo ao Departamento de Agricultura do país que acusam de estar a fechar os olhos a uma prática “ilegal” - , tal como o HM avançou no início de Abril, seguiu-se o anúncio do encontro. “Eles vetaram a exportação de galgos para a China em 2011, tendo em conta práticas de bem-estar animal, e agora, em 2016, estão a fechar os olhos, dizendo que não há qualquer proibição na exportação destes animais. A demonstração serve para realçar a exportação horrenda de galgos de corrida para o infame Canídromo de Macau, onde mais de 30 cães são mortos mensalmente”, apontava a Irish Council Agains Blood Sports. O encontro vai acontecer em frente ao Departamento de Agri-
cultura irlandês entre o 12h30 e as 14h30. No dia 28, conforme a agência Lusa, uma outra carta voltou a pedir o mesmo. Esta dirigida ao ministro da Agricultura, Simon Coveny, e assinada pela SPCA, The Irish Blue Cross e a Dogs Trust. Dizem-se “seriamente preocupadas e desapontadas” com as notícias confirmadas de que foram vendidos galgos da Irlanda para o Canídromo – nove, segundo as últimas contas que o HM conseguiu encontrar na imprensa irlandesa.
E A DROGA?
Mas há outras perguntas por responder e estas foram feitas directamente ao Governo de Macau: a ANIMA quis saber como é que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) controla o uso de dopping nos animais. “Temos sérias dúvidas de que muitos desses animais não corram drogados. Basta uma simples leitura da legislação para se perceber que isso acontece desde o início. É prática que deve continuar a existir até porque o Canídromo compete com donos dos animais que os compram em hasta pública, que não são autorizados a entrar nas próprias instalações onde se encontram os seus [cães]”, começa por apontar a ANIMA. “Qual é de facto a supervisão que se
faz relativamente a este assunto? Pela informação que temos, essa supervisão não cabe ao IACM, mas sim à DICJ – mas sendo esta um organismo regulador de jogo não possui veterinário nenhum.” A ANIMA, na carta assinada pelo presidente Albano Martins, questiona directamente a DICJ: será o próprio Canídromo a fazer estas análises? Onde é que elas são guardadas? Onde são feitas? Este documento, datado de Dezembro do ano passado, recebeu uma resposta pouco esclarecedora, datada de Março: “Diariamente são recolhidas urinas de alguns galgos participantes, para prevenir que os mesmos [sejam] drogados. Uns são [examinados] por forma aleatória e outros por terem actuado irracionalmente”, pode ler-se na carta assinada por Paulo Chan, director da DICJ. “Todas as amostras são devidamente seladas com material próprio e testadas por laboratório qualificado. Posteriormente, a concessionária é obrigada a submeter os relatórios das análises à DICJ para os devidos efeitos.” Para a ANIMA não há dúvidas: a resposta indica que é o Canídromo. “Somos obrigados a concluir, de forma perigosa, que tal processo é conduzido pelo Canídromo, o que, convenhamos, não garante qualquer neutralidade e isenção a todo o processo de supervisão. Até
porque o Canídromo é competidor ao lado de outros animais e o único com acesso a canis onde eles se encontram.” A organização relembra ainda que não se percebe sequer quem faz a recolha.
MAIS NO AR
O HM tentou perceber junto da DICJ esta questão, mas devido à hora avançada não foi possível obter resposta. Na carta a que o HM teve acesso, a ANIMA levanta novamente questões que já foram debatidas, mas que nunca viram resposta: onde está Brooklin, a cara da campanha para salvar os galgos do Canídromo? Segundo a organização, estará “inactivo”, num canil e só não foi abatido devido à pressão internacional. E onde está City Hunter, o galgo ferido recentemente, revendido depois disso e que foi pedido pela família adoptante do seu irmão que estava disponível a pagar pela adopção, só para evitar que o animal sofra? E como é que a DICJ controla as eventuais apostas ilegais na China continental, se o Canídromo se continua a manter em pé mesmo com todos os prejuízos financeiros? Por que razão o Canídromo paga menos impostos do que todas as outras operadoras de jogo desde há anos a fio? Como é que o Canídromo compra e vende animais
sem licença para tal? E como é que se vai continuar a permitir uma pista com animais na zona com maior densidade populacional no mundo? Outro dos problemas apontados é a falta de um sistema de adopção: apenas quatro animais o foram. Todos por pressão das associações locais. E apenas um foi adoptado através do Canídromo, tendo sido, segundo acusa a ANIMA, o próprio veterinário da Yat Yuen a adoptá-lo “como forma de atirar areia para os olhos”. Os outros três foram adoptados graças a “esforços do IACM”, que fez um trabalho “que era do Canídromo”. A falta deste sistema leva a organização a questionar-se como é que há espaço para tantos animais novos, como estes que agora chegam ao território da Irlanda e que vão motivar o encontro de amanhã. O ano passado, o Governo decidiu prolongar até Dezembro de 2016 a licença para a exploração do Canídromo, depois de pedir um estudo sobre esta matéria e porque “não se podia fechar o local de um dia para o outro”, como disse Lionel Leong, Secretário para a Ecomomia e Finanças. A ANIMA diz que ainda não foi inquirida sobre o estudo, cujo resultado deve ser conhecido dentro de meses. Joana Freitas
Joana.freitas@hojemacau.com.mo
7 MAIS DE CEM ILEGAIS EM TRÊS MESES Segundo um relatório divulgado pelo Corpo da Polícia de Segurança Pública foram detectados 106 trabalhadores ilegais no primeiro trimestre deste ano. O resultado é fruto de operações de fiscalização em terrenos de obras de construção civil, residências e estabelecimentos comerciais e industriais, num total de 1175 locais vistoriados.
10%
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RECEITAS DOS CASINOS DESCEM
Os casinos fecharam Abril com receitas de 17.341 milhões de patacas, uma queda de 9,5% face ao período homólogo do ano passado, indicam dados oficiais. Segundo a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), em termos acumulados, os casinos registaram, nos primeiros quatro meses do ano, receitas de 73.517 milhões de patacas, menos 12,4%. Abril, mês que apresenta o pior desempenho de 2016, sofreu, no entanto, a segunda menor queda percentual desde o início do ano em termos anuais homólogos, a seguir a Fevereiro, altura em que as receitas dos casinos de Macau diminuíram apenas 0,1%. As receitas do jogo encontram-se em queda desde Junho de 2014, com Abril a figurar como o 23.º mês consecutivo de quedas homólogas. Macau contava, no final do primeiro trimestre do ano, com 6087 mesas de jogo e 14.297 slot-machines distribuídas por um universo de 36 casinos.
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A tese não é tudo
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MA avaria no sistema informático das fronteiras obrigou a que milhares de pessoas ficassem retidas sem conseguir passar as Portas do Cerco no passado sábado. A confusão instalou-se, com a chuva a piorar a situação, que durou cerca de duas horas. A PSP já pediu desculpa, mas também admitiu a ineficácia do sistema que deveria ter ajudado. “O plano de contingência não foi eficaz e vamos encaminhar esta questão ao nosso fornecedor para analisar o que pode ser melhorado”, disse Ngou Kuok Ung, das Forças de Segurança, à TDM. O problema registou-se no servidor e afectou todas as fronteiras, tendo afectado especialmente as Portas do Cerco, a que tem mais movimento. Ao Jornal do Cidadão, Ng Kuok Wa, segundo-comandante da PSP, negou que o problema do servidor tenha sido causado por um ataque de hackers e disse que o caso é “muito raro”. Nunca aconteceu um acidente assim, disse, e o plano de backup também não funcionou. A PSP negou ainda o rumor de que muitas pessoas teriam passado a fronteira sem apresentar documentação e explicou que, nas Portas do Cerco, deixou parte das pessoas passarem as fronteiras, fazendo apenas uma verificação mais à frente, num posto para o efeito, de forma a evitar que ficassem à chuva cá fora, até onde as filas se estendiam. Agnes Lam, professora da Universidade de Macau (UM), criticou o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) por “não ter feito nada” durante o caso. A situação aconteceu na véspera do feriado, quando muitas pessoas se preparavam para sair e entrar em Macau. Só no feriado do 1º de Maio, as autoridades registaram, até às 17h00 um movimento de 316.335 pessoas nas fronteiras de Macau. As Portas do Cerco foram a fronteira mais utilizada: só por aí entraram um total de 127.127 pessoas e saíram cerca de 102 mil. T.C. (revisto por J.F.)
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Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) assegurou que vai implementar uma medida para garantir a qualidade dos cursos de mestrado e doutoramento com a finalidade de pedagogia que não exigem tese final. Durante a semana passada, o Governo explicou que, com a nova proposta para a Lei de Ensino Superior, Macau irá receber mestrados e doutoramentos que não vão exigir tese final. Medida que só irá contemplar cursos que tenham o Ensino como finalidade. Sou Chio Fai, coordenador do GAES, explicou ao Jornal do Cidadão que o Governo vai apoiar todas as instituições de ensino superior que queiram implementar esta nova opção. O coordenador indica que o Executivo, juntamente com as escolas, vai implementar uma medida para que, mesmo sem tese, seja garantida a qualidade do ensino e, por sua vez, da aprendizagem. “Mesmo sem tese, os alunos precisam de fazer estágios, relatórios dos estágios e outros trabalhos mais elaborados. Estes trabalhos têm diferentes objectivos consoante a finalidade do
Fica tudo aqui PSP admite ineficácia depois de avaria nas fronteiras
GAES
O Governo garante que a falta de tese para alguns mestrados e doutoramentos não vai diminuir a qualidade Sou Chio Fai explica que as exigências de ensino vão ser rigorosas
SOCIEDADE
próprio alunos. Só depois disto é que podem obter o seu certificado”, explicou. Sou Chio Fai diz ainda que todas as instituições interessadas terão de ter a autorização do Governo para implementar este tipo de curso. Mas a última palavra não é apenas do Governo - estas instituições serão avaliadas por associações internacionais
dedicadas ao ensino, que, por sua vez, irão avaliar a qualidade dos cursos. Sou Chio Fai explicou ainda aos jornalistas que esta opção foi introduzida na proposta de lei para que Macau “consiga acompanhar a tendência de ensino mundial”. Esta medida, apontou, vem trazer também maior competitividade às próprias
instituições de ensino. “Neste momento em Hong Kong e nos Estados Unidos da América já existem cursos sem tese final, principalmente nos cargos de Educação, Direito e Engenharia”, acrescentou, frisando que a qualidade dos mesmos nunca esteve em causa. Tomás Chio (revisto por F.A.) info@hojemacau.com.mo
8 SOCIEDADE
hoje macau terça-feira 3.5.2016
Pearl Horizon GOVERNO DIZ QUE ALERTOU PARA RISCOS DE INVESTIMENTO
O Governo garante que alertou para os riscos do investimento no edifício Pearl Horizon e afirma que está a aguardar a decisão do tribunal para agir em relação ao terreno. É a resposta a uma declaração dos moradores publicada no jornal Ou Mun
À espera do tribunal
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Executivo assegura que tinha alertado os investidores do Pearl Horizon para estarem atentos aos riscos. A resposta surge depois de uma declaração publicada no jornal Ou Mun, no passado dia 29 de Abril, onde os compradores acusaram o Governo de “não ter assumido com empenho a responsabilidade de proteger a vida, os bens e a segurança dos cidadãos”. A mesma declaração acusa ainda o Executivo de “não ter alertado oportunamente os cidadãos sobre os
“R
eventuais riscos aquando da venda das fracções autónomas de edifícios em construção”, tendo permitido a cobrança do imposto de selo. Num comunicado, o Governo assume que esta
EFORÇAR o apoio às pequenas e médias empresas é de extrema importância para a manutenção da taxa de emprego da população de Macau”. As palavras são do Governo que, através de um comunicado, explica que nos próximo cinco anos a Administração vai reforçar o apoio às pequenas e médias empresas (PME), “lançando de forma precisa medidas de apoio de modo a baixar os custos operacionais e, com isto, aliviar a pressão sentida por este sector”. Com esta ajuda, indica o Executivo, será ainda possível criar novas oportunidades para manter as pequenas lojas tradicionais e típicas, “com as suas características particulares, do Centro Histórico de Macau e apoiá-las a melhorar o seu ambiente de operação para novas oportunidades de negócios”.
declaração “em nada corresponde à verdade” e que a mesma “causa efeitos nefastos sérios à política de administração segundo a lei por parte do Governo e à compreensão oportuna
e correcta da verdade dos factos pela população”. “Antes mesmo da venda das fracções autónomas de edifícios em construção pelo promotor do empreendimento as autoridades competentes
Pequenos graúdos Reforço do apoio a PME’s ajudará a manter lojas tradicionais
Para isso, o Governo pretende lançar, nos próximo cinco anos, dois a três programas para “a recriação da marca de 15 empresas locais de renome”. “Concretizaremos o planeamento da construção das novas zonas de aterro para a reserva de espaços que permitam o desenvolvimento das pequenas e médias empresas”, garante ainda a Administração. No que ao apoio geral diz respeito, uma das decisões passa pela elaboração de um plano de apoio e o Governo explica ainda que vai fornecer “uma série de serviços” a estas empresas para que possam aumentar “a qualidade de gestão”.
Será ainda reforçada a função do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, explica o Executivo. As empresas, garante o Governo, serão apoiadas no sentido de providenciarem um ambiente de trabalho seguro e saudável e “também obterão apoio na resolução da carência de recursos humanos”. Às que decidirem optar por modelos operacionais que melhorem a qualidade dos seus serviços podem ser atribuídos apoios adicionais. A promoção do comércio electrónico é ainda um dos pontos a explorar. O Governo acredita que é preciso prestar apoio às empresas na área do comércio
tinham alertado várias vezes sobre a realidade da situação e os possíveis riscos que o projecto envolvia”, pode ainda ler-se. Contudo, e por estar em causa uma economia de mercado, o Governo frisa que “não tinha competência para impedir o promotor do empreendimento (Grupo Polytec) de continuar a aproveitar o terreno e a vender as fracções autónomas, nem de poder proibir as pessoas de comprarem e venderem livremente estas fracções, incluindo as transacções intermediárias e a compra e venda em segunda mão”. Quanto à cobrança do imposto de selo, o Executivo garante que “tem a atribuição legal para efectuar a cobrança das taxas correspondentes sobre todos os documentos e actos de transacções sujeitos ao imposto de selo”. “Caso os contratos-promessa de compra a venda vierem a ser declarados caducos ou rescindidos, irá ser efectuada a devolução das quantias pagas a título do imposto de selo e os emolumentos do registo predial”, promete o Governo na sua resposta.
À ESPERA DO TRIBUNAL
Mui t as m ani f est ações depois, os promitentes-
electrónico para que possam “desenvolver novas oportunidades e aumentar a competitividade”, reforçando a cooperação regional nesta área e criando uma nova força para o desenvolvimento económico. Tal como já tinha referido anteriormente, o Governo quer ainda que as operadoras de Jogo recorram às PME locais para a aquisição dos seus produtos. “É necessário aumentar a percentagem de produtos e serviços locais adquiridos pelas concessionárias de Jogo, e ao mesmo tempo, aumentar também a percentagem do número de empresas locais fornecedoras das concessionárias do Jogo”, indica. As pequenas e médias empresas em Macau representam mais de 90% do total das empresas e os seus trabalhadores representam 40% do total da população activa. F.A.
-compradores de apartamentos do Pearl Horizon continuam a não estar satisfeitos com o decorrer de um processo que culminou na recuperação do terreno onde estava a ser construído o edifício pelo Governo e a suspensão da construção. O Grupo Polytec recorreu da decisão do Governo de recuperar o terreno para a Administração. O Executivo garante que “é obrigado a actuar em cumprimento da Lei de Terras” e que nada mais pode fazer se não esperar pela sentença do tribunal. “Uma vez que o promotor do empreendimento já interpôs recurso para impugnar a declaração de caducidade da concessão do terreno pelo Governo, o processo está neste momento nas mãos dos órgãos judiciais. O Governo irá decidir sobre o tratamento posterior dos problemas do terreno em cumprimento da sentença do tribunal e dentro do âmbito do princípio da legalidade, investir todos os esforços para salvaguardar os interesses legítimos dos proprietários.” Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
MICE SECTOR RECEBEU MENOS SUBSÍDIOS FACE A 2012
Em 2012 os subsídios do Governo atribuídos ao sector das convenções e exposições representavam 71,5%, enquanto que no ano passado representavam 54,4%. O Governo fala destes números para mostrar “uma dinâmica de mercado com uma tendência de crescimento cada vez mais nítida”. O Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM prevê que Macau possa ser a sede de “reuniões internacionais de alto perfil”, sendo este o “caminho para a ampliação da área para eventos e o fortalecimento das marcas com especificidades locais”. O Executivo pretende, nos próximos anos, expandir a área total dedicada aos eventos, de 180 mil m2 para 210 mil m2. “Em cinco anos a quantidade de marcas locais participantes nas feiras e eventos também deve superar as 11 registadas em 2015”, lê-se no comunicado.
9 hoje macau terça-feira 3.5.2016
SOCIEDADE
Saúde GOVERNO MANTÉM VALES E ESPERA GASTAR MAIS DE 350 MILHÕES DE PATACAS
Olá de novo, senhor doutor
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MPLEMENTADO no ano de 2009, o Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde vai manter-se mais uma vez este ano. É o que explica o Governo num comunicado à imprensa, onde prevê, feitas as contas finais, um gasto de 396 milhões de patacas com a medida. O programa pretende “beneficiar uma única vez os residentes”, sendo-lhes atribuídas 600 patacas para utilização em diversas clínicas privadas que adiram à política. “O projecto estipula que os vales de saúde só podem ser utilizados pelos beneficiários até ao dia 31 de Agosto de 2017. Os vales de saúde são transmissíveis, uma única vez, a favor do cônjuge, ascendente ou descendente de 1.º grau em linha recta do beneficiário que seja titular do BIR Permanente da RAEM”, explica o comunicado. Os vales de saúde podem ser usados em todas as unidades privadas de saúde autorizadas para o programa, não sendo aplicáveis nas entidades médicas públicas ou unidades de saúde privadas subsidiadas pelo Governo.
CONTAS NA MESA
No programa para o ano de 2014, 82% da população procedeu à impressão dos vales de saúde,
TIAGO ALCÂNTARA
O programa de vales de saúde vai de vento em popa. O Governo conta gastar mais de 350 milhões de patacas para 2015 a 2016, valores que não fogem da realidade de anos anteriores. Nos últimos seis anos o número de queixas contra clínicas caiu em mais de 80%
sendo que quase 90% dos vales impressos foram recolhidos. Dados divulgados pelo Governo explicam que o montante líquido atribuído ficou-se nas 272 milhões de pa-
tacas. Do programa participaram 748 unidades, envolvendo 1267 médicos. Este ano, o Governo explica que até 14 de Abril de 2016 –
MENOS QUEIXAS CONTRA MÉDICOS
A
presentados os dados dos últimos seis anos, o Governo explica que as queixas contra os médicos baixaram de 50, em 2009, para três no ano passado, uma queda de 92% quando comprado com os últimos dados de 2008. No total foram registadas 118 queixas contra farmácias chinesas, sendo que em 2009 foram apresentadas 48 queixas, contrastando com quatro durante o ano passado. O número de queixas levantadas contra as unidades privadas de saúde também diminuiu, de 98 casos no ano de 2009 para sete casos em 2015, uma descida de 87,8%. O Governo indica ainda que durante a execução do programa no ano passado sete unidades privadas de saúde receberam advertência escrita por infracção.
sendo que o programa ainda está em curso até 31 de Agosto – mais de 471 mil pessoas procederam à impressão dos vales de saúde, atingindo uma taxa de 72,7% da população beneficiária. Cerca de três milhões de vales de saúde foram recolhidos, representando 54% da quantidade dos vales de saúde impressos. Mais do que no ano anterior, o programa envolve 1286 médicos, mas menos unidades de saúde, visto que este ano só participam 737 instalações médicas. Até ao momento foram atribuídos 148 milhões de patacas. Filipa Araújo
Filipa.araujo@hojemacau.com
MAIS CARROS, MAIS TELEMÓVEIS
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ACAU tinha no final do primeiro trimestre cerca de 249 mil veículos em circulação, mais 3% do que no período homólogo de 2015, dos quais quatro mil com matrículas novas, indicam dados oficiais. De acordo com as estatísticas relativas aos transportes e comunica-
ções, no final de Março havia em Macau 249.215 veículos motorizados em circulação, dos quais 52% eram motociclos e 41,42% eram veículos ligeiros particulares, num território com 421,3 quilómetros de estradas. No primeiro trimestre, foram atribuídas 4001
novas matrículas, menos 27,6% face ao ano anterior. A semana passada, o Governo anunciou a intenção de controlar o aumento anual de veículos no território, na ordem dos 3,5 a 3,8%, de acordo com o primeiro Plano Quinquenal elaborado para o território.
Quanto às telecomunicações, no final de Março, havia 1,88 milhões de números de telemóvel activos em Macau, mais 1,9% do que no mesmo período do ano passado. O número de utentes de telemóvel traduz quase o triplo do número de residentes de Macau e é justificado
com os números pré-pagos que são utilizados por visitantes e turistas, mas que ficam activos durante seis meses. Entre os mais de 646 mil residentes de Macau, 143.488 tinham telefone fixo, o que representa uma queda de 5,6% em termos anuais.
ECONOMIA QUEBRA NO COMÉRCIO EXTERNO
O comércio externo de mercadorias de Macau atingiu 20 mil milhões de patacas nos primeiros três meses deste ano, registando uma queda de 19,7%, em termos anuais homólogos. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Macau exportou bens avaliados em 2,70 mil milhões de patacas – menos 0,2% face ao primeiro trimestre de 2015 – e importou mercadorias no valor de 17,30 mil milhões de patacas, menos 22,1% face ao período homólogo do ano passado. Em termos de destino, nos primeiros três meses deste ano aumentaram as exportações para a China, que atingiram os 400 milhões de patacas ou mais 3,5%. Em contrapartida, diminuiu o valor dos bens vendidos para Hong Kong, União Europeia e Estados Unidos, em 0,5%, 23,1% e 48,2%, respectivamente. Já do lado das importações, registaramse descidas nas compras à China e à União Europeia, cujo valor diminuiu 24,4% e 21,8, respectivamente, face aos primeiros três meses de 2015.
EDIFÍCIO DO LAGO SEM ALOJAMENTO ILEGAL
O Instituto da Habitação (IH) garantiu estar atento ao caso de duas fracções no Edifício do Lago que estariam a ser usadas como alojamento ilegal, mas, segundo a Rádio Macau, os Serviços de Turismo (DST) já descartaram essa possibilidade, tendo referido que “a denúncia não tinha fundamento”, depois de uma investigação feita em conjunto com a Polícia de Segurança Pública (PSP). A denúncia partiu após a existência de um alegado anúncio na plataforma online Airbnb. “Não foram identificados nem os proprietários nem as fracções registadas na página Airbnb”, disse a DST à Rádio Macau. O anúncio foi apagado, inclusivamente no Facebook, tendo sido feita outra investigação. Mas também aqui se comprovou que a suspeita “não tinha fundamento”.
10 ENTREVISTA
JOSÉ DRUMMOND ARTISTA PLÁSTICO
“Macau é um embaraço para Define-se como um existencialista interessado na dualidade entre o visível e o invisível, no amor e na morte, pois “não existe mais nada que valha a pena falar”. Artista e curador, José Drummond foi recentemente convidado a representar Macau no prestigiado Sovereign Asian Art Prize. Uma foto para “construir uma narrativa existencialista” para um artista a quem a única coisa que interessa é “continuar a ter condições para trabalhar”
Qual a história por detrás da imagem escolhida para o Sovereign Asian Art Prize? “Parachute” faz parte de uma série de fotografias realizadas em Nova Iorque a que dei o nome de “There is no place like it”, frase de Walt Whitman num texto relativo à cidade. Escolhi o parque de diversões de Coney Island para construir uma narrativa existencialista onde, durante o Inverno e com a ausência de corpos humanos, é conferido um sentido único de isolamento e deslocamento, enquanto somos imersos pelas estruturas num desencanto cativante. Depois apeteceu-me trabalhar o efeito cinematográfico “day for night” onde a câmara é alterada na sua leitura de luz. Um efeito muito comum no cinema americano dos anos 50 e 60. Coney Island, um dia considerado “The Greatest Show on Earth” é um espaço que desafia a gravidade. No Inverno é uma paisagem fantasmagórica que reduz o humano à sua própria fragilidade. Como surgiu a participação no concurso? O Sovereign Asian Art Prize funciona por nomeação de um curador, não é de público acesso. A fundação nomeia um número de curadores que por seu lado decidem quais os artistas a nomear nas 16 regiões contempladas. Por isso, só a nomeação é um reconhecimento importante. Gary Mok, curador baseado em Pequim com largo conhecimento sobre o que se faz em Macau e Hong Kong, foi quem me nomeou para representar Macau. Alguma expectativa para o desenlace? Para dizer a verdade não gasto muito tempo em expectativas. O tempo que tenho gasto-o a trabalhar. Encaro concursos como exposições ou ‘screenings’. Como um veículo importante que confere visibilidade ao trabalho desenvolvido em estúdio. É uma faceta essencial do profissionalismo. Nos últimos anos tornei-me num verdadeiro ‘workaholic’. A experiência em Nova Iorque e Berlim terá contribuído para algum esclarecimento e amadurecimento do meu trabalho. Acredito que tanto a nomeação como a consequente selecção é fruto disso mesmo. Mesmo não vencendo em que medida pode esta participação mudar o seu panorama? Não sei bem. Por um lado vou continuar a ser o mesmo, ou seja, vou continuar a trabalhar e a emocionar-me com tudo o que o trabalho envolve e com todas as experimentações que
ainda quero tentar. Por outro lado, acredito que os artistas são como esponjas que absorvem água e sabão e, quando se aperta, expelem um fluido com bolhinhas. Quero dizer com isto que obviamente trabalhamos em sequência do que nos acontece na vida, do que vemos, sentimos, etc. Nessa perspectiva, já mudou. A nível de reconhecimento do trabalho é obviamente muito bom estar nesta fase. O resto logo se vê. E se ganhar? Isso seria fantástico. Mas não penso nisso. Pés na terra, concentrado nos próximos projectos. O mais importante são os trabalhos. É isso que importa. Quais os próximos projectos? Muita coisa em filme. Mas demora tempo. Acabar a edição de algumas coisas. Duas novas séries de fotos que ainda não consegui ter meios para fazer. Depois gostava de conseguir trabalhar em espaço de exposição, uma reunião de disciplinas entre teatro, cenário, música
e imagens em movimento. O meu maior problema é investimento. A minha produção actual exige um alto nível de profissionalismo que obriga a um exercício financeiro constante e sem expectativas de reembolso. Artista a full-time agora? Como se sobrevive dessa forma em Macau? Não nos fazemos artistas. Ou somos ou não somos. Quando és sabes que és. Não é um hobby. Sobreviver é difícil. Um artista em full-time deve
“Ou temos galeria fora, ou fazemos projectos internacionais ou, se estamos à espera que Macau nos compreenda e chegue para pagar as contas, desaparecemos”
ter uma certa noção comercial que por vezes entra em conflito com aquilo que se pretende da arte. A capacidade de continuar a inovar. A possibilidade de se fazerem coisas só porque sim, sem ter que se considerar que é uma comodidade, um produto adquirível com valor de mercado. Ser artista implica ser perseverante. Mas está dedicado em full-time? Se sim, qual a vertente comercial que paga as contas? Não pago as contas. A minha produção é sempre mais. Por isso, aqui e ali tenho de me desenrascar. Macau é um embaraço para os artistas. Com rendas e comida mais cara que Berlim, por exemplo, é impossível viver a full-time da Arte. Um artista precisa de um estúdio para além de um tecto para dormir. Em Macau isso parece impossível. Ou então faz pintura e mesmo assim não dá. Uma coisa é certa. Macau não chega. Ou temos galeria fora, ou fazemos projectos internacionais ou, se estamos à espera que Macau
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ENTREVISTA
a os artistas” outras pessoas. Desse modo, sinto que continuo sempre a aprender. A vida é uma aprendizagem contínua. A arte também. Onde pretende chegar? Não sei. Os objectivos depois de ultrapassados dão lugar a outros. Para já quero acabar uma série de projectos nos quais tenho andado a trabalhar nos últimos dois anos. Depois logo se vê. Quero continuar a trabalhar. Que legado imagina um dia deixar? Não penso nisso e não tenho medo de não vir a ser reconhecido. As coisas são o que são. Vou citar dois nomes que não são referências imediatas minhas mas servem para ilustrar um ponto: Louise Bourgeois, uma das artistas mais importantes dos últimos 50 anos, só foi realmente reconhecida depois dos 70 anos. O Manoel de Oliveira só após o seu segundo filme de ficção, com 63 anos, começou a ser reconhecido. É certo que um viveu até aos 98 e o outro até aos 106. O que pretendo dizer é que o ‘calling’ ou o ‘reconhecimento’ podem aparecer tarde. Precisamos é de capacidade para continuar a trabalhar. É o que eu quero e ter condições para continuar. Se o meu trabalho poder contribuir de algum modo tanto melhor.
nos compreenda e chegue para pagar as contas, desaparecemos. Descobri entretanto que tenho um espaço de contribuição para o meio através da educação. O workshop que tenho leccionado tem sido bastante apreciado pelos estudantes. É um trabalho complementar como é o de curador. Naturalmente, estas respostas dão lugar a novas perguntas. Por exemplo, porque é que os projectos arquitectónicos de Macau não incluem artistas locais... (risos) Pegando nisso, que impacto esta participação pode ter e está a ter no meio local? Pessoalmente espero que sirva de incentivo aos artistas locais para acreditarem no seu trabalho e não terem medo de procurar uma voz única. Acho que há espaço para tudo e arte não tem de ser pintura. Pelo contrário. Quando Macau perceber isso dará um salto grande. Os artistas em Macau parecem-me, por vezes, pouco convictos da possibilidade de terem um trabalho mais contemporâneo.
A que chama um trabalho mais contemporâneo? Corre-se sempre o risco de ser deselegante quando se fala de colegas ou se critica o meio em que se está. Afinal estamos, de algum modo, todos juntos. Mas faltam coisas em Macau. Nem tudo é representação. Tem de haver algo mais. Acho absolutamente fascinante que aquilo que melhor caracteriza a cultura de Macau seja também a razão da sua pouca importância. Demasiado umbilical. É uma cultura que vive muito fechada sobre si própria e impressionantemente tradicional. Existe medo de arriscar. Existem muitos ‘velhos do restelo’ que não deixam isto andar. Macau vive sempre preocupado com o que se vai dizer. O melhor é não levantar muito a bolinha. Que o faz ‘correr’? Não sei fazer mais nada? É mais forte que eu? Estou sempre a pensar em Arte. Sou um dos gajos mais aborrecidos possível. Por isso as namoradas não aguentam (risos). Estou a brin-
car claro. A falar verdade, no meu caso, o ‘correr’ obriga a um espaço considerável de isolamento e solidão em estúdio, onde ler, questionar, escrever, experimentar alternativas são importantes para tomar decisões. Fazer arte não é uma questão de ter jeito para o desenho. Pelo menos não é assim há pelo menos cem anos. Felizmente, os média com que tenho trabalhado mais, como o vídeo, obrigam a um envolvimento com
“Existe medo de arriscar. Existem muitos ‘velhos do restelo’ que não deixam isto andar. Macau vive sempre preocupado com o que se vai dizer. O melhor é não levantar muito a bolinha”
Qual a pergunta para a qual mais procura uma resposta? O meu trabalho é existencialista por natureza. Mas de um existencialismo beckettiano, kafkiano, até freudiano. As minhas duas grandes ‘questões’ são eros e thanatos. Amor e morte. Não existe mais nada que valha a pena falar. É nessa dualidade ‘absurdista’ que o meu trabalho se insere. Há quem já me tenha considerado como um ‘ultra-romântico’ e, nesse sentido, é uma vertente que parece ir no sentido oposto às vertentes actuais, que se focam numa certa frieza. A mim interessa-me o reino da emoção na arte. Não só o de poder representar emoção, como também o de poder causar emoção. Interessam-me certos autores e o meu trabalho está nessa linha de continuidade. Existe um certo sentido teatral que acho ser absolutamente importante para o seu entendimento. Altamente fascinado pelo trabalho de Fassbinder e Bergman, por exemplo. Existem muitas referências, todas no mesmo sentido. Plath, Duras, Pessoa, Sá-Carneiro, Lacan, etc... A máscara. A fragmentação do ser ou a sua multiplicidade. A solidão. A ilusão. A possibilidade ou impossibilidade do amor. O falhanço - “Fail again, fail better”, Beckett dixit. A morte é
a única certeza da vida. Interessa-me também a percepção do mundo que cada um de nós tem. A Anaïs Nin disse: “nós não vemos o mundo como ele é, vemo-lo como nós somos”. Estar em Macau abriu mais ou menos possibilidades para desenvolver o seu trabalho? Porquê? Chego a esta fase por estar a representar Macau. Mas, por outro lado, existem aspectos do meu trabalho característicos de uma certa fantasia, de uma certa utopia para a qual torna-se necessário que o trabalho seja feito na China. Pelo menos por agora. Existe uma certa noção que envolve um espaço migratório que é essencial. Quero continuar por aqui. Ainda tenho muito sobre o qual quero falar. Além disso, torna-se curioso que esse hipotético ‘exotismo’ do espaço migratório e de confluência de culturas seja visto com interesse por Hong Kong, Pequim, Lisboa, Berlim e Nova Iorque e que Macau pareça, por vezes, ainda não ter realmente percebido, o que me leva muitas vezes a questionar sobre o é que estou aqui a fazer. Aliás, sem ter nada a ver com esta questão, o HM está a publicar um thriller poético/ psicológico com esse nome: “Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa?” Sim, é verdade. Mas isso espoleta três perguntas: que estamos a fazer, que está a fazer e onde é ‘casa’? Embora a ‘novela’ semanal até possa dar a ideia de estar a falar de estrangeiros imediatos, na realidade está a falar de uma nova condição, que é esta: o Macau do futuro é um Macau estrangeiro onde todas as pessoas são fruto da emigração em primeira mão ou em segunda, terceira ou quarta geração. Isso já se sente. A ideia de ser de Macau só pode ser isso mesmo. Nesse sentido ninguém é realmente de Macau e somos todos de Macau. Sei que é uma visão polémica, mas este é o maior trunfo da cidade. Esta vocação natural para a multiplicidade de culturas. Acho absolutamente paradigmático que o melhor realizador de cinema de Macau seja português, que os melhores pintores sejam de Xangai e da Rússia e por aí adiante. Para mim, a melhor artista de Macau, na actualidade, é de Sichuan. Pelo meu lado, estou a fazer aquilo que é suposto fazer. Questionar, apontar ideias, contribuir para o mundo em geral. A casa é aqui mas isso não quer dizer que não mude. Estou sempre a viajar. Manuel Nunes
info@hojemacau.com.mo
12 CHINA
hoje macau terça-feira 3.5.2016
Maternidade NOVA LEI CAUSA ALGUM CAOS NO MUNDO TRABALHO
002 licença para parir Com o fim da lei do filho único, há cada vez mais mulheres a gozar de licença de maternidade. O que preocupa os patrões
O
S primeiros irmãos e irmãs mais novos autorizados a vir ao mundo pelo governo da China desde o fim oficial da política do filho único — no dia 1 de Janeiro deste ano — ainda não nasceram. Mas as licenças de maternidade que virão com essas crianças despertam preocupações que não ocorreriam aos chineses em outros tempos. Autoridades de províncias em que se espera uma grande quantidade de nascimentos acreditam que o excesso de afastamentos simultâneos pode influenciar até mesmo no funcionamento de
escolas, onde as mulheres correspondem a uma percentagem muito elevada do contingente de professores. Chegam a mais de 90% em alguns casos. Na província de Shandong, a direcção de alguns colégios da cidade de Qingdao, a 660 quilómetros de Pequim, já está às voltas com a escolha de substitutas para as professoras que estão prestes a deixar o posto. Numa delas, dos cem docentes, 90 são mulheres. Na província, dos 59 mil professores que trabalham nos jardins de infância, só 200 são homens. “Temos quatro professoras mais antigas aqui à espera do seu segundo filho neste momento, entre elas coordenadoras que são responsáveis pelo monitoramento de todo o programa e pelo ensino”, disse um coordenador ouvido pelo “Correio da Manhã” de Qingdao. Na tarde de quinta-feira, em frente ao shopping Taikoo Li, no bairro de Sanlitun, onde moram chineses endinheirados e estrangeiros, duas grávidas eram só sorrisos. Brincavam com o primeiro filho de uma delas perto de um chafariz.
Até ao ano passado, teriam mais reservas para o passeio vespertino. A decisão de permitir que as chinesas possam ter até dois filhos, e não só um, foi tomada pelo Partido Comunista como uma medida para conter o envelhecimento da população. A ideia é garantir um contingente importante de chineses em idade de trabalhar e estimular o crescimento económico.
MÃES NA RUA EM PEQUIM
Não há dúvidas sobre a quantidade de filhos que as famílias que vivem nas áreas urbanas estão autorizadas a gerar pelas regras oficiais. Mas desde o início do ano, quando a nova política entrou em vigor, as diversas províncias chinesas tratam uma a uma as regras para a licençamaternidade. Em Pequim, desde Março o benefício ganhou a opção de ser estendido por mais três meses, desde que aceite pelo empregador. Agora, as mulheres podem ficar em casa até sete meses. São os três meses previstos pela lei nacional, um adicional previsto na legislação da capital e os outros três a serem negociados com os empregadores. Os
maridos também têm direito a licença, de 15 dias. As regras estimulavam as mulheres a se casar e ter filhos mais tarde. Tinham direito a um mês adicional de licença aquelas que só engravidassem depois de completar 24 anos. E só tinham direito aos três meses extras as que decidissem parar no primeiro. Enquanto alguns chefes começaram a aceitar libertar as funcionárias por mais tempo, muitos resistiram e continuam ressabiados, alegando prejuízos para as empresas. Aos 35 anos, Zu está feliz à espera do segundo filho, que jura será um menino. Pelo menos foi o que lhe disseram os curandeiros que procurou. A filha mais velha tem 10 anos. Zu não quer saber o sexo do bebé, pois diz que não faz bem à criança. Funcionária administrativa de uma grande companhia em Wuhu, na província de Anhui, a 970 quilómetros da capital, ela está tranquila e sabe que sua vaga estará garantida quando voltar da licença de cinco meses.
ESCOLAS PROCURAM SUBSTITUTAS
No início do ano, alguns jornais e rádios chineses
denunciaram empresas nas províncias de Shandong e Jilin, onde os patrões teriam criado uma espécie de cronograma para o fluxo de bebés. Funcionárias precisariam pedir para serem incluídas no agendamento com um ano de antecedência. Ou teriam de esperar uma nova janela após o nascimento dos filhos das colegas. Alguns ainda tentaram determinar o período em que as empregadas poderiam produzir os rebentos. Para muitos especialistas, é cedo para avaliar o impacto da nova política de planeamento familiar da China. Não há consenso sobre o futuro e há quem defenda que a taxa de fertilidade não mudará. Mas há também aqueles que vislumbram um baby boom. Uma série de factores poderá influenciar a decisão dos futuros pais. Acredita-se que, por se tratar do ano do Macaco no horóscopo chinês, 2016 é bom para ter filhos. As estatísticas mostram que, nos anos da Cabra, que é considerado um animal mais frágil, há menos nascimentos. Além disso, algumas mulheres podem sentir-se pressionadas pela idade e ter pressa. No entanto, há muitos que consideram seriamente parar no primeiro ou simplesmente não ter herdeiros tendo em vista os custos cada vez mais altos, sobretudo nas grandes cidades. À espera do segundo filho, Li é casada com um holandês e está bem de vida. Não trabalha e pode dedicar-se ao primeiro filho e ao segundo que está a caminho. “Ela não se preocupa com os custos de criar um filho aqui em Pequim. Mas é uma questão cada vez mais importante”, comentou uma amiga.
CORRETORES NO XADREZ
Segundo notícia avançada pela agência Xinhua, Xu Xiang, director geral da Zexi Investment, de Xangai, foi preso na cidade de Qingdao, por utilização de informações privilegiadas e manipulação do preços de acções. O departamento municipal de segurança pública de Qingdao anunciou a prisão na última sexta-feira junto com a de Cheng Boming, director geral da corretora CITIC Securities. Cheng é suspeito de crimes similares dos de Xu. Liu Jun e Xu Jun, outros dois altos membros da CITIC, também foram presos.
MINISTRO-ADJUNTO CHINÊS VISITA TIMOR-LESTE
O ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros chinês, Kong Xuanyou, inicia hoje uma visita oficial de dois dias a Timor-Leste, que pretende reforçar os laços bilaterais entre os dois países, informou o executivo timorense. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de TimorLeste explicou que Kong Xuanyou e a sua delegação têm previstos vários encontros com responsáveis timorenses, incluindo o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo. Estão ainda previstos encontros com o ministro e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Hernâni Coelho e Roberto Soares, e com o ministro do Planeamento e Investimento Estratégico, Xanana Gusmão. O responsável chinês será acompanhado na sua visita a Díli pelo embaixador chinês em Timor-Leste, Liu Hongyang, pelo vice-diretor geral do Departamento de Assuntos da Ásia, Bai Tian, e pelo vice-director do mesmo departamento, Wu Jikai.
13 CHINA
hoje macau terça-feira 3.5.2016
Saúde para todos Atendimento médico beneficiado com 5,64 biliões
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China investiu 5,64 biliões de yuans durante o período de reforma desde 2009 para melhorar o sistema de atendimento médico. O orçamento para saúde em 2016 é de 1,24 biliões de yuans, indicou na quinta-feira a Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar da China (CNSPFC). A taxa média anual de aumento em gasto médico superou 20% nos últimos sete anos, acrescentou. A reforma no sector do atendimento médico está projectada para criar um sistema universal de seguro de saúde, focando-se num acesso idêntico aos serviços básicos de saúde pública para todos, disse a comissão. O orçamento também foi utilizado para promover a reforma e a melhoria de PUB
TÁXIS ELÉCTRICOS NA CAPITAL DO CARVÃO
A
O contrário de Macau, a cidade de Taiyuan, no norte da China, planeia substituir todos os táxis a gasolina por modelos eléctricos até o fim de 2016, para diminuir as emissões. Rica em carvão, a capital da Província de Shanxi iniciou a substituição dos 8.292 táxis convencionais em Fevereiro. Actualmente mais de 3 mil táxis eléctricos rodam nas ruas da cidade, disse um funcionário de apelido Qin, do departamento de trânsito local. A bateria no seu pleno dá para 400 quilómetros e leva duas horas para carregar, explicou Qin. O preço dos táxis eléctricos é de cerca de 310 mil yuans por unidade. Os motoristas pagam 90 mil, e os governos central e local subsidiam
o restante. Taiyuan planeia aumentar os atuais 500 postos de recarga para 5 mil até ao final de 2018. “Contrariamente ao táxi a gasolina, o eléctrico não polui e traz benefícios para o meio ambiente”, disse um motorista de Taiyuan que acabou comprar um. A grande produção de carvão é o motor da economia de Shanxi desde há décadas, mas a queda da cotação e o combate à poluição fazem com que a cidade tente depender menos da mineral e desenvolva novos sectores energéticos, incluindo o sistema de transporte urbano de baixo carbono. Além dos táxis eléctricos, Taiyuan projecta adoptar, nos próximos três anos, 3 mil autocarros movidos a bateria.
AUTO-PILOTADOS NO SALÃO DE PEQUIM
O
hospitais públicos ao nível distrital e superior. O governo central da China destinará a cada distrito 3 milhões de yuans por ano para cumprir o objectivo e proporcionará uma soma de 20 milhões de yuans a cada cidade, informou a CNSPFC. A China também está ainda a desenvolver esforços para reduzir a carga financeira das pessoas po-
bres. Um estudo realizado pela CNSPFC e pelo Escritório do Grupo Dirigente para o Alívio da Pobreza e Desenvolvimento do Conselho de Estado, indica que em 2013 houve um total de 12,56 milhões de famílias pobres sem acesso aos serviços médicos devido aos altos custos, o que representava 42,4% do total de pobres registados.
S veículos auto-pilotados, os de novas energias e os utilitários desportivos são as principais atracções do Salão Internacional do Automóvel de Pequim, que reuniu mais de 1.600 expositores e 1.179 carros que competem por compradores no maior mercado automobilístico do mundo.AChang’an Automobile apresenta dois modelos de automóvel sem motorista no salão, que se realiza de 25 de Abril a 4 de
Maio. Estes veículos acabam de terminar um test drive de 2.000 quilómetros entre a cidade de Chongqing e Pequim. O veículo tem radares que o permitem reconhecer, a 360 graus, o ambiente que o rodeia. A Chang’an pensa colocar estes veículos no mercado dentro de dois ou três anos “a preços razoáveis”, segundo Li Yusheng, engenheiro chefe do Instituto de Pesquisa em Engenharia deAutomóveis da Chang’an.AChang’an não é a
única companhia chinesa com automóveis do género no salão da capital. Presentes estão ainda a Chery Automobile, a Baic Motor Corporation e a companhia de internet LeTV. Além disso, tanto os fabricantes nacionais como os estrangeiros competem para dominar um mercado em que o governo chinês tomou medidas para favorecer a comercialização de veículos de novas energias a fim de combater a poluição.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Amélia Vieira
Regras da decência pura
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos. Dotados de razão e de consciência devem agir uns para com os outros em espirito de fraternidade. Artigo número um da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Não matarás... Não furtarás.... Não adulterarás..... Mandamentos de Moisés
T
ODAS as naturezas se vão unindo por vínculos de compatibilidade mais ou menos discutíveis, mas sempre tendo em vista as semelhanças e a lei da empatia. O chamado “corpo estranho” não é infiltrável no aparelho das leis e dos mandatários que requerem aquele “fio de prata” com as fontes destes princípios. Há tratados, obras, ensaios, poemas, análises que as abordam de todos os ângulos visíveis e possíveis e, não raro, é sonegado no emaranhado da retórica (dado que o grau de pureza analítica pode ser considerado dogma) um lastro de afinidades vitais. Pois há formas de ser que: “verdades puras são e não defeitos”.... e “Afinidades Electivas” que: sim, sim, sim... estão melhoradas. Nem Camões nem Goethe, nas suas maturidades olímpicas, estão unidos ao vínculo experimental. O sacerdócio da escrita deixa poucos interesses para a propagação das reformas em curso em qualquer tempo e nós devemos sempre duvidar de tanta receita, tanta oferta, tantas tentações de Antão, de antanho, e vibrar, caso possamos também, esse limite da dor e do urgente, porque no limite tudo reverte em novo princípio, pois que a maioria das regras são tão impactantes, que impedem de ver frechas da mesma realidade. Para sermos entendidos usamos códigos, signos linguísticas, formas gestuais, mas imaginemos um mundo onde todos dizem a mesma coisa com algumas variantes, uma Babel de sons tresloucados e cuja funcionalidade de entendimento é zero... um baralhar, tornando a dar. Será preferível dar e baralhar depois! Este limite foi alcançado em parte pela facção indecente, senão vejamos o tresloucamento singular dos dias de hoje em que não podemos tirar fotografias com as nossas crianças dado que exercitamos a libido de gente que não estava inscrita em nenhum ramo da existência e, passou a existir. Por medo, pelo temor que temos face a elas, um código sem dúvida de indecência pura! A pureza não é contudo aquele estado imaculado todo de febris graças e recato, muito embora ninguém saiba explicar sem um
La Pietà vaticana
forte estilo de vida a nascente tamanha de tal estado... é uma distinção tal que houve mesmo necessidade de a representar em imagens (embora esta seja impedida na lei mosaica) e quem como Miguel Ângelo para a representar
É uma sustentável beleza de ser que atingiu um propósito tão raro de pureza tamanha, que ninguém aguenta contemplar por muito tempo. Ficamos como que cegos, penosamente pesados pela combustão da vida
no doce e intemporal e sempre jovem rosto de Pietà?! Ela tem ao colo um homem morto que é seu filho, mas ambos têm no tempo a mesma idade. É uma sustentável beleza de ser que atingiu um propósito tão raro de pureza tamanha, que ninguém aguenta contemplar por muito tempo. Ficamos como que cegos, penosamente pesados pela combustão da vida. Atingir deleites tais não é obrigatório para a prática dos dias: pode-se bem viver uma vida inteira sem que saibamos que existam, pois que não somos nós que as buscamos, mas sim eles que nos elegem para dizer de si segundo o grau de resistência de cada um a esses domínios até electrizantes: quanto mais perto mais terrível, quanto mais belo mais medonho... Sabemos que sós, plenos de postulas, de vícios, sujidade e disfarce, podemos aguentar por aqui. O tempo passa, ele é um programa que cada um processa consoante o seu estar podendo mesmo anunciar que ainda não nasceu, nascer, só quando algo
acontece entre o que somos e as nossas afinidades, e há vidas onde não acontece nada. Adaptar verdades simples requer vidas por vezes complicadas, o transtorno de misturar tudo, pode levar a que sejamos por vezes lianas trepadoras com raízes no ar. Passámos a adaptar princípios - puros princípios - nas Constituições Mundiais, adaptando-as às circunstâncias contemporâneas como forma de operação contra o insalubre e estático momento da jornada humana, essa massa com uma organicidade excessiva nascida não raro entre o caos e propósito nenhum, elas estão lá como as estrelas estão no Céu, tentar que baixem é um movimento estranho, porém, nós temos os guindastes laváveis que depressa fugiram a esta grande massa de despojos: até já tivemos uma Escada, a de Jacob, mas por ela desceram mais do que subiram; nestes parágrafos há até códigos que exultam a santidade, e hoje a Alquimia também tomou lugar através do tratamento dos resíduos tóxicos, mas, viveu-se entre eles como entre roseiras bravas, incorporando-os em nós, essa guerra de bactérias que por atracção se desvelam e deslindam sem que ainda saibamos do amor que as atrai. Os “corpos estranhos” por vezes também se entranham e vão acrescentar tecido, mudar a forma ao que estava, por isso, nunca sabemos como terminam as invasões ...um organismo tanto pode expulsá-los, como integrá-los, como mimeticamente dizer que são o mesmo. - Quem mata um homem mata a Humanidade inteira Quem admite um homem viaja por ela toda - nesses simples gestos puros, o de aceitarmos e salvarmos, estamos a definir os contornos das nossas fontes. E se é grande ser-se ecuménico, universal e abrangente, a curva do meu destino é contudo pequena para consentir passar por tão alta manifestação como um sonâmbulo que gera em seu redor uma pequena combustão que visa a vã desesperança de viver. Nos momentos que se cruzam até as casas são venenosas com sua construção de materiais que se infiltram em zonas do nosso frágil organismo. Elas são cogumelos onde não convém ser-se tão elementar que tenhamos nelas abrigo, já adaptámos os órgãos às funções, mas não somos cobaias de um impuro sistema da resistência aos materiais.. Os nossos ais podem estar domados, mas as nossas mortes são concretas, na morte só há impureza, dizem, mas, pode haver um grau de decência que não nos permita esta falta de carinho por uma matéria que outrora fora animada. De uma centelha. Por ele, corpo, passou um deus, que nós depusemos na ânsia de o suplantar.
15 hoje macau terça-feira 3.5.2016
Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
GUO XI O que queremos dizer com falta de habilidade ao seleccionar? Montanhas com mil quilómetros de extensão não são sempre impressionantes ao longo de toda a sua superfície; a água que se estende por dez mil quilómetros não é sempre soberba ao longo de todo o seu percurso. Embora as montanhas Taihang1 se estendam por uma grande parte do reino, elas aparecem mais belas no Linlu2. A montanha Taishan domina os antigos reinos de Qi e Lu, no entanto, o cenário mais sublime é o do monte Longyan. Se o artista pintar estas montanhas apenas pelo seu aspecto exterior, o resultado não será muito diferente de um mapa. Erros deste género resultam da falta de habilidade em seleccionar os temas. Portanto, demasiada ênfase nos declives e nas escarpas torna o trabalho demasiado áspero; demasiada ênfase na calma e quietude torna-o trivial; demasiada ênfase nas figuras humanas torna o trabalho num lugar-comum; demasiada ênfase em casas e portos torna o trabalho confuso3; demasiada ênfase nas pedras torna-o ossudo; enquanto demasiada ênfase no solo o torna demasiado carnudo4.
1 - Estendem-se por três Províncias Shanxi, Henan e Hebei, ao longo de mais de quatrocentos quilómetros de norte a sul. A sua importância é tal que duas Províncias chinesas derivam o seu nome pela sua posição geográfica relativa às grandes montanhas: Shanxi, à letra a «Oeste das montanhas»; e Shandong, a «Leste das montanhas». 2 - O monte Lu nas montanhas Taihang no norte da Província de Jiangxi é o tema de uma das mais famosas pinturas de Jing Hao (855-915) que se encontra no National Palace Museum de Taipé, Taiwan; e de um dos mais famosos poemas de Li Bai, «A cascata de Lushan» que por sua vez, será a inspiração de muitas outras pinturas, sendo talvez a mais famosa a interpretação de Shitao, datada de1729.
3 - Todas estas expressões giram à volta de dois conceitos expressos em duas palavras: «sheng», cru, tosco, associado a «zhuo», primitivo; e que se opõe a «shu», maduro, cozido e por extensão hábil, também associado a «gong», elaborado. Note-se que o objectivo é sempre reencontrar a simplicidade através do domínio da habilidade (ver Tang Zhiqi em Hualun Congkan, pág. 131). O método é semelhante ao que é expresso em várias línguas com a palavra francesa «chic»: atingir um resultado elegante através da ultrapassagem de uma dificuldade, uma «chicane», ou seja, um labirinto. 4 - A «carne» e os «ossos» são expressões próprias da pintura, ossos sendo a estrutura linear visível e a carne a sua ausência (ver o segundo dos Seis Princípios de Xie He, «Método dos Ossos»).
«Linquan Gaozhi»
A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes
16 PUBLICIDADE
hoje macau terça-feira 3.5.2016
Anúncio O Pedido do Projecto de Apoio Financeiro do FDCT para à 2ª vez do ano 2016
(1)
Fins O FDCT foi estabelecido por Regulamento Administrativo nº14/2004 da RAEM, publicado no B. O. N° 19 de 10 de Maio, e está sujeito a tutela do Chefe do Executivo. O FDCT visa a concessão de apoio financeiro ao ensino, investigação e a realização de projectos no quadro dos objectivos da política das ciências e da tecnologia da RAEM.
(2)
Alvos de Patrocínio (i) Universidades, instituições de ensino superior locais, seus institutos e centros de investigação e desenvolvimento (I&D); (ii) Laboratórios e outras entidades da RAEM vocacionados para actividades de I&D científico e tecnológico; (iii) Instituições privadas locais, sem fins lucrativos; (iv) Empresários e empresas comerciais, registadas na RAEM, com actividades de I&D; (v) Investigadores que desenvolvem actividades de I&D na RAEM.
(3)
Projecto de Apoio Financeiro (i) Que contribuam para a generalização e o aprofundamento do
conhecimento científico e tecnológico; (ii) Que contribuam para elevar a produtividade e reforçar a competitividade das empresas; (iii) Que sejam inovadores no âmbito do desenvolvimento industrial; (iv) Que contribuam para fomentar uma cultura e um ambiente propícios à inovação e ao desenvolvimento das ciências e da tecnologia; (v) Que promovam a transferência de ciências e da tecnologia, considerados prioritários para o desenvolvimento social e económico; (vi) Pedidos de patentes.
(4)
Valor de Apoio Financeiro (1) Igual ou inferior quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00) (2) Superior a quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00)
(5)
Data do Pedido Alínea (1) do número anterior Alínea (2) do número anterior
Todo o ano A partir do dia 3 até 17 de Maio de 2016
(O próximo pedido será realizado no dia 1 ao 14 de Setembro de 2016)
(6)
Forma do Pedido Devolvido o Boletim de Inscrição e os dados de instrução mencionados no Art° 6 do Chefe do Executivo nº 273 /2004,《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》, publicado no B. O. N° 47 de 22 de Nov., para o FDCT. Endereço do escritória: Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n° 411-417, Edf. “Dynasty Plaza” 9° andar, Macau. Para informações: tel. 28788777; website: www.fdct.gov.mo.
(7)
Condições de Autorizações Por despacho do Chefe do Executivo nº 273 /2004, processa o 《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》. O Presidente do C. A. do FDCT
Ma Chi Ngai 2016 / 4 / 29
Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo
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17 hoje macau terça-feira 3.5.2016
?
(F)UTILIDADES
TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 23 MAX 27 HUM 85-98% • EURO 9.20 BAHT 0.22 YUAN 1.23
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO “LA VIE EN MACAU”, DE ANTONIO LEONG Albergue SCM (até12/06)
AQUI HÁ GATO
O MEDO, SENHORES, O MEDO
EXPOSIÇÃO “O SONHO DO PAVILHÃO VERMELHO”, DE ZHANG BIN Casa Garden (até 19/05) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06) EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 12/06)
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “AS DIMENSÕES DO SONHO E ARTE” Fundação Rui Cunha (até 12/05)
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 79
PROBLEMA 80
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin
Participar numa manifestação é quase como ir votar. É um direito cívico (infelizmente em Macau não há muitas pessoas que tenham noção disso) e uma obrigação. Contudo, na hora de ir votar ou de protestar há sempre uma desculpa qualquer. É o sol ou a chuva, o fim-de-semana prolongado ou a visita de um familiar que nos impedem de sair de casa. Em Macau fizeram-se mais uma vez as manifestações do 1º de Maio e eu, apesar de não trabalhar e passar o dia a comer da minha taça, resolvi dar uma espreitadela no movimento. Vi e ouvi dizer que houve pouca gente nas manifestações, sobretudo junto dos trabalhadores do sector do Jogo.Lamento dizer-vos, meus amigos, que isso não se deveu ao fim-de-semana prolongado. Afinal de contas eles trabalham por turnos porque a roleta não pode parar. Isso deveu-se ao medo. Ao medo de perder o emprego, ao medo de ver uma penalização no final do mês, ao medo de um sector que já viu melhores dias e que, quer queiramos quer não, está a mudar.Não quer dizer que, de repente, ficou tudo bem, que os direitos estão a ser devidamente respeitados e que todos ganham que é uma maravilha, com os horários de trabalho normais. O que aconteceu foi o que tem vindo a acontecer com a Forefront of The Macau Gaming: o medo calou-os a todos. Pu Yi
“THE BOAT TO REDEMPTION” (SU TONG, 2009)
Um livro que espelha uma China onde uma posição de poder é o mais importante. Ku caiu em desgraça por não ser o filho de um mártir pela Pátria, como se pensava que era, e a polémica em redor da sua vida fá-lo partir. É para o mar que vai, para o meio de pescadores que vivem ao sabor da corrente. Mas “ The Boat To Redemption” é mais que a história de uma vida. É a história de um Partido tal e qual como ele é: sem dó, sem piedade. E é o livro que valeu a Su Tong o “Man Asian Prize”. Joana Freitas
Cineteatro SALA 1
C I N E M A
CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR [B] Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson 14.30, 18.30, 21.15 SALA 2
BUDDY COPS [C]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Peter Chik Com: Bosco Wong,
King Kong Li, Charmaine Fong 14.15, 21.45
CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR [3D] [B]
Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson 16.15, 19.00
THE BOY [C]
Filme de: William Brent Bell Com: Laura Cohan, Rupert Evans 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
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18 OPINIÃO
hoje macau terça-feira 3.5.2016
sexanálise
STANLEY DONEN, FUNNY FACE
Até que a morte os separe
TÂNIA DOS SANTOS
A
OS vinte e quatro anos vivi num daqueles países ultra-conservadores que, assim que descobriam que eu não tinha um namorado, muito menos um noivo, não se acanhavam em perguntar: ‘o que há de errado contigo?’. A falácia envolvia premissas à partida falaciosas: é solteira, ainda para mais mulher, e, por isso, deve ser insuportável. Tive a possibilidade de crescer num ambiente onde o casamento não é encarado como o passo mais importante da vida de uma pessoa e deixo-me sempre surpreender quando o é. Diz-se que é preciso arranjar um companheiro ou um namorado, mas melhor será um cônjuge. O que será das nossas vidas sem um papel que diga que estamos legalmente ligados a alguém, ou sem a formalização que (talvez) estamos prestes a criar uma família e garantir a continuação da espécie? Tradições judaico-cristãs que o incentivaram,
sem dúvida, mas que podem traduzir-se na contemporaneidade por... romântismo. O que há de mais romântico do que a possibilidade de amar o outro até que a morte os separe? Muito pouco. Provas de amor verdadeiro, diz a cultura mainstream, envolve um anel e um pedido. Porque tu es especial, tu és o melhor que há, tu és a pessoa da minha vida. O sexo, por sua vez, tem uns certos momentos de susto quando pensa na exclusividade sexual até à campa. O sexo gosta de novidade, mas também gosta do à vontade e da familiaridade do mesmo parceiro. O sexo gosta de viver no paradoxo, enquanto que o amor tem uma opinião matrimonial muito clara. Este não é um tratado anti-casamento. Este é um tratado que defende a liberdade de escolha ao pedir a libertação de pressões, bocas e comentários de tudo e todos. Deixem as pessoas solteiras em paz. Por melhor que esteja comprovado que a solidão aumenta a mortalidade em 26%, não é muito claro se a mortalidade vem do stress que é ser solteiro
e ter pessoas a chatear-nos a cabeça, ou se é porque podemos cair na banheira e morrer de traumatismo craniano porque ninguém nos levou ao hospital mais cedo. A ironia está que produzimos sociedades que incitam muito menos sentido de comunidade e cooperação, mas somos extremamente cruéis com os que foram ‘deixados para trás’. A alcunha usada na China para as mulheres que têm quase trinta e não são casadas ainda. Posso inventar razões possíveis, mas talvez, simplesmente, não se querem casar. Ponto. Para os lados mais europeus, a crise não tem dado muito apoio ao matrimónio. Se na China os homens precisam de um bom dote (i.e. uma casa totalmente paga), na Europa nem juntando os trapinhos e as esmolas se consegue comprar casa e começar uma vida. Já para não falar na festa de casamento, que não é barata. Ou mesmo na preocupação profissional extrema, que leva homens e mulheres a dar muito mais importância à satisfação profissional do que à necessidade dos votos.
Se as pessoas julgam que o casamento é o caminho certo porque é a escolha natural, desenganem-se. Estar solteiro pode ser um caminho natural também
O casamento não é um mar de rosas, malmequeres ou orquídeas. Não se esqueçam que há desafios diários para o casal, os desafios emocionais e relacionais pagam as contas aos terapeutas conjugais. Hipoteticamente falando, o sexo fica aborrecido, as pessoas ficam chatas ou a rotina desgasta. Por alguma razão a taxa de divórcio está nos 70% em Portugal. Os outro 30% ainda vão dando o exemplo de boas práticas. O pessoal ama-se, quer-se e satisfaz-se na dança que regenera anos e anos de relacionamento. Porque o companheirismo alimenta o amor e vice-versa, pelas experiências românticas e pela possibilidade e compatibilidade de resolver qualquer obstáculo que apareça à sua frente. Um relacionamento a longo-prazo, sólido, vem naturalmente até certo ponto. Há trabalho por desenvolver, há investimento, compromisso e criatividade. Se as pessoas julgam que o casamento é o caminho certo porque é a escolha natural, desenganem-se. Estar solteiro pode ser um caminho natural também, solteiro com gatos e cães, solteiro com uma amante de vez em quando, solteiro com a namorada a longo-prazo: tudo pode ser natural. Porque a felicidade é o maior cliché de todos os tempos, sem estado civil associado.
19 hoje macau terça-feira 3.5.2016
a outra face
CARLOS MORAIS JOSÉ
O pato não é mau
N WILLARD HUYCK, HOWARD THE DUCK
ÃO sou contra o pato. Ao que parece, a amarela criatura faz pessoas felizes e a felicidade não tem preço certo. Certos jantares de certas associações custarão mais caro à RAEM e servirão menos gente. Temos pois que o pato “serve” e serve para alguma coisa, o que não se pode dizer de tudo o que custa 6 milhões de patacas. Para além disso, o pato desenvolve as “indústrias criativas” como as confecções de bolos, cartazes, bolachas, carnes frias e porta-chaves, conseguindo assim o governo de Macau atingir um dos seus mais sonantes e misteriosos objectivos. Cada pato seu paladar. Portanto, que cem patos desabrochem por essa cidade adentro. No campo culinário, por exemplo, a tentação é muita. Imaginamos o casamento do Pato à Pequim com o Arroz de Pato, por exemplo... E ainda há mais: o pato servirá de pretexto para introduzir as crianças, através de desenhos, fotografias,
instalações e talvez jogos de vídeo, ao mundo da pataria, que é como quem diz da arte contemporânea, de onde brotou o pato em questão. Antes de ser contemporânea, a arte implicava o aprendizado da técnica, o domínio dos materiais para além, obviamente, de ter em si implícito um discurso, uma ou múltiplas intenções. Existia então na arte essa capacidade de nos fazer experimentar um infinito que se transmuta em Uno, somente como instante ou experiência do instante. A obra era então inesgotável, qual conjunto de vectores de sentidos e de possíveis e impossíveis leituras. Havia o “texto”, a textura e o contexto e tudo isto formava um “caso”, caso esse que nos sufraga enquanto sujeitos e nos eleva enquanto humanos. A arte mostrava-nos o que não poderíamos ser, mas poderíamos pro criar. A arte do pato é outra. O pato é outra coisa. É uma ideia. Nada mais. Uma ideia que se instala efemeramente na praça pública para gáudio da população. E com ela a população será, eventualmente, feliz. Ou distraída. Ou entretida. Não interessa. E em tudo o que fizerem com o pato, cada um procurará a sua individualidade, a sua pequena diferença, ainda que esta seja imitar o próximo. O pato não é mau.
OPINIÃO
“
Era obscura a noite dos teus olhos / e suaves os seios que / estrangeiros / iluminavam os meus lábios / subitamente apátridas” João Novelães
AUTOCARROS CARREIRA MT4 NO FAI CHI KEI E PAC ON
COREIA ALERTA PARA RAPTOS
Coreia do Sul alertou ontem para o risco de os seus cidadãos serem sequestrados por Pyongyang, em retaliação contra a fuga de uma dúzia de funcionários de um restaurante norte-coreano na China. Doze mulheres que trabalhavam num restaurante na cidade chinesa de Ningbo desertaram, juntamente com o gerente, para a Coreia do Sul no mês passado. Seul garante que as mulheres foram voluntariamente, enquanto Pyongyang insiste que foram enganadas e convencidas a desertar por espiões sul-coreanos que efetivamente as “sequestraram”. O Ministério da Unificação de Seul, que gere as relações intercoreanas, informou que as missões no estrangeiro têm sido aconselhadas a reforçar a vigilância. “Estamos atentos a múltiplas possibilidades, incluindo sequestros ou terrorismo (…) pelo Norte”, disse o porta-voz do ministério, Jeong Joon-Hee. “Estamos a tentar garantir a segurança dos nossos cidadãos”, disse aos jornalistas.
TIMOR MÁ-NUTRIÇÃO AFECTA METADE DAS CRIANÇAS
A má-nutrição afecta mais de metade das crianças timorenses com menos de cinco anos, apesar de melhorias recentes, com o problema a ser agravado por falta de informação sobre alimentação, segundo uma organização não-governamental (ONG) local. Tradição, cultura, rendimento familiar e acesso a água limpa são outros dos factores que condicionam a nutrição das famílias timorenses, segundo explicou a responsável da organização HAMI, Rosaria Martins da Cruz. A HAMI (“Hamutuk Ita Ajuda Malu” ou “Juntos Ajudamo-nos uns aos outros”) é uma organização que trabalha na área da saúde e nutrição em Timor-Leste, um dos problemas mais importantes para uma fatia significativa da população. A responsável da HAMI explicou, referindo dados do Ministério da Saúde, que os níveis da má nutrição melhoraram de 58% em 2010 para 50,2% em 2013. “Aumentar as campanhas de educação é essencial para combater a má nutrição no país”, explicou, acrescentando que “isso ajuda as comunidades locais a manter uma dieta mais equilibrada”. Pedro Caniço, director nacional de Saúde Pública, disse que o impacto da má nutrição se sente ao longo de toda a vida, com as crianças a terem mais dificuldade de aprendizagem e a serem mais suscetíveis a infeções e doenças. “Combater a má nutrição é uma prioridade do Governo. Temos já em curso programas de distribuição de vitamina A e distribuímos suplementos alimentares a mulheres grávidas e a amamentar”, explicou, igualmente citado pela imprensa.
Ó JULIÃO! TAMBÉM VAIS RECEBER SEIS MILHÕES?
POR
No seguimento da implementação do corredor exclusivo para autocarros entre a Barra e a Doca do Lam Mau a partir do próximo sábado, a carreira MT4 vai ser estendida até à Bacia Norte do Patane e ao Terminal Marítimo Provisório na Taipa, passando a fazer um percurso de sentido duplo ao invés de percurso circular. Pretende-se assim reforçar o serviço de autocarros entre a península de Macau e as ilhas e, segundo informa a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), “dar resposta à necessidade dos residentes de se deslocarem entre a zona norte e a Taipa.” O corredor de autocarros entre a Barra e a Doca do Lam Mau funcionará a título experimental em horários determinados e, segundo a DSAT, a medida inscreve-se na política de “primazia aos transportes públicos” pelo que estão a ser criadas novas carreiras e o ajustamento de paragens e percursos.
terça-feira 3.5.2016
NÃO! É QUE EU NÃO SEI...
NADAR
!!!
FILME DE ANIMAÇÃO CELEBRA CENTENÁRIO DE FÁTIMA
Pastorinhos animados
O
“filme de animação português mais caro de sempre”, é assim que Daniela Teixeira, coordenadora do projecto e responsável para o mercado asiático, começa as apresentações de “Fé” (título provisório), uma história concebida para celebrar o centenário das “aparições de Fátima”. O orçamento, estimado em 10 milhões de euros, “já está em grande parte assegurado”, diz-nos, nomeadamente através do apoio de diversas empresas privadas como o Grupo Jerónimo Martins que surge como patrocinador principal com a marca Pingo Doce. Será falado em 5 idiomas e “conta a história de Madalena uma rapariga que não acredita em milagres e Tomás o seu irmão “emprestado”, um rapaz confiante e completamente fã da tecnologia, filhos de pais separados, que são enviados para um acampamento de férias onde conhecem um jovem anjo inexperiente, que acidentalmente “caiu” do céu 100 anos mais tarde e sem memória”. Uma “história de aventuras”, assim a apresentam, onde os protagonistas “conhecem os 3 pastorinhos, o Papa Francisco e a Nossa Senhora que os vão ajudar a descobrir o mistério da procura da fé”. A figura do anjo “é cómica”, diz Daniela, e será ajudada pelos protagonistas a recuperar a memória, para depois juntos desvendarem os mistérios da história mas não os de Fátima. “Não vamos entrar nos segredos de Fátima”, garante Daniela, explicando que “Fátima tem coisas boas mas reflectido há 100 anos atrás tem coisas muito duras como os sacrifícios e essas coisas todas. Nós nem sequer entramos nesse campo porque isso não são as coisas boas de Fátima nem o que se deve transmitir às crianças nesta época. Hoje seria descabido.” O objectivo, garante, é “puxar o país para a frente e por isso estamos a produzir na Polónia com uma empresa que elaborou o museu Star Wars”.
UM FILME PARA O MUNDO
Apesar do tom acentuadamente católico, Daniela Teixeira garante que é “um filme para percorrer o mundo sejam as comunidades católicas, muçulmanas ou judias”. A executiva está em Macau, juntamente com o director da empresa e autor da ideia, Rui Pedro Oliveira, para conseguirem fundos para o projecto mas também para receberem a “bênção” do
bispo local para o projecto depois de já o terem conseguido junto do Episcopado português e do próprio Vaticano, já que o Papa Francisco será um dos personagens do filme. Neste momento tentam mesmo que o boneco seja interpretado pelo próprio Jorge Mario Bergoglio. Segundo garante Daniela Teixeira, o bispo de Macau acolheu favoravelmente o projecto e, inclusivamente, avançou ideias para distribuição na China, claramente um dos objectivos desta visita a Macau. A empresa gestora do projecto é a Imaginew, do Porto, que começou por
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laborar na área das tecnologias de informação mas que, como explica Rui Pedro Oliveira, “como para chegar ao topo do sector isso obrigava um investimento muito avultado”, decidiram reorientar-se para a área da multimédia e assim surgiu o enquadramento necessário para a produção desta animação. Para o futuro esperam continuar a apostar em projectos do género mas com outros temas. Segundo garantiram ao nosso jornal já receberam convites para outros filmes. Manuel Nunes
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