DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 30 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4497
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O risco sempre à espreita A aplicação de novas medidas no combate à covid-19 voltou à agenda do Governo, após a detecção em Hong Kong de um caso suspeito de infecção, referente a uma mulher filipina que esteve cinco dias em Macau. Os Serviços de Saúde
COVID-19 | ANJA VISINI
NO CENTRO DO VULCÃO
(SS) dizem agora que o risco de propagação da epidemia na comunidade existe e não é baixo. Os SS dizem ainda que o paciente diagnosticado como o 18.º caso se encontra em estado grave e corre risco de falecer.
ENTREVISTA
PÁGINA 4
FRONTEIRA
O CERCO NECESSÁRIO PÁGINA 5
FUNDAÇÃO MACAU
CONTAS SOMBRIAS PÁGINA 6
PORTUGAL | BNU
TRANSACÇÕES E VENTILADORES PÁGINA 7
OPINIÃO
REFLEXÃO PERDIDA JOÃO LUZ
2 ENTREVISTA
ANJA VISINI RESIDENTE EM BERGAMO E DOENTE RECUPERADA DE COVID-19
“A cada dez minutos passa uma ambulância, noite e dia”
Arquitecta, natural de Bergamo, Anja Visini vive num dos epicentros da covid-19 em Itália, país que diariamente soma centenas de mortes causadas pela doença. Em casa a recuperar da patologia causada pelo novo coronavírus, Anja fala de “indecisão” por parte das autoridades italianas na hora de adoptar medidas de combate à pandemia e descreve o cenário caótico vivido pelos profissionais de saúde, que não têm tempo para atender todos os doentes
Qual é a sua situação clínica actual? Está totalmente recuperada da covid-19? Aqui os médicos não faziam os exames da covid-19 porque a situação já estava tão grave que só faziam testes aos casos de pneumonia. Então há muitíssimas pessoas que estão contagiadas e que não sabem disso, porque não fazem testes e porque estão em casa. Uma vez que fecharam tudo há três semanas ninguém pode sair de casa a não ser para urgências de trabalho, para comprar comida ou medicamentos. A região de Lombardia não estava preparada para fazer exames a toda a população que se suspeitava infectada com o vírus. Pediram às pessoas para não irem ao hospital e ligarem para médicos que, por telefone, diriam o que fazer. Eu tive uma gripe em meados de Fevereiro, antes de rebentar todo este problema. A minha médica disse-me que era uma gripe normal, então tive três ou quatro dias com febre não muito alta, à volta dos 37,5, 38 graus, e depois tive dois dias com febre mais baixa. Depois estive mais três semanas com dificuldade em respirar e tive um dos sintomas fundamentais [da covid-19] que é não ter paladar ou olfacto. Fiquei em casa a pensar que tinha uma gripe normal, mas comecei a falar com amigos sobre os sintomas que tinha. Um amigo teve os mesmos sintomas que eu, e também o pai e a mãe dele, mas a mãe acabou por ir para os cuidados intensivos no hospital. Nessa altura, decidi falar com médicos e confirmaram que, provavelmente, eu também teria a covid-19. Tive de uma forma leve, que não levou a pneumonia ou a graves dificuldades respiratórias. Mas há muitíssimas pessoas que estão na mesma situação que eu, ou seja, tiveram alguma coisa e não sabem o quê, e quando saem para ir às compras transportam o vírus. Há pessoas com febres altas e que estão em casa, porque nos hospitais já não há espaço e os médicos de clínica geral vão monitorizando a situação destes pacientes que ficam em casa com uma bomba de oxigénio ou máscaras para respirar. Os casos mais graves vão para o hospital.
“Vejo que muitas pessoas que conheço têm parentes, conhecidos ou amigos que morreram e quando abrimos o Facebook vemos muitas fotos de pessoas que já estão mortas.”
Como acha que apanhou covid-19? Acho que apanhei o vírus no dia 15 de Fevereiro, porque tive um encontro com colegas de uma associação da qual faço parte e uma rapariga da associação tinha febre, 37,5º, e foi à reunião, porque tínhamos uma votação. Ela vive numa aldeia que é um dos locais onde houve mais infectados. Ela chegou e contagiou metade da associação, cerca de 50 por cento das pessoas que lá estavam. Mas ninguém pensou que podia ser isto, porque nessa altura, em meados de Fevereiro, havia dois ou três casos e as pessoas pensavam que o vírus era apenas um problema chinês. Em Bergamo e Milão todos pensavam continuar a trabalhar e a fazer a sua vida normal. Eram partilhados hashtags como #milaonaopara ou #bergamoisrunning, ninguém pensava que seria uma coisa assim.
Ficou com algumas sequelas da doença? Depois de um mês e meio ainda tenho tosse e alguma dificuldade em respirar. Os cheiros e os sabores ainda não estão recuperados, mas estou bem. Obviamente, fico sempre em casa e não faço muito esforço, não me apercebo se estou muito cansada ou não, mas estou bem agora.
Está a ser acompanhada por um médico à distância? Liguei a minha médica, não temos nenhuma atenção particular. Eles estão cheios de pedidos e é uma situação muito crítica, pois há muitos doentes com formas mais graves de covid-19. Não há tempo para atender toda a gente. Ontem liguei à minha médica e ela quis terminar a chamada rapidamente, disse-me que não comia desde o dia anterior devido ao excesso de trabalho. A situação dos médicos cá é grave, porque têm muitíssimo trabalho, muitos não têm protecção e já não vão a casa dos doentes para não se infectarem. As autoridades italianas têm culpa do que está a acontecer no país, por não terem agido a tempo? Seguramente subestimaram o problema. Aqui na região da Lombardia temos um sistema sanitário que foi privatizado e que não estava preparado para esta emergência.
LOMBARDIA NÚMEROS DA CATÁSTROFE
A
s notícias sobre a pandemia da covid-19 em Itália são reveladoras de uma enorme catástrofe. Agências funerárias e crematórios não têm espaço para realizar funerais e cremações e os hospitais estão tão cheios que há doentes a ficar em casa, sem possibilidade de internamento. Há muito que médicos e enfermeiros são forçados a escolher os doentes a ventilar em caso de pneumonia causada pela covid-19, devido à falta de equipamentos. De acordo com o jornal L’Eco di Bergamo, cidade na zona de Lombardia, havia, este sábado, um total de 39.415 infectados na região, mais 2.117 pessoas em relação à sexta-feira anterior. Nos hospitais da região encontram-se internadas 11.152 pessoas, enquanto que nos cuidados intensivos estão 1.319, mais 27 pessoas face ao dia anterior. Os mortos atingem a fasquia dos 5.944, mais 542 face ao dia anterior. Também no sábado foi noticiado o facto de o país ter ultrapassado a barreira dos 10 mil mortos, ainda que os contágios estejam numa fase de desaceleração. Em 24 horas morreram 889 pessoas, sendo que desde 20 de Fevereiro estão contabilizados 92.472 infectados. A Protecção Civil italiana indicou, no entanto, que a tendência de desaceleração, ainda que lenta, no número de novos contágios se mantém, com mais 8,3 por cento na quinta-feira, mais 7,4 por cento na sexta-feira e mais 6,9 por cento no sábado.
O Governo provavelmente não tomou as medidas necessárias. Alguns políticos pediram desde o começo o encerramento das fronteiras e a suspensão dos voos vindos da China, mas não fizeram isso. Aqui, na região de Bergamo, temos o quarto aeroporto mais importante do país e é uma das zonas industriais mais importantes do país e da Europa. Não podiam parar tudo assim desta maneira. Algumas empresas e fábricas fecharam, mas muitas estão abertas e isso constituiu também um veículo de contágio muito grande. Quando a covid-19 começou a rebentar em Bergamo, o presidente da câmara municipal pediu para fechar e fazer uma zona vermelha, mas o Governo não concordou com a proposta.
“O ambiente é bastante silencioso. Passam os carros da protecção civil com altifalantes a avisar as pessoas para ficarem em casa e o pior de tudo é que a cada dez minutos passa uma ambulância, noite e dia.” Como é o dia-a-dia em Bergamo neste momento? Agora pode-se sair para fazer compras, uma pessoa por família, ou para ir à farmácia ou para urgências médicas. Também é possível sair para ir trabalhar, mas é necessário ter um certificado. Foram impostas sanções. Se uma pessoa estiver infectada e for encontrada na rua pode ser acusada criminalmente. Não se vê quase ninguém na rua, há poucos carros e a qualidade do ar melhorou muitíssimo. A cidade é silenciosa. Normalmente, noutras zonas de Itália às seis da tarde ou nove da noite as pessoas vão cantar para as janelas, mas isso nunca aconteceu aqui, porque a situação sempre foi muito trágica. O ambiente é bastante silencioso. Passam os carros da protecção civil com altifalantes
3 segunda-feira 30.3.2020 www.hojemacau.com.mo
pessoa se dedicava a coisas que valiam a pena. É arquitecta. Como está neste momento a sua situação profissional? Trabalho num estúdio muito pequeno onde fazemos trabalho de curadoria, produzimos livros de arquitectura e organizamos projectos para museus e exposições. Por agora, não temos muitos problemas relacionados com o trabalho, porque o estúdio não é formado por muitas pessoas, somos apenas seis, e podemos trabalhar a partir de casa. O que mudou foi o cancelamento de todos os eventos que estávamos a preparar. O estúdio fica em Milão e todos os eventos estavam relacionados com a Bienal de Veneza ou com a Semana de Moda de Milão, e todos foram cancelados ou adiados. Se a situação continuar assim por muitos meses, obviamente vamos ter problemas porque os contratos vão ser cancelados. Todos os que trabalham no estúdio fazem-no em regime de freelance, não têm contratos e não têm subsídio de desemprego. Esse aspecto pode ser problemático.
“Ontem liguei à minha médica e ela quis terminar a chamada rapidamente, disse-me que não comia desde o dia anterior devido ao excesso de trabalho.” Qual foi o maior erro das autoridades italianas no combate a esta pandemia? A indecisão. Às vezes há que tomar medidas que parecem pouco populares, mas que são medidas responsáveis. O nosso Governo não teve muita clareza nesse aspecto.
a avisar as pessoas para ficarem em casa e o pior de tudo é que a cada dez minutos passa uma ambulância, noite e dia. Agora um pouco menos, mas nas últimas três semanas estávamos sempre a ouvir o barulho das ambulâncias.
Até que ponto esta experiência, não apenas como doente, mas também como observadora, mudou a sua vida? A minha experiência como doente não foi assim tão problemática. Primeiro, porque não foi muito
grave em termos clínicos, mas também porque estava convencida de que tinha uma gripe normal e só depois tive esta revelação. Não foi muito chocante porque já tinha passado. Vejo que muitas pessoas que conheço têm
parentes, conhecidos ou amigos que morreram e quando abrimos o Facebook vemos muitas fotos de pessoas que já estão mortas. Aí uma pessoa olha para trás e começa a analisar se a vida que fazia antes valia a pena, se uma
Como olha para a forma como a China lidou com esta enorme crise? Os chineses têm uma organização diferente da organização italiana. Pode ser mais duro, mas neste caso revelou-se mais eficiente. Os italianos têm uma forma de gozar a liberdade que, por vezes, pode ser um pouco desordenada. Acho que aqui sofremos devido a essa desordem. Por outro lado, nos últimos 10 ou 15 anos o investimento público na saúde diminuiu muito e isso também foi problemático. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
4 coronavírus
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S Serviços de Saúde (SS) de Macau admitiram ontem existir risco de propagação comunitária, após terem sido informados da existência de um novo caso preliminar de contaminação por covid-19 confirmado em Hong Kong. Trata-se de uma mulher filipina de 40 anos que esteve em Macau durante cinco dias. Na base das preocupações das autoridades de Macau está ainda a evolução da situação
SSM LEI CHIN ION DIZ QUE SITUAÇÃO “NÃO É MELHOR QUE EM FEVEREIRO”
Andar para trás epidémica a nível mundial. Isto, no mesmo dia em que a situação clínica do 18º caso confirmado em Macau (ver caixa) passou a ser considerada grave. “Há hoje [ontem] um caso grave e também há um caso suspeito preliminar que deve ter apresentado sintomas em Macau porque esteve cá durante cinco dias. Isto significa que há risco de propagação da epidemia na comunidade e este risco não é baixo. Agora a situação epidémica de Macau não é melhor do que a primeira ronda em Fevereiro. Em muitos lugares da Europa, a situação epidémica está cada vez mais grave e em Hong Kong há também registos de vários casos”, explicou o director dos SS, Lei Chin Ion, por ocasião da conferência de imprensa diária sobre a covid-19. Sobre o caso suspeito identificado em Hong Kong, as autoridades de saúde revelaram que a mulher esteve em Macau entre os dias 22 e 26 de Março e que existe ligação com o caso da banda musical de Hong Kong, associada a vários outros casos no território vizinho. Enquanto esteve em Macau, a mulher almoçou no restaurante Jollibee, fez compras no mercado de São Domingos e contactou com uma trabalhadora não residente, entretanto identi-
HOJE MACAU
O discurso mudou. Os Serviços de Saúde admitem existir risco de surto na comunidade e não afastam a hipótese de vir a aplicar novas medidas depois de um novo caso suspeito identificado em Hong Kong, ter estado em Macau. Foi ainda revelado que a paciente do 18º caso se encontra em estado grave
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Os dois casos foram importados de Portugal, tratando-se o primeiro de um residente de Macau de 21 anos, estudante, que chegou de Lisboa no dia 15 de Março e o segundo, do noivo da 11ª paciente, uma TNR sul coreana, em tratamento desde 15 de Março. “Recentemente temos dois casos que foram detectados nos últimos dias de quarentena. É necessário estender o período? Isto cabe à ciência, não pode ser determinado com um ou dois casos. Olhando para o exterior (...) todos estão a cumprir um isolamento de 14 dias, mas não afastamos a hipótese de estender o período (...), mas primeiro temos de ver os critérios da OMS e do Interior da China”, explicou. Pedro Arede
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EM ESTADO GRAVE A ficada como contacto próximo e colocada em isolamento no Alto de Coloane. Lei Chin Ion aproveitou ainda a ocasião para fazer um apelo à população para evitar concentrações. O director dos SS admitiu ainda que podem vir a ser tomadas novas medidas restritivas em Macau, à semelhança de Hong Kong. “Não afastamos a possibilidade de haver casos locais se continuarem a existir concentrações e (…) aplicar medidas como as de Hong
Kong, mas eu não gostaria. Se os residentes conseguirem diminuir essas concentrações, podem diminuir o número de casos ou o risco de contaminação local”, apontou.
QUARENTENA ALARGADA?
Lei Chin Ion afastou para já o cenário de estender o período obrigatório de duas semanas de quarentena. Isto, depois de o 36º e o 37º casos dizerem respeito a pessoas que estavam prestes a concluir o período de isolamento.
s autoridades de saúde anunciaram ontem o primeiro caso grave de covid-19 em Macau. Trata-se de uma residente de 50 anos, diagnosticada como o 18º caso no território, tendo chegado a Macau no dia 21 de Março, vinda de Nova Iorque. Os exames da paciente foram apresentados por Lo Iek Long a direcção do Centro Hospital Conde de São Januário. “A infecção ocupa mais de metade do pulmão (...) e podemos ver que há inflamação notória nos pulmões e é por isso que hoje ela tem dificuldades respiratórias e baixo teor de oxigénio no sangue”, explicou. Sobre o caso, Lei Chin Ion, afirmou mesmo que “se os sintomas continuarem a agravar-se poderá correr o risco de morrer”.
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COVID-19 CRIADO FUNDO DE APOIO DE 10 MIL MILHÕES DE PATACAS
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OM o objectivo de combater o novo tipo de coronavírus, o Governo vai criar um fundo de apoio adicional no valor de 10 mil milhões de patacas. A medida é destinada especificamente a residentes de Macau, empresas e estabelecimentos comerciais que, devido ao impacto da situação epidémica, “enfrentem dificuldades de sobrevivência ou de exploração dos seus negócios”, pode ler-se numa nota publicada ontem pelo Executivo. Segundo o Governo, a nova ronda de medidas irá permitir “um apoio mais rápido e mais forte nos trabalhos de prevenção e combate à epidemia, em termos financeiros” e surge no seguimento das novas medidas fronteiriças anunciadas nos últimos dias, tanto pelo Governo de
Hong Kong, como pela província de Guangdong. “Como a situação fora do país continua a ser de propagação epidémica e no sentido de evitar o aumento de casos importados do exterior, a Região Administrativa Especial de Hong Kong e a província de Guangdong tomaram, nos últimos dias, novas medidas de controlo de entradas e saídas, que afectarão ainda mais a economia de Macau”, pode ler-se no comunicado. Anova ronda de medidas de apoio serão anunciadas no decorrer da semana. Recorde-se que anteriormente, o Governo já tinha adoptado uma série de medidas no valor de 40 mil milhões de patacas que visaram sobretudo a redução e isenção de impostos, apoios à concessão de empréstimos e incentivos ao consumo.
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política 5
Cultura Novas acções incluem isenção de rendas
O Instituto Cultural (IC) vai lançar um pacote de medidas destinado aos grupos culturais e artísticos de Macau afectados pela covid-19, que incluem, entre outras, a isenção do pagamento de rendas dos espaços do IC entre Abril de 2020 e Março de 2021. Além disso, segundo uma nota do IC divulgada no passado sábado, está também prevista a abertura o Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais Nº2, para actuações dramáticas, a reabertura de duas salas de ensaio no Centro Cultural de Macau (CCM) durante o próximo mês e a transmissão gravada ou ao vivo de produções locais finaciadas. Foi ainda garantido o reembolso total para os espectáculos cancelados. O objectivo das novas medidas, segundo o IC, passa por “oferecer os recursos necessários para as produções (…) locais e apoiar as indústrias relevantes e os trabalhadores freelancer”. O IC anunciou ainda o cancelamento do espectáculo “Hush!! Concerto na Praia”.
Ensino Pedidas medidas para compensar falta de aulas
O deputado Mak Soi Kun quer saber que medidas vão ser adoptadas pelo Governo para garantir que os padrões de ensino não são afectados pelo facto de não ter havido aulas presenciais, devido à pandemia da covid-19. Segundo o legislador, o facto de não poderem ter aulas presenciais afecta os padrões de ensino em disciplinas como a química, devido à ausência de experiências, ou a educação física, onde é necessário fazer exercícios. Porém, para Mak estas falhas devem ser compensadas com aulas. Por isso questionou o Executivo sobre os planos para estas compensações. Finalmente, o deputado questionou se vai haver matérias relacionadas com protecção ambiental e sensibilização para a protecção colectiva e individual de saúde.
HOJE MACAU
segunda-feira 30.3.2020
Wong Sio Chak, secretário para a Segurança “Também achamos que é um pouco rápida essa implementação, especialmente para os residentes que estão a viver no Interior e em Zhuhai”
FRONTEIRA SECRETÁRIO CONSIDERA RESTRIÇÕES NECESSÁRIAS
Cerco apertado
As restrições fronteiriças foram apertadas do lado da Província de Guangdong, com a imposição de quarentena a quem entre a partir de Macau. Uma medida que o secretário para a Segurança considerou ser necessária, rejeitando dizer que não há “um risco grande” na sociedade em Macau
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Governo de Macau foi avisado das restrições fronteiriças na Província de Guangdong algumas horas antes das medidas serem noticiadas, na quinta-feira, embora sem esclarecimentos sobre os pormenores. “Não podemos dizer que é uma medida muito rigorosa para nós porque eles têm as suas ponderações. (...) Penso que ponderaram muito bem antes de tomar esta medida. Eu acho que é necessária”, comentou o secretário para a Segurança na sexta-feira. Sobre a necessidade de
Macau adoptar mais medidas, Wong Sio Chak não colocou a hipótese de parte, mas respondeu que as actuais “já são muito rigorosas”. Desde as seis da manhã de sexta-feira que os visitantes chegados à Província de Guangdong vindos de Macau, Hong Kong e Taiwan passaram a ter de fazer o teste da covid-19 e a ficar 14 dias de quarentena. Os cidadãos estrangeiros com vistos e autorização de residência também são abrangidos pela medida. A diferença temporal entre o anúncio e a entrada em vigor das medidas levou a uma corrida às
fronteiras da RAEM. E no dia seguinte, Wong Sio Chak admitiu que a política criou dificuldades à população de Macau: “Também achamos que é um pouco rápida essa implementação, especialmente para os residentes que estão a viver no Interior e em Zhuhai. Vão ter algumas dificuldades e enfrentar alguns obstáculos quando voltarem para o Interior. Mas segundo sei, haverá medidas especiais, para os residentes de Macau na China e para os alimentos que são importados”, explicou, na sexta-feira, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa.
Na tarde do mesmo dia, e durante a conferência de imprensa diária, Wong Sio Chak falou de negociações entre Macau e a província vizinha no sentido de permitir excepções. Os menores de 14 anos, idosos com mais de 70, comerciantes, transportadores de bens essenciais e condutores de carros com matrículas duplas devem ficar isentos da quarentena, mas a situação não é muito clara para as autoridades de Macau e a aprovação é vista caso-a-caso pelas autoridades do Interior.
DESCIDA DE CRIMINALIDADE
Questionado sobre se as restrições de entradas podem motivar uma diminuição dos crimes leves, o secretário para a Segurança respondeu afirmativamente. Mas apesar de acreditar que um menor fluxo de pessoas vai diminuir a incidência de crimes, defendeu a necessidade de atenção à situação. Em causa está a possibilidade de surgirem outros crimes tendo em conta o estado da economia. “Será que vai haver mais roubos, furtos, esses crimes? Temos de estar atentos. Mas por enquanto sim, os crimes baixaram”, disse. Salomé Fernandes
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6 política
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Associação Novo Macau reagiu aos resultados do relatório do Comissariado da Auditoria (CA) , em particular no que diz respeito à Fundação Macau, considerando que a entidade devia publicar na sua página electrónica os regulamentos internos para a aprovação de financiamento. O objetivo é que pessoas e associações conheçam o conteúdo e consigam “monitorizar” a fundação. “Sabemos pelo novo relatório do Comissariado
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FM NOVO MACAU QUER INFORMAÇÕES PARA FISCALIZAÇÃO DE APOIOS
Milhões na sombra HOJE MACAU
A divulgação de documentos que permitam ao público monitorizar a atribuição de apoios da Fundação Macau. Foi este o apelo da Associação Novo Macau no seguimento do relatório do Comissariado da Auditoria sobre a entidade
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Assim, considera que o Chefe do Executivo devia definir anualmente um montante, devendo as associações com fundos públicos superiores anunciar essa informação. “Mas depois de 1999 (...), o Governo não cumpriu este requerimento legal de definir o montante anualmente”, explicou o deputado, apontando que
Sulu Sou considera que a Fundação Macau “não melhorou a gestão e uso adequado dos recursos do erário público”, apelando à reforma da instituição. Defendeu ainda que o CCAC deve “dar seguimento para investigar mais”. da Auditoria que a Fundação Macau tem regulações internas para a aprovação de financiamento, mas não conseguimos saber o conteúdo deste regulamento interno”, lamentou Sulu Sou, vice-presidente da Novo Macau. Em causa está a “flagrante insuficiência” ao nível da fiscalização por parte da Fundação Macau às contas dos beneficiários de
Executivo acolheu várias opiniões da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa quanto à proposta de alteração à lei que regula as competências e autoridade da Polícia Judiciária (PJ), e vai fazer ajustamentos. A proposta prevê que as autoridades de polícia criminal e o pessoal do grupo de investigação criminal tenha direito à detenção, uso e porte de arma de serviço. Para além disso, após aposentação, caso estes profissionais tenham um tempo de contribuição não inferior a 25 anos têm direito a uso e porte de arma, sendo obrigatório o seu manifesto. “Tendo em conta as políticas penais, o Governo esclareceu sobre esta matéria. A política criminal destina-se a salvaguardar a segurança pessoal dos agentes de investigação criminal. Esta política abrange ainda um conjunto de
apoios financeiros, revelada pelo CA. O relatório de auditoria anterior à entidade datava de 2012. Sulu Sou indicou que nessa altura a associação seguiu o assunto e reportou o caso ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). O deputado considera que desde então a Fundação Macau “não melhorou a gestão e uso adequado dos recursos
do erário público”, apelando à reforma da instituição. Defendeu ainda que o CCAC deve “dar seguimento para investigar mais”, recordando o caso da atribuição de um financiamento da Fundação Macau à Universidade de Jinan em 2016.
MONTANTE MÁXIMO
No entender do vice-presidente da Novo Macau, está
Armados para a vida Governo defendeu porte de arma para agentes de investigação criminal
medidas de prevenção criminal, punição e correcção do autor do crime entre outras”, disse Ho Ion Sang. No entanto, a correcção nem sempre resulta, tendo sido dado como exemplo casos de criminalidade organizada em que há possibilidade de retaliação contra a polícia, com implicações de segurança para este e a sua família. “Pretende-se com este artigo salvaguardar apropriadamente o pessoal em causa”, foi justificado. De acordo com os dados providenciados, há actualmente 1900 pessoas com porte de arma de defesa, ao abrigo do regulamento de armas e munições, um documento que data de 1999. O Governo terá
indicado que vai fazer estudos para realizar alterações, mas dada a complexidade do trabalho de revisão, a proposta em cima da mesa “mantém provisoriamente esse regime”. A maioria de quem tem porte de arma de defesa são ex-polícias. “Nos últimos anos, o Governo tem reforçado a gestão e forma mais rigorosa, porque há 5
em causa o regime geral do direito de associação. Este prevê que “as associações que beneficiem de subsídios ou de quaisquer outros contributos de natureza financeira de entidades públicas, em montante superior ao valor fixado pelo Governador, publicam anualmente as suas contas no mês seguinte àquele em que elas forem aprovadas”.
anos havia 2500 pessoas, e actualmente são só 1900. E o Governo disse que vai reforçar a fiscalização para os indivíduos que têm [esse] direito”, comentou o deputado.
UM COPO A MAIS
Discutiu-se ainda um dos pontos das infracções disciplinares muito graves, referente à embriaguez, quando esta prejudica o desempenho normal das funções do trabalhador. “Claro que se uma pessoa estiver em casa e beber um copo de vinho não cai neste âmbito, desde que não esteja em funções nessa altura”, apontou Ho Ion Sang, salientando, porém, que “para os efectivos da PJ há maior exigência”, dado que têm dever de disponibilidade permanente. Os membros da Comissão consideraram o esse ponto adequado, mas sugeriram uma melhoria ao nível da redacção para clarificar a norma. S.F
“não podemos monitorizar como as associações usam os fundos públicos”. Apontando para a existência de cerca de 20 fundos públicos, Sulu Sou comentou que apesar da promessa do Governo em criar uma legislação específica para a sua monitorização, não é conhecida qualquer calendarização. Salomé Fernandes
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Gabinete de Ligação Yan Zhichan nomeada vice-directora
O Conselho de Estado da República Popular da China nomeou Yan Zhichan como vice-directora do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. A nova vice nasceu na cidade Yangchun, da província Guangdong, em Maio de 1964. Licenciou-se em Gestão de Administração na Universidade de Sun Yat-sen, concluiu a pósgraduação e mestrado em Gestão na mesma universidade. Começou a carreira como funcionária pública em Julho de 1985, tendo desempenhado várias posições no Governo e no Partido Comunista em diversas cidades e províncias, como Zhanjiang, Jieyang, Anhui e Região Autónoma de Guangxi Zhuang, antes de ser destacada para Macau.
sociedade 7
segunda-feira 30.3.2020
COVID-19 BNU FUNDAMENTAL A AJUDAR PORTUGAL NA COMPRA DE VENTILADORES À CHINA
Macau Solidário Arrecadadas 440 mil patacas para Portugal
O movimento solidário de Macau já conseguiu mais de 440 mil patacas para compra de material médico destinado a Portugal para combater a covid-19, disse ontem à Lusa o presidente do BNU. Numa mensagem enviada à Lusa, Carlos Álvares indicou que o montante atual é de 440,327 mil patacas. A angariação de fundos estende-se até 5 de Abril e foi anunciada na terça-feira por um movimento solidário que junta duas dezenas de entidades e personalidades de Macau. O objectivo é, em cerca de 12 dias, recolher fundos para adquirir equipamento de protecção para os profissionais de saúde em Portugal e material que garanta mais testes para despistar a covid-19. As entidades criaram uma conta no Banco Nacional Ultramarino, com o número 9016556516, sob o nome COVID19 – Portugal Conta Solidariedade.
Época de transferências
O negócio da compra à China de 500 ventiladores pelo Governo de António Costa concretizou-se graças à ajuda do BNU, com o embaixador português em Pequim a fazer a prova do pagamento junto à empresa chinesa vendedora. A notícia, avançada pelo jornal Público, adianta que os ventiladores estiveram perto de ser desviados para o Canadá
DSEC Taxa de desemprego sobe para 1,9 por cento
Há mais 700 pessoas desempregadas em Macau. A taxa de desemprego foi de 1,9 por cento entre Dezembro de 2019 e Janeiro de 2020, uma subida de 0,2 pontos percentuais em relação ao período anterior, de Novembro a Dezembro de 2019. A informação, divulgada ontem pela Direcção de Serviços de Estatística e Censo (DSEC), revela ainda que a taxa de desemprego dos residentes se fixou em 2,6 por cento. Já a taxa de subemprego situou-se em 0,8 por cento. Segundo a DSEC, a população desempregada de Macau é composta por 7500 pessoas, mais 700 relativamente ao período anterior, sendo que destes, 10,5 por cento está à procura do primeiro trabalho.
DSAL Garantida compensação por acidente no Galaxy Hotel
No seguimento do acidente de trabalho que ocorreu na semana passada num estaleiro do Galaxy Hotel no Cotai, que causou a morte de três trabalhadores, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) reuniu com representantes das diferentes empresas envolvidas. O organismo comunicou que o pedido de retoma das obras não será autorizado sem alterações às condições de segurança e a apresentação de um relatório sobre o acidente. De acordo com a nota, os responsáveis do estaleiro, em conjunto com a empresa intermediária e a associação de agência de emprego vão prestar apoio aos familiares das vítimas que perderam a vida, “nomeadamente no adiantamento da compensação por acidente de trabalho e no tratamento dos restos mortais”. A DSAL emitiu orientações a 11 associações do sector da construção para tomarem medidas de prevenção e vai organizar uma formação sobre a segurança nos trabalhos em altura aos profissionais do estaleiro onde ocorreu o acidente.
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ORTUGAL encomendou 500 ventiladores à China, mas teve de fazer o pagamento a pronto de 10 milhões de dólares americanos entre domingo, 22 de Março, e as 9h, hora à Pequim, da segunda-feira da semana passada. A operação só foi possível graças a uma transacção feita em tempo recorde que assegurou a compra dos ventiladores, caso contrário a encomenda seguiria para o Canadá. Coube ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau agilizar a transacção para que fosse feita a tempo e horas, conforme exigido pelo fornecedor chinês, escreve o diário português Público. As autoridades portuguesas tinham também de fazer prova de que o depósito tinha sido efectuado.
Uma fonte governamental descreveu ao jornal uma situação de “sufoco” vivida pelos governantes para que fosse assegurada a vinda do material para Portugal. “Este mercado está uma selva!”, disse. “O contrato estava feito para os 500 ventiladores e tinha sido sinalizado pelo Executivo através de uma garantia. Mas, no domingo, o Executivo foi informado, pelo vendedor chinês, de que se não pagasse o total da encomenda, à
cabeça e até segunda-feira de manhã, ela seria entregue ao Canadá. Ou seja, o Governo tinha até às 2h da madrugada de segunda-feira em Lisboa, quando são 9h na China, para transferir dez milhões de dólares americanos para a conta do vendedor”, escreve o jornal.
MILLENIUM E SONAE ERAM OPÇÕES
António Costa começou então a accionar todos os meios de que dispunha, mas todos os bancos
“A solução acabou por ser fazer o depósito através do BNU de Macau. Mas mesmo assim, em contrarelógio. As autoridades tiveram de esperar que o administrador deste banco acordasse para tratar da transferência.” JORNAL PÚBLICO
e departamentos estatais fecham portas ao domingo. O Governo chegou a abrir o Instituto de Gestão e Crédito Público para ter acesso aos 10 milhões de dólares americanos na hora, mas depois foi necessário apoio de outras entidades para transferir o dinheiro para a China. Foi aqui que entrou o BNU Macau, embora, numa primeira fase, se tenha ponderado contactar a sucursal em Macau do Millenium BCP ou a Sonae, que tem uma central de compras na China. “A solução acabou por ser fazer o depósito através do BNU de Macau. Mas mesmo assim, em contra-relógio. As autoridades tiveram de esperar que o administrador deste banco acordasse para tratar da transferência. Em cima da hora limite, 2h da madrugada em Lisboa e 9h da manhã na China, o pagamento foi feito”, adianta o Público. Coube depois ao embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte, a apresentação do comprovativo de transferência que iria assegurar o envio dos ventiladores para Portugal. “O comprovativo do depósito chegou ao Governo [português] às 2h30 da madrugada de Lisboa. Foi imediatamente enviado ao embaixador português na China que tratou de o ir apresentar pessoalmente ao vendedor para assegurar que Portugal não perdia a encomenda de 500 ventiladores”, acrescenta o jornal. Andreia Sofia Silva
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MACAU LEGEND DAVID CHOW SUBSTITUÍDO POR MELINDA CHAN
D
AVID Chow foi substituído pela esposa Melinda Chan na posição de CEO da empresa Macau Legend, que gere a Doca dos Pescadores. A informação foi divulgada em comunicado na passada sexta-feira, e que tem conta de perdas
da empresa na ordem de 190 milhões de dólares de Hong Kong no ano passado, em comparação com ganhos de 1.966 milhões de 2018. Melinda Chan está nos quadros da empresa desde Outubro de 2017, depois de ter perdido o cargo
de deputado na Assembleia Legislativa, onde cumpriu dois mandatos. Segundo a informação disponibilizada, vai auferir de um salário mensal de 187 mil patacas por mês, além de outros bónus e subsídios. Quanto a David Chow, fica como
co-presidente da direcção, mas passa a ter outras prioridades como a “definição das políticas” do grupo. Continua ainda a ser membro da direcção. Outra das alterações anunciada na direcção da empresa foi a reforma da mãe
de David Chow, Lam Fong Ngo, conhecida na indústria como “Madam Lam”. Após 40 décadas, e agora com 96 anos, Lam destacou-se quando trabalhou com Stanley Ho na Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Em 2014, fez parte da lista de
multimilionários da Forbes com fortuna avaliada em mil milhões de patacas. Confessa admiradora da arte da ópera chinesa, em 2008 foi agraciada com a Medalha de Mérito Cultural.
8 coronavírus
(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)
TOP 20 DOS PAÍSES
25146 Em estado crítico
680679
146395
Infectados (total cumulativo)
COM MAIS CASOS 121781
Itália
92472
China
81439
Espanha
78797
Alemanha
58247
Irão
38309
França
37575
Reino Unido
17089
Suiça
14352
Holanda
10866
Bélgica
10836
Coreia do Sul
9583
Áustria
8486
Turquia
7402
Portugal
5962
Canadá
5665
Noruega
4228
Austrália
3969
Brasil
3904
Irael
3865
Suécia
3700
Curados
Co novel
502366 Infectados
(total cumulativo)
E.U.A.
30.3.2020 segunda-feira
(casos activos)
43 Curados
PORTUGAL
120 Mortos
PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)
Portugal
5962
Brasil
3904
Macau
37
Moçambique
8
países com casos de nCov
Angola
5
Guiné-Bissau
4
países sem casos de nCov
Timor-Leste
1
Cabo Verde
6
São Tomé e Principe
0
PORTUGAL
Infectados (casos activos)
27 MACAU
PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)
China
81439
China | Macau
37
China | Hong Kong
641
China | Taiwan
298
Coreia do Sul
9583
Japão
1693
Vietname
188
Laos
8
Cambodja
103
Tailândia
1388
Filipinas
1418
Myanmar
8
Malásia
2470
Indonésia
1285
Singapura
844
Borneo
126
5962
Infectados (casos activos)
10 Curados
HONG KONG
519 Infectados
Macau
(casos activos)
4
HONG KONG
118 Curados
Hong Kong
Mortos
segunda-feira 30.3.2020
ovid-19 l coronavírus
31918
coronavírus 9
28891 Casos suspeitos
Mortos
0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:
+1000
• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia
Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
400000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0
20
40
60
dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294
MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1
MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0
10 china
30.3.2020 segunda-feira
Cabo Verde Recebidas 100 mil máscaras e 20 mil testes As autoridades cabo-verdianas receberam sexta-feira 100 mil máscaras de protecção individual e 20 mil testes rápidos de covid-19 doados pelo Governo da China, anunciou sexta-feira o director nacional de Saúde de Cabo Verde, Artur Correia. “Acabaram de chegar a Cabo Verde, hoje (sexta-feira). Nós temos 100.000 máscaras, 20.000 testes rápidos e mil outros equipamentos que não
Taiwan Taipé quer acolher jornalistas dos EUA expulsos da China
estão bem especificados”, disse Artur Correia, durante a habitual conferência de imprensa de balanço da pandemia no arquipélago. “Está a organizar-se esse donativo, que vai com certeza ser muito bom para nos aliviar um bocado e estarmos mais preparados para responder a eventuais exigências que esta epidemia possa impor aos cabo-verdianos”, sublinhou o director nacional.
Os jornalistas norte-americanos expulsos pela China serão “bem-vindos em Taiwan”, garantiu sábado Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros desta ilha, descrita pelas autoridades locais como “um refúgio para a liberdade de expressão” na Ásia. “Gostaria de vos saudar e dar as boas-vindas a Taiwan, um farol de liberdade e democracia”, escreveu Wu na rede social Twitter, acrescentando que os jornalistas norte-americanos serão acolhidos
em Taiwan “com sorrisos e braços abertos”. Pequim decretou, no início de Março, a expulsão de 13 jornalistas do New York Times, Washington Post e Wall Street, em mais uma escalada no clima de tensão com os Estados Unidos da América.As autoridades chinesas avisaram ainda que os jornalistas expulsos não teriam autorização para trabalhar em Hong Kong, apesar de o território ter autonomia em matéria de emigração.
PAQUISTÃO PEQUIM ENVIA AVIÃO COM MANTIMENTOS E PESSOAL MÉDICO PARA O PAÍS
Rota da solidariedade
A
China enviou sábado um avião com mantimentos e pessoal médico para apoiar o combate à propagação da covid-19 no Paquistão, onde existem 1.408 casos confirmados e 11 vítimas mortais, informaram as autoridades da república islâmica. O reforço do auxílio da China, que na semana passada enviou para Islamabad ventiladores, máscaras e material médico, surge na altura em que crescem as críticas ao Governo paquistanês pela maneira “branda” como estará a combater a pandemia Apesar de ter fechado as fronteiras com o Afeganistão e o Irão, um dos países mais afectados do mundo pelo novo coronavírus, o Paquistão autorizou a realização, em Lahore, de um encontro de dezenas de milhares de clérigos islâmicos de todo o mundo, durante três dias. Pelo menos 200 clérigos acabaram a cumprir quaren-
e Europa através da criação de uma cintura económica da Rota da Seda e de uma Rota Marítima da Seda. Apresentado em 2013, o projecto tem levado a China a implantar-se como a principal potência comercial, através da assinatura de contratos de cooperação com os países destas regiões.
CENÁRIOS CRÍTICOS
O reforço do auxílio da China, que na semana passada enviou para Islamabad ventiladores, máscaras e material médico, surge na altura em que crescem as críticas ao Governo paquistanês pela maneira “branda” como estará a combater a pandemia PUB
MONTEPIO GERAL DE MACAU ASSEMBLEIA GERAL CONVOCATÓRIA Nos termos do Artº 34º, nº 1, al. a) dos Estatutos em vigor, convoco a Assembleia Geral Ordinária para reunir na sua sede, sita na Avenida Doutor Mário Soares, nº 25, 3º andar (4º piso) do Edifício “Montepio”, no próximo dia 14 de Abril de 2020, pelas 17H15, com a seguinte ordem de trabalhos: 1ª – Discussão e votação do relatório e Conta de Gerência do ano de 2019 e do parecer do Conselho Fiscal; e 2ª – Outros assuntos de interesse da Associação. No caso de não comparecer nesse dia e hora indicados, o número de associados mencionado no nº 1 do Artº 36º, considera-se desde já convocada nova reunião, que se realizará no mesmo local decorrida uma hora, com qualquer número de associados. Montepio Geral de Macau, aos 25 de Março de 2020. A Presidente da Assembleia Geral, Rita Botelho dos Santos
tena num campo nos arredores da cidade, e há registo de diversos infectados que regressaram aos respectivos países, nomeadamente na faixa de Gaza, Palestina. O Paquistão continua também a permitir a realização de cerimónias religiosas que atraem às mesquitas milhares de pessoas, por não querer entrar em conflito com os clérigos conservadores. A proximidade do Irão, onde há mais de 35 mil infectados e 2.157 vítimas mortais, parece ser agora a grande preocupação do governo paquistanês, que ainda não avançou com o “lockdown”
(encerramento) do país, como tem sido reclamado pelas autoridades de saúde pública internacionais. A China tem sido o principal apoio internacional destes países, no âmbito do projeto ‘Uma Faixa, Uma Rota’, enviando material, mantimentos e profissionais de saúde, um apoio que a comunidade internacional segue com alguma desconfiança, devido aos planos chineses para a região. O projeto chinês ‘Uma Faixa, Uma Rota’ procura desenvolver redes de cooperação, comércio e infraestruturas entre a Ásia, África
À medida que a pandemia avança pelo Médio Oriente, sul da Ásia e norte de África, tem crescido na comunidade internacional a dúvida se as estruturas de saúde pública de alguns países terão capacidade para dar uma resposta mínima, tendo em conta a instabilidade económica, crises de refugiados e até guerras que têm atingido estas regiões ao longo dos anos. Na Líbia, por exemplo, o sistema de saúde está à beira do colapso após sucessivos conflitos armados, apesar de até agora só haver confirmação oficial de um infectado. O embaixador americano em Tripoli, Richard Norland, apelou sábado aos grupos em conflito que deponham armas e se unam para ajudar o país a enfrentar a propagação do coronavírus. Também na faixa de Gaza há apenas nove casos registados de infecção, mas as estruturas de saúde pública são frágeis devido ao conflito armado e ao controlo apertado da fronteira imposto por Israel após a tomada do poder pelo Hamas, em 2007. O Iémen é outro país dilacerado pela guerra entre os rebeldes Houthis e a coligação liderada pelos sauditas. Nesta guerra morreram já 100 mil pessoas e foram desalojadas centenas de milhares de pessoas. O mesmo sucede no Sudão, onde a economia e as estruturas de saúde foram desmanteladas por sucessivos conflitos que mataram e desalojaram milhares de pessoas.
desporto 11
segunda-feira 30.3.2020
A Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) está a atravessar um calvário que começou mesmo do início do surto do novo tipo de coronavírus. Com metade do calendário decepado e dúvidas sobre se este irá mesmo arrancar, o promotor da competição, a Eurosport Events, tenta encontrar soluções para vários os problemas, como oferecer melhores condições aos pilotos e equipas
D
EPOIS de ter perdido o maior patrocinador do campeonato, a Oscaro, a WTCR viu Marrocos cancelar o seu evento porque a sua estrela, o piloto marroquino Mehdi Bennani, não conseguiu reunir apoios para agarrar um volante a tempo inteiro. Depois, com a propagação do novo coronavírus, perderam-se as provas da Hungria, Alemanha, enquanto que as viagens à Eslováquia e a Portugal estão em sério risco de não se concretizarem. “Estamos a monitorizar de perto a situação em cada um dos nossos eventos da WTCR e estamos em contacto com os organizadores para recebermos actualizações sobre as decisões das autoridades nacionais e locais”, disse Xavier Gavory, Director da WTCR, quando questionado pelo portal SportMotores.com. Com um cenário de recessão a assombrar a economia mundial, a Eurosport Events tomou uma série de medidas. Em vez de três corridas, a
WTCR MELHORES CONDIÇÕES PARA OS PILOTOS LOCAIS
Crise, a quanto obrigas WTCR terá, como tinha o WTCC, duas corridas por fim-de-semana, ambas a serem realizadas no domingo de cada evento. Contudo, devido à anulação de provas, a organização do campeonato tem procurado encaixar as corridas perdidas em eventos posteriores.As provas passam agora a ser de apenas dois dias, em vez de três, podendo haver excepções, como será o caso de Macau. Sábado fica para as sessões de treinos-livres e qualificação, sendo que no domingo realizam-se as corridas.Aqualificação única terá três fases. “Temos que actuar decisivamente e de forma responsável para proteger a WTCR, mantendo-a forte para as partes interessados, apelativa junto dos fãs e da imprensa e assegurar que continua atractiva e acessível a novas equipas privadas”, explicou François Ribeiro, o CEO da Eurosport Events, sobre as providências implementadas. Outras medidas introduzidas em Fevereiro, com o objectivo de cortar nas despesas, ditaram uma redução no pessoal por equipa a trabalhar nas provas e no número de pneus “slicks” novos a usar por fim-de-semana.
TIAGO MONTEIRO CONFIRMADO
Antes mesmo da crise causada pela pandemia em curso, a Taça Mundial já estava com dificuldades quanto ao número de inscritos. A Volkswagen e Audi retiraram o apoio às suas equipas no campeonato e a formação que tomava
conta dos Alfa Romeo irá concentrar-se num outro projecto, decisões que totalizaram oito baixas. Sendo assim, apenas estão confirmadas as presenças de quatro Lynk & Co, de quatro Hyundai, de quatro Honda e de dois Audi. Este os pilotos confirmados está o português Tiago Monteiro. O portuense que venceu no Circuito da Guia em 2016 vai regressar este ano ao campeonato com a equipa Munnich Motorsport, visto que a equipa KCMG de Hong Kong abandonou o campeonato para se focar noutras categorias.Aestrutura alemã irá ocupar-se dos quatro Honda Civic Type-R inscritos na WTCR e Monteiro terá como companheiros de equipa os argentinos Esteban Guerrieri e Néstor Girolami e o húngaro Attila Tassi.
ATRAIR OS LOCAIS
Como ninguém acredita que as grelhas de partida irão ter números nem sequer próximos aos obtidos nos dois primeiros anos, a organização do campeonato decidiu melhorar as condições para os pilotos convidados, aqueles que não participam no campeonato, mas que gostam de fazer uma ou outra prova, como acontece habitualmente no Circuito da Guia, onde alguns pilotos locais aproveitam para medir forças com os melhores do mundo. Os “wildcards” terão agora uma inscrição mais acessível, passando esta a custar 5,000 euros/evento, um montante inferior em metade ao preço praticado
em 2019. Por outro lado, estes “convidados” terão apenas que carregar 10kg de lastro suplementar nas suas viaturas, em vez dos 20kg obrigatórios anteriormente e que os tornava muito pouco competitivos logo à partida.
Recorde-se que na primeira vez que a WTCR visitou Macau, a prova contou com seis representantes do território, incluindo três de matriz portuguesa - André Couto, Filipe Souza e Rui Valente - mas o ano pas-
sado, devido aos elevados custos da participação e às limitações que têm os pequenos concorrentes privados, apenas um piloto da RAEM alinhou na prova. Sérgio Fonseca
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Edital Edital n.º 01/DAT/2020 Assunto: Terreno com a área registal de 63,64 m2, com a área rectificada por novas medições de 252 m2, situado na península de Macau, na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, sem número. Declaração de caducidade da concessão. Processo n.º 23/2017 da Comissão de Terras. Processo n.os 965.02 e 40.05 do Departamento de Gestão de Solos. Revelando-se impossível a sua notificação pessoal, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, faz-se saber ao concessionário do terreno supra-identificado, Ao Chio, ou eventuais herdeiros e demais interessados, o seguinte: 1. Por Despacho do Secretário para os Transportes e Obras Públicas n.º 19/2020, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 13, II Série, de 25 de Março de 2020, foi tornado público que no uso das competências executivas que lhe estão delegadas pelo n.º 1 da Ordem Executiva n.º 184/2019, por seu despacho de 6 de Março de 2020 foi declarada a caducidade da concessão do terreno com a área registal de 63,64 m2, com a área rectificada por novas medições de 252 m2, situado na península de Macau, na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, sem número, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 13 689 a fls. 183 do livro B36, de que Ao Chio era titular, pelo decurso do seu prazo, nos termos e fundamentos do parecer n.º 68/2017 da Comissão de Terras, os quais fazem parte integrante do referido despacho. 2. Em consequência da caducidade referida no número anterior, as benfeitorias por qualquer forma incorporadas no terreno revertem, livre de quaisquer ónus ou encargos, para a Região Administrativa Especial de Macau, sem direito a qualquer indemnização por parte dos interessados, destinando-se o terreno a integrar o domínio privado do Estado. 3. Do acto de declaração de caducidade cabe recurso contencioso para o Tribunal de Segunda Instância, no prazo de 30 dias, contado a partir da publicação e afixação do presente edital, nos termos da subalínea (2) da alínea 8) do artigo 36.º da Lei n.º 9/1999, alterada pelas Lei n.º 7/2004, Lei n.º 9/2004, Lei n.º 9/2009 e Lei n.º 4/2019 e da alínea a) do n.º 2 do artigo 25.º e da alínea b) do n.º 2 do artigo 26.º, ambos do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro. 4. Os interessados podem ainda reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, nos termos do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro. 5. O processo da Comissão de Terras pode ser consultado pelos interessados na Divisão de Apoio Técnico da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, sita em Macau, na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 18.º andar, durante as horas de expediente, podendo ser requeridas certidão, reprodução ou declaração autenticada dos respectivos documentos, mediante o pagamento das importâncias que forem devidas, nos termos do artigo 64.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro. Aos 25 de Março de 2020
A Directora de Serviços, Chan Pou Ha
12
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30.3.2020 segunda-feira
Que dor me faz doer de não ter mais que morrer?
O misterioso pintor a quem chamavam Juran
Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
G
UO Ruoxu, escrevendo cerca do ano 1074, propôs um ideal do pintor cuja essência não pode ser ensinada nem pode ser treinada ou estudada; «está secretamente misturada com a alma; não se sabe como mas está lá.» A pintura serviria assim como lugar da possibilidade de preservação do mistério. Muitas vezes para significar esse enigma, pintores utilizavam como marcas de identidade sinais mais ou menos ilegíveis, os chamados yazi, algo que se pode traduzir como «possíveis caracteres». De acordo com Guo Ruoxu, estes «podem ser designados como carimbos do seu coração ou da sua mente, porque se a origem está no coração é o pensamento que lhes dá forma. Todos os vestígios que se unem ou se fundem no coração podem ser chamados carimbos.» Daí que ele considerasse mais difícil e importante numa pintura a transposição desses vestígios e não a semelhança com as evidências do mundo visível. Foi isso que ele identificou num enigmático pintor que viveu na transição dinástica do fim dos Tang e início do período das Cinco Dinastias e que descreveu como «engenhoso paisagista no qual a tinta e o pincel são ricos. Inexcedível nas atmosferas de bruma (qixang) e nos vastos panoramas de montanhas e rios.» Desse enigma participam os factos incertos da sua biografia; segundo alguns teria nascido em Zhongling (actual Nanchang, em Jiangxi) outros dizem que em Jinling (actual Nanquim, Jiangsu) e o seu próprio nome não é conhecido.
Juran, o nome porque é reconhecido, é composto por dois caracteres que se traduzem como ju - «imenso» e ran - «correcto» ou «tal como», porém ran também é usado como sufixo marcando adjectivos ou advérbios. Assim do ponto de vista da linguagem poder-se-ia traduzir juran como «imensamente». Ran é igualmente um caracter que ocorre na palavra «ziran», um complexo conceito do Daoísmo, usado para significar a estrutura do Dao separado de influências não naturais. Esta sua identidade é referenciada como o seu nome ao entrar como monge no templo Kaiyuan em Bianjing (actual Kaifeng, Henan), a nova capital dos Song para onde se dirigiu, seguindo o último imperador dos Tang, Li Houzhu. Diz-se que teria conhecido a arte da pintura com Dong Yuan (c. 934- c. 962) embora as poucas pinturas que dele hoje existem, utilizando a mesma pincelada que os críticos designaram como «rugas de fibras de cânhamo», mostrem uma muito diferente perspectiva face à paisagem. Na pintura «Inquirindo sobre o Dao em montanhas de Outono», rolo vertical a tinta sobre seda (165,2 x 77,2 cm) que se encontra no Museu do Palácio Nacional em Taipé, são visíveis esses traços do pincel que parecem escorrer como água pelas encostas da montanha. Buscando o mínimo desvio do seu curso natural e assim revelando apenas vestígios do próprio coração do autor identificado com a natureza, pinturas que não careciam de assinatura.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
segunda-feira 30.3.2020
Anabela Canas
1. Aqua Custei a encontrar aquele desenho antigo, recuar quatro décadas de pastas e memórias. Sou a figura sentada. Não essa, a outra mais atrás e que não se vê. Como agora, enquanto caminho ao seu encontro. Não há nada tão profundo e misterioso como uma figura densamente de costas. Quieta numa impressão de imutabilidade. Absolutamente desconhecida, mesmo se no recorte em desenho sobre a tela limpa do céu, é única e ímpar. De quem se vai ao encontro e que chega sempre antes e está ali. De mãos nos bolsos a um metro da vedação à beira do perigo da arriba e, inevitavelmente com o olhar na lonjura. E de frente para o todo. Seria sempre diferente se eu viesse ao longo do carreiro que debrua a falésia e o apanhasse de perfil. Não há nada mais distante do que um perfil. Não se revela a quem vê, nem revela o que vê. E, no entanto, contém como se inevitável, a possibilidade do movimento. De o rosto se voltar num olhar que nos vê chegar. Uma coisa estranhamente desconfortável, penso. Eu tinha aquela paixão antiga. Uma pintura de Magritte. O homem em grande plano, de olhar invisível e costas estanques para o observador e aquela rosa enorme e evidente. Onde só ela se expõe num olhar luxuriante de exorbitância e desafio. Um recorte nítido frio e cortante de rigor. Ali, naqueles ombros que escondem o olhar invisível do homem, o observador vê-se a olhar-se a si próprio. Ultrapassa-os numa paradoxal dificuldade em simultaneamente se ver e ser visto. Tudo numa única figura. E a imagem, de um absoluto congelamento, torna-se inquietante lugar dessa substituição que se sucede sem parar. E a rosa, quase esboça um sorriso enigmático. Às vezes – muito raramente - surpreende-se numa pessoa esse rigor frio num olhar furtivo e nu, apressado e real, que de outras vezes se protege. Momentos fugazes de uma nitidez aleatória no meio de outras fugas. Mas naquela rosa, a abertura de todos os mistérios. A crua incisão do que pode ser um olhar de dentro para fora, ou a dura perspectiva que da paisagem se intromete olhos a dentro. O perigo que reside escondido no olhar de cada um, ela denuncia e repõe. O enigma que é o olhar do outro,
Trilogia ANABELA CANAS
Cartografias
O que é grande torna-nos ínfimos e calmos e faz sentido. Chega aqui, longínquo o estampido espumoso das ondas em baixo. Mas ao longe e olhando adiante, o mar é calmo, uniforme, enorme
o risco sem erro. Quanto muito coberto de desconhecimento mas sempre num desenho que é uma forma alternativa de realidade. O olhar do outro sobre o nosso olhar de nós. Esse o mais lancinante de hermetismo à beira da desconstrução. Como na falésia ali, a subtil erosão. Avanço lentamente em silêncio, a prolongar a eternidade contida nos sinais que fazem o momento. Nestas costas voltadas para mim, a oferecer a vista ampla do lugar. E do olhar como se tornado o meu. Eu via o que me era dado ver naquele reverso de outro olhar. E nada pode ser mais completo e entendido do que ver o que o outro vê. Caminho devagar e nunca amei tanto. Tamanho desconhecido à minha frente e tamanha paisagem em frente a nós. Tive medo de que ao aproximar-me acontecesse tornar-me numa daquelas personagens de Borges numa noite à beira rio - num conto que já não sei - talvez o rio da prata. Que se encontram no mistério da sua deambulação solitária. E um deles desencanta perante a perplexidade do olhar do outro o misterioso e irreprimível livro de areia. Numa imagem poética a lembrar similitudes de Foucault. O abismo incomensurável presente em cada microcosmos, o abismo de eternidade num segundo. O de profundidade numa ínfima paragem de tempo. Enquanto avanço tudo isto me vem à memória e tenho medo de ver mais do que me é mostrado neste olhar que não vejo mas aponta ao horizonte. O que é grande torna-nos ínfimos e calmos e faz sentido. Chega aqui, longínquo o estampido espumoso das ondas em baixo. Mas ao longe e olhando adiante, o mar é calmo, uniforme, enorme. Protege inúmeros e infinitos segredos subaquáticos. Como se nada mais do que uma manta turquesa ou esmeralda consoante a luz. E isso dá-lhe uma espessura quase quente, mesmo nesta manhã fria de primavera. É tudo uma questão de escala e acuidade do olhar na textura complexa que se nos apresenta. O que é grande permanece imutável. Só as circunstâncias se movem. O imponderável persiste. Da próxima vez, o meu lugar. Aquele lugar estranho que ando para te mostrar. Mas tenho que tentar entendê-lo. E chegar antes, para que o vejas.
14 (f)utilidades
30.3.2020 segunda-feira
TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 19 MAX 24 HUM 70-98% • EURO 8.90 BAHT 0.24 YUAN 1.12 ´
OUTRAS GUERRAS
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A Austrália anunciou ontem uma ajuda financeira de 150 milhões de dólares australianos (82 milhões de euros) para a luta contra a violência doméstica, após um aumento dos casos de maus-tratos desde o início da
7 5 2 7 9 2 4 6 3 5 1 9 7 3 4 9 8 3 7 4 25 2 5 1 2 7 6 3 9 8 4 28 8 6 3 9 2 4 5 7 1 8 4 5 7 4 9 5 1 8 2 6 3 5 6 4 9 5 8 4 3 6 1 2 7 9 1 6 2 7 1 8 5 3 4 9 5 7 1 1 3 4 2 9 7 6 5 8 6 9 2 8 1 6 4 9 7 3 5 2 5 6 4 9 5 3 7 2 8 1 6 1 8 3 7 6 8 5 1 4 9 2 4 8 7 1 3 2 27
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26 Cineteatro 5 1 BLOODSHOT [C] 9 3 6 7 BIRDS OF PREY [C] 7 9 4 6 2 8 HAPPY OLD YEAR [B] 1 5 3 4 8 2 SALA 1
C I N E M A
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Um filme de: David S. F. Wilson Com: Vin Diesel, Eiza Gonzalez, Sam Heughan, Toby Kebbel, Guy Pearee 15.30, 21.00
Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.00 SALA 2
(FALADO EM THAI LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS) Um filme de: Nawapol Thamrongrattanarit Com: Chutimon Chuengeharoensukying, Sunny Suwanmethanont
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 27
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PROBLEMA 28
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VIDA DE CÃO
FACHADAS Um vírus não discrimina. Não pede um extracto bancário antes de afectar uma pessoa. Não liga a títulos académicos. Não vê a cor da pele, nem o género ou a idade. Mas as circunstâncias em que as pessoas vivem a epidemia não estão isentas de diferenças económicas, sociais, ou mesmo geográficas. Só ficam escondidas atrás das fachadas dos edifícios. Quem ficou a fazer quarentena no domicílio em Macau dificilmente o fez numa vivenda, com um pequeno quintal onde se pudessem gastar energias a fazer exercício ou, por exemplo, a estudar o melhor pedaço de terra para plantar os vegetais da época, aproveitando o isolamento para se reconectar com a natureza. O mais provável é que tenha ficado num apartamento, com vista para outros apartamentos, onde pode espreitar o céu apenas pela janela e vídeos num qualquer ecrã. O que também pode ser confortável. Mas há quem tenha uma casa preparada para viver, e quem tenha uma casa onde ir dormir. Se o dinheiro não representa imunidade, talvez se possa repensar um pouco a sua redistribuição para que todos possam passar pela ansiedade de um período de quarentena com um colchão igualmente ergonómico. Salomé Fernandes
S U D O K U
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pandemia da covid-19. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, disse ontem que o dinheiro fazia parte de um plano de ajuda 1,1 milhões de dólares australianos (608 milhões de euros) para o sector de saúde.
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7 9 4 3 5 2 7 6 3 1 9 8 2 TURNING 8 [C]3 4 THE 1 3 8 2 4 6 5 1 A BEAUTIFUL DAY IN THE NEIIGHBORHOOD [B] 8 4 6 9 6 5 2 7 9 7 1 5
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THE INVISIBLE MAN [C]
Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 17.00 SALA 3
Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 15.00, 20.15
Um filme de: Marielle Heller Com: Tom Hanks, Mattaew Rhys, Chris Cooper 17.45
4 8 8 2 4 7 6 3 9 1 5 É 2074 quando a segunda Guerra Civil ameri1 O5uso de 2 petróleo 8 4foi 7proibido 3 mas 6 cana 9 eclode. há resistência à mudança no Sul dos Estados 2 4 8 6 5 1 3 7 9 Unidos e drones a sobrevoar os céus. O livro 7o6 9 que 3 a2violência 8 1pode 5 traçar 4 mostra caminho junto de uma família comum no Ocidente, no 1 5 3 9 4 7 8 6 2 seguimento do impacto de alterações climáticas, que 5 força 7 2inúmeras 1 9pessoas 6 a4procurarem 8 3 refúgio em campos e a precisar de ajuda huma3 8 6 4 7 2 5 9 1 nitária. A história acompanha Sarat, uma criança que 4cresce 9 nesse 1 8ambiente, 3 5e o seu 6 desenvol2 7
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AMERICAN WAR | OMAR EL AKKAD
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UM6 LIVRO HOJE 3 7 5 1 9 2
vimento psicológico face às escolhas que tem de fazer. Salomé Fernandes
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opinião 15
segunda-feira 30.3.2020
reencarnações
JOÃO LUZ
O
mundo é um bêbedo agarrado a um poste de electricidade a tentar perceber porque razão a gravidade o odeia tanto. Não acredito que algum dia a clarividência ganhe terreno à boçalidade, a ponderação à estupidez. Mas creio que nunca estivemos tão perto de um acontecimento catalisador de reflexão global, que impulsione ponderação, que leve a um balanço, a avaliação da forma como organizamos as sociedades. A mais básica reflexão é tentar entender quanto vale uma vida. Meter um preço neste item que jamais deveria estar à venda deveria ser abjecto por si só, mas pertinente face ao que se passa. De que vale uma economia se ela não só não funcionar para as pessoas, quão assassino é um sistema que prefere a morte à destabilização dos mercados? Não estou a inferir que a covid-19 começou esta mórbida dialéctica. Já não existem muitos segredos quanto à economia de guerra de lucros perpétuos através do conflito, à discrepância de poder entre o consumo dos países ricos e a produção dos países pobres que cria novas formas de escravidão, ao luxo que se sustenta na miséria, à economia que defende crimes bancários com o sangue dos pobres. Tudo isto é bem real e aceite com complacência de todos. Mas esta crise é diferente, a microbiologia não discrimina entre pobres e ricos e isso une-nos no sofrimento ao mesmo tempo que nos separa para reduzir a propagação. Esta pode também ser uma boa oportunidade para pensarmos enquanto espécie, e anteciparmos o que aí vem em termos de crises climáticas. Uma boa oportunidade que não tenho qualquer dúvida será desperdiçada. Outra área que merece reflexão é a verdadeira força e integridade das uniões e projectos que integram nações ou territórios. Começo pelo local. O novo coronavírus deixou à mostra as fraquezas que já se adivinhavam no projecto da Grande Baía. Sempre que se faz um estudo sobre mobilidade de jovens entre Guangdong, Macau e Hong Kong, os resultados são invariavelmente negativos para o projecto de integração, principalmente nas regiões administrativas especiais. Fracturas que antes ficavam na esfera individual tornaram-se visíveis agora, com
Reflexão perdida
os respectivos governos a impor restrições uns aos outros sem aviso prévio, ou com poucas horas de antecedência. Mesmo que a política obrigue aos paninhos quentes posteriores, estas respostas unilaterais não são bons pronúncios de entendimento, além de que as pessoas conseguem ver a milhas a mitigação política que clama que tudo está bem e em harmonia, enquanto multidões correm para as Portas do Cerco, ou enquanto polícias de duas províncias do Interior trocam murros e pontapés devido à discriminação a que os habitantes de Hubei são sujeitos. Na Europa a desunião é ainda mais gritante, com a total ausência de voz de co-
mando centralizado e as velhas retóricas de povos inferiores versus povos superiores em crescendo, numa altura em que solidariedade é sinónimo de sobrevivência. Além disso, um dos pilares constitutivos da União Europeia (livre circulação de pessoas e bens) implica fronteiras abertas, ou seja, gasolina e vento no fogo descontrolado da propagação do novo coronavírus. Infelizmente, isto dá força aos isolacionistas que temem tudo o que lhes é externo. Calcifica os vários tipos de nacionalismos, numa altura em que o amparo mútuo é essencial. Tantas oportunidades de reflexão que serão desperdiçadas, ou que vão ficar con-
Quanto vale uma vida? Meter um preço neste item que jamais deveria estar à venda deveria ser abjecto por si só, mas pertinente face ao que se passa. De que vale uma economia se ela não só não funcionar para as pessoas, quão assassino é um sistema que prefere a morte à destabilização dos mercados?
tidas em círculos académicos e conversas de iluminados. Sei que vou meter este texto na página e lembrar-me de mais gritantes exemplos de necessidade de ponderação e balanço sobre quem somos. Mas aqui vai mais um motivo para reflectirmos, antes que a frustração se instale. Até que ponto vivemos afastados do essencial e damos primazia ao supérfluo. Para já, não experimentamos escassez de bens a um nível global, além dos golpes desferidos aos sistemas de saúde de todo o mundo. Mas, quando começarmos a sentir a falta de água, um cenário que vai muito para lá do provável, veremos o quão afastados vivemos do essencial. Quando faltar arroz não vamos matar a fome com telemóveis, não vamos guardar legumes na cloud, nem vamos saciar a sede com apps. Na vertiginosa velocidade tecnológica, que marca o avançar da história pela capacidade de processamento, parece que deixámos de processar o essencial.
Quem se gasta em palavras, raramente se gasta em acções.
Restauração Estimadas quebras de 50 por cento
Cerca de 89% dos proprietários de restaurantes e 59% dos retalhistas que participaram num inquérito divulgado pelos Serviços de Estatísticas e Censos anteviram uma quebra do volume de negócios em Fevereiro igual ou superior a 50%. O estudo abrangeu 186 restaurantes e 136 lojas. O impacto causado pela situação epidémica reflectiu-se já nos resultados de Janeiro. Na restauração, 58% dos donos entrevistados declararam descidas no volume de negócios, mais 5 pontos percentuais comparativamente a Dezembro de 2019. No caso de restaurantes de sopas de fitas e canjas, bem como japoneses e coreanos, as descidas chegaram a atingir 30 pontos percentuais. Quanto ao comércio a retalho, em Janeiro o volume de negócios de 48% dos retalhistas entrevistados diminuiu em termos anuais. No sentido inverso, 35% dos retalhistas manifestaram aumentos homólogos no volume de negócios.
UM Finalistas retomam aulas a 20 de Abril
No dia 20 de Abril a Universidade de Macau (UM) vai reiniciar as aulas, mas apenas para os alunos finalistas das licenciaturas. A informação, avançada no sábado através de um comunicado oficial, atesta assim que os restantes alunos continuarão a ter aulas em regime de ensino à distância até ao final do semestre, não estando, por isso, “autorizados a regressar ao campus antes do reinício das aulas sem autorização”. Para os que regressam, as aulas serão em regime misto, integrando assim ensino presencial e à distância focado sobretudo em discussões de grupo e revisões de conteúdo leccionado como forma de preparação para os exames finais. Em comunicado, a UM revela ainda que a época de exames foi adiada, decorrendo agora entre 20 de Maio e 1 de Junho.
PJ Jovem acorda na cama de homem de 29 anos
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A Polícia Judiciária anunciou a detenção de um homem de 29 anos suspeito de ter cometido o crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, após ter levado uma jovem de 15 anos embriagada para a cama. Os dois estavam num karaoke, no dia 23, quando a adolescente se embebedou e foi levada para a casa pelo homem, que é promotor de jogo. Na manhã seguinte, a jovem acordou na cama do conhecido e telefonou para o namorado. A seguir, os dois apresentaram queixa e depois de uma investigação inicial, o homem de 29 anos acabou mesmo detido. O crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência é punido com uma pena entre 1 a 8 anos de prisão.
segunda-feira 30.3.2020
PALAVRA DO DIA
Gustave Le Bon
DIÁRIO SEM BORDO
Por debaixo da porta
N
O fim de semana recebi, por debaixo da porta, uma carta da gerência do hotel. “Agradecemos a sua colaboração e estamos a fazer o que podemos para tornar a sua estadia o melhor possível”. Gostava de poder agradecer pessoalmente o gesto. Os gestos todos de quem está a tentar tornar melhor a existência, não minha, mas nossa. “Bom dia vizinha” cumprimenta-me diariamente o Faustino. No quarto ao lado, tem visto “O Atirador” e fala-me do quotidiano. Reviu o “Ébola”, “mas agora é pior”. Recorda estes tempos que temos vivido. Recordamos juntos. A Dona Adelina falou-me do choro das hienas que se tinha perdido na memória e que agora volta a situar ali, num tempo de infância por terras de África. Gosto de ouvir as suas histórias. Dentro, tem uma vida delas. O Sr. Virgílio hoje está mais bem-disposto. Tem estado um bocadinho cansado. O telefone que nos une aqui dentro tem mais do que uma linha. Tem muitas. Cruzam-nos as existências e confortam-nos os receios. Vi “The Legend of 1900”, recomendado pelo Mário. Tornattore conta a história de um homem que nasceu num navio cruzeiro onde cabia a vida toda. O mundo lá fora era demasiado infinito e assustador. Quando saí de Lisboa, um dos funcionários do aeroporto perguntou-me para onde ia. “Vou voar para Hong Kong” respondi. “Isso
é longe. Boa sorte”. “Protejam-se por aqui”, acrescentei. “Vou aproveitar para estar mais com a minha filha. Tem 4 anos. Agora só posso pensar nisso. Já recebi a carta de despedimento e tenho trabalho até ao final do mês” disse-me a sorrir,
O telefone que nos une aqui dentro tem mais do que uma linha. Tem muitas. Cruzam-nos as existências e confortam-nos os receios a tentar disfarçar a angústia que se avizinhava. Calei-me. Recordo a situação e olho lá para fora. Um mundo parado, num silêncio assustador.
Outros mundos
Há um ano atravessava a pé a pequena estrada entre Mae Sai, nas montanhas verdes do norte da Tailândia, e Tachilek, pequena cidade fronteiriça da Birmânia e de todo um outro mundo. Uma fronteira que esteve anos fechada. Agora está outra vez. Voltei a ver o posto de emigração birmanês. As paredes azuis claras com muitas falhas na pintura. As janelas abertas para afugentar o calor com alguma corrente de ar. As cadeiras eram brancas, de plástico, e o computador, sem ninguém que lhe soubesse
mexer estava coberto para estar protegido. Recordei a espera por uma agente da emigração enquanto admirava o altar que misturava Budas e Ganeshas, todos com flores. O agente chegou. Leu o papel que tinha nas mãos e carimbou-me o passaporte. Um dia, levo a Sara comigo, e vamos ver Bagan de balão. De manhã cedo, que é mais fresco. Depois vamos pedalar as aldeias que abraçam o lago Inle e no final de um dia, cansadas e felizes, pomos as bicicletas numa canoa que nos vai levar a comer um caril de amendoins ou de folhas de tamarindo. Os meus pais seguem religiosamente os exercícios da Rita e sentem-se bem, apesar do corpo
estalar. “É bom sinal”, digo, contente. Já o meu irmão, na sua sala airosa em Lisboa, trabalha mais que o normal, para ajudar o mundo a comunicar. A Sónia mandou-me um poema, a Fátima fez o jantar comigo e o Pedro continua a sair de bicicleta para espantar os males. Tenho saudades. A Carla encontrou lugar para o quadro que tinha guardado. Mandou-me uma fotografia e entrei em casa dela. A Vera precisa de descansar e a Cristina também. Até amanhã Macau, 29 de Março de 2020 M.M.
FALECEU PEDRO ASCENÇÃO
F
ALECEU ontem, domingo, na sua casa em Macau, aos 54 anos de idade, Pedro Ascenção, que foi professor e director do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes. Chegado a Macau no início dos anos 90 do século passado, Pedro Ascenção assumiu o posto de docente na referida escola, chegando depois a ocupar a cadeira da direcção, lugar que veio a abandonar por opção própria. Além disto, foi presidente do Jazz Clube de Macau e, mais recentemente, abriu o seu próprio bar, o Mico. Nascido na Covilhã, Pedro Ascenção fez em Macau a sua vida. Vítima de cancro, deixa esposa e uma filha menor. Amigo antigo deste jornal, a notícia súbita e inesperada da sua morte deixou-nos a todos extremamente consternados. À sua família, o Hoje Macau apresenta os mais sinceros sentimentos. Estás connosco, Pedro. E para sempre. Nunca te esqueceremos.