Hoje Macau 31 MAI 2016 #3582

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 31 DE MAIO DE 2016 • ANO XV • Nº 3582

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

OBRAS PÚBLICAS

CINCO CENTRAIS À VOLTA DE MACAU

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Vizinhos ‘‘ nucleares Quatro das cinco centrais nucleares que rodeiam Macau estão a uma distância perigosa, segundo um analista da Greenpeace de Hong Kong. Ling’Ao a 110 km da RAEM já registou três incidentes só este ano e em construção está a central de Taishan a apenas 67 km. O Governo diz ter um plano de contingência mas não revela pormenores.

Qualidade em queda PÁGINA 5

CINEMA | FESTIVAL

ÚLTIMOS BILHETES EVENTOS

SAÚDE

Malditas bactérias ÚLTIMA

Gastronomia

SABE A POUCO PÁGINA 8

CRIME

No reino do Jogo PÁGINA 7

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GRANDE PLANO

OPINIÃO

Vermelho de sangue TÂNIA DOS SANTOS


2 GRANDE PLANO

NUCLEAR CINCO CENTRAIS A FUNCIONAR OU EM CONSTRUÇÃO AO LARGO DE MACAU

CERCADOS POR TODOS OS LADOS A É notória a agitação que tem andado nas redes sociais por estes dias devido à nova central nuclear de Taishan, que agora se descobriu ter componentes de qualidade duvidosa. Mas Macau está cercada de centrais e uma delas, em Shenzhen, já registou três incidentes só este ano. Quatro delas, diz um especialista, estão a uma distância perigosa. O Governo diz estar atento e ter um “plano de contingência”, mas não explica qual

semana passada saíam notícias de um incidente menor na central nuclear de Ling’Ao (a 110 km de Macau), que seria já o terceiro desde o início do ano. Entretanto, começou a rebentar nova polémica com a construção da futura central nuclear de Taishan, esta bem mais perto de Macau (a 67km), por causa de um componente defeituoso do reactor. Mas o território não tem à sua volta apenas estas duas estruturas – há mais três a funcionar ou a preparar-se para tal, o que leva ambientalistas a questionarem-se sobre a forma como pode ser tratado um acidente de grande dimensão. Em Taishan as notícias de problemas sucedem-se. De acordo com o contrato publicado pelo fornecedor do reactor, um grupo multinacional francês especializado em energia nuclear com sede em Paris chamado AREVA, o vaso de pressão numa das unidades da central foi feito no Japão em vez de ser fabricado em França, como se acreditava anteriormente. Peças-chave de outra unidade, a número dois, incluindo o vaso de pressão do reactor, foram fabricadas inteiramente na China. A revelação surpreendeu especialistas, com alguns a dizerem que os componentes fabricados no continente representam uma ameaça para a segurança. A central nuclear de Taishan é financiada conjuntamente pela China Guangdong Nuclear Power Group (CGN) e pela Électricité de France (EDF). Quando estiver construída será considerada das

“Para mim estamos apenas a testar um novo modo de suicídio” JOE CHAN PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO JUVENTUDE VERDE DE MACAU mais avançadas do mundo ao utilizar tecnologia de terceira geração, o “Reactor Europeu Pressurizado” (EPR). Estes novos reactores possuem um sistema de retenção em caso de derretimento do núcleo e uma protecção de parede de camada dupla, permitindo-lhe resistir a impactos de aviões e reduzir o risco de fugas de radiação no caso de um acidente.

NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA

Apesar dos avanços tecnológicos, em Abril passado, a Autoridade de Segurança Nuclear Francesa (ASN) descobriu excessos de carbono no vaso de pressão de uma central com o sistema EPR

O vaso de pressão numa das unidades da central [de Taishan] foi feito no Japão em vez de ser fabricado em França, como se acreditava anteriormente

em Flamanville, França, com riscos de derrame radioactivo. Um relatório da ASN dizia que o vaso de pressão da central nuclear de Taishan tinha sido produzido pela Creusot Forge, uma subsidiária do grupo francês AREVA. No entanto, informações contratuais públicas da AREVA revelam que as peças foram produzidas pela Mitsubishi Heavy Industries em Kobe, Japão, e enviadas para Taishan, via Hong Kong, em 2011. Mas os japoneses também não são à prova de risco. Vários documentos descobertos pela FactWire revelam que os vasos de pressão de fabricação japonesa também têm riscos de segurança.

MADE IN CHINA? HUM....

Entretanto, a subsidiária da Dongfang Electric Corporation Dongfang (Guangzhou) Heavy Machinery Company assinou um contrato com a Areva em Junho de 2009. A construção do vaso de pressão foi iniciado em Dezembro de 2009, entregue pela fábrica em Nansha, Guangzhou, e seguiu para Taishan a 22 de Outubro de 2014. Este facto nunca tinha sido divulgado. Mesmo quando a subsidiária da CGN, foi listada na bolsa de valores de Hong Kong, em Dezembro de 2014, não houve qualquer menção à China como fabricante das peças-chave da Unidade 2 da central de Taishan. “Não sabia que a China era capaz de produzir um recipiente de pressão”, disse o professor Woo Chung-ho, um ex-cientista sénior na Atomic Energy of Canada. “Este componente é muito especial, é grande. Cada passo no processo


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de fabrico requer um controlo rigoroso. A soldadura do recipiente de pressão é altamente complexa, porque é muito grossa e deve ser capaz de resistir a alta pressão, levantando problemas graves de segurança. “ Entretanto, o engenheiro Albert Lai Kwong-tak da Professional Commons que esta semana já tinha dito que o principal problema de segurança nas centrais nucleares é a complacência, veio agora dizer à imprensa que o facto da China ter produzido os principais componentes da Unidade 2, incluindo o vaso de pressão, levantou preocupações de segurança graves. “A AREVA tem tido vários problemas com a qualidade do produto, mesmo com a falsificação de testes de controlo de qualidade, que a China negligenciou completamente quando recebeu os

Peças-chave de outra unidade (...) foram fabricadas inteiramente na China. A revelação surpreendeu especialistas, com alguns a dizerem que os componentes fabricados no continente representam uma ameaça

componentes”, disse Lai. “Isso mostra que a China carece de poder regulador real e sempre confiou nas medidas de segurança realizadas pelos franceses.” Segundo Lai, a China importa tecnologia nuclear francesa, com o objectivo final de vir a produzir reactores nucleares avançados. Mas, “como as datas de lançamento das Unidade 1 e 2 em 2017 estão apenas separadas por meio ano, não têm tempo para dominar a tecnologia”.

QUATRO PERIGOSAS

Ling’Ao, a central que registou os três incidentes este ano, e Daya Bay, que envia 80% do que produz para Hong Kong, ficam uma ao lado da outra a 110 KM de Macau em linha recta. Taishan, ainda em construção, é a mais próxima, a 67km, e depois existem ainda as centrais de Yangjiang (a 141 km) e Lufeng (a 240 km). Sem contar com futuras centrais, Macau tem pelo menos quatro a distâncias consideradas perigosas, como diz Frances Ieung, analista sénior da Greenpeace Hong Kong. “Veja o caso de Fukushima, o próprio responsável da central disse que em caso de um derramamento sério, até Tóquio, que fica a 160km, teria de ser evacuado e aqui com duas centrais à porta, o Governo [da RAEHK] diz-nos que em caso de acidente apenas algumas áreas de Hong Kong teriam de ser evacuadas. Não dá para acreditar nos planos de contingência, nem na nossa segurança”.

GOVERNO ATENTO, MAS LACÓNICO

Em Macau, o Governo fez sair ontem uma nota de imprensa através

“A AREVA tem tido vários problemas com a qualidade do produto, mesmo com a falsificação de testes de controlo de qualidade, que a China negligenciou completamente quando recebeu os componentes” ALBERT LAI KWONG-TAK PROFESSIONAL COMMONS do Gabinete do Secretário para a Segurança, onde diz “estar atento ao assunto” e refere a existência de um “plano de contingência” desenvolvido em 1995 e revisto em 2011. Mas não diz quais os contornos desse plano. O HM quis saber junto do Gabinete de Wong Sio Chak dados mais concretos sobre o “plano de contingência” mas, até à hora de fecho desta edição, não nos chegou qualquer resposta. “Será que existe um plano de emergência para a população de Macau? Há algum local onde nos possamos esconder?”, preocupa-se Joe Chan, presidente da Associação Juventude Verde de Macau, que espera mais iniciativa da parte do Governo, apesar de reconhecer

que, em termos de definição de política energética no continente, o Executivo local tem uma capacidade limitada. “Há quatro anos entregámos uma carta ao Chefe do Executivo a demonstrar a nossa preocupação mas o Governo de Macau não pode ter uma política activa neste assunto porque é um assunto do continente”, diz, assegurando que vai alertando para a necessidade do território ter um papel mais activo no processo. “Nem sabemos quantas mais se vão construir nos próximos dez anos”, diz Joe Chan, aproveitando ainda para dizer que “nuclear não é solução”. Opinião partilhada por Frances Ieung, com ambos a recomendarem poupanças e o recurso a fontes alternativas de energia. “Para mim estamos apenas a testar um novo modo de suicídio” resume Joe Chan. Opinião diferente tem Cecilia Nip, Directora do Gabinete de Comunicação e Relações Públicas da CEM, que entende ser importante a solução nuclear, pois, explica, “é necessário termos diversas fontes de produção energética no mix. Não podemos depender de apenas uma”. No caso de Macau, contrariamente a Hong Kong, não é possível perceber se a energia consumida localmente é, ou não, nuclear pois, elucida Nip “importamos cerca de 80% da energia da China mas directamente da rede pelo que não é possível determinar a fonte”. Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo

CHINA ACTIVA

N

os últimos anos, a China tem vindo a promover activamente no mercado internacional a tecnologia nuclear desenvolvida pelo Estado. A China National Nuclear Corporation vendeu com sucesso um reactor nuclear de terceira geração ACP-1000 ao Paquistão, tornando-se a primeira exportação de energia nuclear da China. A Turquia comprou quatro reactores nucleares de CGN em Novembro de 2014. No mesmo mês, quando o presidente chinês Xi Jinping visitou o Reino Unido, a CGN assinou um acordo de investimento com a Électricité de France no EPR de Hinkley Point, Sizewell, e para as centrais nucleares de Bradwell, onde deverão ser empregues a terceira geração de reactores nucleares Made in China, os Hualong-1. O projecto provocou manifestações públicas na Grã-Bretanha.


4 POLÍTICA

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Táxis GOVERNO DIZ “NÃO” A PARAGEM EM LINHAS AMARELAS

Conversa acabada PEDIDA LEI PARA UNIFICAR MEDIDAS DE PRODUTOS

O deputado Ho Ion Sang entregou uma interpelação escrita do Governo onde exige a revisão da lei por forma a unificar a forma de medida usada nos produtos vendidos ao público. Ho Ion Sang considera que o Governo deve exigir novas classificações das medidas às lojas. O deputado lembra que as diferenças nas medidas existem nos mercados há muitos anos, o que traz confusão aos consumidores quando têm de pagar as compras. O deputado da União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong) confessou ter voltado a receber mais queixas de residentes sobre o tema, sendo que muitos se queixam de que há comerciantes a usar o quilograma e outros o cate, pelo que é difícil comparar preços. O deputado defende que haja uma unidade de forma unificada para todos os alimentos que não estejam embalados.

GABINETE DE PROTOCOLO PROLONGADO

O Gabinete de Protocolo, Relações Públicas e Assuntos Externos vai continuar a funcionar até Agosto de 2017. A prorrogação do organismo foi ontem dada a conhecer através de Boletim Oficial, num despacho assinado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On. O Gabinete tem como objectivo assegurar a organização do protocolo do Executivo e a gestão dos assuntos consulares não inerentes à política externa, tendo a sua criação sido justificada com o aumento dos trabalhos relacionados com o exterior e a cooperação regional.

O Governo não vai permitir que os táxis parem em zonas sinalizadas com linhas amarelas. A proposta era de Au Kam San mas foi rejeitada pela DSAT. Existem pontos de tomada e largada de passageiros próprios e Raimundo do Rosário nem quer mais responder a perguntas sobre o Regulamento dos Táxis por não ser um assunto da sua exclusiva responsabilidade

O

Governo não vai voltar atrás. Os táxis não poderão parar nas linhas contínuas amarelas para apanha ou entrega de passageiros. A ideia não é nova, mas o deputado Au Kam San voltou a reforçar o pedido ontem, em sessão de pergunta-resposta, na Assembleia Legislativa (AL). “(...) No caso de permitir aos táxis tomar e largar os passageiros nas vias principais, estes poderão causar um impacto muito grande

ao trânsito, pelo que torna-se necessário equilibrar racionalmente as necessidades dos diferentes utentes rodoviários”, explicou o presidente da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, perante a argumentação do deputado pró-democrata. “A maioria das pessoas apoia a revisão do Regulamento dos Táxis para combater as irregularidades, no entanto, é preciso resolver o uso abusivo das linhas

contínuas amarelas e garantir a sobrevivência dos taxistas que cumprem a lei, para que possam prestar melhores serviços aos cidadãos e turistas”, alertou Au Kam San, frisando que em “90% das principais artérias de Macau existem locais com linha contínua amarela para proibir a tomada e largada de passageiros”. Em contra resposta, o Governo explicou que foram estabelecidos postos de tomadas e largadas de passageiros destinados aos táxis.

AVANÇA REVISÃO GLOBAL DA LEI DE HABITAÇÃO ECONÓMICA

D

EPOIS de terminada a análise na especialidade da primeira fase de revisão da Lei da Habitação Económica, em Julho passado, o Governo vai dar início ao “trabalho relativo à revisão global” da lei, que inclui a revisão do actual regime de can-

didatura e a forma de atribuição deste tipo de habitação. Numa interpelação, o deputado Ng Kuok Cheong pediu ao Governo que o novo concurso para a habitação económica aconteça até ao primeiro semestre de 2017, sendo que até ao momento, dos

42600 candidatos, foram atribuídas apenas 1900 habitações económica. Mais de 40 mil pessoas estão “desiludidas”, diz o deputado, porque não sabem quanto tempo precisam para ter uma casa. A explicação, desta vez, chegou pela voz de Arnaldo Santos, pre-

sidente do Instituto de Habitação (IH), que indicou, tal como já tinha explicado Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, que o concurso só poderá “ser aberto quando se encontrar disponível informação sobre a localização, quantidade,

tipologia e outros dados relativos às fracções a concurso”. A par disso, afirmou o presidente, o Governo irá dar início a “estudos sobre a procura de habitação pública, com o objectivo de apoiar a definição do futuro plano de construção de habitação pública”. F.A.

Locais, aponta, com alta procura ou concentração do serviço.

SEM RESPOSTA

Lam Heong Sang aproveitou também o momento para questionar o Governo sobre a situação dos táxis em geral. O deputado acusou a Administração de não apresentar soluções para o verdadeiro problema. “[O Governo] não diz como vamos resolver as questões. O ponto crucial é o taxista, tudo recai sobre os taxistas (...) Temos que encorajar os taxista a honrar a sua classe”, argumentou. “O que espero ouvir da boca do Governo é o lançamento de uma medida de encorajamento à classe. Quero que o Governo se dedique mais a esta classe de profissionais. (...) Parece uma caça ao rato. É ou não é possível implementar medidas para reformar os táxis , para elevar a imagem do sector?”, frisava. Também a deputada Chan Hong aproveitou o momento para questionar o Governo sobre as alterações possíveis à revisão do Regulamento dos Táxis, calendarização de trabalhos e outros termos técnicos. Disse a deputada ser necessário acalmar a sociedade que muito “preocupada” está com a problemática. Também o deputado Zheng Anting juntou-se às declarações da legisladora e sublinhou a necessidade de não avançar com a aplicação do agente à paisana, visto a Polícia de Segurança Pública (PSP) ser suficiente no combate às irregularidades dos serviços de táxis. O deputado Ho Ion Sang reforçou o pedido de calendarização de trabalhos. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, presente na AL, disse compreender as questões, garantido passar, aos três serviços envolvidos nos trabalhos legislativos - DSAT, Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça e PSP - as opiniões do hemiciclo. O Secretário não quis responder a qualquer questão por não ser um assunto só da sua competência. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


5 POLÍTICA

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TIAGO ALCÂNTARA

Sem necessidade

O QUALIDADE DAS OBRAS PÚBLICAS A CAIR, ADMITE RAIMUNDO DO ROSÁRIO

Onde pára o fiscal?

Raimundo do Rosário assume que a fiscalização às obras públicas é um problema porque faltam recursos humanos para o efeito. Ainda que a responsabilidade seja “sempre” dos empreiteiros, o Secretário admite que a qualidade tem vindo a cair e diz estranhar se não houvesse acidentes

A

deputada Ella Lei aproveitou ontem a presença do Governo na Assembleia Legislativa (AL) para questionar Raimundo do Rosário sobre a qualidade da obras públicas, que para a deputada é “má”. O Secretário da tutela admitiu que, nos últimos 15 anos, a qualidade das obras públicas tem diminuído e até piorou. “Deixei Macau durante 15 anos, houve uma queda na qualidade das obras púbicas (...) Mas o primeiro a assumir a sua responsabilidade é o construtor. Isto piorou, claro”, disse. Para o Secretário, a solução passa pela fiscalização do empreiteiro, mas facto é, diz, que há falta de recursos humanos para esse efeitos. “Antigamente tínhamos engenheiros e arquitectos [que faziam a fiscalização], mas agora não temos pessoal para isso. Temos de contar com as empresas de fiscalização. (...) Temos de contratar mais pessoal. Temos de pagar mais, para ter mais pessoal”, explicou, adiantando que neste momento o Governo conta apenas com 80 pessoas para fiscalizar as obras. “Estranho é se

não houvesse problemas”, frisou.

MAIS NA MANGA

A fiscalização e vistoria das obras públicas foi o ponto mais discutido pelos deputados. José Pereira Coutinho foi um dos legisladores que aproveitou o momento para dizer ao Governo que é preciso perceber porque é que a qualidade das obras públicas chegou a este estado. Esta vertente – da fiscalização e vistoria – é a mais importante, diz. “Há 16 anos que estamos a ter muitos problemas, temos de perceber porque é que há má qualidade nas obras públicas. A vistoria tem de ser feita de melhor forma. O Governo tem de assumir uma maior responsabilidade (...)”, argumentou o deputado, indicando que a possibilidade de im-

plementação de um seguro nas obras públicas poderá evitar casos de fuga às responsabilidades em causa de erros. O deputado quis saber que trabalhos estão a ser feitos nesta vertente. Em resposta à deputada Ella Lei, Raimundo do Rosário indicou que o Governo tem vindo a “reforçar a supervisão dos serviços de fiscalização adjudicados, exigindo o cumprimento rigoroso dos respectivos contratos e que as eventuais situações que obstem ao normal andamento das obras sejam tempestivamente transmitidas ao dono da obra”. O Secretário garantiu ainda que “todo o quadro jurídico que regula esta matérias está a ser objecto de avaliação e, se tal se justificar”, o Governo irá introduzir novas medidas que assegurem uma

“Deixei Macau durante 15 anos, houve uma queda na qualidade das obras púbicas (...) Mas o primeiro a assumir a sua responsabilidade é o construtor. Isto piorou, claro” RAIMUNDO DO ROSÁRIO SECRETÁRIO PARA OS TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS

“melhor qualidade das obras públicas”. Apesar de ser da responsabilidade dos proprietários dos edifícios a contratação de técnicos para a vistoria dos mesmos, a cada cinco anos, Raimundo do Rosário admite que muitos não cumprem com as suas obrigações. O Governo “concorda que se imponham medidas que visem reforçar a vistoria aos edifícios, por forma a melhorar o acompanhamento dos trabalhos relativos aos edifícios que carecem de reparação ou se encontram degradados e promover a sua reparação, sensibilizando os proprietários para a sua conservação e o cumprimento das suas obrigações”. O Secretário frisou ainda que, sempre que uma obra é terminada, é realizada uma vistoria nos dois anos seguintes. Se durante esse prazo existir algum problema é sempre pedido ao construtor e empreiteiro que assumam a responsabilidade, frisa ainda. A qualidade das obras em habitações públicas tem sido posta em causa, depois de aparecerem sacos de cimento vazios dentro de paredes ou azulejos de prédios novos a cair. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, voltou ontem a frisar, na sessão plenária na Assembleia Legislativa (AL), que a manutenção das medidas de reconversão dos edifícios industriais não é necessária. Em resposta a uma interpelação da deputada Angela Leong, o Secretário reforça a pouca eficácia das medidas, lançadas em Abril de 2011. “Durante o período experimental de três anos, registaram-se apenas 15 pedidos, sendo que só dois foram aprovados. Uma vez que os resultados não foram satisfatórios, foi decidido não prorrogar o prazo das medidas em causa”, afirmou Raimundo do Rosário. Neste momento, indica, depois dos três primeiros anos de experimentação, a análise dos pedidos está a ser feita “tendo como referência a Lei de Terras e a Lei de Planeamento Urbanístico”. Assumindo o insucesso das medidas, que já tinha sido admitido pelo Governo como justificação para acabar com este plano, Raimundo do Rosário disse

GCS

“Fracasso” nas medidas de reconversão de edifícios industriais

não considerar necessária a sua manutenção, pelo que caberá ao Conselho para a Renovação Urbana, recentemente criado, estudar outras medidas e incentivos que “eventualmente despertem um maior interesse por parte dos proprietários daqueles edifícios”. Rosário frisou ainda que não existem edifícios para fins industriais que acima de rés-do-chão possam ser “usados para fins comerciais ou de escritórios”. “Não é possível”, diz. Neste momento existem 12 pedidos apresentados ao Governo, sendo que sete ainda não apresentaram os projectos de arquitectura, três estão em apreciação e a dois já foi dada a luz verde. F.A.

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Eu, Chen Shumin, venho por intermédio do presente comunicado assumir que sob o nome de “Angle Chan” em página de Facebook, a 12 de Julho de 2015, invadi a página de Florita Maria Córdova Lao e sem a sua permissão divulguei fotografias e fotos pessoais de si e da sua família, bem como forneci o seu contacto pessoal, gerando comentários impróprios. Apresento as minhas sinceras desculpas pelos danos que possa ter causado à imagem e percepção pública de Florita Maria Córdova Lao e sua família.


6 SOCIEDADE

hoje macau terça-feira 31.5.2016

IFT FORMA GUIAS DO CAMBOJA

U

M grupo de 20 guias turísticos cambojanos e quatro da APSARA, entidade gestora dos templos de Angkor Wat, estarão no Instituto de Formação Turística (IFT) para um programa de formação de nove dias. O tema será a criação de capacidades para os guias e a iniciativa surge depois de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, ter assinado no Camboja um protocolo com Tith Chantha, Secretário de Estado do Turismo do país, para a promoção de turismo sustentável através da formação de recursos humanos. A presença de Macau no reino do Camboja surge depois de em Outubro do ano passado, durante o Fórum Mundial de Turis-

mo realizado na RAEM, o primeiro-ministro Hun Sen ter-se encontrado com o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, ficando na altura acordado o reforço da cooperação mútua nas áreas do comércio, investimento, turismo e treino de recursos humanos. O Centro Global de Estudos de Turismo, que em breve será montado pelo IFT, ficará com a responsabilidade de organizar os programas educativos correspondentes, em colaboração com a Organização Mundial de Turismo (UNWTO). A formação destes guias acontece de 13 a 21 de Junho. A delegação de Macau no Camboja foi composta por mais de 50 empresários de diversas áreas, do turismo à banca passando pelo comércio.

FM GARANTE COOPERAR COM CCAC EM CASO JINAN

Wu Zhiliang, presidente do Conselho de Administração da Fundação de Macau (FM), assegura que vai cooperar com o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) na investigação ao caso da doação de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan. Ainda assim, o responsável frisa que o apoio entregue “é legal e racional” e defende que o facto de não ter sido publicada a doação é porque a lei ainda não o exige. “Já discutimos com as associações sobre o problema, pedimos mais transparência quando realizarem iniciativas que foram subsidiadas pela FM”, explicou Wu Zhiliang. O caso envolve a atribuição de cem milhões de yuan pela FM, que tem como presidente do Conselho de Curadores e vice-presidente do Conselho Geral da Universidade Chui Sai On, também Chefe do Executivo. PUB

Estacionamento AFASTADA NOVA ACTUALIZAÇÃO DE TARIFAS

Rodinhas baixas

lugares vagos nos parques de estacionamento. Mesmo nas horas de ponta nos parques situados nos NAPE também é hoje mais fácil encontrar um lugar vago de estacionamento”, disse Kuong Vai Cheok.

PASSOS VITAIS

O

Governo afasta, para já, a possibilidade de um novo aumento das tarifas dos parques de estacionamento públicos. Os preços, que foram alvo de uma actualização em Dezembro do ano passado, vão assim manter-se nas seis patacas por hora, no período diurno, e três patacas por hora no período nocturno. Agarantia foi dada ontem à margem de mais uma sessão do Conselho Consultivo do Trânsito, nas instalações dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). “Não temos planos para uma nova actualização das tarifas. Essa vai ser feita em quatro fases porque não actualizamos as tarifas há muitos anos e queremos aproximar-nos das que são cobradas nos parques de estacionamento privados. Precisamos de acompanhar a situação do mercado para

actualizarmos as tarifas”, disse Kuong Vai Cheok, chefe do Departamento do Planeamento e Desenvolvimento do Tráfego da DSAT. O aumento das tarifas, que não eram actualizadas há cerca de 20 anos, parece estar a ter resultados positivos, já que os condutores podem hoje encontrar, em média, cerca de mais dois lugares vagos por parque em relação ao passado. “Os membros [do Conselho Consultivo] mostraram-se satisfeitos com esta actualização porque há mais

“Não temos planos para uma nova actualização das tarifas”

Kou Kun Pang, membro do Conselho Consultivo, referiu que esta actualização se trata de um “primeiro passo essencial” para acabar com a falta de lugares nos parques de estacionamento. “A DSAT prometeu uma revisão mais tarde, mas tudo irá depender dos espaços vagos nos parques de estacionamento, não apenas a sua localização, mas se se tratam de espaços para residentes ou destinados ao comércio. Vão rever os preços e provavelmente vai ser feito um ajustamento. Mas não há um calendário. O número de espaços disponíveis aumentou, então penso que atingiram o seu objectivo. O Governo não tem falta de dinheiro, o que queremos é ter espaços vazios de forma regular para que os residentes possam ter acesso”, disse. Quanto ao corredor exclusivo para autocarros públicos, localizado entre a Barra e a Doca do Lam Mau, vai passar a funcionar todos os dias da semana a partir do dia 1 de Julho, sendo que já a partir do próximo sábado os incumpridores passarão a ser punidos com multas.

KUONG VAI CHEOK DSAT

Exportações a menos

Economia com contracção de 13,3% no primeiro trimestre

A

economia registou uma contracção real de 13,3% em termos anuais no primeiro trimestre de 2016, arrastada pela queda do sector do Jogo, segundo dados oficiais ontem divulgados. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Produto Interno Bruto (PIB) caiu devido “principalmente à contínua diminuição nas exportações de serviços e à redução do investimento”. A procura externa “não melhorou”, registando-se, entre Janeiro e Março, descidas de 24,6% nas exportações de bens e de

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

13,7% nas de serviços com destaque para a quebra de 17,1% nas de serviços do jogo - e a procura interna “enfraqueceu”, verificando-se decréscimos de 2,3%, de 31,4% e de 19,9%, respectivamente, na despesa de consumo privado, no investimento e nas importações de bens. A despesa de consumo final do Governo foi o único principal componente da despesa que registou um crescimento positivo – aumentou 1,5% em relação ao primeiro trimestre de 2015. Apesar de o mercado de emprego ter permanecido favorável, como refere a

DSEC em comunicado, “o rendimento do emprego não aumentou, arrastando o decréscimo homólogo de 2,3% na despesa de consumo privado, em particular a queda da despesa em bens duradouros”. A despesa de consumo final das famílias diminuiu 2,3% no mercado local, e aumentou 3,9% no exterior.

INVESTIMENTO A CAIR

A formação bruta de capital fixo (que reflecte o investimento) teve uma quebra notória “em consequência da diminuição substancial do investimento do sector privado” - o qual sofreu

uma quebra de um terço (33%) - “quer devido à desaceleração do ritmo de construção das instalações de turismo e entretenimento de grande dimensão, quer em virtude da elevação da base de comparação com o volume de construção do ano passado”. A DSEC releva ainda, neste capítulo, “as descidas de 35% nos investimentos em construção e de 18,9% em equipamento do sector privado”. Já o investimento do sector público desceu 5,5%, com uma redução de 6,5% no investimento em construção, mas um aumento de 91,1% no investimento em equipamento. O PIB alcançou 84,3 milhões de patacas no primeiro trimestre do ano. LUSA/HM


7 hoje macau terça-feira 31.5.2016

MAIS DE MIL TAXISTAS MULTADOS

SOCIEDADE

EXTORSÃO POR IMAGENS DE REGRESSO

Entre Janeiro e Março deste ano, mas de mil taxistas foram multados. Dados ontem apresentados mostram que a PSP e a Direcção dos Serviços para os Assunto de Tráfego (DSAT) multou 1277 motoristas de táxi, menos 26% face ao ano passado, quando houve 1724 autuações. Destes casos, 472 casos eram de recusa de tomada de passageiros (37%), 416 de cobrança excessiva (32,6%) e 93 casos de transporte ilegal, mais seis casos.

Dados da Segurança mostram que houve um retorno nos casos de crime de extorsão por via de ameaças de divulgação de imagens íntimas na internet. No primeiro trimestre registou-se um aumento de quatro para 18 casos comparativamente ao mesmo período do ano passado.

Crime ACTIVIDADES ILÍCITAS LIGADAS AO JOGO AUMENTAM MAIS DE 10%

Em terra de casinos, sequestro é rei Sequestro, usura e extorsão subiram nos primeiros três meses do ano, com um crescimento de 11,2% nos crimes relacionados com o Jogo. A criminalidade geral desceu e, apesar de garantir maior atenção aos casinos, o Secretário para a Segurança diz que não há consequências de maior na estabilidade dos que cá vivem

A

taxa de crime desceu 7,1% no primeiro trimestre de 2016, com 255 casos a serem registados pelas autoridades da Segurança. Os crimes contra o património foram os que originaram mais ocorrências de Janeiro a Março, mas os crimes ligados ao Jogo são os que mostram uma maior tendência de subida. Dados do Gabinete do Secretário para a Segurança ontem apresentados mostram que houve 1914 casos de “crimes contra o património”, uma descida de 8,6% relativamente a 2015. Menos casos de furto (- 3,3%) e roubo (- 8,9%), mas mais crimes de extorsão e usura (106 casos), que subiram de “forma notável”, em 73,3% e 55,9%. Estes dois últimos tipos de crime estão ligados ao sector do Jogo, bem como o crime de sequestro, que viu um aumento de 32,8%, de 67 para 89 casos no primeiro trimestre deste ano. O sequestro inclui-se na tipologia

de “crimes contra a pessoa”, tendo feito aumentar estes crimes em 2,8% face a 2015. No total, houve 626 casos. Ao todo, foram instaurados 368 processos relacionados com crimes do jogo, uma subida de 11,2% face a 2015, e que contaram com mais de 400 pessoas envolvidas. Para Wong Sio Chak, a subida nestes crimes “evidencia as relações entre a segurança e o ajustamento que se vem verificando recentemente no sector do jogo”, mas o Secretário diz que a situação ainda não trouxe “quaisquer consequências” para a segurança de Macau. Até porque, frisa, “não houve informações sobre qualquer anormalidade no comportamento de [seitas] devido ao ajustamento das receitas” e “a maioria dos ofendidos e dos suspeitos não é residente” do território. Mas não só. “Além disso, os processos relativos a estes tipos de crimes foram abertos por iniciativa da própria polícia e a maioria dos casos aconteceu dentro dos casinos. Não há indícios que mostrem que estes crimes se estendam para além do ambiente interno dos casinos, o que significa que a sua ocorrência não constituiu impacto na segurança da sociedade.” Entre Janeiro e Março registaram-se “apenas quatro casos de associação criminosa”, mais um do que em 2015.

NADA DE GRAVE

Um aumento foi também registado na criminalidade violenta, onde mais uma vez a Segurança inclui o sequestro, além do tráfico de droga. No primeiro trimestre deste ano foram registados 181 situações, uma subida de 24%. Contudo, Wong Sio Chak apresenta também outros dados.

1615

pessoas presentes ao Ministério Público (mais 15,9%)

16

casos de delinquência juvenil (mais seis), tendo sido identificados 28 menores envolvidos

3333

inquéritos instaurados (menos 7,1%)

80%

foi a descida nos casos de fogo posto

113

casos de falsificação de documento (menos 35)

424

pessoas apresentadas ao MP por crimes relacionados com o jogo (mais 17,5%)

202

casos de crime de desobediência, mais 6,3%

“No âmbito dos crimes de violência grave, continuam a zero os casos de homicídio ou de rapto e [há] uma casuística muito baixa dos casos de ofensas corporais graves – só um caso, o que representa uma descida de 75% comparando com o mesmo período do ano anterior”, revelou o Secretário para a Segurança, para quem a ausência destes crimes representa uma “melhoria óbvia de situação de segurança comparando com o ano passado”. Os dados mostram ainda aumento nos casos de tráfico e consumo de droga dentro dos 344 casos de “crimes não classificados”, onde se inclui “aliciamento”, “auxílio”, “acolhimento” e “emprego de

“Não há indícios que mostrem que estes crimes se estendam para além do ambiente interno dos casinos, o que significa que a sua ocorrência não constituiu impacto na segurança da sociedade” WONG SIO CHAK SECRETÁRIO PARA A SEGURANÇA

imigrantes ilegais”. No total foram 93 casos, uma descida de 24,4%, relativamente a 2015, mas onde se denotam 48 casos de tráfico de droga e 25 casos de consumo – subidas de 71,4% e 38,9%. Apesar de terem sido detectados 7431 pessoas em situação ilegal no território, Wong Sio Chak diz que “houve uma descida significativa do número de imigrantes ilegais e em excesso de permanência, fruto das estratégias de acções de combate e esforços envidados” pelas autoridades de Macau e regiões vizinhas. Os números indicam que 328 pessoas do interior da China e 64 do Vietname entraram ilegalmente em Macau, enquanto mais de 5500 ficaram cá tempo a mais do permitido.

PROMESSAS DEIXADAS

Wong Sio Chak deixou ontem a promessa de que a PJ vai intensificar a prevenção e o controlo do ambiente nos casinos, sendo que vai também levar a cabo um trabalho de prevenção criminal nas proximidades dessas infra-

-estruturas. A abertura de mais espaços de jogo, prevista para este e próximo anos, também coloca as autoridades de sentinela. “Continuaremos a proceder a ajustamentos na implementação de recursos policiais, a atender às tendências da nova criminalidade e a implementar sistemas de prevenção que proporcionem resposta imediata (...), a Divisão de Investigação de Crimes Relacionados com o Jogo vai reforçar a comunicação e a cooperação e, tendo em consideração os crimes mais frequentes, nomeadamente “usura” para o jogo e “cárcere privado”, a Equipa Especial de Fiscalização procede a acções de prevenção e combate. Além disso, a PJ e a PSP continuam a reforçar a monitorização das sociedades secretas e das associações criminosas, bem como a proceder acções de prevenção e combate eficientes”, indica Wong Sio Chak. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

hoje macau terça-feira 31.5.2016

Tese GASTRONOMIA MACAENSE SEM FORÇA NO TURISMO

Paladares dispersos COTAI COM PROMOÇÕES PARA RESIDENTES

A Cotai Water Jet conta com dois pacotes promocionais, o “compre um e leve um de graça” e a “promoção de aniversário”. O primeiro, em vigor de 1 de Junho a 15 de Julho, na compra de uma viagem os residentes de Macau têm de oferta o regresso, desde que a partida seja da RAEM. Para usufruir da oferta, os portadores de BIR deverão dar a conhecer a data e hora de regresso aquando da compra do bilhete, sendo que é válida para a mesma pessoa uma vez por dia. A promoção abrange também a rota para o aeroporto. Já a iniciativa de aniversário vai até 31 de Dezembro, sendo que a viagem de ida e volta para Hong fica a metade do preço, tendo o valor de 238 patacas em classe económica ou de 438 em primeira classe durante o mês de nascimento do aniversariante.

OBRA DO EPM SOB CONTROLO

O Governo vai assinar contrato com o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade de Macau para o controlo de qualidade na área da electromecânica da Fase II da obra do novo Estabelecimento Prisional de Macau (EPM). O montante do projecto será de quase quatro milhões de patacas, a serem pagos até 2019.

A

Maria João Ferreira defende na sua tese de doutoramento que ainda há muito a fazer para que a gastronomia macaense tenha uma forte presença no turismo local. A académica defende a criação de um “núcleo museológico” dedicado a este tipo de comida

C

HAMA-SE “A gastronomia macaense no turismo cultural de Macau” e deixa recomendações ao Governo para que não deixe morrer uma das comidas mais típicas do território. A tese de doutoramento, defendida por Maria João Ferreira no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (UL), conclui que a gastronomia macaense poderia ter uma presença mais forte no turismo. “Existe um longo caminho a percorrer até que a gastronomia macaense pos-

Polícia de Segurança Pública (PSP) desmantelou uma pensão ilegal na zona Norte e deteve cinco pessoas por abrigo a ilegais e falsificação dos documentos. O caso está agora no Ministério Público. Segundo o Jornal Ou Mun, a PSP terá sido chamada para investigar um apartamento num prédio da Rua de Canal Novo, na zona Norte. No local foram detidas cinco pessoas - um casal e três homens – todos da província de Fujian e com

sa efectivamente contribuir para o turismo cultural de Macau, apesar de estar fortemente implantada no seio das famílias macaenses”, aponta Maria João Ferreira. “Os restaurantes visitados durante a observação directa não demonstraram muito empenho na sua confecção

e divulgação. A dificuldade e a incerteza do retorno do investimento a fazer inibe-os de se aplicarem. Os entrevistados demonstraram alguma esperança na capacidade da gastronomia macaense se firmar, enquanto reconhecem haver pouco apoio governamental

“Existe um longo caminho a percorrer até que a gastronomia macaense possa efectivamente contribuir para o turismo cultural de Macau” MARIA JOÃO FERREIRA ACADÉMICA

Foi tudo varrido

PSP desmantela pensão ilegal e detém cinco pessoas

idades entre os 28 e os 33 anos. A mulher é uma trabalhadora não residente de apelido She e o seu marido, Lam, não tem trabalho e é portador do passaporte da China. Os outros detidos, dois homens de apelido Cheong e um de nome Chan, tinham BIR não permanente falsificados e cartões de segurança

ocupacional na construção civil. Os três admitiram ter comprado os documentos falsificados em Zhuhai, por 500 patacas, e vieram a Macau procurar emprego. She admitiu à PSP que arrendava o apartamento de três quartos por sete mil dólares de Hong Kong e, depois de obter a concordância do

e pouco estimulo à restauração”, pode ler-se. O trabalho académico fala ainda da necessidade de criar “políticas públicas que estimulem e apoiem iniciativas de restauração que ofereçam a gastronomia como um atractivo turístico e/ou património cultural”.

MUSEU PRECISA-SE

Maria João Ferreira defende ainda a criação de um acervo museológico por forma a lembrar uma cozinha tão antiga e tradicional. “Como instrumento de promoção da gastronomia macaense e do seu valor identitário, poderia ser

marido, arrendou um dos três para Chan, que pagou seis mil patacas por três meses em que esteve hospedado, de Março a Maio. She também arrendou um quarto a Cheong por três mil patacas mensais e outro quarto a um outro homem por mil patacas. O apartamento foi bloqueado pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) no último sábado por ser uma pensão ilegal. Tomás Chio (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

criado em Macau um núcleo museológico onde fosse facultada a história das origens das suas iguarias, se zelasse pelo saber fazer dos tempos antigos, enquanto se incentivava às gerações mais jovens a adaptação de receitas a ingredientes alternativos”, pode ler-se. O museu teria ainda espaço para a conservação de velhos utensílios e a criação de acções de formação, com o intuito de divulgar o legado histórico de gerações, como diz a académica, que dá mesmo a ideia de se criar um “Museu Virtual dedicado à Gastronomia Macaense” com base no projecto DIAITA, dedicado ao Património Alimentar da Lusofonia. Criado em 2012, esta plataforma existe na Universidade de Coimbra, em Portugal. A tese de doutoramento de Maria João Ferreira estabelece ainda análises ao sector do turismo. Nas fraquezas são apontadas “vulnerabilidades mais evidentes, sem possibilidade de solução”, como o facto de estarmos perante um “território urbano exíguo”, uma “elevada densidade populacional” e um “clima subtropical com elevada percentagem de humidade”. A autora considera que o património cultural material e imaterial constitui uma força do turismo, juntamente com os recursos turísticos diversificados e a aposta nos resorts com actividades familiares. Maria João Ferreira defende ainda que a quebra do turismo de jogo constitui uma oportunidade. Em relação às ameaças, são apontadas a falta de hotéis económicos, o próprio turismo de jogo, o qual “constitui a maior ameaça ao turismo cultural”, a poluição e a necessidade de dinamizar o aeroporto, com mais voos de baixo custo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


9 hoje macau terça-feira 31.5.2016

Saúde PEDIDAS MAIS MEDIDAS DE APOIO PARA CLÍNICAS PRIVADAS

Na cooperação está o ganho

P

O

necessidade de reforçar a formação de médicos de clínica geral, para além dos médicos de especialidade. Também Kuok Cheong Nang, membro do Conselho e representante de uma associação do sector de clínicas privadas e laboratórios, pediu mais medidas de apoio. “Nos próximos cinco anos, com o aperfeiçoamento do sistema hospitalar, os Serviços de Saúde deviam apoiar o trabalho das clínicas não lucrativas. Como podemos apoiar essas entidades no recrutamento de pessoal? O Plano faz uma referência à fusão do sector público com o privado, mas para além da implementação dos vales de saúde, não vemos outro apoio”, referiu.

FUSÃO NA ENFERMAGEM

“Deve haver maior cooperação entre as associações e o serviço público de saúde. Não vejo neste plano nenhuma referência a um plano para as clínicas privadas para os próximos cinco anos” LAI MA CHEONG PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE MÉDICOS DE MACAU

É a “consciencialização” Casos de violência doméstica já ascendem a mais de 50

Alguns representantes de associações do sector da Saúde consideram que o Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM deve ter medidas mais concretas para a fusão do sector público com as clínicas privadas, defendendo mais apoios além dos vales de saúde OUCO se falou do hospital público que está atrasado. Na sessão de auscultação de opiniões sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM destinado a associações da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura, vários membros do Conselho para os Assuntos Médicos pediram mais medidas que venham a garantir, no futuro, uma maior fusão entre o sector público de saúde e as clínicas privadas. “Deve haver maior cooperação entre as associações e o serviço público de saúde. Não vejo neste plano nenhuma referência a um plano para as clínicas privadas para os próximos cinco anos. Macau tem cerca de 708 clínicas privadas, incluindo 13 centros de saúde. Quantas destas vão existir e qual o papel que vão desempenhar nos próximos cinco anos? Que relação vão ter estas associações com o serviço público de saúde?”, questionou Lai Ma Cheong, também presidente da Associação de Médicos de Macau. A responsável defendeu uma reestruturação da aplicação dos vales de saúde, destinados aos residentes permanentes. “Os vales de saúde funcionam há cerca de cinco ou seis anos e são uma forma para dar mais atenção às clínicas e diminuir o trabalho no serviço público. O Governo tem muitos recursos investidos no sector privado de saúde, em termos de recursos humanos e estruturas, e devíamos fazer um balanço para que os vales de saúde possam ter um maior papel”, apontou. A presidente da Associação de Médicos de Macau falou ainda da

SOCIEDADE

Outro membro do Conselho para os Assuntos Médicos, ontem presente na sessão de auscultação, defendeu uma fusão dos actuais institutos de enfermagem numa só escola. “Concordo com a construção de um hospital das ilhas, está atrasado mas é melhor do que nada. No novo hospital será criado um instituto de enfermagem. Que tipos de enfermeiros e médicos vão ser formados? Gostava que fossem enfermeiros e médicos locais. Como o Governo financia os institutos de enfermagem [do Instituto Politécnico de Macau e Kiang Wu], porque é que não fazem uma fusão, até porque Macau é um território pequeno? Os cursos têm de ser uniformizados, porque são financiados pelo Governo”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

I nst i t ut o de Acção Social (IAS) garante que o aumento de queixas relacionadas com o crime de violência doméstica tem vindo a aumentar em relação ao ano passado. No programa Macau Talk, do canal chinês da Rádio Macau, Vong Yim Mui, presidente do IAS, garantiu que isso se deve a uma maior consciencialização por parte das vítimas e famílias em relação à necessidade de apresentar queixa. Vong Yim Mui disse que o IAS já recebeu, só no primeiro trimestre do ano, um total de 58 queixas ligadas a casos de violência doméstica, número que está muito próximo de todas as 76 queixas recebidas em 2015. A presidente do IAS explicou que neste momento a entidade gere dois centros de acolhimento, com capacidade para receber 50 vítimas, mas está previsto a abertura de mais centros para a prestação de apoio financeiro

e jurídico, para acabar com a dependência da vítima em relação ao agressor. Vong Yim Mui referiu que vão ser elaboradas instruções para que as associações consigam lidar melhor com estes casos. Carmen Maria Chung, chefe do Departamento de Produção Jurídica dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), explicou que as associações podem ponderar colocar pessoal auxiliar a lidar com estes casos, mas também podem optar por não os ter, já que algumas vítimas não querem casos em tribunal contra os familiares. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

MAIS UM CONTRATO DE 470 MILHÕES PARA O METRO

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Governo assinou mais um contrato com a MTR Corporation Limited, empresa de Hong Kong, no valor de mais de 400 milhões de patacas. O anúncio foi ontem feito em despacho assinado por Chui Sai On e publicado em Boletim Oficial. No total, são 474,3 milhões de patacas que o Governo vai gastar com pagamentos à empresa para a “gestão e assistência técnica do projecto do metro ligeiro”. Pagamentos que serão feitos até 2018 e que começam este ano. A empresa gere o metro de Hong Kong e foi já a escolhida

pelo Executivo para a “revisão independente da concepção do sistema e do comboio do metro ligeiro”, num contrato que valeu 7,5 milhões, e para a assistência técnica para a primeira fase de “Programas de Emergência do Parque de Materiais e Oficinas” do metro, que custou aos cofres do Governo um total de 54 milhões de patacas. Mas a empresa de Hong Kong, de capitais maioritariamente públicos, está ligada ao metro desde 2002, quando o Governo encomendou à empresa de Hong Kong um estudo de viabilidade do metro.

PLANO EM NOVOS ATERROS CUSTA MAIS DE DEZ MILHÕES

O Governo vai pagar 16,6 milhões de patacas por serviços no âmbito do “Plano do Desenvolvimento Articulado da Zona Leste de Macau”, como pode confirmarse num despacho ontem publicado em Boletim Oficial. O anúncio, assinado por Chui Sai On, Chefe do Executivo, indica que a Ove Arup & Partners Hong Kong Limited é a empresa que vai estar encarregue da prestação dos serviços que têm como objectivo organizar a Zona A dos Novos Aterros.


10 PUBLICIDADE

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FIVCM FESTIVAL CHEGA AO FIM COM PELÍCULAS INTERNACIONAIS

Queimar os últimos cartuxos Está a chegar ao fim mais um Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau e com ele uma semana de novo dedicada ao cinema internacional. As opções vão do documentário ao humor negro e ao surreal, passando ainda pelo cinema para a família numa série de projecções diárias

D

E amanhã e até 5 de Junho são os dias marcados para as últimas projecções internacionais de mais uma edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau (FICVM). Depois da abertura com o que veio de fora, dos Macau Indies - com o que de melhor se vai fazendo por cá - e de um programa recheado de actividades ligadas à sétima arte, é tempo de despedidas com um retorno ao cinema internacional. Está marcado “Um café no fim do mundo” já para dia 1 de Junho pelas 19h30. Numa co-produção do Japão e Taiwan, a película conta com a realização de Chiang Hsiu-Chiung. A realizadora de Taiwan faz assim a sua estreia no cinema nipónico com este filme à volta de temáticas como a identidade, o desgosto e a definição familiar. Misaki regressa à cidade onde nasceu, na península japonesa de Noto, oito anos depois do desaparecimento do seu pai. Transforma a velha casa flutuante num pequeno café ao mesmo tempo que desenvolve amizade com a família vizinha. Com o passar do tempo desenvolvem-se laços afectivos numa tentativa de unidade familiar num cenário situado no “fim do mundo”.

ALPINISTAS EM DOCUMENTÁRIO

Em formato documental é exibido o americano “Meru” a 2 de Junho à mesma hora. De Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi este “documentário vertiginoso”, como é adjectivado pela organização, conta a história de três alpinistas que tentam cumprir a missão

impossível de subir a este pico também conhecido por “Barbatana do Tubarão”. Por entre tempestades de neve, avalanches e lesões que atingem um dos membros da equipa e que agoiram a indomabilidade do lugar, este documentário “celebra a amizade, a perseverança e o espírito humano”.

COMÉDIA NO FEMININO

Para o serão de sexta-feira, dia 3, está marcado um encontro no feminino com “Jacky no Reino da Mulheres”. Agendada para as 21h30, esta realização francesa de Riad Sattouf faz uma incursão

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA AVÓDEZANOVE E O SEGREDO DO SOVIÉTICO • Ondjaki

As obras do Mausoléu que irá albergar os restos mortais do presidente da República estão quase a terminar. Os habitantes do bairro vizinho descobrem que as suas casas serão destruídas porque o espaço circundante ao monumento será requalificado. Duas crianças decidem explodir o Mausoléu e assim poupar o bairro onde sempre viveram. Entretanto o responsável pela obra, um soviético, apaixona-se pela avó de uma das crianças. Entretanto essa avó tem de ser operada para lhe amputarem um dedo do pé. Entretanto existe uma outra avó que aparece muito mas não existe. Entretanto o plano das crianças falha, mas o Mausoléu é destruído…

na República Democrática de Bubunne, onde são as mulheres que governam, dão ordens e fazem a guerra e o uso de véus e as tarefas domésticas cabe aos homens. Jacky é um desses homens que sonha em casar com a filha da ditadora-general Collonelle, aqui protagonizada por Charlotte Gainsbourg, numa “divertida comédia que aborda a inversão de papéis”. O festival soma e segue com “Operação Ártico”, recomendado para as famílias, numa produção norueguesa levada a cabo por Grethe Boa_Waal. No sábado às 16h30 a “Operação” arranca com a

história de Julia, que se muda com a mãe e os irmãos gémeos para uma pequena cidade. Na ânsia de se reencontrarem com o pai que trabalha no sul do país, os irmãos entram escondidos num helicóptero que voaria nessa direcção. A rota não seria essa e os irmãos vêem-se perdidos e sozinhos numa ilha deserta onde são obrigados a enfrentar tempestades, fome e ursos polares. Para a organização é um filme de coragem e resiliência para lidar com a vida. No mesmo dia também vai pairar no ecrã o humor negro com a “Festa de Despedida”. É

EVENTOS

“uma comédia negra e emocional sobre a amizade e a importância de aprendermos a dizer adeus”. Aqui, um grupo de amigos de uma casa de repouso de Jerusalém, para ajudar um companheiro em estado terminal, constrói uma máquina de auto-eutanásia. Quando o conhecimento da existência deste dispositivo se espalha, cada vez são mais os doentes a pedirem este “apoio”, confrontando os protagonistas com os dilemas daí advindos.

DESPEDIDAS

Dia 5 de Junho encerra as projecções internacionais com “A Múmia do Príncipe” e “Deus Branco”, ambos às 16h30. O primeiro, dedicado ao cinema em família, vem da Holanda e conta com a realização de Pim van Hoeve na narração da história de uma criança de 11 anos cuja vida muda ao encontrar uma múmia “encantada”. A múmia de Dummie, um jovem príncipe, volta à vida após ser atingida por um raio quando é transportada para o museu. Dummie é o oposto do tímido Gus e ambos desenvolvem uma amizade improvável. “Deus é Branco” é o filme vencedor do prémio “Un Certain Regard” do Festival de Cannes 2014 de produção húngara e alemã e que conta a história de “terror e vingança” numa perspectiva canina. Realizado por Kornél Mundruczó, o filme mostra os direitos à rebelião a partir do ponto de vista de um cão. Numa altura em que as novas legislações taxam as raças mistas levando ao abandono de inúmeros animais, Haggen, abandonado nas ruas, passa pela experiência de sem abrigo sendo posteriormente capturado e levado para um canil. Ali, e com poucas esperanças de sobrevivência, os cães vão aproveitar uma oportunidade de fuga para se revoltarem contra a humanidade. A produção que conta com a participação de Israel e Alemanha e com a realização de Sharon Maymon e Tal Granit está agendada para as 21h30. Os bilhetes rondam as 60 e 80 patacas e os filmes vão estar em exibição no Centro Cultural de Macau.

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SUBMISSÃO • Michel Houellebecq

Paris, 2022: Às portas das eleições presidenciais, França está dividida. O recém-criado partido da Fraternidade Muçulmana conquista cada vez mais simpatizantes, graças ao seu carismático líder, numa disputa directa com a Frente Nacional. Poucos dias depois do desfecho eleitoral, os franceses descobrem um país que já não reconhecem. É tempo de questionarem-se sobre se devem e podem submeter-se à nova ordem. “Submissão” convida a uma reflexão sobre o convívio e conflito entre culturas e religiões, sobre a relação entre Ocidente e Oriente, sobre a relação entre cidadãos e instituições. Uma fábula política e moral surpreendente, Submissão é o romance mais visionário e simultaneamente mais realista de Michel Houellebecq.


12 CHINA

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hoje macau terça-feira 31.5.2016

empresa de Cosméticos Leishang, um fabricante chinês de detergente, pediu desculpa, depois de ter sido criticado na imprensa internacional e redes sociais por um anúncio em que um homem negro converte-se num chinês após ser “lavado” numa máquina de lavar roupa. Com sede em Xangai, a empresa esclareceu que condena a descriminação racial, e lamentou a “amplificação” negativa dada pela imprensa. Na semana passada, a firma culpou a “hipersensibilidade” ocidental pela polémica. “A ideia era recorrer ao exagero artístico para fazer comédia. Não tínhamos intenção de discriminar (...) mas não nos desresponsabilizamos pelo seu controverso conteúdo”, disse o grupo, num comunicado citado ontem pela imprensa oficial. Namesmanota,aLeishang pede desculpa “pelo dano causado ao povo africano e pela difusão e amplificação feita pela imprensa”. O anúncio mostra um homem negro, envergando

mesmo anúncio, limitou-se a dizer que não entendia como é que “em vez de um homem loiro e branco, é um chinês que sai da máquina de lavar roupa”.

LEISHANG PENITENCIA-SE POR ANÚNCIO CONSIDERADO RACISTA

Desculpem lá, mas... roupas sujas com marcas de tinta, a ser seduzido por uma jovem chinesa, que lhe assobia e pisca o olho. O homem aproxima-se e tenta beijar a mulher, que no último momento se esquiva e lhe enfia uma cápsula de detergente para a roupa “Qiaobi” na boca, forçando-o para dentro da máquina de lavar. Momentos depois, um chinês emerge da máquina, arrancando risos de entusiasmo à mulher.

INCONSCIÊNCIA?

Em declarações ao jornal oficial China Daily, Liu Junhai, professor de lei civil e comercial na Universidade Renmin, em Pequim, disse que o anúncio reflecte a falta de consciência sobre questões raciais na China. “As marcas chinesas deviam manter-se alerta

ITALIANOS À FRENTE

“A ideia era recorrer ao exagero artístico para fazer comédia. Não tínhamos intenção de discriminar (...) mas não nos desresponsabilizamos pelo seu controverso conteúdo” COMUNICADO DA EMPRESA DE COSMÉTICOS LEISHANG devido à rápida propagação nas redes sociais”, afirmou, acrescentando que a sensibilidade sobre questões raciais entre anunciantes e

o público na China não é tão elevada como nos países ocidentais. O jornal oficial Global Times preferiu apontar o

“excesso de sensibilidade” dos órgãos de comunicação estrangeiros. Uma chinesa questionada pela agência Lusa sobre o

Em Pequim, é frequente os anúncios de emprego para professores de inglês - ocupação de boa parte dos estrangeiros radicados na cidade - darem preferência a pessoas de pele clara e excluírem, explicitamente, africanos. Neste caso, porém, os anúncios excluem também candidatos com feições asiáticas - mesmo se nativos de inglês - ilustrando o prestígio que a pele clara exerce na sociedade chinesa. Recorde-se, todavia, que este anúncio que agora gerou polémica é apenas o remake de um filme publicitário italiano de 2006 (Coloreria Italiana) onde, em vez de um preto se tornar chinês, um branco torna-se preto e, até à data, não há informação de ter gerado qualquer polémica. Também não se notam grandes comentários quanto ao evidente plágio da marca chinesa.

PUB HM • 1ª VEZ • 31-5-16

REIMINBI NO VALOR MAIS BAIXO DESDE HÁ CINCO ANOS

ANÚNCIO Habilitação (Apenso)

nº CV1-14-0059-CAO-B

1º Juízo Cível

REQUERENTE: 1. WONG KIN HONG, casado com Leung Yuet Ching Joanne, no regime da separação de bens, de nacionalidade chinesa, residente em Hong Kong, Flat F 19/F, Blk 3, Laguna Verde, Hunghom, KLN; e 2. CHING WAI TING, casado com Yuen, Kwok Hing, no regime da separação de bens, de nacionalidade chinesa, residente em Hong Kong, FT C6 10/F, Tower C, Elizabeth Hse, 254 Gloucester Road, Causeway Bay. REQUERIDOS: (1) Sucessores incertos do LEONG IOK K´EONG; (2) LEE CHING WAI, portador do B.I.R.M., residente em Macau, na Rua Eduardo Marques n.º 40; (3) LEE CHUNG WAI, portador do B.I.R.M., residente em Macau, na Rua Eduardo Marques n.º 40; (4) CHEUNG MING MING, portador do B.I.R.M., residente em Macau, na Rua Eduardo Marques n.º 40; (5) YIP TZE CHUN, com última residência conhecida em Macau, na Rua Entre-Cam pos, n.ºs 34-34A, ora ausente em parte incerta; (6) WONG HIU MAN, com última residência conhecida em Macau, na Rua Entre -Campos, n.ºs 34-34A, ora ausente em parte incerta; (7) LEE LAIN WAI, com última residência conhecida em Macau, na Rua Entre-Cam pos, n.ºs 34-34A, ora ausente em parte incerta. *** FAZ-SE SABER que pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., correm éditos de TRINTA DIAS contados a partir da 2ª e última publicação deste anúncio, citando 1º requerido Sucessores incertos do LEONG IOK K´EONG, 5º requerido YIP TZE CHUN, 6º requerido WONG HIU MAN e 7º requerido LEE LAIN WAI, supra identificados, para no prazo de DEZ DIAS, findo o dos éditos, deduzir oposição à presente habilitação, nos termos dos artigos 301.º e 302.º do Código de Processo Civil, com advertência de que a falta de contestação não importa a confissão dos factos articulados pelo requerente, e ainda que é obrigatória a constituição de advogado (nos termos do artigo 74.º do C.P.C.), caso contestem, tudo como melhor consta do requerimento inicial, cujos duplicados se encontram nesta Secretaria à sua disposição. Mais fica citado de que deve fornecer a identificação e o endereço de contacto de outros herdeiros, caso se tenha. * R.A.E.M, aos 13 de Abril de 2016

O

Banco Central chinês anunciou ontem a desvalorização do yuan para a cotação mais baixa em mais de cinco anos, face ao dólar norte-americano, numa altura em que se espera uma subida das taxas de juros nos EUA. Segundo as cotações do banco central chinês, ontem de manhã, um dólar valia 6,5784 da moeda chinesa, mais 0,45% do que na terça-feira. Trata-se da cotação mais baixa do yuan desde Fevereiro de 2011. A moeda chinesa não é inteiramente convertível, sendo que o seu valor face a um pacote de moedas internacionais pode variar, no máximo, dois por cento por dia. “O yuan vai sofrer uma depreciação gradual”, disse à agência noticiosa Bloomberg o economista da Goldman Sachs/Gao Hua Securities Song Yu. “O principal motivo para esta desvalorização será um dólar mais forte, devido às expectativas de que a FED [Reserva Federal] suba as taxas de juro”, detalhou. Na semana passada, a presidente da FED, Janet Yellen, sugeriu que as taxas de juro vão aumentar em breve, durante um discurso proferido na Universidade de Harvard. Em Agosto, o yuan caiu quase 5% numa semana, aumentando o receio de que Pequim esteja a procurar desvalorizar a moeda para ganhar competitividade, mas as autoridades têm rejeitado essa possibilidade.

XI JINPING ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO É OPORTUNIDADE

O

presidente chinês, Xi Jinping, pediu mais atenção para a população envelhecida do país. Estas declarações foram feitas na tarde de sexta-feira numa sessão de estudo sobre o país e o futuro de uma sociedade em envelhecimento, ao qual assistiram membros da Comissão Política do Comité Central do PCC.

O presidente enfatizou a importância de cobrir as necessidades da vasta população de idosos e de resolver os problemas sociais. Com o maior número de idosos do mundo, a China tem melhorado vindo a dedicar-lhes mais atenção, disse Xi. Não obstante, ainda há muito para fazer e existe uma grande diferença entre a realidade e a expectativa dos idosos, assinalou. Xi pediu “uma atitude positiva”, pois os idosos merecem a aceitação e respeito do público e devem desenvolver respeito próprio e independência. Na óptica do presidente, os idosos devem ainda ser incentivados a desempenhar um papel na educação moral e resolver os conflitos sociais. Xi assinalou também “perspectivas brilhantes” para as empresas devido à enorme demanda de produtos e serviços. O presidente acrescentou ainda que o apoio do Governo deve impulsionar novos pontos de crescimento. Há mais de 220 milhões de pessoas com 60 ou mais anos na China, ou seja, 16% da população.


13 hoje macau terça-feira 31.5.2016

“S

E não podes com eles, junta-te a eles” parece ser o mote das recentes iniciativas por parte do Governo Central e média chineses, numa tentativa de aproximação dos princípios partidários socialistas a uma juventude cada vez mais consumista. Neste contexto foi lançado em Março o tema “Karl Marx is a post-90” pelos músicos da “Perfume Band”, depois das forças militares chinesas terem feito uso de Rock para recrutar jovens. Se o Rap, bem como outros géneros musicais seriam até agora uma componente associada à intervenção e revolta perante sistemas mais ou menos opressores, na China deu-se a volta ao texto: passa agora a andar de braço dado com o regime. Exemplo disso é o mais recente tema que se está a tornar viral nos média sociais chineses e que contempla o tema dedicado à ressurreição pop da filosofia do alemão Karl Marx, pai do Socialismo e autor do “Manifesto Comunista”. “Karl Marx is a post-90” é o título do tema que remete por si só para a nova geração de “millenials” e traz o ressuscitar da “fé” de uma juventude. Segundo o Daily Mail britânico, apesar do marxismo ser componente de

CHINA

Quando Marx passa a Vénus Músicas de Rock e Rap na promoção do Socialismo chinês

estudo obrigatória é tido pelos alunos como “aborrecido”. O tema saiu em Março e tem tido uma divulgação viral, sendo que atingiu os níveis de partilha mais altos a 5 de Maio, data que marcou o 198º aniversário do filósofo do século XIX.

LETRAS ADAPTADAS

“Eu sou o teu Bruno Mars, mas tu és a minha Vénus, meu querido Marx” é refrão da música da “Perfume Band”. Com letra patriótica entre o pop de agora

“Eu sou o teu Bruno Mars, mas tu és a minha Vénus, meu querido Marx” REFRÃO DA MÚSICA DA “PERFUME BAND” e a filosofia de há dois séculos, proferida em Inglês e Mandarim, sobressaem versos como “não vamos desistir até morrer” ou “vi

a minha fé e nem me perguntes porquê”. A liberdade e liderança não ficaram esquecidos, sendo que o tema conclui com “mas pela nossa fé marchamos em frente, passo a passo”. São ainda abordadas as chatices do estudo escolar, mas que no futuro são dissipadas pelo reconhecimento da genialidade dos princípios, adianta o Daily Mail. Fortemente usado pelos média, este tema da “Perfume Band” encontra o seu lugar ao sol, sendo que é esperado um programa de

televisão dedicado ao público mais jovem de modo a “expor as audiências às teorias marxistas”, adianta o International Business Times. Já a Associated Press refere ainda as iniciativas recentes de promoção do partido comunista, das políticas governamentais e das forças militares através de curtas-metragens animadas e bandas de Rock e Rap. No início do mês foi também lançado uma vídeo montagem de recrutamento pelas forças armadas em que, por entre armas e tanques, se cantava “à espera de ordem para matar, matar, matar” em versão Rock/Rap. Na mesma publicação é citado Xi Jinping em declarações num seminário académico no início deste mês, onde o Presidente chinês refere a necessidade de adaptar o marxismo às condições contemporâneas, sendo que “o marxismo... não encerra a verdade, mas abre a porta e pavimenta o caminho para chegar à verdade” .

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Anúncio Alteração da data de abertura das propostas do concurso público «Serviços de manutenção e reparação do sistema de climatização das Instalações Desportivas situadas em Macau geridas pelo Instituto do Desporto» Avisa-se que a data de abertura das propostas do concurso público «Serviços de manutenção e reparação do sistema de climatização das Instalações Desportivas situadas em Macau geridas pelo Instituto do Desporto» publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, II Série, n.o 17, de 27 de Abril de 2016, foi alterada para o dia 6 de Junho de 2016, pelas 9,30 horas. Instituto do Desporto, 31 de Maio de 2016. O Presidente, Pun Weng Kun

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 299/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHAN WA TENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 73933xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 52/DI-AI/2014, levantado pela DST a 07.05.2014, e por despacho da Directora dos Serviços de Turismo de 26.02.2016, exarado no Relatório n.° 153/DI/2016, de 15.02.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua do Terminal Marítimo n.os 93-103, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco IV, 2.° andar H, Macau onde se prestava alojamento ilegal.-------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 20 de Maio de 2016. O Director dos Serviços, Subst.°, Cheng Wai Tong


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

GUO XI

Mesmo que os vales, colinas, florestas e árvores no primeiro plano de uma pintura de paisagem, possam inclinar-se e curvar, enroscar-se e serpentear muito elaboradamente, a cena não cansará o observador com os seus muitos pormenores pois o olho humano tem a capacidade de perceber todos os detalhes no primeiro plano. Devido ao espaço livre na planície, por um lado, e às linhas dos cumes desvanecendo-se, contínuas como ondas do oceano no horizonte, o observador não se cansará com a distância; porque os olhos humanos conseguem abarcar um vasto panorama. Uma montanha distante não tem rugas; água a distância não tem ondas; uma pessoa vista ao longe não tem olhos. Não que eles não os tenham realmente, mas aparentam não ter. 2. Ideias Para a Pintura («Hua Yi») Embora as pessoas saibam que para a pintura se utiliza apenas um pincel, não imaginam como é difícil pintar. No Zhuangzi está escrito que para pintar, um artista «tirou as roupas e sentou-se de pernas cruzadas»1. Esta é na verdade a via do pintor. Ele deve cultivar no seu coração uma disposição feliz e animada. Ou seja, se ele conseguir aperfeiçoar um «coração natural, sincero, bondoso e honesto»2, então ficará imediatamente capaz de compreender a aparência exterior das lágrimas e sorrisos; e os objectos, sejam aguçados ou oblíquos, curvados ou inclinados, todos ficarão tão claros no seu espírito que ele conseguirá exprimi-los espontaneamente com o seu pincel.

1 - Embora uma cuidada hermenêutica aponte para que o protagonista seja um escriba encarregue de fazer um plano, esta é uma anedota preferida dos pintores que adoptaram o artista referido na história, assim contada: «Vários artistas foram convocados perante o Príncipe Yuan da corte Song para fazer uma pintura. Muitos se apresentaram cedo e rapidamente se puseram ao trabalho diante do Príncipe. Um artista, no entanto, chegou tarde, não fez reverências, e depois voltou para casa. Intrigado e curioso, o Príncipe enviou um homem para ver o que é que ele ia fazer.

O mensageiro reportou que ele «tirou as roupas e sentou-se de pernas cruzadas». Ao ouvir isto, o Príncipe gritou: «É este mesmo, ele é um artista verdadeiro.», in Zhuangzi, capítulo 21, (na tradução de Giles, p.270), o clássico daoísta que terá morrido cerca do século IV a. C., que no mesmo sentido da filosofia do acto esclareceu: «Quando o espírito está repousado, torna-se o espelho do universo, o reflexo de toda a criação.» 2 - Citação do Liji, o Livro dos Ritos, um dos «Cinco Clássicos» de Confúcio (551 a. C.-479 a. C.).

«Linquan Gaozhi»

A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes


15 hoje macau terça-feira 31.5.2016

luz de inverno

Boi Luxo

As Mil e Uma Noites, Miguel Gomes, 2015

N

O início do primeiro dos três filmes constituintes de As Mil e Uma Noites o autor, augusto, quase austero mas também com um sorriso sacana fininho no canto dos lábios, levanta-se da cadeira onde se encontra, num café, dá uns passos tímidos e, de repente, foge. Pois não. Qualquer um faria o mesmo que Miguel Gomes se se visse confrontado com semelhante desafio. Tentar fazer um bonito filme (as palavras são do próprio, não há aqui nada de inventado) e ao mesmo tempo acompanhar a situação de Portugal durante um ano de obrigação de um regime de extrema austeridade em que quase todos os portugueses empobreceram, não é tarefa que se inveje. Como poderá o maravilhoso e o belo fazer justiça às injustiças e às imposições que os filmes relatam ? Contar umas histórias e não outras, tratá-las com afecto mas sem esquecer a solidez metálica necessária à crítica e à melancolia, juntar muitas figuras lembrando que a realidade é mais estranha que a ficção e que esta é indispensável ao cinema para que este possa continuar a surpreender, a irritar e a maravilhar como se fosse um conto oriental não é tarefa para qualquer um. O que é certo é que se o Miguel se tivesse deixado seduzir mais pelas sagas nórdicas ou pelo Beowulf, pelo Decameron ou pelos Contos de Cantuária, mesmo com a carga de problemas que se propôs mostrar, o seu filme seria muito menos solar. O filme será mais inquie-

to, desolado ou encantado? É os três. A responsabilidade de juntar tudo isto dá, realmente, vontade de fugir. Não sei se pensou nisso mas ele que fique a saber que os seus contos são encantadores, pela sua sinceridade e por não se saber muito bem onde é que ele nos levará a seguir (como acontece com Tabu) e pela sua recusa em ser apenas amargo durante 6 horas. Provavelmente Miguel Gomes não sabia muito bem em que direcção seguia, mas isso nunca foi impedimento para que se alcance o encanto. Não esqueçamos que o primeiro dos filmes, O Inquieto, começa com uma demonstração de maravilhamento perante a dimensão de um estaleiro. Começa-se pelo espanto. A figura que o demonstra afirma, com humildade, que nunca pensara que tivesse tanto para aprender. Todos aprendemos aqui, o realizador, os seus colaboradores e nós. Não esqueçamos igualmente que seguinte à história dos comerciantes e dos governantes cheios de tesão, onde a Senhora Ministra das Finanças pouco mais pode fazer que exibir um rubor pouco convincente, se apresenta uma outra verdadeira em que se julga o comportamento de um galo que canta a desoras - o primeiro episódio num setting de luxo meridional understated, na zona de Cascais, e o segundo num rural interior com bombeiros, fogos postos e GNR’s - Resende, Distrito de Viseu. Tudo isto já se passa no enquadramento das histórias que Xerazade con-

ta ao Rei para que este não a mande matar e a diversidade dos lugares onde as histórias se passam (onde elas se passam e o que elas evocam segundo a nossa experiência) será uma constante ao longo dos contos das noites. Ia-se rir . . . porque não há ninguém que creia numa coisa destas – afirma uma das personagens do episódio do galo. . . . foi ali a vizinha do lado que mandou o galo para tribunal. Felizmente que há um juiz (o primeiro de dois) que ainda percebe a fala dos animais, o que permite que o galo se defenda. Não é apenas o português e o galês (língua dos galos) que é falada nestes filmes, e a diversidade dos lugares e da luz é acompanhada pela diversidade das línguas onde apenas uma vez - no episódio dos tesudos em que os portugueses confrontam os responsáveis europeus pela imposição do regime de austeridade - existe necessidade de tradução. Neles encontramos também o francês, linguagem gestual, o inglês, o alemão, o mandarim por 3 vezes, uma estranha língua escrita das mensagens de telefone móvel e até, no segundo filme, o silêncio de um refinado filho da puta em fuga da GNR (outra vez) em cujo episódio não falta uma cena paradisíaca bastante desarabizada mas ainda assim muito pasoliniana, com belas mulheres jovens nuas e um assado acompanhado de vinho. Este episódio não culpa directamente ninguém mas no seguinte, o da Juíza, todos parecem ter sido destinados pela necessidade a serem

culpados de alguma coisa – um dos episódios mais humorísticos (e não posso deixar de pensar que este é um registo que dificilmente se traduzirá com sucesso para outras línguas) e que não nos prepara para o que encerra o segundo filme, o chamado Os Donos de Dixie, muito suburbano, em total contraste com o lugar do julgamento e os montes agrestes onde se esconde o já referido sacana, de seu nome Simão “Sem Tripas”. Não sei porque razão mas, como acontece em Tabu, tudo isto me parece imensamente moderno e inventivo mas, ironicamente, não estava à espera de outra coisa. Sai-se de As Mil e Uma Noites e de Tabu a pensar que nunca se viu nada assim. Junta-se o mais hippie de todos os quadros, o do início de O Encantado, o terceiro filme, em que Xerazade quer viver verdadeiramente, fora dos limites do palácio, com o dos passarinheiros habitantes do antigo bairro da Musgueira em Lisboa num registo comum aos dois e que parece natural. Neste quadro, assim como em Os Donos de Dixie, Miguel Gomes mostra uma capacidade que distingue igualmente Pedro Costa e que me parece perder-se na estilização do seu último filme, Cavalo Dinheiro - a de transformar a banalidade numa cerimónia quase operática, uma coisa que Manoel de Oliveira sabia fazer e que César Monteiro não fez porque não quis.


16 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau terça-feira 31.5.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Amanhã

PEÇA “PEGA-MONSTROS” Consulado-Geral de Portugal, 17h30 FILME “UM CAFÉ NO FIM DO MUNDO” (FICVM) Centro Cultural, 19h30

MIN

27

MAX

32

HUM

70-90%

EURO

8.89

BAHT

Diariamente

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau EXPOSIÇÃO “ARTS FLY” Broadway Macau (até 28/06)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin (até 20/06) EXPOSIÇÃO DOS ALUNOS DE ARQUITECTURA DA USJ Creative Macau (até 18/06) EXPOSIÇÃO “DINOSSAUROS EM CARNE E OSSO” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 96

PROBLEMA 97

UM DISCO HOJE

Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

X-MEN: APOCALYPSE [C] Filme de: Bryan Singer Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence 14.30, 16.40, 21.50

X-MEN: APOCALYPSE [C][3D] Filme de: Bryan Singer Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence 19.15 SALA 2

MONEY MONSTER [C] Filme de: Jodie Foster

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 19/06)

EXPOSIÇÃO “REMINESCENT – PORTUGAL MACAU” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

1.21

UM DIA QUERO FAZER RELATÓRIOS

FILME “MERU” (FICVM) Centro Cultural, 19h30

EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06)

YUAN

AQUI HÁ GATO

Quinta-feira

EXPOSIÇÃO “ARTES VISUAIS DE MACAU” Instituto Cultural (até 07/08)

0.22

Fico sempre intrigado quando leio notícias sobre relatórios. Tanto faz se são em papel ou formato digital, se são internos à Função Pública ou se podem ser descarregados num qualquer website por um cidadão reformado sem mais nada para fazer. Em Macau abundam notícias sobre relatórios. Não apontem a culpa aos meus amigos jornalistas, mas é o que há. Há os relatórios do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou do Comissariado de Auditoria (CA), há os relatórios que são feitos quando termina uma consulta pública. Depois há ainda aqueles relatórios sobre coisas que deveriam estar feitas e concluídas há anos. É a Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa, que continua ao abandono, mas o CCAC lá diz que o dito relatório deverá estar quase pronto. Teremos certamente um relatório sobre os cem milhões doados à Universidade de Jinan e outros que tais. Meus amigos, perguntem-me quais serão os resultados, que eu sei! Zero, nada, nicles! Tanto faz se há documento ou não há documento. Mas algum relatório vai mudar a transferência que já foi feita para Jinan? Ou alterou os gastos excessivos que têm sido feitos nos últimos anos? Alguém quer saber? Meus amigos, mais uma que vos digo: montem uma empresa de consultadoria que faça relatórios e pesquisas. Vocês terão uma mina de ouro nas mãos! Participam em Planos Quinquenais, planos de turismo, planos disto e daquilo. É esta a chave para a diversificação económica. Pu Yi

“OUR VERSION OF EVENTS” (EMELI SANDÉ, 2012)

O primeiro e único álbum da cantora, “Our Version of Events” traz-nos 14 músicas intensas do princípio ao fim. Uma mistura bem feita de Soul e r&b, com a voz poderosa da escocesa Sandé, que fez parelha com outros artistas de renome como Alicia Keys. Sandé tem sido comparada a grandes senhores do Soul, como Aretha Franklin, devido à sua capacidade vocal, que bem se percebe no disco que hoje sugerimos. “My Kind of Love”, “Clown”, “Daddy”, “Read All About It” e “River” são algumas das preferidas. Joana Freitas

Com: George Clooney, Julia Roberts, Jack O’connell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3

TERRA FORMARS [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Takashi Miike Com: Hideaki Itô, Tomohisa Yamashita, Shun Oguri 14.30, 16.30, 21.30

CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan 18.45

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


17 hoje macau terça-feira 31.5.2016

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

KIMBERLY PEIRCE, CARRIE

Vermelho de sangue

O

Benfica joga em casa’, mas não literalmente. Muitas são as expressões que pretendem camuflar a frontalidade que seria confessar ao mundo que uma mulher está a sangrar entre as pernas. Aquela altura do mês. No dia 28 de Maio celebrou-se o dia internacional da higiene menstrual com o intuito de quebrar mitos e tabus que a menstruação ainda carrega, em alguns pontos do planeta mais do que outros. Certamente ainda recebemos conselhos das nossas avós de que não se deve tomar banho, lavar a cabeça ou pentear durante a menstruação. Os nossos avôs não nos deixam entrar nas adegas da terrinha porque o vinho azeda. É melhor nem pensar em fazer bolos nestas alturas, porque os bolos vão ficar uma valente porcaria. E isto é só em Portugal. Uma organização não governamental no Nepal realizou um projecto fotográfico com jovens raparigas para perceber como é viver durante a menstruação. Por lá os mitos são ainda maiores, uma mulher menstruada é tratada como se tivesse uma doença contagiosa. Não pode cozinhar, não pode tocar em picles, não pode atravessar o rio, não pode ter contacto com elementos do sexo masculino. Não podem tocar em fruta porque a apodrece, nem em árvores de fruto porque as enfraquece, nem em sementes porque as tornam inférteis.

Na primeira menstruação não se podem olhar ao espelho, porque atrai azar. A piorar, não têm condições sanitárias para se lavarem ou lavarem os seus pensos de pano. Pensos descartáveis são de um luxo tal que, em alguns países, as raparigas vendem favores sexuais para os poderem comprar. Poderia ser só ridículo, mas é tudo muito verdade. Parece-me compreensível que um sangramento cíclico mensal, de mais de três dias, possa ter parecido estranho às mentes de há dois mil anos atrás. Os registos da antiguidade clássica falam com medo e desdém desta coisa universal a todas as mulheres. Referem-se à menstruação como nefasta e perigosa a todos, estragando colheitas e jardins e até matando abelhas e enlouquecendo cães. Por isso, agora, a sabedoria popular continua a fazer da menstruação um bicho de sete cabeças, porque existe, é chato e embaraçoso, e relembra as capacidades reprodutivas das mulheres. O desconhecimento sobre o que a menstruação realmente é, e de que forma se lida com ela, faz com que caia numa espiral de tabu de consequências

“Agora que o transtorno pré-menstrual (TPM) está cada vez mais em voga as mulheres também estão mais sintonizadas com as suas mudanças de humor uma a duas semanas antes, porque vêm irritabilidade e afins”

nada positivas. Li algures uma história de um homem na Etiópia que ao perceber que a sua filha estava menstruada, pensou que fosse o sinal de que ela tivesse iniciado a sua vida sexual, que em comunidades tradicionais, a pôs numa situação de humilhação e desdém. Há locais onde a menstruação é um obstáculo à educação também, sendo as raparigas privadas de ir à escola ‘na altura do mês’ ou até definitivamente. Os programas de educação e divulgação pretendem oferecer informação e melhorar condições sanitárias, para que a menstruação seja vivida com naturalidade. Sangue, cheiro, dores e mau-estar. Agora que o transtorno pré-menstrual (TPM) está cada vez mais em voga as mulheres também estão mais sintonizadas com as suas mudanças de humor uma a duas semanas antes, porque vêm irritabilidade e afins. Apesar de nos protegermos com o chavão ‘da altura do mês’, não deixa de ser tabu, nem nos contextos ditos mais ‘desenvolvidos’. Em 2015 a baterista Kiran Gandhi correu uma maratona sem tampão, onde orgulhosamente exibiu as suas manchas de sangue nas suas calças de licra de corrida. Outros tentam inovar ao criar arte com o sangue que o nosso corpo rejeita. Outros simplesmente falam sobre o período, abertamente, relembrando que é um processo normal e natural. Em contraste muitas mulheres por aí não têm acesso a produtos e a condições para uma menstruação digna. Tampões, pensos higiénicos, pensos de pano, copos menstruais, há de tudo, mas não em todo o lado. Já pensaram naquelas situações lixadas de vida que muitos vivem neste momento, e nas mulheres que mensalmente se sentem vulneráveis e incapazes de lidar com a sua menstruação? Porque a menstruação interessa, muito mais do que se pensa.

OPINIÃO


18 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 31.5.2016

“Only roughly 4-In-10 (42%) Americans say that the American Dream-that if you work hard, you’ll get ahead-still holds true today, [whereas] nearly half of Americans (48%) believe that the American Dream once held true but does not anymore,” while “most Americans (55%) believe that one of the biggest problems in the country is that not everyone is given an equal chance to succeed in life.” Our Kids: The American Dream in Crisis Robert D. Putnam

O

sonho americano ou, em inglês, “The American Dream”, também conhecido como o sonho americano na Casa Branca, pode ser definido, em geral, como a igualdade de oportunidades e liberdade, facultado a todos os habitantes dos Estados Unidos para atingirem os seus objectivos na vida, por meio de esforço e determinação. A Estátua da Liberdade foi para muitos imigrantes a primeira visão que tiveram quando chegaram aos Estados Unidos, significativa da liberdade. A estátua é um símbolo dos Estados Unidos e do sonho americano. Todos os anos, mais de um milhão e meio de novos imigrantes, documentados ou indocumentados chegam aos Estados Unidos. A maioria provêm da América Latina e para chegarem, muitos esperam anos para obter vistos de entrada, e outros correm o risco de atravessar a fronteira, através das montanhas ou deserto. Deixam as suas casas e famílias para irem viver num país desconhecido, em que se fala outra língua, e tem costumes completamente distintos. Apesar de todas as dificuldades, as pessoas continuam a ir. Porque razão? O que os atrai a esse país? A muitos a promessa de viver o sonho americano, que é uma ideia abstracta. É a promessa de riqueza, para alguns e para outros, a possibilidade de dar aos seus filhos uma boa educação e grandes oportunidades. O sonho americano não é uma ideia nova, pois tem uma história tão longa, como a dos Estados Unidos, que de certa forma nasceu desse mesmo sonho. Os primeiros colonizadores da Nova Inglaterra chegaram à procura de liberdade religiosa. O escritor americano Horatio Alger, escrevia no século XIX, histórias de ficção, muito vendidas, cujos personagens passavam da pobreza à riqueza por meio do trabalho duro, coragem e determinação. O sonho americano, para muitas pessoas, apesar de algum sucesso,

GABRIELE MUCCINO, THE PURSUIT OF HAPPYNESS

O sonho americano

não é mais que um sonho. Ao chegarem aos Estados Unidos, muitos partilham pequenos apartamentos com quatro ou cinco pessoas a dormirem no mesmo quarto, permanecem dias nas esquinas à espera de conseguirem trabalho, e passam fome para poderem enviar dinheiro às suas famílias do outro lado da fronteira. É este o sonho americano? O estudo recente efectuado pela Universidade de Harvard, que entrevistou membros de uma comunidade imigrante, para conhecer as suas experiências, revelou que nas respostas existiam muitas semelhanças, dado todos terem ido para os Estados Unidos à procura de oportunidades económicas, e associavam o país com progresso, dinheiro, segurança e liberdade. Todavia, a maioria afirmou que não tinham realizado os sonhos, pelo qual tinham ido, ainda

que os Estados Unidos sejam a primeira potência mundial, não é o que imaginavam. Os americanos permitem que os indocumentados façam o trabalho que rejeitam, sempre marginalizando-os e utilizando-os. Os imigrantes conseguem, apenas, perder a sua juventude e energia. Segundo os entrevistados, o sonho americano, não é o que parece ser. A nova geração de jovens sul-americanos, está a entrar nos Estados Unidos com falsos sonhos que lhes contaram do lado da fronteira mexicana, e não é possível continuar a permitir que percam a sua juventude nessa ilusão. É melhor dizer-lhes que não venham, ou poder-se-á criar uma comunidade sul-americana nos Estados Unidos que dê apoio e inspiração? O sonho americano está construído sobre as bases da mo-

bilidade social, igualdade e a noção de que todas as crianças, sem importar a sua origem, têm a oportunidade de prosperar. Tal sonho, não é evidente e podia estar em perigo, segundo o politólogo, assessor de três presidentes americanos e professor da Universidade de Harvard, Robert Putnam, que é considerado e escutado pelos seus concidadãos. Quando Robert Putnam fala, os Estados Unidos escuta-o, mas não quer dizer que todos estejam de acordo. O seu livro “Bowling Alone: ​​The Collapse e Revival of American Community”, publicado há quinze anos, tornou-o conhecido mundialmente, e é considerado como uma das melhores obras, sobre política pública. O autor seguiu a trajectória do declive da participação da sociedade civil, ou seja, do número de pessoas que participam em associações e clubes.


19 hoje macau terça-feira 31.5.2016

OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

As pessoas juntam-se menos em agremiação, e não se tornam membros de quase nada. Embora existam mais pessoas a jogar boliche, por exemplo, há menos pinos de boliche. O seu novo livro, “Our kids”, publicado, a 26 de Março de 2016, Robert Putnam, aborda o tema da desigualdade social, contando uma história familiar da diminuição da mobilidade social, através da visão da sua cidade natal, afirmando que o sonho americano que estava vivo durante a sua juventude, na década de 1950, está muito provavelmente fora do alcance dos cidadãos. Ainda que as pessoas vivam lado a lado, as suas vidas são paralelas e as oportunidades distintas. O velho igualitarismo da era do pós-guerra, já não existe. O livro tem algo para todos, especialmente, para discordar, como por exemplo, a história mais feliz,

quando relata as últimas décadas, com a melhoria das condições de vida dos afro-americanos, desde as marchas de Selma a Montgomery de 1965, assim como a situação das mulheres.

“O sonho americano não está morto e dois importantes estudos publicados no início de 2016, concluíram que a mobilidade é maior nos Estados Unidos que em muitos outros países desenvolvidos”

O politólogo americano, por vezes parece vestir a roupagem da esquerda, quando culpabiliza a estrutura da economia, particularmente, a perda de bons empregos, para as mãos qualificadas na indústria manufactureira, e outras vezes, parece ser conservador, realçando por exemplo, que 10 por cento dos filhos de pessoas licenciadas, encontram-se em famílias monoparentais, que é similar à taxa da década de 1950. Ao invés, nas famílias de menor instrução, a cifra subiu de 20 por cento para mais de 65 por cento. A sua análise incomoda muitas pessoas, mas não deixa de constituir uma questão que é fulcral para a política moderna em todo o mundo, ou seja, qual a razão pela qual, tantas pessoas estão a ficar marginalizadas. O aumento das desigualdades sociais é um problema violeta, que é uma expressão política nos Estados Unidos, pois os conservadores são de cor vermelha e os liberais azuis. É um problema, cuja causa deve ser observada, através da lente progressiva azul, pois não se deve considerar apenas o colapso da produção, mas também a estagnação dos salários, do que se habituou por chamar de classe trabalhadora, e que tem quase meio século. As outras causas do problema, podem ser vistas de forma mais clara com lentes vermelhas conservadoras, como o desfalecimento da família da classe trabalhadora, com um enorme aumento no número de jovens das classes mais baixas, a viver com as mães solteiras. Estes factores desempenham um papel, e existe uma outra dimensão, pois não é só o aumento da disparidade de rendimentos, mas também uma crescente segregação das classes sociais, não habitando os ricos e pobres os mesmos espaços das cidades. O problema é que alguns desses factores são irreversíveis, como o das famílias monoparentais, pois não se pode obrigar que os casais permaneçam unidos. Todavia, deve-se pensar que estes jovens, que são o resultado de uma transformação na parte inferior da hierarquia da socioeconómica americana, são os filhos a que têm de prestar atenção e ajudar. O facto mais importante, é de que os jovens estão cada vez mais separados dos seus vizinhos, parentes, escolas, igrejas, e que algo deve ser feito para solucionar tão sério problema. A outra situação irreversível, vai-se intensificar no ciclo da produção, e nos próximos anos perder-se-á, 85 por cento do mercado laboral, com a tecnologia e os robots. É de considerar que esta não é a primeira vez que os Estados Unidos enfrentam semelhante problema. Há cem anos, com a Revolução Industrial, também fez face a grandes rupturas, entre as pessoas e as mudanças económicas dramáticas que ocorreram, e num curto espaço de tempo, os americanos conseguiram ajudar todos os jovens sem olhar à sua origem e a prepará-los para uma nova era. Foi criada nessa época, a escola secundária gratuita, que incentivou

a produtividade americana, e permitiu competir em igualdade de condições. É necessário que os Estados Unidos descubram um tipo diferente de política, que reveja a situação dos jovens, e encontre formas de resolver o problema, que deve passar por um grande debate nacional, sobre a crescente diminuição de oportunidades. O sonho americano, tal como o definem é impossível de ser atingido, e seis em cada dez americanos, confirmaram na sondagem “American Dream” da CNN Money, realizada de 29 de Maio a 1 de Junho de 2014. Os jovens adultos, entre os dezasseis e trinta e quatro anos têm maiores probabilidades de sentir, que o sonho americano é inalcançável, e 63 por cento dos inquiridos, afirma que é impossível. Este grupo etário tem sofrido, como resultado da “Grande Depressão”, e são pessoas que têm dificuldades, em conseguirem bons empregos. Os jovens americanos são a grande preocupação. Muitos dos entrevistados, disseram que estão preocupados, acerca da sua capacidade de prosperar na próxima geração. É uma situação séria, apesar de 54 por cento dos entrevistados terem a sensação, de que se encontram em melhor situação que os seus pais. O humor deprimido é surpreendente, segundo os especialistas em mobilidade económica. O pessimismo é um reflexo da realidade financeira que grande quantidade de famílias enfrenta, pois estão activos, mas os seus rendimentos não se traduzem em forte segurança financeira. A grande maioria dos americanos tem rendimentos mais elevados que os seus pais, devido ao facto da maior parte das famílias terem duas fontes de rendimento, apesar de metade terem mais riqueza. A taxa de poupança é baixa e o desemprego elevado. Os custos com a Universidade estão a aumentar mais rapidamente que a inflação, e a dívida dos empréstimos estudantis estão a crescer. As pessoas têm tendência a serem mais pessimistas sobre o futuro da próxima geração, em geral, que a perspectiva dos seus filhos. As sondagens da “Pew Research Center” e outras organizações revelam que os pais dizem que será mais difícil para os seus filhos terem sucesso, mas acreditam que seja possível. As percepções não são suportadas pelos factos. O sonho americano não está morto e dois importantes estudos publicados no início de 2016, concluíram que a mobilidade é maior nos Estados Unidos que em muitos outros países desenvolvidos, mas não mudou de forma significativa com o tempo. Os investigadores encontraram diferenças expressivas em relação à mobilidade em todo o país. Os que vivem em áreas de maior desenvolvimento económico, melhores escolas e menor número de residentes afro-americanos têm maior oportunidade de ascender na escala económica. A mobilidade é um problema, mas não piorou.


Num lance se renasce, / num lance se arruína / a face do acaso, / a febre que culmina / no número dourando / a fímbria do destino”

IGREJA DE SANTO AGOSTINHO IC ASSUME RECUPERAÇÃO DE TELHADO

V

do, bem como fazer uma inspecção global à Igreja, mantendo esta como está. O Instituto não respondeu sobre se informou a UNESCO sobre o incidente, uma vez que a Igreja está listada como património mundial, mas num comunicado assegura que tem vindo a proceder à monitorização e inspecção regular do património. Contudo, vai reforçar essas medidas. “O IC vai reforçar a comunicação estreita com os proprietários do património, aprofundar a consciência da salvaguarda do património, bem como aumentar as exigências relacionadas com a mesma. O Governo dá grande importância à protecção do património cultural de Macau e irá investir mais recursos na inspecção do mesmo.”

IC

ENTO e chuva. Foram estas as causas que levaram à queda de parte do telhado da Igreja de Santo Agostinho, no domingo à tarde. As intempéries sentidas nos últimos dias são a justificação do Instituto Cultural (IC) para o incidente, sendo que o organismo explica que acabaram ontem os trabalhos de limpeza da estrutura de madeira e telhas e a instalação de andaimes para protecção provisória. O IC diz que accionou os procedimentos de emergência de imediato, tendo construído as instalações provisórias de modo a “garantir a segurança e a prevenir a entrada de água no interior do edifício”. O IC, que assume o pagamento dos danos, diz que vai avançar com um projecto de recuperação do telha-

José Augusto Seabra

Saúde ALERTA PARA AUMENTO DE RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS

As super-bactérias

A

“resistência aos antibióticos em Macau está a aumentar, provocando também uma ameaça crescente à saúde pública” do território. O alerta é dado pelos Serviços de Saúde (SS), depois de ter sido detectado nos Estados Unidos o primeiro caso de uma “super bactéria” resistente aos antibióticos de “último recurso”. A imunidade dos humanos aos antibióticos já estava a ser falada há algum tempo, mas um testemunho desta possibilidade surge agora, com a descoberta num humano do MCR-1, um gene responsável pela resistência à colistina - um antibiótico também conhecido como Polimixina E geralmente usada como o “último recurso” no caso de ineficácia de medicamentos. “Devido ao preço e à grande toxicidade deste antibiótico o seu uso só é considerado quando os outros antibióticos são ineficazes”, explicam os SS, que indicam ainda que o gene MCR-1 é diferente das bactérias resistentes a colistina detectadas anteriormente”. Em Macau não há ainda qualquer caso de descoberta deste gene MCR-1, que foi detectado pela primeira vez em suínos no sul do continente em 2015, tendo sido baptizada por cientistas chineses. Foi depois posteriormente detectado noutros locais da Ásia e da Europa e agora pela primeira vez nos Estados Unidos da América.

MACAU MONITORIZADO

SEIS MORTOS EM DESLIZAMENTO DE TERRAS EM ZHEJIANG

Seis pessoas morreram após um deslizamento de terras ocorrido no domingo na província chinesa de Zhejiang, costa leste do país, revelou ontem a agência oficial Xinhua. Um ‘rio’ de lama enterrou três casas numa aldeia situada nos subúrbios da cidade de Jiande, durante a madrugada de domingo, soterrando os seus residentes. As equipas de salvamento retiraram os corpos já sem vida, segundo confirmou ontem em comunicado o governo local, citado pela Xinhua. A mesma fonte detalhou que o deslizamento de terras foi provocado pela chuva.

terça-feira 31.5.2016

Macau já encontrou nos seus hospitais diversas bactérias, nomeadamente a Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae, em 2014. A taxa de resistência a Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae “subiu” até 30% e 40%, a taxa de resistência à meticilina Staphylococcus aureus (MRSA) subiu para 40% e a resistência à penicilina foi de 90%. Os dados mostram, para o Governo, o aumento da resistência aos antibióticos.

Com vista a acompanhar a situação desta evolução, os SS criaram em 2005 o sistema de monitorização de resistência aos antibióticos que procede à recolha de dados nos dois hospitais de Macau. Os SS garantem ter tudo controlado.

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“Nos hospitais também foi criado o Conselho de Controlo de Infecção destinado a monitorização e controlo de disseminação de resistência aos antibióticos. Assim, caso seja detectado uma resistência anormal aos

antibióticos, os Serviços de Saúde enviarão amostras para análise laboratorial fora do território. Caso seja detectado o aparecimento de uma ‘super bactéria’ ou uma bactéria multi-resistente, os SS aplicarão medidas rigorosas de prevenção de infecção.” O gene de resistência à MCR-1 está presente no plasma bacteriano, o que pode proporcionar a propagação a outras bactérias resistentes às drogas, causando multi-resistências aos medicamentos. Os SS alertam ainda a comunidade médica que a prescrição de antibiótico só deve ser efectuada quando for realmente necessário. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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