Hoje Macau 31 JUL 2020 # 4580

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DIEGO CERVO

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

PAISAGEM

DUARTE DRUMOND BRAGA

ANHEDONIA II ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

A ORELHA

GONÇALO M. TAVARES

HOJE MACAU

h

MOP$10

SEXTA-FEIRA 31 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4580

hojemacau

NAIR CARDOSO

ERRAR É HUMANO

METRO LIGEIRO

DORES DE CRESCIMENTO PÁGINAS 4-5

Batalha de palavras A acusação contra Glória Batalha no julgamento do caso IPIM é, em grande parte, sustentada por mensagens de WeChat. A defesa da ex-vogal do IPIM recorreu para o TSI para impedir que sejam usadas como prova, por se equipararem a escutas telefónicas. Este tipo de prova não é permitido por lei quando estão em causa crimes com penas de 3 ou mais anos de prisão, a moldura penal do crime de que é acusada Glória Batalha. PÁGINA 7

FSS

QUESTÃO HUMANITÁRIA PÁGINA 9

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GCS

ENTREVISTA


2 ENTREVISTA

NAIR CARDOSO

Como surgiu a ideia de criar a Creche Internacional de São José? Não fiz parte do início do projecto e comecei apenas em Julho. O projecto nasceu mais ou menos em 2018, através da Universidade de São José (USJ), parte de uma vontade muito grande do padre Peter [Stiwell] de criar uma creche. Até porque existe uma aposta muito grande na área da educação na USJ, nomeadamente nos cursos de licenciatura, pós-graduação e mestrado em educação e agora também no doutoramento, frequentado por muitas pessoas. Portanto, haveria sempre uma grande aposta para se avançar com uma creche e eu penso que está aberta a porta para abrir um infantário, num futuro próximo. Com a saída do Peter Stilwell e a entrada do novo reitor, acharam que a creche precisava de mais apoios e então passou a ser da diocese. Isto calhou precisamente com a minha entrada na diocese. Vamos ter aqui voluntários que nos vão ajudar na área da psicologia e da educação e talvez possamos receber aqui alunos para fazer intercâmbios. Como estão a correr os preparativos para a abertura? Já foi definida uma data? Estamos a aguardar a decisão do Governo, como todas as outras escolas. Até Abril, a creche estava à espera de licença e em Abril conseguiu a licença do Instituto de Acção Social (IAS), que é uma fase bastante complexa e complicada. O IAS, que apoia totalmente esta creche, vem aqui inspeccionar o espaço e diz o que falta, ao nível dos equipamentos, o que é preciso comprar e a formação que as pessoas precisam de ter para ser contratadas. Quando cheguei já tínhamos todos os 22 funcionários contratados. O plano era abrir em Setembro. Para mim calhava bem porque esta fase, Julho e Agosto, é óptima para mudar pedagogias, coisas que a outra directora tinha em mente e que eu, como venho de uma escola internacional, vejo de forma diferente. Por isso, estou a implementar procedimentos alternativos, a formar pessoal e a mudar a disposição das salas. Criámos, inclusivamente, um atelier para apostar na arte. Venho com uma perspectiva diferente e tenho um sonho diferente para este espaço. Como vai ser materializada essa pedagogia, assente na exploração de estímulos, na brincadeira e nas artes? Quando recebi o desafio achei logo interessante. Venho de uma escola muito realizada que é a Escola Internacional de Macau

“O errado não existe na sala”

HOJE MACAU

DIRECTORA DA CRECHE INTERNACIONAL DE SÃO JOSÉ

Apesar dos entraves colocados pelo IAS, a directora da nova Creche Internacional de São José (CISJ) está decidida a implementar uma filosofia pedagógica diferente, assente nas artes e na criatividade. Ainda com data de abertura incerta, o novo espaço vai admitir crianças que não tenham BIR

(TIS). Trabalhei lá quatro anos, fui líder pedagógica num infantário, estava bem e sentia-me realizada. O desafio aqui é muito grande, porque deixei as crianças dos 4 e 5 anos, para trabalhar com crianças do 1 aos 3. Paralelamente, tenho um projecto dedicado a actividades extracurriculares, inspirado numa filosofia pedagógica totalmente diferente, chamada Regio Emilia, que é uma aposta que vai 100 por cento nesse sentido. Por isso, quando cheguei aqui pensei logo: vou implementar este sistema aqui na creche. No entanto, não é possível

“Infelizmente, as creches são regidas pelo IAS e, a meu ver, elas deveriam ser integradas na DSEJ.” devido aos protocolos que o IAS nos exige, nomeadamente, quanto à utilização de materiais reciclados, que não podem ser usados, pelo facto de as crianças ainda serem muito pequenas e poderem ter alergias, por exemplo, com as tintas que queremos usar. Por isso, agora estou a pensar como vou implementar este sonho, que é o de implementar pedagogias alternativas e não tão tradicionais numa creche, pensando sempre na segurança das crianças. Então, decidimos apostar nas artes, porque é importante que as crianças explorem os sentidos e não há nada melhor do que a arte para o fazer. Ainda para mais, o meu mestrado e doutoramento são focados na pedagogia dos sentidos. Através deles é possível ensinar outras coisas que as crianças têm de aprender, como socializar e discutir umas com

as outras. Isso tudo é importante e possível de desenvolver através da arte, para que as crianças não estejam sentadas no seu lugar. Aliás, nós não queremos crianças sentadinhas o tempo todo. Elas precisam de mexer, têm que mexer e precisam de mexer para saber o que aprender a seguir. É essa mudança de mentalidades que quero implementar aqui na creche. Como é que essa filosofia pedagógica vai ser adaptada para funcionar de acordo com as regras do IAS? O IAS tem 12 volumes de manuais pedagógicos que têm de ser implementados na creche, mas só existem em chinês. Sei falar fluentemente mandarim, mas não sei ler. Tive várias reuniões com o IAS e essa tem sido a minha luta. Vou dar o exemplo da música. As crianças têm de tocar um ritmo padrão e eu pergunto: o que é que as crianças de 1 ano vão entender com isso e porque é que a música tem de ser aprendida com uma pandeireta seguindo um determinado padrão? Porque é que não podemos colocar uma música a dar, deixando as crianças pintarem e explorarem, enquanto dançam e se sujam, tudo ao menos tempo? O IAS diz que, não é que não possa ser feito assim, mas, no entanto, é preciso ter em atenção a regra que fala da alergia dos materiais. Pensei então na filosofia da reciclagem do Regio Emilia e, por isso, estamos a testar usar as sobras das cascas das cenouras e das couves, para fazer tintas com a comida. Por isso, estamos nesta fase de experimentação e a ver o que é possível ou não fazer, sem que as crianças não têm a preocupação do certo e do errado. O errado não existe na sala. Como se retira essa preocupação do que é certo e errado?

Por exemplo, e sem querer ferir susceptibilidades de outras escolas, eu não concordo com o puzzle. Não quer dizer que esteja errado e outras pessoas não possam educar as crianças de outra forma, mas só há uma maneira para encaixar um puzzle, não há criatividade nenhuma. Até podem estar a desenvolver, talvez, a coordenação motora, mas, para mim, é preferível, pôr uma série de blocos à frente dos miúdos para eles montarem o que quiserem. Cada peça pode ser, sei lá, uma nave espacial, um boneco ou o pai e a mãe. Chamamos a isso “open ended materials”, que é o que eu pretendo aos poucos colocar nas salas. Não há certo ou errado nesta idade. Nesta fase, as crianças têm de explorar os sentidos, ser felizes e alegres. O maior desafio para uma criança do 1 aos 3 anos é a separação. Claro que vão existir regras, não vamos montar aqui uma selva, mas de uma forma em que as crianças não são frustradas. Não há stress aqui. Os pais se quiserem deixar os filhos dentro da sala podem deixar. Se quiserem ficar um pouco dentro da sala de aula também podem. Vou tentar criar um ambiente o mais parecido possível com o sítio de onde vêm. Podemos estar a passar ao lado de muitos talentos, só porque não abrimos as “portas certas” às crianças ou assumimos, à partida, um determinado caminho? Infelizmente, as creches são regidas pelo IAS e, a meu ver, elas deveriam ser integradas na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). A pergunta que eu faço a Macau é: porque é que as creches têm de ser vistas como uma componente social? Ou seja, em Macau as creches fazem parte do trabalho

comunitário social que se oferece aos pais para tomar conta das crianças enquanto trabalham. Contudo, do 1 aos 3 anos já existem muitas potencialidades, as crianças podem brincar com arte, explorar a música, dançar, já sabem comer sozinhas. Não são seres que precisam de um adulto a monitorizá-los a toda a hora, todos os seus movimentos. Além disso, as creches oferecem um horário muito extenso, porque há pais, aqui em Macau, que trabalham por turnos e eu concordo com isso. No entanto, acho que deviam saber se os pais precisam mesmo deste ser-


3 sexta-feira 31.7.2020 www.hojemacau.com.mo

dentes e acho que isso é importante, porque, às vezes, é um desespero os pais que detêm bluecard não terem escolas para os filhos. Ainda não sei o número definido, mas vamos ter uma quota para crianças que não têm BIR. As que têm BIR as propinas são equiparadas a todas as escolas do IAS, ou seja, 2.500 patacas mensais, o dia todo, já incluindo refeições. O preço é o de uma escola pública e o serviço é equiparado a uma escola privada.

“Não temos nenhuma objecção do IAS para termos algumas vagas para crianças que não tenham BIR e isso foi o primeiro pedido que fiz.” Quais os objectivos de ocupação neste primeiro ano lectivo? Com a licença que temos, podemos ter no máximo 240 crianças com as oito salas a funcionar. No entanto, numa primeira fase, vamos tentar restringir-nos, no máximo a 120, porque o número de pessoal que temos actualmente só dá para funcionar cinco salas. Para já, o objectivo é receber entre 80 e 90 crianças em quatro salas. Isto porque é preciso adaptação a uma nova filosofia de ensino e pedagogia, até porque temos de ganhar a confiança dos pais. Somos novos. Não é como uma creche que está aberta há 10 ou 11 anos na qual os pais confiam de olhos fechados. Os pais têm muito receio das doenças transmitidas nas salas e das intoxicações alimentares e essa é outra preocupação. Por isso estamos a dar formação ao pessoal sobre a maneira como se desinfecta os brinquedos e as salas. Estamos também a testar o menu que a cozinha está a preparar.

viço, porque as crianças não podem estar oito horas nas escolas. Aqui abrimos às 8h e fechamos às 20h, de segunda a sábado. É importante que as crianças estejam com os pais, irmãos, avós.

“Não há certo ou errado nesta idade. Nesta fase, as crianças têm de explorar os sentidos, ser felizes e alegres.”

Qual a importância de apostar na multiculturalidade numa cidade como Macau? A aposta na arte é a melhor linguagem, por isso é que também se apostou nessa área. Queremos implementar as línguas oficias de Macau aqui na creche. Infelizmente, a equipa, neste momento, não poderá ajudar tanto na utilização do português e do inglês nas salas e será mais o cantonês e o mandarim. Mas, a linguagem vem aos poucos e tanto as crianças vão poder ajudar os professores, como o contrário

também é verdade. Os alunos estão aqui para ajudar e há uma ligação com o ambiente, em que ele próprio é também um “professor”, segundo a pedagogia que queremos aplicar. O professor está na sala, mas crianças também vão ensinar umas às outras. Nada melhor do que as crianças falarem a sua própria língua umas com as outras. Nunca vai haver a situação de “agora só vamos falar chinês” ou “agora é hora do inglês” e a multiculturalidade vem por aí. Porque em Macau, nós vemos miúdos a falar inglês, português,

chinês, mandarim, vietnamita, tailandês e é precisamente essa a nossa aposta. As crianças podem falar a língua que usam em casa e daí poder influenciar os outros e todos poderem aprender. Os não residentes também podem ser admitidos na creche? Nesta fase, não temos nenhuma objecção do IAS para termos algumas vagas para crianças que não tenham BIR e isso foi o primeiro pedido que fiz. Eles disseram que dependendo da creche podemos atribuir um número para não resi-

Está preocupada com o efeito que a pandemia pode ter no dia a dia da creche? Na verdade, a pandemia até me vai ajudar, porque os pais já educaram as crianças nesse sentido e elas já sabem desinfectar as mãos, lavar as mãos várias vezes, usar a máscara e manter alguma distância das outras crianças. Isso ajudou, porque desde Fevereiro que estamos nesta situação e as crianças tiveram mais do que tempo para se adaptar e os pais também estão mais mentalizados para isso. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


4 assembleia legislativa

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AMBIENTE ATERRO VERTEU LIXO EM DIRECÇÃO AO AEROPORTO DE MACAU Á cerca de duas semanas, parte do lixo do aterro sanitário caiu em direcção ao Aeroporto Internacional de Macau. A informação foi dada ontem em Assembleia Legislativa pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas. Concluindo que o aterro tem um “grande problema”, Raimundo do Rosário explicou que “quanto a esse tipo de lixo já se verificou tal problema e tivemos de parar uma semana de continuar a pôr lixo”. O secretário defendeu a necessidade de se pensar em limitações ao lixo aterrado no local, por falta de espaço. “Espero que não vá acontecer nenhum grande incidente, mas um pequeno problema já aconteceu”, declarou. O cenário foi mais positivo em relação aos dados da central de incineração. No ano passado, eram tratadas 1570 toneladas de lixo por dia, que este

ano desceram para 1200 toneladas. Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), disse aos deputados que espera lançar no próximo ano o concurso para criar um centro de tratamento de resíduos alimentares. Prevê-se que a infra-estrutura tenha capacidade para tratar 200 toneladas de resíduos por dia quando entrar em funcionamento. O Governo está também a ponderar proibir a importação de esferovite em utensílios de take-away. Recorde-se que no ano passado os sacos de plástico passaram a ser pagos. De acordo com Raymond Tam, mais de dez lojistas doaram as receitas vindas dessa cobrança para associações de natureza de caridade, num total de 430 mil patacas. “Essas taxas ou despesas cobradas não vão todas para o bolso dos lojistas, mas também para efeitos de protecção ambiental”.

Segurança alimentar Lojas de “take-away” vão ter registo obrigatório

As lojas de take-away e online aumentaram com o contexto de pandemia, e uma vez que não estão reguladas “serão incorporadas no sistema de fiscalização através do regime obrigatório de registo”, disse ontem o secretário para a Administração e Justiça. A proposta de lei está feita e prevê-se que o regime de registo seja lançado ainda este ano, por motivos de higiene e segurança alimentar. Durante o debate, André Cheong disse que pretende atingir este objectivo no próximo mês. “Não esperamos com a implementação deste regime obrigatório que as actividades desses lojistas venham a ser afectadas”, comentou. Desde que a Lei de Segurança Alimentar entrou em vigor, o Instituto para os Assuntos Municipais emitiu 250 acusações de infracção, num valor de 12,5 milhões de patacas, e 13 foram remetidas para o Ministério Público. Apesar disso, o secretário disse que a lei já entrou em vigor há vários anos e “é necessária uma revisão”. PUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 490/AI/2020

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 569/AI/2020

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor VONG CHI HONG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 50876xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 1/DI-AI/2018 levantado pela DST a 01.01.2018, e por despacho da signatária de 27.07.2020, exarado no Relatório n.° 498/DI/2020, de 01.07.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 243, Edf. Kam Pou Kok, 5.° andar EE (correspondente no prédio ao 6.º andar E) onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Julho de 2020.

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor XIA KENING, portador do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C69056xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 156/DI-AI/2018 levantado pela DST a 13.08.2018, e por despacho da signatária de 23.07.2020, exarado no Relatório n.° 584/DI/2020, de 16.07.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Praceta de Um de Outubro n.os 119 - 131-B, I Keng Kok, 11.º andar D, Macau onde se prestava alojamento ilegal.-----O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo,aprovadopeloDecreto-Lein.°57/99/M,de11de Outubro.---------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 23 de Julho de 2020.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Passos

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

As avarias no Metro Ligeiro não foram por problemas de segurança. Esta foi uma das ideias defendidas por Raimundo do Rosário na Assembleia Legislativa. O secretário pediu também paciência para melhorias na utilização de transportes públicos

A

S avarias que o Metro Ligeiro teve desde que entrou em funcionamento foram alvo de crítica na sessão plenária de ontem. Mas o secretário para os Transportes e Obras Públicas rejeitou que as falhas representem problemas de segurança. “Não está em causa a segurança do Metro Ligeiro. É natural que haja problemas, mas não tem nada a ver com segurança”, disse Raimundo do Rosário perante os deputados. O secretário reconheceu que são precisos ajustes, mas indicou que o sistema é japonês e que há coisas que só se conseguem resolver com a vinda de

RÓMULO SANTOS

H

METRO LIGEIRO SECRETÁRIO DIZ QUE PROBLEMAS NÃO SE PRENDEM

técnicos do Japão, algo que não se sabe quando vai ser possível. “Mas, apesar disso, o Metro Ligeiro é seguro. Avaria é outra coisa, tal como acontece com os automóveis. Até ao momento, não houve acidente e espero que não haja. Os pequenos problemas sim, existiram”. Ao nível das melhorias, comentou também que está prevista maior aposta em elementos comerciais, por exemplo com lojas no terminal multimodal da Barra. Reiterando a promessa de que a ligação até á Barra vai estar concluída em 2023, Rosário acrescentou que em Dezembro vai dar mais informações sobre a linha de Hengqin. Além

CPSP NEGADA TENDÊNCIA PARA REJEITAR MANIFESTAÇÕES

O

Comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Ng Kam Wa, garantiu ontem em Assembleia Legislativa que não há tendência de aumento da rejeição de pedidos de manifestação ou reunião, em resposta a uma interpelação de Sulu Sou. E argumentou que houve menos rejeições

comparativamente a quando os avisos prévios estavam sob a alçada do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Foi a única interpelação oral em que o secretário da tutela não esteve presente para responder. De acordo com os dados apresentados, entre Junho de 2017 e

Setembro de 2018, o IAM recebeu 599 avisos prévios de reunião e manifestação, não permitindo 13. Por sua vez, de Outubro de 2018 a Junho de 2020 a CPSP recebeu 308, rejeitando 11. Com base nos números, Ng Kam Wa defende que não se pode concluir que a polícia apertou ou relaxou restrições.


assembleia legislativa 5

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de bebé COM SEGURANÇA

“Até ao momento, não houve acidente e espero que não haja. Pequenos problemas sim, existiram” RAIMUNDO DO ROSÁRIO

disso, referiu sobre o Metro Ligeiro e a sociedade que “é ainda uma criança, nem sabe andar”, frisando a necessidade de as linhas levarem tempo. “Não vai ser feito em seis meses ou um ano, temos de dar mais tempo a estas obras”.

EXPECTATIVAS BAIXAS

O secretário lembrou aos deputados que inicialmente chegaram a circular por dia quase 30 mil passageiros, números que atribuiu ao facto das viagens serem gratuitas e não haver epidemia. Com a mudança de contexto, houve dias em que apenas 300 ou 500 pessoas usaram o transporte. Ainda assim, o número aumentou nos últimos tempos até quase dois mil passageiros. “Temos de ter paciência para que esta situação melhore”, declarou o responsável. Raimundo do Rosário explicou que perante a necessidade de cortes em despesas orçamentais, o Metro Ligeiro “não é uma exceção”. Indicou que o Metro Ligeiro tem um subsídio proveniente da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, e uma dotação para realizar obras no metro. Os custos de exploração diária terão reduzido de 1300 para 1250 milhões. “Nenhum transporte público, sobretudo o Metro Ligeiro, ganha dinheiro”, tinha já comentado. Por outro lado, depois da celebração dos contratos de concessão com os serviços de autocarro, o Governo vai avaliar a utilização de meios electrónicos para o pagamento da tarifa de Metro Ligeiro. “Vamos ver como podemos fazer a correspondência usando o Macau Pass. Já estamos a tratar do assunto, quase na recta final”, disse Raimundo do Rosário. Salomé Fernandes

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E REUNIÕES Escudou-se ainda no facto de haver quem não cumpra os prazos legais para os avisos prévios, e na necessidade de impedir concentrações desde o início do ano por causa da prevenção da epidemia. Outro dos pontos levantados por Sulu Sou foi a ausência de definições claras sobre os conceitos de

manifestação e reunião. “De acordo com o acórdão do TUI, entendemos que uma pessoa pode exercer direito de manifestação e duas para direito de reunião. Foi sempre esta a nossa interpretação e nunca mudámos”. Agnes Lam propôs ao Governo definir na lei os diferentes conceitos, acres-

centando esperar “que a polícia possa executar a lei de forma mais suave”. Em resposta à intervenção da deputada, o representante das autoridades disse que há abertura para revisão da lei e rejeitou que exerçam as suas funções “de forma dura ou rígida”, e que “nem utilizamos violência”.

Rede 5G Governo encomenda estudo sobre radioactividade Face a preocupações levantadas por Agnes Lam em relação à eventual da radioactividade de instalações de rede 5G, uma representante do Governo disse que se pode aferir o impacto da saúde ou radioactividade. “Este ano também vamos encomendar à UMAC um estudo sobre esta matéria”, disse. Para além disso, planeia-se reservar sítios na Zona A dos novos aterros para instalar estações-base da rede 5G, disse o secretário para

os Transportes e Obras Públicas. E explicou que no final deste ano vai ser submetida uma proposta de lei à Assembleia Legislativa sobre as condições urbanísticas de construção que abrange telecomunicações. O deputado Mak Soi Kun pediu ao Governo para usar a Zona A como zona-piloto para o planeamento da cidade inteligente, com instalações de telecomunicações como requisito para os projectos serem autorizados.


6 política

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No comunicado emitido ontem, as autoridades de Macau criticam a congénere malaia por divulgar “unilateralmente” uma informação que não “corresponde à verdade”

CRIME WONG SIO CHAK NEGA QUE FUGITIVO JHO LOW ESTEJA EM MACAU

É tudo mentira

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secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, nega que Jho Low, bilionário foragido da justiça, esteja escondido em Macau e deixou um ataque às autoridades malaias. A resposta surgiu após o inspector-geral da polícia da Malásia, Tan Sri Abdul Hamid Bador, ter afirmado que as autoridades chinesas estavam a proteger o empresário acusado de estar envolvido num esquema que desviou 4,5 mil milhões de dólares norte-americanos do Estado malaio. “A Polícia da Malásia, contrariando as regras e as práticas no âmbito de cooperação policial internacional, divulgou unilateralmente que o Lao XX [Jho Low] se encontra em Macau, informação que não corresponde à verdade”, esclareceu o gabinete do secretário, em comunicado. Na mesma posição sobre o tema que chegou à imprensa internacional, o secretário critica ainda a congénere malaia por não ter feito qualquer pedido de assistência desde 2018, apesar de as declarações feitas de falta de cooperação. “Desde o ano 2018 até ao presente, a Polícia da Malásia não efectuou qualquer comunicação para as Autoridades de Macau, nem formulou qualquer pedido”, foi revelado. Por outro lado, o Governo explicou que logo em 2018,

mática e franca na relação com as autoridades internacionais. “É de salientar que a Polícia de Macau cumpre sempre a lei e os procedimentos, tomando uma atitude pragmática e franca e de acordo com os princípios de igualdade, reciprocidade e de respeito mútuo no que toca ao desenvolvimento de uma cooperação policial efectiva com todos os países e regiões”, consta no comunicado. Também a embaixada chinesa em Kuala Lumpur, capital da Malásia, negou que as autoridades chinesas oferecessem protecção a Jho Low e considerou a acusação “sem fundamento” e “inaceitável”.

“Desde o ano 2018 até ao presente, a Polícia da Malásia não efectuou qualquer comunicação para as Autoridades de Macau, nem formulou qualquer pedido.” GABINETE DO SECRETÁRIO PARA A SEGURANÇA

meses após de ter sido emitido o mandato internacional de captura de Jho Low, Macau recebeu um pedido de extradição. Contudo, também nessa altura as autoridades negaram que Low estivesse na

Fronteiras Vistos a partir de 12 de Agosto, excepto para turismo

As inscrições para a obtenção de vistos de entrada em Macau vão ser retomadas a partir do dia 12 de Agosto e são válidas em todas as províncias do Interior da China. Segundo o jornal Ou Mun, estão apenas incluídos os vistos destinados a visitas com fins familiares, de negócio, permanência ou outros, ficando, para já, de fora, os vistos de turismo. A informação foi avançada pelas autoridades de Guangdong, através do grupo de ligação do mecanismo conjunto de prevenção e controle do Conselho de Estado, em resposta a uma proposta lançada por um vogal da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) da Província de Guangdong.

RAEM. “Em 2018, o subgabinete de Macau da Polícia Judiciária do Gabinete Central Nacional Chinês da Interpol recebeu um pedido das Autoridades da Malásia, tendo dado resposta clara de que o refe-

rido indivíduo não se encontrava em Macau”, foi apontado.

No mesmo sentido, o comunicado da embaixada, citado pelo jornal Strait Times, recusa a ideia de a China poder receber criminosos. “A posição do governo chinês no combate ao crime é muito clara”, foi destacado. “A China não oferece protecção nem nunca vai oferecer a criminosos estrangeiros”, foi adicionado. Jho Low tem um mandato de captura internacional desde 2017, depois de ter estado envolvido num roubo de 4,5 mil milhões de dólares americanos, que resultou na condenação a 12 anos de prisão do ex-Primeiro-Ministro malaio Najib Razak. João Santos Filipe

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ATITUDE “FRANCA”

Finalmente, as autoridades da RAEM destacam a atitude prag-

ESTUDO RESIDENTES “TÊM FORTE IDENTIFICAÇÃO” COM A CHINA

U

M estudo feito pelo departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM), coordenado pelo académico Spencer Li, conclui que “os residentes de Macau sentem uma forte identificação com a China”, além de que “a maior parte deles se sentem macaenses e chineses”, lê-se num comunicado. Outra das conclusões da investigação revela que “uma elevada percentagem dos resi-

dentes é composta por migrantes ou trabalhadores migrantes que vêm maioritariamente da China para se juntarem às suas famílias

ou para procurarem trabalho”. Além disso, “os residentes de Macau têm, em termos gerais, uma boa condição física e mental com uma melhoria do nível de educação”. O estudo da UM aponta ainda para o facto de o multiculturalismo do território “prevalece na fé e no sistema de valores dos residentes de Macau”, sendo que a maior parte “mostra uma atitude aberta e tolerante e apoia a igualdade de género”.

O estudo, intitulado “Macao Social Survey”, levou cinco anos a ficar concluído e foi feito com base em inquéritos e entrevistas. Neste trabalho colaboraram também os académicos Wang Hongyu, Cai Tianji e Kuo Shih-Ya, além de outros docentes e alunos de mestrado e doutoramento. A investigação, que teve início em 2015, conta com entrevistas a mais de 3500 residentes a partir dos 16 anos. A.S.S.


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defesa de Glória Batalha, ex-vogal do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), arguida no caso que envolve Jackson Chang, recorreu da decisão da juíza Leong Fong Meng, e pretende impedir que as gravações de conversas de WeChat sejam utilizadas como meio de prova. A situação colocou-se inicialmente na sessão de 9 de Julho do julgamento que decorre no Tribunal Judicial Base, quando o advogado Pedro Leal contestou o recurso às gravações como forma de prova contra a sua cliente. Segundo a tese da defesa, as conversas apreendidas em formato áudio com os telemóveis são equiparadas a escutas telefónicas, o que faz com que só possam ser utilizadas como prova quando os crimes têm moldura penal superior a três anos de prisão. Como Glória Batalha apenas responde pela prática dos crimes de “abuso de poder” e “violação de segredo”, punidos com pena máxima de prisão de três anos e um ano, respectivamente, a defesa considera que estas provas não podem ser utilizadas. Na data da primeira decisão, Leong Fong Meng após recusar o requerimento da defesa, indicou que a mesma tinha um prazo de 20 dias para recorrer para o Tribunal de Segunda Instância. Foi o que aconteceu com o recurso a dar entrada na quarta-feira.

CASO IPIM GLÓRIA BATALHA RECORRE AO TSI PARA ANULAR PROVAS DE WECHAT

Escutas em cheque A defesa da ex-vogal do IPIM defende que as gravações de conversas no telemóvel são equiparadas a escutas e não podem ser utilizadas como prova para crimes com moldura penal de três ou menos anos A acusação do MP contra Glória Batalha é em grande parte sustentada com recurso a conversas de WeChat, apesar do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) “não ter conseguido” decifrar todas as trocas de mensagens.

PESSOA “HONESTA”

Recursos à parte, ontem decorreu mais uma sessão do julgamento do caso IPIM, e foram ouvidas várias testemunhas de acusação e abonatórias. Uma das teste-

munhas foi Rita Santos, antiga secretária-geral adjunta do Secretariado Permanente do Fórum de Macau. No depoimento, Rita Santos considerou pouco credível a tese da acusação que aponta Jackson Chang, ex-presidente do IPIM, como um dos membros da associação criminosa montada pelo casal de empresários Ng Kuok Sao e Wu Shu Hua. “Não acredito que esteja ligado a uma associação criminosa. Ele é uma pessoa muito honesta”, defendeu a também

“Em 10 anos a minha empresa nunca teve uma adjudicação do IPIM, só antes de ele ser presidente. Uma vez até lhe disse que nunca mais ia participar nos concursos públicos do IPIM.” CHAN AMIGO DE JACKSON CHANG

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Deixa-me ir

Consulado recebeu 1.500 pedidos para residir em Portugal

mais 2,9 por cento ao primeiro semestre de 2019 (372.243.909,50 euros). Em Junho, uma empresa especializada na obtenção de 'vistos gold' em Portugal TIAGO ALCÂNTARA

Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong registou cerca de 1.500 pedidos de pessoas que querem residir em Portugal, anunciou ontem o cônsul Paulo Cunha-Alves, segundo a Lusa. A informação foi avançada durante o webinar “Investir em Portugal. O Seu Próximo Local”, que teve como principal missão atrair investimento e promover Portugal como destino de investimento de cidadãos de Macau e Hong Kong. Paulo Cunha-Alves explicou que no primeiro semestre o número de pessoas que solicitaram, junto do consulado baseado em Macau, um registo criminal foi de cerca de 1.500. O registo criminal é um dos requisitos para o processo dos ‘vistos gold’ e de residência em Portugal. O investimento total captado através dos vistos 'gold' aumentou 2,9 por cento no primeiro semestre, face a igual período de 2019, para 383 milhões de euros, segundo contas feitas pela Lusa com base nas estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Nos primeiros seis meses do ano, o investimento total resultante da concessão de Autorização de Residência para Investimento (ARI) ascendeu a 383.003.719,56 euros,

conselheira das comunidades portuguesas. Por outro lado, Rita Santos destacou o sentido de responsabilidade de Jackson

Chang: “Numa das visitas oficiais em que participava o Fórum Macau e o IPIM vi-o a chamar a atenção os seus funcionários para que

disse à Lusa, que os pedidos de informação de residentes de Hong Kong dispararam após o anúncio de Pequim sobre a lei de segurança nacional que entrou em vigor no território vizinho. No evento, que teve como um dos organizadores a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), o cônsul Paulo Cunha-Alves sublinhou ainda o sucesso do investimento

respeitassem o orçamento”, recordou.

SEM AJUDAS PARA AMIGO

Na mesma sessão foi ouvido um amigo de infância de Jackson Chang, com o apelido Chan. A testemunha admitiu que manteve contactos profissionais pontuais com o ex-presidente do IPIM, uma vez que é empresário no sector das exposições e convenções e elogiou o carácter do arguido: “Não é uma pessoa excessivamente ambiciosa, que não olhe a meios para chegar aos fins”, realçou. Por outro lado, e ainda sobre o carácter do amigo, apontou que chegou a queixar-se a Jackson Chang por só ter vencido um concurso público no IPIM, quando o arguido nem era presidente: “Em 10 anos, a minha empresa nunca teve uma adjudicação do IPIM, só antes de ele ser presidente. Uma vez até lhe disse que nunca mais ia participar nos concursos públicos do IPIM porque nunca ganhava”, revelou Chan. Outra das testemunhas ouvidas foi o ex-deputado Ung Choi Kun, próximo do empresário Chan Meng Kam. Ung deixou elogiou a Glória Batalha Ung a quem admitiu tratar como irmã, pelo facto de ambos partilharem o apelido Ung. Ainda sobre a ex-vogal do IPIM, o antigo deputado sublinhou que prestou muitos serviços de forma empenhada à RAEM. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

estrangeiro em Portugal, que faz com que o país esteja agora “no radar” de várias empresas do mundo. Paulo Cunha-Alves disse ainda que o consulado português estará sempre disponível para apoiar os investimentos através de Hong Kong e Macau.

PORTA DE ENTRADA

Por seu lado, a conselheira de Investimentos da Embaixada de Portugal em Pequim, Patrícia Conceição, afirmou que o investimento estrangeiro é fulcral para a economia do país. “Tem um tremendo impacto em todas as empresas”, sublinhou. De forma a captar a atenção de investidores presentes na conferência online, Patrícia Conceição referiu que Portugal é o segundo país mais seguro da União Europeia, segundo o índice de ameaças à segurança. O facto de Portugal estar inserido na União Europeia e de ser uma ligação para os países de língua portuguesa faz com que os possíveis investidores tenham acesso a um mercado de mais de 700 milhões de pessoas, enfatizou.


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31.7.2020 sexta-feira

DSPA QUALIDADE DO AR MELHORA, MAS NÍVEIS DE OZONO AUMENTAM

ESTUDO MOBILIDADE COM IMPACTO SIGNIFICATIVO NA QUALIDADE DO AR

Causa e efeito

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Um estudo da Universidade de São José comparou os níveis de poluição durante a Semana Dourada de 2019 e a fase de confinamento deste ano, e avaliou o impacto da mobilidade de veículos e pessoas na poluição do ar. Entre Janeiro e Fevereiro houve uma grande redução de partículas PM2.5 e PM10, que voltaram a valores normais em Março

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M A equipa de investigadores da Universidade de São José (USJ) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) publicou recentemente um estudo no International Journal of Environmental Research and Public Health intitulado “Statistical Forecast of Pollution Episodes in Macao during National Holiday and Covid-19”. O trabalho comparou os níveis de poluição do ar durante dois períodos distintos em termos de afluência de pessoas em Macau: os feriados da Semana Dourada em 2019 e o período de confinamento devido à pandemia da covid-19, no início deste ano. A investigação avalia o impacto da mobilidade de pessoas e veículos nos níveis de poluição do ar, uma vez que, entre Janeiro e Fevereiro, os níveis de partículas PM 2.5 e PM10, partículas finas de poluição, registaram níveis muito baixos por oposição aos níveis elevados registados em Outubro do ano passado. “Os níveis de concentração das partículas PM2.5 tiveram uma redução significativa depois da confirmação do primeiro caso de covid-19 em Ma-

cau a 22 de Janeiro, [algo] que causou pânico e ansiedade na população local, seguindo-se o anúncio do encerramento dos casinos pelo Governo de Macau como uma das medidas preventivas da covid-19, entre 5 e 20 de Fevereiro. Quando a medida de encerramento dos casinos foi levantada, e o medo e tensão dos residentes diminuíram, isso promoveu a mobilidade da população”, lê-se no estudo. Nesse sentido, “apesar de os níveis de concentração de partículas de PM2.5 terem melhorado significativamente em finais de Janeiro e meados de Fevereiro, a concentração dos níveis de PM 2.5 gradualmente voltou ao normal em Março de 2020, depois de terem sido levantadas algumas medidas preventivas em Macau e na vizinha província de Guangdong”. Thomas Lei, académico da USJ e um dos autores do estudo, explica que a tendência para o futuro deve ser a redução da circulação de veículos. “Os níveis de mobilidade em Janeiro e Fevereiro baixaram e baixaram também praticamente todos os níveis de poluentes. Vemos que a redução da circulação de veículos melhorou

de facto a qualidade do ar em Macau. Em relação ao futuro, a tendência deve ser reduzir o número de veículos nas estradas”, defendeu ao HM.

NÍVEIS DE OZONO A SUBIR

Os investigadores da USJ e da UNL analisaram dados de emissão de poluentes relativos a três períodos distintos, de 2013 a 2016, de 2015 a 2018 e de 2013 a 2018, recorrendo a diversos métodos estatísticos. “Para compreender se o modelo de previsão

era robusto para variações extremas de concentração de poluentes”, explica o estudo, foram ainda feitos testes durante a fase de elevada concentração de partículas de PM2.5, durante o período da Semana Dourada, e no período de confinamento. A análise feita ao período da Semana Dourada mostra “elevados níveis de concentração” de partículas de PM2.5 e 03, “com picos diários de concentração a exceder os 55 μg/m3 e 400 μg/

A análise ao período da Semana Dourada mostra “elevados níveis de concentração” de partículas de PM2.5. Pelo contrário, durante o período de confinamento, registou-se “um baixo recorde diário de concentração dos níveis de partículas”

m3, respectivamente”. Pelo contrário, durante o período de confinamento, registou-se “um baixo recorde diário de concentração dos níveis de partículas PM 2.5 e 03 para 2 μg/m3 e 50 μg/m3, respectivamente”. O estudo conclui também que a “melhoria da qualidade do ar em termos globais é possível no território, mas está firmemente ligada à implementação de medidas de controlo da poluição do ar nas áreas industrial e de mobilidade em Macau, e em particular na província de Guangdong”. A poluição do ar é, portanto, “um problema regional e não está apenas limitado a Macau, mas também às regiões vizinhas de Hong Kong e da província de Guangdong”, lê-se no artigo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) publicou ontem o Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2019 que conclui que “a qualidade do ar do Delta do Rio das Pérolas tem vindo a ser constantemente aperfeiçoada”. “Comparando com 2006, os valores médios anuais de concentração de Dióxido de Enxofre (SO2), partículas inaláveis e Dióxido de Azoto (NO2) verificados em 2019 desceram 84, 37 e 29 por cento, respectivamente”, acrescenta o relatório. A DSPA explica ainda que “embora os dois factores de monitorização - Monóxido de Carbono (CO) e partículas finas - só tenham sido inseridos em toda a rede em Setembro de 2014, em 2019 verificou-se, também, uma diminuição de 4 por cento e 14 por centos nos valores médios anuais de CO e partículas finas, face a 2015”. O relatório revela, contudo, que os níveis de concentração de ozono aumentaram 36 por cento em relação a 2006, pelo que “a situação da poluição luminosa e química na região precisa ainda de ser melhorada”. Thomas Lei, académico da Universidade de São José, destacou ao HM o facto de as medidas implementadas pelo Governo para a redução do número de veículos estarem a surtir efeitos. No entanto, o investigador defende a criação de zonas de baixa emissão de carbono, como na Rua do Campo, com circulação exclusiva a carros com menos de oito anos. Quanto à subida dos níveis de ozono, “esta tendência não se verifica apenas em Macau, mas em várias zonas da China”, disse.

Aeroporto Voos comerciais caem 74,3 por cento no primeiro semestre

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos revelou que, em Junho, realizaram-se no Aeroporto Internacional de Macau um total de 350 voos comerciais, uma quebra de 94,2 por cento em termos homólogos. Relativamente ao primeiro semestre efectuaram-se 9.161 voos comerciais, menos 74,3 por cento relativamente ao mesmo semestre de 2019. Quanto ao número de veículos com matrículas novas, também no primeiro semestre, foi de 5.293, menos 7,4 por cento face ao mesmo semestre do ano passado. No primeiro semestre deste ano, o movimento de automóveis nos postos fronteiriços totalizou 908.688, tendo descido 65,1 por cento face a igual período do ano passado.


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sexta-feira 31.7.2020

Mercados Deputado pede ventiladores para baixar temperatura

O deputado Leong Sun Iok quer que o Governo instale ventiladores nos mercados municipais da Mitra e da Taipa, com o objectivo de oferecer um ambiente mais confortável a vendilhões e clientes, através da redução da temperatura em ambos os espaços. Segundo o jornal Cidadão, a sugestão surgiu após o deputado ter visitado o Mercado da Mitra, onde verificou que a temperatura chegou aos 35 graus centígrados. Além disso, Leong Sun Iok apontou ainda trabalhar com máscara debaixo deste tipo de temperaturas é muito duro, esperando que as obras que estão a decorrer nos dois mercados estão finalizadas em breve.

Covid-19 Carne de porco da Dinamarca sem registo de infecção

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) confirmou ontem que a carne de porco congelada importada da Dinamarca não tem quaisquer indícios de infecção por covid-19, depois de o teste de ácido nucleico ter dado negativo. O IAM assegurou também que foi suspensa a importação de carne deste matadouro. A carne testada pelas autoridades saiu da fábrica em Maio, antes da ocorrência dos diagnósticos que mostraram infecção, além de que todo o processo de importação esteve sujeito a um controlo burocrático. Relativamente à importação de congelados ou outro tipo de alimentos embalados de outros países, o IAM disse que examinou nas últimas semanas mais de 500 amostras, todas elas com resultado negativo à covid-19.

Emprego Ella Lei quer mais formação para mudar de profissão

A deputada Ella Lei quer que o Governo aposte no lançamento de mais formação subsidiada e na formação destinada à mudança de profissão. A ideia é que tanto os residentes mais desfavorecidos economicamente como os que querem mudar de emprego, possam receber formação. Segundo o jornal Cidadão, a deputada sugeriu ainda que, perante as incertezas em relação ao futuro a crescer juntamente com as restrições nas fronteiras e a situação da pandemia nas regiões vizinhas, o Executivo deve implementar mais medidas de combate ao desemprego. Ella Lei lembra ainda que existem muitos casos de residentes que estão em situação de licença sem vencimento, que não podem concorrer à formação subsidiada.

Só em 2011, as razões humanitárias passam a integrar a tabela como fundamento para requerer a verba. Nesse ano, foram aprovados 30 pedidos, num valor total de 300 mil patacas

FSS CERCA DE 36,5 MILHÕES DISTRIBUÍDOS POR RAZÕES HUMANITÁRIAS

Dar a quem precisa A repartição extraordinária de saldos orçamentais chegou a mais requerentes por razões humanitárias em 2017, e por motivos de despesas médicas em 2013

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O longo dos últimos 11 anos, foram distribuídas verbas de repartição extraordinária de saldos orçamentais num valor total de 28,5 mil milhões de patacas. O ano com mais pedidos de apoio aprovados por razões humanitárias ou situações devidamente fundamentadas foi 2017, com 258 requerentes a receberem um total de 8,19 milhões de patacas. Foi também o ano com o número mais alto de rejeições:

139 requerentes através dessa via não conseguiram aceder às verbas. De acordo com dados facultados ao HM pelo Fundo de Segurança Social (FSS), só em 2011 as razões humanitárias passam a integrar a tabela como fundamento para requerer a verba. Nesse ano, foram aprovados 30 pedidos, num valor total de 300 mil patacas. Os rejeitados foram o triplo. Dois anos depois, começou a ser dado o aval à maioria dos pedidos por motivos humanitários, uma tendência que se

mantém. No total, entre 2011 e 2019 foram distribuídos cerca de 36,5 milhões de patacas neste âmbito. Note-se que estão habilitados a receber a verba os residentes com mais de 65 anos, desempregados com 60 anos ou mais, residentes com elevadas despesas médicas devido a lesões ou doenças graves, quem invocar razões humanitária ou os beneficiários há mais de um ano de pensão de invalidez do FSS e especial do Instituto de Acção Social. Os beneficiários têm de ser

residentes permanentes, ter, pelo menos 22 anos, e ter permanecido no ano passado no território um mínimo de 183 dias.

MOTIVOS MÉDICOS EM QUEDA

Em 2010 foram autorizados 782 pedidos por requerentes que se viram na situação de terem de assumir despesas elevadas para tratamento médico devido a lesões corporais ou doença grave. Apenas um pedido foi rejeitado. O volume de beneficiários por motivos de despesas médicas foi mais alto em 2013. Atingiu 1094 deferimentos, que representaram um montante de 19,07 milhões. Ficaram de parte 306 pedidos. Desde então o volume destes pedidos tem, no geral, vindo a diminuir. Ainda assim, o ano em que o benefício por motivos médicos teve um peso financeiro maior foi em 2018, superando 26 milhões. Salomé Fernandes

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Depois de uma bem-sucedida primeira edição, a 18 de Julho, o Arroz Music Festival está de regresso este sábado aos palcos do espaço Live Music Association. O cartaz é composto por bandas de Macau como os LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline Castle, que sobem ao palco a partir das 18h

Bago a 31.7.2020 sexta-feira

LMA FUNK E POP NA SEGUNDA EDIÇÃO DO ARROZ MUSIC FESTIVA

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REVISTA DE CULTURA NOVA EDIÇÃO DEDICADA À CULTUR

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edição número 62 da Revista de Cultura - Edição Internacional, publicada pelo Instituto Cultural (IC) é dedicada à cultura macaense, com destaque para as reuniões, rituais, celebrações e a gastronomia. A revista aborda o romance “Os Dores” de Henrique de Senna Fernandes, incluindo um capítulo sobre Historiografia, onde se expõem “traços singulares da história dos portos de Macau”. São também publicados dois trabalhos que se centram na actividade comercial em Cantão e Macau no séc. XVIII e na discussão sobre o significado do caracter chinês Yi entre os comerciantes ociden-

tais na Cantão pré-Guerra do Ópio. A revista foca-se também nas artes marciais, “com um novo tema focado nas origens chinesas do Karate-dō japonês”, sem esquecer uma investigação “cujo foco recai nas espécies vegetais enumeradas no Shi Jing (Clássico das Odes), no contexto civilizacional e poético, segundo versões e interpretações de diversos autores. A revista é editada pelo Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau e pode ser adquirida na Livraria Plaza Cultural, Arquivo de Macau, Centro Ecuménico Kun Iam e Centro de Informações ao Público pelo valor de 150 patacas.


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sexta-feira 31.7.2020

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RA MACAENSE

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espaço Live Music Association (LMA) volta a acolher mais uma edição do Arroz Music Festival, um evento de concertos que vai mostrar o que de melhor se faz nos mais variados estilos musicais em Macau. Para este sábado o palco está reservado a bandas como LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline a partir das 18h, com entrada gratuita. Esta será a segunda edição de uma iniciativa que promete não ficar por aqui, conforme contou ao HM Dickson Cheong, um dos gestores do LMA. “Na primeira edição queríamos focar-nos no punk, heavy metal e rock, esse tipo de som mais pesado. Mas desta vez queremos trazer sons como funk, pop, rock and roll e pop-rock, numa maior aproximação aquilo que as pessoas podem gostar.” A terceira edição contará com a presença de cinco ou seis bandas que tocam no formato de mini-concerto, adiantou Dickson Cheong. Em altura de pandemia, quando as fronteiras de Macau estão praticamente fechadas, esta é uma boa altura para ouvir música ao vivo e fazer com que as pessoas saiam de casa. “O público está mais aberto a estes eventos porque as pessoas não podem sair de Macau. É uma boa oportunidade para que se aproximem dos concertos e da música ao vivo ao invés de apenas ouvirem as canções no telemóvel”, frisou o responsável pela organização do festival.

TODOS A FLORESCER

Os promotores do festival decidiram dar-lhe o nome de arroz por ser um alimento que não só está muito presente na gastronomia de Macau como é

Músicas na caça ao voto Artistas exigem autorização para uso de canções em campanhas políticas nos EUA

V um símbolo de união das várias comidas. “Quando estávamos a organizar o festival não sabíamos qual seria o nome ideal para ele. Fizemos uma pausa, pedimos comida de fora e decidimos que o festival poderia chamar-se Arroz, devido à mistura do arroz cozido com comida chinesa ou ocidental. É como a música, em que podemos misturar todo os estilos”, contou Dickson Cheong. O objectivo do festival é promover mais união entre as bandas locais e o seu potencial público, mas os organizadores querem juntar todos aqueles que trabalham na área cultural e criativa. “Também convidamos pessoas de outras áreas, tal como fotógrafos ou produtores, ou designers. Temos o plano de misturar todas as indústrias para que estas possam florescer, queremos

reunir toda a indústria criativa para que, de certa forma, possa renascer.” Em declarações ao HM, Dickson Cheong nota que há cada vez mais pessoas em Macau a fazer música, seja de forma profissional ou amadora, e que anseiam por mostrar aquilo que fazem. “O ambiente da música não tem parado e tem melhorado significativamente. Conheço pessoas novas que decidiram começar a tocar. O público tem de abrir a mente para experimentar novos tipos de sonoridades e de espectáculos. Há caras novas em todos os eventos e ficamos surpreendidos com isso”, rematou. Andreia Sofia Silva

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“Na primeira edição queríamos focar-nos no punk, heavy metal e rock, esse tipo de som mais pesado. Mas desta vez queremos trazer sons como funk, pop, rock and roll e poprock, numa maior aproximação aquilo que as pessoas podem gostar.” DICKSON CHEONG ORGANIZADOR DO FESTIVAL

ÁRIOS artistas e grupos de musicais processaram ontem os dois principais partidos políticos dos Estados Unidos, o democrata e o republicano, para que sejam obrigados a pedir autorização para o uso dos seus temas, nas campanhas eleitorais. Entre estes artistas destacam-se os Rolling Stones, Elton John, REM, Lorde, Sia, Linkin Park, Green Day, Blondie e Pearl Jam, segundo a agência noticiosa espanhola Efe. A Efe acrescenta que, numa carta assinada por mais de cinquenta músicos da organização de propriedade intelectual Artist Rights Alliance, os comités de ambos os partidos são chamados a "estabelecer regras claras que exijam que as suas campanhas peçam o consentimento dos artistas, antes de usarem publicamente as suas músicas, num cenário político". O uso de músicas populares na propaganda política tem sido objecto de polémica nos últimos anos, depois de artistas como Neil Young e Guns N 'Roses terem criticado o uso das suas composições em comícios de campanha do Presidente dos EUA, o republicano Donald Trump, sem o seu consentimento. "Este não é um problema novo. Ou partidário. Cada ciclo eleitoral traz histórias de artistas e compositores frustrados, descobrindo que seu trabalho é usado em con-

textos que sugerem o endosso ou apoio de candidatos políticos sem sua permissão ou consentimento", afirma a missiva. Aerosmith, Alanis Morissette, Courtney Love, Cyndi Lauper e Elvis Costello também assinaram o documento, escreve a Efe. "Ser arrastado inadvertidamente para a política dessa maneira pode comprometer os valores pessoais de um artista, ao mesmo tempo que decepciona e aliena os seus fãs, com um grande custo moral e financeiro", sublinham.

LIVRE EXPRESSÃO

Os músicos e compositores exigem uma resposta antes de 10 de Agosto, menos de três meses antes das eleições presidenciais dos EUA, com a campanha eleitoral a arrancar imediatamente após a realização das convenções de cada partido. Os signatários também incluem Linkin Park, Lykke Li, Panic! At The Disco, Regina Spektor, Sheryl Crow e Train. "Como todos os outros cidadãos, os artistas têm o direito fundamental de controlar o seu trabalho e tomar decisões livres sobre sua expressão e participação política. O uso de seu trabalho para fins políticos sem o seu consentimento viola fundamentalmente esses direitos e é uma invasão de interesses pessoais" da sua vida privada, argumentam.


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SHANGHAI SIPG ADEPTOS APOIAM A PARTIR DE HOTEL JUNTO AO ESTÁDIO

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De acordo com o Executivo da RAEHK, a medida sobre estes doze candidatos foi tomada porque “não apresentaram devidamente assinada a declaração em que se comprometem a proteger a Lei Básica e a jurar lealdade à República Popular da China”

HONG KONG DOZE CANDIDATOS PRÓ-DEMOCRACIA IMPEDIDOS DE IR A ELEIÇÕES

À dúzia é mais barato

Doze candidatos pró-democracia de Hong Kong, entre os quais Joshua Wong, foram desqualificados para concorrer às eleições de Setembro, indicou ontem o Executivo da região administrativa especial

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Governo defende a decisão (...) de invalidar as 12 candidaturas às eleições do Conselho Legislativo”, anunciou o governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong através de um comunicado. Os partidos pró-democracia em Hong Kong realizaram em Julho primárias para nomearem os seus candidatos para as eleições parlamentares previstas para Setembro, apesar dos avisos das autoridades de que corriam o risco de violar a nova lei de segurança. A votação, que contou com a participação de 600 mil pessoas, foi considerada ilegal pelas autoridades da República Popular da China. Na lista dos candidatos impedidos de concorrer figuram alguns destacados líderes do movimento pró-democracia de Hong Kong, como o secretário-

-geral da extinta organização política Demosisto, Joshua Wong e o deputado e líder do Partido Cívico, Alvin Yeung. “Acabam de vetar o meu nome para as eleições do Conselho Legislativo apesar de ser o vencedor das primárias (...) Pequim está a levar a cabo a maior repressão contra as eleições na cidade ao desqualificar desta forma quase todos os candidatos pró-democratas”, afirmou Wong através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter após ter sido conhecida a decisão. Num documento enviado a Joshua Wong com as razões para a recusa da sua candidatura, as autoridades levantam dúvidas sobre as respostas dadas pelo activista na declaração de fidelidade à Lei Básica e à Região Administrativa Especial (RAEM) de Hong Kong, necessária para a formalização da participação nas eleições. Joshua Wong “tentou não for-

necer respostas directas a muitas das perguntas”, pode ler-se no documento, a que a Lusa teve acesso.

AS RAZÕES DA RAZÃO

De acordo com o Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, a medida sobre estes doze candidatos foi tomada porque “não apresentaram devidamente assinada a declaração em que se comprometem a proteger a Lei Básica e a jurar lealdade à República Popular da China”. A autoridade eleitoral considera que aqueles que defendem a independência de Hong Kong, que pedem a outros países para intervir nos assuntos locais ou se neguem a aceitar que a região é território sob soberania de Pequim e se oponham à Lei de Segurança Nacional “não podem proteger a Lei Básica de forma honesta”. Após os resultados alcançados nas eleições locais de

Novembro de 2019, a oposição democrata esperava conseguir a maioria nas próximas eleições legislativas de Setembro. Para a Comissão Eleitoral​​​​​​​ outro dos motivos para a desqualificação foi a rejeição por alguns candidatos ao Conselho Legislativo de propostas de lei, nomeações, e orçamentos no sentido de “obrigarem o Executivo a aceitar certas exigências políticas”. Perante as críticas sobre a desqualificação, o Executivo local diz que “não se trata de nenhum tipo de censura política, restrição, liberdade de expressão ou direito de concorrer às eleições”. As eleições estão agendadas para o dia 6 de Setembro, mas nas últimas horas têm surgido notícias na imprensa local que indicam que o Governo está a ponderar adiar a votação para 2012 por causa da “nova vaga” da pandemia de SARS CoV-2 que se regista em Hong Kong.

S adeptos do clube chinês de futebol Shanghai SIPG encontraram uma alternativa para apoiar a equipa treinada pelo português Vítor Pereira, quando os jogos se disputam à porta fechada, alugando quartos num hotel próximo do estádio.“Os jogadores ouviram-nos claramente”, afirmaram os adeptos do Shanghai SIPG, citados pela imprensa local, depois de terem esgotado o Sports International Hotel, na cidade de Kunshan, província de Jiangsu, onde o SIPG derrotou o Tianjin Teda, por 3-1, na segunda-feira à noite. O Kunshan Stadium é um dos es-

tádios seleccionados para disputar esta temporada que, devido à pandemia do novo coronavírus, começou cinco meses mais tarde, no sábado, com jogos à porta fechada. O preço dos quartos mais caros no hotel subiu de 450 yuan para 800 yuan nos dias de jogos. Para domingo, quando o SIPG, onde alinha Hulk, antigo avançado do Futebol Clube do Porto, volta a jogar, desta vez contra o Hebei China Fortune, já não há quartos disponíveis. Segundo a imprensa local, as autoridades do futebol na China vão fazer de tudo para impedir que a situação se repita.

COVID-19 MAIS DE 100 CASOS PELO SEGUNDO DIA CONSECUTIVO

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China identificou nas últimas 24 horas mais de 100 casos de covid-19 pelo segundo dia consecutivo, números que não se registavam no país asiático desde Abril, informou ontem a Comissão Nacional de Saúde. No total, o país somou 105 novos casos, na quarta-feira.A região de Xinjiang, no extremo noroeste do país, contou 96. Na província de Liaoning, no nordeste da China, foram diagnosticados mais cinco. Também em Pequim foi detectado um novo caso, pelo terceiro dia consecutivo. Todos estes casos ocorreram por contágio local. O país detectou ainda três casos entre viajantes oriundos do exterior, os chama-

dos casos “importados”. O número representa uma tendência crescente nos últimos dias: 101 casos terça-feira, 68 na segunda-feira e 61 no domingo. A mesma fonte detalhou que, até à meia-noite de ontem, 13 pacientes receberam alta e oito deram entrada em estado grave. O número total de casos activos na China continental fixou-se em 574, entre os quais 33 estão em estado grave. A Comissão não anunciou novas mortes por covid-19, pelo que o número permaneceu em 4.634, entre um total de 84.165 pacientes diagnosticados oficialmente na China desde o início da pandemia. Mais de 78.950 superaram a doença e receberam alta.


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sexta-feira 31.7.2020

TECNOLOGIA HUAWEI PELA PRIMEIRA VEZ A MAIOR VENDEDORA DO MUNDO

5G PEQUIM ACUSA WASHINGTON DE TENTAR BARRAR HUAWEI DO BRASIL

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China acusou ontem os Estados Unidos de quererem, “por todos os meios”, impedir a gigante chinês das telecomunicações Huawei de implementar a tecnologia 5G no Brasil, após um aviso da administração Trump a este país. A Huawei é considerada a líder mundial em 5G, um novo padrão de tecnologia móvel que está a revolucionar a Internet e cuja aplicação deve ser acelerada. A administração Trump multiplicou, nos últimos meses, a pressão sobre os seus aliados para que proíbam o equipamento Huawei, argumentando com suspeitas de conluio do grupo de telecomunicações com Pequim e considerando que existem riscos em termos de cibersegurança. Numa entrevista publicada quarta-feira pelo diário brasileiro O Globo, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, ameaça o Brasil de ter “consequências” se permitir que o grupo chinês instale ali a sua tecnologia 5G. As consequências poderiam ser económicas, disse o embaixador norte-americano ao jornal O Globo. “Os Estados Unidos estão muito ligados à justiça e reciprocidade”, disse à imprensa um porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin. “Mas na realidade, quando as empresas de outros países se tornam dominantes, a classe política americana inventa desculpas e usa o poder do Estado para as eliminar por todos os meios”, garantiu Wang à imprensa. Brasília deveria lançar este ano o concurso para 5G num enorme mercado de 212 milhões de pessoas, mas a crise do novo coronavírus alterou o calendário para 2021.

Como pãezinhos quentes

A Huawei foi a empresa que mais telemóveis vendeu, no segundo trimestre de 2020, em todo o mundo. A realidade foi demonstrada por dados divulgados pela analista de mercados Canalys, que considerou difícil o grupo chinês de telecomunicações manter a posição

A

Canalys “Este é um resultado notável, que poucos teriam previsto há um ano. A Huawei aproveitou ao máximo a recuperação económica da China para retomar os seus negócios.”

Huawei registou uma queda homóloga de 5 por cento nas vendas, para 55,8 milhões de dispositivos, mas o desempenho da rival directa, a Samsung, foi ainda pior: o conglomerado sul-coreano vendeu 53,7 milhões de dispositivos, ou seja, 30 por cento a menos do que no mesmo período de 2019, mostra um relatório divulgado ontem pela empresa de análise do mercado. O grupo chinês de tecnologia tornou-se assim a primeira empresa a quebrar o duopólio entre Apple e Samsung no topo da lista de fornecedores globais de ‘smartphones’, segundo estimativas da Canalys. O feito, apesar de estar directamente relacionado à queda do concorrente sul-coreano, deve-se à forte recuperação do mercado chinês. As sanções dos Estados Unidos contra a empresa e a campanha internacional lançada por Washington, tentando convencer os seus aliados a excluírem a Huawei das redes de quinta geração (5G), pesaram nas vendas no exterior, que caíram 27 por cento, entre Abril e Junho. No entanto, durante o mesmo período, a Huawei vendeu 8 por cento a mais na China, onde já controla mais de 70 por cento do mercado de ‘smartphones’. “Este é um resultado notável, que poucos teriam previsto há um ano”, explicou Ben Stanton, analista da Canalys,

que atribui os números à pandemia da covid-19: “A Huawei aproveitou ao máximo a recuperação económica da China para retomar os seus negócios”.

DIFÍCIL MANTER

A Samsung tem uma presença mínima na China, com menos de 1 por cento da participação de mercado, enquanto em alguns dos principais mercados da firma sul-coreana, como o Brasil, Índia, Estados Unidos ou Europa, a economia sofreu ou continua a sofrer o impacto de surtos e medidas de distanciamento social. Outro analista da empresa, Mo Jia, lembra, porém, que vai ser difícil para a Huawei consolidar-se no primeiro lugar. “Os principais distribuidores em regiões importantes como a Europa estão cada vez mais cautelosos com os vários dispositivos da Huawei, e encomendam agora menos modelos, enquanto procuram por alternativas em outras marcas, visando reduzir o risco”, apontou. Um dos efeitos das sanções dos EUA contra a Huawei é a perda de acesso a serviços do Google, como o sistema operacional Android, que é actualmente o padrão para fabricantes de ‘smartphones’. Segundo Mo, o sucesso da tecnologia chinesa é circunstancial. “Somente com quota de mercado na China não é suficiente para manter a Huawei no topo quando a economia global começar a recuperar”, apontou.

Região JAPÃO LEVANTADAS RESTRIÇÕES À ENTRADA DE RESIDENTES ESTRANGEIROS

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Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão anunciou na quarta-feira que o país vai levantar a partir de 5 de Agosto a proibição de entrada de residentes estrangeiros, instaurada para combater a propagação do novo coronavírus.

Actualmente, cerca de 90 mil residentes estrangeiros no Japão, incluindo trabalhadores e estudantes, estão retidos fora do arquipélago, que impede a entrada a nacionais de mais de uma centena de países, por causa da pandemia.

Apartir da próxima quarta-feira, os residentes estrangeiros que deixaram o arquipélago antes de os seus países de origem terem sido afectados pela proibição serão autorizados a regressar, de acordo com o comunicado das autoridades

divulgado na quarta-feira. As pessoas elegíveis devem obter um certificado emitido pelas autoridades consulares do Japão no país onde se encontram e apresentar um teste negativo de covid-19 realizado nas 72 horas anteriores.

Desde 3 de Abril que o Japão alargou progressivamente a proibição de entrada a estrangeiros, incluindo na “lista negra” 111 nacionalidades. Na semana passada, funcionários do Conselho Empresarial Europeu e da

Câmara de Comércio Americana no Japão criticaram a duplicidade de critérios do arquipélago, afirmando que a diferença de tratamento entre cidadãos japoneses e residentes estrangeiros “não tem base científica”.


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h

31.7.2020 sexta-feira

“Cinco dedos reais taxam o ar – é a lei.”

Crónico Oriente Duarte Drumond Braga

Não há paisagem JÚLIO POMAR

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O meio das litanias pela inacção, pelo tédio e pela abdicação, a China aparece de repente no meio do Livro do Desassossego. Bernardo Soares podia ser o Lao Tse da Rua dos Douradores, e Pascoaes o Confúcio do Marão, mas nem por isso. De qualquer maneira, para os dois primeiros a renúncia é a libertação e é certo que só “não querer” é o verdadeiro poder. Nisso concordam, quer o mestre Lao quer o guarda-livros (quer ainda o Manuel de Barros, lá na capitania de Mato Grosso), mas o sábio assiste e dá valor às dez mil coisas, revés e convexo do vácuo. Já Bernardo nem por isso, e fica-se pela pura inação: “Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo não pode dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir? Poderei ir buscar riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza de minha alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele.” De resto, por que razão aparece aqui a China? Ela é aqui apenas uma metáfora do longe, e interessa aqui o seu uso conhecido como imagem do outro absoluto. É assim exemplo privilegiado para uma desconstrução do exotismo da viagem. A única viagem possível é a viagem interna, porque o único criador de diferenças e de exotismos é a alma. É difícil entender esta ideia, tão habitados que estamos – ou que estávamos, melhor dizendo – à ideia de viajar, de perder países. Na verdade, viajar é apenas uma vulgaridade, como

Como consola, como ajuda, nestes tempos em que não podemos viajar, entender que viajar é apenas uma declinação pobre da (in) capacidade de sentir! Afinal, viaje quem não pode sentir, vá quem não pode ficar

o mesmo Bernardo disse a propósito de subir à montanha. Quem está no alto da montanha está apenas a ver o mesmo que se vê de baixo, só que de uma altura maior. Quem está no alto da montanha está apenas no alto da montanha. Assim também, quem viajou apenas se moveu uns quantos passos para a frente. Da mesma forma, quem está na China está apenas na China, foi ao termo real do continente ao qual se prende a Península Ibérica: em Vladivostok ou Dalian, comendo um bom glass noodle entre as duas Coreias, aí o termo real da península dos iberos e da terra dos zuavos. Quem está na China está apenas uns quantos quilómetros mais à frente. Lá só vai encontrar o mesmo que se encontra na Serra da Arrábida ou no Cacém, com uns quilómetros de permeio. O campo é igual à cidade, o mar é igual à terra, e esta ao rio, e assim sucessivamente. A paisagem tem sempre gente lá dentro, e essa gente é sempre e toda mais ou menos boa, ou mais ou menos má. Como consola, como ajuda, nestes tempos em que não podemos viajar, entender que viajar é apenas uma declinação pobre da (in)capacidade de sentir! Afinal, viaje quem não pode sentir, vá quem não pode ficar. Eu só encontro aquilo que os meus e mesmos olhos mostram, e daqui até à China a glauca retina não muda de cor nem de massa. São tão pobres os livros de viagens!, diz Soares: as terras de que falam, todas iguais e daninhas, imagens baças coladas a uma retina, uma fotografia que desliza como faz um verme.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 31.7.2020

Anhedonia II

tonalidades

N

IETZSCHE diz que os orientais e os ocidentais têm dois tipos de narcóticos diferentes. Os chineses o ópio. Os europeus, o álcool. Nietzsche acentua a diferença mais na rapidez dos efeitos do que na consequência. Hoje, não a diferença geográfica que N. traça não faz sentido. É interessante o critério que emprega. A rapidez dos efeitos e a duração da eficácia. Quando se fala de eficácia, é de alteração do estado de consciência. A alteração do estado da consciência transforma a biologia do nosso corpo, a psicologia dos nossos comportamentos, a própria forma da nossa existência. A dimensão em que passa a existir quem usa substâncias psicotrópicas é diferente da da realidade. Desde a antiguidade que a lucidez “seca” é diferente da lucidez “molhada”, a vida sóbria e seca opõe-se e contrasta com a vida ébria e encharcada. A invasão do álcool, normalmente, do vinho foi estudada na antiguidade como uma forma de perceber como é que a melancolia, um líquido segregado pelo corpo humano pode afluir ao cérebro e transformar o modo de pensar, a forma de agir, a mentalidade e a própria existência das pessoas. O uso de drogas, mas também o uso das diferenças bebidas, identificam diferentes personalidades. Pode haver quem “goste” de toda a espécie de substância de que se torna adicto, pode haver que tenha substâncias de eleição e não consuma nenhuma outra. Há bebedores que não se drogam. Há quem fume, por exemplo, erva e nunca beba álcool. Há sem dúvida quem nunca use nenhuma substância nem sequer alcoólica. Há também, ainda que mais raras, pessoas que usem mas não possam ser consideradas ou adictas ou alcoólicas. A adicção é uma doença. Desenvolve-se uma obsessão compulsiva por uma substância. O elemento comum, do ponto de vista neurofisiológico, é que ficamos “viciados” em dopamina. O nosso doce preferido na infância, a nossa comida preferida nos jantares com amigos, a nossa bebida de eleição, o rosto da atração erótica, seja o que for tem uma estimulação de dopamina. O que nós chamamos sex-appeall ou sexy, o que é atraente, o que é estimulante, excitante, segrega dopamina. É por isso que o nosso cão de estimação lá de casa rouba bolo de chocolate e não puré de brócolos. Mas o que tem a narcose? O que tem a alteração da consciência? Para quê a alteração da consciência? Há uma procura clara dessa alteração. Ou por curiosidade ou para experimentar ou porque é uma possibilidade já dada na vida. O ser humano gosta da alteração. O ser humano

JACOB JORDAENS, THE FEAST OF THE BEAN KING

António de Castro Caeiro

não gosta de estar sempre na mesma. A mudança que se experimenta com a rapidez de um rastilho a queimar-se e com a influência de uma substância do mundo é que é diferente de uma experiência da mudança que se possa ter com a alteração de perspectiva e uma verdadeira mudança de vida. O que há nas drogas, no álcool, no café, no tabaco, no açúcar, na comida ingerida em excesso, é uma busca artificial da experiência rápida da mudança. A alteração pode dar-se mas de tal forma que se ultrapassa o ponto sem retorno. Ou seja, o que gostaríamos de ter era uma consciência ainda da alteração da consciência e não uma perda da consciência ou uma abertura a uma dimensão alucinante onde não existimos, agimos sem pensar, sem ver, como

se tudo fosse um sonho, ao sabor dos caprichos, daquilo para o que nos dá, mas sem sermos nós próprios. A outra alteração da consciência seria assim a da toxicidade para a sobriedade. Podíamos pensar que estávamos sempre inconscientes e ganharíamos consciência, que estávamos a dormir um sonho, a sonhar e acordávamos. Ou então podemos pensar que estamos numa situação que os teólogos descrevem como conversão, não víamos e passávamos a ver, não éramos e passávamos a ser. Há uma enorme dificuldade em lidar com a luz, com o estado de vigília, com a consciência que ganhamos da situação em que nos encontramos. Uma das relações que se estabelece com a sobriedade é uma relação com a lucidez,

É difícil viver sem nunca apagar, sem nunca descansar. Viver com a lucidez é extraordinariamente difícil, mas é por isso que algumas pessoas usam drogas ou álcool, porque não aguentam a realidade.

com a possibilidade de ela não se apagar nunca. É difícil viver sem nunca apagar, sem nunca descansar. Viver com a lucidez é extraordinariamente difícil, mas é por isso que algumas pessoas usam drogas ou álcool, porque não aguentam a realidade. Mas a aproximação à lucidez e à sobriedade é uma forma complexa de aproximação à aurora, à madrugada, ao nascimento, ao princípio, à infância, à atmosfera disposicional em que a vida se bastava a si própria como as vibrações sonoras e a cadência temporal da vida. Nietzsche falava dessa outra possibilidade da vida se encontrar com o êxtase, com uma embriaguez que se dá na sobriedade e na lucidez e ainda assim nos deixa fora de nós. Dentro de nós e fora de nós, com a possibilidade mais extrema e radical musical que é a do ser humano. Virá sempre uma fragrância, um entardecer, um lugar à mesa em companhia de amigos em que o êxtase que queremos será aquele rápido e breve, como se não houvesse amanhã, mas a nossa aventura, a nossa demanda pela música será interrompida não se sabe por quanto tempo.


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Expectoracão ´

Sara F. Costa

31.7.2020 sexta-feira

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As Mães que são Pomares

VAN GOGH

“As mulheres aspiram para dentro E geram continuamente. Transformam-se em pomares.” Daniel Faria, Homens Que São Como Lugares Mal Situados(1998)

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Vão até às esquinas dos silêncios parir sozinhas. Lá estão elas, incansáveis, infinitas, absolutas sem autorização para pausas. Ouvem vozes na zona dos mamilos, é leite. O tal ofício da carne

S mães são árvores com enxadas nas várias mãos. Para se auto-enxertarem. Ninguém espera que as mães descansem. Ninguém espera que durmam. Ninguém espera que escrevam. Ninguém espera que não trabalhem sem estarem simultaneamente a trabalhar e presentes a qualquer momento. Ninguém espera que estejam gordas. As mães desdobram-se em várias pessoas, aguentam o peso de vários ramos que a vão tornando corcunda. Ninguém espera que tratem das costas, que encomendem comida, que contratem alguém para limpar a casa. Que não ponham a mesa. Ninguém espera que façam pausa na vida. Ninguém espera que não amem por vezes, mas que não se amem permanentemente - isso não há problema. Mães esgotadas são fracas. Mães que pedem ajuda são fracas. Que não se ajudem a si mesmas - isso não há problema. Que se anulem - isso não há problema. Toda a gente sabe mais que as mães, toda a gente sabe o que é melhor para os filhos que pariram. Ninguém espera que se queixem, muito menos metaforicamente. As mães que não sabem pegar num carro e parir contra os sonhos. Objetos de vindima, crisântemos imediatos. A arte de se ser puro até se ser paisagem. Uma primavera imóvel ao ritmo das ondas. Então, lá vão elas iniciar uma nova jornada. Vão até às esquinas dos silêncios parir sozinhas. Lá estão elas, incansáveis, infinitas, absolutas sem autorização para pausas. Ouvem vozes na zona dos mamilos, é leite. O tal ofício da carne. Uma cabeça e o resto do corpo em cima, ao contrário de estar de pé. Órgãos desorganizados para acolher outros mais pequeninos, quase-órgãos, tendões e músculos que quase o são, pequeninos de idade zero. Um médico espanta-se com tamanho rastejo, gordo e delicado. As mães ficam em dívida, trazem uma figueira interna com conceptáculos carnudos, sicónios domesticados até ao Monte de Vénus. Muita prática em defloramento doméstico até à concepção-intersecção de bocas penduradas em árvores, cansadas da sua mudez. Brotam forças no limite do orgânico e do psíquico, pulsões documentadas na botânica. Um lago forma-se com mucosas respiratórias e digestivas que enchem o balão líquido, visível em ecografias. Uma rotura de membrana expõe a folhagem, é o ser quase-ser quase a sê-lo. Imperatriz-criadora com membros de chumbo. Deusa húmida humilde porque reduzida ao seu ofício primário. Só ela sabe rebentar a própria pele para iniciar o mundo. Braços alheios inteiros pela vagina até ao cérvix, até ao centro do universo. Feto danado a esmurrar a alavanca. Subserviência soberana perante o ser que está quase novo. Vagina rasgada até ao altifalante, guinchos viscosos pontuados com sangue na alcatifa das pernas abertas em edifício. Gabinete de formação para a maternidade. E o parasita na cabine, quanto dela é ela e quanto dela é ele, a administração reune-se e continua a identificar uma identidade só, embora aos ziguezagues com nódulos e deformações fluorescentes mas ainda assim uma só. Tudo bem. É externa esta dupla existência, confirma-se, em breve será nova, única, diferente, separada. Vem da carne e é humano mas diverso.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

sexta-feira 31.7.2020

FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares

C

ONTA-SE isto: um homem ficou surdo, o homem mais importante da aldeia, porque uma águia lhe levou uma orelha. É bem visível a águia em redor da igreja, quando os sinos batem a horas certas; e quem está lá em redor aponta para o céu e vê aquele animal ágil que leva nas suas patas uma orelha. Há quem tenha olhos meticulosos e há quem use binóculos, mas garante-se que só as pessoas da aldeia conseguem ver a tal orelha. E dizem também que foi assim que Beethoven ficou surdo: uma águia levou a orelha de Beethoven, e há quem diga que aquela orelha que alguns vêem ali, nas patas da águia da aldeia, é ainda a orelha de Beethoven - é isso pelo menos que os mais velhos garantem. É a orelha de Beethoven. Por vezes vêm admiradores de aves, ornitólogos de todo o mundo com as suas poderosas máquinas fotográficas, tentar apanhar a águia que tem a orelha de Beethoven. Mas, por alguma razão estranha, as máquinas fotográficas não são suficientemente ágeis, porque é disso que se trata - de agilidade – e esta é uma qualidade que muito existe nos animais, enquanto as máquinas, apesar dos seus complicados algoritmos internos, não entendem o que é isso de agilidade. Entendem a pontualidade, entendem os cálculos e a contabilidade, entendem o ritmo certo e os ritmos errados, entendem a competência e sabem cumprir uma ordem na perfeição, porém as máquinas não entendem essa coisa tão básica e ancestral que se chama agilidade. E é por isso – por essa falta de agilidade das máquinas - que não se conseguiu até hoje fotografar a águia que leva nas patas a orelha de Beethoven. Mas quem vive na aldeia, diz que não há dúvidas. A águia antiga leva nas garras uma orelha preciosa.

ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES

A orelha histórias quase mitológicas


18 (f)utilidades

31.7.2020 sexta-feira

TEMPO PERÍODOS DE TROVOADA MIN 25 MAX 30 HUM 70-95% • EURO 9.37 BAHT 0.25 YUAN 1.14 ´

MORTE VINDA DE CIMA

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6 1 5 2 2

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SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.30, 21.00

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6 4 7 2 6 1 3 3 5

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1

Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 21.30

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SALA

DREAMBUILDERS [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.15

SALA 3

3 55

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durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Imagens de vários tipos de bombas completam o cenário da exposição de Ai Weiwei “History of Bombs”.

4 7

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C I N E M A

BEYOND THE DREAM [C]

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 50

7 3 53 1 6 1 5 4 2 5

PROBLEMA 51

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Cineteatro SALA 1

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S U D O K U 51 1 5

No Imperial War Museum, em Londres, uma mulher olha para um Supermarine Spitfire, um caça monomotor da Força Aérea Real britância que combateu

UMA SÉRIE HOJE

THE SAME SKY | NETFLIX (2019)

1 6 7 2

3 56

O tema da Guerra Fria nunca passou de moda no seduzir uma mulher que vive na República 3 1 5 2 7 4 6 6 3 2 5 4 1 7 missão grande ecrã e volta a ser abordado nesta série. Federal da Alemanha, à época o lado ocidental Numa Europa dividida pelo Muro de Berlim, que estava no centro da Guerra Fria. 5 7 2 1 3 6 4 2de duas 1 famílias 5 3 6quando 7 um4 de“Theo país o destino cruza-se Same Sky” conta uma história com drama agente secreto, com o nome “Romeo”, tem como e algum suspense. Andreia Sofia Silva 54 1 4 6 5 2 3DREAMBUILDERS 7 3 4 7 6 5 2 1 7 3 4 66 12 5 2 7 6 1 4 2 5 3 7 6 5 4 5 3 Propriedade 7 6Fábrica2de Notícias, 1 Lda Director Carlos Morais 5 José2Editores3João Luz;7José C. Mendes 1 Redacção 4 6Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 3 Gonçalo 4 Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 6 2 7 Miranda; 3 Paulo 4 Maia1e Carmo;5Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho 4 Cabral; 5 Rui6Cascais;1Rui Filipe7Torres;3Sérgio Fonseca; 2 Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. 5 3 Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. 2 6 1 Morada 4 Calçada 5 de7 3 1 7 4 2 3 6 5 com.mo 6 Santo 3 Agostinho,n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone28752401Fax28752405e-mailinfo@hojemacau.com.moSítiowww.hojemacau.com.mo 7 3 57 58


opinião 19

sexta-feira 31.7.2020

um grito no deserto

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Levar o navio a bom porto

AVIA uma canção muito popular no tempo da Revolução Cultural, cujos primeiros versos diziam mais ou menos o seguinte, “A boa navegação depende do piloto e o crescimento dos seres vivos depende do Sol”. Mas, para além do Sol, também é necessário que haja água; de outra forma os seres vivos morrem de desidratação. No que respeita à navegação, o piloto é sem dúvida importante, mas o capitão e a restante tripulação também são indispensáveis, porque impedem que o piloto siga na direcção errada e que choque com um iceberg ou que encalhe nas rochas. Mas se o capitão pilotar o navio e cometer um erro, todos sofrem as consequências. Vou recorrer ao enredo de um filme para me explicar melhor. Um grupo de pessoas apanhou numa carrinha vermelha, à noite, em Mong Kok, Hong Kong. O condutor muito exaltado, conduz a toda a velocidade. Se os passageiros não conseguirem travar o condutor, o deus da morte esperará por eles na próxima curva. No mundo em que vivemos, os países estão constantemente a disputar um jogo de xadrez. A proliferação do populismo e do nacionalismo, associada aos efeitos da COVID-19, está mergulhar o mundo em águas turbulentas. Depender apenas do piloto para garantir uma navegação segura, vai conduzir-nos a um grande desastre. Quando Ho Iat Seng se candidatou às eleições para Chefe do Executivo de Macau, nunca imaginou que teria de vir a lidar com uma das situações mais desafiantes dos últimos 100 anos. Enquanto piloto da RAE de Macau, como é que irá abordar o futuro da cidade? Com o aparecimento de uma terceira vaga de COVID-19, e sabendo nós que antes do final do ano não estar disponível uma vacina, é muito pouco provável que a economia de Macau se comece a erguer nesta segunda metade do ano. De acordo com os dados do Inquérito ao Emprego, a taxa de desemprego dos residentes subiu 3.5% e a taxa de subemprego também cresceu entre 0.5% e 2.6%. Todos os peritos na matéria afirmam que estes valores vão continuara a aumentar. Para já, é impossível prever quando é que esta tendência se começará a inverter. A única esperança é que o Governo Central retome a política de “Vistos Individuais”. O Governo de Macau sustém a economia doméstica através do plano de subsídio de consumo, das excursões locais e da formação subsidiada, finaciados pela reserva financeira acumulada aos longo de anos. O objectivo é apoiar a economia até

WILLIAM HENRY SMYTH

PAUL CHAN WAI CHI

que a epidemia acabe. Mas que rumo vai tomar Macau a seguir à pandemia? Tanto Hong Kong como Macau adoptaram o sistema político executivo, liderado pelo Chefe do Executivo. Qualquer decisão errada que o Chefe do Executivo tome vai reflectir-se em todos os sectores da sociedade. Este problema agrava-se quando a equipa administrativa é incompetente, ou quando é composta por alguns elementos de extrema-esquerda. As sugestões de que Macau deveria ter uma lei como a Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong

Kong, e ver os nomes portugueses das suas ruas alterados, partem precisamente desses elementos extremistas. Quando um navio se inclina só para um lado, é certo que vai ao fundo. Ninguém nega a importância de salvaguardar a segurança nacional, no entanto é preciso ter em conta a eficácia da lei que a deve assegurar. Depois da Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong ter sido introduzida em Hong Kong, as reacções locais e internacionais serviram de barómetro para medir essa mesma eficácia. Pilotar um

A proliferação do populismo e do nacionalismo, associada aos efeitos da COVID-19, está mergulhar o mundo em águas turbulentas. Depender apenas do piloto para garantir uma navegação segura, vai conduzir-nos a um grande desastre Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

navio é uma honra e uma responsabilidade. Mas se o piloto não for hábil, e apenas se mantiver no leme por amor ao poder, quer os passageiros quer a tripulação serão as suas vítimas. Deng Xiaoping disse certo dia, “A China tem de manter a vigilância contra as tendências de “Direita”, mas antes de tudo deve combater as tendências de “Esquerda”; as tendências de “Direita” podem arruinar o socialismo, mas as de “Esquerda” também. Quando a extrema-esquerda se cruza com a extrema-direita, o resultado é sempre conflituoso. A COVID-19 é um novo tipo de vírus, que pode ser combatido com vacinas. Mas os virus politicos matam silenciosamente e é muito difícil encontrar uma cura definitiva. Para levar um navio a bom porto, para além do piloto e do capitão, toda a tripulação tem de participar sempre que necessário; caso contrário o navio naufraga e para os seus ocupantes não haverá mais nada para além da morte.


“A mais perigosa criação no mundo, em qualquer sociedade, é um homem sem nada a perder.” Malcolm X

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A serpente e a maçã Relações China-Reino Unido “envenenadas” por Hong Kong, diz embaixador chinês

O

embaixador da China em Londres classificou como “tendenciosa” uma reportagem da BBC sobre os direitos humanos dos muçulmanos uigures, na província de Xinjiang, e afirmou que o dossiê de Hong Kong está a “envenenar” as relações bilaterais. Liu Xiaoming apresentou uma série de vídeos aos jornalistas com o objectivo de enfatizar que as acções da China nessa província são destinadas a combater o terrorismo e as imagens granuladas incluíam cenas sangrentas como consequência dos ataques. Os vídeos pretendiam contrariar uma recente entrevista da BBC, na qual o apresentador Andrew Marr desafiou o diplomata a explicar as imagens de ‘drones’ [aparelhos aéreos não tripulados] que aparentemente mostravam prisioneiros uigures sob custódia e transferidos por comboio pelas autoridades chinesas. Liu negou que os uigures estivessem maltratados e publicou capturas de ecrã que desafiavam, entre outras coisas,

se os prisioneiros estavam ajoelhados ou sentados no chão. Ele descreveu as “chamadas vítimas” de violações de direitos humanos como separatistas ou “actores treinados por forças anti China nos Estados Unidos (EUA) e noutros países ocidentais”. Liu acrescentou que as disputas sobre direitos humanos, a imposição da nova lei de segurança nacional em Hong Kong e a decisão do Reino Unido de proibir a gigante chinesa de tecnologia Huawei de participar na construção da nova rede telefónica de alta velocidade “envenenaram seriamente a atmosfera” das relações entre a China e o Reino Unido. As tensões crescentes acontecem ao mesmo tempo em que o Presidente norte-americano, Donald Trump, e a sua administração empurram Washington e Pequim para uma nova era ascendente de confronto. “A China e o Reino Unido deveriam ter capacidade e sabedoria suficiente para lidar e gerir estas diferenças, em vez de permitir que forças anti China e os guerreiros

“A China e o Reino Unido deveriam ter capacidade e sabedoria suficiente para lidar e gerir estas diferenças, em vez de permitir que forças anti China e os guerreiros da Guerra Fria sequestrem o relacionamento.” LIU XIAOMING EMBAIXADOR DA CHINA EM LONDRES PUB

sexta-feira 31.7.2020

China Ex-presidente do Banco de Desenvolvimento julgado por corrupção

MAR DO SUL DA CHINA PEQUIM REALIZA EXERCÍCIO MILITAR “DE ALTA INTENSIDADE” República Popular da China anunciou ontem o início de exercícios aéreos de “alta intensidade” no Mar do Sul da China, numa altura em que critica a passagem de dois porta-aviões norte-americanos na zona. Pequim reivindica, evocando “razões históricas”, quase a totalidade das ilhotas e recifes daquela região marítima disputados por vários Estados. Os territórios são controlados, cada um, pela Malásia, Vietname, Filipinas e Brunei. Neste contexto, a aviação naval da República Popular da China lançou exercícios “de alta intensidade” com o envolvimento de bombardeiros H-6G, H-6J e outros aparelhos militares no Mar do Sul da China, indicou Ren Guoqiang, porta-voz do Ministério da Defesa de Pequim. “Os aparelhos efectuaram aterragens e descolagens diurnas e noturnas, raides de longa distância e atacaram alvos marítimos. Os objectivos foram alcançados”, sublinhou o responsável durante a conferência de imprensa mensal que se realizou através da internet. O local exacto das manobras não foi especificado tendo o porta-voz do regime de Pequim sublinhado que o exercício serviu também para aperfeiçoar o nível “técnico e táctico” dos pilotos assim como a “capacidade de combate das tropas”. Em relação às críticas de Washington, o porta-voz do Ministério da Defesa aproveitou referiu que “os Estados Unidos consideram-se um árbitro naquela região, mas não fazem mais do que sabotar a paz.”

PALAVRA DO DIA

da Guerra Fria sequestrem o relacionamento Reino Unido-China”, continuou o diplomata.

MOMENTO CRÍTICO

Nas últimas semanas, a Grã-Bretanha suspendeu um tratado de extradição com Hong Kong e ofereceu refúgio a milhões de cidadãos elegíveis desse território que se sentem ameaçados pelo crescente aperto de Pequim. Liu reiterou que o Reino Unido devia parar de se intrometer em Hong Kong. “A China respeita a soberania do Reino Unido e nunca interferiu nos assuntos internos do Reino Unido. É importante que o Reino Unido faça o mesmo - ou seja, respeite a soberania da China e pare de interferir nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China, para evitar mais danos no relacionamento entre o Reino Unido e a China”, sublinhou. Liu vincou ainda que o Reino Unido e os seus cidadãos precisavam de pensar independentemente dos sinais agressivos vindos do Governo de Trump e disse que a Grã-Bretanha estava num “momento histórico crítico” sobre como quer tratar a China. “É nossa esperança que o Reino Unido resista à pressão e à coerção de um certo país e forneça um ambiente aberto, transparente, justo e não discriminatório para o investimento chinês, de forma a recuperar a confiança das empresas chinesas no Reino Unido”, finalizou.

O ex-presidente do Banco de Desenvolvimento da China (BDC) Hu Huaibang declarou-se ontem culpado pelas acusações de corrupção, durante o início do seu julgamento num tribunal da cidade de Chengde, norte do país, avançou a imprensa estatal. Hu está acusado de aproveitar-se da sua posição, entre 2013 e 2018, para obter empréstimos com condições benéficas para terceiros, garantir promoções e adquirir posições como accionista em bancos comerciais. Segundo a acusação, o banqueiro aceitou mais de 85,5 milhões de yuans, em dinheiro e presentes em troca de favores. Hu disse estar arrependido, depois de se declarar culpado, segundo a Xinhua. O BDC é controlado directamente pelo Conselho de Estado, e concede empréstimos sob a sua direcção. O banco gere ainda o Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, no valor de mil milhões de dólares, criado pela China, no âmbito do Fórum de Macau.

Filipinas Pelo menos 12 mortos em combates entre exército e grupo islamita

Tropas filipinas e um grupo guerrilheiro muçulmano aliado do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI) envolveram-se em confrontos com um balanço de pelo menos 12 mortos, dois dos quais soldados e dez militantes, informaram ontem responsáveis militares. Uma força de infantaria atacou na quarta-feira uma base remota do grupo Dawlah Islamiyah perto da cidade de Datu Salibo na província de Maguindanao (sul do arquipélago), e que originou uma intensa troca de tiros. Homens armados em regiões próximas da base juntaram-se aos militantes e prolongaram o confronto armado, impedindo as forças governamentais de capturarem mais membros do grupo militantes liderado pelo comandante rebelde Hassan Indal, informou o tenente-coronel Dingdong Atilano, porta-voz regional do exército. Dois soldados foram mortos e 13 ligeiramente feridos, e com pelo menos 10 militantes mortos, prosseguiu Atilano, ao citar relatos das tropas e de habitantes locais.


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