MOP$10
QUINTA-FEIRA 4 DE FEVEREIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3507
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
GONÇALO LOBO PINHEIRO
hojemacau
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
FUNDAÇÃO MACAU
A hora da sorte PÁGINA 7
NOVO MACAU
Dúvidas sobre a extradição PÁGINA 4
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OPINIÃO
Caíu na rede LEOCARDO
ESCOLA PORTUGUESA
JOSÉ TAVARES
“
As pessoas têm de mudar a cassete
O presidente do Instituto do Desporto traça o retrato do que foi feito e do que está por fazer pela saúde desportiva de Macau. E tem um sonho olímpico... PUB
ENTREVISTA
Mudanças a caminho PÁGINA 7
h
Arquitectura existencial Urbi et Orbi MANUEL AFONSO COSTA
AMÉLIA VIEIRA
FRANCISCO
SABEDORIA PAPAL PÁGINA 12
2 ENTREVISTA
JOSÉ TAVARES PRESIDENTE DO INSTITUTO DO DESPORTO
“Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos” O Instituto do Desporto está a entrar numa nova fase. Herdou actividades e estruturas do IACM, a organização do Grande Prémio de Macau e está decidido em apostar na alta competição. Uma conversa onde o presidente do organismo, José Tavares, pede mais iniciativa aos privados, chama os casinos à responsabilidade e sonha com o desfile olímpico
Como está o desporto de Macau? Completamente diferente. Estamos na terceira fase de desenvolvimento. Que fases são essas? A primeira foi o longo percurso desde a fundação em 1987 para internacionalizar as associações locais. A segunda, os jogos e o investimento na formação de pessoal e construção de instalações. A terceira é esta: o pós-jogos, o legado. Com a nova rede de instalações pudemos dar acesso ao público pela primeira vez e não apenas a associações como antes. Como se consubstancia esta terceira fase? Elevar o Desporto Para Todos, completamente esquecido na fase jogos e trabalhar a sério o desporto de alta competição. No fundo, encetámos uma política de desenvolvimento desportivo e de sensibilização do público para a prática desportiva e o prazer de assistir a provas. Algo que falhou no período dos jogos. No futuro, se quisermos ter sucesso em organizações desportivas, temos de ter público. O Instituto adquiriu recentemente novas competências. Que significado têm? Representam uma oportunidade para reestruturar, para evoluir. Tínhamos três departamentos: financeiro, desenvolvimento desportivo e instalações, hoje temos cinco. Adicionámos o Centro de Formação para atletas e o Departamento de Grandes Eventos que engloba o Grande Prémio e os outros eventos que já organizamos. De resto, herdámos do IACM várias piscinas e quintais desportivos, o Fórum de Macau e o desporto de lazer. O que significa esta reestruturação? O desenvolvimento de atletas de elite e maior atenção ao Desporto Para Todos que são desenvolvidos em paralelo para alargarmos a base de recrutamento. E qual é o papel do departamento de desenvolvimento desportivo? Passa a dar mais importância ao dia a dia das associações, aos campeonatos locais e ao desenvolvimento do Desporto Para Todos. E o de alta competição? Passa pela formação de atletas, que já está em operação, e o centro de estágio que será fundamental neste enquadramento.
Para quando podemos esperar esse centro? (sorri) Vão ter de perguntar às Obras Públicas. A obra pode demorar uns três anos mas o projecto já está para aprovação na DSSOPT há outros três. Aguardamos... Onde é que vai ficar localizado e como vai ser? O centro vai ficar perto do Dome e terá acomodação para 350 atletas. Vai ter dormitórios, quartos privados para treinadores, cantina e o centro de medicina desportiva passará também para lá. Qual foi a base de estudo para a sua concepção? Foi entre o ID e a Universidade de Pequim, que é um dos grandes centros de treinos na China. Mas também fomos a Singapura e a Hong Kong recolher informações. Depois ajustámos à nossa dimensão. Qual o principal objectivo do Centro? Um dos objectivos fundamentais é a formação específica para atletas de elite com condições para chegarem ao topo das competições internacionais. E que modalidades serão privilegiadas? Numa primeira fase wushu, karaté e taekwondo pelos bons resultados. Depois as outras modalidades e quem pretender um programa de treino intensivo, além do treino das selecções e a oportunidade de trazer atletas de nível internacional para estagiar e assim aumentar o nosso nível. Qual a necessidade de prover alojamento para os atletas locais?
“A obra [centro de Estágio de Alta Competição] pode demorar uns três anos [a ser construída] mas o projecto já está para aprovação na DSSOPT há outros três. Aguardamos...”
Há muitos vícios. Não levam a prática a sério, não levam a vida que um atleta deve levar e nós queremos adaptá-los a um ambiente de treino sistemático, com alimentação regrada e hábitos de treino. O Grande Prémio de Macau está agora nas vossas mãos. Sentem-se preparados? Temos uma “pool” de recursos humanos do mais especializado que há; os que vieram do antigo gabinete do Grande Prémio e os que já cá estão e que beneficiaram do tal processo de formação que levou aos jogos. Tenho a certeza que o 63º Grande Prémio vai ser um grande sucesso. E a imprensa? Há várias queixas do tratamento no Grande Prémio... Já tomei nota. Vocês vão ver as diferenças. Eu sei que as instalações são insuficientes mas o tratamento vai ser diferente. De facto, o assunto estava maltratado. Logo a começar pela alimentação. Quem ali trabalha o dia todo precisa de outro de tipo de apoio. De resto, estamos receptivos a sugestões. Aintegração no Comité Olímpico Internacional é um assunto encerrado? Não. Tem de ser trabalhado constantemente mas em “low profile”. O antigo presidente fechou-nos a porta mas esperamos que este tenha outra visão das coisas. Parece mais aberto do que o anterior pelo que não devemos perder a esperança. Em que termos, vamos estudar. Membros efectivos ou não, é pouco importante. O que queremos é participar nas provas. Ainda acredito no dia em que vamos ver os nossos atletas na marcha Olímpica. E quanto à organização de grandes provas internacionais como os Jogos de 2005? Há planos nesse sentido? Tudo é possível. Mas não há planos. Como sabem, há menos eventos desse género. Os Jogos da Ásia Oriental desapareceram e depois que sobra? Para os Jogos Asiáticos não temos estrutura, nem vamos ter. Para fazer o mesmo não vale a pena. Tem de ser algo com mais impacto. Estamos atentos a eventos que Macau nunca tenha organizado. De que tipo? Provas de modalidade única. Um campeonato de atletismo, provas em recinto coberto como voleibol, basquetebol... temos tantos pavilhões.
“As pessoas ainda estão no processo do ID ter de fazer tudo... mas hoje em dia não é assim. Nós não nos podemos substituir às associações” Há planos? Não há planos. Da nossa parte, claro que não há planos. As associações têm de desenvolver os processos de candidatura, não nós. O ID apoia mas as associações têm de ter a iniciativa. As pessoas ainda estão no processo do ID ter de fazer tudo... mas hoje em dia não é assim. Nós não nos podemos substituir às associações. Há falta de iniciativa das associações? Numas sim, noutras não. Mas temos de ser claros: qual é a associação de Macau com capacidade para organizar um mundial? Nenhuma, ou muito poucas. De Futsal?... Pode ser, já organizámos o asiático mas depois a associação não pegou mais no assunto. Também lancei a proposta ao Venetian, a ideia de organizar um Troféu Mundial por convites... E o que aconteceu? Ninguém acreditou no projecto. Podia ser a nossa versão do Rugby 7. Um evento destes no Venetian? Durante três dias?... Ia ser uma festa. Porque não se faz no Dome? Pode ser mas alguém tem de ter a iniciativa, não nós. As pessoas têm de mudar a cassete. O Instituto tem mais que fazer. Primeiro devemos salvaguardar os interesses locais: promover o desporto para todos e a saúde pública que antes não fazíamos. Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos. Os tempos mudaram, a política mudou. Podemos incentivar a associação e já o fizemos. Falámos varias vezes com vários responsáveis do Venetian e ninguém quis saber... Isto é um evento caro e não pode ser sempre o Estado a pagar tudo. Mas os casinos dizem que já pagam os impostos... Não é bem assim. Está no contrato. Para além dos 40% eles sabem que têm de
3 hoje macau quinta-feira 4.2.2016 www.hojemacau.com.mo GONÇALO LOBO PINHEIRO
Estamos a propor à Universidade de Macau a criação de um novo relvado sintético e a negociar o relvado que eles já detêm mas, no caso deste, parece-me que só nos vão dar durante algumas horas porque também precisam dele. E substituir os relvados por sintéticos? Não. Como dirigente desportivo não posso defender isso. Temos de os preservar. Se quisermos ter aqui um jogo a sério com equipas internacionais temos de ter relvados. Criar novos relvados artificiais, isso sim, estamos a tentar. Há clubes que entendem não se justificar tantas divisões no futebol. Faz sentido reduzir? Um certo sentido. Já houve redução há uns 15 anos atrás. Mas se cortarmos a 3ª divisão estamos a marginalizar a maioria dos jogadores. Se calhar até são os que vão ver os jogos. Porque é que as equipas de futebol de 11 têm de participar na bolinha para acederem ao futebol de 11? Isso vai ter de perguntar à associação. E fará sentido integrar campeonatos de Macau nos da China? Seria um erro político. Os nossos campeonatos são reconhecidos pelas organizações internacionais, portanto não faz sentido deixarmos os nossos campeonatos para participarmos nos dos outros.
promover a diversificação do entretenimento. E vai ser um assunto a ter em conta para a renovação dos contratos. Por isso, no caso do Venetian, eles não param de fazer eventos. Mas depois sai boxe... Eu até percebo... tem impacto em Las Vegas mas para nós pouco diz. Eles têm de fazer um “branding” para Macau. Têm um pavilhão de 15 mil lugares... maior do que o Dome. Por falar em Dome, podemos chamá-lo de elefante branco? Não. Está a ser usado. Há muitas modalidades a treinar lá. Mas não é uma instalação cara demais para treinos? Quando se construiu pensou-se na festa, não no futuro. Bem pensado e tinha características de multiusos mas não foi o caso. Tivemos de o adaptar para treinos, temos bancadas que só atrapalham... mas é muito importante para Macau como para acolher as celebrações da passagem de soberania a cada cinco anos. Quanto custa manter o Dome por mês? Cerca de um milhão. Não é dinheiro a mais para festas e treinos? A manutenção de instalações é sempre cara. No caso, a festa de cerimónia de passagem de soberania necessita de um mês de preparação. Quanto custaria alugar o Venetian durante esse período? Macau precisa de um lugar para estes
eventos sem pedir favores a ninguém. Além disso, não são apenas treinos, também é utilizado pelo público.
Mas depois as coisas seguiram noutro sentido por causa do vazio que referi na área do Desporto Para Todos.
E a pista de gelo? Está arrumada. Não serve. Foi uma má ideia.Ahumidade gerada ia dando cabo da estrutura e tivemos de parar. Para além disso, imagine, cá fora estão 40 graus e a pista tem de estar a menos cinco. Só para baixar a temperatura do espaço era um consumo de energia absolutamente incomportável.
Com o Grande Prémio surgem também a os subsídios dos pilotos locais. Existem queixas sobre a ponderação de resultados, argumentando que valorizar o GP em 60% por contrabalanço com as provas internacionais é demais. Qual a sua posição? Primeiro ponto: os pilotos têm de perceber que a prova mais importante tem de ser a de Macau. O subsídio vem de Macau. A carreira internacional é uma actividade profissional...
Como avalia o legado de Manuel Silvério? Foi um dos pioneiros na criação do ID e liderou o desenvolvimento desportivo até chegar a presidente. Trouxe os jogos da Ásia Oriental e preparou-nos. Deu um grande contributo até aos jogos.
“Um piloto leva um milhão, dois... e os outros? Há atletas que suam todos os dias e não levam tanto. O desporto automóvel é um luxo e eles têm de perceber que não são a prioridade”
Mas o piloto pode ter azar... É um subsídio. Tem normas. Foi discutido pelas partes envolvidas na decisão. Os pilotos têm de demonstrar que são bons nesta prova. Nós somos o único governo no mundo a apoiar pilotos. Até acho que estamos a dar demais. Um piloto leva um milhão, dois... e os outros? Há atletas que suam todos os dias e não levam tanto. O desporto automóvel é um luxo e eles têm de perceber que não são a prioridade. Podemos discutir os 60% e passar a 50 mas uma coisa é certa: o GP de Macau vai ter de continuar a contar mais do que as outras provas. E quanto à ginástica? A China tem das melhores atletas do mundo. Diz-se termos equipamento arrumado algures. Não é bem assim. Foi adquirido para a inauguração do fórum e foi sendo
utilizado em diversas ocasiões, mas hoje está desactualizado. Há planos para desenvolver a ginástica ? Há cerca de três anos, o deputado Si Ka Lon, que está à frente da Associação de Ginástica, veio falar connosco pois queria dar um grande impulso à modalidade.Achámos muito bem - mas atenção porque quem dá a formação básica, à ginástica infantil, somos nós - e dissemos que poderíamos continuar a assegurar a base mas o resto teriam de ser eles. Concordou. Nessa altura ainda tínhamos a esperança de contarmos com pavilhão de Mong Há - não veio a acontecer por razões que são públicas - e propusemos-lhes que arranjassem um espaço. Disse-nos que ia tentar um num edifício industrial e nunca mais apareceu. E o ID apoiava o aluguer do espaço? Claro que sim. Comprometemo-nos a pagar o aluguer. Para que vai servir o Fórum? Este ano herdámo-lo com alugueres já marcados até Novembro. Depois vai servir para dar condições mais dignas às competições de andebol, voleibol e basquetebol que têm falta de espaços. Os clubes de futebol queixam-se de falta de condições, do mau estado dos campos, sugerem a substituição dos relvados por sintéticos. Qual a vossa posição?
Que legado gostava de deixar no desporto de Macau? Estruturas de apoio aos atletas. O primeiro programa que lancei foi o de apoio aos atletas de elite e de formação para os profissionais reformados para que eles possam dedicar-se ao desporto com um plano de retirada. Neste, inclui-se formação académica integral com pagamento de propinas (100 mil patacas) para além da manutenção do subsídio mais alto como atleta profissional enquanto durar o período de formação académica. Qual o seu desejo para o desporto de Macau ? Que os nossos atletas tenham as mesmas condições que os lá de fora. O plano de apoio para os prémios, por exemplo, mudou. Foi elevado para o dobro, mudámos o escalonamento e equipáramos os prémios entre paralímpicos e os outros. Outra novidade é que os atletas medalhados podem nomear não apenas o seu treinador, que já recebia, mas também os da formação que os ajudaram na sua evolução. As pessoas de Macau gostam de desporto? Gostam mas há falta de espírito de sacrifício. Eu vejo os atletas de Hong Kong com sucesso porque dão tudo, porque se sacrificam, mas os nossos, às vezes, desistem a meio. É o ambiente da terra, o facilitismo. Manuel Nunes
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4 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 4.2.2016
Tudo bons amigos
Extradição NOVO MACAU QUER SABER DETALHES DO “CONSENSO”
Diabo atrás da porta?
O
GONÇALO LOBO PINHEIRO
presidente da Associação Novo Macau (ANM), Scott Chiang, afirmou ontem que a saída do deputado Au Kam San teve a ver com uma mudança que ocorreu de forma natural, quando existem “pensamentos diferentes”. O actual presidente valorizou os trabalhos feitos por um dos fundadores da associação pró-democrata. Conforme já foi noticiado, Au Kam San deixou a associação por não concordar com as mudanças que ocorreram e as novas estratégias. Scott Chiang garantiu que de nada vale avaliar quem tem a culpa, já que a situação não pode ser alterada. “Prefiro que esta fase passe e que possamos olhar para o futuro”, afirmou. “Falei com o Au Kam San ao telefone, e disse que parecia uma situação injusta para mim, porque ele sai na altura em que sou presidente. Mas como sabemos a situação começou antes”, referiu Scott Chiang. Confrontado com as acusações da existência de grupos, Scott Chiang não quis fazer grandes comentários, tendo apenas explicado que “tudo está a mudar”, frisando que a ANM vai pensar em como pode manter os valores originais da sua fundação em conjunto com as mudanças que venham a ocorrer. “Vamos manter uma atitude modesta, trabalhamos juntos muitos anos e
agradecemos a sua contribuição (de Au Kam San), que não pode ser rejeitada. Mas a associação promove a diversidade de pensamento e temos que ser críticos, é fácil acontecer situações em que cada um insiste nas suas ideias. Penso que isso só traz mais vantagens para a sociedade”, disse Scott Chiang.
TIAGO ALCÂNTARA
Defendida contribuição de Au Kam San
PREPARADA PARA ELEIÇÕES
Questionado sobre se a saída de Au Kam San vai levar a uma perda de apoios da ANM, Scott Chiang defendeu que não trabalham para ganhar mais apoios, mas para proteger os interesses de Macau. “Vamos manter uma atitude positiva, ouvir as opiniões dos outros e esperar ganhar mais a sua confiança”, referiu. Em relação às eleições legislativas de 2017, Scott Chiang defendeu que a ANM vai manter o seu caminho para a eleição de deputados para a Assembleia Legislativa (AL) e preparar-se bem para a corrida eleitoral. Mas o presidente não quis avançar os nomes que vão compor as listas candidatas. A saída de Au Kam San não trará grandes problemas do foro financeiro, já que, segundo Scott Chiang, a ANM vive das contribuições dos membros e tem interessados em fazer doações. Ao sair da ANM, parte do salário que Au Kam San ganha como deputado vai deixar de ser injectada na associação. F.F.
A
As s o c i a ç ã o Novo Macau (ANM) pretende que o Governo preste esclarecimentos do conteúdo dos acordos de extradição assinados com Hong Kong e China, no âmbito da “lei da assistência judiciária inter-regional em matéria penal”. Em conferência de imprensa realizada ontem, Jason Chao, vice-presidente da ANM, referiu uma entrevista dada pelo Secretário para a Segurança ao canal ATV de Hong Kong, onde Wong Sio Chak garantiu que os governos já chegaram a um consenso sobre a questão dos infractores em fuga. Contudo, Jason Chao referiu que a sociedade ainda não conhece os detalhes deste “consenso. O vice-presidente referiu que o Conselho Executivo publicou
informações sobre a legislação em Dezembro do ano passado onde ficou garantido que vão ser seguidos os “critérios internacionais”, sendo que, nas cláusulas excepcionais, a parte referente à “dupla punibilidade” pode ter potenciais lacunas. “Estas cláusulas dizem que caso os factos relacionados com os pedidos de assistência judiciária em matéria penal sejam constituídos no interior da China, ou em crimes de natureza militar que prejudiquem os interesses de defesa do país, o artigo da dupla punibilidade não será aplicado, ainda que nas duas regiões (Macau e Hong Kong) os actos não sejam considerados crimes”, defendeu Jason Chao. O vice-presidente da ANM acha que os residentes de Macau poderão
O vice-presidente da ANM acha que os residentes de Macau poderão ser acusados de “crimes de natureza militar ou de prejudicar os interesses de defesa do país”, podendo os respectivos julgamentos ser transferidos para o continente
ser acusados de “crimes de natureza militar ou de prejudicar os interesses de defesa do país”, podendo os respectivos julgamentos ser transferidos para o continente.
EXEMPLOS DE FORA
“Muitos advogados que defendem os direitos humanos no interior da China foram presos ultimamente, sendo que a maioria foi acusada do crime de incitamento à subversão do poder do país. Isso mostra que as autoridades chinesas estão a abusar desse crime para tentar regularizar a perseguição política”, apontou Jason Chao. O Governo ainda não deu qualquer resposta ao pedido feito pela ANM em Setembro último quanto à divulgação do conteúdo dos acordos de extradição já discutidos. Jason Chao defende que o desaparecimento dos livreiros em Hong Kong pode levar a que os residentes dos dois territórios se preocupem com a questão de passagens transfronteiriças fora dos canais normais, frisando que os processos antes da aprovação da lei devem ser transparentes. Flora Fong
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5 hoje macau quinta-feira 4.2.2016
O
Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), admitiu, em resposta à interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, que são necessárias à sua estrutura organizacional e funcionamento. “Confrontado com uma nova carga, especialmente pesada, de novos trabalhos, há agora uma necessidade mais urgente do ajustamento da estrutura e das funções organizacionais do GAES”, lê-se na resposta. “O Gabinete está a elaborar o plano do desenvolvimento a médio e longo prazo na área do ensino superior”, sendo que o GAES pretende fazer um “acompanhamento mais abrangente e eficaz na implementação e concretização das respectivas políticas”. Quanto à criação de um regime de avaliação das universidades locais está a ser criado “com dinâmica”, “iniciando-se de modo ordenado os trabalhos preparatórios dos diversos aspectos desta matéria”. Em Dezembro o deputado questionou o Governo sobre a necessidade de alterar a estrutura de funcionamento do GAES, por forma a responder à nova Lei do Ensino Superior, actualmente em análise na especialidade na Assembleia Legislativa. A.S.S.
TRANSPORTE PEDIDOS AUTOCARROS PARA TRABALHADORES DE COLOANE
O
deputado Leong Veng Chai quer que os Serviços de Saúde (SS) disponibilizem transportes para os trabalhadores do Centro de Saúde de Coloane, especialmente quando se encontra içado o sinal 8 de tufão. Numa interpelação escrita, o número dois de José Pereira Coutinho, indicou que os trabalhadores desta entidade de saúde, que trabalham por turnos, deparam-se com fortes dificuldades relativamente ao transporte. “O pessoal de enfermagem do Centro de Saúde de Coloane trabalha por turnos, e o seu trabalho é organizado em três turnos ao longo das 24 horas, cujo horário é o seguinte: das 08h às 16h, das 16h às 00h e das 00h às 08horas. Com a frequência das carreiras dos autocarros que circulam entre Macau e Coloane é muito reduzida (...) o pessoal que vive em Macau não consegue apanhar o autocarro até Coloane e, à meia-noite, quando sai do serviço, também já não há autocarros”, argumentou. Um dos exemplos mais polémicos foi o caso de um “trabalhador que não conseguiu apanhar o autocarro até ao serviço, quando estava içado o sinal 8 de tufão” ter pago “1500 patacas pelo transporte o táxi”. Para o deputado estas situações não podem acontecer e compete aos SS providenciar medida que permitam os trabalhadores deslocarem-se aos seus trabalhos sem problemas. F.A.
Internet COUTINHO PEDE RESPONSABILIDADES AO GOVERNO
De quem é culpa, afinal? Baixa velocidade ou custos demasiado elevados do serviço prestado, são algumas das questões levantadas pelo deputado que pede contas ao Governo sobre o estado da rede no território
O
d e p u t a d o José Pereira Coutinho quer saber se o Governo deve ou não assumir as “devidas responsabilidades” do serviço de pouca qualidade das telecomunicações. Numa interpelação escrita, o deputado apontou que “devido às exclusividades no mercado das telecomunicações, todos os cidadãos de Macau têm pago custos elevados ao longo destes anos sem, no entanto, terem usufruído de serviços de boa qualidade”. A olhar para Macau, o deputado critica a velocidade baixa da rede da internet e os custos elevados dos serviços. “Macau passou por uma fase de exclusividade, concedida à CTM (Companhia de Telecomunicações de Macau) que então explorava em exclusivo todos
TIAGO ALCÂNTARA
ENSINO SUPERIOR GAES ADMITE MUDANÇAS NA ESTRUTURA
POLÍTICA
os serviços, e chegou à fase de entrada de novos operadores no mercado, mas durante todo este processo, as pessoas mostraram-se sempre insatisfeitas com a qualidade dos serviços. Isto contraria, evidentemente, a
tendência mundial e as políticas estatais”, apontou. Assim, Pereira Coutinho defende que o Governo “deve intervir na comunicação entre a antiga e as novas companhias”, procedendo “à coordenação
“Devido às exclusividades no mercado das telecomunicações, todos os cidadãos de Macau têm pago custos elevados ao longo destes anos sem, no entanto, terem usufruído de serviços de boa qualidade”
e ao ajustamento das obras de instalação de redes e de ligações, e instruir os serviços competentes para, na medida do possível, colaborarem e darem prioridade aos respectivos trabalhos”. Devem ser ainda articuladas “políticas estatais”, para definir uma “calendarização razoável, na qual assuma que, decorridos alguns anos, a velocidade e as tarifas da internet” atinjam “níveis aceitáveis”. Filipa Araújo
PEREIRA COUTINHO DEPUTADO
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Inquérito Maioria das PME desconhece financiamento público
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80% dos empresários entrevistados nunca se inscreveram para receber apoio do Governo
Muito barulho para nada
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União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong) realizou um inquérito sobre a situação de negócio das Pequenas e Médias Empresas (PME), que revela que cerca de 80% dos empresários entrevistados nunca se inscreveram para receber apoio do Governo, sendo que 50% afirmou desconhecer a existência de subsídios. Já 27% dos inquiridos disse que o processo de candidatura é complicado e que isso fez com que não tenham pedido apoio. Das 611 empresas que responderam ao inquérito 131 receberam financiamento do Governo, que actualmente
tem dois programas diferentes para apoiar as PME. As empresas que receberam dinheiro do Governo utilizaram os montantes para adquirir novas instalações ou garantir a liquidez, a fim de manter o negócio.
DA SIMPLICIDADE
Lei Cheok Kuan, chefe da comissão para os assuntos de economia e comunidade dos Kaifong, disse ao Jornal do Cidadão que o Governo tem um grande espaço para melhorar ao nível dos procedimentos administrativos para este tipo de pedidos, exigindo uma simplificação.
“De acordo com os resultados, algumas empresas têm problemas ao nível dos recursos humanos. Como é difícil recrutar locais, então têm dificuldades em ver aprovado um pedido de importação de trabalhadores”, explicou Lei Cheok Kuan. O inquérito mostra que 15% das empresas entrevistadas continuam os seus negócios na Ilha da Montanha, o que significa que a maioria continua a querer desenvolver-se no território. 28,5% dos entrevistas mostraram uma perspectiva negativa para a economia local. Tomás Chio
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6 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 4.2.2016
FRONTEIRA CHAN MENG KAM QUER NOVO POSTO ATÉ 2019
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deputado Chan Meng Kam questionou o Governo numa interpelação escrita sobre a coordenação de todas as obras públicas, incluindo o novo posto transfronteiriço entre Guangdong e Macau, esperando que este possa ficar concluído daqui a três anos. “Será que o Governo pode garantir a conclusão do projecto em 2019, será que a concepção do projecto está correcta ou não?”, questionou Chan Meng Kam, sugerindo que se clarifiquem responsabilidades para a fiscalização da qualidade das obras. O deputado pretende ainda saber se existe a possibilidade de implementar o modelo de passagem na fronteira de 24 horas, tal
como tinha sido referido no relatório das LAG. “Em que fase é que essa proposta está, e como se pode coordenar com o novo modelo de passagem?”, apontou. Chan Meng Kam considera que este será um projecto muito importante para as relações transfronteiriças e para desenvolver a zona norte de Macau, questionando o calendário para a sua entrada em funcionamento. Em relação ao novo mercado abastecedor, o deputado lembrou que o Executivo prometeu que o projecto ficaria concluído em finais deste ano, contudo, o mais recente relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) refere apenas que o projecto está na fase de escavação do terreno. “Será que o mercado vai ficar concluído a tempo? Como é que a Nam Yue, de Guangdong, é a única entidade que administra e fiscaliza o projecto do novo espaço entre as duas regiões?”, questionou Chan Meng Kam. T.C. PUB
HM • 2ª VEZ • 4-2-16
ANÚNCIO AUTOS DE INTERDIÇÃO CV3-16-0002-CPE 3º Juízo Cível
REQUERENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO, JUNTO DO T.J.B. da R.A.E.M.------------------------------------------REQUERIDO: CHONG CHI IP.-------------------------------
Relatório LIBERDADE ECONÓMICA CONTINUA A CAIR
Cinco anos de queda
U
M relatório da Fundação Heritage dos Estados Unidos coloca Macau no 37º lugar dos índices mundiais de liberdade económica. Esta é a quinta queda consecutiva, que para Joey Lao, director da Associação de Economia de Macau, está relacionada com as políticas do Governo do território. No relatório publicado na terça-feira passada, Macau atingiu os 70 pontos na avaliação geral, entre 178 entidades económicas de todo o mundo, caído para o 37ºlugar. No entanto, entre as 42 entidades económicas da zona Ásia-Pacífico, Macau ocupa o nono lugar, depois de Hong Kong e Sinpagura. O relatório segue dez indicadores sobre a liberdade económica. Os indicadores em que Macau atingiu as melhores notas, mais de 90 pontos, incluem o nível de “gastos do Governo”, “liberdade de comércio”, “liberdade de investimentos”. Ainda
37º
lugar de Macau nos índices mundiais de liberdade económica
assim, quanto ao nível de “contra a corrupção” e ao de “liberdade de força de trabalho”, Macau atingiu apenas 50 pontos.
DESTINO DE ELEIÇÃO
O relatório dos Estados Unidos apontou ainda que o investimento de projectos e infra-estruturas de entretenimento e de resorts aumentou muito depois da abertura da indústria de Jogo. Em 2012, Macau tornou-se um dos destinos mais famosos do mundo, no entanto, foi influenciado pela politica de anti-corrupção e pela desaceleração económica da China
continental, levando a uma queda nas receitas de Jogo em 40%. Isto, aponta o documento, traz dois problemas estruturais: a pouca atractividade de turistas não Jogo, e a do número de visitantes de alto consumo. Para Joey Lao, director da Associação de Economia de Macau, o lugar da liberdade económica de Macau é relativamente boa, sendo que a queda da avaliação está relacionada com o ambiente económico e as políticas do território. Os gastos do Governo de Macau ficam num nível alto. Joey Lao explicou que como as receitas financeiras diminuíram, os custos aumentaram, sendo este um princípio do estudo da economia ocidental. O director considera, ainda, que Macau pertence a uma economia de miniatura, e não deve “copiar” totalmente o modelo ocidental. É importante que assegure os custos públicos bem gastos. Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
***** FAZ-SE SABER que, foi distribuída neste Tribunal, em 08 de Janeiro de 2016, uma Acção de Interdição, com o número acima indicado, em que é Requerido CHONG CHI IP, solteiro, titular do BIR nº 5065834(3), nascido a 29/06/1966, residente no Lar de Alegria da Secção de Serviço Social da Igreja Metodista de Macau, sito no terreno junto à Rua da Doca Seca da Habitação Social de Fai Chi Kei, Edifício Fai I, 6º Q, em Macau para efeitos de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. --RAEM, 14 de Janeiro de 2016
Às voltas com a educação Zheng Anting apela a um planeamento educativo integrado
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HENG Anting, deputado, questionou ao Governo sobre a fórmula a utilizar no planeamento educativo completo para o território, pedindo que o mesmo apresente um objectivo integrado. “Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, defendeu, em Dezembro de 2015, que o número de finalistas das escolas secundárias iria diminuir de 5323 alunos - no ano lectivo 2013/2014 - para
3500. Em Macau, 10 institutos de educação superior temem a possibilidade de não receber candidatos suficientes, especialmente nos cursos de Contabilidade, de Desenho e de Finanças. Alguns vogais do sector educativo apontam que, até 2021, o número de finalistas de escolas secundárias baixe a barreira dos três mil alunos. Tendo em conta o desenvolvimento das instalações haverá falta de alunos, sendo que o equilíbrio entre a procura e o fornecimento
será quebrado”, argumentou o deputado numa interpelação escrita, frisando que este é um “assunto ao qual o Governo deve estar atento”. Perante a situação, o Governo deve prestar esclarecimentos sobre qual o planeamento desenvolvido, até agora, para a educação não superior, neste caso do ensino secundário. “Queria saber se o Governo vai ter como base o planeamento educativo integrado da interior da China, ou seja, o esboço de
planeamento nacional para a reforma e desenvolvimento educativo em médio e longo prazo (2010-2020), para formular um plano completo para o sistema educativo no território, envolvendo o ensino infantil, o não superior, o profissional e o especial”, apela o deputado. T.C.
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Fundação Escola Portuguesa de Macau (EPM) irá ser alvo de alterações, conforme adiantou, à Rádio Macau, José Luís Sales Marques, membro do conselho de administração. “Neste momento, a fundação tem um presidente, que é Roberto Carneiro. É provável que, na sequência, destes novos estatutos venha a haver uma actualização da própria direcção da Fundação. Haverá uma nova direcção, não sei exactamente quando, mas é previsível que isso venha a acontecer, até resultante dessa nova composição”, afirmou o também economista. Assim, existirá uma alteração na constituição dos instituidores da EPM. “Isto quer dizer que a fundação, que antes tinha três instituidores – Fundação Oriente, Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) e Ministério da Educação de Portugal –, passa a partir de agora ter dois, a APIM e o Ministério da Educação de Portugal. A Fundação Escola Portuguesa de Macau passa a ser uma parceria apenas entre duas entidades, uma de Portugal e uma de Macau”, acrescentou à rádio. O número de membros, do conselho de administração, manter-se-á, mas o quinto elemento passará a escolhido por ambas as partes, ou seja, pela APIM e o Governo português. Os estatutos prevêem igualmente a criação de um conselho de curadores, que “vai reflectir os diversos interesses e sensibilidades da sociedade de Macau”, assim como “eventualmente alguma participação portuguesa”, o que “será muito importante para apontar os caminhos presentes e futuros da fundação”.
MAIS ESPAÇO
Nas mesmas declarações, Sales Marques indicou ainda que há uma forte possibilidade de que as obras de ampliação e melhoramento do edifício da instituição de ensino possam arrancar este ano. “Espero bem que sim, que seja neste novo ano do Macaco
EPM MUDANÇAS INTERNAS E EXTERNAS PARA ESTE ANO
Cara lavada
a demolição de uma parte das actuais instalações e a construção de um novo bloco. Não temos ainda um valor, não temos ainda sequer uma estimativa de quanto é que
“É provável que, na sequência, destes novos estatutos venha a haver uma actualização da própria direcção da Fundação. Haverá uma nova direcção, não sei exactamente quando, mas é previsível que isso venha a acontecer, até resultante dessa nova composição”
Fundação Macau Ensino superior privado volta a ganhar mais
poderá custar, mas a Fundação e a própria escola trabalharão no sentido de que tudo o que for necessário introduzir seja feito da forma mais eficiente possível”, adiantou Sales Marques, em declarações à Rádio Macau. O economista marcou ainda presença naquela que foi a primeira visita do subdirector do gabinete de ligação do Governo Central da República Popular da China na RAEM, Chen Si Xi, às instalações da EPM, a convite da APIM. HM/Rádio Macau
JOSÉ LUÍS SALES MARQUES MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA EPM
GALAXY REVER AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
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Cofres cheios
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(...). É um processo, não são apenas alguns melhoramentos ou alterações. Podem implicar, como está na cabeça de todos os que têm acompanhado esse processo,
grupo Galaxy Macau, que irá distribuir bónus especiais para os funcionários, avançou que vai reformular o regime de avaliação de desempenho. Tal como o HM avançou no início da semana, os funcionários do Galaxy queixaram-se que os bónus atribuídos pela empresa dependente da avaliação de desempenho. A maioria de trabalhadores ganha apenas 60% do bónus porque não atingiu uma nota alta. Depois disto, e segundo a publicação All About Macau, a união dos funcionários do Galaxy reuniu com a direcção e ficou decidido que serão atribuídos bónus especial, de
2800 patacas, para funcionários de cargo inferior aos gerentes superiores, sendo como uma “prenda de Ano Novo”. Além disso, a operadora de Jogo avançou que vai reformular o regime de avaliação de desempenho e irá publicar o novo mecanismo nos próximos meses. O novo regime assumirá funções como referência de promoção, sem poder decisório na atribuição de bónus. Servindo como uma espécie de guia. A união de funcionários considera que a atitude da empresa é positiva, mas não satisfaz complemente os pedidos dos trabalhadores. F.F.
SOCIEDADE
PEARL HORIZON PROPRIETÁRIOS PEDEM INDEMNIZAÇÃO
Dezenas de proprietários de casas do Pearl Horizon manifestaram-se ontem em frente aos escritórios do Grupo Polytec, exigindo uma indemnização pela compra que fizeram em regime de pré-venda e uma conversa com o presidente da concessionária do terreno. Depois do protesto em frente à DSSOPT, os proprietários continuam insatisfeitos com a decisão do tribunal, que deu razão ao Governo quanto ao não prolongamento da concessão do terreno. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os proprietários pedem compensações através de um outro projecto que a Polytec está a construir, enquanto que outros quiseram falar ao telefone com Or Wai Sheun, presidente da Polytec. No final, Ieong Kuok Kuong, também membro da Polytec, sentiu-se mal e teve que ser assistido no hospital.
Fundação Macau (FM) voltou a conceder elevados montantes a instituições de ensino superior privado no quarto trimestre do ano passado. Segundo os dados publicados ontem em Boletim Oficial (BO), foram concedidas mais de 769 milhões de patacas a associações, universidades, alunos e personalidades individuais. A Fundação da Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST) recebeu mais de 62 milhões de patacas para o plano anual 2015/2016 da universidade, incluindo o hospital universitário, a escola internacional de Macau e a faculdade de ciências da saúde. A FM concedeu mais 97 milhões de patacas para a construção do complexo pedagógico da MUST. A Fundação Católica para o Ensino Superior, que gere a Universidade de São José (USJ), recebeu mais de 19 milhões para as actividades da universidade e 90 milhões de patacas para a construção do novo campus. Já a Fundação da Universidade Cidade de Macau recebeu cerca de 112 milhões de patacas para obras de renovação do novo campus e a aquisição de equipamentos pedagógicos. Foram ainda concedidos a esta entidade mais 45 milhões de patacas para a atribuição de subsídios, publicações e compra de equipamentos. Como é habitual, a Associação de Beneficência do hospital Kiang Wu foi outra das entidades que mais dinheiro recebeu. A FM concedeu 95 milhões para a reconstrução do jardim de infância e escola primária da escola Keng Peng. A Fundação da Escola Portuguesa de Macau recebeu nove milhões de patacas, enquanto que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública recebeu pouco mais de um milhão para custear as suas actividades. A Santa Casa da Misericórdia recebeu 4,5 milhões para o plano de actividades do ano passado. A.S.S.
8 SOCIEDADE
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AMLPM EX-SÓCIO DENUNCIA USOS INDEVIDOS DE DINHEIROS PÚBLICOS
Lutas de bata branca
José Gabriel Lima, médico e ex-sócio da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau, acusa a entidade de ter usado de forma indevida dinheiros públicos na realização de um congresso em 2011. Rui Furtado, ex-presidente, nega tudo
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única lista candidata à direcção da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPM), encabeçada por Jorge Sales Marques, vai hoje a votos, mas persistem problemas advindos da anteriores direcção. José Gabriel Lima,
médico vogal do Conselho Fiscal da AMLPM, enviou uma carta ao HM onde acusa a anterior direcção, liderada por Rui Furtado, de usar de forma indevida dinheiros públicos. “A existência da AMLP veio a conduzir a um clima de grande conflitualidade perante questões graves que foram fruto do modo
como foram utilizados donativos ou subsídios de entidades públicas durante a I Conferência Internacional de Medicina de Macau-China e Países de Língua Portuguesa, que teve lugar em Novembro de 2011”, escreveu o médico na carta. José Gabriel Lima fala de “actos” cometidos durante o congresso, tais como a “falta de critérios nos convites efectuados”. A carta fala da inclusão de “membros de família e amigos pessoais” de médicos, “a atribuição generosa de ‘pocket money’ muito acima do que é praticado em idênticas situações, a entrega de dinheiro em cash, o pagamento de passagens em classe executiva a pessoas que viajaram e o facto de terem sido desdobradas em viagens de classe económica para permitir ou facilitar a inclusão dos cônjuges no passeio turístico a Macau”. José Gabriel Lima garante que depois destes actos as contas não foram aprovadas pelo Conselho Fiscal, tendo os valores sido chumbados em assembleia-geral de Junho de 2012. Para além disso, houve uma demissão dos órgãos sociais e marcação de novas eleições marcadas para daí a três meses.
DINHEIRO DEVOLVIDO
José Gabriel Lima acabaria por se afastar da AMLPM em Agosto de 2012 “com o propósito de demarcar-se do que se passava e para a salvaguarda do direito ao bom nome”, falando da “recusa ao diálogo por parte da direcção da associação, com
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director do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, negou que o instituto assuma um poder decisório no processo de classificação de bens imóveis de Macau. Em termos práticos, o presidente quis com isto dizer que apesar das várias sugestões da sociedade a última palavra será sempre do Governo. As declarações aconteceram no programa Macau Talk, do canal chinês da TDM, ontem, onde o presidente aproveitou também para garantir que o organismo em causa tem capacidade para reparar o edifício nº1 da Rua da Barca. Guilherme Ung Vai Meng explicou ainda que a preservação
RUI FURTADO NEGA ACUSAÇÕES
José Gabriel Lima
impedimentos do legítimo acesso dos associados à acta da assembleia-geral”. Segundo o médico, a associação teve de “passar a vergonha de ser intimida” a devolver centenas de milhares de patacas à Fundação Macau (FM) e Serviços de Saúde (SS) A carta de José Gabriel Lima faz ainda referência à polémica das eleições ocorridas esse ano, em que Jorge Humberto foi candidato e se queixou da falta de acesso a uma lista actualizada de sócios para realizar a campanha. Recentemente o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a Jorge Humberto e anulou o recurso apresentado por Rui Furtado. José Gabriel Lima considera que esse caso levou a uma “violação da cultura de honestidade que constitui as bases do exercício da
Condicionalismos à parte IC Presidente assume pouco poder de organismo cultural
do património é um trabalho da sociedade. Até ao momento, apontou, foram realizadas 400 inspecções ao património, sendo que o trabalho de conservação, passando também pela sociedade, permite que a mesma se pronuncie sobre classificação do mesmo.Ainda assim, repara, mesmo com a chegada de sugestões durante o processo de classificação, a decorrer, não é o IC que tomará a decisão final. “O importante é a participação dos residentes na classificação, só o pú-
blico pode encontrar as conotações culturais dos edifícios históricos, como no caso do Hotel Estoril, o IC prefere a renovação do hotel para um complexo de jovens, por causa da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, o Governo tem de respeitar as suas sugestões deles, e os cidadãos podem participar no trabalho de classificação.” exemplificou.
REPARAÇÃO NA BARCA
Relativamente ao edifício da Rua da Barca, parcialmente destruído,
profissão médica”. Sobre as eleições de hoje, o médico espera mudanças. “Desejo que quem venha a liderar os destinos da AMLPM lute pelo prestígio seriamente abalado da medicina de matriz portuguesa nestas paragens”, escreveu. Ao HM, José Gabriel Lima garantiu que a divulgação desta carta no dia das eleições prende-se apenas com a denúncia de “coisas que não estavam bem”. “Foi toda uma sequência da minha renúncia e da eleição de Jorge Humberto, em que as coisas não foram muito transparentes. Achei que tinha de marcar uma posição”, explicou.
Guilherme Ung Vai Meng garantiu que o organismo tem competência para a reparação do mesmo, permitindo a sua reconstrução, mesmo sem o telhado. “Depois da recuperação predial o público conseguirá saber o valor deste edifício”, avançou. O presidente explicou ainda que a classificação não é um acto de con-
Confrontado com a carta pelo HM, o presidente cessante da AMLPM, Rui Furtado, negou todas as acusações. “As contas foram aprovadas, não houve utilização indevida de dinheiros públicos, todos os actos do congresso foram decididos em reunião de direcção, e portanto não houve má gestão dos dinheiros. O que se passou é que houve uma queixa anónima para os SS e para a FM, sendo que pelos vistos neste momento já se conhece o autor da carta. Entregámos a gestão do congresso a uma empresa que nos disse que, como já tinham passado dois ou três meses, não tinha documentos. Então não conseguimos comprovar algumas das contas que iam ser apresentadas à FM, pelo que foi essa a razão por que tivemos que devolver o excesso do montante”, apontou Rui Furtado. O médico aponta o dedo a José Gabriel Lima, a quem acusa de ser “talvez o principal responsável das dificuldades que a associação teve enquanto existiu e existe”. “Ninguém se apoderou de dinheiros públicos e as contas estão à vista de toda a gente. Limito-me a esperar e ver se tomaremos algumas medidas nos meios legítimos contra essa carta”, rematou o presidente cessante da AMLPM. Andreia Sofia Silva
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fiscar as propriedades privadas – tal como alguns proprietários acusaram o IC -, mas sim um acordo necessário ao desenvolvimento da sociedade. Ao mesmo tempo, acha que a destruição dos edifícios patrimoniais não é melhor opção, sendo que a revitalização dos mesmos – depois de reparados – é o melhor caminho, podendo ser aproveitados para desenvolver o turismo. O IC tomou a decisão de não iniciar a classificação para os dois prédios que estão ao lado do Centro Hospitalar Conde de São Januário, depois de ouvir a opinião dos Serviços de Saúde, acrescentou. Tomás Chio
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9 hoje macau quinta-feira 4.2.2016
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M relatório elaborado por quatro funcionários públicos defende que o Governo deve atingir três objectivos para melhorar o sistema de transportes em Macau. Intitulado “Como melhorar o ambiente de trânsito em Macau para se articular com o posicionamento de centro mundial de turismo e lazer”, o documento venceu o concurso “plano sobre criatividade dos funcionários públicos no trabalho”, promovido pelos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP). Tong Chon Kit, Chao Pou Chu, Chan Iok Teng e Chan Weng Kei, que trabalham na Direcção dos Serviços das Forças de Segurança, defendem a criação de uma licença especial para a posse de veículos, segundo o documento ao qual o HM teve acesso. “Quanto à limitação do aumento de carros, podemos adoptar uma “licença para possuir um veículo”, regulando o número de residentes que precisam desta licença através de um sorteio. Podemos ainda estabelecer o sistema de “sobretaxa de licença de veículos”, sendo que os condutores que cumprirem a lei poderão ter uma diminuição dos impostos. Pelo contrário, os condutores que violem a lei terão de pagar mais”, pode ler-se. Os autores acreditam que o Executivo pode ainda “estabelecer o plano de desistência dos veículos para reduzir o número de carros”, sendo que, para os condutores que possuírem a licença especial e queiram desistir de conduzir podem ter uma “compensação pecuniária”. Estas medidas poderiam, para os
SOCIEDADE
Trânsito DEFENDIDA PARTILHA E LICENÇA ESPECIAL PARA VEÍCULOS
Conduzir com conta, peso e medida Um relatório elaborado por quatro funcionários públicos, vencedor de um concurso dos SAFP, defende a partilha de veículos e a implementação de uma licença especial de utilização. O documento diz que o Governo deve ir além do aumento de lugares nos parques de estacionamento autores, “acelerar o processo de diminuição de veículos”. O relatório aponta ainda para a necessidade de implementar o conceito de “partilha de veículos”, o que “poderia reduzir o número de carros nas ruas e melhorar a situação de transporte”. Os funcionários públicos acreditam que poderiam ser criados cursos no ensino superior para que “possamos ter especialistas que dominem (a área do trânsito e transporte)”.
COMPENSAR OS TAXISTAS
Ao nível do transporte público, o relatório pede que o Governo faça uma consulta pública sobre o assunto, frisando a necessidade de criar políticas para atrair condutores.
“Em relação ao crescimento do nível dos serviços de transporte, deve ser feita uma formação a condutores de forma unificada e estabelecer algumas medidas para assegurar as suas regalias e atrair mais condutores para o preenchimento de vagas”, lê-se. Quanto aos táxis, os autores garantem que com mais compensações os taxistas poderão fazer um melhor trabalho. “Pode ser feita uma melhoria do sistema de táxis através do estabelecimento de uma compensação para os taxistas, uma monitorização dos táxis e uma maior formação. Com estas medidas a fiscalização dos táxis será melhor e podemos melhorar o fenómeno da violação da lei”, refere o documento.
Os funcionários públicos acreditam que não basta analisar o número de lugares disponíveis nos parques de estacionamento para melhorar o trânsito. “O problema de transportes em Macau é muito sério e para resolver este problema o Governo deve fazer mais esforços e insistir, em vez de apenas aumentar os lugares nos parques de estacionamento. Esta não é uma solução fundamental”, conclui o relatório. Os prémios foram conhecidos em Setembro e foram membros do júri os docentes Wang Jianwei, da Universidade de Macau (UM), Lou Shenghua, do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e Helena Lo, do Instituto de Formação Turística (IFT). Andreia Sofia Silva
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EXAMINADORES DE CONDUÇÕES VÃO TER CARREIRA ESPECIAL
A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) confirmou que vai ser criada uma carreira especial para os examinadores dos exames de condução. Segundo o jornal Ou Mun, a Associação de Examinadores de Condução de Macau reuniu-se com Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), tendo apontado que, apesar do número de candidatos ao lugar de examinador ter aumentado nos últimos anos, a verdade é que o número ainda não é suficiente devido às reformas graduais. A associação espera que a DSAT consiga resolver a pressão dos recursos humanos, tendo Lam Hin San garantido que vai rever a carreira dos examinadores, por forma a assegurar o número de profissionais e a sua qualidade no trabalho.
DETIDAS 15 PESSOAS POR EXPLORAÇÃO DE JOGO ILEGAL A polícia deteve 15 pessoas acusadas de exploração de jogo ilegal num apartamento na Areia Preta. As autoridades acreditam que o espaço cumpria funções de um casino ilegal há mais de um mês. Para além das 15 pessoas, a polícia apreendeu fichas no valor de três milhões de patacas.
10 EVENTOS
Literatura ACABO
AI WEIWEI VAI CRIAR EM LESBOS OBRA COM 14.000 COLETES SALVA-VIDAS
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artista dissidente chinês Ai Weiwei vai criar uma obra de arte com 14.000 coletes salva-vidas que os refugiados têm abandonado na ilha grega de Lesbos, anunciaram esta semana as autoridades locais. Segundo a mesma fonte, a obra será posteriormente exposta em Berlim e tem por objectivo “a mobilização da comunidade internacional contra o crime cometido todos os dias no mar Egeu pelos traficantes de seres humanos”. Os coletes, geralmente de má qualidade, são fabricados em empresas de roupa na Turquia e os traficantes vendem-nos por um preço elevado aos refugiados que se prepararam para fazer a travessia. Ai Weiwei já dissera que ia instalar em Lesbos, a ilha mais afectada pela chegada diária de barcos com refugiados, um atelier para chamar a atenção para esta situação, no qual estudantes da China e da Alemanha farão
No último dia do encontro, que decorreu na Cidade da Praia, em Cabo Verde, o escritor e jornalista angolano José Luís Mendonça descreveu o seu país como sendo uma “ilha cultural e linguística”
projectos relacionados com a crise humanitária. O activista chinês foi retratado pelo fotógrafo indiano Rohit Chawla na costa de uma praia em Lesbos, simulando a imagem do pequeno Aylan, um menino sírio que se afogou ao tentar chegar à Grécia em Setembro e cuja imagem se tornou um símbolo do sofrimento dos refugiados. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), enquanto em Janeiro de 2015 os registos indicam que chegaram por mar à Grécia cerca de 1.400 refugiados, o mês passado esse número ultrapassou as 62.000 pessoas, havendo a registar, no mesmo mês, 276 mortos, incluindo 60 menores de 18 anos, em diversos naufrágios. Lesbos constituiu a principal porta de entrada para os mais de 800.000 refugiados e imigrantes, muitos deles sírios, que chegaram em 2015 à Grécia, vindos da Turquia.
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escritor e jornalista angolano José Luís Mendonça apresentou ontem Angola como “uma ilha cultural e linguística” que vive um dilema de não reencontro com África, com o inglês a dominar numa sociedade cada vez mais americanizada. Para o autor de “Gíria do Cacimbo” (1986) ou “Poemas de Amar” (1998), os angolanos são “mais euro-
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA CONTOS E LENDAS DE MACAU • Alice Vieira Plano Nacional de Leitura. Livro recomendado no programa de Português do 4º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade III.
peus que os países vizinhos” e estão cada vez “mais europeizados”, o que os isola no continente africano. “As línguas que falamos são as línguas europeias: o português, inglês e o francês, que fazem de Angola uma ilha cultural e linguística. Não temos contacto com os criadores, principalmente escritores de países vizinhos”, disse. Sublinhou que, em 40 anos de descolonização, o país
AS P E AS José Luís Mendonça
não conseguiu reencontrar-se com a “essência, o âmago e a forma de viver africano”. José Luís Mendonça defende que os angolanos conhecem melhor a literatura portuguesa e brasileira do que a de Moçambique, por exemplo, e que a literatura angolana está pouco divulgada em todo o mundo. “Em Angola não temos nenhum empresário que possa fazer esse negócio, não temos quem
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LES HALLES AS DELICIOSAS RECEITAS, DICAS E TÉCNICAS DA COZINHA BISTRÔ • Anthony Bourdain Antes de espantar o mundo com os campeões de vendas Cozinha Confidencial e A Cook’s Tour, Anthony Bourdain passou anos a servir da melhor comida de cervejaria francesa em Nova Iorque. Com uma atmosfera descontraída e terra a terra, o Les Halles enquadra-se perfeitamente no estilo de Bourdain: é um restaurante onde nos podemos vestir à nossa vontade, falar alto, beber um copo de vinho a mais e passar um bom bocado com os amigos.
VIVER NO FIM DOS TEMPOS • Slavoj Zizek Para o autor de Bem-Vindo ao Deserto do Real, o capitalismo global está a chegar à sua crise final. Slavoj Žižek aponta os quatro cavaleiros deste futuro apocalipse: a crise ecológica mundial; os desequilíbrios do sistema económico; a revolução biogenética; e as divisões sociais explosivas.
11 hoje macau quinta-feira 4.2.2016
OU VI ENCONTRO DE ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA
PALAVRAS S ILHAS pegue no livro e faça essa aposta”, disse, considerando que para ter sucesso é preciso sair do país. “Um escritor que tenha projecção em Lisboa, o centro difusor, consegue ter traduções na Alemanha, na Inglaterra e na América, como os casos de Pepetela, Agualusa e Ondjaki, porque investiram muito fora de Angola”, disse. Por outro lado, considerou que o português “está a desaparecer paulatinamente de Angola” e a ganhar cada vez mais preponderância a língua inglesa e o estilo de vida americano, onde as línguas nacionais praticamente não existem na literatura.
OUTRAS INSULARIDADES
A insularidade e a existência ou não de uma literatura das ilhas foi o tema do principal painel do segundo dia do VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que chegou ontem ao fim na cidade da Praia, Cabo Verde. O açoriano de São Miguel João de Melo e o cabo-verdiano da Boavista, Germano de Almeida, abordaram as vivências de infância nas ilhas de origem, tempos em que, apesar da dimensão, as ilhas pareciam enormes e em que o movimento de emigração era constante. “O movimento de saída era impressionante. O despovoamento dos Açores marcou-me de tal forma que elaborei uma geografia compensatória para recriar um mundo em extinção”, disse João de Melo.
“Todos os movimentos culturais que se geram nas ilhas devem ter como sentido a universalidade” JOÃO DE MELO ESCRITOR Por seu lado, Germano de Almeida disse que há vários anos que não vai à Boavista “para conservar a memória da ilha da infância”, substituída hoje pelos empreendimentos turísticos. A dicotomia entre a ilha/prisão, ilha/paraíso foi também abordada, com os escritores a concordarem que pode ser perfeitamente as duas coisas. Na parte do debate, escritora e presidente da Academia Cabo Verdiana de Letras, Vera Duarte, lançou uma vez
mais o desafio aos escritores presentes para que advoguem, em cada um dos seus países, a favor da introdução no ensino fundamental de uma disciplina que estude a cultura dos países lusófonos. João de Melo recordou, neste contexto, uma ideia lançada pelo também escritor presente no encontro, José Fanha, de criar um espaço de continuado de circulação de livros. “Só assim a lusofonia faz sentido no plano cultural”, disse, lembrando que é Portugal é mais fácil traduzir um livro em outra língua do que editá-lo no Brasil ou em Cabo Verde. João de Melo sustentou ainda que “todos os movimentos culturais que se geram nas ilhas devem ter como sentido a universalidade”. “A geografia não pode ser vista como forma de contenção literária. Culturalmente temos que levantar e projectar estas ilhas para mais longe”, disse. Também presentes no debate os escritores moçambicano Luís Carlos Patraquim, brasileiro João Paulo Cuenca e o timorense Luís Cardoso, falaram das suas relações e experiências de insularidade. O encontro de escritores, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a câmara da Praia, teve ontem um debate sobre poesia e música. HM/LUSA
EVENTOS
HOJE NA CHÁVENA
Paula Bicho
Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com
Trevo-vermelho Nome botânico: Trifolium pratense L. Sinonímia botânica: Trifolium pratensis Família: Fabaceae (Leguminosae). Nomes populares: TREVO; TREVO-DOS-PRADOS; TREVO-VIOLETA.
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lanta vulgar nos prados e bermas dos caminhos, o Trevo-vermelho é uma herbácea que pode crescer até ao meio metro de altura. Tem caule erecto e penugento e folhas divididas em três folíolos ovalados – mais raramente, quatro –, com uma característica mancha branca em forma de crescente na página superior; as flores, agrupadas em densos capítulos terminais arredondados, são de cor vermelha a purpúrea, cor-de-rosa ou até brancas. É nativo da Europa e Ásia e naturalizado na América do Norte, sendo também cultivado para obtenção de forragem e fixação de azoto nos solos. No século I, o famoso médico grego Dioscórides, refere que o sumo de Trevo misturado com mel «resolve as nuvens, manchas brancas e outros impedimentos que obscurecem a vista». Esta indicação, não comprovada actualmente, seria baseada na Teoria das Assinaturas, devido à analogia entre as manchas brancas das suas folhas e uma catarata! Além de ter sido sempre muito apreciado como planta medicinal, o seu uso agrícola também é muito antigo. Curiosamente, foi a observação de problemas associados à fertilidade no gado com uma alimentação rica em Trevo-vermelho que conduziu às pesquisas mais recentes. Em fitoterapia são usadas as flores, menos vezes as folhas.
Composição
Isoflavonas (biocanina A, daidzeína, formonetina, genisteína), ácidos fenólicos (ácido salicílico), fitosteróis (cumestrol, sitosterol), taninos, glicósidos cianogénicos, derivados da cumarina, óleo essencial (álcool benzílico, salicilato de metilo), amido e ácidos gordos.
Acção terapêutica
Pelo seu conteúdo em isoflavonas, o Trevo-vermelho apresenta diversas propriedades: tem actividade estrogénica – estes compostos unem-se aos receptores dos estrogénios humanos, competindo com as nossas hormonas e produzindo efeitos semelhantes; inibe a reabsorção óssea, prevenindo a osteoporose; é antioxidante, reduzindo o colesterol LDL e aumentando o HDL; tem acção anti-inflamatória, fortalecendo e protegendo os vasos sanguíneos e favorecendo a saúde da circulação e do coração; contribui para deter o crescimento das células cancerígenas estrogéno-dependentes.
Assim, a sua principal utilização actual é na prevenção e tratamento dos sintomas associados à menopausa: afrontamentos, suores nocturnos, dores de cabeça, perturbações do sono e prevenção da osteoporose, arteriosclerose, doenças coronárias e cancro da mama. Pela sua actividade expectorante e antiespasmódica, o Trevo-vermelho favorece a expulsão das mucosidades e acalma a tosse irritativa, sendo tradicionalmente usado no tratamento da inflamação das vias respiratórias, como constipação, faringite, laringite, rouquidão, tosse convulsa, bronquite e asma. Pode ser administrado às crianças. Esta erva pode ainda ser utilizada na falta de apetite, anorexia, digestões difíceis, gastrite e diarreia.
Outras propriedades
Com acção diurética e laxante suave, o Trevo-vermelho é um depurativo do sangue, sendo igualmente drenador do sistema linfático; esta capacidade de desintoxicação do organismo favorece a saúde da pele, tornando-o indicado na acne, furúnculos, eczema e psoríase. Externamente, pode ser empregue nas feridas e ulcerações, queimaduras, pele inflamada e picadas de insectos.
Como tomar
Uso interno: • Infusão das flores: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 chávenas por dia. Nas afecções respiratórias, tomar quente e adoçar com mel. • Menopausa: em suplementos alimentares com extractos concentrados em isoflavonas, em simples ou fórmulas, normalmente cápsulas ou comprimidos. • As folhas jovens, colhidas antes da floração, podem ser usadas em saladas, sopas ou cozinhadas como os Espinafres. • As flores podem ser ingeridas em saladas e ornamentar pratos. • Das sementes obtêm-se rebentos utilizados em saladas. Uso externo: • Decocção das flores e/ou folhas: 40 a 60 gramas por litro de água. Em banhos, lavagens e compressas.
Precauções
Devido à sua actividade estrogénica, o Trevo-vermelho está contra-indicado durante a gravidez e lactação; pode ainda interferir com a terapêutica hormonal. Pela presença de cumarinas, pode interferir com a terapêutica anticoagulante. Embora muito raramente, pode ocasionar dores de cabeça, erupções cutâneas ou reacções alérgicas. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.
12 CHINA
hoje macau quinta-feira 4.2.2016
PRESIDENTE DA SOUTHERN AIRLINES EXPULSO DO PARTIDO COMUNISTA
O
presidente da companhia aérea chinesa Southern Airlines foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC) e colocado sob investigação judicial por corrupção e “violação das normas de frugalidade” do regime, como pagar jogos de golfe com dinheiro público. Si Xianmin “abusou do seu cargo para obter benefícios e ajudar familiares, além de ter aceitado subornos”, lê-se no comunicado emitido pela
Comissão Central de Disciplina do PCC, o organismo do Governo encarregue de combater a corrupção. Si terá ainda interferido na investigação e não informou sobre determinados assuntos pessoais, mesmo quando lhe foi exigido, acrescenta a mesma nota. A acusação implica também o seu filho. Segundo uma nova ordem do PCC divulgada em Outubro
passado, os seus membros, e em particular os altos quadros, serão investigados caso incorram em actividades ou hábitos “extravagantes”, como a realização de banquetes, jogar golfe, ou manter relações extraconjugais. A investigação ao presidente do Conselho de Administração da Southern Airlines já tinha sido anunciada em Novembro passado, devido a “graves violações da
disciplina”, a expressão oficial utilizada para os casos de corrupção. O caso foi enviado, entretanto, para as instâncias judiciais. O combate à corrupção, considerado “uma luta de vida ou de morte” para assegurar a credibilidade do PCC e a sua permanência no poder, tem sido uma prioridade desde que o actual Presidente, Xi Jinping, assumiu a chefia do partido, há dois anos.
Xi Jinping prometeu “combater tanto as moscas como os tigres”, numa alusão aos altos quadros do PCC que durante muito tempo pareciam agir com total impunidade.
Extremos de ataque
“Terroristas do Xinjiang” treinaram-se no Afeganistão
A Papa Francisco “NÃO TEMAM A ASCENSÃO DA CHINA”
A desatar nós
O
Papa Francisco apelou ao mundo para que “não tema a ascensão da China”, numa entrevista publicada na revista Asia Times em que aborda o impacto da rápida modernização do país mais populoso do planeta. “O medo não é bom conselheiro”, disse o Papa argentino ao ser questionado sobre os desafios gerados pela abertura de um “gigante” historicamente fechado ao exterior. “Os homens e as civilizações tendem a comunicar (...) o mundo ocidental, o oriente e a China, todos têm a capacidade e a força de manter o equilíbrio da paz”, assinalou o pontífice católico. A entrevista, dirigida pelo italiano Francesco Sisci, um especialista nas relações entre a República Popular da China
e a Santa Sé, ocorreu numa sala do Vaticano decorada com o quadro da Nossa Senhora Desatadora dos Nós. A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas e a única igreja católica autorizada pelo Governo chinês é independente do Vaticano. Convictamente ateu e marxista, o Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, proíbe os seus membros - mais de 80 milhões - de seguir qualquer religião.
OBSTÁCULOS E AVANÇOS
Questionado sobre a política do “filho único”, um rígido controlo da natalidade que vigorou na China desde 1980 até ao início deste ano, o Papa qualificou-a de “dolorosa”. “A pirâmide está invertida e uma criança tem de suportar o encargo de seus pais e avós. É exaustivo, exigente e
desorientador. Não é a forma natural”, sublinhou. Sobre as profundas alterações na sociedade chinesa, em resultado do trepidante desenvolvimento que transformou em três décadas um país pobre numa potência económica, o Papa lembrou que “o povo chinês está a avançar”. “É necessário reconhecer a grandeza do povo chinês, que sempre conservou a sua cultura. E a sua cultura - e não falo de ideologias que existiram no passado - não lhes foi imposta”, referiu. “Acredito que a grande riqueza da China hoje é olhar para o futuro a partir de um presente que é sustentado pela memória do seu passado cultural”, acrescentou. Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 23 milhões, a maioria dos quais protestantes, o que não
“Acredito que a grande riqueza da China hoje é olhar para o futuro a partir de um presente que é sustentado pela memória do seu passado cultural” chega a 2% da população - 1.374 milhões de habitantes, ou cerca de 18% da humanidade. Fontes ocidentais estimam que haja “dezenas de milhões” de outros cristãos ligadas às chamadas “igrejas clandestinas”. Nas vésperas do país celebrar o Ano Novo Lunar, a grande festa que reúne as famílias chinesas, o Papa enviou ainda os melhores votos e cumprimentos ao povo e ao Presidente chinês, Xi Jinping. “O mundo espera pela vossa sabedoria”, concluiu, na primeira mensagem em dois mil anos enviada por um Papa a um líder chinês por altura do Ano Novo Lunar.
S autoridades chinesas publicaram ontem os resultados de uma investigação segundo a qual chineses da minoria étnica muçulmana Uigur, da região do Xinjiang, nordeste do país, foram formados “como terroristas” em campos de treino no Afeganistão. Num despacho difundido ontem pela agência oficial Xinhua, que noticia que os tribunais comutaram as penas de 11 cidadãos chineses condenados por “separatismo” e “participação em ataques terroristas no Xinjiang”, são revelados detalhes da investigação. Um dos condenados, Memet Tohti Memet Rozi, terá criado no Afeganistão um campo de treino para formar “terroristas” naturais daquela região chinesa com uma área quase 18 vezes superior à de Portugal. Memet “manteve estreito contacto com grupos talibãs e o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental”, uma organização classificada de extremista por Pequim, assinala a Xinhua. O Xinjiang é frequentemente palco de conflitos entre os Uigur e a maioria Han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional. O Governo chinês assegura que organizações estrangeiras, oriundas sobretudo do Paquistão eAfeganistão, pactuam com os muçulmanos do Xinjiang.
PENAS E TENSÕES
Peritos e grupos de defesa dos Direitos Humanos consideram que a política repressiva de Pequim relativamente à cultura e religião dos uigures alimenta as tensões. Segundo o anúncio dos tribunais, sete dos condenados viram a sua pena à prisão perpétua comutada com uma sentença de entre 19 anos e meio e 20 anos na cadeia, enquanto a sentença dos outros quatro - 8, 13 e 15 anos - foi reduzida em seis meses. Entre os convictos consta Huseyin Celil, um Uigur que fugiu da China após ser acusado de terrorismo e conseguiu o estatuto de refugiado da ONU na Turquia, emigrando depois para o Canadá, onde obteve a nacionalidade local. Em 2006, foi detido no Uzbequistão e extraditado para a China, onde foi condenado à prisão perpétua, entretanto comutada em pena de prisão.
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A
S tradicionais reuniões familiares por ocasião do Ano Novo Chinês estão a fazer com que muitos solteiros em Hong Kong procurem acompanhantes para evitar as habituais perguntas sobre o seu estado civil e contornar a pressão para o casamento. Solteiros de ambos os sexos na antiga colónia britânica estão a contratar namorados falsos para os acompanharem durante as celebrações, escreve o jornal South China Morning Post. Anúncios na Jobdoh, uma aplicação de ‘smartphone’ que habitualmente põe em contacto trabalhadores e empregadores, estão a oferecer 250 dólares de Hong Kong por cada hora de presença. “A resposta é melhor do que eu esperava”, disse a co-fundadora da ‘app’, Xania Wong. Embora a perspectiva de ser pago e poder comer de graça todas as iguarias tradicionais chinesas desta quadra festiva possa parecer um sonho, a tarefa não é descrita como fácil.
PUB
Estratégias de Ano Novo Hong Kong Solteiros contratam acompanhantes para calar família
gundos para o Jobdoh, com argumentos que atestem que são a pessoa mais indicada para o trabalho. Os funcionários da aplicação de telemóvel vão depois analisar o vídeo e rever a classificação dada por
“Vais receber e memorizar toda a informação sobre quem sou, como nos conhecemos e os nossos planos para o futuro, para que a minha família não me chateie”, disse uma das anunciantes à procura de um namorado falso. “Vais agir como um verdadeiro cavalheiro, aten-
cioso, sem palavrões e não podes fumar”, acrescenta. O anúncio diz ainda que, idealmente, o candidato deve saber “jogar ‘mahjong’ e conseguir beber muito”.
SEM HORÁRIO
Além disso, o número de horas de trabalho pode ser
difícil de prever, por ser imprevisível o tempo que levam as reuniões familiares. Alguns solteiros estão também a procurar acompanhantes pagos para visitar os seus familiares no interior da China. Os interessados têm de enviar um vídeo de 30 se-
Nos últimos anos tem-se tornado uma prática popular para os cidadãos do interior da China procurarem parceiros falsos na Internet para os acompanhar nas festividades do Ano Novo Chinês
CHINA empregadores, no caso de os candidatos a acompanhantes já terem usado o serviço de recrutamento anteriormente. “Se conseguires apresentar-te detalhadamente e sorrir muito tens mais hipóteses de ser bem-sucedido”, afirmou Wong. Nos últimos anos tem-se tornado uma prática popular para os cidadãos do interior da China procurarem parceiros falsos na Internet para os acompanhar nas festividades do Ano Novo Chinês. A académica Lau Yuk-king, da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse ao South China Morning Post que é difícil para as mulheres da antiga colónia britânica procurarem um companheiro, uma vez que continuam a querer homens com um nível de educação e salários superiores aos delas. “O problema é que hoje é normal as mulheres estarem a sair-se melhor do que os homens”, afirmou.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Da notável arquitectura existencial
E
M primeiro lugar dizer que Paixão é o primeiro da Tetralogia Lusitana. Enfim, no início era uma trilogia: Paixão, Cortes e Lusitânia; mas quando o Cavaleiro Andante chegou por fim e se juntou à tríade, achou-se e bem que ele por chegar atrasado, não deveria ficar excluído da família. Ele pertencia àquela saga, àquela família e ao seu destino sacro e profano. Tudo começa numa Sexta Feira Santa em plena Paixão. A Sexta-Feira Santa, ou ‘Sexta-Feira da Paixão’, é a Sexta-Feira antes do Domingo de Páscoa. É a data em que os cristãos “comemoram” a paixão, crucificação e morte de Jesus Cristo. Almeida Faria faz o que não sendo novo é revelador, estabelece uma homologia entre a vida de Cristo e a vida de qualquer cristão, pois a uma certa luz seremos todos cristos e em todos ocorre mais tarde ou mais cedo esta sequência paixão, sacrifício e morte. Evitei naturalmente a palavra crucificação, por modéstia. Contudo a Paixão de Cristo é exemplar, porque também os homens quiseram que assim fosse. Falar da Paixão de Almeida Faria é penoso, pois se há livros que leremos sempre são estes quatro livros da Tetralogia Lusitana, e é penoso falar ou escrever sobre livros que já lemos mas que ainda não lemos em definitivo, que ainda não colocámos de lado, com aquela satisfação de dizer, está lido. Almeida Faria escolheu bem o registo da sequência de monólogos interiores das personagens, pois confere à narrativa uma espécie de pudor narrativo e mais do que isso uma sacralização dos trabalhos, dos afazeres, das tarefas, um pouco à semelhança dos Trabalhos e os Dias mas em registo acentuadamente mais ontológico-metafísico. Nesse sentido também as personagens são paradigmas de simples formas de ser. Todos sabemos que o sagrado pré-existe às religiões, desconfiamos até que as religiões são formas históricas que há muito começaram a desgastar o universo do sagrado e nesse sentido acontece que é nos rituais profanos que de súbito podemos viver a epifania do
sa, positiva e empiricamente determinada. Por outro lado, não perpassa no texto uma ideia de um sentimento de sofrimento sem redenção, mas bem pelo contrário um sentimento de redenção através do sofrimento. Porém esta redenção não busca legitimar-se de uma forma gloriosa, mas na linha das correntes mais radicais assenta numa resignação à imagem e semelhança de Job. Pedro Sepúlveda remete para um texto de Óscar Lopes. Talvez que as coordenadas ideológicas onde seguramente persiste uma certa ansiedade escatológica preferissem através da secularização do sagrado o triunfo da utopia. Almeida Faria contudo não professa um optimismo ontológico pois a sua posição, pelo contrário, é sobretudo pessimista. Na maior parte dos casos a narrativa prefere o neutro, aparentemente neutro deva dizer-se, pois o exercício reiterado do neutro deixa entrever justamente a necessidade do sagrado. O sagrado evidencia-se nas coisas mínimas, nas tarefas repetidas até à náusea, nas banalidades existenciais desprovidas de fulgor ou sucesso, onde tudo falta menos o mistério:
sagrado na sua plenitude. Isso é o que a meu ver Almeida Faria pretende e julgo que muitas vezes o consegue. Pedro Sepúlveda fala assim:
temporal expresso na própria estrutura do livro: Manhã, Tarde e Noite desse dia que só sabemos ser de sexta-feira santa”.
“Estes monólogos são interrompidos por breves diálogos e por intervenções de um narrador que se imiscui no universo da consciência das personagens. Descrito com recurso a uma imagética religiosa e mítica, neste universo perpassa o sentimento de um sofrimento sem redenção, repetido num ciclo
E eu permito-me estar em acordo com quase tudo, menos com isto: A imagética é profana e não religiosa e portanto é sobretudo mítica. É profana, mas não desligada do sagrado. O sagrado como disse permanece na vida quotidiana e em muitos dos nosso gestos, as referências ao cristianismo são contudo inevitáveis, pois para nós a cultura cristã, através de uma referencialidade litúrgica, é aquela em que o sagrado se reconhece, ou melhor é onde as criaturas reconhecem as homologias com o sagrado. Uma ceia sempre fará pensar na Última Ceia, uma mesa, como o lugar em que nos damos aos outros como banquete e se sagram os alimentos. Os próprios alimentos significam mais do que são: o pão e o vinho serão sempre o sangue e o corpo de Cristo e o cordeiro será sempre pascal e exprimirá sempre também a inocência e o sacrifício. Não existe uma memória dos gestos anteriores ou dos vocábulos, ou dos rituais, quando o sagrado ainda não era nomeado através de uma imagética religio-
ALMEIDA FARIA nasceu em 1943 a 6 de Maio em Montemor-o-Novo no Alto Alentejo. Estudou Direito e Letras e veio a formar-se em Filosofia, mas antes disso com apenas 19 anos publicou o seu primeiro texto de ficção, O Rumor Branco, obra à qual foi atribuído o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores. Entre 1965 e 1983 elaborou os romances da “Trilogia Lusitana” (A Paixão, Cortes, Lusitânia) e com o Cavaleiro Andante, encerrou de algum modo este ciclo. Pela mesma época estagiou como bolseiro nos Estados Unidos e na Alemanha Federal e leccionou Estética e Filosofia da Arte na Universidade Nova de Lisboa. Além de romancista, é autor de ensaios, contos e peças de teatro. Recentemente publicou, a partir de um conto seu, o libreto para a cantata de Luís Tinoco Os Passeios do Sonhador Solitário. Publicou ainda O Murmúrio do Mundo, relato ensaístico de uma viagem à Índia. Ao conjunto da sua obra foi atribuído o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora e o Prémio Universidade de Coimbra.
“de madrugada ainda levantar-se, descer para a cozinha e enregar o trabalho reacendendo lume no fogão, lavar a louça que ficou da véspera com sobejos de comida, em monte sobre a pia (durante o inverno a água gela, corta os ossos da gente, faz doer às vezes até pelo braço acima — deve ser reumático — mesmo ao cotovelo) e só depois sair para o quintal em que os pardais já cantam sobre o carrapateiro, filhar da vassoura e, com ela, varrer a capoeira e aos bichos dar farelos e mais reção avondo (de manhã as capoeiras têm sempre um certo cheiro azedo como alguns quartos de homem) e também ao pintassilgo mudar a água para beber, pôr a tina do banho, dar-lhe ou alpista ou uma folha de alface ou atão ambas, retirar o papel que, ao fundo da gaiola, se enche de cagadelas dia a dia e de casca de alpista, (...)”. É manhã e é Piedade, seguramente Piedade não por acaso: “voltar depois ao quarto, lá em cima, a fim de pentear-se, pintar-se se ele espera, pôr arrelicas e se aparelhar do casaco comprido, cinzento e desbotado de dez anos, meter a carteira na algibeira, descer de novo a escada em caracol para a cozinha, botar a água ao lume já pegado, pegar na alcofa dentre cestos e cabanejos, bilhas, tarefas, potes grandes de azeite
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Fichas de leitura
ou azeitona e alguidares com todos os tamanhos, vermelhos e vidrados, largos para a matança e para o sangue, tachos de cobre, fulvos, em pé contra a parede de fumo nunca escura, branca, branca, caiada e mais caiada, em seguida descer por vez segunda os degraus do quintal, abrir o pesado portão fechado à chave, soltar os cães esquentados da noite para a rua, ir pela rua velha e árida à derêtura caminho da praça do mercado, comprar o que de véspera a senhora, a cuja obediência ela está, com letra grossa na lista de papel pardo assentara: carne de vaca ou vitela para bifes, hortaliça, pescados o que houver, etc., o costume, comprar sem muito ou sequer nada refilar, porque não vale a pena, não lhe pagam palavras (trabalho tão-somente), meter dois dedos de paleio com esta e com aquela, mais apaniguadas, com o conversado se o tem pela altura (nos dois últimos anos teve vários, a frescura já foge) ou um outro algum pretendente que por acaso apareça a cheirá-la, cheira-lhe a carne forte, mamas fortes, voltar ao fim de meia hora, o máximo uma hora para casa, pousar as compras no portal de mármore, o peixe, as couves, latão, os alhos, ferver o leite e entrementes fazer torradas para os meninos (no tempo das laranjas espremer aí uma dúzia delas — os meninos são cinco), preparar caldo de maizena e vianda de leite, e os flocos de aveia, migar o pão prás sopas dos mais novos, esfregar chão de pedra da cozinha e a mesa da cozinha, antes de pôr a toalha aos quadrados azuis para o pequeno--almoço, tirar o grão e o bacalhau que ficaram de molho desde a véspera ou ir ao quintal uma vez mais, no qual agora o gato, estático, silencioso e muito atento, caça infrutiferamente borboletas, ir de faca em punho e debaixo do braço o alguidar (é preciso sem pre ter cuidado, não bater com ele no corrimão da escada, assim partiu dois que teve de pagar e uma porrada de massa lhe custaram e este está rachado, talvez da água quente, com dois gatos grandes ali ao pé da borda), voltar com a galinha morta ou ferida de morte dentro do alguidar, a cabeça entre as asas como um sono, deitar-lhe água a ferver, tirar do lume leite, o caldo de maizena, guardar a louça que quase já secou, servir o dejejum aos meninos que gritam, depois de no quintal terem jogado um bocado ao botão ao berlinde, à pancada, ao pião, conforme a época do ano, ficando com feridas negras ou feridas de sangue nos joelhos, ou atão depois de serralha ao grilo can tarista terem dado, se em tempo deles é, que quer tanto dizer como na primavera, e quando finalmente eles se vão, meter mais louça suja na pia da lavagem, depenar a galinha, pô-la
Faria, Almeida, Paixão, Lisboa: Caminho, 1991. Descritores: Romance, Tetralogia Lusitana, Memória, 972-21-0237-0, 199 p.:21 cm,
ao lume porque às vezes é dura, sen tar-se enfim no banco de pedra ao canto da janela de guilhotina aberta, mastigando uma bucha de pão com queijo ou chouriço ou farinheira ou banha (o que houver) e entre os dedos húmidos um púcaro de lata com café de soja e com isto tudo hão-de ser dez horas e estômago a dar-lhe horas desde as seis, por isso anda largando o osso nesta bruta labuta todo o santo dia que inda vai no começo mas que um dia, espera, talvez quando casar, ou talvez não, há-de acabar; batem as sete; tem os olhos cerrados e, cansadamente, recons titui os gestos gastos a fazer; o dia que se segue é-lhe memória negra; assim o percorreu: envolta em trevas, por semanas santas que duraram séculos e agora sabe apenas que no quarto existe alguma pouca claridade; entra pela fresta da janela o frio do sol nascendo; não há sombra de dúvida, isto tem de acabar; horas de pôr-se a pé; horas de início, horas de começar; são mais que horas”. Procurei debalde cortar tão longa citação. Cortar onde? Não fui capaz. É neste fluxo tão quotidiano de tarefas que se ilumina a existência e lhe é conferida a espessura de Ser, a soberana consciência dela. Para lá de qualquer exercício de consciência social, de aquiescência ou revolta são estes trabalhos de Hércules e de Sísifo que nos permitem aceder ao essencial das personagens. Elas, as personagens, são as suas tarefas, os seus pequenos projectos, as suas pequenas intrigas. Quando a arte de um romance consegue isso, consegue o que lhe é próprio, como disse Milan Kundera, consegue fazer aceder a uma certa dimensão da existência que mais nenhuma forma de arte consegue. Eu diria que esta dimensão é o lugar onde o sagrado e o profano se encontram. Algumas artes são da ordem do sagrado, outras da ordem do profano, a arte do romance é da ordem desta união das duas dimensões existenciais, união à qual se acede por caminhos simples, quotidianos, banais mesmo segundo uma leitura sem retórica. Mas isto só está ao alcance do génio: Dar, sem porém explicitar o achado e o seu modo de achar, a dramaticidade senão o próprio trágico que se esconde nesta rotina assustadora. Dizer assustadora neste momento é uma traição, pois ela é simples e lógica, e simplesmente decorre no caudal em que tudo decorre, vai na corrente sempre imparável, só mesmo o génio para nos mostrar o quanto ela é assustadora, na sua fatalidade inelutável comum a todos. Depois segue-se João Carlos e Arminda e Mãe e André e Tiago e Francisco e etc, todas as personagens com as suas cruzes, e as suas
Identidade,
ilusões e mazelas e os seus sonhos e suas outras coisas e depois de novo Piedade e depois de novo, … até que a manhã chega ao fim. O autor consegue estruturar o enredo e dar a ilusão de continuidade narrativa usando por vezes diálogos acidentais e a erupção de um narrador que está sempre implícito nos solilóquios que só na aparência são monólogos. É um trabalho literário notável de arquitectura existencial. Não é a primeira vez que em sede de romance se usa um expediente semelhante, também Faulkner o usou no texto intitulado Na Minha Morte, mas atrevo-me a considerar que Faulkner dispõe desde o início de um elemento que subjaz à narrativa, que é justamente a pressuposição da sua morte e, como se estivesse morto e ao mesmo tempo não, visse e ouvisse as várias personagens contudo animadas na sua movimentação por um facto motor, justamente a morte daquela personagem a todos os títulos central. O texto irradia desse centro. Neste exercício de estilo, Almeida Faria não conta com um centro emissor, de onde as parcelas da narrativa descolem. Não há nenhum ponto de ancoragem. Pelo contrário as parcelas reúnem-se mais tarde e só no fim todas fazem sentido. Verdadeiramente só mesmo no fim do Cavaleiro Andante, quer dizer no fim da tetralogia. Notável! Finalmente uma última questão. No prefácio à 1ª edição de 1965, escrito por Óscar Lopes, e que prefácio brilhante, este autor alude a uma proximidade com o método fenomenológico à maneira de Husserl, o que Sepúlveda nega categoricamente. Para tanto Sepúlveda esclarece que “a fenomenologia está preocupada em revelar as estruturas essenciais da experiência humana, (enquanto)
Manuel Afonso Costa
Almeida Faria descreve uma vivência, ou melhor, a consciência dessa mesma vivência. Essa descrição articula o singular e o universal de um modo que coloca o segundo ao serviço do primeiro. É por isso que o sentido simbólico de algumas descrições, assim como a imagética religiosa ou sociopolítica nelas contida, nunca as condiciona, porque essa descrição do humano que tanto tem de poético quanto de narrativo é o objecto primeiro e único do livro. Sinceramente não me parece acertado, pois se Husserl procura de facto, e é esse é o maior problema da fenomenologia plenamente desenvolvida, as estruturas essenciais da experiência humana, antes disso eu diria que ele procura recuperar uma experiência perdida, a experiência de uma relação não mediatizada pelos arquétipos conceptuais, de modo a permitir o trabalho imediato da consciência. Há assim uma fase em que a fenomenologia ainda não é uma fenomenologia transcendental e é apenas uma fenomenologia psicológica descritiva; e portanto, nesta fase, a fenomenologia ainda não pretende ser a ciência da essência do conhecimento, ou doutrina universal das essências. É só segundo esta perspectiva que a posição de Sepúlveda não está correcta, ele não teve em conta a evolução histórica da fenomenologia. Mas, é verdade, que no seu processo evolutivo Husserl passou das Investigações Lógicas (1900-1901) em que predominava uma ideia de fenomenologia empírica ligada às vivências, segundo o seu conteúdo, ou seja às vivências do eu que vive, para uma fenomenologia transcendental. É relativamente a essa fase que Sepúlveda tem razão. Porque é verdade que, a partir de certa altura, Husserl falará cada vez mais de uma consciência constituinte e transcendental. Isso será sobretudo a partir dos trabalhos de 1907 e de uma forma plenamente sedimentada sobretudo nas Ideen de 1913. Mas este foi a meu ver o passo fatal dado por Husserl, o que o afastou de uma fenomenologia para um idealismo transcendental. O que me permite continuar a falar da presença de Husserl na obra de Almeida Faria reside no facto de que para mim o essencial de Husserl reside nas suas intuições iniciais, no regresso às coisas, na epoché fenomenológica, além de que a própria redução fenomenológica promove um retorno à consciência e desse modo se preocupa com a revelação das estruturas essenciais da experiência humana, contudo não na perspectiva da constituição de uma ciência mas de facto de uma experiência. Eu penso ainda que mesmo nos seus piores momentos a fenomenologia mantém sempre alguma coisa das suas intuições originais.
*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.
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Amélia Vieira
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S povos cansaram-se das eleições um pouco por todo o lado na Europa numa massiva desconsideração pela forma de se fazerem representar. Isto quer dizer que os actuais sistemas estão disfuncionais face à sua razão de existir e que o facto de estarem a colapsar não vai assegurar, como é óbvio, a sua legitimidade: não sabemos para onde se dirige a marcha mas à medida que a farsa se contempla a si mesma, intuímos o fim dela, e esta sensação não é boa. Há uma manutenção de moribundo que culmina com a saúde do morto no dia das eleições. O que falhou? Isso são abordagens mais amplas, como as sociológicas, históricas, filosóficas , mesmo, para as pessoas, neste estado ainda do seu desenvolvimento, elas apenas processam a auto-sustentação das suas vidas intranquilas que as impede de indagar o seu instante como um argumento urgente para a sua continuidade. Também não creio que estejamos em processo reformativo, tudo o que foi mudando, talvez seja tanto, que o que ficou não possa ser reformulado... Os fluxos migratórios parecem diques... inundações, toda esta geopolítica é muito fluída e não temos uma ideia clara do que venha a ser o futuro imediato. Os problemas ambientais só agora se sentem, os reflexos, as mutações... Estamos num Inverno quente e cinzento... o calor é tão estranho quanto a nossa impreparação orgânica. Lidamos quotidianamente com uma dimensão pouco habitável, difícil, onde temos de adaptar os nossos organismos à imprevisibilidade reinante como jamais nos fora exigido no vasto programa das idiossincrasias cósmicas e naturais. Estamos naturalmente acossados dentro de um prisma que sentimos irrespirável, pondo a funcionar o sentido de uma “guelra” antiga pois não tarda a emagrecerem as costas e a subirem os mares numa conquista que tanto pode ser continuada como abrupta. O ciclo luarento que ditou a ganância, a usura, a fome contínua, essa febre do útero infernal, está como paralisado ou então a fome mudou. Nem tudo é já para “comer”; rodamos esta ampulheta e nada, quase, já se pode comer. Ou a fome é mesmo outra coisa que já não quer dizer nada acerca dos fundamentos do ciclo alimentício do passado ou tudo isto poderá, como disse, acabar de vez de forma abrupta ou descontinuada, como agora está tão em voga quando querem
ANDREA MANTEGNA: AGONIA NO JARDIM
Urbi et Orbi
acabar com um produto, deixando-o existir até à sua falência. Estas designações verbais, aliás, também não são inocentes, já que como todos sabemos não há signos assim e a linguagem é a sinalética menos inocente que temos. Olhar agora para o mundo com as prerrogativas artesanais do ciclo da grande voragem é, quanto a isso sim, um estado de inocência, é uma mansidão que já não se coordena com a radicalidade atmosférica. Estamos dessincronizados do “habitat” em cada vez maior escala, obviamente que isto dará toda a espécie de psicoses e até de más formações congénitas. Atravessamos um deserto imenso onde cada um tem de levar a sua lanterna, porque a visão do grupo não é condutora de nenhum caminho.
Há dias duros na Terra e ela muda tão rapidamente... e toda a estrutura fixa da nossa dor não passa de um acaso não visitado pela nossa inteligência que só agora irrompe em buscas de outras Catedrais.
Encaminhados para o leve, falemos um pouco de «Massa e Poder», o livro de Elias Canetti, que dá bem a dimensão de um mundo a ir, sem uma plataforma de devir muito clara e cujo poder se chama outra coisa. Acerca desta obra se diz: – Canetti ensina-nos que a massa não se reduz a ser um simples aspecto característico das sociedades modernas, mas que foi e continua a ser muitas outras coisas; que pode matar e ao mesmo tempo atrair; e, sobretudo, que não existe sem o seu contrapeso: o poder. À proliferação da primeira corresponde a solidão e paranóia do segundo. Há um longo epílogo no livro que se chama muito exemplificativamente «A dissolução do sobrevivente». Fronteiras que tecem territórios móveis são sempre inquietantes. Mas não duvido que tenhamos todos que pegar em duas ou três verdades tidas por conhecidas e avançar, dado que nada se resolve voltando para trás. Como vimos, há um sistema gasto, ou cansado de ser, uma caricatura da participação, dado que metade das populações dos países se demite da sua liberdade de a usar o que não tardará a criar desconforto e ilegitimidade aos próprios eleitos. É certo que cada vez mais os seres se agrupam tentando ser eles a criar as soluções dos seus destinos, que gerir bem o mais perto é a vantagem de se
conhecer o terreno e que os tratados e códigos se acham atolados de inoperância fase à magnitude da necessidade humana. Que mesmo que queiramos ver intentos passadistas nas intenções, eles também já são feitos de outra maneira e com outros pressupostos, que começa a haver um hiato entre aquilo que os mais velhos estipularam e a surpresa de não conseguirem com as mesmas práticas os mesmos resultados. A noção da equidade talvez esteja a ser sobreposta pela da igualdade, que a contempla, num justo processo acelerativo, o que faz de cada um de nós, indivíduos despertos para sair da manada ou da alcateia, sem com isso ter de ser ostracizado pelo ritual da partilha que é ainda a forma primitiva de distribuição em série. São as leis laborais que vão ordenar o nosso espaço ambiental e fazer que tenhamos uma noção individual não programática, mas com reparações em cada novo ano. Não sei que ruptura se dará perante o estado de coisas em voga, já tão generalista quanto impróprio para se fazer ouvir. Há momentos muito reveladores que parecem não serem apenas tristes acasos, mas sim , algo de muito mais profundo que vai ser preciso abordar. Escuso-me a qualquer pergunta dado que esta é sempre uma intromissão, mas gostaria de indagar este estado de coisas a partir desta altura que me parece tão charneira. Como se fossemos todos encetar uma longa viagem por caminhos muito pouco programáticos e que nos dissessem que é neste estado de coisas que não nos podemos esquecemos de salvar o Homem mais como acto poético do que como resolução objectiva. Há dias duros na Terra e ela muda tão rapidamente... e toda a estrutura fixa da nossa dor não passa de um acaso não visitado pela nossa inteligência que só agora irrompe em buscas de outras Catedrais. Ao nosso redor a mudança varia, mas uma estrutura que tende a parar para a sua própria compressão num imobilismo muito denso, tal se nos apresentam agora as sociedades que num labor insuficiente procuram desesperadamente auscultar o que se passa nos interstícios daquilo que afinal obedece também ao fascínio Humano: o não saber prever o ângulo de acção mais directa.
17 hoje macau quinta-feira 4.2.2016
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Sexta-feira “O PESADELO DE JOÃO”, DE FRANCISCO BOTELHO IN DOCLISBOA Consulado Geral de Portugal, 18h30 Entrada livre “WESTERN STAR”, DE WU HAO IN DOCLISBOA Consulado Geral de Portugal, 18h30 Entrada livre
O CARTOON STEPH
SUDOKU
DE
Diariamente EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO” (ATÉ 3/03) Casa Garden Entrada livre HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 23
PROBLEMA 24
UM LIVRO HOJE
Cineteatro
C I N E M A
ALVIN AND THE CHIPMUNKS SALA 1
ALVIN AND THE CHIPMUNKS: ROAD CHIP [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Walt Becker 14.30, 16.15,18.00, 19.45
ALL’S WELL END’S WELL (EXTENDED VERSION) [B]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Leslie Cheung, Stephen Chow, Raymond Wong, Maggie Cheung 21.30 SALA 2
THE LAST WOMAN STANDING
FALADO EM MANDARIN LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Luo Lu Com: Shu Qi, Eddie Peng Yuyan, Hao Lei, Lynn Hung 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
YUAN
1.21
PRINCÍPIO E FIM
“SÃO”, DE SUSANA VALADAS IN DOCLISBOA Consulado Geral de Portugal, 18h30 Entrada livre
EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas
0.22 AQUI HÁ GATO
“FLOR AZUL”, DE RAUL DOMINGES IN DOCLISBOA Consulado Geral de Portugal, 18h30 Entrada livre
“FONTING THE CITY”, WALLACE CHAN IN DOCLISBOA Consulado Geral de Portugal, 18h30 Entrada livre
(F)UTILIDADES
Todas as coisas têm os seus processos. Começamos a fazer algo cheios de grandes grande intenções e entusiasmo, determinados a dar o nosso melhor para atingir o objectivo definido. No início não nos incomoda enfrentar muitas dificuldades e obstáculos porque quando as conseguimos ultrapassar regozijamo-nos com o sucesso atingido. É um sentimento que fica para a vida. Mas o lado positivo não dura para sempre. Apesar de todos os esforços, podemos fracassar, sobretudo quando surgem conflitos com os outros - sejam inimigos, sejam amigos. Au Kam San é um bom exemplo. Ouvi dizer esta semana que desistiu da associação que fundou e pela qual se esforçou durante mais de 20 anos. Não quer continuar porque não concorda com as novas regras da Novo Macau, gerida por jovens activistas. Imagino que seriam amigos próximos, os jovens aprendiam com ele, e tinham pensamentos semelhantes. Mas a mudança chegou, como uma tempestade, destruiu a harmonia, trouxe discussões e alterou as relações. Tal e qual Igual como quando mudo de casa, sinto-me triste e tenho saudades da situação anterior. Acredito que Au Kam San terá a mesma sensação. Apesar de tudo, seja qual for a decisão, não olhamos para atrás mas sim para frente. Todas as coisas têm princípio, meio e fim. O que passou, passou, o mais importante é viver como bem se entender, comer o que se prefere e fazer aquilo que mais se gosta. Pu Yi
“MAKE ME” LEE CHILD
Pode ser este ou qualquer outros dos 33 já publicados por Lee Child.As aventuras de Jack Reacher, um ex-polícia militar que deambula pelo mundo com apenas uma escova de dentes por bagagem e cujos passos o levam, invariavelmente, a situações críticas. Tudo começou quando Child foi apanhado por um downsizing da Granada TV onde era realizador. Emigrou para os EUA e criou um dos personagens mais incríveis da literatura popular. Diz-se que ler thrillers ajuda a desenvolver o raciocínio lateral e nisso Child é mestre. Neste último livro, Reacher interroga-se porque a cidade onde chega se chama “Descanso da Mãe” mas ninguém lhe explica. Um lugar pequeno, escondido entre hectares de campos de trigo, uma estação de comboio e uma mulher preocupada, chamada Chang, que o toma por outro: o seu parceiro numa investigação que ela julga ter começado insignificante mas que se tornou mortífera. Se gosta de thrillers e de livros que se lêem num só fôlego, não procure mais. Manuel Nunes
SALA 3
THE GOOD DINOSAUR [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Peter Sohn 14.30,16.30, 19.30
THE BIG SHORT [C]
Filme de: Adam Mckay Com: Christian Bale, Brad Pitt, Ryan Gosling, Steve Carell 21.30
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18 OPINIÃO
hoje macau quinta-feira 4.2.2016
RUI TAVARES
TIM BURTON, ALICE IN WONDERLAND
in Público
A infantilização da Europa
C
ALHOU-ME neste domingo ir falar a uma plateia de crianças sobre “o país, a Europa e o mundo”. Encontrei nelas mais abertura e menos preconceito do que nos adultos que fui ouvindo nos últimos dias. Um dos problemas no nosso debate público, além da excessiva previsibilidade, é que “Europa” significa tudo e nada. Se falamos de uma decisão da União Europeia ou de uma das instituições comunitárias, a coisa ainda vai compreensivelmente tachada como fazendo parte da “Europa”. Curiosamente, o mesmo acontece quando se trata de decisões tomadas pelos governos nacionais, sozinhos ou reunidos no Conselho da UE. Mais extraordinariamente ainda, as mesmas pessoas continuam a afivelar o rosto grave para denunciar a “Europa” até quando estão a falar de decisões de parlamentos nacionais. É a partir daí que a confusão toma conta da discussão. Basta recuar uns dias até às discussões sobre a decisão do parlamento dinamarquês sobre o confisco de bens a refugiados. A primeira instituição a reagir, na véspera do voto dinamarquês, foi o Parlamento
Hoje a União Europeia é como antes a Sociedade das Nações: o bode expiatório, às vezes merecido, mas na maior parte das vezes somente o mais fácil, dos demagogos Europeu (a segunda foi — e muito bem — a Assembleia da República portuguesa, com um voto unânime). Abrem-se agora possibilidades de acção em relação à Dinamarca, desde logo por violação do Tratado da União Europeia (artigo 2: respeito pela dignidade humana) e da Convenção Europeia de Direitos Humanos (direito à propriedade e direito à vida familiar). No entanto, continua a ouvir-se, nos últimos dias, gente que é paga para falar nas TVs e rádios e escrever nos jornais, dizer que “esta Europa não serve” — falando da UE quando age, quando não age ou, no fim de contas, por causa de uma decisão que é da Dinamarca e não é sua. Quem defende que a União Europeia não se deva meter nos assuntos dos estados-membros, pelos vistos, só o defende até ao ponto em que não gosta das decisões que um parlamento nacional toma. A partir daí, passa de novo a culpar a União Europeia, mas pela razão contrária: por esta não violar o princípio que antes defendia. Se a UE agir, também há quem ache que a UE tem culpa de decisões que são os países a tomar, e que por causa disso não deveria fazer nada quando elas são tomadas, apesar
de os mesmos também criticarem se alguma coisa for feita — porque a decisão dos deputados dinamarqueses, mesmo quando viola a dignidade humana, é supostamente “soberana”. De caminho, esquecem que a Dinamarca não faz parte das políticas migratórias da UE (como eles defendem para o euro) e que mesmo sem UE continuaria a haver uma crise de refugiados — provavelmente pior. Nos anos 30, a Itália invadiu a Etiópia. A Sociedade das Nações pediu à Inglaterra e à França para impedirem a frota italiana de passar. Estes países recusaram-se. Em vez de criticarem a Itália, a Grã-Bretanha ou a França, os antepassados dos modernos eurocépticos decidiram antes minar a credibilidade da Sociedade das Nações. Hoje a União Europeia é como antes a Sociedade das Nações: o bode expiatório, às vezes merecido, mas na maior parte das vezes somente o mais fácil, dos demagogos. Neste estado de coisas, não admira que se encontre mais abertura num debate com crianças de cinco anos do que no comentário mediático que infantiliza o debate público para bater no seu ódio de estimação.
19 hoje macau quinta-feira 4.2.2016
bairro do oriente
Caíu na rede (e não é peixe) Caso 1: Não há actores pretos nomeados para as principais categorias dos Óscares este ano. E depois? Aparentemente isto é notícia, pois trata-se de “racismo”, e mesmo que ninguém tivesse dado pela “falta de diversidade” na lista da Academia de Artes e Ciências de Hollywood, nunca faltaria a atempada e oportuna(ística) do realizador Spike Lee, o “ombudsman” destas coisas, com a diferença de que ninguém o nomeou, e de “independente” tem muito pouco. Eu descreveria Spike Lee como o “Black Man in Black” da segregação, um cromo daqueles que sozinho preenche uma caderneta inteira. Desconfio que o tipo não conseguia viver sem isto, sinceramente; em suma: é um desocupado. Spike Lee seria bem capaz de acusar o realizador de um biópico sobre a vida do imperador romano Júlio César de “racismo”, alegando “ausência de escravos númidas no enredo”, e possivelmente encontrava algum argumento hist(é)órico delirante para justificar o “casting” de Denzel Washington no papel de Marcus Antonius. Mas até pode ser que Spike Lee seja um pateta, mas de parvo é que ele não tem nada, e como quem lhe atira com mais sarna com que ele depois se entretém a coçar, vieram de imediato os grunhos das redes sociais responder ao chamamento da tolice. Julgando-se com a razão toda do seu lado, aquilo foi um ver se te avias de opiniões obtusas e torpes, ora porque “ELES agora pensam que mandam nisto tudo”, e “tem que ser como ELES querem”, e “quem é que ELES pensam que são”. Fiquei um pouco baralhado: se Spike Lee é um apenas (e já é um a mais), e o número de candidatos pretos às estatuetas mais apetecíveis é zero, quem são os “eles” de que aqui se fala? Bem, eles que são “afro-qualquer-coisa” que se entendam Caso 2: O toureiro espanhol Francisco Rivera Ordóñez (olé!), provavelmente aborrecido com tanta falta de protagonismo, decide chocar o mundo – coisa relativamente fácil nos tempos que correm, aparentemente. Para o efeito decidiu divulgar imagens suas onde aparece a lidar um touro, enquanto segura ao colo a sua filha de apenas cinco meses de idade. O “problema” aqui é evidente, tratando-se de algo que tanto eu como o estimado leitor não incluiríamos no nosso rol de “actividades a desenvolver com os nossos recém-nascidos”, mas aqui com o Paco a conversa é outra. Filho, neto e bisneto de toureiros, o avô de Rivera “fazia o mesmo com ele e com o seu pai”, e apesar deste último ter encontrado a morte numa arena com apenas 36 anos, isso não o inibiu de lhe seguir as pisadas. Ainda tão recentemente com em Agosto do ano passado, o destemido lidador foi contemplado com um “piercing” gástrico, cortesia de um dos bovinos que insiste em enfrentar, naquilo a que tanto ele como a sua “afición” insistem em preservar como tradição, chamando-lhe ainda de “arte”. Quem não se inibiu de expressar de imediato o seu repúdio, asco, “ai Jesus que lá vou eu” foram os mui reverendos
NEIL JORDAN, ONDINE
LEOCARDO
opositores da festa brava, e quer nas redes sociais, quer nas secções de comentários da própria notícia choveram impropérios, rogaram-se pragas, chamaram-se todos os nomes ao Paco, que não fez mais do que... aquilo que sabe fazer, pronto, deu-lhe para isto, como podia ter-lhe dado para ser fiscal das finanças. A criancinha? É dele, e ele lá sabe as linhas com que se cose. Naquele momento até podia ser que estivesse a pensar noutra coisa qualquer – na tetinha da mamã, por exemplo, e não há nada que nos diga que a progenitora tenha desaprovado a iniciativa do marido – mas até aposto que quando tomar consciência dos actos do pai, a miúda vai achar aquilo “o máximo”. Se eu censuro? Não aprovo, mas duvido que isto se insira na categoria de “má influência”, ou que surja por aí uma legião de imitadores. Do que tenho a certeza é que em nada contribuiria para a minha felicidade a eventualidade do perturbado senhor sofrer uma morte horrível no exercício da sua actividade. Nem entendo quem poderia ficar a ganhar com isso, para ser sincero. Caso 3: Em vésperas da visita de altos dignatários da República Islâmica do Irão, as autoridades italianas decidiram cobrir as estátuas de corpos nus existentes na capital
“Eu descreveria Spike Lee como o “Black Man in Black” da segregação, um cromo daqueles que sozinho preenche uma caderneta inteira. Desconfio que o tipo não conseguia viver sem isto, sinceramente; em suma: é um desocupado”
daquele país, de modo a “não ofender” os seus púdicos convidados. Ahem. Quer o “timing”, quer a própria ideia leva-me a suspeitar que os italianos estavam a ser “fresquinhos”: nem Roma é uma espécie de Castelo-Fantasma da Feira Popular com “madonnas” desnudadas em vez de assombrações, nem os “aiatolas” rastejaram de um qualquer buraco e desatam a arrancar os cabelos em desespero perante a visão de um par de mamocas de pedra. Tenho até a convicção de que estas elites sunitas têm consciência daquilo que esperam encontrar em Itália, tratando-se de pessoas de carne e osso, alfabetizadas e cientes de que o mundo vai para lá da Pérsia e arredores. Só faltava os italianos ensinarem-lhes a comer com utensílios, incutindo de seguida a noções elementares de higiene pessoal – “para não ofender”, dizem eles. Pois, pois. Mas houve logo quem tivesse feito segundas leituras do acontecimento, e interpretasse isto como uma “submissão do Ocidente aos valores do Islão”. Ena, o que para aí vai, como se tivessem sido os referidos cavalheiros a encomendar tamanho sermão. Como não podia deixar de ser, cada um arrotou a sua posta de pescada, e entre os habituais insultos à confissão maometana, liam-se sugestões sobre “o que fazer para endireitar aqueles tipos”, das quais destaco “visitas ao Bairro Alto, gajas e vinho”, entre outras formas de deboche, que é o “modus vivant” das pessoas livres e civilizadas. Claro, claro. E mais: aproveitando a crista da onda, o nosso novel Ministro da Cultura, João Soares, decidiu contribuir para a tragicomédia, afirmando que “em Portugal ninguém taparia coisa nenhuma para não ofender ninguém”. Sim senhor, aquilo é que é um homem com um grande par de...como é que se diz “bochechas” em castelhano? Deixem para lá, não interessa. Conclusão: Já o fiz aqui antes e volto a reiterar: demos graças às forças armadas e outros agentes da ordem, que são o sustentáculo da nossa democracia. Com o povão no poder, estávamos entregues à bicharada.
OPINIÃO
“
Um velho, à sombra, discorre, / Diante de muitos bocejos: / O meu espírito morre / Sem saudades nem desejos
quinta-feira 4.2.2016
Padre Benjamim Videira Pires
JOSÉ VEIGA E PAULO SANTANA LOPES DETIDOS
A Polícia Judiciária (PJ) deteve ontem o empresário José Veiga e Paulo Santana Lopes por suspeitas de corrupção no comércio internacional, branqueamento de capitais, tráfico de influências, participação económica em negócio e fraude fiscal. O antigo empresário de futebol e o advogado Paulo Santana Lopes - irmão do actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes - e uma advogada foram detidos no âmbito da operação da PJ denominada «Rota do Atlântico». A operação decorreu em simultâneo em Lisboa, Porto e Fátima, tendo sido realizadas 35 buscas.
José Veiga
Transferência recorde Jackson Martínez no futebol chinês
O
Guangzhou Evergrande, actual campeão da China de futebol, oficializou ontem a contratação de Jackson Martinez, ex-jogador do FC Porto, ao Atlético de Madrid, por 42 milhões de euros, a transferência mais cara de sempre no futebol chinês. A imprensa espanhola já havia anunciado ontem a transferência do avançado colombiano para o Guangzhou Evergrande, citando fontes ligadas à negociação. Na terça-feira, Jackson já não treinou com os companheiros do Atletico de Madrid. Sem se conseguir afirmar no Atlético, que há seis meses adquiriu o jogador ao FC Porto a troco de 35 milhões de euros, o ponta de lança sul-americano, de 29 anos, terá pedido para sair vai prosseguir a carreira no clube penta-campeão chinês, cuja equipa é treinada pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, ex-seleccionador de Portugal. Jackson disputou 22 jogos oficiais pelo Atlético de Madrid, dos quais 13 como titular, e marcou apenas três golos, o último dos quais a 25 de Outubro, levando já 10 encontros sem anotar qualquer tento. Nas duas últimas partidas, frente ao Celta, para a Taça
do Rei, e com o Barcelona, para o campeonato espanhol, o técnico Diego Simeone nem o utilizou. Formado no Independente de Medellin, onde iniciou carreira, Jackson passou pelo Jaguares, do México, antes de ingressar em 2012 no FC Porto, ao serviço do qual teve as suas épocas mais produtivas, sagrando-se por três vezes melhor marcador da I Liga, com 26 golos em 2012/13, 20 em 2013/14 e 21 em 2014/15.
NA DESPEDIDA
Na hora de dizer adeus ao clube onde passou cerca de seis meses depois de sair do FC Porto o avançado colombiano deixou uma mensagem de agradecimento. «Foi uma honra fazer parte deste clube, mas julgo que chegou o momento de iniciar outra etapa na minha carreira. Conversámos muito nos últimos dias e concordámos que é o melhor para todos», explicou o internacional colombiano, de 29 anos. «Quero agradecer aos meus companheiros, equipa técnica e a todas as pessoas que trabalham no clube pela confiança que tiveram em mim e o esforço que fizeram para que viesse», realçou.
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Local de recolha de lixo de grandes dimensões antes do Ano Novo Chinês 【25/01/2016 - 07/02/2016, 20H00 - 23H00】 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39.
Depósito de lixo em frente da Rua do Canal das Hortas n°47 (ao lado do Edf. KIAN FU SAN CHUEN) Depósito de lixo na Rua Norte do Canal das Hortas Depósito de lixo na Alameda da Tranquilidade Contentor de compressão de lixo na Rua Seis do Bairro Iao Hon nº 18 Depósito de lixo na Av. de Artur Tamagnini Barbosa (atrás da Sociedade Kong Seng) Contentor de compressão de lixo na Rua Seis do Bairro Iao Hon (ao lado das zonas de vendilhões) Depósito de lixo no Mercado do Tamagnini Barbosa Depósito de lixo na Rua Quatro do Bairro Iao Hon Depósito de lixo na Rua Nova T’oi Sán Ao lado do Depósito de lixo no cruzamento entre a Estrada Marginal do Hipódromo e a Rua Sete do Bairro da Areia Preta Depósito de lixo na Travessa Norte do Patane Depósito de lixo na Estrada Marginal da Ilha Verde (no exterior do Matadouro) Depósito de lixo na Rua da Ilha Verde Depósito de lixo à frente da Rua do General Castelo Branco n° 67 Depósito de lixo na Rua do Templo Lin-Fong (ao lado da escola) Depósito de lixo na Rua do Marechal Gomes da Costa Depósito de lixo na Rua Sul do Patane Depósito de lixo na zona de lazer da Rua dos Estaleiros Contentor de compressão de lixo na Avenida de Horta e Costa (perto do Banco HSBC) Depósito de lixo na Rua de Kun Iam Tong n° 87 Depósito de lixo no Beco do Pagode do Patane Contentor de compressão de lixo na Rua de Francisco Xavier Pereira nº 131 Depósito de lixo na Rua do Coronel Mesquita Depósito de lixo na Rua de Entre-Campos Depósito de lixo no cruzamento entre a Rua de Silva Mendes e a Rua António Basto Depósito de lixo na Rua de Tomás Vieira Depósito de lixo na Travessa do Pau Depósito de lixo no Beco dos Faitiões Depósito de lixo na Rua da Esperança (Estrada do Cemitério) Depósito de lixo na Calçada de S. Francisco Xavier Depósito de lixo na Travessa do Armazém Velho n°1 Depósito de lixo do Templo do Bazar Depósito de Lixo na Av. do Coronel Mesquita (ao lado do Canal Municipal de Macau) Depósito de lixo na Rua de Luís João Baptista Depósito de lixo na Rua de Henrique de Macedo n° 2 Depósito de lixo na Rua do Pato Depósito de lixo no Pátio de S. Domingos Depósito de lixo no Pátio de Hó Chin Sin Tong Contentor de compressão de lixo na Rua do Almirante Sérgio
40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77.
Depósito de lixo no Largo do Aquino Contentor de compressão de lixo na Rua Nova à Guia n° 276 Contentor de compressão de lixo na Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques nº 49 Depósito de lixo na Avenida da República (Meia-Laranja) Contentor de compressão de lixo, em frente da Rua das Alabardas nº 10 D Depósito de lixo no cruzamento entre a Avenida da Praia Grande e a Calçada de Santo Agostinho Depósito de lixo na Praceta de 1 de Outubro Depósito de lixo, por baixo da passagem superior para peões da Rua do Almirante Sérgio Depósito de lixo na Calçada da Paz Depósito de lixo em frente da Travessa do Bom Jesus n°16 Depósito de lixo na Travessa da Prosperidade Depósito de lixo na Av. da República Depósito de lixo na Rua de S. Tiago da Barra Depósito de lixo do Jardim Comendador Ho Yin Contentor de compressão de lixo no Mercado Provisório do Patane Depósito de lixo na Rua Seis do Bairro da Areia Preta Contentor de compressão de lixo na Rua de Francisco Xavier Pereira nº 61 Contentor de compressão de lixo na Rua de Francisco Xavier Pereira nº 149 Contentor de compressão de lixo na Estrada de Coelho do Amaral (ao lado do Templo Chok Lam) Saída do Auto-Silo de Automóveis Pesados da Avenida 1º de Maio Contentor de compressão de lixo na Estrada Marginal da Areia Preta (perto do Edf. Kin Wa) Depósito de lixo na Rua Cidade de Braga Alameda Dr. Carlos d’Assumpção (ao lado do ponto de recolha de roupas usadas, junto do Centro Unesco de Macau) Depósito de lixo na Travessa de S. Domingos Contentor de compressão de lixo na Rua das Estalagens nº 110 A Depósito de lixo no cruzamento entre a Estrada do Canal dos Patos e a Avenida do Comendador Ho Yin Contentor de compressão de lixo na Estrada de Adolfo Loureiro nº 12 J Contentor de compressão de lixo na Rua de Martinho Montenegro nº 13 Depósito de lixo na Rua da Harmonia n° 129 Depósito de lixo na Rua do Matapau Depósito de lixo na Rua das Lorchas Depósito de lixo na Travessa das Hortas Contentor de compressão de lixo entre a Avenida do Ouvidor Arriaga e a Rua de Silva Mendes Contentor de compressão de lixo no cruzamento entre a Avenida do Ouvidor Arriaga e a Rua do Almirante Costa Cabral Contentor de compressão de lixo no cruzamento entre a Avenida do Ouvidor Arriaga e a Rua da Madre Terezina Contentor de compressão de lixo no Largo dos Bombeiros, Taipa Ao lado do Depósito de lixo do Jardim da Cidade das Flores, Taipa Contentor de compressão de lixo na Avenida de Kwong Tung, Taipa
78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118.
Depósito de lixo na Rua de Lagos Depósito de lixo na Avenida dos Jardins do Oceano, Taipa Depósito de lixo na Rua de Tai Pou, Taipa Depósito de lixo na Travessa da Rebeca, Taipa Depósito de lixo na Av. do Estádio, Taipa (perto da Rotunda do Estádio) Depósito de lixo no Caminho das Hortas, Taipa Depósito de lixo na Estrada de Sete Tanques, Taipa (perto do Templo Pou Tai Un) Depósito de lixo na Rua dos Navegantes, Coloane Depósito de lixo no Largo da Cordoaria, Coloane Depósito de lixo na Avenida da República, Coloane Depósito de lixo na Estrada do Campo, Coloane Depósito de lixo na Estrada de Hác Sá, Coloane (perto do Auditório dos Moradores de Hác Sá Chun) Depósito de lixo na entrada do Caminho da Povoação de Ká Hó, Coloane Contentor de compressão de lixo na Avenida da Longevidade nº 49 Contentor de compressão de lixo na Rua Nova à Guia nº 119 Contentor de compressão de lixo em frente da Rua de Francisco Xavier Pereira nº 19 C Contentor de compressão de lixo em frente da Rua da Madre Terezina, em frente nº 4 A Depósito de lixo na Rua do Lu Cao Contentor de compressão de lixo na Rua do Bispo Medeiros nº 24 Contentor de compressão de lixo na Estrada Marginal da Ilha Verde nº 1162 Depósito de lixo na Praça de Luís de Camões Depósito de lixo na Rua de Luís Gonzaga Gomes (Jardim da Rua de Malaca) Contentor de compressão de lixo na Avenida do Almirante Lacerda nº 72 Cruzamento entre a Rua Central da Areia Preta e a Rua da Pérola Oriental Cruzamento entre a Rua Central da Areia Preta e a Rua 1º de Maio Contentor de compressão de lixo na Rua do Padre João Clímaco nº 23 Contentor de compressão de lixo em frente da Estrada da Vitória nº 18 Contentor de compressão de lixo na Rua de Pequim, Taipa (à frente do Edf. do Lago, bloco IV) Contentor de compressão de lixo na Alameda da Harmonia (Edf. Heng Ip, bloco IX) Contentor de compressão de lixo na Alameda da Harmonia (Edf. Lok Kuan, bloco III) Contentor de compressão de lixo na Avenida da Harmonia (Edf. Koi Nga, entre os blocos III e V) Contentor de compressão de lixo em frente da Rua de S. Lourenço nº 8 Contentor de compressão de lixo na Rua do Almirante Sérgio nº 165 Contentor de compressão de lixo na Travessa dos Bombeiros nº 3A Contentor de compressão de lixo na Rua da Ribeira do Patane nº 159 Contentor de compressão de lixo em frente da Rua do Infante nº 11 Contentor de compressão de lixo na Rua de Coelho do Amaral nº 3 Contentor de compressão de lixo na Rua de Tomás Vieira nº 68B Contentor de compressão de lixo na Rua de João de Araújo nº 68 (Travessa dos Cules) Em frente da Avenida do Nordeste nº 244 (Edf. TONG WA SAN CHUN, bloco X) Em frente da Rua Nova da Areia Preta nº 213 (Edf. U WA, bloco II)