Hoje Macau 4 JUN 2015 #3344

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Director carlos morais josé

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Ter para ler

Eleições CCP Coutinho e Rita Santos não deverão ter concorrentes

Só nós dois é que sabemos Nenhuma associação de matriz portuguesa tenciona candidatar-se ao Conselho das Comunidades. O prazo de inscrição terminará em Julho e ninguém se perfila para competir contra Coutinho e Rita Santos. Por quê? Porque não vale a pena: a eleição já foi “roubada”. grande plano página 3 e editorial

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notários

guiné-bissau

Cursos Ministro Poema da podem assina acordos alma russa reabrir em Macau Gogol

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página 6

pornografia O lugar do tabu política página

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diário de bordo

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hoje macau quinta-feira 4.6.2015

por carlos morais josé

ontem macau

“O perfil que pretendemos, antes de encaixar na pessoa da Rita Santos, encaixa no meu, porque o exemplo tem que vir de cima” Pereira Coutinho • Deputado e presidente da ATFPM, sobre o perfil dos candidatos às eleições do CCP

A eleição “roubada” Como se pode verificar através da reportagem que hoje publicamos na página 3, a comunidade portuguesa de Macau simplesmente desistiu de ter uma postura cívica por ocasião das eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas. Facto estranho este, numa comunidade cuja escolaridade é elevada, de não existir interesse pela coisa pública e pelo exercício da cidadania. Contudo, compreende-se: é que esta eleição em Macau já foi, em certo sentido, roubada. Exactamente: roubada. E nem sequer há meios para pôr trancas na porta. Graças à generosidade do Estado português, cerca de 150 mil pessoas chinesas e de cultura chinesa tiveram acesso à nacionalidade portuguesa, um gesto bonito do nosso

édito país, que assim dotou milhares de chineses de uma nacionalidade que lhes permite viajar sem limitações por todo o mundo, para além de lhes garantir uma protecção que só um estado democrático de direito pode proporcionar. No entanto, Pereira Coutinho e Rita Santos olharam para este manancial de gente, sossegada na sua vida, e resolveram aproveitar o facto da maior parte da comunidade portuguesa local não falar o cantonense e da esmagadora maioria destes nacionais portugueses não saber falar a língua de Camões, para agir junto deles e convencê-los de que devem votar neles. Para isso, não hesitaram em 2003, como não hesitaram agora, em inventar mentiras do género “eu é que luto pela vossa nacionalidade”,

“se não votarem em nós correm o risco de perder o passaporte” e outras diatribes do género. Claro que a boa gente, na sua ignorância, tem medo. E acredita nestas balelas. Em 2003, foi lamentável o espectáculo: Coutinho à porta do consulado a entregar papelinhos com a letra da sua lista a pessoas descarregadas de autocarros, que não sabiam sequer o que ali estavam a fazer nem o que aquelas eleições representavam. Foi uma banhada das antigas. E a comunidade percebeu que Coutinho tinha as eleições nas mãos, através destas fileiras de gente enganadas por meia dúzia de truques velhos como a ignomínia da humanidade. É por isto que ninguém entende ser possível participar nestas eleições. A luta é desleal e inútil. Contra os méto-

A Interpol emitiu um alerta vermelho a pedido das autoridades norte-americanas. Visa seis pessoas envolvidas no escândalo de corrupção da FIFA: dois antigos dirigentes e quatro executivos.

dos de Coutinho e de Rita Santos, não há saída possível. No good deed will go unpunished, dizem os anglo-saxónicos: de facto, Portugal ao dotar de nacionalidade tanta gente culturalmente distante dos seus valores nunca imaginaria que essa mesma gente seria utilizada em prejuízo da comunidade portuguesa que vive em Macau. Pereira Coutinho e Rita Santos até podem ganhar e serem conselheiros mas, como aconteceu a Joseph Blatter na FIFA, nunca terão o reconhecimento da comunidade que dizem representar. É triste para eles mas, na realidade, creio nem sequer percebem essa tristeza, não interiorizam o feio lugar que estão a cavar para si mesmos na História, deslumbrados que estão com os cargos e as alcavalas adjacentes. É pena mas é verdade.

horah

“Portugal e Macau mostraram-se disponíveis para assinar um memorando que negoceie um acordo que facilite [esse] reconhecimento” • Fonte ligada ao processo do acordo de reconhecimento académico entre a RAEM e Portugal

“Deve-se, em conjunto, preservar o património e desenvolver a economia. Contudo, acredito que o ponto fundamental é prestar atenção à salvaguarda. Proteger mais o património é um princípio fundamental para o desenvolvimento sustentável de Macau” Hao Yufan • Director da Faculdade de Ciências Sociais da UM, sobre a protecção e promoção do património de Macau

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“Em Macau estão a fazer-se muitas obras, a nível de pontes e edifícios de grande porte. Os nossos engenheiros podem vir a aprender com as novas tecnologias que estão a ser discutidas” José António da Cruz Almeida, Ministro das Obras Públicas, Construção e Urbanismo da Guiné-Bissau, sobre os acordos de cooperação com a RAEM | P. 6

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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grande plano

hoje macau quinta-feira 4.6.2015

A maioria das associações de matriz portuguesa não vai apresentar candidatos ao Conselho das Comunidades Portuguesas e afirma que o debate que ocorreu em 2003 com o “Grupo dos Nove”, para a escolha de um candidato comum, é impossível acontecer de novo

CCP Eleições não atraem outras associações de matriz portuguesa

Grupo dos Nove não volta

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osé Pereira Coutinho, Rita Santos e Armando de Jesus deverão ser os nomes apresentados hoje na lista candidata às eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Este será, para já, o único projecto eleitoral na corrida, uma vez que a maioria das associações de matriz portuguesa do território, e que nas eleições de 2003 constituíram o “Grupo dos Nove”, não estão dispostas a participar, segundo contactos feitos pelo HM. “A Casa de Portugal em Macau (CPM) é uma associação abrangente da comunidade e não toma posições que possam ir no sentido de um sector. Os seus associados podem estar em qualquer candidatura”, disse ao HM Amélia António, presidente da CPM e, à data, porta-voz do “Grupo dos Nove”. Também a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) se demarca do acto eleitoral. “Da parte da APOMAC nem sequer nos passou pela cabeça concorrer a essas eleições, mas qualquer posição tem de ser tomada através da reunião de direcção. Mas não pensamos nisso”, disse Francisco Manhão, presidente. José Manuel Rodrigues, presidente da Associação Promotora de Instrução dos Macaenses (APIM), garantiu, numa resposta furtiva,

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que não haverá lugar a qualquer participação ou debate. “A associação está vocacionada mais para questões culturais e sociais e não está vocacionada para a política”, disse o também advogado ao HM. Todos estes representantes foram questionados sobre um eventual apoio à lista de Coutinho - Rita Santos - Armando de Jesus, mas poucos responderam. Miguel Bailote, líder do PSD-Macau, diz que, “pessoalmente, apoia”, incentivando o voto da comunidade. E analisa a fraca adesão às eleições do CCP.

“A comunidade em si não está muito informada sobre as funções desse órgão e, tendo surgido uma lista que tem um peso político grande em Macau, parece-me que os outros grupos acabaram por achar que não valeria a pena participar. Mas acho que a participação deve acontecer e haver uma pluralidade de listas. Mas não estou a ver que surja algum movimento.”

Debate não vai acontecer

O ano de 2003 foi um ano intenso em termos de participação política

para eleger os conselheiros, com três listas e um prévio debate no seio da comunidade portuguesa, em que nove associações formaram o chamado “Grupo dos Nove” por forma a chegar a um candidato comum, sem sucesso. Amélia António garante que esse debate não vai acontecer este ano. “As coisas evoluíram, há posições muito demarcadas. Há candidatos pré-identificados, ou pré-candidatos, e isso mostra que não há lugar para esse tipo de situações. E a experiência de

2003 demonstrou que esse tipo de iniciativas vai-se gastando. Foi uma tentativa e as pessoas aprenderam.” Também Francisco Manhão, que esteve no “Grupo dos Nove”, revela ter ficado “desiludido”. “Neste momento é quase impossível [de acontecer]. Na altura as pessoas expressaram-se quase à última da hora. A APOMAC era representada por mim e acabei por ficar desiludido. Cada qual apresenta a sua lista, não tem nada a ver connosco e a APOMAC não vai pronunciar-se sobre isto”, referiu. Miguel Bailote também acredita que as eleições para o CCP caminham em torno de uma única lista. “Se as pessoas se quiserem associar, tudo é possível. Mas desde as últimas eleições tem havido uma lista única e não estou a ver que surja um novo movimento para além daquele que já está assumido como candidatura.” À data, também a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM) esteve envolvida nas discussões. O actual presidente, Fernando Silva, promete analisar a possibilidade de debate na próxima assembleia-geral, a decorrer amanhã. “Não vejo qualquer objecção [a um novo Grupo dos Nove], mas terei de reunir com o meu pessoal”, diz, acrescentando: “Os nomes indicados são conhecidos na praça, não vejo inconveniente que eles possam concorrer. Mas que apareçam mais nomes. Seria interessante haver mais candidaturas”, afirmou. O HM tentou chegar à fala com outras associações que, em 2003, estiveram no “Grupo dos Nove”, como a Santa Casa da Misericórdia, Associação de Pais do Jardim de Infância Dom José da Costa Nunes, Associação dos Macaenses, Clube de Macau e Macau Sempre, liderado por Leonel Alves. Os seus representantes estiveram incontactáveis até ao fecho da edição, assim como Tiago Pereira do PS Macau. Andreia Sofia Silva

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“Da parte da APOMAC nem sequer nos passou pela cabeça concorrer a essas eleições, mas qualquer posição tem de ser tomada através da reunião de direcção. Mas não pensamos nisso”

“A comunidade em si não está muito informada sobre as funções desse órgão e, tendo surgido uma lista que tem um peso político grande em Macau, pareceme que os outros grupos acabaram por achar que não valeria a pena participar”

“Os nomes indicados são conhecidos na praça, não vejo inconveniente que eles possam concorrer. Mas que apareçam mais nomes. Seria interessante haver mais candidaturas”

Francisco Manhão Presidente

Miguel Bailote Líder do PSD-Macau

Fernando Silva Presidente da Associação de Pais da EPM


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política

Fonte ligada ao processo de revisão da Lei da Venda, Exposição e Exibição Públicas de Material Pornográfico e Obsceno assegura que esta está concluída há mais de dez anos, mas que devido aos tabus sociais ainda não saiu da gaveta. Uma consulta pública sobre esta revisão – que iria incluir outros dois regimes – deveria ter começado em Julho do ano passado, mas – tal como a discussão no Conselho Executivo – não chegou a acontecer “Talvez agora com o novo Governo eles decidam avançar com esta revisão à lei, que está pronta. Está pronta” Jurista ligado ao processo

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Pornografia Revisão da lei atrasada “devido a decisão política”

Deixada a um canto A revisão da Lei da Venda, Exposição e Exibição Públicas de Material Pornográfico e Obsceno é, há 13 anos, uma pedra no sapato da Administração. E isso acontece devido ao facto do tema da pornografia não ser algo bem aceite pela sociedade de Macau. “O Governo nunca teve interesse em avançar com [a revisão] porque é um tema tabu”, explicou ao HM uma fonte directamente ligada ao processo de revisão. Foi em Novembro de 2002, que o Governo liderado por Edmund Ho decidiu avançar com a revisão à única lei vigente sobre a pornografia. De acordo com informações a que o HM teve acesso, esta revisão chegou a ser discutida pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) e iria dividir-se em duas propostas: o Regime Jurídico da Pornografia e o Regulamento do Condicionamento da Pornografia, além da mudança do nome, que iria passar a ser Regime Jurídico do Condicionamento do Material de Conteúdo Pornográfico. Dois anos depois, o Gabinete do Conselho Executivo recebeu, segundo documentos internos analisados pelo HM, o relatório e parecer do Gabinete da Secretária para a Administração e Justiça (GSAJ), que incluía a versão portuguesa, que até sofreu uma actualização no ano seguinte, em 2005. Depois de constantes alterações e actualizações, nos anos de 2007 e 2009, só no ano passado esta revisão voltaria a estar em cima da mesa. “Enviámos ao GSAJ a informação (...) sobre o pedido de

isenção da elaboração do relatório relativo aos trabalhos preparativos da consulta e da isenção da necessidade do cumprimento do prazo de comunicação (...)”, escreve a DSAJ nos relatórios analisados pelo HM. Em Agosto de 2014, a DSAJ - unida à opinião da Secretária Florinda Chan - emitiu um relatório ao Conselho Executivo aconselhando a realização de uma consulta que permitisse ouvir a opinião da sociedade, “devido ao conteúdo envolver políticas relativas à vida da população”. Num último ponto do relatório, a DSAJ indicava que estava a aguardar uma reunião do Conselho Executivo sobre o assunto. Algo que nunca aconteceu.

“O Governo não quis mexer nesta lei por não querer discutir uma matéria que na sociedade não é pacífica, começando pelos juízes, ou seja, é um assunto tabu. Há muito assuntos tabu em Macau e este é um deles” Jurista ligado ao processo

Opção política

“Este é um problema extraordinariamente complexo, basta ver a guerra que há com os folhetos de publicidade que muitas vezes são distribuídos e que nem sequer os juízes se entendem”, explica um jurista com intervenção directa no processo, ao HM. Nos tribunais, há juízes que consideram a distribuição dos folhetos com publicidade a massagens e casas de sauna como algo obsceno e pornográfico, condenando quem os distribuiu. Contudo, não há consenso sobre

isso, havendo outros juízes que decidem pela absolvição dos réus. O desajuste com as regras internacionais da lei é inegável, mas isto

só acontece porque o “Governo quer”. “A lei está desajustada à realidade internacional, mas posso dizer-lhe que o não mexer na lei foi uma opção política”, garante. A garantia é clara: “a lei estava preparada, todas as actualizações foram feitas e enquadradas. Há muito tempo que esta revisão está pronta”. A questão “directamente política” foi o que fez com que este diploma não saísse da gaveta. “O Governo não quis mexer nesta lei por não querer discutir uma matéria que na sociedade não é pacífica, começando pelos juízes, ou seja, é um assunto tabu. Há muito assuntos tabu em Macau e este é um deles. O Governo não quis assumir a necessidade que havia e continua a existir em rever esta lei”, argumentou o especialista, que preferiu manter-se no anonimato.

Novo Governo, novo método

Segundo o jurista, o novo Governo poderá ser o empurrão e a mudança de atitude “necessárias” para a revisão da lei, pedida, aliás, por muitos deputados. “Talvez agora com o novo Governo eles decidam avançar com esta revisão à lei, que está pronta. Está pronta”, remata. Já em 2012, a imprensa local dava conta que a lei estaria praticamente concluída e que iria ser colocada em consulta pública. Recorde-se que, actualmente, o Governo rege-se por uma lei aprovada em 1978, que, por exemplo, condena quem distribui os panfletos de teor pornográfico, “mas não vai atrás dos verdadeiros culpados, que estão a cometer lenocínio”, como defende a fonte contactada pelo HM. “Não é fácil determinar o que é obsceno, pornográfico. Esta é uma matéria que depende muito das sensibilidades e quando se mistura a moral com a lei a questão torna-se complicada”, defende. A não actualização desta lei faz com que “se esteja a considerar pornografia coisas que não o são”. “É preciso clarificar estes assuntos, é preciso que não sejam tabu”, remata. André Cheong, ex-director da DSAJ, confirmou, em Maio de 2014 que no espaço de um ou dois meses iria ser feita uma consulta pública sobre a revisão da Lei da Venda, Exposição e Exibição Públicas de Material Pornográfico e Obsceno. Seis meses depois, a deputada Wong Kit Cheng insistiu com o Governo, numa interpelação, a existência de uma calendarização do trabalho. Em resposta, a Administração apenas revelou que os trabalhos seriam “publicados oportunamente”, sem adiantar qualquer informação extra. Um dos pontos da revisão prometidos é a clarificação do que é pornografia. Filipa Araújo

Filipa.araujo@hojemacau.com.mo


política 5

hoje macau quinta-feira 4.6.2015

São suficientes os notários actualmente existentes, diz a DSAJ, mas por uma questão de justiça o organismo pondera reabrir cursos que há mais de dez anos que não existem

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Direcção dos Serviços para Assuntos de Justiça (DSAJ) diz que o actual número de notários públicos e privados é suficiente para preencher as necessidades dos serviços, mas admite a necessidade de reabrir cursos de formação destes profissionais devido a uma questão de “justiça” entre os advogados. Os cursos já não abrem há 13 anos. De acordo com o Estatuto dos Notários Privados, os jovens que já estão registados como advogados só podem ser nomeados notários privados através de cursos de formação e exames abertos pela DSAJ. Numa interpelação escrita, a deputada Song Pek Kei quis saber porque é que a formação foi suspensa,

Notários Número é suficiente, mas DSAJ admite reabrir cursos

O que é feito deles? tal como aconteceu com a abertura do concurso para notários do Governo, que não acontece desde 2002. A deputada refere que o sector está preocupado com a falta de funcionários desta classe nas novas gerações da advocacia.

Privados em maioria

Na resposta, o director da DSAJ, Liu Dexue, referiu que existem actualmente três cartórios notariais

públicos e 56 notários privados no território e que os privados assumem 80% do número total de escrituras públicas, aumentando a eficiência dos serviços notariais. Liu acrescentou que nos últimos três anos, o número de escrituras nos cartórios notariais públicos não aumentou muito, referindo mesmo que o dos notários privados diminuiu. O director acredita que o actual nú-

mero de notários é suficiente para enfrentar a necessidade dos serviços. Confrontado com a questão de não abrir formação para quem quiser tornar-se notário privado,

Liu explicou que a decisão foi tomada depois de uma avaliação ter revelado que existem divergências entre o número de escrituras públicas de cada notário

“Existem dez notários privados cujo número anual médio de escrituras já ocupa 80% do número total de outros notários privados”

privado. “Existem dez notários privados cujo número anual médio de escrituras já ocupa 80% do número total de outros notários privados”, explicou. Apesar disso, o director concorda, com base na “justiça do exercício de advocacia”, com a necessidade de reabrir a formação, afirmando que já auscultou as opiniões da Associação de Advogados de Macau (AAM). Assim, disse que a DSAJ está a fazer a revisão dos regulamentos sobre a fiscalização e medidas disciplinares, preparando-se para abrir os respectivos cursos. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Liu Dexue Director da DSAJ

Melinda Chan analisa creches em reunião com IAS

Património Lista de classificação com ligeiro atraso

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deputada Melinda Chan teve ontem uma reunião interna com o Instituto de Acção Social (IAS) onde foram discutidas medidas para melhorar as creches de Macau. Ao HM, a deputada da Assembleia Legislativa (AL)

disse não poder revelar o conteúdo da reunião, mas considera que o Governo deve esclarecer a função das creches, se apenas funcionam para cuidar das crianças ou ensiná-las. “Actualmente há muitos pais que esperam que as creches tenham elementos de ensino para crianças com mais de dois anos, como a aprendizagem através do convívio, para que depois consigam uma inscrição num jardim de infância. No entanto, segundo os regulamentos, os professores das creches só podem ter a formação do ensino secundário ou um curso complementar, mas não podem ter licenciatura. Caso as creches tenham o ensino como objectivo, o Governo deve promover o aumento das qualificações dos professores, para que tenham licenciatura”, disse a deputada ao HM. Melinda Chan explicou ainda que as creches apenas disponibilizam serviços para crianças da parte da manhã ou da tarde, e essas formas já não são focadas para o simples cuidado das crianças, mas sim para o ensino, pelo que defende um maior esclarecimento das funções das creches. F.F.

Instituto Cultural (IC) promete iniciar os trabalhos de elaboração da nova lista de classificação dos edifícios com valor cultural em meados deste ano, depois de auscultar as opiniões do público e do Conselho do Património Cultural.

A data que agora é apontada pelo Governo está um pouco atrasada face ao que o IC já tinha garantido ao HM: que o processo seria iniciado em Maio. A garantia foi dada pelo presidente do IC, Ung Vai Meng, em resposta à deputada Kwan

Tsui Hang, que tinha interpelado o Governo sobre o assunto em Abril, questionando o calendário para a nova lista. Ung Vai Meng referiu que, de entre os cem imóveis com valor cultural alvo de levantamento preliminar feito em Maio do ano passado, 70 já foram concluídos, sendo que o IC ainda está a fazer mais análises. Informações também avançadas pelo HM. O presidente do IC explicou que para os imóveis com “informações completas, provas suficientes, condições amadurecidas e em que há tempo oportuno para a sua protecção, os procedimentos de classificação poderão ser feitos já em meados deste ano”.


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sociedade

José António da Cruz Almeida, Ministro das Obras Públicas, Construção e Urbanismo da GuinéBissau, está em Macau para participar num fórum do sector. Serão assinados dois protocolos com o Laboratório de Engenharia Civil de Macau e o Instituto de Desenvolvimento e Qualidade. Cruz Almeida deverá reunir hoje com Raimundo do Rosário

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Guiné-Bissau está a renascer das cinzas e precisa de investimento externo para que o país possa avançar. É com essa ideia em mente que o Ministro das Obras Públicas, Construção e Urbanismo do país, José António da Cruz Almeida, está em Macau para participar no Encontro Ministerial sobre Infra-estruturas entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Mas não só: na calha estão dois protocolos com entidades locais e um encontro com o Secretário das Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, que deverá acontecer hoje de manhã. “Vamos assinar dois protocolos, um com o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade e outro

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INTERPOL emitiu um novo mandado de captura internacional contra Pedro Chiang, cinco anos depois de ter sido obrigada a levantar o “alerta vermelho”, avançou ontem o jornal Ponto Final. O empresário, envolvido no escândalo de corrupção de Ao Man Long, foi condenado a três anos e três meses de cadeia por corrupção passiva, em Março do ano passado, condenação que se junta a uma outra, de seis anos e dez meses. Segundo o mesmo jornal, o regresso de Chaing à lista da Interpol apanhou o advogado do empresário, João Miguel Barros, desprevenido: “É uma enorme surpresa. Não sei o que aconteceu. Tenho mui-

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Engenharia Guiné-Bissau assina protocolos com Macau

Repto ao investimento

com o Laboratório de Engenharia Civil (LECM). Serão protocolos técnicos, ao nível da troca de experiências. Em Macau estão a fazer-se muitas obras, a nível de pontes e edifícios de grande porte. Os nossos engenheiros podem vir a

aprender com as novas tecnologias que estão a ser discutidas. É este o objectivo fundamental”, disse ontem José António da Cruz Almeida, num encontro com a imprensa. O ministro guineense pede que mais empresas locais possam in-

“Está lançado o desafio para que empresas de Macau e da China invistam na Guiné-Bissau porque os diferentes sectores têm potencialidade”

vestir no país, que até 2025 pretende ter uma economia diversificada e mais estabilidade política. “Está lançado o desafio para que empresas de Macau e da China invistam na Guiné-Bissau porque os diferentes sectores têm potencialidade”, disse.

Apoios para as PPP

A Guiné-Bissau tem vindo a receber apoios financeiros da China para projectos públicos, mas agora deseja obter mais ajudas para projectos que nascerão de parcerias

Pedro Chiang volta a ser procurado pela Interpol tas perguntas sem resposta”. Chiang, com nacionalidade portuguesa e cambojana, saiu de Macau em 2007, an-

tes de ser chamado a prestar declarações durante a fase de investigação. Em 2009, mudou-se para Portugal por

temer uma extradição para a China, conforme contou numa entrevista ao semanário português Expresso.

público-privadas. O ministro José António da Cruz Almeida estima que estejam envolvidos 1,2 mil milhões de euros. “Queremos que parceiros como a China possam participar nesses projectos susceptíveis [de serem financiados] por PPP. A China já investiu na Guiné-Bissau mas em projectos públicos. Mas há projectos com carácter PPP em que há um investimento avultado que precisa de um grande retorno e, por isso, são necessárias garantias. E são essas garantias que é preciso negociar a nível dos bancos chineses”, explicou Cruz Almeida. As áreas onde a China tem investido relacionam-se sobretudo com as infra-estruturas, como barragens, pontes ou hospitais. Tendo destacado a importância do novo Banco Asiático do Desenvolvimento, o ministro da Guiné-Bissau garantiu que estão a ser pensados acordos fiscais com países da CPLP. O acordo com Portugal já estará a ser “agilizado”. “O país precisa de estabilidade e é isso que estamos a tentar fazer, criando condições para que haja um mercado de investimento atractivo e acordos de dupla tributação, eventualmente com os países da CPLP. Estão a ser estudadas as reformas necessárias de reforma fiscal.” Na mesma entrevista concedida aos média, Cruz Almeida garantiu que a Guiné-Bissau saiu de uma crise institucional após as eleições legislativas e que o Governo tem uma visão e estratégia. “Um dos eixos que decidimos são as infra-estruturas e o desenvolvimento urbano”, frisou. Nesse sentido, o fórum que arranca sexta-feira “vai ser para muito importante” porque há que debater as formas de financiamento e investimento e as oportunidades que a Guiné poderá “ter com a China e com os bancos”.

Foi julgado à revelia nos dois processos e nunca foi notificado das sentenças por não ter morada conhecida em Portugal. Segundo o Ponto Final, João Miguel Barros diz que o empresário ainda está em Lisboa e destaca que a maior surpresa em relação ao novo mandado de detenção é “não haver nenhuma ordem judicial” nesse sentido: “Não se colocam indivíduos na lista da Interpol sem haver uma decisão do juiz. E eu não encontro nenhuma ordem [de detenção internacional] no processo”, indica. O advogado admite, por enquanto, um cenário para o alerta vermelho: “Ilegalidade grosseira”.

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Conselho do Ambiente Lionel Leong de saída. Peter Lam nomeado

Lionel Leong pediu para ser exonerado do cargo de membro do Conselho Consultivo do Ambiente. O anúncio é feito por despacho publicado ontem em Boletim Oficial, sendo que o actual Secretário para a Economia e Finanças foi quem pediu a exoneração das funções. Chui Sai On nomeou, então, Peter Lam para o Conselho, “na qualidade de personalidade social de reconhecido mérito na área da protecção ambiental”. A nomeação está em vigor até 2 de Dezembro.


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hoje macau quinta-feira 4.6.2015

A Associação Poder Fumo Alexis Tam quer revisão até final do ano, diz Pereira Coutinho do Jogo pede a proibição total de fumo nos casinos em Janeiro próximo. [conclusão do processo legislativo] Alexis Tam quer seja uma realidade”, admitiu Pereira Coutinho, em declarações ao HM. ter o processo A conversa teve apenas um pediem cima da mesa: a proibição total legislativo finalizado do de fumo nos casinos. “Entregámos uma carta ao Secretário opinando que ainda este ano gonçalo lobo pinheiro

O irredutível Secretário

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o que depender de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, a revisão da actual lei do fumo deverá estar pronta no final do ano. A informação foi dada a José Pereira Coutinho, numa reunião entre o deputado, o Secretário e sete membros da Associação Poder do Jogo, que teve lugar ontem de manhã. “[Alexis Tam] deixou clara a vontade de que no final do ano a

Aumentam infracções à Lei da Publicidade O número de infracções à Lei da Publicidade do Jogo tem aumentado, mas a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) descarta a possibilidade de tal se dever à quebra das receitas do sector. Ao contrário, justifica que o aumento detectado se deve ao aumento proporcional do volume de operações de fiscalização. De acordo com notícia da Rádio Macau, quase todos os infractores são de fora de Macau. Só nos últimos meses, foram efectuadas 450 inspecções que resultaram em 316 procedimentos. A informação foi avançada pelo subdirector da DSE, Tai Kin Ip, que diz que a maioria dos infractores são de fora. A Rádio Macau avança ainda que dos 183 junkets com autorização para trabalhar em Macau, quase nenhum desrespeita a lei e que muitos dos casos identificados estão relacionados com Jogo e casinos online.

em Janeiro do próximo ano o fumo seja completamente proibido dentro dos casinos”, explicou o deputado.

Aproveitamento concluído

O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) traça um balanço positivo da reunião, que caracteriza de “proveitosa” e com “sintonia” de opiniões. “Sabemos que [o Secretário] está mesmo convicto e vai avançar com uma calendarização mediante apresentação do projecto de alteração da lei de fumo ao Conselho Executivo e à Assembleia Legislativa”, disse Pereira Coutinho. Questionado sobre uma calendarização concreta para a conclusão da proposta de revisão, o deputado confessa que não há ainda data definida, mas a Associação Poder do Jogo pede que Janeiro de 2016 seja o prazo. “O Secretário está neste momento a proceder aos trabalhos de alteração legislativa que serão brevemente apresentados ao Conselho Executivo e a partir daí fica fora do seu alcance”, disse.

Convicto, certamente

Pereira Coutinho acredita que a maioria dos deputados vai aprovar a alteração à lei, “porque dos 33 deputados, 14 são eleitos directamente pela população e estes vão votar a favor porque é a vontade da população”, afirma convictamente o deputado. O deputado não deixa de recordar os primeiros debates sobre o combate ao fumo, altura em que, sublinha, se mostrou contra as salas de fumo por ser uma atitude que “abria precedentes” e nada benéfica. Além disso, o presidente da ATPFM descarta a possibilidade das receitas

Bombeiro é suspeito de exploração ilícita de apostas

Um bombeiro é suspeito de exploração ilícita de jogo, por gerir, na internet, um esquema de apostas em jogos de futebol internacionais. O homem foi detido pela Polícia Judiciária e levou ainda com um processo disciplinar da corporação. Sete estudantes terão perdido 160 mil patacas no âmbito deste esquema que terá durado nove meses. O Corpo de Bombeiros salienta em comunicado “que irá tratar severamente o caso e colaborar na investigação”.

virem a baixar ainda mais devido à proibição total de fumar enquanto se joga. A justificação do deputado assenta no facto de que hoje em dia ainda é permitido fumar e mesmo assim os valores continuam a decrescer. “Mesmo fumando, as receitas também caem”, argumenta.

Quase todos a favor

O convocador da Assembleia-geral de associados da Associação Poder do Jogo, Lao Ka Weng, revelou que 90% dos mil trabalhadores entrevistados para um inquérito concordam

com a proibição total. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, o responsável confirmou a tese de Pereira Coutinho, de que

“[Alexis Tam] deixou clara a vontade de que no final do ano a [conclusão do processo legislativo] seja uma realidade”

Alexis Tam tem uma “posição muito determinada” sobre o assunto, de forma a oferecer um ambiente de trabalho completamente sem fumo. Lao disse ainda considerar que a implementação desta medida pode atrair um diferente tipo de clientes. “O forte acaba por dominar o fraco”, justificou o dirigente. “Se os consumidores de droga pudessem aumentar as receitas, as operadoras ponderariam vendê-la? Claro que não”, disse. Leonor Sá Machado (com Flora Fong) leonor.machado@hojemacau.com.mo

Jogo Cerca de 40% dos jogadores chineses investem mais

Dados de um relatório da Morgan Stanley revelam que 44% dos jogadores da interior da China gastam hoje em dia mais dinheiro para investir no Jogo do que antigamente. O relatório, que foi citado pelo jornal Business Daily e pela Rádio Macau, refere ainda que 57% dos jogadores da China que, nestes últimos 12 meses, vieram ao território foram também a Las Vegas. Finalmente, o mesmo documento aponta que apenas 11% dos inquiridos admitiram ter cortado nas despesas de viagem para jogar. No entanto, cerca de 60% dos apostares do continente investiram entre 3800 e 38 mil patacas na viagem.


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eventos

UM Soromenho Marques e as mudanças climáticas

O professor português Viriato Soromenho Marques, da Universidade de Lisboa, vai conduzir um seminário da série Jean Monnet, intitulado “As duas faces da mudança climática: da ameaça ontológica à oportunidade de paz global”. A iniciativa vai ter lugar na Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), às 18h30 de hoje. Soromenho Marques é professor no Departamento de Filosofia e Estudos Europeus na Universidade de Lisboa. O evento está integrado no mestrado em Programa de Direito em Direito Europeu, Internacional e Comparativo e no Módulo Jean Monnet da UM.

O Broadway Macau está aberto há menos de uma semana, mas já tem uma exposição pronta para os amantes da arte: a convite da empresa, artistas locais juntaram-se para produzir um novo design em oito diferentes garrafas da Coca-Cola em ponto grande. A marca faz cem anos e a festa é no Broadway

hoje macau quint

Broadway Macau Artistas locais reinventam garrafas da Coca-Cola

Um centenário de conte

F Moda Estilistas apresentam “Pop-Up Closet”

O Macau Design Centre dedica este fim-de-semana à moda, com o evento “Pop-Up Closet” a acontecer durante três dias no espaço. De sexta-feira a domingo, o piso térreo do Macau Design Centre recebe alguns dos estilistas mais conhecidos de Macau, que apresentam as suas colecções. Clara Brito e Manuel Correia Silva da Lines Lab, Barbara Diaz da Diazbynature, Carmen Leong da Commom Coma, Barbara Ian da Cocoberryeight, Sony Cheung da Mush.room, San Lee da Zics, Isabella Choi da Nega C, Vibian Kou da Legend de Larm, Alcina Oliveira da Av Atelie e Steffi Chan da Dare to Dream são alguns deles, sendo que os visitantes poderão adquirir peças únicas destas marcas. Na sexta-feira, o evento decorre das 17h30 às 20h00 e sábado e domingo das 14h00 às 20h00. A entrada é livre e, além da moda, haverá ainda Djs, bandas ao vivo e vídeo-mapping com os Neba Studio.

oi em jeito de celebração da abertura do Broadway Macau e dos cem anos de existência da marca de refrigerante Coca-Cola que a empresa do grupo Galaxy desafiou sete artistas locais para pintarem protótipos da emblemática garrafa. A ideia nasceu do facto de nos anos 60 aos 80 a cidade estar “decorada” com garrafas destas um pouco por todo o lado. Era a cidadãos residentes que cabia o trabalho de pintar e decorar as garrafas como nós hoje as conhecemos. Entre eles, estão três de matriz portuguesa: José Dores, Fortes Pakeong Sequeira e João Jorge Magalhães, todos eles actualmente envolvidos no mundo artístico do território. Presente na inauguração da exposição ao ar livre esteve Magalhães, que explicou de onde surgiu a inspiração. O artista decidiu decorar a sua garrafa – que tem o tamanho de uma pessoa – com elementos que atendessem à cultura de Macau, não esquecendo as cores vivas. “Pensei numa coisa que apelasse à cultura chinesa e daí o dragão, que simboliza boa sorte e felicidade, mas também me lembrei que um dos templos [de Macau] tem um painel com desenhos de dragões”, começou o autor por contar. Em todas as garrafas as letras são, como é característico da marca, vermelhas. Questionado sobre a

À venda na Livraria Portuguesa Ansiedade, Como Enfrentar o Mal do Século • Augusto Cury

Este livro fala do mal do século. Muitos pensam que o mal do século é a depressão, mas aqui apresento outro mal, talvez mais grave, mas menos percetível: a ansiedade decorrente da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade.

João Magalhães inspirou-se na cultura de Macau

eventualidade do seu design começar a ser comercializado pela marca, Magalhães mostrou-se receptivo, justificando que “seria engraçado”, até porque, diz, há uma série de trabalhos artísticos feitos para a Coca-Cola. A garrafa foi feita em 22 dias e os principais problemas foram o facto de João Magalhães nunca ter pintado numa superfície que não fosse plana e da tinta não secar rapidamente no material de que é feito o protótipo. Já a garrafa de Fortes Pakeong Sequeira foi fortemente inspirada em obras já conhecidas do artista, em tons de preto, vermelho e branco, entre troncos e figuras abstractas. José Dores recorreu a uma série de materiais de recorte e colagem, principalmente entradas de dicionários a preto e branco sobrepostas ao

A garrafa pintada por Pakeong Sequeira

longo de toda a garrafa. É sobre o amor e explora o facto deste poder ser encontrado “em todo o lado”. Chama-se ‘Talvez’ e o artista caracteriza-se como sendo um “amante da arte com trabalhos abstractos românticos”.

Pela memória de criança

O único artista que tem duas garrafas em exposição é Chan Cheok

Chan Cheok Wan, filho d

Wan. Em entrevista, explicou que a Coca-Cola fez parte da sua infância e juventude, já que o seu pai era uma das pessoas que ganhava dinheiro a pintar garrafas semelhantes nos anos 70. “Antigamente, o meu pai trabalhava com a Macau Coca-Cola Beverage Company Limited em todos os tipos de material publicitário, incluindo papel de parede, posters e as icónicas garrafas de cimento”, explicou. Os anos passaram, mas o interesse e carinho de Chan pela marca não diminuiu. “Estou um bocado enferrujado porque já não pinto há muito tempo, mas depois foi fácil”, acrescentou autor. Os dois trabalhos demoraram cerca de duas semanas a fazer. Um foi inspirado na felicidade que a marca transmite, juntamente com

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

SOS Manipuladores • Margarida Vieitez, Fernando Mesquita

Uma pessoa que no trabalho, numa relação amorosa, familiar ou de amizade não o deixa ser quem é, o subjuga, coloca em causa a sua autoestima e suga a sua energia e prazer de viver é um manipulador. A mediadora familiar Margarida Vieitez e o psicólogo Fernando Mesquita, recorrendo a casos reais e a exercícios práticos, explicam-lhe tudo o que precisa de saber para evitar ou afastar estas pessoas da sua vida: os sinais a que deve estar atento, as estratégias de manipulação geralmente utilizadas e os comportamentos que deve ter para não se deixar «intoxicar».


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ta-feira 4.6.2015

ola em exposição

temporaneidade

“Refugiados de Xangai. Macau (1937-1964)” no Arquivo Histórico

A história de Clementina e de outros como ela I naugura dia 9 de Junho a exposição “Refugiados de Xangai. Macau (1937-1964)”, uma mostra que versa sobre os macaenses de Xangai que tiveram de regressar ao território devido à guerra. Estão ainda marcadas palestras sobre o tema. “Desde meados do século XIX, a comunidade macaense emigrou para diversas regiões do mundo sendo as cidades de Hong Kong e Xangai os dois núcleos de maior fixação dos emigrantes macaenses. Com a invasão japonesa em 1937, a II Guerra Mundial e a guerra civil na China, os macaenses residentes em Xangai foram obrigados a regressar a Macau, tendo alguns fixado residência aqui e outros continuado o movimento migratório para outros países, sobretudo para o continente norte-americano (EUA, Canadá), Brasil, Portugal, Angola e Moçambique”, começa por relembrar a organização. O Arquivo Histórico de Macau conserva milhares de documentos respeitantes a estes movimentos migratórios dos macaenses, sendo que a mostra exibe mais de uma

de trabalhador da Coca-Cola nos anos 70

centena de documentos que ilustram os itinerários dessa diáspora. “A preservação do património identitário dos macaenses em integração na sociedade de Xangai, a recepção e o apoio aos refugiados portugueses por parte do Governo de Macau, bem como documentos reconstituintes da biografia migratória de Clementina Fernandes, refugiada macaense de Xangai no trânsito para outras partes do mundo” são alguns desses documentos que podem ser vistos na exposição.

Em paralelo

A mostra encaixa-se na comemoração do Dia Internacional dos Arquivos, sendo que estará patente de dia 10 de Junho a 6 de Dezembro, das 10h00 às 18h00 no Arquivo Histórico de Macau, na Praça do Tap Seac. A entrada é livre e a inauguração está marcada para dia 9, às 18h30. Além da exposição, estão ainda previstas palestras sobre a temática, sendo que a primeira está marcada para dia 11 de Junho, das 18h30 às 20h00. Esta será proferida por Alfredo Gomes Dias, professor da

Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa. O orador vai analisar as características da migração dos macaenses, bem como o sistema de registo dos refugiados portugueses em Macau, as medidas de apoio, de assistência e integração, etc. A palestra terá lugar na Sala de Conferências do Edifício do Instituto Cultural, na Praça do Tap Seac, e também tem entrada livre. J.F.

José Dores utilizou um dicionário para decorar a sua garrafa

Filmes sobre a raem no Festival Internacional de Taipé

o entretenimento do Broadway e a segunda peça foi pensada para condizer com a típica garrafa original, sendo apenas diferente os reflexos e as bolhas.

Ursos polares e a memória colectiva

Quem por cá anda há menos de 15 anos, desconhece uma facto curioso sobre a cidade. As fotografias de Macau nas décadas de 60, 70 e 80 mostram uma série de ilustrações, painéis pintados e placas publicitárias da Coca-Cola, estivessem elas à entrada de restaurantes, como factores decorativos de prédios e até mesmo no meio da rua, bem visível. Uma das mais emblemática é uma lata que esteve, durante vários anos, por cima do espaço que é hoje a Esprit, ao lado do edifício do Leal Senado.

Parte da exposição encaixa também neste propósito, de recordar tempos idos do território, em que a cidade era calma e a Coca-Cola uma quase imagem de marca. Desta vez, a criatividade concentra-se no Broadway até 31 de Agosto e cada garrafa tem a seus pés o nome de quem as fez e a história que os inspirou. Entre as criações está ainda a de Gigi Lee, que pintou no seu protótipo um urso polar, animal do qual é fã e considera bastante “divertido”. O produto final remonta a uma das antigas publicidades da marca norte-americana, na qual o urso bebia o refrigerante. O trabalho é também, de acordo com a artista, uma chamada de atenção para a poluição no ar da região. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

A

Portugal em destaque O Festival Internacional de Cinema de Taipé, em Taiwan, apresenta nesta edição filmes portugueses e sobre Macau. A decorrer entre 26 de Junho e até 18 de Julho, o Festival vai dar destaque a Portugal, exibindo um vasto programa de curtas-metragens de realizadores consagrados, mas também de cineastas emergentes. Obras de Manoel de Oliveira juntam-se a outras de João Salaviza, Regina Pessoa e Joana Pimenta, António Reis, entre outros. Mas são os cineastas João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, na secção “Filmmakers In Focus”,

té dia 15 de Junho, a Associação de Designers de Macau vai aceitar candidaturas para a 10ª Bienal de Design de Macau, organizada desde 1994. Este ano, o tema principal será o turismo e a transformação do território num centro internacional de lazer, pelo que a organização vai atribuir um prémio de dez mil patacas para os concorrentes que

que apresentam mais películas e, entre estas, algumas sobre Macau. “Arestrospectiva dedicada à dupla de realizadores apresentará a série dos denominados ‘filmes asiáticos’: ‘Iec Long’ (2014); ‘Mahjong’ (2013); ‘A Última Vez que Vi Macau’ (2012); ‘Alvorada Vermelha’(2011) e ‘China, China’ (2007).”

Homenagens de peso

João Pedro Rodrigues e Guerra da Mata serão também homenageados com uma nova retrospectiva em Tóquio a partir do próximo dia 12 de Junho, depois da retrospectiva itinerante que, em 2013, percorreu várias cidades do Japão.

“São da maior importância estas retrospectivas que nos são dedicadas no continente asiático. Se pensarmos que se trata do maior mercado cinematográfico do mundo, a presença recorrente dos nossos filmes, seja em festivais de cinema, retrospectivas, edições DVD ou exibições televisivas, demonstra o crescente interesse pelo cinema feito em Portugal nesta parte do mundo. Esperamos, agora, que os nossos filmes sejam exibidos comercialmente nas salas de cinema”, explica a dupla de realizadores. A ideia do Festival é dar a conhecer ao público de Taiwan a cultura e o cinema portugueses.

Design 10ª Bienal com inscrições abertas apresentarem a melhor imagem no âmbito desta temática. “Vamos atribuir especialmente o Tourism Creative Image Award, de forma a encorajar os designers a focarem-se no desenvolvimento do turismo e a trocar ideias criativas”, explica a

organização em comunicado. O objectivo desta Bienal é impulsionar a indústria criativa e do design e a importância de construir imagens de marca. “Além disso, através da criatividade destes profissionais do design, podemos promover o valor intrínseco da

cultura tradicional e da arte de Macau.” A 10ª Bienal de Design é organizada pelo Instituto Cultural e pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, além da Associação de Design de Macau. O júri deste ano consiste em designers profissionais da Alemanha, Japão, China, Taiwan, Hong Kong e Portugal. Há duas categorias, a aberta e a dedicada a estudantes.


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china

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Naufrágio Cerca de 430 pessoas ainda desaparecidas

Corrida contra tempo

Mobilização geral

As operações de salvamento continuam a decorrer e envolvem cerca de cinco mil pessoas e mais de uma centena de embarcações

C

erca de 430 pessoas que viajavam a bordo do navio naufragado na segunda-feira à noite no rio Yangtze continuavam desaparecidas ontem, mais de 24 horas depois de um dos piores naufrágios registados nas últimas décadas na China. Um balanço difundido de madrugada pela agência noticiosa oficial chinesa Xinhua indicava que havia sete mortos confirmados e que catorze pessoas, entre os quais uma mulher de 65 anos,

tinham sido resgatadas. Mais de 4.600 pessoas, incluindo centenas de mergulhadores, estiveram envolvidas nas operações de busca e salvaguarda, numa corrida contra o tempo e as persistentes más condições atmosféricas verificadas no local. O naufrágio ocorreu na segunda-feira à noite, cerca das 21:30, quando o navio “Dongfangzhixing” (Estrela Oriental) foi atingido por um tornado e se afundou no espaço de “apenas um ou dois minutos”.

Trata-se de um barco de cruzeiros turísticos, com quatro andares e 76 metros de comprimento, e navegava há três dias de Nanjing para Chongqing, com 456 pessoas a bordo: 405 passageiros, a maioria dos quais com mais de 60 anos de idade, 46 tripulantes e cinco guias turísticos. O capitão e o engenheiro-chefe da embarcação, que conseguiram salvar-se, foram entretanto detidos pela polícia. “Foi tão rápido que o capitão nem teve tempo de dar sinal de

Relações com Angola são “um modelo de cooperação”

A

China considerou ontem as suas relações com Angola “um modelo de cooperação”, saudando a anunciada visita do Presidente angolano como uma oportunidade para “injectar novo ímpeto” no relacionamento entre Pequim e Luanda. As “amigáveis relações” sino-angolanas são baseadas na “confiança política recíproca” e “tornaram-se um modelo da cooperação mutuamente vantajosa que a China mantém com os países africanos”, disse a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

A visita que o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, efectuará à China de 8 a 13 de Junho “injectará novo ímpeto nas relações bilaterais” e ficará assinalada pela assinatura de “vários acordos de cooperação”, afirmou a porta-voz. É a primeira viagem de Eduardo dos Santos à China em quase sete anos. Além do homólogo chinês, Xi Jinping, que é também o líder do Partido Comunista Chinês (PCC), o Presidente angolano vai encontrar-se com o primeiro-ministro, Li Keqiang, e com o presidente da Assembleia Nacional

Popular, Zhang Dejiang, indicou a porta-voz. A China é um dos principais parceiros económicos de Angola, absorvendo cerca de metade do petróleo exportado por aquele país africano. Mais de 250.000 de chineses trabalhavam há dois anos em Angola, sobretudo na construção e reparação de infra-estruturas, nomeadamente caminhos-de-ferro, estradas e habitações. A agenda de José Eduardo dos Santos na China inclui ainda uma deslocação a Tianjin, o maior porto do norte do país, a cerca de 150 quilómetros de Pequim.

O naufrágio ocorreu na segunda-feira à noite, cerca das 21:30, quando o navio “Dongfangzhixing” (Estrela Oriental) foi atingido por um tornado e se afundou no espaço de “apenas um ou dois minutos”

alerta”, disse Wang Yangsheng, funcionário superior do Centro de Socorro Marítimo de Yuegang, citado pela agência Xinhua. Mais de uma centena de barcos e quase cinco mil pessoas, entre as quais 1.840 soldados e 1.600 agentes da polícia, foram mobilizados para as operações de busca e salvamento, indicou a imprensa oficial. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, deslocou-se também ao local do naufrágio, uma zona com 15 metros de profundidade, situada em Jianli, na província de Hubei. Com quase 20 anos de serviço e capacidade para transportar 534 pessoas, o “Dongfangzhixing” fazia cruzeiros regulares no Yangtze, um popular percurso turístico na China, que atrai anualmente cerca de um milhão de pessoas.

O Yangtze, ou Chang Jiang (grande rio), como lhe chamam os chineses, é o terceiro maior do mundo, a seguir ao Nilo e ao Amazonas, com 6.300 quilómetros de extensão.

Human Rights pede para não se limitar acção de ONG

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Human Rights Watch (HRW) pediu esta terça-feira ao governo chinês que abandone o projecto de aprovar uma lei de regulação da actividade das organizações não-governamentais estrangeiras que, segundo estas ONG, pode limitar a sua acção. Num comunicado divulgado em Pequim, a HRW considera que a lei, a ser aprovada, “vai restringir de maneira grave e arbitrária a capacidade

das organizações da sociedade civil na China de acederem a recursos”, nomeadamente financiamento estrangeiro, “e de cooperarem com organizações internacionais”. A HRW entregou na Assembleia Nacional Popular um documento em que destaca vários aspectos da lei que considera preocupantes, entre as quais o papel acrescido da política no controlo e aprovação da actividade das organizações e a aplicação de sanções a actividades que não são definidas. “Nos últimos dois anos, as autoridades chinesas mostraram uma hostilidade crescente para com a sociedade civil e este projecto de lei não é mais

do que um outro meio para bloquear a actividade de grupos que não agradam a Pequim”, afirmou Sophie Richardson, directora da HRW na China, citada pela agência EFE. Dirigentes de várias ONG presentes na China consideram necessária uma regulação da sua actividade no país, para que possam por exemplo contratar estrangeiros, mas rejeitam o projecto em causa por poder implicar o fim de muitas delas. Segundo Sze Pang Cheung, da organização ecologista Greenpeace, o projecto tal como está afectaria sobretudo as organização de defesa “de direitos”, muito dependentes de fundos estrangeiros.


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fichas de leitura*

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artes, letras e ideias

hoje macau quinta-feira 4.6.2015

Manuel Afonso Costa

Poema da alma russa Duas considerações históricas: A. Parece ter sido Pushkin que terá sugerido, directa ou indirectamente, tanto importa, a Gogol, o tema desta obra, a partir da leitura de uma nota jornalística. B. O mesmo Pushkin confessou que não se riu durante a leitura do Poema, mas confessa antes ter chorado e exclamado: “Deus, como é triste a nossa Rússia”.

Gógol, Nikolai, Almas Mortas, Estampa, Lisboa,1993 Descritores: Literatura Russa, Romance, Realismo, Sociedade Rural, 288 p.:21 cm, 972-33-0888-6 Cota: C-11-4-173

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U, por mim, confesso que chorei por vezes de tanto rir. É verdade que a crítica que Gogol leva a cabo é muitas vezes impiedosa mas tenho que admitir, certeira e genial. A mordacidade e truculência de Gogol levam por vezes o seu realismo até às margens de um surrealismo absolutamente avant la lettre. Porém pela sua inequívoca universalidade a obra é sempre muito verosímil e sem dúvida que o é por maioria de razão quando aplicada à sociedade russa, semi-feudal, «metade caserna e metade prisão». Quanto maior é a genialidade de uma obra literária, tanto mais difícil é escrever sobre ela de modo sintético, como tem de ser no caso. Assim, devo dizer que hei de voltar um dia destes a este texto para o poder observar em toda a sua dimensão. Por agora limitar-me-ei a algumas considerações gerais, através das quais possa estimular o leitor à leitura da obra de Gogol, quer dizer deste romance mas também de todos os outros, romances, contos ou novelas, em que o virtuosismo narrativo de Gogol se situa sempre num plano altíssimo, assim como o rigor sociológico e histórico das suas personagens. Por vezes muito mais do que através de historiadores ou sociólogos, chegamos à intimidade de uma época e de um povo, da sua mentalidade e da sua cultura, através de obras literárias exemplares. Mas é necessário que essas obras literárias possuam a agudeza e o poder de observação que só um autor de génio lhes pode conferir. É o caso de Gogol. O riso gogoliano prolongou-se na obra de outros grandes autores russos, pois Gogol construiu através da sua obra uma genealogia própria. Ele marca a ouro e fogo a tradição literária russa nesta fase de transição do romantismo para o realismo. Há mesmo quem diga e isso é que é a marca do génio, que Gogol através do Capote, do Na-

riz, do Inspector Geral, da Perspectiva Névski e sobretudo deste Poema, As Almas Mortas, marcou grande parte do Realismo literário europeu e até americano. São por exemplo inequívocas as influências de Gogol em Machado de Assis e em Eça de Queiroz. Já designei por Poema, mais do que uma vez, este romance de Gogol, até para ser fiel ao autor. De facto Gogol pretendeu erguer aqui uma espécie de monumento, à maneira clássica, da alma russa, concebendo-o como poema na linha de uma obra como a Divina Comédia de Dante. Desta gigantesca trilogia, Inferno, Purgatório e Paraíso, ficou-nos apenas a primeira parte, o Inferno e alguns capítulos da segunda parte, pois apesar de se

pensar que essa segunda parte chegou a estar toda escrita, terá sido queimada pelo próprio Gogol numa das suas crises nervosas. Penso que teríamos todos uma enorme curiosidade em ver como se desenrascaria Gogol das outras duas partes do Poema, uma vez que sabemos que esta parte lhe seria mais afim. O estilo de Gogol, pela ironia, truculência e sarcasmo navega melhor, provavelmente, estas águas. Por outro lado, como salientou muito bem Georges Steiner, embora num outro contexto, o Inferno é sempre o mais fácil de evocar e reconstruir. Porém o génio narrativo e literário de Gogol admite a possibilidade de que o romance se pudesse situar a grande altura em qualquer das outras partes.

NIKOLAI VASILIEVICH GÓGOL nasceu em território ucraniano, concretamente em Mirgorod, a 31 de Março de 1809 e faleceu a 21 de Fevereiro de 1852. Por volta dos 20 anos foi para São Petersburgo, onde viria a conhecer e a privar com Alexandre Pushkin tentando seguir uma carreira literária e conseguindo apenas um posto de funcionário e, depois, de professor de História. Escreve contos baseados nas recordações da Ucrânia e reúne-os sob o título de Os Serões na Herdade perto de Dikanka (1831). Estas narrativas acumulam personagens e situações cómicas, detalhes realistas e ingénuos, e trazem rapidamente a celebridade ao autor. Continua com Mirgorod (que inclui uma curta primeira versão de Tarass Bulba) e Arabescos (1835). A novela O Capote, que Dostoievski considera estar na origem do romance russo, foi publicada em 1842. A peça O Inspector Geral satirizava a burocracia corrupta da época, o que veio a provocar grande controvérsia. Gogol parte em viagem e durante esse período (1836-48) inicia Almas Mortas (1842), uma sátira realista, que mais uma vez gera polémica. Morre a 4 de Março de 1852, pouco tempo depois de ter queimado a segunda parte de Almas Mortas. Considerado um precursor do romance realista na Rússia, a sua obra atinge igualmente o domínio do poético, do lírico, do fantástico e do irracional.

É notável o modo como Gogol caracteriza a pequena aristocracia rural assim como os próprios mujiques, embora a sua mordacidade vá mais para os terra-tenentes possuidores de almas. Ele cultiva uma crítica à classe dominante da Rússia a partir dos seus extremos, da sua completa ausência de moderação e temperança. Como se a alma russa fosse essencialmente dominada por um verdadeiro culto do excesso. É o caso de Manilov, que ele apresenta com uma pequenez sórdida: pequeno proprietário, preguiçoso, destituído de qualquer sinal de grandeza, ou ambição; é o caso das mulheres que aparecem quase sempre destituídas dos mínimos sinais de inteligência; Nozdriov, que em si reúne quase todas as não qualidades morais dos russos, pois embebeda-se com regularidade, não passa de um mentiroso inveterado e ainda por cima é um jogador compulsivo, dominado pelo vício; e repare-se que o vício do jogo é um dos mais condenados por Gogol e em geral pela literatura russa. Nozdriov chega ao ponto de recusar vender as almas porque prefere jogá-las; expressão máxima do desprezo extremo que ele nutre pela pessoa humana; Sobakévitch é um má-língua doentio e em Pliuskine consagra-se uma avareza monstruosa, pois apesar de possuir mais de mil almas vive numa miséria e numa indigência chocantes. Assim, como parece fácil de constatar, o alvo maior da crítica de Gogol é a pequena aristocracia rural avarenta, mesquinha e cruel, uma espécie de classe média a que se juntam funcionários públicos corruptos e comerciantes desonestos. Curiosamente não parece haver um meio-termo comportamental, pois ao lado da classe média aparece uma alta aristocracia dissipadora em excesso. Todos, sem excepção, são interesseiros e corruptos, a começar pelo nosso herói, Tchitchikov, que usa, consoante os casos, de uma delicadeza exagerada mas hipócrita a fim de enganar as pessoas com quem negoceia. Os mujiques, mal ou bem, são apresentados como ladrões, bêbedos e preguiçosos, mas não são as personagens centrais do Poema. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


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Cineteatro

O que fazer esta semana Hoje Filme “Clouds of Sills Maria” (Le French May) Galaxy Cinema, 20h40 Bilhetes a 90 patacas

Amanhã

Filme “Wolf Totem” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h30 Bilhetes a 90 patacas

Filme de: Brad Bird Com: George Clooney, John Walker, Britt Robertson 19.15

tomorrowland [b]

Sala 1

Sala 3

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30

Filme de: Dan Fogelman Com: Al Pacino, Annette Bening, Christopher Plummer 14.15, 16.00, 17.50, 21.30

danny collins [c]

Sala 2

Sala 3

Filme de: Elizabeth Banks Com: Anna Kendrick, Skylar Astin, Rebel Wilson, Adam DeVine 14.30, 16.30, 21.30

falado em japonês legendado em chinês e inglês Filme de: Tadayoshi Yamamuro 19.45

tdragon ball z: resurrection “f” [b]

4 de JUNHO

Protesto na Praça de Tiananmen

Filme “Minimal: The Valley of The Lost Ants” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h45 Bilhetes a 90 patacas Filme “Tokyo Fiancée” (Le French May) Galaxy Cinema, 18h30 Bilhetes a 90 patacas

Diariamente

Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 14.30, 16.30, 21.30

Aconteceu Hoje

Domingo

Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre

Sala 2

pitch perfect 2 [b]

Filme “The Finishers” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h45 Bilhetes a 90 patacas

Exposição “De Lorient ao Oriente Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre

Sala 1

san andreas [3d][b]

Sábado

Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre

C i ne m a

san andreas [b]

Concerto Chick Corea e Herbie Hancock Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes das 180 às 580 patacas

Exposição “3 Black Suits” (até 14/06) Fantasia 10, Calçada de São Lázaro, 15h00 Entrada livre

1.28

danny collins

Filme “Serial Bad Weddings” (Le French May) Galaxy Cinema, 21h10 Bilhetes a 90 patacas

Exposição “Ao Risco da Cor Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre

yuan

h o j e h á f i l m e “Grandes expectativas” (Alfonso Cuarón, 1998) Uma história corrosiva, intensa, de partir corações, mas de um amor eterno. É isso mesmo que “Grandes expectativas” é, adaptado de um romance original do escritor Charles Dickens. No grande ecrã, Gwyneth Paltrow – no papel de Estella, a actriz principal – contracena com Ethan Hawke, duas crianças que parecem odiar-se mas no fundo foram apenas criando uma das mais bonitas, puras e duradouras histórias de amor da literatura. Na mesma película estão Robert DeNiro e uma muitíssima bem tratada Anne Bancroft, que protagoniza uma tia próxima da actriz principal, ensinando-lhe boas maneiras, passos de dança, música e outros conhecimentos que mais tarde permitem que Estella embarque numa viagem para a Europa. É um dos últimos planos do filme que realmente nos prende à cadeira, querendo ver sempre mais e mais. Leonor Sá Machado

• A 4 de Junho de 1989, dá-se o protesto estudantil na Praça Tiananmen. O evento, que ficou mais conhecido pelo Massacre da Praça Celestial ou Massacre de 4 de Junho, consistiu numa série de manifestações lideradas por estudantes que ocorreram entre os dias 15 de Abril e 4 de Junho. Os manifestantes (cerca de cinco mil) eram oriundos de diferentes grupos, desde intelectuais que acreditavam que o Partido Comunista era demasiado repressivo e corrupto, a trabalhadores da cidade, que acreditavam que as reformas económicas na China eram lentas e que a inflação e o desemprego estavam a dificultar as suas vidas. O acontecimento que iniciou os protestos foi o falecimento de Hu Yaobang. Os protestos consistiam em marchas pacíficas nas ruas de Pequim. Contudo, o governo dava ordens para que se terminassem com as manifestações, sendo que no Partido Comunista gerou-se inclusive uma divisão de opiniões sobre como se deveria responder aos manifestantes. A decisão tomada foi a de suprimir os protestos pela força. A 20 de Maio, o Governo declarou a lei marcial e, na noite de 3 de Junho, enviou tanques e infantaria do exército à praça de Tiananmen para dissolver o protesto. As estimativas das mortes civis variam entre 400 a sete mil e o número de feridos é estimado entre sete mil e dez mil, de acordo com a Cruz Vermelha. No dia 4 os protestos estudantis intensificam-se ainda mais e no dia 5 de Junho, um jovem solitário e desarmado invade a Praça da Paz Celestial e anonimamente faz parar uma fileira de tanques de guerra. O fotógrafo Jeff Widener, da Associated Press, registou o momento e a imagem apareceu nos principais jornais do mundo. O Governo prendeu inúmeros líderes do movimento, expulsou a imprensa estrangeira e controlou completamente a cobertura dos acontecimentos na imprensa chinesa. A repressão do protesto pelo Governo Central foi condenado pela comunidade internacional, que ainda hoje pede que a história seja reescrita.

fonte da inveja

A sinceridade pisa o risco da má educação.

João Corvo


opinião

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bairro do oriente

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Leocardo

P

OR vezes gostava de conseguir entender os loucos. Falo de “loucos” no sentido literal do termo, na acepção clínica da loucura tal como a define a psiquiatria. Pode parecer um pouco cínico da minha estar curioso em relação ao que pensem e sentem os indivíduos que andam por aí de língua de fora e olhos revirados, que se julgam Napoleão ou ainda – e aqui é que reside o maior interesse – alucinam. Isso mesmo, alucinam, vêem o que mais ninguém vê, escutam o que mais ninguém escuta, dão conta daquilo que a nossa percepção de simples gente sana não consegue descortinar. Quem sabe se não são eles uns privilegiados, e nós é que andamos aqui a chupar no dedo da banalidade do que consideramos “normal”? Quem sabe se não é no desequilíbrio que está o ponto óptimo da existência, e na insanidade o sentido de toda esta...insanidade? Quem diz que a linha tem que ser recta, se o próprio mundo não é completamente redondo, como nos inicialmente nos tentam convencer, para mais tarde nos darem o dito por não dito com aquela conversa de que “afinal é ligeiramente achatado nos pólos” – e nem um “desculpa lá se te menti” para apaziguar aquele que pode muito bem ser a segunda grande decepção das nossas vidas (a primeira é o Pai Natal, para quem ainda não chegou lá). Se fosse acometido de loucura, daquela mesmo “hardcore”, mas de preferência sem aqueles efeitos colaterais, como a esquizofrenia, fecofilia e afins, fosse mais claro tudo aquilo que no mais abananado estado de sobriedade me parece uma autêntica loucura. Por exemplo: nos últimos tempos tenho ouvido falar do tabagismo, nomeadamente do fumo nos casinos, mais do que seria normal para uma questão que basicamente só tem duas posições a tomar: ou a favor, ou contra. Dizem que a proibição do fumo nas salas de jogo é “uma das razões” para a actual desacelaração da economia (eu diria antes que o motor afogou, mas deixem para lá). A outra é bem mais simples e pode-se traduzir numa simples equação do tipo “antes e depois”: ANTES vinham aqui uns tipos gastar pipas de massa da qual dependia a totalidade da nossa (então invejável) Economia, mas DEPOIS deixaram de vir, e “chapeau”. Isto explicado às criancinhas em idade pré-escolar ficava mais fácil através de uma cantiga “a la” José Barata Moura, algo parecido com o “Olha a bola, Manel”, a tal que “foi embora, fugiu”, e entretanto “nunca mais ninguém a viu” – ninguém se deu ao trabalho de ir logo uns dias depois à Feira da Ladra, ou à sua congénere de Carcavelos, isso sim. Mas o porquê desta relação entre o fumo nos casinos e a queda a pique das receitas dos impostos cobrados às concessionárias do jogo é um pouco mais difícil de explicar. Portanto, o higienismo entra pelo antro de um vício e impõe as suas regras assim, sem mais nem menos? Vou aqui produzir um diálogo imaginário entre um jogador e uma dessas

Martin Scorsese, Goodfellas

É a loucura! Venham ver! (mas não fumem) Quem sabe se não é no desequilíbrio que está o ponto óptimo da existência, e na insanidade o sentido de toda esta...insanidade? “croupiers” do casinos, ao estilo daqueles “clips” publicitários que vemos na TDM, normalmente cortesia do IACM, e onde os personagens ficam pouco ou nada a dever à imaginação: - “Olá menina! Adquiri recentemente uma respeitável soma de dinheiro, mais do que você alguma viu ou vai ver na sua insignificante vida! Para o efeito recorri a expedientes que mais vale nem mencionar, pois para algumas pessoas pode representar a

cartoon por Stephff

mais vil e baixa forma de existência, abaixo dos répteis e até de alguns protozoários e organismos unicelulares!” - “Imagino que sim, meu caro senhor, e até apostava que no processo é bem possível que milhares de pessoas tenham perdido o emprego e caído na miséria, obrigadas a vender orgãos ou a prostituírem os filhos menores, já para não falar dos hipotéticos suicídios. Mas quem está aqui a apostar não sou eu, mas você, portanto vou é calar-me e ficar a pensar em nomes feios que lhe gostaria de chamar na cara, ah, ah”. (Humor casineiro) - “Oh que aborrecido, acabei de perder dois milhões de dólares de Hong Kong em menos de dois minutos, numa simples aposta. Isto dá-me tanto gozo, que vou fumar um cigarro para acicatar ainda mais o prazer deste passatempo tão interessante e educativo” - “Não, não, isso é que não pode ser! Não lhe permito que fume na minha presença, apesar dos malefícios que daí possam advir serem discutíveis perante o facto de que no percurso que faço de casa para aqui inalar mais partículas potencialmente cancerígenas do que desse simples cigarro que quer fumar depois de ter acabado mesma de pagar o meu salário e o de milhares de colegas meus” - “Ora essa...mas porque não posso eu fumar?!?! Adquiri esse hábito na adolescência, quando a pobreza ao meu redor

era endémica, e dessa perspectiva formei a minha personalidade, o que me levou a ser corrupto e sem escrúpulos!”. - “Entendo muito bem, caro senhor. Só que se você fumar existe uma remota possibilidade de viver menos tempo e com menos qualidade, e assim não poder mais reflectir sobre esse conflito pessoal que o aflige, seu novo-rico da treta” E pronto, como se pode perceber, sem a tal dose q.b. de loucura, não dá para ninguém entender a razão de querer tornar os casinos, um local fechado, com acesso reservado e frequentado pela pior espécie de canalhas um local onde as famílias que não vão lá juntas podem respirar um ar livre de fumo. E de jogadores. Tudo a respirar ali que é uma maravilha, sem essas coisas que incomodam, como o tabaco, o emprego, etc, etc. Já agora, e em jeito de conclusão, parece que os tipos que andam a tentar decifrar se primeiro apareceu a galinha caruncha ou o ovo de heroína vieram agora anunciar que uma das principais razões pela qual os jovens se iniciam nas drogas é a “diversão”. No shit Sherlock – e logo com tantas outras actividades para os jovens se entreterem em Macau, como por exemplo...ver a tinta das paredes a secar? O cinzento não vos chega, que têm que têm mesmo que tornar as cores dessa parede mais “psicadélicas”?

saída


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“If the temperatures rise as leading scientists have predicted, less freshwater will be available-and already one-third of the world’s population (about 2 billion people) suffer from a shortage of water. Lack of water will keep farmers from growing food. It will also permanently destroy sensitive fish and wildlife habitat. As the ocean levels rise, coastal lands and islands will be flooded and destroyed. Heat waves could kill tens of thousands of people.” Changing Ecosystems: Effects of Global Warming Julie Kerr

O

clima mundial está a mudar devido ao aquecimento do planeta, é situação aceite pela comunidade internacional, incluindo a científica e a sociedade civil. Esta mudança pode afectar à saúde humana de diversas formas, como por exemplo, alterando o âmbito geográfico e a variação sazonal de algumas doenças infecciosas, perturbando os ecossistemas de produção de alimentos e aumentando a frequência de fenómenos meteorológicos extremos, como são os ciclones. As alterações climáticas influem em determinantes níveis ambientais e sociais da saúde, como sejam, o ar puro, água potável, alimentos suficientes e uma habitação segura. As alterações climáticas, causarão duzentas e cinquenta mil mortes a mais, em cada ano, entre 2030 e 2050, devido à desnutrição, paludismo, diarreia e stress térmico. As doenças mais mortíferas, como as diarreias, desnutrição, malária e dengue, são muito sensíveis ao clima e é de prever que se agravarão com as alterações climáticas. As zonas com más infra-estruturas sanitárias, que se encontram na sua maioria nos países em desenvolvimento, serão as menos aptas a preparem-se para enfrentar as mudanças climáticas, se não receberem a conveniente e adequada ajuda. A redução das emissões de gases de efeito de estufa, pela melhoria do sistema de transporte e das escolhas em matéria alimentar, assim como do uso da energia, podem trazer progressos significativos no sistema da saúde. A actividade humana, durante os últimos cinquenta anos, em particular o consumo de combustíveis fósseis, fez libertar enormes quantidades de dióxido de carbono e de outros gases de efeito de estufa suficientes para reter mais calor nas camadas inferiores da atmosfera e alterar o clima mundial. O planeta, no século passado, aqueceu o aproximadamente 0,75 ºC. O processo acelerou-se nos últimos vinte e cinco anos, e é de 0,18 ºC, por década. O nível das águas do mar está a aumentar, os glaciares estão-se a derreter e os regimes de chuvas estão a mudar. Os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais intensos e frequentes. As repercussões das alterações climáticas na saúde são gravíssimas e os governos

Wes Anderson, The Royal Tenenbaums

Os impactos das alterações climáticas sobre

fazem-se de ignorantes. O aquecimento global pode ter alguns efeitos benéficos localizados, como uma menor mortalidade no inverno nas regiões temperadas e um aumento da produção de alimentos, em determinadas zonas, mas os efeitos das alterações climáticas para a saúde, serão certamente, muito negativos. As temperaturas extremas do ar contribuem directamente para as mortes por doenças cardiovasculares e respiratórias, sobretudo entre as pessoas de idade avançada. A Europa, por exemplo, no verão de 2003, aquando das vagas de calor que a assolaram, registou setenta mil mortes. As temperaturas altas provocam um aumento dos níveis de ozono e de outros poluentes do ar que agravam as doenças

cardiovasculares e respiratórias. A poluição atmosférica urbana causa aproximadamente um milhão e duzentas mil mortes, em cada ano. Os níveis de pólen e outros alérgenos, também, são maiores em caso de calor extremo, podendo provocar asma, doença que afecta trezentos milhões de pessoas. É de prever que o aumento das temperaturas que se está a produzir aumentará esse agravamento. A nível mundial, o número de desastres naturais relacionados com a meteorologia tem triplicado desde a década de 1960, e a cada ano, esses desastres causam mais de sessenta mil mortes, sobretudo nos países em desenvolvimento. O aumento do nível do mar e fenómenos meteorológicos, cada vez mais intensos destruirão residências,

serviços médicos e outros serviços essenciais. É de considerar que mais de metade da população mundial vive a menos de sessenta quilómetros do mar e muitas pessoas poderão ver-se obrigadas a deslocar-se, o que acentua, por sua vez, o risco de efeitos na saúde, desde transtornos mentais até doenças transmissíveis. A crescente instabilidade das precipitações afectará provavelmente o fornecimento de água doce, e sua escassez pode pôr em perigo a higiene e aumentar o risco de doenças diarreicas, que cada ano provoca seiscentas mil mortes de crianças de idade inferior a cinco anos. A escassez de água, nos casos extremos, causa seca e fome. As alterações climáticas, na última década, alargaram as zonas afectadas pelas secas, multiplicando


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jorge rodrigues simão

perspectivas

a saúde

por dois a frequência de secas extremas, e por seis a sua duração média. A frequência e a intensidade das inundações, também estão a aumentar, poluindo as fontes de água doce, fazendo desenvolver o risco de doenças transmitidas pela água e dando lugar a criadouros de insectos portadores de doenças, como os mosquitos, para além de causarem mortes por afogamento e lesões físicas, danos nas residências e perturbações na prestação de serviços médicos e de saúde. O aumento das temperaturas e a variação das chuvas reduzirão, farão reduzir em 50 por cento, a produção de alimentos básicos, em muitas das regiões mais pobres, particularmente em alguns países africanos até 2020, fazendo aumentar a predomínio da

má nutrição e desnutrição, que actualmente causam três milhões e quinhentas mil mortes anualmente. As condições climáticas têm grande influência nas doenças transmitidas pela

As alterações climáticas, causarão duzentas e cinquenta mil mortes a mais, em cada ano, entre 2030 e 2050, devido à desnutrição, paludismo, diarreia e stress térmico

água ou pelos insectos, caracóis e outros animais de sangue frio. É provável que as alterações do clima, prolonguem as estações de contágio de importantes doenças transmitidas e alterem a sua distribuição geográfica, prevendo, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS), um alargamento considerável das zonas da China afectadas pela esquistossomose ou bilharzíase, que é uma doença transmitida por caracóis. A malária depende muito do clima. Transmitida por mosquitos, do género Anofeles, a malária mata quase um milhão de pessoas, em cada ano, sobretudo, crianças africanas de idade inferior a cinco anos. Os mosquitos da dengue (Aedes aegypti) são também muito sensíveis às condições climáticas. Os

estudos efectuados levam a pensar que as alterações climáticas poderiam expor dois mil milhões de pessoas à transmissão da dengue na próxima década. A medição dos efeitos sanitários das alterações climáticas, só pode ser efectuada por aproximação, não obstante, numa avaliação efectuada pela OMS, tendo em conta, apenas algumas das possíveis repercussões sanitárias, concluiu que segundo as previsões, as alterações climáticas causariam anualmente, duzentas e cinquenta mil mortes adicionais, entre 2030 e 2050, sendo trinta e oito mil por exposição de pessoas idosas ao calor; quarenta e oito mil por diarreia; sessenta mil por paludismo e noventa e cinco mil por desnutrição infantil. A população mundial está em risco e será toda afectada pelas alterações climáticas, sendo alguns grupos mais vulneráveis que outros. Os habitantes dos pequenos estados insulares em desenvolvimento e de outras regiões costeiras, megalópoles e regiões montanhosas e polares são especialmente vulneráveis. As crianças, em particular, as dos países pobres, são uma das populações mais vulneráveis aos riscos sanitários daí resultantes e estarão expostas por mais tempo às consequências sanitárias, prevendo-se que os efeitos na saúde serão mais graves nos adultos e as nas pessoas que sofrem diversas enfermidades. Existem muitas políticas e opções individuais que podem reduzir as emissões de gases de efeito de estufa e conseguir importantes benefícios colaterais para a saúde, como por exemplo, o estímulo ao uso seguro do transporte público e de formas de deslocação activa, a pé ou em bicicleta como alternativa aos veículos, poderia reduzir as emissões de dióxido de carbono e o agravamento que resulta da poluição do ar nas residências e a poluição atmosférica, que em cada ano provocam quatro milhões e trezentos milhões e três milhões e setecentas mil mortes, respectivamente. A Assembleia Mundial da Saúde, principal órgão decisório da OMS, aceitou, em 2009, um novo plano de trabalho sobre alterações climáticas e saúde, que abrange as áreas da sensibilização, incluindo o incentivo à tomada de consciência sobre a grande ameaça que são as alterações climáticas para a saúde; as alianças, que abrange a coordenação com organismos associados do sistema da ONU, no sentido de fazer que a saúde ocupe o lugar que merece na agenda das alterações climáticas; a ciência e dados comprovativos, que abarca a coordenação das revisões de evidência científica existente, sobre a relação entre as alterações climáticas e a saúde, e elaborar uma agenda de investigação mundial e sobre o fortalecimento dos sistemas de saúde, que inclui a ajuda aos países, de forma a determinar os pontos vulneráveis dos seus sistemas sanitários e criar mecanismos para reduzir a vulnerabilidade da saúde às alterações climáticas.


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Coronavírus Espaço para isolamento na Pousada da Juventude

A evoluir é que se ganha

que amealhou a maior quantia, ultrapassando os seis milhões de patacas. O valor pretende promover o aumento das capacidades linguísticas dos alunos, reparar edifícios escolares e actualizar os equipamentos.

tiago alcântara

Os Serviços de Saúde (SS) anunciaram ontem ter preparado um espaço para isolamento de doentes infectados com coronavírus na Pousada da Juventude de Hac Sá. O organismo assegura que estão reunidas as condições para o tratamento de doentes com síndrome respiratória do Médio Oriente e que desde ontem é obrigatório o uso de máscaras por quem recorra aos serviços de urgência, tanto no hospital público, como no privado. Até agora, os SS ainda não conseguiram localizar o homem que viajou no mesmo voo que um sul-coreano infectado com a doença. Este ainda permanece em Macau.

Escolas Mais de 70% de apoios para Plano de Desenvolvimento

Outras ajudas

Macau Pass Emitidos 1,7 milhões cartões até final de 2014

pub

Em 2014, a empresa Macau Pass emitiu 1,7 milhões de cartões electrónicos, tendo-se registado um aumento de 40% face a 2013. Também o montante de dinheiro carregado nos cartões aumentou 39% relativamente ao período homólogo, tendo a receita total da empresa crescido 14%, ainda que a empresa não especifique o montante das receitas. Estes dados constam do mais recente relatório do Conselho de Administração da empresa, que revela ainda um aumento de 23% nos custos com pessoal. O ano passado foi também uma fase de novidade para a Macau Pass, que lançou um novo tipo de cartões com chip “completamente novos” e aplicações de “carregamento fácil de telemóvel”. Para este ano, a Macau Pass tem como objectivos melhorar os seus serviços e o sistema de gestão e “ampliar a aplicação de pagamentos electrónicos em todas as áreas de serviços”.

O

Fundo de Desenvolvimento Educativo distribuiu mais de 157 milhões de patacas distribuídas por mais de 60 escolas e um a total de nove docentes, sendo que 118 milhões foram direccionados para o Plano de Desenvolvimento das Escolas. Os números, ontem publicados em Boletim Oficial, mostram que 75,3% do bolo total de subsídios atribuídos, no primeiro trimestre do ano, referem-se apenas a este Plano de Desenvolvimento, que,

como o próprio nome indica, pretende auxiliar as escolas para a promoção de “diversos tipos de planeamento do desenvolvimento e das actividades, de acordo com as necessidades reais das escolas”, conforme indica um comunicado do Gabinete de Comunicação Social. O Plano de Desenvolvimento das Escolas é o plano principal de financiamento do Fundo de Desenvolvimento Educativo e foi entregue a 62 instituições, sendo a escola Choi Nong Chi Tai a

Seguem-se o Colégio Yuet Wah – só a secção chinesa - , com cerca de cinco milhões de patacas, e a Escola dos Moradores de Macau, que arrecadou quatro milhões e meio de patacas. O dinheiro será investido na disciplina de Educação Moral, promoção da leitura, tecnologias de informação e comunicação no ensino, aprendizagem de línguas, promoção para o sucesso dos alunos na aprendizagem, ensino de Ciências, educação artística, cooperação entre a família e a escola, promoção do desenvolvimento saudável das associações de alunos e formação da própria escola, entre outras. O Fundo é ainda distribuído a alguns docentes para participarem nos exames de credenciação das capacidades linguísticas para o ano lectivo, assim como para experimentação e investigação científica, credenciação das capacidades linguísticas e para o financiamento para viagens de estudo ao continente. Recorde-se que no primeiro trimestre do ano passado foram gastos cerca de 132 milhões de patacas com este mesmo apoio.

Consulado BNU cobre despesa de construção de escadas

O Consulado de Portugal em Macau e o Banco Nacional Ultramarino assinaram ontem um protocolo para a construção de um conjunto de escadas laterais na rampa de acesso no edifício do Consulado. O intuito é, de acordo com declarações do Cônsulgeral, Vítor Sereno, facilitar aquele percurso. “Nós estamos certos que esta parceria com o Banco Nacional Ultramarino não só permitirá uma obra emblemática, mas colmatará com a sua utilidade um constrangimento que, de facto, diria eu, se arrasta há 15 anos”, afirmou Vítor Sereno à rádio. Este contrato de financiamento integra uma série de melhorias naquele edifício, mas também na residência consular.

Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Hospital Kiang Wu Deputados em defesa de profissionais condenados por erro médico

F

ong Chi Keong e Chan Iek Lap juntaram-se às vozes que têm surgido em defesa dos dois médicos do Kiang Wu condenados em tribunal por erro médico. Os dois falam em nome da Associação Chinesa dos Profissionais de Medicina de Macau, da qual é presidente Chan Iek Lap, e da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, dirigida por Fong Chi Keong. Em cartas abertas publicadas no jornal Ou Mun, defendem que os dois médicos do hospital pri-

vado não cometeram erro médico e que não fizeram diagnósticos errados. AAssociação Chinesa dos Profissionais de Medicina de Macau, liderada pelo médico e deputado Chan Iek Lap, mostra-se na carta “chocada com a decisão da condenação” e diz que a gravidade da doença da criança não foi causada pelos médicos. A associação criticou que o TSI tenha decidido que “a negligência nas condutas dos dois médicos até foi negligência consciente, razão pela qual, as

condutas dos arguidos constituíram obviamente o crime acusado”. Chan Iek Lap diz que os “médicos têm responsabilidade de fazer tudo para curar pacientes, mas nem todos os resultados podem agradar” e questiona: “como é que surge uma negligência consciente? Não conseguimos entender e lamentamos a decisão.” Também a Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu se queixa das informações publicadas no site dos tribunais e diz que a responsabilidade penal

foi extinta por estar prescrita, pelo que a decisão “é inválida”. A carta assegura mesmo que há uma decisão do TUI nesse sentido, que ainda não foi publicada em Português. As associações acreditam que a falta de uma análise profissional na decisão vai piorar os conflitos entre médicos e pacientes e que as informações “incompletas” nos meios de comunicação “derramaram sal na ferida dos médicos” e causou prejuízos a todos os sectores. F.F.


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