Director carlos morais josé
www.hojemacau.com.mo
II guerra | 70 anos
Sem sombra de ódio Páginas 9 e 12
14 Mop$10
s e x ta - f e i r a 4 d e SETEM B RO d e 2 0 1 5 • ANO X v • N º 3 4 0 8
Macau anos não mudou
Em busca da vida perdida pub
Páginas 3 a 5
opinião
Agência Comercial Pico • 28721006
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Ter para ler
Hong Kong sã assi Hindi lubos andré ritchie
leocardo
páginas 32 a 34
hojemacau
refugiados especialistas pedem acção da ONU
Relatos de No poupar é que Mendes Pinto austeridade
está o ganho páginas 6-7
josé simões morais
Face de rosto anabela canas
h
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aniversário
14 anos
Rui Calçada Bastos
S
ap sei! Sap sei! Catorze! Até à morte porque somos imunes à crença. Para os que ainda não perceberam, nas superstições locais o número catorze é malfazejo porque evoca homofonicamente a morte. Dantes — não sei se ainda —, nalguns prédios de Macau não existia o décimo quarto andar porque, simplesmente, ninguém lá queria viver. Ou, se existia, era consideravelmente mais barato. Pois o Hoje Macau entra no seu décimo quarto ano de publicação. Livres de crenças, dando óbolo pelas superstições e patacame a benfazejas bruxas. Não vá o mafarrico tecê-las... O trajecto não foi rude, convenhamos. A descolagem revelou-se difícil, atribulada, repleta de bem e de mal entendidos, de sedimentação de amizades, conhecimentos e ódios de estimação. Mas não se pode dizer que tenha sido algo de outro mundo. Foi deste. Desta terra que pede meças em paradoxos, contradições e pequenas perversidades. E, acreditem ou não, gostámos da maior parte do caminho. A outra foi, sobretudo, útil. É que uma das grandes lições de Macau é a resiliência. A capacidade de resistir porque se acredita (misteriosamente sabe) existir ali ao lado uma qualquer outra luz que nos levará ao fundo do túnel. Esta terra dá isso a quem a sabe interrogar, se face à resposta não correres como a esfinge para te atirares de novo ao mar. O medo é, afinal aqui, uma inutilidade. Serve, contudo, para compreender os territórios e para, funâmbulo, poder percorrer o fio da navalha. E interrogam-se os leitores sobre o significado concreto de tão estranha palavra aplicada ao jornalismo: não há outro modo possível, a quem faz questão de ignorar os apelos desta selva. Passar como um fantasma, perpassar como um funâmbulo, sabendo do real o que as nossas próprias motivações inconscientes fazem emergir, explorando-as porque as sabemos colectivas e de necessária exposição. A outra lição é a seriedade, a coerência ou a coerente incoerência. Funciona aqui. E não deverá ser por rara, mas por ser inesperada. Ele há tantas distracções... tantos apelos, tanto casino, como diria um italiano... Expelir valores. Nas entrelinhas, nos subentendidos, nos paradoxos, nos duplos sentidos, no ataque directo e na graçola. Na escolha da notícia, do título, do destaque. No sentimento fútil da inutilidade de tudo como na satisfação efémera de uma boa edição, saber que as coisas têm o seu sítio e o seu tempo, como o pássaro amarelo de Confúcio que, quando no seu ramo cantava, sabia qual era o seu lugar e, por isso, se quedava na mais alta excelência.
Macau não mudou
“Nunca acreditem em nada do que aqui vem escrito. Isto não é a Bíblia nem o Corão. Interroguem-se sobre notícias, opiniões, comentários e fontes. E talvez assim consigam ter uma perspectiva desta cidade que nenhum jornal vos pode dar: a vossa”
hoje macau sexta-feira 4.9.2015
por carlos morais josé
No entanto, por aqui, como aliás pelos tempos antigos da China, o mundo é invariavelmente composto de mudança e o pássaro amarelo vê-se obrigado a voar, a descobrir incessantemente um novo ramo de onde possa cantar. Convenhamos que se trata de uma perspectiva cansativa e pouco animadora. Talvez o melhor mesmo seja construir a sua própria Via e nela permanecer, até porque ela se faz com o caminho, ilibando do erro contumaz e da inevitável intromissão do disparate. Bem vistas bem as coisas, sentido o calafrio, nem uma nem outra opção, verdadeiramente, nos interessa. Há catorze anos que tacteamos na superfície das coisas. E connosco temos trazidos os nossos leitores ou assim gostamos de acreditar. Nunca pretendemos que vos contamos a verdade ou que vos descrevemos Macau tal qual ele é. Preferimos questionar a relatar o que nos aparece como farrapo de mitologia. Não deixamos de a reportar, bem sei. São os ócios deste ofício, a parte fácil e pouco mais que obscena. Com efeito, preferimos questionar porque temos a esperança, talvez vã mas bela, de que os nossos leitores questionarão por cima e que este jornal é um trampolim para a cidadania, para a crítica, para o diálogo, para o pensamento. Nunca acreditem em nada do que aqui vem escrito. Isto não é a Bíblia nem o Corão. Interroguem-se sobre notícias, opiniões, comentários e fontes. E talvez assim consigam ter uma perspectiva desta cidade que nenhum jornal vos pode dar: a vossa. Cheia de aleivosias e descobrimentos, mas vossa. Mas unicamente se vos interrogardes. E para lançar as questões, para problematizar, interrogar-vos a vós e ao real, desestruturá-lo, esmiuçá-lo sem nunca o esgotar, existe o Hoje Macau, neste seu décimo quarto ano de existência. Somos jovens (dirão) mas muito batidos. Por acontecimentos e por tufões, por histórias boas e novelas más, por incompreensões e zangas de ocasião. Não fazemos o nosso melhor. Porque o melhor não existe. Nunca. Hoje. Porque sabemos que surgirá sempre melhor amanhã. Ou que existe essa possibilidade. No fundo, não acreditamos em nada a não ser na nossa modesta missão de ir sendo uma voz que se pretende rouca, turva, abagaçada, mas presente, acompanhada pela incisão das imagens e de um piano longínquo a que chamamos esperança. São catorze anos em que Macau não mudou. Nada. Pouco aconteceu. Em que Macau vives tu, perguntam-nos. Nesse — é a nossa resposta. O que realmente muda é a morte. Para o ano há mais.
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São aos milhares, dezenas de milhares. Os relatos de horror chegamnos todos os dias e em número cada vez maior. A Europa não consegue encontrar soluções para os refugiados, um problema que nunca foi deles, mas sim de todos nós, da humanidade. Mesmo longe, a China pode e deve assumir uma função, defendem especialistas
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Refugiados ONU deve “agir” e China ser país participante, defendem especialistas
Um problema que é de todos
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ssinalou-se ontem o 70.º aniversário da derrota do Japão na II Guerra Mundial. Macau, como parte integrante da China, não poderia deixar passar a data em branco e também representantes da RAEM marcaram presença nas cerimónias agendadas em Pequim, a capital chinesa. Contava-se o dia 19 de Setembro de 1931 quando o Japão ocupou uma parte do território chinês. A ocupação manteve-se até o fim da Segunda Grande Guerra. Ainda hoje a capital chinesa critica a homónima japonesa por esta não reconhecer a amplitude dos crimes de guerra nipónicos durante a ocupação. Há 70 anos a RAEM – ainda com administração portuguesa – manteve-se neutra e acolheu meio milhão de refugiados na sequência da intervenção japonesa na China e aqui ao lado, em Hong Kong. O Governo de Macau, escreveu – a fim de assinalar a data – que o “grande número de refugiados” que entrou no território “levou a que se excedessem largamente as capacidades do território quanto a bens alimentares, alojamento, higiene, educação e segurança pública”, tendo isto provocado um grande impacto na vida dos residentes locais e tornando “igualmente difícil a assistência e realojamentos desses refugiados”. “As actividades de ajuda humanitária de Macau e as campanhas patrióticas de apoio à China deram origem a um sem número de comoventes histórias sobre a resistência na guerra, escrevendo
uma outra história de guerra da população chinesa, possuindo um especial significado e características regionais no seio da história da resistência chinesa nesta guerra”, assinala o Executivo. Também nas décadas de 70 e 80, Macau começou por receber os refugiados do Vietname que gradualmente ocuparam um grande espaço do território. “Nesta altura ainda havia a possibilidade de absorver parte destes refugiados na própria economia. Hoje seria muito difícil Macau conseguir isso”, começou por argumentar ao HM Albano Martins, economista, quando questionado sobre uma possível reacção da Ásia à pro-
blemática actual dos refugiados, maioritariamente sírios.
Do outro lado
Em 2015, 70 anos depois, no outro lado do mundo, os refugiados sírios ultrapassam o meio milhão, em larga escala. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou que o número de refugiados sírios nos países vizinhos bateu recordes passando os quatro milhões, estimando-se ainda que – em Julho passado – o número de deslocados internos tenha ultrapassado os 7,6 milhões. William Spindler, porta-voz da ACNUR, afirmou aos meios de comunicação que a situação “é
muito preocupante (…) porque essa população tem uma necessidade de apoio, de toda a parte do mundo, mas até agora não recebeu esse apoio”. “[A população] vive em condições desastrosas, num nível de pobreza absoluta nos países onde
“A classe política mundial está longe, longe, muito longe, dos grandes líderes do século passado” Albano Martins Economista
se refugiou. Nesses países as condições estão a deteriorar-se e muitos refugiados sírios continuam em busca de protecção e assistência em outras regiões, principalmente na Europa”, afirmou. António Guterres, Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, terá ainda classificado esta massa migratória como a “maior população de refugiados vindos de um único país no período de uma geração”, sendo altamente necessária a ajuda de todo o mundo. Questionado sobre o assunto, Albano Martins explica que o cenário é uma clara demonstração Continua na página seguinte
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de “que a classe política mundial está longe, longe, muito longe, dos grandes líderes do século passado”.
Uma questão mundial
O problema dos refugiados, diz o economista, é algo muito presente na actualidade. “Seja o caso dos refugiados asiáticos que querem entrar na Austrália, que procuram outros países com alguma dignidade, ou ao olhar para a Europa e toda a questão dos refugiados sírios e líbios, percebemos que se trata de uma consequência de questões mal resolvidas pelas Nações Unidas”, argumenta. Para o também comentador, enquanto estas questões não forem resolvidas, as levas de refugiados “irão continuar a bater à porta”. O ser humano, os países e os seus líderes, não podem “simplesmente fechar os olhos”, diz. “Temos de ter uma solução que passará pela resolução dos problemas destas pessoas, nos sítios de onde eles vêm. No local”, seja na Síria, ou em outro país. A segunda grande potência mundial, a China, apesar de ser uma “economia autoritária, centralizada, sem grandes princípios de liberdade ou iniciativa” deveria dar o exemplo. “Independentemente do seu estatuto político, da sua cor política, a China devia começar a dar o exemplo de comunidade internacional responsável, tendo imensa área onde poderia colocar as pessoas”, argumenta. O problema vivido agora na Europa acontece, diz, por ser o sítio
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“Independentemente do seu estatuto político, da sua cor política, a China devia começar a dar o exemplo de comunidade internacional responsável, tendo imensa área onde poderia colocar as pessoas” Albano Martins Economista
mais próximo dos países africanos em conflito. “Mas estes movimentos devem ser absorvidos por toda a comunidade internacional responsável. As Nações Unidas deviam abrir as portas para que estes refugiados se fossem diluindo ao longo das fronteiras de todos os países, mesmo nos sítios mais contíguos, porque um dia destes vamos ter um problema grave, que é a Europa a dizer que não consegue controlar a situação, até porque tem os seus próprios problemas, e começar a fechar fronteiras, como já está a acontecer”, frisa, referindo-se aos países como a Hungria, Polónia e Áustria. “A Europa tem de dizer às Nações Unidas que isto é um problema mundial e todos os países devem
participar na resolução. Isto é como se fosse uma guerra, temos de ter capacidade para, mesmo países com culturas diferentes, dar a volta e resolver este problema de fundo. No local. Não há lógica no desaparecimento de uma população porque meia dúzia de extremistas decidiram matar toda a gente”, argumenta. Admitindo a dificuldade na participação da China, José Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, acredita que com uma acção da ONU poderia ser possível. “Claro que se houvesse uma acção coordenada das Nações Unidas, por exemplo, de protecção aos refugiados e de combate às redes de tráfico humano, a China poderia ter eventualmente alguma participação”, explicou, frisando que seria “algo muito positivo”. O problema é que, diz, este tipo de refugiados têm uma perspectiva de “irem para a Europa e assumir este continente como o seu destino”, por isso é complicado. “Há a ideia de que a viver na Europa é um paraíso”, que muitas vezes é uma ideia fomentada pelas próprias redes de tráfico. Neste momento, as coisas estão a agravar-se e para Sales Marques há de facto necessidade, ideia já defendida, em criar uma organização internacional para tratar deste assunto, como foi o caso do “PIA - Plano Integrado de Acção para os Refugiados Indo-chineses”, em 1989, que serviu para ajudar
“A Europa tem de dizer às Nações Unidas que isto é um problema mundial e todos os países devem participar na resolução. Isto é como se fosse uma guerra” Albano Martins Economista
os mais de 840 mil refugiados oriundos do Vietname.
Migrantes ou Refugiados?
Importante é ainda clarificar os conceitos que a própria comunicação social, um pouco por todo o mundo, tem vindo a utilizar. Não é raro encontrar em notícias o termo “migrantes” quando a refugiados se diz respeito. Por isso mesmo, um dos porta-vozes da ACNUR, Adrien Edwards, explicou – no final do mês de Agosto num comunicado tornado público no site oficial da organização – que a definição correcta é demasiado importante para ser tratada com leviandade e a confusão entre ambos poderá “ter consequências graves para a vida e segurança dos refugiados”. No comunicado, o organismo explica que refugiados “são pessoas que fogem de perseguições ou de conflitos armados”, sendo
que a situação que estes vivem é “tão perigosa e intolerável que atravessam fronteiras à procura de segurança nos países vizinhos”. O porta-voz frisa ainda que a recusa de asilo poderá levar a “consequências fatais” para estes refugiados. Em situação diferente estão os migrantes que, por opção, viajam para outros países procurando, por norma, melhores condições de vida. Sendo que sempre que quiserem retornar ao seu país poderão fazê-lo, tendo por garantidos os seus direitos. Algo que não acontece ao refugiado pois, conforme Adrien Edwards cita, existe o direito dos refugiados não serem reencaminhados para os países de onde fugiram, estando isso contemplado na Convenção dos Refugiados de 1951, que define quem é refugiado e os seus direitos básicos.
Quatro longos anos
Foi em Março de 2011 que rebentou a guerra civil na Síria. Depois de vários protestos da população, nos três meses anteriores, as manifestações começaram a aumentar de tom, evoluindo para rebeliões armadas baseadas e influenciadas pelos conflitos que ao mesmo tempo aconteciam no Médio Oriente – Egipto e Turquia – tão bem conhecido como a Primavera Árabe. Com o objectivo de derrubar o presidente Bashar al-Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, para a renovação política os conflitos duram há quatro anos ceifando a vida a milhares de pessoas. A tensão não é recente mas sim desde há vários anos, quando
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“Claro que se houvesse uma acção coordenada das Nações Unidas, por exemplo, de protecção aos refugiados e de combate às redes de tráfico humano, a China poderia ter eventualmente alguma participação (...) seria algo muito positivo” José Sales Marques Presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau
o pai do actual presidente, Hafez al-Assad – considerado um ditador – assumiu o poder durante três décadas, passando depois, em 2000, o cargo para o seu filho. Depois de muitos conflitos entre os manifestantes e as forças militares, que mataram maioritariamente civis, muitos destes abandonaram o exército e uniram-se aos manifestantes. Criando mais tarde o Exército Livre da Síria, que no segundo semestre do ano de 2011
se tornou na organização Conselho Nacional da Síria. É aqui que os confrontos se tornam ainda mais fortes e mortais levando a que muitos sírios vissem a fuga como a única solução.
“A maior crise humanitária da nossa geração” António Guterres Alto-Comissário da ONU para os Refugiados
Números negros
Números da ONU mostram que esta guerra civil já matou mais de 230 mil sírios nos últimos quatro anos. No que respeita aos refugiados, os dados apontam que até ao final do ano se ultrapasse a barreira dos 4,2 milhões, sendo que muitos destes morrem nas tentativas de travessia. A ONU prevê uma passagem de três mil refugiados diariamente do Mediterrâneo. Mar que só este ano já viu 300 mil refugiados tentarem chegar a terra, muitos morrendo no caminho, e sendo alvo de extorsão por parte dos criminosos e redes de tráficos de seres humanos. No total, até ao mês passado, 1/6 da população da Síria tentou escapar ao conflito que se mantém a ferro e fogo. “A maior crise humanitária da nossa geração”, tal como António Guterres classificou, tem mexido com todos os países. Líbano, Jordânia, Grécia, Alemanha, Portugal são alguns dos que já contam com asilo a refugiados. A Turquia até ao momento recebeu cerca de dois milhões de sírios, sendo o país que mais dá asilo a estas pessoas. A Alemanha conta receber 800 mil durante o presente ano, a Grécia recebeu, desde Janeiro, 200 mil refugiados e a Itália
110 mil. A Jordânia acolheu 290 mil enquanto o Líbano ultrapassou um milhão de sírios. Foi o acidente junto à ilha de Lampedusa – em Abril – que chocou o mundo para o estado de calamidade. Na altura mais de 700 refugiados, oriundos do Egipto, perderam a vida num naufrágio. Na semana passada um barco lotado de refugiados matou mais de uma centena. Ayman Talaal, um dos sobreviventes sírios, explicou aos meios de comunicação que o barco estava em más condições. “Fomos forçados a usar esta rota, agora é chamada de sepultura do mar Mediterrâneo”, afirmou. Por terra, são inúmeros os relatos tornados públicos. Também na semana passada um camião foi encontrado, na Áustria, com 71 pessoas que morreram por asfixia. Com o aumento de tráfico humano, agora também dentro da Europa, os casos sobem cada vez mais. O jornal português Público indica que, dentro do camião que partia de Budapeste, estavam “59 homens, oito mulheres e quatro crianças, uma rapariga de um ou dois anos e três rapazes de oito, nove ou dez anos”.
O camião pertenceu, explica o diário, a uma empresa de derivados de frango até 2011, estando agora registado no nome de um cidadão da Roménia. A informação foi o ponto de partida para o início das investigações, que juntaram a polícia húngara e austríaca e que levaram à detenção de três húngaros e de um afegão (dois deles os motoristas, um deles, disse a polícia, sugeriu no interrogatório que os passageiros sufocaram). Nenhum deles pertence à chefia da rede de tráfico que assassinou estas 71 pessoas, avisou Hans Peter Doskozil, chefe de polícia de Burgenland. “Esperamos que [estes detidos] nos levem a outros criminosos”, cita ainda o jornal. Na quarta-feira o mundo chocou-se com a imagem de uma criança de três anos morta por afogamento após tentativa fracassada de navegar para a ilha grega de Kos. A cada dia que passa, mais e mais relatos chegam através dos meios de comunicação. Albano Martins acredita que o problema poderá tomar proporções ainda maiores, sejam elas em acidentes, crimes ou xenofobia. “Arriscamo-nos a ter um problema de xenofobismo. A grande maioria da população não consegue perceber as entranhas deste problema. Os líderes europeus e mundiais têm mostrado não estar à altura para resolver questões tão melindrosas como esta, questões de dignidade humana”, remata. Filipa Araújo (com agências) filipa.araujo@hojemacau.com.mo
édito Um preço barato Perante a chegada de milhares de pessoas às praias europeias, torna-se óbvio perguntar qual a responsabilidade do Velho Continente em relação a esta calamitosa situação. Bem vistas as coisas, temos de distinguir dois tipos de migrantes: os que vêm de África, por não encontrarem meio de subsistência na sua terra natal; e os que vêm da Síria por causa da guerra. São situações muito diferentes, como diferentes são as pessoas que constituem os dois grupos. Comecemos pelo primeiro. Durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, a Europa colonizou África e dividiu o continente como muito bem entendeu, criando nações onde existiam tribos, quando muito esparsos reinos. Obviamente que os recursos naturais foram explorados ao máximo e as formas tradicionais de produção basicamente destruídas, como mostra o livro de René Dumont, “Em defesa de África, acuso”, um clássico dos anos 70, pretensamente esquecido pelos neo-colonialistas, amigados com os regimes ditatoriais. O autor demonstra como a fome, a miséria e o caos foram produtos da presença europeia, na medida em que foram completamente aniquiladas as formas tradicionais de poder e redireccionadas as economias. Hoje aquela gente não aguenta mais e na internet, na televisão, tem imagens de uma outra vida. Darão tudo por ela. Vêm-nos bater à porta. É natural. A nossa riqueza foi edificada sobre a sua miséria. No caso sírio, todos se lembram (espero) que a Europa de Hollande e Merkel foram os grandes incitadores das revoltas antiAssad. Juntamente com a CIA, claro. Aramaram sem critério os ditos grupos rebeldes que, afinal, mais não eram que islamitas de vários países. Encostaram-se a uma pretensa oposição síria no exílio que, afinal, tinha o mesmo valor que a oposição no exílio do Iraque, gozada e desprezada por todos os iraquianos. Se a Europa fomentou e continua a fomentar a guerra na Síria, é natural que assuma o seu fluxo de refugiados. É mesmo elementar, meu caro Hollande, um homem com sangue de inocentes nas mãos, tomado de histeria no início da pretensa revolta árabe. A História é reversível. A Europa tem um preço a pagar pelas suas acções e pelos lucros que delas resultaram. Receber refugiados, tratá-los com humanidade e bom senso será o mais barato deles todos. por carlos morais josé
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política
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Novo Macau Austeridade é “exagero”. Governo deve aprender a poupar
Meu rico porquinho mealheiro
A ANM quer que o Governo aprenda a gerir em vez de cortar. A Associação diz que austeridade é uma palavra demasiado forte para uma economia que, apesar da queda das receitas do Jogo, está saudável e que não é preciso entrar em pânico, mas sim estar alerta
“É
uma palavra assustadora, faz com que a sociedade pense numa economia como a Grécia, Portugal ou Espanha. Mas na realidade a situação económica de Macau é diferente [dos países em crise]”. É assim que Scott Chiang, actual presidente da Associação Novo Macau (ANM), se refere às medidas de “austeridade” avançadas pelo Governo no início desta semana. Sem dívidas e com um lucro total de cerca de 159 mil milhões de receitas brutas de Jogo, Macau não precisa de “entrar em pânico”, diz ao HM ainda que, “claro”, precise de estar “em alerta”. “Os 5% de cortes apresentados pelo Governo são mais um gesto do que uma medida só por si”, defende o pró-democrata, adiantando que o que a ANM quer é que o Governo “gaste algum tempo na reestruturação e reforma da Administração”. Antes de cortar é preciso saber poupar, defende a Associação, que frisa ainda a necessidade do Governo se prevenir e, por isso, poupar e adequar os seus gastos à necessidade real.
Lionel Leong não exclui segunda fase com mais medidas O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, afirmou que não exclui haver uma segunda fase de medidas de austeridade. Sem prever o orçamento da poupança, o Secretário acredita que vai existir um excedente da receita do Governo. Em declarações ao canal chinês da TDM em Pequim, onde Lionel Leong se encontra nas celebrações dos 70 anos da II Guerra Mundial, o Secretário afirmou que, caso o ajustamento da economia de Macau continue, não está excluída a possibilidade de o Governo levar a cabo uma segunda fase de cortes nas despesas. “Não temos uma bola de cristal para perceber o futuro da economia. Se as receitas de Jogo continuarem a diminuir e a influenciar o equilíbrio das despesas, mesmo depois destas medidas, é possível prolongar a aplicação da austeridade”, explicou. Questionado sobre se vai manter a medida de isenção de impostos no próximo ano, Lionel Leong disse que irá estudar. “A situação que enfrentamos não é a de tributação, temos de entender o ambiente económico da população, portanto se a isenção de imposto beneficiar o desenvolvimento da economia e as regalias sociais, não pode ser afectado”, garantiu, contudo. O Secretário citou ainda um provérbio na língua chinesa - “sucesso por poupança, fracasso por luxo” – para exemplificar que espera que os departamentos públicos entendam a importância da poupança durante o ajustamento económico.
Duas propostas para aumento salarial da Função Pública Sónia Chan garantiu ontem que já foram entregues ao Governo duas propostas de aumento salarial para os trabalhadores da Função Pública. Numa declaração no dia 2, à margem de uma ocasião pública, a Secretária para a Administração e Justiça referiu que a Comissão de Avaliação das Remunerações dos Trabalhadores da Função Pública já terminou a discussão da actualização salarial dos trabalhadores, tendo entregue ao Governo duas propostas de ajustamento salarial. O Governo está agora a analisar as propostas e vai “considerar todos os recursos financeiros na tomada da decisão”, indicou Sónia Chan. Contudo, as medidas de apoio aos trabalhadores de categorias mais baixas irão continuar conforme o previsto, continuou ainda a Secretária.
Saber gerir
A recessão é evidente e o futuro é incerto, mas Chiang defende melhor gestão. “Não sabemos se as receitas vão continuar a cair ou não, nunca se sabe, mas mesmo que diminuam mais não é o fim do mundo. Portanto o que é preciso é focarmo-nos mais em como gastar de forma eficaz”, argumenta Scott Chiang. Para o presidente da ANM, grande parte do dinheiro é desperdiçado pela Administração, em vários aspectos, tais como quando o Governo “tem vários de-
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Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
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O
Chefe do Executivo sublinhou ontem que os cortes orçamentais previstos pelas medidas de austeridade se centram em despesas “não necessárias” e garantiu não serem afectadas as “obras públicas, benefícios e regalias da sociedade”. Chui Sai On falava aos jornalistas no aeroporto de Macau antes de partir para Pequim, onde vai assistir às cerimónias do 70.º aniversário da vitória sobre a invasão japonesa. As medidas de austeridade, que visam a poupança de 1400 milhões de patacas foram anunciadas na terça-feira depois de conhecidas as receitas dos casinos em Agosto, que registaram uma quebra de 35,5% para 18.623 milhões de patacas. Também a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, comentou ontem o novo plano de ajustes, indicando que os cortes vão incidir apenas sobre “despesas desnecessárias”, como deslocações ao exterior.
Maior rigor
“Vamos tentar poupar mais as nossas receitas. Claro que a gestão rigorosa das finanças públicas é uma tarefa muito importante e um princípio geral, básico, que temos de seguir durante a governação.
Chui garante que cortes só em despesas “desnecessárias”
“Vamos tentar poupar mais” GCS
partamentos/gabinetes que fazem quase o mesmo, quando estes não cooperam entre si, com uma má comunicação, quando decoram os seus gabinetes de forma luxuosa, ou quando compram suportes para o papel higiénico por mais de três mil patacas”. Cortar em números ou saber gerir e poupar são coisas diferentes, defende ainda o presidente da Novo Macau. “A melhor forma de poupar dinheiro é saber geri-lo. Esta é a melhor forma que o Governo tem para poupar”, defende. Mesmo quando a economia mundial está a cair, e sendo esse o futuro ou não de Macau, “nós temos de estar preparados, tornando o Governo mais eficaz, para estarmos preparados para que o que poderá vir. Isto deve ser feito agora e de forma rápida”. Depois das receitas brutas do Jogo, relativas ao mês de Agosto, não terem atingido os 20 mil milhões de patacas, o Governo, tal como tinha garantido, avançou com algumas medidas de austeridade. Ao HM, alguns economistas consideraram atribuir o estatuto de austeridade à economia de Macau exagerado, caracterizando a medida apenas como uma acção de controlo de despesa.
Não vamos cortar, cortar. Vamos controlar as despesas”, disse, citada pela Rádio Macau. A frota de veículos da Administração, por exemplo, não sofrerá cortes por não ser considerada uma fonte excessiva de despesas – dados dos Serviços de Finanças disponibilizados à rádio dão conta de 3894 veículos. Também na terça-feira, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, garantiu que as áreas afectas à sua tutela - a
saúde, educação, segurança social e cultura - não vão sofrer cortes. As receitas dos casinos de Macau estão em queda homóloga há 15 meses e entre Janeiro e Agosto acumularam 158.882 milhões de patacas, menos 36,5% do que no mesmo período de 2014. O Secretário da Economia e Finanças, Lionel Leong, tinha anunciado que o Governo assumia cortes na despesa caso as receitas caíssem abaixo de uma média mensal de 20 mil milhões
de patacas, o que se verificou no final de Agosto. Apesar dos cortes, Chui Sai On reafirmou que a saúde financeira de Macau “continua bem” e disse que a “população pode estar descansada”, embora tenha reforçado a necessidade de poupanças, na qual todos os serviços devem colaborar. As medidas de austeridade anunciadas por Lionel Leong implicam que todos os serviços públicos e organismos especiais devem congelar 5% das despesas orçamentadas para a aquisição de “artigos para o funcionamento diário dos serviços ou de bens consumíveis” e 10% do orçamento para investimento (sem incluir o Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração, o chamado PIDDA). A Secretaria de Economia e Finanças impõe também que qualquer organismo que tenha registado um saldo excedente no seu primeiro orçamento suplementar veja esse valor deduzido ao montante de subsídios solicitado. LUSA/HM
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TIAGO ALCântara
SAFP Kou Peng Kuan toma posse prevendo “tempos difíceis”
O peso da responsabilidade K ou Peng Kuan tomou ontem posse como director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), prevendo tempos que se avizinham “difíceis” para o organismo. O novo dirigente era subdirector dos SAFP desde 2011, tendo sido, em Novembro do ano passado, escolhido para substituir provisoriamente José Chu, ex-director dos serviços. “Como os SAFP serão um serviço pioneiro na implementação da reforma da Administração Pública, as tarefas que nos aguardam são difíceis, a responsabilidade é enorme e os desafios são muitos. A vossa presença [na tomada de posse] serve, por um lado, para testemunhar esta cerimónia, mas também constitui um sinal de confiança depositado pelo meu superior, apoio dos meus colegas, incentivo dos amigos e as expectativas da sociedade”, começou por dizer Kou Peng Kuan no discurso de tomada de posse. Na cerimónia presidida pela Secretária para a Administração e Justiça Sónia Chan, Kou Peng Kuan admitiu ainda sentir o peso de “uma enorme responsabilidade” na nova função e traçou os objectivos para o seu mandato. “Nos próximos anos as tarefas prioritárias dos SAFP [serão] continuar a concretizar o reajustamento e reestruturação das atribuições dos serviços públicos e pub
ANÚNCIO
Faz-se saber que em relação ao concurso público n.o 29/P/15 para o «Fornecimento e Instalação de Um Equipamento Para Testes de Imuno-Hematologia aos Serviços de Saúde», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 32, II Série, de 12 de Agosto de 2015, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 4.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, e também estão disponíveis no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo) e que foram juntos ao respectivo processo. Serviços de Saúde, aos 27 de Agosto de 2015 O Director dos Serviços, Substituto Cheang Seng Ip
dos organismos de consulta, optimizar a gestão dos serviços públicos, impulsionar o desenvolvimento do governo electrónico, elevar a eficiência administrativa e o nível dos serviços prestados, aperfeiçoar, constantemente, os regimes relativos ao recrutamento, carreiras, formação e promoção do pessoal e melhorar o meca-
“As tarefas que nos aguardam são difíceis, a responsabilidade é enorme e os desafios são muitos”
nismo de consulta de políticas, alargando os meios de diálogo e reforçando a interacção entre o Governo e os cidadãos”, lê-se no discurso de tomada de posse, ontem.
Ao serviço da população
Kou Peng Kuan diz ainda querer optimizar o apoio técnico no âmbito do regime jurídico da função pública, das eleições e dos serviços de tradução e interpretação das duas línguas oficiais da RAEM. O novo responsável comprometeu-se a cumprir as funções conforme as estratégias do Governo face à construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer e de Macau como plataforma, entre outras políticas como a de “ter por base a população”
e afirmou sentir uma “grande motivação” devido à equipa que o vai acompanhar. Kou Peng Kuan é licenciado em Gestão Empresarial pela Universidade Ji Nan, possui mestrado em Direito Económico pela Universidade Sun Yat-Sen e doutoramento em Administração Pública pela Universidade Popular da China. Ingressou na Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública em 1991 e desde 1994 que tem desempenhado funções de adjunto da Divisão de Formação e chefe da Divisão de Formação e chefe do Departamento de Modernização Administrativa, tendo depois ingressado na direcção do organismo. Joana Freitas
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Condomínios Comissões apelam a subsídios
Despesa e esperança V
árias comissões de administração de condomínios de edifícios apelam a que o Governo atribua subsídios para despesas ou defina um período de transição para equilibrar o aumento das despesas devido à implementação do salário mínimo para os trabalhadores de limpeza e segurança.Asaída dos guardas dos prédios é outra preocupação apresentada pelas administrações. Com a entrada em vigor, a 1 de Janeiro do próximo ano, do salário mínimo para esta classe de trabalhadores, as comissões preocupam-se que vá acontecer uma alteração ao cenário actual destas administrações de edifícios. Segundo o Jornal do Cidadão, nove comissões de administração dos condomínios de prédios reuniram-se, na quarta-feira, com a Direcção dos Serviços para Assuntos Laborais (DSAL), referindo que alguns proprietários de apartamentos já viram as suas despesas de condomínios aumentar.
Aumento pesado
O representante da comissão do Edifício Jardim Hoi Keng, Ho Mou Pan, por exemplo, revelou que a despesa dos condomínios aumentou de 300 patacas para mil, considerando este aumento inaceitável. “O salário mínimo só abrange os trabalhadores de limpeza e de segurança, mas na tabela de orçamento oferecida pela empresa de gestão predial, o aumento das despesas incluiu outras despesas, como a de manutenção. É difícil que os proprietários aceitem uma coisa assim”, argumentou. O representante acrescentou que o aumento tem causado pressão aos pro-
prietários das fracções mais pequenas e espera, por isso, que o Governo equilibre as duas partes, oferecendo subsídios ou definindo um período de transição. Da parte da DSAL, ainda não existe qualquer resposta, explicou ainda o representante. Outra representante das comissões com apelido de Ao Ieong apontou que apesar do aumento das despesas dever ser aprovado pela comissão de administração isso não acontece, mas alerta que, caso existam proprietários que insistam em rejeitar os aumentos, a empresa de gestão poderá deixar os edifícios sem administração, afectando por isso a vida dos moradores. Flora Fong
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sociedade
hoje macau sexta-feira 4.9.2015
O
II Guerra Macau comemora 70 anos. Investigadores divididos com feriado
“Não nos move o ódio”
Macau comemorou ontem os 70 anos do final da Segunda Guerra com uma mensagem dirigida aos idosos e aos jovens. Wong Sio Chak assegura que é importante que se perceba a história para valorizar Macau como é, mas especialistas dividem-se sobre a implementação deste dia como feriado gcs
s 70 anos do fim da II Guerra Mundial foram ontem assinalados na China (ver página 12) e Macau não escapou às celebrações. Por cá, há muito que se faz anunciar a data que, em 2014, se tornou feriado para comemorar o Dia Nacional da Vitória da China na Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa, sendo que numa das praças principais da cidade, o Leal Senado, enormes cartazes celebram “a vitória do povo chinês na guerra contra a Japão” e a “vitória mundial contra o fascismo”. Para Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, o dia foi também marcado em Macau para “endereçar aos soldados e ao povo da Pátria o maior reconhecimento pela excelência dos históricos contributos e heróicos sacrifícios que protagonizaram”, bem como para relembrar os compatriotas “inocentes que pereceram” e apresentar aos mais velhos cidadãos de Macau agradecimentos pela prestação do apoio e da ajuda aos soldados na Guerra contra o Japão.
Provas irrefutáveis
No discurso da cerimónia, Wong Sio Chak disse que, apesar de terem passado 70 anos, as provas dos actos violentos dos agressores são irrefutáveis e incontestáveis e relembrou que, por cá, a constituição de grupos de apoio ao continente foi algo bastante comum. “Durante a Guerra, para ajudar aos compatriotas da China continental submetidos aos sofrimentos extremos, os cidadãos de Macau participaram activamente no ensejo de salvação da Pátria, estabelecendo [por vontade própria] associações aglutinadoras do amor à Pátria e desencadeando acções de grande envergadura para a sua salvação. Todo o povo, independentemente do seu extracto social, dedicou-se e contribuiu generosamente para o financiamento da guerra e muitos jovens, que ao tempo viviam uma vida caracterizada por uma estabilidade raramente encontradas nessa época, regressaram à China continental e correram para a linha da frente para servir e participar naquela contenda bélica, acontecendo que muitos deles resultaram gloriosamente feridos ou morreram heroicamente.” Wong Sio Chak disse ainda esperar, através das comemorações, que os jovens possam retirar lições. “Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos, sendo que não nos move o ódio, mas sim a missão de lhes lembrar as lições que podemos retirar desta guerra, para que aprendam com a história e jamais permitam que tal volte a acontecer”, frisou o
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Secretário, explicando que a ideia não é “hipervalorizar a história mas sim para que os jovens sintam o ambiente de estabilidade, paz e desenvolvimento em que vivemos”.
Estranho, mas entranhado
Apesar de Macau ter sido neutro, recebeu meio milhão de refugiados e atravessou um período de grande dificuldade em que muitos passaram fome. No entanto, foi também um território povoado por “milícias pró-japonesas”, responsáveis pelos conflitos e maus-tratos que o exército nipónico não podia realizar, como explica à agência Lusa o jornalista e investigador João Guedes. A contradição de sentimentos em relação à proclamação deste feriado, tanto na China, como em Hong Kong e Macau, é salientada por quatro especialistas ouvidos pela Lusa. Se por um lado, explicam, persiste uma memória dolorosa acerca da presença japonesa em todo o território chinês, por outro, esta conflitua com a atracção dos chineses pelo Japão
contemporâneo, cultura, produtos e gastronomia. “Ninguém do Governo disse que [a criação deste feriado] está relacionada com as tensões actuais. Dizem que tem que ver com a importância de lembrar a história. Claro que fazer este tipo de declaração é já uma indicação de que está, sim, relacionado com tensões actuais”, comenta Barry Sautman, académico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, que investiga questões relacionadas com o nacionalismo chinês. “Quando se tem uma grande parada militar e centenas de milhares de espectadores a assistir é uma grande oportunidade de passar uma mensagem política”, comenta.
You Ji, académico da Universidade de Macau especializado em política externa chinesa, é um entusiasta do feriado: “Ele existe para se lembrar que se mataram pessoas a sangue frio. Acho que é uma boa lição sobre o certo e o errado. Mesmo que as pessoas não leiam livros, nem participem nas actividades, acabam por pensar nestas coisas”. O investigador acredita que, tal como defende o Governo chinês, o Japão não efectuou um “sincero e adequado” pedido de desculpas pelas “atrocidades” da guerra, e que é por isso que a China “não consegue virar a página”, ao contrário da Europa. A parafernália comemorativa – cujos cartazes foram fotografados e reproduzidos nas redes
“Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos” Wong Sio Chak Secretário para a Segurança
sociais – gerou, em Macau, alguma estranheza, em parte devido à linguagem utilizada. You Ji admite o seu “potencial” de desconforto, mas considera, no entanto, que é “difícil condenar que se use este tipo de linguagem porque nos corações [dos chineses] há feridas que ainda não foram curadas”. Bill Chou, politólogo do Instituto de Educação de Hong Kong e antigo docente da Universidade de Macau – de onde saiu depois de acusar a instituição de perseguição política – lembra que “estas comemorações não são um plano do Governo de Macau, que está apenas a organizar um programa de uma autoridade superior”. O investigador alerta para o facto de a história ser pouco debatida em Macau, algo que não é tão gritante no território vizinho: “A maioria das pessoas de Macau nasceu na China, é de uma geração que não foi educada com factos históricos, mas apenas com propaganda”. “Ao nível civil [em Macau], acho que as pessoas não estão realmente comprometidas com isto, o que se verifica pela forte presença nos restaurantes japoneses e pelo interesse pela cultura japonesa”, comenta Bill Chou. You Jia discorda: “Temos de distinguir os dois fenómenos. As pessoas de Macau, e até da China, não detestam os japoneses, basta olhar para os números do turismo. Distinguem a história do presente”. O Japão ocupou uma parte da China, desde 1931 até ao fim da guerra. Razões históricas e disputas territoriais têm intensificado o nacionalismo nos últimos anos. Pequim e Tóquio disputam, por exemplo, a soberania das ilhas Diaoyu ou Senkaku, no Mar da China Oriental. O evento de ontem contou com a presença de cerca de 440 personalidades, entre as quais o sub-director do Gabinete de Ligação do Governo Central da RPC na RAEM, Yao Jin, sub-comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM e Cai Siping, director do departamento político de Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, Zhang Jian. Joana Freitas com Lusa
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Restauração, venda UM Alunos abrem lojas para pôr em prática empreendedorismo e gestão de lembranças e aluguer de bicicletas são agora os novos negócios seus conhecimentos e promover the Run também funciona como o seu sentimento de pertença” à serviço de entregas. de estudantes da instituição. “A nossa intenção é fornecer serUM, que gerem A loja Creatist foi fundada por viços de aluguer de bicicletas a baixo seis alunos – cujo nome alia “criaticusto para estudantes, mas também lojas para colocar vidade” a “artista” – e especializauma oportunidade de estágio para -se na venda de lembranças da outros alunos que também querem em prática o UM, localizando-se na Galeria E1 integrar esta indústria”, disse Li, uma da Universidade. “Deparámo-nos das criadoras deste negócio. que aprenderam com vários problemas na organizaFinalmente, surge a Miss U, loja com os cursos ção, gestão e promoção, mas apesar dedicado à venda de snacks, com o um
Cursos, cursos, negócios à parte
A
Universidade de Macau (UM) permitiu a abertura de quatro novas lojas no seu campus com o objectivo de ensinar aos seus alunos técnicas de Empreendedorismo e como gerir um negócio. De acordo com um comunicado, os alunos que criaram estes espaços dizem que “gerir uma loja no campus ajuda a pôr em prática os
destes, vamos trabalhar bastante para lançar mais lembranças alusivas à UM para que os alunos se sintam mais integrados”, disse Lai, um dos criadores da loja.
Outros serviços
A Umake, por outro lado, mora no Complexo Desportivo N8 da UM e vende postais feitos à mãos e snacks, o nome aludindo à fonética da anterior nomenclatura dada à Universidade: UMAC. Um dos
co-fundadores, Cai, garante ter já aprendido “muito” com a abertura do espaço. O jovem estuda na Faculdade de Gestão Empresarial. A terceira loja chama-se On the Run [Na Corrida, em Por-
PME Defendida entrada prioritária nas operadoras de Jogo
Criar mais para elas
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icardo Siu Chi Sen, professor associado de Gestão Empresarial da Universidade de Macau, sugere que as operadoras de Jogo reservem espaços nos seus empreendimentos para o estabelecimento de marcas locais e de pequenas e médias empresas (PME), assim fomentando a diversificação do mercado através da integração de factores não Jogo. Segundo o Jornal Ou Mun e declarações do Chefe do Executivo na passada quarta-feira, apesar da austeridade de despesas desnecessárias, vai ser realizado um estudo e publicadas medidas para reforçar a promoção de Macau enquanto destino mundial turístico,
mas não só. Serão ainda criadas mais medidas para apoiar as PME e manter a taxa de empregabilidade alta, fazendo com que não se consolide apenas a base, mas também se desenvolva a economia, mesmo durante o ajustamento.
Medida fulcral
Ricardo Siu Chi Sen considera que o apoio às PME é a mais importante de todas as políticas referidas. “Ao longo do tempo, o papel das PME tem sido de passividade. Futuramente, caso se pretenda conjugar os factores não Jogo com o desenvolvimento do sector recreativo, seria positivo
tuguês] e promove a prática de uma vida saudável, gerindo serviços de aluguer de transportes sustentáveis, como bicicletas para andar no campus. Para os membros da Universidade, a On
Flora Fong
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Leonor Sá Machado
leonor.machado@hojemacau.com.mo
Barra é novo ponto de entrada ilegal
O viabilizar a reserva de sítios para negócios de retalho e restauração de PME nos complexos hoteleiros, não esquecendo produtos locais”, começou o académico por sugerir. “Para uma maior efectividade, o Governo deve tentar, ao máximo, coordenar esta medida com a melhoria do sistema dos transportes públicos”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade de implementar um “fundo de desenvolvimento das PME”, como acontece com o Conselho de Estado da China, o académico referiu que o Governo de Macau tem vindo a promover um plano de apoio ao empreendedorismo de jovens ainda que este, aponta, não tenha atingido os objectivos de eficiência. Ricardo Sen defende que os subsídios do Governo não podem ser criados sem uma meta e sugeriu a criação de uma equipa de conselheiros para acompanhar cada um dos casos.
intuito de dar aos alunos mais oferta ao nível da alimentação. Abrir uma loja deste género “sempre foi o meu sonho”, conta Wan, um estudante da Faculdade de Ciências Sociais, que parece ter visto nesta medida da UM uma oportunidade imperdível. “Agradeço sinceramente esta oportunidade e vou recolher opiniões dos clientes para continuar a melhorar o serviço”, destaca.
s Serviços de Alfândega (SA) revelaram que foram detidos 21 imigrantes ilegais, de Janeiro a Agosto deste ano, só na costa e mar da zona da Barra. O curso das obras no terminal e o sistema de iluminação avariado permitem que imigrantes ilegais tentem entrar no território. A autoridade afirmou que vai estudar a viabilidade de montar um sistema de videovigilância no local.
Depois do Jornal Ou Mun ter avançado, na segunda-feira, que a área de costa desde a Escola de Pilotagem até às obras do Centro Modal de Transportes da Barra se tem tornado um ponto de acesso de imigração ilegal, os SA confirmam a notícia, informando, numa resposta ao HM, que até ao momento foram detidos 15 homens e seis mulheres. O chefe do Departamento de Gestão Operacional, Chao Chak Sam, afirmou que a autoridade tem dado muita atenção à situação de entrada ilegal a ocorrer nesta zona e vai, por isso, consolidar o patrulhamento terrestre e marítimo para aumentar a segurança. Quanto à questão do sistema de iluminação avariado, Chao Chak Sam afirmou que como não pertence ao âmbito de gestão da Alfândega, irá transferir a questão para que o organismo competente acompanhe a situação. Ainda assim, a autoridade garantiu que “vai estudar activamente a viabilidade de montagem de câmaras de videovigilância”, de acordo com o Regime Jurídico da Videovigilância em Espaços Públicos. F.F.
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lexis Tam quer promover o hábito de leitura dos residentes e, para isso, o Governo vai abrir algumas bibliotecas 24 horas. Falando à margem da inauguração da nova Biblioteca da Taipa, na quarta-feira, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que a ideia é permitir aos cidadãos que trabalham por turnos acesso aos livros. “Algumas bibliotecas irão entrar, de forma experimental, em funcionamento com um horário de 24 horas, tendo como objectivo servir melhor a população e satisfazer as suas necessidades de leitura e o desejo do saber”, pode ler-se num comunicado que cita o responsável. “Macau, enquanto cidade de cultura, necessita criar um ambiente que promova a leitura, e, sobretudo, encorajar e estimular as crianças e os jovens a formar hábitos da leitura desde cedo, aumentando os seus conhecimentos e formação cultural, fazendo com que Macau progrida no futuro.” Salientando que o prolongamento do horário de funcionamento das bibliotecas deve ter em consideração o princípio de boa utilização dos recursos, Alexis Tam diz que a ideia é, com a fase experimental dos novos horários, perceber se se poderá abrir todas as bibliotecas 24 horas. “[Isto] pode ajudar o Governo avaliar os seus resultados”, disse, citado no comunicado.
Leitura Governo abre bibliotecas por 24 horas
Hábitos que se criam
Maior investimento
A promoção do hábito de leitura junto dos residentes “constitui uma importante política cultural do Governo”, pelo que o Executivo quer também reforçar o investimento de recursos nestes espaços. “Neste sentido, o Governo irá continuar a reforçar o investimento de recursos nas bibliotecas em Macau, melhorando os websites das bibliotecas e outros serviços.” A Biblioteca da Taipa é, actualmente, a maior biblioteca em Macau, com uma área de cerca de 2200 metros quadrados, sendo que esta poderá ser uma das que fará o prolongamento do horário. Certo é já o caso da Biblioteca do Mercado Vermelho que será o primeiro ponto experimental, estando já a ser feitos os preparativos para tal.
O edifício On Son, em Seac Pai Van, vai ter mais 217 apartamentos para venda. A informação surge em despacho publicado em Boletim Oficial, que delega ao presidente do Instituto de Habitação, Ieong Kam Wa, poder para assinar as escrituras de venda destas casas.
Joana Freitas
F
oi confirmado o primeiro caso de brucelose em Macau, doença infecciosa que não assolava o território há mais de 25 anos e que atacou uma criança residente de 11 anos. A brucelose é transmitida através do contacto com carne infectada ou lacticínios não pasteurizados. De acordo com um comunicado dos Serviços de Saúde (SS), a jovem apresentou, entre os dias 10 e 12 de Agosto, febre, úlceras no lábio, erupções cutâneas
e dores articulares no cotovelo. As queixas levaram a criança ao Hospital São Januário por várias vezes, depois de haver melhorias do seu estado. Finalmente, o corpo médico procedeu a análises que confirmaram a existência de brucelose. No entanto, os SS não conseguiram ainda descobrir a fonte da infecção. A brucelose é causada pela bactéria Brucella e existe em bovinos, cães, porcos, ovelhas e cabras, sendo mais comuns em zonas pouco higiénicas, segundo os SS, do Médio Oriente, África Oriental, América do Sul e Central, Mediterrâneo, entre outros. Pode manter-se no sistema de cinco dias a dois meses e os sintomas são semelhantes aos de uma gripe, mas os doentes em estado mais grave podem apresentar meningite e encefalite. Em último caso, pode mesmo ser fatal. Os SS aconselham à prevenção de brucelose com a melhoria das condições de higiene pessoal e alimentar e utilização de protecção quando em contacto com carnes ou lacticínios.
O Conselho de Consumidores (CC) já retirou a certificação de Loja Certificada a uma cadeira de ourivesarias suspeita de vender produtos falsificados, estando agora a estudar o processo e a decidirse sobre a sentença a aplicar a pelo menos cinco das oito ourivesarias da marca. “O CC irá acompanhar o caso e decidir sobre a desqualificação das ditas ourivesarias do sistema de Lojas Certificadas conforme o resultado da investigação e a sentença”, garantiu o CC em comunicado. O caso chegou às mãos do Conselho através dos Serviços da Alfândega e as lojas vão sofrer, como infracção administrativa, um desconto de dez valores na sua avaliação anual. No caso de se tratar de uma situação grave, a qualidade de Loja Certificada será suspendida durante meio ano, período que se estende para os três anos caso se trate de uma infracção criminal. No processo estão envolvidas pelo menos cinco lojas.
IH Seac Pai Van com mais 217 apartamentos para venda
joana.freitas@hojemacau.com.mo
SS Confirmado primeiro caso de brucelose em Macau
CC retira certificação a cadeia de ourivesarias
Galaxy Kevin Kelley nomeado novo Chefe de Operações
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evin Kelley é o novo Chefe de Operações do grupo Galaxy, de acordo com um comunicado da empresa lançado ontem. Kelley tem mais de 40 anos de experiência na área de Jogo, Hotelaria e Entretenimento, supervisionando funções de Desenvolvimento Empresa-
rial, Premium Internacional e Desenvolvimento do Mercado de Massas no Galaxy, no Hotel Starworld e no Broadway Macau. O novo responsável vai igualmente gerir o desenvolvimento das novas fases do empreendimento. O vice-presidente do grupo, Francis Lui, referiu
ser “um grande prazer ter um executivo tão experiente na equipa” do Galaxy. “Estamos ansiosos por trabalhar com Kelley na evolução dos nossos planos para as fases 3 e 4 e levar o GEG [Grupo Entertainment Galaxy] a novos voos, transformando-a na empresa líder do mercado asiático de Jogo e entretenimento”, acrescentou Lui. Já Kelley disse sentir-se “honrado” por fazer parte da equipa, “especialmente numa altura como esta”. O responsável ocupou posições de relevo em vários hotéis e casinos de Las Vegas e Macau, conhecendo tanto o ambiente do Jogo em termos internacionais, como o da região, ao nível local.
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II Guerra | Comemorações “Nunca vamos infligir os sofrimentos passados a outras nações”
Um lugar no centro do mundo O presidente chinês, Xi Jinping, saudou ontem, quinta-feira, a vitória de 1945 contra o Japão, ao dar início às cerimónias do 70º aniversário da capitulação, com um desfile militar, que também saúda a retirada dos japoneses do território chinês. Segundo o presidente chinês, a vitória na guerra contra o Japão tornou novamente a China “um grande país no mundo”. Xi Jinping discursou do alto da Porta da Paz Celestial, onde Mao Zedong proclamou o nascimento da China Popular, no dia 1 de outubro de 1949. No seu discurso, o Presidente afirmou que a China nunca terá políticas expansionistas nem “infligirá os seus sofrimentos passados a outras nações”. Minutos antes do início do desfile militar comemorativo da vitória sobre o Japão, Xi afirmou que o país “continuará comprometido com o desenvolvimento pacífico”. “Nós, os chineses, amamos a paz. Não importa o quão
fortes nos tornemos, nunca vamos procurar a hegemonia ou expansão”, disse o chefe de Estado. Xi Jinping revelou que a China abdicará de 300 mil soldados. “A China seguirá sempre o caminho do desenvolvimento pacífico”, acrescentou, falando de uma tribuna em frente à Praça da Paz Celestial (Tiananmen), numa transmissão ao vivo pela televisão estatal. Assim, o exército chinês passará a contar com (apenas) dois milhões de efectivos.
No desfile participaram mais de 12 mil soldados, 500 peças de armamento militar e 200 aeronaves de vários tipos, representando o que oficiais militares dizem que é a tecnologia mais avançada das forças armadas da China. Mais de uma dezena de novos mísseis balísticos, foram descritos pela imprensa oficial como “destruidores de porta-aviões”. Trata-se de mísseis balísticos de médio alcance DF-21D, que os analistas estimam que possam ser eficazes contra os porta-
Japão pede à China que olhe para o futuro O Japão instou ontem a China a olhar para o futuro em vez de se centrar nos “acontecimentos infelizes do passado”, coincidindo com o desfile militar em Pequim, que assinala os 70 anos do final da II Guerra Mundial. “Espero que a China adopte uma visão mais orientada para o futuro em relação a assuntos da comunidade internacional, em vez de se centrar de forma excessiva nos infelizes acontecimentos do passado”, disse hoje o ministro porta-voz do Japão, Yoshihide Suga. Suga explicou, todavia, que o Governo japonês não fará qualquer avaliação sobre as comemorações da vitória da China sobre o Japão, que decorrem hoje em Pequim.
Presidente condecora veteranos incluindo estrangeiros
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Presidente chinês, Xi Jinping, condecorou ontem 30 veteranos e heróis da resistência da China contra o Japão, numa homenagem que incluiu tanto chineses como estrangeiros. A cerimónia ocorreu no Grande Palácio do Povo, junto à Praça de Tiananmen. Alguns dos homenageados são descendentes de figuras conhecidas da guerra sino-japonesa. Mark Bethune, por exemplo, é sobrinho neto de Norman Bethune, um médico canadiano que, depois de ter servido como assistente das tropas republicanas durante a
guerra civil de Espanha (1936 -1939), viajou para a China para se juntar às guerrilhas comunistas de Mao Zedong. Thomas Rabe, conhecido como o Schindler da China, por ter salvado milhares de chineses durante o massacre de Nanjing - que resultou na morte de 300 mil pessoas - foi também homenageado, através de um familiar. Já o ex-piloto norte-americano Jay Vinyard, de 92 anos, recebeu a medalha em pessoa. Vinyard era membro da mítica esquadra aérea “Tigres Voadores”, que lutou contra os aviões japoneses e ajudou a abastecer a China com armamento e víveres. Também presente esteve Hirosumi Kobayashi, o oficial japonês que durante o conflito colaborou com a resistência chinesa. Entre os veteranos chineses homenageados, a maioria eram soldados da resistência comunista, ainda que alguns tenham lutado no exército do Kuomintang (Partido Nacionalista), que viria depois a perder a guerra civil contra os comunistas e a refugiar-se na ilha de Taiwan. Nas séries de televisão e filmes difundidos na televisão chinesa, o Partido Comunista é descrito como o líder da resistência do país, com a guerrilha comandada por Mao Zedong a desempenhar “o papel crucial na guerra contra o Japão”. Contudo, a narrativa oficial é contrariada pela maioria dos historiadores fora da China, que atribuem a vitória às tropas lideradas pelo general Chiang Kai-shek, então líder das tropas nacionalistas.
-aviões norte-americanos no Pacífico, desfilaram esta manhã na Praça de Tiannamen, em Pequim.
O novo armamento do exército chinês tem, nos últimos anos, suscitado especulação nos circuitos
militares sobre a sua capacidade de alterar as relações de força no oceano Pacífico, tradicionalmente vigiado pela sétima frota dos Estados Unidos. Segundo oficiais chineses, 84% dos equipamentos do desfile militar desta quinta-feira apareceram em público pela primeira vez, incluindo bombardeiros de grande raio de acção. Quase mil soldados estrangeiros, incluindo um destacamento russo, participaram do desfile, presenciado pelo presidente Vladimir Putin, principal figura entre os líderes estrangeiros. O presidente americano, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe recusaram o convite para participar do evento. A presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, cujo país esteve sob o julgo do Japão, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, estavam entre os convidados. O único representante das grandes diplomacias ocidentais presente no desfile é o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
Detidos 40 activistas por protesto contra desfile militar
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elo menos 40 activistas ou manifestantes chineses foram detidos ou perseguidos por tentar ir ao desfile militar realizado nesta quinta-feira em Pequim para protestar ou por criticar o evento, confirmou à Agência Efe a organização Chinese Human Rights Defenders (CHRD). As detenções aconteceram em distintas províncias e cidades da China, como Shandong, Cantão e Xangai, quando activistas e peticionários - cidadãos que viajam à capital para reivindicar justiça tentaram deslocar-se a Pequim, explicou a investigadora da CHRD, Frances Eve.
Um dos casos mais destacados é o de um veterano de guerra incapacitado de 51 anos, Li Jiangliang, que desde o final dos anos 90 pede justiça por uma disputa com diversos funcionários locais que lhe intimidaram e ameaçaram, e que nunca foi resolvida. Pelas suas tentativas de reivindicar justiça, Li foi sentenciado a três anos de prisão e, desde então, considerado um “criminoso” aos olhos do governo. O homem foi interceptado pela polícia no dia 27 de Agosto quando viajava para Pequim depois de sair da província de Henan, com a intenção de reivindicar a amnistia para criminosos anunciada pelo presidente Xi Jinping. Outro dos exemplos destacados pela organização é o de uma peticionária, Chen Qiongshu, que criticou o desfile na internet, com um comentário no qual opinava que o evento era um desperdício de dinheiro público para um país “com vários problemas sociais”. Pelos seus comentários, as autoridades decidiram modificar uma sentença anterior de prisão contra a peticionária - considerada culpada de alteração da ordem pública por participar de um protesto contra a empresa de táxis para a qual trabalhava - que tinha sido comutada por liberdade condicional. Agora as autoridades voltaram atrás e decidiram que Chen deve cumprir um ano e meio de prisão por esse delito.
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Investimentos Fosun avança em Portugal e na Europa
Empresa à conquista do mundo O s investimentos do grupo Fosun avançam, dentro e fora da China, à velocidade de cruzeiro. Os anúncios de projectos, compra de empresas e parcerias estratégicas sucedem-se a um ritmo particularmente intenso e isso tem sido visível ao longo deste ano, quando a empresa já estava lançada na corrida à compra do Novo Banco. O conglomerado chinês, dono da Fidelidade em Portugal, foi um dos três finalistas que chegaram à fase final do processo de venda do banco. Agora, depois de fracassadas as discussões com a Anbang (outro grupo chinês), a Fosun foi chamada à mesa das negociações com o Banco de Portugal (BdP). O interesse do grupo liderado por Guo Guangchang no sector financeiro e segurador está a ganhar expressão. Só na Europa, dois avanços recentes representam um investimento de cerca de 710 milhões de euros. Em Julho, os chineses anunciaram a compra de 100% do banco alemão Hauck & Aufhäuser (H&A), vocacionado para o chamado segmento alto de clientes. Os activos do banco rondam os 3000 milhões de euros (e os activos geridos pela instituição ascendem a 43 mil milhões de euros). O negócio vale 210 milhões de euros.
A este montante soma-se uma proposta no valor de 500 milhões para garantir o controlo de mais um grupo financeiro. No mesmo mês em que avançava para a compra da H&A, a Fosun lançou uma oferta para ficar com o controlo do BHF Kleinwort Bensonb Group, sedeado em Bruxelas. Esta é a empresa-mãe de um grupo financeiro alemão centrado na gestão de património, activos e serviços bancários que rondam os 54,2 mil milhões de euros. Foi também a Fosun este ano que recebeu luz verde dos reguladores do sector bancário chinês para avançar com a criação de um banco online, o Zhejiang Internet Commerce Banking. Na nova empresa, é a segunda accionista, com uma posição de 25%, sendo aAlibaba o principal aliado do negócio, com uma fatia de 30%. Ainda em Junho fechou um acordo para comprar 52,31% da principal seguradora de Israel, a Phoenix. A empresa israelita, fundada em 1949, actua nos seguros e nos serviços financeiros. Para isso, os chineses vão desembolsar 462 milhões de dólares (410 milhões de euros), um valor que a Fosun diz ser “um dos maiores investimentos realizados no sector segurador israelita até ao momento”. O negócio deverá estar fechado em Outubro.
A Fosun vai ainda tomar o controlo de todo o capital de uma outra empresa de seguros, a norte-americana Ironshore. Primeiro, em 2014, comprou 20%, estando prevista a aquisição dos restantes 80%. Aagência de rating Moody’s estima que, quando consolidar a compra da Phoenix com outras empresas do mesmo ramo de actividade nos Estados Unidos, o sector dos seguros vai representar quase metade (49%) de todos os seus activos. Os resultados do grupo mostram o peso desta área de negócio. Os activos líquidos da Fosun ascendem a 52,36 mil milhões de dólares (cerca de 46,5 mil milhões de euros). Nos primeiros seis meses do ano, a empresa apresentou um lucro de cerca de 505,7 milhões de euros. Quase metade do resultado veio dos investimentos na área dos seguros, onde os lucros chegaram até Junho aos 250 milhões de euros.
China abre linha de crédito à Venezuela
Os bons dólares A
Venezuela e a China assinaram ONTEM 14 acordos de cooperação e a atribuição de um crédito de Pequim a Caracas, no valor de 5.000 milhões de dólares, para o desenvolvimento da indústria petrolífera. Os acordos, segundo um comunicado do Ministério de Comunicação e Informação da Venezuela, foram assinados no âmbito da segunda visita oficial do Presidente Nicolás Maduro à China, num ato em que também esteve presente o presidente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento de China, Xu Shaoshi.
“A Venezuela e a China subscreveram um total de 14 acordos, que, além de um plano para elevar a produção petrolífera em 10 anos, contemplam a construção de habitação social, a instalação, em território venezuelano, de uma fábrica de camiões, a fabricação de pneus e a exploração aurífera”, lê-se no documento. Maduro, que se encontra na China para assistir ao desfile militar comemorativo do 70.º aniversário do fim da II Guerra Mundial, marcado para esta quinta-feira, disse aos jornalistas que os dois povos “estão mais perto que nunca” e que o “mais importante” dos
acordos é que facilitarão a chegada de empresários chineses à Venezuela. “Espero que muito rapidamente procedamos à inauguração, na Venezuela, o Instituto Confúcio para o estudo da cultura e idioma chinês”, frisou. Enquanto aos acordos destacou o aumento da produção petrolífera venezuelana ao abrigo do plano de desenvolvimento conjunto para o período 2015-2025. Também citado pela imprensa, Xu Shaoshi disse que o Governo chinês está disposto a “continuar a avançar na cooperação com a Venezuela”.
Perante os sinais de abrandamento da economia chinesa, mas antes da forte turbulência nas bolsas no último mês, a Moody’s alertava que “as aquisições agressivas irão aumentar a pressão de financiamento sobre a Fosun”. Mas para o conglomerado chinês o entendimento é que a aposta no sector dos seguros, que lhe está a garantir uma diversificação geográfica do portefólio de investimentos, lhe permite financiamento a custos mais baixos e no longo prazo, sublinhou a Moody’s numa análise publicada no final de Junho. A agência de informação oficial Xinhua noticiou recentemente uma ligação de uma empresa do ramo imobiliário da Fosun e de Guo Guangchang a Wang Zongnan, ex-líder da empresa pública Bright Food Group, visado num caso de corrupção e condenado a 18 anos de prisão.
Mais de 30 vinhos portugueses arrecadam duplo ouro
T
rinta e cinco vinhos portugueses foram esta semana galardoados com duplo ouro no China Wine & Spirit Awards, um dos mais prestigiados concursos de vinho na China e com forte impacto nas vendas naquele país. “No mercado dos vinhos, as medalhas conquistadas funcionam como referência nos processos de decisão de compra, pelo que, com a renovação destas distinções, antevemos excelentes impactos comerciais”, comentou Vasco d’Avillez, Presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa. A capital portuguesa foi a região nacional mais premiada com duplo ouro - a mais alta distinção do concurso - ao somar 14 medalhas, com destaque para os tintos ‘Amoras Reserva 2011’, ‘Escada 2014’, ‘Infinita e Reserva 2011’ e o branco ‘Bigode 2014’. Ao todo, Portugal obteve mais de 100 medalhas, atribuídas por um painel de uma centena de jurados, seleccionados entre os maiores distribuidores de
vinhos da China. A competição incluiu vinhos provenientes de 35 países. Conhecido como “Faguojiu” (literalmente álcool da França, em chinês), o vinho é cada vez mais consumido entre a emergente classe média chinesa, mas o potencial de crescimento continua a ser considerado muito grande. Per capita, o consumo na China não chega a um litro e meio - em Portugal ronda os 40 litros - mas só em 2014 o país importou cerca de 383 milhões de litros de vinho, posicionando-se como o maior consumidor do mundo, segundo dados das alfândegas chinesas. A França é de longe o principal fornecedor de vinho para a China, e Portugal está no 11.º lugar, atrás da Espanha, Itália e Alemanha. Pelas contas da ViniPortugal, a associação que tem como missão promover a imagem de Portugal enquanto produtor de vinhos, no espaço de seis anos (2008-2013) as exportações de vinhos portugueses para a China subiram de 1,8 milhões de euros para 14 milhões de euros.
Portugal Lançada plataforma “online” luso-chinesa
Vinde e falai todos
A
primeira plataforma ‘online’ luso-chinesa de informação, divulgação turística e promoção de oportunidades de negócios, intitulada Portal Martim Moniz, é apresentada na quinta-feira em Lisboa para atrair a comunidade chinesa a investir em Portugal. Segundo os responsáveis pelo projecto, a plataforma já se encontra ‘online’, apresentando conteúdos bilingues “da cultura ao
comércio, da educação ao turismo e dos investimentos à gastronomia”. O Portal Martim Moniz pretende “servir como ponte de ligação entre as duas nações (Portugal e China) de modo a preservar e fortalecer laços que vêm de há mais de 500 anos”, explicou o director executivo da plataforma, Den Chuang, em comunicado. Para o director de marketing do Portal Martim Moniz, João Ferro, o “crescente aumento do turismo e investimento directo chinês em Portugal” foram factores importantes para a criação da plataforma, tendo como objectivo facilitar a interculturalidade e impulsionar o aumento
do interesse da comunidade chinesa em Portugal. A plataforma ‘online’ vai ser “um facilitador sociocultural, constituindo uma base credível de informação actualizada acerca da cultura e oferta turística portuguesa, sendo um meio difusor de reais oportunidades no sector do empreendedorismo para investidores chineses”, referiu João Ferro. A apresentação oficial do Portal Martim Moniz vai ser na quinta-feira, no Espaço Hua TaLi, no Centro Comercial Martim Moniz, onde “são esperadas mais de 200 pessoas de ambas as comunidades”, informaram os responsáveis pelo projecto.
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eventos
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Saxofonistas invadem Fundação Rui Cunha
A Fundação Rui Cunha apresenta amanhã um concerto de jazz que dá primazia ao saxofone, instrumento de sopro vastamente usado neste estilo musical. Chakseng Lam foi o protagonista do mais recente concerto no local, sendo este um jovem local a prosseguir estudos no Conservatório de Haia. Ao lado de Chakseng tocam outros dois saxofonistas, Seng Fat Lao e Alex Cheng. Para completar o quinteto, estão Derrick Huang e Fu Chan. O concerto acontece às 21h00 e tem entrada livre.
Casa de Portugal Abertas inscrições para curso de Desenho A Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal abriu as inscrições para um curso de Desenho, com Madalena Fonseca como instrutora. As aulas serão ministradas todas as segundasfeiras, de 7 de Setembro a 14 de Dezembro. As 13 sessões têm uma lotação máxima de oito alunos e as aulas são leccionadas em Língua Portuguesa. O curso tem o custo total de 1170 patacas e há possibilidade de pagar a prestações. Madalena Fonseca é uma artista portuguesa residente no território com um vasto repertório nas áreas do desenho e da pintura.
Ópera gratuita para festejar retorno à Pátria
Ana Moura grava novo álbum nos Estados Unidos
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A
Cinema Alegria acolhe um concerto da Ópera de Pequim às 20h00 deste sábado, com o aniversário do Retorno de Macau à Pátria como mote. O espectáculo é gratuito e organizado pela Fundação Artística de Ópera Chinesa da China e pela Fundação Macau, pelo que os interessados podem adquirir bilhetes até às 18h00 de hoje. Este ano celebra-se o 16º aniversário de criação da RAEM, em Dezembro de 1999. A Fundação Artística de Ópera Chinesa da China existe com o objectivo de promover o gosto e conhecimento da população por
este estilo musical, que faz já parte da cultura deste país. Em 2009, o colectivo foi convidado pela Fundação Macau para trazer a Macau o Grupo Juvenil da Ópera de Pequim da China e o Grupo de Arte da Ópera de Pequim da China para espectáculos deste género musical. O concerto deste ano conta com a participação do grupo referido, proveniente da província de Hubei. Em palco serão apresentadas as peças clássicas ‘Cobra Branca’ e ‘Rei Macaco’. Cada residente pode adquirir um máximo de quatro bilhetes, contactando o Centro UNESCO.
fadista Ana Moura está nos Estados Unidos a gravar um novo álbum, sucessor de “Desfado”, de 2012, e no qual volta a contar com produção de Larry Klein, anunciou a editora Universal Music. A cantora revelou no início desta semana, através das redes sociais, que estava em Los Angeles para gravar um novo álbum, novamente nos Henson Recording Studios e com a participação de Larry Klein, que já produziu “Desfado”. O novo álbum, ainda sem título, será editado ainda este ano.
À venda na Livraria Portuguesa Milhões de Pensamentos Perversos • Ogi Ogas, Sai Gaddam Quando se fala de sexo, ninguém diz a verdade. Mas na privacidade da Internet, homens e mulheres revelam-se nos sites que procuram, nas fantasias que perseguem. Cientes disso, dois neurocientistas entraram no “quarto escuro” das pesquisas online, onde não há tabus e cada clique é uma revelação. E descobriram impressionantes diferenças entre o desejo sexual masculino, feminino e homossexual.
Ana Moura, que editou o primeiro álbum em 2003, é uma das vozes do fado que tem tido mais projecção internacional, tendo colaborado com nomes como Prince, Rolling Stones e Caetano Veloso. “Desfado”, que teve edição internacional pela Decca, está há mais de
dois anos na tabela nacional de vendas e atingiu já a quádrupla platina. Foi gravado entre Almada e Los Angeles, com a participação de Herbie Hancock, valeu-lhe elogios da crítica internacional e foi reeditado em 2014 acompanhado de um álbum ao vivo, gravado no festival Caixa Alfama, em Lisboa. Com esta versão ao vivo, a fadista conquistou o Prémio Amália para o Melhor Disco do Ano. Este mês, Ana Moura regressa ao festival Caixa Alfama, com um concerto no dia 19. No Outono actuará na Bulgária, na Turquia e na Austrália.
Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net
Porto de Abrigo • Elizabeth Berg Neste novo romance, Elizabeth Berg urde uma história maravilhosamente escrita e rica em reminiscências sobre uma mãe e uma filha em trânsito emocional. Helen Ames – que enviuvou recentemente, a lidar com a perda e com a dor, incapaz de fazer o trabalho que sempre a sustentou – começa a depender demasiado da filha de vinte e sete anos, Tessa, e intromete-se na vida dela, dando conselhos não solicitados e mal recebidos. Os problemas de Helen são agravados pela descoberta chocante de que o marido, afável e aparentemente fiel, levava, ao que tudo indica, uma vida dupla.
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IPOR Encontro sobre Português na próxima semana
Pela língua que é nossa O
Definir estratégias
Para o director do IPOR, este encontro, que decorre entre 10 e
Lloyd Cole cancela concertos em Portugal
O
músico britânico Lloyd Cole cancelou os concertos que tinha agendado este mês em Braga e em Lisboa com músicos portugueses, alegando que não conseguiu preparar o espetáculo planeado, revelou o Teatro Maria Matos. Lloyd Cole iria interpretar temas eletrónicos, feitos com sintetizadores modulares, em Berlim, com Hans-Joachim Roedelius, e em Portugal, com músicos portugueses. No dia 16 estaria no GNRation, em Braga, com Miguel Pedro e António Rafael, e no dia 22 no Maria Matos, em Lisboa, com André Gonçalves, Nuno Moita e Luís Desirat. “Têm existido problemas técnicos, muitos, mas a raiz do problema é interna e de processo mental”, afirma Lloyd Cole num comunicado enviado pelo teatro municipal, explicando que a preparação do espetáculo estava a demorar mais tempo do que o previsto. “No final, fui incapaz de traduzir este processo num espetáculo ao vivo que pudesse levar
em digressão, com múltiplas peças consecutivas de sintetizadores, como tinha originalmente planeado”, explicou. Lloyd Cole tem 54 anos e é um dos nomes do indie pop britânico, que ficou conhecido sobretudo nos anos 1980 com
“Vamos reunir em Macau representantes da rede de Ensino de Português no Estrangeiro da Coreia do Sul, Índia, Indonésia, China, Tailândia e Vietname”
gonçalo lobo pinheiro
Instituto Português do Oriente (IPOR) é palco, este mês, do Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Língua Portuguesa na Ásia, “uma acção estratégica” na promoção do Português na região, defendeu o director do IPOR, João Neves. “O IPOR volta a conferir, por recomendação dos seus associados, uma dimensão regional à sua acção, na coordenação de projectos de promoção da Língua Portuguesa e vamos, nesse sentido, reunir em Macau representantes da rede de Ensino de Português no Estrangeiro da Coreia do Sul, Índia, Indonésia, China, Tailândia e Vietname”, explicou João Neves.
João Neves Director do IPOR
12 de Setembro, é, desde logo, “extremamente importante para uma partilha de experiências e de abordagens ao ensino da língua e da cultura” e, por outro lado, uma “forma de conhecimento das realidades de cada contexto que é fundamental para a definição de uma estratégia colaborativa em torno da formação em Língua Portuguesa”. O encontro de Macau tem, assim, como
principais objectivos “partilhar reflexões e experiências de ensino de Português como língua estrangeira nos diferentes contextos e, sobretudo, promover a criação de uma rede que coloque em interacção agentes de promoção do Português nestes países, focada no desenvolvimento de projectos e actividades colaborativas”, disse. João Neves acrescentou também que
esta intervenção do IPOR, que conta com a colaboração do Instituto Camões, se insere no “compromisso assumido pela instituição e os seus associados de procurar fornecer contributos ao reforço do papel de Macau como plataforma para o ensino do Português na região Ásia-Pacífico e âncora para redes de colaboração envolvendo diferentes actores regionais”. LUSA/HM
Fotografias revelam interior da casa de Cesariny os The Commotions. Depois do fim da banda, em 1989, o músico seguiu uma carreira a solo, entre canções elétricas e acústicas, sem esquecer a discografia antiga. Agora, apresentaria uma faceta menos conhecida, a da composição de música eletrónica, que mantém também desde a década de 1980, quando comprou o primeiro de vários sintetizadores. Em entrevista esta semana ao jornal britânico Guardian, Lloyd Cole lamentava-se de ter vendido todos os sintetizadores quando os computadores se impuseram no trabalho de estúdio, e que por isso estava a construir um sintetizador modular, a pensar nos concertos em Berlim e em Portugal. Atualmente a viver nos Estados Unidos, Lloyd Cole editou o último álbum, “Standards”, em 2013. Este ano foi também feita uma edição completa do trabalho com The Commotions, intitulada “Commotions Collected Recordings 1983-1989”.
O
interior da casa do poeta e pintor Mário Cesariny (1923-2006), na rua Basílio Teles, em Lisboa, é revelado desde ontem, numa exposição de fotografias de Duarte Belo no Museu da Electricidade. “Cesariny - Em casas como aquela” é o título desta exposição que revela os livros, quadros, manuscritos e objectos de um dos mais importantes artistas do movimento surrealista em Portugal, com inauguração prevista para as 18:00. Comissariada por António Gonçalves, a mostra fica patente até 11 de Outubro, no Museu da Electricidade, resultado de uma parceria com a Fundação Cupertino de Miranda, com sede em Vila Nova de Famalicão, detentora de um significativo acervo dos surrealistas portugueses.
As fotografias foram realizadas no âmbito da atribuição a Mário Cesariny do Grande Prémio EDP Artes Plásticas, em 2002, no âmbito do qual a Fundação EDP realizou uma exposição retrospectiva do artista, que esteve patente no Museu da Cidade, em Lisboa, entre 2004 e 2005. A exposição esteve patente posteriormente no Centro de Estudos do Surrealismo, em Vila Nova de Famalicão, e no Círculo de Bellas Artes de Madrid, em 2006. Nascido em Lisboa, em 1968, Duarte Belo é formado em arquitectura, e, desde 1986, trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquitecturas em Portugal.
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artes, letras e ideias
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OS PRIMEIROS SINO-PORTUGUESES
F
ernão Mendes Pinto e seus companheiros, após o barco naufragar na enseada de Nanquim e depois de muitas peripécias, seguiam presos, sendo transportados pelo Grande Canal até Pequim. E foi nessa situação que em 1543 Mendes Pinto soube da existência de Inês de Leiria, reconhecendo-a como filha de Tomé Pires e no ano seguinte, já no Norte da China Ming, encontrando-se à lenha num bosque apareceu-lhe Vasco Calvo, ficando a saber ter ele casado com uma chinesa, de quem teve quatro filhos. Serão esses dois rapazes e duas raparigas, cujo nome não conhecemos, que conjuntamente com Inês de Leiria ficaram registados para a História como os primeiros luso-chineses. Fernão Mendes Pinto, regressado a Portugal em 22 de Setembro de 1558 após vinte e um anos de viagens pela Ásia, segundo refere Armando Cortesão, “confirmou tudo isto numa declaração escrita, ainda hoje existente, que, em 1582, fez a uns jesuítas que o visitaram em Almada”. Fernão Mendes Pinto partiu para a Índia em 1537 e dois anos depois, de Goa “seguiu com Pêro de Faria, que ia assumir pela segunda vez a capitania de Malaca, com António de Faria e Galiote Pereira, homens que em anos subsequentes haveriam de manter estreitas relações com a China” Rui Manuel Loureiro. E com ele prosseguindo: “este período da vida do autor da Peregrinação permanece em completa obscuridade, uma vez que as actividades dos grupos de portugueses que deambulavam pelo Extremo Oriente escapavam quase por completo ao controlo dos observadores mais atentos da realidade ultramarina”. Para além de Mendes Pinto escrever sobre as vivências, tanto do seu estar como do ouvir contar, foi pela carta de Cristóvão Vieira que se soube terem as mulheres de Tomé Pires em Cantão no ano presente (1524) sido vendidas como fazenda de traidores e aí ficaram espalhadas. Gonçalo Mesquitela complementa: “Tomé Pires teria sido degradado para a terra onde viviam sua mulher e filha, Sampitay”, a actualmente Pi Zhou, 邳州, a Norte da província de Jiangsu. Os primeiros mercadores portugueses a navegar pela costa da China e a aportar em ilhas desertas, não tiveram ocasiões para ter contacto com mulheres chinesas. Esse relacionamento afectivo terá começado com a primeira Embaixada portuguesa ao Império do Meio. Não seria de estranhar haver outros que, através da compra, rapto, ou entrega apaixonadamente voluntária, na China geraram
filhos e formaram famílias, entre as duas gerações de aventureiros, marinheiros e mercadores que, desde 1513 pela costa de Guangdong andavam e se refugiaram por Fujian e Zhejiang nos anos quarenta do século XVI. Em fim de ciclo e pronuncio dos novos tempos, a viagem do irmão jesuíta Fernão Mendes Pinto, que como embaixador do Vice-Rei da Índia seguia para o Japão, quando por Macau passou em 1555. Estreava-se Amagau como porto de mercadores portugueses que o começavam a usar, mas só dois anos mais tarde aí iniciaram a construção das primeiras casas de tipo permanente. Representava Haojing (o até então nome chinês de Macau) nesse tempo a reabertura, das negociações oficiais entre portugueses e chineses e de certa forma, das costas marítimas chinesas, praticamente desertas pois, por decreto imperial, a população daí foi retirada. Servia então o precioso percurso de água conhecido por Grande Canal, que longitudinalmente atravessa o interior da China, como a principal via de transporte.
Na primeira pessoa Fernão Mendes Pinto descreve no capítulo XCI da Peregrinação a história do seu encontro em 1543 com Inês de Leiria, que se desenrola em Sampitay, quando no percurso do Grande Canal navegando, aí fez uma paragem. Capítulo que se descreve, “Como chegámos a uma cidade que se dizia Sampitay e do que passámos com uma mulher cristã que achámos nela.” E segue o texto: “Deste terreiro para diante continuámos nossa viagem pelo rio acima mais onze dias, o qual nesta paragem é já tão povoado de cidades, vilas, aldeias, lugares, fortalezas e castelos que em muitas partes há menos distância de uns aos outros que tiro de espingarda. E assim toda a mais terra que víamos, quanto alcançava a vista, tinha muita quantidade de quintas nobres e casas de seus pagodes com muitos curucheos (coruchéo para a construção é um remate piramidal) cozidos em ouro, que representavam tamanha majestade e nobreza que todos pasmávamos do que víamos. Desta maneira chegamos a uma cidade que se chamava Sampitay, na qual estivemos cinco dias por causa da mulher do chifuu que ia muito doente. Aqui, com sua licença, saímos em terra assim presos como íamos, e nos fomos todos pelas ruas a pedir esmola, que os moradores delas nos deram muito lar-
gamente. Os quais, admirados de verem gente da nossa maneira, se ajuntavam em quadrilhas a nos perguntarem que homens éramos, e de que reino, ou como se chamava a nossa terra. A que respondíamos conforme ao que já tínhamos dito muitas vezes: que éramos naturais do reino de Sião e que nos perdêramos no mar com uma tormenta indo de Liampó para a enseada do Nanquim, e que éramos mercadores que já fôramos ricos e tivéramos muito de nosso, inda que nos viam daquela maneira. Uma mulher que estava ali presente à volta de outras muitas, ouvindo a nossa prática respondeu: - Cousa é essa de que ninguém se deve de espantar, porque nunca tal vimos senão ficarem pela maior parte sepultados no mar os que muito labutam no mar. E por isso, amigos meus, o melhor e mais certo é fazer conta da terra e trabalhar na terra, já que Deus foi servido de nos fazer de terra. E dando-nos com isto dous mazes de esmola, como a pobres, nos encomendou muito que não curássemos de fazer viagens compridas onde Deus permitira fazer as vidas tão curtas. Mas logo após isto desabotoou a manga de um jubão de cetim roxo que trazia vestido, e arregaçando o braço nos mostrou uma cruz que nele tinha esculpida como ferrete de mouro, muito bem feita, e nos disse:
- Conhece porventura algum de vós outros este sinal que a gente da verdade chama cruz, ouviste-lo alguma hora nomear? A que todos nós em o vendo, pondo os joelhos em terra com o devido acatamento e alguns com as lágrimas nos olhos, respondemos que sim. A que ela, dando um grito e levantando as mãos para o Céu, disse alto: - Padre Nosso que estás nos Céus, santificado seja o teu nome... E isto disse-o na linguagem portuguesa. E tornando logo a falar chim, como que não sabia mais do Português que estas palavras, nos pediu muito que lhe disséssemos se éramos cristãos. A que todos respondemos que sim, e tomando-lhe todos juntos o braço em que tinha a cruz, a beijámos, e dissemos tudo o que ela deixara por dizer da oração do Padre Nosso, por que soubesse que lhe falávamos verdade. Quando ela isto ouviu e entendeu daqui que nós éramos cristãos, toda banhada em lágrimas se despediu da gente que ali estava, e nos disse: - Vinde, cristãos do cabo do mundo, com esta vossa verdadeira irmã na fé de Cristo, e quiçá que parenta d’ algum de vós outros por parte do pai que me gerou neste desterro. E começando a encaminhar connosco para sua casa, os upos, que eram os beleguins (agentes de polícia, quadrilheiros)
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José Simões Morais
que nos traziam, o não queriam consentir e nos diziam que fôssemos pedir esmola pela cidade, como nos era mandado pelo chifuu, senão que nos levariam à embarcação. E isto diziam pelo interesse que disso lhes cabia, que, como já disse, era a metade de toda a esmola que tirávamos. E fazendo mostra de nos quererem tornar à embarcação, a mulher lhes disse: - Bem vos entendo, e bem sei que não quereis perder nada do vosso. E assim é razão, já que não tendes outros percalços de que vivais. Então, metendo a mão na bolsa lhe deu dois taéis de prata, de que ficaram contentes, e com licença do chifuu nos levou a sua casa onde nos teve todos os cinco dias que aqui estivemos, fazendo-nos sempre muito gasalhado e tratando-nos com muita caridade. Aqui nos mostrou um oratório em que tinha uma cruz de pau dourada, com uns castiçais e uma lâmpada de prata, e nos disse que se chamava Inês de Leiria e que seu pai se chamara Tomé Pires, o qual deste reino fora por embaixador a el-rei da China. E que por um alevantamento que um nosso capitão fizera em Cantão houveram os chineses que era ele espia, e não embaixador como ele dizia, e o prenderam com outros doze homens que trazia consigo. E depois que por justiça lhes deram muitos açoutes e tratos, de que logo morreram os cinco, aos outros desterraram apartados uns dos outros para diversos lugares, onde morreram comidos de piolhos, dos quais um só era vivo que se chamava Vasco Calvo, natural de um lugar da nossa terra que se dizia Alcochete. Porque assim o tinha muitas vezes
Os encontros que Fernão Mendes Pinto relatou, serviram para saber o que acontecera a duas personagens da nossa História, sorte que não terá ocorrido a outros e não fosse este grande viajante, haveria uma lacuna ao fechar o já longo capítulo do desastroso período inicial das relações luso-chinesas do século XVI ouvido a seu pai, chorando muitas lágrimas quando nisto falava. E que a seu pai lhe coubera em sorte ser seu degredo para aquela terra, onde se casara com sua mãe, porque tinha alguma coisa de seu, e a fizera cristã. E sempre em vinte e sete anos que ali estivera casado com ela, viveram ambos muito catolicamente, convertendo muitos gentios à fé de Cristo, de que ainda naquela cidade havia mais de trezentos, que ali em sua casa se ajuntavam sempre aos domingos a fazer a doutrina. E perguntando-lhe nós que era o que diziam ou que rezavam, respondeu que nenhuma coisa mais que somente porem-se todos em joelhos diante daquela sua cruz, e com as mãos levantadas e os olhos no Céu dizerem todos: - <Senhor Jesus Cristo, assim como é verdade que Tu és verdadeiro filho de Deus, concebido pelo Espírito Santo no ventre da Virgem Santa Maria para salvação dos pecadores, assim nos perdoa nossos pecados para que mereçamos ver a tua face na glória do teu reino, onde estás assentado à destra do Mui Alto. Padre Nosso que estás nos Céus, santificado seja o teu nome. Em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo, ámen>. E beijando todos a cruz se abraçavam uns aos outros e se iam para suas casas. E assim viviam todos muito conformes e amigos sem haver entre eles ódio ou inimizade alguma. E que outras mais orações lhe deixara seu pai escritas, que depois lhe furtaram os chineses, por onde não ficaram sabendo mais que só aquilo que nos tinha dito. A que respondemos que muito bom era o que lhe tínhamos ouvido, mas que nós lhe deixaríamos outras orações muito boas antes que nos fôssemos. E ela nos disse: - Assim o fazei pelo que deveis a um Deus tão bom como tendes, e que tanto fez por vós, e por mim, e por todos. E mandando-nos pôr a mesa nos proveu de comer muito abastadamente, e assim o fez todos os cinco dias que nesta sua casa estivemos. O qual o chifuu nos concedeu por um bom presente que ela mandou a sua mulher, e lhe pediu muito que fizesse
com seu marido que nos tratasse bem, porque éramos homens que Deus tinha muito à sua conta. E ela lhe prometeu de o fazer assim, com muitas palavras de agradecimento pelo que lhe mandara. Dentro nestes cinco dias que estivemos em sua casa fizemos sete doutrinas aos cristãos, de que todos ficaram muito animados, e Cristóvão Borralho lhe fez um caderninho na letra china em que lhe deixou escrito o Pater noster, a Ave Maria, o Credo, a Salve Regina, os Mandamentos, e outras muitas orações boas. E com isto nos despedimos dos cristãos e da Inês de Leiria, a qual parecia verdadeira cristã segundo o que vimos nela esses poucos dias que estivemos em sua casa. Estes cristãos nos deram cinquenta taéis de esmola, que depois nos foram bons para remédio de muitas necessidades em que nos vimos, como direi mais adiante. E a Inês de Leiria por si nos deu outros cinquenta taéis muito escondidos, e nos pediu muito que em nossas orações a encomendássemos a Nosso Senhor, pois víamos quanta necessidade tinha disso” Peregrinação.
Os primeiros luso-chineses Não resistimos a transcrever este capítulo que em primeira mão dá a informação colhida no ano de 1543 da existência de Inês de Leiria, como uma das primeiras luso-chinesas, pois filha de Tomé Pires e de uma chinesa de Sampitay com quem este se casara. Ficou-se a saber ter Tomé Pires falecido por volta de 1540 e também desse tempo, poder ainda estar vivo Vasco Calvo, o mesmo que em meados de 1521 tinha em Tunmen ficado preso dos chineses e conseguira enviar uma carta três anos depois, que chegou às mãos dos portugueses. Com Almerindo Lessa foi a atenção chamada para os outros primeiros luso-chineses ao referir ser “Vasco Calvo, casado com uma chinesa e com filhos, dois rapazes e duas raparigas” e que Fernão Mendes Pinto diz ter encontrado no ano de 1544 na cidade de Quansi, não longe de Pequim: “um homem velho que, depois de várias peripécias, lhe disse, com muitas lágrimas: <Sou, irmão meu, um pobre cristão português, por nome Vasco Calvo, irmão de Diogo Calvo, que foi capitão da nau de D. Nuno Manuel, natural de Alcochete, que agora faz vinte e sete anos que nesta terra fui cativo com Tomé Pires, que Lopo Soares mandou por Embaixador a este Rei chim, que depois acabou desastradamente por um desarranjo de um capitão português>. Então <me relatou todo o discurso de sua vida, e de tudo o mais que tinha passado, desde que partira deste Reino até então, e assim da morte do Embaixador Tomé Pires, como dos mais que Fernão Peres de Andrade deixou com ele em Cantão para
irem ao Rei da China, o que, segundo me ele contou, não se conforma muito com que os nossos Cronistas escrevem>”, Fernão Mendes Pinto, na Peregrinação. É pelo texto da Peregrinação que se pode reconstituir o que provavelmente se passou tanto com Vasco Calvo, como com Tomé Pires. Nas palavras de Armando Cortesão: “Quando Pires, viajando pelo Grande Canal, quer na ida para Pequim, quer no regresso, parou em Sampitay, conheceu a mãe de Inês de Leiria, possivelmente, dama de certos meios e categoria, como cabia a um embaixador, com quem se juntou ou casou à maneira da terra.” “Pelo que dizem Castanheda e, sobretudo, Gaspar Correia e o referido documento chinês, e Mendes Pinto confirma, se vê que Pires foi desterrado de Cantão, o que Vieira e Calvo não sabiam à data das suas cartas. Talvez nessa altura Inês de Leiria já tivesse nascido, ou estivesse para nascer, e é perfeitamente natural que Pires houvesse seguido com a filha e sua mulher para Sampitay, a terra em que esta tinha casa e bens”. Assim, Tomé Pires nascido por volta de 1465, talvez em Leiria pela razão do apelido que deu à filha, como feitor e boticário veio para o Oriente, onde entre Cochim e Malaca escreveu o manuscrito Suma Oriental, que neste ano de 2015 se comemora os seus quinhentos anos. Resolvido a regressar à terra que o viu nascer, foi em Cochim Tomé Pires escolhido para chefiar a embaixada ao Imperador da China. Após uma longa viagem, em 1517 Tomé Pires chegou à China como primeiro Embaixador português, mas em 1520, depois de ter encontrado o Imperador Zhengde em Nanjing, seguiu para a capital Beijing para ser recebido oficialmente e entregar o presente e a carta do Rei de Portugal. Tal nunca veio a ocorrer devido, à doença e morte do imperador e a outras peripécias anteriormente narradas. Foi Tomé Pires feito prisioneiro em 1522 e dois anos mais tarde desterrado para Sampitay, junto do Grande Canal, onde criou família. É por Inês de Leiria que ficamos a saber a parte final da história de seu pai, Tomé Pires. Comunicou-a a Fernão Mendes Pinto, quando por um feliz acaso o encontrou. Pela descrição de Inês de Leiria, órfã poucos anos antes do encontro com Fernão Mendes Pinto, ou seja, cerca de 1540, permite deduzir-se ter Tomé Pires estado na China durante vinte e três anos até à sua morte, pois Portugal nunca entregou ao Sultão de Malaca a sua cidade. Os encontros que Fernão Mendes Pinto relatou, serviram para saber o que acontecera a duas personagens da nossa História, sorte que não terá ocorrido a outros e não fosse este grande viajante, haveria uma lacuna ao fechar o já longo capítulo do desastroso período inicial das relações luso-chinesas do século XVI.
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hoje macau sexta-feira 4.9.2015
Face de rosto
N
ão acabou. Outras vezes, podia dizer: inacabou. Mais definitivo talvez, nítido até. Tactear. Lentamente. De início com muito cuidado porque num dos cantos dói. E no outro falta. Branca, texturada. Cheia de vazio. As fibras com rasgos de brusquidão e uns miolinhos regulares do corte. Sem instrumentos mais do que as mãos. As duas. Simétricas e leves, levemente cegas, mesmo. Voltadas para baixo, primeiro que tudo. A rugosidade áspera. Fresca. Que nada passe daqui para lá. O contrário sim, procurar. Ou esperar. Depois unindo levemente os dedos. Revirando-a à procura da interrogação certa. Do que é exacto na impossível exactidão daquele momento. Circunvoluções invisíveis mas que encerram tudo o que pertence. Já. Tudo está sempre. Naquele canto uma palidez solar. Bem no meio que não se encontra, fugidio como as linhas a partir de um ponto qualquer e que param só onde já é tarde, às vezes. Recurvadas. Em formas feias. Erradas. A destruir. Como pensamentos inapagáveis. Nada metafísico nisto. Na lua sim e não. Só nunca acabou. Nunca terminou o desconhecimento e nunca se esgotou o medo. Do dia do não encontro. Dos dias dos não encontros. Que não tendo uma conta certa espreitam o erro da abordagem. Por vezes há que fingir enganar essas invisibilidades e começar pelo erro. Brutalmente mesmo. O olhar é socrático e reage por uma vez, arquitectando um argumento. E tudo rola a partir daí. Montanha acima, primeiro. Bem ou mal. Recomeçar. Muitas vezes recomeçar. E de novo. Sempre com o tacto nos olhos. Espiar o desconhecido que se infiltra. De onde veio e para que tende. Tudo por fazer. Tudo magicamente possível. Olhar um foco nítido sobre o vazio. Em cheio, ali. A vencer o medo. Inacabado. Inspirar o prazer do tacto. Devagar. Não. Nunca acabou o medo. Tactear lentamente. Com dedos leves, quase insensíveis. Uma linha, uma curva. Mandíbula humana. A textura áspera a recobrir a superfície lisa e quente estruturada por dentro. Cheia de desconhecido. Ou com as costas da mão. E depois a palma. De início sempre com o cuidado do não saber. Mesmo dos olhos que devolvem a carícia ou a interrogam. Tudo está ali. Onde magoar. Também. Onde se ilumina sem saber de onde. Quando. Como. As duas mãos. Em concha. Simétricas sobre a simetria. Por vezes encostada com força e a pender sobre uma só das mãos. Essas nada incorruptíveis. Maculadas de interrogações. A rede da textura mais complexa do que em qualquer brancura lisa ou rugosa. Logo ali atrás inacessível. Fortaleza exposta. A defender-se ferozmente. O que belo, transcende. Logo por isso. E em fuga. E ainda mais cheio de erro. De manchas ou invisíveis linhas. Enoveladas, centrípetas, quebradas, atadas em nós. Ou de marinheiro. Ou soltas e sem fim nos limites do horizonte. Desfiadas. Por vezes rectas quase cor-
tantes. Não. Nunca se esgota o medo. Do dia, aquele dia do não encontro. Que é impossível de recomeçar. E poucas vezes a partir do erro. Dizer que inacabou seria uma forma curiosa de sugerir um fim do que não foi. Mas o medo. Há o interior. Fechado. Escuro sempre por comparação. (Falava do exterior à superfície. Mas também…). O resto a superfície. Cerrada também. E as questões a mais. Intrusas. Distraem sem benefício. Crescem, absorvem, sufocam. Tudo por saber. Magicamente impossível. Olhar desfocado. Entre cá e lá. Pelo temor. Sempre inacabado. A emoção do tacto. Muito devagar. Saber-lhe os movimentos antes de ensaiados a tinta. Mais ou menos. Depois. Como passos de dança que podem falhar por um pequeno deslize da respiração. E preferir o improviso ao esquema rígido e prévio. Centrar. Lembrar os gestos possíveis, mas não saber se serão desenhados. As mãos, outras mãos, e os olhos, outros olhos. No lugar de encontro. Ou desencontro. Ontem ou amanhã. Agora. Ou não afinal. Não era, e assim, nunca foi. A pele dos lábios irrepetível. E a densidade. Tudo. Abandonar o possível. Roupas. Concentrar. Esquecer. E as linhas entretecem por fim uma teia a fio negro fino. Outras brancas no branco, a indicar o sentido já. Urgente. A curvatura, a intensidade, o vazio, o cheio. Uma inércia boa. Ainda com desconhecido mas a desvendar-se já como um caminho a sair de um nevoeiro compacto. Também a partir daí é possível o afago, dos tons, de pequenas traquinices de emoção para iludir a confusão do real. Ou mecanizar ritmicamente um gesto, formular uma textura já não física mas fictícia. As formas a oferecer outras. A ganhar espaço para lá e para cá. Ilusões. As mãos já aí esquecidas de si. Os olhos também. Nada mais do que o filme a revelar-se a pouco e pouco. Encruzilhadas para parar e pausadamente reflectir o curso. E os gestos desencadeiam às vezes por fim um encadeado conhecido. Uma renda ponto por ponto. Linha branca, esta. Até ao segundo a seguir. Tudo o resto ainda por detrás de uma névoa de risco imprevisível. E dai uma inércia boa. Sem interrogações agora, mas sem certezas também. Ou o repouso esquecido de tudo. Nunca foi. Segundos, talvez. Tudo o resto talvez igual ao acima descrito. Não a face. Papel, fino e transparente ou folha espessa com duas faces. Só uma de rosto. A do desenho do rosto. Vice- versa. Virada, de novo as possibilidades infindas do branco. Já a face do rosto, de espessura maior, mais densa. Opaca. Como a do rosto do desenho, a que é impossível virar do outro lado. Detrás do rosto. A que não tem outro lado, aí o universo inteiro, redondo de escuridão. Caminhos infinitos do negro. Um mundo de trevas e luzes, convexo, pejado de sinais furtivos, equívocos. Sinais. E indizível. O rosto.
anabela canas
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artes, letras e ideias 29
de tudo e de nada
Anabela Canas
desporto
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GP Parente espera regressar a Macau
Nas mãos da McLaren ft
lvaro Parente é um dos pilotos oficiais da McLaren GT, o braço desportivo do construtor automóvel britânico de carros super-desportivos. O piloto natural da cidade do Porto está a aguardar uma decisão da McLaren GT para saber se em Novembro regressa ao Circuito da Guia para a primeira edição da Taça do Mundo FIA de GT. “Neste momento não sabemos ainda se vamos a Macau”, disse ao HM. “Mas é evidente que gostaria de estar presente. O traçado da Guia é fabuloso, muito exigente e onde o piloto pode fazer a diferença, o que entusiasma qualquer um”, explicou o piloto do Porto, que acredita que “ o McLaren 650S GT3 poderia ser competitivo nas ruas de Macau, que exigem um carro com um chassis muito equilibrado”. O ex-campeão inglês de F3 conhece bem o Circuito da Guia de duas participações na Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3. A primeira em 2003, onde esteve envolvido num aparatoso acidente na Subida de São Francisco, e a segunda em 2004, onde terminou a sua corrida mais cedo nos muros dos Esses da Solidão. Dificilmente o construtor britânico não correrá em Macau, até porque este ponto do globo é extremamente importante
hoje macau sexta-feira 4.9.2015
GTs sobem, Turismos descem
em termos de vendas de veículos de estrada. O piloto português, com a velocidade que lhe é reconhecida, seria certamente uma mais valia.
“Já não corro em Macau desde os meus tempos de Fórmula 3 e seria fantástico poder regressar para lutar pela vitória na Taça
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Anúncio Concurso público nº 02/DSAL/2015 Prestação de serviços de segurança à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, em representação da entidade adjudicante, faz público que, por Despacho do Secretário para a Economia e Finanças de 13 de Agosto de 2015 e nos termos do artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 63/85/M, de 6 de Julho, se encontra aberto o concurso público para a “Prestação de serviços de segurança à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais”. 1. Entidade adjudicante: Secretário para a Economia e Finanças. 2. Serviço por onde corre o processo do concurso: Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais. 3. Duração da prestação de serviços: 1 de Dezembro de 2015 a 30 de Novembro de 2017, um período de 24 meses. • Duração da prestação de serviços no Centro de Formação de Segurança e Saúde Ocupacional (EDF. IND. POU FONG): 1 de Janeiro de 2016 a 30 de Novembro de 2017, um período de 23 meses) 4. Condições gerais dos concorrentes: Podem participar no concurso, pessoas singulares ou colectivas que comprovem ser titulares de licença válida para a exploração da actividade de segurança privada, nos termos da Lei n.º 4/2007, de 9 de Julho. 5. Local, data e horário para consulta do processo do concurso e obtenção da cópia do processo: • Local: Divisão Administrativa e Finaceira a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, nºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 2º andar. • Data: a partir da data da publicação deste anúncio no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau até à data e hora marcadas para o acto público do concurso. • Horário: Dias úteis (2ª a 6ª feira, das 9:00 horas às 13:00 horas; 2ª a 5ª feira das 14:30 às 17H45 horas; 6ª feira das 14:30 horas às 17H30 horas). • Custo de aquisição de cópia do processo do concurso: MOP 100,00 (cem patacas). • Os interessados no concurso também podem descarregar (download) gratuitamente o programa do concurso e o caderno de encargos na página electrónica da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (http://www.dsal.gov.mo/link/concurso_publico/p.htm). 6. Local, prazo e hora para a apresentação das propostas: • Local. Divisão Administrativa e Financeira da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, nºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 2º andar. • Prazo e hora: 5 de Outubro de 2015 (2ª feira), até às 17:30 horas (não serão aceites propostas entregues fora do prazo). 7. Caução provisória: MOP150.000,00 (cento e cinquenta mil patacas), que pode ser prestada por garantia bancária ou depósito em numerário em nome da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais da Região Administrativa Especial de Macau. 8. Local, data e hora do acto público do concurso: • Local: Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, nºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 2º andar, sala de formação 2F-11. • Data e hora: 6 de Outubro de 2015 (3ª feira), pelas 10:00 horas. Nota: Os concorrentes ou os seus representantes presentes no acto público do concurso que pretendam reclamar e/ou esclarecer dúvidas eventualmente surgidas nos documentos apresentados, deverão mostrar documentos que atestem o seu estatuto. 9. Sessão de esclarecimento e visita às instalações: A sessão de esclarecimento destinada aos concorrentes terá lugar no dia 10 de Setembro de 2015, pelas 9:30 horas, na Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sita na Avenida Dr. Francisco Vieira Machado, nºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 2º andar, sala de formação 2F-09. Após esta sessão será feita uma visita às instalações a que se destina a prestação de serviços deste concurso.
tomar uma decisão”, rematou o piloto que este ano tem defendido as cores da Mclaren no Blancpain Endurance Series e no International GT Open. No dia 6 de Setembro terminam as inscrições para os construtores, sendo que a FIA irá revelar a lista de inscritos dos construtores admitidos quatro dias depois. Construtores e equipas têm mais quinze dias para confirmar os seus pilotos na prova, sendo que no dia 1 de Outubro a lista oficial final de inscritos será dada a conhecer ao público.
25 de Agosto de 2015. O Director Subst.º, Lau Wai Meng
do Mundo FIA de GT, que será uma competição muito exigente e importante, mas sou piloto oficial da McLaren GT e será a equipa a
Uma das dúvidas que se colocava com a despedida do WTCC do programa do Grande Prémio de Macau era quem iria ocupar as garagens no paddock principal. Com os Fórmula 3 e as motas a permanecerem nos mesmos espaços, os GTs, que nos últimos anos tiveram as suas boxes no parque de estacionamento subterrâneo do Porto Exterior, irão ocupar o lugar do WTCC, enquanto que os concorrentes da Corrida da Guia, que este ano contará para o recém-criado campeonato TCR International Series, ficarão no lugar anteriormente ocupado pelos GT. Sérgio Fonseca
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( F ) utilidades
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tempo aguaceiros ocasionais min 26 max 31 hum 70-98% • euro 8.88 baht 0.23 yuan 1.25
Cineteatro
O que fazer esta semana
Cinema
love detective Sala 1
love detective [c]
Falado em cantonês legendado em chinês e inglês Filme de: Wong Pak-Kei Com: Ivana Wong, Pakho Chau, Ram Chiang 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Sala 3
hero 2015 [b]
Falado em japonês legendado em chinês e inglês Filme de: Nikhil Advani Com: Takuya Kimura, Keiko Kitagawa 14.15, 19.00
a tale of three cities [c]
Sala 2
no escape [c]
Filme de: John Erick Dowdle Com: Owen Wilson, Pierce Brosnan, Lake Bell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Falado em cantonês e mandarim legendado em chinês e inglês Filme de: Mabel Cheung Com: Sean Lau, Wei Tang, Hoi Chun, Elaine Jin 16.30, 21.15
Hoje Concerto de Kayhan Kalhor e Amigos Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as 150 e as 300 patacas
Aconteceu Hoje
Amanhã
Larry Page e Sergey Brin criam a Google
Festival de comemoração de 10º aniversário Blademark Albergue SCM, 15h00 às 21h00 Entrada livre Concerto de Jeffrey Lewis & The Jrams Live Music Association, 21h00 Bilhetes a 120 patacas Concerto de Jazz Fundação Rui Cunha, 21h00 Entrada livre
Diariamente Projecto Influxus 2015 (até 23 de Setembro) Babel Entrada livre Exposição de pintura “Blademark” de Fortes Pakeong (até 12/09) Albergue SCM Entrada livre Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre “A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre
4 de SETEMBRO
h o j e h á f i l m e “Timing” (Emily Chan, 2015) O fotógrafo Bo Wan poderia ter ido trabalhar para Portugal, mas desistiu por querer pedir em casamento a namorada, Hen Tsen, bailarina de profissão. Namoraram durante cinco anos, começando no dia em que acontece o festival de fogo de artifício em Macau. Bo conheceu a filha do seu senhorio, Iat Iat, que ajudou o jovem a organizar, em segredo, o pedido de casamento, mas Hen Tsen não entendeu a união, pensando que estava a ser traída. Acaba por terminar a relação e diz-lhe que parta para Portugal… Mas será que acaba aqui a história dos dois? “Timing” é uma obra da realizadora local Emily Chan em cooperação com empresas de Pequim. Flora Fong
• No dia 4 de Setembro de 1998, os ‘Google Guys’ criam aquele que viria a tornar-se no maior motor de busca do mundo, o Google, que se transformou numa empresa multinacional de serviços online e software. Com a missão de “organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil”, nasceu, a 4 de Setembro de 1998, a Google Inc. O nome deriva de “Googol”, termo da matemática que designa um número 1 seguido de 100 zeros. A empresa fundada por Larry Page e Sergey Brin, dois estudantes da Universidade Stanford, tinha como slogan “Don’t Be Evil” [Não Sejas Mau], criado pelo engenheiro Paul Buchheit. E a simplicidade do conceito contrasta com a multiplicidade de serviços e soluções que o gigante da Internet foi desenvolvendo, ao longo dos anos. Os primeiros anos da Google foram marcados por um rápido crescimento, que transformou o simples motor de busca numa cadeia de produtos, desde software online, a serviços de e-mail (Gmail), plataformas de anúncios, ou a ferramentas de redes sociais, como a Google+ e o descontinuado Google Buzz, passando pelo navegador Google Chrome, o programa de edição de fotografias Picasa, entre muitos outros. O gigante que Larry Page e Sergey Brin criaram colocou-se numa posição de liderança do sistema operativo para smartphones Android, o que representa uma peça importante neste puzzle de soluções de Internet. Os números da Google – que tem sede em Mountain View, no estado da Califórnia – são impressionantes: é executado com um milhão de servidores em data centers de todo o mundo. O motor de busca processa mais de mil milhões de pedidos de pesquisa por dia e gera vinte petabytes de dados, também diariamente. Esta posição de domínio no mercado suscita críticas, relacionadas com a privacidade, direitos autorais e censura. No entanto, a verdade é que o projecto que Page e Brin lançaram, em 1996, no doutoramento na Stanford University, Califórnia, e que nasceu a 4 de Setembro de 1998, é hoje uma das maiores marcas do mundo - o Alexa classifica o Google como o website mais visitado do mundo, que vale cerca de 35 mil milhões de euros, segundo estimativas.
fonte da inveja
Não se pode dizer que o destino existe,
mas seria uma fatalidade se não existisse.
João Corvo
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opinião
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H
á duas semanas atrás decidi mandar umas bocas sobre o universalmente aceite estatuto de “internacional” de Hong Kong e de Singapura. Pelo que ora decidi dar alguma continuidade ao tema, transferindo contudo a conversa para uma outra área e focando as atenções apenas em Hong Kong. Todavia, antes de mais, caríssimo leitor, deixo aqui um esclarecimento: sou um grande admirador de Hong Kong, cidade onde também cresci, tantos que foram os fins-de-semana ali passados desde a minha infância. Aliás, ainda hoje visito Hong Kong assiduamente, tanto por motivos de lazer como de trabalho. Por outro lado, também não escondo que a minha forma de estar na vida é, de certa forma, influenciada pela cultura pop de Hong Kong já que durante a minha infância e adolescência segui religiosamente os programas de televisão e os filmes da vizinha ex-colónia. Isto tudo apenas para dizer que gosto genuinamente de Hong Kong. Esclarecimento feito, vamos ao que interessa. E o caríssimo leitor, que é atento e perspicaz, sabe certamente que quando se começa um discurso da forma como comecei, logo a seguir vem um “mas” e parte-se para a violência. Sempre houve um certo mal-estar entre Macau e Hong Kong. Não sei ao certo nem como nem quando terá surgido, mas provavelmente com o próprio estabelecimento da vizinha ex-colónia no século XIX e com a sua progressiva ascendência como interposto comercial no Sul da China, ao mesmo tempo que Macau progressivamente perdia a sua importância. Não se pode falar em rivalidade entre Macau e Hong Kong: são duas cidades com perfis completamente diferentes que desempenham funções distintas, pelo que não competem sequer no mesmo campeonato ou modalidade. Mas o que é certo é que Hong Kong cresceu e tornou-se na metrópole que é hoje. Ganhou o estatuto que ganhou, sendo uma das principais praças financeiras mundiais e um centro de serviços de referência internacional. E, com isso, a malta de Hong Kong passou a olhar para Macau – e não só Macau – como algo inferior. Existe, por isso, uma certa arrogância por parte de Hong Kong que, naturalmente, Macau não aceita. Muito menos nós, maquistas de gema, que somos tão orgulhosos da nossa cidade e das nossas origens. O meu avô Lourenço, no seu tempo um brilhante jogador de hóquei em campo, nunca escondeu o especial prazer que lhe dava derrotar Hong Kong nos jogos do Interport. Jogava de forma agressiva e tinha uma stickada forte. E a bola de hóquei em
Wilson Yip, Ip Man 2
Hong Kong sã assi
campo é dura como pedra. O guarda-redes daquela selecção tinha medo dele. A verdade é que às vezes a malta de Hong Kong merece. Infelizmente existem sempre uns espertinhos da vizinha RAEHK que pensam que são os melhores do mundo e por vezes têm a mania que tudo e todos – incluindo Macau – devem fazer as coisas à maneira deles. Porque tudo o que seja diferente de Hong Kong é para eles estranho e, portanto – ponto principal – errado. Ora, ao longo dos meus 13 anos de vida profissional aqui em Macau, tive o privilégio de trabalhar com excelentes profissionais – e repito: excelentes profissionais – de Hong Kong com quem mantive magníficas relações de trabalho. E de amizade até.
“Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.”
No entanto, quando sinto que estão a pisar o risco, devolvo-lhes sem cerimónias a dose de mau feitio maquista que acho que merecem, tipo stickada forte do meu avô, deixando-os chulados com um sabor amargo na boca. Estou-me a lembrar de um episódio muito interessante que foi assim: numa sessão de abertura de propostas de um concurso público presidida por mim, um dos concorrentes era uma empresa de Hong Kong – e uma grande empresa até – que apresentou uma proposta com deficiências formais, não cumprindo o estipulado no Programa de Concurso. A proposta não foi admitida, pelo que os representantes desse concorrente reclamaram imediatamente. E com aquela arrogância. Os argumentos deles? “Em Hong Kong é assim que fazemos e nunca tivemos problemas!” Estavam a pedi-las, certo? A minha resposta, sem esconder desprezo, foi assim: “Desculpe, mas de acordo com os parágrafos X, Y e Z deste Programa de Concurso, está estipulado que o concorrente tem de fazer assim, assado e cozido, e vocês não o fizeram. Não sei como as coisas funcionam em Hong Kong, mas aqui em Macau a vossa proposta não pode ser aceite. Em Macau vigora a lei!” (*)
Os restantes concorrentes de Macau riram-se e trocaram olhares de cumplicidade comigo. Não escondo que esse episódio me deu imenso prazer. Pelo que, de vez em quando, e como entretanto comecei a ganhar cabelos brancos e a senioridade profissional já me permite fazer determinadas coisas, até me dou ao luxo de lançar ataques preventivos à malta de Hong Kong, mesmo na ausência de qualquer tipo de provocação. Pelo que, caríssimo leitor, tenho aqui umas boas para partilhar consigo e não me importo que as utilize sempre que lhe apeteça dar umas bengaladas à malta de Hong Kong. E a piada da coisa é que têm como base a mesma arrogância à la Hong Kong, só que virada contra eles próprios: Saúde “Sabe, costumava ir a Hong Kong para consultas médicas, mas deixei de ir depois de todos os recentes medical blunders. Só no ano passado houve em Hong Kong sete casos de objectos cirúrgicos esquecidos dentro do corpo dos pacientes após cirurgia. Prefiro ir a Bangkok, o Bumrungrad é espectacular e tem médicos ingleses. De onde vêm os vossos médicos? São locais, certo?” Água com chumbo “No outro dia estive em Hong Kong, lavei
opinião 33
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André Ritchie
sorrindo sempre
carta aberta
Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas
e fast-track. Por isso, nos fins-de-semana, gosto de ir a Hong Kong: mais espaço, menos gente, pessoal mais amigável, boas refeições a preços acessíveis. É tudo mais lento e laid-back. Consigo relaxar.”
“Maçãs podres” do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong
A
Dinheiro “Nunca percebi por que razão as cores das vossas notas não seguem correctamente as nossas: as vermelhas devem ser de 10, e não de 100; as roxas devem ser de 20, e não de 10; as castanhas devem ser de 50, e não de 500. A única que acertaram foi a de 1000. What were you thinking?”
pós a sua recente deslocação a Macau, Rosa Teixeira Ribeiro, Secretária-Geral do STCDE (Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas de Portugal no Estrangeiro) rejeita formalmente as acusações formuladas pelo Sr. José Pereira Coutinho, candidato a membro permanente do CPP pelo círculo China, Macau e Hong Kong.
Bandeira “Ah e tal, Occupy Central… Mas afinal por que razão a vossa bandeira é vermelha?”
Construções ilegais “Em Macau somos muito rigorosos e construções ilegais não são permitidas. Em Hong Kong não existem leis que regulam isso, certo? O Henry Tang e o próprio CY Leung admitiram ter obras ilegais em casa, não foi?”. Grade Prémio “Então vocês falharam a candidatura à Formula E? Eles quiseram vir para Macau, mas rejeitámos. Mas afinal porquê querem vocês copiar Macau? Venham ver o nosso Grande Prémio, já vamos na 62ª edição. E temos carros de competição de verdade, não são eléctricos.” Passaporte “Nunca consegui perceber essa treta do British National Overseas passport. Nós não temos nada disso. Aliás, ouvi dizer que vocês quando vão à Inglaterra com um passaporte desses, têm de fazer fila para o balcão All Other Nationalities. Que nacionalidade é essa, afinal?” Fins-de-semana “Macau está-se a tornar demasiado stressante
Sorrindo Sempre
Não há Sorriso Sempre porque já escrevi muito. Mou ah, nám tem. Sorrindo sempre. (*) “Em HK vigora a lei (HK kong fat lot ga)” era uma expressão muito utilizada em Hong Kong nos anos 80 e motivo de orgulho dos cidadãos daquela cidade.
“Maçãs podres” é um termo altamente difamatório para quem, em condições cada vez mais degradadas, assegura um serviço reconhecido de elevada qualidade. Os funcionários do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong têm-se revelado trabalhadores incansáveis, com grande capacidade de adaptação e de inovação, recebendo os utentes de forma isenta e sem discriminação, contrariamente ao afirmado pelo candidato. A sua prestação de trabalho tem-se caracterizado pelo profissionalismo, imparcialidade, brio e dedicação.
Lisboa, 1 de Setembro de 2015-09-03 Rosa Teixeira Ribeiro, Secretária-Geral do STCDE (Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas de Portugal no Estrangeiro) tiago alcântara
os dentes com a água da torneira e pimba, fiquei logo com uma diarreia. Agora, em Hong Kong, só lavo os dentes com água engarrafada.”
E uma que dá para tudo Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.” Brincadeiras à parte, a verdade é que Hong Kong é uma cidade magnífica e desenvolveu a sua própria identidade cultural, pelo que em muitos aspectos é, ou então julga-se, auto-suficiente. No entanto, é vítima do seu próprio sucesso, pois em muita coisa vive para o seu próprio umbigo. E depois pretende ser uma espécie de cidade-estado, tipo Singapura – mesmo sabendo que isso nunca vai acontecer. Hong Kong tem por isso de deixar essa atitude arrogante, olhar à volta, abrir-se e preparar uma estratégia a longo prazo para se manter competitiva. O mundo mudou e o campeonato já não é o mesmo, sobretudo dada a ascensão de algumas cidades chinesas. No entanto, parece que ainda não acordaram para a vida e continuam iludidos: num artigo recente do South China Morning Post, foi noticiado que cerca de 90% dos cidadãos de Hong Kong abaixo dos 30 anos é trilingue. E esse facto foi registado como sinal de uma sociedade competitiva, preparada para os desafios do século XIX. Sendo que, contudo, essas três línguas são afinal o inglês, o cantonense e o mandarim... Nenhuma delas verdadeiramente estrangeira para Hong Kong, convenhamos. Não se ponham a pau, não. Correm o risco de ser ultrapassados e esquecidos. E no dia em que isso acontecer não lhes vai valer de nada fazer birras e protestar com o argumento “em Hong Kong fazemos assim”. Ninguém vai dar ouvidos. Eu avisei.
Rosa Teixeira Ribeiro deplora que o candidato não tenha optado por unir todos os interessados em torno de um projecto comum em defesa dos interesses e objectivos de todos os nacionais portugueses, tendo preferido designar bodes expiatórios que nem sequer se podem defender directamente e pessoalmente. Mas a verdade vem sempre acima, pois não é por acaso que o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong, graças ao trabalho dos seus funcionários operacionais, administrativos, técnicos e diplomáticos, é um posto reconhecido pela sua capacidade de trabalho e de adaptação, na vanguarda e totalmente investido na sua missão de representação de Portugal e defesa dos seus cidadãos. Por prova disto, os trabalhadores estarão a postos no dia 6 de Setembro de 2015, para receber todos os eleitores que se deslocarão ao Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong, incluindo quem tão pouco respeito lhes manifestou.
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Leocardo
bairro do oriente
Im Sang-soo, The Housemaid
Hindi lubos
A
manifestação organizada no último domingo por uma associação de empregadores dos serviços domésticos, em parceria com a Associação Geral das Mulheres de Macau teve uma adesão que ficou “aquém das expectativas”. Dos alegadamente mil inscritos na parada participaram apenas pouco mais de uma centena – e é assim que anda a coerência por estas bandas: à dízima do seu valor facial. Pode ser que as centenas de ausentes sejam pessoas que caíram em si, chegando finalmente à conclusão de que se iam expor a um ridículo: qual a intenção
em protestar por um serviço, que sabendo de antemão no que consiste e de que contornos se rodeia, continuam a considerar “indispensável”? No entanto dos que levaram a petição ao Palácio do Governo houve quem até dissesse algo de interessante, aliás, num mundo melhor, esta manifestação faria todo o sentido. Permitam-me um pequeno exercício, não do contraditório, mas do
que tenta olhar a situação do outro ponto de vista, em vez de se apressar a chamá-lo de “xenófobo”, e outros impropérios. Com os melhores cumprimentos, aqui vai ela. Concordo que uma empregada doméstica ou outra mão-de-obra não-residente venha para Macau para esse efeito, e não com um visto de turista para depois andar à procura de um “sponsor”. Parece-me a todos os
“Muita da precariedade em que alguns destes TNR se encontram é igualmente culpa nossa, senão digam lá: quem é que passou a ter as filipinas e indonésias como mais do que apenas “empregadas domésticas?”
títulos legítimo que alguém queira saber do passado de uma pessoa que vai colocar na sua casa, ora sozinha, ora tomando conta de crianças ou idosos do seu agregado familiar. Todas estas causas e mais algumas outras referidas por estes pobres tansos têm a sua razão de ser, ninguém duvida disso, ou duvida? O problema aqui não é tanto “o quê”, mas “quem”; são as mesmas pessoas que criaram este estado de coisas que vêm agora fazer barulho. Foi a negociata das agências, os recrutadores ilegais, o emprego em “part-time” (que é ilegal para os TNR, recorde-se) e todas essas “escapadelas” que levaram a um ponto em que é tolerado contratar alguém de quem nada se sabe para fazer um trabalho para o qual pode nem estar habilitado. Da nossa parte, da comunidade portuguesa, continuamos nesse “tilt” de olhar para tudo como se nos estivessem a fazer o mesmo – isto pelo que li e ouvi por aí a este respeito. Mais uma vez, nem todos os filipinos são “de Manila”, e alguns deles preferem este “passar mal” de que aqui desfrutam de quando em vez, do que ao “dolci far niente” que os aguarda no país de origem, com a diferença deste “far niente” não ser nada “dolci”. A “gente bonita” vai logo buscar a escala dos “direitos humanos” para medir a coisa, quando muitas vezes nem sabe que o primeiro colchão onde muitos filipinos dormem na sua vida encontram aqui em Macau, no apartamento que dividem com mais sete ou oito deles. As “condições mínimas de higiene”, de que alguém famosamente rotulou o facto de ter que se tomar banho de pé, nada são atendendo ao facto de que existe água quente, algo que no interior das Filipinas “é um luxo”, assim como ter telefone residencial, em vez precisar de andar centenas de metros até ao único entreposto na aldeia com comunicação para o exterior. É verdade que em comparação a muitos de nós, que não dispensam duas idas de férias a Portugal por ano (em muitos casos para ostentar), as filipinas e as indonésias “vivem mal”, e que merecem todo o nosso apoio e solidariedade. Mas atenção, que aceitar que se torçam as regras não é dar carta branca à anarquia total, e se este problema “não é nosso”, um pouco de moderação na hora de cometer certos julgamentos é recomendada. Até porque muita da precariedade em que alguns destes TNR se encontram é igualmente culpa nossa, senão digam lá: quem é que passou a ter as filipinas e indonésias como mais do que apenas “empregadas domésticas”? A consciência, esse depósito de entulho que por lá foi ficando esquecido... PS: O título do artigo significa qualquer coisa como “Não é bem assim”, em filipino.
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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Célia Boavida, consultora informática
“Vou ter saudades de Macau” S
empre pronta para viajar e com sorriso na cara são as linhas base na vida de Célia Boavida. Argentina, Estados Unidos, Holanda, Suíça, Japão, Singapura e Xangai são apenas alguns dos sítios por onde a consultora informática já passou. “A empresa onde trabalho está a apostar muito na internacionalização e temos um cliente muito forte na Ásia, o que faz com que surjam oportunidades no Oriente”, começa por contar ao HM. Um dia o convite surgiu. A empresa onde Célia Boavida trabalha avançou com a decisão de abrir um escritório em Macau e a consultora não hesitou quando a administração – sabendo do seu gosto pela Ásia – lhe apresentou a proposta. “Como há alguns anos já tinha assumido projectos internacionais, fizeram-me o convite quando quiseram criar uma equipa”, acrescenta, sublinhando que sempre gostou “imenso da Ásia”. Macau é a experiência profissional internacional mais longa em que, até à data, a consultora embarcou. “Estou em Macau há dois anos e meio, é o sítio em que estou há mais tempo”, conta, relembrando que o primeiro impacto, embora já tivesse contacto com o mundo asiático, foi “estranho”. “Embora já tivesse trabalhado na China, em Xangai, são realidades distintas.
Chegar a Macau foi um bocadinho, posso dizer, [um] choque”, partilha, frisando que visualmente foi um grande impacto. “Macau pareceu-me um pouco ‘selva urbana’, mas não bem estruturada e por isso no início foi um bocadinho difícil de me adaptar”, conta. A equipa de trabalho – permitindo que a consultora não viesse sozinha – foi um grande suporte no processo de adaptação. “A equipa serviu muito para se apoiar entre si. Dávamos muito apoio uns aos outros, isso foi óptimo, super vantajoso”, assinala.
Viver a viajar
Natural de Lisboa, mas sempre a viver em Alverca do Ribatejo, Célia Boavida não esconde a vontade que tem em abraçar o mundo e viajar sem parar. Macau é um ponto estratégico nesse aspecto, defende. “É muito fácil viajar aqui à volta, isso para mim é muito positivo, é mesmo muito bom”, remata. O ordenamento do território e a falta de espaços verdes são os aspectos menos positivos aos olhos da consultora. “Tenho mesmo muita pena que não existam mais espaços verdes para a população poder passear e usufruir. Há muita aposta no jogo e no imobiliário e falta, por isso, essa qualidade de vida, a capacidade de oferecer às pessoas uma
forma melhorada de aproveitarem a sua cidade”, defende. O caminho para o estatuto de qualidade de vida ainda é longo, mas ainda assim viver em Macau oferece algumas coisas que outras cidades não conseguem. “Não é das cidades que eu consiga dizer que tem muita qualidade de vida, mas temos vantagens, a monetária é uma delas”, remata.
Carinho na bagagem
Sem esconder o seu lado doce e carinhoso, Célia não hesita quando lhe perguntamos o que de melhor Macau trouxe à sua vida: as pessoas. “O que vou levar, quando for embora, com muito carinho é o grupo de amigos que criei e que vou conhecendo”, aponta. O território chinês é marcado por um processo social bem mais forte que no país natal, diz. “Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso. E o que de facto levo com maior carinho é o convívio com os meus amigos, a interacção, o apoio, as coisas que fazemos juntos, os jantares, as saídas. Vou levar isto para Portugal, com grande afecto”, argumenta. Os afectos, que aqui são vividos com mais intensidade, fazem deste Macau um
território especial, tão especial que parece que se entranha na vida de cada que por aqui passa. “Acontece, muitas vezes, por ser um ponto de passagem das pessoas, que alguns chegam e outros vão. A diferença é que mesmo indo embora, acho que aqui se fazem amizades para a vida, sinto isso. Talvez por as coisas se viverem intensamente, as amizades que se fazem, independentemente onde as pessoas possam estar ou ir, são relações que ficam para sempre. É muito positivo. E posso dizer que falo por experiência própria”, explica.
Uma marca para sempre
Entre sorrisos, Célia Boavida assume que nem sempre é fácil viver em Macau, e que há muitas pessoas a defender essa ideia. Ainda assim é inegável que “todos nós, mais cedo ou mais tarde, quando formos embora de Macau vamos ter saudades”. “É um traço comum a toda a gente, sinto isso. Tenho certeza que vou ter saudades. Macau faz parte da minha história”, remata. Sem planos a longo prazo, a consultora vai abraçando as oportunidades conforme surgem. “Ao final de cada ano de contrato a empresa pergunta se quero continuar ou não e eu aceitei agora por mais um ano, depois logo vejo”, termina. Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
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cartoon
por Stephff
Benfica Júlio César e Jonas perto de renovar
tragédia migrante no mediterrâneo
O Benfica está perto de garantir a permanência de Jonas e de Júlio César, cujos contratos expiram no final da presente temporada, avança A BOLA esta quinta-feira. O irmão e empresário do avançado, Tiago Gonçalves, está em Lisboa para concretizar o entendimento, sendo expectável que tudo possa estar resolvido até ao final da semana ou o mais tardar na próxima. Quanto a Júlio César, que esta quinta-feira completou 36 anos, o guardaredes tem praticamente tudo certo para assinar um novo contrato, em princípio válido por mais duas épocas.
«Marretas» Piggy e Cocas separam-se antes de nova temporada
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Miss Piggy e o sapo Cocas anunciaram a sua separação, definindo uma nova dinâmica para a próxima temporada da série «Os Marretas», que estreará em Setembro nos EUA pela emissora ABC. Em comunicado conjunto publicado online, a glamourosa e obcecada pela fama Miss Piggy e o anfíbio optimista e afável Cocas disseram que não estarão envolvidos romanticamente, mas que continuarão a trabalhar em conjunto na televisão e noutros projectos. «Depois de uma cuidadosa reflexão, ponderada e disputas consideráveis, o sapo Cocas e eu tomamos a difícil decisão de terminar o nosso relacionamento romântico», afirmou Miss Piggy na sua página no Facebook. Ela acrescentou: «As nossas vidas pessoais são agora distintas e separadas, e vamos sair com outras pessoas, porcos, sapos, etc. Este é o nosso único comentário sobre este assunto privado.» «Os Marretas», uma colecção de personagens de marionetes criados por Jim Henson em 1950 e de propriedade da Walt Disney, tornou-se um fenómeno da cultura pop norte-americana.
Criado gelado com imagem de japonês criminoso de guerra
U Chung Mong-Joon denuncia apoio ‘ fraudulento’ a Platini
Jogos de bastidores O sul-coreano Chung Mong-Joon, candidato à presidência da FIFA, acusou ontem a Confederação Asiática de Futebol (AFC) de “fraude eleitoral”, no apoio ao ‘rival’ francês Michel Platini, também ele candidato à liderança do organismo. O presidente da AFC, Salman bin Ibrahim Al Khalifa, que já demonstrou publicamente o seu apoio a Platini, terá enviado, segundo Chung Mong-Joon, cartas a quase todos os líderes federativos asiáticos, solicitando o apoio ao candidato francês. Coreia do Sul e Jordânia, do também candidato Ali bin Hussein, terão sido os únicos países que não receberam as “cartas não solicitadas”. Como prova, Chung Mong-Joon fez questão de revelar o conteúdo de uma das cartas enviadas por uma federação asiática ao secretário-geral da FIFA. “Queremos confirmar (nome da federação) o nosso apoio exclusivo à candidatura de Michel Platini e, comprometemo-nos,
que todos os envolvidos sejam responsabilizados.
Dentro do sistema
em não assinar qualquer outra declaração de apoio a outro candidato”, lê-se numa das respostas federativas, ao pedido de apoio do candidato gaulês. “É um caso óbvio de fraude eleitoral, que infringe os direitos básicos dos outros candidatos”, disse Chung Mong-Joon, em declarações à imprensa sul-coreana. Chung Mong-Joon, de 63 anos, exige a abertura de uma investigação por parte do comité eleitoral na FIFA, na medida em
O sul-coreano, um dos donos da Hyundai, considerou ainda Platini um “homem arrogante”, que não deveria ser candidato à liderança da FIFA, pois está “muito próximo do sistema passado da entidade”, além de ser um ex-aliado próximo do presidente cessante Joseph Blatter. “Está bem claro que a justiça da eleição presidencial da FIFA ficou seriamente comprometida”, acrescentou Chung, que disse ainda ter enviado as cartas para o comité eleitoral e ético da FIFA, requisitando a investigação do caso, além de uma imediata reposição da verdade. As eleições para a presidência da FIFA, a realizar a 26 de Fevereiro, estão a ser abaladas com alegações de ‘jogos de bastidores’, tal como o organismo, após a detenção de sete dos seus dirigentes em Maio, cujo impacto levou à demissão de Blatter, dois dias após ter sido reeleito.
ma fabricante de gelados chinesa decidiu comemorar os 70 anos do fim da II Guerra Mundial com uma edição especial retratando o rosto do primeiro-ministro do Japão da época, o general Hideki Tojo. Segundo a Iceason, que planeia produzir até 10 mil unidades do sorvete, o objectivo é lembrar a guerra com o Japão, de 1937 a 1945, informou o site de notícias chinês China Daily. Cerca de 20 milhões de chineses foram mortos no conflito, que se estendeu ao longo da Segunda Guerra Mundial. Entre 1941 e 1944, Tojo foi condenado por crimes de crime e executado por enforcamento em Dezembro de 1948 Cada gelado cujo molde foi fabricado com a ajuda de uma impressora 3-D, custa 30 yuans. O produto dividiu opiniões nas redes sociais na China. Enquanto alguns utilizadores acharam o gelado engraçado, outros criticaram a empresa. “Que marketing vulgar”, disse um utilizador na rede social Sina Weibo, enquanto outro o descreveu como “uma ideia extremamente baixa”. “Colocar a cabeça de um tirano na boca não o deixa enojado?”, questionou outro utilizador. Outros aproveitaram ainda para criticar a aparência do gelado. Segundo alguns, a publicidade que anuncia o produto usa um rosto que poderia ser confundido com o de Mahatma Gandhi.