Hoje Macau 5 OUT 2016 #3669

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QUARTA-FEIRA 5 DE OUTUBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3669

CCAC investiga projecto com mais de 100 metros de altura em Coloane

1000 1.º DE OUTUBRO | MANIFESTAÇÕES

protestam contra TNR e pelo seu próprio bolso

ALBERTO ALECRIM (1932-2016)

MOP$10

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PÁGINAS 8-9

hojemacau

O estranho silêncio do tribunal Já se estende há um ano e meio o que devia ter durado 20 dias. É mais uma anomalia no caso de Luís Amorim, o jovem que apareceu morto sob a Ponte Nobre de Carvalho. O Tribunal Administrativo está a ser lento, muito lento, tão lento que o advogado da família, Pedro Redinha, caracteriza a situação como sendo “realmente anómala”.

GRANDE PLANO

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CASO LUÍS AMORIM

O IMPÉRIO ALEGRE

TIAGO ALCÂNTARA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


2 GRANDE PLANO

ÓBITO ADEUS ALBERTO ALECRIM

INTELIGENCIA E IRONIA´ IMPLACAVEL ˆ

“Um grande amigo de Macau” parece ser a frase que melhor descreve, pelos que lhe eram mais próximos, o homem que, desde 1965, fez desta terra a sua casa. Alberto Magalhães Alecrim faleceu no passado dia 3 de Outubro, vítima de doença prolongada. Com a partida, aos 84 anos, deixa as saudades do companheirismo e das gargalhadas que proporcionava com as suas histórias

C

HEGAVA a Macau em 1965 para marcar, com a sua assinatura, a história dos portugueses por terras do Sul da China. Na actual RAEM, a lembrança de Alberto Alecrim é uma memória feliz e já carregada de saudade. Fervoroso adepto sportinguista, sócio nº 4 do Sporting Clube de Macau, Alberto Alecrim é descrito por Luís Machado, como um “coração e alma de leão e um verdadeiro contador de estórias”. Relembrando os relatos feitos de “uma forma empolgante e ao mesmo tempo hilariante”, dirige-se ao amigo falecido em tom de recordação: “Estiveste para ser fuzilado na ‘guerra do caril’ e aí aprendeste o Pai Nosso de trás para a frente! Noutra guerra, a do ‘chau min’, deste o teu melhor para alegrar as hostes e, na Rádio Confusion (ou confusão) de Macau, como a apelidaste, fazias 30 por uma linha e das tripas coração para pôr aquilo a funcionar, a princípio ainda na Torre do Edifício dos Correios ao Leal Senado perto

da tua casa e depois na Francisco Xavier Pereira”, frisa em discurso directo, referindo-se às peripécias da vida de Alecrim. Mas não há clubismo que separe Alberto Alecrim dos amigos. Bolas à parte, Santos Pinto, que no futebol joga do lado oposto e é conhecido pela sua dedicação ao Benfica, lembra o companheiro de mesa e de conversa. É com voz combalida e sorriso triste que afirma ao HM que Alecrim “era um senhor que era do Sporting mas um senhor espetacular”. Relembra também o contador de histórias que era, as guerras por que passou, e acima de tudo, o facto de ser “uma pessoa muito ligada a Macau”. Segundo Santos Pinto, Alecrim era um homem que “não nasceu para trabalhar, mas sim para falar”, facto admitido pelo próprio, sempre adepto de mais uma conversa.


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Esteve para ser fuzilado no dia 19 de Março de 1962. Alecrim mantinha a moral entre os companheiros de infortúnio, contando anedotas

Aventureiro em extinção Do Porto a Macau. Com raízes em Lisboa e passagem pela Índia

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LBERTO Magalhães Alecrim é o arquétipo do valente português aventureiro que em Macau, infelizmente, tem tendência a desaparecer. Nascido tripeiro, em Março de 1932, na típica freguesia do Bonfim, filho de pai ourives e mãe dona de casa, Alberto Alecrim cresceu no Bairro Alto, em Lisboa, onde completou os estudos secundários. Chegada a hora de trabalhar para o seu sustento, empregou-se na secretaria notarial dos protestos de letras, livranças e cheques de Lisboa. Com 20 anos foi chamado para a tropa e mobilizado para a Índia portuguesa. Em Goa, iniciou-se na Rádio, com um programa militar na emissora local, pela mão de João Benamor. Terminada a comissão militar, regressou a Portugal, reocupando o lugar no serviço de origem. Em poucos meses estava, de novo, a caminho da Índia. O então major António Areias Peixoto, presidente da Junta de Comércio Externo de Goa, que apreciava o desembaraço e o à vontade do jovem Alecrim, convidara-o para reingressar na Emissora local. Alberto Alecrim manteve-se em Goa desde 1956 até aos dramáticos acontecimentos da invasão das tropas da União Indiana, no início dos anos 60. Pelo meio fizera um intervalo de semanas em Portugal para se casar. Quando começou o movimento nacionalista pró-integração de Goa na União Indiana,

Alecrim, em vez de se pôr a recato, alistou-se como voluntário nas Forças Armadas portuguesas. Nessa altura já tinha uma filha, mas o fervor patriótico falou-lhe alto. O primeiro alvo dos bombardeamentos indianos em Goa foram os emissores da Rádio. Num cenário quase surrealista, Alecrim recorda que saiu da Emissora arrastando uma metralhadora pela rua fora, até se quedar na esquadra da polícia. Tal como todos os portugueses recalcitrantes, no dia seguinte estava preso às mãos do exército da Índia. No cárcere provisório, instalado no ginásio da polícia, suportando estoicamente um calor danado, esteve quatro dias sem beber água. Constava que os nacionalistas indianos tinham envenenado a água potável. Mas o pior estava para vir.

NO FIO DA NAVALHA

Transferido para o campo de concentração de Ponda, esteve para ser fuzilado no dia 19 de Março de 1962. Alecrim mantinha a moral entre os companheiros de infortúnio, contando anedotas. No culminar de cinco meses de prisão, e numa antevisão do trágico destino que lhe tinha sido marcado, esteve quatro horas e meia à torreira do sol, aguardando a ordem de execução. Alberto Alecrim e os companheiros foram salvos in extremis, graças aos es-

forços persuasivos do padre Ferreira da Silva junto das autoridades indianas, que assim demonstrou as virtudes do diálogo.

DESTINO TROCADO

O grupo de prisioneiros foi enviado para Carachi e dali repatriado para Portugal a bordo do Vera Cruz. Chegado a Lisboa, Alecrim foi colocado na Emissora Regional de Angola. A sua nomeação já tinha saído no Boletim Oficial, mas o destino haveria de lhe dar uma volta de 180 graus e Macau acaba por ser a origem, a convite do então tenente-coronel Jaime Silvério Marques aquando da sua nomeação para Governador de Macau. No dia 3 de Janeiro de 1965 embarcou no navio Timor. Dois meses depois, após uma escala em Timor, chegava ao enclave português do Sul da China, com um emprego à sua espera na Emissora da Rádiodifusão de Macau, que veio a dirigir em 1978. Na velha Rádio de Macau, que funcionava na torre do relógio, no edifício dos Correios, Alecrim fez da sua profissão um espectáculo. Chegaria a director da Emissora de Radiodifusão de Macau em 1978. Saiu em 1985, quando a telefonia local passou a chamar-se Rádio Macau e saiu da alçada do funcionalismo público. Alecrim foi então colocado no Gabinete de Comunicação Social, por onde se reformaria em 1995.

Desde camarada a amigo de todos, era o homem que, como por magia, espalhava sorrisos por Macau com as suas histórias e anedotas. “Mais que um artista, era uma figura popular e incontornável”, afirma o benfiquista rendido à perda enquanto acrescenta que “era uma pessoa muito especial e que vai deixar muitas saudades em Macau”.

O HOMEM DA RÁDIO

Alberto Alecrim veio, em 1965, integrar a Emissora da Radiodifusão

Reformado, continuava a ser um ouvinte atento e sempre a comentar com o humor que lhe era característico o que se faz hoje na emissão da Rádio Macau

de Macau. É na rádio que também é recordado pelo actual gestor de programação, Gilberto Lopes, que com ele privou. “Alberto Alecrim, juntamente com outros nomes, faz parte das pessoas que mudaram, à sua maneira, com a sua personalidade e estilo de vida, a presença portuguesa em Macau, na segunda metade do Séc. XX”, diz Gilberto Lopes. “O seu testemunho foi fundamental para conhecer melhor a nossa própria memória colectiva, sobretudo para nós portugueses que temos o costume de não registar o que a comunidade vai construindo.” “Inteligente e de uma ironia implacável”, Alecrim foi o homem que marcou, na sua época, a rádio que por cá se fazia. Reformado, continuava a ser um ouvinte atento e sempre a comentar com o humor que lhe era característico o que se faz hoje na emissão da Rádio Macau. Das colaborações com o jornal Clarim e com a Revista Macau ficaram muitos textos que Gilberto Lopes considera que seria bom serem reunidos em livro a ser publicado em breve.


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A celebração dos 67 anos da fundação da República Popular da China ficou marcada em Macau pela ocorrência de protestos. Os investidores do Pearl Horizon voltaram a clamar intervenção do Executivo. Três associações pediram ainda novas regras para a importação de trabalhadores

Dia da China TNR E PEARL HORIZON LEVARAM CERCA DE MIL À RUA

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FELIZ ANIVERSARIO ASSOCIAÇÃO PODER DO POVO

POLÍTICA

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ERTO de mil pessoas, segundo a polícia, manifestaram-se em Macau no dia 1 de Outubro, data em que se assinalou o Dia Nacional da China. Com diversas reivindicações, nenhuma delas esteve relacionada com questões políticas e liberdades no território, como aconteceu em Hong Kong. Foram quatro as associações que se manifestaram: Associação Poder do Povo, Associação de Armação de Ferro e Aço de Macau, Associação de Activismo para a Democracia e Associação de Proprietários de Pearl Horizon. As três primeiras saíram à rua e entregaram uma petição na sede do Governo a pedir menos trabalhadores não residentes (TNR) em Macau.

passaram a estar no desemprego ou com trabalhos temporários. Para o responsável, o Governo deve estabelecer um salário mínimo para os trabalhadores da construção civil, para que se possa garantir que os residentes não se transformam em mão-de-obra

barata e para impossibilitar que os patrões baixem os salários. Já o presidente da União dos Proprietários do Pearl Horizon, Kou Meng Pok, explicou ao mesmo jornal que o protesto serviu para pedir a intervenção do Governo, sendo que muitos dos investidores

Seguir as pisadas do país

Chefe do Executivo fala da economia de Macau no Dia Nacional da China

do ano anterior”, começou por dizer. “Continuaremos a encarar a situação com firmeza e a assegurar a estabilidade do desenvolvimento. O Governo dá particular atenção às situações de negócio das pequenas e médias empresas e ao emprego.” A economia encontra-se em queda desde o terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China, o PIB registou uma diminuição (-0,9%). Em 2015, o PIB caiu 20,3%. A queda da economia está associada à diminuição das

receitas dos casinos, que caíram continuamente entre Junho de 2014 e Julho de 2016, arrastando o PIB do GCS

O

Chefe do Executivo frisou, no Dia Nacional da China, que a economia da região se encontra ainda numa fase de ajustamento, mas que Macau foi alvo de uma constante melhoria da vida das pessoas. Num discurso para celebrar o 67º aniversário da RPC, Chui Sai On fez ainda questão de sublinhar que houve um “notório aumento do poderio” do país desde a fundação da República Popular. “Neste momento, a economia de Macau encontra-se ainda numa fase de ajustamento. No primeiro semestre do ano, o nosso PIB sofreu uma contracção de 10,3%, que corresponde a uma queda significativamente mais reduzida quando comparada com a

Cheong Weng Fat, vice-presidente da Associação Poder do Povo, disse ao Jornal do Cidadão que os trabalhadores locais desejam uma mudança no sector da construção civil, já que, na sua opinião, os TNR têm sempre trabalho, ao contrário dos residentes, que

território. Mas Chui Sai On mantém-se optimista. O Chefe do Executivo reiterou ainda a aposta na

estão preocupados com a possível falência da Polytec, empresa de Hong Kong que investiu na construção do Pearl Horizon e que viu a concessão do terreno ser restituída ao Governo. Kou Meng Pok pediu, por isso, uma maior fiscalização do Executivo, por forma a prevenir a

cooperação regional e no desenvolvimento do sector das convenções e exposições, da medicina tradicional chinesa e das “indústrias culturais e criativas”, entre outros, com o objectivo de diversificar a economia local.

CHINA LINDA

O líder do Executivo realçou também, em paralelo, que “a prosperidade e o fortalecimento” da China “são constantes forças motoras para o desenvolvimento” e “os grandes suportes da estabilidade” de Macau. no discurso, Chui Sai On fez questão de enfatizar o crescimento da China ao longo destas quase sete décadas. “Desde a fundação da Nova China, em particular durante os últimos trinta anos de reforma e de aber-

tura, que os grupos étnicos do país, orientados pelo Governo Central, vêm lutando unidos e solidários para a concretização da constante melhoria da vida das pessoas e do notório aumento do poderio [da China]. A nossa grandiosa pátria mantém-se firme no aprofundamento da reforma, tem vindo a implementar um conceito de desenvolvimento assente na inovação, na coordenação, na causa verde, na abertura e na partilha, encara a nova realidade económica, cria novas forças dinâmicas para o desenvolvimento e promove uma nova onda de desenvolvimento reforçado e de abertura aprofundada.” HM/LUSA


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transferência de capitais por parte da empresa de forma intencional.

A RESPOSTA

Num comunicado divulgado após o protesto, o Executivo lembra que o promotor do projecto Pearl Horizon recorreu da decisão do Governo, pelo que se aguarda neste momento uma decisão dos tribunais. “O Governo só pode esperar pelo resultado da acção (judicial) para poder elaborar a proposta final e neste momento não tem fundamento tanto jurídico como factual para tomar qualquer decisão. O Governo reafirma que irá investir todos os esforços para salvaguardar os interesses legítimos dos proprietários dentro das normas jurídicas, seja qual for o resultado da acção judicial», acrescenta o texto. Segundo dados da polícia citados pelos meios de comunicação de Macau, esta foi a manifestação em que estiveram mais pessoas: cerca de 600. Já os organizadores falam em mil. Quanto aos outros protestos, a polícia estimou que contaram com cerca de 300 pessoas no seu conjunto. Angela Ka (com Lusa) info@hojemacau.com.mo

DEPUTADOS CRITICAM APROVAÇÃO DE TNR

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m duas interpelações escritas enviadas ao Governo, ambos os deputados Si Ka Lon e Au Kam San mencionam queixas feitas por trabalhadores de construção sobre a alegada existência de casos em que os empreiteiros “aproveitam a contratação de um grande número dos trabalhadores locais para pedir mais trabalhadores não residentes e depois despedem os locais quando o seu pedido é aprovado”. Si Ka Lon aponta que, segundo um inquérito ao emprego do 2º trimestre deste ano, o número de empregados residentes da construção foi 23.300 pessoas e os empregados não residentes chegaram às 44.757 pessoas, considerando o deputado que as queixas que surgiram recentemente se devem ao facto de o Governo não decidir “razoavelmente a proporção entre os TNR e residentes” e “não ser rígido o suficiente quando aprova os pedidos da importação de mão-de-obra não residente”. Au Kam San, além de criticar a situação de “pôr o carro à frente dos bois”, diz que actualmente parece que os trabalhadores residentes estão a servir para colmatar a falta da mão-de-obra não residente, ao contrário do que era suposto, e fez questão de salientar que o problema está principalmente no facto de se manter inalterado o valor de 450 patacas para o salário mínimo diário dos trabalhadores não residentes há dez anos.

POLÍTICA

Fórum Macau CONFIRMADA VINDA DE LI KEQIANG

Depois dos Açores, o Oriente O Primeiro-Ministro chinês chega à RAEM na próxima semana, por ocasião do Fórum Macau. Aquele que será o quinto encontro entre participantes do Fórum reúne diversos dirigentes, onde se destaca o Primeiro-Ministro português

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Primeiro-Ministro chinês, Li Keqiang, participará este mês na Conferência Ministerial do Fórum Macau, noticiou a agência oficial Xinhua. Também o Governo, através de um comunicado, informa que Li Keqiang estará na RAEM entre 10 e 12 de Outubro, para visitar o território “e participar na cerimónia de abertura da 5.ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O Governo diz querer aproveitar esta oportunidade para consolidar e reforçar “ainda mais” o papel que Pequim atribuiu à RAEM em 2003, de ser uma ponte de ligação entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Nesse ano, Pequim criou o Fórum Macau, que tem um secretariado permanente e reúne a nível ministerial a cada três anos. Na semana passada, o Primeiro-Ministro chinês, numa visita aos Açores, enalteceu o aprofundamento das relações entre a China e Portugal e os “excelentes resultados” da cooperação entre as empresas dos dois países em terceiros mercados, nomeadamente na América Latina. Citado pela agência oficial Xinhua, o responsável do Governo Central elogiou os “resulta-

dos profícuos da cooperação pragmática entre os dois países em diversos sectores”, afirmando que espera que os dois lados continuem a colaborar em áreas como a Energia, Finanças e Oceano. O Executivo local frisa que é “com enorme prazer” que recebe o também membro do Politburo do Partido Comunista Chinês, numa visita que associa a um “sinal da grande atenção do Governo Central” ao território.

FÓRUM DE TODOS

A 5ª Conferência Ministerial do Fórum Macau contará com a presença de vários dirigentes, in-

cluindo António Costa, Primeiro-Ministro português. Participam ainda José Ulisses Correia e Silva, Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Baciro Djá, Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Agostinho do Rosário, Primeiro-Ministro de Moçambique, e Abrahão Gourgel, Ministro da Economia de Angola. Do Brasil chega Marcos Pereira, Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sendo que de Timor-Leste vem Estanislau Aleixo da Silva, coordenador dos Assuntos Económicos e Ministro da Agricultura

e Pescas. Gao Hucheng, Ministro do Comércio da China, irá presidir à cerimónia de abertura da conferência, a realizar-se no dia 11 de Outubro, na parte da manhã. São Tomé e Príncipe é o único país lusófono que não integra o Fórum Macau, por manter relações diplomáticas com Taiwan. No sábado passado, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, considerou “um grande acontecimento a nível nacional” a realização da conferência ministerial. A Conferência deste ano, onde “serão definidas as linhas, áreas e modalidades de cooperação entre

a China e os países de Língua Portuguesa para o triénio 2017-2019”, tem como tema: “Rumo à consolidação das relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa: unir esforços para a cooperação, construir em conjunto a plataforma, partilhar os benefícios do desenvolvimento”. “Procurará explorar novas áreas para a cooperação económica e comercial (...), elevando o nível de cooperação e, simultaneamente, fortificando e dando continuidade ao processo de consolidação do papel de Macau como plataforma”, acrescenta um comunicado do Governo. A par da Conferência Ministerial, será ainda lançado o “projecto do complexo da plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, a construir em Macau, e haverá uma “conferência de empresários e quadros da área financeira”. O Chefe do Executivo apelou aos “diversos sectores sociais” envolvidos na organização da conferência para redobrarem os “esforços na sua preparação, em prol do sucesso da reunião”, para consolidar e incrementar “ainda mais” o papel que Pequim atribuiu a Macau em 2003. HM/LUSA

SÓNIA CHAN ADMITIU NOVO AUMENTO SALARIAL NA FUNÇÃO PÚBLICA

A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, confirmou, segundo o Jornal do Cidadão, que “existe a possibilidade” dos funcionários públicos virem a ser contemplados com novo aumento salarial no próximo ano. O anúncio poderá ser feito em Novembro, data em que o Chefe do Executivo irá à Assembleia Legislativa apresentar as Linhas de Acção Governativa.


6 POLÍTICA

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IACM COM FUTURO INCERTO?

O

um primeiro que acaba com o IACM e cria um novo órgão municipal em sua substituição e uma segunda alternativa, em que o próprio IACM possa ser directamente incorporado no órgão que virá a ser constituído. “Vamos considerar se vai existir repetição de competências com os novos órgãos a criar e não é nosso objectivo que isso aconteça”, garantiu a Secretária. Quanto ao facto dos novos órgãos municipais terem ou não poder político,

Sónia Chan adianta que ainda não existe uma decisão final mas que “no momento certo será anunciada publicamente a conclusão do Governo a este respeito”, ainda que já tenha dito variadas vezes que não vão te qualquer poder. Sónia Chan, à margem de uma actividade pública, deu a conhecer ao Jornal do Cidadão que a proposta relativa aos órgãos municipais estará pronta no próximo ano e a instalação dos mesmo será concluída em 2018. A.K./S.M.

GCS

WONG SIO CHAK LEVA DELEGADOS DA RAEM A CENTRAL NUCLEAR

O Governo está a organizar visitas de representantes da RAEM à Central Nuclear de Taishan, espaço que tem levantado celeuma devido aos riscos que comporta em caso de acidente devido à proximidade de Macau. Num comunicado, que cita Wong Sio Chak, o Gabinete do Secretário para a Segurança diz que “espera levar uma delegação já no próximo mês de Novembro” à Central, estando os detalhes ainda por revelar. “Wong Sio Chak garantiu que este é um trabalho que tem sido coordenado de forma activa com o Governo Central e cujos [procedimentos] estão a ser preparados. Disse esperar poder levar uma delegação numa visita às referidas instalações em Novembro do corrente ano, adiantando que os detalhes serão debatidos com os serviços competentes das entidades nacionais”, frisa o comunicado. PUB

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos:

2.

3.

- Avenida 1 de Maio, n.ºs 311 a 403, Avenida do Nordeste , n.ºs 479 a 555 e Rua Central da Areia Preta, n.ºs 13 a 199, em Macau, (Edifício Polytec Garden); - Avenida do Nordeste, n.ºs 601 a 699, Rua Central da Areia Preta, n.ºs 6 a 786 e Rua da Pérola Oriental, n.ºs 4 a 102, em Macau, (Edifício La Baie Du Noble); - Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 31 a 55, Rua dos Pescadores, n.ºs 24 a 82, Travessa dos Pescadores, n.ºs 22 a 48 e Travessa do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 50 a 74, em Macau, (Edifício Marbela Garden); - Avenida Leste do Hipódromo, n.ºs 327 a 411, Praceta da Serenidade, n.ºs 72 a 110, Rua da Tranqui lidade, n.ºs 107 a 175 e Rua Direita do Hipódromo, n.ºs 277 a 289, em Macau, (Edifício Jardim Wan keng); - Avenida do Hipódromo, n.ºs 5 a 191, Estrada dos Cavaleiros, n.ºs 314 a 344, Praça das Portas do Cerco, n.ºs 168 a 210, Rua da Serenidade, n.ºs 142 a 180, Avenida da Longevidade, n.ºs 415 a 451, Rua da Paz, n.ºs 141 a 178, Rua dos Hortelãos, n.ºs 12 a 120, em Macau, (Edifício Sun Star Plaza); - Avenida Norte do Hipódromo, n.ºs 253 a 283, Praceta do Bom Sucesso, n.ºs 5 a 59 e Rua dos Hor telãos, n.ºs 169 a 193, em Macau, (Edifício Kam Keng Garden); - Estrada Marginal do Hipódromo, n.º 137 e Avenida Leste do Hipódromo, n.ºs 15 a 69, em Macau (Edifício Industrial Fok Tai); - Rua dos Hortelãos, n.ºs 144 a 248, Alameda da Tranquilidade, n.ºs 77 a 103, Avenida do Hipódro mo, n.ºs 217 a 291 e Avenida da Longevidade, n.ºs 420 a 448, em Macau, (Edifício Pak Lei); - Estrada Marginal da Ilha Verde, n.ºs 367 a 405, Rua da Ilha Verde, n.ºs 41 a 131 e Travessa da Ilha Verde, n.ºs 5 a 120, em Macau, (Edifício Jardim Cheng Choi); - Rua da Ilha Verde, n.ºs 167 a 199 e Travessa da Ilha Verde, n.ºs 89 a 123, em Macau, (Edifício Industrial Chi Wai).

Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 9 de Setembro de 2016.

O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

Diz-me como gastas... Novo Macau pede publicação de relatórios de execução de projectos

Uma adenda a um despacho antigo. É o que pede a Novo Macau a Chui Sai On, pedindo que os relatórios de execução de projectos subsidiados pelo Governo sejam públicos

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Associação Novo Macau (ANM) quer que o Governo reveja o despacho que regula a atribuição de apoios financeiros com dinheiros públicos e entrega hoje ao Chefe do Executivo uma proposta nesse sentido. O grupo diz ter legitimidade para o fazer por ser uma associação que tem direito a receber estes subsídios. O despacho 54/GM/97 é claro: a atribuição de apoios financeiros a actividades que se desenvolvem fora do âmbito directo daAdministração deve ser um dos grandes objectivos nas linhas de acção governativa, de forma a permitir a viabilização de projectos da sociedade civil “cuja capacidade empreendedora e sentido de participação cívica merecem ser estimulados”. Contudo, para a Novo Macau, apesar deste despacho exigir algumas informações, é preciso mais. “Procuramos melhorar a transparência. Os serviços do Governo são obrigados a publicar uma lista oficial, trimestral, dos beneficiários dos apoios. Mas, o público está apenas informado de quanto dinheiro dos seus impostos foi gasto e quem o recebeu. Não há forma de saber se o dinheiro foi bem gasto ou até se foi mesmo usado para o fim que lhe era suposto”, acusa a Novo Macau, acrescentando que, desta forma, é impossível a monitorização real. O pedido da Associação incide no acréscimo de um parágrafo a este despacho que inclua a obrigação de

NOVO MACAU

futuro do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) continua a ser incerto e depende da forma como será gerido o processo de criação dos órgãos municipais. É já neste quarto trimestre do ano que vai ser lançada a consulta pública para o estabelecimento destes órgãos e a garantia é dada pela Secretária da Justiça, Sónia Chan, que confirma a medida anunciada pelo Executivo no início do ano. Para o futuro do IACM, Sónia Chan dá dois destinos:

“tornar públicos os relatórios [de execução] dos projectos subsidiados, de forma regular”, no dia em que são dados a conhecer os apoios concedidos. E o pedido, defendeu Scott Chiang, presidente do grupo, é legítimo. “Podemos candidatar-nos a fundos do Governo, logo isso torna-nos parte interessada, protegida pelo despacho.”

ACABAR COM A MÃO ESTENDIDA

Na carta entregue hoje a Chui Sai On, e assinada por Scott Chiang, a Associação pró-democrata relembra um relatório do Comissariado contra a Corrupção, de 2013, que versava sobre esta omissão de informações sobre os dinheiros públicos. O organismo dizia que o Governo iria introduzir melhorias, mas a Novo Macau defende que, até agora, nada foi feito pelo Executivo para mudar o sistema. “A ideia [deste pedido] é mudar a cultura local. Assim que o dinheiro sai da porta não sabemos onde é aplicado. A publicação destes relatórios vai permitir ao público monitorizar o uso de fundos públicos e também fazer com que os beneficiários prestem mais atenção à eficiência da aplicação destes fundos. Este deveria ser o ponto de partida para perceber também se as [entidades] que recebem apoios, os recebem porque merecem ou porque são mais próximas do Governo”, insistiu Chiang. AAssociação relembra o que diz terem sido “três mil pessoas” na rua em manifestação por causa da doação de cem milhões de patacas da Fundação Macau à Universidade de Jinan para defender que, também a população, quer mais transparência. “Fizemos uma consulta pública sobre a reforma da

Fundação Macau em Junho de 2016 e a maioria das opiniões era a favor de mais medidas para melhorar a transparência e a contabilidade”, relembra o presidente da Novo Macau, que acrescenta que esta adenda ao despacho iria evitar mais escândalos destes no futuro. A Novo Macau fez ainda questão de frisar que esta sugestão da Associação pode, tal como é defendido no Código de Procedimento Administrativo, ser alvo de auscultação pública, caso o Executivo pretenda perceber se a sociedade concorda com o pedido do grupo. “Não vejo porque é que o Governo não queira pôr isto em consulta”, ironizou Scott Chiang. “Todos os cêntimos deveriam ser justificados. Sabemos que a publicação dos relatórios não iria resolver todas as irregularidades, [incluindo as de corrupção eleitoral], mas é um passo.” Questionado pelo HM sobre se iria pedir ajuda a alum deputado para levar a questão à Assembleia Legislativa, Jason Chao, vice-presidente da Novo Macau, assumiu que esta não é ainda a fase para isso. Mas o grupo já tem planos caso o Governo não siga a sugestão. “Só depois de termos um deputado eleito pela Novo Macau nas próximas eleições é que vamos pensar em [levar o caso à AL]”, frisou Chao, sem revelar detalhes sobre eventuais candidaturas para 2017. “Vamos fazer esta primeira fase de acordo com a lei, depois de uma consulta feita por nós, de forma civilizada. Se não mudarem, então pode ser que haja medidas mais drásticas”, acrescentou Scott Chiang. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo


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SOCIEDADE

90% DE SUCESSO NO PROGRAMA DE PREVENÇÃO ESCOLAR

CRECHE SOB INVESTIGAÇÃO

Os Serviços de Saúde (SS) fizeram saber que o programa Sentinela de Vigilância das Doenças Transmissíveis na Escola praticado desde 2005 na RAEM atingiu, no ano lectivo passado, 90% de sucesso. A informação foi dada na cerimónia de entrega de prémios e apresentação do balanço anual desta iniciativa, em que 59 escolas foram galardoadas. O objectivo é a promoção de uma vigilância activa e sistemática para que possam ser tomadas medidas de detecção e intervenção precoce, controlando rapidamente eventuais surtos e propagação de doenças transmissíveis a nível escolar e comunitário. Cada edição do Programa Sentinela de Vigilância tem a duração de um ano lectivo e todos os anos os SS convidam todas as escolas de Macau para participarem. Até agora, os SS contaram com a participação de 146 escolas e a realização de 90 sessões.

Uma creche, frequentada por uma criança que apresentou, na semana passada, várias lesões corporais, está sob investigação. A informação é dada pelo Instituto de Acção Social (IAS), na sequência da divulgação do caso da menina que chegou a casa com várias escoriações corporais. O estado da criança foi dado a saber online pelos próprios pais que denunciaram a situação às autoridades e encaminharam a menina para o Hospital de S. Januário. A vítima apresentava ferimentos causados por unhas e várias nódoas negras que, segundo a equipa médica, não podem ser causadas pelo próprio e apenas poderão ser feitas por adultos. Segundo o Jornal do Cidadão, a escola terá alegado que teria sido a criança a auto ferir-se. A vítima está ainda em estado de choque e apresenta, para além do choro contínuo, medo das outras pessoas. O caso já está a ser investigado pela PSP e, em comunicado, o IAS informa que a creche está a ser devidamente inspeccionada.

Luís Amorim UM ANO E MEIO DEPOIS, TA AINDA NÃO DECIDIU SOBRE INDEMNIZAÇÃO

“Situação realmente anómala” Em que situação está o processo da família Amorim contra a RAEM? Nem o advogado de defesa dos pais do jovem que apareceu morto em Macau há nove anos sabe. Pedro Redinha fala de uma situação anómala e de uma “quase negação de justiça”

A

11 de Março de 2015 começava, no Tribunal Administrativo (TA), a primeira audiência sobre o pedido de indemnização da família de Luís Amorim à RAEM. Mais de um ano e meio depois, ninguém sabe explicar em que fase está o processo: já deveria ter tido sentença, é certo, mas o caso é atípico, como confirma o próprio advogado de defesa ao HM. “O que é que se pode fazer perante uma situação em que o juiz não dá a sentença dentro do prazo legal indicativo? Podem não ser 20 dias [como manda o prazo legal indicativo], mas mais de 365 dias é uma situação - a todos os títulos - anómala. Nunca vi, e ando nesta vida em Macau há muitos anos”, dizia Pedro Redinha ontem ao HM, poucos dias depois da data que assinalou a passagem de nove anos desde que o jovem apareceu morto. “O que acontece é que decorrido, seguramente, mais de um ano, não houve sentença. É o que lhe posso dizer. Os nossos tribunais – por vezes – são lentos nas tramitações, mas não tenho ideia de alguma vez, em toda a minha vida, ter esperado tanto tempo por uma sentença.” Numa acção de responsabilidade civil como esta, onde a ré é a RAEM, a competência para a sentença passa pela juíza titular do caso no TA. Ainda que julgado fora do Tribunal Judicial de Base, o caso está em tribunal em primeira instância, algo que permitiria recurso à defesa ou à acusação, consoante a decisão. Mas tal nem sequer é, para já, passível de ser ponderado, já que nada se sabe sobre o caso. “Não sei [como fica]. Sem sentença há mais de um ano, isto é quase uma situação de negação

de justiça, porque a sentença tem de ser proferida. Quem entender recorre. Mas estamos completamente bloqueados.”

UMA NUM MILHÃO

A morte de Luís Amorim remete para 30 de Setembro de 2007, data que desde então é assinalada pelos pais do jovem na página do Facebook que pede justiça para o filho, “Luís Amorim - Por Uma Causa justa”. O

“Enquanto advogado da família perdi a possibilidade de lhes dar alguma informação útil. E é nisto que estamos” PEDRO REDINHA ADVOGADO

rapaz, então com 17 anos, apareceu morto debaixo da Ponte Nobre de Carvalho, mas imediatamente a tragédia foi rotulada como suicídio pelas autoridades locais, algo nunca aceite pela família, que fala em homicídio. Os pais tomaram então outras medidas e processaram a RAEM por negligência na investigação, pedindo uma indemnização civil de 15 milhões de patacas.Ainquirição a testemunhas a Portugal começou em 2014, as

audiências em Macau em Março de 2015. Durante as sessões no TA, que o HM cobriu, foram diversas as declarações contraditórias, especialmente entre os médicos legistas de Portugal e Macau. Os inspectores da PJ admitiram perante a defesa que o local onde foi encontrado Luís foi lavado assim que o corpo foi removido e antes da PJ chegar, o que poderá, segundo a defesa, ter impedido os agentes forenses encontrassem indícios que pudessem ajudar na investigação. As contradições continuaram até na forma como foi encontrado o jovem e também amigos e professores rejeitam a tese de suicídio porque Luís “era equilibrado e com projectos de vida”. Na semana passada, um texto no Facebook continuava a pedir respostas: “Porquê? Mais um ano, já são nove, e em Macau tudo continua na mesma, já se realizou o julgamento e não há decisão! Os pais perguntam, como sempre o fizeram, porquê? Sempre pediram justiça, o que mais poderiam pedir? Mas em Macau o conceito associado a esta palavra não existe, existe uma inqualificável vontade de nada resolver, porquê? Que interesses estão em causa para que esta situação se continue a arrastar? Onde está o rigor, a seriedade, a objectividade, a independência dos sistemas?”, questionavam. Mas as respostas não foram esclarecedoras nem quando o HM conseguiu chegar à fala com Pedro Redinha. “Nem nós conseguimos ajudar. Depois de dadas as respostas aos quesitos [em Abril de 2015], ficámos a aguardar. O prazo legal é de 20 dias, embora seja um prazo indicativo e o juiz possa ultrapassar, mas mais de 365 dias? Nunca tive conhecimento de situação idêntica”, frisa o advogado ao HM. “Absolutamente nenhuma [justificação]. É realmente anómalo. Enquanto advogado da família perdi a possibilidade de lhes dar alguma informação útil. E é nisto que estamos.” Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo


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CCAC ABERTA INVESTIGAÇÃO SOBRE PROJECTO DE LUXO PARA O ALTO DE COLOANE

SOCIEDADE

O

DE LUPA NA MÃO

Tak Hong foi autorizado pelo anterior Governo a construir na colina um empreendimento até cem metros de altura, em muito superior à permitida por uns planos urbanísticos feitos para a protecção do “pulmão da cidade”, antes de 2012, quando as Obras Públicas emitiram a Planta de Alinhamento oficial para o projecto.

Diversos deputados, entre eles Au Kam San e Kwan Tsui Hang, pediram uma investigação ao processo, tendo mesmo posto em causa a legalidade da adjudicação. O projecto tem sido muito criticado e já motivou petições que pedem a sua suspensão, manifestações e queixas no CCAC. Mas, o Secretário para os

Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, garantiu numa intervenção na Assembleia Legislativa, no final de Março, a legalidade de todo o processo. Uma das questões pendentes, por exemplo, é o relatório de impacto ambiental: os deputados duvidam dos resultados que Sio Tak Hong diz ter de uma empresa independente,

que indicam não haver danos para a colina. O Governo diz que não pode tornar público o relatório, mas muitas são as vozes que duvidam que uma construção de luxo com cem metros para as montanhas – que têm 120 – não vá prejudicar a natureza. A adjudicação do lote nunca foi publicada em Boletim Oficial, por não ser

necessário, como referiu o Governo ao HM. Através de documentos percebe-se que a empresa de Hong Kong Win Loyal concorreu a uma hasta pública cujo intermediário foi a Jones Lang LaSalle. Hasta que teve lugar em Abril de 2004 e que estava aberta tanto a Macau, como Hong Kong. Em Junho de 2010, a Win Loyal Development entregou uma proposta preliminar para a construção de um prédio de 198 metros da altura à DSSOPT, incluindo ainda um relatório de avaliação ambiental. A empresa explicava, num site dedicado ao projecto em Maio deste ano, que o

TIAGO ALCÂNTARA

Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) vai investigar o projecto de construção do empreendimento de Sio Tak Hong no Alto de Coloane. Isso mesmo confirmou André Cheong, dirigente do organismo, aos jornalistas, acrescentando que, na sequência de uma queixa recebida pelo Comissariado, e após uma “análise preliminar”, “foi aberto o processo de investigação”. O caso remete para o projecto na Estrada do Campo, no Alto de Coloane. O projecto é o segundo do empresário a estar sob investigação. Sio

CCAC PROPÕE MUDANÇAS SOBRE SUBORNOS NO ESTRANGEIRO

O

Comissariado contra a Corrupção (CCAC) fez sugestões no sentido da revisão da Lei Eleitoral incluir os casos de suborno feitos a residentes de Macau no estrangeiro, uma vez que os acordos de extradição entre Macau, China e Hong Kong ainda não foram assinados. Segundo o Jornal

do Cidadão, André Cheong, Comissário do organismo, defendeu que estas sugestões podem trazer uma melhor regulação de possíveis casos de corrupção eleitoral. “Desta vez a revisão da lei contém sugestões para regular de forma clara os actos de suborno que acontecem no estrangeiro e no ter-

ritório, os quais serão regulados e punidos por lei”, adiantou o Comissário. “Por enquanto a Assembleia Legislativa ainda está a analisar o diploma na especialidade, mas depois da sua aprovação penso que poderá ser um instrumento eficaz contra os casos de suborno em eleições, a ser utilizado pelo

CCAC e outros organismos”, defendeu André Cheong, à margem de uma actividade. O Comissário explicou que o CCAC já possui legislação completa para regular a corrupção eleitoral e os actos de pagamento de subornos, mas admitiu que, após anos de implementação da

lei, já existem “áreas cinzentas e imprecisas” na legislação em vigor. A proposta para rever a Lei Eleitoral para as eleições legislativas foi aprovada na generalidade em Agosto e deverá ganhar mais avanços já na próxima sessão legislativa, a começar este mês. A.K. (revisto por A.S.S.)


9 hoje macau quarta-feira 5.10.2016

Mas o CCAC quer agora investigar o eventual valor que este espaço poderá ter. O Comissário André Cheong deixa contudo, um alerta: o caso envolve “muitos documentos” e remonta “quase ao início do século XX”, pelo que será necessário muito tempo para ser estudado. O deputado Au Kam San pediu também uma investigação sobre o terreno da pedreira, ligado ao magnata e membro do Conselho Executivo Liu Chak Wan. Neste caso, o deputado questiona a troca de terrenos que resultou na construção de habitação pública em Seac Pai Van: Liu Chak Wan cedeu

parte do espaço da pedreira ao Governo para o projecto e, em troca, ficou com 24 mil metros quadrados para construir um edifício residencial com 12 torres, numa zona destinada a fins industriais. Os termos do acordo entre Liu Chak Wan e o Governo motivaram já duas queixas por suspeitas de tráfico de influências – até aqui, sem seguimento. André Cheong diz que o CCAC está ainda a avaliar se há matéria para abrir uma investigação. Joana Freitas (com agência Lusa) joana.freitas@hojemacau.com.mo

À espera de investigação? CCAC aceita acusações dos Kaifong relativas à dívida dos terrenos

A

NDRÉ Cheong, Comissário do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), confirmou que o organismo acolheu as acusações feitas pelos Kaifong relativamente à dívida que o Governo irá cobrir por seis terrenos, mas não foi claro quanto à abertura de uma investigação sobre o caso. No início de Setembro, o Centro de Sabedoria Política Colectiva, pertencente aos Kaifong (União Geral das Associações de Moradores), divulgou um relatório que afirma que o Governo nada tem a pagar e que houve violações contratuais “graves” no processo de concessão. Segundo o Jornal do Cidadão, André Cheong apenas confirmou que acolheu a análise feita pela Associação e disse serem bem-vindas todas as acusações feitas pelos cidadãos ou associações sobre quaisquer assuntos onde haja suspeitas de corrupção. André Cheong referiu apenas que o relatório dos Kaifong vai ser analisado e que o CCAC “não vai sentar-se à espera das acusações”. Ou seja, quando forem detectados indícios de violação administrativa ou penal, o CCAC deverá acompanhar e investigar os casos de forma voluntária. Ho Ion Sang, deputado dos Kaifong, referiu, na última sessão de balanço dos trabalhos do hemiciclo, que o Governo

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CCAC INVESTIGA SMG POR CAUSA DO NIDA

O CCAC admitiu ter recebido várias queixas relativas aos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). A informação foi adiantada por André Cheong ao Jornal do Cidadão, após a recente insatisfação referente ao içar do sinal 3 ao invés do 8 com a passagem do tufão Nida pelo território. O comissário deu ainda a conhecer que o CCAC está a tratar do processo seguindo os trâmites normais e que ainda não há resultados. A comunicação das conclusões, adianta Cheong, depende também da situação, frisou, justificando que “o CCAC já recebeu várias queixas que não envolvem uma situação especial ou investigação penal e, como tal, não vai ser anunciado nenhum resultado antes do final do processo”. Quanto aos actos indevidos ou violações administrativas, são casos a ser anunciados individualmente e a seu tempo, refere.

TIAGO ALCÂNTARA

organismo emitiu a planta de alinhamento oficial em 2011, permitindo a altura máxima de cem metros acima do mar. A empresa vedou o terreno em 2012, acção que lhe valeu várias “acusações e ataques” por parte da sociedade por ter sido chamada a atenção para uma construção. O facto de existir uma casamata portuguesa no espaço, ao mesmo tempo que se falava na destruição da colina, levou a estes ataques. A Win Loyal Development defendeu que decidiu abandonar o lote onde está a Casamata, de forma a mantê-la, deixando por isso de construir um edifício habitacional de 28 andares.

SOCIEDADE

André Cheong

continuava a não dar respostas quanto às questões colocadas sobre a dívida dos referidos terrenos, tendo exigido que este falasse formalmente do caso junto do CCAC. O Centro de Sabedoria da Política Colectiva alertou para o facto dos terrenos não terem sido desenvolvidos ou aproveitados segundo o que estava estabelecido. Não terá sido paga a diferença de montante quando se tratou de dimensões diferentes das propriedades e não terão sido definidos encargos especiais, revelou ainda o relatório. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo


10 SOCIEDADE

hoje macau quarta-feira 5.10.2016

Mostra-me o passaporte

Anim’Arte GOVERNO ESTÁ A ESTUDAR CONCESSÃO DO PROJECTO

Lago a concurso

O

projecto Anim’Arte Nam Van pode vir a ser alvo de concurso público. A ideia é apresentada pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), que pretende abrir a concurso público a concessão dos espaços que integram o projecto junto às margens do lago e que visa promover as actividades de lazer turístico no território. A medida vem anunciada na resposta a uma interpelação apresentada pelo deputado

Zheng Anting, em que Tse Heng Sai, directora substituta da DST, dá a conhecer a junção de esforços que já está em marcha com outras entidades tais como o Instituto Cultural (IC), Instituto do Desporto (ID) e o Instituto de Formação Turística (IFT) para que no seu todo, desenvolvam um conselho capaz de tratar dos trâmites relativos ao processo de concessão do projecto. “De modo a garantir a qualidade dos serviços a serem prestados, este conselho terá como função estudar a forma como o futuros arrendatários entrarão em actividade de modo a contribuir para as operações que incluem o projecto Anim’Arte Nam Van”, salienta Tse Heng Sai.

VAMOS A CONTAS

Zheng Anting interpelou o Executivo no passado mês de Agosto acerca do rendimento e das despesas tidas com a actividades das lojas e estabelecimentos que incluem o projecto. A DST admite que o Anim’Arte Nam Van está em andamento essencialmente devido à participação dos departamentos e erários públicos. Por outro lado, a iniciativa conta com a colaboração entre Governo e associações de cariz social que em muito têm contribuído para o “bom desempenho das actividades que têm vindo a ser desenvolvidas”. Ainda a considerar, segundo a directora substituta da DST, é o facto destas associações terem, desta forma, assegurada a sua sobrevivência sem necessidade de recorrer a mais subsídios por parte do Governo, na medida em que garantem espaços de actividade e infra-estruturas

essenciais à sua existência com a participação nas actividades do lago. Ainda em resposta ao deputado Zheng Anting, Tse Heng Sai justifica a actividade levada a cabo pelo IFT que, tendo nas mãos a exploração de uma café que também inclui a

PENSADO PARQUE DE ESTACIONAMENTO NA ESCOLA GONZAGA GOMES

A

A

GCS

A Direcção dos Serviços do Turismo prepara-se para colocar em andamento o processo de concurso público que venha a garantir a concessão dos espaços do projecto Anim’Arte Nam Van. A ideia está já em estudo e pretende abrir ao público a exploração dos espaços ali existentes

Miss Irão interrogada duas horas à chegada a Macau

Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) confirmou ao jornal Cheng Pou que está a ser pensada a construção de um parque de estacionamento no campo desportivo da Escola Secundário Luso-Chinesa Luiz Gonzaga Gomes. Segundo o jornal de língua chinesa, o projecto visa fazer a ligação com a reconstrução do parque de estacionamento subter-

râneo do antigo hotel Estoril, por forma a estabelecer um parque de estacionamento do futuro Centro de Actividades Recreativas e Culturais para os Jovens. A DSEJ confirmou que “foi pedido à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) a planta de condições urbanísticas para se estudar a viabilidade do desenvolvimento (do projecto)”.

função formativa a estagiários, implica que as despesas com os professores orientadores sejam muitas, pelo que o balanço dos primeiros dois meses de actividade ainda não apresenta lucros.

AUMENTAM TURISTAS EM HOTÉIS

Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo

Mais de 7,5 milhões de turistas ficaram hospedados nos hotéis de Macau nos primeiros oito meses do ano, correspondendo a um aumento de 12% em relação a 2015. Entre Janeiro e Outubro, o número de hóspedes dos hotéis locais representou 70,6% do número total de turistas, mais 2,6% em termos anuais, de acordo com os dados divulgados pelos Serviços de Estatística e Censos. Nos oito meses em análise foi registada uma taxa de ocupação média de 81,1%, reflectindo um ligeiro aumento de 0,9%. No final de Agosto, Macau tinha em actividade 105 hotéis e pensões, que disponibilizavam 33 mil quartos, mais 11,5% em termos anuais. Dos quartos disponíveis, um total de 22 mil, ou 66,6%, estava localizado em unidades hoteleiras de cinco estrelas. Macau recebeu 20,44 milhões de visitantes entre Janeiro e Agosto, um valor semelhante ao registado no período homólogo do ano passado.

PÓS recentes denúncias feitas por turistas referentes a descriminação aquando da sua chegada a Macau, é agora dado a conhecer mais um caso, desta feita protagonizado pela Miss Irão, Melika Razavi. Após ser galardoada nas Filipinas com o lugar de Miss Fitness no concurso Miss Global 2016, a beldade iraniana - que também é jogadora de póquer - foi sujeita a duas horas de interrogatório nos Serviços de Migração do Aeroporto Internacional de Macau, aquando da sua chegada ao território. A notícia, adiantada pelo jornal Macau Daily Times, dá a conhecer o caso de Melika Razavi, que terá sido levada por um agente dos Serviços de Migração após apresentar o passaporte de origem iraniana, tendo sido depois questionada acerca da sua visita à RAEM. A visada apresentou-se como jogadora de póquer visto estar na região para participar num torneio da modalidade. As autoridades solicitaram então que assinasse documentos que lhes permitissem inspecionar a bagagem que trazia e o telemóvel. “[O agente] deu-me um papel para assinar para que pudesse revistar as malas e depois de o fazer deu-me outro papel para que autorizasse a inspecção do telemóvel”, explica Melika Razavi, citada na mesma publicação. Após o escrutínio dos objectos pessoais, foi pedido a Melika Razavi para apresentar um montante de cinco mil patacas. A beleza iraniana afirmou que nunca lhe tinha sido solicitado dinheiro anteriormente para entrar em Macau e que esta era a primeira vez que assistia a este tipo de requerimento para poder entrar numa região. “Mostrei-lhes quatro cartões de crédito e perguntei se podia levantar dinheiro ao que me responderam que não”, afirma. Entretanto, foi informada de que lhe tinha sido recusada a entrada na RAEM e que seria deportada para as Filipinas por não trazer consigo patacas ou dólares de Hong Kong. “Como não sou das Filipinas, nada daquilo fazia sequer sentido para mim”, explica Melika Razavi. Após ter sido informada que iria de volta para as Filipinas, país para onde não mais tinha visto de entrada, a modelo e jogadora contou às autoridades que era a Miss Irão e mostrou alguns vídeos que o confirmaram. No entanto, só foi autorizada a entrar na RAEM após a visualização de imagens que a tinham a fazer truques de magia em frente ao boxer filipino Manny Pacquiao. Foi-lhe então concedido um visto de dez dias. De acordo com o Daily Times, os Serviços de Migração classificam este tipo de inspecções como “parte das formalidades”, sendo que para a lesada este foi um caso em que o que esteve em causa foi a nacionalidade. “Sinto como se fizesse parte do ISIS, quando aqui vim por uma boa causa”, refere Melika Razavi. A jogadora tinha feito saber no concurso em que participara que é seu hábito doar parte dos lucros de jogo a instituições de caridade e que era sua intenção em Macau fazer o mesmo tendo como destinatárias entidades locais.


11 hoje macau quarta-feira 5.10.2016

IACM ASSEGURA DESINFECÇÃO DE CEMITÉRIOS

O Instituto para os Assuntos cívicos e Municipais (IACM) assegura ter reforçado o combate ao vírus do Zika e da Dengue nas instalações da sua dependência, nomeadamente cemitérios. Num comunicado, o organismo diz que procedeu à eliminação de mosquitos, remoção de ervas daninhas e de lixo nos cemitérios, que “foram prioridade antes da chegada do dia de Chong Yeong Culto dos Antepassados”, data em que muitos se deslocam aos cemitérios para prestar homenagem aos entes queridos. O comunicado do IACM chega depois de algumas queixas sobre o estado de abandono dos cemitérios terem chegado ao HM.

IC EDIFÍCIOS “TÊM QUE SER MANTIDOS”

O Instituto Cultural solicita aos proprietários de edifícios antigos para que tenham em conta acções de fiscalização e reparação regulares. A recomendação é feita após, no passado dia 30 de Setembro, o IC ter sido alertado para uma nuvem de fumo que saía de um conjunto de equipamentos do telhado do edifício n.º 48 da Avenida de Almeida Ribeiro. O edifício situa-se junto aos Correios da Avenida de Almeida Ribeiro e não faz parte do Centro Histórico de Macau e do Património Mundial, ainda que constitua uma parte do “conjunto classificado da Avenida de Almeida Ribeiro”. O IC dá ainda a conhecer que o segundo as informações dos Corpo de Bombeiros (CB) o edifício não ficou danificado, sendo que é necessário que os seus proprietários procedam a acções de fiscalização e manutenção regulares de modo a evitar quaisquer incidentes.

SOCIEDADE

Ho Chio Meng JUIZ VIRIATO LIMA É RESPONSÁVEL PELA INSTRUÇÃO

Contagem decrescente

É

Viriato Lima quem vai decidir se há provas suficientes para levar Ho Chio Meng, antigo Procurador da RAEM, a julgamento. Dezembro deverá ser a data em que se sabe algo mais sobre o caso que tem um dos principais rostos da justiça como réu, já que o Presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), Sam Hou Fai, confirmou no sábado que já foi deduzida acusação de corrupção no final de Agosto e, depois de ter sido requerida a abertura da instrução pelo arguido, esta já “entrou nos procedimentos”. Segundo a lei, o TUI tem dois meses para concluir a instrução, sendo que Sam Hou Fai não consegue apontar uma data possível para o início do julgamento. Segundo o Jornal de Cidadão, à margem de uma actividade oficial para comemorar o Dia Nacional, Sam Hou Fai revelou que a instrução vai ser da responsabilidade do juiz Viriato Manuel Pinheiro de Lima e que esta, visto que o caso ainda está na fase de instrução e de segredo judicial, não vai ser aberta ao público.

Sam Hou Fai explicou que instrução serve para rever o recurso pedido anteriormente por Ho Chio Meng e, se durante o instrução se descobre que as provas não são suficientes, o juiz responsável pelo caso tem a autoridade para decidir o arquivamento do caso. Se assim for, Ho Chio Meng será libertado imediatamente. Se as provas forem suficientes, o TUI começa o julgamento. Viriato Lima foi o juiz que recusou um recurso da sentença de prisão preventiva que foi decretada a Ho Chio Meng pelo tribunal superior. Interposto pelo antigo Procurador, e ainda que a decisão do TUI fosse irrecorrível, o recurso contestava a medida de coacção que lhe foi aplicada em Fevereiro deste ano e chegou depois de Ho ter feito um pedido de habeas corpus (quando se pede a libertação imediata devido a ilegalidade na detenção). A decisão de Viriato Lima, juiz de instrução no processo, baseava-se no facto de que, ainda que fosse Procurador à data dos crimes alegadamente cometidos, Ho Chio

Meng não era magistrado quando foi detido, logo não poderia beneficiar do Estatuto dos Magistrados. Todo o processo de Ho Chio Meng, da fase de inquérito ao julgamento, decorre de imediato no TUI porque arguido é acusado por crimes que terá cometido enquanto era Procurador. Ho Chio Meng está em prisão preventiva desde 26 de Fevereiro por suspeitas de corrupção. O arguido é suspeito de ter favorecido familiares na adjudicação de obras e serviços durante dez dos 15 anos em que foi Procurador, sendo que o caso envolve mais arguidos. Sam Hou Fai reiterou que não sabe a data da abertura da sessão em tribunal, prevendo que a instrução só possa ser concluída depois do começo do ano judiciário, que acontece no dia 19 de Outubro. Angela Ka

info@hojemacau.com.mo

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

59 TÁXIS MULTADOS NOS PRIMEIROS DIAS DA SEMANA DOURADA

Nos primeiros dois dias da semana dourada foram multados 59 táxis. Segundo a Polícia de Segurança Pública, 88% dos casos estão relacionados com cobranças excessivas e rejeição de passageiros por parte dos taxistas. A PSP diz também que foram multados 17 veículos do serviço de transporte Uber, indica a rádio Macau.

COUGHLAN APONTADO COMO PRESIDENTE DA WYNN MACAU

Os destinos do Wynn Palace Cotai e Wynn Macau vão passar a ser liderados por Michael Coughlan, anterior presidente para a área do imobiliário da Wynn Macau. Segundo um comunicado, Michael Coughlan irá substituir Gamal Aziz, que apresentou a demissão ao conselho de administração da concessionária.

Ho Chio Meng

RECEITAS DE JOGO AUMENTAM EM SETEMBRO

A

S receitas brutas dos casinos aumentaram 7,4% em Setembro, relativamente ao mesmo mês de 2015, sendo esta a segunda subida consecutiva após mais de dois anos de contracção. O mês passado, os casinos facturaram 18.396 milhões de patacas,

segundo dados revelados no sábado pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). As receitas dos casinos caíram consecutivamente, em termos homólogos, entre Junho de 2014 e Julho deste ano, tendo recuperado em Agosto, quando au-

mentaram 1,1%. Segundo os dados conhecidos esta semana, as receitas brutas acumuladas entre Janeiro e 30 de Setembro ascendem a 162.792 milhões de patacas, menos 7,5% do que nos mesmos meses de 2015. Em 2015, o PIB caiu 20,3% e no primeiro semes-

tre deste ano a contracção homóloga foi 10,3%. Analistas ouvidos pela agência Lusa no início de Setembro consideram precoce falar numa reversão da tendência de contracção verificada nos últimos dois anos e alguns deles associaram o resultado de Agosto, pelo

menos parcialmente, à abertura de um novo casino (o Wynn Palace). Assim, entre estes analistas, havia já uma expectativa de que o crescimento se mantivesse em Setembro, com a abertura no dia 13 de um novo espaço de jogo (o Parisian, da Sands China). LUSA/HM


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STOMP ESPECTÁCULO NO VENETIAN ATÉ DOMINGO. FALAMOS COM PHIL, IAN

Vêm de diferentes contextos, mas é isso que os ajuda a tornar STOMP único. Phil Batchelor, Ian Vincent, Adrien Rako e Dominik Schad falam do espectáculo que já correu continentes com ritmos feitos de objectos comuns e que, asseguram, são contagiantes

“S

TOMP” é uma celebração de música e movimento, usando objectos do dia-a-dia. É, pelo menos, assim que Ian Vincent explica ao HM o conceito por trás do espectáculo que decorre no Venetian até dia 9 de Outubro. De bolas de basquetebol a vassouras, STOMP junta dançarinos e bateristas com perfomers de todos os tipos de arte com a habilidade para criar música com tudo aquilo que não é um instrumento. Actualmente, há cinco companhias STOMP em espectáculos à volta do mundo, mas numa entrevista exclusiva com quatro dos principais dançarinos que trouxeram o espectáculo a Macau – Ian Vincent, Phil Batchelor, Adrien Rako e Dominik Schad - o HM ficou a perceber um pouco mais sobre o espectáculo que, em 25 anos, foi visto por mais de 12 milhões de pessoas em seis continentes. Cada pessoa tem um papel diferente e varia consoante o espectáculo, o que permite

que “cada um traga uma diferente personalidade” para o palco. Algo que ajuda a transformar o espectáculo, especialmente se estiver parado num local por diversos dias, como é o caso de Macau. “Todas as noites a estrutura do espectáculo é a mesma, mas a vibe é diferente por causa de haver diferentes pessoas encarregues de diferentes momentos e deixarem o seu próprio carácter mostrar-se. É, por isso, um sentimento diferente todas as noites.” Phil Batchelor, director em tour, explica ao HM que o espectáculo não tem um guião, ainda que a ordem por que é conduzido seja a mesma. “Começamos sempre com vassouras e acabamos sempre com bidões. A música do espectáculo está escrita, cerca de 75% do show está planeado, mas o resto depende de nós e dos nossos momentos pessoais em palco. Há lugar para improvisar e fazer os nossos próprios solos.” Se for ver os STOMP, fique a saber que quando vir um solo, tudo o que sai da pessoa naquele momento é inventado – ou sentido – na altura. “Per-

RITMOS CON

VENETIAN

EVENTOS

mite ter movimentos únicos”, assegura Batchelor.

COMEÇANDO

Para os shows, os ‘stompers’ praticam duas horas antes de cada espectáculo, como nos diz Dominik, mas esse ensaio mais a sério não é o que lhes dá exactamente a prática que precisam. “É já parte de cada um dos ‘stompers’ estar sempre a tocar em algo, a usar objectos como bateria e a fazer barulho com tudo o que temos à nossa volta. Estamos constantemente a colocar em prática o ‘fazer barulho’ de uma forma harmoniosa, transformar esse barulho em música.” É “inconvencional”, como acrescenta Phill Batchelor, que explica um pouco mais

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA NÃO EXISTES
• Gonçalo Lobo Pinheiro

“Não Existes”, preconiza, não uma forma de olhar a relação amorosa, que cessou, e que se torna necessário tornar o objecto amado em algo próximo do imaginário, mas uma forma de ver, de interpretar a própria vida, superando cada instante, cada pormenor porque urge seguir a própria viagem.

dos bastidores. Não fosse ele o manager em tour do grupo. “Fazemos as audições por fases, estilo ‘Factor-X’ até conseguirmos ser seleccionados. Depois aprendemos entre oito a nove horas durante seis semanas todo o show”, diz, acrescentando que todos os que compõem os STOMP vêm de diferentes backgrounds, como dança e música, é há até quem não tenha formação em qualquer uma destas artes. “Basta ter um bom sentido rítmico.” E porquê? “O show é a transformação de objectos que se tornam instrumentos, por isso não podemos assumir que é igual a um baterista sentar-se atrás de uma bateria. Não é igual a andarmos no palco a varrer com uma vassoura a um ritmo

determinado e com mais sete outras pessoas, a fazer a nossa própria música.” Todos eles sabem diferentes papéis no espectáculo, caso seja necessário substituírem-se, havendo no total 12 pessoas – oito delas em palco.

ARTE PURA

“STOMP” é também um caso onde aqueles que eram dançarinos se transformam em bateristas e quem andava a fazer barulho nas baterias, se transforma em dançarino. E, no fim, “todos se transformam em ‘stompers’”, como explica Batchelor. Pegando no seu próprio exemplo, o manager diz que bastou ver o espectáculo para ficar viciado. “Achei que era uma loucura, vê-los a tocar bateria,

mas sem ser com bateria”, partilha com o HM, admitindo que “a dança não era algo que saía naturalmente”, mas com a inclusão nos STOMP tudo mudou. Já o caso de Adrien, acabado de integrar o grupo depois de ter tido um contrato em Amesterdão, é bem diferente. Algo que comprova a diversidade do grupo. “Era dançarino e ainda sou. Trabalhei como dançarino, professor e coreógrafo e fiz as audições quando estava em Londres, à procura de trabalho. Vi uma publicidade que dizia ‘se não consegues evitar estar sempre a fazer ritmos, anda e experimenta’ e pronto. Achei super interessante a ideia de estarmos sempre a mexer-nos, que

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ORIENTE DISTANTE • Joaquim Magalhães de Castro

Viajante habitual, o autor percorre o trilho dos vestígios da cultura e presença portuguesa pelo Oriente. Neste livro, é embaixador itinerante por Macau, Japão, Mongólia, Camboja, Xinjiang e Vietname onde Portugal permanece teimosamente presente - apesar da perda do protagonismo. Presença essa bem viva, não só nos vocábulos da língua-mãe de inúmeros povos, mas também nas suas tradições, cultos religiosos ou nas recordações dos mais velhos.


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N, ADRIEN E DOMINIK

NTAGIANTES

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e comecei a contemplar a hipótese de que, talvez, o curso que estava a tirar não era exactamente o que queria fazer. Candidatei-me depois de um espectáculo para fazer uma audição.” Perguntaram-lhe se tinha sentido de humor, se trabalhava arduamente e se tinha ritmo. Respondeu a tudo que “sim” e, garante-nos, não mentiu. “Não, sim, não [menti] (risos). Esqueci-me da audição, acabei o curso e fui-me embora de Londres. Um dia depois de chegar à minha terra natal chamaram-me para Londres. Fui para uma audição nova só porque sim e aqui estou.” Dez anos depois, Phil Batchelor e Ian Vincent con-

gosto realmente, ao mesmo tempo que fazemos música.” O alemão Dominik confessa ao HM que conseguiu, com este espectáculo, subir ao palco de uma forma diferente daquilo que sempre fez e Ian, enquanto sorri, assegura ter encontrado as suas paixões. “Eu era baterista, estudei Música e tinha até uma banda. Vi o espectáculo algumas vezes, porque os STOMP são muito populares na Alemanha e tinha até um vídeo do grupo, quando era criança. Era um fã e, por ser um baterista, sempre senti falta de estar à frente

no palco. Sentar-me lá atrás, no canto a tocar bateria não era suficiente para mim, que sempre quis estar a mexer-me mais e a interagir com o público. E os STOMP são o local ideal para isso”, explica Dominik ao HM. “Eu cresci como dançarino, mas também baterista. A minha família é muito musical e, apesar de estar a estudar dança, ouvi falar da audição. Mas a minha história é estranha, porque fiz a audição completamente sozinho na Sidney Opera House: fiz o que eles fizeram, mas so-

zinho”, diz Ian, enquanto ri. “Os STOMP para mim são basicamente os dois grandes amores da minha vida juntos como um trabalho.” E, se tinha como hobby tocar bateria, a verdade é que Phil Batchelor está nos STOMP porque queria mais do que o que a vida lhe oferecia. “Adorava tocar bateria, mas fui para a universidade e tirei Business Management e Computer Science. Enquanto estava a tirar o curso fui ver os STOMP em Londres, quando trabalhava lá. Pensei logo que era espectacular

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tinuam nos STOMP, depois de terem começado ao mesmo tempo. Estão quase sempre em tour, mas asseguram que conseguem contornar bem o facto de não pararem num sítio apenas. “Quando temos intervalos conseguimos ver as vistas, é fixe”, diz Ian. “É fixe, claro. Quando penso no trabalho de agente imobiliário que tinha em Londres, das 8h00 às 20h00, todos os dias, seis dias por semana. Eu tenho isso como referência: se achar que está difícil aqui e começar a ficar frustrado penso logo nesse tempo e obrigo-me a ver que este é o trabalho mais divertido que posso ter”, acrescenta Phil Batchelor. Os tempos livres dos STOMP são cheios de criatividade, como confessa Ian, que conta ao HM algumas das peripécias depois das luzes do palco se apagarem. “Eu adoro fotografia e consigo fazer isso. Conseguimos todos fazer coisas criativas, como filmes e música. Todos nós. Fizemos um filme em Pequim, só por divertimento. E pequenos projectos, como composição de música. Tentamos fazer

EVENTOS

algo sempre juntos, além dos espectáculos.”

VAI FICAR À ESPERA?

Descrito como “um espectáculo com ritmos contagiantes, rotinas espectaculares e inovadoras e quase telepatia entre os dançarinos”, STOMP é “o derradeiro encontro entre o urbano e o primitivo” no que à dança e ao ritmo diz respeito. Parados em Macau desde o dia 23 de Setembro, o espectáculo vai até dia 9 de Outubro – pelo que só tem até domingo para comprar os bilhetes, que vão desde as 180 às 780 patacas. Esta é a primeira vez que estes ‘stompers’ estão em Macau, mas já sentem que o território está mais inclinado para o jogo, algo que os faz lançar um desafio ao público local: “há comédia, música e dança. Há tanta coisa de que as pessoas que vêm ver o espectáculo gostam e que experienciam. Se procuram algo que é fora do normal, do que pensa, venham ver-nos”, diz Phil Batchelor, logo ajudado por Ian Vincent: “É tão divertido.” E para todas as idades. No Venetian, até 9 de Outubro. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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O impacto será maior noutros países do que nestas regiões. A entrada do yuan no cabaz de moedas do FMI vai tornar os empréstimos mais caros porque as taxas de juro da moeda chinesa são superiores às das outras moedas

YUAN ENTRA NO CABAZ DE MOEDAS DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

Passo de gigante

O Yuan faz finalmente parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional, juntando-se ao dólar americano, yen japonês, euro e libra. A medida, que internacionaliza a moeda chinesa, terá poucos efeitos em Macau e Hong Kong, dizem economistas

B

ASTOU um ano apenas para a moeda chinesa dar um passo gigante na sua internacionalização e passar a fazer parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI). O yuan está agora ao lado do dólar americano, do yen japonês, do euro ou da libra inglesa, o que faz com que a China deva, aos olhos dos analistas, assumir as rédeas em prol de maiores reformas económicas. Em Novembro do ano passado, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, confirmava que o yuan já

respeitava dois dos critérios para entrar no cabaz das moedas mais importantes do mundo. A moeda chinesa já era “largamento utilizada” e “livremente utilizada”. No dia em que se celebraram os 67 anos da República Popular da China, o país teve mais uma confirmação do sucesso das suas políticas económicas. Citado pelo diário de Hong Kong South China Morning Post, Peter Wong Tung-shun, CEO do banco HSBC para a zona da Ásia-Pacífico, defendeu que a entrada do yuan para o cabaz de moedas

do FMI “catapulta formalmente (a moeda chinesa) para o ranking das moedas de reserva mais importantes, o que dá grande confiança a empresas e instituições de todo o mundo para constituir negócios em yuan e investir em activos nesta moeda”.

POUCAS CONSEQUÊNCIAS

O HM questionou dois economistas sobre eventuais consequências desta decisão para Macau e Hong Kong, mas Albano Martins e José Pãosinho não conseguem prever efeitos positivos ou negativos.

“A curto e médio prazo não vejo quaisquer consequências porque o movimento de internacionalização do yuan começou há alguns anos em Macau e Hong Kong. O impacto será maior noutros países do que nestas regiões. A entrada do yuan no cabaz de moedas do FMI vai tornar os empréstimos mais caros porque as taxas de juro da moeda chinesa são superiores às das outras moedas”, explicou José Pãosinho. Quanto à entrada da moeda no cabaz do FMI, constitui “um acontecimento normal em termos

da evolução da economia chinesa, que tem um maior peso na economia mundial”. Resulta ainda de um “processo normal na política de internacionalização”, referiu ainda o economista. Também Albano Martins não denota grandes consequências pelo facto dos dois territórios terem a sua própria moeda, a pataca e o dólar de Hong Kong. “Não vejo qualquer tipo de efeito ou consequência benéfica ou não benéfica para Macau e Hong Kong. Primeiro porque o dólar americano está ligado à nossa moeda, e não me parece que haja outro tipo de consequência. A China passa a ter a terceira posição, a seguir ao Euro, e não me parece que tenha qualquer relevância em relação a Hong Kong ou Macau. Isso terá consequências positivas para a China porque internacionaliza mais a moeda chinesa, mas para Hong Kong e Macau não. Até termos moeda própria não haverá grandes consequências”, defendeu ao HM. Apesar de se vislumbrar uma maior internacionalização para uma moeda que, até há poucas décadas atrás, estava confinada às fronteiras internas do país, a verdade é que a utilização do yuan sofreu uma quebra, tendo existido reservas quanto a uma depreciação. Analistas disseram ao South China Morning Post disseram que esta medida não vai provocar mudanças de imediato, graças às políticas de capital mais restritivas e a uma falta de transparência nas políticas monetárias. “É um sinal positivo e um bom começo, mas não vai fazer grande diferença em termos de procura do yuan e a sua liquidez”, concluiu Heng Koon How, estratega monetário do banco Credit Suisse de Singapura. Em 2003 o yuan transpôs fronteiras pela primeira vez quando Pequim autorizou o estabelecimento de negócios em yuan através dos bancos de Hong Kong. Em 2009 seria permitida a sua utilização por empresas e instituições internacionais. Em 2010 passou a ser permitido fazer investimentos em yuan. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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Clima pesado

CHEFE DO EXECUTIVO DE HONG KONG APELA À UNIÃO COM A CHINA

As palavras e os ventos

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chefe do Executivo de Hong Kong apelou à união sob o sistema político da cidade, durante um discurso para assinalar o Dia Nacional da China interrompido por protestos. CY Leung descreveu o sistema como o “mais benéfico e prático” para Hong Kong. Também encorajou os jovens de Hong Kong a visitarem a China, afirmando que há “profundos laços de sangue” entre os dois lados da fronteira. Deputados pró-democracia interromperam o discurso de CY Leung, gritando palavras de ordem a pedir a sua demissão, antes de serem retirados pelos seguranças. Entre os deputados que protestaram estava James To, do Partido Democrático, que disse que CY Leung “causou divisões na cidade e fez com que os residentes sintam que não podem continuar (com Leung no poder)”. Vários novos deputados que ganharam assento no Conselho Legislativo (LegCo) nas eleições de Setembro e que apelam à autodeterminação e mesmo independência de Hong Kong boicotaram o evento. Nathan Law, que aos 23 anos se tornou o mais jovem membro do LegCo, foi um dos ausentes. “Enquanto eles não reconhecerem que o estão a fazer é errado, não devemos ir e celebrar este tipo de data”, disse Law, apontando a Revolução Cultural e o caso dos desaparecimentos de cinco livreiros em Hong Kong no ano passado como algumas das violações de direitos humanos cometidas pela China.

Desde as manifestações pró-democracia e ocupação das ruas em 2014 uma nova vaga de grupos designados ‘localists’ aumentou os pedidos de ruptura em relação à China. A jovem deputada Yau Wai-ching, do grupo Youngspiration, também não

participou no evento. “Não é um dia nacional para os residentes de Hong Kong”, disse à AFP. Longas faixas vermelhas com mensagens a apelar à independência de Hong Kong foram penduradas em edifícios de várias universidades na cidade.

CHINA

Taiwan vai enviar delegação para cimeira climática apesar da oposição da China

Um grupo de manifestantes, liderado pelo deputado radical Leung Kwok-hung, conhecido como “Long Hair” (“Cabelo Comprido”), reuniu-se fora do centro de convenções onde decorriam as celebrações e pediu a libertação de presos políticos na China.

T

AIWAN vai enviar uma delegação para a 22.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Novembro, em Marrocos, informou ontem o Ministério de Negócios Estrangeiros, citado pela agência de notícias Efe. Depois de ter sido excluída da reunião trienal da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) celebrada em Montreal (Canadá), Taiwan vai enviar uma delegação sob a bandeira do Instituto de Investigação em Tecnologia Industrial (IITI), como organização não-governamental, informaram as autoridades diplomáticas da ilha Formosa. A COP22 terá lugar em Marraquexe, entre 7 e 18 de Novembro, e a representação não oficial de Taiwan já tinha sido excluída de participar em actividades complementares da conferência, devido à pressão da China, disseram funcionários sob anonimato. Taiwan pretende participar como observador no encontro, mas devido à oposição da China e à deterioração das relações com Pequim desde a tomada de posse da actual presidente, Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progresista (PDP), não avança no pedido de adesão, apesar do apoio dos Estados Unidos e de outros países. A ilha Formosa foi excluída da reunião da OACI, celebrada entre 27 de Setembro e 7 de Outubro, devido à frontal oposição da China. Taiwan foi convidada para anterior reunião trienal da OACI, em 2013, quando as suas relações com Pequim eram melhores e o então presidente, MaYing-jeou, aceitava o “Consenso 1992”, ao abrigo do qual as duas partes reconhecem que existe apenas uma China, mas cada uma delas faz a sua interpretação desse princípio. Num evento académico realizado no sábado, a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen disse que a ilha não vai abandonar o objectivo de ampliar a sua presença internacional, apesar das dificuldades por parte da China.

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SÍRIA PEQUIM APELA A RECOMEÇO DAS NEGOCIAÇÕES

A

China manifestou ontem a sua “preocupação” com os últimos desenvolvimentos da guerra na Síria e pediu o recomeço das negociações depois de os Estados Unidos terem anunciado na segunda-feira a suspensão dos contactos com a Rússia. “A China expressa a sua preocupação com a intensificação do conflito na Síria e com as vítimas resultantes”, assinalou o gabinete de porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em comunicado. “Apelamos a todas as partes

envolvidas que procedam de acordo com os interesses fundamentais do povo sírio, travem a violência e criem condições favoráveis para o recomeço das conversações de paz e da implementação da ajuda humanitária o mais rápido possível”, acrescentou. Os Estados Unidos e a Rússia acordaram em Setembro um cessar-fogo no conflito sírio que se manteve em vigor apenas uma semana. A recente ofensiva das forças sírias, com apoio russo, sobre Alepo, em que os terroristas

apoiados pelos EUA têm sido atacados, motivou Washington a cancelar os seus contactos com Moscovo e a retirar da região o seu pessoal militar, que se preparava para boicotar ataques sobre grupos terroristas. Pelo menos 3.686 pessoas morreram, incluindo 1.228 civis, devido ao conflito armado na Síria durante o passado mês de Setembro, segundo o último balanço publicado pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que eleva o total de mortos nos mais de cinco anos de guerra para 280 mil.

AVISO Faz-se saber que em relação ao concurso público para a execução da « Empreitada de construção de fundações do Centro de Formação e Estágio de Atletas », publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 38, II Série, de 21 de Setembro de 2016, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.2 do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, no Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas, sito na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, Macau. Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 27 de Setembro de 2016. O Coordenador do Gabinete Chau Vai Man


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na ordem do dia 热风

Julie O’yang

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Don(ald), Hill(ary) e os clássicos chineses 希拉里.克林顿知道多少

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ÊM ideia de quantas vezes os dois candidatos à Presidência dos EUA mencionaram a China durante o primeiro debate eleitoral? Pois é verdade, Pequim está sempre presente na mente dos americanos, se não mesmo nos seus corações. Coração e mente. Estas duas palavras transportam-me para a literatura chinesa. Gostava de aproveitar a ocasião para falar sobre, ou melhor, falar em torno de um dos quatro clássicos: Os Três Reinos 三国志。 A 22 de Junho de 2015, durante a cerimónia de inauguração do Encontro Económico-Estratégico Sino-Americano, o Secretário de Estado John Kerry congratulou a China por se ter tornado um líder mundial, nomeadamente, por ter ajudado os EUA a combater o Ébola, pela intervenção diplomática no Irão, e pela colaboração conjunta no Afeganistão. Mas o Vice-Presidente americano Joe Biden fez umas declarações menos elogiosas. Afirmou que, se a China quiser verdadeiramente vir a tornar-se num “concorrente responsável,” terá de respeitar a lei internacional, garantir a liberdade das zonas marítimas e proteger os direitos humanos. Como é que poderemos unir estes dois pontos de vista divergentes e compor uma imagem correcta da China? Mesmo depois de mais de 200 anos de relações entre os dois países, a China permanece um enigma para os políticos americanos. Como explicar o comportamento contraditório da China? De uma forma geral, parece-me que os ocidentais, neste país, só conhecem Confúcio e a Arte da Guerra. O Ocidente tem prestado pouca atenção a outras eras importantes da história chinesa: o período do Três Reinos (220-280). A obra clássica da literatura Romance dos Três Reinos continua extremamente pertinente na sociedade chinesa actual. Este texto tem sido estudado e profusamente citado, e é uma referência de todos os dirigentes chineses desde Mao a Xi Jinping. Romance dos Três Reinos decorre após a queda da dinastia Han, em 220. A China, até aí unida, divide-se em várias facções comandadas por temíveis senhores da guerra, cada um deles em-

Richard Nixon experimenta comer com pauzinhos durante um banquete dado em sua honra, 1972

penhado em reunificar o país sob a sua liderança. Por fim, os mais fortes conseguiram fundar três reinos: Wu, Wei e Shu. O Reino de Wu simboliza a hegemonia regional. O Rei de Wu não tinha propriamente ambições imperialistas; só queria proteger o território que desde os tempos ancestrais pertencia à sua família, situado ao longo da costa leste. Mas isso não o impediu de lutar com todas as suas forças para defender a independência e a hegemonia dessa terra soberana. Quando o Rei Wei o defrontou na Batalha de Chibi (Falésia Vermelha), Wu uniu-se com Shu para proteger a hegemonia da sua região. Nos dias de hoje, a China está a posicionar-se pela hegemonia da Ásia. É líder na Organização para a Cooperação de Xangai e fundou o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, para fazer frente aos ocidentais Banco Mundial e ao FMI. Está também a caminho de estreitar os laços com a Rússia, de forma a manter o alcance deste gigante fora da sua esfera de influência. Wei era o segundo Reino e representa a tirania. O Rei de Wei, o celerado Cao Cao, um líder implacável que usava as alianças para tornar os estados vizinhos seus vassalos e que, mal podia, quebrava as alianças assim que via uma possibilidade de atacar. A frase mais célebre de Cao Cao foi, “prefiro trair o mundo inteiro antes que o mundo me traia a mim.” Por isso agora podemos juntas todas as peças do puzzle, América Latina e África, Mar do Sul da China e Japão e, por aí fora. Finalmente, vem Shu, o terceiro Reino, que representa a autoridade humanitária. Liu Bei personifica o rei sábio, que se apoiava na sua reputação e na sua virtude. Benevolente, seguia escrupulosamente a lei e exercia a autoridade de forma humanitária. Liu Bei não se guiava só pelas suas próprias ideias; rodeou-se de um círculo de leais conselheiros. Para defrontar o terrível Wei, Shu teve de aliar-se a Wu. A China dos nossos dias ascende à cena internacional como o rei sábio que desejava representar a autoridade humanitária no mundo. Isto diz-vos alguma coisa? Claro que sim, estou a lembrar-me de uma ideia tão ancestral quanto moderna que tem mantido a China viva no imaginário ocidental através dos séculos. Três Reinos, três caminhos. Querem experimentar com pauzinhos, USA?


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Ésquilo, Sófocles, Eurípides PARTE 1

A

Oresteia, tragédia maior de Ésquilo que chegou até nós, e a sua última, é representada pela primeira vez em 458 a.C., dois anos antes da sua morte. Nesta altura, Sófocles tinha 37 anos e já arrebatara vários primeiros prémios nas competições, e Eurípides era um jovem adulto com 27 anos de idade. A estreia de Eurípides nas competições é em 455 a.C., com 30 anos de idade e, por conseguinte, por muito, muito pouco não chegaram a concorrer os três a um mesmo prémio. Mas, seja como for, certo é que Eurípides viu muitas vezes Ésquilo em competição com as suas tragédias. Havia uma diferença de trinta anos entre Ésquilo e Sófocles e uma diferença de apenas 10 anos entre este e Eurípides, perfazendo uma diferença de 40 anos entre Ésquilo e Eurípides. A importância de ter bem presente a contemporaneidade deles deve-se a dois factores: 1) usualmente julga-se que eles fizeram parte de momentos históricos bem

distintos, o que não poderia ser mais longe da verdade; 2) termos também bem presente esse esmagador período da história grega clássica, em particular, e da humanidade em geral. Werner Jager dirá mesmo que só a epopeia de Homero se pode comparar à tragédia, na capacidade de abarcar o todo humano. É como se o renascimento do génio poético da Grécia se tivesse mudado da Jónia para Atenas. A epopeia e a tragédia são como duas grandes formações montanhosas ligadas por uma série ininterrupta de serras mais pequenas. Na sua primeira competição, em 468 a.C., com apenas 27 anos de idade, Sófocles derrota Ésquilo; e, sem dúvida, Eurípides assistiu a essa competição, com os seus 17 anos de idade. A primeira tragédia que chegou até nós, destes três génios, foi uma tragédia de Ésquilo, ainda da chamada primeira fase do autor, e a única dessa fase, levada a competição (e sagrando-se vencedora) em 472 a.C.: Os Persas. Sófocles com 23 anos de idade e Eurípides com 13. Mais: a primeira vitória

de Ésquilo, nas competições, em 484 a.C., foi certamente assistida por Sófocles, se é que ele não fez mesmo parte do coro de crianças. Atribui-se a Ésquilo a criação da tragédia (ao introduzir o segundo actor), a Eurípides a criação da criação temática, da criação dos seus próprios temas para além da tradição, e a Sófocles, para além de se lhe atribuir a criação do terceiro personagem, atribui-se também “as tragédias mais tragicamente perfeitas”. Apesar desta proximidade temporal, desta contemporaneidade dos autores, há factores históricos, acontecimentos que fazem com que eles cresçam em ambientes e expectativas muito distintas. Ésquilo foi combatente em Maratona, na guerra contra os Persas na defesa da liberdade do estado de Atenas, contra aquele que era o maior império nessa altura. Pouco tempo mais tarde, o seu irmão irá perecer na célebre e mítica batalha de Salamina, que Ésquilo irá cantar na sua tragédia Os Persas. Para Ésquilo, os heróis não era uma história que se contava, mas um facto ao qual

assistira e mesmo vivera. O exército ático em inferioridade numérica de 1 para 10, destrói o exército persa, que até então era considerado indestrutível. Para além da vontade, coragem e engenho dos gregos, aliaram-se também os deuses na defesa dos áticos, isto é, o destino esteve com eles nessa dura prova em defesa da liberdade. Em caso de derrota, provavelmente não haveria tragédia. Em caso de derrota em Salamina, a humanidade nos séculos imediatamente subsequentes, poderia ter sido outra, bem diferente. Pelo menos a arte e o pensamento seriam e isto marcaria seguramente a história da humanidade mais do que a história do povo ático. Ésquilo vive um período histórico eufórico, um período em que os gregos eles mesmos, e ele fazendo parte deles, conquistaram com seus braços o direito à liberdade e a necessidade de agradecer aos deuses. Sófocles irá crescer neste ambiente, num ambiente em que o povo ático se sente um povo especial, um povo que merece o que tem, que


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máquina lírica

merece os seus deuses e que a eles deve respeitar e aceitar as suas decisões, mas tendo a consciência de que ele, os homens gregos, foram e são grandes. Os gregos são heróis. Sófocles é, aqui, bastante diferente de Ésquilo. Sófocles respeita mais os deuses do que os homens, isto é, atribui mais importância aos primeiros no destino dos segundos do que a estes mesmos. Isto nunca aparece nas tragédias de Ésquilo que chegaram até nós. Parece curioso que Sófocles, mais jovem do que Ésquilo, seja mais conservador do que este. Mas não é sempre assim? A geração imediatamente a seguir a uma geração revolucionária e vitoriosa nas suas conquistas, não educa seus filhos de um modo mais abastado e em segurança, fazendo com que estes acabem por se tornar mais conservadores? Assim aconteceu com a geração de Sófocles e, mutatis mutantis, com ele mesmo. Se analisarmos as tragédias de Sófocles, vamos encontrar o destino, a vontade dos deuses como factor primordial do mal que atinge os humanos. É assim em Édipo Rei, é assim em Antígona, é também assim em Electra. Por outro lado, o grande heroísmo dos seus personagens não é outro senão a coragem e a determinação com que aceitam, caminhando mesmo para ele, o seu destino traçado pelos deuses e ao qual eles nada podem alterar. Para Sófocles, alterar, se assim podemos dizer,

é aceitar. Aceitar não é uma resignação, mas um acto de coragem, um acto de heroísmo. As personagens de Sófocles atiram-se na direcção do seu próprio fim, pois o fim é não contradizer tudo aquilo por que viveram até ali. Aceitar é, para este autor, a expressão da coragem máxima, da andreia, como se dizia em grego, e que tinha o significado de capacidade de permanecer onde se está; capacidade de permanecer no ponto de vista que é o seu. É assim com Édipo, é assim com Antígona, é assim também com Electra. A cada instante vêem mais nitidamente o fim deles mesmos, mas continuam a precipitar-se para ele, pois a coragem de permanecer leal ao que deve ser feito é mais forte do que salvar as suas próprias vida. Este não é, de todo em todo, o heroísmo dos personagens de Ésquilo. Em Ésquilo, quem mais mal faz ao humano é o próprio humano. Os deuses são, ainda assim, menos responsáveis no desespero em que os humanos colocam e conduzem as suas próprias vidas. O que parece estar em causa em Ésquilo é a necessidade de dar ao humano o que é do humano. O modo como conduzimos as nossas vidas é o que mais importa em tudo o que nos acontece. Os deuses julgam-nos, afectando-nos má ou afortunadamente, consoante o nosso comportamento. Devemos querer o que é do humano e não o que não lhes diz respeito. Há aquilo que

convém a um deus e aquilo que convém a um humano. Há, de facto, uma posição muito clara em relação a uma necessidade de traçar uma ontologia do humano, em Ésquilo, que não encontramos efectivamente em Sófocles. Pois esta posição mostra a necessidade de uma hermenêutica segura acerca do que é o humano; sem isso, incorremos no risco de nos desviarmos do que nos convém e cair em impiedade, afectando todo o nosso destino e os que de nós advêm. Não é que os deuses não tenham poder sobre nós e de nossas vidas decidam, não é isso que está em causa em Ésquilo, o que verdadeiramente está em causa é que as acções dos deuses em relação à vida de cada um dependerá das acções de cada um enquanto humano, isto é, dependerá de uma boa ou má adequação à vida humana. Ou seja, as acções dos deuses sobre nós derivam menos das suas paixões do que das nossas. Saibamos nós controlar as nossas paixões e eles saberão recompensar devidamente a nossa conduta. Há aqui, obviamente, também uma posição ética marcante. É verdade que podemos ver, como o faz Werner Jaeger, que mais do que o humano, a grande guerra de Ésquilo é o destino, a moira, e que o humano é apenas o seu portador. Mas o destino que nos atinge, como um tsunami, não é apenas devido ao livre arbítrio ou às paixões dos

Paulo José Miranda

deuses. A nossa conduta afecta, não só as nossas vidas, mas a vida da cidade, a vida de todos; os filhos herdam os males que os pais fizeram. A expressão portuguesa, pintada de fado, “cá se fazem, cá se pagam”, assume em Ésquilo uma força holística: se não nós, os nossos hão-de pagar as nossas faltas, mesmo que sejam inocentes, amplificando assim a dor do universo, e o horror a quem assiste. É o caso da trilogia Oresteia, por exemplo. Podemos ver aqui a força “tsunamíca” do destino ou o resultado de uma acção inadequada. Destino e acção estão intrinsecamente ligadas em Ésquilo. Por isso, e antes de mais, é preciso deixar claro, que há uma hermenêutica do humano que é necessária compreender, que é necessário auto-consciencializar. Pois sem isso, sem sabermos o que é conveniente a um humano e o que não é, não poderemos agir bem ou mal em relação às nossas próprias vidas. Sem se traçar primeiro uma ontologia – não necessariamente teórica, obviamente –, não há possibilidade de se erigir uma ética. E esta é a grande guerra de Esquilo. A acção humana, o desconhecimento da mesma, é a mão que segura a flecha no arco esticado. Evidentemente, e ainda hoje isso é válido, não se sabe onde começa e onde termina a relação entre acção e destino. (Continua na próxima semana)


20 (F)UTILIDADES

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?

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 25 MAX 31 HUM 65-95% • EURO 8.92 BAHT 0.23 YUAN 1.19

O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado EXPOSIÇÃO “TESOURO DE ARTE SACRA DO SEMINÁRIO DE S. JOSÉ” Seminário de São José, 10h00

AQUI HÁ GATO

ATAQUES MÚTUOS

PALESTRA “A PRIMEIRA UNIVERSIDADE DO EXTREMO ORIENTE EM MACAU: O EMPENHO DOS JESUÍTAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA ÁSIA” Seminário de São José, 10h00 PALESTRA “CONTRIBUIÇÕES DO SEMINÁRIO DE S. JOSÉ PARA A MÚSICA DO SÉCULO XX” Seminário de São José, 11h30

Diariamente EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

O CARTOON STEPH DE

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” MACAU E LUSOFONIA AFRO-ASIÁTICA EM POSTAIS FOTOGRÁFICOS Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) SOLUÇÃO DO PROBLEMA 92 EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

C I N E M A

Cineteatro

PROBLEMA 93

UM FILME HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “INSPIRAÇÃO INOVADORA”, DE MAK KUONG WENG Jardim Lou Lim Iok (até 16/10)

Hong Kong anunciou nos últimos dias que durante o feriado do Dia Nacional o número dos turistas do interior da China subiu um pouco, comparando com o período homólogo do ano passado. Entretanto, alguém do sector do Turismo de Hong Kong veio dizer que a situação real é que uma grande proporção dos turistas vêm para Hong Kong só para apanhar voos para países do sudeste asiático. Ainda me lembro que, há alguns anos, Hong Kong era para as pessoas do interior da China, um “paraíso do turismo e compras”, mas agora já raramente ouço esse outro nome e parece que a cidade já caiu num estado de albergar apenas “passageiros”. Além do aumento de competitividade turística nas cidades do interior da China, com a conclusão de cada vez mais projectos turísticos como a Disneyland de Xangai - que enfraqueceu a atracção especial de Hong Kong -, o conflito entre ambas as partes ainda se mantém, o que também dá a Hong Kong um impacto negativo. Ainda se consegue encontrar online designações extremamente pejorativas utilizadas pelas pessoas de Hong Kong para chamar aos turistas da China – como a celebre expressão “gafanhotos”, que versa sobre estes turistas entrarem em Hong Kong em grande volume e de forma predatória. Também nas redes sociais do interior da China surgem frequentemente publicações ou comentários que criticam o mau serviço e atitude das pessoas de Hong Kong. Não sei até quando estes ataques mútuos vão durar... Pu Yi

“MELANCHOLIA” (LARS VON TRIER)

“Melancholia” é um filme independente do realizador dinamarquês Lars Von Trier. Retrata a vida de duas irmãs e em duas partes diferentes. A primeira com o nome Justine, cuja história se centra no casamento atípico da personagem com o mesmo nome (Kirsten Dunst). A segunda parte chama-se Claire e retrata o universo familiar desta personagem que é irmã de Justine. Ambas apresentam fragilidades mas são muito diferentes. Justine luta contra uma depressão que a faz ficar inerte e indiferente ao mundo. Claire vive angustiada sob a ameaça do planeta “Melancholia” atingir a terra. Perante esta possibilidade, ambas têm reacções diferentes. Cenários incríveis e uma fotografia de cortar a respiração numa película que vive muito da interpretação que cada espectador lhe dá. Hoje Macau

MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN SALA 1

MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN [B] Filme de: Tim Burton Com: Eva Green, Samuel L.Jackson, Judi Dench, Asa Butterfield 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

DEEP WATER HORIZON [B] Filme de: Peter Berg Com: Mark Wahlberg, Kurt Russel, John Malkovich, Kate Hudson 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3

STORKS [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Nicholas Stoller, Doug Sweetland 14.30, 16.15, 19.45

STORKS [A][3D] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Nicholas Stoller, Doug Sweetland 18.00

BLAIR WITCH [C] Filme de: Adam Wingard Com: James Allen McCune, Brandon Scott, Callie Hernandez 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


21 hoje macau quarta-feira 5.10.2016

OPINIÃO

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

DAVID FINCHER, THE SOCIAL NETWORK (2010)

S

E já ponderei sobre o futuro do sexo em artigos anteriores, talvez fosse útil falar do sexo no presente, o presente altamente digital, electrónico e cheio de gadgets. Não me refiro a revoluções no sexo per se, apesar da pornografia online e de fácil acesso ter um papel importante na sexualização de muitos por ai, mas tem contribuído para a forma como as pessoas se conhecem e se relacionam. Comecei a constatar (e julgo que muitos concordarão) que é difícil conhecer pessoas novas quando se é adulto. Antes andávamos na escola e na universidade, com pessoas diferentes a entrar e a sair e tínhamos a possibilidade de criar uma maior rede de conhecidos. Mas quando chegamos a uma idade onde as redes sociais estão mais estagnadas, pior ainda, quando decidimos migrar e começar novas amizades do zero, os maiores de idade encontram grupinhos de amizades já feitos e uma maior dificuldade em socializar com pessoas diferentes. Normalmente, procuram-se pessoas através de hobbies e outras actividades para encontrar possíveis amigos ou parceiros românticos com gostos similares aos nossos. E agora temos disponíveis outras estratégias. As saídas à noite sempre foram um seguro veículo para encontrar uns beijinhos, uma ida para a cama com companhia, talvez para encontrar o amor e talvez para encontrar um relacionamento. O álcool, as luzes que piscam incessantemente e a música alta tem sido os facilitadores para uma ‘noite de sorte’. Agora existem aplicações para facilitar esta nossa ‘sorte’ possibilitando um tiro mais certeiro para uma noite de divertimento. As novas apps romântico-sexuais aproximam estranhos improváveis através de gostos pessoais, critérios de personalidade ou, simplesmente, o aspecto físico. As possibilidades são muitas dependendo do objectivo, seja uma noite de loucura até um relacionamento sério. Temos o Tinder, Grindr, Bumble, Happn, Siren, Hinge… Tudo para todos os gostos - e para todas as orientações sexuais. As histórias dos utilizadores destas plataformas são mais que muitas. Para além das aplicações mais recentes que são utilizadas maioritariamente por um público mais jovem, os solteiros mais velhos já tinham começado a usar sites para encontrar o amor das suas vidas. Não há, ou pelo menos não deveria haver, estigma por usar estes facilitadores amorosos. Eles têm contribuído para histórias com finais felizes - que têm continuado com casamentos felizes. Contudo, o potencial viciante destas aplicações fez-me pensar sobre como as

A revolução digital

Para além das aplicações mais recentes que são utilizadas maioritariamente por um público mais jovem, os solteiros mais velhos já tinham começado a usar sites para encontrar o amor das suas vidas pessoas passam a ser encaradas e como se começam a relacionar. Em relação a uma aplicação como o Tinder (as outras também são muito similares), aquele movimento do dedo para a esquerda e para a direita na ânsia de encontrar um ‘match’ única e exclusivamente através do aspecto físico de um tipo ou de uma tipa, por mais divertido que seja (porque o é), traz que consequências? A superficialidade do conceito faz-me lem-

brar uma ida ao supermercado com toda a mercadoria exposta e pronta a ser escolhida. A aplicação em si não é tão dramática, mas sinto que traz a sensação de que relações humanas são descartáveis - que depende de uma fotografia e do quão giro és - e se não resultar, há muito, mas muito mais, por onde escolher. Usar o Tinder e outras aplicações que tais não é mau nem desaconselhado - pode

ser mesmo muito divertido - mas deve ser ajustado às expectativas de cada um e usado com sensatez. O mundo digital romântico rege-se por normas que ainda não foram totalmente exploradas e onde homens e mulheres trazem esperança, desejos e pré-concepções que não se ajustam com a de muitos outros. Se há pessoas no Tinder à procura de amor verdadeiro, há outros que procuram uma one night stand. E tem que haver, acima de tudo, respeito pelo outro. Mas como uma discussão sobre aplicações (e sites) de procura romântico-sexual é um assunto que traz pano para mangas, e porque ainda nem sequer tive tempo de me debruçar sobre women firendly apps - para a semana há mais.


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hoje macau quarta-feira 5.10.2016

Anúncio O Gabinete de Gestão de Crises do Turismo faz público que, de acordo com o Despacho de 26 de Setembro de 2016, do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto o concurso público para a “Relocalização dos Servidores do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo “. O Programa de Concurso e Caderno de Encargos encontram-se disponíveis para efeitos de consulta, podendo as cópias do processo de concurso serem obtidas, no Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, 5.° andar, Macau, a partir da presente data de publicação, dentro do horário normal de expediente ou ainda mediante “download” do ficheiro na página electrónica do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (http://www.ggct.gov.mo). Será realizada uma sessão de esclarecimento de dúvidas referentes ao presente concurso público no Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, 5.° andar, Macau, pelas 15:00 horas do dia 14 de Outubro de 2016. Os critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação são os seguintes: - Preço proposto (45%); - Requisitos técnicos (30%); - Experiência no projecto (15%); - Duração (10%). Os concorrentes devem entregar as suas propostas ao Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, 5.° andar, Macau dentro do horário normal de expediente, cujo prazo de entrega é até às 17:00 horas do dia 26 de Outubro de 2016. Devem ainda os concorrentes prestar uma caução provisória, no valor de MOP40.000,00 (Quarenta mil patacas). A forma de pagamento dessa caução provisória pode ser efectuada: 1) mediante depósito bancário à ordem do Fundo de Turismo na conta no 8003911119 no Banco Nacional Ultramarino; 2) mediante garantia bancária; ou 3) em numerário, em ordem de caixa ou em cheque, emitidos à ordem do Fundo de Turismo e entregue no Fundo de Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção n.os 335-341, 12.° andar, Macau. O acto público de abertura das propostas do concurso realizar-se-á no Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, sito no Edifício “Hot Line”, Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção n.os 335-341, 5.° andar, Macau, pelas 10:00 horas do dia 27 de Outubro de 2016. Em caso de encerramento do Gabinete por causa de tempestade ou motivo de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas, a data e a hora de sessão de esclarecimento e de abertura de propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora. Os representantes legais dos concorrentes deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas do concurso para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados ao concurso, nos termos do artigo 27.° do Decreto-Lei n.º 63/85/M, de 6 de Julho. Os representantes legais dos concorrentes poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto público de abertura das propostas do concurso. Os interessados poderão ainda consultar o website do GGCT (http://www.ggct.gov.mo) – e obter o Processo do Concurso Público mediante download do mesmo. Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, a 28 de Setembro de 2016. A Coordenadora Maria Helena de Senna Fernandes

ANÚNCIO “Prestação de serviço de segurança às actividades alusivas ao Ano Novo Chinês de 2017 do IACM” Concurso Público n° 11/SFI/2016 Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do IACM, tomada em sessão, de 15 de Setembro de 2016, se acha aberto concurso público para a “Prestação de serviço de segurança às actividades alusivas ao Ano Novo Chinês de 2017 do IACM”. O programa do concurso e o caderno de encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro nº 163, r/c, Macau. O prazo para a entrega das propostas termina ao meio dia do dia 25 de Outubro de 2016. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IACM e prestar uma caução provisória no valor de MOP26.900,00 (vinte e seis mil e novecentas patacas). A caução provisória pode ser entregue na Tesouraria da Divisão de Contabilidade e Assuntos Financeiros do IACM, sita na Avenida de Almeida Ribeiro nº 163, r/c, Macau, por depósito em dinheiro, cheque ou garantia bancária, em nome do “Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais”. O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no auditório da Divisão de Formação e Documentação do IACM, sita na Avenida da Praia Grande, nº 804, Edf. China Plaza 6º andar, pelas 10:00 horas do dia 26 de Outubro de 2016. Macau, aos 26 de Setembro de 2016. O Administrador do Conselho de Administração Mak Kim Meng WWW. IACM.GOV.MO


23 hoje macau quarta-feira 5.10.2016

ÓCIOSNEGÓCIOS

“CASA DA ROCHA”, LOJA DE CHÁ E DOCES CONVENTUAIS RUI ROCHA, FUNDADOR

“Faço a convergência de duas tradições” pouco o que é a estética do próprio chá”, referiu ainda o responsável pela loja. Quanto aos doces, são importados de Portugal e vêm preencher uma lacuna no território que, ao contrário de outros países asiáticos, ainda não tinha doçaria conventual portuguesa à venda.

HOJE MACAU

Rui Rocha deixou de ser apenas académico para se dedicar a um negócio seu. A “Casa da Rocha” abriu portas há cerca de uma semana no Centro Histórico e mostra o bom de dois mundos: chás chineses e doçaria conventual portuguesa. A loja poderá um dia ser palco de exposições e workshops

Também pode ser um espaço interessante para que artistas de Língua Portuguesa possam expor aqui as suas peças. “O doce conventual português existe no Japão e existe em qualquer lado, as cavacas, o pastel de feijão, o pão de ló de Ovar, mas com nomes japoneses. E é curioso que aqui não temos. Quando houve a perseguição dos jesuítas e outras ordens religiosas, muitos deles eles fugiram para a Tailândia e hoje existe no país doçaria tradicional portuguesa”, explicou.

A

“Casa da Rocha” esteve quase para nascer em Lisboa, mas Rui Rocha, o seu fundador, decidiu que é em Macau que quer ficar para o resto da vida. Aberta há uma semana, na Calçada da Rocha, no Centro Histórico de Macau, esta loja tem uma panóplia de chás chineses, escolhidos pelo também director do Departamento de Português da Universidade Cidade de Macau (UCM), e doçaria conventual portuguesa, até então inexistente no território. Há ovos moles, suspiros e cavacas, entre outros doces. A corrida aos doces foi tanta que no segundo dia de funcionamento da “Casa da Rocha” estava praticamente tudo esgotado. “Não vou morrer de barbas na universidade e isto dá-me uma certa liberdade e prazer, porque são coisas de que gosto. Permite-me também investigar um pouco mais sobre o chá”, contou ao HM Rui Rocha, enquanto à mesa se bebia um chá verde. O antigo director do Instituto Português do Oriente (IPOR) explicou ainda que, com a Casa da Rocha, faz “a convergência de duas tradições, uma centenária e outra milenar”. “Funcionava aqui a Futura Clássica (projecto de Ivo Ferreira e Margarida Vila-Nova), mas tivemos uma conversa e perguntaram-me se não queria ficar aqui porque fazia-lhes pena deitar fora toda a obra que fizeram e o investimento. Os móveis ficaram, as mesas foram adquiridas por nós com azulejos da Casa de Portugal em Macau”, contou ainda.

UM GOSTO ANTIGO

Rui Rocha começou cedo a visitar casas de chás e a estudar esta bebida que pode

UM ESPAÇO PARA AS ARTES

ter efeitos relaxantes e terapêuticos. “A minha mãe é de Macau e recebíamos regularmente chá verde. Quando cheguei a Macau, em 1983, fiquei alojado no Hotel Metrópole e fui tomar o meu almoço e pedi chá e deram-me ‘Tetley’. Aí disse: “estou na China ou no império britânico?”. O ‘Tetley’ é aquilo que os produtores de chá dizem ser a parte não utilizada do chá”, recorda. Na “Casa da Rocha” existem sete variedades de chá verde, de entre mais de cem existentes. “Escolhi dois chás brancos, amarelos, pretos e depois há os chás florais, que conhecemos como chá de jasmim. Depois temos as tisanas, que são chás mais purificantes. Vou muitas vezes à China a lojas de chá e a mercados e desde que estou em Macau que gosto

muito de chá. Venho sempre estudando coisas sobre o chá, porque para além do interesse cultural do chá, há a poesia, a estética, em termos de cerimónia do chá, que é mais simples do que a japonesa. A cerimónia chinesa não é tão cerimoniosa e a mim interessa-me mais. A cerimónia do chá do Japão acaba por menorizar um

A “Casa da Rocha” pretende ser mais do que um espaço para beber chá e comer doces, sem esquecer aquela bebida tão portuguesa que é o café. Rui Rocha garantiu ao HM que a ideia é fazer da loja um espaço dedicado às artes. “Este é um espaço de confluência de culturas de Macau e não se confina apenas a vender chá ou doçaria conventual portuguesa. Também pode ser um espaço interessante para que artistas de Língua Portuguesa possam expor aqui as suas peças. Poderíamos também fazer workshops sobre o chá ou cerâmica portuguesa. Sem fins lucrativos, isso não nos interessa muito.” Mais do que o português que quer recordar o sabor dos ovos moles ou do chinês que quer beber um chá, a “Casa da Rocha” quer atrair as comunidades coreana e japonesa e preencher um vazio. “Sem menosprezo pelas casas de chá que existem, não vejo que haja aqui grandes casas de chá. Sei que há uns clubes de chá, havia uma casa muito interessante na Taipa, que fechou. Era de uma associação, cheguei a ir lá duas vezes. Há depois uma iniciativa ou outra, mas eu queria fazer uma coisa que fosse efectivamente minha”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


“ VOOS PARA A TURQUIA PODEM SER REALIDADE

Está iniciado o processo de negociações entre a Autoridade de Aviação Civil de Macau e a entidade homóloga turca. O encontro que marcou o arranque do acordo teve lugar no passado dia 1 de Outubro em Montreal, no Canadá, e visa a liberalização das condições de transporte aéreo e estabelecimento de uma rota entre os dois destinos sem quaisquer limitações. O acordo assinado integra os padrões liberais da Organização Internacional de Aviação Civil e pressupõe a ajuda na criação de um ambiente de desenvolvimento do mercado de transporte aéreo entre Macau e Turquia.

Vai à praça / gentil pequena / de pele morena/ impante graça. // E da praça traz a vida, / carcomida / numa carcaça.”

MÁRIO WILSON (1930-2016)

A alma rubra do Velho Capitão

SIMULACRO NO TÚNEL SUBAQUÁTICO

Um simulacro de um acidente de viação foi feito na semana passada, no túnel subaquático do novo campus da Universidade de Macau na Ilha da Montanha. O exercício simulou o choque entre três viaturas, sendo que a do meio se incendiou e o condutor ficou preso no carro. Accionado o alarme, o Corpo de Bombeiros enviou sete viaturas para o local e 26 homens para participarem no exercício, que pressuponha socorro às vítimas, extinção do fogo e evacuação. Os trabalhos decorreram durante a madrugada do dia 29 e os resultados foram os “pretendidos”, de acordo com um comunicado do Governo. Além dos bombeiros, outras entidades estiveram envolvidas como a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, o Corpo de Polícia de Segurança Pública, a Universidade de Macau e a empresa que gere o funcionamento do túnel. O objectivo dos exercícios é o de garantir que a comunicação entre os envolvidos seja rápida para que em casos reais a resposta seja dada em tempo útil.

JOSEPH LAU “ACAMADO” E “FRÁGIL”

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O empresário Joseph Lau, condenado por corrupção em Macau no âmbito do mega escândalo Ao Man Long, está “acamado” e “extremamente frágil”, noticia a imprensa de Hong Kong. O magnata sofre de problemas cardíacos e renais, necessitando de “três a cinco sessões de diálise semanais”. Além disso, desde o mês passado, tem “perturbações na fala”. Joseph Lau deveria ter comparecido, ontem, num tribunal de Hong Kong para testemunhar contra o Apple Daily. Ontem o tribunal de Hong Kong onde está a ser julgado este caso foi informado de que o magnata não tem condições para ser ouvido, por estar “demasiado doente”. O advogado de defesa referiu que o seu cliente, “sob stress”, pode perder os sentidos. Joseph Lau foi condenado em Macau a cinco anos e três meses de prisão por corrupção e branqueamento de capitais.

João Novelães

N

ETO de um americano e de uma princesa moçambicana, Mário Wilson nasceu para o futebol de pé descalço nas ruas da colonial Lourenço Marques (actual Maputo). Os seus dotes trouxeram-no para Lisboa, primeiro para o Sporting, mas foi na Académica que viveu os melhores anos da sua carreira e ali seria imortalizado com o epíteto de “Velho Capitão”. Pendurou as chuteiras para assumir o papel de treinador, orientando o Benfica, o seu outro grande amor, a par da “Briosa”, e da selecção nacional, mas conheceu muitos outros bancos técnicos. Foi íntimo de Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Daniel Chipenda e apoiante de primeira hora dos movimentos independentistas africanos. Morreu nesta segunda-feira aos 86 anos, na sequência de uma pneumonia. As reacções à sua morte tiveram um denominador comum: admiração. Durou cerca de um mês a viagem que trouxe Mário Wilson de Moçambique para Lisboa. A bordo do Mouzinho de Albuquerque, o jovem de 19 anos, deixava para trás o Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica, para alinhar ao serviço dos “leões”. Um passo de gigante para o neto do comerciante Henry Wilson, que um dia também cru-

zou o oceano para encontrar no Catembe o amor da sua vida, no rosto da filha de um dos primeiros régulos (chefes tribais) da região. O jovem Wilson iria também entrar na aristocracia sportinguista, onde teria a missão de suceder ao “rei” Peyroteu, o mais brilhante dos “cinco violinos”. Não se vai demorar muito tempo com o “leão” ao peito. Apenas duas épocas. Mas deixa a sua marca. Será o melhor marcador da equipa na temporada de estreia (1949-50) e o segundo goleador do campeonato; ajudará à conquista do campeonato no ano seguinte. No Sporting será também adaptado a defesa central, posição onde se irá fixar e que iria solidificar na Académica numa longa relação de 12 anos como jogador. Em Coimbra, irá igualmente despertar para a política, inspirado pelo ambiente subversivo contra o regime ditatorial que se respira na cidade estudantil. Partilhará a mesma República com Almeida Santos, o já falecido ex-presidente da Assembleia da República, mas também priva com grandes figuras dos movimentos independentistas das antigas colónias africanas portuguesas, como já havia acontecido na capital, onde aprofundou uma íntima amizade com Agostinho Neto, com quem partilha casa. Encerra a carreira nos relvados na temporada de 1962-63, permanecendo ligado à Académica, como técnico-adjunto, nomeadamente de José Maria Pedroto, com quem tem uma relação conflituosa, substituindo-o no cargo de treinador principal em 1964. Vai viver momentos de glória à frente da “Briosa”, com quem se sagra vice-campeão nacional na época de 1966-67, algo inédito na história do clube. António Simões, antiga glória benfiquista, recorda-se bem desses anos extraordinários.

“Presente, e regalo foi defrontar e assistir àquela Académica. Os meninos de Mário Wilson. O futebol moderno adiantado no tempo. O pequeno Barcelona daquela época. O famoso “tiki-taka” de agora, muito anos antes, treinado e praticado, por ideia criada e enfatizada do nosso Sr. Mário Wilson”, contou ao PÚBLICO: “A cultura dessa abordagem, o atrevimento de a assumir, a confiança de bem-fazer, dentro e fora de portas, levou e arrastou gente estudante e licenciada por todo o pais, e até fora dele, a marcar presença de capa e batina, alegre e vaidosa, da sua graça,orgulhosa dos seus representantes.” O Benfica, o outro grande amor confesso de Mário Wilson, surge no percurso do técnico em 1975, aos 46 anos. Ao serviço das “águias” será o primeiro treinador português a ser campeão, logo na época de estreia. Irá regressar inúmeras vezes ao banco “encarnado”, como “bombeiro de serviço”, conquistando a Taça de Portugal em 1979-80 e 1995-96. Entre os inúmeros jogadores que lançou estão Álvaro Magalhães e Pedro Henriques. Duas gerações diferentes de futebolistas, mas o mesmo carinho pelo “mister Wilson”. “Conheci-o com 19 anos na Académica e foi ele que me ensinou valores como educação, disciplina e equilíbrio. Fora de campo era um amigo. Foi o melhor treinador que tive em termos humanos”, lembra o agora também treinador Álvaro Magalhães. “Era um homem com um discurso empolgante, tanto nas galas como nos treinos”, garante Pedro Henriques, agora comentador desportivo: “Nos anos em que o Benfica atravessava períodos de crise, só ele nos fazia ficar contentes. Era uma maravilha.” Público

quarta-feira 5.10.2016

COMÉRCIO EXTERNO CAI

O comércio externo de Macau caiu 17,1% entre Janeiro e Agosto, atingindo 52,96 mil milhões de patacas, indicam dados oficiais. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Macau exportou mercadorias avaliadas em 6,91 mil milhões de patacas até Agosto – menos 5,4% face ao período homólogo do ano passado – e importou bens na ordem dos 46,05 mil milhões de patacas, menos 18,7%. O défice da balança comercial atingiu, por conseguinte, 39,13 mil milhões de patacas nos primeiros oito meses do ano. As exportações de mercadorias para Hong Kong diminuíram 12,5% e, em contrapartida, aumentaram em 0,8 % as que tiveram a China como destino. Já para a União Europeia e para os Estados Unidos as exportações desceram, respectivamente, 23,8 e 28,2%. Nas importações verificaramse quebras acentuadas na compra de mercadorias da China (-21,1%) e da União Europeia (-11%). O comércio externo desceu 4,5% em 2015 para 99,87 mil milhões de patacas, a primeira diminuição desde 2009.

DUTERTE MANDA OBAMA “PARA O INFERNO”

O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, disse ontem ao Presidente norte-americano, Barack Obama, para “ir para o inferno”, ao ameaçar pôr fim à aliança de décadas com os Estados Unidos em favor da China ou da Rússia. A tirada surge na altura em que as Filipinas e os Estados Unidos iniciaram as suas manobras militares anuais conjuntas, que Duterte já tinha avisado poderiam ser as últimas da sua presidência, em resposta a críticas dos Estados Unidos à sua sangrenta guerra ao crime. “Perdi o respeito pela América”, disse Duterte, queixandose em dois discursos sobre os apelos feitos por Estados Unidos, Nações Unidas e União Europeia para as Filipinas respeitarem os direitos humanos. “Senhor Obama, pode ir para o inferno”, acrescentou. Duterte também classificou os norte-americanos como “hipócritas” e advertiu de que poderá chegar o dia em que ele rompa totalmente a aliança entre as duas nações, que inclui um acordo de defesa mútua. “Mais cedo ou mais tarde no meu mandato, poderei cortar laços com a América. Prefiro recorrer à Rússia ou à China. Mesmo que não concordemos com a sua ideologia, elas têm respeito pelas pessoas. O respeito é importante”, sublinhou.


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