Hoje Macau 5 NOV 2020 #4643

Page 1

HE DUOLING

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 5 DE NOVEMBRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4644

MUSEU DE ARTE DE MACAU

A OBRA DE HE DUOLING

hojemacau ANOS

EVENTOS

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Em busca do turista perdido Grande Prémio de Macau, Festival de Gastronomia e cerca de uma dezena de outras actividades destinadas a atrair visitantes do Interior da China e a relançar a economia fazem parte do novo programa turístico anunciado

ontem pelo Governo. O “Carnaval para Desfrutar Macau” decorre entre 7 de Novembro e 27 de Dezembro em vários pontos da cidade e espera contar com a participação de 700 mil pessoas.

RÓMULO SANTOS

CLÁUDIA R. SAMPAIO

GRANDE PLANO

ARMAS

LICENÇA PARA IMPORTAR PÁGINA 5

NOVOS ATERROS

O TEMPO DA CONSTRUÇÃO PÁGINA 4

UMA LIÇÃO

LUÍS CARMELO

SALTOS NA FÉ ANTÓNIO CABRITA

h

OPINIÃO

BIG DATA COMO 0 NOVO PETRÓLEO JORGE RODRIGUES SIMÃO


2 grande plano

5.11.2020 quinta-feira

TURISMO

U

M Grande Prémio com apenas três dias, cinco categorias e sem a tradicional prova de motas. Foi este o programa apresentado ontem pelo coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, Pun Weng Kun, e pelo coordenador da Subcomissão Desportiva, Chong Coc Veng. “Não é um ano fácil, foram muitas as provas suspensas em todo o mundo. Mas, com o grande apoio do Governo das instituições foi possível colocar de pé este Grande Prémio. Houve pilotos que aceitaram fazer quarentena de 14 dias apenas para participarem no Grande Prémio e queremos agradecer-lhes”, disse Chong, sobre o programa disponibilizado. A Fórmula 4 vai ser a prova principal com 17 participantes e promete aquecer com o duelo entre os pilotos locais Charles Leong (Mygale SARL M14-F4) e Andy Chang (Mygale SARL M14-F4), tidos como os favoritos pela experiência na categoria de Fórmula 3. Na Corrida da Guia destaca-se a participação de Rob Huff (MG), vencedor por nove vezes da prova, e um dos únicos dois estrangeiros presentes no Grande Prémio. O piloto já se encontra a fazer quarentena no território, apesar de uma vitória que disse ser “longa e difícil”. Ainda nesta categoria está de regresso Rodolfo Ávila (MG), após uma última participação em 2015, assim como Filipe Souza (Audi) e Eurico de Jesus (Honda) e Joseph Merszei (Audi). Na corrida de Macau, destaca-se a participação dos macaenses Rui Valente (Mini), Jerónimo Badaraco (Chevrolet), Delfim Mendonça (Mitsubishi), Luciano Lameiras (Mitsubishi) e Sabino Lei (Ford). As outras duas provas que fazem parte do Grande Prémio são a Taça GT de e a Corrida da Taça GT da Grande Baía.

OPERACAO DE C ˜

`

Chama-se “Carnaval para Desfrutar Macau” e é um programa de actividades que decorre entre Novembro e Dezembro com o objectivo de atrair visitantes do Interior da China. Os onze eventos, entre os quais também consta o Festival de Gastronomia, foram apresentados ontem

À

boleia do Grande Prémio de Macau e do Festival de Gastronomia, o Governo apresentou um plano para promover o turismo de Macau no Interior com várias actividades, denominado “Carnaval para Desfrutar Macau”. O programa com mais de 11 eventos, que decorrem entre 7 de Novembro e 27 de Dezembro, foi ontem apresentado e deve contar com a participação de 700 mil pessoas. Além do Grande Prémio de Macau e do Festival de Gastronomia, as festividades incluem o Carnaval de Inverno, com a instalação de uma pista de gelo na Rua da Torre de Macau, um Arraial na Freguesia de São Lázaro e festas locais na Rotunda de Carlos da Maia, Taipa e Coloane. As actividades vão ser organizadas com várias associações locais. Durante a apresentação do programa, a secretária

“Vai ser lançado um novo programa para divulgar, de forma centralizada, juntos dos visitantes do Interior a mensagem que Macau é um lugar seguro.” ELSIE AO IEONG SECRETÁRIA PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA

para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, apontou como objectivos o relançamento da economia, após o impacto da pandemia, e ainda a criação de postos de trabalho em sectores como a construção civil, restauração ou indústria do turismo. “O Governo da RAEM irá reforçar a promoção externa, particularmente junto dos visitantes do Interior da China, para atrair mais visitantes a Macau durante o Natal, Ano Novo e Ano Novo Chinês, incrementando deste modo a recuperação do sector do turismo local”, afirmou Elsie Ao Ieong. “Vai ser lançado um novo programa para divulgar, de forma centralizada, juntos dos visitantes do Interior a mensagem de que Macau é um lugar seguro para viajar e as suas vindas são livres de quarentena”, explicou. Todos os eventos apresentados vão ter um orçamento de 227 milhões GCS

GP Menos dias de corridas e sem motas

GOVERNO APROVEITA GRANDE PRÉMIO E LANÇA PROGRAMA PARA RELANÇAR

de patacas para os cofres da RAEM, dos quais 220 são para o Grande Prémio, enquanto os restantes sete milhões vão ser distribuídos pelas outras actividades. Sobre este montante, a secretária garantiu que foi gasto de forma “responsável”, o que se traduz, por exemplo, na redução da prova automobilística de quatro para três dias. “Se formos a ver há uma mudança de quatro para três dias na duração da prova, o que permite cortar gastos com mão-de-obra”, destacou. Mas o esforço para convencer turistas do Interior a visitar Macau não se fica por acções de promoção. Segundo Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST), também um dos três vice-ministros do Turismo do Interior foi convidado a visitar o território e ver como este é “seguro”. A “jogada” é um forcing para que o Governo Central autorize as visitas


grande plano 3

quinta-feira 5.11.2020

CHARME ECONOMIA

Descontos Cupões com retorno de 80 milhões

O investimento de Macau em vales de desconto para hotéis e voos gerou até 25 DE OUTUBRO um retorno superior a 80 MILHÕES de renminbis em consumo na RAEM. Os dados foram avançados ontem por Helena de Senna Fernandes, depois do Governo ter investido 3,54 MILHÕES de renminbis numa parceria com a agência de viagem Ctrip. Ainda de acordo com os dados apresentados, até 25 DE OUTUBRO os cupões tinham resultado em 21.546 transacções nos hotéis, que se traduziram em 26.422 noites passados em quartos da RAEM.

de excursões ao território, algo que actualmente está bloqueado e tem impacto na economia.

100 MIL DIAS DE TRABALHO

Se por um lado, a secretária apontou algumas poupanças com os gastos com mão-de-obra, por outro, indicou que as 11 actividades vão gerar 100 mil dias de trabalho para residentes de Macau. Nestas actividades, o Grande Prémio de Macau e o Festival de Gastronomia foram apresentados como as joias da coroa, que vão ter direito a transmissão em directo através da CCTV5, além de contarem com a presença de alguns dos influencers mais populares do Interior. A esperança é que este tipo de eventos contribua para que o número de visitantes se mantenha por volta dos 24 mil por dia, apesar de Helena de Senna Fernandes ter sublinhado que o mais importante é convencer mais pessoas a dormirem na RAEM. Ao nível dos vários eventos, a grande novidade surge no Grande Prémio, que ao contrário dos quatro dias de corridas vai apenas contar com três. Além disso, ficou confirmado que não há corrida de motas. Porém, o preço dos ingressos dos anos anteriores vai manter-se inalterado e as bancadas vão ter uma capacidade reduzida, passando de 14 mil lugares para 10 mil, devido às recomendações dos Serviços de Saúde (SSM). “O preço dos bilhetes vai ser igual, apesar da mudança de quatro dias para três. Acreditamos que vamos ter um bom espectáculo, que as corridas vão ter muita qualidade e que as pessoas vão querer assistir”, afirmou Pun Weng Kun, coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau. Quanto ao Festival de Gastronomia, de acordo com a informação do presidente da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, Kenneth Lei U Weng, o número de tendas vai ser reduzido a 120 devido às recomendações dos SSM. Entre as tendas, há 48 empresas que vão participar na iniciativa pela primeira vez. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

PARA DESFRUTAR • ARRAIAL NA AVENIDA DO CONSELHEIRO FERREIRA DE ALMEIDA Local: Freguesia de São Lázaro Data: 7 de Novembro a 6 de Dezembro Estimativa de participantes: 4,5 mil pessoas • DIA DE CONVÍVIO DO GRANDE PRÉMIO Local: Centro de Actividades de Pak Wai dos Moradores de Macau Data: 8 de Novembro • SENTIR O GRANDE PRÉMIO Local: Centro de Apoio à Família Alegria em Abundância Data: 8 de Novembro • CARNAVAL DE INVERNO EM MACAU – 3.ª EDIÇÃO Local: Rua da Torre de Macau Data: 12 de Novembro a 27 de Dezembro Estimativa de participantes: 140 mil pessoas • FESTIVAL DE GASTRONOMIA – 20.ª EDIÇÃO Local: Praça do Lago de Sai Van Data: 13 a 29 de Novembro Estimativa de participantes: 500 mil a 600 mil pessoas • FESTA DE TAIPA Local: Largo dos Bombeiros Data: 19 a 21 de Novembro Estimativa de participantes: 6 mil pessoas • FESTA DE COLOANE Local: Largo Eduardo Marques Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 5 mil pessoas • FESTA NOS DISTRITOS CENTRO E SUL Local: Rotunda de Carlos da Maia Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 6 mil pessoas • PAIXÃO PARA A PISTA 2020 Local: Doca dos Pescadores, Praça dos Romanos Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 40 mil pessoas • SUPER MOTOR E ROTAÇÃO PARA A ZONA NORTE 2020 Local: Jardim do Mercado do Iao Hon Data: 21 a 22 de Novembro • GRANDE PRÉMIO DE MACAU – 67.ª EDIÇÃO Local: Circuito da Guia Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 14 mil pessoas


4 política

5.11.2020 quinta-feira

NOVOS ATERROS CONSTRUÇÃO DE MAIS DE 23 MIL FRACÇÕES ARRANCA NOS PRÓXIMOS 4 ANOS

Contagem decrescente RÓMULO SANTOS

A construção de mais de 23 mil fracções de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros vai arrancar até 2024. Raimundo do Rosário mostrou-se satisfeito com o planeamento feito para a área que contempla 39,28 hectares para zonas verdes

D

acho que houvesse muitas empresas capazes de o fazer com essa qualidade e nesse tempo”, disse o secretário aos jornalistas à margem da apresentação. No entender de Raimundo do Rosário, a reacção dos deputados ao plano foi de satisfação. “Já cá estou há quase seis anos e é muito raro a Assembleia manifestar o seu agrado em relação aquilo que nós fazemos. (...) Desta vez, não poucos deputados manifestaram agrado com o trabalho que foi hoje (ontem) apresentado”, declarou. “Acho que vamos mudar muito pouco”, apontou depois. Está previsto que a zona venha a acolher 32 mil fracções com uma capacidade demográfica de 96 mil

pessoas. Estão planeadas instalações como um mercado, estádio, piscina, posto dos bombeiros, centro de saúde, e escolas com 13 mil vagas. Perante as preocupações com a densidade populacional e a antecipação de problemas de trânsito, Raimundo do Rosário respondeu

“Acho que o trabalho foi feito num espaço de tempo bastante curto e com alguma qualidade.” RAIMUNDO DO ROSÁRIO SECRETÁRIO PARA OS TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS

Sindicatos Lei Wai Nong envia proposta de lei para Concertação Social O Governo terminou o documento de consulta da Lei Sindical e enviou-o ontem para consulta e discussão no Conselho Permanente da Concertação Social. De acordo com o gabinete do secretário para a Economia e Finanças, devido à importância da Lei Sindical, como “grande política da área do trabalho, intimamente relacionada

com direitos e interesses de empregadores e trabalhadores”, importa ouvir opiniões da parte patronal e laboral, “para posteriormente desenvolver atempadamente a consulta pública”. O documento contempla, além da inscrição em associações sindicais, o regime de negociação colectiva. O gabinete de Lei Wai Nong “usou como re-

ferência as legislações de muitos países e regiões, conjugando com a actual situação social da RAEM, sugerindo que seja estabelecido, de forma contínua e gradual, a posição jurídica da associação sindical”. A proposta deve contemplar também a composição, funcionamento, bem como direitos e obrigações dos sindicatos.

RÓMULO SANTOS

AS 28 mil fracções de habitação pública previstas para a Zona A dos Novos Aterros, estima-se que mais de 23 mil comecem a ser construídas até 2024. A informação foi avançada ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, na Assembleia Legislativa onde apresentou aos deputados o “estudo do planeamento urbano da Zona A”. No caso da habitação económica, estão previstas mais fracções T2 (85 por cento), enquanto na habitação social os T1 deverão ter um peso maior, equivalente a 65 por cento. O plano prevê, por exemplo, que no próximo ano comecem a ser construídas cerca de 5.200 fracções económicas, vias rodoviárias, bem como serviços sociais e outras instalações de apoio, enquanto em 2022 é a vez de arrancarem 4.100 fracções sociais e quatro escolas. Prevê-se que cerca de três mil fracções estejam finalizadas em 2024. O secretário procurou tranquilizar os deputados a nível financeiro, frisando que depois da habitação económica ser vendida é recuperado capital. O plano foi feito pela empresa Huayi Design Consulting. “Acho que o trabalho foi feito num espaço de tempo bastante curto e com alguma qualidade. (...) Não

que inicialmente estavam previstas menos fracções para a Zona A, mas que se aumentou o número por causa “do barulho feito pela sociedade”, apelando aos deputados para olharem para o historial do projecto. “Não sou santo para resolver tudo”, declarou. Por outro lado, o secretário respondeu que pode não haver actividade que permita aos moradores da Zona A estarem empregados nessa área, que será predominantemente habitacional: “haverá necessidade de as pessoas saírem da Zona A para trabalhar”.

ZONA VERDE

Quanto aos espaços verdes, estão reservados 39,28 hectares, representando 28,5 por cento da área

total do terreno. No entanto, o pedido junto do Governo Central para mais um aterro, localizado entre Macau e a Zona A, pode vir a passar a área total do terreno para 171,29 hectares e aumentar a proporção de zona verde para mais de 40 por cento. Alguns deputados questionaram as implicações de uma rejeição. Leong Sun Iok considerou a densidade demográfica “muito elevada” e mostrou-se preocupado com a falta de espaços públicos e verdes caso o pedido de aterro não seja autorizado. Por sua vez, Ella Lei apontou que nesse cenário o trânsito da zona pode sofrer alterações. “Ainda estamos a aguardar pela resposta”, disse o secretário para os Transportes e Obras Públicas. De acordo com o gestor do projecto, a zona vai ser “muito ecológica”, e disponibilizar um desenvolvimento sustentável. Durante a apresentação, foi ainda indicado que da Zona A se vai poder avistar a colina da Penha e a zona ribeirinha da península de Macau. Tendo em conta os corredores visuais e paisagem, Sulu Sou quis saber de que forma se pode proteger melhor a vista para Macau. Em resposta, o secretário disse que o planeamento da Zona A foi entregue ao Instituto Cultural, que o apresentou à UNESCO. Outro tema ainda levantado foi a prevenção de desastres, com Agnes Lam a perguntar quais os equipamentos para prevenir situações como inundações. De acordo com Raimundo do Rosário, o dique que está à volta da Zona A tem uma altura de 6,5 metros em relação ao nível médio do mar, sendo mais alta do que a península de Macau. Vai ser adoptado o critério de prevenção de desastres que acontecem a cada 200 anos. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo


política 5

quinta-feira 5.11.2020

O

Serviço Europeu para a Acção Externa lançou na semana passada uma base de dados online com informações sobre o valor, destino, e tipo de licenças de exportação de armamento oriundo de países membros da União Europeia. De acordo com esta fonte, no ano passado as licenças de exportação para Macau atingiram cerca de 222 mil euros (2,07 milhões de patacas). O montante foi o mais elevado, pelo menos dos últimos sete anos, uma vez que a plataforma apenas disponibiliza informação até 2013, apesar de só envolver sete licenças para Macau. A seguir a 2015, o ano passado foi o que registou menos emissões de licenças. Apesar de o valor de licença rondar os dois milhões de patacas, o montante efectivo das exportações no ano passado fixou-se em cerca de 160 mil euros (aproximadamente 1,5 milhões de patacas de acordo com a taxa de conversão ontem em vigor). Este foi o mesmo valor registado em 2017, depois de uma ligeira quebra em 2018. Em 2019, houve licenças para Macau para exportar bens da categoria de armas de cano de alma lisa de calibre inferior a 20mm, armas automáticas de calibre igual ou inferior a 12,7 mm, entre outras e acessórios, num valor de 47.750 euros.

ARMAS LICENÇAS DA UE PARA MACAU CHEGARAM A 2,07 MILHÕES EM 2019

Manusear com cuidado No ano passado as licenças de exportação de armamento de países da União Europeia para Macau atingiram cerca de 2,07 milhões de patacas, revelam dados de uma plataforma do Serviço Europeu para a Acção Externa. Além disso, registou-se uma licença rejeitada com base em critérios de direitos humanos a venda para Macau de equipamento de produção e componentes de produtos incluídos na lista militar comum da União Europeia. O critério utilizado para a rejeição foi o “respeito pelos direitos humanos no país do destino final, bem como o respeito desse país pela lei humanitária internacional”. O nome do país que rejeitou o pedido não é divulgado. O HM pediu uma reacção ao gabinete do secretário para a Segurança ao critério utilizado para a rejeição, que respondeu não ter inPUB

Foram também emitidas licenças para a venda de munições e dispositivos de ajustamento de espoletas, no valor 174,977 euros. A origem das licenças de bens através da União

A origem das licenças de bens através da União Europeia no ano passado dividiu-se entre dois países: República Checa e Áustria

Europeia no ano passado dividiu-se entre dois países: República Checa e Áustria. Vale a pena notar que ao longo dos últimos sete anos, a República Checa foi todos os anos um país exportador deste tipo de material para Macau.

DIREITOS HUMANOS

De acordo com as informações disponibilizadas, no ano passado foi rejeitada

LAG HO IAT SENG RECEBEU FEDERAÇÃO DA JUVENTUDE DA CHINA EM MACAU

O

encontro entre o Chefe do Executivo e a delegação de Macau da Federação da Juventude da China, que decorreu na terça-feira, para troca de impressões e sugestões para as Linhas de Acção Governativa (LAG) acabou por tocar nos temas tradicionais da associação. Alvis Lo Iek Long, cara conhecida das conferências de imprensa sobre a covid-19 e vice-presidente da federação, começou por descrever as características atípicas deste ano e a forma como o novo tipo de coronavírus realçou fragilidades conhecidas na economia de Macau, apesar de enaltecer os esforços do Executivo para aliviar os efeitos da crise. O facto de o território ter apenas um tipo de indústria, mostrou que é “premente diversificar a indústria local assim, acelerar a promoção

do novo sistema financeiro, desenvolver a indústria de medicina tradicional chinesa e procurar mais oportunidades na Grande Baia”, descreve um comunicado do Gabinete de Comunicação Social. O vice-presidente deu a palavra a outros membros da associação, entre eles a deputada Song Pek Kei, que reiteraram a habitual sugestão para aumentar o ensino do “amor à pátria” aos mais novos, assim como as vantagens em termos de oportunidades de emprego trazidas pela integração no país. Por seu lado, Ho Iat Seng sublinhou que os jovens, “sendo o futuro da sociedade de Macau, devem ter uma mente aberta e saber a importância de pensar de forma independente, idealista e firme nos princípios de “amor à pátria” e “amor a Macau”.

formações a prestar sobre a matéria. Desde 2013, apenas sete licenças de exportação para Macau foram rejeitadas, compreendendo categorias como engenhos explosivos, equipamento e acessórios relacionados, até munições. “As armas militares têm um papel indispensável na preservação de segurança, liberdade e paz, desde que sejam utilizadas de acordo com o Direito Internacional”, indica o Serviço Europeu para a Acção Externa no comunicado

de imprensa onde anuncia o lançamento da base de dados, mencionando a legislação associada a direitos humanos. A nota acrescenta que os Governos que controlam o armamento “devem assegurar que são comercializadas e usadas de forma responsável”, e que a responsabilização pela exportação só acontece quando as autoridades são transparentes. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo


6 sociedade

5.11.2020 quinta-feira

IPM Ramos de Carvalho à frente do Centro Português de Formação

O Professor Joaquim Ramos de Carvalho foi nomeado para coordenar o Centro Internacional Português de Formação do Instituto Politécnico de Macau (IPM). O académico foi vice-reitor da Universidade de Coimbra, entre 2011 e 2018, e tem vasta experiência em ensino e investigação, bem como no intercâmbio e cooperação internacional. Segundo um comunicado do IPM, o centro vai fornecer um leque de oportunidades formativas e de cooperação, no contexto do desenvolvimento da Área da Grande Baía e nas suas implicações globais.

Hac Sá Aumento de cães abandonados gera queixas

O rapaz foi abordado na rua pelo suspeito, sob o pretexto de se disponibilizar a oferecer ajuda para dar os nós dos seus sapatos

A

Polícia Judiciária (PJ) deteve um residente de Macau de 24 anos, na passada sexta-feira, suspeito da prática do crime de abuso sexual de crianças. A vítima, um estudante menor do ensino secundário geral (7º ao 9º ano de escolaridade), terá sido tocado por diversas vezes na zona dos tornozelos após o suspeito, com antecedentes criminais, se ter oferecido ajuda para lhe atar os sapatos. De acordo com informações reveladas ontem em conferência de imprensa, o caso aconteceu há uma semana, no dia anterior à detenção. Na altura, o rapaz foi abordado na rua pelo suspeito, sob o pretexto de se disponibilizar a oferecer ajuda para dar os nós dos seus sapatos. Segundo a PJ, ao avançar com a acção, o suspeito aproveitou para tocar e apalpar várias vezes os tornozelos do rapaz. Depois do episódio, o rapaz relatou o sucedido à escola, situada na zona norte, que, de imediato, apresentou queixa à PJ através “Rede de Comunicação com as Escolas”. Iniciada a investigação, a polícia conseguiu localizar e identificar o homem com recurso às imagens

ABUSO DE MENORES RESIDENTE VOLTA A SER DETIDO APÓS MOLESTAR ALUNO

Nó górdio

Um aluno do ensino secundário geral foi abusado sexualmente por um residente de Macau de 24 anos, sob o pretexto de o ajudar a atar os sapatos. O homem, com antecedentes criminais, chegou a ser detido em Setembro por suspeitas de praticar o mesmo crime sobre outro estudante das câmaras de videovigilância, acabando por ser detido no seu local de trabalho na zona central de Macau, onde estava empregado como guarda de um edifício.

NÃO HÁ DUAS SEM TRÊS

Durante a conferência de imprensa, o porta-voz da PJ re-

velou ainda que esta não era a primeira vez que o suspeito, de apelido Lam, estava envolvido na prática do mesmo crime. Isto porque, além de ter cumprido um ano de prisão no Interior da China pelos mesmos motivos, em Setembro, o residente foi igualmente detido em Macau

por suspeitas de importunação sexual de outro aluno. O caso já seguiu para o Ministério Público (MP) no passado domingo, estando o suspeito acusado da prática do crime de abuso sexual de crianças, mais concretamente, de importunação sexual. Segundo a lei, quem praticar com ou perante um menor de 14 anos ou importunar outra pessoa “constrangendo-a a sofrer ou a praticar, consigo ou com terceiro, contacto físico de natureza sexual através de partes do corpo ou objectos” poderá ser punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias. Após relatar o caso, a PJ deixou ainda um apelo para a urgência de sensibilizar a comunidade escolar para o problema do abuso de menores e o recurso à “Rede de Comunicação com as Escolas”, acrescentado que, até Outubro de 2020, foram organizadas 22 palestras, que contaram com 1827 participantes. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

COMÉRCIO DIA VIP RESULTA EM MULTIDÃO NO EDIFÍCIO NEW YAOHAN

O

NTEM, quase durante o dia inteiro, as filas para entrar no New Yaohan contornaram o edifício na zona da Praia Grande, devido aos preços especiais do dia VIP, que este ano se estende até amanhã. O HM tentou apurar o que levou turistas e residentes ao centro comercial. Por exemplo Huang, uma jovem de 25 anos vinda de Shenzhen

para Macau de propósito para fazer compras no dia VIP. “É a primeira vez que visito Macau, não gosto de casinos, nem vim para jogar, quero apenas passear”, confessou a jovem, que adiantou não temer riscos devido à pandemia. Também Xiao, turista de 30 anos, tem confiança nas medidas do Executivo para conter a pandemia e, por isso, visitou Macau

pela segunda vez, depois de um longo período sem vir ao território. Como jogou nos casinos na primeira vez que veio a Macau, Xiao prevê que desta vez se fique pelos passeios e compras, durante os três dias que por cá vai permanecer. “Durante a pandemia, tive vontade de sair, o mais rapidamente possível, e fazer compras. Por isso,

aqui estou para comprar produtos de maquilhagem”, contou ao HM. Já Chan, residente de 28 anos, que trabalha como escriturária, é repetente nos dias VIP do New Yaohan e até acha que o volume de pessoas vai ser maior que no ano passado, porque os consumidores vão ter três dias para acorrer ao centro comercial. Em busca de

produtos para bebé e para si própria, Tang, dona de casa residente de 27 anos, considera que o volume de pessoas é semelhante ao ano anterior. A residente ficou surpresa com a quantidade de pessoas que se dirigiram ao New Yaohan, por ser uma quarta-feira, mas o movimento confirmou o optimismo que tem na recuperação económica de Macau. N.W.

Ng Chi Lung, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, quer que o Governo preste mais atenção à questão dos cães abandonados, especialmente na zona de Hác Sá. Segundo o jornal Ou Mun, Ng Chi Lung ouviu residentes que se queixaram sobre o aumento do número de cães abandonados na região, que tem vindo a gerar inúmeros problemas. Para o responsável, as pessoas que alimentam cães abandonados junto aos estaleiros de obras contribuem para atrair mais animais. Além disso, para reduzir problemas de higiene e de surgimento de ratos gerados por restos de comida que ficam nas ruas, Ng Chi Lung sugere que o Governo promova acções de divulgação para a população não alimentar cães abandonados, recolha mais animais e incentive a sua adopção.

Covid-19 Quase 200 filipinos repatriados hoje

O Consulado-geral das Filipinas em Macau disse ontem à Lusa que quase 200 filipinos vão ser repatriados num voo agendado para hoje. A cônsul-geral, Lilybeth Deapera, explicou que o voo foi organizado para responder aos apelos dos filipinos, num momento em que a pandemia afectou a economia de Macau e levou ao despedimento ou à não renovação de contratos, em especial de trabalhadores não residentes (TNR). “São 197 os passageiros que vão estar a bordo neste avião, incluindo duas crianças”, indicou Lilybeth Deapera. “O voo foi organizado em resposta aos apelos de membros da comunidade filipina” e “a prioridade foi dada a mulheres grávidas, menores, idosos, pessoas com condições médicas e aqueles com problemas ligados à imigração”, acrescentou. Macau perdeu 11.773 trabalhadores não residentes em Setembro de 2020, comparativamente a igual mês do ano passado.


sociedade 7

TUI Processo da quarta ligação chegou ao fim

RÓMULO SANTOS

quinta-feira 5.11.2020

Foi extinto o processo que corria nos tribunais contra a decisão de adjudicar as obras da Quarta Ponte Marítima Macau-Taipa ao consórcio das empresas China Civil Engineering Construction, China Railway Construction Bridge Engineering, e Companhia de Construção e Engenharia Omas. A decisão foi tornada pública ontem, através de comunicado do Gabinete do Tribunal de Última Instância (TUI). O caso tinha chegado aos tribunais em Outubro de 2019 por queixa do consórcio Coneer Engenharia e Administração e a China Road and Bridge Corporation, um dos concorrentes do concurso público. No entanto, a empresa China Road and Bridge Corporation desistiu posteriormente da acção o que criou outro litígio, sobre a legitimidade da Coneer para recorrer sozinha da decisão. Após uma decisão do TSI a reconhecer a legitimidade da Coneer, o TUI veio agora dizer que com a desistência da China Road and Bridge Corporation, a Coneer não pode recorrer e que o caso chegou ao fim sem decisão.

DSSOPT 10 propostas para drenagem de águas residuais

A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) admitiu 10 propostas no concurso público para a “Empreitada de Concepção e Construção de Melhoramento de Emissário Residual da Zona ZAPE e NAPE”. De acordo com uma nota divulgada ontem, os preços de execução propostos pelas empresas concorrentes variaram entre 285 e 354 milhões de patacas. Com o objectivo de elevar a capacidade de drenagem das águas residuais das duas zonas, a DSSOPT vai instalar “um emissário residual, com dois metros de diâmetro interno” entre ZAPE e NAPE e a estação de tratamento de águas residuais situada na Areia Preta, através do” método de execução subterrânea”, recorrendo a uma perfuradora. O prazo máximo de execução da obra é de 883 dias de trabalho.

Banca Depósitos de residentes caíram 1,6% em Setembro

Os depósitos dos residentes de Macau diminuíram 1,6 por cento em Setembro, relativamente ao mês anterior, atingindo 671,9 mil milhões de patacas, segundo dados divulgados ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Por seu turno, os depósitos de não residentes aumentaram 0,9 por cento, para 322,3 mil milhões de patacas. Quanto aos empréstimos internos do sector privado foi registada uma diminuição de 0,1 por cento relativamente a Agosto, atingindo 539,7 mil milhões de patacas. Por outro lado, os empréstimos ao exterior caíram 4,1 por cento, tendo atingido 658,9 mil milhões de patacas. Comparando com o trimestre anterior, no terceiro trimestre do ano, o crédito pelo uso económico e os empréstimos bancários aumentaram 5,7 por cento e 4,2 por cento, respectivamente. Já os empréstimos destinados às “indústrias transformadoras” e “restaurantes, hotéis e similares” registaram quebras, respectivamente, de 11,2 e 7,5 por cento.

QUALIDADE DO AR DIAS COM NÍVEL “INSALUBRE” CAEM 73 POR CENTO ESTE ANO

Pulmão meio cheio

Em comparação com o ano passado, o número de dias com ar insalubre caiu 73 por cento. A culpa é da pandemia, dizem os Serviços Meteorológicos e Geofísico. No ar, fica também a promessa de reforçar critérios de concentração de poluentes de acordo com o Instituto Nacional Hidrográfico e Ambiental chinês

P

ELOS vistos, nem tudo piora com a pandemia. De acordo com os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), nos primeiros 10 meses de 2020, o número de dias com qualidade do ar insalubre caiu 73 por cento, em comparação com o ano passado. Em declarações prestadas ontem durante a emissão do programa “Fórum Macau” do canal chinês da TDM - Rádio Macau, o director dos SMG Leong Weng Kun atribuiu a descida acentuada ao facto da crise resultante da pandemia de covid-19, ter levado à diminuição abrupta da actividade humana ao longo do ano. Detalhando, entre Janeiro e Outubro registaram-se apenas sete dias

em que o ar foi insalubre, ao passo que durante o mesmo período de 2019, foram registados 26 dias insalubres. No mesmo espaço de entrevista, o responsável revelou também que os critérios utiliza-

Entre Janeiro e Outubro registaram-se apenas sete dias em que o ar foi insalubre, ao passo que, durante o mesmo período de 2019, foram registados 26 dias insalubres

dos para definir a concentração de poluentes serão ajustados de acordo com o Instituto Nacional Hidrográfico e Ambiental. Desta forma, o nível médio diário definido para as concentrações de partículas inaláveis PM10, PM 2.5 e dióxido de enxofre estarão alinhadas com as orientações do organismo do Interior da China. Por outro lado, segundo Leong Weng Kun, o facto de estarem a ocorrer tufões em Outono e Novembro está relacionado com a diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico, fenómeno apelidado de “La Niña”. Para este Inverno, o responsável prevê que as temperaturas sejam entre “normais” e “mais baixas”. Isto, tendo em conta que em 2019 a tempera-

tura média em Macau bateu um novo recorde, com a subida de 1°C relativamente aos últimos 30 anos.

PRECISÃO MAIOR

Leong Weng Kun referiu ainda que, de forma a aumentar a fiabilidade dos sistemas de previsão de tempestades tropicais e de “storm surge”, os serviços de meteorologia encarregaram uma empresa de software para desenvolver um novo sistema. Está também a ser desenvolvido um sistema de prevenção de tsunami que estará a cargo do Instituto Nacional Hidrográfico e Ambiental. Tudo somado, as melhorias terão o custo total de 4 milhões de patacas. Pedro Arede e Nunu Wu

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


8 eventos

5.11.2020 quinta-feira

Brisas de óleo n PINTURA EXPOSIÇÃO DE HE DUOLING AMANHÃ NO MUSEU DE ARTE DE MACAU

É inaugurada amanhã, no Museu de Arte de Macau, a exposição de um dos pintores cimeiros da arte contemporânea chinesa, He Duoling. A mostra, intitulada “Renascer à Brisa da Primavera: Exposição de Arte de He Duoling” será recebida pela música da Orquestra de Macau

D

E Chengdu chega amanhã a Macau a pintura de um dos artistas contemporâneos chineses mais marcantes da actualidade, He Duoling, para uma exposição que será inaugurada no Museu de Arte de Macau, com a organização conjunta do Instituto Cultural (IC) e do He Duoling Art Museum. A inauguração, marcada para as 18h30, será abrilhantada por uma performance ao vivo da Orquestra de Macau. A mostra, intitulada “Renascer à Brisa da Primavera: Exposição de Arte de He Duoling”, é constituída por um conjunto de 48 peças, entre esboços e pinturas a óleo, pintadas em diversos períodos.

Além da ligação entre as cores e temas subtis das telas de He Duoling com a música, a cargo da Orquestra de Macau, quem marcar presença amanhã na inauguração vai receber um conjunto de “cartões requintados com poemas inspirados em pinturas, e ainda terão a oportunidade de receber cartazes autografados e comprar álbuns assinados das suas pinturas”. Como destaques na mostra do pintor de Chengdu, o IC realça uma série de obras como “A Casa com Sobreloja”, “Zhai Yongming”, “Torre do Labirinto”, “Lebre”, “Floresta Russa”, “Casa sem Telhado”, entre outras.

BILHETE DE IDENTIDADE

A linguagem artística de He Duoling centrou-se em expressões de

Conhecido pelos óleos de nus femininos e imagens de minorias em cenários campestres, em particular do sudoeste da China, o pintor faz parte de uma geração de virtuosos que catapultaram a pintura chinesa para o panorama internacional

nas transmite felicidade e liberdade. Esta linha ténue levou o pintor ao reconhecimento internacional, marcando presença em bienais e grandes exposições, como os famosos “Salons de Paris” no Museu do Louvre, às exposições de belas artes no Museu de Arte de Fukuoka, no Japão, e em galerias de renome no mundo inteiro. A exposição pode ser visitada no Museu de Arte de Macau, na Avenida Xian Xing Hai, NAPE, diariamente entre as 10h e as 19h, com excepção à segunda-feira. A entrada é gratuita. João Luz

info@hojemacau.com.mo

Liberdade premiada

A

Maria Teresa Horta distinguida pelo Ministério da Cultura com Medalha de Mérito Cultural

a medalha for entregue, assinalam-se os 50 anos sobre o início de concepção das "Novas Cartas Portuguesas", que a autora escreveu com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras, tendo-se estreado na poesia em 1960, com “Espelho Inicial”. GLOBAL IMAGES

escritora e jornalista Maria Teresa Horta vai ser distinguida com a Medalha de Mérito Cultural pelo seu “percurso ímpar na história da cultura portuguesa”, anunciou o Ministério da cultura. A cerimónia chegou a estar programada para meados deste mês, mas a actual situação pandémica obrigou ao seu cancelamento, que terá lugar em “data mais oportuna”, no próximo ano, disse à Lusa fonte do gabinete da ministra. Para Graça Fonseca, “Maria Teresa Horta tem um percurso ímpar na história da cultura portuguesa: como artista, foi sempre completa; como romancista, inovadora; como poeta, insubmissa; como cidadã, combateu sempre ao lado da liberdade das mulheres e dos homens”. “Esta homenagem que lhe prestamos é, por isso, justa e necessária”, acrescentou. A atribuição da medalha, este ano, verifica-se quando se comemoram os 60 anos de vida literária de Maria Teresa Horta. Em 2021, quando

beleza, em mais de quatro décadas de criação, tanto através de uma perspectiva mais realista típica dos primeiros tempos de carreira, como pela atmosfera etérea de contornos esbatidos dos últimos anos de produção artística. Formado no Instituto de Belas Artes de Sichuan, He Duoling é uma das figuras da pintura chinesa contemporânea em termos de projecção internacional, com uma presença em galerias de todo o mundo que lhe valeu a fama desde os anos 1980. Conhecido pelos óleos de nus femininos e imagens de minorias em cenários campestres, em particular do sudoeste da China, o pintor faz parte de uma geração de virtuosos que catapultaram a pintura chinesa para o panorama internacional. Além do traço muito próprio, He parece retirar algum prazer das provocações óbvias às correntes mais mainstream da arte contemporânea. Por exemplo, em 2007 estreou uma exposição intitulada “Youth 2007” que retratava corpos nus de costas viradas para o público, expondo o traseiro. As imagens afastaram-se da crueza da pornografia, ou do cartoon, e deixam a audiência na ambiguidade perante o que estão a ver. Apesar de por vezes He Duong se aproximar de temas aparentemente grosseiros, a subtileza do seu traço não abre margem para ofensa e ape-

A sua obra poética editada em Portugal foi coligida em “Poesia Reunida” (2009), a que se seguiu “Poemas para Leonor” (2012), “A Dama e o Unicórnio” (2013), “Anunciações” (2016) – Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017 –, “Poesis” (2017) e “Estranhezas” (2018). Na ficção, é autora dos

romances “Ambas as Mãos sobre o Corpo” (1970), “Ema” (1984) e “A Paixão segundo Constança H.” (1994), e coautora, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, das “Novas Cartas Portuguesas” (1972). Em 2011, publicou “As Luzes de Leonor”, romance sobre a Marquesa de Alorna distinguido com o Prémio D. Dinis, da Fundação da Casa de Mateus. Em 2014, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, editou o volume de contos “Meninas”.

ELITE LITERÁRIA

No ano passado, publicou "Quotidiano Instável", designação da coluna que assinou no suplemento Literatu-

ra & Arte do jornal A Capital, entre 1968 e 1972, reunindo o conjunto de crónicas desse período. Ao longo dos anos, esta coluna foi assumindo um carácter cada vez mais ficcional, no percurso da escritora, e surge na sua bibliografia como "quase um romance", de valor "literário, político e social", nos derradeiros anos da ditadura. Com livros editados no Brasil e em França, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal, e é considerada uma das mais destacadas feministas da lusofonia. No mês passado, o seu nome foi incluído numa lista de 50 escritores que formam "O Cânone" da literatura portuguesa, numa obra de crítica literária editada pela Tinta-da-China, coordenada pelos professores e investigadores António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen.


eventos 9

quinta-feira 5.11.2020

na tela

BIENAL DE ARQUITECTURA DE VENEZA REPRESENTAÇÃO DE PORTUGAL ANUNCIA PROGRAMA DE DEBATES

A

S seis equipas que vão organizar debates em torno da arquitectura no quadro da representação de Portugal para a Bienal de Veneza de 2021 foram ontem anunciadas, em resultado de um concurso lançado pelo projecto curatorial In Conflict. Este projecto, promovido e comissariado pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), é da autoria é dos depA architects, colectivo de arquitectos do Porto, que lançaram o concurso de ideias a 14 de Maio, e cujos vencedores são: "Caring Assemblies: positions on a space-to-come", organizado por Bartlebooth - Antonio Giráldez López & Pablo Ibáñez Ferrera, que decorrerá em Veneza, "Struggle within Conflict", por Francisco Calheiros & Maria

Cristina Trabulo, no Porto, e "Public Housing - No Silver Bullet", organizado por Samuel de Brito Gonçalves, em Lisboa. Os outros três debates "Instant City: emergency housing, refugee camps, forced mobility in a pandemic world", numa organização de Bernardo Amaral & Carlos Machado Moura, "Debating Lisbon’s Future Housing", com organização de Gennaro Giacalone, Margarida Leão & João Romão, e "Lines of Violence", com organização de Patrícia Robalo, decorrerão por conferência 'online'. A 17.ª Exposição Internacional de Arquitectura está prevista para inaugurar a 22 de Maio de 2021, e estará aberta até ao dia 21 de Novembro do mesmo ano.

PUB


10 china

5.11.2020 quinta-feira

O

BOLSA PROTECÇÃO DOS INVESTIDORES LEVA À SUSPENSÃO DE ENTRADA DO ANT GROUP

regulador do mercado de capitais da China suspendeu a entrada em bolsa do Ant Group para "proteger os investidores" e por um "desenvolvimento saudável a longo prazo" do mercado financeiro, foi ontem noticiado. O jornal estatal Economic Daily afirmou que a decisão das autoridades de suspender a que seria a maior entrada em bolsa de sempre seguiu os princípios da "transparência, imparcialidade e justiça". A suspensão destacou a "seriedade do mercado e manda uma mensagem clara" sobre as regras, que devem ser "respeitadas e reverenciadas por todos os participantes". "Não pode haver excepção", acrescentou o jornal, argumentando que "apenas quando os direitos e os interesses legítimos dos investidores são protegidos, as empresas listadas podem obter apoio". O Economic Daily lembrou que o sistema chinês de licenciamento para entrada em bolsa estipula que os reguladores devem supervisionar todas as etapas do processo,

Regras sem excepção durante o qual as empresas "são obrigadas a (...) aumentar a transparência". "As empresas em questão devem dar o exemplo ao manterem as suas operações de acordo com a legislação, prevenção de riscos e responsabilidade social", indicou o jornal. O diário referiu ainda os "interesses vitais de milhões de accionistas" na estrutura do grupo.

PÁRA TUDO

A bolsa de valores de Xangai suspendeu a entrada em bolsa do Ant Group, que estava programada para esta

quinta-feira, depois de os reguladores chineses terem convocado os executivos da empresa para uma reunião. O Banco do Povo da China (banco central), a Comissão Reguladora de

O jornal estatal Economic Daily afirmou que a decisão das autoridades de suspender a que seria a maior entrada em bolsa de sempre seguiu os princípios da “transparência, imparcialidade e justiça”

Bancos e Seguros da China, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários e a Administração Estatal de Câmbio informaram terem realizado "entrevistas regulatórias" com os executivos da empresa, mas não avançou mais detalhes. Abolsa citou mudanças no ambiente regulatório da tecnologia financeira ('fintech'), um dia depois de os reguladores terem reunido com o fundador, Jack Ma, que criou o gigante Alibaba, o presidente do Conselho de Administração, Eric PUB

HM • 1ª VEZ • 5-11-20

HM • 1ª VEZ • 5-11-20

ACÇÃO ORDINÁRIA

Processo nº. CV3-19-0141-CAO

3º. Juízo Cível

COMPANHIA DE INVESTIMENTOS OCEAN, LIMITADA, com sede em Macau, Taipa, na Avenida dos Jardins do Oceano, n.º 388, Edifício “Ocean Tower”, complexo “Jardins do Oceano”, 7.º andar A, registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 890 (SO). -----------------------------------------------------------------------LIU YUTIAN劉玉田, que também usa LAO YUK TIN 劉玉田, ausente em parte incerta, com última residência em Macau, no Caminho dos Artilheiros, n.º 21, 4.º Andar H; e, em Hong Kong, em 干諾道西21-24 號, 海景大廈 1103.-------------------------------*** FAZ-SE SABER que, por este Juízo e Tribunal, correm éditos de TRINTA (30) DIAS, contados da segunda e última publicação dos respectivos anúncios, CITANDO o RÉU acima identificado, para no prazo de TRINTA (30) DIAS, contestar, querendo, a Acção Ordinária, acima identificada, conforme tudo melhor consta da petição inicial, cujos duplicados se encontram neste 3º Juízo Cível à sua disposição e que poderão ser levantados nesta secretaria, sob pena de não o fazendo no dito prazo, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Se não contestar, não se consideram reconhecidos os factos articulados pela Autora.------------------------------------------------Consigna-se que é obrigatória a constituição de advogado, no caso de querer contestar.----Em síntese, a Autora pede que a presente acção deve ser julgada procedente, por provada, e em consequência, ser:---------------------------------------------------------------------------------------------------a) reconhecido e declarado resolvido o Contrato-Promessa, por incumprimento definitivo e culposo das obrigações contratuais do Réu, com todas as consequências legais aplicáveis, nomeadamente, declarando e reconhecendo a perda do sinal a favor da Autora e a restituição da Fracção à Autora, reconhecendo-se igualmente a Autora como legítima titular do direito de domínio útil da Fracção, podendo livremente exercer, sem qualquer limitação, todas as faculdades e prerrogativas inerentes ao referido direito;-------------------------------------------------------------------------------------b) subsidiariamente, e apenas, para o caso de ser improcedente o pedido formulado ao abrigo da alínea anterior, serem declarados prescritos todos os direitos do Réu ao abrigo do Contrato-Promessa e, consequentemente, ser declarado e reconhecido que a Autora se encontra desonerada de todas as suas obrigações ao abrigo do referido contrato, devendo igualmente a Autora ser reconhecida como legítima titular do direito de domínio útil da Fracção, podendo livremente exercer, sem qualquer limitação, todas as faculdades e prerrogativas inerentes ao referido direito.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caso o citando pretenda beneficiar do regime geral de apoio judiciário, deverá dirigir-se ao balcão de atendimento da Comissão de Apoio Judiciário, sito na Alameda Dr. Carlos D´Assumpção, nº 398, Edf. CNAC, 6º andar, Macau, para apresentar o seu pedido, sendo que poderá pedir esclarecimentos através do telefone n.º 2853 3540 ou correio electrónico info@caj.gov.mo.----------------Para o efeito, terá de comunicar ao processo a apresentação do pedido àquela Comissão, para beneficiar da interrupção do prazo processual que estiver em curso, nos termos do n.º 1, do art.º 20.º, da Lei 13/2012, de 10 de Setembro. –----------------------------------------------------------------Macau, 23 de Outubro de 2020

*****

簡易執行裁判案 第 PC1-15-0039-COP-A 號 輕微民事案件法庭 Execução Sumária de Sentença n.º Juízo de Pequenas Causas Cíveis Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, Nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. Executada: PAULO MARIA AUGUSTA, com residência em Macau, na Travessa da Concordia no.65 May Fair Gdn-Ka Ieng B1-43-and-AO. FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos da executada para, no prazo de quinze dias, que começa a correr despois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto dos bens penhorados sobre que tenham garantia real e que são os seguintes: Bens Penhorados Verba n.º 1 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2017 Saldo: MOP9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 2 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2018 Saldo: MOP9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 3 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2019 Saldo: MOP10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 4 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2020 Saldo: MOP10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. RAEM, 19 de Outubro de 2020.

*

de capital ou limites nas taxas de empréstimos. Na segunda-feira, o banco central aumentou a exigência de capital registado para credores como o Ant para um mínimo de cinco mil milhões de yuan. O Ant Group opera a Alipay, a maior e mais valiosa empresa de tecnologia financeira ('fintech') do mundo e uma das duas carteiras digitais dominantes na China, país onde o dinheiro físico praticamente desapareceu. Jack Ma fundou o gigante do comércio electrónico Alibaba em 1999. O Alipay foi introduzido como método de pagamento, para aumentar a confiança dos utilizadores na plataforma.

TAIWAN PEQUIM PROMETE RESPOSTA 'ADEQUADA' À VENDA DE ARMAS DOS EUA

公告 ANÚNCIO

ANÚNCIO AUTORA: RÉU:

Jing, e o director da empresa, Hu Xiaoming. "Estas mudanças podem fazer com que a sua empresa deixe de estar apta a cumprir com as condições de emissão e listagem ou os requisitos de divulgação de informações", disse o operador do mercado de acções, num comunicado dirigido ao Ant Group. As acções do Ant Group deviam começar a ser negociadas em Hong Kong e Xangai esta quinta-feira, 5 de novembro, com a expectativa de arrecadar pelo menos 34,5 mil milhões de dólares. Entre as novas regulações estão os limites ao uso de títulos garantidos por ativos para financiar empréstimos ao consumidor, novos requisitos

A

China prometeu ontem que vai dar uma "resposta adequada e necessária", caso se confirme mais uma venda de armas pelos Estados Unidos a Taiwan. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, disse que a venda de 600 milhões de dólares em drones armados a Taipé "interfere gravemente nos assuntos internos da China e mina seriamente a soberania e os interesses de segurança" do país asiático. Os EUA devem cancelar todas as vendas de armamento a Taiwan para "evitarem maiores danos nas relações China - EUA e na paz e estabilidade no estreito de Taiwan", disse Wang aos jornalistas, em conferência de imprensa. A China, que considera Tai-

wan uma província sua, vai dar uma "resposta adequada e necessária, de acordo com o desenvolvimento da situação", acrescentou. O Departamento de Estado norte-americano disse na terça-feira que deu sinal verde para a compra por Taiwan de quatro drones MQ-9 'Reaper', visando "modernizar as Forças Armadas" e manter as "capacidades de defesa" da ilha. O departamento disse ainda que o negócio "atende aos interesses nacionais, económicos e de segurança dos Estados Unidos". Esta é a terceira grande venda de armas para Taiwan que o Executivo liderado pelo republicano Donald Trump aprova em menos de três semanas. O valor total do armamento vendido ascende aos 4,8 mil milhões de dólares. Na semana passada, o Governo aprovou planos para a venda de sistemas de mísseis Harpoon, horas depois de Pequim ter anunciado sanções contra fornecedores de equipamento de defesa dos EUA, por causa de um acordo anterior de venda de armas.


quinta-feira 5.11.2020

O meu interior é uma atencão voltada para fora ´

A

anedota é curta: um homem cai num poço e mergulha 30 metros antes de conseguir agarrar-se a uma magra raiz que detém a sua queda. A sua mão vai perdendo a força e, desesperado, grita: Há alguém aí em cima? Olha para o alto e vê um círculo de céu. De repente, as nuvens abrem-se, um raio brilha sobre ele, e uma voz profunda ecoa: Sou Eu, o Senhor, estou aqui. Solta-te da raiz e eu salvo-te. O homem pensa mais um minuto e grita: Tem mais alguém aí em cima? Quando se está pendurado por um coto, um magro filamento de raiz, a tendência é de fazer a balança pesar para o lado da razão. Que se alimenta da dúvida: O Gajo existe ou a minha necessidade acabou de inventá-lo? Daí que René Descartes tenha preferido cultivar a razão em vez da fonte divina de conhecimento. E a que fé se podia agarrar Kafka quando escreveu numa carta a Milena: «os beijos por escrito não chegam ao seu destino; são bebidos no caminho pelos fantasmas», afastando com isso qualquer possibilidade, a mínima fímbria (o beijo) de contacto? O salto na fé, como lhe chamava Kierkegaard, é um dos grandes desafios do homem, sendo isto indepentente de acreditar-se em Deus ou não. Como fazer convergir a si a energia que só uma convicção indubitável engendra? O amor só se consolida e expande se houver um salto na fé, de contrário fenece como uma flor de época, narcísica. Escrevi um prefácio para um livro do Christian Bobin e tive de reler La Lumière do Monde, um magnífico livro de entrevistas onde, como na Alice atrás do espelho, tudo parece estar invertido. E aí encontro um exemplo de como a ilogicidade aparente pode ser uma prova viva do mais verdadeiro: «O que me convence na cena do túmulo vazio, na manhã da Ressurreição, é que ninguém aí se detém: os evangelistas não lhe dedicaram mais do que duas linhas. Os falsificadores teriam escrito volumes e volumes sobre a Ressurreição. Eu acredito porque existem apenas duas linhas. É estranho que a coisa mais importante quase nunca esteja nos Evangelhos. É a mesma estranheza que me convence no caso de Maria: ela teve essa Graça de lhe ter sido anunciado a natureza divina de seu filho, e trinta anos depois ela esqueceu. É exatamente como a vida». Bobin tem razão. Mesmo para um ateu, crer implica iluminar o que a vida omitiu por demora e esquecimento e encontrar aí novas texturas, trânsitos, inteligibilidades e uma sintaxe intersticial - outro foco, na narração da memória - que, ao modo das sinapses, active uma re-organimação do real e a festa do nosso reencontro com ele; visto que somos intermitentes, no contacto que lhe devemos. É o nexo que encontro numa história espantosa de John Cage, que só agora jul-

Saltos na fé JETTY GORGONI

diário de Próspero

António Cabrita

h

11

go compreender. Escreveu o músico sobre a sua mãe, nos seus diários: «A minha mãe casou-se duas vezes antes de desposar o meu pai, mas nunca se referiu a isso, a não ser já próximo da morte. Ela não conseguia lembrar-se do nome do primeiro marido». Esta passagem final mergulhava-me em tinhosas reflexões sobre os alçapões e os labirintos da memória. Psicanaliticamente, é um cliché dizer que só recordamos o que queremos e censuramos o que nos desagrada. O facto é que as histórias felizes não imprimem enquanto o sulco das mágoas é muito mais duradouro. Não interessa quanto tempo durou esse primeiro casamento, é mais pertinente interrogar se há intensidades sem um nome que as transporte. Se tivesse sido uma relação traumática, das que deixaria uma cicatriz vertical

na psique da mãe de Cage, os anos trariam aos seus lábios o nome do agressor, porque embora o tempo aja como uma momentanea amnésia paliativa e cauterize a dor, deslocando-a, levando-nos a perdoar, não nos faz esquecê-la  — e ao mal, até por defesa, nós designamo-lo. Nós nomeamos a figura do mal como uma prova de superação, mas nenhum judeu de Auschewitz esqueceu o nome dos seus carrascos. Porém, como falar da felicidade? A felicidade é como o tempo: podemos experimentá-la mas falar dela é um contra-senso e uma felicidade demasiado consciente, meta-relacional, seria o primeiro sinal de um défice. O que me deixa desconcertado nesta curiosa amnésia da mãe do músico é a hipótese da senhora ter sido tão tremen-

Um salto na fé, igualmente, o que foi dado pelo museu de cera Madame Tussaud de Berlim, ao ter colocado a sua estátua de Donald Trump num contentor do lixo, nesta sexta-feira. Gente que não está só arreigada ao comércio

damente feliz no seu casamento que, face ao que se sucedeu, lhe fosse insuportável atribuir um nome ao que, por qualquer motivo, perdera para sempre. É uma hipótese nada descartável ainda que pareça pouco lógica  —  contudo, o que o escritor persegue não é a lógica mas as anfractuosidades do sentido, o seu esplendor indiciário; a lógica está para o escritor como o pé chato para o maratonista: é um empecilho. O escritor vive dos saltos na fé. Por isso, na mesma lógica invertida, escreve Bobin: «Cioran é um benfeitor, não pelo facto, como dizem os seus falsos discípulos, de ser um desencantado com o mundo, mas porque não deixa nenhum falso encantamento. É alguém que limpa o deserto. Com uma vassourinha, ele retira toda a porcaria das consolações fáceis, e é para mim, depois deste trabalho, que ele começa a ter uma palavra verdadeira. É preciso o trabalho de inverno: de retirar por fim os ramos mortos: a isto se chama preparar a primavera». Absolutamente. Um salto na fé, igualmente, o que foi dado pelo museu de cera Madame Tussaud de Berlim, ao ter colocado a sua estátua de Donald Trump num contentor do lixo, nesta sexta-feira. Gente que não está só arreigada ao comércio.


12

h

5.11.2020 quinta-feira

´

retrovisor Luís Carmelo

CLÁUDIA R SAMPAIO

Cláudia dá uma lição a Kant

C

LÁUDIA R. Sampaio é uma artista florescente. O trabalho visual que vem criando nos últimos anos é uma ascese que acasala tradições de luz e visão (ou de utopia e apocalipse), através de figuras aparentemente sem território, mas que, apesar disso, voam, vogam e vagueiam habitando assim essa ausência como se cumprissem uma promessa antiga. No campo da poesia, a Cláudia é autora de vários livros, editados entre a Douda Correria, a Tinta da China e, já este ano, na Elogio da Sombra/ Porto Editora (nomeadamente ‘Os dias da Corja’, ‘A primeira urina da manhã’, ‘Ver no escuro’, ‘1025 mg’, ‘Outro nome para a solidão’ e Já não me deito em pose de morrer’). Acompanhei esta rica produção poética com proximidade e recordo - agora que a pandemia nos estoura as têmporas - os fins de tarde luminosos no Irreal, na Mymosa e naquele amplo bar-salão ao pé da Sé onde a Cláudia sonhou construir um recife de ouro. A Cláudia é uma das artistas residentes do projecto ‘Manicónio’, um espaço no Beato onde artistas com doença mental trabalham. No seu segundo livro, as atmosferas e memórias deste padecimento - nem sempre socialmente entendido - ressurgiram com cristalina clareza: “as miúdas poéticas contemplam o suicídio/ mesmo depois de uma taça de Corn Flake/ olham/ os telhados laranja de Lisboa/ e pensam noutro sítio qualquer/ semeiam flores para terem perfume/ matam-nas, por amá-las de mais”. Como ela própria referiu, numa entrevista à revista Sábado, “Com as palavras, tudo é possível, fazem-me sentir infinita”. Vem toda esta evocação - que paradoxalmente me surge com apertada nostalgia - a propósito de um texto de Kant, datado de 1764, que eu desconhecia completamente, e que foi traduzido, há uma década, por Pedro M. Panarra na ‘Revista Filosófica de Coimbra’. Intitulado ‘Ensaio sobre as doenças da cabeça’ e publicado numa revista da sua cidade (a ‘Königsbergischen Gelehrten und politischen Zeitungen’, de que era editor e fundador o seu ex-aluno Johann Hamman), o texto terá sido motivado por um acontecimento concreto. No ano anterior, no início do Outono de 1763, apareceu nos arredores de Königsberg um polaco chamado Jan Komarnicki com “aspecto esfarrapado” e atitudes de fanático religioso a que chamavam “profeta das cabras”, por responder a qualquer solicitação que

lhe fosse dirigida através de versículos bíblicos que sabia de cor. O homem convivia com perturbações alucinatórias e a sua presença deverá ter sido muito marcante na altura, ao ponto de lhe ter sido dedicado, na mesma revista, um artigo de Hamman em jeito de reportagem. O artigo de Kant, muito racional e geométrico na sua organização, surgiria poucos meses depois. O texto, após uma curta introdução, é particularmente assertivo. Escreve o autor: “As deficiências da cabeça perturbada dividem-se numa multiplicidade de categorias”, mas “julgo que podem ser ordenadas segundo as três divisões seguintes: (1) a inversão dos conceitos empíricos no desarranjo (Verrückung),

(2) a faculdade de julgar posta em desordem por esta experiência empírica, no delírio (Wahnsinn) e (3) “a insânia (Wahnwitz) em que a razão é invertida no que concerne a juízos mais universais.”. E continuava: “todas as demais manifestações do cérebro doente podem ser entendidas, no meu parecer” (...) “de maneira que as podemos subordinar à classificação anterior.”. Os exemplos destes três “males” assim categorizados surgem depois ao longo do artigo. O primeiro, relativo à inversão e ao desarranjo, decorreria do facto de nós humanos estarmos quase sempre “ocupados a pintar imagens de coisas que não estão presentes ou a completar as

Cláudia R. Sampaio é uma artista florescente. O trabalho visual que vem criando nos últimos anos é uma ascese que acasala tradições de luz e visão (ou de utopia e apocalipse), através de figuras aparentemente sem território, mas que, apesar disso, voam, vogam e vagueiam habitando assim essa ausência como se cumprissem uma promessa antiga

semelhanças imperfeitas entre as coisas presentes na representação, através de um ou outro traço quimérico próprio da nossa faculdade poética criadora (schöpferische Dichtungsfähigkeit)”, facto que pode, de um momento para o outro, passar a dominar e a impor-se à nossa vida dita “normal”. O segundo, relativo ao delírio, remeteria - com algum desdém bem visível no tom - para a soberba e para uma certa forma de melancolia: “um soberbo é um delirante que escarnece da conduta dos que o fitam” e “o melancólico é um delirante devido às suas suposições tristes ou ultrajantes”. O terceiro, relativo à insânia, incluiria as “inumeráveis intuições subtis que se enxameiam no cérebro em ebulição: o comprimento dos mares, a decifração de certas profecias, e sabe-se lá que outras misturas de quebra-cabeças fúteis.”. A esta capacidade de ultra-imaginação soma o autor a perdição, digamos, total: “Quando o infeliz perdeu simultaneamente a capacidade de formular juízos sobre a experiência, então chama-se vesânico (Aberwitzig)”. As três categorias, como Kant se lhes refere, fazem pactuar, ao fim e ao cabo, um ‘excesso’ de disposição poética (aquele que “sonha acordado”) com o delírio (seja dirigida para o exterior, a soberba; ou a si próprio, a melancolia) e, por fim, com a fuga imaginativa face a quem navega sempre ‘com os pés na terra’. Para um autor que, três décadas e meia depois, escreverá um texto fundamental sobre a estética, o génio, o belo e o sublime (‘Crítica da Faculdade do Juízo’), é estranho que nunca tivesse reparado como a loucura e o ‘fazer poético’ são campos afinal tão íntimos, tão envolvido e tão próximos. Para reparar essa estranheza, Cláudia R. Sampaio dá agora a devida lição a Kant, a bordo do seu ‘1025 mg’, de que ainda me lembro tão bem do lançamento: “O tecto está rente à minha cabeça./ Quero deixar a alma cosida aos hemisférios nocturnos./ Tenho de me parir lenta./ Tenho de me cobrir como um ramo de crisálidas luzentes/ à espera do céu./ Agora tenho tudo porque já vi cair as falésias./ Não sei do ar, não sei dos pais, não sei dos médicos./ Guio-me à existência calafetada de um dente em proa./A minha casa inexiste com o cheiro das praias. (...)”. A genialidade à solta de Jan Komarnicki, o “profeta das cabras”, entenderia bem estas palavras. E eu também. E até mesmo Kant as entenderia, se tivesse conhecido e lido devidamente a poeta. Obrigado, Cláudia. Panarra, Pedro M. ‘Immanuel Kant - Ensaio sobre as doenças da cabeça de 1764’ (Trad. e introd. de Panarra, Pedro M.) em ‘Revista Filosófica de Coimbra’, Coimbra, Nº 37, 2010, pp. 201-224.


(f)utilidades 13

quinta-feira 5.11.2020

TEMPO

NUBLADO

MIN

20

MAX

ITÁLIA RECOLHIDA

50

7 3 1 6 5 4 2

2 1 4 7 3 5 6

1 5 6 4 7 2 3

5 2 3 1 6 7 4

3 7 2 5 4 6 1

4 6 5 3 2 1 7

55

6 4 7 2 1 3 5

3 5 1 7 4 6 2

52

5 1 1 7 3 2 6

1 2 57 3 7 6 5 7 1 4 5

6 3 4 2 1 5 7

1 6 3 7 4 2 1

2 4 6 6 1 7 5 3

2 7 5 4 6 4 1 3 7

5 6 1 7 6 3 4 2

4 5 2 6 1 7 5

6 6 3 3 4 2 7 5

7 1 2 5 4 3 2 6

3 4 6 1 1 7 2 5

1 2

7 2 1 52 3 45 4 5 7 1 3 2 6 6 1

1 7 4 3 5 2 6

7 3 2 1 5 6 4

COME PLAY [B]

6 5 1 7 3 4 2

Um filme de: Jacob Chase Com: Azhy Robertson, Gillian Jacobs John Gallagher Jr. 14.30, 16.30, 21.30 SALA 2

THE CRAFT: LEGACY

Um filme de: Zoe Lister-Jones

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 54

54

3 7 4 5 4 6 1

PROBLEMA 55

S554 U D O K U 2 5 7 3 1 6

59

HUM

50-90%

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, assinou na noite de terça-feira um decreto que impõe o recolher obrigatório a nível nacional a partir das 22:00, que entra

Cineteatro 57

SALA 1

27

5 2 6 4 3 7 1

2 1 5 6 7 3 4

7 3 2 1 6 4 5

4 6 3 5 2 1 7

6 4 7 2 1 5 3

C I N E M A 56 5

2 4 63 7 35 1

7 1 5 2 5 58 4 5 6 3 6 7 2 1 2 6 3 4 1 www. 2 hojemacau. 4com.mo 3 75

2 6 3 44 1 72 5

3 72 5 2 41 1 6

4 15 7 5 64 2 3 2

1 4 1 6 3 2 5 5 77 3

Com: Cailee Spaeny, Michelle Monaghan, David Duchovny, Gideon Adlon 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3

THE WITCHES [B]

Um filme de: Robert Zemeckis Com: Anne Hathaway, Octavia Spencer Stanley Tucci, 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

•´ E U R O

9.35

BAHT

em vigor esta quinta-feira, segundo a imprensa no país. Outras medidas restritivas, que o chefe do executivo deverá detalhar mais tarde e que deverão estar em vigor

56

6 2 3 7 5 4 1

3 1 4 6 2 5 7

2 5 7 1 3 6 4

5 3 6 4 7 1 2

4 6 5 2 1 7 3

58DISCO HOJE UM

3 7 1 2 5 6 4

1 6 5 3 7 4 2

5 2 4 1 3 7 6

6 3 7 4 2 1 5

7 1 6 5 4 2 3

O álbum de estreia de Benjamine Clementine é a materialização do percurso peculiar percorrido pelo artista antes de 2015, altura em que viveu como sem abrigo em Londres e Paris, capitais onde compôs e tocou com regularidade. Por vezes, quase como um pregão ou um aviso divino que encontra a voz de um profeta à superfície da terra, a solidão, a provação e a esperança ganham ritmo a partir das profundezas da gravidade e crueza dos acordes vocais de 60 Benjamine Clementine. Sempre sem prescindir da companhia do piano. Pedro Arede

1 7 2 5 4 3 6 2 4 3 7 6 5 1

0.25

YUAN

1.19

até 3 de Dezembro, foram igualmente aprovadas, incluindo o encerramento de centros comerciais durante o fim de semana.

7 4 1 3 6 2 5 4 5 2 6 1 3 7

AT LEAST FOR NOW | BENJAMINE CLEMENTINE | 2015

6 2 4 3 2 3 7 6 5 1 4 1 3 7 6 1 6 5 3 2 4 7 4 1 THE2CRAFT:7LEGACY 3 7 4 5 6 2 1 5 7 4 3 5 1 4 5 1 2 4 7 6 3 6 3 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 7 4 3 5 6 2 3 1 4 7 5 Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 2 Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia 5 7e Carmo;6Rita Taborda 2 Duarte; Rosa Coutinho4Cabral;5Rui Cascais; 6 Rui Filipe 7 Torres;1Sérgio3Fonseca;2Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Chan; João Romão; Jorge 4 Rodrigues 5 Simão;OlavoRasquinho;PaulChanWaiChi;PaulaBicho;TâniadosSantosGrafismoPauloBorges,RómuloSantosAgênciasLusa;XinhuaFotografiaHoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 2 6 5 1 7 4 1 2 3 5 6 Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 4 7


14 opinião

5.11.2020 quinta-feira

O “Big Data” como “Two of the most important developments of this new century are the emergence of cloud computing and big data. However, the uncertainties surrounding the failure of cloud service providers to clearly assert ownership rights over data and databases during cloud computing transactions and big data services have been perceived as imposing legal risks and transaction costs.” Marcelo Corrales Compagnucci Big Data, Databases and “Ownership” Rights in the Cloud

O

S chineses, alistam cidadãos para os chefiarem e sempre tal aconteceu, com precedentes muito antigos, mesmo datando da história imperial, durante o curto mas fundamental período da Dinastia Qin (221206 a.C.) na qual a vida quotidiana e a sociedade estava organizada de uma forma perfeitamente militar. Todos os habitantes estavam divididos em grupos de cinco ou dez famílias que trabalhavam em conjunto e se administravam umas às outras. Um sistema de vigilância estava em vigor na altura, e cada pessoa comunicava comportamentos considerados “desviantes”. A fim de se manterem mais próximo do nosso tempo, as unidades de trabalho e, mais tarde, os muitos cidadãos envolvidos em actividades de fiscalização mútua continuaram estas tradições. Ainda hoje não será difícil encontrar em algumas cidades pessoas idosas com uma braçadeira nos braços encarregados de inspeccionar a área, capazes de contar cada pequeno detalhe da vida. Talvez também para estas referências mais ou menos distantes, os chineses parecem aceitar facilmente o desenvolvimento “cidadão” em nome da “segurança” e da dissuasão (obtida também através de modelos de previsão adoptados pelas autoridades locais) contra os criminosos. Actualmente, os “olhos” da China não são apenas uma inspiração mas sim uma realidade e muitas empresas chinesas estão na corrida por um mercado em contínua expansão. Para a imprensa nacional, incluindo “sistemas de vigilância vídeo, controlo de acesso, alarmes policiais, sistemas de inspecção de segurança” e o mercado da segurança pública foi estimado em cerca de noventa mil milhões de dólares até ao final de 2017 e espera-se que cresça para cento e sessenta e dois mil milhões de dólares em 2023, de acordo com a Associação da Indústria de Segurança e Protecção da China. Esta é uma tendência global, influenciada pelo que está a acontecer na China. O mercado global de vigilância vídeo foi estimado em quarenta mil milhões de dólares em 2018 e espera-se que atinja um valor de noventa e seis mil milhões de dólares em 2024.AEuropa segue e não tem capacidade de instalar câmaras “anti-vandalismo” e “inteli-

gentes” devido a uma questão orçamental. Mas essa é a tendência futura. Qualquer projecto de cidade inteligente gira em torno do “Intelligent Operation Center (Ioc) ”, um mega computador capaz de controlar todas as áreas do projecto. A China não só tem influência nas tendências globais, como tem a capacidade de impor os seus produtos no mercado mundial, e são os Estados Unidos que o provam. Por exemplo, os militares americanos começaram a comprar produtos de videovigilância chineses. As motivações foram o preço e desempenho. Segundo uma investigação do “Financial Times”, a base militar em Fort Drum, em Junho de 2018, adquiriu câmaras Hikvision (é um fabricante e fornecedor chinês parcialmente estatal de equipamento de vigilância por vídeo para fins civis e militares, com sede em Hangzhou) no valor de trinta mil dólares. Um concurso para câmaras de segurança no acampamento base do Corpo de Fuzileiros Navais em Lejeune, em Janeiro de 2019, descobriu por outro lado que apenas o equipamento Hikvision funcionaria numa rede com outras câmaras, dando acesso a dados sensíveis de outras ferramentas tecnológicas utilizadas. A rápida expansão da Hikvision no mercado de vigilância dos Estados Unidos, em que 42 por cento pertence ao governo chinês, começou em 2010, quando principiou a vender alternativas muito mais baratas aos dispositivos fabricados por marcas como a Axis e a Bosch. Em 2016, a empresa chinesa tinha-se tornado o segundo maior fornecedor de produtos de vigilância vídeo nos Estados Unidos, com 8,5 por cento do mercado de câmaras de vigilância. Foram, em particular, os preços que atraíram as pequenas empresas e as forças da lei locais para a China. A marca tornou-se tão popular principalmente devido ao preço. A presença de câmaras chinesas na Web levantou suspeitas imediatas, apoiadas pela directiva do governo dos Estados Unidos de proibir a compra de tecnologia chinesa para o seu sector militar. Mas no final de Julho de 2019, as câmaras produzidas pela Hikvision, segundo o jornal financeiro britânico, permanecem na Base da Força Aérea de Peterson, no Colorado, no quartel-general do Comando de Defesa Aeroespacial Americano (Norad) e no quartel-general do Comando Espacial da Força Aérea. Mesmo os departamentos de polícia de estados como Massachusetts, Colorado e Tennessee ainda dependem das câmaras Hikvision. Só o Departamento de Polícia de Memphis tem pelo menos 1500. E porquê? Porque o desempenho conta e tal como noticiado nos meios de comunicação internacionais, o sistema Hikvision é capaz de identificar com precisão rostos independentemente da etnia, enquanto algumas tecnologias desenvolvidas no Ocidente só são precisas no que diz respeito à população branca. Isto acontece por uma razão muito simples; as possibilidades que a China tem de experimentar e aperfeiçoar o seu armamentário de segurança são imensas, graças à enorme quantidade de dados de que dispõe. E tem áreas onde pode desenvolver a sua tecnologia. Porque é que a tecnologia chinesa é considerada

tão avançada em termos de reconhecimento facial e competitividade internacional? Uma primeira explicação tem a ver com um continente africano gigantesco destinado a crescer dramaticamente em termos demográficos nos próximos anos, pois em 2050 uma em treze crianças no mundo será nigeriana e uma em cada quatro crianças será africana. A África é o continente em que a China tem vindo a investir em termos económicos e políticos desde há anos. Basta dizer que, quando foi investido presidente da República Popular em 2013, Xi Jinping fez a sua primeira visita de estado a África, entre eles a Tanzânia, África do Sul e Congo, testemunhando a relação muito estreita entre a China e a África. No continente africano, a China desempenha o papel de motor da industrialização, com investimentos e a criação de zonas económicas especiais que permitem verter o seu próprio excedente comercial e gerir o seu financiamento em busca de recursos. Não faltam acusações mal intencionadas contra a China de suspeitas de realizar extensas operações de apropriação de terras e de influenciar fortemente a economia dos países africanos que, a longo prazo, correm o risco de se encontrarem em dívida para com a China de forma dramática. O que os outros países não fizeram, a China fez, e por essa ajuda é mal vista pelo Ocidente, porque a África deveria ser o continente perdido e sem futuro. Mas esta relação privilegiada da China com os países de África também tem outras implicações, ligadas precisamente à “Inteligência Artificial (IA) ”. Em Março de 2010, com o Zimbabué, a empresa chinesa baseada em Cantão, CloudWalk Technology, assinou uma parceria para iniciar um programa de reconhecimento facial em grande escala em todo o país. O acordo, apoiado pela iniciativa do governo chinês “One Belt One Road” (a “Nova Rota da Seda”), que como se sabe é um gigantesco plano de investimento geopolítico e de infra-estruturas, considerado como o maior projecto estratégico da história humana, que visa aplicar a tecnologia chinesa à segurança do país africano, o que implica também um nível de experimentação e investigação sobre rostos africanos, a fim de aperfeiçoar ao máximo o mecanismo de reconhecimento facial da tecnologia chinesa. Alguns aspectos que nos parecem futuristas são uma realidade na China. O reconhecimento facial é uma realidade diária nas cidades chinesas e são utilizadas tanto para pagamentos em restaurantes como para entrar em edifícios públicos, bancos, escolas e universidades. Em Shenzhen foi lançada uma campanha para o uso do reconhecimento facial em todas as áreas da vida quotidiana. Estas são actividades que, como de costume, permitem acumular o novo petróleo do nosso tempo que são os dados. Os “Grandes Dados” recolhidos acabam numa grande base de dados e as empresas chinesas, de facto, devem submeter-se à estreita ligação com o governo, não só em termos de financiamento, mas também em termos de partilha dos dados recolhidos. O sistema de vigilância chinês é actualmente um dos mais avançados do planeta e

o objectivo da “aterragem” no Zimbabué é melhorar o seu know-how para tornar os seus produtos ainda mais competitivos no mercado internacional, pois a introdução de tecnologia numa população de maioria negra permitirá às empresas chinesas identificar mais claramente outros grupos étnicos, ultrapassando os promotores americanos e europeus. Outro exemplo desta capacidade chinesa é o da Transsion Holdings, uma empresa quase desconhecida que começou a entrar no mercado dos smartphones em África, acabando por ultrapassar a Samsung. Em Abril de 2018, a Transsion apresentou um novo modelo de smartphone com tecnologia de reconhecimento facial e que será comercializado em África. A Huawei, o gigante das telecomunicações que se tornou líder tanto no mercado dos smartphones como no das redes, começou a sua ascensão a partir de um mercado “secundário”, nomeadamente da América Latina e como habitualmente, a China está a refazer os caminhos que levaram ao sucesso. A minoria uigur, um grupo étnico de língua turca e muçulmana, vive na região noroeste da China de Xinjiang. Existem actualmente cerca de onze milhões de uigures na região. Neste território residem símbolos da cultura muçulmana, algumas cidades apenas para lhes dar nome como Kashgar, por exemplo, que despoletam memórias e histórias incríveis de aventura ligadas ao comércio, trocas e vidas extraordinárias. Mas a região nem sempre foi muçulmana pois foi também e acima de tudo uma região atravessada por populações nómadas, por mil religiões e crenças e por diferentes atitudes e organizações sociais. A


opinião 15

quinta-feira 5.11.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

o novo petróleo

área foi considerada inexpugnável durante muito tempo, porque foi atravessada pelo deserto de Taklamakan, o terror de todo o explorador. Actualmente, nas cidades da região, os mercados ao ar livre, o cheiro da carne de cordeiro e das especiarias catapultam a mente de qualquer pessoa para a imaginação árabe. Os chineses da região têm olhos azuis ou longas barbas; através de Xinjiang, das suas cidades, montanhas e deserto, pode-se admirar a grandeza da paisagem, história, cultura e etnia da China.

A Innoway guincha na atmosfera nerd e informal do Vale do Silício americano, mas tem óbvias “características chinesas” como no resto de Pequim em que não há espaço para dinheiro e tudo é feito com o WeChat Uma longa campanha chamada “Go West” tem apelado às empresas e negócios chineses para investirem naquela região que é estratégica para o governo e os planos futuros do Presidente Xi Jinping e da sua Nova Rota da Seda. A África, para além de garantir recursos e pontos de venda para o fabrico chinês, é também um laboratório para as suas indústrias tecnológicas. Segundo estimativas do co-fundador de “Wired”,

a China tem cinco a dez anos para criar um produto verdadeiramente global que todos no mundo vão querer. Pode ser um carro com auto-condução ou um robô. Saem de uma cultura de réplica como o Japão esteve durante muito tempo, mas depois rompeu com o Sony Walkman, câmaras fotográficas e outros equipamentos que as pessoas queriam. O Japão era o melhor no fabrico desses produtos. A China está a aproximar-se desse momento e um dos lugares onde este produto que “todos queremos” poderia sair, é definitivamente a Innoway, a rua de Pequim onde os sonhos das estrelas chinesas mais recentes do momento estão a eclodir. Vindo da estação de metro de Zhongguancun, atravessando pontes em ruas de oito faixas, transitando enormes centros comerciais electrónicos, parece que estamos catapultados para o início do filme “Vanilla Sky”. O silêncio governa esta rua, outrora ocupada principalmente por livrarias, enquanto muito jovens a percorrem com os olhos fixos nos seus smartphones. A Innoway guincha na atmosfera nerd e informal do Vale do Silício americano, mas tem óbvias “características chinesas” como no resto de Pequim em que não há espaço para dinheiro e tudo é feito com o WeChat, incluindo o carregamento de telemóveis, assim como a ligação Wi-Fi é obtida lendo Qrcode com a rainha-mãe de todas as aplicações chinesas. O “Laboratório dos Sonhos” é a placa que se pode ler na entrada de um edifício; em frente dela há um escritório com o logótipo Microsoft. Não muito longe está a sede da Tencent. Atravessando a rua há o primeiro dos vários ecrãs que mostram

todos os poderes de reconhecimento facial aplicados ao trânsito e capazes de assinalar imediatamente quem está fora de linha. Uma cena que faz tanta revolução aos olhos ocidentais, mas que é percebida de uma forma completamente diferente pelos chineses. Na Innoway existem robôs, sistemas de reconhecimento facial para máquinas automáticas de snacks, sensores, câmaras inteligentes, assistentes de voz capazes de sustentar uma conversa humana. A Xiaomi, agora um gigante no mercado dos smartphones e que apostou na IA, produziu um há dois anos, e diz-se que é surpreendente. O futuro vai ser esse, como na série de TV “The Expanse”, em que vamos passar o nosso tempo a pedir directamente à IA que nos mostre respostas aos nossos pedidos ou como Ian McEwan diz em “Machines Like Me:ANovel”, poderíamos ter robôs, verdadeiros “amigos” capazes de facilitar as nossas vidas (ou inserir nos nossos caminhos mentais perguntas perturbadoras, graças à sua capacidade de avaliar num nanossegundo milhares de dados dispersos na rede). O que mais se esconde dentro dos escritórios da Innoway é que constitui a verdadeira riqueza desta estrada de pouco mais de duzentos metros, o trabalho incessante de criação, melhoramento, controlo e verificação de todas aquelas aplicações capazes de invadir o mercado e de proporcionar à China um novo potencial em termos de cidades inteligentes e processos industriais. Ali experimentam algoritmos capazes de automatizar fábricas, de operar veículos automotores (especialmente ao nível da gestão logística complexa ou dos transportes públicos ou de longa distância), sistemas de vigilância capazes de regular o tráfego urbano (e, claro, de controlar o trânsito dos habitantes em todos os pormenores). Desta forma, estão a ser procuradas soluções para as cidades chinesas do futuro. A Innoway representa a China bem lançada para uma liderança tecnológica que vai enriquecer muitos e provavelmente permitir viver em cidades mais seguras, limpas e arrumadas, sendo capaz de desenvolver uma forma hipertecnológica de “controlocracia”. A Innoway está dentro da área de Zhongguancun, já no passado o centro tecnológico da China, da Lenovo e das grandes empresas capazes de entrar nos mercados internacionais graças ao pacote de hardware e ao trabalho exaustivo e meticuloso dos trabalhadores. A história de Zhongguancun intersecta a da China e representa melhor a transformação do país de “fábrica do mundo” em potência tecnológica capaz de investir, animando o seu mercado interno e as principais cidades chinesas a tornarem-se cada vez mais “inteligentes”, concentrando-se na IAe nos “Grandes Dados” aplicados a algumas questões-chave exigidas pelo governo como a mobilidade, controlo, segurança e automação industrial. Outrora um cemitério abandonado, no final dos anos de 1990 Zhongguancun era ainda uma pequena aldeia e a sua transformação, que teve lugar no final dos anos de 1970. Presentemente, graças à presença territorialmente próxima de Beida

(a Universidade de Pequim) e Tsinghua que é o berço de gigantes tecnológicos e de estrelas chinesas de sucesso.Aqueles que trabalham na Innoway não têm dúvidas, pois um engenheiro chinês especializado em IA ganha mais do que um homólogo ocidental. A transformação dos anos de 1990 para hoje tem sido sensacional, também graças ao apoio político. O governo decidiu investir, consciente de que o processo tecnológico chinês necessitava de alguns elementos fundamentais, como uma área onde diferentes tipos de inovação, engenheiros, programadores, gestores e dinheiro pudessem coexistir. Em 2014 o governo investiu cerca de trinta e seis milhões de dólares; em 2015 houve a visita do primeiro-ministro Li Keqiang e desde a sua “inauguração” a Innoway actuou como uma “incubadora” de três mil empresas em fase de arranque, das quais trezentas e cinquenta e cinco são estrangeiras. Mais de mil empresas iniciantes angariaram fundos no valor de mais de quatro mil milhões de dólares (em toda a área de Zhongguancun, existem mais de nove mil empresas de alta tecnologia). Apesar do recente abrandamento da economia chinesa, devido a vários factores, nomeadamente o choque comercial com os Estados Unidos e a Covid-19, parece ter afectado pouco mesmo a parte mais avançada da mesma, e o ar que se respira nesta área tecnológica parece diferente do resto da cidade. Também porque a Innoway é a bandeira de toda a região de Zhongguancun pois é aqui que vivem as mais promissoras start-ups, incubadoras de empresas, investidores, programadores e engenheiros do país. É por aqui que as empresas estrangeiras devem passar para encontrar fundos e lançar projectos hitech. A rua alterna entre pequenos edifícios que nos primeiros andares existem maioritariamente livrarias e cafetarias onde rapazes e raparigas (a idade média é muito baixa e faz esquecer por um momento os problemas devidos ao envelhecimento da população, agora um dos problemas mais importantes para a liderança) comem rapidamente uma refeição ou estão envolvidos em reuniões. Em alguns casos no rés-do-chão há exposições dos produtos mais inovadores, como no caso do Baidu, que tem aqui o seu Laboratório de IA. Depois sobem para os pisos dos escritórios, normalmente introduzidos por salas com mesas e sofás, muitas vezes equipadas com secretárias, porque a tendência é encorajar ao máximo o co-trabalho. É um ambiente onde muitas empresas estrangeiras também procuram inspiração (e talento), mas é especificamente chinês. Neste ambiente apertado, limpo e estimulante, há pelo menos vinte eventos por semana como apresentações, palestras e trabalho em rede. A tecnologia poderá facilitar a vida, tornando as cidades chinesas mais seguras. E o sonho de viver numa cidade tão ordenada, limpa e organizada e com muito menos habitantes do que a actual megalópole chinesa parece reunir programadores e engenheiros.Aresposta chinesa ao actual desafio tecnológico com os Estados Unidos é de que não se pensa na América, mas de que a China necessita deste processo.


O excesso de estudo provoca erro, confusão, melancolia, cólera e fastio. PALAVRA DO DIA Pietro Aretino

Covid-19 MNE da Hungria com resultado positivo à chegada à Tailândia

Porto Rui Moreira defende medidas urgentes para travar pandemia da covid-19

O

PUB

ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjarto, teve resultado positivo no teste à covid-19 que realizou à chegada à Tailândia, onde se deslocou em visita oficial, anunciaram ontem as autoridades dos dois países. Segundo o ministro da Saúde tailandês, Anutin Charnvirakul, o chefe da diplomacia da Hungria e os 12 membros da delegação húngara foram testados na terça-feira, quando chegaram ao país, vindos do Camboja, mas só Szijjarto teve resultado positivo. O ministro húngaro, que realizou o teste duas vezes, foi enviado para o Instituto de Doenças Infecciosas da Tailândia, enquanto aguardava o voo de regresso à Hungria. O resto da comitiva deverá regressar noutro avião. A agência de notícias húngara MTI confirmou que Szijjarto está infectado com o novo coronavírus, citando um porta-voz, mas indicou que o ministro foi testado antes de iniciar o périplo na Ásia, no mês passado, tendo nessa altura tido resultado negativo. A delegação húngara deveria realizar uma visita oficial de dois dias à Tailândia, com o objectivo de reforçar as relações económicas entre os dois países, mas todos os encontros agendados foram anulados, incluindo com o primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha. No Camboja, onde esteve durante um dia, Szijjarto inaugurou uma delegação da Embaixada da Hungria no vizinho Vietname e assinou acordos económicos de cooperação. Nessa altura, encontrou-se com o primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, e com os ministros dos Negócios Estrangeiros, Agricultura e Comércio. De acordo com fotos da visita, o ministro húngaro e alguns dos ministros do Camboja não usaram máscara nos encontros.

quinta-feira 5.11.2020

A roer as unhas Norte-americanos acordaram sem saber quem será o próximo Presidente

O

S norte-americanos acordaram ontem sem conhecer um vencedor nas eleições presidenciais, quando estados considerados cruciais para um desfecho ainda não tinham terminado a contagem de votos. Até ao fecho da edição, Joe Biden contava 238 delegados no colégio eleitoral, contra 213 de Donald Trump. O número mágico que vai ditar o próximo ocupante da Casa Branca são 270 delegados. Com dezenas de milhões de voto por correspondência, por causa da pandemia de covid-19, a contagem de votos em vários estados vai prolongar-se ainda durante várias horas e, noutros, durante alguns dias, adiando a proclamação de um vencedor das eleições presidenciais que opõem o republicano Donald Trump ao democrata Joe Biden. O Presidente Trump já ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal, para impedir que sejam considerados votos que tenham chegado depois do encerramento das urnas, o que poderia afectar a contagem em estados decisivos como a Pensilvânia, onde os tribunais permitiram que sejam admitidos votos até sexta-feira. A candidatura do democrata Joe Biden já respondeu que está preparada para lutar em tribunal contra as pretensões de Trump, aconselhando os norte-americanos a “ter paciência” para aguardar

por toda a contagem de votos. Estados como a Florida já tinham começado a contagem de votos antecipados, pelo que ontem foi possível declarar Trump como vencedor nesse importante círculo. No entanto, estão ainda em aberto os cenários de vitória final para qualquer um dos candidatos. A abundância de votos por correspondência também pode levar a problemas jurídicos que podem ser arrastados para os tribunais, apesar de o atraso na contagem não ser uma situação inédita, tendo ocorrido em numerosas eleições anteriores. “Nós já sabíamos que iria haver muitos votos por correspondência, pelo que é natural que a contagem demore um pouco mais”, avisou Joe Biden na terça-feira, antecipando as críticas do adversário republicano. Trump passou as últimas semanas a levantar a suspeição sobre a

“Se o Presidente cumprir a sua ameaça de ir aos tribunais para impedir a contagem de votos, temos equipas de juristas prontas para resistir.” JEN O’MALLEY DILLON DIRECTORA DE CAMPANHA DEMOCRATA

transparência das eleições perante um elevado número de votos por correspondência, falando mesmo na hipótese de “fraude eleitoral”, uma expressão que repetiu ontem para acusar os democratas de estarem a tentar “roubar as eleições”. “Se o Presidente cumprir a sua ameaça de ir aos tribunais para impedir a contagem de votos, temos equipas de juristas prontas para resistir”, respondeu a directora de campanha democrata, Jen O’Malley Dillon.

O presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, defendeu ontem que são precisas “medidas urgentes”, como o incremento dos transportes públicos, para travar a propagação da covid-19 que é na região “muito preocupante”. “Creio ainda assim que são precisas medidas urgentes, há coisas que são absolutamente necessárias fazer. O incremento dos transportes públicos é uma medida relevante”, afirmou o autarca, à margem da apresentação de um livro no Porto. Em declarações aos jornalistas, Moreira sublinhou que o transporte público é para a cidade do Porto e para a região “muito importante”, na medida em que há “muitas pessoas que não podem ficar confinadas em casa”, nem fazer teletrabalho. O independente não escondeu que os números de infectados com SARS-Cov-2, o vírus que provoca a covid-19, registados nas últimas semanas “são muito preocupantes” e demonstrou apreensão com a capacidade de resposta dos hospitais. Portugal registou ontem 7.497 novos casos de infecção.

VOTOS DECISIVOS

Os republicanos estão também preocupados com o facto de Joe Biden ter vencido no Arizona, um estado tradicionalmente conservador e que Trump tinha vencido com facilidade nas eleições de 2016. Para manter as ambições de reeleição, o Presidente conseguiu importantes vitórias na Florida e no Texas, afastando a possibilidade de os democratas começarem cedo a ter uma vantagem decisiva. Os analistas dizem que os resultados finais apenas ficarão esclarecidos quando forem conhecidas as contagens em três importantes estados do norte: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Os três demorarão a concluir as contagens por causa de regras estaduais que obrigaram a aguardar pelo fecho das urnas para fazer a contabilização de todos os votos.

Futebol Maradona operado com sucesso a hematoma subdural

O ex-futebolista Diego Maradona foi operado com sucesso na terça-feira à noite a um hematoma subdural detectado de manhã durante um ‘check-up’ geral, disseram fontes médicas citadas pela agência de notícias EFE. Maradona, de 60 anos, tinha sido internado na segunda-feira, anémico, desidratado e deprimido. “A operação terminou, a primeira avaliação é de que foi bem-sucedida e o coágulo podia ser removido”, acrescentaram as mesmas fontes. O campeão mundial pela seleção da Argentina em 1986 no México foi operado numa clínica na província de Buenos Aires.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.