Hoje Macau 5 DEZ 2016 #3710

Page 1

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SEGUNDA-FEIRA 5 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3710

MOP$10

LAG 2017

´ DA LINGUA ´ A´ SAUDE

hojemacau

PÁGINAS 4-6

OPINIÃO EPM

BIENAL JAMES WONG REPRESENTA MACAU

Valores RUI FLORES

CHINA

Quem te avisa... RUI RASQUINHO

PÁGINA 13

É conhecido entre os alunos como o “padrinho do ensino artístico”. Uma alcunha que James Wong encara com um sorriso ao fim de 25 anos a dar

aulas. Dividido entre a criação e o ensino, o artista rejeita fórmulas, embora se defina como um preguiçoso pouco prolífero. Macau já tem representante.

CASO HO CHIO MENG

DÁ-ME TEMPO

HOJE MACAU

EVENTOS

PÁGINA 7

h

Fonte da bizarria VALÉRIO ROMÃO

Pintores antigos AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

YAO ZUI

BOTÂNICA

O TRILHO ASIÁTICO ENTREVISTA

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Padrinho em Veneza

MANUEL GOUVEIA


2 ENTREVISTA

ANTÓNIO GOUVEIA “TRILHO DOS NATURALISTAS” CHEGA A MACAU E A TIMOR-LESTE

Ainda Portugal era uma monarquia quando a Corte decidiu enviar naturalistas da Universidade de Coimbra até às colónias para recolher a ilustrar exemplares de plantas. Estes percursos estão registados nos quatro documentários do projecto “Trilho dos Naturalistas”, coordenado por António Gouveia, que já pensa num novo plano que retrate a botânica do império português a Oriente “Os ecossistemas costeiros, como o mangal da Taipa, são dos mais frágeis.”

Apresentam amanhã o documentário do “Trilho dos Naturalistas” sobre Angola na Casa Garden. Como surgiu a oportunidade de trazer este projecto a Macau? Foi um convite do This Is My City para que viéssemos falar deste projecto e escolhemos um dos documentários. Sou director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e tudo isto começou com a iniciativa da Ciência Viva, que abriu um concurso para colmatar a falta da ciência nos media. Pediram propostas às universidades com conteúdos científicos e nós apoiamos, com parcerias dos media. Tínhamos uma quantidade de material histórico interessante sobre uma série de expedições que a UC fez ao longo dos séculos. De repente tínhamos material que falava das expedições botânicas para literacia económica e para investigação científica, entre o século XVIII até ao século XX, do que foram as colónias portuguesas. Foi uma iniciativa da coroa portuguesa que mandou vários naturalistas para o Brasil, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Em 1783 fizeram-se então as primeiras expedições realizadas de forma mais científica. Decidimos pegar nesse material e ir conhecer os países, pois o material ainda tem importância científica. Muita informação da botânica de países como Angola, São Tomé e Príncipe ou Cabo Verde, recolhida ao longo dos séculos, ainda está em Portugal, em armários. É preciso levar a informação para os países de origem? Após a independência esses países passaram por períodos bastante complicados, com a guerra colonial e a guerra civil, e não tiveram tempo para olhar para os seus recursos biológicos. É uma informação de base importante, ainda com algumas lacunas, mas que é necessária para o avanço do conhecimento desses países. Está a ser feito um trabalho de digitalização e a informatização de bases de dados, para fazer com que haja essa transferência de conhecimento. É como se, nessa área, Portugal ainda fosse a metrópole.

HOJE MACAU

“Em todo o lado há áreas que estão a ser ameaçadas”

Historicamente sim, há uma manancial de informação em Lisboa e também em Coimbra, onde se foi acumulando informação por diversas entidades. Em Angola a própria definição actual de parques naturais ainda reflecte o que eram os parques naturais do tempo colonial. Este olhar histórico permite pensar como se fazia ciência e como eram as práticas botânicas no século XIX, em que havia uma série de cientistas a trabalhar nesses territórios e a comunicarem entre si. Temos material de Angola que foi parar a Berlim, Inglaterra,

e material a circular. Ao mesmo tempo, com a ida aos países para a realização dos documentários, fomos confrontados com os ecossistemas e as pessoas que vivem nas zonas. Em todo o lado há áreas que estão a ser ameaçadas. Que ecossistemas das antigas colónias estão mais em risco? É muito diferente de país para país. Os ecossistemas costeiros, como o mangal da Taipa, são dos mais frágeis. Moçambique tem uma costa gigante, com mangais, uma zona muito rica onde as pessoas

extraem muita madeira, onde há a pesca...em Portugal também há problemas e há que encontrar um equilíbrio para uma utilização sustentável dos recursos entre as populações. Em Angola, com a guerra, há muitas zonas que ficaram abandonadas e com um crescimento quase natural de vegetação, até de recuperação. Os problemas são variados e é preciso exaltar o que é importante. No documentário de Angola conseguimos ir de florestas tropicais de chuva até ao deserto. Foi um processo incrível e tentamos fazer estes quatro filmes


3 hoje macau segunda-feira 5.12.2016 www.hojemacau.com.mo

“A nossa ideia é vir, séculos depois, trabalhar nesta parte do mundo. Estamos neste momento no processo de pesquisa de mais uma série documental, que inclui Cabo Verde, Macau, Timor, Guiné Bissau e os ‘arquipélagos do conhecimento’ que incluem Goa e o antigo Ceilão (actual Sri Lanka).”

“Muita informação da botânica de países como Angola, São Tomé e Príncipe ou Cabo Verde, recolhida ao longo dos séculos, ainda está em Portugal, em armários.”

da UC e o museu tiveram um director durante 40 anos, Júlio Henriques, que fez essa rede com as antigas colónias. Construiu uma sociedade de naturalistas para a troca de plantas. Em 1879 ele escreve para o Governo de Macau a pedir uma colecção de produtos feitos a partir de plantas. Nessa altura havia o conceito de botânica económica, e de certa forma ainda continua a existir. Tudo tinha um sentido ou uma utilização económica. Sim, no sentido de os produtos vegetais serem transformados e comercializados. Existia na UC a secção de botânica económica, com resinas, placas que mostram como era usada a borracha, fibras de linho. E o que foi enviado de Macau? O Governador na altura deu essa tarefa ao secretário geral do Governo, chamado José Alberto Corte-Real, que reúne essa colecção. Há uma listagem publicada no boletim da província de Macau e de Timor bastante detalhada. Eram quase 600 objectos, e logo na primeira carta ele avisou de que a maioria eram produtos feitos com bambu. Enviou cestos, peneiras, um pequeno cesto para criação de pássaros, balanças para pesar o ópio. Há também muito chá, vários tipos de arroz, tabaco. Envia plantas e alguns animais. Mais tarde, em 1882, decidem ir a Timor. Perceberam que, se não sabiam bem o que havia em Macau, então Timor era um completo desconhecimento. Então José Alberto Corte-Real incumbe outra pessoa de fazer uma recolha e essa informação foi toda para Portugal. É uma colecção muito rica em termos etnográficos, porque todos os objectos têm a ver com a cultura e mostram quais eram os interesses e conhecimentos na altura. Quando vão começar a fazer esses documentários? Neste momento só temos orçamento para a pesquisa.

misturando a informação histórica, mas depois confrontámo-nos com a realidade actual, e isso ganhou preponderância. O naturalista Joaquim José da Silva esteve em Goa, mas nunca veio até Macau. Não. Nessa altura Macau e Timor estavam sempre um pouco afastados destes percursos. Fizemos estes quatro documentários mas decidimos focar-nos nos países do continente africano, porque tínhamos mais material sobre eles. Macau surge sempre como um

interposto para o que nos interessa em Timor. Havia um grande desconhecimento na altura sobre esta zona do mundo? Sim, e ainda há, de certa maneira. Relativamente a Timor ainda há um grande desconhecimento. O grande recurso que interessava economicamente a Timor era o sândalo, e foi bastante explorado. A nossa ideia é vir, séculos depois, trabalhar nesta parte do mundo. Estamos neste momento no processo de pesquisa de mais uma série documental, que

inclui Cabo Verde, Macau, Timor, Guiné Bissau e os “arquipélagos do conhecimento” que incluem Goa e o antigo Ceilão (actual Sri Lanka), em que havia essa troca de informações e por onde passaram portugueses. Uma coisa que me interessa muito pegar é no Garcia de Horta, com os colóquios que fez em Goa. De que forma é que surgirá Macau neste novo documentário? No século XIX, até 1896, Timor estava na província de Macau, e todas as ligações passavam por aqui. Em 1880, o jardim botânico

Têm ponderadas parcerias com entidades de Macau? Esperemos que sim, estamos a trabalhar nisso. Vamos passar o documentário na Casa Garden, e penso que para a Fundação Oriente fará sentido (apoiar o projecto). Mas ainda temos de confirmar isso. Estamos no processo de estabelecer ligações. Numa altura em que a China e Macau têm relações mais próximas com Portugal, é importante ter este conhecimento do que existe aqui em termos de botânica. Sim. Macau não nos interessa propriamente do ponto de vista biológico mas também sabemos que já teve vegetação natural. É um

tipo de informação histórica que também importa olhar e repensar. O pouco que resta da botânica em Macau está em perigo? É preciso ser estudado? Conheço muito pouco, mas imagino que seja necessário, por ser uma zona com uma grande densidade populacional e com uma grande pressão imobiliária. Tudo o que aqui existe deve ser pouco e deverá ser conhecido. Ainda há um desconhecimento da realidade local e da costa litoral, até da China. Há registos históricos de passagens pela China, uma vez que houve vários jesuítas a viajarem para este lado do mundo? Sim. O Manuel Galvão da Silva esteve em Goa, em 1783, até 1787. Mas antes houve um padre jesuíta, João de Loureiro, que foi o primeiro europeu a fazer uma flora, a flora da Cochinchina, actual Vietname, e fez algumas recolhas já no território chinês. Publicou informações, que ainda hoje são uma referência, sobre uma série de plantas do oriente. É a primeira flora do oriente na Europa. Quando partiu, em 1781, parou depois na ilha de Moçambique, onde fez também recolhas botânicas, as primeiras da costa oriental africana, que publica em conjunto com a flora da Cochinchina. Publicou isso na Academia das Ciências, em Lisboa. Durante as invasões francesas em Portugal o General Junot enviou um naturalista, o director do Museu de História Natural de Paris, a dar uma volta pelas colecções portuguesas e a levar o que conseguisse. Então nesse momento essa colecção está em França. A colecção do padre João de Loureiro está toda no Museu de História Natural de Paris. Digitalizaram tudo e todas as plantas recolhidas podem ser vistas online. Portugal despertou tarde para o estudo da botânica do império? Portugal começou a ter essa dinâmica mas nunca foi uma coisa feita de forma sistematizada. A seguir a esse período do século XIX começam as invasões francesas e as guerras liberais. E muito material se perdeu por aí. Sim, e as preocupações não eram científicas. A botânica e o conhecimento botânico das ex-colónias só começaram a ser pensadas a partir de 1870 porque havia de novo alguma estabilidade. Entre o pai da botânica portuguesa, o Avelar Brotero, até ao Júlio Henriques, não há nenhum botânico português que se destaque. Falamos de um interregno de quase 60 anos. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

Ter professores de Macau a ensinar mandarim nas escolas portuguesas pode vir a acontecer. A sugestão deixada na Assembleia Legislativa foi bem acolhida por Alexis Tam. A introdução do ensino de português nas escolas de ensino geral e a promoção do ensino do cantonês também foram consideradas

LAG 2017 MACAU PODE VIR A TER PROFESSORES NO ENSINO DE CHINÊS EM PORTUGAL

Ocidente de percurso

considerada como uma boa saída profissional por parte dos próprios pais das crianças. “A disciplina de português não será obrigatória nas escolas, mas sim opcional, e vamos dar o apoio para que todos tenham oportunidade de fazer cursos de português porque é uma opção valiosa”, afirmou Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).

GCS

POLÍTICA

“Em Macau precisamos de 200 tradutores, mas a China vai precisar de muito mais e não queremos formar pessoas só para Macau.”

O

desejo de levar os professores de Macau a ensinar chinês em Portugal foi manifestado por alguns deputados no segundo e último dia de debate das Linhas de Acção Governativa na área dos Assuntos Sociais e Cultura. Alexis Tam considerou tratar-se de “uma boa sugestão”. A deputada Angela Leong questionou Alexis Tam acerca da formação de quadros bilingues, além do ensino do português aos alunos de Macau. “Tem havido a promoção da área para criar um centro de intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa. O secretário falou na colaboração com instituições da China Continental e no incentivo dos estudantes do Continente para aprenderem português em Macau, mas podemos reforçar a aprendizagem do chinês para estudantes de língua portuguesa”, sugeriu. Na resposta, o secretário reiterou que “Macau é um lugar privilegiado para o ensino das duas línguas, português e chinês”. “Perguntaram-me se é possível levarmos professores de Macau para ensinar chinês em Portugal. Acho que é boa sugestão. Sei que Portugal já acolhe professores chineses vindos da China para ensinarem mandarim”, disse o governante.

ALEXIS TAM SECRETÁRIO PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA

O desenvolvimento do ensino do português já pode ser constatado, segundo Alexis Tam, que dá como exemplo o papel do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “Este ano autorizei ao IPM a admissão de alunos dos países de língua portuguesa para virem frequentar cursos de mandarim. O resultado é muito bom, cerca de cem alunos estão a frequentar cursos de chinês em Macau. A Universidade de Macau também vai criar um centro de bilingues de chinês e português”, ilustrou.

PREOCUPAÇÕES SÚBITAS

O deputado José Pereira Coutinho questionou o Governo

acerca da recente preocupação com a ausência de tradutores. O secretário para os Assuntos Sociais e a Cultura respondeu que o Executivo “dá muita importância ao ensino do português e o facto de dar mais importância agora tem que ver com a necessidade”. “Em Macau precisamos de 200 tradutores, mas a China vai precisar de muito mais e não queremos formar pessoas só para Macau. Queremos que os nossos formandos sejam a ponte entre a China e os países lusófonos”, reiterou. Alexis Tam alertou, porém, que a formação de quadros

ENSINO TÉCNICO-PROFISSIONAL PODE SER REVISTO A directora dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Leong Lai, admitiu rever o diploma que contempla o ensino técnicoprofissional. Confrontada pelos deputados com a necessidade em apostar no ensino direccionado para a aprendizagem de capacidades técnicas e motivação dos residentes para ingressarem

em cursos profissionais, Leong Lai referiu que “há necessidade de rever este diploma e é muito importante ter uma coordenação entre o sector profissional e as instituições académicas”. No entanto, o problema reside em atrair os alunos para esta opção e a prioridade passa pela alteração de mentalidades, para

que as famílias considerem que o ensino profissional não é menor do que o universitário. “Além dos trabalhos com as escolas e alunos vamos lançar uma consulta em 2017 acerca deste regime técnico-profissional e perceber como proporcionar as melhores condições e as melhores saídas”, afirmou a directora.

qualificados não é um processo imediato. “Não se conseguem numa geração, são precisas mais. Vamos atribuir mais meios e recursos para o ensino de português e não é um objectivo só do Governo de Macau, mas sim um projecto que conta com o apoio do Governo Central e dos países de língua portuguesa.”

PORTUGUÊS OPCIONAL

A inclusão da língua portuguesa nos currículos das escolas do ensino não superior é bem acolhida pelo Governo, desde que em regime opcional, porque a língua portuguesa é cada vez mais

Leong Lai admitiu ainda que o ensino do português, chinês e inglês era visto como um grande encargo para as crianças. No entanto, são os pais que “têm cada vez mais interesse em levar os seus filhos a aprender português porque sabem que tem um bom futuro”. O Governo menciona ainda o ensino de cantonês salientando a necessidade da sua promoção em Portugal. “Na altura da Administração portuguesa, a missão de Macau em Portugal tinha já cursos de cantonês para portugueses, não sei se ainda estão a funcionar. Se não, espero que os serviços competentes pensem nisto”, rematou Alexis Tam. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


5 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

A

subida do orçamento para a saúde é justificada pelo Governo com as despesas em medicamentos. O deputado José Pereira Coutinho foi um dos críticos do crescimento do orçamento destinado aos Serviços de Saúde de Macau (SSM). “O aumento é muito grande, será que devemos gastar assim o nosso dinheiro?”, questionou o deputado. Pereira Coutinho falou também das despesas que envolvem o Hospital das Ilhas em que “um hospital já vai no custo de dois”. Song Pek Kei, depois de elogiar o trabalho da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura, também apontou a saúde como uma das maiores preocupações. “Temos 8,1 milhões de investimento na área da saúde. Se o Governo conseguir prestar todos os cuidados de que a população necessita, ninguém vai reclamar, mas se não conseguir, vai ser muito criticado”, avisou. A deputada chamou ainda a atenção para o aumento de casos de cancro que precisam de assistência e para a necessidade de médiPUB

“Queremos que a população consiga ser curada através da administração de medicamentos de alta qualidade.” ALEXIS TAM SECRETÁRIO PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA

Saúde mais delicada Aumento de despesa justificado com compra de novos medicamentos

cos e enfermeiros, salientando que “há um desequilíbrio no sector”.

MAIS DINHEIRO PARA TRATAR MELHOR

Alexis Tam referiu que as grandes despesas da saúde são, em muito, devido à

aquisição de novos medicamentos, nomeadamente para o tratamento da Hepatite C. “Queremos que a população consiga ser curada através da administração de medicamentos de alta qualidade. Por isso, aumentámos as nossas as despesas e no

orçamento verifica-se esta intenção de melhorar os serviços médicos”, apontou. O secretário não deixou de referir que o seu departamento “tem em conta o controlo do erário público, em que o sistema de saúde respeita os diplomas legais que

já constavam da Administração portuguesa”. “Temos os cuidados primários que são universais e abrangem toda a população”, explicou. Alexis Tam salvaguardou que o dinheiro público não anda a ser mal gasto. “O que estamos a fazer é um trabalho que vai ao encontro das expectativas da população. Os residentes querem mais investimento público e é aí que estamos a fazer mais”, sendo que “não estamos a meter dinheiro público no bolso – pelo contrário, estamos a gastá-lo na vida da população”. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

POLÍTICA VALES CADUCADOS

Perante as queixas relativas ao uso de vales de saúde de pessoas que já morreram e da responsabilidade do Governo nesta matéria, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, afirmou que cabe aos médicos conferir a identificação dos utentes. São 27 os casos de uso irregular destes vales; cinco deles envolviam pessoas falecidas. “Ainda vamos acompanhar estes casos. Já recuperámos cerca de 40 mil e estamos a investigar outros casos de irregularidades, vamos recuperar estes montantes nos termos da lei”, referiu.


6 POLÍTICA

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

Cozinha do mundo

Macau vai ser candidata a cidade gastronómica da UNESCO

A

LAG 2017 APOIOS A IDOSOS E A PORTADORES DE DEFICIÊNCIA AUMENTAM

Novo regime a caminho Mais apoio à população idosa, aos portadores de deficiência e às suas famílias foi a promessa deixada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Um novo regime de protecção aos mais velhos, mais vagas em lares e apoio domiciliário são algumas das medidas de Alexis Tam

O

regime de protecção dos direitos dos idosos já foi aprovado pelo Conselho Executivo e dará entrada em breve na Assembleia Legislativa. A informação foi adiantada na sexta-feira pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Com a criação do diploma, o governante pretende juntar as leis avulsas numa só, mais abrangente. “Conseguimos fazer uma optimização de diplomas dispersos e agrupámos num só documento, de modo a abranger todas as matérias que se encontravam dispersas em diplomas avulsos”, explicou o secretário. A resposta é dada aos deputados que se manifestaram, no debate das Linhas de Acção Governativa, preocupados com o envelhecimento da população e com as medidas para proteger esta faixa etária. “Os serviços prestados aos idosos são suficientes e satisfa-

zem as necessidades de todos os utilizadores? Como é que fazemos um plano melhor de apoio aos idosos?”, questionou o deputado Au Kam San. Na resposta, Alexis Tam disse que Macau já tem infra-estruturas para o acolhimento de idosos, mas admite que ainda há trabalho a ser feito. “Temos lares de idosos, mas ainda não são em número suficiente e por isso vamos construir mais”, apontou. Actualmente existem dez lares subsidiados pelo Governo e dez instituições não subsidiadas. “Os que são apoiados pelo Executivo têm 1180 vagas e os particulares têm 505, mas temos um plano que visa acrescentar mais vagas: prevemos ter mais 700 lugares até 2017 de modo a atingir um total de 2300”, referiu.

OUTROS CUIDADOS

Os cuidados aos portadores de deficiência e o apoio às suas famílias foram também alvo de preocupação dos deputados,

sendo que Alexis Tam apontou as medidas que a sua tutela tem vindo a tomar. “Temos reforçado as medidas para apoiar as famílias que cuidam dos seus idosos, o que também acontece com aquelas que têm elementos portadores de deficiência”, disse o secretário. Em números, o Governo apoia sete instituições que acolhem portadores de deficiência, e que prestam apoio a 560 pessoas. Na calha está a criação de mais 186 lugares, o que engloba 70 por cento dos portadores de deficiência adultos no território.

“Temos lares de idosos, mas ainda não são em número suficiente e por isso vamos construir mais.” ALEXIS TAM SECRETÁRIO PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA

De destaque foi também o papel do Executivo no apoio domiciliário. Alexis Tam deixou a promessa de “um estudo de prestação de assistência ao domicílio para reduzir a pressão das famílias com membros portadores de deficiência”. Questionado pela deputada Angela Leong acerca das medidas para as crianças e da possível inclusão de instalações de ensino especial no projecto “céu azul”, o secretário confirmou que a iniciativa já está em curso e que a escola da Cáritas já tem instalações dentro do projecto. “Além das crianças que não tem deficiências, queremos que os portadores de deficiências também beneficiem deste projecto”, rematou. O “céu azul” é uma iniciativa que se encontra a decorrer e que tem por objectivo a deslocação das escolas que funcionam em pódios para instalações mais adequadas. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

candidatura de Macau a cidade gastronómica da UNESCO vai para a frente. A informação foi adiantada, na Assembleia Legislativa, por Alexis Tam. “Vamos candidatar-nos à lista de cidades gastronómicas da UNESCO”, afirmou. Para o secretário dos Assuntos Sociais e da Cultura, Macau beneficia de várias condições vantajosas para o projecto, porque tem uma “posição geográfica muito vantajosa e muitas entidades ligadas à gastronomia”. A diversidade das receitas do território é uma mais-valia, bem como a ajuda da própria comunidade macaense. A questão da candidatura de Macau a cidade gastronómica já tinha sido abordada por vários deputados na quinta-feira. A resposta veio no dia seguinte, na sequência da intervenção do deputado Leonel Alves. “O que tenciona o Governo fazer para a promoção e internacionalização da gastronomia de Macau, com a UNESCO, por exemplo?”, questionou o deputado. Para Leonel Alves é necessário preservar a gastronomia local e promover a cozinha de Macau dentro do projecto de diversificação cultural e turística do território. “É preciso atrair as pessoas para virem a Macau ensinar os macaenses. Outrora era uma cozinha familiar e hoje pode ser encarada enquanto indústria”, afirmou, de modo a salientar a urgência no ensino nesta área.

ENSINAR PARA PRESERVAR

O deputado notou ainda que “já há várias compilações com receitas macaenses e que são mais de 200 as já incluídas em livro”. “Há que aproveitar esta riqueza cultural que temos, e encontrar caminhos para promover e divulgar a comida macaense no resto do mundo”, rematou. Alexis Tam referiu ainda que, “através desta candidatura, Macau pode mostrar que é uma cidade pacífica, coesa e multicultural, e que é desejo do Governo a passagem do conhecimento gastronómico para as gerações vindouras. “Também queremos que a cultura gastronómica seja passada de geração em geração, e que a gastronomia macaense, portuguesa e mesmo do Sudeste Asiático sejam tidas como de Macau.” S.M.

HISTÓRIA AUSENTE

N

o debate de sexta-feira das Linhas de Acção Governativa, o deputado Leonel Alves levantou a questão do ensino da história de Macau nas escolas. Referindo-se à importância da preservação da memória colectiva, Leonel Alves perguntou “qual o ponto de situação do ensino da história de Macau e o que é que o Governo tenciona fazer”. Para o deputado, e no caso do Governo sentir dificuldade em encontrar material didáctico, a sugestão é que “seja ensinada pelo menos a história dos monumentos”.


7 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

SOCIEDADE

BIBLIOTECA DO PATANE ABRE AO PÚBLICO ESTA SEXTA-FEIRA já esta sexta-feira, dia 9, que abre ao público a nova biblioteca pública na zona do Patane, após um longo projecto de recuperação dos edifícios levado a cabo pelo Instituto Cultural (IC), iniciado em 2011. No total são sete edifícios com “mais de 80 anos de história”, os quais

foram construídos na década de 30 do século passado, com o “estilo ‘arcada’, um estilo arquitectónico típico dos antigos edifícios costeiros do Porto Interior de Macau. Os edifícios em arcada têm uma forma arquitectónica que combina elementos tanto europeus como do sudeste

O antigo procurador entende que o presidente do Tribunal de Última Instância não deve fazer parte do colectivo que o vai julgar. Ho Chio Meng alega que Sam Hou Fai participou noutras fases da investigação do processo

asiático e actualmente existem apenas alguns exemplos destes edifícios em Macau”, explica o IC. O IC afirma ainda que o novo espaço destinado aos livros visa “disponibilizar mais espaço de leitura para os residentes de Macau mas também preservar e proteger

os edifícios de especial valor e significado dentro do desenvolvimento urbano”. Tudo para que “as próximas gerações possam conhecer mais sobre os preciosos edifícios históricos”. A nova biblioteca terá cerca de 150 lugares de leitura disponíveis, com a

leitura de livros, jornais, revistas e o acesso às colecções gerais, incluindo o acesso aos leitores mais novos. “A biblioteca é subordinada aos temas do cinema e da música, contando ainda uma zona de multimédia sobre cinema e música para a realização regular de con-

O papel de Sam Hou Fai em autoria ou co-autoria com outros nove arguidos, que vão ser julgados num processo conexo, marcado para 17 de Fevereiro, no Tribunal Judicial de Base.

A defesa pediu “a recusa da intervenção” de Sam Hou Fai por ser o mesmo juiz que presidiu, noutra fase do processo, à audiência sobre o pedido de ‘habeas corpus’

O

início do julgamento do ex-procurador da RAEM, marcado para hoje, foi adiado por a defesa de Ho Chio Meng ter pedido o afastamento do presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), onde vai ser julgado. Segundo um comunicado do tribunal, a defesa pediu “a recusa da intervenção” de Sam Hou Fai por ser o mesmo juiz que presidiu, noutra fase do processo, à audiência sobre o pedido de ‘habeas corpus’(libertação imediata) do ex-procurador quando Ho Chio Meng foi detido, ainda na fase de investigação. A defesa argumenta ainda, de acordo com o mesmo comunicado do TUI, que Sam Ho Fai foi também quem, na fase de inquérito, autorizou um pedido do Comissariado contra a Corrupção para ter acesso às declarações de rendimentos e património do arguido e da mulher. O início do julgamento fica cancelado para ser apreciado o requerimento da defesa, não havendo ainda nova data para a primeira audiência, explica o TUI. O TUI é a única instância que, em Macau, é chamada a decidir sobre processos que envolvem

certos e projecção de filmes e, entre outras actividades”, explica o IC. Situada na Rua da Ribeira do Patane, abre entre as 9h30 e as 20h30, de terça-feira a domingo, e das 14h00 às 20h30 horas à segunda-feira, com excepção dos feriados públicos.

Justiça ADIADO JULGAMENTO DE EX-PROCURADOR, HO CHIO MENG

GCS

É

Sam Hou Fai

titulares ou ex-titulares de cargos públicos. Esta característica do sistema judicial tem sido criticada por diversos sectores por causa de ser impossibilitado o recurso a quem é julgado em primeira instância.

AS OUTRAS QUESTÕES

O caso de Ho Chio Meng, que liderou o Ministério Público de Macau entre 1999 e 2014, é o segundo a confrontar o sistema com esta questão. O primeiro foi

o do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, detido há dez anos, a 6 de Dezembro de 2006. Apesar de essa impossibilidade de recurso ter sido contestada na sequência do caso Ao Man Long, e não obstante os apelos para ser alterada a Lei de Bases da Organização Judiciária, o cenário repete-se, dado que a prometida revisão da lei se encontra “em curso” há anos.

Na semana passada, questionada na Assembleia Legislativa, a secretária da Administração e Justiça, Sónia Chan, voltou a não comprometer-se em relação a uma mudança na lei, limitando-se a responder que o Governo vai “fazer estudos” sobre o assunto. Ho Chio Meng está acusado de mais de 1500 crimes, incluindo burla, abuso de poder, branqueamento de capitais e promoção ou fundação de associação criminosa,

O procurador da RAEM foi detido em Fevereiro deste ano por suspeita de corrupção na adjudicação de obras e serviços no exercício das suas funções no Ministério Público. O caso de Ho Chio Meng fez também renascer o debate em Macau em torno do estatuto dos magistrados e da falta de um instrumento de fiscalização da sua actividade. Em Março, o actual procurador, Ip Son Sang, defendeu a revisão do estatuto dos magistrados, a propósito da detenção do seu antecessor. “Temos de discutir o estatuto dos magistrados e também temos de analisar a situação actual dos magistrados, se estão a desenvolver ou a desempenhar as funções judiciárias”, afirmou. Meses depois, em Outubro, Ip Song Sang considerou que a caso é também um sinal de que na região se respeita o princípio do primado da lei, mesmo que possa levar “a que a sociedade ponha em causa o bom funcionamento do Ministério Público”. Lusa/HM


8 PUBLICIDADE

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

E X T R A C TO D E AV I S O Faz-se público que, de harmonia com o despacho do Secretário para a Segurança, de 06 de Julho de 2016, se acha aberto o concurso comum abaixo indicado, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento: • Em regime de contrato administrativo de provimento, de um lugar de assistente técnico administrativo de 1.ª classe, 2.º escalão (área da oficina de serralharia), da carreira de assistente técnico administrativo da Direcção dos Serviços Correccionais (Concurso n.º 2016/I04/AP/ATA). O aviso do concurso encontra-se publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 47, II Série, de 23 de Novembro de 2016, com o prazo de inscrição entre 24 de Novembro e 13 de Dezembro de 2016. Os interessados podem consultar o referido aviso, dentro das horas de expediente, no Centro de Atendimento e Informação da Direcção dos Serviços Correccionais (endereço: Avenida da Praia Grande, China Plaza, 8.º andar “A”, Macau) ou no Website da Direcção dos Serviços Correccionais: www.dsc.gov.mo. Para qualquer esclarecimento, é favor entrar em contacto, nas horas de expediente, através do tel. n.ºs 8896 1293 ou 8896 1218, com os trabalhadores da Divisão de Recursos Humanos. O Director da DSC Cheng Fong Meng 14/ 11 / 2016

PROF. HENRIQUE NOVAIS FERREIRA Missa de 30º dia Na Segunda-feira, dia 5 de Dezembro, passa 1 mês sobre a data do falecimento do Senhor Prof. Henrique Novais Ferreira, Prestigiado Consultor do LECM-Laboratório de Engenharia Civil de Macau desde a sua fundação e Sócio do Clube Militar de Macau. Na ocasião, por iniciativa do Laboratório de Engenharia Civil de Macau e do Clube Militar de Macau, vai ser mandada celebrar uma Missa de 30º dia em sua memória, a ter lugar na Sé Catedral de Macau, pelas 18:00 de Segunda-feira, dia 5 de Dezembro. Convidam-se os Amigos e Sócios do Clube Militar a participar neste Ritual religioso em memória e homenagem ao saudoso Professor Eng. Henrique Novais Ferreira.

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - - - - - - - - - - - - -

2.

3.

- -

Avenida dos Jardins do Oceano, n.ºs 83 a 147 e Avenida dos Jogos da Ásia Oriental, n.ºs 1276 e 1342, na Iha da Taipa, (Edifício Jardim Beira-Mar Lei Loi Tak); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 130 a 160E, na Ilha da Taipa, (Edifício Bela Vista); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 70 94 e Estrada de Sete Tanques, n.º 134, na Ilha da Taipa, (Edifício Esplendor); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 233 a 273, na Ilha da Taipa, (Edifício Magnífico); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 55 a 195, na Ilha da Taipa, (Edifício Majestade); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 229A a 229D, na Ilha da Taipa, (Edifício Maravilha); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 271 a 297, na Ilha da Taipa, (Edifício Panorama); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 315 a 501, na Ilha da Taipa, (Edifício Jardins de Lisboa); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 315 a 501, na Ilha da Taipa, (Edifício Jardins de Lisboa); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 1308 a 1460, na Ilha da Taipa, (Edifício O Pico); Avenida Dr. Sun Yat Sen, n.ºs 410 a 468 e Rua de Siu Heng, n.ºs 4 a 18, na Ilha da Taipa, (Edifício Wa Fung); Avenida de Kwong Tung, n.ºs 115 a 147 e Rua de Viseu, n.ºs 114 a 148, na Ilha da Taipa, (Edifício Fast Garden); Rua de Chiu Chau, n.ºs 28 a 90, Rua de Fat San, n.ºs 104 a 184, Rua de Bragança, n.ºs 313 a 363 e Rua de Aveiro, n.ºs 89 a 149, na Ilha da Taipa, (Edifício Kinglight Garden); Estrada da Ponta da Cabrita, s/n, na Ilha da Taipa, (Cemitério Hau Si); Avenida de Luís de Camões, n.ºs 18 a 216N, Beco de Lotus, n.ºs 12 a 170C e Estrada Nova de Hac-Sá, n.ºs 181 a 291, na Ilha de Coloane, (Edifício Hellene Garden – Lote I a VII).

Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 7 de Novembro de 2016.

O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong

ANÚNCIO [N.º 107/2016] Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar os candidatos de habitação económica abaixo indicados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome N.º do Boletim de candidatura LEONG SE WENG 82201320094 NG PAK HEONG 82201309510 CHIO MEI LAN 82201340595 LAM FAT 82201334327 WAN IOK KAM 82201323460 LEI NOI KIM 82201318717 LOU KA FAI 82201341019 HO MEI CHONG 82201319321

Dado que os candidatos acima indicados foram seleccionados na lista com a ordenação, nos termos do artigo 26.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, é necessário realizar-se a apreciação substancial, pelo que este Instituto informou os candidatos acima indicados, através de ofícios, para se dirigirem pessoalmente ao Instituto de Habitação (IH) às horas fixadas nos respectivos ofícios, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura, porém, os ofícios não foram recebidos e foram devolvidos. Assim, os candidatos acima indicados devem dirigir-se pessoalmente ao IH (junto da Escola Primária Luso-Chinesa do Bairro Norte), sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, antes do dia 6 de Janeiro de 2017, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura. Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da lei acima indicada, caso verifique que os candidatos não apresentem os documentos indicados, dentro do prazo fixado, os adquirentes seleccionados serão excluídos do concurso. Para mais informações poderão dirigir-se pessoalmente ao IH, nas horas de expediente ou consultar através do telefone n.o 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 1 de Dezembro de 2016 O Presidente, Arnaldo Santos


9 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

SOCIEDADE

Bons augúrios Fitch diz que sector do jogo em Macau está em longa recuperação

A

N

Anossa perspectiva, a proposta do Governo [cujos principais pontos foram apresentados na semana passada], para a declaração do transporte de numerário e instrumentos negociáveis ao portador acima de 120 mil patacas na fronteira, não vai ter um impacto significativo nas receitas de jogo”, observa Chelsey Tam, analista na Morningstar Asia, num comunicado citado pela Agência Lusa. Analistas da JP Morgan, citados pelo portal especializado em jogo GGRAsia, também consideram que a medida surge “realmente com vista à adopção de padrões internacionais no âmbito do combate à lavagem de dinheiro [e] não tem nada que ver com o controlo de capitais da China, nem visa a indústria do jogo”. “Acreditamos que não se trata de um ‘apertar’ das regulações nem para a indústria do jogo nem para a saída de capital da China para Macau, ao contrário do que alguns analistas possam temer”, sublinham DS Kim e Sean Zhuang. Os analistas da JP Morgan recordam ainda que, “legalmente, os chineses apenas podem transportar 20 mil yuan em cada visita ao exterior; pelo que este limite [120.000 patacas] é já

Análise DECLARAÇÃO DE DINHEIRO NA FRONTEIRA SEM IMPACTO

Jogo como sempre

Analistas consideram que a proposta de lei que obriga à declaração nas fronteiras do transporte de dinheiro no valor igual ou superior a 120 mil patacas não vai ter impacto nos casinos cinco vezes mais elevado do limite legal que os visitantes do interior da China têm de respeitar”.

OUTRO DINHEIRO

Além disso, acrescentam, os jogadores VIP “normalmente não transportam dinheiro quando cruzam a fronteira”, já que normalmente jogam a crédito ou utilizam outras formas de

financiamento facultadas pelos operadores ‘junket’. A proposta de lei, que segue agora para a Assembleia Legislativa, prevê que quem não cumprir o dever de declaração incorre em infracção administrativa, punível com multa de um a cinco por do valor que exceda o montante de referência, mas nunca inferior a mil patacas, nem superior a 500 mil.

Os analistas da JP Morgan recordam ainda que, “legalmente, os chineses apenas podem transportar 20 mil yuan em cada visita ao exterior; pelo que este limite [120.000 patacas] é já cinco vezes mais elevado do limite legal que os visitantes do interior da China têm de respeitar.”

A medida visa responder a uma das 40 recomendações no âmbito do combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo emitidas pelo Grupo de Acção Financeira (GAFI), que foram emitidas em 2012 e actualizadas em Outubro último. “A RAEM, como membro do Grupo Ásia-Pacífico contra o branqueamento de capitais necessita, portanto, de cumprir as aludidas recomendações do GAFI”, justificou na semana passada o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, na apresentação do diploma, enfatizando que esse modelo de funcionamento existe noutros países e territórios. O Grupo Ásia-Pacífico tinha previsto realizar uma avaliação de Macau no final do mês passado.

agência de notação financeira Fitch considera que a indústria do jogo de Macau aparenta estar posicionada para “uma longa recuperação”, defendendo que actualmente as perspectivas a longo prazo são as “melhores”. A análise foi divulgada no mesmo dia em que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) anunciou que as receitas dos casinos cresceram 14 por cento em Novembro face ao período homólogo do ano passado – pelo quarto mês consecutivo. A agência de notação financeira prevê que os casinos de Macau encerrem 2016 com uma queda nas receitas de quatro por cento antes de um regresso ao crescimento a um dígito médio no cômputo do próximo ano. “O sector do jogo de Macau – agora firmemente no fim de um ciclo – tem melhores perspectivas a longo prazo”, nomeadamente “atendendo aos investimentos em nova oferta” ou às “melhorias nos indicadores do mercado de massas”, afirmou o analista Alex Bumazhny, citado no comunicado da Fitch. “O mercado de massas parece estar a responder bem à nova oferta até ao momento. As receitas de jogo deste segmento aumentaram quatro por cento no terceiro trimestre deste ano em termos anuais homólogos, à semelhança da subida registada nas taxas de ocupação hoteleira e nas estadias mais longas. Os comentários dos operadores relativamente aos segmentos VIP começaram a ser positivos este outono”, indicou a Fitch.

CAMINHO ASCENDENTE

As receitas dos casinos subiram em Novembro pelo quarto mês consecutivo naquele que foi o primeiro crescimento a dois dígitos, depois das subidas em Outubro (8,8 por cento), Setembro (7,4 por cento) e Agosto (1,1 por cento), registadas após 26 meses consecutivos de diminuições anuais homólogas. Em meados de Setembro, a agência de notação financeira considerou ser improvável uma “recuperação em V”, isto é, que à forte contracção registada sucedesse uma forte recuperação e estimou que o sector do jogo estaria a aproximadamente a uma década de atingir o pico das receitas alcançado antes da contracção. As receitas dos casinos de Macau fecharam 2015 com uma queda de 34,3 por face a 2014. Tratou-se do segundo ano consecutivo de diminuição das receitas de jogo depois de, em 2014, terem diminuído 2,6 por cento.


10

MACAU JÁ DECIDIU SOBRE PARTICIPANT

EVENTOS

De Cuba a Cabo Verde

Exposição “Alma”, de Omar Camilo, inaugura amanhã na Casa Garden

´E

já amanhã, dia 6, que inaugura na Casa Garden uma exposição do artista Omar Camilo, que nasceu em Havana, Cuba, mas que fez de Cabo Verde a sua casa. A iniciativa parte da Associação para a Divulgação da Cultura Cabo-verdeana, com o apoio da Fundação Oriente e Fundação Macau. Até ao dia 12 deste mês o público poderá ver e conhecer um total de 34 obras de Omar Camilo. O nome da exposição, “Alma”, visa transmitir “a essência, aquilo que perdura além da matéria e a busca dessa essência - nas expressões de que ela se reveste nas pessoas, nos espaços e nas relações entre ambos, mas também na essência do próprio exercício artístico”. Para além disso, esta iniciativa da associação cabo-verdiana visa mostrar “o carácter multifacetado de Omar Camilo”, onde a pintura “exibe uma vertente mais alternativa

O

do artista, experimentando diversas texturas e técnicas, onde são notórias, a nível temático, as suas influências latino-americanas, africanas e europeias”.

OUTROS CAMINHOS

Omar Camilo tem feito ainda trabalhos na área do cinema e fotografia. Na capital cubana estudou direcção de cinema no Instituto Superior de Arte de Cuba, onde realizou vários festivais tendo tanbém feito outros eventos internacionais em cidades como

grupo rock britânico Rolling Stones editou sexta-feira um novo álbum, ‘Blue & Lonesome’, o 25.º de estúdio, o primeiro apenas dedicado a versões, marcado pelos ‘blues’, influência presente no seu trabalho desde o início da carreira. Os Rolling Stones já não editavam um novo álbum de estúdio há mais de dez anos, desde ‘A Bigger Bang’, de 2005, e editam agora ‘Blues & Lonesome’, do qual já foram reveladas versões de ‘Just Your Fool’, ‘blues’ de Chicago, de Little Walter, e de ‘Ride ‘Em On Down’, tema gravado em 1955 por Eddy Taylor, Este é o primeiro álbum da banda sem originais próprios, apenas com ‘covers’ - versões de músicas mais conhecidas, de outros autores - que visita clássicos dos ‘blues’. Foi gravado em apenas três dias, em Londres, em Dezembro do ano passado, segundo a discográfica, e produzido por Don Was e os The

Tóquio, Paris, Barcelona ou Nova Iorque. Só em 2002 se apaixonou por Cabo Verde onde deu várias formações de cinema, tendo ficado a residir na cidade de Praia. Omar Camilo é ainda fotógrafo freelancer, tendo sido fotógrafo oficial da Agência Lusa entre 2006 e 2011 e também consultor do Escritório das Nações Unidas em Cabo Verde. O trabalho na pintura ganhou outro destaque quando criou, há dois anos, a galeria Om Art Camilo, tendo já realizado cerca de 30 exposições individuais em Cabo Verde e também Portugal. A associação afirma, em comunicado, que pretende, com a exposição deste artista, “partilhar com todas as comunidades de Macau expressões de vivência social cultural e artística de Cabo Verde, também ela marcada por forte multiculturalidade, de que Omar Camilo é exemplo”. A.S.S.

O artista James Wong irá representar Macau na próxima Bienal de Veneza, que abrirá a 13 de Maio de 2017. O anúncio oficial é feito hoje, ao meio-dia, no auditório do Museu de Arte de Macau

Regresso às origens

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA BAKU - ÚLTIMOS DIAS • Olivier Rolin

C

LARO que estou muito feliz, mas também preocupado com este interessante desafio”, confessa James Wong, o artista de Macau que marcará presença na 57.ª Bienal de Veneza. Esta será a primeira vez que expõe num local que desconhece, “tanto no tamanho do espaço, como na natureza do edifício”. Assim sendo, James abordará a especial exposição de uma forma experimentalista, porque “o palco é conceptualmente muito orientado para obras tridimensionais”. Estas circunstâncias favorecem a exposição de esculturas e pinturas, duas formas de expressão artística que James privilegiará na

altura, no estúdio ao lado a gravar o seu próprio álbum’, informou a discográfica.

Rolling Stones editam novo álbum de blues, dez anos depois

Glimmer Twins (nome da parceria entre Mick Jagger e Keith Richards). ‘A abordagem ao álbum foi a de que a gravação devia ser espontânea e tocada ao vivo em estúdio, sem efeitos posteriores. Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e

JAMES WO

Ronnie Woods juntaram-se aos seus colaboradores de estrada de longa data, Darryl Jones, Chuck Leavell e Matt Clifford, e em dois dos 12 temas contaram com a participação do amigo Eric Clapton, que, curiosamente, se encontrava, na mesma

CLÁSSICOS PARA TODOS

O álbum, editado pela Universal, inclui ‘clássicos’ como ‘Just Your Fool’, de Buddy Johnson, ‘Commit a Crime’, de Howlin’ Wolf, ‘All of Your Love’, de Magic Sam, e vai buscar o título, ‘Blue and Lonesome’, ao tema de Memphis Slim, o

sua apresentação. Também haverá uma instalação, mas algo simples, estável, que não represente muito risco devido aos constrangimentos circunstanciais. O artista tem dirigido algumas das instituições artísticas de referência em Macau, como o Centro de Pesquisa de Gravuras de Macau, foi também curador no Museu Luís de Camões, entre outros.

pianista de Tennessee, que se fixou em Chicago. A estes juntam-se ‘Everybody Knows About My Good Thing’, de Miles Grayson e Lermon Horton, que Little Johnny Taylor celebrizou nos anos de 1970, ‘Ride ‘Em On Down’, de Eddie Taylor, ‘Hoo Doo Blues’, de Otis Hicks (Lightning Slim) e Jerry West, e ‘Little Rain’, de Ewart Abner Jr. e Jimmy Reed, que fez a primeira gravação em 1957. Há ainda dois temas de Little Walter, o chamado ‘mago da harmónica’, que marcou os ‘blues’ nas décadas de 1940 a 1960 - ‘I Gotta Go’ e ‘Hate to See You Go’ -, e outros dois de Willie Dixon, apontado como um dos principais criadores dos ‘blues’ de Chicago, ‘Just Like I Treat You’ e ‘I Can’t Quit You Baby’. A edição de ‘Blue & Lonesome’ surge depois do DVD ‘Havana Moon’, que regista o histórico concerto do grupo no passado mês de Março em Cuba, para mais de um milhão de pessoas.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

Em 2003, regressando do Afeganistão, tive de parar em Baku, no Azerbaijão. Fiquei num hotel chamado Apcheron, nome da península sobre a qual a cidade foi construída. Escrevia na altura Suite no Hotel Crystal, um livro composto por umas quarenta histórias passadas em quartos de hotel do mundo inteiro. O nome Apcheron, tão próximo do rio dos mortos grego, sugeriu-me a ideia de aí encenar o meu próprio suicídio. A nota biográfica na capa do livro viria a mencionar a minha data de nascimento e de morte: Boulogne-Billancourt, 1947 - Baku, 2009. A partir de 2004, eu tinha pois morrido em Baku em 2009, no quarto 1123 do Hotel Apcheron. À medida que esse fatídico ano de 2009 se ia aproximando, as recomendações dos amigos tornavam-se mais insistentes: se fores convidado para ir a Baku em 2009, não vás! Estes alertas fizeram naturalmente nascer em mim a ideia de que, pelo contrário, devia mesmo ir a Baku, para honrar uma espécie de promessa e aí permanecer o tempo suficiente para dar à ficção da minha morte à beira do Cáspio uma razoável hipótese de se concretizar. Este livro é, em certa medida, o diário da minha estada na cidade onde era suposto morrer.

QUATRO CONTOS DISPERSOS • Sophia de Mello Breyner Andresen

Este livro reúne quatro contos escritos entre 1985 e 2004. O adjectivo “dispersos” incluído no título indica que foram primeiramente editados em publicações diversas e em diferentes datas, concordando com a ausência de ligação entre as várias narrativas. Estes Quatro Contos Dispersos apresentam-nos, assim, histórias com enredos bem distintos: os preparativos para a execução de um homem; um encontro insólito durante uma viagem de comboio; as deambulações de um músico cego na Lisboa pós-revolucionária; e as histórias de vida e morte de Ana Bote, a mulher do banheiro de uma praia atlântica.


11

TE NA 57.A BIENAL DE VENEZA

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

ONG, O ESCOLHIDO Mas considera-se, acima de tudo, um amante das artes.

O PADRINHO

Mais de um quarto de século a dar aulas de arte valeu-lhe a alcunha entre os alunos de “o padrinho do ensino artístico”, algo que diverte o professor, que continua a criar todos os dias. Dividido entre o ensino e a criação artística, James não se considera um artista muito prolífero, “tendo em conta o contexto de Macau, onde muitos artistas têm exposições quatro vezes por ano”. Portanto, “se me perguntar que tipo de artista eu sou, devo ser um preguiçoso”, graceja. Quanto à inspiração, Wong diz não saber de onde vem, preocupando-se principalmente com a rejeição de qualquer fórmula que restrinja PUB

EVENTOS

Dividido entre o ensino e a criação artística, James Wong não se considera um artista muito prolífero, “tendo em conta o contexto de Macau.” a sua criatividade. Mas não nega que existem origens e uma base para o arranque dos seus trabalhos. “Gosto muito do conteúdo cultural japonês e chinês, sobretudo a estética da caligrafia, as cores e estruturas dos quadros antigos, e o feeling que se esconde por trás”. Estas são as fundações principais das suas esculturas, gravuras, pinturas a óleo, ilustrações e desenhos, que têm sido expostas em Portugal, Japão, Bélgica, Hong Kong, e um pouco por todo o mundo. Ganhou vários prémios, “o que não é nada de especial”, de acordo com o artista. Porém, a exposição na Bienal tem um peso forte, “é o realizar de um sonho de qualquer artista”. Apesar da felicidade que sente, partilhada pelos seus alunos, e que sabe que os

seus pais também sentiriam, Wong já está preocupado com a forma como irá preparar esta tarefa, mas está certo de que será “uma saborosa jornada e que correrá bem. A horas de ser oficializado como o representante de Macau em Veneza, Wong encontra-se entre a elação e a dimensão do trabalho que o espera. Acha que os seus “amigos mais próximos ainda não tomaram consciência da dimensão do que se está a passar”. No entanto, James Wong não lhes irá adiantar nenhuma explicação porque prefere “que vejam através dos jornais”. O HM faz-lhe a vontade. João Luz

info@hojemacau.com.mo


12 CHINA

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

Aquisição de risco EUA impedem China de comprar empresa

O HIV-SIDA ATINGIA 850 MIL CHINESES NO FINAL DO ANO PASSADO

A “doença de estrangeiros” Desde o primeiro caso, registado em 1985, que a doença não tem parado de crescer no país mais populoso do mundo. A discriminação e os preconceitos continuam a ser uma realidade

A

China registou quase 110 mil novos casos de infecção com o vírus da Sida em 2015, elevando para 850 mil o número total de infectados, 0,06% da população, segundo dados oficiais revelados sexta-feira. Encarada outrora na China como uma “doença de estrangeiros”, fruto de “um estilo de vida capitalista e decadente”, a sida fez a primeira vítima no país em 1985. Até ao final do ano passado, matou 177.000 pessoas na nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.375 milhões de habitantes. Considerado o mais antigo sobrevivente do vírus da sida na China, Meng Lin sabe o que é sentir-se culpado, abandonado, rejeitado, mas não o que é desistir, lutando hoje pelos direitos dos seropositivos no país.

Meng, que em 2006 fundou o China Alliance of People Living with HIV/AIDS (CAP+), organização não-governamental com sede em Pequim, foi diagnosticado VIH positivo há 21 anos. Ao saber da doença, a família sugeriu-lhe que saísse de casa. Partiu depois de um último jantar, na véspera do Ano Novo chinês. “Tive que lutar sozinho”, recorda à agência Lusa. “Na altura, não havia qualquer informação sobre a sida”. “Os pacientes eram somente colocados em quarentena, como era procedimento com as restantes doenças infecciosas”, conta. A história de Meng Lin, que sobreviveu mais de um quinto de século como seropositivo, ilustra as dificuldades do país em lidar com a doença. Em 1996, aceitou servir de cobaia num teste clínico: durante quase cem dias foi mantido isolado num hospital de Pequim, com outros três pacientes. Um deles suicidou-se; os outros dois morreriam meses mais tarde. Meng não desistiu: vendeu a casa que tinha na capital chinesa e recorreu à terapia antirretroviral, com recurso a medicamentos importados dos Estados Unidos.

No total, terá gasto “cerca de três milhões de yuan”, até que, em 2009, a China legalizou aqueles fármacos. O primeiro ‘boom’ da sida no país aconteceu em meados dos anos 1990, na província de Henan. Centenas de milhares de camponeses pobres ficaram infectados, devido a um esquema ilegal de comércio de sangue. O sangue de diferentes origens era misturado e, depois de extraído o plasma para ser vendido à indústria de biotecnologia, injectado de novo nos camponeses, para evitar anemias. Até então, a maioria dos poucos casos oficialmente conhecidos na China dizia respeito a chineses que tinham trabalhado fora do país. “Os portadores do VIH eram vistos como criminosos. E eu sentia também a consciência pesada. Ajudar outros na mesma condição era uma forma de aliviar o sentimento de culpa”, lembra Meng.

CRIME SEM CASTIGO

A CAP+ tem hoje 109 afiliados em toda a China e conta com o apoio financeiro de organizações estrangeiras, como a Fundação Ford ou a Fundação Holandesa contra a Sida.

“Devido à discriminação a que são sujeitos, muitos seropositivos optam por ocultar a doença, sendo forçados a viver na marginalidade.” MENG FUNDADOR DA CHINA ALLIANCE OF PEOPLE LIVING WITH HIV/AIDS

“O maior problema continua a ser a recusa dos hospitais em tratar os pacientes”, diz Meng Lin. Outra questão é o tratamento injusto por parte dos empregadores. Meng quer um reforço na aplicação da lei que estipula que os hospitais não podem rejeitar pacientes seropositivos e que despedir com base na doença é ilegal. “Os infractores raramente são punidos e a lei não prevê um castigo”, diz. Em 2012, o Presidente chinês, Xi Jinping, criticou a “ignorância” e “preconceitos” sobre a doença, referindo-se aos seropositivos como “irmãs e irmãos”, que deviam “receber amor de toda a sociedade”. Regulações e leis sugerem, porém, que o Governo chinês mantém uma posição contraditória. Os candidatos à função pública chinesa, por exemplo, são sujeitos a um exame físico que inclui o rastreio do vírus, estando automaticamente desqualificados os seus portadores. Em 2013, o Ministério do Comércio chinês elaborou mesmo um projecto de lei para banir seropositivos de frequentar casas de massagens e spas. A normativa não foi aprovada, mas Meng considera que “estas situações aumentam os riscos de transmissão”. “Devido à discriminação a que são sujeitos, muitos seropositivos optam por ocultar a doença, sendo forçados a viver na marginalidade”, diz. Lusa

S EUA bloquearam sexta-feira a compra do grupo industrial Aixtron, baseado na Alemanha, pelo grupo chinês Grand Chip Investment, invocando “os riscos para a segurança nacional”, segundo um comunicado do Departamento do Tesouro. Através de um decreto, o Presidente Barack Obama interditou a aquisição da filial norte-americana da Aixtron, fabricante de componentes destinados ao mercado dos semicondutores, que podem ter aplicações militares. Tal decisão bloqueia de momento a aquisição do grupo alemão pelos chineses. No final de Outubro, o governo alemão, que tinha inicialmente dado a sua autorização a esta compra, no montante de 670 milhões de euros, tinha suspendido a sua decisão, depois de ter recebido informações do governo dos EUA, segundo as quais uma tal operação conduziria à transferência de tecnologias sensíveis para Pequim. A medida ordenada sexta-feira por Obama insta “os compradores e a Aixtron a considerarem todas as medidas necessárias para abandonar a compra proposta da filial norte-americana da Aixtron em 30 dias”. Na Alemanha, a Aixtron tem 750 empregados e gera cerca de 200 milhões de euros de volume de negócios. Nos EUA, o grupo está representado por uma filial, com uma centena de pessoas, no Estado da Califórnia. A Casa Branca tem a autoridade para se opor a uma aquisição por uma empresa estrangeira quando “há uma prova credível que a tomada de controlo por um interesse estrangeiro (…) ameaça alterar a segurança nacional”, indicou o Tesouro. A inquietação parece incidir sobre um procedimento de depósito organometálico químico em fase gasosa (MOCVD), utilizado na composição dos semicondutores que entram designadamente na produção de lasers e painéis fotovoltaicos. Os investimentos da China na Alemanha devem registar um nível recorde em 2016, depois de no primeiro semestre já terem ascendido a 3,4 mil milhões de euros.


13 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

CHINA

PEQUIM PROTESTA APÓS CONVERSA DE TRUMP COM PRESIDENTE DE TAIWAN

Lançado primeiro aviso

SOBE PARA 32 MORTOS NÚMERO DE VÍTIMAS EM MINA DE CARVÃO

A

S autoridades chinesas confirmaram ontem a morte de 32 mineiros na sequência da segunda explosão mortal esta semana em minas de carvão na China, informou a agência Xinhua. O balanço anterior era de 17 mortos. A explosão de gás atingiu a mina na cidade de Chifeng, na região da Mongólia interior, no sábado. Dos 181 mineiros que estavam a trabalhar no interior da mina, 149 conseguiram sair e os restantes ficaram soterrados e morreram, reportou a Xinhua. Este incidente ocorreu horas depois de ter sido divulgada a morte de 21 mineiros que, na passada terça-feira, na sequência de uma explosão, ficaram presos durante vários dias no interior de uma mina de carvão na província de Heilongjiang, no norte da China. Os acidentes nas minas de carvão são frequentes na China, com 171 mortos em 45 minas no ano passado, segundo dados oficiais. As autoridades tomaram várias iniciativas para melhorar a segurança e a sinistralidade baixou consideravelmente nos últimos anos, mas muitas explosões continuam a verificar-se de forma ilegal em zonas rurais e sem as medidas de segurança básicas.

PELO MENOS 17 VÍTIMAS MORTAIS EM QUEDA DE AUTOCARRO NUM LAGO

Pelo menos 17 pessoas morreram sexta-feira no centro da China, na sequência da queda num lago do autocarro em que viajavam, informou a agência oficial Xinhua. O acidente ocorreu perto da localidade de Miaoling, na província de Hunan, entre as 06:00 e as 07:00 de sexta-feira. O veículo, no qual viajavam 20 pessoas, foi retirado da água, enquanto equipas de resgate continuaram durante o dia na zona do acidente. Os 17 mortos foram identificados, acrescentou o departamento de informação local.

P

EQUIM avisou Donald Trump após a sua conversa telefónica com a Presidente de Taiwan, em sentido contrário ao do reconhecimento pelos Estados Unidos de uma “única China”. “Protestámos solenemente junto da parte norte-americana envolvida. Só existe uma China e Taiwan é parte inalienável do território chinês”, informou sábado o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Segundo os analistas, o episódio ilustra a inexperiência do presidente eleito, mas não indica forçosamente uma mudança de linha. Donald Trump falou na sexta-feira com Tsai Ing-wen, no primeiro contacto telefónico deste nível desde que Washington rompeu relações diplomáticas com Taipé, em 1979. A equipa de transição de Trump informou, em comunicado, que os dois dirigentes “abordaram os estreitos vínculos económicos, políticos e de segurança existentes entre Taiwan e os Estados Unidos”. “O Governo da República Popular da China é o único legítimo. Esta é a base política das relações sino-americanas”, insiste a declaração do ministério chinês. “Instamos a parte envolvida a respeitar este princípio”, adianta. A Casa Branca apressou-se na sexta-feira a reafirmar o seu “forte compromisso” com uma única China. “Não há qualquer mudança na nossa política de longa data”, disse à agência France Presse Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. Face às críticas, Trump escreveu na rede de mensagens curtas Twitter: “A Presidente de Taiwan TELEFONOU-ME para me felicitar pela vitória nas presidenciais. Obrigado”. Antes de acrescentar mais tarde: “Interessante o facto de os EUA venderem milhares de milhões de dólares de equipamento militar a Taiwan, mas eu não deveria aceitar um telefonema de felicitações.”

IMPRENSA IGNORA

A polémica chamada telefónica foi censurada pela imprensa chinesa, que preferiu sublinhar a visita a Pequim do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, “um velho amigo da China”.

Xi Jinping

“O Governo da República Popular da China é o único legítimo. Esta é a base política das relações sino-americanas.” COMUNICADO DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS CHINÊS O telefonema, na sexta-feira, entre o Presidente eleito dos EUA e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, não foi referido nos ‘sites’ da imprensa estatal chinesa e foi censurada na Internet. Na plataforma de microblogues Weibo – equivalente à rede social Twitter – persistiam alguns

comentários de cibernautas a um artigo de um jornal de Hong Kong que escapou à censura. “Que China reconhece Trump? Que astúcia! Devemos parar este presidente empresário”, escreveu um cibernauta. O ex-presidente democrata Jimmy Carter declarou for-

EXPECTATIVAS ELEVADAS

A

conversa telefónica entre o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, gerou elevadas expectativas sobre uma maior cooperação entre Washington e Taipé, escreve a agência Efe. O gabinete presidencial de Taiwan confirmou sábado em comunicado que a conversa durou mais de dez minutos e que foram abordados temas económicos e de defesa. Além disso, refere que Tsai espera que Trump seja um “excelente governante” e que pediu apoio aos Estados Unidos para alcançar uma maior participação internacional de Taiwan. Depois da conversa telefónica, a agência Efe descreve um possível encontro de Tsai com assessores de Trump durante uma prevista escala em Nova Iorque a caminho da América Central no início do Janeiro, antes da tomada de posse de Trump como Presidente dos EUA.

malmente Pequim como único governo da China em 1979, o que pôs fim às relações diplomáticas formais dos EUA com Taiwan, onde Washington fechou a sua embaixada no ano seguinte. Os especialistas em política externa afirmam que a chamada poderia alterar as relações entre os Estados Unidos e a China, independentemente de como foi encaminhada. A China considera a ilha de Taiwan uma província “rebelde” e parte do território sob sua soberania. A imprensa oficial chinesa consagrou as manchetes de sábado ao encontro na sexta-feira entre Xi Jinping e o antigo diplomata norte-americano Henry Kissinger, de 93 anos, que foi o obreiro em 1972 da visita histórica do presidente norte-americano Nixon à China. Kissinger passou a ser qualificado pelo regime comunista como “velho amigo da China”. Kissinger encontrou-se com Donald Trump em Nova Iorque nas últimas semanas, para discutir temas como a China.


14 DESPORTO

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

Um dia nas corridas

Portuguesa Doroteia Peixoto ganha meia-maratona de Macau

A Mundial de Xadrez CAMPEÃO MAGNUS CARLSEN RENOVA TÍTULO

O génio derrota o sábio

O

norueguês Magnus Carlsen reteve o título de campeão do mundo de xadrez de partidas clássicas pelos próximos dois anos no desempate por partidas rápidas contra o russo Sergei Karjakin. Conforme tínhamos noticiado aqui na passada semana, entre 11 e 28 de Novembro, disputou-se em Nova Iorque o campeonato do mundo de xadrez, onde o campeão, Magnus Carlsen defendia o seu título frente a Sergei Karjakin. Era um match de doze partidas e, em caso de empate, decidir-se-ia tudo dois dias mais tarde em partidas rápidas (25 minutos para cada jogador mais um incremento automático de 10 segundos por jogada). Caso se mantivesse, ainda assim, o empate, partir-se-ia para a decisão por meio de partidas Blitz (5 minutos para cada jogador mais um incremento de 3 segundos por jogada). Na Sexta-feira passada Karjakin tinha tomado a dianteira do match após 7 empates consecutivos, vencendo a partida nº 8. Na partida 9, novo empate, com Karjakin muito perto de vencer – o que deveria arrumar o match – mas a deixar o adversário fugir-lhe por entre os dedos. Porém, na partida 10, Karjakin cometeu vários pequenos erros que deixaram Carlsen em vantagem posicional e este não perdoou, ganhando a partida e igualando o match. Seguiram-se outros 2 empates nas partidas 11 e 12 e terminado o match a pontuação cifrou-se em 6-6. O título teria que ser decidido, infelizmente, em partidas rápidas. Infelizmente porque se trata de um campeonato de clássicas, do verdadeiro xadrez, cuja duração de uma partida pode ir até às 8 horas, e não parece justo que o campeão do mundo de clássicas ganhe esse título através de uma partida ... não clássica. Como já dizia o mais famoso xadrezista de sempre, o americano Bobby Fisher, nestas situações o mais justo seria um prolongamento do match.

De qualquer forma, eram estas as regras do jogo, com as quais ambos os adversários já haviam concordado quando assinaram os respectivos contratos. Ganhou Carlsen por 3-1 e não podia ter recebido melhor prenda de anos, pois ganhou no dia do seu 26º aniversário, no dia 30 de Novembro de 2016. Na primeira partida rápida, Carlsen, de negras, surpreendeu com uma novidade da Partida Espanhola, conseguindo facilmente igualar e empatar. Na segunda partida, Carlsen, de brancas dominou mas, em posição muito difícil, “Houdini” Karjakin conseguiu escapar e manter o empate. Porém, na terceira partida e logo com as peças brancas, Karjakin não esteve ao seu melhor nível, talvez fatigado pela partida anterior que muito lhe tinha exigido. Em contrapartida, Carlsen esteve ao seu melhor, com um jogo tão preciso quão electrizante e venceu de forma inapelável. O match ficava em 2-1 a favor de Carlsen e só faltava uma partida. Chegados à 4ª e última partida rápida, Karjakin viu-se então numa situação de ter obrigatoriamente que vencer para manter o match vivo, ao passo que a Carlsen bastava o empate para manter o título. O norueguês construiu uma posição digna do antigo “catenaccio” italiano do futebol e, tal como vimos acontecer em muitos jogos da selecção italiana nessa altura, a posição estava “fechada à chave”. O campeão defendeu porfiadamente até que o seu adversário teve que arriscar tudo por tudo, mais especulativamente do que com propriedade. O resultado foi então o oposto: como um contra-ataque brilhante no futebol, o campeão, numa só jogada genial, verdadeiramente genial e artística, aproveitou uma oportunidade para fazer um sacrifício que já raramente é possível ver nos nossos tempos de um xadrez quase totalmente matematizado: o sacrifício da peça mais poderosa, a Rainha ou Dama. João Valle Roxo

info@hojemacau.com.mo

DIAGRAMA

A

nalisando esta posição, vemos que as brancas têm a Rainha, duas Torres e quatro peões e as negras têm a Rainha, uma Torre, um Bispo e também 4 peões, o que significa que, materialmente, as brancas têm a vantagem aproximada de 2 peões. Mas as negras têm um peão passado em “b6” que virá a ser muito perigoso caso consiga trocar de Rainhas e, mais importante, de momento estão a ameaçar Xeque-Mate se jogarem a sua Rainha para f1, sendo que as brancas têm de defender esta ameaça sem poderem mover a sua Rainha da diagonal que vai de “b1” a “h2” porque senão desprotegem essa casa “h2” e sofrem um diferente mate, com a captura desse peão pela Rainha negra, que está protegida pela sua Torre. Como defender, então, esta dupla ameaça? Neste caso, caso de um génio em acção, ... dando-se xeque-mate primeiro e de forma artística: As brancas jogaram a sua Rainha para “h6” e Karjakin abandonou a partida. Tentem descobrir porquê. No artigo seguinte vem a solução.

atleta portuguesa Doroteia Peixoto ganhou ontem a meia-maratona feminina de Macau e o português Miguel Ribeiro ficou em segundo lugar na prova masculina. Doroteia Peixoto terminou a meia-maratona em 1:16:40, à frente da timorense Nélia Martins e da cabo-verdiana Crisolita Silva. A atleta portuguesa disse à agência Lusa que estava “feliz” com a vitória, assumindo que foi a Macau, onde está pela primeira vez, com o objectivo de ganhar. Quanto ao tempo, revelou que tentou bater o recorde do percurso, mas não conseguiu cumprir esse objectivo. “O percurso este ano (...) foi alterado e nas pontes sobe bastante”, acrescentou, dizendo que os objectivos para 2017 passam por voltar à maratona de Sevilha, em Espanha, onde ficou em quarto lugar na última edição, e tentar os mínimos para o campeonato do mundo. Já Miguel Ribeiro fez a meia-maratona de Macau em 01:07:41, atrás do queniano Joseph Ngare (1:05:59). Em terceiro lugar ficou o cabo-verdiano Ruben Sanca. Esta foi a segunda vez que Miguel Ribeiro correu a meia-maratona de Macau e terminou no mesmo lugar de há três anos. Este ano, “estava à espera de ganhar”, mas percebeu “logo no início que iria ser muito difícil” por causa de Joseph Ngare, um atleta “muito forte que arrancou com bastante facilidade”. “Mas foi um bom resultado, mesmo assim”, afirmou Miguel Ribeiro, que quer agora voltar a Macau, dentro de dois ou três anos, mas para fazer a maratona.

PROVA MAIOR

Já na maratona de Macau, o representante português na prova masculina, Bruno Paixão, ficou em décimo lugar (2:31:07) e Vera Nunes terminou em sexto (2:42:07) na corrida feminina. O vencedor da maratona masculina foi o queniano Peter Some (2:12:52) e a norte-coreana Ji Hyang Kim venceu a maratona feminina (2:36:16). Bruno Paixão, que à partida tinha o objectivo de acabar nos 20 primeiros, mostrou-se satisfeito com o lugar que conseguiu. Vera Nunes também se mostrou contente com o sexto posto, depois de ainda há 15 dias ter corrido uma maratona nos Estados Unidos, assumindo que chegou a Macau “um pouco cansada”. Rosa Mota, de 58 anos, campeã olímpica e mundial da maratona, ganhou a mini-maratona de Macau, ao concluir os 5,5 quilómetros em 00:24:49. Esta foi a 35.ª edição da Maratona Internacional de Macau, em que se inscreveram 10.000 atletas nas provas que a integram (maratona, meia-maratona e minimaratona).


o ofício dos ossos

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

15

Valério Romão

A bizarria como fonte D

E cada vez que vou ao Porto, acontecem-me coisas estranhas. Na verdade, acontecem-me coisas estranhas em todo o lado. Para a maior parte das pessoas, a ingerência cíclica da bizarria nas suas vidas é, no mínimo, um indesejado impedimento de que se livram tão depressa quanto lhes é possível: é aquele maluco no autocarro que afiança transportar material radioactivo nos bolsos e ser perseguido por todas as agências de espionagem mundiais; é a velhota no talho a pedir repetidamente ao incrédulo mas cada vez mais divertido talhante para lhe assegurar que na carne moída não usam gato; são todas conversas com que as pessoas esbarram dia-a-dia e que estão a montante ou a jusante das suas zonas de habitualidade e conforto. Viram costas. Despedem o assunto com um sorriso anémico e um encolher de ombros. Fingem perceber. A criança temente às coisas estranhas do mundo que há em cada um de nós estanca subitamente e, ao longe, o medo criando raízes até passa por uma apreciável e salutar dose de educação. Para um escritor, no entanto, o absurdo não interrompe a vida. Pelo contrário. O absurdo e as suas diversas tonalidades de bizarria são o combustível que alimenta a linha de montagem da maior parte das produções literárias. Combustível tanto mais valioso como de achamento imprevisível: pode andar-se tempos infindos, nas zonas onde a bizarria mais prolifera, numa procura atenta do melhor e mais refinado absurdo, sem lograr topá-lo sequer de longe. Por isso me é particularmente difícil, mesmo que a intuição me alerte para a possível enxurrada de um tédio interminável, afastar-me das conversas com alguns sujeitos que, a pretexto de me cravarem um cigarro, se entregam imediatamente a uma espécie de confissão diarística temperada com LSD. Regressava da apresentação do meu livro de contos “da Família”, no Porto, quando, à entrada do hotel, um rapaz aproximadamente da minha idade e cujo ganha-pão é encaixar os carros no tetris confuso do estacionamento urba-

no disponível, se acerca de mim, numa educação inversamente proporcional ao seu aspecto andrajoso, e me pede o habitual cigarro com que conto aforrar karma suficiente para, na minha velhice, ser agraciado com a bondade alheia de um cigarro ocasional. Acabadas de cumprir as formalidades referentes ao lume e demais agradecimentos, o rapaz, olhando-me fixamente, pergunta-me: não achas que a esquizofrenia pode ser um acto de deus? Não sendo as intervenções divinas a minha especialidade, malgrado ou talvez por causa dos quatro anos num colégio de freiras de onde até da catequese consegui ser dispensado derivado a motivos de fazer “demasiadas questões”, achei precavido esperar pela sequência de pensamentos subjacentes à interrogação, até porque tinha a certeza de quem formula semelhante pergunta deve ter muitas mais coisas a dizer. Deus, como percebi de

imediato – e como sempre – foi sol de pouca dura. A esquizofrenia, essa, foi ficando. A conversa, custosa não tanto pelo tema mas sobretudo pelo frio – uns típicos três graus numa noite de Dezembro, no Porto – assemelhava-se ao percurso confuso de um atirador furtivo incerto do seu alvo: era o pai, os maus-tratos recebidos na infância, a “filha da puta da droga”, expressão repetida ao ponto de se tornar mais uma forma de pontuar a conversa, a mãe, omnipresente pela total ausência dela

“O rapaz, olhando-me fixamente, pergunta-me: não achas que a esquizofrenia pode ser um acto de deus?”

no discurso, a vida e as suas minudências esclavagistas, a vida de pobre, a vida de quem é abandonado por deus, a vida da rua. Mais de meia hora decorrida sobre o início da conversa, o Vítor – vamos assumir que se chamava, Vítor, dada a minha impossibilidade crónica de me lembrar de nomes próprios – confessa-me, aliviado como não o vira ainda, que “tinha um problema”. A única coisa que não esperava e que me fez confusão na frase foi, na verdade, o tempo verbal. No entanto, pela primeira vez na conversa, o Vítor não muda de assunto, não tergiversa, não entra e sai dos temas sem qualquer tipo de ordem ou sequência. Pela primeira vez na conversa, o Vítor está absolutamente focado. Sabes, principia, eu ouvia – para logo corrigir – e ainda ouço, um escaravelho que está sempre num raio de oito milhas à minha volta (escusado será dizer que a custo consegui suprimir a natural tentação de lhe perguntar se se tratavam de milhas marítimas ou terrestres). Não me deixava descansar, dormir, comer uma bucha em tranquilidade. É daqueles barulhos, sabes, tipo frigorífico ou água a pingar, à noite, sabes, e eu abanava a cabeça em sinal de assentimento, cada vez mais curioso, e quando me aproximava dele, estás a ver, prosseguia, o gajo calava-se, mas era só o tempo de eu voltar para onde estava e o gajo começar a fazer barulho outra vez. Ia dando em maluco, afirmava, com aquele olhar de quem procura no interlocutor o conforto da empatia. E como resolveste o assunto, perguntei. O Vítor, não se fazendo de rogado, até porque estava à espera da pergunta desde que começara a falar no escaravelho, começa a despir as múltiplas camisolas com que se protegia da noite invernosa do Porto. Chegado à pele, aponta, orgulhoso, para uma das inúmeras garatujas que tatuara no corpo. Vês, afirma, orgulhoso, ele continua a fazer barulho, mas agora sei sempre onde está. Queres mais um cigarro, Vítor? Quero.


16

h

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

YAO ZUI «Xu Huapin»

Continuação da Classificação dos Pintores

Embalar a trouxa e partir1 ou sentar-se em meditação quando se deve trabalhar para o país é lamentável; e se viúvo, me dedico só a lamentar a perda da minha companheira já não consigo criar uma família. Se alguém achar desprezível permanecer em lugares inferiores pode ir queimar matagal, mas se for indiferente aos lugares oficiais, poderá seguir os seus próprios gostos. Ao afirmar as minhas humildes opiniões não irei distribuir críticas nem elogios, mas poderá haver pessoas honradas que sejam ciosas de conhecimento2. Este livro conterá as coisas que Xie He deixou de fora; consiste apenas em dois capítulos, mas as coisas mais importantes estão relatadas neles. A caligrafia, antiga e moderna, tem sido discutida por muitos escritores, mas a pintura tem sido explicada por muito poucos; consequentemente, eu dediquei-me a este assunto. Já que o número de homens aqui referidos é muito restrito, não introduzi uma classificação; os seus méritos e defeitos podem ser deduzidos a partir das ideias expressas.

1 - Sirén anota uma provável referência a uma passagem de Zhuangzi: Tai Wang Shan Fu tentou em vão desviar os inimigos de Pin, «Por isso embalou a trouxa e partiu.» (na tradução de Giles, p. 372.) 2 - Na expressão original está escrito «Numa aldeola com dez casas …etc.», retirada das Conversações de Confúcio, Livro V, cap. 27: «O Mestre diz: Numa aldeola com dez casas, de certeza que encontraria alguém como eu, leal e digno de confiança mas, que seja tão desejoso de aprender como eu, disso duvido.», (in Conversações de Confúcio, Editorial Estampa, Lisboa, 1991,p.65). Nessa abertura ao estudo estará uma chave

para entender o tratado de Yao Zui: a sua motivação parece nascer sobretudo da vontade de resgatar a importância de Gu Kaizhi, que em sua opinião não estaria bem estudado por Xie He. E ao remeter para o estudo com a autoridade de Confúcio, ele pode reivindicar a recompensa que o Mestre enuncia, significativamente ligada à ideia do hóspede: «Estudar uma regra de vida, para a aplicar no momento exacto não é fonte de grande prazer? Partilhá-la com um amigo vindo de longe não é a maior das alegrias? Ser desconhecido dos homens sem se desgostar por isso, não é próprio do homem de bem?» (Idem, Livro 1,1, p.31)


17 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

TEMPO

POUCO

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO “BELIEVE IN ART” IFT Café (Até 5/12)

MIN

18

MAX

26

HUM

55-85%

EURO

8.51

BAHT

EXPOSIÇÃO CONJUNTA DE PINTURA DE WANG LAN E GU YUE Fundação Rui Cunha (Até 8/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “TRINTA E TRÊS ANOS NA RÁDIO – DO LOCUTOR LEONG SONG FONG

O CARTOON STEPH

PROBLEMA 134

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 133

THE LIGHT BETWEEN OCEANS SALA 1

CRAYON SHINCHAN MOVIE 2016 [B] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Wataru Takahashi 14.15, 18.00, 21.45

YOUR NAME [B] FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 16.00, 19.45 SALA 2

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston,

Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

C I N E M A

YUAN

1.16

GARRAS ESCONDIDAS

Edifício do Antigo Tribunal (Até 7/12)

Cineteatro

0.22

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “UM AMANHÃ MELHOR”

Academia Jao Tsung-I (até 02/2017)

(F)UTILIDADES

Porque sou daqui, estou habituado a isto: há gatos muito estranhos nas ruas da cidade. Há gatos loucos, de pêlo eriçado, esgrouviados, alucinados. Há gatos obcecados, há gatos obsessivos, há gatos doidos que perseguem gatos quase tão loucos quanto eles. Há gatos tão, mas tão desequilibrados que correm sem destino, sem que ninguém corra atrás deles, numa fuga inexplicável – sobretudo quando está sol e é bom estar enrolado junto às janelas. Estes gatos não me assustam: têm escrito na testa o atestado da loucura que os outros gatos lhes foram passando ao longo dos anos. Nota-se pelo olhar que são doidos, mas ternamente inofensivos. O que me assusta mesmo: os gatos de garras sempre de fora que não se seguram em lugar algum, não se agarram a nada. Mostram as garras só para dizer que são mais fortes. Há quem julgue que são loucos, o que não corresponde à verdade: sabem o que andam a fazer e por que mostram as agulhas que têm nas patas. O que me assusta ainda mais: os gatos de garras sempre de fora que, de repente, decidem guardá-las, bem escondidas, em momentos que julgam oportunos, sem que se perceba por que o fazem. São gatos pouco vertebrais, que me causam um arrepio na espinha. Pu Yi

CARTAS DA GUERRA | IVO FERREIRA

Cartas da Guerra é uma obra-prima do cinema português. A lente de Ivo Ferreira transcreve para película a monstruosidade da guerra colonial em Angola através da genial fase colonial de António LoboAntunes.Anarrativa é conduzida pelas cartas de amor do escritor à mulher, onde é retratada a violência da guerra e a violência da saudade, do amor não realizado, da ausência na altura do nascimento da primeira filha. O filme, que tem corrido os festivais internacionais de cinema, alia fotografia cuidada com representações competentes. É uma espécie de exorcismo da guerra colonial num contexto de prosa poética. HM

SALA 3

THE LIGHT BETWEEN OCEANS [B] Filme de: Derek Cianfrance Com: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz 14.30, 16.45, 19.15

SHUT IN [C] Filme de: Farren Blackburn Com: Charlie Heaton, Naomi Watts, Jacob Tremblay 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau segunda-feira 5.12.2016

MANUEL GOUVEIA*

Por uma EPM com paredes de Vidro

S

OU um pai descontente e inconformado com uma escola que, na sua génese, era avançada, até pela qualidade da “matéria prima” que trabalha (os nossos filhos), abundância de recursos e condições de trabalho. Mas que se deixou ultrapassar de forma inquestionável, quer em termos organizativos, quer na objectividade mensurável nos ditosos “Rankings”, como se reflectiu no afundanço de 175 posições em 2015 (237ª posição em 500), pela generalidade das Escolas Públicas Portuguesas, geridas de forma eficiente, eficaz, transparente e responsável. Não quero ferir susceptibilidades, quero, outrossim, ser mobilizador e focar a vossa atenção nas propostas que temos para a APEP e para a EPM. A disputa dos órgãos sociais da APEP é secundária e acessória. O que nos trás aqui são expectativas positivas, é o futuro de uma Escola que se constrói diariamente… e que não pode parar por autocomprazimento e orgulho de se dizer “excelente”! Que queremos mais focada na aprendizagem do que na avaliação! Entendemos que faz todo o sentido que os pais estejam representados de pleno direito na gestão duma Escola que, sendo privada, tem uma origem, função e orçamento eminentemente públicos. Que estejam vigilantes, influenciem e façam progredir a mesma, fazendo repensar os procedimentos, a oferta educativa e extra-curricular. Somos de opinião que há um excessivo corporativismo derivado do carácter “monolítico” da Direcção da Escola (constituída exclusivamente por membros do seu corpo docente), o que não lhe dá as competências de gestão que reputamos essenciais e imprescindíveis para assegurar que a mesma se pauta por critérios de eficiência e eficácia. Assim defendemos uma gestão multidisciplinar, com um gestor profissional, escolhido por concurso. Este deverá gerir com eficiência, maximizando os recursos disponíveis e implementando urgentemente um necessário controlo interno, transparência e responsabilidade na gestão. Um docente, a coadjuvar o Director, também admitido por concurso, em que a antiguidade não seja o critério de escolha, mas a formação e as competências de liderança. que se ocupe da parte pedagógica. Transitoriamente temos um perfil: experiente, mas

ainda jovem, vigorosa, elegante, sedutora e com capacidade de liderança para mobilizar o corpo docente para superar os desafios que a escola enfrenta. Assim para a APEP propomos: 1 - Que seja possibilitado a todos os pais e encarregados de educação da EPM se associarem de forma voluntária, e sem custos, promovendo uma alteração ao regulamento de jóias e quotas para um valor simbólico de 1 pataca/mês. Esperamos assim, suprimindo os constrangimentos financeiros e administrativos, conseguir atingir a plenitude do universo de pais, congregando-os e chamando-os a vida associativa. Para tanto solicitaremos a introdução de um novo campo no boletim de matrícula da EPM que, mediante a mera selecção dicotómica, autorize a Escola a ceder os dados pessoais do encarregado de educação a APEP, com a mera aposição da assinatura. Simplificando o procedimento. 2 - Criação de uma Hot-Line que permita aos pais comunicarem com o membro da Direcção em escala, durante a hora de expediente através de mensagem escrita –Whatsapp, Viber, Wechat ou email - e possibilitando um atendimento programado por voz através NORMAN TAUROG, THE ADVENTURES OF TOM SAWYER

Por uma Escola Portuguesa de Macau progressista e inovadora, com valores humanistas, e que proporcione uma aprendizagem global, preparando os alunos para os desafios e a complexidade do Século XXI, conscientes dos seus direitos e deveres cívicos…

do número já existente 66989675 e email da APEP. 3 - Uma aposta inequívoca na Provedoria dos Pais, centralizando a resolução dos seus problemas de forma personalizada, oportuna e atempadamente pelo órgão de gestão. 4 - Planeamento e gestão prévios de actividades extra-curriculares que não possa ser oferecida pela EPM em primeira linha: áreas das artes, das letras, línguas e desporto colectivo, em parceria com outras instituições públicas ou privadas da RAEM, mas sempre sem lucro para a associação, reflectindo o custo para o associado o custo real descontado os apoios que seja possível obter. 5 - Continuação do estímulo da reciclagem de livros e uniformes Para a Escola Portuguesa de Macau esperamos conseguir através de consenso com a Direcção da Escola e Conselho de Administração da Fundação: 1 - Implementar uma plataforma informática que permita o acompanhamento da vida escolar dos nossos educandos – Google Classroom - interagindo professores, alunos e pais; 2 - Implementar um Observatório Escolar que permita o acompanhamento da apren-

dizagem através dos resultados dos testes em termos estatísticos – media de negativas por disciplina, ano e turma, de modo a obter uma monitorização consistente das aprendizagens, numa perspectiva formativa e reguladora do ensino. 3 - Valorizar o corpo docente da EPM promovendo a publicitação da formação académica e pedagógica dos mesmos na página da EPM, com email personalizado para comunicação da comunidade com os mesmos. Se uma boa parte deles já têm essa informação disponível on-line em plataformas como o Linkedin não antevejo compreensível qualquer tipo de perplexidade ou resistência por parte de pessoas bem formadas académica e pedagogicamente. 4 - Pugnar pela publicitação dos avisos de abertura relativos a concursos de professores e que sejam previamente publicitados também os critérios de selecção e estimular a contratação de professores novos com formação recente (até para contrabalançar os que já têm uma longa experiência de ensino, a medida que estes se forem aposentando). 5 - Promover um diálogo regular com a Fundação Escola Portuguesa de Macau, com auscultação dos pais previamente a qualquer medida estruturante a tomar. Pretendemos uma APEP activa e mobilizadora, que esteja sempre pronta a auscultar e a congregar a opinião dos pais e a ser uma incansável provedora dos interesses dos mesmos. Encaramos a próxima Assembleia Geral com a tranquilidade de quem só pode ganhar: ou a glória da vitória que assumiremos com humildade e lealdade as propostas do nosso programa, ou a honra da derrota com o fair play e a liberdade readquirida, na certeza do dever cumprido, esperando que, ainda assim, as ideias que defendemos possam vir a ser implementadas, por úteis e necessárias ao devir da Escola Portuguesa de Macau. Faço um apelo à Vossa participação na vida associativa da APEP de modo a permitir que os anseios dos pais e encarregados de educação sejam considerados na comunidade educativa. Mais caladinhos ou empenhados o que está em causa é necessário esse esforço de perder algumas horas por ano, de modo a dar força à APEP. Não votar, ou delegar n´outrem, é o mesmo que votar naquilo que não queremos! P.S: Lamento e penitencio-me perante todos aqueles que se mobilizaram para votar dia 29 e se depararam com a impugnação. Acreditem que tudo fiz, previamente, para o evitar. Mas como jurista penso que não nos devemos sujeitar a factos consumados sem lutar para que as listas tenham as mesmas possibilidades de sucesso, no respeito escrupuloso pelos princípios e pelas regras eleitorais. *Candidato a Presidente da Direcção da APEP


19 hoje macau segunda-feira 5.12.2016

OPINIÃO

dissonâncias RUI FLORES

Crise de valores

WOODY ALLEN, BLUE JASMINE

ruiflores.hojemacau@gmail.com

A

recente eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América veio reforçar a ideia de que vivemos tempos em que os valores estão em crise. A campanha e as propostas que o presidente-eleito norte-americano foi anunciando para o futuro do seu país e do mundo, são antes de mais exemplos típicos de populismo político. Eles incluem, entre outros, a ideia de que Trump é um impoluto, que representa todos os impolutos da nação, opondo-se aos poderosos e às elites; que é alguém que se assume como o verdadeiro representante da nação, que se levanta em nome de todos nós para enfrentar os outros, os que querem destruir a nação; alguém que preconiza soluções extremas para a resolução dos problemas que o país enfrenta. Os estados europeus da NATO querem continuar a beneficiar da protecção dos Estados Unidos? Vamos obrigá-los a pagar! Temos de acabar com a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos? Construa-se um muro. Todos estes exemplos que, de acordo com a doutrina, são casos evidentes de populismo político, põem em evidência o racismo, a xenofobia, a intolerância, o desrespeito pelo próximo, a falta de solidariedade. Enfim, constituem um verdadeiro ataque aos princípios basilares, por exemplo, da Organização das Nações

Unidas (ONU) e dos valores que estiveram na base da construção da União Europeia (UE). Por causa disto, muitos analistas das relações internacionais têm vindo a falar num regresso da realpolitik à cena internacional. Ou seja, estaríamos por estes dias a viver um retrocesso considerável na forma de gerir a coisa pública dos Estados. Em que as considerações morais e ideológicas estariam de um modo sistemático a soçobrar às de natureza prática. Não se deve julgar, no entanto, que este sinal de “progresso” é algo exclusivo dos Estados Unidos de Trump. Cinco meses antes da vitória do magnata dos casinos e dos hotéis sobre Hillary Clinton, em Junho, a UE aprovou a nova estratégia global para a política externa e de segurança. Por iniciativa da alta representante para os negócios estrangeiros e de segurança, a italiana Federica Mogherini, a União reviu o documento estratégico em que estão plasmados os princípios que devem ser seguidos pela UE enquanto bloco no seu relacionamento com o “mundo exterior”. Mas, ao mesmo tempo que elenca um conjunto de prioridades, princípios, valores, interesses (é muito significativo verificar que os termos são usados indistintamente para assinalar a base programática da politica externa comum), a estratégia afirma, com grande pompa, logo nas primeiras páginas

do documento, que as relações externas da União se regem por um certo “pragmatismo baseado nos princípios”. E quais são os princípios da UE em 2016? Eles envolvem uma hierarquia de valores que inclui a paz e a segurança, uma ordem global baseada no Estado de direito, democracia e direitos humanos, economia de mercado e prosperidade. O que a estratégia não estabelece – e é algo que está dependente dos interesses momentâneos do clube dos 28 – é qual a ordem que prevalecerá em caso de conflito de interesses. Irá a UE continuar relações comerciais com ditadores que não estejam empenhados numa agenda que envolva o respeito pelos direitos humanos? Até agora a resposta da UE não tem tido grandes considerações pelas questões essenciais da lista que a própria União estabeleceu. E não há razões para crer que as coisas venham a mudar no futuro próximo. No fundo, o que a estratégia pôs preto no branco foi que as relações externas da UE continuarão a mudar de acordo com os interesses momentâneos da realpolitik. O que este exemplo da UE demonstra é que a tendência veio pois de trás – até porque o documento aprovado em Junho demorou dois anos a ser elaborado e pretendeu responder a anseios e dificuldades detectadas há anos. Donald Trump não é,

Sem uma agenda que ponha os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito no topo das prioridades, há um enorme espaço para que as surpresas que afectaram o nosso futuro colectivo com as votações do Brexit ou de Trump se repitam

pois, o principal causador desta onda de choque em que parece que estamos a viver. E outros choques que se possam vir a sentir não estão relacionados com a capacidade de os Estados Unidos influenciarem o resto do mundo. As pessoas foram votar em Norbert Hofer na Áustria, também porque estão fartas de como a política está a ser conduzida no seu país. Votaram contra o referendo constitucional na Itália não porque não queiram governos estáveis, mas porque também estão cansadas da forma como os principais partidos têm conduzido o país. Querem algo de novo. Não têm visto grande coerência na aplicação dos valores, princípios, prioridades nas últimas décadas. Estão, pois, fartas. De não poderem alterar as coisas. De o Estado social que as trouxe até aqui não estar a dar a resposta de que precisam. Como escreveu esta semana no The Guardian Stephen Hawking, um dos grandes pensadores do nosso tempo, estamos a viver os tempos mais perigosos dos últimos anos. A elite, os partidos do centro têm de encontrar uma solução para a classe média que está todos os dias a perder empregos devido aos avanços tecnológicos, à computação, à inteligência artificial. Tudo isso tem levado ao aumento das vagas de migrantes que procuram nos países mais desenvolvidos um futuro para si e para as suas famílias. Contudo, sem valores, sem uma agenda que ponha os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito no topo das prioridades, nada disso vai ser possível. Há pois um enorme espaço para que as surpresas que afectaram o nosso futuro colectivo com as votações do Brexit ou de Trump se repitam. Ainda não batemos totalmente no fundo.


Em 1640 mandaram um traidor à pátria pela janela abaixo. Pena terem fechado a janela.

segunda-feira 5.12.2016

Atlântido

M

ACAU começou ontem a celebrar o 17.º aniversário da passagem de administração de Portugal para a China com uma parada em que se reivindica uma “cidade latina”, onde o português é língua oficial e “ponte” para outros mundos. “A língua portuguesa também é uma chave para abrir o mundo latino. Por isso, aproveitamos esta vantagem para abrir a porta, para abrir a plataforma, o intercâmbio entre a China, Macau e os países latinos”, disse à agência Lusa o presidente do Instituto Cultural de Macau, Ung Vai Meng.

A ideia da parada é também “promover Macau” e a sua cultura, através dos milhares de pessoas que atrai o desfile, em que participaram 60 grupos locais, de Hong Kong, da China, de Taiwan e de diversos países e territórios de latinos, acrescentou. O “desfile por Macau, cidade latina” realiza-se desde 2011, dentro das celebrações da criação da Região Administrativa Especial de Macau, integrada na China, a 20 de Dezembro de 1999, quando o território deixou de ser administrado por Portugal.

Desfile MACAU CELEBRA PASSAGEM DE ADMINISTRAÇÃO

Essa ponte latina GCS

A festa “Macau, Cidade Latina” custou este ano menos um milhão de patacas do que no ano passado e juntou mais 20% de pessoas do que a edição de 2015. O português continua a ser a chave para abrir portas ao mundo latino

DANÇA TUGA

Este ano, o Ballet Afro Tuga representou Portugal, naquela que foi a estreia no estrangeiro deste grupo, segundo disse à agência Lusa o director artístico, Hugo Menezes, que fez um balanço muito positivo desta passagem por Macau, realçando “a boa onda” do desfile e “a curiosidade” do público. O Ballet Afro Tuga, que existe desde 2011, levou até Macau 15 pessoas para esta parada, mas o espectáculo que costuma apresentar integra 40 elementos. Este grupo junta artistas que residem em Portugal que tocam e dançam percussões e ritmos tradicionais afro-mandigas, oriundos da região que abrange Guiné, Mali, Burkina Faso, Libéria, Senegal, Gâmbia e Costa do Marfim. As histórias do “Clássico das Montanhas e dos Mares” - “um popular clássico da antiguidade

chinesa que regista a geografia do mundo antigo, descreve divindades e animais grotescos e narra mitos bizarros, considerado a ‘enciclopédia’ mais antiga da China” - foram o pano de fundo da parada deste ano. O cortejo partiu, como habitualmente, das Ruínas de São Paulo, o ex-libris de Macau, com destino

União nuclear

TAILÂNDIA DETIDO SUSPEITO DE INCÊNDIO QUE CAUSOU 259 MORTOS

PUB

A polícia tailandesa deteve um cidadão paquistanês que é suspeito de em 2012 ter participado num incêndio provocado, que causou a morte de 259 pessoas no Paquistão, segundo a edição de sábado do jornal Bangkok Post. Abdul Rehman, de 46 anos, foi detido num hotel do centro de Banguecoque, depois de as autoridades paquistanesas terem advertido as autoridades tailandesas de que ele tinha viajado para a Tailândia. Segundo a investigação policial no Paquistão, Abdul Rehman faz parte de um grupo de crime organizado naquele país. Este grupo criminoso seria o autor do incêndio numa fábrica têxtil em Carachi, no sul do Paquistão, depois de o dono da fábrica se ter recusado a desembolsar cerca de 200.000 dólares. Além de 259 vítimas mortais, o incêndio causou meia centena de feridos e foi considerado um dos mais mortíferos da história do país.

à praça do Tap Seac, um local amplo com calçada à portuguesa e edifícios históricos. Este ano houve, contudo, uma nova rota, com alguns grupos a partirem do Largo do Senado. Entre os grupos participantes, houve representantes de Espanha, França, Itália, Brasil ou Uruguai,

Seul e Tóquio contra Pyongyang

A

Coreia do Sul e o Japão anunciaram sexta-feira novas sanções unilaterais contra a Coreia do Norte pelos testes nucleares e de mísseis levados a cabo este ano por Pyongyang. O anúncio surge dois dias depois do voto do Conselho de Segurança para reforçar as sanções internacionais à Coreia do Norte na sequência do seu último ensaio nuclear, limitando as exportações norte-coreanas de carvão. Uma resolução, elaborada pelos Estados Unidos após três meses de difíceis negociações com a China (praticamente a única saída para o carvão da Coreia do Norte), foi aprovada por unanimidade pelos 15 países membros do Conselho de Segurança. As sanções “são as mais severas e as mais completas que o Conselho de Segurança já impôs” e enviam “uma mensagem

inequívoca”, sublinhou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na abertura da sessão. Ban lembrou que Pyongyang realizou este ano dois ensaios nucleares, em Janeiro e em Setembro, e pelo menos 25 disparos de mísseis balísticos, desafiando as resoluções da ONU. Em resposta, Pyongyang advertiu com uma série de medidas não especificadas de autodefesa. O governo de Seul, por sua vez, disse que iria colocar na lista negra dezenas de novos oficiais norte-coreanos e entidades ao proibir os sul-coreanos de se envolverem em negócios financeiros com eles. Entre os oficiais norte-coreanos estão Choe Ryong Hae e Hwang Pyong So, próximos do líder norte-coreano, Kim Jong Un. Um comunicado do governo sul-coreano refere que vai sancionar uma empresa sedeada na China e quatro dos seus executivos por alegadamente apoiarem actividades

além de Portugal. O desfile custou 15 milhões de patacas, menos um milhão de patacas do que no ano passado. Segundo Ung Vai Meng, a organização estima que este ano a assistência representou mais 20% do que no ano passado, quando foi calculada em 100 mil pessoas.

financeiras por um banco norte-coreano sancionado pela ONU. O Departamento de Justiça dos EUA já tinha revelado acusações criminais contra o Dandong Hongxiang Industrial Development e os indivíduos no início deste ano.

REVISÃO NIPÓNICA

Já o Japão disse que também estava a rever as suas sanções contra a Coreia do Norte. Em Tóquio, o secretário Yoshihide Suga falou aos jornalistas sobre a decisão e criticou os lançamentos de mísseis e testes nucleares como “uma nova ameaça que não pode ser permitida”. O Japão já tem em vigor sanções contra a Coreia do Norte. Suga disse que o país vai renovar esforços para trazer para casa todos os japoneses sequestrados pela Coreia do Norte, assim como colocar mais entraves a visitas de responsáveis norte-coreanos e penalizar grupos relacionados, incluindo na China. Os Estados Unidos também deverão revelar sanções próprias adicionais contra a Coreia do Norte, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.