Hoje Macau 05 DEZEMBRO 2022 #5145

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Semana da ascensão

Passada uma semana sobre a descoberta do caso do taxista infectado, são já 32 os diagnósticos positivos de covid-19. Sábado, foram detec tados mais oito casos, sete na zona de controlo e um na comunidade. Ontem, foram revelados mais quatro casos, três importados e um associado ao taxista. Também ontem, foram emitidas novas regras de classi ficação de zonas vermelhas.

GONÇALO LOBO PINHEIRO LUSA
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 5 DE DEZEMBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5147 PÁGINA 7 CHINA ALGUM ALÍVIO LAWRENCE LEI MÁSCARAS DO QUOTIDIANO SEGURANÇA NACIONAL PRONTA A USAR PEREIRA COUTINHO O LUGAR DOS PORTUGUESES OBRAS PÚBLICAS TUDO AO BARULHO PÁGINA 10 EVENTOS PÁGINA 4 GRANDE PLANO PÁGINA 5
LI BAI & DU FU Tradução de António Graça de Abreu DESFAZENDO FIXAÇÕES Xunzi

Coutinho, em discurso directo

Pereira Coutinho disse, em entrevista à Lusa, ter dúvidas sobre a continuidade de oportunidades de emprego no território para portugueses, tal como acontecia no passado, lamentando a saída de quadros qualificados lusos. Além disso, vinca a tradicional proximidade entre políticos e interesses económicos e a necessidade de transparência governativa

damente do cônsul-geral” nesta área, “a dizer que Portugal tem quadros qualificados para dar esses contributos”.

Vê com bons olhos os pro tocolos de cooperação firmados entre Portugal e Macau ao nível da educação, sobretudo ao nível do ensino superior, mas permanece a “preocupação quando nos depar tamentos de estudos portugueses não são preenchidas as vagas com professores portugueses” no território, que tem registado uma subida da taxa de desemprego, com muitos deputados, associa ções e as autoridades a defende rem uma política prioritária de contratação local.

Pereira Coutinho sustentou que, por esta razão, “é preciso fazer algum trabalho de bastido res” e que “esse trabalho compete às autoridades (…) de Portugal, delegados, cônsul-geral, e também os conselheiros da comunidade portuguesa, que estão a fazer um excelente trabalho”.

“Quando verifico no Boletim Oficial a saída de um ou outro desses senhores que estão a contribuir com a especialidade nessas vertentes, e não são substituídos, aí dói-me, porque, de facto, é menos um, mais uma perda.”

DEPUTADO INTERROGA-SE DE HAVERÁ EMPREGO PARA PORTUGUESES EM MACAU

pandémicas e numa eliminação das quarentenas obrigatórias nos hotéis, que tem defendido na As sembleia Legislativa, o deputado admitiu que a política de prevenção tem contribuído para algum mal -estar na comunidade.

“Existem tantos portugueses que não estão a ver os pais há anos. Três anos e tal. Têm pais idosos. [Com] 80, 90 anos de idade. Têm filhos nas universidades europeias com os quais não têm contactos pessoais”, realçou.

“N

ADA foi alterado quanto à políti ca dos portugue ses virem para cá trabalhar”, subli nhou. Mas, “será que existirão empregos para os portugueses virem para Macau?”, perguntou, para concluir: “Essa é que é a grande dúvida”, apontou o deputado José Pereira Coutinho, em entrevista à Lusa.

Em causa está a crise económi ca, desencadeada pelas restrições pandémicas, mas também a saída de quadros qualificados portugue ses, que não são substituídos por outros vindos de Portugal, mas por quadros locais ou do interior da China, salientou.

“Preocupa-me (…) a vinda de, por exemplo, mais médicos especialistas, mais juristas, mais delegados do MP [Ministério Pú blico], mais juízes para Macau”, explicou. “Quando verifico no Boletim Oficial a saída de um ou outro desses senhores que estão a contribuir com a sua área pessoal de especialidade nessas vertentes, e não são substituídos, aí dói-me, porque, de facto, é menos um, mais uma perda”, lamentou.

Trabalho de bastidores

Ainda assim, ex-conselheiro das comunidades portuguesas e de putado da Assembleia Legislativa destacou o “excelente trabalho” do “Governo de Portugal, nomea

O deputado disse estar conven cido de que as regras pandémicas não vão durar eternamente e que esse não será, por isso, o factor que vai determinar o abandono do território no futuro. “[Mas] Vejo de uma outra perspectiva: é se as oportunidades de emprego continuarão a existir como no passado. Aí sim, preocupa-me bastante, quando não substituem as pessoas nas áreas que acabei de referir”, enfatizou.

“Quando sai um português é evidente que não têm aquele cuidado de substituir por um outro português, para marcar a diferença”, uma realidade que tem o risco de tornar Macau como mais uma cidade do Interior da

China, alertou, sem que se acau tele o estatuto diferenciador da multiculturalidade.

“Esse património humano tem de ser mantido e aí estamos de facto a ficar de alguma forma preocupados porque não sei se é desleixo ou também porque há grande procura para preencher as vagas na função pública. Em Macau toda a gente quer trabalhar na Função Pública. E agora ainda muito mais, porque as receitas dos casinos estão a diminuir”, argumentou.

Coração apertado

Apesar de estar convicto numa mu dança a breve prazo das restrições

“Tudo isto somado, faz com que algumas pessoas sintam efeitos psicológicos, sobretudo aquelas que olham para a televisão e vêem o mundo inteiro a voltar à norma lidade”, resumiu, para de seguida expressar um lamento: “É pena que esta pandemia não tenha facilitado a saída das nossas autoridades competentes nas diversas áreas. Não têm ido para o estrangeiro, espero que saiam, vejam o mun dial [de futebol]. Ninguém com máscara e nós andamos ainda com máscaras na rua”.

Tudo na mesma

O deputado disse ainda que será difícil no futuro ter uma maioria dos parlamentares eleitos demo craticamente em Macau.

“Antes do estabelecimento da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi uma pena não ter sido alterado, de forma a que a maioria dos deputados na Assembleia Legislativa (…) sejam eleitos pela via directa”, sustentou Pereira Coutinho.

“Não foi assim no passado na administração portuguesa, não foi assim após o estabelecimento da RAEM e até à presente data, e não vai ser fácil no futuro termos

FOTOS GONÇALO LOBO PINHEIRO LUSA 2 grande plano 5.12.2022 segunda-feira www.hojemacau.com.mo
CRISE

uma Assembleia Legislativa [com deputados] maioritariamente eleitos pelo voto democrático”, afirmou o parlamentar, que nas eleições do ano passado conse guiu tornar a sua lista na terceira força política na AL, numas elei ções marcadas pela exclusão dos

“Quando sai um português é evidente que não têm cuidado de substituir por um outro português, para marcar a diferença”, realidade que tem o risco de tornar Macau como mais uma cidade do Interior da China, alertou Coutinho

candidatos associados ao campo pró-democracia.

A Assembleia Legislativa é constituída por 33 deputados, 14 dos quais eleitos directamente pela população, 12 por sufrágio indirecto (através das associações) e sete nomeados pelo Chefe do Executivo.

Por outro lado, Pereira Cou tinho lamentou que até hoje não exista “um regime específico de [declaração] de conflito de inte resses”.

“É um regime [em] que tenho estado a trabalhar nos últimos 20 anos em Macau para que as coisas sejam mais transparentes, para que saibamos quem é quem cá em Macau, o que está por trás, quais são as suas responsabilidades, quais são as suas empresas, que funções exercem em determinadas associações”, explicou.

O deputado afirmou que “há deputados que nem habilitações académicas e profissionais põem lá no seu perfil individual da As sembleia Legislativa”.

E insistiu na crítica: “Macau foi sempre, no passado, no tem po da administração portuguesa, uma teia de interesses, de conflito de interesses no seu dia-a-dia.

Porque é que as pessoas querem

“É pena que esta pandemia não tenha facilitado a saída das nossas autoridades. Não têm ido para o estrangeiro, espero que saiam, vejam o mundial [de futebol]. Ninguém com máscara e nós andamos ainda com máscaras na rua.”

ser deputados? Porque de facto facilita a vida do empresário, da sua actividade comercial, e isto foi sempre assim no passado, no tempo da administração portuguesa, e continua a ser agora”.

Imaculados elefantes

Afectada pela crise económica cau sada pela pandemia de covid-19, Pereira Coutinho garantiu que a população está atenta ao dinheiro desperdiçado pelos responsáveis políticos em projectos megalóma nos, nos “elefantes brancos” que têm impacto no erário público, sobretudo quando a sociedade sente cada vez mais na pele o

desemprego, sobretudo o juvenil, num território em que a população está a envelhecer, em que há falta de contribuições sociais, em que as receitas do jogo não são suficien tes para cobrir as despesas e em que as reservas financeiras estão a diminuir.

Ainda que as pessoas vivam na quela que “continua a ser a cidade mais segura do mundo”, hoje há cada vez mais uma grande pressão psicológica”, num território em que a questão da habitação foi sempre um grande problema, mas que foi agora substituído por um “muito mais grave”. Ou seja, precisou, o desemprego, que trouxe ainda ‘à boleia’ outras adversidades, umas mais locais, outras potenciadas pelo cenário de crise mundial, como “a inflação, a subida dos preços e dos bens essenciais, a perda da qualidade de vida e do poder de compra”.

“Há deputados que nem habilitações académicas e profissionais põem lá no seu perfil individual da Assembleia Legislativa.”

“E isto tem afetado tanto que se está a repercutir na sociedade com o número de suicídios, no aumento de pessoas a pedir os cestos de comida”, argumentou, ressalvando que o aumento em Macau no número de suicídios durante o período pandémico tem “várias causas”.

“Nós sabemos que muitas dessas causas têm a ver com al tercações familiares, as reduzidas dimensões das habitações, o tra balho parcial, as dificuldades de pagar as amortizações, as rendas e os sustentos dos filhos”, elencou, sustentando que “há uma série de problemas que advêm das regras pandémicas extremamente rigo rosas e que têm feito com que as pessoas (…) não tenham receitas suficientes para ultrapassar as dificuldades”.

Pereira Coutinho defendeu que resta “ter esperança que as regras pandémicas sejam eliminadas, que a vida normalize” e que “haja mais turistas, que se crie mais riqueza através das pequenas e médias empresas” e que “Macau seja cada vez menos dependente (…) do jogo, de acordo com aquilo que está planeado pelo Governo nos próximos dez anos, e que não vai ser fácil”, admitiu.

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JIANG ZEMIN OBSERVADOS TRÊS MINUTOS DE SILÊNCIO

OGoverno e os principais titu lares de cargos públicos vão observar amanhã três minutos de silêncio durante a cerimónia me morial em homenagem ao antigo Presidente da China Jiang Zemin.

“C

OM vista a preencher as lacunas do siste ma jurídico, a obter protecção contra os riscos de segurança e a melhorar o nível de aplicação de lei, a proposta da revisão de lei deve ser aplicada o mais breve possível”, pode ler-se no documento distribuído em conferência de imprensa.

Na mesma nota sugere-se “aditar as disposições relativas à atribuição do carácter urgente aos procedimentos para a execução da Lei relativa à defesa da segurança do Estado e ao seu tratamento confidencial dos processos, que, juntamente com as disposições de procedimento penal e as medidas preventivas acima mencionadas, são aplicáveis também aos crimes contra a segurança”.

O Governo de Macau avançou em Agosto com a consulta pública sobre revisão legislativa da lei da segurança nacional, que durou até 5 de Outubro, tendo recebido quase seis mil opiniões.

Na sexta-feira, durante a con ferência de imprensa do Conselho Executivo, o secretário para a Segu rança informou que a lei que vai ser agora remetida para a Assembleia Legislativa é essencialmente a mes ma que foi para consulta pública, apenas com alguns “ajustes técnicos e nos termos”.

Wong Sio Chak garantiu ainda que a lei está em sintonia com os pactos internacionais aplicados em Macau e que procura proteger os direitos fundamentais da popu lação, mas que tal não significa que as pessoas possam atentar contra a segurança do Estado.

A nova lei prevê, entre muitas outras disposições, punir qualquer

A lei mais forte

O Conselho Executivo de Macau anunciou na sexta-feira a con clusão da discussão sobre a nova lei de segurança do Estado. A proposta de lei segue agora para a Assembleia Legislativa para ser aprovada e “aplicada o mais breve possível”

pessoa no estrangeiro que cometa crimes contra a segurança nacio nal da China.

Lista de crimes

As autoridades anunciaram que querem “introduzir adaptações para sancionar legalmente qual quer indivíduo, organização ou associação que pratique actos prejudiciais à segurança do Es tado através das diversas formas de ligação”.

O crime de secessão de Estado passa a englobar a utilização de meios ilícitos não violentos. O

Wong Sio Chak garantiu que a lei está em sintonia com os pactos internacionais aplicados em Macau e que procura proteger os direitos fundamentais da população

crime de “subversão contra o Governo Popular Central” passa a ter uma maior abrangência e a ser definido como “subversão contra o poder político do Estado”.

Ao crime de sedição acrescenta -se que “é punível criminalmente quem, pública e directamente, incite à prática do crime de rebelião que prejudique a estabilidade do Estado”. O crime de “subtracção de segredo de Estado” passa a denominar-se de “violação de segredo de Esta do”, com uma maior abrangência e agravamento da sanção.

Com a nova legislação propõe -se criar o crime de “instigação ou apoio à sedição”, para se “reforçar a política penal de defesa da segu rança nacional e criminalizar de forma independente a instigação ou a assistência relacionada”.

Dados e emprestados

Outra proposta passa por criar “a medida preventiva de ‘intercepção de comunicação de informações’”, que, na prática, significa a possi bilidade de aceder ao registo de

comunicações dos últimos seis me ses directamente de operadores de telecomunicações e prestadores de serviços de comunicações em rede.

Na nova legislação prevê-se igualmente a introdução da medida de “restrição temporária de saída de fronteiras”, o que na prática possi bilita que alguém seja detido sem ainda ter sido constituído arguido, “de modo a garantir que os suspeitos possam cooperar com as autoridades policiais na investigação e recolha de provas num período de tempo relativamente curto”.

Com a revisão legislativa pretende-se também passar a exigir o fornecimento de dados de actividades às organizações ou pessoas suspeitas em Macau, ficando apenas de fora quem goze de imunidade diplomática.

As autoridades pretendem ain da criar disposições idênticas às previstas na Lei da Criminalidade Organizada, na qual se determina a inexistência da suspensão da pena e a aplicação ao arguido da medida de prisão preventiva pelo juiz.

“Todos os funcionários públicos irão cumprir também os três minutos de silêncio e as sirenes das embar cações e as buzinas das viaturas do governo irão soar durante três minu tos, à mesma hora que na cerimónia memorial em homenagem” de Jiang Zemin, falecido na quarta-feira, de acordo com um comunicado do Gabinete de Comunicação Social.

As cerimónias fúnebres do antigo Presidente chinês Jiang Zemin estão marcadas para as 10h, e vão realizar -se em Pequim no Palácio do Povo.

O Governo, dirigido por Ho Iat Seng, determinou ainda que “os titu lares dos principais cargos da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau], os membros do Conselho Executivo e os dirigentes dos serviços públicos, assistam juntos à transmis são directa da cerimónia memorial, cumprindo três minutos de silêncio”.

A transmissão directa da ceri mónia memorial é assegurada pela Teledifusão de Macau (TDM).

O Executivo determinou ain da que na terça-feira “todos os titulares dos cargos públicos do Governo” não vão participar “em actividades públicas de entrete nimento e todas as actividades de entretenimento e de carácter cele brativo organizadas ou subsidiadas pelo governo serão suspensas”.

Também a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude vai coordenar com as instituições do ensino superior, não superior e do ensino infantil a coloca ção de bandeiras a meia haste amanhã e a suspensão de todas as celebrações.

“As escolas devem organizar, de acordo com as suas condições, os professores e os alunos para que estes cumpram os três minutos de silêncio à mesma hora que na ceri mónia memorial”, acrescentou.

GCS

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SEGURANÇA NACIONAL DIPLOMA PRONTO A USAR COM URGÊNCIA

Cartas de condução Pedida consulta pública sobre reconhecimento mútuo

Ron Lam pediu ao Governo uma consulta pública sobre o reconhecimento mútuo das cartas de condução, antes da sua implementação efectiva. O deputado reagiu desta forma ao anúncio feito pelo secretário para os

Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, de que o reconhecimento estaria para breve. Ron Lam recordou em interpelação escrita que em 2020, o Chefe do Executivo reconheceu que a matéria não tinha consenso social e era

controversa e que em 2018 o reconhecimento mútuo de cartas de condução motivou protestos. Além disso, o legis lador perguntou ao Governo se existe informação sobre a quantidade de trabalhadores não-residentes e alunos do

Interior da China que estudam no território que têm carta de condução e pretendem conduzir em Macau. Este universo abarca mais de 180 mil pessoas, volume que o deputado teme poder ter impacto no trânsito local.

JUSTIÇA SIO TAK HONG IMPLICA CHUI SAI ON NO PROJECTO DO ALTO DE COLOANE

Com a bênção do chefe

Tribunal Julgamento de Levo Chan hoje

O início do julgamento do antigo líder do grupo junket Tak Chun, Levo Chan, está marcado para hoje. Levo Chan está detido desde o fim de Janeiro. O fun dador do antigo segundo maior grupo de jogo VIP de Macau foi preso por suspeitas dos crimes

de chefia em associação secreta, que implica uma pena até 15 anos de prisão, branqueamento de capitais (8 anos de prisão), exploração ilícita de jogo (3 anos de prisão) e ainda crime de ex ploração ilícita de jogo em local autorizado (3 anos de prisão).

entre Li Canfeng e o ex-Chefe do Executivo, mas que não é um dado garantido que este venha a ser chamado a testemunhar no caso.

Para poder ser arrolado como testemunha no processo, Ho Iat Seng terá de autorizar a compa rência de Chui Sai On em tribunal.

Vidas passadas

Na sessão de sexta-feira do julgamento dos ex-directores das Obras Públicas, o arguido Sio Tak Hong garantiu que um dos projectos suspeitos recebeu luz verde de Chui Sai On. O empresário indicou que Carlos Marreiros poderia testemunhar a aprovação do ex-Chefe do Executivo e sugeriu o arrolamento do arquitecto como testemunha

O nome e acções do ex-governante têm sido uma constante durante o julgamento. O ex-director da DSSOPT indicou ao colectivo de juízes que conhecia muito bem Chui Sai On antes de ser nomeado para dirigir as Obras Públicas e que terá sido o ex-líder do Governo a convencê-lo a regressar à adminis tração pública.

A sessão de sexta-feira ficou também marcada pela alegada não declaração de dois apartamentos no Windsor Arch por Li Canfeng, que afirmou ter questionado Chui Sai On e Chui Sai Cheong, deputado e irmão do ex-governante, que terá sido auditor do projecto.

O ex-director das Obras Pú blicas defendeu que as fracções teriam servido de pagamento por serviços de engenharia prestados ao empresário Ng Lap Seng antes de ter ingressado na administração pública.

Mais uma vez, Li apontou à família Chui, afirmando que nunca teve problemas fiscais em assuntos em que foi aconselhado por Chui Sai Cheong, e vincou que o próprio ex-Chefe do Executivo lhe terá as segurado que não haveria problema quanto à hipotética não declaração dos apartamentos, uma vez que se tratavam de remunerações recebi das após o prazo de declaração do imposto profissional.

Nascimento de Jiangmen

DEPOIS de Li Canfeng, tam bém o empresário Sio Tak Hong sublinhou o papel do ex-Chefe do Executivo

Chui Sai On no projecto do Alto de Coloane, um dos casos em apreço no julgamento dos ex-directores dos Serviços de Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) Jaime Carion e Li Canfeng, e dos empresários Sio Tak Hong, William Kuan e Ng Lap Seng.

A última sessão foi marcada pelas primeiras declarações de Sio Tak Hong, perante o colectivo do Tribunal Judicial de Base, que corroborou a tese já defendida por

Li Canfeng sobre o envolvimento de Chui Sai On no projecto do Alto de Coloane.

De acordo com o Canal Macau da TDM, Sio Tak Hong assegurou em tribunal que o ex-Chefe do Exe cutivo garantiu numa reunião que os terenos para onde estava previsto

o projecto do Alto de Coloane não tinham de seguir as delimitações obrigatórias aplicadas ao resto de Coloane. O empresário contou que o governante máximo da RAEM à altura lhe terá confirmado que o projecto não teria de seguir as regras definidas para a altura de edifícios.

Li Canfeng afirmou que nunca teve problemas fiscais em assuntos em que foi aconselhado por Chui Sai Cheong, e vincou que Chui Sai On lhe terá assegurado não ser necessário declarar os dois apartamentos no Windsor Arch

Durante o seu depoimento, o empresário pediu ao tribunal para que o arquitecto Carlos Marreiros fosse chamado a depor como testemunha, uma vez que terá estado presente na reunião em questão.

Como tal, Sio Tak Hong consi derou que a acusação do Ministério Público (MP) não tem cabimento.

O arrolamento de testemunhas tem sido um pedido dos arguidos. Recorde-se que antes, Li Canfeng terá sugerido ao MP que Chui Sai On fosse ouvido em tribunal. A TDM indica que a acusação terá mostrado interesse na relação

As relações entre Jaime Carion e o empresário Sio Tak Hong foram também esmiuçadas pelo MP. O empresário indicou que a ligação surgiu com a esposa do ex-director da DSSOPT, Lei Wai Cheng, tam bém arguido no processo, que par ticipou na fundação da Associação de Conterrâneos de Jiangmen. A associação que nos dias de hoje é uma das forças políticas com maior presença na Assembleia Legislati va foi fundada por Sio Tak Hong, alegadamente a pedido do Chefe do Executivo, e a esposa de Jaime Carion foi a vice-presidente. Ac tualmente, é representada no órgão legislativa pelos deputados Zheng Anting e Lo Choi In. João Luz

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Chui Sai On, ex-Chefe do Executivo Alto de Coloane GCS TIAGO ALCÂNTARA

O povo é muito sereno

Analistas ouvidos pela Lusa defendem que as manifestações na China contra as restrições pandémicas dificilmente farão eco em Macau, onde uma estratégia “menos rígida”, apoiada pela distribuição de dinheiro e subsídios, tem conseguido “atenuar o ressentimento público”

UMA vaga de protestos alastrou-se, nos últimos tempos, a várias cidades chinesas contra as rigorosas medidas de confinamento impostas pelas autoridades nacionais. A contestação intensifi cou-se após a morte de dez pessoas num incêndio, num edifício alvo de confinamento em Urumqi, capital da região autónoma de Xinjiang.

Macau, que registou seis mortes desde o início da pandemia, também segue a política de ‘zero covid’, apostando em testagens em massa, confinamentos de zonas de risco e quarentenas de cinco dias para quem chega ao território – com excepção de quem vem da China continental.

“Temos cada vez mais pessoas a queixarem-se que se seguirmos a

política do Interior da China vamos gerar mais problemas em Macau, mas parece-me que o ressenti mento público ainda não alcançou aquele nível”, começou por dizer o cientista político Eilo Yu.

O professor da Universidade de Macau observou, porém, que a estratégia em Macau é “menos rígida” do que no Interior da China, estando, além do mais, amparada por “subsídios e dinheiro”, na

forma, por exemplo, de várias rondas de distribuição de cartões de apoio ao consumo no valor de oito mil patacas.

Protesto a solo

Em solidariedade com as vítimas de Urumqi e os protestos na China, um estudante da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), oriundo do interior da China, manifestou-se no início

desta semana nas instalações do estabelecimento de ensino.

Apesar da imagem do episódio ter aparecido nas redes sociais, o jovem, que aparecia a segurar um papel A4 branco – já um símbolo de resistência no país – pediu à Lusa para não ser identificado pelo nome, por receio de sofrer represálias.

“Vi muitos estudantes univer sitários, um pouco por todo o país, a serem suficientemente corajosos para se levantarem e erguerem papéis brancos em defesa dos compatriotas, e soube nessa altura que podia fazer algo, mesmo que a uma escala menor”, explicou.

O manifestante solitário contou que esteve uma hora no local, “até ser persuadido por um professor a ir-se embora” e que um segurança “impediu pessoas de fotografa rem” o acto de contestação.

O docente, uma das várias pes soas entrevistadas para este trabalho que não quis divulgar a identidade – “este é um tema muito sensível” - apontou diferenças entre a popu lação de Macau e de Hong Kong, onde, na segunda-feira, estudantes protestaram contra as medidas de contenção da pandemia na China.

“A população [de Hong Kong] está mais cansada do que a de Macau e algumas pessoas são mais sensíveis do que aqui”, disse.

“Ao receber-se dinheiro do Governo, existe a obrigação de não se ter voz”, concretizou.

Também o silêncio da comuni cação social local pode justificar o alheamento da população de Macau, reforçou o politólogo Eilo Yu. Mas ressalvou: “Se a situação piorar e for feito barulho junto da comunidade internacional, então acredito que mais residen tes de Macau se apercebam da campanha e das manifestações e isso poderá gerar algum tipo de empatia”, referiu.

No mesmo sentido, o deputado português José Pereira Coutinho considerou que os média em Ma cau estão a falhar: “Muitas vezes nem sequer relatam questões que os deputados levantam bastante sérias”. E completou, referindo-se aos protestos: “Quanto mais aquilo que está no interior do continente”.

O também presidente da Asso ciação dos Trabalhadores da Função Pública, para quem a situação em Macau “não está tão mal ao ponto de as pessoas saírem à rua”, defendeu ainda que não é com manifestações “que se resolvem os problemas”.

Lei da rolha

A Lusa contactou outros dois aca démicos para este trabalho, mas sem sucesso. Num email, uma outra docente universitária disse não acreditar que as manifestações se alastrem a Macau, porque além de as medidas de prevenção pan démica não serem “tão duras”, em comparação com o outro lado da fronteira, “para a maior parte das pessoas em Macau a mobilidade não é tão importante”.

“A passagem fronteiriça para Zhuhai [cidade adjacente a Macau] continua a ser frequente apesar dos inconvenientes e para aqueles que pensam que a mobilidade interna cional é importante provavelmente já deixaram Macau nos últimos dois anos ou estão tristemente a pensar deixar”, indicou.

Pui Ching Turma de neto de taxista volta às aulas

A turma do neto mais novo do taxista que esteve na origem do surto que afecta Macau regressa na quarta-feira às aulas, informou ontem o deputado e director da Escola Secundário Pui Ching Kou Kam Fai. Na sequência da descoberta da infecção do aluno de 14 anos, toda a turma foi obrigada

a cumprir quarentena no Dome, e já estão em casa ainda em isolamento. No total, entre alunos e docentes, foram afectadas mais de 40 pessoas. Kou Kam Fai afirmou que a taxa de vacinação dos estudantes do nível secundário da escola Pui Ching é de cerca de 90 por cento, mas que no infantário é baixa.

Questão de sensibilidade

Para um sociólogo entrevistado pela Lusa, “a acção na MUST” tratou-se de um acto isolado, não existindo “uma dinâmica em Ma cau que motive as pessoas a saírem para a rua”.

A académica, que também não quis ver o nome referido neste texto, lamentou que a instituição para a qual trabalha “desencoraje os professores a falarem com a comunicação social”. Antes, “o nosso contributo com conheci mento e perspectivas era consi derado um serviço à comunidade e à sociedade de Macau. Sinto-me bastante chateada e enfraquecida”, concluiu. Lusa

OLGA SANTOS OLGA SANTOS 6 sociedade 5.12.2022 segunda-feira www.hojemacau.com.mo
ANÁLISE PATACAS E POLÍTICA ANTI-COVID “MENOS RÍGIDA” ATENUAM RESSENTIMENTO
Eilo Yu observou que a estratégia em Macau é “menos rígida” do que no Interior da China, estando, além do mais, amparada por “subsídios e dinheiro”
“Vi muitos estudantes universitários, um pouco por todo o país, a serem suficientemente corajosos para se levantarem e erguerem papéis brancos em defesa dos compatriotas, e soube nessa altura que podia fazer algo, mesmo que a uma escala menor.”
ESTUDANTE DA MUST

SSM ALVIS LO DIZ QUE PREVENÇÃO É REALIZADA DE FORMA CIENTÍFICA

Odirector dos Serviços de Saúde garantiu que os trabalhos de prevenção pandémica são realizados de forma científica de forma a serem altamente eficientes e não perturba rem a população. Citado pelo jornal Ou Mun, Alvis Lo explicou que as autoridades tentam ao máximo não cancelar eventos, não lançar mais rondas de testes em massa, e minorar os impactos das classificações de zonas de risco dentro da cidade.

Recentemente, as autoridades de Zhuhai abriram a hipótese de pessoas de contacto próximo poderem cum prir quarentena em casa. Questionado se haveria abertura para Macau im plementar uma medida semelhante, Alvis Lo respondeu que, apesar das medidas locais seguirem as nacionais, é sempre necessária uma ponderação para ver se é possível a aplicação em Macau.

O director dos SSM vincou que Macau continua a seguir a política dinâmica de zero casos, e que a coexistência com o covid-19 não é apropriada. Ainda assim, o res ponsável garantiu que a circulação nas fronteiras não será afectada mesmo que se verifiquem surtos nas cidades vizinhas. N.W.

Toi San Noiva presa em edifício

selado

No sábado à tarde, as celebrações de um casamento foram condicionadas pelo en cerramento de um prédio declarado como zona vermelha, devido à descoberta de casos positivos de covid-19. A situação caricata ocorreu no edifício Man Fok Kok, na Rua Dois da Cidade Nova de Toi San, e foi gravada e partilhada nas redes sociais. Cumprindo a tradição chinesa, o noivo acompanhado por uma comitiva de convidados dirigiu-se a casa da noiva. Porém, o ritual foi interrompido pela polícia que se preparava para isolar o prédio. Nas imagens partilhadas nas redes sociais pode-se ver o noivo a apelar à sensibilidade das autoridades, enquanto quem filmava o incidente insólito referia que a noiva ainda estaria no edifício. O canal chinês da Rádio Macau indicou que afinal não seria a noiva a pessoa retida no edifício, mas um seu familiar. Como a noiva não era moradora do prédio, os agentes permitiram a sua saída.

COVID-19 INFECÇÃO DO TAXISTA JÁ

GEROU 32 CASOS NUMA SEMANA

Tendência de subida

São já 32 os casos detectados de covid-19 só na última semana, muitos deles associados à infecção de um taxista revelada na passada segunda-feira. No sábado, foram descobertos oito casos nas zonas de controlo, um deles na comunidade, e ontem mais quatro, três deles importados

NÃO pára de au mentar o número de casos de co vid-19 associa dos ao primeiro episódio desco berto há exactamente uma semana, no passado dia 28 de Novembro, sendo agora um total de 32. No sábado, foram detectadas oito infecções, sete delas nas chamadas zonas de controlo e um na comu nidade, enquanto ontem o Centro de Coordenação e de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus de tectou mais quatro casos de covid-19, três deles importados e um associa do ao caso do taxista.

Uma das ocorrências diz respeito a uma mulher de 25 anos, cidadã chine sa, que chegou a Macau oriunda de Cantão, vinda das Portas do Cerco, no sábado, tendo testado positivo logo nesse dia. A mulher apresentou ainda sintomas ligeiros

de covid-19 como dores de cabeça, fadiga e sinais de desconforto. Depois de ter almoçado num restaurante na Rua de Pequim, entre as 13h e 14h de sábado, a mulher

esteve ainda no casino do Grand Lisboa. Este caso foi confirmado como sendo importado. O segundo caso des coberto ontem, diz res peito a um homem de 37

Não pára de aumentar o número de casos de covid-19 associados ao primeiro episódio descoberto há exactamente uma semana, no passado dia 28 de Novembro, sendo agora um total de 32

anos, também cidadão chinês, que viajou de comboio de Jinan para Zhuhai via Changsha, tendo chegado a Macau na quinta-feira. Na tarde de sábado testou positivo, sendo considerado um caso importado assin tomático. Em Macau, o homem esteve em vários casinos e casas de massa gens e saunas, sendo que, numa delas, onde marcou presença na sexta-feira, entre as 19h e as 22h,

não usou máscara. No sábado, entre as 11h10 e as 11h40, o homem esteve num restaurante na Rua de Nagasaki. A investi gação sobre este caso e o percurso do homem não está ainda concluída.

Dentro deste grupo, cabe ainda mais um caso de um homem de 52 anos, cidadão chinês, que voou de Pequim para Macau na sexta-feira, tendo testado positivo à covid-19 no sábado. Jantou no res taurante da Torre Eiffel, entre as 18h e 22h, na sexta-feira, tendo estado no sábado num bar do St.Regis à 1h. Nesse dia, o homem esteve ainda no restaurante do primeiro andar do hotel Four Seasons entre as 12h30 e as 14h.

Por sua vez, o caso local está relacionado com uma residente de 45 anos, enfermeira, que teve um contacto curto, na última terça-feira, com um dos casos positivos associa do à infecção do taxista. Mesmo usando máscara, a mulher testou positivo na noite de sábado, sem apresentar sintomas.

Novas regras

Entretanto, os resultados da medida de “três testes nos cinco dias”, que vi gora desde quarta-feira, e que terminou ontem, mostram que, das 82.307 amostras recolhidas de testes, se registaram ape nas três casos positivos. As pessoas em questão já foram submetidas a isolamento ou observação médica. Entretanto, o centro de coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus emitiu ontem novas regras para a classificação das zonas vermelhas. Segundo uma nota, caso sejam detectados dois ou mais casos num só edifício este fica designado como “edifício com código vermelho”, o que obriga os moradores a ficarem em casa. Se houver apenas um infectado num agregado familiar, o edifício passa a ter a classificação de código amarelo, devendo os restantes membros da família fazerem quatro tes tes em cinco dias. O prédio com código vermelho só passa a amarelo quando os testes derem negativo no dia seguinte ao fim do período de bloqueio.

RÓMULO SANTOS
sociedade 7 segunda-feira 5.12.2022 www.hojemacau.com.mo
RÓMULO SANTOS
GCS

Li Bai & Du Fu

Li Bai (701-762), taoista, e Du Fu (712-770), confucionista, são não só os maiores poetas da dinastia Tang (618-907) como também dos trinta séculos de poesia chinesa, dividindo-se, ainda hoje, as opiniões sobre qual deles será o génio supremo da arte poética da China. Conheceram-se em 744 em Luoyang, então a segunda capital do império, e durante alguns meses viajaram juntos pela província de Shandong. A amizade que os uniu, exemplar entre os letrados chineses, foi sempre mais forte e sincera por parte de Du Fu que dedicou a Li Bai quase uma dezena de poemas. De Li Bai para o seu amigo conhecem-se apenas dois poemas que aqui traduzo. Shaqiu é a actual cidade de Linching, na província de Shandong. O segundo poema traduzido — uma ironia aos “excessos” de rigor que Du Fu utilizava na construção da sua poesia —, só foi incluído nas obras de Li Bai em data muito posterior à sua morte:

戏赠杜甫

饭颗山头逢杜甫 顶戴笠子日卓午 借问别来太瘦生 总为从前作诗苦

ENCONTRO COM DU FU

PARA DU FU, DA CIDADE DE SHAQIU

Que faço eu em Shaqiu?

Vivo solitário ouvindo, noite e dia,  às portas da cidade, o sussurro de velhas árvores  agitadas pelo vento do Outono.  O vinho de Lu não mais me embriaga,  as canções de Qi não mais tocam o meu coração.  Meu pensamento, como as águas do rio Wen,  corre para o amigo que partiu para sul.

No alto da montanha do Arroz Cozido  encontrei Du Fu,  de chapéu de bambu  ao sol do meio-dia.  Desde o nosso último encontro,  tão magro, pele e osso.  Quanto sofrimento  por causa da poesia!

E agora três dos extraordinários poemas que Du Fu dedica a Li Bai. De recordar que na velha China acontecia com frequência os amigos dormirem numa mesma cama ou caminharem de mão dada. Eram gestos de grande amizade, afabilidade e bom gosto, em princípio sem conotação sexual:

與李十二白同尋範十隱居

李侯有佳句  往往似陰鏗  余亦東蒙客  憐君如弟兄   醉眠秋共被  攜手日同行  更想幽期處  還尋北郭生   入門高興發  侍立小童清  落景聞寒杵  屯雲對古城   向來吟橘頌  誰欲討蒓羹  不願論簪笏  悠悠滄海情

COM LI BAI, EM BUSCA DO ERMITÉRIO DO AMIGO FAN

O venerável Li Bai, versos capazes de deslumbrar os deuses,  tanta vez semelhantes aos de Yin Keng.

Viajámos ambos pelas montanhas Dongmeng,   gosto de ti, meu amigo, como gosto de um irmão.  No Outono, bêbados, adormecemos sob um mesmo cobertor,  deambulámos, ao acaso, de mão dada.

Imaginámos lugares para prodigiosos reencontros,   a norte das muralhas, de visita ao velho mestre.

Quanta alegria ao sair pelo portal de vime,  tão simples e natural a jovem criada!

Ao entardecer, o som frio do bater das lavadeiras,  castelos de nuvens cresciam sobre a velha cidade.  Outrora recitavas o poema “Em louvor das Laranjas”,  hoje a quem pedir uma sopa de malvas?    Que importam títulos e honrarias?...

Nosso sentir entra por dentro da imensidão do mar.

VIA do MEIO 5.12.2022 segunda-feira 8
沙丘城下寄杜甫  我来竟何事  高卧沙丘城   城边有古树  日夕连秋声  鲁酒不可醉  齐歌空复情   思君若汶水  浩荡寄南征

XUNZI 荀子 Elementos de ética, visões do Caminho tradução de Rui Cascais

夢李白

死別已吞聲

生別常惻惻

江南瘴癘地

逐客無消息

故人入我夢  明我長相憶  君今在羅網  何以有羽翼  恐非平生魂  路遠不可測

魂來楓葉青  魂返關塞黑  落月滿屋梁  猶疑照顏色  水深波浪闊  無使蛟龍得

SONHANDO COM LI BAI

um

Separados pela morte, engolir os soluços,  separados pela vida, tudo, tudo dói.

A sul do rio, a terra assolada pela malária,  nenhumas notícias do viajante degredado.

O meu amigo atravessou o meu sonho,  caminha na luz do meu pensar.

Foste agora apanhado pela grande rede,  quando abrirás de novo as tuas asas?

Talvez hoje sejas apenas um fantasma,  por estradas distantes, por distâncias imensas.

De regresso, a tua alma atravessa o verde das florestas,   de partida, perde-se em caminhos sinuosos e sombrios.

A lua desce, resplandecem as traves da casa,  gostava de ver o luar iluminando o teu rosto.

Profundas as águas, alterosas as ondas,  não te deixes agarrar pelos dragões do mar.

浮雲終日行  遊子久不至  三夜頻夢君   情親見君意  告歸常局促  苦道來不易  江湖多風波   舟楫恐失墜

出門搔白首   若負平生誌

冠蓋滿京華

斯人獨憔悴

孰雲網恢恢

將老身反累

千秋萬歲名

dois

As nuvens flutuantes oscilam todo o dia,  o amigo em viagem não regressou ainda.  Sonhei contigo três noites a fio,  tão grande a amizade, testemunho do teu sentir.  Outra vez, na partida, sempre perturbado,  um lamento, não será fácil regressar.  O vento, as ondas dos rios, o encrespar dos lagos,  o receio de afundar-se a tua barca.  Saías pelo portão, coçavas a cabeça branca,  iludido pela ambição de toda uma vida.

A capital inundada por grandes mandarins,  tu solitário, fatigado, abatido.  Não são largas as malhas da rede do céu,  mas ao entrar na velhice, agarraram o teu corpo.  Famoso durante mais mil, dez mil outonos,  por recompensa, a inútil imortalidade.

Desfazendo Fixações (V)

Como podem as pessoas conhecer o Caminho? Eis o que digo: com o coração. Como pode o coração co nhecer o Caminho? Eis o que digo: através do vazio, da unificação mental e da quietude. No coração, há sempre qualquer coisa. Contu do, existe aquilo a que se pode cha mar estar “vazio”. O coração é sem pre dúplice. Contudo, existe aquilo a que se pode chamar “unificação mental”. O coração está sempre em movimento. Contudo, existe aquilo a que se pode chamar “quietude”. Os seres humanos nascem e são dotados de consciência. Graças à consciência, têm foco. Focar-se é apreender algo. Contudo, exis te algo a que chamamos “vazio”. Não aquilo que já apreendemos ferir aquilo que estamos prestes a receber chama-se estar “vazio”. O coração nasce e é dotado de cons ciência. Consciência é consciência de diferenças. Estas diferenças são conhecidas em simultâneo e, ao serem conhecidas em simultâneo, são dúplices. Contudo, existe aqui lo a que se chama “unificação men tal”. Não deixar que uma ideia fira outra ideia chama-se “unificação mental”. Quando o coração dor me, então sonha. Quando relaxa, segue o seu caminho. Quando lhe damos uso, começa a gizar planos. Assim, o coração está sempre em movimento. Contudo, existe aquilo a que se chama “quietude”. Não deixar que sonhos e preocupações perturbem o nosso entendimento chama-se estar em “quietude”. Quanto àqueles que ainda não en tenderam o Caminho, mas buscam o Caminho, eis o que lhes digo: va zio, unificação mental e quietude: estes devem ser os teus princípios. Se quem estiver em busca do Ca minho conseguir realizar o vazio, então nele entrará. Se quem estiver

a trabalhar no Caminho conseguir realizar a unificação mental, então nele estará sem reservas. Se quem estiver a ponderar o Caminho con seguir realizar a quietude, então o discernirá com clareza. Aquele que conhece o Caminho e observa as coisas através dele, que conhece o Caminho e o põe em prática, esse é alguém que encarna o Caminho. Estar vazio, de mente unificada e em quietude – a isso se chama grande claridade e brilho. Para al guém assim, nenhuma da miríade de coisas toma forma sem ser vis ta. Nenhuma é vista sem ser jul gada. Nenhuma é julgada e perde a sua posição apropriada. Esse al guém senta-se no seu estúdio, mas sabe de tudo o que acontece no perímetro dos quatro mares. Vive hoje, mas julga o que sucedeu há muito e é longínquo no tempo. Ob serva exaustivamente a miríade de coisas e conhece a sua verdadeira disposição. Inspecciona e examina a ordem e a desordem e discerne as suas medidas. Alinha o Céu e a Terra e arranja e torna útil a miría de de coisas. Institui uma grande ordem e todo o mundo é abraçado por ela.

Como é vasto e extenso... Quem poderia compreender os seus verdadeiros limites?

Como é elevado e extenso... Quem poderia compreender a sua verdadeira virtude?

Como é activo e variado... Quem poderia compreender a sua verdadeira forma?

O seu brilho iguala os do sol e da lua. A sua grandeza preenche as oito direcções. Alguém assim é chamado de Grande Homem. Como poderia haver nele qual quer fixação?

Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.

VIA do MEIO 5.12.2022 segunda-feira 9

IMPRENSA XINHUA REÚNE COM ASSOCIATED PRESS

Opresidente da Agência de Notícias Xinhua, Fu Hua, reuniu-se com Daisy Veerasin gham, presidente da Associated Press (AP), via videoconferência em Pequim, na quinta-feira.

Observando que este ano marca o 50. º aniversário da cooperação entre os dois lados, Fu disse que a Xinhua está disposta a trabalhar com a AP para continuar a cobrir histórias sobre as relações China-EUA de maneira abrangente, objectiva e precisa, a fim de adicionar energia positiva aos esforços que trazem os laços bilaterais de volta ao caminho do crescimento sólido e estável, relata o Diário do Povo.

Ao informar as ua homóloga da AP sobre as metas e tarefas estabelecidas no 20. º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, Fu disse que a moderni zação chinesa deve fornecer mais oportunidades para o mundo.

A Xinhua está disposta a melhorar a cooperação com a AP para cumprir seriamente os deveres e servir como uma ponte que facilita a compreensão mú tua entre as pessoas de todos os países, disse o responsável da agência chinesa.

Durante o encontro, Veerasin gham estendeu suas condolências pela morte do camarada Jiang Zemin, pelas quais Fu expressou agradecimentos.

Veerasingham disse que boas relações China-EUA são impor tantes para o mundo. A AP tem coopera há largos anos com a Xi nhua e espera maior comunicação e cooperação em vários campos entre os dois lados.

Sinais de mudança

Apesar de manterem a política de zero-casos no combate à pandemia, as autoridades chinesas começam a dar indicações de uma nova abordagem ao aliviarem as restrições em algumas das principais cidades do país. A taxa de vacinação continua a ser um dos maiores factores de preocupação

AChina anunciou ontem duas mor tes adicionais causadas pela covid-19, en quanto algumas cidades agem com cautela para aliviar as restrições de combate ao SARS -CoV-2, após o aumento das manifestações contra as medidas relacionadas com o novo coronavírus.

A Comissão Nacional de Saúde chinesa disse que as mortes ocorreram nas províncias de Shandong e Sichuan. Nenhuma infor mação foi fornecida sobre a idade das vítimas ou se esta vam totalmente vacinadas.

Ontem, a China anun ciou mais 35.775 casos entre sábado e domingo, 31.607 dos quais assintomá

ticos, elevando o total para 336.165, com 5.235 mortes.

A China, onde o vírus foi detetado pela primeira vez no final de 2019 na cidade central de Wuhan, é o último grande país a tentar interromper completamente a transmissão por meio de quarentenas, confinamentos e testes em massa.Analistas

consideram que as preo cupações com as taxas de vacinação figuram com destaque na determinação do Partido Comunista de manter a sua estratégia.

Nove em cada 10 chi neses foram vacinados, entretanto, apenas 66 por cento das pessoas com mais de 80 anos recebe

ram uma dose da vacina e 40 por cento receberam a dose de reforço nesta faixa etária, de acordo com a Comissão. O organismo disse que 86 por cento das pessoas com mais de 60 anos estão vacinadas.

Dados esses números e o facto de que relativa mente poucos chineses

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE APLAUDE

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aplaudiu sexta-feira o alívio da estratégia «zero covid» da China, após vários dias de protestos no país contra as restrições. “Estamos satisfeitos por ver que as autoridades chinesas estão a ajustar as suas estratégias e a tentar realmente calibrar as medidas de controlo com as pessoas, as suas vidas e os seus direitos humanos” disse Mike Ryan, gestor de emergência da OMS, numa conferência de imprensa em Genebra. “Todos tivemos de lidar com restrições de movimento

que mudaram as nossas vidas, francamente é cansativo para todos, por isso há uma frustra ção natural e é fundamental que os governos ouçam o seu povo”, acrescentou, citado pela agência EFE. O responsável da OMS disse, no entanto, que “cada país deve enfrentar a luta contra as doenças infecciosas de acordo com a sua avaliação de risco e os instrumentos à sua disposição” e, no caso da China, um dos grandes desafios era a baixa taxa de vacinação, que está a começar a aumentar.

desenvolveram anticorpos ao serem expostos ao ví rus, teme-se que milhões possam morrer se as res trições forem totalmente suspensas.

No entanto, as mani festações em massa pare cem ter levado as autori dades a suspender algumas das restrições mais duras, mesmo quando dizem que a estratégia “zero-covid” – que visa isolar todas as pessoas infectadas – ainda esteja em vigor.

Tragédias e relaxamento

As manifestações começa ram em 25 de Novembro, depois de um incêndio num prédio de apartamentos na cidade de Urumqi, no no roeste do país, ter provocado a morte de pelo menos 10 pessoas.

Isso desencadeou per guntas na internet sobre se os bombeiros ou as vítimas que tentavam escapar foram bloqueados por portas trancadas ou outros controlos antivírus. As autoridades negaram, mas as mortes tornaram-se um foco de frustração pública.

O país viu vários dias de protestos em cidades como Xangai e Pequim, com manifestantes a exigir uma flexibilização das restrições para o combate da covid-19.

Pequim e algumas outras cidades chinesas anunciaram que os pas sageiros podem embarcar em autocarros e metros sem um teste de vírus pela primeira vez em me ses. Esta exigência gerou reclamações de alguns residentes de Pequim de que, embora a cidade tenha fechado muitas estações de teste, a maioria dos locais públicos ainda exige testes de covid-19.

Embora muitos tenham questionado a precisão dos números chineses, estes permanecem relativamente baixos em comparação com os Estados Unidos e outras nações que agora estão a relaxar os controlos e a tentar conviver com o vírus que matou pelo menos 6,6 milhões de pessoas em todo o mundo e infectou quase 650 milhões.

A China ainda impõe quarentena obrigatória para os viajantes que chegam, mesmo que os seus números de infecção sejam baixos em comparação com sua popu lação de 1,4 mil milhões.

10 china 5.12.2022 segunda-feira www.hojemacau.com.mo
COVID-19 DUAS NOVAS MORTES. CIDADES DIMINUEM RESTRIÇÕES Apenas 66 por cento das pessoas com mais de 80 anos receberam uma dose da vacina e 40 por cento receberam a dose de reforço nesta faixa etária

SEUL EX-DIRECTOR DE SEGURANÇA DETIDO POR SUSPEITA DE ENCOBRIR HOMICÍDIO

Crime, não disse ele

Oex-director de seguran ça nacional da Coreia do Sul foi detido no sábado por suspeita de encobrir o homicídio de um funcionário do organismo de pesca sul-coreana pela Coreia do Norte perto da fronteira marítima dos dois países em 2020.

A detenção de Suh Hoon ocorre quando o governo con servador do Presidente do país, Yoon Suk Yeol, investiga o modo como o seu predecessor liberal lidou com este homicídio e outro incidente na fronteira no mesmo ano, casos que geraram muitas críticas.

Seul estava, na altura destes incidentes, a tentar desespe radamente apaziguar a Coreia do Norte para melhorar as suas relações.

O ex-Presidente Moon Jae -in, que apostou o seu único mandato na reaproximação entre as Coreias antes de deixar o cargo em Maio, reagiu com raiva à investigação sobre as acções de Suh. Moon emitiu um comunicado esta semana acusando o Governo de Yoon de levantar alegações infundadas e de politizar questões de seguran ça sensíveis.

De acordo com um comu nicado do Tribunal Distrital Central de Seul, o juiz Kim Jeong-min aprovou o pedido do procurador para deter Suh, com o objectivo de evitar a destruição de provas.

Suh não respondeu às per guntas dos jornalistas sobre as alegações feitas contra si na sexta-feira, quando compareceu ao tribunal para uma revisão do

pedido de mandado de prisão da procuradoria.

Uma investigação anterior do Conselho de Auditoria e Ins pecção da Coreia do Sul concluiu que funcionários do governo de Moon não fizeram nenhuma tentativa significativa de resga tar Lee Dae-jun depois de saber que o oficial de pesca de 47 anos estava à deriva em águas perto da fronteira marítima ocidental da Coreia em Setembro de 2020.

Depois de confirmar que Lee tinha sido morto a tiro por tropas norte-coreanas, as autoridades levantaram publicamente a possibilidade de que estivesse a tentar desertar para a Coreia do Norte, citando as suas dívidas de jogo e problemas familiares, enquanto ocultavam evidências que Lee não tinha essa intenção,

segundo um relatório do Con selho de Auditoria de Outubro.

Sem rasto

Suh serviu também como chefe de espionagem de Moon antes de ser nomeado director de

De acordo com um comunicado do Tribunal Distrital Central de Seul, o juiz Kim Jeong-min aprovou o pedido do procurador para deter Suh, com o objectivo de evitar a destruição de provas

segurança nacional dois meses antes do assassínio.

O ex-director da segurança nacional enfrenta suspeitas de que usou uma reunião do Gabinete para instruir as auto ridades a destruírem os registos de informação relacionados ao incidente, enquanto o governo elaborava uma explicação pú blica para a morte de Lee.

Suh é ainda suspeito de ordenar que o Ministério da Defesa, o Serviço de Informação Nacional e a Guarda Costeira colocassem nos seus relatórios que Lee estava a tentar desertar.

Em Junho, o Ministério da De fesa e a Guarda Costeira reverte ram a descrição do incidente feita pelo governo de Moon, dizendo que não havia provas de que Lee estivesse a tentar desertar.

LITERATURA “CANIBAL JAPONÊS” ISSEI SAGAWA MORRE AOS 73 ANOS

Oescritor japonês Issei Sagawa, mais conhe cido por ter assassinado e comido parcialmente uma namorada holandesa com quem vivia em Paris, em 1981, morreu aos 73 anos de pneumonia, disse o irmão.

Sagawa morreu a 24 de Novembro, num hos pital em Tóquio, noticiou na sexta-feira a agência japonesa Kyodo.

Enquanto estudava Literatura Comparada na

Universidade Sorbonne, na capital francesa, Sa gawa matou a tiro Renée Jartevelt, uma estudante holandesa de 25 anos.

O japonês violou de pois o cadáver, cortou-o aos bocados, que emba lou e conservou dentro de um frigorífico.

Durante alguns dias, Sagawa descongelou e comeu partes do corpo durante alguns dias, até ser preso pela polícia francesa quando tentava

desfazer-se de duas malas com os restos mortais de Jartevelt no lago de um parque parisiense.

Filho de uma influente família japonesa, foi con siderado inimputável, de pois de uma avaliação feita por psiquiatras franceses, tendo sido repatriado para o Japão em 1984.

Ao final de um ano internado num estabeleci mento psiquiátrico japo nês, Sagawa foi libertado em 1985, o que na altura

desencadeou uma onda de protestos em França e nos Países Baixos.

Mais tarde, Sagawa tornou-se numa celebri dade literária e o livro de memórias “Kiri no naka” (“Entre o nevoeiro”, 1984) é considerado um êxito de vendas no Japão.

Um outro escritor, Juro Kara, ganhou o pres tigiado Prémio Literário Akutagawa, em 1982, por “Sagawa-kun kara no tegami” (“Cartas de Saga

wa”), baseado no crime. Em 2019, o caso voltou à ribalta com a estreia no Japão do documentário “Caniba”, que concorreu ao festival de cinema de Veneza em 2017.

O filme, que começa por sublinhar “não pre tender justificar o crime”, reúne confissões e ima gens do criminoso, aca mado num apartamento, em evidente estado de perturbação mental e as sistido pelo irmão, Jun.

Luta chegou ao fim

Morreu Jill Jolliffe, jornalista que testemunhou invasão indonésia de Timor

Ajornalista australiana Jill Jolliffe, que testemunhou as primeiras incursões militares indonésias em Timor-Leste, morreu na sexta -feira, aos 77 anos de idade, afirmou à agência Lusa fonte ligada à família.

A jornalista, que chegou a viver em Por tugal, testemunhou as primeiras incursões militares indonésias em território timoren se, em Setembro de 1975, tendo noticiado a morte de cinco colegas de profissão em Outubro daquele ano (Brian Peters, Greg Shackleton, Gary Cunningham, Malcolm Rennie e Tony Stewart), assassinados na localidade de Balibó, tendo ficado conhe cidos como os “Cinco de Balibó”.

Os cinco jornalistas foram mortos numa operação clandestina das forças especiais da Indonésia, em preparação para a invasão do território, que era até então uma colónia portuguesa.

O livro que Jill Jolliffe escreveu, “Cover Up - The inside story of the Ba libo Five”, inspirou a longa-metragem realizada por Robert Connolly e pro tagonizada por Anthony LaPaglia, que estreou em 2009 na Austrália.

Uma “de nós”

O antigo presidente timorense Xanana Gusmão lamentou no sábado a morte da jornalista australiana.

“É com grande tristeza que soubemos da morte de Jill Jolliffe, uma aclamada jornalista australiana, activista política e que sempre lutou pela justiça em Timor -Leste. Jill era uma heroína do povo timorense”, afirmou Xanana Gusmão, numa nota enviada à agência Lusa.

“Jill foi uma activista, uma rebelde, uma lutadora. Expôs de forma persistente a realidade da ocupação militar indonésia e apoiou a luta do povo timorense. Terá sempre um lugar especial na nossa histó ria nacional. Ela é uma de nós”, afirmou.

Xanana Gusmão salientou que a jornalista apoiou a luta de independência timorense, com grandes sacrifícios pes soais, recordando a cobertura que fez em 1975, aquando das primeiras incursões indonésias e do caso dos “Cinco de Balibó”.

“Jill estava em Dili para cobrir a procla mação de independência a 28 de Novembro de 1975. Ela tirou fotografias dos nossos líderes, incluindo do presidente Nicolau Lobato, que serão para sempre imagens preciosas e icónicas para a nossa nação”, recordou o antigo presidente timorense.

região 11 segunda-feira 5.12.2022 www.hojemacau.com.mo

“Quis descrever o absurdo da vida na pandemia”

12 eventos 5.12.2022 segunda-feira www.hojemacau.com.mo
LAWRENCE
DRAMATURGO E AUTOR
LEI

A pandemia e as relações humanas que se entrelaçam em torno de uma doença que mudou o mundo é o tema central do seu último romance. “Masked Faces” [Rostos Mascarados], da autoria de Lawrence Lei, um dos mais importantes dramaturgos de Macau, foi lançado na última sexta-feira no festival literário Rota das Letras. O autor diz-se satisfeito com a possibilidade de ser também conhecido pelo público português

O seu trabalho mais recente é “Masked Faces” [Rostos Masca rados]. Do que trata esta história? “Masked Faces” é um romance, com o qual ganhei o 13.º Prémio de Literatura de Macau. A história co meça assim: “As pessoas acordam um dia e descobrem que o mundo sofreu mudanças dramáticas, e todos os seres humanos podem apenas mostrar metade dos seus rostos em público...”. Esta é uma história sobre confiança, a traição no amor e a amizade sobre um médico que, a fim de analisar os contactos próximos dos casos de covid-19 dos seus pacientes, vê-se obrigado a entrar nos círculos da vida privada dos seus bons amigos e espiar o outro lado da sua vida pública.

Porquê o nome “Masked Faces”? Quais as principais ideias que quis partilhar com os leitores?

O título da história em chinês signifi ca metade do rosto. “Masked Faces” tem dois significados, em que o mais evidente diz respeito à metade da cara que fica exposta depois de usar uma máscara e há depois o significado implícito que se refere à hipocrisia e à natureza humana mascarada. Ao escrever “Masked Faces”, quis

descrever a realidade e o absurdo da vida em contexto de pandemia, e explorar a falta de confiabilidade do amor e da amizade.

O que sente ao ver este trabalho apresentado no festival literário Rota das Letras? O que pensa da importância deste evento para o panorama literário local?

É uma grande honra ver os meus trabalhos serem apresentados no festival Rota das Letras e ser conhe cido tanto pelos chineses como pelos portugueses. O festival é uma impor tante plataforma para as publicações de Macau e serve como uma ponte para o intercâmbio cultural que existe entre a China e Portugal, permitindo que as culturas chinesa e portuguesa se misturem e comuniquem.

Até que ponto “Masked Faces” é diferente dos seus trabalhos anteriores?

O estilo de escrita é diferente. Desta vez decidi escrever recorrendo a uma estrutura de “meta-ficção”, de senvolvendo duas narrativas. Estas parecem não estar interligadas entre si, mas acabam por se influenciar. Os seus protagonistas escreveram as suas próprias histórias e decidiram os seus próprios destinos.

Quanto tempo levou até termi nar “Masked Faces”?

Gastei mais de 200 horas de tra balho nesta novela, que incluem a pesquisa, entrevistas com espe cialistas médicos e no processo de escrita. Antes de começar a escre ver esta história tinha de ter um bom entendimento da pandemia e de como se processava o ritmo de trabalho e as operações com as medidas de combate à covid-19.

É conhecido como um dos mais importantes dramaturgos de Macau. Como se sente face a este reconhecimento? Quais os principais tópicos que gosta de abordar na sua escrita?

Escrevo há mais de 40 anos e já escrevi mais de 50 peças de teatro, participando e testemunhando o processo de desenvolvimento do teatro local em Macau. É para mim uma grande honra contribuir para este desenvolvimento. Quanto aos meus trabalhos, os grandes temas que gosto de abordar, seja em guiões ou novelas, são centrados em temas sociais e questões rela cionadas com a vida das pessoas.

minha escrita, seja para peças de teatro ou para novelas, sempre reflectiu estas alterações, especialmente as mudanças dramáticas ocorridas nos valores sociais ocorridas aquando da liberalização do jogo.”

Macau está em mudança em ter mos sociais e políticos. Gostaria de escrever sobre estas mudanças? Desde a transição, em 1999, que Macau tem experienciado mudanças sociais, económicas, políticas e até em termos de valores de vida. A mi nha escrita, seja para peças de teatro ou para novelas, sempre reflectiu estas alterações, especialmente as mudanças dramáticas ocorridas nos valores sociais ocorridas aquando da liberalização do jogo.

O que pensa do panorama do teatro de Macau nos dias de hoje? Há muitas associações e pequenos grupos a trabalharem em projec tos. Acredita que enfrentam mais dificuldades actualmente compa rando com o passado?

“É uma grande honra ver os meus trabalhos serem apresentados no festival Rota das Letras e ser conhecido tanto por chineses como por portugueses.”

O nível de performance melhorou muito graças ao facto de muitas pessoas ligadas ao teatro terem es tudado no estrangeiro. No entanto, os grupos de teatro enfrentam hoje muitas dificuldades. A falta de salas de espectáculo sempre foi um pro blema, e tendo em conta as actuais medidas de combate à pandemia implementadas pelo Governo a situação piorou ainda mais. Não há estabilidade na organização de espectáculos neste momento e muitas vezes são suspensos devido à pandemia. Isso faz com que os custos de produção sejam muitos, com grandes perdas. A deterioração da economia social tem vindo a afectar a operação por parte destes grupos. O subsídio cultu ral concedido pelo Governo tem vindo a ser cada vez mais restrito, tornando a situação pesada, o que aumenta de forma crescente as di ficuldades de operação dos grupos de teatro. Andreia Sofia Silva

FESTIVAL DE LUZ ADIADO UMA SEMANA

Oinício da oitava edição do Festival de Luz de Macau, que estava previsto para sábado, foi adiado para 9 de Dezembro. A Direcção dos Serviços de Turis mo (DST) de Macau indicou que o adiamento se devia a “assuntos ligados à preparação” do festival, que este ano tem um novo nome: Iluminar Macau 2022, de acordo com um comunicado.

O festival, que ia decorrer até 1 de Janeiro, inclui quatro obras de ‘vídeo mapping’ em três dimensões, uma delas cria da pelo grupo português Ocubo Criativo – Actividades Artísticas e Literárias e outra por um grupo de Xangai, no leste da China.

Numa apresentação à impren sa, em Novembro, a DST disse que a obra da equipa portuguesa, chamada “Ponto de partida da integração”, ia ser exibida na fa chada da Igreja de São Francisco,

na ilha de Coloane, e “apresentar a história de Macau”.

A Ocubo Criativo já apre sentou trabalhos em França e na Finlândia e foi responsável pela cerimónia de inauguração em 2019 do Al Janoub, o primeiro estádio construído de raiz para o Mundial de futebol de 2022, a decorrer no Catar.

O grupo português não estará presente em Macau “por causa da situação epidémica”, pelo que a obra será entregue pela Internet, com a DST a fornecer “equipamento e pessoal técnico para ajudar na projecção”.

O festival vai estender-se a oito zonas do território, incluin do hotéis casinos na península de Macau e no Cotai, uma vez que as seis operadoras de jogo foram “convidadas, pela primeira vez, para colaborarem”, disse a DST.

UCRÂNIA POLÍCIA IMPEDE TENTATIVA DE ROUBO DE OBRA ATRIBUÍDA A BANKSY

Apolícia ucraniana conseguiu impedir, na sexta-feira, a tentativa de roubo de uma obra atribuída ao artista britânico Banksy, pintada num muro dos subúrbios de Kiev, anunciaram sábado as autoridades locais.

“[Na sexta-feira] em Hosto mel [cidade localizada a noroeste da capital Kiev], um grupo de pessoas tentou roubar um desenho de Banksy. Cortaram o trabalho da parede de uma casa destruída pelos russos”, anunciou o gover nador da região de Kiev, Oleksiï Kouleba, em comunicado de imprensa publicado no Telegram.

A publicação foi acompanha da por uma fotografia que mostra o muro cortado e tinta laranja.

Segundo Kouleba, “várias pessoas foram detidas no local” pela polícia ucraniana e “o dese nho está em boas condições e já nas mãos da polícia”.

Já o chefe da polícia da re gião de Kiev, Andrii Nebitov, disse, em comunicado, que

“oito pessoas foram identifica das”. “Todos têm entre 27 e 60 anos. São residentes de Kiev e Cherkassy [cidade localizada 200 quilómetros a sudeste da capital ucraniana]”, detalhou o chefe da polícia, no Telegram.

Andrii Nebitov acrescentou que “foi aberta uma investigação preliminar por danos materiais”.

Em meados de Novembro, foi tornado público que o artista britânico Banksy pintou um dos seus ‘graffitis’ na parede de um edifício em ruínas na cidade ucra niana de Borodyanka, na região de Kiev, conforme adiantou o portal Ukrinform.

A imagem mostrava uma rapariga a fazer um exercício de ginástica apoiada no chão e num equilíbrio quase impossível sobre os restos de uma das paredes des truídas pelos bombardeamentos.

“As obras de Banksy na re gião de Kiev estão sob protecção policial», disse Kouleba, em comunicado.

eventos 13 segunda-feira 5.12.2022 www.hojemacau.com.mo
“Não há estabilidade na organização de espectáculos neste momento e muitas vezes são suspensos devido à pandemia.”
“A

Akiko é estudante de Sociologia e prostituta em Tóquio, mas ninguém sabe da sua vida dupla. Uma noite, em que não pode visitar a avó para es tar em casa de um cliente, a sua vida muda. Um ido so, seu cliente, torna-se seu amigo e confidente, mas a partir daí surgem uma série de peripécias. Uma história e um filme extraordinariamente sim ples, mas que nos prende ao ecrã graças ao talento do cineasta iraniano.

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OS AMIGOS NÃO PODEM SER PARA AS OCASIÕES

EM TODO o mundo existem amigos, apesar de alguns conhecidos afirmarem-se, hipocri tamente, como amigos. Portugal não foge à regra e penso que toda a gente tem amigos, refiro-me aos verdadeiros, naturalmente. O que não me passava pela cabeça é ter lido uma estatística onde se informa que em Portugal 80 por cento dos amigos zangam-se. Ui, é muito. Pensei que as zangas radicais entre amigos englobassem um número diminuto. Isto, fez-me lembrar uma história ver dadeira de dois amigos que conheci em Leiria e que me chocou profundamente pelo seu teor de injustiça. Eram dois jovens que frequentaram a mesma escola primária e o liceu. Um deles era filho de empresário abastado com várias casas e quintas. Os dois passavam o tempo sempre juntos. Mas, o outro era pobre, muito pobre. A sua mãe dedicava-se à limpeza de lojas e o pai era ajudante de carvoeiro.

O amigo rico levava o pobre a todo o lado, dava-lhe roupas e quando a sua empregada vinha cheia de produtos do supermercado tirava logo umas quantas iguarias para oferecer ao pobre. Cresceram e fizeram o serviço militar juntos, sendo até mobilizados para as colónias, no entanto, para territórios diferentes. Quando regressaram a amizade parecia ter aumentado e o rico continuava a ajudar a família do pobre com produtos de vária ordem. Nunca deu dinheiro ao amigo pobre. O rico tinha uma máxima que ninguém acreditava, dizia ele que o seu pai lhe tinha ensinado que nunca emprestasse dinheiro a ninguém porque perdia o dinheiro e o amigo. Ora, isso não é verdade porque conheço dezenas de amigos que tendo uma vida folgada emprestam dinheiro ao seu amigo em dificuldades vivenciais, e o mais desprotegido paga a dívida, após o que ficam muito mais amigos. Portanto, o amigo rico, diga-se em abono da verdade, era muito altivo, um pouco peneirento, arrogante e gostava de mostrar que era rico frequentando os melhores restaurantes de Lisboa quando visitava a capital, pois tinha adquirido uma vivenda na linha de Cascais, mas gorjetas aos empregados não era com ele. Como amigo do pobre tinha um grande defeito: convidava o pobre para almoçar para os tais repastos luxuosos, mas o pobre começou a desconfiar ao fim de mais de 40 anos de relação amistosa, que o seu amigo rico convidava-o para mostrar aos outros convivas que era um benemérito e que ao fim e ao cabo o que estava a fazer era a dar uma esmola ao amigo pobre, que entretanto, se tinha reformado com uma pensão de apenas 300 euros. Num belo dia, o amigo rico no seu carro luxuoso dos mais caros do mercado ia tendo um desastre fatal para ambos. O rico ia a guiar completamente embriagado e o pobre

Pela minha parte, sempre gostei dos pobres com dignidade. São amigos verdadeiros

ao seu lado conseguiu puxar o volante de modo a que o carro não embatesse de frente num camião. A gravidade da embriaguez era tanta que o acidente mortal já podia ter acontecido por diversas vezes. Só para que tenham uma ideia o amigo rico bebia uns seis whyskis após a refeição onde já tinha bebido uma garrafa de vinho.

O amigo pobre contactou com a mulher do amigo rico e com os filhos dando conhe cimento do que se andava a passar e a propor que devido à sua riqueza o melhor seria que o pai passasse a ir para todos os repastos com um motorista privado. A mulher achou uma boa proposta, mas não tinha voto em nenhuma matéria lá em casa. Um dos filhos, que sempre se armou em mandão e vaidoso das suas motos de topo de gama e dos seus

carros desportivos chegou a casa dos pais e contou a proposta do amigo pobre. Foi o fim do mundo. A discussão foi grande. O filho vaidoso aldrabou os familiares dizendo que possivelmente o amigo pobre é que embria gava o pai e que o mais natural seria ele vir a dar uma sova no amigo pobre por andar a levar o pai para maus caminhos que podiam acabar em acidente rodoviário mortal. O pai, o tal amigo rico, no dia seguinte, logo pelas oito da manhã telefonou ao pobre e deu-lhe uma descasca de caixão à cova. Insultou-o de tudo, disse-lhe que não lhe admitia que o pobre se metesse na vida dele criando um mal-estar no seio familiar que até poderia levar ao seu divórcio e ao fim da relação com os filhos. Coitado do pobre, lavado em lágrimas após o telefonema ficou atónito a pensar no sucedido e decidiu que a sua grande e profunda amizade de décadas pelo rico teria terminado. E nunca mais telefonou ao rico, nem aceitou mais nenhuma “esmola” do rico. Este, passados dois anos, cheio de remorsos, tentou fazer as pazes e pedir des culpa ao pobre convidando-o para almoçar. A resposta foi negativa e afirmou ao seu ex-amigo rico que a sua pobreza ao longo da vida sempre teve dignidade e seriedade. Pela minha parte, sempre gostei dos pobres com dignidade. São amigos verdadeiros.

vozes 15 segunda-feira 5.12.2022 www.hojemacau.com.mo
ai, portugal, portugal André Namora

TURISMO ESTRANGEIROS NA CHINA E REGIÕES PRÓXIMAS PODEM SER

APOSTAS

Adirectora dos Serviços de Turismo defendeu que as ope radoras de jogo, a quem o Governo exigiu no novo concurso público a diversificação de clientes, podem apostar nas regiões próximas e nos estrangeiros a viver na China.

“Tivemos um pequeno avanço este ano ao permitir que expatria dos a viver na China viessem a Macau sem fazer quarentena e sem pedir autorização. Por isso temos vindo a fazer uso da nossa parceria com operadoras como a trip.com na China para começar a apontar para este grupo particular de pessoas”, disse Helena de Senna Fernandes, aos jornalistas durante uma conferência do grupo trip. com, a decorrer no território.

Desde que foi permitida a entrada em Macau de estrangeiros a viver na China, em Setembro deste ano, foram feitas “mais de mil reservas”, observou a responsável, que acredita existir “muita procura nesse senti do”. “O segundo passo vai entrar em acção quando houver a possibilidade de abrir para o resto do mundo, e aí estaríamos a olhar, acredito, para lugares a curta distância, como provavelmente o sudeste asiático ou o nordeste asiático”, disse.

Macau, continuou, “está a prepa rar-se para expandir”, com “descon tos nas companhias aéreas e hotéis” para atrair visitantes. “Obviamente que o requisito de trazer visitantes internacionais só se pode materiali zar quando as fronteiras abrirem, o que esperamos que não seja muito longe deste momento. Não estamos à espera que as políticas de quarentena demorem dez anos”, notou.

O trip.com Group, proprietário de empresas de viagens online como a Skyscanner, Trip.com, Qunar, Ctrip, realizou na sexta-feira em Macau pelo segundo ano consecutivo uma confe rência - Trip.com Group 2022 Global Partner Summit - com parceiros do sector, onde se debateu a recuperação do turismo à escala global.

Um costume imoral

Procurador-geral do Irão anuncia abolição da polícia da moralidade

OIrão aboliu a polícia da moralidade, uma força que detinha es pecialmente mulheres que não usavam o véu islâmico de acordo com os códigos ditados pelo país, informou o procurador-geral do país, Mohamad Jafar Montazeri.

Essa polícia “não tem nada a ver com o poder judicial”, subli nhou Montazeri ao fazer o anúncio no sábado à noite, citado pela agência de notícias iraniana ISNA.

Os analistas consideram o fim da polícia da moralidade como uma cedência ao movimento popular de protesto que o país vive há três meses.

Montazeri explicou que o judiciário continuará a fiscalizar o comportamento a nível comu nitário e destacou que o vestuário feminino continua a ser muito importante, principalmente na cidade sagrada de Qom, ao sul de Teerão.

“O mau ‘hijab’ no país, es pecialmente na cidade sagrada de Qom, é uma das principais preocupações do poder judicial, bem como da nossa sociedade revolucionária, mas deve-se notar que a acção legal é o últi mo recurso e medidas culturais precedem qualquer outro», justi ficou Montazeri em discurso em encontro com clérigos em Qom.

A cidade de Qom é o centro teológico do Irão, onde estão localizadas as principais escolas religiosas do país e onde milhares de peregrinos e estudantes de todo o mundo visitam.

Revolta efervescente

O Irão vive protestos generaliza dos desde 16 de Setembro, após a morte sob custódia policial da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, que havia sido detida justa mente pela polícia da moralidade por supostamente usar o véu islâmico de forma inadequada.

Os protestos incluem a de manda pelo fim da República Islâmica.

“Isto não é um protesto, isto é uma revolução”, “não queremos a República Islâmica”, “morte ao ditador”, são algumas das frases que os manifestantes gritam nas manifestações de rua ou à noite das janelas das suas casas e escrevem nas paredes do prédio desde Setembro passado.

Segundo o Conselho de Se gurança do Irão, desde o início dos protestos “mais de 200 pessoas” morreram, mas orga nizações não-governamentais (ONG) estrangeiras, como a Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, estimam o número de mortos em 448 devido à forte repressão policial.

Além disso, pelo menos 2.000 pessoas foram acusadas de vários crimes pela sua participação nas mobilizações, das quais seis foram condenadas à morte.

MUNDIAL2022

PORTUGAL

TEM

HISTÓRICO NEGATIVO COM HELVÉTICOS

Aselecção portuguesa de fu tebol enfrenta amanhã pela primeira vez numa fase final do Mundial a Suíça, de quem tem algumas más recordações do passado, desde logo do último embate, para a Liga das Nações.

Em Genebra, num embate disputado em 12 de Junho, um golo apontado por Haris Seferovic, jogador emprestado pelo Benfica ao Galatasaray, deu o triunfo aos helvéticos (1-0) e revelou-se determinante para Portugal ficar, em Setembro, fora da ‘final four’ da Liga das Nações.

Ainda assim, o passado recente até é risonho para a formação das ‘quinas’, por culpa do 2-0 na Luz, em 2017, que valeu um lugar no Mundial de 2018, do 3-1 no Dragão, de 2019, com direito a apuramento para a final da primeira edição da Liga das Nações, e do 4-0 em Alvalade, já em 2022, na segunda jornada da terceira edição da mais recente prova da UEFA.

Não fosse o desaire em Genebra e Portugal poderia, eventualmente, ter igualado os 10 triunfos dos hel véticos. Ao nível de igualdades, são seis, e, no que respeita aos golos, verifica-se uma igualdade a 34.

A Suíça só perdeu para o Brasil (1-0) no grupo G, tendo batido os Camarões (1-0) e a Sérvia (3-2).

O 26.º encontro entre lusos e helvéticos está agendado para terça -feira, pelas 19:00 (em Lisboa), em Lusail, naquele que é o maior palco do Mundial2022, no Qatar.

Java Vulcão Semeru entra em erupção

O vulcão Semeru, no sudeste da ilha indo nésia de Java, lançou ontem uma coluna de cinzas cinzentas, com intensidade moderada a espessa, a 1,5 quilómetros acima do nível da cratera. Câmaras de vigilância capturaram o monte a lançar nuvens de gases, vapor de água e uma quantidade considerável de cinzas, num fenómeno “ainda em curso”, indicou a agência de gestão de desastres indonésia. A erupção do Semeru, um dos vulcões mais activos do país, espalhou o terror entre os residentes da cidade de Lumajang, levando muitos a abandonar as suas casas e a fugir à pressa, como se pode ver em vídeos partilhados nas redes sociais. Apesar do pânico, as autoridades desconhecem a existência de vítimas mortais ou de danos materiais, e as equipas de emergência estão a monitorizar a situação para controlar qualquer risco potencial da explosão.

segunda-feira 5.12.2022
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“Se não podes ser o que és, sê com sinceridade o que podes.”
“Isto não é um protesto, isto é uma revolução”, “não queremos a República Islâmica”, “morte ao ditador”, são algumas das frases que os manifestantes gritam nas manifestações de rua

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