Hoje Macau 5 FEV 2016 #3508

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEXTA-FEIRA 5 DE FEVEREIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3508

TIAGO ALCÂNTARA

hojemacau www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

AU KAM SAN

Ao sabor da vida O deputado e ex-membro da ANM virou a página. Vinte anos depois de se ter candidatado pelos pró-democratas, Au pondera agora dedicar-se à família e ao trabalho cívico. ENTREVISTA

A quinta edição do festival literário está à porta. Hélder Beja fala de um evento que se quer cada vez mais internacional sem esquecer os clássicos. Bocage também vem.

Sorte macaca

h

Casas à vista PÁGINA 4

OPINIÃO

Gavetas e collants ANDRÉ RITCHIE PÁGINA 21

A redondeza da bola ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR PÁGINA 22

AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006

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PÁGINA 15

NOVO ANO

HABITAÇÃO

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Rota das Letras Dos clássicos lusos e chineses para a internacionalização


2 ENTREVISTA

AU KAM SAN

Au Kam San fechou a porta. Cansado – e menos tolerante que Ng Kuok Cheong – o deputado abandona o projecto que criou há 20 anos. Agora é tempo de virar a página e apostar noutras áreas, cívicas, aponta. O tempo de deputado poderá também estar a terminar, sendo que chegou a hora de se dedicar à família

“É normal que a nova liderança [da ANM], por ser tão jovem, tenha ideias diferentes. É normal. Não quero criticar o trabalho que eles desenvolvem, mas não concordo com as suas ideias”

“Macau passou de aldeia a grande cidade” Esta semana anunciou a sua saída da Associação Novo Macau (ANM). Já apontou as razões aquando o anúncio, mas não nega que esta decisão representa uma vontade de há muito tempo? Não acho que a minha saída da ANM deva ser notícia. Acontece que a associação é um grupo que não vai de encontro àquilo em que acredito e quero. Não é adequado para mim, e por isso sai. Quais são os pontos de discórdia entre o deputado e a ANM que o levaram à saída? É normal que a nova liderança, por ser tão jovem, tenha ideias diferentes. É normal. Não quero criticar o trabalho que eles desenvolvem, mas não concordo com as suas ideias. É perfeitamente natural que tenha existido esta mudança, mas por mim, não quero continuar a seguir esta ‘regra do jogo’. Esta nova liderança que, como diz, é tão jovem tem as bases e o conhecimento político que se pretendia quando a ANM foi criada? Não posso julgar, não quero dizer que eles estão errados ou certos. Para mim não é certo. Não sei qual será o caminho, o novo rumo da associação. Há 20 anos, quando criei a Novo Macau as pessoas também acharam que as ideias eram muito novas e ambiciosas e agora, o talvez estas ideias sejam vistas como conservadoras para os jovens. Há claramente um mudança no comportamento. Acha que o deputado Ng Kuok Cheong também vai sair da ANM? É preciso ver que o Ng Kuok Cheong é mais paciente e tolerante que eu. (risos) Eu sou mais agitado e mais impaciente. Não posso falar pelo Ng Kuok, nem saber o que é que ele vai fazer, mas acredito que ele assuma a postura do “os jovens

“A consulta pública do Governo [sobre assédio sexual] é muito extensa, tem muitos detalhes, abrange outras problemáticas. Isto vai dar muito trabalho, um processo que pode demorar muito tempo. Enquanto isso o assédio sexual não está legislado. Isto é um erro” são mais revolucionários, vamos ter paciência”. Ele é assim, eu não. Voltando aos jovens e à política. A sociedade jovem de Macau está mais atenta ao mundo político? Tem espírito critico? Existem duas questões importantes. A primeira é a análise do caso de Hong Kong. Depois da transição daquela região para a China, as condições de vida da população piorou em alguns aspectos. Isto fez com que a sociedade, e principalmente os jovens, começassem a lutar por aquilo a que já tiveram direito e deixaram de ter. Assim se justifica os movimentos dos jovens na política, a sua participação é bem maior, o ambiente é diferente. Os jovens sentem-se prejudicados e isso leva-os a sair à rua. O mesmo não aconteceu com Macau. Com a transição passámos de aldeia para grande cidade internacional e a oferta e as condições de vida para os jovens melhoraram muito. Ganharam coisas que não tinham,

TIAGO ALCÂNTARA

DEPUTADO E EX-MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU

claro que isto os fez considerar não ser importante a vida na política. Porque o Governo resolve e dá. Relativamente ao assédio sexual. Apresentou um projecto para legislar que acabou por ser chumbado na generalidade. O maior argumento foi a intenção do Governo em alterar o Código Civil, estando para isso a decorrer uma consulta pública. Acha que é algo que vai acontecer no imediato? Como olha para este chumbo dos deputados? Lamento imenso que o projecto tenha sido chumbado. Acho que a consulta pública é algo que poderá durar muito mais tempo daquilo que é suposto. Este é um assunto que merece a nossa atenção no imediato. Não podemos esperar, sem saber quanto esperar. Considero que devemos legislar o assédio sexual primeiro e só depois entrar em outros pormenores. A consulta pública do Governo é muito extensa, tem muitos detalhes, abrange outras problemáticas. Isto vai dar muito trabalho, um processo que pode demorar muito tempo. Enquanto isso o assédio sexual não está legislado. Isto é um erro. Sobre a habitação pública, Au Kam San defendeu que o Governo “favorece o sector imobiliário” através do regime – de sorteio - de atribuição dos imóveis. Acredita que um regime de pontuação seria mais transparente? Na habitação pública a questão dos solteiros levanta muitas dúvidas. Este tipo de candidatos não sabe quando é que pode ter as suas casas, e sem oferta suficiente os candidatos são obrigados a comprar os imóveis ao privado. Isto está claramente a oferecer o sector do imobiliário. Há um benefício. Concordo com o capitalismo, mas neste caso, em que o mercado do imobiliário não está saudável considero ser necessário implementar um regime transparente, claro,

“Concordo com o capitalismo, mas neste caso, em que o mercado do imobiliário não está saudável considero ser necessário implementar um regime transparente, claro, como o regime de pontuação. É preciso um ajustamento do Governo”


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devemos apostar, mas saber no que apostar, e por isso é preciso estudar, fazer um estudo sobre quais os sectores em que o Governo devia apostar para atingir a diversidade. Fiz a pergunta ao Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esta semana. Mas não acredito que o Governo faça este estudo, ele diz que está a tentar apostar e é a sua preocupação. Mas não acho que o estudo faça parte dos seus planos. O grupo criado por si, Iniciativa para o Desenvolvimento da Comunidade de Macau, nasceu sem cunho à política. Agora, que tem mais tempo para se dedicar a esta associação, ganhará ela uma função mais política? Não, a associação continuará sem estar ligada à política. Não terá essa função política. O que ela vai promover é a sociedade civil. Terá um trabalho de mais atenção aos assuntos comunitários, às necessidades das pessoas, da sociedade. Agora poderei dedicar-me mais ao trabalho desta associação e ao trabalho também do escritório como deputado, mas são coisas que não se misturam. É importante saber que eu criei esta associação ainda envolvido na ANM. A verdade é que esta última estava a dedicar-se profunda e quase exclusivamente a questões políticas, era tudo nesta área. Achei que estava em falta a área cívica. Por isso é que esta associação foi criada, para colmatar essa lacuna. E agora, o futuro? Agora vou-me dedicar mais ao atendimento no escritório de deputado. como o regime de pontuação. É preciso um ajustamento do Governo no que se refere ao mercado do imobiliário. A polémica questão dos terrenos e das suas concessões. Para si a Lei de Terras está errada? Foi aprovada “à pressa”? Para mim a Lei de Terras não é errada. As falhas que têm não colocam em causa o seu objectivo. Só existem pequenas coisas que podem ser melhoradas. Antes desta nova lei ser aprovada a questão dos 25 anos de aproveitamento já existia, portanto não é uma falha da nova lei. Para mim, a culpa desta grande polémica como é o caso do Pearl Horizon é das concessionárias. Eles sim erraram quando de forma liberada não informaram os compradores da situação em que as constru-

ções estavam. Enganaram. As concessionárias enganaram os compradores. Além disso, as agências imobiliárias e os advogados – aquando as assinaturas dos contratos – deviam, e devem, avisar os investidores em que situação se encontra a construção. Para que os compradores fiquem alertados. Mas também o deputado já apresentou algumas críticas ao Governo... Sim, tenho, mas também não posso negar que o Governo tem uma postura de abertura quando publica todas as informações possíveis nos sites. O que considero errado é a apreciação dos documentos, ou seja, o Governo diz muitas vezes que pelos processos estarem em tribunal não pode falar, eu acho que pode e

“Para mim, a culpa desta grande polémica como é o caso do Pearl Horizon é das concessionárias. Eles sim erraram quando de forma liberada não informaram os compradores da situação em que as construções estavam”

devia falar. A decisão do tribunal não está directamente ligada com o caso, ou seja, não afecta mais ou menos se o Governo explicar detalhadamente cada caso. Nos casos como o Pearl Horizon, o Secretário para dos Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse, esta semana na Assembleia Legislativa que não pode avançar mais informações. Eu acho que pode e devia. Já chega do “não vamos comentar”. Pediu ainda esta semana, para o Governo avançar com um estudo sobre o desenvolvimento da economia e a sua diversidade. O Governo não se mostrou convencido..acha que o vai fazer? O Governo quer criar condições para diversificar a economia, estamos muito presos ao sector do Jogo. Isso não é bom. Acho que

Candidatar-se-á nas próximas eleições para a AL? Pode ser que sim, mas também pode ser que não. (risos). A questão é que estou num momento de conflito interno. Há 20 anos candidatei-me pelo lado pró-democrata, ainda era jovem. Agora no próximo ano, faço 60 anos, estou seriamente a pensar muito na minha família. Já não sou o jovem que era. Talvez esteja na altura de passar mais tempo com a minha família. Tanto eu como o Ng Kuok Cheong estamos numa situação decisiva. Por exemplo, não sei se o Ng Kuok Cheong se vai candidatar, talvez se os jovens assumirem uma candidatura ele se mantenha apenas como orientador nos bastidores, sem se candidatar. Não sei, tenho de pensar. Filipa Araújo (com F.F)

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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Habitação APROVEITAR O “OBSOLETO” PODE SER SOLUÇÃO, DIZ ESPECIALISTA

Cuidar do que existe

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habitação reina quando Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas se desloca à Assembleia Legislativa (AL). Mesmo sem ir, já se perdeu a conta ao número de interpelações sobre habitação, e a necessidade da mesma, apresentadas pelos deputados. É inegável a problemática e a preocupação da sociedade para com o assunto. É pedido ao Governo mais habitação, mais lotes e edifícios que acolham famílias, jovens ou não, que tanto esperam pelo seu espaço. “Antes de pensarmos em construir mais, porque não pensamos em gerir o que temos?”, assim começou por defender Mário Duque, arquitecto, em declarações ao HM. “Muita da habitação social existente assenta em standards de fogos que hoje a população de Macau poderá considerar demasiado exíguos, mas que são perfeitamente ajustados para jovens ou para jovens casais, que mais tarde poderão optar por outras habitações por alteração dos seus recursos ou agregado familiar. Tal habitação só precisa de ser reciclada em vez de ser simplesmente declarada obsoleta tal como aconteceu com o Bairro Fai Chi Kei, que lamentavelmente foi demolido apenas por essas razões”, apontou o arquitecto. “Há coisa obsoletas que podem ser reutilizadas sem ser necessário o envio de esforços em coisas novas, deixando as obsoletas sem solução”, apontou, sublinhando que dentro do parque imobiliário

CONSELHO EXECUTIVO CENTRO DE CONDUÇÃO COM NOVAS REGRAS

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Conselho Executivo já analisou as mudanças a implementar no funcionamento do Centro de Aprendizagem e Exames de Condução, através das alterações ao seu regulamento administrativo. O centro passará assim a funcionar entre as 7h00 e as 21h00, podendo o seu período de funcionamento ser prolongamento caso a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) assim o entenda. O novo regulamento diz que o centro “apenas pode ser utilizado pelo instruendo em fase de aprendizagem de condução, ou quando se encontre a prestar a prova prática do exame de condução, sendo

exigidas, na utilização do centro, a posse de licença de aprendizagem válida e a presença de um instrutor no local, devendo ambos cumprir os procedimentos e as orientações indicados pelo pessoal da DSAT ali destacado”. Os utentes vão passar a pagar taxas para a utilização do centro de aprendizagem e condução, sendo que quem não cumprir as regras poderá ser alvo de uma multa entre 500 a 2000 patacas. Cabe à DSAT a gestão do centro. O objectivo destas alterações é “melhorar a gestão e assegurar um funcionamento eficaz do Centro de Aprendizagem e Exames de Condução”. A.S.S.

regulação governamental é possível aferir”, defendeu. A “revitalização e ocupação” dos bairros antigos – mesmo com as suas condições de construção – iria ser uma iniciativa que poderia beneficiar Macau e o interesse da população jovem. Muitas destas habitações, construídas nos anos 50 e 60 “têm melhores condições que muitas das que foram construídas depois”.

REALIDADE LOCAL

existente em Macau, “há forma” de reciclar o que existem “em função de novas necessidades”. Característica de grandes metrópoles, como por exemplo Nova Iorque.

MUDAR O RUMO

Em termos práticos, uma das soluções da questão da habitação

“Antes de pensarmos em construir mais, porque não pensamos em gerir o que temos?” MÁRIO DUQUE ARQUITECTO

poderá passar por aproveitar prédio antigos e, também. por criar condições bancárias para que os interessados em imóveis reaproveitados tenham acesso a crédito, não de 50% como acontece actualmente, mas de 100%, como se de um imóvel novo se tratasse. “Com dispositivos é possível haver uma regulação entre estas entidades privadas [bancos] e as iniciativas públicas, encontrando produtos financeiros que sirvam aquilo que evita que o Governo tenha de fazer mais habitação pública para determinado estrato social ou grupo etário”, defendeu. São estas possíveis mudanças que com uma “ligeira

As soluções do arquitecto abrangeriam tanto a habitação pública como social. No entanto, quanto há questão da habitação dos jovens há um ponto importante a ter em conta. “Associado ao modo dos jovens habitar, prendem-se muitas questões relacionadas com desenvolvimento humano”, apontou. O arquitecto explica, ao HM, que é também preciso ter em conta a “realidade local”. Há, explica, muitas famílias em que os pais, apesar de serem proprietários de vários imóveis, preferem manter os filhos em casa e arrendar os seus imóveis com rendas elevadas. Os jovens de Macau vivem para “além da inconsciência”, mantendo-se em casa dos pais durante muito mais tempo. Culturalmente, aponta, os pais preferem que os filhos fiquem mais tempo em casa. É a “cultura local” que é preciso ter “muito em conta”, rematou. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

CHUI SAI ON CONVERSA COM JOVENS GCS

Mais habitação, mais prédios nos novos aterros, um novo tipo de habitação, são inúmeros os pedidos que chegam ao Governo. Famílias em longas filas de espera, jovens que não conseguem suportar os preços de um empréstimo para habitação. A solução poderá passar, aponta arquitecto, no reaproveitamento dos bairros antigos, com forte acesso ao crédito

Muitas destas habitações, construídas nos anos 50 e 60 “têm melhores condições que muitas das que foram construídas depois”

• O Chefe do Executivo, Chui Sai On, fez ontem uma visita à feira do Ano Novo Chinês na praça do Tap Seac, tendo partilhado palavras de incentivo aos jovens que estão nas tendas. Chui Sai On comprou vários produtos e incentivou os jovens a lutar pelos seus objectivos, tanto no trabalho como na criação de um negócio próprio


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Temores da terra

“Em Hong Kong, esforçam-se muito em promover esta área. O gabinete cresceu, transformando-se numa direcção de inovação e tecnologia. Mas em Macau isto está ao contrário, não existe um departamento especializado nem independente”

Reforma Conselho preocupado com fusão da DSRT e Correios

O

S coordenadores do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central estão preocupados com a decisão do Governo relativamente à fusão da Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) com os Correios de Macau. A união, apontam, poderá afectar o desenvolvimento da área de telecomunicações. É preciso esclarecer qual a orientação a seguir, referem. Segundo o Jornal Ou Mun, os membros deste Conselho Consultivo reuniram-se na passada quarta-feira, com dois responsáveis da DSRT. O chefe da Divisão de Promoção da Concorrência, Siu Weng Weng e o chefe da Divisão de Normas e Técnicas de Telecomunicações, Lou San, explicaram, ao jornal, como está a situação do nível de estabilidade dos serviços de dados imóveis 4G e as suas medidas de protecção. Lok Nam Tak e Au Ka Fai, dois coordenadores do mesmo conselho, referiram, depois da reunião e de acordo com os responsáveis da DSRT, que a taxa de cobertura da rede 4G atinge mais de 95%,

sendo que a meta foi atingida mais cedo do que era esperado. No entanto, durante a reunião, os membros queixaram-se que o sinal da rede 4G nem sempre é estável. Os dois chefes da DSRT indicaram que o organismo pediu à Universidade de Macau (UM) para realizar dois exames completos.

TUDO EM ORDEM

Os resultados mostram que os transmissores de rádio de Macau correspondem aos critérios internacionais de segurança, mas apontam ainda que existem empresas de gestão de condomínios que estão a impedir a montagem da estação transmissora em edifícios. Proibição esta, que faz com que a recepção da rede de algumas zonas seja fraca. Além disso, os dois coordenadores apresentaram a sua preocupação relativamente à fusão da DSRT com os Correios. Isto poderá afectar o desenvolvimento da área. Os responsáveis temem que o Governo despreze o desenvolvimento das telecomunicações em Macau. “Em Hong Kong, esforçam-se muito em promover esta área. O

POLÍTICA

gabinete cresceu, transformando-se numa direcção de inovação e tecnologia. Mas em Macau isto está ao contrário, não existe um departamento especializado nem independente”, apontou Au Ka Fai O responsável argumentou ainda que a missão da DSRT é ajudar o Governo a elaborar perspectivas de políticas de telecomunicações e de tecnologias de informações, no entanto, a Administração deci-

diu juntar a DSRT com Correios. “É preocupante perceber se isso significa que o Governo vá, no futuro, desprezar ou descurar desta área”, frisou. O também coordenador considera que para caminhar para a diversificação da economia, muitas vezes é preciso recorrer à utilização de tecnologias de informações. É necessário, defende, criar um departamento especializado para

AU KA FAI COORDENADOR DO CONSELHO CONSULTIVO DE SERVIÇOS COMUNITÁRIOS DA ZONA CENTRAL liderar a elaboração de medidas de promoção do desenvolvimento do sector. Au Ka Fai espera que a DSRT e os Correios expliquem como é que será a orientação futura, para esclarecer a população. Flora Fong

Flora.fong@hojemacau.com.mo

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Revisão do Código Penal Crimes contra a liberdade e autodeterminação sexuais Consulta Pública No período de 23/12/2015 a 22/02/2016

A Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau deseja a todos um bom Ano Lunar do Macaco

Locais para obtenção do documento: 1. Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça; 2. Centro de Informações ao Público; 3. Centro de Serviços da RAEM; 4. Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e respectivos Centros de Prestação de Serviços ao Público e Postos de Atendimento e Informação. Para consulta e descarregamento do texto para consulta: Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça: http://www.dsaj.gov.mo Meios de apresentação de opiniões e sugestões: Endereço electrónico: info@dsaj.gov.mo Fax: (853) 2871 0445 Endereço postal: Rua do Campo, n.º 162. Edifício Administração Pública, 15.º - 20.º andar, Macau


6 SOCIEDADE

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Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) implementou em Janeiro a nova medida para a primeira inscrição das crianças no ensino infantil, tendo implementado o registo central. Esta medida surge depois de, nos últimos anos, os pais terem enfrentado longas filas de espera para conseguirem matricular os seus filhos nas escolas desejadas. A nova política visa reduzir o tempo de espera e a simplificação dos procedimentos nas escolas, mas segundo a publicação Macau Concelears, a DSEJ tem vindo a atribuir subsídios para as escolas para que estas cumpram esta medida. O organismo concede 100 patacas a cada entrevista realizada com os pais das crianças. Na resposta à Macau Concelears, a DSEJ garantiu que a atribuição dos subsídios faz parte do plano do registo central, explicando que o período de inscrição dos alunos é longo, não existindo um limite de entrevistas. Por isso, o Governo considera que é necessária a coordenação das escolas. “Damos subsídios para as escolas apenas para assegurar o bom andamento da medida do registo central”, explicou a entidade educativa. A DSEJ disse ainda que o orçamento para a atribuição destes subsídios é de dois milhões de patacas. Estes “não são usados para um fim específico”, sendo que o

Registo Central GOVERNO SUBSIDIA ESCOLAS PARA ENTREVISTAS

Pagar para perguntar A publicação Macau Concelears confirmou que a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) atribui subsídios às escolas para a realização das entrevistas no âmbito do registo central de acesso ao ensino infantil. Directora de um jardim-de-infância diz que medida gera criticas entre docentes

“Os professores dão aulas e agora precisam de utilizar o tempo livre e os fins-de-semana para preparar as entrevistas com os candidatos” LAM (NOME FICTÍCIO) DIRECTORA DE UM JARDIM-DE-INFÂNCIA

apoio financeiro é apenas atribuído depois de uma apreciação feita pela DSEJ. O dinheiro deverá ser usado para custos adicionais que as escolas venham a ter ao nível dos recursos humanos ou trabalhos administrativos que tenham a ver com a nova medida.

DINHEIRO NÃO É TUDO

Lam (nome fictício), directora de um jardim-de-infância que optou por não dizer o nome, afirmou ao HM que não concorda com esta medida. Lam contou que a escola que dirige tem 170 vagas para o ensino infantil, mas

Palavra que volta para trás Casinos Sands China decidiu aumentar salários dos funcionários

A

operadora de Jogo Sands China decidiu conceder aumentos aos seus trabalhadores entre 2 a 6%, estando prevista a atribuição de bónus. A notícia foi divulgada depois dos trabalhadores se terem queixado da falta de ajustamento dos salários.

Segundo um comunicado da própria operadora, divulgado pela associação Forefront of the Macau Gaming, a Sands China decidiu aumentar os salários abaixo das 12 mil patacas em 2 a 4%, devendo ser aplicado um aumento de 2% a salários acima desse montante. O limite máximo salarial depois

destes aumentos deverá ser de 45 mil patacas. “A situação no sector em 2015 levou a que enfrentássemos muitos desafios, e como a situação económica está sempre em mudança, a empresa fez um ajustamento apropriado, sem esquecer o esforço e o trabalho de

MGM PREVÊ AUMENTO DO MERCADO DE MASSAS

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RANT Bowie, director-executivo da MGM China, garantiu, citado pelo Jornal do Cidadão, que em 2015 a operadora viu fechar três salas VIP, sendo que actualmente apenas sete salas estão a funcionar. Grant Bowie revelou uma aposta nas apostas no mercado de massas, falando de sinais de aumento nesta área. O empresário referiu ainda que a indústria do Jogo está num período de ajustamento, tendo-se mostrado optimista quanto à evolução económica de Macau.

que há 1300 candidatos pela via do registo central. Como é obrigatório fazer entrevistas com todos os alunos, isso leva a um aumento de trabalho dos professores.

“Damos subsídios para as escolas apenas para assegurar o bom andamento da medida do registo central” DSEJ

“Os professores dão aulas e agora precisam de utilizar o tempo livre e os fins-de-semana para preparar as entrevistas com os candidatos”, referiu, considerando que “nem tudo pode ser resolvido com dinheiro, as medidas ou políticas devem ser razoáveis”, apontou. Lam admitiu que a nova medida é positiva, já que a antiga política obrigava os pais a esperar demasiado por uma vaga. Contudo, criticou o facto dos pais só poderem seleccionar o máximo de seis escolas. “Qual é a base científica para que o limite de escolas seja seis? É demasiado. Considero que no máximo os pais deveriam escolher até quatro escolas, porque antes quando consultávamos os pais eles escolhiam um máximo de três escolas. É suficiente, tanto para alunos como para professores. Mas agora os professores não vão ter o tempo de descanso por causa disso, o que tem originado muitas queixas”, rematou Lam. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

todos para um bom desempenho da empresa no mercado”, lê-se no comunicado assinado por Wilfred Wong, director-executivo da Sands China. Os aumentos salariais vão começar já em Março, sendo que a operadora decidiu continuar a dar “prémios especiais” equivalentes a um mês de salário a todos os funcionários. Este bónus vai ser distribuído em Julho deste ano, tal como em 2017. A Forefront of the Macau Gaming comunicou ao HM que os funcionários da Sands China iam entregar uma carta à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) como forma de protesto pela ausência de bónus e aumentos, mas a actividade foi cancelada no mesmo dia em que a Sands China anunciou as medidas. F.F.


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“Os SS continuarão a acompanhar o estado de saúde destas pessoas e ainda não foi detectado qualquer sintoma” COMUNICADO DOS SS As autoridades estão também a tentar contactar três vendedores do mercado onde foi encontrado o vírus para os colocar em isolamento, mas sublinharam não haver notícia de qualquer pessoa com sintomas de gripe ou suspeita de infecção com o vírus. Por outro lado, as autoridades vão proceder à limpeza e desinfecção do local e do mercado abastecedor.

A TEMPO DA FESTA

H7N9 COMERCIANTES LIVRES DO VÍRUS

Patane limpo Os três trabalhadores da banca onde estavam 15 mil aves contaminadas com o vírus H7N9 estão livres de perigo. Hong Kong já está a avaliar eventual perigo de contágio

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S testes efectuados aos três trabalhadores que estavam no mercado provisório do patane confirmam que não estão contaminados com o vírus da gripe das aves H7N9. Um comunicado emitido ontem pelos Serviços de Saúde (SS) confirma os resultados positivos, bem como a obrigatoriedade de isolamento dos doentes para os próximos dez dias. “Os SS continuarão a acompanhar o estado de saúde destas pessoas e ainda não foi detectado qualquer sintoma”, explicaram.

Recorde-se que na noite de ontem foram abatidas cerca de 15 mil aves que estavam contaminadas com o vírus H7N9 no mercado, tendo as autoridades de Macau suspendido a importação de aves da China interior, até ser confirmada a origem do vírus detectado no mercado temporário de Patane. O vírus foi detectado quarta-feira à tarde numa “amostra do ambiente” do mercado (e não num animal), junto à banca de venda número 158, que vendia aves importadas de Gaoming, no sul da China.

O presidente do IACM disse esperar que as aves vivas possam voltar a ser vendidas em Macau no dia 6, ainda a tempo de serem compradas e consumidas nas festividades do Ano Novo Chinês (a partir do dia 8), permitindo assim à população cumprir uma das grandes tradições da época. Macau não registou até hoje qualquer caso de contágio humano com o H7N9, mas em Março de 2014 o território abateu 7.500 aves por ter sido detectado o vírus num lote de galinhas vivas oriundas de Zhuhai, uma cidade chinesa adjacente. Na altura, as autoridades proibiram a importação de aves vivas durante 21 dias. Entretanto os inspectores de saúde de Hong Kong estão a investigar se o mesmo fornecedor do interior da China abastece a cidade. O Secretário para a Alimentação e Saúde de Hong Kong, Ko Wing-man, disse ontem que está preocupado com o incidente, mas acrescentou que a situação daquela região era diferente da de Macau, segundo o jornal South China Morning Post. Ko Wing-man afirmou que, ao contrário de Macau, a empresa de Guangdong não fornece galinha amarela a Hong Kong, mas fornece outras carnes à antiga colónia britânica. “Às vezes ainda nos fornecem galinha amarela, mas vem de Hainan”, disse Ko Wing-Man à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK). “O risco é relativamente baixo”, acrescentou. A.S.S./LUSA

SOCIEDADE

Novas grades a caminho

Prisão Segunda fase da obra arranca este semestre

A

Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) garantiu que a segunda fase do projecto de construção da nova prisão deverá arrancar já este semestre, sendo que a primeira fase do projecto já foi analisada. Numa resposta ao deputado Si Ka Lon, Li Canfeng, director da DSSOPT, garantiu que a primeira fase do projecto está completamente concluída. “O colapso do talude devido ao tufão e as complicações no solo e meio-ambiente fizeram com que as obras das fundações demorassem mais tempo do que inicialmente previmos, sendo que o progresso foi sendo adiado. Mas a primeira fase da obra já foi verificada”, lê-se na resposta. Li Canfeng prevê que “as obras da segunda fase vão iniciar-se no primeiro semestre deste ano”, tendo defendido que “o desenho de concepção da segunda fase foi alvo de ajustamentos por causa das condições ambientais e geográficas, sendo que a terceira fase da obra deverá começar assim que terminar a segunda fase”, garantiu. A DSSOPT está a fiscalizar o projecto em conjunto com o

próprio Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), sendo que áreas como as portas ou janelas ficam sujeitas a especiais exigências por questões de segurança. Só depois da verificação pelo EPM é que os materiais são inseridos na obra, para garantir a qualidade do projecto.

SOB CONTROLO

Li Canfeng sublinhou que a DSSOPT não aceita materiais que não satisfaçam as exigências sendo que, caso os materiais utilizados pelo empreiteiro não passem na verificação, serão trocados. Caso a empresa concessionária não consiga terminar o projecto a tempo, o Governo tem direito a pedir a uma terceira entidade para reparar ou reconstruir, sendo que essas despesas serão pagas pela concessionária. Todos os meses ocorre uma reunião conjunta do Executivo sobre o projecto, a qual conta com a presença dos Secretários para a Segurança e Obras Públicas e Transportes. Desde Julho que estas reuniões ocorrem para evitar os atrasos que já se verificaram na primeira fase da obra. Tomás Chio

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8 SOCIEDADE

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E RNANDO Gomes, médico do hospital público e presidente da Associação dos Médicos dos Serviços de Saúde (SS), disse à Rádio Macau que os aumentos de salários da classe poderiam ter ficado resolvidos há seis anos, já que em 2010 foi feita a última revisão das carreiras. Para Fernando Gomes, os médicos deveriam ter carreiras próprias na Função Pública, tal como acontece com os professores da Universidade de Macau ou os magistrados. “Seria a melhor forma para contornar esta barreira limitativa que, no fundo, impede um ajustamento condigno, sério e visionário. Mas parece que não houve um entendimento ou uma percepção dessa questão. Alertámos que, nos próximos anos, iríamos ter sérios problemas”, disse Fernando Gomes.

Médicos AUMENTOS JÁ PODERIAM TER SIDO RESOLVIDOS

O outro lado da moeda

DIFERENÇAS ABISSAIS

“Um consultor ou um chefe de serviço em Hong Kong ganha cerca de 2,5 vezes mais do que se ganha em

Macau”, disse o responsável, que explicou que, segundo os actuais índices de carreira, um médico consultor no primeiro escalão, em regime de exclusividade, não ganha mais do que 95 mil patacas. Já um chefe de serviço ganha menos de 105 mil patacas. “Agora, estamos em ruptura iminente, não só em termos de pessoal – está a ser colmatado, muito bem – mas também em termos de espaço físico”, disse Fernando Gomes à Rádio Macau, referindo-se aos recursos humanos. Em relação à futura Academia de Medicina, Fernando Gomes disse que questiona quem vai dar a formação aos alunos. “(A academia) tem de ter uma capacidade formativa e produtiva com qualidade”, acrescenta o responsável, que gostaria também de saber se os médicos dos Serviços de Saúde vão ser chamados a participar nas actividades do futuro projecto.

PUB HM • 1ª VEZ • 5-2-16

ANÚNCIO PROCESSO: Execução Ordinária

CV3-14-0128-CEO

3º Juízo Cível

EXEQUENTE: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar.-----------------------------------------------------------EXECUTADOS: LEI CHEK SANG E CHU SOU LENG, ambos ausentes em parte incerta, e com último domicílio conhecido em Macau, na Alameda da Tranquilidade, nº 228, Edifício Jardim Hoi Keng, Bloco 1, 15º andar A.---------------*** FAZ-SE SABER que, nos autos acima indicados, são citados os credores desconhecidos dos executados, acima identificados, para no prazo de QUINZE DIAS, que começa a correr depois de finda a dilação de VINTE DIAS, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenham garantia real, e que é o seguinte:-----------------------------------------------------------------------------------------IMÓVEL PENHORADO Denominação: Fracção autónoma designada por “A15” do 15º andar “A”. Situação: nºs 5 a 87 da Avenida Norte do Hipódromo; nºs 200 a 234 da Alameda da Tranquilidade; nºs 71 a 115 da Praceta da Serenidade; e, nºs 7 a 65 da Rua da Tranquilidade, Macau. Fim: Para habitação. Número de matriz: 071800. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 22075, a fls. 103verso, do livro B124. Número da inscrição em nome do executado Lei Chek Sang: nº34553G. *** Macau, 02 de Fevereiro de 2016 ***

CASO ALAN HO MP EXIGE MUDANÇAS NA ACUSAÇÃO

CANCRO SERVIÇOS DE SAÚDE PROMETEM RELATÓRIO ESTE ANO

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A sessão de ontem do julgamento que coloca Alan Ho, antigo director do Hotel Lisboa, no banco dos réus, juntamente com mais quatro arguidos, o Ministério Público (MP) pediu aos juízes para alterarem a acusação de Alan Ho, Peter Lun, gerente do hotel, e Bruce Mak, chefe de segurança. Segundo a Rádio Macau, o MP pretende que os arguidos passem a estar acusados pelo primeiro artigo do crime de exploração de prostituição, referente a pessoas que ali

ciem ou atraem outras para a prática de prostituição ou que explorem a prostituição de outrem, ainda que com consentimento. Já o segundo artigo, pelo qual os arguidos estavam acusados até então, faz referência a quem angaria clientes para prostitutas, com ou sem pagamento. A mudança na acusação pode implicar uma pena de prisão entre um e três anos. Os advogados de defesa têm agora dez dias para responder ao MP. A Rádio Macau noticiou ainda que ontem foi o último dia em que as testemunhas foram ouvidas. Um vice-gerente de recepção do Hotel Lisboa confirmou outras informações já ditas em tribunal em relação ao departamento das “Young Single Ladies”, nome pelo qual eram conhecidas as prostitutas que frequentavam o 5º e 6º andar do Hotel Lisboa. Este funcionário confirmou novamente que Alan Ho, Kelly Wang e Peter Lun geriam este espaço.

S Serviços de Saúde (SS) deverão publicar um relatório sobre o panorama do cancro no território no primeiro semestre deste ano, anúncio que foi feito ontem, no âmbito do Dia Mundial do Cancro. Segundo o jornal Ou Mun, Chan Tan Mui, secretária da comissão de prevenção e controlo de doenças crónicas dos SS, confirmou a criação de um registo de doentes em 2003, sendo que o cancro do colo-rectal, do fígado e faringe são os tipos de cancro mais comuns em Macau. Em 2013, cerca de 713 pessoas morreram com esta doença. “O cancro do colo-rectal tem sido o mais comum nos últimos anos em Macau, portanto o Governo já começou a criar um programa piloto, e o rastreio acabou em Janeiro. Os SS estão a estudar os dados e o relatório vai ser lançado no primeiro semestre deste ano, sendo que no quarto trimestre o Governo irá realizar o trabalho de rastreio para todos os residentes”, disse Chan Tan Mui ao Ou Mun. A responsável garantiu que o cancro está ligado aos hábitos diários, para além de ser uma doença hereditária. “Os cidadãos devem alimentar-se correctamente no dia-a-dia e fazer desporto durante a semana”, rematou. T.C.


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O COOPERAÇÃO COM MOÇAMBIQUE REFORÇADA

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E acordo com o Diário do Povo, Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros da China, que está de visita a Moçambique afirmou que o país está disposto a reforçar a cooperação com aquela nação africana ao nível da indústria, agricultura e segurança. Segundo Wang Yi, a China esteve sempre ao lado de Moçambique durante a luta pela independência afirmando que “a China vai continuar a cooperar com Moçambique no seu sonho de independência e prosperidade”. Ainda de acordo o responsável chinês, 2016 foi primeiro ano para colocar em prática o plano do presidente Xi Jinping no âmbito da cooperação com África. A China tem a vontade de partilhar a sua experiência de industrialização e discutir a possibilidade de construir

parques industriais e zonas económicas especiais. Wang disse também que a China pretende melhorar a cooperação nas áreas agrícola e de pesca com Moçambique, apoiando o país no processo de segurança alimentar e no aumento da rentabilidade das produções agrícolas. A erradicação da pobreza, educação, saúde pública, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável também fazem parte da agenda chinesa. Por sua vez, o chanceler moçambicano Oldemiro Baloi afirmou que o seu país agradece o apoio chinês, tanto na luta de independência como no desenvolvimento nacional. O governante moçambicano sublinhou ainda a disponibilidade do país em aprofundar a cooperação com a China elevando as relações bilaterais para um novo patamar.

EX-POLÍCIA ACUSADO DE ASSASSÍNIO

Um ex-chefe de polícia da Mongólia Interior foi indiciado por homicídio da namorada e múltiplas ofensas, avançou ontem o Tribunal Supremo da China, a mais alta instância judicial do país. Zhao Liping, 64 anos, é acusado de homicídio, suborno e posse de armas de fogo e explosivos. Foi responsável pela polícia ao longo de sete anos, até se ter reformado em 2012, e vicechefe do governo local. No ano passado, foi detido em Chifeng, por suspeitas de ter matado uma mulher de 28 anos com quem mantinha “uma relação de intimidade”, após esta ameaçar expor os seus crimes, indicou a imprensa local. Vários altos quadros do Partido Comunista Chinês caíram nos últimos anos em casos de corrupção desencadeados por amantes rejeitadas. Liu Tienan, um antigo alto funcionário responsável pelo planeamento económico da China, foi condenado a prisão perpétua por aceitar subornos, após a sua amante ter entregado a um jornalista informações envolvendo negócios obscuros, graus académicos falsos e ameaças de morte.

PRODUZIDO MÉTODO DE DETECÇÃO DO ZIKA

A China declarou ontem ter desenvolvido um reagente que detecta o vírus Zika, adianta o Diário do Povo, uma descoberta considerada como um passo importante para o desenvolvimento da vacina contra o vírus. Além disso, o Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CCCPD) informou que foram elaborados regulamentos para o diagnóstico clínico e tratamento do vírus. Segundo Ni Daxin, pesquisador do CCCPD, está em andamento um estudo mais aprofundado sobre o vírus. Até o momento ainda não foram registados casos envolvendo o Zika no continente mas os especialistas alertam a população para se informarem dos riscos, especialmente com o aumento das temperaturas nas províncias do sul do país. As autoridades chinesas informaram ainda que estas acções estão a ser coordenadas com a Organização Mundial da Saúde.

Kuomitang, um dos partidos mais antigos e ricos do mundo, publicou ontem um relatório sobre a pesada derrota nas eleições de 16 de Janeiro. No relatório, apresentado na quarta-feira, à porta fechada, na reunião do seu Comité Permanente, foram identificadas como principais causas da derrota os erros na “adopção de políticas pelo governo”, muito impopulares, a “falta de comunicação eficaz” e discórdias internas. O KMT, que controlou o Parlamento (Yuan) até este ano, mas não a presidência de 2000 a 2008, teve um claro apoio popular até 2012, data em que venceu as eleições presidenciais e legislativas, refere o relatório, citado pela agência Efe. Segundo o documento, desde 2012, uma série de políticas, como os impostos sobre as receitas de capital, a subida dos preços do gás e da electricidade e a tentativa de forçar a aprovação legislativa de um acordo de serviços com a China beliscaram a popularidade do KMT. A morte em 2013 de um soldado por castigos excessivos pouco antes do final do seu serviço militar, vários incidentes de segurança alimentar, os altos preços da habitação, o aumento do fosso entre ricos e pobres e a paralisação dos salários inflamaram a ira pública, de acordo com o relatório. Não valorizar a influência dos meios de comunicação social e fóruns da Internet, é outro dos pecados elencados, o que fez com que perdesse a oportunidade de manifestar e clarificar a sua posição, criando uma brecha com a opinião pública. A falta de consenso interno, a má distribuição dos benefícios da aproximação económica à China

CHINA

KUOMINTANG ANALISA RESULTADOS ELEITORAIS

A lamber feridas Depois da estrondosa derrota eleitoral, os herdeiros da Aliança Revolucionária, reuniramse para perceber o que correu mal e chegaram à conclusão que perderam o apoio do público

e o incidente da cantora taiwanesa Chou Tzu-yu, que sofreu pressões por parte da China depois de exibir uma bandeira nacional num programa de televisão da Coreia do Sul, em vésperas das eleições, também contribuíram para

Não valorizar a influência dos meios de comunicação social e fóruns da Internet, é outro dos pecados elencados, o que fez com que perdesse a oportunidade de manifestar e clarificar a sua posição, criando uma brecha com a opinião pública

a derrota eleitoral, segundo o relatório.

AGORA VAI SER MAIS DIFÍCIL

“O KMT depara-se agora com desafios mais difíceis do que quando perdeu, pela primeira vez, as eleições presidenciais em 2000, e temos de enfrentar o facto de que perdemos o apoio do público”, conclui o documento. O KMT, fundado na China em 1911, foi o principal impulsionador da revolução chinesa do ano seguinte, a qual colocou um ponto final à dinastia imperial Qing e estabeleceu a República.

Depois de perder a guerra civil com os comunistas em 1949, o partido mudou-se para Taiwan, onde governou de forma autoritária até à década de 1980, avançando depois para a transição democrática. Desde as primeiras eleições legislativas democráticas (1992) e as primeiras presidenciais directas (1996) até 2000, o KMT controlou a presidência e o Parlamento da Ilha Formosa e só perdeu a maioria parlamentar no mês passado.


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Uma das vozes principais do movimento de reforma da era de Deng Xiaoping e ex-editor delegado do Diário do Povo avisa que a supressão da diversidade de opiniões está a prejudicar a reforma

“E

STÃO a ir longe demais” disse Zhou Ruijin, também conhecido pelo pseudónimo Huang Fuping, acusando os chefes da propaganda chinesa de intervirem demasiado. Estas declarações surgiram no sitio Ifeng.com e foram retiradas de um conjunto de comentários do reformista publicados o mês passado no continente.

Reforma não é isto Ex-editor do Diário do Povo arrasa censores

a ir longe demais, dizendo que o que se vive agora é “uma discrepância da ideia de reforma”. E vai mais longe: “Para ser franco, alguns líderes da propaganda do partido gerem a imprensa como se fosse um horário de comboios, intervindo directamente na abordagem e nos procedimentos da produção de notícias.Alguns chefes da propaganda ... até dão ordens como se fossem editores de jornais.”

ACÇÃO INTENSA Zhou emergiu no princípio da década de 90 assinando crónicas em defesa da politica de reforma de Deng Xiaoping quando a China vivia um período de profundo conservadorismo político e tornou-se numa voz muito influente. Esta critica à acção dos censores surge numa altura em que as autoridades chinesas têm vindo a apertar o cerco aos média e a intensificar a propaganda ideológica no continente. Zhou concorda com o Presidente Xi Jinping na necessidade de aumentar os esforços de propaganda mas acha que os responsáveis da censura estão

Pequim tem vindo a aumentar o controle sobre os média e a internet desenvolvendo em simultâneo uma agressiva campanha ideoló-

gica. As universidades Chinesas foram obrigadas a banir livros que promovessem os valores ocidentais e membros do partido punidos por “comentários impróprios às politicas do governo central”, lê-se no artigo do Ifeng.com. Uma grande quantidade de gente, onde se incluem celebridades e advogados dos direitos humanos, têm vindo a ser obrigados a desfilar nas televisões estatais para confessarem alegadas ofensas mesmo ainda antes de terem sido ouvidos em foros judiciais. Zhou opõe-se a esta abordagem administrativa “hiper-simplificada e mesmo

“Alguns líderes da propaganda do partido gerem a imprensa como se fosse um horário de comboios, intervindo directamente na abordagem e nos procedimentos da produção de notícias. Alguns chefes da propaganda ... até dão ordens como se fossem editores de jornais”

crua” para lidar com os problemas, tais como as “vagas de campanhas, supressões estritas e humilhações públicas”. Segundo o reformista, “intervir com um violento aparelho [de estado] à mínima provocação, pedir aos média públicos que sirvam de magistrados, deitarem websites abaixo, apagarem mensagem nas redes sociais e bloquearem contas vão contra a tendência corrente da campanha de um Estado de Direito”, acrescentando que “numa fase de transição social é normal que existam visões diferentes e discussões no campo ideológico e que o público emita as suas opiniões sobe o aprofundamento das reformas. Devem ser guiados e não reprimidos”, sentencia. Vai ainda mais longe dizendo que “a liberdade de expressão dos cidadãos, conforme garantida pela constituição, deve ser protegida” e que “o tempo da opinião pública uniforme é coisa do passado.” Para além de Zhou, dois outros reformistas influentes – Shi Zhihong and Ling He – escrevem sob o pseudónimo Huang Fuping.

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COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS Aviso

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais deseja a todos um bom Ano Lunar do Macaco

Torna-se público que já se encontra finalizada a correcção da segunda prestação das provas para a inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilistas registado e técnico de contas, realizadas no ano de 2015 nos termos do disposto na alínea c) do artigo 2º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, pela referida Comissão. Os respectivos resultados serão notificados aos interessados até ao dia 19 de Fevereiro, solicitando-se aos mesmos que contactem com a Sra. Wong, através do nº 85995343 ou 85995344, caso não recebam a mencionada notificação.

Direcção dos Serviços de Finanças, aos 27 de Janeiro de 2016 O Presidente do Júri, Iong Kong Leong

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS EDITAL IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS Faz-se saber, face ao disposto no artigo 10.º, n.º 1, alínea a), do Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos, aprovado pela Lei n.º 21/78/M, de 9 de Setembro, que, durante os meses de Fevereiro e Março do ano em curso, as pessoas singulares e colectivas não enquadráveis no artigo 4.º, n.º 2, do mesmo Regulamento, com as alterações introduzidas pelo artigo 1.º da Lei n.º 6/83/M, de 2 de Julho, e artigo 3.º da Lei n.º 4/90/M, de 4 de Junho, que tenham auferido na Região Administrativa Especial de Macau, em relação ao exercício de 2015, rendimentos abrangidos pelo artigo 3.º do citado Regulamento, com as alterações introduzidas pelo n.º 2 do artigo 5.º, da Lei n.º 12/2003, deverão apresentar em duplicado, a declaração de rendimentos, modelo M/1, sob pena de multa prevista no artigo 64.º do referido Regulamento. As declarações poderão ser apresentadas no 2.º Centro de Serviços, sito no Edifício “Finanças”, no Centro de Serviços da RAEM e no Centro de Atendimento Taipa, podendo ainda as mesmas serem apresentadas através do serviço electrónico desta Direcção de Serviços.

Aos 13 de Janeiro de 2016 O Director dos Serviços Iong Kong Leong

WWW. IACM.GOV.MO


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EVENTOS

HÉLDER BEJA, SUB-DIRECTOR E PROGRAMADOR DO FESTIVAL ROTA DAS LETRAS

“Vamos ter Bocage neste festival”

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MA ideia pensada desde o inicio transforma-se cada vez mais em realidade. A quinta edição do festival literário Rota das Letras começa também a pensar nos autores ingleses vindos de vários lugares do mundo e com diversos tipos de escrita. Jane Camens, da Austrália, Bengt Ohlsson da Suécia e Jordi Punti de Espanha são alguns dos nomes que provam isso mesmo. Pelo meio, Macau vai receber dois poetas filipinos, Ângelo R. Lacuesta e Mookie Katigbak Lacuesta, por forma a responder a uma das maiores comunidades aqui residentes. Ao HM, Hélder Beja, sub-director e programador do festival Rota das Letras, fala de um encontro que se irá pautar ainda mais pela diversidade de palavras e de ideias. “Ao fim de duas edições começámos a perceber que era o que fazia sentido, avançar para um modelo que fosse ao encontro dos autores de língua chinesa e portuguesa, mas que se estende a outras nacionalidades”, disse em entrevista. “Queremos posicionar o festival como sendo verdadeiramente internacional, para conseguirmos estar a par de outros festivais e fazer parcerias. A ideia de responder a outras comunidades existe, mas não é a dominante. Queremos trazer autores de

É notável poder ver um homem que decorou os Lusíadas todo. Acho que vai ser um momento bonito deste festival”, considerou.

TIAGO ALCÂNTARA

Com mais autores de língua inglesa, a quinta edição do festival Rota das Letras mostra que a internacionalização é o caminho a seguir, bem como o reconhecimento aos clássicos autores chineses e portugueses. Hélder Beja garantiu que, a par de Camilo Pessanha, também Bocage será recordado

O REGRESSO AO FADO

outras proveniências e tornar o festival cada vez mais rico”, apontou Hélder Beja. Para fazer esta edição, a direcção do festival decidiu desafiar Rui Zink e Lolita Hu, autores convidados de anteriores edições, para serem “padrinhos” e escolherem alguns escritores. Foi Rui Zink, por exemplo, que propôs o nome de Bengt Ohlsson. “Vamos abrir a discussão a outras nacionalidades e a outras literaturas, que também são bastante ricas. Na Europa do Norte são mais conhecidos pelos trillers, por exemplo, e isso pode ser um processo importante para Macau”, garantiu Hélder Beja.

Do lado luso, o destaque vai para Matilde Campilho, a jovem autora que foi a que mais livros vendeu no Festival Literário do Paraty, no Brasil. Nascida em Lisboa, Matilde viveu no Rio de Janeiro e os seus poemas ousam misturar palavras em inglês com o português de Portugal e do Brasil. “Antes de ela ter o brilharete em Paraty já tínhamos pensado nela. Quando as notícias do Paraty saíram, tomámos uma decisão. Há uma nova geração de poetas da qual ela é apenas uma das representantes, mas acho que faz sentido. Ela é a grande estreia da literatura dos últimos anos”, confessou Hélder Beja.

PARCERIAS A CAMINHO

A quinta edição do Rota das Letras vai recordar Camilo Pessanha, autor intimamente ligado a Macau, com a presença de Paulo Franchetti, Daniel Pires e Pedro Barreiros, académicos que estudaram os poemas de Pessanha. Mas a ideia é lembrar também o poeta português Bocage.

Se no início caminhava sozinho para construir um evento que une várias culturas, hoje o Rota das Letras é cada vez mais contactado por outras entidades do meio literário para parcerias e participação de escritores. Foi o que aconteceu com Jordi Punti e Owen Martell, por exemplo. “É uma coisa que nos vem acontecendo cada vez mais, e são solicitações que não implicam investimento da parte do festival. Com diferentes nuances conseguimos encontrar uma forma inteligente de internacionalizar o festival, sem queimar muitos recursos”, explicou o sub-director do evento.

APOSTAR NOS CLÁSSICOS

“Bocage esteve em Macau e estamos a preparar alguma coisa, que vamos avançar em breve. Vai haver Bocage neste festival”, garantiu Hélder Beja. Lembrar os clássicos será uma nova aposta do Rota das Letras. “Não pensamos em fazê-lo todos os anos, mas quando houver um motivo muito óbvio iremos fazê-lo. O festival tem de ter esse papel, mas temos de trazer para o presente autores que estiveram em Macau ou que têm uma relação com Macau, e que estão um pouco caídos no esquecimento. Vamos fazer esse trabalho para o Pessanha e Bocage, por exemplo, mas também para outros autores de língua chinesa”, disse o sub-director. Luís de Camões, autor também ligado a Macau, será também recordado com o espectáculo de António Fonseca, que fará um monólogo com os poemas de Os Lusíadas. “O festival volta às artes de palco, o ano passado não teve em português, este ano vai ter com um monólogo.

“Queremos posicionar o festival como sendo verdadeiramente internacional, para conseguirmos estar a par de outros festivais e fazer parcerias. (...) Queremos trazer autores de outras proveniências e tornar o festival cada vez mais rico”

Depois dos concertos de Camané e Aldina Duarte, a direcção do Rota das Letras sentiu que tinha de regressar ao tradicional Fado, com a presença de Cristina Branco. “Tínhamos de voltar ao Fado, e em cinco edições vamos ter três com Fado. O maior desafio é inovar, mas também diversificar. Do lado chinês tivemos uma movida mais jovem o ano passado, mas para o ano podemos trazer de novo um rapper ou um cantor de intervenção, por exemplo”, referiu. Prestes a estabelecer uma parceria com o Festival Literário Internacional de Hong Kong, o Rota das Letras cada vez mais atravessa fronteiras, mas ainda não atingiu a desejada maturidade. “Ainda há muito para fazer, acho que o festival caminha para a maturidade, mas ainda não chegou lá. O festival precisa de uma estrutura que acompanhe o festival ao longo do ano, ainda mais profissionalizada”, rematou Hélder Beja. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ENCONTRO DE ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA EM MACAU

O sétimo Encontro de Escritores de Língua Portuguesa deverá acontecer no próximo ano em Macau, disse à agência Lusa o secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Vítor Ramalho. “O próximo encontro provavelmente será em Macau. Estamos a trabalhar para isso e vamos ver se o conseguimos dar ainda maior impacto que este próprio, se é possível”, afirmou Vítor Ramalho no término do VI encontro, que decorreu durante três dias na cidade da Praia. Considerando que o encontro na capital cabo-verdiana tem “um balanço positivo e um grande impacto a todos os níveis”, o secretário-geral da UCCLA afirmou que tudo será feito para que em Macau seja uma reunião “singular”, na mesma medida da plataforma que a China utiliza na relação com os países de língua portuguesa.


h Macaco subindo a montanha ARTES, LETRAS E IDEIAS

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NTEM, 4 de Fevereiro celebrou-se o Princípio da Primavera (Lichun) e pelo Calendário Chinês começou o ano de 4653, numa contagem do tempo cujo início é 2637 a.n.E., mas apenas criada em 2317 a.n.E., durante o reinado do Imperador Yao, quando o ano tinha 365,25 dias. Em 1100 a.n.E., mediante observações do Sol estabeleceu-se com exactidão a posição do Solstício de Inverno. Desta maneira, a invenção de um sistema de termos solares foi sendo elaborado através dos tempos, a partir de observações dos astrónomos. Os termos estão directamente ligados à eclíptica do Sol e são indicadores das estações do ano e entre estes 24 termos estão os dois solstícios, os primeiros a ser estabelecidos e depois, os dois equinócios. Estes termos solares foram gradualmente reconhecidos por volta do século III a.n.E., quando Lu Shi Chun Qiu os compilou. Mas foi no livro Huai Nan Zi, de 120 a.n.E., que todos os vinte e quatro termos ficaram mencionados e assim estabelecido o Calendário Solar do Agricultor. Nele as datas são fixas, sendo o início da Primavera a primeira grande festa que marca o ciclo de um novo ano agrícola e calha no dia 4 de Fevereiro, por vezes no dia 5, se houver ajustamentos no calendário. A China oficialmente faz uso do calendário gregoriano desde 1911, apesar de ter o seu Calendário Solar Agrícola definido desde o século II. Mas é pela combinação do Calendário Solar com o Lunar que ao fim de 60 anos o ciclo se fecha. Segundo o que refere o Anuário da Administração de Macau do ano de 1927, no Calendário Lunar “o dia principia à meia-noite, a semana tem sete dias e os meses são de 29 ou 30 dias. Fazem os meses de 29 dias as luas pequenas e os de 30, as luas grandes. O ano consta ordinariamente de doze luas, seis pequenas e seis grandes, perfazendo todas 354 dias. A primeira Lua

do ano é aquela durante a qual o Sol atinge o signo Pisces ou dos peixes; o Equinócio de Primavera cai durante a segunda Lua; o Solstício de Verão durante a quinta; o Equinócio de Outono durante a oitava e o Solstício de Inverno durante a undécima.” É pela interacção entre os dois calendários, o lunar e o solar, que o calendário chinês foi criado e este move-se em ciclos, com duração de sessenta anos, tendo-se iniciado o actual ciclo em 1984 e finaliza em 2043. O nome do ano é proveniente da combinação dos dez Troncos Celestes (em mandarim Tian Gan, ou Tin Kon em cantonense) com os doze Ramos Terrestres (Di Zhi em mandarim, Tei Chi em cantonense). Assim a combi-

nação entre os ciclos, um de dez anos (Tian Gan) e outro de doze anos (Di Zhi), leva sessenta anos para se completar, ao fim do qual se volta a repetir pela mesma ordem. Os dez Troncos Celestes (Cinco Elementos - Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água, duplicados) combinam-se com os doze Ramos Terrestres (tantos quantos os animais que responderam ao chamamento de Buda: Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco) e é assim que os anos luni-solares chineses se formam. Cada um dos doze animais do zodíaco é regido por um dos cinco elementos e por uma qualidade, yin ou yang e é dessa combinação que se transforma num tipo especial

de animal, havendo para cada um, cinco diferentes subtipos, conforme o elemento a que está associado. Este ano tem o Tronco Celeste, Bing (Ping), Fogo, combinado com o Ramo Terrestre Shen, que representa Macaco subindo a Montanha. Logo é o ano do Macaco e do Elemento Fogo e no ciclo de 60 anos corresponde ao 33.º ano do 78.º ciclo chinês indicado pela expressão Bing Shen (丙申, em cantonense Ping Shan), que combinados criam Água Dourada.

AS ONDAS DO MACACO

A 8 de Fevereiro de 2016 realizam-se as Festividades ao Novo Ano (Chunjié em mandarim, Tchôn Tchit em cantonense), quando se dá as boas vindas ao Ano do Macaco. Como o Princípio da Primavera (Lichun) aconteceu quatro dias antes do início do novo Ano Lunar e o ano do Macaco terminará a 27 de Janeiro de 2017, logo sem contar o dia 4 de Fevereiro, o dia do Princípio da Primavera, diz-se ser um ano cego. É bom para viver em conjunto, mas não para casar, já que para a maior parte das pessoas, não trará descendência. Por isso deixe essa acção para ser realizada em 2017, que terá dois Lichun e ainda mais um mês intercalar. As características do Macaco, inteligente e astuto, regulam o ano. Compreender-se no Espaço que ocupa, lendo o que à sua volta se passa pelos pormenores e não pela forma geral que imediatamente alcança, leva essa perspicácia a avaliar o momento com grande agudeza. Assim está para este ano regulado o Céu pelo Todo, nós, que é o estar englobados e não ser individualmente globalizados. O Tai Sui, (em cantonense Tai Soi, o Deus que superintende o ano, de um ciclo de sessenta anos) que rege este ano lunar de 2016 é o Capitão Guan Zhong, que traz muitas e grandes ondas e significa mudança. Os signos dos quatro animais que este ano estão bafejados pela sorte, são Búfalo,


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José Simões morais

Porco, Cabra e Coelho. Para as pessoas dos signos chineses do Macaco, Rato e Galo, o Tai Sui deste ano não as vai ajudar e por não terem a estrela da sorte a protegê-los, devem preparar-se para dificuldades, mas o ano não será muito mau. Para os nativos de Tigre, Cavalo e Cão é um ano de grandes mudanças e para os de Serpente e Dragão, não vai haver alterosas vagas, será um normal ano. O ano é de Shen = Macaco e Hóu = Fogo e assim teremos um ano de Fogo amansado pela Água criada em Bing Shen. Tendo passado os três anos de Fogo, este ano de 2016, com Bing Shen criando água, começam os dez dourados anos, início de uma nova Geração. Água e Fogo são o necessário para a criação, sendo por isso um ano para iniciar algo para os próximos dez anos. É necessário voltar a encontrar uma direcção e para isso, é importante mudar o sentido do coração. Já não será o desejo de dinheiro, pois os ricos irão perder a força para realizar mais e os pobres, que não o têm e não importa o quão trabalham nunca o terão. Sente-se agora o que é deveras importante, a necessidade de ter um espírito de solidariedade fora da visão materialista. Este é o problema para o qual todos os governantes dos países irão tentar encontrar a solução. Mas até hoje não apareceu ainda alguém que se apresentasse para liderar as energias do mundo nessa direcção e esse, é o verdadeiro desastre do mundo actual.

ANO DE MUDANÇA

O ano de 2016 é de mudança, por isso de viagens, mudar de emprego e de casa, ou talvez emigrar. Há dois temas importantes para ter em conta. Uma acção terrorista, que pode acontecer em qualquer lado e a segunda, tomar cuidado com os meios de transporte e os locais para onde viaja e perceber se são seguros, ou se é uma zona sensível. Baseado no Livro Di Mu Jing, o que ocorrerá no ano Bing Shen: - de certeza haverá problemas com a água, porque Bing e Shen criam água. - A agricultura vai sofrer com desastres naturais, o que vai trazer problemas para a alimentação.

- Epidemias trarão a morte a humanos. No entanto, baseando nos Caminhos para Oeste, teremos o Macaco a proteger o Mestre do Dharma e não esquecendo que este é o primeiro dos próximos dez anos dourados, não teremos que ficar preocupados. A estrela Wu Huang (Cinco Amarelos), que traz obstáculos, problemas e conflitos, está este ano localizada na direcção Nordeste, o que poderá significar problemas na Coreia do Norte e EUA. Já os Er Hei (Dois Pretos) Bing Fu (que representa doença) encontra-se na direcção meio, estando por isso o perigo baseado no Médio Oriente. Há probabilidade de alguns desastres aéreos. Três grupos em Fogo, Americanos, Japão e EI e as armas de fogo estarão na ordem do ano. Este e o próximo ano são de guerra.

Os signos dos quatro animais que este ano estão bafejados pela sorte, são Búfalo, Porco, Cabra e Coelho. Para as pessoas dos signos chineses do Macaco, Rato e Galo, o Tai Sui deste ano não as vai ajudar Os aparelhos eléctricos aumentarão a intensidade do Fogo e desequilibrarão o fogo que envolve o mundo. Ano para se ter muito cuidado com os olhos, por isso, não passe muito tempo defronte das máquinas cuja luz atinja os seus olhos e vaguei-os com a Luz que deles irradiam pelo vivo da Natureza. Em 2016, o feminino ganha grande poder e mais países passam a ser governados por mulheres. Na Europa, vai ser um ano de assaltos e violações e os anjos tornam-se demónios. Quando ao entrar no ano do Macaco, significa que já passaram os três anos de forte Fogo e este ano de água, significa que as coisas irão melhorar, mas será necessário muito cuidado com

as epidemias (doenças, vírus...), continuando os desastres naturais, mas sem a força do último ano. Prevê-se grandes cheias, em rios e oceanos. Os anos de Macaco são de terríveis tremores de Terra, como os ocorridos em Gansu a 16 de Dezembro de 1920 com 208 mil mortos e em 26 de Dezembro de 2004, acompanhado por tsunami no Oceano Índico, com 200 mil mortos. Para este ano de 2016, Outubro é preocupante no campo dos atentados terroristas e em Dezembro, com algo parecido com o que ocorreu em 2004, talvez para pior no campo dos tremores de terra, que segundo Li Ju Ming (Lei Koi Man em cantonense), a quem nos socorremos para preparar estas previsões, se espera que não aconteça.

PARA TOMAR RESOLUÇÕES

Pelo calendário solar, as pessoas que nasceram no período compreendido entre: - 19 de Fevereiro e 4 de Maio, precisam do Elemento metal. Meio ano vai ser bom e o outro meio menos bom. A melhor direcção é Oeste. Na Primavera e Outono, precisam de ter cuidado com os pulmões e coração. Entre os períodos de 4 de Fevereiro a 4 de Abril e 6 de Junho até 6 de Agosto, metal está muito baixo, logo estas pessoas devem ter muito cuidado com os investimentos, finanças e importantes decisões. Por isso, não tome decisões e guarde-as para o período auspicioso entre 8 de Agosto a 8 de Setembro. Deve evite tomar decisões entre as onze horas e as três da tarde, sendo o melhor período das 15 às 19 horas. Para quem está carenciado do Elemento Metal, as melhores cores são o branco e o dourado, a pior é verde, por isso use roupas com essas cores. Quanto à comida, bife e galinha são os melhores pratos. - 5 de Maio e 7 de Agosto, tem carência do Elemento Água, mas comparado com os dois últimos anos, este ano vai ser melhor. Na Primavera e Verão a água rareia e por isso, deve nesse período manter-se paciente quanto aos investimentos, finanças e importantes decisões, sendo para tal entre 8 de Novembro até 3 Fevereiro de 2017 o período mais auspicioso. Durante a manhã não é bom tomar decisões, sendo o melhor

entre as 15 e 19 horas e depois da 21 horas, quando a cabeça está mais clara. Não se esqueça de beba muita água todos os dias e vá nadar. Se possível viaje para Oeste de barco, o que lhe poderá trazer uma grande ajuda. As melhores cores para usar são o azul, branco e preto, devendo evitar o vermelho. Todo o tipo de peixe é bom para a sua alimentação e evite grelhados e pimenta.

O ano de 2016 é de mudança, por isso de viagens, mudar de emprego e de casa, ou talvez emigrar - 8 de Agosto e 7 de Novembro, precisam do Elemento Madeira. A Primavera será o melhor período, assim como entre 8 Novembro a 6 de Dezembro. Já entre 8 de Agosto a 6 de Novembro não arrisque a investir e cuidado com a saúde. A direcção auspiciosa é Leste e Sudeste, devendo evitar o Nordeste. As melhores horas são as da manhã até às três da tarde e daí até às 19 horas é um mau período para tomar decisões. O verde é a melhor cor. Deve comer porco e vegetais. - 8 de Novembro e 18 de Fevereiro de 2017, precisam do Elemento Fogo. De 8 de Novembro até 3 de Fevereiro de 2017 é um período de grandes ondas e por isso deve ter cuidado com os investimentos, finanças, decisões importantes e viagens. O melhor momento para realizar tudo isso é entre 6 de Junho a 6 de Agosto e de 9 de Outubro a 6 de Novembro. As melhores horas são entre as 9 e as 15 da tarde. Cuidado com os olhos, coração, sangue entre 6 de Maio e 4 de Junho. A direcção auspiciosa é Sudoeste e Sudeste. Viajar de comboio é uma grande ajuda. A melhor cor para usar é o vermelho e evite o preto. Coma carneiro, café, chocolate e beba vinho tinto, mas evite bebidas e comidas frias. Lembre-se que só deverá expressar cumprimentos de Bom Ano, quando já estiver no Ano do Macaco.


18

h Insignificante. Como uma bomba

A

NTÓNIO. Acorda, homem. Acordo. Mas nem sei se dormia de facto. Olho estremunhado e honestamente sem entender. Logo num primeiro plano, onde estou. Num segundo instante, quem é, e quem sou. E numa terceira tentativa de manter o pé, porque haveria de acordar. E para quê. O que há aqui, num primeiro instante, sem saber onde estou e que lugar da consciência do mundo seria este, por exemplo. Num segundo momento, para cumprir que excentricidade do universo e de pessoas que me acordam aos gritos – as pessoas aos gritos, e são muitas, perturbam-me sempre para além da perplexidade – a quem faço falta no estado lastimoso em que sou. Essa uma questão de sempre. Num terceiro degrau do acordar abrupto, mais abaixo, e como tal a tocar de perto uma aproximação de um eu em alvoroço, vindo de dentro de um sono profundo, àquilo que começo a sentir nos ossos, nas pálpebras e no estômago, que de súbito se revoltou, como que dos gritos selváticos, num ronco borbulhante, talvez de fome, afinal. E, de repente, estou completamente acordado. De pé, de um salto e reposto nesta normalidade de mundo, que é o meu café dos dias ímpares. Dos dias pares. E dos outros, porque a limpeza no lar de velhinhos falhou. Faz-me ainda impressão chamar “lar” a um sítio estranho, em que se vive com gente estranha. Penso no meu velhote e penso que não lhe vou fazer isso. Enquanto puder. E lá, não hão-de ser os desgraçados a fazê-la. Mas sem dinheiro, salta o António e fica a gestão da despensa, que apesar de tudo é a prioridade. E vão continuar a acumular-se esparsos cabelos brancos no chão. Mais um botão ou outro que ninguém iria coser. Mais um brinco partido de tão gasto. Mais um lencinho de pano muito enroladinho e assoado, atrás duma cadeira. Mais metade de uma bolacha surripiada ao lanche para as horas mortas. Um rebuçado peganhento do calor de vários verões, que alguém ofereceu como a um cavalinho…

Não fosse a exaustão já anterior e continuava a varrer-lhes os cabelos do chão e a apanhar-lhes os óculos remendados com fita-cola, que não funciona mas os faz continuar a ter a ilusão de que têm óculos. E a fingir que não vejo como escondem nos cantos das cadeiras desconfortáveis aqueles saquinhos de plástico já muito enrugados e baços, onde parece resumir-se o historial de uma vida, simbolicamente ajuntada em meia dúzia de objectos que às vezes não passam de um botão caído não sabem de onde, uma moeda de dois euros deixada pela filha, um pente sujo, um postal daquela excursão à Ericeira, muito comido nos cantos e que era para mandar a alguém, mas que sabendo ou não, depois se esqueceu, e três papéis irrelevantes, dobrados e rasgados nas dobras, que ainda sonham dizer respeito a uma vida, de cujas burocracias ainda depende uma falsa noção de domínio, de pertença e de continuidade. De existência. Segredos, que talvez já nem saibam como e quanto insignificantes e ilusórios são. Símbolos de segredos, que já não têm uma carteira ou uma bolsa decente em que se façam valer. Mas por agora, não há mais limpezas no lar dos velhinhos. Azar. O meu também, porque era um reforço ao orçamento. Aprumo as costas não vá o patrão avançar a mão no meu pescoço, num ímpeto que ele até pode fingir achar de paternalismo e com a ternura possível à sua alma rude e violenta, mas que me sabe mal. E sempre. Cai-me como sempre todo o resíduo recente da memória em cima, atulhando-me a consciência que volta, de um laivo amargo de desilusão porque aqueles imprecisos temores de que a verdade é só uma, aquela e insinuada desde a raiz da vigília, lá bem do fundo, de forma a, no primeiro momento de confusão de acordar, ainda poder parecer fantasia, mas logo cai tudo de chofre e é mesmo a verdade que ela se foi. Há muito. Depois lembro-me que há qualquer coisa. Outra coisa que custa a voltar dos fundos do ânimo. Sim. Ela. Mas outra que não a que foi. Esta, ainda não é. Só aquele so-

nho que nem o de ser de algum modo a realidade possível, mas tão só de o ser, e me acompanha. Mas não tão enraizado como a memória de ela. Da outra que se foi para melhor. Pensou ela. E eu também, na minha insignificância, que sempre vê o mundo maior do que ele é. E nele, todos os outros, mais do que eu sou. Mas que raio. Ainda não vai ser hoje que digo ao patrão com todas as letras porque é que não me pergunta o nome. O meu nome. Que raio. Que António é que nunca foi nem sei de onde veio esta ideia. Apre. E recaio de novo naquela calma apática, a poupar energias para o resto do dia, que parece sempre ser demasiado. E grande. Se ela aparecesse agora, mas não é a hora dela, não era a melhor altura. Nunca é. Fica sempre aquém do que espero quando estou longe de isso acontecer. Pequena, modesta, impenetrável. Como a quereria. Não fosse este vacilo que sempre me dita um alheamento, uma inexistência em que a adivinho ver-me. E assim não há olhar possível. Quem não existe não olha. Agora vem a parte melhor, que isto do acordar tem camadas. Como um fogo que se me propaga à alma, se espalha no rosto que sinto corar, e no pescoço que transpira abundantemente, bovinamente, digo, não fosse eu uma fraca figura de um metro e cinquenta e dois, já a contar com os saltos dos sapatos do casamento, enfim, quê…três centímetros a retirar ao registo legal, e lembro-me que hoje trouxe a carta. Porque dizer-lhe - entendi há muito nunca vou dizer. Nem olhar, sequer. Mas a carta queima-me o bolso das calças ao ponto de olhar para baixo a ver se se vê. Sei lá. O fumo. Ou um buraco fumegante a alastrar. E nem seria bom de imaginar, porque são as que trago a uso para poupar as cinzentas escuras que são para o que der e vier. Festas, funerais e o mais que acontece a um homem. Mais os segundos dos que as primeiras. Mas já nem estes, que começam a escassear. Estranho. A questão é esta. Desatei a transpirar de nervos só de me lembrar a carta corrosiva dentro do bolso. Essa é que é essa. Já em

casa, para me resolver a trazê-la, quase se diria que estava a entrega-la. O coração num alvoroço de enjoo. Não sei que fazer de mim que sempre fui assim. Entregá-la vai ser uma coisa linda de se assistir. Que é como quem diz. Porque o que queria era meter-me num buraco do chão, com uma mãozinha de fora quando ela passasse o tapete carcomido da entrada e estender-lha sem mais. Depois, estou sempre despenteado quando ela vem e é sempre sem esperar. A roupa, também não ajuda. Mas o pior sou eu. Só de me lembrar do que vejo ao espelho todas as manhãs. Nada a fazer. Não é que ela seja nada de especial. Já a outra que se foi, não era. É que é amor. Antes também era. Eu sou assim. Mas ficou bem escrita. Saiu-me bem. Para falar não me desembaraço mas a sós com a esferográfica, a cabeça fica limpa por um instante. Só vale por isso. Sempre gostei de cartas de amor. Saem-me das entranhas e com o melhor que tenho e não tenho. E elas. Mas o amor é assim. Levo de novo a mão ao bolso das calças e retiro-a bem dobrada em oito partes, para lha poder por na mão discretamente e como coisa sem importância. Que é. Reparo então que de tanto a tirar para lhe sentir a existência real, para me interrogar de novo se seria capaz de lha entregar como uma flor, sempre a coloco muito ao alcance da mão. Fico em pânico de imaginar deixá-la cair, perdê-la ali pelo chão. E empurro-a bem para o fundo do bolso, como quem aconchega um animal pequeno para não ter frio na noite longa do sono. Mas é nos cuidados que por vezes nos perdemos. Aguentei uma hora, bem medida no relógio, até consentir a mim próprio voltar a senti-la na mão. Vitorioso, exigi de mim mais uma hora, e depois, já como uma enorme sensação de alívio, dei ao meu ego a arrogância de a fazer esperar mais meia. E depois, bem, depois já não estava lá. Levando a mão bem até ao fundo do bolso, só um enorme rasgão no forro. Ou talvez afinal uma queimadura irremediável. Nem sei descrever o que senti. Primeiro, pensar – curioso, escrevi penar, primeiro – que se afinal


19 hoje macau sexta-feira 5.2.2016

Anabela Canas

ANABELA CANAS

de tudo e de nada

ela viesse, mais uma vez eu teria que me corroer por dentro sem maneira de chegar até ali. Sem pretexto. Sem existência. Por quanto tempo mais, só ela poderia dizer. Em parte. Depois, como poderia recomeçar aquela carta que já não poderia repetir, e que sendo sempre já outra, me levaria a alma, o suor e o sangue de muitos dias até encontrar as palavras. Fugidias. Os ângulos particulares. A emoção. O sentimento o mesmo, mas dias diferentes. E depois o terror de

que alguém a encontrasse antes de mim se a encontrasse. E a ela. Também. Dia após dia. Dizer-lhe as palavras que não digo. O pior de tudo, no lar, era quando me pediam, com aqueles olhinhos, por vezes um pouco ramelosos, muitas vezes cronicamente lacrimejantes, imersos em cataratas, como uma fronteira da memória com o presente, para ler de novo aquela carta. Quase desfeita, mas para eles nunca o sentido. Suja, ilegível em alguns pon-

tos. Saída daquele saquinho de plástico repetidamente arrumado nos seus parcos conteúdos. O pior ou o melhor. Talvez. Para eles. Em mim sobra a sensação de pânico, pela importância abismal que é a existência de cada palavra. Ou a não existência. E a estatística probabilidade de quase aleatoriamente ela ter ou não sido desenhada, por uma decisão impensada, ou demasiado remoída. E o peso que uma ou outra opção exerce no devir. O que fica. Para além de sempre.

Foi aí que encarei o patrão, entretanto recorrente na modorra do costume, a ver se…e encontrei-o desperto. A fitar-me de lado com um olhar escarninho. Um sorriso escarninho e pensamentos sem dúvidas igualmente escarninhos. Mau. Péssimo. O pior. Não queria acreditar. E dispus-me a morrer – afinal, de vez em quando tem que ser. E ele, na mão um papel dobrado, pequeno, insignificante. Como uma bomba.


20 (F)UTILIDADES TEMPO

POUCO

hoje macau sexta-feira 5.2.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje “LONGRUN” GRUPO DE TEATRO HUI KOK KUN Edifício do Antigo Tribunal, 20:00H 150 patacas, Bilhetes à Venda na Kong Seng

MIN

9

MAX

17

HUM

50-85%

EURO

8.97

BAHT

SATURDAY SOCIAL DJ RICARDO TORRÃO, DJ KANGOL, DJ KENSHO Heart Bar, Ascott Macau 17:00H Entrada livre

O CARTOON STEPH

SUDOKU

DE

Diariamente EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO” (ATÉ 3/03) Casa Garden Entrada livre HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 24

EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas

Cineteatro

C I N E M A

ALVIN AND THE CHIPMUNKS SALA 1

ALVIN AND THE CHIPMUNKS: ROAD CHIP [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Walt Becker 14.15, 16.00,17.45

FROM VEGAS TO MACAU III [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Andrew Lau, Wong Jing Com: Chow Yun Fat, Andy Lau, Nick Cheung, Jacky Cheung 14.30, 16.30 SALA 2

THE LAST WOMAN STANDING FALADO EM MANDARIN LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Luo Lu Com: Shu Qi, Eddie Peng Yuyan, Hao Lei, Lynn Hung 14.30, 16.30

SALA 3

THE GOOD DINOSAUR [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Peter Sohn 14.30,16.30, 19.30

1.22

DIAS SÓS

JEREMY CHEUNG (MASS / THIS IS MUSIC ) TECHNO DJ DE HONG KONG Kam Pek, 23:00H Entrada livre

SUNDAY SESSIONS MDMA APRESENTA DHOO (MACAU) | LOC (MACAU) | JO.D (VIB. HK) | SERGIO ROLA (PORTUGAL) | RYOMA (JAPAN) Heart Bar, Ascott Macau 17:00H Entrada livre

YUAN

AQUI HÁ GATO

Sábado

Domingo

0.22

PROBLEMA 25

UM FILME HOJE

Vem aí o Ano Novo Chinês e, se para alguns, isso significa encontros com a famílias, ou amigos, paródia, desejos e brindes, para mim são dias solitários. Nunca gostei de multidões. Assustam-me. Fazem barulho. Acontece o mesmo com panchões e foguetes. Eu sei, vão dizer que estou no sítio errado. Respondo-vos que não há sítios perfeitos. Continuando. Não gosto, assumo. Faz-me confusão. Prefiro o recanto da minha alcofa – agora até tenho uma nova – o quente do meu casaco – sim, eu tenho um casaco a cheirar a dono, velho e rasgados pelas minha unhas – e o silêncio da minha redacção. O primeiro dia é um brinde. A minha cabeça descansa, o meu sono não é interrompido. Cai a noite e com ela a minha alegria. Amanhã, penso, será o mesmo silêncio. Mas não cedo ao meu orgulho. O terceiro dia fica difícil. A bola saltitona já não me consegue entreter, a pena cor-de-laranja que as miúdas compraram para mim também não. A vida deixa de ser divertida. Por alguns momentos vem cá uma das jornalistas, tratar da logística que é ter um gato. Faz-me festinhas mas sai apressada. Há vida lá fora. Quando chega o dia de voltar ao trabalho, chega também o calor ao meu pequeno coração. Vejam bem, só isto, eu, que tão solitário me mostro ser, confesso-me: não sei viver sem estes tios e tias que arranjei nesta redacção. Pu Yi

THE 5TH WAVE (J BLAKESON)

Já imaginou se o mundo fosse atacado ou invadido por aliens,? O filme de hoje é baseado no livro homónimo de Rick Yancey de 2013. Os aliens fazem cinco ataques à humanidade. A primeira onda é a escuridão, suspendem a electricidade, a segunda é a destruição através de um dilúvio, a terceira é uma infecção que causa a morte a cerca de 97% da população mundial. Na quarta onda produzem uns parasitas que controlam a consciência das pessoas. A protagonista tem de salvar o seu irmão depois de todas estas ondas. Qual será a quinta onda? Tomás Chio

THE MONKEY KING 2 [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Pou-Soi Cheang Com: Li Gong, Aaron Kwok, Shaofeng Feng 19.15, 21.30

ALL’S WELL END’S WELL (EXTENDED VERSION) [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Leslie Cheung, Stephen Chow, Raymond Wong, Maggie Cheung 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


21 hoje macau sexta-feira 5.2.2016

OPINIÃO

sorrindo sempre ANDRÉ RITCHIE

MEL BROOKS, ROBIN HOOD: MEN IN TIGHTS

A

CABEI de ler o artigo de opinião “Macaios, uni-vos! Um manifesto” de Fernando Eloy. (*) E achei-lhe uma certa piada. Costuma-se dizer que “Quem classifica, classifica-se”. Precisamente por isso, raramente discuto assuntos em termos absolutos, com receio de ser mal interpretado, e também evito classificar ou dar nomes às coisas, sobretudo quando em causa estão assuntos sensíveis relacionados com a nossa identidade cultural. Classificar é criar gavetas. Gavetas para meias, para cuecas, para calças, tentamos arrumar tudo na gaveta certa. Corre tudo bem quando de repente vem-nos parar às mãos um par de collants – e não sabemos em que gaveta colocar. No contexto peculiar de Macau, o que não falta é collants. Por essa razão fui sempre incapaz de dar nomes às gavetas – digo, aos diversos grupos de pessoas aqui de Macau – e muito menos àquela particular pessoa que sempre acreditei aqui existir e que tem para mim a fundamental característica que se reflecte nessa frase, tirada do mesmo artigo: “Que me interessa a mim de onde vens ou para onde vais se aqui vives e aqui respiras, aqui te agasalhas e aqui procrias, se aqui comes e aqui amas, se aqui esmoreces e aqui rejuvenesces, se aqui estás, é tudo o que me interessa.” No artigo essa pessoa é classificada como “Macaio”. Não que goste particularmente desse termo – aliás vários Macaenses com quem falei franziram as sobrancelhas pois essa expressão é, para muitos, depreciativa. Esclareça-se todavia que essa pessoa não é necessariamente Macaense ou Macaio no “nosso” conceito – e não vou agora elaborar qual o “nosso” conceito dada a abundância de collants, mas é o que todos nós sabemos e aceitamos e que simultaneamente nos esquivamos de descrever por palavras para evitar limitar universos e deixar peças de roupa fora das gavetas. Contudo, essa questão – a palavra Macaio – é para mim irrelevante pois ora interessa-me não tanto o nome que foi escolhido pelo autor do artigo para esse conceito, mas sim o conceito em si e a existência dessa tal pessoa em Macau com o perfil descrito. Trata-se daquele que vive e que foi vivendo aqui em Macau ao longo dos anos e com quem partilhamos uma memória colectiva porque ainda se lembra do caminho das hortas para o Lok Iun, das noites no Mondial e no Moulin Rouge, da força destruidora do tufão Helen, do dia em que balas de Kalashnikovs varreram a entrada do hotel New Century, do chafariz do Largo

Gavetas e collants

do Leal Senado onde, à porta do restaurante Long Kei, o vendilhão dos bonecos de massa de arroz mantinha o seu pequeno negócio. Essa pessoa encolheu os ombros e pouca importância deu às sábias palavras que lhe foram ditas por um veterano da terra: “Quem vem para Macau solteiro, casa-se. Quem vem para Macau casado, divorcia-se.” Mas entretanto conheceu o(a) seu (sua) companheiro(a) de vida aqui em Macau. Foi aqui que amou, ou voltou a amar, e fez filhos. E diz a toda a gente, com orgulho, que os seus filhos aqui nasceram. É fiel à sua Pátria – não interessa qual, mas é sempre distante. É um país espectacular, o seu. Mas quis o destino que aqui viesse parar porque veio ainda miúdo com os pais, ou porque tinha aqui um amigo, uma tia, um primo, um não-sei-quem que lhe arranjou um emprego. Veio apenas para ver como eram aqui as coisas, talvez por dois meses, ou no máximo um ano – mas já aqui está há vinte ou trinta. Nunca teve problemas em explorar as zonas antigas da cidade porque quando aqui chegou, ainda antes disto ser reinventado pela mais recente onda de investimentos estrangeiros, era esse o Macau que existia. Conhece bem, por isso, as Mariazinhas, a Rua da Palha, a zona dos Três Candeeiros

e as ruelas todas com as lojecas onde se compra o tecido assim ou os botões assado. Tem também no seu passaporte o visto de entradas múltiplas para ir comprar os DVDs a Zhuhai. Come com pauzinhos quando vai à tasca chinesa, pede lulas fritas com pimenta e piri-piri e mata a sede com uma Tsingtao, mas nunca em lata ou em garrafa individual: pede logo uma grande porque foi assim que aqui aprendeu a beber com os amigos. Não se sente incomodado com o ar-condicionado exageradamente frio dos restaurantes – já se habituou a essa prática local e, afinal, sempre assim foi por cá, portanto também não vê nada de errado nisso. E se por acaso se sentir incomodado, também não tem problemas em pedir ao empregado para desligar o ar-condicionado porque o cliente pode e tem sempre razão. Festeja o Ano Novo Chinês e já lhe sai da boca, com toda a naturalidade, o segundo “bom ano” do ano. No trabalho, em finais de Janeiro, diz repetidamente aos colegas: “vamos deixar isso pronto antes do ano novo”. Finalmente, é também possível com essa pessoa desenvolver o seguinte diálogo: A: Onde nasceste? B: Moçambique. A: És Moçambicano?

“De facto, até certo ponto, pouco ou nada interessa de onde somos ou viemos. Vivemos em Macau desde sabe-se lá quando e, sendo todos nós collants, quando estamos juntos acabamos por encontrar automaticamente a nossa química”

B: Fui ainda criança para Lisboa. A: És Lisboeta? B: Quer dizer, não sei… Vim para Macau adolescente. A: Então sentes-te macaense? B: Não sou Moçambicano, não sou Lisboeta… Sou português, é claro, mas já nem sei se era capaz de lá viver… Vivi mais anos da minha vida aqui em Macau do que noutro sítio. Portanto… Pois que essa pessoa também não sabe ao certo o que é, mas tem noção da sua identidade nem que seja por negação – negação das outras suas possíveis identidades de origem. Caríssimo leitor, se se sentiu identificado, não se preocupe pois talvez não se trate de coincidência – você é um par de collants. E não pense que a descrição feita até aqui se encaixe unicamente aos collants de origem portuguesa. Porque, tal como diz o outro, a peça de roupa aqui em causa pode ser filipina, macaense, chinesa ou tailandesa. É isso que dá riqueza e colorido à textura social de Macau. Não temos, por isso, de ser necessariamente unidos no sentido poético da coisa já que temos perfeita consciência e até assumimos que somos todos collants de cores e tamanhos diferentes. De facto, até certo ponto, pouco ou nada interessa de onde somos ou viemos. Vivemos em Macau desde sabe-se lá quando e, sendo todos nós collants, quando estamos juntos acabamos por encontrar automaticamente a nossa química. Foi sempre assim.

SORRINDO SEMPRE

Sobre essa coisa de não haver aulas por causa do frio, tal como dizia Diácono Remédios: “Não havia necessidade!” Se está frio, então os meninos que se agasalhem melhor. Se ficarem doentes, então que fiquem – há medicamentos que curam gripes, certo? Ou vão-me dizer que havia o risco de alguma criança morrer de frio na escola? Atenção: também tenho filhos, preocupa-me e dói-me o coração quando ficam doentes. Mas incomoda-me quando vejo pais que correm atrás dos miúdos nos parques com medo que caiam do escorrega ou que se magoem aqui ou ali. Esse nervosismo em excesso é muito típico de Macau e Hong Kong e aborrece-me porque impede que os meninos cresçam e se façam homens. Estamos a criar flores de estufa. Que depois, quando na idade certa têm de sair da estufa para prosseguir com os estudos, aiyaaaa, coitadinhos, não se adaptaram àquele país porque à noite há bêbados no autocarro e toxicodependentes no comboio, porque da faculdade até casa as ruas estão mal iluminadas, porque as salas de aula cheiram a mofo, ou porque… Faz muito frio. Sorrindo sempre. (*) Jornal Hoje Macau, edição de 21 de Janeiro de 2016.


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 5.2.2016

urbanidades

D

IA 3 de Fevereiro foi noticiado que o colombiano Jackson Martinez foi transferido do Atlético de Madrid para o Guangzhou Evergrande, pela módica quantia de 42 milhões de Euros, batendo o recente recorde de 21 milhões de libras que o Jiangsu Juning pagou ao Chelsea pela transferência do brasileiro Ramires. Se atentarmos que a Liga profissional chinesa, conhecida como Super Liga, foi fundada em 2004, produto da reformulação da Chinese Football Association Jia-A League, a notícia terá espantado o mundo ocidental pelo poderio financeiro revelado pelos clubes chineses, mas não a mim, se fizer uma viagem no tempo. Nos inícios da década de 1970, a República Popular da China utilizou sabiamente a “diplomacia do ping pong”. Foi, assim, que em 1972 Richard Nixon se encontrou com Mao Zedong. O recurso ao desporto foi, nesses anos de caminhada para a abertura, uma forma de afirmação. Após uma única participação nos Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952, a R.P.C. só voltou a competir em 1984, em Los Angeles. Recordo-me de na altura ter pensado que a China não iria aos Estados Unidos para passear. E, assim, o regresso saldou-se por 15 medalhas de ouro, 8 de prata e 9 de bronze, tendo ficado classificada em quarto lugar. Nessas olimpíadas emergiu Li Ning, o famoso ginasta chinês que destronou os japoneses e colheu três medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze. A participação da R.P. da China nas competições desportivas mundiais e olímpicas

A redondeza da bola ‘Todas as reconstruções devem fazer-se descomplexadamente, sem quaisquer laivos xenófobos, porquanto ir buscar o conhecimento onde ele está é um acto de sabedoria dado àqueles a quem a grandeza de espírito contemplou” foi ganhando cada vez maior projecção, sendo desde 1984 uma potência desportiva mundial em incontáveis modalidades, decorrente de um trabalho sério, planificado e estratégico. A notícia que abre este escrito suscitou-me, de imediato, a vontade de reflectir sobre o modo como se operou a transformação em grande potência mundial do mais populoso país do mundo, e apetece utilizar a redondeza da bola para o fazer, à guisa de metáfora. Toda a história da China está ligada à correcta utilização do poder, quer directamente do imperador quer, ainda, de estrategas como Sun Tzu e Zugue Liang, para apenas citar os mais famosos. E sabendo-se que Xi Jing Ping gosta de futebol, constatar-se-á que, mais uma vez, e na senda da política de abertura de Deng Xiao Ping, a China recorre a jogadores e técnicos estrangeiros para desenvolver sec-

tores do seu interesse, sem que isso afecte minimamente o prestígio dos clubes, antes lhes confere maior prestígio. Foquemo-nos aqui perto, em Guangzhou, no Guangzhou Evergrande, só possível pela existência de uma economia socialista de mercado onde os bilionários são considerados heróis, por razões óbvias. O Guangzhou Evergrande, agora Guanzhou Taobao Evergrande, é suportado por dois potentados. O Evergrande é um grupo imobiliário que opera em, pelo menos, cem cidades da China e possui 45.8 milhões de metros quadrados de terrenos, sendo presidente do grupo Xu Jiayin, o quinto homem mais rico da China, com uma fortuna avaliada em 7.2 mil milhões. Por seu lado, Jack Ma, dono do potentado Alibaba, vem conferir a esta parceria um poderio económico astronómico que fará empalidecer Abramovitch.

ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR

É assim que as coisas acontecem, à semelhança da grande dinastia Tang (618904), quando não apenas convergiram para Ch’ang An mercadores árabes e judeus pela Rota da Seda, como também a sua grandeza e magnificência se exprimiu pela abertura a estudantes Confucionistas da Coreia e do Japão que vieram estudar e também exercer cargos no estrutura imperial. Neste ressurgimento de poder económico e político que a China atravessa, pode-se constatar a grande visão não apenas dos seus dirigentes como, igualmente, dos investidores em todos os campos, nomeadamente o desportivo, chamando para junto de si jogadores e treinadores estrangeiros, assinando contratos com - por exemplo - o Real Madrid para a abertura de 75 campos de futebol para uma academia. Todas as reconstruções devem fazer-se descomplexadamente, sem quaisquer laivos xenófobos, porquanto ir buscar o conhecimento onde ele está é um acto de sabedoria dado àqueles a quem a grandeza de espírito contemplou. Em jeito de remate, veja-se quão empreendedoras e estratégicas são as empresas chinesas: a Ledman Optoelectronic Company, sediada em Shenzhen, sendo já patrocinadora da Super Liga e da Liga I Chinesa, assinou um acordo para patrocinar a II Liga Portuguesa, situação que gerou um mal-estar incompreensível quando em Portugal não se privilegia o jogador português. Não sendo talhado para os negócios, não deixo de analisar com atenção os movimentos tipicamente chineses onde a subtileza ou o poderio se manifestam. Estamos, claro, a falar de um país, segunda economia mundial, que atingiu a posição que ocupa em apenas 40 anos. O mundo pula e avança sempre que se vai buscar o conhecimento onde ele existe. Descomplexadamente.


23 hoje macau sexta-feira 5.2.2016

PERFIL HOJE MACAU

SAM WONG, DONO DE RESTAURANTE

T

“Macau era muito mais solidário. Agora é uma confusão de gente”

EM 59 anos, nasceu em Macau um ano depois da mãe chegar de Cantão e tem a terra profundamente embutida na sua mente: “Penso em Macau a todo o momento. É o meu país. Amo-o.” Nunca teve sonhos por aí além, do género ‘que-fazer-quando-for grande’ bem, isto se deixarmos passar o gosto pela música, “era baterista aos 14 anos e participei em dois grupos. A primeira banda era de heavy metal”, que ainda hoje é o seu estilo preferido. Deep Purple a banda favorita, mas também os Dream Theatre ou os Styx, “sabe, sou da velha guarda”, explica. Mas como a música não dava dinheiro teve de seguir outro caminho e aos 19 anos acabou mesmo por descobrir o que viria a ser o seu sonho: trabalhar em restaurantes “porque posso falar com muita gente”. Começou no restaurante do Hotel Sintra na posição mais básica do serviço, “apanhava copos e levantava pratos” mas conseguiu chegar a gerente, o que considera a sua melhor memória de Macau, “fiquei orgulhoso”, confessa, “comecei de baixo e depois acabei a mandar naquilo tudo”. Na altura, poucos mais hotéis de categoria existiam em Macau pelo que era uma posição de relevo. Até que um dia veio uma administração nova de Hong Kong e resolveu despedir toda a gente, “não fui só eu”, garante, “até o contabilista foi para rua. Queriam colocar o pessoal deles

e mandaram-nos a todos embora”, explica. Aí passou 20 anos. Estávamos nos meados dos anos 90 e foi para Sun Tak, quando ainda ficava a três horas de distância. Foi como consultor de um amigo que estava abrir um restaurante com sauna, karaoke e discoteca mas a coisa durou apenas dois meses, “não aguentava aquilo. As pessoas não tinham o mínimo de educação. Andavam à tareia todos os dias. Peguei no dinheiro e vim-me embora” foi o “Platão” por quatro anos e depois voltou ao continente onde teve um café em Zhongshan e, cinco anos depois, voltou decidido a reformar-se. “Não tinha muito dinheiro mas dava e estava farto de trabalhar”. Mas a reforma não era a vida boa que pensava e apenas durou nove meses: “Estava aborrecido de morte e resolvi procurar trabalho” o que encontrou no restaurante que agora dirige. Ao princípio, o dono ao ver o currículo achou-o demasiado qualificado, Mas Sam estava disposto a trabalhar, era perto de casa, bom horário e lá ficou como gerente. Durou um ano até o japonês resolver fechar o negócio. Não estava a dar. “Claro que não dava, o homem não percebia nada de restauração, não ouvia ninguém, nem o cozinheiro” explica. Passado um tempo a irmã sugeriu-lhe pegar no restaurante, ele recuperou o cozinheiro, também japonês, ouvi-o, usou-lhe o nome para baptizar o restaurante e

“agora está tudo bem. Mudámos o menu. Dei liberdade ao Tabuchi e temos muitos clientes.” Claro que o sucesso não passou despercebido ao antigo dono que ainda tentou reaver o restaurante mas não teve sorte, afinal de contas Sam estava realizar o seu sonho, “Sempre quis ter um restaurante, já tenho, por isso não tenho mais sonhos. O meu filho está a ir bem, está tudo bem. Não ganho muito dinheiro mas chega para ser feliz”, assegura.

HONG KONG? NÃO VOU LÁ HÁ 30 ANOS”

O Macau de antigamente “era uma maravilha”, recorda Sam Wong, “Muito melhor do que agora. Calmo, sossegado, relaxante... agora é uma loucura. Anda tudo cheio de pressa, só pensam em dinheiro... Macau era muito mais amigo, muito mais solidário. Agora é uma confusão de gente.” O futuro, ou mudar algo em Macau nem o faz pensar, “Não faço a mínima ideia. A minha vida é casa, trabalho, casa. Vejo-os a discutir todos os dias no parlamento, cansa. A nova geração que se preocupe com isso.” Mas recorda com alguma saudade o Macau antigo e, claro está, restaurantes que não existem mais como o Wa Lok Iun e o Ma Ien Hong na zona da Almeida Ribeiro, ou os vendilhões de fitas que se espalhavam pelas ruas, “alguns tinha um ‘ngao lam min’ fabuloso”, recorda.

Em relação aos portugueses diz que são “OK. Tenho muitos amigos macaenses, quando nasci isto era português e todos nós nos habituámos e aceitámos os portugueses.” Hong Kong é que já um caso diferente, “não vou lá há uns 30 anos. Antes, quando precisávamos de alguma coisa mais sofisticada, tínhamos de ir mas desde há muito que não é preciso. Também não tenho nenhum amigo lá que vou lá fazer? Para a confusão? Não obrigado”, remata. Os casinos também não o fascinam de todo, “nunca lá meto o pé”, garante, “não gasto nem 10 patacas num sítio desses”. O dinheiro serve para outras coisas mais queridas “comida, música e álcool, é onde gasto o meu dinheiro” e ri-se a bom rir. Antes de deixarmos a sua companhia quisemos saber se haverá algo que o faça ir a Hong Kong mas Sam Wong não conseguia lembrar-se de nada. ‘E um concerto de heavy metal?’, sugerimos, “hmmmm.... aí pensava duas vezes. Acho que sim, acho que isso me faria ir a Hong Kong. Se fossem os Deep Purple então... Mas o Phil Collins ou a Sade Adu também era possível que me convencessem. Manuel Nunes

andreia.silva@hojemacau.com.mo



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