Hoje Macau 5 MAI 2020 # 4518

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MOP$10

CONSUMO

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TERÇA-FEIRA 5 DE MAIO DE 2020 • ANO XIX • Nº4518

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ARMAZÉM DO BOI

PARADOXOS DA CIDADE RICA

UMA ROYAL DESQUALIFICAÇÃO PÁGINA 5

ENTREVISTA

MAGISTRATURA

NOVAS EXIGÊNCIAS PÁGINA 7

hojemacau

Haja saúde h

Os cuidados de saúde estiveram em grande destaque na apresentação das Linhas de Acção Governativa da secretária dos Assuntos Sociais e Cultura. Análise à resposta do serviço público face à pandemia, Hospital das Ilhas, projectos de turismo médico e carreiras dos enfermeiros foram alguns dos temas abordados e discutidos ontem por Elsie Ao Ieong na Assembleia Legislativa.

PÁGINAS 2 A 4

TCHAIKOVSKY MICHEL REIS

HORIZONTE DE IMPOSSÍVEL PAULO JOSÉ MIRANDA

CORONA AMÉLIA VIEIRA


2020

E depois do adeus SAÚDE

GCS

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GOVERNO AVALIA RESPOSTA DO SISTEMA PÚBLICO APÓS A PANDEMIA

Elsie Ao Ieong, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, promete avaliar a resposta do serviço público de saúde depois do combate à pandemia da covid-19. A responsável admitiu a possibilidade de o futuro complexo de cuidados de saúde das ilhas poder ter serviços ligados ao turismo de saúde

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capacidade de resposta do sistema público de saúde foi um dos assuntos mais abordados pelos deputados no debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Assuntos Sociais e Cultura. Elsie Ao Ieong, secretária da tutela, garantiu que terminado o trabalho de combate à pandemia da covid-19 será feita uma avaliação em termos da resposta do Centro Hospitalar Conde de São Januário e centros de saúde. “Depois da pandemia vamos fazer um balanço aprofundado para ver a capacidade do sistema de saúde para enfrentar outros incidentes como este ou de maior envergadura. Como podemos ter planos de contingência?”, questionou.

Quanto aos materiais de protecção, a secretária frisou que só pode ser feita uma avaliação depois dos trabalhos de combate à pandemia terminarem. Outra garantia deixada, foi a aposta no turismo de saúde, mas só quando o novo hospital público no Cotai estiver concluído. “Depois da construção do complexo de cuidados de saúde das ilhas é que podemos lançar alguns projectos de turismo médico, mas como ainda não está construído não temos as condições reunidas.” A deputada Wong Kit Cheng questionou os prazos de construção do novo hospital. “A secretária está confiante, mas houve um prolongamento da sua entrada em funcionamento. Está previsto para 2023 mas são necessários mais

Gastronomia Receitas macaenses estarão “em breve” na internet

Fica disponível “em breve” na internet a base de dados sobre a gastronomia macaense, disse a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura. Elsie Ao Ieong afirmou que “há receitas valiosas de pratos macaenses”, apesar de reconhecer que por estarem escritas à mão pode haver quem não as consiga ler bem. Foi feita a sua digitalização para serem postas na internet. A deputada Angela Leong afirmou que a comida é “importante” para a imagem turística de um local, e quis saber como é que o sector gastronómico será integrado com a criatividade cultural de forma a contar as histórias detrás das receitas.

MAIS 80 CAMAS

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lsie Ao Ieong, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, assegurou ontem que o futuro edifício de doenças transmissíveis terá 80 camas. Ainda assim, podem não ser suficientes, admitiu a governante. “Tendo em conta a nossa população, o rácio de camas por habitante é superior ao das regiões vizinhas, mas tudo depende da situação epidémica. Se houver um surto na nossa comunidade, mesmo que tenhamos muitas camas, podem não ser suficientes.”

testes. Há edifícios que não conseguem entrar em funcionamento ao mesmo tempo, então como é que diferentes serviços médicos

podem entrar em funcionamento? Há coordenação em termos de recursos humanos?”, interrogou. Elsie Ao Ieong destacou também a coordenação com o sector privado de saúde. “Queremos empenhar-nos na disponibilização de mais serviços através do sector privado. De uma forma mais abrangente temos vindo a optimizar todo o sistema de saúde e de medicina e temos vindo a adquirir muitos serviços junto de instituições privadas de saúde, a fim de assegurar uma constante melhoria dos serviços médicos, como a colocação de próteses dentárias e de operação às cataratas nos idosos.”

ATENÇÃO AOS ENFERMEIROS

Na sua intervenção, Wong Kit Cheng pediu também a criação de uma

carreira especial para os enfermeiros do sector público e privado. “Com os trabalhos de combate à pandemia, todos os enfermeiros estão a ajudar e deve ser ponderada uma carreira especial que abranja todos os enfermeiros, do público e do privado.” Lei Chin Ion, director dos SSM, revelou abertura para discutir o assunto, mas não deu garantias. “Vamos proceder à revisão da legislação de acordo com a realidade. Estamos disponíveis para fazer um intercâmbio com o sector e acompanhar o seu desenvolvimento.” Ficou também a promessa de apostar mais na formação de enfermeiros, outro pedido formulado

TURISMO EXECUTIVO VAI REVER PLANO GERAL DEVIDO À COVID-19

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chegada da pandemia da covid-19 ao território e respectivas consequências vai obrigar a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) a repensar a estratégia para o sector. A ideia foi deixada ontem por Helena de Senna Fernandes, directora da DST. “Este ano vamos rever o Plano

Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo para ver como é a situação do sector, as vantagens e limitações. Antes da pandemia já tínhamos ponderado fazer uma revisão e agora vamos ver como vai ser o futuro, porque o sector do turismo vai sofrer mudanças devido à

pandemia. Vários países vão ter uma perspectiva diferente sobre o turismo depois da pandemia e é necessário fazer uma revisão.” Helena de Senna Fernandes referiu que os objectivos do Plano foram cumpridos em 86 por cento. A directora da DST adiantou ainda que, na

área do turismo marítimo, irá abrir um porto provisório na Barra no primeiro trimestre de 2021, para que “os passeios de barco sejam mais atractivos”, uma vez que a Barra “é um ponto turístico com relação com a história de Macau”. Durante o debate das Linhas de Acção Gover-

nativa, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura avançou que estão pensados projectos de visitas “aprofundadas” para levar residentes a visitarem de Macau. Estão preparados dois itinerários e as excursões vão ser subsidiadas com 200 patacas por pessoa.


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Escudar o patriotismo Secretária defendeu que Amor a Macau e à pátria “não são apenas lemas”

“Depois da pandemia vamos fazer um balanço aprofundado para ver a capacidade do sistema de saúde para enfrentar outros incidentes como este ou de maior envergadura. Como podemos ter planos de contingência?”

por Wong Kit Cheng. “Actualmente há 3,7 enfermeiros por cada 1000 habitantes. Vamos tentar formar mais enfermeiros para satisfazer as necessidades”, disse Lei Chin Ion, que falou ainda de “uma nova fase na formação dos médicos”. Relativamente ao centro de saúde de Seac Pai Van, as obras de construção irão terminar no próximo ano, estando previsto o alargamento do espaço previsto, rematou o director dos SSM. Andreia Sofia Silva e Salomé Fernandes info@hojemacau.com.mo

ELSIE AO IEONG SECRETÁRIA PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA

programa seja reorganizado num espaço de tempo “breve”. Elsie Ao Ieong recordou o relatório do Comissariado da Auditoria e um caso do Comissariado Contra a Corrupção, frisando que nas “medidas de fiscalização deste programa temos um grande espaço para melhoria”. O deputado Leong Sun Iok tinha defendido que as “instituições que violam a lei são poucas”, e que grande parte das entidades necessita do programa. Por outro lado, pretendem-se aumentar os quadros qualificados bilingues em chinês e português. Nesse âmbito, o Fundo de Ensino Superior vai aumentar o apoio aos alunos para estudarem em Portugal. Vai ainda ser promovida

a construção do “Centro Internacional Português de Formação” pelo Instituto Politécnico de Macau e da “Base para a Educação e Formação em Turismo da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” pelo Instituto de Formação Turística. Ainda na pasta da educação, foram levantadas preocupações com a pressão sofrida pelos professores. A secretária indicou que desde o ano passado as escolas têm sido incentivadas a mudarem os contratos dos docentes de forma a aliviar a pressão sentida por estes, e que vai ser pedido à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude para manter o diálogo com o sector das escolas no futuro. S.F. com A.S.S. GCS

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educação patriótica é um dos temas abrangidos pelas Linhas de Acção Governativa (LAG). A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura defendeu que o princípio de amor por Macau e pela pátria vai além de um “slogan” e não é incompatível com o pensamento individual dos alunos. “Não são apenas lemas ou slogans. Nomeadamente no que diz respeito aos jovens de Macau, através dos seus próprios olhos e ouvidos vão sentir Macau, e assim vai surgir um sentimento de amor a Macau e à Pátria. Através do içar da bandeira, ao aprenderem o hino nacional, incentivamos a deslocação ao Interior da China (...) para conhecerem o seu desenvolvimento e forma de gestão”, declarou Elsie Ao Ieong. A responsável acrescentou que através dessas actividades os jovens “têm os seus próprios pensamentos e sentimentos”. Sulu Sou tinha questionado se acções de formação sistematizadas para formar jovens eram “adequadas” e se estavam “em contraste com um pensamento independente”. O deputado quis saber se os professores de Macau que levam alunos à praça de Tiananmen dizem que houve estudantes a protestar e a criticar antigos dirigentes de Pequim. Por outro lado, a deputada Chan Hong tinha defendido que Hengqin é um bom local para a criação da base de ensino e educação nesta área.

DA EDUCAÇÃO CONTÍNUA

Depois de ser revisto e reorganizado o Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo, será lançada uma nova edição. O documento das LAG explica que o mecanismo de fiscalização será reforçado com a implementação da medida de marcação electrónica de presenças. De acordo com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, o sistema informático está a ser concebido, e espera que o

PREVIDÊNCIA CENTRAL OBRIGATORIEDADE DE REGIME EQUACIONADA EM 2021

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LSIE Ao Ieong, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, disse ontem que será iniciado em Janeiro um estudo sobre a possível obrigatoriedade de contribuições para o regime de previdência central, que actualmente não é obrigatório. “Em Janeiro do próximo ano vamos

estudar se passa ou não a obrigatório. Não sabemos ainda se vamos tornar este regime obrigatório, se calhar vamos mantê-lo no regime não obrigatório, mas temos de auscultar as opiniões.” A secretária adiantou ainda que as seis concessionárias de jogo aderiram ao regime. “Nas pequenas

e médias empresas o ritmo é mais lento, mas queremos que as grandes empresas façam primeiro a sua adesão e depois as empresas com menos condições. As vantagens de adesão são muitas, para que as empresas possam manter o pessoal e atrair mais quadros qualificados. O regime foi

lançado há pouco tempo e desde 2018 até agora ainda não passaram três anos”, rematou. No total, 15 mil trabalhadores do território aderiram a este regime. Um representante do Governo assegurou que foram contactadas 200 concessionárias que prestam serviços públicos e que a maior parte provi-

dencia um seguro privado aos seus trabalhadores. “Pensam em como podem equilibrar os dois regimes e dois fundos. Este ano tentámos contactar outros empresários que mostraram interesse e após a epidemia vamos continuar a contactar essas empresas”, disse o mesmo representante.


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ÁLCOOL CONSULTA SOBRE PROIBIÇÃO DE VENDA A MENORES AVANÇA NO SEGUNDO SEMESTRE DESTE ANO

Auscultações de sobriedade Idosos Governo promete mais 100 vagas em lares

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, assegurou ontem na Assembleia Legislativa (AL) que serão criadas mais 100 vagas em lares de idosos, sem esquecer mais 50 camas em centros de dia ou de apoio à demência. “Temos tido um diálogo forte com todas as partes e queremos aumentar mais 100 camas em lares. Relativamente aos centros diurnos ou de apoio à demência teremos em conjunto mais 50 camas. Nesta fase ainda temos camas suficientes para a procura, mas vamos ver se podemos ter mais recursos juntamente com outros serviços públicos.”

Ensino especial Nova proposta de lei chega ao Conselho Executivo este ano

Prevê-se que no segundo semestre avance a consulta pública sobre a proibição de venda de álcool a menores, um atraso face à intenção do Governo anterior. Ainda assim, a proposta já foi apresentada ao Conselho Executivo

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proposta do Governo para proibir a venda de álcool a menores de 18 anos deve entrar em consulta pública no segundo semestre deste ano. A informação foi avançada ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, no debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) da tutela. De acordo com a responsável, o processo atrasou-se por causa das tarefas associadas ao controlo da epidemia, mas a proposta já foi apresentada junto do Conselho Executivo. A intenção de criar uma lei a estabelecer a idade mínima de 18 anos para venda de bebidas alcóolicas já tinha sido expres-

sa pelo Governo anterior, e esperava-se que o texto para consulta estivesse concluído na segunda metade de 2019. Um inquérito conduzido em 2013 com estudantes entre os 12 e os 18 anos revelou que quase 80 por cento dos inquiridos tinham experimentado bebidas alcóolicas, e um terço disse tê-lo feito antes dos 13 anos. De acordo com os dados do estudo, cerca de 8 por cento dos participantes bebiam em

excesso, e havia quem tivesse entrado em conflito com a família ou amigos por causa da bebida. O deputado Lam Lon Wai alertou para a necessidade de condicionar a venda, apontando que o consumo de álcool pode comprometer o fígado e o cérebro. Além disso, apontou problemas associados à entrada de cigarros electrónicos no território, mesmo que seja em quantidade de consumo

O processo [de consulta pública] atrasou-se por causa das tarefas associadas ao controlo da epidemia, mas a proposta já foi apresentada junto do Conselho Executivo

pessoal. O deputado alertou para a possibilidade de essa quantidade ser vendida aos jovens, questionando quando é que o cigarro electrónico e a sua entrada serão totalmente proibidos na região. Elsie Ao Ieong não apresentou novidades, apesar de ter deixado aberta a possibilidade de no futuro serem tomadas outras medidas ao nível da importação em caso de necessidade. Mas observou que a taxa de fumadores jovens era de cerca de 14,16 por cento em 2014, tendo baixado para 10,84 por cento em 2018. Um resultado que classificou como “muito positivo”.

O Governo tem vindo a levar a cabo a revisão do regime do ensino especial, que data de 1996. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, assegurou que a nova proposta de lei chega ao Conselho Executivo para análise ainda este ano. “O regulamento administrativo vai ser entregue ao Conselho Executivo este ano e vai abranger os alunos com necessidades educativas especiais, sobretudo quanto aos alunos sobredotados, para que possamos proporcionar os melhores recursos de aprendizagem.”

Saúde Mak Soi Kun recomenda sopa de nabo com pêra para tratar a tosse

O deputado Mak Soi Kun deixou ontem uma recomendação e uma receita especial para aqueles que sofrem de tosse, depois de ter ouvido o director dos Serviços de Saúde de Macau, Lei Chin Ion, tossir durante o debate. “Pode fazer uma sopa de nabo com pêra, é muito eficaz para combater a tosse. Ou então recorram à medicina tradicional chinesa”, declarou.

Salomé Fernandes

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DESPORTO EXECUTIVO QUER UM EVENTO DE DIMENSÃO INTERNACIONAL TODOS OS MESES

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O âmbito do turismo desportivo, o Governo quer lançar um evento internacional por mês. “Espero que o Instituto do Desporto consiga fazer isto”, disse Elsie Ao Ieong. Apesar de ainda não haver certezas, está em cima da

mesa uma competição de pingue-pongue para Junho. “Por outro lado, estamos a pensar convidar selecções europeias para competirem no Estádio de Macau, mas tudo depende da evolução epidemiológica”, observou a secretária para os Assun-

tos Sociais e Cultura. Entre os exemplos de eventos de sucesso foram apontados o Grande Prémio e os Barcos de Dragão. Além disso, espera-se que em 2021 sejam organizadas actividades de intercâmbio de futebol entre a China e os

países de língua portuguesa. No debate, a secretária disse que se pretende dotar os atletas de mais oportunidades de contacto e intercâmbio para “progredirem conjuntamente”. E recordou que uma vez que o Instituto para os Assuntos Municipais está a

pensar transformar espaços não ocupados em campos de prática desportiva “teremos mais espaços para satisfazer as necessidades”. Proceder a obras em instalações culturais, desportivas e educacionais estão entre as prioridades da

tutela, sendo que o Instituto do Desporto vai avançar com a remodelação da residência de atletas do “Centro de Formação e Estágio de Atletas”.


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Um pequeno passo Cerca de 13 mil estudantes voltaram às escolas

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dia de ontem marcou o regresso às aulas de 13 mil alunos do ensino secundário e tudo decorreu dentro das expectativas, com as instituições a adoptarem medidas de combate à pandemia da covid-19. O balanço foi feito pelo chefe do Departamento de Ensino da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Wong Ka Ki, na conferencia diária do Governo dedicada ao ponto da situação da pandemia. “Os trabalhadores da DSEJ foram às escolas da península de Macau e das Ilhas e verificaram que foram adoptadas as medidas recomendadas, como a medição da temperatura, a utilização de máscaras por parte de todos e o uso tapetes para desinfectação”, afirmou Wong. “Também houve advertências frequentes a recordar os alunos para lavarem as mãos. Pelo que a DSEJ verificou que as escolas tomaram as medidas de acordo com as orientações emitidas”, concluiu. De acordo com a informação do responsável, entre as 46 instituições com aulas para turmas do 10.º, 11.º e 12.º anos, 44 reiniciaram a actividade ontem. As restantes duas voltam esta manhã ao activo, depois de dois meses com aulas através da internet. Além das medidas adoptadas pela escola, as autoridades policiais abriram um corredor especial para os alunos que atravessam a fronteira diariamente, vindos do Interior. “Criámos uma via exclusiva para estudantes transfronteiriços nas Portas do Cerco, entre as 08h e as 18h houve

um corredor para esses alunos”, explicou o chefe da Divisão de Relações Públicas do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Lei Tak Fai.

MAIS REGRESSOS

Durante a conferência, o Chefe do Departamento de Ensino da DSEJ foi questionado sobre a possibilidade de os alunos do 4.º ao 6.º ano regressarem ainda este mês às aulas. A hipótese não foi negada e Wong Ka Ki admitiu a hipótese de as aulas começarem com um aviso inferior a 14 dias. “Quando for a altura do recomeço avisamos. Não devemos esperar por um aviso com antecedência de 14 dias, como aconteceu anteriormente, porque já apelámos a todos os estudantes que estejam fora de Macau, como em Zhuhai ou Zhongshan, para regressarem às suas casas e cumprirem a quarentena necessária”, indicou o responsável. “Vamos anunciar o regresso o mais brevemente possível”, foi ainda prometido. O retorno às aulas abrange, até ao momento, apenas os alunos do secundário, mas deverá ser implementado, por fases, aos restantes anos. No que diz respeito as creches, o Executivo autoriza serviços limitados para os pais que precisam de um local para deixar as crianças, enquanto trabalham. Mesmo assim, o Governo afirmou várias vezes que o reinício é apenas excepcional, e não abrange todas as crianças que frequentam creches. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Serviços de Saúde Desmentida obrigação de fotografar quem entra em parques

Os Serviços de Saúde (SS) recusaram ontem terem emitido orientações para que as pessoas fossem fotografadas à entrada de parques públicas, assim que mostrassem o código de saúde. O alegado caso que deu origem à pergunta na conferência de imprensa de ontem terá acontecido no Parque do Chunambeiro, junto ao Lago Nam Van. “Até agora, não foi adoptada pelos Serviços de Saúde de Macau nenhuma medida que obrigue a que seja fotografada a cara das pessoas que pretendem entrar nos jardins públicos”, afirmou Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença dos SS. Por sua vez, o representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), Lei Tak Fai, disse que não tinha qualquer informação sobre o assunto.

Conselho dos Consumidores “O supermercado envolvido não indicou claramente o preço final dos produtos postos para venda e não assegurou a precisão e clareza das informações sobre o preço dos produtos, o que induziu os consumidores em erro lesando os seus direitos e interesses.”

CONSUMO GOVERNO RETIRA SÍMBOLO DE “LOJA CERTIFICADA” AO ROYAL

Tiro pela culatra

O Executivo decidiu retirar o símbolo de qualidade de loja certificada aos supermercados Royal devido às queixas e alegações de que os estabelecimentos teriam inflacionado os preços para antecipar a estreia do cartão de consumo

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EPOIS do descontentamento popular, que inclusive levantou a hipótese de boicotar os supermercados Royal, o Governo anunciou ontem que retirou o símbolo de qualidade de loja certificada aos estabelecimentos em questão. A decisão foi tomada depois de uma reunião, que aconteceu ontem, entre o Conselho de Consumidores (CC), a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) e o responsável pelas redes de lojas. Durante o encontro, o Governo pediu esclarecimentos sobre o preço dos produtos postos à venda nos supermercados. Como se depreende da decisão, a justificação do responsável não convenceu os representantes do CC e da DSE. “Após ouvido e analisado o esclarecimento

do Supermercado Royal, que alegou falha na fixação de preços, o CC considerou-o inaceitável e, portanto, decidiu retirar-lhe o ‘Símbolo de Qualidade de Loja Certificada’ logo a partir de hoje [ontem], nos termos do Regulamento e Compromisso das Lojas Certificadas”. Desde o início da entrada em funcionamento dos cartões de consumo, a rede de supermercados tem sido alvo da ira dos consumidores, com inúmeras partilhas em redes sociais de diferenças de preços. Depois de averiguar a situação, “o CC descobriu que o supermercado envolvido não indicou claramente o preço final dos produtos postos para venda e não assegurou a precisão e clareza das informações sobre o preço dos produtos, o que induziu os consumidores em erro

lesando os seus direitos e interesses”. Recorde-se que o grupo Royal tentou defender-se das ameaças de boicotes afirmando que os consumidores teriam confundido a reposição de preços que tinham estado em promoção com a subida de preços.

ELLA ADIVINHOU

Em jeito de aviso aos restantes lojistas, o CC sublinhou que “o Governo está altamente atento à protecção dos direitos e interesses dos cidadãos no âmbito de consumo, assim como à oscilação de preços no mercado, sobretudo a oscilação anormal de preços em alguns supermercados desde a estreia do cartão de consumo”. O Executivo de Ho Iat Seng deixou ainda promessas de investigar as queixas apresentadas pelos consumidores e ampliar a defesa dos

residentes através da “lei de protecção dos direitos e interesses do consumidor”, que se encontra em fase de exame na especialidade na Assembleia Legislativa. Num artigo publicado ontem no jornal Ou Mun, a deputada Ella Lei defendeu que o Executivo deveria actuar exemplarmente, punindo supermercados e lojas que subam os preços para aproveitar a onda de consumo provocada pelas medidas de apoio à economia. Porém, a legisladora ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, argumentou que os comerciantes prevaricadores deveriam ser excluídos do programa do cartão de consumo. João Luz

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5.5.2020 terça-feira

ESTUDO VÍCIO EM INTERNET APONTADO COMO QUESTÃO TRANSVERSAL E “PROBLEMA SOCIAL”

Para todas as idades

PME Inscrições para novos cursos de formação até domingo

O vício da internet deixou de ser associado aos jovens e passou a ser um problema transversal à sociedade. Essa foi uma das conclusões de um estudo encomendado pelo Instituto de Acção Social, que destaca também a falta de comunicação entre pais e filhos e o desconhecimento em relação a direitos das crianças

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U I T O S jovens reconheceram passar “muito e cada vez mais tempo” a navegar na internet, tendência com impacto no sono e relacionamentos. Este é um dos factores analisados no estudo “Actualidade e tendência dos jovens” na RAEM, de 2019. Mas o problema não é exclusivo das novas gerações. “Muitos familiares coabitados (15 por cento) tinham problemas do vício da internet. Portanto, o vício da internet passou de um problema juvenil para um problema social”, lê-se no relatório. O estudo foi encomendado pelo Instituto de Acção Social (IAS) e levado a cabo pelo departamento de ciências sociais e comportamentais da Universidade da Cidade de Hong Kong e foi ultimado em Setembro de 2019. A equipa constituída por Lo Tit Wing, Cheng Hon Kwong e Chan Hong Yee, inquiriu 2.926 alunos do ensino secundário. De acordo com os resultados divulgados no portal do IAS, os actos ilegais praticados por jovens não eram graves, com menos de metade dos entrevistados a terem “transportado armas ofensivas”, “intimidado ou agredido crianças” ou “roubado dinheiro em casa”. Menos de dois por cento praticaram esses actos. De resto, os comportamentos desviantes mais comuns foram o consumo de álcool e não regressarem a casa durante toda a noite sem autorização dos pais. A consciência sobre protecção pessoal atingiu um patamar “aceitável”, já que mais de 80 por cento dos jovens protegem a sua privacidade em softwares

física, menos conflitos familiares, comportamentos desviantes e vício da internet. No relacionamento com os pais, o estudo deu conta de poucos conflitos e fraca comunicação. “A maioria dos encarregados de educação adoptou o modelo de educação não interventiva, o que não é favorável ao crescimento dos jovens, enquanto alguns adoptaram outros modelos desfavoráveis: educação rigorosa e educação negligente”.

O LADO PARENTAL

“Mais de 60% dos encarregados de educação entrevistados afirmou não ter ouvido falar da Convenção sobre os Direitos da Criança e tinha uma opinião relativamente conservadora em relação aos direitos das crianças.” relatório do estudo sociais. Ainda assim, um quinto dos inquiridos reconheceram que deixam dados privados na internet e “muitos jovens manifestaram não recorrer aos professores quando

empurrados, agredidos, apelidados e ridicularizados por colegas”. Vale a pena notar que quem residia em Macau há menos de três anos tinha melhor saúde mental e

Foram também entrevistados 2.773 encarregados de educação de alunos do secundário. Destes, um terço vivia em Macau há menos de dez anos: “o que mostra que muitos são provenientes de famílias de novos emigrantes”. O estudo destaca falhas no conhecimento de direitos reconhecidos internacionalmente. “Mais de 60 por cento dos encarregados de educação entrevistados afirmou não ter ouvido falar da Convenção sobre os Direitos da Criança e tinha uma opinião relativamente conservadora em relação aos direitos das crianças. Embora a maioria concordasse que as crianças tinham direitos fundamentais, tais como expressão de opinião e desenvolvimento de interesses, etc, quase metade discordou da autonomia das crianças”, é descrito. A par disto, foi sugerido ao Governo criar um plano de apoio às famílias em crise, tendo em vista, por exemplo, as famílias monoparentais. Salomé Fernandes

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Os cursos de formação destinados a pequenas e médias empresas (PME) promovidos pela Universidade de Macau (UM) vão ter uma terceira edição a partir de 19 de Maio. As inscrições devem ser submetidas até ao próximo domingo, dia 10, para os cursos de Gestão de Hotelaria e Turismo, Desenvolvimento da Indústria do Jogo e Gestão de Comidas e Bebidas para a Indústria do Turismo. A frequência nos cursos é gratuita. As inscrições serão aceites por ordem de chegada, com prioridade para os residentes. Os cursos são oferecidos pelo Centro de Educação Contínua da UM e pela Faculdade de Gestão de Empresa com o objectivo de atenuar o impacto da pandemia nas PME locais.

Ensino Dez propostas para renovar creche na Ilha Verde

O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estrutura recebeu 10 propostas para os trabalhos de remodelação da creche situada no Edifício do Bairro da Ilha Verde. A abertura das propostas apresentadas para o concurso público foi divulgada ontem no portal do GDI, com os valores a situarem-se entre 16,3 milhões de patacas e 23 milhões de patacas. Os períodos apresentados para a realização dos trabalhos variam de 189 dias a 210 dias.

IPOR Dia Mundial da Língua Portuguesa celebra-se online

O Instituto Português do Oriente (IPOR) celebra hoje o Dia Mundial da Língua Portuguesa com a publicação de vídeos feitos pelos alunos dos cursos de português. Foi pedido aos estudantes que elegessem a frase em língua portuguesa mais tocante para eles e que, com ela, fizessem um vídeo. O IPOR recebeu um total de 272 vídeos que serão difundidos hoje nas redes sociais. “Alguns vídeos exploram frases célebres da literatura portuguesa, outros da literatura chinesa – que os alunos traduziram para português –, e outros ainda apresentando frases compostas pelos próprios formandos, em exercícios de sensibilidade, pragmatismo ou humor.”

BANCA GOVERNO AUTORIZA BNU E BANCO DA CHINA A EMITIREM NOTAS

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Governo autorizou o Banco Nacional Ultramarino (BNU) e o Banco da China a emitirem novas notas que reforçam as qualidades anti-falsificação. O valor máximo para os únicos

bancos emissores de moeda em Macau é de 75,4 mil milhões de patacas, indicou ontem o Conselho Executivo em comunicado. “Os regulamentos administrativos autorizam o Banco da China, Limi-

tada e o Banco Nacional Ultramarino, S.A. a emitir novas notas, (…) sendo a quota total de emissão de cada banco emissor 37,7 mil milhões de patacas”, informou o Conselho Executivo, em comuni-

cado. “Tendo em atenção que, actualmente, as notas emitidas (…) têm sido utilizadas há já muitos anos e tendo em atenção o aperfeiçoamento constante e as inovações no âmbito da técnica de impressão

e das características de anti-falsificação, o Governo da RAEM concordou com a emissão (…) de uma nova série de notas, de modo a elevar o nível de características de anti-falsificação”.


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terça-feira 5.5.2020

Executivo GDI prolongado até Junho do próximo ano

O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) vai continuar a operar até Junho do próximo ano, de acordo com um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem no Boletim Oficial. O GDI foi estabelecido em 22 de Maio de 2000 e tem como missão coordenar as acções de manutenção, modernização e desenvolvimento dos sistemas de infra-estruturas. Actualmente, tem como coordenador Lam Wai Hou.

Justiça Juiz Rui Ribeiro sobe à Segunda Instância

Rui Ribeiro vai passar de juiz presidente do Tribunal Colectivo dos Tribunais de Primeira Instância para juiz do Tribunal de Segunda Instância, de acordo com um despacho assinado pelo Chefe do Executivo publicado ontem. A decisão entra em vigor a partir de 12 de Maio. Outro despacho publicado ontem em Boletim Oficial deu conta da promoção do juiz Jerónimo Santos, da primeira instância para juiz presidente do Tribunal Colectivo dos Tribunais de Primeira Instância. As decisões foram tomadas a partir da proposta da Comissão Independente Responsável pela Indigitação de Juízes, presidida por Lau Cheok Vai.

Administração Predial Centro de Arbitragem extinto por Ho Iat Seng

Ho Iat Seng decretou o fim do Centro de Arbitragem de Administração Predial, a partir de hoje, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial. O centro tinha sido criado em 2011 por Chui Sai On, mas chegou ao fim da actividade sem ter resolvido um único caso de arbitragem de questões relacionadas com administração predial. Segundo os dados do IH, desde 2016 até ao primeiro trimestre, o centro lidou com 57 pedidos de informação, na maior parte dos casos sobre os procedimentos e deliberações das assembleias gerais de proprietários de fracções, num total de 29 pedidos. Ao mesmo tempo houve sete pedidos sobre litígios referentes às partes comuns, 18 de consulta sobre despesas de administração de partes comuns, dois problemas de infiltrações de água e ainda um pedido, feito já este ano, que não se enquadrava nas competências do centro.

A proposta de lei refere o “dever de disciplina” a que ficam obrigados os estagiários, que “devem nortear a sua conduta de acordo com a dignidade das funções de magistrado”

MAGISTRATURA PROPOSTA DE LEI AUMENTA EXIGÊNCIAS PARA ESTAGIÁRIOS

Oficiais e cavalheiros A proposta de lei que vai alterar o regime do curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judiciais e Ministério Público passa a exigir dois anos de experiência profissional após a conclusão da licenciatura em Direito. Além disso, requer ao candidato disciplina e uma conduta digna de acordo com as “funções de magistrado”

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M vigor há quase duas décadas, desde 2001, o regime que regula o acesso à carreira de magistrado judicial (juiz) e magistrado do Ministério Público vai ser alterado por uma nova proposta de lei que deverá dar entrada na Assembleia Legislativa (AL), depois de concluída a discussão em Conselho Executivo (CE). A nova proposta de lei é mais exigente no acesso e durante o curso e estágio de formação dos candidatos a magistrados. De acordo com um comunicado emitido ontem pelo CE, passa a ser “expressamente especificado que a licenciatura em Direito seja com-

posta por, pelo menos, quatro anos lectivos, e que integre disciplinas fundamentais para o exercício de funções de magistrado.” Já com o canudo na mão, o candidato deve acumular, pelo menos, dois anos de experiência profissional em Macau na área do Direito. Com o objectivo de melhorar os métodos de selecção para o curso e estágio de formação, é sugerido na proposta de lei que se passe a realizar uma entrevista profissional, “sem carácter eliminatório”. A proposta contempla também o “aperfeiçoamento do conteúdo do curso e estágio de formação”. Sem detalhar, o comunicado

aponta que as melhorias abrangem “formação jurídica teórico-prática, formação judiciária e habilitação profissional e formação complementar de carácter especial”.

REGRAS DE COMPORTAMENTO

Para além das questões técnicas, o candidato a magistrado passa a ter de cumprir requisitos de carácter pessoal. A proposta de lei refere o “dever de disciplina” a que ficam obrigados os estagiários, que “devem nortear a sua conduta de acordo com a dignidade das funções de magistrado”. O empenho é outro ponto fulcral da proposta que seguirá para a AL. Se o estagiário mostrar

“desinteresse evidente”, pode ser excluído da fase de formação. Completo o curso e estágio de formação, e ainda antes da nomeação definitiva como magistrado, os candidatos têm de cumprir três anos de comissão de serviço. Os candidatos que tiverem como meta profissional as categorias de juiz de primeira instância e magistrados do Ministério Público, mas que não tenham frequentado o curso e estágio de formação, continuam a precisar da licenciatura em Direito, acrescida de 10 anos de tempo de serviço efectivo, o dobro da experiência exigida na lei de 2001. João Luz

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BAÍA DA PRAIA GRANDE TSI DÁ RAZÃO AO GOVERNO EM DOIS PROCESSOS

O

Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Governo em dois casos de caducidade de concessão de terrenos situados nas zonas A e C do Fecho da Baía da Praia Grande. Os terrenos tinham sido concessionados, por arrendamento, à Sociedade de Empreendimentos Nam Van,

que posteriormente transmitiu a concessão às Sociedade de Investimento Imobiliário Fong Keng Van, S.A. e Sociedade de Investimento Imobiliário Un Keng Van, S.A. A concessão por arrendamento era válida até 30 de Julho de 2016, mas a 3 de Maio de 2018 o então Chefe do Executivo, Chui Sai On,

declarou a caducidade por falta de aproveitamento no prazo devido. O TSI confirmou também a caducidade de concessões de um terreno em Coloane e dois na Taipa. Também o Tribunal de Última Instância deu razão ao Governo em dois casos semelhantes relativos a dois terrenos, um situado no NAPE e outro na Taipa.

O Governo venceu ainda dois casos em que foi decretado o despejo dos terrenos ocupados pelos ex-concessionários. Uma das decisões, do TSI, diz respeito ao terreno situado à entrada da Taipa, que havia sido concessionado à Chong Va - Entretenimento, Limitada para ali construir um parque aquático.


8

WONDERLAND MJ LEE E MAING HEE WON, ARTISTAS

No país das bizarrias Aberta aos olhos dos visitantes até ao próximo dia 24 de Maio no Armazém do Boi, Wonderland é uma exposição que parte em busca do lado oculto e menos óbvio de Macau. Nas mesmas ruas, religião e superstição convivem cordialmente com prostituição disfarçada. O enquadramento é oferecido pela obra das sul-coreanas MJ Lee e Maing Hee Won, onde a lama, os néons e a mitologia grega albergam os paradoxos de uma cidade próspera, mas rebuscada. Boa sorte De que forma Macau e as suas camadas serviram de base para materializar as obras que podemos ver em Wonderland? MJ Lee: Como residente de Macau e esposa de um macaense é interessante observar o estilo de vida do meu marido, metade português e metade chinês. Vamos à missa no dia de Natal e aos templos para rezar durante o ano novo chinês e isso acaba por ser, de certa forma, bizarro. Eu cresci como cristã, onde rezar a outro Deus é quase insultuoso. Mas em Macau, no geral, não sinto esse peso e o culto acaba quase por assumir uma perspectiva mais cultural do que religiosa e por isso, as pessoas têm prazer em ir rezar em família aos templos ou numa missa. É complicado e bizarro e é o que sinto em relação a esta cidade. Por exemplo, junto às ruínas de São Paulo existe um templo, algo que seria impossível na Coreia do Sul, porque aqui as religiões e as culturas têm coexistido de forma pacífica há mais de 500 anos e é bonito que assim seja. Maing Hee Won: Acho que me foquei num ponto muito mais específico dessas camadas que todos sabemos que existem em Macau. A mistura de culturas é muito interessante, mas sempre me atraiu mais o negócio dos

casinos. Fico sempre à espera de encontrar algo mais parecido com Las Vegas. Quando vi pela primeira vez os grandes hotéis, deu-me a sensação de estar num enorme parque de diversões e fiquei com muita vontade de entrar. Mas quando entrei senti que era muito pouco interessante. É tudo igual, o Venetian, o Parisian... todos os hotéis parecem ser o mesmo lugar por dentro e não há muito para ver. Por isso, continuei a pensar o que faz de Macau um lugar único, ou seja, que tipo de cenários resultam do negócio gerado em torno dos casinos. Continuei a questionar-me sobre isto e deparei-me finalmente com as saunas que têm aqui características únicas. Como decidem por onde começar a trabalhar um determinado tema e como surgiu a ideia da exposição? ML: Por estar há muito tempo fascinada com o estilo de vida das pessoas de Macau, tentei imaginar de que forma poderia mostrar a minha perspectiva, ou seja, as emoções que sinto quando testemunho a ligação que as pessoas têm com os rituais religiosos. Por isso, dei por mim a pensar qual seria a melhor forma de criar algo que transmitisse, simultaneamente, este tipo

de sentimento bizarro e a minha crença de que nada é permanente. Quando pensámos numa exposição chamada Wonderland [País das Maravilhas], decidimos que íamos fazer algo, lá está, bizarro, mas próspero e ao mesmo tempo instável, quase como que uma ilusão. Esta exposição foca-se nas contradições e no carácter irónico de Macau. No entanto, acho que as pessoas de Macau não sentem esta cidade tão bizarra como eu, talvez porque cresceram aqui. Mas agora, mesmo esse lado mais oculto faz parte do ar que respiram. MHW: Normalmente começo por algo que me faz ficar zangada. Acho que o principal sentimento que associo ao meu trabalho é a raiva. Sinto que perante a sociedade, e porque persigo a feminilidade, tenho de agir de determinada forma. Isso faz-me continuar a questionar a sociedade e a mim própria. Gosto de coisas bonitas, mas não sei se é um gosto pessoal ou um outro que fui forçada a adquirir. Na verdade, acho que é algo que vem de fora e por isso pergunto-me sempre quem é e de onde vem essa força que

“Quando pensámos numa exposição chamada Wonderland, decidimos que íamos fazer algo (...) bizarro, mas próspero e ao mesmo tempo instável, quase como que uma ilusão.” MJ LEE

podemos ver um objecto de barro que aos poucos se vai desfazendo na água. Eu própria quando fiz a instalação tive medo que a televisão fosse cair devido ao seu peso e à instabilidade do material que a suporta. Queria criar algo capaz de provocar ansiedade às pessoas quando vissem estes materiais, que não são propriamente estáveis ou sólidos.

“Gosto de coisas bonitas, mas não sei se é um gosto pessoal ou um outro que fui forçada a adquirir.” MAING HEE WON

decide sobre o que é o sentido estético. Quando me deparei com as saunas de Macau, não posso dizer que senti raiva, mas fez-me lembrar que a sociedade continua a ser dominada por uma perspectiva masculina sob vários aspectos, apesar de considerar que actualmente existe bastante igualdade entre géneros. O que pode simbolizar um santuário que mistura elementos tão diferentes como a argila, ouro e uma televisão? MJ Lee: Gosto das emoções que resultam da colisão entre materiais heterogéneos e essa combinação transforma-se em algo estranho. Quando vejo figuras religiosas ou estátuas de porcelana nas ruas de uma cidade cosmopolita como Macau, fico sempre com a sensação de serem apenas decorativas e desprovidas de significado. Gosto das emoções que resultam da mistura de materiais diferentes e até lhes poderia atribuir algum significado, mas acho que assim estaria a limitar a imaginação de quem vê as obras. O meu objectivo era fazer combinações bizarras e focar-me na materialidade e não tanto no significado. A fragilidade é outros dos pontos principais do meu trabalho. Na obra que fiz

Nos dias que correm, marcados pela pandemia, que papel podem ter as superstições e as crenças religiosas? MJ Lee: Acho que a crise da covid-19 tornou mais clara a forma como vejo o mundo, ou seja, nada é para sempre. Estamos a testemunhar a destruição da civilização tal como a conhecemos e a forma como de um momento para o outro se instalou o caos, com enormes perdas económicas e humanas. Isto tudo faz-me pensar que, na vida, não existe nada que valha a pena adorar ou que nos faça ficar obcecados. As superstições não podem ajudar a acabar com este incidente, certo? Acho que, neste momento, há cada vez mais pessoas a deixar de acreditar na religião e não nos podemos esquecer que ela também faz parte da civilização e que foi criada por pessoas. Uma vez perguntaram ao Dalai Lama se seria possível travar o aquecimento global e os problemas inerentes a essa questão. Ele respondeu que o planeta também reencarna e que tal como todos nós nasceu e um dia vai morrer. Ou seja, é impossível impedir a destruição do mundo. Temos de aceitar este tipo de mudanças e desastres. No final, vamos acabar todos por ser apenas uma porção de poeira sem importância. É isto que quero transmitir com a minha obra. É obscuro e triste, mas acho que é precisamente isso que fundamenta a existência humana. Se tudo é assim tão ténue, o que devemos procurar ao longo da vida? ML: Não sei a resposta. Como artista, penso que é importante colocar as questões às pessoas, mas não lhes dar as respostas. Temos de continuar a questionarmo-nos e tentar perceber o que realmente im-

HOJE MACAU

ENTREVISTA


9 terça-feira 5.5.2020 www.hojemacau.com.mo

porta na vida. Pode ser diferente de pessoa para pessoa, mas para mim o que é importante é o sentimento que tiramos de cada momento. Não é uma coisa física, é algo que pode ser desmaterializado. Por exemplo, quando as pessoas têm experiências de quase morte elas vêem apenas momentos importantes das suas vidas. O meu pai experienciou este tipo de sensação e contou-me que foi quase como um filme, em que viu momentos da sua vida em catadupa. Por isso, o que ele viu talvez seja o que realmente importa para ele. Para mim, cada momento é muito importante. Que equação é esta capaz de ligar a mitologia grega e o Renascimento ao submundo das saunas de Macau? MHW: Os mitos gregos e os clássicos são uma ferramenta que uso para dar mais força às minhas imagens, inspiradas nas personagens do Manga japonês. Normalmente a principal estética das mulheres do Manga japonês fixa-se na imagem da juventude. São raparigas com cara de bebé, olhos enormes, bochechas

gigantes, narizes pequenos, mas de corpo amadurecido, seios enormes e tudo aquilo que possamos desejar. É possível encontrar uma ligação entre essa estética, o ideal de beleza do Renascimento e as deusas dos mitos gregos. Todos os estes elementos transportam-nos para a existência de um desejo comum. A partir daí, transformar estes objectos de desejo em formas de arte clássicas, de certa forma recatadas e alinhadas em série numa linha sem fim à vista, foi a forma que arranjei para pôr a nu esse paradoxo. No final da linha onde estão expostas todas as mulheres, tal como acontece nas saunas de Macau, surge a figura de Vénus inspirada na obra de

“Queria criar algo capaz de provocar ansiedade às pessoas quando vissem estes materiais, que não são propriamente estáveis ou sólidos.” MJ LEE

“No final da linha onde estão expostas todas as mulheres, tal como acontece nas saunas de Macau, surge a figura de Vénus inspirada na obra de Botticelli.” MAING HEE WON

Botticelli [Nascimento de Vénus], como símbolo de algo precioso e elevado. Desenhei-a ao estilo do Manga japonês, mas na sua vertente pornográfica. Na minha obra, Vénus não tem nada a esconder e apresenta-se de forma erótica. Perante isto, questiono-me sobre se uma deusa como Vénus pode, ao mesmo tempo, ser reduzida a um objecto de desejo e ser contemplada, sem qualquer tipo de perversão. O que pensa do negócio da prostituição em Macau? MHW: Às vezes sinto raiva, mas não fico particularmente zangada

em relação a este negócio. Há mulheres que lucram com a prostituição e querem fazê-lo porque conseguem ganhar muito dinheiro e esse dinheiro faz com que muitas mulheres de diferentes países venham parar a Macau. No entanto, é um negócio feito às escondidas. Actualmente o poder que as mulheres detêm na sociedade está a crescer e por isso acho que é natural que ainda haja algum sigilo, mas também significa que vivemos numa sociedade dominada por homens. Os homens querem que este negócio exista para que possam continuar a sentir-se como os imperadores que existiam noutros tempos. Então qual é a solução? MHW: Acho que não há solução. Porque tal como referi na minha obra, esta é uma questão que vai continuar a existir para sempre. Por outro lado, se a prostituição fosse legalizada talvez pudessem existir ambientes seguros e justos. Quando pensam em executar uma obra, existe a preocupação de mudar mentalidades?

ML: Acho que a arte é uma boa plataforma para servir de escape para as pessoas contactarem com diferentes perspectivas, por isso, através dela podemos colocar essas questões às pessoas. Quando as pessoas têm uma vida ocupada não têm tempo para se questionarem, mas a arte é uma boa plataforma para trazer à ribalta algumas dúvidas sobre a vida. Acho que é por isso que a arte existe, porque nós artistas somos em menor número e estamos sempre a duvidar de alguma coisa e não estamos inseridos no funcionamento normal da sociedade. MHW: Sou uma pessoa muito sarcástica. Acho que a arte não tem a capacidade para mudar o mundo, mas pode ser quase como uma guloseima. Às vezes podemos dar uma trincadela num rebuçado estranho e picante. Acho que a arte pode acordar as pessoas e fazer barulho, mas acho que não pode mudar o mundo e a sociedade. Pedro Arede

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10 coronavírus

(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

TOP 20 DOS PAÍSES

49897 Em estado crítico

3592788

1166015

Infectados (total cumulativo)

COM MAIS CASOS 1191854

Espanha

248301

Itália

210717

Reino Unido

186599

França

168693

Alemanha

165745

Rússia

145268

Turquia

126045

Brasil

101826

Irão

98647

China

82880

Canadá

59474

Bélgica

50267

Perú

45928

Índia

42836

Holanda

40770

Suiça

29981

Equador

29538

Arábia Saudita

28656

Portugal

25524

México

23471

Curados

Co novel

2177690 Infectados

(total cumulativo)

E.U.A.

5.5.2020 terça-feira

(casos activos)

1712 Curados

PORTUGAL

1063 Mortos

PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)

Portugal

25524

Brasil

101826

Moçambique

80

Angola

35

Guiné-Bissau

257

Timor-Leste

24

Cabo Verde

175

São Tomé e Principe

16

PORTUGAL

países sem casos de nCov

Infectados (casos activos)

6 MACAU

PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)

China

82880

China | Macau

45

China | Hong Kong

1041

China | Taiwan

438

Coreia do Sul

10801

Japão

14877

Vietname

271

Laos

19

Cambodja

122

Tailândia

2987

Filipinas

9485

Myanmar

161

Malásia

6353

Indonésia

11587

Singapura

18778

Borneo

138

25524

países com casos de nCov

Infectados (casos activos)

39 Curados

HONG KONG

137 Infectados

Macau

(casos activos)

4

HONG KONG

900 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 11

terça-feira 5.5.2020

62275

ovid-19 l coronavírus

Casos suspeitos

249083 Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

3.000.000 150.000 100.000 75.000 50.000 25.000 12.500 0

20

40

60

dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 68128 1582 1276 1268 1019 991 937 787 653 579 561 913 593 638 328 355 254

MORTOS 4512 8 22 1 4 6 1 7 0 6 3 13 8 7 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 277 184 168 147 197 189 146 139 106 76 194 75 1040 432 18 45 1

MORTOS 3 2 6 2 0 3 2 2 1 3 1 0 4 6 0 0 0


12 china

A

televisão estatal chinesa disse ontem que os comentários do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, sobre a origem do novo coronavírus foram “insanos e imprecisos”, aumentando a tensão entre os dois países. Mike Pompeo disse domingo que “há uma quantidade significativa de provas” de que o novo coronavírus teve origem num laboratório da cidade chinesa de Wuhan, o berço da pandemia. “Há imensas provas de que foi ali que tudo começou”, disse o chefe da diplomacia norte-americana, recusando-se a dizer se acreditava que o vírus tinha sido intencionalmente libertado pelo Governo chinês. A televisão estatal CCTV chinesa reagiu ontem com palavras duras contra o Governo dos Estados Unidos. “Essas observações tendenciosas e sem sentido dos políticos americanos estão a fazer cada vez um número maior de pessoas acreditar que essas provas existem”, referiu a CCTV. “Os políticos americanos estão a tentar culpar alguém, manipular as eleições e repreender a China, quando os

5.5.2020 terça-feira

COVID-19 CRÍTICAS A TESE DOS EUA SOBRE ORIGEM DO CORONAVÍRUS

As teorias “insanas”

CCTV Os políticos americanos tentam culpar alguém, manipular as eleições e repreender a China, quando os seus esforços contra a epidemia são um desastre.

seus próprios esforços contra a epidemia são um desastre”, conclui a declaração divulgada pela estação estatal chinesa.

GUERRA QUENTE

Dois outros comentários publicados ontem no Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês, descrevem Pompeo e Steve Bannon, ex-estratega do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como “palhaços mentirosos” e “fóssil vivo da Guerra Fria”. Na passada semana, Bannon tinha dito que a China cometera uma “Chernobyl biológica” contra os Estados Unidos, referindo-se ao desastre que aconteceu numa estação de energia nuclear soviética, no passado século. Na passada semana, também Donald Trump tinha transmitido mensagens críticas ao Governo de Pequim, dizendo ter tido acesso a evidências da origem do novo coronavírus em laboratórios chineses. Do lado de Pequim, também o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, levantou, ainda em Março, a teoria de que tinham sido militares norte-americanos a transportar o vírus para a China, no final de 2019.

COMÉRCIO WASHINGTON AMEAÇA PEQUIM SE NÃO FOR CUMPRIDO ACORDO

HONG KONG ECONOMIA COM RECUO RECORDE DE 8,9%

O

O

secretário de Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, disse ontem que a China honrará os seus compromissos de comprar produtos dos EUA, ao abrigo do acordo comercial, e ameaçou com “sérias consequências” se tal não suceder. Ao abrigo da Fase Um do acordo comercial entre os EUA e a China, assinado em Janeiro passado e considerado o primeiro passo para resolver uma longa guerra comercial, a China comprometeu-se a comprar cerca de 200 mil milhões de euros em produtos norte-americanos. “Penso que eles vão honrar os seus compromissos”, disse ontem Steven Mnuchin numa

entrevista à estação televisiva Fox News. “Este acordo foi negociado há muito tempo. Foi assinado pelo Presidente (chinês) Xi (Jinping) e pelo Presidente (dos EUA) Donald (Trump) e eu tenho todos os motivos para acreditar que (os chineses) o honrarão”, explicou o responsável pelas negociações comerciais com Pequim. Com o avolumar de tensões entre os EUA e a China, sobre a forma como o Governo chinês lidou com a fase inicial da pandemia de covid-19 e sobre a alegada origem do novo coronavírus num laboratório na China (ver texto principal), as relações comerciais poderão ficar em risco.

“Se não o fizerem, haverá sérias consequências no nosso relacionamento e, na economia global, na forma como as pessoas negoceiam com eles”, disse Steven Mnuchin, a propósito de cenários de conflito. A Fase Um do acordo comercial estabelece que a China fará compras adicionais de produtos norte-americanos no valor de cerca de 75 mil milhões de euros no sector de manufacturação, cerca de 50 mil milhões de euros no sector energético e cerca de 30 mil milhões no sector agrícola. O objectivo desta fase é reequilibrar a balança comercial entre os dois países, reconhecendo um défice para o lado dos EUA.

Produto Interno Bruto (PIB) de Hong Kong registou no primeiro trimestre uma contração de 8,9 por cento, um recorde, devido ao impacto que a pandemia de covid-19 teve numa economia já fragilizada por uma crise política. “É o maior recuo desde o período inicial de referência, o primeiro trimestre de 1974”, anunciou o executivo de Hong Kong em comunicado. A economia da ex-colónia britânica já tinha registado em 2019 a sua primeira contração em uma década (-1,2 por cento) devido à guerra económica entre Pequim e Washington e meses de contestação pró-democracia no território. Mas esse impacto foi muito menor do que o da pandemia de covid-19, responsável por um recuo de 8,9 por cento do PIB no primeiro trimestre.

O desempenho da economia foi pior do que o registado no terceiro trimestre de 1998 (-8,3 por cento), durante a crise financeira asiática, ou do que o do primeiro trimestre de 2009 (-7,8 por cento), durante a crise financeira mundial. Este foi o terceiro trimestre consecutivo de contracção da economia de Hong Kong, a pior série desde 2009. Os resultados, que são piores do que o esperado, foram divulgados numa altura em que Hong Kong regista sucessos na luta contra a pandemia. Apesar da sua grande proximidade com a China continental, o território registou apenas cerca de mil casos e seis mortes devido à covid-19. Nas duas últimas semanas, houve oito dias sem novos casos e as autoridades vão começar a levantar gradualmente algumas restrições impostas para impedir a propagação da doença.


região 13

terça-feira 5.5.2020

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Anúncio O Pedido do Projecto de Apoio Financeiro do FDCT para à 2ª vez do ano 2020 (1)

Jornalistas apoiados

O FDCT foi estabelecido por Regulamento Administrativo nº14/2004 da RAEM, publicado no B. O. N° 19 de 10 de Maio, e está sujeito a tutela do Chefe do Executivo. O FDCT visa a concessão de apoio financeiro ao ensino, investigação e a realização de projectos no quadro dos objectivos da política das ciências e da tecnologia da RAEM. (2)

A

de jornalismo, bem como aos meios de comunicação social, através da aquisição de espaço para divulgação de informação, aquisição de publicidade e apoio a projectos de combate às notícias falsas na imprensa, em defesa da verdade da informação”, de acordo com um comunicado do PFMO enviado à Lusa. Na ocasião, o programa PFMO organizou, em conjunto com a Associação de Jornalistas e o Sindicato de Jornalistas, uma oferta de comunicações de internet e de telemóvel aos jornalistas do país e a entrega de 250 máscaras para uso dos jornalistas na cobertura da pandemia. Além destes apoios, o projecto pretende adquirir espaços de divulgação de informação e publicidade, para os parceiros, para assim contribuir para a melhoria das receitas de que vive grande parte da comunicação social em Timor-Leste, explicou Rui Dinis. “Atendendo à actual situação da covid-19 e ao estado de emergência no país, os jornalistas e a comunicação social, devem desempenhar um papel muito importante no actual contexto de luta à situação de pandemia mundial”, indicou a mesma nota. “A actual situação dos ‘media’ e dos jornalistas timorenses, tem sido uma preocupação para todos”, acrescentou.

MOMENTOS DECISIVOS

A cerimónia de entrega simbólica do apoio teve a

presença do embaixador da UE em Timor-Leste, Andrew Jacobs, da adida da Cooperação de Portugal em representação do embaixador de Portugal, Cristina Faustino, da presidente da Associação dos Jornalistas em Timor-Leste, Zevonia Vieira, do presidente do Sindicato de Jornalistas de Timor-Leste, Manuel Pinto, e de jornalistas de vários órgãos de comunicação social locais. “Os jornalistas precisam ter os meios para noticiar com rigor e em tempo útil, para que o público seja informado sobre a covid-19, sobre como se proteger e aos seus entes queridos, e sobre como está a decorrer a batalha contra o vírus”, referiu Andrew Jacobs. “Nunca houve um momento mais importante para os ‘media’ livres e independentes, não apenas para sobreviver, mas para prosperar. O jornalismo independente é essencial para dar ao público acesso a informações precisas e combater a desinformação sobre a pandemia”, sublinhou. Para a adida de cooperação, “a existência de uma imprensa livre, séria, de qualidade, constitui um pilar essencial da democracia e do Estado de Direito”. “Não há verdadeira democracia sem cidadãos responsáveis e não há cidadãos esclarecidos sem uma imprensa livre”, afirmou Cristina Faustino.

Alvos de Patrocínio (i) Universidades, instituições de ensino superior locais, seus institutos e centros de investigação e desenvolvimento (I&D); (ii) Laboratórios e outras entidades da RAEM vocacionados para actividades de I&D científico e tecnológico; (iii) Instituições privadas locais, sem fins lucrativos; (iv) Empresários e empresas comerciais, registadas na RAEM, com actividades de I&D; (v) Investigadores que desenvolvem actividades de I&D na RAEM.

UE e Portugal lançam medidas de ajuda à imprensa timorense

POIO para comunicações, oferta de máscaras e compra de publicidade institucional são algumas das medidas da União Europeia e de Portugal para os meios de comunicação social em Timor-Leste devido à covid-19, disse ontem um responsável. As medidas estão a ser desenvolvidas no âmbito da “Parceria para a melhoria da prestação de serviços através do reforço da Gestão e Supervisão das Finanças Públicas em Timor-Leste” (PFMO), cofinanciada pela UE e pelo Camões-Instituto da Cooperação e da Língua, afirmou à Lusa o responsável da unidade de implementação do PFMO, Rui Dinis. “Na mesma linha de apoio, outras medidas estão a ser preparada, para serem apresentadas e acordadas com as autoridades timorenses e com o Conselho de Imprensa, para fazer chegar mais apoio aos jornalistas e aos ‘media’ nacionais”, adiantou. O pacote de apoio, ainda a ser finalizado, foi apresentado simbolicamente no domingo, coincidindo com o Dia Mundial de Liberdade de Imprensa, com uma apresentação por responsáveis da UE e de Portugal. “O objectivo do programa é apoiar mais de 150 jornalistas timorenses, durante os próximos três meses, através da promoção de estágios e de incentivos à produção e publicação de artigos e peças

Fins

(3)

Projecto de Apoio Financeiro (i) Que contribuam para a generalização e o aprofundamento do conhecimento científico e tecnológico; (ii) Que contribuam para elevar a produtividade e reforçar a competitividade das empresas; (iii) Que sejam inovadores no âmbito do desenvolvimento industrial; (iv) Que contribuam para fomentar uma cultura e um ambiente propícios à inovação e ao desenvolvimento das ciências e da tecnologia; (v) Que promovam a transferência de ciências e da tecnologia, considerados prioritários para o desenvolvimento social e económico; (vi) Pedidos de patentes.

(4)

Valor de Apoio Financeiro (1) Igual ou inferior quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00) (2) Superior a quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00)

(5)

Data do Pedido Alínea (1) do número anterior Todo o ano Alínea (2) do número anterior A partir do dia 4 de Maio até 5 de Junho de 2020 (O próximo pedido será realizado no dia 1 de Setembro ao 2 de Outubro de 2020)

(6)

Forma do Pedido Preenchido o Boletim de Inscrição e os dados de instrução mencionados no Art° 6 do Chefe do Executivo nº 235 /2018, «Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro», publicado no B. O. N° 40 de 3 de Outubro 2018, através do sistema informático - “online” do FDCT (website: www.fdct.gov.mo). Endereço do escritória: Avenida do Infante D. Henrique N.º 43-53A, Edf. “The Macau Square ”, 11.º andar K, Macau. Para informações: tel. 28788777.

(7)

Condições de Autorizações Por despacho do Chefe do Executivo nº 235 /2018, processa o «Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro». O Presidente do C. A. do FDCT, Ma Chi Ngai 2020 / 04 / 29


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h

5.5.2020 terça-feira

As conviccões são esperancas ´ ´ Pyotr Ilyich (1770-1827)

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Concerto para Piano e Orquestra no 1 em Si bemol menor, Op. 23

N

O dia 7 de Maio assinala-se o 180o aniversário do nascimento do compositor russo do período romântico Pyotr Ilyitch Tchaikovsky. Nascido em 1840 em São Petersburgo e embora musicalmente precoce, Tchaikovsky foi educado para uma carreira na administração pública. Na sua juventude, as oportunidades de desenvolver uma carreira musical na Rússia eram escassas, não existindo educação pública nessa área. Assim que surgiu uma chance para esse tipo de formação, Tchaikovsky ingressou no então novo Conservatório de São Petersburgo, onde se formou em 1865. A formação que recebeu nessa instituição, orientada para o estilo musical do Ocidente, destacou-o dos compositores do movimento nacionalista da época, cujos principais representantes eram os compositores do Grupo dos Cinco, composto por Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e Rimsky-Korsakov. A sua formação levou-o a reconciliar o que aprendera com as tradições musicais nativas de seu país, às quais havia sido exposto desde a infância. Dessa reconciliação, forjou um estilo musical pessoal, mas inconfundivelmente russo, uma tarefa particularmente desafiadora, visto que os princípios que governavam a melodia, a harmonia e outros fundamentos da música tradicional russa, diferiam grandemente daqueles que governavam a música da Europa Ocidental, aparentemente negando o possível uso da música russa em composições ocidentais em larga escala ou a formação de um estilo híbrido. Além disso, a cultura russa exibia uma personalidade dividida, com os seus elementos nativos e importados distanciando-se cada vez mais desde a época de Pedro, o Grande, e isso resultara em incertezas, no seio da intelligentsia russa, a respeito da identidade nacional do país. Essa ambiguidade teve importantes reflexos na carreira de Tchaikovsky e levou a uma série de conflitos pessoais que prejudicaram a sua autoconfiança. No entanto, Tchaikovsky foi o primeiro compositor russo a conquistar fama internacionalmente e a sua carreira foi impulsionada pelas suas actuações como regente convidado em países da Europa e nos Estados Unidos, o que levou a que fosse homenageado pelo Imperador Alexandre III da Rússia, em 1884, recebendo uma pensão vitalícia. Apesar dos seus muitos sucessos musi-

cais, a vida de Tchaikovsky foi pontuada por crises pessoais e pela depressão. Factores que contribuíram para isso incluem também a sua separação precoce da sua mãe, seguida da morte prematura desta; a morte do seu amigo e colega Nikolai Rubinstein; o seu desastroso casamento; e o colapso do único relacionamento duradouro de sua vida adulta, que foi a sua associação de treze anos com a sua patrona, a rica viúva Nadejda von Mekk. A sua homossexualidade, que manteve em sigilo e temia causasse danos à reputação dos seus amigos e família, tradicionalmente tem sido considerada um factor importante. A morte

Os atroadoramente triunfantes acordes de abertura deste poderoso concerto estão entre os mais famosos em toda a música clássica

súbita de Tchaikovsky, aos 53 anos, é geralmente atribuída à cólera, mas existe um debate em curso sobre se essa foi de facto a causa da sua morte, e se esta foi acidental ou auto-infligida. Inicialmente, as opiniões da crítica a respeito da música de Tchaikovsky foram contraditórias. Embora desde cedo tivesse encontrado apoiantes, parte da crítica russa considerava a sua música insuficientemente representativa dos valores musicais nativos do seu país, e expressava a suspeita de que os europeus a apreciavam por conta dos seus elementos ocidentais. Num aparente reforço disso, críticos europeus elogiaram-no por oferecer uma música mais substantiva do que a das correntes exóticas russas, e afirmaram que ele transcendera os estereótipos da música clássica do seu país. Outros, como o americano Harold C. Schonberg, consideraram a sua música “desprovida de pensamentos elevados”, e desmereceram os seus trabalhos por não seguirem estritamente os princípios musicais ocidentais. Apesar dessa ambiguidade inicial, a percepção da crítica a respeito de sua obra melhorou gradualmente, sobretudo após a sua morte.

Além disso, a música de Tchaikovsky encontrou duradoura popularidade junto ao público, permanecendo um dos compositores mais frequentemente executados. As suas obras mais conhecidas incluem os ballets O Lago dos Cisnes, O Quebra-Nozes e A Bela Adormecida; a Abertura 1812 e a abertura-fantasia Romeu e Julieta; os seus concertos para piano e orquestra e para violino e orquestra; as suas quarta, quinta e sexta sinfonias; a sua Marcha Eslava; e as suas óperas Yevgeny Onegin e A Dama de Espadas. O Concerto para Piano e Orquestra nº 1 em Si bemol menor, op. 23, foi escrito entre Novembro de 1874 e Fevereiro de 1875, e foi revisto pela primeira vez em 1879 e pela segunda vez em Dezembro de 1888. A versão original teve a sua estreia em Boston, nos EUA, no dia 25 de Outubro de 1875, regida por Benjamin Johnson Lang, com Hans von Bülow ao piano, a quem Tchaikovsky dedicou o concerto. Os atroadoramente triunfantes acordes de abertura deste poderoso concerto estão entre os mais famosos em toda a música clássica. No entanto, quando foram compostos, não foram de forma alguma universalmente apreciados. Quando Tchaikovsky os tocou para o seu amigo Nicolai Rubinstein, este declarou que eram “triviais e vulgares”. Todos os três andamentos deste profundamente expressivo concerto são sublimemente românticos. O expansivo e arrebatador andamento de abertura é aparatoso; o andamento intermédio, entretanto, apresenta melodias sentimentais e uma bela interação entre solista e orquestra; e o excitante finale é um electrizante estremecimento do princípio ao fim. Cerca de 80 anos após Tchaikovsky ter esboçado as suas ideias iniciais para o seu primeiro concerto para piano e orquestra, este tornou-se a primeira obra de música clássica a vender um milhão de discos quando, em 1958, o pianista americano Van Cliburn, vencedor da primeira edição do Concurso Tchaikovsky em Moscovo, em plena Guerra Fria, deslumbrou o mundo com a sua apaixonante gravação da obra.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Pyotr Ilyich Tchaikovsky: Piano Concerto No. 1 in B minor, Op. 23 • Van Cliburn (piano), RCA Victor Symphony Orchestra, Kirill Kondrashin – RCA Victor, 1993


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

terça-feira 5.5.2020

uma asa no além Paulo José Miranda

Horizonte de impossível

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UANDO em 2011, o australiano Arthur Cleverson editou o controverso romance «Desarmados», começaram de imediato as reacções ao mesmo. Mas a acusação de que ele poderia estar esteticamente a preconizar um ataque ao realismo literário não incomodou o autor. O que o incomodou foi a deturpação dessa interpretação. Pois aquilo que está em causa em Cleverson é aquém ou além de qualquer realismo, apesar do começo do romance: «Nada é mais fácil, para quem escreve, do que fazer um livro acerca do mal e da miséria humana. Tudo à nossa volta nos impele para essa escrita realista. Mas para escrever acerca do bem, além das qualidades que devem enformar qualquer escritor, há que ter a tenacidade de um jovem que acredita na beleza perene dos corpos. Não basta imaginação, é preciso também que ele mesmo entenda que a verdade é bela e um bem, e que existe no tempo em que se pensa. À imagem daquele que pensa enquanto pensa, todo o pensamento é perene. Que jovem não traz em si a eternidade em cada gesto? Que jovem vai entender a doença corrosiva do tempo apodrecendo os braços e as pernas? Que corpo jovem não consegue destruir a realidade e as suas expressões? E a destruição de toda e qualquer arte realista é já uma aurora de Primavera sobre a terra; uma semente, uma promessa, um futuro.» Se por um lado, o escritor australiano reivindicava o direito a uma arte não realista, por outro também pretendia um distanciamento das vanguardas do início do século XX, principalmente o surrealismo. Numa entrevista ao New York Times, disse: «O surrealismo não me interessa nem na literatura nem na pintura. O inconsciente é uma farsa que esconde o que mais me importa: o desconhecimento de nós mesmos enquanto conscientes». Também não pretendia uma arte idealista, mas tão somente um a-realismo. Não um anti-realismo, como muitos leram nas suas palavras, mas um além e aquém do realismo. Nessa mesma entrevista ao New York Times, acrescentou: «Não tenho nada contra o realismo, desde que não tenha de me sentar à mesa com ele.» O seu problema com o realismo é um problema de convívio. Não tem nada contra quem escreve com as mãos bem assentes no real, como se a escrita fosse o espelho de Stendhal a reflectir o mundo, mas não é assim que entende o romance. Para Cleverson, «o romance tem de escavar o impossível», di-lo também nessa entrevista. E por impos-

sível deve entender-se a própria natureza humana: «O humano antes de mais define-se por impossível ou, se preferir, pelo horizonte de impossível que tem dentro de si e que não sabe o que é. Duplamente impossível.» À luz de Milan Kundera e do seu A Arte do Romance, poderíamos chamar aos seus romances metafísicos. Metafísica no sentido em que Kundera escreve, e que Cleverson cita na entrevista: «[...] se é verdade que a filosofia e as ciências esqueceram o ser do homem [como Husserl e Heidegger mostraram], parece ainda mais claro que com Cervantes se formou uma grande arte europeia que não é senão a exploração desse ser esquecido. // De facto, todos os grandes temas existenciais que Heidegger analisa em Ser e Tempo, julgando-os abandonados por toda a filosofia europeia anterior, foram desvendados, mostrados, iluminados por quatro sé-

culos de romance (quatro séculos de reencarnação europeia do romance). Um por um, o romance descobriu à sua própria maneira, através da sua própria lógica, os diferentes aspectos da existência [...]». Ou ainda a inscrição que tem à entrada de «Desarmados»: «[...] o imutável não será uma mera ilusão? / Não. Toda e qualquer situação é obra do homem e só pode conter o que nele existe; podemos portanto pensar que ela existe (ela e toda a sua metafísica) “há muito muito tempo” enquanto possibilidade humana.» A existência é vista por Cleverson como lugar de onde se avista o impossível, à imagem do verso de “A Tabacaria”: «Pórtico partido para o Impossível». E é esta confluência entre existência e impossível que interessa ao autor explorar nos seus romances. E, como está bem de ver, o impossível não é matéria que o «real» reflicta no seu espelho.

Para Cleverson, «o romance tem de escavar o impossível», (...). E por impossível deve entender-se a própria natureza humana: «O humano antes de mais define-se por impossível ou, se preferir, pelo horizonte de impossível que tem dentro de si e que não sabe o que é. Duplamente impossível.»

Numa passagem do romance «Desarmados», através de um diálogo entre Rudy Schneider e o seu namorado, James Colton, lê-se à página 67: «[fala de Rudy] Em meados do século XIX, Karl Marx acusa os filósofos de terem apenas interpretado o mundo e que era preciso transformá-lo. Hoje precisamos voltar a interpretá-lo.» Ao que James responde: «Por mais que tu queiras, não há diferença entre Kylie Minnogue, Australian Crawl e Nick Cave. São expressões com o mesmo valor musical. Ser educado na música não leva a mais do que isso. A interpretação de quem gosta de “Can’t Get You Out Of My Head” ou “Oh Not You Again” é tão válida musicalmente quanto a de quem gosta de “Let Love In”. A interpretação é como o voto: todo é válido se devidamente preenchido.» Para Rudy, o problema não é a impossibilidade ou o fracasso na transformação do mundo, mas a compreensão de que toda a transformação é uma interpretação, defendendo assim o conhecimento em detrimento de qualquer opinião ou diletantismo. Pois se tudo transforma o mundo, o enriquecimento cultural levava a melhores transformações. A defesa do «voltar a interpretar» é a defesa do impossível. No ponto contrário, James defendia um total relativismo. Tudo é válido. Ou na sua expressão preferida: «Tudo é igual». O relativismo aparece assim como oposto do impossível, conceptualmente. Cleverson di-lo claramente na entrevista: «O relativismo é o oposto do impossível. O relativismo é o tudo é possível, no sentido em que tudo é aceite e nada é preciso procurar. Tudo é válido traduz-se em tudo basta». Muitos viram em Rudy Schneider o alter-ego de Arthur Cleverson, mas talvez não seja totalmente correcto. Há pontos em comum, sem dúvida, entre o autor e a sua personagem, mas também há pontos em comum entre eu e o meu vizinho de baixo e não só não somos o mesmo, evidentemente, como temos uma ideia do mundo e da vida bastante diferentes. O que podemos afirmar com alguma certeza é que, contrariamente a James Colton, Arthur Cleverson sentar-se-ia à mesa com Rudy Schneider. O que para o escritor já não seria pouco. Terminemos com uma frase de Rudy para James, quase no final do romance: «O mistério é que o desprezo que tenho por ti não impeça gostar tanto de foder contigo.» Frase a que não faltaram críticos a remeter para teorias freudianas e até a defender a existência de um recalcamento do surrealismo em Cleverson. Mas não poderiam estar mais longe de um horizonte de impossível.


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Corona de Paul Célan conhecimento da estrutura mineral e fazer contemplar essa dureza como uma secreta maravilha, pois ele diz-nos também que o tempo regressa de novo à casca, como um regresso à gruta, e que num espelho qualquer ficará sempre Domingo, assim como que cristalizados na memória e no sonho que dorme. Onde ir com tanta retenção? Plasmado fica que o tempo nos fará a sua estátua mais conseguida e dela não sairemos enquanto um qualquer sopro não animar a fria imagem. Diz que a boca fala a verdade- a verdade da boca por tanto tempo esquecida - que a boca é o propagador do vírus e pouco antes mesmo tínhamos inundado a Terra de duras ofensas e indesculpáveis mentiras. Respirar pode matar... contagiar... só correndo já para o mar recuperando a guelra deixada que nos libertará das cicatrizes aéreas...! É um desassossego? Não sei... é uma estranha forma de viver, mas, ele quer que palpite por dentro um coração- este coração de músculos, sangue, veias e luto, que agora se encontra na fronteira que aos audazes envergonha... e diz-nos que é tempo, tempo que seja tempo, tempo de tempo, um tempo que se carrega com o peso das coisas que só o tempo governa. O seu olhar desce até ao sexo dos amantes; "olhamo-nos" dizendo algo daquele escuro, e o amor neste lado já não estava claro, e o sexo dos amantes pode ter um fim abrupto e deles ficar apenas a memória de um combate. Da ilusão do amor fizemos "coronas" com flores já mortas que viveram na morte como se já não houvesse fronteiras. E se o Outono come da mão a sua folha, e são amigos, tirando às nozes a casca do tempo, saibamos que talvez tivéssemos tão duros que os dentes da Terra se partiram, nós que comíamos a Terra, da Terra, que comia de nós, partimos também essa carga mineral que nos fizera grandes predadores. Não esquecemos o vermelho, os dias amantes de papoila e memória, o vinho nas conchas, ou o mar no brilho- sangue da lua. Esse rubro cheiro das auroras que a paixão coroou a beijos fartos, que a vontade nos deu as grandes seivas, e temos saudades da vida que jorrou como um corpo iluminado mesmo já ao cair da tarde das nossas fomes saciadas. E o poema então: Corona, na integra maravilha do seu instante (esfarrapamos o tempo com centelhas fugazes e nos interstícios do poema passa a vida e a morte, anunciadas. ).

ROBERT MAPPLETHORPE

Amélia Vieira

5.5.2020 terça-feira

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ORONA, do latim, grinalda de flores, em «Sete Rosas Mais Tarde» - o poema dos nossos dias, que as rosas virão depois para outras Primaveras. Debaixo das nossas realidades tudo está escrito, anunciado, quase explicado, mas, no ler do poema nem sempre se encontram reunidos os "órgãos de vigia", sendo a palavra o sopro que o transforma utilizando signos - que a palavra é alienígena- e saboreia a necessidade em nós para se fazer compreender resgatando depois uma vida completamente autómana: o poeta torna-se num elo encriptadamente anunciador, ou, se quisermos, a sua própria vigília interfere nos acontecimentos de forma triunfante. A cosmogonia que recebe não o autoriza a mais nada que a ser guiado, e esse caminho requer a funda confiança na matéria invisível, pois que não se toma, é tomado, e não nasce aí poder algum, somente um estranha rigor : já Parménides escrevia em verso para deixar claro que a poesia é a linguagem própria da revelação profética. Como estas grinaldas agora se entretecem nas vidas que estão amarguradamente em busca do ar fresco das manhãs e do regresso das andorinhas que não são vistas

em nenhum balcão das superfícies fechadas do mundo! Celan começa o seu poema no Outono e desliza até aos abraçados às janelas, talvez com aves que olham para nós nas ruas, e diz que é tempo. Mas tempo para quê? Ele diz que nos olhamos, que dizemos algo de escuro... mais escuro que estes dizeres ainda virá a voz dos impensáveis estertores pois que agora é ainda o efeito do recolhimento que saboreamos sem mais contemplação: mas que virá do fundo das coisas a sua resposta, disso teremos agora de o saber. Novecentos milhões de almas encerradas é uma visão de estarrecer e se metade desta população era há muito conduzida por medicação para distúrbios mentais, o colapso possível dos antídotos pode fazer ruir a já frágil estrutura. Dos bens, a nossa frágil vida, dos males, talvez pensar que vamos todos ter de tomar cada um a sua parte, e saber que mais adiante, nós, os estranhos entrelaçados, passámos câmaras de solidão do tamanho das catedrais do assombro. Mas também nos diz que é tempo que a pedra se decida a florir, e a flor das pedras pode ser bela, sim, as pedras que já são em si flores de minério de grandes efeitos, testemunhos da história da Terra, certamente nos irão dar

O outono come da minha mão a sua folha: somos amigos. Tiramos às nozes a casca do tempo e ensinamo-lo a andar: o tempo regressa de novo à casca. No espelho é domingo, no sonho dorme-se. a boca fala verdade. O meu olhar desce até ao sexo dos amantes: olhamo-nos, dizemos algo de escuro, amamo-nos como papoila e memória dormimos como vinho nas conchas ou o mar no brilho-sangue da lua. Ficamos abraçados à janela, olham para nós na rua: É tempo que se saiba! É tempo que a pedra se decida a florir, que ao desassossego palpite um coração. É tempo que seja tempo. É tempo. Paul Celan 1949


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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 48

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PROBLEMA 49

7 3 3 4 9 8 6 2 5 1

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Cineteatro SALA 2

C I N E M A SALA 3

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FANTASY ISLAND [C] Um filme de: Jeff Wadlow Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 15.30, 21.00

THE TRANSLATORS [B] Um filme de: Regis Roinsard Com: Lambert Wilson, Olga Kurylenko, Riccardo Scamarcio 16.00, 20.30

7 9 3 6 9 1 7 DOLITTLE [A] BIRDS OF PREY [C] 1 8 7 2 8 6 5 2 9 6 5 8 9 7 7 2 6 FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Stephen Gaghan Com: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen 18.45

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www. 4 hojemacau. com.mo

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Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.30

BAHT

10.581 casos nas 82 das 85 regiões do país", informou o Gabinete de Crise criado para gerir a situação sanitária da Rússia. Trata-se do segundo dia consecutivo em que na Rússia o número de contágios é superior aos dez mil casos.

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S 8U9 D 4 5O 6 7K3 U 2

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A Rússia registou 76 mortos e 10.581 casos de infecção do novo coronavírus num só dia, tendo o número total de contágios alcançado os 145.268 casos, informaram ontem as autoridades de Moscovo. "No último dia registaram-se

ALTOS CONTÁGIOS

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UM DISCO HOJE

0.24

YUAN

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VIDA DE CÃO

SURPREENDIDOS? Macau é uma terra para trabalhar e enriquecer. E o dinheiro é o valor máximo, acima de qualquer outro. Repito, acima de qualquer outro. Podemos ouvir juras disto e daquilo todos os dias e críticas a quem pensa de maneira diferente. Mas todos sabemos que as críticas de hoje são as nossas palavras de amanhã se para isso nos pagarem. Macau é assim, uma terra que vale pelo dinheiro para quase todos. E nesse aspecto não terá mudado muito com a transição. A questão é que se podia esperar um comportamento diferente numa altura excepcional como a da pandemia. O cartão do consumo veio mostrar que não... Os supermercados não terão sido propriamente afectados pela covid-19. Até tomaram medidas de contenção de despesas como redução do horário de trabalho e encerramento de alguns espaços, para levar os clientes para outros. Resultado: grandes filas para pagar, que contrariam aquela coisa do distanciamento social. Ninguém quis saber. Agora com o cartão de consumo, os supermercados aproveitaram imediatamente para subir os preços. Ninguém ficou surpreendido. Mas eu não esperava tão cedo uma homenagem ao Tufão Hato, a fazer-nos lembrar da subida do preço da água. Nestas alturas vemos sempre o melhor da sociedade. Estamos todos cheios de amor e queremos ter um país forte, mas por uns cobres não temos problema em atentar contra os valores nucleares da “harmonia social” e da “estabilidade interna”. Fica-nos tão bem... E mesmo que não fique, pegamos nos lucros e vamos ao cirurgião fazer uma plástica para retocar. Mou man tai! João Santos Filipe

BED OF ROSE’S | THE STATLER BROTHERS | 1970

Os Statkers Borthers são um dos nomes incontornáveis da música country, como demonstram os Grammy conquistados em 1965 e 1972. Em 1970 o quarteto afirmou-se definitivamente com o Álbum Bed of Rose’s e a canção com o mesmo nome, que conta a história de menino órfão que aos 18 anos encontrou o seu lugar, quando se apaixonou por uma mulher da má vida. Essa mulher mais velha, de 34 anos, recebeu o jovem de braços abertos, “tirou-o” da infância e “ensinou-lhe todas as coisas que um homem deve saber”. Apesar do tema arrojado, a canção é uma crítica à sociedade puritana que ignora os menos favorecidos. João Santos Filipe

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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macau visto de hong kong DAVID CHAN

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O passado dia 1 realizou-se um julgamento online no Distrito de Daya Bay, em Huizhou, na China. O caso teve maior impacto por se tratar de um crime mediático. A história conta-se em poucas palavras. O réu publicou, num chat, um anúncio de venda de máscaras que não existiam. O anúncio esteve online de 16 de Janeiro a 8 de Fevereiro, e defraudou duas vítimas num montante que ascendeu a 3.950 renminbi. O réu admitiu a sua culpa. Foi condenado a sete meses de prisão e a uma multa de 3.000 renminbi. Nesta altura, não é surpreendente que certas pessoas publiquem notícias falsas na Internet, nomeadamente anúncios sobre venda de máscaras que na verdade não existem. Mas a realização de um julgamento online já é um assunto que merece alguma atenção. Um julgamento online (OLT sigla em inglês), requer uma ligação por cabo. Se o sinal estiver normal o OLT decorre sem problemas. No entanto, se houver uma interrupção do sinal, como é que se lida com a situação? Nos dias de hoje, existem muitas empresas e instituições cujas redes têm de funcionar em pleno, por exemplo, as redes bancárias. Se os tribunais implementarem os OLTs, de que requisitos de rede vão necessitar? Terão de estar equiparados aos das redes bancárias? A identidade das partes é outra questão que se coloca. Durante o julgamento, as partes podem ver-se presencialmente e, portanto, a possibilidade de falsificação ou substituição é baixa. No entanto, no OLT, cada uma das partes tem de se basear nas imagens que aparecem no ecrã do computador. Será esta situação praticável? Antes da realização de um julgamento online o tribunal tem de perguntar às partes envolvidas se concordam com este formato. Ao darem o seu consentimento, concordam que não haverá espaço para qualquer tipo de falsificação. No entanto, vale a pena considerar a forma de efectivamente impedir qualquer tipo de falsificação ou de substituição. Um julgamento criminal é diferente de um julgamento cível. O propósito de um julgamento cível é a indemnização da parte lesada, enquanto no caso criminal se trata de condenar alguém que transgrediu de alguma forma o código penal. Quando a culpa é apurada, o réu é condenado. A prisão é uma das várias condenações possíveis. Portanto, uma das situações a ter em conta é a possibilidade de o réu fugir após a condenação. Se não forem tomadas medidas compulsivas com antecedência, a possibili-

Justiça online

dade de o réu fugir aumenta. Aqui a questão a ter em conta é como evitar que o réu escape à justiça depois da sentença proferida. Se estivermos perante o julgamento de um crime menor, em que a pena por norma não vai além de uma multa, o formato do julgamento online parece ser mais adequado. No entanto, perante um crime grave, como o homicídio, em que a condenação inevitavelmente levará o réu à cadeia, este formato pode proporcionar a fuga que, como é óbvio, deve ser evitada. É compreensível que os julgamentos online sejam mais compatíveis com os casos cíveis, onde as condenações não implicam

por regra a perda da liberdade do réu, mas sim o pagamento de multas. Claro que, se a multa for muito elevada, o réu também poderá fugir para não ter de a pagar. Existe ainda outra questão legal digna de consideração. Se o queixoso e o réu arguirem sobre uma prova, como é que essa prova deverá ser examinada? A modernização dos tribunais deve estar em linha com a evolução da ciência e da tecnologia, e no contexto da actual pandemia em que se deve manter o distanciamento social, a realização de julgamentos online parece ser uma boa medida. No entanto, se não houver regulamentação adequada e instalações com-

A modernização dos tribunais deve estar em linha com a evolução da ciência e da tecnologia, e no contexto da actual pandemia em que se deve manter o distanciamento social, a realização de julgamentos online parece ser uma boa medida

patíveis com este modelo, a concordância das partes envolvidas na sua realização não será suficiente. Além disso, a falta de domínio deste tipo de tecnologias por parte dos funcionários dos tribunais, também será um problema. Esta falha fará com que a eficiência do julgamentro online seja diminuída. Assim sendo, para que se possa realizar eficazmente um julgamento online as partes envolvidas e o tribunal deverão ter apoio de técnicos informáticos. Este apoio deverá ser prestado tanto ao nível do software como do hardware. Imagine-se que durante o julgamento o computador se avaria, terá de existir outro para o substituir imediatamente. Além disso, o julgamento online tem de ser gravado, não só como medida de prevenção em caso de falha informática, mas também para se criar um registo no caso de uma das partes querer recorrer. Macau é uma cidade pequena com uma população relativamente pequena; a procura de julgamentos online é baixa. Claro que, perante esta pandemia, a situação pode mudar.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Deus perdoar-me-á: é o seu ofício.

SJM INTOXICAÇÃO ALIMENTAR AFECTA 53 TRABALHADORES

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Macau Pass Detida por usar cartão perdido

Uma trabalhadora não-residente com 20 anos foi detida depois de ter utilizado um Macau Pass que encontrou na rua, de acordo com o jornal Macau Daily. A mulher, natural das Filipinas, admitiu que tinha encontrado o cartão e que utilizou o mesmo para andar de autocarro e fazer compras. A investigação partiu da queixa residente, que apesar de ter perdido o cartão continuou a ver o mesmo a ser utilizado em transacções que chegaram às 1.000 patacas. O caso foi reencaminhado para o Ministério Público e a mulher reponde por “apropriação ilegítima em caso de acessão ou de coisa achada”, um crime punido com pena de prisão até 1 ano ou 120 dias de multa.

Seac Pai Van Petição contra armazém de substâncias perigosas

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Um grupo de residentes de Seac Pai Van vai entregar hoje uma petição contra a criação de um armazém de substâncias perigosas no local, como anteriormente tinha sido pensado. Ao invés da estrutura, os residentes preferem ver no local instalações como campos para a prática desportiva. Por outro lado, a petição vai ainda incluir uma menção contra a passagem aérea, que os residentes dizem ter um design sem sentido. Segundo um morador de apelido Leong, ouvido pelo jornal Ou Mun, a passagem aérea pode ser acedida no início e no final da rua. Contudo, não tem nenhum ponto de acesso no meio da rua, o que faz com que os cidadãos não a utilizem. Os signatários defendem assim que em vez da passagem aérea sejam recuperadas as antigas passadeiras da zona.

terça-feira 5.5.2020

PALAVRA DO DIA

TIAGO ALCÂNTARA

Heinrich Heine

Toca a refazer as contas Preço de venda de habitação económica exclui poder de compra dos candidatos

O

cálculo do preço de venda das habitações económicas vai mudar. De acordo com a proposta de lei que se encontra a ser discutida pela 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), a definição dos preços da habitação económica vai ter em conta o prémio da concessão do terreno, os custos de construção e os custos administrativos. De fora das contas fica o poder de compra dos candidatos. “Segundo a lei vigente, o preço de venda é definido de acordo com a capacidade de aquisição, que tem em conta o rendimento total do candidato e o facto das prestações bancárias não poderem ultrapassar 30 por cento dos rendimentos. Na nova proposta de lei existem três factores que vão ser levados em consideração na afixação do preço”, detalhou Ho Ion Sang, após uma reunião que contou com a presença do secretário para os Transportes

e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. De acordo com o deputado, a alteração vai permitir ao Governo recuperar os custos de construção que estão a ser canalizados para a habitação económica e “um pouco” dos custos administrativos. Questionado sobre se o preço da habitação económica vai ficar mais caro, Ho Ion Sang admitiu o cenário, mas contrapôs que a proposta de lei prevê que o montante final a pagar seja definido através de despacho do Chefe do Executivo, permitindo assim alguma flexibilidade. “Penso que a habitação económica ficará entre 30 a 40 por cento mais cara. De acordo com uma simulação que fizemos com o Governo, o custo de uma habitação económica da tipologia T2 com 45 metros quadrados de área é actualmente de 1,5 milhões de patacas. No futuro, esta habitação irá custar 2,2 milhões. Isto é apenas uma simulação e saliento que

o Chefe do Executivo tem uma certa flexibilidade na definição dos preços. Ou seja, só se o Governo decidir cobrar 100 por cento é que o custo será de 2,2 milhões. Se a percentagem for menor, o preço será reduzido. Tudo depende da decisão do Chefe do Executivo”, explicou.

REVENDA EXCLUSIVA

Ho Ion Sang referiu ainda que, no futuro, as habitações económicas só poderão ser revendidas ao Instituto de Habitação (IH) e após decorridos seis anos desde a aquisição do imóvel. Sobre o preço de revenda este só poderá ser calculado daqui a “mais ou menos 10 anos” porque “é necessário incluir o tempo de construção das habitações”. As fracções serão revendidas pelo preço de compra original subtraindo as despesas com obras de manutenção levadas a cabo pelo IH. Também aqui o valor final é definido através de despacho do Chefe do Executivo. P.A.

S Serviços de Saúde de Macau (SSM) emitiram ontem uma nota que dá conta da ocorrência de um caso colectivo de gastroenterite por intoxicação alimentar que afectou 53 trabalhadores da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), todos eles residentes. Segundo o comunicado, os casos foram reportados no domingo pelos Hospitais Kiang Wu e Centro Hospitalar Conde de São Januário e envolvem 13 homens e 40 mulheres, com idades compreendidas entre os 26 e os 60 anos. Todos eles são trabalhadores do Hotel Jai Alai Oceanus, Hotel Grand Lisboa, Hotel Lisboa ou Hotel New Orient Landmark, empreendimentos sob alçada da SJM. Estes trabalhadores “efectuaram refeições no refeitório de trabalhadores dos referidos hotéis, na manhã do dia 30 de Abril, às 3h00 da madrugada do dia 2 de Maio e pelo menos 32 pessoas comeram, também, no refeitório no dia 1 de Maio.” “De acordo com os sintomas, o historial de refeições e os alimentos ingeridos antes da manifestação de sintomas, há uma elevada probabilidade de ter ocorrido uma intoxicação alimentar causada por microrganismos”, adiantam os SSM. Desta forma, foi notificado o Departamento de Segurança Alimentar do Instituto para os Assuntos Municipais para que seja feita uma investigação ao caso.

Reconhecimento facial Testes técnicos ainda este ano

Mui San Meng, adjunto do comandante geral dos Serviços de Polícia Unitários, disse ontem no programa de rádio Fórum Macau que até ao final do ano deverão ter início os testes para a utilização da técnica de reconhecimento facial nas câmaras de videovigilância. “No total são 100 as câmaras que podem usar o reconhecimento facial. O teste acontece até ao final do ano. Em 2021 faremos um balanço e mais estudos”, disse Mui San Meng. No debate da semana passada sobre as Linhas de Acção Governativa para a área da Segurança, o secretário, Wong Sio Chak, admitiu atrasos na introdução da tecnologia devido à covid-19, mas anunciou datas para a instalação de novas câmaras de videovigilância. Também este ano, arranca a quarta fase de instalação de câmaras de videovigilância, enquanto que a quinta e sexta fases de instalação começam em 2022.


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