Hoje Macau 5 JUN 2015 #3345

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Director carlos morais josé

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Rui Furtado, presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa

Os médicos que estão no hospital não são capazes de resolver os problemas dos doentes São as palavras de Rui Furtado que considera ainda “um disparate” a criação de uma Faculdade de Medicina. Quanto à manutenção de Lei Chin Ion à frente dos SS, é peremptório: “deveria ter saído depois da avaliação de Alexis Tam”. entrevista Páginas 4-5

Exposição portugueses de xangai

O macaense antes do futuro grande plano páginas 2-3

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função pública

opinião

blue card

Um novo Trânsito tecto para pelo futuro a discórdia

Viver em Portugueses democracia são quase

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amélia vieira

política Página

arnaldo gonçalves

Página 20

uma centena sociedade página


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grande plano

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efugiados de Xangai. Macau (1937/ 1964)” é o título e conteúdo temático da próxima exposição organizada pelo Arquivo Histórico de Macau e que estará patente ao público a partir do próximo dia 9 de Junho (terça-feira, Praça do Tap Seac). Esta mostra dá continuidade a uma série de exposições temáticas iniciadas pelo AHM com o objectivo de dar a conhecer à população de Macau, e sobretudo às gerações mais novas, aspectos vários do passado da cidade e vida na urbe, baseando-se no princípio de que todo o futuro tem os seus alicerces e avisos no passado. Em anteriores iniciativas de aproximação relacional da sociedade com a sua cidade e o seu passado, e substancialmente com base na documentação do seu acervo documental, o AHM organizou exposições sobre a Avenida de Almeida Ribeiro, sobre a estrutura demográfica ao longo dos séculos, sobre fotografias históricas de Medicina Filantrópica, sobre a construção naval tradicional (já extinta em 2005) e a meteorologia dos tufões em Macau. Esta próxima mostra será talvez a mais densa em documentação preparatória e exibida, proporcionada pelo acervo do “Fundo Documental da Comunidade Macaense de Xangai; os refugiados de Xangai”, incluindo os “Livros de Matrículas da Comunidade Portuguesa de Portugal em Xangai “, de 1937 a 1964, com 63 processos totalizando 8441 folhas. Também, porque foi elaborado um Catálogo onde, para além da documentação exibida, estão registados todos os documentos dos processos constantes do acervo arquivístico, em edição bilingue Português-Chinês. A documentação do Catálogo, preparada pelos técnicos arquivistas do AHM, tem leitura, tratamento e comentários de Alfredo Gomes Dias, afirmado historiador de temáticas da história de Macau e que já tratara os temas da diáspora macaense no recente livro “ Diáspora Macaense – Macau, Hong Kong, Xangai, 1850/1952” (Centro Científico e Cultural de Macau, Lisboa). A sequência documental tem leitura e enquadramento dos textos explicativos de Gomes Dias, relativos ao início e estabelecimento da comunidade em Xangai, sua evolução, constituição etária e profissional, proveniências e causas do abandono da cidade, acolhimento em Macau e nova disseminação da comunidade macaense em diáspora pelo mundo. O Catálogo encerra com a lista dos 63 processos titulados em Português e Chinês.

Uma identidade nómada

Os movimentos migratórios macaenses surgem claramente provocados e balizados pela Guerra do Ópio/Tratado de Nanquim, que abriu atractivos

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Exposição no Arquivo Histórico

Xangai na diáspora queia portas de acesso, acolhimento, trabalho e integração, em Hong Kong e Xangai,e de seguida em cenários vários do mundo. Caso específico de habilitação profissional é o de tipógrafo: registam-se tipógrafos macaenses no jornal “North China Herald” de Xangai (1850), como em Hong Kong a área tipográfica foi dominada por profissionais macaenses, sendo disto ilustração o monopólio de uma empresa macaense na impressão do Boletim Oficial de Hong Kong durante um século. Isto tem explicação na laboração de cinco tipografias em Macau nas vésperas da I Guerra do Ópio, onde se registava uma intensa produção editorial de portugueses, e de ingleses e americanos, em jornais, dicionários, revistas, veículos da primeira sinologia anglo-saxónica e da evangelização protestante. Apontamento interessante ao esclarecimento da introdução de novos genótipos na comunidade é a verificação da existência de russos e judeus nas matrículas, acolhidos à diáspora pela via feminina dos laços matrimoniais. O retrato-tipo do macaense pluri-cultural e multilinguístico exemplifica-se aqui com o macaense Femiano Mâncio do Rosário (in pedido de informação ao bispo de Macau pelo Chefe de Serviços da Administração Civil) em cujo currículo se regista que fala Inglês, Português, Cantonense, Xangaiense e Japonês. Como peixe, nas águas de Xangai e companhias do comércio internacional.

Macau porto de abrigo

horizontes de realização à emigração macaense para Hong Kong e Xangai, e pela Guerra do Pacífico e ocupação japonesa de Xangai e guerra civil na China, que foram catapultando as comunidades macaenses (incluindo de Macau) para lugares de acolhimento mais promissores de segurança e prosperidade, conformando a génese de uma comunidade em diáspora a partir dos começos de 60. O material exposto e catalogado constitui um quadro informativo de grande interesse e relevância para a caracterização identitária, genotípica, cultural, profissional, do macaense, exortando a estudos mais aprofundados do epistema do macaense em diáspora. Verifica-se que o macaense que sai para coadjuvar a construção de Hong Kong é o mesmo, e

com as mesmas características e aptidões, que emigra para Xangai, também nos seus inícios de urbe internacional, revelando a fácil integração em espaços sócio-profissionais organizados pelos padrões europeus, confirmando a sua familiaridade e partilha de cânones civilizacionais e a mais-valia do domínio de línguas da China. A pátria do macaense é já, também, a pátria-do-outro. Verifica-se que, nos quadros profissionais de Xangai,

os macaenses são funcionários administrativos ou das burocracias de sociedades comerciais e financeiras, intérpretes, tipógrafos -- habilitações adquiridas e apuradas em Macau em séculos. Macau organizou-se, desde finais do século XVI, como modelo internacional de funcionalidade comercial e centro de traduções, contando-se 400 jurubaças logo nos meados de seiscentos. O multilinguismo é o veículo migratório do macaense, que lhe fran-

A diáspora macaense realizou uma síntese do universal, podendo integrar-se em qualquer parte porque já lá estava. Há um século e meio, a diáspora macaense já estava no futuro

O que se ilustra no capítulo II é a característica de Macau como porto de abrigo, aqui exemplificada, como durante a II Guerra Mundial e em momentos de perturbações geopolíticas regionais. Foi notável o esforço de acolhimento, apoio e até integração dos trânsfugas de Xangai, sobretudo nos anos 50 a 60, em que Macau serviu também como rampa de emigração para os vários nichos da diáspora, sobretudo para os EUA, Canadá, Portugal, Austrália e Brasil. Verifica-se que o macaense opta prioritariamente pelos espaços que oferecem melhores condições de futuro, prosperidade e segurança, confiante nas suas capacidades de integração internacional. Tratou-se de uma complexa operação, com políticas de reforço financeiro do governo, diplomático-burocráticas (passaportes, vistos, confirmações de nacionalidade), escolas para crianças, alojamentos para as famílias etc., tudo accionado em tempo. Mais do que isto, é de su-


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de Macau Nos quadros profissionais de Xangai, os macaenses são funcionários administrativos ou das burocracias de sociedades comerciais e financeiras, intérpretes, tipógrafos habilitações adquiridas e apuradas em Macau em séculos blinhar a capacidade de prevenção deste fenómeno migratório, com a correcta leitura das linhas de evolução política na área geográfica, como se comprova num despacho do Governador Albano de Oliveira. Regista-se também a integração sócio-profissional com alguns ingressos nos corpos da Polícia, no Exército e Administração Civil. A maioria emigrou para novos cenários de realização. Ressalta também a solução de acolhimento dentro da mobilidade social enquadrada no espaço do ex-império ultramarino português.

Uma ficha identitária

Uma leitura dos elementos acessíveis permite-nos confirmar cons-

tantes e axiais características na delineação do modelo personalizante do macaense da diáspora, entre a ancoragem à matriz espiritual lusa, a interculturalidade cantonense, e o nomadismo na diversidade do mundo: catolicidade, multilinguismo, pluriculturalidade, cosmopolitismo, capacidade de adaptação. Sempre que se desenraizou, o macaense “levou a casa consigo”; organizou-se em clubes e associações várias em Hong Kong, cujas características reproduziu em Xangai, em instituições clubísticas, educacionais, de solidariedade, filantrópicas, religiosas. Assim defende e reforça a sua agregação comunitária e uma identidade exposta à centrifucidade de cenários

estranhos, fenómeno requerente de enquadramentos weberianos. A lista de Xangai requisita complementação com outras instituições, como a Companhia de Voluntários, o “’Clube Liberal”, a “Escola Portuguesa de Xangai”e a organização, presença e participação em várias instituições católicas, numa Xangai onde persistiam raízes da época dos primeiros jesuítas, tenazmente continuadas pela neta de Paulo Si (o colau convertido por Ricci que teve papel fundamental na primeira sinologia europeia) Cândida Si, com propriedades em Xangai, e outras famílias (Ngai, Loh e Se) que puderam preservar a vida cristã em Xangai. Em 1839, o bispo de Xangai requisitou à Santa Sé o reenvio dos jesuítas para Xangai, onde se contavam 1750 católicos portugueses em 1842. Na década de 70 adquiriu proeminência a participação e protagonismo de elementos da comunidade portuguesa na construção de igrejas, como os portugueses Albino da Silveira e Demétrio da Silva, que adquiriram o terreno para a constru-

ção da igreja do Sagrado Coração, e proeminentes na paróquia de S. José. Outros portugueses tiveram participações de relevo como presidentes e membros de instituições religiosas, como A.M. Diniz e Lino Tavares, no Círculo Católico de Xangai e Honorato Jorge e H.A. Pereira como presidentes da Sociedade de S. Vicente de Paulo. Merecem consulta arquivos da Igreja Católica onde poderão encontrar-se informações interessantes à reconstituição da vida institucional e social da comunidade em Xangai durante um século de permanência. De sublinhar que as comunidades macaenses em diáspora por Hong Kong e Xangai se enraizaram lá como em casas próprias suas, pequenas pátrias que adoptaram e defenderam com o próprio sangue durante a II Guerra Mundial.

Macaenses antes do futuro

A importância destra mostra vale também, como sugere Gomes Dias no Catálogo, pelas potencialidades exploratórias inclusas nos documentos e gráficos expostos,

Sempre que se desenraizou, o macaense “levou a casa consigo”; organizou-se em clubes e associações várias em Hong Kong, cujas características reproduziu em Xangai, em instituições clubísticas, educacionais, de solidariedade, filantrópicas, religiosas

estimulantes de estudo e configuração abrangente da diáspora macaense, na sua relação /integração nos diversos cenários do mundo, e nas potencialidades conformativas de uma personalidade que o possibilitou. Parece-nos que não há ainda, ante a diáspora macaense, a consciência cabal de que se trata mesmo de uma diáspora, em analogia, por exemplo, com a diáspora judaica, percursos de vivências em chão efémero, estados no intervalo entre o não e o não ainda, na casa alugada e passageira. Parece-nos que urge lançar outro olhar sobre esta diáspora, numa era já iniciada de um mundo em que tudo conflui ao desenraizamento e ao nomadismo habituais, à residência vária e efémera, força das comunicações e dos transportes, tempos em que a pátria tende a ser mais habitualmente a pátria-do-outro, e se estabiliza o estar-bem, em casa, na multiplicidade dos lugares vários. Tempo em que deverá exigir-se às sociedades e seus softpowers de educação o ensinar às jovens gerações o aprender-a-ser-com-o-outro. Eis um study case focalizado à diáspora macaense, que num lugar de extremas tolerâncias e miscigenações culturais, que foi Macau na História, realizou uma síntese do universal, podendo integrar-se em qualquer parte porque já lá estava. Há um século e meio, a diáspora macaense já estava no futuro. Luís Sá Cunha

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entrevista

A poucos meses de deixar o cargo, Rui Furtado fala em dez anos para o novo Hospital das Ilhas estar concluído e aponta um Serviço de Urgência muito deficiente, com planos desnecessários e medidas que não fazem sentido. Além de um director dos Serviços de Saúde que já não devia estar no cargo, o Presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa aponta ainda que é ridículo criar uma Faculdade de Medicina e uma Lei do Erro Médico e diz que, dos médicos necessários, o Governo não vai conseguir contratar todos “Penso que [a Lei do Erro Médico] é uma má lei e por mim nunca seria aprovada, mas sei que um dia o será”

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Rui Furtado Presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa

“Hospital das Ilhas só daqui O Governo anunciou um possível atraso na conclusão da primeira fase do Hospital das Ilhas. Surpreendido? Nada. Quem disse ao [Secretário] Alexis Tam que o hospital estaria pronto em dois anos não faz a mínima ideia do que é construir e equipar um hospital. Só para o equipar, supondo que o edifício já estivesse pronto, daqui a dois anos talvez pudessem abrir. Agora é completamente impossível que o hospital esteja pronto em dois anos. Qual a sua previsão? Dez anos. Para mim só estará a funcionar em pleno daqui a dez anos. Nunca menos de cinco – depois do projecto estar feito - mas para o hospital estar em pleno, uma década. É o tempo que é necessário para construir um hospital. O projecto tem que ser feito, depois a adjudicação da construção é feito de duas maneiras, ou se contrata uma empresa em [formato] chave na mão - que inclui equipamento e é a maneira mais rápida -, ou, o mais lógico, constrói-se o hospital e forma-se uma equipa de peritos - formada por directores e pessoas responsáveis de serviços, etc. Esta equipa tem que estudar os equipamentos que serão necessários e a dimensão dos serviços. Para isto, é preciso analisar a população alvo a que se destina o hospital. Só depois disto é que é possível equacionar e dimensionar os serviços. Por exemplo, aqui em Macau, é preciso que o serviço de Pneumologia ou Dermatologia sejam maiores do que outros. Tudo tem que ser estudado e depois o grupo vai tomar as decisões. Qual a vantagem dessa segunda hipótese? Primeiro, o hospital não só é feito à medida para o local e população onde está inserido, como quando abrir, o equipamento com que o hospital está servido é um equipamento actual. Os materiais são comprados para a altura. No outro sistema, quando se contrata já estamos a contratar a construção e recheio do hospital, portanto se ele abrir dez anos depois vai ter equipamentos atrasados. Que foi o grande erro que se fez em Portugal. Defendeu ser impossível criar uma secção regional da Ordem dos Médicos. Esse trabalho continua a não ser exequível? Sim, é impossível. Em 1991, quando cheguei a Macau, vinha para criar esta secção regional da Ordem dos Médicos. Depois

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das várias conversas e reuniões com a Administração, havia uma imposição do Governador, que era que a Ordem tivesse que englobar a Medicina Tradicional Chinesa. Ora, como é óbvio, a ordem não podia aceitar isso e, perante essa impossibilidade, nunca se fez. Mas faz sentido esse pedido do Governo? Sim. Compreendo que sim, porque aqui em Macau grande parte da população [opta] pela Medicina Tradicional Chinesa, porque acreditam muito mais nesta medicina do que na medicina clínica. Portanto não faz sentido uma Ordem dos Médicos. Tentou-se depois mais tarde, com o médico João Pinheiro, cardiologista. Dessa vez, não a pedido da Ordem, mas por iniciativa própria. O que faz sentido, porque não é possível juntar na mesma organização duas medicinas que exercem em pé de igualdade em Macau, mas em que uma não tem a base científica que a Ordem reconhece. E a criação de uma Faculdade de Medicina em Macau faz sentido?

É um perfeito disparate. Por várias razões: primeiro não há um corpo docente, o que até poderia ser facilmente resolvido se contratassem médicos qualificados com carreira académica para exercer essas funções. Segundo ponto: teríamos que ter um hospital com todas as valências que permita praticar o ensino em todas as matérias e isso não existe. Terceiro, para se fazer um curso de Medicina, é preciso haver aquilo onde se ministra a parte prática, ou seja, doentes. Macau, neste momento, não tem número de doentes suficiente, nem um grupo de patologias que permita ministrar esse curso. Por último, não vejo qual o sentido de fazer uma Faculdade de Medicina em Macau, neste momento, tendo a 80 quilómetros de distância um centro de excelência de formação médica, que são a Universidade Chinesa de Hong Kong e a Universidade Queen Mary Hospital. Poderia esta ser uma aposta para ganhar prestígio? Sim, apesar de não rentável, pode ser. Tudo se pode fazer, o que não acredito é que depois a acreditação

seja dada a uma Faculdade que tenha estas limitações. Sobre a acreditação, passemos para o Conde São Januário que foi acreditado, em alguns aspectos, por uma empresa privada australiana. Há dois tipos de acreditação: a puramente comercial, em que o interessado vai ter com uma empresa especializada em fazer acreditação, válido para todas as áreas. São contratados, visitam os sítios e dizem o que é preciso fazer para se ter as características para ser reconhecida como idónea para praticar determinados actos. Este tipo de acreditação tem sempre um problema, ou seja, não é independente, é paga, é “comprada”. A outra, é feita por entidades terceiras sem qualquer interesse. Nessa acredito e é credível. Acredito, mas é complicada de fazer. Nessa acreditação que foi feita ao Hospital Conde São Januário – é importante referir que é uma avaliação ao hospital e não aos médicos – a empresa contratada disse ao hospital o que é que era preciso mudar e fazer. E foi feito. A acreditação foi dada.


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a dez anos”

serviço, mesmo que fiquem ou não. Houve sempre a preocupação de ter médicos qualificados e esses eram a base do serviço de Urgência. Até havia a preocupação de ter um médico português em cada equipa, como no tempo da Administração Portuguesa havia o cuidado de ter um médico chinês em cada equipa. A certa altura, com ideias economicistas e uma mudança de filosofia do serviço, decidiram manter os médicos especialistas de chamada, mas quem faz o primeiro contacto são os médicos que eles baptizaram de médicos não diferenciados. Essa definição existe? O que traz isso ao serviço? Só existe em Macau. Estes médicos fizeram o internato de policlínica de um ano, ou o geral, que também é de um ano. Ao fim deste tempo, não entraram em carreira hospitalar porque não lhes abriram as especialidades. Portanto, arranjou-se um grupo desses médicos do internado geral, cuja única habilitação que têm é poder praticar Medicina Geral, e meteram-nos a fazer a urgência. Que consequências pode isto trazer para os pacientes? O que acontece é que são estes médicos que chamam os médicos especialistas para o doente, mas para chamar um destes médicos é primeiro preciso saber que é preciso chamá-lo. Quer dizer, não faz sentido.

É possível fazer uma acreditação credível em Macau? Sim. Se for contratada uma equipa para a acreditação, que é uma coisa fácil de se fazer, e pedirem, por exemplo a Hong Kong, que venha aqui verificar, ou até a Singapura ou Portugal, é possível fazer.

didas foram temporárias porque, passado algum tempo, estava tudo exactamente como antes. Neste momento se estão melhores, até acredito que sim, porque acredito no novo director do hospital, Kuok Cheong U, porque ele faz questão de ter qualidade nos seus serviços.

Mas as alterações realizadas na altura foram mantidas? Isso é outra questão. Na altura, lembro-me que muitas das me-

Já defendeu que o director dos SS, Lei Chin Ion, deveria sair do cargo. A opinião mantém-se? Sim, mantém-se. O que acho – e não é nada contra o director Lei Chin Ion – é que ele, em dez anos, não conseguiu fazer nada. Esteve muito longe do que se pretendia. Depois da primeira avaliação que o Secretário Alexis Tam fez, em que afirmou publicamente que o director dos SS era o responsável do estado do hospital - coisa que concordo -, deveria ter saído. Se durante dez anos não serviu, porquê dar um ano para ver se emenda? Não faz sentido, para mim.

“Passou a ser vulgar o doente ter que ir duas ou três vezes ao hospital para ser direccionado à especialidade. Isto pode acontecer com qualquer médico, mas não é vulgar. E neste Serviço de Urgência é”

Como vê o Serviço de Urgência do hospital? Este serviço é a cara do hospital e, para grande parte dos doentes, o primeiro contacto é com este

Põe em causa o diagnóstico? Por exemplo, aparece uma pessoa com uma dor na barriga, é-lhe administrado uns comprimidos e volta para casa. Mas se esta dor na barriga for [necessidade de] uma situação cirúrgica, que necessite rápido de tratamento, o doente vai para casa com a medicação e tem que voltar para o hospital. Isto passou a ser vulgar no Hospital Conde São Januário. Passou a ser vulgar o doente ter que ir duas ou três vezes ao hospital para ser direccionado à especialidade. Isto pode acontecer com qualquer médico, mas não é vulgar. E neste Serviço de Urgência é. Os médicos não são então capazes... O que acontece é que os médicos que estão no hospital, por rotina, não são capazes de resolver os [problemas] dos doentes. Ou seja, vêem o doente e pensam “não sei bem o que tens, portanto ficas aqui numa maca” e desde que haja espaço vão pondo mais camas. Algo que tem acontecido neste Serviço de Urgência. No meu tempo, aquilo tinha seis camas de [Serviço de Observação] e mantínhamos o serviço com aquelas camas. Depois mudou a estratégia e passaram para 20 camas. O que é que aconteceu? Todas elas ocupadas. Mas com o sistema de médicos não diferencia-

“Não é nada contra o director Lei Chin Ion, mas ele, em dez anos, não conseguiu fazer nada. Depois da primeira avaliação que o Secretário Alexis Tam fez, em que afirmou publicamente que o director dos SS era o responsável do estado do hospital coisa que concordo -, deveria ter saído. Se durante dez anos não serviu, porquê dar um ano para ver se emenda?” dos aumentou-se para 40 camas. O que leva? A que os doentes fiquem ali nas macas. E agora com a remodelação? Ainda mais camas. Agora têm cem camas e, claro, já estão cheias. E ainda há o andar de baixo com mais camas. O problema não é o espaço, o problema é como se recebem os doentes, a forma como se tratam os doentes e a forma como se dirigem os doentes. Para não falar que este Serviço de Urgência, com o tipo de movimento [que tem] vai entupir o hospital. Isto leva-nos ao erro médico. O Governo bem tenta legislar. É preciso? Na ausência, como se resolvem os litígios? Não, não há necessidade nenhuma. O Código Civil prevê isso tudo. Num sistema actual, sem Lei do Erro Médico, o juiz nomeia peritos, uma Comissão de Peritagem. E esta Comissão analisa e entrega ao juiz a base suficiente para tomar uma decisão. Penso que é uma má lei e por mim nunca seria aprovada, mas sei que um dia o será. E qual a sua opinião sobre a proposta do Regime de Acreditação dos Médicos? Concordo com o Kuok Cheong U, quando diz que é fundamental ter qualidade e saber a qualidade que se tem nos serviços. Isto é princípio base, que é bom para tudo. Mas fazer a avaliação dos médicos não sei como é possível, porque foi o próprio hospital que formou os médicos que tem. Se isto fosse um hospital privado, o director contrata quem quer, com os critérios que escolher, no

público não é assim: há o quadro de médicos que têm vínculos. Se este médico não é capaz ou não quis actualizar-se, como é que se resolve o problema? Mete-se na rua? Não se pode. Portanto falar na acreditação e na avaliação... nem sequer há método para isso. Não me parece ser viável, acho que é mais de fachada do que outra coisa. Acho que o desejo de ter qualidade é importante e concordo com arranjar um método para conseguir qualidade ou obrigar as pessoas a fazer mais cursos, tudo é possível. E quem será a comissão que avalia? Médicos amigos da antiga direcção? Não faz o mínimo sentido. Sobre as novas contratações de médicos especialistas defendidas por Alexis Tam. É um processo fácil? A última vez que fiz parte de uma comissão de recrutamento vinham de Portugal 18 médicos e só apareceram dois. Os médicos em que Macau tem interesse não são médicos não diferenciados, os médicos que interessam são especialistas. E quando se fala em jovens médicos especialistas estamos a falar de alguém com 30 e muitos anos, que tem casa, carro, filhos, etc. E esta coisa de sair onde se está estabelecido porque no grau de especialista já te sem carreira profissional feita - é complicado mentalmente e exige contrapartidas económicas e profissionais. Lei Chin Ion admitiu que poderá existir um novo regime salarial para as novas contratações... Sim, mas não podemos comparar os salários, neste caso de Portugal e Macau. Em início de carreira, um médico ganha 2400 euros em Portugal, não é o mesmo que ganhar 24 mil patacas. Não podemos pensar assim. Estas pessoas, a virem para Macau, querem trazer a família e continuam com as suas despesas lá. Vamos ver quantos vamos receber. Sempre defendi que, de entre cem médicos, apenas vêm dez. AAssociação que preside terá um novo presidente em Novembro. Balanço da entidade? É extremamente difícil o trabalho que a Associação tem tido, porque há uma inércia muito grande das pessoas. Temos feito um esforço para ter sempre acções de carácter associativo com as pessoas, tendo por base coisas académicas e sociais. É um grupo muito pequeno, são 70 médicos de diversas especialidades. Tem sido muito complicado, muito difícil. Vamos ver o que acontece nas eleições. Não me candidato porque já fiz dois mandatos, mas há gente que tem vontade de continuar e a minha esperança é que de facto continuem. Filipa Araújo

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Comunidades José Cesário incentiva à participação política

Função Pública Criado limite máximo de indemnização por despedimento

Um tecto que pressiona Os deputados analisaram ontem a nova versão do Regime de Contrato de Trabalho dos Serviços Públicos que prevê um limite máximo de indemnizações por despedimento superior a 284 mil patacas. Apesar de cobrir 50% dos trabalhadores públicos, muitos deputados não concordam

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s deputados analisaram ontem as alterações feitas à proposta de Lei de Protecção dos Animais, que visam alargar o âmbito de protecção a todo o tipo de animais. “Houve uma fusão dos artigos para uma maior clareza, onde está determinado que é proibido fazer lesões aos animais e o seu abate”, explicou a deputada Kwan Tsui Hang, que preside à 1.ª Comissão Permanente. Para isso, o Executivo eliminou o conceito de “animais de estimação”, sendo que o diploma visa apenas quatro tipos de animais: de consumo, para investigação científica, de competição (onde se incluem cães e cavalos) e animais selvagens. “Eliminou-se o conceito de animais de estimação e o Governo

Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas incentivou os portugueses a votar nas eleições que se aproximam, numa mensagem por ocasião do 10 de Junho. O responsável apela a uma “mobilização das comunidades, para o incentivo à sua participação cívica e para a discussão das suas problemáticas mais significativas”, frisando que as eleições para a presidência da República, da Assembleia da República e do Conselho das Comunidades Portuguesas são “momentos muito importantes”. Na mensagem dirigida a todos os portugueses – que Cesário frisa contribuírem para que Portugal tenha uma dimensão “muito superior à das suas fronteiras físicas, mais dimensão política e cultural” e prestarem “um apoio essencial para a recuperação económica do país” –, o Secretário pede “uma grande mobilização de todos, a começar pelas Embaixadas e Consulados e pelas organizações comunitárias”. A mensagem sublinha ainda o desejo de “continuação do rumo de recuperação do país, de crescimento económico e de um crescente envolvimento das comunidades na vida nacional”, sendo que Cesário agradece aos portugueses e dá um especial destaque. “Ao cabo de diversas iniciativas realizadas quer em Portugal quer no estrangeiro, é com gosto que verificamos que surgiram neste período muitos novos protagonistas nas áreas política, empresarial, cultural e associativa que, conjuntamente com os mais antigos, se traduzem hoje num extraordinário activo para a nossa política externa. Neste plano, gostaria também de destacar o contributo das mulheres da nossa diáspora, cujos níveis de envolvimento social, político e associativo têm aumentado, com enorme benefício para todos.” J.F.

funcionário, Sónia Chan prometeu a garantia dos direitos de todos os trabalhadores, que, diz, ganham uma “dupla garantia”.

Garantias a dobrar

“Os trabalhadores que passem para o regime do contrato de provimento administrativo sem prazo, no caso de serem despedidos sem justa causa, serão indemnizados de acordo com a lei. O Governo teve como referência parte da Lei das Relações do Trabalho, definindo uma dupla garantia aos trabalhadores”, disse Sónia Chan, citada num comunicado. Assim, os direitos e os deveres que os trabalhadores inicialmente adquiriram com os seus contratos, incluindo o regime de aposentação actualmente vigente, o regime de previdência, entre outros, “não

sofrerão qualquer alteração devido à introdução do novo contrato”. Ou seja, “não serão afectados os direitos já adquiridos”, acrescentou a Secretária. Governo e deputados analisaram ainda a situação dos Chefes de Departamento que desempenham funções em comissões de serviço, sendo que,

“Houve deputados que afirmaram que o limite máximo do montante definido para a indemnização não é adequado, mas o Governo explicou que isso deve-se à pressão sobre o erário público”

quando terminam essas comissões, voltam aos lugares de origem. Foi referido na reunião que isso não acontece com outros trabalhadores. “Esta questão foi colocada junto do Governo e a Secretária reconhece que existe esse tipo de situação e disse que já tinha tratado esse tipo de casos antes de ser Secretária. Afirmou que há que introduzir melhorias, mas que essa questão não pode ser resolvida em sede de Comissão, mas através do recrutamento centralizado. Os trabalhos estão em curso e a Secretária espera que os trabalhos possam ser concluídos e iniciado o processo legislativo ainda este ano”, explicou Chan Chak Mo. Andreia Sofia Silva

Sónia Chan Secretária para a Administração e Justiça

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Animais Governo quer garantir protecção para todos

Mudar aqui, legislar ali referiu que o espírito da proposta de lei é que sejam protegidos todos os animais. Neste momento a proposta de lei apenas diz que são animais, para não restringir o âmbito. Seria difícil executar a lei e o Governo decidiu ter um âmbito mais vasto”, explicou a deputada.

Mais mudanças

Outra alteração feita pelo Executivo prende-se com o fim da proibição da libertação dos animais. Cá fora, a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia

Chan, explicou que essa mudança se prende com questões culturais. “Foi tida em conta a liberdade de religião dos residentes, porque há cerimónias onde precisam de libertar animais, mas há sempre necessidade de ter a permissão do IACM. Por exemplo, os animais de água doce não podem ser libertados em água salgada, há que garantir que os animais voltam sempre ao seu habitat natural”, explicou aos jornalistas. O que permanece por decidir são as molduras penais a apli-

car nos casos de maus tratos a animais, sendo que o Governo ainda não sabe que a pena será mesmo reduzida de três para um ano de prisão. “Estamos a analisar os regulamentos de Singapura e Portugal e esperamos poder implementar esse regime de forma gradual, olhando para o nível de habituação da sociedade. Podemos aumentar as penas, caso as opiniões vão de encontro a isso”, concluiu Sónia Chan. Andreia Sofia Silva (com F.F.)

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gonçalo lobo pinheiro

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s funcionários públicos vão passar a estar sujeitos a um limite máximo de indemnização, caso sejam despedidos da Função Pública. O tecto é superior a 284 mil patacas e deverá cobrir cerca de 50% dos trabalhadores, confirmou ontem a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, no âmbito da análise na 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). “Houve deputados que afirmaram que o limite máximo do montante definido para a indemnização não é adequado, mas o Governo explicou que isso deve-se à pressão sobre o erário público”, disse o deputado Chan Chak Mo, que preside à Comissão. “São mais de 284 mil patacas e este é o limite que dá cobertura a quase 50% dos funcionários públicos. Isso significa que metade dos funcionários, caso fossem despedidos agora, conseguiriam ter essa indemnização”, acrescentou o deputado. Tratando-se de uma proposta de lei que visa introduzir o contrato de provimento administrativo sem prazo, ao fim de três anos de desempenho de funções e com base numa avaliação positiva do trabalho do

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ntem teve lugar, como há já vários anos, a vigília pelas vítimas do incidente que se deu na praça de Tiananmen, em 1989. Ao contrário de há 365 dias, quando a praça se encheu com uma multidão “para lá de mil pessoas”, ontem no Leal Senado estavam cerca de 250 pessoas. É a segunda e sexta vez, respectivamente, que os jovens Derek e Lewis participaram na vigília, que ontem aconteceu no Leal Senado. A razão é simples: “a repressão dos protestos estudantis ainda não foi admitida pelo Governo Central”, dizem, considerando que é preciso

Tiananmen China não vai admitir massacre, consideram participantes de vigília

O grupo de sempre, para sempre participar nestes eventos até ao dia em que tal aconteça. Ng e Lei são de meia idade e ao HM referiram que vêm à vigília quase todos os anos desde o massacre. Sendo chinês, Lei acha que vale muito a pena recordar a morte dos estudantes. “Chorei mais de dez vezes em 1989”, confessou. Ng não quis comentar se vale a pena ou não fazer a vigília, dizendo apenas que é algo que “deve acontecer” em respeito às vítimas. Quando questionado sobre se a China algum dia vai admitir a morte daquelas pessoas, Derek mostra-se pouco confiante. “Não falamos deste movimento e muitos problemas sociais urgentes da China ainda não foram resolvidos e não sei se é falta de vontade ou falta de capacidade”, explicou. Já Lewis mostrou-se muito esperançoso que a China admita o incidente, mas confessa que “é difícil que aconteça nos próximos dez anos”. Nesta história, só Ng acredita que o Governo Central vai efectivamente admitir ter morto pessoas naquela praça, justificando as recentes mudanças na presidência. No entanto, está pouco confiante que tal aconteça durante o mandato de Xi Jinping. A atitude do Governo Central mantém-se. Mas o que acha o Governo de Macau de tudo isto? Derek é claro: Macau é influenciado pela forma de tratamento da China. Já Lewis tem uma teoria mais elaborada: à

superfície, o Governo não se mostra preocupado, mas secretamente impede os residente de se expressarem. “Nos anos passados, o Governo não permitia a vigília no Leal Senado, só à frente da Igreja S. Domingos, justificando que a praça estava reservada para outros grupos e isso foi uma forma passiva de repressão”, acredita o jovem. Entrevistado pelos média, o professor de Política, Eric Sautedé lembra um ponto interessante. Será que o massacre vai ser um dos temas leccionados e debatidos nas novas aulas de Educação Patriótica que são obrigatórias a partir de Setembro? Sautedé deixa a questão no ar, mostrando-se curioso para saber o desfecho.

Aprender para recordar

O professor não se mostra surpreendido com a descida do número de participantes na vigília de 2014 para agora, já que “é preciso perceber que no ano passado fez 25 anos” e desta vez os mais novos não aderiram tanto. “No ano passado, as pessoas também vieram como forma de protesto social, mas este ano acalmaram, o que é normal”, disse. Para a cidadã de Macau Maria de Fátima Brandão esta é uma data emotiva, já que se senta naquela calçada desde 2005, quando voltou do estrangeiro. No entanto, esta história não é como tantas outras. É que a

Habitação Económica Pedido parecer ao CCAC

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Governo pediu ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC) um parecer sobre a habitação económica e só depois deste estar pronto é que a Assembleia Legislativa (AL) e o Executivo vão discutir a possibilidade de haver uma alteração à lei que regula a matéria. Segundo a rádio Macau, em causa está o elevado número de fracções construídas pelo Governo que estão por ocupar. A Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública decidiu analisar o assunto, para perceber o que está mal, e chamou à AL o Secretário Raimundo do Rosário. Chan Meng Kam, o presidente da Comissão, deixa um exemplo do problema: há 1400 fracções desocupadas em Seac Pai Van e

residente traz sempre a mãe, que mesmo com 90 e poucos anos, continua a marcar presença. É, certamente, das poucas que assistiu às várias fases políticas e sociais da China. De olhos postos nos organizadores da vigília, a idosa ouve atentamente o que se passa, quase parecendo querer vingar aqueles que os canhões vitimizaram. Muitos dos presentes aprenderam a história nas aulas, porque aqui em Macau não é feita a distinção e contam-se – melhor ou pior – os pormenores. Foi isso mesmo que aconteceu com as duas irmãs de apelido Chan, de 20 e 21 anos. Nas aulas de História, foi-lhes explicado que as forças armadas dispararam e conduziram tanques para o meio de um enorme grupo de pessoas que ali se manifestava em forma de movimento estudantil. “É muito positivo para Macau ter diferentes vozes e opiniões, pelo que é bom que as pessoas as manifestem”, começou a mais nova por dizer. No entanto, Macau é visto como um local privilegiado quando se fala em liberdade de expressão. “Na China, ninguém fala disto e acho que também não podemos se lá formos, mas estamos em Macau e acho muito bem que possam falar sobre o assunto”, acrescentou a irmã mais velha.

catarina p. batista

Ontem foi dia, como já vem sendo hábito, de recordar as vítimas do massacre de Tiananmen, mas o volume de participantes no Leal Senado era muito menor do que em 2014. A maioria não acredita que a China vá assumir as culpas tão cedo

os deputados querem que o Governo acelere a construção do mercado e do centro de saúde e pedem ainda mais autocarros para os moradores, já que a falta de equipamentos sociais é uma das justificações dos moradores para não ocuparem as casas. O Instituto de Habitação entrou em contacto com os 1400 proprietários das casas desabitadas – mais de 300 responderam a dizer que estão a fazer obras nos apartamentos. À Comissão, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas explicou que estão pedidos dois pareceres: um já foi feito, pelos Assuntos de Justiça, o outro ainda não. Quando o CCAC disser o que pensa sobre a situação, então haverá nova reunião da Assembleia com o Governo, garantiu Chan Meng Kam.

Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Ensino especial Preocupação com falta de docentes e formação

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deputado Chan Meng Kam considera que há falta de pessoal docente de ensino especial e de pessoal qualificado para este ramo de actividade em Macau, pelo que espera que seja implementado um plano de formação mais profissional e sistemático. Numa interpelação escrita, Chan Meng Kam referiu que nos últimos cinco

anos, o número de alunos com necessidades especiais integrados em escolas normais atingiu os 806, mas que há apenas 50 “professores de recursos”, ou seja, que ensinam os alunos integrados. Contas feitas, o deputado justifica um lapso entre o número de alunos e de professores necessários. “Segundo instruções

da Direcção dos Serviços para Educação e Juventude (DSEJ), um ‘professor de recursos’ deve ser responsável por um máximo de oito alunos integrados, mas actualmente existem 806 destes alunos e os números ditam que só deviam poder ser suportados 450”, escreve Chan Meng Kam na interpelação. Além disso, o deputado referiu que a formação de curto prazo de professores de ensino especial não é demonstrativa de uma profissionalização, já que um curso de 30 horas dá direito a um certificado de ensino integrado, enquanto um de cem horas serve para ser “professor de recursos”. F.F.


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tiago alcântara

Bluecard Quase cem portugueses a trabalhar como TNR

A conta que a Migração fez

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té Abril passado, 88 portugueses estavam em Macau como trabalhador não-residente (TNR), ou seja, a trabalhar com Bluecard, o visto de trabalho temporário. De acordo com dados dos Serviços de Migração da PSP fornecidos ao HM, há ainda, no total, 54 pedidos pendentes destes cartões. Para Amélia António, presidente da Casa de Portugal, este é um valor que “não devia existir”, partindo do princípio de que todas as pessoas de cidadania portuguesa deveriam ter o BIR e não um visto de trabalho temporário. “Os portugueses são importantes e a sua presença também, porque contribuem para a identidade de Macau e diferenciação entre esta e outras regiões”, começa Amélia António por dizer ao HM. A também jurista sublinha que, embora a atribuição de Bluecard a portugueses não seja ilegal, é um acto que não deveria ter lugar, uma vez que a lei permite isso mesmo ao povo luso: conseguirem o BIR se os pedidos cumprirem todos os requisitos exigidos, como são a promessa de contrato de trabalho. Na óptica da presidente da Casa de Portugal, torna-se “complicado” para um português assentar em

antónio falcão

Até Abril deste ano, 88 dos portugueses a trabalhar no território tinham apenas Bluecard, permanecendo como TNR. Para Amélia António, esta é uma situação “lamentável” e que não ajuda também o Governo. Os dados, dos Serviços de Migração, falam de um total de 54 pedidos pendentes

“Os portugueses são importantes e a sua presença também, porque contribuem para a identidade de Macau e diferenciação entre esta e outras regiões” Amélia António Presidente da Casa de Portugal de Macau

Macau sem acesso ao BIR, que, diz, dá outra estabilidade.

Qualificados temporários

De acordo com Amélia António, a tendência de atribuir Bluecard em vez de BIR a cidadãos lusos teve início há dois anos, fazendo com as

pessoas não pretendam ficar por cá a longo-prazo. “Antes era a mão-de-obra não qualificada que vinha para cá prestar um determinado tipo de serviço e era uma forma das pessoas estarem legalizadas para trabalhar em funções menos qualificadas”, esclareceu a advogada.

É que para a presidente da Casa de Portugal, a autorização de residência não é só uma vantagem para quem a pede, mas também para o Governo, que com estas pessoas pode solidificar os objectivos de “centro cultural e criativo” e de local de lazer e turismo que o Executivo pretende implementar. “Macau deveria ter todo o interesse em que as pessoas criem uma ligação ao território”, continua. Outra das justificações, diz, é a necessidade de “renovar a comunidade”, que está sempre em moção e precisa de gente jovem para se adaptar aos tempos. “Passamos a vida a dizer que temos falta de gente em várias áreas e, normalmente, os portugueses que procuram residência em Macau são pessoas que vêm para trabalhar em áreas para as quais aqui não há gente”, diz. Já no que diz respeito ao número de pedidos de BIR deferidos em 2015, este não parece divergir muito do volume de pedidos de BIR aceites no ano passado, de 228. O mesmo departamento explicou, em resposta ao HM, que foram recebidos 65 pedidos nestes últimos cinco meses, ou seja, desde dia 1 de Janeiro. Leonor Sá Machado

Leonor.machado@hojemacau.com.mo

IAS recebeu 51 queixas sobre lares

O Instituto de Acção Social (IAS) confirmou ao canal chinês da TDM que só no ano passado recebeu um total de 51 queixas referentes a lares de idosos, sendo que 15 dizem respeito a negligência de cuidados a idosos. Iong Kong Io, director do IAS, explicou que a maioria desses problemas está ligada a problemas de gestão, ambiente, atitude dos funcionários, preços e também negligência. “Todos os anos fazemos quatro inspecções surpresa a lares de idosos, por forma a aumentar a qualidade das instalações e dos serviços. Os lares que forem alvo de queixa deixamos alertas e sugestões para melhorarem o serviço.” O presidente do IAS disse ainda que nos próximos três anos vão ser criados mais seis lares de idosos, com 750 vagas.

Prédio na Barra com fendas na estrutura

Croupiers Lançada formação para outros cargos

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S moradores do edifício Weng Chau, na Barra, temem que o prédio se transforme no “Sin Fong Garden II”, devido à descoberta de fendas com dois pés de largura em algumas das colunas. No entanto, de acordo com o jornal Exmoo, as Obras Públicas consideram que este se trata de um problema menor. O mesmo considera o presidente da Associação de Estudo de Engenheiros Civis e Estruturais de Macau, Wu Chou Kit, que tranquilizou os habitantes, referindo que “não existe risco estrutural”. O especialista considera ainda que as fendas se devem ao envelhecimento da cola ajustável que constitui as juntas de expansão entre duas peças da coluna. Ao jornal Exmoo, Wu acrescentou que é “normal” que os edifícios tremam com a passagem de veículos pesados, mas tem esperança que as fendas sejam reparadas para evitar a infiltração de água. O edifício em causa foi construído há cerca de 20

anos e as fendas visíveis percorrem quase toda a estrutura desde o primeiro até ao seu último andar. Um morador, cujo nome não foi identificado, referiu que as fendas já existem desde que começou a viver no prédio, há três anos. “Quando os veículos pesados passam, sinto que o edifício está a tremer e também sei que chão de casa de algumas pessoas está inclinado”, disse. Outro proprietário entrevistado mostrou-se ainda mais preocupado e arrependido por ter adquirido uma fracção no edifício. “Se as autoridades determinarem que o edifício está em perigo de ruína, não sei onde vou viver porque os preços de venda e arrendamento estão muito altos”, lamentou. A DSSOPT assegura que já abriu um processo sobre este caso, que inclui fotografias oferecidas por moradores. Numa resposta preliminar, diz “não existirem problemas graves de falta de segurança”, mas prometeu que será feita uma investigação. F.F.

LGUMAS operadoras de Jogo, como é o caso da Sands China e da Wynn, apresentaram um plano de formação para croupiers de forma a que estes possam ocupar outros cargos na empresa. Funcionários e a deputada Ella Lei acreditam que este pode ser um bom plano, mas têm algumas preocupações relativamente aos trabalhadores não residentes (TNR). A líder da União de Operários, Cloee Chao, considera que a medida é positiva pois consegue responder à intenção do Governo em aumentar

a formação aos funcionários dos casinos. “É bom que a remuneração de croupiers não mude durante o meio ano de formação para os sete departamentos de hotel, inclusive o horário. Caso o formando conclua a formação e o seu desempenho for bom, pode ser promovido para cargos superiores”, defendeu ainda ao HM. Cloee Chao, que é também supervisora dos croupiers no casino Wynn, explicou que já existe uma grande vontade por parte dos funcionários relativamente a este plano e, adiantou, o número de participantes no casino Sands superou os 140, enquanto no Wynn são 60. Apesar disso, Chao diz existirem preocupações por parte dos croupiers em relação à mudança de área, porque temem que os TNR ocupem as suas posições anteriores, algo que o Governo garantiu que não ia ser feito. Ella Lei referiu, ao Jornal Ou Mun, que é importante criar um mecanismo de saída de TNR de nível médio e alto, caso contrário, é difícil criar oportunidade de progressão de carreira. F.F.


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Turismo Afastados do índice de cidades mais procuradas por estrangeiros

O internacional ainda não mora aqui Macau está afastada dos tops das cidades turísticas mais procuradas por visitantes internacionais. O estatuto de capital do Jogo da Ásia não é suficiente para colocar o território no top 10 das cidades da Ásia-Pacífico mais visitadas por estrangeiros. Banguecoque lidera, Pequim está em décimo lugar

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mais recente estudo anual da MasterCard sobre as cidades turísticas mais procuradas por visitantes estrangeiros (MasterCard Global Destination Cities Índex 2014) não inclui Macau, quer na contagem mundial, quer na contagem das cidades por região do globo. Olhando para o top 10 ao nível da Ásia-Pacífico, Banguecoque, capital da Tailândia, que está em segundo lugar a nível mundial, lidera a tabela com um total de 16,4 milhões de visitantes internacionais em 2014. Segue-se Singapura com 12,5 milhões e Kuala Lumpur com 10,8 milhões de turistas por ano. Em quarto lugar surge a vizinha Hong Kong, com 8,8 milhões de visitantes. Seul, Taipei, Xangai, Tóquio e Mumbai são as cidades que se seguem, com

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Pequim a fechar o top 10, com 4,4 milhões de visitantes anuais. Macau, apesar de receber por ano 30 milhões de pessoas e de estar à frente de Las Vegas no sector do Jogo, ainda não surge no ranking, apesar das diversas referências que o Executivo local tem vindo a fazer quanto à necessidade de alargar a origem dos turistas para além da China continental, de onde provém a maior parte dos visitantes. O HM contactou Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST), no sentido de obter um esclarecimento, mas a responsável não quis comentar o índice por não o ter consultado.

Mais gastos em Singapura

Olhando para o índice de cidades em termos de gastos por estadia, também

na região da Ásia-Pacífico, Singapura lidera, com gastos de 14,30 mil milhões de dólares norte-americanos. Segue-se Banguecoque, com 13 mil milhões, e Seul, na Coreia do Sul, onde os turistas gastaram 11,5 mil milhões de dólares o ano passado. Hong Kong está em quinto lugar com 8,3 mil milhões gastos. Melbourne,

na Austrália, fecha a contagem com 4,7 mil milhões de dólares em despesas de visitantes. Olhando em termos mundiais, Londres, capital do Reino Unido, é a cidade que lidera o ranking, tendo recebido 18,7 milhões de turistas o ano passado. Em segundo lugar surge Nova Iorque, nos Estados Unidos,

com 11,8 milhões de turistas. Paris, a romântica capital francesa, está em terceiro graças aos 15,6 milhões de turistas que recebe por ano. Banguecoque, Seul, Singapura e Taipei ainda entram no top 10, embora Hong Kong já esteja em 11º lugar, Kuala Lumpur em 12º e Tóquio em 14º lugar. Em jeito de conclusão, o índice fala de uma tendência de crescimento notável ao nível do turismo, consequência da “combinação de um rápido crescimento do turismo de massas e a expansão da classe média em muitos mercados emergentes, bem como o crescimento das necessidades de viagens de negócios, as inovações ao nível das viagens de luxo e o desenvolvimento da internet e do mundo digital”. Andreia Sofia Silva

Andreia.silva@hojemacau.com.mo


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colectivo do Tribunal de Segunda Instância (TSI) declarou nula a condenação dos dois médicos do Kiang Wu que tinham sido acusados e condenados por erro médico. A decisão contraria a sentença do mesmo tribunal, por considerar que o suposto crime prescreveu. Asituação do erro na condenação já tinha sido levantada esta semana por Fong Chi Keong, como já tinha sido avançado ontem pelo HM, mas a confirmação oficial chegou ontem através de um comunicado do TSI.

Kiang Wu Médicos condenados por erro médico ilibados

Prescrição há décadas “Declarou-se nula a decisão penal condenatória contra os dois médicos por ter prescrito o procedimento penal”, pode ler-se no documento. Explicando, o TSI indica que a condenação dos dois médicos foi feita dez anos depois do crime. Foi em Julho de 2014 que o TSI condenou os dois médicos pela prática do crime de ofensa à integridade física por negligência. Os condenados acabaram por pedir a nulidade do acórdão perante o mesmo tribunal, defendendo que este padecia de vícios “por não ter conhecido a questão da prescrição do procedimento penal”.

Com dúvidas

O caso ainda suscitou dúvidas ao colectivo do TSI: o crime que envolve os arguidos ocorreu no dia 24 de Outubro de 2002, sendo este punível com pena de prisão até dois anos e tendo cinco anos o prazo de prescrição. O Ministério Público deduziu acusação contra os arguidos em Janeiro de 2009, sendo estes notificados dez dias depois,

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O caso de erro médico que levou à condenação de dois profissionais do hospital privado foi declarado prescrito antes do TSI ter decidido a sentença e, por isso, mesmo os dois homens são agora ilibados

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“Declarou-se nula a decisão penal condenatória contra os dois médicos por ter prescrito o procedimento penal” Comunicado do TSI

Associação dos Médicos de Língua Portuguesa TJB anula eleições

Presidência nos tribunais O Tribunal Judicial de Base (TJB) anulou a última assembleia geral eleitoral da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau. O caso remonta a Novembro de 2012, mas só agora foi conhecido o desfecho, tendo a notícia sido avançada pela Rádio Macau, que teve acesso à sentença. A direcção de Rui Furtado não terá oferecido igualdade de oportunidades ao outro candidato, Jorge Humberto. A juíza nota mesmo a “inobservância do princípio de boa-fé”. As eleições decorreram a 30 de Novembro de 2012 e cinco dias antes, a 25 de Novembro, Jorge Humberto anunciou a candidatura. O concorrente pediu a lista com os nomes de todos os associados à

direcção, presidida por Rui Furtado, mas a resposta completa só chegou às 23h36 de 28 de Novembro - faltavam pouco mais de 24 horas para o dia da votação. Jorge Humberto pediu a lista actualizada de associados para fazer campanha e porque, numa reunião recente da direcção, tinham sido admitidos novos médicos. Mas não sabia quantos. Na sentença, o TJB deu como provada a entrada de 17 pessoas na associação. Quanto ao resultado das eleições, a lista A, de Rui Furtado, venceu com 37 votos. Já a lista B, de Jorge Humberto, reuniu 29 (menos oito). Dois votos em branco foram também contabilizados. Por discordar com a forma como decorreu todo processo pré-eleitoral, Jorge Humberto avançou com uma acção judicial

contra a direcção de Rui Furtado, sendo que a rádio avança que os advogados ainda discutiram um eventual acordo, “mas as duas partes preferiram que o caso fosse resolvido pela justiça”. O julgamento teve três sessões e arrancou a 13 de Janeiro. A sentença foi enviada aos advogados há uma semana e, agora, a direcção da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa tem até 10 de Junho para recorrer. Com o pagamento de uma multa, o período estende-se por mais três dias, até à próxima sexta-feira. A Rádio Macau contactou o presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau. Rui Furtado não comenta a decisão do tribunal e diz apenas que, neste momento, a direcção está a estudar se avança para o recurso.

altura em que se recomeçou a contar o prazo de prescrição. “Como o procedimento penal estava pendente nessa altura, estava suspensa a contagem do prazo. Porém, a suspensão não pode ultrapassar três anos e (...) retomou-se a contagem do prazo de prescrição no dia 19 de Janeiro de 2012. Assim, parece que ainda não se completou a prescrição. Mas tal não é verdade”, esclarece o tribunal. Isto, porque antes da dedução da acusação, foi preciso identificar os médicos, o que “levou algum tempo”

e aplicar uma medida de coacção, “pelo que se interrompeu a prescrição várias vezes, fazendo com que se prorrogasse o prazo desta”. Mas, uma regra especial no Código Penal faz com que a pendência contínua do processo não impeça a sua prescrição. “Ou seja, a prescrição do [crime] tem sempre lugar quando, desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal de prescrição acrescido de metade. Mas quando, por força de disposição especial, o prazo de prescrição for inferior a dois anos, o limite máximo da prescrição corresponde ao dobro desse prazo”, indica o TSI. A prescrição deste crime deu-se, então, passados sete anos e meio dele ocorrer, mas os médicos foram condenados mais de dez anos depois do crime ter acontecido. “O prazo de prescrição do procedimento penal já se completou em 24 de Abril de 2013, facto esse que aconteceu antes da [decisão] e de que cumpria ao tribunal conhecer, ainda que não tenha sido suscitado pelas partes”, conclui o TSI. Assim, o TSI deu razão às reclamações dos médicos, declarando nula a decisão e “extinguido a responsabilidade criminal dos reclamantes pela prescrição do procedimento penal”. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

Tabaco Residente é condenado depois de ameaçar fiscal

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Tribunal Judicial de Base condenou um homem que ameaçou e insultou um fiscal do controlo de tabagismo dos Serviços de Saúde (SS). O homem tem de pagar nove mil patacas ou é detido por mais de três meses. O caso remonta a Maio de 2014, quando o fiscal efectuava uma ronda de rotina no Jardim de Luís Camões. Um homem estava a fumar num lugar de proibido, pelo que o fiscal começou a fazer a acusação. Algo nada pacífico, já que o acusado “se

mostrava pouco colaborador, gritando e usando linguagem obscena e ameaçadora para com o fiscal”, como indica o comunicado do tribunal. No início, o indivíduo ainda colaborou e apresentou de livre e espontânea vontade o bilhete de identidade, forneceu o endereço e recebeu a nota de acusação, mas acabou por perder a cabeça, ameaçando o fiscal com um tubo metálico que estava no chão. A polícia foi chamada ao local e o homem acabou detido. Foi condenado pelo crime de injúria agravada e por ameaça a uma pena de multa de nove mil patacas, podendo o homem pagar 50 patacas diariamente. Caso o infractor não pague a multa, ou caso a multa não seja substituída por trabalho, será necessário deter o indivíduo por 120 dias. Mas, o homem foi também condenado a pagar uma indemnização civil não patrimonial de quatro mil patacas a vítima.


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Moçambique Empresa local investe na construção de 70 mil casas

Ganhar cá para construir lá Rendas nos parques de estacionamento aumentam mais de 20%

Responsáveis do sector imobiliário afirmaram ao jornal Ou Mun que as rendas dos lugares dos parques de estacionamento aumentaram cerca de 20%, considerando que as medidas de controlo apresentadas pelo Governo ainda não tiveram eficácia. Chan Iek Kei, director-geral da empresa CarparKing, referiu ao Ou Mun que os proprietários de automóveis não têm esperanças de que as medidas do Executivo venham a surtir efeito e acreditam que as rendas vão continuar a ser mais caras este ano. Ainda assim, Chan Iek Kei referiu que o número de clientes interessados em lugares aumentou em 30%. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) já anunciou o aumento das tarifas dos parquímetros para seis patacas por hora, propondo ainda eliminar os passes mensais nos parques de estacionamento públicos, tratando-se de medidas de controlo do número de veículos.

Lançado website para vendas de PME na China

Segundo a edição online da revista Macau Business, o HN Group lançou um site de compras para que as Pequenas e Médias Empresas (PME) locais possam disponibilizar os seus produtos para clientes que residam no continente. Rick Cheung, responsável pelo website, explicou à Macau Business que os clientes podem usar os seus telemóveis ou computadores para fazer compras, que podem ser entregues em qualquer zona do país.

Uma empresa de Macau vai investir em infra-estruturas em Moçambique, no âmbito de um acordo com o governo do país. O investimento made in RAEM é mais um dos que estão a ser anunciados no 6º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas, que acontece por cá

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empresa de Macau Charlestrong Eng. Tec. & Consulting Limited vai continuar a investir em Moçambique, desta vez na construção de 50 mil casas de classe média e alta e outras 20 mil sociais. O anúncio foi feito ontem pelo vice-ministro das Obras Públicas e Habitação daquele país, João Osvaldo Moisés Machatine, numa entrevista por ocasião do 6º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas. Este novo acordo é uma “continuação” de um anterior, assinado entre a empresa de Charles Shi e o governo moçambicano, em Agosto do ano passado. Naquela altura, estava em cima da mesa a construção de 50 mil casas sociais por cerca de 42,7 mil milhões de patacas. “Vamos ter, com essa mesma empresa, um projecto de 20 mil casas de habitação social”, avançou o responsável. O vice-ministro das Obras Públicas e Habitação referiu ainda que 60% a 70% do investimento feito nos últimos cinco anos tem vindo de investidores chineses. A necessidade de habitações depende, segundo explicações de João Machatine, da densidade populacional de cada cidade ou província. Questionado sobre a duração destes obras de reestruturação e melhoramento, o vice-ministro estima que sejam construídas, “no mínimo”, 35 mil casas em cinco anos, o tempo de uma legislatura.

“O nosso objectivo, com a presença neste Fórum, é atrair investidores que nos possam apoiar na construção” de casas e outras infra-estruturas para o país. Embora, de acordo com Machatine, a maioria dos projectos pensados estejam ainda a ser estudados, já há uma estimativa de despesa pensada: para a área habitacional, serão gastos cerca de 3,1 mil milhões de patacas. No total, o mesmo responsável aponta para um investimento necessário na ordem dos 62 mil milhões de patacas. Além da procura de investimento estrangeiro para a

melhoria das estradas e construção de habitações e barragens em várias cidades do país, o vice-ministro assegurou aos média locais que também está previsto um acordo com uma sinergia de uma empresa do Dubai e outra coreana, no sentido de construir casas.

Barragens e casas

A actual legislatura teve início apenas em Janeiro passado. Na opinião de João Machatine é ainda cedo para fazer previsões, mas a prioridade recai sobre a construção de barragens, justa-

“Macau serve de interface no que concerne ao investimento chinês e é plataforma de ligação” João Osvaldo Moisés Machatine Vice-ministro das Obras Públicas e Habitação de Moçambique

mente devido à influência das cheias naquele país. A habitação é também necessidade no topo da lista, não esquecendo a construção de acessos, nomeadamente de 30 quilómetros estrada. A presença e ajuda da China tem sido, na óptica do dirigente, “muito importante”, não só pelo conhecimento, mas também pela mobilização de fundos. Um dos exemplos que utilizou para ilustrar a ligação entre a RAEM e Moçambique é a abertura de um Consulado no território. “Macau serve de interface no que concerne ao investimento chinês e é plataforma de ligação”, disse. João Machatine não faz a distinção entre a RAEM e a China, uma vez que ambos desempenham o mesmo papel de ajuda. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

Ponte do Delta traz muitos desafios para a construtora

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construção da Ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai está a ser muito desafiante ao nível técnico, reconhece o vice-presidente da China Communication Construction Company (CCCC), uma empresa estatal chinesa que é a líder mundial em projectos de infra-estruturas e logística, e é a responsável por grande parte dos trabalhos de construção da nova ligação. Segundo a rádio Macau,

a CCCC deverá concluir todos os trabalhos em 2017. “Neste momento enfrentamos muitos desafios, é um trabalho complicadíssimo, estamos a falar de um trabalho de classe mundial e os desafios são imensos. Não há técnicas a serem inventadas e temos de nos esforçar e desafiar todos os dias. Por exemplo, o fundo do mar não é plano e temos de escavar um túnel”, apontou

Sun Ziyu aos microfones da rádio. “Também temos de garantir que as instalações estão feitas de forma a não ser necessária grande manutenção por 120 anos, porque está em jogo a segurança da vida humana. O nosso trabalho deve ficar concluído lá para 2017”, afirmou, à margem do 6º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas.


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EVENTOS

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Uma mistura entre o antigo e o moderno, a contemporaneidade e a tradição e o que de melhor têm a cultura e a dança portuguesas. “Fica no Singelo” acontece amanhã, às 20h00, no Sands e tem entrada livre José Drummond em Pequim fala sobre filme

José Drummond vai estar hoje em Pequim para falar da sua mais recente obra “This Monster of Beauty is not Eternal”. O artista português, radicado em Macau, é o segundo artista internacional a participar nesta plataforma chinesa que promove conferências três vezes por semana. A “Butterfly Effect” é uma plataforma digital de arte contemporânea e agora convida Drummond para falar do trabalho ainda não apresentado ao público e com estreia marcada para Agosto, em Berlim. O filme explora temas como a solidão, amor, morte, beleza e desencanto “numa obra carregada por um lado poético e existencialista”. A conversa está marcada para as 20h30.

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obe amanhã ao palco o espectáculo de dança “Fica no Singelo”, pela Companhia de Dança Clara Andermatt, de Portugal. O espectáculo acontece no palco do Sands Teathre, estando inserido nas comemorações do 10 de Junho, e é a última grande produção da coreógrafa.

Dança Clara Andermatt apresenta “Fica no Singelo”

Para apreciar e reflectir “Fica no Singelo” foi nomeado na categoria de Melhor Coreografia de 2014 nos prémios SPA/RTPe apresenta uma dezena de bailarinos e músicos que “trabalham o universo da dança e da música tradicionais portuguesas”, explorando as suas mais variadas manifestações, mas numa abordagem contemporânea. “Assente na pesquisa sobre técnicas, materiais e funções associados aos bailes populares e ao folclore, [a obra] suscita igualmente a reflexão sobre a cultura popular e a cultura de arte, o ritual e o convencional, o rural e o urbano, o tradicional e o contemporâneo”, pode ler-se num comunicado da organização.

Interactividade

Na segunda parte do espectáculo – o Baile – os espectadores são con-

vidados a participar num baile no qual podem experimentar algumas das danças que inspiraram a peça. Mercedes Prieto e Ana Silvestre são as responsáveis pelo repertório de Danças tradicionais e Prieto conduz a roda de pares através de expressões codificadas, “entre as quais o famoso “Singelo”, levando o público participante a vivenciar o diálogo que une a música, a dança e a arte da fala”. Esta é a última grande produção da coreógrafa portuguesa Clara Andermatt e da sua companhia, a ACCA, e foi caracterizada pela crítica em Portugal como um “encontro feliz da dança popular com a contemporânea” ou uma “reconciliação radiosa que tardava” entre a dança contemporânea e um

folclore que compõe o património performativo português. Clara Andermatt é diplomada pelo London Studio Centre e pela Royal Academy of Dancing (1980-84, Londres) e, após passagem por companhias em Portugal e Espanha, funda, em 1991, a sua própria companhia, coreografando um vasto número de obras regularmente apresentadas em Portugal e no estrangeiro. É regularmente convidada a criar para outras companhias, a leccionar em diversas escolas e a participar como coreógrafa em peças de teatro e cinema. O espectáculo está marcado para as 20h00, sendo a entrada livre. Os bilhetes podem ser levantados no IPOR e na Casa de Portugal.

Barcos Dragão MGM e SJM apresentam equipas para corridas • A Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e a MGM apresentaram as equipas que vão correr nas regatas de barco-dragão de Macau, a 13, 14 e 23 de Junho. A SJM tem três equipas e fez ontem a cerimónia do Pai San (bênção) dos barcos, sendo que a MGM tem 57 atletas em competição.

UM “The French Minister” em exibição na próxima terça-feira

A Universidade de Macau (UM) apresenta na terça-feira, dia 9, o filme “The French Minister”. Inserido no ciclo de filmes da União Europeia, esta é a quarta película a ser exibida. “The French Minister” fala da relação entre um recém-graduado da Escola Nacional de Administração, que é contratado para escrever os discursos do Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, com o próprio Ministro, um homem que pretende fama e poder. O filme começa às 18h30 e a entrada é livre, sendo que há uma discussão após a exibição da obra.

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FRC e IPOR Francisco Moita Flores em conferências

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RANCISCO Moita Flores, autor de várias séries históricas em Portugal, vai estar em Macau entre os dias 8 e 11 de Junho para a realização de um programa de eventos associados à sua actividade como ficcionista, “onde ocupa um lugar de destaque no panorama literário português”, mas também como

criminologista, “onde desenvolveu uma reconhecida carreira profissional e académica de mérito”. Na próxima segunda-feira, dia 8, Francisco Moita Flores irá estar presente na conferência “O Processo-Crime e a Prova Material: O desafio científico”, que irá decorrer na Fundação Rui Cunha (FRC) por

À venda na Livraria Portuguesa Os Novos Donos Disto Tudo • Filipe Alves, António Sarmento

Sabia que a figura mais importante do sector empresarial de Portugal é o Presidente da China? Sabia que o actual investimento estrangeiro no nosso país também é alavancado por dívida? Será que a crise económica e a derrocada do BES mudaram o poder em Portugal? Qual é a estratégia dos grandes empresários sobreviventes? O futuro de Portugal está em jogo e as peças estão a movimentar-se. É importante saber como e porquê?

volta das 18h30, tratando-se de uma parceria com a Associação dos Advogados de Macau (AAM). No dia 11, o autor estará no Café Oriente, no Instituto Português do Oriente (IPOR), numa sessão aberta sobre os livros que já publicou. Licenciado em Biologia e História, Francisco Moita Flores

é ainda um criminologista com carreira académica em Portugal e no estrangeiro. Escreveu séries televisivas como “Ballet Rose” ou “A Ferreirinha”. Chegou a ter uma passagem pela política, na qualidade de presidente da Câmara Municipal de Santarém. Moita Flores vai estar em Macau no âmbito do programa de comemorações do 10 de Junho.

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

O que Aprendemos com os Gatos • Paloma Díaz-Mas

Os seres humanos – pensa o gato – têm uma irremediável tendência para compreender tudo distorcido. Isto porque os humanos partem da absurda crença de que são animais superiores, quando toda a gente sabe que os animais superiores são os gatos. Os gatos – pensa a autora deste livro – têm muito para nos ensinar, mas para isso é necessário que estejamos atentos e dispostos a aprender.


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Universidade chinesa dá a primeira aula lecionada por robô

Naufrágio Mortos aumentam. Esperança de encontrar sobreviventes diminui

Pouca luz ao fundo do túnel O número confirmado de mortos no naufrágio de segunda-feira no rio Yangtze, centro da China, subiu ontem para 75, quando o período de 72 horas considerado critico para encontrar sobreviventes está a terminar. Mais de 360 pessoas continuavam desaparecidas às 18:00 horas de ontem, quando a agência noticiosa oficial Xinhua divulgou as últimas informações recolhidas pelo Centro de Operações de Busca e Salvamento, localizado em Jianli, na província de Hubei. Em relação ao balanço difundido ao início da manhã, os mergulhadores encontraram mais dez corpos, elevando para 75 o total de mortos confirmados, mas o número de sobreviventes (catorze) mantém-se inalterado há mais de 24 horas. O naufrágio, o pior registado na China em quase 70 anos, ocorreu

na segunda-feira à noite, cerca das 21:30 horas, quando um navio de cruzeiro com 456 pessoas a bordo foi atingido por um tornado. “As primeiras 72 horas são decisivas para encontrar sobreviventes”, afirmou um perito citado pela Xinhua.

Últimos actos

Numa derradeira tentativa para encontrar ainda alguém com vida, as equipas de salvamento abriram ontem três buracos no casco do

navio para facilitar as buscas subaquáticas. As correntes no local, no entanto, são muito fortes e as águas turvas e lamacentas, dificultam a acção dos mais de 200 mergulhadores envolvidos dia e noite na operação. O navio naufragado - com quatro andares e 76 metros de comprimento - navegava há três dias entre Nanquim e Chongqing, um popular cruzeiro turístico ao longo do rio Yangtze.

Réplica do Titanic abre ao público no final de 2017

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ma réplica de tamanho real do Titanic abrirá ao público em Outubro de 2017, na província chinesa de Sichuan, onde a empresa promotora do projecto pretende atrair milhares de turistas, informam ontem os ‘media’ locais. A construção da réplica deverá ser finalizada em Agosto desse ano, mas apenas abrirá as portas ao público dois meses depois. O Grupo de Investimento Energético Sete Estrelas de Sichuan, de capital privado, anunciou no início do ano que vai

investir 164 milhões de dólares na construção do navio. O ambicioso projecto nasceu com o objectivo de transformar o pequeno condado rural de Daying (Sichuan) num destino turístico de primeira classe, pelo que o “Titanic chinês” permanecerá atracado no rio Qi. A empresa chinesa contratou uma firma norte-americana de alta tecnologia para lhe entregar desenhos baseados no Olympic, navio gémeo do Titanic.

O Olympic foi o primeiro dos três transatlânticos de “classe olímpica”, entrou ao serviço em 1910 e percorreu vários mares durante 24 anos até ao último porto em Southampton, no Reino Unido. Além do Titanic, a empresa chinesa pretende criar um museu contando a história do navio que chocou contra um iceberg a 14 de Abril de 1912, na sua viagem inaugural, e se afundou, provocando a morte a 1.490 pessoas, uma das maiores tragédias náuticas da história.

A maioria dos passageiros tem mais de 60 anos. Atingido por ventos que sopravam a mais de 110 quilómetros à hora, o barco virou-se no espaço de apenas um ou dois minutos. “Foi tão rápido que o capitão nem teve tempo de dar sinal de alerta”, disse Wang Yangsheng, funcionário superior do Centro de Socorro Marítimo de Yuegang, citado pela agência Xinhua. Cerca de 130 embarcações estão envolvidas nas operações de busca e salvamento. O pior acidente do género na China ocorreu em 1948, quando um navio a vapor se incendiou no rio Huangpu, o afluente do Yangtze que atravessa Xangai, matando mais de mil pessoas. Estadistas de vários países, entre os quais o Presidente e o primeiro-ministro de Portugal, manifestaram às autoridades chinesas “profundo pesar” pela tragédia.

A Universidade Jiujiang, no sudeste da província chinesa de Jiangxi, acolheu na quarta-feira a primeira aula leccionada por uma “professora robô”, segundo informou ontem o portal de notícias China.org. Xiaomei - “Bonitinha” -, é o nome da “professora” que fundamentou a sua primeira aula em Jiujiang com uma apresentação em PowerPoint, gesticulando com os seus braços articulados e percorrendo a sala de aula enquanto explicava a matéria, de acordo com a agência noticiosa espanhola, EFE. A robô, desenhada por uma equipa de investigação da Universidade, consegue não só ensinar as lições para as quais foi programada como é ainda capaz de estabelecer simples interacções com o público estudante. O grupo de Engenharia Informática e Robótica Inteligente da Universidade Jiujiang é o responsável pelo nascimento deste robô, um projecto no qual trabalharam por mais de um mês, afirmou aos órgãos de comunicação locais o director da instituição, Zhang Guangshun.

Hong Kong Vigília pelo passado a olhar para o futuro

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erca de 150 mil pessoas eram ontem esperadas na vigília no Parque Vitória, em Hong Kong, para assinalar o 26.º aniversário da repressão militar na praça de Tiananmen, em Pequim, segundo a organização, citada pela AFP. “É uma luta constante pela justiça”, disse Richard Tsoi, da Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos na China, que organiza a vigília. “É importante que as pessoas de Hong Kong não esqueçam”, acrescentou, estimando a participação de 150.000 pessoas. De acordo com a organização, 180.000 pessoas participaram na vigília realizada no ano passado, por ocasião do 25.º aniversário da intervenção do exército chinês contra manifestantes pró-democracia que ocupavam a praça de Tiananmen (cujo

nome em chinês significa ‘Paz Celestial’). A Associação de Estudantes de Hong Kong, que habitualmente se juntava à vigília organizada no Parque Vitória realiza este ano uma “alternativa” no campus universitário, numa iniciativa em que espera 1.000 participantes. Os organizadores dizem não concordar com a premissa da Aliança de que a democratização na China deva ser o pré-requisito para a democracia em Hong Kong. “Queremos organizar um evento diferente para podermos discutir o futuro de Hong Kong enquanto residentes de Hong Kong”, disse o presidente da Associação de Estudantes, Billy Fung. De acordo com a imprensa de Hong Kong cerca de 7.000 agentes foram destacados para as operações de policiamento.

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RECTIFICAÇÃO

RECTIFICAÇÃO

(do anúncio publicado no dia 03 de Junho de 2015 relativo ao Concurso Público n.° 4/2015 da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública para a prestação dos Serviços de Condomínio do Centro de Formação para os Trabalhadores dos Serviços Públicos)

(do anúncio publicado no dia 03 de Junho de 2015 relativo ao Concurso Público n.° 5/2015 da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública para a prestação dos Serviços de Segurança do Centro de Formação para os Trabalhadores dos Serviços Públicos)

Aonde se lê “A partir da data de publicação do presente anúncio” deve-se ler “A partir do dia 10 de Junho de 2015”. Mais se informa que o anúncio devidamente rectificado encontra-se publicado na íntegra na página electrónica do SAFP http://www.safp.gov.mo/.

Aonde se lê “A partir da data de publicação do presente anúncio” deve-se ler “A partir do dia 10 de Junho de 2015”. Mais se informa que o anúncio devidamente rectificado encontra-se publicado na íntegra na página electrónica do SAFP http://www.safp.gov.mo/.

Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, aos 3 de Junho de 2015. Pel’o Director, substituto A Subdirectora, Joana Maria Noronha

Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, aos 3 de Junho de 2015. Pel’o Director, substituto A Subdirectora, Joana Maria Noronha


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artes, letras e ideias

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Amélia Vieira

EM TRÂNSITO PELO FUTURO

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ambém podia ser em transe futuro. Mas não. Vamos repondo estas formas materiais e o menos material surpreende ainda mais que todas as Torres e Babéis e transacções mundiais. Depois da expansão, a contracção. Ou a ida para outros lados. Contrair é chamar a si e isso implica um grande esforço de unidade, como se de repente todos fossemos um nuclear princípio, com forças tais que não podemos dissipá-las em manobras dilatórias. Por ora, estas leis geram implosão, pois que não há “válvulas” de escoamento hormonal nem órgãos que o processem, mas nem sempre há-de ser assim. O «Modernismo» acelerou a alucinação: lá vinham eles com carros a vapor e binómios de Newton, as centrais e as fábricas; até Durer, quatrocentos anos antes, numa febre nocturna, pinta de um só fôlego a primeira bomba atómica. Os seres são por vezes atravessados por coisas que são autênticas: setas correndo rio adentro das suas veias, e se Durer tinha um trema, com tanto acordo e desacordo passa a ser definitivamente aqui: Durer. Mas isso não interessa para quem desenhou a primeira explosão nuclear. Estes habitats em que ainda vivemos são tão cavernosos como rochas e buracos escavados nas pedras, que a pedra é o que fica. Lisboa está bonita mas parece uma caixa de bombons. Não sei porquê, vi-a em céus futuros e nada reparei do que aqui estava, acho que nem as estátuas estavam de pé. O delta dos rios vai subir, formando piscinas como os jardins suspensos da Babilónia, os ares vão ser ocupados e no solo só vão nascer flores cobertas por chuvas outras. É bonita esta visão. Como se o solo fosse um alicerce e nunca o local para se viver. Vivendo em altura, que resta dos silêncios das fossas, dos tugúrios, das linhas de metro? Penso que nada. Por um tempo, talvez metade quaternário, habitarão lá nos fundos como ratos, fugindo a uma fustigada fuligem. E os nossos livros, as nossas obras, os nossos inventos? Estarão num “chipe” implantado algures no corpo das células e só levamos a memória. O 11 de Setembro foi a primeira tentativa oculta contra a irreversibilidade da mudança. Mas ninguém notou, dado que longe dela andam, mas serão os antigos povos do deserto quem irá fazer as primeiras experiências. São sempre os fenómenos paradoxais que geram um avanço na Civilização.

Voltando ao grande espaço que nos anima e povoa, ele está a moldar os nossos destinos e as nossas vidas são conduzidas no quotidiano nestas arquitecturas de lindos cogumelos que estão em muitos casos até envenenados devido à qualidade das matérias. Sobrou nada para a condição de ferreiro, aqueles antigos alquimistas que purificavam os elementos pelo fogo. Agora arde tudo pela parte vegetal, dado que o solo (como queria um candidato à Câmara da cidade) tinha de ter em cada rua um jardim. Os sonhos mais grotescos fundem-se com o onírico das expressões decorativas: nem as pessoas são gente, nem a cidade, nem o lúdico divertido, nem as feiras vivificantes. As coisas tornaram-se uma valeta experimental com todo o tipo de instalações conceptuais.

Como o Futuro é aquela parte do tempo que vem longe, o momento glorioso avança, igual, retendo esse galope, não vá ainda ser pior. Mas será pior, na ruptura, que espero não assistirmos porque, também aí, há “arquitectos” que planearam os destinos de todos nós. A brecha vem talvez de um ângulo impensado, que é de onde aparece toda a descoberta, e tanto faz termo-nos arranjado bem para o encontro, como estar aos farrapos. Há forças que transpõem as nossas operações. Por ora, Lisboa é vista numa altura, que diria, que o mundo é Lisboa… essa cidade horizontal que se expandiu em linha deitada, sempre muito moura, muita gueixa, podendo afinal levantar-se de um cerco milenar. O terramoto é tão certo que vive dentro de nós, os locais perigo-

Sempre achei que estas grandes fachadas escondem “bunkers”. Elas não são só para aquilo que representa o motivo e que, em caso de ruptura ambiental, há uns que têm o código secreto e dinheiro para a manutenção, dado pelos visitantes em romarias desmesuradas. Os donos nunca lá estão. E os dirigentes não vão. A Cidade é um local onde se acumulam pretextos para acções desconhecidas que não passarão jamais pela defesa do cidadão. Já não estamos em Atenas onde os escravos tinham um estatuto definido. Hoje, a barreira e a ténue diferença entre um escravo e um contribuinte são quase imperceptíveis.

sos são muito belos, também se construiu Pompeia no sopé do verdejante vulcão, as cinzas é que dão jardins. E todos nos rios da Antiga Babilónia choraram o seu Sião. Uma grande estrada do tempo nos faz já olhar a esteira onde estamos suspensos. E, por incrível que pareça, é ainda muito melhor que este asfalto. Vamos precisar de guindastes e da célebre escada de Jacob: afinal nada de novo: uns descem e outros sobem. Só que lutar com um Anjo tem outras implicações e não devemos dormir quando se nos apresentam tais condições e possibilidades. Ficamos coxos, tal como ferido o calcanhar de Aquiles.

É com tristeza que se canta o Fado, mas será com alegria que se acordará a gritá-lo. Feita de lianas a cidade dorme encantada como as Belas, antes do seu Beijo de Amor. Não é qualquer arquitecto que a desperta. As Nações são esferas ambíguas de sensações, tais como nós, em sistema de microcosmo, pois nunca se sabe se o padroeira é de Pádua ou de Lisboa. Sendo bem medieval, o mito há que cortá-lo ao meio, para nos parecer real. Há que acreditar que de fora pode vir também um salvador, pois que muitos que vão para fora e nos podiam salvar não voltaram mais e os Santos nem sempre são de pedra. Mas a cidade morre nos meus braços. E é linda. Essa comoção faz que não a abandone porque jamais a irei ver em sonhos com os seus vestidos do Paço. A cidade Estado deu origem à Cidade Mundo. O Mundo é uma Cidade com céus navegáveis e águas estagnadas. Quem se quer banhar invente agora o laser e a luz. Que a Cidade espera-me, agora, para as Festas. Cada português consumirá cinco sardinhas por segundo, o que não é mau, pensando na fome, e terá direito ao seu nicho de amor atormentado pedindo ao santo ou ao soldado um pouco do Eros perdido. Casar é ainda muito bom, haja com quem e quem se afoite. Se não for agora, o tempo arrefece e lá vem o Futuro povoado de verticalidade como se fora um macho de cima abaixo… e fim aos Esponsais que na cidade grassam e que na terra dos faunos nós sempre gostamos. É assim que se vive na era das Não Descobertas pois que tudo já se viu muito antes e de outra maneira e esta forma de ser luso não interessa nem ao Santo Padroeiro. Mas para causas impossíveis e valores perdidos, ele ainda funciona. É melhor deixarem de meditar e irem pedir alvíssaras. Que os milagres existem - pois só eles existem - porque o real findou e devemos tudo ao “alto guindaste” a esta telepatia futura que nos quer para além do agora. Toda esta arquitectura é um fio alvíssimo de saudade, o nosso Manuelino está deitado… a cidade espreguiça-se com olhos castelares, falam-se muitas línguas porque o português anda à solta pelas colinas. «Ninguém sabe que alma tem… tudo é verdade e mentira» (Pessoa). Que o Mundo nos acolha como novos seres que chegam ao Lar.


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O EMBAIXADOR TOMÉ PIRES SEGUE ATÉ CANTÃO

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oltamos aqui agora, para continuar a narrar o trajecto da vida do boticário e escrivão de feitoria Tomé Pires, que ainda estava em Malaca a 27 de Janeiro de 1515. Recapitulando a sua viagem pela Ásia, com mais de quarenta anos partira de Lisboa para a Índia em Abril de 1511, tendo aí chegado em Setembro, onde ficou mais de oito meses, sendo depois colocado em Malaca pelo Governador Afonso de Albuquerque onde escreveu a Suma Oriental durante quase três anos. Já com uma fortuna assinalável resolveu regressar a Portugal e de Malaca embarcou para a Índia, tendo chegado a Cochim em finais de Fevereiro de 1515. Tomé Pires trazia de Malaca já o seu livro Suma Oriental, mas durante o interregno em que permaneceu em Cochim, deverá ter feito acrescentos. Como chegou atrasado para o entregar ao então Governador das Índias, Afonso de Albuquerque, que largara dias antes, a 21 de Fevereiro de 1515, para reconquistar Ormuz, Tomé Pires em Cochim esperou pelo seu regresso. Este só voltou da Ilha de Ormuz, à entrada do Golfo Pérsico, a 8 de Novembro, vindo a morrer na barra de Goa, em 16 de Dezembro de 1515, ao saber que já tinha sido destituído do cargo de Governador, que exercia desde 1509. No entretanto, encontrava-se o nosso biografado em Cochim quando, a 6 de Setembro de 1515, chegou a Goa uma das maiores armadas que até então tinham saído de Lisboa para o Oriente. Mal aí chegou, o Capitão-mor Lopo Soares de Albergaria tomou posse como Governador das Índias, sem esperar pelo regresso de Afonso de Albuquerque para dele receber o cargo. A grande armada de dezassete barcos, que partira de Lisboa a 7 de Abril de 1515, levava Fernão Peres de Andrade com a missão de passar à China e conduzir lá um embaixador português. Estava também incumbido de na Ásia escolher o Embaixador, trazendo ainda uma carta do Rei de Portugal D. Manuel para manifestar amizade e desejo de com os chineses estabelecer relações comerciais. No final de Setembro chegou a armada a Cochim e logo aí foi feita a escolha de Tomé Pires para Embaixador, que parece resultar de ele reconhecer melhor que outro as drogas que havia

na China, ser a sua idade, com mais de quarenta e cinco anos, sinónimo de prudência, ponderação, ser discreto e curioso e desde longa data amigo do novo Governador das Índias Lopo Soares de Albergaria (1515-18). Rui Manuel Loureiro encontra as seguintes razões: “O cargo de embaixador veio a ser atribuído a Tomé Pires, graças a um conjunto de circunstâncias. Em primeiro lugar, era pessoa de muito crédito, que, para além da dignidade que lhe era conferida pela idade, juntara uma considerável fortuna durante escassos anos de residência no Oriente. Ao mesmo tempo, era homem de baixa condição, facilmente sacrificável aos interesses do Estado, caso o relacionamento com os chineses não se desenvolvesse da forma prevista. Depois, em virtude das suas inegáveis habilitações profissionais, o boticário seria o homem mais apropriado para reconhecer as muitas drogas que se dizia existirem no Celeste Império. Em quarto lugar, o interesse dos portugueses pela Ásia Oriental era basicamente mercantil, de modo que um experiente feitor das drogarias poderia avaliar devidamente todas as potencialidades de um futuro relacionamento com o mundo chinês...” Para Tomé Pires “a ideia de, por si próprio, ir ver a grande e misteriosa China, de que tantas coisas tinha ouvido contar em Malaca, com novas e excepcionais possibilidades de aumentar a sua riqueza, muito o deve ter influído. Além disso, é provável que tivesse agravos contra Afonso de Albuquerque, que, embora houvesse aproveitado os seus méritos, nunca o elevara acima do modesto posto de escrivão de feitoria, apesar de justificadas queixas e pedidos. Albergaria era inimigo de Albuquerque e, segundo Gaspar Correia, amigo de Pires, o qual provavelmente lhe fora fortemente recomendado em Lisboa” A. Cortesão. Ainda antes da partida de Cochim a caminho da China, em 27 de Janeiro de 1516 Tomé Pires escreveu uma carta ao Rei D. Manuel onde referia um livro que ia escrever e para o qual recolhia elementos, sobre <os pesos e medidas em todos os diferentes lugares> do Oriente. Até hoje esse livro não foi encontrado. Já sobre o seu manuscrito, Suma Oriental, não se sabe a quem o entregou. Refere Armando Cortesão: “Por esse tempo, Pires tinha concluído ou

estava a concluir a Suma Oriental, que devia ter impressionado não só o novo Governador como muitos dos <fidalgos e capitães da Índia>, a que (Fernão Lopes de) Castanheda se refere.”

Da Índia até Cantão com Fernão Peres de Andrade Após meses com preparativos, em Fevereiro (para Cortesão) ou em Abril (para Rui Loureiro) de 1516 a esquadra de quatro barcos, sendo Capitão-mor Fernão Peres de Andrade, partiu de Cochim para ir “descobrir a China”. À entrada do Estreito de Malaca, a frota foi primeiro a Pacém (porto a Nordeste da Ilha de Sumatra, ou Samatra como lhe chamavam os portugueses, tendo actualmente Pacém o nome de Pasai), onde se lhe devia juntar a nau

do mercador Joannes Impole (Giovanni da Empoli), florentino ao serviço de Portugal, que aí fora carregar pimenta, muita dela para ser trocada na China. Já com o navio de Empoli carregado, este incendiou-se perdendo-se a carga. Seguiu a armada de Fernão Peres de Andrade para Malaca, onde encontrou o Capitão da praça, Jorge de Brito preocupado por Rafael Perestrelo ainda não ter regressado da costa chinesa. Sem pimenta, para mercadoria de troca na China, decidira Andrade ir primeiro a Bengala, mas foi demovido pelo Capitão de Malaca, que insistiu ter Andrade de seguir imediatamente para a China. “Contrariado, porque a monção ia já muito adiantada, Andrade fez-se à vela em 12 de Agosto, na nau Santa Bárbara, com Manuel Falcão noutra nau, António Lobo Falcão numa


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José Simões Morais

caravela e Duarte Coelho num junco. A frota encontrou tão mau tempo ao largo da costa da Cochinchina que os navios quase se perderam, tendo Andrade regressado a Malaca em meados de Setembro. Aí encontrou Perestrelo, de regresso da China, com grande proveito” A. Cortesão. Em Dezembro de 1516, foi Fernão Peres de Andrade a Pacém carregar pimenta, a fim de seguir para a China logo que a monção o permitisse, voltando a Malaca em Maio de 1517. Passara já mais de um ano desde a partida de Cochim, quando em 17 de Junho de 1517 finalmente a armada de Fernão Peres de Andrade saiu de Malaca com oito navios rumo à China. Fernão Peres de Andrade comandava a Espera, nau de 200 toneladas onde seguia Tomé Pires, Simão de Alcáçova capitaneava a nau Santa Cruz, Pero Soares a Santo André, Jorge de Mascarenhas a nau Santiago e António Lobo Falcão um junco seu e Martim Guedes outro navio. Acompanhavam a frota dois juncos de mercadores de Malaca cujos capitães eram Jorge Botelho e Manuel de Araújo. Segundo Beatriz Basto da Silva, nela se-

guia também o já experiente Jorge Álvares e o feitor Giovanno da Empoli. “A esquadra chegou à Ilha Tamão, Tumon ou da Veniaga (moderna Lin Tin), mais ou menos a meio da entrada do Rio Cantão, em 15 de Agosto de 1517, tendo encontrado uma esquadra chinesa cruzando ao largo da ilha como protecção contra os piratas. Os chineses fizeram uns tiros contra os portugueses, sem contudo lhes produzir qualquer dano, e Andrade, em vez de retorquir ao fogo, deu todos os sinais de amizade, com os navios embandeirados e soando trombetas. Logo que lançou ferro em Tamão, <mandou recado ao capitão daquela armada chinesa que vinha ladrando trás dele>, no pinturesco dizer de Barros, <fazendo-lhe saber quem era, e como vinha com uma embaixada de El-Rei D. Manuel de Portugal, seu Senhor, a El-Rei da China>. Respondeu o capitão chinês que fosse bem-vindo, pois pelos chineses que iam a Malaca já tinha conhecimento <da verdade e cavalaria dos portugueses>, mas se dirigisse ao Pio de Nantó, <um homem que servia um cargo, como entre nós o ofício de almirante do mar, e era nome do ofício, e não da pessoa>. Andrade enviou então recado ao Pio – que ao mesmo tempo mandara um mensageiro saber o que os portugueses desejavam – informando-o dos motivos da sua vinda e pedindo pilotos para conduzir a esquadra à cidade de Cantão. O Pio respondeu com palavras muito amáveis, mas que, para o efeito, teria de vir licença das autoridades de Cantão” A. Cortesão. O ‘Pio’ era o Comandante da defesa contra os piratas japoneses conhecido em chinês por Beiwo, como refere uma nota do livro Revisitar os Primórdios de Macau para uma nova abordagem da História de Jin Guo Ping e Wu Zhiliang. E continuando com esta obra de referência: “O tradicional sistema tributário chinês era consabidamente um regime fechado e rigoroso. Para ser admitido nele, era preciso cumprir com toda uma série de trâmites burocráticos. Os mandarins das fronteiras podiam recusar qualquer embaixada tributária caso ela não tivesse antecedentes registados na documentação oficial”; “Como Portugal não era conhecido na China, teoricamente a Embaixada de Tomé Pires não podia ser aceite, de maneira nenhuma em Cantão. Todavia essa aceitação acabou por se verificar, devido a um factor ocorrido havia pouco tempo”. Como o “âmbar cinzento começara a escassear nos depósitos da Casa Imperial Chinesa” e “Cantão, sendo o porto marítimo de maior importância em toda a China, nessa altura, era o único sítio onde havia alguma possibilidade de obter esse

No final de Setembro chegou a armada a Cochim e logo aí foi feita a escolha de Tomé Pires para Embaixador, que parece resultar de ele reconhecer melhor que outro as drogas que havia na China, ser a sua idade, com mais de quarenta e cinco anos, sinónimo de prudência, ponderação, ser discreto e curioso e desde longa data amigo do novo Governador das Índias Lopo Soares de Albergaria (1515-18) produto, ansiosamente procurado pela Corte”, “Wu Tingju, Comissário da Direita da Administração Civil de Cantão, num acto claramente contra os costumes, mas com conhecimento e autorização de Pequim, teria decretado em 1514 a aceitação, fora dos prazos estabelecidos, de todas as embaixadas tributárias que entrassem na China via Cantão”.

A longa espera A esquadra de Fernão Peres de Andrade quedava-se na ilha Tamão (屯门, Tun Men, hoje conhecido por Lin Tin) e “depois de muitos recados e demoras, Andrade resolveu não esperar mais e seguir para Cantão, servindo-se dos pilotos chineses que trouxera de Malaca. Mas, logo que os navios saíram do porto, foram assaltados por terrível tempestade, só com muito custo se salvando, não sem grandes avarias. Os chineses, em terra, recusaram qualquer assistência para a reparação dos navios portugueses, mas Andrade <lá andou mudando os mastros de umas naus a outras, e reparando-se de maneira, até que se tornou a reformar>, e fez-se à vela para Nantó ( 南头), porto de terra firme, em frente de Tamão, onde ficava parte da esquadra a cargo de Simão de Alcáçova. Ia Andrade <mui bem aparelhado, assim de guerra, como de paz>, e chegou a Nantó, <com fundamento de mais perto mandar seus recados, e requerimentos ao Pio, que o deixasse ir à cidade Cantão; e quando lho impedisse, tomar por si a licença>. Foi enviado a terra <o Feitor da Armada, Joannes Impole, mui bem acompanhado de gente limpa, e trombetas, com um requerimento ao Pio para passar a Cantão, com recado, e Embaixador que levava>.

Depois de mais palavras amáveis e novas demoras, mas sem nada se decidir, Andrade resolveu partir, em vista do que o Pio acabou por fornecer os pilotos. Como Andrade não desejava navegar de noite, a viagem levou três dias pelo rio acima até Cantão, onde chegou em fins de Setembro, <com toda a pompa e festa que ele pode>” A. Cortesão. À chegada a Cantão (广州), uma salva de canhões feita pelos navios portugueses assustou a população. Na cidade não se encontravam os três governadores que nela havia e que eram o Tutão, o Concão e o Chumpim. E continuando no Revisitar os Primórdios de Macau: “Quando Tomé Pires desembarcou em Cantão, foi Gu Yingxiang, haidao interino, quem – no que diz respeito aos trâmites burocráticos – se encarregou pessoalmente da embaixada”. E é desse haidao interino, Gu Yingxiang, já que “nessa altura o haidao Wang Hong foi numa missão oficial a Pequim”, a seguinte narrativa: “De repente, apareceram três embarcações bárbaras ao pé da capital provincial que dispararam três canhões, o que deixou toda a população assustada. Antigamente, essas embarcações bárbaras costumavam fundear nas baías sob alçada da guarnição de mil famílias de Dongguan. Nunca houve embarcação nenhuma que chegasse ao pé da cidade da capital provincial. O Superintendente do Comércio Marítimo Wu Hongci informou-me do acontecimento, de modo que fui à pousada Huaiyuan a visitá-los e lhes fiz um interrogatório”. Sem um contacto directo, foi o intérprete deles que era natural de Fuliang (Jingdezheng) em Jiangxi, quem fez de ligação. Segundo João de Barros: “estava um chamado por nome de ofício Puchanci, que servia em lugar do Tutão, o qual mandou logo recado a Fernão Peres, que se espantava de ele naquela sua entrada fazer três coisas contra a ordenança da cidade: a primeira, vir sem licença dos governadores dela; a segunda, tirar com artilharia; e a terceira, arvorar bandeira ou lança. Ao que Fernão Peres respondeu o que tinha passado sobre sua entrada com o Pio de Nantó, e que per fim dos recados que entre eles houve, lhe deu licença, e para isso lhe mandara pilotos que o metessem naquele porto. E quanto às outras duas coisas, em todas as partes onde os portugueses navegavam as costumavam fazer em sinal de prazer e paz e não lhe eram impedidas, e o mesmo faziam os chineses quando chegavam a Malaca.” Em Setembro de 1517 estavam finalmente em Cantão os barcos que transportavam a Embaixada de Tomé Pires ao Imperador do Celeste Império, mas muita água iria ainda correr até acontecer esse encontro.


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Anúncio 【N.º 201506-1】

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL

Torna-se público que, nos termos do artigo 29.º do Regulamento Administrativo n.º 5/2014 (Regulamentação da Lei do planeamento urbanístico), a DSSOPT vai proceder-se à recolha de opiniões dos interessados e da população respeitantes aos projectos de Planta de Condições Urbanísticas (PCU) elaborados para as zonas não abrangidas por plano de pormenor mas inseridas nos lotes abaixo indicados:: ─ Processo N.º: 92A129, Terreno junto à Estrada de Seac Pai Van-Coloane; ─ Processo N.º: 93A130, Rua dos Negociantes nos 29-31-Coloane; ─ Processo N.º: 2008A025, Rua da Alegria nos 79-81 e Travessa das Sapecas no 3-Macau; ─ Processo N.º: 2010A053, Avenida de Almeida Ribeiro no 135-Macau; ─ Processo N.º: 2014A069, Avenida de Almeida Ribeiro no 612 e Rua Nova do Comércio no 5-Macau; ─ Processo N.º: 2014A099, Pátio da Hera no 2-Macau. Para efeitos de referência, os projectos de PCU para as zonas dos lotes supracitados que não estão abrangidas por plano de pormenor já estão disponíveis para consulta no Departamento de Planeamento Urbanístico, situado na Estrada de D. Maria II n.º 33, 19º andar, Macau, e encontram-se afixados na Rede de Informação de Planeamento Urbanístico desta Direcção de Serviços (http://urbanplanning.dssopt.gov.mo). O período de recolha de opiniões tem a duração de 15 dias e decorre entre 09 de Junho de 2015 e 23 de Junho de 2015. Caso os interessados e a população queiram apresentar as opiniões sobre os referidos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor, deverão preencher o formulário O011,o qual pode ser descarregado nos websites http://urbanplanning.dssopt.gov.mo ou www.dssopt.gov.mo, ou levantado nesta Direcção de Serviços (Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau), podendo submetê-lo no período de recolha de opiniões através dos seguintes meios: ─ Comparecendo pessoalmente: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau, durante o horário de expediente nos dias úteis ─ Correio: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau (o prazo limite de entrega é contado a partir da data de envio indicada no carimbo do correio) ─ Fax: 2834 0019 ─ Email: pcu@dssopt.gov.mo Serão consideradas as opiniões respeitantes aos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor elaborados para os lotes, quando forem apresentadas de acordo com as exigências acima indicadas. Para mais informações podem pesquisar o website http://urbanplanning.dssopt.gov.mo e para qualquer informação adicional queiram contactar o Centro de Contacto desta Direcção de Serviços (8590 3800). Macau, aos 01 de Junho de 2015 O Director da DSSOPT, Li Canfeng

1.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes.

Localização dos terrenos:

2.

Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças” ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento.

- - - - - - - - - - - - - -

Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, n.ºs 90E a 90F e Travessa do Conselheiro Ferreira de Almeida, n.ºs 2 a 18, em Macau, (Edifício Tung Seng Kok); Beco da Ilha Verde, n.º 62, em Macau (Edifício Industrial Ilha Verde); Estrada dos Cavaleiros, n.ºs 182 a 228, Rua Oito do Bairro Iao Hon, n.ºs 3 a 31H e Rua da Tribuna, n.ºs 54 a 82G, em Macau, (Edifício Concórdia Square); Estrada dos Cavaleiros, n.ºs 250 a 286, Avenida do Hipódromo, n.ºs 8 a 54, Rua da Serenidade, n.ºs 79 a 117 e Rua da Tribuna, n.ºs 53 a 101, em Macau (Edifício Pak Lai); Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221 a 279, Travessa de Má Káu Seák, n.ºs 109 a 117 e Travessa 1 de Maio, n.ºs 2 a 92, em Macau, (Edifício Advance Plaza); Avenida da República, n.ºs 78 a 80, em Macau, (Edifício Son Fat); Rua de Cantão, n.ºs 86 a 112 e Praceta de 1 de Outubro, n.ºs 109 a 131F, -em Macau, (Edifício Yee Ging Court); Avenida de Demétrio Cinatti, n.ºs 65 a 68 e Rua do Visconde de Paço D´Arcos, n.ºs 148 a 238, em Macau, (Edifício Auto-Silo Pak Kong); Rua Wo Mok, n.ºs 114 a 130, na Ilha da Taipa; Estrada Lou Lim Ieok, n.ºs 901 a 991, na Ilha da Taipa; Rua de Évora, n.ºs 389 a 427 e Rua de Nam Keng, n.ºs 158 a 194, na Ilha da Taipa, (Edifício New World Garden); Rua de Nam Keng, n.ºs 558 a 634, Rua de Lagos, n.ºs 9 a 49 e Rua de Hong Chau, n.ºs 10 a 50, na Ilha da Taipa, (Edifício Hong Cheong Garden); Avenida Dr. Sun Yat Sen, n.ºs 583 a 659 e Rua de Hong Chau, n.ºs 52 a 82 e Rua de Lagos, n.ºs 51 a 91, na Ilha da Taipa, (Edifício Hoi Yee Fa Yuen); Estrada do Altinho Ká-Hó, n.ºs 1125 a 1141, na Ilha de Coloane.

3.

Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.

Aos, 8 de Maio de 2015.

A Directora dos Serviços de Finanças, Vitória da Conceição


( F ) utilidades

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70-90%

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Cineteatro

O que fazer esta semana Hoje Filme “Serial Bad Weddings” (Le French May) Galaxy Cinema, 21h10 Bilhetes a 90 patacas

19

yuan

1.28

Cinema

danny collins

Concerto Chick Corea e Herbie Hancock Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes das 180 às 580 patacas

Sala 1

Sala 2

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 14.30, 16.30, 21.30

Filme de: Brad Bird Com: George Clooney, John Walker, Britt Robertson 19.15

san andreas [b]

Amanhã

Sala 1

Sala 3

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30

Filme de: Dan Fogelman Com: Al Pacino, Annette Bening, Christopher Plummer 14.15, 16.00, 17.50, 21.30

san andreas [3d][b]

Filme “The Finishers” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h45 Bilhetes a 90 patacas

danny collins [c]

Sala 2

Sala 3

Filme de: Elizabeth Banks Com: Anna Kendrick, Skylar Astin, Rebel Wilson, Adam DeVine 14.30, 16.30, 21.30

falado em japonês legendado em chinês e inglês Filme de: Tadayoshi Yamamuro 19.45

pitch perfect 2 [b]

Filme “Wolf Totem” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h30 Bilhetes a 90 patacas

tomorrowland [b]

tdragon ball z: resurrection “f” [b]

Domingo Filme “Minimal: The Valley of The Lost Ants” (Le French May) Galaxy Cinema, 16h45 Bilhetes a 90 patacas

Aconteceu Hoje

Tem início a Guerra dos Seis Dias

Filme “Tokyo Fiancée” (Le French May) Galaxy Cinema, 18h30 Bilhetes a 90 patacas

Diariamente Exposição “Ao Risco da Cor Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre Exposição “3 Black Suits” (até 14/06) Fantasia 10, Calçada de São Lázaro, 15h00 Entrada livre Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre Exposição “De Lorient ao Oriente Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre

Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

5 de JUNHO

h o j e h á f i l m e “Kiki´s Delivery Service” (Miyazaki Hayao, 1989) Kiki é uma feiticeira estagiária e foi obrigada a mudar sozinha para uma nova cidade com a vassoura antiga da sua mãe e a sua gata companheira, Gigi. Criou uma empresa de entregas rápidas – já que as entregas eram feitas, literalmente, a voar - mas também sofreu frustrações e teve de enfrentar a solidão e a saudade. Um dia, perdeu o seu poder sobrenatural devido à sua própria suspeita. Quem ajudou a recuperá-lo foi o novo amigo através de um salvamento. Um filme animado que é uma metáfora para as situações difíceis da vida e a auto-suficiência dos jovens. A obra é adaptada da novela de Kadono Eiko, escritora famosa da literatura infantil. Flora Fong

• A 5 de Junho de 1967, tem início a Guerra dos Seis Dias. Este foi um conflito armado que opôs Israel a uma frente de países árabes - Egipto, Jordânia e Síria - apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão. O crescimento das tensões entre os países árabes e Israel, em meados de 1967, levou ambos os lados a mobilizarem as suas tropas. A Força Aérea israelita lançou um ataque preventivo e arrasador à força aérea egípcia que ameaçava atacar Israel. Os israelitas, com o auxílio logístico dos EUA, atacaram de surpresa o Egipto, a Síria e a Jordânia, que preparavam uma ofensiva conjunta contra Israel. Após a vitória, os israelitas anexaram a península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas do Golã. Em 1862 é assinado o Tratado de Saigão, que pôs fim à acção militar franco-espanhola na Indochina. O plano traçado pelo Estado-Maior de Israel começou a ser posto em prática às 7h45 do dia 5 de Junho de 1967, quando caças israelitas atacaram nove aeroportos militares, aniquilando a força aérea egípcia antes que esta saísse do chão e causando danos às pistas de aterragem, inclusive com bombas de efeito retardado para dificultar as reparações. Ao mesmo tempo, forças blindadas de Israel investiam contra a Faixa de Gaza, o sul da Síria, os Montes Golan e o norte do Sinai. A Jordânia abriu fogo em Jerusalém e a Síria interveio no conflito depois de ser atacada. No terceiro dia de luta, todo o Sinai já estava sob o controlo de Israel. Nas 72 horas seguintes, Israel impôs sua superioridade militar, ocupando também a Cisjordânia, o sector oriental de Jerusalém e Montes Golan, na Síria. Como resultado da guerra, aumentou o número de refugiados palestinos na Jordânia e no Egipto. Síria e Egipto estreitaram ainda mais as relações com a URSS, aproveitando também para renovarem seu arsenal de blindados e aviões, além de conseguirem a instalação de novos mísseis, mais perto do Canal de Suez. O conflito criou 350 mil refugiados, que foram rejeitados por alguns estados árabes vizinhos.

fonte da inveja

A Europa foi raptada pelo touro alemão

e nenhum herói se perfila para a libertar.

João Corvo


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opinião

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Arnaldo Gonçalves

crepúsculo dos ídolos

A democracia aprende-se pelo exercício e constrói-se por meios democráticos (Sá Carneiro)

E

STAMOS a quatro meses das eleições legislativas e a poucas semanas da pré-campanha eleitoral. É expectável que os partidos esgrimam ali os seus argumentos e procurem levar até ao limite a dramatização das emoções. Da parte dos partidos do chamado arco da governabilidade são esperadas sonantes declarações políticas, muitas promessas e ideias vagas quanto a alguns dos busílis que a gestão socialista deixou às actuais gerações e às que lhes seguem. Ninguém quer arriscar pormenorizações com medo de perder qualquer segmento dos eleitores, designadamente aquele que representa, neste momento, um terço do eleitorado: os reformados e pensionistas. Da parte dos partidos fora do arco será interessante perceber, para além dos tradicionais anti-sistema (MPT, POUS, PCTP, PDA, PPM), quanto valem as novas forças à esquerda que partiram de cisões do Bloco de Esquerda (JPP, L/TODA), os partidos de ‘causas’(MPT, PAN, PPV) para não esquecer a extrema-direita organizada à volta do PNR. Ninguém antecipa, com realismo, quanto vale eleitoralmente o voto da juventude e se, como é habitual, engrossará a abstenção que se situou em 2011 em 42%. Não há qualquer incentivo para que essa postura se inverta, sejamos francos. Até porque as declarações disparatadas da maioria sobre o regresso dos emigrantes apartou ainda mais as gerações jovens do grosso da classe política. Vários dos que comentam política interna têm arriscado a previsão de uma maior dispersão da representação parlamentar entre a direita, a esquerda e as novas forças políticas que consigam ganhar assento. É difícil antever o comportamento dos eleitores neste momento e que será ditado, em última instância, pelo sentimento com que olharem, no momento do voto, a sua situação económica e das suas famílias. O regresso da política e dos programas ideológicos que muitos anteciparam será contrabalançado pelo juízo de avaliação dos eleitores de quem se apresenta para fazer melhor uma gestão responsável das finanças do Estado, do peso dos impostos sobre as famílias, das pequeníssimas alavancas de crescimento económico que ainda temos ao dispor. Os portugueses votarão seguramente pouco com o coração e mais com o olho na carteira. Para quem olha o país à distância de uns bons milhares de quilómetros seria importante que os actores políticos tivessem em melhor conta o esforço, contributo e dedicação dos emigrantes que concorrem decididamente com as suas transferências bancárias, os impostos relativos aos bens

Martin Scorsese, the wolf of wall street

Viver em democracia

que detêm na Pátria e o apoio que prestam às famílias que ali têm, para que a vida dos seus sejam mais risonha e menos difícil. Temos hoje na diáspora - e não me canso de o dizer há mais de cinco anos para o interior do meu partido - gerações diferentes daquelas que constituíram os fluxos de emigração tradicional de Portugal nos anos 1950 e 1960. Gente educada, qualificada, timorata, competitiva, ambiciosa que procura realizar, fora do território nacional, projectos de vida no longo prazo. E que nada têm a ver com o ‘boneco’ da família humilde que junta uns patacos para construir uma casa pequenina numa aldeia remota do Portugal interior, uma imagem recorrente nos filmes tardios do salazarismo. Tem havido significativos progressos na mudança de mentalidades mas há muito ainda para fazer para alterar este preconceito nacional sobre quem está longe e se faz à vida. Como se tratasse de uma espécie de traição nacional a que importaria pôr cobro. Segundo as estatísticas disponíveis saíram de Portugal, na última década, cerca de 700 000 pessoas. O que corresponde, se tivermos em conta os números da abstenção, a uma faixa significativa de eleitores. É gente que merecia um outro olhar, uma outra simpatia, da parte dos partidos fortes do nosso sistema político até porque são os primeiros agentes de relações públicas do país. É cedo ainda para se fazer um balanço sistemático da diplomacia económica da co-

ligação PSD—PP. Foi um propósito inscrito nos programas do PSD e do PP. Essa política tem sido conduzida, na divisão de tarefas do Governo, pelo Vice-Primeiro-Ministro Paulo Portas. A economia é importante num mundo globalizado como aquele em que vivemos. Ninguém o disputa.

Malbaratámos, nas últimas duas décadas, essenciais riquezas naturais embasbacados com a serenata do mercado interno, dos fundos de coesão, da estrutura interna do espaço europeu Mas uma economia sem direcção política é como que um furo lento num veículo que força o esvaziar do pneu. mas não é perceptível a olhar nu. Vai acontecendo sem se dar por isso. Sendo decisiva a canalização de investimentos para Portugal em resultado dessa diplomacia económica não pode a gestão das alianças e das parcerias ficar refém dos seus resultados ou de quem imagina

outros proveitos. O país não está à venda, como o não estão as suas empresas e os seus recursos naturais. A história mostra que não gostamos de ser governados por estrangeiros sejam eles espanhóis, franceses, ingleses ou novos poderes que se insinuam no jogo político internacional. Temos aliás uma aversão particular às duquesas de Mântua e aos Miguel Vasconcelos; no seu devido tempo mandamo-los pela janela fora. Os processos de desenvolvimento dos países não se dinamizam a partir de fora mas confiando e investindo nas forças produtivas nacionais. Malbaratámos, nas últimas duas décadas, essenciais riquezas naturais embasbacados com a serenata do mercado interno, dos fundos de coesão, da estrutura interna do espaço europeu. Foram-se a agricultura, as pescas, a indústria têxtil, a construção de navios, a extracção de minérios abandonados em nome da miragem da racionalidade económica, da coesão europeia e do progresso económico sem esforço e indolor. Aterrámos finalmente na dura realidade zangados com todos, inclusive connosco próprios. É com esta mistura de sentimentos que cumpriremos em Outubro o nosso dever de cidadania, o melhor que pudermos. Sobrevivemos a muitas catarses, a muitas dificuldades, a várias crises que julgámos intransponíveis. Devemos ter o orgulho que vale a pena sermos portugueses.


opinião 21

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paul chan wai chi*

um grito no deserto

Qual a causa do desaparecimento de mil livros? incidente sejam reveladas publicamente, pois de momento, tanto a comissão como a Alfândega chinesa libertaram versões diferentes sobre o caso, o que não facilita a resolução do problema. Assim, se o paradeiro destes mil livros continuar a ser um mistério, a tipografia vai eventualmente ter de oferecer uma explicação ao público, e só quando isto se verificar é que vamos poder comprovar a credibilidade das declarações da comissão editorial e dos Serviços de Alfândega.

howard hawks, the big sleep

Q

UANTOS dos nossos leitores é que ainda se lembram do desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines? Apesar de este desastre ter acontecido há mais de um ano, os familiares dos passageiros ainda não perderam a esperança de vir um dia a descobrir a verdade sobre o que aconteceu naquele dia fatídico. No mundo em que vivemos, rodeados de alta tecnologia, parece impossível que algo possa desaparecer sem deixar rasto. Esta lógica também se aplica à República Popular da China, um país que afirma ser regido pela primazia da lei, e também a Macau, onde se dá particular importância à liberdade de imprensa. É por esta razão que considero intolerável aceitar o desaparecimento de mil livros sem que qualquer explicação tenha sido dada para o efeito. A comissão editorial do livro “Retirada! Ainda se lembram?” declarou haverem muitas versões a circular na sociedade relativamente à retenção de mil cópias deste livro por parte das Autoridades Alfandegárias da China. Os Serviços de Alfândega de Gongbei constataram publicamente à imprensa que nenhum exemplar desta publicação havia sido encontrado ou confiscado em qualquer um dos vários pontos de entrada e saída entre Macau e Zhuhai. Tendo em conta que este depoimento foi feito por um departamento oficial do Governo chinês, o desaparecimento destes mil livros parece cada vez mais inverosímil. Assim, temos de questionar quem está na realidade a mentir? Será a comissão editorial, a tipografia ou porventura o próprio departamento oficial do Governo chinês? Não devemos subestimar a importância da razão que levou ao desaparecimento destes mil livros, pois está aqui em causa a integridade e mesmo a reputação dos dirigentes de um movimento social, de uma companhia privada e também de um aparelho do Estado. Este assunto abrange ainda a credibilidade da imprensa assim como a própria justiça social. Em primeiro lugar, temos de reconhecer que a imprensa de Macau adoptou uma postura muito branda quando se dedicou à cobertura deste incidente. Alguns dignaram-se apenas a relatar um ponto de vista, enquanto que outros nem quiseram cobrir o incidente. Os nossos meios de comunicação social acabaram assim por negligenciar a importância das causas que originaram este incidente e violaram mesmo o princípio que defende a manutenção da objectividade quando se realiza uma reportagem. Na declaração oficial que a comissão editorial apresentou ao público, foi revelado que a tipografia havia detalhado muito claramente o progresso da impressão do livro a esta mesma comissão, assim como explicado que os livros tinham de ser produzidos na China devido à necessidade

Se hoje aceitarmos o desaparecimento de mil livros sem que seja dada uma explicação válida para o sucedido, pode ser que amanhã mil pessoas venham igualmente a desaparecer inexplicavelmente

de se realizar um processo especial para a sua encadernação e ainda adiantado que os livros haviam sido confiscados durante a inspecção realizada pelos agentes alfandegários do Porto de Hengqin ao veículo que os transportava, devido à temática sensível do seu conteúdo. A comissão editorial decidiu não revelar o nome da tipografia

para que esta não fosse exposta a qualquer pressão desnecessária, não vindo entretanto a revelar mais nenhum detalhe sobre o desenvolvimento da situação. A meu ver, a comissão editorial procedeu de uma maneira aceitável. Mas espera-se que no futuro próximo as verdadeiras razões que originaram este

Não é todos os dias que nos deparamos com um comunicado público por parte de uma agência governamental, visto que este tipo de medida põe em causa a própria credibilidade do Governo. Ao mesmo tempo, se um grupo de activistas, normalmente envolvidos em movimentos sociais, se dispõe a fazer uma conferência de imprensa para explicar o que levou ao desaparecimento dos livros, pressupõe-se que estão dispostos a apostar a sua própria integridade pessoal de modo a comprovar que a sua versão dos acontecimentos é, de facto, a verdade por trás do sucedido. Enquanto as verdadeiras razões que deram origem a este caso não forem reveladas, tanto a comissão editorial ou a tipografia, assim como os Serviços Alfandegários e até mesmo o Governo da RAEM vão ter de enfrentar desnecessariamente sucessivas especulações, ao mesmo tempo que a sua integridade e credibilidade são questionadas. Isto acaba assim por se revelar como um golpe catastrófico na área das relações públicas. Se hoje aceitarmos o desaparecimento de mil livros sem que seja dada uma explicação válida para o sucedido, pode ser que amanhã mil pessoas venham igualmente a desaparecer inexplicavelmente. Torna-se assim essencial desvendar as verdadeiras causas que deram origem ao incidente, pois isso pode se tornar na maior salvaguarda para a sociedade em geral e os direitos cívicos em particular. *Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático


22 opinião

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Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

contramão

Os rasteirinhos Billy Wilder, The Apartment

não lhes diz respeito. A Malásia e a Indonésia já têm muitos problemas para resolver, muitos migrantes a baterem à porta. Os outros que desenrasquem qualquer coisinha – e, já agora, o Myanmar que tenha juízo. A crise no mar Índico é mais ou menos coincidente com a moda das notícias sobre a crise no mar Mediterrâneo. O mundo tem curiosas disposições, até nas desgraças. No Índico, há gente pobre em barcos a fugir da morte e da fome; no Mediterrâneo também. A diferença chama-se Europa: a Europa dos problemas com a identidade, a economia, o desemprego, a sustentabilidade, a viabilidade do projecto, as discrepâncias e todas as outras coisas que não vale a pena aqui enumerar. A Europa que não se entende com uma solução para os migrantes do Mediterrâneo não os devolve à crueldade do mar. Por aqui a história é outra e é nestas alturas que tenho mais saudades daquilo que sei ser muito europeu. E que é meu também. Apesar de tudo.

1. As notícias são piores do que as colecções Primavera-Verão – são modas que não aguentam uma estação sequer, passam demasiado depressa. Durante uns dias, estão em destaque em todos os órgãos de comunicação social; depois, aos poucos, caem no esquecimento, apesar de haver um ou outro jornalista teimoso que insiste que o assunto não está resolvido, que há ainda muito para escrever sobre ele. Talvez consiga convencer quem decide ou talvez não – tudo depende das notícias do momento, das características que têm para serem moda por uns dias. É assim com muita coisa e é assim com um tema que me incomoda particularmente – a situação que se vive no Sudeste Asiático com milhares de pessoas a procurarem refúgio em países que não as querem receber. Toda a gente conhece a história, mas vale a pena recordá-la: há uma minoria (numerosa) de muçulmanos no Myanmar, os rohingya, que estão a fugir do país por serem vítimas de perseguição. O Myanmar não lhes reconhece a cidadania, o que faz com que aos rohingya esteja impedido o acesso aos serviços mais básicos. O Myanmar diz que são bengalis, que pertencem ao Bangladesh – eles dizem que não. O problema passa a ser ainda maior porque do Bangladesh também saem centenas e centenas de pessoas que querem escapar à fome e à miséria. As Nações Unidas explicam que os rohingya são a minoria étnica mais perseguida do mundo e não devem estar enganadas: googlar a palavra equivale a receber, em troca, uma série de imagens de carnificinas, corpos amontoados, crianças mortas, barcos

sobrelotados de gente visivelmente faminta, doente, fraca. Os rohingya que são perseguidos no Myanmar são vítimas de muita coisa, incluindo da maldade de quem trafica pessoas. Os rohingya aparecem mortos em valas comuns de países no Sudeste Asiático. E há rohingyas vivos à deriva no mar, por terem sido enxotados, durante semanas, pelos países que não os querem abrigar – os mesmos países que imaginavam ser um porto seguro. Há coisa de dois meses, as autoridades da Tailândia descobriram campos abandonados no sul do país que serviram para o tráfico de migrantes rohingya e do Bangladesh. Depois de conseguirem pagar uma arriscada viagem por mar, estes migrantes eram levados para a Malásia através das selvas tailandesas. Alguns eram levados – outros morriam à chegada, outros eram mortos à chegada, outros morriam pelo caminho. A Tailândia – que, até então, mais não fizera do que enxotar os barcos de migrantes que detectava nas proximidades da sua costa –, decidiu combater o tráfico humano nas selvas, fechando a porta a traficantes e traficados. A solução foi fazer inversão de marcha e tentar outro destino. Sucede que todos os destinos se comportaram da mesma forma. E os barcos ficaram à deriva, lotados de gente, com crianças, mulheres, homens, uns mais velhos do que outros, uns menos magros do que outros, todos igualmente miseráveis. A miséria da fome e das doenças. A miséria de não se ser de lado algum. Foi preciso as organizações de defesa dos direitos humanos virem condenar em voz

É fácil usar um conversor de moedas e construir argumentos que, por aqui, serviriam para dar uma boa gargalhada, não fossem eles perigosos alta este pingue-pongue marítimo, expressão que usaram para caracterizar a situação. Foi preciso as Nações Unidas falarem. Foi preciso as notícias virem nos jornais. Foi preciso o tema ser moda para alguém fazer alguma coisa. A Malásia e a Indonésia lá chegaram a um compromisso e as agências da ONU disponibilizaram-se para ajudar. A Tailândia vai fazendo de conta que não é nada com ela e assobia para o lado. O Myanmar, com as orelhas a arder e com uma Nobel da Paz aparentemente pouco preocupada com a situação, porta-se bem agora mas, daqui a pouco, volta às asneiras imperdoáveis. De qualquer modo, encontrou-se uma solução: há países do Sudeste Asiático que se disponibilizaram a acolher os rohingya. Este generoso gesto veio acompanhado por uma exigência – a comunidade internacional tem um ano para resolver o problema desta minoria étnica e para encontrar um local definitivo de abrigo. As bóias que estão a salvar quem estava quase a morrer no mar não são mais do que isso – bóias que um dia destes perdem o ar, porque a comunidade internacional é outra coisa, uma coisa que

2. Se eu, no meu canto da Europa, contasse que vivo numa casa que valerá 1,2 milhões de euros, que gasto frequentemente mais de 20 euros para almoçar, que um iogurte me custa um euro e um pedaço de pão custa três ou quatro, que um jantar mais composto pode chegar, com facilidade, aos 60 euros e que um pequeno-almoço não sai a menos de oito, estaria a falar de uma vida que não tenho. Não vivo numa casa de luxo, não vou a restaurantes de luxo entre um noticiário e uma reportagem, o iogurte é mau e o pão pior ainda. Quanto ao tasco do pequeno-almoço, não passava numa vistoria feita pelo mais condescendente inspector da ASAE. Quem vive em Macau sabe que há comparações que não podem ser feitas. O mesmo acontece com aqueles que, não vivendo cá, são daqui e visitam com frequência a terra: a vida não se explica com um conversor de moedas. Mas isso não é relevante para quem tem rasteirinhos interesses. Li num jornal rasteirinho que se publica em Portugal que o delegado da agência de notícias Lusa vive numa casa de luxo avaliada em cerca de 2,4 milhões de euros. Imagino a lusitana indignação de quem compra o rasteirinho jornal: 2,4 milhões de euros são muitos euros e davam para muitas casas. É fácil usar um conversor de moedas e construir argumentos que, por aqui, serviriam para dar uma boa gargalhada, não fossem eles perigosos. Estes argumentos de máquina de calcular têm, no entanto, uma função importante: avisam-nos que os argumentos seguintes são do mesmo teor. Vai daí, o resto do prosa não interessa. Na realidade, nunca interessou – era só curiosidade profissional: dispenso jornais rasteiros que se alimentam da mais rasteirinha política.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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hoje macau sexta-feira 5.6.2015

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Tatiana Lages, fotógrafa freelancer

“Prefiro contar a história das pessoas” D

a estação de Coimbra B apanha-se o comboio até à praia da Figueira da Foz. É quase uma hora de um pára-arranca que não é aborrecido, se tivermos tempo no relógio. As paisagens naturais entram-nos nos olhos e quando chegamos ao areal da praia, na pequena cidade do centro de Portugal, encontramos a paz. O azul do mar não incomoda. É dessa sensação que Tatiana Lages tem saudades. Natural de Coimbra, esta fotógrafa freelancer, que também trabalha como empregada de mesa, está há um ano e meio em Macau e confessa que, para além de deixar para trás o seu mar, teve que aprender a viver sem muito mais. Os amigos, a família, a paixão pela agricultura biológica e um ambiente mais saudável. “Tive que me obrigar a não pensar nas coisas que não gostava em Macau”, confessa ao HM. “Sempre fui muito ligada às questões da ecologia, fazia reciclagem, agricultura biológica, tenho alguns cuidados com a saúde. Aqui tudo muda e, ao princípio é bastante difícil. Depois começas a ter a satisfação do ‘estou a conseguir’ sobreviver ao facto de ser uma cidade tão cara e de estar longe dos amigos. A poluição também é um factor que me preocupa bastante.” Em Portugal fazia fotografia em freelance e em Macau está apenas a começar a mostrar aquilo que pode fazer atrás da lente. Se na sua Coimbra trabalhava sobretudo aos fins-de-semana, com um horário mais alargado, em Macau trabalha num café durante a semana e depois fotografa. “Eu gosto da restauração, da parte de atender pessoas e

da socialização. Mas custou bastante, porque em Portugal só fazia o que gostava, que é fotografar”, conta. Das experiências que já teve destaca o trabalho no Festival Literário de Macau – Rota das Letras, alguns casamentos e a galeria Iao Hin, onde é fotógrafa oficial. A Oriente, Tatiana Lages afirma que continua a aprender. “Já tive o privilégio de trabalhar com um fotógrafo chinês num casamento macaense e foi fantástico. Fizemos um trabalho completamente diferente um do outro, mas os dois faziam sentido. Percebi com aquele trabalho como é diferente a fotografia de casamento em Macau e em Portugal. Aqui é como se fosse um catálogo de moda, os noivos vestem roupas bonitas e posam em sítios bonitos. Eu prefiro contar a história das pessoas.”

Pela Ásia fora

Ainda com poucas fotografias sobre Macau, devido à agenda preenchida, Tatiana Lages tem o sonho de viajar em toda a Ásia e começar a publicar algumas imagens no seu próprio website, a nascer em breve. A ligação à imagem surgiu quando estava a terminar a sua licenciatura na área de Multimédia, em Coimbra. Foi lá que se ligou de imediato ao mundo das artes para não mais o deixar. Em Macau, diz sentir falta de um grupo de pessoas com quem se identifique nessa área. “Estive no café do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) e fazíamos part-times lá. Era uma coisa muito engraçada, era diferente porque na altura o café era gerido

por pessoas de hotelaria e era tudo muito organizado. E a clientela eram pessoas ligadas às artes. Quem ia trabalhar para o TAGV era alguém que tinha uma ligação às artes.” Esteve nas inúmeras organizações da Associação Académica de Coimbra, tendo praticado yoga e feito o curso radiofónico na Rádio Universidade de Coimbra. Não parou de fazer cursos de fotografia. Um ano e meio depois sem ver o mar da Figueira da Foz, Tatiana Lages diz ser uma mulher feliz. Aprendeu a contornar as dificuldades e a não olhar para o que é mau e negativo. “O primeiro ano foi muito mais difícil do que eu pensava. As diferenças culturais que sempre me interessaram tanto foram mais complicadas do que eu esperava, principalmente por causa da barreira linguística. Uma coisa é conhecer Macau por um português, outra é por um chinês. Tinha sempre a curiosidade de falar com os chineses, de ir ao mercado e perguntar que vegetal novo é aquele e senti uma frustração por não conseguir.” Ainda não sabe se o filho também vai ter queda para as artes quando crescer. “Há dias fui com ele a um concerto de música e ele não quis ver a segunda parte. Mas o meu filho, quando fala de fotografia, é muito engraçado, porque já usa o vocabulário que eu utilizo, sobre as luzes e os botões”. Tatiana ainda só foi à Tailândia, mas o sonho de viajar, que tem muito por culpa do seu pai, ainda se mantém. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo



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