DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
HOJE MACAU
hojemacau
JORNAL i / EDUARDO MARTINS
MOP$10
SEXTA-FEIRA 5 DE JUNHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4541
LARGO DO SENADO
AJUNTAMENTO POLICIAL RÓMULO SANTOS
PÁGINAS 4-5
BOTA ABAIXO PÁGINA 5
OPINIÃO
O GRANDE PALCO
‘‘
Nunca vi Macau como uma colónia ADRIANO MOREIRA
PAUL CHAN WAI CHI PUB
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DSSOPT
ENTREVISTA
h
12 MESTRES II XUNZI
NA INFÂNCIA
ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO
RACISTA SARA F. COSTA
O SEGREDO GONÇALO M. TAVARES
2 ENTREVISTA
ADRIANO MOREIRA JURISTA E PROFESSOR CATEDRÁTICO JUBILADO
Ex-ministro do Ultramar no tempo do Estado Novo, Adriano Moreira foi professor catedrático na área da ciência política e relações internacionais e fundador do CDS-PP. Em 2014, foi distinguido pelo Instituto Politécnico de Macau como professor coordenador honorário. Neste “século sem bússola”, a pandemia da covid-19 “alterou o conceito de realidade internacional”, mas Adriano Moreira defende que o multilateralismo continua a ser a resposta. Sobre a situação em Hong Kong, o professor deposita algumas esperanças
Neste globo sem bússola
Depois da guerra comercial, surge agora uma guerra na saúde entre a China e os Estados Unidos. Acredita que podemos assistir à expansão de uma nova "Guerra Fria" entre estas duas potências? O grave da ordem internacional é que a utopia da ONU, sobre uma legalidade mundial marcada pelos princípios do “mundo único”, isto é, sem guerras, e “a terra casa comum dos homens”, foi afectado pela concorrência de supremacia global entre EUA, China, e Rússia, com a multiplicação das “diplomacias de Clube” dos emergentes que se reservam defender o desenvolvimento em paz ou sem ela, e, podendo, sem participar ou sofrer as consequências. Tenho insistido em que “o imprevisto está à espera de uma oportunidade”.
A seu ver, a pandemia da covid-19 veio testar ou comprovar lideranças? Quais os maiores efeitos desta pandemia ao nível das relações internacionais? A pandemia alterou seguramente a hierarquia e conceito da realidade internacional, porque é infelizmente visível que alguns antigos grandes Estados voltaram ao método político do “Estado Espectáculo”, que cria imagens quando não conhece, nem aprecia a realidade. Está a acontecer desde os EUA ao Brasil. Há uma nova sede do poder real que se traduz na intervenção autêntica, cívica, humana, das universidades, institutos de investigação, profissionais do saber médico, responsáveis pela segurança e protecção das pessoas. Espero que finalmente sejam os apoiantes das “vozes encantatórias” que encontrem resposta política para a reformulação da ordem, que compreendam que “o multilateralismo” é superior ao “unilateralismo” para conseguir que o globo continue a ser habitável. Está satisfeito com a resposta da União Europeia a esta crise gerada pela covid-19?
“A China, uma civilização de milénios, é neste dever que se espera que se empenhará, com paz em relação às críticas verbais, às quais responderá com verdade, tranquilidade, e sobretudo com participação ética reconhecida.”
Quanto à “crise” da saúde, encontrou a prova científica, e adesão cultural, das populações, que apoia, como disse, uma intervenção que é geralmente de qualidade indiscutível. Mas a “política” anterior à súbita explosão do ataque à saúde e vida, teve três dificuldades visíveis: a queda do Muro de Berlim, juntou à meia Europa democrática da União, a meia Europa que lutou pelo regresso à soberania histórica que perdera pela ocupação. São evidentes as preocupações com as diferenças herdadas do respectivo regime, a relação fatigada dos vários eleitorados, o péssimo exemplo do Brexit, o vazio da conjugação de pensamento do Norte e Sul do Continente Americano, e a crise do real mostra que a cultura e valores são diferentes na origem e na vigência. A crise do “globo” vai exigir reformulação das interdependências que serão inevitavelmente globais. Mas o tempo será exigente, na leitura do passado, na imaginação do presente, e na identificação de um futuro possível. A Europa possui certamente uma capacidade histórica, científica, ética, que, cremos, encontrará as vozes criativas. Na última sessão da Assembleia Popular Nacional, pela primeira vez, não houve previsão de crescimento económico. Que expectativas tem em relação ao posicionamento da China nos
próximos tempos, em termos económicos e políticos? A China é uma das potências que se encontra na competição entre EUA-China-Rússia, frequentemente à margem da Utopia da ONU. A compreensão do globalismo, com sacrifícios históricos dos regimes, foi, dificultada neste século XXI, que muitos cientistas ocidentais consideram “sem bússola”. É de salientar o avanço do “soft power”, que também foi de Obama, e que a vencida senhora Clinton quis chamar “soft power”. Nesta data o ataque à China tem sobretudo que ver com o Estado Espectáculo, embora seja o interesse da Humanidade que exige o jogo com o saber dos factos, e por isso necessita que os responsáveis que assumem o dever da ciência, da sua aplicação, e da segurança, consigam o direito respeitado da autenticidade e solidariedade. A China, uma civilização de milénios, é neste dever que se espera que se empenhará, com paz em relação às críticas verbais, às quais responderá com verdade, tranquilidade, e sobretudo com participação ética reconhecida. Na última sessão da APN, foi aprovado o projecto da lei de segurança nacional para Hong Kong. O Conselho Legislativo de Hong Kong já deveria ter avançado para a legislação do artigo 23 da Lei Básica? O regime “Um País, Dois Sistemas” tinha prazo, e lembro-me desse tempo. O fim do período, que é esperado, e que agora só acompanho com leituras, porque não viajo, traz consigo uma estrutura cultural e política específica e diferente. Do ponto de vista sócio-político
[Macau] era tão esquecido como a minha aldeia de Grijó do Vale Benfeito onde nasci numa família pobre de pais católicos
não pode deixar de estar presente uma especificidade de formação que exigiu criatividade. É preciso sempre reconhecer que os factos e os valores exigem ser reconhecidas as identidades dos indivíduos e das comunidades. Infelizmente há muitos anos que não vou nem à China nem a Hong Kong. Os anos passam, embora sem eliminar a meditação sobre o desafio do futuro. A posição internacional nova da China espera-se que corresponda à avaliação respeitada das comunidades diferenciadas. Não posso conhecer a totalidade dos factos, mas julgo que a China tem pluralismo suficiente para conseguir assumir a identidade específica de Hong Kong que governou desde a retirada do Reino Unido, considerando que a paz é correspondente ao respeito pelos direitos humanos. São observações que se multiplicaram nos noticiários nacionais, mas
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não tenho informação suficiente da relação do pensamento político que consiga a paz da relação entre as diferenças dos encontros atuais e do futuro reorganizado em paz por esta época de século sem bússola. Como olha para a manutenção do Direito de Macau e o ensino do Direito em Macau? A lei, pelo que com interesse vou ouvindo, tem sido respeitada, e assim julgo que continuará, um facto que justificará a importância e autenticidade do ensino multicultural. Compreendi que passaram anos suficientes, pelo que as saudades crescem, por vezes, mais do que a informação, mas nesta evolução espero que o bom futuro tenha maioria. Falando agora dos primórdios da sua carreira, enquanto ministro do Ultramar. Que papel tinha
Macau para o Estado Novo? E, como ministro, que visão tinha para o território? O problema de Portugal nessa época, e segundo o que foi aprovado na ONU, não abrangia Macau, que a China não considerava uma colónia: não se trata de independência, mas de fim do acordo cumprido mutuamente por ambos os Estados, sem violar a paz da cooperação chinesa e portuguesa. A África era outra questão porque correspondia à decisão da ONU de colocar um ponto final no Império Euromundista, que abrangia, com dificuldades, a Holanda, a Bélgica,
No meu tempo de vida com Macau nunca o vi ou reconheci como ser colónia
o Reino Unido, a França, Portugal. A questão de Portugal foi severa, mas a minha intervenção está longamente escrita, e não teve a menor dificuldade com Macau. Havia a preocupação de que aquilo que se passava em Goa, Damão e Diu pudesse, de certa forma, afectar Macau e Timor? Como foi gerida essa tensão na Índia Portuguesa? A questão de Timor, que o povo sofreu, mas com coragem, começa, julgo, no facto mais cruel, porque a entrada de Portugal no chamado regime de Neutralidade Cooperante, de resto imposto por ultimato, não incluía os territórios do Oriente. Daqui veio o drama que os heroicos timorenses sofreram da intervenção brutal dos japoneses, e mais tarde da invasão indonésia. Tive a intervenção que pude organizar, sobretudo nas Nações Unidas, mas a única coisa que
tem valor destacar foi a coragem do povo. Passaram muitos anos, e tive, no ano 2015, a surpresa de o Presidente de Timor me convidar para visitar Timor, o que o meu médico proibiu. Enviaram então uma condecoração que me trouxeram a Lisboa, que me comoveu inesquecivelmente pelo sentimento expresso e que dei ao 14.º dos meus netos, um Adriano de 4 anos e afectado de má saúde, para se lembrar dela quando crescer, e sobretudo de um bom exemplo – que é Timor. A Índia não tem qualquer ligação com Timor, nem fadiga com a legalidade. Considera que Macau poderia ter tido mais desenvolvimentos socioeconómicos no período do Estado Novo? Era um território “esquecido"? Tão esquecido como a minha aldeia de Grijó do Vale Benfeito onde nasci numa família pobre de pais
católicos. O esquecimento do desagradável é melhor compreendido com a relação vivida entre deveres e recursos. A ética exigente é inviolável e inesquecível. Conheci jovem, na família e na aldeia pobre e responsável, que sabiam e procediam com a relação assumida desses factores. Um grande escritor português, Miguel Torga, atribuiu isto ao “espírito santo do povo”. No meu tempo de vida com Macau nunca o vi ou reconheci como ser colónia. E que as boas relações continuaram quando o acordo findou, sem descurar as relações futuras, apreço respectivo, e população de ambas as origens, mas solidárias. É um bom exemplo, neste globo sem bússola. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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À luz das leis
4 DE JUNHO LARGO DO SENADO COM APARATO POLICIAL E ALGUMAS DETENÇÕES
FOTOS HOJE MACAU
Na primeira vez, em 30 anos, em que a data não foi assinalada devido à proibição da habitual vigília em memória do massacre de Tiananmen, a presença da polícia fez-se sentir no largo do Senado. Pelo menos três pessoas foram detidas e várias identificadas, incluindo um português
A
PESAR da vigília em memória do massacre de Tiananmen não ter sido autorizada, foi grande o aparato policial ontem no Largo do Senado, onde várias pessoas foram identificadas, entre as quais um português, e três pessoas foram detidas. Um homem foi levado à esquadra por, alegadamente, não ter em sua posse documento de identificação e duas mulheres foram levadas para investigação. Já depois, perto das 22h30, duas pessoas estavam sentadas perto da Igreja de Santo Agostinho, com uma imagem de tanques alusiva a Tiananmen entre si, e duas velas electrónicas. A noite já tinha acalmado. Ao HM, uma delas explicou o que as levou ao local: “passaram 31 anos desde o incidente de Tiananmen e gostaríamos de acender uma vela em memória daqueles que perderam as suas vidas a lutar pela liberdade”. Explicaram que já tinham sido abordadas pela polícia, tendo-lhes sido pedida a identificação e perguntado o que estavam a fazer no local, se tinham ido sozinhas ou por incentivo de alguém. Ao que indicaram que
tinham ido por si próprias apenas para prestar respeito. As duas mulheres, que explicaram ser residentes de Macau, tentam participar o máximo de vezes possível na vigília. E pretendiam voltar: “vamos regressar mais fortes no próximo ano quando não houver um vírus”. Porém, pouco depois de darem o seu testemunho, a polícia voltou e escoltou-as para fora da zona. Ao HM, as autoridades confirmaram mais tarde, que as mulheres foram levadas para a esquadra para investigação, por alegadamente
As autoridades confirmaram, que as mulheres foram levadas para a esquadra para investigação, por alegadamente terem violado a Lei do Direito de Manifestação e Reunião
terem violado a Lei do Direito de Manifestação e Reunião. Em causa estará a proibição anterior das autoridades para a realização de manifestações naquele local. Segundo avançou a TDM - Rádio Macau, as detidas são filhas do deputadoAu Kam San e tinham participado na vigília pelas vítimas de Tiananmen na sede da União para o Desenvolvimento para a Democracia (UDD).
O INÍCIO
Antes da tensão, o final de tarde parecia calmo, mas à medida que a
noite foi chegando, a presença policial aumentou significativamente no Senado. As autoridades começaram por dar indicação às pessoas sentadas nas laterais da praça para se levantarem, e vários agentes circularam com altifalantes a passar o aviso sonoro dos Serviços de Saúde a apelar para se evitar a concentração de pessoas. Além dos altifalantes, uma coluna com as mesmas mensagens gravadas foi plantada em frente da fonte do largo do Senado, juntando-se assim ao coro de apelos.
TIANANMEN MACAU CONSCIENCE PEDE INTERVENÇÃO DA ONU SOBRE EXPOSIÇÕES
O
grupo liderado pelo activista Scott Chiang enviou um relatório à ONU onde afirma que a proibição de eventos relacionados com o 4 de Junho representa uma violação dos direitos civis e políticos. No documento é ainda pedida a intervenção do organismo para saber qual o futuro das demonstrações de cariz político no território.
“Estamos preocupados que sob os mesmos argumentos que nos levaram à situação actual, este tipo de actividades deixem de poder continuar a ser feitas em Macau. Porque agora o Governo tem todas as desculpas que precisa para impedir os eventos de acontecerem”. O comentário foi feito ao HM pelo
activista e ex-presidente da Associação Novo Macau, Scott Chiang, a propósito dos motivos que levaram a Macau Conscience, grupo que representa, a enviar um relatório à Organização das Nações Unidas (ONU), que acusa o Governo de Macau de “censura política”. No relatório enviado ao Comité de Direitos Humanos
da ONU no dia 1 de Junho e divulgado ontem, o grupo Macau Conscience alega que as proibições das exposições fotográficas e das vigílias alusivas ao massacre de Tiananmen em Macau violam o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, nomeadamente quanto aos direitos previstos para a liberdade de expressão e direito de reunião e mani-
festação e “têm motivações políticas”, contrariamente às razões enumeradas pelas autoridades. “A sensibilidade política sobre o incidente de Tiananmen é a única explicação possível para a proibição da exposição e das vigílias”, pode ler-se no relatório. No documento é ainda pedido que o Comité de
Direitos Humanos da ONU “preste muita atenção à rápida deterioração da liberdade de expressão e do direito de reunião e manifestação em Macau” e esclareça junto do Governo de Macau “o âmbito dos eventos e exposições que podem ser autorizados pelo IAM a utilizar os espaços públicos”. P.A.
sociedade 5
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INTIMAÇÃO ALEATÓRIA
Passavam sensivelmente 15 minutos depois das 20h quando a mancha policial se adensou. Agentes, agora em maior número, desaguaram na praça, continuando a circular e a dar indicação para os cidadãos dispersarem. Dois jovens vestidos de preto foram abordados por agentes e, de seguida, identificados. José Maia, um português que estava por perto e assistiu ao incidente juntamente com um amigo, perguntou aos dois jovens, que aparentavam ser menores de idade, se precisavam de ajuda. Passados alguns momentos, o português acabaria também por ser identificado. “Eles levaram os miúdos e depois vieram chatear-nos a nós, isto para não dizer intimidar. Pediram-me a identificação e eu perguntei a razão, qual era a lei que estavam a usar e porque é que me estavam a identificar a mim. Porque na minha opinião não estava a fazer nada de mal. Ele não me respondeu e ficou a olhar para mim, e eu fiquei a olhar para ele”, contou José Maia. “Foi ter com o superior e voltou, e aí eu disse ao meu colega para chamar os jornalistas e só nessa altura é que eles me largaram”, acrescentou. Questionado sobre o que motivou esta actuação da polícia , o português é da opinião que “estão numa de tentar
Passavam sensivelmente 15 minutos depois das 20h quando a mancha policial se adensou. Agentes, agora em maior número, desaguaram na praça, continuando a circular e a dar indicação para os cidadãos dispersarem
DSSOPT ABERTOS QUASE 300 PROCESSOS SOBRE OBRAS ILEGAIS ATÉ ABRIL
Zinco a descoberto FORA DE HORAS
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ambém ontem ficou a saber-se que o Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu não se pronunciar sobre o recurso da Novo Macau para realizar várias mini-vigílias pelos território. Segundo a decisão, não faria sentido o tribunal pronunciar-se porque quando a deliberação fosse conhecida a data para das mini-vigílias já teria passado e não haveria efeitos práticos. No entanto, Sulu Sou prometeu que a associação não vai desistir e vai propor outras datas para recordar o massacre. “Vamos tentar fazer no futuro uma vigília para recordar as vítimas. Há muitas datas que podem ser utilizadas. Não vamos desistir dos nossos direitos de manifestação”, jurou o deputado. O deputado apontou ainda que teria de ser o Chefe do Executivo a proibir a manifestação e não o Corpo de Polícia de Segurança Pública.
intimidar as pessoas”, e acrescenta não haver lógica quanto ao ajuntamento de pessoas, pois “mesmo as que estão sozinhas, eles vão lá”. “Penso que querem intimidar, nada está relacionado com as comemorações de Tiananmen”, sublinhou José Maia.
PARA A ESQUADRA
Pouco depois, debaixo das arcadas de frente para o edifício da Santa casa da Misericórdia, mais três pessoas eram identificadas. Questionado pelo HM, o polícia que tomou conta da ocorrência explicou “tratar-se de um procedimento de rotina” que passa apenas por pedir o documento de identificação. “Pedimos os documentos porque temos autoridade para isso”, explicou o agente. Uma das três pessoas identificadas acabaria por ser levada para a esquadra da PSP situada na calçada do Gamboa, por não trazer consigo o documento de identificação. O detido seria libertado mais tarde, pelas 21h47, sem que para isso tivesse que pagar qualquer multa. “A polícia manteve-me sempre informado sobre o que se estava a passar e explicaram-me que por não ter comigo o documento de identificação que me iam trazer para aqui [esquadra]”, contou ao HM. “Não fui multado (…), quando o meu pai chegou pude sair (…) nunca me senti assustado ou intimado”, acrescentou. Hoje Macau
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Entre Janeiro e Abril deste ano foram abertos 296 processos sobre obras ilegais, mas desde 2015 contam-se apenas 356 processos com decisão final. Dez anos depois da primeira demolição do Grupo Permanente de Trabalho Interdepartamental para Demolição e Desocupação das Obras Ilegais, o problema persiste
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OS primeiros quatro meses deste ano foram abertos 296 processos relativos a obras ilegais. Recuando no tempo, desde 2015 o número de processos superou os seis mil, mostram dados estatísticos publicados na página electrónica da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). No entanto, este ano houve apenas 15 processos com notificação da decisão final, e desde 2015 o número situa-se nos 356 processos. O organismo explica que os infractores devem demolir as obras ilegais e que, em caso de incumprimento, os procedimentos administrativos são acompanhados até à tomada da decisão final do caso. “Recebida a notificação da decisão final, os infractores devem proceder à demolição de obras ilegais e à reposição do local dentro do prazo estipulado, caso contrário, a DSSOPT vai efectuar as devidas acções de demolição, cujas despesas são suportadas pelos infractores”, pode ler-se. Para combater o fenómeno, o Governo criou um “Grupo Perma-
RÓMULO SANTOS
Uma rapariga vestida integralmente de preto, de máscara a condizer, manteve-se de pé perto da fonte do Senado, cabeça inclinada para a frente e sem se pronunciar, numa postura que passava uma sensação de pesar. Até dois polícias a questionarem e ficarem também eles de pé, voltados de costas para ela. Pouco depois abandonava o local. Noutro ponto da cidade, cerca de nove pessoas marcaram presença na vigília dentro de portas organizada pela UDD, com cruzes no chão que pareciam determinar o distanciamento a manter entre cada pessoa por motivos de segurança da saúde. O ambiente era calmo, as velas electrónicas mantiveram-se acesas. Transmitido pela internet em directo, o vídeo teve mais de duas centenas de reacções.
Recuando no tempo, desde 2015 o número de processos abertos superou os seis mil
nente de Trabalho Interdepartamental para Demolição e Desocupação das Obras Ilegais”, cuja primeira obra demolida remonta a Abril de 2010. Foi uma construção clandestina num edifício na Rua das Lorchas. Uma nota de imprensa da altura descreve que a obra tinha “caixilharia de alumínio e cobertura em zinco”. Mais de dez anos depois, um olhar panorâmico sobre a cidade revela telhados de zinco espalhados por Macau no topo dos edifícios, alguns dos quais servem de tecto a pessoas que habitam nessas construções.
DEMOLIÇÕES VOLUNTÁRIAS
Os dados da DSSOPT revelam que, desde 2015 até Abril deste
ano, os casos de demolição voluntária totalizaram 1424 casos, com o ano inaugural a conseguir o maior número de demolições pelas “mãos” dos proprietários. Desde então, o número tem variado, e entre Janeiro e Abril deste ano somaram-se 24 demolições voluntárias. É também de destacar que em 2020 foram arquivados 17 processos. Desde 2015, os arquivamentos ascenderam a 512. A DSSOPT indica que “são casos de obras ilegais resolvidas, incluindo as acções de demolição efectuada pela DSSOPT e pela iniciativa dos infractores”. De acordo com as informações do organismo, é dada prioridade às obras ilegais mais recentes, de renovação e às que impedem operações de salvamento dos bombeiros ou que “constituam perigo ou que coloquem em risco a vida e os bens das pessoas”. Entre as medidas adoptadas pelo Governo para combater as obras ilegais, estão a criação de um plano de apoio financeiro para a demolição voluntárias e instruções para a demolição.
COLINA DA GUIA LEONG SUN IOK QUER ELEMENTOS CULTURAIS A DECORAR TÚNEL
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EONG Sun Iok espera que a nova passagem inferior para peões no túnel do Colina da Guia tenha condições para aí se colocarem elementos históricos, culturais e criativos. Nesse âmbito, o deputado indicou que a nível global muitas cidades desenvolvem galerias de arte em túneis, para mostrar criações artísticas ao público. Em interpelação escrita, Leong Sun Iok apelou às autoridades para investigarem de que forma se podem introdu-
zir elementos históricos e culturais de Macau no espaço. Para além disso, quer saber que medidas existem para aliviar o impacto do ruído do projecto em edifícios, escolas e parques. Na interpelação, nota que está previsto que no segundo trimestre do próximo ano seja lançado o projecto da Empreitada de Concepção e Construção do Sistema Pedonal Circundante da Guia, que vai envolver uma passagem inferior a atravessar a Guia, di-
minuindo a distância a pé entre Horta e Costa e a ZAPE. O projecto deve ficar concluído no espaço de três anos. Em articulação com a passagem inferior da Guia, o deputado também quer saber como vai ser melhorado o trânsito complementar de saídas de dois lados do túnel para incentivar mais residentes a usarem o túnel como um ponto de acesso. O objectivo passa por reduzir o tempo de transporte e a sobrecarga dos transportes públicos.
Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
Chunambeiro Renovação de parque arranca na segunda-feira
O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou ontem que as obras de renovação do Parque do Chunambeiro arrancam na próxima segunda-feira. De acordo com o IAM, além de um novo desenho do espaço, que prevê o alargamento da área dedicada às crianças, será introduzida uma sala dedicada ao aleitamento e ainda, um quiosque. O projecto deverá estar concluído em Outubro, sendo que durante as obras o parque estará encerrado.
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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 245/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZOU LIANHUA, portadora do Passaporte da RPC n.° E61886xxx e portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C37627xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 177/DI-AI/2018, levantado pela DST a 22.09.2018, e por despacho da signatária de 25.05.2020, exarado no Relatório n.° 215/DI/2020, de 29.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Malaca n.° 172, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 11, 4.° andar F onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.---------------------------------------------
Notificação n.º 004/SS/GPCT/2020
Assine-o
-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 25 de Maio de 2020.
TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
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Considerando que não é possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício, via telefónica, nem por outro meio, nos termos do artigo 68.º, do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, bem como dos respectivos procedimentos sancionatórios regulados no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, o signatário notifica, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, os infractores, constantes da tabela desta notificação, do conteúdo das respectivas decisões sancionatórias: Em conformidade com o artigo 25.º da Lei n.º 5/2011 (Regime de prevenção e controlo do tabagismo), e tendo em consideração as infracções administrativas comprovadas, a existência de culpa e não existência de qualquer circunstância agravante confirmada, o Director dos Serviços de Saúde determina que: 1. Nos termos das multas constantes no artigo 23.º da Lei n.º 5/2011, os infractores alistados nas tabelas I e II do anexo são punidos com uma multa de 1.500 patacas (por cada infracção): Os factos ilícitos exarados nas acusações, provados testemunhalmente, constituem infracções administrativas ao disposto no artigo 4.º, porquanto resultam da prática de actos de “fumar em locais proibidos”, tendo sido os infractores notificados do conteúdo das acusações. (cfr.: Tabela I e Tabela II) 2. Além disso, os infractores podem ainda apresentar reclamação contra os actos sancionatórios junto do autor do acto, no prazo de quinze (15) dias, a contar da data da publicação da notificação, nos termos do artigo 145.º, do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 123.º do referido Código. Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 150.º do mesmo Código, a reclamação não tem efeito suspensivo sobre o acto, salvo disposição legal em contrário. 3. Quanto aos actos sancionatórios, os infractores podem apresentar recurso contencioso no prazo estipulado nos artigos 25.º e 26.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, junto do Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 27.º do referido Código. 4. Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 75.º do Código do Procedimento Administrativo, para efeitos das disposições do n.º 7 do artigo 29.º da Lei n.º 5/2011, os infractores deverão efectuar a liquidação das multas aplicadas, dentro do prazo de trinta (30) dias, a partir da data de publicação desta notificação, no Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sito na Avenida da Amizade, N.o 918, “World Trade Center Building”, 15.o andar, Macau. Caso contrário, os Serviços de Saúde submeterão o processo à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos da cobrança coerciva, de acordo com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 30/99/M e o artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M. 5. A presente notificação deve ser ignorada caso o valor das respectivas multas, resultantes de acusação, já tenha sido pagas pelos infractores constantes na tabela anexa aquando da presente publicação. 6. Para informações mais pormenorizadas, os interessados poderão ligar para o telefone n.º 2855 6789 ou dirigir-se pessoalmente ao referido Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. 11 de 05 de 2020.
O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion Tabela I
Nome
Sexo
1
ISHNAMJIL SUKHBAT ou SUKHBAT ISHNAMJIL
M
Número do aviso
Data da infracção
Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas
001/SS/GPCT/2020
2018/07/16
2020/05/11
Tipo e n.º do documento de identificação (*10)
E1058XXX
Tabela II N.º da acusação
Data da infracção
EB6717XXX C69790XXX C80679XXX E52740XXX
100771982 100774718 100774720 100803515
2019/07/13 2019/07/14 2019/07/14 2019/08/06
Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2020/05/11 2020/05/11 2020/05/11 2020/05/11
(*6)
B6761XXX
100719269
2019/08/08
2020/05/11
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C04982XXX B8495XXX CB7854XXX C35225XXX C02698XXX CB6643XXX C50550XXX C84496XXX M93932XXX C55739XXX 74103XX(X) CC0488XXX CB6994XXX CA8347XXX E67938XXX CB0764XXX 312135XXX CB8571XXX CC1412XXX CB7675XXX CC1288XXX 13810XX(X) ME638XXX C68533XXX 22388XXX C68213XXX 15377XX(X) GG333XXX C06611XXX C55114XXX C04715XXX C72431XXX C99556XXX 51801XX(X) CB8984XXX
100790269 100719283 100761620 100656809 100761402 100694655 100817419 100814005 100761656 100761523 100809191 100666595 100812170 100785971 100665258 100786002 100761703 100761715 100733186 100733198 100816520 100761789 100805585 100761727 100720145 100761836 100822612 100720171 100820147 100809864 100665573 100817817 100790982 100761753 100863448
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Tipo e n.º do documento de identificação
Nome
Sexo
1 2 3 4
YU GUOXIN 孫广智 孫绪武 LIU ANBAO SITI YAWAH BT ASMAD WARJA LIU YANG INDAH WIDIAWATI ZHU WEIZHOU HUANG, QINGDIAN QIU CHUNFA ZHANG REN DUO YU, ZHENGWU LIU, SHICHAO CHOI YOUNGSU CAO, ZHENGANG LEI KUAN HONG ZHANG,SHAOSHUAI LAI, GUOMIN HE PINZHI SONG, XIAOLONG WANG XINHUA CHEN KANG CHANG, WEI ZHAO SHUANG XIONG XIAOCHENG HUANG, YONGQUAN LENG SAO PO MIN ZAW MON HUANG XIONG MELODY LALRINKIMI HUANG JIANCHENG CHOI FONG MENG GUAN CHAO DONG XIE, WEIPING YE YOUBU WANG, HAIJIANG GAO SHANGJIN LIU, SUQUAN CHAN, KA KEI ZHANG WEI
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(*3) (*2) (*2) (*3)
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Nota: (*1) (*2) (*3) (*4) (*5) (*6) (*7) (*8) (*9) (*10)
Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Macau Salvo-conduto de residente da República Popular da China para deslocação a Hong Kong e Macau Passaporte da República Popular da China Título de Identificação de Trabalhador Não-residente Passaporte da República da União de Myanmar Passaporte da República da Indonésia Passaporte da República da Coreia Passaporte de Taiwan, República da China Passaporte de Canadá Passaporte da Mongólia
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sexta-feira 5.6.2020
Autocarros DSAT condena agressão a motorista
A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) condenou ontem a agressão a um motorista da carreira número 1, por um passageiro que se encontrava alegadamente embriagado. Numa nota oficial divulgada ontem, a DSAT sublinha que os “passageiros não podem, em qualquer situação, impedir o exercício da condução pelos motoristas dos autocarros” e que a operadora de autocarros TCM deve agora “averiguar das responsabilidades legais do passageiro em causa”. O incidente aconteceu quando o autocarro tentava sair da paragem da Avenida do Almirante Lacerda, após o motorista ter pedido ao passageiro para sair. Na reacção, depois de puxar e rasgar a roupa do motorista, o agressor desferiu ainda um soco, após ter discordado da decisão do funcionário de permitir que vários passageiros saíssem pela porta da frente.
Empregadas domésticas Conselho consultivo pede mais fiscalização
Luo Ping, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central, defendeu, segundo o jornal Ou Mun, que é necessária uma maior fiscalização quanto às empregadas domésticas oriundas do estrangeiro, para que se comprovem as suas capacidades profissionais, questões de saúde e de registo criminal, entre outras. A responsável adiantou que existem actualmente em Macau cerca de 30 mil empregadas domésticas mas a maior parte não possui formação na área, sendo difícil frequentar cursos quando começa a trabalhar no território. Luo Ping também defende que é necessário aumentar os requisitos para o acesso à profissão bem como criar uma base de dados das empregadas domésticas estrangeiras a trabalhar em Macau. Chan Wai Pan, outro membro do mesmo conselho consultivo, também defendeu a criação de uma base de dados para que se possa verificar o panorama das contratações e dos despedimentos.
IPM CPCLP com cursos de Verão online para docentes de português
O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM) vai organizar, este Verão, cursos de formação online para docentes de língua portuguesa, com inscrição gratuita. Segundo um comunicado, podem participar “todos os professores de língua portuguesa de instituições de ensino superior de Macau, do Interior da China e de outras regiões de Ásia-Pacífico”. Os cursos decorrem entre os dias 30 de Junho e 15 de Julho e dividem-se em três módulos, tal como Literatura em Diálogo (Casos de Intertextualidade), Apresentações Académicas (Comunicações em Colóquios) e Melhorando a Experiência de Aprendizagem (Design de Materiais Didáticos). Os docentes serão Sara Augusto, Caio Christiano e Gabriel Cordeiro. As inscrições para o Verão Online em Português estarão abertas a partir de hoje até ao dia 21 de Junho.
SAÚDE CERCA DE VINTE MIL OPERAÇÕES NO ANO PASSADO
Uma maçã por dia
Mais serviços operatórios, uso de camas de internamento e atendimentos nas urgências, são algumas das tendências de 2019 reveladas pelas estatísticas da saúde, divulgadas ontem. Os acidentes de viação levaram 2.765 pessoas às urgências
N
O ano passado os serviços operatórios aumentaram 6,3 por cento para 20 mil. Destes, as operações de oftalmologia registaram pelo segundo ano consecutivo um crescimento superior a 40 por cento. Os atendimentos nas urgências aumentaram 5,2 por cento em 2019, por comparação ao ano anterior. As informações foram reveladas pelo relatório das estatísticas da saúde referentes a 2019, publicado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Apesar de a maioria das pessoas recorrer às urgências por adoecer, 2.765 casos foram devido a acidentes de viação.
No ano passado existiam mais médicos e enfermeiros, com subidas de 3,1 por cento e 1,1 por cento, respectivamente. Por outro lado, os cinco hospitais do território disponibilizavam 1.628 camas de internamento, cuja taxa de utilização foi de 78,3 por cento, uma subida de 3,9 pontos percentuais em termos anuais. Uma variação explicada pelo aumento de 3,9 por cento dos doentes internados, por um período médio que aumentou ligeiramente para 7,4 dias. A maioria dos internamentos foi nas áreas de pediatria e neonatologia, cirurgia geral, e ginecologia e obstetrícia.
De acordo com o documento, “foram atendidos 1.892.000 indivíduos nas consultas externas dos hospitais, mais 5,8 por cento, em relação a 2018”. As especialidades com maior procura foram a medicina interna, seguida pela medicina física e de reabilitação. Já nos cuidados de saúde primá-
“Foram atendidos 1.892.000 indivíduos nas consultas externas dos hospitais, mais 5,8 por cento, em relação a 2018.” DSEC
rios, foram atendidos “mais de 4.112.000 indivíduos”.
MAIS DE 400 MIL VACINAS
Foram administradas 416 mil doses de vacinas nos hospitais e estabelecimentos de cuidados primários (mais 9,5 por cento, em termos anuais), e mais de um terço foram contra a gripe. Vale a pena notar que o volume de comunicações de doenças de declaração obrigatória aumentou 73,5 por cento para 22.392. Destas, a gripe (influenza) foi a que afectou mais pacientes, depois de uma subida de 146 por cento, seguindo-se a infecção por enterovírus. Mas também houve algumas a descer, como foi o caso da varicela e da escarlatina. O número de dádivas de sangue superou as 15 mil, das quais 3.369 foram realizadas pela primeira vez. Registaram-se 11.150 dadores efectivos de sangue, um aumento face a 2018. Até ao final de 2019, 274 residentes de Macau foram infectados com SIDA. A maior percentagem deste número é referente a infecções adquiridas por contacto heterossexual, seguindo-se o contacto homossexual e a partilha de seringas. Salomé Fernandes
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5.6.2020 sexta-feira
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sexta-feira 5.6.2020
Dentro do prazo
IH perde processo sobre entrega de recurso
O
Tribunal Administrativo decidiu que quando um requerimento é enviado por correio registado à administração pública, a data de apresentação é aquela em que os documentos dão entrada nos correios e não quando chegam aos serviços. Foi esta a conclusão de um caso que colocou frente-a-frente um residente de Macau e o Instituto de Habitação (IH), devido a um concurso de habitação económica. Depois de em Junho do ano passado, um residente ter sido informado que a sua candidatura a um concurso de habitação económica tinha sido recusada, o homem pediu para que lhe fosse apresentada a justificação da decisão integralmente em língua portuguesa, de forma a poder recorrer. O Executivo forneceu a tradução integral da recusa a 5 de Julho do ano passado e nessa altura informou o residente que tinha até ao dia 8 de Julho para apresentar um recurso da decisão. No dia 8 de Julho, o residente entregou por correio registado a queixa, que chegou ao IH no dia seguinte, a 9 de Julho. A data de recepção levou o instituto liderado por Arnaldo Santos a rejeitar o recurso, por considerar que o prazo legal para aceitar a reclamação já tinha expirado.
O QUE VALE
O residente não concordou com a decisão do Governo
e recorreu para os tribunais. Segundo a sua defesa, o Código do Procedimento Administrativo, que devia regular esta questão, é omisso sobre a data que deve ser considerada. Por isso, argumentou a defesa, devia recorrer-se ao Código do Processo Administrativo Contencioso (CPAC) para lidar com a questão. O CPAC define que uma petição pode ser enviada à administração por correio registado e que nestes casos considera-se que a data da apresentação nos correios é aquela em que o envio fica registado. O argumento utilizado convenceu o Tribunal Administrativo, que não só considerou que o CPAC permite resolver a questão, como ainda recorreu ao Código de Processo Civil, para reforçar o argumento. Segundo este código: “os articulados, requerimentos, respostas [...] podem ser entregues na secretaria ou a estas remetidos por correio, sob registo, acompanhados dos documentos e duplicados necessários, valendo, neste caso, como data do acto processual a da efectivação do respectivo registo postal”, sublinhou a sentença. Perante este cenário, o tribunal concluiu que “andou mal a Administração que considerou a data de recepção efectiva da reclamação como decisiva da data da sua apresentação”, apontou. J.S.F.
Banca Depósitos de residentes crescem 0,4%
Os depósitos dos residentes de Macau cresceram 0,4 por cento em Abril, relativamente ao mês anterior, tendo atingido 664,3 mil milhões de patacas. Os dados foram divulgados ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Já os depósitos de não residentes também aumentaram 5,2 por cento, tendo atingido 281,3 mil milhões de patacas. De acordo com a AMCM, os resultados de Abril traduzem ainda um aumento de 1,4 por cento relativo à circulação monetária e uma diminuição de 5,5 por cento no que diz respeito aos depósitos à ordem. Quanto aos empréstimos internos do sector privado registou-se um aumento de 1,6 por cento relativamente a Março, atingindo 543,6 mil milhões de patacas. Os empréstimos ao exterior cresceram também 4,5 por cento, tendo atingido 635,3 mil milhões de patacas.
O apostador taiwanês ficou em Macau desde Fevereiro e elegeu a sala VIP do City of Dreams. Apesar de não adiantar valores, o All In Media refere que durante o mês de Abril o jogador VIP “ganhou muito” no Wynn Palace
JOGO SUBIDA DA RECEITA DE MAIO PODE TER TIDO “AJUDA” DE UM APOSTADOR
O Senhor 500 milhões
Um apostador VIP de Taiwan, que ficou retido em Macau devido à pandemia, terá perdido cerca de 500 milhões de patacas, uma fortuna que representa perto de 30 por cento das receitas totais do jogo durante o mês de Maio. Um valor significativo face aos 1,76 mil milhões de patacas de receitas do mês inteiro
O
p a s s a d o mês de Maio foi marcado por alguma recuperação nas receitas do jogo, apesar de comparativamente com 2019 este ser um ano atípico, marcado pela crise provocada para pandemia da covid-19. De acordo com dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), em Maio as receitas brutas dos casinos registaram uma queda de 93,2 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado. Ainda assim, foram apurados 1,76 mil milhões
de patacas no mês anterior, o que representou uma subida para mais do dobro das receitas de Abril (754 milhões de patacas). No entanto, a recuperação relativa do jogo pode ter contado com a ajuda preciosa de um só homem. De acordo com fontes do sector, citadas pelo portal All In Media, um jogador VIP de Taiwan “contribuiu” com cerca de 30 por cento para as receitas de Maio depois de perder perto de 500 milhões de patacas. Segundo o portal dedicado às notícias de jogo, o apostador taiwanês ficou em
Macau desde Fevereiro e elegeu a sala VIP do City of Dreams.Apesar de não adiantar valores, a mesma fonte refere que durante o mês de Abril o jogador VIP “ganhou muito” no Wynn Palace.
PINGOS DE OURO
As medidas de prevenção da pandemia a nível fronteiriço aligeiraram, com a possibilidade de entrada a pessoas do Interior da China mediante apresentação de teste negativo de ácido nucleico. Porém, o retorno faseado da normalidade fronteiriça ainda está numa fase inicial,
não permitindo o reflexo nas receitas do jogo. Recorde-se que em Maio de 2020, as receitas brutas dos casinos registaram uma queda de 93,2 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado. O mês passado foi mesmo o segundo pior registo desde o início do ano, já que em Abril as receitas de jogo ficaram abaixo das mil milhões de patacas (754 milhões de patacas), traduzindo uma queda de 96,8 por cento, mesmo com a ajuda do Sr. 500 milhões. João Luz com Nunu Wu info@hojemacau.com.mo
10 eventos
Abriu portas em Março do ano passado e desde o início que representou uma lufada de ar fresco ao espaço histórico das casas-museu da Taipa. A Universal Gallery and Bookshop é, como o nome indica, uma livraria e também um espaço de exposições que pretende mostrar os novos talentos do panorama artístico local, sem esquecer a venda de produtos tipicamente portugueses
5.6.2020 sexta-feira
Cultura com vis
CASAS-MUSEU DA TAIPA A LIVRARIA QUE É TAMBÉM UM ESPAÇO DE
A
Universal Gallery and Bookshop foi um dos projectos que ganhou a concessão de uma das casas-museu da Taipa para desenvolver o espaço, no âmbito de um concurso público promovido pelo Instituto Cultural. O projecto, que tal como o nome indica, consiste em uma livraria, uma loja de produtos para turistas e espaço para exposições, abriu em Março do ano passado. Tudo corria bem ao aparecimento da pandemia da covid-19 e com ela a crise. “A influência no nosso negócio foi muito grande”, contou ao HM Yiwen Chen, gestora da loja. “Desde finais de Janeiro, inícios de Fevereiro que as nossas vendas caíram cerca de 90 por cento. As coisas agora estão um pouco melhores porque temos vindo a fazer publicidade junto dos residentes.” Apesar da crise, os objectivos deste espaço mantêm-se iguais ao início do projecto: mostrar a arte e a cultura de Macau, não só nas artes como nas letras. “Queremos apostar nos artistas locais e também vendemos as suas obras. Alguns artistas não são muito conhecidos e são apenas estudantes que necessitam de uma plataforma para mostrar o seu trabalho e fazer algum dinheiro. Nem sempre temos artistas reconhecidos. A maior parte são artistas de Macau, mas também fizemos uma exposição com trabalhos com artistas de Hong Kong.” Ao nível das exposições, a galeria já recebeu os trabalhos do conhecido artista de Macau Lai Sio Kit ou Gu Yue, pintor e investigador ligado ao Museu Nacional da China. Além de expor os seus trabalhos, a Uni-
versal Gallery and Bookstore é também um espaço onde os interessados podem adquirir obras de arte. Yiwen Chen não tem dúvidas de que o espaço nas casas-museu da Taipa contém vários elementos diferenciadores relativamente a outras livrarias independentes ou galerias de arte. “É um espaço vivo e confortável, com livros, obras originais e com produtos criativos de Macau e Portugal. Os clientes podem adquirir boas peças de arte a um preço razoável”, defendeu. “Disponibilizamos um local para novos criadores e artistas. É importante para que eles tenham um espaço para expor e vender as suas obras de arte ao invés de tentarem vender por eles mesmos. Desta forma, podem focar-se unicamente na criação”, acrescentou. No que diz respeito aos produtos tipicamente portugueses, estão representados os símbolos mais conhecidos, tal como a sardinha, o galo de Barcelos ou o azulejo. Yiwen Chen assegura que estes con-
“Disponibilizamos um local para novos criadores e artistas. É importante para que eles tenham um espaço para expor e vender as suas obras de arte ao invés de tentarem vender por eles mesmos.” YIWEN CHEN GESTORA
tinuam a ser objectos bastante populares e com muita saída junto dos clientes.
LIVROS INFANTIS COM SAÍDA
Na parte da livraria, a novidade é a venda dos livros infantis da editora portuguesa Mandarina, um projecto desenvolvido por Catarina Mesquita. Em tempos de crise, e com a maior parte dos clientes composta por residentes de Macau, os livros infantis acabam por ser os mais vendidos. O facto de ter poucas vendas faz com que Yiwen Chen não queira apostar na venda de livros em português. «Vendemos sobretudo livros em chinês, não só de autores de Macau mas também de Hong Kong e Taiwan. A maior parte são livros de literatura ou arte. Na nossa loja não conseguimos vender todos os livros e penso que os residentes não têm o hábito de comprar livros de forma regular. Antes os turistas da China compravam muitos livros, e também os turistas de Hong Kong. Talvez os residentes não conhecessem esta loja, mas agora que a conhecem tendem a comprar mais livros infantis.” Apesar de as vendas serem difíceis, numa altura em que a informação está dispersa na Internet e tudo está à distância de um clique, a Universal Gallery and Bookstore consegue ter alguns clientes regulares. “Temos alguns clientes que regressam, temos um grupo de clientes regulares que gostam de ver os novos lançamentos.” Com as portas abertas e a tentar sobreviver a uma crise repentina, a gestora deste espaço criativo já tem novas ideias na manga. “Estamos a planear não apenas exibir e vender obras de arte, mas também
eventos 11
sexta-feira 5.6.2020
E ARTE
CINEMA CANNES REVELA SELECÇÃO OFICIAL COM 56 FILMES
F
sta
ter produtos que possam ser facilmente adquiridos pelos clientes, tal como imagens impressas, postais, malas ou selos. Pretendemos adicionar valor às obras. Também queremos alugar obras de arte a empresas locais para que os trabalhos possam ter mais valor”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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ILMES de Wes Anderson, Viggo Mortensen, François Ozon e Sharunas Bartas, numa co-produção portuguesa, estão na selecção oficial do festival de cinema de Cannes, ainda que a edição deste ano tenha sido cancelada, foi ontem anunciado. O festival de Cannes, marcado para Maio, não aconteceu nos moldes tradicionais por causa da covid-19, mas a direção não admitiu isto como um cancelamento total, remetendo para ontem o anúncio da selecção oficial. O que significa que os 56 filmes ontem revelados, entre cerca de dois mil acolhidos pela organização, poderão ser exibidos nos cinemas nos próximos meses e em 2021 com o selo de “seleção oficial de Cannes”. Entre os filmes ontem anunciados está “Na penumbra”, filme do realizador lituano Sharunas Bartas, coproduzido pela portuguesa Terratreme, e “Casa
de antiguidades”, primeira longa-metragem do realizador brasileiro João Paulo Miranda Maria.
Foram ainda escolhidos “The French dispatch”, deWes Anderson, “Été 85”, de François Ozon, “Falling”, a estreia
do actorViggo Mortesen somo realizador, e ainda dois episódios da série televisiva “Small Axe”, de Steve McQueen. A curadoria de Cannes passou ainda pela escolha dos filmes “Soul”, de Peter Docter pelos estúdios Pixar, e “Aya and the witch”, de Goro Miyazaki, primeiro filme em animação 3D dos estúdios Ghibli. Na terça-feira, o delegado geral do festival, Thierry Frémaux, tinha anunciado que “muitos outros festivais manifestaram vontade de acolher os filmes da seleção oficial de Cannes”, tal como acontece em anos anteriores, nomeadamente os de Toronto, San Sebastian (Espanha), Rio de Janeiro ou Mar del Plata (Argentina). Recordando que a covid-19 obrigou ao encerramento dos cinemas, de forma inédita em mais de um século de projeções públicas, Thierry Frémaux considera que esta selecção oficial de filmes espelha a vitalidade do cinema actual.
Óbito Morreu o poeta, tradutor e actor Manuel Cintra
O poeta, tradutor e actor Manuel Cintra, autor de livros como “Do lado de dentro” e “Alçapão”, morreu em Lisboa, aos 64 anos, disse ontem à agência Lusa fonte próxima da família. De acordo com a escritora Maria Quintans, Manuel Cintra morreu em casa, no Bairro Alto, onde residia sozinho, presumivelmente durante o fim-de-semana. “Ele foi encontrado em casa sem vida na terça-feira”, acrescentou a amiga do poeta, que sofria há algum tempo de “graves problemas cardíacos, e terá dado uma queda”. O corpo de Manuel Cintra foi levado para o Instituto de Medicina Legal. Filho do linguista Luís Filipe Lindley Cintra e irmão do actor e encenador Luís Miguel Cintra, Manuel Cintra nasceu em Lisboa, em Março de 1956. Foi tradutor, jornalista, actor e encenador, sendo, no entanto, a poesia “a sua incontornável e apaixonada estrada”, sublinhou a poeta e dramaturga Maria Quintans.
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5.6.2020 sexta-feira
A Administração de Aviação Civil da China informou ontem que as companhias aéreas que não estão na lista de Março podem fazer um voo por semana a partir de segunda-feira
O
S reguladores chineses disseram ontem que vão permitir que mais companhias aéreas estrangeiras possam voar para a China, depois de o Governo norte-americano ter proibido voos para os Estados Unidos de empresas de aviação chinesas. O anúncio foi divulgado depois de Washington ter anunciado, na quarta-feira, que ia proibir os voos de quatro companhias aéreas chinesas para os Estados Unidos porque Pequim não deu licença para que as norte-americanas United Airlines e Delta Air Lines retomassem os seus voos para a China. As companhias aéreas que mantiveram voos para a China durante a pandemia foram autorizadas a continuar a fazer um voo por semana quando as restrições foram impostas por Pequim no final de Março. A United e a Delta suspenderam os seus voos antes disso
AVIAÇÃO ALARGADO ACESSO AO PAÍS DE COMPANHIAS ESTRANGEIRAS
Pequim dá-te asas O diferendo entre os Estados Unidos e a China a propósito das ligações aéreas entre os dois países conhece um novo capítulo. As autoridades chinesas vão autorizar mais companhias estrangeiras a voar para o país, face ao anúncio norte-americano de proibir voos de companhias chinesas para os Estados Unidos e pediram, entretanto, permissão para retomar as ligações aéreas. A Administração de Aviação Civil da China informou ontem que as companhias aéreas que não estão na lista de Março podem fazer um voo por semana a partir de
segunda-feira. A medida deverá abranger as duas companhias aéreas norte-americanas, mas o regulador não detalhou quais são as transportadoras incluídas. Em comunicado, a United disse ter expectativas de retomar
o transporte de passageiros entre EUA e China quando o ambiente regulatório o permitir.
VOOS AFECTADOS
e tecnologia, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do Mar do Sul da China. Segundo o regulador chinês, todas as companhias aéreas estrangeiras autorizadas a voar para a China poderão aumentar a frequência para dois voos por semana, caso nenhum dos seus passageiros teste positivo para o novo coronavírus durante três semanas. O regulador informou ainda que a ligação será suspensa por uma semana se o número de passageiros com resultado positivo chegar a cinco. O Departamento de Transportes norte-americano alegou na quarta-feira que a China está a violar um acordo entre os dois países, sobre a reciprocidade de voos de companhias aéreas. O Departamento de Transportes explicou que o Presidente, Donald Trump, pode antecipar esta medida ainda antes de 16 de Junho, se houver justificação política para essa decisão. As quatro companhias aéreas afectadas pela decisão do Governo norte-americano são a Air China, a China Eastern Airlines, a China Southern Airlines e a Xiamen Airlines. Antes da pandemia, havia cerca de 325 voos de passageiros por semana entre os Estados Unidos e a China, incluindo aqueles que são operados pela United, Delta e American Airlines. Enquanto as companhias aéreas dos EUA pararam os seus voos entre os dois países, as companhias aéreas chinesas continuaram a voar cerca de 20 vezes por semana, em meados de Fevereiro, e aumentaram para 34 voos por semana, em meados de Março, segundo o Departamento de Transportes.
China e EUA enfrentam já várias disputas, incluindo sobre o comércio
HONG KONG APROVADA LEI DO HINO CHINÊS NO DIA DO MASSACRE DE TIANANMEN
MANIFESTAÇÃO POLÍCIA FAZ VÁRIAS DETENÇÕES EM MONGKOK
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A
Parlamento da Região Administrativa Especial de Hong Kong aprovou ontem a controversa proposta de lei que criminaliza ofensas contra o hino da República Popular da China, legislação que os democratas vêem como atropelo à autonomia do território. Na altura em que se assinalam os 31 anos sobre o Massacre de Tiananmen (1989) os deputados do Conselho Legislativo de Hong Kong votaram o texto legislativo, pela segunda vez, tendo a proposta de lei sido aprovadoapor 41 votos a favor e um voto contra.
A oposição decidiu boicotar a votação da proposta de lei marcada pelas fortes tensões que se prolongam há mais de um ano na antiga colónia britânica e sobretudo na data em que os cidadãos de Hong Kong assinalam o 4 de Junho de 1989, data da violenta repressão do regime de Pequim contra o movimento pró-democracia. A nova lei, que deve ser ratificada formalmente pela Chefe do Executivo local, Carrie Lam, prevê até três anos de cadeia para as ofensas contra o hino da República Popular da China.
polícia de Hong Kong fez hoje várias detenções quando tentava dispersar uma manifestação para assinalar o 31.º aniversário do massacre de Tiananmen. “Alguns manifestantes vestidos de preto estão a tentar bloquear estradas em Mongkok, Hong Kong. A polícia está a fazer detenções”, divulgou a polícia na rede social Twitter, referindo-se a um popular distrito comercial da cidade. Milhares de cidadãos de Hong Kong reuniram-
-se para assinalar a data apesar das proibições impostas pelas autoridades da região administrativa especial. Muitos acenderam velas em vários bairros da ex-colónia britânica em memória das vítimas de Tiananmen, em Pequim, de acordo com jornalistas da agência AFP. Pela primeira vez em 30 anos a polícia de Hong Kong não autorizou a realização da vigília e manifestações em memória das vítimas do massacre de 4 de Junho de 1989,
em Pequim, justificando a decisão com os riscos de contágio da covid-19. Enquanto a população se preparava para marcar a data, alguns manifestantes retiraram as barreiras instaladas pela polícia em Victoria Park, Hong Kong, onde tradicionalmente se juntam milhares de pessoas para a concentração em memória dos mortos do massacre. O aniversário foi antecedido por um reforço do controlo sobre dissidentes feito pela China.
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sexta-feira 5.6.2020
Acertar agulhas
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UE trabalha com China para cimeira de líderes das instituições
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União Europeia está a trabalhar com Pequim com vista à celebração de uma cimeira bilateral ao nível de líderes das instituições, que esteve prevista para Março, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19, indicou ontem a Comissão Europeia. Um dia após a chanceler alemã, Angela Merkel, ter decidido adiar a cimeira entre UE e China prevista para Setembro, em Leipzig, durante a presidência semestral alemã do Conselho da União Europeia, ainda devido à covid-19, uma porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, deu ontem conta dos contactos em curso entre Bruxelas e Pequim para a rea-
lização deste outro encontro entre as partes, ao nível de dirigentes instituições. “Estamos a trabalhar ainda com autoridades chinesas para acordar uma data de uma cimeira bilateral”, indicou a porta-voz, precisando que a União Europeia estará representada nesse encontro pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pelo presidente do Conselho Europeu, e pelo Alto Representante para a Política Externa, Borrell. Fontes europeias indicaram à agência noticiosa francesaAFPque esta reunião deverá ter lugar no final de Junho – já depois do próximo Conselho Europeu, agendado para 19 de Junho – e deverá realizar-se por videoconferência.
A decisão de Berlim de adiar a cimeira UE-China agendada para 14 de Setembro foi tomada na quarta-feira e comunicada por Merkel ao Presidente chinês, Xi Jinping, durante uma chamada telefónica, em que também participou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, informou um porta-voz do Governo alemão. “Acordaram que, devido à pandemia do coronavírus, não seria possível realizar (a cimeira) na data prevista, pelo que se fará depois”, adiantou o porta-voz, em mensagem distribuída através da rede social Twitter, na qual disse ainda que as três partes tinham realçado “a relevância” do encontro.
Josep Borrell, porta-voz do chefe da diplomacia europeia “Estamos a trabalhar ainda com autoridades chinesas para acordar uma data de uma cimeira bilateral.”
CRIME ATAQUE COM FACA EM JARDIM DE INFÂNCIA FAZ 39 FERIDOS NA REGIÃO DE GUANGXI
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M segurança de um jardim de infância no sul da China feriu ontem pelo menos 39 pessoas, a maioria crianças, num ataque com faca, informou a imprensa estatal, sem detalhar o motivo do ataque. O crime ocorreu na quinta-feira de manhã na China, no condado de Cangwu, região autónoma de Guangxi, e deixou 37 crianças e dois adultos feridos. A emissora estatal CCTV detalhou que três dos feridos se encontram em estado grave, incluindo o director da escola, outro segurança e uma criança.
O suspeito foi detido e a polícia está a investigar o caso. A China registou, nos últimos anos, vários incidentes do género, normalmente ligados a pessoas com problemas psicológicos ou ressentimentos com vizinhos ou a sociedade em geral. Embora o país seja, no geral, seguro, estes ataques em locais públicos, sobretudo escolas, são relativamente comuns. Em Novembro passado, 51 crianças e três educadores ficaram feridos, após um ataque com soda cáustica
perpetuado por um homem de 23 anos num infantário no sul da China. Em Abril de 2019, um professor de um jardim de infância na província de Henan, centro da China, foi preso por envenenamento deliberado de 23 crianças entre os 4 e 5 anos de idade, das quais uma teve que ser hospitalizada em estado grave. No mesmo mês houve também um ataque com faca numa escola da província de Hunan, que resultou em duas crianças mortas e outras duas feridas.
SEMANA DA CULTURA CHINESA
中 國 文 化 週
15-19 de Junho Fundação Rui Cunha Av. da Praia Grande, 749
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Xunzi
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Á outros homens capazes de combinar as várias artes e estratégias, fazendo corresponder as suas palavras e actos e tendo um entendimento unificado do sistema geral e das categorias apropriadas das coisas. Reúnem os homens mais valorosos e talentosos que há sob o Céu, informando-os sobre o passado remoto e ensinando-os a seguir aquilo que é certo. Nas suas moradas, no próprio espaço do tapete em que se sentam, os padrões e formas dos reis sábios estão compactamente reunidos e de lá emanam, vivamente, os hábitos capazes de trazer a paz a todo o mundo. As seis doutrinas falaciosas não conseguem penetrar estes homens; os doze mestres não lhes conseguem ganhar o afecto. Apesar de não possuírem sequer uma pá cheia de terra, reis e duques não podem competir com a sua fama. Se ocupassem nem que fosse o cargo de um grande ministro, nenhum senhor os conseguiria manter e nenhum estado os conseguiria conter. A sua fama seria superior à dos senhores feudais e todos os quereriam para seus ministros.
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quero um verso que não há!...
Contra os Doze Mestres
Esses homens são sábios que não obtêm poder. Tais homens foram Confúcio e Zigong. Há outros homens que unificam tudo sob o Céu e usam as dez mil coisas como seus recursos. Criam e nutrem as gentes e trazem benefício a todo o mundo. Nenhuma das regiões onde chegou gente deixaria de submeter a eles e de os seguir. Perspectivas como as das seis doutrinas extinguem-se de imediato e homens como os doze mestres são transformados. É isto que sucede a homens que obtém poder. Tais homens foram Shun e Yu. Mas por que se esforça a pessoa de ren [humanidade]? No seu melhor, usa por modelo a ordem controladora de Shun e Yu. No mínimo, usa o modelo de yi [justiça] de Confúcio e Zigong, assim se esforçando por extinguir os ensinamentos dos doze mestres. Se isto for conseguido, o mal feito ao mundo será eliminado, o trabalho da pessoa de ren será concluído, e os feitos do rei sábio se tornarão manifestos. Confiar naquilo que é fiável é confiança. Duvidar daquilo que é duvidável também é confiança. Honrar os meritórios é
Elementos de ética, visões do Caminho PARTE II
ren. Tratar com desdém aqueles que não são meritórios também é ren. Quando se fala com propriedade, isso é sabedoria. Quando se permanece em silêncio com propriedade, isso também é sabedoria. Como tal, saber quando ficar em silêncio é tão bom como saber quando falar. Assim, quem fala muito, mas profere palavras que correspondem às categorias apropriadas é um sábio. Aquele que fala pouco, mas se conforma ao modelo correcto em tudo é uma pessoa exemplar. Aquele que não segue o modelo próprio, a despeito de falar muito ou pouco, e cujas palavras são perversas e obscuras, não passa de uma pessoa mesquinha mesmo que argumente com argúcia. Assim, aplicar a força física de maneira que não corresponda às tarefas apropriadas do povo é chamado fazer trabalho vil. Aplicar o entendimento de maneira que não corresponda à dos antigos reis é chamado ter coração vil. Quando os argumentos, persuasões e explicações são apressados, oportunistas e não-conformes ao ritual e a yi, a isso se chama produzir discurso vil. Estas três vilezas eram comportamentos proibidos pelos reis sábios.
Alguns homens são espertos, mas perigosos e podem fazer mal com uma eficiência sobrenatural. São argutos no artifício e no engano. As suas palavras são inúteis, mas batem-se por elas com ardor. Os seus argumentos não beneficiam o povo, mas este os investiga com denodo. Tais homens são uma grande calamidade para a boa governança. São firmes na realização de actos desviantes e gostam de embelezar aquilo que está errado. As suas práticas são vis e habilidosas e as suas palavras são polémicas e aberrantes. Em tempos antigos, tais homens eram severamente punidos. São argutos, mas falta-lhes o modelo correcto. São ousados, mas falta-lhes o medo correcto. Argumentam com denodo, mas o seu comportamento é desviante e perverso. Se alguém admirasse e empregasse tais homens, estes se dedicariam ao seu gosto pela vileza e contaminariam as massas. Na qualidade de governantes, seriam como alguém que está perdido mas procura um caminho fácil, ou como alguém que colapsa ao tentar transportar uma pedra pesada. Por isso, esses são homens que todo o mundo abandonaria.
Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
sexta-feira 5.6.2020
tonalidades António de Castro Caeiro
Na infância
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infância é fonte de doçura e melancolia. Havia uma fusão entre o cada um de nós e as pessoas e os lugares, uma integridade entre aqui perto e lá longe. Não porque não houvesse diferença entre próximo e distante, à superfície e no fundo do mar, mas porque tudo era tão estranho à superfície, na proximidade como era na profundeza e à distância. Cada um dos outros não era nunca um indivíduo, um sujeito, fulano, beltrano ou sicrano. Eram verdadeiras personagens reais com uma densidade disposicional que vibravam o seu ser em todo o nosso ser. Em nenhuma outra época da vida a música invade e alastra para todos os outros sentidos. O papão indefinido é o pior dos monstros porque não é definido com nenhum rosto, mas é em potência o mal que mete medo apenas por assustar. Mal nós sabíamos que já na infância encontraríamos todo o mal e todos os papões e que mais tarde na vida a distância entre o possível e o concreto é ténue, absolutamente ténue. O mal espreita-nos descaradamente invisível para nós. Está no nosso quarto, atrás de nós com o rosto pousado no nosso ombro ou a olhar-nos frente a frente com a sua testa encostada à nossa. O mal está nos becos, em ruas pouco iluminadas, mas está também nas praças públicas, na praia cheia de gente em Agosto, está na cidade inteira, no país. O mal pode ser o poder de fazer mal, causar dano, infligir dor, provocar sofrimento. O seu objectivo final é a destruição da essência da coisa que ataca. A essência do ser humano é a vida. É isso mesmo que quer atacar, se for lentamente, será lentamente, mas se tiver de ser rápido, quererá ter-nos a si por uns instantes. Mas o mal é sobretudo individual. Temos, cada um de nós um mal individual. Não falo apenas do mal que sabemos que podemos infligir a cada um de nós, tenhamos ou não a tendência para o masoquismo. Sabemos como todos temos um pouco de S&M em nós. Mas não é a essa que me refiro. É o mal que está a desdobrar-se de nós que nos olha a cada instante, que está connosco em cada momento, coincide com o nosso corpo, está continuamente a deixar-nos vulneráveis, expostos a si. Na verdade, o nosso nascimento é um triunfo sobre o mal, a nossa sobrevivência até agora, meus caros, é do outro mundo. O mal está contra, desde o princípio. O mal é o princípio fundamental da negação. Quando dizemos sim, diz não. Quando
queremos, o mal quer mas quer que não. Quando alguém deseja, deseja também que nós desejemos, mas só para elevarmos a nossa fasquia às alturas do sonho para que a nossa frustração seja maior. Quanto maior é a altura a que o desejo nos eleva em voo, assim também o mal nos incute ímpeto, eleva com as asas de Icaro, leva a querer sempre mais e mais altura, mais e mais velocidade, a ter mais e mais extensão, mas só para nos preci-
pitar no abismo que é o seu elemento, nos fazer cair continuamente, sem rede, não necessariamente para nos destruir, pelo menos não logo, mas mais tarde. Quando respiramos, o mal quer tirar-nos a respiração, quando vemos, quer cegar-nos, quando bate o coração, quer arrancar-nos, a pele que nos envolve é para ser arrancada e todos os ossos que nos mantêm é para serem partidos e desossados. O mal é o caos. O mal quer-nos para si, se
Na euforia do encantamento daqueles dias em que me confundia com a totalidade, estava já presente a melancolia do princípio do fim. A euforia, a transparência, são o nascimento espiritual e ao mesmo tempo o princípio da precipitação, quando o espírito que sempre nega começa a actuar. Ou foi ele que nos fez nascer?
for do Caos que nascemos como diziam os antigos. O caos não era só a desordem nem o desregramento sem lei. Era o abismo da negrura, situado nas profundezas. Ainda hoje dizemos que somos atraídos pelo abismo. O caos é a desordem porque a noite escura da eternidade é informe. Ao adormecermos temos por vezes a sensação de queda, de que vamos cair. Ao perdermos a atenção, sentimo-nos fora. Ao perdermos a concentração, dá-se o desanuviamento. A morte é a grande noite que nos engolirá, a garganta do abismo que tudo está a engolir, o buraco negro que desde sempre nus suga na sua direcção. O mal é cada instante que se oblitera, que não volta mais. Nada nunca é ultrapassado. A vida é agora e não volta nunca mais. Talvez volte toda ela para ser repetida, mas é uma suposição metafísica. Tenho sido atirado para dias da infância, dias das férias grandes do mundo. São na verdade dois momentos de dois dias de férias grandes diferentes que não consigo datar. Ou estou com outros miúdos a brincar, jogando um qualquer jogo colectivo, ou estou na praia. No primeiro momento, senti pela primeira vez o êxtase de estar vivo, tudo rodopiava numa dança extravagante e centrífuga que sacudia o meu corpo. Não era só bem-estar, nem apenas satisfação ou contentamento, nem alegria. Era êxtase, embriaguez. Estava completamente em mim e fora de mim. Era a vida a expandir-se por todas as minhas células com todos os seus átomos e moléculas, numa extravagância sem limites. Era a vida a apresentar-se. A deixar o seu cartão de visita. A dizer-me como era possível. No outro momento, estou na praia à tarde na hora do calor. Não está ninguém ou muito pouca gente. A areia escaldante e o rio com água transparente. Do cimo das dunas, olho a foz. É um vislumbre muito mais simbólico. Estes dois momentos surgem-me. São a euforia da infância. Não ordenam a desordem. São o que o universo dá a sentir quando traz cada ser da garganta abismal do caos para a luz, para a transparência. Na euforia do encantamento daqueles dias em que me confundia com a totalidade, estava já presente a melancolia do princípio do fim. A euforia, a transparência, são o nascimento espiritual e ao mesmo tempo o princípio da precipitação, quando o espírito que sempre nega começa a actuar. Ou foi ele que nos fez nascer?
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Expectoracão ´
Sara F. Costa
T
ER um parente racista com quem se tem de almoçar ou jantar, muitas vezes, por força das circunstâncias, pode ser altamente indigesto. Ainda as primeiras lascas de bacalhau estão a atravessar o esófago e já se ouviram termos como “ciganada” ou “pretalhada” e o sistema nervoso dá logo sinal ao estômago para que pare subitamente de produzir os líquidos gástricos necessários à digestão. Sim, almoçar com um parente racista é indigesto. Mas pode também ser uma oportunidade de observar em primeira mão um dos fenómenos mais difíceis de explicar dos nossos tempos: a ascensão ao poder de personagens populistas extremas tendencialmente de direita mas sobretudo de seja-o-que-for-que-dê-votos. O parente racista tem determinadas características passíveis de serem identificadas. Por um lado, é alguém que nunca teve problemas com quaisquer minorias étnicas mas, por outro, é alguém ávido por possuir uma opinião, um ponto de vista sobre qualquer coisa - uma identidade. Um enorme vazio existencial é preenchido com o consumo massivo de notícias. Mas só consumir, não chega. Face à crise identitária, o parente racista necessita de exibir os conhecimentos teóricos que a visualização intensiva da CMTV lhe conferiu. Eu sei, eu sei que é demasiado batido acusar a CMTV de todos os males deste país mas esperem, eu vou oferecer uma alternativa. Permitam-me que analise o parente racista à luz do…. iluminismo. Sim, esse movimento intelectual e filosófico da Europa do séc. XIX. Um movimento de enorme relevância: desde o contrato social (Lock) até aos direitos individuais (Hobbes), passando pelos ideais de igualdade (Rosseau). Mas pouco virado para a democracia representativa. Os iluministas acreditavam que a governação não deveria ser uma preocupação do cidadão comum. Tragam daí um Leviatã que ele trata do assunto. Voltaire sugeriu que se fizesse assim: um rei governava na mesma só que em vez de ser um rei estúpido que estava ali por descendência, punha-se a governar um rei-filósofo. Um rei filósofo, como ser intelectual e, lá está, iluminado, seria um líder exemplar - pelo que mais ninguém se precisava de preocupar com isso da política. A fantasia de uma sociedade que naturalmente se gere de forma justa porque segue apenas o que é racional e científico e que opera através de sistemas legais baseados no mais lógico interesse mútuo, exclui sistematicamente a participação política porque é, supostamente, auto-sustentável. E, como veio apontar bem Arendt, essa participação não é apenas um direito, ela é uma fundamental experiência humana. A ideia de que o homem comum deve prestar-se exclusivamente ao desenvolvimento da econo-
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Como se sentar à mesa com um parente racista
A crise de valores, a falta de opiniões, a incompreensão do mundo levaram-no a procurar ideias de rápido consumo, simples, prontas a servir como aperitivo para um espetáculo deprimente onde o parente exibe o seu Eu com discursos de ódio e uma identidade importada das piores fontes.
mia, ocupar a sua função na sociedade através do seu trabalho define-o, não pelo que é, mas pelo que faz. É através da discussão política e da educação cívica para a participação ativa no âmbito público que o indivíduo se define, se enquadra, reflete sobre os seus próprios valores, as suas crenças, ou seja, encontra uma identidade. Na esfera privada, o homem defende a sua sobrevivência biológica. Na esfera pública, o homem pode pôr em causa a sobrevivência por uma causa. A participação política é o espaço de afirmação e reconhecimento de uma individualidade discursiva. O parente racista cresceu, provavelmente, numa sociedade onde a educação (se teve o privilégio de a ter) não lhe permitia qualquer tipo de pensamento
crítico, muito menos lhe dava sequer a possibilidade de participação política. Á falta de uma educação para a cidadania e participação ativa em sociedade, em adulto, o seu acesso às ideias políticas foi-lhe fornecido ao jantar pelos telejornais, com as suas agendas nos condimentos. A crise de valores, a falta de opiniões, a incompreensão do mundo levaram-no a procurar ideias de rápido consumo, simples, prontas a servir como aperitivo para um espetáculo deprimente onde o parente exibe o seu Eu com discursos de ódio e uma identidade importada das piores fontes. Como se sentar à mesa com um parente racista? Empatizando com o objeto de estudo que ele é porque afinal, de pessoa, ele tem muito pouco.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 17
sexta-feira 5.6.2020
FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO
entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares
O segredo contos para a cidade berço É evidente que Deus está nos doces, nenhuma dúvida sobre isso. Conta-se isto, e claro que é uma invenção, uma ficção elevada ao quadrado, ao cubo. A história é esta. Havia um segredo de culinária, um tão grande segredo que a mãe só o passava à filha, a uma única filha; e essa filha, mais tarde, passaria também o segredo a uma única filha, e assim por diante. E dizem que o segredo não foi transmitido em voz baixa, de boca para orelha, em distâncias mínimas. O segredo foi escrito, mas não num qualquer papel – e se alguém o rouba ou se ele desaparece? O segredo foi escrito nas costas; foi tatuado, melhor dizendo. Isso mesmo. Era assim então que se passava. A receita culinária secreta de um alucinante doce era tatuada nas costas da filha preferida. Essa filha jurava não mostrar as costas a ninguém, nem ao marido (quando o tivesse). E sim, o segredo ali estava bem guardado, passando de geração para geração. Ninguém segredava, insistimos - a mãe passava o segredo à filha num dia decisivo. A mãe dizia: Vou mostrar-te algo que nunca mostrei a ninguém, nem ao teu pai: as minhas costas. E a sós tirava a camisa e mostrava a tatuagem - a receita mais secreta do doce mais alucinante. Quando a filha fazia dezoito anos, a mãe tatuava-lhe nas costas a receita e dizia-lhe: não mostres as tuas costas a ninguém. E dizia ainda: escolhe uma única pessoa a quem passarás a receita. E assim se guarda, conta esta história ficcional, desde há muitos anos, um importante segredo de culinária. Eis o que a mãe dizia: Se mostrares as costas a muita gente, o segredo deixará de ser segredo. Se não mostrares as costas a ninguém, o segredo também deixará de ser segredo. O segredo só continuará a ser segredo se mostrares as costas a uma única pessoa, a uma única, a uma única pessoa.
ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES
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DIGIMON ADVENTURE LAST EVOLUTION KIZUNA [A]
Um filme de: Tomohisa Taguchi 14.30, 17.00, 19.30, 21.30 SALA 2
MELLOW [A]
FALADO EM JAPONESE LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Rikiya Imaizumi Com: Kei Tanaka, Sae Okazaki, Rie Tomosaka, Sara Shida 14.30
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complica uma situação alimentar que já estava a ser agravada pela propagação da pandemia da covid-19, que dificulta a aplicação de medidas para atacar o problema, salienta o CIR num comunicado citado pela agência de notícias espanhola, a Efe.
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MY HERO ACADEMIA: HEROES RISING [B]
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 11
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Quase cinco milhões de pessoas estão em risco de passar fome devido à quarta praga de gafanhotos do deserto que está a devastar as plantações da África Oriental, alertou ontem o Comité Internacional de Resgate (CIR). A nova invasão destes insectos
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PROBLEMA 12
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S 1 U 5 3D2 O6 K 4 7U 12 2 3 4 1 6 6 7 4
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FALADO EM JAPONESE LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Kenji Nagasaki 16.30, 19.00, 21.15 SALA 3
MARY [C]
Um filme de: Michel Goi Com: Gary Oldman, Emily Mortimer, 14.30, 16.45, 21.15
MELLOW [A]
FALADO EM JAPONESE LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Rikiya Imaizumi Com: Kei Tanaka, Sae Okazaki, Rie Tomosaka, Sara Shida 19.15
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UM LIVRO HOJE Este foi o meu primeiro livro que li de Henry Miller, por mero acaso. Apesar de não reconhecer, a esta distância temporal, os traços de uma obra do norte-americano, “Um Diabo no Paraíso” marcou-me ao ponto de me embalar para a leitura ávida dos “Trópicos” e da trilogia “The Rosy Crucifixion”. A narrativa desta obra vive da tensão entre um convidado parasita e a paciência do anfitrião. Enquanto leitor, a sua importância simbólica é mais preciosa do que a real qualidade da obra. João Luz
“UM DIABO NO PARAÍSO” I HENRY MILLER
3 1 2 4 5 4 7 3 7 6 5 MELLOW 1 2 3 6 7 Propriedade 4 7Fábrica3de Notícias, 2 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 6 Paulo 2Maia1e Carmo;5Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; 1 Lusa;5GCS;Xinhua 4 Secretária 6 deredacçãoePublicidadeMadalenadaSilva(publicidade@hojemacau.com.mo)AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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um grito no deserto PAUL CHAN WAI CHI
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maior palco do mundo é o palco politíco. Pode estar em qualquer lado e ter muitos actores em cena ao mesmo tempo. Recentemente, Hong Kong transformou-se num desses palcos. No dia 28 de Maio, a Assembleia Popular Nacional (APN) aprovou, por maioria, a controversa proposta de lei de segurança nacional para Hong Kong, com 2.878 votos a favor, um contra e seis abstenções. A versão final do documento será ratificada pelo Comité Permanente da APN e directamente incluída no Anexo III da Lei Básica de Hong Kong. Ninguém ficou surpreendido com a esmagadora votação a favor da lei. Pelo contrário, o deputado que votou contra e os seis que se abstiveram é que foram alvo de grande curiosidade. Os representantes de Hong Kong e de Macau que compareceram na Assembleia Popular Nacional e na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês apoiaram unanimemente o resultado da votação. A Chefe do Executivo de Hong Kong publicou uma carta aberta, impressa nas primeiras páginas de muitos jornais, apelando ao apoio à lei de segurança nacional de Hong Kong. As maiores organizações da cidade, os responsáveis pelas forças policiais e os reitores das principais cinco Universidades de Hong Kong seguiram-lhe o exemplo, fazendo o mesmo apelo. Esta situação ocorreu com frequência na China há décadas atrás, na sequência de movimentações políticas. Na altura, os membros do campo pró-governamental, tinham sempre de apoiar as decisões do Governo Central e seguir as suas directrizes. Mesmo que, futuramente, viesse a haver mudanças na cena política, podiam sempre dizer que não tinham compreendido bem o contexto anterior e assim sacudir a água do capote. Uma pessoa curiosa, só precisa de ir à Biblioteca Central consultar alguns jornais antigos e ver como grupos de patriotas se posicionaram por ocasião da “ Campanha Anti-Lin Biao e Anti-Confúcio”, de “Os Protestos de Tian’anmen em 1976”, da campanha “Criticar Deng Xiaoping, Contra-atacar o Divisionimo de Direita e a Tendência para Reverter o Veredictos” e dos “Protestos na Praça da Paz Celestial (Tian’anmen) em 1989”. Depois de uma leitura atenta, a pessoa perceberá que os melhores actores deste mundo não estão em Hollywood, mas sim nos bastidores da política. O título deste artigo é “Hong Kong, o grande palco”. Na realidade, Hong Kong teve no passado um grande palco, o “Grand Theatre”, sediado na Queen’s Road, na parte Leste de Hong Kong, onde se exibiam filmes e eram levadas à cena óperas cantonesas. Acabou por ser demolido, e
ZHU HONG
Hong Kong, o grande palco
no seu lugar foi construído o “Hopewell Centre”. O “Grand Theatre” passou a fazer parte da história, mas Hong Kong é actualmente o grande palco político, onde a China e os Estados Unidos se degladiam. É mais excitante e letal do que as “competições de artes marciais entre Wu Kung-i e Chan Hak Fu” que tiveram lugar em Macau há 60 anos atrás. Porque é que Hong Kong, o centro financeiro asiático que conheceu dias de glória, se transformou num Coliseu, num palco de lutas de gladiadores? Após a Revolução Cultural, Deng Xiaoping propôs reformas que abriram a China ao exterior e defendeu o princípio “um país, dois sistemas”. A ideia que presidiu à primeira medida foi a revitalização económica do país no período pós Revolução Cultural e a segunda foi orientada para a resolução dos problemas políticos que poderiam advir do regresso à soberania chinesa de Hong Kong e de Macau e também para uma tentativa de reunificação pacífica com Taiwan. No cenário internacional, a China estava a lutar para manter alguma discrição e para dar uma imagem de país desenvolvido, esperando vir a realizar o mais rapidamente possível as “quatro modernizações”.
Porque é que Hong Kong, o centro financeiro asiático que conheceu dias de glória, se transformou num Coliseu, num palco de lutas de gladiadores?
Apesar das perturbações causadas pelo “Protesto na Praça da Paz Celestial (Tian’anmen) em 1989”, Deng Xiaoping insistiu em persistir no caminho das reformas e da abertura, após a sua visita ao sul da China em 1992. O progresso económico da China nos últimos anos tem sido avassalador, o que prova o sucesso das reformas e das políticas de abertura. Mas se os responsáveis pela implementação destas políticas se desviarem do percurso estabelecido, ou interpretarem estas políticas de forma diferente, o progresso que foi alcançado pode vir a perder-se e a prosperidade pode transformar-se um revés económico. 。唯一的問題在於下這個決定前,有沒有 細心想一想香港推行基本法第23條立法,梁振 英解決不了?林鄭月娥亦解決不了? A “lei de segurança nacional para Hong Kong” aprovada pela Assembleia Popular Nacional (APN) parece ser a última cartada para travar os “meninos mal comportados” de Hong Kong. Mas antes de tomar esta decisão, terá a APN pensado porque é que Hong Kong não implementou o Artigo 23 da Lei Básica, durante a vigência do anterior e da actual Chefes do Executivo? Se um médico não prescrever o medicamento certo e não identificar a causa da doença, mas se limitar a aumentar as doses de um remédio desadequado, o doente acabará por morrer. Bom, neste caso, no grande palco político que é agora Hong Kong, não seria melhor colocar alguns artistas verdadeiros do que levar à cena musicais sino-americanos acompanhados por aquelas óperas chinesas típicas da Revolução Cultural, como “A Rapariga do Cabelo Branco” e o “Ataque ao Regimento do Tigre Branco”?
Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
Magoar alguém é transferir para outrém a degradação que temos em nós. PALAVRA DO DIA
Simone Weil
EUA/FLOYD ADVOGADO DE TRUMP PERDEU A COMPOSTURA A DEFENDER O PRESIDENTE
IPM PEDIDO AMOR À PÁTRIA A PROFESSORES E ALUNOS
L
OK Po, vice-presidente do Conselho Geral do Instituto Politécnico de Macau e representante da RAEM na Assembleia Popular Nacional, disse aos professores e alunos da instituição para amarem a pátria e defendeu a aprovação pelo Governo Central da lei de Segurança Nacional para Hong Kong. Segundo um comunicado da instituição, na sequência das reuniões duplas, em que Lok Po é citado, “a situação actual em Hong Kong é óbvia para todos”. Por isso, o também director do jornal Ou Mun, aponta que “é necessário e urgente estabelecer um mecanismo para manter a segurança nacional”. De acordo com as declarações de Lok Po, os professores e alunos têm de compreender que a decisão tomada pela APN “não só causou repercussões em todas as esferas da vida em Hong Kong, como despertou a atenção internacional”, o que no seu entender “demonstra que a decisão do Governo Central Popular foi oportunidade e adequada”. Por sua vez, Lei Hong Iok, presidente do Conselho Geral do IPM e membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), frisou que como rescaldo da reunião a China vai passar uma mudança de paradigma económico. “A China terá de expandir a procura doméstica para ter um desenvolvimento inovador, assim garantido o sustento das pessoas e mantendo a estabilidade social”, afirmou Lei. Neste sentido, o académico sublinhou que Macau tem de confiança na condução do país. “A pátria é o nosso forte apoio. Devemos construir Macau com diligência, com paz de espírito e com o coração tranquilo”, apelou.
O ( A irmã de Kim Jong-un) apelidou os desertores de “podridão humana” e “cães podres e bastardos” que traíram a sua terra natal, defendendo que era “hora de responsabilizar os seus donos”, referindo-se ao Governo sul-coreano
Déjà vu
Coreia do Norte ameaça romper acordo militar com Seul
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Coreia do Norte ameaçou ontem romper o acordo militar com a Coreia do Sul e fechar o gabinete de ligação transfronteiriço, se Seul não impedir que activistas continuem a enviar panfletos através da fronteira. A declaração surge pela voz da irmã mais nova do líder norte-coreano, Kim Yo-jong, e num momento em que as relações inter-coreanas esfriaram significativamente, apesar das três cimeiras em 2018 entre Kim Jong-un e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Uma reação que levou já ontem a Coreia do Sul a afirmar que planeia adoptar novas leis para proibir os activistas de lançarem panfletos anti-Pyongyang na fronteira entre os dois países. Os desertores e activistas norte-
-coreanos têm feito voar balões que transportam panfletos através da fronteira, com mensagens a acusar o líder norte-coreano de violar os direitos humanos e a denunciar a sua política nuclear. “As autoridades sul-coreanas pagarão um preço alto se permitirem que essa situação continue”, disse a irmã de Kim Jong-un num comunicado divulgado pela agência de notícias oficial KCNA. Na mesma nota apelidou os desertores de “podridão humana” e “cães podres e bastardos” que traíram a sua terra natal, defendendo que era “hora de responsabilizar os seus donos”, referindo-se ao Governo sul-coreano. Kim Jong-un ameaçou fechar o escritório de ligação transfronteiriça e quebrar o acordo militar, assinado durante a visita
de Moon a Pyongyang em 2018, que visava aliviar as tensões na fronteira. No entanto, a maioria dos acordos alcançados na reunião não foi implementada e a Coreia do Norte continuou a realizar dezenas de testes militares.
EM SUSPENSO
Kim Yo-jong também ameaçou pôr um fim definitivo aos projetos económicos entre as duas nações, em particular no que diz respeito ao parque industrial inter-coreano de Kaesong e às visitas ao Monte Kumgang. Essas duas actividades, que são lucrativas para Pyongyang, foram suspensas após as sanções impostas à Coreia do Norte por causa dos seus programas nucleares e lançamento de mísseis proibidos. Pyongyang encerrou em grande parte os seus laços com Seul após o fracasso em Fevereiro de 2019 da cimeira de Hanói entre Kim e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Desde então, as negociações entre Washington e Pyongyang sobre o programa nuclear norte-coreano foram suspensas também.
Racismo Boateng pede voz mais activa aos desportistas brancos O futebolista internacional alemão Jérôme Boateng, de origem ganesa, considerou ontem “desejável” que os desportistas brancos conhecidos ergam as suas vozes em homenagem a George Floyd, num sinal contra o racismo. “As nossas vozes são fortes, temos uma plataforma, e podemos chegar a muitas pessoas”, justificou o defesa campeão mundial, de 31 anos, que PUB
sexta-feira 5.6.2020
representa o Bayern Munique e a selecção alemã, em declarações à rádio Deutsche Welle. Boateng esclareceu, no entanto, que pelo facto de não se manifestarem não quer dizer que os desportistas brancos sejam racistas, mas que seria desejável que usassem da palavra, pela sua notoriedade. “Muitos já o fazem, mas acredito que muitos mais o poderiam fazer”, defendeu o jogador.
advogado pessoal de Donald Trump, Rudolph Giuliani, perdeu a compostura durante uma entrevista televisiva no Reino Unido, em que defendeu uma mensagem do Presidente norte-americano sobre a morte de George Floyd. O apresentador do programa televisivo matinal britânico Good Morning Britain, Piers Morgan, questionou Giuliani sobre a mensagem que Trump deixou na passada sexta-feira na sua conta da rede social Twitter, em que dizia que “quando os saques começam, começam os tiros”, referindo-se à resposta a dar para travar as manifestações violentas que assolam os Estados Unidos. Essa mensagem foi censurada pela empresa da rede social Twitter, alegando que ela incitava à violência, obrigando Trump a retratar-se e a dizer que a sua intenção era apenas alertar para a violência que os tumultos causam, no comentário aos incidentes em algumas manifestações de protesto pela morte de George Floyd, o afro-americano que morreu asfixiado quando estava sob escolta policial. “Você está a interpretar mal. Deliberadamente, está a interpretar mal”, protestou Giuliani, quando o apresentador disse que o Presidente “nunca deveria ter dito aquilo”. Piers Morgan criticou o advogado de Trump por perder a razão ao defender o seu cliente e a entrevista degenerou numa discussão acalorada e na troca de acusações pessoais, como Giuliani a gritar dizendo que o apresentador televisivo era “um mentiroso” e que fazia comentários “vergonhosos” e este a responder que o convidado estava “louco” e era “violento”. As imagens da discussão no estúdio televisivo tornaram-se virais nas redes sociais, onde é possível ver o advogado do Presidente dos EUA a perder a paciência. Nas redes sociais, os comentários dividem-se entre os que se riem com Rudolph Giuliani e os que o apoiam por ter conseguido enfrentar o apresentador, conhecido pela sua agressividade.