Hoje Macau 5 JUL 2016 #3606

Page 1

Director carlos morais josé

terça-feira 5 de julho de 2016 • ANO Xv • Nº 3606

Mop$10

pub

Agência Comercial Pico • 28721006

Lara Reis

Creche chega para o ano Grande Plano

O início do amor Paulo José Miranda

Direitos de Quem? UM

A resposta de Fernanda Gil Costa página 17

Uber

Isto dá para todos

Página 5

hojemacau

Sofia Mota

página 9

Telecomunicações deputados não poupam críticas a CTM e governo

Fogo Cruzado Tang KaiJian

Estudos da TErra pub

entrevista

O monopólio das telecomunicações em Macau esteve ontem na ordem do dia na Assembleia Legislativa. Deputados

acusam o Governo de ter assinado um “contrato de tolos” e de nada fazer para proteger o interesse público.

página 4

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

h

Lei dos animais


2

Lara Reis Cruz Vermelha deixa prédio da SCM. Creche abre em 2017

Três anos depois, a Santa Casa da Misericórdia conseguiu reaver o edifício Lara Reis, na zona de Sai Van, o qual estava a ser ocupado pela Cruz Vermelha. De dormitório de condutores de ambulâncias, o espaço vai passar a creche já em Setembro do próximo ano Sofia Mota

“Vai ser totalmente restaurado por fora, quer o edifício, quer todo o jardim. Vai ficar melhor do que agora” Carlos Marreiros arquitecto

Lugar aos novos

A

s ambulâncias estacionavam à porta e lá dentro pernoitavam os seus condutores. Era este o aproveitamento dado ao edifício Lara dos Reis por parte da Cruz Vermelha de Macau nos últimos anos. Mas o prédio, doado pelo capitão Fernando Lara Reis à Santa Casa da Misericórdia (SCM), regressa agora à casa-mãe para ser transformado numa creche. A garantia foi dada ao HM pelo provedor da SCM, António José de Freitas. “Queremos inaugurar a creche em Setembro do próximo ano, quando começar um novo ano lectivo. O prédio actualmente está devoluto, não está em condições e tem de ser adaptado”, apontou. A ideia era que a cedência do espaço se desse até Dezembro de 2014, mas como estava em causa a continuação do transporte de doentes que é feito diariamente pela Cruz Vermelha, o projecto foi sendo adiado. A Cruz Vermelha pagava apenas mil patacas mensais de renda, sendo que neste momento já está a realizar obras noutro espaço que possa acolher as ambulâncias. A entidade continua a ter a sua sede localizada nos NAPE.

“Da parte da Cruz Vermelha já saímos do prédio e neste momento estamos em obras para aproveitar outro imóvel noutra parte da cidade para servir de instalações ao transporte de doentes. Esse transporte não está em risco e tem de continuar, porque o Governo tem vindo a dar apoio nesse sentido. Está tudo a funcionar normalmente desde a nossa saída”, disse João Manuel Ambrósio, secretário-geral da Cruz Vermelha. Questionado sobre se a entidade de cariz social ficou insatisfeita com a decisão da SCM, João Manuel Ambrósio apenas disse compreender “que o imóvel tem de ser aproveitado”. “Fizemos o possível para mudar para outro local após recebermos a notificação para sair. O custo não é elevado, ainda não terminamos as obras. O Governo deu-nos um apoio financeiro para esta mudança”, disse, sem adiantar valores.

Beliches numa casa histórica

António José de Freitas explica que o edifício Lara Reis, antigamente com o nome vivenda Sol Poente, continha no seu interior, já envelhecido, vários beliches. “Pelo conhecimento que tenho aquilo

transformou-se num dormitório para os motoristas. As ambulâncias estavam estacionadas na estrada. Não é uma questão da SCM concordar, naturalmente era um serviço que vinha sendo prestado pela Cruz Vermelha, mas temos de ver que o prédio é nosso e vamos reavê-lo também para um projecto social. Não temos espaço para poder abrir mais uma creche.” Freitas frisa que a SCM “tem de rentabilizar o seu património”. “Quase todas as estruturas sociais que temos são nossa propriedade. Fazemos caridade para aqueles que precisam. A Cruz Vermelha funcionava, mas era uma espécie de apoio e dormitório, com beliches, porque a sede funciona nos NAPE”, referiu ainda o provedor.

Marreiros remodela

O arquitecto Carlos Marreiros, que também foi provedor da SCM, será o autor do projecto de reconstrução da creche e contou ao HM alguns detalhes da obra. “Vai ser totalmente restaurado por fora, quer o edifício, quer todo o jardim. Vai ficar melhor do que agora. Os jardins apresentam algum grau de degradação e até o próprio edifício. Por dentro o edifício já não é origi-

MAA

grande plano


3 hoje macau terça-feira 5.7.2016 www.hojemacau.com.mo

MAA

Raivas e retaliações

Pedida saída de Chui Sai On de membro honorário da SCM

A

“Temos de ver que o prédio é nosso e vamos reavê-lo também para um projecto social”

“Já saímos do prédio e neste momento estamos em obras para aproveitar outro imóvel noutra parte da cidade para servir de instalações ao transporte de doentes”

António José de Freitas provedor da SCM

João Manuel Ambrósio secretário-geral da Cruz Vermelha

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Cartório Notarial da SCM traduz-se num acto de retaliação pelo facto desta ter reavido o edifício Lara dos Reis. A SCM levou três anos para conseguir reaver o edifício, que se transformou num dormitório de condutores de ambulâncias não residentes”, disse o deputado ao HM. Confrontado com esta opinião, António José de Freitas disse tratar-se de uma mera coincidência. “Não sei responder a essa pergunta, mas por coincidência as coisas aconteceram. Não sei se a saída da Cruz Vermelha será um motivo, mas não posso comentar isso.” Carlos Marreiros, “com todo o respeito” que diz ter por José Pereira Coutinho, não concorda com a sua opinião e rejeita a ideia de retaliação por parte do Governo. Pereira Coutinho não deixou de alertar ainda para a transferência de mais três serviços públicos para um edifício comercial no centro de Macau, sendo que dois delas são o Fundo de Pensões e o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. “Não se percebe a lógica do arrendamento dos serviços públicos colocados em edifícios comerciais”, concluiu. A.S.S.

Conta-me histórias

“A história começa agora a ficar bem contada. A saída do Sofia Mota

nal e vamos reformular totalmente por dentro”, diz, acrescentando que “este edifício já estava a ser mal aproveitado pela Cruz Vermelha, que já tem uma sede com grande capacidade.” Para Marreiros, a SCM tem sempre o cuidado de estudar as necessidades da população tendo em vista o seu plano de actividades e as creches têm sido insuficientes. “A actual creche da SCM é tida como a melhor creche, ao nível de espaço, currículos e pela sua multiculturalidade”, disse ainda o arquitecto, que alertou para o facto da SCM não poder aumentar o número de alunos na actual creche. “Fazia toda a lógica ter mais uma creche porque as actuais instalações já foram ampliadas e se metermos mais alunos a sua qualidade vem por aí abaixo”, rematou. Fernando Lara Reis, falecido em 1950, foi professor no Liceu de Macau. Após a doação da sua casa à SCM, a vivenda albergou a Clínica Anti-cancerosa Lara Reis, sob alçada do Rotary Clube de Macau.

saída do 1º Cartório Notarial da Santa Casa da Misericórdia (SCM) deixou alguns membros da entidade enfurecidos com a decisão do Governo.Ao HM, o provedor da SCM, António José de Freitas, confirmou que alguns membros pediram mesmo a saída de Chui Sai On, Chefe do Executivo, como membro honorário da histórica associação. “Alguns irmãos sugeriram, mas é um assunto que compete ser analisado em assembleia-geral. Mas claro que não vamos fazer isso. Houve sugestões e percebe-se isso com a última decisão do Governo, que foi um rombo sem misericórdia. É normal que alguns irmãos estejam mais exaltados. Sou uma pessoa de bem, mas incomodo-me quando me fazem mal. Mas como provedor não vou fazer isso, apesar da SCM ter perdido a face”, disseAntónio José de Freitas. Para o deputado José Pereira Coutinho, a saída do 1º Cartório Notarial é a “retaliação” pelo facto da SCM ter retirado o edifício Lara dos Reis à Cruz Vermelha, que tem o arquitecto Eddie Wong como presidente. Eddie Wong é membro do Conselho Executivo e deputado na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, para além de ser um nome comum em projectos públicos.


4 hoje macau terça-feira 5.7.2016

CTM Deputados acusam empresa e Governo

“Contrato de tolos”

Tiago Alcântara

Política

Os membros do hemiciclo não pouparam críticas ao Governo e acusaram a CTM de se estar a aproveitar de um contrato mal feito e o Executivo de estar a deixar andar, sem ter em conta o interesse público

O

s deputados não estão satisfeitos com a forma como foi feito o contrato com a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) e mostraram-no ontem na Assembleia Legislativa (AL). Em causa estão problemas nomeadamente ao nível do monopólio que a empresa actualmente detém, também pelo contrato que o próprio Executivo fez: o chamado “5+5” permite à empresa ter cinco anos – dois deles em exclusivo - e uma renovação automática pelo mesmo período de tempo ou, no caso de rescisão, uma indemnização, que pode ascender a valores astronómicos. “Corresponde à soma do valor médio dos lucros antes da tributação registados pela empresa durante os últimos três anos. O Governo teria de pagar uma indemnização de 3,1 mil milhões de patacas”, relembra Chan Meng Kam, que diz que este “é um contrato de tolos, com cláusulas injustas”. Si Ka Lon concorda, bem como todos os outros quatro deputados que optaram por levar o assunto ao plenário, e diz que, apesar das críticas sociais, o facto do Governo “não poder agir” vai fazer com que o monopólio se mantenha. “Será possível pôr em prática a liberalização e a concorrência?”, indaga o deputado, apoiado por Chan Meng Kam, que considera que “a CTM está a fazer do imperador refém, para controlar a corte”. “Se for necessário pagar uma indemnização tão avultada a uma empresa de utilidade pública isso provocará agitação na sociedade. Apesar de ser um contrato de tolos, o Governo assinou e não tem interesse e capacidade para reverter para as autoridades o

serviço de telecomunicações”, atira ainda.

Era, mas não foi

Chan Meng Kam diz que a CTM toma decisões ao nível de preços, qualidade e até concorrência a seu bel-prazer e que o Governo “tem o direito de falar mas não o utiliza”. Ella Lei e Au Kam San relembram a confusão em torno da operação da CTM: o direito exclusivo deixou de vigorar em finais de 2011 e em 2012 teve início a liberalização do mercado. Mas o grande problema versa sobre os activos que, segundo o contrato, são considerados como as condutas subterrâneas para a instalação das redes de telecomunicações, pelas quais a CTM é responsável e é quem pode autorizar outros operadores a partilha-lhas. As elevadas tarifas com esses circuitos têm impedido que outras empresas de telecomunicação possam tê-los e, consequentemente, que haja concorrência e que os preços dos serviços ao público baixem. Au Kam San fala de uma situação “chocante”, que poderia ter sido contornada. “À semelhança dos outros serviços prestados em regime de exclusividade, quando termina o contrato os bens passam a pertencer ao Governo. Mas este não preparou devidamente as condições para permitir a entrada de uma nova concessionária quando terminou o

“Se o Governo continuar tolo, a CTM vai ser uma criada a mandar na patroa” Chan Meng Kam deputado

prazo do contrato exclusivo com a CTM. O contrato deixou de ser de exclusividade, mas a CTM continuou a ter direitos exclusivos. E como os serviços de telecomunicações nunca podem parar, acabou por continuar a conceder à mesma operadora as infra-estruturas de telecomunicações, como se fossem um bem exclusivo”, critica o deputado da ala pró-democrata, falando de uma “aliança” que impede a concorrência e que “favorece” a CTM. “De modo nenhum se pode falar de concorrência justa. E para além disso, quando não há concorrência, é a população que sai prejudicada.”

Solução urgente

Os deputados apelam ao Governo que resolva o problema, com Kwan Tsui Hang a acusar a empresa de se aproveitar da sua posição para aplicar concorrência desleal. O mesmo diz Si Ka Lon, que considera que o Governo deve adoptar soluções para liberalizar o mercado, além de sugerir um reforço nos “talentos que apreciam a produção deste tipo de contratos”, de forma a não acontecerem situações como as que têm vindo a acontecer. “Afinal, estes activos são do domínio público ou do domínio privado? Nos últimos quatro anos e meio a CTM responsabilizou-se apenas pela conservação e reparação e só assim conseguiu controlar a principal artéria do sector das telecomunicações de Macau, transformando os activos em [algo] para seu uso e gozo próprios, explorando e controlando esse mercado”, acusou o deputado. Au Kam San diz que “não se consegue explicar porque é que as autoridades celebraram um contrato destes, tão desvantajoso

Macau pode cooperar com faculdade em Timor

A

lexis Tam pondera ajudar Timor na construção de uma Faculdade de Letras. A instituição contaria com a colaboração da Universidade de Macau e do Instituto de Formação Turística. As declarações surgem de uma

reunião do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura com António da Conceição, Ministro de Estado, Coordenador dos Assuntos Sociais e Ministério da Educação de Timor, durante o XXVI Encontro das Univer-

sidades de Língua Portuguesa em Díli. Num comunicado, o Secretário relembra ainda os planos relativos à criação de um centro de formação bilingue em Macau enquanto plataforma entre a China e

“Quando não há concorrência, é a população que sai prejudicada” Au Kam San deputado tanto para o Governo como para o interesse público”, e pede ao Executivo que assuma o seu papel. Até porque “não devia ter permitido que fosse a CTM a dominar a situação, ao ponto de deixar o Governo fora de jogo.” Ella Lei vai mais longe e defende que “desde sempre” parece que as autoridades não apreciaram o conteúdo do contrato do ponto de vista do interesse público. Esta é a mesma razão que leva Au Kam San a pedir que os ajustamentos

dos preços de serviços públicos sejam matéria para ser analisada pelos deputados. A questão tem, contudo, de ser resolvida, diz o hemiciclo. “Se o Governo continuar tolo, a CTM vai ser uma criada a mandar na patroa”, rematou Chan Meng Kam. A semana passada, o Executivo afirmou que não havia ainda qualquer decisão final sobre o que fazer com a empresa.

os Países de Língua Portuguesa, em diversas áreas. Tam salienta que esta iniciativa poderá vir a concretizar uma maior cooperação com Timor Leste no que respeita ao ensino das línguas Chinesa e Portuguesa. Alexis Tam tem em conta o legado de cinco séculos de Língua Portuguesa em Macau referindo a mesma

enquanto “marca identitária” do território. O encontro que teve lugar entre 29 de Junho e 1 de Julho reafirmou os planos de cooperação entre Macau e Timor nomeadamente nas áreas da Educação, Segurança Social e Cultura.

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


5 hoje macau terça-feira 5.7.2016

U

ma lei cujo intuito é o de proteger animais, mas onde a preocupação incidiu mais sobre a protecção das pessoas. A Lei de Protecção de Animais foi ontem aprovada na especialidade na Assembleia Legislativa (AL), mas foram várias as críticas, inclusive ao nível técnico-jurídico. Os deputados mostraram discordar com algumas normas que permitem a protecção do animal, por considerarem “injusto” para com as pessoas. A aprovação artigo a artigo, que contou com algumas abstenções, vai fazer com que a lei possa entrar em vigor, mas não sem antes ser alvo de retoques, como ficou prometido pela Secretária para a Administração e Justiça. Desde o início da discussão foi pedida uma elaboração mais “clara” da lei na Língua Portuguesa. De acordo com Leonel Alves, também advogado, “80% do diploma” necessita de ser aperfeiçoado. “É a primeira vez que sou confrontado com um texto que não reúne as melhores condições para ser discutido em sede de plenário. Há erros gramaticais, incorrecções legísticas e contradições entre as normas”, explicou. Contradições foram também uma das questões levantadas por José Pereira Coutinho. “Esta lei peca por não ser clara. Afinal que direitos queremos proteger? Há mais de dez anos que andamos nisto, a Declaração dos Direitos dos Animais da ONU nem sequer é tida em conta.”

Vale arrancar olhos

Os direitos foram o que mais discussão motivou. Entre o hemiciclo, houve quem considerasse que a lei deveria ter em conta o bem-estar da população mais do que o dos animais e houve ainda dúvidas sobre artigos que se contrariam, como apontou Song Pek Kei. “É proibido abandonar o animal, mas depois já há uma excepção: se o dono não quer, pode entregá-lo no IACM. Aqui já não se considera abandono? Se o IACM não tem espaço, o animal é abatido e isto não é justo. Não se poderá fazer uma lei mais exequível?”, perguntou. Também Pereira Coutinho se juntou ao grupo. “É proibido [maus tratos], mas depois as sanções têm condicionantes, onde se diz que tem que resultar em mutilações graves. Então é punido, mas pode não ser se não for ‘censurável’? Quando é que é aceitável? E como se avalia a ‘irracionalidade’ dos meios usados?”, indagou, referindo-se a artigos “pouco claros”. A resposta de Sónia Chan a Pereira Coutinho foi peremptória: tem de haver excepções em nome da “saúde pública” e esta forma – sem mencionar o que é crueldade

Animais Lei de Protecção passa com erros e preocupações

Faca de dois gumes Algumas normas do novo diploma que defende os animais não agradaram a deputados. A lei foi finalmente aprovada, mas com muitos erros e contradições à mistura incensurável ou que meios são considerados “racionais” - foi a única maneira de incluir essas excepções na lei. “Temos de ter espaço para gerir algumas excepções, para que se possa salvaguardar a saúde pública”, defendeu, dando como exemplo a desratização. Pereira Coutinho não ficou satisfeito. “Então posso usar meios de tortura desde que seja uma mutilação simples?” Au Kam San interveio também sobre os maus tratos, pedindo explicações para a alteração de três para um ano de prisão nestes casos. Sónia Chan explica que o que foi tido em conta foi o sistema penal para outros crimes, bem como a realidade social. É que, diz, “nos últimos anos não houve casos muito graves de maus tratos” em Macau.

Já os responsáveis do IACM, respondendo a Song Pek Kei – que questionou por que não se obriga ao registo de todos os animais com dono para se poder responsabilizá-lo em caso de abandono – dizem que o registo de cães é obrigatório “por causa da raiva e porque o abandono de cães vai afectar a higiene pública”. Mas “também pode ser fundamento para ver quem abandona”. Registar os outros animais, defendeu a responsável do IACM, “iria incomodar muito os cidadãos”. A utilização de animais em investigações científicas é outra das normas com permissão de excepção, desde que o IACM autorize. Algo que é “inadmissível” para Coutinho, que fala em símios, cães e gatos como possíveis objectos de experimentação.

“De nada vale proibir, se depois se abrem excepções. Hoje temos um presidente do IACM, amanhã podemos ter outro. A Convenção de 1978 proíbe expressamente isto.” O IACM diz que os casos “são raros”, mas que “obviamente não se iria impedir o desenvolvimento científico se este favorece os humanos”.

Cão de elevador

A Secretária garante que o intuito da lei “é sobre o amor entre humanos e animais e de harmonia de convivência”, mas Chan admite que o diploma “também é um regime para controlar e gerir os animais, porque há pessoas com medo e eles podem atacar”. “Tivemos de encontrar um equilíbrio entre a protecção e o controlo.” O equilíbrio pareceu pender mais para o lado dos humanos

Política

quando chegou o tema da utilização de elevadores por cães. A nova lei prevê que os animais tenham de usar trela, sendo que só os cães com 23kg ou mais precisam de açaime. Diversos deputados pediram a alteração do diploma para que fosse obrigatório nos elevadores o uso de açaime em todos os cães. As razões foram muitas e surpreendentes. “É perigoso, por exemplo se vai no elevador uma mulher com carne fresca que comprou no mercado o cão pode atacar. As pessoas já têm de sair do elevador para deixar os cães entrarem, porque têm medo. Algo pode acontecer”, começou por dizer Cheang Chi Keong. “Se uma mulher está com a menstrução, o cão pode ir lá também. E as crianças que vão no elevador nem conseguem dormir à noite, com medo”, acrescentou Mak Soi Kun. Sónia Chan, que disse concordar com o uso de açaimes em todos os cães, explicou contudo que não se iria mudar a lei devido à necessidade de equilíbrio de direitos dos animais e das pessoas. “A situação não é descontrolada, com trela o dono controla o cão”. A decisão não satisfez os deputados, que sugeriram que os prédios elaborassem regulamentos próprios no sentido de obrigar ao açaime, tendo havido até alguns que sugeriram a proibição total de cães nos condomínios. “Temos de proteger as pessoas. Se o cão morder alguém no elevador, depois é que vamos alterar a lei? No elevador não há como fugir, na rua ainda nos podemos refugiar numa loja. E as pessoas terem de sair para eles entrarem é justo?”, apontou Cheang Chi Keong. Os cães com 23kg também podem ser dispensados de usar açaime pelo IACM, que garante vai ter 21 veterinários para analisar os cães. “Sugiro que seja rigoroso, porque isto implica com a vida das pessoas”, acrescentou ainda Cheang Chi Keong, que não ficou satisfeito com a manutenção do diploma como está agora, apesar de Sónia Chan garantir que, em caso de mordidelas, a responsabilidade é do dono e não do Governo, que deu a dispensa. Apesar das contradições – e de não incluir protecção aos galgos, licenciamento de lojas de animais ou de veterinários – a nova lei vai permitir a existência de novas regras para condições de vida para os animais e punição criminal para violência ou abandono nas ruas. Leonel Alves já auxiliou no plenário a correcção de algumas falhas, mas a lei terá ainda de ser melhorada na sua versão portuguesa, entrando em vigor depois de publicada em Boletim Oficial. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo


6 Política

hoje macau terça-feira 5.7.2016

Gcs

Razões de cá Secretário reitera erros no relatório dos Direitos Humanos

W

ong Sio Chak, Secretário para a Segurança, voltou ontem a assegurar que o Executivo rejeita as conclusões publicadas no mais recente relatório sobre o tráfico de pessoas do departamento de Estado dos Estados Unidos da América. Segundo um comunicado oficial, o Secretário referiu que o Executivo “tem-se empenhado na prevenção e no combate das actividades ilegais relacionadas com tráfico de pessoas e tem obtido resultados eficazes.” Para além disso, o relatório “interpretou erroneamente e as conclusões não são verdadeiras”, para além de conter “alegações infundadas sobre a situação de Macau”. À margem de uma cerimónia de lançamento do primeiro número da revista “Polícia de Macau”, Wong Sio Chak disse ainda aos jornalistas que “apenas um caso de crime de tráfico de pessoas foi instaurado em 2014”, tendo sido arquivado por falta de provas. O Secretário disse ainda que se registaram três casos de tráfico humano o ano passado, sendo que “dois foram arquivados por insuficiência de provas e um está sob investigação”. Os EUA falam de seis casos, quatro envolvendo crianças, mas a secretaria para a Segurança não respondeu a questões do HM relativamente ao caso.

Por todo o lado

Poder do Povo Associação não quer assentos na Assembleia

Simplicidade e bom senso A Poder do Povo não quer ocupar quaisquer assentos na AL, até porque não tem condições. É o que assegura um responsável do novo grupo, que diz que a Associação é independente da homónima de Hong Kong sentou diversos residentes através de petições entregues ao Executivo e já se manifestou publicamente contra o que considera ser injustiças sociais. Recentemente, por exemplo, a Poder do Povo protestou contra a ideia do deputado Cheang Chi Keong em introduzir trabalhadores não-residentes no sector dos croupiers e pediu mais habitação pública.

Sem dúvidas

Mas, quando é questionado sobre se a intenção de representar a população no hemiciclo está em cima da

mesa, Cheong Weng Fat é peremptório: “a Associação só dá uma mão aos residentes quando é preciso”, começa por dizer ao HM. “Fui membro da Associação Macau Selfhelper, e como mudaram os dirigentes decidimos antes organizar esta nova associação, mas continuamos a apresentar as injustiças sociais e pedidos do público.” Como explica o vice-presidente, a sua anterior associação também contava com residentes do sector “básico”, pelo que diversos trabalhadores “já conhecem” o responsável e pedem-lhe,

O grupo tem apenas um objectivo: apresentar as injustiças do público ao Governo

assegura, ajuda. “Só por isso. Não me vou candidatar nas próximas eleições, nem eu, nem os membros da Associação, porque não temos nem capitais suficientes, nem condições – como poder e influência junto do Governo – para nos candidatarmos.” Cheong Weng Fat foi ainda questionado sobre se há qualquer ligação com a Poder do Povo local com o grupo com o mesmo nome de Hong Kong, mas o vice-presidente assegura que ambas são independentes “ainda que haja comunicação” e que se mantenha “uma amizade”. O que há, assegura, é um objectivo semelhante: o que representar o público frente ao Executivo. Tomás Chio (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

Gcs

C

hama-se Poder do Povo e surgiu no mês passado como uma associação política, mas não tem qualquer vontade de participar nas próximas eleições da Assembleia Legislativa (AL), no próximo ano. Contactada pelo HM, a Associação diz que o único objectivo é defender a população. A Poder do Povo nasceu no mês passado, tendo como presidente Chan Kin Wa e como vice-presidente Cheong Weng Fat. O segundo assegura ao HM que o grupo tem apenas um objectivo: apresentar as injustiças do público ao Governo. E é isso que a Associação tem estado a fazer. Já repre-

Segundo o Secretário para a Segurança, “a prostituição, lenocínio e o tráfico de pessoas são três conceitos diferentes, sendo que a prostituição é um fenómeno social que existe em todas os países e regiões no mundo, não só exclusivamente em Macau”. Quanto à retirada da lei de assistência judiciária inter-regional em matéria penal da Assembleia Legislativa, Wong Sio Chak disse tratar-se de um diploma que terá “um impacto a longo prazo”, e que deve “respeitar ambos regimes (jurídicos)”, pelo que o conteúdo da lei merece “um estudo mais aprofundado, sendo o mais importante atingir um consenso”. Sobre o caso da jovem portuguesa portadora do BIR que foi levada pela polícia para uma carrinha com pessoas que estariam ilegais, Wong Sio Chak disse que “do ponto de vista jurídico e de orientações de trabalho não existe qualquer problema, mas na área de cumprimento de lei de forma mais humanizada, o processo pode ser revisto e aperfeiçoado”. A.S.S.


7 hoje macau terça-feira 5.7.2016

Costa Nunes Vera Gonçalves convidada a ficar

Mudanças no jardim hoje macau

Vera Gonçalves foi convidada para continuar no jardimde-infância D. José da Costa Nunes como educadora, mas ainda não tomou uma decisão definitiva. O presidente da APIM quer melhorar a gestão de recursos humanos e realizar obras

D

irectora do jardim-de-infância D. José da Costa Nunes desde 2009, Vera Gonçalves está de saída do cargo, mas foi convidada para continuar na instituição de ensino como educadora de infância. A garantia foi dada ao HM por Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação de Promoção de Instrução dos Macaenses (APIM). “Vamos ter mais uma turma e vamos precisar muito dela”, disse Senna Fernandes, que garantiu que a saída nada tem a ver com o trabalho de Vera Gonçalves, a quem teceu elogios. “A Vera apareceu numa altura importante para a APIM mas agora o universo é outro. Quando assumiu funções havia poucas crianças e não havia a abertura que o Costa Nunes hoje tem”, disse ainda. Vera Gonçalves disse ao HM que ainda não tomou uma decisão quanto ao seu futuro. “Não estava à espera que me dispensassem, fui apanhada de surpresa”, disse apenas. “Julgo que a nova direcção irá continuar o bom trabalho que foi

feito até agora. A direcção da APIM mudou e naturalmente as equipas também são mexidas. Quando comecei as minhas funções, em 2009, o jardim-de-infância tinha 53 alunos, hoje tem 153. Isso é devido ao grande investimento que houve na qualidade. Temos conseguido ir reduzindo o saldo negativo das contas, fomos de encontro às expectativas dos pais, proporcionamos o Mandarim e o Inglês. O ano passado recebemos

Nascer do novo

Arrancam preparativos para Edifício de Doenças

A

construção do Edifício de Doenças Transmissíveis que vai nascer ao lado do Hospital Conde de São Januário vai obrigar à demolição de cinco prédios, entre eles o Complexo de Apoio à toxicodependência do Instituto de Acção Social. O anúncio é feito pelo Gabinete de Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) num comunicado, onde o organismo orçamenta a demolição em 1,15 milhões de patacas. Depois de, numa resposta ao deputado Ng Kuok Cheong, o GDI ter indicado que a construção do edifício iria mesmo avançar e já neste trimestre, o organismo

responsável pela obra avança que ontem, juntamente com os Serviços de Saúde (SS), iniciou a vedação do terreno e a demolição de infra-estruturas. “Após a conclusão desses trabalhos irá começar a demolição, programada e separada, de cinco edifícios, incluindo o armazém dos SS e Complexo de Apoio à toxicodependência do IAS. Após a demolição dos edifícios terão início as obras de terraplanagem”, pode ler-se no comunicado. O novo edifício vai ter mais de 5500 metros quadrados, oito andares com 52,5 metros e 80 enfermarias. Serão ainda incluídos um bloco operatório, parques de

“Vamos ter mais uma turma e vamos precisar muito dela” Miguel de Senna Fernandes presidente da APIM

o Prémio Identidade do Instituto Internacional de Macau e esse foi um reconhecimento do trabalho feito até aqui. Cada vez somos procurados por pais chineses em que não há um único falante de Português na família. Temos listas de espera e tudo isso é comprovativo do nosso sucesso.”

Obras e recursos humanos

Sem levantar muito a ponta do véu, Miguel de Senna Fernandes

sociedade

fala apenas na necessidade de reestruturação dos recursos humanos. “Estamos numa fase de mudanças e acho que há espaço de implementação para outro tipo de ideias. Queremos um melhor aproveitamento dos recursos humanos, que não estavam devidamente aproveitados. Tem de mudar a forma como o jardim-de-infância é gerido. Há pessoal que poderia estar a exercer determinadas funções e não está.” Para além da contratação de mais um enfermeiro a tempo inteiro, o presidente da APIM está à espera de apoio financeiro do Governo para a realização de obras. “Desde que se assegure a qualidade em termos de espaços, não temos problemas em receber mais crianças. Está tudo indicado para fazermos obras, pedimos subsídio e ainda não houve resposta por parte da DSEJ. É visível o estado de degradação do edifício mais velho, quase em termos estruturais, e já exige alguma atenção”, referiu Miguel de Senna Fernandes. Sobre a saída de Vera Gonçalves, Lurdes de Sousa, presidente da Associação de Pais do Costa Nunes, destaca o diálogo estreito que sempre foi mantido com a direcção do jardim-de-infância. “Tivemos uma boa colaboração com a escola e a directora. Vamos ter em breve uma reunião com a APIM e vão ser facultadas mais informações sobre o ano lectivo. A APIM irá nomear uma directora que, esperamos, seja qualificada e que possa fazer uma boa gestão. A escola tem melhorado o funcionamento nos últimos anos e a Associação pretende que isso continue. A escola tem vindo a crescer em termos de números de alunos e isso obriga a uma maior gestão e é essa a nossa preocupação”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

estacionamento e alas para consultas externas. A obra de demolição vai demorar 120 dias, não havendo para já data para a conclusão total do edifício.

Avaliação positiva

No comunicado, o Governo faz questão de relembrar que o novo espaço – que terá um sistema de purificação das águas residuais – foi positivamente avaliado pela Organização Mundial de Saúde e por especialista da área. Apesar da polémica – que levou residentes da zona a queixar-se por temerem infecções -, o Executivo garante a segurança e assume que o centro terá um papel fundamental. “Este edifício servirá para responder aos surtos de doenças transmissíveis. As enfermarias do edifício irão desempenhar um papel fundamental no bloqueio

das fontes de infecção das doenças transmissíveis, nomeadamente naquelas que são transmitidas pelo ar, gotículas e fluidos corporais, reduzindo, assim, a influência destas doenças nos residentes e

salvaguardando a saúde pública”, garante o Executivo, que acrescenta que as enfermarias poderão ser usadas para internamento de doentes de outras especialidades hospitalares. J.F.


8 sociedade

hoje macau terça-feira 5.7.2016

Consulado Dirigente sindical pede melhores condições de trabalho

-Geral de Portugal em Macau com estas competências, penso que é uma prática que deverá ser generalizada.”

Uma questão de carreira

Mais condições

Rosa Teixeira Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas, defende melhores condições de trabalho e de atendimento, bem como mais funcionários bilingues para o Consulado-Geral de Portugal em Macau HOJE MACAU

A

radiografia feita não traça um bom diagnóstico. Rosa Teixeira Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas (STCDE), disse ao HM que os trabalhadores do Consulado-Geral de Portugal em Macau sofrem os mesmos problemas laborais que os restantes postos consulares espalhados pelo mundo. “A situação dos trabalhadores no Consulado-Geral em

“Todos sofremos dos mesmos males: sem aumentos salariais há sete anos, com encargos contributivos crescentes, sem estímulo e sem carreira” Rosa Teixeira Ribeiro dirigente do STCDE Macau é idêntica à dos restantes trabalhadores nos outros países, pois todos sofremos dos mesmos males: sem aumentos salariais há sete anos, com encargos contributivos crescentes, sem

estímulo e sem carreira”, disse Rosa Ribeiro Teixeira, numa entrevista concedida por e-mail. Sobre o acordo recentemente assinado com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que versa

sobre a criação de um mecanismo de variação cambial dos salários, a dirigente sindical diz que pode levar mais pessoas a escolher uma carreira nesta área. “A questão principal é a revalorização salarial de todos os trabalhadores, de modo a que os seus salários permitam, no mínimo, auferir um rendimento consentâneo com o custo de vida do país ou região onde estão instalados e possam viver de forma decente. Se o salário for correcto, será atractivo e pessoas com talento e potencial podem efectivamente pensar que existe um futuro profissional na carreira consular, o que não é o caso neste momento”, apontou. Actualmente, os trabalhadores do Consulado ganham abaixo da mediana salarial de Macau, que é de cerca de 15 mil patacas. Rosa Ribeiro Teixeira fala ainda na necessidade de expandir o número de funcionários bilingues. “O que todos os postos precisam é de funcionários perfeitamente bilingues, ou mesmo trilingues, de modo a tornar o atendimento célere e não ser necessário passar pela mediação de um tradutor. Já existem trabalhadores no Consulado-

HOJE MACAU

Ali é que não

Terrenos do La Scala “não são adequados” para habitação pública

O

s terrenos do La Scala levantam polémica no que respeita à sua utilidade para a construção de habitação pública. A questão foi levantada no programa Fórum Macau por Wu Chou Kit, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), que considera que a localização dos terrenos do La Scala não têm as condições necessárias para habitação. A área situada na Avenida de Wai Long,

junto ao aeroporto é, para o membro do CPU, uma zona de logística e infra-estruturas onde se situa também uma incineradora. Estas circunstâncias aliadas à falta de condições de tráfego constituem factores negativos para a construção de habitação pública, diz Wu Chou Kit, que sugeriu ainda que o Governo considere a realização de um concurso público para exploração dos terrenos para habitação privada sendo que os capitais obtidos pode-

riam ser utilizados para o desenvolvimento da habitação social.

Outra posição

Por seu lado Si Ka Lon discorda desta posição, sendo que considera que as zonas mais desoladas podem acolher construção enquanto aponta o caso da construção de verdadeiras cidades em zonas idênticas no interior da China. Para o deputado, o Governo deve assumir com determinação a construção planeada e alerta para

a necessidade urgente de habitações económicas dado o volume de candidaturas. Si Ka Lon adianta ainda que o Governo deverá proceder ao processo de candidaturas à habitação de uma forma regular e calendarizada de modo a evitar a sobrecarga das mesmas de uma só vez.

O Governo já disse que pretende utilizar estes terrenos para a construção de habitação pública, depois destes terem sido recuperados pelo Governo na sequência da condenação dos responsáveis da empresa por corrupção. Tomás Chio (revisto por SM)

info@hojemacau.com.mo

A dirigente do STCDE, que representa 80% dos trabalhadores consulares, pede uma aposta no recrutamento de trabalhadores com maior formação jurídica. “Seria importante dotar este Consulado de pessoal especializado nos sectores sociais e jurídicos, pois as necessidades das comunidades evoluem, e importa que a comunidade portuguesa tenha o apoio e a protecção consular não só que merece mas também a que tem direito”, concluiu. Rosa Ribeiro Teixeira fala ainda da aposta que deve ser feita ao nível das condições de trabalho. “Pelo que vi já faz um ano, seria possível melhorar algumas coisas, em especial no sector do atendimento dos passaportes, com uma evidente falta de condições de trabalho e de atendimento, num espaço reduzido, uns em cima dos outros, sem assentos nem secretárias funcionais.” Apesar das falhas que aponta, a dirigente sindical destaca “a extraordinária capacidade de trabalho destes trabalhadores, a sua dedicação, atenção e empenho, não obstante as vicissitudes da sua prestação de serviço”. Tal como o HM já noticiou, esta semana será discutida a questão da variação cambial dos salários no Consulado-geral de Portugal em Macau, já que o novo acordo entrou em vigor no passado dia 1 de Julho. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Troca de manuais e fardas na EPM

Porque no aproveitar é que está o ganho, terá lugar nos próximos dias 6 e 7, paralelamente às matrículas, a iniciativa de troca de manuais e livros escolares na Escola Portuguesa de Macau (EPM). Numa iniciativa da Associação de Pais e Encarregados de Educação desta escola com a Associação de estudantes, a EPM estará a receber livros e fardas usadas e a entregar os mesmo aos interessados numa iniciativa contra o desperdício e a apelar à reciclagem destes materiais.

Mais de meia centena de ilegais

Segundo os dados estatísticos fornecidos pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública relativos ao combate de trabalhadores ilegais do mês Maio, foram registados 58 casos em 277 locais fiscalizados. Comparativamente aos dados do mês anterior divulgados pela TDM, o número de casos é superior tendo sido identificados 40 casos em Abril.


9 hoje macau terça-feira 5.7.2016

Uber Empresa pede à DSSOPT “regulamento amigável”

Rezas a Rosário A Uber chegou ontem à DSSOPT em vários riquexós. O objectivo? A entrega do que a empresa diz serem emails de “milhares de residentes e turistas a apoiarem o serviço”. “Um regulamento amigável para os consumidores” é o que Trasy Lou Walsh, a directorageral em Macau, pretende

D

e s de histórias de grávidas que, não fosse a Uber, teriam tido o filho em lugar menos próprio que o hospital, a gente que se insurge contra os “criminosos dos taxistas” e a “falta de justiça no território” para os colocar na ordem, até à incapacidade dos motoristas de táxi falarem Inglês. São estas e outras questões que a Uber diz poderem encontrar-se nos milhares de emails que a empresa assegura ter recebido de residentes e turistas (70% e 30% respectivamente). As cartas foram ontem entregues a Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, juntamente com o pedido de legalização da actividade. “Sei que o Secretário Rosário está muito ocupado com os desafios dos transportes, mas espero que tenha tempo para ler e responder a estas cartas”, disse Trasy Lou Walsh, directora-geral da Uber em Macau, após chegar às instalações da Direcção dos Serviços de Solos,

Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) em vários riquexós, para “demonstrar” como os transportes têm evoluído. “Acreditamos que o melhor caminho é sermos construtivos”, disse Trasy numa crítica velada às multas que os condutores vão recebendo que, diz a responsável, “são baseadas em regulamentos ultrapassados”. A Uber pretende sentar-se à mesa com o Governo para eliminar o vazio legal e “elaborar um regulamento amigável para os utilizadores”, como referiu a responsável. Trasy Lou não indica, contudo, o que entende por regulamento amigável, respondendo apenas que “não ter os detalhes” consigo no momento.

Multas e detenções

Confrontada com as multas que têm vindo a ser impostas aos condutores, a directora da Uber não quis fazer comentários, mas um dos seus colegas de trabalho admitiu que sim, que estas têm vindo a acontecer. Sem especificar montantes, admitiu que alguns clientes também têm sido detidos temporariamente para identificação. O HM sabe, todavia, que as multas podem chegar às 30 mil patacas, verba que, segundo Jason (nome fictício), um condutor da Uber, admitiu ser posteriormente

Sociedade

Olímpico complexo

Membros do Desporto discordam de demolição na Taipa

P

pago pela empresa. “O problema”, diz-nos, “é que mesmo que nos paguem as multas, ficar com o carro apreendido alguns dias é muito inconveniente”. Recorde-se que os condutores da Uber utilizam as suas próprias viaturas particulares.

Altos e baixos

A Uber chegou ao território em Outubro de 2015 e, após uma entrada de leão do Governo, levando mesmo Leong Heng Teng, porta-voz do Governo, a prometer “fazer de tudo para impedir, de forma séria, que estes veículos circulem”, recentemente parece ter sido aberta uma porta ao diálogo após interpelações de vários deputados da Assembleia Legislativa. Num relatório da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública sobre a situação dos táxis emitido no final de Maio passado, lia-se que “apesar deste tipo de transporte de passageiros não satisfazer as disposições da lei vigente, o certo é que obteve o reconhecimento dos cidadãos que o têm utilizado. Na opinião destes, a qualidade do serviço é muito melhor do que a dos táxis normais, o serviço é rápido e resolve, eficazmente, as necessidades ao nível das deslocações”. Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo

un Weng Kun, actual presidente do Instituto do Desporto, parece aceitar a demolição de parte do Complexo Olímpico da Taipa como dado adquirido. O responsável afirmou esta semana que “propôs às Obras Públicas a manutenção de espaços desportivos nas futuras habitações sociais” que vão nascer no local, “tais como campos de badmington e de basquetebol”. Diz ainda o Presidente do ID que “espera por mais espaços destinados a uma vida saudável nas novas habitações” e aguarda pelos acordos com a Universidade de Macau para a utilização de espaços com finalidades desportivas. A posição diverge da linha do anterior presidente do ID e actual presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), José Tavares. “Estou fora do ID mas acho que o Governo deveria pensar um pouco mais no assunto. Se existir alternativa, faz mais sentido do que transformar aquele local em habitações sociais”, frisou ao HM. Tavares recorda ainda que já na altura, o ID assumiu a posição de que, se o caso fosse avante, os serviços de Habitação deveriam compensar com a entrega de uma parcela de terreno igual para a construção de instalações desportivas. “Foi sempre essa a nossa posição”, garantiu ainda. O mês passado, o Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) anunciou a decisão de demolir o edifício do Complexo Desportivo Olímpico na Taipa para a construção de habitação pública. O anúncio motivou uma reacção enérgica de um outro ex-Presidente do instituto, Manuel Silvério, com o envio de uma carta de repúdio ao Governo. Mas há mais pessoas contra.

Comunidade contra

“A zona não é adequada para habitação pública, ou seja, zonas de elevada densidade populacional como normalmente estas urbanizações são,” começa por dizer ao HM William Kwan, membro do Conselho do Despor-

to nomeado pelo Chefe do Executivo. “Esta zona foi planeada como desportiva, ou instalações sociais e desportivas e, caso este plano avance, a cidade vai ficar parecida com um local sem organização”, diz o conselheiro, entrevendo ainda a possibilidade de futuros “conflitos entre as associações desportivas e os moradores”. António Fernandes, Presidente da Associação Recreativa dos Deficientes de Macau também não ficou muito entusiasmado com a ideia. “Aquele sítio não é próprio para habitação social. Desde o início que é dedicado a ao desporto. Estar a desviá-lo para outros fins não faz muito sentido”. Além disso, o responsável pelos atletas paralímpicos de Macau refere que em Macau não há locais que cheguem para a prática desportiva e diz mesmo que, no caso da associação que gere, “dava jeito ter um espaço ali”. Fernandes adianta mesmo que “utilizar aquele edifício para albergar todas as modalidades é o que faria sentido.” Charles Lo, presidente do Comité Olímpico de Macau, joga mais à defesa dizendo que “como homem do desporto gostava de ver mais lugares para actividades desportivas”. Contudo, se o Governo tiver uma razão muito forte, “deve continuar com o plano”, frisa, admitindo ainda que “como não conhece as razões que levaram o Governo a tomar essa decisão, ainda não consegue tomar uma posição definitiva”. Recorde-se que o edifício em questão é o local onde funcionou a sede das comissões organizadoras dos Jogos da Ásia Oriental (2005), Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (2007) e Jogos da Lusofonia (2006). Em declarações ao HM, na passada sexta-feira, Manuel Silvério disse “não compreender a decisão”, congratulando-se, todavia, “por alguns conselheiros do CPU terem votado contra”. Manuel Nunes (com Angela Ka) info@hojemacau.com.mo


10 entrevista

Tang Kaijian investigador e autor na área da “Macaologia”

Tang Kaijian é professor da Universidade de Macau e dedica-se sobretudo à investigação da área da “Macaologia”. O também autor lançou recentemente uma compilação exaustiva da influência do Ocidente em Macau entre os séc. VI e XIX. Considerado já pioneiro na investigação histórica da RAEM em língua chinesa, Tang Kaijian alerta para a necessidade de preservar a multiculturalidade que caracteriza a região e já está a ajudar nesse sentido, investindo o que pode em tradução de documentos Como é que nasceu o interesse pelo estudo de outras etnias? Estudei em Lanzhou que se situa no centro noroeste da China e que pelas suas características geográficas era um lugar propício à investigação nessa área. Como surgiu a ideia de começar a estudar Macau e as suas influências? Surgiu essencialmente devido a duas razões: por um lado, sou natural de Hunan, que fica situado no Sul da China. Quando fui para a Universidade de Jinan notei que o conhecimento entre o Norte e o Sul da China está completamente separado e que [os dois lados] não comunicam. Percebi também, visto que estudava as etnias no Noroeste, que em Jinan era difícil aceder a informações e materiais rigorosos acerca das etnias no norte. Por outro lado, naquela altura estava em discussão aberta a questão da transferência de Macau e Hong Kong para a China. A Universidade de Jinan criou uma equipa de professores para que estudassem estas questões. Integrei a equipa de Macau e comecei os meus estudos acerca do território.

Sofia Mota

Veio para Macau para aprofundar esse estudo? Na Universidade de Jinan, após 20 anos de estudo na área da “Macaologia” formei uma equipa que honrosamente ficou chamada de equipa Tang por ser liderada por mim. Na altura era considerada a equipa mais forte no estudo da “Macaologia”. Acabei por formar muitos alunos também nesta área. As barreiras eram muitas, essencialmente linguísticas, na medida em que as fontes eram em Português, Espanhol ou mesmo Francês. Numa viagem de trabalho à Europa encontrei-me com o director da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau, que entretanto tinha criado na instituição o departamento de História. Daí surgiu o convite para vir para Macau. Seria mais fácil estudar a RAEM estando a viver e investigar aqui. Foi muito tempo a estudar Macau, numa investigação exaustiva. Quais os maiores desafios?

“Ma territ “Sem traduções dos documentos que na sua maioria estão em Português não é possível estudar Macau” O maior desafio sem dúvida que foi a Língua Portuguesa. Se não houvesse o estudo dos documentos em Português para sustentar, o estudo de “Macaologia” nunca se poderia denominar de acabado. Quando percebi esta dificuldade em Macau passei a exigir que todos os meus alunos frequentassem também a disciplina de Português, sendo que já tinha a experiência de Jinan. São os meus alunos que acabam por traduzir muitos dos documentos de pesquisa. Com o financiamento dado pela UM pude trabalhar com alunos de mestrado e doutoramento de Português, o que representou uma grande mais valia. A história de Macau não é possível ser feita sem recorrer à Língua Portuguesa. Sem traduções dos documentos que na sua maioria estão em Português não é possível estudar Macau. Do estudo que fez, quais as áreas que para si tiveram um maior interesse? Penso que o mais importante é a influência que as culturas ocidentais tiveram na área da religião, nomeadamente no que respeita à católica. Apesar de também me dedicar ao estudo da lei ou da arquitectura, penso que a influencia religiosa social é a mais interessante. Considera Macau um lugar único no mundo devido à miscelânea cultural? Sem dúvida. Desde o séc. XVI ao séc. XIX que Macau foi o único espaço multicultural com contacto directo com a China. Só depois do séc. XIX é que cidades como Xangai e Hong Kong começaram a ter esta componente multicultural. Considero que Macau é efectivamente único no território chinês.


11 hoje macau terça-feira 5.7.2016

acau é único no tório chinês” Com a integração de Macau na China, esta característica multicultural está condenada à morte? Numa perspectiva objectiva, este processo de perda da herança multicultural é inevitável. Macau é um espaço pequeno com uma cada vez maior afluência e influência do interior da China. Isto faz com que a perda desta característica seja realmente inevitável. Quando falamos de “Macaologia” já podemos começar a estar falar em história. Por outro lado, considero que o Governo já investe pub

na manutenção desta característica multicultural. Agora tudo depende do desempenho do próprio Governo. Se este não se empenhar, esta herança passará à história mais rapidamente. O que é que o Governo pode efectivamente fazer? Em primeiro lugar pode dedicar-se à protecção do Património Cultural presente e pode fazê-lo em vários sentidos. Por exemplo, a queda do tecto da Igreja de S. Agostinho não deveria ter acontecido. Deveria ser

um dos edifícios a preservar, entre outros. Deveria ter sido feita uma avaliação prévia do estado desse edifício, bem como de todo o património histórico. Para além da protecção do património há ainda a questão dos livros. Há muitos livros antigos referentes ao séc. XVII e XVIII que também devem ser considerados património histórico e que deveriam ser organizados para que pudessem também ser objecto de estudo e de consulta, para mostrar ao mundo.

Na área da “Macaologia” o que tem previsto para o futuro? O meu maior desejo é conseguir que todos os documentos que já existem em Macau possam ser traduzidos para Chinês, de modo a que possam ficar acessíveis a outros públicos, entre académicos e público em geral. Tenho investido todo o financiamento por parte da Universidade de Macau nesse sentido. Estou a traduzir o Arquivo de Macau e já estão realizadas dezenas de traduções de documentos. No total, tenho em mãos de cem a 200 livros. Este é também um trabalho que pretendo terminar para que posteriormente possa ser publicado e disponibilizado. Espero também que seja chamada a atenção do Governo para um maior investimento nisto mesmo, com mais financiamento e mais contratações, nomeadamente na área da tradução. Espero que, pelo menos até ao fim da minha vida, este trabalho esteja com 80% do volume concluído. Na China, a história da RAEM é então muito pouco conhecida... Sim. Acha que este trabalho permitirá dar início a essa divulgação?

entrevista

“Este processo de perda da herança multicultural é inevitável. Macau é um espaço pequeno com uma cada vez maior afluência e influência do interior da China” Sim, sem dúvida. Penso que possibilita alargar esse conhecimento não só à China continental mas ao mundo também. No futuro haverá tradução para línguas estrangeiras, nomeadamente desta obra. Ainda não há previsões para a tradução para Português porque é uma língua muito difícil. Sofia Mota (com Angela Ka) info@hojemacau.com.mo


12 CHINA

hoje macau terça-feira 5.7.2016

Protesto contra incineradora resulta em confrontos

U

Hong Kong Governo discute notificação de detenções com Pequim

Pela saúde do sistema

U

ma delegação do Governo de Hong Kong desloca-se na terça-feira a Pequim para conversações sobre a notificação de detenções de residentes na região por autoridades chinesas, anunciou ontem o chefe do Executivo de Hong Kong. O anúncio foi feito mais de duas semanas depois de Lam Wing-kee, um dos cinco livreiros de Hong Kong que reapareceram sob tutela das autoridades chinesas após meses desaparecidos, ter regressado à cidade e ter dito, numa conferência de imprensa, que foi sequestrado por “forças especiais chinesas” ao passar a fronteira e que ficou detido durante oito meses sem direito a contactar um advogado ou a família. O secretário para a Justiça do Governo de Hong Kong, Rimsky Yuen, e o secretário para a Segurança, Lai Tung-kwok, voam para a capital chinesa na manhã de terça-feira, acompanhados pelos directores dos depar-

tamentos da Imigração e Alfândegas e pelo responsável pela chefia da polícia. Os dirigentes regressam a Hong Kong no mesmo dia e prestam declarações à imprensa na quarta-feira, informa a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

Haja melhoras

A delegação vai discutir com oficiais do Ministério da Segurança Pública e o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado formas de melhorar o mecanismo ao abrigo do qual as autoridades do interior da China devem notificar o Governo de Hong Kong sobre a detenção dos seus residentes. O chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, acrescentou que os enviados a Pequim também vão ouvir um relatório das autoridades de Pequim sobre o caso de Lam Wing-kee. Lam Wing-kee é um dos cinco livreiros com actividade em Hong Kong desaparecidos entre Outubro e

A delegação vai discutir com oficiais do Ministério da Segurança Pública e o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado formas de melhorar o mecanismo ao abrigo do qual as autoridades do interior da China devem notificar o Governo de Hong Kong sobre a detenção dos seus residentes Dezembro e que ao longo deste ano reapareceram sob tutela das autoridades chinesas e a confessar crimes, em declarações difundidas pela televisão da China. Os cincos livreiros estavam ligados a uma editora que publicava livros críticos do regime chinês e sobre a vida privada de alguns líderes, os quais são proibidos no interior da China. As autoridades de Hong Kong não foram notificadas da respectiva detenção pelas autoridades chinesas, o que gerou críticas de que

Pequim ignorou o princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual Hong Kong e Macau gozam de ampla autonomia. Lam Wing-kee também disse que o colega Lee Bo foi levado a partir de Hong Kong contra a sua vontade, mas o próprio livreiro negou que isso tenha acontecido. O mecanismo de notificação recíproca assinado pelo Ministério da Segurança Pública da China e pelo Governo de Hong Kong entrou em vigor em Janeiro de 2000.

M protesto em Lubu, na província de Guangdong, sul da China, contra a construção de uma central incineradora, terminou no domingo com confrontos entre os manifestantes e a polícia, informa o diário de Hong Kong South China Morning Post. Cerca de dez mil pessoas saíram à rua para protestar contra os planos do Governo local sobre esta incineradora, a instalar perto do rio Xi, por receio de que possa contaminar as águas, segundo testemunhos. As autoridades estimaram em 1.400 o número de participantes no protesto. Cerca de 4.000 membros das forças de segurança, desde agentes da polícia até equipas de operações especiais passando por paramilitares,

foram destacados para o local do protesto. A manifestação estendeu-se durante várias horas e terminou com episódios de violência entre a polícia e os manifestantes, segundo imagens difundidas através das redes sociais. O departamento de propaganda do distrito de Gaoyao, da cidade de Zhaoqing, de que depende administrativamente Lubu, publicou um comunicado na sua conta de Weibo (equivalente chinês do Twitter) no qual acusa os manifestantes de “atacarem violentamente” os agentes da polícia. Também informou que tinham sido detidas 21 pessoas para “educá-las e investigá-las”, ainda que posteriormente estas mensagens tenham sido apagadas da conta, segundo o South China Morning Post.

Ministros do G20 defendem energia renovável

O

S ministros de energia e de recursos naturais do Grupo dos 20 (G20) concluíram na quinta-feira em Pequim uma reunião de dois dias em que discutiram os temas de energia renovável, oportunidades e desafios no desenvolvimento global de energia e tecnologias inovadoras no sector. Em sequência, os membros do G20 são encorajados a formular estratégias de desenvolvimento e planos de acção para impulsionar o investimento e o consumo de energias renováveis, de acordo com um comunicado de Pequim para além de três outros planos divulgados logo após a reunião. Os ministros concordaram em impulsionar o acesso à energia não só para a população da África subsariana, mas também para a região da Ásia-Pacífico, onde 500 milhões de pessoas ainda não contam com acesso à luz eléctrica.

O comunicado sugere ainda que os membros do G20 estimulem o diálogo sobre as emergências nesta área, estejam alerta perante as interrupções do mercado e promovam a segurança energética. A reunião foi uma preparação para a reunião ministerial sectorial da Cimeira do G20 em Hangzhou, que será realizada em Setembro.


13 hoje macau terça-feira 5.7.2016

china

Ling Jihua condenado a prisão perpétua

Tigre abatido

O

‘braço direito’ do antigo Presidente da China Hu Jintao foi condenado a prisão perpétua por corrupção, obtenção ilegal de segredos de Estado e abuso de poder, anunciou ontem a televisão estatal chinesa CCTV. Ling Jihua, de 59 anos, decidiu não recorrer da sentença, acrescenta a agência de notícias oficial Xinhua. O assessor de Hu Jintao era uma figura proeminente da política chinesa até ter sido expulso do Partido Comunista Chinês (PCC), acusado de “grave violação da disciplina” e de ter “trocado poder por sexo”. Ling Jihua caiu em desgraça quando o seu filho morreu ao vo-

lante de um Ferrari, em Março de 2012, num episódio que abalou a liderança chinesa e coincidiu com o período de transição na cúpula do poder na China. Quase quatro anos depois daquele acidente, muitos pormenores continuam a ser segredo de Estado.

Penas e abusos

As acusações contra Ling são “extremamente sérias”, referiu a 13 de Maio a Procuradoria-Geral da China, num comunicado. “Abusou do seu poder” enquanto director do Departamento Geral do Comité Central do Partido Comunista Chinês, em que trabalhou sob as ordens de Hu Jintao, “para receber uma larga quantia em propriedades e obter

segredos de Estado”, segundo a mesma nota. Os casos de corrupção envolvendo altos quadros do PCC expulsos do partido resultam invariavelmente em pesadas penas de prisão. O caso mais mediático

atingiu Zhou Yongkang, o ex-chefe da Segurança da China, condenado à prisão perpétua no ano passado, tornando-se o mais alto líder chinês preso condenado por corrupção desde a fundação da Republica Popular da China, em 1949.

A campanha anti-corrupção lançada pelo actual Presidente chinês, Xi Jinping, que sucedeu a Hu Jintao, em Novembro de 2012, já resultou na prisão de mais de 130 quadros com a categoria de vice-ministro ou superior.

Pequim veta acesso a zona do Mar do Sul

A

Taiwan armado Tsai Ing-wen promete reformas militares

A

presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, prometeu ontem profundas reformas militares durante uma cerimónia na Academia Militar de Kaohsiung. Depois de uma série de incidentes militares este ano, que culminaram na sexta-feira com o disparo acidental de um míssil na direção da China, que atingiu uma traineira taiwanesa e levou Pequim a pedir explicações, Tsai disse que estes “desafios apresentam oportunidades”. A chefe de Estado reconheceu que o exército de Taiwan “não está bem como está” e que “precisa de reformas, que devem ser drásticas e decisivas”. Tsai assegura que desde que assumiu o cargo a 20 de Maio tem dedicado especial atenção a questões como a orientação estratégica, as prioridades de recursos e o tamanho das forças armadas, bem como o equipamento e armamento necessários.

Agora é o momento de promover uma reforma real da cultura militar que acabe com a ineficácia, porque “apenas as reformas trazem dignidade” e estas “só podem ser realizadas com disciplina”, assinalou a presidente taiwanesa. Insistiu que o investimento na defesa nacional deve ser um motor para a inovação industrial, defendendo a necessidade de maior ligação entre os militares e a indústria do sector. Taiwan possui um importante dispositivo militar perante a ameaça da China, que não renuncia ao uso da força para conseguir a unificação e impedir a independência formal da ilha. As relações entre Pequim e Taiwan, que a China considera parte do seu território, esfriaram consideravelmente após a eleição em Janeiro para a presidência taiwanesa de Tsai Ing-Wen, originária do Partido Democrático Progressista, tradicionalmente independentista.

China vai proibir o acesso às águas à volta das ilhas Paracel, controladas por Pequim e reclamadas também pelo Vietname e Taiwan, entre terça-feira e a próxima segunda-feira, enquanto leva a cabo manobras militares. Estes exercícios, anunciados na noite de domingo pela Administração da Segurança Marítima da China, em comunicado, começam uma semana antes de ser conhecida a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, sobre a disputa pela

Condenado à morte culpado de incêndio que fez 18 mortos

soberania do arquipélago das Spratly, também no Mar do Sul da China e disputadas, total ou parcialmente, pela China, Filipinas, Malásia, Taiwan, Vietname e Brunei. As manobras navais chinesas realizam-se, não obstante, noutra zona, no leste da ilha chinesa de Hainan, numa extensão que vai até às ilhas Paracel (chamadas Xisha pelos chineses). A China tomou o controlo das Paracel em 1974, depois de vencer uma batalha naval contra o então denominado Vietna-

Um homem considerado culpado de ter incendiado um autocarro lotado, causando a morte de 18 pessoas, foi condenado à pena de morte pela justiça chinesa, anunciaram as autoridades. O caso remonta a Janeiro, quando Ma Yongping, de 34 anos, ateou fogo a um autocarro em Yinchuan, a capital da região de Ningxia (norte), num incidente em que também ficaram feridos 32 passageiros. Um tribunal de Yinchuan considerou Ma culpado de incêndio voluntário e condenou-o no domingo à pena de morte, informa o governo municipal na sua conta de ‘microblogue’. O condenado admitiu a culpa, mas declarou que vai recorrer da sentença, segundo a mesma fonte. Ma Yongping, que concluiu os estudos universitários no Japão, era empresário e acumulou dívidas de mais de 300.000 yuan, constituídas essencialmente pelos salários dos seus trabalhadores, segundo a imprensa chinesa.

me do Sul, mas o arquipélago, formado por cerca de 40 ilhas, é reclamado especialmente pelo actual governo do Vietname. O conflito das Paracel remonta aos anos 1970, mas aumentou de intensidade nos últimos anos, coincidindo com uma maior implicação dos Estados Unidos nessa disputa. Durante a semana em que se vão realizar os exercícios, a Administração de Segurança Marítima chinesa proibiu outras embarcações de entrarem nessa região do Mar do Sul da China.

Mais de 60 vitimas mortais devido a chuvas e inundações

Pelo menos 61 pessoas morreram e 14 foram dadas como desaparecidas na China devido às fortes chuvas registadas desde há duas semanas, informa ontem a agência de notícias oficial Xinhua. Na província central de Hubei, 34 pessoas morreram e 11 desapareceram. Na província de Anhui (leste), 27 pessoas morreram e outras três desapareceram, segundo as autoridades locais. A autoridade meteorológica chinesa voltou ontem a emitir o alerta laranja – o segundo mais grave – para chuva no sul e sudoeste do país. Chuva forte vai atingir as províncias de Anhui, Jiangsu, Hubei, Jiangxi, Hunan and Guizhou e a região autónoma de Guangxi Zhuang até terça-feira de manhã. A entidade estatal encarregada do controlo de inundações e resposta a secas indicou prejuízos de cerca de 50,6 biliões de yuan. Cerca de 33 milhões de pessoas foram afectados pela chuva e inundações e 1,48 milhões foram realojadas em 1.192 condados em 26 províncias, escreve hoje o China Daily. As chuvas intensas e inundações destruíram 56.000 casas.


14 Publicidade

hoje macau terça-feira 5.7.2016

Open Tender Notice Request for Proposal – MIA - Supply and Installation of IP CCTV System (RFQ-222) 1. 2. 3. 4.

5.

6.

Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) Tendering method: Open tendering Objective: To select a suitable Contractor to supply and install IP CCTV System in Macau International Airport Request for tender documents: Tender Notice and Tender Document can be downloaded from CAM’s website www.camacau.com. Please regularly check the website for any clarification or changes/ modification/ amendment in the Tender Document. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau Before 12:00 pm (noon) on 12 Aug 2016 (Macau Time). The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee. The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted. CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons. -END-

Aviso de remoção dos veículos abandonados Os veículos abaixo identificados encontram-se estacionados há já vários anos no parque de estacionamento privado dos “Jardins Nova Taipa”, cuja gestão pertence à “Comissão dos Condóminos do Edifício Jardim Nova Taipa”, após ter sido enviado cartas aos proprietários e deixado avisos nos veículos e nas entradas dos prédios dos Jardins da Nova Taipa e não se tendo verificado, por parte dos proprietários, qualquer intenção de remoção dos mesmos, vimos assim avisar os respectivos proprietários para, dentro de 30 dias contados do presente aviso, procederem às diligências necessárias para efectuar a remoção dos referidos veículos. Se, decorrido o referido período, os veículos não forem removidos, a Comissão dos Condóminos do Edifício Jardim Nova Taipa ver-se-á forçada a faze-lo por si própria e a reclamar judicialmente todas as despesas resultantes dessa remoção e, bem assim, todos os prejuízos que a situação acima referida lhe causou. Número da chapa de matrícula dos veículos: CM-81118, ML-32-53, CM-57352, CM-68543, MH-92-74, MJ-42-27, MH-55-55, MD-24-41, MD-74-67, CM-46749, MI-19-11, MF-90-83, ML-87-85, MG-11-95, MF-64-21, MM-66-80. Para qualquer esclarecimento favor contactar a comissão: TEL:28830490) Atenciosamente, Comissão dos Condomínios do Edifício Jardim Nova Taipa

EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto Local

: 79/E-BC/2016 :400/BC/2014/F :Demolição de obra não autorizada pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Rua do Monte n.º 3, Edf. Hei Van (Bloco J, O, P, Q), partes do terraço sobrejacentes às fracções 5.º andar P e 5.º andar Q e corredor comum junto às fracções 5.º andar P e 5.º andar Q, Macau.

Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/ SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados o(s) dono(s) da obra ou seu(s) mandatário(s) e os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1.

Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Local 1.1

1.2 1.3

Obra

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

Construção de um compartimento de dois pisos composto por Parte do terraço sobrejacente à cobertura em betão, paredes em alvenaria de tijolo, janelas de fracção 5.º andar P vidro, pala metálica, gradeamento metálico, escada metálica, gaiola metálica, grades metálicas e cobertura metálica. Construção de um compartimento composto por cobertura Parte do terraço sobrejacente à metálica, gradeamento metálico, janelas de vidro e paredes em fracção 5.º andar Q alvenaria de tijolo. Corredor comum junto às fracções 5.º andar P e 5.º Instalação de um portão metálico. andar Q

Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação.

2.

De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 17 de Dezembro de 2015, a audiência escrita dos interessados, mas estes não apresentaram a resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas.

3.

Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e no uso das competências delegadas pela alínea 6) do n.º 1 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, e por meu despacho de 29 de Junho de 2016 exarado sobre a informação n.º 04063/DURDEP/2016, ordeno aos donos das obras ou seus mandatários que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das obras acima indicadas e à reposição do local afectado, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido da demolição das obras ilegais, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação e aos interessados e aos utentes que procedam à remoção de todos os materiais e equipamentos aí existentes e à desocupação do local acima referido. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria.

4.

Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos trabalhos de demolição e de desocupação, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro.

5.

Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício.

6.

Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI e das competências delegadas pelo n.º 4 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital.

RAEM, 29 de Junho de 2016

Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man


15 hoje macau terça-feira 5.7.2016

Paulo José Miranda

O início do amor Q

uando falamos de Safo, é difícil distinguir o que é real do que é mito. Muito se perdeu dela, fundamentalmente devido à Igreja, que ordenou a destruição dos seus textos, que se encontravam na biblioteca de Alexandria. Mas para além de todas as controvérsias, Safo representa um momento da poesia lírica grega que ficou assinalado como uma etapa decisiva da construção da poesia europeia. Platão chamou-lhe a décima musa. Safo teve vários relacionamentos sexuais com homens e mulheres, e também se casou. Conta-se, inclusivamente, que o suicídio dela se dá pelo amor não correspondido de um jovem barqueiro. Neste tempo, a poesia era um espectáculo, era para ser lida em público, cantada e até, por vezes, acompanhada com dança. Nada seria mais estranho a um grego, do tempo de Safo, do que ver alguém a ler poesia sozinho e em silêncio. Por mais estranho que possa parecer, a lírica grega tem semelhanças com a produção cinematográfica de Hollywood, dos chamados anos de ouro do cinema. Ambas as expressões artísticas fizeram um casamento perfeito entre o entretenimento e a elevação espiritual, tanto no sentido ontológico quanto ético. Vários são os filmes que poderíamos dar como exemplo, mas concentremo-nos apenas num desses exemplos: o filme Johnny Guitar, de Nicholas Ray. Trata-se de um western, género que de certo modo tem as características dos mitos, divididos entre o Deus bíblico, de vertente protestante, e a dos heróis, que cumpriam um destino acima dos seus interesses pessoais. E, como nos poemas de Safo, por exemplo, o filme conta também uma história de amor. Veja-se o fragmento 13, de Safo: “O seu coração arrefece e deixa tombar as asas...”. Este verso canta o desencontro amoroso. Mas não é um desencontro amoroso qualquer, é um desencontro amoroso que, antes, deu asas aos amantes. Porque, contrariamente ao que a publicidade nos quer fazer crer, não é o red bull que nos dá asas, mas o amor. Este verso de Safo mostra-nos que o amor nos torna acima de nós mesmos. Na cena de Johnny Guitar, quando Vienna encontra Johnny a meio da noite na cozinha a beber, o homem pede à mulher para reatarem a relação e escuta a seguinte resposta: “Quando um incêndio se apaga, o que sobra são cinzas.” Por outro lado, como per-

A beleza dela faz-se sentir através do que outro sente. O belo faz doer. O belo faznos tanger como se fôssemos uma lira tocada por ele.

doar a quem nos deixa de amar? E um dos temas centrais do filme de Nicholas Ray é precisamente este: o de uma mulher a quem um homem cortou as asas e depois retorna, para se desculpar, para reatar uma relação que ele mesmo interrompeu anos atrás. Escreve Safo, no fragmento 50: “Eros fustiga o meu coração como um vendaval os carvalhos no alto da montanha.” Não estamos aqui perante o sofrimento da vida enquanto vida; aqui, o nosso sofrimento é o sofrimento das coisas boas. “Eros revira o nosso pensamento.” (fr. 16) Vira-nos do avesso. Aquilo que a lírica traz de novo à escrita Ocidental é a consciência do sofrimento que as coisas melhores da vida nos podem causar, quer seja o amor, quer seja o belo, quer seja a amizade, através do canto e não de análises. E o sofrimento não advém somente da perda dessas coisas, depois de alcançadas, mas também por nunca as alcançarmos. Safo entende que o belo, a apreciação do belo pode ser um mal terrível. Veja este belo fragmento 2, que evoca uma bela jovem, numa reunião social, sentada junto a um homem: “Como faz lembrar os deuses, / esse homem, / sentado à tua frente, / nos muros da tua boca, / a ouvir-te palavras doces e a ver-te rir de maneira destruidora! / Sou incapaz de segurar o meu coração no peito. / Quando te olho, / por migalhas que sejam, / já não sou capaz de dizer nada, / a minha língua gela, / sou uma inextinguível fagulha de silêncio sob a minha pele. / Deixo de ver,/ os meus ouvidos zunem, / e um suor frio cobre todo o meu corpo, / estarrecido pela derrocada. / Torno-me mais verde do que a erva / e

parece que estou prestes a morrer.” Repare-se como não há qualquer descrição da jovem, apenas aquilo que ela faz sentir na poetisa e, concomitantemente, no leitor. Não sabemos se a jovem é loura ou morena, se está bem ou mal vestida, se a sua pele é mais ou menos clara, se o seu cabelo é liso ou encaracolado, se está apanhado ou a cair sobre os ombros; nenhuma mancha do volume dos seus seios ou das suas pernas. A beleza dela faz-se sentir através do que outro sente. O belo faz doer. O belo faz-nos tanger como se fôssemos uma lira tocada por ele. A beleza da jovem transforma-nos em melodia. Repare-se ainda na particularidade do início e do fim do poema: o homem que parece um deus, por estar nos muros da boca dessa jovem, e ela, a poetisa, que parece estar prestes a morrer. A diferença abissal entre aquele que tem o belo junto a si e aquele que o vê de longe. O amor é a grande descoberta da lírica grega. Não a sua existência, evidentemente, mas torná-lo o centro do universo humano. E o que é este amor que a Safo canta, que parece ser o fundamento de estarmos a ser? Temos que afirmar, antes de mais, que se trata de um amor erótico, e não de um amor filial. Como ela escreve num verso do fragmento 16, Eros revira o nosso pensamento. O que nos leva a pensar que é fundamental a união carnal. Sem carne não há amor. Mas se é verdade que não há amor sem carne, também não o é menos que não o há sem afinidades electivas, para usar um termo do poeta

alemão Goethe. O amor a que a lírica grega arcaica se refere é um amor pleno, um amor, como se usa dizer, de corpo e alma. E, aqui, não é difícil ver as estreitas relações entre o amor em Safo e o amor em Platão, que contrariamente ao que se usa dizer, não é platónico, é a união por inteiro, do corpo e da alma. Safo entende, literalmente, que o amor dá-nos asas. O amor faz com que os dias tenham sentido. Mas é a poesia que nos abre para o sentido do amor. Pois sem poesia, o humano não é uma sombra de Deus, como escreveu Píndaro, mas uma sombra de uma sombra. “Ficarás para sempre morta sob a terra e não deixarás memória nem saudade, / pois nunca cheiraste as rosas da Piéria. / Serás fantasma a errar pela casa de Hades / entre os tristes mortos, / depois de teres levantado voo da vida.” Sem poesia, sem o cheiro das rosas da Piéria, a vida humana está votada ao esquecimento. E este esquecimento não é apenas enquanto se morre, mas enquanto se vive. Porque, vida sem poesia, é já morte. A poesia abre-nos ao sentido do amor, mas também ao sentido da natureza, ao sentido pleno da vida. A expressão do amor humano como centro gravítico do sentido da vida é a grande novidade da lírica arcaica, e que encontra em Safo um dos seus expoentes máximos e primeiros. Em Safo, a poesia não é uma função; a poesia é a verdadeira dimensão humana. Esta é uma revolução enorme na mentalidade ocidental, não só no modo de pensar, mas no modo de entender a existência. Começava aqui, de algum modo, e ainda que sem a analítica filosófica, a consciência de que o humano é fundamentalmente palavra.

Paulo José Miranda, nascido a 21 de Maio de 1965, é um romancista, poeta e dramaturgo português. “A Voz que nos Trai”, seu primeiro livro de poesia, publicado em 1997, foi vencedor do prémio Teixeira de Pascoaes. Iniciou então o seu “tríptico da criação”, uma série de romances sobre autores portugueses do século XIX. Venceu a primeira edição do Prémio Literário José Saramago, em 1999, com Natureza Morta, segunda parte da trilogia. Em Maio de 2015 foi agraciado com o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores - Prêmio SPA/RTP 2015 para o melhor livro de Poesia, com a obra “Exercícios de Humano”, publicado pela editora Abysmo. O autor passa a partir de hoje a colaborar semanalmente com o HM.


16 (F)utilidades tempo

hoje macau terça-feira 5.7.2016

?

nebulado

O que fazer esta semana Hoje

Exibição do filme “Erin Brockovich” de Steven Soderbergh Casa Garden, 19h30 Entrada livre

min

27

max

32

hum

70-95%

euro

8.893

baht

Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08)

o cartoon steph

Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08) Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac – (até 09/10)

C i n e m a

THE SECRET LIFE OF PETS Sala 1

Sala 2

Filme de: Chris Renaud, Yarrow Cheney 14.15, 16.00, 17.45, 19.30

Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

THE SECRET LIFE OF PETS [A]

Alice through the looking glass [b] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 21.30

INDEPENDENCE DAY: RESURGENCE [b]

Solução do problema 119

Um LIVRO hoje

Filme de: David Yates Com: Alexander Skarsgard, Samuel L. Jackson, Margot Robbie 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Se te tiro do meu lugar tu reclamas, Se passeamos nos jardins e na piscina somos proibidos Se falamos somos presos, numa prisão invisível, Se acendo sou apagado, Se me resigno sufoco. Se a história morre aos poucos eu reajo Se matam os lugares com o turismo caótico eu fujo De frustração e frustração andamos por estas esquinas De uma cidade que poderia ser algo bem maior do que é. ... Hoje decidi ser um pouco poeta porque estou aborrecido. O poema não está acabado porque não sei o que está a acontecer neste território. São regras que não funcionam, interesses que não saem do lugar, lugares onde não há divertimento, demasiado brilho oco que não me enche as medidas. Somos baratas tontas numa cidade pequena que se transformou numa coisa qualquer, uma geringonça, um pedaço de terra indecifrável. Que Macau é esta onde ir à piscina pode transformar-se num problema, onde não posso fumar ao ar livre, num jardim, onde levo uma hora de autocarros super cheios para ir à praia ou ao cinema, onde vou a uma praia com peixes mortos junto a uma areia nojenta. Um dia olharei o mar como um dia o senhor rico da vivenda grande olhou e verei o mesmo mar azul e a mesma areia limpa. Pu Yi

“A loucura da normalidade” (Arno Gruen)

As bombas explodem, os direitos humanos são só palavras, a competitividade vence, por muito, a empatia. Os laços perdem-se e o eu e o outro são estranhos ou mesmo rivais. Uma sociedade alienada, aniquiladora e castrada que junta armas para a sua própria destruição numa psicose colectiva acalentada pela ignorância e indiferença do senso comum. São estas as premissas do psicanalista Arno Gruen, que colocou o mundo no divã e entra nas entranhas da descompensação da humanidade num alerta de acesso a todos, para a corrida rumo ao abismo na loucura colectiva. Um livro que aborda a insanidade histórica e actual enquanto realismo doente. Sofia Mota

Sala 3

THE LEGEND OF TARZAN [B]

problema 120

Sudoku

de

Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07)

Cineteatro

1.21

Porque não se respira

EXPOSIÇÃO “O Pintor Viajante na Costa Sul da China” de Auguste Borget Museu de Arte de Macau, 18h00

Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

yuan

aqui há gato

Diariamente

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

0.22

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


17 hoje macau terça-feira 5.7.2016

Ao Jornal Hoje Macau:

E

m primeiro lugar agradeço o vosso interesse pelo Departamento de Português da UMac. Estou de novo em Macau (afinal, voltei!) e pretendo responder às questões abordadas pelo vosso artigo de dia 27 de Junho passado, bem como acrescentar alguns comentários aos emitidos por “alunos finalistas”. 1- Em primeiro lugar não estou a sair da UMac; sairei, de certeza, até 31 de Julho de 2017 porque entretanto atingirei o limite de idade para trabalhar em Macau (65 anos); 2- estou a deixar o lugar de directora do DP da UMac porque concorri a uma licença sabática que me foi concedida (essa licença pode ser solicitada depois de 3 anos e meio de efectivo trabalho e tem a duração de um semestre); embora não tenha ainda assinado o contrato de licença sabática (deverei fazê-lo nos próximos 15 dias), ela deverá decorrer a partir do início do próximo semestre (23 de Agosto) até 31 de Dezembro de 2016. As razões que me levaram a pedir a licença foram em primeiro lugar o trabalho que o cargo que exerci, exige e, em segundo lugar, a diminuição de publicações e pesquisa nos últimos anos decorrente do intenso trabalho requerido pela direcção do departamento. A licença visa possibilitar o retorno a uma fase intensa de investigação que possa compensar o que não pude fazer nos últimos 4 anos. 3- Vejo a nomeação do professor Yao com grande interesse e expectativa. Afinal, eu vim substituí-lo em Julho de 2012 (veja comentário abaixo). Sou amiga pessoal do prof. Yao, que admiro sobretudo como poeta. Como exemplo público da minha relação com o prof. Yao apraz-me apontar o facto de ter feito a apresentação do seu último livro de poesia em Português (“Palavras cansadas de Gramática”, publicado pela Gradiva) no Consulado de Portugal, em Maio de 2015, em conjunto com o jornalista Carlos Morais José. Finalmente, dois comentários sobre pormenores da vossa notícia: 1- No dia 1 de Julho de 2012 vim substituir o prof. Yao, que era à data director interino do DP pelo menos desde Setembro de 2011 (e não a Profª Antónia Espadinha, como a vossa notícia informou); foi com ele que fiz a transição do cargo. 2- Em relação aos comentários de alunos finalistas que a vossa notícia relatou, tenho a declarar que são irrelevantes e sem base pedagógica ou

científica conhecida; não existe (que eu conheça!) uma forma ‘oriental’ de ensinar, oposta à maneira ‹ocidental›. O método comunicativo é em geral aceite no mundo como o mais adequado no ambiente de discussão e reflexão científica sobre o ensino /aprendizagem de uma língua estrangeira ou língua segunda; a metodologia seguida pelo departamento (DP), que esteve recentemente em discussão pública durante uma conferência internacional entre 8 e 10 de Abril de 2016, com a participação de várias universidades chinesas (incluindo as de Beijing e Xangai) merece consenso internacional na China, no Brasil, em Portugal e nos leitorados de português espalhados pelo mundo. Eu fui directora do departamento que ensina português como língua estrangeira na Universidade de Lisboa de 2005 a Junho de 2012 e os nossos métodos não são questionados por ninguém, como facilmente se demonstra pelo número de alunos que recebemos anualmente e pelos resultados que eles obtêm. A gramática é hoje consensualmente ensinada em contexto de aprendizagem de língua e não como se os alunos fossem papagaios porque os papagaios não aprendem línguas, só repetem sons que ouvem. Os tais “alunos finalistas” que se comparam com os de Beijing devem ainda ter em conta que os alunos de Beijing são os melhores da China,

i e, os que atingem os resultados mais elevados na entrada para a universidade. Os requisitos e critérios para a entrada de alunos de Macau na Univ. Macau com a finalidade de frequentarem a licenciatura em português são muito menos exigentes e não podem ser comparados com esses. Além disso e graças a um programa de intercâmbio permanente com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing, o DP da UMac tem a honra de participar na formação de muitos dos melhores alunos de português na China durante o seu terceiro ano de estudo. Assim contribuímos também para o excelente nível que muitos desses alunos atingem. Finalmente, a vossa notícia sobre os comentários de “alunos finalistas” desencadeou outros comentários de outros alunos, alguns deles da pós-graduação, que me foram chegando ao longo da semana e que contrariam o elogio do tal ensino pretensamente “ mais oriental” (que não sei bem o que é, mas seja lá o que for!), que eles parecem defender. Se quiserem prova desses testemunhos que me chegaram escritos em português, posso enviar alguns, com muito gosto. Agradeço antecipadamente a publicação destes esclarecimentos e comentários. Atenciosamente, Fernanda Gil Costa

Macau, 4 de Julho de 2016

Direito de Resposta


18 opinião

hoje macau terça-feira 5.7.2016

“Probably the most important element for the UK is the extent to which the UK state can establish favourable tax and regulation conditions for competition and entrepreneurship; because of this, in leaving t he EU we avoid many damaging features of EU intervention and this will be beneficial, regardless of the structure of trade. The most desirable option is a new treaty with the EU that largely withdraws from EU joint arrangements but collaborates on particular issues of common interest, such as rights of migration, free capital movements, and possibly trade agreements on particular industries like cars where there is large-scale cross-investment. Of course political cooperation will continue in areas of mutual interest as with all our allies.” Should Britain Leave the EU? An Economic Analysis of a Troubled Relationship Patrick Minford

O

possível fim do sonho europeu, fez que os cidadãos britânicos fossem votar a 23 de Junho de 2016 num referendo que decidiria se o Reino Unido continuaria “Bremain” ou não “Brexit”, como Estado membro da União Europeia (UE), decidindo desse modo, qual o futuro que desejavam para o seu país. O eventual “Brexit” seria o primeiro caso de saída de um país da UE. O “Brexit” venceu por 51,9 por cento contra o “Bremain” com 48, 1 %, e uma taxa de participação de 72,2 por cento. A chegada ao referendo tem por detrás uma história de desamor entre o Reino Unido e a Europa, que explicam os argumentos esgrimidos pelas duas partes, bem como as consequências para o país e além das suas fronteiras. A palavra “Brexit” para o Reino Unido é saída e entrou por analogia com outro conceito, o de “Grexit”, ou o cenário hipotético da saída da Grécia da zona euro afectada pela crise económica, e ao mesmo tempo circulava nos meios de comunicação social, uma palavra cujo significado, é o oposto da primeira palavra, sendo “Bremain”, um acrónimo para “Britain” e “remain” (permanecer). A desconfiança dos britânicos, em relação ao projecto de integração europeia não é nova. A França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo assinaram o Tratado de Roma, em 1957, que criou a Comunidade Económica Europeia (CEE), antecessora da UE. Os seis países, convidaram o Reino Unido para participar nas negociações prévias, tendo rejeitado o convite e ameaçado de boicotar o projecto, oferecendo um plano alternativo. Nos anos seguintes, dado o sucesso da nova associação e do declínio

Jean-Pierre Jeunet, delicatessen

O sonho que se desvanece

britânico, o Reino Unido constatou que tinha cometido um erro, e pediu em Julho de 1961 para se juntar à CEE, mas a sua adesão foi vetada pela França. O Reino Unido conseguiu finalmente aderir à CEE, em 1973, mas passado muito pouco tempo, a opinião pública britânica encontrava-se dividida acerca das vantagens e desvantagens da adesão e em 1975, o governo britânico realizou um referendo, sobre a permanência ou saída da CEE, tendo 67 por cento dos votantes, manifestado a favor da permanência nas instituições comunitárias. Após a criação da UE, em meados da década de 1990, os eurocépticos juntaram-se e criaram o “Partido do Referendo”. A nova formação política participou nas eleições de 1997, não tendo conseguido assento no Parlamento, tendo-se dissolvido pouco tempo depois. A outra organização política de extrema-direita, com ideias semelhantes, o “Partido de Independência do Reino Unido (UKIP na sigla na língua inglesa)”, teve mais sucesso nas eleições para o Parlamento

Europeu, em 2014, conquistando a maior quantidade de votos pelo Reino Unido, com vinte e quatro dos setenta e três assentos a que tinha direito. O acontecimento actual começou em 2013, quando num discurso, o actual primeiro-ministro inglês, prometeu que se acaso fosse reeleito em 2015, renegociaria a posição do país na UE, e convocaria uma consulta popular sobre a permanência no bloco comunitário, sendo que uma das principais queixas sobre a UE é a sua complexidade burocrática. Os defensores do “Brexit” afirmam que as directivas da União dificultam a economia e limitam a soberania britânica. O primeiro-ministro britânico comprou os ovos para uma omeleta que nunca imaginou fazer, e que o teria como recheio. A UE é uma fonte de gastos desnecessários, para os eurocépticos, na qual o Reino Unido investia o equivalente a catorze mil e quatrocentos milhões de dólares anualmente, ou seja, cerca de 0,5 por cento do PIB, e um outro argumento diz respeito à restrição da imigração, dado que os apoiantes do “Brexit” vêem os imigrantes como uma

ameaça ao mercado de trabalho e um peso social. Os líderes da campanha para o Reino Unido sair da UE, antes da realização do referendo, tinham anunciado que em caso de vitória, endureceriam as condições que permitiriam os europeus residirem no país. O direito automático de todos os cidadãos da UE a viverem e trabalharem no Reino Unido terminaria, conforme o comunicado conjunto divulgado no início de Junho de 2016, pelo ministro da Justiça inglês, ex-prefeito de Londres e secretário de estado do emprego inglês. Os que se opunham ao “Brexit” argumentavam que a saída do país da UE, iria ter um custo maior que o actual, e cortaria os laços com os seus parceiros europeus, com consequências catastróficas para a economia e comércio do país, e assinalavam que abandonar a União, poria em perigo a influência do Reino Unido no mundo. Os argumentos a favor e contra a permanência do Reino Unido na UE tinham como temas fundamentais a imigração, criminalidade e comércio. Quanto à imigração, os apoiantes da saída, afirmam que o Reino Unido nunca


19 hoje macau terça-feira 5.7.2016

opinião perspectivas

jorge rodrigues simão

poderia controlar a imigração até que saisse da UE, dado que a liberdade de circulação dá aos demais cidadãos da UE, o direito automático de viver no país. Os contrários, afirmam que a saída da UE não iria resolver a crise da imigração, e transferiria para as portas de entrada no Reino Unido o problema, pois o controlo de fronteiras britânico mudaria de Calais, em França, para Dover, no Reino Unido. Quanto à criminalidade, os apoiantes da saída, afirmam que a norma europeia de detenção e entrega, permite que os cidadãos britâncos sejam enviados ao estrangeiro, e acusados em tribunais estrangeiros, frequentemente por delitos menores. A saída poria fim a esta prática. Os contrário à saída, afirmam que apenas graças à norma de detenção e entrega, violadores, assassinos e outros criminosos perigosos condenados por delitos no Reino Unido, podem ser devolvidos se fugirem para o estrangeiro. A saída da UE impediria que se fizesse justiça. Quanto ao comércio, os apoiantes da saída afirmam que as ligações do Reino Unido com a EU, estão a travar a sua relação com os mercados emergentes. Por

exemplo, não existe nenhum acordo comercial importante com a China e a Índia. Sair da UE permitiria ao Reino Unido diversificar as suas ligações internacionais. Os contrário à saída, afirmam que 44 por cento das exportações do Reino Unido, destinam-se a outros países da UE. Criar barreiras com os países com os quais o Reino Unido comercia será prejudicial. O referendo é formalmente consultivo. O governo britânico prometeu que se os apoiantes do “Brexit” fossem a maioria, seria adoptado o processo de saída da UE. O direito de um Estado membro sair da UE está contido no artigo 50.º do Tratado de Lisboa, norma análoga da Constituição Europeia, e em teoria um Estado membro só tem de notificar a UE do seu desejo de sair, e iniciar-se-ão no mais curto espaço de tempo as negociações, sobre como desenvolver as relações existentes no futuro, num prazo de dois anos, que pode ser prolongado. Após as negocições, o processo de “Brexit” termina. Quanto às consequências do “Brexit” para o Reino Unido, dependerão do resultado das negociações com a UE, como por exemplo, em relação ao comércio entre o Reino Unido e os seus antigos parceiros do bloco comunitário. É de recordar que a UE é o destino de quase metade das exportações do Reino Unido, e as possíveis consequências do “Brexit”, poderá ser o colapso da libra esterlina, pois desde meados de 2015, tem-se desvalorizado de 1,6 dólares para 1,4 dólares. A previsão de alguns bancos é que o “Brexit” poderá fazer desvalorizar a moeda inglesa, em 20 por cento, bem como é uma forte ameaça para Londres como centro financeiro mundial. A London School of Economics (LSE), prevê que a saída do Reino Unido da UE, pode ter um custo entre 2,2 por cento e 9,5 por cento do PIB, enquanto o Ministério das Finanças, prevê uma descida de 6,2 por cento do PIB. Os defensores do “Brexit”, afirmam que o prejuízo para a economia será muito menos grave. Quanto a outras possíveis consequências além das económicas, o historiador e escritor inglês Antony Beevor, afirma que a saída do Reino Unido da UE poderá ser o pior exemplo na história de atirar pedras ao seu próprio telhado, e ainda que a União não tenha cumprido o seu objectivo de um um bloco mais estreito e tenha defeitos, a verdade é que o Reino Unido sai e provoca a sua desintegração, ganhando imediatamente o estatuto de nação mais odiada, não só na Europa, mas muito mais além. Os apoiantes do “Grexit” acreditam em três grandes vantagens, que são mais emprego, mais baixos preços de todos os bens e um futuro más sólido. O aumento do euroceptcismo, fez o “Brexit” abrir a porta para que outros Estados membros renegociem a sua relação com a UE. A sondagem publicada uma semana antes do referendo, pelo Centro de Investigações

Pew, revelou ter terminado o amor dos europeus pela UE em dez dos maiores Estados membros do grande bloco comunitário. Os resultados indicam que os europeus não vêem com bons olhos a prespectiva do “Brexit”. Todavia, a percentagem dos europeus que ainda confiam no projecto comunitário têm vindo a descer, reflectindo o descontentamento generalizado pelas políticas adoptadas pela UE. O ministro das Finanças alemão, disse numa entrevista à imprensa alemã que, se acaso ocorresse o “Brexit”, outros Estados membros poderiam seguir o mesmo caminho do Reino Unido. É impossível prever o que pode acontecer. A Holanda, por exemplo, tem uma ligação tradicional e íntima com o Reino Unido, e desconhece-se como irá reagir. A saída do Reino Unido pode provocar que países como a Dinamarca, Holanda e Suécia exijam com maior força e frequência um referendo sobre a sua permanência na UE, sendo também factor importante o que acontecer nas eleições presidenciais francesas de 2017. O “Partido para a Liberdade” é a primeira força política da Holanda, e afirmou que o “Brexit” facilitaria a outros Estados membros uma tomada de decisão. O “Partido dos Democratas Suecos”, que mantêm o equilibrio do poder, é a favor da permanência na UE, mas tudo fará para limitar a sua influência. Os dirigintes do “Partido Popular Dinamarquês”, segunda força política do país, esperavam que o Reino Unido permanecesse na UE, apenas porque era a melhor oportunidade, para o país renegociar a sua relação com o bloco comunitário. A “Frente Nacional”, em França, tem vindo a dizer há longo tempo que pretendia renegociar a permanência da França na UE se ganhar as eleições de 2017. A líder da Frente Nacional considerou que o referendo britânico é um momento essencial na história da Europa, e sugeriu que cada Estado membro deve ter a capacidade de decidir a sua permanência no bloco comunitário. A terceira maior força política da Alemanha, a “Alternativa para a Alemanha”, assinalou que o “Brexit” proporcionaria uma oportunidade para incrementar a reforma da UE. O “Partido da Liberdade da Áustria”, que por pouco não ganhou as eleições presidenciais, realizadas em Maio de 2016, também quer renegociar a relação do país com a UE. Além das fronteiras europeias, economistas, especialistas e empresários da Europa advertiram do perigo de uma eventual saída do Reino Unido da UE, para a economia global. O “Brexit” seria mau para o Reino Unido (Desunido), para a Europa e para o mundo, incluindo os Estados Unidos e a China. Num mundo global conectado é leviano afirmar que existem alguns países que escapam ilesos ao acontecido e aos efeitos negativos, senão catastróficos, que

se irão repercutir em tempo. O Fundo Monetário Internacional, emitiu uma das mais graves previsões, a 24 de Junho de 2016, descrevendo o impacto da saída do Reino Unido da UE, como negativa e substancial, preocupação que produziu eco nas declarações dos responsáveis políticos mundiais. O investigador principal do “Instituto Peterson para a Economia Internacional”, afirmou que basicamente, todos dizem mais ou menos o mesmo, ou seja, de que não existe dúvida de que a economia irá passar mal. Os mercados financeiros, após tomarem conhecimento dos resultados do referendo, começaram a sentir estremecimentos, inclusive nos Estados Unidos, onde os rendimentos dos títulos do Tesouro cairam para níveis mínimos desde 2012. O responsável máximo pela política e comércio do grupo “British American Business”, afirmou que neste momento, ninguém sabe como será o mundo com o Reino Unido fora da UE e que só por si, cria uma incerteza que as empresas não desejam ver. A agência de classificação de risco de crédito “Standard & Poors (S&P)” apresentou um índice de sensibilidade da saída do Reino Unido da UE. O índice incluiu factores como a correlação dos países exportadores para o Reino Unido e o seu PIB, os fluxos migratórios, as procuras das empresas do sector financeiro aos casais britânicos e o investimento directo estrangeiro no Reino Unido. Cada critério é avaliado de 0 a 1, e as avaliações no total contribuem para o índice. Além de 18 países da UE, a agência analisou o Canadá e a Suíça. Como resultado, o índice da Irlanda é de 3,5, o de Malta é de 2,9, o do Luxemburgo é de 2,4 e o de Chipre é de 2,3, sendo estes quatro países da UE, os mais vulneráveis ao “Brexit”. O primeiro-ministro do Reino Unido, a 6 de Junho de 2016, manifestou aos ingleses uma posição crítica em relação ao “Brexit”, afirmando que a saída da UE seria como uma bomba sob a economia britânica, e que o pior é que fomos nós que a lançámos. Entretanto, os líderes da UE dã-se conta da ameaça existencial que o projecto europeu está a enfrentar. O Presidente do Conselho Europeu, reconheceu o perigo de ruptura do bloco e disse que obcecados com a ideia de integração imediata e total, os líderes da UE não percebem que as pessoas comuns, os cidadãos da Europa, não partilham o mesmo euroentusiamo, pelo que estariamos diante do inicio do fim do projecto europeu? O resultado do referendo favorável ao “Brexit” pode bem ter respondido à pergunta, mais quando o próprio Reino Unido se parece desintegrar, com a Escócia a querer permanecer na UE, mesmo que para isso tenha de declarar a independência e a Irlanda do Norte, que votou 56 por cento contra o “Brexit”, a reivindicar a reunifição com a República da Irlanda.


“Já perdi a memória dos recantos / onde faziam ninho os noitibós; / onde o branco e o púrpura / das estevas e tomilhos / montava guarda na orla dos covis, / e subia no ar feito um aroma / o sexo azul do mar” Fernanda Dias

Alexis Tam criticado por lacunas na Saúde O Conselho dos Consumidores (CC) alerta para o consumo de vouchers em forma de pré-pagamento. O alerta surge após uma investigação levada a cabo pelo organismo, sendo que o relatório final confirma a possibilidade do consumidor correr riscos com a compra deste tipo de vouchers. O pedido de atenção refere-se ao facto de que as condições de usufruto não são em muitos dos casos, claras. O CC adianta ainda que apesar da maioria das lojas investigadas dispor de medidas para proteger os consumidores que compram vouchers, em caso de falência ou transmissão, estes podem sofrer prejuízos pecuniários. O CC apela ainda para que seja feito um com prudência, evitando excessos e optando por estabelecimentos com boa reputação comercial.

Metro Convidadas sete empresas para parque de materiais

O Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) convidou sete empresas para a construção do parque de materiais e oficinas do metro ligeiro, fundamental para o funcionamento de todo o sistema. A informação foi confirmada à Rádio Macau pelo próprio GIT. De frisar que o Governo quebrou o contrato com o consórcio formado pela Top Builders e a Mei Cheong, após terem sido verificados atrasos e problemas na construção. Neste momento as carruagens do metro continuam armazenadas, tendo sido necessário ao Governo pagar mais à Mitsubishi para o efeito.

Palavras ocas

A

deputada Song Pek Kei criticou o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, dizendo que a promessa que fez em 2014 de que os cinco anos seguintes seriam “a era mais brilhante da saúde” foram “palavras ocas”. Na origem do descontentamento está o atraso na construção do novo hospital das ilhas, obra discutida há uma década e que já este ano foi prometida para 2019, mas cujo prazo foi recentemente adiado para uma data indeterminada, devido a sucessivas correcções ao projecto. “Se nem o problema de um único hospital se consegue resolver, como é que se pode falar em ‘cinco anos brilhantes’ para a saúde? Palavras ocas só prejudicam o prestígio do Governo”, afirmou a deputada na Assembleia Legislativa. A crítica foi dirigida a Alexis Tam que, após ter sido nomeado para a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura, em 2014, deixou uma promessa: “Sei que agora as pessoas estão a ter dificuldade no acesso à saúde e já estamos a fazer o nosso trabalho para criar um novo hospital no Cotai e no futuro iremos fazer muito trabalho para servir a nossa sociedade. Nestes cinco anos irei melhorar o sistema de saúde. Prometo que os próximos cinco anos serão a era mais brilhante da saúde”.

Incógnitas várias

FRC Exposição em papel

Distinguido pelo trabalho no recorte de papel Oscar Balajadia Jr, mais conhecido por Papa Osmubal, apresentou ontem, na Fundação Rui Cunha (FRC), a exposição “Voice on Paper” - recorte de papel. O artista filipino a residir em Macau tem formação superior na Universidade de Macau e de São José. Nas horas vagas, adianta a organização, debruça-se em trabalhos de caligrafia, colagem e recorte de papel. É nestes últimos que tem desenvolvido temas ligados à natureza, monumentos e especialmente em “rostos” de figuras que marcaram os campos da política, da arte e das ciências do século XX. A exposição destes trabalhos estará patente até 22 de Julho e conta com entrada livre.

Dois anos depois, o novo hospital conta apenas com as fundações, com o executivo a reafirmar, na semana passada, que não há data ou orçamento para a obra, já que o projecto – a ser elaborado em parceria pelas Obras Públicas e Serviços de Saúde – tem sido alvo de sucessivos reparos. “Naquela altura bateu-se com a mão no peito e assumiu-se uma promessa, só que esta promessa desapareceu sem deixar nem sombra nem rasto! (…) Como é que, perante tão

hoje macau

CC pede atenção ao pré-pagamento

terça-feira 5.7.2016

elevado grau de atenção, surgiram tantos problemas”, questionou Song Pek Kei.

pub

A deputada criticou a divisão da obra “em duas partes”, sublinhando que os Serviços de Saúde, apesar

de “saberem melhor quais são as necessidades de equipamentos”, são “leigos em matéria de engenharia”. Song Pek Kei apontou também o dedo ao projectista que “não passou por qualquer concurso público” e “conseguiu a adjudicação da obra por ajuste directo”, tendo recebido 235 milhões de patacas mas, “como não entregou tudo o que era necessário”, levou à “paralisação total das obras do hospital das ilhas”. A deputada referia-se ao facto de as plantas terem sido sucessivamente corrigidas depois de os dez serviços públicos envolvidos lhes apontarem falhas, o que tem sido apontado como o grande motivo de atraso da obra. A questão foi também referida pela deputada Wong Kit Cheng. “Este vai e vem de alterações implica arrastamento atrás de arrastamento, mas é necessário definir um prazo para a definição do plano, não se pode voltar a recorrer ao pretexto do constante aperfeiçoamento para permitir obras sem prazo”. LUSA/HM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.