Hoje Macau 5 SET 2016 #3649

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SEGUNDA-FEIRA 5 DE SETEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3650

ANA JACINTO NUNES

hojemacau

AIR MACAU

Portugueses em terra? PÁGINA 15

OPINIÃO

Regresso aqui

CARLOS PICASSINOS JOÃO COSTEIRA VARELA

Amor e adversidade DAVID CHAN

ALEXIS TAM

Manual de intenções PÁGINA 12

FUNDAÇÕES

CRESCER SEM LEI GRANDE PLANO

BIBLIOTECA

Discórdia transversal PÁGINA 11

h

15ANOS

Diário de Pequim ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU

Campo de favas AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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AMÉLIA VIEIRA

MOP$10

A idade do armário

Pois é: andamos birrentos, egocêntricos, amuados, fechados na tecnologia. Não ouvimos, explicamos pouco. Às vezes, nos dias maus, até parece que não temos memória. São os 15 anos do Hoje Macau. www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau


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VENHAM MAIS 15 D

ETESTO aniversários e ainda mais elegias em moto próprio. É assim: sou mal disposto, nos padrões contemporâneos. Aliás, compreendo-os pouco. Não percebo, por exemplo, como hoje existem reverências a deuses que se sabem falsos, como nos submetemos a ditames que julgamos, ainda que intuitivamente, abomináveis.

É, contudo, isso que vejo um pouco por todo o lado e, inclusivamente, neste jornal. É verdade: não somos imunes ao que classifico de universais da estupidez e da cupidez. Divulgamo-los, aceitamo-los, escrevemos inocuamente sobre eles. E tenho vergonha por isso mas não suficiente para fazer qualquer coisa, além de um suspiro, e evitá-lo. Somos, como é óbvio, obrigados a sobreviver neste oceano de inanidade a que se chamava “comunicação social”. Hoje já deve ter outro nome, qualquer coisa esquisita e desculpabilizável do que não fazemos ou não podemos fazer. Mas, sinceramente, Macau é um universo relativamente aparte. Daí ainda termos a convicção de que fazemos jornalismo – algo que no mundo real acabou no século XX – no limite da nossa capacidade de interpretar o local. Talvez seja mesmo essa nossa incapacidade que nos permite uma visão fresca do que encontramos e um dinamismo quantas vezes absurdo em relação ao que observamos. * Dezembro de 1999. Muitos auguraram o pior, em relação à sobrevivência do jornalismo em Português na recém-criada RAEM. Mas, desta vez, as cassandras não tinham razão. Ao invés de minguar, crescemos e ficamos mais fortes. Na verdade, talvez tenha sido a partir dessa altura que nos começamos a debruçar com outra vivacidade sobre a vida real desta terra. Até então talvez os jornais vivessem demasiado dependentes do que acontecia à volta da Praia Grande e pouco mais. Com a transferência de soberania, muito mudou. E no nosso interior também. Por exemplo, as redacções passaram a contar com jor-

nalistas chineses e a sua presença veio iluminar muitos dos disparates que fazíamos, como veio fortificar a nossa certeza a propósito do rumo tomado a nível editorial. Não façamos confusões: isto é a China. A mesma China que nos acolheu pela nossa diferença no século XVI e que até hoje ainda não nos expulsou. Que nos abriga e nos embala. Entre portugueses e chineses sempre existiu a compreensão imediata do “vive e deixa viver” e isso é fundamental para a nossa meta-existência. Sem ela nada disto existiria. Os portugueses são, de facto, tão insuportáveis que só os chineses, com a sua paciência (leia-se interesse prolongado e deferido) nos aturariam. Pior que nós só os ingleses, os franceses, os holandeses, os alemães, os russos e, ultimamente, os americanos e os australianos. Macau, dizem, mudou muito nos últimos quinze anos. Não me parece. O meu Macau está ali onde o quiser encontrar. Nos erros sucessivos do governo – iguais a antes de 1999 –; na ambição desmedida dos recém-chegados – sobretudo dos que há pouco atravessaram a fronteira terrestre –; na euforia palerma dos portugueses – desembarcados há momentos do jetfoil. E existe, como sabemos, um outro Macau que nem de longe nem de perto se reconhece no que hoje ciframos como RAEM: a cidade verdadeira, egoísta, metida consigo, fantasmagórica, palmilhável, inesgotável, sorvida como uma sopa de fitas ou junto à boca como uma malga de arroz. Há mais dinheiro. Vejo mais luzes. Há mais confusão. Vejo mais gente. Mas nada disto me interessa. Sou director de um jornal que pretende ver além do óbvio e informar além do sensível. E é este o nosso desafio: ler o ilegível, soletrar o indecifrável. Bem sei tratar-se de uma tarefa impossível por isso é digna de nós. Menos seria pouco, mais seria divino. Ficamos, portanto, por aqui. Pelo menos mais quinze anos. Carlos Morais José


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Q

UANDO o director deste jornal tinha quinze anos, cometeu alguns erros não fundamentais mas fulcrais para a minha vida. Por exemplo, escolheu ser engenheiro químico e, devido a essa decisão, estudou ciências exactas durante dois anos quando o que lhe interessava mesmo eram as ciências humanas. Arrependeu-se? Não. Aprendeu muita coisa que não viria a aprender se, imediatamente, tivesse enveredado pelo caminho das humanidades. E isso hoje é importante para ele. Aos quinze anos não sabemos bem para onde queremos ir e, sobretudo, ainda não sabemos o que somos. Existem pistas, indícios, uma plataforma cultural e civilizacional onde nos movemos, mas fazemo-lo dotados uma parca consciência e sem sequer dessa fragilidade nos damos conta. Nasce-nos a barba, ainda rala, mas vem coroada de borbulhas. Ou seja, cada coisa é, geralmente, um problema. Felizmente, temos pais, gente mais velha, amigos, que nos desculpam, nos acarinham e permitem continuar a vida, apesar dos disparates que fazemos. Já não somos crianças a quem tudo é permitido. Já não temos a graça de quem começa, nem a inconsciência tolerada. Somos grandes. De repente, crescemos. Temos quinze anos e ocupamos imenso espaço, muitas vezes sem sabermos o que fazer dele.

BARBA E BORBULHAS

* Confessemos: a vida dos adultos é, aparte do sexo, fundamentalmente aborrecida. E isso, aos quinze anos, olhando à volta, é fácil de perceber. Não que com esta idade se julgue saber mais que os outros: o que se questiona é o valor dessa sabedoria. Afinal, o mundo não é propriamente um lugar idílico para viver. Serão os adultos um modelo a seguir? Parece que não. Tudo nos grita que não. Eu, Hoje Macau, não quero ser como os senhores que fazem o mundo arder sem se preocuparem com quem constantemente se queima nessa fogueira a que chamamos História. Basta olhar. E não é para o passado, é para o presente e com os olhos postos nos futuro. O que vem aí? Que mundo nos entregam? Ainda há quem se lembre de quando a religião, o racismo, as diferenças de género, o direito do mais fraco à liberdade eram coisas resolvidas, que ninguém pensava poderem regredir, até que, de repente e inesperadamente, vivemos outra vez num

Não sou nenhum herói, muito menos um cruzado. Como vos dizia, não sei exactamente o que sou para além de ser um jornal feito por jornalistas que, como eu, também têm muitas dúvidas sobre o mundo e ainda mais sobre Macau

mundo de idiotas. O movimento imprescindível que conduziu à educação obrigatória serviu de desculpa para baixar o nível geral da comunicação e isso foi um dos erros (talvez propositado) em que caiu a democracia ocidental.

* E o que é isto de ser comunicação social? Devo ser informação ou entretenimento? Devo entreter enquanto informo ou deixar cair a informação que me apetece entre duas levas de emoção pura e dura? Caramba! Tenho quinze anos, o mundo é confuso, cada

um puxa para o seu lado, nenhum para o meu, e não faço parte de nenhum clube. Nem Igreja , nem Maçonaria; nem Governo, nem Oposição. Não é essa a minha filiação, não foi assim que os meus pais me ensinaram. Hoje, como há quinze anos, os meus donos são os mesmos. E não, queridos leitores, não sois vós. Não julgais que satisfaço os vossos desejos. Os meus verdadeiros donos são uma coisa que inventei, a que chamo população de Macau. E inventei-a porque ela só existe de forma ténue, mal definida, flutuante. Julgo, no entanto, servir os seus interesses. Quanto mais não seja por me dedicar a fazer jornalismo. A sério. Com o rigor possível e a imaginação impossível. Com a dedicação de quem não tem mais nada para fazer. Nasci para isto e nesta demanda me mantenho. O caminho nunca é óbvio: como ser um jornal numa cidade em que, de uma maneira ou de outra, somos todos primos? Experimentem e verão quantas vezes a vossa face será acometida de um súbito rubor, quantas vezes a consciência vos gritará horrorizada pelo trabalho bem feito e necessário; quantas vezes a emoção não vos obrigaria a tomar outro caminho. Não sou nenhum herói, muito menos um cruzado. Como vos dizia, não sei exactamente o que sou para além de ser um jornal feito por jornalistas que, como eu, também têm muitas dúvidas sobre o mundo e ainda mais sobre Macau. Esta terra, onde orgulhosamente nasci a falar português, é mais complexa que um labirinto, mais indecifrável que um palimpsesto, mais difícil de ler que um romance do Lobo Antunes. Talvez por isso ela seja o meu amor. Nós, que escrevemos em português, gostamos de mistérios, de coisas inenarráveis, complicadas, absurdas. Daquelas que só aos poucos vão sendo ditas, sendo despidas, com a lentidão de exasperar um monge. Adoro Macau. A cidade dá-me tudo, sobretudo esta energia estranha

Já não somos crianças a quem tudo é permitido. Já não temos a graça de quem começa, nem a inconsciência tolerada. Somos grandes. De repente, crescemos. Temos quinze anos e ocupamos imenso espaço, muitas vezes sem sabermos o que fazer dele que ma faz palmilhar de um lado para o outro e nunca me cansar de nela encontrar novas formas, novas gentes, novas coisas. Por vezes é uma querida; doutras uma bruxa. Mas sempre a roçar o insuportável: impossível de viver com ela, impossível de a largar. É a vida... * Tenho quinze anos: peçam-me muito, exijam-me mais, que eu preciso. Ponham-me na ordem quando for necessário. Esperem por uma resposta pronta, talvez violenta, sempre que me atacarem. É que, além de mim, tenho muito a defender. A tal população, lembram-se... e, além dela, os magros princípios que me guiam. Trouxe-os de um outro continente. Num caso, modifiquei-os. Eu explico. Mantive, cimeiro a todos, a Liberdade. Não prescindi, nem prescindirei de um desejo de Igualdade, sobretudo de oportunidades, acima de tudo pelo mérito. Resolvi, entretanto, afinar a ideia de Fraternidade. Nunca, de facto, me havia agradado, dadas as suas ressonâncias maçónico-cristãs. Parece que se só destina aos que se consideram irmãos (frater). E os outros? Os que ousam discordar da seita? Adoptei por


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isso, no seu lugar o conceito de Ren, aprendido em Confúcio, e que se destina a toda a Humanidade. Nele é vigente a regra de ouro, a saber: não faças aos outros, o que não queres que façam a ti próprio. Nele não admito separações étnicas, religiosas ou de qualquer outra espécie. Nele vivem todos os homens e nele imperará, nesta acepção, uma benevolência extensa a todos os seres humanos. Ele implica, fundamentalmente, educação e cortesia, algo importante para manter a civilidade e a distância. Dos proletários aprendemos a autenticidade, a importância da luta; da aristocracia pretendemos o refinamento. Da burguesia nada queremos, além dos anúncios. Sou, por isso, do lado que considera a existência do Outro fundamental para mim. É o caso da minha dita concorrência. Preciso da Tribuna e do Ponto Final; aplaudo a existência do Clarim e do Plataforma. Eles mostram-me como eu não quero ser – e não considerem isto uma crítica – mas uma afirmação de mim pela negativa. Todos a fazemos para existir, para garantir uma identidade, e eu, porque tenho quinze anos, tenho ainda o descaramento de o admitir.

Dos proletários aprendemos a autenticidade, a importância da luta; da aristocracia pretendemos o refinamento. Da burguesia nada queremos, além dos anúncios

Fossem estes quinze anos um sonho, uma fantasia, e valia a pena ter dormido. Felizmente, sou uma realidade diária, palpável, até legível. Tenho tido comigo gente excepcional. Muitos partiram para outras aventuras porque eu não sou o fim do mundo. Pelo contrário, considero-me um início, um ritual de aproximação, de iniciação. Através de mim, alguns tiveram e têm acesso a um certo Macau e outras coisas para além dele. Talvez não exista melhor mediador. Este é o meu lado ainda inseguro e, por isso, convencido. Publico, logo existo. Disto eu tenho a certeza. Não tenho, no entanto, certezas quanto à veracidade da minha existência, apesar de publicar. Será que por duvidar, isso me garante que existirei? Adoro paradoxos, essas frases onde o óbvio se esvai e a verdade se insinua. Preciso, simplesmente, de ser publicado. Bem sei que isto é confuso. Talvez um pouco infantil. Só tenho quinze anos. Não sei ainda o que me espera. Nem exactamente o que vou ser. Depende, diria... da barba, das borbulhas e, finalmente, de vós, meus queridos e imprescindíveis leitores.

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A WELFARE PRINTING LIMITED FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO

O INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAU FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO


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1. O indizível

Na nossa primeira edição dizíamos o que ninguém queria ouvir: que o ex-Hotel Bela Vista (hoje excelentíssima residência consular) deixará de ser português em 2049. Bom... é verdade que isso hoje não interessa a ninguém, até porque nada do que se vai passar daqui a vinte anos interessa a alguém. Mas não deixou de ser uma bela manchete... assim para começar.

2. O improvável

Houve um tempo em que se queria destruir o velho mercado da Taipa para aí construir um centro cultural. Devia ser boa ideia mas por quê ali, onde haviam colunas portuguesas encimadas por um telhado chinês? Escrevemos muito contra isso e resultou. Olhando para o local, talvez estejamos um pouco arrependidos... ou talvez não.

3. O previsível

Quando a liberalização do Jogo estava prestes a abrir os diques do disparate e permitir que esta cidade fosse controlada por uma ganância irresponsável, bem que publicámos artigo atrás de artigo, avisando para a desarmonia vindoura. Social, ambiental, económica e quiçá política. Ela aí está, em todo o seu esplendor.

4. O imponderável

Como antecipar a maravilhosa vinda de magotes de neoportugueses? Como futurar sobre a crise que assolou o petit pays, assim de repente? Impossível. Tão orgulhosos eles estavam, tão incertos da sua europeidade eles aqui chegaram. Como se conhecem mal a si próprios esses ditos portugueses... e como é bela a sua eventual transformação...

5. O inaudível

Centenas de artigos, de reportagens, de entrevistas. Para não falar de opiniões, escritas, gritadas, preto no branco. E, diga-se a verdade, poucos nos ouvem. Chovemos no molhado, é certo. Mas o pior é que, a maior parte das vezes, choramos sobre o leite derramado. Não deixaremos por isso de continuar. Afinal, a voz que fica é o insistente sussurro – e pouco mais somos do que isso – que insiste e não se cala.

6. O poucochinho

Temo-lo dito, uma, duas, cem, milhares de vezes: o Governo tem obrigação de

15 PONTOS (ALGUNS NEGROS, GORDUROSOS)

fazer melhor. Há dinheiro, existem meios, confie-se nas pessoas. Macau merece mais, isto é poucochinho. Precisamos de arrojo, de vaidade, de confiança. Somos a cidade da China que menos confia em si mesma. Porque pouco conhece de si própria. E julga-se que anda tudo ao mesmo. Pois não anda.

7. Os glutões

É o poder, é o dinheiro, meus senhores e minhas senhoras, o que ele mais adorava. E dele não quer largar mão. E não é ele, mas eles, que por aqui ninguém alinhava sozinho. E dele não abre mão. Nem que custe a vida ou um milhão. É assim a RAEM: dos mesmos para os mesmos sem saciedade à vista. A fome é muita, demais e, por vezes, as indigestões são fatais.

8. Os benfeitores

Não fosse Pequim ter lançado a teta da ligação de Macau aos países lusófonos e estaríamos hoje a berrar como vitelos desmamados. Foi essa China do outro lado das Portas do Cerco que nos liberou, que nos justificou, além e aquém da História. Abençoados sejam por todos os deuses e mais um. Abençoado seja quem sabe realmente ler. Alguém percebeu Macau e não foi ninguém daqui.

9. Os insatisfeitos

Há muitos porque não fácil assistir ao deslizar do patacame sem molhar o bico nesse ribeiro de fortuna e excessividades. Não deixam, contudo, de ter alguma razão. Não conseguem, entretanto, descobrir o caminho que mais lhes convém. Para não servir, é preciso ser assumir os

riscos. Para ter sucesso, é sempre fundamental ousar. Recado: queixem-se menos, façam mais. Não dá? Façam outra vez.

10. Os falhados

São os nossos favoritos: os que falham. Normalmente, fazem-no por razões verdadeiras e delas não querem abdicar. Temos assistido a inúmeros casos. Deles nada criticamos. Simplesmente não dá. Macau nunca foi fácil, a não ser para os que têm como assegurado o dia da partida. Nas razões dos falhados estão, na maior parte dos casos, os fantasmas do sucesso dos que ousam ficar.

11. Os intragáveis

Chegaram há dez anos de um sítio qualquer da China e, por terem obtido, sabe-se lá porque meios, o cartão de residente permanente julgam-se donos da cidade. Sentam-se na AL, discursam forte na Ou Mun Tin Toi. São mesmo os primeiros a pretender que mais ninguém obtenha o estatuto de cidadania. Dariam vontade de rir se, na realidade, não fossem tendo cada vez mais e mais poder. Perante a inércia dos que aqui nasceram. OK: continuam a dar vontade de rir.

12. A maltratada

É a língua, senhores, a lusa língua. A língua prometida, a língua oficial, essa mesma a que rebola por essas ruas, corrida a pontapés, varrida a sopapos, espancada pela ignorância e o desinteresse gerais: coitadinha. Deve ser por falta de jeito dos altos responsáveis ou então porque há para aí uns doutores que prometeram aos americanos fazer do inglês a língua primeira desta terra. E tudo isto sem um

pingo de vergonha na cara. De quando em vez, passa Pequim, levanta-a do chão, sacode-lhe a poeira e tenta que Macau cumpra o seu histórico desígnio. E não, não é canalizar dinheiro para os candidatos quando das eleições nos EUA.

13. Os escandalosos

Que um Secretário das Obras Públicas meta a mão na massa indevida, não é bonito, mas compreende-se. Afinal, acontece ou pode acontecer um pouco por todo o lado. Em Macau, saiu-nos Ao Man Long, o pequeno homem de desejos enormes. E lá está em Coloane, a cumprir os seus 28 anos de sombra. Mas que o Procurador da RAEM tenha seguido o mesmo caminho e se pensarmos que esse mesmo senhor foi um putativo candidato a Chefe do Executivo, a coisa muda de figura e torna-se preta. Que raio de terra é esta em que o Justiceiro-mor, o defensor dos interesses do povo, garante da legalidade, é apanhado com a boca em botija alheia. Não é só triste: é, sobretudo, extremamente preocupante.

14. Os poderosos

Ao pé deles, o Governo treme, a polícia cora e os juízes encolhem-se. Estaremos a falar dos militares do EPL? Não, referimo-nos aos taxistas. Nesta cidade, eles fazem o que muito bem lhes apetece, pondo em causa a lei, a boa educação, o civismo e a imagem de Macau no exterior. E o que faz o Governo? Não licencia a Uber, faz o jogo de quem pesca pela cidade a seu bel-prazer: umas multinhas de vez em quando e pouco mais. É uma vergonha. O poder não está na ponta da espingarda. Aqui anda sobre rodas.

15. Os insípidos Cada vez que vimos uma pessoa nova chegar ao poder em Macau, o nosso coração alegra-se, por julgar que algo de novo vai brotar, que muito vai ser corrigido e uma nova mentalidade poderá surgir. Cruel engano! Os novos governantes, com excepções (?), não passam de gente insípida com mais amor ao lugar do que à cidade ou mesmo ao seu próprio desempenho. Dos pais não herdaram a determinação e aos filhos não passam o sentido do dever e de servir a coisa pública. Enfim, na maior parte dos casos, são uma grandessíssima decepção.


7 IMPRENSA JORNALISTAS FALAM DA PROFISSÃO EM MACAU

hoje macau segunda-feira 5.9.2016

ADOLESCÊNCIA VISTA POR DENTRO Em dia de aniversário, o HM foi saber por quem cá anda, mais ou menos ao mesmo tempo, o que é isto de assinar notícias há década e meia. Uma actividade com várias fases e também uma profissão que tem vindo a desenvolver-se e a ficar mais bonita e mais próxima da comunidade

O

S últimos 15 anos de imprensa em Macau trazem novidades e desenvolvimento. Apesar de “ter fases” a opinião de quem vive o jornalismo na pele e faz dele profissão é unânime: a actividade em Macau está diferente. Os últimos 15 anos são pautados com sangue novo, gente de fora e profissionais da área que vão revitalizando a profissão numa região que cresceu muito e com ela fez crescer o jornalismo. Isabel Castro, jornalista da Rádio Macau, também há 15 anos na RAEM, aponta em primeiro lugar o crescimento de gente, “o jornalismo era feito por menos pessoas do que é hoje, em termos gerais as equipas eram bastante menores”. Na sua opinião pessoal e “ao contrário do que muita gente esperaria antes da transferência do território, começaram a vir mais pessoas de Portugal”, factor que veio influenciar as notícias de cá. Com elas veio uma outra forma de ver e pensar o jornalismo e mesmo Macau, considera. Este facto é apontado como positivo, até porque

POR QUEM LÊ

U

m jornal só se faz com leitores e Mário Duque, arquitecto, refere-se à imprensa de Macau como um “imprensa de fases”. É uma imprensa com flutuações em que há momentos particularmente interessantes em termos de opinião e conteúdos e há momentos de perfeito marasmo que também têm a haver com o marasmo da terra”. Ainda assim a imprensa em Macau não deixou de sofrer um desenvolvimento qualitativo. A opinião é de António Conceição Júnior, criativo, que aborda não só o conteúdo escrito mas também o trabalho gráfico que considera “fundamental para uma boa leitura”. A qualidade e a diversidade dos temas são também aspectos apontados, pelo artista local.

com o passar do tempo “é impossível que o nosso olhar não se vicie e esta renovação é boa”. É a esta entrada de sangue novo que acontece há 15 anos que Gilberto Lopes, chefe de informação e programas portugueses da Rádio Macau, chama de “geração RAEM” e que terá contribuído para o desenvolvimento da actividade permitindo que, 15 anos depois, se faça o que se faz”.

Mais gente, mais profissional

Não é só o aumento de jornalistas que pautam os últimos 15 anos da RAEM. É a profissionalização dos mesmos que destaca o desenvolvimento da história recente da imprensa. Terá sido após a transição que Rocha Dinis, administrador do Jornal Tribuna de Macau, assinou um protocolo com a Universidade de Coimbra e com isso os jovens recém licenciados do curso de comunicação social começaram a aceder ao território para estágios. “Alguns ficaram, outros não, mas foi, sem dúvida um marco para o desenvolvimento de profissionais no território” afirma. Questões ligadas à ética e deontologia profissional também são de salientar para Marco Carvalho, director do jornal Ponto Final, “Outra questão relevante é a profissionalização das redacções dos jornais do território” revela, sendo que é “gente nova mas gente qualificada no mister do jornalismo e uma classe já mais ligada a questões de ética e deontologia profissional”.

Não há bela sem senão

Não chega só ter mais gente e mais profissionais. Para Rogério Beltrão Coelho, editor da Livros do Oriente, “se é certo que os jornais dispõem hoje, nas suas redacções, de maiores e melhores equipas de jornalistas, com formação académica específica e, como tem sido verificado, com muito talento e criatividade, a verdade é que nem sempre a exigência de qualidade se faz sentir”. Conhecer a terra por dentro é factor essencial, porque “é natural que aos jovens profissionais, recém-chegados ou há poucos anos em Macau, lhes falte a memória para compararem, avaliarem, recolherem experiências e usarem o conhecimento do passado para compreender e interpretar o presente e perspectivar o futuro”. Por outro lado o esforço para o aprofundamento de conhecimento “nem sempre é feito e o ritmo a que se processa a vida num jornal diário propicia situações de jornalismo de menor qualidade e de algum facilitismo”, remata Beltrão Coelho”.

Uma questão de línguas

Falar de jornalismo em língua portuguesa não é falar de jornais de Portugal em Macau, mas

“É impossível que o nosso olhar não se vicie e esta renovação é boa” ISABEL CASTRO JORNALISTA

“É de frisar a tranquila e promissora durabilidade dos jornais portugueses. É um caso de sobrevivência inédito na História da Imprensa em Macau” ROGÉRIO BELTRÃO COELHO EDITOR

sim de jornais da terra na sua língua oficial e que é fundamental para a “manutenção da língua portuguesa”. Num território que partilha linguagens, gentes e culturas cada vez são mais os alunos a aprender a língua de Camões e o facto de existir imprensa em português é fulcral “sobretudo para quem está a aprender o que também é o caso do território em que os estudantes podem usufruir deste tipo de ferramentas”, afirma Gilberto Lopes. Um outro ponto a salientar nesta puberdade da imprensa em Macau foi a inserção de profissionais de língua chinesa numa aproximação à comunidade. Para Marco Carvalho “os jornais não estariam completos sem estes interlocutores com a comunidade chinesa e, se há uns anos

ter estes profissionais era uma excepção, neste momento é o que acontece”. Gilberto Lopes partilha da mesma opinião, sendo que “no início da década (2001) não havia colegas chineses e agora há, o que é fundamental para que os leitores possam perceber a própria sociedade em que se inserem. Em jeito de conclusão, Beltrão Coelho não deixa de frisar “a tranquila e promissora durabilidade dos jornais portugueses. É um caso de sobrevivência inédito na História da Imprensa em Macau.” Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


8 GRANDE PLANO

FUNDAÇÕES PRIVADAS NASCEM, NASCEM..., MAS ESPECIALISTAS AFASTAM

LEI PARA QUE TE Nos últimos anos o número de fundações privadas tem crescido em Macau, sendo que muitas delas, sobretudo as que estão ligadas ao sector da educação, recebem milhões em fundos públicos. Muitas não advogam pela transparência. Ainda assim, alguns defendem que não é necessária uma regulamentação própria

A

visita dos medalhados olímpicos chineses a Macau, na semana passada, gerou reacções efusivas junto dos que sempre sonharam estar perto das estrelas do desporto chinês. Mas o evento ficou marcado pelo cheque chorudo que estrelas como Fu Yanhui receberam: 14 milhões de patacas dadas por entidades e personalidades privadas. A Fundação Henry Fok, que há muito não era notícia, destacou-se ao doar cerca de cinco milhões de patacas. Um valor que o advogado Sérgio de Almeida Correia diz não com-

preender, apesar de se tratar de uma entidade privada, gerida com fundos também privados. “Não sei a que propósito deram esse cheque, porque estamos a falar de atletas de alta competição, que já recebem bolsas do Governo chinês e têm condições especiais de treino. Não sei porque Macau faz contributos deste tipo”, disse ao HM. Criada em 2002, a Fundação Henry Fok, empresário de Hong Kong falecido em 2006, é uma das mais antigas de Macau, um território que na última década viu aumentar o número de fundações privadas. Hoje são cerca de 30, número bastante mais baixo do que as mais de cinco mil associações existentes. Apesar de serem entidades privadas, constituídas com dinheiros privados, a verdade é que muitas delas ganham milhões em fundos públicos, sobretudo da Fundação Macau (FM) ou outros fundos governamentais. É o caso de todas as fundações que sustentam as universidades privadas de Macau, como a Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST), Universidade de São José (USJ) ou a Universidade Cidade de Macau (UCM). Os números são tornados públicos porque a FM os publica no Boletim Oficial (BO), mas os relatórios e contas destas fundações e toda a sua contabilidade estão muitas vezes afastados dos olhos do público. A título de exemplo, a FM concedeu, no segundo semestre deste ano, cerca de 11 milhões para a Fundação da MUST, dinheiro

que serviu para pagar o plano anual da universidade para 2013. Já a Fundação da UCM recebeu 36 milhões. A UCM é detida pelo deputado e líder da comunidade de Fujian, Chan Meng Kam, que tem também uma Fundação com o seu nome, criada em 2014. Há ainda outro punhado de Fundações criadas na área da cultura das quais pouco ou nada se sabe. A título de exemplo, existe, desde 2004, a Fundação da Natureza Mundial de Macau, ou, desde 2008, a Fundação Monumentos. Desconhecem-se os projectos que desenvolvem ou o seu funcionamento. Para o advogado Sérgio Almeida Correia, é necessária uma maior transparência no funcionamento destas instituições, ainda que sejam privadas. E dá um exemplo. “O caso do subsídio dado à Fundação da Universidade de Jinan gerou uma enorme polémica porque ninguém sabia porque é que se estava a atribuir uma verba

daquelas. É precisa transparência em relação ao Governo e ao funcionamento da AL, esse é o principio geral de bom governo e administração. Não acho que deva existir um regime especial para as fundações, mas seria bom que seguissem os princípios gerais, que já existem, mas que nem sempre são seguidos. Deveriam ser fiscalizadas o que parece que neste momento não está a acontecer. Não há transparência suficiente nem há fiscalização suficiente.” Sérgio de Almeida Correia salientou ainda o facto de muitos documentos serem de difícil acesso à população. “É muito difícil ter acesso a documentação e muitas vezes um advogado ou um cidadão não consegue aceder a determinado processo. Existe uma cultura de sigilo na Administração e no Governo que é uma coisa muito pouco recomendável e saudável. Essas coisas poderiam ser revistas.” Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), defende que o escrutínio deve ser maior caso a Fundação receba dinheiros públicos. “A Fundação Henry Fok, por exemplo, é privada e não podemos exigir uma maior transparência quanto ao seu funcionamento, porque tem matriz familiar. Apoiam algumas actividades sociais e também projectos culturais. Têm os seus órgãos sociais e têm uma regulação interna. Mas em relação a todas as Fundações que recebem fundos públicos temos de exigir uma maior transparência, deviam publicar relatórios anuais, como se

CRONOLOGIA DAS FUNDAÇÕES LOCAIS • 1988 – Fundação STDM • 1990 – Fundação Badi (detém a Escola das Nações e gere outros programas educativos) • 1996 – Fundação Sino-Latina (criada por Gary Ngai para promover as relações entre a China e a América Latina) Fundação Católica para o Ensino Superior (detentora da Universidade de São José) Fundação Kayiwa (sem fins lucrativos, está ligada à Fundação de Hong Kong, criada por Kayiwa Kawuma, conselheiro católico e familiar vindo do Uganda) • 1998 – Fundação da Deusa A-Má (gestora do

Templo de A-Má) • 2000 – Fundação Song Qing Ling Macau (em memória da segunda mulher de Sun Yat-sen) Fundação para o Desenvolvimento da Cultura e Educação de Macau • 2002 – Fundação Henry Fok (com projectos na área da educação e cultura, criada pelo empresário de Hong Kong Henry Fok) • 2004 – Fundação da Natureza Mundial de Macau Fundação da MUST (detém a MUST) • 2005 – Fundação Stanley Ho para o Desenvolvimento da Medicina (apoia estudos na área da medicina)

Fundação para o Desenvolvimento da Aviação Civil • 2006 – Fundação Kuan Iek Macau • 2008 – Fundação Monumentos • 2009 – Fundação de Beneficência do Banco da China • 2011 – Fundação para a protecção da herança cultural étnica chinesa Fundação da Universidade Cidade de Macau • 2012 – Fundação Rui Cunha (estabelecida pelo advogado Rui Cunha) Fundação Stanley Ho (com sede em Portugal, criada em 1999, com investimentos na área do imobiliário, banca e produção vinícola)

• 2013 – Fundação Cultura da China • 2014 – Fundação de Beneficência Neng Care Macau Fundação de Arte Ling Ge (criada pelo artista chinês Qian Lingge com um capital de 10 milhões de patacas, pretende promover a cultura chinesa. Com projectos culturais na Ilha de Hengqin) Fundação Chan Meng Kam (estabelecida pelo deputado e líder da comunidade de Fujian Chan Meng Kam) • 2015 – Fundação Budista Fundação Galaxy Entertainment (criada pela operadora de Jogo com fins beneméritos)


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CRIAÇÃO DE LEGISLAÇÃO AVULSA

QUERO de uma empresa se tratasse, com a publicação dos seus relatórios e contas nos jornais”, defendeu a também ex-candidata às eleições legislativas ao HM. “Se quiser abrir a Fundação Agnes Lam com o meu dinheiro e fazer caridade com isso, penso que não deve haver (tanta regulação), porque as pessoas têm de ter essa liberdade”, referiu ainda.

LEI NÃO É NECESSÁRIA

Actualmente o Código Civil regulamenta a criação de Fundações, sendo que o seu funcionamento e até fiscalização está dependente dos órgãos sociais da entidade. Especialistas ouvidos pelo HM defendem que não é urgente uma lei avulsa para regular as Fundações. “Não creio que seja importante criar esta lei”, defendeu o advogado Miguel de Senna Fernandes. “Se no futuro a criação de Fundações levarem a situações que não constam na lei, então aí sim justifica-se o tratamento legal. Neste momento

NOTA Criada pela STDM em 1988, a Fundação Oriente tem hoje sede em Lisboa e delegações em alguns cantos do mundo, incluindo Macau. A FO viu a sua utilidade pública ser reconhecida em Portugal e Macau em 1989. A FO foi criada como contrapartida imposta pelo Governo face à concessão, em regime exclusivo, da exploração do Jogo, até 31 de Dezembro de 2001. Em Janeiro de 2006 a FO perdeu a ligação que tinha com o sector do Jogo, ao ser decidido que deixava de receber rendimentos vindos dos casinos.

julgo que não se justifica uma lei avulsa para a regulamentação das Fundações.” Também o jurista António Katchi “não consegue ver a necessidade de tal lei”. “Quer as associações ou Fundações privadas são amplamente reguladas pelo Código Civil. É claro que, tratando-se de entidades privadas, estes regimes jurídicos deixam uma ampla margem aos seus órgãos internos para a definição, execução e fiscalização das suas actividades, e penso que assim deve continuar”, defendeu. O jurista, docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), referiu apenas que a atribuição de subsídios deve acabar caso seja notada algum tipo de ilegalidade. “Se uma Fundação não fizer nada ou quase nada em prol da população, não podem certamente os poderes públicos obrigá-la a fazer mais; podem, sim, cortar-lhe

Cultura, Educação e Direito

Os exemplos Badi e Rui Cunha

A

subsídios e outros benefícios que, nos termos da lei, dependam da sua utilidade pública. Em todo o caso, é em primeiro lugar ao Governo e à Administração Pública dele dependente que compete satisfazer as necessidades colectivas. O Governo não deveria deixar ninguém ficar dependente da boa vontade de entidades privadas”, rematou. Para Agnes Lam, cabe à FM, a grande financiadora destas entidades e projectos privados, avaliar o cumprimento da lei. “A legislação ainda não está pronta para a questão das Fundações. Em Portugal existem imensas Fundações sobre as quais existem poucas informações. Temos que ter cuidados em relação a isso. A FM recebe dinheiro público, dos casinos, e têm de ser muito mais transparentes.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Fundação Badi é a segunda mais antiga de Macau. Criada em 1990, dois anos depois da Fundação Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), a Fundação Badi quis ser desde o primeiro momento uma organização sem fins lucrativos para o desenvolvimento da criança em Macau e na China. Os seus fundadores foram Badi’u’llah Farid e Shidrokh Amirkia Bagha. “Esta família vivia em Macau nos anos 90 e queriam fazer algo por Macau e também pela China, então criaram a fundação e também tem, desde 1996, escritórios em Pequim. Foi fundada a pensar na questão prática, na criação de uma organização sem fins lucrativos, mas também havia a visão de que a fundação poderia apoiar o desenvolvimento na China. O objectivo desde o início era ter programas em Macau e na China”, explicou ao HM Victor Ali, director-executivo da Fundação. Para além dos programas educativos que desenvolve com escolas e universidades, na RAEM e também na China, a Fundação Badi gere a Escola das Nações, na Taipa, hoje com 600 alunos. Em 2006 recebeu das mãos do Governo um terreno para a sua construção. “A fundação tem quatro trabalhadores a tempo inteiro, sendo que três deles estão focados no trabalho com as escolas e em conjunto com a DSEJ, e também com as universidades. Temos o apoio do Governo, a DSEJ deu-nos o terreno para a construção da escola das nações e um apoio financeiro para a construção do nosso campus. Nos últimos anos a DSEJ também nos atribuiu muitos subsídios que tem permitido à escola crescer”, disse ainda o responsável. A Fundação Badi é uma das poucas entidades do género com presença online, onde publica os seus relatórios anuais. Também a Fundação Rui Cunha, criada em 2012, sempre quis ser reconhecida junto do público pela defesa da cultura e do Direito local. “Esse é um dos princípios que norteiam a Fundação desde o início. Os fundos são totalmente privados, vêm em exclusivo do

fundador (Rui Cunha), ele gosta que a comunidade saiba para onde vai o dinheiro. O dr. Tubal Gonçalves faz relatórios mensais e depois temos o relatório anual, e tudo é escrutinado em assembleia de curadores. Isto funciona como uma empresa”, explicou Filipa Guadalupe, coordenadora do Centro de Reflexão Estudo e Difusão do Direito de Macau (CREDM). Filipa Guadalupe, jurista, também defende que não é necessário criar uma lei avulsa para regulamentar o funcionamento das Fundações. “As associações e fundações têm estatutos e regulamentos, os quais são obrigados a cumprir. Cabe aos associados, numa associação, fiscalizar, e nas fundações aos órgãos sociais, os curadores. Cabe aos órgãos internos fazer a fiscalização. Se têm apoios privados ninguém tem nada a ver com isso, mas se vierem de entidades públicas, no caso da FM, cabe a esta ver se o dinheiro está a ser bem investido.” “Quando há associações ou Fundações que são “sustentadas” com apoios públicos é normal que a sociedade se questione. No nosso caso a FM só nos apoiou em um ou dois livros, de Direito, e fomos obrigados a publicar o livro no período a que nos propusemos e a devolver o dinheiro caso sobrasse. Connosco esse mecanismo funcionou. Deverão fazer o mesmo com outras fundações.” A.S.S.


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TIAGO ALCÂNTARA

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Biblioteca Central não reúne consenso. Ainda sem projecto à vista as vozes levantam-se para que seja alvo de Consulta Pública. Considerado desactualizado é necessário ter em conta a mudança dos tempos e da saúde financeira da RAEM. Cheang Kok Keong vê integração do Estoril como “plano ideal”

O

projecto da Biblioteca Central não reúne consensos e, para Angela Leong, “tem que ir a consulta pública”. Esta é uma premissa clara e que deve ser tida em conta pelo Executivo quando estão em causa “empreendimentos públicos de grande envergadura”, afirma a deputada citada no Jornal do Cidadão. No caso da Biblioteca Central, projecto que remonta há cerca de

Biblioteca PEDIDA CONSULTA PÚBLICA PARA PROJECTO “DESACTUALIZADO”

Estoril volta à baila 10 anos, o Governo ainda não procedeu a uma consulta aos residentes nem anunciou vontade de o fazer pelo que “não está a levar em consideração as opiniões dos cidadãos”. “A nova biblioteca como infra-estrutura pública de grande importância, e o desenrolar do projecto deve ser acompanhado de informação aos residentes no que respeita às escolhas apontadas pelo Executivo, quer no que respeita à localização ou à arquitectura”, considera Angela Leong enquanto frisa que estes aspectos devem ser dados a conhecer com antecedência de modo a permitir que a população expresse a sua opinião e participe, juntamente com o Executivo, na execução das políticas governamentais bem como no garante da “fusão das opiniões públicas e da administração”.

MUDAM-SE OS TEMPOS, FICAM AS VONTADES

A desatualização do projecto da Biblioteca Central parece ser transversal e o vice-secretário-geral da Associação Choi In Tong Sam da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Lam U Tou, lamenta que “sempre que há projectos ligados à cultura ou novas iniciativas, o Governo se recuse a ouvir as opiniões da população de

uma forma calma e objectiva de modo a que possam ser tratadas com a seriedade que merecem e a que sejam atenuadas as controvérsias”. Para o dirigente da FAOM, o Executivo “insiste sempre em demasia na sua própria opinião e vai com a sua a avante, por vezes, longe demais”. Os tempos mudaram, afirma Lam U Tou, “e já surgiram outras opções a considerar para a localização da Biblioteca Central”. Tendo em conta que actualmente “os recursos do Governo são mais limitados do que seriam em outros tempos, dizer apenas que o investimento vai ficar em 900 milhões de patacas não responde a nenhuma questão premente

relativa a este projecto”. Sem informação concreta e clara “é difícil conseguir o apoio da população”, remata Lam U Tou.

RENDAS MAL PARADAS

Já Cheang Kok Keong, director geral da Associação para Protecção do Património Histórico e Cultural de Macau, à margem de uma actividade aberta, refere que não faz sentido que o projecto que já conta com uma década, seja retomado no ponto em que ficou. A consideração é acompanhada de comentários aos gastos de dinheiros públicos por parte do Executivo. “Os dados mais recentes mostram que nos últimos dez anos o Governo

ALEXIS TAM E O MARCO CULTURAL

E

m 2006 o Governo da RAEM efectuou um estudo que visava o planeamento de uma Nova Biblioteca Central. Ficou decidido que o antigo Tribunal seria o local ideal para esse espaço. Alexis Tam reafirmou que este espaço é adequado “dado que se encontra classificado como edifico de interesse arquitectónico, sendo um dos 128 elementos classificados como património cultural protegido”. Realçando o valor que deve ser dado aos edifícios históricos, dando o exemplo das cidades europeias onde a preservação de património é uma mais valia. O Secretário acrescentou ainda que o Governo está apostado em “transformar o local numa biblioteca moderna, criando um novo marco cultural”. Questões referentes a falta de transparência no projecto também foram abordadas, deixando um recado ao Instituto Cultural e às respectivas entidades que “devem divulgar informações mais detalhadas sobre o orçamento do projecto, dado que ultimamente esta matéria gerou preocupação da sociedade”.

gastou milhões do cofre público no pagamento de rendas de escritórios e departamentos governamentais dispersos por todo o lado e que têm trazido vários inconvenientes aos cidadãos”, afirma enquanto ilustra com a situação ainda desconhecida dos residentes no que respeita ao novo edifício administrativo. No que toca à recuperação do edifício do antigo tribunal, Cheang Kok Keong acha por bem que se recupere mas que não seja para a construção da nova biblioteca.

O PLANO “IDEAL”

Para o dirigente, uma alternativa a considerar seria um aproveitamento do velho pavilhão da Tap Seac caso o Hotel Estoril puder ser revitalizado e vir a ser uma parte integrante, “aí sim, seria o projecto ideal”. A localização também é apontada como uma mais valia sendo a Praça do o também seroa uma mais valia” tanto para os residentes que ali moram e aqueles que se deslocam, frequentemente, àquela zona central de Macau, como ainda devido ao elevado número de escola nas redondezas. “Seria o plano ideal” , remata Cheang Kok Keong. Angela Ka (revisto por S. M.) info@hojemacau.com.mo


12 POLÍTICA

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SECRETÁRIO SOB FOGO EXPLICA POSIÇÃO SOBRE ASSUNTOS POLÉMICOS

Alexis Tam veio a terreiro responder a uma série de questões prementes. A recente suspensão do restaurante português nas CasasMuseu da Taipa, a Construção da Nova Biblioteca (ver p.11) e o reaproveitamento do património cultural são alguns exemplos

O

responsável para os Assuntos Socais e Cultura reuniu com a imprensa numa tentativa de clarificar alguns assuntos que têm sido polémicos. Neste encontro o responsável falou sobre qual a posição do seu gabinete e quais as intenções para o futuro da cultura e do património na região. A suspensão do restaurante nas Casas-Museu da Taipa foi merecedor de atenção. Relembrando que Macau se prepara para a candidatura para o título de Cidade Criativa da Gastronomia, o responsável afirmou que “antes da transferência de poderes, a então Direcção dos Serviços de turismo já tinha concebido a transformação de um edifício do local em restaurante”, mas apela ao consenso da população visto que “há neste momento opiniões contra a criação de um restaurante nas Casas-Museu da Taipa e o Governo quer ouvir essas opiniões”. Como já tinha sido

GONÇALO LOBO PINHEIRO

Onde estão os amigos de Alexis?

notícia, o projecto fica suspenso, até porque as entidades envolvidas não o consideram com carácter urgente.

É PARA AVANÇAR

Em relação à construção do edifício das doenças infecto-contagiosas Alexis Tam disse que este “está relacionado com a salvaguarda da vida e da saúde da população” e por essa razão o Governo está apostado em dar-lhe seguimento, “impulsionando os trabalhos de construção”. As salas de enfermarias de isolamento no Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas são também para avançar. Ambos os complexos de saúde fazem falta à população e o secretário reforçou dizendo que “é necessário a existência dos dois, um em Macau outro nas Ilhas, na medida em que só assim poderemos aproveitar os recursos médicos dos hospitais, de forma a assegurar a segurança pública.” Durante a conversa com os jornalistas foi também

abordada a questão do vírus Zika, uma vez que na vizinha Singapura a doença já se trata de um caso de saúde pública. isto de acordo com a Organização Mundial de Saúde, que classificou a zona como tal. Devido à proximidade geográfica e ao fluxo turístico, Macau deverá estar alerta. Outra questão polémica é o Hotel Estoril e as duas casas situadas na zona de construção do edifício das doenças infecto-contagiosas. O mesmo responsável diz que estes não são “património cultural”, não sendo por isso PUB

Direcção dos Serviços de Identificação AVISO Assunto: Alteração do estado civil e dos dados de contacto Nos termos da lei, por mudança do estado civil, os residentes de Macau devem actualizar essa informação na DSI no prazo de 60 dias. Para além disso, deve ser procedida a actualização dos dados de contacto (ex: morada, telefone, etc), sempre que se verifique a alteração dessas informações. Para pormenores, queira visitar o site da DSI: www.dsi.gov.mo ou ligar para a linha de informação: 28370777.

a sua preservação garantida. Assim e relativamente à manutenção da fachada principal e à preservação do azulejo do Hotel Estoril, “aguardam-se pareceres técnicos”, mas alertou para o mau estado quem que o edifício encontra. “Está destruído devido às térmitas”

e alertou que a sua reparação e manutenção “terá um custo elevado”. Alexis Tam conclui referindo que todas as acções sob a sua tutela são realizadas em prol de Macau, pedindo ainda compreensão e o apoio de todos os cidadãos.

Valorizou a importância do turismo e impulsionou a “transformação de Macau enquanto Centro Internacional de Turismo e Lazer” com o objectivo de trazer mais benefícios para a RAEM.

EXPO DE TURISMO COMITIVA PORTUGUESA REÚNE COM SECRETÁRIO

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LEXIS Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reuniu na sexta-feira com os chefes da delegação portuguesa presentes na 4ª Expo Internacional de Turismo (indústria) de Macau, (Expo de Turismo). A reunião foi no sentido de aprofundar as boas relações de amizade bem como o papel da RAEM enquanto porta de entrada para a China e de Portugal para a Europa, com vista a dinamizar o mercado do turismo. Alexis Tam reuniu com o Presidente da Câmara de Aveiro, José Agostinho Ribau Esteves, o presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado entre outros membros da comitiva, com o objectivo de reforçar as relações na área do turismo. Nas várias regiões com interesse, destaca-se o santuário de Fátima, visto como um potencial de interesse uma vez que é um importante local de visita para todos os católicos do mundo. A região centro de Portugal, onde se situa “Fátima” é tida como detentora de uma vasta capacidade

na organização de eventos internacionais relacionados com o turismo religiosa e Macau está entre as regiões com tradição e festividades católicas na Ásia. Um ponto comum entre ambos. Alexis Tam reuniu também com o Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira e foi discutido o plano para a realização do 43º Congresso Nacional daquela associação em Macau. A acontecer será no próximo ano e será a 5ª vez que se dá. Este é um dos assuntos destaque da agenda de negociações. A China devido à sua dimensão e índice populacional, continua a ser um mercado muito apetecível para todos os operadores turísticos. Macau encontra-se numa situação privilegiada quer devido à aproximação geográfica quer por razões políticas. Portugal tenta assim, fazer valer as relações privilegiadas com a RAEM no sentido de facilitar os fluxos turísticos de Portugal para a China e vice versa.


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Lionel Leong ATRIBUIÇÃO DE MESAS DEPENDE DO EXTRA-JOGO

A cenoura está lá fora GCS

atribuição de mesas de jogo às operadoras, nomeadamente no que respeita aos novos empreendimentos, depende também do investimento no extra-jogo. As afirmações são de Lionel Leong e divulgadas pela agência Lusa. O Secretário para a Economia e Finanças justifica as condicionantes que interferem na autorização de mesas de jogo ao mesmo tempo que salienta que “se o projeto engloba apostas em elementos extra-jogo, incentiva a participação de pequenas e médias empresas locais, contribui para tornar Macau num centro internacional de turismo e lazer e se integra ainda a capacidade de concorrência internacional, entre outros” são os factores que o Executivo tem em conta na ponderação das autorizações a atribuir. De acordo com Lionel Leong, “o número de mesas de jogo autorizado reflete, até certo ponto, a diferença entre os projetos em termos dos factores de avaliação acima referidos”.

O número de mesas para o Parisian é igual ao autorizado para o recentemente inaugurado Wynn Palace e que foi tido como abaixo do desejado pelas operadoras. Em média cada operadora terá solicitado cerca de 400 mesas e a justificação da não atribuição é dada com o facto de existir um limite, fixado pelo Executivo, de um aumento anual máximo de 3% de mesas de aposta ao ano até 2022. No entanto, e como avançado a semana passada pelo HM, após constatação de que o número de mesas tem superado este limite, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos afirma que “estes 3% anuais é um crescimento médio, não é um número definido ou fixo”.

O novo casino da Sands China, o Parisian, vai abrir portas com 100 mesas de jogo, que passam a 150 em 2018. O anúncio é feito pelo Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong e adiantado pela

L

agência Lusa. Em comunicado, Lionel Leong afirma que “após uma análise e avaliação dos fatores na íntegra, o Governo autorizou ao Parisian, 150 mesas em área comum de jogo, das quais 100 vão entrar em vigor em meados de Setembro deste ano, quando o projeto for inaugurado, enquanto as restantes mesas entrarão em vigor em duas fases, sendo que cada fase corresponde a 25 mesas, até 2017 e até dia 01 de janeiro de 2018, respetivamente”.

PERCENTAGENS ARREDONDADAS

MAIS 150 PARA O PARISIAN

EONG Veng Chai, deputado directo à Assembleia Legislativa (AL), interpelou o Governo no sentido deste reforçar a legislação para que os residentes que invistam em imobiliário na China possam ficar mais protegidos. Em causa está mais uma alegada burla ocorrida em Zhuhai. “O meu gabinete recebeu um caso de pedido de apoio por parte de um grupo constituído por mais de 50 residentes de Macau que adquiriram fracções do Centro Comercial Moer em Zhuhai, China. Segundo eles, o promotor de vendas comprometeu-se a garantir, com a compra, um rendimento de montante fixo através da sua colocação em arrendamento, só que lhes pediu, pouco tempo depois, alegando ocorrência de situação deficitária, um corte de 50% nas rendas fixadas:

POLÍTICA

Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo

As lojas do mestre a pé Deputado denuncia alegada burla imobiliária em Zhuhai

caso não acedessem a esse pedido, teriam de ficar com a sua gestão”, pode ler-se na interpelação escrita. Para além disso, o promotor de vendas “reteve, desde a venda, toda a documentação original, tais como contratos de compra e venda ou facturas, havendo,

portanto, suspeitas para se suspeitar que se trata de uma burla dolosa”. O deputado defende, assim, que existem suspeitas de burla, as quais devem ser alvo de uma investigação. “As propriedades, apesar de não se encontrarem em Macau, foram adquiridas,

na sua maioria, durante uma exposição que o promotor de vendas aqui organizou. Logo o Governo de Macau tem perante as vítimas dessa suposta burla uma responsabilidade indeclinável.” “Quando é que o Governo vai reforçar as normas da Lei dos Direitos dos Consumidores? Pensa o Governo em criar um mecanismo de cooperação inter-regional com as autoridades da China continental?”, questionou o número dois de José Pereira Coutinho.

CASOS POR RESOLVER

Esta não é a primeira vez, num curto período de tempo, que residentes se queixam de transacções falhas no mercado imobiliário chinês. “Nes-

tes últimos anos, por serem cada vez mais elevados os custos dos investimentos em imóveis, muitos residentes têm deslocado fundos para os adquirirem na China. Aumentam, assim, os litígios resultantes da aquisição de imóveis envolvendo os residentes. No caso do edifício Hongtai, em Daomen, foram mais de 200 as vítimas de Macau, cujo caso ainda está por resolver.” Leong Veng Chai pede que o Governo “dispense uma maior atenção aos direitos dos consumidores e os proteja. Até hoje a entidade de defesa dos direitos dos consumidores nada fez, e o seu empenho está muito aquém das unidades congéneres das redondezas, pois não tirou lições, nem adquiriu experiências com os anteriores incidentes”, acusou ainda. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

GOVERNO DEFENDE TAIWAN COMO TERRITÓRIO CHINÊS

O gabinete do Chefe do Executivo emitiu ontem uma nota onde afirma defender Taiwan como sendo território pertencente à China. “Macau é uma região administrativa especial do país sob o princípio de “um país, dois sistemas”, assim, em todas as questões e assuntos relacionados com Taiwan, o Governo da RAEM é firme, tal como sempre, defendendo a posição e o princípio de “uma única China”.” A questão colocou-se após alguns órgão de comunicação social terem feito perguntas sobre a “designação de alguns estabelecimentos de ensino de Taiwan que possuem a palavra “nacional”.


14 SOCIEDADE

hoje macau segunda-feira 5.9.2016

Uber CENTENAS NAS RUAS A FAVOR DA APLICAÇÃO MÓVEL

Em prol do “bom serviço”

F

OI uma manifestação gerada pelo anúncio da saída da Uber do território, mas teve outros pedidos inerentes ao sistema de transporte local, tal como o de “quebrar o monopólio e introduzir a competitividade, responder às exigências dos cidadãos e melhorar o serviço de transporte”. A Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, que organizou a iniciativa, estima que cerca de 600 pessoas protestaram ontem desde o Tap Seac até ao Governo pela permanência da Uber, mas a polícia fala em 200. Munidos com cartazes, os participantes seguiram o percurso até à sede do Governo gritando ideias como “legalização da Uber”, “mais opções para os residentes”, ou “os táxis não aceitam passageiros”. Não faltaram ainda algumas farpas lançadas a Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes. “O Secretário Raimundo não consegue fazer nada, abra o pensamento, aja de acordo com os novos tempos.”

HOJE MACAU

Pediram e gritaram pela permanência da Uber em Macau, que deixa o mercado no próximo dia 9. Polícia fala em 200 participantes, organizadores dizem que cerca de 600 pessoas estiveram nas ruas. No final foi entregue uma petição ao Governo

U

MA nova aplicação móvel para apanhar táxi começou a funcionar no passado dia 1 de Setembro. Chama-se TaxiGo e, segundo o jornal Ou Mun, já está a promover-se nas redes sociais e a recrutar condutores. A DSAT afirmou ter conhecimento da TaxiGo, mas referiu que “acolhe todos os serviços de transporte que

LIGEIRAS MELHORAS

Os dois organismos “não se pronunciam sobre os rumores da saída” da Uber, mas dizem ter “uma atitude aberta perante a possibilidade de qualquer individuo ou companhia explorar em Macau uma actividade de serviço inovador para a prestação de serviço de transporte”. Quanto aos táxis, terão ocorrido um total de 2807 casos de autuação, uma redução de 25,8% face a 2015. Tanto a DSAT como a PSP confirmam que a cobrança abusiva de tarifas e a recusa no transporte de passageiros ocupam mais de 70% das ilegalidades, o que mostra “que o combate vem produzindo, gradualmente, os seus efeitos”. Quanto aos taxistas, “contribuíram com a melhoria constante da sua postura”.

“Não se conseguiu resolver o problema das constantes infracções cometidas pelos taxistas, mas investiram-se muitos recursos na detenção dos condutores da Uber, que é, de facto, um serviço benéfico para os cidadãos”

PRIMEIROS PASSOS

Antes do arranque da manifestação, o deputado Au Kam San defendeu que a legalização da Uber seria apenas um começo para a mudança em todo o mercado. Ao HM, Chong, um jovem participante, questionou a opção do Governo de não legalizar a Uber. “É verdade que os cidadãos não conseguem apanhar táxis, e a própria Uber já referiu que está sempre sob constante supervisão.” Ng, outro jovem, disse ter usado a Uber muito poucas vezes, mas resolveu participar na manifestação por não estar satisfeito com o funcionamento dos táxis. “Não se

passageiros é ilegal, daí resultando que as petições das associações não têm suporte no modelo de serviço de transporte de passageiros legalmente estabelecido”.

NG JOVEM MANIFESTANTE o facto do abuso na cobrança das tarifas não ter diminuído. Em comunicado divulgado após o protesto, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e Polícia de Segurança Pública (PSP) afirmaram ter “respeito pelo legítimo direito de expressão dos cidadãos”, reiterando que “o referido serviço de transporte de

A PSP fez ainda 536 autuações no âmbito do “transporte ilegal de passageiros” nos primeiros seis meses do ano. Os casos “prejudicaram gravemente os interesses legítimos do sector, ao mesmo tempo que perturbaram o regime de operação legal do serviço de táxi”.

TAXIGO VEM AÍ UMA NOVA APLICAÇÃO MÓVEL DE TRANSPORTE

Kou Ngon Seng, membro do Conselho Consultivo de Trânsito, considera que embora este tipo de aplicações sejam ilegais, a verdade é que as necessidades são tão óbvias que já surgiu uma segunda aplicação no mercado. “É um serviço aceite pelos cidadãos. Deve abordar-se a possibilidade de criar regulamentos legais.” A.K (revisto por A.S.S.)

conseguiu resolver o problema das constantes infracções cometidas pelos taxistas, mas investiram-se muitos recursos na detenção dos condutores da Uber, que é, de facto, um serviço benéfico para os cidadãos”, apontou. Para Glória Pang, os cidadãos “sentem realmente dificuldades em apanhar transporte”. Utiliza-

dora da Uber, Gloria Pang nunca teve queixas do funcionamento da aplicação móvel. “Muitas vezes não consegui apanhar táxi, e mesmo que conseguisse, ele poderia recusar transportar-me”, apontou. Wong, com cerca de 40 anos, acusou os taxistas de serem “mesmo irresponsáveis”, alertando para

correspondam aos regulamentos legais”. A deputada Ella Lei pede que o Executivo comece a estudar a regulamentação deste tipo de serviço. “Se não começar a analisar a situação de uma forma

activa, os cidadãos vão dizer que o Governo não está a pensar na questão. Com a saída da Uber e a continuação dos problemas de táxis, vão usar-se mais os carros privados, piorando ainda mais o trânsito.”

Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo


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SOCIEDADE

ENFERMEIROS, PRECISAM-SE

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ÃO precisos mais enfermeiros na pediatria do Hospital Kiang Wu. O alerta é dado pelo vice director da instituição que vê esta lacuna de profissionais como resultado da exigência e aumento da qualidade médica em simultâneo com o crescimento da taxa de natalidade em Macau. Segundo o Jornal do Cidadão de ontem, o stress causado pela área em causa também é motivo de desistência de enfermeiros da especialidade. O Hospital Kiang Wu tem neste momento cerca de 30 médicos na secção de pediatria e cem enfermeiros. Por ano, um em quatro médicos saem do serviço o que não representa uma perda grave de profissionais. Já no que toca aos serviços de enfermagem pediátrica o Hospital “só este ano, perdeu entre 30% e 40% dos profissionais de que dispunha”, afirma o responsável em declarações à margem de um seminário de pediatria. Para preencher as vagas vazias, o Hospital Kiang Wu já está a tomar medidas, entre elas, uma nova aposta no formação de enfermeiros na especialidade.

A.K. (revisto por S.M.)

Air Macau CHECK-IN NÃO ACEITA PORTUGUESES SEM BILHETE DE REGRESSO

Vens mas voltas

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Air Macau deu instruções aos seus assistentes de terra, responsáveis pelo check-in, no sentido de não permitirem o embarque de cidadãos de Portugal, que voem para a RAEM, no caso destes não terem na sua posse um bilhete de volta. Um documento enviado a todos os aeroportos para onde voa a companhia de bandeira, a que o HM teve acesso, explicita que, no caso do cliente não possuir o referido bilhete, poderá ser-lhe interdito entrar no avião e desembarcar em Macau. O balcão de check-in da Air Macau não soube explicar ao HM se as instruções têm origem na companhia ou se partem de indicações dos Serviços de Emigração e Fronteiras. Ontem, até ao fecho desta edição não foi possível confirmar com o Governo a origem desta ordem executiva. Ora esta ordem, a ser realmente executada, impede, por exemplo, um português que se desloque a Macau via Hong Kong e aqui entre pela fronteira marítima, de se deslocar a Banguecoque pela Air Macau, pois quando pretender voltar à RAEM poderá ser impedido de o fazer. Como

impede um cidadão de Portugal de usar Macau meramente como ponto de passagem para a China, por exemplo. O HM sabe que em vários aeroportos tem sido colocada esta questão, embora nenhum caso de recusa liminar tenha sido reportado. Os assistentes da Air Macau, perante o espanto e indignação dos passageiros, acabam por possibilitar, depois de muita consideração e perdas de tempo, a viagem até à RAEM. É claro que esta questão não se coloca no caso do cidadão português ser cidadão de Macau, permanente ou não-permanente.

ATRASOS, ATRASOS E MAIS ATRASOS Um dos mais graves problemas que atinge a Air Macau são os

constantes atrasos. Nas páginas de análise da aviação na internet, a maioria dos clientes queixa-se dos atrasos e, sobretudo, de não serem antecipadamente prevenidos, nem ser normalmente prestada qualquer justificação. São inúmeros os casos relatados, de fazerem corar os responsáveis da Air Macau, se estes realmente estiverem interessados no futuro da companhia. Mas o que disseram ao HM fontes bem informadas é que a empresa servirá de trampolim (ou castigo) a funcionários da Air China e da CACC, o que talvez explique o seu estado actual. Também são conhecidos casos em que as regras mudam a meio de voos, sobretudo os que têm co-

Esta ordem, a ser realmente executada, impede, por exemplo, um português que se desloque a Macau via Hong Kong e aqui entre pela fronteira marítima, de se deslocar a Banguecoque pela Air Macau, pois quando pretender voltar à RAEM poderá ser impedido de o fazer

BÓNUS DE 24 MILHÕES

nexão com a Air China, havendo discrepâncias, por exemplo, no peso que é permitido transportar. A imagem de Macau tem sido gravemente prejudicada, garantem-nos, com este tipo de comportamentos. Nas páginas da especialidade na internet, as classificações da Air Macau são extremamente baixas e os comentários todos (ou quase todos) negativos.

LÍNGUA OFICIAL, O QUE É ISSO?

Facto indesmentível é que a Air Macau ignora completamente a língua portuguesa, não recebendo a bordo quaisquer dos jornais publicados na RAEM na língua de Camões, apesar desta ser oficial. Enquanto companhia de bandeira, muitos consideram que seria curial da parte da empresa de ter parte da sua comunicação em Português, algo que não acontece. Nos aviões da Air Macau, existem jornais em chinês, um em inglês e outros noutras línguas, dependendo do destino do avião. Em português, nem um para amostra. A cidade como ponte entre a China e os Países Lusófonos é algo que passa ao lado da companhia.

O Instituto de Acção Social (IAS) vai atribuir, a partir de 5 de Setembro, um subsídio equivalente ao valor total do subsídio regular concedido, a cerca de 4 mil agregados familiares beneficiários do subsídio regular de Macau. A iniciativa abarca um montante de 24 milhões de patacas e pretende ajudar as famílias mais carenciadas nos gastos extra associados ao início do ano lectivo a às festividades do Festival da Lua.

EDIFÍCIO DO LAGO: FRESTAS NÃO SE DEVEM A MÁ QUALIDADE

O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) garantiu em resposta ao deputado Si Ka Lon que as frestas no parque de estacionamento do Edifício do Lago, na Taipa, não se devem à má qualidade da estrutura, mas sim a reacções químicas decorridas do processo de congelamento durante o inverno. O GDI garante ainda que as infiltrações daí resultantes já estão resolvidas.

DETIDOS TRÊS ILEGAIS JUNTO DA PISTA DO AEROPORTO

Os Serviços de Alfândega e a PSP detiveram três homens suspeitos de serem emigrantes ilegais. A acção ocorreu junto à pista do aeroporto de Macau na madrugada de sábado. Os detidos têm idades compreendidas entre os 30 e os 38 anos e são do interior da China. Há um quarto suspeito em fuga.


16 SOCIEDADE

FERNANDO SILVA

hoje macau segunda-feira 5.9.2016

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA EPM

“Melhorámos a relação com a Fundação da EPM” Que balanço faz? Conseguiu atingir os objectivos? Nunca conseguimos atingir todos os objectivos a que nos propomos. Houve algumas situações em que conseguimos, e uma delas foi a luta que travamos com a direcção da EPM para a localização da escola. Foi difícil mas conseguimos, enquanto associação, através do cônsul-geral Vítor Sereno, uma reunião com o ex-ministro Nuno Crato. Essa reunião foi frutuosa, ele não estava plenamente a par do processo de localização da escola, entregámos alguns documentos. A escola fica onde está, que era o nosso propósito. Melhorámos a relação com a Fundação da EPM (FEPM). Havia ali um atrito qualquer... Falta de transparência? Não é falta de transparência.As associações de pais são sempre os maus da fita, então todos ficam de pé atrás, quer a direcção, quer a fundação. O diálogo era difícil. Conseguimos desbloquear a situação e hoje temos um diálogo aberto e franco. Pautámo-nos sempre por resolver os problemas pela via do diálogo. Hoje as relações com a direcção e com a FEPM são boas. A questão da doação feita pela SJM está finalmente esclarecida? Pelo que nos disse a FEPM o assunto está resolvido. A doação foi feita, o dinheiro está nas contas da fundação e em Portugal, penso que o Ministério ficou com parte do dinheiro, isso dito pela fundação. Não há que restituir o dinheiro. Ficam então satisfeitos com esses esclarecimentos, ou consideram que deveriam ser feitos maiores investimentos na escola?

Arranca hoje mais um ano lectivo na Escola Portuguesa de Macau, mas a Associação de Pais vai a eleições já no próximo mês de Outubro. Fernando Silva, que está de saída, traça um balanço positivo e garante que as relações com a Fundação da EPM melhoraram. Quanto às obras na EPM estão num impasse, que poderá ser resolvido num ano

que queria propor para este ano, que era arranjar um dia por mês para ouvir os pais. Nunca fizemos isso e é uma ideia com pernas para andar. Durante o meu mandato tivemos seis a sete queixas, mas as pessoas não querem dar a cara. Isso dificulta o nosso trabalho junto da direcção da escola.

SOFIA MOTA

As eleições para a presidência da associação de pais vão ser em Outubro. Vai voltar a candidatar-se? Não posso. De acordo com os estatutos da associação só nos podemos candidatar se tivermos filhos durante todo o mandato. Estive quatro anos na direcção.

Para si, que está de saída, quais são os maiores problemas da EPM? A cantina (risos). A cantina foi um falhanço nosso. De há um ano e meio para cá, desde que existe a associação de estudantes, estão a tentar resolver o problema da cantina. Não podemos fazer mais nada.

Acho que esse dinheiro tem estado a ser investido, ou foi, na própria escola.

antigo ministro Nuno Crato. Nunca foi feito até à data nenhum registo do terreno como sendo uma escola.

A escola precisa de obras, aliás. Eu, como presidente da associação, e a empresa onde estou (CESL-Ásia) apresentamos os nossos préstimos à FEPM, se quisessem ajuda. Estávamos dispostos a ajudar naquilo que fosse possível. Sei que há alguns entraves, não na execução de projectos, mas na aprovação das obras por parte das autoridades. Suponho que os terrenos da escola ainda são considerados terrenos agrícolas, segundo o que nos foi transmitido aquando da visita do

Poderemos então esperar muito tempo para termos uma EPM remodelada? Eu penso que daqui a um ano podemos resolver todos os problemas com as Obras Públicas.

Porque é que é tão difícil oferecer alimentação de qualidade aos alunos? Este problema já se coloca há bastante tempo. O responsável da cantina tem que ser uma pessoa que não pense no lucro, mas no bem-estar e na alimentação das crianças. Isso não acontece. Mas também não se pode ter prejuízo. Ou com a intervenção da DSEJ, ou da fundação, ou da escola, podia haver um subsídio que fosse dado à cantina para que pudesse confeccionar a alimentação. A cozinha também não é funcional.

Em termos de queixas de pais, quais foram os principais problemas levantados? Não tivemos muitas queixas, talvez porque os pais não liguem muito ou não se envolvam muito com a associação. Esse é um dos pontos

Que mais problemas aponta? Temos outra batalha, o ensino do mandarim. Está melhor, mas continua a ser um problema na EPM. Os alunos não aprendem, ou porque não estão motivados, ou porque o sistema de aprendizagem para estrangeiros

“Pautámo-nos sempre por resolver os problemas pela via do diálogo. Hoje as relações com a direcção e com a FEPM são boas”

“O responsável da cantina tem que ser uma pessoa que não pense no lucro, mas no bem-estar e na alimentação das crianças. Isso não acontece”

“Penso que daqui a um ano podemos resolver todos os problemas com as Obras Públicas”

não é o mais adequado. Sou apologista de que no 1º ciclo os alunos não deveriam aprender a escrever em chinês. O mandarim é a língua oficial do país, o cantonês é um dialecto. Isso foi objecto de um estudo feito na altura, em que a associação de pais da altura defendeu que deveria ser ensinado o cantonês, mas chegou-se a um entendimento e entendeu-se que devia ser o mandarim. O que deve ser a EPM nos dias de hoje? Deve continuar a pautar-se por ser uma escola portuguesa e não tornar-se numa escola internacional... se houvesse espaço para ser uma escola internacional, teria sempre uma vertente portuguesa ligada a Portugal, onde são leccionados os conteúdos indicados pelo Ministério da Educação. Como têm sido as relações com a APIM? Já houve reuniões com a nova direcção? O que é que a APIM pode fazer mais em prol da EPM? Não reunimos com o novo presidente, mas reunimos com o dr. Sales Marques e com Roberto Carneiro. A APIM deve apoiar mais a EPM em termos financeiros, porque sem o apoio da APIM e do Governo de Macau não existe EPM. Há muitos pais que se queixam do aumento das propinas. Como está essa questão? ADSEJ dá um subsídio, e posso dizer que o aumento que a escola propôs para este ano é quase irrisório, a associação concordou. A falta de professores para alunos com necessidades educativas especiais ficou resolvida? Levantamos esse problema várias vezes e a escola já nos garantiu que há professores suficientes. Há dois professores e se houver necessidade a escola predispõe-se a contratar mais um professor. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

“Queria propor para este ano arranjar um dia por mês para ouvir os pais”


17 hoje macau segunda-feira 5.9.2016

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18 TEATRO DA TAIPA

PARA LÁ DO PANO

Na sequência da nossa reportagem de sexta-feira, um leitor anónimo enviou-nos estas fotos do interior do Teatro da Taipa.

Com o tempo, tudo parte. Tudo se parte e se desfaz. Assim este teatro que era cinema. Assim o nosso amor que era poema. Tudo se parte, reparte e se refaz. Então por que maldição fico pendurada nesta corda e espero que tu um dia te lembres de me vestir? Falavas-me de um tempo em que o tempo não era de restos mas de risos e o pó não maculava a beira dos caminhos. Nesse tempo eu era livre. Para isso bastava existires. Abrias a mão e agarravas-me, levavas-me pelo mundo e em technicolor. Hoje sapateio sozinha sobre a fotografia que me sobrou de ti.


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Ainda ouvia o estalar dos risos, quando das cenas cómicas, e o restolhar dos lenços, a entrecortar soluços, quando uma despedida triste pontuava o filme. Agora são os restos de muito pouco o que, finalmente, nos comove. O riso, esse, perdeu-se, algures no passado, quando o bambu (ou o tempo) se vergou à ambição dos homens. Eis a escada. Sobe mas não nos leva a lado nenhum. Degrau a degrau, sobraram as carícias, desfez-se o beijo e perdi-me do teu braço. Há uma pianola a segredarme o que nunca quis ouvir: a luz apagara-se, tudo se desvanecera, ainda antes do FIM se inscrever, branco sobre negro, na planura do ecrã.


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21 hoje macau segunda-feira 5.9.2016

CHINA

HK GOVERNO “ATACADO POR PIRATAS INFORMÁTICOS CHINESES”

P

IRATAS informáticos chineses, alegadamente, atacaram dois departamentos governamentais de Hong Kong, a poucos dias das eleições na antiga colónia britânica, disse ontem uma empresa de segurança sedeada nos Estados Unidos. O ataque aconteceu em Agosto, durante a corrida para as eleições legislativas de domingo, numa altura em que o receio de um ‘apertar de cerco’ de Pequim a Hong Kong atinge níveis elevados. A empresa de segurança FireEye, sedeada na Califórnia, disse que um grupo baseado na China, que a firma tem vindo a seguir desde 2011, atacou pelo menos dois departamentos do Governo de Hong Kong em Agosto. O diretor do departamento de tecnologia da empresa para a Ásia Pacífico, Bryce Boland, acredita que o grupo responsável pelos ataques, conhecido como APT3, “é patrocinado pela República Popular da China”. “Normalmente, quando vemos ataques de governos a outros governos, tem que ver com recolha de informação ou tentativas de aceder a informação que não podem ter por outras vias”, disse Boland à agência AFP. “[Há] muita discussão, muita incerteza sobre o futuro político de Hong Kong. Imagino que estão a tentar formar uma imagem mais clara do que se passa dentro de alguns destes departamentos governamentais”, disse. Um dos métodos usados pelo grupo APT3 nos ataques recentes foi enviar um email, que alegam ser um relatório sobre os resultados eleitorais, e que contém um ‘hiperlink’ que leva a ‘malware’ (programa malicioso). As autoridades confirmaram os ataques dizendo que “medidas de segurança relevantes foram já adotadas para bloquear os emails suspeitos”. A empresa de Boland não conseguiu identificar quais os dados recolhidos e não especificou que departamentos foram atacados. Segundo Boland, este tipo de ataques tem aumentado desde o “Movimento dos Guarda-Chuvas”, de protestos pró-democracia, em 2014.

HONG KONG ELEGEU DEPUTADOS SOB FORTES MEDIDAS DE SEGURANÇA

A sombra do guarda-chuva amarelo

M

AIS de três milhões de pessoas votaram ontem nas eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong, sob forte dispositivo de segurança, com pelo menos cinco mil polícias mobilizados, incluindo junto às assembleias de voto. No início da semana, mais de mil polícias participaram num exercício de dois dias, que incluiu a simulação de motim, com recurso a gás pimenta e gás lacrimogéneo, segundo imagens difundidas pelas televisões locais. A imprensa local noticiou também a vigilância pelas autoridades das páginas de Facebook e fóruns online de grupos ‘localists’

(localistas), formados após o movimento pró-democracia ‘Occupy’ em 2014, e que advogam uma maior autonomia de Hong Kong em relação à China e mesmo a independência. Analistas vêem nas medidas de segurança uma forma de o governo “jogar pelo seguro”, após a desqualificação de candidaturas nestas eleições, e da radicalização dos protestos em fevereiro, nos primeiros confrontos com a polícia desde o movimento ‘Occupy’, em que um agente efetuou dois disparos com balas reais para o ar. O elevado número de candidatos a lugares eleitos pelo voto da população é também visto

por analistas como motivo para o reforço da segurança junto às assembleias de voto, para evitar altercações. O Conselho Legislativo (LegCo) da Região Administrativa Especial chinesa é composto por 70 lugares, mas apenas 35 resultam de candidaturas apresentadas individualmente por cidadãos e do voto direto de 3,77 milhões de eleitores, em cinco círculos eleitorais definidos por áreas geográficas. Estes círculos eleitorais vão ser disputados por um recorde de 213 candidatos, distribuídos em 84 listas. Outros 30 lugares são reservados a círculos eleitorais definidos com base em setores profissionais e corporativos - que vão desde áreas como a agricultura e pescas, à saúde e direito - que estão divididos em 28 categorias, das quais 18 vão ser votadas, por apenas 233 mil eleitores. Há ainda cinco lugares que são um híbrido dos dois sistemas, com os candidatos a serem previamente eleitos nas eleições distritais, tendo depois de obter o apoio de pelo menos 15 conselheiros distritais, antes de finalmente serem submetidos ao voto de quase todos os eleitores, menos os que votam nos círculos profissionais e corporativos. As eleições de hoje deverão manter a maioria das forças pró-Pequim no parlamento, mas também o poder de veto da ala pró-democracia, sendo marcadas

pela renovação geracional dos dois blocos políticos, e pela disputa de lugares por novos grupos – os ‘localists’–, apesar da desqualificação dos candidatos considerados mais radicais. Estas são as primeiras eleições depois de revelados os desaparecimentos de cinco livreiros no final de 2015, um caso que gerou forte contestação popular, com acusações a Pequim de desrespeito do princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual Hong Kong e Macau gozam de ampla autonomia. Além disso, decorrem numa altura em que permanecem as dúvidas sobre a eventual recandidatura do chefe do Executivo, Leung Chun-ying, bastante impopular desde o início do mandato em 2012. Pequim chegou a concordar com a eleição do líder de Hong Kong por sufrágio universal, mas impunha que os “dois ou três” únicos candidatos fossem previamente aprovados, uma proposta que levou à ocupação das ruas em 2014, e que acabou chumbada, em junho do ano passado, pelos deputados de Hong Kong. As próximas eleições para o cargo de chefe do Executivo são a 26 de Março de 2017 e vão decorrer segundo a mesma metodologia. O líder da região administrativa especial vai continuar a ser escolhido por um comité com 1.200 elementos. Em 2012, Leung Chun-ying foi eleito com apenas 689 votos a favor dos membros deste comité.


22 CHINA

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Agora ou talvez nunca. EUA e China assumiram, finalmente e em conjunto, a responsabilidade por não destruir o planeta. Aleluia ou talvez não

A

China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, anunciaram conjuntamente na manhã de sábado, dia 3, na China, a ratificação do Acordo de Paris, que estabelece esforços do mundo inteiro para reduzir as mudanças climáticas e controlar o aumento de temperatura. Juntos, os dois países são responsáveis por 38% das emissões do planeta. A China é o actual líder, com cerca de 20%, e os EUA, que historicamente assumiram essa posição, respondem hoje por 18%. São os primeiros grandes países a ratificarem o acordo, o que deve acelerar a sua implementação em todo o planeta. Para entrar em vigor, o acordo, estabelecido no ano passado na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-21) em Paris, precisa ser ratificado por 55 países, que respondam por 55% das emissões. Até antes do anúncio, 24 países já tinham feito a ratificação, mas correspondiam apenas a cerca de 1% das emissões. Com o anúncio, esta fatia sobe para 39,06%, segundo informações passadas pelos próprios países à ONU. A expectativa é que se alcan-

Ambiente PEQUIM E WASHINGTON ASSINAM COMPROMISSO FUNDAMENTAL

O desafio de existir ce o total necessário até ao fim do ano. O compromisso acordado por 195 nações do mundo é de fazer esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para que o aumento da temperatura do planeta não passe muito de 1,5ºC, ficando “bem abaixo de 2ºC”. Assim como já tinham feito antes, quando também anunciaram conjuntamente os seus compromissos de

redução de gases de efeito estufa (cada país do mundo disse quanto pode contribuir para o esforço global), os Presidentes Barack Obama e Xi Jinping fizeram o anún-

cio na véspera da reunião do G-20 em Hangzhou, na China. “Assim como eu acredito que o acordo de Paris se vai revelar um ponto de viragem

Além de ser o maior poluidor histórico, a ratificação por parte dos EUA é simbólica porque o país por anos foi considerado o maior entrave a acordos climáticos

para o nosso planeta, acredito que a História vai julgar os esforços de hoje como fundamentais”, disse Obama, ao lado de Xi Jinping e do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

O MUNDO AGRADECE

A secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) saudou o anúncio. “Gostaria de agradecer à China e aos Estados Unidos por ratificarem o

acordo, sobre o qual repousa a oportunidade de um futuro sustentável para todas as nações e todas as pessoas”, disse numa nota. “Quanto mais cedo o acordo for ratificado e totalmente implementado, mais seguro o futuro se vai tornar”, acrescentou. A China comprometeu-se a atingir o pico de emissões de CO2 até 2030, reduzir a intensidade de carbono de sua economia (quanto carbono é emitido

ACORDO DE PARIS. O QUE É? O acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança de Clima (UNFCCC) sigla em inglês e foi aprovado a 12 de Dezembro de 2015 precisamente em Paris. Até 2017 os países podem rectificar o acordo, assumindo uma série de medidas de contenção no que se refere a

emissão de gases poluentes. O acordo que foi aprovado por 195 países, impõe o compromisso no sentido de manter o aumento da temperatura média global em menos de 2 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais e de encetar esforços para limitar o aumento da temperatura em 1,5

graus centígrados dos níveis préindustriais.

RICOS E POBRES

O ponto central do chamado Acordo de Paris é a obrigação de participação de todas as nações e não apenas países ricos no combate às mudanças climáticas. Até agora, as 23 nações

que haviam ratificado o acordo eram responsáveis por somente 1% das emissões. “Com a ratificação da China e dos EUA, só será preciso conseguir mais um par de grandes poluidores para que o total de 55% seja alcançado”, explica o analista de questões ambientais da BBC Roger Harrabin.

Mas mesmo que isso ocorra em breve, ainda há muitos desafios pela frente. A Grã-Bretanha, por exemplo, ainda não ratificou o tratado. O Governo fez saber recentemente à BBC que isso seria feito assim que possível, mas não há datas. No Brasil, o tratado passou pela Câmara dos Deputados, mas ainda precisa do aval do Senado.


23 CHINA

hoje macau segunda-feira 5.9.2016

por unidade económica produzida), aumentar as fontes não-fósseis de energia e aumentar as reservas florestais. Os Estados Unidos comprometeram-se reduzir entre 26% e 28% suas emissões até 2025, em relação aos valores de 2005. De acordo com análise feita pelo Climate Interactive, com a escola de economia Sloan do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as duas metas juntas devem responder por 51% das emissões evitadas entre 2016 e 2100 considerando todas os compromissos anunciados pelos demais países. Além de ser o maior poluidor histórico, a ratificação por parte dos EUA é simbólica porque o país por anos foi considerado o maior entrave a acordos climáticos. A primeira tentativa de se controlar as mudanças climáticas foi o Protocolo de Kyoto, que estabelecia metas de redução das emissões por parte dos países ricos. Mas os EUA, apesar de o terem assinado, acabaram se recusar a ratificá-lo quando

BAN KI-MOON EXEMPLOS A SEGUIR: TODOS A RATIFICAR ACORDO

O

secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu aos membros do G20 para ratificarem o acordo para combater as alterações climáticas alcançado na Cimeira do Clima de Paris (COP21), como fizeram no sábado os EUA e China. “Insto a todos os líderes, particularmente os da cimeira do G20, a mostrarem a sua liderança, acelerando os seus processos de ratificação internos, para que

Juntos, os dois países são responsáveis por 38% das emissões do planeta. A China é o actual líder, com cerca de 20% o ex-presidente George W. Bush, do partido republicano, assumiu o governo e o protocolo naufragou. A pressa de Obama justifica-se

também porque o actual candidato republicano, Donald Trump, já manifestou que, se eleito, iria rever a assinatura do Acordo de Paris.

possamos transformas as aspirações em acções transformadoras de que o mundo necessita urgentemente”, disse Ban Ki-moon em conferência de imprensa em Hangzhou (China). O dirigente das Nações Unidas recomendou aos Presidentes das principais economias desenvolvidas e emergentes do planeta que formam o grupo dos 20 para aproveitarem o “impulso” dado pela ratificação do acordo pelos

Estados Unidos e China, os dois maiores emissores de gases poluentes. Graças a estes dois apoios, sublinhou Ban Ki-moon, o acordo da COP21 já foi ratificado por 26 dos quase 200 países que se comprometeram a cumpri-lo, e que representam 39 % das emissões mundiais de gases contaminantes, pelo que é preciso a ratificação de outros 29 países, que representam outros 16% das emissões, para que entre em vigor.

G20 GOOGLE, YOUTUBE E REDES SOCIAIS DESBLOQUEADAS

Páginas de Internet como o Google, YouTube, Facebook ou Twitter, bloqueadas há anos na China, estão estes dias acessíveis para os participantes e jornalistas na cimeira dos líderes do G20 na cidade oriental de Hangzhou (leste do país). Esta prática já é habitual em grandes eventos internacionais organizados pela China, que também levantou o bloqueio de páginas “incómodas” durante a cimeira do Forum da Ásia Pacífico (APEC), em novembro de 2014, assim como nos Jogos Olímpicos realizados há seis anos na capital chinesa. O levantamento do bloqueio restringese, todavia, aos participantes na cimeira do G20, numa zona de Hangzhou praticamente encerrada ao resto da população e com medidas de segurança apertadas, enquanto o resto da China continua sem poder aceder às páginas censuradas. Além disso, a Internet funciona na cimeira com um sistema de cartões personalizados, o que permite às autoridades levantar a censura aos participantes estrangeiros, mas manter as limitações habituais para os jornalistas chineses.

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A ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS, REFORMADOS E PENSIONISTAS DE MACAU FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO

O INSTITUTO PARA OS ASSUNTOS CÍVICOS E MUNICIPAIS FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

GUO XI

Quanto a nuvens, estes são temas possíveis: nuvens situadas sobre a embocadura do vale; nuvens desenvolvendo-se a partir das escarpas; nuvens brancas levantando-se sobre cordilheiras de montanhas; nuvens leves descendo dos cumes. No que diz respeito ao nevoeiro, estes temas são exequíveis: nevoeiro localizado na embocadura do vale; névoa surgindo a partir das montanhas; neblina do entardecer sobre as florestas da planície; uma neblina leve rastejando; nevoeiro sobre as colinas na Primavera; neblina sobre as colinas no Outono. No que se refere a água, estes são possíveis temas: um rio impetuoso; uma água viva por entre pinheiros e rochas; uma cascata caindo de altos picos de montanha; uma cascata à chuva ou com neve; uma queda de água na neblina; água ao longe entre árvores de nozes de areca; um barco de pesca num rio envolto em neblina1. Quanto a temas diversos, estes podem ser imagináveis: cabanas de pescadores na água; lavra vista de uma sacada; gansos pousando na planície; uma loja de vinhos junto de uma ponte; um lenhador sobre uma ponte. Estes são apenas alguns dos variados temas possíveis.

1 - Enumera-se: nuvens, nevoeiro, neblina, névoa, que são fases de transformação da água, um dos dois elementos estruturais da pintura, o outro sendo a montanha. O jogo espiritual associado aos dois elementos com as conotações de montanha: permanente, o coração; e a água: a mutação, o pensamento, tem um papel importante no plano plástico mostrando o cheio e o vazio; no meio das montanhas representadas a tinta ficam em branco as nuvens. Por esta altura a teoria pictural começa a desenvolver uma vasta e própria terminologia para identificar e definir o decisivo papel da água e suas transformações para

a pintura. Han Zhuo, que escreveria durante o reinado de Huizong (1101-1126) falará de modo mais sistemático sobre o assunto das nuvens em pintura. (Tratado «Shanshui Chun Quanji», datado de 1121, traduzido em parte para inglês em The Chinese on the Art of Painting, Osvald Sirén, Dover Publications, N. Y.,2005, p. 81-87) Já no século XVIII o tratado de Shitao, «Notas Sobre a Pintura do Monge Abóbora Amarga» (1728), distinguiria o «vapor que se eleva dos rochedos», a «bruma», as «fumarolas» e as «nuvens». Preocupação legítima, afinal montanhas e água, «shanshui», era na China outra maneira de dizer pintura.

«Linquan Gaozhi»

A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes


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diário (secreto) de pequim (1977-1983)

PEQUIM, 8 de Janeiro de 1978 Desta vez calhou a visita à Universidade de Beida, a mais famosa de toda a China. O nome completo é Beijing Daxue北京 大学, o que significa Universidade de Pequim, fundada em 1898. Este vasto império, do tamanho da Europa, com 900 milhões de habitantes, conta com 500.000 estudantes universitários e 380 universidades. A partir do nosso Hotel da Amizade chega-se com facilidade a Beida, somos quase vizinhos, estamos todos no grande bairro de Haidian, aqui no noroeste de Pequim. Chegados ao grande campus universitário, somos recebidos pelo prof. Wang Dongxiao que, numa sala de aula, nos vai fazer o relatório introdutório sobre Beida. Existem aqui vinte faculdades e oitenta e três cursos diferentes, Humanidades, Ciências, Direito, etc., dois mil e setecentos professores e apenas sete mil alunos, cento e sessenta dos quais são estrangeiros. O reduzido número de professores e alunos tem a ver ainda com as sequelas da Revolução Cultural quando esta universidade esteve praticamente encerrada durante anos devido à linha esquerdista que quase ia destruindo o ensino universitário em toda a China. No próximo ano esperam admitir mais 1.500 alunos e, gradual-

mente, Beida voltará a ser a maior e melhor universidade chinesa. Porque, segundo me dizem, foi dura a sabotagem do quotidiano universitário levado a cabo pelos apaniguados do “bando dos quatro”. Perseguiram-se professores, até à morte, fecharam-se faculdades, destruíram-se edifícios, enfim uma tenebrosa selvajaria comunista em nome do presidente Mao Zedong, para se acabar com “o ensino burguês” e depois se criar coisa nenhuma. Hoje procura-se reformular tudo, o conhecimento dos professores, a admissão dos alunos, os materiais de estudo e trabalho. Desde a década de sessenta que não há promoções a professores catedráticos. A Universidade é gerida por um comité revolucionário sob a direcção do Partido, conjunto de professores, estudantes e empregados. A maioria dos professores graduaram-se depois de 1949, a data de tomada do poder pelo Partido Comunista. 35% dos professores são mulheres e 40% dos alunos são do sexo feminino. Entram na Universidade entre os 19 e os 25 anos, após selecção e exames. Podem ser operários desde que mostrem vastos conhecimentos e capacidades intelectuais. O objectivo é depois utilizar estas pessoas como professores em pequenas universidades geridas por camponeses e operários, agregadas a comunas agrícolas ou a grandes fábricas. Estão interessadíssimos no intercâmbio com uni-

versidades estrangeiras e em enviar muitos dos seus melhores alunos para completar estudos nos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália. De resto a biblioteca desta Universidade de Beida conta com três milhões de livros, 800 mil dos quais em línguas estrangeiras. É vasto o campus universitário, com as residências para os alunos junto a um grande lago circundado por chorões e um pagode ao fundo, não muito antigo, no interior do qual foi construído um depósito de água. A Universidade de Beida parece-me uma escola em ebulição lenta, rumo ao fervilhar do futuro.

PEQUIM, 20 de Janeiro de 1978 Reunião dos quatro portugueses da célula do PCP (m-l) em Pequim.1 Eu digo: “Somos todos diferentes, eu gosto mais do isolamento, dos meus livros, de ouvir o silêncio, de escrever, da minha música na paz da minha casa. O meu tipo de vida terá necessariamente de ser diferente do vosso. Gostava de aproveitar estes quatro anos para aprender tudo o que puder sobre a China, gostava que isso fosse possível convosco. É importante que me compreendam e me aceitem como sou”.

António Graça de Abreu

PEQUIM, 7 de Fevereiro de 1978 Festa da Primavera, o Ano Novo Chinês. O tempo ainda está gélido em Pequim mas, segundo o calendário sínico, começou hoje a Primavera e há que festejar. A Festa é uma espécie de Natal e Carnaval, ao mesmo tempo. As famílias reúnem-se, comem coisas boas, banqueteiam-se excelentemente pelo menos uma vez por ano, as crianças lançam uma espécie de bombinhas carnavalescas e fogo de artifício. Uns tantos chineses que trabalham connosco vêm cá a casa, cumprimentar, saudar, desejar felicidades para o Novo Ano, comer uns petiscos e beber uns copos. Correspondo com o que tenho, e tenho sempre mais do que estes meus camaradas chineses, ganho 500 yuans por mês, contra os 40 ou 60 yuans que eles recebem mensalmente. E o patrão é o mesmo, as Edições de Pequim. Sou um privilegiado, um estranho nestas festividades e nesta China diferente do meu alicerce cultural e do mundo de onde provenho.

PEQUIM, 21 de Fevereiro de 1978 Setecentos e cinquenta milhões de camponeses na China, quantos são os analfabetos? Os que sa-

bem ler, gostam de ler o quê? Questiono os meus companheiros de trabalho. Falam-me em contadores de histórias que, na tradição da velha China, andam de aldeia em aldeia, reúnem assembleias de gente e as entretêm com narrações vivas de contos tradicionais e com a descrição dos feitos heróicos acontecidos em velhos e novos tempos. Os que sabem mesmo ler contam com livros ilustrados, tipo banda desenhada com historietas exaltantes sobre a revolução e o socialismo. Outros lerão romances, mas o nível cultural dos camponeses é baixo. A herança recebida pelos comunistas em 1949 no que à educação diz respeito era pior do que má. Nesse ano existiam 90% de analfabetos no país. Em 1961 a situação havia melhorado muito, segundo dados oficiais, o analfabetismo atingia 66% dos habitantes do campo e 22% da população das cidades. Podemos talvez assim compreender o voluntarismo de Mao Zedong e do Partido Comunista que a partir de 1966 lançou a Revolução Cultural, também como uma tentativa de elevar o nível educacional do povo chinês, dando ordens para a deslocação das cidades para o campo de milhões de jovens instruídos (ou tidos como tal!) O objectivo era viverem junto dos camponeses, ensina-

rem e aprenderem com eles, e dar testemunho da sua experiência. Apareceram escritores como Liu Xinwu e Zhao Shuli que se especializaram no conto e na novela sobre a vida no seio da gente do campo. Numa linguagem terra a terra têm tentado retratar as alegrias, tristezas e extremas dificuldades dos quotidianos na China socialista. Um destes homens, de nome Liu Ching viveu durante catorze anos numa aldeia na província de Shaanxi e disse: “Uma árvore lança raízes, cresce na terra, o mesmo deve fazer o escritor em relação ao povo.” Onde começa a literatura e depois descamba para a propaganda política? Até que ponto são sinceros estes autores que sabem melhor do que ninguém como tem sido dolorosa a sua inserção no meio das pessoas do campo, frequentemente rejeitados pelos próprios camponeses que, sabemos agora, olhavam tantas vezes para os jovens das cidades como alguém que nada produzia e era mais uma boca para sustentar. “O pão é mais importante do que a poesia” disse Jean Paul Sartre. Pois é, pão e poesia, arroz e revolução.

1 - João Cláudio Costa, Adélia Goulart, minha colega de trabalho na secção de revistas nas Edições de Pequim, Conceição Afonso e António Graça de Abreu.


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Amélia Vieira

O campo de favas D

IZ-SE que Pitágoras acreditava que a alma dos mortos recolhia ao “olho” das favas e nunca passava por cima de um campo onde crescessem, mesmo que fugisse de um inimigo. Ainda hoje há muita gente que não gosta delas por uma questão enigmática que nunca sabe explicar, pois que são óptimas, alimentícias, dadas aos cavalos para os fortalecer, mas Pitágoras saberia certamente do segredo que não deixava tragá-las, tendo mesmo domesticado um boi para que não pastasse nos seus terrenos fazendo-o assim escapar do matadouro e confiando-o ao templo de Hera. O senhor do célebre teorema era um homem incomum: diz-se que tinha uma notável beleza e vestia sempre de branca lã, alimentando-se de pão, de mel e frutos secos; é mestre de uma congregação de vida austera e aristocrática e era eloquente como poucos. Ademais do dom da vidência, a lenda atribui-lhe uma ascendência sobre os animais, amansando mesmo uma ursa terrível que aterrorizava as populações. Este mestre é o ancestral de um Francisco de Assis, um senhor das noves esferas celestes que rivaliza com os «Cânticos das Criaturas» na beleza de um Universo animado e que consegue graças a elevados dons de percepção escutar-lhe a música. A Itália é aqui o lugar onde as duas ordens florescem: os pitagóricos eram conhecidos pela sua imagem de pobres e marginais e o não usarem sapatos bem como uma longa cabeleira, vegetarianos; apenas lhes era impedido comerem peixes de cauda negra, uma semelhança com os Cátaros, que vieram de Itália e povoaram o sul de França. Pitágoras, diz-se, era um amigo muito querido, ele estabelece que entre os amigos tudo é comum: “um amigo é outro eu”, ficando lendária esta sua aliança com o próximo, e, se Francisco era o mestre, ele nem por isso deixou de ser um entre todos aqueles que lhe eram discípulos. São níveis de uma grande totalidade, com ensinamentos universalistas e com gente que partilha escrupulosamente os segredos. Pensemos nestas coisas hoje, e como, e onde, se pode encontrar amigos assim de forma inequívoca, de tamanha união na composição do todo e que saibam calar o que não deve ser revelado? Pensemos, sim, mas os tempos têm os seus códigos e tam-

bém a forma de dizer o não dito, de realizarem teoremas com a geometria do interesse de cada membro: pois que querem os membros de todos as sociedades mais fechadas? Destas nossas contemporâneas: poder! Não um poder de indagar estrelas, saber do Cântico do Universo, da chave dos mistérios, das leituras dos poemas; querem poder económico, querem projecção mediática, essa forma magnética pouco desenvolvida que dá a todos uma vaga semelhança a um Teatros de Fantoches; ali não há a frugal essência de uma imanente condição, mas um excesso de usura só comparado a um acto predador. Quando os conclaves maçónicos convidam pessoas, hoje, a inquirição é feita à boa maneira dos antigos trabalhadores das Polícias Secretas, com a tónica no capital e com aquela figura que vem sondar o novo e possível membro, que da mesma forma que aparece sem revelar fontes, desaparece, desconfiando nós da técnica e da organização de quem faz os “testes”. Por outro lado, um pequeno país de grandes delatores não será o local mais

propício a uma organização amorosa de carácter iniciático e mesmo de novas buscas de um saber de fundo, pois mesmo que não o faça, até pelo seu modo transversal, há aquela ideia sociológica de que tudo é passível de ser entrevistado, ou seja, transmitido. O que restou do mundo forte dos afectos inteligentes parece não ocupar grande espaço na nossa consciência que reclama por dados financeiros estáveis e vida individual como a maior conquista alguma vez realizada na organização Humana, de resto, tudo é paralelo. É certo que não há abelhas para fazerem mel... assim... legumes e frutos estão em prateleiras, nós, em gavetas, os outros, competindo dentro do seu quadrado de hipóteses( não da hipotenusas) para fazerem a obra maior de todos os tempos, à revelia dos próprios tempos, se para tanto forem capazes. Entre um campo de favas verde e intocável vai a distância de muitas labaredas e já nem me lembro de tais campos... há coisas que morreram nas nossas fontes de reconhecimento. Nós pisamos a Terra in-

Pensemos nestas coisas hoje, e como, e onde, se pode encontrar amigos assim de forma inequívoca, de tamanha união na composição do todo e que saibam calar o que não deve ser revelado?

teira porque ela nos pertence e tanto faz serem favas como abrolhos, certamente que jamais suspeitaríamos que a alma é ígnea e quando vai para corpos vegetais continua fogo e somos nós apenas que nada reparamos. O facto de em nada destas coisas repararmos não quer dizer que não existam, e elas- provavelmente ainda existem- pelo simples facto de não termos, ou termos mesmo deixado de reparar nelas. Há uma cosmogonia muito Pitagórica que diz: “Todas as coisas são três, e o que constitui o valor de cada ser particular é a tríade formada pela inteligência, a força e o acaso.” Neste patamar onde começamos por campos férteis, intocáveis, sabemos o quanto o pensamento pitagórico funcionou com base em analogias com subtis correspondências que tanto inspiraram os poetas do mundo, e, posto que tudo é número e o número é ponto, estamos diante a científica experiência que engendra o espaço geométrico e físico. Que tem isto a ver com um campo de favas? Tudo. Afinal é lá que reside o mais emblemático do tecido imortal chamado alma e que de natureza ígnea se refresca na vegetal forma que parece um embrião fecundado. São estas interdições que fazem do mundo um local digno de observação a toda a hora, e, nem interessa tanto mestre de hoje em chãos pisados de Ordens e Graus que soletram a vacuidade da herança a que já não poderão responder, dado que ainda, e pitagoricamente, a alma estava na cabeça, depois, passou para o coração e agora está tão em baixa que pensamos que a matéria animada é apenas puro dejecto e volúpia. Por outro lado há quem desvende os segredos sacrificando a vida, e aquele que protege os mistérios da alma para ganhar um novo nascimento. “Matematizando” ao invés de “materializando” seria a expressão certa para quem em forte desejo de não pisar nem campos de favas, nem sarças ardentes, retivesse da existência a sua parte imperecível e lega-se uma pequena pedra para a construção e reconstrução deste enorme “puzzle” cujo “Arquitecto do Mundo” se filia à beira de uma habitação onde as janelas não abrem para a natureza incerta que é causa sempre de morte ao não saber juntar o começo e o fim. Não magicar nem arquitectar: vamos consagrar: este é o nosso campo de favas.


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A SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE MACAU FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO


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AVISO COBRANÇA DO IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS Avisa-se os Srs. contribuintes que o referido Imposto é pago em 2 prestações, se for superior a MOP$3,000.00, em Setembro e Novembro de cada ano. Se for não superior a MOP$3,000.00, é pago numa única prestação, em Setembro de cada ano. O não pagamento da 1.ª prestação no mês de vencimento (Setembro) importa para além da cobrança de juros de mora e 3% de dívidas, o imediato vencimento da prestação vincenda. No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que se dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Atendimento Taipa ou ao Centro de Serviços da RAEM, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção dos Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. 4. O pagamento da 1.ª ou única prestação pode ser efectuado, até ao último dia do mês de Setembro, nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Centro de Atendimento Taipa, do Centro de Serviços da RAEM ou do Edifício Long Cheng; Os impostos/contribuições podem ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00 (cem mil patacas), sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através do cartão “Quick Pass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00 (mil patacas). - Nos balções dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Nas máquinas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - Por pagamento electrónico (“banca-on-line”): Banco da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone”: Banco da China Banco Tai Fung 5. Se o pagamento for efectuado por meio de cheque, a data de emissão não pode ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da «Direcção dos Serviços de Finanças», nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. 6. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próximo contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 5, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. 7. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviços de cobrança. 8. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo. 1. 2. 3.

Aos 18 de Agosto de 2016. O Director dos Serviços Iong Kong Leong

O BANCO NACIONAL ULTRAMARINO FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO


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EVENTOS

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Fundação Rui Cunha patrocina mais uma vez “Conversa sobre o livro” com o título “Percursos inesperados de um leitor”. O orador convidado para dinamizar a sessão é o Professor Carlos André, que trocou Coimbra por Macau em 2012. A iniciativa é promovida pela Associação Amigos do Livro em Macau e vai acontecer na próxima quarta-feira, no espaço da fundação Ler um livro é uma experiência pessoal. Cada um interpreta as palavras escritas de acordo com a sua experiência de vida e os seus gostos pessoais. “Cada leitor tem o seu percurso; alguns percursos são mais ortodoxos, outros nem tanto”, refere o comunicado da Fundação Rui Cunha. As opiniões variam consoante as correntes; as que defendem que uma leitura deve ser escolhida com critério; outros defendem exactamente o contrário. A surpresa e o inesperado são por vezes os maiores aliados de uma leitura com prazer. O convidado de cada sessão dá o seu contributo e partilha a sua experiência. Nesta intervenção o professor é convidado a intervir com o seu percurso que, segundo a mesma fonte, ” é o de quem descobriu a leitura por aquilo que ela é, etimologicamente, um simples prazer de juntar sinais e deles fazer palavras com sentido e na sucessão delas apreender histórias”. Através da leitura descobrem-se histórias e é possível fazer um percurso “onde cada etapa é um

FRC LEITORES TROCAM EXPERIÊNCIAS

Prazer de ler capítulo; que talvez nada tenha a ver com o capítulo seguinte”.

PAIXÃO LUSÓFONA

O orador convidado para esta palestra é uma figura conhecida da escrita, pelo seu contributo em vários planos mas sobretudo na área da literatura Latina e Portuguesa. Envolveu-se activamente em acções de cooperação com países lusófonos como é o caso de Moçambique, Timor, Brasil eAngola. Macau valeu-lhe particular

atenção. Deslocou-se pela primeira vez a este território em 1984, acabando sempre por voltar, até se ter estabelecido em 2012. Desempenhou vários cargos tendo sido membro fundador da Associação Internacional de Lusitanistas, da qual foi, depois, Vice-Presidente e Secretário-Geral-Tesoureiro. Foi Director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (20062013) e Coordenador do Pólo de Leiria da Universidade Católica Por-

tuguesa. É Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (em licença especial) e foi “Visiting Professor” nas Universidades da Ásia Oriental, Macau (1984), Hamburgo e Gottingen (1992/1993) e Poitiers (1994 e 1996). É membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filologia. E desempenha actualmente o cargo de Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, do Instituto Politécnico de Macau.

À CONVERSA

Até ao fim do ano, a Associação Amigos do Livro em Macau assegurará mais duas “Conversas sobre o livro”, com intervenções do Prof. Yao Jiming com o tema “Imagens Constantes na Poesia Clássica Chinesa” e do Prof. Peter,

“Através da leitura descobrem-se histórias e é possível fazer um percurso “onde cada etapa é um capítulo; que talvez nada tenha a ver com o capítulo seguinte” Cheng Wai Ming sobre “Literatura chinesa moderna”. Tal como acontecerá na próxima quarta-feira, a Fundação Rui Cunha assegurará, em todas as sessões, a tradução simultânea para cantonense.

MÚSICA APOIA CAUSA SOLIDÁRIA DA SCM

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“U

S artistas portugueses Carla Filipe, Gabriel Abrantes, Lourdes Castro, Priscila Fernandes e Grada Kilomba vão participar na 32.ª Bienal de Artes de São Paulo, no Brasil, que abre a 10 de Setembro, segundo o Ministério da Cultura. A representação de Portugal, que tinha sido anunciada no final de 2015 pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes), inclui agora mais uma criadora portuguesa, Grada Kilomba, escritora, `performer` e artista interdisciplinar. A representação portuguesa na Bienal de São Paulo, que se realiza de 10 de Setembro a 11 de Dezembro, no Parque de Ibirapuera, inclui ainda meia centena de artistas portugueses e duas centenas de obras em várias exposições.

Será, segundo o gabinete do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, “o maior contingente estrangeiro presente nesta edição da bienal”, intitulada “Incerteza Viva”, com curadoria geral de Jochen Volz e Lars Bang Larsen. Em Julho do ano passado, os curadores visitaram `ateliers`, exposições e galerias portuguesas para seleccionar um grupo de artistas de Portugal. Grada Kilomba é uma escritora e artista interdisciplinar portuguesa, com ascendência são tomense e angolana, e a sua produção baseia-se em questões de memoria, trauma, raça, género, e pós-colonialismo, traduzido em vários idiomas em antologias internacionais e encenada internacionalmente.

MA só voz” é o nome do dueto entre o autor e compositor João Caetano e o fundador da banda “Incógnito”, Jean-Paul “Bluey” Maunick. Na sexta-feira o tema vai estar disponível nas redes sociais e os lucros da venda revertem para acções de solidariedade da Santa Casa da misericórdia, (SCM). Esta música é um original do documentário “Eric – You will never walk alone”, produzido e filmado em Macau. Os lucros da sua venda revertem para o projecto de solidariedade social da Santa Casa de Misericórdia, (SCM) com o ”intuito de também dar voz às pessoas que constituem a identidade daquele território”, de acordo com informação da SCM. Parte das receitas conseguidas com a venda serão aplicadas no Centro de Reabilitação de Cegos.

SCM

CINCO ARTISTAS LUSOS NA BIENAL DE SÃO PAULO

Reconhecendo há muito tempo, o talento do jovem músico João Caetano, Bluey não hesita em afirmar que “a maior parte da nossa base de fãs reconhece o João pelas suas performances enérgicas como percussionista da banda e sua prestação inconfundível nos solos”. Mas o que poucos sabem é “que ele é um cantor e compositor incrível, assim como um guitarrista e violinista de peso” acrescenta. Para breve está o lançamento do seu primeiro ál-

bum cantado em português. O jovem músico da moderna Lusofonia é também o responsável pela entrada do Single no catálogo da SplashBlue, importante selo digital com sede em Londres. O Single está estar presente nas redes sociais Facebook, Instagram, You Tube e em todas as plataformas digitais a partir de 9 de Setembro. Aqui está o link para o video https://itunes.apple. com/gb/album/uma-so-voz-single/id1148074778


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AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Quarta-feira

MIN

26

MAX

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70-95%

EURO

8.91

BAHT

INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU (ATÉ 30/10) IACM, 18h00 EXPOSIÇÃO “THE RENAISSANCE OF PEN AND INK - CALLIGRAPHY AND LETTERING ART DE AQUINO DA SILVA Armazém do Boi (até 18/09) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES /QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10)

O CARTOON STEPH

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10) SOLUÇÃO DO PROBLEMA 72

PROBLEMA 73

UM LIVRO HOJE

SUDOKU

DE

C I N E M A

1.19

HOJE É DIA DE FESTA

Diariamente

Cineteatro

YUAN

AQUI HÁ GATO

PALESTRA “CONVERSA SOBRE O LIVRO” SOB O TEMA “PERCURSOS INESPERADOS DE UM LEITOR” Fundação Rui Cunha

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

0.23

Estamos todos de parabéns! Há 15 anos que todos os dias o nosso jornal vai para as bancas. Eu não estou cá desde o início, mas sinto esta adrenalina como se tivesse sido o primeiro “jornalista” a ser contratado, pelo Hoje Macau. Na redacção sente-se a azáfama da preparação da edição especial, esta que estão a ler. Pesquisa, contactos, entrevistas, tudo para os nossos leitores poderem saborear, página a página as notícias fresquinhas do dia. Mas não há festa sem bolo e, pela parte que me toca, espero lambuzar-me na festa. Tenho é de ter cuidado com a linha porque a obesidade não está na moda e ainda me trocam por um coelho! Há imensos pendurados nas ruas, nos parques, na cidade em geral. Fiquei com ciúmes. Porquê coelhos e não gatos? Somos mais giros e inteligentes. Ainda por cima parece que usam essa imagem para festejar o Festival da Lua. Quis perceber a razão e fui pesquisar na internet. O coelho afinal é um animal de honra. Reza a história que o imperador da floresta quis testar os animais e pediu-lhes que trouxessem comida. A raposa o macaco e o coelho saíram para caçar, mas só os dois primeiros trouxeram alimentos. O imperador ficou triste com os animais por não serem unidos e terem actuado cada um por si. O coelho sentiu-se humilhado e lançou-se nas chamas da fogueira, oferecendo-se como refeição. Tocado com a atitude, decidiu abrir-lhe as “portas” do palácio da lua para que lá vivesse eternamente e pudesse ser admirado por todos os que para ela olhassem. Estamos sempre a aprender! Pu Yi

TODA A CHINA, VOLUME I – ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU – GUERRA E PAZ

É difícil a qualquer ser humano conhecer um país como a China, uma imensidão de línguas, cores, culturas e sabores, mas o escritor, tradutor e historiador António Graça de Abreu sabe um bocadinho mais do que nós. Tendo ido para Pequim na década de 70, Graça de Abreu já visitou todas as províncias da China, relatos espelhados nestas páginas. Com elas, acabamos por viajar também. Andreia Sofia Silva

NERVE SALA 1

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok, Choi Woo-sik 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

NERVE [C]

Filme de: Henry Joost, Ariel Schulman Com: Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade, Miles Heizer 14.30, 18.00, 19.30, 21.30

CHIBI MARUKO CHAN - A BOYFROM ITALY [B]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Jun Takagi 16.45 SALA 3

THE LETTERS [A]

Filme de: William Riead Com: Juliet Stevenson, Max Von Sydow, Rutger Hauer 19.15

SHIN GODZILLA [B]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Hideaki Anno Com: Yutaka Takenouchi, Hiroki Hasegawa, Satomi Ishihara 14.30, 16.45, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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CARLOS PICASSINOS, JOÃO COSTEIRA VARELA

Ex-Directores do Hoje Macau

MICHELANGELO ANTONIONI, THE PASSENGER (1975)

Regresso aqui

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UINZE anos na vida de um jornal não é uma vida, é uma eternidade. E, como é próprio da eternidade, o tempo é uma medida obsoleta. Esta é uma das contradições de um objecto como um diário. Atormentado pela pressão da actualidade, pela racionalidade do espaço, um jornal é para sempre, e por isso, objecto utópico, feito para um horizonte ausente, e um ideal romântico de paixão e impossibilidade. Antes de ser tudo, o Hoje Macau foi isto. Foi, sobretudo, isto. Nestes quinze anos, com as intermitências e os intervalos dos subscritores, o jornal foi audaz e corajoso, foi pertinente e adolescente, informativo, pertinaz, provocador, subjectivo, ingénuo, descuidado e rigoroso. Antes do mais, este jornal atravessou e revirou-nos nossas vidas. Como numa novela de cordel, houve camaradagens e traições, houve zangas e

Antes do mais, este jornal atravessou e revirou-nos nossas vidas paixões e acusações, homens revoltados, mulheres abandonadas, gritaria e zaragata, adolescentes louros, pintores e poetas pobres, alcoolizados e adictivos, despertares penosos, noctívagos embrutecidos, arroubos geniais, escrevemos em taças de ouro e bebemos em chinas. Houve amores. Amores perdidos. Dramas, ópera bufa. Solidão, solidão. Houve ressacas, ressentimentos, rugas, cãs e, como num western americano, os renegados, os enjeitados e os desperados. Amigos grandes e grandes penas. E os largos silêncios, os que nunca mais voltaram, aqueles que já partiram. Os que permaneceram, os que permanecem sempre, que entregam tudo como se cada dia fosse o primeiro das férias grandes. Fomos enamorados, adolescentes tardios, de bagagem inteira, sem função pública, jovens turcos, náufragos. Só nós, nós todos. Em 1961, Umberto Eco escrevia aquele que havia de ser considerado um dos ensaios

precursores da crítica televisiva. Tratava-se de uma invectiva contra o apogeu da mediocridade promovido pela televisão na embrionária sociedade de massas, no boom do pós guerra italiano. Dirigia-se contra a figura do apresentador italo-americano Mike Bongiorno - a corporização do homem que não provoca complexos de inferioridade junto do público. Embora sendo um deus, todos se encontram ao seu nível e nada há de inquietação. Nenhuma tensão entre ser e dever ser. E, por isso, o público, na exortação da sua mediocridade, ama-o. Umberto Eco chamou a este famoso ensaio “A fenomenologia de Mike Bongiorno”. Desde a transição, nestes primeiros quinze anos de vida, o Hoje Macau foi o projecto editorial mais interessante e ambicioso da RAEM. Não esteve isento de contradições, mas a matriz de crítica e distinção cultural embandeirada pelo jornal desde a sua refundação transformou-o nessa lança contra a mediania e a mediocridade. Foi sempre essa a ambição deste jornal - escrever bem para um público ideal de leitores cultos. Assim como na vida, assim no dia a dia, uma vez foi feliz, outras infeliz. Parabéns jornal.

OPINIÃO


34 OPINIÃO

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macau visto de hong kong

STOU a escrever este artigo sexta-feira, 26 de Agosto. Há pouco mais de duas semanas, mais precisamente a 10 de Agosto - 7 de Julho, segundo o calendário chinês - comemorámos o “Dia dos Namorados” na China. Existem, como é sabido, diferenças entre os dois calendários e 2016 é o Ano do Macaco. O Dia dos Namorados na China celebra-se nesta data, por causa de uma história que se passou há 2.600 anos atrás. Mas vejamos o que a Wikipédia tem a dizer sobre o assunto: “A lenda é sobre a paixão de Zhin (織女) e de Niulang (牛郎). Era um amor proibido e, por isso, foram separados e enviados para margens diferentes do Rio da Prata. Uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês lunar, um bando de gansos formava uma ponte e os dois amantes podiam reunir-se por um dia.” Zhin era deusa e fiandeira. Niuland era humano e guardador de gado. O amor entre

deuses e humanos não é permitido. Quando se apaixonaram, o rei dos deuses castigou-os. Como tivessem persistido e não temessem o castigo, o rei divino acabou por consentir no casamento. Mas a tragédia ocorre depois do casamento. Zhin e Niuland, entregues à paixão, acabaram por descurar as suas obrigações. A qualidade dos tecidos fabricados por Zhin decaiu grandemente e o gado à responsabilidade de Niuland fugia. Perante esta situação o rei decidiu que só se veriam uma vez por ano, a 7 de Julho. Este foi sem dúvida um castigo cruel que lhes trouxe infelicidade. Mas existem outros casais que podem estar juntos todos os dias e que mesmo assim são infelizes. Chu Chun Kwok era agente da polícia. Há alguns anos atrás, no dia 19 de Julho de 2005, patrulhava a Po On Road, em Cheung Sha Wan, Hong Kong, quando foi atacado com uma faca que lhe cortou uma artéria do pescoço. O ataque aconteceu na sequência do controlo de identidade de Liu Chi Yung, suspeito de tentativa de roubo. Chu caiu de imediato, a esvair-se em sangue. Uma pessoa que ia a passar conseguiu dar o alerta que lhe salvou a vida. Mas Chu entrou em PUB

A COMPANHIA DE SISTEMAS DE RESÍDUOS DE MACAU FELICITA O HOJE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 15.º ANIVERSÁRIO

XAVIER DOLAN, MOMMY (2014)

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Amor e adversidade

DAVID CHAN

coma, devido à perda massiva de sangue, e está em estado vegetativo desde essa altura. Não pode falar, nem se pode mover, resta-lhe jazer na cama do hospital. Segundo os médicos as possibilidades de recuperação são ínfimas. Após o acidente, Choi Yin Ping, a mulher de Chu, vai todos os dias ao hospital cuidar do marido. Ajuda na higiene, na alimentação e na fisioterapia a que Chu é submetido para evitar atrofia muscular. Este caso voltou a ser notícia porque Choi chegou finalmente a acordo com o Governo de Hong Kong. Choi tinha processado o governo regional bem como o atacante. Exigia uma indeminização, mas o governo recusava-se a conceder-lha, à semelhança de Liu Chi Yung que alegou falência. Quando finalmente se chegou a um acordo, Choi declarou, “Posso voltar à minha vida normal. Já não tenho de travar esta batalha.” Embora Chu tenha sofrido ferimentos muitos graves, o Tribunal só o condenou Liu a 10 anos de prisão. Independentemente da justeza da sentença, há outro aspecto a salientar. Liu foi posto em liberdade condicional em 2011. Ou seja, só cumpriu seis anos de prisão, tendo ficado em regime de liberdade condicionada desde 2011. A questão é simples, mas vale a pena analisar o contexto. O objectivo da lei criminal é manter a justiça. Assim que o réu é condenado o caso fica encerrado. Nem a vítima, nem os seus familiares, devem procurar vingança contra o réu. A lei previne o ajuste de contas. A liberdade condicional é um instrumento do sistema legal. Permite que o condenado saia da prisão, sob certas condições, e ajuda a impedir a sobrelotação das prisões. É também um incentivo para que o prisioneiro tenha um bom comportamento enquanto está detido. Ajuda a diminuir o grau de dificuldade na gestão das prisões. Do ponto de vista social, é uma boa medida. Liu nunca mais cometeu nenhum crime depois de ser libertado. Mas não tem dinheiro para indemnizar Chu. No entanto, desde o ataque Chu tem permanecido no hospital. As hipóteses de recuperação são praticamente nulas. Parece-vos que uma pena de cinco

“Desde que Chu foi atacado Choi nunca o abandonou, continua a amá-lo apesar da sua situação. O grande amor que os liga aquece-nos a alma” a seis anos tenha sido justa face à situação que criou a Chu? A resposta é óbvia. Não é de admirar que a mãe e a mulher de Chu afirmem, “Nunca o perdoaremos.” Embora possamos não concordar com o sistema legal, temos de lhe obedecer. Todos os sistemas têm prós e contras, não são perfeitos. Os familiares de Chu continuam muito revoltados, mas não há nada que possam fazer. Mas podemos olhar para esta história de outro ângulo. Desde que Chu foi atacado Choi nunca o abandonou, continua a amá-lo apesar da sua situação. O grande amor que os liga aquece-nos a alma. A atitude de Choi faz-me relembrar o verdadeiro significado do casamento. O padre pede que o casal prometa fidelidade e dedicação um ao outro, independentemente das adversidades que possam surgir nas suas vidas, deverão permanecer unidos. Chu e Choi continuam juntos. Mantiveram a sua promessa. E Choi tem permanecido fiel nesta situação tão difícil em que se encontra desde 2005. Embora o Dia dos Namorados na China já tenha passado, congratulemos Chu e Choi, e façamo-los sentir que apreciamos o seu amor. “Feliz Dia dos Namorados.” Rezemos por Chu, pedindo a Deus que o abençoe e o ajude a recuperar o mais depressa possível. Consultor Jurídico da Associação de Promoção do Jazz de Macau legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


35 hoje macau segunda-feira 5.9.2016

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Por mais que me esforce não consigo / Escrever poesia em Macau. / Em Macau a poesia vive-se; / Não se escreve.”

José Maria Rodrigues

“Tempos extraordinários”

segunda-feira 5.9.2016

SELECÇÃO SUB-14 PARTE PARA PEQUIM

Duterte declara “estado de anarquia” após atentado nas Filipinas

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Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, declarou sábado o “estado de anarquia” no país, após o atentado à bomba na noite de sexta-feira na cidade de Davao, no sul, o qual provocou a morte de pelo menos 14 pessoas e 67 feridas. “Vivemos tempos extraordinários. Estamos a tentar lidar com esta crise agora. Parece que há um ambiente de anarquia”, disse o Presidente filipino à imprensa no local do atentado, horas depois da explosão. Segundo o chefe de Estado, a medida implica um aumento da presença de militares e de polícias em todo o país para combater a ameaça terrorista.

RADICAIS ACUSADOS

O grupo radical islamita Abu Sayyaf foi responsável pelo PUB

atentado à bomba na terra natal do Presidente filipino, Rodrigo Duterte, disse sábado a presidente da câmara. “O Gabinete do Presidente enviou uma mensagem de texto para confirmar que foi uma retaliação do Abu Sayyaf. Nós, no município, estamos a tratar este caso como uma retaliação do Abu Sayyaf”, disse à CNN Filipinas Sarah Duterte, que além de autarca é filha do Presidente Duterte. O ministro da Defesa, Delfin Lorenzana, também atribuiu o ataque de sexta-feira ao Abu Sayyaf, um grupo islâmico que prometeu lealdade ao Estado islâmico. “Ninguém assumiu a responsabilidade, mas só podemos concluir que foi cometido pelo grupo terrorista Abu Sayyaf, que causou muitas perdas em Jolo nas últimas semanas”, disse Lorenzana.

O Presidente Duterte lançou uma ofensiva militar contra o Abu Sayyaf. Na segunda-feira, cinco soldados foram mortos em confrontos com o grupo islâmico na ilha de Jolo, um importante reduto do Abu Sayyaf, a 900 quilómetros de Davao. A Amnistia Internacional (AI) instou também sábado o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, a respeitar os direitos humanos na resposta ao atentado de sexta-feira. “A total indiferença demonstrada pelos atacantes pelo direito à vida não deve respondida com uma acção governamental que não tenha em conta os direitos humanos”, indica em comunicado Champa Patel, investigador para a região do sudeste asiático e Pacífico da AI.

• A Selecção Sub-14 da Associação de Futebol de Macau partiu ontem para Pequim onde participará no AFC Sub-14 Regional Festival of Football competindo com várias selecções da região entre as quais se destacam as da RPC, Hong Kong, Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte.


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