Livre circulação
A partir de domingo, as regras de entrada e saída de Macau passam a ser iguais às que vigoravam em 2019, ou seja, antes da pandemia. Por terra, caem as restrições impostas pela política zero casos assumida nos últimos três anos. Ligações marítimas com Hong Kong são também retomadas através do terminal da Taipa.
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEXTA-FEIRA 6 DE JANEIRO DE 2023 • ANO XXI • Nº5165 CENTRO MODAL DE TRANSPORTES DA BARRA A TAPAR BURACOS PÁGINA 3 hojemacau JULGAMENTO CHUI VOLTA À BERLINDA SEGURANÇA NACIONAL PRIMEIRAS DÚVIDAS VOZES SOBREVIVÊNCIA PÁGINA 4 PÁGINA 2 PAUL CHAN WAI CHI SIMBOLISMO NA GASTRONOMIA CHINESA Ana Cristina Alves PUB. PÁGINAS 5 E ÚLTIMA JOHN THOMPSON
Punir dentro e fora
A primeira comissão da Assembleia Legislativa começou ontem a analisar a proposta de lei relativa à defesa da segurança do Estado. Os deputados que têm a matéria em mãos estão preocupados com a forma como a legislação é aplicada quando os crimes ocorrem no estrangeiro
COM o processo legislativo da lei relativa à defesa da segurança do Estado a passar rapidamente os vários passos antes de entrar em vigor, a proposta começou ontem a ser analisada na especialidade na primeira comissão permanente da Assembleia Legislativa, ainda sem a participação de representantes do Governo.
No final da reunião, a presidente da comissão, a deputada Ella Lei, revelou que os seus colegas demonstraram preocupações sobre a forma como a lei seria aplicada quando os crimes forem praticados fora de Macau por cidadãos chineses residentes da RAEM.
“Em termos de disposições de processo penal, nomeadamente no que diz respeito à matéria probatória, como serão recolhidas provas fora da RAEM, em particular para os crimes de traição à pátria e outros crimes relacionados com segurança nacional”, perguntou Ella Lei.
De acordo com a TDM –Rádio Macau, os membros da comissão também ficaram com dúvidas em relação aos artigos que regulam os crimes de instigação e apoio à sedição, inclu-
sive a forma como os artigos se articulam e como a lei será aplicada.
Entre quatro paredes Também a aplicação de prisão preventiva ou a possibilidade de liberdade condicional provocou algumas interrogações aos deputados. Em relação a todos estes tópicos, Ella Lei afirmou esperar que o Governo esclareça as dúvidas dos legisladores em relação ao articulado da proposta de lei.
Segundo a TDM – Rádio Macau, a deputada indicou que os seus colegas de comissão questionaram a prontidão do Governo para garantir que a lei de segurança nacional entra em vigor no dia seguinte à sua publicação no Boletim Oficial, como está previsto na proposta de lei.
Recorde-se que o Conselho Executivo terminou a discussão
serão recolhidas provas fora da RAEM, em particular para os crimes de traição à pátria e outros crimes relacionados com segurança nacional?”
sobre a referida lei no dia 2 de Dezembro sublinhando o carácter urgente do processo legislativo. “Com vista a preencher as lacunas do sistema jurídico, a obter protecção contra os riscos de segurança e a melhorar o nível de aplicação de lei, a proposta da revisão de lei deve ser aplicada o mais breve possível”, foi indicado.
Na mesma nota, o Conselho Executivo sugeriu “aditar as disposições relativas à atribuição do carácter urgente aos procedimentos para a execução da Lei relativa à defesa da segurança do Estado e ao seu tratamento confidencial dos processos, que, juntamente com as disposições de procedimento penal e as medidas preventivas acima mencionadas, são aplicá veis também aos crimes contra a segurança”. João Luz
FDIC LANÇADO APOIO NA ÁREA DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
OGoverno
decidiu criar um novo apoio financeiro, no âmbito do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC), à área da medicina tradicional chinesa (MTC), a fim de “incentivar as fábricas de medicamentos de Macau a aproveitar bem as políticas favoráveis a Macau concedidas pelo País para explorar o mercado do Interior da China”. Apresentado ontem, o plano pretende apoiar “titulares, pessoas singulares ou colectivas, da licença de fabrico de produtos usados na medicina tradicional chinesa ou da licença de produção para a indústria farmacêutica da RAEM a procederem ao registo de medicamentos”. A ideia é fomentar a indústria de MTC e “promover o desenvolvimento diversificado da economia”.
Os candidatos devem ser portadores de autorização prévia para a venda local de medicamentos de MTC que tenham sido utilizados há, pelo menos, cinco anos em Macau, emitida pelas autoridades locais. As fábricas de medicamentos podem apresentar o pedido de apoio financeiro para despesas, como a taxa de registo de medicamentos no Interior da China, as despesas com o desenvolvimento das tecnologias e os honorários dos especialistas e assessores.
No intuito de assegurar que o plano subsidiado possa obter o certificado de registo de medicamentos do Interior da China, o beneficiário deve concluir o registo do projecto no Interior da China no prazo de 540 dias a contar da data de assinatura da notificação de aprovação. Caso contrário, terá de devolver ao FDIC o montante total concedido. As candidaturas terminam dia 20 de Fevereiro.
Função pública Destacamento de funcionários até um ano
O período de destacamento de funcionários públicos para outro serviço dentro da Administração pode ser prolongado, no máximo, até um ano. Esta foi uma das conclusões da reunião de ontem da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que está a analisar, na especialidade, o novo Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM) e diplomas conexos.
Vong Hin Fai, deputado e presidente da comissão, referiu que esse prolongamento acontecerá “caso existam razões razoáveis” para tal. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Vong Hin Fai explicou que a transferência para outro serviço estará sempre sujeita às opiniões dos próprios funcionários públicos, embora o Governo tenha o poder final de decidir sobre a sua colocação.
O deputado disse ainda que o novo ETAPM vai dar 11 autorizações às chefias, onde se incluem a nomeação provisória por parte dos directores de serviços e a renovação sem necessidade de delegação de poderes de forma prévia da parte do Chefe do Executivo.
GCS FAOM 2 política 6.1.2023 sexta-feira www.hojemacau.com.mo
SEGURANÇA NACIONAL DÚVIDAS SOBRE APLICAÇÃO DA LEI NO EXTERIOR
“Como
ELLA LEI DEPUTADA
NO passado dia 3 de Dezembro, o Centro Modal de Transportes da Barra entrou em funcionamento, passando a albergar várias paragens de autocarros públicos. A estrutura, que começou a ser construída em 2015, disponibiliza, para já, apenas paragens de autocarro e um parque de estacionamento com capacidade para 200 veículos, enquanto uma vasta área continua encerrada até à entrada em funcionamento da Estação da Barra do Metro Ligeiro.
Passado um mês da inauguração, começaram a circular nas redes sociais fotografias do pavimento danificado, com buracos e rachas, junto às paragens de autocarro. Na quarta-feira à noite, a Direcção dos Serviços de Obras Públicas e Direcção dos Serviço para os Assuntos de Tráfego anunciaram obras de reparação do pavimento da via do terminal de autocarros do primeiro piso da cave do centro modal de transportes da Barra. O Governo indicou que os danos se deveram à “falta de resistência do revestimento do pavimento e insuficiente capacidade de adesão” e que “a quebra e fendas no pavimento são resultantes do suporte do peso dos autocarros e da força de atrito”. Assim sendo, o Governo ordenou ao empreiteiro responsável pela obra para “acompanhar a situação” e logo na noite de quarta-feira começaram “os trabalhos de reparação que incluem a remoção dos materiais de revestimento existentes no pavimento e o tratamento preliminar”.
Deputados no local
Os deputados dos Moradores Ngan Iek Hang e Leong
BARRA PEDIDA INVESTIGAÇÃO
A DANOS EM CENTRO DE TRANSPORTES
Obra made in Macau
Aberto parcialmente há apenas um mês, o Centro Modal de Transportes da Barra apresenta estragos no pavimento do piso dos autocarros que obrigaram a obras de reparação. Deputados dos Moradores pedem uma investigação. O centro de transportes custou aos cofres públicos mais de 1,4 mil milhões de patacas
Hong Sai deslocaram-se ao local e pediram ao Governo uma investigação às causas que levaram à rápida deterioração do pavimento e a célere divulgação pública dos resultados da investigação. Os legisladores pediram ainda que o empreiteiro seja responsabilizado pelas obras de reparação e que assegure a qualidade da estrutura.
Os deputados não esqueceram casos recentes de obras públicas de fraca
Com base apenas em 6 contratos, de acordo com os despachos publicados em Boletim Oficial, o custo da construção e supervisão do centro de transportes da Barra foi superior a 1,424 mil milhões de patacas
qualidade, situações que geram frequentemente críticas na sociedade, dando como exemplo a queda de azulejos em edifícios de habitação pública. Como tal, face ao avultado custo do centro de transportes da Barra, problemas de falta de qualidade, seja por falta de supervisão das empresas responsáveis pela obra ou do Governo, são inaceitáveis pela sociedade.
Em declarações ao jornal Ou Mun, os deputados disseram esperar que o Governo retire lições do incidente e melhore a qualidade dos mecanismos de supervisão das obras públicas, incluindo os processos de adjudicação, supervisão e penalização para falhas.
Wong Man Pan, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, também opinou sobre a polémica indicando esperar que o Governo preste mais atenção à qualidade dos projectos e ao período de garantia dos materiais usados, em vez ter como critério principal a proposta mais barata.
Sangria desatada
No final de 2014, um despacho assinado pelo Chefe do Executivo da altura, Chui Sai On, autorizava o contrato de adjudicação referente à empreitada de construção do Centro Modal de Transportes da Barra com o consórcio formado pela Companhia de Construção de Obras Portuárias Zhen Hwa, Limitada e Companhia de Engenharia
e de Construção da China (Macau), Limitada. O contrato previa o pagamento de forma faseada, ao longo de cinco anos, de 1,238 mil milhões de patacas.
Dois anos antes, Chui Sai On assinava já outro despacho a oficializar a adjudicação da empreitada para contruir a parede diafragma do Centro Modal de Transportes da Barra com a Companhia de Construção e Engenharia Omas, obra que iria custar mais de 122 milhões de patacas.
No capítulo da supervisão e controlo de qualidade foram também feitas adjudicações. Em Outubro de 2016, o Governo contratou o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade para prestar serviços de “Contro-
lo de Qualidade das Instalações Electromecânicas da Empreitada de Construção do Centro Modal de Transportes da Barra”, a troco de 3,6 milhões de patacas.
Um ano e meio antes, o Executivo liderado por Chui Sai On contratou a Universidade de Macau para a prestação dos serviços de “Controlo de Qualidade da Empreitada de Construção do Centro Modal de Transportes da Barra”. O contrato previa o pagamento de um montante de mais de 12,3 milhões de patacas.
No mesmo dia, 14 de Maio de 2015, foram estabelecidos mais dois contratos de adjudicação. A PAL Ásia Consultores Limitada foi contratada para prestar serviços de “Fiscalização da Empreitada de Construção do Centro Modal de Transportes da Barra”, pelo montante de 40,3 milhões de patacas e a Parsons Brinckerhoff (Asia) Limited para prestar assistência técnica na mesma empreitada de construção. O valor deste último contrato foi de quase 8,5 milhões de patacas.
Com base apenas nestes seis contratos, de acordo com os despachos publicados em Boletim Oficial, o custo da construção e supervisão do centro de transportes da Barra foi superior a 1,424 mil milhões de patacas. João Luz
Ponte HKZM Seguro de curto prazo para turistas de HK
A Autoridade Monetária de Macau (AMCM), em conjunto com o sector dos seguros da RAEM, criou um seguro de curto prazo com a duração de nove dias que dá cobertura para danos causados a terceiros ou responsabilidade civil de danos causados. O prémio e a franquia fixa totalizam 102 patacas
com um capital seguro de 1,5 milhões de patacas. O seguro é destinado a facilitar a vinda dos turistas de Hong Kong a Macau que se deslocam em automóvel ligeiro e que estacionam no Auto-Silo Este do Posto Fronteiriço da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
Importa sublinhar que estes
veículos não estão autorizados a circular na RAEM. O Governo indicou ontem que os proprietários de veículos registados em Hong Kong devem contrair o seguro (na página electrónica da AMCM) e reservar o lugar de estacionamento através de uma plataforma online antes da viagem.
política 3 sexta-feira 6.1.2023 www.hojemacau.com.mo
GOOGLE STREET VIEW
Colinas brancas
Uma funcionária da empresa de Sio Tak Hong corroborou a tese de que Chui Sai On terá dado luz verde para a construção do projecto do Alto de Coloane. Irmã da esposa de Jaime Carion confessa ter contraído empréstimos no valor de 2 milhões de patacas a Sio Tak Hong, referindo não saber se a dívida seria mesmo para saldar
Oex-Chefe do Executivo Chui Sai On voltou a ser mencionado no julgamento em que são julgados os ex-directores dos Serviços de Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) Jaime Carion e Li Canfeng, e dos empresários Sio Tak Hong, William Kuan e Ng Lap Seng. Desta vez, Iek Wai Chan (funcionária da empresa de construção liderada pelo arguido Sio Tak Hong) afirmou perante o colectivo de magistrados que ouviu Chui Sai On vincar que o projecto do Alto de Coloane não teria de respeitar limites de altura porque estava numa “zona branca”. A testemunha acrescentou que nessa reunião, que ocorreu em 2012, também estiveram
presentes o então secretário para os Transportes e Obras Públicas Lau Si Io e o director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes Jaime Carion.
Segundo o jornal Ou Mun, Iek Wai Chan garantiu, face à insistência do Ministério Público (MP), não estar equivocada em relação às declarações de Chui Sai On porque foram palavras marcantes e devido à importância política do ex-governante. Depois de o procurador do MP ter indicado que o conceito de “zona branca” não existe legalmente, e que era estranho Chui Sai On partilhar opiniões técnicas sobre construção, área em que não é especializado, a testemunha sublinhou que “foi o que o ex-Chefe do Executivo realmente disse”.
A testemunha afirmou ainda que o antigo governante afirmou que a construção das torres de habitação pública de Seac Pai Van, que implicou que parte da montanha fosse
A irmã da esposa de Jaime Carion disse não saber se seria necessário pagar o empréstimo a Sio Tak Hong e que terá recorrido ao empresário porque a pastelaria que geria, Miyazaki, estava na altura à beira da falência
terraplanada, seria um exemplo da possibilidade de construir no Alto de Coloane.
Recorde-se que Ho Iat Seng não autorizou que o seu antecessor fosse arrolado como testemunha neste processo.
Patacas e bolos
Outra testemunha ouvida ontem no Tribunal Judicial de Base, foi a irmã da esposa de Jaime Carion, que confessou perante os magistrados que terá sido informada que podia solicitar empréstimos financeiros ao empresário Sio Tak Hong.
Quanto questionada sobre a quantia que pediu emprestada, a cunhada do ex-director da DSSOPT não respondeu e justificou ter má memória devido à idade avançada. O procurador do MP reavivou a testemunha mencionando que durante a investigação a testemunha indicou ter pedido dois milhões de patacas e apenas reembolsado 500 mil patacas.
Além disso, a irmã da esposa de Jaime Carion disse não saber se seria necessário pagar o empréstimo a Sio Tak Hong e que terá recorrido ao empresário porque a pastelaria que geria, Miyazaki, estava na altura à beira da falência. Factor que a impediu de pagar o empréstimo.
A testemunha indicou ainda que a relação entre Jaime Carion e a esposa era complicada, e que a sua irmã tinha um namorado, apesar de casada com o ex-secretário, e que raramente pernoitava em casa de Jaime Carion. Nunu Wu com João Luz
PJ Dois detidos por desfalque
A Polícia Judiciária (PJ) resolveu dois casos de burla em que foram utilizadas notas para treino tendo sido detidos dois homens oriundos do Interior da China. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os detidos terão lucrado 400 mil renminbis com as burlas de troca de dinheiro. Nos dois casos, que implicaram quantias de 278 mil renmimbis e 90 mil renminbis, os suspeitos confessaram ter recebido dinheiro vivo em troca de notas falsas. Os dois suspeitos, de 35 e 44 anos, foram presos e o caso transferido para o Ministério Público.
Criptomoeda Burlas de 600 mil patacas
Dois residentes foram burlados depois de confiarem em estranhos que os terão abordado, em ocorrências separadas, numa rede social prometendo retornos aliciantes se investissem em moeda digital. Em vez de receberem dividendos, os residentes acabaram por ser burlados em cerca de 600 mil patacas. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), uma das vítimas, uma residente de 26 anos foi convencida a fazer seis transferências bancárias no total de 430 mil patacas até se aperceber que algo estava errado e denunciar o caso às autoridades. O outro delito, segundo o canal chinês da Rádio Macau, é em tudo semelhante e diz respeito a um residente de 23 anos que terá sido desfalcado em cerca de 170 mil patacas.
Trabalho Macau perdeu 15 mil TNR num só ano
Dados oficiais ontem divulgados pelas autoridades revelam que o território perdeu num ano quase 15 mil trabalhadores não residentes (TNR), o que equivale a quase dez por cento de todos os TNR existentes em Macau, fundamentais para a economia do território. Em Novembro, Macau tinha cerca de 154.600 TNR.
4 sociedade 6.1.2023 sexta-feira www.hojemacau.com.mo
ALTO DE COLOANE TESTEMUNHA VOLTA A IMPLICAR CHUI SAI ON
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A partir da meia-noite de domingo deixa de ser obrigatório, para quem viaja de Macau, apresentar teste de ácido nucleico à entrada no Interior da China, desde que não tenha estado no estrangeiro nos últimos sete dias.
Também quem vem do estrangeiro para Macau, passa a poder entrar no território sem limitações, tal como em 2019
Odia de ontem ficou marcado com o anúncio da eliminação de quase todas as medidas restritivas no âmbito da covid-19. Mediante decisão do Mecanismo Conjunto de Prevenção e Controlo do Conselho de Estado, foi decretado de que a partir de domingo vai deixar de ser obrigatório apresentar teste de ácido nucleico para quem viaja de Macau para o Interior da China, desde que não tenha viajado para o estrangeiro nos sete dias anteriores. Mas quem viaja de Hong Kong, Taiwan ou país estrangeiro, chegue a Macau e deseje ir, logo após a viagem, ao Interior da China, terá de apresentar teste negativo com validade de 48 horas.
Por sua vez, os viajantes de Hong Kong para o Interior da China também deixam de ter de fazer o teste à chegada, bastando apenas apresentar um teste negativo à covid-19 feito nas últimas 48 horas. Será medida a temperatura a estas pessoas e, caso apresentem resultados positivos e sintomas ligeiros, podem escolher o local de isolamento. Deixa de ser aceite também o resultado do teste rápido de 24 horas.
Destaque também para o facto de, a partir de domingo, quem entrar em Macau vindo do estrangeiro deixa de necessitar de autorização prévia dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), tal como no período pré-pandemia. São ainda eliminadas as medidas de controlo de
COVID FIM DE RESTRIÇÕES E TESTES PARA IR AO INTERIOR DA CHINA
Circular e viver
foram recebidas diariamente 1.400 doentes.
Relativamente à falta de medicamentos nas farmácias, foi referido que ainda estão a ser discutidas novas medidas de limitação da compra com entidades com o Instituto de Supervisão e Administração Farmacêutica.
Permanece o uso do código de saúde, que, num futuro próximo, “poderá ser levantado para a entrada em serviços públicos ou locais de trabalho”. “Entendemos que deixará de ser obrigatório, mas usado apenas em casos necessários”, disse Alvis Lo. Sobre o acesso aos casinos, as medidas serão anunciadas a título posterior.
Mortes recorde
A conferência de imprensa ficou marcada pela tentativa de definição do que é, afinal, uma morte por covid, sendo que, entre 13 de Dezembro e esta quarta-feira, as autoridades contabilizaram 57 mortes por covid-19, apesar de terem sido registados 600 óbitos em Dezembro, “um número elevado” tendo em conta que, em Dezembro de 2021, morreram apenas 230 pessoas.
gestão de saúde, como a declaração de febre ou outros sintomas. Quanto às viagens de autocarro dourado ou de ferry entre Macau e Hong Kong, as autoridades garantem estar “para breve” a sua total normalização (ver última).
Na conferência de imprensa de ontem do centro de Coordenação e de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, adiantou que
domingo, 8, marca o fim do chamado período de transição no que à pandemia diz respeito.
“Podemos considerar esta situação como uma epidemia local que existe no seio da comunidade. Poderá haver um novo surto, tal como acontece noutros locais, mas será em menor escala. Dentro de três a seis meses haverá uma elevada imunidade perante o mesmo vírus, e cerca de cinco por cento das pessoas poderão ficar novamente infectadas.”
nem mostram o número real de infectados”. Isto porque muitos infectados não terão feito o registo no código de saúde, admitiram as autoridades.
Tendo sido atingido o pico de infecções no período do Natal, e numa altura em que 60 a 70% da população já foi atingida pela covid-19, a secretária espera ainda uma maior recuperação aquando da chegada do Ano Novo Chinês
Tendo sido atingido o pico de infecções no período do Natal, e numa altura em que 60 a 70 por cento da população já foi atingida pela covid-19, a secretária espera ainda uma maior recuperação aquando da chegada do Ano Novo Chinês. “Atingimos o pico, e a linha está a começar a descer. Dia 1 já notámos uma certa estabilidade nas infecções locais e no Interior da China. Esperamos que haja uma retoma da economia e da circulação de pessoas no período do Ano Novo Chinês”, adiantou.
Resposta suficiente
De entre a população, estiveram infectados cerca de 70 por cento dos professores, tendo sido registada uma percentagem semelhante junto dos profissionais de saúde. Ainda assim, Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), frisou que estes são “dados apurados segundo as estatísticas disponíveis, pelo que não podem ser considerados conclusivos
Alvis Lo adiantou ainda que foram aumentadas 700 camas em unidades de isolamento no Centro Hospitalar Conde de São Januário, Centro Clínico de Saúde Pública do Alto Coloane e no Dome, a fim de dar resposta ao elevado número de doentes covid-19. O responsável frisou que, neste momento, os SSM “têm capacidade suficiente de resposta” ao surto.
Nos últimos dias foram encaminhadas para consultas externas comunitárias duas mil pessoas, tendo sido atingido o número de 400 ambulâncias por dia nas urgências do hospital público, onde
“Cada país tem os seus critérios para definir mortes por covid mas nós conformamo-nos com a definição feita pelo nosso país: se uma pessoa com uma doença estiver infectada e houver uma disfunção pulmonar e respiratória, entendemos que é uma morte causada pela covid. Fazemos uma diferenciação nos casos dos portadores de doenças crónicas ou graves no final da vida, caso fiquem infectadas”, disse Alvis Lo.
O director dos SSM salientou que “temos muitas fontes de infecção, e há pessoas que faleceram por causa da covid ou outras doenças. De uma forma objectiva podemos dizer que houve muitas infecções, mas é complicado distinguir se a causa de morte se deveu à covid. Sabemos que muitos não declararam que estavam com covid”, adiantou o director dos SSM. Questionado sobre os casos de pessoas que foram encontradas mortas nas suas casas, Alvis Lo referiu que “podem ser muitas as causas”.
Relativamente aos serviços funerários, “pode haver uma saturação” dadas as “grandes dificuldades no transporte dos corpos para o Interior da China, que não era possível devido à infecção dos próprios trabalhadores”. “Sabemos que mais pessoas morreram, os familiares também estavam doentes e cerimónias foram adiadas, pelo que houve uma sobreposição nas marcações”, apontaram as autoridades, tendo sido feita a promessa de realização dos funerais pendentes até ao Ano Novo Chinês. Andreia Sofia Silva
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Alvis Lo afirmou que neste momento, os SSM “têm capacidade suficiente de resposta” ao surto
OLGA SANTOS
A GASTRONOMIA com características chinesas não se resume a uma arte em que os ingredientes são misturados com mais ou menos ciência, é muito mais do que isso, já que “as características chinesas” indicam uma filosofia que apresenta os valores essenciais da cultura chinesa, os princípios por que os chineses se regem e as ideias-matriz deste povo tão sui generis, que alia com grande sabedoria filosofia à língua e esta, por sua vez, aos ingredientes de modo a fornecer uma orientação existencial gastronómica que comanda em termos teóricos e práticos a vida e a saúde dos chineses, já que quem come bem, quer dizer, com atenção ao valor simbólico da culinária, poderá usufruir de uma vida longa e muito salutar. Haverá melhor filosofia do que esta: caminhar pela vida corretamente sem tropeçar a cada passo nas doenças que a falta de saber gastronómico pode atrair?
A proposta aqui deixada é se pesquise o simbolismo gastronómico em algumas das principais festividades chinesas.
Aniversário da Humanidade: homofonias linguísticas
De acordo com a tradição chinesa, os seres humanos, além de gozarem o seu segundo aniversário à nascença, possuem um aniversário a mais, no sétimo dia do Ano Novo Chinês1, no qual comem alface não cozinhada e peixe cru, sobretudo carpa, assentando as razões mais essenciais numa filosofia da linguagem simbólica, já que o caracter para fresco ou cru é shēng (生), que também significa “vida” e “crescimento”, por isso “ comer vegetais frescos e peixe cru simboliza uma vida longa e próspera.” (Tan, 1997: 9). Além disso, um dos nomes para alface em chinês é shēngcài (生菜), que significa “vegetal cru” e por jogo homófono “vida e riqueza”. Há ainda a considerar que peixe, em chinês yú (鱼/魚) , é homófono de yú (余/餘) de “excesso”, que vem sempre a propósito e rima com prosperidade.
O simbolismo-gastronómico da Festividade do Ano Novo Chinês No Ano Novo chinês Xīnnián (新年), a principal festividade dos chineses, também conhecida pela Festividade da Primavera (春 节/莭Chūnjié), celebra-se o início de um novo tempo, repleto de esperança e oportunidades para todos, bem como a reunião familiar. O novo de tempo “com tudo de bom e a correr às mil maravilhas” (万/萬事如意Wànshì rúyì) deverá ser devidamente aproveitado e preparado por um conjunto de gestos rituais, que incluem naturalmente a gastronomia, viabilizadora da união familiar em torno de uma mesa tão redonda (e unida) como alguns dos principais petiscos a servir. Na Véspera do Ano Novo, correspondente à Consoada cristã, dá-se o grande encontro familiar2, denominado a Reunião do Ano (团年, Tuán nián), em que por tradição até os ancestrais participam, sendo-lhes reservado um lugar à mesa, ofertando-lhes a comida da sua preferência, toalhas para limpar o rosto e cigarros (Pires, 2018: 164/166). E se na refeição da véspera do ano novo se pode comer tudo, já no primeiro dia do ano é dada preferência a uma ementa vegetariana, porque é considerado muito pouco auspicioso entrar o ano a matar animais. Contudo, esta tradição tem vindo a ser esquecida, sendo substituída em muitas
famílias por um encontro num restaurante para um variado iam-chá (饮茶, yǐn chá3), que numa tradução literal significa “beber chá”, mas na realidade é uma refeição não tanto com pratos mas com petiscos muito variados.
É através da comida que se presta homenagem aos antepassados e aos deuses durante a Festividade do Ano Novo Lunar, há, no entanto, algumas diferenças nas homenagens. Enquanto aos antepassados se oferece sempre comida temperada, e no menu não pode estar ausente o arroz, já os deuses são agraciados com o mesmo género de comida, à excepção do arroz, representante do sustento e da abastança, e sem temperos. Serão então cinco espécies de comida, cinco taças de vinho e cinco e de chá a figurar entre as dádivas. Porém, para as divindades devem constar 10 pauzinhos no altar.
Além disso, o chefe de família agradece no altar ou tabuleta ancestral a proteção dos antepassados, presenteando-os com cinco chávenas de vinho de arroz, que podem ser substituídas por uísque ou conhaque, cinco chávenas de chá e cinco pares de pauzinhos, já que o cinco simboliza a organização cósmica e, portanto, fornecendo a ordem dos elementos em todas as direções.
O jantar da Consoada chinesa deve ser abundante, de forma a permitir sobras, que ao transitarem de um ano para o seguinte simbolizam a riqueza material e o excesso que foi transportado para o novo tempo. O que não pode faltar à ceia de Ano Novo é o peixe cru yúshēng (鱼生): “o peixe é comido para longa vida e abundante riqueza.” (Tan, 1997: 21).
A fim de se compreender o que traz a sorte à mesa chinesa, é preciso nunca perder de vista o sentido e o simbolismo das palavras e respetivos tons. Assim, por razões de fortuna linguística não devem faltar a uma mesa de Ano Novo auspiciosa os seguintes ingredientes: ostras, que em Cantonense se pronunciam ho see (蚝/蠔)4, figurando desta forma uma “ocasião propícia”; algas (发/發 菜, fàcài), que nos evocam a ideia de prosperar ou, até mais literalmente, de “crescer a riqueza”. Não podem estar ausentes do banquete festivo cogumelos (冬菇, dōnggū) , a representar a realização dos desejos de Este a Oeste; tâmaras ou jujubas (红枣/紅棗, hóngzǎo), que devido a cor vermelha (红/紅, hóng) simbolizar prosperidade e (枣/棗, zǎo) ser fruta homófona de “manhã cedo”, (早, zǎo), nos remetem para o sentido de “a prosperidade vem cedo”, caso se prefira, “está a chegar”; ou sementes de lótus, (莲/蓮子, liánzǐ), que também por um jogo homófono com lián (连/連), significando este caractere” ligação” ou “sucessão”, prometem descendência ou continuação da família. A rematar o desfile alegórico de acepipes encontramos o bolo de Ano Novo (年糕, niángāo), cuja homofonia perfeita com “alto” (高, gāo) de desperta nos convivas a vontade de ascender socialmente e ter melhor status no ano que está a entrar, sem perder de vista a união familiar, uma vez que o bolo é redon-
Simbolismo na gastronomia
Ana Cristina
do, de modo a apelar ao sentido de família e à amizade eterna, dada a sua massa aglutinadora, além de a uma vida doce, como requer o açúcar que o constitui.
A um outro nível simbólico não linguístico e mais intuitivo e directo, por assentar na figuração dos elementos comestíveis, marcam presença o arroz (米, mǐ), a representar a riqueza devida à proliferação dos grãos, e a massa (面条/麵條, miàntiáo), simbolizando, pelo seu comprimento, a longevidade.
A compor o cenário culinário há ainda uma travessa redonda ,dividida octogonalmente, que devido à sua forma física nos remete para o número oito (八, bā), cujo simbolismo linguístico, por homofonia imperfeita, evoca “crescer” ou “prosperar” (发/發, fà). Nada na travessa figura ao acaso, já que está recheada de ingredientes propícios, como sejam os bolos (糕, gāo) , a apelar à elevação social; certos frutos secos como as tâmaras (枣/棗子, zǎozǐ), onde a boa sorte também pode chegar mais cedo na forma de filhos (早 子, zǎozǐ); ou ainda sementes de melão, simbolizando descendência (瓜子兒, Guāzǐ er), mais pela sua forma física, já que são muitas e douradas, estando implícito o sentido de que a progenitura é a verdadeira riqueza.
Ao longo de toda a festividade os amendoins também se encontram em lugar de destaque, porque representam a saúde, sendo, em sentido literal “as flores da vida” (花 生, huāshēng) e, por extensão de sentido a partir da observação, “o fruto que cresce da terra” (长/長生果, Chángshēng guǒ) , expressão que pode ser traduzida por “o fruto da longevidade”.
Há um outro nível de simbolismo associado aos elementos comestíveis que conjuga forma, sabor, cor e linguagem. Importantes frutos não apenas se comem como também cumprem funções decorativas essenciais, já que ao serem espalhados pelas casas ou figurarem à entrada das moradias e até de estabelecimentos comerciais, chamam a fortuna. Ora pensemos nos peixes vermelhos, nos peixes dourados ou nas laranjas. Estas últimas em Cantonense são gam (柑) , criando a possibilidade de estabelecer uma relação homófona com ouro, que também se diz gam (金)5, cujo som é, de novo, homófono de doce gam (甘). Logo, as laranjas pela cor, sabor, formato e língua transportam consigo a promessa de uma vida doce e rica.
Em situação quase idêntica está a tangerina, cuja nota dissonante se encontra na língua, já que o caractere para tangerina é kat (橘)6, que em Cantonense estabelece homofonia com “sorte”, ou seja, kat (吉)7
Recorde-se que na religião popular ou tradicional se multiplicam as oferendas comestíveis a divindades. É até usual pedir proteção não apenas entregando os cinco frutos no altar das oferendas, mas indo um pouco mais longe pela altura do 23º dia do 12º mês lunar chinês, quando é suposto o Deus da Cozinha8 (灶君, Zào Jūn), que reside na cozinha das famílias chinesas, ir apresentar o relatório
anual das atividades familiares à suprema divindade do panteão chinês, o Imperador de Jade Yùhuáng Dàdì (玉皇大帝). Nessa data, é o melaço ou os doces glutinosos que figuram em lugar de destaque, com os quais se unta a boca dele ou se procede a imersão do retrato da divindade em vinho para que o relatório entregue pelo emissário vá para o Céu o mais condescendente possível, a fim de que: “Chou Kuan não fizesse um relatório ‘amargo’ ao imperador celestial ”(Jorge, Cecília. 2005: 87).
Rituais culinários
na Festividade das Lanternas
A Festividade do Ano Novo Lunar encerra com uma outra festa, a das Lanternas no 15º dia, com a primeira lua cheia do ano. O sinólogo macaense Luís Gonzaga Gomes (1907-
1976) em Festividades Chinesas (1953), afirma ser provável que a Festa das Lanternas tenha surgido com culto do Imperador Wudi (武帝 Wǚdì, 140-86 a.C) da dinastia Han à divindade da Primeira Causa (太乙神 Tàiyǐshén). Desta forma, a colocação de lanternas vermelhas acesas e ramos de abeto nas portas teriam como objetivo atrair a prosperidade através das luzes e a longevidade pelos ramos. (Gomes, 1953: 183) Refere, ainda, que o Imperador da dinastia Tang Ruizong (唐睿宗 Táng Ruìzōng, 662-710) terá mandado decorar uma frondosa árvore de mais de 36 metros de altura com 50.000 lanternas, com as mais variadas formas, esta possuía um aspeto “tão feérico que ficou sendo conhecida na história com o nome de árvore igniscente” (Gomes, 1953: 184).
Nesta festividade à primeira lua cheia, Yuan Xiao (元宵) , que de tão redonda, simboliza na perfeição a união familiar, o amor e o casamento, não podem faltar as doces bolinhas de arroz glutinoso recheadas em caldo, as tang yuan9 (汤圆/湯圓, tāngyuán ), cuja doçura pegajosa representa a união familiar eterna, reforçada pelo simbolismo das lanternas, cada qual contando por um membro da
Este espaço conta com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, sendo que
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JOHN THOMPSON, SENHORAS MANCHUS À MESA, 1916
gastronomia chinesa
Cristina Alves
família e, portanto, significando a felicidade e a longevidade. Dantes, em certas províncias, caso as famílias desejassem mais filhos “pendurariam lanternas extra” (Tan, 1997:36).
A festividade de Outono, a do Bolo Lunar
No 15º dia do 8º mês lunar, recorda-nos Leonel Barros, celebra-se a Festividade de Outono, Tchong Tchau Tchit (中秋节, Zhōngqiū jié ), o equinócio ligado ao final das colheitas, a abrir uma ascendência do período Yin (阴, yīn), em que o princípio feminino comanda apelando ao repouso da terra. A festividade calha em dia de lua cheia. Diz-nos Barros “A Lua redonda simboliza, portanto, além da feminilidade, a união da família, razão pela qual os familiares mais afastados regressam
ao lar para celebrarem a festividade em conjunto” ( 2003:66).
À semelhança do que sucede durante a Festividade das Lanternas, que também tem como protagonista principal a Lua, encontramos lanternas espalhadas pelos parques e nas mãos de adultos e crianças de vários formatos e materiais, repletas de simbolismo, onde por exemplo, as lagostas representam a felicidade e a fortuna, entre aves, coelhos e borboletas pujantes de sentidos figurativos. E se na festividade das lanternas encontramos umas bolinhas de arroz glutinoso, muito redondas, mergulhadas em calda, na Festividade do Outono somos contemplados com magníficos bolos lunares, também eles redondos para representarem a lua e a união familiar e até um pouco mais, já que como nos lembra Leonel Barros eles serviram para durante a dinastia Mongol libertar o povo dos invasores mongóis, que a título de emissários do Imperador praticavam todo o tipo de desmandos nas casas chinesas.10 Assim no 15º dia da 8ª lua foi colocada uma mensagem dentro de cada bolo apelando à revolta popular. “todos os homens válidos deviam comparecer na praça pública” (2003:70). O que de facto aconteceu foi atra-
vés de um bolo, cujo primeiro sentido era o da união familiar, os chineses se viram livres dos invasores mongóis, libertando a China do jugo estrangeiro. Quanto ao bolo, o principal protagonista desta festividade11, também é chamado em Macau, “bolo bate-pau”, sendo distribuído por amigos e vizinhos e não apenas aos familiares. Segundo a descrição de Gonzaga Gomes, os bolos possuem uma farinha de cor acinzentada como a lua, sendo recheados com toucinho e presunto; com massa de feijão; com pevides, frutos secos, tais como pinhões e amêndoas, cascas de tangerina e açúcar ou com sementes de lótus (1953: 231). São ainda constituídos por uma gostosa gema de pato ao centro simbolizando a lua. Em muitos se pode ler “Coelho Lunar” ou “Rã Lunar”, aludindo à fuga da Terra da que viria a ser conhecida por Divindade da Lua, Sèong Ngó (嫦娥 Cháng´é12), após ter ingerido a pílula da imortalidade, conhecida por “Droga das Fadas”, Sin Iéok(仙药/薬 Xiān yào) sem aguardar pelo seu consorte, o Divino Archeiro, Hâu-Ngâi (后 羿, Hòu Yì). Como punição de não ter esperado pelo marido para partilhar o elixir voou para a Lua foi transformada pelos deuses em rã de três pernas. Já o marido, saudoso, voou para o Sol, onde construiu um palácio. Eles são os vetustos representantes das forças primordiais, masculina e feminina. Vivem separados, mas encontram-se sempre, de acordo com a versão de Gonzaga Gomes no 15º dia da 8ª lua, razão pela qual a Lua então irradia brilho e felicidade. Também a almejada imortalidade, é concedida através da ingestão de uma pílula fabricada pelo Coelho de Jade num almofariz com o seu pilão, esta é ainda conhecida pelo nome de “Elixir de Jade”, em termos ocidentais, a “pedra filosofal”, que cura todos os males, sendo feita com sumo de limão, miolos de rã e casca de Cássia, árvore doadora da imortalidade. (Gomes, 1953: 243) Por tradição, montava-se um altar ao ar livre, um hino à unidade familiar, onde figuravam cinco pratos com frutos esféricos em homenagem à lua, tais como maçãs, pêssegos, uvas, toranjas, melões e romãs, cujas grainhas representavam grande descendência e prosperidade, bem como treze bolos lunares a constituírem o ano lunar “o completo ciclo da felicidade.” (Gomes, 1953: 236).
Filosofia culinária
Diz-nos António Pedro Pires em Festividade do Ano Novo Lunar “A preocupação, quase obsessão pela comida, é um padrão da cultura do povo chinês.” (2018:279). Assim sendo devemos entender a própria culinária como uma linguagem que traz consigo as suas mensagens a decifrar pelos convivas. Pires chama-nos a atenção a dificuldade de muitos ocidentais em compreenderem esta postura cultural, dizendo que nada de especial sucedeu nas refeições chinesas para que foram convidados “aquelas iguarias, partilhadas eram a própria mensagem, isso é algo muito claro para um chinês” (Pires, 2018: 281).
A comida indica, em termos sociológicos o status do anfitrião, quanto mais cara e rara,
as opiniões expressas no artigo são da inteira responsabilidade dos autores. https://www.cccm.gov.pt/
como por exemplo, ninhos de andorinha, barbatana de tubarão, lagosta, etc., tanto mais importante é aquele que convida e o que se quer celebrar no encontro com o convidado. Porém, a comida é um instrumento de comunicação a vários níveis. Através dela comunicamos com a família, com os membros da sociedade humana, bem como com os todos os outros da sociedade divina, antepassados e deuses. Chang13 afirma “uma das melhores formas de chegar ao coração de uma cultura é através do estômago” (1977:4) Sabe-se, por exemplo que em Macau, na culinária macaense, predomina, à imagem e semelhança da sociedade, uma gastronomia de fusão, que foi elevada em 2017 a património imaterial da humanidade, tendo o Território sido distinguido com o honorífico título de cidade criativa no ramo da gastronomia.
Voltando à filosofia da culinária chinesa, não podemos esquecer o chá, que acompanha todas as festividades e refeições chinesas, sendo a bebida nacional da China, porque “desperta, revigora, reconforta e trata algumas doenças” (Pires, 2018: 316/7), ou seja, cumpre funções sociais imprescindíveis em termos de saúde pública já que concede, saúde , vida, longevidade. O chá traz associadas duas figuras de grande relevo na cultura chinesa, uma, um imperador mítico, Shen Nong (神农, 2737 a.C), patriarca da agricultura e da medicina, terá descoberto o chá por acaso, enquanto descansava, quando umas folhas caíram numa panela de água a ferver, esta foi ingerida e pouco depois reconhecida a sua fragrância e importância para combater o efeito de certas ervas venenosas que ele havia engolido nas suas experiências médicas. À lista de ilustres inventores do chá, junta-se o monge Bodhidarma, o introdutor do Budismo Chan na China no século VI. Também ele recorreu ao chá para não se deixar adormecer nas suas práticas meditativas. Mais, a própria planta do chá neste mito terá tido origem nas pálpebras cortadas do monge que ao cabo de nove anos de meditação se deixou dormir. Quando acordou, para se punir arrancou as pálpebras que, lançadas à terra, terão proporcionado esta planta tão revigorante.
Neste espaço não houve a intenção de apresentar exaustivamente todas as festividades, mas apenas colher exemplos nas principais, a fim de que fossem fornecidas as pistas para decifrar valores essenciais do “coração-mente” da gastronomia com características chinesa. A filosofia existencial, assinalada pela culinária, marca como linhas orientadoras deste modo de pensar a união familiar, simbolizada pela forma redonda dos bolos, à qual se alia uma complexa filosofia da linguagem assente no simbolismo do caractere para bolo, onde vamos encontrar a aspiração à elevação social e à prosperidade, bem como à riqueza presente nos caracteres para legumes, algas e arroz; ou, ainda, à longevidade trazida quer pela forma de alimentos como a massa, quer pelas sementes que, mais uma vez entram no jogo linguís-
tico para nos recordar a importância dos filhos, ou melhor da descendência. A esta orientação gastronómica não poderiam faltar os princípios orientadores da sorte e da paz, presentes em frutos, como vimos na laranja, ou, como só agora vemos, na maçã (苹/蘋,píng), que nos proporciona a paz (平, píng) , por homofonia perfeita, ou a longevidade nos pêssegos, tudo isto regado com muito chá que dá saúde e longa vida, sendo favorável ainda ao escrutínio analítico e à meditação como os mitos e o caractere indicam.
Referências Bibliográficas
• Alves, Ana Cristina. 2022. Cultura Chinesa, Uma Perspetiva Ocidental. Coimbra: Almedina, Centro Científico e Cultural de Macau
• Barros, Leonel. 2003. Templos, lendas e Rituais – Macau. Macau: Associação Promotora da Instrução dos Macaenses.
• Gomes G., Luís. 1953. Festividades Chinesas Macau: Notícias de Macau.
• Jorge, Cecília. 2005. 諸神靈•Deuses e Divindades •Gods and Deities. Macau: 郵政 局•Direcção dos Serviços de Correios•Macao Post.
• Pires, António Pedro. 2018. Festividade do Ano Novo Lunar em Macau. Macau: Instituto Cultural do Governo da R.A.E de Macau
• Tan Huai Peng. 1997. Chinese Festivals. Ilustrações Leong Kum Chuen. Singapura, Kuala Lumpur e Hong Kong: Federal Publications.
Notas
1 O primeiro dia é o aniversário das galinhas; o segundo dia, dos cães; o terceiro, dos porcos; o quarto, dos carneiros; o quinto, das vacas; o sexto, dos cavalos; o sétimo da humanidade e o oitavo dos grãos.
2 Como nos recorda António Pedro Pires em Festividade do Ano Novo Lunar em Macau “A família e não o indivíduo é a unidade social básica na China. Todas as festividades são essencialmente festas de família (…) é à volta da mesa que a sua unidade se exprime.” (Pires, 2018: 164).
3 Eis o modo como se pronuncia “beber chá” ( 饮茶) em Mandarim.
4 Ostra em mandarim diz-se: háo (蚝/蠔).
5 Laranja em mandarim a palavra ouro diz-se jīn (金).
6 Tangerina em mandarim lê-se jú (橘)
7 Verifica-se uma homofonia imperfeita com “sorte” em Mandarim que se diz jí (吉).
8 Em Cantonense o nome do Deus do Fogão pronuncia-se Zhou Kuan. Houve um tempo, como nos explica Cecília Jorge, que era uma divindade maior, considerado o “Supervisor dos Destinos” no que respeita à longevidade e prosperidade. Atualmente confere bênçãos à família, boa fortuna, uma rigorosa distinção entre boas e más ações e protege contra incêndios.
9 Os recheios mais usuais são: feijão vermelho, sementes de sésamo e amendoim.
10 Já Luís Gonzaga Gomes apresenta em Festividades Chinesas duas versões, a que se acaba de referir e uma outra, em que o déspota era apenas um tiranete chinês que oprimia os seus concidadãos. (1953:232).
11 Há outros manjares festivos, como inhame, caracóis e galinhas, estas últimas para sacrificar às divindades, mas o bolo lunar é o rei da festa.
12 O Nome da Divindade da Lua em Mandarim.
13 K.C. Chang. 1977. Food in Chinese Culture. Anthropological and Historical Perspectives Yale: Yale University Press, Apud, António Pedro Pires (2018:282).
VIA do MEIO 6.1.2023 sexta-feira 7
Sejam todos bem-vindos
A abertura que se faz sentir por toda a China chega a Hong Kong no próximo domingo com a circulação sem restrições entre a antiga colónia britânica e o Interior do país
HONG Kong vai reabrir a fronteira com a China no domingo, permitindo que dezenas de milhares de pessoas viajem entre os dois lados diariamente, sem quarentena, anunciou ontem o líder da região especial chinesa.
“Quando os viajantes entrarem no continente, já não vão precisar de passar pela quarentena”, disse o chefe do Governo de Hong Kong, John Lee, em conferência de imprensa.
A partir de domingo, a China irá também aumentar gradualmente o número de voos entre Hong Kong e o continente e suprimir o limite imposto ao número de passageiros para voos a partir da cidade
Os postos de controlo da fronteira terrestre e marítima da cidade com a China estão em grande parte fechados há quase três anos, ao abrigo da estratégia “zero covid”
PANDEMIA PEQUIM PEDE À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE PARA ADOPTAR POSIÇÃO IMPARCIAL
AChina pediu ontem à Organização Mundial da Saúde que adopte uma postura “justa” em relação à covid-19, depois de a organização ter criticado a avaliação de Pequim sobre a epidemia.
O país suspendeu sem aviso prévio no início de Dezembro a maioria das suas medidas contra a covid-19, que permitiam que a sua população ficasse amplamente protegida do vírus desde 2020.
Desde então, enfrentou o pior surto de casos, com hospitais e crematórios parecem sobrecarregados.
No entanto, as autoridades relatam muito poucas mortes relacionadas com
da China, que restringiu a entrada no país, isolou pessoas infectadas e fechou áreas com surtos.
De volta ao trabalho
Esta reabertura deverá proporcionar um impulso muito necessário à economia de Hong Kong, de acordo com observadores.
O anúncio surgiu quando a China está também a flexibilizar alguns dos controlos antivírus mais restritos do mundo. A partir de domingo, a China irá também aumentar gradualmente o número de voos entre Hong Kong e o continente e suprimir o limite imposto ao número de passageiros para voos a partir da cidade, de acordo com um comunicado do Governo chinês.
Durante a primeira fase da reabertura, quatro postos de controlo fronteiriços, fechados durante quase três anos, vão retomar as operações, elevando o número de postos de controlo em funcionamento na cidade para sete, disse Lee. Actualmente, apenas três postos estão a funcionar.
O Governo de Hong Kong vai decidir quando alargar a reabertura da fronteira depois de rever a situação com as autoridades continentais, acrescentou o responsável.
Ao abrigo de um sistema de quotas, até 60.000 pessoas podem viajar diariamente de Hong Kong para a China. O mesmo limite é também imposto ao número de viajantes que entram na cidade vindos do Norte, indicou Lee.
Os residentes têm de passar pela imigração para passar entre os dois territórios, mas as restrições fronteiriças, impostas desde 2020, têm prejudicado a economia de Hong Kong, especialmente o sector do turismo.
MAR DO SUL CHINA E FILIPINAS GEREM DISPUTAS ATRAVÉS DE “CONSULTAS AMIGÁVEIS”
a covid-19, após uma polémica mudança na metodologia de contabilização dos casos.
“Os números actuais divulgados pela China sub-representam o verdadeiro impacto da doença em termos de internamentos hospitalares, internamentos em cuidados intensivos e, principalmente, em termos de mortes”, estimou na quarta-feira Michael Ryan, responsável pela gestão de emergências de saúde da OMS.
“Esperamos que (…) a OMS mantenha uma posição baseada na ciência, objectiva e imparcial e desempenhe um papel activo na resposta global aos
desafios da epidemia”, disse, por seu lado, aos repórteres uma porta-voz da China.
Mao voltou a assegurar que o seu país partilhou “informações e dados relevantes” sobre a epidemia de covid-19 e sublinhou a “estreita cooperação” entre a China e a OMS.
A partir de agora, apenas as pessoas que morreram directamente de insuficiência respiratória ligada à covid-19 são contabilizadas nas estatísticas chinesas.
A China, que tem 1,4 mil milhões de habitantes, registou apenas 23 mortes por covid-19 desde Dezembro, apesar da onda de contaminação sem precedentes há três anos no país.
OPresidente chinês, Xi Jinping, e o homólogo filipino, Ferdinand Marcos Jr, concordaram ontem em reforçar os laços económicos e lidar com as disputas territoriais no Mar do Sul da China por meio de “consultas amigáveis”.
Segundo um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, emitido após um encontro entre os dois chefes de Estado, em Pequim, os dois líderes concordaram em “continuar a lidar adequadamente com as questões marítimas por meio de consultas amigáveis”.
Xi e Marcos supervisionaram a assinatura de uma série de acordos, incluindo
uma linha directa entre os ministérios dos Negócios Estrangeiros dos dois países, para evitar erros de cálculo no Mar do Sul da China.
Pequim reivindica quase todo o Mar do Sul da China, apesar das reivindicações do Vietname, Filipinas, Malásia e Brunei. Nos últimos anos, a China construiu várias ilhas artificiais, capazes de receber instalações militares em recifes disputados pelos países vizinhos.
De acordo com o gabinete de Marcos, Xi prometeu prestar a assistência às Filipinas em áreas como a agricultura, energia e infraestruturas. Marcos disse que as Filipinas e a
China devem reforçar a sua parceria para tornar ambos os países “estáveis e fortes” e manter a região como uma força motriz da economia mundial.
A primeira visita de Estado de Marcos fora do sudeste asiático é vista como essencial para perceber se Manila consegue encontrar um ponto de equilíbrio entre os laços económicos com Pequim e a sua tradicional aliança com os Estados Unidos no âmbito da segurança.
A China é o maior parceiro comercial das Filipinas. Nos primeiros nove meses do ano, as trocas ascenderam a 29,1 mil milhões de dólares.
8 china 6.1.2023 sexta-feira www.hojemacau.com.mo
COVID-19 HONG KONG REABRE FRONTEIRA COM O RESTO DA
CHINA DOMINGO
BLOOMBERG
Zhou Yi, conhecido como o “Rei do Açúcar” na China, apresenta, pela primeira vez em Macau, uma exposição com esculturas feitas com fondant, uma massa de açúcar fundido. O público poderá ver esta mostra permanente de cinco esculturas no espaço “Infinite Harmony” no Spectacle, no MGM Cotai
Éuma forma doce de começar um novo ano, aliando a doçaria à arte. O MGM Cotai apresenta, desde quarta-feira, a exposição do artista Zhou Yi, conhecido na China como o “Rei do Açúcar”, devido à sua capacidade de fazer grandes e belas esculturas com fondant, uma massa de açúcar fundido muito utilizada na doçaria.
As cinco obras podem ser vistas de forma permanente no espaço Infinite Harmony, no Spectacle, sendo esta a primeira vez que Zhou Yi expõe em Macau. Apresentam-se cinco grandes esculturas feitas com materiais habitualmente usados para fazer bolos trabalhados com mestria e talento, recorrendo a técnicas utilizadas na modelagem de alimentos como é o caso da pintura em spray ou esculturas feitas com massa de pasteleiro. Ao mesmo tempo, revelam-se traços da cultura chinesa.
Segundo um comunicado, estas esculturas foram criadas em exclusivo para a mostra do MGM Cotai, tendo temas relacionados com o lado clássico da cultura chinesa, como é o caso de “Três Livros
MGM “REI DO AÇÚCAR” EXPÕE OBRAS NO COTAI
Doces esculturas
Estas esculturas foram criadas em exclusivo para a mostra, tendo temas relacionados com o lado clássico da cultura chinesa, como é o caso de “Três Livros e Seis Rituais”, a cultura folk da região de Lingnan, as danças do leão ou a tradição do Yum Cha
e Seis Rituais”, a cultura folk da região de Lingnan, as danças do leão ou a tradição do Yum Cha, uma das refeições mais conhecidas da gastronomia chinesa.
Estes trabalhos “rejuvenescem verdadeiramente as vivências e a história [da China], levando a arte a um novo nível”. “A exposição leva o público a explorar o charme do património imaterial e cultural,
bem como a cultura chinesa, ao mesmo tempo que conta as grandes histórias chinesas através de um artesanato incrível dos dias contemporâneos”, acrescenta-se ainda na mesma nota.
História e cultura
A exposição tem curadoria do MGM e da marca Sugar King e foi preparada durante um ano. O autor afirmou que “através dos temas artísticos, que vão desde as tradições folk chinesas aos mitos e figuras históricas, espero poder mostrar a cultura chinesa tradicional para um público mais alargado através do meio artístico bastante popular, a arte com fondant. Acredito que a cultura chinesa necessita de ser vista e reconhecida a fim de realizar o rejuvenescimento da nossa nação”, disse Zhou Yi.
A carreira deste artista do açúcar começou com a aprendizagem da escultura chinesa e o trabalho com massa de pasteleiro, tendo depois explorado sozinho a arte feita com fondant e outras técnicas de modelagem de alimentos, a fim de os transformar em obras de arte.
Hoje é um artista reconhecido internacionalmente nesta área, tendo já ganho muitos prémios e distinções, como é o caso do Best Award [Melhor Prémio] no evento “Cake International” [Bolo Internacional] em 2017. Zhou Yi ganhou também, no ano passado, o prémio National Culture Inheritance [Herança da Cultura Nacional]. A.S.S.
CREATIVE MACAU NOVA EXPOSIÇÃO ABRE PORTAS
CHAMA-SE “Geometric and Tetrahedron in paper engineering” [Geometria e o Tetraedro na engenharia do papel] e é a nova exposição de Lam Iam Sang que pode ser vista, a partir de sábado, na galeria da Creative Macau. A mostra onde, tal como o
nome indica, a geometria assume um papel principal, pode ser vista até ao dia 21 deste mês. A inauguração acontece sábado às 16h.
“Na geometria, o tetraedro, também conhecido como uma pirâmide triangular, é um poliedro composto por quatro faces
A PARTIR DE AMANHÃ
triangulares, seis lados e quatro vértices. Tal como um poliedro convexo, o tetraedro pode ser dobrado a partir de um único pedaço de papel.” É esta a base para esta exposição, cujas obras foram feitas com recurso a ferramentas 3D e design gráfico,
incluindo manipulação de fotografias.
Nascido em Macau, Benson Lam estudou e trabalhou em Hong Kong, Milão, Barcelona e Nova Iorque nos últimos dez anos. Além disso, Benson Lam esteve 15 anos na China, em cidades como Shenzhen
e Pequim, entre outras. O artista tem uma estreita ligação com os ateliers de arquitectura europeus, tendo experiência nas áreas do design de equipamento e de interiores e merchadising visual, acrescentando ainda a modelagem do papel a três dimensões.
eventos 9 sexta-feira 6.1.2023 www.hojemacau.com.mo
UM DISCO HOJE
CARTOLA | “CARTOLA”
Cartola é o disco do músico brasileiro conhecido pelo mesmo nome. Angenor de Oliveira também conhecido por Cartola ou mesmo poeta das rosas, tem neste disco temas que imortalizaram algumas das suas composições. “O mundo é um moinho” é o tema de abertura e que tem sido eternizado por músicos como o Ney Matogrosso. Um disco em que o vinil confere um som particular, original e que mostra alguns dos mais bonitos poemas e composições da música popular brasileira. Hoje Macau
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf.
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A VITÓRIA DA SOBREVIVÊNCIA
OS AJUSTES radicais feitos pelo Governo de Macau às políticas de prevenção da epidemia fizeram com que, em apenas duas semanas, o número de pessoas infectadas atingisse os objectivos do Governo. Após pouco mais de uma semana de propagação do vírus, a maior parte dos infectados recuperou e ganhou anti-corpos. Mas, para além da criação de imunidade de grupo na população, muitos idosos faleceram neste período. Alguns morreram devido ao frio, outros porque eram doentes crónicos, outros ainda devido à idade muito avançada e, finalmente, alguns morreram de covid-19. Devido ao critério usado para fins estatísticos, o número oficial de mortes por covid é bastante inferior ao estimado pela comunidade. A única prova concreta é o facto de os espaços destinados a velórios só estarem disponíveis para marcação a partir do início de Fevereiro.
O Inverno é a estação em que habitualmente morrem mais pessoas idosas e o Novo Ano Lunar é a época de reunião das famílias. A decisão sobre as medidas de combate à epidemia a adoptar é da responsabilidade do Governo e dos especialistas de saúde. A distribuição de kits de apoio ao combate à epidemia para todos os residentes de Macau, feita pelo Governo da RAE, ajudou a aliviar a severidade das infecções em certa medida, no entanto, estes kits não podem ressuscitar as vidas perdidas. Depois de atravessar esta vaga epidémica, a própria sobrevivência já é uma vitória.
Mas para além do direito à vida, devemos também valorizar a qualidade do nosso dia a dia. Se, com a abertura ao exterior, Macau
Durante a epidemia, se as pessoas quiserem sobreviver, têm de se proteger e de se alimentar bem. Se Macau quiser sobreviver, deve primeiro revitalizar a sua economia e fazer face às despesas
irá recuperar a vitalidade anterior, é uma questão mais complexa do que o combate às infecções.
De acordo com informações de pessoas amigas, as receitas brutas provenientes dos jogos de fortuna ou azar em 2019 atingiram 292,34 mil milhões de patacas. Mais tarde, devido a factores como a pandemia, as medidas anti-corrupção e as restrições à saída de capitais da China continental, bem como a questões relacionadas com as salas VIP dos casinos, as receitas brutas provenientes dos jogos de fortuna ou azar em 2020 foram de 60,32 mil milhões de patacas. Em 2021, as receitas brutas atingiram os 87,54 mil milhões de patacas e apenas 42,2 mil milhões de patacas em 2022. Anteriormente, o Governo da RAE esperava que Macau se tornasse a cidade com a mais rápida recuperação
económica, com uma estimativa de receitas anuais provenientes do jogo na ordem dos 130 mil milhões de Patacas. Infelizmente estas expectativas saíram goradas. É fácil contar histórias com um final feliz, mas, depois dos contos das “Mil e Uma Noites”, o Governo da RAE tem de enfrentar o desafio da realidade. A acção é a única forma de testar a verdade. Para Macau atingir a prosperidade e a estabilidade não se pode recorrer a nobres ascendências, nem à retórica pomposa, ou às leis rigorosas, mas sim à capacidade dos membros do Governo.
Durante a epidemia, se as pessoas quiserem sobreviver, têm de se proteger e de se alimentar bem. Se Macau quiser sobreviver, deve primeiro revitalizar a sua economia e fazer face às despesas. Na qualidade de principal sector económico de Macau, a indústria do jogo deve dar o seu melhor para recuperar a vitalidade. Só voltando a restaurar Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer, se poderá ter oportunidade de impulsionar a recuperação das outras indústrias. 1 +1 + 1 + 1 é igual a 4. Sem a indústria do jogo, os outros quatro sectores terão dificuldade em prosperar.
Há algum tempo, o Governo da RAE afirmou estar confiante de que a receita anual proveniente do jogo atingiria em 2023 os 130 mil milhões de patacas. Na verdade, as estimativas não oficiais apontam para valores na ordem dos cinco mil milhões de patacas, em 2023. A forma de atingir os objectivos é da responsabilidade do Governo de Macau e disso depende a sobrevivência da cidade. Macau precisa de pessoas de acção e não de contadores de histórias.
vozes 11 sexta-feira 6.1.2023 www.hojemacau.com.mo
um grito no deserto Paul Chan Wai Chi
Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
FERRIES LIGAÇÕES COM HONG KONG RETOMAM
DOMINGO
AS ligações marítimas entre Macau e Hong Kong vão ser retomadas no domingo, quase três anos depois de terem sido suspensas devido às medidas de contenção da pandemia, anunciaram ontem as autoridades. “Após coordenações e cooperações entre os Governos de Macau e de Hong Kong, as ligações marítimas entre as duas regiões serão retomadas faseadamente a partir de 8 de Janeiro de 2023 (domingo), facilitando a deslocação dos cidadãos e turistas entre as duas regiões”, de acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA).
Numa fase inicial, a TurboJet e a Cotai Jet vão realizar “diariamente cerca de dez carreiras marítimas de ida e volta”, entre o terminal marítimo de passageiros da Taipa (Macau) e Sheung Wan (Hong Kong), sendo que a primeira viagem se realiza às 09h e a última às 17h30, ambas no sentido de Macau para Hong Kong. “No futuro, as duas operadoras vão avaliar e alterar, em conformidade com a necessidade de transporte marítimo de passageiros, o número de viagens e os pontos de embarque e desembarque em tempo oportuno”, acrescentou a DSAMA.
Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong já tinham retomado na sexta-feira as ligações via marítima, com duas viagens de ida e volta semanais entre o terminal do Pac On, na Taipa, e o Skypier do aeroporto de Hong Kong. As ligações, às sextas e aos domingos, têm uma duração de cerca de 70 minutos e partem às 09:45 do aeroporto de Hong Kong em direção a Macau e às 14:30 de Macau para Hong Kong. As reservas dos bilhetes devem ser feitas “pelo menos dois dias antes da data de partida”, lê-se no portal da TurboJet.
“A vida é como uma sala de espectáculos; entra-se, vê-se e sai-se.”
TÓQUIO ATUM VENDIDO POR 256 MIL EUROS NO PRIMEIRO LEILÃO
DO ANO
Covid-19 Mais duas mortes quarta-feira
As autoridades registaram, quarta-feira, mais duas mortes por covid-19. Tratam-se de dois homens que já tinham um historial de doenças crónicas, com idades compreendidas entre os 74 e os 85 anos, sendo que um deles não tinha qualquer dose da vacina contra a covid-19. Além disso, esta quarta-feira foram ainda diagnosticados 102 casos de covid-19, tendo sido todos encaminhados para isolamento.
Caça ao homem
Dois anos após o ataque ao Capitólio a polícia ainda procura 350 suspeitos
DOIS anos após o ataque ao Capitólio, as autoridades norte-americanas ainda estão à procura de 350 participantes na invasão, além de uma pessoa suspeita de instalar bombas caseiras perto do Congresso um dia antes da insurreição.
Mais de 950 pessoas foram detidas nos últimos 24 meses, segundo dados divulgados ontem pelo secretário da Justiça, Merrick Garland, dois dias antes do segundo aniversário da invasão.
Mais de um terço já foi julgado por acusações que variam da simples invasão a sedição, sendo que 192 receberam penas de prisão, refere o procurador federal de Washington, que supervisiona esta extensa investigação, numa declaração separada.
Para Merrick Garland, o trabalho da justiça ainda não terminou e as autoridades norte-americanas continuam “determinadas em processar
todos os responsáveis pelo ataque à democracia”.
A polícia federal (FBI) procura identificar 350 pessoas suspeitas de terem cometido violência no Capitólio, incluindo 250 suspeitos de ataques contra polícias, e voltou a pedir ajuda à população.
Além disso, o FBI quintuplicou a recompensa, que aumentou de 100 mil dólares para 500 mil euros, por qualquer informação que permitisse a detenção da pessoa que instalou bombas caseiras, no dia 5 de Janeiro de 2021, perto das sedes do Partido Republicano e Democrata.
Estes engenhos nunca explodirem e podem ter sido colocados apenas com a intenção de manter a polícia longe do Capitólio momentos antes do ataque.
“Esperamos [que esta nova recompensa] encoraje o público a olhar novamente para as fotos e vídeos do suspeito”, destacou a polícia federal em comunicado.
Nas imagens surgem um homem de difícil identificação, por estar de capuz, máscara, óculos e luvas.
Investigação
a fundo
A 6 de Janeiro de 2021, várias centenas de apoiantes do então Presidente Donald Trump, incentivados pelo republicano, semearam o caos e a violência no Capitólio, procurando impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais.
A justiça norte-americana tem-se concentrado em quem participou directamente no ataque, que chocou o mundo inteiro, mas o Departamento de Justiça também está a investigar a responsabilidade de Donald Trump e dos seus familiares e equipa.
Desde que Trump anunciou a intenção de se candidatar às presidenciais de 2024, um procurador especial foi nomeado para supervisionar de forma independente as investigações que recaem sobre o magnata.
UM
atum rabilho foi vendido ontem por 36 milhões de ienes (cerca de 256 mil euros) no tradicional primeiro leilão do ano do mercado de peixe de Toyosu, em Tóquio.
O preço dos 212 quilogramas de peixe foi mais do dobro do montante alcançado no ano passado por um atum rabilho, cerca de 121 mil euros, e é o sexto mais alto alguma vez pago no principal mercado grossista de Tóquio, desde o início da recolha de dados em 1999.
A empresa grossista Yamayuki, sediada em Tóquio, e o grupo Ginza Onodera, proprietário de uma cadeia de restaurantes de sushi com uma estrela Michelin e com estabelecimentos na capital japonesa e filiais na China e nos Estados Unidos, fizeram a maior oferta conjunta para o atum.
O peixe foi capturado em águas próximas de Oma, na costa de Aomori, no norte do Japão, onde especialistas dizem ser capturados os melhores peixes para sushi em todo o mundo.
“Queria gerar uma mensagem positiva agora que a pandemia [da covid-19] está a enfraquecer. O preço é ideal para o primeiro leilão do ano”, disse o presidente da Yamayuki, Yukitaka Yamaguchi, de acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo.
O recorde de venda de atum no primeiro leilão do ano continua a ser o registado em 2019, em que um atum rabilho alcançou mais de 2,3 milhões de euros. Na altura, este foi o primeiro leilão a ser realizado em Toyosu, depois de o mercado de peixe ter sido transferido, em 2018, do famoso Tsukiji, no centro de Tóquio, no final de um processo controverso que durou 17 anos.
Ao longo dos últimos 15 anos, o primeiro leilão do ano tem vindo a alcançar preços astronómicos para as melhores peças porque muitos consideram esta uma oportunidade de gerar uma enorme atenção mediática na obtenção de um produto considerado “hatsumono”, ou o primeiro da época, muito valorizado pelo consumidor japonês.
sexta-feira 6.1.2023
PALAVRA DO DIA PUB.
Pitágoras
O FBI quintuplicou a recompensa, que aumentou de 100 mil dólares para 500 mil euros, por qualquer informação que permitisse a detenção da pessoa que instalou bombas caseiras perto das sedes do Partido Republicano e Democrata