Hoje Macau 6 OUT 2016 #3670

Page 1

QUINTA-FEIRA 6 DE OUTUBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3670

MOP$10 AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

FÓRUM MACAU

OS SENHORES DO DINHEIRO

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

GRANDE PLANO

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A lei está na rua

h PÁGINA 4

Inferno Saramago A solução AMÉLIA VIEIRA

MANUEL AFONSO COSTA

ANTÓNIO GUTERRES É O NOVO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU

O DESEJADO Nunca uma eleição para Secretário-Geral das Nações Unidas reuniu tanto consenso. Nenhum país do Conselho de Segurança votou contra António Guterres e treze prestaram-lhe homenagem. Hoje será eleito por aclamação. É um português no topo do mundo. EVENTOS ÚLTIMA

JOSÉ DRUMMOND

OPINIÃO

Alecrim Chineses FERNANDO ELOY

LEOCARDO

UNIVERSIDADE

Fundação estatutada PÁGINA 6


2 GRANDE PLANO

FÓRUM MACAU SECRETÁRIA-GERAL PEDE MAIOR COOPERAÇÃO COM SECTOR PRIVADO

PROGNOSTICOS SO Em tempo de crise, China e Países Lusófonos limpam as armas. As dificuldades em fomentar o comércio também estão relacionadas com a fraca diversificação da oferta

M

ACAU está prestes a acolher a 5ª Conferência Ministerial do Fórum Macau (realiza-se entre os dias 11 e 12 de Outubro), mas os desafios económicos não vão ser esquecidos. Num ano os números do comércio bilateral baixaram dos 132 mil milhões de dólares americanos (dados de 2014), para apenas 9,8 mil milhões de dólares o ano passado. A Angola pediu apoio ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e nem sempre os números do comércio foram animadores. Contudo, em entrevista concedida ontem aos órgãos de comunicação social, os responsáveis do Fórum Macau mostraram-se optimistas quanto ao novo plano de acção a ser traçado em dois dias de reunião. Segundo Xu Yingzhen, nova Secretária-Geral do organismo, será feita uma maior análise às potencialidades da política “Uma Faixa, Uma Rota”. “Vamos coordenar-nos melhor com a política e introduzir os conceitos para uma

´

HOJE MACAU

´

futura cooperação. Bilateralmente e unilateralmente vai ser discutida esta política”, explicou. Apesar da existência de um Fundo de Cooperação e Desenvolvimento, Xu Yingzhen defendeu uma maior participação do sector privado. “Os créditos

preferenciais poderão ser algo para promover a cooperação, mas esta depende do mercado e das instituições privadas. Notámos que há iniciativas do sector privado para participar na cooperação, não apenas do Banco de Desenvolvimento da China mas outros

bancos e instituições financeiras. De uma forma mais sustentada há que haver maior participação do sector privado e não apenas do sector financeiro.” A nova secretária-geral do Fórum Macau quer ainda que sejam destacadas as capacidades

NOVA SECRETÁRIA-GERAL É FLUENTE EM... ESPANHOL

X

u Yingzhen, a nova secretária-geral do Fórum Macau, é fluente em Espanhol e não domina a Língua Portuguesa, idioma que serve de base à instituição que coordena e a toda a cooperação entre os países lusófonos e a China. Ainda assim, Xu Yingzhen garantiu que tal não traz quaisquer condicionantes ao seu trabalho. “Penso que não existem quaisquer obstáculos porque tenho uma comunicação fluida com os meus colegas. Todos os dias temos diálogo sobre o nosso trabalho e o Espanhol é muito parecido com o Português. É um desafio para mim, seria melhor que eu dominasse o Português com a maior brevidade possível. Ainda estou a aprender”, referiu. Para Rita Santos, o facto da nova secretária-geral não falar Português não constitui qualquer problema. “Nesse

aspecto não é importante, porque domina a língua oficial, o Chinês. É uma pessoa com capacidade de liderança e conexões com o Governo Central e organismo ligados a cooperações já delineadas”, disse ao HM. O HM tentou ainda obter outras reacções sobre o facto de Xu Yingzhen não dominar o Português, mas até ao fecho desta edição não foi possível. Xu Yingzhen é licenciada em língua espanhola pela Universidade de Economia e Negócios Internacionais de Pequim, tendo entrado em 1989 para o Ministério do Comércio da China. A actual secretária-geral do Fórum Macau foi directora-geral adjunta do Gabinete para os Assuntos das Américas e Oceânia, com uma passagem pela Câmara do Comércio da China no Chile.

produtivas de cada país. “Talvez possamos usar o Brasil como uma ponte para entrar na América do Sul, Portugal para entrar na Europa e os [outros] países para entrar em África. Podemos pensar novas formas de cooperação mediante consultas.”

AS DIFICULDADES

O último plano de acção do Fórum Macau falava na meta dos 160 mil milhões de dólares americanos em trocas comerciais, valor que nunca foi atingido. Mas Xu Yingzhen mostra-se confiante para os próximos anos. “O ambiente do comércio internacional está em baixo e os preços das mercadorias baixaram imenso. A redução do comércio entre a China e os PLP devem-se a essas razões. Mas tenho esperança que o comércio possa melhorar com uma melhoria do ambiente internacional e de facto existem


3 hoje macau quinta-feira 6.10.2016 www.hojemacau.com.mo

NO FIM DO JOGO Angola, a secretária-geral optou por desvalorizar. “Não creio que isso aconteça, porque existem sempre as necessidades de mercado. Há uma base muito sólida em termos de cooperação. As empresas chinesas têm os seus contactos muitos estáveis com os mercados dos PLP e assim que seja melhorado o ambiente do comércio internacional penso que o comércio bilateral possa voltar à sua tendência de crescimento.”

YUAN VAI FACILITAR

muitas potencialidades para uma futura cooperação no âmbito comercial.” Questionada sobre as consequências negativas que alguns cenários sócio-políticos podem trazer, tal como a crise política no Brasil ou o pedido de resgate de

Vicente de Jesus Manuel, secretário-geral adjunto, lembrou que a conjuntura actual dos países não é das melhores. “As trocas comerciais estão a cair 18 a 19% em relação aos anos anteriores, por isso uma das saídas para reverter a situação é diversificar a economia dos países de língua portuguesa, que são mais exportadores de matéria-prima não processada. Temos o processo de internacionalização do yuan, o que vai facilitar o investimento como também as trocas comerciais”, explicou. “No próximo plano de acção os países vão explorar os benefícios que podem ter em conjunto com a política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, prevendo-se ainda a criação de um plano de acção em relação à capacidade produtiva. A expectativa é maior. As áreas antes acordadas serão reforçadas”, concluiu Vicente de Jesus Manuel. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

AS PROMESSAS QUE A CHINA CUMPRIU • Concedidos 1800 milhões de yuan como crédito preferencial para a zona económica especial e o Instituto Confúcio em Moçambique. Angola recebeu infra-estruturas e o Instituto Técnico-Profissional, bem como um centro de distribuição de energia. Timor-leste recebeu uma escola, enquanto que a Guiné-Bissau ganhou um novo centro de saúde • Fundo de Cooperação e Desenvolvimento resultou em dois empréstimos, estando mais três projectos em fase de aprovação. Há 20 projectos por analisar • Enviados 200 médicos, equipamentos e materiais para África. Angola, Moçambique e Guiné-Bissau foram os países mais beneficiados, sendo que só para este último foram canalizados 30 milhões de yuans para o combate ao Ébola

Tão longe e tão perto Empresários aplaudem delegação em Macau do Fundo de Investimento

O

Fundo de Cooperação e Desenvolvimento do Fórum Macau, criado em 2010 para financiar projectos em Países de Língua Portuguesa, deverá mesmo ter uma delegação no território, apesar de ainda não existir uma data oficial para que isso aconteça. Quanto ao Banco de Desenvolvimento da China também deverá ter uma delegação no território, informação confirmada ontem por Jackson Chang, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), no âmbito de uma entrevista conjunta com responsáveis do Fórum Macau. “O IPIM recebe as dúvidas das PME de Macau. Quando querem apresentar a candidatura precisam de ir a Pequim. Já tivemos reuniões com o Banco de Desenvolvimento da China e no futuro as PME poderão apresentar as suas candidaturas junto do IPIM. O IPIM poderá receber os documentos e depois entregar junto do Banco. No futuro o Banco de Desenvolvimento irá ter uma delegação em Macau para facilitar as candidaturas dos empresários de Macau. Esperamos que possam criar uma representação em Macau”, defendeu. Jackson Chang alertou para a burocracia decorrente da ausência de uma delegação. “As PME tinham de ir a Pequim várias vezes só para apresentar documentos e agora o IPIM pode dar apoio e evitar tantas deslocações. O Governo de Macau deu essa sugestão e o Banco ainda está a considerar [a possibilidade]”, acrescentou.

EMPRESÁRIOS APOIAM

A ideia, que já tinha sido avançada pelo antigo secretário-geral do Fórum Macau Chang Hexi, parece agradar aos empresários locais contactados pelo HM. “Isso já devia ter sido feito antes, quando os Países de Língua Portuguesa estavam em grande

desenvolvimento e Macau não estava em recessão económica. Há muitos empresários que têm dificuldade em fazer negócio, é preciso fazer muitas viagens para a China e apresentar muitos documentos, o que acaba por diminuir a intenção [de investir]. As oportunidades passam e não sei se já é tarde ou não. A economia da China e regional já não está tão boa como há anos”, disse o empresário Henrique Madeira Carvalho. As inúmeras deslocações a Pequim “afastaram as empresas”, defendeu ainda. “Os empresários não podem estar à espera porque o mundo e a economia mudam rapidamente. Não se pode fazer negócios sem o apoio dos bancos e de um fundo. Podem haver muitos planos, mas com a falta de financiamento é difícil.” Afonso Chan, vice-presidente de uma empresa na área de materiais e infra-estruturas, afirmou que se trata de “uma boa notícia para todas as PME”. “Macau é parte da China e o Governo também investiu uma parte no capital e uma das condições é que as PME tenham acesso a este Fundo.” Rita Santos, que foi secretária-geral adjunta de Chang Hexi, também aplaude a alteração. “Para requerer esse Fundo é preciso passar por vários trâmites do Banco que gere o Fundo, têm de ser respeitados muitos requisitos e é por isso que, até agora, não avançaram muitos projectos. Essa é uma decisão correcta e prática, porque Macau é que é plataforma. É preciso que haja um organismo aqui para que os empresários locais possam participar.” Rita Santos alerta para a falta de interesse das empresas locais. “É preciso haver muitos incentivos por parte do Governo de Macau, para ver como é que as empresas podem procurar projectos e fazer parcerias com as empresas do interior da China, porque as empresa de Macau, por si só, não têm capacidade financeira. Com o Fundo em Macau, claro que facilita”, rematou. A.S.S.


4 POLÍTICA

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

Metro após metro Angela Leong quer formação local

A

Violência Doméstica LEI ENTROU ONTEM EM VIGOR MAS NÚMEROS JÁ SUBIRAM

O medo come a alma

Apesar das denúncias de violência doméstica terem aumentado exponencialmente no primeiro semestre de 2016, os dados não revelam um aumento de casos, mas a consequência do debate acerca do tema. É a conclusão de Celeste Vong, presidente do IAS

A

S denúncias de violência doméstica registados no primeiro semestre de 2016 já ultrapassam o total de casos de 2015. A informação foi adiantada ontem pela presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Celeste Vong, que não considera os números alarmantes nem reflexo do aumento de casos. Os dados, diz, apontam antes para o resultado dos esforços que têm vindo a ser implementados pelo IAS nos últimos meses, entre os quais a entrada em funcionamento da linha aberta de apoio à vítima e as acções informativas e de sensibilização da população promovidas pelo organismo a que preside. Tudo por causa da entrada em vigor, ontem, da Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica. “Com a divulgação que tem sido feita pelo IAS, os resultados que temos conseguido são satisfatórios, o que leva a que o número de casos tenha subido bastante”, explica Celeste Vong, enquanto adianta que “este é também o fruto da colaboração entre o IAS e muitas instituições”. No total, e de Janeiro a Junho deste ano, foram apresentadas 96 queixas que incluem um total de 97 vítimas contra os 80 casos, com 82 vítimas, do ano passado. A maioria envolve violência entre casais (65 casos),

seguidos de violência que envolve crianças, com um total de 22 queixas. As expectativas, com a entrada em vigor do novo diploma, são em direcção a um aumento dos números no sentido destes representarem que, de facto, há mais informação e que as pessoas “vão perdendo o medo e a vergonha de denunciarem os seus agressores”.

MAIS ESTRUTURAS DE APOIO

Celeste Vong adianta ainda que o IAS tem na agenda a abertura de mais um centro de acolhimento para vítimas de violência doméstica, sendo que os dois que neste momento estão sob a sua tutela não se encontram, contudo, com “lotação esgotada”.

avançar mais detalhes sobre a gestão do transporte público e a formação dos seus trabalhadores, mas pouco ou nada é conhecido. “Com esta falta de transparência na informação, é inevitável que haja grandes dúvidas por parte do público quanto à existência de profissionais locais suficientes para acompanhar a operacionalização do Metro Ligeiro”, escreveu a também administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). Angela Leong pede que o Governo reforce a formação de talentos na área da tecnologia e da gestão de transportes, por forma a garantir um funcionamento eficaz do metro. Segundo os planos do Executivo, este deverá entrar em funcionamento na Taipa em 2019. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

Em nome da felicidade

Por outro lado, com a entrada em funcionamento do Mecanismo de Cooperação sobre a Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, também inaugurado ontem, o IAS terá a seu cargo um papel coordenador. Entrelaçadas estarão as comunicações e acções entre o organismo e as sete entidades públicas envolvidas e que envolvem as Forças de Segurança, a área da educação e juventude ou a Secretaria para a Justiça. Paralelamente, continuarão as cooperações “essenciais com as instituições privadas que reúnem as condições necessárias para actuar neste tipo de casos”. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

PRÓXIMA ESTAÇÃO: ADOPÇÃO

J

deputada Angela Leong defende que a operacionalização do metro ligeiro deverá passar pelos locais, os quais devem receber mais formação para o efeito. Numa carta enviada aos meios de comunicação social, a deputada considera que essa formação deve ser planeada antecipadamente, por forma a assegurar a entrada em funcionamento do metro sem falta de recursos humanos. Angela Leong fala ainda de “falta de informação” no processo. A deputada apontou que, embora tenha sido assinado, em 2013, o “memorando de cooperação técnica no projecto do Metro Ligeiro” entre a Universidade de Macau (UM) e o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), o público pouco sabe sobre o seu conteúdo. Esse memorando deveria

uliana Devoy, presidente do Centro do Bom Pastor, entidade que tem a seu cargo, entre outras funções, o acolhimento e apoio a vítimas de violência doméstica, não escondeu o contentamento pela entrada em vigor da Lei da Violência Doméstica. A religiosa, que assistia ontem à cerimónia que marcou a entrada em vigor do diploma, estava visivelmente satisfeita com a vitória na luta para a qual deu a cara e que, finamente, está no papel. No entanto, o caminho não acaba e outras metas se levantam. O próximo passo é lutar por uma revisão da lei das adopções. Para Juliana Devoy é inconcebível que as mães menores não possam dar as suas crianças para adopção, nem que a legislação não facilite este processo e com isso mantenha as crianças a crescer em abrigos quando poderiam ser acolhidas por uma família.

FAOM pede reforço do direito a feriados e folgas

L

EI Chan U, vice-secretário geral da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), defendeu que o direito a folgas e feriados deve ser reforçado, quando da revisão da Lei Laboral. Segundo o Jornal do Cidadão, Lei Chan U referiu que esse direito não diz apenas respeito à classe trabalhadora, mas é uma condição essencial para construir relações laborais harmoniosas e uma sociedade amigável. O responsável defendeu que os direitos laborais já registaram muitos avanços, mas que ainda existem problemas com a manutenção de baixos padrões. Comparando com vários países de-

senvolvidos, Lei Chan U referiu que em Macau trabalham-se mais horas, mas os feriados pagos e a licença de maternidade vigoram por um período bem mais curto. Lei Chan U considera que, quando da revisão do diploma, há espaço para melhorias em termos de recompensa de feriados pagos, folgas semanais e dias de licença de maternidade. Alertando para aquilo que considera ser uma tendência a nível mundial, o vice-secretário geral da FAOM pede que o Governo implemente mudanças em prol da felicidade da população, criando medidas laborais mais benéficas. A.K. (revisto por A.S.S.)


5 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

POLÍTICA

Tiago vem à China

Impostos AGRAVAÇÃO DE MULTAS POR DECLARAÇÕES FALSAS EM FASE DE ESTUDO

T

A DSF está a rever o Regulamento do Imposto Profissional e espera aumentar as multas para evitar casos de falsas declarações. Ainda não há data para a conclusão. Para já a fase é de estudo

Paga mas é o que deves

IAGO Brandão Rodrigues, ministro português da Educação, vai estar de visita ao território nos dias 12 e 13 de Outubro. De acordo com a rádio Macau, a deslocação ao território acontece na mesma semana em que o Primeiro-Ministro português, António Costa, estará também em Macau. No entanto, os dois governantes portugueses não se vão cruzar, já que Costa parte dia 12 para Cantão. Na agenda de Tiago Brandão Rodrigues está a Escola Portuguesa de Macau, com quem o Ministro deve abordar o dossier da nova estrutura accionista da Fundação da Escola Portuguesa bem como as obras que devem ser realizadas no estabelecimento de ensino, indica a rádio. Na agenda do governante está ainda o apoio de Macau à escola, da Fundação Macau, de cerca de nove milhões de patacas, que termina este ano lectivo. O Chefe do Executivo já manifestou intenção de continuar a apoiar a instituição. Tiago Brandão Rodrigues vai visitar as instalações da Escola Portuguesa no dia 13 de Outubro, dois dias depois da visita de António Costa à escola. Antes de Macau, Tiago Brandão Rodrigues desloca-se à China.

O LAM MANTÉM-SE CHEFE DO GABINETE DE CHUI SAI ON

O Lam viu ontem renovada a sua comissão de serviço como Chefe do Gabinete do Chefe do Executivo. A responsável fica, assim, mais dois anos no cargo que assumiu em 2014. A renovação entra em vigor a partir de 20 de Dezembro de 2016.

CANDIDATURAS ONLINE PARA A FUNÇÃO PÚBLICA

Quem se quiser candidatar a serviços públicos vai passar a poder fazê-lo online. Foi ontem publicado em Boletim Oficial, um despacho da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, que aprova o Regulamento da Plataforma de Apresentação de Candidaturas aos Concursos, cujo objectivo é permitir aos candidatos ter acesso à plataforma de apresentação das candidaturas aos concursos de gestão uniformizada por meios electrónicos ou da aplicação de telemóvel “Serviços prestados pelo Governo da RAEM”, para procederem à apresentação das candidaturas e para carregarem os documentos necessários. Para tal, têm de criar uma conta de utente. O primeiro concurso a ser realizado nos novos moldes de gestão uniformizada contempla a carreira de técnico-superior.

TIAGO ALCÂNTARA

Ministro português da Educação em Macau na próxima semana

O

Governo está a estudar a agravação das multas para quem prestar declarações falsas sobre relações de trabalho ou rendimentos dos trabalhadores. É o que diz Iong Kong Leong, director dos Serviços de Fi-

nanças (DSF), que responde a uma interpelação de Kwan Tsui Hang e frisa que a revisão do Regulamento do Imposto Profissional, que prevê o agravamento das multas a aplicar, está em “fase de estudo”. A deputada Kwan Tsui Hang tinha questionado o Go-

Assim não dá

Wong Kit Cheng pede melhores condições na Ilha Verde

A

deputada Wong Kit Cheng considera que o planeamento da zona da Ilha Verde não tem seguido o rumo esperado. Numa carta enviada aos meios de comunicação social, Wong Kit Cheng, que também é vice-presidente da Associação Geral das Mulheres, defende que muitas habitações já foram concluídas, mas que o aperfeiçoamento do

meio ambiente e a melhoria das condições de vida dos moradores nunca receberam a devida importância por parte do Executivo. Na carta, a deputada recorda que o projecto do Plano de Ordenamento Urbanístico da Zona da Ilha Verde tem vindo a receber muita atenção junto do público desde que foi lançado, em 2009. A deputada, que tam-

verno sobre medidas a implementar para evitar casos em que os patrões estariam, alegadamente, a aproveitar dados de empregados já despedidos ou candidatos que foram apenas entrevistados para prestar falsas declarações, com vista à

bém representa a União Geral das Associações de Moradores (Kaifong), referiu que muitos moradores se têm queixado da falta de instalações e da perturbação causada pelo tráfego. O lixo e os carros abandonados deixados perto de uma colina, onde existe o abandonado Convento jesuíta, também chamaram a atenção de Wong Kit Cheng, que exige uma maior conservação destes espaços. Para a deputada, a zona da Ilha Verde possui muito valor arqueológico e ambiental, por ter árvores raras, o Convento

redução dos impostos ou para conseguir uma maior quota de trabalhadores não-residentes. A deputada dizia ainda ter havido também empregados que, por causa desta violação à lei, tiveram de pagar impostos que não deveriam ter sido pagos por eles. “Isto deve-se ao facto de as autoridade não exigirem a assinatura dos empregados para confirmar os seus dados na declaração dos impostos profissionais, apresentados pelas entidades empregadoras”, frisava Kwan Tsui Hang, considerando este problema uma lacuna que tem de ser colmatada. É que para a deputada, mesmo quando a ilegalidade era encontrado o valor da multa previsto no Regulamento do Imposto Profissional “é tão baixo, que não surte nenhum efeito dissuasor”. Já em Abril, a DSF admitia que “há toda a necessidade de agravar o valor da multa”, mas defendia que pedir ao trabalhador para assinar as declarações não iria ajudar a evitar casos, já que “também é difícil confirmar as assinaturas”. Desta vez, o organismo indica que vai proceder à revisão da legislação quando terminar os estudos e que irá pedir a assinatura dos trabalhadores semelhante à que se encontra no BIR, bem como a cópia deste documento de identificação, para que este conjunto seja entregue com o formulário de registo dos impostos profissionais. A ideia, defende a DSF, é aumentar a credibilidade das informações dos empregados nas declarações dos impostos profissionais apresentadas pelos empregadores. Angela Ka

info@hojemacau.com.mo

jesuíta e uma fortaleza. Os cidadãos também se queixaram que a zona tem sido marginalizada pelo Governo, existindo poucas infra-estruturas de saúde, restaurantes ou supermercados. Wong Kit Cheng pede, por isso, que o Governo tenha em consideração o valor histórico e ambiental do lugar e que avalie a densidade populacional da zona, por forma a transformar a Ilha Verde numa zona do território mais propícia para viver. A.K. (revisto por A.S.S.)


6 SOCIEDADE

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

RUÍNAS INSPECCIONADAS A 3D

WONG CHI FAI É SEGUNDO COMANDANTE DA PSP

O Instituto Cultural vai inspeccionar a fachada das Ruínas de São Paulo com recurso a um scanner de três dimensões. Um comunicado do IC dá conta que vai ser feito “um exame geral da superfície da fachada e registados dados para fim de medidas de segurança e de investigação”. A monitorização será realizada em três períodos: hoje, 14 e 21 de Outubro, entre as 23h00 até às 06h00 do dia seguinte. As lajes de granito do adro e escadaria do monumento serão vedadas durante a monitorização.

Wong Chi Fai é oficialmente o segundo comandante da PSP. O anúncio foi ontem publicado em Boletim Oficial, num despacho assinado pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. A partir de ontem e até ao mesmo dia de 2017, Wong Chi Fai ocupa definitivamente o cargo que até agora ocupava como substituto desde o dia 1 de Julho. Licenciado em Ciências Policiais pela Escola Superior das Forças de Segurança de Macau, o comandante tem ainda uma licenciatura e um Mestrado em Direito em Língua Chinesa pela Universidade de Macau. Integrou as Forças de Segurança em 1996.

NOVOS ESTATUTOS DA FUNDAÇÃO REMETEM DECISÕES PARA UNIVERSIDADE

De ouvidos pouco abertos Estão finalmente publicados os novos Estatutos da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau, após críticas do Comissariado de Auditoria. As mudanças não são muitas, mas há mais ligação à UM

F

ORAM ontem tornados públicos os novos Estatutos da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau (FDUM). Depois de diversas críticas apontadas pelo Comissariado de Auditoria (CA) ao organismo, a Universidade de Macau (UM) publicou, em Boletim Oficial, as novas regras, que não diferem em muito dos anteriores estatutos mas conectam mais a FDUM à UM. Em Fevereiro de 2015, um relatório do CA apontava que o facto da UM ser constituída como uma pessoa colectiva de direito privado “não permitia à UM fiscalizar nem controlar, nem intervir no seu funcionamento”, deixando os donativos destinados ao seu desenvolvimento entregues a uma fundação com a qual não mantinha qualquer relação jurídica. O objectivo da FDUM mantém-se igual aos Estatutos de 2009 – “uma fundação de substrato patrimonial com fins de interesse social e não lucrativos, estabelecida nos termos do Direito Civil, que se rege [por estes] Estatutos e leis aplicáveis na RAEM” – mas os dirigentes mudam face ao que foi apontado pelo CA, ficando os da UM a cargo da Fundação. No décimo artigo dos Estatutos, pode ver-se que o Conselho de Curadores é composto por “cinco a 11” pessoas, sendo que o presidente é o Presidente do Conselho da UM, neste caso Peter Lam. Ainda que “os membros do Conselho de Curadores sejam propostos pelo Conselho da UM”, os cargos do primeiro mandato vão ser “designados mediante prévia recomendação dos instituidores da FDUM”. Nos Estatutos ontem definidos em Boletim Oficial não há mais detalhes sobre esta questão, mas os “instituidores” da FDUM

pervisionar a condição financeira da FDUM e fornecer ao Conselho de Administração informações relativas à gestão patrimonial da FDUM. Apesar de ter sido inicialmente dito que o organismo iria passar a designar-se Fundação da Universidade de Macau, os Estatutos ontem publicados dão a conhecer que a designação se mantém a mesma: Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau, ou FDUM na abreviação. Da mesma forma, a sede da FDUM mantém-se naquele que era o Edifício Administrativo da UM, no velho campus da universidade, onde habita agora a Universidade Cidade de Macau.

TRANSFERÊNCIAS

Peter Lam

são o próprio Peter Lam, o magnata do jogo Stanley Ho, e os membros do Conselho da UM Daniel Tse Chi Wai e Wong Chong Fat.

CONSELHO RENOVADO

O Conselho de Curadores tem a duração de três anos, renováveis, e pode criar comissões que se regem pelo regulamento interno. Ainda assim, os novos Estatutos acrescentam que o Conselho de Curadores

pode definir as políticas gerais da FDUM, “zelando pela estreita colaboração entre a Fundação e a UM, e que é obrigado a “respeitar, na prossecução das suas actividades, as linhas orientadoras da UM”, algo que cria a até então inexistente conexão à Universidade. O Conselho pode comprar instalações e equipamentos para fins educativos ou equipamentos e instrumentos para investigação e

doar essas instalações, equipamentos e instrumentos à UM, sendo que as despesas que ultrapassem 500 mil patacas têm de ser aprovadas por este grupo. Com os novos Estatutos competem ao Conselho Fiscal novas tarefas que antes não existiam: pronunciar-se sobre os relatórios e as contas anuais apresentados ao Conselho de Curadores pelo Conselho de Administração, su-

Mantém-se ainda a designação dos objectivos da FDUM: esta “tem por fins o apoio e a promoção de realização de objectivos académicos e educativos da UM”. De fora dos Estatutos fica o artigo 17 no documento de 2009, que permitia apenas ao Conselho de Administração a assinatura de documentos e contratos. A FDUM funcionava com um Conselho de Curadores, um Conselho de Administração e um Conselho Fiscal, compostos por patrocinadores da Fundação, membros do Conselho da Universidade, membros da Assembleia da Universidade, o reitor e um vice-reitor da UM, algo que muda agora. Os Estatutos permitem a atribuição de senhas de presença aos membros, mas em Fevereiro do ano passado a UM garantia, numa resposta ao CA, que todos os indivíduos que participam na gestão da Fundação prestavam este serviço voluntariamente. De acordo com o Governo tinha dito ao HM, “todo o património da FDUM será transferido para a nova Fundação, na medida em que a actual Fundação será extinta”, mas os Estatutos nada indicam neste sentido. Até Fevereiro de 2015 mais de 954 milhões de patacas pertenciam a este organismo, mas o HM não conseguiu perceber se os valores aumentaram. Outra das situações que a FDUM tinha que alterar eram a estrutura legal da Fundação, mas tal não foi publicado em BO. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


7 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

Um a um ninguém enche o papo

Membro do CPU critica Governo por planeamento individual de aterros

L

AM Iek Chit diz que o Governo se está a antecipar ao emitir os projectos para a zona B dos novos aterros. O membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) acusa a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de estar a violar as exigências do Governo Central de Macau ter um “planeamento científico e distribuição razoável” dos terrenos por aprovar a atribuição de aterros desta forma. Lam Iek Chit refere-se à recente publicação da DSSOPT sobre as condições urbanísticas para a Zona B dos novos aterros, postas em consulta pública. O plano inclui um projecto para a parte leste da Zona , cuja finalidade é a construção de instalações do Governo. Mas o membro do CPU e urbanista critica o “acto antecipado”, frisando que como o Governo não anunciou ainda qualquer planeamento geral para os Novos Aterros não deveria estar a auscultar a população face a apenas um projecto. Lam Iek Chit relembra o discurso do presidente do CPU e Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo Rosário, numa reunião em que frisou que “segundo a Lei do Planeamento Urbanístico, só quando haver um plano director é que se pode trabalhar nos planos detalhados de cada zona”. Lam Iek Chit questiona, ao Jornal do Cidadão, como surgiu o projecto da parte da Zona B dos Novos Aterros. “Não podemos ver argumentos científicos nem um plano geral, não conseguimos julgar se o planeamento da parte da zona B dos Novos Aterros é fruto de uma distribuição razoável,” criticou. Além de não obedecer aos procedimentos, Lam Iek Chit considera que o projecto também não está a respeitar o direito dos cidadãos à informação. “Este projecto, depois da auscultação de opiniões do CPU e de ser assinado pelo director da DSSOPT, já terá força. Mas nesta premissa, os cidadãos de facto não sabem absolutamente nada sobre o planeamento geral e isso desrespeita totalmente o direito à informação. Durante as consultas públicas era tudo mostrado aos cidadãos, mas agora só conseguimos ver uma pequena parte dentro de uma zona, acho que não está a corresponder muito os procedimentos”, atirou. Angela Ka (revisto por J.F.)

info@hojemacau.com.mo

SOCIEDADE

GOVERNO CRIA LISTA DE SALVAGUARDA DE ÁRVORES ANTIGAS

Exemplares de património

O

Governo publicou ontem uma Lista de Salvaguarda de Árvores Antigas e de Reconhecido Valor, que inclui mais de 550 registos. A lista, publicada no Boletim Oficial, estava prevista na Lei de Salvaguarda do Património Cultural, aprovada em 2013, que estabeleceu que “integram o património cultural todos os bens”, incluindo árvores, “que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objecto de especial protecção e valorização». O diploma estabelece que os proprietários ou outros “titulares de direitos reais sobre as árvores” listadas devem comunicar “ao

Instituto Cultural ou ao serviço público competente para a respectiva manutenção as situações susceptíveis de conduzir à sua deterioração, destruição ou perda”. A mesma legislação define que os proprietários das árvores “têm o dever de manter as mesmas, podendo, caso o necessitem, solicitar apoio técnico ao serviço público competente” para a sua manutenção. “É proibido arrancar, cortar ou de alguma forma danificar, total ou parcialmente, árvores antigas e de reconhecido valor, salvo para efeitos da sua manutenção”, acrescenta ainda o texto, que proíbe também a transplantação ou remoção, “salvo no caso de relevante interesse público ou de adopção

NOVA PONTE EQUIPADA COM QUEBRA VENTOS

U

M sistema de quebra ventos capaz de aguentar as condições mais adversas, consequência de tufões ou tempestades tropicais vai ser alvo de estudo por parte da Direcção dos Serviços dos Assuntos de Tráfego (DSAT). A informação é dada pelo próprio organismo em resposta a uma interpelação feita pelo deputado Si Ka Lon. A DSAT adianta ainda que, durante a fase preliminar ao projecto para a quarta ponte que vai ligar Macau à Taipa, vão ser realizados estudos especializados no que

respeita às condições de resistência ao vento. Para o efeito, o organismo pretende proceder à realização de simulações de situações reais em laboratório que envolvam condições climatéricas adversas e que são passíveis de acontecer na RAEM, de modo a que sirvam de referência para projectos futuros. A instalação deste tipo de estrutura tem como finalidade a existência de condições adequadas para a circulação segura aquando da ocorrência de tufões ou tempestades.

de medidas que visem prevenir situações de ameaça à segurança pública, declaradas pelo serviço público competente para a respectiva manutenção”. A Lei de Salvaguarda do Património Cultural entrou em vigor em 2014, quase nove anos depois da inscrição do Centro Histórico de Macau na lista de Património Mundial da UNESCO, em Julho de 2005. O território, que tem crescido devido à criação de aterros, fechou 2015 com uma superfície total de 30,4 quilómetros quadrados. LUSA/HM

BINGO TÔMBOLA DA SJM FECHA A PARTIR DE NOVEMBRO O espaço da Tômbola da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) vai fechar portas temporariamente a partir do dia 1 de Novembro, devido à não renovação do contrato de arrendamento. Uma fonte confirmou ao HM que a operadora está à procura de um novo local para acolher o tradicional bingo, mas ainda não foi tomada qualquer decisão. O espaço Tômbola abre todos os fins-de-semana no período entre as 15h00 e as 16h00, estando actualmente localizado na Avenida Rodrigo Rodrigues.


8 PUBLICIDADE

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

HM • 1ª VEZ • 6-10-16

HM • 1ª VEZ • 6-10-16

Direcção dos Serviços de Identificação ANÚNCIO Execução Ordinária n.º

CV3-16-0011-CEO

ANÚNCIO 3.º Juízo Cível

EXEQUENTE:BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., sociedade anónima com sede na Avenida da Amizade, nº . 555-Macau Landmark, Torre ICBC, 18º. andar, em Macau.----------------------EXECUTADOS: CHIO U CHONG e WONG SOK KUAN, residentes em 澳 門東方明珠街海天居第1座23樓C室 ou Avenida da Concórdia, nº s 216-278, Edifício May Fair Garden, Fase 3 (美居廣場 – 嘉應花園), 4º andar C, Macau-*** FAZ-SE SABER que, nos autos acima indicados, são citados os credores desconhecidos dos executados para, no prazo de QUINZE DIAS, que começa a correr depois de finda a dilação de VINTE DIAS, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos sues créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenham garantia real, e que é o seguinte:-IMÓVEL PENHORADO Denominação: Fracção autónoma designada por “C-4”, do 4º. andar “C”; ---Fim: Para habitação; ------------------------------------------------------------------Situação: Em Macau, do prédio com entrada pelos n.ºs 216-278 da Avenida da Concórdia, nºs 309-435 da Avenida do Conselheiro Borja, nºs 115-121 da Avenida do General Castelo Branco, e nºs 5-97A da Travessa da Concórdia;Matriz: nº 073299;--------------------------------------------------------------------Descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 21689 a fls. 125v do Livro B-67;-----------------------------------------------------------------------------Inscrição da propriedade horizontal: nº 16599F;-------------------------------Inscrição em nome dos executados: nº 292936 do Livro G.-------------------Macau, 21 de Setembro de 2016

Execução Ordinária n.º

1.º Juízo Cível

CV1-15-0129-CEO

EXEQUENTE: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA(MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, n.º 555-Macau Landmark, Torre ICBC, 18.º andar. EXECUTADOS: 1. AU KON WAI, casado, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M., e sua mulher 2. MAK I MAN, casada, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M, ambos residentes em Macau, na Rua Nova do Comércio, n.º 20, Edifício Kam Seng, 4.º andar A. *** FAZ-SE SABER, que foi designado o dia 9 de Novembro de 2016, pelas 10:00, no local de arrematação deste Tribunal e no processo acima indicado, para venda por meio de propostas em carta fechada, do seguinte bem penhorado:

AVISO Assunto: Actualização do registo dos dados dos membros dos órgãos sociais da assocaiação

Imóvel Denominação: fracção autónoma, “BD18” do 18.º andar “BD”. Situação: sito em Macau, n.º 87 a 187 da Rua Sul do Patane, n.º 623 a 655 da Avenida Marginal do Patane, n.º 465 a 583 da Avenida Marginal do Lam Mau e n.º 2 a 180 da Praça das Orquídeas. Finalidade: para habitação. Número de matriz: 73245. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 22136, a fls. 28 do Livro B132. Número de inscrição da propriedade horizontal: nº 27790, do Livro F. Número de inscrição da propriedade: n.º 191151, do Livro G, aí hipotecada a favor de BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU), S.A., pela inscrição n.º 173474C. O Valor base da venda: MOP$2.925.720 (Dois Milhões, Novecentas e Vinte e Cinco Mil, Setecentas e Vinte Patacas). *** São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Secção Central deste Tribunal, as suas propostas, até ao dias 8 de Novembro de 2016, pelas 17:45, sendo que o preço das propostas deve ser superior ao valor acima indicado, devendo o envelope da proposta, conter, a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA” bem como o “NÚMERO DO PROCESSO: CV1-15-0129-CEO”. No dia da abertura das propostas podendo, querendo, os proponentes assistir ao acto. Durante o prazo dos editais e anúncios, os proponentes, a fim de proteger os seus interesses, podem, caso queiram, antes de apresentar quaisquer propostas dirigir-se ao fiel depositário, Sr. Fernando Chow, com domicílio profissional na Avenida da Amizade, n.º 555-Macau Landmark, Torre ICBC, 18.º andar, o fiel depositário, por sua vez, está obrigado a mostrar o bem a quem pretenda examiná-lo, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do bem supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta foi aceite, nos termos do art. 787.º do C.P.C. ***

Nos termos da lei, após a constituição da associação, o órgão de administração deve realizar o registo dos titulares dos órgãos sociais na DSI e sempre que se verifique mudança dessas informações deve ser procedida a actualização dos registos na DSI, no prazo de 90 dias. Para pormenores, queira ligar para a linha de informação da DSI: 28370777.

Na R.A.E.M., 27/09/2016

Edital n.º Processo n.º Assunto Local

EDITAL

:128/E-BC/2016 :216/BC/2016/F :Início do procedimento de audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Avenida do Conselheiro Borja n.os 309 - 435, Avenida do General Castelo Branco n.os 115 - 121, Avenida da Concórdia n.os 216 - 278, Travessa da Concórdia n.os 5 - 97A, Centro Comercial do Edf. Mayfair Garden (Fase 3), Macau.

Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados o(s) dono(s) da obra e o(s) proprietário(s) do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Obra 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.

Instalação de gradeamento metálico e de um portão metálico na entrada e saída do elevador junto à loja AT no r/c. Instalação de um portão de enrolar metálico no corredor comum entre as lojas AJ e AU no r/c. Construção de um compartimento com portão de vidro e janelas de vidro na entrada e saída do corredor comum junto à loja CF no r/c. Instalação de um portão de enrolar metálico no corredor comum junto às escadas rolantes e à loja O no r/c. Construção de um compartimento com portão de vidro e janelas de vidro na entrada e saída do corredor junto ao átrio das escadas rolantes e às lojas D e F no r/c. Construção de um compartimento com paredes em alvenaria de tijolo, portão metálico e portão de madeira no corredor comum junto ao átrio do elevador e às escadas rolantes no 1.º andar. Instalação de gradeamento metálico e portão metálico no corredor comum junto à entrada e saída do elevador e à loja AE no 1.º andar. Construção de um compartimento com paredes em alvenaria de tijolo, portão metálico e portão de madeira no corredor comum junto ao átrio do elevador e à loja A no 2.º andar. Instalação de gradeamento metálico e portão metálico no corredor comum junto à entrada e saída do elevador e à loja Z no 2.º andar.

Infracção ao RSCI e motivo da demolição Infracção ao n.º 4 do artigo caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo caminho de evacuação.

10.º, obstrução do 10.º, obstrução do 10.º, obstrução do 10.º, obstrução do

Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação.

Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelos infractores nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, as obras executadas não são susceptíveis de legalização pelo que a DSSOPT terá necessariamente de determinar a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada. 3. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício. 4. Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI. 5. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227). RAEM, 26 de Setembro de 2016 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man


9 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

Construção CUSTOS DAS OBRAS DO METRO E DE ESTRADAS SUBIRAM MAIS DE 60%

Sempre a bombar

25,4%) devido, principalmente, à aceleração da construção do metro ligeiro nos segmentos da Taipa e do Cotai”. Já o valor das obras de habitação pública ficaram em 2,17 mil milhões de patacas, tendo decrescido 5% em termos anuais.

DINHEIRO A RODOS

O ano passado foi as receitas globais do sector cifraram-se em 93,35 mil milhões de patacas, tendo aumentado 17,8%. Estes números incluem o valor das obras de construção concluídas e outras receitas e a DSEC aponta como razão do crescimento a realização con-

tínua de obras de construção de grande envergadura, como são os casinos e resorts. Já no que diz respeito à mão-de-obra, esta representaria mais de 7% do total da população de Macau, caso todos os 50.961 trabalhadores que tinham empregos no sector da construção fossem de Macau. Si Ka Lon dizia na terça-feira, numa interpelação, que a maioria destes empregados eram de fora, com os números de TNR na construção a ascender, segundo o deputado, a mais de 44 mil pessoas. O custo de mão-de-obra fixou-se em 14,52 mil milhões de patacas, divido por 2750 estabe-

O

lecimentos em actividade, mais 117 em relação ao ano 2014. No total, mais 5500 pessoas entraram a trabalhar no sector. Só a península de Macau teve mais 28,8% de obras a acontecer em 2015, num crescimento que foi impulsionado, segundo a DSEC, pelas obras de construção de edifícios de habitação privada na Areia Preta, de edifícios de habitação pública e de escolas no Fai Chi Kei e na Ilha Verde. Existiam ainda 85 obras de construção concluídas localizadas no Cotai, avaliadas em 55,02 mil milhões de patacas. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL ESTIMA QUEDA DO PIB EM 4,7%

O

Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau caia 4,7% este ano, uma contracção menor do que os 7,2% que estimava em Abril passado. De acordo com o World Economic Outlook do FMI, divulgado na terça-feira, a economia do território voltará a crescer em 2017, estimando

um aumento de 0,2% no PIB no próximo ano. Em Abril, o FMI já previa um regresso ao crescimento em 2017, mas não tinha avançado com uma estimativa. Quanto à taxa de desemprego, que ficou em 1,9% no final de 2015, o FMI estima que se mantenha este ano e que passe para 2% em 2017.

O PIB de Macau começou a cair no terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China, em 1999, a economia local registou uma diminuição (-0,9%). Em 2015, o PIB caiu 20,3% e no primeiro semestre deste ano a contracção homóloga foi

Ensino simplificado

Exame Unificado “não é única forma” de entrar nas universidades

O

S custos das obras do metro subiram mais de metade no ano passado, indicam dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Numa análise global ao sector da construção, em 2015, o organismo aponta ainda para um decréscimo dos gastos com a construção de habitação pública. Em todo o ano passado, Macau contava com mais de 1370 projectos de construção licenciados, mais 108 face ao ano de 2014. Mais de 900 eram construções privadas (mais 133) e 471, ou menos duas dezenas do que em 2014, eram do Governo. Da mesma forma, foi o sector privado quem mais gastou com obras (79,2 mil milhões de patacas), especialmente por causa dos hotéis e casinos, que totalizaram 60,7 mil milhões de patacas, seguido dos edifícios de habitação privada, cujos custos diminuíram em 47,6% face a 2014 para 15 mil milhões de patacas. Mas as contas sobem no que toca ao metro ligeiro. Os dados da DSEC mostram que o valor das obras do metro ligeiro e das estradas aumentou 63,2% face a 2014, para 2,53 mil milhões de patacas. O organismo diz que o valor das obras concluídas de construção pública “fixou-se em 10,19 mil milhões de patacas (mais

SOCIEDADE

10,3%. O Chefe do Governo disse no sábado que a economia da região “encontra-se, ainda, numa fase de ajustamento”. Chui Sai On referiu que, no entanto, apesar de o PIB ter continuado a cair no primeiro semestre, foi uma “queda significativamente mais reduzida quando comparada com a do ano anterior”.

Governo assegura que o novo Exame Unificado de Acesso não é a única forma dos estudantes ingressarem nas instituições de ensino superior locais. Numa nota enviada aos órgãos de comunicação social, e depois do tema ter sido alvo de celeuma entre professores e deputados, o Grupo de Coordenação do exame diz ter sido instado a desmistificar o teste que vai ser adoptado pela Universidade de Macau, Instituto Politécnico, Instituto de Formação Turística e Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. “O Exame Unificado de Acesso é meramente um exame de acesso respeitante a quatro disciplinas e é uma medida destinada a facilitar a população. Cada instituição admite estudantes de forma independente”, indica o Executivo, salientando que os estudantes que se pretendem candidatar a qualquer uma das quatro instituições devem inscrever-se através dos sistemas de inscrição on-line como sempre foi feito. Mesmo com o Exame, indica o Grupo, é possível os alunos serem admitidos por mais do que uma instituição e depois escolherem qual a instituição que preferem, sendo que a admissão “estará de acordo com os critérios de admissão de cada curso”. Face às dúvidas levantadas sobre se os resultados dos exames iriam influenciar a entrada dos alunos no ensino superior, o comunicado assegura que os resultados nem sequer vão ser publicados. “Os resultados do Exame não são o único critério de admissão. Durante o processo, as quatro instituições verificam os resultados do Exame dos candidatos, mas consideram também as características das próprias instituições, os requisitos de cada curso, bem como outros factores”, frisa o Grupo de Coordenação, acrescentando que se mantêm as actuais políticas de “Estudantes Recomendados, isenção de exame e entrevistas”. Para o Governo, o Exame Unificado “vai desempenhar um papel importante no desenvolvimento do ensino superior” de Macau, na medida em que vai “diminuir as pressões” dos estudantes por terem de fazer diferentes exames de acesso às instituições do ensino superior locais. Os candidatos fazem na mesma os exames das disciplinas necessárias para os cursos das áreas especializadas a que se candidatam. Por exemplo, se um estudante se candidatar à área da Engenharia ou à do Desporto, necessitará ainda de participar em exame de Física e de Treino Físico. “Não são verdadeiros os comentários que indicam que o Exame dá mais importância às disciplinas de Chinês, Inglês e Matemática”, salienta o Governo. A primeira edição do Exame Unificado de Acesso (para disciplinas de Línguas e Matemáticas) vai ser lançada entre 30 de Março e 2 de Abril de 2017. J.F.


10 TUNA MACAENSE COMEMORA 80 ANOS COM NOVO ÁLBUM

Fragmentos desenhados

MAM inaugura hoje exposição de Yuen-yi Lo

C

e cultura, feminismo e história oralarte e cultura, feminismo e história , com indica uma nota do Instituto Cultural (IC). Yuen-yi Lo publicou diversos artigos relacionados com arte e vida no periódico de Hong Kong “Mingpao”, sendo que 76 deles foram compilados e publicados no livro “Desenhando a Escrita”. Entre as suas outras obras incluem-se “Mensagens de Amor ao Longo dos Séculos: 21 cartas a Artistas parisienses”, “Um Quarto” e “Um Diário de Nushu, Escrita Feminina”, entre outros. Yuen-yi Lo considera que na arte tradicional ocidental o desenho a lápis tem sido “periférico”, mas foi esta técnica que adoptou como núcleo do seu trabalho, explorando assim as suas funções e significado na arte contemporânea. “Ao desenhar objectos usados do quotidiano retenho os traços de antigas experiências e recordações. Nas palavras do francês Jacques Derrida, a percepção é recordação, pelo que as pessoas desenham para se recordarem o que se passou ou o que em breve passará”, diz a autora, citada pelo IC. A mostra abre às 18h30, no MAM, com entrada livre. Yuen-yi Lo estará apresente, apresentando as obras expostas. “Lidando com Objectos – Fragmentos Desenhados por Yuen-yi Lo” está patente até 20 de Novembro.

O CANTO DA T Os 80 anos foram em 2015 mas a festa da Tuna Macaense é hoje, com o lançamento do sexto álbum do grupo na Fundação Rui Cunha. O grupo promete crescer num futuro próximo e continuar a “cantar Macau”

MAM

HAMA-SE “Lidando com Objectos – Fragmentos Desenhados por Yuen-yi Lo” e é a mais recente mostra artística da Montra de Arte de Macau, dedicada a promover o talento local. Organizada pelo Museu de Arte de Macau (MAM), a exposição convida o público a fazer uma visita e observar as estórias que fluem desta série de trabalhos, e a sentir as imagens, os sons, odores e texturas dos objectos expostos. Natural de Macau, Yuen-yi Lo, estudou Design de Comunicação e Belas-Artes em Hong Kong, Itália e Reino Unido e participou em exposições individuais e colectivas no Reino Unido, Hong Kong, Macau e Taiwan, dedicando-se actualmente à criação artística, à escrita e ao ensino. Os seus trabalhos são sobretudo desenhos a lápis e etropologia visual e centram-se em textos, grafismos e objectos usados. A artista escreve também sobre arte

HOJE MACAU

EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA NÃO É MEIA NOITE QUEM QUER • António Lobo Antunes

O enredo do livro desenvolve-se em três dias, sexta-feira, sábado e domingo. Uma mulher com perto de cinquenta anos vai passar um fim-de-semana na casa de férias da família, numa praia não identificada. A casa, modesta, foi vendida e ela quer despedir-se da casa, mas também relembrar tudo o que se passou ali - a sua infância com os pais e os irmãos, o suicídio do irmão mais velho, o irmão surdo-mudo, o complexo e dramático relacionamento dos pais, a menina da casa em frente, sua amiga do tempo de férias. Vem depois a sua vida actual, mal casada, sem filhos, professora numa escola como tantas outras, com uma relação frustrante e sem entusiasmo com uma colega mais velha. O falhanço que é a sua vida reflecte-se na casa há muito desabitada e nos sonhos de todos eles, ali irremediavelmente enterrados. A despedida da casa pode levá-la a imitar o irmão mais velho e, no domingo, atirar-se das arribas e encerrar ali uma vida sem futuro.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

SÃO FRANCISCO DE ASSIS • Augustine Thompson

Um dos santos mais populares da religião católica, São Francisco de Assis (c. 1181-1226) é lembrado pela sua dedicação à pobreza, o amor pelos animais e a natureza, e o desejo de seguir os ensinamentos e o exemplo de Cristo. Nesta nova biografia, Augustine Thompson, baseando-se em novas fontes históricas, separa, pela primeira vez, o homem da lenda. O resultado é um retrato complexo e fidedigno tanto do homem como do santo.


11 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

TERRA

O

C e n t r o Cultural de Macau (CCM) está à procura de dramaturgos, encenadores e actores. O objectivo é recrutar locais com estes talentos para fazerem parte do projecto de intercâmbio “Cidades Gémeas”, que pretende aperfeiçoar as capacidades dos participantes em todas as áreas relacionadas com o teatro, envolvendo artistas locais em audições, workshops e na concepção de uma peça de teatro. Sob orientação do Centro de Arte Dramática de Xangai, “Cidades Gémeas” abre candidaturas para locais até 18 de Outubro. Após a fase de recrutamento e audições, que termina em finais de Outubro, segue-se um período de

S

EIS de Outubro foi a data marcada para lançar o sexto álbum da Tuna Macaense em jeito de comemoração do seu 80º aniversário. O local é a Fundação Rui Cunha e o momento promete uma pequena actuação por parte da Tuna, como forma de agradecimento pelo apoio tido ao longo dos anos. A alegria e orgulho sentem-se nas palavras de Jorge Russo, nome pelo qual é conhecido o presidente da Tuna Macaense, ao falar do CD que é lançado hoje. “É um conjunto de 16 temas compostos propositadamente para assinalar a data e cantados em Português e Patuá”, refere o representante ao HM. Tinha data marcada para o ano passado, visto a Tuna “ter tido início em 1935”, mas, devido a problemas técnicos, a gravação do disco só foi possível no passado mês de Abril.

BENDITA TRANSIÇÃO

O agrupamento tem atravessado gerações e Jorge Russo faz parte dele desde 1990. Passou pela administração portuguesa da actual RAEM, sentiu as mudanças da transição e hoje assume que “a actividade da Tuna Macaense actualmente é muito melhor do que antigamente”. Se no passado faziam parte do repertório, essencialmente, temas instrumentais que misturavam os sons de bandolins, violas e cavaquinhos, actualmente acresce à sonoridade uma preocupação com a composição das letras. “Antes das transição, o pouco que era cantado era em Português e as nossas apresentações eram mais restritas”, refere Jorge Russo, enquanto justifica que a actividade da Tuna, antes da transição do território, era limitada a convites pontuais feitos por parte do então governo luso. Depois de 1999 “mudou muita coisa e para melhor”, salienta. “Começamos a cantar em mais locais e a ter uma actividade mais livre, por um lado, e por outro começamos a trabalhar com as línguas que se falavam cá e a compor letras em Patuá, Cantonês e mesmo Mandarim, o que foi de encontro aos desejos da população.” Outra opção foi adoptar temas de origem inglesa às línguas da terra. “As pessoas

ouviam coisas que conheciam, mas na sua língua, e foi assim que a Tuna foi adquirindo mais popularidade nos últimos anos entre a população local”, explica Jorge Russo. Mais do que a linguagem, é conteúdo que Jorge Russo pretende dar às canções da Tuna. É um “cantar Macau”, em que as palavras e as sonoridades pretendem transportar para os palcos “as ruas de Macau, as suas pessoas, o património e a história da terra de modo a conservar as memórias”.

EVENTOS

Talentos teatrais CCM procura dramaturgos, encenadores e actores para projecto com Xangai concepção do guião, após o qual o grupo se desloca a Xangai. Os seleccionados irão juntar-se aos profissionais do Centro de Arte Dramática para elaborar e ensaiar uma peça inspirada em histórias nascidas nas duas cidades. De regresso a Macau, o espectáculo será apresentado em Abril, em duas partes. A primeira terá um guião escrito em Xangai, trabalhado por um encenador de Macau e levado à cena por actores de Xangai. Na segunda parte, uma história

escrita por um dramaturgo local vai subir ao palco dirigida por um encenador de Xangai e interpretada por actores locais. Fundado em 1995, o Centro de Artes Dramáticas de Xangai é um dos centros deste género “mais prestigiados da China”, indica o CCM. Todos os anos a instituição produz e promove mais de 600 espectáculos, abordando uma vasta gama de estilos e de temas. Os formulários de inscrição podem ser descarregados na página do CCM.

CCM

FUTURO RISONHO

Actualmente a Tuna é composta por apenas seis elementos. No entanto, o reduzido número de músicos não é factor desmoralizante para o presidente do grupo musical. A Tuna Macaense já está em processo de renovação com a recente colaboração com os alunos do curso de Música do Instituto Politécnico de Macau. A ideia é que no próximo ano estes pupilos integrem a formação e, desta forma, tragam a desejada continuidade à Tuna Macaense. Tudo isto porque, para Jorge Russo, as dificuldades “não são assim muitas e o grupo conta com o apoio do Governo e autonomia de espaço, o que ajuda no seu bom funcionamento”. O lançamento do CD que comemora as 80 primaveras da Tuna Macaense tem lugar hoje, às 18h30, na Galeria da Fundação Rui Cunha e conta com entrada livre. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

TIAGO BETTENCOURT EM CONCERTO NO FINAL DE OUTUBRO

O

músico português Tiago Bettencourt actua no dia 25 de Outubro em Macau, num concerto promovido pela Casa de Portugal, no âmbito das comemorações do Dia da Implantação da República. A notícia foi avançada pela Rádio Macau e confirmada

na página de Facebook do músico, que iniciou ontem uma viagem à China. Tiago Bettencourt, de 37 anos, fundou em 2001 os Toranja, tendo lançado dois álbuns: “Esquissos” (2003) e “Segundo” (2005). Depois de uma pausa da banda em 2006,

que se prolonga até hoje, Tiago Bettencourt avançou com trabalho a solo e editou os discos “Jardim” (2007) “Em Fuga” (2010) e “Tiago na Toca” (2011), no qual cantou poetas como Florbela Espanca e José Carlos Ary dos Santos, acompanhado por músicos

como Carminho, Camané e Fernando Tordo. Em 2012 editou o álbum “Acústico”, que soma dez anos de carreira, a solo e com os Toranja, com um alinhamento “pouco egoísta” e feito para os fãs, disse então à agência Lusa. Em 2014, Tiago Bettencourt

lançou o disco “Do Princípio”, com a colaboração de Jacques Morelenbaum, Mário Laginha e Fred Pinto Ferreira. Os bilhetes para o concerto estão à venda por cem patacas e o concerto acontece às 20h00 no Centro Cultural de Macau.


12 CHINA

O

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

activista de Hong Kong, que liderou os protestos de 2014, Joshua Wong foi deportado ontem da Tailândia, horas depois de ter sido detido à sua chegada a Banguecoque, anunciou o seu partido político, Demosisto. Wong, de 19 anos, um dos rostos do ‘movimento dos guarda-chuvas’, foi detido no aeroporto de Suvarnabhumi, em Banguecoque, na terça-feira à noite, informou o Demosisto em comunicado, citando o activista tailandês Netiwit Chotipatpaisal, que se ia encontrar com o jovem de Hong Kong no aeroporto. O líder pró-democracia, que devia dar na quinta-feira uma conferência numa universidade de Banguecoque, partiu num voo com destino a Hong Kong, referiu o partido. Netiwit Chotipatpaisal acusou as autoridades tailandesas de terem actuado a pedido do Governo chinês. Antes da libertação do activista, o Demosisto condenou “veementemente o Governo tailandês por limitar de forma irrazoável a liberdade e o direito de Wong de entrar” na Tailândia. Fontes da polícia de imigração afirmaram para a emissora “Voice TV” que Wong foi indiciado sob acusações de ameaça à segurança do Estado De acordo com a sua página de Facebook, Netiwit deslocou-se ao

Hong Kong TAILÂNDIA DEPORTA ACTIVISTA JOSHUA WONG

Vai e não voltes aeroporto na terça-feira à noite para se encontrar com Wong, mas após esperar várias horas um funcionário da companhia aérea disse-lhe que o jovem activista tinha sido detido. “Perguntámos depois à polícia turística, que nos disse que ele estava detido na imigração e que não podíamos contactar com o Joshua”, escreveu.

JÁ EM HK

Joshua Wong disse ontem, à chegada à ex-colónia britânica ,que esteve detido 12 horas no aeroporto em Banguecoque sem nenhuma explicação oficial. Wong, aterrou ontem em Hong Kong às

15:30 locais, disse que à sua chegada esperavam-no cerca de duas dezenas de polícias e agentes de imigração. “Mandaram-me para uma das esquadras de polícia do aeroporto e obrigaram-me a estar dentro da prisão durante 12 horas”, disse Wong. “Quando perguntei o motivo da minha detenção disseram-me que não tinham de me dar explicações”, acrescentou. “Pedi para contactar um advogado na Tailândia ou a minha família para lhes dizer que tinha chegado, mas continuaram a negar os meus pedidos”, adiantou. Activistas pró-democracia de Hong Kong concentraram-se

“FOI A PEDIDO DA CHINA”

O

vice-comandante da polícia tailandesa no aeroporto Suvarnabhumi disse ao jornal local The Nation que Joshua Wong foi detido e impedido de entrar no país “a pedido da China”. O coronel Pruthipong Prayoonsiri, disse que a China enviou um pedido ao governo tailandês solicitando cooperação, no sentido de ser negada a Wong a entrada no reino. “Na sequência deste pedido, o Depoartamento de Imigração colocou o seu nome numa lista negra e prendeu-o para o deportar. Quando foi informado do facto, Joshua Wong não demonstrou qualquer oposição”, concluiu.

ontem em frente do consulado da Tailândia na cidade em protesto pela detenção em Banguecoque de Joshua Wong. Os manifestantes pediram às autoridades tailandesas para libertarem Wong - que entretanto já foi deportado -, assim como explicações pela actuação das autoridades de Banguecoque.

A SEGUNDA VEZ

Wong foi um dos três líderes estudantis condenados em Agosto por tentarem entrar no complexo governamental de Hong Kong em 2014, um evento que precedeu os protestos pró-democracia que paralisaram a cidade por mais de dois meses. Em 2016, co-fundou o Demosisto, um partido que apela a um referendo sobre o futuro de Hong Kong, incluindo a opção de independência. Nathan Law, colega de Wong no Demosisto, tornou-se no mês passado o mais jovem deputado de Hong Kong, aos 23 anos. Wong planeava discursar num evento na quinta-feira em

Banguecoque, assinalando o 40.º aniversário de um massacre de estudantes pró-democracia por forças de seguranças e milícias leais à família real tailandesa. No dia 6 de Outubro de 1976, mais de uma centena de estudantes foram mortos por grupos paramilitares ultra-monárquicos e de extrema-direita dias após um protesto contra o retorno ao país de dois ditadores derrubados três anos antes. Os estudantes ficaram presos no campus da universidade antes dele ser invadido pelos ultras, que mataram dezenas e feriram centenas, o que levou muitos outros a juntar-se aos guerrilheiros comunistas ou fugir para o exílio. A detenção de Wong foi criticada por organizações como Human Rights Watch, que através de seu subdiretor para a Ásia, Phil Robertson, recriminou a Tailândia pela sua vontade de ceder perante China. “Wong deve ser libertado imediatamente e deve ser autorizado a viajar e exercer o seu direito à liberdade de expressão”, disse Robertson em comunicado. Wong foi deportado em Maio de 2015 da Malásia, depois das autoridades locais terem impedido a sua entrada no país para participar de vários fóruns sobre o movimento pró-democrático de Hong Kong e o massacre de Praça Tiananmen.


13 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

DISPUTAS TERRITORIAIS RÚSSIA CONTRA TERCEIRAS PARTES ENVOLVIDAS

A

S questões relativas ao mar do Sul da China devem ser resolvidas através de diálogo, declarou o embaixador russo na China Andrei Denisov. Segundo afirmou aos media russos, as disputas territoriais só devem ser resolvidas através de diálogo político e diplomático e não se devem deixar influenciar por partes que nelas não estão envolvidas. A China e uma série de outros países da região (Rússia, Vietname e Filipinas) têm disputas territoriais relativamente a fronteiras marítimas e zonas de responsabilidade nos mares do Sul da China

e da China Oriental. A China é da opinião que Filipinas e Vietname aproveitam conscientemente o apoio dos Estados Unidos para a escalada de tensões na região. Ao mesmo tempo, o embaixador russo notou que a posição da Rússia nessa questão é simples e consequente. “A nossa posição é bastante simples e é boa por ser simples, clara e consequente. Nós não temos necessidade de mudá-la de qualquer forma, reconsiderar ou esclarecer”, disse. O diplomata destacou também que as disputas em relação

EQUADOR MINISTRO CHINÊS DEFENDE ‘DESENVOLVIMENTO INDEPENDENTE’ ao mar do Sul da China devem ser resolvidas sem participação de países que não estejam envolvidos directamente. “Os problemas devem ser discutidos e resolvidos por aqueles países que têm directamente a ver com eles, porque a interferência de terceiras partes, de diferentes conselheiros ou, digamos, dos que gostam de dar cotoveladas a um lado ou outro a partir do exterior, como regra geral tem acontecido quase todo este tempo, é pouco construtivo”, sublinhou Denisov.

JULGAMENTOS EM DIRECTO PELA INTERNET

Justiça para todos

A

China vai transmitir pela Internet vários julgamentos, desde divórcios a casos de assassinato, uma medida que pretende aumentar a transparência judicial. Segundo a BBC, o site permite que os utilizadores acedam ao mapa da China e seleccionem a província onde o julgamento que pretendem assistir está a ocorrer. O público pode assistir a algumas sessões ao vivo, enquanto que outras são gravadas. Após escolher um julgamento, o utilizador terá uma visão geral de cada uma das sessões – a perspectiva da defesa, juízes e advogados. “Os julgamentos ao vivo serão utilizados para cobrir vários

U

M alto funcionário da embaixada norte-coreana em Pequim desertou, segundo a agência de notícias da Coreia do Sul, enquanto outra fonte aponta para dois funcionários que pediram asilo junto da missão japonesa na capital chinesa. Esta seria a mais recente de uma série de deserções de altos dirigentes norte-coreanos, que observadores internacionais vêem como sinal de uma crescente instabilidade na liderança de Pyongyang. A agência Yonhap, citando uma fonte anónima “próxima dos assuntos de Pyongyang”, disse que o funcionário em questão – colocado na embaixada de Pequim mas ligado ao Ministério da Saúde norte-coreano – desapareceu com a sua família no final de Setembro. A

casos e salvaguardar melhor os direitos do povo de saber e supervisionar”, disse Zhou Qiang, chefe do Supremo Tribunal Popular da China, citado pela

agência de notícias Xinhua. De acordo com Zhou Qiang, esta iniciativa irá melhorar o processo de julgamento, garantindo imparcialidade e justiça. No entanto,

O

ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, disse nesta terça-feira, em visita a Quito, que Pequim apoia os esforços do Equador para alcançar um desenvolvimento independente através da industrialização e irá colaborar com o país na reconstrução das zonas afectadas pelo terramoto de 16 de Abril. “A China vai oferecer sua ajuda com acções reais ao Equador. Para ajudar a aumentar sua capacidade de desenvolvimento independente, para que não dependa da exportação de produtos primários”, afirmou Wang Yi. Ainda de acordo com o

alguns julgamentos de casos políticos e polémicos continuarão a ser realizados em privado. A advogada Lu Miaoqin é uma das apoiantes da transmissão ao vivo de julgamentos porque “faz com que os advogados sejam mais profissionais”. Outros advogados são mais cautelosos, como é o caso de Liang Xiaojun, que não considera que a iniciativa seja “apropriada”, visto que “muitas das pessoas envolvidas nesses casos provavelmente não querem partilhar as suas informações pessoais com o público”. O advogado Zhang Yangfeng diz que a transmissão ao vivo de julgamentos é “uma forma de garantir que a Justiça não seja corrupta e de prevenir qualquer manipulação” mas, por outro lado, “pode usurpar a privacidade das pessoas”. A província de Jiangsu e a província de Cantão são pioneiras desta iniciativa – já o Tibete, Xinjiang e outras áreas mais remotas ainda não transmitem sessões ao vivo.

Pernas para que te quero

Alto funcionário de embaixada norte-coreana deserta em Pequim

fonte disse que o funcionário era responsável por abastecer com material médico uma clínica em Pyongyang que assiste o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e a sua família. O Ministério da Unificação da Coreia do Sul, que tem como política não comentar casos de deserção, especialmente de altos cargos, disse não poder confirmar as notícias. Já o jornal sul-coreano JoongAng Ilbo noticiou que dois funcionários da embaixada pediram asilo ao Japão. O jornal citou uma fonte anónima que diz que os dois dirigentes não são diplomatas, mas sim funcionários

CHINA

com ligação a um departamento do Governo norte-coreano. O porta-voz do Governo japonês, Yoshihide Suga, negou que alguma aproximação tenha sido feita à missão japonesa. “Não há qualquer verdade nos relatos de que requerentes de asilo norte-coreanos contactaram a embaixada japonesa, e não temos conhecimento de qualquer situação envolvendo norte-coreanos que desejem desertar para o Japão”, disse Suga, numa conferência de imprensa. ACoreia do Norte tem assistido a várias deserções de alto nível, a mais recente do vice-embaixador para o Reino Unido, que fugiu para

a Coreia do Sul. Num discurso no passado sábado para assinalar o Dia das Forças Armadas, a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, instou directamente mais norte-coreanos a abandonarem o seu país. “Tem havido persistentes deserções, até por elites norte-coreanas que apoiavam o regime. Vamos manter a porta aberta para que encontrem esperança e vivam uma nova vida”, disse.

ministro chinês, o seu país entende muito bem o “esforço necessário para impulsionar o processo de industrialização” e oferecerá “todo o equipamento, tecnologia e formação de talentos” que o Equador precisar. Por sua vez, o chanceler equatoriano, Guillaume Long, reconheceu o apoio da China através “das obras no sector energético, as hidroeléctricas e financiamento”, de grande importância para a “transição de uma economia exportadora de matérias-primas para uma economia muito mais sofisticada”. Segundo Long, a colaboração chinesa “tem sido e continuará a ser fundamental”.

O fim do stealth

Novo radar capaz de detectar aviões furtivos

C

IENTISTAS chineses elaboraram um sistema pequeno, potente e seguro de radar baseado na física quântica com o objectivo de detectar alvos furtivos localizados a 100 quilómetros de distância, informa a corporação chinesa China Electronics Technology Group Corporation (CETC). A empresa descreve o dispositivo como o primeiro sistema de radar quântico que usa fótons interligados que permanecem invisíveis para os sistemas já existentes. Caso o equipamento se torne realidade, essa notícia não será boa para o Pentágono que investe fortemente nas tecnologias stealth. As mais recentes entregas do Departamento da Defesa dos EUA incluem o caça Lockheed Martin F-35 Lightning II e o destroyer de mísseis guiados USS Zumwalt (DDG-1000) que possuem tecnologia stealth. O radar inovador chinês usa um fenómeno chamado entrelaçamento quântico. O uso desta tecnologia permite obter informações críticas sobre o alvo, incluindo sua forma, localização, velocidade, temperatura, entre outras características, revela o cientista Stephen Chen. O radar já passou por uma série de testes interceptando alvos a 100 quilómetros de distância, embora o seu alcance possa ser ainda maior. Segundo informou o professor chinês Ma Xiaosong ao jornal South China Morning Post, o anúncio do novo modelo já se tornou viral na comunidade de pesquisadores. A CETC projecta e fabrica equipamentos electrónicos avançados, sistemas de informação, software e componentes militares e civis. A corporação é composta por vários institutos de pesquisa que, segundo é informado, desenvolveram sistemas eletrócnicos para a primeira bomba nuclear da China, um míssil guiado e um satélite geoestacionário.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

Amélia Vieira

Boca do Inferno

«Afastai-vos de mim que aguardo sem boca; aos vossos pés nasci, porém vós me perdestes; bem demais com o meu fogo demarquei o meu reino.... » René Char, Furor e Mistério

A

GUARDAR o tempo certo, estar mansamente escutando as gentes, ver nelas toda a gente -quaisquer pessoas - que estas são um coro, uma ladainha grega de choro, sem a trágica profecia. Deixá-las debruçarem-se na soberba, na imensa e difusa consubstancialização da sua espuma, das suas névoas, dos seus saberes, dos seus deteres, que, nada se propagará para além desse instante de dolo, gigante bolo, argamassa das horas. Há muita vacuidade nestes tempos! Metade do que se anda a fazer é inútil e uma grande parte não serve para nos alegrarmos tampouco. Estamos assim, sempre expectantes que algo mais novo do que o novíssimo instante nos preceda e de tal forma estamos confiantes que o mundo tem como factor principal o surpreender-nos, que não nos interrogamos da farsa da “imaginação” decalcada em contínuas representações sem o menor interesse. A vida como representação e “performance” tende a ser uma tendência que não entende o rigor e a quem se destina. Nas coisas simples há que ser simples, nas coisas ordeiras há que ser recto, nas coisas básicas há que ser prático, mas a avaria da complexidade permanente é talvez o mais notório elemento de uma máquina louca onde todos por uma razão qualquer se atropelam para escrever, dizer, pensar a melhor coisa. Uma forma de viver que cansa, só de a pensar – que a forma de nos darmos é uma competição atenta – aturada, programada. Ora, tudo isto retira liberdade de expressão, espontaneidade , profundidade a toda a constelação da inventividade pura. Já sabemos por vezes como os livros esgotam e quem os faz tão prolíficos nas vendas, as coisas que se fazem para resultar na fonte das estatística! Eles andam aí, esses “escritores” que nos perguntamos o que falhou para aqueles semblantes não negarem uma coisa que é da ordem da blasfémia comportamental. Mas não só destes obreiros estamos povoados: há os recintos dos obreiros, que ora estão em Centros Comerciais, ora em Bancos

como as Caixas, ora ali, ora acolá.... E, nestes antros de sub-desenvolta vida cultural nos vamos amarfanhando até ao ponto da renúncia. Tudo se faz por inscrições e por altas paragonas que dizem «Esgotado» para reverterem à sociedade o bem que esta lhes fez, transferem para as pobres consciências, delas, espaços que não lembram ao Diabo. Ao Diabo do dito interesse do saber. Uma escolta de propósitos propagandísticos e mesmo publicitários, se reúne nas bordas dos eventos. Não são estes os Festivais Medievais em que toda a gente se mascara de Afonso Sanches, Urracas ou Joaquinas, estando para saber o manifesto interesse de tanta figuração em volta de um Mosteiro, Templo, ou outras coisas: tudo o que não passe por uma ardilosa representação parece aos olhos fatigados e públicos, de descoroçoado interesse, pois que a abstracção não foi

desenvolvida para uma arquitectura de pensamento que relegue para a imanação somente: é preciso qualquer fenómeno visual; e entre doces, bordados, cornetas e assobios, tudo é Cultura, ou seja, a vastidão é tanta que a Cultura já nem se sabe às páginas tantas onde anda e em que sentido transporta os seus grandes afãs. Vivemos alquebrantados de cultura de culto duvidoso: quanto aos terreiros, quem nos dera serem de Santo, aquele sincronismo deveras cultural entre a tradição europeia, africana e índia, mas nada disso! Somos de um tempo em que falavam os mestres, entravam as gentes, sentavam-se todos, nem que fosse ao colo, nem que fosse na pedra, nem que fosse na mesa, não se deixava ninguém de fora, havia o manifesto contacto de que os lugares são coisas irrisórias face ao que íamos escutar e, porque todos tinhamos os mesmos ouvidos, o amor

Entre doces, bordados, cornetas e assobios, tudo é Cultura, ou seja, a vastidão é tanta que a Cultura já nem se sabe às páginas tantas onde anda e em que sentido transporta os seus grandes afãs

de todos pela audição, trabalhava em grupo que se auto-regulava para obter o mesmo fim. Depois, as bocas abrem-se mas nós já estamos tão bem, que deixámos de ser a sala cheia e o calor de todos, para darmos encantados as boas vindas aos discursos. Era assim, entre deslumbre e vida simples, entre estar e partilhar, entre tecer e beber, que a Cultura, esse elo feito de interesses conjuntos, de muito labor e sintonia, nos convocava para as fontes. Pessoa muito aborrecido estava e sabe-se o quanto era apreciador de literatura criminal e faz aquela bela armação com Crowley fazendo-o desaparecer lá para a Boca do Inferno. Ambos se divertiram imenso, aliás, ambos eram grandes poetas, esse dom embate no outro e produz coisas inovadoras mesmo que sejam estranhas. Sabe-se que andavam mesmo embeiçados pela Dama Escarlate, a companheira de Crowley, tendo mesmo erotizado Pessoa a um grau que nunca até então lhe tinha sido visto. Fizeram coisas criativas e giras, como se diz em linguagem chã, sem precisarem de grandes recintos e inscrições para escutar qualquer palestrante que duvido os pudesse manter quietos nas cadeiras. Tudo isto se passou há um século, num tempo atrasado, como se diz e melhor se pensa, tão atrasado, que neste adiantamento onde nos situamos nem sabemos se existiu. Poder-lhe-íamos chamar a tão inesperado instante uma «Divina Comédia» mas dado que a laicidade obriga e a comédia é farsa, temos então uma órbita alargada de divertimento cosmopolita através de uma população informe que escuta o «Homem que aguarda sem boca» o que «O dos ouvidos sem tímpanos há-de escutar» “Porém, vós me perdeste”, diz o Homem sem boca de Char “e a vossos pés nasci.” O Homem sem Boca não foi mais avistado entre as gentes do seu país. Saiu, fechou o postigo do tempo e ninguém mais o ouviu. Nós tinhamos todo o interesse em gritar: “Afastai-vos de Nós que aguardamos sem Boca”. Somos um buraco rochoso por onde os magos desertam nas águas. “ (...) sem companhia, mudos e sozinhos, íamos, um atrás do outro e outro no topo, como frades menores pelos caminhos (...)” Dante, Divina Comédia, Canto XXIII


15 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

José Drummond

A solução para os seus problemas Cara leitora Está desesperada? Deprimida? Ansiosa? Sente uma angústia tremenda? Um desânimo contínuo? Um desencanto com tudo? Com a filha que passa a vida a tirar “selfies”? Com o filho que passa a vida a jogar computador? Com o marido que continua a chegar tarde a casa? Com o marido que já não lhe compra flores? Com o marido em geral? A cara dele é suficiente para a pôr naquele estado de não saber o que fazer para se ajudar a si própria? E se não tem marido nem filhos sente-se ainda pior? Não pode confiar no namorado? Sente-se gorda? Cada vez mais gorda? Parou de comer açúcares? E parou de comer glúten? E parou de comer carne vermelha? E quase parou de comer? E o corpo não lhe obedece? Pensou que precisava de ajuda? Inscreveu-se no ioga? Dois anos no ioga que não a motivaram? Que não lhe fizeram nada? Todos aqueles benefícios que seria suposto encontrar, todos aqueles estímulos e boas energias parecem desaparecer no momento em que sai das sessões? Sente que andou a gastar dinheiro e tempo à procura de calma e paz que nunca sentiu. Quis acreditar? Acreditou muito? Acreditou que iria encontrar aquele equilíbrio espiritual e físico que à tanto tempo procura? Acreditou mas não aconteceu? E por isso também gastou dinheiro no “reiki”? E para quê? Para nada? Sente que está tudo na mesma? Que as suas energias são sempre negativas ou inexistentes? Porque nada parece resultar resolveu gastar um dinheirão em meditação transcendental? E, de novo, nada? Nada para além de ter gasto tempo e dinheiro? A única coisa verdadeiramente transcendental é a forma como tem gasto dinheiro nestas charadas? Inscreveu-se nas aulas do Pole Dancing? Comprou todas as roupas apropriadas? Tinha um novo sorriso na cara quanto começou? E depois? Passados quatro meses? Tudo voltou ao normal? Ainda se sente gorda? E agora até se sente desconjuntada? Por vezes acha que os braços e as pernas estão fora de si? Gastou dinheiro e tudo o que conseguiu foi fazer figuras tristes enquanto achava que ia voltar a ganhar aquelas linhas de corpo que tinha aos vinte anos?

Também experimentou o ginásio? No ginásio não tinha que suportar com as conversas daquelas miúdas novas no pole? Aquelas miúdas com imensa elasticidade? Foi por isso? Se calhar é uma dessas miúdas e sente o mesmo? Às quartas ainda continua a ir ao ginásio mas desde que o Paulus, aquele rapaz italiano que a ajudava com os exercícios de barras, se foi embora tudo aquilo também parece já não ter mais interesse? Pensa que talvez tenha antes que fazer dança? Aeróbica? Ou talvez danças de salão? Tango? Cha Cha Cha? Qualquer coisa que a faça sentir melhor?

vinte ou quarenta anos e compra todos aqueles comprimidos com compostos de vitaminas? E continua a envelhecer? Sente que o envelhecimento não é uma situação passageira? Não consegue perceber aquelas pessoas que parecem estar bem em ficarem mais velhas? E tem uma coleção de sapatos e malas? Com todas as novas lojas de marca pode dedicar-se a este devaneio com regularidade? Mas mais de 100 pares de sapatos não a fizeram mais feliz? E todas aquelas malas da LV, Hermes, Dior e de todos os outros também não a fizeram mais feliz? E joias? Joias que não pode usar quando vai sair com o

Tenha calma. Eu percebo-a. A solução para os seus problemas existe. Tenho mais de trinta anos a trabalhar nesta área. Não gaste mais dinheiro em todas essas coisas que não lhe trazem felicidade real. A solução é bem mais fácil e simples do que pensa. Acredite em mim. Compre arte e garanto-lhe por experiência própria que a sua vida muda de um dia para o outro. A ajuda que tanto tem procurado está em cada objecto artístico. Compre arte. Contacte-me ainda hoje que eu irei ouvi-la com a maior atenção e dar-lhe-ei a arte que necessita para iluminar os seus dias. E se for necessário um tratamento mais prolon-

Mambo? Zumba? Ou até talvez uma coisa tipo Bollywood? Uma dança do ventre? Acha por momentos que isso poderia ser realmente sexy? Mas depois como é que vai fazer com o umbigo? Faz um piercing? Isso se calhar já não é para a sua idade e depois como é que vai explicar aos filhos e ao marido que tem um piercing no umbigo? O que é que eles irão achar? E pensa: “Ah se eu fosse mais nova”? E se calhar até é mais nova mas sofre do mesmo problema de não viver a vida como gostaria de ser capaz? Nada parece ser a solução perfeita? Sente-se feia? As rugas aparecem com uma frequência cada vez maior? Vê os anos a passar e tudo se torna cada vez mais horrível? Gastou um dinheirão em tratamentos de pele? E em cremes? Em fórmulas anti-envelhecimento? Em colágenos e sérums? E não importa se tem

marido porque não quer que ele saiba que anda a gastar tanto dinheiro? Tudo isso para quê? De vez em quanto consegue escapar-se com amigas para Phuket? Okinawa? Outros destinos? Mas acaba por não fazer nada de interessante? Mais de metade do tempo passa-o no resort? Na piscina? Nos restaurantes que passado um tempo são todos iguais? E as amigas estão cada vez mais futéis? Mais desinteressantes? Por vezes questiona-se como é possível dar-se com elas? E começa também a sentir-se fútil e desinteressante? Tudo não passa de uma escuridão? Começou a deixar de acreditar em si e no mundo? Perdeu o interesse por o que quer que seja? Sente-se desencorajada com o futuro? Sente-se até mesmo culpada por ter deixado isto acontecer-lhe? Sempre acreditou que o seu futuro ia ser brilhante?

gado compre arte todos os meses. Irá perceber que todas as soluções para o seu estado de tédio encontram-se no amor de obras artísticas. Irá recuperar o ânimo e o gosto pela vida que tanto quer. Quando se sentir cansada pode demorar-se em deleite a olhar para peças de real valor artístico e não meros sapatos ou meras malas que saem de moda. Colecionar arte não sai de moda. A calma e a felicidade de ter obras artísticas a alegrar a sua casa irão dar-lhe um sabor muito especial na vida. Sentirá que a vida tem finalmente um sentido. Socialmente será vista como pertencendo ao topo do topo das elites. Contacte-me ainda hoje que eu tenho as respostas que necessita. Atenciosamente, Um artista ao seu dispor


16

T

h

ERTULIANO Máximo Afonso é professor de História. Ao visionar um filme banal chamado “Quem porfia mata caça”, que um colega de matemática lhe recomendara, descobre que um dos actores é um sósia seu. Aliás, parece mais do que um sósia, parece ele mesmo, por várias razões. Um sósia, qualquer pessoa pode ter, mas a existência de uma outra pessoa que afinal parece que somos nós é mais perturbador. O argumento do livro é a sua demanda e depois o confronto com o actor que é o seu duplicado. Afinal o professor de história Tertuliano Máximo Afonso o que descobre, num certo dia, é que é um homem duplicado, que ele é duas pessoas. Os desdobramentos dessa história são imprevisíveis. Mas, neste romance de José Saramago, o que está em jogo é a perda de identidade numa sociedade que cultiva a individualidade e, paradoxalmente, estabelece padrões estreitos de conduta e de aparência. Os romances da fase final da carreira literária de José Saramago retratam uma época de transformações e de perdas. Em Ensaio sobre a cegueira, os personagens perdem a vista, sinal de um tempo em que todos parecem estar cegos. Em A caverna, os artesãos perdem o emprego, como consequência da hipertrofia das chamadas grandes superfícies. Em O homem duplicado, José Saramago explora a perda da identidade num mundo globalizado. Tenho sérias e fundadas razões para considerar simplista esta perspectiva de que a globalização desfavorece em mau sentido a ideia de identidade, além de que não tenho pela ideia de identidade uma opinião tão favorável como parece ser a de Saramago neste romance temático, ideológico e ensaístico. Mas irei voltar ao assunto, mais à frente. Em resumo: Esta novela propõe uma reflexão sobre o estatuto do indivíduo, no quadro da sua auto representação social e num enquadramento muito comum nas sociedades modernas de solidão e isolamento. Sabe-se como a presença do outro é determinante para a realização do indivíduo, e eu diria a todos os níveis, psicológicos, sociais, culturais e económicos até. Sem a presença do outro a vida pode tornar-se um inferno. A vida privada ou pessoal sem a alteridade e a vida pública ou social, que inclui a presença do outro, não faz sentido. E é aqui que uma perspectiva crítica das críticas da globalização faz todo o sentido. Parece que a globalização representa um perigo que atenta contra as idiossincrasias locais, regionais e nacionais portadores todas elas de uma ideia específica e distintiva de cultura. Ora isto é muito bom quando por outro lado verificamos que “Por todos os lados, triunfam o regionalismo, o localismo, o nacionalismo... é o retorno dos vilarejos”(Steiner). No Processo Civilizacional de Norbert Elias no capítulo dedicado à Sociogénese dos Conceitos de Cultura (Kültur) e Civilização (Civilisation), ficou para mim claro que a excessiva promoção da cultura pode resultar num reforço da Identidade mas também num fechamento, numa clausura na figura do Mesmo que se traduz invariavelmente por isolamente e desconfiança relativamente ao Outro. A globalização possui pelo menos essa potencialidade positiva:

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

fichas de leitura

De Saramago a Steiner UMA MUDANÇA DE PARADIGMA

Saramago, José, O Homem Duplicado, Caminho, Lisboa, 2002. Descritores: Identidade, Solidão, Representações sociais, Literatura, ISBN: 972-21-1507-3, 318 Páginas. Cota: 821.134.3-31 Sar

a de romper os insulamentos isolacionistas que são quase sempre fonte de discórdia, medo, tensão e, não raro, conflito e afrontamento. Eu conheço uma frase de Saramago, que ele usava reiteradamente como alternativa à célebre locução salazarista do “orgulhosamente sós”. Devem recordar-se dela. Ora a locução de José Saramago rezava assim: “orgulhosamente nós”. Tive um dia a ousadia de, sem ofensa, lhe ter dito em público que não havia uma diferença significativa entre as duas proposições quer no plano dos seus significados ideológicos e até filosóficos quer no plano mais aberto de uma pragmática da comunicação. Atrevo-me até a considerar a frase de Saramago mais reaccionária que a frase de Salazar, conquanto seguramente não fosse essa a sua inteção, bem pelo contrário. Também me parece que a consideração do escritor é mais nacionalista e redutora e promove uma identidade mais hostil às figuras do cosmopolitismo e da alteridade. A primeira pessoa do plural que subentende o respectivo possessivo serve muito melhor o dispositivo de enraizamento, pré-figurado nas célebres expressões, curiosamente femininas, ‘da nossa terra’, ‘da nossa língua’, ‘da nossa raça’. “Nossa” ou “minha”, para o caso tanto faz; mas o “nossa” é até mais vinculativo no plano nacionalista, pois contém os elementos corporativos e holistas mais à flor da pele. Ora, a segunda pessoa do plural embora aparentemente pareça menos egolátrica, não só não o é menos como até o é mais, arregimentando de facto um conjunto de Eus, porém reduzidos na sua valência eventualmente subversiva e já a montante domesticados pela figura consensual e estática do rebanho/comunidade. Falta-lhe na génese etimológica e generativa a mobilidade e a diáspora que subentende o ego livre e (an) árquico. Finalmente o tema da perda da identidade, implicitamente criticado, é por curiosidade um dos conceitos motores de uma filosofia tão ‘generosa’ como é a filosofia de Emanuel Lévinas, que chega a propor a alienação de si nessa atitude de vénia diante da transcendência que o Outro representa. Mas no limite não se trata de uma perda da identidade entendida segundo os modelos da ontologia levinasiana, mas simplesmente a submissão a uma hierarquia em que o

rosto do Outro, enquanto epifania da transcendência, se me impõe como mandamento e submissão. A submissão consiste na deposição de um poder e não numa desindividuação ou na literal perda da subjectividade. Este ser que se demite dos seus poderes é simplesmente um ser mais nobre alimentado desde a raiz por uma Sagesse de l’Amour, para usar a expressão de Alain Finkielkraut, que rompe com a tirania claustrofóbica do il y a para ser plenamente Ser, já que recupera uma parte não despicienda da ontologia socrática de que o Ser só é Ser na condição de Ser para o Bem, plasmada no caso da ontologia levinasiana na asserção de que o bem só é o Bem se for para o Outro. Porque é o Outro e não o Mesmo que é a condição de possibilidade da minha humanidade. Por isso o Outro não é castigo, mas “Chance”. Para mim, portanto, toda a ênfase colocada por Saramago na crítica da Globalização como fonte recente para as crises da identidade me parecem erradas e até pouco consentâneas com o que devia ser o internacionalismo das suas convicções políticas. Nesse sentido deve agradecer-se à globalização, contudo não a esta, refém do capital financeiro internacionalizado com as suas taras já sobejamente conhecidas, centradas numa idolatria pré-crítica e pré-moderna dos mercados; mas à globalização que aproxima povos e culturas em torno de valores de civilização comuns. É a ideia de Comum, tão cara a Agamben ou a Vattimo, ou a Negri, que regressa, agora com a globalização centrada numa ideia de Comunidade Global. Porém o romance O Homem Duplicado não se esgota nesta problemática e a sua leitura justifica-se plenamente à luz de outras grelhas

Manuel Afonso Costa

de descodificação, algumas bem modernas e pertinentes, como seja o tema da solidão. Mas vou-vos confessar que também neste domínio a posição de Saramago me interessa menos que por exemplo a posição de Georg Steiner com quem no plano ideológico me identifico muito mais. Ele disse numa entrevista isto: “os jovens já não têm tempo... De ter tempo. Nunca a aceleração quase mecânica das rotinas vitais tem sido tão forte como hoje. E é preciso ter tempo para buscar tempo. E outra coisa: não há que ter medo do silêncio. O medo das crianças ao silêncio me dá medo. Apenas o silêncio nos ensina a encontrar o essencial em nós”. Se trocarmos o silêncio pela solidão. e neste caso são intermutáveis, percebemos a mudança de paradigma da geração dele para as gerações dos nossos dias. Todo o processo de desdobramento intersubjectivo, todo o processo do achamento do ser passa por esta iniciação ao silêncio ou à solidão. O culto da solidão contém também a possibilidade de guardar, de não partilhar levianamente, de manter silêncio e Steiner di-lo lapidarmente: “Para mim, a dignidade humana consiste em ter segredos”. Por vezes o grande diálogo, a grande partilha, a confissão profunda, a cumplicidade, reside nesse desdobramento em que, como salientou Agamben, dialogamos com o nosso Genius. Hoje em dia as pessoas fogem da solidão a sete pés ou então vão a correr deitar-se na cadeira do psicanalista. O pudor, a reserva, a opacidade deixou de ter valor, e assim nos vamo convertendo numa sociedade de streap teasers mentais sem vergonha e sem escrúpulos.

JOSÉ SARAMAGO, poeta (Os Poemas Possíveis, 1966, Provavelmente Alegria, 1970, O Ano de 1993, 1975); dramaturgo ( A Noite, 1979, Que Farei com Este Livro?, 1980, A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987, In Nomine Dei, 1993, Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005) e romancista (Terra do Pecado, 1947, Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, Todos os Nomes, 1997, A Caverna, 2000, O Homem Duplicado, 2002, Ensaio Sobre a Lucidez, 2004, As Intermitências da Morte, 2005, A Viagem do Elefante, 2008, Caim, 2009, Claraboia, 2011), conduziu uma vida intelectual e cultural, marcada pelo auto didactismo e pelo comprometimento social e político. Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Pública de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


17 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

TEMPO

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

ANIVERSÁRIO DA TUNA MACAENSE COM LANÇAMENTO DE CD Fundação Rui Cunha, 18h30

Amanhã

MIN

25

MAX

33

HUM

60-95%

EURO

8.94

BAHT

EXPOSIÇÃO “TESOURO DE ARTE SACRA DO SEMINÁRIO DE S. JOSÉ” Seminário de São José, 10h00 PALESTRA “A PRIMEIRA UNIVERSIDADE DO EXTREMO ORIENTE EM MACAU: O EMPENHO DOS JESUÍTAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA ÁSIA” Seminário de São José, 10h00

O CARTOON STEPH DE

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “INSPIRAÇÃO INOVADORA”, DE MAK KUONG WENG Jardim Lou Lim Iok (até 16/10) EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES / QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

C I N E M A

Cineteatro

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 93

PROBLEMA 94

UM FILME HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

YUAN

1.19

MONG KOK EM DIA NACIONAL

Sábado

Diariamente

0.23 AQUI HÁ GATO

NOITE COM PIANO NA GALERIA Fundação Rui Cunha, 19h00

PALESTRA “CONTRIBUIÇÕES DO SEMINÁRIO DE S. JOSÉ PARA A MÚSICA DO SÉCULO XX” Seminário de São José, 11h30

(F)UTILIDADES

No fim de semana passado escapuli-me e fui ali ao lado ver como se comemora o dia nacional. Jetfoil com enjoos à mistura, metros e enchentes de gente, mas lá cheguei a Mong Kok e às suas ruas atribuladas. O que vi impressionou-me, parecia que de repente não estava mais na região que mistura culturas. Dei comigo numa China profunda, de mercados, vozes altas e muita música pela rua fora entre decibéis acima da média que se iam misturando. Dei pelas multidões que passeavam ao fim do dia e paravam para ver os agrupamentos que, com as colunas às costas, se instalavam de dez em dez metros a cantar os hits de uma revolução com 67 anos, misturados com as “pequenas maçãs” que fazem o top da Pequim actual. Aqui e ali, apesar da noite já ter caído, dançavam as pessoas de meia idade com chapéus a adornar as cabeças e óculos de sol dos anos 80 a relembrar tempos idos. Simultaneamente, faziam as coreografias de uma revolução entre passos atabalhoados e outros mais sincronizados com intervalos que davam a entender que estavam a recorrer à memória para continuar. No meio de tudo, um sorriso de quem vive uma espécie de lar. Era Hong Kong habitado por si próprio, numa mescla de gentes que aproveitaram a data para relembrar origens. Como estaria Macau nesse dia? Pu Yi

“JULIETA” (PEDRO ALMODÔVAR, 2016)

Almodôvar teve, ao longo da sua carreira, vários rostos e personagens atrás da câmara e com ele olhámos para o retrato de Espanha, o retrato dele mesmo, da vida dele e da nossa. O Almodôvar contemporâneo é um realizador mais maduro, mas com a belíssima capacidade de contar histórias e de nos surpreender. Com “Julieta” existe tamanha beleza no ecrã que o filme demora a sair de dentro de nós. Talvez não saia nunca. Andreia Sofia Silva

MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN SALA 1

MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN [B] Filme de: Tim Burton Com: Eva Green, Samuel L.Jackson, Judi Dench, Asa Butterfield 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

DEEP WATER HORIZON [B] Filme de: Peter Berg Com: Mark Wahlberg, Kurt Russel, John Malkovich, Kate Hudson 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3

STORKS [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Nicholas Stoller, Doug Sweetland 14.30, 16.15, 19.45

STORKS [A][3D] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Nicholas Stoller, Doug Sweetland 18.00

BLAIR WITCH [C] Filme de: Adam Wingard Com: James Allen McCune, Brandon Scott, Callie Hernandez 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau quinta-feira 6.10.2016

chá (muito) verde

Memórias de Alecrim

A

LECRIM não era um amigo íntimo, nem um amigo, longe disso. Terei trocado meia dúzia de frases com ele nesta década e meia que levo de Macau. Mas era impossível viver aqui todo este tempo e não saber quem era o Alecrim. As suas histórias esvoaçaram sempre de ouvido em ouvido, exportadas de boca em boca, com a mesma ligeireza e alegria com que ele as contaria. Das mais libidinosas às mais heróicas, as histórias do Alecrim ecoam imagens de um passado que nos permitem ver para além deste mar de vidro e luz em que navegamos, sentar-nos nos recantos mais esquecidos da cidade, onde todos os passados ainda são possíveis, e tentar compreendê-la, senti-la, ficar mais próximo, desta urbe milenar que a tantos parece tão pouca coisa. Alecrim era embaixador de um tempo (o passado parece sempre romântico porque, no fundo, a nossa dificuldade de relação é com o presente - o passado era bom e o futuro vai ser uma maravilha), uma verdadeira janela para um passado que nos permite ver esta cidade para além da mera percepção, esta terra que tanto acolhe como repela. Alecrim era daquelas personagens maiores do que a vida, motivo de inspiração para

qualquer romancista que se preze, como o era, também e por exemplo, o Padre Manuel Teixeira que ainda consegui ver no seu calcorrear diário da ponte Nobre de Carvalho. São personagens com história e com histórias. Personagens que quando calhamos estar no mesmo espaço do que elas sabemos estar na presença de alguém fora do normal. São personagens como estas que encarnam a verdadeira dimensão desta terra que vai muito para além dos seus 28 kms, ou 29, ou 30, ou...

Alecrim era daquelas personagens maiores do que a vida, motivo de inspiração para qualquer romancista que se preze Alecrim era um símbolo de uma geração que viu o mundo transformar-se de uma forma inaudita. Da independência de Goa à invenção do iPhone 6, para ser mais prático. Os nossos filhos, seguramente, verão transformações superiores em menor espaço de tempo, mas o mundo de Alecrim não fica a dever ao deles em nada. Para além de ofuscar as luzes, o Alecrim permitia-nos ver, e perceber, porque tantos estrangeiros escolheram Macau como casa ou abrigo de longa duração. “Porque às Costas do Sul da China arribam apenas loucos e aventureiros?”, interrogava-se um

FERNANDO ELOY | 义來

historiador chinês num qualquer livro que li algures. Alecrim caberia, provavelmente, na definição daquele historiador, como muitos de nós que para aqui andamos, imagino. Alecrim era ainda um símbolo desses que, demandados para além de São Vicente, não mais voltaram encontrando “casa” num local tão improvável como Macau, sugerindo-nos interrogações muito pessoais sobre esse deixar, sobre esse permanecer. Alecrim dedicou a vida a Macau, provavelmente porque a colecção de memórias que aqui congregou terá sido tão incomensurável que não mais poderiam ser deixadas. As memórias são a última energia que nos restará quando nada mais houver que nos sustenha. Fazer memórias é, por isso, mais do que uma necessidade, uma obrigação para connosco próprios se ambicionamos a uma velhice decente. Alecrim é um excelente lembrete dessa necessidade. Porque se a memória de Alecrim é indissociável das suas memórias, a sua debanda deste mundo é uma oportunidade para reflectirmos na nossa própria fábrica de memórias e perceber se está a funcionar em pleno, se estamos de facto a extrair o máximo desta nossa vivência por estas bandas (que a nossa cultura crê exóticas) tal como Alecrim o fez. Não desejo paz eterna ao Alecrim mas sim vivacidade eterna. Como desejo para mim, e para si caro(a) leitor(a).

MÚSICA DA SEMANA

“Saviour Machine” (David Bowie, 1970) “I need you flying, and I’ll show that dying Is living beyond reason, sacred dimension of time I perceive every sign, I can steal every mind”


19 hoje macau quinta-feira 6.10.2016

bairro do oriente

A

China: sem “ismos”

SSINALOU-SE no passado fim-de-semana o 67º aniversário da implantação da R.P. China. Estávamos em 1949, e não fosse por um outro estado situado algures no Médio Oriente que tem o condão de se expandir em território sem que para isso seja necessário a intervenção da mãe natureza, e que havia sido reconhecido meses antes, eu diria que a República Popular foi “o menos consensual” dos estados inaugurados nesse ano. Assim, foi com redobrado interesse que assisti no último Domingo ao debate tripartido no programa “Contraponto”, onde o ilustre painel de comentadores se debruçou sobre o tema da China actual, presente, passado e futuro, tudo bem, óptimo, tinham toda a razão – e nenhuma. Não me levem a mal, pois eu próprio não faço a mínima ideia do que estou aqui a falar, mas é que quando se fala da China convém preencher alguns requisitos básicos, como por exemplo “ser chinês”. Mas chinês a sério, tão a ver? Com um pai, avô, bisavô e etcetera que também eram chineses? Comprar nacionalidades para se encostar a tachos políticos não conta, portanto. Podem não ter reparado, os ilustres elementos que compõem o painel do programa de debate da TDM, ou se calhar repararam mas estão-se nas tintas, não sei, mas quando falam da China a um chinês, a tendência é para que este faça um ar algo “enfadado”, desate a olhar para cima, suspirando enquanto pensa: “lá vai este ‘kwai-lo’ falar do que não sabe”. Aplicar conceitos como “capitalismo”, “marxismo” e outros “ismos” à China é um bocado como tentar encaixar um volume esférico num orifício quadrangular. A China é o que é e o que sempre foi desde há cinco mil anos, e as únicas diferenças são as mesmas que encontramos em toda a parte; hoje têm automóveis, electricidade, saneamento básico...espera lá, nem todos têm. E talvez seja exactamente por esse motivo que na China ninguém é Marxista, capitalista, democrata-cristão ou adventista do sétimo dia – mesmo que ostentem uma farda ou um crachá qualquer. Na China são chineses, e isso é já é uma ocupação em “full-time” que lhes deixa pouco tempo para se dedicarem a passatempos, especialmente aqueles que implicam debitar retórica que daria para encher o rio Yangtze. Facto: a China NUNCA será uma democracia parlamentar, e NUNCA se realizarão eleições directas pelo método do sufrágio universival. Ou melhor, talvez, quem sabe um dia, mas NUNCA sem que antes seja derramado tanto sangue que daria para encher...o rio Yangtze (peço desculpa, mas não conheço muitos rios chineses, e a minha

PENG SANYUAN, LOST AND LOVE

LEOCARDO

musa metafórica encontra-se a gozar as férias da “semana dourada”). Quando alguém me vem com uma conversa de que é possível implementar na China uma democracia de matriz ocidental, com eleições livres firmadas no princípio de “uma pessoa, um voto”, faço cara de caso. A mesma cara que qualquer um de vós faria se alguém vos tomasse por imbecis, ou retardados mentais, estão a perceber? É que nem uma criança de 8 anos acredita que depois de tudo o que tem sido feito no sentido de derrubar o regime, os eventuais novos líderes fossem realizar “eleições”, arriscando perder o poder como quem aposta as pratas da tia-avó numa volta da roleta no casino. A sério, eu mais do que duvidar de tamanho delírio, sinto-me ofendido. E no fundo tudo se resume a isso mesmo: o poder. Não é por inércia ou falta de tacto que o regime estagnou, ou que se inibe de levar a cabo as tão necessárias reformas que tornem o seu totalitarismo mais digerível: estão demasiado ocupados a segurar o poder. A História da China tem sido fértil em exemplos; cada vez que se mudava de dinastia, mudava-se de moeda, de caligrafia, de capital, de medidas de capacidade, distância e peso, do nome dos dias da semana, de tudo, de modo a deixar o menor rasto possível dos seus antecessores. O novo rei desconfiava de tudo e todos, até dos que o auxiliaram na tomada do poder. E tinha razões para isso, pois aqueles mais próximos do monarca não hesitariam em destroná-lo, e bastava uma oportunidade. E assim tem sido até aos dias de hoje, o que talvez ajude a explicar a rigidez do regime em certos aspectos, e por vezes ao

Na China ninguém é Marxista, capitalista, democrata-cristão ou adventista do sétimo dia – mesmo que ostentem uma farda ou um crachá qualquer. Na China são chineses, e isso é já é uma ocupação em “full-time”

ponto de chegar a cair no ridículo, tal é a insistência em manter algumas directivas bizarras. Não é que eles não queiram fazer certas concessões, mas preferem não arriscar: qualquer cedência pode ser entendida como um sinal de ruptura dentro do partido único, e juntando a isto o pressuposto da “face”, tão importante para os chineses, temos então a “chave do mistério”. Mesmo em Macau temos o caso da Assembleia Legislativa. Se um dos deputados do grupo dos “não alinhados” apresentar uma proposta de lei, é rejeitada sem apelo nem agravo, mas se o Governo apresentar a mesma proposta, palavra por palavra, é aprovada sem pestanejar – mesmo que quem vota a favor seja contra o seu conteúdo, como tem acontecido com as sucessivas restrições ao tabagismo. O partido, esse, está bem e recomenda-se. De facto existe o tal “risco de implosão”, e fricções internas a rodos entre os diferentes núcleos regionais do PCC, e convém “distribuir o mal pelas aldeias” – que neste caso é um “bem”. Contudo, não há que temer as ameaças externas, desde que a economia continuar a todo o vapor. Enquanto houverem “charters cheios de chineses”, citando o imortal Paulo Futre, a aterrar em Paris para “limpar” as lojas da Dior e da Channel, não há contra-revolução que resista. Na China há pessoas inteligentes e ábeis capazes de tocar o país para a frente, mas é preciso ser mais do que apenas a mulher de César. Não existe propriamente o conceito de “meritocracia”, e permitam-me que use outra o “apparatchik” local como exemplo, nomeadamente na trapalhada que fizeram com aquela noção de “talentos”. Sim senhor, o menino é muito bom, mas antes de mais nada vamos lá saber quem são os seus pais, os seus avós, amigos, com quem anda e onde vai, em que escola estudou e se existe algum historial de “dissidência”, nem que seja uma mera menção, ou algum comentário infeliz durante um momento menos “zen”. Isso do “talento” fica lá para o fim da lista, relegado para “critério de desempate”. Finalmente, Mao Zedong. Não quero que pareça que estou aqui a dar sermões seja a quem for, mas parece-me de má tez mencionar os erros do grande timoneiro no contexto do Dia Nacional. A imagem de Mao neste dia é o equivalente ao desenho do bolo de aniversário que aparece no perfil do Facebook de alguém no dia do seu aniversário: não nos diz se é boa ou má pessoa, mas apenas que “faz anos” – toca a dar-lhe os parabéns, então? Quanto ao resto, de mal a mal vamos a caminho das sete décadas de socialismo na China. E sabem o que mais? De todos os “ismos” penso que foi aquele que realmente fez algum bem à China. Pensem o que pensaram, milhão de mortos a mais, milhão a menos, o socialismo tem valido à China aquele que é provavelmente o seu mais longo período de paz social em séculos. E são 1300 milhões de alminhas, meus senhores. É preciso não esquecer esse precioso “detalhe”.

OPINIÃO


“ AGM QUER MAIS MEDIDAS PARA ENSINO DO PORTUGUÊS

A Associação Geral das Mulheres quer que o Governo dê a conhecer mais detalhes sobre o ensino do Português nas escolas privadas. A Associação relembrou, ao Jornal Ou Mun, que no Plano Quinquenal da RAEM o Governo assegura que vai promover o ensino da língua, mas poucos detalhes há. Assim, o grupo pede que o Governo “elabore medidas e desenvolva uma agenda faseada”, de forma a que as escolas possam saber as metas a atingir e para que tenham também tempo de preparação suficiente para o ensino daquela que é uma das línguas oficiais da RAEM.

CRESCIMENTO FMI MANTÉM PREVISÕES

O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve nesta terça-feira suas previsões de crescimento para a China, e advertiu as autoridades de Pequim para o risco da sua dependência do crédito. O FMI prevê para 2016 um crescimento de 6,6% - menor que os 6,9% de 2015, o mais fraco em 25 anos - e para 2017 prevê um crescimento de 6,2%.

LISBOA VARGAS LLOSA APRESENTA ROMANCE

PUB

O escritor Mario Vargas Llosa, distinguido com o Nobel da Literatura em 2010, apresenta o seu mais recente romance, “Cinco esquinas”, no sábado às 18:00, na sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, divulgou a editora. A obra, traduzida por Cristina Rodriguez e Artur Guerra, foi publicada pela Quetzal Editores em Junho último, e “trata-se de um romance sobre o poder, a sua sordidez, a manipulação – e também sobre o amor e o erotismo”, segundo a mesma fonte. O diário espanhol ABC, sobre o livro, escreveu: “Um pouco de sexo lésbico, que é o mais elegante, o prazer de ler sobre gente rica, conspirações políticas, um pouco de sociologia, um crime horrendo”. A revista Letras Libres afirmou por seu turno, que o “novo romance de Vargas Llosa é um retrato do Peru dos anos 1990, estremecido pela violência do [grupo guerrilheiro] Sendero Luminoso, a corrupção do Governo do [Presidente Alberto] Fujimori e escandalizado pelo jornalismo sensacionalista”.

Um aroma subtil/Um lume./Um fumo leve./Um delicado ritual./O impulso breve que se descreve/Quase indiscreto/quase sensual.” Camilo Pessanha

ONU ELEGE HOJE GUTERRES SECRETÁRIO-GERAL POR ACLAMAÇÃO

A pessoa certa no lugar certo

O

presidente do Conselho de Segurança da ONU disse aos jornalistas, no final da sexta votação do Conselho de Segurança para secretário-geral, que o organismo vai recomendar “por aclamação” o nome de António Guterres, hoje, quinta-feira, pelas 10 horas da manhã, hora de Nova Iorque. “Hoje, depois da nossa sexta votação, temos um favorito claro e o seu nome é António Guterres. Decidimos avançar para um voto formal amanhã de manhã [quinta-feira] e esperamos fazê-lo por aclamação”, disse aos jornalistas Vitaly Churkin, o representante da Rússia.

A MÃE DE TODAS AS ELEIÇÕES

Depois de uma hora e meia de encontro, pela primeira vez na história da organização os 15 embaixadores dos países com assento no Conselho de Segurança vieram falar aos jornalistas para anunciar o nome do português. “Senhoras e senhores, estão a testemunhar uma cena histórica. Nunca foi feito desta forma. Este foi um processo de selecção muito importante”, disse o embaixador russo. Momentos depois, a embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU disse que os 15 países membros do Conselho de Segurança decidiram unir-se em volta de António Guterres devido às provas que deu na sua carreira e durante a campanha. “As pessoas queriam unir-se em volta de uma pessoa que impressionou ao longo de todo o processo e impressionou a vários níveis de serviço”, disse Samantha Powell aos jornalistas. António Guterres ficou à frente desta última votação com 13 “encoraja” e não recolheu nenhum veto. Depois de cinco votações em que os votos dos 15 membros eram indiscriminados,

quinta-feira 6.10.2016

PIZZI NA SELECÇÃO

O médio do Benfica Pizzi foi chamado pelo seleccionador de Portugal, Fernando Santos, para a dupla jornada de qualificação para o para o Mundial2018, frente a Andorra e Ilhas Faroé, anunciou hoje a Federação Portuguesa de Futebol. A chamada de Pizzi deve-se à indisponibilidade de Nani, lesionado, para o primeiro jogo, com Andorra, na próxima sexta-feira, em Aveiro, na segunda jornada do Grupo B.

ANDY MURRAY SENTE-SE VÍTIMA DE PERSEGUIÇÃO

os votos dos membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e Estados Unidos) foram destacados pela primeira vez, sendo assim possível perceber se havia algum veto. António Guterres venceu as cinco primeiras votações para o cargo, que aconteceram a 21 de Julho, 5 de agosto, 29 de agosto, 9 de Setembro e 26 de Setembro. Depois de a resolução ser aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança, o nome de Guterres segue para aprovação na Assembleia Geral da ONU. O novo secretário-geral da organização substitui Ban Ki-moon e entra em funções a 1 de Janeiro de 2017.

COSTA ORGULHOSO E SATISFEITO

Em Portugal, o primeiro-ministro, António Costa, disse ontem, a propósito do aval dado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas à candidatura de António Guterres a secretário-geral, que “tudo indica que a pessoa certa” vai estar “no lugar certo”. Questionado pelos jornalistas sobre qual a sua reacção a esta aprovação, o governante disse: “Como português, [reajo] com um enorme orgulho, e como cidadão do mundo, com uma enorme satisfação, porque tudo

indica que vamos ter a pessoa certa no lugar certo”. “Acho que à sexta votação já ninguém tem dúvidas que a pessoa melhor colocada para exercer funções de secretário-geral das Nações Unidas é o engenheiro António Guterres”, salientou.

PARABÉNS DOS RIVAIS

A búlgara Kristalina Georgieva, que já deu os parabéns a António Guterres e desejou-lhe “as maiores felicidades” e “toda a sorte no cumprimento da agenda ambiciosa das Nações Unidas”, recebeu oito votos negativos (dos quais dois de membros permanentes), cinco votos a favor (dois também de membros permanentes) e dois neutros (entre os quais o quinto membro permanente do Conselho de Segurança), indica a France Press. Outra candidata, a neo-zelandesa Helen Clark, também já saudou António Guterres, lembrando que ambos coincidiram nos cargos de primeiro-ministro e na liderança de agências da ONU. Irina Bukova também deu os parabéns a Guterres, mostrando-se convicta de que ele será “um excelente novo secretário-geral da ONU”.

O tenista escocês Andy Murray, número dois mundial, disse ontem ter sido vítima de perseguição por uma funcionária de hotel, que entrou no seu quarto enquanto dormia, seguindo-o pelo menos em dois torneios. O bicampeão olímpico e tricampeão do ‘Grand Slam’ contou que acordou com a mulher sentada na sua cama, acariciando o seu braço. “Entrou no meu quarto. Sentou-se ao meu lado. E começou a acariciar o meu braço, às 07:00, enquanto dormia”, revelou Murray. O número dois do ténis mundial disse que foi alvo de perseguição em hotéis em Roterdão e Barcelona, onde estava hospedado. “Não sei se é coisa de fã, mas acho um pouco exagerado o que aconteceu”, rematou. O escocês encontra-se em Pequim para disputar o Open da China, onde uma boa campanha pode encurtar a distância pontual para o sérvio Novak Djokovic, número um do mundo.

SÍRIA RÚSSIA ENVIA MÍSSEIS ANTI-AÉREOS

A Rússia mobilizou ontem uma bateria de mísseis antia-éreos S-300 para a Síria, com o objectivo de defender a sua base naval no porto de Tartus (mar Mediterrâneo), anunciou o Ministério da Defesa russo. “O sistema destina-se a garantir a segurança da base naval de Tartus e dos navios de guerra na zona costeira”, disse um porta-voz militar em Moscovo, Igor Konashenkov, que sublinhou que “os S-300 são um sistema exclusivamente defensivo e não representam uma ameaça para ninguém”. Konashenkov manifestou a sua surpresa com o facto de a mobilização da bateria de mísseis S-300 ter tido tanta repercussão na imprensa norte-americana, que noticiou que este tipo de mísseis pode intercetar qualquer ataque de aviões dos EUA contra a Síria. Recentemente, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, anunciou que o único porta-aviões da Armada russa, o “Almirante Kuznetsov”, partirá em breve para o Mediterrâneo Oriental, área limítrofe com a Turquia e a Síria.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.