Hoje Macau 6 OUT 2020 #4623

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CONCERTO PARA ORQUESTRA MICHEL REIS

SUICÍDIOS II PAULO JOSÉ MIRANDA

TIAGO ALCÂNTARA

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 6 DE OUTUBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4624

hojemacau

SEMANA DOURADA

DIAS SEM BRILHO PÁGINA 7

SOFIA MARGARIDA MOTA

GCS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

REGRESSO À POLÍTICA? PÁGINA 4

Cheques em xeque Embora em Junho tenha assegurado a continuidade do apoio pecuniário aos residentes, Ho Iat Seng diz agora que o Governo está a estudar a comparticipação do próximo ano. Especialistas afirmam que este pode ser o prenúncio do fim dos cheques pecuniários, mas não acreditam que a eventual suspensão aconteça a curto prazo. Quanto à quebra das receitas, o Chefe do Executivo anunciou uma nova injecção de 20 mil milhões no orçamento para fazer face às despesas. GRANDE PLANO

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PAUL CHAN WAI CHI


2 grande plano

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O Iat Seng afirmou que o Governo ainda está a estudar a aplicação do plano de comparticipação pecuniária no próximo ano. A informação foi avançada na passada quinta-feira, à margem das celebrações do 71º Aniversário da Implantação da República Popular da China. “Em relação ao plano de comparticipação pecuniária para o próximo ano, o Chefe do Executivo adiantou que o Governo está ainda a estudar e as informações concretas serão divulgadas no relatório das linhas de acção governativa do próximo ano”, pode ler-se numa nota oficial. O facto de Ho Iat Seng não ter sido taxativo relativamente à continuidade do plano, contrasta com as declarações proferidas em Junho, quando garantiu que o programa que atribui 10 mil patacas por ano aos residentes permanentes e 6 mil patacas aos residentes não-permanentes, iria manter-se inalterado. Na altura, o Chefe do Executivo justificou a decisão por considerar os cheques pecuniários uma despesa que serve o “bem-estar” da população e que assume grande importância nas famílias mais desfavorecidas. Contactado pelo HM, o economista João Pãosinho considera que as declarações do Chefe do Executivo são “um aviso” para as pessoas estarem preparadas para a eventualidade de o apoio vir um dia a ser extinto. No entanto, dado o actual contexto, o economista acredita que uma eventual suspensão apenas aconteça num horizonte temporal distante. “Penso que o Governo vai chegar a um ponto em que vai tentar eliminar a comparticipação pecuniária, que é uma questão melindrosa há já vários anos. Portanto, na minha opinião, a não ser que as condições se continuem a deteriorar, o Governo para já não vai suspender. Mas, se o PIB continuar a derrapar, ou seja, se o jogo continuar a cair e as receitas do turismo continuarem a ser muito más, penso que poderá ser uma questão de tempo”, referiu. Opinião semelhante é partilhada por José Isaac Duarte, sublinhando que uma eventual suspensão da atribuição de cheques pecuniários seria “seguramente impopular em termos políticos” numa altura de crise.

6.10.2020 terça-feira

CHEQUES PECUNIÁRIOS

COM DATA DE HO IAT SENG EVASIVO SOBRE CONTINUIDADE DO PROGRAMA

Ho Iat Seng deixou em aberto a continuidade, nos moldes actuais, do plano de comparticipação pecuniária no próximo ano. Apesar do sinal, economistas acreditam ser difícil retirar o apoio numa altura de crise. Dada a “situação irrecuperável” das receitas, o Chefe do Executivo anunciou ainda que o Governo está a planear injectar mais 20 mil milhões de patacas no orçamento

Contudo, frisando que não é primeira vez que o tema vem à tona, o economista considera natural que Ho Iat Seng tenha sentido necessidade de “sinalizar que existem preocupações políticas ao nível das receitas”. “Esse plano já teve ‘ameaças anteriores de extinção’ e politicamente é delicado, sobretudo numa situação de crise económica. Vai ser difícil ao Governo tirar apoios de natureza

NOVA RONDA A

presidente da Associação de Direitos dos Trabalhadores de Jogo, Cloee Chao, entrega hoje uma petição na Sede do Governo a pedir uma nova ronda de apoio ao consumo. Além disso, perante a crise gerada pela pandemia, a responsável pretende também vincar a importância de o Governo continuar com a atribuição do plano de comparticipação pecuniária no próximo ano.

social sejam eles quais forem. Independentemente de ter sido ou não, a forma mais adequada de o fazer, é natural que [o Chefe do Executivo] diga que estão a repensar [o plano] e poderão eventualmente até alterar a forma como tem vindo a ser feito. Mas diria que não é o momento propício para retirar benefícios à população”, apontou José Isaac Duarte. Para o economista essa seria uma situação muito difícil de justificar politicamente, dado que a crise “já se está a prolongar bastante mais do que se estaria à espera” e que esse facto irá criar “pressão adicional para apoios do Governo dirigidos à população”. Por seu turno, Albano Martins considera que o Governo “não vai ter coragem para mexer nisso”, pois habituou as pessoas a receber essa receita, que é usada para “ultrapassar os períodos maus”. “O Governo não vai ter capacidade política para confrontar a maioria da população”, acrescentou.

REFORÇOS DE INVERNO

Também à margem das celebrações do dia nacional, Ho Iat Seng anunciou que

o Governo planeia injectar mais 20 mil milhões de patacas da reserva financeira no orçamento, para fazer face às baixas receitas e à despesa pública, decorrentes do impacto da pandemia de covid-19 na economia de Macau. O líder do Governo indicou ainda que as propostas da execução orçamental do ano financeiro de 2019, da segunda alteração ao orçamento e do orçamento financeiro para 2021 vão ser apresentadas à Assembleia Legislativa, em Novembro. Sobre o reforço de 20 mil milhões, Ho Iat Seng explicou que, apesar já ter sido injectada uma verba de 40 mil milhões de patacas no primeiro semestre de 2020 e tendo em vista a “situação irrecuperável das receitas”, o actual orçamento financeiro é insuficiente para suportar as despesas até ao final do ano, prevendo-se apenas que seja capaz de cobrir as despesas até ao final de Outubro. No actual contexto, Ho Iat Seng vincou ainda a necessidade de garantir o funcionamento de todos os sectores da Administração, apesar do abrandamento do

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo “O erário público tem de suportar (…) o pagamento

sector do jogo e das baixas receitas do Governo. “O erário público tem de suportar as despesas rígidas, incluindo o pagamento dos salários dos funcionários pú-

blicos, da previdência social, da educação e da saúde pública, com um aumento relativo dos gastos com a saúde devido aos trabalhos da prevenção e combate à epidemia”, afirmou.


grande plano 3

terça-feira 6.10.2020

E VALIDADE

Para o economista é preciso “olhar para as contas”, pois até Agosto, as despesas correntes foram executadas apenas em 54,5 por cento e o PIDDA executado em 28,2 por cento, sendo que até esse momento o orçamento estava realizado em 50,6 por cento. “O saldo orçamental em Agosto era quase de 19,5 mil milhões, portanto, não sei o que é que [o Chefe do Executivo] quer dizer, não estou a ver tanta execução para isto”, explicou. Já para José Isaac Duarte a injecção de mais 20 mil milhões de patacas da reserva financeira no orçamento era “um anúncio inevitável”, pois quando o orçamento foi feito, havia uma previsão de receitas diferente e que não se está a verificar, “porque a economia está numa situação de contração muito mais acentuada” do que se pensava. “O orçamento quando foi feito, implicitamente nas receitas, dava a ideia de que o Governo estava à espera de uma economia a funcionar a 50 por cento. Como neste momento ela está bem abaixo disso (…), naturalmente que do lado das receitas há uma insuficiência que tem de ser coberta com uma transferência da reserva. Por isso, julgo que, não só era esperado, como era inevitável, pois as receitas estão abaixo do que estava previsto”, apontou José Isaac Duarte. Também para João Pãosinho, o reforço anunciado surge com alguma naturalidade, pois “as receitas são largamente inferiores às despesas” e, dado que em Macau não existe “a questão da dívida pública”, é necessário recorrer a saldos anteriores. “Estão a tentar utilizar a reserva financeira para equilibrar o orçamento de Macau. No passado, esse orçamento era sempre superavitário, portanto, não havia necessidade de ir às reservas acumuladas”, explicou.

APOIOS A PRAZO

dos salários dos funcionários públicos, da previdência social, da educação e da saúde pública, com um aumento relativo dos gastos com a saúde.”

Para Albano Martins, apesar da diminuição de receitas, faltam argumentos para justificar a injecção de 20 mil milhões de patacas, sobretudo porque,

de acordo com as contas apresentadas pelo Executivo em Agosto, apenas foram gastos 55,5 mil milhões de patacas de um total de 109,6 mil milhões.

“Não acredito que o orçamento existente, apenas seja suficiente para suportar os gastos até ao fim deste mês, porque até Agosto tiveram autorização orçamental para

gastar 109,6 mil milhões e só gastaram 55,5 mil milhões. Não consigo perceber. Acho muito difícil que tenham gasto 45 mil milhões em Setembro”, explicou ao HM.

Em relação ao pedido do Governo dirigido aos serviços públicos para concretizar um corte de 10 por cento do orçamento, Ho Iat Seng salientou que esse corte deve ser realizado através de “poupanças com as despesas do funcionamento quotidiano” e que, tendo em conta esse orçamento já de si apertado é “impossível reduzir a

“Penso que o Governo vai chegar a um ponto em que vai tentar eliminar a comparticipação pecuniária, que é uma questão melindrosa.” JOÃO PÃOSINHO ECONOMISTA

despesa rígida” e “cortar o orçamento financeiro mais uma vez”. Sobre a possibilidade de medidas de apoio económico, como uma nova ronda de vales de consumo, poderem vir a ser anunciadas no futuro, Ho Iat Seng fez questão de frisar que estas medidas “não são aplicáveis a longo prazo”. “Como a emissão de vistos individuais para todo o País já foi retomada e as medidas de ‘circulação económica para o exterior’ recuperadas, o Governo da RAEM não deve gastar mais erário público, não havendo planos para mais medidas de apoio económico, mas continuará a acompanhar o impacto que a evolução da pandemia terá”, pode ler-se no comunicado oficial.

“Não acredito que o orçamento existente, apenas seja suficiente para suportar os gastos até ao fim deste mês.” ALBANO MARTINS ECONOMISTA

Recorde-se que as receitas do jogo caíram 90 por cento em Setembro, relativamente ao mesmo período de 2019, enquanto que para os primeiros nove meses do ano, as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 82,5 por cento, um resultado devido ao impacto da pandemia de covid-19 e às fortes restrições fronteiriças. Até Agosto, a receita de impostos sobre o jogo em Macau caiu para cerca de um terço, comparativamente a 2019, e os apoios públicos subiram 28 por cento. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


4 política

MP ARQUIVADO CASO DE CHAN WAI CHI, QUE PONDERA CANDIDATAR-SE À AL

Período de reflexão SOFIA MARGARIDA MOTA

A investigação por alegada desobediência agravada que pendia sobre Paul Chan Wai Chi foi arquivada pelo Ministério Público. O caso reportou-se a factos ocorridos na última campanha para as eleições directas à Assembleia Legislativa, em que concorreu na lista de Sulu Sou. Ainda assim, Chan Wai Chi pondera concorrer nas próximas legislativas

6.10.2020 terça-feira

actuação da Polícia de Segurança Pública e da CAEAL, Chan Wai Chi pondera voltar a candidatar-se no próximo sufrágio que escolherá o elenco de legisladores eleitos directamente. “No próximo ano, vou rever as necessidades sociais de Macau e as minhas condições pessoais para considerar [concorrer às eleições legislativas]. Se encorajo quem tem aspiração e vontade a candidatar-se, devo fazer o mesmo. Por exemplo, se incentivo alguém a praticar desporto, e se eu tiver capacidade para o fazer, também farei desporto”, afirmou ao HM.

TRATAMENTO JUSTO

À

semelhança do que aconteceu com Sulu Sou, o Ministério Público (MP) decidiu arquivar a investigação a Paul Chan Wai Chi por suspeitas de ter cometido o crime de desobediência agravada. Em declarações ao HM, o ex-deputado, ligado à ala pró-democracia, confirmou a decisão do MP, mas não comentou o facto de a investigação ter durado três anos.

“Respeito a investigação do MP e da PJ. Não comento se o tempo que durou foi curto ou longo, mas que apenas eliminou a suspeição que recaiu em nós (Paul Chan Wai Chi e Sulu Sou). “Na verdade, a investigação trouxe-nos muitas perturbações. A arquivamento deu um fim ao caso”, acrescentou. Recorde-se que a suspeita das autoridades teve origem numa acção de cam-

panha da lista encabeçada por Sulu Sou às eleições legislativas de 2017, quando um voluntário terá afixado uma bandeira num local que não estava designado

pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Apesar das perturbações provocadas pelo caso, e de se ter queixado ao MP da

“No próximo ano, vou rever as necessidades sociais de Macau e as minhas condições pessoais para considerar [concorrer às eleições legislativas].”

Um histórico candidato à Assembleia Legislativa, eleito em 2009, Chan Wai Chi continua a esperar que “a política em Macau siga o caminho do desenvolvimento democrático e liberal, que estimule a participação das pessoas na AL”. No acto eleitoral anterior, o ex-deputado foi uma das vozes que alegou tratamento injusto por parte das autoridades em relação à lista organizada pela Associação Novo Macau. Quanto às próximas eleições, que se vão realizar no próximo ano, Paul Chan Wai Chi espera que sejam “imparciais, justas e públicas”, e que as autoridades tratem com “igualdade todas as listas candidatas”. João Luz com Nunu Wu

PAUL CHAN WAI CHI EX-DEPUTADO

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EDUCAÇÃO SECRETÁRIA PROMETE REVISÃO DE APOIOS ATRIBUÍDOS

DSEJ SULU SOU PEDE MEDIDAS PARA EVITAR FRAUDES EM ESCOLAS PRIVADAS

secretária para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que todos os apoios distribuídos pela Direcção de Serviços de Educação e Juventude nos últimos cinco ano vão ser inspeccionados. Foi desta forma que Elsie Ao Ieong U reagiu ao escândalo da escola que burlou o governo em mais 20 milhões de patacas. “Já demos instruções os Serviços de Educação e Juventude para reverem todos os projectos subsidiados nos últimos cinco anos. Ainda estou à espera da informação da DSEJ, mas vamos continuar atentos”,

ULU Sou quer que o Governo reforce a transparência nos apoios à educação, na sequência de um caso de alegada fraude, num valor superior a 20 milhões de patacas. O deputado justificou em interpelação escrita com a investigação anunciada na passada semana pela Polícia Judiciária que envolve um director e um vice-director de uma escola particular de ensino não superior, suspeitos de falsificarem relatórios e de garantirem entre 2014 e 2016, de forma fraudulenta, financiamento no valor de 20,38 milhões de patacas. “Embora a entidade gestora da escola

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afirmou a responsável. No entanto, esta é uma revisão que segundo a secretária vai ser extensível a todos os apoios concedidos pelo Executivo. “A DSEJ vai reforçar a fiscalização da atribuição de subsídios. Na verdade, não é só a DSEJ, todos os fundos e projectos subsidiados vão ser alvo de análises semelhantes e medidas de reforço de fiscalização”, garantiu. O caso de burla de 20 milhões de patacas, alegadamente cometida por um ex-director e um ex-subdirector de uma escola na Ilha Verde, foi revelado na passada terça-

-feira pela Polícia Judiciária. Em causa estavam cerca de 600 projectos propostos pela escola, dos quais apenas 62 foram concluídos. Os restantes 582 planos nunca saíram do papel, apesar de os apoios do Governo terem sido entregues e depois transferidos para uma empresa de obras. A denúncia partiu da actual directora da instituição, que foi também responsável pela devolução do dinheiro, uma vez que este não tinha sido utilizado para os fins a que estavam destinados.

S

tenha devolvido todos os fundos que não foram implementados de acordo com os regulamentos exigidos pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude [DSEJ] (…), o caso voltou a suscitar discussões sobre a falta de supervisão financeira da educação”, salientou. Sulu Sou defendeu alterações ao mecanismo de monitorização de apoios financeiros às escolas privadas e que, se “a fraca supervisão do passado” for mantida, Macau vai confrontar-se com um “buraco negro no financiamento da Educação” que “não só prejudicará a equidade e a rentabilidade da

utilização dos fundos públicos, como também terá um impacto sério na confiança do público nas empresas de educação de Macau”. O deputado lembrou que uma auditoria em 2015 já havia detectado riscos e irregularidades e, por isso, perguntou porque não foram tomadas medidas então prometidas pelas autoridades. Por outro lado, questionou o Governo sobre como irá convencer a população a confiar numa supervisão rigorosa quando esta é “tão restrita”, falando num número diminuto de pessoas para analisar contas e tantos apoios financeiros.


sociedade 5

terça-feira 6.10.2020

FRONTEIRAS PEDIDA ISENÇÃO DE TESTES ENTRE MACAU E ZHUHAI

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TRAVÉS de uma interpelação escrita, Mak Soi Kun defendeu que o Governo deve ponderar a introdução de um plano piloto para isentar a apresentação do teste de ácido nucleico para os residentes que cruzem a fronteira entre Macau e Zhuhai. Segundo o deputado, a apresentação obrigatória do teste à covid-19 deve ser dispensada, pelo facto de os dois territórios não apresentarem casos há vários meses pois e ser um encargo financeiro avultado para os residentes de Macau que moram em Zhuhai. Já de acordo com o jornal Ou Mun, Sariputra Tong, Membro do Conselho Executivo da Direcção da Associação dos Jovens de Povo, foi mais longe, defendendo

que o Executivo deve aliviar as medidas de prevenção destinadas aos turistas da China, já que estes têm demonstrado menos vontade de vir a Macau devido à obrigatoriedade de apresentar o resultado do teste de ácido nucleico e por ser ainda impossível requisitar vistos individuais por via electrónica. Recorde-se que na passada quinta-feira, Ho Iat Seng apontou que vai continuar a estudar, em conjunto com Comissão Nacional de Saúde da China, a redução de algumas restrições, incluindo a possibilidade de o prazo de validade do resultado dos testes de ácido nucleico, poder vir a ser alargada para catorze dias, ao contrário dos sete dias actualmente previstos. N.W.

FÁBRICA DE PANCHÕES GOVERNO QUER RECUPERAR TERRENO AINDA ESTE ANO

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Governo revelou que vai recuperar parcelas da Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa Velha, ainda este ano. A notícia quanto à fase do processo de despejo do terreno foi dada pela directora dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Chan Pou Ha, em resposta a uma interpelação de Ella Lei, divulgada ontem. “Na sequência da ordem de despejo, emitida em Julho do corrente ano, a recuperação das parcelas de terreno do Estado que se encontram dentro da área do terreno estará, segundo o previsto, concluída no corrente ano”, declarou a responsável da DSSOPT. O Governo cita outra resposta a uma interpelação, datada do final de Julho, onde sublinha o compromisso em “assegurar a gestão e o aproveitamento prudente

dos terrenos”, tendo em conta a “localização, área e ambiente circundante” e as prioridades do Executivo para o desenvolvimento socioeconómico do território. Importa recordar que a recuperação da Fábrica de Panchões Iec Long decorre por fases, uma vez que a área está dividida por parcelas, inclusive com proprietários privados, algumas delas alvo de processos judiciais ainda pendentes. Apesar da complexidade do processo, o Governo sublinha que o Instituto Cultural (IC) “salientou que a antiga Fábrica de Panchões Iec Long na Taipa é a maior e mais bem conservada em Macau, possuindo um certo valor histórico e cultural”. Algo que se materializou na proposta do IC, avançada no mês passado, para revitalizar e abrir ao público a fábrica. J.L.

COVID-19 CASINOS COM OITO CENTROS DE TESTES

Jogo saudável

As concessionárias de jogo e a empresa Kuok Kin estão a prestar testes de ácido nucleico nos casinos. Apesar de não ter havido qualquer anúncio oficial, Alvis Lo garante que os testes cumprem os requisitos

A

S concessionárias de jogo instalaram oito locais para a realização testes à covid-19 em casinos. A confirmação foi avançada ontem pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM), através do médico adjunto do Hospital Conde São Januário, Alvis Lo, que, no entanto, não sabe quando o serviço começou a ser fornecido nem quantos testes foram já feitos. O tema marcou a conferência de imprensa de ontem sobre a pandemia da covid-19, uma vez que a informação ainda não tinha sido anunciado pelas autoridades. De acordo com o jornal Exmoo, as concessionárias apenas permitem que não-residentes sejam testados, no que é um serviço a pensar nos clientes. O preço por exame de ácido nucleico é de 120 patacas, o mesmo que os residentes pagam através dos canais dos SSM. Nos casinos apenas é feita a recolha da amostra e os resultados são divulgados nos canais oficiais do Governo. Sobre o facto de não ter havido qualquer anúncio para esta medida, Alvis Lo justificou que isso se deve a um contrato entre a Companhia de Higiene Kuok Kim – a mesma que faz os testes do Governo – e

as operadoras de jogo. “É uma parceria das concessionárias com a empresa Kuok Kin. Podemos entender que as instituições e as empresas, de acordo com as necessidades, adoptem medidas para facilitar a vida aos clientes [...] Mas não posso responder por eles”, afirmou Alvis Lo. Por outro lado, o médico recusou qualquer impacto a nível dos testes disponíveis para os residentes, uma vez que a quota diária máxima está longe de ser atingida, e corrigiu a informação, avançada na semana anterior, que havia uma capacidade diária de

“No início todos os pilotos disseram que queriam participar no Grande Prémio de Macau [...] depois mudaram a sua posição devido ao cumprimento da quarentena de 14 dias.” LAM LIN KIO COMISSÃO ORGANIZADORA DO GRANDE PRÉMIO

19 mil testes. Afinal são 29 mil testes, porque o número anterior não contava com as vagas diárias existentes no Hospital Conde São Januário, que correspondem a 10 mil. “Diariamente estamos a fazer cerca de sete mil testes nos cinco pontos disponíveis. Mas temos uma capacidade para fazer 29 mil, ainda há uma grande desfasamento [entre oferta e a procura]”, considerou.

CUSTAS PELO GOVERNO

Os resultados podem ser utilizados como oficiais e são carregados na aplicação do Governo para circular entre Macau e o Interior. Após a instalação dos pontos de testes nos casinos, os SSM inspeccionaram os locais para garantir os requisitos de segurança. A supervisão foi feita com recursos públicos e não foi cobrada qualquer taxa. Sobre este aspecto, Alvis Lo recusou que as empresas envolvidas estejam a obter “um grande lucro” e que a decisão seja motivada pelo desejo de fazer dinheiro. Na conferência de imprensa esteve também Lam Lin Kio, vice-presidente do Instituto do Desporto e representante da organização do Grande Prémio de Macau. A oportunidade serviu para a organização confirmar que os pilotos vindos de fora vão ter cumprir um período de quarentena de 14 dias, o que faz com que não seja ainda possível confirmar as provas que irão ser disputadas. “No início todos os pilotos disseram que queriam participar no Grande Prémio de Macau e que iam seguir as orientações dos SSM. Mas, depois mudaram a sua posição devido ao cumprimento da quarentena de 14 dias”, revelou Lam Lin Kio. Face a este cenário, Lam admitiu não ter dados sobre o número de pilotos interessados na prova, mas apontou que até meados do mês a situação deve ficar clarificada e que o programa será depois apresentado. João Santos Filipe

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6 sociedade

6.10.2020 terça-feira

Além da fome

Mais de 18% dos utentes do Banco Alimentar precisam de tratamento para depressão

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ERCA de 18,2 por cento das pessoas que recorreram aos serviços do banco alimentar da Cáritas Macau, na zona da península, precisavam de tratamento para a depressão. É o resultado de um estudo feito em conjunto entre a Cáritas e do Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau, noticiado ontem pela TDM - Rádio Macau. O sumário da investigação, publicado no Boletim do Centro de Estudos, aponta que 15,6 por cento dos 697 utentes dos serviços do banco alimentar que completaram o questionário reconheceram ter tendências suicidas. Além disso, 7,9 por cento dos inquiridos tinha depressão severa, e 10,3 por cento apresentavam um nível de depressão “sério”. Mais de 75 por cento dos utentes que particiaparam no estudo disseram que se sentiam “cansados ou sem energia”, bem como com “dificuldade em adormecer, facilidade em acordar ou a dormir demasiado”, enquanto os que confessaram sentir-se “em baixo, frustrados ou deprimidos” e a perder motivação e interesse

em fazer coisa alguma, foram 60 por cento. Cerca de metade reportou “dificuldade em concentrar-se, em particular ao ler jornais ou ver televisão”, sentimentos de ser uma desilusão para si próprio ou para a família, bem como perda ou excesso de apetite. Entre 30 a 40 por cento dos questionados têm falta de interacção social. De acordo com o documento, mais de 62 por cento dos inquiridos tem idade superior a 65 anos, estando a maioria reformada e sem trabalho há mais de dois anos, enquanto cerca de 12,2 por cento são trabalhadores a tempo inteiro. Note-se que 30 por cento dos inquiridos consideram que os seus rendimentos eram insuficientes para cobrir as despesas. Para a maioria, a fonte de rendimentos eram pensões do fundo de segurança social, com a ajuda dada por familiares a representar o principal rendimento em menos de cinco por cento dos casos. Os gráficos revelam que 48,4 por cento das famílias têm um rendimento médio mensal inferior a 4.000 patacas. S.F.

Privacidade Vítimas encorajadas a denunciar vídeos não autorizados A coordenadora do Centro de Apoio Familiar da Associação Geral das Mulheres de Macau, Chu Oi Lei, apelou às vítimas do crime de devassa da vida privada, para denunciar os casos em que são filmadas sem o seu consentimento. De acordo com o canal chinês da TDM - Rádio Macau, a responsável argumentou que a lei não pode ter o efeito dissuasor desejado sem denúncias. Além disso, Chu Oi Lei vincou que, caso suspeitem que estão a ser filmadas, as vítimas devem manter a calma e avisar o “agressor” para parar o que está a fazer, aplicando-se o mesmo procedimento a eventuais testemunhas dos crimes, que devem, adicionalmente, incentivar

a vítima a chamar a polícia. Segundo informações enviadas pelas autoridades à TDM - Rádio Macau, entre Janeiro e Agosto deste ano, foram registados 13 casos de devassa da vida privada, relacionados com a gravação de vídeos não autorizados. As vítimas foram principalmente mulheres entre os 20 e os 40 anos filmadas na casa de banho.

Joe Liu, director da Macau Pass “Esperamos disponibilizar o MPay no segundo trimestre do próximo ano em Hong Kong, o destino preferido para turistas e empresários de Macau”

A

M acau Pass pretende lançar a carteira electrónica MPay em Hong Kong no segundo trimestre de 2021, noticiou o South China Morning Post (SCMP). De acordo com o jornal, a iniciativa vai ser lançada em cooperação com o serviço de pagamentos de Hong Kong Octopus Holdings, permitindo aos residentes de Macau usar a plataforma denominada em patacas quando comprarem bens e serviços na região vizinha. “Esperamos disponibilizar o MPay no segundo trimestre do próximo ano em Hong Kong, o destino preferido de turistas e empresários de Macau”, disse Joe Liu, director da Macau Pass, citado pelo SCMP. A carteira MPay também deve permitir aos residentes de Hong Kong fazer pagamentos deste lado da fronteira sem terem de cambiar dinheiro. Joe Liu reconheceu que as receitas da empresa foram prejudicadas pela queda no número de turistas que visitaram Macau devido à

MACAU PASS MPAY DEVE SER LANÇADO EM HONG KONG NO PRÓXIMO ANO

Tu cá, tu lá

O lançamento da carteira electrónica MPay em Hong Kong poderá ser uma realidade entre Abril e Junho do próximo ano, em colaboração com a Octopus Holdings. A directora geral da Macau Pass indicou que o acesso limitado ao uso do cartão Octopus levou a empresa a procurar uma parceria pandemia. A Macau Pass cobra uma taxa de cerca de 1.5 por cento do valor de cada transação, com metade dessas receitas a resultarem de turistas que usam o Alipay ou o WeChat Pay no território. Recorde-se que nas duas primeiras semanas de Março

deste ano, mais de mil comerciantes em Macau aderiram ao sistema da Macau Pass para beneficiarem dos vales de consumo.

ACESSO LIMITADO

De acordo com o SCMP, a directora geral da empresa, Wong Kam Man, disse que

o acesso limitado na RAEM para utilizar o Octopus levou a Macau Pass a procurar uma cooperação de forma a chegar à população de Hong Kong, que representa cerca de 21 por cento dos visitantes do território. O City of Dreams é dado como exemplo de um dos poucos locais em Macau que aceita o cartão Octopus. A notícia do jornal da região vizinha aponta que as transações da Macau Pass – incluindo MPay e cartão da MacauPass – atingiram 10 mil milhões de patacas no ano passado. Recorde-se que em meados deste ano, Joe Liu disse que o próximo passo em relação a Hong Kong era trabalhar com comerciantes locais para acrescentar terminais e alargar os serviços ao nível dos transportes públicos. O empresário disse também que o grupo pretendia expandir os serviços do MPay para transações e pagamentos transfronteiriços. Salomé Fernandes

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PRAÇA FERREIRA DO AMARAL OBRAS ARRANCAM SEXTA-FEIRA

TIAGO ALCÂNTARA

terça-feira 6.10.2020

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ONG Kit Cheng quer orientações melhores para os passageiros de autocarros devido às obras na Praça de Ferreira doAmaral que começam na sexta-feira, noticiou o jornal Ou Mun. As obras são focadas nos telhados das paragens, uma iniciativa elogiada pela deputada por causa de pedidos anteriores para melhoria destas infraestruturas pela falta de espaço para abrigo da chuva. A deputada apontou que as obras podem confundir a população, uma vez que os autocarros têm paragens diferentes em cada fase das obras. Assim, defende que que as autoridades devem comunicar com as empresas de autocarros, enviando mais pessoal para desviar o trânsito e trabalhos associados. Como a paragem da Praça de Ferreira do Amaral tem cinco faixas, a deputada sugeriu que sejam pintados sinais sobre o corredor exclusivo para transportes públicos relevante no chão de cada faixa, para que os cidadãos percebam os roteiros dos autocarros. Na próxima frase das obras, o estacionamento de motos na Praça Ferreira do Amaral vai ser alterado para servir antes como estacionamento de autocarros.

Metro Ligeiro Volume de passageiros cresceu menos de 5 por cento

No mês passado, o Metro Ligeiro (ML) registou uma média de cerca de 2.200 passageiros por dia, revelam dados da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau. Este volume que representa um crescimento de apenas 4,76 por cento em comparação à média diária face a Agosto. Setembro foi assim o quinto mês consecutivo em que o número de passageiros do ML aumentou.

O

número de visitantes durante os primeiros quatro dias da Semana Dourada registou uma diminuição superior a 87 por cento, em comparação com o ano passado. Os dados são do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), revelados pela Direcção de Serviços de Turismo (DST). Entre dia 1 e 4 de Outubro entraram em Macau 77.092 turistas, o que representa uma redução de 87,4 por cento em relação com os primeiros quatro dias da Semana Dourada de 2019, quando tinham entrado na RAEM 609.988 pessoas visitantes. O dia que registou um maior número de entradas foi o de 2 de Outubro, sexta-feira, quando o território viu chegarem 22.116 turistas. Porém, mesmo no melhor dia a nível da entrada de residentes, a redução de visitantes foi de 86,1 por cento. No pólo oposto, o dia com uma redução relativa mais acentuada foi o primeiro de Outubro, altura em que entraram em Macau 15.503 turistas, numa quebra de 88,5 por cento face a 2019. Como tradicionalmente acontece, e principalmente

SEMANA DOURADA ENTRADAS DE TURISTAS COM QUEBRA SUPERIOR A 87 POR CENTO FACE A 2019

Insuficiência dos números Nos primeiros quatro dias da Semana Dourada, Macau recebeu 77.092 visitantes. O secretário para a Economia e Finanças considera irrealista esperar um regresso rápido aos números do ano passado numa fase em que as entradas no território estão limitadas com base na nacionalidade das pessoas, a maior parte dos turistas veio do Interior. Entre os 77.092 visitantes, 72.684 vieram do outro lado da fronteira, ou seja 94,3 por cento do total de visitantes.

EM BAIXO

A tendência negativa do número de visitantes indica que a redução das receitas de jogo deverá prolongar-se por mais um mês. Isto depois de quinta-feira

ter sido revelado que as receitas brutas do jogo em Agosto tiveram um declínio de 90 por cento. Segundo os dados da Direcção de Inspecção

de Coordenação de Jogos (DICJ), em Agosto os casinos facturaram 2,2 mil milhões de patacas, naquele que foi o quarto melhor registo do ano, e o

LEI DO JOGO EM 2021

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nova lei que vai regular as concessões do jogo a partir de 2022 vai ser apresentada à Assembleia Legislativa no próximo ano. A revelação foi feita por Lei Wai Nong, em declarações citadas pelo Canal Macau. “Estamos a fazer os trabalhos de acordo com a nossa agenda. Quanto à revisão da lei do jogo está integrada na agenda do próximo ano e agora estamos a fazer os nossos trabalhos de uma forma gradual. Essa lei será apresentada no próximo ano”, afirmou Lei Wai Nong.

melhor desde Abril. Mesmo assim, face a Agosto do ano passado a quebra foi de 90 por cento, altura em que tinham ficado nas mesas dos casinos 22,1 mil milhões de patacas. Em reacção aos números do jogo e de visitantes, o secretário para a Economia e Finanças mostrou-se cauteloso. “Não podemos esperar que haja um aumento brutal do número de turistas num curto período de prazo, mas estamos numa boa situação. Temos de ter uma expectativa razoável”, afirmou Lei Wai Nong, citado pelo Canal Macau. “Não podemos ser demasiado optimistas [...] É difícil recuperarmos de um dia para o outro para o nível de 2019”, acrescentou. Ao mesmo tempo, Lei admitiu também a possibilidade de o desemprego continuar a crescer na RAEM. Segundo os últimos dados tornados públicos, no segundo trimestre do ano, a taxa de desemprego fixou-se nos 2,5 por cento. “A taxa [de desemprego] poderá continuar a aumentar. Durante estes tempos de mudança é uma tendência imprevisível”, reconheceu. João Santos Filipe

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8 eventos

Edição de ideias

GCS

6.10.2020 terça-feira

Projectos de Tracy Choi e Penny Lam no Macau-TorinoFilmLab

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S projectos “Be Ordinary”, da realizadora Tracy Choi, e “Long Day, Long Night”, do realizador Penny Lam, foram as escolhas deste ano para participar na formação Macau-TorinoFilmLab. De acordo com um comunicado da Comissão Organizadora do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM), a formação decorreu em meados de Setembro, com a pandemia a motivar que o intercâmbio acontecesse em formato online. A formação incluiu reuniões individuais com realizadores profissionais e discussões de grupo sobre os projectos. Penny Lam explicou que o programa é orientado para melhorar a sinopse dos projectos cinematográficos. “A experiência online é uma novidade, e o processo de comunicação consegue ser mais focado. Mediante a partilha de conceitos com diferentes cineastas, consegue-se perceber a visão internacional do actual desenvolvimento da indústria cinematográfica em Macau”, assinalou o realizador, citado na nota. De acordo com as declarações de Tracy Choi, as perguntas colocadas pelos tutores contribuíram para as equipas desenvolverem detalhes e inspiraram novas ideias, levando ao desenvolvimento de áreas como o guião e comunicação nas filmagens. “Os membros da equipa também lêem o trabalho de cada um e dão conselhos práticos

através de discussões online, o que é bastante conveniente e eficaz”, descreveu. A realizadora local acrescentou que cada vez mais jovens querem filmar e espera que haja mais programas semelhantes no futuro.

DESENVOLVER A INDÚSTRIA

A iniciativa resulta da cooperação entre a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, uma das entidades co-organizadoras do IFFAM, e o TorinoFilmLab. Michael J. Werner, membro da Equipa de Consultores Internacionais do IFFAM, voltou a ser convidado para participar no programa e ajudar os participantes a concluir a formação. A presidente do Conselho da Associação, descreveu que se pretende “apoiar jovens cineastas a desenvolver a sua criatividade, reforçando a qualidade dos filmes de Macau e promovendo internacionalmente potenciais projectos locais de destaque, beneficiando o desenvolvimento da indústria cinematográfica [local]”. Gina Lei frisou que a associação espera definir um sistema que sirva como ponte entre membros da indústria, filmes e investidores da Ásia e do Ocidente. Os projectos de Tracy Choi e Penny Lam foram seleccionados através de um concurso aberto para novas ideias para filmes lançado em Junho. S.F.

ÓBITO MORRE ESTILISTA KENZO TAKADA

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estilista japonês Kenzo Takada, de 81 anos, morreu domingo, em Neuilly-sur-Seine arredores de Paris, devido à covid-19, disse o seu porta-voz. Kenzo foi o primeiro estilista japonês a estabelecer-se em Paris, onde fez a sua carreira e se tornou famoso. “Kenzo Takada faleceu hoje (domingo), no Hospital Americano de Neuilly-sur-Seine de Covid-19 “, lê-se no comunicado emitido pelo porta-voz do estilista. O estilista, que vendeu sua marca de roupas à ‘holding’ francesa Moët Hennessy Louis Vuitton (LVMH), em 1993, e se aposentou da moda seis anos depois, é conhecido pelos seus estampados gráficos e florais. O estilista com ar de eterno adolescente apresentou uma linha de design no início do ano,

noticiou a AFP. Nascido em 27 de Fevereiro de 1939 em Himeji, perto de Osaka, no Japão, Kenzo Takada era apaixonado por desenho e costura, tendo sido ensinado pelas suas irmãs. A sua primeira colecção data de 1970, desenhada a partir de uma boutique da Galerie Vivienne. Em 1976 mudou-se para um espaço maior, na Place des Victoires, e fundou a sua marca, apenas com seu primeiro nome. A sua primeira linha masculina data de 1983, e o seu primeiro perfume, “Kenzo Kenzo”, de 1988. Em 1993, a marca “Kenzo” foi comprada pelo grupo de luxo LVMH, e Kenzo Takada deixou a moda em 1999 para se dedicar a projectos soltos. Com seus “quase oito mil designs”, o estilista japonês “nunca deixou de festejar a moda e a arte de viver”, afirmou o seu porta-voz.

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LUSOFONIA JOÃO GOMES NO ARRANQUE DO FESTIVAL QUE JUNTA A CULTURA LUSÓ

O IC descreve o Festival da Lusofonia como “um i tilha”. Entre os dias 16 e 18 de Outubro estão previs gastronomia e jogos que representam a cultura de dif

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Festival da Lusofonia arranca na sexta-feira da próxima semana, dia 16, e decorre até dia 18. O cartaz apresenta João Gomes e Banda, Gabriel, Banda Inova e a Banda Groove Ensemble 2 como os nomes do espectáculo que sobe ao palco no anfiteatro das Casas da Taipa no primeiro dia do evento, entre as 19h20 e as 22h00. Os participantes vão precisar de usar máscara no recinto, mostrar o código de saúde e sujeitar-se a medição de temperatura corporal. São estas as regras anunciadas em comunicado pelo Instituto Cultural (IC), seguindo as orientações dos Serviços de Saúde.

A nota explica que a primeira edição do festival se deu em Junho de 1998, com o objectivo principal de “homenagear as comunidades lusófonas residentes em Macau pelo seu contributo para o desenvolvimento do território”, acrescentando que o evento – que vai agora na 23.ª edição – se tornou “num importante

Os participantes vão precisar de usar máscara no recinto, mostrar o código de saúde e sujeitar-se a medição de temperatura corporal

acontecimento de partilha da cultura das comunidades de língua portuguesa com a cultura chinesa”. As comunidades lusófonas presentes na RAEM, nomeadamente de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e comunidade macaense vão instalar expositores no local para divulgar elementos culturais, desde artesanato e literatura a petiscos e bebidas típicas. No sábado, dia 17, passam podem ser vistas actuações do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e da Escola Portuguesa de Macau, do grupo de dança moçambicano Pérolas do Índico.


eventos 9

terça-feira 6.10.2020

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é viver

ÓFONA

importante acontecimento de parstas actividades de música, dança, ferentes países e regiões lusófonas Já no último dia, é a vez de subirem ao palco nomes como a Banda 80&Tal – Tributo aos Xutos e Pontapés, Grupo Dança Brasil e a Banda 100%.

OUTRAS EXPERIÊNCIAS

Além de todos os dias do Festival da Lusofonia contarem com actuações de grupos artísticos no anfiteatro e no palco instalado no Largo da Igreja do Carmo, o programa prevê outras actividades. Volta a haver lugar para o restaurante provisório, que dia 16 funciona entre as 19h00 e as 22h00, e nos dois dias seguintes com dois horários: entre as 12h00 e as 15h30, e a partir das 18h30, até às 23h00 (no sábado) e às 22h00 (no domingo).

Os visitantes podem também participar em jogos tradicionais portugueses nas tardes de sábado e domingo – estando previstos prémios como garrafas de vinho e bacalhau para os vencedores. Além disso, até às 16h30 de sábado são aceites inscrições para torneios de matraquilhos de sub-15 e maiores de 16 anos, com as finais a acontecerem no domingo. No fim de semana há ainda um espaço recreativo dedicado às crianças, com espectáculos de marionetes. Salomé Fernandes

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6.10.2020 terça-feira

HIMALAIAS NOVO TÚNEL CHEGA ATÉ À FRONTEIRA COM A CHINA

Altas ligações

Enquanto a tensão entre as duas potências asiáticas continua a crescer na região fronteiriça dos Himalaias, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, inaugurou um túnel de nove quilómetros de comprimento que atravessa a montanha e reduz o tempo de chegada ao local para cerca de dez minutos. Até agora a viagem fazia-se em quatro horas

O O túnel, localizado no Estado do Himachal Pradesh (...) faz parte de um programa estratégico de infraestruturas para esta área, onde a tensão está a aumentar entre os dois gigantes asiáticos

primeiro-ministro indiano Narendra Modi inaugurou sábado um túnel a mais de 3.000 metros de altitude que lhe permitirá enviar soldados mais rapidamente para a disputada fronteira com a China. O túnel, localizado no Estado do Himachal Pradesh, numa das duas únicas estradas que conduzem às áreas fronteiriças de Ladakh, faz parte de um programa estratégico de infraestruturas para esta área, onde a tensão está a aumentar entre os dois gigantes asiáticos. Em Junho, um confronto corpo a corpo resultou em 20 mortes do lado indiano e um número desconhecido de vítimas nas fileiras chinesas. As duas potências nucleares acusam-se mutuamente e enviaram reforços maciços. O túnel de nove quilómetros de comprimento através

da montanha, que custou 400 milhões de dólares, permitirá aos comboios passar em qualquer altura, evitando a árdua travessia do passo de Rohtang, e reduzirá a viagem para cerca de 10 minutos em vez das actuais quatro horas. O trabalho neste terreno particularmente complicado, numa região dos Himalaias conhecida pelos seus deslizamentos de terras, demorou dez anos (seis meses por ano), com as temperaturas muito baixas a impossibilitar o trabalho no Inverno.

mos para aeronaves civis e militares. “Colocámos toda a nossa energia no desenvolvimento das infraestruturas nesta região fronteiriça. O país nunca tinha visto estradas, pontes e túneis construídos a esta escala”, afirmou domingo o primeiro-ministro, na inauguração do túnel. “Tudo isto beneficiará não só a população da região, mas também os homens e mulheres do nosso exército”, acrescentou. Para além da questão militar, Nova Deli espera também que este desenvolvimento promova o turismo e ajude a economia da região. A organização chapéu da maioria destes projectos indicou que construiu mais infraestruturas nos últimos quatro anos, do que em toda a década anterior.

ESCALA INÉDITA

Perante a ameaça chinesa, a Índia intensificou recentemente o seu programa de construção de infraestruturas na região, que inclui estradas, pontes, heliportos de alta altitude e aeródro-

Região COREIA DO SUL MULTAS PARA QUEM NÃO USE OU COLOQUE MAL MÁSCARAS

ILHAS SALOMÃO PRIMEIRO CASO POSITIVO DE COVID-19

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Coreia do Sul vai impor multas a quem não use máscaras em espaços e transportes públicos, ou que as use mal, a partir de 13 de Novembro, para conter a propagação da covid-19, informaram domingo as autoridades. Segundo a agência Efe, será obrigatório usar máscara nos transportes públicos, em instalações médicas ou manifestações, e quem não cumpra pode ser alvo de multas de até 100 mil wones (cerca de 73,10 euros), segundo informação publicada pela Agência

para o Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia (KDCA). A multa também poderá recair sobre quem não use máscara de forma adequada em tais espaços, como as pessoas que a colocam sem cobrir o nariz, precisou a agência sul-coreana. Os menores de 14 anos e quem não possa usar máscara por razões médicas ficarão isentos do cumprimento da normativa, segundo os detalhes recolhidos pela agência de notícias Yonhap, citada pela Efe. A Coreia do Sul

dará ainda um período de adaptação de um mês para o uso obrigatório de máscaras nos espaços, a partir de 13 de Outubro. De acordo com a nova norma, não será permitido a utilização de cachecóis ou outro tipo de adereços para substituir a máscara, que não protejam adequadamente face ao coronavírus SARS-CoV-2, segundo a KDCA. Os governos locais poderão ajustar o período de adaptação em função da situação de contágios em cada território, segundo a Efe.

S Ilhas Salomão, uma das poucas nações que, até agora, tinha escapado à pandemia, anunciaram domingo o seu primeiro caso positivo de covid-19, um estudante repatriado das Filipinas que deu previamente negativo em vários testes nesse país. As Ilhas Salomão, no Pacífico Sul, deixam assim de fazer parte do grupo de países que não foram afectados pela pandemia, como Kiribati, Ilhas Marshal, Micronésia, Nauru, Palau, Samoa, Tonga, Tuvalu e Vanatu, todas nações e territórios oceânicos.

“Dói-me dizer que perdemos o nosso estatuto de nação livre de covid-19, apesar do nosso esforço colectivo para prevenir a entrada da pandemia”, disse o primeiro-ministro, Manasseh Sogavare, numa mensagem transmitida na televisão no sábado. O estudante, que é assintomático, estava em quarentena em Manila e tinha apresentado resultado negativo nos três testes que realizou antes de embarcar no avião. Ao chegar às Ilhas Salomão submeteu-se a um novo teste que acusou positivo.

O isolamento geográfico das nações insulares do pacífico ajudou-as a escapar à pandemia e os seus governos trabalham para evitar o contágio, uma vez que a covid-19 poderia saturar, rapidamente, os seus frágeis sistemas de saúde.


desporto 11

terça-feira 6.10.2020

Contra ventos e marés André Pires arranjou solução para participar no Grande Prémio de Motos

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cumprimento de uma quarentena de 14 dias num hotel da cidade à chegada está a colocar em sério risco o 54º Grande Prémio de Motos de Macau. Esta obrigatoriedade coloca entraves difíceis de ultrapassar aos pilotos e equipas provenientes do estrangeiro. Contra ventos e marés, com o engenho e improviso tão típico dos portugueses, o motociclistaAndré Pires conseguiu encontrar forma para contornar este obstáculo e estar à partida do Grande Prémio de Macau. O piloto natural de Vila Pouca de Aguiar, que disputou as primeiras provas do Campeonato Nacional de Velocidade de Superbike de 2020, vai novamente participar no Grande Prémio de Macau com a sua Yamaha R1, mas esta não vai ser assistida pela Beauty Machines Racing Team, mas sim por um pequeno grupo de pessoas que Pires conseguiu reunir com disponibilidade e motivação para estar presente na maior prova de motociclismo do Sudeste Asiático - a APRacing. “Consegui criar a APRacing para ir a Macau. A mota será a mesma

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do campeonato, só mudam os mecânicos”, explicou Pires ao HM. “Seremos quatro a ir a Macau: eu, como piloto, dois mecânicos e mais um elemento que dará apoio em termos de logística e comunicação”. O piloto português está na expectativa, mas ao mesmo tempo confiante, que esta troca de equipa técnica não irá comprometer a sua performance em pista. “Vamos a ver como vai correr. Estou confiante que não teremos problemas nesse lado. Continuo com o apoio dos técnicos cá em Portugal, por isso se vamos estar sempre em contacto durante o fim-de-semana da corrida”, esclareceu Pires.

DO SIMBOLISMO

A presença de Pires no 67º Grande Prémio de Macau tem algum simbolismo para Portugal. Desde 1986, ininterruptamente, que Portugal envia uma delegação às provas de motociclismo do território. Ao mesmo tempo, Pires será o único português não residente em Macau a participar no evento deste ano. Apesar de o Grande Prémio, realizado pela primeira vez em 1954, ter estado

sob a batuta da secção de Macau do Automóvel Club de Portugal (ACP), só em 1966 teve a participação de um piloto da metrópole, algo que só se voltou a repetir em 1986. Pires fez a sua estreia no Circuito da Guia em 2013, ano em que obteve a sua melhor classificação, um 13º lugar, e desde aí tem sido presença assídua no maior evento desportivo de carácter anual da RAEM. A confirmar-se a prova de motociclismo deste ano, esta será a oitava participação de Pires no Grande Prémio de Motos de Macau, o que o tornará o piloto português com mais presenças nesta corrida. Visto que há vários pilotos que não têm interesse em participar no evento devido à quarentena obrigatória, o fantasma do cancelamento ainda paira sobre o 54º Grande Prémio de Motos de Macau. Uma decisão final sobre o destino da edição deste ano da prova, pela primeira vez organizada em 1967, será tomada nos próximos dias. Sérgio Fonseca

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6.10.2020 terça-feira

Todo o poema comeca ´

Béla Bartók (1881-1945)

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

• CONCERTO PARA ORQUESTRA, SZ. 116

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M 1940, já durante a Segunda Guerra Mundial, em virtude da ascensão do nazismo na Hungria, Béla Bartók decidiu abandonar o seu país e emigrar para os Estados Unidos, estabelecendo-se em Nova Iorque. No entanto, o compositor decepcionou-se com a vida norte-americana. Havia pouco interesse pela sua obra e as suas apresentações, nas quais a sua segunda mulher, Ditta Pásztory, também participava, deram pouco retorno financeiro. No entanto, ajudado por amigos, Bartók prosseguiu a sua carreira de compositor. Já nessa altura sofria da doença que viria a vitimá-lo em 1945, aos 64 anos, a leucemia. O Concerto para Orquestra, Sz. 116, uma das suas últimas obras, composta em 1943, é uma obra de síntese e de superação. Nela, temas e procedimentos composicionais inspirados em tradições populares e na música erudita convivem, de forma orgânica, num tecido composicional exuberante. A obra, pela sua riqueza de atmosferas, de contrastes e, particularmente, pela sua força e vitalidade, não deixa entrever as provações e o sofrimento pelos quais passava o compositor. Apesar disso, o Concerto dá mostras de transcendência diante das adversidades, como podemos depreender dos comentários do próprio compositor, em nota de programa, na qual ressalta o percurso dos cinco andamentos. Para Bartók, a obra, apesar do espírito extrovertido do segundo andamento, “apresentava uma transição gradual da severidade do primeiro andamento” e da “lúgubre canção de morte do terceiro” para a “afirmação de vida” que marca o andamento conclusivo. O Concerto para Orquestra, em cinco andamentos, é uma das obras mais conhecidas e populares de Bartók. Deve o seu nome ao facto de um instrumento, ou um grupo deles, frequentemente se opor, como solista, à orquestra. Esta composição de Bartók é talvez a mais conhecida das obras que levam o contraditório título de Concerto para Orquestra, em contraste com a forma convencional do concerto, que apresenta um instrumento solista e acompanhamento orquestral. Bartók referiu que chamou a esta peça concerto em vez de sinfonia devido à forma como cada secção de instrumentos é tratada de forma solista e virtuosa. O trabalho combina elementos da música erudita ocidental e da música folclórica, especialmente húngara, e afasta-se da tonalidade tradicional, muitas vezes combinando modos tradicionais e escalas não convencionais.

O popular Concerto para Orquestra

Serge Koussevitzky

Nesta obra, o andamento central, Elegia, é precedido e seguido por dois andamentos curtos, em modo de scherzos, que são, na verdade, interlúdios dentro do conjunto da obra, que tem uma estrutura essencialmente sinfónica. O primeiro andamento, Introduzione. Andante non troppo - Allegro vivace,

começa com uma introdução lenta e misteriosa que parece preludiar muitas das ideias que surgirão mais tarde. A introdução dá lugar a um allegro com numerosas passagens fugadas. Está estruturado na forma-sonata. O segundo andamento, Giuoco delle coppie. Allegretto scherzando, consiste em

Bartók referiu que chamou a esta peça concerto em vez de sinfonia devido à forma como cada secção de instrumentos é tratada de forma solista e virtuosa.

cinco seções, em cada uma das quais há um par de instrumentos tocando em conjunto. Em cada uma dessas passagens, o intervalo entre os dois instrumentos é diferente: uma sexta entre fagotes, uma terceira entre oboés, uma sétima entre clarinetes, uma quinta entre flautas e uma segundo entre trompetes com surdina. Depois de um coral a cargo da secção de metais, a música dos pares reaparece. O terceiro é outro andamento lento, marcado Elegia. Andante non troppo e é típico da chamada música nocturna de Bartók. A apaixonada secção central é baseada num tema de ar húngaro extraído do primeiro andamento. O quarto andamento, Intermezzo interrotto. Allegretto, consiste numa melodia que flui com mudanças de compasso, misturada com um tema que parodia a marcha da Sétima Sinfonia de Shostakovich. O tema é interrompido por glissandos nos trombones e instrumentos de sopro. O quinto andamento, Finale. Pesante – Presto, também é escrito na forma-sonata. A sua música é caracterizada pelo virtuosismo e pela presença de contraponto, com secções fugadas. Começa com uma música brilhante com ares de dança, com interlúdios suaves a modo de contraste e passagens fugadas baseadas num tema apresentado pelos trompetes. O trabalho foi encomendado pela Fundação Koussevitzky, dirigida pelo maestro russo, então radicado nos Estados Unidos, Serge Koussevitzky. A obra foi estreada no dia 1º de dezembro de 1944 no Symphony Hall de Boston, pela Boston Symphony Orchestra sob a direção de Koussevitzky, e foi um sucesso imediato. Bartók reviu-a logo depois, alongando o último andamento. O seu sucesso animou Bartók, que recebeu outras encomendas, mas infelizmente não pôde apreciá-la por muito tempo, pois viria a falecer dez meses após a estreia.

O trabalho combina elementos da música erudita ocidental e da música folclórica, especialmente húngara, e afasta-se da tonalidade tradicional

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Béla Bartók: Concerto for Orchestra, Sz. 116 The Philadelphia Orchestra, Christoph Eschencbach – Ondine, 2005


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 6.10.2020

de manhã, com o sol

Paulo José Miranda

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A continuação da leitura do livro «Abismos», da escritora alemã Sabine Ulbricht, que se propôs investigar a relação entre a literatura e o suicídio, não no sentido das suas causas materiais ou amorosas – como lhe chama –, mas estéticas. Assim, na semana passada estivemos por dentro da análise que a autora faz a «O Náufrago» de Thomas Bernhard e também como ela vê o suicídio de Wertheimer como a consciência de uma impossibilidade de futuro estético. Passamos então hoje à análise que autora faz a «Van Gogh O Suicidado da Sociedade», de Artaud. Segundo a autora, este livro de Artaud é traçado sob duas perspectivas distintas: a psiquiatria como defesa da normalidade e, neste sentido, entrave ao génio, à criação; e a essência da obra de arte como revelação do mundo e da sociedade. No centro de tudo isto está Van Gogh, com o qual Artaud estabelece uma ligação visível – o internamento psiquiátrico – e uma invisível – o génio artístico. Escreve: «Se em “O Náufrago”, Bernhard colocava Glenn Gould acima de todos os pianistas, em “Van Gogh O Suicidado da Sociedade”, Artaud coloca Van Gogh acima de todos os pintores. E apesar de ambos serem livros onde paira a nuvem do suicídio, as posições de Bernhard e de Artaud em relação a este assunto são muito diferentes. No livro do austríaco há um suicídio inventado, o de Wertheimer, no livro do francês um suicídio real, o de Van Gogh. O que leva Wertheimer ao suicídio não é da mesma ordem do que leva Van Gogh a retirar-se da vida. São causas bem distintas. A de Wertheimer é de ordem pessoal, a difícil relação consigo e com a irmã, e a sua frustração com Glenn Gould. Van Gogh, não. Van Gogh é o Glenn Gould que se suicida. Para Artaud o que levou Van Gogh a suicidar-se, e esta é a tese forte que dá logo título ao livro, é a de que ele foi levado ao suicídio, foi suicidado pela sociedade. Escreve Artaud: “Pois não foi para este mundo, / nunca foi para esta terra que todos trabalhámos sempre, lutámos, / bramimos de horror, fome, miséria, ódio, escândalo e nojo, / que fomos todos envenenados / apesar de todos termos sido por ela enfeitiçados / e estarmos, enfim, suicidados / embora nem todos sejamos, como o pobre Van Gogh, suicidados da sociedade!” Esta passagem é central no livro. E, curiosamente, parafraseia a Bíblia, mais especificamente o Novo Testamento, no Evangelho Segundo São João, 18, onde se lê: “O meu Reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutado para eu não cair nas mãos das autoridades judaicas. Mas o meu reino não é daqui. [...] Nasci e vim ao mundo para

Suicídios dizer o que é a verdade. Todos os que que vivem da verdade ouvem aquilo que eu digo.” Assim, Artaud ao escrever que o nosso reino não é deste mundo, isto é, que não foi para este mundo que viemos, que trabalhámos, lutámos, está também a dizer que o nosso mundo deve ser um mundo de verdade, embora o mundo para o qual viemos não esteja no além, porque não há além. A terra prometida é esta a que chegámos. E fizemos deste terra um mundo de corrupção, de mentiras, de quotidianos intoleráveis, isto é, suicidámo-nos, porque somos todos desistentes de mudar este mundo, de torná-lo naquilo para que viemos.» Ulbricht, diz que nenhuma mãe traz um filho à luz do dia para a mentira, para a corrupção, para a fealdade dos gestos. E, por isso, Artaud faz ainda uma distinção fundamental entre o ser-se suicidado como somos, por inépcia e conservadorismo, e o suicidado da sociedade como Van Gogh. Para Artaud, segundo a autora, nós todos decidimos matar-nos, matar a vida que poderíamos ser; Van Gogh foi suicidado pela sociedade, por esta não querer o mundo que merecemos, o mundo que uma mãe promete ao filho no momento do nascimento. É neste sentido, de termos feito desta terra um inferno, que Sabine Ulbricht identifica esta pasagem lúcida e violenta de Artaud: «Nunca ninguém escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou, sem ser para sair do inferno. E para sair do inferno prefiro as naturezas deste convulsionário tranquilo às fervilhantes composições de Brueghel o Velho ou de Hyeronimus Bosh, que ao pé dele não passam de artistas, no em que Van Gogh não passa de um pobre ignaro preocupado em não se enganar.» Para Ulbricht, Artaud defende que a arte é o modo de fugir do inferno que fizemos da Terra. E o inferno maior, adivinha-se, será ver tudo isto com muita claridade e sentir uma total incompreensão por parte de todos. Escreve a autora: «Também no livro Eu, Artaud, podemos ler, numa carta a Anne Manson: “A minha Via é a Via verdadeira [...] Estar comigo é abandonar tudo o resto. Quem não puder abandonar tudo o resto não pode estar comigo [...] e terá de escolher entre estar comigo ou contra mim.” Estamos uma vez mais

Segunda de Duas Partes VAN GOGH, AUTO-RETRATO

uma asa no além

perante uma clara alusão ao Novo Testamento, mais precisamente a uma passagem de São Lucas e da dificuldade de se ser discípulo de Jesus. Ao escrever sobre Van Gogh, Artaud toca a essência humana, aquilo para que fomos feitos. Mostra que é a arte que nos forma. A revolução que Artaud defende é uma revolução artística, no sentido de uma abertura do humano, de cada um de nós, às suas expressões. Por isso, em Artaud, o combate à sociedade passa por um combate aos médicos “[...] porque foi com os médicos e não com os doentes que a sociedade começou.”, escreve em «Eu, Antonin Artaud». Independentemente de estarmos diante de um ajuste de contas, de alguém que foi fechado por 9 anos em asilos psiquiátricos e electro-choques, há um fundo de verdade na oposição entre psiquiatra e génio. Porque é na arte que génio e loucura se confundem e que os guardiães da sociedade mais sentem dificuldades em destrinçar.» Ainda que Ulbricht nunca cite Heidegger, no sentido de podermos ver a loucura como um modo de ser mais real, veja-se estas palavras do filósofo da Baviera, acerca da poesia: «O poeta não dá seguimento às suas vivências interiores, mas está colocado “sob as tempestades de Deus” – “de cabeça descoberta”, colocado à sua mercê sem qualquer protecção e afastado de si próprio. O ser-aí [o ser-se humano] não é outra coisa senão “o estar colocado à mercê

Para Artaud, segundo a autora, nós todos decidimos matar-nos, matar a vida que poderíamos ser; Van Gogh foi suicidado pela sociedade, por esta não querer o mundo que merecemos, o mundo que uma mãe promete ao filho no momento do nascimento

do poder esmagador do ser”, isso não corresponde a um divagar pelas próprias vivências interiores, não se trata de um contexto vivencial situado algures dentro de si, mas sim do exterior mais extremo da nua exposição às intempéries. [...] O poeta é o fundador do ser. Assim, o que chamamos real no nosso dia-a-dia acaba por ser o irreal.» E Artaud pode ser comparado a Hölderlin, de quem Heidegger escreve. Desviando-me um pouco do texto de Sabine Ulbricht, talvez o mais importante que aprendi com Artaud, com a leitura dos seus textos em geral e este em particular acerca do qual a autora alemã escreve, é que a condição fundamental e determinante para se compreender um texto, um autor, é apaixonar-se por ele. Sem isso não sabemos nada do texto. Depois, mais tarde, podemos desapaixonarmo-nos, ver a nossa visão alterar-se e até rejeitar a leitura que fizemos. Mas entendemo-lo. Sem paixão não se entende nada, nem a relação entre os números. É isso que Artaud faz com a vida e com os autores: apaixona-se. Assim, através deste distúrbio que é a paixão, uma afectação desmedida, a obra de Artaud mostra-nos, e talvez melhor que qualquer outra, o desespero pelo infinito, que Ulbricht também identifica na obra do autor francês. E identifica deste modo, no qual me revejo: «Por desespero pelo infinito pretendo dizer a abertura que acontece em nós para um além que desconhecemos, mas sentimos ou pressentimos e nos angustia a sua ausência ou a sua intangibilidade. Quando mais tarde na vida sentimos nostalgia por uma música que ouvimos e era comum ouvirmos na juventude, esse sentimento não é tanto por um tempo que já foi, mas antes por um tempo em que havia possibilidades, um tempo em que o infinito nos era mais familiar. Numa carta a Peter Watson, inserida em “Eu, Antonin Artaud”, escreve: “Todos os grandes livros, desde os Vedas aos evangelhos, passando pelos Upanishad, os Brama-putras // e a imitação e Cristo, são [...] a busca de um estado-lacuna como estiagem do infinito.” Ou seja, a religião é uma tentativa de interromper essa falta de infinito que se faz sentir, ao passo que a poesia é a exposição dessa mesma falta. Ao falar acerca de um livro específico de Artaud, a autora acaba por ir mais longe no autor francês do que foi no autor austríaco. Ficamos a ver que, no fundo, o suicídio foi um pretexto para nos mostrar a obra de Artaud. Apesar de pôr como oposição os suicídios artísticos de Wertheimer e Van Gogh nas obras que nos mostra. Apesar de um ser de ficção e outro real, o que mais importa a Ulbricht é a diferença entre um suicídio «que vem de fora», como o de Van Gogh, e um «que vem de dentro», como é o caso do de Wertheimer.


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6 2 0 5 0 6 8 9 4 7 1 7 8

1 9 7 4 9 2 0 3 2 6 5

5 8 6 7 4 9 1 0 6 4 3

3 1 2 0 8 5 5 6 2 1 9 4

0 1 3 6 1 0 2 4 8 5 7 6 9 2

2 5 9 6 3 6 8 7 9 1 8 4 0

4 4 7 9 8 5 1 0 3 9 5 1 2 3 6

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1 2 0 8 5 7 3 9 6 4

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3 9 8 5 2 4 0 6 1 7

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8 7 3 2 6 9 4 1 0 5

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36

7

7

6 7 9 1

6 4

4

DORAEMON THE MOVIE: 36NEW DINOSAUR [A] NOBITA’S

Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 21.15

6

8

2 1 0 5

Elizabeth Debicki 16.30 SALA 3

14.30, 18.00

I’M LIVIN’ IT [B]

4 FALADO 9EM CANTONÊS0 5 LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Wong Hing Fan 9 5 2 UmCom: filme 6Aaronde:Kwok, Miriam Yeung, Alex Man GREENLAND [B] 8Waugh 6 15.45,719.15 0 Um filme de: Ric Roman Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, Scott Glenn FATAL VISIT [C] 14.15, 19.15,5 21.30 4 3 FALADO 1EM CANTONÊS9 7 SALA 2

TENET [B] Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson,

9.40

BAHT

0.25

YUAN

1.17

britânico Michael Houghton. Este é o primeiro dos Nobel a ser anunciado este ano, seguindo-se nos próximos dias os galardões relativos à Física, Química, Literatura, Paz e Economia.

7 3

& FRIENDS: 7 1 5 4 THOMAS 8 3 MARVELLOUS 6 9 MACHINERY [A] FALADO EM CANTONENSE 3 9 Um filme 5 de: Ian Cherry, Joey So4 TENET [B] FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Imai Kazuaki 14.30, 16.45, 19.00

EURO

8 7 1 3

C I N E M A

SALA 1

6 5 - 8 5 %´ •

0 2 4 7 9 3 1 6 0 7 9 7 8 5

5 0 5 9 2 9 6 5 7 8 0 9 4 9 0 2 8 0 2 6 4 1 1 3 9 2 3 5 8 0 4 3 1 9 Cineteatro

LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Calvin Poon Com: Sammi Cheng, Tong Dawei, Charlene Choi 21.30

7 8 4 3 3 4 6 2 9 5 1 0

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 34

7 4 3 9 9 1 5 2 7 6 0 8

PROBLEMA 35

9 7 6 8 2 1 5 7 4 8 3 2 1 5 3

1 5 7 4 2 0

HUM

O prémio Nobel da Medicina foi atribuído ontem a três cientistas pela descoberta do vírus da Hepatite C, anunciou ontem a academia. O galardão foi atribuído aos cientistas norte-americanos Harvey J. Alter e Charles M. Rice e ao

34

1 3 7 0 4 9 0 6 1 5 0 6 5 8 4 3 7 9 0 8 4 6 2 3 1 4 3 1 2 0 8 4 5 7 9 8 7 1 6 5 6 7

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3

29

UM LIVRO HOJE

AS IRMÃS SOONG | JUNG CHANG | 2019

Um livro sobre as irmãs Soong que foram três das mulheres mais influentes da República da China, e também das mais ricas. Ao seu estilo, Jung Chang apresenta-nos uma obra de fácil leitura, cativante e com capacidade de levar o leitor a questionar-se sobre a versão mais consensual da História, tal como já tinha feito com a biografia de Mao e principalmente de Cixi. Como sempre, Jung Chang continuar a apresentar vários detalhes “cor-de-rosa” sobre as personagens, mas que as tornam sempre mais reais e humanas. João Santos Filipe

TENET

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 15

terça-feira 6.10.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

De volta ao local do crime

C

HEN Tongjia, o homem que matou a namorada em Taiwain, dando origem à emenda da Lei dos Condenados em Fuga, publicou no dia 2 uma gravação de 23 segundos, com o apoio de Guan Haoming, Secretário Geral do Ministério da Educação de Hong Kong e da Igreja Anglicana, onde mais uma vez pede desculpa aos pais da vítima. Neste registo, salienta que continua a querer regressar a Taiwan para se entregar à justiça e que o seu advogado está a fazer todas as diligências necessárias. A mãe da jovem falecida afirmou numa entrevista que não tem a certeza de que a voz que se ouve na gravação seja mesmo de Chen Tongjia. No ano passado, Chen Tongjia afirmou repetidas vezes que queria regressar a Taiwan para se entregar, mas isso nunca aconteceu. Não é por causa de uma gravação que ela vai passar a acreditar nas suas afirmações. Futuramente, se o caso vier a ser julgado em Taiwan, ela pensa deslocar-se até lá para testemunhar. A mãe de Pan Xiaoying, visivelmente perturbada, adiantou ainda que tem intenção de comprar o bilhete de avião para que Chen Tongjia se possa deslocar a Taiwan e deseja providenciar-lhe todo o apoio necessário. Vai também pedir em Tribunal que, por se ter entregado, a pena seja atenuada. Numa entrevista, um advogado taiwanês salientou que, segundo a lei do país, como o homicídio foi descoberto pelos investigadores e não porque Chen Tongjia o tenha confessado, o seu regresso não implica comutação da pena. Em casos de homicídio, o réu pode enfrentar pena de morte, prisão perpétua, ou pena superior a 10 anos. Neste caso, é muito pouco provável que Chen Tongjia seja condenado à morte, porque esta pena só é atribuída na presença de crimes brutais, ou de assassinatos em série e quando o criminoso não demonstra sinais de arrependimento. Mas se Chen Tongjia regressar voluntariamente a Taiwan e se entregar, dará provas de arrependimento. Todos estes factores poderão ajudar a reduzir-lhe a pena.

No momento em que escrevo este artigo, ainda não havia qualquer notícia sobre o regresso de Chen Tongjia a Taiwan; mas seja como for, pela gravação, podemos deduzir que Chen Tongjia espera voltar e pôr um ponto final neste assunto. Se proceder assim, permite que a falecida descanse em paz e dará um sinal a todos, quer em Hong Kong quer em Taiwan, que está pronto a admitir os seus erros e a sofrer as consequências. É com esta atitude positiva que os pais de Pan procuram que seja feita justiça à memória da filha. No entanto, o que é raro na atitude desta mãe é ter tido a coragem e a abertura de espírito para afirmar que irá interceder por Chen Tongjia durante o julgamento. É evidente que deve ter assumido esta posição depois de muita luta interior. Insistir em resolver os conflitos através do sistema jurídico, demostrando simultaneamente o seu perdão é algo que merece o nosso respeito.

Devido à sua bondade, a mãe de Pan perdoou Chen Tongjia e deu-lhe uma oportunidade de se regenerar. Ultrapassar o ódio com amor e deixar o desgosto para trás é uma lição digna de ser aprendida

Há alguns anos, em Hong Kong, houve também um caso de uns pais que perdoaram os assassinos dos filhos. Foi em 1985 e provocou uma enorme comoção. Depois de meses de investigação, a polícia identificou finalmente os assassinos dos dois jovens. Segundo a lei da época, este crime era punido com prisão perpétua; mas porque alguns dos réus eram menores de idade, o Tribunal absteve-se de proferir a sentença tendo delegado a decisão na Chefe Suprema de Estado à altura, a Rainha de Inglaterra. Depois do regresso de Hong Kong à soberania chinesa, a decisão foi transferida para o Chefe do Executivo da cidade. Nessa altura, a família dos jovens escreveu ao Chefe do Governo afirmando que já tinha perdoado os assassinos. Os prisioneiros acabaram por sair em liberdade após cumprirem a sentença. Expressaram publicamente a sua gratidão pela intervenção da família da vítima na redução da pena e a importância do perdão que lhes permitiu expulsar os seus próprios demónios. Se Chen Tongjia regressar a Taiwan para se entregar, todos irão sentir que este processo, que se arrasta há tanto tempo, vai chegar ao fim. Devido à sua bondade, a mãe de Pan perdoou Chen Tongjia e deu-lhe uma oportunidade de se regenerar. Ultrapassar o ódio com amor e deixar o desgosto para trás é uma lição digna de ser aprendida.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


A perseverança é a mãe da boa sorte. Cervantes

EUA Joe Biden com teste negativo pela terceira vez desde sexta-feira

China 50 dias consecutivos sem contágios locais

O

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candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Joe Biden, testou negativo para o coronavírus no domingo, naquele que foi o seu terceiro teste desde sexta-feira, anunciou ontem a sua campanha. Os resultados chegam cinco dias depois de Biden ter passado mais de 90 minutos com o Presidente norte-americano Donald Trump, que foi diagnosticado com covid-19 dias após o debate que colocou frente a frente os dois candidatos. Joe Biden já tinha tido dois testes também negativos na sexta-feira. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está internado desde sexta-feira deixou ontem brevemente o hospital numa caravana de veículos para saudar apoiantes no exterior, tendo regressado pouco depois ao Centro Médico Militar Walter Reed. Trump deixou o hospital num SUV blindado e permaneceu no veículo, usando máscara, enquanto passava por uma multidão que agitava bandeiras e aplaudia. No ‘briefing’ de domingo sobre o estado de saúde do chefe de Estado Norte-americano, o médico da Casa Branca, Sean Conley, admitiu a possibilidade de Donald Trump sair do hospital a partir de segunda-feira. O médico adiantou que o estado de saúde do Presidente “continuou a melhorar”, mas revelou que Donald Trump foi tratado com esteroides, depois de duas descidas dos seus níveis de oxigénio no sábado.

terça-feira 6.10.2020

PALAVRA DO DIA

O preço dos maus-tratos Alterações climáticas vão custar 4,6 biliões de euros por ano até 2070

S

EM mudanças na economia mundial e redução de emissão de gases, as alterações climáticas vão custar 4,6 biliões de euros por ano até 2070, aumentando cada vez mais a partir daí, segundo um relatório ontem divulgado. O relatório é da responsabilidade da organização Carbon Disclosure Project (CDP) - que tem sede no Reino Unido e apoia empresas e cidades na divulgação dos impactos ambientais - e da “University College London” (UCL), uma universidade pública também do Reino Unido. As duas entidades criaram modelos sobre os custos médios dos danos globais provocados pelas alterações climáticas se nada for feito para as mitigar (num cenário “business as usual”), estimando que até ao ano 2200 elas possam chegar ao custo astronómico de 26,4 biliões de euros em cada ano. Os danos causados pelas alterações climáticas, segundo o documento a que a Lusa teve acesso, levarão a uma redução de 10 por cento da taxa de crescimento do PIB mundial até 2050 e de 25 por cento até 2100. Num cenário em que os países cumpram as metas do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa que pretende limitar o aumento global da temperatura a dois graus celsius (e preferencialmente 1,5 graus) acima da média da época pré-industrial -, as alterações

climáticas terão ainda assim um custo anual que atingirá 1,5 biliões de euros em 2070. Sem medidas para conter o aquecimento global, o relatório mostra que os custos das alterações climáticas serão três vezes superiores, passando de 1,5 biliões de euros para 4,6 biliões de euros por ano, e que no próximo século podem mesmo ser 17 vezes superiores. Conter as alterações climáticas também tem um custo, mas mesmo assim será menos elevado, calculando os autores do relatório que atinja um pico de 5,9 biliões de euros por ano até 2050.

HÁ ESCOLHA

O relatório, intitulado “Costing the Earth - Climate Damage Costs and GDP”, utiliza três modelos para chegar aos números e traça dois cenários de longo prazo, um com um aumento das temperaturas de 2°C, alinhado com o Acordo de Paris, e outro baseado no “business as usual” que implica um aumento da temperatura de 4,4°C até ao final do presente século.

Os danos causados pelas alterações climáticas (...) levarão a uma redução de 10 por cento da taxa de crescimento do PIB mundial até 2050 e de 25 por cento até 2100

Num cenário em que não se tomam medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa os custos dos danos causados pelas alterações climáticas são muito mais elevados, incluindo danos ambientais. Se ao contrário se investir em acções de mitigação os custos serão mais baixos e terão um pico em 2070, mas mesmo assim a um nível muito inferior, segundo o documento. Os autores salientam a importância de ter em conta os impactos climáticos no PIB e de compreender as diferenças regionais e sectoriais no que respeita aos efeitos da mudança no clima. E falam em “impactos negativos significativos” na agricultura de regiões como a Índia ou o continente africano, ao contrário do que se deve passar com as regiões temperadas, que vão beneficiar. “O impacto das alterações climáticas no PIB varia significativamente entre regiões, sendo as economias em desenvolvimento como a Índia as que mais sofrem. (...) Os decisores políticos, as empresas e o sistema financeiro, que serão afectados, devem ser proactivos no investimento em mitigação e adaptação para evitar estes elevados prejuízos”, disse, citada no documento, Carole Feerguson, chefe de investigação do CDP. A UCL, com mais de 200 anos, é considerada das melhores universidades do mundo e em vários rankings aparece entre as 10 primeiras.

A China somou, no domingo, 50 dias consecutivos sem registar contágios locais com o novo coronavírus, mas detectou 20 casos importados, anunciou ontem a Comissão de Saúde do país. Dez dos casos importados foram diagnosticados em Xangai (leste) e outros tantos nas províncias de Sichuan (sudoeste, três), Mongólia Interior (norte, dois), Fujian (sudeste, dois), Shanxi (norte, um), Jiangsu (leste, um) e Guagandong (sul, um). O número total de infectados activos na China continental é de 208, um dos quais permanece em estado grave. A Comissão de Saúde da China não anunciou novas mortes por covid-19. Dos 85.470 infectados na China desde o início da pandemia, 4.634 pessoas morreram e 80.628 já superaram a doença.

Londres Início de julgamento de alegados responsáveis pela morte de 39 vietnamitas

Q

UATRO pessoas foram ontem presentes a tribunal em Londres para julgamento pelo homicídio de 39 migrantes vietnamitas encontrados mortos em Outubro do ano passado dentro de um camião frigorífico em Inglaterra. Christopher Kennedy, de 23 anos, Gheorghe Nica, de 43 anos, Valentin Colota, de 37 anos, e Eamonn Harrison, de 23 anos, foram acusados de homicídio involuntário e de auxílio à imigração ilegal, mas declararam-se inocentes, pelo que terão de ser julgados. Os motoristas Ronan Hughes, de 40 anos, e Maurice Robinson, de 25 anos, e Gazmir Nuzi, de 42 anos, declaram-se culpados, mas vão ter de aguardar o final para conhecer a sentença. Os corpos de 31 homens e de oito mulheres, duas das quais com 15 anos, foram descobertos a 23 de Outubro de 2019 num contentor na zona industrial de Grays, no leste de Londres. O contentor provinha do porto belga de Zeebruges. Segundo a polícia, morreram devido à falta de oxigénio e ao sobreaquecimento no espaço fechado. O julgamento vai decorrer no Tribunal Criminal de Old Bailey, em Londres.


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